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Geografia Ação e Transformação, 3º ano


Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio
ESCALA

Pá gina 1

COLEÇÃO GEOGRAFIA AÇÃO E TRANSFORMAÇÃO

GEOGRAFIA

3º ANO

AÇÃO E TRANSFORMAÇÃO
GEOGRAFIA • ENSINO MÉDIO

ALICE DE MARTINI
Bacharel e licenciada em Geografia pela PUC/SP.

Professora da rede particular de ensino.

ROGATA SOARES DEL GAUDIO


Licenciada em Geografia pela UFMG. Mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP.

Doutora em Educaçã o pela UFMG.

Professora do Colégio Técnico (Coltec)/UFMG e do Programa de Pó s-Graduaçã o


em Geografia/IGC/UFMG.

MANUAL DO PROFESSOR
1ª ediçã o

Sã o Paulo, 2016

Pá gina 2

Coleçã o Geografia Ação e Transformaçã o – Alice de Martini • Rogata Soares del Gaudio

Todos os direitos reservados – © Ediçõ es Escala Educacional

Diretoria editorial: Sandro Aloísio da Silva

Gerência editorial: Rita Rodrigues

Ediçã o: Todotipo Editorial, Clarice Catenaci e Felipe Vinícius dos Santos

Assistência editorial: Flá via Brandã o e Patricia Sã o Miguel Novaes

Copidesque e preparaçã o: Todotipo Editorial e Felipe Vinícius dos Santos

Revisão de textos: Todotipo Editorial e Escala Educacional

Projeto grá fico: Todotipo Editorial – Elis Nunes da Costa

Capa: Todotipo Editorial – Elis Nunes da Costa Escala Educacional – Gustavo Léman

Imagem da capa: Recurso grá fico; fotografia: Alamy/Fotoarena – rua comercial em Tó quio, Japã o, 2015

Editoraçã o eletrô nica e arte: Todotipo Editorial e Escala Educacional

Estagiá ria de editoraçã o eletrô nica e arte: Fernanda Pereti

Ilustraçõ es: Dawidson França, Estú dio Pingado e View Produçã o Editorial e Fotográ fica Ltda.

Cartografia: Allmaps e Mundimagem

Licenciamento de textos e imagens: Tempo Composto

Pesquisa iconográ fica: Tempo Composto

Controle de processos editoriais: Diogo Oliveira, Elaine Barros e Reinaldo Correale

Produçã o grá fica: Diogo Oliveira e Reinaldo Correale

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Martini, Alice de
Geografia Açã o e Transformaçã o, 3º ano : ensino mé dio / Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio. – 1. ed. – Sã o Paulo : Escala Educacional, 2016. – (Coleçã o
Geografia Açã o e Transformaçã o ; v. 3)
Suplementado pelo manual do professor
ISBN 978-85-377-1722-6 (aluno)
ISBN 978-85-377-1723-3 (professor)
1. Geografia (Ensino mé dio) I. Gaudio, Rogata Soares Del. II. Título. III. Série.
16-03749
CDD-910.712
Índices para catálogo sistemático:
1. Geografia : Ensino mé dio 910.712

EDIÇÕES ESCALA EDUCACIONAL


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Impressão e acabamento
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Rua Osasco, 644 – Rod. Anhanguera, Km 33
CEP 07750-000 – Cajamar SP
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Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras de á rvores de florestas plantadas, com
origem certificada.

Pá gina 3

Carta ao aluno
Você está no ú ltimo ano do Ensino Médio. É um momento de muitas decisõ es e
reflexõ es. No terceiro ano, serã o abordadas temá ticas relacionadas à importâ ncia
do conhecimento geográ fico, à s regionalizaçõ es do espaço mundial e brasileiro e à
organizaçã o e à s contradiçõ es do espaço Mundial.

Esperamos que você encontre, no decorrer de seu aprendizado, inú meras


oportunidades para pesquisar, refletir e construir seu conhecimento.

Os autores

Pá gina 4

Conheça seu livro


No ínicio de cada capítulo propomos uma atividade para introduzir tó picos da Geografia e trabalhar
reflexõ es e conexõ es entre essa á rea do conhecimento e as outras disciplinas.
O boxe Saiba Mais apresenta textos que contêm algum aspecto específico do conteú do estudado,
explicando-o com mais detalhes ou ampliando a discussã o para promover a reflexã o.

Este boxe detalha conceitos mais complexos da Geografia que surgem durante a leitura,
aprofundando os conhecimentos e as reflexõ es.

O Glossá rio, em formato de hiperlink, apresenta definiçõ es pontuais de termos e expressõ es que
surgem no decorrer do livro, para facilitar a compreensã o do texto.
Pá gina 5

No decorrer do livro apresentamos trechos de textos relevantes para o assunto que está sendo
abordado. Funcionam como um importante complemento para seus estudos.

Ao longo dos capítulos, você encontra atividades diversas, como de leitura e interpretaçã o, de
aná lise, de síntese, entre outras, todas relacionadas ao conteú do estudado.

Ícones indicam as propostas de atividades em dupla ou em grupo.


Aqui você pode se preparar para os desafios que virã o pela frente e conhecer como a Geografia é
abordada no Enem e nos exames de vestibular. E também pode exercitar as habilidades e
competências necessá rias para mais essa etapa.

Ao final de cada capítulo, propomos uma atividade em que você terá oportunidade de utilizar e
sistematizar os conteú dos estudados ao longo do livro, com uma proposta de trabalho que provoca
a reflexã o.

Pá gina 6

Sumário
Proposta da seção A notícia em diversas óticas 12
1. O mundo do trabalho 13

Conexão de conhecimentos 13

As revoluçõ es industriais e o perfil do trabalhador 15

A reestruturaçã o do sistema capitalista 16

Terceira Revoluçã o Industrial: desemprego e novas formas de articulaçã o da economia mundial 17

Á reas industriais e empregos 20

Regiõ es econô micas e mã o de obra empregada 22

As mudanças no mundo do trabalho a partir do fim do século XX 24

Mulheres no mercado de trabalho 27

A posiçã o da mulher hoje no Brasil 27

Trabalho escravo na atualidade 29

O trabalho escravo no Brasil contemporâ neo 31

Trabalho infantojuvenil e políticas pú blicas 33

Trabalho e lazer 36

Trabalho, consumo e violência 37

Questões de Enem e vestibular 40

A notícia em diversas óticas 43

2. A população mundial 45

Conexão de conhecimentos 45

Quem Somos? Quanto somos? 47

O vertiginoso crescimento da humanidade 48

O modelo econô mico global 49

Os 15 países mais populosos hoje e uma projeçã o para 2050 49

E-9: grupo dos maiores países emergentes do mundo 50

G-7: um pequeno grupo que domina a cena internacional 51

Concentraçã o de renda: um problema cada vez mais grave 51


Concentraçã o de renda: o alto consumo de poucos e as consequências para todos 52

Controle de natalidade ou distribuiçã o de renda: como combater a miséria? 52

Pá gina 7

A Teoria Malthusiana 53

Teoria Neomalthusiana 53

Teoria Reformista (marxista) 53

As teorias demográ ficas na atualidade 53

Como vivemos? 57

Índice de Desenvolvimento Humano 58

Subdesenvolvimento: origens e atualidade 59

Estratégias e problemas do crescimento populacional 60

Regiã o densamente povoada, regiã o superpopulosa e regiã o populosa 60

A estrutura da populaçã o 62

A pirâ mide etá ria 62

Estrutura populacional por setores da economia 63

Transiçã o Demográ fica 64

Os movimentos migrató rios 64

A questã o dos refugiados 66

Questões de Enem e vestibular 68

A notícia em diversas óticas 71

3. Multiculturalismo e geografia 72

Conexão de conhecimentos 72

Multiculturalismo no Brasil 74

Identidades 76

Identidades forjadas 77
Nacionalismo e xenofobia 79

Crise econô mica amplia a xenofobia 80

Muros e barreiras da intolerâ ncia 81

Muro de Tijuana (Estados Unidos-México) 81

Barreiras de Ceuta e Melilla 82

Muro da Cisjordâ nia (Oriente Médio) 83

Questões de Enem e vestibular 84

A notícia em diversas óticas 86

4. Guerra Fria e a Nova Ordem Mundial 88

Conexão de conhecimentos 88

Focos de tensã o e zonas de conflito 90

Pá gina 8

Do final da Segunda Guerra Mundial à Guerra Fria 92

A ordem da Guerra Fria 94

A nova ordem mundial 97

A tese do mundo “unipolar” 98

A tese do mundo multipolar 99

As transformaçõ es no cená rio político do Leste Europeu pó s-Guerra Fria 100

A América Latina no pó s-Guerra Fria 103

A Á sia no pó s-Guerra Fria 106

Questões de Enem e vestibular 116

A notícia em diversas óticas118

5. Nacionalismos no século XXI 120

Conexão de conhecimentos 120

Movimentos nacionalistas e separatistas 121


O Nacionalismo como argumento para os separatismos 126

Os separatismos basco e catalã o na Espanha 127

Os separatismos no Reino Unido: Irlanda do Norte e Escó cia 130

Separatismo belga 133

Outros movimentos separatistas europeus 136

Alguns separatismos na Rú ssia 137

Questões de Enem e vestibular 144

A notícia em diversas óticas 146

6. Fundamentalismos 148

Conexão de conhecimentos 148

Maniqueísmo 150

Fundamentalismos religiosos 150

O fundamentalismo cristã o 151

O fundamentalismo islâ mico 151

Fundamentalismo econô mico 153

Fundamentalismo político 153

Terrorismo 154

A guerra contra o terror 155

O Irã e as relaçõ es com o Ocidente 159

A Primavera Á rabe 161

Pá gina 9

Guerras civis 163

Conflito á rabe-israelense 171

Acordos de paz 172

Questões de Enem e vestibular 174


A notícia em diversas óticas 176

7. A África no contexto da geopolítica mundial 178

Conexão de conhecimentos 178

Á frica 180

As grandes divisõ es regionais do continente africano 181

A populaçã o africana: aspectos gerais 182

Da Conferência de Berlim aos dias atuais 188

A situaçã o política da Á frica no período da Guerra Fria 191

Á frica: anos 2000 192

Novos/velhos conflitos no continente 193

A Nigéria e a açã o do Boko Haram 194

O Sudã o e os conflitos em Darfur 195

Sudã o do Sul: da independência à guerra civil 197

O conflito na Repú blica Democrá tica do Congo 199

Os problemas no Chifre da Á frica 200

A crise no Mali 201

Á frica: entre o interesse e o esquecimento 203

Questões de Enem e vestibular 204

A notícia em diversas óticas 206

8. A Nova Ordem Mundial e as organizações internacionais 208

Conexão de conhecimentos 208

ONU e suas açõ es globais 210

Os principais ó rgã os das Naçõ es Unidas 210

O papel da ONU em xeque 212

A ONU deve ser reformulada? 213

As organizaçõ es econô micas mundiais 215


A Conferência de Bretton Woods 215

G-7 215

Pá gina 10

OMC (Organizaçã o Mundial do Comércio) 216

OCDE (Organizaçã o para a Cooperaçã o e Desenvolvimento Econô mico) 219

Opep (Organizaçã o dos Países Exportadores de Petró leo) 219

Organizaçã o militar internacional: Otan 219

Organizaçõ es nã o governamentais 220

Anistia Internacional 221

Médicos Sem Fronteiras (MSF) 221

SOS Mata Atlâ ntica 221

Os fó runs mundiais: econô mico × social 221

Questões de Enem e vestibular 222

A notícia em diversas óticas 224

9. O mundo multipolarizado 226

Conexão de conhecimentos 226

A globalizaçã o econô mica 228

Hegemonia econô mica e militar 228

Globalizaçã o e exclusã o social 228

Dominaçã o tecnoló gica 231

Regiõ es industriais tradicionais 232

Novas regiõ es industriais (apó s a Guerra Fria) 232

Polos de tecnologia 233

Consequências da dominaçã o tecnoló gica 234

Dominaçã o econô mica: os grandes conglomerados mundiais 237


A dominaçã o econô mica no â mbito do comércio internacional 237

Dominaçã o financeira 239

A “globalizaçã o financeira” 240

A financeirizaçã o da economia, a “economia de papel” 241

A liberdade dos fluxos do capital 242

O caos gera a aspiraçã o por outro tipo de ordem mundial 243

Questões de Enem e vestibular 245

A notícia em diversas óticas 249

10. Parcerias políticas e econômicas globais 251

Conexão de conhecimentos 251

Principais blocos econô micos mundiais 252

Pá gina 11

Uniã o Europeia 252

Nafta 255

Aladi 256

Comunidade Andina 256

Mercosul 256

Alba 257

Unasul 257

Aliança do Pacífico 258

SADC 258

Asean 258

Apec 259

OCDE 259

BRICS 259

Questões de Enem e vestibular 273


A notícia em diversas óticas 276

Sugestões de livros 278

Sugestões de filmes278 Sugestões de sites 279

Referências 279

Pá gina 12

Proposta da seção A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade

Na introduçã o de seu livro Por uma outra globalização: do pensamento único à


consciência universal*, o geó grafo Milton Santos aborda a intensa divulgaçã o de
informaçõ es no mundo atual, possibilitada pelo processo de globalizaçã o. Segundo
o autor, “vivemos num mundo confuso e confusamente percebido”, sobretudo em
funçã o da comunicaçã o de massa, que se aproveita das técnicas e da velocidade
para produzir um “mundo de fabulaçõ es”, ancorado no discurso ú nico.

Assim, Milton Santos mostra a coexistência de três mundos em um só :

• O primeiro é “o mundo tal como nos fazem vê-lo”: a fá bula, que constró i e divulga
como verdadeiros “um certo nú mero de fantasias, cuja repetiçã o, entretanto, acaba
por se tornar uma base aparentemente só lida de sua interpretaçã o”.

• O segundo é “o mundo tal como ele é”: a perversidade, marcada pela


concentraçã o de renda, fome, pobreza e outras mazelas que sã o “direta ou
indiretamente imputá veis ao presente processo de globalizaçã o”.

• O terceiro é “o mundo como ele pode ser”: a possibilidade, uma globalizaçã o mais
humana, que realmente atenda aos anseios da humanidade, em todas as suas
diversidades.

Ao final de cada capítulo, na seçã o “A notícia em diversas ó ticas”, é apresentado um


assunto para ser analisado de acordo com a perspectiva de Milton Santos: “fá bula”
e “perversidade” como situaçõ es antagô nicas, e a “possibilidade” uma criaçã o do
aluno com base em suas leituras e reflexõ es. Em consonâ ncia com a redaçã o do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a “possibilidade” pode ser vista como a
proposta de intervençã o requerida no projeto de produçã o de texto, na qual deve
ser contemplada a sociodiversidade e também o respeito aos direitos humanos.

*SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento ú nico à consciência


universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 17-21.
Pá gina 13

1 O mundo do trabalho

Conexão de conhecimentos
Condições de trabalho
O trabalho é fundamental para a transformaçã o da natureza e o bem-estar dos indivíduos. Porém,
nem sempre os trabalhadores exercem suas atividades em condiçõ es dignas, especialmente a partir
da Revoluçã o Industrial e da consolidaçã o da Divisã o Internacional do Trabalho (DIT). Observe as
ilustraçõ es a seguir que mostram as condiçõ es de trabalho do século XIX.

Print Collector/Hulton Archive/Getty Images

Operá rios na Inglaterra, século XIX. Gravura reproduzida em The Illustrated London, 1855.

Print Collector/Hulton Archive/Getty Images

Homem e criança produzindo fios a partir do algodã o, século XIX. Gravura reproduzida em The useful arts and
manufacturers of Great Britain, de Charles Tomlinson, c. 1845.
Pá gina 14

Agora, veja as imagens que retratam trabalhadores nos dias atuais e leia o fragmento da cançã o de
Renato Russo.

Zhengyi Xie/Corbis/Fotoarena

Trabalhadores em fá brica de roupas na China, 2015.

Zakis Hossain Chowdhury Zahir/Alamy/Fotoarena

Crianças trabalhando em uma olaria na cidade de Bangladesh, Índia, 2016.

Fábrica

Nosso dia vai chegar,

Teremos nossa vez.

Nã o é pedir demais:

Quero justiça,

Quero trabalhar em paz.

Nã o é muito o que lhe peço –


Eu quero um trabalho honesto

Em vez de escravidã o.

[...]

O céu já foi azul, mas agora é cinza

O que era verde aqui já nã o existe mais.

Quem me dera acreditar

Que nã o acontece nada de tanto brincar

[com fogo,

Que venha o fogo entã o.

RUSSO, R. Fá brica. CD: Legiã o Urbana, Dois. Sã o Paulo: EMI, 1986. Faixa 11.

Estabeleça pelos menos duas relaçõ es entre os versos da mú sica e as imagens retratadas.

Pá gina 15

AS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS E O PERFIL DO


TRABALHADOR
Com a Primeira Revoluçã o Industrial, em meados do século XVIII na Inglaterra, houve uma
reestruturaçã o da força de trabalho. Os cercamentos levaram à expulsã o dos camponeses, que
migraram para as cidades, em busca de trabalho. As manufaturas ofereciam empregos braçais e
repetitivos para operá rios sem qualificaçã o profissional. Nesse processo, os trabalhadores sofreram
duas expropriaçõ es: do seu conhecimento e dos seus meios de subsistência. Os salá rios eram baixos
e as jornadas de trabalho muito longas, o que obrigava todos os membros da família a trabalhar.
Apesar das lutas dos trabalhadores, a exploraçã o se acentuou com a entrada maciça de mulheres e
crianças no mercado de trabalho, que recebiam salá rios inferiores aos pagos aos homens.

Cercamento Ato em que os senhores feudais ingleses passaram a cercar as terras do feudo para delas auferir
lucro por meio do arrendamento aos camponeses.

A Primeira Revoluçã o Industrial resultou em vá rias alteraçõ es nas relaçõ es sociais de produçã o. Os
artesã os perderam autonomia com as primeiras tecnologias e máquinas que apareceram no
processo produtivo. As má quinas eram propriedade de um pequeno grupo da burguesia que
buscou extinguir as condiçõ es anteriormente existentes de produçã o, baseadas no artesanato. Essa
fase da Revoluçã o Industrial foi caracterizada também pelos seguintes fatores:

• Invençã o do tear mecâ nico e do descaroçador de algodã o, promovendo o desenvolvimento da


indú stria têxtil e o aumento da produçã o de tecidos.

• Invençã o da máquina a vapor, em substituiçã o à s tradicionais fontes de energia (eó lica e


hidrá ulica) e à traçã o animal, o que possibilitou a expansã o do mercado e das trocas.

• Uso do carvã o para a fundiçã o do ferro e seu uso, por exemplo, nas estradas de ferro, que
dinamizaram o transporte e a distribuiçã o de mercadorias.
• Redefiniçã o da urbanizaçã o, possibilitando um adensamento da mã o de obra nas grandes cidades,
que se consolidaram como o lugar da realizaçã o do capital e, ao mesmo tempo, a organizaçã o da
classe trabalhadora, que passou a lutar contra a exploraçã o exacerbada da burguesia industrial.

Um século depois, diversos países europeus e também os Estados Unidos faziam parte da era
industrial.

A Segunda Revoluçã o Industrial ocorreu no século XIX e trouxe novidades tecnoló gicas também nas
relaçõ es de trabalho. O carvã o, componente energético da Primeira Revoluçã o Industrial, foi sendo
aos poucos substituído pelos derivados do petró leo. Os motores a explosã o levaram ao
desenvolvimento dos automó veis, que se tornaram gênero de produçã o em série.

Diversos postos de trabalho requeriam mã o de obra especializada, muito embora os salá rios
continuassem baixos.

Com o objetivo de aumentar a produtividade e, consequentemente, o lucro empresarial foram


desenvolvidos dois processos de trabalho, o fordismo e o taylorismo.

Fordismo e taylorismo

Método de otimizaçã o da produçã o, o fordismo baseava-se na linha de produção em série, com os funcioná rios
desempenhando cada um uma ú nica funçã o em ritmo acelerado.

A produçã o era verticalizada, contando com uma rígida hierarquia de chefes e subchefes, com ordens
encaminhadas do alto para o baixo escalã o.

Ao fordismo foi acoplado o taylorismo, método desenvolvido pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor, em
que o tempo de produçã o das má quinas e dos operá rios era rigidamente controlado para se obter a máxima
produtividade. O taylorismo era inflexível com horá rios e metas de produçã o.

DICA DE FILME

Tempos modernos

Divulgaçã o/Warner

Cena de Tempos modernos. Direçã o: Charles Chaplin. Estados Unidos, 1936, 87 min. Classificaçã o: livre.

O filme é uma crítica à alienaçã o e à violência na produçã o industrial. O personagem trabalha em


uma fá brica sem saber o que produz, e seus movimentos se repetem involuntariamente na vida
pessoal, como tiques. No trabalho, o patrã o o observa por uma câ mera e ele nã o pode nem ir ao
banheiro.

Pá gina 16
Com essas mudanças, a produtividade aumentou e, com ela, o lucro. Essa equaçã o era muito
interessante para os empresá rios da época, exceto por um aspecto: o mercado consumidor nã o
acompanhava o ritmo da produçã o, o que gerava estoques e capital estagnado. Ao longo da década
de 1920, a crise da superproduçã o e dos baixos salá rios gerou falências e desemprego, o que
colocou o sistema capitalista em situaçã o de colapso. Em 1929, a crise deflagrou a quebra da bolsa
de valores de Nova Iorque. Assim, a década de 1930 apresentou uma depressã o econô mica que
motivou fortes insatisfaçõ es, as quais contribuíram para a erupçã o da Segunda Guerra Mundial.

A REESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA CAPITALISTA


Com o final da Segunda Guerra Mundial, diversos países da Europa Ocidental criaram o Estado de
bem-estar social, conhecido como Welfare State, para dar garantias de sobrevivência, moradia,
saú de e educaçã o aos cidadã os de maneira indistinta. O programa de bem-estar social foi se
aprimorando ao longo das ú ltimas décadas do século XX, e foi criado o sistema previdenciá rio para
gerar segurança para a populaçã o.

O Welfare State apoiou-se nas ideias do economista britâ nico John Maynard Keynes (1883-1946).
Para ele, o Estado deveria ser o principal interventor e o articulador da economia. Os investimentos
seriam necessá rios para tirar os países da crise em que se encontravam e garantir, a longo prazo, a
estabilidade do emprego, o que resultaria na estabilidade da demanda e, consequentemente,
evitaria novas crises.

Com mais de 20 milhõ es de desempregados, 14 milhõ es deles nos Estados Unidos do pó s-guerra, os
países centrais nã o tinham outra soluçã o a nã o ser promover uma política de fortalecimento do
Estado e das bases sociais para garantir o funcionamento do pró prio sistema. Com as medidas do
Welfare State, as populaçõ es da Europa e dos Estados Unidos passaram a desfrutar de avanços
sociais significativos. Obviamente, os custos empresariais se elevaram com o aumento dos salá rios,
as jornadas de trabalho reduzidas e os impostos mais altos.

Para as empresas, os países centrais viraram sinô nimos de mercado consumidor e mã o de obra
qualificada, pois agora contavam com escolarizaçã o, enquanto nos países periféricos, as políticas
pú blicas de bem-estar social nã o haviam sido implantadas. Os países periféricos, dessa forma,
tornaram-se interessantes como á reas de exploraçã o da mã o de obra e dos recursos naturais.
Mudava-se a concepçã o da funçã o dos países centrais e periféricos na chamada Divisã o
Internacional do Trabalho e da produçã o (DIT). Observe os esquemas a seguir.

Estú dio Pingado


Estú dio Pingado

Fonte dos esquemas: elaborado pelos autores.

Pá gina 17

Diversos países periféricos, sobretudo da América Latina (Brasil, Argentina e México) e


posteriormente da Á sia (chamados de Tigres e Novos Tigres Asiáticos), industrializaram-se
seguindo os interesses das empresas transnacionais, que ansiavam por lucros mais expressivos. Os
governos dos países periféricos incumbiram-se de criar a infraestrutura necessá ria para a
implantaçã o das indú strias estrangeiras, recorrendo a empréstimos internacionais.

O preço de um produto é fixado, primeiramente, pelo seu custo e valor agregado. Quanto maior a
tecnologia empregada, maior será seu valor final. Dessa forma, o trabalho intelectual, o de criaçã o
tecnoló gica, tem um valor muito maior do que o de açã o mecâ nica, isto é, o da produçã o do gênero
em série. Para equilibrar os valores gastos nas importaçõ es de tecnologia – produtos de alto valor
agregado e máquinas – os países periféricos sã o obrigados a produzir gêneros em quantidades cada
vez maiores. O dinheiro é remetido, por meio do sistema financeiro internacional, para locais mais
seguros ou lucrativos, ou seja, nem sempre quem produziu ficará com o resultado para futuros
investimentos. É por isso também que é tã o discrepante a situaçã o do Produto Interno Bruto (PIB)
dos países.

A política do bem-estar social incentivou a qualificaçã o profissional e o desenvolvimento de novas


tecnologias nos países centrais. O mercado de trabalho passou a valorizar indivíduos com uma
noçã o do todo, e nã o apenas de uma parte da produçã o. Se as condiçõ es de vida melhoraram, pode-
se dizer o mesmo para a economia desses países. A nova DIT contribuiu para a acumulaçã o de
riquezas, explorando os países periféricos, além de gerar uma massa de consumidores de elevado
poder aquisitivo, principalmente nos países desenvolvidos.

Contudo, fatores de ordem econô mica e tecnoló gica implicaram uma nova dinâ mica de produçã o e
consumo nas décadas de 1970 e 1980. Vejamos alguns destaques:

• As crises do petró leo (1973 e 1979) aumentaram muito os preços dos combustíveis fó sseis,
símbolos da Segunda Revoluçã o Industrial.

• Apesar do insucesso dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, a indú stria bélica estadunidense
passou por um forte desenvolvimento do seu Complexo Industrial-Militar.

A geraçã o de novas tecnologias, sobretudo no campo da informá tica e da robó tica pelos países
capitalistas, aumentou a eficiência da economia ocidental. Sem essa eficiência, o bloco socialista
ficou em defasagem na produçã o industrial e militar, o que contribuiu para a sua crise, para o
desmoronamento da Uniã o Soviética e para o fim da Guerra Fria.
TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: DESEMPREGO E NOVAS FORMAS DE ARTICULAÇÃO
DA ECONOMIA MUNDIAL

O fim do socialismo real na ex-Uniã o Soviética e nos seus satélites na Europa Oriental, a vitó ria do
capitalismo e a chegada da Nova Ordem Mundial determinaram o fim da disputa ideoló gica da
Guerra Fria. E, sem a necessidade de mostrar o sistema capitalista como o mais benéfico para os
trabalhadores, as grandes empresas ficaram livres para reduzir os seus custos, principalmente os
de mã o de obra.

A era da informatizaçã o ou Terceira Revoluçã o Industrial trouxe agilidade, interligou o planeta por
meio de sistemas de comunicaçã o e transportes muito eficientes e incorporou máquinas e robô s na
produçã o. Postos de trabalho foram eliminados permanentemente, configurando o desemprego
estrutural.

Desemprego estrutural

É a pró pria estrutura econô mica que passa a ser desempregadora sem perspectiva de voltar a ser
empregadora. Trata-se nã o propriamente de perda, mas da extinçã o dos postos de trabalho.

MARTINS, G. P. Desemprego estrutural na era da globalização. Trabalho de Conclusã o de Curso, Economia.


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2006, p. 34.

Nesse mesmo período, o Neoliberalismo ganhou força, defendido, principalmente, pelos governos
dos Estados Unidos e da Inglaterra. Para eles, a economia se autorregula e, portanto, o Estado nã o
precisa intervir na economia. O fim da “mã o protetora” do Estado ficou muito evidente nos antigos
países socialistas com o fim do Socialismo real. Os neoliberais queriam mais abertura econô mica e o
fim dos benefícios sociais conquistados. Seria o fim do Welfare State? E como ficaram os países em
que ele nem chegou a ser implantado de forma significativa?

No plano da ideologia, o Neoliberalismo prega que o bem-estar é uma conquista individual,


adquirida por meio da competência, em vez do paternalismo do Estado. Dessa forma, o discurso se
afasta do campo das oportunidades e se finca no aspecto da competência individual, fica a cargo do
indivíduo a responsabilidade sobre o sucesso ou o fracasso.

Pá gina 18

Com excesso de mã o de obra no mercado, os processos seletivos passam a ser cada vez mais
rigorosos, enquanto os salá rios ficam cada vez mais baixos. O aprimoramento das técnicas e as
novas relaçõ es de trabalho, avalizadas pelo Estado, trouxeram uma acumulaçã o de capital como
nunca se tinha visto.

Se o poder econô mico interfere no poder político, podemos concluir que os grandes conglomerados
ditam as normas mundiais. O pensamento de Immanuel Wallerstein resume a atual fase capitalista
monopolista e de concentraçã o pessoal de renda:

Acumula-se capital a fim de se acumular mais capital. Os capitalistas sã o como camundongos numa
roda, correndo sempre mais depressa a fim de correrem ainda mais depressa.

WALLERSTEIN, I. Capitalismo histórico e civilização capitalista. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.

ATIVIDADE

Walmartização
O termo “walmartizaçã o” é uma alusã o à forma como a rede estadunidense Walmart impô s as suas
relaçõ es de trabalho.

Pesquise o que vem a ser essa relaçã o, enumere as suas principais características e apresente à
classe o seu ponto de vista sobre o tema.

Com a Terceira Revoluçã o Industrial, ocorreu ainda a formaçã o dos tecnopolos, a partir da
necessidade de acumulaçã o capitalista em maior volume. Sã o á reas onde a produçã o se faz com uso
de tecnologias de ponta e onde ocorre um controle sobre o trabalho mais eficaz, ora por omissã o do
Estado, ora por debilidade sindical.

Os tecnopolos estã o localizados em á reas onde podem se associar empregos especializados e


desenvolvimento de pesquisas. Os tecnopolos caracterizam-se por:

• Uma produçã o no modelo just in time, que produz de acordo com a demanda ou os pedidos.
Associado a isso pode ocorrer o just in case, que é a produçã o mediante existência de estoque
mínimo.

• Uma forte ligaçã o entre fá bricas e centros de pesquisa e universidades.

• Estabelecimento de uma nova relaçã o entre os oligopó lios e as pequenas e médias empresas, que
arcam com os riscos e custos de pesquisas tecnoló gicas para o desenvolvimento das grandes
empresas, gerando uma alta competitividade.

Vivemos, majoritariamente, portanto, o período pó s-fordista, embora persistam prá ticas fordistas e
tayloristas, assim como novas formas de trabalho escravo. As relaçõ es de trabalho sã o agora
flexíveis. O que significa isso? O modelo atual exige que os funcioná rios disponham do seu tempo de
acordo com as necessidades da empresa. Dessa forma, em períodos de grande demanda, os horá rios
sã o ampliados e, em períodos de menor produçã o, as jornadas sã o reduzidas, sem que essa
dinâ mica implique perdas ou ganhos salariais.

Os funcioná rios integram-se à empresa em uma relaçã o de responsabilidade com a produçã o e os


prazos. A satisfaçã o dos clientes garante a manutençã o dos seus empregos. A flexibilizaçã o também
se estende para as contrataçõ es. Com a anuência do Estado e com o enfraquecimento dos
sindicatos, os contratos de trabalho nã o obedecem mais às leis trabalhistas. Segundo os neoliberais,
desonerar as empresas de encargos trabalhistas traz benefícios a todos. Mas quem sã o todos? O
empregado fica sem estabilidade e garantia legal, mas os preços nã o estã o baixando em decorrência
disso. Ao contrá rio, com o monopó lio de mercado, a lei da oferta e da procura é coisa do passado.

Novamente, observa-se que a flexibilizaçã o atende somente aos interesses de maior acumulaçã o de
capital por parte dos grupos empresariais em detrimento da qualidade de vida e bem-estar dos
trabalhadores. E, ainda assim, grande parte da populaçã o mundial pleiteia esses empregos, porque
nã o há outra perspectiva, apenas o desemprego e a diminuiçã o das políticas pú blicas de amparo aos
desempregados.

O método de produçã o atualmente empregado chama-se toyotismo devido à empresa que o criou
e o colocou em prá tica – a japonesa Toyota. Para desenvolver um produto dentro do prazo
prometido ao cliente, a empresa é obrigada a contar com a pontualidade dos fornecedores e com a
flexibilizaçã o do trabalho de seus funcioná rios. Estes sã o altamente capacitados e, com o auxílio de
robô s e computadores, suprem qualquer ausência de um colega. Eles têm a noçã o completa da
produçã o e nã o apenas de um segmento do produto.

Com a expansã o da rede mundial de computadores, muitas vezes nã o é preciso nem mesmo fazer
um novo pedido. Quando um produto é vendido em uma loja, por exemplo, a empresa fornecedora
recebe um relató rio e entende que precisa fabricar um novo produto para suprir o que foi
comercializado. Dentro de uma linha de produçã o, esse sistema é chamado de kanban, palavra
japonesa que significa cartã o.
Pá gina 19

Por meio desse método, um kanban é criado com a descriçã o de um determinado nú mero de peças
produzidas. A produçã o e o kanban sã o enviados para o pró ximo setor de montagem. Quando todas
as peças forem utilizadas, o kanban volta para o seu local de origem, indicando que há necessidade
de confecçã o de novas peças.

Esse sistema evita que determinados componentes sejam fabricados em demasia, o que, por sua
vez, regula os fluxos de estoque. A tecnologia permite que o cartã o kanban seja substituído por
controles virtuais. Dentro de uma empresa de montagem de automó veis, por exemplo, o sistema
kanban funciona eletronicamente. Veja o esquema.

1ª etapa: pedido

Os pedidos das concessioná rias chegam à montadora de automó veis.

2ª etapa: cálculo dos materiais e componentes

• Controle do corte e prensagem das chapas de aço, à medida em que estas chegam das indú strias
siderú rgicas.

• Os pedidos à s empresas terceirizadas ocorrem concomitantemente: bancos, vidros, painéis, pneus


etc.

• As cores especificadas nos pedidos colocam o setor de pintura a par da necessidade imediata do
produto.

3ª etapa: montagem

• Os carros sã o paulatinamente montados por pessoas e robô s. Cada robô tem um controle que
especifica modelo, cor e acessó rios, bem como a etapa de montagem em que se encontram.

• Os automó veis parcialmente montados sã o levados de uma etapa para outra por meio de sistemas
de locomoçã o modernos – esteiras, braços mecâ nicos, guindastes.

4ª etapa: acoplagem dos diversos componentes

Quando a carcaça do automó vel já está pronta, acoplam-se os inú meros componentes:

• Motor.

• Sistema de segurança.

• Vidros.

• Painéis.

• Acabamento interno.

• Bancos.

• Pneus etc.
5ª etapa: testes e envio

• Sã o feitos testes de equipamentos eletrô nicos e dos componentes de segurança.

• Os novos carros ficam no pá tio da empresa, aguardando que os caminhõ es (cegonheiros) os levem
até as concessioná rias que fizeram o pedido.

6ª etapa: entrega do pedido

A concessioná ria entrega os carros aos clientes que os encomendaram com antecedência.
Praticamente nã o existem carros disponíveis para pronta-entrega.

SAIBA MAIS

Dia Mundial do Trabalho

O Dia Mundial do Trabalho foi criado por um Congresso Socialista realizado em Paris no ano de
1889. A data foi escolhida em homenagem à greve geral que ocorreu no dia 1º de maio de 1886, em
Chicago, principal centro industrial dos Estados Unidos daquela época. Milhares de trabalhadores
foram à s ruas protestar contra as péssimas condiçõ es de trabalho, reivindicando a reduçã o da
jornada de trabalho de 13 para 8 horas diá rias. O movimento foi severamente reprimido, o que
gerou um confronto entre os operá rios e a polícia, deixando feridos e mortos.

Esse dia simboliza a luta dos trabalhadores pelos seus direitos, um exemplo para o mundo todo. Por
isso, foi instituído como o Dia Mundial do Trabalho.

Pá gina 20

Observe o mapa a seguir. Nele há um exemplo de como se articula hoje a economia mundial, que
integra desde á reas essencialmente produtoras de bens primá rios (matérias-primas, de baixo valor
agregado, sobretudo) e á reas de alta tecnologia e produtos de elevado valor agregado.

Allmaps
Fonte: Alternatives internationales, n. 14, jan. 2014.

SAIBA MAIS

Valor agregado

[Entende-se] por valor agregado o resultado de processos e atividades adicionados a um item,


produto ou serviço, que o valorizam em relaçã o ao que ele era antes [...] [desse] processo ou
atividade estar presente.

Associaçã o Brasileira de Anunciantes (ABA), Guia das melhores práticas de branding. Disponível em:
<www.aba.com.br/wp-content/uploads/content/ 7868949d15ee144fdf70f30c5a695e22.pdf>. Acesso em: 6 mar.
2016.

ÁREAS INDUSTRIAIS E EMPREGOS


Até as primeiras décadas do século XX, os imigrantes saíam da Europa Ocidental em busca de
melhores condiçõ es de vida na América, Á frica e Á sia. Aos europeus desprovidos de bens, restava a
emigraçã o, muitas vezes incentivada pelos seus governos como forma de diminuir as tensõ es
sociais da época. Esse movimento é considerado como o primeiro grande fluxo migrató rio da Era
Moderna e aconteceu aproximadamente entre os anos de 1870 e 1920.

Posteriormente, entre a Segunda Guerra Mundial e o início dos anos 1970, uma nova onda de
migraçõ es ligada ao trabalho instalou-se no mundo. Os países europeus incentivaram as imigraçõ es
objetivando o preenchimento de vagas de menor qualificaçã o, que nã o eram ocupadas pelas
populaçõ es nativas. Predominantemente, eram imigrantes que se deslocavam de colô nias ou ex-
colô nias de cada país da Europa. Tais movimentos ocorreram em um contexto em que a economia
nos países centrais do capitalismo estava mais está vel e existia um Estado de bem-estar social para
uma grande parte da populaçã o nativa.

Na atualidade, há uma enorme produçã o de riquezas no mundo. Todavia, essa riqueza encontra-se
desigualmente distribuída, como mostram os mapas da pá gina a seguir.

Pá gina 21
Allmaps

Fonte: Wealth-X; UBS Billionaire Census 2014.

Allmaps

*Extrema pobreza é definida para as pessoas que vivem com menos de 1,90 dó lares por dia (medida PPP de 2011).

Fonte: Banco Mundial. Disponível em: <https://ourworldindata.org/world-poverty>. Acesso em: 11 maio 2016.

E a partir do final do século XX, quais passaram a ser as características da migraçã o e sua relaçã o
com o mundo do trabalho? Realize a atividade proposta a seguir para encontrar a resposta.

Pá gina 22

ATIVIDADE

As barreiras imigratórias no tempo

Os seres humanos têm direito ao trabalho e os meios de transporte modernos possibilitam uma
infraestrutura apta a transportar milhõ es de pessoas para regiõ es do mundo onde as condiçõ es de
vida e trabalho sã o melhores. Com a orientaçã o de seus professores de Geografia e Histó ria,
pesquise em atlas, revistas, jornais e internet a direçã o dos principais fluxos migrató rios mundiais
no século XIX, no século XX e no século XXI.

Observe nos mapas encontrados os fluxos migrató rios e investigue, em cada período, quais os
principais países de destino, quais impedimentos à entrada de imigrantes existiram e se existem
ainda hoje. Responda, com base em suas pesquisas e na aná lise dos dois mapas anteriores:

1. Em linhas gerais, quais os sentidos dos principais fluxos migrató rios do século XIX até meados do
século XX?
2. Quais as principais causas relacionadas à s migraçõ es internacionais no século XIX?

3. O que mudou em relaçã o a esses fluxos entre meados do século XX e início do século XXI?

4. Como é possível que, simultaneamente, haja mais milioná rios no mundo e um aumento da
pobreza e da miséria em escala global?

5. Em que medida a distribuiçã o da riqueza impacta os atuais fluxos migrató rios?

6. Pesquise, cite e exemplifique duas barreiras imigrató rias atuais para os refugiados e migrantes
do “sul econô mico”.

REGIÕES ECONÔMICAS E MÃO DE OBRA EMPREGADA


Veremos a seguir alguns exemplos de á reas econô mica e industrialmente importantes e a sua
relaçã o com a mã o de obra empregada.

As regiõ es industriais tradicionalmente atraem trabalhadores de diversas regiõ es e países. À


medida que o Welfare State foi introduzido nos países desenvolvidos, a política do pleno emprego e
as condiçõ es de vida satisfató rias despertaram o interesse de trabalhadores de á reas mais pobres. A
perspectiva de melhoria de vida atraiu multidõ es, aumentando a oferta de mã o de obra e reduzindo
os salá rios.

Vale do Ruhr – Alemanha


Uma das regiõ es europeias da indú stria pesada tradicional é o Vale do Ruhr, na Alemanha.

Allmaps

Fonte: New concise world atlas. 4. ed. Nova Iorque: Oxford University Press, 2013.
Rndiger Wendt/Getty Images

Parque industrial em Duisburg, no Vale do Ruhr, Alemanha, 2013.

O Vale do Ruhr agrega mineradoras, siderú rgicas, metalú rgicas e indú strias químicas. Durante a
Guerra Fria, diversos trabalhos braçais mal remunerados eram executados por imigrantes,
sobretudo turcos. A antiga Alemanha Ocidental mantinha uma relaçã o diplomá tica muito pró xima
com a Turquia, facilitando a imigraçã o. Os imigrantes exerciam funçõ es que os alemã es nã o
desejavam. Na década de 1980, noticiou-se que, em muitas funçõ es, os trabalhadores imigrantes
eram submetidos a situaçõ es que colocavam em risco a sua saú de e a sua vida, como inalaçã o de
produtos e resíduos químicos, contato com substâ ncias nocivas e até radioatividade em usinas
nucleares.

Pá gina 23

Estados Unidos – Grandes Lagos


O nordeste dos Estados Unidos, também conhecido como manufacturing belt, é a mais tradicional
á rea industrial daquele país. A uniã o do carvã o dos Montes Apalaches com o ferro dos Grandes
Lagos possibilitou a formaçã o de uma importante indú stria pesada. A mã o de obra imigrante,
sobretudo da Europa, nos séculos XVIII e XIX, foi decisiva para o crescimento e desenvolvimento
dos Estados Unidos.
Allmaps

Fonte: CHARLIER, J. (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen/Paris: Wolters-Noordhoff/É ditions Nathan, 2011.

Os dizeres presentes na Está tua da Liberdade nos reportam à quela época:

Venham a mim as multidõ es exaustas, pobres e desamparadas, ansiosas por respirar em


liberdade… eu ergo a minha tocha ao lado da porta de ouro.

Com a consolidaçã o do nordeste como a principal á rea econô mica dos Estados Unidos, as relaçõ es
de trabalho também foram se aprimorando na medida em que as leis trabalhistas se aperfeiçoavam
e os sindicatos ficavam mais atuantes.

Estados Unidos – Vale do Silício


No século XX, buscando uma nova geografia de expansã o econô mica, os Estados Unidos se voltam
também para a Á sia, a princípio estreitando relaçõ es com o Japã o e os Tigres Asiá ticos e, mais tarde,
com a China. A costa do Pacífico ganha atençã o como á rea de entrada e saída de produtos para o
Oriente, fato que se traduziu no desenvolvimento de um novo parque industrial na Califó rnia – o
Vale do Silício – especializado na indú stria da informá tica, de ú ltima geraçã o.

As vantagens da costa oeste nã o paravam aí. Com sindicatos menos atuantes e mã o de obra mais
barata, nã o tardou para que conglomerados do nordeste se transferissem para lá.

Allmaps

Fonte: Silicon Maps. Disponível em: <www.siliconmaps.com/ silicon-valley-map/>. Acesso em: 10 maio 2016.

Em 2012, o nú mero estimado de imigrantes nos Estados Unidos era de 12 milhõ es, a maior parte de
latino-americanos ilegais. A fronteira do México com os Estados Unidos, particularmente com a
Califó rnia, é uma das principais rotas de acesso ilegal ao país. A cidade mexicana de Tijuana
encontra-se junto à fronteira, facilitando a passagem para os Estados Unidos. Nem mesmo os
desertos, as cercas e o muro ali existente têm conseguido evitar a entrada de milhares de pessoas
aos Estados Unidos todos os anos. Os imigrantes anseiam por perspectivas de trabalho, ainda que
em situaçõ es precá rias.

Austrália
A Austrá lia é um importante país da Oceania, nã o apenas pelo seu tamanho territorial, mas pelo
desenvolvimento econô mico e social. Embora cerca de 50% do país – a porçã o oeste – seja ocupado
por desertos, a parte leste apresenta um crescimento contínuo. Os ramos industriais de destaque
sã o o alimentício, o têxtil, a mineraçã o, a siderurgia e a química, além de uma ampla oferta de
serviços e comércio.
O país é destaque em IDH e na boa qualidade de vida da populaçã o. Esse perfil socioeconô mico atrai
trabalhadores de países subdesenvolvidos como Filipinas, Indonésia e mesmo Vietnã . Nos ú ltimos
anos, o governo australiano tem demonstrado preocupaçã o com o fluxo crescente de imigrantes
clandestinos que se utilizam de embarcaçõ es simples para chegar à Austrá lia.

Pá gina 24

Estú dio Pingado

Fonte: Ibisworld, 2015. Disponível em: <http://media.ibisworld.com. au/2015/03/16/industry-perspective>. Acesso em: 15


abr. 2016.

França
A França, outra potência econô mica da Europa, possui vá rios centros econô micos importantes, mas
a capital, Paris, é o maior e o mais dinâ mico.

Directphoto Collection/Alamy/Fotoarena

Moradias precá rias rodeadas por conjuntos de prédios no subú rbio de Paris, na França, 2015.

Paris é um centro multicultural. Pela sua condiçã o socioeconô mica, atrai pessoas do pró prio país,
do Leste Europeu e das ex-colô nias francesas na Á frica em busca de trabalho. Esse movimento
populacional contínuo gerou uma estratificaçã o social que também tem origem étnica. Existem os
franceses, os franceses descendentes de imigrantes, os imigrantes legais e os ilegais. A hierarquia
social se consolidou pelas oportunidades oferecidas de maneira desigual.
Os subú rbios parisienses, onde a infraestrutura é precá ria, contrastam com o glamour da á rea
central e turística. Milhares de famílias vivem à margem do progresso e da política do bem-estar
social, em sua maioria constituída por imigrantes ou filhos de imigrantes.

SAIBA MAIS

Pressão em bloco

Países europeus que possuem terras ou á reas sob seu controle na fronteira com a Á frica ou com o
Leste Europeu estã o sendo pressionados pela Uniã o Europeia para que dificultem a entrada de
imigrantes.

A Espanha, por exemplo, foi obrigada a aumentar o contingente de policiais em Ceuta, para evitar
que imigrantes marroquinos tentassem alcançar a Europa por ali. Ceuta é uma á rea de controle
espanhol e, agora, conta com diversas cercas de arame farpado numa extensã o de 8 km. Também há
grande pressã o relacionada aos refugiados sírios.

AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO A PARTIR DO FIM DO SÉCULO XX


A crise do modelo fordista – instaurada em escala global a partir da década de 1970, e cuja face
mais visível materializou-se nas crises do petró leo – levou a profundas mudanças também na
relaçã o entre os trabalhadores e o trabalho.

Se, do ponto de vista das empresas, o toyotismo passou a se apresentar como alternativa – nã o
exclusiva e convivendo com o fordismo/taylorismo –, para os trabalhadores as alternativas
implicaram, na maioria das vezes, em flexibilização das leis trabalhistas.

Flexibilização das leis trabalhistas

A flexibilizaçã o do direito do trabalho vem a ser um conjunto de regras que tem por objetivo
instituir mecanismos tendentes a compatibilizar mudanças de ordem econô mica, tecnoló gica ou
social existentes na relaçã o entre o capital e o trabalho.

MARTINS, S. P. apud AGUIAR, M. D. Flexibilizaçã o das leis trabalhistas. Disponível em: <http://egov.ufsc.br/
portal/sites/default/files/anexos/23269-23271-1-PB. pdf>. Acesso em: 23 mar. 2016.

Pá gina 25

Leia o texto a seguir.

A flexibilização do direito do trabalho como instrumento de desenvolvimento


econômico em conflito com o princípio da vedação do retrocesso social

Vivemos na era do capitalismo dominante e do Neoliberalismo. Diversos direitos têm sido


demudados com vistas ao afastamento – ao menos no campo teó rico – das crises econô micas e a
crescente obtençã o do lucro. Medidas de austeridade, como uma pesada reestruturaçã o do sistema
previdenciá rio, a renovaçã o das cargas tributá rias, entre outras atitudes com consequências
econô micas, políticas e sociais têm sido cultivadas nos mais diversos cená rios, especialmente
aqueles onde crises econô micas já sã o patentes.

A recente recessã o global iniciada em 2008 serviu como campo aberto para que todas as formas
imaginá veis de soluçã o fossem aplicadas, algumas com bastante êxito e outras com vergonhoso
fracasso. Uma das mais debatidas medidas foi a flexibilizaçã o das normas trabalhistas, ou seja, o
abrandamento dos direitos sociais conquistados pelos operá rios com vistas ao barateamento da
mã o de obra e, consequentemente, o aumento dos índices de emprego e a evoluçã o econô mica.

A flexibilizaçã o do Direito do Trabalho era matéria já constante da doutrina juslaboral muito antes,
mas sempre de maneira tímida e visando apenas à adaptaçã o das relaçõ es trabalhistas à atual
realidade globalizada. Mas, apó s a crise econô mica de 2008, a flexibilizaçã o começou a abarcar
também o simples aniquilamento de direitos trabalhistas, tais como a reduçã o dos salá rios, o
aumento da carga de trabalho, a diminuiçã o dos períodos de descanso, entre outras medidas
bastante gravosas.

NASIHGIL, A. A. N; DUARTE, F. C. Nomos, v. 35, n. 2, jul.-dez. 2015. p. 118-119.

Outra saída encontrada pelas empresas para atenuar a crise econô mica é o processo de
terceirizaçã o do trabalho.

SAIBA MAIS

A crise econô mica mundial e a consequente reorganizaçã o nos padrõ es de concorrência


intercapitalista vêm impondo à s grandes empresas industriais e, principalmente, àquelas mais
dinâ micas em seus respectivos mercados, urgente necessidade de reestruturaçã o organizacional.

Nesse sentido, muitas empresas estã o fundamentando seu comportamento competitivo no


paradigma da indú stria japonesa e de seus métodos de gestã o da produçã o, que podem ser
resumidos, em linhas gerais, na ideia da produçã o enxuta e nas filosofias de qualidade total e de
produçã o just in time. Em particular, tais empresas passaram a adotar estratégia voltada a uma
maior descentralizaçã o produtiva. Para isso, passaram a se concentrar em seu negó cio central (core
business), e, em paralelo, a desenvolver/subcontratar uma série de outras empresas (terceiros),
especializadas em atividades/serviços de apoio ou fornecedoras de
peças/componentes/subconjuntos dos produtos finais.

AMATO NETO, J. Reestruturaçã o industrial, terceirizaçã o e redes de subcontrataçã o. Revista de Administração de


Empresas, v. 35, n. 2, mar.-abr. 1995. p. 34.

A terceirizaçã o, portanto, assume diversas formas, desde o trabalhador que executa todo o trabalho
em sua pró pria casa, fazendo e renovando contratos com diferentes empresas ou com uma ú nica
empresa, até a criaçã o de outras empresas prestadoras de serviços ou subempresas para as
diversas etapas do processo produtivo.

Como exemplo, podemos citar o caso dos serviços de limpeza e higiene, sejam eles de bancos,
grandes empresas ou instituiçõ es pú blicas. Praticamente todos foram terceirizados, com o
estabelecimento de contratos com empresas geralmente menores, encarregadas de realizar esses
serviços. É uma forma de desonerar as empresas maiores e/ou pú blicas e transferir os custos
desses profissionais a empresas menores que, por sua vez, para ganhar a concorrência e manter os
contratos, pagam salá rios expressivamente mais baixos que aqueles pagos por instituiçõ es pú blicas
ou empresas maiores, que geralmente têm suas pró prias políticas salariais.

Para compreender mais profundamente a terceirizaçã o e seus impactos sobre o trabalho e os


trabalhadores, leia o fragmento de texto a seguir.

Pá gina 26

Terceirização: debate conceitual e conjuntura política


Desde o início da reorganizaçã o capitalista da produçã o, globalmente desencadeada no ú ltimo
quarto do século passado, a terceirizaçã o tem sido utilizada, por todos os tipos de empresa, como
um dos instrumentos centrais de suas estratégias de acumulaçã o. Trata-se da forma de contrataçã o
laboral que melhor tem se ajustado ao formato neoliberal imposto aos mercados de trabalho,
concedendo à s empresas uma série de benefícios, como a flexibilidade de manejar força de trabalho
a um custo econô mico e político reduzido. As consequências podem ser ainda mais amplas:
internalizar nas mentes e corpos – e, é claro, positivar no direito – um novo valor e um novo
discurso que eliminem o fundamento da regulaçã o social anterior do capitalismo, isto é, que
possam dissociar – ideoló gica, política e juridicamente – a empresa de seus trabalhadores; algo que
possa quebrar, portanto, a noçã o de que há qualquer vínculo entre os lucros auferidos e os
trabalhadores necessá rios à reproduçã o dessa riqueza. No Brasil, a terceirizaçã o vem sendo
crescentemente utilizada e ferrenhamente defendida pelo empresariado e seus representantes há
pelo menos três décadas. […]

Portanto, a terceirizaçã o nã o significa externalizaçã o de fato de atividades da produçã o. O que se


efetiva é uma contrataçã o diferenciada da força de trabalho por parte da empresa tomadora de
serviços. Com isso, busca-se a reduçã o de custos e/ou a externalizaçã o de conflitos trabalhistas,
aumento de produtividade espú ria, recrudescimento da subsunçã o do trabalho, flexibilidade e
externalizaçã o de diversos riscos aos trabalhadores. Em suma, com maior ou menor
intencionalidade, as empresas buscam diminuir resistências da força de trabalho e as limitaçõ es
exó genas ao processo de acumulaçã o. […]

Os estudos dos diversos setores pesquisados nos anos 2000, bancá rios, call centers, petroquímico,
petroleiro, automotivo, complexos agroindustriais, construçã o civil, além das empresas estatais ou
privatizadas de energia elétrica, comunicaçõ es e dos serviços pú blicos de saú de, evidenciam, além
do crescimento da terceirizaçã o, as mú ltiplas formas de precarizaçã o dos trabalhadores
terceirizados em todas estas atividades: nos tipos de contrato, na remuneraçã o, nas condiçõ es de
trabalho e de saú de e na representaçã o sindical.

E revelam também a criaçã o de trabalhadores de primeira e segunda categoria, estimulando a


concorrência e a discriminaçã o dos chamados “terceirizados”.

Dados do Ministério do Trabalho indicam que a terceirizaçã o tende a promover o trabalho aná logo
ao escravo mais do que uma gestã o do trabalho estabelecida sem a figura de ente interposto, o que
a vincula à s piores condiçõ es de trabalho apuradas em todo o país (degradantes, exaustivas,
humilhantes etc.).

Considerando os dez maiores resgates de trabalhadores em condiçõ es aná logas à s de escravos no


Brasil em cada um dos ú ltimos cinco anos (2010 a 2014), em quase 90% dos flagrantes os
trabalhadores vitimados eram terceirizados. [...]

Com relaçã o aos infortú nios, ao externalizar riscos e responsabilidades, sã o potencializados os


fatores acidentogênicos e inibidos os mecanismos de limitaçã o do despotismo patronal. Se a
terceirizaçã o promove maior tendência à transgressã o do limite jurídico à relaçã o de emprego (o
trabalho aná logo ao escravo), também engendra maior propensã o a desrespeitar os limites físicos
dos trabalhadores.

FILGUEIRAS, V. A.; CAVALCANTE, S. M. Terceirizaçã o: debate conceitual e conjuntura política. Revista da Abet, v. 14,
n. 1, jan.-jun. 2015. p. 15-36.

ATIVIDADE

Terceirização e precarização do trabalho em escala nacional e global

O texto anterior aponta alguns setores com processos de terceirizaçã o, como call centers, bancá rio,
petroquímico, automotivo, entre outros. Em duplas, escolham um segmento dentre os citados no
texto e um país da Europa, Á sia, Á frica, Oceania ou América (uma dupla poderá escolher o Brasil e,
se possível, a pró pria cidade).

As duplas deverã o pesquisar as condiçõ es de trabalho terceirizado realizado por mulheres,


crianças, jovens, entre outros, nos países escolhidos. Façam uma síntese textual e iconográ fica
(fotografias, grá ficos, quadros, mapas etc.). Incluam na pesquisa as formas de resistência dos
trabalhadores à s perdas de seus direitos.

A partir da síntese, elaborem um texto analítico a respeito dos efeitos da terceirizaçã o para os
trabalhadores e de sua luta pela manutençã o de seus direitos, acompanhado do levantamento e da
documentaçã o iconográ fica. Por fim, debatam os resultados em classe. Quanto maior a diversidade
de escolha dos países, melhor será o debate.

Pá gina 27

MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO


Mulheres de Atenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas nã o choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas

[...]

BUARQUE, C.; BOAL, A. Mulheres de Atenas. CD: Chico Buarque. Meu Caro Amigo, Universal, 1983.

Embora a letra da mú sica retrate o papel subserviente da mulher grega no passado, tem-se notícia
da luta feminina pela igualdade de direitos desde 195 d.C. Foi quando um grupo de mulheres
reivindicou, junto ao Senado Romano, o direito de utilizar o transporte pú blico, uma vez que isso
era um privilégio masculino.

Muitos séculos se passaram até que as mulheres conseguissem alguns direitos equiparados aos dos
homens. As Revoluçõ es Industriais e as Guerras Mundiais impeliram as mulheres ao mercado de
trabalho, tornando-as chefes de família. Porém, o trabalho fora de casa nã o significou que as
mulheres tivessem salá rios e direitos iguais aos dos homens. Pelo contrá rio, a contrataçã o de
mulheres tinha como objetivo reduzir os custos para o empresariado dos séculos XIX e XX.

SAIBA MAIS

8 de março: Dia Internacional da Mulher

Em 1857, 129 tecelã s da fá brica de tecidos Cotton, em Nova York, entraram em greve por reduçã o
da jornada de trabalho de aproximadamente 14 horas. O movimento foi duramente reprimido pela
polícia, obrigando-as a se refugiarem nas dependências da empresa. No dia 8 de março daquele ano,
policiais trancaram as portas e atearam fogo no estabelecimento, carbonizando todas as operá rias.
A partir de 1910, a ativista Clara Zetkin propô s que o dia 8 de março fosse considerado o Dia
Internacional da Mulher em memó ria das tecelã s e como bandeira de luta pela igualdade de direitos
para todas as mulheres do mundo.

A POSIÇÃO DA MULHER HOJE NO BRASIL


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstra, a partir da sua pesquisa sobre
domicílios, que o papel da mulher no mercado de trabalho vem crescendo exponencialmente ao
longo das ú ltimas décadas. Na década de 1970, 18% das mulheres em idade produtiva trabalhavam
fora. Hoje esse percentual subiu para 50%.

Em meados da década de 1990, 20,81% dos lares tinham como chefe uma mulher. Em 2000, esse
percentual subiu para 26,55%. Em 2011, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio revelou que
esse índice aumentou para 37,4%. Isso indica que, em mais de um terço das famílias brasileiras, as
mulheres sã o as responsá veis pelo orçamento.

Segundo dados da Fundaçã o Carlos Chagas e do IBGE, no início do século XXI, 25% dos chefes de
família brasileiros eram do sexo feminino.

Onde as mulheres brasileiras sã o chefes de família?

• A maior taxa encontra-se na regiã o Norte, com 28,7%.

• O estado do Amapá lidera a taxa de mulheres que sustentam as famílias no Brasil, com percentual
de 40,7%.

DICA DE FILME

As sufragistas

Direçã o: Sarah Gavron. Reino Unido, 2015, 106 min. Classificação: 14 anos.

O filme se passa no final do século XIX e início do XX, na Inglaterra, quando as mulheres passaram a
reivindicar participaçã o na política, incluindo o voto, até entã o restrito aos homens.

O enredo mostra a organizaçã o de um grupo de operá rias que, inspiradas pelas ideias de Emmeline
Pankhurst, lutavam contra as leis sexistas e pela igualdade de direitos.

O cotidiano daquelas mulheres é retratado de maneira realista no filme ao apresentar o assédio que
sofriam no ambiente de trabalho, a submissã o social e ausência de direitos, até mesmo sobre a
tutela dos filhos. A luta daquelas mulheres produziu resultados que reverberaram para as geraçõ es
futuras, mas à custa de muito esforço e sofrimento.

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A maioria recebe rendimentos de até 3 salá rios mínimos. Nos ú ltimos dez anos, quadruplicou a
proporçã o de famílias chefiadas por mulheres. Em relaçã o aos casais sem filhos, o índice passou de
4,5% para 18,3% desde o início da primeira década do século XXI, enquanto entre casais que têm
filhos subiu de 3,4% para 18,4%.

Outro dado refere-se à cor das mulheres chefes de família: na maior parte dos estados elas sã o
negras ou pardas. Com relaçã o aos rendimentos, eles sã o menores que os masculinos, o que ajuda a
manter a situaçã o de pobreza e desigualdades sociais. Em relaçã o à proporçã o de trabalho, as
mulheres estã o sujeitas a uma jornada mais longa que os homens. Isso ocorre pela sobrecarga de
trabalho doméstico acumulado ao profissional. Enquanto os homens gastam, em média, 9,2 horas
semanais com trabalhos domésticos, as mulheres dedicam 20,9 horas no mesmo período. Os jovens
também participam dessas tarefas domésticas. Observe como elas estã o distribuídas
desigualmente.

Estú dio Pingado

Fonte: ARRAES, J. Cinco motivos para discutir a questã o de gê nero na escola. Revista Fórum. Disponível em:
<www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2015/06/19/5-motivos-paradiscutir-questoes-de-genero-na-escola>. Acesso
em: 9 mar. 2016.

Apesar de podermos observar avanços em relaçã o à participaçã o feminina em diversos campos e


uma pequena reduçã o da desigualdade salarial entre os gêneros, as mulheres ainda ganham menos
que os homens.

Estú dio Pingado

(A representaçã o nã o segue as convençõ es cartográ ficas.)

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenaçã o de Trabalho e Rendimento. Pesquisa nacional por amostra de domicílios
2011-2012.

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Mesmo em profissõ es com maior escolaridade, os salá rios femininos continuam inferiores aos
masculinos. Isso ocorre em toda a América Latina, conforme os dados a seguir.

Estú dio Pingado

Fonte: Banco Interamericano de Desenvolvimento. Disponível em: <www.iadb.org/pt/noticias/artigos/2012-10-15/a-


diferenca-salarialentre-homens-e-mulheres,10155.html>. Acesso em: 23 mar. 2016.

TRABALHO ESCRAVO NA ATUALIDADE


Apesar de as relaçõ es assalariadas predominarem hoje em todo o mundo, ainda persistem, nas mais
diversas regiõ es e países, variadas formas de trabalho compulsó rio ou forçado, também chamado
de trabalho em condiçõ es aná logas à escravidã o.

Os relató rios mais recentes da Organizaçã o Internacional do Trabalho (OIT) afirmam que a
escravidã o cresceu em todo o mundo e é particularmente grave no sul da Á sia, especialmente na
Índia. De acordo com essa organizaçã o, as principais vítimas dessa forma de exploraçã o sã o as
mulheres, as crianças, imigrantes sem documentos e populaçõ es indígenas.

O trabalho escravo em alguns países

Índia: Milhõ es de indianos vivem em condiçã o de servidã o por dívida. Eles estã o em olarias,
moinhos de arroz e na agricultura. Crianças sã o submetidas a trabalho forçado como operá rias,
empregadas domésticas, trabalhadores agrícolas ou mendigos. Há leis proibindo o trá fico sexual, o
trabalho forçado e o trabalho infantil, com penas que vã o de sete anos de reclusã o à prisã o
perpétua. Mas condenaçõ es por trabalho escravo na Índia sã o raras, em razã o de tribunais
sobrecarregados e falta de comprometimento de autoridades locais.

Suécia: É destino e país de trâ nsito para mulheres e crianças vítimas de trá fico de pessoas,
principalmente para prostituiçã o forçada. Em muitos casos, as vítimas pensam que trabalharã o
como dançarinas, por exemplo, mas depois seus documentos sã o confiscados e sofrem ameaças de
abuso sexual para que aceitem se prostituir.
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O trabalho escravo na Suécia tem também casos de homens, mulheres e crianças trabalhando de
maneira forçada em serviços domésticos, restaurantes, estradas, construçã o e jardinagem. Pessoas
do leste europeu também sã o encontradas mendigando ou roubando na Suécia a mando de má fias.
Turismo sexual é outro grande problema: estima-se que os suecos que viajam ao estrangeiro
compram serviços sexuais de crianças entre 4 mil e 5 mil vezes por ano. A legislaçã o antiescravidã o
do país, de 2002, proíbe trabalho escravo na Suécia tanto para exploraçã o sexual como para
trabalho forçado, e prevê penas de dois a dez anos de prisã o.

Reino Unido: Todas as formas de escravidã o sã o proibidas, com penas que podem chegar a 14
anos de prisã o. Ainda assim, crianças britânicas sã o escravizadas no país para prostituiçã o e
estrangeiros sã o obrigados a mendigar ou roubar. Migrantes sã o submetidos a trabalhos forçados
na agricultura, construçã o civil, indú stria de alimentos e serviços domésticos. Crianças vietnamitas
e chinesas sã o envolvidas em servidã o por dívida pelo crime organizado e obrigadas a trabalhar no
cultivo de Cannabis. O governo, no entanto, adota política de nã o penalizar vítimas de escravizaçã o
ou trá fico humano, já que muitas delas continuam a ser processadas por crimes de imigraçã o. Os
casos de trabalho escravo no Reino Unido sã o relatados pela organizaçã o nã o governamental Anti-
Slavery International, de 1839, uma das mais antigas organizaçõ es abolicionistas do mundo.

México: A maioria das vítimas estrangeiras é proveniente da América Central. Além de cartéis de
drogas mexicanos, redes de crime organizado de todo o mundo estariam envolvidas no trabalho
escravo no México. Em 2007, o país criou lei para proibir todas as formas de escravidã o, com penas
de prisã o de seis a 12 anos. Quando a vítima for criança ou mentalmente incapaz, as penas para o
trabalho escravo no México podem chegar a 18 anos de prisã o.

Estados Unidos: O trabalho forçado acontece em serviços domésticos, agricultura, indú stria e
construçã o civil. Há casos em que trabalhadores sã o vítimas recrutadas em outros países,
principalmente da América Latina, e pagam para obter emprego nos Estados Unidos, o que os torna
vulnerá veis à servidã o por dívida. Entre os norte-americanos, o trabalho degradante ocorre mais
sob a forma de escravidã o sexual do que de trabalho forçado. O país, no entanto, proíbe todas as
formas de escravidã o por meio de leis aprovadas há quase 150 anos. As penas hoje para o trabalho
escravo nos Estados Unidos variam de cinco anos de reclusã o à prisã o perpétua. Apesar da proteçã o
federal à s vítimas, apenas nove dos 50 estados oferecem benefícios pú blicos à s vítimas do trabalho
escravo nos Estados Unidos.

China: As atividades econô micas que mais utilizam mã o de obra forçada sã o a indú stria de tijolos,
as minas de carvã o e a construçã o civil. A legislaçã o do país nã o reconhece homens como vítimas de
trá fico ou adultos como vítimas de trabalho escravo na China. […] Há evidências de trabalho infantil
forçado em fá bricas e fazendas, sob pretexto de formaçã o profissional. A extensã o do trabalho
escravo na China nã o é clara, em parte porque o governo limita a divulgaçã o de informaçõ es.

Haiti: A maioria dos casos de escravidã o é encontrada entre os cerca de 225 mil restavecs (do
francês rester avec, “ficar com”) – filhos de pais pobres entregues a famílias mais ricas. Existem
ainda cerca de 3 mil restavecs haitianos na vizinha Repú blica Dominicana. Restavecs fugitivos
compõ em proporçã o significativa da populaçã o de crianças de rua, que frequentemente sã o
forçadas a trabalhar na prostituiçã o ou no crime. A limitada capacidade das instituiçõ es do país
para responder ao trabalho escravo no Haiti foi ainda mais enfraquecida pelos danos do grande
terremoto de janeiro de 2010, que deixou mais de 200 mil mortos e 1 milhã o de desabrigados.

Em discussão! Revista de audiência pú blicas do Senado Federal, ano 2, n. 7, maio 2011. Disponível em:
<www.senado.gov.br/noticias/jornal/emdiscussao/Upload/201102%20-%20maio/pdf/ em%20discuss%C3%A3o!
_maio_internet.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2016.

Como se pode observar com base nesses dados, há um processo de retomada da escravidã o na
atualidade, agora sob novas formas, como a escravidã o por dívidas.
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Observe a distribuiçã o espacial da escravidã o no mundo, atualmente.

AFP Fonte: Walk Free Foundation

(A representaçã o nã o segue as convençõ es cartográ ficas.)

Fonte: AFP. Walk Free Foundation. Disponível em: <www.jornalnh.com.br/_conteudo/2014/11/noticias/mundo/103818-


quase-36- milhoes-de-pessoas-sao-vitimas-da-escravidao-no-mundo.html>. Acesso em: 29 abr. 2016.

A OIT considera que o trabalho forçado corresponde a “todo trabalho ou serviço exigido de uma
pessoa sob a ameaça de sançã o e para o qual ela nã o tiver se oferecido espontaneamente”.
Considera ainda que a escravidã o contemporâ nea – como vimos nos exemplos citados – assume
diferentes formas, como escravidã o por dívida, rapto ou sequestro, comércio de pessoas, coaçã o
psicoló gica, engano ou falsas promessas de trabalho, confinamento no local de trabalho, retençã o
ou nã o pagamento de salá rios, retençã o de documentos de identidade, entre outros. A escravidã o
no mundo cresce na proporçã o da miséria e da impunidade.

O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO


As formas atuais do trabalho escravo no Brasil estã o associadas, na maioria das vezes, à escravidã o
por dívidas. Trabalhadores sã o aliciados por “gatos”, especialmente nas á reas mais pobres, com
promessas de trabalho, alimentaçã o, transporte e moradia. Entã o, sã o transportados por esses
aliciadores para lugares muitas vezes distantes de seus locais de moradia, perdendo contato com
familiares e amigos.

Apó s um período de trabalho, o indivíduo é informado de que possui dívidas com o dono da
propriedade. As dívidas, associadas aos custos de alimentaçã o e moradia, sempre ultrapassam os
valores a serem recebidos por esses trabalhadores.

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Desse modo, enquanto a dívida nã o for quitada, o trabalhador é proibido de deixar a propriedade.

Em seus locais de trabalho, além de uma dívida infindá vel, esses trabalhadores sã o expostos a
jornadas exaustivas de trabalho, péssima alimentaçã o, alojamentos precá rios, falta de assistência
médica, falta de saneamento e á gua potá vel, maus-tratos e violência.

Observe no infográ fico a seguir onde se concentra o trabalho escravo no campo, no Brasil.

Estú dio Pingado

*Dados arredondados. Nos ú ltimos anos, no entanto, tem sido descoberto que outras atividades fazem uso de mão de
obra forçada – antes encontrada principalmente na Amazô nia –, inclusive em grandes cidades do país.
Fonte: Em discussão! Revista de audiê ncia pú blicas do Senado Federal, ano 2, n. 7, maio 2011, p. 23. Disponível em:
<www.senado.gov.br/noticias/jornal/emdiscussao/Upload/201102%20-%20maio/pdf/em%20discuss%C3%A3o!_
maio_internet.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2016.

Além da existência do trabalho escravo no campo, essa prá tica vem crescendo também nas á reas
urbanas. Os resgates de trabalhadores escravos urbanos superaram o de escravos rurais no Brasil a
partir de 2014, principalmente nos setores de construçã o civil e na indú stria de confecçõ es.

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Estú dio Pingado

* Outros: extraçã o mineral, olaria, alimentaçã o, clube, navio de cruzeiro, transporte rodoviá rio, pesca, fabricaçã o de
cerâ mica, parque de exposiçã o, fabricaçã o de artigos pirotécnicos, separaçã o de lixo, mecâ nica e serviços domésticos.

(A representaçã o nã o segue as convençõ es cartográ ficas.) Fonte: Ministé rio do Trabalho e Emprego, 2014. Disponível em:
<www2.planalto.gov.br/noticias/2015/05/ministerio-divulga-numeros-dotrabalho-escravo-em-2014>. Acesso em: 23 mar.
2016.

Apesar de o Estado estar se esforçando para combater essa prá tica, ela tem se tornado cada vez
mais comum, nã o apenas no Brasil, mas em diversos outros países, inclusive os desenvolvidos.

TRABALHO INFANTOJUVENIL E POLÍTICAS PÚBLICAS


Nesta seçã o, trataremos do trabalho desenvolvido por crianças e adolescentes, com idades variando
entre 5 e 16 anos. Há duas questõ es alarmantes: o aumento da violência e a exploraçã o de crianças
e jovens, inclusive a sexual. Novamente essas questõ es remetem à problemá tica inicial de nosso
capítulo: as mudanças nas relaçõ es de trabalho, com o crescente desemprego, a desregulaçã o do
trabalho e a concentraçã o de terras e renda.

O trabalho infantojuvenil, apesar de ser condenado e passível de puniçã o, representa, de um lado, a


possibilidade de sobrevivência para as famílias ou grupos muito pobres; e, de outro, mã o de obra
farta e barata para fazendeiros e empresá rios. Historicamente, desde a Primeira Revoluçã o
Industrial, no século XVIII, utiliza-se trabalho infantojuvenil, por ser mais barato, pelo fato de as
crianças e jovens serem mais á geis e por nã o existir, até recentemente, uma legislaçã o reguladora
desse tipo de trabalho.

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No Brasil, a inserçã o de crianças e adolescentes no mundo do trabalho é decorrência do baixo


rendimento salarial de seus pais. O trabalho infantojuvenil, dessa forma, é considerado
complemento da renda familiar. Desde 1891, existem tentativas de regulamentaçã o do trabalho
infantojuvenil. Em 1927, o primeiro Có digo de Menores limitava a idade mínima para ingresso no
mercado de trabalho em 12 anos e proibia o trabalho noturno para crianças e adolescentes. Em
1943, a Consolidaçã o das Leis do Trabalho (CLT) regulamentou as normas especiais de tutela e
proteçã o do trabalho infantojuvenil e, em 1969, a Emenda Constitucional nú mero 1 fixou a
menoridade trabalhista de 12 a 18 anos de idade. Em 1988, a nova Constituiçã o brasileira fixou em
14 anos a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho, exceto na condiçã o de aprendiz (que
nã o foi regulamentada nem esclarecida). Em 1990, com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a lei
passou a prever proteçã o integral à s crianças e adolescentes, inclusive no caso daqueles que
estavam ingressando no mercado de trabalho. Recentemente, o Brasil ratificou um acordo
internacional junto à OIT, prevendo 16 anos como idade mínima para ingresso no mercado de
trabalho e dos 14 aos 16 anos na condiçã o de aprendiz.

No entanto, por ser uma atividade invisível, uma vez que a exploraçã o do trabalho infantojuvenil é
ilegal, os dados nã o sã o exatos. No caso das meninas que trabalham, por exemplo, essa atividade
pode ser realizada no lar (o emprego doméstico), fora da açã o de fiscais.

O trabalho em idade precoce dificulta o pleno desenvolvimento físico, emocional e intelectual do ser
humano, incidindo sobre sua escolaridade, que, por sua vez, influenciará seus salá rios. Quanto
maior for o nível de escolaridade de uma pessoa, maiores serã o suas chances de ingressar no
mercado de trabalho formal e obter bons ganhos salariais. Por sua vez, crianças e jovens que
começam a trabalhar muito cedo logo abandonam a escola (em média, os jovens brasileiros
possuem 7,4 anos de estudo) e recebem uma baixa remuneraçã o por seu trabalho (em torno de
1,46 salá rio mínimo).

Observe no mapa a seguir a situaçã o do trabalho infantil no mundo em 2014.


Allmaps

Fonte: Maplecroft. Disponível em: <http://maplecroft.com/portfolio/new-analysis/2013/10/15/child-labour-risks-


increasechina-and-russia-most-progress-shown-south-america-maplecroft-index>. Acesso em: 10 mar. 2016.

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O tipo de atividade desenvolvida por crianças e adolescentes também varia conforme as grandes
regiõ es brasileiras e entre o meio rural e urbano. Desse contingente de crianças trabalhando,
estima-se que 20% nã o frequentem escolas e, entre os adolescentes que trabalham, somente 25,5%
conseguiram concluir oito anos de escolaridade.

De acordo com o Censo do IBGE, havia no Brasil, em 2010, aproximadamente 3,4 milhõ es de
crianças e adolescentes (entre 10 a 17 anos) trabalhando.

Leia mais sobre o tema no texto a seguir, escrito pela Repó rter Brasil, organizaçã o fundada em 2001
por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de fomentar a reflexã o e a açã o sobre
a violaçã o dos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores do campo no Brasil.

Qual a situação do trabalho infantil no Brasil?

Cerca de 60% das crianças e adolescentes que trabalham sã o do sexo masculino, mas em algumas
atividades, como o trabalho doméstico e a exploraçã o sexual, as meninas predominam. Mais de
90% da populaçã o infantojuvenil que realiza serviços domésticos é do sexo feminino, por exemplo.
[...] O trabalho doméstico é considerado uma das piores formas de trabalho infantil. Ele é difícil de
ser combatido, pois ele se encontra em â mbito privado, o que o pode tornar invisível e difícil de ser
identificado. [...]

Crianças e adolescentes trabalham apenas em situaçã o de extrema pobreza, para ajudar no


orçamento familiar? Nã o. O Censo de 2010 mostra um quadro bastante diferente daquele que se
observava nos anos 1990. Os dados apontam que quase 40% das crianças e adolescentes que
trabalham sã o de famílias que vivem acima da linha de pobreza. Atualmente, muitos adolescentes
trabalham para ter acesso a bens de consumo, como tênis, videogames, e celulares, ou para fazer
atividades de cultura e lazer, como shows, cinema e viagens. Sã o aspiraçõ es materiais, incentivadas
pela publicidade onipresente, que nem suas famílias nem os programas de transferência de renda
podem satisfazer. Eles entram no mercado de trabalho, muitas vezes em empregos precá rios e
informais, em busca de inclusã o social, autonomia e independência econô mica. Em geral, eles têm
acima de 14 anos e estã o mais concentrados nos centros urbanos. Ainda que essas famílias
prescindam dos rendimentos desses adolescentes para o sustento familiar, isso nã o significa que
nã o sejam de baixa renda.

Repó rter Brasil. Especial meia infância: desafios ao combate do trabalho infantil. Sã o Paulo, 2012, p. 19-22.
Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/wp-content/ uploads/2015/02/24.-meia_infancia_baixa_web.pdf>.
Acesso em: 24 mar. 2016.

Observe agora as aná lises da Repó rter Brasil em dados:

Estú dio Pingado

Fonte: Repó rter Brasil. Especial meia infância: desafios ao combate do trabalho infantil. Sã o Paulo, 2012. p. 19. Disponível
em: <http://reporterbrasil.org.br/wp-content/ uploads/2015/02/24.-meia_infancia_baixa_web.pdf>. Acesso em: 24 mar.
2016.

Desde a década de 1990, tem sido feita uma série de açõ es de combate ao trabalho infantil, tais
como o Programa de Erradicaçã o do Trabalho Infantil (PETI), que foi integrado ao Bolsa Família em
2005, além de açõ es de fiscalizaçã o do trabalho. Todavia, principalmente em relaçã o ao trabalho
infantojuvenil doméstico, muitas açõ es ainda precisam ser realizadas.

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TRABALHO E LAZER
As atividades de lazer com as quais nos envolvemos representam, na atualidade, uma das mais
importantes fontes de geraçã o de emprego e riquezas. A maior “disponibilidade de tempo livre”
para aqueles trabalhadores formalmente inseridos no mercado de trabalho significou efetivamente
a transformaçã o desse tempo em fonte de riqueza e consumo.
A discussã o sobre trabalho e lazer na contemporaneidade está relacionada à forma como
trabalhamos e produzimos riquezas. Como afirmamos no início do capítulo, toda tecnologia é, em si,
poupadora de mã o de obra. No entanto, historicamente, quando má quinas e equipamentos
começaram a ser incorporados ao trabalho, houve um aumento das horas trabalhadas. Com a
Revoluçã o Industrial, passou-se a trabalhar 14 a 16 horas nas fá bricas. Por isso, os trabalhadores
ingleses procuraram resistir à s mudanças em seu modo de vida quebrando as máquinas,
considerando-as responsá veis pelo desemprego, pelos baixos salá rios e pelas péssimas condiçõ es
de trabalho entã o vigentes.

Aos poucos, os movimentos organizados dos trabalhadores conquistaram melhores condiçõ es,
inclusive com reduçã o da jornada para algo entre 8 e 10 horas, que predominou no mundo da
produçã o até a década de 1970.

Novamente, outra revoluçã o tecnoló gica permitiu aumentar o “tempo livre” a partir da
incorporaçã o da robó tica e cibernética na linha de produçã o. Porém, ao invés de tempo livre,
podemos observar o crescimento do desemprego e a captura desse tempo livre – nã o mais o ó cio
criativo – dedicado ao aprimoramento pessoal ou à convivência, mas um tempo em que também
nos inserimos no consumo: consumo de viagens, de restaurantes da moda, de passeios aos
shoppings (eles mesmos, grandes centros de consumo), de idas e vindas aos teatros, cinemas etc.
Por isso, uma das indú strias que mais cresce atualmente no mundo é a indústria do
entretenimento, que ocupou o tempo livre duramente conquistado e transformou o lazer em
consumo.

A indú stria do entretenimento envolve milhares de empregos no setor terciá rio: a criaçã o, execuçã o
e exibiçã o de filmes, vídeos e novelas implicam a produçã o, comercializaçã o e exibiçã o, que, por sua
vez, implicam o famoso merchandising, ou seja, a divulgaçã o de marcas e ideias nas telas.

Merchandising

Exemplos nas novelas brasileiras nã o faltam: desde a divulgaçã o de redes bancá rias até marcas e produtos. Os
canais de televisã o também apostam no que chamam de merchandising social, com a divulgaçã o explícita de
temas sociais: campanhas pelo desarmamento, contra o uso de drogas, contra o alcoolismo, a favor da doaçã o e
transplantes de ó rgã os.

No caso do cinema, a divulgaçã o de marcas e ideias também é muito clara: você já observou as marcas que
aparecem “ao acaso” ou mesmo “de relance” nas cenas? Preste atençã o e verá em constante circulaçã o imagens
rá pidas de diversas marcas e produtos. Existem também casos explícitos de produçã o das imagens e venda de
produtos. Há filmes que incitam a visita a determinados centros de entretenimento e promovem a
comercialização de canetas, pastas, cadernos, lá pis, miniaturas com personagens “favoritos”, por exemplo. Os
filmes de super-heró is também alavancam a comercializaçã o das revistas em quadrinhos (em alguns casos,
com a morte e posterior ressurreição dos heró is).

No caso de ideias, você já parou para pensar sobre a imagem que você tem a respeito da Á frica? É possível que
você imagine um continente inteiro cheio de leõ es, elefantes, crianças em estado de miséria, tribos
rudimentares que necessitam de um homem branco para protegê-las – os filmes do Tarzan, por exemplo,
divulgaram mundialmente uma ideia coletiva comum acerca do continente africano.

O cinema também promove ideias associadas a momentos importantes da histó ria mundial e estereó tipos: os
filmes do 007, opondo estadunidenses a soviéticos no período da Guerra Fria; os filmes sobre a conquista do
oeste estadunidense, com os índios maus e traiçoeiros contra os brancos bons e valentes; os filmes em que os
terroristas atuais sã o todos á rabes; os traficantes, latinos; os violentos, negros, entre outros.

Além da produçã o associada à imagem (caso do cinema e da televisã o), observamos o grande
desenvolvimento da indú stria do turismo, que também emprega milhares de trabalhadores e gera
bilhõ es de dó lares em todo o mundo. O turista, ao viajar, necessita dos meios de transporte e
locomoçã o, de hospedagem, entre outros. Nessa atividade geradora de empregos e, ao mesmo
tempo, transformadora do tempo livre em tempo de consumo, há o consumo de paisagens, locais
histó ricos, locais sagrados. É tã o grande a pressã o social para que realizemos em nossas férias e
feriados essas atividades que nossos colegas estranham quando dizemos que nã o fizemos nada, que
optamos por ficar em casa e conviver com a família, ler um livro, ouvir nossas mú sicas preferidas.

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Em outras palavras, nosso tempo nã o é realmente livre: ou estamos ocupados produzindo, ou


estamos ocupados consumindo e mantendo os mecanismos da produçã o.

As á reas preferenciais para os turistas sã o aquelas que detêm maior infraestrutura, localizadas nos
países centrais. Ao mesmo tempo, a porcentagem maior de turistas circulando no mundo também é
oriunda dessas regiõ es e circula entre elas.

No entanto, essa indú stria do entretenimento e o consumo do tempo livre somente é possível para
aquelas parcelas populacionais integradas ao mercado consumidor, ou seja, aquelas pessoas
formalmente integradas ao mercado de trabalho.

Como pudemos perceber anteriormente, o aumento do desemprego tem levado, na realidade, ao


aumento das horas de trabalho, à precarizaçã o das condiçõ es de trabalho e a uma maior
concentraçã o de renda em escala global. Desse modo, ao lado desse crescimento do consumo,
observamos, proporcionalmente, um aumento da miséria e da violência.

Se ser cidadã o na atual sociedade é ser incluí do como consumidor e, para ser consumidor é
necessá rio ter renda, e, para ter renda, é necessá ria uma atividade econô mica capaz de gerar
excedentes em dinheiro, como é possível aos milhõ es de desempregados se inserirem nesse
contexto? Como é possível aos 550 milhõ es de pessoas que vivem com menos de 1,25 dó lar por dia
se integrarem ao sistema?

Nã o é possível. Sã o milhares de pessoas desterritorializadas (expatriadas, refugiadas, clandestinas)


em todos os países em busca de uma identidade, de um grupo, de uma sociedade e sociabilidade
que lhes permita existir.

Ao longo dessa histó ria do trabalho e dos trabalhadores, podemos dizer também que houve uma
dissociaçã o entre trabalho e vida: o trabalho é realizado em um espaço pú blico, fora de casa. A vida
– pessoal, sobretudo – é do â mbito privado. Mais uma vez, as mudanças no mundo do trabalho vêm
modificar um pouco esse quadro: existem inú meros trabalhadores que realizam suas atividades
produtivas em seu espaço privado, porém sem conseguir reassociar trabalho e lazer. Todo o tempo
disponível é utilizado na produçã o, ainda que esta se realize no espaço das pró prias residências. E o
tempo livre é gasto nas viagens, compras interminá veis, bares, restaurantes da moda, carros etc.
Nesses casos, compramos a ideia de que o produto em si basta.

TRABALHO, CONSUMO E VIOLÊNCIA


Para compreendermos essa associaçã o, é preciso considerar a sua historicidade. Na década de
1970, no Brasil, havia quase uma associaçã o imediata entre pobreza e violência: as regiõ es e
populaçõ es mais pobres eram consideradas mais violentas, e essa violência era provocada
principalmente pela necessidade de sobrevivência. Assim, a violência era associada quase que
somente a um problema estrutural do capitalismo: por ser concentrador de renda, impossibilitava o
acesso a melhores condiçõ es de vida – em alguns casos, impedia inclusive a sobrevivência – e isso
era a causa maior das manifestaçõ es violentas. Valia aquela ideia de que, quanto maior a pobreza,
maior a violência.

No entanto, a partir do final da década de 1980, essas ideias passaram a ser muito criticadas, uma
vez que, se por um lado havia trabalhadores superexplorados ou desempregados que se tornavam
violentos, de outro lado centenas de trabalhadores nas mesmas condiçõ es nã o apelavam para a
violência como forma de sobrevivência. E mais: inú meras pesquisas constataram a expansã o da
violência para á reas consideradas nobres, atingindo populaçõ es de maior poder aquisitivo.

Atualmente, acredita-se que as causas do aumento da violência sejam mú ltiplas:

• Pobreza.

• Maiores dificuldades de acesso aos bens pú blicos (saú de, educaçã o, lazer).

• Desemprego e/ou trabalho precá rio.

• Características pessoais como necessidade de autoafirmaçã o (para integrar gangues, por


exemplo).

• Necessidade de consumir drogas.

• Problemas psíquicos (como as psicoses e esquizofrenia).

• Necessidade de atender à s demandas do consumo (associado nã o necessariamente à


sobrevivência, mas à vaidade e à autoafirmaçã o).

• Participaçã o em grupos ultrarradicais (caso dos skinheads, por exemplo, que praticam violência
gratuita motivada por preconceitos raciais ou de orientaçã o sexual).

Porém, uma constataçã o pode ser feita: os relatos de violência sã o, em geral, mais numerosos nas
á reas ocupadas por populaçõ es de menor poder aquisitivo e menor acesso aos bens pú blicos,
apesar de ocorrer em todas as classes sociais.

Pá gina 38

Outro ponto relevante a ser observado é o aumento da violência associada aos diversos tipos de
trá fico: drogas, armas, pessoas, ó rgã os humanos. Esse aumento nã o é um fenô meno isolado, mas
está presente em todo o globo. Assim, se falamos de globalizaçã o econô mica, é preciso considerar
que houve também uma globalizaçã o da violência, com difusã o global das má fias (italiana, japonesa,
russa etc.).
Allmaps

Fonte: Le Monde. Disponível em: <http://ecologie.blog.lemonde.fr/2012/12/14/le-braconnage-despecessauvages-4e-


marche-illegal-au-monde>. Acesso em: 29 abr. 2016.

Um exemplo de violência relacionada à baixa renda é constatado em um estudo que mostra a


chance de sobrevivência de crianças carentes. As crianças que recebem exclusivamente
alimentaçã o oferecida pelos pais de baixa renda têm mais chance de desenvolver um tipo de
subnutriçã o do que aquelas que saem das suas casas quando os pais estã o trabalhando e pedem
esmolas ou alimentos nas ruas. Essas acabam ingerindo quantidade maior de proteínas do que as
que se mantêm em casa. Em resumo, a precariedade dos baixos salá rios e o desemprego impelem as
crianças para a rua. Soma-se a isso a violência doméstica, e temos um contingente de crianças e
adolescentes vivendo à margem da sociedade, extremamente suscetíveis ao aliciamento de grupos
criminosos.

O consumo também é um gerador de violência na medida em que ele demarca o status social do
indivíduo. Quando o consumo ocorre num ritmo além do necessá rio, ele sinaliza uma necessidade
pessoal de autoafirmaçã o, de sublimaçã o do ego, de relativizar carências pessoais ou, ainda, da
necessidade de se sentir aceito por um determinado grupo ou esfera social. A propaganda trabalha
nesse sentido para produzir novos consumidores. Existem violência e autoviolência em nome do
consumismo. Leia o texto a seguir.

65% das meninas que se prostituem usam dinheiro em bens de consumo

Celular é o produto mais cobiçado; boa parte também admite que emprega dinheiro na compra de
drogas

Pesquisa pioneira no país sobre o perfil de crianças e adolescentes vítimas de exploraçã o sexual
mostra que 65% usam o dinheiro recebido em troca de sexo para comprar objetos como celular,
tênis ou blusa da moda. Três em cada dez assumiram vender o corpo para sustentar o vício das
drogas. O valor médio recebido pelas relaçõ es é de R$ 37, mas há relatos de programas que
custaram R$ 10.

Os resultados foram apresentados ontem pelo Instituto WCF-Brasil (Childhood), entidade


internacional que atua no combate à exploraçã o infantil. Foram acompanhados por psicó logos
especializados em violência 66 meninas e 3 meninos de 10 a 17 anos, atendidos por instituiçõ es
especializadas.

“O trabalho mostrou, diferentemente do que se imagina, que elas nã o sã o meninas em situaçã o de


miséria absoluta, a ponto de trocar sexo por comida”, diz o coordenador do estudo e psicó logo da

Pá gina 39

Universidade Federal de Sergipe Elder Cerqueira-Santos. “O que mais apareceu como motivaçã o
foram bens de consumo.” Essa situaçã o foi encontrada nos oito estados pesquisados (Pará , Sergipe,
Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia, Sã o Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul).

“Vivemos hoje uma situaçã o de marketing infantil violento”, avalia a coordenadora da Associaçã o
Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente, Fernanda Lavarello. “Todos sã o
atingidos por esse fenô meno; quem tem ou nã o condiçõ es financeiras de comprar. O que muda é a
estratégia para consumir.”

A frase “sem um celular você nã o é ninguém”, dita por uma das garotas, resume um dos principais
problemas provocados pela troca de sexo por bens de consumo. Os especialistas avaliam que nem a
sociedade nem as meninas notam que ocupam o papel de vítimas na exploraçã o. “Fizemos uma
pesquisa com caminhoneiros brasileiros e os que admitiram (37%) já terem sido clientes de
menores de idade mantiveram esse discurso”, ressalta Anna Flora Werneck, coordenadora de
projetos da Childhood. “Nã o acham essas meninas coitadinhas – e sim responsá veis por aquela
situaçã o”, completou o psicó logo Cerqueira-Santos.

Outro dado que compõ e o quadro da exploraçã o, e também contribui para que as garotas sejam
responsabilizadas, é o uso de substâ ncias químicas. Os índices de uso entre as garotas
acompanhadas pelos pesquisadores foram mais altos do que os padrõ es de consumo da populaçã o
na mesma faixa etá ria. Entre as exploradas, 88% relataram usar á lcool e 36% maconha – em
meninas de mesma idade, o porcentual é de 4%, segundo a Universidade Federal de Sã o Paulo
(Unifesp).

Vulnerá veis pela dependência química e culpadas por vender o corpo, as meninas fomentam o ciclo
de abuso infantil que está espalhado por 1.819 pontos de risco, já mapeados pela Polícia Rodoviá ria
Federal, apenas nas estradas brasileiras.

ARANDA, F. O Estado de S. Paulo, 7 out. 2009.

A sujeiçã o de jovens de todas as classes aos apelos do consumo reflete o poder dos meios de
comunicaçã o e a mudança de valores. Quando as relaçõ es humanas sã o “coisificadas”, temos uma
sociedade doente e insensível a qualquer tipo de responsabilidade, tanto de natureza ambiental
como social.

O grau de individualismo desemboca no consumo alienado, em que se vislumbra apenas a


satisfaçã o pessoal, ainda que efêmera. Vive-se numa situaçã o de isolamento social, em que nada do
que ocorre fora do círculo individual de relacionamentos interessa. Essa alienaçã o também se
constitui uma forma de violência.

O trabalho e o consumo alienados sã o traços da globalizaçã o econô mica, em que tudo é


padronizado e criteriosamente desenvolvido para que as pessoas com potencial de consumo se
sintam especiais usando artefatos de massa, diferenciadas da massa, nã o pelo estilo pró prio ou
ideias, mas pela marca. Os efeitos da padronizaçã o e da necessidade de consumo de bens, que
definem o status quo, atingem todas as classes sociais. Eles sã o nocivos porque têm o poder de
dividir e de discriminar. E uma sociedade apartada, com discriminaçã o social, só pode gerar todo
tipo de violência.

Logo, apesar de a violência nã o poder ser associada exclusivamente à pobreza ou à concentraçã o de


renda, o estímulo ao superconsumo nas sociedades atuais acaba por estimulá -la, principalmente
quando consideramos o aumento global do desemprego. É preciso considerar que a violência nã o se
refere apenas à agressã o física, mas a humilhaçõ es, discriminaçã o (racial, sexual), menosprezo do
outro, indiferença.

A legislaçã o atual tem procurado coibir açõ es violentas no â mbito doméstico (violência familiar,
geralmente envolta em um manto de silêncio) e mesmo no trabalho (assédio sexual e/ou assédio
moral). No entanto, essas formas de violência, por serem invisíveis e constrangedoras, sã o, muitas
vezes, subdimensionadas.

Na nova ordem mundial, determinada pela expansã o dos negó cios em escala global, má fias
recrutam, entre trabalhadores pobres, desempregados e subempregados, mã o de obra farta e
disponível para atuarem no mercado ilegal (de drogas, armas, venda de ó rgã os, crianças, mulheres).
E assim alimentam as estatísticas e as notícias sobre a violência, miséria, consumo e degradaçã o
ambiental em todo o globo. Caetano Veloso traduz ironicamente essas contradiçõ es na cançã o “Fora
da ordem”, ao afirmar: “alguma coisa está fora da ordem. Fora da nova ordem mundial”.

Assédio moral Corresponde a perseguiçõ es, pressão psíquica, humilhaçõ es a que os trabalhadores podem ser
submetidos no trabalho. De difícil detecçã o, o assédio moral é responsá vel por crises de depressã o, queda da
produtividade, demissã o (solicitaçã o pró pria ou iniciativa da empresa), e pode ser cometida por um chefe
contra seus subordinados e/ou entre colegas de trabalho.
Pá gina 40

QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (Enem, 2010)

A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira
lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua ignorâ ncia lucrativa, seu
desespero lucrativo. As novas fá bricas e os novos altos-fornos eram como as pirâ mides, mostrando mais a
escravizaçã o do homem que seu poder.

DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).

Qual relaçã o é estabelecida no texto entre os avanços tecnoló gicos ocorridos no contexto da Revoluçã o
Industrial Inglesa e as características das cidades industriais no início do século XIX?

a) A facilidade em se estabelecer relaçõ es lucrativas transformava as cidades em espaços privilegiados para a


livre iniciativa, característica da nova sociedade capitalista.

b) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial.

c) A construçã o de nú cleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos
trabalhadores das periferias até as fá bricas.

d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fá bricas revelava os avanços da engenharia e da


arquitetura do período, transformando as cidades em locais de experimentaçã o estética e artística.

e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos
marcados por péssimas condiçõ es de moradia, saú de e higiene.

2. (Enem, 2012)

Enem/Divulgaçã o

Disponível em: http://primeira-serie.blogspot.com.br. Acesso em: dez. 2011 (adaptado).

Na imagem do início do século XX, identifica-se um modelo produtivo cuja forma de organizaçã o fabril
baseava- se na(o)

a) autonomia do produtor direto.

b) adoçã o da divisã o sexual do trabalho.


c) exploraçã o do trabalho repetitivo.

d) utilizaçã o de empregados qualificados.

e) incentivo à criatividade dos funcioná rios.

3. (Enem, 2012)

As mulheres quebradeiras de coco-babaçu dos estados do Maranhã o, Piauí, Pará e Tocantins, na sua grande
maioria, vivem numa situaçã o de exclusã o e subalternidade. O termo quebradeira de coco assume o cará ter de
identidade coletiva na medida em que as mulheres que sobrevivem dessa atividade e reconhecem sua posiçã o
e condição desvalorizada pela ló gica da dominaçã o se organizam em movimentos de resistência e de luta pela
conquista da terra, pela libertaçã o dos babaçuais, pela autonomia do processo produtivo, passam a atribuir
significados ao seu trabalho e à s suas experiências, tendo como principal referência sua condiçã o preexistente
de acesso e uso dos recursos naturais.

ROCHA, M. R. T. “A luta das mulheres quebradeiras de coco-babaçu, pela libertaçã o do coco preso e pela posse da terra”. In:
Anais do VII Congresso Latino-Americano de Sociologia Rural, Quito, 2006 (adaptado).

A organizaçã o do movimento das quebradeiras de coco -babaçu é resultante da

a) constante violência nos babaçuais na confluência de terras maranhenses, piauienses, paraenses e


tocantinenses, regiã o com elevado índice de homicídios.

b) falta de identidade coletiva das trabalhadoras, migrantes das cidades e com pouco vínculo histó rico com as
á reas rurais do interior do Tocantins, Pará , Maranhã o e Piauí.

c) escassez de á gua nas regiõ es de veredas, ambientes naturais dos babaçus, causada pela construçã o de
açudes particulares, impedindo o amplo acesso pú blico aos recursos hídricos.

d) progressiva devastação das matas dos cocais, em funçã o do avanço da sojicultura nos chapadõ es do Meio-
Norte brasileiro.

e) dificuldade imposta pelos fazendeiros e posseiros no acesso aos babaçuais localizados no interior de suas
propriedades.

4. (Enem, 2011)

A introdução de novas tecnologias desencadeou uma série de efeitos sociais que afetaram os trabalhadores e
sua organizaçã o.

Pá gina 41

O uso de novas tecnologias trouxe a diminuiçã o do trabalho necessá rio que se traduz na economia líquida do
tempo de trabalho, uma vez que, com a presença da automaçã o microeletrô nica, começou a ocorrer a
diminuiçã o dos coletivos operá rios e uma mudança na organizaçã o dos processos de trabalho.

Universidad de Barcelona. N. 170 (9), 1 ago. 2004.

A utilização de novas tecnologias tem causado inú meras alteraçõ es no mundo do trabalho. Essas mudanças são
observadas em um modelo de produção caracterizado

a) pelo uso intensivo do trabalho manual para desenvolver produtos autênticos e personalizados.

b) pelo ingresso tardio das mulheres no mercado de trabalho no setor industrial.

c) pela participação ativa das empresas e dos pró prios trabalhadores no processo de qualificação laboral.
d) pelo aumento na oferta de vagas para trabalhadores especializados em funçõ es repetitivas.

e) pela manutençã o de estoques de larga escala em função da alta produtividade.

