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1.

1 Análise espacial e geoprocessamento

A análise de geoprocessamento é um conjunto de tecnologias de coleta de dados,


tratamento e exibição de informações referenciadas de um espaço sobre determinados
eventos em estudo através da localização geográfica (GARCIA, 2016). Essas tecnologias apresentam como
destaque o sensoriamento remoto, automação de cartografia digital, digitalização dos dados ou
processamento digital, Sistema de Posicionamento Global (GPS) e Sistema de Informação Geográfica
(SIG) (NARDI et al., 2013).

O sensoriamento remoto refere-se às imagens que podem ser obtidas de satélites,


fornecendo informações sobre o uso e ocupação do solo, cobertura vegetal, temperaturas, umidades e
queimadas (CHIARAVALLOTI-NETO, 2017). A cartografia digital pode ser compreendida como a
tecnologia destinada à captação, organização e desenho de mapas.

O processamento digital de imagens é o conjunto de procedimentos e técnicas destinadas à


manipulação numérica de imagens digitais com finalidade de corrigir e de melhorar distorções das mesmas
(FILHO et al., 2020).

O GPS é um sistema de transmissão de dados capturados por satélites que


fornecem coordenadas geográficas precisas de posicionamento tridimensional e
informações em tempo real sobre a localização em um determinado espaço (GARCIA, 2016a).

Os SIG são sistemas destinados à aquisição, armazenamento, manipulação,


análise e apresentação de dados referenciados espacialmente através da combinação de
recursos humanos e técnicos (Hardware/Software) para construções de mapas, tabelas e
gráficos (FILHO et al., 2020a).

Contudo, um método comum na análise espacial é o estimador de intensidade de kernel. Trata-se


de uma alternativa simples para analisar o comportamento de padrões de distribuição de pontos (eventos)
e estimar a intensidade pontual do processo em toda a região de estudo, identificando áreas de risco para
ocorrência do evento, nominadas “áreas quentes” ou “hotspots”. Para isto, ajusta-se uma função
bidimensional sobre os eventos considerados, compondo uma superfície cujo valor será proporcional à
intensidade de amostras por unidade de área. Esta função realiza uma contagem de todos os pontos dentro
de uma região de influência, ponderando-os pela distância de cada um à localização de interesse. Os
parâmetros básicos desse estimador são um raio de influência (τ ≥ 0) que define a vizinhança do ponto a
ser interpolado e controla o "alisamento" da superfície gerada e uma função de estimação com propriedades
de suavização do fenômeno (CÂMARA & CARVALHO, 2004).

Entretanto, dentre as técnicas de geoprocessamento que foram mencionadas, a que mais se destaca
são os SIG, por serem considerados instrumentos tecnológicos de suporte para a tomada de decisões
referente ao fenômeno estudado, seja ambiental, social e, principalmente, biológico e da saúde. Essa
tecnologia geográfica direciona um alvo na superfície da Terra através das suas coordenadas geográficas
para construção de mapas temáticos à base de simbologias por meio de ferramentas complexas, ao integrar
dados de diversas fontes que possibilitem a geração de banco de dados georreferenciados e que possam ser
manipulados adequadamente (BORGES & SANTOS, 2017).

Por sua vez, os SIG auxiliam na construção de mapas temáticos, facilitando a realização das
pesquisas, transformam-se em instrumentos válidos para auxiliar na
interpretação do evento para o planejamento, monitoramento e avaliação que direcionam as práticas
interventivas (NARDI et al., 2013). Há pouco tempo, o acesso
aos SIG para confecção desses mapas era restrito devido ao seu alto custo, hoje em dia, o acesso se tornou
democrático por causa do surgimento dos SIG gratuitos, a exemplos dos QGIS e o TerraView, ideais para
pesquisas nas áreas sociocultural, ambiental e da saúde pública (CHIARAVALLOTI-NETO, 2017).
A utilização de geoprocessamento e análise espacial são atualmente alternativas essenciais para a
implantação de práticas de controle e vigilância epidemiológica (CHIARAVALLOTI-NETO, 2017).

