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GEOTENCOLOGIAS E DESENVOLVIMENTO DO BANCO DE DADOS

GEOGRAFICOS (BDG) DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DAS


CRUZES, SELVÍRIA/MS

GEOTENCOLOGÍAS Y DESARROLLO DE LA BASE DE DATOS GEOGRÁFICA (BDG) DE LA


CUENCA HIDROGRÁFICA RIBEIRÃO DAS CRUZES, SELVÍRIA / MS

Júlio Cesar Santos Guimarães

Alisson Rodrigues Santori

Patricia Helena Mirandola Garcia

RESUMO:
Esta pesquisa pretende fornecer bases teóricas e demonstrar de modo prático o
desenvolvimento de um banco de dados geográfico (BDG) de uma bacia
hidrográfica local. O estudo de caso se divide em fases de pré-processamento e
processamento dos dados, e inicia-se a partir da coleta, tratamento e
armazenamento de dados espaciais em diferentes fontes e com a utilização de
ferramentas básicas de edição e processamento de dados espaciais baseados
em Sistemas de informações Geográficas (SIG) e outros elementos das
geotecnologias e sensoriamento remoto em estudos ambientais. A bacia
hidrográfica pode ser considerada um recorte ideal para a aplicação de um
levantamento sistêmico de dados do ambiente, pois além de ser uma interessante
unidade de planejamento, também reflete em sua estrutura ambiental um sistema
praticamente fechado. A concepção teórico-metodológica adotada ressalta e
valoriza a dinâmica e a integração sistêmica que elementos do meio físico ou do
ambiente podem estimular e executar, a Teoria Geral dos Sistemas (TGS)
colabora na análise ambiental das características destes elementos que compõe
o BDG e com a discussão acerca de suas relações e interações sistêmicas. Os
objetivos deste estudo buscam demonstrar em etapas o desenvolvimento inicial
de um BDG com informações geográficas de base, as variáveis escolhidas são
utilizadas para caracterizar elementos geográficos da área, sendo elas a
drenagem, hipsometria (relevo), geologia, geomorfologia, pedologia e usos e
cobertura da terra. O principal resultado esperado é a apresentação da estrutura
do banco de dados geográficos em SIG.

Palavras-chave: Banco de Dados Geográficos, Analise Ambiental, Geossistemas


INTRODUÇÃO

A transformação do meio ambiente e a apropriação constante dos recursos


naturais pelo homem, produz variações e mudanças importantes na dinâmica
ambiental de uma determinada área nas mais diferentes escalas. Identificar,
observar e entender as modificações e o desenvolvimento da paisagem sob
influência humana, pode colaborar no fornecimento de subsídios para avaliar
como estas mudanças se processam no ambiente, e que tipo de impactos elas
podem produzir.

Para isso, é necessário obter e organizar dados, que serviam de base na


produção de informações do sistema, para isso o Banco de Dados Espaciais é o
nome atribuído aos sistemas gerenciadores de banco de dados, capazes de
gerenciar dados com representação geométrica, posterior a esse procedimento
temos o termo Banco de Dados Geográficos (BDG) caracteriza os sistemas de
Bancos de Dados Espaciais utilizados em aplicações de Geoprocessamento, ou
seja, são uma especialização dos sistemas de Banco de Dados Espaciais e
utilizados como componente de um SIG.

Além do enfoque sistêmico e do banco de dados, o conceito de análise


ambiental também é utilizado neste estudo, como forma de apresentar e
relacionar os resultados obtidos na aquisição, processamento e apresentação dos
resultados.

A execução deste estudo conta com a possibilidade de construção do


banco de dados, a partir da coleta, tratamento e extração de informações
espaciais.

O objetivo principal e o resultado esperado neste trabalho, consistem em


complementar e contribuir na construção do BDG para a caracterização ambiental
de atributos geográficos de extrema importância na dinâmica e interação da
energia no ambiente, sendo as principais variáveis em analise, a evolução dos
usos e cobertura da terra, o relevo, os solos, além de outras informações
secundarias como geomorfologia, geologia e drenagem.