5. (Fuvest-SP, 2012)

Ainda no começo do século XX, Euclides da Cunha, em pequeno estudo, discorria sobre os meios de sujeiçã o
dos trabalhadores nos seringais da Amazô nia, no chamado regime de peonagem, a escravidã o por dívida. Algo
pró ximo do que foi constatado em São Paulo nestes dias [agosto de 2011] envolvendo duas oficinas
terceirizadas de produçã o de vestuá rio.

José de Souza Martins, 2011. Adaptado.

No texto, o autor faz mençã o à presença de regime de trabalho aná logo à escravidã o, na indú stria de bens

a) de consumo nã o durá veis, com a contrataçã o de imigrantes asiá ticos, destacando-se coreanos e chineses.

b) de consumo durá veis, com a superexploraçã o, por meio de empresas de pequeno porte, de imigrantes
chilenos e bolivianos.

c) intermediá rios, com a contrataçã o prioritá ria de imigrantes asiá ticos, destacando-se coreanos e chineses.

d) de consumo nã o durá veis, com a superexploração, principalmente, de imigrantes bolivianos e peruanos.

e) de produçã o, com a contrataçã o majoritá ria, por meio de empresas de médio porte, de imigrantes peruanos
e colombianos.

6. (Uerj, 2011) Andy Warhol (1928-1987) é um artista conhecido por criaçõ es que abordaram valores da
sociedade de consumo; em especial, o uso e o abuso da repetiçã o. Esses traços estã o presentes, por exemplo,
na obra que retrata as latas de sopa Campbell’s, de 1962.

Interbts® www.moma.org

O modelo de desenvolvimento do capitalismo e o correspondente elemento da organizaçã o da produçã o


industrial representados neste trabalho de Warhol estã o apontados em:

a) taylorismo – produçã o flexível

b) fordismo – produção em série

c) toyotismo – fragmentaçã o da produção

d) neofordismo – terceirizaçã o da produçã o

7. (UEPB, 2014)

O crime se tornou banal, a vida nã o vale quase nada. Ser assaltado é quase natural não só em bairros ditos
perigosos ou nas grandes cidades, mas também no interior, onde se perdeu a velha noçã o de segurança. Em
Sã o Paulo, os arrastõ es sã o tã o comuns que em alguns restaurantes o cliente é recebido por seguranças
armados e com coletes à prova de bala, que nos acompanham até a mesa sempre olhando para os lados.
Pessoas inocentes são chacinadas em vá rios locais do espaço urbano. Morar em casa é considerado loucura.
Recomenda-se que moremos em edifícios: “mais seguros” será ? Hoje a população vive apavorada, está nas
mãos de criminosos, frequentemente impunes. Lei de responsabilidade criminal só depois de 18 anos. Jovens
monstros, assassinos frios, sem remorso, drogados, saem para matar porque deu vontade e depois vã o beber
num bar, jogar na lan house, curtir no Facebook com cara de bons meninos. Num artifício semâ ntico insensato
e cruel, se apanhados, nã o os devemos chamar de assassinos: sã o infratores, mesmo que tenham violentado,
torturado e matado [...]. Estamos indefesos e apavorados, nas mã os do acaso. Até quando?

LUFT, Lya, Veja. 24 abr. 2013.

O texto reflete a violência vivenciada pela populaçã o no espaço geográ fico brasileiro. Essa radiografia nã o é
exclusiva das grandes cidades. Hoje, é disseminada pelo interior, onde grupos criminosos vã o procurando
novos territó rios.

Com base na leitura do texto e em seus conhecimentos sobre o tema, analise as proposiçõ es e identifique a
alternativa correta.

Pá gina 42

I. A violência urbana se expressa por meio de níveis cada vez mais elevados de criminalidade, da sujeiçã o
frequente ao domínio de instintos selvagens e bá rbaros, do crime organizado em torno do trá fico de drogas,
dos atos despidos de qualquer civilidade. A populaçã o do bem se encontra exposta à mercê da bandidagem e
das instituiçõ es fracas e corrompidas, nas quais a autoridade social se encontra desacreditada.

II. A violência está enraizada no pró prio processo histó rico brasileiro, desde os primó rdios da colonizaçã o. À
medida que as cidades passaram a inchar de forma caó tica e desordenada sem nenhum planejamento, vá rios
problemas sociais urbanos ocuparam seus espaços.

III. Fazemos parte de um sistema econô mico que mais exclui do que inclui as pessoas. Esse sistema aliena os
trabalhadores do produto do seu trabalho e por outro lado estimula ao má ximo o consumismo, através de
canais disponibilizados pela mídia e a cultura de massa.

IV. Jovens excitados pelo apelo do consumismo, sem perspectivas materiais e sociais, muitos também por
índole, abandonados pelo poder pú blico que nã o investe o suficiente em políticas educacionais, culturais e de
emprego, veem abrir-se diante de seus olhos o universo do crime organizado que lhes proporciona tudo o que
desejam. Esse mundo, a princípio fascinante, oferece apenas uma vida perdida, sem dignidade, mergulhada
numa sida de vícios, na prá tica de uma violência desenfreada que acaba ceifando sua pró pria vida e da
populaçã o.

Estã o corretas:

a) Apenas II, III e III.

b) Apenas l e III.

c) Apenas I e II.

d) Apenas lI e lV.

e) Todas.

8. (UFSM-RS, 2014) Observe o mapa:


UFSM/Divulgaçã o

Fonte: ADAS, Melhem; ADAS, Sé rgio. Expedições Geográficas. Sã o Paulo: Moderna, 2011. p. 79. Figura 21. (Adaptado)

De acordo com o mapa, é correto afirmar que

I. o maior nú mero de rotas de fornecimento de drogas ilícitas tem como origem alguns países da América do
Sul e Sudeste Asiá tico.

II. a maioria das cidades classificadas como principais zonas de consumo estã o localizadas em países
desenvolvidos.

III. o trá fico de drogas está restrito à s grandes cidades do mundo.

IV. as zonas de produçã o mundial de drogas concentram maconha, ó pio e coca. Estã o corretas

a) apenas I e II.

b) apenas I e III.

c) apenas II e III.

d) apenas III e IV.

e) apenas I, II e IV.

Pá gina 43

A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e anseios da
humanidade.

Leia as notícias a seguir e faça o que se pede.

A fábula

Produção industrial: entenda sua influência na economia

Ao ouvir que a economia está crescendo, você logo se anima. Afinal, é prová vel que isso reflita
positivamente na sua vida. Vá rios fatores podem contribuir para que a economia de um país cresça
mais ou menos e a produçã o industrial é um deles.

Para entender melhor a contribuiçã o da produçã o industrial no crescimento da economia, é preciso


lembrar que o crescimento de uma economia é medido pela variaçã o de seu Produto Interno Bruto
(PIB).

[…]

Mas, o que exatamente mede o PIB? Visto como sinô nimo do tamanho da economia de um país, o
PIB mede o total de bens e serviços produzidos em um determinado período de tempo em uma
determinada regiã o.

Assim, quando você ouve algum economista afirmar que espera que a economia brasileira cresça
4% ao ano, o que ele está dizendo é que a soma do total de bens e serviços produzidos no país
naquele ano deve ser 4% maior do que a soma do ano anterior.

Considerando que as indú strias sã o responsá veis pela produçã o dos bens de um país, nã o é difícil
entender que, quanto maior for o volume de produçã o do setor, maior será a contribuiçã o ao PIB e,
consequentemente, ao crescimento da economia.

[…]

Além disso, o aumento da produçã o industrial pode ter efeitos benéficos sobre os salá rios dos
trabalhadores do setor. Ou seja, os industriais podem optar por compartilhar seus ganhos com os
funcioná rios, o que levaria a um aumento da renda desses trabalhadores.

InfoMoney. Disponível em: <www.infomoney.com.br/educacao/guias/noticia/494746/ producao-industrial-


entenda-sua-influencia-economia>. Acesso em: 23 mar. 2016.

A perversidade

Lei da terceirização é a maior derrota popular desde o golpe de 1964

Especialista em sociologia do trabalho, Ruy Braga traça um cená rio delicado para os pró ximos
quatro anos: salá rios 30% mais baixos para 18 milhõ es de pessoas. Até 2020, a arrecadaçã o federal
despencaria, afetando o consumo e os programas de distribuiçã o de renda. De um lado, estaria o
desemprego. De outro, lucros desvinculados do aumento das vendas. Para o professor da
Universidade de Sã o Paulo (USP), a aprovaçã o do texto base do Projeto de Lei 4330/04, que facilita
a terceirizaçã o de trabalhadores, completa o desmonte dos direitos trabalhistas iniciado pelo ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso na década de 1990. “Será a maior derrota popular desde o
golpe de 1964” [...].

SOBRINHO, W. P. Lei da terceirizaçã o é a maior derrota popular desde o golpe de 1964. Carta Capital, 10 abr. 2015.

* SANTOS, M., 2000.


Pá gina 44

A possibilidade

Flaskô, a única fábrica sob controle operário no Brasil

Em Sumaré (SP), regiã o metropolitana de Campinas, funciona a ú nica fá brica administrada por
trabalhadores do Brasil. Ameaçada de ser fechada em 2003 devido à falência do grupo que a
administrava, a Flaskô , que produz tambores plá sticos, seguiu sendo tocada por seus antigos
funcioná rios e hoje tenta se manter ativa mesmo com as dívidas herdadas da antiga gestã o. A nova
batalha é pela estatizaçã o da empresa, que tramita no Senado há mais de dois anos.

Até 2003, o controle da fá brica era da Holding Brasil (ou apenas HB), um braço da gigante Tigre. O
grupo entrou em uma forte derrocada nos anos 1990, acumulando dívidas e aumentando
demissõ es. “Foram cerca de 40 empresas que quebraram, graças à abertura econô mica e também à
má gestã o”, explica o advogado da Flaskô , Alexandre Mandl. “A Cipla e a Interfribra, em Joinville, e a
Flaskô , aqui em Sumaré, retomam a produçã o e elas vã o ser o tripé do movimento das fá bricas
ocupadas”, explica ele.

Nas duas fá bricas de Santa Catarina, entretanto, um interventor judicial, Rainoldo Uessler, foi
nomeado para assumir o comando das empresas em 2007. A Flaskô também sofreu intervençã o,
que cortou a energia da fá brica por 42 dias e fez boa parte do seu quadro de funcioná rios buscar
outros empregos, mas retomou as atividades depois do período. [...]

[A Flaskô tem hoje 70 funcioná rios.] Sã o 60 homens e 10 mulheres, sem que nenhum tenha o cargo
ou se reconheça como chefia ou “patrã o”. O ritmo de trabalho é definido por assembleias, gerais e
de turnos. A jornada de trabalho foi reduzida de 44 para 30 horas semanais, sem reduçã o de
salá rios; também foi realizado um achatamento da diferença salarial – as funçõ es mais bem
remuneradas passaram a ganhar menos e as pior remuneradas passaram a ser maiores.

Além dos avanços em relaçã o à s leis trabalhistas, os funcioná rios também acreditavam que a Flaskô
deveria se envolver com a comunidade em que está inserida. Isso levou à criaçã o da Fábrica de
Cultura e Esportes, que desenvolve diversos eventos e açõ es culturais: sessõ es de cinema semanais,
aulas de balé, capoeira, oficina de quadrinhos e uma pista de skate (e campeonatos regulares que
agitam completamente o dia a dia da fá brica). Alunos da Unicamp tocam ainda o Educaçã o para
Jovens e Adultos, projeto de extensã o para a comunidade. [...]

Mandl, o advogado da fá brica ocupada, explica que os trabalhos realizados evidenciam o cará ter
social da Flaskô . “A gente usa dois galpõ es da fá brica para projetos culturais, em vez de especular
esse espaço. E, além disso, três quartos da propriedade da fá brica, que poderia ser utilizada para a
geraçã o de lucro, é destinada para uma ocupaçã o de moradia chamada Vila Operá ria”, afirma ele.

O terreno foi ocupado em 2005, inicialmente por cerca de 300 famílias. No momento, Mandl afirma
que a ocupaçã o já atingiu o nú mero de 564 famílias. “Nossa reivindicaçã o parte desse tripé:
trabalho, pela Fá brica de Cultura e Esporte e pelo direito à moradia.”

RODRIGUES, P. Flaskô : a ú nica fá brica sob controle operá rio no Brasil. Carta Capital, 26 maio 2014.

Com base na leitura dos textos sobre indú stria e trabalho no Brasil, redija uma dissertaçã o de
aproximadamente 30 linhas analisando as perspectivas dos trabalhadores diante da conjuntura
atual e as possibilidades efetivas de mudanças a partir de açõ es locais.

Em seguida, elabore uma proposta de intervençã o que possibilite maior autonomia aos
trabalhadores. Discuta seu texto e sua proposta com os colegas em classe.
Pá gina 45

2 A população mundial

Conexão de conhecimentos
Escala populacional e desenvolvimento econômico
Seria possível fazer uma correlaçã o entre a escala ou o tamanho da populaçã o e seu nível
socioeconô mico?

As duas anamorfoses a seguir representam, respectivamente, o total da populaçã o e o total de


habitantes desnutridos no mundo. No entanto, devido à pró pria técnica de anamorfose, alguns
países só poderã o ser identificados no segundo mapa com alguma dificuldade. Contudo, entre os
países retratados em ambas as representaçõ es, alguns podem ser identificados com relativa
facilidade. É o caso, entre outros, de China, Nigéria, Á frica do Sul, Brasil, México, Egito, Estados
Unidos, França, Índia, Indonésia e Madagascar.

Utilize o mapa da pá gina seguinte para localizar esses países.

Durante muito tempo, acreditou-se que uma populaçã o numerosa era sinô nimo de pobreza. Seria
isso verdade ainda hoje? Haveria correlaçã o direta entre pobreza e numerosa populaçã o absoluta?

© 2006 SASI Group (University of Sheffield) and Mark Newman (University of Michigan)

(Escala suprimida; cores nã o seguem convençõ es cartográ ficas.) Fonte: Worldmapper. Disponível em:
<www.worldmapper.org/posters/worldmapper_map2_ver5.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2016.
Pá gina 46

© 2006 SASI Group (University of Sheffield) and Mark Newman (University of Michigan)

(Escala suprimida; cores nã o seguem convençõ es cartográ ficas.)

Fonte: Worldmapper. Disponível em: <www.worldmapper.org/images/largepng/182.png>. Acesso em: 23 mar. 2016.

Utilizando o mapa convencional a seguir como referência, analise e compare esses países e tire as
suas conclusõ es sobre as diferenças apresentadas nos dois mapas, anteriores bem como os fatores
que levam uma naçã o a um elevado nível de desenvolvimento.

Em seguida, converse com os seus colegas sobre as suas impressõ es em relaçã o ao tema.

Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
Pá gina 47

QUEM SOMOS? QUANTO SOMOS?


Os estudos da Astronomia e da Física demonstram que há aproximadamente 15 bilhõ es de anos
toda matéria existente estava contida em um minú sculo ponto. Quando esse ponto explodiu
repentinamente – o chamado Big Bang –, a matéria se dispersou em grande velocidade, criando o
que hoje entendemos por Universo, que ainda está em veloz expansã o.

Á tomos formaram moléculas que, por sua vez, constituíram o nosso mundo material. No planeta
Terra, a existência em grande quantidade de hidrogênio e oxigênio, submetidos a um constante
“bombardeamento” de partículas energéticas geradas pela explosã o de estrelas distantes – que
continuam ocorrendo e nos atingindo até hoje – ajudaram a criar e a modificar todas as formas de
vida existentes, inclusive o ser humano. Entã o, a nossa espécie, assim como tudo que existe a nossa
volta, é feita de matéria estelar.

A espécie humana surgiu há “apenas” 200 mil anos, em um ambiente completamente hostil. Se
dependessem apenas de suas habilidades físicas, nossos antepassados nã o teriam sobrevivido.
Somente com o desenvolvimento cerebral da espécie, os primeiros seres humanos puderam
conceber uma linguagem e estabelecer relaçõ es sociais mais complexas, que permitiram o
planejamento do trabalho, a delimitaçã o e a ampliaçã o do seu espaço, bem como a transformaçã o
do espaço natural.

Tudo isso − desde o Big Bang até o sucesso do ser humano em controlar seu meio − possibilitou
que a nossa espécie crescesse e que você, neste exato momento, estivesse pronto para acompanhar
esta liçã o. Analise na tabela dados sobre o crescimento da populaçã o humana.

Crescimento da população humana mundial

HÁ CERCA DE 2 MIL ANOS

Alamy/Fotoarena

250 milhões de habitantes

Nã o havia problemas de acesso à terra, mas as técnicas rudimentares nã o possibilitavam que a produção
agrícola atingisse níveis elevados.

HÁ 500 ANOS

Coleçã o particular

450 milhões de habitantes

Os avanços tecnoló gicos possibilitaram a conquista de terras distantes, mas as doenças se proliferavam e a
ciência ainda nã o tinha a cura para muitas delas.
INÍCIO DO SÉCULO XIX

Coleçã o particular. Foto: Bridgeman Images/ Keystone Brasil

1 bilhão de habitantes

A Revoluçã o Industrial estava em curso em diversos países desenvolvidos. As má quinas aumentavam a


produtividade e os meios de transporte mais modernos encurtavam o tempo das viagens. Surgia pela primeira
vez a preocupaçã o com o crescimento populacional. Thomas Malthus alertou para o descompasso entre o
crescimento populacional e a produção de alimentos.

DÉCADA DE 1970

Rolls Press/Popperfoto/Getty Images

4 bilhões de habitantes

As inovaçõ es tecnoló gicas estavam ao alcance de todos. O padrã o de vida dos países subdesenvolvidos era
visivelmente distante do padrã o de vida dos países desenvolvidos. Os gastos militares eram volumosos por
causa da Guerra Fria.

FIM DO SÉCULO XX

Yann Arthus-Bertrand/Getty Images

6 bilhões de habitantes

Aumentou a preocupaçã o com os recursos naturais do planeta. O campo contava com grandes avanços
tecnoló gicos, mas a distribuiçã o desigual da renda deixava 23% da populaçã o mundial vivendo em estado de
extrema pobreza.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Pá gina 48

O VERTIGINOSO CRESCIMENTO DA HUMANIDADE


Depois de analisar a tabela referente ao crescimento da humanidade, certamente você poderia dar
razã o à queles que se preocupam com a questã o populacional. Em suma:
• A humanidade levou quase 200 mil anos para, desde seu aparecimento, chegar ao total de 1 bilhã o
de indivíduos, no início do século XIX.

• Em aproximadamente 170 anos, o primeiro bilhã o de habitantes foi quadruplicado: totalizamos 4


bilhõ es de habitantes na década de 1970.

• Em um período extremamente curto a populaçã o cresceu mais 50%: ou seja, foram mais 2 bi lhõ es
de pessoas. Portanto, chegamos ao fim do século XX com um total de 6 bilhõ es de habitantes, sendo
que estes ú ltimos 2 bilhõ es de pessoas surgiram no espaço-tempo de 30 anos!

A primeira conclusã o a que podemos chegar é que ocorreu uma verdadeira explosã o populacional.
Se no fim do século passado a populaçã o aumentou em 1 bilhã o de habitantes a cada 15 anos, o que
poderá acontecer no início do pró ximo século? É importante levar em consideraçã o que a
velocidade de crescimento populacional, até agora, esteve em aceleraçã o constante. Até quando
haverá espaço para todos se continuarmos crescendo nessa proporçã o? De todo modo, para os que
iniciam um estudo sobre a populaçã o humana, surgem algumas questõ es perturbadoras:

• Nã o haveria um limite natural para a expansã o populacional?

• Será que o ú nico limite é a ocorrência de catá strofes humanas ou naturais?

Na verdade, embora a populaçã o mundial esteja crescendo muito, ela tende a se estabilizar. Uma
amostra desse processo é o caso do Brasil, cujo crescimento já está se desacelerando em virtude da
chamada transiçã o demográ fica.

Essa tendência de desaceleraçã o do crescimento populacional vai fazer com que, por volta de 2040,
a nossa espécie se estabilize em torno de 10 bilhõ es de habitantes.

E, a partir dessa data, ao que tudo indica, a populaçã o entrará em declínio, com algumas das
características que atualmente observamos nos países desenvolvidos: forte diminuiçã o da
natalidade, aumento do nú mero de idosos, diminuiçã o da populaçã o em atividade profissional e,
consequentemente, dificuldades maiores para a previdência social sustentar a populaçã o de
aposentados.

Veja, a seguir, um mapa sobre a densidade demográ fica e note a distribuiçã o desigual da populaçã o
pelo globo.
Allmaps

Fonte: Index Mundi. Disponível em: <www.indexmundi.com/Map/?v=21000&r=xx&l=pt>. Acesso em: 6 abr. 2016.

Pá gina 49

Como se pode ver no mapa, os países com maior densidade demográ fica – os mais povoados – estã o
localizados majoritariamente na Á sia e em partes da Europa, demonstrando que a humanidade nã o
está distribuída de maneira uniforme pelo planeta. Fatores naturais influenciam nessa distribuiçã o,
pois certos climas e altitudes nã o favorecem as atividades humanas. Fatores histó ricos também
explicam a concentraçã o humana na Á sia e na Europa, devido à antiguidade das civilizaçõ es que
surgiram nesses lugares.

As maiores concentraçõ es humanas se localizam nos grandes centros urbanos de todo o mundo,
bem como em algumas vastas regiõ es da Á sia, entre as quais podemos destacar:

• as planícies da Á sia monçô nica, com uma agricultura intensiva de arroz, que exige muita mã o de
obra;

• os vales dos rios Indo (Paquistã o), Ganges (Índia e Bangladesh), Azul e Amarelo (China), Mekong
(península da Indochina);

• as ilhas de Java (Indonésia), com seus solos vulcâ nicos, e Luzó n (Filipinas).

O MODELO ECONÔMICO GLOBAL


Embora existam no planeta á reas quase desabitadas – regiõ es polares, montanhas e desertos –
coexistindo com á reas muito adensadas, a capacidade que o meio natural tem de suportar as
transformaçõ es causadas pelo ser humano demonstra estar no limite.

Todos os recursos considerados renová veis do nosso planeta, entre eles a á gua potá vel e a pró pria
atmosfera, estã o chegando a um ponto de exaustã o. Isso coloca em perigo nossa geraçã o e todas as
que estã o por vir.

O modelo capitalista de produçã o, altamente dependente de recursos fó sseis – que estã o pró ximos
do seu limite de exploraçã o –, está comprometendo o equilíbrio de rios, mares, florestas, solos e
atmosfera.

E se levarmos em conta que os lucros, assim como o bem-estar material, concentram-se nos países
desenvolvidos, podemos entã o chegar à conclusã o de que o modelo econô mico global, em favor de
uma minoria, está comprometendo o nosso patrimô nio natural. Em ú ltima aná lise, os verdadeiros
beneficiados pelo modelo econô mico global sã o os seus protagonistas: as corporaçõ es econô micas.

É impossível pensarmos em estender o nível de consumo das grandes economias de mercado para
todos os países pobres. Nã o haveria recursos suficientes para isso em nosso planeta.

No contexto da concentraçã o de recursos, a economia se expande, mas a renda global se concentra


mais ainda. E isso faz com que vivamos em um tempo de paradoxos. Em meio a recordes de
produçã o agrícola, cada vez mais há populaçõ es famintas, como no caso de vá rios países africanos
que vivem verdadeiras tragédias “esquecidas” pela mídia. Com a abertura de mercados, milhõ es de
pessoas perdem o emprego ou assistem a um processo de precarizaçã o do trabalho.

Entã o, a soluçã o para os problemas nã o está no atual modelo econô mico global, mas, sim, em
alguma alternativa para ele.
OS 15 PAÍSES MAIS POPULOSOS HOJE E UMA PROJEÇÃO PARA 2050

Testing/Shutterstock.com

Hoje a China é o país mais populoso no mundo. Beijing, na China, 2016.

Antes de acompanhar a tabela a seguir, atente para alguns dados:

• a tabela está indicando quais países fazem parte de dois grupos bastante diferentes;

• um grupo é o E-9, o dos países em desenvolvimento mais populosos;

• o outro é o G-7, grupo dos países mais ricos e influentes. Repare que na tabela os países estã o
indicados quanto ao grupo a que pertencem, bem como quanto ao seu posicionamento dentro do
grupo.

Pá gina 50

Os 15 países mais populosos em 2015


Colocação País População (em milhões)
1º China E-9* (1º) 1 367
2º Índia E-9 (2º) 1 251
3º Estados Unidos G-7** (1º) 321
4º Indonésia E-9 (3º) 256
5º Brasil E-9 (4º) 204
6º Paquistão E-9 (5º) 199
7º Nigéria E-9 (6º) 181
8º Bangladesh E-9 (7º) 169
9º Rússia 142
10º Japão G-7 (3º) 127
11º México E-9 (8º) 121
12º Filipinas 101
13º Vietnã 94
14º Etió pia 99
15º Egito E-9 (9º) 88

*E-9: países emergentes

**G-7: países mais ricos do mundo


Fonte: The World Factbook. Disponível em: <www.cia.gov/library/ publications/the-world-factbook>. Acesso em: 7 maio
2016.

Os 15 países mais populosos em 2050


Colocaçã País População (em milhões)
o
1º Índia E-9 (1º) 1 628
2º China E-9 (2º) 1 394
2º Estados Unidos G-7 (1º) 413
4º Paquistão E-9 (3º) 332
5º Indonésia E-9 (4º) 316
6º Nigéria E-9 (5º) 304
7º Brasil E-9 (6º) 247
8º Bangladesh E-9 (7º) 205
9º Repú blica Democrá tica do Congo 182
10º Etió pia 173
11º México E-9 (8º) 151
12º Filipinas 146
13º Vietnã 117
14º Egito E-9 (9º) 115
15º Rússia 102

*E-9: países emergentes

**G-7: países mais ricos do mundo

Fonte: Population Reference Bureau. Disponível em: <www.prb. org/wpds/2015>. Acesso em: 24 mar. 2016.

E-9: GRUPO DOS MAIORES PAÍSES EMERGENTES DO MUNDO


O E-9 é o grupo de países que ocupa nove posiçõ es, de um total de 15, em ambas as tabelas
populacionais apresentadas anteriormente (a de 2015 e a da projeçã o para 2050).

Se somarmos as populaçõ es do E-9, veremos que o total desse grupo representa mais da metade da
populaçã o mundial. Sendo assim, podemos dizer que o E-9 é o grupo de maior influência política da
atualidade? Na verdade, nã o.

A letra “E”, que denomina o grupo desses países, é derivada da palavra emergente, que nada mais é
do que a atual classificaçã o para os países subdesenvolvidos, dependentes de capitais e tecnologias
das naçõ es dominantes. China, Índia, Indonésia, Brasil, Paquistã o, Bangladesh, Nigéria, México e
Egito compõ em esse grupo.

Eles se reuniram pela primeira vez em 1993 na cidade de Nova Délhi, na Índia, para discutir e
planejar soluçõ es para os seus graves problemas na á rea educacional. Entre diversos problemas,
nesse grupo encontravam- -se 70% dos analfabetos do mundo e 80 milhõ es de crianças sem
nenhum acesso à educaçã o escolar.

Pá gina 51

A educaçã o foi o motivo principal que levou esses países a se reunirem para discutirem seus
interesses conjuntos, porém nenhuma medida concreta foi tomada para demonstrar sua real
importâ ncia no cená rio internacional. Até o momento, o E-9 também nã o apresentou iniciativas de
expansã o da cooperaçã o entre os seus membros referentes a outras á reas de interesse, como o
desenvolvimento tecnoló gico, ou mesmo para uma cooperaçã o política mais ampla.
Enquanto isso nã o ocorre, um grupo de sete países continua influenciando decisivamente as
relaçõ es internacionais: o G-7.

G-7: UM PEQUENO GRUPO QUE DOMINA A CENA INTERNACIONAL


O G-7 é o grupo de grande influência política da atualidade, e funciona como uma organizaçã o
internacional que se mantém com o objetivo de promover e sustentar, em todo o planeta, o cará ter
de dominaçã o dos Estados Unidos, do Reino Unido, do Canadá , da Alemanha, da França, da Itá lia e
do Japã o.

Os seus participantes mantêm vínculos importantes e sustentam políticas voltadas ao


fortalecimento de suas economias. As suas orientaçõ es visam, basicamente, ao favorecimento da
produçã o agrícola, comercial, industrial e financeira de seus membros.

Porém, entre os principais beneficiados pelo G-7 estã o as grandes empresas neles sediadas, as
chamadas multinacionais e transnacionais.

CONCENTRAÇÃO DE RENDA: UM PROBLEMA CADA VEZ


MAIS GRAVE
Em 1996, durante a Cú pula Mundial sobre Alimentaçã o, a Organizaçã o das Naçõ es Unidas para
Alimentaçã o e Agricultura (FAO) estimou que, no mundo, 800 milhõ es de pessoas passam fome. A
cú pula também concluiu que a soluçã o para esse problema deveria ser prioridade e estabeleceu
uma meta ambiciosa: a reduçã o do nú mero de famintos pela metade até 2015.

Garry Sun/Citizenside.com/AFP

Fila de pessoas à espera de alimentos a serem doados em Los Angeles, Estados Unidos, 2014.

Estudos realizados pela FAO em 2003 já concluíram que essa meta nã o poderia ser atingida em
2015. E, provavelmente, o objetivo nã o deverá ser alcançado antes de 2030.

O que teria acontecido entre o estabelecimento da meta, em 1996, e a sua alteraçã o, em 2003?
Houve um declínio da produçã o agrícola? As técnicas de produçã o de alimentos já nã o funcionam
mais?
Pelo contrá rio, os índices de produtividade e de produçã o agrícola cresceram durante esse período.
Isto é, a disponibilidade de cereais, e de muitos outros alimentos, hoje em dia, é de quase um quilo
por habitante/dia. Sendo assim, por que o nú mero de famintos nã o diminui?

Pá gina 52

O problema está na concentraçã o de renda e nã o na produçã o de alimentos. E esse problema está se


agravando. Segundo dados da ONU, das 4,4 bilhõ es de pessoas que vivem nos países em
desenvolvimento, perto de três quintos nã o têm saneamento bá sico, um terço nã o tem acesso à
á gua potá vel, um quinto nã o conta com qualquer serviço moderno de medicina e um quarto carece
de moradia adequada.

Além disso, uma em cada cinco crianças nã o chega a completar cinco anos de frequência na escola.
E uma porcentagem semelhante nã o consome a quantidade de proteínas e calorias necessá rias.
Esses dados explicam, em parte, o motivo de aproximadamente 9 milhõ es de crianças com menos
de 5 anos morrerem nos países pobres, todos os anos, vítimas de doenças que podem ser
prevenidas.

Estú dio Pingado

Fonte: FAO. The State of Food Insecurity in the World 2015. Disponível em: <www.fao.org/3/a-i4646e/i4646e01.pdf>.
Acesso em: 7 abr. 2016.

Segundo dados do Banco Mundial, em 2015, cerca de 700 milhõ es de pessoas viviam abaixo da
linha da pobreza, com menos de 1,25 dó lar por dia. Isso equivale a 9,6% da populaçã o mundial.

Segundo as estatísticas do Credit Suisse, em 2015, o grupo das pessoas mais ricas do mundo – que
equivale apenas a 1% da populaçã o do globo – detinha 50% da renda mundial. Os outros 50% da
renda estavam desigualmente distribuídos entre os 99% restantes da populaçã o. Isso equivale a
dizer que em cada grupo de 100 pessoas uma detém 50% da riqueza e o restante é dividido entre as
outras 99.

CONCENTRAÇÃO DE RENDA: O ALTO CONSUMO DE POUCOS E AS CONSEQUÊNCIAS PARA


TODOS

Segundo o relató rio de desenvolvimento humano da ONU de 2001, um habitante nascido no mundo
desenvolvido vai gastar e poluir, durante toda a sua vida, 50 vezes mais do que um habitante
nascido no mundo subdesenvolvido. As populaçõ es mais pobres do planeta sã o justamente as que
arcarã o com a maior parte dos prejuízos ambientais causados pelo alto padrã o de consumo dos
habitantes dos países ricos.
Entre os problemas principais, estã o os efeitos da poluiçã o do ar e da á gua, das mudanças
climá ticas, e com as quebras de colheitas e desastres ambientais, como as enchentes.

O aumento do nível do mar previsto para as pró ximas décadas, causado pelo aquecimento global,
associado à crescente poluiçã o do ar pelos países ricos, desalojará milhõ es de pobres de países
como Bangladesh e Egito, sem falar no caso de ilhas como as Maldivas e Tuvalu, que perderã o a sua
habitabilidade pelo mesmo motivo.

Tanto nos países pobres como nos ricos, as populaçõ es mais humildes sã o as que vivem mais
pró ximas das indú strias poluentes e sofrem com os problemas de saú de decorrentes da sua
produçã o. É verdade que as populaçõ es mais pobres do mundo sempre arcaram com os prejuízos
ambientais da produçã o. Porém, mantidas as tendências atuais, as perspectivas para o meio
ambiente serã o sombrias para toda a populaçã o mundial. Afinal, os efeitos das alteraçõ es climá ticas
provocadas pelo acú mulo de poluentes na atmosfera terrestre cada vez mais vã o atingir as
populaçõ es, independentemente da sua posiçã o social.

CONTROLE DE NATALIDADE OU DISTRIBUIÇÃO DE


RENDA: COMO COMBATER A MISÉRIA?
A preocupaçã o do homem em superar sua capacidade produtiva e fazer com que o meio ambiente
suporte o aumento da populaçã o é muito antiga. As primeiras civilizaçõ es usaram todos os
conhecimentos disponíveis para aumentar a produçã o de alimentos, satisfazer as necessidades
alimentares de suas populaçõ es e acumular poder político.

No entanto, passaram-se vá rios séculos até que, com os desenvolvimentos da á rea científica, um
ramo do conhecimento humano fosse criado para que pudéssemos compreender e desenvolver
teorias sobre o comportamento das populaçõ es: a Demografia.

A seguir, trataremos das principais teorias demográ ficas existentes.

Pá gina 53

A TEORIA MALTHUSIANA
Thomas Malthus, matemá tico inglês, analisou a realidade do século XIX e concluiu que:

I. a populaçã o crescia em progressã o geométrica (PG);

II. a produçã o de alimentos crescia em progressã o aritmética (PA).

Portanto, segundo ele, a humanidade estaria condenada a um grande ciclo de miséria por causa da
falta de alimentos para todos.

Malthus propunha um controle da natalidade por meio da “sujeiçã o moral”. De acordo com esse
mecanismo, os casamentos deveriam ser cada vez mais tardios e totalmente condicionados à
capacidade econô mica das famílias para se sustentar. Sendo assim, as classes menos favorecidas
deveriam limitar a sua expansã o populacional e, dentro das famílias já existentes, deveria imperar a
abstinência sexual, ou seja, o sexo seria praticado exclusivamente com fins de procriaçã o. Segundo
Malthus, as guerras e as pestes poderiam ser consideradas mecanismos de controle natural do
excesso populacional. A Teoria Malthusiana foi a primeira de cunho antinatalista.

TEORIA NEOMALTHUSIANA
Com a expansã o do progresso tecnoló gico e de medidas sanitá rias na segunda metade do século XX,
ocorreu um surto populacional. Porém, esse surto ficou restrito ao Terceiro Mundo. Durante esse
período, estabeleceu-se o senso comum de que o crescimento exagerado da populaçã o mundial
estaria nos condenando à ocorrência de catá strofes humanas e ambientais. Esse ponto de vista
resgatava pontos da antiga teoria de Malthus e resultou em uma nova teoria demográ fica, a
Neomalthusiana.

Também chamados “alarmistas”, os neomalthusianos afirmam que a miséria dos países


subdesenvolvidos decorre do superpovoamento do mundo, e tem como consequências miséria,
fome, ignorâ ncia e necessidade de uma grande prole para garantir a velhice.

A perspectiva “alarmista” propô s como soluçã o, assim como os malthusianos, o controle da


natalidade. Esse controle deveria ser feito utilizando-se os meios existentes na época: pílulas
anticoncepcionais, aborto, vasectomia e laqueadura de trompas.

Assim, malthusianos e neomalthusianos eram antinatalistas. A diferença é que, para os


neomalthusianos, o controle de natalidade deveria ser feito, preponderantemente, nos países
subdesenvolvidos.

TEORIA REFORMISTA (MARXISTA)


Surgida no fim do século XX, a Teoria Reformista pode ser considerada o inverso da Teoria
Neomalthusiana. Para os reformistas, a explosã o populacional é uma consequência da miséria a que
estã o submetidos os países subdeselvolvidos. Essa miséria teria causas histó ricas, como o processo
de exploraçã o e colonizaçã o e a dependência financeira e tecnoló gica em relaçã o aos países
desenvolvidos.

Segundo os reformistas, os países pobres só conseguiriam controlar a sua expansã o demográ fica se
conseguissem superar essa relaçã o de dependência.

No plano interno, seriam necessá rias amplas reformas socioeconô micas que permitissem melhores
condiçõ es de vida à maior parte das suas populaçõ es. Desse modo, com a consequente melhoria dos
níveis educacionais e de qualidade de vida, as famílias de países subdesenvolvidos adeririam
espontaneamente aos processos de controle de natalidade, como já ocorreu nos países atualmente
considerados desenvolvidos.

AS TEORIAS DEMOGRÁFICAS NA ATUALIDADE


Malthus formulou a sua teoria demográ fica no século XIX, quando o campo ainda nã o contava com
os avanços tecnoló gicos de hoje. Dessa forma, para Malthus, a ú nica maneira de aumentar a
produçã o de alimentos seria aumentando a á rea de plantio.

Sabe-se hoje que a agricultura mundial tem produzido cada vez mais em espaços cada vez menores,
e isso se deve ao uso da tecnologia. Além disso, sabemos também que a fome é um problema
mundial devido à falta de renda e nã o à falta de alimentos. Portanto, a teoria de Malthus é
ultrapassada.

Já a Teoria Neomalthusiana e a Reformista sã o atuais, mas diferentes nas suas concepçõ es.

Para os neomalthusianos, o crescimento populacional exagerado é a causa da miséria. Os


reformistas dizem que o crescimento populacional exagerado é a consequência da miséria.

Vejamos a seguir alguns exemplos de aplicaçõ es prá ticas dessas teorias.

China: política populacional neomalthusiana


O governo chinês impô s medidas drá sticas para limitar a taxa de natalidade, pois a questã o da
explosã o demográ fica chinesa era grave e comprometia o nível socioeconô mico do país.

Pá gina 54

Se olhá ssemos o mapa de densidade demográ fica do país, veríamos que a maior parte da populaçã o
chinesa se concentrava fortemente nos vales e nas planícies pró ximos ao litoral, pois, apesar da
grande extensã o do país, a maior parte das terras é considerada impró pria para a fixaçã o do ser
humano, por estarem em cadeias montanhosas, desertos ou planaltos á ridos.

Por isso, no final da década de 1970, quando a populaçã o passou de 1 bilhã o, o governo chinês
lançou a política do filho ú nico, de cunho reconhecidamente neomalthusiano, que consistia em um
conjunto de medidas que forçavam os casais a terem apenas um filho.

Através do que foi denominado Documento nº 1, o governo usou todos os meios possíveis para
divulgar vantagens aos pais de filhos ú nicos. Para os que nã o respeitassem essa política caberia
puniçõ es, como multas, restriçõ es civis e até a ostensiva reprovaçã o das autoridades políticas
locais.

No entanto, as consequências da política de filho ú nico foram negativas, pois a China é um país de
tradiçõ es culturais milenares, de costumes conservadores e arraigados. Para a maior parte de sua
populaçã o, ainda concentrada no meio rural, o papel da mulher na sociedade é inferior ao do
homem. Ainda faz parte do modo de vida chinês a concepçã o de que a sobrevivência da família
deverá ser garantida, no futuro, pela força da mã o de obra masculina. Para a cultura chinesa, de um
modo geral, sempre foi considerado um misto de desonra e tragédia pessoal o fato de nã o gerar um
filho do sexo masculino.

Além disso, aumentou a taxa de aborto (a maioria realizada quando os casais percebiam que teriam
filhas e nã o filhos) e o abandono de bebês do sexo feminino em todo o país, que, em muitos casos,
foram parar em instituiçõ es estatais desprovidas de estrutura para o acolhimento apropriado,
provocando altas taxas de mortalidade.

Outra consequência grave dessa política foi o aumento desproporcional da populaçã o masculina. Já
existe na China uma carência de mulheres para constituir casais. Por isso, sã o inú meros os casos de
importaçã o ilegal de mulheres de outros países.

De qualquer modo, esse desequilíbrio da populaçã o masculina e feminina, segundo a demografia, já


é suficiente para provocar, no futuro, uma crise de estagnaçã o populacional.

A nova política demográfica da China

As transformaçõ es sentidas pela China nos ú ltimos anos foram imensas. Entre 2005 e 2015, o seu
Produto Interno Bruto (PIB) triplicou, superando 10 trilhõ es de dó lares.

O país se integrou ao resto do globo e assumiu um papel de usina de força de trabalho exportadora.
Além disso, apresentou taxas crescentes de urbanizaçã o, conforme pode ser observado no grá fico.
No entanto, a combinaçã o de crescimento rápido com os desequilíbrios gerados pela política de
filho ú nico levou a China a rever a sua política demográ fica em 2015.
Estú dio Pingado

Fonte: National Bureau of Statistics of China. Disponível em: <www.statista.com/statistics/270162/urbanization-in-china>.


Acesso em: 28 mar. 2016.

Pá gina 55

SAIBA MAIS

China entra na era dos dois filhos por casal, após 35 anos de filhos únicos

A China, país mais populoso do mundo, começa hoje (1º) a permitir que os casais tenham dois
filhos. Com isso, chega ao fim o período de 35 anos da rígida política do filho ú nico.

Uma emenda à lei de planejamento familiar que estende a todos os casais a autorizaçã o para terem
dois filhos entrou em vigor com a chegada de 2016, apenas dois meses depois de, no final de
outubro, a mudança ter sido anunciada em reuniã o do Partido Comunista chinês.

A mudança na política demográ fica pode ter consequências significativas em uma sociedade em que
muitas crianças nascidas desde a década de 1980 nã o têm irmã os, sobretudo em zonas urbanas –
no campo era permitido um segundo filho se o primeiro fosse do sexo feminino. Especialistas
chineses, no entanto, sã o cautelosos na hora de fazer previsõ es.

“Entre o final deste ano e o início do pró ximo surgirã o as primeiras mudanças. É evidente que o
nú mero de bebês vai aumentar, mas nã o tanto”, disse Lu Jiehua, especialista do Instituto de Estudos
da Populaçã o, à agência noticiosa espanhola EFE.

Jiehua disse que os futuros pais que se vã o ver beneficiados pela política, precisamente os da
geraçã o do filho ú nico, “pensam muito hoje em dia na hora de constituir uma família, porque é um
encargo muito grande” em um país onde a educaçã o e a saú de nã o sã o gratuitas nem baratas.

“Entre 2017 e 2019 pode haver um maior nú mero de nascimentos, mas dentro de cinco anos vai
regressar ao nível de agora. A partir de 2020 será preciso ver se a política deve ser ampliada”,
afirmou Lu Jiehua, referindo-se à eventual possibilidade de a China passar a permitir três ou mais
filhos.
A restrita política do filho ú nico tem sido flexibilizada nos ú ltimos anos. Em 2013, por exemplo, foi
aliviada com a ampliaçã o do nú mero de exceçõ es em que um casal poderia ter um segundo
descendente.

O governo chinês estima que, a partir de hoje, 100 milhõ es de famílias sejam beneficiadas pela
“política dos dois filhos”.

O especialista Xiang Junyong, da Universidade Popular de Pequim, também foi prudente na hora de
fazer previsõ es sobre o aumento anual do nú mero de nascimentos como consequência da nova
política, apontando um intervalo entre 3 milhõ es e 8 milhõ es a mais.

Atualmente, registram-se cerca de 15 milhõ es de nascimentos por ano na China, mas estima- -se
que, até 2020, esse nú mero aumente para 20 milhõ es, uma marca que o país nunca alcançou desde
1997.

“Em curto prazo vai haver um aumento da populaçã o, mas mais à frente nã o vai haver assim tantas
mudanças”, prevê Xiang, ao explicar que muitos dos beneficiados sã o pessoas que nasceram nos
anos 70 e que, no caso das mulheres, se encontram nos ú ltimos anos de fertilidade.

Agência Lusa. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2016-01/ china-poe-fentra-na-


era-dos-dois-filhos-por-casal-apos-35-anos-de>. Acesso em: 28 mar. 2016.

A política populacional reformista implementada nos países ricos


após a Segunda Guerra Mundial
Depois da crise econô mica mundial de 1929 e da Segunda Guerra Mundial, a economia capitalista
apresentava-se em crise em razã o do grande nú mero de consumidores com baixo poder aquisitivo.

Tendo como exemplo o modelo de economia planificada dos países socialistas, diversos países
capitalistas desenvolvidos implementaram o Welfare State (Estado de bem-estar social)
procurando atender às necessidades bá sicas da populaçã o, como moradia, saú de, educaçã o e
segurança, mediante uma maior taxaçã o sobre as empresas e classes sociais mais abastadas.

Essa política do Welfare State estabeleceu, no continente europeu, por exemplo, um sistema de
previdência social equilibrado, que pô de garantir aos trabalhadores uma renda segura para o
período da velhice, possibilitando também uma sobra de recursos para atender a outras á reas
sociais. Além disso, o bom funcionamento da previdência social nesses países fortaleceu o que em
economia se chama poupança interna, que nada mais é do que o montante de capital nacional
disponível, e trouxe algo muito importante para vá rios países: a independência em relaçã o ao
sistema financeiro internacional.

Pá gina 56

A existência de uma boa poupança interna disponibilizou uma quantidade maior de capital para ser
empregado no pró prio país, gerando mais investimentos, que resultaram em mais oportunidades
de trabalho e aumentaram o consumo.

As economias centrais (Europa, Japã o e Estados Unidos), apó s a Segunda Guerra Mundial, foram
dinamizadas e, aos poucos, até a estrutura familiar foi radicalmente alterada, pois uma mudança
social, entre tantas outras, foi decisiva: a entrada da mulher no mercado de trabalho. Por essa razã o
e pelo nível de consumo cada vez mais elevado, as famílias incorporaram também novos valores. No
aspecto consumo, ampliou-se o poder de compra de produtos como rá dio, televisã o, toca-discos,
geladeira e automó veis.
Em termos mais resumidos, a implantaçã o da política do Welfare State na Europa Ocidental e nos
Estados Unidos apó s a Segunda Guerra Mundial amenizou as diferenças sociais e trouxe benefícios
à populaçã o de menor renda – que, por sua vez, passou a fazer espontaneamente um planejamento
familiar. Entã o, a natalidade começou a decrescer, atingindo taxas negativas em diversos países e
aumentando o índice de idosos na composiçã o da populaçã o algumas décadas depois.

Estú dio Pingado

Fonte: Banco Mundial, 2013. Disponível em: <http://dataworldbank.org/indicator/SP.DYN. CBRT.IN>. Acesso em: 29 mar.
2016.

Tal situaçã o tem preocupado as autoridades em dois sentidos:

• A oferta de mã o de obra tende a diminuir, comprometendo o sistema econô mico e produtivo.

• Os custos previdenciá rios e com saú de pú blica estã o aumentando, enquanto a base de
contribuiçã o de impostos tem diminuído.

Na tentativa de amenizar esses efeitos, alguns países passaram a admitir, como alternativa, o
emprego da mã o de obra imigrante, e outros iniciaram campanhas de incentivo à natalidade.

DICA DE LIVRO

Um mapa da ideologia

Organizador: Slavoj Ž ižek

Editora: Contraponto

Ano: 1996

No livro Um mapa da ideologia, o filó sofo esloveno Slavoj Ž ižek destaca que a percepçã o que cada
indivíduo tem de um determinado problema ou situaçã o é apenas simbó lica. Ele exemplifica com o
discurso hipotético de um inglês que afirma haver paquistaneses demais no seu país. Na aná lise
desse discurso, observa-se a visã o xenó foba de que os estrangeiros representam “um excesso
perturbador”, enquanto o incentivo à natalidade de nativos, por exemplo, nã o representaria
qualquer excesso.

Pá gina 57
ATIVIDADE

Controle de natalidade

Leia o texto a seguir.

Política de incentivo à natalidade não emplaca

Sinais de ausência sã o sempre inquietantes. Na Alemanha, é comum ver escolas primá rias fechando
as portas porque nã o há mais quem as frequente. Nas grandes cidades, crianças quase nã o sã o
vistas nas ruas. No ano 2000, a populaçã o de menores de 18 anos no país era de aproximadamente
15 milhõ es; dez anos depois, diminuiu para 13 milhõ es. […]

Por ano, a Alemanha investe aproximadamente 200 bilhõ es de euros em políticas familiares e de
incentivo à natalidade: auxílio financeiro mensal para toda criança até os 18 anos; acesso gratuito
do menor à escola, saú de e medicamentos; licença-maternidade de até três anos de duraçã o;
salá rio-maternidade; reduçã o de impostos, entre outros.

A crítica que finalmente vem à tona é: todo esse dinheiro poderia ter sido gasto na construçã o de
creches, na formaçã o de profissionais em educaçã o e em outras formas de apoio a mães e pais
profissionalmente ativos. Apó s três anos de licença-maternidade (para cada filho), uma mulher tem
poucas chances de reinserçã o no mercado de trabalho. O Ministério da Família alemã o é, em sua
base, tributá rio da velha tradiçã o. Os casais unidos formalmente, nos quais apenas um dos cô njuges
se ocupa do lar e dos filhos, têm acesso pleno aos benefícios acima citados. Outros tipos de uniã o
afetiva, ou genitores solteiros, têm de fabricar suas pró prias soluçõ es, principalmente com relaçã o
ao cuidado diá rio das crianças. […]

Observató rio da Imprensa. Disponível em: <www.observatoriodaimprensa.com.br/


news/view/_ed735_politica_de_incentivo_a_natalidade_nao_emplaca>. Acesso em: 28 mar. 2016.

A partir de uma reflexã o sobre o controle demográ fico e a leitura do texto, discutam o assunto em
grupos de no má ximo cinco alunos.

É importante que cada participante da discussã o se coloque na situaçã o de famílias que estejam sob
a administraçã o de um Estado que impõ e métodos de controles rígidos e de cunho neomalthusiano
(como a China) para fazer uma aná lise. Da mesma forma, os participantes devem analisar a
abordagem do controle realizado em países onde se estabeleceu o chamado Welfare State.

Cada grupo deverá :

a) eleger e demonstrar a sua preferência entre ambos os modelos;

b) debater qual dos dois modelos de controle está em andamento no Brasil;

c) levantar hipó teses sobre a implementaçã o de uma política de controle de natalidade diferente da
atual na

China. Ao final, os grupos apresentarã o suas aná lises uns para os outros e suas conclusõ es.

COMO VIVEMOS?
O mapa a seguir nã o representa a divisã o do mundo entre hemisférios norte e sul, entretanto,
ilustra a linha divisó ria que separa os países desenvolvidos dos países subdesenvolvidos. É a
chamada “linha da pobreza”.
Diante disso, nã o estranhe o posicionamento da Austrá lia e da Nova Zelâ ndia ao norte. Esses dois
países têm fortes vínculos políticos e econô micos com os centros mais influentes do mundo, além
de suas populaçõ es apresentarem um nível social semelhante ao dos demais países desenvolvidos
do norte.

Outro ponto que poderia causar estranheza seria a inclusã o, no norte desenvolvido, de países do
Leste Europeu (como Polô nia, Repú blica Tcheca, Hungria, Eslovênia e outros) e da Rú ssia, pois as
suas populaçõ es passaram por um forte empobrecimento, causado pelo fim repentino da economia
e dos Estados socialistas. No entanto, devemos considerar que vá rios desses países já integram a
Uniã o Europeia e têm acesso a todas as vantagens e benefícios que os membros do bloco podem
conseguir.

Pá gina 58

Allmaps

Fonte: LACOSTE, Y. Países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990. p. 18. (Atualizado conforme Britannica
Escola. Disponível em: <http://escola.britannica.com.br/assembly/159377/null>. Acesso em: 28 mar. 2016.)

E por que a Rú ssia foi localizada no norte desenvolvido se ela ainda nã o é definida como um país
rico? Na verdade, a Rú ssia, assim como vá rios outros países do Leste Europeu, possui um sistema
educacional com relativa eficiência e fortes avanços em vá rias á reas de pesquisa e tecnologia e, por
esses aspectos, nã o podemos considerá -la integrante do sul subdesenvolvido.

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO


O Programa das Naçõ es Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) estabeleceu um índice universal
para analisar as condiçõ es de vida. Esse indicador recebeu o nome de Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). Elaborado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq, com a colaboraçã o de
Amartya Sem – economista indiano ganhador de um Prêmio Nobel –, o IDH nã o pode ser
considerado um indicador de felicidade humana, mas é um instrumento eficiente para analisar a
qualidade de vida com base em três indicadores muito importantes: saú de, educaçã o e renda.

O indicador de saú de é avaliado pelos dados de expectativa de vida, pois os países mais bem
posicionados sã o justamente os que têm melhores condiçõ es de saú de e saneamento. Por outro
lado, nos países onde essas condiçõ es sã o precá rias, as taxas de mortalidade sã o elevadas e,
consequentemente, a expectativa de vida é reduzida.

O indicador de educaçã o é avaliado pela média do número de anos de estudo por habitante e
também por uma projeçã o chamada anos esperados de escolaridade. Esses dados indicam o
chamado acesso ao conhecimento, que, por sua vez, também define o nível de desenvolvimento
socioeconô mico dos habitantes de todos os países.

O indicador da renda é o Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita. O RNB é semelhante ao
Produto Interno Bruto (PIB), mas é um pouco mais completo. Enquanto o PIB soma unicamente as
riquezas produzidas por um país, o RNB soma a esse valor as transferências de renda
internacionais. Desse modo, o dado inclui tanto as quantias de dinheiro enviadas para o exterior
como as remessas de capitais externos, tais como as provenientes de cidadã os residentes em outros
países ou os recursos de investimento externo.

Depois de contabilizado, o RNB é ajustado em termos per capita, ou seja, dividido pelo nú mero de
habitantes, além de levar em conta a Paridade do Poder de Compra (PPC) das moedas locais. A PPC
evita que as contas sejam feitas em dó lares americanos, o que poderia causar distorçõ es por causa
das variaçõ es nas taxas de câ mbio.

A partir dos cá lculos do índice é conferida uma pontuaçã o a cada país, que pode ser classificado
com desenvolvimento humano muito elevado, elevado, médio e baixo.

Pá gina 59

SUBDESENVOLVIMENTO: ORIGENS E ATUALIDADE


Ao contrá rio do que se propagou durante muito tempo, o subdesenvolvimento nã o é uma condiçã o
natural de certos povos, tampouco obra da natureza.

Antigos preconceitos dos países colonizadores e imperialistas do século XIX mostravam as


populaçõ es das regiõ es tropicais como tendentes ao ó cio e à preguiça, ora devido a supostas
“características étnicas” (racismo), ora à inclemência do calor (determinismo geográ fico). Esses
preconceitos sã o facilmente derrubados se compararmos as condiçõ es de trabalho nos países ricos
com as longas e mal remuneradas jornadas de trabalho dos países subdesenvolvidos nos dias de
hoje.

Todavia, a histó ria nos mostra as vá rias facetas da exploraçã o, e uma delas é o modo como os países
colonizadores conseguiram justificar a apropriaçã o do trabalho, dos bens e das riquezas de outras
regiõ es.

A justificativa moral usada para colonizar o resto do mundo seria a hipotética missã o dos países
desenvolvidos de levar o desenvolvimento econô mico, a difusã o de costumes “civilizados” e até o
seu pró prio conceito de justiça para povos considerados inferiores.

Essa maneira de inferiorizar outras populaçõ es e mostrá -las como desumanizadas cumpriu a
estratégia de convencimento para que grandes parcelas de populaçõ es dos países colonizadores e
imperialistas justificassem para si a tarefa de investir seus recursos em regiõ es distantes. Para boa
parte da populaçã o desses países, a missã o colonizadora resultou na sua transferência para locais
distantes das metró poles, o que significou, para os colonizados, um domínio completo e irrepará vel
nos setores militar, social, econô mico e cultural.

Desse modo, foram enviados militares, aventureiros, pesquisadores, religiosos, administradores,


burocratas, empreiteiros e educadores europeus para todos os outros continentes. Essa ocupaçã o,
mascarada de açã o humanitá ria, foi por muito tempo divulgada como uma responsabilidade dos
habitantes brancos para o bem de toda a humanidade. Era o chamado “fardo (carga) do homem
branco”.

Essa curiosa expressã o, obra do escritor inglês Rudyard Kipling, era o título de um poema que
exaltava a conquista do mundo pelo homem branco europeu e dos Estados Unidos no século XIX. A
obra nã o foi apenas uma peça de propaganda. Ela mostrava sentimentos preconceituosos de
superioridade cultural e racial que já eram amplamente difundidos.

Isso tudo influenciou as geraçõ es passadas e as atuais. Por exemplo, em nosso país, temos uma
identificaçã o forte com a cultura, valores e interesses dos países hegemô nicos. Isso é chamado de
colonizaçã o cultural. Esse tipo de colonizaçã o ainda existe e sua açã o é em parte responsá vel pela
subordinaçã o dos países pobres em relaçã o aos dominantes.

Para que possamos compreender a dependência que países como o Brasil têm em relaçã o aos
países desenvolvidos, precisamos pensar no fenô meno da colonizaçã o cultural e lembrar como foi
feita a apropriaçã o de todo o mundo pelos países hegemô nicos.

• Na América Latina, a colonizaçã o de exploraçã o causou o genocídio das populaçõ es indígenas e


implantou o trabalho escravo, que, por sua vez, provocou a atual concentraçã o de renda e a
dificuldade de expandir os mercados internos da regiã o.

• Na Á frica, já no século XVI, as rivalidades étnicas foram manipuladas para evitar uma uniã o contra
os colonizadores, facilitando a escravizaçã o de enormes parcelas das populaçõ es locais, que eram
enviadas para outros continentes. A divisã o arbitrá ria do continente pelos europeus no século XIX é
uma das causas originais da instabilidade política atual do continente.

• Na Á sia, o Império Chinês foi duramente atacado por ter se rebelado contra a venda de drogas
alucinó genas para a populaçã o, em razã o dos interesses dos comerciantes e do Império Britânico
(foi a chamada Guerra do Ó pio).

Se, no passado, as divisõ es políticas da Á frica e da América Latina foram realizadas com a intençã o
de otimizar a sua exploraçã o, apó s a independência desses países, o imperialismo entrou em uma
nova fase.

Hoje em dia, os países que foram os centros de impérios coloniais nã o precisam mais usar os seus
pró prios recursos para administrar suas colô nias, como era feito no século XIX. As antigas
metró poles europeias e os Estados Unidos, além de empreenderem uma colonizaçã o cultural, sã o
sedes do grande poderio econô mico: as grandes corporaçõ es industriais e, principalmente,
financeiras.

A partir dessas novas sedes do verdadeiro poder global, a economia de todo o mundo é controlada e
monitorada. Os interesses econô micos dos países centrais sã o sempre defendidos por ó rgã os e
mecanismos mundiais, como a Organizaçã o Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetá rio
Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Desta forma, os países
subdesenvolvidos sã o mantidos sob controle pela estrita subordinaçã o econô mica.

Pá gina 60

ATIVIDADE

Comparação entre países


Reú nam-se em grupos de quatro ou cinco alunos. Cada um deverá analisar a histó ria de um país
desenvolvido da atualidade e fazer a comparaçã o com um país subdesenvolvido que tenha sido
colonizado no passado.

Algumas sugestõ es de países para a aná lise comparativa:

• Espanha/Cuba

• Portugal/Brasil

• Bélgica/Repú blica do Congo

• França/Argélia

• Reino Unido/Jamaica

• Reino Unido/Estados Unidos

Cada grupo deverá pesquisar e apresentar os indicadores de IDH do caso representado


(colonizador/colonizado). Em cada caso, deverá mostrar se existe ainda uma relaçã o de
dependência entre os países.

Para concluir, os grupos apresentarã o uma pequena aná lise sobre os países que no passado foram
colonizados e que atualmente fazem parte do grupo dos desenvolvidos.

Para ambas as atividades, leve em conta os seus conhecimentos e estudos de Histó ria.

ESTRATÉGIAS E PROBLEMAS DO CRESCIMENTO


POPULACIONAL
Quando a populaçã o da Índia atingiu 1 bilhã o de habitantes, o governo do país divulgou interna e
externamente declaraçõ es de satisfaçã o e otimismo. Porém, apesar desse otimismo pelo
crescimento populacional, um dos interesses estratégicos do governo era o de fazer diminuir a sua
taxa de natalidade, demonstrando uma contradiçã o.

Uma grande populaçã o representa a existência de um mercado de trabalho e de consumo vultoso e


isso é um atrativo para grupos de investimentos nacionais e internacionais. Uma naçã o numerosa
ainda confere um poder de influência política importante e decisivo para a regiã o e também em um
contexto internacional mais amplo.

Nesse aspecto, pode-se incluir desde o peso de um exército numeroso em certa regiã o do mundo
até a importâ ncia que um país pode ter em fó runs e debates globais. Por outro lado, em caso de
crise econô mica, a existência de uma grande populaçã o pode resultar em consequências políticas
imprevisíveis.

Mas um vasto contingente populacional nã o implica necessariamente uma dificuldade natural para
controlar a economia de um país. Isso pode ser comprovado analisando a situaçã o econô mica
está vel dos dois países mais populosos do mundo, China e Índia, que, durante a década de 1990,
nã o foram afetados por vá rias crises financeiras globais. Comparativamente, o Brasil, que tem uma
populaçã o muito menor, sofreu abalos econô micos frequentes durante esse mesmo período.

Se por um lado uma populaçã o numerosa possibilita a um Estado nacional exercer maior influência
política e econô mica, por outro, se as deficiências socioeconô micas também forem grandes, os
esforços para a melhoria dos indicadores de desenvolvimento humano deverã o ser
proporcionalmente maiores – caso de Índia e China, por exemplo.
REGIÃO DENSAMENTE POVOADA, REGIÃO SUPERPOPULOSA E REGIÃO POPULOSA
Na demografia, o termo populoso se refere ao total absoluto de habitantes de uma regiã o ou país,
sem levar em consideraçã o a á rea por onde essa populaçã o se distribui.

Pá gina 61

Entre os continentes, o asiá tico é o mais populoso, abrigando 61% da populaçã o humana. Este fato
também faz com que cinco dos países mais populosos e pertecentes ao E-9 sejam asiá ticos: China,
Índia, Indonésia, Paquistã o e Bangladesh.

Entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos e o Japã o sã o os ú nicos na atualidade com mais de
100 milhõ es de habitantes.

Mundimagem

Fonte: ONU. Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wpp>. Acesso em: 10 fev. 2013.

Na América Latina, temos dois países populosos: Brasil e México. Na Á frica, dentro dessa
classificaçã o, temos Nigéria e Egito.

As á reas densamente povoadas sã o caracterizadas por possuírem grandes concentraçõ es humanas.


Um exemplo de á rea densamente povoada é o bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, pois lá a
densidade demográ fica ultrapassa a taxa de mil habitantes por km 2. Copacabana é apenas um caso
exemplar. Como densamente povoadas podemos incluir todas as metró poles, as regiõ es
metropolitanas e as maiores cidades do país e do mundo.

Povoado

Refere-se ao nú mero de habitantes de uma regiã o em relaçã o à sua á rea (em km2). Dizer que uma á rea é muito
povoada é o mesmo que classificá -la como de grande densidade demográ fica.

Na maior parte das cidades grandes e médias do mundo, apesar de a produçã o de alimentos ser
pequena, suas populaçõ es obtêm suprimentos por meio da renda obtida nos setores de comércio,
indú stria e serviços. E isso nã o vale apenas para centros urbanos. Vá rias regiõ es nã o produzem os
seus pró prios alimentos. Por meio de atividades em outras á reas, elas obtêm os recursos
necessá rios para importá -los.

O chamado Vale do Silício, na Califó rnia, é um bom exemplo. Trata-se de uma regiã o densamente
habitada que se especializou na indú stria de informá tica e importa quase tudo que precisa de
outras regiõ es, tais como alimentos, material de transporte, energia e mã o de obra.
Algumas á reas densamente povoadas, ou seja, com alta densidade demográ fica, nã o podem ser
facilmente identificadas em um planisfério. As á reas centrais das metró poles brasileiras, por
exemplo, sã o densamente povoadas. Contudo, por uma questã o de escala, esses lugares nã o podem
ser delimitados em um mapa-mú ndi.

Por outro lado, em um mapa de um estado brasileiro ou em um mapa do subcontinente norte-


americano, já seria possível identificar claramente algumas importantes á reas densamente
povoadas, como a megaló pole Boswash – que engloba as metró poles de Boston, Nova Iorque e
Washington, nos Estados Unidos. No Brasil, poderíamos citar o caso das regiõ es metropolitanas de
Sã o Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.

Pá gina 62

As mais vastas e importantes á reas com alta densidade demográ fica do mundo se encontram na
Á sia, majoritariamente situadas em meio a planícies, onde é praticada um tipo de agricultura
intensiva conhecida como agricultura de jardinagem.

SAIBA MAIS

Agricultura de jardinagem

A agricultura de jardinagem é uma expressã o que designa um tipo de exploraçã o agrícola muito
comum no sul e sudeste da Á sia. Esse sistema é caracterizado por pequenas e médias propriedades
familiares, uso intensivo de mã o de obra, utilizaçã o de técnicas que possibilitam alta produtividade
– seleçã o de grã os, uso de fertilizantes – e proteçã o dos solos. É muito comum nas Filipinas, na
Tailândia e na Indonésia, onde a alta densidade demográ fica é responsá vel pela existência de
propriedades muito pequenas.

No Japã o, bem como em Taiwan, esse modelo é caracterizado pela proximidade aos centros
urbanos.

Em muitos casos, essa modalidade de exploraçã o agrícola é associada à construçã o de “terraços”,


com a finalidade de aproveitamento das encostas de morros. A cultura mais comum é a do arroz.

Superpopulação: conceito ligado a questões de recursos e renda


Ao contrá rio do que parece, a superpopulação nã o está relacionada apenas a um grande nú mero
de habitantes. Para visualizar o que esse conceito representa, imagine uma regiã o com duas
características:

• alta densidade demográ fica;

• escassez de recursos suficientes para todos.

A superpopulaçã o é um conceito relativo, em que a questã o numérica nã o é, necessariamente, a


mais importante. Nas á reas superpopulosas, tanto a produçã o agrícola como a renda sã o
insuficientes. Podemos citar como exemplos: regiõ es inteiras da Índia, além de países como
Bangladesh, Somá lia e Etió pia.

No entanto, uma regiã o industrial da Alemanha, ou a ilha de Manhattan, em Nova Iorque, ou o


bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, sã o á reas densamente povoadas onde as pessoas, em sua
grande maioria, nã o estã o expostas a grandes carências. A renda obtida pela populaçã o desses
lugares é suficiente para a compra de alimentos produzidos em outras regiõ es.
A ESTRUTURA DA POPULAÇÃO
A populaçã o de uma regiã o ou país pode ser analisada com base em diferentes aspectos, como a
estrutura etá ria, gênero ou participaçã o dos diferentes setores na economia. Veja a seguir os
principais tipos de abordagem da estrutura da populaçã o.

A PIRÂMIDE ETÁRIA
Com a formulaçã o de grá ficos, é possível fazer a representaçã o da estrutura populacional
abordando dois aspectos importantes: gênero e idade.

Esse modelo de representaçã o em forma de pirâ mide tem a vantagem de evidenciar visualmente
vá rias características socioeconô micas.

As pirâmides de países desenvolvidos e subdesenvolvidos


As imagens da pá gina a seguir mostram pirâ mides etá rias típicas de países com grandes diferenças
sociais e econô micas.

O grá fico 1 refere-se a uma pirâ mide típica de países subdesenvolvidos, com base larga, indicando
alta natalidade, e topo estreito, evidenciando a baixa expectativa de vida. Já a pirâ mide do grá fico 2
apresenta-se mais equilibrada. Nela a natalidade é mais baixa e a expectativa de vida é elevada,
características típicas de países desenvolvidos.

Pá gina 63

Estú dio Pingado


Estú dio Pingado

Fonte dos grá ficos: IBGE. Atlas geográfico escolar. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. p. 81.

A pirâmide etária em situações de guerra e epidemias


Com o crescimento da aids em todo o mundo, a pirâ mide etá ria dos países com muitos casos da
doença está sendo alterada. Botsuana, um país com grande incidência da doença, sofre com a morte
precoce dos adultos em idade reprodutiva e, consequentemente, com a queda expressiva na sua
taxa de natalidade.

Observe a pirâ mide a seguir. Ela representa a projeçã o da estrutura populacional de um país
africano a partir de duas perspectivas: a do controle do aumento dos casos de aids e outra sem o
controle da doença.

Estú dio Pingado

Fonte: U.S. Census Bureau, 2000. Disponível em: <www.fao.org/ docrep/005/y8331e/y8331e05.htm>. Acesso em: 13 maio
2016.

Expectativa de vida com e sem aids (2010)


País Sem aids Com aids
Bahamas (América Central) 76 anos 66 anos
Botsuana (Á frica) 74 anos 27 anos
Camboja (Á sia) 65 anos 61 anos
Honduras (América Central) 74 anos 62 anos
Zimbá bue (Á frica) 71 anos 35 anos
Fonte: U.S. Census Bureau. Disponível em: <www.census.gov/ population/international/files/wp02/wp02-2.pdf>. Acesso
em: 8 maio 2016.

ESTRUTURA POPULACIONAL POR SETORES DA ECONOMIA


O perfil de um país também pode ser compreendido a partir da participaçã o da populaçã o
economicamente ativa (PEA) nos diferentes ramos da economia. Com esse tipo de dado, podemos
deduzir se um país tem mais representatividade no setor agropecuá rio, se sua populaçã o já é
bastante urbanizada, se as atividades industriais possuem peso relativo superior em relaçã o a
outros países etc. Assim, temos os seguintes setores da economia:

• Setor primá rio: agropecuá ria, pesca e extrativismo (vegetal e mineral).

• Setor secundá rio: indú stria, energia e construçã o civil.

• Setor terciá rio: comércio e prestaçã o de serviços.

Pá gina 64

Um país desenvolvido concentra a maior parte da PEA no setor terciá rio, enquanto os países
subdesenvolvidos, sem industrializaçã o, têm a sua populaçã o economicamente ativa concentrada
no setor primá rio. Os países subdesenvolvidos industrializados também concentram sua PEA no
setor terciá rio, no entanto, a mã o de obra tem pouca ou nenhuma qualificaçã o profissional.

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
No fim da década de 1920, foi criado um modelo para explicar o ritmo de crescimento e
envelhecimento da populaçã o mundial, que ficou conhecido como Modelo de Transição
Demográfica. Ele demonstra que tanto o crescimento como o envelhecimento da populaçã o estã o
diretamente ligados ao nível de desenvolvimento de uma naçã o, refletindo nas suas taxas de
natalidade e mortalidade. Os estudiosos dividem a transiçã o em quatro fases, apresentadas no
quadro a seguir.

Modelo de Transição Demográfica


Primeira fase Altas taxas de natalidade e mortalidade, com leve predominâ ncia da taxa de natalidade. As
condiçõ es sanitá rias sã o ruins, há carência de prevençã o e tratamento de doenças.
Segunda fase Apresenta diminuiçã o das taxas de mortalidade e aumento da expectativa de vida. Há mais
idosos, mas nã o há controle da taxa de natalidade, que continua alta.
Terceira fase Taxa de mortalidade baixa e diminuiçã o da taxa de natalidade. Muito comum em países de
industrializaçã o tardia.
Quarta fase Equilíbrio das taxas de mortalidade e natalidade em patamares baixos. Comum em países
desenvolvidos, tais como Estados Unidos, Canadá e Suécia.

Fonte: Elaborado pelos autores.

ATIVIDADE

Estrutura da população

Formem grupos de no má ximo seis alunos e criem uma representaçã o da estrutura populacional de
dois países, sendo de preferência um desenvolvido e o outro subdesenvolvido.
As representaçõ es, que podem ser feitas na forma de pirâ mides etá rias ou abordando a
participaçã o dos setores da economia, serã o posteriormente apresentadas para toda a turma para
que sejam ressaltadas as diferenças entre as duas categorias de países.

OS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS
O fenô meno do deslocamento das populaçõ es pelo mundo é tã o antigo quanto a pró pria
humanidade. No decorrer da histó ria, diversos movimentos migrató rios contribuíram para a
formaçã o dos povos que atualmente vivem no continente americano, inclusive no Brasil.

Sã o diversas as causas que impulsionam o ser humano a abandonar o seu territó rio original,
causando a chamada repulsã o populacional. Entre as causas podemos citar questõ es religiosas
(geralmente relacionadas à intolerâ ncia no país de origem), fatores econô micos (desemprego
elevado, falta de perspectivas de vida, baixos salá rios, fome), guerras e perseguiçõ es políticas.

Por outro lado, entre os fatores que atraem os movimentos migrató rios, estã o a possibilidade de
exercer liberdade religiosa, a disponibilidade de terras e, principalmente no contexto atual,
melhores oportunidades de trabalho oferecidas em economias mais dinâ micas e desenvolvidas.

Anadolu Agency/AFP

Imigrantes ilegais escoltados pela guarda costeira turca. Mersin, na Turquia, 2015.

Como pode ser observado no mapa a seguir, os migrantes em busca de oportunidades de trabalho
podem ser identificados também pelo grau de qualificaçã o educacional e econô mica.

Pá gina 65
Allmaps

Fonte: Atlas du monde diplomatique, 2009. Disponível em: <http://alencontre.org/wp-content/uploads/2015/03/Carte-


Flux-migratoires. jpg>. Acesso em: 29 mar. 2016.

Atualmente, os grandes destaques na recepçã o de movimentos migrató rios sã o a América do Norte,


a Europa e a Austrá lia. O mapa evidencia também a existência de zonas limítrofes entre á reas de
origem e destino de grandes fluxos migrató rios: Estados Unidos/América Latina; Europa/Á frica,
Oriente Médio e Leste Europeu; e Austrá lia/China e Sudeste Asiá tico.

Ao contrá rio do que ocorreu no passado, quando migrantes europeus tiveram total liberdade para
cruzar oceanos e se estabelecer em outras terras, atualmente nã o existe essa ampla liberdade.
Apesar das facilidades propiciadas pelos meios de transporte e de 60% dos 200 milhõ es de
migrantes do mundo viverem em países desenvolvidos, estes ergueram, nas ú ltimas décadas,
diversos tipos de barreiras anti-imigraçã o – os Estados Unidos e a Uniã o Europeia, por exemplo,
além de exigirem vistos de entrada para muitos viajantes de países em desenvolvimento,
endureceram suas políticas de imigraçã o. Essas açõ es causam a existência de fluxos migrató rios
clandestinos, principalmente de latino-americanos para os Estados Unidos e de africanos para a
Europa.

Todos os dias centenas de pessoas, entre mexicanos e outros latino-americanos, tentam ingressar
ilegalmente pela fronteira sul dos Estados Unidos, transpondo rios, muros e desertos, arriscando
suas vidas com a intençã o de conquistar postos de trabalho no novo país. Em geral, contratam
coyotes – equipes que funcionam à margem da lei, cobrando taxas elevadas para levá -los para os
Estados Unidos, mesmo em condiçõ es de alto risco – e inú meros imigrantes clandestinos morrem
no meio do caminho.

Contudo, mesmo trabalhando em territó rio estadunidense, esses migrantes sã o alvos constantes da
polícia de migraçã o, sendo muitas vezes deportados para os seus países de origem. O paradoxo
dessa situaçã o é que amplos setores da economia dos Estados Unidos, principalmente no setor de
serviços na porçã o urbana e no agronegó cio, só conseguem ser economicamente viá veis e rentá veis
com o uso de mã o de obra ilegal.
Também na Uniã o Europeia a imigraçã o clandestina gera inú meras fatalidades todos os anos.
Principalmente originá rias de países africanos com economias fracas e estagnadas, milhares de
pessoas tentam ingressar ilegalmente em praias e ilhas, principalmente na Espanha, na Grécia e na
Itá lia. Sã o frequentes os casos de resgate de imigrantes no mar em embarcaçõ es superlotadas e em
condiçõ es precá rias.

Pá gina 66

A Guarda Costeira da Itá lia, por exemplo, transporta esses imigrantes para a ilha de Lampedusa, de
onde normalmente sã o enviados para os seus países de origem.

Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

Antonio Calanni/AP Photo/Glow Images

Migrantes africanos concentrados na ilha de Lampedusa, na Itá lia, aguardam triagem. Foto de 2015.

Nos ú ltimos anos, o drama dos que atravessam o Mediterrâ neo foi agravado também por outra
questã o: o elevado nú mero de refugiados oriundos de países atingidos por guerras, como é o caso
da Síria e da Líbia.

Segundo o Alto Comissariado das Naçõ es Unidas para os Refugiados (Acnur), somente em 2015,
entre migrantes clandestinos e refugiados, chegaram à s ilhas e praias europeias mais de 100 mil
pessoas, a maior parte proveniente da Á frica Subsaariana.
Atualmente, milhõ es de pessoas contribuem com o seu esforço de trabalho em países onde nã o
contam com a cidadania e convivem com demonstraçõ es de xenofobia, principalmente por parte
de organizaçõ es políticas radicais de direita. Baseados em conceitos anticientíficos e
preconceituosos de “pureza racial”, os atos de xenofobia, muitas vezes violentos, atingem também
cidadã os europeus de origem africana.

Xenofobia

A xenofobia pode ser vista sob dois aspectos: como uma forma de preconceito ou como um tipo de transtorno
mental. Como preconceito, caracteriza-se por uma aversã o ou até ó dio em relaçã o a estrangeiros ou qualquer
grupo de pessoas de outras crenças e/ou culturas. Nesse contexto, as vítimas de xenofobia muitas vezes
passam por episó dios de agressã o física, moral e psicoló gica. Em casos extremos, sã o vítimas de assassinato.
Como transtorno mental, é manifestada como um tipo de aversã o a tudo que é considerando “diferente”,
podendo ter origem em algum episó dio traumá tico e prejudicando as atividades cotidianas e relaçõ es sociais
do indivíduo.

A QUESTÃO DOS REFUGIADOS


Segundo a Convençã o de Genebra (1951), os refugiados sã o as populaçõ es que sofrem perseguiçã o
em seus locais de origem e deverã o ser sempre acolhidos pelas autoridades dos países aos quais se
dirigem, sem sofrer discriminaçõ es de origem étnica, religiosa ou de nacionalidade.

Nas ú ltimas décadas, milhõ es de pessoas tentaram atravessar fronteiras internacionais, expulsas
por diversos conflitos em seus países de origem. A desestabilizaçã o de regimes e a eclosã o de
guerras no norte da Á frica e no Oriente Médio geraram uma escalada no nú mero de refugiados que
tentam ingressar na Europa. Esse movimento de pessoas em desespero colocou à prova a
organizaçã o dos países da Uniã o Europeia, que nã o demonstraram a capacidade para acolhê-las.
Ironicamente, os processos de desestabilizaçã o política de países como a Líbia decorreram da
iniciativa e participaçã o desses mesmos países europeus, por meio de açõ es bélicas comandadas
pela Organizaçã o do Tratado do Atlâ ntico Norte (Otan).

No contexto da Uniã o Europeia e devido à posiçã o geográ fica, Itá lia, França e Grécia se tornaram
verdadeiras portas de entrada para os migrantes e refugiados e, assim, arcaram com os custos de
recepçã o e acolhimento de milhares de pessoas, além da triagem, acomodaçã o temporá ria, trâ mites
de legalizaçã o e de emissã o de documentos.

Pá gina 67

Esse procedimento foi estabelecido pelos Acordos de Dublin, que criaram protocolos sobre o
processamento de pedidos de asilo apresentados a países integrantes da Uniã o Europeia, definindo
como responsá veis pelos refugiados os países a que eles se dirigem.

Contudo, a sú bita pressã o causada pelo grande nú mero de refugiados no sul da Europa fez com que
dirigentes regionais – como o ministro do Interior italiano, Angelino Alfano – demandassem dos
outros países do bloco mais participaçã o no gerenciamento de uma crise que em grande parte foi
causada pela açã o de forças europeias.

SAIBA MAIS

Itália pede à União Europeia para “abrir os olhos” ao problema da imigração

4 out. 2013
O governo italiano defendeu hoje (4) uma política de imigraçã o comunitá ria e considerou que
tragédias como o naufrá gio ocorrido na quinta-feira (3) na Ilha de Lampedusa podem ajudar a
“abrir os olhos” dos países da Uniã o Europeia para o problema.

“A política de imigraçã o nã o é, neste momento, comunitá ria. Esperemos que tragédias deste tipo
abram os olhos também de outros governos europeus para mudar esta política”, disse a ministra
dos Negó cios Estrangeiros italiana, Emma Bonino.

Na quinta-feira (3), cerca de 130 pessoas morreram no naufrá gio de uma embarcaçã o proveniente
da Líbia que transportava imigrantes clandestinos da Somá lia e da Eritreia. Mais de 150 ainda estã o
desaparecidas.

Os imigrantes morreram quando o barco em que viajavam naufragou ao tentar chegar a Lampedusa
– a 205 quilô metros (km) ao sul da Sicília e a 113 km da costa africana. A ilha é considerada uma
porta de entrada para a Europa via Mar Mediterrâ neo.

O ministro do Interior italiano, Angelino Alfano, que foi para Lampedusa, anunciou que o presidente
da Comissã o Europeia, José Manuel Durã o Barroso, prometeu visitar a ilha em breve.

“Vamos transmitir-lhe como a ilha é verdadeiramente a porta para a Europa”, disse Alfano,
acrescentando que a “Itá lia levantará a voz na Europa para modificar os Acordos de Dublin
[convençã o sobre processamento dos pedidos de asilo apresentados a países integrantes da Uniã o
Europeia] que exigem demais dos países com maior registro de imigrantes”.

Para o ministro da Infraestrutura italiano, Maurizio Lupi, “chegou a hora de a Itá lia levantar a sua
voz na Europa. Nã o podemos continuar sozinhos a enfrentar esse problema. A Uniã o Europeia tem
de nos acompanhar”.

Alguns deputados do Partido Democrata (PD), que integram a coligaçã o governamental, pediram ao
primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, que reclame a criaçã o na Europa de “corredores
humanitá rios para ajudar os imigrantes que chegam, bem como uma nova política de acolhimento,
baseada em uma maior solidariedade dos países da UE”.

Em Genebra, na Suíça, o Alto Comissariado das Naçõ es Unidas para os Direitos Humanos
manifestou hoje preocupaçã o ante o aumento das taxas de trá fico de imigrantes e de refugiados,
sobretudo na á rea do Mediterrâ neo e em regiõ es como no Golfo do Á den, que liga o Mar Vermelho
ao Oceano Índico.

“Isto indica o desespero das pessoas que vivem em países afetados pela insegurança e por conflitos,
como a Eritreia e a Somá lia, e privados dos seus direitos econô micos, sociais e culturais bá sicos”,
disse o porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, Rupert Colville.

Colville elogiou os esforços das autoridades italianas ao abordarem o problema “de acordo com as
normas internacionais de direitos humanos e respeito pela dignidade das pessoas”, defendendo que
as autoridades nacionais e regionais devem “redobrar os esforços” para acabar com o trá fico de
imigrantes ilegais com a colaboraçã o da comunidade internacional, da ONU e da UE.

O alto comissá rio da ONU para os Refugiados, Antó nio Guterres, afirmou, em comunicado, que a
tragédia de Lampedusa deve servir como “uma chamada de atençã o” para a necessidade de existir
“mã o firme” contra os traficantes e contrabandistas e uma maior proteçã o das vítimas.

Agência Lusa. Disponível em: <www.ebc.com.br/noticias/internacional/2013/10/italia-pede-a-uniaoeuropeia-para-


abrir-os-olhos-ao-problema-da>. Acesso em: 29 mar. 2016.
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QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (Enem, 2010)

Um fenô meno importante que vem ocorrendo nas ú ltimas quatro décadas é o baixo crescimento populacional
na Europa, principalmente em alguns países como Alemanha e Á ustria, onde houve uma brusca queda na taxa
de natalidade. Esse fenô meno é especialmente preocupante pelo fato de a maioria desses países já ter chegado
a um índice inferior ao “nível de renovaçã o da população”, estimado em 2,1 filhos por mulher. A diminuiçã o da
natalidade europeia tem vá rias causas, algumas de cará ter demográ fico, outras de cará ter cultural e
socioeconô mico.

OLIVEIRA, P. S. Introdução à sociologia. Sã o Paulo: Á tica, 2004 (adaptado).

As tendências populacionais nesses países estã o relacionadas a uma transformaçã o

a) na estrutura familiar dessas sociedades, impactada por mudanças nos projetos de vida das novas geraçõ es.

b) no comportamento das mulheres mais jovens, que têm imposto seus planos de maternidade aos homens.

c) no nú mero de casamentos, que cresceu nos ú ltimos anos, reforçando a estrutura familiar tradicional.

d) no fornecimento de pensõ es de aposentadoria, em queda diante de uma populaçã o de maioria jovem.

e) na taxa de mortalidade infantil europeia, em contínua ascensã o, decorrente de pandemias na primeira


infâ ncia.

2. (Enem, 2006)

Tendências nas migrações internacionais

O relató rio anual (2002) da Organizaçã o para a Cooperaçã o e Desenvolvimento Econô mico (OCDE) revela
transformaçõ es na origem dos fluxos migrató rios. Observa-se aumento das migraçõ es de chineses, filipinos,
russos e ucranianos com destino aos países membros da OCDE. Também foi registrado aumento de fluxos
migrató rios provenientes da América Latina.

Trends in international migration – 2002. Internet: <www.ocde.org> (com adaptaçõ es).

Enem/Divulgaçã o

No mapa seguinte, estã o destacados, com a cor preta, os paí ses que mais receberam esses fluxos migrató rios
em 2002.

As migraçõ es citadas estã o relacionadas, principalmente, à

a) ameaça de terrorismo em países pertencentes à OCDE.


b) política dos países mais ricos de incentivo à imigraçã o.

c) perseguiçã o religiosa em países muçulmanos.

d) repressão política em países do Leste Europeu.

e) busca de oportunidades de emprego.

3. (Enem, 2006) Nos ú ltimos anos, ocorreu reduçã o gradativa da taxa de crescimento populacional em quase
todos os continentes. A seguir, sã o apresentados dados relativos aos países mais populosos em 2000 e também
as projeçõ es para 2050.

IBGE/Divulgaçã o

Internet: <www.ibge.gov.br>.

Com base nas informaçõ es anteriores, é correto afirmar que, no período de 2000 a 2050,

a) a taxa de crescimento populacional da China será negativa.

b) a populaçã o do Brasil duplicará .

c) a taxa de crescimento da populaçã o da Indonésia será menor que a dos Estados Unidos.

d) a populaçã o do Paquistã o crescerá mais de 100%.

e) a China será o país com a maior taxa de crescimento populacional do mundo.

4. (Enem, 2011)

As migraçõ es transnacionais, intensificadas e generalizadas nas ú ltimas décadas do século XX, expressam
aspectos particularmente importantes da problemá tica racial, visto como dilema também mundial. Deslocam-
se indivíduos, famílias e coletividades para lugares pró ximos e distantes, envolvendo mudanças mais ou menos
drá sticas nas condiçõ es de vida e trabalho, em padrõ es e valores socioculturais. Deslocam-se para sociedades
semelhantes ou radicalmente distintas, algumas vezes compreendendo culturas ou mesmo civilizaçõ es
totalmente diversas.

IANNI, O. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 1996.

A mobilidade populacional da segunda metade do século XX teve um papel importante na formaçã o social e
econô mica de diversos estados nacionais.

Pá gina 69

Uma razã o para os movimentos migrató rios nas ú ltimas décadas e uma política migrató ria atual dos países
desenvolvidos sã o
a) a busca de oportunidades de trabalho e o aumento de barreiras contra a imigraçã o.

b) a necessidade de qualificaçã o profissional e a abertura das fronteiras para os imigrantes.

c) o desenvolvimento de projetos de pesquisa e o acautelamento dos bens dos imigrantes.

d) a expansã o da fronteira agrícola e a expulsã o dos imigrantes qualificados.

e) a fuga decorrente de conflitos políticos e o fortalecimento de políticas sociais.

5. (Ufba, 2010) Anamorfoses

Representam as superfícies dos países em á reas proporcionais a uma determinada quantidade.

UFBA/Divulgaçã o

Com base nas representaçõ es grá ficas dos países do globo, proporcionais aos temas relacionados em I e II, e
nos conhecimentos sobre o estudo da população mundial, pode-se afirmar:

(01) Em I, a maioria dos países em destaque possui uma irregular distribuição espacial da populaçã o, níveis de
desenvolvimento heterogêneos e integra blocos econô micos distintos, mas grande parte deles nã o apresenta
elevadas densidades demográ ficas.

(02) Em II, estã o representados alguns países considerados desenvolvidos, que se localizam no Hemisfério
Norte e nã o detêm altas taxas de natalidade e baixas expectativas médias de vida.

(04) Em II, a diminuta representatividade do continente africano advém das reais condiçõ es políticas e
socioeconô micas, à s quais os países que nele se encontram estã o submetidos há muitos anos.

(08) Os grá ficos I e II permitem constatar que os países de maior representatividade absoluta da populaçã o
sã o também os que têm maior destaque quanto ao Produto Nacional Bruto (PNB).

(16) A expressiva disparidade representada pelo Brasil, em I e II, relaciona-se diretamente com a inexistência
do desemprego estrutural e com a capacidade de rá pida recuperação econô mica das classes D e E da sociedade
brasileira.

6. (Enem, 2012)

Composição da população residente urbana por sexo, segundo os grupos de idade – Brasil –
1991/2010
Enem/ Divulgação

Fonte: IBGE, Censo Demográ fico, 1991-2010.

A interpretaçã o e a correlaçã o das figuras sobre a dinâ mica demográ fica brasileira demonstram um(a)

a) menor proporção de fecundidade na á rea urbana.

b) menor proporçã o de homens na á rea rural.

c) aumento da proporção de fecundidade na á rea rural.

d) queda da longevidade na á rea rural.

e) queda do nú mero de idosos na á rea urbana.

7. (UFRGS-RS, 2011) Em 2010, o Instituto de Pesquisa Econô mica Aplicada (IPEA) publicou comunicado sobre
estudo que analisa a situação da pobreza brasileira entre 1995 e 2008. As linhas de pobreza absoluta e de
pobreza extrema, utilizadas no estudo, foram estabelecidas pelo critério de rendimento médio domiciliar per
capita, respectivamente, de até meio salá rio mínimo mensal e de até um quarto de salá rio mínimo mensal.

Em relaçã o a essa temá tica, é correto afirmar que

a) a diminuiçã o das taxas de pobreza absoluta e extrema entre os estados brasileiros ocorreu de maneira
simétrica e uniforme.

b) os estados que apresentaram maior diminuiçã o das taxas de pobreza absoluta, no período de 1995 a 2008,
foram Santa Catarina e Paraná .

c) as taxas de pobreza tanto absoluta quanto extrema caíram em todas as grandes regiõ es brasileiras, exceto
no Nordeste, onde ocorreu aumento da pobreza absoluta e extrema.

Pá gina 70

d) o forte crescimento econô mico verificado no período de 1995 a 2008 no país foi suficiente para elevar o
padrã o de vida de todos os brasileiros.

e) Pernambuco, Ceará e Bahia foram os estados que, em 2008, apresentaram a maior desigualdade de renda no
país.

8. (UFC-CE, 2004) Os mecanismos regentes da dinâ mica populacional sã o objetos de discussõ es teó rico-
ideoló gicas que orientam as açõ es adotadas para controlá -la. Sobre as teorias demográ ficas e a dinâ mica
populacional, é possível afirmar, de forma correta, que

a) os seguidores da teoria de Malthus sobre a população consideram o grande crescimento populacional um


obstá culo ao desenvolvimento socioeconô mico da humanidade, defendendo políticas de controle radical da
natalidade entre as classes sociais mais pobres.
b) o aumento da expectativa de vida da populaçã o mundial decorreu dos avanços da medicina, da higiene
sanitá ria, da tecnologia alimentar e da alfabetizaçã o em massa, que elevou as taxas de natalidade e o
crescimento vegetativo nos países em desenvolvimento.

c) os métodos anticoncepcionais, difundidos em todo o mundo, eliminaram o risco de explosã o demográ fica e
asseguraram taxas de natalidade e de crescimento vegetativo uniforme e equilibrado, nos diversos continentes
e países entre as diferentes classes sociais que os habitam.

d) o desenvolvimento técnico-científico permitiu a ocupaçã o de á reas antes consideradas anecú menas, como o
norte da Á sia e a Á frica Equatorial, que passaram a ser povoadas e populosas, devido ao grande crescimento
demográ fico nelas ocorrido no século XX.

e) os movimentos migrató rios são responsá veis pela difusã o da populaçã o na Terra e pela existência de
equilíbrio nas estruturas, por sexo, por idade e por ocupação, nos continentes, países ou regiõ es e lugares onde
ocorrem mais intensamente.

9. (Uerj, 2010) A técnica de anamorfose, utilizada nas figuras abaixo, representa a á rea de cada país de forma
proporcional à grandeza considerada, no caso, a distribuiçã o social da renda.

Figura 1 – Renda dos 10% mais pobres da população (2002)

© 2006 SASI Group (University of Sheffield) and Mark Newman (University of Michigan)

Figura 2 – Renda dos 10% mais ricos da população (2002)

www.worldmapper.org

Identifique um país com repartiçã o equilibrada da riqueza e a regiã o com maior disparidade na sua
distribuiçã o de renda. Apresente também duas causas socioeconô micas para a desigual distribuiçã o de renda
no Brasil.

Pá gina 71
A notícia em diversas óticas
O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e anseios da
humanidade.

A fábula: o desenvolvimento tecnológico e o avanço da liberdade de ir e vir no mundo


moderno

Hoje, 3,5 bilhõ es de passageiros cruzam anualmente os céus em todas as regiõ es do globo. Segundo
notícias divulgadas recentemente pela Associaçã o Internacional de Transporte Aéreo (Iata), em
razã o da crise global e da consequente desaceleraçã o da economia na China, em vez dos 7,4 bilhõ es
estimados anteriormente, até 2034 o nú mero de passageiros em voos aéreos dobrará e chegará a 7
bilhõ es.

O transporte aéreo é um modal de proporçõ es massivas, com uma importâ ncia só compará vel à
navegaçã o e ao setor ferroviá rio no século XIX. No Brasil, em anos recentes, milhõ es de pessoas
tiveram acesso pela primeira vez aos deslocamentos por aviõ es, inclusive em rotas internacionais,
que passaram a ser também frequentadas por pessoas das classes C e D.

Desde a invençã o do transporte ferroviá rio na Inglaterra do século XIX até os modernos e
rapidíssimos trens-bala presentes em países como Japã o, China, França e Alemanha, o acelerado
desenvolvimento tecnoló gico conseguiu efetivamente encurtar distâ ncias e mudar a relaçã o do
homem com o movimento pelo espaço geográ fico. O mesmo vale também para o transporte cada
vez mais rá pido e eficiente de cargas e mercadorias, que tanto integraram a economia mundial nas
ú ltimas décadas.

Considerando essas informaçõ es, seria possível afirmar que hoje a humanidade alcançou uma
liberdade ilimitada no seu direito de ir e vir?

A perversidade: o desenvolvimento e a mobilidade em escala global não são para todos

Nã o há dú vidas de que as relaçõ es entre os países emergentes e os países desenvolvidos e


hegemô nicos sã o repletas de injustiças e assimetrias. Existe uma grande disparidade na
comparaçã o entre o poderio econô mico, tecnoló gico, financeiro e bélico dos países mais poderosos
do mundo ante a precariedade estrutural dos países que, no passado histó rico, foram colonizados
pelas atuais potências.

Na verdade, o pró prio processo de colonizaçã o pode ser considerado como um dos pilares do
subdesenvolvimento nos países da América Latina, da Á frica e da Á sia. Existe uma clara conexã o,
por exemplo, do processo da “partilha da Á frica” entre as potências europeias na Conferência de
Berlim (1884) com o estabelecimento de fracos Estados nacionais no continente africano. Também
em casos mais recentes, as potências ocidentais influenciaram negativamente a política interna de
Estados africanos por meio da manipulaçã o política, da venda de armas durante conflitos locais,
bem como pelo comércio assimétrico e até mesmo desleal.

Durante décadas, os Estados Unidos, por exemplo, impediram o desenvolvimento da cultura do


algodã o africano por meio de um forte subsídio aos seus produtores internos. A nã o realizaçã o da
autonomia dos países outrora colonizados gerou, entre outras, uma séria consequência: a penú ria, a
falta de perspectivas econô micas de milhõ es de pessoas. Contudo, ao contrá rio do que aconteceu
quando os europeus migraram para outras naçõ es com relativa facilidade em séculos passados,
atualmente os pobres do mundo têm o seu trâ nsito impedido por um intrincado sistema que inclui
barreiras como exigências de vistos, muros, alambrados e vigilâ ncia constante. Na verdade, a
propalada liberdade de ir e vir nã o atende aos que dela mais necessitam.

A possibilidade Analise essas informaçõ es e redija uma proposta com alternativas para um mundo
em que as fronteiras fossem consideradas como á reas de livre integraçã o entre todos os povos.

* SANTOS, M., 2000.

Pá gina 72

3 Multiculturalismo e geografia

Conexão de conhecimentos
Povos e identidades
Observe as fotos do mosaico e responda em seu caderno como elas expressam a identidade das
sociedades.
Crédito das imagens (da esquerda para a direita, de cima para baixo): Japonesa: PKOM/Inuítes: Don Mason-Getty Images/Alemã es: Juca Varella-Folha Imagem/Estadunidense e iraquiano: Juca
Varella-Folha Imagem/Mulheres norueguesas: Vojtech Vlk-Keystone/Homem sagrado do hinduísmo: Hung Chung Chih/Comerciantes em Katmandu, no Nepal: Szefei, Sadhu/Baianas na festa do
Bonfim: Sérgio Pedreira-Folha Imagem

Pá gina 73

Pensar em multiculturalismo é refletir sobre as diferenças em nossas sociedades, especialmente as


culturais e étnicas. Tal problemá tica está hoje muito presente nos paí ses de forte imigraçã o, como
os Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Bélgica e Holanda, por exemplo. Essa discussã o
faz-se também muito presente no Canadá , em virtude, sobretudo, de duas grandes comunidades
culturais presentes no país: a populaçã o de origem e língua francesa e a populaçã o de origem e
língua inglesa.

A diversidade cultural e étnica muitas vezes nã o é aceita pela populaçã o nativa, exigindo por parte
do Estado mediar os conflitos por meio de políticas multiculturalistas que procuram enfatizar a
ideia de proteçã o e preservaçã o das culturas minoritá rias. O Canadá , por exemplo, desde 1982 tem
uma constituiçã o multicultural. Podemos citar também a Austrá lia, a Á frica do Sul, a Colô mbia e o
Paraguai.

Discutir o multiculturalismo na atualidade significa nos colocarmos diante dos desafios do nosso
tempo, tais como:

• Percebermos a diversidade humana.

• Defrontarmo-nos com a desconstruçã o de algumas “verdades”.


• Começarmos a pensar em processos de integraçã o e interaçã o de diversos saberes.

• Desierarquizarmos as diferenças e visõ es de mundo.

• Desenvolvermos um profundo amor pela vida.

Desse modo, questõ es como de gênero, orientaçã o sexual, classe social, étnicas e religiosas sã o
algumas das variá veis que hoje colocam em evidência novos sujeitos políticos, novas exigências ao
Estado e nova configuraçã o da sociedade, que passa pela elaboraçã o e pelo reconhecimento de
políticas inclusivas.

ATIVIDADE

Inclusão social

Leia o texto a seguir.

O multiculturalismo pode ser visto como um sintoma de transformaçõ es sociais bá sicas, ocorridas
na segunda metade do século XX, no mundo pó s-Segunda Guerra Mundial. Pode ser visto também
como uma ideologia, a do politicamente correto, ou como aspiraçã o, desejo coletivo de uma
sociedade mais justa e igualitá ria no respeito à s diferenças. Consequência das mú ltiplas misturas
raciais e culturais, provocadas pelo incremento das migraçõ es em escala planetá ria, pelo
desenvolvimento dos estudos antropoló gicos, do pró prio direito e da linguística, além das outras
ciências sociais e humanas, o multiculturalismo é, antes de mais nada, um questionamento das
fronteiras de todo tipo, principalmente da monoculturalidade [...]. Visto como militâ ncia, o
multiculturalismo implica reivindicaçõ es e conquistas por parte das chamadas minorias.
Reivindicaçõ es e conquistas muito concretas: legais, políticas, sociais e econô micas.

CHIAPPINI, L. Multiculturalismo e identidade nacional. Centro de Estudos de Literatura e Psicaná lise Cyro Martins.
Disponível em: <www.celpcyro.org.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&Itemid=0&id=754>.
Acesso em: 28 mar. 2016.

Em grupo, pesquisem no município onde vocês estudam se existem grupos e/ou associaçõ es que
vêm lutando por políticas de inclusã o social. Façam uma lista e compartilhem as informaçõ es com a
classe toda para montar uma lista ú nica.