1.2 Geoprocessamento como ferramenta na saúde pública

As análises de geoprocessamento através da utilização do SIG abriram novos caminhos para


investigações epidemiológicas que têm se utilizado de técnicas para mapear e analisar a distribuição de
eventos relacionados à saúde (CARVALHO & SOUZA-SANTOS, 2005). O SIG surgiu na saúde pública
para melhorar as possibilidades da descrição e análise espacial das doenças em grandes conjuntos de dados
georreferenciados. Segundo Carvalho et al. (2000), detalhes das condições ambientais que interferem com
a saúde da população podem ser mostrados em mapas que apresentam a distribuição espacial de áreas de
risco, permitindo que epidemiologistas entendam a dinâmica espacial da doença, além de suas variações no
espaço geográfico e no tempo. Há mais de uma década, a Organização Pan-Americana de Saúde tem
indicado a utilização do SIG como um importante instrumento para análise de algumas condições de saúde
(BARCELLOS & RAMALHO, 2002). Por meio desse sistema de informação, os dados podem ser
transformados em mapas temáticos, gráficos e tabelas, tornando possível o planejamento, análise,
gerenciamento e monitoramento espacial dos dados (NAJAR & MARQUES, 1998). Uma das principais
aplicações do SIG na Epidemiologia é facilitar a identificação de áreas geográficas e grupos de populações
que apresentem maior risco e que, portanto, precisam de maior atenção, seja preventiva, curativa ou de
promoção da saúde. Desse modo, o geoprocessamento é um poderoso instrumento a serviço da pesquisa
em saúde, pois permite planejar medidas de intervenção junto a fontes indicadoras, que identificam locais
críticos. (BARCELLOS & BASTOS, 1996). Barbosa et al (2012), apresentam o SIG como uma ferramenta
importante para determinar variações na ocorrência de problemas de saúde em tempo e espaço. Por meio
de mapas, esta ferramenta torna possível observar a distribuição espacial das situações de risco e problemas
de saúde, proporcionando assim um panorama das condições ambientais de saúde da população, também
possibilita o planejamento de vigilância sanitária e ações de saúde.

Contudo, a cartografia computadorizada, vem sendo utilizada desde a década de 60 e intensificada


nas décadas seguintes, a qual possibilitou o refinamento na interpretação dos dados e o uso de novas
técnicas de análise. Técnicas sofisticadas da estatística e da cartografia vêm sendo incorporadas, em
particular técnicas multivariadas que objetivam explorar as associações ambientais, sociais e físicas com as
doenças (ANDRADE, 2002). As técnicas de análise espacial são orientadas pela natureza dos dados
coletados. Existem diferentes técnicas para proceder à análise quando os dados estão disponíveis como:
informações sobre fatores ambientais de caráter contínuo, informações sobre fluxo e acesso; dados relativos
à localização precisa de eventos no espaço; dados relativos à área (BAILEY, 2001). A análise de dados
espaciais constitui-se em uma área de conhecimento que contribui para diversos estudos, subsidiando desde
estratégias de intervenção de políticas públicas até a exploração etiológica dos eventos em saúde (SANTOS
& NORONHA, 2001). O uso da análise estatística espacial como ferramenta de predição da ocorrência da
esquistossomose teve início nos estudos realizados nas Filipinas e Caribe (CROSS et al., 1984) e tem sido
amplamente empregado no estudo da distribuição deste agravo produzindo inferências de associação entre
infecção e variáveis ambientais.