Para essa pesquisa elegemos a Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Cruzes


(BHRC), Selvíria/MS, localizada na porção sudeste do município de Selvíria/MS,
na região leste do estado do Mato Grosso do Sul. Localizada entre as
coordenadas geográficas 20° 15’ 36” S; 20° 30’ 33” S e 52° 05’ 05” W; 51° 45’ 58”
W, com uma área estimada em 212 Km², em altitude média de 365 metros.
(Figura 01)

Figura 1: Mapa de localização e pontos de coleta do Ribeirão das Cruzes, Selvíria/MS

Org:

METODOLOGIA

A teoria geral dos sistemas apresentada por Ludwig Von Bertalanffy (1973)
é a principal base teórico-metodológica para o desenvolvimento deste estudo, A
TGS ou teoria geossistêmica, pressupõem a análise e entendimento completo da
estrutura e da dinâmica dos sistemas ambientais, de forma que cada parte
componente e suas relações refletem o que acontece no todo (sistema), essas
interações e processos são atribuídos a constante relação dos componentes de
uma determinada área, assim, a analise do ambiente por meio da TGS pode
fornecer caracteristicas comportamentais e qualitativas dos elementos ou
componentes geográficos, valorizando suas tendências espaciais. Dessa forma,
dentro desse conceito, o sistema é um operador que, em um determinado lapso
de tempo, recebe a entrada (input) e o transforma em saída (output). Vale (2012,
apud MIRANDOLA-GARCIA, 2016, p. 48).

As principais ferramentas desta pesquisa são a Teoria Geossistêmica, as


formas de aquisição dos dados geográficos e as Geotecnologias (SIG). O
processo de levantamento e análise ambiental das variáveis escolhidas, estão
diretamente relacionados à construção do banco de dados ambiental, deste modo
foi necessario obter informações que integram elementos geográficos e espaciais
de relevante colaboração no processo que se permite chamar de análise
ambiental, sendo estas componentes os solos, a geologia, a geomorfologia, a
hipsometria (relevo) e a drenagem.

A utilização das geotecnologias e a etapa de geoprocessamento dos dados


espaciais consiste na aquisição destes dados por meio de técnicas que utilizam
softwares conhecidos como sistemas de informações geográficas (SIG’s), que
podem realizar uma serie de analises espaciais de diferentes temas e objetivos.
Um SIG é definido basicamente segundo destacam Rosa (2005, apud SILVA,
2018, p.50) portanto, entendidos como sistemas destinados ao tratamento de
dados referenciados espacialmente, consistindo em tecnologias para a aquisição,
armazenamento, gerenciamento, análise e exibição de dados espaciais.

Banco de dados consistem em uma estrutura de informações


georreferenciadas, que pode armazenar arquivos sobre elementos geográficos e
espaciais criando assim um conjunto de dados coerente e relacionável. Com
variadas formas de representação gráfica, este banco pode ser manipulável e
pode conter dados gráficos como símbolos, linhas, pontos e polígonos, além de
elementos de texto e notas. Segundo Medeiros (1999), os bancos de dados
geográficos (BDG) são compostos por planos de informações, por geo-campos e
por objetos não-espaciais, e podem ser estruturados por múltiplos elementos e
apresentar uma relação hierárquica de representação entre vetores e matrizes.

Para as geotecnologias e o geoprocessamento, a principal característica do


BDG é o conceito espacial e relacional dos dados. Assim Queiroz e Ferreira
(2006) apresentam a linha de trabalho do BDG da seguinte maneira:
Os BDG estendem o modelo relacional, entre outras
características, com um sistema de tipos de dados rico e
estendível, oferecendo operadores que podem ser utilizados na
linguagem de consulta. Possibilitam ainda a extensão dos
mecanismos de indexação sobre os novos tipos. (QUEIROZ, G. R;
FERREIRA, K. R. 2006, p. 54)

BDG: Pesquisa e aquisição de dados.

A criação do BDG, foram constituídas nas seguintes etapas:

A metodologia partiu da coleta de dados e materiais que fornecem


informações gerais sobre as caracteristicas da área, foi realizada a busca e
organização de diversos tipos de informações que consistem no material
bibliográfico (artigos, livros, teses, mapas, cartas) além de dados digitais para
manipulação em SIG (imagem SRTM, imagens de satélite, fotos e dados de
GPS).