Depois, cada grupo deve escolher uma ou mais associaçõ es de açã o afirmativa ou de luta por
inclusã o social existentes no município. Caso nã o existam essas associaçõ es em seu município,
façam a pesquisa nos ó rgã os pú blicos mais pró ximos.

Em seguida, cada grupo marcará uma entrevista com algum membro ou diretor dessas instituiçõ es,
com o objetivo de:

1. Descrever o que entendem por multiculturalismo.

2. Especificar o segmento ao qual se vinculam (direitos dos negros, igualdade de gênero, direitos
dos homossexuais, dos índios, dos portadores de necessidades especiais).

3.Analisar as políticas de açõ es inclusivas desenvolvidas por eles.

4. Apontar as conquistas e dificuldades enfrentadas por eles.

5. Compreender o papel do Estado em relaçã o à s políticas sociais inclusivas em seu município.

Por fim, redijam um texto apontando as açõ es afirmativas e as políticas de inclusã o que existem em
seu município e debata-as com os colegas.
Pá gina 74

MULTICULTURALISMO NO BRASIL
A diversidade é uma das principais características da cultura brasileira, causa imprescindível de
nossa riqueza cultural.

VIANNA, H. Disponível em: <www.academia.org.br/ artigos/singularidade-de-ser-plural>. Acesso em: 2 maio 2016.

No Brasil, o discurso multicultural também é relativamente recente. Ele ganhou projeçã o e


conquistas a partir da segunda metade da década de 1980, em um contexto de construçã o de um
Estado mais democrá tico. Em geral, as açõ es multiculturais no Brasil associam-se à s ações
afirmativas, que buscam a efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais, como educaçã o e
emprego.

SAIBA MAIS

O que são ações afirmativas?

Açõ es afirmativas sã o políticas focais que alocam recursos em benefício de pessoas pertencentes a
grupos discriminados e vitimados pela exclusã o socioeconô mica no passado ou no presente. Trata-
se de medidas que têm como objetivo combater discriminaçõ es étnicas, raciais, religiosas, de
gênero ou de casta, aumentando a participaçã o de minorias no processo político, no acesso à
educaçã o, saú de, emprego, bens materiais, redes de proteçã o social e/ou no reconhecimento
cultural.

[...]

A açã o afirmativa se diferencia das políticas puramente antidiscriminató rias por atuar
preventivamente em favor de indivíduos que potencialmente sã o discriminados, o que pode ser
entendido tanto como uma prevençã o à discriminaçã o quanto como uma reparaçã o de seus efeitos.
Políticas puramente antidiscriminató rias, por outro lado, atuam apenas por meio de repressã o aos
discriminadores ou de conscientizaçã o dos indivíduos que podem vir a praticar atos
discriminató rios.

Grupo de Estudos Multidisciplinares da Açã o Afirmativa. Disponível em: <http://gemaa.iesp.uerj. br/index.php?


option=com_k2&view=item&layout= item&id=1&Itemid=217>. Acesso em: 28 mar. 2016.

Depois de muitas lutas e amplas e acaloradas discussõ es, a sociedade brasileira assiste ao
reconhecimento e à incorporaçã o das chamadas “populaçõ es tradicionais” do Brasil, o que é mais
uma vitó ria dos movimentos sociais em sua luta por reconhecimento e igualdade. A partir do
Decreto Presidencial n. 6.040, o governo brasileiro reconhece formalmente, pela primeira vez na
histó ria do país, a existência de todas as chamadas populaçõ es “tradicionais” do Brasil.

Decreto presidencial reconhece existência formal das populações tradicionais

Está em vigor o decreto presidencial que reconhece a existência formal e legal das populaçõ es
tradicionais do Brasil.

Com o decreto do presidente Luiz Iná cio Lula da Silva (Decreto no 6.040), publicado no Diá rio
Oficial da Uniã o, o governo reconhece formalmente, pela primeira vez na histó ria do país, a
existência formal de todas as chamadas populaçõ es “tradicionais” do Brasil.
Ao longo dos seis artigos do decreto, que institui a PNPCT – Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentá vel dos Povos e Comunidades Tradicionais, o governo estende um reconhecimento feito
parcialmente na Constituiçã o de 1988 apenas aos indígenas e aos quilombolas. [...]

Segundo o artigo 3º do decreto, povos e comunidades tradicionais “sã o grupos culturalmente


diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas pró prias de organizaçã o social,
que ocupam e usam territó rios e recursos naturais como condiçã o para sua reproduçã o cultural,
social, religiosa, ancestral e econô mica, utilizando conhecimentos, inovaçõ es e prá ticas geradas e
transmitidas pela tradiçã o.”

Tais populaçõ es – a maior parte sem documentos de identidade, totalmente à margem dos direitos
civis – habitam sobre um quarto do territó rio brasileiro, em todas as regiõ es do país, formando um
contingente de cerca de 5 milhõ es de pessoas, equivalente à populaçã o de muitos países europeus.
[...]

Segundo Jorge Zimmermann (diretor de agroextrativismo do Ministério do Meio Ambiente), sã o


três as diretrizes centrais da PNPCT. A primeira delas pretende assegurar todos os direitos civis,
por meio do reconhecimento legal dos habitantes daqueles lugares, inclusive com fornecimento de
documentos de identificaçã o; a segunda diretriz diz respeito ao reconhecimento explícito do
respeito à diversidade étnica, ao direito à educaçã o diferenciada e à prá tica religiosa específica.

Pá gina 75

A terceira perna do tripé pretende equacionar a regularizaçã o fundiá ria, já que muitas das
comunidades tradicionais sofrem com o desrespeito a sua referência geográ fica, como é o caso dos
quilombolas, que, em muitos casos, foram incorporados pelas cidades, sofrendo achaques da
especulaçã o imobiliá ria. Segundo Zimmermann, “havia uma ausência de marcos legais que
garantissem direitos à s populaçõ es tradicionais. Agora, porém, com o decreto, temos uma situaçã o
em que, com amparo da PNPCT, podemos transformar a realidade daqueles povos positivamente.”
Até porque, insiste ele, o país vive um momento em que a especificaçã o profissional e as novas
tecnologias roubaram praticamente todos os espaços para a migraçã o das populaçõ es tradicionais
da zona rural para as cidades. Com o PNPCT, o governo pretende criar condiçõ es para que aquelas
pessoas encontrem maneiras de viver em seu pró prio meio ambiente.

JUNIOR, R. Disponível em: <www.mma.gov.br/informma/ item/3861-decreto-presidencial-reconhece-existencia-


formal-das-populacoes-tradicionais>. Acesso em: 28 mar. 2016.

Em oposiçã o ao multiculturalismo está a assimilaçã o cultural forçada ou aculturaçã o, entendida


como a imposiçã o de uma cultura sobre outra de forma hierá rquica. Por exemplo, o processo de
conquista e colonizaçã o da América e da Á frica, quando os colonizadores europeus impuseram a
sua dominaçã o pela força e por ideologias de superioridade étnica e cultural. Essas ideologias
justificaram a aculturaçã o dos povos locais com o propó sito da subordinaçã o e da obediência para o
trabalho. Mesmo diante do genocídio de vá rias naçõ es africanas e ameríndias, nã o havia remorso
ou ressentimento moral, pois os nativos e escravos eram vistos como selvagens e sem alma. A
colonizaçã o chegou ao fim, mas a ideologia eurocêntrica do colonizador permanece em
contraposiçã o à s açõ es afirmativas.

ATIVIDADE

Doroteo Guamuch ou Mateo Flores?

O maratonista Doroteo Guamuch, índio quíchua, foi o atleta mais importante de toda a histó ria da
Guatemala. Por ser uma gló ria nacional, teve de abrir mã o do nome maia e passou a chamar-se
Mateo Flores. [...]
GALEANO, E. De pernas pro ar: a escola do mundo do avesso. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 57.

Doroteo Gamuch Flores nasceu em 1922 na cidade de Mixco, na Guatemala, e se tornou o maior
atleta do país, vencendo inú meras competiçõ es internacionais.

Seu preparo físico era obtido por meio de uma rígida disciplina e grande força de vontade.
Acordava diariamente à s quatro horas da manhã e corria por duas horas. Mal regressava à sua casa
já se dirigia, em seguida, ao trabalho em uma indú stria têxtil. Seu salá rio era ínfimo para sustentar a
si e mais sete pessoas de sua família, situaçã o que lhe conferia refeiçõ es aquém das necessidades de
um atleta.

Apesar das carências materiais e sem contar com nenhum apoio, foi o primeiro latino-americano a
vencer a Maratona de Boston, em 1952. Tal título enalteceu o nacionalismo guatemalteco e
impulsionou o governo da época a mudar o nome do maior está dio de futebol do país para Está dio
Mateo Flores. O governo nã o aceitou colocar o nome de origem indígena do atleta.

Essa atitude invocou o discurso da superioridade racial, de forma que os descendentes de


colonizadores impuseram à força suas regras sociais à s naçõ es indígenas locais. Para muitos causou
um sentimento de inferioridade nas comunidades indígenas, que entenderam que a mudança de
seus nomes para os de origem latina ajudava-os a serem aceitos como iguais.

Discuta as questõ es a seguir com a turma e redija as respostas no caderno.

1. A histó ria de Doroteo Gamuch denota uma situaçã o inversa ao conceito de multiculturalismo. Por
quê?

2. Por que a reaçã o das comunidades indígenas da Guatemala na década de 1950 pode ser
entendida como uma forma de aculturaçã o? Justifique utilizando o conceito de assimilaçã o cultural
forçada em sua resposta.

Agora, com base na histó ria de Doroteo Gamuch, redija um texto sucinto demonstrando a
importâ ncia das açõ es afirmativas.

Pá gina 76

IDENTIDADES
O multiculturalismo está intrinsecamente vinculado com as identidades culturais. Identidade é uma
palavra de origem latina que designa o conjunto de características pró prias que distinguem um
indivíduo ou uma comunidade. A identidade também expressa a concepçã o que uma pessoa tem de
si mesma, independentemente do seu local de nascimento. Desta forma, a identidade cultural nã o
pode ser atrelada à nacionalidade.

A identidade nacional se distingue da identidade cultural, pois a primeira busca moldar ou ajustar
as diversas perspectivas, condiçõ es sociais distintas e a diversidade étnica e cultural em um padrã o
de “pertencimento” de ligaçã o com o Estado nacional, que homogeneíza os habitantes “apagando as
diferenças” de gênero, classe social, escolarizaçã o etc. Essa identidade nacional, contudo, pode
existir mais pela negaçã o do que pela afirmaçã o. Por exemplo, um boliviano negará que é peruano
ou chileno, porém, eventualmente, poderá ter dificuldade em se definir positivamente como
boliviano, sobretudo se considerarmos que a Bolívia também possui muitas naçõ es indígenas em
um territó rio delimitado por fronteiras legalmente convencionadas, que convivem com a
desigualdade de oportunidades e com o preconceito racial.
Em geral, associamos uma identidade nacional a um Estado nacional soberano. Todavia, existem
identidades que nã o necessariamente correspondem a Estados nacionais. A maioria do povo curdo,
por exemplo, está localizada na Turquia; os sikhs, na Índia; os catalães e bascos, na Espanha; o
Tibete foi ocupado pela China, apesar de seus habitantes possuírem identidades culturais, étnicas e
linguísticas pró prias.

Muitas dessas regiõ es sã o zonas de conflitos permanentes com maior ou menor tensã o. Outras
vezes, esses grupos sofrem discriminaçã o, desrespeito de sua cultura e de seus há bitos e até mesmo
agressã o. O que eles têm em comum é o fato de serem considerados minorias em seus países, nã o
possuírem Estados nacionais organizados, tampouco fronteiras demarcadas e reconhecidas por
outros Estados nacionais.

Oscar Garriga Estrada/Shutterstock.com

Manifestaçã o nas ruas de Barcelona, 2014, na qual os catalã es defendem a independê ncia da Espanha.

SAIBA MAIS

Estado nacional e governo: O Estado nacional é formado pelas instâ ncias jurídica, política, pelas
instituiçõ es pú blicas como escolas, hospitais, museus etc. O Estado nacional acopla diversas naçõ es
e nã o pode prescindir de um territó rio soberano. Ele difere de governo, que corresponde ao grupo
que, em determinado momento, está na direçã o desse imenso aparato nas esferas federal, estadual
e municipal. Seja em uma concepçã o, seja em outra, o Estado nacional está associado a poder,
territó rio e soberania.

Povo e nação: Quando se usa a palavra “povo” a relaçã o se dá entre uma populaçã o (numérica,
quantitativa) e as crenças, valores, cultura, histó ria e espaço partilhados. O povo corresponde assim
a uma dimensã o simbó lica, cultural, histó rica, geográ fica das populaçõ es. Geralmente se observa
uma associaçã o entre “povo” e “naçã o” e, apesar de esses termos se aproximarem, nã o designam
necessariamente a mesma coisa. A naçã o implica uma “comunhã o e camaradagem comuns”,
enquanto o povo seria seu corolá rio, as pessoas homogeneizadas e que partilham esses valores e
crenças. A construçã o da identidade de um povo se faz em mã o dupla: de um lado, marcada por
diferenças linguísticas, religiosas, culturais, sociais em relaçã o a outros – assim, o povo curdo se
entende como completamente diferente do turco, apesar de partilharem algumas crenças e
concepçõ es. De outro, essa ideia de povo é marcada por um processo de homogeneizaçã o/
nivelamento/equalizaçã o interno, que apaga as diferenças entre as pessoas. É por isso que a ideia
de povo demarca simultaneamente tanto a diferença em relaçã o aos outros – que podem até mesmo
partilhar o mesmo territó rio, mas sendo diferentes – e a igualdade simbó lica entre os componentes
de determinado agrupamento humano.

DA MATTA, R. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

Pá gina 77
ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR

Entre os muros da escola

Disciplinas envolvidas: Geografia, Sociologia, Língua Portuguesa.

O filme Entre os muros da escola retrata a realidade de uma escola em Paris na qual adolescentes de
diversas nacionalidades convivem com diferentes culturas. O filme foi baseado em um livro
homô nimo de François Bégaudeau e ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2008. A
histó ria trata das difíceis relaçõ es entre pessoas com identidades diferentes em um ambiente
moldado para a homogeneizaçã o. O espaço escolar é apenas um cená rio dessas relaçõ es que reflete
a situaçã o dos países que recebem grandes contingentes de imigrantes.

1. Formem grupos com três integrantes.

2. Assistam ao filme.

3. Criem um texto crítico sobre o filme, considerando:

• O contexto histó rico e social dos personagens.

• O desenvolvimento da problemá tica.

• A mensagem que o filme busca passar.

4. Para que o texto crítico tenha mais argumentos, o grupo deve pesquisar na internet textos
jornalísticos que abordem o modo de vida das populaçõ es de imigrantes e seus descendentes na
França, ou especificamente na cidade de Paris, em relaçã o a habitaçã o, transporte, salá rio, educaçã o
e relaçõ es sociais com a populaçã o nativa.

5. O grupo também deve apresentar uma conclusã o sobre a obra, atribuindo-lhe, com
argumentaçã o, os conceitos de ó timo, bom, regular ou ruim.

6. As críticas produzidas pelos grupos podem ser apresentadas para a classe.

Divulgaçã o

Direçã o: Laurent Cantet. França, 2008, 128 min. Classificaçã o: 12 anos.

IDENTIDADES FORJADAS
A identidade assumiu um cará ter supranacional na visã o de Samuel Huntington. Retomando um
conceito do pensador Bernard Lewis, o cientista político estadunidense afirmou em seu livro O
choque de civilizações, lançado em 1996, que a organizaçã o mundial apó s o fim da Guerra Fria se
estrutura em oito grupos denominados civilizaçõ es, sendo que a ocidental está em iminente conflito
com algumas delas, em especial a á rabe-muçulmana.

A tese de Huntington é bastante controversa e foi muito criticada em funçã o da sua generalizaçã o,
uma vez que rotula grupos étnico-culturais distintos exclusivamente em funçã o da sua opçã o
religiosa. Segundo ele, entretanto, tais diferenças se sobrepõ em à s divergências político-
econô micas dos Estados nacionais.

Um dos críticos da visã o de Huntington, o escritor indiano Amartya Sen, pondera:

A fraqueza bá sica da tese do choque de civilizaçõ es está em seu programa de categorizaçã o das
pessoas do mundo de acordo com um ú nico – e supostamente dominante – sistema de classificaçã o.

SEN, A. et al. As pessoas em primeiro lugar. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 41.

ATIVIDADE

Choque de civilizações

Leia o texto a seguir e depois responda à s perguntas no caderno.

Na origem de um conceito

O choque de civilizações é visto como aspecto importante das relações internacionais modernas

“A crise no Oriente Médio [...] nã o teve origem num conflito entre Estados, mas num choque de
civilizaçõ es”. Ainda em 1964, um professor universitá rio britâ nico pouco conhecido lançou a
fó rmula que ficaria famosa. Incontestavelmente, Bernard Lewis foi um precursor. [...]

Pá gina 78

Passada despercebida durante a década de 1960, a fó rmula foi relançada por ele 25 anos depois na
forma de um artigo, “The roots of muslim rage” [As raízes da cólera muçulmana]. Ali, ele descreve o
estado de espírito do mundo muçulmano e conclui: “Isto nada mais é do que um choque de
civilizaçõ es, uma reaçã o talvez irracional, mas seguramente histó rica, de um antigo adversá rio
contra nossa herança judaico-cristã , nosso presente secular e a expansã o mundial de ambos”. “Eu
penso”, dizia ele em 1995, “que a maioria entre nó s concordaria em dizer – e alguns já o fizeram –
que o choque de civilizaçõ es é um aspecto importante das relaçõ es internacionais modernas,
embora poucos, entre nó s, chegassem ao ponto de dizer – como alguns já fizeram – que as
civilizaçõ es têm políticas externas e formam alianças”.

A visã o de um “choque de civilizaçõ es”, contrapondo duas entidades claramente definidas, o “Islã” e
o “Ocidente” (ou a “civilizaçã o judaico-cristã ”), está no centro do pensamento de Bernard Lewis, um
pensamento essencialista que restringe os muçulmanos a uma cultura petrificada e eterna. “Esse
ó dio”, insiste ele, “vai além da hostilidade em relaçã o a alguns interesses ou açõ es específicas, ou
mesmo em relaçã o a determinados países, tornando-se a rejeiçã o da civilizaçã o ocidental enquanto
tal, nã o pelo que ela possa fazer, mas pelo que ela é e pelos princípios e valores que pratica e
professa”.

Os iranianos nã o se revoltaram contra a ditadura do Xá imposta por um golpe de estado fomentado


pela CIA, em 1953; os palestinos nã o lutam contra uma invasã o interminá vel; e se os á rabes odeiam
os Estados Unidos, nã o é porque o governo deste país apoia Ariel Sharon ou porque invadiu o
Iraque. Na realidade, o que os muçulmanos rejeitam é a liberdade e a democracia. Como seria
possível compreender os conflitos do Kosovo ou da Etió pia-Eritreia? Pela recusa, por parte dos
muçulmanos, em serem governados por infiéis, explica Bernard Lewis.

Allmaps

Fonte: BONFACE, P.; VÉ DRINE, H. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009.

Foi em 1993 que Samuel Huntington retomou a fó rmula do “choque de civilizaçõ es” num célebre
artigo que escreveu para a revista Foreign Affairs. Embora verbalmente rejeitado na França, o
conceito se instalaria, pouco a pouco, nas consciências. Quando, em dezembro de 2003, em Tú nis, o
presidente Jacques Chirac mencionou o termo “agressã o” ao se referir ao uso do véu islâ mico, a
jornalista Elisabeth Schemla comemorou: “Pela primeira vez, Jacques Chirac reconhece que a
França nã o é poupada do choque de civilizaçõ es”.

“Sem exagerar sua importâ ncia”, escreveu Emmanuel Brenner num panfleto intitulado França,
cuida para que não percas tua alma... [France, prends garde de perdre ton âme…]: é preciso levar em
consideraçã o açõ es culturais que explicitam conflitos entre concepçõ es do mundo distintas, e até
antagô nicas. [...] Essa dimensã o cultural está ausente em inú meros observadores que deixam de
levar em conta os antecedentes histó ricos que influenciam nosso inconsciente.

Pá gina 79

Antecedentes cuja natureza, por muito tempo conflituosa, vêm à tona com as atuais questõ es de
identidade. Basta lembrar as cruzadas e o confronto entre as duas margens do Mediterrâ neo, basta
lembrar o avanço do Islã no sudeste da Europa, chegando à s portas de Viena no século XVII, assim
como basta lembrar o tempo do império turco, temido e execrado e, em seguida, o tempo da
colonizaçã o, com sua procissã o de violência, e por fim o da descolonizaçã o, que muitas vezes foi
sangrenta. Esse enfrentamento, antigo e recorrente, está sedimentado na consciência dos povos.”

E é por isso, conclui Brenner, que uma parcela de jovens franceses originá rios do Magreb é
“culturalmente” antissemita... De Maomé ao cerco de Viena pelos otomanos, da descolonizaçã o ao
islamismo, do islamismo à Al-Qaeda, do véu islâ mico ao antissemitismo dos jovens magrebinos,
fecha-se a roda do círculo, repete-se a histó ria. E viva os sarracenos!

GRESH, A. Disponível em: <www.diplo.org.br/imprima976>. Acesso em: 28 mar. 2016.


1. Faça um pequeno glossá rio com os termos do texto que você desconhece.

2. Explique o que seria o “choque de civilizaçõ es”.

3. Destaque trechos do texto em que o autor, Alain Gresh, trata com ironia esse conceito.

NACIONALISMO E XENOFOBIA
O nacionalismo é um sentimento de pertencimento em relaçã o a uma naçã o, um Estado nacional ou
ainda a um grupo específico dentro do Estado nacional. Este sentimento pode ser legítimo, mas, em
muitos casos, é algo construído ideologicamente para criar uma identidade artificial. Quando
exacerbado, invariavelmente apresenta como consequência a xenofobia.

Xenofobia

Aversã o ao diferente, sendo comumente usado como aversã o ao estrangeiro.

Historicamente, os movimentos nacionalistas ufanistas, ou seja, aqueles que possuem orgulho


nacional exagerado, ganharam força e muitos adeptos em períodos de crises econô micas. Durante a
grande depressã o da década de 1930, surgiram diversos grupos de orientaçã o nacionalista
xenó foba na Europa, particularmente na Alemanha, que estava mergulhada em uma crise financeira
devido aos pagamentos de indenizaçõ es decorrentes do fim da Primeira Guerra Mundial. Foi nesse
cená rio que surgiu o movimento totalitá rio denominado nazismo, que se baseava no darwinismo
social.

Darwinismo social Defende a ideia de que algumas sociedades sã o mais aptas do que outras, colocando-as em
situaçã o de vantagem e superioridade. O darwinismo social serviu como base para concepçõ es racistas e
também como justificativa para dominaçõ es e conquistas europeias. O termo foi cunhado pelo inglês Herbert
Spencer, fazendo uma analogia ao evolucionismo bioló gico de Charles Darwin, porém aplicado às ciências
humanas.

Na década de 1930, Adolf Hitler, à frente do governo alemã o, fez uso do nacionalismo para
enaltecer as origens e características do povo germâ nico como etnicamente superior e, portanto,
capaz de sobrepor e subjugar outros povos. As prá ticas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial
foram extremamente violentas contra os judeus, ciganos, comunistas, homossexuais e pessoas com
deficiências físicas e mentais.

A propaganda nazista tinha o propó sito de convencer as massas em detrimento à verdade da


informaçã o. Dessa forma, o regime nazista foi capaz de mover o país à guerra, dirigindo um
discurso de superioridade étnica e cultural a uma populaçã o que se encontrava em situaçã o de
vulnerabilidade socioeconô mica, ao mesmo tempo que lhe oferecia empregos. A economia foi
dinamizada em funçã o dos preparativos estruturais e tecnoló gicos para a guerra.

Pá gina 80

Cinco décadas apó s o término da Segunda Guerra Mundial, o nacionalismo exacerbado ressurgiu na
Alemanha por ocasiã o da sua reunificaçã o. O fim do socialismo real na parte oriental daquele país
causou, de forma imediata, o fechamento de antigas empresas estatais, fato que gerou grande
desemprego. Os alemã es orientais viram o entusiasmo da reunificaçã o se transformar em
frustraçã o diante das dificuldades econô micas daquele momento e do fim do Estado protetor.
Novamente, no contexto da depressã o econô mica, surgiram movimentos extremistas que se
autodenominaram de neonazistas.
Grande parte desses grupos, utilizando os antigos símbolos nazistas, passou a culpar os imigrantes
pela situaçã o vivenciada. As agressõ es físicas tomaram a proporçã o de atentados a alojamentos,
abrigos e casas de estrangeiros, normalmente turcos ou vietnamitas. A situaçã o foi amenizada
quando vultosos investimentos governamentais foram transferidos à antiga Alemanha Oriental,
criando uma vasta rede de empregos. Ainda assim, o preconceito na Alemanha prevalece, nã o
apenas em relaçã o aos estrangeiros, mas entre os pró prios alemã es. Os alemã es orientais ganham
menos que os ocidentais, ocupando as mesmas funçõ es com o mesmo nú mero de horas trabalhadas
semanalmente. Isso levou à criaçã o de uma subclasse de trabalhadores, visivelmente discriminada
pelos alemã es ocidentais.

Theo Schneider/Corbis/Fotoarena

Polícia prende homem que portava um taco de beisebol em evento do partido Neonazi, em Berlim, Alemanha, 2015.

CRISE ECONÔMICA AMPLIA A XENOFOBIA


A crise financeira mundial deflagrada em 2008 intensificou movimentos xenó fobos. Diante do
fechamento de postos de trabalho, a disputa por vagas ficou mais acirrada, promovendo uma
verdadeira competiçã o e, consequentemente, uma aversã o ainda maior em relaçã o aos imigrantes,
acusados pelos nativos de “roubar” empregos.

No segundo ano da crise, uma entidade de associaçõ es de classe dos Estados Unidos veiculou nos
programas de TV daquele país uma propaganda anti-imigrante, sob o pretexto de preservar os
empregos do país para os estadunidenses. A propaganda apresentava os seguintes dizeres:

No ano passado, 2,5 milhõ es de americanos perderam o emprego, mas, apesar dos milhõ es de
desempregados, nosso governo continua trazendo 1,5 milhã o de trabalhadores estrangeiros por
ano para pegar empregos americanos. Será que o seu pode ser o pró ximo?

MELLO, P. C. Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/impresso,nos-eua-xenofobia-chega-a-tv,


328054,0.htm>. Acesso em: 29 mar. 2016.

O nacionalismo exacerbado e a xenofobia sã o contrá rios ao discurso da globalizaçã o que defende a


abertura de fronteiras. O fluxo mundial de imigrantes tende a crescer em funçã o das desigualdades
sociais crescentes, porém, a propaganda do “mundo sem fronteiras” nã o se aplica às pessoas. As
fronteiras estã o abertas para a transferência de plantas industriais, sobretudo em países que
oferecem mã o de obra mais barata e leis trabalhistas e ambientais mais flexíveis. Também estã o
abertas também para o capital, que hoje transita pelas infovias, de forma virtual. Em situaçã o
oposta, vemos a construçã o de muros reais e legais para barrar o acesso dos imigrantes
indesejá veis.
Pá gina 81

MUROS E BARREIRAS DA INTOLERÂNCIA

Allmaps

Fonte: Theo Deutinger, TD Maps. Disponível em: <www.td-architects.eu/projects/show/walled-world/#img>. Acesso em:


29 mar. 2016.

MURO DE TIJUANA (ESTADOS UNIDOS-MÉXICO)


Em 1994, Estados Unidos, Canadá e México assinaram um acordo para a formaçã o de um bloco
econô mico, o Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta). Desde que entrou em vigor, as
empresas estadunidenses abriram filiais em territó rio mexicano junto à fronteira com os Estados
Unidos, diminuindo os custos de sua produçã o por meio do uso de mã o de obra barata e dos
incentivos fiscais. Se o fluxo de mercadorias e de capitais tem passagem garantida e fá cil, o mesmo
nã o se pode dizer da circulaçã o de trabalhadores. A fronteira está cada vez mais vigiada e com
novas construçõ es para dificultar a entrada dos imigrantes clandestinos latino- -americanos nos
Estados Unidos.

A fronteira possui 3 219 km de extensã o. Desse total, cerca de mil quilô metros possuem barreiras
artificiais, como muros, grades e cercas, inclusive adentrando mais de 100 metros no oceano
Pacífico, pró ximo à cidade de Tijuana.
Les Stone/Corbis/Fotoarena

Muro de Tijuana, na fronteira entre México e Estados Unidos, 1993.

Pá gina 82

O restante da fronteira possui barreiras naturais como o rio Grande e os desertos fronteiriços que
inibem a passagem dos imigrantes ilegais, mas, ainda assim, conta com postos de vigilâ ncia,
sensores, câ meras e holofotes de radiaçã o infravermelha que permitem a localizaçã o de pessoas
durante a noite.

Aqueles que conseguem cruzar a fronteira ainda podem ser mortos por milícias armadas,
contratadas por xenó fobos que querem barrar os imigrantes a qualquer preço.

Allmaps

Fonte: International Water Law. Disponível em: <www.internationalwaterlaw.org/blog/category/mexico-usborder>. Acesso


em: 2 maio 2016.
Segundo informaçõ es do INS (Serviço Nacional de Imigraçã o dos Estados Unidos), cerca de 400
pessoas perdem a sua vida por ano tentando cruzar a fronteira. A maior parte morre afogada no rio
Grande ou pelas oscilantes temperaturas do deserto de Sonora. Esses dados nã o sã o precisos, uma
vez que muitas pessoas encontradas mortas nã o possuem identificaçã o e sã o enterradas em valas
comuns. Nos seus países de origem, elas sã o tidas apenas como desaparecidas.

BARREIRAS DE CEUTA E MELILLA


Ceuta e Melilla sã o dois enclaves espanhó is no Marrocos. A Espanha detém o controle sobre as
á reas e também possui a responsabilidade de limitar o fluxo de imigrantes do continente africano
para a Europa.

Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

Ceuta possui 8 km de fronteiras com o Marrocos e Melilla, 12 km. Diariamente, grupos de africanos
tentam passar pelas barreiras criadas entre os enclaves e o territó rio marroquino com o objetivo de
chegar à Europa. Esses enclaves sã o conhecidos como a “passagem terrestre” entre a Europa e a
Á frica.

Pá gina 83

No entanto, a entrada nessas á reas nã o garante a livre entrada nos países europeus,
particularmente na Uniã o Europeia. Os imigrantes ilegais podem ser repatriados antes de cruzarem
o mar Mediterrâ neo, pois existe um acordo entre a Espanha e o Marrocos em que este ú ltimo aceita
a repatriaçã o dos imigrantes ainda que nã o sejam de nacionalidade marroquina. As autoridades
espanholas nos enclaves têm dificultado a entrada dos imigrantes, obedecendo à s novas resoluçõ es
anti-imigraçã o do bloco europeu. Em muitos casos ocorre o uso da violência pelos policiais de
fronteira.

MURO DA CISJORDÂNIA (ORIENTE MÉDIO)


O conflito entre palestinos e israelenses no Oriente Médio é, em essência, uma disputa por
territó rios e recursos. No período entreguerras, grande parte do Oriente Médio esteve sob domínio
dos impérios ocidentais, em especial do Reino Unido e da França.

O territó rio hoje disputado entre palestinos e israelenses foi dividido pela Organizaçã o das Naçõ es
Unidas (ONU) em 1947, criando dois Estados nacionais distintos. Contudo, as disputas nã o
cessaram. Israel, com apoio das naçõ es ocidentais (Reino Unido e Estados Unidos), venceu as
batalhas travadas contra os palestinos e seus aliados á rabes e conquistou as suas terras até o
Estado Palestino deixar de existir, restando apenas a naçã o palestina, desprovida de territó rio.

A instabilidade política da regiã o favoreceu a violência de ambos os lados, resultando em açõ es


militares israelenses nos territó rios habitados por palestinos e em atentados praticados por grupos
terroristas contra Israel.

Somente na década de 1990, com o fim da Guerra Fria, foi dado um importante passo objetivando a
paz entre israelenses e palestinos: a assinatura do Acordo de Oslo. Pelo acordo, Israel devolveria
aos palestinos a Faixa de Gaza e os territó rios que compõ em a Cisjordâ nia, que seriam delimitadas
pela “linha verde”, que corresponde aos limites traçados pelo Armistício de 1949.

O Acordo de Oslo, contudo, nã o foi suficiente para garantir a paz na regiã o, principalmente apó s o
ataque à s Torres Gêmeas do World Trade Center nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001,
quando o entã o governo israelense recrudesceu as relaçõ es com os palestinos e suspendeu o
cumprimento das etapas seguintes do acordo, alegando a necessidade de segurança nacional e
combate extremo ao terrorismo. Nesse contexto, o governo israelense iniciou, em 2003, a
construçã o de um muro de 700 km de extensã o e, em média, 8 metros de altura para isolar a
Cisjordâ nia de Israel.
Mundimagem

Fonte: Applied Research Institute – Jerusalem. Disponível em:


<www.theglobaleducationproject.org/mideast/info/maps/westbank-2003-map.html>. Acesso em: 15 fev. 2016.

Pá gina 84

A construçã o do muro foi condenada por organizaçõ es de direitos humanos e por diversos Estados.
Ainda assim, o trabalho prossegue, pois o governo israelense conta com o apoio político dos
Estados Unidos e também de parte do Conselho de Segurança da ONU, que veem em Israel um
aliado no combate ao terror e um territó rio estratégico em meio a uma regiã o cobiçada.

Mais do que um muro étnico ou de segurança, essa construçã o também representa o domínio de um
recurso estratégico: a á gua dos aquíferos da Cisjordâ nia.

A á gua já é um recurso disputado no mundo e mais ainda nas á ridas regiõ es do Oriente Médio.
Desta forma, garantir a posse do Estado nacional palestino, dominando as fronteiras entre os dois
Estados e os aquíferos, significa controlar o direito à vida.

O muro já desarticulou a vida de diversas comunidades palestinas. Em alguns casos, trabalhadores


se deslocam por mais de três horas de sua casa até o seu trabalho por terem de contornar o muro,
quando antes perfaziam a mesma distâ ncia em menos de meia hora.

QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1 (Enem, 2015)

Quanto ao “choque de civilizaçõ es”, é bom lembrar a carta de uma menina americana de sete anos cujo pai era
piloto na Guerra do Afeganistã o: ela escreveu que – embora amasse muito seu pai – estava pronta a deixá -lo
morrer, a sacrificá -lo por seu país. Quando o presidente Bush citou suas palavras, elas foram entendidas como
manifestação “normal” de patriotismo americano; vamos conduzir uma experiência mental simples e imaginar
uma menina á rabe maometana pateticamente lendo para as câ meras as mesmas palavras a respeito do pai que
lutava pelo Talibã – nã o é necessá rio pensar muito sobre qual teria sido a nossa reaçã o.

ZIZEK, S. Bem-vindo ao deserto do real. Sã o Paulo: Boitempo, 2003.

A situaçã o imaginá ria proposta pelo autor explicita o desafio cultural do(a)

a) prá tica da diplomacia.

b) exercício da alteridade.

c) expansã o da democracia.

d) universalização do progresso.

e) conquista da autodeterminaçã o.

2 (Unisc, 2013)

As consideraçõ es sobre cultura nos levam a uma importante conclusão: a existência de uma imensa
diversidade cultural – tanto nos níveis regionais e nacionais como na sociedade global – implica a existência de
diferenças, mas nã o de desigualdades. Em outras palavras, a antropologia nos ensina hoje que sociedades e
grupos sociais cujos valores, prá ticas e conhecimentos nã o são iguais aos nossos nã o sã o primitivos ou
inferiores: sã o diferentes. As diferenças só passam a ser sinô nimo de desigualdade quando estã o inseridas em
relaçõ es de dominaçã o e exploraçã o.
SANTOS, Rafael José . Antropologia para quem não vai ser antropólogo. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2005. p. 32-33.

Considerando a ideia de diversidade cultural apresentada no texto, avalie as seguintes afirmativas:

I. A diversidade cultural existe porque as diferentes sociedades encontram-se em está gios diferentes de
evoluçã o social.

II. O estudo e reconhecimento da diversidade cultural nã o permite a classificaçã o de sociedades em primitivas


e evoluídas.

III. As diferenças bioló gicas entre os seres humanos determinam as diferenças de há bitos e costumes culturais.

IV. As diferenças culturais sã o transformadas em desigualdades culturais quando duas ou mais culturas sã o
colocadas em contato por relaçõ es de força.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa I está correta.

b) Somente as afirmativas II e III estã o corretas.

c) Somente as afirmativas I e IV estã o corretas.

d) Todas as afirmativas estã o corretas.

e) Somente as afirmativas II e IV estã o corretas.

3. (PUC-Rio, 2013)

Malcom Evans

Disponível em: <www.mulheralternativa.net/2011_08_01_ archive.html>. Acesso em: 01 ago. 2012. Adaptado.

Pá gina 85

A charge indica que as referências culturais

a) distanciam as mulheres da discussã o sobre o matriarcado.

b) precisam ser consideradas nas aná lises socioespaciais.

c) impedem a reflexã o sobre os direitos civis no mundo á rabe.

d) limitam as expressõ es individualistas na sociedade ocidental.


e) mostram como se comportam as mulheres nas sociedades de consumo.

4. (Uern, 2012) Observe um cartaz espalhado pelas principais cidades portuguesas pelo Partido Nacional
Renovador, um partido de extrema direita.

PNR

A questã o migrató ria retratada no cartaz denomina-se

a) racismo.

b) xenofobia.

c) tolerâ ncia.

d) modismo.

5. (Uema, 2015) Leia o fragmento a seguir.

Identificar as culturas imigrantes com suas “culturas de origem” é um erro baseado em uma série de
confusõ es. Inicialmente confunde-se “cultura de origem” com cultura nacional. Raciocina-se como se a cultura
do país de origem fosse ú nica, ao passo que as naçõ es de hoje nã o sã o culturalmente homogêneas.

Fonte: CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 2002.

A partir da ideia central do fragmento, pode-se afirmar a respeito da cultura de um povo que

a) o imigrante possui uma cultura pró pria irrelevante.

b) a nação é composta por culturas superiores e inferiores.

c) os países contemporâ neos sã o compostos por mú ltiplas culturas.

d) as naçõ es sã o formadas por culturas tradicionais imutá veis.

e) a genética determina a cultura de origem dos imigrantes.

6. (Unesp, 2012)

Cada cultura tem suas virtudes, seus vícios, seus conhecimentos, seus modos de vida, seus erros, suas ilusõ es.
Na nossa atual era planetá ria, o mais importante é cada nação aspirar a integrar aquilo que as outras têm de
melhor, e a buscar a simbiose do melhor de todas as culturas. A França deve ser considerada em sua histó ria
nã o somente segundo os ideais de Liberdade-Igualdade-Fraternidade promulgados por sua Revolução, mas
também segundo o comportamento de uma potência que, como seus vizinhos europeus, praticou durante
séculos a escravidã o em massa, e em sua colonizaçã o oprimiu povos e negou suas aspiraçõ es à emancipação.
Há uma barbá rie europeia cuja cultura produziu o colonialismo e os totalitarismos fascistas, nazistas,
comunistas. Devemos considerar uma cultura nã o somente segundo seus nobres ideais, mas também segundo
sua maneira de camuflar sua barbá rie sob esses ideais.

Edgard Morin. Le Monde, 8. fev. 2012. Adaptado.

No texto citado, o pensador contemporâ neo Edgard Morin desenvolve

a) reflexõ es elogiosas acerca das consequências do etnocentrismo ocidental sobre outras culturas.

b) um ponto de vista idealista sobre a expansã o dos ideais da Revoluçã o Francesa na histó ria.

c) argumentos que defendem o isolamento como forma de proteçã o dos valores culturais.

d) uma reflexã o crítica acerca do contato entre a cultura ocidental e outras culturas na histó ria.

e) uma defesa do cará ter absoluto dos valores culturais da Revoluçã o Francesa.

Pá gina 86

A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e os anseios da
humanidade.

A fábula: a união para a Copa do Mundo de futebol

A imagem a seguir retrata a seleçã o francesa de futebol que participou da Copa do Mundo de 2014.
Nessa foto, os imigrantes e descendentes de imigrantes foram propositalmente apagados para dar a
ideia de sua importâ ncia no elenco.

Na Copa de 2014, disputada no Brasil, diversas seleçõ es apresentaram imigrantes naturalizados na


composiçã o de suas equipes, mostrando que, quando o objetivo é a vitó ria, as diferenças étnicas e
culturais se tornam secundá rias.
Simran Khosla/Global Post

A participaçã o de tantos imigrantes e seus descendentes nas seleçõ es de futebol de países europeus é um exemplo
dos benefícios da diversidade. Eles correspondiam a mais de um terço dos jogadores do time da França na Copa do
Mundo de 2014.

A perversidade: a xenofobia

Artilheiro da França não canta o hino do país em protesto contra xenofobia

Na primeira vez que a Marselhesa foi entoada na Copa do Brasil, Karim Benzema ficou calado. O
artilheiro e principal jogador da seleçã o francesa escolheu nã o cantar o hino nacional de seu país
em um protesto silencioso contra a xenofobia presente na letra e na sociedade multicultural da
França.

* SANTOS, M., 2000.

Pá gina 87

Benzema, como milhõ es de franceses, é filho de imigrantes de uma das colô nias que o país teve no
século XX, no caso dele, a Argélia. E a letra da Marselhesa diz: “À s armas, cidadã os / formai vossos
batalhõ es / marchemos, marchemos! / Que um sangue impuro / banhe o nosso solo.”

As palavras sã o de 1792, uma época em que a França estava dominada por exércitos estrangeiros,
contra os quais a Marselhesa invocava sua ira. Mas, na leitura moderna, a expressã o “sangue
impuro” é interpretada como uma referência aos imigrantes e seus filhos, cujos direitos civis vêm
sendo cada vez mais ameaçados com a ascensã o de grupos políticos de ultradireita.

O protesto de Benzema ganhou o centro do debate político no ano passado [2013], quando Jean
Marie Le Pen, o presidente de honra do partido ultraconservador Frente Nacional, sugeriu que ele
nã o fosse mais convocado por nã o cantar o hino.

Le Pen, em sua fú ria contra aqueles que nã o considera “os verdadeiros franceses”, é o mesmo que
exigira, em 1998, que nã o fossem convocados à seleçã o jogadores negros ou de origem á rabe. Mas é
a essa geraçã o Black-Blanc-Beur (negros, brancos, á rabes) que o futebol francês deve seu ú nico
título mundial.

UOL, 25 jun. 2014. Disponível em: <http://copadomundo.uol.com.br/noticias/ redacao/2014/06/25/artilheiro-da-


franca-nao-canta-o-hino-do-paisem-protesto-contra-xenofobia.htm>. Acesso em: 29 mar. 2016.

Gregorio Lopez/Corbis/Fotoarena

Karim Benzema fez um protesto silencioso contra a xenofobia. Foto de 2015, em jogo na Espanha.

A possibilidade

Produza um texto na forma de editorial de jornal. Apresente os fatos retratados e mostre como a
identidade nacional pode ser forjada para uma competiçã o esportiva (como na Copa do Mundo),
mesmo que nã o vivida pela sociedade em seu cotidiano.

Proponha uma soluçã o que respeite as leis e os direitos humanos.

Pá gina 88

4 Guerra Fria e a Nova Ordem Mundial

Conexão de conhecimentos
Caracterizando a Guerra Fria
Observe as charges e leia o texto a seguir.
Pat Oliphant © 1982 Pat Oliphant / Dist. by Universal Uclick

Charge de Pat Oliphant.

Sun Tzu diz: A guerra tem importâ ncia crucial para o Estado. É o reino da vida e da morte. Dela
depende a conservaçã o ou a ruína do império. Urge bem regulá -la. Quem nã o reflete seriamente
sobre o assunto evidencia uma indiferença condená vel pela conservaçã o ou pela perda do que mais
se preza.

Isso nã o deve ocorrer entre nó s. A arte da guerra implica cinco fatores principais, que devem ser o
objeto de nossa contínua meditaçã o e de todo o nosso cuidado, como fazem os grandes artistas ao
iniciarem uma obra-prima. Eles têm sempre em mente o objetivo a que visam, e aproveitam tudo o
que veem e ouvem, esforçando-se para adquirir novos conhecimentos e todos os subsídios que
possam conduzi-los ao êxito.

Se quisermos que a gló ria e o sucesso acompanhem nossas armas, jamais devemos perder de vista
os seguintes fatores: a doutrina, o tempo, o espaço, o comando, a disciplina.

A doutrina engendra a unidade de pensamento; inspira-nos uma mesma maneira de viver e de


morrer, tornando-nos intrépidos e inquebrantá veis diante dos infortú nios e da morte.

Pá gina 89

Se conhecermos bem o tempo, nã o ignoraremos os dois grandes princípios yin e yang, mediante os
quais todas as coisas naturais se formam e dos quais todos os elementos recebem seus mais
diversos influxos. Apreciaremos o tempo da interaçã o desses princípios, para a produçã o do frio, do
calor, da bonança ou da intempérie.

O espaço, como o tempo, nã o é menos digno de nossa atençã o. Se o estudarmos bem, teremos a
noçã o do alto e do baixo; do longe e do perto; do largo e do estreito; do que permanece e do que nã o
cessa de fluir.

Entendo por comando a equidade, o amor pelos subordinados e pela humanidade em geral. O
conhecimento de todos os recursos, a coragem, a determinaçã o e o rigor sã o as qualidades que
devem caracterizar aquele que investe a dignidade de general. Sã o virtudes necessá rias que
devemos adquirir a qualquer preço.
Somente elas podem tornar-nos aptos a marchar dignamente à frente dos outros.

Aos conhecimentos acima mencionados convém acrescentar o de disciplina. Possuir a arte de


ordenar as tropas; nã o ignorar nenhuma das leis da hierarquia e fazer com que sejam cumpridas
com rigor; estar ciente dos deveres particulares de cada subalterno; conhecer os diferentes
caminhos que levam a um mesmo lugar; nã o desdenhar o conhecimento exato e detalhado de todos
os fatores que podem intervir; e informar-se de cada um deles em particular. Tudo isso somado
constitui uma doutrina, cujo conhecimento prático nã o deve escapar à sagacidade nem à atençã o de
um general.

TZU, S. A arte da guerra. Trad. Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006. p. 10-13.

Carlos Latuff/Operamundi

Charge de Carlos Latuff.

A partir da leitura do texto e das charges, explique em um texto com aproximadamente 15 linhas, o
que foi a Guerra Fria e algumas de suas características.

Pá gina 90

FOCOS DE TENSÃO E ZONAS DE CONFLITO


O espaço nã o é um objeto científico afastado da ideologia e da política; sempre foi político e
estratégico. Se o espaço tem uma aparência de neutralidade e indiferença em relaçã o a seus
conteú dos e, desse modo, parece ser “puramente” formal, a epítome da abstraçã o racional, é
precisamente por ter sido ocupado e usado, e por já ter sido o foco de processos passados cujos
vestígios nem sempre sã o evidentes na paisagem. O espaço foi formado e moldado a partir de
elementos histó ricos e naturais, mas esse foi um processo político. O espaço é político e ideo ló gico.
É um produto literalmente repleto de ideologias.

LEFEBVRE, H. In: SOJA, E. W. Geografias pós-modernas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. p. 102.

Os conflitos regionais, internacionais e internos estã o presentes hoje em todos os continentes. As


suas causas sã o variadas, envolvendo questõ es econô micas, religiosas, étnicas, disputas por
territó rio, por independência, recursos de solo e subsolo e mesmo á gua. Em razã o da variedade de
causas e está gios em que esses conflitos se encontram, podemos compreendê-los genericamente
como focos de tensã o ou zonas de conflito.
Assim, uma regiã o é considerada como foco de tensão quando existe um conflito latente, embora
ainda nã o tenha sido deflagrado. Há uma situaçã o de tensã o permanente, de insegurança constante,
mas nã o o conflito – guerra entre países, guerra interna – em si. Podem ocorrer escaramuças nas
fronteiras, dentro do país ou regiã o; podem ocorrer assassinatos e atentados terroristas, mas nã o
houve ainda a generalizaçã o do conflito.

Os focos de tensã o podem ser constituídos por fortes tensõ es relacionadas a movimentos
separatistas, guerras entre Estados nacionais, por invasã o/ocupaçã o estrangeira, entre outros. Mas
é importante lembrar que o conflito é latente, ou seja, nã o está no nível da guerra/conflito
declarado, a exemplo do Tibete, na Á sia.

Quando nos referimos a uma zona de conflito, temos um conflito armado, em geral deflagrado. Há
organizaçã o de exércitos (sejam de cará ter nacional, sejam dois exércitos dentro de um mesmo
país), realizaçã o de batalhas (terrestres, aéreas, navais), envolvimento ou nã o de outros Estados
nacionais (podendo generalizar o conflito, como na Segunda Guerra Mundial) – enfim, temos um
estado permanente nã o de insegurança, mas de morte.

Além disso, todos nó s, que vivemos em sociedades, estamos cotidianamente sujeitos a conflitos,
mesmo que isso nã o implique o desencadeamento da violência física. Nos meios urbanos, por
exemplo, um conflito bastante visível é o da disputa – à s vezes irracional – do espaço pelos
motoristas no trâ nsito. No plano psicoló gico, também podemos entrar em um conflito individual.
Isso é o que acontece, por exemplo, se você ficar indeciso entre o estudo e o lazer.

Tudo isso indica que a existência de conflitos faz parte da vida humana. Desde pequenos,
aprendemos a competir para alcançar atençã o, consideraçã o, respeito, destaque, bens materiais e
outras coisas que tenham valor para nó s. Individual e coletivamente, estamos todos, de certo modo,
inseridos em um grande conflito humano em que a sobrevivência é disputada. E, para que essa
disputa nã o desemboque em violência pura, a educaçã o que recebemos nos orienta a solucionar os
nossos problemas dentro de padrõ es morais e legais reconhecidos por todos, sempre levando em
conta o bem comum.

Porém, qual é o objeto de conflito entre os homens em uma escala mais abrangente? Qual é a razã o
de vermos países guerrearem entre si? A histó ria nos mostra que, desde o passado mais remoto, os
hominídeos competiam por domínios espaciais em uma luta para garantir a sobrevivência,
disputando as fontes de á gua, a caça e locais de abrigo.

Vá rias civilizaçõ es da Antiguidade guerrearam, cresceram e se expandiram espacialmente com a


justificativa de ampliar os domínios territoriais de cultos religiosos. Antes de Cristo, o Império
Romano passou por uma expansã o gigantesca, indo do atual Iraque até as Ilhas Britâ nicas, com a
justificativa de levar a civilizaçã o romana a todos os povos.

A ascensã o de potências imperialistas no continente europeu a partir do século XVI fez eclodir uma
série de conflitos em escala global. Novas terras e continentes foram disputados e explorados. E,
novamente, a justificativa de expandir a civilizaçã o foi usada para a expansã o do controle territorial
por parte de vá rios países, que se transformaram em potências industriais no século XIX.

Pá gina 91

SAIBA MAIS

Globalização e ultraimperialismo

Apesar das diferenças qualitativas, devido à s mutaçõ es quantitativas determinadas, ao longo da


histó ria, pelo progresso científico e tecnoló gico, o que se denominou globalizaçã o da economia, nos
anos 90 do século XX, começou, a rigor, com as viagens de circunavegaçã o, muitas das quais foram
financiadas, no final do século XV, por banqueiros florentinos. [...]

Ao arruinar as economias naturais e pré-capitalistas, o capitalismo vinculou todos os povos em um


sistema de vasos comunicantes, tornando as sociedades interdependentes, apesar da e / ou em
consequência da diversidade de seus graus de progresso e civilizaçã o. E, desde o mercantilismo, sua
evoluçã o constituiu um processo de contínua globalizaçã o da economia, com a implantaçã o do
sistema colonial nas Américas, Á frica e Á sia, a divisã o internacional do trabalho e a criaçã o do
mercado mundial, paralelamente à conformaçã o de Estados nacionais. [...]

Com efeito, em 1848, o capitalismo nã o esgotara suas possibilidades de desenvolvimento, nem na


Alemanha nem nos demais países industrializados da Europa, muito menos nos EUA, pois
constituía o primeiro sistema econô mico com capacidade de expandir-se mundialmente e manter a
continuidade do processo de acumulaçã o, eliminando, progressivamente, todos os demais modos
de produçã o, as formaçõ es pré-capitalistas, economias naturais e economias simples de mercado,
das quais podia dispor como mercado para a colocaçã o do seu excedente econô mico, como fonte de
meio de produçã o e reservató rio de força de trabalho. E o progresso da indú stria pesada, a
descoberta da energia elétrica, a transmissã o a distâ ncia, o navio a vapor e as estradas de ferro
impulsionaram ainda mais a internacionalizaçã o ou globalizaçã o da economia na segunda metade
do século XIX. Essas conquistas tecnoló gicas nã o somente reduziram o tempo de circulaçã o das
mercadorias como também modificaram as formas e os métodos de guerra, favorecendo a
monopolizaçã o da força armada pelos Estados nacionais, cujo avigoramento político e militar a
expansã o internacional do capitalismo exigia.

E, a partir da crise econô mica de 1873, que durou mais de 20 anos, o processo de concentraçã o e
centralizaçã o de capitais intensificou-se, sobretudo na indú stria pesada, e os bancos passaram a
desempenhar decisivo papel no fomento da produçã o, na medida em que forneciam à s indú strias os
recursos financeiros de que elas careciam. Novas formas de organizaçã o empresarial – trustes,
cartéis, sindicatos de empresas e consó rcios de bancos – constituíram-se, entã o, e trataram de
estabelecer o monopó lio ou a reserva de mercado, a fim de sustentar internamente os preços dos
produtos, ao mesmo tempo em que se lançavam no comércio de exportaçã o. [...]

As diferentes condiçõ es naturais, que dentro do amplo espaço econô mico dos EUA lhes
favoreceram o rápido desenvolvimento, estavam na Europa repartidas de maneira casual e
irracional entre uma grande quantidade de pequenos países e este fator compeliu as potências
industriais, como Grã -Bretanha e França, à ampliaçã o de seus impérios coloniais, com a conquista
de territó rios na Á sia e na Á frica. Também estados menores, a exemplo da Bélgica e da Holanda,
possuíam considerá veis possessõ es em outros continentes. Porém, a contrastar com seus principais
competidores, a Grã -Bretanha e, sobretudo, os EUA, para os quais todo o continente americano
tinha o cará ter de colô nia, a Alemanha nã o possuía qualquer domínio importante, um novo
territó rio, com grandes á reas de economia nã o capitalista, ao qual pudesse estender o círculo de
consumo para o capital, possibilitando-lhe o incremento da reproduçã o, isto é, a continuidade da
acumulaçã o. [...]

Em Die Neue Zeit, de 11 de setembro de 1914, Karl Kautsky, o mais importante teó rico da II
Internacional ou Internacional Socialista, discípulo direto de Marx e Engels, publicou um artigo,
intitulado Der Imperialismus [...], ponderando que, da mesma forma que a furiosa competiçã o das
firmas gigantes, dos bancos gigantes e multimilioná rios, que absorviam os menores, levou os
grupos financeiros a conceber a ideia do cartel, a guerra mundial poderia compelir as potências
imperialistas a formar uma uniã o e pô r fim à concorrência na produçã o de armamentos.

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Revista Espaço Acadêmico, ano II, n. 23, abr. 2003. Copyleft © 2001-2009. Disponível
em: <www.espacoacademico.com.br/023/23bandeira_kautsky.htm>. Acesso em: 31 mar. 2016.

Pá gina 92
ATIVIDADES

Relações internacionais: em cena, o imperialismo

Henri Meyer/Biblioteca Nacional da França

Cartum da década de 1890, que simboliza os mandatá rios da Inglaterra, Alemanha, Rú ssia, França e Japã o dividindo o
Império Chinês. Ao fundo, uma imagem estereotipada de um habitante da China mostra pâ nico em meio à situaçã o.

Com base na interpretaçã o da imagem e do texto “Globalizaçã o e ultraimperialismo”, redija em seu


caderno um texto a respeito das consequências do Imperialismo para as relaçõ es internacionais.
Inclua no texto seu ponto de vista, a partir das seguintes questõ es:

1. A superioridade tecnoló gica determina uma superioridade cultural?

2. É possível afirmar que existem naçõ es civilizadas e naçõ es inferiores?

3. O progresso tecnoló gico no início do século XX concorreu para a manutençã o da paz? Justifique.

4. A disputa por mercados desempenhou algum papel na ocorrência de conflitos armados no século
XX?

Segunda Guerra Mundial

Reú nam-se em grupos de no má ximo cinco participantes e façam uma pesquisa a respeito da
Segunda Guerra Mundial com a ajuda dos professores de Histó ria e Geografia. E, com base nos
dados levantados, façam um pequeno relató rio no caderno, indicando:

1. As principais potências envolvidas no conflito.

2. As causas desse conflito.

3. As consequências do conflito.

4. Os países vencedores.
5. Assim como os países vencidos.

Usem os resultados obtidos para fazer um painel com dados e imagens e exponham-no para a
classe.

Em seguida, avaliem se a teoria de Kautsky, citada no final do texto “Globalizaçã o e


ultraimperialismo”, pode-se confirmar ou nã o no século XX?

DO FINAL DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL À GUERRA


FRIA
A Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945, pode ser considerada como o conflito
armado de maior intensidade e repercussã o ocorrido até hoje. Foi o má ximo de destruiçã o e
aniquilamento visto pela humanidade feito em nome de interesses conflitantes de mercado.
Observe o nú mero de mortos no conflito.

Baixas na Segunda Guerra Mundial na Europa (em milhares)


País Militares Civis Total
França 350 350 700
Inglaterra 326 62 388
Estados Unidos 300 – 300
Uniã o Soviética 6 500 10 000 16 500*
Polô nia – 5 000 5 000
Iugoslá via – 1 000 1 000
Alemanha 3 500 700 4 200
Itá lia 330 80 410

*As baixas da Uniã o Soviética apresentam variaçõ es: ELLENSTEIN apresenta 25 milhõ es e meio, WERTH calcula em
20 milhõ es; as autoridades soviéticas computam geralmente apenas as baixas militares, entre 6 e 7 milhõ es de
mortos. Fonte: PARKER, R. A. C. El siglo XX: Europa (1918-1945). Cidade do México: Siglo XX, 1987. p. 404.

No entanto, apesar das repercussõ es globais, esse conflito se concentrou em cinco sub-regiõ es:
Europa, Norte da Á frica, Oriente Médio, Sudeste Asiá tico e Extremo Oriente.

Pá gina 93

Na fase final do grande conflito, e também logo depois do seu fim, vá rias conferências foram feitas
com a participaçã o dos três maiores protagonistas vitoriosos (Estados Unidos, Uniã o Soviética e
Reino Unido) com o claro objetivo de estabelecer uma ordem para o “sistema-mundo”.
Everett Collection/AGB Photo Library

Churchill (Reino Unido), Truman (Estados Unidos) e Stá lin (Uniã o Soviética) na Conferência de Potsdam, em 1945.

Foi entre julho e agosto de 1945 que Estados Unidos, Uniã o Soviética e Grã -Bretanha realizaram a
Conferência de Potsdam, nos arredores de Berlim. Nela, os três líderes da vitó ria (Churchill
representando o Reino Unido; Stá lin, a Uniã o Soviética; e Truman, os Estados Unidos) acertaram
entre si a reorganizaçã o econô mica e geopolítica do mundo, que passaria a ser dividido em duas
grandes zonas de influência: o bloco capitalista (liderado pelos Estados Unidos) e o bloco socialista
(liderado pela Uniã o Soviética).

Os entendimentos a respeito dos limites territoriais das zonas de influência das potências
vencedoras começaram a ser discutidos tendo o continente europeu como o foco central.
Praticamente nã o houve discordâ ncias quanto a manter a Europa Ocidental sob a zona capitalista,
mesmo porque essa regiã o tinha acabado de ser libertada dos nazifascistas pelas tropas norte-
americanas. A situaçã o se complicou quando Stá lin e Truman discordaram sobre a partilha da
Europa Central e do Leste.

Os maiores desencontros sobre os limites das respectivas á reas de influência aconteceram no caso
da Alemanha. Como o exército vermelho de Stá lin havia sido o responsá vel pela tomada da capital
alemã, o líder da Uniã o Soviética ficou em uma situaçã o confortá vel para estender a sua esfera de
influência para a Europa Oriental – todo o espaço entre a Alemanha e a Uniã o Soviética. Por isso, os
países do chamado Leste Europeu iriam fazer parte do bloco socialista: Polô nia, Hungria,
Tchecoslová quia, Romênia, Bulgá ria, Albâ nia e Iugoslá via. Desses países, somente os dois ú ltimos
ficariam fora da influência direta dos soviéticos por terem sido libertados dos nazistas por
lideranças pró prias.

Porém, a Alemanha e a Á ustria foram a princípio retalhadas em diferentes zonas de ocupaçã o, cada
uma administrada pelos exércitos da França, Grã -Bretanha, Estados Unidos e Uniã o Soviética. Nessa
repartiçã o, o leste da Alemanha, bem como o da Á ustria, ficaram sob o controle soviético. As
capitais dos dois países foram controladas em conjunto pelos quatro países vencedores da guerra,
apesar de essas cidades terem ficado dentro da á rea administrada pela Uniã o Soviética. Depois de
vá rias negociaçõ es, a porçã o austríaca administrada pelos soviéticos voltaria a pertencer ao bloco
capitalista ocidental.

Desde entã o, as negociaçõ es entre Estados Unidos e Uniã o Soviética a respeito da Alemanha se
complicaram, pois Stá lin nã o concordou em devolver a porçã o oriental do país ao bloco capitalista.
Também nã o concordou com a manutençã o da divisã o de Berlim entre as potências vencedoras,
pois queria que a cidade passasse totalmente aos seus domínios. Com o aumento das discordâ ncias
entre os oponentes, o relacionamento diplomá tico ficou cada vez mais hostil. Em 1947, os Estados
Unidos divulgaram a Doutrina Truman, que nada mais era do que o plano da chamada “contençã o
do comunismo”.

Entretanto, os desentendimentos atingiram o seu á pice em 1961, quando, já sob a administraçã o de


Nikita Kruschev, o bloco socialista ergueu o maior símbolo material da divisã o do mundo em blocos
antagô nicos: o Muro de Berlim.
Allmaps

Fonte: CHALLIAND, G.; RAGEAU, J. P. Atlas statégique: geopolitique des rapports de forces dans le monde. Paris: Editions
Complè xe, 1991.

Pá gina 94

Como resposta a essa divisã o, e a partir da Doutrina Truman, o “Ocidente” decide entã o estabelecer
uma forte divisã o entre o Leste e o Oeste da Europa, materializada na Cortina de Ferro, expressã o
usada pelo entã o primeiro-minístro britâ nico para indicar a divisã o europeia naquele momento.

A ORDEM DA GUERRA FRIA


A guerra consiste nã o só na batalha, ou no ato de lutar: mas num período de tempo em que a
vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida.

HOBBES, T. In: HOBSBAWM, Era dos extremos: o breve século XX. 2. ed. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2003. p.
224.

Chamamos de Guerra Fria a disputa ideoló gica, política, econô mica e militar entre Estados Unidos e
Uniã o Soviética, as duas superpotências que emergiram no imediato pó s-Segunda Guerra Mundial.
O conflito estendeu-se aproximadamente entre 1945 e 1991. A Guerra Fria materializou-se nesse
período por meio de guerras locais (Coreia, Vietnã, Nicará gua, entre outras), da corrida
armamentista e aeroespacial e do estabelecimento de pactos militares, como a Organizaçã o do
Tratado do Atlâ ntico Norte (Otan), aliança firmada em 1949, que ainda existe, e à qual se
incorporou a Rú ssia e o Pacto de Varsó via, que agregava os países sob a esfera de influência da
Uniã o Soviética, sob sua liderança – que acabou junto com a Guerra Fria. O Pacto de Varsó via foi
implementado em 1955 em resposta à criaçã o da Otan.

O clima de disputa e a corrida armamentista e tecnoló gica desenfreada produziam, ao mesmo


tempo, pâ nico e estabilidade. Pâ nico porque ambos os lados temiam um confronto nuclear que
significaria o extermínio da humanidade. E estabilidade porque o poder de destruiçã o bélico das
duas potências praticamente inviabilizava um confronto direto entre elas.

O antagonismo dos vencedores do conflito global partiu o mundo em dois blocos ideoló gicos.
Enquanto o capitalismo defendia o individualismo como a chave para a realizaçã o humana, para o
socialismo, o progresso humano só seria alcançado com o fim das classes sociais e um Estado
planejador.
Mundimagem

Fonte: CHALLIAND, G.; RAGEAU, J. P. Atlas statégique: geopolitique des rapports de forces dans le monde. Paris: Editions
Complè xe, 1991.

Mapa World

Fonte: CHALLIAND, G.; RAGEAU, J. P. Atlas statégique: geopolitique des rapports de forces dans le monde. Paris: Editions
Complè xe, 1991.

Pá gina 95

Apesar desses aspectos ideoló gicos, a partilha do mundo e a sua organizaçã o em esferas de
influência foram fundamentadas por motivos bem mais prá ticos, ligados à s estratégias econô mica e
militar que serviam aos interesses dos Estados Unidos e da Uniã o Soviética e moviam o mundo,
temeroso de uma guerra total.

Guerra total

Termo adotado pelo historiador Eric Hobsbawm, em sua obra Era dos extremos. Designa as guerras,
inauguradas no século XX, em que os civis nã o são poupados. As batalhas nã o ocorrem apenas em fronts
demarcados. Toda e qualquer destruiçã o se justifica para a obtençã o da rendiçã o (ataques às vias de
transporte, meios de comunicaçã o, energia etc.). Fonte: HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX. 2ª
ed. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2003. pp.51-60.

Embora os Estados Unidos e a Uniã o Soviética nã o tenham entrado em confronto direto (o que
conferiu a denominaçã o Guerra “Fria”), ocorreram diversos tipos de conflitos envolvendo unidades
políticas e territoriais em todos os continentes e em ambos os blocos: movimentos políticos,
movimentos sociais, golpes de Estado, guerras, guerrilhas etc. Dessa maneira, o período da Guerra
Fria pode ser facilmente comparado com um jogo de xadrez, no qual dois oponentes usam os seus
respectivos arsenais tá ticos e estratégicos para conquistar espaços e impor um xeque-mate.

A Guerra Fria possuía uma ló gica pró pria, exatamente como se fosse um jogo, na qual todos os
espaços do mundo ficaram expostos a forças simultâ neas de atraçã o e repulsã o aos blocos
oponentes. O embate foi muito além da ética e da discussã o ideoló gica; ele aconteceu
simultaneamente em todos os espaços terrestres e dominou também todos os espaços da vivência
da humanidade: política, cultura, produçã o, pesquisa tecnoló gica, divulgaçã o, mobilizaçã o de
massas etc.

Vale lembrar que a propaganda foi um instrumento de disputa poderoso nesse embate entre as
duas potências. E que ambos os lados logravam-se das vantagens do seu modo de vida. Os
capitalistas enfatizavam a liberdade, os direitos dos indivíduos e as maravilhas da sociedade de
consumo. Já os socialistas se vangloriavam por viverem em uma sociedade em que a populaçã o nã o
tinha que se preocupar com a obtençã o de empregos, que eram providos pelo governo, bem como
saú de e educaçã o.

A despeito de também ser um país socialista, a China durante a Guerra Fria manteve uma posiçã o
equidistante ante o conflito. O relacionamento entre os dois principais membros do bloco socialista
na verdade esfriou cada vez mais, pois a China almejava chegar à posiçã o de líder do bloco.

No que diz respeito à rivalidade entre os blocos ideoló gicos, foi a pesquisa tecnoló gica que deu aos
antagonistas os dois campos de competiçã o que melhor simbolizaram a Guerra Fria: a corrida
armamentista e a corrida espacial.

Apesar dessa disputa nã o declarada entre as superpotências, alguns países do mundo


subdesenvolvido procuraram manter uma posiçã o de neutralidade, organizando o grupo de países
nã o alinhados na Conferência de Bandung (Indonésia), em 1955, que reuniu 29 estados africanos e
asiá ticos.
Allmaps

Fonte: ARRUDA, J. J. Atlas histórico básico. Sã o Paulo: Á tica, 2007. p. 33.

Pá gina 96

SAIBA MAIS

A Conferência de Bandung

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Fonte: La Documentation Photographique. Disponível em: <http://www.ladocumentationfrancaise.fr/cartes/organisations-


etrelations-internationales/c001021-les-pays-participant-a-la-conference-de-bandung-en-1955>. Acesso em: 24 maio 2016.

Foi liderada por Índia, Indonésia, Birmâ nia, Sri Lanka e Paquistã o. No lugar de um alinhamento à
Uniã o Soviética ou aos Estados Unidos, propuseram o nã o alinhamento e buscaram evidenciar a
oposiçã o crescente entre os países do Norte (desenvolvidos) e do Sul (subdesenvolvidos). Outro de
seus objetivos era promover a cooperaçã o econô mica e cultural entre os países-membros. A
expressã o Terceiro Mundo surgiu inicialmente ligada a essa posiçã o nã o alinhada dos seus
membros no contexto da Guerra Fria. No entanto, como da Conferência de Bandung participaram
principalmente países subdesenvolvidos, ao longo do tempo a ideia de nã o alinhamento cedeu lugar
à associaçã o entre a expressã o Terceiro Mundo e subdesenvolvimento.

Desse modo, o espaço mundial, durante todo esse período, foi dividido em três conjuntos de países:
o Primeiro Mundo, formado pelos países capitalistas desenvolvidos; o Segundo Mundo,
constituído pelos países socialistas; e o Terceiro Mundo, que incluía países nã o alinhados a
nenhuma das duas superpotências.

Embora esse período tenha sido caracterizado pela persistência de um clima de tensõ es e divisã o
do espaço mundial, também foi marcado por resistências e organizaçõ es estudantis e de
trabalhadores, que questionavam o mundo e os valores de entã o, tanto no mundo capitalista como
no socialista.

ATIVIDADE

Os movimentos de contestação da “geração de 1968”

Dividam-se em cinco grupos. Cada grupo, com a orientaçã o dos professores de Histó ria, Geografia,
Sociologia e Filosofia, deverá pesquisar um dos temas a seguir:

• As manifestaçõ es estudantis em Paris, maio de 1968.

• Primavera Hú ngara.

• Primavera de Praga.

• Woodstock.

• A luta contra a ditadura militar no Brasil.

Pá gina 97

As pesquisas deverã o abordar os objetivos desses movimentos, os atores envolvidos, as ideologias


que os influenciaram, possíveis pontos em comum e o que representaram naquele contexto político,
geográ fico, filosó fico, socioló gico e histó rico. Também façam uma pesquisa de imagens. Em seguida,
preparem uma apresentaçã o para a turma.

No decorrer da década de 1980 o mundo assistiu ao esfacelamento da bipolaridade e ao surgimento


de um mundo multipolar, bem como ao fenô meno da globalizaçã o.

A NOVA ORDEM MUNDIAL


O fim da Guerra Fria, marcado pela derrubada do Muro de Berlim, esteve profundamente
relacionado ao colapso do regime soviético, em 1991. A Uniã o Soviética, no início da década de
1990, foi marcada por profundas reformas perpetradas pelo seu governante, Mikhail Gorbatchev.
As decisõ es e as reformas propostas por Gorbatchev envolveram:

• A declaraçã o de uma morató ria nuclear unilateral: a Uniã o Soviética iria suspender por conta
pró pria os testes nucleares.

• A ideia de uma reforma econô mica. A produçã o seria voltada para o mercado interno, e nã o para a
corrida armamentista.
• A proposta da Glasnost (transparência), processo de abertura política no qual o poder da
burocracia daria lugar à participaçã o popular na conduçã o do país.

• A proposiçã o da Perestroika (reconstruçã o), uma ampla reconstruçã o do sistema econô mico
soviético.

As reformas de Gorbatchev permitiram que qualquer cidadã o se candidatasse ao cargo de deputado


do Congresso do Povo, por décadas determinado pelo Partido Comunista. Essa mudança permitiu
que fossem eleitas para o Partido Comunista inú meras lideranças reformistas que iriam criticar a
falta de liberdades pessoais e políticas, as violências do período stalinista e até mesmo o pró prio
comunismo.

Contudo, ao eliminar do país o sistema político- -econô mico socialista de partido ú nico, Gorbatchev
nã o pô de estabelecer, durante a sua administraçã o, outro sistema. Ele presidiu a transiçã o entre
dois modelos bem como todo o caos resultante disso. Por isso, até hoje na Rú ssia a imagem de
Gorbatchev é asso- ciada ao caos desse período, marcado pelo aumento do desabastecimento, do
surgimento de um grande desemprego e pelo crescimento do mercado negro e das má fias que o
organizavam. Isso eliminou a coesã o política da Uniã o Soviética e abriu as portas para a
desestabilizaçã o dos governos socialistas dos países do Leste Europeu.

A partir de entã o, o sistema político da Uniã o Soviética, bem como do restante dos países europeus
que faziam parte do bloco socialista, perdeu totalmente a tradicional estabilidade proporcionada
pelos regimes de “mã o de ferro”, pois, com a liberaçã o política, seriam reafirmadas tendências
políticas reformistas que até entã o eram reprimidas.

Com a diminuiçã o progressiva do poder do Partido Comunista e dos ideais marxistas, a Uniã o
Soviética perdeu também a sua coesã o. Isso levou ao ressurgimento de sentimentos nacionalistas e
aspiraçõ es de autodeterminaçã o política em vá rias das repú blicas que faziam parte da Uniã o
Soviética, levando-as à independência total (como no caso de Estô nia, Letô nia e Lituâ nia) ou a um
grau de autonomia maior. Esse processo fez com que, em 1991, Gorbatchev determinasse o fim do
comunismo e do Pacto de Varsó via. Logo depois, no mesmo ano, foi oficializado o fim da Uniã o das
Repú blicas Socialistas Soviéticas. Tudo isso determinou também o fim da bipolaridade na
organizaçã o do poder e dos espaços globais, dando lugar a uma Nova Ordem Mundial, sob a
liderança dos Estados Unidos.

Devemos lembrar que a liderança dos Estados Unidos na Nova Ordem Mundial, ao contrá rio do que
ocorreu na Guerra Fria, é global. É também baseada na sua força militar insuperá vel, bem como
pela força de sua economia. Desse modo, a partir dessa nova fase, o papel escolhido pelos Estados
Unidos foi o de “xerife” das relaçõ es internacionais. A partir do governo de George Bush (pai)
(1989-1993), os Estados Unidos passaram a se considerar responsá veis pela manutençã o do
equilíbrio político e econô mico do mundo por meio de um pretenso monopó lio do uso da força,
inclusive de recursos nucleares, se necessá rio.

Pá gina 98

A TESE DO MUNDO “UNIPOLAR”


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Fonte: BONIFACE, P.; VÉ DRINE, H. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009. p. 32.

Quando a Uniã o Soviética se desfaz, em 1991, os Estados Unidos permanecem como a ú nica das
duas superpotências da Guerra Fria. Esse papel, somado a seu arsenal nuclear, seu poder
econô mico, o peso do dó lar na economia internacional, seu papel de propulsor na expansã o
mundial da economia de mercado, seu soft power (cultura, língua, cinema, modo de vida,
universidades, influência intelectual); tudo concorre para fazer dos Estados Unidos, nos anos 1990,
o polo central de um mundo unipolar.

BONIFACE, P.; VÉ DRINE, H. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009. p. 33.

Nã o tardaria para que os Estados Unidos encontrassem outra justificativa para desempenhar o
papel de xerife global. O inimigo mais recente do governo estadunidense sã o os grupos terroristas,
como a Al Qaeda, responsá vel pelos ataques à s Torres Gêmeas em Nova Iorque em 11 de setembro
de 2001. Embora a Al Qaeda fosse sediada no Afeganistã o, os Estados Unidos invadiram também o
Iraque com o pretexto de que o país possuía armas de destruiçã o em massa e que era necessá rio
libertar os iraquianos da ditadura de Saddam Hussein. Durante a Guerra Fria, o governo
estadunidense, “baluarte da liberdade e dos direitos civis”, apoiou, paradoxalmente, regimes
ditatoriais, como o instaurado no Brasil em 1964, além do pró prio Saddam Hussein.

Em 2009, Barack Obama assumiu a presidência dos Estados Unidos. E entre as políticas adotadas
em seu governo, destacam-se a proposta de retirada das tropas do Iraque e a manutençã o da
ocupaçã o do Afeganistã o. Além disso, do ponto de vista econô mico, os Estados Unidos buscaram
construir com o Japã o e outros dez países asiá ticos a Parceria Transpacífica ou Tratado
Transpacífico, assinado no início de 2016.

Para além da tese da unipolaridade, desponta, ao longo dos anos 1990, outra tese, a tese do mundo
multipolar, motivada pelo crescimento econô mico de outros países, como Japã o, China, e países
europeus – principalmente a partir do Tratado de Maastrich, que em 1992 deu origem à Uniã o
Europeia, a qual, ao longo dos anos seguintes, assistiu à incorporaçã o de novos membros, sempre
entre os países europeus.
Pá gina 99

A TESE DO MUNDO MULTIPOLAR

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Fonte: BONIFACE, P.; VÉ DRINE, H. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009. p. 34.

A emergência de novos mastodontes econô micos é uma evidência: China, Índia, mas também Brasil,
Á frica do Sul e a retomada de força da Rú ssia, que foi cedo demais considerada fora do jogo, nos
anos 1990. A afirmaçã o desses polos já se observa no seio da OMC (Organizaçã o Mundial do
Comércio) e em outros lugares. [...] Mas a emergência de novas potências, por si só , nã o constitui
um mundo multipolar está vel. Diversas questõ es se impõ em: os Estados Unidos permanecerã o
claramente o polo dominante? Ou acabarã o sendo alcançados e talvez ultrapassados pela China? [...]
Que relaçõ es vã o se estabelecer entre Estados Unidos, China, Japã o, Índia, Rú ssia, Brasil e Europa?

BONIFACE, P. e VÉ DRINE, H. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009. p. 35.

ATIVIDADE

Fahrenheit 11 de setembro

Assistam ao filme Fahrenheit 11 de setembro e discutam, em classe, o papel de liderança global


exercido pelos Estados Unidos a partir do final da Guerra Fria refletindo sobre a seguinte questã o:
“A Nova Ordem pode realmente ser considerada de paz e estabilidade?”. O documentá rio aborda as
causas e os efeitos produzidos pelos atentados de 11 de setembro de 2001, que atingiram os
Estados Unidos. O filme trata também da consequente invasã o do Iraque, liderada pelos Estados
Unidos, com ajuda do Reino Unido.
Divulgaçã o

Direçã o: Michael Moore.

Estados Unidos, 2004, 122 min.

Classificaçã o: 12 anos.

Pá gina 100

AS TRANSFORMAÇÕES NO CENÁRIO POLÍTICO DO LESTE EUROPEU PÓS-GUERRA FRIA


As fronteiras nã o sã o fenô menos naturais. Seu estabelecimento está profundamente associado à s
diversas conjunturas sociais, econô micas, políticas e culturais em vigência numa determinada
época e em determinado territó rio. Se uma fronteira é estabelecida a partir de um marco como uma
montanha ou um rio, por exemplo, isso nã o é consequência da existência da montanha ou do rio,
mas de guerras, tratados políticos, acordos ou desavenças econô micas e culturais entre dois ou
mais povos.

Entretanto, considerando a grande efemeridade das fronteiras, podemos observar uma rá pida e
profunda alteraçã o nos mapas políticos da Europa a partir do final do século XIX. Essas
transformaçõ es se tornaram ainda mais rápidas ao longo do século XX por diversas razõ es, sendo as
duas principais a vigência da Guerra Fria e seu fim.

Essas alteraçõ es no mapa político europeu sã o definitivas? Com certeza nã o, pois as definiçõ es de
fronteiras podem ser mais ou menos instá veis, mas sempre deverã o ser associadas à s conjunturas
econô micas, sociais e políticas em determinada época e territó rio.

Observe, no mapa a seguir, as fronteiras europeias no contexto da Guerra Fria.


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Fonte: Le Monde. Disponível em: <www.monde-diplomatique.fr/IMG/jpg/artoff622.jpg>. Acesso em: 18 abr. 2016.

Pá gina 101

Durante a Guerra Fria, a Europa encontrava-se dividida geopoliticamente em Oeste ou Ocidental


(capitalista) e Leste ou Oriental (socialista). Por sua vez, a Alemanha estava dividida em duas
(Ocidental, capitalista; e Oriental, socialista), e existia um país chamado Iugoslá via. Porém, a partir
de 1989, ocorreram profundas mudanças nesse mapa político. Em primeiro lugar, ainda em 1990,
assistimos à reunificaçã o alemã . E depois, observamos paulatinamente – e nã o sem guerras – a
separaçã o dos países bá lticos da Uniã o Soviética; o esfacelamento da ex-Iugoslá via por meio de
guerras virulentas; e a separaçã o, por meio de plebiscito, entre a Repú blica Tcheca e a Repú blica
Eslovaca.

A separaçã o da ex-Iugoslá via foi um dos mais emblemáticos e sangrentos processos resultantes do
final da Guerra Fria no cená rio europeu. Foram diversos conflitos armados de origem étnica na
regiã o, dos quais os mais impactantes foram a Guerra da Bó snia, entre sérvios, croatas e
muçulmanos (1992-1995), e o conflito do Kosovo (1998-1999). A Guerra da Bó snia somente
terminou com a intervençã o da Otan e a assinatura do Acordo de Dayton, em 1995, dividindo o país
em duas regiõ es distintas, de acordo com as caracerísticas étnico- -culturais: a Federaçã o Croato-
Muçulmana (com 51% do territó rio) e a Repú blica Sérvia da Bó snia, ou Repú blica Srpska (com 49%
do territó rio).

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Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 44.

Destaca-se que o conflito do Kosovo teve a sua origem ligada ao movimento separatista da
populaçã o de origem albanesa, que constituía cerca de 90% do total de habitantes. Seu relativo
status soberano no contexto iugoslavo foi sendo progressivamente retirado, levando os kosovares
de origem albanesa a organizarem o Exército de Libertaçã o do Kosovo (ELK). O governo sérvio,
detentor dessa província, passou a atacar sistematicamente a regiã o, até que, em 1999, a Otan
novamente interferiu no conflito, o que levou o governo iugoslavo a assinar um acordo de paz.

Pá gina 102
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Fonte: La Documentation Française. Disponível em: <www.ladocumentationfrancaise.fr/dossiers/serbie-montenegro/carte-


exyougoslavie-2003-2006.shtml>. Acesso em: 12 maio 2016.

O que era a Iugoslá via no período da Guerra Fria foi, portanto, se dividindo ao longo da década de
1990 e a Repú blica Iugoslava deixou de existir a partir da separaçã o de Montenegro (2006) e do
Kosovo (2008).

Em relaçã o à antiga Tchecoslová quia, apó s a ocorrência diversos protestos e reivindicaçõ es


populares, foi convocado, em 1993, um plebiscito popular que decidiu pela separaçã o entre as duas
repú blicas, tendo sido criadas a Repú blica Tcheca e a Repú blica Eslovaca. Esse processo foi
considerado muito pacífico – quando comparado ao que ocorreu na ex-Iugoslá via, por exemplo – e,
por isso, é conhecido como Revoluçã o de Veludo.

No contexto europeu do pó s-Guerra Fria, a reunificaçã o alemã seguiu direçã o contrá ria à s
fragmentaçõ es na ex-Iugoslá via e ex-Tchecoslová quia. No entanto, também apresentou diversos
dilemas. Apesar da euforia inicial, as diferenças econô micas entre as duas Alemanhas ainda sã o
expressivas.

Trauma da reunificação explica a resistência alemã a estimular gregos

Diferença entre as taxas de desemprego – lado ocidental 6% e oriental, 11,2% – mostra que mesmo
após 23 anos desigualdades persistem.

Enquanto o desemprego na antiga Alemanha Ocidental é de 6%, no leste ele permanece mais alto,
11,2%. Em 2010, o PIB per capita foi superior a 40 mil na antiga parte ocidental, mas ficou aquém
dos 30 mil no leste; em 1991, estes nú meros eram 27,5 mil euros para o lado ocidental e 12 mil
euros no lado oriental. Mas os especialistas dizem que boa parte da reduçã o da diferença entre os
dois lados decorreu de migraçã o de pessoas que vieram atrá s de emprego no lado ocidental, fator
tã o importante quanto as possíveis melhorias ocorridas no leste. [...] Houve histó rias de sucesso no
renascimento de cidades como

Pá gina 103

Dresden e Leipzig, e algumas regiõ es, principalmente aquelas localizadas no extremo sul da antiga
Alemanha Oriental, vivem situaçã o melhor. Mas a parte oriental do país é conhecida hoje, pelas
praças reconstruídas com perfeiçã o, que ficam vazias durante a maior parte do dia, e novos trechos
de estradas, pouco usadas.

KULISH, T. The New York Times, O Estado de S. Paulo. 27 maio 2012. Caderno E&N.

ATIVIDADE

Adeus, Lênin!

Assistam ao filme Adeus, Lênin! e discutam em classe, com base no filme e no texto anterior, os
contrastes e impasses da reunificaçã o alemã .

Em 1989, pouco antes da queda do Muro de Berlim, a senhora Kerner (Katrin Sass) passa mal, entra
em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando
ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu
filho Alexander (Daniel Brü hl), temendo que a excitaçã o causada pelas drá sticas mudanças possa
lhe prejudicar a saú de, decide esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a senhora Kerner
permanece acamada, Alex nã o tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisã o ele
precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.

Adoro Cinema. Disponível em: <www.adorocinema.com/filmes/ filme-52715>. Acesso em: 14 mar. 2016.

Divulgaçã o

Direçã o: Wolfgang Becker, Alemanha, 2003, 121 min. Classificaçã o: 14 anos.

A AMÉRICA LATINA NO PÓS-GUERRA FRIA


A América Latina, no contexto da Guerra Fria, passou por dois movimentos opostos. De um lado,
aconteceu a Revoluçã o Cubana (1959) e o progressivo alinhamento dessa ilha à Uniã o Soviética
(1962). Além disso, nas décadas de 1970 e 1980, a Nicará gua viveu um período muito conturbado,
dividida entre a Revoluçã o Sandinista, de orientaçã o socialista, e a contrarrevoluçã o de orientaçã o
capitalista. Do outro lado, como resposta à Revoluçã o Cubana, observamos que na maioria dos
países latino-americanos foram instauradas ditaduras militares fortemente alinhadas aos Estados
Unidos: Paraguai (1954); Brasil (1964); Bolívia (1971); Chile (1973); Uruguai (1973); Argentina
(1976). Esse alinhamento foi, inclusive, responsá vel pela expulsã o de Cuba da Organizaçã o dos
Estados Americanos (OEA), em 1962, da qual foi uma das fundadoras. Perseguiçõ es políticas,
prisõ es com prá ticas de tortura, assassinatos e ocultaçõ es de cadá veres foram prá ticas recorrentes
durante as ditaduras militares no subcontinente.

A partir da década de 1980, por motivos específicos em cada país, as ditaduras militares na América
Latina foram sendo paulatinamente superadas pelas lutas em favor da democratizaçã o. Um fator no
cená rio externo que influenciou essa mudança foi a pró pria abertura na Uniã o Soviética, com a
subida de Mikhail Gorbatchev ao poder em 1985, e, posteriormente, o fim da pró pria Uniã o
Soviética, em 1991. Além disso, as mudanças relacionadas ao cená rio econô mico, com o grande
crescimento verificado na Europa e no Japã o, acirraram a concorrência entre os países centrais do
capitalismo, o que também contribuiu muito para uma mudança no cená rio geopolítico latino-
americano.

Pá gina 104
Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Elaborado com base em: LIMA, C. C. Ditaduras da
Amé rica Latina. Guia do estudante. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/ aventuras-historia/ditaturas-
america-latina-433858.shtml>. Acesso em: 12 maio 2016.

Cuba: uma situação emblemática


A Revoluçã o Cubana (1959) que depô s o ditador Fulgencio Batista se tornou uma situaçã o bastante
emblemá tica na América Latina. Os revolucioná rios cubanos instauraram um governo popular e
nacionalizaram a maior parte das empresas, quase totalmente controladas por estrangeiros,
sobretudo estadunidenses, especialmente de setores estratégicos como transportes, comunicaçõ es
e energia. Vale lembrar que Cuba é uma ilha localizada a aproximadamente de 300 quilô metros da
Fló rida.

Os Estados Unidos entã o passaram a impor um boicote econô mico contra a ilha que, para
sobreviver, foi paulatinamente se alinhando à Uniã o Soviética.

Pá gina 105
No ano de 1962, Cuba estava alinhada ao bloco socialista e sofria boicote de praticamente todos os
países americanos. O alinhamento à Uniã o Soviética e a implantaçã o do socialismo no país foram as
saídas encontradas para a sobrevivência da revoluçã o.

Durante a Guerra Fria, Cuba recebeu apoio diplomá tico e financeiro do regime sovié tico, com o
qual estabeleceu um relacionamento comercial preferencial. Ao longo desse período, Cuba foi o
destaque latino-americano em investimentos sociais, acompanhados de melhorias efetivas nas
condiçõ es de vida de sua populaçã o, com destaque, sobretudo, para as á reas de saú de e educaçã o.
Todavia, o colapso da Uniã o Soviética mudou o quadro político e econô mico em Cuba.

Na década de 1980, diversos países latino-americanos passaram por um processo de


redemocratizaçã o – inclusive o Brasil, em 1985. Na mesma década, Cuba passou a enfrentar
crescentes dificuldades econô micas, com a perda de seu principal parceiro comercial. Com o fim do
socialismo, Cuba ficou dependente do comércio global para vender açú car, seu principal produto de
exportaçã o.

No momento em que no mundo veiculava- -se a ideia da vitó ria do capitalismo, a populaçã o cubana
enfrentava a pior crise econô mica desde a revoluçã o de 1959, que se refletiu na crescente
deterioraçã o das condiçõ es de vida de sua populaçã o. Os transportes foram afetados; houve falta de
recursos para o financiamento dos produtores; queda na produçã o interna de açú car associada à
reduçã o do preço dessa commodity no mercado internacional, bem como queda na produçã o de
alimentos, entre outros.

Com o fim da ajuda soviética e com o aumento do bloqueio econô mico estadunidense, Cuba teve de
buscar novas saídas para suprir suas necessidades. A partir de 1995, Cuba passou a adotar a
legislaçã o de investimentos estrangeiros mais liberal da América Latina, embora tenha continuado
sob o comando do Partido Comunista Cubano. Como parte dessas reformas, observamos a abertura
de empresas em Cuba com capital unicamente estrangeiro; a liberaçã o total da remessa de
investimentos e lucros ao exterior e a permissã o às empresas para decidir a respeito da contrataçã o
ou nã o de trabalhadores cubanos. O resultado foi a retomada de Cuba como importante destino
turístico, o que supriu, em parte, as necessidades econô micas do país.

A ilha continuou sendo um local com bons indicadores sociais, sendo que moradia, transporte,
saú de e educaçã o ainda continuam a cargo do Estado. Porém, observam-se a persistência de meios
de transportes precá rios e má conservaçã o das casas e prédios, mesmo os histó ricos. Apesar de a
populaçã o ter suas necessidades bá sicas garantidas, a realidade socioeconô mica de Cuba nã o
possibilita mais do que isso. Ademais, parte do dinheiro que entra no país continua a vir da
comunidade cubana estabelecida nos Estados Unidos, principalmente na Fló rida, que
constantemente manda recursos para ajudar os parentes que vivem na ilha.

Fraca na economia, forte no social: Cuba vence os concorrentes da região,


principalmente nos quesitos ligados a educação e saúde, como o IDH
PIB PIB per IDH Desigualdade de Índice de
(posição no
População (em capita gênero (posição no transparência
ranking
(em milhõ es) bilhõ es (em mil ranking entre 149 (posição no ranking
entre 187
de US$) US$) países) entre 177 países)
países)
CUBA 11,2 65,8 5,8 44 66 63
COSTA RICA 4,7 49,6 10,5 68 63 49
REPÚBLICA
9,8 61,1 6,2 102 105 123
DOMINICANA
PANAMÁ 3,8 40,6 10,6 65 107 102
MÉXICO 116,2 1260 10,8 71 73 106

Estú dio Pingado

Fonte: É poca Negó cios. Disponível em:<http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2015/04/direto-de-


havana-cubavolta-sonhar-apos-reaproximacao-com-estados-unidos.html>. Acesso em: 14 mar. 2016.
Pá gina 106

A maior integraçã o de Cuba à economia global possibilitou a realizaçã o de investimentos também


em outros setores além do turismo, ampliando a produçã o de níquel, petró leo para uso interno e
cimento. Pelo que podemos observar na tabela, o país continua a ser modelo para o resto do mundo
em vá rios indicadores de saú de e educaçã o.

Em 2008, Fidel Castro, que presidia a ilha desde 1960 – tendo sido sucessivamente reeleito
presidente a cada cinco anos pela Assembleia Nacional desde 1976 – renunciou seu cargo. A
Assembleia Nacional Cubana, eleita pelos cidadã os, escolheu entã o seu irmã o, Raú l Castro, como
novo presidente cubano. Desde entã o, Raú l Castro acelerou as mudanças econô micas no país,
buscando melhorar seu desempenho econô mico.

ATIVIDADE

Cuba pós-Fidel

Pesquise as principais mudanças efetivadas em Cuba por Raú l Castro nas seguintes á reas:

• Distribuiçã o de terras.

• Política salarial.

• Consumo de produtos tecnoló gicos.

• Transportes pú blicos.

Em seguida, levando em conta os fatos histó ricos ligados à relaçã o Cuba-Estados Unidos, responda
em seu caderno à seguinte questã o: “É possível afirmar que as ‘mudanças’ propostas por Raú l
Castro possam eliminar a hostilidade dos Estados Unidos em relaçã o a Cuba?”.

Como Cuba havia retomado as relaçõ es econô micas e comerciais com países europeus e latino-
americanos, faltava o fim ao embargo econô mico dos Estados Unidos. Finalmente, em 2014, os
Estados Unidos anunciam a retomada das relaçõ es diplomá ticas com Cuba, o que pode viabilizar as
negociaçõ es para o fim do embargo econô mico do país à ilha.

Obama volta a pedir fim do bloqueio econômico a Cuba 15/1/2016

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em seu ú ltimo discurso do Estado da Uniã o, na
terça-feira à noite (12/01), pediu ao Congresso que acabe com o bloqueio econô mico e financeiro
imposto à ilha comunista: “os cinquenta anos isolando Cuba falharam em promover a democracia,
nos atrasou na América Latina. Por isso restauramos as relações diplomáticas, abrimos as portas para
o turismo, nos colocamos de maneira a melhorar as vidas dos cubanos“, disse o mandatá rio.

Obama já havia solicitado ao Congresso o fim da medida durante discurso na ONU, no final do ano
passado, quando, pela primeira vez na Assembleia Geral, o líder cubano Raú l Castro denunciou os
impactos sofridos por causa do bloqueio, em vigor desde 1962, e que só pode ser suspenso por açã o
do Congresso norte-americano, com maioria republicana.

Pragmatismo Político, 15 jan. 2016. Disponível em: <www.pragmatismopolitico.com.br/2016/01/ obama-volta-a-


pedir-fim-do-bloqueio-economico-a-cuba.html>. Acesso em: 14 mar. 2016.

A ÁSIA NO PÓS-GUERRA FRIA


Embora o cená rio principal da disputa entre as superpotências no contexto da Guerra Fria tenha
sido a Europa, podemos observar desdobramentos dessas disputas em todos os continentes.
Durante a Guerra Fria, muitas vezes guerras locais ou conflitos internos em vá rios países tiveram
como pano de fundo a açã o das superpotências – tanto fornecendo armas e enviando tropas como
agindo por meio de aliados. No continente asiá tico, temos alguns exemplos desse processo,
principalmente considerando as açõ es no Vietnã e nas Coreias.

Pá gina 107

A situação do Vietnã

Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

Localizado na Península da Indochina, o Vietnã possui uma histó ria antiga que remonta a mais de 2
700 anos. No século XX, o país esteve sob dominaçã o francesa, e, no período da Segunda Guerra
Mundial, japonesa.

Com a vitó ria dos Aliados, a França tentou retomar o controle do Vietnã , mas encontrou forte
resistência das lideranças locais. Em 1954, o Vietnã conseguiu se livrar da colonizaçã o francesa,
tendo sua independência reconhecida pela Conferência de Genebra. Porém, foi dividido em dois:
Vietnã do Norte, sob a liderança de Ho Chi Minh, de orientaçã o socialista; e Vietnã do Sul, governado
por Ngo Dinh Diem, de orientaçã o capitalista. Este ú ltimo tentou dar um golpe em 1955, mas foi
rechaçado pelos vietnamitas do norte. Iniciava-se uma das mais sangrentas guerras na regiã o. O
Vietnã do Norte recebeu apoio da Uniã o Soviética e da China, enquanto o Vietnã do Sul recebeu
apoio dos Estados Unidos.

Observe alguns dados dessa guerra:

• 7 milhõ es de bombas lançadas (nú mero maior do que o da Segunda Guerra Mundial).
• 5 milhõ es de vítimas.

• 3 milhõ es de pessoas contaminadas pelo “agente laranja”, substâ ncia tó xica lançada pelos Estados
Unidos para desfolhar as florestas e localizar os inimigos.

Os vietcongues (vietnamitas do norte, socialistas) ganharam a guerra, considerada uma das maiores
derrotas militares dos Estados Unidos. Somente em 1995 Vietnã e Estados Unidos normalizariam
suas relaçõ es diplomá ticas.

Com quase 90 milhõ es de habitantes atualmente, o país tem hoje uma economia planificada e uma
política fechada de partido ú nico, o Partido Socialista do Vietnã. Apesar da falta de abertura política,
a partir de 1986 o país assistiu a uma progressiva abertura econô mica, chamada de doi-moi
(renovaçã o), que correspondia à autorizaçã o para a constituiçã o de propriedades privadas no
campo e para o investimento estrangeiro. As mudanças promovidas aumentaram muito a produçã o
agrícola, industrial, a construçã o civil e a exportaçã o. Inú meras empresas capitalistas de todo o
mundo, com destaque para as japonesas, usufruem dos recursos naturais do país, dos baixos
impostos e da mã o de obra barata.

Pá gina 108

Observe nos grá ficos o volume do comércio exterior do Vietnã, bem como seus principais parceiros
comerciais.

Estú dio Pingado

Fonte: AmCham Vietnam. Disponível em: <www. amchamvietnam.com>. Acesso em: 15 abr. 2016.

Estú dio Pingado

Fonte: East by Southeast. Disponível em: <www.amchamvietnam. com>. Acesso em: 17 mar. 2016
Em 2013, Vietnã e Estados Unidos assinaram um acordo de comércio que movimentou, em 2014,
cerca de 35 bilhõ es de dó lares.

ATIVIDADE

Utopia e barbárie

Para compreender mais detalhadamente os desdobramentos da Guerra Fria e seus efeitos em


diversos lugares, assista ao documentá rio Utopia e barbárie (direçã o: Silvio Tendler, Brasil, 2010,
121 min. Classificaçã o: 12 anos).

Esse filme demorou 19 anos para ser concluído e traça um panorama histó rico, político, geográ fico
e social da segunda metade do século XX.

Em seguida, discuta com os colegas: O que havia de utopia e barbá rie no contexto retratado no
documentá rio? Quais relaçõ es podem ser feitas com o presente?

As duas Coreias

Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

A Península da Coreia foi o territó rio de um Estado moná rquico coreano até 1905, quando ocorreu
uma invasã o e ocupaçã o militar japonesa. Essa açã o aconteceu no rastro do posicionamento do
Japã o como um Estado imperialista militarizado, movido pela necessidade de crescimento
industrial. Contudo, muito além de uma á rea com matérias-primas vitais para sustentar a indú stria
nipô nica, a Península da Coreia era também a á rea de uma etnia, os coreanos, um povo com mais de
2 mil anos de registros histó ricos e culturais e que, por isso, tinha fortes aspiraçõ es pela
restauraçã o de seu país e sua autonomia.

Somente em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a expansã o imperialista do Japã o no
Leste Asiá tico chegou ao fim, fazendo terminar também a ocupaçã o japonesa de quarenta anos da
Península Coreana. E isso, a princípio, possibilitou que voltasse a existir um Estado coreano.
Entretanto, a regiã o saía da guerra como uma á rea de contato entre os dois principais aliados
vitoriosos do conflito mundial. Além disso, os soviéticos ocuparam a porçã o norte da Coreia,
enquanto a porçã o sul foi ocupada pelos exércitos dos Estados Unidos.
Pá gina 109

O marco que delimitou os dois lados foi o paralelo 38°N. Desse modo, antes que se criasse um
Estado coreano, a regiã o estava dividida ao meio e acumulava as tensõ es da Guerra Fria, que
trariam um novo conflito bélico.

No Norte, foi criado o Partido Comunista Coreano e, em 1948, surgiu também um Estado coreano, a
Repú blica Comunista da Coreia do Norte, fundada e comandada por Kim Il-Sung. No Sul, os Estados
Unidos preferiram manter a ocupaçã o militar em vez de criar um Estado capitalista independente.
Os estrategistas de Washington temiam a influência soviética na Península Coreana, bem como os
movimentos de Mao Tsé-Tung, que estava prestes a criar uma repú blica socialista na China, o que
ocorreu em 1949.