1.3 Análise espacial e geoprocessamento em esquistossomose

O estudo da análise espacial e geoprocessamento são ferramentas que vem sendo utilizadas no
apoio ao controle da esquistossomose e na previsão de quadros de expansão ou redução da distribuição
geográfica de caramujos em função das alterações climáticas globais (STENSGAARD et al., 2019). As
técnicas de análise espacial vêm sendo sistematicamente utilizadas para analisar padrões de distribuição de
espécies de caramujos do gênero Bulinus e Biomphalaria que colonizam regiões específicas da África
(MOSER et al., 2014). No Brasil, os SIGs vem sendo aplicados em estudos de distribuição de caramujos
hospedeiros intermediários de S. mansoni em relação a ocorrência da esquistossomose, principalmente em
áreas de alta endemicidade no estado da Bahia (CARDIM et al., 2011), Pernambuco (GOMES et al., 2018),
Minas Gerais (FONSECA et al., 2014) e Sergipe (SANTOS et al., 2016). Estudos utilizando os SIGs em
áreas de baixa endemicidade para a transmissão da esquistossomose são raros, como no estado de São
Paulo. Um exemplo a ser citado é o estudo realizado por ANARUMA FILHO et al. (2010) no município
de Campinas. Os autores conseguiram por meio de interpretação fotografias aéreas, hierarquizar os sítios
de transmissão da esquistossomose correlacionados a distribuição da doença, distribuição de caramujos, as
características da paisagem e das variáveis socioambientais, resultando na identificação de hotspots
endêmicos, indicando os locais ou sítios onde a vigilância e controle devem ser severos e constantes. E o
trabalho de Teles et al. (2014) no município de Bananal no qual fizeram um mapeamento dos focos de
parasitas com as coordenadas dos endereços de residência dos pacientes que foram diagnosticados, tratados
e dos caramujos infectados.

Os SIGs podem utilizar como fonte de dados variáveis climáticas como, por exemplo, temperatura,
além de dados de distribuição de Biomphalaria registrados na literatura, possibilitando, o uso de um modelo
estatístico, que possa formular e testar hipóteses explicativas para a distribuição dos hospedeiros
intermediários da esquistossomose no Brasil baseados nas diferenças climáticas encontradas nas diversas
regiões brasileiras (CARVALHO et al., 2017; GOMES et al., 2018). Outros exemplos de sua aplicação são
os estudos da distribuição da espécie Biomphalaria no Uruguai, Argentina (RUMI et al., 2017), China e na
África (YANG et al., 2018; FAN et al., 2018). Marengo et al. (2014) fizeram estudos de previsão de
aumento de precipitação para as próximas décadas no Brasil, em função das alterações climáticas globais,
que provavelmente teriam consequências com aumento do volume de água de todas as bacias hidrográficas
brasileiras. Estas alterações no regime das chuvas poderiam agravar o problema das enchentes, modificando
as planícies de inundação onde vivem os caramujos. Com isso, as espécies de Biomphalaria poderiam
cruzar as áreas naturais de distribuição geográfica, que poderá ampliar as áreas de distribuição e com isso
expandir para novas áreas o risco de transmissão da esquistossomose (GITHEKO et al., 2010), e assim
modificar a situação de risco dessa enfermidade.

Atualmente, há uma rede global para o controle de doenças transmitidas pelo caramujo, dentre elas
a esquistossomose, usando vigilâncias de satélite e SIG. Os modelos consistem na avaliação de dados do
modelo climático global, sensores de satélite, observação da terra, prevalência da doença, distribuição e
abundância de caramujos hospedeiros e mapas digitais de principais fatores ambientais que afetam o
desenvolvimento e propagação de agentes de doenças transmitidas pelo caramujo. Um site de Internet,
www.gnosisgis.org (Rede GIS infecções sobre caramujos) dá suporte com especial referência à
esquistossomose. (AKANDE & ODETOLA, 2013).

. Estudos de campo e modelagem têm melhorado a compreensão da epidemiologia espacial da


esquistossomose, principalmente na África, aonde vem mostrando sua relevância no planejamento de
programas de controle da esquistossomose (BROOKER, 2007).

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