Os primeiros tipos e dados adquiridos são os relativos a estruturas


vetoriais, estas consistem em modelos do mundo real ou pontos do espaço com
valores diferentes compostos por linhas, pontos, e regiões, posicionados de
acordo com suas localizações em um sistema de referências. Estes dados já
existem de forma geral, sendo necessária basicamente sua coleta, organização e
apresentação.

Os dados dos tipos de solos e das formações geológicas da área foram


adquiridos através das informações disponibilizadas no Sistema Interativo de
Suporte ao Licenciamento Ambiental (SISLA), gerenciado com dados do Instituto
de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (IMASUL). Enquanto os dados digitais
sobre as características geomorfológicas da área foram coletados nas
informações ambientais da carta geomorfológica do Brasil em escala de
1:250.000 disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).

Os dados extraídos de matrizes (raster), este tipo de dado consiste em


representações por grades de pixels ou células associadas a partes do terreno e
com unidades de resolução. Os dados matriciais foram coletados em plataformas
de banco de dados virtuais públicas do Brasil e dos Estados Unidos.
O modelo digital de elevação (MDE) é um dos dados raster de que se pode
extrair variadas informações acerca de aspectos do terreno, este dado reflete um
modelo de parte da superfície terrestre baseado nas suas altitudes, este será
responsável pelo fornecimento das informações de configuração dos limites, da
drenagem e das cotas altimétricas (hipsometria) da bacia hidrográfica em estudo.
O MDE foi adquirido no Banco de Dados Geomorfométricos do Brasil
(TOPODATA), criado e gerenciado pelo Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE).

A última variável adquirida demanda a utilização ampla de técnicas de


extração dos dados espaciais com a utilização integrada de imagens de satélite e
SIG’s. Os dados de usos e cobertura são basicamente um levantamento
cartográfico identificando e classificando os diferentes tipos de usos existentes na
bacia hidrográfica. A obtenção desta informação para o BDG ocorre através da
utilização da ferramenta de classificação de uma composição colorida de bandas
do satélite Landsat 8. A imagem de satélite da área com seu respectivo conjunto
de bandas de detecção multiespectral pode ser consultada e adquirida por meio
do banco de imagens Earth Explorer gerenciada pelo U.S Geological Survey
(USGS).

Atividade de campo se orientou na coleta de dados como pontos de GPDS


e fotografias da área, além da possibilidade de validação e conformação in loco
de parte das caracteristicas ambientais adquiridas nas bases públicas. A
validação dos dados em campo se aplica principalmente na observação e
identificação dos tipos de usos da área, da condição do relevo e das
caracteristicas pedológicas na tradagem do perfil e coleta de solos

Figura 2: Levantamento de dados geográficos em atividade de campo.


Fonte: Autores.

BDG: Estrutura e organização dos dados.

Tabela 1: Relação de dados coletados e suas fontes

Tipo de
Componente Dados Fonte
dado
DRENAGEM Delimitação da rede Shapefil TOPODATA
de drenagem da e (MDE)
área (Vetorial)
HIPSOMETRIA Cotas altimétricas Shapefil TOPODATA
da área (altitude) e (MDE)
(Raster)
GEOLOGIA Formações e Shapefil SISLA
classes geológicas e (Imasul)
da área (Vetorial)
GEOMORFOLOGIA Formações e Shapefil Carta
classes e 1:250.000
geomorfológicas da (Vetorial) (IBGE)
área
PEDOLOGIA Formações e Shapefil SISLA
classes pedológicas e (Imasul)
da área (Vetorial)
USOS E Tipos e classes de Shapefil Landsat 8
COBERTURA usos da terra da e RGB: 654
área (Vetorial) (USGS)
Org: Autores

SIG: Tratamento e processamento dos dados cartograficamente.


RESULTADOS

Tabela 2: Relação dos dados de Drenagem da área.

Área
Classes Caracteristicas
total
Canais de primeira Canais primários de escoamento das
ordem nascentes que recebem pouco
volume de água
Canais de segunda Canais secundários de escoamento
ordem dos interflúvios entre canais de 1ª
Ordem
Canais de terceira Canais terciários de escoamento dos
ordem interflúvios menores e que recebe
maior volume de água
Org: Autores.
Tabela 3: Relação dos dados de Hipsometria da área.