Com o apoio da China comunista, em 1950, a Coreia do Norte invadiu o Sul com a justificativa de
unificar a regiã o e criar um só país. Os exércitos do Norte chegaram a ocupar até o extremo Sul da
península, sem muita resistência por parte da populaçã o, que, por sua vez, já estava insatisfeita com
a ocupaçã o militar estadunidense. Esse movimento levou à intervençã o direta dos Estados Unidos
no conflito, que durou três anos e causou mais de 3 milhõ es de mortes, e só foi suspenso com um
contato direto com as tropas chinesas, quando os norte-americanos avançaram até o Norte da
península. As agressõ es findaram em 1953, quando foi assinado um acordo de suspensã o de
agressã o bélica, que tecnicamente nã o significa o fim de uma guerra.

Por décadas, o Norte e o Sul ficaram sem assinar um acordo de paz. De todo modo, mesmo com as
tensõ es acumuladas, foram organizados dois Estados diferentes na península: a Coreia do Norte,
socialista (com a capital Pyongyang), e a Coreia do Sul, capitalista (com a capital Seul). Ambos
estabeleceram uma estreita faixa de terra desmilitarizada entre si, sendo que do lado capitalista, o
exército dos Estados Unidos manteve nas décadas seguintes vá rias unidades de prontidã o.

Contudo, nos anos seguintes, os dois Estados organizaram os seus territó rios de modos distintos. A
Coreia do Sul, apesar de capitalista, fez uma intensa reforma agrá ria com a qual eliminou dois
problemas de uma só vez: a miséria no campo e o acú mulo de problemas sociais nos centros
urbanos. O Estado investiu pesadamente na educaçã o e na formaçã o profissional, além de também
ter tomado um importante papel na formaçã o de um parque industrial com vá rias grandes
empresas de capital coreano que conjuntamente formaram conglomerados (denominados
chaebols), instalados em quatro regiõ es industriais densamente povoadas (das quais as mais
importantes sã o centralizadas nas cidades de Seul e Pusan). Os chaebols se especializariam em
vá rios ramos da transformaçã o industrial: eletrô nico, construçã o naval, ferroviá rio, automotivo.

Em decorrência dessa intensa industrializaçã o, a populaçã o urbana alcançou 80% do total em um


país que passou por fortes transformaçõ es: em poucas décadas deixou de ser uma economia pobre
e rural e passou a ter a condiçã o de potência industrializada. Com a globalizaçã o neoliberal, o
capital sul-coreano expandiu-se e o país também recebeu investimentos do Japã o, consolidando- -o
como um dos países emergentes da Á sia, apesar de também ter sido afetado pelas crises financeiras
globais da década de 1990.

A Coreia do Norte foi conduzida, desde a Guerra Fria até hoje, por um dos mais fechados e obscuros
regimes socialistas do planeta, sendo o ú nico caso compará vel o do extinto regime socialista da
Albâ nia. Kim Il-Sung, fundador do Partido Comunista Coreano, foi, por décadas, o líder da Repú blica
Comunista da Coreia do Norte e durante todo esse tempo, o país nã o teve o mesmo progresso
econô mico e social verificado no vizinho do Sul, apesar de também feito uma ampla reforma
agrá ria. Mesmo com uma populaçã o rural significativa (40% do total), a Coreia do Norte tem uma
produçã o agrícola insuficiente e, com frequência, tem necessitado de ajuda internacional, inclusive
por parte dos Estados Unidos, para alimentar a sua populaçã o. O país investiu pesadamente em
recursos militares e no desenvolvimento de tecnologias nucleares (pesquisa, geraçã o de energia e
bombas).

O fim do bloco socialista trouxe mais consequências negativas para o país, devido ao fim do
relacionamento direto e do apoio da Uniã o Soviética e da China (esta se aproximaria cada vez mais
da Coreia do Sul). Com a morte de Kim Il-Sung em 1994, o poder foi transferido para seu filho, Kim
Jong-Il, que nã o trouxe grandes transformaçõ es para a administraçã o interna. No plano externo,
Kim Jong-Il fez gestos de aproximaçã o com os Estados Unidos, mas, ao mesmo tempo, usou os
recursos nucleares e a questã o da fome como componentes de uma relaçã o de barganha. Em vá rias
ocasiõ es o líder do país pedia ajuda internacional ao mesmo tempo que ameaçava efetuar testes
com ogivas nucleares.

Só a partir do ano 2000 as duas Coreias passaram a se relacionar diplomaticamente, possibilitando


que, depois de tantos anos, algumas famílias separadas pudessem se encontrar. Contudo, em 2006,
a Coreia do Norte tomou uma decisã o que estremeceria as suas relaçõ es com o restante do globo:
realizar o primeiro teste de bomba atô mica, o que elevou muito as tensõ es entre as Coreias.

Pá gina 110

Mundimagem

Fonte: GRESH, A. Atlas da globalização. Le monde diplomatique. 2. ed. Lisboa: Campo da Comunicaçã o, 2003.
Desde entã o, as tensõ es jamais abandonaram a fronteira. Em 2010, o ataque e o afundamento da
corveta Cheonan da marinha sul-coreana foi atribuído à Coreia do Norte e as tensõ es na regiã o
voltaram a aumentar sensivelmente. Essa é a situaçã o atual: um clima de tensã o permanente na
fronteira entre os dois países, com conflitos ocasionais.

Leia o quadro Saiba Mais para entender os investimentos da Coreia do Norte em armamentos
nucleares.

SAIBA MAIS

Como a Coreia do Norte paga por seu sofisticado programa militar?

Exportação e investimento

Em primeiro lugar, sã o necessá rias divisas internacionais. Muitos estã o de acordo que a Coreia do
Norte fez importantes aquisiçõ es de tecnologia no exterior, em certos casos com fins militares.

E, apesar de ser um dos ú ltimos países do mundo a manter uma economia centralmente planificada,
ao modo stalinista, Pyongyang ainda consegue desenvolver um setor exportador.

Em sua pá gina na internet, a CIA, a agência de inteligência americana, estima o tamanho da


economia norte-coreana em torno de US$ 40 bilhõ es (R$ 160 bilhõ es), similar ao PIB de Honduras
ou do Estado brasileiro de Goiá s.

As exportaçõ es da Coreia do Norte somam, por outro lado, US$ 3,834 bilhõ es (R$ 15 bilhõ es), o
equivalente à s vendas externas de Moçambique ou das do minú sculo Estado europeu de San
Marino, encravado na Itá lia.

Entre os produtos destinados ao exterior, estã o minério e itens manufaturados, entre eles
armamentos e artigos têxteis, além de produtos agrícolas e pesqueiros.

Mas como um país com uma economia de tamanho equipará vel à de alguns dos países mais pobres
da América Latina pode pagar por um programa nuclear?

Passando fome

A resposta parece estar na natureza autoritá ria e centralizada do governo, que destina os escassos
recursos do país a fins militares, nem que para isso seus cidadã os passem fome.

O PIB per capita da Coreia do Norte, ajustado pelo seu poder de compra, chega a US$ 1,8 mil (R$ 7,2
mil), fazendo com que o país asiá tico ocupe a 208ª posiçã o entre 230 naçõ es, nível compará vel ao
de Ruanda, na Á frica, ou do Haiti, na América Central.

Na década de 1990, o país enfrentou a ameaça de uma escassez generalizada de produtos


alimentícios bá sicos, e sua economia levou um longo tempo para recuperar-se do desastre.

Foi um processo tã o traumá tico que, até 2009, a Coreia do Norte recebeu uma substancial ajuda
alimentar da comunidade internacional.

Pá gina 111

Hoje, acredita-se que sua produçã o agrícola interna tenha melhorado.


Os clientes

E quem sã o os clientes dos produtos norte-coreanos?

O aliado político mais importante do país é a China, que compra 54% de sua produçã o. Em um
inesperado segundo lugar, vem a Argélia, que é o destino de 30% das vendas do país. E, para a
Coreia do Sul, vã o 16% de suas exportaçõ es.

Apesar de a Coreia do Norte e a naçã o vizinha viverem um dos conflitos militares mais longos de
que se tem notícia na histó ria, em curso desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois países vêm
fortalecendo os vínculos econô micos.

Alguns investimentos sul-coreanos se concentram em determinadas partes do país, oferecendo ao


governo norte-coreano outra valiosa fonte de divisas.

O nú cleo mais importante deles é o complexo industrial de Kaesong, que está diante de um futuro
incerto depois de o governo de Seul anunciar a suspensã o de sua participaçã o na iniciativa, devido
à s crescentes tensõ es políticas entre ambas as naçõ es por conta dos testes nucleares realizados
pela Coreia do Norte.

A Coreia do Sul diz nã o querer que os recursos gerados pela zona industrial sejam usados no
programa militar norte-coreano. E as sançõ es econô micas impostas por vá rios países, inclusive as
mais recentes aplicadas pelo Japã o, devem continuar debilitando a economia norte-coreana.

No entanto, enquanto o governo do líder norte-coreano, Kim Jong-un, seguir disposto a impor
sacrifícios substanciais a seus habitantes, pode-se esperar que a Coreia do Norte continue a
desenvolver seu poderio militar muito além do que seria possível esperar de uma naçã o com sua
frá gil condiçã o econô mica.

BBC Mundo. 14 fev. 2016. Disponível em: <www.bbc. com/portuguese/noticias/2016/02/160211_programa_


militar_coreia_do_norte_rb>. Acesso em: 17 mar. 2016.

ATIVIDADE

Coreia do Norte e armamento nuclear

Com base nos conhecimentos adquiridos, responda à s questõ es a seguir no caderno.

1. Em 12 de fevereiro de 2013, a Coreia do Norte realizou um teste nuclear como parte de medidas
para defender a segurança e a soberania do país. Este foi o primeiro teste realizado por Kim Jong-un
e os resultados foram considerados satisfató rios por ele. Os testes nucleares da Coreia do Norte sã o
condenados pela comunidade internacional. O entã o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
considerou-os “altamente provocativos” e disse que colocam em ameaça o equilíbrio regional.
Contudo, o líder da Coreia do Norte poderia ter alguma justificativa política para mobilizar o seu
país em um projeto nuclear? Realize uma pesquisa e analise as motivaçõ es norte-coreanas, bem
como os riscos embutidos nessa estratégia.

2. Por que mesmo com elevada populaçã o rural, a Coreia do Norte passa frequentemente por crises
de fome?

3. Organizem-se em grupos e façam um estudo a respeito de Cuba, Vietnã e Coreia do Norte.


Avaliem esses países a partir de uma aná lise física (clima, relevo, vegetaçã o), bem como de seus
aspectos humanos (econô micos, sociais e as relaçõ es internacionais). Depois, apresentem os
resultados para a classe.
A China, anexação e separatismo: Tibete e Taiwan

Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

Mesmo com sua notá vel dimensã o econô mica e espacial, a China ainda apresenta duas questõ es
territoriais nã o resolvidas: Tibete e Taiwan. Apesar de uma histó ria de mais de 2 300 anos, o Tibete
só conseguiu a sua independência política em 1912. Contudo, em 1950, o regime comunista da
China invadiu e anexou esse territó rio, que atualmente é considerado uma regiã o autô noma
chinesa.

Pá gina 112

Essa autonomia é apenas formal e mascara a intervençã o política, populacional e cultural do


governo chinês na regiã o, que por muitos anos foi o centro do lamaísmo, religiã o derivada do
budismo. Também conhecido como o “teto do mundo”, devido à presença da Cordilheira do
Himalaia, o Tibete nã o teve chances de obter a sua independência. O líder espiritual do lamaísmo, o
atual Dalai Lama (Tenzin Gyatso), vive no Norte da Índia, pró ximo à fronteira com o Tibete chinês.

Quais os interesses chineses na ocupaçã o do Tibete? Primeiro, há um interesse estratégico, uma vez
que esse país tem uma extensa fronteira com a Índia, país com o qual a China mantém uma disputa
em torno da regiã o da Caxemira. Em segundo lugar, mas nã o menos importante, no Tibete estã o
localizadas importantes nascentes de rios asiá ticos, como o Indo, Yang-Tsé, Brahmaputra, Mekong,
entre outros.

Além dessa importâ ncia hídrica, tanto para a produçã o de energia como para abastecimento,
irrigaçã o etc., o Tibete também é muito rico em diversos recursos minerais e hidrocarbonetos.
Allmaps

Fonte: National Geographic Society. Atlas National Geographic: Á sia II. v. 8. Sã o Paulo: Abril, 2008.

A despeito de todos os protestos, do exílio do seu líder espiritual e da violência da ocupaçã o


chinesa, o Tibete nã o somente permanece sob controle da China, mas tem vivenciado uma política
sistemá tica de transferência de populaçã o chinesa para a á rea. Os chineses transferidos pertencem
ao maior grupo étnico do país, os han, o que tende a aumentar o controle chinês sobre o Tibete,
especialmente considerando sua importâ ncia em termos de á gua, petró leo e recursos minerais.

Allmaps

Fonte: Intercontinental Cry. Disponível em: <https://intercontinentalcry.org/wp-content/uploads/Mineral- Deposits-of-the-


Tibetan-Plateau-Preliminary-map.jpg>. Acesso em: 15 abr. 2016.

Pá gina 113

Taiwan
Allmaps

Fonte: National Geographic Society. Atlas National Geographic: Á sia II. v. 8. Sã o Paulo: Abril, 2008.

Taiwan, formalmente conhecida por Repú blica da China, é um país insular, localizado a sudeste do
litoral da Repú blica Popular da China. O estabelecimento desse país ocorreu apó s o fim da Segunda
Guerra Mundial, quando o partido nacionalista Kuomintang perdeu a disputa contra o Partido
Comunista de Mao. Liderado por Chiang Kai-shek, o Kuomintang ocupou Taiwan, o que explica por
que, até hoje, a ilha nã o passou pela administraçã o comunista do continente.

Além do mais, a independência de Taiwan – também conhecida por Formosa – ainda nã o foi
reconhecida pela China, que a considera uma província rebelde. Os atritos diplomá ticos sã o
frequentes, nã o excluindo alguns casos de provocaçã o bélica. Em 2008, China e Taiwan assinaram
uma trégua diplomá tica e alguns acordos comerciais e econô micos.

Taiwan, apesar de pequena e insular, tem uma economia muito forte, com um PIB em torno de
631,2 bilhõ es de dó lares (em 2015) e seu crescimento econô mico está associado à política
estadunidense para a regiã o no período da Guerra Fria. Já na década de 1970, diversas empresas
estadunidenses e japonesas realizaram muitos investimentos na regiã o, a fim de conter a expansã o
do comunismo.

Embora Taiwan nã o possua reconhecimento diplomá tico formal – somente a China tem esse
reconhecimento e assento permanente no Conselho de Segurança da ONU –, diversos países
mantêm relaçõ es extraoficiais com a ilha. Além disso, suas relaçõ es com os Estados Unidos de certo
modo dificultam açõ es mais agressivas de anexaçã o por parte da China.

SAIBA MAIS

Taiwan, a ilha “rebelde” que segue desafiando o poderoso “dragão chinês”

[...] Em tempos mais recentes, a China propô s a Taiwan uma versã o da fó rmula utilizada com Hong
Kong, que apó s ser devolvida a Pequim pelo Reino Unido, em 1997, manteve-se autô noma de
Pequim em uma série de aspectos. A proposta foi recusada.

Pesquisas de opiniã o mostram que a maioria dos taiwaneses ainda parece estar mais feliz com a
soluçã o “em cima do muro”, em que nem a reunificaçã o e nem a independência formal vã o à frente.
Afinal, a China é hoje o principal destino das exportaçõ es da ilha (27%, o dobro do que vai para os
Estados Unidos, por exemplo).

Uma aproximaçã o econô mica acelerada desde 2008, quando Ying Jeou assumiu a presidência. Voos
entre os dois países foram restabelecidos e empresas de Taiwan hoje operam na China.
Mas a histó ria mostra que a paz entre o “dragã o chinês” e a “ilha rebelde” é um quebra-cabeças
complexo. E tenso.

BBC Brasil, 7 nov. 2015. Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151107_taiwan_desafia_


china_fd>. Acesso em: 17 mar. 2016.

Índia, China e Paquistão: a disputa pela Caxemira


No fim da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, diversos países asiá ticos conquistaram suas
independências, tal como Índia, China e Paquistã o. E, ainda hoje, subsiste uma regiã o em disputa
entre esses três países, a Caxemira.

O territó rio da Caxemira, situado entre a Índia, o Paquistã o e a China, era um Estado semiautô nomo,
governado por um marajá durante o colonialismo britâ nico. Em 1947, a Inglaterra desmantelou o
seu domínio sobre a regiã o, aceitando a autodeterminaçã o dos povos locais e a partir de entã o
surgiram como países independentes a Índia e o Paquistã o. A Caxemira ficou entre eles, numa
indecisã o política: deveria ser incorporada a um dos dois países, dividida, ou deveria ser criado um
Estado soberano? O Paquistã o argumentou que o princípio religioso deveria prevalecer e, neste
caso, a Caxemira, de maioria muçulmana, deveria ser incorporada a ele.

Pá gina 114

A Índia, governada por Jawaharlal Nehru, defendia a ideia de autonomia da Caxemira.

Allmaps
Fonte: CIRPES, Le Débat Straté gique, n. 70, nov. 2003; EHESS (www.ehess.fr/cirpes); ONU. Disponível em: <http://ceriscope.
sciences-po.fr/sites/default/files/10_Revendications_Cachemire-01.jpg>. Acesso em: 17 mar. 2016.

O conflito se transformou em guerra entre 1948 e 1949, quando as tropas paquistanesas


enfrentaram as indianas. A interferência das Naçõ es Unidas promoveu um cessar-fogo e criou uma
linha divisó ria entre as tropas, sendo que os dois países se comprometeram a nã o atravessá -la. A
Caxemira, desta forma, ficou dividida entre Índia, que ficou com dois terços do territó rio, e
Paquistã o, que ficou com um terço. O Paquistã o, porém, nã o desistiu de incorporar também a parte
indiana. A Índia, que possui uma populaçã o de maioria hinduísta, agrega também um nú mero
absoluto de muçulmanos maior que o pró prio Paquistã o, argumento utilizado para destacar que a
Caxemira nã o sofre discriminaçã o religiosa.

No ano de 1962, a China ocupou e anexou a á rea de Aksai Chin, da Caxemira, regiã o de extensã o do
Tibete. Índia e Paquistã o entraram em mais duas guerras, em 1965 e em 1971, sem que a disputa se
resolvesse. A Índia acusava o Paquistã o de financiar milícias armadas com o intuito de tomar a
Caxemira. Centenas de minas terrestres foram espalhadas na regiã o, causando a mutilaçã o de
muitos civis. Durante a Guerra Fria, os dois países adquiriram armas nucleares, que insistiram em
exibir por meio de testes. Há ainda a versã o de que os testes nucleares patrocinados pela Índia
procuravam também intimidar a China, país que crescia econô mica e militarmente, despontando
como uma possível liderança no continente.

Embora nã o seja um territó rio com riquezas expressivas, a Caxemira é uma á rea de passagem
estratégica.

Pá gina 115

Em 2007, foram realizadas eleiçõ es estaduais na Caxemira e as açõ es dos grupos rebeldes vinham
diminuindo à medida que Índia e Paquistã o faziam rodadas de negociaçã o pela paz na regiã o. No
entanto, em 2008, novos ataques de grupos islâ micos e repressã o indiana voltaram a ocorrer. Dessa
vez pela disputa de uma á rea de 40 hectares que vinha sendo inflamada por líderes separatistas da
Caxemira muçulmana e por nacionalistas indianos.

Há décadas, essa á rea de 40 hectares no vale da Caxemira era utilizada como rota por peregrinos
indianos em direçã o ao santuá rio de Armanath, no Himalaia. Em maio de 2008, as autoridades
indianas da Caxemira autorizaram o grupo que dirige o local a construir estruturas pré-fabricadas
para os peregrinos, o que enfureceu a populaçã o muçulmana, que acusou o governo de promover
uma reengenharia demográ fica na regiã o, ao estilo da perpetrada por Israel na Palestina. Devido à s
reaçõ es, o governo hindu rescindiu a ordem, o que por sua vez, enfureceu a populaçã o hindu na
regiã o.

Assim, começaram os conflitos, que resultaram em mais de 60 mortes e no acirramento da tensã o


entre as populaçõ es locais. Os tumultos na regiã o se acentuaram apó s a renú ncia do presidente
paquistanês Pervez Musharraf, que havia tentado abrandar os conflitos na regiã o e estabelecer
negociaçõ es diplomá ticas com o governo indiano.

Em novembro de 2008, a cidade de Mumbai foi alvo de ataques terroristas que, de acordo com o
governo indiano, foram organizados e direcionados a estrangeiros e a hotéis de luxo (embora
tenham ocorrido ataques também a á reas pobres da cidade), e envolvendo sequestros em massa. O
ataque foi assumido pelo grupo terrorista Deccan Mujahedin, embora o governo indiano nã o tenha
descartado a influência do vizinho Paquistã o. O governo indiano acredita que os terroristas vieram
por mar, surpreendendo as autoridades locais. Calcula-se que nos ataques a hotéis e ao centro
judaico, onde foram mantidos centenas de reféns, morreram mais de 170 pessoas e houve mais de
250 feridos.

Em fevereiro de 2010, apó s 15 meses de tensã o, Índia e Paquistã o fizeram uma primeira reuniã o
formal para negociar a questã o da Caxemira em Nova Délhi, na Índia. No entanto, entre tentativas
de acordos de paz e sucessivos fracassos nas negociaçõ es, a situaçã o da Caxemira continua
indefinida e essa fronteira segue como foco de tensã o, com o agravante de que ambos os países
possuem armas nucleares.

Allmaps

Fonte: Terra Educaçã o. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/armas-nucleares>. Acesso em:


17 mar. 2016.

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QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (Enem, 2012) Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra, movimentos como o Maio de 1968 ou a
campanha contra a Guerra do Vietnã culminaram no estabelecimento de diferentes formas de participação
política. Seus slogans, tais como “Quando penso em revoluçã o quero fazer amor”, se tomaram símbolos da
agitaçã o cultural nos anos 1960, cuja inovaçã o relacionava-se

Enem/Divulgaçã o
Texto do Cartaz: “Amor e nã o guerra”. Foto de jovens em protesto contra a Guerra do Vietnã . Disponível em: <http://
godenyears66to69.blogspot.com>. Acesso em: 10 out. 2011.

a) à contestaçã o da crise econô mica europeia, que fora provocada pela manutençã o das guerras coloniais.

b) à organizaçã o partidá ria da juventude comunista, visando o estabelecimento da ditadura do proletariado.

c) à unificação das noçõ es de libertaçã o social e libertaçã o individual, fornecendo um significado político ao
uso do corpo.

d) à defesa do amor cristã o e monogâ mico, com fins à reproduçã o, que era tomado como solução para os
conflitos sociais.

e) ao reconhecimento da cultura das geraçõ es passadas, que conviveram com a emergência do rock e outras
mudanças nos costumes.

2. (Enem, 2012)

Com sua entrada no universo dos gibis, o Capitã o chegaria para apaziguar a agonia, o autoritarismo militar e
combater a tirania. Claro que, em tempos de guerra, um gibi de um heró i com uma bandeira americana no
peito aplicando um sopapo no Fü rer só poderia ganhar destaque, e o sucesso nã o demoraria muito a chegar.

COSTA, C. Capitão América, o primeiro vingador: crítica. Disponível em: <www.revistastartcom.br>. Acesso em: 27 jan. 2012.
Adaptado.

Marvel Comics/AP Photo/Glow Images

Disponível em: <http://quadro-aquadro.blog.br>. Acesso em: 27 jan. 2012.

A capa da primeira ediçã o norte-americana da revista do Capitã o América demonstra sua associaçã o com a
participação dos Estados Unidos na luta contra

a) a Tríplice Aliança, na Primeira Guerra Mundial.

b) os regimes totalitá rios, na Segunda Guerra Mundial.

c) o poder soviético, durante a Guerra Fria.

d) o movimento comunista, na Guerra do Vietnã .

e) o terrorismo internacional, apó s 11 de setembro de 2001.

3. (Unesp, 2014)

Coreia do Norte anuncia “estado de guerra” com a Coreia do Sul


A Coreia do Norte anunciou nesta sexta-feira [29 mar. 2013] o “estado de guerra” com a Coreia do Sul e que
negociará qualquer questã o entre os dois países sob esta base. “A partir de agora, as relaçõ es intercoreanas
estã o em estado de guerra e todas as questõ es entre as duas Coreias serã o tratadas sob o protocolo de guerra”,
declara um comunicado atribuído a todos os ó rgã os do governo norte-coreano.

Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ afp/2013/03/29/coreia-do-norte-anuncia-estado-de-


guerracom-sul.htm>. Acesso em: 12/04/2016.

A tensã o observada entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul está associada a

a) divergências políticas e comerciais, sendo que sua origem se deu apó s a emergência da Nova Ordem
Mundial.

b) divergências comerciais e econô micas, sendo que sua origem remete ao período da Guerra Fria.

c) divergências políticas e ideoló gicas, sendo que sua origem se deu apó s a emergência da Nova Ordem
Mundial.

d) divergências políticas e ideoló gicas, sendo que sua origem remete ao período da Guerra Fria.

e) um incidente diplomá tico ocasional, que nã o corresponde à grande tradiçã o pacifista existente entre as
Coreias.

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4. (PUC-RJ, 2014)

Carlos Latuff/Operamundi

Disponível em: <http:// latuffcartoons.wordpress.com/ page/16/>. Acesso em: 25 jul. 2013.

A charge representa uma tensã o geopolítica presente no mundo desde o período da Guerra Fria e que atinge
significativamente a Bacia do Pacífico. Tal tensã o recrudesceu devido à :

a) realizaçã o de uma guerra regional entre os EUA e a Coreia do Norte, nos anos de 1980, pelo controle da
Coreia do Sul.

b) desobediência do líder norte-coreano Kim Jong-un frente à decisão da Otan de ratificar o fim da produçã o de
armas nucleares.

c) tentativa norte-coreana de ampliar o seu programa militar nuclear com o intuito de atacar os EUA e Japã o, e
reunificar a Península da Coreia.

d) intervençã o chinesa na guerra entre as duas Coreias, no ano 2000, o que reacendeu o desejo norte-
americano de reduzir o poder da China na Á sia.
e) retomada das tensõ es entre a Coreia do Norte e os EUA apó s a decisã o sul-coreana de se reunificar com o
norte socialista e ampliar o poderio chinês na regiã o.

5. (Unicamp, 2014) O cartaz abaixo foi usado pela propaganda soviética contra o capitalismo ocidental,
durante o período da Guerra Fria. O texto diz: “Duas infâ ncias. Na URSS (parte superior) crianças são apoiadas
pelo amor da naçã o! Nos países capitalistas (figura inferior), milhõ es de crianças vivem sem comida ou abrigo.”

Coleçã o particular

a) Como o cartaz descreve a sociedade capitalista ocidental?

b) Cite dois conflitos bélicos do período da Guerra Fria.

6. (UPF-RS, 2016) Depois de mais de meio século de ruptura em decorrência dos novos arranjos da Guerra
Fria, Cuba e Estados Unidos deram importante passo para o avanço das relaçõ es diplomá ticas entre os dois
países, com a reabertura das embaixadas nas suas capitais.

Analise as afirmativas que têm relaçã o com o acontecimento.

I. O rompimento das relaçõ es diplomá ticas entre Estados Unidos e Cuba ocorreu no contexto da Guerra Fria, a
partir da política nacionalista adotada por Fidel Castro e seus seguidores, que rendeu o desagrado dos Estados
Unidos e o apoio da Uniã o Soviética.

II. A reabertura das embaixadas entre Estados Unidos e Cuba significa o restabelecimento das relaçõ es
diplomá ticas entre os dois países.

III. O regime pró -soviético instalado em Cuba e a Crise dos Mísseis elevaram as tensõ es entre EUA e Cuba,
culminando com a expulsã o deste país da OEA e seu isolamento diplomá tico pelos países americanos.

IV. A reabertura das embaixadas e o restabelecimento diplomá tico entre Cuba e Estados Unidos provocaram,
no mesmo ato, a declaraçã o do fim do embargo econô mico contra a ilha caribenha e a desocupação de
Guantá namo.

É correto apenas o que se afirma em:

a) I, II e III.

b) I e II.

c) II e IV.

d) II, III e IV.

e) III e IV.
7. (Enem, 2009) Do ponto de vista geopolítico, a Guerra Fria dividiu a Europa em dois blocos. Essa divisã o
propiciou a formaçã o de alianças antagô nicas de cará ter militar, como a Otan, que aglutinava os países do
bloco ocidental, e o Pacto de Varsó via, que concentrava os do bloco oriental. É importante destacar que, na
formaçã o da Otan, estã o presentes, além dos países do oeste europeu, os EUA e o Canadá . Essa divisã o
histó rica atingiu igualmente os âmbitos político e econô mico que se refletia pela opçã o entre os modelos
capitalista e socialista.

Essa divisã o europeia ficou conhecida como

a) Cortina de Ferro.

b) Muro de Berlim.

c) Uniã o Europeia.

d) Convençã o de Ramsar.

e) Conferência de Estocolmo.

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A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e os anseios da
humanidade.

A fábula

comptine/iStockphoto.com/Getty Images

Um mundo de paz e prosperidade.

A perversidade

Paz mundial declinou nos últimos sete anos, revela estudo

Guerras, ataques de militantes e crimes reverteram avanços de 6 décadas. Brasil caiu para 91ª
posição em ranking global
A paz mundial deteriorou-se progressivamente ao longo dos ú ltimos sete anos com guerras,
ataques de militantes e crimes, revertendo avanços de seis décadas anteriores de melhoria gradual,
segundo um relató rio sobre a segurança mundial divulgado nesta quarta-feira (18 [jun. 2014]).

Conflitos no Iraque, Síria, Afeganistã o, Sudã o e Repú blica Centro-Africana ajudaram a puxar para
baixo o anual Índice Global da Paz, de acordo com pesquisa do Instituto para Economia e a Paz
(IEP), com sede na Austrá lia.

Um nú mero cada vez maior de pessoas morreu em ataques de militantes em todo o Oriente Médio,
sul da Á sia e Á frica, enquanto as taxas de homicídio subiram em centros urbanos em crescimento
no mundo emergente. Também um nú mero maior de pessoas se tornaram refugiadas ao escapar de
conflitos, conforme informaçõ es da agência Reuters.

O Brasil, que aparecia em 81º no relató rio de 2013, ficou em 91º na ediçã o apresentada nesta
quarta. Com isso, fica atrá s de países como Togo, Gabã o, Bolívia e Paraguai. Por outro lado, situa-se
à frente de naçõ es como Estados Unidos e China.

Os índices de criminalidade e de conflito nas regiõ es mais desenvolvidas, especialmente na Europa,


caíram de modo geral, segundo o relató rio.

A deterioraçã o da segurança no mundo foi a mais significativa em 60 anos, disse o IEP. As


estimativas sobre como teria sido o indicador antes de seu lançamento, em 2007, mostravam a paz
mundial melhorando mais ou menos continuamente desde o fim da Segunda Guerra Mundial. [...]

Ao longo dos ú ltimos sete anos, segundo o IEP, o indicador de paz para todos os países do mundo
juntos passou de 1,96 para 2,06, indicando um mundo menos pacífico.

Quando esse valor foi ajustado para levar em conta as diferentes populaçõ es em cada país, a
deterioraçã o foi ainda mais acentuada, de 1,96 para 2,20.

G1, 18 jun. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/06/paz-mundial-declinou-nosultimos-


sete-anos-revela-estudo.html> Acesso em: 19 mar. 2016.

* SANTOS, M., 2000.

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A possibilidade

Assim nasceu minha consciência

“Me chamo Rigoberta Menchú e assim nasceu minha consciência.” Foi a frase com que esta indígena
guatemalteca intitulou a histó ria de sua vida. Uma histó ria que comoveu o mundo e deu início a
uma açã o social e política que converteu esta mulher no espírito vivo dos povos indígenas latino-
americanos.

Sua voz vem da exclusã o e conta uma dramá tica histó ria de opressã o e de confrontos em que
caíram cinco de seus familiares mais pró ximos.

É a histó ria secreta de 40 anos de violência rural na Guatemala, desde os tempos em que o exército,
fiel à s empresas produtoras de bananas dos Estados Unidos, tomou o governo esquerdista de
[Jacobo] Á rbenz [Guzmá n] e instalou um regime militar repressor, aberto em alguns momentos e
disfarçado de democracia em outros.
Foram 32 anos durante os quais a repressã o foi responsá vel por aproximadamente 150 mil vítimas,
a maioria camponeses. Até hoje, nada foi esclarecido na Guatemala e as nacionalidades indígenas
continuam denunciando perseguiçõ es e, com seu prêmio Nobel, Rigoberta Menchú deu maior
visibilidade a essas denú ncias.

Rigoberta Menchú Tum nasceu em Chimel, um povoado maia-quiché do interior, em San Miguel de
Uspantán, em 1959. Filha de camponeses, foi testemunha da morte por efeitos de pesticidas de um
irmã o; outro faleceu em decorrência de desnutriçã o e um terceiro, de 16 anos, caiu vítima de
soldados que desejavam despojar os indígenas de suas terras. Sua mã e foi violentada e torturada
pelos soldados até a morte.

Esses crimes, junto com a atuaçã o social de seu pai, Vicente Menchú , e de muitos vizinhos,
constituíram o primeiro motivo de construçã o de uma consciência social por parte de Rigoberta
Menchú .

Em 1980, seu pai morreu carbonizado na Embaixada da Espanha na Guatemala, durante uma
ofensiva policial perpetrada contra essa sede diplomá tica. Nesse mesmo ano, Rigoberta Menchú
comandou cerca de 80 mil manifestantes contra o regime e quase morreu em greve de fome.

Foi entã o que ela se comprometeu de vez com as lutas, denú ncias e reivindicaçõ es das populaçõ es
indígenas guatemaltecas, o que lhe rendeu inú meras ameaças, perseguiçõ es e finalmente o exílio
em 1981.

Em 1982, se converteu na primeira indígena a participar da formaçã o do Grupo de Trabalho sobre


Populaçõ es Indígenas na ONU e, em 1983, escreveu e publicou sua biografia. Em 1992, ano em que
se recordaram os 500 anos da presença espanhola na América, ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz
por seu trabalho em favor da justiça social e da reconciliaçã o entre os diferentes grupos indígenas
guatemaltecos.

Com o dinheiro do prêmio, Menchú criou uma fundaçã o, estabelecida no México, de apoio aos povos
indígenas do continente. Em 1993, retornou à Guatemala e, um ano mais tarde, foi estabelecido um
acordo de paz entre o governo e os rebeldes, uma paz, todavia, plena de interrogaçõ es.

MENCHÚ , R. Disponível em: <www.omegalfa.es/downloadfile.php?file=libros/asi-me-naciola-conciencia.pdf>. Acesso


em: 19 mar. 2016. (Traduçã o dos autores.)

Com base na leitura dos textos sobre o contexto político global pó s-Guerra Fria relacionado à paz, à
maior insegurança em termos globais e à s possibilidades de resistência, redija uma dissertaçã o de
aproximadamente 30 linhas analisando a conjuntura apresentada. Depois, elabore uma proposta de
intervençã o que possibilite maior visibilidade à s lutas e resistências em prol da paz.

Apresente seu texto e sua proposta em classe para os colegas.

Pá gina 120

5 Nacionalismos no século XXI


Conexão de conhecimentos
“Ideologia: eu quero uma pra viver”
Leia o fragmento da mú sica e as imagens a seguir e faça o que se pede.

Meu partido
É um coraçã o partido
E as ilusõ es estã o todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tã o barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do “Grand Monde” […]
Ideologia
Eu quero uma pra viver […]
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro

CAZUZA; FREJAT, R. Ideologia. CD: CAZUZA. O poeta não morreu. Rio de Janeiro: Som Livre, 2005.

Divulgaçã o

Capa do CD Ideologia, de Cazuza.

Carlos Latuff/Operamundi

Charge de Carlos Latuff.

1. Pesquise, analise e responda: o que é ideologia?

2. A partir da compreensã o do termo ideologia, levante hipó teses de ideologias presentes na cançã o
e nas imagens.
3. De acordo com as charges, explique qual a relaçã o entre nacionalismo e ideologia.

Joseph Farris/CartoonStock®

Charge de Joseph Farris.

Pá gina 121

MOVIMENTOS NACIONALISTAS E SEPARATISTAS


Para analisar alguns conflitos e movimentos separatistas na atualidade, sobretudo europeus,
precisamos compreender sua relaçã o com a retomada do nacionalismo em pleno século XXI.

Nacionalismo

Em seu sentido mais abrangente o termo Nacionalismo designa a ideologia nacional, a ideologia de
determinado grupo político, o Estado nacional, que se sobrepõ e à s ideologias dos partidos,
absorvendo-as em perspectiva. O Estado nacional gera o Nacionalismo, na medida em que suas
estruturas de poder, burocrá ticas e centralizadoras, possibilitam a evoluçã o do projeto político que
visa à fusã o de Estado e naçã o, isto é a unificaçã o, em seu territó rio, de língua, cultura e tradiçõ es.
Desde a Revoluçã o Francesa e principalmente no nosso século, antes na Europa, em seguida no
resto do mundo, a ideologia nacional experimentou tã o ampla difusã o, que chegou a se considerar
como a ú nica a poder fornecer critérios de legitimidade para a formaçã o de um Estado
independente no sentido moderno; ao mesmo tempo, afirma que um mundo onde haja ordem e paz
poderá ter, como fundamento, unicamente uma organizaçã o internacional formada por naçõ es
soberanas.

Porém, juntamente com esta significaçã o, outra existe, mais restrita, que evidencia uma
radicalizaçã o das ideias de unidade e independência da naçã o e é aplicada a um movimento político,
o movimento nacionalista, que se julga o ú nico e fiel intérprete do princípio nacional e o defensor
exclusivo dos interesses nacionais.

LEVI, L. Nacionalismo. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (Orgs.). Dicionário de política. 5. ed. Brasília:
Editora da UnB, v. 2, 2000. p. 799.

Se, no decorrer da década de 1990 e início do século XXI, pudemos observar a predominâ ncia de
discursos e prá ticas que buscavam evidenciar a globalizaçã o em detrimento dos Estados nacionais
– por exemplo, discursos em torno de um “ú nico mundo”, ou formaçã o de blocos econô micos
regionais, considerados na época como uma superaçã o dos Estados nacionais –, atualmente o que
temos notado é uma retomada de conflitos e disputas que têm por mote a defesa da “naçã o” contra
interesses e ingerências estrangeiros, tendo como argumentos as diferenças étnicas, políticas e
religiosas.

Uma característica do agravamento do nacionalismo no século XXI, especialmente na Europa, é sua


articulaçã o com os partidos de extrema direita ou aqueles denominados como direita radical.

Laszlo Balogh/Reuters/Latinstock

A Hungria fechou a fronteira com a Sérvia para impedir a entrada de imigrantes e refugiados. Foto de 2016.

Robert Pratta/Reuters/Latinstock

Na Europa, nos ú ltimos anos, movimentos de extrema direita ganharam força com discursos xenó fobos. Jean Marie Le
Pen e sua filha Marine Le Pen são os principais representantes dessa corrente nacionalista na França. Foto de 2015.

Pá gina 122

SAIBA MAIS

A extrema direita na Europa: divergências, ressurgências e convergências

O termo extrema direita designa fenô menos muito heterogêneos, tais como o populismo, a
xenofobia, a crítica antissistêmica, o nacional- -populismo, o neonazismo, entre outros. Os partidos
e movimentos qualificados como de extrema direita sã o, desse modo, uma espécie de reencarnaçã o
histó rica de ideologias fascistas ou nacional-socialistas (nazistas). Além disso, alguns partidos de
extrema direita na Europa se afirmam como herdeiros dos regimes nacionalistas autoritá rios da
época da II Guerra Mundial, como, por exemplo, o partido neonazista Aube Dorée, na Grécia, o
Jobbik, na Hungria, o Ataka, na Bulgá ria, o Partido Nacional Democrá tico (NPD), na Alemanha, ou o
movimento neofascista italiano CasaPound, embora estejam longe de encarnar a maioria dos
partidos com o ró tulo de “extrema direita”. De fato, além do Aube Dorée e do Jobbik, eles ainda sã o
relativamente marginais no contexto europeu, particularmente no plano eleitoral. O campo da
extrema direita hoje na Europa é ocupado por partidos chamados de “direita radical”. […]

A principal diferença entre a extrema direita e a direita radical é que os partidos de direita radical
aceitam o jogo democrá tico parlamentar e admitem que a ascensã o ao poder é possível unicamente
por meio das eleiçõ es. Além disso, preferem a democracia direta à representativa.

Embora existam muitas diferenças ideoló gicas entre os partidos da direita radical, eles
compartilham três ideias comuns: a rejeiçã o à corrupçã o, a denú ncia da imigraçã o massiva para a
Europa (principalmente de povos islâ micos) e a crítica à Uniã o Europeia e suas instituiçõ es.

Alguns partidos da direita radical, como a FN [Frente Nacional], o FPÖ [Partido da Liberdade da
Á ustria] e a Liga do Norte [Itá lia] também criticam a globalizaçã o e advogam o retorno a um
capitalismo nacional capaz de proteger os menos afortunados. […]

Além disso, as suspeitas e denú ncias de corrupçã o das elites políticas têm favorecido o crescimento
dos partidos de extrema direita e da direita radical na Europa.

Outro aspecto comum a ambos os conjuntos de partidos é que todos baseiam seus discursos na
rejeiçã o da Uniã o Europeia em nome da soberania nacional, embora nã o haja consenso entre eles
em relaçã o a essa questã o. […]

Um argumento poderoso que também explica o crescimento desses partidos na Europa é o


problema da imigraçã o em massa para a regiã o, especialmente dos povos islâ micos.

A direita radical faz distinçã o entre os cidadã os europeus e os imigrantes e defende o limite de
direitos desses ú ltimos. Já os partidos da extrema direita racista e antissemita constroem um
discurso em torno do inimigo externo e interno, encarnado no Islã e em todas as pessoas de cultura
muçulmana. A imigraçã o é vista, pela extrema direita, como uma ameaça à Europa branca e cristã,
que eles desejam preservar.

VOY-GILLIS, A. L’extrême droite en Europe: divergences, résurgences et convergences. La revue Géopolitique.


Disponível em: <www.diploweb.com/L-extreme-droite-en-Europe.html>. Acesso em: 24 mar. 2016. (Traduçã o dos
autores.)

As denú ncias de corrupçã o, a construçã o de um discurso de ameaça relacionado à imigraçã o e aos


elevados níveis de desemprego – especialmente entre os jovens –, e os problemas que a Uniã o
Europeia tem enfrentado, como a crise econô mica em diversos países da Zona do Euro, ajudam a
compreender o crescimento desses partidos e, de certo modo, o recrudescimento dos
nacionalismos e separatismos no â mbito regional.

Muitas vezes, esses problemas agravam a aversã o aos estrangeiros nos países europeus, embora a
maioria dos trabalhos executados pelos imigrantes seja considerada “suja”, de baixa qualificaçã o e
de baixa remuneraçã o.

Aproveitando as incertezas econô micas, especialmente entre os jovens, diversos partidos políticos
de extrema direita têm crescido em vá rios países europeus, como Bélgica, Itá lia, França e Alemanha,
entre outros.

Observe o mapa e o quadro a seguir, que evidenciam essa relaçã o, embora ela nã o seja a ú nica
explicaçã o para esse processo.
Pá gina 123

Estú dio Pingado

(A representaçã o nã o segue as convençõ es cartográ ficas.)

Fonte: European Development Agency. Disponível em: <http://euda.eu/wp-content/uploads/2015/08/MAP.jpg>. Acesso


em: 24 mar. 2016.

Europa: principais movimentos de extrema direita e número


de deputados no Parlamento Europeu por partido (2014)
Partido pela Independência do Reino Unido (15)
Reino Unido
Partido Nacional Britâ nico (2)
Países Baixos Partido da Liberdade (4)
Bélgica Interesse Flamengo (1)
França Frente Nacional (3)
Suécia Democratas da Suécia (0)
Dinamarca Partido Popular da Dinamarca (1)
Áustria Partido da Liberdade da Á ustria (2)
Itália Liga do Norte (9)
Finlândia Verdadeiros Finlandeses (1)
Eslováquia Partido Nacional Eslovaco (1)
Hungria Direita Popular (3)
Romênia Partido da Grande Romênia (3)
Bulgária Frente da Uniã o Nacional (2)
Grécia Laos (2) Aurora Dourada (0)

Fonte: Le Parisien. Disponível em: <www.leparisien.fr/elections-europeennes/les-populistes-veulent-un-groupe-au-


parlementeuropeen-11-05-2014-3832039.php>. Acesso em: 3 abr. 2016.

Pá gina 124
Com base no mapa e no quadro anteriores, é possível identificar os principais partidos de direita
radical e/ ou extrema direita e seu crescimento nas eleiçõ es europeias mais recentes.

Embora os partidos de extrema direita ou de direita radical ainda nã o sejam maioria nos países
europeus, seu crescimento denota a insatisfaçã o de parte da populaçã o com a imigraçã o, os índices
de desemprego, e mesmo com a Uniã o Europeia.

Allmaps

*Dados coletados em 2014. Fonte: Le Monde Diplomatique. Disponível em: <www.monde-


diplomatique.fr/cartes/extremedroiteeurope>. Acesso em: 4 abr. 2016.

SAIBA MAIS

Razões da intolerância na Europa integrada

Uma pesquisa realizada por Ana Paula Tostes, professora de Michigan State University, nos Estados
Unidos, mapeou o crescimento de votos em partidos da nova extrema direita em eleiçõ es nacionais
em países membros da Uniã o Europeia. A tese da pesquisa é a de que consequências da política
regional refletem na preferência do eleitor em eleiçõ es nacionais. Os votos nesses partidos na
Europa ocidental estã o fortemente associados ao fato de que esses partidos possuem uma agenda
nacionalista forte, um posicionamento de resistência à expansã o de direitos a imigrantes, à
flexibilizaçã o de fronteiras e perda de soberania.
Pá gina 125

Sendo assim, a pesquisadora argumenta que o “voto intolerante” em partidos políticos que
suportam agendas nã o pluralistas nã o pode ser explicado apenas por motivaçõ es de política
doméstica, como tem sido feito. A Uniã o Europeia e sua política de abertura de fronteiras e
extensã o de cidadania comum incomoda o eleitor da nova extrema direita, inclusive quando ele
vota em eleiçõ es locais. A nova ideologia de extrema direita, que representa uma nova defesa de
ideias autoritá rias e de mudança de regras pluralistas e democrá ticas, tem procurado ganhar
espaço e poder político dentro das pró prias vias que a democracia oferece: pela representaçã o.
Enquanto a tradicional extrema direita está relacionada ao fascismo, a nova extrema direita
representa uma nova clivagem política, fruto da “sociedade pó s-industrial”. […]

TOSTES, A. P. Razõ es da intolerâ ncia na Europa integrada. Dados, v. 52, n. 2, 2009. p. 335-376. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S0011-52582009000200003>. Acesso em: 7 maio 2016.

ATIVIDADE

O nacionalismo e os movimentos de direita na Europa

Observe as charges a seguir. Com base na leitura dos textos anteriores sobre nacionalismo e o
crescimento da extrema direita e da direita radical na Europa, elabore um texto de
aproximadamente 20 linhas, relacionando as charges entre si e com o contexto europeu
apresentado.

Depois, discuta o tema com os colegas.

Charge 1

Autoria desconhecida/www.bardosorbisterrarum.wordpress.com

Meme da internet em que se lê: “Mantenha a calma e seja fascista”.

Charge 2
Alfredo Martirena/CartoonStock®

Charge de Alfredo Martirena que trata da imigraçã o na Europa.

Charge 3

Peter Schrank/Acervo do Cartunista

Charge de Peter Schrank em referência à s pessoas que morrem tentando chegar à Europa.

Pá gina 126

O NACIONALISMO COMO ARGUMENTO PARA OS


SEPARATISMOS
Como vimos na definiçã o de nacionalismo, muitas vezes sã o utilizados argumentos de ordem étnica,
religiosa, histó rica, política, econô mica, geográ fica e/ou cultural para justificar tanto o separatismo
como a luta pela manutençã o e controle de determinados territó rios. Sã o argumentos que
geralmente têm um forte apelo emocional, e que utilizam diversas características temporal e
espacialmente produzidas para justificar um movimento, uma luta, um plebiscito etc. – seja
separatista ou unionista.

Além disso, os movimentos nacionalistas sã o pró digos no uso de slogans, campanhas, símbolos e
ritos capazes de emocionar e atrair multidõ es rapidamente, a despeito da fraqueza argumentativa
real.

Ou seja, embora os argumentos reais em favor de um separatismo, por exemplo, sejam


efetivamente muito fracos, o potencial ritualístico e simbó lico atrelado aos nacionalismos é capaz
de mobilizar milhares de pessoas rapidamente em favor da causa. Ademais, é preciso considerar
um fator que, geralmente, fica encoberto nos discursos: os interesses econô micos que se atrelam a
diversas propostas de secessã o – ou balcanizaçã o.

ATIVIDADE

A onda
Assistam ao filme A onda (Alemanha, 2008, 108 min. Classificaçã o: 16 anos), de Dennis Gansel, que
conta a histó ria de um movimento fascista que se propaga por uma cidade, a partir de uma
atividade escolar elaborada por um professor.

Em seguida, discutam como os argumentos nacionalistas podem ser utilizados para atender aos
interesses de um pequeno grupo sobre a maioria.

Observe no mapa a seguir as reivindicaçõ es separatistas na Europa e no Cá ucaso, atualmente,


algumas das quais serã o analisadas mais adiante.

Allmaps

Fonte: The Guardian. Disponível em: <www.theguardian.com/world/2015/sep/25/cataloniavotes-democracy-election-


independence-spain>. Acesso em: 3 abr. 2016.

Pá gina 127

OS SEPARATISMOS BASCO E CATALÃO NA ESPANHA

Allmaps
Fonte: Britannica Escola. Disponível em: <http://escola.britannica.com.br/assembly/135619/null>. Acesso em: 3 maio
2016.

Conforme se observa no mapa, o País Basco localiza-se entre Espanha e França, ou seja, o territó rio
basco é hoje dividido entre dois Estados nacionais independentes.

Os bascos sã o considerados o grupo étnico-cultural sobrevivente mais antigo da Europa. Sua


origem é desconhecida, mas suspeita-se que eles tenham se estabelecido na península Ibérica em
2000 a.C. e resistiram a diversas invasõ es, entre elas a romana, mantendo sua língua com base na
tradiçã o oral. A língua escrita só surgiu mais tarde e nã o possui semelhança com outras línguas
europeias. E com a conformaçã o dos Estados europeus, os bascos ficaram divididos entre a Espanha
e a França.

Allmaps

Fonte: FERREIRA, G. M. L. Atlas Geográfico: espaço mundial. 4. ed. Sã o Paulo: Moderna, 2013.

A reivindicaçã o desse povo, hoje, junto ao governo espanhol, é a sua autodeterminaçã o para formar
uma Repú blica Basca. O nacionalismo basco intensificou-se durante a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939) quando os bascos uniram-se aos republicanos, socialistas e anarquistas. Como forma
de repressã o a este movimento, a cidade basca de Guernica foi bombardeada por aviõ es da
Alemanha nazista, em 1937, em apoio ao general Francisco Franco, deixando um saldo de cerca de
mil mortos. Esse episó dio histó rico ficou marcado na famosa tela do artista Pablo Picasso, que levou
o nome da cidade.

Pá gina 128

Durante a ditadura franquista na Espanha (1939-1975), Franco ordenou, ainda, a proibiçã o do uso
da língua e dos costumes bascos. Foi nesse cená rio que surgiu o grupo terrorista basco ETA
(Euskadi Ta Askatasuna – Pá tria Basca e Liberdade), em 1959, que empreendeu a luta armada na
década de 1960, com amplo apoio popular. Esse grupo tinha por objetivo defender a língua e as
tradiçõ es culturais.

Com o fim da ditadura franquista e o início do processo de redemocratizaçã o do país, uma nova
constituiçã o foi aprovada, criando o Estatuto da Autonomia, que concedia mais direitos aos bascos,
como ter um parlamento pró prio, polícia, educaçã o e coleta de seus impostos, mas nã o a soberania.
O ETA rejeitou o estatuto e se manteve na luta armada terrorista e, com isso, perdeu muitos
adeptos. Desde entã o, as atuaçõ es do grupo se intensificam ou sã o suspensas de acordo com a
tendência do partido que chega ao poder na Espanha e sua disposiçã o de manter os diá logos.

No ano de 2007, ocorreu uma intensa manifestaçã o no norte da Espanha devido à s propostas de
criaçã o do Estado Basco no início do século XXI. Foi a primeira vez que os grupos pró e contra a
criaçã o do Estado se defrontaram publicamente depois de diversas semanas de protestos contra o
ETA e o governo socialista espanhol.

Em 2011, a imprensa internacional noticiou que o ETA estava propondo uma trégua geral e
permanente depois de 51 anos de atividade. O grupo já havia prometido o cessar-fogo em outros
momentos, mas como a contrapartida oferecida pela Espanha nã o atendia aos interesses do País
Basco e as negociaçõ es nã o avançavam.

Embora tenha proposto e aceitado a trégua, o ETA recusou-se a entregar e depor as armas. Entã o,
em 2012, os partidos nacionalistas do País Basco venceram as eleiçõ es regionais na Espanha e, em
2013, foi criado um partido separatista, o Sortu (Nascer, em língua basca), cujo objetivo é obter a
liberdade plena e a autodeterminaçã o do País Basco.

ATIVIDADE

A favor ou contra o separatismo basco?

Em dupla, pesquisem, discutam e depois escrevam:

a) dois argumentos em defesa do separatismo basco;

b) duas razõ es em defesa da manutençã o da uniã o do territó rio espanhol.

Atualmente, tem ganhado relevo na Espanha a luta da Catalunha pela sua independência.

Dentre as razõ es apresentadas pelos separatistas, destacam-se as diferenças culturais e linguísticas.


Mas há também uma razã o econô mica, devido ao fato de a Catalunha possuir um dos maiores PIBs
dentre todas as regiõ es autô nomas espanholas. No entanto, a relevâ ncia econô mica da Catalunha,
bem como do País Basco, dá -se nã o só em termos de produçã o, PIB e comércio, mas também em
relaçã o à dívida pú blica.

Allmaps
Fonte: The Economist. Disponível em: <www.economist.com/news/briefing/ 21567085-stabilising-spains-finances-
without-tearing-its-social-fabric-apart-beingmade-harder>. Acesso em: 5 abr. 2016.

Pá gina 129

No mapa da pá gina anterior, pode ser observado que ambas as províncias estã o entre as mais ricas
da Espanha hoje. Com uma diferença entre elas: a Catalunha detém a maior dívida pú blica de todo o
país. Observe a seguir uma comparaçã o entre as economias espanhola e catalã.

Comparativo entre Espanha e Catalunha


Dados Espanha Catalunha
Populaçã o em milhõ es (2013) 46,5 7,4
Á rea (km2) 505 968 32 090
Taxa de desemprego (3º trimestre 2014) 23,67% 19,1%
PIB em bilhõ es de euros (2013) 1 022 192,5
PIB per capita em euros (2013) 22 279 26 666
Dívida pú blica – % do PIB (2013) 96,5% (1,012 trilhã o de 29,7% (57,15 bilhõ es de
euros) euros)
Exportaçõ es 16,342 4,049
Comércio em
Importaçõ es 19,114 4,996
bilhõ es (2013)
Balança comercial –2,77 –0,95

Fonte: Centre Press Aveyron. Disponível em: <http://images.centrepresseaveyron.fr/images/2014/11/10/carte-et-


graphiques-comparatifsde-quelques-indicateurs_905102_517x600p.jpg?v=1>. Acesso em: 26 mar. 2016.

Diante desses dados e devido à pressã o secessionista, a Catalunha tem obtido maiores ganhos do
governo central espanhol em termos de recebimento de investimentos regionais. E a despeito das
pressõ es separatistas em relaçã o à Espanha, os discursos desses grupos reafirmam o desejo de
pertencimento à Uniã o Europeia.

Apesar das disputas acirradas, a questã o do separatismo catalã o continua indefinida e ainda nã o há
consenso entre a populaçã o em relaçã o a isso, embora manifestaçõ es em prol do separatismo sejam
constantes na regiã o. Além disso, o movimento catalã o nã o tem nenhum braço armado.

SAIBA MAIS

A Catalunha ganhará 1,745 bilhão em 2015 a partir de novas medidas de financiamento


adotadas pelo Fundo de Liquidez Autônomo (FLA)

As comunidades autô nomas da Espanha irã o dispor de 5,745 bilhõ es de euros adicionais de
liquidez até 2015 em razã o das medidas adotadas pelo governo nos ú ltimos meses, dentre as quais
se destaca a reduçã o de 1% da taxa de juros sobre os empréstimos tomados junto ao FLA. A
Catalunha será a regiã o mais beneficiada por essas medidas.

ALMIRÓ N, V. R. de. Diario ABC. 15 set. 2014. Disponível em: <www.abc.es/economia/20140914/abci-liquidez-


extracomunidades-autonomas-201409141339.html>. Acesso em: 26 mar. 2016. (Traduçã o dos autores.)

O que significa a vitória dos separatistas nas eleições da Catalunha?

Partidos a favor da independência da Catalunha da Espanha conquistaram a maioria absoluta no


Parlamento regional, resultado que foi visto por separatistas como um mandato para seguir adiante
com planos de divisã o.

O cená rio, no entanto, é incerto, já que os independentistas nã o obtiveram mais de 50% dos votos, o
que indica que a maioria dos catalã es é contra a separaçã o.
Pá gina 130

A coalizã o separatista Junts pel Sí (Juntos pelo Sim), que havia prometido iniciar um processo que
levaria à independência da Catalunha em até 18 meses, conquistou 62 dos 135 assentos do
Parlamento. Para ter controle da Casa, precisava ter obtido 68 cadeiras.

Para o líder da coalizã o, Artur Mas, “os catalães votaram ‘sim’ à independência”.

Para obter a maioria e formar o governo regional, o Junts pel Sí teria de se aliar a outro grupo que
promove a independência, a formaçã o radical de esquerda Candidatura d’Unitat Popular
(Candidatura de Unidade Popular, CUP), que obteve 10 assentos. Uma aliança, no entanto, nã o
deverá ser fá cil: o CUP anunciou que nã o integraria um governo com o Junts pel Sí.

Somados, os votos dos separatistas chegam a 47,9% do total.

Os partidos contrá rios à separaçã o da Espanha dizem que a maioria dos eleitores rejeitam a
independência catalã .

A segunda maior força política no Parlamento local agora é o jovem partido de centro-direita
Ciutadans (Cidadã os), que obteve 25 assentos, o triplo do conquistado nas eleiçõ es regionais de
2012.

O partido, que se apresentará pela primeira vez nacionalmente nas eleiçõ es de dezembro,
conquistou votos de cidadã os descontentes com forças tradicionais, como o Partido Socialista da
Catalunha (PSC) e o conservador Partido Popular (PP). […]

O sentimento separatista aumentou durante a crise econô mica espanhola, que levou o desemprego
aos dois dígitos. Há temores crescentes que a articulaçã o territorial da Espanha possa afetar a
confiança dos mercados e a recuperaçã o do país.

BBC. Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150928_catalunha_independencia_hb>. Acesso


em: 26 mar. 2016.

OS SEPARATISMOS NO REINO UNIDO: IRLANDA DO NORTE E ESCÓCIA


Para melhor compreendermos o separatismo da Escó cia e Irlanda do Norte, precisamos entender
algumas divisõ es regionais.

O Reino Unido é formado pela Grã -Bretanha – a maior das ilhas britâ nicas – e abriga a Inglaterra, o
País de Gales, a Escó cia e a Irlanda do Norte – localizada na parte setentrional da segunda maior
ilha britâ nica, a Irlanda.

A formaçã o do Reino Unido teve início no século XII, a partir das tentativas inglesas de
incorporaçã o da ilha da Irlanda. Apesar da resistência irlandesa, a ilha foi incorporada pela
Inglaterra em 1801. Mesmo assim, a luta dos irlandeses prosseguiu, até que, em 1921, a Irlanda do
Sul (Eire) conseguiu sua independência, sendo que a Inglaterra manteve o controle sobre a Irlanda
do Norte (Ulster). E no final do século XIII, a Inglaterra incorporou o País de Gales.

Embora a Escó cia tenha resistido muito, foi incorporada pela Inglaterra no século XVII, e, no início
do século XVIII, os dois parlamentos foram unificados.

Entã o, a Inglaterra passou a controlar toda a Grã -Bretanha, mais parte da Irlanda.
Assim, a organizaçã o política do Reino Unido se caracteriza por relativa autonomia dos países-
membros e que atuam como adjuntos no parlamento inglês. Em 1999, por acordo, foram criados o
parlamento escocês e a assembleia do País de Gales.

Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

Pá gina 131

O movimento separatista da Irlanda do Norte


O conflito da Irlanda do Norte teve sua origem no expansionismo da monarquia inglesa sobre a
Irlanda, no século XII. Nesse período ainda nã o existia o protestantismo, por isso, o conflito nã o
pode ser considerado de natureza religiosa.

Durante vá rios reinados ingleses, a Irlanda permaneceu subjugada politicamente à Inglaterra. A


diferença religiosa só apareceu no século XVI, quando surgiu a igreja anglicana na Inglaterra, por
criaçã o do pró prio rei, dentro do contexto da Reforma Protestante. Como os ingleses aderiram à
nova religiã o, os irlandeses assumiam-se cató licos como forma de diferenciaçã o. Daí o fato de se
pensar que o conflito tem origem religiosa.

Durante o século XVII, os irlandeses se rebelaram diversas vezes contra os ingleses, foram
massacrados pelas tropas britâ nicas e suas terras foram tomadas, deixando-os na miséria.

Por influência da Revoluçã o Francesa, de 1789, que depô s a monarquia naquele país, surgiu na
Irlanda uma sociedade secreta denominada Irlandeses Unidos, que protagonizou uma revoluçã o
contra o domínio inglês. Mas foi somente no século XIX que os irlandeses conquistaram o direito de
ocupar cargos pú blicos dentro do Parlamento Britâ nico. Surgiu entã o, no início do século XX, um
grupo nacionalista que logo se tornaria um partido irlandês no Parlamento Britâ nico, denominado
Sinn Fein (Nó s Sozinhos). O fortalecimento do nacionalismo irlandês deu origem também a um
grupo guerrilheiro em 1919, o Exército Republicano Irlandês (IRA), que passou a lutar pela
independência da Irlanda. Esse processo se deu por etapas:
• em 1921 foi assinado um tratado pelo qual a Irlanda, com exceçã o das províncias do norte, onde
predominavam os proprietá rios de terras ingleses, tornou-se um Estado independente, porém
considerado ainda como domínio da Coroa Inglesa, integrado ao Commonwealth;

• a partir da Constituiçã o de 1937, a Irlanda obteve a independência e passou a denominar-se Eire;

• em 1949, a independência do Eire foi reconhecida pelo governo britânico mediante a separaçã o
do Ulster (terras do norte), que passou a se denominar Irlanda do Norte, permanecendo sob
domínio britâ nico. Os irlandeses cató licos representavam a minoria naquele territó rio.

Além disso, a tã o almejada independência dos irlandeses chegou com a condiçã o de se dividir a
Irlanda em duas.

Na década de 1960, os atentados do IRA se concentraram no setor protestante da capital da Irlanda


do Norte, Belfast, e também em Londres. Belfast também foi alvo das ofensivas dos grupos
paramilitares protestantes contra os cató licos, tornando-a um local extremamente perigoso.

Commonwealth A Comunidade das Naçõ es é uma associação voluntá ria de países formada pelo Reino Unido,
algumas de suas antigas colô nias e países como Moçambique e Ruanda, ex-colô nias de Portugal e Bélgica,
respectivamente.

Estú dio Pingado

Fonte: Slugger O’Toole. Disponível em: <http://sluggerotoole.com/ wp-content/uploads/2012/12/NI-Census-2011-


religion-KS211NI. png>. Acesso em: 26 mar. 2016.

Durante os governos de Margaret Thatcher e de John Major no Reino Unido, o IRA intensificou suas
açõ es. Mas, em 1997, com a vitó ria eleitoral de Tony Blair e a promessa de mais diá logo, a histó ria
tomou outro rumo.

Em 1998, um acordo histó rico foi assinado entre o governo britânico e os representantes irlandeses
cató licos e protestantes, que dava mais autonomia para a Irlanda do Norte nas á reas econô mica e
política, mas nã o a soberania. O Acordo de Belfast, também conhecido como Acordo de Sexta-feira
Santa – referendado pela populaçã o – de certo modo apaziguou os â nimos e os ataques do IRA, que
em troca cessaria os atentados e deporia as armas. O acordo foi intermediado pelo Sinn Fein e
aceito pelo IRA, e as identidades dos seus membros foram mantidas em segredo.

Pá gina 132

No ano de 2001, o acordo foi ratificado depois de novas negociaçõ es. E muitos pontos estabelecidos
no acordo foram alcançados, como o desarmamento do IRA; a diminuiçã o da violência; a garantia
de direitos civis e igualdade entre a populaçã o e a participaçã o de irlandeses e britâ nicos no
parlamento da Irlanda do Norte.
ATIVIDADE

Nacionalismo, religião e o separatismo

Discuta, em grupo, o nacionalismo separatista e as questõ es religiosas presentes nos conflitos da


Irlanda do Norte.

Em seguida, considerando este contexto, elabore um texto de aproximadamente 15 linhas


descrevendo a importâ ncia de cada um desses aspectos.

O plebiscito pela secessão escocesa


Embora a Escó cia também tenha resistido muito, sua anexaçã o se consolidou a partir do século
XVIII e o país passou a fazer parte do Reino Unido.

Allmaps

A área destacada em roxo corresponde à porçã o da plataforma continental do Reino Unido, cujo controle é
reivindicado pelo governo escocês.

Fonte: BBC. Disponível em: <www.bbc.com/news/uk-scotlandscotland-politics-20042070>. Acesso em: 26 mar. 2016.

Em 2012, a Escó cia e a Inglaterra assinaram o Acordo de Edimburgo, que previa um plebiscito em
2014 sobre a separaçã o da Escó cia do Reino Unido.

O discurso separatista tinha como argumentos, principalmente, o controle sobre o petró leo no mar
do Norte, além de uma ancoragem no nacionalismo escocês. Já os contrá rios ao separatismo
apontavam que a separaçã o prejudicaria muito a Escó cia, uma vez que seria necessá rio criar um
Banco Central, constituir suas pró prias forças armadas e criar uma moeda pró pria; além disso,
perderiam assentos importantes, tanto no â mbito da Uniã o Europeia, como da Otan.

Na tentativa de frear o movimento, o governo britânico ofereceu maior poder e maiores


investimentos econô micos na Escó cia. O resultado foi que no plebiscito, realizado em setembro de
2014, a maioria dos escoceses optou por permanecer vinculada ao Reino Unido, como pode ser
observado a seguir.

Estú dio Pingado

(A representaçã o nã o segue as convençõ es cartográ ficas.) Fonte: Le Figaro. Disponível em: <www.lefigaro.fr/
international/2014/09/19/01003-20140919ARTFIG00021- referendum-en-ecosse-le-non-en-passe-de-l-emporter.php>.
Acesso em: 3 maio 2016.

Pá gina 133

SAIBA MAIS

Europa: por que cresce o separatismo?

Há algumas semanas, o parlamento catalã o tornou ilegal a homofobia, impondo penas para crimes e
discursos de ó dio contra gays e lésbicas. Os Membros do Parlamento na Câ mara Regional
explodiram em aplausos – mas era mais que uma celebraçã o: o alvo do barulho eram os políticos
conservadores que governam Madri.

Esse foi o mais recente gesto de Barcelona contra o governo central da Espanha, mas nã o o maior.
Este virá no domingo de 9 de novembro, quando o governo da Catalunha pretende organizar uma
consulta a respeito da independência. Embora o Supremo Tribunal da Espanha tenha suspendido as
preparaçõ es para a votaçã o e o governo espanhol diga que ela é ilegal, os preparativos nã o oficiais
prosseguem em toda a Catalunha.

Assim como na Escó cia, agora se trata de mais do que nacionalismo: os movimentos de
independência de pequenos países estã o sendo alimentados pelo fracasso dos grandes Estados em
resolver a crise econô mica. Nos países onde as políticas nacionais estã o travadas por severos
consensos de austeridade – e onde os velhos partidos socialistas parecem sem rumo –, é racional
que a resistência corra pelas vias do separatismo e da autonomia.

Se você projetar uma visã o de 50 anos para o capitalismo, como a OCDE fez em julho, verá um
roteiro desastroso para os países desenvolvidos, mais ou menos assim: suas populaçõ es
envelhecem, colocando um peso imenso nos gastos pú blicos; a desigualdade cresce, levando a uma
erosã o na base tributá ria; enfim, eles vã o à falência, provavelmente encarando uma crise de
suprimento de energia no caminho. Aqueles que nã o quebram transformam-se em lugares feios,
pobres e intolerantes.

Existem duas estratégias que poderiam compensar isso, mas os países em crise vã o achá -las difíceis
de praticar. Primeiro, segundo a OCDE e muitos macroeconomistas imparciais, é necessá rio receber
uma imigraçã o massiva para rebalancear a populaçã o entre contribuintes e usuá rios dos serviços.
Depois, é necessá rio elevado crescimento na produtividade, o que provavelmente significa um
programa de inovaçã o dirigido pelo Estado, que idealmente resolveria a questã o da energia ao
longo do caminho.

Uma vez que os problemas de longo prazo do capitalismo estã o postos cruamente, a ló gica
econô mica para a separaçã o de pequenos países se torna mais clara. Nã o é apenas que os países
grandes sã o pesados, difíceis de manejar. Velhos países desenvolvidos como a Grã -Bretanha e a
Espanha têm elites políticas alinhadas com interesses econô micos que nã o favorecem a inovaçã o
financiada pelo Estado, alta imigraçã o ou energia sustentá vel.

Nesse contexto, se a populaçã o de um pequeno país dentro de uma entidade maior suspeita que vai
ser a perpétua perdedora em um período de cinquenta anos de austeridade, é ló gico para ela buscar
a independência. Tanto na Escó cia quanto na Catalunha, pude sentir a convicçã o de que, se o futuro
efetivamente envolve a recepçã o de imigraçã o, eles seriam mais felizes gerenciando isso em um
país pequeno com alta coesã o social do que em um grande que é uma bagunça.

MASON, P. Europa: por que cresce o separatismo? Revista Fórum. 3 nov. 2014. Disponível em:
<www.revistaforum.com.br/2014/11/03/europa-separatismo>. Acesso em: 5 abr. 2016.

SEPARATISMO BELGA
A Bélgica abriga a capital da Uniã o Europeia, Bruxelas, que simboliza uma proposta de eliminaçã o
de fronteiras, livre circulaçã o de pessoas e mercadorias, um entendimento para além dos
nacionalismos e regionalismos.

Todavia, apesar desse simbolismo vinculado a Bruxelas, o país encontra-se atualmente em uma
situaçã o de forte instabilidade política em razã o das propostas de separaçã o das duas maiores
províncias belgas: Flandres e Valô nia.

Atualmente, Flandres é a província mais populosa e mais rica do país, enquanto a Valô nia se
caracteriza pelo predomínio de atividades agropastoris e por apresentar os índices mais elevados
de desemprego.

Pá gina 134

Se até a década de 1950 a Valô nia foi a província mais rica em razã o de seus depó sitos de carvã o, as
mudanças engendradas pela crise do fordismo-taylorismo e as mudanças tecnoló gicas inverteram
as condiçõ es econô micas das províncias, e Flandres GAR3_CAP05_M012 passou a ter maior
preponderâ ncia econô mica.
Allmaps

Fonte: FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. Sã o Paulo: Moderna, 2013.

Flandres e Valônia: dados econômicos (2009)


Dados Flandres Valônia
Capital Bruxelas Namur
Língua Holandês Francês, alemã o
Á rea (km2) 13 500 (44,3% do territó rio 16 800 (55,1% do territó rio
nacional) nacional)
Populaçã o em milhõ es (2016) 6,47 3,5
PIB em bilhõ es de euros (2009) 194 (57,9% do PIB nacional) 78 (23,3% do PIB nacional)
Taxa de desemprego (2009) 6,7% (11,2% da média nacional) 16,6% (11,2% da média nacional)

Fonte: Le Figaro. Disponível em: <www.lefigaro.fr/international/2010/03/04/01003-20100304ARTFIG00472-en-belgique-


les-wallonsveulent-redorer-leur-blason-.php>. Acesso em: 27 mar. 2016.

Desse modo, os repasses financeiros de Flandres à Valô nia, associados à crise econô mica europeia,
estã o na origem do descontentamento dos flamengos, o qual, sobretudo a partir de 2008, tem
levado ao crescimento dos partidos de extrema direita, como o Vlaams Belang, ou o partido de
direita radical N-VA (Nova Aliança

Pá gina 135

Flamenga), que defendem a separaçã o das províncias, além de medidas de contençã o à imigraçã o,
entendida como forma de defesa da identidade flamenga.

As tensõ es entre flamengos e valõ es têm suas raízes na histó ria do país, uma vez que essa regiã o já
esteve, no passado, sob domínio espanhol, francês, austríaco e holandês – daí a predominâ ncia das
duas maiores comunidades: uma de maioria holandesa, Flandres; outra de maioria francesa,
Valô nia.
Em 1815, a regiã o foi anexada aos Países Baixos (Holanda), até que, em 1830, teve início o processo
de independência, concretizado em 1839, sob a forma de uma monarquia constitucional com
eleiçõ es parlamentares.

A crise política de 2007, causada pelas dificuldades em constituir um governo viá vel no parlamento,
e a econô mica, decorrente da crise financeira que se aprofundou a partir de 2008, tornaram-se
catalizadoras da mobilizaçã o dos partidos de extrema direita e direita radical em prol da separaçã o
das províncias.

As medidas de austeridade econô mica adotadas pelo governo para conter a crise colocaram em
xeque os benefícios sociais histó ricos alcançados com a social-democracia e acirraram os desejos
separatistas – muito bem aproveitados pelos discursos dos partidos Vlaams Belang e N-VA.

Além disso, as lealdades de flamengos e valõ es sã o mais regionais que nacionais, ou seja, o
“nacionalismo belga” é frá gil quando comparado ao sentimento de pertencimento à s comunidades
regionais.

E a situaçã o de instabilidade continua, embora atualmente a maioria da populaçã o belga nã o tenha


mais tanta certeza dos benefícios da separaçã o.

SAIBA MAIS

Na Bélgica, partido separatista desiste de independência para Flandres

O partido mais votado na Bélgica se apresenta nas pró ximas eleiçõ es com uma proposta radical:
construir um país sem primeiro-ministro, sem serviço diplomá tico pró prio e sem seguridade
nacional comum. A proposta é perturbadora, mas nã o disruptiva, porque os nacionalistas
flamengos do N-VA, a primeira força política do país, abandonaram sua defesa em favor do
separatismo por outra, voltada à obtençã o de maior autonomia dentro da pró pria Bélgica.

Conscientes de que a populaçã o nã o apoiaria essa mudança – o separatismo – e com medo do


impacto que essa separaçã o traria a Flandres no contexto da Uniã o Europeia, os separatistas
flamengos deixaram de lado a bandeira da independência e passaram a lutar, agora, por uma
ampliaçã o de suas competências e direitos no contexto de uma Bélgica Federal.

ABELLÁ N, L. El Pais. 6 fev. 2014. Disponível em: <http://internacional.elpais.com/internacional/


2014/02/05/actualidad/1391630481_279158.html>. Acesso em: 10 abr. 2016. (Traduçã o dos autores.)

ATIVIDADE

Existem movimentos separatistas no Brasil?

Com a orientaçã o dos professores de Geografia, Histó ria, Sociologia e Filosofia, pesquise em jornais,
revistas, livros e na internet e responda à s questõ es a seguir.

1. Quais elementos estã o relacionados à construçã o de uma identidade nacional brasileira?

2. Existem identidades regionais fortes no Brasil? Justifique e exemplifique sua resposta.

3. Há movimentos separatistas no Brasil? Em caso positivo, onde se localizam e quais sã o os


argumentos utilizados por eles?
4. Discutam em classe os resultados da pesquisa e os dados encontrados, a partir das seguintes
questõ es gerais:

a) A quem serve o nacionalismo?

b) Quais as contradiçõ es entre a imagem geral dos brasileiros e aquelas expressas nos
regionalismos?

Pá gina 136

OUTROS MOVIMENTOS SEPARATISTAS EUROPEUS


No contexto europeu, existem outros movimentos separatistas e, como os anteriores, geralmente
estã o associados a partidos de extrema direita ou da direita radical. Veja alguns deles no mapa e
nos textos a seguir.

1. Ilhas Faroe: arquipélago constituído por 18 ilhas, é uma regiã o autô noma da Dinamarca desde
1948. As recentes descobertas de petró leo e gá s natural na plataforma continental têm reacendido
os desejos e campanhas pela sua independência.

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Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

2. Galícia: regiã o fronteiriça com Portugal. A crise econô mica que afetou a Espanha impulsionou
ainda mais o desejo separatista. Dizendo sentirem-se mais portugueses que espanhó is, os
separatistas galegos se organizaram em torno da Resistência Galega, grupo considerado terrorista
pelo Tribunal Supremo Espanhol. De fato, nos ú ltimos anos o grupo tem sido responsabilizado por
ataques terroristas na regiã o, a exemplo do ataque a um edifício pú blico em Lugo.
3. “Padania”: o movimento separatista do norte da Itá lia tem apenas uma motivaçã o. A regiã o, que
conta com as províncias da Lombardia, Aosta, Piemonte, Ligú ria, Veneza e Emília Romana, gera boa
parte do PIB italiano com suas empresas, indú strias e bancos. Alguns afirmam que a Itá lia central e
do sul desperdiça o dinheiro que se ganha tã o arduamente no norte do país.

Nos anos 1990, o partido Liga Norte chegou a clamar pela secessã o total da regiã o que eles pró prios
denominaram de “Padania”, nome derivado da planíce padana do vale do rio Pó . Nos dias de hoje, a
Liga Norte está mais moderada. No momento, o grupo pede apenas que o norte possa reter três
quartos do dinheiro gerado, em vez de transferi-lo primeiramente a Roma. 1

4. Córsega: por muito tempo, o governo francês tentou apagar o idioma corso da vida pú blica e das
escolas da ilha. As tentativas de conquista da autonomia sempre foram combatidas. Organizaçõ es
militantes, principalmente o FLNC [Frente de Libertaçã o Nacional da Có rsega], tentaram por anos
se libertar da França através da violência, atacando símbolos do Estado francês e casas de veraneio
de cidadã os franceses continentais.

Neste ano, o FLNC anunciou que abriu mã o da violência. Ainda assim, o potencial explosivo
permanece. Em 2000, propostas de autonomia da ilha, durante o governo do socialista Lionel
Jospin, enfureceram a oposiçã o conservadora. Esta argumenta que, se a autonomia for concedida,
outras regiõ es, como a Bretanha e a Alsácia, também poderiam exigir suas independências.

Tradicionalmente, Paris tem pouco respeito por idiomas regionais, uma vez que os políticos os
consideram perigosos para a unidade do país. 2

5. Sardenha: regiã o autô noma da Itá lia. O movimento separatista sardo pretende que a ilha deixe
de pertencer à Itá lia – à qual foi incorporada em 1860 – para tornar-se um novo cantã o suíço.

Fonte: Carta Capital. Disponível em: <www.cartacapital.com.br/internacional/alem-da-escocia-outrasregioes-


1, 2
europeias-cultivam-tendencias-separatistas-6424.html>. Acesso em: 10 abr. 2016.

Pá gina 137

ALGUNS SEPARATISMOS NA RÚSSIA


A Rú ssia é dividida em mais de 80 regiõ es; das quais 21 sã o repú blicas independentes e 9 sã o
regiõ es autô nomas.

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Fonte: Université Laval. Disponível em: <www.axl. cefan.ulaval.ca/ europe/russie-map- 21repub.htm>. Acesso em: 7 abr.
2016.

Esse país foi o primeiro do mundo a implantar o socialismo (1917-1991), formando a Uniã o das
Repú blicas Socialistas Soviéticas (URSS), ou apenas Uniã o Soviética. Nesse período, estendeu seu
poder para países vizinhos (como as repú blicas bá lticas), foi considerada como superpotência e,
economicamente, implementou uma economia planificada que se responsabilizou pela eliminaçã o
do desemprego e do analfabetismo, além de ter melhorado o quadro geral da saú de de sua
populaçã o.

Ao longo de mais de 70 anos de socialismo, a URSS, composta por 15 repú blicas e mais de 100
nacionalidades distintas, manteve-se relativamente está vel, sem grandes problemas com
movimentos nacionalistas e/ou separatistas, uma vez que o Exército Vermelho conseguia “manter a
ordem”.

Com o fim do socialismo real, observa-se também o fim da Federaçã o Soviética e a retomada de
antigas reivindicaçõ es separatistas em vá rias de suas regiõ es autô nomas, sobretudo aquelas
localizadas na regiã o do Cá ucaso.

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Fonte: Sciences Po. Le Ceriscope. Disponível em: <http://ceriscope.sciencespo.fr/taxonomy/term/10>. Acesso em: 27 mar.
2016.

Pá gina 138

O Cá ucaso é uma regiã o montanhosa situada entre os mares Cá spio e Negro que apresenta grande
complexidade étnica, linguística, religiosa e nacional. É também uma zona de contato entre dois
grandes grupos étnico-culturais: o eslavo-ortodoxo (cristã o) e o islâ mico, de influência turca ou
iraniana.

Em parte, a instabilidade atual tem raízes na expansã o do Império Russo e, mais recentemente, no
Stalinismo (1922-1953), quando vá rias fronteiras regionais foram artificialmente estabelecidas.

Por outro lado, além das complexidades étnico-religiosas e sociais e do estabelecimento arbitrá rio
das fronteiras, os povos do Cá ucaso lutam pelo controle dos recursos locais, como os vales, as
á guas, as vias de comunicaçã o e os oleodutos que cortam a regiã o.
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Fonte: Sciences Po. Disponível em: <www.sciencespo.fr/bibliotheque/statique/armenie/images/


images6/petrole_gaz_caspienne_03_o.jpg>. Acesso em: 27 mar. 2016.

O separatismo da Chechênia
A Chechênia é mais uma das cerca de 40 províncias separatistas da Rú ssia situada no Cá ucaso. O
territó rio checheno é estratégico para a Rú ssia, pois ali passam os oleodutos que transportam o
petró leo da regiã o do mar Cá spio, fato que gera a cobiça internacional na regiã o.

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Fonte: CHALIARD, G.; RAGEAU, P. Atlas stratégique. Gé opolitique dê s rapports de forces dans le monde. Paris: Editions
Complexe, 1991.

Pá gina 139

Enquanto existiu a Uniã o Soviética, a Chechênia foi considerada formalmente uma “repú blica
autô noma”. Na prá tica, a organizaçã o política local era diretamente vinculada à hierarquia de
Moscou.
Desse modo, a frustraçã o pela falta de uma verdadeira autonomia tinha raízes que iam além de
motivos políticos. No plano histó rico, havia o ressentimento contra a política de deportaçõ es em
massa a que os chechenos foram submetidos pelos soviéticos no decorrer da Segunda Guerra
Mundial. Outra questã o é a religiosa: entre os habitantes da Chechênia, o islamismo é a religiã o
predominante. Isso os levava a uma identificaçã o com movimentos e regimes islâ micos que
desafiaram as potências da Guerra Fria. Todas essas tensõ es vieram à tona durante o processo de
desintegraçã o da Uniã o Soviética e o conturbado governo de Boris Yeltsin. Desafiado pelo
movimento local, Yeltsin enviou tropas à regiã o (1992), as quais chegaram a ser sitiadas pelos
rebeldes.

Apó s essa mobilizaçã o, o mundo tomaria conhecimento da destruiçã o local durante a Primeira
Guerra da Chechênia (1994-1996) e a Segunda Guerra da Chechênia (1999-2000), eventos que
atingiram grande parte da populaçã o civil.

Todavia, com a administraçã o de Vladimir Putin na Rú ssia como primeiro ministro, entre 1999 e
2000, a questã o da Chechênia foi considerada “resolvida” por Moscou. Contudo, o preço foi enorme:
mais de 150 mil civis pereceram no conflito, que ficou marcado por inú meras acusaçõ es de tortura.

Durante o ano de 2004, as açõ es dos grupos separatistas chechenos afetaram novamente e em
grande proporçã o a populaçã o civil. Naquele ano, em setembro, grupos separatistas chechenos
invadiram uma escola em Bresnan, na Ossétia do Norte. Eles fizeram mais de mil reféns, a maioria
crianças e jovens, além de pais e professores. O líder separatista Shamil Bassaiev assumiu a
liderança desse e de outros ataques (como a explosã o do metrô de Moscou, também em 2004), que
foi desastrosamente rechaçado pelas forças russas, com um saldo de mais de 400 mortos,
majoritariamente crianças. Entã o, esse atentado, de grande repercussã o mundial, aproximou
Estados Unidos e Rú ssia, que procuraram se auxiliar na luta contra um “inimigo comum”: os
fundamentalistas islâ micos.

Todavia, os rebeldes chechenos continuaram a realizar diversos atentados, como o ataque ao metrô
de Moscou, em 2010, em pleno horá rio de pico, além do atentado durante a Maratona de Boston,
nos Estados Unidos, em 2013. Em 2014, ocorreu um novo atentado, dessa vez na capital, Grozny,
com mais de 20 mortos.

Apesar do governo forte de Ramzá n Kadírov, que tem buscado controlar a situaçã o na província e
que apoia Vladimir Putin (entã o presidente da Rú ssia), a situaçã o na Chechênia continua
extremamente tensa, com o uso de tá ticas muito violentas por ambos os lados (rebeldes e governo),
que atingem principalmente os civis.

Os conflitos na Ossétia do Sul

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Fonte: Maps101. Disponível em: <http://demo.maps101.com/index. php?option%3Dcom_flexicontent%26view%3Ditems


%26id%3D5 57:russia-sides-with-south-ossetia>. Acesso em: 27 mar. 2016.
O conflito na Ossétia do Sul eclodiu em 2008, embora também tenha raízes mais antigas. Em 1922,
Josef Stá lin, entã o governante da Uniã o Soviética, decidiu transformar o territó rio da Ossétia do Sul
em regiã o autô noma da Repú blica da Geó rgia, colocando os ossetas, grupo etnicamente vinculado
aos russos, dentro do domínio georgiano, a despeito de suas diferenças culturais.

No início da década de 1990, com o fim da Uniã o Soviética, a Ossétia do Sul procurou manter um
governo pró prio, ainda que formalmente o territó rio continuasse sob domínio da Geó rgia. Nesse
período, a Ossétia do Sul proclamou sua conversã o em repú blica autô noma, sem a anuência da
Geó rgia. Assim, entre 1990 e 1992 houve vá rios conflitos locais entre ossetas e georgianos, que
acabaram mediante a interferência russa, que conduziu as negociaçõ es para o cessar-fogo entre os
dois grupos. Desde entã o, a Rú ssia manteve tropas de paz na regiã o, formadas por soldados ossetas,
georgianos e russos.

Em 2007, o parlamento da Geó rgia aprovou uma lei que visava instituir uma administraçã o
temporá ria na Ossétia do Sul, o que aumentou a tensã o local. Nesse mesmo ano, os ossetas
afirmaram que a Geó rgia atacou Tskhinvali (capital) com morteiros e franco-atiradores.

Pá gina 140

Assim, em fins de 2007 as conversaçõ es entre a Geó rgia e a Ossétia do Sul foram interrompidas e
eclodiu a disputa, tendo como estopim o assassinato, por tropas georgianas, de seis civis ossetas.

Acresce que a populaçã o osseta procurou refú gio na Ossétia do Norte e a Rú ssia decidiu enviar
tropas para a regiã o, uma vez que os laços entre ossetas e russos sã o muito estreitos – para se ter
uma ideia, a maioria dos ossetas possui passaporte russo e utiliza o rublo como moeda, além de a
Rú ssia enviar ajuda econô mica para a regiã o.

A crise na Ossétia do Sul também se agravou depois que alguns países – como os Estados Unidos –
reconheceram a independência do Kosovo, em 2008. Também a Rú ssia mantém vivo o interesse na
Ossétia do Sul devido aos importantes gasodutos que cruzam a regiã o.

Além da crise na Ossétia, a Geó rgia enfrentou uma crise na Abecá sia e merece destaque a disputa
entre Armênia e Azerbaijã o pelo controle do enclave de Nagorno-Karabakh.
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Fonte: L’Express. Disponível em: <www.lexpress.fr/actualite/monde/le-caucase-region-sous-tensions_1037121.html>.


Acesso em: 7 abr. 2016.

O conflito da Abecá sia ocorreu principalmente entre 1992 e 1993, quando essa regiã o declarou
independência da Geó rgia. Os insurgentes ganharam das tropas georgianas e, em 1994, Abecá sia e
Georgia assinaram um acordo de paz intermediado pela Rú ssia. Forças de paz da CEI (Comunidade
dos Estados Independentes) foram deslocadas para a regiã o, que, apesar de relativamente calma,
mantém uma situaçã o de tensã o latente.

A regiã o do enclave de Nagorno-Karabakh fica situada ao sul do Azerbaijã o, e foi historicamente


povoada por armênios (cristã os). Todavia, no período stalinista, passou ao controle do Azerbaijã o
(islâ micos), em troca de sua entrada na Federaçã o Soviética, devido aos depó sitos de petró leo na
regiã o de Baku.

Enquanto existiu a Uniã o Soviética, as tensõ es entre armênios e azerbaijanos – ou azeris – foram
controladas pelo Exército Vermelho. Todavia, com o fim da URSS, em 1991, as tensõ es
recrudesceram até culminarem numa guerra, entre 1991 e 1994, vencida pelos armênios.

Desse modo, o enclave de Nagorno-Karabakh voltou ao controle armênio, a partir de um acordo


intermediado pela Rú ssia. A despeito do acordo, as tensõ es continuam nessa regiã o.

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A questão da Crimeia
O conflito entre Ucrâ nia e Rú ssia pelo controle da Crimeia tem sido considerado um dos mais
tensos, desde o fim da Guerra Fria.
A Crimeia é uma península localizada à s margens do mar Negro, uma das poucas á reas litorâ neas
que nã o fica congelada no inverno, e abriga o importante porto de Sebastopol, onde está ancorada
uma frota naval russa. Essa península originalmente pertencia à Rú ssia, mas em 1954, foi cedida à
Ucrâ nia por Nikita Kruschev, entã o presidente da URSS.

Com a dissoluçã o da Uniã o Soviética, em 1991, as tensõ es na regiã o aumentaram com a


manifestaçã o pelo retorno da regiã o à Rú ssia, pois os russos constituem maioria tanto na Crimeia
como na regiã o de Donetsk, a capital regional.

Sendo assim, a situaçã o gerou conflitos a partir de 2013, pois o primeiro-ministro ucraniano
desistiu de assinar o acordo de livre-comércio com a Uniã o Europeia. A Rú ssia, entã o, rapidamente
passou a apoiar a populaçã o da Crimeia pró -russa, inclusive enviando tropas para a regiã o, que se
declarou independente da Ucrâ nia e solicitou sua reanexaçã o ao territó rio russo, o que foi
referendado em plebiscito pela maioria da populaçã o da Crimeia, concretizando o processo em
2014.

Deve-se considerar também o fato de os principais gasodutos que transportam gá s da Rú ssia para a
Europa passarem pelo territó rio ucraniano.

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Fonte: Libé ration. Disponível em: <www.liberation.fr/ planete/2014/03/19/desormais-sous-le-giron-russe-la-


crimeerefuse-la-visite-de-ministres-ukrainiens_988243>. Acesso em: 7 abr. 2016.
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Fonte: NBC News. Disponível em: <www.nbcnews.com/storyline/ukraine-crisis/ukraine-europes-energyaorta-n43406>.


Acesso em: 27 mar. 2016.

Pá gina 142

A Rú ssia tem constantemente ameaçado cortar o fornecimento de gá s, tanto à Ucrâ nia como à
Uniã o Europeia. Além disso, a questã o da Crimeia é muito tensa em virtude do grande arsenal
nuclear russo. Desse modo, a Rú ssia tem pressionado a Ucrâ nia, mas as potências ocidentais têm
evitado se envolver diretamente no conflito, temendo um confronto nuclear.

Mas vá rios países da Uniã o Europeia dependentes do gá s russo encontram-se divididos em relaçã o
à s sansõ es impostas à Rú ssia.

Enquanto isso, no entanto, a Uniã o Europeia aprovou uma ajuda econô mica à Ucrâ nia de mais de 11
bilhõ es de euros e vá rias sançõ es econô micas têm sido impostas à Rú ssia – como a sua expulsã o do
G-8, em 2014. A Rú ssia teve suspensas, ainda, as negociaçõ es para facilitar a liberalizaçã o de vistos
de cidadã os russos para a Uniã o Europeia.

SAIBA MAIS

Crise na Crimeia
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Cronologia
O presidente ucraniano Viktor Yanukovich desistiu de assinar um acordo de
22/11/201
livre-comércio com a Uniã o Europeia para estreitar relaçõ es comerciais com
3
Moscou.
24/11/201 Manifestantes tomam as ruas de Kiev para exigir que o presidente volte atrá s da
3 decisã o.
22/02/201
Yanukovich é destituído pelo Parlamento ucraniano.
4
01/03/201
O parlamento russo aprova o envio de tropas à Crimeia.
4
02/03/201
Apó s reuniã o de emergência, Otan pede à Rú ssia que retire tropas da Ucrâ nia.
4
04/03/201 EUA suspendem negociaçõ es comerciais com a Rú ssia. O secretá rio de Estado
4 dos EUA, John Kerry, chega à Ucrâ nia e anuncia ajuda de US$ 1 bilhã o.
05/03/201
Comissã o Europeia anuncia plano de € 11 bilhõ es para a Ucrâ nia.
4
16/03/201 Crimeia realiza referendo sobre sua anexaçã o à Rú ssia; adesã o a Moscou é
4 aprovada com 96,8% dos votos.

Fonte do mapa e da tabela: G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/03/entenda-crise-na-


crimeia.html>. Acesso em: 27 mar. 2016.

Pá gina 143
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Fonte: Le Parisien. Disponível em: <http://www.leparisien.fr/images/2014/04/29/3804681_Europe-Sanctions.jpg>. Acesso


em: 7 abr. 2016.

Como foi possível observar, apesar da existência de campanhas e movimentos nacionalistas, os


motivos econô micos têm muito peso na construçã o de argumentos em favor ou contra um processo
de secessã o.

Desse modo, embora aparentemente as causas de muitos processos separatistas estejam


articuladas a discursos e diferenças culturais e religiosas, as causas primá rias sã o geralmente
territoriais (controle de rotas, domínio sobre recursos de solo, subsolo e á gua) e econô micas. É
preciso considerar ainda o potencial explosivo da conjugaçã o de causas econô micas, territoriais,
religiosas e culturais em relaçã o aos movimentos separatistas para compreendê-los em maior
profundidade.

Pá gina 144

QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (Fuvest-SP) Sobre o povo basco, considere as seguintes proposiçõ es:

I. A regiã o basca compreende o Norte da Espanha e o Sul da França.

II. O movimento separatista faz parte de um nacionalismo forjado, uma vez que o povo basco descende da
mesma raiz étnico-cultural dos povos latinos da Europa.

III. O grupo terrorista ETA (Euskadi Ta Askatasuna) pressiona o governo espanhol a conceder a soberania
basca, através de atentados.

IV. O governo espanhol nã o aceita negociar o separatismo basco para nã o abrir precedentes, sobretudo em
relaçã o à Catalunha, regiã o muito rica que também tem aspiraçõ es de soberania. Está (ã o) correta(s) a(s)
proposiçã o(õ es):

a) todas.

b) I e II.

c) somente a IV.

d) II, III e IV.

e) I, III e IV.

2. (Mackenzie-SP, 2015) Observe o mapa a seguir.

Mackenzie/Divulgação

As letras A, B e C identificam três diferentes territó rios onde foram observadas manifestaçõ es separatistas ao
longo do ano de 2014. Em dois desses territó rios a questã o separatista foi discutida politicamente, segundo as
leis de seus Estados. Em um deles foram registrados conflitos e a influência de outros países. A esse respeito,
assinale a alternativa correta.

a) As letras A e C correspondem à Escó cia e a Flandres, onde os Estados do Reino Unido e da Holanda
permitem a discussã o política do separatismo. A letra B corresponde à porçã o oriental da Ucrâ nia, onde o
Estado enfrenta separatistas apoiados pela Rú ssia.

b) As letras A e B correspondem à Valô nia e ao País de Gales, onde a negociação política da Holanda e do Reino
Unido discutem o separatismo. A letra C identifica a Crimeia, territó rio ucraniano que foi incorporado pela
Rú ssia apó s o uso de forças militares.
c) As letras B e C identificam os territó rios do país Basco e a Crimeia, onde os Estados da Espanha e da Rú ssia
permitem as manifestaçõ es separatistas. A letra A corresponde à Irlanda do Norte, onde o Reino Unido sufocou
separatistas cató licos no conflito conhecido como “Domingo Sangrento”.

d) As letras A e C identificam Escó cia e Catalunha, com a conduçã o política das discussõ es separatistas pelos
Estados do Reino Unido e da Espanha. A letra B corresponde ao leste da Ucrâ nia, onde as forças armadas do
país reprimem os separatistas apoiados pela Rú ssia.

e) As letras A e C correspondem à regiã o dos separatistas da Irlanda do Norte e Flandres, que negociam com os
Estados do Reino Unido e da Bélgica. A letra B indica a Chechênia, territó rio onde o separatismo é
violentamente reprimido pelas forças armadas da Rú ssia.

3. (Uerj, 2009)

Católicos e protestantes na Irlanda do Norte

Dan Smith/ Divulgação

Adaptado de Atlas dos conflitos mundiais. Sã o Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

Considere os grá ficos e o fato de o territó rio em questã o nã o ter sido marcado por significativa imigraçã o na
segunda metade do século XX. As variaçõ es temporais das proporçõ es de cató licos e protestantes estã o
vinculadas ao seguinte indicador demográ fico:

a) expectativa de vida menor entre os protestantes do que entre os cató licos.

b) nupcialidade mais expressiva entre os cató licos do que entre os protestantes.

Pá gina 145

c) mortalidade infantil maior entre as crianças protestantes do que entre as cató licas.

d) índice de fecundidade mais elevado entre as irlandesas cató licas do que entre as protestantes.

4. (Uerj, 2015)

Rússia formaliza anexação da Crimeia

A Rú ssia anexou formalmente a Península da Crimeia a seu territó rio, depois de um duro discurso do
presidente Vladimir Putin em meio a pesadas críticas aos E.U.A., à Uniã o Europeia e ao governo interino da
Ucrâ nia. Nesse discurso que antecedeu a assinatura da anexaçã o da Crimeia, Putin destacou a questã o como
vital para os interesses russos. Segundo ele, o Ocidente “cruzou uma linha vermelha” ao interferir na Ucrâ nia.
“A Crimeia sempre foi e é parte insepará vel da Rú ssia”, declarou o presidente.

Adaptado de estadao.com.br, 18/03/2014.


O evento abordado na reportagem está simultaneamente associado ao presente e ao passado dos povos
envolvidos.

Para explicar essa açã o russa em relaçã o à Crimeia, sã o fundamentais os seguintes interesses do atual governo
Putin:

a) superar o pan-eslavismo − reduzir a diversidade étnica.

b) estimular a economia − ampliar a produçã o energética.

c) combater a corrupção − reconstruir a geopolítica global.

d) reforçar o nacionalismo − consolidar a geoestratégia militar.

5. (Fatec-SP, 2011)

Palavras de ordem, símbolos, propaganda, atos pú blicos, vandalismo e violência sã o, atualmente,


manifestaçõ es de hostilidade frequentes contra estrangeiros na Europa. Os países onde mais intensamente
têm ocorrido conflitos são Alemanha, França, Inglaterra, Bélgica e Suíça.

(MOREIRA, Igor e AURICCHIO, Elizabeth. Construindo o espaço mundial. 3. ed. Sã o Paulo: Á tica, 2007, p. 37. Adaptado.)

Sobre o fenô meno social enfocado pelo texto, é vá lido afirmar que se trata de conflitos

a) civis e militares, relacionados à s formas histó ricas de exploraçã o dos países do chamado Terceiro Mundo.

b) ligados ao nacionalismo, ao racismo e à xenofobia, no contexto globalizado das grandes migraçõ es


internacionais.

c) entre imigrantes das diversas nacionalidades que invadem a Europa, atualmente, na disputa por empregos e
por melhores condiçõ es de vida.

d) culturais, principalmente causados pelo conflito armado entre países cató licos e protestantes, mas também,
sobretudo, conflitos contra países islâ micos.

e) étnicos e sociais decorrentes das dificuldades de desenvolvimento de países europeus em continuar a sua
industrializaçã o nos setores tecnoló gicos de ponta.

6. (Unicamp-SP, 2015) Um país da Europa Ocidental encontra-se envolvido em discussõ es internas sobre
separatismo entre as suas duas principais regiõ es: Flandres, ao norte, e Valô nia, ao Sul. Qual é esse país?

a) Ucrâ nia.

b) Suíça.

c) Bélgica.

d) Espanha.

7. (FGV-SP, 2014)

O grande paradoxo da Uniã o Europeia, erguida sobre o conceito da soberania compartilhada, é que ela reduz
os riscos para regiõ es que buscam tornarem-se independentes […] “Todo o desenvolvimento da integraçã o
europeia reduziu os riscos da secessã o, porque as entidades que emergem sabem que nã o precisarã o ser
plenamente autô nomas e independentes”, observou Mark Leonard, diretor do Conselho Europeu de Relaçõ es
Exteriores. “Elas sabem que terã o acesso a um mercado de 500 milhõ es de pessoas e a algumas das proteçõ es
da EU.”

www.folha.uol.com.br/mundo/ 1168096-crise-reanima-separatisrno-na-europa.shtml
Considerando o texto e seus conhecimentos sobre o assunto, identifique pelo menos um movimento
separatista atuante em cada um dos países da Uniã o Europeia listados abaixo, destacando sua trajetó ria
recente:

a) Espanha.

b) Bélgica.

c) Reino Unido.

Pá gina 146

A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e os anseios da
humanidade.

Leia os textos a seguir e depois, faça o que se pede.

A fábula

A história de Karl – parte 1: cartilha do nazismo

[…] O que Karl vivera em criança, ele devolveu “a outras pessoas que nã o tinham culpa nenhuma”
analisa. Com apenas dez anos, fora para o orfanato, onde teve que enfrentar lutas pelo poder. Ele
aprendeu a praticar violência, tornou-se um ser isolado. Na escola, tinha boas notas e se saiu bem
no curso técnico. Mas, depois de ser rejeitado pela firma onde concluíra o aprendizado, perdeu o
chã o, tornando-se morador de rua.

[…] Um conhecido o abrigou e lhe deu comida e dinheiro. O fato de seu benfeitor frequentar a
direita radical nã o tinha a menor importâ ncia para Karl: “Havia alguém que se importava comigo.”

Assim também foi com o grupo de extrema direita para o qual o amigo o levou. “Lá, ninguém me
perguntou por que eu tinha aquele corte de cabelo e por que nã o usava calças da Nike. Eles me
aceitaram como eu era e me ofereceram amizade e camaradagem.”

A ideologia radical o ajudou a encontrar culpados para seus pró prios problemas. O melhor exemplo
foi o emprego perdido: “Fui demitido, mas os estrangeiros que trabalhavam na empresa
continuaram por lá ”, rezava a justificativa.

A partir daquele momento, a cartilha do nazismo era o que valia para ele: do racismo, a negaçã o do
Holocausto e o antissemitismo, até “o ó dio total”. O objetivo do grupo era bem definido: “Seguir o
exemplo do NSDAP, o Partido Nazista.” Hoje, tal ideia é quase inconcebível para ele: “Um golpe de
Estado com violência… destruir tudo o que é democracia.”

Deutsche Welle. Disponível em: <www.dw.com/pt/ex-neonazista-revela-eu-poderia-ser-um-radicalsalafista/a-


18727612>. Acesso em: 8 abr. 2016.

A perversidade
Alemanha enfrenta aumento de ataques contra abrigos de imigrantes

O governo alemã o informou que ocorreram quase 500 ataques contra abrigos para refugiados no
ano de 2015, um nú mero três vezes maior do que o registrado em 2014.

O ministro do Interior do país, Thomas de Maizere, afirmou que este tipo de violência é
“vergonhosa” e acrescentou que dois terços dos ataques foram feitos por moradores locais que nã o
tinham antecedentes criminais.

A Alemanha espera receber pelo menos 800 mil refugiados em 2015. Líderes da regiã o da Bavá ria,
uma das que mais recebe refugiados, exigiram que o governo alemã o imponha limites ao nú mero de
refugiados entrando no país.

BBC. Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/ noticias/2015/10/151010_alemanha_ataques_ imigrantes_fn>.


Acesso em: 8 abr. 2016.

* SANTOS, M., 2000.

Pá gina 147

A possibilidade

A história de Karl – parte 2: hora de fazer o bem

“Como vou encarar o meu filho?”, foi a questã o que levou Karl a recuar. “Família ou prisã o”, diz, sã o
os principais motivos que levam alguém a largar o extremismo. Ele conseguiu: construiu uma nova
vida e até reatou os laços com os pais. “Viciado em adrenalina” que é, trocou o frisson das armas e
da violência por carros e motocicletas velozes.

Com ajuda estatal, seus dados pessoais também estã o protegidos nos ó rgã os pú blicos. Só nas
batidas policiais é que Karl à s vezes acaba “indo parar no chã o e sendo revistado”. “É desagradá vel,
principalmente se há conhecidos no carro que nã o sabem nada do meu passado”, admite.

A frase “agora é a tua vez” poderia valer, hoje, para o novo objetivo que Karl se impô s. Nã o destruir,
mas sim, finalmente, fazer algo de bom: abrir os olhos dos outros para os perigos do radicalismo de
direita, “porque há um desinteresse, um olhar para o outro lado, um ‘isso nã o existe na minha
cidade’.”

Por isso, hoje Karl conta sua experiência em escolas, informa aspirantes a policiais – e fala à
Deutsche Welle. Ele rechaça toda forma de racismo, nã o quer nunca mais selecionar os seres
humanos segundo quaisquer características.

O jovem pai quer que seu filho jamais sinta “insuficiência emocional” e apela apaixonadamente por
mais sentimento humano na sociedade. Ao se despedir da reportagem, revela às vezes se lembrar
de seus colegas de escola: “Se eles soubessem no que eu ia me tornar, talvez nunca tivessem me
jogado dentro da lata de lixo.”

Deutsche Welle. Disponível em: <www.dw.com/pt/ex-neonazistarevela-eu-poderia-ser-um-radical-salafista/a-


18727612>. Acesso em: 8 abr. 2016.

No primeiro texto é tratado o modo como se arregimenta e se pressiona uma pessoa para uma
determinada causa. Já o segundo aborda os efeitos do nacionalismo exacerbado quando relacionado
à imigraçã o. E o terceiro trata da possibilidade de mudança dos sujeitos.
Agora, com base na leitura, redija uma dissertaçã o de aproximadamente 30 linhas com uma
proposta de intervençã o que seja capaz de diminuir a força do discurso nacionalista e valorizar um
discurso mais internacionalista.

Depois, debata o seu texto e a sua proposta em classe, com os colegas.

Pá gina 148

6 Fundamentalismos

Conexão de conhecimentos
O teatro do bem e do mal
Observe as imagens.

Pool/AFP

Reuniã o das tropas estadunidenses na base de operaçõ es na província de Laghman, no Afeganistã o, 2014.
Maher Al Mounes/AFP

Tropas sírias em ruas destruídas na cidade de Palmira, na Síria, 2016.

Pá gina 149

Superstock/Glow Images

Ataque aéreo em 11 de setembro de 2001, nas Torres Gêmeas em Nova Iorque, EUA.

Giovanni Vale/Shutterstock.com

Refugiados provenientes do Oriente Médio e do Norte da Á frica embarcam em trem na Croá cia, 2016.

Agora, leia um fragmento de um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano.

O teatro do bem e do mal


Os terroristas mataram trabalhadores de cinquenta países, em Nova York e Washington, em nome
do Bem contra o Mal. E, em nome do Bem contra o Mal, o presidente Bush jura vingança: “Vamos
eliminar o Mal do mundo”, anuncia. Eliminar o Mal?

O que seria do Bem se nã o houvesse o Mal? Os faná ticos religiosos nã o sã o os ú nicos que
necessitam de inimigos para justificar os atos insanos que praticam. Também precisam de inimigos,
para justificar sua existência, a indú stria de armamentos e o gigantesco aparato militar dos Estados
Unidos. […]

Todos os enamorados da morte coincidem também em sua obsessã o por reduzir a termos militares
as contradiçõ es sociais, culturais e nacionais. Em nome do Bem contra o Mal, em nome da Ú nica
Verdade, todos resolvem tudo matando primeiro e perguntando depois. E, por tal caminho, acabam
alimentando o inimigo que combatem. […] Vejo uma foto, recentemente publicada: numa parede de
Nova York, uma mã o escreveu: “Olho por olho deixa todo mundo cego”.

GALEANO, E. O teatro do bem e do mal. 1. ed. Porto Alegre: L&PM, 2013.

1. Considerando o texto e as imagens estabeleça uma relaçã o entre eles.

2. Releia a frase: “Em nome do Bem contra o Mal, em nome da Ú nica Verdade, todos resolvem tudo
matando primeiro e perguntando depois”. O que significa a expressã o “Ú nica Verdade”?

3. Indique o que a frase escrita na parede de Nova Iorque (“Olho por olho deixa todo mundo cego”)
busca transmitir?

Pá gina 150

MANIQUEÍSMO
O Maniqueísmo: o Bem, o Mal e seus efeitos ontem e hoje

[…]

O maniqueísmo é uma forma de pensar simplista em que o mundo é visto como que dividido em
dois: o do Bem e o do Mal. A simplificaçã o é uma forma primá ria do pensamento que reduz os
fenô menos humanos a uma relaçã o de causa e efeito, certo e errado, isso ou aquilo, é ou nã o é. A
simplificaçã o é entendida como forma deficiente de pensar, nasce da intolerâ ncia ou
desconhecimento em relaçã o à verdade do outro e da pressa de entender e reagir ao que lhe
apresenta como complexo. “A pressa de saber obstrui o campo da curiosidade e liquida a
investigaçã o em muito pouco tempo”, declara o psicanalista W. Zusman (A terra sob o poder de
Mani, JB/s.d.). A pressa nã o é só inimiga da perfeiçã o, é também inimiga do diá logo, do pensamento
mais elaborado, sobretudo filosó fico e científico.

[…] Como alerta Zusman: “É mais fá cil criar mísseis inteligentes do que conquistar a inteligência
que permite a superaçã o do pensamento maniqueísta”. É mais cô modo seguir os paradigmas
estabelecidos do que rever os posicionamentos, reorganizar e contextualizar o pensamento, ter a
coragem de reconhecer os erros ou até abandonar um posicionamento por outro melhor.

Portanto, mais que uma forma simplista e dogmá tica de pensar, o maniqueísmo propõ e uma açã o,
uma luta eterna contra o Mal, personificado em algumas coisas, pessoas e situaçõ es. Na açã o
maniqueísta “vale-tudo”, até mesmo a violência extrema contra o Mal, que ele delira. A guerra e a
tortura sã o os principais meios do maniqueísmo. Hitler também acreditava ter uma grande missã o
de purificaçã o da humanidade. “As lá grimas da guerra prepararã o as colheitas do mundo futuro”
escreveu.
LIMA, R. Revista Espaço Acadêmico. Ano I, n. 7, dez. 2001. Disponível em:
<www.espacoacademico.com.br/007/07ray.htm>. Acesso em: 11 abr. 2016.

As histó rias infantis sã o, em grande parte, baseadas no maniqueísmo. O protagonista simboliza o


bem, enquanto o vilã o, o mal, nã o havendo características de um no outro: ou você nasce “do bem”
ou nasce “do mal”. O reforço a esse estereó tipo se mantém com os filmes e séries que dividem o
mundo em sociedades do bem e sociedades do mal.

Como essa visã o simplista se mantém, surgem as “verdades ú nicas” que exprimem apenas uma
visã o dos fatos tomando-a como verdadeira. Desta forma, a visã o do outro nã o pode e nã o deve ser
concebida. Essa rigidez de pensamento e açã o gera o que se chama de fundamentalismo.

O que é fundamentalismo?

Nã o é uma doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a letra das
doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de sua inserçã o no processo sempre cambiante da
histó ria, que obriga a contínuas interpretaçõ es e atualizaçõ es, exatamente para manter sua verdade
essencial. Fundamentalismo representa a atitude daquele que confere cará ter absoluto ao seu
ponto de vista.

Sendo assim, imediatamente surge grave consequência: quem se sente portador de uma verdade
absoluta nã o pode tolerar outra verdade, e seu destino é a intolerâ ncia. E a intolerâ ncia gera o
desprezo do outro, e o desprezo, a agressividade, e a agressividade, a guerra contra o erro a ser
combatido e exterminado.

BOFF, L. Fundamentalismo: a globalizaçã o e o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. p. 25.

O fundamentalismo pode ter concepçã o religiosa, política, cultural e até mesmo econô mica. O traço
comum dos fundamentalistas é a visã o unilateral e a imposiçã o de um ponto de vista – uma
“verdade” – sobre o outro. A origem se relaciona com o protestantismo praticado nos Estados
Unidos no século XIX, muito embora o termo tenha surgido no início do século XX com as
publicaçõ es teoló gicas da Universidade de Princeton. Depois se popularizou com um artigo de
Curtis Lee Laws, “Herald & Presbyter”, de 1922, no qual o autor conclamava as pessoas a seguirem
os grandes fundamentos da religiã o e dos costumes, atribuindo à s que atendessem ao chamado a
denominaçã o elogiosa de “fundamentalistas”.

FUNDAMENTALISMOS RELIGIOSOS
Os fundamentalismos religiosos se baseiam em visõ es conservadoras dos livros sagrados (Bíblia,
Torá ,

Pá gina 151

Alcorã o etc.), em uma concepçã o que nã o considera o contexto histó rico, os avanços da ciência e da
tecnologia ou, ainda, da Geografia. Dessa forma, nã o admitem mudanças ou tendências que
contrastem com os dogmas religiosos.

As religiõ es, na sua concepçã o teó rica, pregam invariavelmente a paz e a solidariedade entre os
povos e sociedades. Já o fundamentalismo religioso se respalda em interpretaçõ es de trechos
descontextualizados das escrituras para apregoar discursos de cunho político, econô mico e até
mesmo de dominaçã o, sempre se valendo do velho maniqueísmo. Por isso, os fundamentalistas
rejeitam, entre outras coisas, importantes mudanças sociais, colocando-se, por exemplo, contra o
aborto, a emancipaçã o feminina, os direitos da populaçã o LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais), as pesquisas com células-tronco, o uso de preservativos e o controle de
natalidade.

Historicamente, existem diversos exemplos de violência e até mesmo genocídios cometidos em


nome da fé, mas que, na avaliaçã o do contexto, refletiam açõ es de grupos dominantes com
interesses econô micos e de expansã o territorial. Portanto, qualquer discurso ou atitude
considerada extremista deve ser analisada dentro do contexto histó rico e espacial dos seus agentes.
É importante também observar em que situaçã o os discursos fundamentalistas encontram campo
fértil para a sua propagaçã o, bem como verificar o que ou quem está por trá s da difusã o dessas
ideologias.

O FUNDAMENTALISMO CRISTÃO
Nos Estados Unidos, os fundamentalistas ganharam muita projeçã o no governo de Ronald Reagan
(1981- 1989). No entanto, foi no governo de George W. Bush (2001-2009) que pudemos observar
os efeitos mais nefastos da chamada guerra contra o terror.

O FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO
Como afirmamos, o fundamentalismo está assentado sobre a crença na verdade dos textos sagrados
das diferentes religiõ es. Com o Islamismo nã o é diferente. A interpretaçã o do Alcorã o, o livro
sagrado dos muçulmanos, também é feita por muitos fiéis com viés maniqueísta.

Para entendermos melhor a questã o, é necessá rio lembrar que, assim como o cristianismo, o
islamismo divide-se em diferentes grupos – há que se destacar do cisma das igrejas cristã s ainda no
início da Idade Média, que dividiu os cristã os entre ocidentais e orientais. Os cristã os ocidentais,
por sua vez, subdividem- -se em cató licos, espíritas, protestantes, entre outros.

Dentre os vá rios grupos islâ micos ou muçulmanos, dois se destacam: os sunitas e os xiitas. Para um
muçulmano, o vínculo fundamental nã o é a terra natal, mas sim a comunidade de fiéis em que todos
sã o iguais em submissã o perante Alá , transcendendo as instituiçõ es de um Estado, encarado como
origem de divisõ es entre os fiéis. Os fundamentalistas islâ micos acreditam ainda que, para o
crescimento da comunidade, devem se engajar na luta contra a ignorâ ncia e falta de obediência aos
ensinamentos de Alá .

Os fundamentalistas pregam o radical e urgente rompimento com tudo o que lhes pareça
“ocidental”. Segundo eles, as mulheres devem usar o xador ou a burca, nã o devem receber
instruçã o, nem serem atendidas por médicos homens. O ensino em qualquer nível deve priorizar a
religiã o e as leis comuns devem acolher as regras corâ nicas (açoite ou apedrejamento para os
adú lteros, execuçõ es pú blicas etc.).

Podemos dizer, portanto, que o fundamentalismo islâ mico é um movimento tradicionalista, que se
expande atualmente quase como resposta à s políticas e às imposiçõ es imperialistas do século XIX e
início do século XX.

Pá gina 152

SAIBA MAIS

Islamismo: como surgiu a divisão entre sunitas e xiitas

Para entender a disputa entre xiitas e sunitas é preciso voltar ao século VII, quando Maomé fundou
o Islã . Segundo a tradiçã o muçulmana, os seguidores do Profeta deixaram a idolatria para seguir
Alá , o deus ú nico. Maomé foi perseguido em Meca, sua cidade natal, e migrou para Medina – onde
fundou a primeira comunidade islâ mica (a umma). Lá, tornou-se um líder religioso, político e
militar. E as revelaçõ es divinas feitas a ele ficaram registradas no Corã o, o livro sagrado dos
muçulmanos.

Maomé nunca deixou claro quem seria seu sucessor. Quando morreu, em 632, a comunidade
muçulmana tinha um belo abacaxi nas mã os. Como seria escolhido o novo líder? Que funçõ es ele
teria? Quanto duraria o mandato? Assim, surgiram dois grupos antagô nicos.

O grupo menor formava o Shiat Ali, ou “partido de Ali”. Seus seguidores ficaram conhecidos como
xiitas. A facçã o majoritá ria foi chamada de sunita (do termo Ahl al Sunna, “o povo da tradiçã o”). Em
meio à emergência de escolher um novo líder, o círculo íntimo dos seguidores do Profeta elegeu
Abu Bakr, velho companheiro de Maomé. Abu Bakr usou o título de califa (khalifa khalifa), uma
palavra á rabe que combina as ideias de sucessor e representante. Os sunitas aplaudiram a escolha,
mas o xiitas protestaram.

[…]

Nos primeiros séculos do Islã , houve guerras massivas. “Nos séculos VII e VIII, os omíadas
construíram um império sunita. E quem nã o fosse sunita era massacrado”, diz [Reza] Aslan. “No
século VIII, os abá ssidas assumiram o poder. Eles descendiam de Maomé através de Fá tima (filha do
profeta e mulher de Ali). Eram xiitas. E seu império massacrou sunitas.”

SZKLARZ, E. Aventuras na História. 8 ago. 2012. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/ aventuras-


historia/confira-como-surgiu-divisao-sunitas-xiitas-696521.shtml>. Acesso em: 11 abr. 2016.

ATIVIDADE

Fundamentalismos

Leia o texto a seguir.

Fundamentalismo e globalização

Cabe enfatizar o papel deslanchador de fundamentalismo que o tipo de globalizaçã o econô mico-
-financeira imperante está produzindo em todo o mundo. Esse processo é ilusoriamente feito em
relaçõ es de interdependências, mas, na verdade, de dependências dos grandes conglomerados
globais e dos capitais especulativos que dominam as economias periféricas, desestabilizando-as
segundo seus interesses particulares, sem qualquer preocupaçã o pelo bem-estar dos povos e a
sustentabilidade do planeta e criando milhõ es e milhõ es de excluídos.

A nova ordem surgida apó s a implosã o do mundo socialista nã o melhorou a situaçã o do mundo. Ao
contrá rio, radicalizou as contradiçõ es internas. O fosso entre riqueza e pobreza aumentou. O estado
da Terra é dramá tico. As promessas de paz duradoura esvaneceram-se logo. A ló gica individualista
e nã o cooperativa da cultura do capital distribuiu os laços de solidariedade entre os povos,
exacerbou o individualismo, tentou desconstruir o Estado, visto como obstá culo à expansã o dos
capitais, e desmoralizar a política como busca comum do bem do povo, transformando-a em busca
do bom funcionamento da globalizaçã o capitalista.

Em decorrência desses mú ltiplos fatores, em muitos povos do mundo há sentimento de decepçã o e


de abandono à pró pria sorte. Efetivamente, da dependência, muitos países passaram à
prescindência. Nem sequer possuem o privilégio de serem explorados pelos grandes
conglomerados mundiais. Há o risco real de que a segurança seja buscada nas relaçõ es norte-norte
e se abandonem as relaçõ es com o sul, onde estã o a maioria dos pobres da humanidade, cadinho
permanente de amargura, ressentimento, decepçã o, combustível explosivo de terrorismo.

O terrorismo moderno pode golpear o norte, em seu coraçã o, como ocorreu com os Estados Unidos.
Tal situaçã o é inédita. Pois foi quase sempre o norte que levou terror ao sul através das conquistas
coloniais, da expansã o imperialista e do combate feroz aos processos de independência.

Pá gina 153

Esse dado nunca deve ser esquecido. Ele deixa um lastro de ressentimento e de raivas histó ricas
que podem se manifestar na vontade de vindita e de elaboraçã o de atos terroristas.

Acresce ainda ao fato de as potências de outrora coloniais e escravistas nã o terem querido pedir
desculpas, em recente Foro Mundial na Á frica do Sul, pelo terror que levaram às colô nias e aos
povos negros, por séculos tratados como ”peças” a serem leiloadas e vendidas nos mercados
negreiros das Américas e da Europa. Essas marcas sã o indeletá veis e ainda sangram. Mas quais dos
brancos se dã o conta desse sofrimento histó rico acumulado? […]

Por outro lado, o processo de globalizaçã o significa também, em muitos aspectos, globocolonização,
nivelamento das diferenças e ameaça das singularidades culturais. Ora, as religiõ es sã o,
reconhecidamente, ingredientes poderosos na construçã o das identidades dos povos. Sã o elas que
lhes dã o uma aura de mística e de esperança. Quando essas culturas se sentem ameaçadas pela
globalizaçã o, se agarram à religiã o para autoafirmar-se. Daí emergem exclusõ es e violência contra
aqueles que os ameaçam. Explode o terrorismo como forma de autodefesa e de contraofensiva dos
fracos contra os poderosos, utilizando meios altamente destruidores, como temos assistido
ultimamente. Esse caso é mais frequente nas naçõ es islâ micas, submetidas maciçamente a
processos de modernizaçã o e de ocidentalizaçã o.

Há dezenas de anos que a política exterior dos Estados Unidos maltrata as naçõ es á rabes, fazendo
pactos com governantes despó ticos (alguns emirados á rabes nem Constituiçã o e Parlamento
possuem) em razã o da garantia e suprimento de petró leo. A partir de 1991, por ocasiã o da guerra
contra o Iraque, já morreram naquele país cerca de quinhentas mil crianças, por conta do embargo
aos suprimentos medicinais. Madeleine Albright, ministra das relaçõ es exteriores da administraçã o
Clinton, certificando-se do fato, cinicamente comentou: ”É um preço alto, mas estamos dispostos a
pagá -lo”. Sistemá ticos bombardeios mataram 5% da populaçã o iraquiana. […]

BOFF, L. Fundamentalismo: a globalizaçã o e o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. p. 33-37.

1. Com base na leitura do texto, responda às questõ es a seguir.

a) Qual é a relaçã o que o autor estabelece entre a colonizaçã o empreendida ao Sul e a noçã o de
terror?

b) Por que o abandono do Sul pode ser o “combustível explosivo de terrorismo”?

c) De que forma as identidades religiosas podem se tornar elementos fundamentalistas?

2. Reú na-se com seus colegas e discutam os pontos abordados nas questõ es.

FUNDAMENTALISMO ECONÔMICO
O fundamentalismo econô mico se baseia nos princípios do neoliberalismo, que defende o livre-
-mercado, a diminuiçã o do papel do Estado – exceto para aplacar crises e evitar monopó lios –, a
valorizaçã o das açõ es individuais frente à s coletivas e a competitividade frente à solidariedade.
As teorias neoliberais ganharam força com o fim da Guerra Fria, com os discursos dos governos dos
Estados Unidos e do Reino Unido defendendo a abertura irrestrita dos mercados em um “mundo
sem fronteiras”. Na prá tica, esse conceito se aplicava ao capital e aos investimentos econô micos do
Norte (desenvolvido) sobre o Sul (subdesenvolvido). O neoliberalismo se articula com a
globalizaçã o para criar mecanismos mais rápidos e versá teis visando ao lucro a qualquer preço,
estabelecendo uma relaçã o sistêmica e estrutural de exploraçã o e desigualdade. Ele se impõ e como
pensamento ú nico, daí o motivo de ser considerado um fundamentalismo.

Alguns fatos demonstram a perversidade do fundamentalismo econô mico: a ciência avança na


formulaçã o de novos medicamentos e instrumentos de saú de, mas, para uma parte considerá vel da
sociedade mundial, a morte virá precocemente devido à falta de recursos para adquiri-los. A mesma
comparaçã o pode ser feita com a produçã o de alimentos: as tecnologias agrícolas evoluem e a
produtividade está sendo consideravelmente elevada. Apesar disso, a fome e a subnutriçã o só têm
aumentado.

FUNDAMENTALISMO POLÍTICO
O fundamentalismo político, por sua vez, tem sua raiz nos dois anteriores: o religioso e o
econô mico. Ele se baseia na visã o de que os Estados nacionais estã o em constante perigo.

Pá gina 154

Esse perigo pode ser o desemprego, o desamparo, o imigrante – ou os grupos étnico-culturais


diferentes – e, é claro, as religiõ es.

Quanto mais o discurso do medo é propagado, maior é o rancor e o ó dio em relaçã o ao diferente,
tido como uma ameaça.

Assim, o discurso do ó dio fundamenta muitas das açõ es terroristas na atualidade nas suas duas
modalidades: o terrorismo praticado por grupos extremistas e o terrorismo de Estado.

TERRORISMO
Prá tica do terror como instrumento de açã o política, procurando alcançar pelo uso da violência
objetivos que poderiam ou deveriam cometer-se ao exercício legal da vontade política. O terrorismo
caracteriza-se, antes de mais nada, pela indiscriminaçã o das vítimas a atingir, pela generalizaçã o da
violência, visando, em ú ltima aná lise, à liquidaçã o, desativaçã o ou retraçã o da vontade de combater
do inimigo predeterminado, ao mesmo tempo que procura paralisar também a disponibilidade de
reaçã o da populaçã o.

Polis: enciclopédia verbo do Direito e do Estado, vol. 5, col. 1196. Lisboa: Verbo, 1987.

O terrorismo pode ocorrer por motivos político-nacionalistas, religiosos e étnico-culturais. Com a


expansã o das redes de comunicaçã o, as informaçõ es chegam aos mais diversos locais do planeta,
praticamente em tempo real. Essa globalizaçã o da informaçã o também é usada pelos terroristas
para atingir o seu objetivo, que é causar o medo, a desconfiança e a sensaçã o de insegurança nas
pessoas, independentemente do vínculo que possam ter com o a ideologia do extremista. Os
atentados à s Torres Gêmeas do World Trade Center e ao Pentá gono, em 11 de setembro de 2001,
nos Estados Unidos, serviram como marcos histó ricos de açã o e reaçã o com violência.

O grupo terrorista Al-Qaeda, liderado pelo saudita Osama bin Laden, foi apontado como o mentor e
executor dos atentados. Na versã o oficial das agências estadunidenses, Osama e o seu grupo foram
considerados “extremistas islâ micos” que precisavam ser eliminados. Nã o se fez nenhuma mençã o
à identidade nacional de Osama bin Laden, membro de uma das famílias mais ricas e influentes da
Ará bia Saudita, país que possui estreitos laços econô micos com os Estados Unidos.

O vínculo com a religiã o daria ao governo estadunidense maior respaldo para justificar as suas
açõ es militares sobre um inimigo oculto – o terrorismo. No entanto, a Al-Qaeda, assim como outros
grupos terroristas, nã o representa nenhum Estado- -naçã o e tampouco a visã o da maioria dos
muçulmanos. Portanto, era preciso vincular as açõ es dos extremistas aos governos de alguns países,
atribuindo-lhes uma corresponsabilidade pelos atentados, por acobertarem e darem suporte
logístico e financeiro para esses grupos.

Em 2002, as açõ es militares dos Estados Unidos e países aliados se concentraram no Afeganistã o
sob a alegaçã o de que o governo local (os talibã s), além de constituir uma ditadura teocrá tica,
abrigava bases da Al-Qaeda. Em 2003, foi a vez do Iraque.

Governado pelo ditador Saddam Hussein, o Iraque foi invadido pelas tropas dos Estados Unidos e
do Reino Unido, desrespeitando as resoluçõ es do Conselho de Segurança da Organizaçã o das
Naçõ es Unidas (ONU). A alegaçã o era a de que o Iraque possuía armas de destruiçã o em massa. O
nú mero de vítimas civis na invasã o foi assombroso, embora justificado pela necessidade de “conter
o terror”. Um país inteiro foi taxado de terrorista, mesmo nã o tendo sido encontrada nenhuma das
armas de destruiçã o apontadas pelos relató rios dos países invasores.

Nas duas açõ es militares, os governos locais caíram e foram substituídos por outros, mais
vinculados com o Ocidente. Osama bin Laden foi localizado pela agência de inteligência dos Estados
Unidos (CIA), em 2011, no Paquistã o, e morto numa açã o militar planejada.

ATIVIDADE

Análise do fato com toda a sua complexidade

Leia o trecho a seguir, extraído do livro 11 de Setembro, de Noam Chomsky. Em seguida, redija um
texto sobre o risco de se observar uma notícia com uma visã o ú nica e simplista.

Quando as bombas do IRA explodiram em Londres, ninguém falou em bombardear Belfast, ou


Boston, as fontes da maior parte do apoio financeiro recebido pelo IRA. Deu-se preferência a se
providenciar a captura dos criminosos, e muitos esforços foram empreendidos para enfrentar quem
sustentava o terror.

Pá gina 155

Quando um edifício federal foi explodido na cidade de Oklahoma, logo houve um clamor
defendendo que se bombardeasse o Oriente Médio, o que provavelmente teria acontecido se a
origem do atentado estivesse lá . Mas, quando se descobriu que o atentado era doméstico, com
articulaçõ es de milícias de extrema-direita, ninguém disse nada a respeito de destruir os estados
americanos de Montana e Idaho.

Em vez disso, deflagrou-se uma caçada aos responsá veis pelo atentado, que foram presos, levados a
julgamento e sentenciados, e empreenderam-se esforços para entender o ressentimento que estava
por trá s desses crimes, assim como para diminuir o problema. Praticamente todo crime – seja um
assalto na rua ou uma atrocidade de proporçõ es colossais – tem sua razã o, e o mais usual é
entendermos que essas razõ es devem ser levadas em conta e que precisamos resolver o problema.

CHOMSKY, N. 11 de Setembro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.


A GUERRA CONTRA O TERROR
Como resposta aos ataques à s Torres Gêmeas e ao Pentá gono, em 2001, o entã o presidente dos
Estados Unidos, George W. Bush, defendeu a ideia de que os atentados representaram “atos de
guerra” nã o apenas contra os Estados Unidos, mas contra a “civilizaçã o ocidental”.

O uso do termo “atos de guerra”, ao invés de atentados terroristas, permite que o país atacado
invoque o artigo 5 da Organizaçã o do Tratado do Atlâ ntico Norte (Otan), que prevê o engajamento
automá tico dos seus países-membros contra o agressor.

Ofensiva contra o Afeganistão


O governo estadunidense alegou que Osama bin Laden e outros membros da Al-Qaeda estavam no
Afeganistã o, sendo acobertados pela milícia Talibã, que havia tomado o governo daquele país em
1996. Esse foi o motivo da ocupaçã o militar do Afeganistã o por uma coalizã o liderada pelos Estados
Unidos, em 2002.

Allmaps

Fonte: National Geographic Society. Atlas National Geographic: Á sia I. v. 7. Sã o Paulo: Abril: 2008.

Artigo 5 da Otan

As Partes concordam em que um ataque armado contra uma ou vá rias delas na Europa ou na
América do Norte será considerado um ataque a todas, e, consequentemente, concordam em que, se
tal ataque armado se verificar, cada uma, no exercício do direito de legítima defesa, individual ou
coletiva, reconhecido pelo artigo 51° da Carta das Naçõ es Unidas, prestará assistência à Parte ou
Partes assim atacadas, praticando sem demora, individualmente e de acordo com as restantes
Partes, a açã o que considerar necessá ria, inclusive o emprego da força armada, para restaurar e
garantir a segurança na regiã o do Atlâ ntico Norte. Qualquer ataque armado desta natureza e todas
as providências tomadas em consequência desse ataque sã o imediatamente comunicados ao
Conselho de Segurança. Essas providências terminarã o logo que o Conselho de Segurança tiver
tomado as medidas necessá rias para restaurar e manter a paz e a segurança internacionais.

Otan. Tratado do Atlântico Norte, 4 abr. 1949. Disponível em: <www.nato.int/cps/en/natohq/


official_texts_17120.htm?selectedLocale=pt>. Acesso em: 12 abr. 2016.

No contexto da Guerra Fria, a entã o Uniã o Soviética invadiu o Afeganistã o em 1979, e manteve lá as
suas tropas até 1989. Durante esses dez anos, as milícias contrá rias ao governo socialista e à
presença soviética na regiã o foram treinadas e armadas pelos Estados
Pá gina 156

Unidos. Os chamados mujahedins sã o guerrilheiros que lutaram contra o domínio soviético,


conclamando a populaçã o a aderir à guerra santa (jihad). A tensã o no período deslocou mais de 5
milhõ es de pessoas para o vizinho Paquistã o.

Com a política de distensã o entre Estados Unidos e Uniã o Soviética, sinalizando o fim da Guerra
Fria, o Afeganistã o foi desocupado pelas forças externas, mas isso nã o significou o fim dos conflitos,
uma vez que os diversos grupos étnicos que compõ em o país acirraram a disputa pelo seu controle.

Em 1996, apoiado pelo Paquistã o, o grupo Talibã tomou o poder o impô s a sharia, lei baseada nos
pressupostos religiosos do islamismo.

Mas, o que possui o Afeganistã o para justificar tantas disputas? Sua posiçã o geográ fica na Á sia é de
vital importâ ncia para o escoamento do petró leo e do gá s dos países do centro-asiá tico. Situaçã o
semelhante à do Iraque, em relaçã o ao Oriente Médio.

Jihad

Guerra Santa, batalha travada pela reforma do mundo por meio da fé islâ mica. Pode ser vista ainda como a
guerra contra os “infiéis”.

Allmaps

Fonte: Global research 2003. Disponível em: <www.globalresearch.ca/the-next-phase-of-the-middle-east-war/3147>.


Acesso em: 25 abr. 2016.

Invasão do Iraque
Em 2003, a ofensiva se voltou contra o Iraque, que foi incluído pelo governo Bush no grupo
denominado Eixo do Mal, juntamente com o Irã e a Coreia do Norte. O governo de Saddam Hussein
foi acusado de produzir e esconder armas de destruiçã o em massa.

Pá gina 157

Apesar de os inspetores da ONU alegarem que nada haviam encontrado, Estados Unidos e Reino
Unido mantiveram a sua decisã o de ataque ao Iraque, mesmo sem o aval do Conselho de Segurança
da ONU.

O presidente iraquiano Saddam Hussein foi preso em 2003 e condenado à pena de morte em 2006.
A ofensiva seguiu até 2011, quando os ú ltimos soldados foram retirados por decisã o do entã o
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

O saldo da guerra foi desastroso: milhares de civis iraquianos foram mortos, centenas de soldados
perderam a vida, bilhõ es de dó lares foram gastos e nenhuma arma de destruiçã o massiva foi
encontrada.

Allmaps

Fonte: National Geographic Society. Atlas National Geographic: Á sia I. v. 7. Sã o Paulo: Abril: 2008.
Estú dio Pingado

Fonte: Iraq Body Count. Disponível em: <www.bbc.com/ portuguese/noticias/2011/12/111215_eua_iraque_numeros_


fn.shtml>. Acesso em: 12 abr. 2016.

Estú dio Pingado

Fonte: Defense Manpower Data Center. Disponível em: <www.bbc.com/


portuguese/noticias/2011/12/111215_eua_iraque_numeros_fn.shtml>. Acesso em: 12 abr. 2016.

Pá gina 158

Estú dio Pingado

Fonte: Serviço de Pesquisas do Congresso dos Estados Unidos, 2010. Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/
noticias/2011/12/111215_eua_iraque_numeros_fn.shtml>. Acesso em: 12 abr. 2016.

SAIBA MAIS
Com justificativa falsa, Iraque era invadido há 10 anos [2003]

Depois de conquistado, Bush e Blair assumiram que não existiam armas de destruição em massa

No dia 20 de março de 2003 os Estados Unidos deram início à guerra do Iraque com um intenso
bombardeio. Em pouco tempo, a força de coalizã o conseguiu derrubar o governo de Saddam
Hussein e instituiu um governo de natureza provisó ria. A invasã o teve como uma das principais
justificativas o perigo iminente de Saddam com suas armas químicas e outras de destruiçã o em
massa. O ditador foi capturado em dezembro de 2003. Nos meses seguintes, a verdade sobre as
armas veio à tona. George Bush e Tony Blair assumiram que nã o havia o perigo, mas colocaram a
culpa no trabalho dos serviços secretos. Mas já era tarde. O conflito encerrado mais de oito anos
depois custou a vida de 115,5 mil civis iraquianos e de 4 483 militares americanos. E nã o levou a
estabilidade ao país, uma das promessas antes da invasã o.

SACONI, R.; ENTINI, C. E. O Estado de S. Paulo, 19 mar. 2013. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/
noticias/acervo,com-justificativa-falsa-iraque-erainvadido-ha-10-anos,8951,0.htm>. Acesso em: 25 mar. 2016.

A transiçã o política no Iraque foi acompanhada pelas potências ocidentais. A queda de Saddam
Hussein permitiu a ascensã o do grupo xiita ao poder, que passou a hostilizar os sunitas, que haviam
recebido privilégios na ditadura de Hussein.

Veja a seguir divisã o do país em grupos étnicos e religiosos e sua distribuiçã o no territó rio.

Allmaps

Fonte: Por que os curdos nã o tê m Estado? Mundialíssimo, 17 out. 2014. Disponível em:
<http://mundialissimo.blogfolha.uol.com. br/2014/10/17/por-que-os-curdos-nao-tem-estado>. Acesso em: 27 mar. 2016.
O que se assiste hoje no Iraque é um clima de grande instabilidade e com alto índice de corrupçã o. A
populaçã o marginalizada encontra nos grupos extremistas e terroristas chances de emprego e
amparo. Nã o é à toa que, apó s a invasã o, as atividades terroristas no país cresceram
assustadoramente, vide exemplo do Estado Islâ mico.

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ATIVIDADE

A “ética” da guerra

Esta atividade pode ser realizada com a ajuda dos professores de Geografia, Histó ria, Filosofia e
Sociologia.

1ª etapa: divisã o da sala em grupos com quatro ou cinco integrantes.

2ª etapa: pesquisa geral.

Pesquisem alguns dos parâ metros da Convençã o de Genebra que regem a conduta nas guerras.
Acessem o artigo 3º da Convençã o de Genebra, disponível no site da Cruz Vermelha.

Em seguida, assistam à animaçã o Normas da guerra (em poucas palavras), também disponível no
site da Cruz Vermelha. Em aproximadamente cinco minutos, o vídeo expõ e o que é permitido e o
que é proibido em uma guerra.

3ª etapa: pesquisa específica.

Os grupos escolherã o um dos temas a seguir e farã o pesquisas na internet para entender a situaçã o
apresentada.

• Situaçã o dos campos prisionais de Guantánamo e Abu Ghraib.

Guantá namo é uma base militar estadunidense em territó rio cubano e possui um campo prisional.
Abu Ghraib é o antigo nome de um complexo penitenciá rio no Iraque. Essas duas á reas abrigaram
prisioneiros das guerras do Afeganistã o e do Iraque e ganharam destaque na imprensa apó s a
revelaçã o de que os prisioneiros eram submetidos a humilhaçõ es e tortura.

• Atuaçã o de empresas privadas de segurança no conflito do Iraque.

Contractors é o nome genérico que os Estados Unidos dã o à s empresas privadas especializadas em


segurança e organizaçã o de comandos e tropas. Essas empresas ganharam notoriedade por ocasiã o
da invasã o do Iraque, a partir de 2003, sobretudo em funçã o da brutalidade das suas açõ es.

Com a contrataçã o de empresas privadas, as forças dos Estados Unidos ampliaram seus limites de
atuaçã o, o que resultou em aumento dos atos violentos no Iraque.

4ª etapa: discussã o em grupo sobre a pesquisa feita e a aplicaçã o da Convençã o de Genebra.

O grupo deverá produzir um texto com posicionamento crítico.

5ª etapa: montagem de painel ou apresentaçã o de slides.


Criar um painel com imagens e textos explicativos acerca do tema da pesquisa. Incluir no painel um
pequeno posicionamento crítico do grupo.

O painel pode ser feito em computador, utilizando um programa de confecçã o de slides.

6ª etapa: apresentaçã o das conclusõ es para a classe.

O IRÃ E AS RELAÇÕES COM O OCIDENTE


No Irã , a maioria da populaçã o é de origem persa e nã o á rabe. A religiã o predominante é a
muçulmana do ramo xiita.

O Irã ocupa um papel estratégico e controverso no Oriente Médio: estratégico em funçã o de suas
reservas de petró leo e também pela posiçã o privilegiada para o escoamento dos hidrocarbonetos
da regiã o e do centro da Á sia; controverso por conta de seu sistema político que, desde a Revoluçã o
Iraniana, em 1979, é teocrático.

A Revoluçã o Iraniana conduziu um clérigo xiita ao poder – o aiatolá Khomeini – e, desde entã o, as
relaçõ es entre Irã e Estados Unidos se agravaram. O Irã se opunha à ingerência dos Estados Unidos
nos assuntos regionais e os Estados Unidos, por sua vez, acusavam o Irã de apoiar grupos
extremistas – como o Hezbollah, do Líbano – e desenvolver um programa nuclear de cunho bélico.

Teocracia

O termo vem do grego Teo (Deus) + cracia (poder). É o sistema de governo baseado em normas religiosas, às
quais estã o submetidos os sistemas político e jurídico.

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O aiatolá Khomeini faleceu em 1989, em meio à política de distensã o entre Estados Unidos e a entã o
Uniã o Soviética para pô r fim à Guerra Fria. Contudo, o Irã permaneceu fechado ao Ocidente, tendo
relaçõ es mais pró ximas com a Rú ssia.

Foi somente em 2015 que um importante passo foi dado em direçã o à aproximaçã o entre Irã e o
Ocidente, com assinatura de um o acordo nuclear. Desde 2006, o chamado P5+1, grupo formado
pelos Estados Unidos, Reino Unido, França, Rú ssia, China e Alemanha, negociava um acordo que
pudesse controlar a atividade nuclear do Irã , por temer que o país pudesse investir na produçã o de
armas.
Allmaps

*Dados arredondados. Fonte: The World Factbook (CIA). Disponível em:<www.cia.gov/library/publications/the-world-


factbook/geos/as.html>. Acesso em: 30 mar. 2016.

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O Irã afirmou sempre que o seu programa nuclear tinha apenas fins pacíficos. A assinatura do
acordo selou um novo período na geopolítica do Oriente Médio. No entanto, Ará bia Saudita e Israel,
aliados dos Estados Unidos, temem que o Irã possa utilizar a sua nova diplomacia para se impor
politicamente na regiã o.

A PRIMAVERA ÁRABE
Denominou-se Primavera Á rabe a onda de protestos iniciada em 2010 na Tunísia e que, em pouco
tempo, espalhou-se para diversos países á rabes do norte da Á frica e do Oriente Médio.

No dia 17 de dezembro de 2010, o jovem tunisiano Mohamed Bouazizi ateou fogo ao pró prio corpo
em protesto contra a situaçã o do seu país. Com o desemprego crescente e nenhuma proteçã o do
Estado, muitos trabalhadores da Tunísia se dedicavam ao comércio informal nas ruas. Era o caso de
Mohamed, que, diariamente, buscava o sustento de sua família com a venda de produtos que eram
sistematicamente confiscados pelos fiscais do governo, a menos que se pagasse propina. A situaçã o
se tornou insustentá vel para o vendedor e seu ato desencadeou protestos que culminaram na
queda do presidente Zine al-Abidine Ben Ali, em janeiro de 2011, que estava no poder há mais de
vinte anos.

O desfecho na Tunísia levou multidõ es à s ruas do Egito, da Líbia, da Síria, do Iêmen e do Barein,
além de alguns países com monarquias tradicionais. A intensificaçã o dos protestos ocorreu graças à
comunicaçã o estabelecida entre os usuá rios de redes sociais.

Todos os países que assistiram a movimentos de pressã o popular tinham em comum a ausência de
democracia, o desemprego em alta – sobretudo apó s a crise econô mica mundial de 2008 – e um alto
grau de corrupçã o nas esferas governamental e civil.

As revoltas derrubaram alguns governos, mas nã o se pode dizer que atingiram o seu objetivo. Em
alguns países o movimento foi duramente reprimido. Em outros, foi contornado e atenuado com
promessas e com aumento de salá rios dos funcioná rios pú blicos.

No caso do Egito, a queda de dois presidentes resultou no retorno dos militares ao governo. Líbia e
Síria vivenciaram guerras civis e uma das maiores ondas de refugiados em tempos recentes.

Khalil Hamra/AP Photo/Glow Images

Manifestantes egípcios durante a Primavera Á rabe, em Cairo, no Egito, 2012.

SAIBA MAIS

Por que os protestos foram chamados de Primavera Árabe?

O termo é uma analogia com a Primavera dos Povos, de 1848, período em que a Europa enfrentava
uma crise econô mica motivada pela baixa produçã o do campo e pela queda no consumo nas
cidades. O clima desalentador, com desemprego e miséria crescentes, impulsionou levantes
populares contra as monarquias da época.

Mesmo com poucos recursos de comunicaçã o, as notícias sobre os levantes chegavam aos países
vizinhos e desencadeavam novos movimentos num efeito dominó .

Os movimentos de 1848 foram duramente reprimidos pelos seus governos. O início da Segunda
Revoluçã o Industrial na Europa acabou por amenizar a situaçã o econô mica e, consequentemente, a
política.
Pá gina 162

Cré ditos das bandeiras e das fotos, respectivamente: 1) alvindom/Shutterstock; Pool Interagences/Gamma-Rapho/Getty Images; 2) Julinzy/Shutterstock; US State
Department/Alamy/Glow Images; 3) Photoonlife/Shutterstock; Amr Abdallah Dalsh/Reuters/Latinstock; 4) noche/Shutterstock; Mario Tama/Getty Images; 5) Globe
Turner/Shutterstock; History/AGB Photo Library; 6) Piotr Pryluski/Shutterstock; Sana/AFP.

Allmaps

Fonte do mapa: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Esquema elaborado pelos autores.

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GUERRAS CIVIS
A Primavera Á rabe conseguiu derrubar os governos da Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen. Líbia e Síria
mergulharam em guerras civis com altos índices de mortes, violência e migraçõ es forçadas, gerando
perplexidade mundial.
No entanto, é importante destacar que dentro dos princípios jurídicos internacionais, a
interferência externa em um conflito interno só pode ocorrer com o aval da ONU, respeitando as
seguintes normas:

• Intervençã o humanitá ria – visa à proteçã o dos civis sem a escolha de um lado de atuaçã o.
Entende-se que, mesmo em posiçõ es opostas, os civis devem ser protegidos de ataques, uma vez
que nã o têm condiçõ es beligerantes equivalentes à s dos grupos combatentes.

• Intervençã o militar – quando o lado insurgente também possui arsenal bélico.

Guerra da Líbia
Muammar Khadafi estava no poder da Líbia desde 1969 e era conhecido pela rigidez com que lidava
com os diferentes grupos étnicos do país.

Com um discurso regionalista, Khadafi se empenhou em articular politicamente os países do


continente africano em torno da Uniã o Africana e chegou até a propor a criaçã o de uma moeda
ú nica para o bloco, com o intuito de fortalecê-lo mundialmente.

No campo interno, Khadafi conseguiu criar uma legiã o de seguidores que defendiam o seu governo
e denunciavam os grupos opositores, que, em geral, concentravam-se nas ricas á reas petrolíferas do
norte do país.

No despertar da Primavera Á rabe, os protestos chegaram à Líbia e o governo respondeu com mã os


de ferro. Esses episó dios fomentaram ainda mais as rivalidades e o desejo de derrubar o governo.
Grupos de oposiçã o ao regime líbio se armaram e iniciaram uma guerra civil, com adesõ es inclusive
entre desertores das Forças Armadas Líbias.

O país ficou visivelmente dividido entre os grupos de oposiçã o ao regime de Khadafi e os que o
apoiavam. Os combates se tornaram sangrentos, dando margem para uma intervençã o humanitá ria
externa. Em 2011, apó s condenar os atos militares contra civis, a ONU aprovou uma resoluçã o para
a intervençã o da Otan no país, que previa uma zona de exclusã o aérea e a proibiçã o da venda de
armas para o governo líbio e para os grupos oposicionistas armados. Contudo, ela vetava açõ es
terrestres.

Encabeçada pelos Estados Unidos, Reino Unido e França, a intervençã o da Otan deveria ser
humanitá ria, ou seja, demandava proteçã o aos civis dos dois lados do conflito. Contudo, as açõ es da
Otan se concentraram em Trípoli, foco dos apoiadores de Khadafi, com bombardeios aéreos a
hospitais, equipamentos infraestruturais e consequentes mortes de civis.

As forças externas também se mostraram incapazes de impedir os atos de violência praticados


contra civis pelos rebeldes e pelo governo. A pró pria ONU, em março de 2012, reconheceu que
tanto o governo como os rebeldes cometeram crimes de guerra e violaçõ es aos direitos humanos.
Allmaps

Fonte: Der Spiegel, 21 fev. 2011. Disponível em: <www.spiegel. de/fotostrecke/libyen-staedte-ethnien-oelleitungen-


fotostrecke- 64896.html>. Acesso em: 12 abr. 2016.

Allmaps

Fonte: China Internet Information Center, 22 mar. 2011. Disponível em: <http://china.org.cn/world/2011-03/22/
content_22197846.htm>. Acesso em: 29 mar. 2016.

Pá gina 164

A intervençã o da Otan terminou em outubro de 2011 com a notícia da morte de Khadafi. A partir
dessa data, o país passou a ser conduzido por um governo de transiçã o incumbido de reorganizar as
instituiçõ es dentro dos ideais democrá ticos.

A produçã o e a exportaçã o de petró leo foram restabelecidas, gerando alívio aos compradores
europeus, mas, internamente, o país continua dividido e desassistido. Além da existência de duas
correntes políticas antagô nicas que reivindicam a legitimidade do poder, ainda persistem os antigos
revanchismos étnicos e, mais recentemente, os fundamentalistas religiosos.

A Líbia atualmente é um país mergulhado no caos institucional, o que é um campo fértil para o
florescimento dos extremismos. Prova disso é a expansã o de um braço do Estado Islâ mico no país.
Proliferam-se ainda os grupos de traficantes de pessoas, que cobram para reunir centenas de
pessoas em embarcaçõ es precá rias e superlotadas com destino à Europa. Por conta disso,
ocorreram naufrá gios que acabaram levando corpos à s praias europeias do Mediterrâ neo. As
embarcaçõ es que alcançam o seu destino estã o intensificando a maior crise humanitá ria desde a
Segunda Guerra Mundial.

Ciro Fusco/Corbis/Fotoarena

Imigrantes chegando de navio a Salerno, na Itá lia, 2015.

Allmaps e Estú dio Pingado

Fonte do grá fico: Reuters; fonte do mapa: Universidade de Columbia/NYT/El País. Disponível em
<http://gabinetedehistoria. blogspot.com.br/2013_09_01_archive.html>. Acesso em: 1 mar. 2016.

As disputas sírias refletem os interesses internacionais na regiã o: o governo de Bashar al-Assad tem
o apoio da Rú ssia e do Irã . A Rú ssia possui uma base militar instalada em territó rio sírio e tem
interesse especial nos gasodutos e oleodutos que passam pelo Oriente Médio provenientes da Á sia
Central.

A Europa é extremamente dependente da importaçã o de petró leo e gá s da Rú ssia, que, por isso,
utiliza esses produtos como ferramenta de barganha econô mica e política, tendo já ameaçado
cortar o abastecimento da Europa, em pleno início de inverno, caso a Uniã o Europeia aprovasse
sançõ es contra ela em funçã o do conflito na Crimeia.

Os Estados Unidos, por sua vez, tentam neutralizar esse poder russo sobre a Europa apoiando
novas alternativas comerciais e energéticas provenientes, sobretudo, do Cá ucaso e do Oriente
Médio.
É nesse jogo que a Síria se insere, pois ela é estratégica tanto para os interesses russos quanto para
os estadunidenses.

Pá gina 165

Allmaps

Fonte: The United Australian Lebanese Movement. Disponível em: <www.ualm.org.au/622-2>. Acesso em: 26 mar. 2016.

A rota de dutos Irã -Iraque-Síria é chamada de “rota xiita” e tem o apoio da Rú ssia, uma vez que os
governos do Irã e da Síria sã o seus aliados.

A rota de dutos Catar-Ará bia Saudita-Síria-Turquia é chamada de “rota sunita”. Ela neutraliza o
papel da Rú ssia no Oriente Médio e na Europa. Contudo, o governo Assad é um impedimento para
seu funcionamento.

O Catar e a Ará bia Saudita têm interesse na concretizaçã o da rota sunita e, por isso, financiam os
rebeldes sunitas que lutam contra o governo Assad. Ará bia Saudita e Israel também temem a uniã o
política da Síria com o Irã , que pode ampliar sua influência na regiã o.

A guerra civil na Síria se agravou em 2012, quando o grupo fundamentalista Estado Islâ mico iniciou
uma série de ataques naquele territó rio.

Os combates na Síria vitimaram mais de meio milhã o de pessoas e impeliram mais de 4 milhõ es ao
exílio. Na condiçã o de refugiados, essas pessoas vivem em acampamentos nos países vizinhos e,
invariavelmente, aspiram à entrada no continente europeu, submetendo-se a todo tipo de
adversidade e perigo na tentativa de concretizar esse objetivo. A guerra na Síria já reduziu a
expectativa de vida do país em 20 anos.

Segundo o professor e escritor Moniz Bandeira, o que se assiste no Oriente Médio e em outras
partes do mundo é o ressurgimento da Guerra Fria, uma disputa nã o declarada entre
superpotências, visando o controle de á reas estratégicas. No seu livro A Segunda Guerra Fria
(2013), ele analisa o conflito na Síria nã o apenas considerando os interesses dos grupos internos
envolvidos, mas também o jogo político travado entre Estados Unidos e Rú ssia.
Allmaps

Fonte: BBC, com base em UNHCR. Disponível em: <www.bbc.


com/portuguese/noticias/2015/09/150910_vizinhos_refugiados_ lk>. Acesso em: 5 abr. 2016.

Pá gina 166

SAIBA MAIS

A Segunda Guerra Fria

O objetivo dos Estados Unidos e das demais potências ocidentais era assumir o controle do
Mediterrâ neo e isolar politicamente o Irã , aliado da Síria, bem como conter e eliminar a influência
da Rú ssia e da China no Oriente Médio e no Magreb. A Rú ssia, desde 1971, estava a operar o porto
de Tartus, na Síria, e projetava reformá -lo e ampliá -lo, como base naval, em 2012, de modo que
pudesse receber grandes navios de guerra, garantindo a sua presença no Mediterrâ neo.

Consta que a Rú ssia também planejava instalar bases navais na Líbia e no Iêmen. E os Estados
Unidos, ao financiar a oposiçã o, na Síria, desde 2005-2006, visou a desestabilizar e derrubar o
regime de Bashar al-Assad, a fim de impedir, inter alia, o aprofundamento, via naval, de suas
relaçõ es com a Rú ssia e quebrar o eixo entre o Irã , o Hezbollah, no Líbano, e o Hamá s, na Palestina.

BANDEIRA, M. A Segunda Guerra Fria: geopolítica e dimensã o estratégica dos Estados Unidos. Rio de Janeiro:
Civilizaçã o Brasileira, 2013. p. 372.

Povo curdo

No centro dos recentes conflitos travados no Iraque e na Síria se encontra o povo curdo, a maior
naçã o sem pá tria do mundo.

O povo curdo descende de comunidades pastoris que viviam nas montanhas do Oriente Médio e
possuíam terras coletivas. Pesquisas apontam que os seus ancestrais podem ter se estabelecido ali
há mais de 12 mil anos.
Como a regiã o povoada pelos curdos é estratégica – uma ligaçã o entre o Ocidente e o Oriente – e
sempre foi muito cobiçada por outras comunidades e povos, os curdos desenvolveram uma tradiçã o
guerreira para defendê-la.

No século VII, os curdos foram, em grande parte, islamizados em razã o da expansã o territorial dos
á rabes muçulmanos. Apesar da aspiraçã o pelo estabelecimento de um Estado pró prio, as regiõ es
habitadas pelos curdos foram ocupadas por sucessivos impérios, inclusive pelo Império Turco-
Otomano, que entrou em declínio depois de sua derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

O fim do Império Turco-Otomano nã o favoreceu o surgimento de um Curdistã o livre e soberano,


pois os interesses e as políticas internacionais na regiã o inviabilizaram tal possibilidade.

O povo curdo se divide pelos territó rios da Turquia, Irã , Iraque, Síria e Armênia, conforme pode ser
observado no mapa a seguir.

Mundimagem

Fonte: GRESH, A. et al. Atlas da globalização: Le Monde Diplomatique. 2. ed. Lisboa: Campo da Comunicaçã o, 2003. p.173

Pá gina 167

Os maiores atritos relacionados ao separatismo curdo ocorreram com a Turquia e Iraque. Neste
ú ltimo houve massacres de comunidades curdas, pelos quais Saddam Hussein foi responsabilizado.

A guerra civil da Síria gerou ampla destruiçã o, atingindo também a populaçã o curda. Mas o maior
drama recente desse povo ocorreu com a ascensã o do Estado Islâ mico, grupo fundamentalista que
se expandiu tanto pelo Iraque como pela Síria. Radical e violento, o Estado Islâ mico perpetrou
verdadeiros massacres contra os curdos, atingindo principalmente, os cristã os, os xiitas e os
yazidis, adeptos do zoroastrismo.

Observe no mapa a seguir as diversas orientaçõ es religiosas dos curdos.


Allmaps

GRESH, A. El atlas de Le Monde Diplomatique. Buenos Aires: Capital Intelectual, 2006. p. 129.

SAIBA MAIS

Kobane, Rojava e a luta das mulheres curdas

Kobani é uma cidade independente curda, parte do Curdistã o Sírio ou Curdistã o do Oeste, também
chamado de Rojava (“oeste” em curdo). Outras sete cidades também fazem parte de Rojava,
localizada na fronteira entre Síria e Turquia. Kobani se encontra desde setembro sob forte ataque
dos jihadistas do EI (Estado Islâ mico), contra o qual guerrilheiros do YPG (Unidades de Defesa do
Povo) vêm travando heró ica resistência.

O YPG foi fundado em 2004 pelo PYD (Partido da Uniã o Democrá tica), ligado ao PKK (Partido dos
Trabalhadores do Curdistã o), e iniciou sua açã o armada durante a guerra civil síria em 2011. No dia
19 de julho de 2012 conseguiu libertar Kobani das tropas de Assad e nos cinco dias seguintes
libertou as demais cidades. O YPG é um exército guerrilheiro de maioria curda, mas tem em suas
fileiras outras nacionalidades, e até combatentes cristã os. Se organiza de forma democrá tica, com
eleiçã o de seus líderes. Mas um dos maiores destaques é a brigada de mulheres do YPG, a YPJ
(Unidade de Defesa das Mulheres), que conta com cerca de sete mil guerrilheiras. A cada dia, novas
combatentes se graduam e ingressam nas unidades do exército guerrilheiro, organizam com outras
mulheres comitês de defesa e têm sido essenciais na defesa de Kobani contra a tentativa de invasã o
do Estado Islâ mico.

Pá gina 168

No dia 16 de setembro desse ano [2014], o Estado Islâ mico deu início a uma ofensiva contra a
cidade de Kobani. Em quatro de outubro, apó s vá rios dias de intenso confronto, os jihadistas do EI
já haviam tomado de assalto mais de 300 vilas curdas, causando uma onda de refugiados que já
atinge a casa de 300 mil pessoas – a maioria delas assentadas no lado turco da fronteira.

Contudo, o que se esperava por muitos, que seria uma batalha rápida e a queda garantida de Kobani
e de toda Rojava, vem se tornando um dos maiores reveses ao EI e seus jihadistas. O YPG vem
defendendo palmo a palmo a cidade curda e diversos sã o os relatos de combatividade, liderança e
heroísmo das combatentes do YPJ. Nem os bombardeios ianques causam tanto temor aos jihadistas
do EI quanto as balas das combatentes curdas, já que eles acreditam que caem em desgraça e vã o
para o inferno se forem mortos por uma mulher.

MAGRÃ O, A. A nova democracia, ano XIII, n. 140, nov. 2014. Disponível em: <http://anovademocracia.com.br/ no-
140/5648-kobane-rojava-a-luta-das-mulheres-curdas>. Acesso em: 3 mar. 2016.

O Estado Islâmico

O grupo jihadista sunita denominado Estado Islâ mico surgiu no início deste século, a partir de uma
ramificaçã o da Al-Qaeda do Iraque. Mesmo com a ocupaçã o do Iraque, a partir de 2003, pelas tropas
anglo- -estadunidenses, o grupo nã o se desfez, e ressurgiu em 2011 apó s a retirada estrangeira e a
ascensã o dos xiitas ao poder.

O novo governo iraquiano acentuou a divisã o entre xiitas e sunitas no país. Os sunitas, outrora
contemplados pelo governo de Saddam Hussein com empregos pú blicos e privilégios econô micos,
atualmente sã o marginalizados pelo governo xiita. Milhares se encontram desempregados ou
subempregados, o que facilitou o seu apoio e adesã o ao Estado Islâ mico.

O grupo é liderado atualmente por Abu Bakr al-Baghdadi e defende a expansã o de seu domínio para
além do Iraque e da Síria e a criaçã o de um califado, que é uma forma de governo que une e dirige
todos os muçulmanos em torno da lei islâ mica. Suas tá ticas sã o violentas e incluem trabalho
escravo nas á reas dominadas, a conversã o forçada ao islamismo, a morte dos considerados infiéis
mediante tortura e sofrimento e a submissã o das mulheres, até mesmo com casos de estupros.

Mesmo infringindo todas as normas dos direitos humanos universais, o Estado Islâ mico conseguiu
reunir adeptos de vá rios países do mundo. Recrutados pela ideologia jihadista e também pelo
pagamento oferecido aos combatentes, o grupo tem crescido a cada nova cidade tomada.

Maiores contingentes de combatentes estrangeiros do


Estado Islâmico na Síria e no Iraque (2014)
País de origem Número de combatentes*
Tunísia 3 000
Ará bia Saudita 2 500
Jordâ nia 2 100
Marrocos 1 500
Líbano 900
Rú ssia 800
França 700
Líbia 600
Reino Unido 400
Turquia 400

*Foram usadas as estimativas mais altas. Os dados não levam em conta os mortos no combate.

Fonte: Soufan Group; Centro internacional para o Estudo da Radicalizaçã o e da Violê ncia Política. Elaborado pela BBC.
Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/10/141015_mapas_siria_lab>. Acesso em: 5 abr. 2016.

Pá gina 169

O Estado Islâ mico domina as á reas ricas em petró leo do Iraque a as á reas estratégicas onde se
localizam os dutos na Síria. Essa é uma das formas de financiamento do grupo: a venda clandestina
de petró leo e derivados para comerciantes dos dois países e também para os opositores do governo
Assad, na Síria.
Allmaps

Fonte: Agê ncia Internacional de Energia; Economist petró leo; Instituto para o Estudo da Guerra. Com base em dados
disponíveis em: <www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/10/141015_mapas_siria_lab>. Acesso em: 5 abr. 2016

Outra estratégia para obtençã o de capital pelo grupo é a cobrança de proteçã o nas á reas ocupadas.
Os comerciantes pagam para nã o terem os seus negó cios incendiados e a suas famílias vitimadas
pelos extremistas. Há suspeitas de financiamento das ricas famílias sauditas ao Estado Islâ mico,
pois as mesmas têm interesse no desmantelamento dos xiitas do poder. Prova disso foi a negativa
dos sauditas do Catar e dos Emirados Á rabes ao pedido do Irã para entrar no Iraque e Síria para
lutar em terra contra o Estado Islâ mico.

O arsenal bélico do Estado Islâ mico é sofisticado e advém do contrabando de armas e também das
suas conquistas sobre os militares iraquianos e sírios.

Em junho de 2014, os extremistas tomaram a cidade de Mosul, no Iraque. Mosul é a segunda cidade
em importâ ncia no país e abriga importantes campos de petró leo e gá s. A batalha, que durou
apenas 48 horas, expulsou os militares iraquianos deixando para o Estado Islâ mico todo o arsenal
militar das forças armadas iraquianas além de milhõ es de dó lares em barras de ouro no banco local.
Com a tomada de Mosul, o Estado Islâ mico se expandiu de forma vertiginosa.

Somente no final de 2015, o grupo retrocedeu mediante os ataques aéreos da Rú ssia em territó rio
sírio. O grupo também sofreu ataques dos aliados ocidentais no Iraque, mas isso nã o foi suficiente
para desmobilizá -lo, uma vez que a operaçã o requer a tomada por terra.

Enquanto as potências travam batalhas aéreas com o grupo, os refugiados se aglutinam nos campos
da Turquia e do Líbano.

A Turquia, peça chave nesse conflito, optou por nã o se envolver diretamente. O governo turco teme
que a ingerência estrangeira na regiã o possa apoiar a formaçã o do Curdistã o em territó rio turco.
Diante desse quadro, é possível que a Turquia tenha facilitado as açõ es do Estado Islâ mico na
regiã o, com o contrabando de armas e de derivados de petró leo.
Pá gina 170

ATIVIDADE

Leia o texto a seguir.

Construção de um mapa mental sobre o Estado Islâmico

Mapas mentais sã o formas de registrar informaçõ es. Segundo Buzan (1996), o criador desta técnica
conhecida no inglês como Mind Map’s, sã o ferramentas de pensamento que permitem refletir
exteriormente o que se passa na mente. É uma forma de organizar os pensamentos e utilizar ao
má ximo as capacidades mentais. Ao analisar um mapa mental, é possível verificar uma série de
ideias a respeito de um tema central, as quais se entrelaçam e compõ e o assunto. Esse método de
ensino possui alguns componentes em comum, como os tó picos com seus conteú dos, símbolos,
palavras e desenhos. Normalmente os tó picos sã o dispostos no sentido horá rio.

KEIDANN, G. L. Utilização de mapas mentais na inclusão digital. Disponível em:


<http://coral.ufsm.br/educomsul/2013/com/gt3/7.pdf>. Acesso em: 5 abr. 2016.

A metodologia descrita consiste em abrir um tó pico central e, a partir dele, criar associaçõ es para
explicar um assunto, como pode ser visto no modelo ao lado.

Fonte: elaborado pelos autores.

Em dupla, faça o que se pede.

1. No centro de uma folha em branco ou utilizando o computador, desenhem um retâ ngulo e


escrevam “Estado Islâ mico”.

2. Criem associaçõ es que levem a outros retâ ngulos. Cada nova associaçã o deve refletir uma
característica ou uma informaçã o importante do grupo.

3. Organizem os retâ ngulos da seguinte forma:

• Retângulos verdes: os apoiadores do Estado Islâ mico.

• Retângulos vermelhos: os opositores ao Estado Islâ mico.

• Retângulos amarelos: estratégias de controle e de obtençã o de recursos.

• Retângulos roxos: objetivos do grupo.


DICA DE LIVRO

A origem do Estado Islâmico: o fracasso da “Guerra ao terror” e a ascensão


jihadista

Divulgaçã o

Autor: Patrick Cockburn

Editora: Autonomia Literá ria

Ano: 2015

Patrick Cockburn, correspondente do jornal britâ nico The Independent no Oriente Médio, escreveu
uma aná lise minuciosa do jogo de poder que se trava no Oriente Médio discorrendo sobre o
interesse dos Estados Unidos, da Rú ssia e da China na regiã o e sobre como o Estado Islâ mico
ascendeu de forma tã o repentina. Aborda também as relaçõ es e as animosidades entre Ará bia
Saudita, Israel e Irã .

Pá gina 171

CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE
Na Antiguidade, o povo hebreu chegou ao territó rio denominado Palestina por volta de 2000 a.C., lá
permanecendo até a diá spora de 135 d.C. Dessa data até o surgimento do Estado de Israel, em 1948,
a Palestina foi ocupada por diferentes povos. Os hebreus se espalharam por diversos continentes e
países, mantendo a sua cultura por meio da língua e da religiã o – o judaísmo.

No século XX, durante a Segunda Guerra Mundial, os judeus foram vítimas do holocausto nazista,
fato que motivou a comunidade judaica internacional a considerar a hipó tese de criar um Estado
pró prio. O movimento em prol da criaçã o de um Estado judeu é chamado de sionismo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos judeus europeus se dirigiram para a Palestina, que
estava sob domínio do Império Britâ nico.

A Palestina foi escolhida pelos líderes sionistas em funçã o das escrituras sagradas israelitas. Mas
isso nã o levou em conta o direito à autodeterminaçã o dos palestinos, que ocuparam por séculos as
terras da regiã o.
Para solucionar esse conflito, a ONU, entã o recém-criada, votou uma decisã o autorizando a criaçã o
de Israel na Palestina, mediante uma partilha que consideraria também o povo á rabe da regiã o.

Contudo, os conflitos que sucederam à criaçã o do Estado de Israel, em 1948, impeliram os


palestinos a á reas cada vez mais restritas do seu antigo territó rio, provocando também movimentos
de emigraçã o. Nas batalhas travadas, Israel vencia e conquistava novos territó rios, como pode ser
observado nos mapas a seguir.

A Palestina foi dividida em duas á reas descontínuas (Gaza e Cisjordâ nia) e recorreu aos países
á rabes vizinhos para administrá -las e protegê-las. Gaza passou a ser administrada pelo Egito e a
Cisjordâ nia pela Jordâ nia.

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Fonte: SMITH, D. Atlas dos conflitos mundiais. Sã o Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.
Allmaps

Fonte: SMITH, D. Atlas dos conflitos mundiais. Sã o Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

Pá gina 172

Com a justificativa de recuperar os territó rios palestinos, Egito, Síria e Jordâ nia atacaram Israel em
1967. Os ataques foram repelidos pelas Forças Armadas Israelenses, que tomaram vá rias á reas dos
países derrotados, no episó dio que ficou conhecido como Guerra dos Seis Dias, mudando
novamente o mapa de Israel.
Allmaps

Fonte: SMITH, D. Atlas dos conflitos mundiais. Sã o Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

As á reas conquistadas por Israel na Guerra dos

Seis Dias foram:

• Colinas de Golã , da Síria, onde se localizam as nascentes do rio Jordã o, além de ser uma á rea
estratégica em termos de vigilâ ncia em relaçã o ao sul do Líbano e da Síria.

• Península do Sinai, do Egito, uma regiã o desértica, porém rica em petró leo.

• Gaza e Cisjordâ nia, conquista que, consequentemente, fez dos palestinos um povo sem pá tria.

A vitó ria de Israel na chamada Guerra dos Seis Dias foi incontestá vel e demonstrou a superioridade
militar do país no contexto do Oriente Médio. Além disso, representou o fortalecimento da
influência dos Estados Unidos na regiã o. A partir desse evento, Israel, que já contava com suporte
financeiro e militar estadunidense, colocou em xeque as aspiraçõ es pela autonomia palestina.

ACORDOS DE PAZ
No ano de 1979, por iniciativa do presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, foi assinado o
Acordo de Camp David, juntamente com os líderes Anuar Sadat, do Egito, e Menachem Begin, de
Israel. Por meio desse acordo, o Egito se comprometeu a manter neutralidade em novos conflitos
que envolvessem Israel e, em reciprocidade, recebeu de volta a Península do Sinai. A partir de
entã o, a influência dos Estados Unidos sobre a regiã o aumentou ainda mais, tendo Israel como
importante aliado estratégico.

Com os sonhos de autonomia política cada vez mais distantes, durante anos a populaçã o palestina
contou com uma ú nica organizaçã o que efetivamente lutava pela criaçã o de um Estado nacional, a
Organizaçã o para a Libertaçã o da Palestina (OLP). Contudo, sem meios institucionais de
intermediaçã o política e diante da negativa de Israel em aceitar a partilha da Palestina – decidida
em plená ria da ONU – a OLP, desde a sua criaçã o, em 1964, optou pela luta armada.
O principal líder da OLP foi Yasser Arafat (1929- 2004), que, mediante vá rios esforços, conseguiu
divulgar mundialmente a questã o da autodeterminaçã o palestina, tendo alcançado um status de
liderança representativa da causa, inclusive em diversos atos em plená rias da ONU.

O grande mérito de Arafat foi o de ter abdicado da luta armada e controlado as lideranças radicais
da OLP ainda na década de 1980, focando as açõ es da organizaçã o nas instâ ncias diplomá ticas de
negociaçã o internacional em prol da criaçã o do Estado Palestino. Essas açõ es culminaram no
Acordo de Oslo, firmado em 1993 conjuntamente entre Arafat, Yitzhak Rabin, entã o primeiro-
ministro de Israel, e Bill Clinton, entã o presidente dos Estados Unidos.

mark reinstein/Alamy/Glow Images

Celebraçã o do Acordo de Oslo, assinado por Yitzhak Rabin, Bill Clinton e Yasser Arafat. Washington, DC, Estados
Unidos, 1993.

Pá gina 173

Os principais pontos do Acordo de Oslo foram:

• Retirada das forças israelenses da Faixa de Gaza e da Cisjordâ nia, de forma gradativa.

• Instituiçã o da Autoridade Palestina.

• Acordo de paz, mediante o controle dos grupos extremistas palestinos por parte de Arafat e a
contrapartida israelense, que seria a devoluçã o da Faixa de Gaza aos palestinos, assim como a
Cisjordâ nia, porém de forma paulatina.

Apesar de o acordo ter sido um marco na histó ria do conflito á rabe-israelense, o líder moderado
Yitzhak Rabin foi assassinado, em 1995, por um extremista israelense contrá rio ao acordo.

O governo de Rabin foi sucedido por lideranças radicais, com destaque para Ariel Sharon (1928-
2014), que congelou as negociaçõ es e deu início à construçã o do muro da Cisjordâ nia. O seu
traçado, além de nã o respeitar a chamada “linha verde” – limite anterior à Guerra dos Seis Dias, em
1967 –, passa por vá rias comunidades á rabes, separando-as umas das outras e dificultando
extremamente a vida das populaçõ es locais, além de violar o direito de autodeterminaçã o palestino.
Thomas Coex/AFP

O muro da Cisjordâ nia é uma construçã o com 12 metros de altura, também composta de cercas e alambrados. Foto de
2016.

Outra iniciativa do governo Sharon foi a instalaçã o de colô nias israelenses na Cisjordâ nia,
atentando contra todas as orientaçõ es e decisõ es das Naçõ es Unidas. Assim, inú meras dificuldades
foram impostas à s populaçõ es palestinas da Cisjordâ nia, que, além de terem perdido terras férteis e
fontes de á gua importantes, tiveram dificultado o seu direito de livre circulaçã o.

Observe a seguir um mapa que apresenta a linha do muro da Cisjordâ nia em evidente confronto
com a linha verde.

Allmaps

Fonte: FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. Sã o Paulo: Moderna, 2013.

Atualmente, as á reas palestinas da Cisjordâ nia sã o controladas pela Autoridade Palestina, um


governo internacionalmente reconhecido, controlado pelo Fatah, grupo político-militar que prega
um Estado nacionalista e laico.

A Faixa de Gaza é administrada pelo Hamas, um partido político de orientaçã o islâ mica. O Hamas é
visto como uma organizaçã o terrorista por Israel, Uniã o Europeia e Estados Unidos devido a sua
origem, em 1987, como um grupo paramilitar de orientaçã o fundamentalista.

A ascensã o do Hamas ocorreu a partir da morte de Arafat, em 2004, e o consequente


enfraquecimento do Fatah em Gaza. O grupo passou a controlar a á rea em 2007, quando se
institucionalizou como partido político, e conta com grande popularidade e aceitaçã o devido a sua
atuaçã o como instituiçã o beneficente, tendo construído hospitais, escolas e amparado vítimas dos
conflitos constantes entre palestinos e israelenses.

O partido nã o reconhece o Estado de Israel e quaisquer acordos feitos entre os israelenses e a OLP,
bem como junto à Autoridade Palestina.

Pá gina 174

QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (Enem, 2013)

Um gigante da indú stria da internet, em gesto simbó lico, mudou o tratamento que conferia à sua pá gina
palestina. O site de buscas alterou sua pá gina quando acessada da Cisjordâ nia. Em vez de “territó rios
palestinos”, a empresa escreve agora “Palestina” logo abaixo do logotipo.

BERCITO, D. “Google muda tratamento de territó rios palestinos”. Folha de S.Paulo, 4 maio 2013 (adaptado).

O gesto simbó lico sinalizado pela mudança no status dos territó rios palestinos significa o

a) surgimento de um país binacional.

b) fortalecimento de movimentos antissemitas.

c) esvaziamento de assentamentos judaicos.

d) reconhecimento de uma autoridade jurídica.

e) estabelecimento de fronteiras nacionais.

2. (UEPB, 2012)

“Estou viajando mã e. Perdoe-me. Reprovaçã o e culpa nã o vã o ser ú teis. Estou perdido e está fora das minhas
mãos. Perdoe-me se nã o fiz como você disse e desobedeci suas ordens. Culpe a era em que vivemos, não me
culpe”. (grifo nosso.)

(<http://tataunews.blogspot.com/2011/04/mohamedbouazizi-o-heroi-de-nietzsche.html>)

O depoimento do jovem vendedor de verduras, Mohamed Bouazizi, de 26 anos, da Tunísia, que, indignado pela
apreensão de sua mercadoria e pelas humilhaçõ es sofridas, ateou fogo a si mesmo e morreu em frente ao
prédio da prefeitura da cidade de Sidi Bouzid, foi o estopim que desencadeou todo o movimento contra os
regimes autoritá rios em países do mundo islâ mico. O mesmo reflete:

I. Um aspecto da cultura islâ mica pelo qual se acredita que ao morrer por uma causa justa se tem como
recompensa o paraíso.

II. A desilusã o da populaçã o do mundo á rabe, sobretudo dos mais jovens, com a falta de perspectiva, os altos
índices de desemprego e o autoritarismo e corrupçã o das elites dominantes.

III. O fundamentalismo de grupos islâ micos que pregam um Estado teocrá tico e a “guerra santa” contra os
valores ocidentais.

IV. O encantamento e desejo de aproximaçã o dos jovens islâ micos com o modelo ocidental, sobretudo o
modelo de democracia, visto que todos esses governos hoje questionados são inimigos declarados dos Estados
Unidos. Está (ã o) correta(s) apenas
a) a proposiçã o lI.

b) a proposiçã o IV.

c) as proposiçõ es I, II e IV.

d) as proposiçõ es III e IV.

e) as proposiçõ es I, II e III.

3. (FGV-RJ, 2015)

As explosõ es que abalam Gaza e Israel abafaram um ruído que é potencialmente muito mais perigoso. Refiro-
me à s declaraçõ es do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu de que Israel tem de se assegurar de que “não
haverá outra Gaza na Judeia e Samaria” (como os judeus se referem ao territó rio que a comunidade
internacional trata por Cisjordâ nia e é habitado majoritariamente pelos palestinos). Mais especificamente,
Netanyahu declarou:

“Acho que o povo de Israel compreende agora o que eu sempre disse: nã o pode haver uma situaçã o, sob
qualquer acordo, na qual nó s renunciemos ao controle de segurança no territó rio a oeste do rio Jordã o” (de
novo, os territó rios palestinos).

<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/ 2014/07/1487168-palestina-o-sonho-acabou.shtml>

Assinale a alternativa que apresenta uma interpretaçã o correta das declaraçõ es do primeiro-ministro
Binyamin Netanyahu.

a) Os palestinos que vivem na Cisjordâ nia, ao contrá rio daqueles que vivem na Faixa de Gaza, estã o fortemente
comprometidos com a “soluçã o dos dois Estados”, e nã o constituem uma ameaça real para Israel.

b) A segurança israelense nos territó rios a oeste do Rio Jordã o é necessá ria apenas para proteger a populaçã o
palestina da violência do grupo fundamentalista islâ mico Hamas.

c) O Estado Palestino livre e soberano terá que ser estabelecido apenas a oeste do Rio Jordã o e à revelia da
populaçã o de Gaza, que optou pela guerra e pelo terrorismo.

d) A criaçã o de um estado Palestino livre e plenamente soberano nã o pode ser admitida em nenhuma hipó tese,
pois colocaria em risco a segurança de Israel.

e) A Judeia e a Samaria serã o inexoravelmente anexadas ao Estado de Israel, com a concessão de cidadania
israelense plena aos habitantes dessas regiõ es.

4. (Unesp, 2014) Apó s os atentados de 11 de setembro de 2001, o governo dos Estados Unidos da América
aprovou uma série de medidas com o objetivo de proteger os cidadã os americanos da ameaça representada
pelo terrorismo internacional. Entre as medidas adotadas pelo governo norte-americano estã o

Pá gina 175

a) a realização de acordos de cooperaçã o militar e tecnoló gica com países aliados no combate ao terrorismo
internacional; e a prisã o imediata de á rabes e muçulmanos que residissem nos Estados Unidos.

b) a realizaçã o de ataques preventivos a países suspeitos de sediarem grupos terroristas; e a restriçã o da


liberdade e dos direitos civis de suspeitos de associaçã o com o terrorismo.

c) a concessã o de apoio logístico e financeiro a países que, autonomamente, pudessem combater grupos
terroristas em seus territó rios; e a preservaçã o dos direitos civis de suspeitos de associaçã o com o terrorismo,
que residissem dentro ou fora dos Estados Unidos.
d) a realização de ataques preventivos a países suspeitos de sediarem grupos terroristas; e a flexibilizaçã o do
ingresso nos Estados Unidos de pessoas oriundas de qualquer regiã o do mundo.

e) a realização de acordos de cooperaçã o militar e tecnoló gica com países suspeitos de sediarem grupos
terroristas; e a preservaçã o dos princípios de liberdade individual e autonomia dos povos.

5. (PUC-RJ, 2015)

Emad Hajjaj, Courtesy of Cagle Cartoons

Fonte: Emad Hajajj. Outono da Primavera Egípcia. 21/6/2012. Endereço eletrô nico:
http://domacedo.blogspot.com.br/2012/06/ o-outono-da-primavera-egipcia.html>. Acesso em: 06 mai. 2015.

a) Interprete a charge acima a partir do que se esperava do movimento denominado como Primavera Á rabe
para os países do Oriente Médio.

b) Como a Guerra da Síria pode ser associada ao movimento expresso na charge acima?

6. (Unicamp-SP, 2016)

A Regiã o Autô noma da Rojava é um dos poucos pontos brilhantes a emergir da tragédia dos conflitos que
ocorrem no Oriente Médio. Depois de expulsar os agentes do regime de Bashar al-Assad, em 2011, e apesar da
hostilidade de quase todos os seus vizinhos, Rojava nã o só manteve a sua independência como constitui uma
experiência democrá tica notá vel. Todavia, mais uma vez os curdos estã o cercados: os jihadistas do Estado
Islâ mico e a maior potência da Otan na regiã o, a Turquia, querem afogar em sangue a semente da liberdade dos
curdos e provar que nã o pode haver na regiã o um povo livre em que as mulheres e os homens sejam iguais. A
defesa da cidade de Kobani é, atualmente, expressã o cabal da histó rica luta de toda a naçã o curda para fazer
valer seu direito à autodeterminaçã o.

(Adaptado de N. R. de Almeida, Os curdos numa armadilha histórica. <http://outraspalavras.net/posts/os-curdos-numa-


armadilha-da-historia>. Acessado em 28 set. 2015.)

a) O povo curdo totaliza hoje aproximadamente 30 milhõ es de pessoas. Em quais países estã o
majoritariamente distribuídos? Qual a principal reivindicaçã o política dos curdos?

b) Dê duas características da organizaçã o denominada Estado Islâ mico e aponte os países em que ela controla
territó rios e recursos.

7. (UFSJ-MG, 2013) Observe o mapa abaixo.


UFSJ/Divulgaçã o

http://www.infoescola.com/wpcontent/uploads/2010/07/ mapasiria.gif. (Adaptado).

Assinale a alternativa que apresenta fatos sobre a regiã o em destaque que ocuparam os noticiá rios dos jornais
ao longo de 2012.

a) O governo de Israel apoia a formaçã o de um governo xiita na Síria como alternativa à radicalizaçã o do
terrorismo.

b) Desde o começo da revolta contra o presidente sírio Bashar al-Assad, milhares de sírios se refugiaram em
países vizinhos.

c) China e Rú ssia encaminharam ao Conselho de Segurança da ONU pedido de apoio para uma intervençã o
militar na Síria.

d) Síria, Israel, Líbano, Jordâ nia e Iraque fazem parte da Primavera Á rabe, que se caracteriza por
manifestaçõ es populares contra governos ditatoriais.

Pá gina 176

A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e anseios da
humanidade.

A fábula: o senso comum, os radicalismos e os fundamentalismos

Nas ú ltimas décadas, uma boa parte da populaçã o mundial foi submetida a um bombardeio sem
precedentes de informaçõ es a respeito de uma grande variedade de conflitos regionais,
principalmente os que se circunscrevem ao grande arco territorial que parte da Á frica, passa por
todo o Oriente Médio e chega à Á sia Central.

Inadvertidamente, ao leitor é dado saber que o grupo radical islâ mico nigeriano Boko Haram
causou um atentado com vítimas fatais, ou que aconteceu mais uma morte em meio ao conflito
á rabe-israelense. Com frequência, surgem mençõ es ao programa nuclear do Irã ou, por exemplo,
sobre uma emboscada mortífera contra soldados dos Estados Unidos no Afeganistã o. Também com
frequência, os termos “fundamentalismo” e “fundamentalista” sã o diretamente identificados com o
islamismo.

Eventualmente, a imprensa brasileira adjetiva de “xiitas” pessoas ou grupos políticos por ela
considerados radicais. Grande parte da populaçã o brasileira, a partir da leitura de informativos
jornalísticos, considera que existe uma incompatibilidade natural entre o islamismo e o judaísmo e
que, por alguma razã o, o mundo sempre foi e sempre será marcado pelo preconceito e pelo perigo.

A perversidade: sem a contextualização dos fatos, a imprensa não informa

Nã o existe uma incompatibilidade natural entre povos e religiõ es. Em diversas partes do mundo,
cristã os, á rabes e judeus conviveram pacificamente. Isso aconteceu, por exemplo, no Califado de
Có rdoba (Espanha) no século X, quando a ordem política era á rabe e muçulmana. Essa convivência
pacífica também acontece em diversas regiõ es do mundo atual, inclusive no Brasil.

Existem grupos radicais e fundamentalistas entre os muçulmanos, mas nã o apenas entre eles. E
entre os grupos mais radicais nã o estã o os xiitas, mas sim os sunitas do Estado Islâ mico, grupo que
se disseminou em conflitos recentes ligados à queda do regime de Saddam Hussein (Iraque) e
durante o ataque ao regime de Bashar al-Assad (Síria). Contudo, segundo estudiosos do Alcorã o,
nã o existe na escritura má xima do Islã nenhuma postura de agressividade contra “os povos do
livro”, como sã o denominados cristã os e judeus.

Desde o período das colonizaçõ es, as principais potências do mundo impuseram as suas vontades
ante os interesses de todos os povos da América Latina, Á frica e Á sia. Colonizadores europeus
classificavam as culturas diferentes como “bá rbaras” ou “incivilizadas”, traçaram ao bel prazer as
fronteiras da Á frica, derrubaram impérios, impuseram culturas, drenaram economias; tudo por
meio do uso extremado da força.

Tanto por parte dos Estados Unidos como por parte das potências europeias e, inclusive, por parte
da Rú ssia, guerras foram declaradas, ocupaçõ es foram feitas e recursos naturais foram tomados. No
passado, todos esses atos eram difundidos como “civilizató rios”.

Essa estratégia nã o é mais usada pelas potências. No contexto atual, governos como os da Líbia e do
Iraque foram derrubados “em nome da democracia”.

Ao nã o contextualizar historicamente os conflitos atuais, a imprensa subtrai do espectador uma


noçã o mais ampla dos conflitos, tendendo ainda a fazer crer que o Ocidente é um protagonista da
paz e que existem povos que talvez nã o estejam prontos para ela. Tal leitura também pode ser vista
como fundamentalista, pois nã o considera razoá vel e viá vel uma cultura, um povo ou povos
diferentes vivendo em paz.

* SANTOS, M., 2000.

Pá gina 177

Essa visã o fundamentalista considera que existem povos incapazes de derrubar seus tiranos
agressivos e estabelecer por vontade pró pria um regime democrá tico.

Foi a partir de uma premissa como essa que os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003. As
justificativas foram o regime ditatorial de Saddam Hussein e o acú mulo de armas de destruiçã o em
massa. Apó s a invasã o, constatou-se que a segunda justificativa nã o era verdadeira, mas, com a
ocupaçã o, os Estados Unidos passaram a controlar a grande produçã o de petró leo do país.

A possibilidade: uma proposta para a tolerância


Você considera a tolerâ ncia um fator fundamental para a convivência entre os povos?

Diversos tipos de fundamentalismos e preconceitos, principalmente os referendados pela imprensa,


fazem parte dos chamados sensos comuns em todo o mundo. Isso se explica pelos interesses de
potências globais e suas justificativas para realizar intervençõ es externas.

Levando em conta o aspecto dos preconceitos ainda tã o difundidos na atualidade, redija um texto
sobre o tema, com uma proposta de intervençã o que considere a aceitaçã o do outro, a tolerâ ncia e o
convívio com o diferente como pressuposto para a paz.

Max Rossi/Reuters/Latinstock

O entã o presidente de Israel, Shimon Peres, o patriarca da Igreja Ortodoxa, Bartolomeu I, o papa Francisco e o
presidente palestino, Mahmoud Abbas, apó s um encontro no Vaticano. Foto de 2014.

Pá gina 178

7
geopolítica mundial
A África no contexto da

Conexão de conhecimentos
África: riqueza × pobreza
Analise os mapas a seguir.

Allmaps

Fonte: Raw Material Group; Ernst & Young; US Geological Survey; The Economist. Disponível em: <www.
informafrica.com/africa-report/mineral-resources-behind-the-u-s-push-to-africa>. Acesso em: 2 mar. 2016.

Pá gina 179
Allmaps

Fonte: Banco Mundial. Disponível em: <http:// blogs.worldbank.org/ archive/201309>. Acesso em: 2 mar. 2016.

Agora, leia os fragmentos de texto a seguir.

Texto I

A fome é, conforme tantas vezes tenho afirmado, a expressã o bioló gica de males socioló gicos. Está
intimamente ligada com as distorçõ es econô micas, a que dei, antes de ninguém, a designaçã o de
“subdesenvolvimento”. [...] A fome é um fenô meno geograficamente universal, a cuja açã o nefasta
nenhum continente escapa. Toda a terra dos homens foi, até hoje, a terra da fome. As investigaçõ es
científicas, realizadas em todas as partes do mundo, constataram o fato inconcebível de que dois
terços da humanidade sofrem, de maneira epidêmica ou endêmica, os efeitos destruidores da fome.
[...] É que existem duas maneiras de morrer de fome: nã o comer nada e definhar de maneira
vertiginosa até o fim, ou comer de maneira inadequada e entrar em um regime de carências ou
deficiências específicas, capaz de provocar um estado que pode também conduzir à morte. Mais
grave ainda que a fome aguda e total, devido à s suas repercussõ es sociais e econô micas, é o
fenô meno da fome crô nica ou parcial, que corró i silenciosamente inú meras populaçõ es do mundo.

CASTRO, J. A fome. Disponível em: <www.pjf.mg.gov.br/conselhos/seguranca_alimentar/documentos/art_fome.pdf>.


Acesso em: 2 mar. 2016.

Texto II

O subdesenvolvimento nã o é, como muitos pensam equivocadamente, insuficiência ou ausência de


desenvolvimento. O subdesenvolvimento é um produto ou um subproduto do desenvolvimento,
uma derivaçã o inevitá vel da exploraçã o econô mica colonial ou neocolonial, que continua se
exercendo sobre diversas regiõ es do planeta.

CASTRO, J. apud ANDRADE, M. C. et al. Josué de Castro e o Brasil. Sã o Paulo: Fundaçã o Perseu Abramo, 2003, p. 74.

Segundo Josué Castro, o subdesenvolvimento nã o é insuficiência ou ausência de desenvolvimento, e


a fome é a expressã o de males socioló gicos. Como é possível que a Á frica seja tã o rica e sua
populaçã o tã o pobre? Desenvolva uma aná lise sobre os mapas com base nos conceitos
apresentados nos textos.
Pá gina 180

ÁFRICA

Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 45.

A Á frica é um dos continentes mais pobres do planeta, mas é também um dos mais ricos em
biodiversidade e em recursos naturais. Petró leo, ouro, platina e diamantes estã o entre alguns de
seus produtos mineraló gicos de destaque.

O continente representa aproximadamente 20,3% das terras emersas do planeta, divididas entre 54
países independentes e um total de populaçã o em torno de 1,186 bilhõ es de habitantes em 2015.

Seu litoral quase nã o apresenta penínsulas e ilhas, e o territó rio é cortado pelo tró pico de Câ ncer, ao
norte, pela linha do equador ao centro, e pelo tró pico de Capricó rnio, ao sul.

O relevo é constituído por estruturas geoló gicas muito antigas, datadas do período Pré-Cambriano.
Em relaçã o às formas, predominam planaltos, onde se localizam nascentes de importantes rios
como o Níger e o Congo. Há , todavia, formaçõ es geoló gicas recentes (dobramentos modernos) na
porçã o norte, como a cadeia do Atlas, no Marrocos, Argélia e Tunísia (regiã o conhecida como
Magreb). Em sua porçã o leste, observa-se um relevo falhado devido à movimentaçã o tectô nica.

Essa á rea conhecida como Rift Valley é um conjunto de falhas e fraturas de origem tectô nica que se
estende por aproximadamente 3 mil km ao longo da porçã o oriental do continente africano,
chegando até Moçambique. Compreende um grande nú mero de falhas, de largura entre 30 e 60 km,
em processo de separaçã o. Terremotos sã o comuns nessa regiã o, bem como atividades vulcâ nicas.
Além disso, a á rea abriga inú meros lagos, dentre os quais se destaca o lago Vitó ria, onde se localiza
a nascente do rio Nilo.

Em relaçã o ao clima e à s formaçõ es vegetais, observa-se uma grande diversidade, em virtude da


posiçã o latitudinal do continente, cortado pelos dois tró picos e pelo Equador. Assim, encontramos
desde climas equatoriais e tropicais, que sã o predominantes, a climas desérticos. Com relaçã o à
vegetaçã o, existem florestas tropicais, estepes, savanas e vegetaçã o desértica (xeró fita).
As disparidades climá ticas, por sua vez, explicam as variaçõ es nos índices pluviométricos, de muito
chuvoso a muito seco. Na Á frica, a partir da linha do Equador, os climas e as formaçõ es vegetais se
repetem na mesma sequência ao norte e ao sul, em diferentes proporçõ es. Por isso, afirma-se que o
continente tem climas em forma de espelho.

Como consequência dessa variaçã o climática, geoló gica, pedoló gica, o continente africano apresenta
imensa biodiversidade. Ela, entretanto, encontra-se muito ameaçada, e os riscos variam desde a
extraçã o ilegal de madeira, caça ilegal e predató ria, mineraçã o e a expansã o de monoculturas.

Pá gina 181

AS GRANDES DIVISÕES REGIONAIS DO CONTINENTE


AFRICANO

Allmaps

Fonte: New concise world atlas. 4. ed. Oxford: OUP, 2013.


África Setentrional

Parte dessa á rea é conhecida também como Magreb – palavra que, em á rabe, significa “poente”. É dividida em
Pequeno Magreb (Marrocos, Saara Ocidental, Argélia e Tunísia) e Grande Magreb (que inclui Mauritâ nia e
Líbia). Predominam povos islâ micos, de maioria sunita. Esses países mantiveram vínculos bem pró ximos com
a Europa desde a Antiguidade e possuem boas reservas de gá s, fosfatos e petró leo. O clima mais ao norte é
mediterrâ neo, tornando-se mais seco em direçã o ao deserto do Saara, ao sul. É onde se localiza a cadeia do
Atlas, um dobramento moderno.

África Ocidental

Regiã o de conflitos e instabilidade política, marcada pelo deserto do Saara a leste e oceano Atlâ ntico a oeste. A
atividade econô mica de destaque é a exploração de petró leo, principalmente na Guiné Equatorial, na Nigéria e
na regiã o do golfo da Guiné, responsá vel por um terço das novas jazidas de petró leo encontradas no mundo a
partir de 2000. China e Índia, e também o Brasil, têm realizado investimentos na regiã o, sobretudo em virtude
do petró leo, apesar de a exploraçã o ainda se encontrar em poder de empresas da Europa. Durante a Idade
Média europeia, Gana foi um importante império regional, que prosperou devido ao comércio de sal, joias,
tecidos, cobre, tâ maras e figos. No século XI, sucumbiu.

África Central

Regiã o marcada também por inú meros conflitos desde a década de 1990, dentre os quais o de Angola – agora
em paz – e no Zaire – hoje Repú blica Democrá tica do Congo. Observa-se a presença de grandes florestas
tropicais e recursos como diamantes e petró leo, que, em Angola, é explorado principalmente por empresas
europeias.

África Austral (ou Meridional)

Constituído por países com grandes diferenças socioeconô micas, sobretudo entre a Repú blica Sul-Africana e
seus países vizinhos.

África Oriental

Regiã o localizada no extremo leste africano. Nessa á rea ocorreram e ainda ocorrem grandes conflitos e
catá strofes, por exemplo, na Etió pia, Somá lia, Ruanda. É a regiã o do Rift Valley. A instabilidade política regional
ainda é muito forte e recentemente o litoral da regiã o tem sido alvo de ataques de piratas.

Pá gina 182

ATIVIDADE

Ameaças aos ecossistemas africanos na atualidade

Leia o texto a seguir e depois, em grupo, faça o que se pede.

O continente africano é dotado tanto de diversidade de ecossistemas – florestal, costeiro, marinho,


fluvial, de [...] [mangues] e desértico – como de vida bioló gica, sendo comum destacarem-se as
espécies de flora e de fauna marcadas por traços de endemismo e que, em muitos casos, sofrem de
vulnerabilidades vá rias em resultado de diferentes ameaças à conservaçã o. Por um lado, parecem
ser evidentes os riscos ditos naturais, que resultam dos ciclos evolutivos e do desenvolvimento dos
pró prios ecossistemas; por outro lado, é cada vez mais aceite e assumida a influência, direta e
indireta, exercida pela intervençã o humana produzindo impactos negativos na natureza. Em
contexto africano esta influência tem apresentado tendência para a promoçã o de desequilíbrios
socioambientais agravados face à precariedade dos modos de vida, à limitada capacidade
previsional de ocorrências naturais e ainda à insuficiente resposta na resoluçã o de problemas.
BRITO, B. J. B. F. da R. Preservaçã o ambiental e turismo de natureza em á rea protegida: iniciativas e experiências em
contexto africano. Nature and Conservation, Aquidabã , v. 6, n. 1, nov.- dez. 2012, jan.-abr. 2013. Disponível em:
<www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/pdf/preservacao-ambiental-e-turismo-de-natureza-em-area-
protegidainiciativas-e-experiencias-em-contexto-africano.pdf>. Acesso em: 13 maio 2016.

A partir da leitura desse texto, organizem-se em grupos e pesquisem em jornais, livros, revistas e na
internet alguns impactos ambientais no continente africano. Cada grupo deverá pesquisar um tipo
de impacto associado a uma das seguintes modalidades: mineraçã o; turismo; agropecuá ria;
urbanizaçã o/industrializaçã o.

Os resultados da pesquisa deverã o ser organizados sob a forma de uma dissertaçã o, com
argumentaçã o e fundamentaçã o teó rica e iconográ fica (fotografias, mapas, grá ficos etc.). Em
seguida, organizem uma apresentaçã o das pesquisas para a turma e discutam coletivamente os
resultados das pesquisas efetuadas pelos grupos.

A POPULAÇÃO AFRICANA: ASPECTOS GERAIS


Como já mencionado, a populaçã o africana, em 2015, era cerca de 1,186 bilhã o de habitantes. A
Á frica é considerada o segundo continente mais populoso, embora com a presença de muitas á reas
de baixa a muito baixa densidade demográ fica.

A populaçã o africana encontra-se desigualmente distribuída, concentrando-se principalmente nas


á reas de solos mais férteis, como os vales dos rios Nilo e Níger, e as regiõ es litorâ neas. O continente
apresenta também á reas pouco habitadas, como os desertos do Saara, Namíbia e Kalahari, e regiõ es
de florestas da Á frica equatorial ou floresta do Congo.