Classes Caracteristicas Área total


274 – 304 metros Áreas rebaixadas próximas ao curso
d’agua entre a média e a baixa
vertente com declividades menores
que 10%
304 – 334 metros Áreas rebaixadas próximas ao curso
d’agua entre a média e a baixa
vertente com declividades menores
que 10%
334 – 364 metros Áreas rebaixadas próximas ao curso
d’agua entre a média e a baixa
vertente com declividades menores
que 10%
364 – 394 metros Áreas de morros suaves e alongados
entre a média e a alta vertente com
declividades maiores que 10%
394 – 424 metros Áreas de morros suaves e alongados
entre a média e a alta vertente com
declividades maiores que 10%
424 – 465 metros Áreas de morros suaves e alongados
entre a média e a alta vertente com
declividades maiores que 10%
Org: Autores.

relevo plano a pouco dissecado


Tabela 4: Relação dos dados de Geologia da área.

Classes Caracteristicas Área total


Vale do Rio do Arenitos intercalados com siltitos
Peixe arenosos finos a muito finos com
estratificação tabular
Santo Anastácio Arenitos quartzosos finos a muito
finos com estratificação plano-
paralela ou cruzada de baixa
inclinação.
Org: Autores.

Tabela 5: Relação dos dados de Geomorfologia da área.

Classes Caracteristicas Área total


Planícies e Compartimentos planos e pouco
Terraços Fluviais inclinados com acumulo de
sedimentos e
Superfície Compartimentos de planaltos com
Interdenudacional morros de topos convexos e que
Central possuem média a baixa densidade de
drenagem.
Org: Autores.
Tabela 4: Relação dos dados de Pedologia da área.

Classes Caracteristicas Área total


Latossolo
Vermelho-Escuro
Álico
Latossolo
Vermelho-Escuro
Distrófico
Podzólico
Vermelho-Escuro
Planossolo Álico
Org: Autores.
Tabela 6: Relação dos dados de Usos e Cobertura da área.

Classes Caracteristicas Área total


Pastagem
Silvicultura
Vegetação Aluvial
Vegetação
Savânica
Solo Exposto
Infraestrutura
Corpos d’agua
Org: Autores.

REFERÊNCIAS

BERTALANFFY, L.V. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. 351 p.
MIRANDOLA, P. H. Discussão teórica dos métodos e técnicas para estudos em
bacias hidrográficas. Ciência Geográfica, Bauru, 20, n. 1, p. 44-57, jan/dez. 2016.

VALE, C. C. Teoria geral do sistema: histórico e correlações com a Geografia e


com o estudo da paisagem. Revista Entre-Lugar. UFGD. Dourados, MS: ano 3, n.
6, jul./dez., p 85-108. 2012.

SILVA, R. A. Geotecnologias aplicadas às alterações ambientais em áreas de


preservação permanente (APP’s) da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Campo
Triste/Três Lagoas-MS (2006-2016). Três Lagoas, 2018. Dissertação (Mestrado
em Geografia) – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, UFMS.

ROSA,R. Geotecnologia na Geografia Aplicada. Revista do Departamento de


Geografia, n16. 2005. P. 81-90.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Manual


Técnico de Uso da Terra. 3ª ed. Coordenação de Recursos Naturais e Estudos
Ambientais. Rio de Janeiro. IBGE, 2013. 1-171 p. (Manuais Técnicos em

Geociências).

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mapa


Geomorfológico do Brasil

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE). Manual do Spring:


Noções de Geoprocessamento. São José dos Campos: Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais, 1997.

TOPODATA. Banco de dados geomorfométricos do Brasil. Departamento de


Processamento de Imagens. (INPE). 2008 Disponivel em:
http://www.dsr.inpe.br/topodata/. Acesso em: 03/08/2019.

USGS – United States Geological Survey. Earth Explorer. Disponível em:


<http://earthexplorer.usgs.gov>. Acesso em: 07/05/2019.

QUEIROZ, G. R; FERREIRA, K. R. Tutorial sobre Bancos de Dados Geográficos.


Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: São José dos Campos, 2006.

MEDEIROS, J. S de. Banco de dados geográficos e redes neurais artificiais:


tecnologias de apoio à gestão do território. 236 p. 1999. Tese de Doutorado. Tese
(Doutorado em geografia Física). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.

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