SAIBA MAIS

Com África, população mundial vai superar 10 bi neste século

Ainda segundo a ONU, a Índia será o país mais populoso do mundo em sete anos

O forte crescimento demográ fico em toda a Á frica e em vá rios países de outros continentes nas
pró ximas décadas vai fazer com que a populaçã o mundial dispare e supere o nú mero de 10 bilhõ es
neste século, segundo as estimativas mais recentes das Naçõ es Unidas.

O mundo, que atualmente conta com 7,3 bilhõ es de habitantes, chegará a 8,5 bilhõ es em 2030 e a
9,7 bilhõ es em 2050, segundo o relató rio publicado nesta quarta-feira [29 jul. 2015] pelas Naçõ es
Unidas.

Para o ano de 2100, a populaçã o mundial será de 11,2 bilhõ es de pessoas, um crescimento
demográ fico que será impulsionado principalmente pelos países em desenvolvimento, um
fenô meno que apresenta grandes problemas, segundo a ONU.

“A concentraçã o do crescimento populacional nos países mais pobres apresenta seu pró prio
conjunto de desafios, tornando mais difícil erradicar a pobreza e a desigualdade, o combate à fome
e à desnutriçã o e a expansã o do acesso à educaçã o e aos sistemas de saú de”, explicou o diretor de
Populaçã o do Departamento de Assuntos Econô micos e Sociais da ONU, John Wilmoth.

Pá gina 183

As pró ximas décadas representarã o um giro radical na atual ordem demográ fica mundial, segundo
as estimativas das Naçõ es Unidas.
Para começar, em apenas sete anos, a Índia vai superar a China como o país mais populoso do
mundo, com cerca de 1,4 bilhõ es de habitantes, um posto que seguirá consolidando nas décadas
seguintes.

Além disso, a Nigéria, o maior país da Á frica, com aproximadamente 182 milhõ es de pessoas,
simbolizará perfeitamente o boom do continente e passará da sétima naçã o mais populosa do
mundo para a terceira. Para 2050, estima-se que a Nigéria terá quase 400 milhõ es de habitantes,
superando os Estados Unidos, onde a populaçã o passará dos 322 milhõ es atuais para cerca de 389
milhõ es.

Para meados deste século, espera-se que seis países estejam acima da barreira de 300 milhõ es de
habitantes: China, Índia, Indonésia, Nigéria, Paquistã o e EUA.

Segundo a ONU, durante as pró ximas décadas, o crescimento da populaçã o mundial será
concentrado principalmente em nove países, a maioria deles africanos e asiáticos: Índia, Nigéria,
Paquistã o, Repú blica Democrá tica do Congo, Etió pia, Tanzâ nia, EUA, Indonésia e Uganda.

Com a maior taxa de crescimento demográ fico do mundo, a Á frica será responsá vel por mais da
metade do crescimento da populaçã o mundial entre 2015 e 2050.

Nesse período, espera-se que o nú mero de habitantes duplique em 28 países do continente. Além
disso, a populaçã o será cinco vezes maior que a atual em dez deles até 2100.

Em conjunto, a Á frica passará dos atuais 1,186 bilhã o de habitantes para 2,478 bilhõ es em 2050, e
4,387 bilhõ es em 2100. […]

No entanto, os responsá veis pelo relató rio alertaram que todas essas projeçõ es dependem, em
grande medida, da evoluçã o da taxa de fecundidade, pois leves mudanças nela podem representar
enormes diferenças depois de algumas décadas.

Nos ú ltimos anos, essa taxa caiu praticamente em todas as á reas do mundo, inclusive em lugares
como a Á frica, onde o nú mero de 4,7 filhos por mulher continua sendo muito alto.

Portal Terra, 29 jul. 2015. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/africa-fara-com-que-


populacaomundial-supere-10-bilhoes-neste-seculo,d387da55f9834f8c36566384e5dca210h5uvRCRD.html>. Acesso
em: 17 fev. 2016.
Allmaps

Fonte: Britannica Escola. Disponível em: <http://escola.britannica.com.br>. Acesso em: 1 abr. 2016.

Pá gina 184

O continente africano tem passado por um rápido processo de urbanizaçã o, conforme evidencia o
mapa a seguir.

Allmaps

Fonte: UN-Habitat. Disponível em: <www.economist.com/blogs/dailychart/2010/12/ urbanisation_africa>. Acesso em: 17


fev. 2016.
Todavia, o processo de urbanizaçã o do continente deve-se ao aumento da pobreza, associado à
expansã o da agricultura comercial (commodities), que expulsa os pequenos agricultores e aumenta
a concentraçã o de terras no campo. Segundo dados da ONU, estima-se que a populaçã o africana
duplicará até a década de 2030, agravando ainda mais as condiçõ es de vida da populaçã o pobre.

No entanto, é do ponto de vista das condiçõ es econô micas e sociais que se percebe com clareza o
que tem sido chamado de “tragédia africana”. Organizaçõ es internacionais calculam que atualmente
o Produto Interno Bruto (PIB) do continente é inferior ao que existia em 1960. O Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de grande parte dos países africanos está entre os menores do
mundo.

Allmaps

Fonte: Pnud. Disponível em: <www.pnud.org.br/HDR/arquivos/RDHglobais/hdr2015_ptBR.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2016.

Pá gina 185

Observe, no mapa a seguir, a distribuiçã o do PIB do continente africano em 2014.


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Fonte: FMI. Disponível em: <http://theprepaideconomy.com/image/115133920078>. Acesso em: 17 fev. 2016.

Além disso, é possível observar a elevada incidência de doenças e epidemias.

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Fonte: PLOS Currents. Disponível em: <http://currents.plos.org/outbreaks/files/2014/11/Fig5_el_nino_hotspots1.png>.


Acesso em: 17 fev. 2016.

Pá gina 186
Observe, no mapa a seguir, o percentual da populaçã o africana que vive com menos de 2 dó lares
por dia.

Allmaps

Fonte: Harvest Choice. Disponível em: <http://africagreenmedia.co.za/wp-content/uploads/2013/06/poverty-data3.png>.


Acesso em: 4 maio 2016.

Como consequência dessa pobreza, a mortalidade infantil ainda é bastante elevada nos países
africanos, especialmente na Á frica Subsaariana (países localizados ao sul do deserto do Saara).

Um problema que vem assolando as populaçõ es africanas sã o as diversas doenças, antigas e novas,
que levam a novas crises fronteiriças. Dentre elas, destaca-se a aids e, recentemente, a eclosã o de
novos casos de infecçã o pelo vírus ebola.

Os problemas relacionados à epidemia de aids refletem na economia, sobretudo em países mais


pobres. A infecçã o e a mortalidade decorrentes dessa doença diminui o percentual de populaçã o
ativa, eleva os gastos com saú de e, no caso dos países da Á frica Subsaariana, reduz ainda mais a já
baixa expectativa de vida da populaçã o, além de tornar mais vulnerá veis à doença e à contaminaçã o
as crianças e as mulheres mais pobres.

Em relaçã o à disseminaçã o da HIV/aids, observamos sua prevalência no continente africano,


especialmente também na Á frica Subsaariana.
Pá gina 187

Allmaps

*Prevalência do HIV entre adultos de 15 a 49 anos, por região da Organização Mundial de Saúde (OMS), 2014.

Fonte: OMS. Health in 2015: from MDGs (Millennium Development Goals) to SDGs (Sustainable Development Goals), 2015. p.
113.

Há também boas notícias, como a reduçã o do nú mero de casos de malá ria no continente entre 2000
e 2015.

Allmaps

*Porcentagem de mortes causadas por malária em crianças com menos de 5 anos na África Subsaariana.

Fonte: OMS. Health in 2015: from MDGs (Millennium Development Goals) to SDGs (Sustainable Development Goals), 2015.
p. 117.
Já em relaçã o ao ebola, por exemplo, entre 2013 e 2015, vá rios países localizados na Á frica
Ocidental, como Serra Leoa, Libéria, Guiné e Nigéria, foram atingidos por um surto violento do
vírus, que deixou aproximadamente 11 mil mortos. Em 2016, a Organizaçã o Mundial de Saú de
(OMS) declarou a Á frica Ocidental livre do surto do ebola, mas afirmou também que podem ainda
aparecer casos esporá dicos da doença e recomendou uma forte vigilâ ncia a fim de mantê-la sob
controle.

Pá gina 188

DA CONFERÊNCIA DE BERLIM AOS DIAS ATUAIS


A Conferência de Berlim, realizada de novembro de 1884 a fevereiro de 1885, determinou a divisã o
do continente africano entre os países europeus. Ela representa uma açã o direta e clara do que foi o
imperialismo sobre povos e territó rios histó rica, social e culturalmente organizados.

Imperialismo

É a expansã o violenta por parte dos Estados, ou de sistemas políticos aná logos, da á rea territorial
da sua influência ou poder direto, e formas de exploraçã o econô mica em prejuízo dos povos ou
Estados subjugados. Esse processo se manifesta mais claramente a partir das ú ltimas décadas do
século XIX, cujo exemplo mais cabal é a repartiçã o da Á frica e a ocupaçã o de vastos territó rios na
Á sia ou sua subordinaçã o à influência europeia (China, Pérsia, Império Otomano, entre outros).

BOBBIO, N. Dicionário de política. 5. ed. Brasília: Editora UnB, 2000. vol. 1, p. 611.

Antes da Conferência de Berlim, os europeus estabeleciam apenas entrepostos comerciais no litoral


africano. Foi a partir das açõ es do rei Leopoldo II, da Bélgica, que os países europeus começaram a
estabelecer entrepostos cada vez mais para o interior do continente e, assim, acabaram por
partilhar a Á frica na Conferência de Berlim.

Essa conferência foi organizada na Alemanha pelo kaiser Guilherme II e seu chanceler, Otto von
Bismarck, e consistiu, para a época, em um grande feito diplomá tico. Contou com a participaçã o de
Grã -Bretanha, França, Império Á ustro-Hú ngaro, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Itá lia, Noruega,
Portugal, Rú ssia, Espanha e Suécia, além dos Estados Unidos e da Turquia. Em contrapartida,
nenhum dos países africanos independentes à época foi convidado.

Entre os motivos para a realizaçã o dessa conferência podemos citar:

• A crise no Império Otomano.

• As pretensõ es portuguesas em estender seus domínios do Atlâ ntico ao Índico (ou seja, de Angola a
Moçambique).

• O expansionismo político francês ao norte do continente, e inglês, ao leste, com o consequente


tensionamento das relaçõ es políticas e diplomá ticas entre esses dois países.

Na conferência, discutiu-se acerca do estabelecimento de bases de livre circulaçã o e comércio nas


bacias dos rios Congo e Níger, veios de penetraçã o mais importantes para o interior do continente.
A Alemanha, recém-unificada, também tinha suas pretensõ es coloniais sobre a Á frica, e obteve
algumas poucas colô nias.
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Fonte: Zonu. Disponível em: <www.zonu.com/detail-en/2010-01-12-11698/Africa-before-thecolonial-partition-c-


1870.html>. Acesso em: 18 fev. 2016.

Pá gina 189

Um dos acordos mais importantes firmados na Conferência foi a “Doutrina de ocupaçã o efetiva do
continente”, a qual postulava que, para ter direitos sobre os territó rios, os países colonizadores
teriam que demonstrar sua presença efetiva nos territó rios com base no depoimento de
comerciantes – responsá veis pela segurança nos postos comerciais mais avançados no interior do
continente – e de missioná rios – responsá veis por disseminar a fé cristã. Assim, foram estabelecidas
as linhas de fronteiras entre os países africanos, desenhadas a régua e compasso, tendo por base
paralelos e meridianos, sem quaisquer preocupaçõ es com aspectos sociais, culturais, políticos,
econô micos ou fisiográ ficos do continente. As grandes potências colonizadoras partilharam a Á frica
entre si de acordo com seus pró prios interesses, sem se preocuparem com o que já existia. Vá rias
naçõ es e formaçõ es sociais africanas – povos amigos e inimigos foram reunidas dentro dos mesmos
limites, enquanto outras foram divididas. Tal fato explica algumas guerras internas e perió dicas, e
também a histó rica situaçã o de empobrecimento dos povos africanos desde entã o.
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Fonte: Zonu. Disponível em: <www.zonu.com/detail-en/2010-01-12-11701/Colonial-possesions-in-Africa-in-1930.html>.


Acesso em: 18 fev. 2016.

Pá gina 190

Os acordos firmados na conferência, ou posteriormente entre alguns países, delimitavam regiõ es


em que os signatá rios poderiam obter rotas comerciais ou exercer o controle sobre rios navegá veis,
essenciais para o escoamento das matérias-primas obtidas no continente, assim como para levar
produtos comerciais para a regiã o. O traçado das fronteiras da Á frica estabelecido na Conferência
de Berlim vigorou até o fim da Primeira Guerra Mundial (1918), quando alguns limites e possessõ es
foram redistribuídos, passando das naçõ es derrotadas (Alemanha, sobretudo) para as naçõ es
vencedoras do conflito (Inglaterra e França, principalmente). Já os traçados fronteiriços
estabelecidos apó s 1918 vigoraram até o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), quando muitas
colô nias iniciaram seus processos de independência política das metró poles europeias.
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Fonte: BONIFACE, P.; VÉ DRINE, H. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009.

Entretanto, mesmo com o processo de descolonizaçã o, muitas das fronteiras anteriores foram
mantidas, existindo Estados sem saída para o mar, confinados por fronteiras terrestres, o que
dificulta o escoamento de sua produçã o. Ainda hoje a maioria dos países africanos e organizaçõ es
que os congregam manifestam desinteresse em alterar as fronteiras historicamente estabelecidas
na Conferência de Berlim. Uma das justificativas para tal dificuldade em mudar o quadro
fronteiriço, a despeito dos problemas sociais, culturais, políticos e econô micos, é o desenvolvimento
do nacionalismo.

Pá gina 191

Todavia, em relaçã o aos argumentos de cunho nacionalista, a maioria dos países africanos sã o
pluriétnicos, sendo que muitas dessas etnias constituem naçõ es que ultrapassam (ou nã o têm
qualquer relaçã o com) as fronteiras políticas atuais entre os diferentes estados nacionais africanos.

Um aspecto resultante desse quadro é que a maioria das guerras e conflitos atuais, no continente, é
interna aos países, tendo como resultados o agravamento da pobreza e das condiçõ es sanitá rias e
nutricionais, a desorganizaçã o das bases produtivas, além do envolvimento de crianças nos
conflitos, dissoluçã o de famílias e clã s e persistência de campos minados.
Além disso, muitas vezes, as riquezas encontradas nos diversos países acabam por piorar os
conflitos entre povos e naçõ es, agravando as condiçõ es de saú de, nutriçã o e segurança da
populaçã o.

ATIVIDADE

Diamante de sangue

Assista ao filme Diamante de sangue, que tem como cená rio a guerra civil que tomou conta de Serra
Leoa na década de 1990. O título se refere a diamantes extraídos em zonas de guerra africanos e
vendidos para financiar a compra de armas.

Divulgaçã o

Diamante de sangue. Direçã o: Edward Zwick. Estados Unidos, 2006, 138 min. Classificaçã o: 16 anos

Apó s ver o filme, debata com os colegas a seguinte temá tica: Quando e por que a riqueza da terra se
traduz em miséria social?

SAIBA MAIS

Apesar da preponderâ ncia das naçõ es europeias no processo de colonizaçã o africana no século XIX,
os Estados Unidos também tiveram presença no continente a partir da manutençã o de protetorado
sobre a Libéria, país formado por negros estadunidenses libertos que retornaram à Á frica apó s a
Guerra de Secessã o (1861-1865).

A SITUAÇÃO POLÍTICA DA ÁFRICA NO PERÍODO DA GUERRA FRIA


Dividida e explorada, a Á frica do século XX foi um campo fértil para o assistencialismo oportunista
das potências que comandavam o cená rio político da época: Estados Unidos e Uniã o Soviética, bem
como seus aliados.

O processo de descolonizaçã o e independência ocorreu ao longo do século XX, porém manteve a


divisã o artificial e também as mesmas elites econô micas do período colonial, uma vez que a
independência ocorreu apenas no plano político.

O contexto pó s-Segunda Guerra Mundial foi marcado pelo enfraquecimento dos países europeus e,
consequentemente, pelo crescimento dos movimentos de independência em suas colô nias.
Ademais, os europeus foram muito abalados econô mica e politicamente no conflito, mesmo em
relaçã o aos vencedores. Uma das razõ es da descolonizaçã o da maioria dos países africanos é
justamente esse enfraquecimento das metropoles, que levou a uma expressiva reduçã o da sua
presença efetiva nas á reas coloniais. A esse enfraquecimento da presença europeia somaram- -se
outros fatores, como a reaçã o organizada de povos africanos, a pressã o externa dos Estados Unidos
e da Uniã o Soviética e o crescimento demográ fico das á reas coloniais. Além disso, a destruiçã o
provocada pela Segunda Guerra e a subsequente perda de hegemonia dos países europeus
evidenciou aos povos africanos a possibilidade de enfrentar o explorador.

No entanto, a despeito de sua condenaçã o formal do colonialismo, as duas superpotências que


emergiram do pó s-Segunda Guerra – Estados Unidos e Uniã o Soviética – possuíam seus pró prios
interesses no tabuleiro político dos conflitos coloniais – a ambos interessava angariar o maior
nú mero de aliados possíveis, em todos os continentes.

Pá gina 192

De um lado, os Estados Unidos falavam em “autodeterminaçã o dos povos” para justificar e apoiar a
independência das colô nias africanas, de outro, a Uniã o Soviética afirmava apoiar esses
movimentos, pois eles se opunham à “opressã o do imperialismo capitalista”.

Desse modo, o continente africano foi, durante o período de descolonizaçã o, um cená rio
privilegiado dos conflitos indiretos entre as superpotências no período da Guerra Fria. Em muitos
casos, os conflitos ocorriam em fronteiras entre novos países que estavam em lados “opostos”,
apoiados cada um por uma das superpotências com armas, treinamento, ajuda econô mica. Outras
vezes, as disputas entre grupos rivais, apoiados cada um por uma das superpotências ocorriam no
interior dos estados recém-independentes, arrastando-se por décadas, como em Angola ou Ruanda.

Ao conquistarem a independência, os novos países africanos contavam com mã o de obra


desqualificada e as terras produtivas estavam concentradas nas mã os de uma elite local,
produzindo para a exportaçã o (commodities). Com o fim da Guerra Fria, em 1991, e com a primazia
econô mica sobre questõ es políticas e sociais, a Á frica ficou isolada e empobrecida.

A descoberta de novos recursos, como petró leo e urâ nio, conferiu maior importâ ncia ao continente,
bem como reinstaurou conflitos ou levou ao surgimento de novos. Ademais, a ausência de mercado
consumidor com poder aquisitivo mais alto ou mã o de obra especializada e a constante
instabilidade política dificultam o desenvolvimento social do continente.

ATIVIDADE

A África e suas relações com o mundo branco, cristão e ocidental

Dividam-se em seis grupos. Cada grupo se responsabilizará por pesquisar textos e imagens (mapas,
fotografias, charges etc.) sobre um dos seguintes temas:

1. A “missã o civilizató ria” do homem branco e a açã o de missioná rios e comerciantes no interior do
continente africano.

2. A descolonizaçã o africana e a construçã o do Pan- -Africanismo.

3. A Guerra Fria, os países pobres e a Conferência de Bandung.

4. O papel da ONU nos conflitos internos na Á frica no período da Guerra Fria.

5. A criaçã o da Organizaçã o da Unidade Africana (OUA), suas principais ideias e resultados e sua
substituiçã o pela Uniã o Africana.
6. A açã o de entidades internacionais como Médicos Sem Fronteiras (MSF) e organizaçõ es nã o
governamentais (ONGs) na Á frica: início da açã o, tipos de intervençã o e resultados efetivos. De
posse dos dados, cada grupo deverá preparar um resumo de duas pá ginas para toda a turma e uma
apresentaçã o digital.

ÁFRICA: ANOS 2000


A Á frica iniciou o século XXI numa situaçã o precá ria pois registrava as mais altas taxas de
mortalidade infantil do mundo e ocupava 19 das 20 ú ltimas posiçõ es no ranking de
desenvolvimento humano da Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU). Os novos governos, muitos
democraticamente constituídos, foram incapazes de manter a ordem institucional diante do quadro
socioeconô mico do continente.

A situaçã o política e fronteiriça herdada do período colonial dificultava a construçã o efetiva de


estados nacionais territoriais capazes de minimamente atender à s necessidades de suas
populaçõ es.

As atuais relaçõ es socioeconô micas do continente devem ser analisadas na ó tica da globalizaçã o
econô mica. Os Estados nacionais artificiais mantêm as mesmas políticas do período colonial
quando as riquezas eram destinadas à s metró poles. A independência política nã o foi acompanhada
da econô mica e, assim como todo o mundo subdesenvolvido, os países africanos dependem de
relaçõ es comerciais desfavorá veis com o norte desenvolvido. A maior parte da economia africana se
baseia em produtos primá rios ou commodities que possuem baixo valor agregado no mercado
mundial. Além disso, grande parte dos recursos naturais é explorada por empresas transnacionais
que ditam os preços das mercadorias e também da força de trabalho, remetendo os seus lucros para
os países de origem. Presos à s grandes dívidas externas e à dependência econô mica e tecnoló gica, a
os países africanos estã o condicionados à ló gica da globalizaçã o econô mica: fornecer produtos com
preços baixos, produzidos com mã o de obra barata, ampliando as desigualdades sociais.

Tais desigualdades, por sua vez, dificultam a mobilidade social, condenando milhõ es à miséria e à
morte precoce.

Pá gina 193

Essa ló gica perversa extrapola os limites materiais e se impõ e como modelo ou padrã o moralmente
aceito. De forma enfá tica, os problemas da Á frica sã o retratados como “naturais” ou “inerentes ao
local”, impondo-se como fatalidade.

Por sua vez, as narrativas africanas que buscam se contrapor à s visõ es hegemô nicas estabelecidas
pelo Ocidente encontram entraves na formaçã o de propostas alternativas ao modelo de exploraçã o
vigente.

A sociodiversidade do continente tem sido enfatizada por inú meros escritores, historiadores,
soció logos e as mais diversas lideranças políticas e sociais para que a Á frica nã o fique mergulhada
na histó ria ú nica - a histó ria do colonizador e do neocolonizador.

ATIVIDADE

O perigo de uma história única

Em uma palestra, a escritora nigeriana Chimamanda Adichie relata sua vida para destacar o perigo
de uma ú nica histó ria que é sempre contada pelo colonizador, pela visã o econô mica e pelo olhar do
mercado. Como a Á frica é retratada segundo essa histó ria?
1ª etapa (individual): assista à palestra de Chimamanda, chamada O perigo de uma história única. O
vídeo está disponível na internet.

2ª etapa (em grupos de três estudantes) respondam à s questõ es a seguir:

a) Como a escritora percebeu a existência de uma histó ria ú nica no seu continente?

b) Qual o significado do termo nkali, palavra do grupo étnico Igbo?

c) Qual o interesse de quem cria a histó ria ú nica?

3ª etapa (com toda a sala): Participe de um debate com seus colegas, seguindo estes passos:

a) Cada grupo apresentará suas respostas.

b) Em seguida, promovam um debate sobre quais sã o os perigos reais de uma histó ria ú nica,
exemplificando com situaçõ es do cotidiano local de vocês. Existe uma histó ria ú nica sobre seu país,
sua cidade, ou seu bairro?

Janette Pellegrini/Getty Images/Girls Write Now/AFP

Chimamanda Adichie é autora de diversos romances e ensaios. Seu livro Americanah esteve na lista dos mais
vendidos e será adaptado para o cinema. Na foto, a escritora recebe o prêmio Girls Write Now, em Nova Iorque, nos
Estados Unidos, 2015.

NOVOS/VELHOS CONFLITOS NO CONTINENTE


Embora as causas dos recentes conflitos da Á frica tenham sido atribuídas à s insurgências
nacionalistas, aos antagonismos étnicos e aos fundamentalismos religiosos, econô micos e políticos,
é preciso analisar o crescimento da violência no continente na perspectiva do domínio dos recursos
e das á reas estratégicas pelas potências ocidentais. Nã o é coincidência que os conflitos mais
sangrentos dos ú ltimos anos ocorreram em países ou regiõ es com grande potencial em recursos
energéticos.

Pá gina 194

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Fonte: Armed Conflicts Location & Event Date Project (ACLED). Conflicts Trends. n. 45, jan. 2016, p. 2.

A NIGÉRIA E A AÇÃO DO BOKO HARAM


A Nigéria é um país localizado na Á frica Ocidental e apresenta o maior contingente populacional do
continente, estimado em mais de 170 milhõ es de habitantes. Seu PIB é calculado em 509,9 bilhõ es
de dó lares, derivado principalmente da exploraçã o de petró leo. O crescimento médio do PIB do país
foi estimado em torno de 2,84% ao ano em 2015.

Todavia, o seu IDH, em torno de 0,514 em 2014, encontra-se junto ao dos países de baixo
desenvolvimento humano, devido, principalmente, à elevada concentraçã o de renda.
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Fonte: Gazeta do Povo, 17 maio 2014. Disponível em: <www. gazetadopovo.com.br/mundo/ barbaridades-feitas-pelo-boko-
haramagora-chamam-mais-atencao-porque-9ev174c2rueegvuart01uij4e>. Acesso em: 11 abr. 2016.

Pá gina 195

Outra questã o que tem afetado profundamente a Nigéria, principalmente a partir de 2009, é
atuaçã o do grupo Boko Haram. O grupo surgiu em 2002, como seita religiosa islâ mica, fundado por
Mohammed Ali na cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno. Em 2003, o grupo entrou em
confronto com a polícia em razã o da disputa por direitos de pesca e Mohammed Ali foi morto.
Mohammed Yusuf assumiu entã o a liderança do grupo e intensificou ataques a lojas, bancos, igrejas
etc. Em 2009, em novo confronto com a polícia, Yusuf foi morto e, em seu lugar, Abubakar Shekau
passou a liderar o Boko Haram, mantendo a situaçã o de ataques e sequestros.

Inicialmente, seus objetivos eram recusar a educaçã o ocidentalizada, combater o legado deixado
pela colonizaçã o, retornar os preceitos da educaçã o religiosa islâ mica e construir uma repú blica
islâ mica.

O nome oficial do grupo é Jama’atu Ahlis Sunna Lidda’awati Wal-Jihad, que significa “pessoas
comprometidas com a propagaçã o dos ensinamentos do profeta e da Jihad”. Os habitantes de
Maiduguri passaram a usar o termo Boko Haram (“a educaçã o nã o islâ mica/ocidental é pecado”),
pelo qual o grupo é conhecido em todo o país e no exterior.

Acredita-se que o grupo tenha estabelecido relaçõ es com a organizaçã o terrorista Al-Qaeda, que
possivelmente é uma de suas fontes de financiamento, além do roubo a bancos.

Um dos atentados mais audaciosos do grupo foi o sequestro de mais de 200 meninas adolescentes
em Chibok, em 2014. Até 2016, a maioria delas ainda nã o tinha sido encontrada.

O governo nigeriano, auxiliado por forças oriundas também do Chade e da Uniã o Africana, bem
como dos Estados Unidos, intensificou as açõ es militares contra o Boko Haram em 2014. Todavia, o
grupo segue praticando atentados terroristas na regiã o, inclusive usando crianças-bomba,
mantendo uma situaçã o de grande instabilidade política.

SAIBA MAIS

União Africana

Foi criada em 2002 em substituiçã o à Organizaçã o da Unidade Africana (OUA). Participam quase
todos os países africanos, exceto a Repú blica Centro Africana, suspensa apó s um golpe de Estado
em 2013. Leia mais a seguir:

A Uniã o Africana tem atuado na mediaçã o e prevençã o de conflitos, como nos casos da Somá lia e do
Sudã o. Um dos princípios consagrados em seu tratado constitutivo e que tem contribuído para a
defesa da democracia no continente é aquele que estabelece a condenaçã o e rejeiçã o a mudanças
inconstitucionais de governo. Criado em 2004, o Conselho de Paz e Segurança da Uniã o Africana foi
concebido para atuar diante de circunstâ ncias graves nos países-membros – tais como crimes de
guerra, genocídio ou crimes contra a humanidade. A disposiçã o de intervir em tais situaçõ es é, em
si, outro elemento inovador da organizaçã o.

Ministério das Relaçõ es Exteriores. Disponível em: <www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_conte


nt&view=article&id=3681&catid=176&Itemid=436&la ng=pt-BR>. Acesso em: 11 abr. 2016.

O SUDÃO E OS CONFLITOS EM DARFUR


Em 2016, a populaçã o do Sudã o estava em torno de 41 milhõ es de habitantes. O país conquistou
sua independência da Inglaterra em 1956 e, desde entã o, tem sido governado por regimes militares
de orientaçã o islâ mica, sediados em Cartum, a capital do país. O Sudã o possui mais de 400 grupos
étnicos com línguas e costumes pró prios, sendo o á rabe a ú nica língua comum entre eles.

ATIVIDADE

Simulação da União Africana

Formem grupos de até quatro integrantes. Cada grupo representará um ou dois países das cinco
regiõ es africanas (observem o mapa da p. 181 “Á frica: grandes divisõ es regionais”).

O tema em pauta será : Como conter as açõ es do Boko Haram?

Os grupos devem se portar como um corpo diplomá tico e, portanto, devem respeitar a soberania do
país e os direitos humanos universais. O professor fará o papel de mediador e indicará as propostas
relevantes para compor uma resoluçã o.

Apó s os debates, os grupos devem redigir e aprovar uma resoluçã o conjunta, propondo uma
intervençã o adequada para solucionar o problema.

Ao longo do século XX, o Sudã o passou por duas guerras civis, ambas ligadas à dominaçã o
econô mica, política e social do Norte em relaçã o ao Sul, de maioria nã o muçulmana e nã o á rabe.

Pá gina 196
Entre 2002 e 2004, foram feitas vá rias tentativas de acordo entre o Norte e o Sul. Em 2005, eles
assinaram um Acordo de Paz Abrangente, que concedeu autonomia ao Sul por meio de um
plebiscito em 2011.

Para além da independência do Sudã o do Sul, o Sudã o enfrenta, desde 2003, um grande conflito
interno, em Darfur. A regiã o localiza-se a oeste do Sudã o e se estende pelo deserto do Saara,
savanas secas e florestas da Á frica Central. Observa-se o avanço da desertificaçã o sobre ela,
acelerada em decorrência das atividades humanas.

A populaçã o vive da agricultura de subsistência e pecuá ria seminô made. Mais ou menos um terço
dela é de ascendência á rabe, que migrou para a á rea entre os séculos XIV ao XVIII, miscigenando-se
com a populaçã o local. Assim, em geral, do ponto de vista fenotípico, praticamente nã o há diferença
entre “á rabes” e “africanos” em Darfur. Observa-se ainda uma importante migraçã o de povos da
Á frica Ocidental de diversas etnias para Darfur.

Há décadas, existe uma forte tensã o na regiã o, derivada da disputa por direitos de pastagens entre
os nô mades islâ micos e os fazendeiros dos grupos étnicos fur, massaleet e zagawa. Em razã o dessa
pequena distinçã o entre os grupos étnicos sudaneses (por exemplo, a língua comum a todos é o
á rabe), e do cará ter multiétnico do país, a ideia de um conflito étnico em Darfur deve ser analisada
com muito cuidado.

Se as diferenças étnicas locais nã o foram fortes o suficiente para acirrar o conflito em Darfur, é
necessá rio considerar que a açã o do governo central, em Cartum, tornou-as mais evidentes e
utilizou-as como mote para suas tentativas de controlar os rebeldes locais.

Quando os grupos locais se rebelaram contra o governo de Cartum, este passou a armar grupos
paramilitares, os janjaweed, formados essencialmente por membros dos grupos étnicos locais de
língua á rabe. O passo seguinte foi o acirramento dos choques entre os “janjaweed á rabes” e os
demais grupos rebeldes “africanos”.

SAIBA MAIS

Os janjaweed originais da década de 1980 eram uma coalizã o de milicianos á rabes chadianos e um
grupo de á rabes nô mades de Darfur. Por anos, foram tolerados e apoiados de forma intermitente
por Cartum. Nos conflitos a partir de 2003, tornaram-se o braço armado do governo de Cartum em
Darfur.

Açõ es como a destruiçã o de povoados “africanos” e a preservaçã o de povoados “á rabes”


aumentaram mais ainda as divergências. O conflito, a partir de entã o, passou a ser chamado de
“étnico”.

Os primeiros conflitos em Darfur ocorreram em 1987, quando uma milícia á rabe do Chade foi
empurrada pelo exército daquele país para a regiã o. Existiram ainda confrontos isolados ao longo
da década de 1990, provocados pelas disputas entre fazendeiros e pastores nô mades. Um aspecto
importante a ser considerado é que o conflito tem raízes em disputas relacionadas à á gua, cada vez
mais escassa na superfície, e aos direitos de pastagens numa á rea atingida por secas cada vez mais
frequentes, fome crescente e expansã o do deserto do Saara (desertificaçã o).

No entanto, as verdadeiras causas do conflito que eclodiu no século XXI sã o a pobreza e a


marginalizaçã o de Darfur pelo governo de Cartum. Os darfunianos sentem-se ignorados pelas
políticas econô micas e sociais adotadas pelo governo, que beneficiam apenas a regiã o central do
país. Desse modo, esse sentimento de isolamento e precarizaçã o socioeconô mica levou à eclosã o de
um conflito em 2003.

Segundo a ONU, o conflito já matou mais de 200 mil pessoas e levou mais de 2 milhõ es a deixar suas
casas, refugiando-se em países vizinhos, como o Chade, ou em outras regiõ es. Os refugiados no
Chade atraíram os janjaweed para o país, o que provocou o envolvimento do Chade no conflito.
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Fonte: Enciclopédia Britannica. Disponível em: <www.britannica. com/biography/Omar-Hassan-Ahmad-al-Bashir/images-


videos/ Map-showing-Darfur-related-conflict-zones-and-campsitesfor-refugees/119416>. Acesso em: 11 abr. 2016.

Pá gina 197

A China tem uma presença crescente no continente africano, atraída por reservas de recursos
naturais. Com o Sudã o, a China mantém acordos comerciais e tem fornecido tecnologia para a
exploraçã o do petró leo, como má quinas e equipamentos para perfuraçã o, bombeamento e
construçã o de oleodutos. Em troca, o petró leo sudanês é quase todo exportado para a China. Além
disso, a China tem apoiado o governo sudanês no Conselho de Segurança da ONU, inclusive vetando
açõ es militares no país.

Em 2006, a ONU, juntamente com a Uniã o Africana, tentou estabelecer acordos de paz para por fim
aos conflitos de Darfur com o apoio do governo sudanês. Porém, apenas uma facçã o rebelde aceitou
o acordo e, em abril daquele mesmo ano, a ONU aprovou sançõ es contra dois líderes rebeldes e
encaminhou um dossiê denunciando crimes de guerra ao Tribunal Penal Internacional, em Haia.
Aproximadamente 50 integrantes das forças de segurança do Sudã o começaram a ser processados
pela justiça, em Cartum.

Desde 2007, as tropas da ONU e da Uniã o Africana vêm procurando estabilizar a situaçã o em
Darfur. Apesar das tentativas de paz, a escalada da violência na regiã o voltou a aumentar em 2013,
o que elevou ainda mais o nú mero de mortos e refugiados. Além disso, a independência do Sudã o
do Sul, em 2011, acirrou os interesses pela independência da regiã o. E o conflito prossegue até os
dias atuais.

ATIVIDADE

Interpretação de charge
Ed Stein

Charge de Ed Stein. Never again [nunca mais].

1. Qual é a mensagem que a charge busca transmitir?

2. Por que a lá pide onde se encontra o nome Darfur possui uma cova aberta à sua frente?

O conflito é considerado esquecido porque, apesar da violência cotidiana, das açõ es dos grupos
armados e da morte e deslocamentos da populaçã o civil, as açõ es e atençõ es do mundo para a
regiã o continuam pouco expressivas.

SUDÃO DO SUL: DA INDEPENDÊNCIA À GUERRA CIVIL


O Sudã o do Sul, o país africano mais novo, alcançou a independência em 2011. Com a
independência, o Sudã o perdeu aproximadamente 25% da á rea que possuía anteriormente. Assim
que saiu da dominaçã o sudanesa, o país entrou em violenta guerra civil.

O Sudã o do Sul possui grandes reservas de petró leo, embora quase toda a infraestrutura para refino
e transporte esteja situada no Sudã o. Além disso, o país apresenta graves problemas
socioeconô micos como elevada taxa de mortalidade materna e grande contingente de crianças sem
escolas. O índice de analfabetismo é alto e atinge mais de 84% das mulheres. Possui também
carência de infraestrutura, como ruas e estradas pavimentadas, e somente metade da populaçã o
tem acesso à á gua potá vel, cujo controle e distribuiçã o é realizado por uma empresa privada. Isso
faz com que o Sudã o do Sul apresente um dos piores índices de qualidade de vida do mundo.

Outro fator preocupante para a geopolítica regional é que a separaçã o foi realizada sem uma
definiçã o clara das fronteiras entre os dois países. As tensõ es e disputas entre o Norte e o Sul em
torno de Abyei têm sido constantes, uma vez que essa á rea é muito rica em petró leo e localiza-se
exatamente na regiã o fronteiriça entre os países. Os conflitos nessa regiã o já levaram ao
deslocamento forçado de mais de 100 mil pessoas.

Houve uma ameaça de guerra apó s a interdiçã o dos dutos de petró leo pelo Sudã o e a interrupçã o da
produçã o de petró leo pelo Sudã o do Sul. A ameaça se arrefeceu, embora a disputa econô mica
continue.

No entanto, o problema mais grave é a guerra civil que eclodiu em 2013 entre os sul-sudaneses. O
Sudã o do Sul possui populaçã o extremamente diversificada linguística e etnicamente, sendo as
etnias mais numerosas os nuer, os dinka e os shiluk. A guerra civil se iniciou em funçã o das
rivalidades entre o presidente Salva Kiir (dinka) e o vice-presidente Riek Machar (nuer). Ambos
integraram o Movimento/Exército Popular de Libertaçã o do Sudã o, que buscou a independência do
país. Alcançada a independência, foi articulada uma divisã o de poder entre os diversos líderes,
especialmente entre os dois grupos étnicos nuer e dinka.
Desse modo, Kiir foi indicado presidente e Machar, vice-presidente. Esse acordo vigorou entre 2011
e 2013. Todavia, na medida em que se aproximavam as eleiçõ es presidenciais de 2015, as relaçõ es
entre o presidente e o vice foram se deteriorando.

Pá gina 198

Em 2013, Machar foi deposto e, em dezembro, fundou o Exército de Libertaçã o do Povo do Sudã o
(SPLM/A) e atacou os campos de petró leo do Sudã o do Sul.

A disputa política entre o presidente e o vice logo virou um conflito étnico entre os dinka e os nuer.
A guerra civil comprometeu a produçã o de petró leo e agravou ainda mais as condiçõ es de vida da
populaçã o sul-sudanesa.

Entre 2014 e 2015, segundo o Alto Comissariado das Naçõ es Unidas para os Refugiados (Acnur), a
guerra já provocou o deslocamento de mais de 2,2 milhõ es de sul-sudaneses para os países vizinhos
e campos de refugiados. Além disso, calcula-se que, desde o início da guerra, cerca de 4 milhõ es de
pessoas enfrentam uma forte crise alimentícia de ambos os lados do conflito.

Houve, desde 2014, vá rias tentativas de acordo, especialmente patrocinadas pela Autoridade
Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad), que congrega Uganda, Sudã o, Sudã o do Sul e
países do Chifre da Á frica. Todavia, sem resultados efetivos até o momento.

O que se assistiu foi uma escalada de violência e crimes como estupros, assassinatos, prá ticas de
canibalismo forçado e a utilizaçã o de crianças como soldados. O Fundo das Naçõ es Unidas para a
Infâ ncia (Unicef) estima que, entre 2013 e 2014, foram arregimentadas entre 15 e 16 mil crianças
em ambos os lados do conflito.
Allmaps

Fonte: Elaborado com base em dados de The World Factbook. Disponível em: <www.cia.gov.br>. Acesso em: 11 abr.
2016

Pá gina 199

Ainda em 2013, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o envio de 13 mil soldados e


negociadores para a regiã o. Porém, em virtude da calamidade ligada à s condiçõ es de vida, em 2014,
eles foram reorientados a cuidar e proteger os civis, os principais afetados pelo conflito.

Em funçã o de ameaças de sançõ es internacionais e pressõ es políticas dos países vizinhos, esperava-
se que, em 2015, os dois grupos assinassem um acordo de paz. Porém, a despeito de sua assinatura,
a violência continuou. E, para agravar o quadro, as eleiçõ es que deveriam ter ocorrido em 2015,
foram adiadas para 2018, com a manutençã o do presidente Salva Kiir no poder.

O CONFLITO NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO


A independência da Repú blica Democrá tica do Congo (RDC) antigo Congo Belga, em 1960 nã o
trouxe o desenvolvimento econô mico e social que poderia se esperar de um territó rio tã o rico em
recursos naturais, especialmente minerais.
Tais recursos sã o altamente estratégicos para as indú strias eletroeletrô nicas e, como exemplos,
podemos citar o cobalto, o cobre, o ouro, além de diamantes, coltan (mistura dos minerais
columbita e tantalita – fundamentais para a produçã o de notebooks, tablets e telefones celulares),
entre outros.

Allmaps

Fonte: ONU; BBC. Diponível em <www.bbc.com/news/ magazine-24396390>. Acesso em: 3 maio 2016.

Apesar da imensa riqueza mineral do país, o IDH da RDC em 2014 foi de 0,433 pontos, entre os mais
baixos do mundo. Cerca de 80% de sua populaçã o vive com menos de 1,25 dó lar por dia e a
expectativa de vida gira em torno de 49,6 anos.

Os conflitos no país começaram praticamente desde sua independência da Bélgica, em 1960. Eles
encontram ressonâ ncia externa, pois os países vizinhos tentam manipular o seu governo para
explorar as suas riquezas.

A Repú blica Democrá tica do Congo vive uma situaçã o de instabilidade interna há mais de 20 anos,
sendo que o país sofreu com duas grandes guerras.

A Primeira Guerra do Congo ocorreu entre 1996 e 1997 e a Segunda Guerra do Congo, ou Grande
Guerra Africana, logo em seguida (1998-2003). Estima-se que os conflitos no Congo tenham matado
em torno de 6 milhõ es de pessoas.

Atualmente, os conflitos mais intensos se localizam justamente no leste da RDC, á rea que possui a
maior parte dos recursos minerais estratégicos do país e onde se verifica maior ingerência dos
países vizinhos, como Uganda e Ruanda.
Allmaps

Fonte: BBC. Disponível em: <www.bbc.com/news/wordafrica-11108589>. Acesso em: 26 fev. 2016.

Sã o vá rios os grupos rebeldes na Repú blica Democrá tica do Congo, com destaque para o M23. Eles
lutam pelo controle do territó rio e dos recursos minerais, cujos lucros acabam sendo usados para
financiar as guerrilhas.

A fragilidade do governo central e os interesses dos países vizinhos nos conflitos internos à
Repú blica Democrá tica do Congo têm levado a ONU a fazer maiores investimentos na regiã o,
principalmente na tentativa de proteger os civis, sobretudo mulheres e crianças.

Pá gina 200

OS PROBLEMAS NO CHIFRE DA ÁFRICA

Allmaps

Fonte: Unicef. Response to the Horn of Africa emergency, 2011, p. 6. Disponível em: <www.unicef.org/esaro/HOA_3_
month_2011_Report__Final.pdf>. Acesso em: 13 maio 2016.

O Chifre da Á frica, regiã o localizada no leste do continente, com saída para o oceano Índico é
constituída por Somá lia, Etió pia, Quênia, Djibuti e Eritreia. É uma á rea com inú meros conflitos
internos e de fronteiras, como a separaçã o entre Etió pia e Eritreia, em 1993, ainda com tensõ es e
disputas por á reas de fronteiras. É uma regiã o á rida e semiá rida, cujas condiçõ es ambientais e
econô micas foram profundamente afetadas pelos diversos conflitos locais e regionais.

Além disso, no Quênia, observa-se maior presença de umidade e solos férteis, porém, justamente
por isso, verifica-se também maior disputa pelos recursos disponíveis, o que acirra ainda mais os
conflitos entre as mais de 40 etnias existentes no país.

Por volta de 2011 e 2012, a regiã o enfrentou a pior seca dos ú ltimos 60 anos, que, aliada à
instabilidade política e à presença de milícias que dificultavam a entrega de alimentos à populaçã o,
afetou aproximadamente 13 milhõ es de pessoas. Calcula-se que cerca de 30% das crianças na
regiã o foram afetadas pela desnutriçã o.

No mapa a seguir, sã o apresentadas as á reas mais afetadas pela seca em 2011. A seca, a inflaçã o
crescente e a instabilidade política levaram ao deslocamento de milhares de pessoas, sobretudo
para os campos de refugiados.

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Fonte: IPC Country Teams; UNCS; FEWS NET. Disponível em: <www.un.org/News/dh/photos/large/2011/July/29-
horn.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2016.

SAIBA MAIS

Os porquês da fome na África

Vivemos em um mundo de abundâ ncia. Hoje [2011] se produz comida para 12 bilhõ es de pessoas,
segundo dados da Organizaçã o das Naçõ es Unidas para a Agricultura e a Alimentaçã o (FAO),
quando no planeta habitam 7 bilhõ es. Comida existe. Entã o, por que uma em cada sete pessoas no
mundo passa fome?

A emergência alimentar que afeta mais de 10 milhõ es de pessoas no Chifre da Á frica voltou a
colocar na atualidade a fatalidade de uma catá strofe que nã o tem nada de natural. Secas,
inundaçõ es, conflitos bélicos… contribuem para agudizar uma situaçã o de extrema vulnerabilidade
alimentar, mas nã o sã o os ú nicos fatores que a explicam.

A situaçã o de fome no Chifre da Á frica nã o é novidade. A Somá lia vive uma situaçã o de insegurança
alimentar há 20 anos. E, periodicamente, os meios de comunicaçã o nos atingem em nossos
confortá veis sofá s e nos recordam o impacto dramá tico da fome no mundo. Em 1984, quase um
milhã o de pessoas mortas na Etió pia; em 1992, 300 mil somalis faleceram por causa da fome; em
2005, quase cinco milhõ es de pessoas à beira da morte no Malaui, só para citar alguns casos.

Pá gina 201

A fome nã o é uma fatalidade inevitá vel que afeta determinados países. As causas da fome sã o
políticas. Quem controla os recursos naturais (terra, á gua, sementes) que permitem a produçã o de
comida? A quem beneficiam as políticas agrícolas e alimentares? Hoje, os alimentos se converteram
em uma mercadoria e sua funçã o principal, alimentar-nos, ficou em segundo plano.

Aponta-se a seca, com a consequente perda de colheitas e gado, como um dos principais
desencadeadores da fome no Chifre da Á frica, mas como se explica que países como Estados Unidos
ou Austrá lia, que sofrem periodicamente secas severas, nã o sofram fomes extremas?

Evidentemente, os fenô menos meteoroló gicos podem agravar os problemas alimentares, mas nã o
bastam para explicar as causas da fome. No que diz respeito à produçã o de alimentos, o controle
dos recursos naturais é chave para entender quem e para que se produz. Em muitos países do
Chifre da Á frica, o acesso à terra é um bem escasso. A compra massiva de solo fértil por parte de
investidores estrangeiros (agroindú stria, governos, fundos especulativos) tem provocado a
expulsã o de milhares de camponeses de suas terras e diminuído a capacidade desses países de se
autoabastecerem. Assim, enquanto o Programa Mundial de Alimentos tenta dar de comer a milhõ es
de refugiados no Sudã o, ocorre o paradoxo de os governos estrangeiros (Kuwait, Emirados Á rabes
Unidos, Coreia) comprarem terras para produzir e exportar alimentos para suas populaçõ es. [...]

VIVAS, E. Brasil de Fato, 15 ago. 2011. Disponível em: <www.brasildefato.com.br/node/7126>. Acesso em: 11 abr.
2016.

A CRISE NO MALI
O Mali, país africano sem saída para o mar, mas com localizaçã o estratégica, possui
aproximadamente 12 milhõ es de habitantes, dos quais a maioria vive com menos de 1,25 dó lar por
dia. O seu IDH é baixo, 0,419 em 2014.

A regiã o onde se localiza hoje o Mali, Burkina Faso, Guiné, parte do Níger e da Mauritâ nia, foi, no
século XI, sede do império do Mali, e, entre os séculos XII a XIV, sede do império Songhai, cuja
cidade principal era Timbuktu. A regiã o constituía zona de passagem estratégica para caravanas e,
ao mesmo tempo, de expansã o do islã pelo continente africano. Esse ú ltimo império entrou em
declínio no século XVI, e, no final do século XIX, a França consolidou sua conquista na regiã o.

Na década de 1960, o país tornou-se independente. Como os demais países africanos, apó s a
independência observamos diversas crises relacionadas à s disputas étnicas, crises humanitá rias e
de fome.

O Mali, além de sua posiçã o estratégica, é muito rico em diversos recursos minerais, explorados
principalmente por empresas estrangeiras. Observe no mapa da pá gina seguinte algumas das suas
riquezas minerais.
Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

Pá gina 202

A crise mais recente nesse país foi entre 2012 e 2013. Em 2012, organizou-se o Movimento
Nacional pela Libertaçã o de Azawad (MNLA), maciçamente constituído pela populaçã o tuaregue
que habita e transita por essa regiã o. Os líderes e membros do MNLA desejam separar o norte do
Mali do restante do país e, em 2013, declararam unilateralmente a independência da regiã o, nã o
reconhecida por nenhuma organizaçã o africana ou pela ONU.

Allmaps

Fonte: Les Echos. Disponível em: <http://lesillon04.hautetfort.com/media/01/00/3572751690.jpg>. Acesso em: 15 abr.


2016.

Ainda em 2013, a esse grupo se uniu o grupo islâ mico Ansar Dine, que possivelmente recebeu ajuda
da Al-Qaeda no Magreb Islâ mico e desejava manter a unidade do Mali e, simultaneamente, almejava
a implantaçã o da Sharia no país. Todavia, o Ansar Dine e outros grupos jihadistas acabaram por
expulsar a MNLA da regiã o.
A açã o dos grupos jihadistas foi muito rápida e, em questã o de poucos meses, eles já controlavam
todo o norte do Mali, tendo provocado, como consequência, o deslocamento interno e externo de
milhares de pessoas.

Allmaps

Fonte: Welthungerhilfe. Disponível em: <www.welthungerhilfe.de/fileadmin/user_upload/Themen/


Welthungerindex/WHI_2015/global-hunger-index-2015-mali-case-study-welthungerhilfe-658x436.jpg>. Acesso em: 29 fev.
2016.

Pá gina 203

O governo de Bamako, a capital do Mali, solicitou ajuda francesa, sendo atendido rapidamente tanto
pela França, como pelo Reino Unido, pelos Estados Unidos e pelo Canadá. A ofensiva do governo
levou ao recuo dos grupos jihadistas, embora estes ainda detenham o controle de algumas á reas no
norte do país. Como resposta à açã o do governo, terroristas atacaram o hotel de luxo Radisson Blu,
em Bamako, mantando 21 pessoas. A autoria do ataque foi assumida pela Al-Qaeda no Magreb
Islâ mico.

Atualmente, o Mali é o país africano com maior quantidade de tropas francesas, que se deslocaram
para o país entre 2012 e 2013, possivelmente em razã o da dependência francesa do urâ nio
explorado no Mali. Como resultado dos confrontos, o norte do Mali é agora um protetorado
internacional sob controle francês e, a despeito de a situaçã o do Mali estar relativamente
estabilizada, a violência ainda é a realidade cotidiana de milhares de moradores do país.

ÁFRICA: ENTRE O INTERESSE E O ESQUECIMENTO


Nos ú ltimos séculos, o continente africano viveu um período de usurpaçã o econô mica e política que
reduziu a sociedade ao modo mais bá sico de sobrevivência. O apadrinhamento político existente
durante a Guerra Fria chegou ao fim e os Estados se transformaram em um palco de disputa por
poder e vantagens econô micas. Essa situaçã o gerou um campo fértil para que velhas e novas
ideologias florescessem, algumas apregoando a necessidade de lideranças firmes (um passo para
ditaduras), outras em defesa da religiã o como forma de conduta moral e política (os chamados
governos teocrá ticos). Com pouca informaçã o e ainda padecendo de fome, a populaçã o do
continente assiste ao retorno de lideranças autoritá rias, sejam eleitas ou nã o, num período que
costumou-se chamar de democratizaçã o.
A Á frica é extremamente rica em recursos, o que pode ser verificado pelo crescimento do PIB de
diversos países. Porém, nã o necessariamente essa riqueza se traduziu em melhoria nas condiçõ es
de vida de milhõ es de africanos.

Possivelmente, o futuro da populaçã o africana dependerá da capacidade de as organizaçõ es


regionais conseguirem se firmar como lideranças e apaziguar os diferentes conflitos. Riquezas nã o
faltam ao continente. Falta maior estabilidade política e a elaboraçã o de políticas pú blicas capazes
de elevar os padrõ es de qualidade de vida dessas populaçõ es, bem como a reduçã o das ingerências
internacionais nas questõ es internas dos diversos povos e países.

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Fonte: Le Figaro. Disponível em: <http://i.f1g.fr/media/ext/805x803/www.lefigaro.fr/


medias/2014/05/20/PHO51f0262e-df68-11e3-8f93-9b100df7d9ae-805x803.jpg>. Acesso em: 1 mar. 2016.

Pá gina 204

QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (Enem, 2012)

A singularidade da questã o da terra na Á frica Colonial é a expropriaçã o por parte do colonizador e as


desigualdades raciais no acesso à terra. Apó s a independência, as populaçõ es de colonos brancos tenderam a
diminuir, apesar de a proporçã o de terra em posse da minoria branca nã o ter diminuído proporcionalmente.

MOYO, S. “A terra africana e as questõ es agrá rias: o caso das lutas pela terra no Zimbá bue”. In: FERNANDES, B. M.;
MARQUES, M. I. M.; SUZUKI, J. C. (org.). Geografia agrária: teoria e poder. Sã o Paulo: Expressã o Popular, 2007.
Com base no texto, uma característica socioespacial e um consequente desdobramento que marcou o processo
de ocupaçã o do espaço rural na Á frica Subsaariana foram:

a) Exploraçã o do campesinato pela elite proprietá ria – Domínio das instituiçõ es fundiá rias pelo poder pú blico.

b) Adoção de prá ticas discriminató rias de acesso à terra – Controle do uso especulativo da propriedade
fundiá ria.

c) Desorganizaçã o da economia rural de subsistência – Crescimento do consumo interno de alimentos pelas


famílias camponesas.

d) Crescimento dos assentamentos rurais com mã o de obra familiar – Avanço crescente das á reas rurais sobre
as regiõ es urbanas.

e) Concentraçã o das á reas cultivá veis no setor agroexportador – Aumento da ocupaçã o da população pobre em
territó rios agrícolas marginais.

2. (Enem, 2014)

Antes de o sol começar a esquentar as terras da faixa ao sul do Saara conhecida como Sahel, duas dezenas de
mulheres da aldeia de Widou, no norte do Senegal, regam a horta cujas frutas e verduras alimentam a
populaçã o local. É um pequeno terreno que, visto do céu, forma uma mancha verde – um dos primeiros
pedaços da “Grande Muralha Verde”, barreira vegetal que se estenderá por 7 000 km do Senegal ao Djibuti, e é
parte de um plano conjunto de vinte países africanos.

GIORGI, J. “Muralha verde”. Folha de S. Paulo. 20 maio 2013 (adaptado).

O projeto ambiental descrito proporciona a seguinte consequência regional imediata:

a) Facilita as trocas comerciais.

b) Soluciona os conflitos fundiá rios.

c) Restringe a diversidade bioló gica.

d) Fomenta a atividade de pastoreio.

e) Evita a expansã o da desertificaçã o.

3. (UFSC, 2013) Sobre o continente africano, assinale a(s) proposiçã o(õ es) CORRETA(S).

01) A grande diversidade étnica e cultural da Á frica não impede a divisã o do continente em dois grandes
conjuntos separados pelo monte Everest: a Á frica Meridional e a Á frica Subsaariana.

02) Desde o século XVI, pelo menos, a Á frica passou a integrar o sistema capitalista europeu com as feitorias
comerciais portuguesas na costa do oceano Atlâ ntico.

04) O rio Nilo foi considerado de importâ ncia fundamental para a formaçã o do Egito antigo, devido à s cheias
de suas margens, cuja matéria orgâ nica era utilizada na agricultura.

08) As inovaçõ es tecnoló gicas desenvolvidas a partir dos anos 1970, que utilizam baixa quantidade de capital
e mã o de obra, fazem com que a extraçã o de minérios e as exportaçõ es de petró leo em alguns países africanos
percam importâ ncia.

16) A Á frica é o ú nico continente cortado pela linha do Equador e pelos tró picos de Câ ncer (23°27’N) e de
Greenwich (0°).

32) A forma como foi explorado o continente, principalmente pelos países europeus, mais precisamente, desde
o século XIX, apó s o Congresso de Berlim, é uma das explicaçõ es para os conflitos étnicos, culturais e religiosos.
4. (ESPM-SP, 2015) Leia a matéria e observe o mapa de regionalizaçã o africana.

Apó s décadas de um suposto controle do vírus ebola, em agosto passado, a Organizaçã o Mundial da Saú de
(OMS) declarou a nova epidemia como uma emergência pú blica internacional. Este é o surto mais longo desde
a sua descoberta, em 1976.

Revista Espaço Aberto, n. 167, Sã o Paulo: COSEAS/USP, 2014.

Revista Espaço Aberto, n. 167. USP. São Paulo, 2014.

Á frica setentrional

Á frica ocidental

Á frica central

Á frica meridional

Á frica oriental

Pá gina 205

A regiã o mais atingida pela epidemia retratada na matéria é:

a) Á frica setentrional.

b) Á frica ocidental.

c) Á frica central.

d) Á frica meridional.

e) Á frica oriental.

5. (Uern, 2015)
(Paulo Roberto, Moraes. Geografia Geral e do Brasil. 4 ed. Sã o Paulo: Harbra. 2011. p. 365.)

Em 2008, mais de 300 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas em Darfur, no Sudã o. A regiã o,
composta por dois Estados, passa por uma crise humanitá ria em meio à guerra civil, que está relacionada ao
seguinte fator:

a) A existência de uma milícia que tem como missã o eliminar as outras etnias.

b) A construçã o de fronteiras artificiais no continente africano motivada pelo imperialismo europeu.

c) A existência de petró leo, em Darfur do Norte, e a forte pressã o chinesa para a separaçã o e autonomia da
regiã o.

d) A influência da primavera á rabe sobre a regiã o que levou à divisã o da população em dois grupos: xiitas e
sunitas.

6. (Udesc, 2015) Analise as proposiçõ es em relaçã o ao continente africano.

I. No relevo predominam os planaltos em escudos antigos.

II. O norte do continente tem grandes restriçõ es para o uso agrícola em razão da presença de um enorme
deserto.

III. As florestas se concentram na regiã o equatorial do continente.

IV. A populaçã o se concentra nas zonas litorâ neas do continente. Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas III e IV sã o verdadeiras.

b) Somente as afirmativas I e II sã o verdadeiras.

c) Somente as afirmativas I e III sã o verdadeiras.

d) Somente a afirmativa IV é verdadeira.

e) Todas afirmativas sã o verdadeiras.

7. (Uerj, 2014)
(UERN)/Divulgaçã o

Adaptado de Jornal Mundo. Sã o Paulo: Pangea, março de 2013.

Situaçã o relativa ao IPA

boa

Satisfató ria

mediana

difícil

critica

ausência de dados

O Índice de Pobreza em Á gua é um indicador criado com a finalidade de estabelecer relaçõ es entre o acesso à
á gua potá vel e as características do meio natural e de cada sociedade. Com base no mapa, a maior presença de
países em situaçã o crítica quanto ao acesso à á gua potá vel está no subcontinente denominado:

a) Oriente Médio.

b) Á sia Meridional.

c) América Andina.

d) Á frica Subsaariana.

8. (UFRGS-RS, 2014) A Á frica começou a ser mais intensamente explorada pelas naçõ es europeias nos fins do
século XIX, por liderança do Rei Leopoldo II, da Bélgica, em busca dos produtos da floresta tropical. Ao sul,
metais nobres e diamantes motivaram a forte presença da colonização inglesa, que se arrastou por quase todo
o século XX.

O texto acima diz respeito:

a) ao processo de descolonizaçã o do continente africano.

b) ao momento mais intenso da escravização.

c) ao processo da partilha do continente africano.

d) ao domínio luso-espanhol no continente africano.

e) à integraçã o do continente africano ao processo de industrializaçã o.

Pá gina 206
A notícia em diversas óticas
O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e anseios da
humanidade.

A fábula

O crescimento econômico africano

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na Á frica deverá aumentar para 4,5% em 2015 e 5%
em 2016, apó s uma subida moderada em 2013 (3,5%) e 2014 (3,9%). Em 2014, o crescimento ficou
um ponto percentual abaixo do previsto, devido à fraqueza da economia global e aos graves
problemas internos em alguns países africanos. Verifica-se, porém, uma melhoria na economia
global e, se as previsõ es do PEA estiverem corretas, Á frica voltará rapidamente a aproximar-se dos
níveis impressionantes de crescimento registados antes da crise econô mica global de 2008-2009.
[...]

As disparidades regionais sã o surpreendentes. A Á frica Ocidental registou uma taxa de crescimento


relativamente alta em 2014 – 6% – apesar da batalha contra o vírus ebola. Na Nigéria, por exemplo,
o crescimento de 6,3% provém maioritariamente dos setores nã o petrolíferos, o que demonstra a
diversificaçã o da economia. Já a taxa de crescimento na Á frica Austral situou-se abaixo dos 3%, uma
vez que a economia sul-africana, com grande peso na regiã o, cresceu apenas 1,5%.

Do lado da procura, o crescimento africano tem sido motivado, principalmente, pela agricultura, as
indú strias extrativas, a construçã o e os serviços, enquanto do lado da oferta os motores sã o o
consumo privado e o investimento em infraestruturas.

LIEBFRITZ, W. (org.) Perspectivas macroeconômicas em África. African Development Bank Group; OEDC; Pnud, 2015.
p. 24.

A perversidade

Allmaps
Fonte: Diploweb.com. Disponível em: <www.diploweb.com/Carte-L-Afrique-un-Continentriche.html>. Acesso em: 2 maio
2016.

O Índice Global de Fome é composto por trê s indicadores: a proporçã o de subnutridos no país ou regiã o, a frequência da
insuficiê ncia de peso nas crianças de 0 a 5 anos e a taxa de mortalidade infantil em crianças abaixo de 5 anos. O índice é
medido em uma escala de 0 a 100 pontos, sendo que 0 reflete a ausê ncia de fome e 100 a pior situaçã o de fome.

* SANTOS, M., 2000.

Pá gina 207

A possibilidade

A grande muralha verde da África

A Á frica será o primeiro a sofrer com o aumento da temperatura e a seca. Com tudo indicando uma
tendência desfavorá vel, era preciso reagir. Adotar uma nova abordagem: em vez de distribuir
comida, nã o valeria mais a pena atacar diretamente as raízes do problema? Foi assim que nasceu a
ideia da grande muralha verde.

O começo elas nã o tinham certeza de que podiam fazê-lo. Nem estavam completamente
convencidas se deviam. Na verdade, muitas no vilarejo tinham dú vidas: cavar buracos, plantar
á rvores, tomar a iniciativa... Isso nã o era papel dos homens?

“Todo mundo pensava que tínhamos ficado loucas”, recorda Nakho Fall, uma mulher pequena,
atarracada e enérgica, num vestido estampado vermelho e branco. Junto com uma dú zia de
companheiras, ela aproveita a sombra de uma á rvore. Estamos em Koutal, vilarejo no Oeste do
Senegal. Cabras e galinhas saltitam por entre as ruelas arenosas que separam as casas. Já à s 11 da
manhã o calor é sufocante. E, no entanto, daqui a apenas um mês, as chuvas e a umidade do verã o
vã o provocar saudades desse calor.

No entanto, era preciso fazer alguma coisa: as á rvores desapareciam, levando com elas uma parte
da vida do vilarejo. “Nã o se ouvia mais o canto dos pá ssaros”, conta Fall. Nenhuma das mulheres
que a rodeia conhece a expressã o “mudanças climá ticas”, mas, de alguns anos para cá, todas
reclamam de um clima mais inclemente e uma seca persistente que endureceu a terra, deixando-a
mais difícil de cultivar. Sem contar que seu teor de sal aumentou. [...]

Mesmo com o Oceano Atlâ ntico a uns 60 quilô metros de distâ ncia, o mar pouco a pouco encontrou
o caminho do vilarejo. “O governo senegalês nã o tem condiçõ es de dizer em que proporçã o o nível
do mar subiu, mas os testes efetuados no solo mostram que a á gua salgada se infiltrou
profundamente”, explica Adama Kone, engenheiro agrícola. Uma agricultora aperta um punhado de
terra branca entre os dedos e nos desafia: “Experimentem. Vocês vã o ver que dizemos a verdade”.

Superando os preconceitos locais, as mulheres de Koutal decidiram lutar por seu vilarejo. Com a
ajuda de doaçõ es estrangeiras e especialistas enviados pelas autoridades do país, elas dedicaram
seis anos para transformar 290 hectares de terras á ridas em um espaço agroflorestal verdejante.
Nele produzem madeira, que vendem na feira, e colhem diversos cereais, entre os quais o painço,
para pró prio consumo. A renda e a produçã o alimentar aumentaram de maneira significativa.
“Ficamos orgulhosas ao pensar que nossos filhos vã o poder viver desta terra. E, principalmente,
eles vã o saber que isso ocorreu graças ao trabalho das mulheres”, diz Adam Ndiaye, uma verdadeira
“mã e coragem” do vilarejo.

As mulheres do vilarejo nã o imaginavam que iriam participar do destino de um projeto que seus
apoiadores denominaram “a grande muralha verde da Á frica”. Por enquanto, trata-se mais de uma
ideia do que de uma realidade. Mas se a dita “muralha” for bem-sucedida, ela pode virar o jogo no
continente e se tornar um elemento decisivo nã o apenas na luta contra as mudanças climá ticas,
como também contra a fome e a pobreza.

HERTSGAARD, M. Le Monde Diplomatique Brasil, nov. 2011. Disponível em: <www.diplomatique.org.br/artigo.php?


id=1052>. Acesso em: 11 abr. 2016.

Com base na leitura do mapa e dos textos, redija uma dissertaçã o de aproximadamente 30 linhas e
analise as perspectivas do continente africano diante de suas realidades econô mica e social. Indique
hipó teses sobre as possíveis mudanças a partir de açõ es locais.

Em seguida, elabore uma proposta de intervençã o que possibilite maior autonomia para as
populaçõ es africanas.

Apresente suas ideias para seus colegas e debatam, com auxílio do professor, as propostas
apresentadas.

Pá gina 208

8
internacionais
A Nova Ordem Mundial e as organizações

Conexão de conhecimentos
A Nova Ordem Mundial
Leia o texto e as imagens a seguir.

Fora da ordem

Vapor barato, um mero serviçal do narcotrá fico

Foi encontrado na ruína de uma escola em construçã o

Aqui tudo parece que é ainda construçã o e já é ruína

Tudo é menino e menina no olho da rua

O asfalto, a ponte o viaduto ganindo pra lua

Nada continua […]

Alguma coisa está fora da ordem


Fora da nova ordem mundial…

VELOSO, C. Fora da ordem. CD: Caetano Veloso, Circuladô. Universal Music. 1991.

Polyp

WTO: World Trade Organization (Organizaçã o Mundial do Comércio – OMC).

Fran/CartoonStock®

EUA e Reino Unido: “Todos nó s temos que fazer sacrifícios pelo meio ambiente… vocês são o nosso!”.

Considerando a leitura do texto e das charges, responda:

1. De acordo com as diferentes interpretaçõ es, qual é a ordem mundial descrita nesses textos?

2. O que poderia hoje estar “fora da ordem mundial”?

Pá gina 209

Nã o existe na atualidade perspectiva de fim dos estados nacionais. Por outro lado, a divulgaçã o de
temas ecoló gicos e de ideias de cunho neoliberal no passado recente colaboraram para o
surgimento de uma visã o mais global do mundo em que vivemos. Mesmo assim, o planeta Terra nã o
conta com o que poderíamos chamar de um “governo global”. O mapa a seguir mostra algumas das
organizaçõ es mais importantes que dirigem interesses coletivos ou regionais. E, como pode ser
observado, a mais abrangente dessas organizaçõ es é a Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU).
Sabemos que um dos objetivos dessa organizaçã o é a manutençã o da paz no mundo. Mas seria
correto dizer que a ONU é uma entidade totalmente democrá tica? Seria correto afirmar que todos
os países-membros têm a mesma importâ ncia na entidade e possuem os mesmos direitos?
Mundimagem

Fontes: OMC. Disponível em: <www.wto.org>; ONU. Disponível em: <www.un.org>; OCDE. Disponível em: <www.oecd.org>.
Acessos em: 11 abr. 2016.

ATIVIDADE

Organizações internacionais

Com base na leitura do texto a seguir, discuta em classe: em que medida as organizaçõ es
internacionais contribuem para a paz mundial?

Kofi Annan acusado de omissão em massacre

O secretá rio-geral da ONU, Kofi Annan, foi informado dos preparativos das matanças que iam ser
cometidas contra a minoria tutsi em Ruanda, em 1994, mas nã o tomou qualquer atitude, afirmou a
revista New Yorker. [...] Segundo a revista, o departamento encarregado das operaçõ es de
manutençã o de paz da ONU, que entã o era dirigido por Kofi Annan, ordenou aos capacetes-azuis
presentes em Ruanda que nã o interviessem na questã o.

O general canadense Romeo Dallaire […] pediu autorizaçã o para desmantelar os esconderijos de
armas, o que foi negado sob pretexto de que essa operaçã o nã o estava incluída no mandato da ONU
em Ruanda. Dellaire compartilhou esta informaçã o com os embaixadores da Bélgica, França e
Estados Unidos em Ruanda, países que também nã o reagiram.

A Notícia. Disponível em: <http://www1.an.com.br/1998/mai/05/0mun.htm>. Acesso em: 25 maio 2016.

Pá gina 210

ONU E SUAS AÇÕES GLOBAIS


Criada em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, a ONU foi estabelecida pela “Carta das Naçõ es
Unidas”, um documento assinado por 51 países, entre eles o Brasil. Essa organizaçã o atualmente
conta com 193 países-membros e participa na resoluçã o de conflitos, no combate à miséria e a
todas as suas consequências sociais, políticas e ambientais.

Dessa forma, a ONU é constituída por seis ó rgã os principais: o Conselho de Segurança, a Assembleia
Geral, o Conselho Econô mico e Social, o Conselho de Tutela, o Secretariado e o Tribunal
Internacional de Justiça.

Drop of Light/Shutterstock.com

Sede da ONU em Nova Iorque, Estados Unidos, 2015.

O Tribunal Internacional de Justiça está sediado em Haia, na Holanda, e os demais na sede da ONU
em Nova Iorque.

A ONU conta também com dezesseis agências especializadas que trabalham nos mais diversos
setores: saú de, educaçã o, finanças, direitos humanos etc. No organograma a seguir, estã o
representadas algumas delas.

View Produçã o Editorial e Fotográfica Ltda.

Fonte: ONU. Disponível em: <www.onu.org.br>. Acesso em: 11 abr. 2016.

OS PRINCIPAIS ÓRGÃOS DAS NAÇÕES UNIDAS


Assembleia Geral
O ó rgã o mais democrá tico da estrutura da ONU é a Assembleia Geral, pois conta com a participaçã o
de todos os países-membros com direito a voto – princípio da igualdade.

Os países-membros da ONU reú nem-se uma vez ao ano. E a sessã o tem início sempre na terceira
terça-feira de setembro.

Pá gina 211

Antes de tudo, deve-se considerar que, para as questõ es relevantes, exigem-se dois terços dos votos
e, para as demais, maioria simples.

Essa sessã o discute qualquer assunto relacionado aos princípios da ONU e questõ es relativas à
manutençã o da paz e da segurança mundial sem, todavia, interferir nas deliberaçõ es do Conselho
de Segurança. A reuniã o tem um papel mais consultivo e nã o entra em conflito com as decisõ es
tomadas em outros ó rgã os.

Cabe também à Assembleia aprovar o orçamento da organizaçã o e promover a entrada ou saída de


membros. Diretamente ligados a ela estã o os seguintes organismos, entre outros:

• Acnur: Alto Comissariado das Naçõ es Unidas para os Refugiados. Tem o objetivo de assegurar a
vida de refugiados de todo o mundo.

• Unicef: Fundo das Naçõ es Unidas para a Infâ ncia. Promove o bem-estar das crianças, sobretudo
em países subdesenvolvidos.

• Pnud: Programa das Naçõ es Unidas para o Desenvolvimento.

Conselho de Segurança
É o ó rgã o encarregado de tomar decisõ es em prol da paz e da segurança do mundo. Tem quinze
membros, sendo cinco permanentes: Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rú ssia, que
correspondem aos vencedores da Segunda Guerra Mundial, e dez transitó rios, eleitos pela
Assembleia Geral, por dois anos, sendo cinco países da Á frica e Á sia, dois da América Latina e três
da Europa e outras partes do mundo.

Assim, o Conselho de Segurança dispõ e ainda do direito de veto concedido apenas aos membros
permanentes. Por esse sistema, qualquer assunto só terá prosseguimento se os cinco membros
votarem positivamente ou se abstiverem. O veto de apenas um deles obstrui o assunto em questã o.

Durante a Guerra Fria, a cadeira ocupada atualmente pela Rú ssia era da entã o URSS, a
superpotência rival dos Estados Unidos, e nunca havia consenso entre os dois países sobre o tema
segurança, fato que obrigou a Assembleia Geral a tomar a frente nas decisõ es emperradas no
Conselho de Segurança.

Cabe também ao Conselho tomar as medidas necessá rias quando um membro for atacado. Somente
neste caso pode-se fazer uso de armas nas relaçõ es internacionais, utilizando-se do princípio da
legítima defesa.

ATIVIDADE
Por que o Brasil quer um assento no Conselho de Segurança da ONU?

Pesquise o tema sobre a reivindicaçã o brasileira para obter um assento permanente no Conselho de
Segurança da ONU. Quais os argumentos utilizados pelo Brasil?

Secretariado
É formado pelo secretá rio-geral, eleito pela Assembleia Geral para um mandato de quatro anos. O
secretá rio-geral nomeia pessoas da organizaçã o para ajudá -lo e tem livre trâ nsito em todos os
ó rgã os da ONU.

Conselho de Tutela
É encarregado de controlar e administrar os territó rios nã o autô nomos. A ONU aconselha a
descolonizaçã o de todos os territó rios.

Tribunal Internacional de Justiça


Sediado em Haia (Holanda), é o principal ó rgã o judicial das Naçõ es Unidas. É formado por quinze
juízes eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança, através do voto. A sua missã o
consiste em resolver as pendências jurídicas que lhe sã o apresentadas pelos Estados em
conformidade com o direito internacional pú blico. A pedido de organizaçõ es internacionais, pode
igualmente emitir pareceres consultivos. A sua competência nã o está diretamente ligada à s
questõ es particulares ou individuais.

O Tribunal Internacional de Justiça analisa e julga casos, principalmente relacionados à s disputas de


fronteiras e á reas litigiosas. Seu poder é limitado, uma vez que nã o pode interferir em assuntos
internos dos países- -membros, apenas julgar açõ es propostas pelos países que compõ em as Naçõ es
Unidas.

Conselho Econômico e Social


Ó rgã o encarregado de coordenar as atividades sociais, culturais e econô micas das Naçõ es Unidas. E
que possui organismos subordinados de extremo prestígio e importâ ncia, como a OMS, a FAO, a
Unesco e a OIT.

• FAO (Organizaçã o das Naçõ es Unidas para a Alimentaçã o e Agricultura): sua funçã o é ajudar a
populaçã o a ter uma alimentaçã o adequada, colaborando na á rea agrícola dos países pobres e
promovendo campanhas pela melhor distribuiçã o dos alimentos no mundo.

Pá gina 212

• Unesco (Organizaçã o das Naçõ es Unidas para a Educaçã o, a Ciência e a Cultura): promove o
intercâ mbio cultural, científico e educacional entre as naçõ es. Também ajuda a conservar o
patrimô nio histó rico e cultural.

• OIT (Organizaçã o Internacional do Trabalho): a entidade, que hoje integra as Naçõ es Unidas,
surgiu em 1919, antes mesmo de a ONU ser criada, e tem como principal funçã o a promoçã o das
condiçõ es dignas de trabalho, com salá rios que proporcionem uma vida com padrã o decente.
• OMS (Organizaçã o Mundial da Saú de): promove a cooperaçã o internacional na á rea de saú de. O
Conselho Econô mico e Social também possui organismos financeiros e econô micos que gozam de
plena autonomia: o FMI, o Bird e a OMC.

SAIBA MAIS

ONU é questionada mais uma vez: o caso da Síria

Depois de ter sido questionada e ter sua credibilidade colocada em xeque, com a invasã o do Iraque
(2003), a ONU voltou a ser cobrada mundialmente pela sua postura diante do episó dio da Síria
(2011), quando uma escalada de violência atingiu aquele país e o má ximo que a entidade havia feito
era enviar observadores internacionais para a regiã o.

Tratou-se de uma clara demonstraçã o das limitaçõ es da ONU, que fica impedida de tomar decisõ es
e agir em prol do bem comum antes dos acordos das principais potências mundiais sobre os
assuntos a serem tratados pela entidade. Nesse caso específico, como nã o havia consenso dentro do
Conselho de Segurança sobre o que fazer para conter a onda de violência naquele país, a entidade
nã o tomou medidas para atuar na defesa da populaçã o civil.

Na realidade, esse foi mais um episó dio que explicitou a fragilidade do ó rgã o criado logo apó s a
Segunda Guerra Mundial, mas que ficou impedido de agir em outros casos, como a Guerra do Vietnã
(1964-1975).

A ONU se mostra mais desorganizada e distante da realidade mundial apó s o fim da Guerra Fria e
da reorganizaçã o do espaço mundial com a Nova Ordem Global, apesar de a entidade ter espalhadas
no mundo diversas missõ es de paz, com mais de 100 mil soldados envolvidos, como mostra o
quadro a seguir.

Missões militares da ONU (2012)


País/região Número de soldados
Haiti 10 409
Kosovo 15
Marrocos (Saara
249
Ocidental)
Costa do Marfim 10 933
Libéria 9 182
Abyei 3 933
RDC* 17 042
Sudã o do Sul 9 182
Timor Leste 1 275
Darfur 23 466
Líbano 11 845
Israel/Palestina 1 198
Chipre 926
Síria 271
Paquistã o/Índia 42

* Repú blica Democrática do Congo.

Fontes: Atualidades Vestibulares + Enem. Sã o Paulo: Abril, 2012; ONU. Disponível em: <www.onu.org.br>. Acesso em:
11 abr. 2016.

O PAPEL DA ONU EM XEQUE


A ONU, como entidade, ficou muito abalada apó s os Estados Unidos e alguns aliados terem invadido
o Iraque à revelia da organizaçã o e do pró prio Conselho de Segurança em 2003. Os Estados Unidos
se valeram do artigo que trata da “legítima defesa”, alegando que o Iraque possuía armas de
destruiçã o em massa de natureza química, bioló gica e até nuclear.

Os comissá rios da ONU que estiveram no Iraque antes da guerra nã o encontraram indícios
relevantes dessas armas. Mesmo assim, a invasã o ocorreu. A imprensa chegou a noticiar que os
governos estadunidense e britâ nico forjaram documentos de acusaçã o ao Iraque para justificar a
açã o militar. O fato é que as tais armas nã o foram encontradas e o Iraque foi destruído.

Logo, a ONU também saiu como derrotada, pois perdeu prestígio, nã o conseguiu evitar a guerra
contra o Iraque, funcioná rios do seu primeiro escalã o foram mortos em atentados – como o
diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, em 2003 – e, mesmo assim, nã o pediu a aplicaçã o de
sançõ es contra os Estados Unidos, porque tem ciência de que dois terços do seu orçamento vêm
daquele país.

Pá gina 213

Nos anos seguintes, outros grupos fizeram indicaçõ es sobre a ineficiência da ONU ou de uma
possível falta de imparcialidade.

ATIVIDADE

Analisando as ações da ONU no mundo

Escolha dois lugares onde a ONU intervenha. Com base no que você estudou neste capítulo, faça
uma pesquisa na internet, livros, revistas, jornais etc., e descreva quais as principais características
das açõ es da ONU nesses lugares e quais os principais problemas enfrentados pela entidade em sua
atuaçã o.

Depois, converse com o professor e com os colegas em sala para analisar as açõ es da organizaçã o no
mundo.

A ONU DEVE SER REFORMULADA?


Esta organizaçã o é usualmente reconhecida como uma força das naçõ es na defesa da paz mundial,
dos direitos humanos e da igualdade dos povos. Contudo, muitas das resoluçõ es tomadas em sua
plená ria nã o foram executadas. E um exemplo clá ssico dessa falta de medidas prá ticas foi o nã o
cumprimento, por muitos anos, da resoluçã o que criou o Estado Palestino.

Outro exemplo se relaciona ao veto chinês contra sançõ es mais severas ao governo sudanês, pelo
conflito em Darfur. Como a China veta a aplicaçã o das sançõ es, a ONU se vê impossibilitada de agir
de modo mais firme nesse conflito. Ou ainda a demora da organizaçã o em reconhecer a Palestina
como membro, ainda que nas condiçõ es de observador.

Entre vá rios outros, esses casos colaboraram para que surgisse um movimento para a
reestruturaçã o desse organismo. E o principal objetivo desse movimento é a ampliaçã o do Conselho
de Segurança. Como vimos, o Brasil é um dos países que propõ e uma reforma da ONU e do seu
Conselho de Segurança.

Outra questã o que vem sendo discutida é o papel das Tropas de Paz da ONU (United Nations
Peacekeep ing Forces, também conhecidos como peacekeepers ou capacetes-azuis). Mesmo
encarregadas da proteçã o civil em á reas de conflitos e catá strofes, as tropas têm sido acusadas de
violar direitos humanos nessas á reas, e, geralmente, as populaçõ es mais afetadas por essas
violaçõ es sã o mulheres e crianças.
SAIBA MAIS

ONU reconhece a Palestina como Estado observador. O que isso muda?

A Assembleia Geral das Naçõ es Unidas reconheceu nesta quinta-feira 29 [29/11/2012] a Palestina
como Estado observador nã o membro, uma elevaçã o de status que, espera a liderança palestina,
poderá levar ao estabelecimento do país de fato e de direito. A votaçã o, realizada na sede da ONU,
em Nova York, foi encerrada de forma acachapante: 138 países votaram a favor do reconhecimento,
enquanto nove foram contra (Israel, Estados Unidos, Canadá , Repú blica Tcheca, Panamá, Palau,
Ilhas Marshall, Micronésia, Nauru) e 41 se abstiveram.

A votaçã o proporciona dois resultados simbó licos imediatos. Pela primeira vez na histó ria, as
fronteiras de 1967 da Palestina (composta pelo territó rio da Cisjordâ nia e da Faixa de Gaza) é
reconhecida como Estado pela ONU e nã o mais como “entidade”. [...]

O segundo peso simbó lico da decisã o é o impressionante isolamento de Israel na comunidade


internacional. O fato de o país ter conseguido apenas nove votos, entre eles de cinco Estados-cliente
dos Estados Unidos, seu maior aliado, mostra como as políticas recentes do governo de Benjamin
Netanyahu serviram para dissolver quase que por completo o pouco apoio que Israel já desfrutava.

LIMA, J. A. Carta Capital. Disponível em: <www.cartacapital.com.br/internacional/onu-reconhece-a-palestina-


comoestado-observador-o-que-isso-muda>. Acesso em: 9 maio 2016..

Pá gina 214

ATIVIDADE

Leia os textos a seguir.

Violações das tropas pacificadoras

As violações cometidas pelos peacekeepers e os direitos humanos das mulheres

As missõ es de paz sã o inseridas em regiõ es conflituosas depois de observadas situaçõ es que ferem
os princípios dos direitos humanos. Elas dispõ em-se, através de suas açõ es, a garantir a
estabilidade dessas regiõ es e a prestar auxílio internacional na construçã o do processo de paz.
Sendo assim, a realidade na qual essas populaçõ es se encontram resume-se em pobreza,
instabilidade, falta de segurança, além de situaçõ es de deslocamento populacional e a
desconstruçã o do governo local e da sociedade […]. Bastante delicada a situaçã o, ela pode ser ainda
mais complicada quando constatados os abusos cometidos pelos soldados da ONU, seja através da
facilitaçã o do trá fico de pessoas, da utilizaçã o do serviço de bordéis, do aumento da demanda de
prostitutas – em sua maior parte traficadas – ou ainda mesmo na administraçã o desses locais ou
ainda de abuso sexual de vulnerá veis.

[…] As acusaçõ es direcionadas a staff da ONU datam do início dos anos 2000 e seus conteú dos sã o,
na grande maioria, de abuso e exploraçã o sexual […]. Sã o encontradas, ainda, acusaçõ es de torturas,
estupros, e a existência de peacekeepers babies (filhos dos soldados com as mulheres das
comunidades em que as missõ es de paz foram instaladas), como foi o caso do Congo. […]

Analisando cronologicamente o surgimento de acusaçõ es contra os peacekeepers, a denú ncia


iniciou, em primeiro lugar, através do Human Rights Watch (HRW) no ano de 1999 ao incriminar os
soldados em casos de exploraçã o sexual, inclusive de crianças, na Guiné. Dois anos depois, surgiram
novas acusaçõ es, dessa vez apontadas pelo Alto Comissariado de Refugiados da ONU, a respeito da
violaçã o dos direitos das mulheres em campos de refugiados na Guiné, Libéria e Serra Leoa. Nesse
mesmo ano foram registradas acusaçõ es contra as missõ es de paz no Kosovo. No ano seguinte, foi a
vez das acusaçõ es se destinarem à missã o realizada na Bó snia. Em 2004, foram feitas novas
acusaçõ es concernentes à violência sexual por parte dos capacetes-azuis, dessa vez no Congo.

FORTE, C. D. Consequências indesejadas das missões de paz: violaçõ es dos direitos das mulheres nos casos da Bó snia e
do Kosovo. Trabalho de Conclusã o de Curso. Florianó polis: UFSC , 2014.

ONU afasta funcionário que denunciou abusos sexuais de tropas de paz e abre crise

A ONU passa seus dias acusando governos de violaçõ es de direitos humanos. Mas quando os crimes
sã o cometidos pela entidade, a ordem parece ser a de abafar os casos e punir os responsá veis por
ter feito a denú ncia. Nesta semana, a ONU afastou o funcioná rio de alto escalã o, Anders Kompass.
Seu delito: ter entregue à Justiça francesa documentos que mostram que soldados franceses
estupraram garotos em campos de refugiados na Repú blica Centro-Africana.

Kompass decidiu repassar a informaçã o para o Ministério Pú blico da França depois que se deu
conta que crimes cometidos por soldados de missõ es internacionais nã o estavam sendo
investigados de forma adequada dentro da ONU. O informe revelava o abuso sexual de crianças de
até nove anos por tropas das Naçõ es Unidas, fornecidas pela França.

CHADE, J. O Estado de S. Paulo. Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/blogs/jamil-chade/ onu-afasta-


funcionario-que-denunciou-crimes-de-tropas-de-paz-e-abre-crise/>. Acesso em: 12 abr. 2016.

Com base nos textos e pesquisando em jornais, livros, revistas e na internet, responda à s questõ es.

1. Como sã o formadas as tropas pacificadoras da ONU?

2. O que dificulta a puniçã o dos capacetes-azuis que violam direitos humanos nas á reas sob sua
jurisdiçã o?

3. Como a ONU tem feito para coibir essas açõ es de violaçã o dos direitos humanos?

Pá gina 215

AS ORGANIZAÇÕES ECONÔMICAS MUNDIAIS

A CONFERÊNCIA DE BRETTON WOODS


Mesmo antes do término da Segunda Guerra Mundial, os países aliados reuniram-se para traçar o
futuro econô mico do mundo no pó s-Guerra. Essa reuniã o ocorreu na cidade de Bretton Woods, no
estado de New Hampshire, nos Estados Unidos, no dia 1º de julho de 1944.

Algumas decisõ es importantes foram tomadas naquela ocasiã o:

• Criação do FMI (Fundo Monetário Internacional): tinha a funçã o de conceder empréstimos aos
países que apresentassem déficits nas suas balanças comerciais e zelar para que todos os acordos
fossem cumpridos rigorosamente. Na época de sua criaçã o, o mundo tinha apenas uma naçã o
capitalista hegemô nica – os Estados Unidos – uma vez que os países europeus se encontravam
arrasados pela Segunda Guerra. Porém, as decisõ es do FMI sã o feitas a partir do critério da maioria
de votos e estes estã o vinculados a um sistema de quotas de contribuiçã o. Quem contribui mais com
a instituiçã o tem direito a um percentual maior de votos. Dessa forma, os Estados Unidos
despontam como o grande articulador do FMI com quase 20% dos votos. As décadas de 1980 e
1990 demonstraram a fragilidade do FMI. Com muitos países passando por crises financeiras, o
fundo tornou-se a salvaçã o imediata, emprestando dinheiro e exigindo ajustes econô micos e fiscais
impraticá veis. O desenrolar dos fatos comprovou que quem seguia as determinaçõ es do FMI nã o
conseguia recuperar a sua economia, enquanto aqueles que se apegavam a planos traçados
internamente tinham melhor sorte. Os planos de ajuste do FMI, invariavelmente, exigem dos
governos corte de gastos pú blicos, principalmente na á rea social; desvalorizaçã o cambial;
privatizaçã o de empresas; e liberaçã o comercial. Em suma, o país assume o compromisso de
trabalhar para enviar as suas reservas para fora como pagamento dos juros da dívida externa.
Enquanto isso, nã o sã o feitos investimentos internos nas á reas de tecnologia ou política social,
condenando-o ao subdesenvolvimento em todos os níveis. O questionamento atual nã o é mais se os
planos do FMI trazem benefícios, questiona-se agora se o FMI é necessá rio e, segundo economistas
renomados, o melhor caminho para a instituiçã o seria o seu fechamento.

• Bird (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento): também conhecido como


Banco Mundial, foi criado na Conferência de Bretton Woods e começou a operar em 1946,
concedendo empréstimos para a reconstruçã o europeia e, mais tarde, dedicando-se ao
investimento nos países subdesenvolvidos. Contudo, o papel do Bird foi muito questionado no
decorrer da década de 1990, quando essa instituiçã o colaborou com os governos neoliberais da
América Latina. Muitos empréstimos foram dados a projetos governamentais marcados por
escâ ndalos de desvio de recursos. Em outro aspecto, a instituiçã o participou de processos de
privatizaçã o que nã o beneficiaram os países pobres.

• O padrão dólar: foi estabelecido em Bretton Woods que cada unidade da moeda estadunidense
deveria ser garantida por um valor equivalente em reservas de ouro. Essa garantia contra um
processo de especulaçã o financeira foi derrubada pelo entã o presidente dos Estados Unidos,
Richard Nixon, em 1971. Sem o lastro ouro, o país acumula hoje a maior dívida externa do globo, o
que constitui uma ameaça de crise financeira de proporçõ es devastadoras.

G-7
O G-7 corresponde a um fó rum que reú ne as sete maiores economias mundiais – ou pelo menos, as
sete economias mais influentes em escala mundial – Estados Unidos, Reino Unido, França, Itá lia,
Canadá, Alemanha e Japã o. A presidência do fó rum é rotativa. Em retaliaçã o à s açõ es na Ucrâ nia, a
Rú ssia foi excluída do grupo em 2014, apó s 16 anos de cooperaçã o conjunta.

Michael Kappeler/Reuters/Latinstock

Líderes dos países do G-7 em reuniã o na Baviera, na Alemanha, 2015. Em sentido horá rio, a partir da esquerda:
Angela Merkel (Alemanha), François Hollande (França), David Cameron (Inglaterra), Matteo Renzi (Itá lia), Jean-
Claude Juncker (Comissã o Europeia), Donald Tusk (Conselho Europeu), Shinzo Abe (Japã o), Stephen Harper (Canadá )
e Barack Obama (Estados Unidos).

Pá gina 216

OMC (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO)


A OMC, com sede em Genebra, na Suíça, é responsá vel pelas normas e regras do comércio
internacional, buscando uma maior liberaçã o dos mercados para facilitar o comércio.

O funcionamento da OMC
Esta organizaçã o pode ser considerada como um fó rum permanente em que os países de todo o
mundo estabelecem regras mínimas para um comércio justo e equilibrado em termos globais. E do
ponto de vista de seus organizadores, o objetivo má ximo seria o “destravamento” do comércio
global, derrubando barreiras e tarifas internacionais com a intençã o de promover um
enriquecimento conjunto.

Assim, para que esse objetivo seja atingido, os países membros discutem e estabelecem regras de
controle para o comércio. Em termos prá ticos, se algum país da organizaçã o desrespeitar as regras
acordadas, pode vir a sofrer uma puniçã o e a pagar compensaçõ es comerciais ao país prejudicado.
Mas será que o funcionamento da OMC é realmente justo e equilibrado?

Os países emergentes e a OMC


Apesar de a cú pula da OMC – dirigida por representantes dos países ricos – dizer que o aumento do
comércio global é a melhor soluçã o para prosperidade de todos, na prática nã o é o que se verifica.
Os países pobres ou emergentes – inclusive o Brasil – diminuem muito as suas barreiras comerciais
aos produtos industrializados dos países ricos. Ou seja, os emergentes abrem os seus mercados
para os países ricos. Entretanto fizeram isso unilateralmente, sem acordos na OMC e sem nenhuma
reciprocidade.

Mas em que medida nã o houve reciprocidade? Na medida em que os países ricos nã o abriram os
seus mercados agrícolas para os países pobres na mesma proporçã o.

Isso significa que os países desenvolvidos, apesar de se mostrarem favorá veis ao


“destravamento”do comércio global, sã o abertamente protecionistas em relaçã o aos seus mercados
agrícolas, por meio de inú meras barreiras tarifá rias (impostos de importaçã o) e de outros tipos (de
cunho “ambiental” ou ligadas a temas “sociais”, como o trabalho insalubre, por exemplo).

Além de protegerem os seus mercados da importaçã o de bens agrícolas, os países ricos também
subsidiam a pró pria produçã o agrícola.

Subsídio agrícola

Os países ricos nã o possuem as vantagens relativas dos emergentes no setor agrícola (fartura de terras, preços
de terras mais baixos, climas quentes, mã o de obra barata etc.). Em vista dessas desvantagens, os países
desenvolvidos, por meio do Estado, dã o uma ajuda de custo (dinheiro) aos seus produtores rurais. Essa ajuda
os faz conseguir baratear a produçã o mas prejudica a agricultura dos países pobres, pois eles – sem a mesma
ajuda – acabam por nã o conseguir mercado nos países ricos.

As rodadas de negociação na OMC


Há anos, a organizaçã o tem tentado, sem sucesso, aumentar o comércio global. Essas tentativas sã o
realizadas em reuniõ es internacionais perió dicas, em que os grupos participantes negociam a
possibilidade de fechar um acordo geral proposto em uma determinada “rodada” (um acordo de
referência).

Um exemplo diz respeito à Rodada de Doha, iniciada em 2001, mas que até o momento nã o
conseguiu fazer um acordo global a respeito do comércio de produtos agrícolas.

Em todas as reuniõ es, o impasse geral foi dado pela resistência dos países ricos em ceder os seus
mercados agrícolas e dos países pobres em abrir mais ainda os seus mercados industriais.
O Brasil teve um papel muito importante na reuniã o de Cancun (2003) ao articular um grupo de
países denominado G-20 (ou G-21), que reuniu os países “emergentes” para evitar um acordo que
fosse prejudicial a elas.

Porém, sã o pequenas as possibilidades de vermos uma ampla liberalizaçã o do comércio mundial,


pois os interesses sã o muito conflitantes. Em termos práticos, a grande maioria dos acordos
comerciais é feita de modo bilateral (acordos específicos entre dois países ou dois blocos
econô micos). É por isso que se afirma que, enquanto a OMC tenta fechar um acordo global, os seus
parceiros “racham” a organizaçã o com acordos pró prios.

Contudo, na reuniã o de Genebra, em 2008, a posiçã o brasileira surpreendeu o mundo.

Pá gina 217

ATIVIDADE

A posição do Brasil na reunião de Genebra em 2008

Reú nam-se em grupos de no má ximo cinco integrantes e façam uma pesquisa em jornais, livros,
revistas e na internet sobre dois temas diferentes:

a) O papel do Brasil na criaçã o do G-20, na reuniã o de Cancun, em 2003.

b) O papel do Brasil na reuniã o da Rodada de Doha realizada em Genebra, em 2008.

Tirem suas conclusõ es e participem de uma discussã o em classe abordando esse tema.

A OMC na atualidade: mudanças e demandas


No ano de 2013, pela primeira vez na histó ria, um latino-americano tornou-se diretor da OMC. O
embaixador brasileiro Roberto Azevedo assumiu a direçã o da entidade com muitos desafios pela
frente, apesar de já ter conseguido, em outros momentos, grandes vitó rias para os países em
desenvolvimento ao contestar os subsídios agrícolas estadunidenses e europeus.

Entretanto, a organizaçã o vive uma fase muito ruim, na medida em que nã o consegue avançar nas
deliberaçõ es sobre o comércio internacional na Rodada de Doha.

Entre os desafios estã o:

• Enfrentar ó rgã os como o FMI e o Banco Mundial para a adoçã o de políticas econô micas coerentes
e que atendam a todos os países.

• Convencer os principais líderes para que as taxas de câ mbio sejam “manipuladas” em prol do
desenvolvimento social dos diversos países que fazem parte da OMC e nã o apenas para atender os
interesses dos bancos privados.

• Retomar a Rodada de Doha de maneira eficiente e eficaz a fim de evitar que o protecionismo
continue avançando em escala global, como ocorre atualmente.

Apesar dos esforços em prosseguir as negociaçõ es de Doha, ainda inconclusas, em 19 de dezembro


de 2015 houve um avanço significativo com a assinatura de um acordo para a eliminaçã o dos
subsídios à exportaçã o de produtos agrícolas nos países desenvolvidos.
Os sucessivos fracassos e as imensas dificuldades em assinar acordos no â mbito da OMC têm levado
ao crescimento de acordos regionais de comércio, a exemplo da Parceria Transpacífica ou Tratado
Transpacífico, assinado em Auckland (Nova Zelâ ndia), em 4 de fevereiro de 2016, por ministros e
representantes de 12 países.

Mundimagem

*ACP é uma associaçã o de 79 países da Á frica, do Caribe e do Pacífico.

Fonte: Carta Capital, ano X, n. 259, 2003.

Pá gina 218

SAIBA MAIS

8 pontos para entender o Tratado Transpacífico, acordo entre EUA, Japão e mais dez
países

Estados Unidos, Japã o e 10 outras economias da bacia do Pacífico, representando cerca de 40% da
produçã o mundial, fecharam nesta segunda-feira (5) [05/10/2015] um acordo de comércio
internacional, o maior em duas décadas.

O acordo ainda deve passar por discussã o no Congresso americano e Parlamentos de outros países
envolvidos.

Eis algumas coisas que vale a pena saber sobre o Tratado Transpacífico (TPP na sigla em inglês).
[…]

Muitas vezes descrita como “espinha dorsal econô mica” da “virada” diplomá tica do presidente
Barack Obama para a Á sia, o objetivo para os Estados Unidos e Japã o é ficarem à frente da China,
que nã o participa da TTP, e criar uma zona econô mica na bacia do Pacífico capaz de contrabalançar
o peso econô mico de Pequim na regiã o.
Também envolve escrever as regras da economia do século 21 para toda espécie de coisa, de fluxos
de dados internacionais a como empresas estatais devem operar em termos de competiçã o
internacional. […] De fora do tratado, o Brasil pode perder espaço para seus produtos. […]

Embora o TTP tenha sido discutida no passado como uma manobra norte-americana para conter a
China, a posiçã o de Washington se abrandou nos ú ltimos anos.

A China anunciou que observa com atençã o o desenvolvimento do TTP, e está envolvida em
negociaçõ es comerciais rivais. Muita gente no setor de negó cios dos Estados Unidos sente que a
verdadeira promessa do TTP está em se abrir à adesã o de outros países, especialmente a China.

Os membros atuais sã o Austrá lia, Brunei, Canadá , Chile, Cingapura, Estados Unidos, Japã o, Malá sia,
México, Nova Zelâ ndia, Peru e Vietnã . Mas economias asiá ticas como a Coreia do Sul, Taiwan e
Filipinas, e sul-americanas como a Colô mbia, já estã o na fila para aderir. […]

Japã o e Estados Unidos jamais haviam assinado um acordo bilateral de comércio. Mas quando o
Japã o passou a participar das negociaçõ es do TTP, em 2013, isso conduziu a conversaçõ es
separadas sobre toda forma de comércio, de carros a carne bovina, arroz e carne de porco. […] O
acordo também pode integrar mais a economia e as cadeias de suprimento do Japã o à s da América
do Norte. […] Desde 2007, os Estados Unidos têm a obrigaçã o legal de incluir discussõ es de padrõ es
ambientais e trabalhistas em suas negociaçõ es comerciais.

Mas o TTP pela primeira vez tornaria esses compromissos compulsó rios e seu nã o cumprimento
passível de sançõ es comerciais.

Muitos ativistas ambientais continuam céticos, mas os Estados Unidos insistem em que o TTP
ajudaria a reduzir o trá fico de espécies ameaçadas e a enfrentar outros problemas, como a pesca
excessiva por países do TTP.

Allmaps

MIGLIACCI, P. Folha de S.Paulo, 5 out. 2015. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/ asmais/2015/10/1690329-7-


pontos-para-entender-a-parceria-transpacifico-acordo-entre-euajapao-e-mais-dez-paises.shtml> Acesso em: 12 abr.
2016.

Pá gina 219
OCDE (ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO)
Formalmente, a OCDE é uma organizaçã o internacional voltada para a democracia e a economia de
livre mercado. Em termos prá ticos, é o grupo dos 34 países mais ricos do globo e funciona como um
fó rum para a troca de informaçõ es e para ampliar a influência de seus participantes nos debates e
decisõ es internacionais.

OPEP (ORGANIZAÇÃO DOS PAÍSES EXPORTADORES DE PETRÓLEO)


Por muitos anos, um dos setores econô micos mais poderosos e influentes do globo foi o da
exploraçã o e refino de petró leo, uma atividade que era controlada por um pequeno grupo de
empresas (alcunhado de “sete irmã s”) com sede nos países ricos.

A Opep surgiu em 1960 como uma iniciativa para garantir melhores condiçõ es de exploraçã o do
mineral por parte das principais naçõ es produtoras, a maioria localizada em países do Terceiro
Mundo.

A partir dos conflitos do Oriente Médio (1973), a Opep passou a funcionar como um cartel, cujo
objetivo era a valorizaçã o do produto, além de pressionar o Ocidente a favor dos países á rabes no
conflito contra Israel.

Esse foi apenas o “primeiro choque do petró leo”. O “segundo choque do petró leo” ocorreu em 1979,
durante a Revoluçã o Islâ mica do Irã .

Os países-membros da organizaçã o controlam 78% das reservas mundiais de petró leo, suprem
40% da produçã o mundial e 60% das exportaçõ es.

A Opep tem doze membros, dos quais alguns de maior produçã o e influência: Ará bia Saudita,
Emirados Á rabes, Venezuela, Irã , Iraque e Kuwait.

ORGANIZAÇÃO MILITAR INTERNACIONAL: OTAN


A Organizaçã o do Tratado do Atlâ ntico Norte (Otan) foi considerada, juntamente com o Pacto de
Varsó via, um dos símbolos da Guerra Fria. Apesar de seu cará ter aparentemente “internacional”,
essa organizaçã o é de fato capitaneada pelos Estados Unidos, que a estruturaram com a intençã o de
organizar a defesa do bloco capitalista.

A partir da década de 1980, o fim do bloco socialista determinou também o fim da organizaçã o
militar dos países socialistas, o Pacto de Varsó via. Mas, como vimos, o fim da Guerra Fria nã o
resultou em uma era de paz.
Allmaps

Fonte: La Documentation Française. Disponível em: <www.ladocumentationfrancaise.fr/dossiers/d000513-l-otanapres-la


-guerre-froide/l-elargissement-geographique-de-l-otan>. Acesso em: 8 abr. 2016.

Pá gina 220

Assim, a Otan continuou existindo, porém deixou de se apresentar como uma organizaçã o
defensora do mundo livre ante uma “ameaça socialista”, e passou a se definir como uma defensora
dos direitos das minorias, intervindo em conflitos regionais sob a bandeira das “intervençõ es
humanitá rias” e também atuando na chamada “guerra contra o terror”.

Atualmente, a Otan encontra-se em aberta expansã o em direçã o ao leste do continente europeu,


incluindo inú meros países que, no passado, fizeram parte do Pacto de Varsó via, além de atuar
também na chamada “guerra contra o terror”.

ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS


Organizaçõ es Nã o Governamentais (ONGs) sã o entidades muito diferentes e que atuam em diversos
segmentos da sociedade. O termo foi criado pela ONU ainda na década de 1940, e buscava
identificar entidades nã o oficiais que recebiam ajuda financeira de ó rgã os pú blicos, geralmente
voltados para açõ es comunitá rias e/ou sociais.

SAIBA MAIS

Se observarmos o que aparece hoje no cená rio pú blico sob a sigla ONG podemos dizer que nã o sã o
apenas as entidades ligadas a movimentos populares e que se reconhecem e sã o reconhecidas neste
campo. Há pelo menos quatro conjuntos de organizaçõ es da sociedade que ocupam esse espaço
denominado por essa sigla no Brasil.
O primeiro conjunto, como bem descreve Landim (1993), sã o as organizaçõ es de “assessoria e
apoio”, a serviço dos movimentos populares, que se transformam em ONGs. [...] O final da década de
1980, início da década de 1990 foi acompanhado pelo surgimento de novos tipos de ONGs:
ambientalistas, de atendimento aos “menores de rua”, de apoio aos portadores de HIV, de apoio aos
indígenas, entre outras. [...]

Na década de 1990, surge no cená rio nacional um terceiro grupo para “disputar” o veio das
Organizaçõ es Nã o Governamentais. Alguns grupos e fundaçõ es empresariais começaram a ganhar
espaço – algo praticamente inexistente no país até entã o – e passaram a se autodenominar ONGs.
[...] Por ú ltimo, temos um vasto nú mero de entidades que se reconheciam anteriormente apenas
sob a denominaçã o de filantró picas, e que também adotaram a expressã o nã o governamental para
definir seu trabalho ou sã o assim denominadas por outros, tais como ó rgã os do governo e a
imprensa.

TEIXEIRA, A. C. C. Identidades em construção: as organizaçõ es nã o governamentais no processo brasileiro de


democratizaçã o. Sã o Paulo: Annablume; Fapesp; Instituto Polis, 2003. p. 18-20.

ATIVIDADE

Organizações Não Governamentais

Divulgaçã o

Divulgaçã o

1. Considerando a emergência da Nova Ordem Mundial, elabore uma aná lise acerca da
valorizaçã o das ONGs e sua atuaçã o em questõ es sociais e ambientais em todo o mundo.

2. Faça uma pesquisa sobre a natureza das organizaçõ es apresentadas e depois registre no caderno
os seus principais campos de atuaçã o.

Pá gina 221

ANISTIA INTERNACIONAL
É um movimento mundial independente que atua denunciando a violaçã o dos direitos humanos por
parte dos governos.

O objetivo maior da Anistia Internacional é que a Declaraçã o dos Direitos Humanos seja universal e
seguida rigorosamente.

Além disso, repudia todas as formas de agressã o, tortura, perseguiçã o e execuçã o.

MÉDICOS SEM FRONTEIRAS (MSF)


Organizaçã o humanitá ria internacional criada na década de 1970 por médicos e jornalistas na
França com o objetivo de oferecer ajuda médico-humanitá ria a pessoas afetadas por conflitos
armados, desastres naturais, epidemias, desnutriçã o e exclusã o do acesso à saú de.

Hoje conta com milhares de médicos de diversos continentes, sobretudo da Europa. E atua em mais
de 70 países (dados de 2016).

Em 1999, a MSF recebeu o prêmio Nobel da Paz.

SOS MATA ATLÂNTICA


É uma das maiores ONGs brasileiras, defendendo a manutençã o do que restou da Mata Atlâ ntica em
nosso país.

Suas açõ es estã o diretamente ligadas à sensibilizaçã o e tomada de consciência ecoló gica através da
informaçã o pela mídia e da educaçã o ambiental. Atua também como denunciadora de
irregularidades.

OS FÓRUNS MUNDIAIS: ECONÔMICO × SOCIAL


Anualmente, chefes de Estado, empresá rios e economistas que têm o poder de decisã o nos negó cios
mundiais, reú nem-se em Davos, na Suíça. Nesse encontro, discutem os rumos da política econô mica
do mundo e influenciam as decisõ es de organizaçõ es como a OMC. Conhecido como Fó rum
Econô mico Mundial, os assuntos discutidos sã o sempre pertinentes aos países ricos e
desenvolvidos sem se importar com os rumos da sociedade global.

É justamente nesse ponto que o Fó rum Econô mico Mundial é criticado. Em 2001, surgiu um fó rum
paralelo a Davos, chamado Fó rum Social Mundial (FSM), na cidade de Porto Alegre, no Brasil.

O Fó rum Social Mundial foi idealizado por Oded Grajew. A seguir, veja a explicaçã o dele sobre como
nasceu o Fó rum Social.

Eu estava em Paris em 2000 quando acontecia o Fó rum de Davos. Sempre me impressionou a


cobertura da mídia mostrando que a agenda desse evento parece considerar que o mundo é um
imenso mercado e que as pessoas nã o sã o nada mais do que meros consumidores. Ficou claro que
era necessá rio criar um outro fó rum, onde o econô mico estivesse a serviço do social, onde o
dinheiro fosse um meio, e nã o um fim em si mesmo.

Instituto Ethos. Disponível em: <www1.ethos.org.br/ EthosWeb/arquivo/0-A-438debates_FSM.doc>. Acesso em: 13


abr. 2016.

Com o slogan “Um outro mundo é possível”, o primeiro Fó rum Social Mundial foi uma
contraposiçã o à s ideias neoliberais defendidas em Davos.

A proposta amadureceu e tomou corpo e, nos anos seguintes, o FSM foi reunindo cada vez mais
pessoas interessadas em criar novos rumos para a sociedade global como caminhos que passam
pela economia, mas nã o a elegem como prioridade ú nica. O evento se propõ e a debater formas
alternativas de desenvolvimento econô mico comprometido com o social.

O FSM, foi realizado fora do Brasil pela primeira vez em 2004, ocorrendo na cidade de Mumbai, na
Índia. A proposta era a de que o evento acontecesse de maneira itinerante, passando por vá rios
continentes.
Logo em 2005 voltou a acontecer em Porto Alegre e a decisã o de descentralizar os fó runs foi
consolidada. A partir dessa proposta, o FSM passou a ocorrer em diferentes países, bem como em
novos formatos. Além disso, as discussõ es e temá ticas foram se ampliando ao longo do tempo.

Atualmente, além de ser um encontro de mobilizaçã o, reflexã o e açã o, o Fó rum Social Mundial
pretende despertar as pessoas para questõ es urgentes que afligem os diversos povos na
contemporaneidade, como a sustentabilidade ambiental, os direitos humanos, a luta contra a
desmilitarizaçã o e pela promoçã o da paz, questõ es relacionadas à diversidade e igualdade, política
e democracia, entre muitas outras.

Pá gina 222

QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (Enem, 2011)

A nova des-ordem geográfica mundial, uma proposta de regionalização

Enem/Divulgaçã o

O espaço mundial sob a “nova des-ordem” é um emaranhado de zonas, redes e “aglomerados”, espaços
hegemô nicos e contra-hegemô nicos que se cruzam de forma complexa na face da Terra. Fica clara, de saída, a
polêmica que envolve uma nova regionalizaçã o mundial. Como regionalizar um espaço tã o heterogêneo e, em
parte, fluido, como é o espaço mundial contemporâ neo?

HAESBAERT R. PORTO-GONÇALVES, C.W. A nova des-ordem mundial. Sã o Paulo: UNESP, 2006.

O mapa procura representar a ló gica espacial do mundo contemporâ neo pó s-Uniã o Soviética, no contexto de
avanço da globalizaçã o e do neoliberalismo, quando a divisã o entre países socialistas e capitalistas se desfez e
as categorias de “primeiro” e “terceiro” mundo perderam sua validade explicativa.

Considerando esse objetivo interpretativo, tal distribuiçã o espacial aponta para

a) a estagnaçã o dos Estados com forte identidade cultural.

b) o alcance da racionalidade anticapitalista.


c) a influência das grandes potências econô micas.

d) a dissoluçã o de blocos políticos regionais.

e) o alargamento da força econô mica dos países islâ micos.

2. (UFF-RJ, 2007) As novas fronteiras da geopolítica do inglês

(…) Daqui por diante, a geopolítica do inglês é menos geográ fica, menos vinculada ao fenô meno do progresso
econô mico da Inglaterra e dos Estados Unidos. (…)

O inglês ocupa o campo do digital. A densidade dos internautas acompanha os avanços do inglês. A internet é
um índice revelador da potência cultural americana – isto é, da língua inglesa. (…)

O inglês é a língua das grandes organizaçõ es internacionais, como o Fundo Monetá rio Internacional e o Banco
Mundial. (…) A escala do mundo mudou. Doravante, o poder da língua inglesa decorre do fato de que ela é a
língua dos Estados Unidos.

(adaptado de Le Breton in Lacoste, Y. (org.) “A geopolítica do inglê s”, 2005, pp. 12-26)

A partir da aná lise do texto sobre o papel do inglês no mundo atual, é correto afirmar:

a) a linguagem da informá tica é subordinada ao inglês, devido às exigências de organismos como ONU, FMI,
OMC e BID;

b) as diferenciaçõ es geográ ficas tendem a desaparecer face à homogeneizaçã o promovida pelo inglês em todo
o mundo;

c) o inglês tornou-se a língua do poder, transformando organizaçõ es internacionais em novas superpotências;

d) a língua inglesa é um dos principais fatores da globalizaçã o comunicacional-cultural, afirmando-se como


língua franca;

e) a geopolítica do inglês corresponde ao imperialismo norte-americano, restaurando o papel de


superpotência da Inglaterra.

3. (Uerj, 2002)

TEXTO I

“No contexto maior da economia colonial, a produção para o mercado interno – gado e alimentos –
apresentava um forte cará ter de subordinaçã o face à grande produçã o de exportaçã o. (…) Enquanto os
compradores compareciam a um mercado de preços tabelados, os produtores de alimentos sã o obrigados a
comprar os gêneros de que necessitam - escravos, ferros, tachos, armas – em um mercado livre, quase sempre
com preços estabelecidos na base do exclusivo colonial, sem qualquer concorrência.”

(SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. In: LINHARES, M. Yedda (org.). “História geral do Brasil”. Rio de Janeiro: Campus, 2000.)

Pá gina 223

TEXTO II

“A luta pelos alimentos como direito e pela comida sadia é das menos obscurantistas que pode haver, reflete o
direito à vida e à escolha do que comer e ser informado sobre o que está comendo. É uma luta dos direitos do
consumidor contra a ló gica voraz dos grandes consó rcios alimentícios, dentre os quais se destaca o Monsanto
– que ocupa vá rios cargos no governo Bush, tal sua força e voracidade.”
(SADER, Emir. In: “É poca”, março de 2001.)

O primeiro texto procura contextualizar a produção para o abastecimento interno no Brasil Colô nia, enquanto
o segundo refere-se à invasã o de uma propriedade do Monsanto, produtor internacional de alimentos, por
ambientalistas e pelo MST, durante o Fó rum Social Mundial contra a globalizaçã o, realizado em Porto Alegre.

A alternativa que aproxima os dois textos por apontar uma semelhança entre o processo brasileiro de
produçã o de alimentos, no passado e no presente, é:

a) A produçã o agrícola se mantém subordinada a interesses externos.

b) O Estado deixa para agricultores de subsistência a tarefa da produçã o alimentar.

c) As políticas pú blicas para o setor agrá rio provocam preços altos dos produtos exportados.

d) As açõ es do Estado priorizam a produçã o alimentícia através de consó rcios internacionais.

4. (UFSM-RS, 2002) Para responder à questã o leia as afirmaçõ es a seguir.

I. No final dos anos 70, começaram a ocorrer mudanças na organizaçã o produtiva interna de um país asiá tico,
visando à sua inserçã o na economia de mercado. Na agricultura, de forma gradativa, as fazendas coletivas
foram abolidas, dando lugar à disseminação da propriedade privada no campo.

II. Os principais produtores e exportadores de petró leo situados no Golfo Pérsico e na Mesopotâ mia formam
uma das mais importantes organizaçõ es do mundo.

A que organizaçã o a afirmativa II se refere?

a) ONP.

b) ERU.

c) OEA.

d) Opep.

e) OLP.

5. (UEPG-PR, 2011) Assinale as alternativas, onde todos os ó rgã os estejam ligados à Organizaçã o das Naçõ es
Unidas – ONU.

01) A Organizaçã o Mundial do Comércio – OMC dedica-se a promover o comércio entre os países; Organizaçã o
dos Países Exportadores de Petró leo – Opep organismo ligado à ONU que visa o controle dos preços globais do
petró leo e o fornecimento do produto.

02) O Fundo para Agricultura e Alimentaçã o – FAO da ONU, e o Ó rgã o das Naçõ es Unidas para a Educaçã o, a
Ciência e a Cultura – Unesco.

04) O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola – Fida busca recursos financeiros para melhorar a
produçã o de alimentos, e o Fundo Mundial para a Natureza – WWF trabalha em prol da preservaçã o da
natureza (espécies e há bitats ameaçados).

08) O Fundo das Naçõ es Unidas para a Infâ ncia – Unicef apoia técnica e financeiramente projetos e açõ es para
sobrevivência, desenvolvimento e proteção a crianças e adolescentes; Organizaçã o do Tratado do Atlâ ntico
Norte – Otan organismo de defesa dos países da regiã o do Atlâ ntico Norte.

16) Tribunal Penal Internacional – TPI julga acusados de crimes de guerra e genocídio; Organizaçã o Mundial
de Saú de – OMS coordena programas de assistência sanitá ria.
6. (UFPE, 2005) Essa organizaçã o foi um acordo militar ocorrido em 1949, entre Estados Unidos, Canadá ,
Islâ ndia, Portugal, França, Reino Unido, Holanda, Bélgica, Itá lia, Dinamarca, Noruega e Luxemburgo, com a
finalidade de defesa e auxílio mú tuo, em caso de ataque a um dos países-membros. Sua primeira intervençã o
armada aconteceu na Guerra da Bó snia. A denominaçã o correta dessa organizaçã o é:

a) ONU.

b) Otan.

c) OEA.

d) Pacto Centro-Europeu.

e) Pacto de Varsó via.

Pá gina 224

A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e anseios da
humanidade.

Leia os textos a seguir:

A fábula

Fragmento do discurso de George Bush (pai), no Congresso americano em 29 de janeiro


de 1991.

Venho a essa casa do povo para falar a vocês e todos os americanos, certo de que estamos em um
momento de definiçã o. Do outro lado do mundo, estamos envolvidos em uma grande luta nos céus,
nos mares e nas areias. Sabemos porque estamos lá : somos americanos, parte de algo maior que
nó s mesmos. Por dois séculos, trabalhamos duro pela liberdade. E hoje, lideramos o mundo no
enfrentamento a uma ameaça à decência e à humanidade. O que está em jogo é mais que um
pequeno país; é uma grande ideia: uma nova ordem mundial, onde diversas naçõ es se unem por
uma causa comum para alcançar aspiraçõ es universais da humanidade – paz e segurança,
liberdade, e o respeito à lei. Este é um mundo digno de nossa luta e digno do futuro de nossas
crianças.

SAVOLDI JR., A. A política externa dos Estados Unidos nos discursos sobre o estado da União entre o fim da Guerra Fria
e o início da Guerra ao Terror (1989-2001). Trabalho de Conclusã o do Curso de Histó ria. Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas. Porto Alegre: UFRGS, 2001, p. 30.

A perversidade

Apreciação econômica e política do mundo atual

O fato concreto é que parece que os Estados Unidos, que tinham um papel importante no mundo,
vêm reduzindo a sua influência e algumas medidas que estã o sendo tomadas pelas suas autoridades
em nada contribuem para um crescimento econô mico e estabilidade política que sã o almejados por
todos, ainda que suavizem seus pró prios problemas. Existem discussõ es sobre as eficá cias das
medidas tomadas contra o Estado Islâ mico, que deixou de ser uma guerra convencional para
aparentar mais uma guerrilha desorganizada. A pressã o contra a Rú ssia diante de suas pretensõ es
com alguns dos seus vizinhos, antigos componentes da URSS – Uniã o das Repú blicas Socialistas
Soviéticas como a Ucrâ nia, bem como contra as expansõ es que a China vem tentando, notadamente
junto à s fontes fornecedoras de muitas das matérias-primas de que necessita, geram tensõ es
adicionais.

Já nã o existe uma clara adesã o aos norte-americanos de seus aliados para suas iniciativas como em
países europeus, que também tendem a reduzir suas populaçõ es, e alguns asiá ticos, que passam
também por suas dificuldades econô micas e políticas, nã o podendo se comprometer com ajudas
substanciais, notadamente no setor da defesa coletiva. Principalmente porque Barack Obama nã o
parece contar com um forte suporte interno para suas políticas, aparentando ser já um lame duck.
Problemas como a ocorrência e a ampliaçã o dos contá gios de doenças como a ebola exigem
substanciais esforços emergenciais para que nã o se torne uma grande calamidade mundial, e,
apesar de muitas tentativas experimentais, nã o se conta ainda com um meio eficaz do seu controle.

* SANTOS, M., 2000.

Pá gina 225

Como exemplo, a contribuiçã o da Espanha neste item é inferior ao da Bolívia.

A insegurança que estes e outros fatores econô micos e políticos geram no mundo parece nã o ajudar
a sua recuperaçã o que já aparentava difícil. As informaçõ es sã o de agravamento na distribuiçã o de
renda, com uns poucos privilegiados se beneficiando de parcelas crescentes de renda, enquanto
multidõ es de pobres encontram maiores dificuldades.

YOKOTA, P. Carta Capital, Internacional, 3 nov. 2014. Disponível em:


<www.cartacapital.com.br/internacional/apreciacao-economica-epolitica-do-mundo-atual-2249.html>. Acesso em:
13 abr. 2016.

A possibilidade

A guerra da água na Bolívia

Nos anos 2000, em Cochabamba (Bolívia), a populaçã o derrotou a privatizaçã o da empresa


responsá vel pelo abastecimento de á gua (SEMAPA). Os cochabambinos sofriam com a escassez
d’á gua há muitas décadas, oriunda da sua pró pria geografia e do descaso dos gestores pú blicos. Por
anos, nã o houve investimento adequado para ampliaçã o da infraestrutura e nem para captaçã o
alternativa de á gua. Dessa forma, a populaçã o acostumou-se a buscar autonomamente soluçõ es
para a escassez. Por exemplo, na zona rural, pequenos agricultores desenvolveram um engenhoso
esquema de irrigaçã o comunitá ria. Sob pressã o do Banco Mundial e do FMI, o governo de
Cochabamba, com apoio da administraçã o federal, decidiu privatizar a SEMAPA.

E para assegurar o monopó lio aos interesses privatistas, aprovou uma Nova Lei de Á guas que, entre
outras coisas, determinava a exploraçã o da á gua como um direito privado. Apó s uma intensa luta
que uniu a populaçã o do campo e da cidade, os cochabambinos – sob a liderança da Coordenadora
de Á guas de Cochabamba – conseguiram reverter a privatizaçã o e revogar a nova lei, um feito
inédito na América Latina.

DRUMOND, N. A guerra da água na Bolívia: a luta do movimento popular contra a privatizaçã o de um recurso natural.
Revista NERA. Ano 18, n. 28 – Ediçã o Especial. UNESP: Presidente Prudente, 2015. p. 186-205.

Com base na leitura desses diferentes textos sobre o contexto político global pó s-Guerra Fria, a
maior insegurança em termos globais e as possibilidades de resistências, escreva uma dissertaçã o
de aproximadamente 30 linhas analisando a conjuntura apresentada e elaborando uma proposta de
intervençã o que possibilite maior autonomia das naçõ es frente à s organizaçõ es econô micas
internacionais.

Pá gina 226

9 O mundo multipolarizado

Conexão de conhecimentos
O mundo globalizado

mekcar/Shutterstock.com
yanugkelid/Shutterstock.com

Roger T. Schmidt/Getty Images

psgxxx/Shutterstock.com

Kiko Sierich/Futura Press

Pilhas, Torre de Pisa (Itá lia, 2015), reló gio suíço, Disneylâ ndia em Hong Kong (2015), Ponte da Amizade, que liga
Brasil e Paraguai (2015).

Pá gina 227

Disneylândia

Filho de imigrantes russos, casado na Argentina com uma pintora judia, casou-se pela

[segunda vez com uma princesa africana no México.

[...]

Zebras africanas e cangurus australianos no zooló gico de Londres.

Mú mias egípcias e artefatos incas no museu de Nova York.

Lanternas japonesas e chicletes americanos nos bazares coreanos de Sã o Paulo.

Imagens de um vulcã o nas Filipinas passam na rede de televisã o em Moçambique.

Armênios naturalizados no Chile procuram familiares na Etió pia.

Casas pré-fabricadas canadenses feitas com madeira colombiana.

Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong-Kong e produzem com

[matéria-prima brasileira para competir no mercado americano.

[...]

Reló gios suíços falsificados no Paraguai vendidos por camelô s no bairro mexicano

[de Los Angeles.

Turista francesa fotografada seminua com o namorado á rabe na baixada fluminense.

Filmes italianos dublados em inglês com legendas em espanhol nos cinemas da Turquia.

Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné.

Gasolina á rabe alimenta automó veis americanos na Á frica do Sul.

Pizza italiana alimenta italianos na Itá lia.


Crianças iraquianas fugidas da guerra nã o obtêm visto no consulado americano do Egito para
entrarem na Disneylâ ndia.

ANTUNES, A. Disneylâ ndia. CD Titanomaquia. WEA, 1993. Faixa 3.

A mú sica Disneylândia, do grupo Titã s, foi lançada com grande sucesso no começo da década de
1990. O grupo soube interpretar o que acontecia em sua época, quando o tema da globalizaçã o
começou a ser abordado pela mídia. A mú sica foi composta poucos anos apó s a derrubada do Muro
de Berlim, em 1989, um evento que simbolizou, ao mesmo tempo, o fim do bloco socialista e a
ascensã o dos ideais neoliberais. Surgia a expectativa de um mundo livre das disputas ideoló gicas e
integrado pela produçã o e pelo consumo para todos.

Considerando as imagens e a letra da cançã o, responda:

a) Qual é a sua opiniã o sobre o processo da globalizaçã o?

b) Ele beneficiou a todos por meio da integraçã o dos mercados do mundo?

c) Escreva no caderno as suas conclusõ es e apresente-as aos seus colegas de classe.

Pá gina 228

A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA
Antes de analisar a Nova Ordem Mundial, é importante lembrarmos que a Guerra Fria, apesar de
todos os perigos que representou, foi marcada por um grande crescimento econô mico. O período da
Guerra Fria foi marcado por um grande desenvolvimento tecnoló gico baseado na fabricaçã o de
produtos de massa, que incluiu milhõ es de pessoas na produçã o e no consumo.

No caso específico dos Estados Unidos, a indú stria de armamentos se transformou em um dos mais
importantes setores produtivos, empregando milhares de trabalhadores e influindo decisivamente
na política externa do país. Foi durante a Guerra Fria que a populaçã o juvenil também passou a ser
a protagonista de vá rios movimentos culturais (como a ascençã o do rock in roll) e também
políticos.

Embora os países subdesenvolvidos, como o Brasil, tenham também crescido muito naquele
período, nã o foram capazes de resolver os seus problemas como a extrema pobreza e a
concentraçã o de renda. O fim da Guerra Fria e a chegada da chamada globalizaçã o econô mica foram
saudados pelos meios de comunicaçã o como uma oportunidade para levar a prosperidade a todos
os cantos do mundo. Mas foi isso o que aconteceu?

HEGEMONIA ECONÔMICA E MILITAR


Se você fizer uma pesquisa sobre tudo o que se falou nos meios de comunicaçã o depois da queda do
Muro de Berlim, chegará à conclusã o de que o fim da bipolaridade socialismo-capitalismo era visto
como o início de uma era de grande paz social, harmonia política e prosperidade econô mica. Porém,
como você pô de constatar no decorrer deste livro, a realidade nã o confirmou as esperanças
divulgadas no início da Nova Ordem Mundial. Na verdade, as tensõ es políticas, que já existiam
durante a Guerra Fria, aumentaram mais ainda, resultando em diversos movimentos nacionalistas e
separatistas, além do acirramento dos conflitos étnicos e religiosos.

Se existiu alguma expectativa de que, sem a existência do bloco socialista, os Estados Unidos
poderiam se transformar em um poder global benevolente e democrá tico, a realidade mostrou o
contrá rio. A invasã o do Panamá e a primeira intervençã o no Iraque (ambas em 1989) já mostraram
ao mundo que a Nova Ordem Mundial nã o seria marcada pela paz, mas pelo controle geopolítico
dos Estados Unidos por meio de açõ es militares sem aprovaçã o global.

O mundo multipolar dos dias de hoje é marcado pela concorrência entre os blocos econô micos, bem
como pela existência de grandes corporaçõ es econô micas mais poderosas que vá rios países do
mundo e que também possuem elevada influência política. Desse modo, é possível dizer que nunca
as grandes corporaçõ es mundiais tiveram tanta influência na política global. O processo de
globalizaçã o econô mica é a grande marca da ordem multipolar. E esse processo está ocorrendo com
o impulso da adoçã o de novas tecnologias, com grande destaque para os setores de comunicaçã o e
transporte.

Porém, apesar de a globalizaçã o da economia atingir todos os setores produtivos, o setor que
ganhou mais dinamismo nesse processo foi o financeiro. De fato, mais do que pessoas ou
mercadorias, a época atual é marcada pela altíssima velocidade na circulaçã o do capital financeiro.
Pode-se mesmo dizer que o grande vencedor do processo de globalizaçã o é o mercado financeiro,
daí muitos denominarem a globalizaçã o de “globalizaçã o financeira”. Os lucros obtidos pelas
operaçõ es financeiras internacionais superam na atualidade a pró pria produçã o econô mica e a
adoçã o de tecnologias cada vez mais desenvolvidas exclui desse processo parcelas enormes da
populaçã o global.

Desse modo, o mundo vive uma contradiçã o. De um lado, temos a circulaçã o de capital, tecnologias,
produtos e serviços. Do outro, temos o aumento da miséria, da violência e da precarizaçã o do
trabalho. Assim, o mundo acaba dividido em dois: o Norte, rico, e o Sul, excluído.

GLOBALIZAÇÃO E EXCLUSÃO SOCIAL


O mapa da atividade a seguir mostra os eixos do comércio global, evidenciando a extrema
concentraçã o do comércio mundial. Compare a corrente comercial (importaçõ es/exportaçõ es) da
América do Sul (195 bilhõ es de dó lares) com os valores acumulados pela Á sia (3,076 trilhõ es de
dó lares), América do Norte (1,189 trilhã o de dó lares) e Europa Ocidental (4,560 trilhõ es de
dó lares).

Pá gina 229

ATIVIDADE

Regiões comerciais

Observe os dois mapas a seguir.


Allmaps

Os valores dentro dos círculos correspondem ao comércio intrarregional. Os valores identificados nas setas
se referem ao comércio inter-regional. Fluxos inferiores a 90 bilhões de dólares não foram representados.

Fonte: OMC, Statistiques du commerce international 2014, p. 23.

Caitlin Dempsey, GIS Lounge.com

(Escala suprimida; cores nã o seguem convençõ es cartográ ficas.)

Fonte: Caitlin Dempsey, GISLounge.com. Disponível em: <https://gislounge.com/wp-content/


uploads/2012/04/bilcartocitizen1.png>. Acesso em: 27 abr. 2016.

Compare os fluxos de comércio global em termos de valores intrarregionais (dentro das mesmas
regiõ es) e inter-regionais (entre diferentes regiõ es). Em seguida, responda:

1. As diferentes regiõ es do mundo sã o totalmente abertas comercialmente? Explique.

2. Levando em conta a representaçã o grá fica da localizaçã o dos bilioná rios do mundo, poderíamos
inferir que os lucros do comércio global sã o homogeneamente distribuídos entre os continentes?
Justifique.
Pá gina 230

Com frequência, o livre-comércio é defendido pelos meios de comunicaçã o como a saída para o
desenvolvimento dos países. Essa defesa da competiçã o livre pelos mercados é feita como se fosse
uma oportunidade aberta para todos os membros em condiçõ es de igualdade. No entanto, nã o há
igualdade no comércio global. As transaçõ es mais importantes sã o realizadas entre os países que
detêm os principais recursos econô micos e tecnoló gicos. Na atualidade, 80% do comércio global é
realizado por apenas 25 países, dentro de um total de 180.

Assim, os resultados dessa concentraçã o de renda e comércio globais podem ser observados no
mapa “Nú mero de bilioná rios por país (2012)”, que evidencia as principais concentraçõ es de
milioná rios em escala global. Esse aspecto da grande concentraçã o de renda global é apenas a
contraface da pobreza que atinge bilhõ es de habitantes do planeta, localizados majoritariamente no
Sul pobre.

O modelo de intercâ mbio comercial é altamente excludente, tanto em relaçã o ao acesso aos
produtos, como em relaçã o ao fornecimento de recursos do planeta para todos. Trata-se de um
modelo de distribuiçã o da renda desigual e também desigual no uso excessivo dos recursos dos
países pobres: á gua, terras, jazidas minerais, mercados de trabalho extremamente baratos.

Antara Foto/Reuters/Newscom/Glow images

Mineraçã o de ouro e cobre em grande escala em Papua, na Indonésia. Empreendimentos como esse atendem à
crescente demanda por matérias- -primas usadas na transformaçã o industrial, mas comprometem totalmente o meio
ambiente em vá rias localidades do mundo. Foto de 2015.

Russell Contreras, File/AP Photo/Glow Images


Veículo da patrulha de fronteira dos Estados Unidos perto do muro de fronteira com o México. Foto de 2015.

A globalizaçã o também nos coloca diante de outras questõ es. De um lado, há uma tendência à
padronizaçã o do consumo. Por exemplo, os jovens usam jeans, ouvem rock, vã o ao shopping center
e assim por diante. Por outro lado, querem se diferenciar em relaçã o aos outros e, entã o, passam a
se organizar em “tribos”: skatistas, geeks, punks, geraçã o saú de etc.

Atualmente, mesmo a rebeldia juvenil acaba se tornando objeto de consumo, com patrocínio de
grandes marcas – de sabonete a roupas, acessó rios, automó veis etc. – que passam a produzir entã o
para “nichos” de mercado. Sã o as contradiçõ es com as quais convivemos: queremos consumir e, ao
mesmo tempo, nos diferenciar.

Apesar da queda do Muro de Berlim, temos de nos lembrar de que existem outros muros
representados pelo aumento das diferenças entre ricos e pobres, entre á reas desenvolvidas e á reas
subdesenvolvidas, entre aqueles que têm acesso à á gua tratada e aqueles que enfrentam
cotidianamente a carência de recursos. E existe também a questã o das crescentes dificuldades
impostas à imigraçã o, seja ela legal ou ilegal.

Em termos de dominaçã o política, o mundo já foi organizado em um sistema bipolar durante a


Guerra Fria e, durante a vigência da ordem atual, assiste-se à dominaçã o hegemô nica dos Estados
Unidos. Como podemos entã o falar em multipolarizaçã o?

Pá gina 231

Apesar da hegemonia dos Estados Unidos em termos de arsenal bélico e nuclear, em relaçã o ao
desenvolvimento de tecnologia e mesmo ao desenvolvimento econô mico-financeiro, Japã o e
Alemanha – principalmente, mas nã o exclusivamente – sã o fortes concorrentes dos Estados Unidos
do ponto de vista comercial.

A economia global está associada atualmente à expansã o de grandes conglomerados em todos os


ramos de atividades (financeiro, industrial, comercial). Essa expansã o vem provocando
significativas mudanças no papel dos Estados nacionais e, ao mesmo tempo, tem ganhado cada vez
mais importâ ncia relativa na produçã o do espaço econô mico global.

Sã o os conglomerados que, a partir de seus respectivos centros de origem e decisã o, localizados nos
países desenvolvidos, polarizam em algumas regiõ es do globo a maior parte do intercâ mbio
tecnoló gico, econô mico e financeiro. Desse modo, podemos falar de três megablocos que procuram
organizar e planejar a produçã o, a riqueza e as trocas internacionais:

• O Acordo de Comércio Livre da América do Norte (Nafta).

• A Uniã o Europeia.

• As principais á reas comerciais do Leste e Sul da Á sia (destacando-se a China, o Japã o e a Coreia do
Sul, e incluindo os demais Tigres Asiá ticos).

Esses blocos suprarregionais respondem, assim, aos aspectos técnicos de eliminaçã o das barreiras
alfandegá rias. E, mais que isso, muitas vezes podem significar o estabelecimento de zonas
comerciais protegidas da concorrência de outros países, regiõ es ou outros blocos.

DOMINAÇÃO TECNOLÓGICA
A posse de tecnologia sempre significou para os diferentes povos a expansã o, por outros territó rios,
de seus interesses econô micos, militares e até ideoló gicos. Desse modo, podemos compreender, por
exemplo, a ocupaçã o do Egito Antigo pelos romanos na Antiguidade – afinal, o Egito se constituía,
naquele momento, no principal celeiro agrícola do Mediterrâ neo, o que muito interessava aos
romanos, mais fortes e mais bem preparados militarmente.

Na Idade Média, enquanto os povos europeus se recolhiam nos feudos, os otomanos expandiam-se
pelo Mediterrâ neo, controlando nã o apenas as rotas das especiarias, mas dominando inclusive
partes dos territó rios das penínsulas Ibérica e Balcâ nica.

Com o advento das Grandes Navegaçõ es, Portugal e Espanha expandiram nã o apenas seus domínios
territoriais – as terras recém-descobertas das Américas –, mas propiciaram a expansã o do
mercantilismo e, de certo modo, o início da organizaçã o do mercado global ao incorporar novas
terras, novas culturas, novos produtos.

A partir da Revoluçã o Industrial na Europa dos séculos XVIII e XIX, o intercâ mbio comercial,
cultural e econô mico acelerou-se. Essa aceleraçã o está relacionada diretamente ao
desenvolvimento tecnoló gico, com novas má quinas, novos meios de transportes e comunicaçõ es,
novas formas de produzir. Ao mesmo tempo, esses fenô menos podem ser associados à ascensã o de
um novo grupo no poder: nã o mais os nobres, mas a burguesia, cujos valores foram aos poucos se
tornando também hegemô nicos.

Coleçã o particular

As distâ ncias foram encurtadas a partir do século XIX, interligando os mercados globais. Navio chegando a Nova
Iorque, nos Estados Unidos, 1935.

Assim, a partir da Revoluçã o Industrial, acelerou-se progressivamente o desenvolvimento das redes


de comunicaçã o e dos meios de transporte, diminuindo cada vez mais as distâ ncias entre as á reas
de produçã o e consumo. Ao mesmo tempo, no entanto, havia um aumento crescente das diferenças
entre as á reas mais ricas do mundo e as mais pobres.

Podemos dizer que dois processos marcaram definitivamente as diversas sociedades a partir de
entã o: de um lado, o aumento da diferença entre riqueza e pobreza; de outro, a aceleraçã o contínua
do movimento físico de transporte de mercadorias, matérias- -primas, pessoas e capitais. A
descoberta de tecnologias ligadas ao movimento, como a das má quinas a vapor na Inglaterra,
fundamentou a expansã o da indú stria têxtil.

Pá gina 232

A necessidade de transportar matérias-primas para essas indú strias, bem como de levar seus
produtos para todo o globo, levou ao desenvolvimento da indú stria ferroviá ria e naval, que, por sua
vez, necessitou de técnicas cada vez mais eficientes para produzir estruturas de aço para a
construçã o de estaçõ es de trem, portos marítimos e fluviais, docas de armazenagem, trilhos para as
estradas de ferro, pontes, chapas de aço para a construçã o de vagõ es, estruturas metá licas para a
construçã o civil, má quinas ferroviá rias e navios etc.

Tudo isso levou ao surgimento, em vá rias á reas do globo, das grandes regiõ es industriais,
consumidoras de trabalho humano, de carvã o e de aço. Com as tecnologias de produçã o e
transporte, cada vez mais o globo se integrou como uma unidade econô mica desigual, em que nã o
só mercadorias e matérias- -primas eram transportadas, mas também exércitos e inú meras
organizaçõ es civis, estatais e até religiosas, que garantiram, ao redor do mundo, o domínio
econô mico, cultural e político das potências industriais.

A rivalidade entre as potências industriais e a violência com que elas se lançaram à disputa pelos
mercados gerou duas guerras que mobilizaram o mundo, pois estavam em jogo os interesses
econô micos de alguns Estados expansionistas ou imperialistas, como a Grã -Bretanha, a Alemanha, a
França, a Itá lia, o Japã o e os Estados Unidos.

O desenvolvimento tecnoló gico gerado durante a Segunda Guerra Mundial, bem como durante o
período da Guerra Fria, levou ao surgimento de novos padrõ es de produçã o industrial, marcados
por uma crescente automaçã o de processos.

Com o aumento da valorizaçã o do desenvolvimento de tecnologias de produçã o e de comunicaçã o,


agregando cada vez maior eficiência no setor industrial, de serviços e na agropecuá ria, a
transformaçã o industrial passou a ser realizada em outras regiõ es, que foram se formando tanto
nos países capitalistas centrais como na sua periferia. Mas isso nã o eliminou as tradicionais regiõ es
industriais da América do Norte, da Europa e da Á sia.

REGIÕES INDUSTRIAIS TRADICIONAIS


• Europa Continental: inclui países de tradiçã o industrial como França, Alemanha (destaque para o
Vale do Ruhr), Holanda, Bélgica e Norte da Itá lia.

• Grã -Bretanha: destaque para Londres, Manchester e Sheffield.

• Nordeste dos Estados Unidos e regiã o dos Grandes Lagos.

• Japã o.

As regiõ es industrializadas originais estã o ligadas ao início da Revoluçã o Industrial e foram


marcadas tanto pela existência de tecnologias de produçã o quanto pela fartura de matérias-primas,
como o carvã o e minérios de ferro (no caso do Vale do Ruhr, na Alemanha).

Como o territó rio japonês é desprovido dessas matérias-primas, o país se lançou em um processo
de anexaçã o imperial de territó rios vizinhos até a eclosã o da Segunda Guerra Mundial.

Hans Blossey/Alamy/Fotoarena
O Vale do Ruhr é uma das mais antigas regiõ es industriais tradicionais europeias. Até hoje essa regiã o tem grande
importâ ncia para a siderurgia alemã . Foto de 2016.

NOVAS REGIÕES INDUSTRIAIS (APÓS A GUERRA FRIA)


• Na América Latina: Sudeste do Brasil, bacia do Prata (Argentina e Uruguai), Monterrey e
Guadalajara (México).

• Na Á frica: Lagos (Nigéria), Johanesburgo, Cidade do Cabo e Durban (Á frica do Sul).

• Na Índia: Mumbai e Calcutá .

• No Japã o: Kyoto.

• No Sudeste Asiá tico: Kuala Lampur (Malá sia), Seul (Coreia do Sul), Taiwan e Cingapura.

• Na China: Beijing (com destaque para as Zonas Econô micas Especiais – ZEEs – do litoral).

• No Leste Europeu: processos de industrializaçã o iniciados durante a existência do bloco socialista.

• Na Europa: Dublin (Irlanda), Cambridge e Glasgow (Grã -Bretanha), Munique (Alemanha),


Estocolmo (Suécia).

• No Oriente Médio: Tel Aviv (Israel).

• Na América do Norte: Califó rnia (Vale do Silício e Sã o Francisco), Austin e Boston (nos Estados
Unidos), Montreal e Otawa (no Canadá ).

• Na Oceania: Sydney.

Pá gina 233

O início da Nova Ordem Mundial e a expansã o das ideologias neoliberais coincidiram com o elevado
desenvolvimento das tecnologias de informaçã o. Tudo isso possibilitou que, no decorrer de poucos
anos, os trabalhadores de todo o mundo ficassem vulnerá veis ao desaparecimento de centros
produtivos tradicionais e expostos a uma concorrência global com dimensõ es nunca vistas.

POLOS DE TECNOLOGIA
A existência de centros de pesquisa e formaçã o ligados ao desenvolvimento tecnoló gico e toda uma
rede urbana de serviços bem-estruturada em termos de comunicaçã o (malha rodoviá ria, portos e
aeroportos internacionais, redes de fibras ó ticas) sã o as condiçõ es necessá rias para o surgimento
dos polos de tecnologias. Nesses polos sã o desenvolvidos e gerados produtos e bens de produçã o
de alta tecnologia: química fina, biotecnologia, nanotecnologia, informá tica, cibernética, tecnologia
aeroespacial, farmacêutica.

ATIVIDADE

Polos de alta tecnologia

1. Que relaçã o é possível fazer entre os dados da figura a seguir e a divisã o do mundo em países
desenvolvidos e países subdesenvolvidos? É possível afirmar que estã o todos no mesmo nível
tecnoló gico? Na resposta, leve em consideraçã o o nú mero de empregados nos polos de tecnologia,
bem como a capacidade da rede de fibras ó ticas pelo mundo.

View Produçã o Editorial e Fotográfica Ltda.

Fonte: GRESH, A. et al. (Org.). Atlas da globalização: Le Monde Diplomatique. Lisboa: Campo da comunicaçã o, 2013.

2. Com auxílio de um atlas, relacione as cidades polos de tecnologia que superaram em importâ ncia
os seguintes centros industriais tradicionais em seus respectivos países:

a) ABC Paulista (Brasil).

b) Sheffield e Manchester (Reino Unido).

c) Regiã o dos Grandes Lagos (Estados Unidos).

d) Vale do Ruhr (Alemanha).

e) Um novo polo tecnoló gico da Repú blica da Irlanda.

Pá gina 234

CONSEQUÊNCIAS DA DOMINAÇÃO TECNOLÓGICA


Provavelmente, você conhece ou tem em sua casa itens de consumo da vida moderna (câ mera
digital, filmadora digital, TV a cabo, celular, computador, micro-ondas, internet banda larga). Até em
bairros mais humildes e em moradias precá rias, itens como a antena de TV e o celular sã o mais uma
necessidade do que luxo, mesmo em um contexto em que a sobrevivência alimentar pode ser um
grande desafio. Tudo isso é fruto do desenvolvimento tecnoló gico.

Quando você se alimenta com uma barra de cereal, um pedaço de bolo industrializado ou pré-
preparado, uma latinha de chá , um biscoito industrializado ou um refrigerante, está consumindo
itens que sã o produtos de intensa pesquisa tecnoló gica.
Aromatizantes artificiais, que copiam aromas naturais, estã o no nosso cotidiano, pois nã o existe na
natureza, nem na agricultura moderna, uma produçã o suficiente para prover a indú stria alimentícia
das infindá veis gamas de sabores para transformar toneladas de elementos químicos em alimentos
atrativos. Para isso, o ramo da bioquímica desenvolveu milhares de componentes diferentes para
substituir os aromas da banana, do morango, da cereja, da baunilha, do café, da hortelã , da cebola,
do milho etc.

Para que a indú stria alimentícia, em todos os seus segmentos, levasse até o consumidor tudo o que
ela produz, foi necessá ria a utilizaçã o de vá rios tipos de ó leo vegetal, como o de soja. E as sementes
de soja, bem como de amendoim e de girassol, por exemplo, nã o sã o apenas um resultado da
produçã o da natureza. Muitas delas foram desenvolvidas em laborató rios, vá rias sementes foram
geneticamente modificadas para que a produçã o e o lucro fossem otimizados.

Esses exemplos mostram como a nossa vida está cercada por produtos tecnoló gicos, mesmo nos
casos mais insuspeitos. E, levando-se em conta que essas tecnologias foram desenvolvidas fora do
Brasil, podemos ter apenas uma ideia do quanto a nossa economia envia de dinheiro para o exterior
em termos de licenças de uso e patentes. Desse modo, o mundo subdesenvolvido pode ser
considerado dependente de tecnologias geradas pelas grandes corporaçõ es internacionais, movidas
pelo interesse do lucro.

As consequências da existência de um desenvolvimento tecnoló gico baseado na competiçã o pelo


lucro má ximo sã o tã o importantes quanto graves, e nã o apenas para a contabilidade dos países
pobres. Com o domínio quase completo do investimento, da comercializaçã o e da produçã o
agrícola, os grandes conglomerados mundiais ligados ao setor de alimentaçã o detêm em suas mã os
(da semente até o prato) todo o ciclo dos alimentos que formam a base do consumo mundial,
constituindo para todo o mundo uma grave questã o estratégica.

A dominaçã o do comércio de alimentos e todo o seu ciclo também afeta o ambiente com:

• O desenvolvimento e uso de alimentos geneticamente modificados (dos quais ainda nã o sabemos


as consequências para o ser humano e para o ambiente).

• A disseminaçã o de monoculturas pelo mundo (tornando o campo cada vez mais vulnerá vel ao
surgimento de pragas).

• A dependência de uma carga cada vez maior de defensivos agrícolas, com consequências cada vez
mais graves para todos.

No ramo da medicina, a indú stria farmacêutica condiciona todo um ramo da pesquisa humana para
o desenvolvimento de produtos cada vez mais caros e, muitas vezes, restritos, em vez de fazer a
prevençã o das doenças.

Como trata-se de um ramo movido pela busca do lucro, diversas moléstias que açoitam os países
pobres, como malá ria e doença de Chagas, recebem menos verbas para a pesquisa simplesmente
por nã o oferecerem retorno econô mico vantajoso. Porém, a medicina ligada ao sistema
cardiovascular cresce cada vez mais em faturamento, com medicamentos e cirurgias caros, pois a
populaçã o do mundo desenvolvido aumenta o consumo de alimentos cada vez mais caló ricos e
gordurosos.
Ricardo Azoury/Getty Images

A tecnologia se expande e alcança todas as classes sociais, mas de forma desigual. Lan house no centro da cidade de
Sã o Gabriel da Cachoeira (AM), 2012.

Pá gina 235

Gerson Sobreira/Terrastock

A agricultura comercial moderna aumentou a produtividade, mas também causou sérios problemas ambientais.
Costa Rica (MS), 2015.

Também no plano cultural, o domínio dos grandes conglomerados mundiais é preocupante.


Imagine qual pode ser a liberdade de opiniã o de uma empresa de comunicaçã o (jornal, TV etc.) que
tem, entre os seus maiores clientes, as principais corporaçõ es econô micas que atuam nos meios
financeiros, nos serviços e na indú stria? Será que uma empresa de comunicaçã o, que precisa obter
lucro, teria a coragem de contrariar os interesses de seus clientes? E se os clientes de uma grande
empresa de comunicaçã o fossem, na verdade, os seus acionistas?

Na verdade, é exatamente isso o que acontece. A rede de conexõ es ligando os diferentes grupos
econô micos é extremamente complexa e inclui, no â mbito do que chamamos de grandes
conglomerados mundiais, um conjunto de interesses econô micos comerciais, que vã o da produçã o
agrícola, passam pela industrializaçã o e pelo comércio e chegam até a indú stria cultural, que
abrange todos os meios de comunicaçã o (TV, rá dio, internet, cinema, teatro, jornais, revistas,
movimentos culturais etc.).
Desse modo, é realmente complicado identificarmos um meio de comunicaçã o que nã o esteja
comprometido com os poderes politicamente dominantes. Afinal, se os grandes conglomerados
mundiais dominam a produçã o e a cultura, o que falta para eles terem também o domínio da
situaçã o política?

Sergio Ranalli/Pulsar Imagens

A expansã o tecnoló gica chega até os locais mais distantes. Na foto, interior de oca da aldeia Aiha com televisã o, no
Mato Grosso, 2011.

Pá gina 236

SAIBA MAIS

As guerras do mundo moderno são decididas nos meios de comunicação

As guerras travadas pelos Estados mais poderosos nã o se realizam somente nos campos de batalha,
mas também nos principais meios de comunicaçã o.

É necessá rio um grande esforço propagandístico para vender a ideia, para qualquer família comum,
de que enviar os seus filhos para a guerra é um dever patrió tico carregado de belos símbolos de
heroísmo. Cada um dos homens enviados para um “teatro de operaçõ es bélicas” precisa estar
convencido (bem como a sua família) de que o dever para com Estado supera todas as desgraças
que ele vai encontrar (privaçã o de seu convívio social, vivência de momentos de extrema violência,
desespero, dor e morte).

Mesmo nos Estados nã o democrá ticos, a propaganda oficial é totalmente manipulada para que a
populaçã o tenha certeza de que os interesses superiores estã o acima dos indivíduos, ainda que isso
signifique que muitos tenham que dar a pró pria vida por isso.

A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, com o envio de milhares de homens
para a destruiçã o, foi antecedida de uma intensa campanha patrió tica feita pelos meios de
comunicaçã o. Nesse caso, foi explorado um fato real para mobilizar os soldados: a ameaça que o
nazi-fascismo representava ao mundo e à democracia.
Durante o conflito, e mesmo até depois dele, toda a imprensa evitou mostrar os casos de infortú nios
pessoais (milhares de recrutas feridos, mutilados e mortos). Nenhuma informaçã o chegou por
muitos anos até o pú blico sem que o Pentá gono e o Departamento de Estado tivessem acesso antes.

Durante a Guerra do Vietnã , a televisã o revolucionou a transmissã o dos conflitos, fazendo com que,
durante o jantar, as famílias assistissem aos seus filhos massacrarem e serem massacrados nas telas
da televisã o, contribuindo para a perda da legitimidade da açã o do Estado.

A liçã o foi aprendida. Na atualidade, a grande maioria dos meios de comunicaçã o só tem acesso à s
imagens e à s informaçõ es dadas pelo governo dos Estados Unidos. Esse fato pode ser comprovado
pela cobertura nacionalista e pouco crítica feita, naquele país, a respeito do ataque de 11 de
setembro, em 2001, e da invasã o do Iraque, em 2003.

Outro aspecto negativo da supremacia tecnoló gica dos países desenvolvidos é um poder de
agressividade e intervençã o muito superior ao restante dos países do globo.

A superioridade militar está intimamente ligada ao desenvolvimento de tecnologias de ponta do


complexo militar-industrial. Sem esse complexo e sem essa capacidade de intervençã o,
simplesmente seria impossível a uma potência mundial como os Estados Unidos manter o controle
dos fluxos comerciais e financeiros que lhe convêm.

Patrick Baz/AFP

Soldado estadunidense segura drone militar em operaçã o no Afeganistã o, 2010.

Os Estados Unidos acumulam crescentes déficits comerciais com o resto do globo, que, por sua vez,
compra os títulos do tesouro norte-americano com promessa de pagamento de juro adicional. Ou
seja, todos os mercados financiam o prejuízo da economia de um dos países mais poderosos do
mundo exatamente porque ele tem a capacidade militar de manter as fontes econô micas de que
tanto necessita, como no caso dos poços de petró leo do Oriente Médio.

Portanto, temos no mundo um completo domínio imposto pela superioridade tecnoló gica, que
garante à s economias dominantes (situadas nos megablocos) o privilégio de contar com as sedes
dos conglomerados mundiais, que, por sua vez, dominam a produçã o, o lucro, o controle bioquímico
(da formulaçã o de sementes ao có digo do DNA), a açã o militar e as fontes de trabalho, consumo e de
matérias-primas.

Porém, o grande domínio, que já tem sido questionado, é o domínio da opiniã o. Milhõ es de pessoas
no mundo acreditam estar sendo bem informadas (afinal vivemos em uma grande sociedade da
informaçã o), mas nem suspeitam que as suas opiniõ es e tendências foram decididas em outras
instâ ncias. Nã o suspeitam que as opiniõ es dominantes dos principais jornais, noticiá rios televisivos
e revistas sã o, na verdade, produtos comerciais feitos sob medida para a manutençã o de interesses
também comerciais, e, acima de tudo, políticos.

Pá gina 237
Um dos aspectos mais positivos do desenvolvimento tecnoló gico é a difusã o da internet que, a
princípio, foi desenvolvida como um projeto militar que interligou algumas universidades norte-
americanas no ano de 1969. Contando atualmente com mais de 1,1 bilhã o de usuá rios em seu
sistema, e possibilitando o contato imediato com inú meras pessoas, ideias e organizaçõ es por todo
o mundo, a internet transformou-se em um veículo de comunicaçã o bastante aberto. Atualmente,
sites da internet competem com a imprensa dominante. Em muitos casos, permitem que os leitores
também gerem notícias.

ATIVIDADE

Tecnologia e espionagem

Em 2013, o entã o técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, Edward
Snowden, revelou ao mundo o esquema de espionagem que a agência praticava e que incluía a
observaçã o de telefonemas, mensagens eletrô nicas e em redes sociais de milhares de pessoas.
Snowden revelou que a espionagem se endereçava também a governos de países como China,
Rú ssia, Irã , Paquistã o e Brasil.

Faça uma pesquisa na internet sobre o uso de tecnologias para espionagem de governos e a posiçã o
dos países diante do vazamento dessas informaçõ es.

Em seguida, debata com seus colegas as possíveis formas para lidar com essa situaçã o no â mbito
das relaçõ es internacionais.

DOMINAÇÃO ECONÔMICA: OS GRANDES


CONGLOMERADOS MUNDIAIS
Os grandes conglomerados mundiais, também chamados corporaçõ es transnacionais, podem ser
definidos como empresas que possuem pelo menos 10% da participaçã o nos negó cios em filiais
localizadas em territó rio estrangeiro.

Levando-se em conta essa definiçã o, existem no mundo mais de 60 mil conglomerados mundiais,
empregando mais de 54 milhõ es de pessoas. Essas empresas abarcavam nada menos do que dois
terços de todo o comércio internacional (bens industrializados e serviços) do mundo no início do
século XXI.

Nã o é à toa, portanto, que as unidades territoriais (países, províncias ou estados) disputam entre si
os investimentos diretos de conglomerados econô micos. Porém, muitas vezes as exigências feitas
pelas grandes empresas aos territó rios acabam fazendo com que o negó cio seja satisfató rio
somente para elas. Veja a seguir algumas condiçõ es exigidas por uma montadora de automó veis aos
estados brasileiros que se candidataram a receber uma unidade industrial para a produçã o de
veículos:

• Doaçã o do terreno onde a montadora iria se instalar.

• Completa infraestrutura (á gua, luz, gá s, energia, pavimentaçã o etc.).

• Financiamento feito pelo Estado para ajudar na construçã o de instalaçõ es, importaçã o de
maquiná rios, contrataçã o de mã o de obra etc.

• Isençã o fiscal (nã o cobrança de impostos) por vá rios anos.

• Governos locais com capacidade de controlar os sindicatos, enfraquecendo as reivindicaçõ es.


A DOMINAÇÃO ECONÔMICA NO ÂMBITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
O Nafta e a Uniã o Europeia podem ser atualmente caracterizados como os dois megablocos da
economia. A eles se agrega a China, com seu imenso potencial produtivo e consumidor. Eles
concentram 75% do fluxo global, em valores monetá rios, de mercadorias. A tendência é de que essa
concentraçã o aumente mais ainda, pois os bens manufaturados têm apresentado um constante
aumento de seu valor de troca comercial em virtude do avanço do desenvolvimento tecnoló gico na
produçã o.

Ao contrá rio do que acontece com os dois megablocos mais a China, com uma atuaçã o concentrada
em bens ligados, por exemplo, a telecomunicaçõ es, informá tica e ramo farmacêutico, os países
subdesenvolvidos têm apresentado outra tendência: a de ver diminuídos os valores de suas
produçõ es tanto no setor secundá rio, em que há uma expressiva exportaçã o de bens com baixo
valor tecnoló gico agregado, como no setor primá rio, que tradicionalmente vê cair o valor de troca
internacional.

Esse problema de diminuiçã o do valor internacional de troca comercial é mais comumente


denominado “deterioraçã o dos termos de troca”. Desse modo, enquanto os grandes conglomerados
mundiais, quase todos sediados em á reas territoriais dos megablocos, aumentam a sua participaçã o
no mercado global, o conjunto de países pobres extrai desse â mbito cada vez menos resultados.

Pá gina 238

Algumas das consequências disso para os países pobres sã o:

• Competiçã o a qualquer custo pelos investimentos gerados pelos conglomerados internacionais


(muitas vezes desvantajosas para os Estados que os recebem).

• Necessidade de ampliar a exploraçã o de seus produtos primá rios para poder pagar por bens
tecnoló gicos com valores cada vez mais altos. Isso resulta em maior comprometimento dos
recursos naturais e do equilíbrio ecoló gico, com, por exemplo, aumento da exploraçã o de minérios e
aumento da destruiçã o de florestas para a instalaçã o de pastagens e monoculturas.
Julian Nieman/Alamy/Fotoarena

Exportaçã o de cacau da Repú blica de Gana. Essa exportaçã o é fundamental para que o país consiga importar bens
industrializados. Foto de 1996.

• Comprometimento de recursos naturais e energéticos para suprir a produçã o de bens semi-


-industrializados para a exportaçã o. O caso mais exemplar é o da produçã o de alumínio que, por
exigir uma grande produçã o de energia, resulta em elevados custos ambientais e financeiros para o
Estado. Cada vez mais o alumínio deixa de ser produzido entre os países participantes dos
megablocos. Eles preferem deixar os prejuízos desse setor para os países subdesenvolvidos, como o
Brasil.

• O poder econô mico dos conglomerados mundiais facilmente traz para esses grupos a capacidade
de controlar as opiniõ es e o poder político. Pode-se dizer que eles têm se relacionado com um
status hierá rquico cada vez mais pró ximo do Estado. As grandes empresas transnacionais, por
exemplo, possuem orçamentos que cada vez mais se aproximam dos valores manipulados por
diversos Estados do mundo. E, como o capital em grande quantidade influencia sistemas e pessoas,
frequentemente o poder pú blico corre o risco de ser corrompido pelos interesses das grandes
empresas por meio de diversos estratagemas (concorrências pú blicas desleais, políticas
econô micas que favorecem determinados grupos automotivos, nucleares ou de saú de etc.).

Um exemplo de desvio de funçõ es pú blicas foi a eleiçã o e a administraçã o de George W. Bush


(2001- 2009) nos Estados Unidos. Os meios de comunicaçã o menos controlados pelo poder
econô mico divulgaram que o presidente Bush teve, como base econô mica de promoçã o política, as
empresas de petró leo do estado do Texas. Por consequência, enquanto esteve à frente do governo
dos Estados Unidos, as suas açõ es beneficiaram os gigantescos e poderosos conglomerados da
indú stria petrolífera, por exemplo, com a tentativa de controlar a produçã o de petró leo do Oriente
Médio, a nã o assinatura do Protocolo de Kyoto etc.

O controle do senso comum (ou das opiniõ es) e do processo político nã o é apenas um caso
estadunidense. Por todo o mundo, as organizaçõ es de cunho popular e nacional (sindicatos de
trabalhadores e partidos políticos com plataformas sociais, por exemplo) perderam muito do seu
poder de influência. Isso coincidiu com a ascensã o das ideologias neoliberais que, amplamente
divulgadas pelos meios de comunicaçã o, favoreceram o estabelecimento de uma opiniã o pú blica
mais conveniente para os planos das empresas transnacionais.

ATIVIDADE

Economia global

1. Explique o que sã o os grandes conglomerados mundiais.

2. Cite algumas consequências da dominaçã o econô mica global.

Pá gina 239

DOMINAÇÃO FINANCEIRA
Anteriormente, neste capítulo, mencionamos que uma empresa automobilística fez vá rias
exigências aos estados brasileiros que se candidataram a receber os seus investimentos produtivos.
Com base nesse processo de seleçã o, em 2014 a gigante norte-americana escolheu a cidade de
Camaçari, no estado da Bahia, para construir a unidade de produçã o mais moderna, eficiente e
rentá vel do grupo em todo o mundo.

Do ponto de vista do mercado internacional, as condiçõ es exigidas pela montadora nã o foram


exageradas. No mundo globalizado, receber os investimentos de uma grande montadora de
automó veis também significa entrar em contato com o grande fluxo do comércio internacional, tã o
concentrado entre os megablocos. Outro aspecto positivo é a utilizaçã o das mais modernas
tecnologias de produçã o e administrativas no lugar escolhido para a nova planta industrial. Isso
sem falar na contrataçã o de mã o de obra local e a geraçã o direta e indireta de impostos a serem
arrecadados. Por tudo isso, enquanto vá rias unidades da montadora foram fechadas até nos
Estados Unidos, vá rios continentes disputaram o privilégio de receber o investimento.

Toda essa disputa pela localizaçã o de uma unidade produtiva, sempre de acordo com as leis de
mercado, deixou a direçã o mundial da montadora em uma situaçã o confortá vel para impor as suas
condiçõ es. A decisã o do local de instalaçã o foi considerada um privilégio a ser disputado por vá rios
países (no caso, o escolhido foi o Brasil), dezenas de governos estaduais e incontá veis
administraçõ es municipais.

Uma das principais condiçõ es para a definiçã o do lugar onde seria feito o investimento foi o
financiamento de 31 milhõ es de reais, concedido pelo estado da Bahia para a montadora de
automó veis. Neste ponto, é importante informar que a corporaçã o beneficiada, além de produzir
automó veis, é também um importante grupo financeiro ao qual, portanto, nã o faltam capitais
pró prios. Na atualidade, nã o apenas essa, mas também vá rias outras grandes montadoras de
automó veis e uma grande parte das empresas transnacionais de vá rios ramos de atividade
possuem os seus pró prios bancos e financiadoras. Em muitos casos, as grandes empresas possuem
açõ es de grupos financeiros ou, ao contrá rio, grupos financeiros detêm grande parte de empresas
de vá rios setores.

Na verdade, outros conglomerados também possuem, no setor financeiro, a sua principal atividade.
Entã o, qual é a necessidade de um grande conglomerado, cujo segmento bancá rio é o de maior
rentabilidade, exigir financiamento pú blico de um estado brasileiro? A necessidade é a de manter a
rentabilidade (ou lucratividade) do conglomerado em níveis má ximos, em face da implacá vel
concorrência internacional.
Michael Nagle/Bloomberg/Getty Images

Na Bolsa de Nova Iorque, nos Estados Unidos, são negociadas açõ es de milhares de empresas, sendo a bolsa de
valores de maior impacto global. Foto de 2016.

Pá gina 240

Aparentemente os conglomerados mundiais têm um comprometimento direto e absoluto com a


satisfaçã o e a realizaçã o material do consumidor, mas isso nã o é verdade. O verdadeiro
comprometimento dos grupos econô micos é com os seus acionistas e o mercado das bolsas de
valores.

As açõ es dos conglomerados mundiais sã o negociadas nas principais bolsas de valores. Por meio de
um eficiente trabalho dos meios de comunicaçã o, sã o mostrados, para a comunidade financeira,
vá rios balanços apresentando aná lises que demonstram a saú de e a robustez das empresas. Os
critérios sã o: rentabilidade da produçã o, rentabilidade do patrimô nio, domínio do mercado,
faturamento bruto, lucro etc. Por meio da divulgaçã o desses balanços, as grandes companhias
ganham ou perdem o seu valor de negociaçã o nas bolsas globais.

Para que os relató rios econô micos dessas grandes corporaçõ es apresentem os melhores
indicadores possíveis, mostrando que os seus acionistas têm em suas mã os o melhor negó cio, todas
as estratégias sã o permitidas, inclusive pedir dinheiro para estados e municípios de países pobres e
endividados.

A “GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA”
No topo do ranking das maiores corporaçõ es globais estã o as empresas ligadas ao setor de
produçã o de petró leo. Na sequência, estã o as montadoras de veículos. Essas empresas sã o
compostas de grupos de acionistas, em uma grande teia global. Esses acionistas, por sua vez, em
muitos casos sã o detentores de açõ es de empresas rivais e possuem cotas de participaçã o em cada
uma delas.

Muitas empresas produtivas possuem um “braço” financeiro, e as organizaçõ es bancá rias possuem
também grande parte das açõ es das empresas produtivas. Isso significa que o setor financeiro
global detém uma grande parcela do controle do setor produtivo.
O controle do setor financeiro é mais impressionante ainda no setor estatal, uma realidade que
podemos constatar no caso dos chamados bancos centrais, que sã o entidades financeiras mantidas
pelos países – portanto de cará ter pú blico –, mas comandadas por dirigentes do setor financeiro. Os
diretores dos bancos centrais decidem a taxa de juros que os governos, as empresas e os tomadores
de empréstimos pagarã o aos bancos.

Assim, um dirigente do capital financeiro decide a taxa de juros oficial de um país, uma questã o que
pode beneficiar – e muito – as organizaçõ es que o originaram. Além de todo esse poder dado pelo
Estado, os diretores dos bancos centrais de todo o mundo e o setor financeiro constantemente
reivindicam a “independência total”. Apesar de serem indicados pelos governos, nã o querem
receber deles qualquer influência ou interferência nas suas decisõ es.

O grande poder dos bancos também está muito bem representado no plano internacional. Foi por
meio deles e de entidades controladas por eles, como o Fundo Monetá rio Internacional (FMI) –, que
o mundo hoje vive em meio a uma abertura total do capital financeiro.

Spencer Platt/Getty Images

Wall Street, em Nova Iorque, pode ser considerada o epicentro econô mico dos Estados Unidos e do mundo. Foto de
2015.

O capital financeiro é o verdadeiro vitorioso da globalizaçã o: quase nã o tem limites de circulaçã o


nem de acumulaçã o, nã o respeita mais fronteiras nem decisõ es dos países. Na verdade, as naçõ es e
as suas economias estã o cada vez mais sujeitas à s decisõ es do capital financeiro e especulativo.

Acompanhe a seguir dois textos que mostram como essa situaçã o pode ser verificada no nosso dia a
dia. Ao abordar o ganho do capital financeiro sem contribuir para a produçã o, Bernardo Kucinski
usa o termo “financeirizaçã o” da sociedade, mostrando a facilidade com que o ganho bancá rio é
aceito por todos, mesmo sem o setor dar nenhuma contribuiçã o produtiva.

Pá gina 241

O texto de Emir Sader também revela uma realidade pouco discutida. O spread bancá rio é a
diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar e a taxa que ele mesmo paga ao captar
dinheiro no Banco Central. Ou seja, o spread é outra margem de lucro, além daquela ditada pela
taxa de juros impostas pelos bancos centrais.

Em ambos os casos citados, trata-se de mecanismos em que o capital financeiro se reproduz sem
gerar produçã o, emprego ou salá rios para a economia.
SAIBA MAIS

Spread ou a farra especulativa

Entre em um banco e deposite 100 reais em uma caderneta de poupança. O funcioná rio lhe dirá
para retornar daqui a um mês, para receber seus polpudos dividendos, algo como R$ 100,60. Em
seguida, ao mesmo funcioná rio, no mesmo balcã o, você pede 100 reais emprestados. Receberá a
resposta de que – além de todos os trâ mites de cadastro, garantia, ficha pregressa etc. –, deverá
pagar, daqui a um mês, algo como 109 reais.

Essa “pequena” diferença – algo como 15 vezes mais – é o que os bancos e os economistas,
ministros, presidentes de bancos centrais, e todos os que funcionam como seus ventríloquos,
chamam de spread. Em inglês, para melhor disfarçar, como convém ao economês. Mas o que é o
spread? Os dicioná rios falam sempre de algo como “extensã o”, “propagaçã o”, “expansã o”, no
má ximo “pasta para passar no pã o”. Nada que possa esclarecer essa estranha má gica de pagar 0,6%
e cobrar 9% ao mês e que faz a felicidade dos bancos e propicia os recordes de lucratividade do
sistema financeiro – batidos novamente esta semana – à custa de quem nã o vive da especulaçã o.

SADER, E. Spread ou a farra especulativa. Consciência, 22 fev. 2004. Disponível em: <www.consciencia.net/2004/
mes/03/sader-spread.html>. Acesso em: 17 mar. 2016.

Sob o domínio dos bancos

Dias atrá s, ao comprar um agasalho perto de casa, surpreendi-me com a revelaçã o de que o banco
ficaria com 5% do pagamento com cartã o. Disse à dona da pequena malharia que, nesse caso,
pagaria com cartã o de débito. Tanto faz, disse ela, se é de crédito ou débito. Os bancos ficam com
5%. Só as grandes empresas ou as cadeias de lojas conseguem negociar um pagamento menor, de
uns 2%.

Fiquei abismado. Entã o os bancos abocanham uma porcentagem de todas as transaçõ es que antes
se faziam com dinheiro e hoje se fazem com o plá stico? Estava aí um dos nexos importantes entre a
revoluçã o da microeletrô nica e a financeirizaçã o da sociedade. Imaginem ficar com 5% de todas as
transaçõ es, ou que sejam 3%, sem fazer nada, sem nenhum risco, sem ter que emprestar dinheiro.
Só porque a transaçã o passa pelos computadores dos bancos.

KUCINSKI, B. Sob o domínio dos bancos. Federaçã o dos Trabalhadores em Empresas de Crédito no Paraná , 16 jul.
2007. Disponível em: <www.fetecpr.org.br/artigo.-sob-o-dominio-dos-bancos>. Acesso em: 17 mar. 2016.

A FINANCEIRIZAÇÃO DA ECONOMIA, A “ECONOMIA DE PAPEL”


O capital financeiro tem amplo domínio e influência nas sociedades de todo o mundo para tomar
decisõ es em nome dos governos.

Assim, ele gera elevadíssimas taxas sobre as transaçõ es comerciais (cartõ es de crédito e débito),
retirando a renda de circulaçã o na sociedade, concentrando-a em poucas mã os e aumentando os
custos da produçã o. Tudo isso sem gerar alarde, sem chamar atençã o, em uma clara demonstraçã o
de poder de fato.

O poder do capital financeiro vai muito além. Como já vimos, o capital que nã o reconhece fronteiras
é o que circula com mais rapidez pelo globo, partindo das conquistas tecnoló gicas e dos recursos
eletrô nicos, fazendo uso desses recursos que, atualmente, segundo Maurice Allais (1911-2010),
Prêmio Nobel de Economia em 1988, o total de dinheiro aplicado no setor especulativo global é 40
vezes maior do que todo o capital gerado na economia produtiva. Nesse caso, é importante frisar
que acú mulo de capital é acompanhado de acú mulo de influência política também.
Pá gina 242

Stacy Walsh Rosenstock/Alamy/Latinstock

O falido banco Lehman Brothers, em Nova Iorque, Estados Unidos. Foto de 2008.

A economia dos Estados Unidos e do mundo foi abalada pela crise financeira global iniciada em
Wall Street no ano de 2008. Vá rias instituiçõ es financeiras, como o banco Lehman Brothers, se
envolveram em diversos tipos de fraudes e processos especulativos arriscados. O governo dos
Estados Unidos foi obrigado a utilizar centenas de bilhõ es de dó lares pú blicos para sanear o
sistema e nenhum dos grandes banqueiros envolvidos no escâ ndalo foi condenado.

A impunidade dos banqueiros de Wall Street, que estã o entre os principais financiadores das
campanhas políticas dos Estados Unidos, é uma demonstraçã o do poder político do sistema
financeiro global.

ATIVIDADE

Globalização financeira e globalização comercial

É correto afirmar que a globalizaçã o do mundo é muito mais financeira do que comercial ou
produtiva? Justifique sua resposta.

A LIBERDADE DOS FLUXOS DO CAPITAL


A liberdade dos fluxos do capital por entre as antigas fronteiras dos Estados nacionais é um dos
maiores problemas do globo. Essa questã o só alcança a dimensã o de tragédia humana que existe na
atualidade por causa de dois fatores: a dominaçã o tecnoló gica e o interesse dos grandes
conglomerados por essa situaçã o, que lhes é totalmente favorá vel. De um modo geral, com
estabilidade ou instabilidade, o capital tende a se direcionar, se reproduzir e se concentrar nã o só
no â mbito dos megablocos, mas principalmente entre as economias dominantes de populaçõ es
brancas, com a exceçã o do Japã o.

O grande capital financeiro, os grandes conglomerados e as economias desenvolvidas nã o sã o os


ú nicos beneficiá rios da total liberdade do mercado de capitais. A rapidez, o anonimato, a eficiência,
a falta de controle e a grande segurança desse mundo financeiro dã o também uma forte proteçã o
para todos os tipos de redes ligadas ao comércio imoral e também ilegal: prostituiçã o, pedofilia,
corrupçã o, lavagem de dinheiro, trá fico de armas, trá fico de entorpecentes, contrabando, má fias,
terrorismo etc.

Lavagem de dinheiro

Legalizaçã o de renda obtida em atividades ilegais por meio de investimentos variados.

Toda a estrutura técnica e administrativa dos bancos internacionais, a passividade dos Estados
mais poderosos do mundo, bem como a estrutura operacional de paraísos fiscais espalhados por
todo o globo, concentrados principalmente na Europa e Américas do Norte e Central, dã o cobertura
para a existência de muitas atividades ilegais.

Paraísos fiscais

Praças financeiras nas quais o sigilo bancá rio é protegido por lei, como Suíça, Seichelles, Ilhas Caimã , entre
outros.

Com o domínio tecnoló gico e político das comunicaçõ es em diversos países, como o Brasil, a
discussã o sobre o controle do fluxo dos capitais praticamente nã o existe. Trata-se de um assunto
marginalizado. Os defensores da liberdade do capital raramente precisam demonstrar a sua opiniã o
a respeito, mas, quando isso acontece, eles alegam que o capital foge dos meios onde existe muito
controle.

Porém, isso nã o é verdade. O país que mais tem recebido investimentos internacionais é a China,
onde existe um Estado que praticamente nã o dá liberdade ao fluxo de capitais. Nem os bancos
internacionais têm autorizaçã o para funcionar lá . Outro país que restringe o movimento do capital
especulativo é a Índia, que tem visto a sua economia crescer com segurança a taxas muito mais altas
do que a média dos países subdesenvolvidos do mundo, inclusive do Brasil.

Pá gina 243

O CAOS GERA A ASPIRAÇÃO POR OUTRO TIPO DE ORDEM MUNDIAL


Muitas vezes, têm-se a sensaçã o de que a ordem que rege o globo é extremamente caó tica. As
relaçõ es internacionais estã o marcadas pela busca incessante e implacá vel de mercados e pela
obtençã o de lucros, mesmo que, para isso, a maior parte da populaçã o mundial viva em á reas
econô mica, tecnoló gica e financeiramente dominadas. Se você levar em conta que toda essa
dominaçã o também influi na liberdade de opiniã o e até na diminuiçã o do campo de açã o do Estado
nos países subdesenvolvidos, poderá deduzir que a liberdade política que existe neles é mais formal
do que verdadeira.
Seth Wenig/AP Photo/Glow Images

Occupy Wall Street, um movimento que defendeu a apuraçã o do escâ ndalo da crise de 2008 e também uma nova
ordem econô mica global mais justa e equilibrada. Foto em Nova Iorque, 2010.

A dominaçã o de todo o resto do planeta, feita a partir dos grandes conglomerados mundiais,
articulada também pelos estados dos países desenvolvidos bem como pelas organizaçõ es por eles
formadas ou diretamente influenciadas, como a ONU, o FMI, o G-7, a Organizaçã o para a Cooperaçã o
e Desenvolvimento Econô mico (OCDE), cria para as relaçõ es internacionais vá rios problemas que
nã o sã o resolvidos com habilidade, mas com geraçã o de mais desarticulaçã o social e ambiental. Veja
exemplos a seguir:

• Muitos países ricos subsidiam as suas produçõ es agrícolas e geram mais miséria nos países
pobres, levando mais pessoas a querer migrar para os países desenvolvidos. Isso faz com que esses
países criem mais barreiras para impedir a entrada de imigrantes.

• Os países desenvolvidos, ao invés de investir mais em novas fontes de energia, preferem que o
mercado resolva esse problema. Na verdade, estã o protegendo os interesses dos grandes grupos da
exploraçã o do petró leo. E, para isso, mantêm o Oriente Médio sob constante intervençã o,
aumentando, assim, o ó dio e o fanatismo religioso, contribuindo também para o fortalecimento de
organizaçõ es terroristas. A “soluçã o”: depois do ataque de 11 de setembro, os Estados Unidos
eliminaram vá rios direitos civis, praticamente se tornando um Estado policial.

• Os países desenvolvidos continuam defendendo um modelo econô mico em que o lucro está acima
de tudo, levando ao comprometimento dos recursos naturais do planeta. A “soluçã o”: eles permitem
que a concorrência pelos recursos naturais (do minério de ferro até a á gua) seja objeto de intensa
disputa feita pelos conglomerados mundiais.

Pá gina 244

• Os Estados Unidos nã o conseguem resolver o problema do aumento do consumo de drogas dentro


do seu pró prio territó rio, o que configura uma questã o social interna. Porém, também nã o faz nada
para controlar os bilhõ es de dó lares transacionados pelos grupos traficantes. A “soluçã o”: a
interferência militar na América do Sul e o uso de agentes químicos nocivos para destruir as
plantaçõ es de coca dos camponeses andinos.
• Os países subdesenvolvidos sã o os mais vulnerá veis à s crises financeiras globais. E quando esses
países ficam à mercê da especulaçã o financeira e suas economias entram em colapso, a crise social
aumenta. A “soluçã o”: o FMI oferece socorro financeiro em troca de políticas recessivas que
normalmente sã o acompanhadas pela exigência da diminuiçã o do papel do Estado.

Sebastien Berda/AFP

A crise iniciada em 2008 deixou muitos desempregados, com reflexo até os dias de hoje, como se vê nessa fila em
agência de emprego do governo em Madri, Espanha, 2013.

Com esses exemplos, fica fá cil demonstrar que a Nova Ordem Mundial nã o compromete somente o
desenvolvimento das populaçõ es do mundo pobre e excluído. O pró prio planeta, entendido como
um sistema, corre sérios riscos em funçã o dos desequilíbrios causados pelo ser humano.

Quadro geral da globalização(2013)


Há uma concentraçã o dos famintos nas regiõ es da Á sia e Pacífico (578 milhõ es de
Fome no
pessoas) e Á frica Subsaariana (239 milhõ es de pessoas), locais onde se localiza o maior
Mundo
percentual de pessoas subnutridas, vivendo em situaçã o de insegurança alimentar.
Apesar da elevaçã o da produçã o de alimentos, o consumo supera tal produçã o em todo
Produção e o mundo e os estoques alimentares realizados em outros momentos estã o diminuindo.
Consumo de Os preços dos alimentos básicos subiram muito na primeira década do século XXI,
Alimentos sendo que nos ú ltimos três anos dessa década os que mais subiram foram dos
alimentos ligados aos biocombustíveis (açú car, ó leos e grã os).
Com a globalizaçã o econô mica, os índices de desemprego aumentaram nos ú ltimos
anos em diversas regiõ es do mundo. Em 2011, as estimativas* de desemprego eram as
seguintes: países desenvolvidos e Uniã o Europeia (7,2%), Europa Central e Oriental
Desemprego
(7,2%), Leste Asiá tico (3,2%), Sudeste Asiá tico e Pacífico (2,7%), Sul da Á sia (2,3%),
Oriente Médio (6,6%), América e Caribe (5,7%), Norte da Á frica (7,0%) e Á frica
Subsaariana (6,5%).

*Para diversos analistas da globalização esses percentuais são subestimados em relação à realidade.

Fonte: Atualidades vestibular: Enem 2012. Sã o Paulo: Abril, 2012.

Pá gina 245

QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (UFMS, 2002) O texto que segue analisa o processo de globalizaçã o, questã o de grande relevâ ncia para a
compreensã o da histó ria política e econô mica do mundo atual.

Hoje, o que é federativo ao nível mundial nã o é uma vontade de liberdade, mas de dominaçã o, nã o é o desejo
de cooperaçã o, mas de competição, tudo isso exigindo um rígido esquema de organizaçã o que atravessa todos
os rincõ es da vida humana. Com tais desígnios, o que globaliza falsifica, corrompe, desequilibra, destró i. A
dimensã o mundial é o mercado. A dimensã o mundial sã o as organizaçõ es ditas mundiais: instituiçõ es
supranacionais, organizaçõ es internacionais, universidades mundiais, igrejas dissolventes, o mundo como
fá brica de engano.

SANTOS, Milton. “A aceleraçã o contemporâ nea: tempo mundo e espaço mundo”. In: SANTOS, Milton et al. (Org.). Fim de
século e globalização. 3. ed. Sã o Paulo, Hucitec/Anpur, 1997. p. 15-22, p. 19.

A partir da leitura e da aná lise do texto apresentado e de seus conhecimentos sobre o assunto, é correto
afirmar que

a) a globalizaçã o busca apenas unificar e fortalecer os mercados de todo o mundo.

b) a vida cotidiana das pessoas permanece inalterada diante do processo de globalizaçã o.

c) a liberdade e a solidariedade sã o pré-requisitos da geopolítica de globalizaçã o dos mercados e dos ideais


neoliberais.

d) ao perceber a dimensã o mundial dos mercados, omite-se a dimensã o individual das pessoas e as diferenças
socioculturais dos povos.

e) línguas, religiõ es, culturas, visõ es de mundo e modos de ver os outros nã o sã o afetados com o processo de
globalizaçã o.

2. (PUC-Minas, 2004) Assinale a correlaçã o incorreta estabelecida entre o processo de globalizaçã o e suas
contradiçõ es.

a) Amplia-se a longevidade da vida humana em funçã o de avanços tecnoló gicos e reduz-se a expectativa de
vida em certas á reas devido ao recrudescimento de velhas doenças.

b) Ampliam-se os contatos comerciais e culturais, restringindo as possibilidades de conflitos entre os povos.

c) Ampliam-se as redes de transporte e a sua eficá cia, possibilitando a disseminaçã o de epidemias globais.

d) Amplia-se o acesso à informaçã o, embora persistam grandes distorçõ es de acessibilidade à educaçã o básica
de amplos setores sociais.

3. (Enem, 2010) Os meios de comunicaçã o funcionam como um elo entre os diferentes segmentos de uma
sociedade. Nas ú ltimas décadas, acompanhamos a inserçã o de um novo meio de comunicaçã o que supera em
muito outros já existentes, visto que pode contribuir para a democratização da vida social e política da
sociedade à medida que possibilita a instituiçã o de mecanismos eletrô nicos para a efetiva participação política
e disseminaçã o de informaçõ es.

Constitui o exemplo mais expressivo desse novo conjunto de redes informacionais a

a) internet.

b) fibra ó tica.

c) TV digital.

d) telefonia mó vel.

e) portabilidade telefô nica.


4. (Uerj, 2005)

Um dos traços marcantes do atual período histó rico é, pois, o papel verdadeiramente despó tico da informaçã o.
Conforme já vimos, as novas condiçõ es técnicas deveriam permitir a ampliaçã o do conhecimento do planeta,
dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia,
nas condiçõ es atuais, as técnicas da informaçã o sã o principalmente utilizadas por um punhado de atores em
função de seus objetivos particulares [...] aprofundando assim os processos de criaçã o de desigualdades.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000.

As redes informacionais criadas pela globalizaçã o sã o criticadas pelo autor por elas agirem no sentido de

a) reforçar interesses políticos, contrapondo objetivos econô micos.

b) ampliar a acumulaçã o capitalista, difundindo a ideologia dominante.

c) romper com a barreira espaço-tempo, desarticulando a estrutura de governo.

d) favorecer os interesses da grande mídia, criando contradiçõ es entre as elites econô micas.

245

Pá gina 246

5. (Enem, 2011)

A introdução de novas tecnologias desencadeou uma série de efeitos sociais que afetaram os trabalhadores e
sua organizaçã o. O uso de novas tecnologias trouxe a diminuiçã o do trabalho necessá rio, que se traduz na
economia líquida do tempo de trabalho, uma vez que, com a presença da automaçã o microeletrô nica, começou
a ocorrer a diminuiçã o dos coletivos operá rios e uma mudança na organizaçã o dos processos de trabalho.

Revista Eletrônica de Geografia y Ciências Sociales. Universidad de Barcelona, n. 170 (9), 1 ago. 2004.

A utilização de novas tecnologias tem causado inú meras alteraçõ es no mundo do trabalho. Essas mudanças são
observadas em um modelo de produção caracterizado

a) pelo uso intensivo do trabalho manual para desenvolver produtos autênticos e personalizados.

b) pelo ingresso tardio das mulheres no mercado de trabalho no setor industrial.

c) pela participação ativa das empresas e dos pró prios trabalhadores no processo de qualificação laboral.

d) pelo aumento na oferta de vagas para trabalhadores especializados em funçõ es repetitivas.

e) pela manutençã o de estoques de larga escala em função da alta produtividade.

6. (UFRJ, 2004) Observe o grá fico a seguir.


UFRJ/Divulgaçã o

ECONOMIA PRODUTIVA E ECONOMIA FINANCEIRA, 2001

Em milhõ es de doláres/dia

Transaçõ es financeiras

Produto interno Bruto mundial

Faturamento das 100 maiores empresas multinacionais

Transaçõ es Comerciais

Explique a grande diferença entre o valor das transaçõ es financeiras e o da circulaçã o de mercadorias na
economia mundial contemporâ nea.

7. (UFF-RJ 2004)

Texto I

O mundo tem dez anos

Ele nasceu quando o Muro caiu, em 1989. Nã o admira que a economia mais jovem do mundo – a economia
global – ainda esteja em busca de si mesma. Apenas recentemente ocorreu a liberalizaçã o de muitos mercados
mundiais, governados pela primeira vez pelas emoçõ es das pessoas e nã o pelo pulso do Estado. A
disseminação do livre mercado e da democracia em todo o mundo está permitindo que cada vez mais pessoas,
em todos os lugares, convertam as suas aspiraçõ es em realizaçõ es. E a tecnologia, explorada de forma
adequada e distribuída com liberalidade, tem o poder de eliminar nã o apenas as fronteiras geográ ficas, mas
também as humanas. Parece- -nos que, com apenas dez anos, o mundo continua a acenar com grandes
promessas. Até entã o, nunca ninguém afirmou que o crescimento era fácil.

FRIEDMAN, T. O lexus e a oliveira, 1999.

Texto II

Este mundo globalizado, visto como fábula, erige como verdade um certo nú mero de fantasias, cuja repetiçã o,
entretanto, acaba por se tornar uma base aparentemente sólida de sua interpretaçã o.

TAVARES, Maria da Conceiçã o. Destruição não criadora, 1999.

Faça uma aná lise crítica das frases do Texto I a seguir, tendo em vista o argumento do Texto II, com ênfase
especial para os termos “fábula”, “fantasias” e “base aparentemente sólida”.

a) “Apenas recentemente ocorreu a libertaçã o de muitos mercados mundiais, governados pela primeira vez
pelas emoçõ es das pessoas e nã o pelo pulso do Estado”.
Pá gina 247

b) “E a tecnologia, explorada de forma adequada e distribuída com liberalidade, tem o poder de eliminar nã o
apenas as fronteiras geográ ficas, mas também as humanas”.

8. (Enem, 2012)

Uma mesma empresa pode ter sua sede administrativa onde os impostos sã o menores, as unidades de
produçã o onde os salá rios são os mais baixos, os capitais onde os juros sã o os mais altos e seus executivos
vivendo onde a qualidade de vida é mais elevada.

SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha russa.

No texto estã o apresentadas estratégias empresariais no contexto da globalizaçã o. Uma consequência social
derivada dessas estratégias tem sido

a) o crescimento da carga tributá ria.

b) o aumento da mobilidade ocupacional.

c) a redução da competitividade entre as empresas.

d) o direcionamento das vendas para os mercados regionais.

e) a ampliaçã o do poder de planejamento dos Estados nacionais.

9. (Enem, 2012)

Texto I

Ao se emanciparem da tutela senhorial, muitos camponeses foram desligados legalmente da antiga terra.
Deveriam pagar, para adquirir propriedade ou arrendamento. Por nã o possuírem recursos, engrossaram a
camada cada vez maior de jornaleiros e trabalhadores volantes, outros, mesmo tendo propriedade sobre um
pequeno lote, suplementavam sua existência com o assalariamento esporá dico.

MACHADO, P. P. Política e colonização no Império. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1999 (adaptado).

Texto II

Com a globalizaçã o da economia ampliou-se a hegemonia do modelo de desenvolvimento agropecuá rio, com
seus padrõ es tecnoló gicos, caracterizando o agronegó cio. Essa nova face da agricultura capitalista também
mudou a forma de controle e exploraçã o da terra. Ampliou-se, assim, a ocupaçã o de á reas agricultá veis e as
fronteiras agrícolas se estenderam.

SADER, E.; JINKINGS, I. Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe. Sã o Paulo: Boitempo, 2006 (adaptado)

Os textos demonstram que, tanto na Europa do século XIX quanto no contexto latino-americano do século XXI,
as alteraçõ es tecnoló gicas vivenciadas no campo interferem na vida das populaçõ es locais, pois

a) induzem os jovens ao estudo nas grandes cidades, causando o êxodo rural, uma vez que formados, nã o
retornam à sua regiã o de origem.

b) impulsionam as populaçõ es locais a buscar linhas de financiamento estatal com o objetivo de ampliar a
agricultura familiar, garantindo sua fixação no campo.

c) ampliam o protagonismo do Estado, possibilitando a grupos econô micos ruralistas produzir e impor
políticas agrícolas, ampliando o controle que tinham dos mercados.
d) aumentam a produção e a produtividade de determinadas culturas em funçã o da intensificaçã o da
mecanizaçã o, do uso de agrotó xicos e cultivo de plantas transgênicas.

e) desorganizam o modo tradicional de vida impelindo-as à busca por melhores condiçõ es no espaço urbano
ou em outros países em situaçõ es muitas vezes precá rias.

10. (Enem-PPL, 2015)

Nã o acho que seja possível identificar apenas com a criaçã o de uma economia global, embora este seja seu
ponto focal e sua característica mais ó bvia. Precisamos olhar além da economia. Antes de tudo, a globalizaçã o
depende da eliminaçã o de obstá culos técnicos, nã o de obstá culos econô micos. Isso tornou possível organizar a
produçã o, e nã o apenas o comércio, em escala internacional.

HOBSBAWM, E. O novo século: entrevista a Antonio Polito. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2000 (adaptado).

Um fator essencial para a organizaçã o da produçã o, na conjuntura destacada no texto, é a

Pá gina 248

a) criaçã o de uniõ es aduaneiras.

b) difusão de padrõ es culturais.

c) melhoria na infraestrutura de transportes.

d) supressão das barreiras para comercializaçã o.

e) organizaçã o de regras nas relaçõ es internacionais.

11. (Enem, 2015)

No final do século XX e em razã o dos avanços da ciência, produziu-se um sistema presidido pelas técnicas da
informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo
sistema uma presença planetá ria. Um mercado que utiliza esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa
globalizaçã o perversa.

SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2008 (adaptado).

Uma consequência para o setor produtivo e outra para o mundo do trabalho advindas das transformaçõ es
citadas no texto estã o presentes, respectivamente, em:

a) Eliminação das vantagens locacionais e ampliaçã o da legislaçã o laboral.

b) Limitaçã o dos fluxos logísticos e fortalecimento de associaçõ es sindicais.

c) Diminuição dos investimentos industriais e desvalorização dos postos qualificados.

d) Concentraçã o das á reas manufatureiras e reduçã o da jornada semanal.

e) Automatizaçã o dos processos fabris e aumento dos níveis de desemprego.

12. (Enem, 2015)

Um carro esportivo é financiado pelo Japão, projetado na Itá lia e montado em Indiana, México e França, usando
os mais avançados componentes eletrô nicos, que foram inventados em Nova Jérsei e fabricados na Coreia. A
campanha publicitá ria é desenvolvida na Inglaterra, filmada no Canadá , a edição e as có pias, feitas em Nova
Iorque para serem veiculadas no mundo todo. Teias globais disfarçam-se com o uniforme nacional que lhes for
mais conveniente.

REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo no sé culo XXI. Sã o Paulo: Educador, 1994 (adaptado).

A viabilidade do processo de produçã o ilustrado pelo texto pressupõ e o uso de

a) linhas de montagem e formaçã o de estoques.

b) empresas burocrá ticas e mã o de obra barata.

c) controle estatal e infraestrutura consolidada.

d) organizaçã o em rede e tecnologia da informaçã o.

e) gestã o centralizada e protecionismo econô mico.

13. (Enem, 2015)

Atualmente, as represá lias econô micas contra as empresas de informá tica norte-americanas continuam. A
Alemanha proibiu um aplicativo dos Estados Unidos de compartilhamento de carros; na China, o governo
explicou que os equipamentos e serviços de informá tica norte-americanos representam uma ameaça, pedindo
que as empresas estatais nã o recorram a eles.

SCHILLER, D. Disponível em: www.diplomatique.org.br. Acesso em: 11 nov. 2014 (adaptado).

As açõ es tomadas pelos países contra a espionagem revelam preocupaçã o com o(a)

a) subsídio industrial.

b) hegemonia cultural.

c) protecionismo dos mercados.

d) desemprego tecnoló gico.

e) segurança dos dados.

Pá gina 249

A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade*
Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e anseios da
humanidade.

A fábula: o avanço das comunicações e o mundo como uma aldeia global

É inegá vel que nos ú ltimos séculos e décadas ocorreu um formidá vel avanço no sistema de
comunicaçõ es e de telecomunicaçõ es. Diversas invençõ es, como as mostradas a seguir, permitiram
a difusã o cada vez mais eficiente de sons, palavras, ideias e imagens por todos os quadrantes do
planeta.

Inovações históricas
Invenções Ano
Imprensa 1440
Má quina de escrever 1714
Telégrafo 1809
Implantaçã o do primeiro cabo submarino
1874
entre Europa e Brasil
Telefone 1875
Rá dio 1895
Televisã o 1927
Computador eletrô nico 1946
Satélite espacial 1957
Desenvolvimento da internet 1969
Telefone celular digital 1973
Fibra ó tica 1977
Surgimento da internet como rede mundial
1990
(world wide web):

Fonte: Elaborado pelos autores.

* SANTOS, M., 2000.

Pá gina 250

Para se ter uma ideia, em 1989 haviam mais de 4 milhõ es de assinantes de telefonia mó vel em todo
o mundo, nú mero que hoje passa de 5 bilhõ es. A rede mundial da internet provocou uma
transformaçã o tã o grande a ponto de estar colocando em xeque o mercado de jornais e revistas
impressos, inclusive no Brasil.

Todos esses dados inspiraram o filó sofo canadense Marshall McLuhan a propor, ainda em 1962, a
famosa expressã o “aldeia global”. Na visã o de McLuhan, em breve toda a humanidade estaria
interligada pelos meios de comunicaçã o, dando a todos os bilhõ es de habitantes do mundo a
proximidade da convivência de uma aldeia.

De fato, nunca em nenhum período histó rico as populaçõ es humanas tiveram à sua disposiçã o
meios de comunicaçã o tã o eficientes, que permitem nã o apenas a leitura e absorçã o passiva, mas
também a difusã o da expressã o pessoal pelas redes sociais.

Aparentemente essa foi uma realizaçã o da profecia do artista plá stico Andy Warhol, que ainda na
década de 1960, propô s que no futuro “um dia, todos terã o direito a 15 minutos de fama”.

A perversidade: a mídia e o controle da informação

Vá rios analistas dos sistemas de comunicaçã o e de mídia propõ em que a humanidade está
submetida a um verdadeiro “bombardeio de informaçõ es”, uma situaçã o em que a origem, o
propó sito e a confiabilidade das mensagens veiculadas é difícil de se estabelecer. Indo além, o
linguista Noam Chomsky definiu como o propó sito dos sistemas de comunicaçã o “formatar a
opiniã o pú blica de acordo com as agendas do poder corporativo dominante”.

Ainda, segundo o geó grafo Milton Santos “na realidade, as relaçõ es chamadas globais sã o
reservadas a um pequeno nú mero de agentes, os grandes bancos e empresas transnacionais, alguns
Estados, as grandes organizaçõ es internacionais. Infelizmente, o está gio atual da globalizaçã o está
produzindo ainda mais desigualdades”.
Essas opiniõ es convergem com a de vá rios jornalistas, que propõ em, cada vez mais, a
preponderâ ncia do entretenimento no lugar da informaçã o, dificultando ao cidadã o comum a
estruturaçã o de um ponto de vista objetivo da realidade a partir da leitura dos meios de
comunicaçã o de massa.

A possibilidade

Redija um texto, com aproximadamente 25 linhas, que aborde a temá tica da democratizaçã o da
mídia na rede mundial.

Em seu texto, responda à pergunta: O que fazer para que as comunicaçõ es possam representar a
visã o e os anseios da sociedade e nã o de determinados grupos econô micos?

Pá gina 251

10
globais
Parcerias políticas e econômicas

Conexão de conhecimentos
BRICS

Alexander Zemlianichenko/AP Photo/Glow Images

A presidente Dilma Rousseff, o primeiro-ministro da Índia Narendra Modi, os presidentes Vladimir Putin (Rú ssia), Xi
Jinping (China) e Jacob Zuma (Á frica do Sul), em encontro do BRICS na Turquia, 2015.

Formado por Brasil, Rú ssia, Índia, China e Á frica do Sul, o BRICS nã o é um bloco econô mico, mas
sim um grupo de cooperaçã o entre países emergentes. Você já ouviu falar desse grupo e de sua
influência no mundo? Analise alguns títulos de matérias jornalísticas a seguir e tire as suas
conclusõ es a respeito da importâ ncia e ineditismo dessa iniciativa política iniciada em 2009.

Dilma diz que líderes do Brics querem reforma no Conselho de Segurança da ONU

Agência Brasil. 15 jul. 2014.

Líderes do Brics cobram urgência na reforma do FMI

Agência Brasil. 15 nov. 2014.

Brics vai investir em inovação tecnológica

Agência Brasil. 15 jul. 2014.

Tomando por base os textos, discuta a respeito da importâ ncia, do ineditismo e das açõ es do BRICS
e troque suas conclusõ es com seus colegas de classe.

Pá gina 252

PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS MUNDIAIS


Você já ouviu dizer que “a uniã o faz a força”? Esse ditado tem muito a ver com os blocos
econô micos. Podemos detectar o surgimento dessas organizaçõ es internacionais no contexto
europeu pó s-Segunda Guerra Mundial. Vá rios países da Europa Ocidental vivenciavam um colapso
econô mico, devido à destruiçã o de sua infraestrutura econô mica (portos, aeroportos, rodovias,
ferrovias, telecomunicaçõ es, indú strias), simplesmente arruinada. Nesse contexto caó tico, os seus
líderes constataram que estavam em meio a um mundo em transformaçã o, pois perdiam o controle
de seus mercados e colô nias, tinham a produçã o totalmente desarticulada e nã o teriam qualquer
sucesso se encarassem a concorrência dos Estados Unidos sem uma mobilizaçã o conjunta.

Esse foi o contexto do surgimento da Comunidade Europeia do Carvã o e do Aço (Ceca), no ano de
1951, formada por Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Holanda, Itá lia e Luxemburgo. Com a
articulaçã o dos mercados de carvã o e aço, a economia industrial dessas naçõ es ganhou cada vez
mais força e, assim, pô de conquistar um nível de vida melhor para a populaçã o.

Em todo o globo, observamos a constataçã o, por parte dos Estados, de que, embora a economia nã o
tenha se globalizado totalmente, ao menos os mercados nacionais ficaram muito mais expostos à
concorrência internacional. Desse modo, pressionados pelos interesses de Estado ou pelos
interesses das grandes corporaçõ es econô micas, os países de todas as regiõ es do mundo sentiram
necessidade de organizar parcerias para fazer frente ao aumento da competiçã o global. A Nova
Ordem Mundial deixaria claro que “a uniã o faz a força”.

Essas parcerias assumiram diversos graus de integraçã o, de acordo com a ambiçã o de cada um
desses projetos. Veja a seguir os tipos de blocos econô micos, mostrados a partir da menor até a
maior integraçã o:

I. Área de livre comércio: tem como objetivo somente a isençã o das tarifas de importaçã o de
produtos, facilitando sua comercializaçã o sem taxas ou impedimentos entre os países-membros.

II. União aduaneira: além do livre comércio entre os países-membros há também uma tarifa
externa comum (TEC) para produtos de países que nã o fazem parte do bloco.
III. Mercado comum: uma integraçã o econô mica mais profunda, com a adoçã o das mesmas
normas de comércio interno e externo, permitindo também a adoçã o de normas trabalhistas iguais
e o livre trâ nsito de trabalhadores.

IV. União econômica e monetária: compreende as premissas do mercado comum, mas inclui
também a adoçã o de uma mesma moeda e de um mesmo Banco Central.

UNIÃO EUROPEIA
As origens da Uniã o Europeia estã o na Ceca. Apó s constatarem o sucesso de sua integraçã o, os
países do grupo resolveram aprofundá -la assinando outros tratados, como os que criaram a
Comunidade Europeia de Energia Atô mica (Euratom) e a Comunidade Econô mica Europeia (CEE),
em 1957.

Aos países que inicialmente integravam a CEE, Alemanha Ocidental, Itá lia, França, Bélgica, Holanda
e Luxemburgo, posteriormente se associaram outros:

• 1972: Reino Unido, Irlanda e Dinamarca.

• 1981: Grécia.

• 1985: Portugal e Espanha.

A Uniã o Europeia propriamente dita surgiu em 1992, quando os participantes da CEE assinaram o
Tratado de Maastricht, na Holanda, com vistas a uma integraçã o mais ampla.

Em 1998, foi instituído o Banco Central Europeu e, em 1999, foi estabelecida a adoçã o de uma
moeda ú nica para o bloco, inicialmente de forma nã o material (cheques e outras transaçõ es
bancá rias) e posteriormente na forma de dinheiro em espécie (cédulas e moedas de circulaçã o).

A instituição do euro e a União Europeia atual


A partir de 1º de janeiro de 2002, um grupo de países da Uniã o Europeia substituiu as moedas
nacionais por uma moeda comum, o euro. Reino Unido, Suécia e Dinamarca negaram-se a substituir
as suas moedas nacionais, portanto ficaram fora da chamada zona do euro.

Pá gina 253

Vejamos a seguir os 28 países que fazem parte da Uniã o Europeia.


Mundimagem

Fonte: Uniã o Europeia. Disponível em: <http://europa.eu/about-eu/countries/index_pt.htm>. Acesso em: 15 abr. 2016.

Problemas da União Europeia


Apesar do sucesso na formaçã o de um dos maiores blocos econô micos de todo o mundo, a Uniã o
Europeia amargou também alguns fracassos no seu projeto de total integraçã o continental:

• Reino Unido, Suécia e Dinamarca nã o aderiram ao euro. Esses países insistem em manter um
Banco Central e moeda pró prios, assim como a conduçã o independente de suas economias.

• Contradiçõ es trabalhistas: diferenças nos níveis de seguridade social, salá rios e desigualdades
econô micas entre os países-membros. Atualmente, os trabalhadores poloneses, por exemplo, têm
um quarto do poder aquisitivo dos trabalhadores da Alemanha, mas convivem com um custo de
vida equivalente ao país mais desenvolvido do continente europeu.

• Embora os europeus tenham vislumbrado a formaçã o de uma força conjunta de defesa pró pria,
até o momento nã o obtiveram sucesso nesse sentido. No â mbito militar, a Europa Ocidental
continua contemplada pela Organizaçã o do Tratado do Atlâ ntico Norte (Otan), capitaneada pelos
Estados Unidos.

• A integraçã o continental também vislumbra a aceitaçã o de uma Constituiçã o Europeia. Contudo,


dois países – França e Holanda – nã o aprovaram em referendo popular a chamada Carta Europeia.
Na verdade, os europeus temem que uma constituiçã o continental tire antigos direitos trabalhistas
e beneficiem os interesses das corporaçõ es globais.

• Derrota do Tratado de Lisboa, que, ratificado em 2007, estabeleceria a Uniã o Europeia como uma
“pessoa jurídica” com autoridade para representar os Estados-membros no plano internacional. Em
vá rios países europeus, o tratado foi aprovado em parlamento. Contudo, um referendo popular na
Irlanda negou a proposta, gerando uma crise no bloco.
• Aumento da imigraçã o, sobretudo ilegal, crescimento da xenofobia entre os cidadã os europeus,
problemas políticos e culturais com as minorias étnicas, que resultaram, em 2008, na aprovaçã o de
uma dura lei tornando crime a imigraçã o ilegal.

Pá gina 254

Essa lei causou repercussõ es fortes em todo o mundo por caracterizar os imigrantes ilegais como
criminosos comuns, sujeitos a prisã o por longos períodos.

• No decorrer das ú ltimas décadas, as economias mais fortes e industrializadas do bloco, com amplo
destaque para a Alemanha, acumularam elevados saldos comerciais. Por outro lado, as economias
menos industrializadas, entre elas Portugal, Espanha e Grécia, ficaram altamente endividadas e
entraram em profunda crise.

• Como os países menos industrializados estã o atrelados à moeda da Uniã o Europeia e nã o têm um
Banco Central pró prio, nã o contam com um mecanismo bá sico adotado por países que precisam
aumentar as exportaçõ es: a desvalorizaçã o cambial.

• Com o acú mulo de déficits comerciais consecutivos e elevado endividamento internacional, os


países menos industrializados do sul do bloco passaram por fortíssimas crises a partir de 2009,
atingindo elevadas taxas de desemprego.

• Além de Espanha e Portugal, o pior caso de crise da Uniã o Europeia foi o da Grécia, que foi
obrigada a cortar custeios sociais (pensõ es, aposentadorias, investimentos em saú de e educaçã o)
para tentar equacionar os seus débitos com os bancos europeus. Em 2015, lideranças do país
cogitaram abandonar a Uniã o Europeia. O país continua participando do bloco, mas com uma
economia em desequilíbrio e um forte aumento do desemprego e da pobreza.

ATIVIDADE

Condições exigidas da Grécia são revoltantes, diz Nobel de Economia

As naçõ es europeias credoras sã o as “culpadas” pela situaçã o da Grécia desde que o país foi
obrigado a pedir volumosos empréstimos para cobrir suas dívidas, e as condiçõ es impostas ao
governo de Atenas sã o “revoltantes”.

Esse é o resumo da crise na Grécia feito pelo prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz, durante
uma entrevista exclusiva à BBC Mundo.

Stiglitz tem sido uma das vozes mais críticas da ortodoxia de grandes economias e de ó rgã os
financeiros internacionais.

O poder executivo grego já afirmou que rejeita as condiçõ es impostas para que o país siga
recebendo ajuda financeira e que fará um referendo em 5 de julho sobre a aceitaçã o ou nã o das
demandas europeias.

Dirigentes da Uniã o Europeia garantem que foram feitos enormes esforços para se chegar a um
acordo com a Grécia, para que fosse possível ampliar a ajuda financeira a Atenas e evitar o colapso
de seu sistema econô mico.

[…]
Ainda que a Grécia tenha sua parcela de culpa na situaçã o (que levou aos problemas fiscais
descobertos em 2010), a desastrosa situaçã o em que o país se encontra desde entã o é de
responsabilidade da Troika (formada pelo FMI, a Comissã o Europeia e o Banco Central Europeu).

Pense no que poderia ter acontecido se em 2010 a Grécia e os países europeus tivessem tentado
fechar um plano para a dívida que permitisse que Atenas retomasse seu crescimento.

Espero que essa crise ajude a mudar a maneira pela qual o mundo enfrenta as crises das dívidas
soberanas dos países.

BBC Mundo. Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/ noticias/2015/06/150629_grega_nobel_mdb>. Acesso em:


10 maio 2016.

1. Para que servem os novos empréstimos concedidos pela Troika à Grécia?

2. Segundo o autor, qual atitude deveria ter sido tomada em 2010 para evitar o colapso de 2015?

Perspectivas de ampliação da União Europeia


No passado, a adesã o à Uniã o Europeia beneficiou os países recém-integrados ao bloco com uma
forte valorizaçã o da sua economia, graças ao funcionamento do Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional (Feder).

Pá gina 255

O fundo visa atenuar o desequilíbrio das economias mais debilitadas que se candidatam à entrada
no bloco. Bilhõ es de euros já foram investidos para a recuperaçã o da infraestrutura econô mica de
países como Portugal, Espanha, Grécia e a Itá lia. Atualmente, vá rios países que pertenceram ao
bloco socialista e que agora fazem parte da Uniã o Europeia estã o recebendo investimentos por
intermédio do Feder: Repú blica Tcheca, Eslová quia, Eslovênia, Estô nia, Letô nia, Lituâ nia, Polô nia e
Romênia.

Albâ nia, Repú blica da Macedô nia, Montenegro e Sérvia se candidatam à entrada no bloco. A
Turquia, com a maior parte de seu territó rio localizada na Á sia, também tem planos de ingresso no
grupo. Os países precisam cumprir alguns critérios para ingressar na comunidade. Sã o os Critérios
de Copenhague, estabelecidos em 1993, que exigem:

• Instituiçõ es democrá ticas e Estado de direito, garantia aos direitos humanos e respeito à s
minorias.

• Economia de mercado funcional e favorá vel ao bloco.

• Administraçã o pú blica capaz de aplicar e administrar a prá tica da legislaçã o comunitá ria.

NAFTA
Assinado em 1994 por Canadá , Estados Unidos e México, o Nafta (Tratado Norte-Americano de
Livre Comércio) é uma á rea de livre comércio. Ela objetiva basicamente facilitar as trocas
comerciais entre os parceiros, tendo, portanto, objetivos bem menos abrangentes do que um
mercado comum, como é o caso da Uniã o Europeia.

Os principais objetivos gerais que orientam as açõ es do Nafta sã o:


• Facilitar a livre circulaçã o de bens e serviços entre os países-membros.

• Promover a concorrência comercial.

• Aumentar os investimentos.

• Prover uma estrutura jurídica para a soluçã o das questõ es ligadas ao comércio.

Principais acordos definidos no âmbito do Nafta


• Eliminaçã o das tarifas dos produtos agrícolas.

• Eliminaçã o de tarifas alfandegá rias de quase 10 mil produtos industrializados.

• Permissã o temporá ria de trabalho limitada a executivos e funcioná rios dos países.

• Proteçã o e garantia dos direitos de propriedade intelectual no territó rio de cada um dos
membros.

• Erradicaçã o da imigraçã o clandestina partindo do México para os Estados Unidos.

ATIVIDADE

Assimetrias no Nafta

Pesquise sobre a crise do milho no México e relacione-a com o modelo de integraçã o do Nafta.
Compare também esse bloco econô mico com o modelo de mercado comum vigente na Europa. Em
seguida, responda: Ao pretender erradicar a imigraçã o ilegal de mexicanos para os Estados Unidos,
o modelo do Nafta prevê alguma medida para eliminar as estruturas socioeconô micas que sã o as
causas desse fenô meno?

Os países que compõ em esse bloco econô mico apresentam grandes diferenças em relaçã o à s
proporçõ es de mercado e do nível de desenvolvimento.

Os Estados Unidos têm uma funçã o central nessa organizaçã o, tanto no seu papel como articulador
do bloco, como pelo seu papel preponderante de maior economia global, sede de inú meras
corporaçõ es econô micas. O Canadá é um dos países mais desenvolvidos do globo, mas tem uma
populaçã o muito menor do que os Estados Unidos, apesar de apresentar uma forte dinamicidade
econô mica.

O México é a grande naçã o latino-americana do contexto do Nafta. Apesar da dimensã o de seu


mercado, é a economia mais vulnerá vel do bloco. É um país subdesenvolvido, que conta com poder
limitado no campo financeiro e tecnoló gico. É também um país de baixo desenvolvimento
socioeconô mico com evidentes problemas sociais, como é o caso da forte imigraçã o ilegal de
trabalhadores para os Estados Unidos.

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ALADI
Criada em 1980, a Aladi (Associaçã o Latino-americana de Integraçã o), constituída por Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colô mbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, é um
organismo intergovernamental que visa promover a integraçã o da regiã o latino-americana por
meio das seguintes diretrizes:

• Eliminaçã o gradativa dos obstá culos ao comércio recíproco dos países-membros.

• Impulsã o de vínculos de solidariedade e cooperaçã o entre os povos latino-americanos.

• Promoçã o do desenvolvimento econô mico e social da regiã o de forma harmô nica e equilibrada, a
fim de assegurar um melhor nível de vida para seus povos.

• Renovaçã o do processo de integraçã o latino-americano e estabelecimento de mecanismos


aplicá veis à realidade regional. Em termos prá ticos, essa organizaçã o com sede em Montevidéu, no
Uruguai, promove inú meros acordos que envolvem os países da regiã o, inclusive de entidades como
o Mercosul e a Comunidade Andina.

COMUNIDADE ANDINA
Oficialmente chamada de Comunidade Andina de Naçõ es (CAN), o bloco inclui quatro países:
Bolívia, Colô mbia, Equador e Peru. A Venezuela fazia parte do bloco, mas se retirou do grupo em
2006. A sede dessa organizaçã o é a cidade de Lima, capital do Peru.

Em 8 de dezembro de 2004, os países-membros da Comunidade Andina assinaram a Declaraçã o de


Cusco, que lançou as bases da Uniã o de Naçõ es Sul-Americanas (Unasul), entidade que unirá a
Comunidade Andina ao Mercosul, constituindo uma zona de livre comércio continental.

MERCOSUL
O Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul) é o bloco econô mico mais importante da América
Latina, integrando a economia de Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela.

A origem dessa cooperaçã o foi o Tratado de Integraçã o, Cooperaçã o e Desenvolvimento, assinado


entre Brasil e Argentina em 1988, que fixou como meta o estabelecimento de um acordo de livre
comércio ratificado no Tratado de Assunçã o de 1991 com a presença também do Paraguai e do
Uruguai.

O atual está gio do Mercosul é o de uniã o aduaneira, ou seja, os participantes negociam uma
integraçã o comercial mais elevada e mantêm uma tarifa ú nica de cobranças alfandegá rias para os
países de fora do bloco.

Em 2007, a Venezuela foi admitida como país-membro. O Mercosul possui também cinco membros
associados: Bolívia, Colô mbia, Peru, Equador e Chile.

Mercosul (2015)
PIB em trilhões de dólares PPC PIB per capita
País-membro População
(Paridade de Poder de Compra) (em dólares)
Brasil 3,166 15 800 204 259 812
Argentina 0,964 22 400 43 431 886
Venezuela 0,492 16 100 29 275 460
Uruguai 0,072 21 800 3 341 893
Paraguai 0,060 8 800 6 783 272

Fonte: CIA World Factbook. Disponível em: <www.cia.gov/library/publications/resources/the-world-


factbook/rankorder/2001rank.html>. Acesso em: 27 abr. 2016.
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ALBA
A Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) foi criada em 2004 a partir de um intercâ mbio entre
Cuba e Venezuela. Por esse acordo, o entã o dirigente cubano Fidel Castro enviou médicos para
atender a populaçã o carente venezuelana em troca de petró leo subsidiado e vendido pela
Venezuela, durante o governo de Hugo Chá vez.

Os países que fazem parte desse bloco sã o: Venezuela, Cuba, Antígua e Barbuda, Bolívia, Dominica,
Equador, Nicará gua, Sã o Vicente e Granadinas, totalizando uma populaçã o superior a 70 milhõ es de
habitantes.

O contexto da criaçã o dessa aliança entre países latino-americanos deixa claro que a Alba, além de
ser uma iniciativa para integraçã o econô mica, tem um forte componente de integraçã o política e
cultural. O nome da organizaçã o é uma referência ao heró i Simon Bolívar, um importante líder
venezuelano nas lutas contra a dominaçã o ibérica no século XIX.

Frequentemente, Hugo Chá vez, considerado anti-imperialista por uns e populista por outros, fez
paralelos entre o seu governo e a figura histó rica de Bolívar, propondo uma integraçã o latino-
americana como soluçã o para se opor à hegemonia dos Estados Unidos na regiã o.

A criaçã o da Alba também pode ser compreendida como uma resposta à tentativa fracassada dos
Estados Unidos em estabelecer a Á rea de Livre Comércio das Américas (Alca), durante a
administraçã o de George W. Bush (2001-2009).

A Alba nã o promove acordos de livre comércio entre seus participantes. Os acordos mantidos sã o
considerados “complementares” em termos de necessidades econô micas dos seus membros.
Podemos considerar que, nesse caso, o aspecto econô mico é apenas usado como suporte para a
integraçã o política.

UNASUL
Em contraponto à Alba, protagonizada por Cuba e pela Venezuela, a Uniã o de Naçõ es Sul-
Americanas (Unasul) teve a sua criaçã o incentivada pelo Brasil, uma liderança regional vista como
moderada no contexto latino-americano.

A Unasul é constituída por 12 países da América do Sul. Além do Mercosul, o bloco político conta
com a participaçã o da Comunidade Andina de Naçõ es. Chile, Guiana e Suriname também fazem
parte do bloco. No nosso continente, a ú nica unidade política que nã o faz parte da organizaçã o é a
Guiana Francesa, ainda hoje um territó rio ultramarino da França.

A liderança do Brasil na formaçã o desse bloco foi muito mais fruto de questõ es econô micas do que
de uma decisã o política. A partir da década de 1960, grandes empresas brasileiras começaram a
participar de projetos de infraestrutura em países vizinhos. Foram inú meros os projetos vencidos
pelas construtoras brasileiras, de usinas hidrelétricas a linhas de transmissã o de energia, passando
pela construçã o de rodovias e ferrovias, sistemas de abastecimento de á gua, portos e aeroportos e
até mesmo a construçã o recente da linha de metrô de Caracas, na Venezuela. Além das obras de
construçã o civil, essas empresas também se destacaram pela exportaçã o de produtos
industrializados no continente.

Essa liderança econô mica incentivou nosso país a organizar a I Cú pula de Presidentes Sul-
Americanos, realizada em Brasília, em 2000, sob patrocínio do governo Fernando Henrique
Cardoso. O evento marcou o Brasil como protagonista político regional e possibilitou a realizaçã o
de outras cú pulas: no Equador (2002) e no Peru (2004). De fato, foi na III Cú pula que o Brasil, sob a
liderança de Luís Iná cio Lula da Silva, finalmente teve sucesso em compor com os países parceiros a
organizaçã o regional que resultou na atual Unasul.

Apesar de todos os aspectos ligados à economia, a Unasul nã o tem planos imediatos para a
formaçã o de um bloco econô mico nos moldes do Mercosul, mas inclui essa possibilidade. Desse
modo, o foco da instituiçã o é a integraçã o sul-americana no aspecto político.

Em termos de estratégia política, outro êxito alcançado pelo Brasil nesse â mbito foi a aprovaçã o do
Conselho de Defesa Sul-Americano, que proporá políticas conjuntas de defesa e a troca de aná lises
sobre os cená rios mundiais.

A importâ ncia do Conselho de Defesa Sul-Americano é compreendida pelo destaque estratégico do


continente. A América do Sul concentra uma expressiva populaçã o marcada por grande diversidade
cultural, importantes metró poles, regiõ es agrícolas altamente produtivas, uma biodiversidade
incompará vel, pelas maiores reservas de á gua doce do mundo, pelas jazidas de ó leo e gá s da Bolívia
e da Venezuela, além do petró leo das jazidas do pré-sal brasileiro, localizadas a mais de 6 mil
metros de profundidade, com estimativas de produçã o de até 8 bilhõ es de barris, porém ainda nã o
completamente dimensionadas.

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Toda essa riqueza humana e natural ficará cada vez mais evidente diante da pressã o global pela
busca de recursos para o desenvolvimento. Ainda no aspecto militar/estratégico, o nosso
continente também é marcado pela presença de inú meras instalaçõ es militares dos Estados Unidos
e a atuaçã o constante desse país nos focos de conflito regional, como é o caso da Colô mbia e sua
questã o com o narcotrá fico e os grupos rebeldes (as Farc – Forças Armadas Revolucioná rias da
Colô mbia – e grupos paramilitares). Em 2008, os Estados Unidos retomaram a efetivaçã o da IV frota
de sua marinha de guerra, com um formidá vel poderio de agressã o, com atuaçã o direcionada para
toda a América Latina.

Todos esses aspectos confirmam a necessidade de integraçã o política dos países sul-americanos
nesse início de século, um objetivo que a Unasul pretende alcançar por meio de decisõ es
democrá ticas de cada um dos participantes, mas que poderã o, no futuro, resultar em um
parlamento sul-americano.

Veja a seguir algumas propostas e medidas tomadas no â mbito da Unasul:

• Investimento na integraçã o física (transportes) do continente.

• Eliminaçã o do uso de vistos para o trâ nsito de cidadã os dos países do bloco.

• Criaçã o do Banco do Sul, visando ao investimento na produçã o econô mica continental.

• Proposta de criaçã o de uma moeda ú nica continental.

• Proposta de criaçã o de um mercado comum (ainda sem data definida).

ALIANÇA DO PACÍFICO
Criada em 2011, possui quatro países-membros – Chile, Colô mbia, Peru e México –, além de dezenas
de observadores.
O objetivo é intensificar o comércio regional e internacional, sobretudo com a Á sia, através do
oceano Pacífico.

O bloco pretende também ampliar a sua participaçã o política nas decisõ es continentais e mundiais,
com destaque para a á rea da Á sia-Pacífico.

SADC
A SADC (Southern African Development Community ou, em português, Comunidade do
Desenvolvimento da Á frica Austral) foi criada em 1980 e atualmente conta com a participaçã o de
14 países da Á frica Austral (também conhecida por Á frica Meridional ou sul da Á frica).

As principais metas do bloco sã o:

• Melhorar o desenvolvimento econô mico, a qualidade de vida e diminuir a pobreza.

• Aprimorar as instituiçõ es políticas.

• Promover o desenvolvimento sustentá vel.

• Complementar estratégias nacionais e regionais.

• Maximizar os recursos da regiã o.

• Incentivar a aproximaçã o entre as culturas regionais. Algumas estratégias da SADC na busca por
seus objetivos de integraçã o sã o:

• Incentivo à industrializaçã o para a substituiçã o de importaçõ es locais, apta porém à


comercializaçã o com o restante dos países do bloco.

• Treinamento de mã o de obra qualificada para cargos estratégicos em diversos setores, como


gestores pú blicos, técnicos, engenheiros (especialmente agrícolas) e cientistas com formaçõ es
aplicá veis à indú stria.

• Combate à aids: orientaçã o à populaçã o sobre prevençã o; realizaçã o de exames diagnó sticos e;
prevençã o relacionada à transmissã o de mã e para filho, entre outros.

A principal meta desse bloco econô mico é a elevaçã o geral do padrã o de vida das populaçõ es
africanas. Outra questã o do bloco é a assimetria que marca as economias da Á frica do Sul e o
restante dos países do bloco.

ASEAN
A Asean (Associaçã o das Naçõ es do Sudeste Asiá tico) iniciou-se em Jacarta, capital da Indonésia, no
ano de 1967. Os seus objetivos oficiais eram acelerar o crescimento econô mico e fomentar a paz e a
estabilidade regionais. A associaçã o criou um bloco de livre comércio em 1992, que atualmente
inclui os seguintes países: Indonésia, Malá sia, Filipinas, Cingapura, Tailâ ndia, Vietnã, Brunei,
Camboja, Mianma e Laos. Papua-Nova Guiné e Timor Leste atuam no grupo apenas como
observadores.

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APEC
A Apec (Cooperaçã o Econô mica Á sia-Pacífico) é o maior bloco econô mico global. Dos quatro
maiores polos econô micos do mundo, três – Estados Unidos, Japã o e China – fazem parte dessa
organizaçã o. A ú nica exceçã o é a Uniã o Europeia. Os 21 países participantes, apesar do interesse
comercial, apresentam uma grande diversidade em termos de peso econô mico, nível de
desenvolvimento, interesses políticos e características culturais.

Levando-se em conta toda essa complexidade, bem como o fato de os países desse bloco fazerem
parte de outros blocos regionais, a Apec nã o poderia ambicionar uma integraçã o mais profunda do
que apresenta: uma á rea de livre comércio. A sua abrangência, além de incluir uma vasta á rea,
equivale a 56% do PIB global.

Os seus países-membros sã o: Austrá lia, Brunei, Canadá , Chile, China, Hong Kong, Indonésia, Japã o,
Coreia do Sul, Malá sia, México, Nova Zelâ ndia, Papua- -Nova Guiné, Peru, Filipinas, Rú ssia,
Cingapura, Taiwan, Tailâ ndia, Estados Unidos e Vietnã.

Em junho de 2010, os ministros da Apec se reuniram para discutir os avanços nos objetivos
traçados para o livre comércio entre os países da Cooperaçã o, cujos elementos foram estabelecidos
em 1994.

OCDE
A OCDE (Organizaçã o para Cooperaçã o e Desenvolvimento Econô mico) foi criada apó s a Segunda
Guerra Mundial com o objetivo de coordenar o Plano Marshall (programa de recuperaçã o
econô mica) na Europa. Portanto, apresentava um cará ter essencialmente regional. Com base na
experiência dos países europeus, estendeu sua atuaçã o para outros países, constituindo-se em um
fó rum em que diferentes governos podem comparar suas experiências, buscar respostas para
problemas comuns e coordenar políticas econô micas e sociais. O objetivo é acelerar o crescimento e
o desenvolvimento dos países-membros. Em razã o disso, a OCDE produz e divulga uma enorme
quantidade de informaçõ es acerca da economia e de aspectos sociais mundiais e nacionais.

Entre seus objetivos destacam-se:

• A expansã o da economia, emprego, progresso e qualidade de vida dos países-membros.

• A manutençã o da estabilidade financeira dos países-membros de modo a contribuir para o


desenvolvimento da economia mundial.

• O favorecimento à expansã o do comércio mundial sobre uma base multilateral.

Trata-se de uma organizaçã o internacional e intergovernamental com países-membros de diversos


continentes, constituída por: Austrá lia, Á ustria, Bélgica, Canadá , Chile, Repú blica Tcheca,
Dinamarca, Estô nia, Finlâ ndia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islâ ndia, Irlanda, Israel, Itá lia,
Japã o, Coreia do Sul, Luxemburgo, México, Holanda, Nova Zelâ ndia, Noruega, Polô nia, Portugal,
Eslová quia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.

O Chile passou a integrar o quadro dos países- -membros em 2010. É o segundo país latino-
americano do grupo – o primeiro é o México – e o primeiro país sul-americano. O seu processo de
adesã o iniciou-se em 2007, a partir da assinatura de acordos comerciais com a maioria dos países-
membros da organizaçã o, aceitando a maior parte das regras e compromissos internacionais.

Para fazer parte do grupo de países-membros, o Chile teve que atender a uma série de reformas
econô micas e sociais, tais como aprovar diversas leis que eliminaram o sigilo bancá rio, introduzir
leis de responsabilizaçã o penal a pessoas jurídicas que cometerem crimes de lavagem de dinheiro,
reduzir o poder do Estado na ingerência de empresas privadas e aceitar trocar informaçõ es sobre a
situaçã o tributá ria com os outros membros. O Chile criou ainda um Ministério do Meio Ambiente,
de modo a reforçar políticas de crescimento associadas a políticas ambientais.

A adesã o chilena à OCDE tem sido compreendida como uma forma de intensificar a atuaçã o dessa
organizaçã o na América Latina. A proposta é de criaçã o, em médio prazo, de um amplo programa
regional de desenvolvimento, conjugando os interesses de ambas as partes.

A adesã o do Chile vem ainda ao encontro de uma tendência à incorporaçã o de novos países à OCDE.
Essa política traduz-se ainda pela tentativa de maior aproximaçã o entre essa organizaçã o e China,
Índia, Brasil, Indonésia e Á frica do Sul.

BRICS
BRIC é uma sigla criada pelo economista Jim O’Neill. Ela refere-se à s iniciais dos quatro principais
países emergentes do início do século XXI: Brasil, Rú ssia, Índia e China.

Pá gina 260

A partir de 2011 a Á frica do Sul se integrou à organizaçã o, que passou a ser denominada BRICS.

O Grupo Goldman Sachs, para o qual Neill trabalha, mapeou as economias desses países e
estabeleceu projeçõ es para 2050, considerando os modelos demográ ficos, de acumulaçã o de capital
e investimento e o crescimento da produtividade. Os dados sã o bastante otimistas. Caso as
projeçõ es se mantenham, em aproximadamente 40 anos, os países do BRICS poderã o ultrapassar as
seis maiores economias do mundo – Estados Unidos, Japã o, Alemanha, Reino Unido, França e Itá lia
–, em valores de dó lares americanos.

Eles podem ainda se tornar a grande força da economia mundial, com mais de 40% da populaçã o e
um PIB de cerca de 85 trilhõ es de dó lares.

Embora esse conjunto de países tenha resultado da aná lise de um economista, nos ú ltimos anos
tornou- -se claro que, emboras o BRICS nã o busque a formaçã o de um bloco econô mico, os
integrantes têm diversos interesses comuns e um peso político importante no plano global.

Isso ficou evidente em 2009, quando uma grave crise financeira internacional atingiu o mundo,
gerando forte recessã o e desemprego, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Naquele
contexto, justamente os países do BRICS foram os ú ltimos a sofrer as consequências e os primeiros
a retomar o crescimento econô mico.
Sasha Mordovets/Getty Images

Representantes do BRICS reunidos na cidade de Ufa, na Rú ssia, 2015.

Leia a seguir um texto a respeito dos riscos e oportunidades com os quais se deparam os países do
BRICS.

Mundo em transição fortalece os BRICS

A crise nos Estados Unidos e na Europa deve fortalecer os BRICS, o conjunto de países emergentes
que aglutina Brasil, Rú ssia, Índia, China e Á frica do Sul. A avaliaçã o é do embaixador Gilberto
Fonseca Guimarã es de Moura, diretor do Departamento de Mecanismos Inter-Regionais (DMR) do
Ministério das Relaçõ es Exteriores, em palestra feita no Centro de Estudos Políticos dos BRICS, da
PUC, no Rio de Janeiro. Para ele, “o mundo vive hoje um grande momento de transiçã o. Uma
transiçã o muito longa, pois caso seja rá pida, será traumá tica para todos.” No contexto de mudança
global, Moura prevê que os BRICS vã o se fazer ouvir, pois, com a crise, os países ricos vã o ser
questionados. “E algum tipo de ajuste será feito na governança global”. Ele vê os BRICS como uma
resposta a esse repensamento da estrutura global atual, tanto em termos políticos, quanto
econô mico-financeiro. “Fó runs internacionais criados no mundo pó s-guerra, como a pró pria ONU,
estã o envelhecendo.”

No futuro, qualquer país que almeje se destacar como líder global nã o pode querer reproduzir
visõ es arcaicas que dividiram o mundo entre Norte e Sul, diz. “O líder mundial do futuro nã o pode
querer as coisas só para si. Se estamos lutando contra isso, contra um ou dois países dominando o
mundo, seria um contrassenso reproduzir prá ticas passadas”.

Os diversos grupos de países que vêm despontando, como os BRICS, o Ibas (Índia, Brasil e Á frica do
Sul), o G-20, o G-15, a Unasul, entre outros, espelham a grande necessidade de mudanças. “Está
evidente que o status quo do planeta nã o é o adequado”. Segundo ele, nã o é possível mais nos dias
de hoje ignorar um país como a China. E nem mesmo outros países de dimensõ es continentais como
Rú ssia, Índia e Brasil. “Nã o é possível ignorar os BRICS. Eles incomodam.” [...]

DURÃ O, V. S. Valor Econômico. Disponível em: <www.valor.com.br/internacional/974748/ mundo-em-transicao-


fortalece-os-brics>. Acesso em: 28 abr. 2016.

A divisã o Norte-Sul continua a evidenciar um grande descompasso de está gios econô micos entre
países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Apesar disso, vá rios analistas de economia já
anteveem importantes consequências para o futuro, ao analisar o padrã o do crescimento
econô mico global atual e ao compará -lo com o passado.

Pá gina 261

Levando esses dados em consideraçã o, além dos países do BRICS, analistas do banco Goldman
Sachs delinearam outro conjunto de naçõ es que também deverã o ganhar importâ ncia no futuro.
Trata-se do N-11 (Naçõ es emergentes).

ATIVIDADE

O potencial econômico dos países do BRICS e do N-11

Observe no mapa e na tabela os países que fazem parte do BRICS e do N-11. Analise as informaçõ es
que mostram o avanço desses dois grupos em relaçã o aos países que fazem parte do G-7. Os dados
sã o referentes ao PIB desses países, um indicador dos valores gerados na produçã o econô mica em
todos os setores.
O texto ‘’Mundo em transiçã o fortalece os BRICS’’ é anterior à forte crise pela qual esses países
estã o passando atualmente. Contudo, os países do G7 se encontram, desde 2008, em uma crise
ainda mais prolongada. Todos esses aspectos ainda corroboram a tabela apresentada nesta pá gina.

Assim, segundo as palavras do diplomata brasileiro Gilberto Fonseca Guimarã es de Moura, ‘’nã o é
possível ignorar os BRICS. Eles incomodam’’ e ‘’algum tipo de ajuste será feito na governança
global’’. Explique os pontos de vista do diplomata.

View Produçã o Editorial e Fotográfica Ltda.

As bandeiras indicam em que ano o PIB dos países do BRICS e do N-11 ultrapassará o PIB dos países do G-7.
Os países do N-11 não incluídos na tabela não ultrapassarão países do G-7 pelas atuais projeções
econômicas.

Fonte: Goldman Sachs. Disponível em: <www.goldmansachs.com/our-thinking/ archive/archive-pdfs/brics-book/brics-


chap-11.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.

Mundimagem

Fonte: Goldman Sachs. Disponível em: <www.goldmansachs.com/our-thinking/archive/archive-pdfs/bricsbook/brics-chap-


11.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.
Pá gina 262

Brasil
Qual seria o papel do Brasil em 2050? As estimativas indicam que ele será a quinta potência
mundial. O país se destacará na produçã o e exportaçã o de gêneros agropecuá rios e produtos
semiprocessados, como aço e alumínio. O petró leo também será um produto de grande produçã o
no Brasil, graças à s descobertas do pré-sal e à tecnologia da Petrobras.

O país terá grande destaque como formulador e produtor de fontes alternativas de energia, a
exemplo do biocombustível. O etanol, que já é uma realidade, terá um papel de grande importâ ncia
como substituto da gasolina, e diversos gêneros agrícolas servirã o de base para o biodiesel.

Os recursos naturais sã o um capítulo à parte que merecerá grande atençã o, como o uso do banco
genético dos nossos biomas e o “ouro azul”, representado pela á gua doce disponível.

As nossas reservas de á gua doce superficial sã o enormes e ainda temos vá rios e imensos aquíferos
como o Guarani e o Sistema Aquífero Grande Amazô nia.

O Brasil possui ainda uma ampla populaçã o, favorecendo a ampliaçã o do mercado consumidor e o
de trabalho.

Problemas e desafios

O Brasil passou relativamente bem pelo início da crise financeira global iniciada em 2008, mas nos
ú ltimos anos os investimentos na economia caíram fortemente, o que resultou em reduçã o
paulatina do crescimento econô mico até 2015, quando este foi negativo, levando ao aumento do
desemprego e ao aprofundamento da crise econô mica interna. A retraçã o no comércio mundial
devido à crise afetou a todos os países, mas com destaque para o Brasil, que ainda tem uma pauta
de exportaçõ es muito dependente de produtos primá rios e semimanufaturados. A persistência da
crise interferiu nos programas de combate à pobreza entre 2006 e 2012, gerando aumento da
desigualdade social, a despeito da incorporaçã o de milhares de brasileiros pertencentes às classes
mais pobres ao mercado consumidor interno em anos recentes.

Outro problema do país é a renitente crise política, que dificulta a resoluçã o dos problemas
nacionais e também inibe a retomada dos investimentos na economia.
Mundimagem

Fonte: CPRM. Disponível em: <www.cprm.gov.br/publique/media/mapa_ aquifero.pdf>. Acesso em: 4 maio 2016.

Índia
Dentro do BRICS, a Índia é o país de maior crescimento percentual e pode ser a terceira potência
mundial em 2050, atrá s da China e dos Estados Unidos. A economia indiana, até a década de 1980,
era voltada para o setor primá rio (agropecuá ria), e a sua política econô mica era extremamente
fechada.

As mudanças estruturais surgiram no governo de Rajiv Gandhi, em meados da década de 1980,


como uma necessidade de gerar emprego e renda para uma populaçã o numerosa – a segunda maior
do mundo –, e também pelo momento histó rico, representado pelo fim da era bipolar da Guerra
Fria, em que os interesses mundiais se voltavam para os negó cios.

Pá gina 263

Se, por um lado, uma grande populaçã o é motivo de preocupaçã o, por outro, pode significar um
atrativo para investimento em razã o da mã o de obra abundante e do mercado consumidor.

A Índia reestruturou a sua economia, assentando sua política em três pilares:

• Geraçã o de empregos e melhoria do bem-estar da populaçã o.

• A política industrial que deve gerar ganhos de produtividade e eficiência econô mica.

• Abertura da economia para a iniciativa privada, ficando o Estado com o controle de setores
estratégicos, como segurança e infraestrutura. A abertura econô mica, posta em prá tica na década
de 1990, colocou a Índia na era da globalizaçã o, sem, contudo, perder o controle da situaçã o
interna. O governo priorizou os investimentos produtivos em detrimento dos especulativos.

Um dos grandes trunfos da Índia foi o pulso forte do governo quando ocorreram as crises da Á sia e
da Rú ssia. O país manteve o controle do câ mbio e nã o permitiu a evasã o de dó lares. Tal controle se
mostrou um porto seguro para os investimentos produtivos, que proliferaram no país.

Mundimagem

Fonte: SIMIELLI, M. E. Geoatlas. Sã o Paulo: Á tica, 2003.

A nova política industrial surtiu grande efeito na indú stria de tecnologia da informaçã o, sendo o
setor de criaçã o de softwares o mais beneficiado. A indú stria da tecnologia da informaçã o deve seu
sucesso:

• À liberalizaçã o das importaçõ es de equipamentos, sobretudo hardwares.

• Ao treinamento da mã o de obra no exterior (diversos profissionais de á reas técnicas trabalharam


no exterior e depois trouxeram a sua experiência para a Índia).

• Ao extenso sistema universitá rio estatal.

• À mã o de obra qualificada e barata, quando comparada aos profissionais ocidentais do mesmo


ramo.

• À s aglomeraçõ es industriais (clusters), que permitiram a cooperaçã o entre fornecedores e clientes


e aprimoravam a logística.

Os maiores clusters de software encontram-se em Bangalore (cidade chamada de “Novo Vale do


Silício”), Chennai (Madras), Hyderabad, Mumbai e Nova Délhi. A indú stria da tecnologia da
informaçã o exporta mais de 50 bilhõ es de dó lares anualmente (dados de 2012).

Call centers
Subhash Sharma/Corbis/Fotoarena

Indianos trabalhando em call center em Mumbai, na Índia, 2014.

Um dos negó cios de grande rentabilidade que se expandiu muito na Índia sã o os call centers. Trata-
se de empresas terceirizadas que atendem por telefone à s solicitaçõ es dos clientes e oferecem
produtos.

Muitos indianos têm domínio da língua inglesa, o que facilita as contrataçõ es. Os jovens recrutados
passam por treinamento para perder os sotaques regionais e, dessa forma, atender clientes de
diversos países de língua inglesa, como a Inglaterra, os Estados Unidos, a Austrá lia, entre outros. O
salá rio desses jovens é de cerca de 800 dó lares, valor acima da média na Índia e muito abaixo da
média nos países desenvolvidos.

Pá gina 264

Bollywood

A indú stria cinematográ fica indiana é a maior do mundo no seu ramo. Ela ultrapassa Hollywood em
nú mero de produçõ es. Observe os seguintes dados:

• Produçã o de mais de 1 200 longas por ano (dados de 2011).

• Pú blico de mais de 4 bilhõ es de pessoas, considerando que a mesma pessoa assiste a diversos
filmes (dados de 2009).

• Faturamento de 2 bilhõ es de dó lares em 2008.

As produçõ es têm custo baixo, o que aumenta o lucro. O nome Bollywood foi inspirado em
Hollywood, considerada a capital mundial do cinema, usando as iniciais da cidade indiana de
Bombaim, que atualmente se chama Mumbai.

Problemas e desafios

O grande desafio da Índia na atualidade é atrelar o desenvolvimento econô mico ao social. Segundo
a empresa de consultoria Goldman Sachs, a Índia possui um terço dos engenheiros do setor de
informá tica e, simultaneamente, um quarto dos desnutridos do planeta.
Tradicionalmente, a sociedade indiana é dividida em castas.

Casta

Grupo social hereditá rio em que as pessoas só podem casar-se com outras do pró prio grupo, e que
determina também sua profissã o, há bitos alimentares, vestuá rios e outras coisas, induzindo a
formaçã o de uma sociedade sem mobilidade social.

NAVARRO, R. O que é a sociedade de castas que existe na Índia?. Mundo Estranho, Sã o Paulo, n. 66. ago. 2007.

Embora a Constituiçã o da Índia nã o reconheça essa divisã o, o costume prevalece sobre a lei. As
principais castas sã o:

• Brâ manes: grupo dos sacerdotes, religiosos e filó sofos. É considerada a elite das castas.

• Xá trias: inicialmente era a casta dos guerreiros. Hoje agrega os profissionais do setor judiciá rio,
policiais e militares.

• Vaixá s: grupo das atividades econô micas, incluindo os artesã os, comerciantes e o setor agrícola.

• Sudras: trabalhadores braçais.

• Fora do sistema de castas, existem os pá rias ou intocá veis. Segundo a tradiçã o hinduísta, os
intocá veis nã o sã o nascidos ou abençoados pelo deus Brahma e por isso muitas vezes sã o
discriminados.

Até o momento, os membros das castas superiores suprem as novas vagas de trabalho. No entanto,
o rá pido desenvolvimento indiano requererá mais mã o de obra, necessitando de pessoas das castas
inferiores. A oferta de mã o de obra braçal é muito elevada, porém nã o é isso que a nova economia
procura. Estará a Índia preparada para rever a tradiçã o das castas em face das novas frentes de
trabalho?

Os intocáveis

Estigmatizados como impuros desde o nascimento, um em cada seis indianos vive e sofre na base
do sistema de castas hindu. [...] Nascer hindu na Índia é entrar para o sistema de castas, uma das
mais antigas formas de estratificaçã o ainda em vigor. Arraigado na cultura indiana há 1,5 mil anos,
o sistema segue um preceito bá sico: todos sã o criados desiguais. A hierarquizaçã o da sociedade
hindu originou-se de uma lenda na qual os quatro principais grupos, ou varnas, emergem de um ser
primordial. Da boca vêm os brâ manes, sacerdotes e mestres.

Dos braços, os xá trias – governantes e soldados. Das coxas, os vaixá s – mercadores e negociantes –
e, dos pés, os sudras – trabalhadores braçais. Cada varna, por sua vez, abrange centenas de castas e
subcastas hereditá rias, cada qual com hierarquia pró pria.

Um quinto grupo consiste nas pessoas que sã o achuta, ou intocá veis. Nã o vieram do ser primordial.
Eles sã o os excluídos – pessoas demasiado impuras para classificar-se como seres dignos. O
preconceito define a sua vida, particularmente nas á reas rurais, onde vivem quase três quartos da
populaçã o indiana. Os intocá veis sã o evitados, insultados, proibidos de frequentar templos e casas
de castas superiores, obrigados a comer e beber em utensílios separados em lugares pú blicos e, em
casos extremos, mas nã o incomuns, sã o estuprados, queimados, linchados e baleados. [...]

Os intocá veis executam o “trabalho sujo” da sociedade – atividade que requer contato físico com
sangue e excrementos humanos. Os intocá veis cremam os mortos, limpam latrinas, cortam cordõ es
umbilicais, removem animais mortos das ruas, curtem couro, varrem sarjeta. Esses trabalhos e a
condiçã o dos intocá veis sã o transmitidos aos descendentes.
Pá gina 265

Mesmo os numerosos intocá veis que exercem serviços “limpos”, principalmente trabalhos agrícolas
mal remunerados em terras de grandes proprietá rios, sã o considerados impuros.

Em uma sociedade livre só na aparência, os intocá veis sã o atrelados à base de um sistema incapaz
de funcionar sem discriminaçã o. [...]

National Geographic Brasil, Sã o Paulo: jun. 2003, p. 38-68.

Vishal Bhatnagar/NurPhoto/AFP

Grande grupo de mulheres em uma conferê ncia de “intocá veis” em Jaipur, Índia, 2016.

ATIVIDADE

Quem quer ser um milionário?

Assistam ao filme Quem quer ser um milionário?, vencedor do Oscar em oito categorias, inclusive a
de melhor filme.

Em grupo façam uma contextualizaçã o social do filme, observando:

a) O contraste entre o desenvolvimento da cidade de Mumbai, onde o filme se passa, e a sua maior
favela, Dharavi, uma das maiores do mundo.

b) A perspectiva de ascensã o social da populaçã o mostrada no filme.

c) A simbiose estabelecida entre o sistema de castas e a manutençã o da pobreza.


Pathé Pictures/Fox Searchlight Pictures/Warner Bros.

Cena do filme Quem quer ser um milionário? Direçã o: Danny Boyle, Loveleen Tandan, Estados Unidos, Reino Unido,
2008, 120 min. Classificaçã o: 16 anos.

Pá gina 266

Rússia

Mundimagem
Fonte: University of Texas Libraries. Disponível em: <www.lib.utexas.edu/maps/commonwealth/commonwealth.jpg>.
Acesso em: 21 abr. 2016.

A Rú ssia era o principal país da antiga Uniã o Soviética e iniciou a sua transiçã o do socialismo real
para o capitalismo em meados da década de 1980, com a glasnost (abertura política) e a
perestroika (abertura econô mica).

Essa transiçã o, no início da década de 1990, foi bastante conturbada e trouxe muitas consequências
negativas. As antigas empresas estatais foram fechadas, o que gerou um alto índice de desemprego.
Os novos negó cios ficavam nas mã os de um pequeno grupo de russos que se aproveitaram dos
privilégios governamentais do antigo regime. A pior situaçã o, no entanto, foi a proliferaçã o das
má fias que, aproveitando a menor açã o do Estado, agiam de forma livre.

Foi somente nos primeiros anos do século XXI que a Rú ssia deu sinais de recuperaçã o. O governo de
Vladimir Putin retomou o controle sobre a segurança e a economia, combatendo as má fias e
colocando a Rú ssia em destaque no cená rio político-econô mico do mundo globalizado.

No campo bélico, a Rú ssia ainda mantém o status da Guerra Fria. Na á rea econô mica, tem grande
destaque como produtora e exportadora de hidrocarbonetos. O país detém 30,5% das reservas
mundiais de gá s natural, liderando o ranking mundial. Em reservas de petró leo, ocupa a sétima
posiçã o, com 5,7% do total mundial.

Hidrocarbonetos

Compostos químicos formados por hidrogênio e carbono.

Pá gina 267

Problemas e desafios

A Rú ssia está enfrentando uma reduçã o demográ fica devido ao envelhecimento da populaçã o e à
queda das taxas de natalidade. Essa situaçã o pode se refletir na economia, com menor oferta de
mã o de obra e encolhimento do mercado consumidor. Um outro desafio a ser enfrentado é o
esgotamento dos hidrocarbonetos. Por isso, precisa diversificar a sua economia para nã o sucumbir
economicamente.

Diante de tal situaçã o, o país tem se lançado ao Á rtico em busca de novas reservas de
hidrocarbonetos. O Instituto de Pesquisa Geoló gica dos Estados Unidos divulgou, em 2008,
relató rio dizendo que o Círculo Á rtico possui cerca de 13% do petró leo ainda nã o descoberto no
planeta, 30% do gá s natural e 20% do gá s líquido.

Como a Rú ssia é hoje o país com melhor equipamento para tais exploraçõ es, saiu na frente e está
reivindicando á reas nessa regiã o. A disputa pelo Á rtico é um assunto geopolítico mundial, pois
esbarra nos interesses de outros países como Canadá , Estados Unidos, Noruega e Dinamarca.
Mundimagem

Fonte: IBRU: Centre for Borders Research. Disponível em: <www.dur.ac.uk/ibru/resources/arctic>. Acesso em: 28 abr.
2016.

SAIBA MAIS

Rússia reivindica propriedade de área no Ártico que inclui o Polo Norte

5 ago. 2015

A Rú ssia reivindicou nesta terça-feira ante a Comissã o de Limites da Plataforma Continental das
Naçõ es Unidas sua soberania sobre 1,2 milhã o de quilô metros quadrados do Á rtico. O pedido oficial
alegou que anos de pesquisas científicas provam seu direito aos ricos depó sitos de minerais que
existem sob esse oceano.

O territó rio incluiria o Polo Norte e pode dar a Moscou, segundo estimativas do governo, o acesso a
4,9 bilhõ es de toneladas de hidrocarbonetos.

O Á rtico se converteu em palco de tensõ es internacionais, com vá rios estados exigindo sua
soberania sobre o fundo do mar, que acredita-se que seja rico em minerais e hidrocarbonetos. As
atuais leis internacionais dizem que um país tem privilégios econô micos exclusivos sobre a placa
situada em um raio de 200 milhas ná uticas ao redor de sua costa.

Na reivindicaçã o da Rú ssia estã o incluídas as cristas de Mendeleyev e de Lomonó sov, também


reivindicadas por Dinamarca e Canadá . Moscou argumenta que ambas dorsais oceâ nicas, assim
como o Polo Norte, formam parte do continente euroasiá tico.

Rú ssia apresentou um pedido semelhante em 2002, mas a ONU rejeitou por falta de apoio científico.
Entã o, desta vez, o governo russo ofereceu novas evidências recolhidas pelos seus navios de
investigaçã o, enviando, ainda, um explorador do Á rtico bem conhecido, Artur Chilingarov, para
levar um submarino em miniatura para o fundo do mar bem abaixo do Polo Norte, colher uma
amostra de solo e fincar uma bandeira russa feita de titâ nio lá .

Gazeta do Povo. Disponível em: <www.gazetadopovo.com.br/mundo/ russia-reivindica-propriedade-de-area-no-


artico-que-inclui-o-polo-norte-6au7bez7uoi9mmb4h3857wc0k>. Acesso em: 9 maio 2016.
Pá gina 268

China
De acordo com projeçõ es, em 2050 a China será a maior economia do mundo. O crescimento
acelerado da sua economia começou em 1976, apó s a morte do líder socialista Mao Tsé-Tung. O
sucessor de Mao foi Deng Xiaoping, que defendeu a ideia da abertura econô mica da China,
conservando, porém, o monopó lio do Partido Comunista.

A China chegou ao fim do século XX com avanços inegá veis. A populaçã o era majoritariamente
alfabetizada e sem crises de subnutriçã o ou fome, apesar de contar com 1,3 bilhã o de habitantes. A
pobreza, todavia, dominava a zona rural.

Deng Xiaoping promoveu mudanças estruturais, mesmo recebendo críticas de que estava traindo os
ideais socialistas. Sobre isso, disse em certa ocasiã o: “Nã o importa a cor do gato, mas se é ou nã o
capaz de caçar ratos”. Com essa visã o, Deng promoveu mudanças radicais na China, colocando-a na
rota do capitalismo e da globalizaçã o, nã o apenas como sombra dos países desenvolvidos, mas
como concorrente deles.

Reestruturação chinesa

Das diversas reformas, destacam-se:

• Substituiçã o das antigas comunas populares por cooperativas agrícolas, com produçã o para o
mercado.

• Criaçã o das ZEEs (Zonas Econô micas Especiais), que sã o centros urbanos, pró ximos à populosa
costa chinesa, a exemplo de Cantã o, Shenzhen, Zhuhai e Shantou, que receberam um volumoso
investimento estrangeiro para a montagem de plataformas de exportaçã o.

• Entrada recente na OMC (Organizaçã o Mundial do Comércio).

• Criaçã o de infraestrutura pelo Estado com a intençã o de atrair e gerar novos negó cios (o melhor
exemplo é a construçã o da usina hidrelétrica de Três Gargantas, no rio Yang-Tsé, a maior obra do
mundo desse gênero).

A grande captaçã o de investimentos estrangeiros obtidos pela China se ancorou em quatro pilares:

• Mã o de obra disciplinada e barata, já que, em 2014, o salá rio médio da China era de 600 dó lares
por mês.

• Oferta de matéria-prima de energia.

• Incentivos fiscais.

• Criaçã o de clusters e logística de exportaçã o.


Mundimagem

Fonte: SIMIELLI, M. E. Geoatlas. Sã o Paulo: Á tica, 2003.

Problemas e desafios

O crescimento acelerado produziu também problemas no mesmo ritmo, alguns irreversíveis. Dos
chamados problemas do progresso, podemos destacar as questõ es sociais e as ambientais.

AFP Photo/Wang Zhao

Poluiçã o do ar em Beijing, na China, 2013.

A China ainda depende do carvã o mineral para gerar energia. Ela é a maior produtora mundial
desse minério.

Pá gina 269
Contudo, a queima do carvã o afeta a atmosfera das cidades do nordeste do país, na regiã o da
Manchú ria, e provoca a morte de mais de 700 mil pessoas por ano, devido a problemas
respirató rios.

A á gua é um capítulo à parte. As leis ambientais na China nã o sã o rígidas e a ausência de fiscalizaçã o


leva a uma situaçã o insustentá vel: dois terços das principais cidades enfrentam a escassez de á gua e
cerca de metade da populaçã o ingere á gua contaminada por dejetos humanos e de animais. A
poluiçã o é agravada pelos restos dos curtumes de porcos e pelos despejos industriais lançados nos
rios sem nenhum tratamento.

Recentemente, o governo chinês começou a demonstrar preocupaçã o com a questã o ambiental.


Está destinando quase 1% do seu PIB para a recuperaçã o dos solos e dos rios, anunciou que tratará
com mais rigor a licença para futuras obras e empresas e exigirá relató rios de impacto ambiental
para todos os setores.

Ainda que a iniciativa seja boa, ela chega atrasada. Boa parte da populaçã o chinesa, sobretudo a que
migrou para as cidades, aumentou o seu nível de consumo, fato que impõ e uma sobrecarga ao
ambiente. Se os chineses tivessem um padrã o de vida semelhante ao dos estadunidenses, o planeta
Terra nã o seria capaz de prover os recursos necessá rios.

Dumping social

A China é criticada por outros países e teve dificuldades em ser aceita na OMC em razã o da prática
de dumping social.

Os salá rios médios oferecidos aos trabalhadores sã o bem inferiores à média mundial, o que
contribuiu para o barateamento do produto final.

O governo se defende dizendo que os valores nã o sã o inexpressivos, considerando a paridade do


poder de compra, isto é, o poder de compra do chinês nã o é tã o inferior ao de diversos países, uma
vez que o Estado oferece moradia, educaçã o e saú de sem custo. Assim, as despesas de uma família
sã o inferiores à média mundial, mantendo o seu poder aquisitivo.

Ausência de democracia

Jeff Widener, File/AP Photo/Glow Images


Manifestante tenta bloquear tanques em protesto em Beijing, na China, 1989.

Desde o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, em que os estudantes foram duramente
reprimidos pelo Exército quando exigiam a abertura política, a China mostrou ser um país onde os
direitos humanos nã o sã o respeitados. Além do partido ú nico e da ausência de eleiçõ es diretas, os
chineses nã o podem se manifestar publicamente. Além disso, os meios de comunicaçã o sã o
controlados pelo Estado.

Pá gina 270

Conflitos territoriais

A China apresenta duas questõ es territoriais ainda nã o resolvidas: o Tibete e Taiwan.

Mundimagem

Fonte: HAESBAERT, R. China: entre o Oriente e o Ocidente. Sã o Paulo: Á tica, 1994.

Em 1950, o regime socialista da China invadiu e anexou o Tibete. Desde entã o, embora reconhecido
como “regiã o autô noma”, o Tibete vive em um estado de policiamento constante. Seu líder religioso,
o Dalai Lama, nã o pode viver na China e se exilou na Índia. Manifestaçõ es pela independência foram
duramente reprimidas antes dos Jogos Olímpicos de Beijing, em 2008.

Taiwan é considerada a “ilha rebelde” da China. Em 1949, durante a implantaçã o do socialismo


chinês, grupos contrá rios ao novo regime dirigiram-se para Taiwan e fundaram a “Repú blica da
China”, com orientaçã o capitalista.

A China nã o reconhece a soberania de Taiwan e pretende a sua reanexaçã o. A proposta de uni-la,


mantendo o sistema capitalista intitulada “Um país, dois sistemas”, nã o foi aceita pelo governo de
Taiwan.
Por diversas vezes, a China já tentou intimidar Taiwan com seu poder bélico. Um ataque de fato só
nã o ocorreu porque, desde a década de 1970, Taiwan se tornou um Tigre Asiá tico e agregou
inú meras empresas de potências capitalistas.

África do Sul
A Á frica do Sul é o país mais rico e com maior diversificaçã o econô mica do continente africano. Sua
costa litorâ nea para os oceanos Atlâ ntico e Índico garante-lhe um comércio amplo com a Á sia e a
América, além da Europa. O país também tem grande destaque no comércio intracontinental, pois é
signatá rio de vá rios acordos e blocos econô micos da Á frica, tendo acesso a um mercado amplo e
muito promissor.

Diferentemente da maioria dos países africanos, a Á frica do Sul nã o é exportadora apenas de


commodities. Há muito tempo desenvolveu um parque industrial que tem se ampliado em
quantidade e qualidade. Atualmente, o país é procurado por empresas ligadas aos meios de
transporte, de planejamento e infraestrutura urbana, de tecnologia da informaçã o e comunicaçã o
(TIC), além de vestuá rio e calçados, energias renová veis e também ao setor aeroespacial.

Pá gina 271

A atratividade para investimentos estrangeiros só foi possível com a estabilidade política


conquistada apó s o fim do regime de segregaçã o racial conhecido como apartheid.

Apartheid

O apartheid foi um regime de segregaçã o racial instituído pelo governo da minoria branca e amparado pela lei
que perdurou na Á frica do Sul de 1948 até 1990. As leis do apartheid discriminavam a população negra e
ofereciam privilégios aos brancos, uma vez que eles detinham o poder político e econô mico. O termo “apartar”
ou “separar” foi levado à risca na Á frica do Sul, com espaços pú blicos como banheiros, praças, bancos e mesmo
calçadas sendo separados entre brancos e negros. Embora condenado pela ONU, o regime segregacionista
resistiu por mais de quatro décadas porque encontrou respaldo velado em algumas naçõ es ocidentais. Em
troca de armas, o governo sul-africano agia militarmente em países vizinhos que assumiam posturas
socialistas, pró - -soviéticas. Essas mesmas naçõ es também adquiriam clandestinamente os diamantes da Á frica
do Sul, dando suporte econô mico ao governo local. Isso explica a manutençã o desse regime por tanto tempo.

Ao fim da Guerra Fria, na década de 1990, o regime segregacionista foi revogado e a Á frica do Sul pô de criar
uma nova constituição garantindo direitos iguais a todos os cidadã os, independentemente de etnia, cultura ou
orientaçã o religiosa. Nelson Mandela (1918-2013), um ativista político que passara 27 anos na prisã o por sua
luta contra o apartheid, tornou-se o primeiro presidente negro do país, tendo como marca de seu governo a
tolerâ ncia, o respeito à s diversidades étnicas e culturais e a uniã o pela paz.

AFP Photo/Walter Dhladhla


Nelson Mandela em sua primeira coletiva de imprensa desde a sua libertaçã o da prisã o, na Cidade do Cabo, Á frica do
Sul, 1990.

A Nação Arco-Íris

A diversidade pode ser observada na quantidade de línguas oficiais do país, 11 no total, a exemplo
do africâ ner, sepédi, sessoto, setsuana, além do inglês, língua herdada do colonizador. A quantidade
reflete o multiculturalismo do país que apresentava, em 2011, ocasiã o em que foi realizado o censo,
cerca de 51 milhõ es de habitantes. Destes, 41 milhõ es eram negros, 4,6 milhõ es eram mestiços, 4,5
milhõ es eram brancos de origem europeia, 1,2 milhã o eram asiá ticos e o restante de outras origens
e etnias. Por sua diversidade étnica, a Á frica do Sul é conhecida como a Naçã o Arco-Íris.

AFP Photo/Stephane De Sakutin

Centro de Johanesburgo, na Á frica do Sul, 2012.

Dawidson França

Fonte: Censo da Á frica do Sul (2011). Disponível em: <www.statssa.gov.za/publications/P03014/P030142011.pdf>. Acesso


em: 28 abr. 2016.

Dentre o grupo de negros há uma subdivisã o de acordo com a origem dos grupos étnico-culturais,
com destaque para os zulus, os xhosas, sotos, tsuanas, tongas, suá zis, entre outros.

Pá gina 272

Problemas e desafios
A Á frica do Sul também é o país das desigualdades. Apesar do fim do regime de segregaçã o racial no
plano jurídico, o país nã o conseguiu superar a desigualdade socioeconô mica que mantém negros e
brancos em posiçõ es antagô nicas.

Segundo os dados do censo de 2011 realizado no país, um branco ganha cerca de seis vezes mais
que um negro. Mantendo-se os atuais níveis de crescimento econô mico e buscando a equalizaçã o
dessas diferenças paulatinamente, a expectativa é a de que um negro atinja o salá rio médio de um
branco somente no ano de 2061.

O grá fico mostra que os brancos têm maior escolarizaçã o que os demais grupos. Mais de 60% dos
negros e mestiços têm o nível secundá rio incompleto, o que é considerado muito pouco (menos de
nove anos de estudo) para pleitear empregos que exijam qualificaçã o profissional. Assim,
submetem-se a empregos informais e/ou de baixa remuneraçã o, perpetuando o ciclo da pobreza e
da desigualdade. É por isso que os soció logos afirmam que, na prática, a segregaçã o racial ainda
persiste na Á frica do Sul.

View Produçã o Editorial e Fotográfica Ltda.

Fonte: Censo da Á frica do Sul (2011). Disponível em: <www.statssa.gov.za/ publications/P03014/P030142011.pdf>. Acesso
em: 28 abr. 2016.

ATIVIDADE

Aids

View Produçã o Editorial e Fotográfica Ltda.


Fonte: Unaids. 2004 Report on the global AIDS epidemic. Disponível em:
<www.unaids.org/sites/default/files/en/media/unaids/contentassets/documents/unaidspublication/2004/GAR2004_en.p
df>. Acesso em: 3 maio 2015.

1. Qual é a principal faixa etá ria que será atingida pela epidemia de aids na Á frica do Sul em 2025?

2. Quais os impactos que a epidemia de aids poderá causar na economia do país?

3. Estabeleça uma inferência sobre a expansã o da epidemia de aids e o nível de instruçã o escolar da
maioria da populaçã o sul-africana.

Pá gina 273

IBAS
O IBAS é uma iniciativa da Índia, Brasil e Á frica do Sul com o intuito de promover a cooperaçã o Sul-
Sul em diversos campos. A iniciativa nã o se constitui em um bloco econô mico com normas e etapas
de conclusã o. Contudo, o fortalecimento político das três naçõ es que emergem economicamente
coloca-as em posiçã o de destaque no cená rio mundial.

Dos campos de interesse já discutidos em fó runs, destacam-se a cooperaçã o no plano da política


internacional, da economia, do desenvolvimento social, e o intercâ mbio nas á reas de educaçã o,
práticas sustentá veis e tecnologia.

Os três países do IBAS pleiteiam um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, e cada
qual exerce influência político-econô mica dentro dos seus respectivos continentes.

QUESTÕES DE ENEM E VESTIBULAR


1. (Enem, 2014) Na imagem, é ressaltado, em tom mais escuro, um grupo de países que na atualidade possuem
características político-econô micas comuns, no sentido de:

Ipea/Divulgaçã o

Disponível em: <ipea.gov.br>. Acesso em: 2 ago. 2013.

a) adotarem o liberalismo político na dinâ mica dos seus setores pú blicos.

b) constituírem modelos de açõ es decisó rias vinculadas à social-democracia.


c) instituírem fó runs de discussã o sobre intercâ mbio multilateral de economias emergentes.

d) promoverem a integraçã o representativa dos diversos povos integrantes de seus territó rios.

e) apresentarem uma frente de desalinhamento político aos polos dominantes do sistema-mundo.

2. (UFRGS-RS, 2012) Considere as seguintes afirmaçõ es sobre acordos econô micos firmados na América
Latina.

I. O principal acordo em volume de negó cios e superfície territorial na América Latina é o Mercosul.

II. A Aliança Bolivariana para os “Povos de Nossa América” é composta por Cuba, Bolívia, Equador e Venezuela.

III. Chile, Peru e Colô mbia firmaram o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos. Quais estã o corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

Pá gina 274

3. (Enem, 2014)
Arte/G1

Fonte: Ministé rio do Desenvolvimento, Indú stria e Comé rcio Exterior. ALVARENGA, D. Disponível em:
<http://g1.globo.com>. Acesso em: 1 dez. 2012

Nas ú ltimas décadas, tem-se observado um incremento no comércio entre o Brasil e a China. A comparaçã o
entre os grá ficos demonstra a

a) posiçã o do Brasil como grande exportador de commodities.

b) falta de complementaridade produtiva entre os dois países.

c) vantagem competitiva da China no setor de produçã o agrícola.

d) proporcionalidade entre as trocas de bens de alto valor agregado.

e) restrita participaçã o de bens de alta tecnologia no comércio bilateral.

4. (UFG-GO, 2010) A geopolítica no continente americano sofreu mudanças considerá veis na década atual,
modificando projetos institucionais que visavam maior influência econô mica dos Estados Unidos. Como
contraponto a essas iniciativas, o governo da Venezuela propô s a criaçã o de um novo bloco. Esse bloco, que
conta atualmente com a adesã o de vá rios países, é:

a) o Mercosul, que visa estreitar as relaçõ es com os países do Cone Sul.

b) o Nafta, que busca aproximar os países da América do Norte e Central.

c) o Pacto Andino, que surge do chamado Acordo de Cartagena, com objetivo de integraçã o econô mica.
Pá gina 275

d) a Unasul, que objetiva criar mecanismos de proteçã o aos países da América do Sul.

e) a Alba, que propõ e a unificaçã o política e econô mica entre os países da América do Sul e da América Central.

5. (Uerj, 2012)

Projeção de investimentos estrangeiros diretos – IED (2010-2012)

Uerj/Divulgaçã o

* Os nú meros entre parênteses indicam a posiçã o no ranking em 2009. Adaptado de O Globo, 7 set. 2010.

Os Investimentos Estrangeiros Diretos nos países incluem todo tipo de capital investido, à exceçã o daqueles
para fins especulativos no setor financeiro. No atual momento do capitalismo, a posiçã o ocupada pelos países
emergentes indicados no grá fico reflete, principalmente, a seguinte característica de suas economias:

a) crescimento potencial do mercado consumidor.

b) perspectiva de produçã o agrícola de exportaçã o.

c) industrializaçã o tardia baseada em energia limpa.

d) desenvolvimento expressivo de bens de alta tecnologia.

6. (Ufop-MG, 2008) Leia as manchetes de jornais a respeito da China, apresentadas a seguir.

“Chineses vã o discutir como frear a economia”.

(Folha de S.Paulo, 1/3/2007)

“Impasses de uma economia em ebuliçã o”.

(Jornal do Comércio, 9/4/2007)

“China investiga se trabalhadores ganham abaixo do piso”.

(China Daily, 29/3/2007)

“China ultrapassa Estados Unidos em exportaçõ es para o Japã o”.


(BBC-Brasil, 12/2/2007)

“Banco Mundial destaca a reduçã o das florestas e a deterioraçã o do solo e da qualidade da á gua como os
principais problemas ambientais da China”.

(BBC-Brasil, 12/2/2007)

Com base nessas manchetes, é incorreto afirmar:

a) A China possui atualmente uma das economias que mais crescem no mundo.

b) A China tem aumentado as exportaçõ es de produtos manufaturados.

c) O modelo de crescimento tem produzido forte degradaçã o ambiental.

d) O modelo de economia planificada eliminou a pobreza do país.

7. (UFRJ, 2009) O grupo de países emergentes conhecido pela sigla Bric é composto por Brasil, Rú ssia, Índia e
China. Esses países têm apresentado ritmos de crescimento superiores aos dos países da Organizaçã o para
Cooperação e Desenvolvimento Econô mico (OCDE). Todos os países que formam o Bric têm ambiçõ es de se
consolidar como grandes potências regionais, com projeçã o em escala global. No entanto, do ponto de vista
geopolítico e militar, o Brasil se diferencia dos demais integrantes do grupo.

Apresente um aspecto que diferencie a geopolítica brasileira da dos demais países integrantes do Bric.

Pá gina 276

A notícia em diversas óticas


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade *

Esta seçã o aborda a visã o de Milton Santos sobre a globalizaçã o e as relaçõ es sociais: a fá bula como
visã o do senso comum, a perversidade como a realidade socioambiental e seus problemas, e a
possibilidade como uma proposta que contemple as necessidades, os direitos e anseios da
humanidade.

Leia os textos a seguir.

A fábula

União Europeia reforça com 5 milhões de euros ajuda humanitária ao Iraque

A Uniã o Europeia (UE) anunciou hoje um reforço da ajuda humanitá ria no Iraque, onde centenas de
milhares de pessoas fugiram das zonas controladas pelos rebeldes islâ micos radicais. No
comunicado, a UE informa que vai aumentar de 7 para 12 milhõ es de euros a ajuda ao Iraque neste
ano.

“A nova onda de ataques tem consequências terríveis para as crianças, as mulheres e os homens
mais vulnerá veis”, comentou a comissá ria encarregada da ajuda humanitá ria, Kristalina Georgieva,
apelando a todas as partes para respeitarem o trabalho das organizaçõ es humanitá rias no Norte do
Iraque.

Até 500 mil pessoas foram deslocadas da província de Ninive, juntando-se aos 400 mil
abandonados nos ú ltimos seis meses, segundo a UE.
Agência Brasil, 19 jun. 2014. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2014-06/
uniao-europeia-reforca-com-5-milhoes-de-euros-ajuda-humanitaria-ao>. Acesso em: 21 abr. 2016.

A perversidade

O pato e a galinha

Europa de hoje não está colhendo mais do que plantou

Embora nã o o admita – principalmente os países que participaram diretamente da sangrenta


imbecilidade – a Europa de hoje, nunca antes sitiada por tantos estrangeiros desde pelo menos os
tempos da queda de Roma e das invasõ es bá rbaras – nã o está colhendo mais do que plantou ao
secundar a política norte-americana de intervençã o no Oriente Médio e no Norte da Á frica.

Nã o tivesse ajudado a invadir, destruir, vilipendiar países como o Iraque, a Líbia, e a Síria; nã o
tivesse equipado, com armas e veículos, por meio de suas agências de espionagem, os terroristas
que deram origem ao Estado Islâ mico para que estes combatessem Kadafi e Bashar Al Assad, nã o
tivesse ajudado a criar o gigantesco engodo da Primavera Á rabe, prometendo paz, liberdade e
prosperidade a quem depois só se deu fome, destruiçã o e guerra, estupros, doenças e morte nas
areias do deserto, entre as pedras das montanhas, no profundo e escuro tú mulo das á guas do
Mediterrâ neo, a Europa nã o estaria, agora, às voltas com a maior crise humanitá ria deste século, só
compará vel, na histó ria recente, aos grandes deslocamentos humanos que ocorreram no fim da
Segunda Guerra Mundial.

Lépidos e fagueiros, os Estados Unidos, os maiores responsá veis pela situaçã o, sequer cogitam
receber – e nisso deveriam estar sendo cobrados pelos europeus – parte das centenas de milhares
de refugiados que criaram com sua desastrada e estú pida doutrina de “guerra ao terror”, de
substituir, paradoxalmente, governos está veis por terroristas, inaugurada pelo “pequeno” Bush,
depois do controvertido atentado à s Torres Gêmeas.

* SANTOS, M., 2000.

Pá gina 277

Depois que os imigrantes forem distribuídos, e se incrustarem, em guetos, ou forem – ao menos


parte deles – integrados, em longo e doloroso processo, que deverá durar décadas, aos países que
os acolherem, a Europa nunca mais será a mesma.

Por enquanto, continuarã o chegando à suas fronteiras, desembarcando em suas praias, invadindo
seus trens, escalando suas montanhas, todas as semanas, milhares de pessoas, que, cavando
buracos, e enfrentando jatos de á gua, cassetetes e gá s lacrimogêneo, nã o tendo mais bagagem que o
seu sangue e o seu futuro, reunidos nos corpos de seus filhos, irã o cobrar seu quinhã o de esperança
e de destino, e a sua parte da primavera, de um continente privilegiado, que para chegar aonde
chegou, fartou-se de explorar as mais variadas regiõ es do mundo.

É cedo para dizer quais serã o as consequências do Grande Ê xodo. Pessoalmente, vemos toda
miscigenaçã o como bem-vinda, uma injeçã o de sangue novo em um continente conservador,
demograficamente moribundo e envelhecido.

Mas é difícil acreditar que uma nova Europa homogênea, solidá ria, universal e pró spera emergirá
no futuro de tudo isso, quando os novos imigrantes chegam em momento de grande ascensã o da
extrema-direita e do fascismo, e neonazistas cercam e incendeiam, latindo urros hitleristas, abrigos
com mulheres e crianças.
Se, no lugar de seguir os Estados Unidos, em sua política imperial em países agora devastados,
como a Líbia e a Síria, ou sob disfarçadas ditaduras, como o Egito, a Europa tivesse aplicado o que
gastou em armas no Norte da Á frica e em lugares como o Afeganistã o, investindo em fá bricas
nesses mesmos países ou em linhas de crédito que pudessem gerar empregos para os africanos
antes que eles precisassem se lançar, desesperadamente, à travessia do Mediterrâ neo, apostando
na paz e nã o na guerra, o velho continente nã o estaria enfrentando os problemas que enfrenta
agora, o mar que o banha ao sul nã o estaria coalhado de cadá veres, e nã o existiria o Estado
Islâ mico.

Que isso sirva de liçã o a uma Uniã o Europeia que insiste, por meio da Otan, em continuar sendo
tropa auxiliar dos Estados Unidos na guerra e na diplomacia, para que os mesmos erros que se
cometeram ao sul, nã o se repitam ao Leste, com o estímulo a um conflito com a Rú ssia pela Ucrâ nia,
que pode provocar um novo êxodo maciço em uma segunda frente migrató ria, que irá multiplicar
os problemas, o caos e os desafios que está enfrentando agora.

As desventuras das autoridades europeias, e o caos humanitá rio que se instala em suas cidades, em
lugares como a Estaçã o Keleti Pu, em Budapeste, e a entrada do Eurotú nel, na França, mostram que
a histó ria nã o tolera equívocos, principalmente quando estes se baseiam no preconceito e na
arrogâ ncia, cobrando rapidamente a fatura daqueles que os cometeram.

Galinha que acompanha pato acaba morrendo afogada.

É isso que Bruxelas e a UE precisam aprender com relaçã o a Washington e aos Estados Unidos.

SANTAYANA, M. Jornal do Brasil. 3 set. 2015. Disponível em: <www.jb.com.br/sociedade-


aberta/noticias/2015/09/03/o-pato-e-a-galinha>. Acesso em: 21 abr. 2016.

A possibilidade

Um dos princípios bá sicos do Ministério das Relaçõ es Exteriores do Brasil é o legado do Barã o do
Rio Branco: a nã o ingerência do Brasil nos interesses de outras naçõ es. Você consideraria esse
princípio passível de ser adotado por todos os países?

Analise os temas estudados até esta liçã o, tire as suas conclusõ es e redija uma proposta factível
para se alcançar a paz, a prosperidade e um bom relacionamento entre todos os países do mundo,
independendo de orientaçã o política, ideoló gica, racial ou religiosa.

Pá gina 278

SUGESTÕES DE LIVROS
• ARRUDA, J. J. Nova história moderna e contemporânea. Bauru: Edusc, 2004.

O livro faz uma aná lise dos principais marcos da Histó ria Moderna, desde a crise do feudalismo à
globalizaçã o, levantando as características da formaçã o dos Estados nacionais, da Revoluçã o
Francesa e da Primeira e Segunda Guerras Mundiais.

• BATISTA JR., P. N. A economia como ela é… 3. ed. Sã o Paulo: Boitempo, 2002.

O autor promove um passeio pela histó ria recente da economia brasileira e do mundo, analisando
os efeitos da globalizaçã o e das crises financeiras. Aborda o neoliberalismo na ó tica econô mica e
social, relacionando os fatos do período. A aná lise econô mica é abordada com uma linguagem de
fá cil assimilaçã o pelo leitor.
• CATANI, A. M. O que é capitalismo. 34. ed. Sã o Paulo: Brasiliense, 1995. O autor busca explicar
didaticamente no que se constitui o capitalismo e como aconteceram suas crises.

• HOCHSCHILD, A. O fantasma do rei Leopoldo. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1999.

O livro trata da histó ria de Leopoldo II, rei dos belgas, que era dono de uma longa barba branca,
uma amante adolescente e uma ganâ ncia absoluta. Alimentou sua naçã o com uma riqueza espoliada
com crueldade de um territó rio dominado por seu país na Á frica, o entã o Estado Livre do Congo.

• OLIC, N. B.; CANEPA, B. Conflitos do mundo: um panorama das guerras atuais. Sã o Paulo: Moderna,
2009. O livro faz um apanhado geral das guerras atuais, de separatismos e das á reas de tensã o do
mundo.

SUGESTÕES DE FILMES
A grande aposta

Drama, comédia, biografia.

Direçã o: Adam McKay.

Estados Unidos, 2015, 131 min.

Classificaçã o indicativa: 14 anos.

O filme é uma adaptaçã o do livro The big short: inside the doomsday machine, de Michael Lewis.
Conta a histó ria da crise imobiliá ria e financeira de 2008 com base na trajetó ria de investidores e
especuladores financeiros que previram o estouro da bolha e resolveram apostar contra um dos
investimentos mais seguros do mercado: os títulos de dívida imobiliá ria nos Estados Unidos. Oscar
de Melhor Roteiro Adaptado em 2016.

Guerra ao terror

Açã o, guerra.

Direçã o: Kathryn Bigelow.

Estados Unidos, 2008, 124 min.

Classificaçã o indicativa: 14 anos.

O filme explora os conflitos psicoló gicos dos soldados numa guerra, mostrando a rotina de um
esquadrã o antibombas do Exército dos Estados Unidos que foi enviado à Guerra do Iraque. A
histó ria é centrada na figura de um sargento que tem apenas mais 38 dias de trabalho – serã o
longos dias, expostos a inú meros perigos mortais. Em 2010, ganhou o Oscar de Melhor Filme e
também foi premiado em mais cinco categorias.

Hotel Ruanda

Drama, guerra.

Direçã o: Terry George.

Reino Unido, Á frica do Sul, Itá lia, 2004, 120 min.


Classificaçã o indicativa: 14 anos.

Em 1994 um conflito político em Ruanda levou à morte de quase 1 milhã o de pessoas em apenas
cem dias. Sem apoio internacional, os ruandenses tiveram que buscar saídas em seu pró prio
cotidiano para sobreviver. Uma delas foi oferecida por um gerente de um hotel que abrigou mais de
1 200 pessoas durante o conflito.

Pá gina 279

Michael Collins: o preço da liberdade

Biografia. Direçã o: Neil Jordan.

Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda, 1996, 132 min.

Classificaçã o indicativa: 16 anos.

Em 1916, na Irlanda, Michael Collins é preso por participar de uma manifestaçã o contra a presença
inglesa em seu país. Passsa entã o a acreditar que a guerrilha poderá levar seus compatriotas ao fim
de uma submissã o ao governo inglês, que dura 700 anos. Assim é criado o Exército Republicano
Irlandês, o IRA, que em 1921 conseguiu realizar o primeiro acordo de paz com os ingleses, quando
fundou a Repú blica da Irlanda do Norte. Mas a paz almejada foi apenas o início de um conflito entre
Irlanda do Norte e Inglaterra, que permanece até os dias de hoje.

SUGESTÕES DE SITES
• Banco Interamericano de Desenvolvimento. Disponível em: <www.iadb.org/pt>.

• Banco Mundial. Disponível em: <www.worldbank.org>.

• Carta Capital. Disponível em: <www.cartacapital.com.br>.

• FAO. Disponível em: <www.fao.org>.

• IBGE: Países@. Disponível em: <www.ibge.gov.br/paisesat>.

• Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <www.mma.gov.br>.

• OCDE. Disponível em: <www.oecd.org>.

• OMC. Disponível em: <www.wto.org>.

• ONU. Disponível em: <www.un.org>; <www.onu.org.br>.

• Our World in Data. Disponível em: <www.ourworldindata.org>.

• Pnud. Disponível em: <www.pnud.org.br>.

• Revista Fó rum. Disponível em: <www.revistaforum.com.br>.

• Unicef. Disponível em: <www.unicef.org>. (Acessos em: 13 maio 2016.)


REFERÊNCIAS
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ARRUDA, J. J. Atlas histórico básico. Sã o Paulo: Á tica, 2007.

BANDEIRA, M. A Segunda Guerra Fria: geopolítica e dimensã o estratégica dos Estados Unidos. Rio
de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2013.

BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (Org.). Dicionário de política. 5. ed. Brasília: Editora UnB,
2000.

BOFF, L. Fundamentalismo: a globalizaçã o e o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.

BONFACE, P.; VÉ DRINE, H. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009.

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Paris: Complexe, 1991.

CHARLIER, J. (Dir.). Atlas du 21e siècle édition 2012. Groningen: Wolters-Noordhoff; Paris: É ditions
Nathan, 2011. 279

Pá gina 280

DA MATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

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GALEANO, E. De pernas pro ar: a escola do mundo do avesso. Porto Alegre: L&PM, 2010. _____. O
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GRESH, A. Atlas da globalização: le monde diplomatique. 2. ed. Lisboa: Campo da Comunicaçã o,


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HAESBAERT, R. China: entre o oriente e o ocidente. Sã o Paulo: Á tica, 1994.

HOBSBAWM, Era dos extremos: o breve século XX. 2. ed. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2003.

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SIMIELLI, M. E. Geoatlas. Sã o Paulo: Á tica, 2008.

SMITH, D. Atlas dos conflitos mundiais. Sã o Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

SOJA, E. W. Geografias pós-modernas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. SOUZA, M. M. África e Brasil
africano. 3. ed. Sã o Paulo: Á tica, 2013.

TZU, S. A arte da guerra. Porto Alegre: L&PM, 2006.

WALLERSTEIN, I. O capitalismo histórico e civilização capitalista. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.

Pá gina 281

Manual do Professor

3º ANO
Ensino Médio

Pá gina 282
Pá gina 283

Sumário
1. Apresentação da proposta pedagógica e teórico-metodológica da
Coleção 284

2. Finalidades do ensino-aprendizagem de Geografia no Ensino Médio


289

2.1 – Os Parâ metros Curriculares Nacionais para o ensino de Geografia no nível


médio 290

2.2 – As novas Diretrizes Curriculares para a Educaçã o Bá sica – Ensino Médio 291

3. Habilidades e competências no Ensino Médio e no Enem 296

3.1 – As habilidades, competências e objetos do conhecimento no Enem 297

4. Sugestão geral de planejamento de habilidades e competências por


ano do Ensino Médio 302

5. Geografia Acadêmica e Geografia Escolar: as especificidades da


Geografia Escolar 304

6. A interdisciplinaridade no ensino-aprendizagem de Geografia no


nível médio 306

7. Processos e procedimentos avaliativos 307

8. As novas tecnologias de comunicação e informação, o estudo do meio


e os projetos de investigação no ensino de Geografia – nível médio 309

9. Referências bibliográficas do Manual do Professor 312

10. Sugestões de textos: formação pedagógica 315

11. Distribuição dos conteúdos por ano: sumário dos livros do aluno
316

12. Comentários das atividades por capítulo 320

Capítulo 1 – O mundo do trabalho 320

Capítulo 2 – A populaçã o mundial 328


Capítulo 3 – Multiculturalismo e geografia 333

Capítulo 4 – Guerra Fria e a Nova Ordem Mundial 337

Capítulo 5 – Nacionalismos no século XXI 344

Capítulo 6 – Fundamentalismos 352

Capítulo 7 – A Á frica no contexto da geopolítica mundial 357

Capítulo 8 – A Nova Ordem Mundial e as organizaçõ es internacionais 364

Capítulo 9 – O mundo multipolarizado 368

Capítulo 10 – Parcerias políticas e econô micas globais 372

Pá gina 284

1. Apresentação da proposta pedagógica e


teórico-metodológica da Coleção
Ser professora, ter responsabilidade em ensinar, com o compromisso de fazer com que os alunos aprendam, sempre foram
princípios que me orientaram, logo que comecei a trabalhar [...]. Esses princípios nortearam minha vida profissional, que
sempre esteve entrada nas perguntas “como ensinar?”, “para que ensinar?”, “por que ensinar?” e “como os alunos
aprendem?”. (CASTELAR, 2014, p. 244.)

A Geografia como disciplina escolar, e em consonâ ncia com as demais Ciências Sociais, possui
um enorme potencial voltado à formação da cidadania, em especial por meio da
compreensã o dos processos naturais, sociais, econô micos, políticos, ambientais e histó ricos
que auxiliam a analisar a produçã o dos diferentes espaços e territó rios.

Entendemos que, no Ensino Médio – etapa de conclusã o da formaçã o na Educaçã o Bá sica –, nã o


basta descrever o espaço: é necessá rio interpretá -lo, inseri-lo no processo mais amplo de
produçã o do conhecimento e relacioná -lo ao cotidiano dos aprendizes.

O ensino da Geografia deve fazer sentido para os estudantes, ou seja, deve ser capaz de auxiliá -
los a se orientar, propor e encaminhar soluçõ es, oferecer alternativas e identificar a ciência
geográ fica como algo importante para a formação do cidadão.

Trata-se de uma tarefa muito complexa, mas possível de se tornar presente nas salas de aula. A
Coleçã o aqui apresentada busca ser um instrumento que auxilia nesses objetivos. Desse modo,
procura trabalhar na perspectiva de uma Geografia que tem na apresentaçã o, contextualizaçã o,
investigaçã o, problematizaçã o e valorizaçã o dos saberes e vivências dos jovens, o centro de
análise dos diferentes processos socioespaciais e das questõ es prementes de nosso tempo-
espaço.

Ao ser perguntado sobre qual Geografia ensinar, o geó grafo Milton Santos (1926-2001)
indicou como ponto de partida uma Geografia do presente, isto é, a “consciência da época que
vivemos”. De acordo com ele, isso significa “saber que o mundo é, e como ele se define e
funciona, de modo a reconhecer o lugar de cada país no conjunto do planeta e o de cada pessoa
no conjunto da sociedade humana” (SANTOS, 1994, p. 121).

A contemporaneidade é palco de inú meras transformaçõ es (sociais, geopolíticas, econô micas,


científicas, tecnoló gicas, filosó ficas, culturais etc.), que impregnam as paisagens com seus
símbolos e signos, cuja utilizaçã o e aplicaçã o constituem aspectos essenciais ao ensino de
Geografia.

Essas transformaçõ es geram novas necessidades e novos desafios, que propiciam o


desenvolvimento de autoconhecimento, autoestima, capacidade de liderança e habilidades de
construir redes de relaçõ es, também permite ser capaz de conceber e realizar sonhos. Ao
mesmo tempo, renova-se o campo de estudos da Geografia Escolar, com o surgimento de novas
questõ es. No campo do trabalho, os debates questionam em torno da precarizaçã o do
emprego, do aumento exacerbado do desemprego (estrutural), da necessidade de se tornar
“empregá vel” e da difusã o do trabalho domiciliar. No campo da produção e do consumo,
importantes discussõ es surgem de reflexõ es em torno do acesso aos bens de consumo e do
consumismo, da obsolescência programada e seus impactos sociais e ambientais, e os porquês
da persistência da fome e das desigualdades sociais. Na geopolítica, ressurgem com força os
temas como os nacionalismos e as questõ es fronteiriças, o terror e o terrorismo, e o papel das
instituiçõ es multilaterais. Considerando o atual desenvolvimento científico e tecnológico, os
debates giram em torno das novas tecnologias de sistemas online, inteligência artificial,
robotizaçã o industrial, clonagem, pesquisa com células-tronco, transgenia etc. No contexto da
crise ambiental, sã o vitais as discussõ es em torno da poluiçã o, do lixo (inclusive o e-lixo), a
problemá tica da á gua e a sustentabilidade etc.

No mundo de hoje, globalizado e repleto de mudanças técnicas, estruturais e dinâ micas, a


Geografia constitui uma ciência de fundamental importâ ncia para conhecer, analisar,
interpretar e compreender as transformaçõ es do espaço, de modo a compartilhar tais
conhecimentos com a sociedade. Portanto, o processo de ensino- -aprendizagem constitui um
momento privilegiado quando voltado à aná lise, construçã o do conhecimento, reflexã o e
proposiçã o de mudanças.

De acordo com Milton Santos:

Podemos pensar na construçã o de um outro mundo, mediante uma globalizaçã o mais humana. As bases materiais do
período atual sã o, entre outras, a unicidade da té cnica, a convergê ncia dos momentos e o conhecimento do planeta.

Pá gina 285

É nessas bases té cnicas que o grande capital se apoia para construir a globalizaçã o perversa [...]. Mas, essas mesmas bases
té cnicas poderã o servir a outros objetivos, se forem postas ao serviço de outros fundamentos sociais e políticos. Parece que
as condiçõ es histó ricas do fim do sé culo XX apontavam para esta ú ltima possibilidade. Tais novas condiçõ es tanto se dã o no
plano empírico quanto no plano teó rico. (SANTOS, 2000, p. 20.)

Nesse sentido, o saber geográ fico escolar potencializa-se como fundamental para analisar,
compreender, explicar e se posicionar no mundo em que vivemos, por meio dos conceitos de
tempo, espaço, lugar, territó rio, territorialidades, regiã o, paisagem, ambiente, redes, escalas,
acessibilidade e interaçã o.

Nesse contexto, entendemos que o professor pode e deve ser mediador dos estudos
geográ ficos; potencializar a compreensã o de fenô menos e sua localizaçã o, tendo por conceitos
os acima mencionados; auxiliar a compreender e problematizar as transformaçõ es do mundo
contemporâ neo, respeitando a faixa etá ria dos estudantes, aproveitando suas vivências
cotidianas e seus saberes de modo a ampliar e aprofundar sua aprendizagem.
Se os processos de ensino-aprendizagem constituem momentos especiais para a produçã o do
conhecimento, os livros didá ticos, em nosso entendimento, correspondem a materiais
auxiliares dessa sistemá tica. Para tanto, há necessidade de uma concepçã o de Geografia
abrangente e não dissociada da prá tica. Entendemos que as experiências docentes e discentes
– tanto em anos anteriores de escolarizaçã o como em suas vivências socioespaciais – sã o
fundamentais à consolidaçã o e organizaçã o dos conceitos e estratégias abordados nas escolas.

Consideramos que o educando é um sujeito de saberes com diversas possibilidades e


potencialidades e que vive em determinado tempo e lugar. A riqueza da produçã o e da
elaboraçã o dos conhecimentos disciplinares e interdisciplinares nas escolas reside nas
diversas possibilidades de articular e integrar o contexto temporal e espacial, permitindo ao
educando sentir-se nele inserido.

É por isso que as atividades dispostas ao longo dos capítulos e unidades procuram desenvolver
e aprimorar diversas habilidades e possibilitar a construçã o e a consolidaçã o de
conhecimentos, vocabulá rio e instrumental teó rico da Geografia e de ciências afins. Essas
atividades envolvem diversos níveis de complexidade, partindo da identificaçã o mais simples
até um nível mais abstrato e complexo de reflexã o.

Há também, em todos os capítulos, uma seçã o de problematização e sondagem, que procura


instigar e despertar a curiosidade e o desejo por conhecer determinado tema de modo
aprofundado. Em cada capítulo há também uma seção de fechamento com base na concepçã o
de globalizaçã o como “fá bula, perversidade e possibilidade” (SANTOS, 2000), que busca
discutir algumas questõ es relacionadas aos capítulos e, sobretudo, instigar os jovens a
responder a tais dilemas e contradiçõ es por meio da proposiçã o de alternativas possíveis à
ordem existente.

Consideramos e valorizamos muito os saberes docentes, que na literatura educacional


(nacional e internacional) têm ganhado relevâ ncia a partir da década de 1990.

Sob diversos â ngulos, pesquisadores como P. Perrenoud, M. Tardif, D. Schö n, L. Shulman e


outros vêm discutindo os processos de formaçã o de professores e a composiçã o de seus
saberes (NUNES, 2001).

Os resultados desse trabalho têm influenciado muito os estudos nesse campo, que vêm
procurando discutir quais seriam os elementos constitutivos dos saberes dos professores,
quais representaçõ es/ concepçõ es existem sobre o ser professor, e quais atos pedagó gicos e de
ensino os docentes praticam e produzem na escola bá sica. Tais pesquisas têm evidenciado que
os docentes sã o profissionais que atuam com e nas relaçõ es humanas e que o cotidiano
escolar, em especial as salas de aula, exige o confronto com situaçõ es complexas e singulares
que mobilizam diferentes saberes e requerem soluçõ es imediatas. Consideramos, assim, em
consonâ ncia com a literatura a respeito dos saberes docentes, que esses sã o mú ltiplos e
plurais, construídos em diversas etapas, em processo permanente de reconstruçã o tanto no
tempo como no espaço, e que se encontram atrelados a diversos valores e crenças (DEL
GAUDIO, 2006).

Desse modo, em nossa concepçã o, os livros didá ticos, nessa complexidade que é o processo de
ensino-aprendizagem e os saberes docentes e discentes, constituem-se em ferramentas
auxiliares, mas nã o exclusivas para o cotidiano dos docentes e dos estudantes. O uso de novas
tecnologias, a consulta a fontes como livros acadê micos e técnicos, a construçã o de fontes
primá rias de pesquisa e aná lise, e o desenvolvimento do pensamento científico, analítico e
reflexivo sã o fundamentais para possibilitar a maior autonomia dos jovens que estã o
concluindo a Educaçã o Bá sica.
Para atingir tais objetivos, apresentamos os problemas, discutimos as questõ es, propomos
problematizaçõ es e investigaçõ es, bem como solicitamos aos jovens que mobilizem seu imenso
potencial criativo na procura por alternativas à ordem instituída.

Essa perspectiva teó rico-metodoló gica se reflete, por sua vez, nas variadas sugestõ es de
atividades e em indicaçõ es de leituras, filmes e documentá rios presentes na Coleçã o, bem
como em nossa concepçã o de avaliaçã o, que compreendemos como importante para uma
formaçã o cidadã .

Pá gina 286

Essa construçã o da perspectiva teó rico- -metodoló gica e pedagó gica que orienta a Coleçã o e a
redaçã o dos diversos capítulos e temá ticas pró prias ao ensino de Geografia considera quatro
processos, procedimentos e conceitos:

• a concepçã o de que a aprendizagem deve ser significativa, inspirada na teoria de David


Ausubel;

• a concepçã o de que o processo ensino-aprendizagem deve ser pautado numa perspectiva


socioconstrutivista, inspirado em Vygotsky;

• a continuidade e o aprofundamento da educaçã o cartográ fica/iconográ fica;

• a possibilidade de continuaçã o do processo de escolarizaçã o no Ensino Superior.

A concepçã o de aprendizagem significativa é inspirada na teoria sobre aprendizagem


desenvolvida por David Ausubel (2003). Embora médico psiquiatra de formaçã o, Ausubel é um
importante psicó logo e pedagogo estadunidense, cujos estudos, pesquisas e publicaçõ es
colocam em destaque os processos de aprendizagem.

Um dos aspectos a se considerar em sua vasta obra é a preocupaçã o em construir uma teoria
de ensino capaz de auxiliar os professores acerca de desempenho em sala de aula. Ausubel
(2003) destaca a importâ ncia da aprendizagem significativa, aquela que coloca em relevo os
conceitos prévios dos estudantes, estimulando-os para a descoberta e redescoberta de outros
conhecimentos levando a uma aprendizagem prazerosa e eficaz.

De acordo com o autor, quanto maior a relaçã o entre o conteú do a ser aprendido e os
conhecimentos prévios dos estudantes, maior significado é atribuído ao conhecimento novo. E
para haver aprendizagem significativa, é necessá rio que o conteú do escolar a ser aprendido
seja potencialmente relevante, ou seja, implique em descobertas, redescobertas,
redimensionamento, repetiçã o.

Isso incide sobre o modo como as informaçõ es e os recursos introdutó rios sã o apresentados
inicialmente no processo de ensino-aprendizagem, que devem ter como finalidade servir de
ponte entre os conhecimentos prévios dos estudantes e os conteú dos novos que lhes sã o
apresentados.

Esse aspecto está presente em toda a Coleçã o, especialmente nas atividades de abertura dos
capítulos. Mas essa proposta se materializa também por meio de atividades no corpo dos
capítulos, das dicas de livros e filmes, e da seçã o “O mundo como fá bula, como perversidade e
como possibilidade”, que permitem a construçã o de pontes entre a realidade vivida, outras
linguagens e formas de abordagem dos temas apresentados e processos sociais que
possibilitem o surgimento do novo.
A aprendizagem numa perspectiva socioconstrutivista implica em considerar o estudante
como protagonista do processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Cavalcanti,

A perspectiva socioconstrutivista – denominaçã o proveniente dos estudos de Vygotsky – concebe o ensino como uma
intervençã o intencional nos processos intelectuais, sociais e afetivos do aluno, buscando sua relaçã o consciente e ativa com
os objetos de conhecimento (CAVALCANTI, 1998). Esse entendimento implica, resumidamente, em afirmar que o objetivo
maior do ensino é a construçã o do conhecimento pelo aluno, de modo que todas as açõ es devem estar voltadas para sua
eficá cia do ponto de vista dos resultados no conhecimento e desenvolvimento do aluno. Tais açõ es devem pô r o aluno,
sujeito do processo, em atividade frente ao meio externo, o qual deve ser “inserido” no processo como objeto de
conhecimento, ou seja, o aluno deve ter com esse meio (que sã o os conteú dos escolares) uma relaçã o ativa, uma espé cie de
incô modo desafio que o leve a um desejo de conhecê -lo. A referê ncia a açõ es que dirigem o processo faz ressaltar outro
aspecto igualmente importante: no ensino, a construçã o do conhecimento do aluno é socialmente mediada. Nã o é uma
atividade espontâ nea do sujeito; é , ao contrá rio, uma atividade consciente e intencionalmente dirigida por outro agente que
é o professor. Ele é , tanto quanto o aluno, agente ativo no processo. É como agente que intervé m no processo do aluno que
ele apresenta, propõ e, “coloca” como objeto de conhecimento temas, problemas, dilemas, conteú dos. (CAVALCANTI, 2015, p.
128-129.)

Desse modo, ao discorrermos a respeito dos saberes docentes, bem como dos conhecimentos
prévios dos estudantes do Ensino Médio, entendemos que ambos sã o protagonistas e sujeitos
das açõ es pedagó gicas, que essas têm uma intencionalidade e que essa intencionalidade –
docente – deve mediar todo o processo. Segundo Castellar,

A decisã o do conteú do a ser trabalhado é do professor e esta decisã o deve estar apoiada em uma aná lise do conhecimento já
elaborado que se deseja ensinar. Os conteú dos escolares devem ser trabalhados articulados como desenvolvimento das
habilidades operató rias e dos conceitos, na perspectiva de fazer com que o aluno passe de um estado de menor
conhecimento para um estado de maior conhecimento. (CASTELLAR, 2015, p. 53.)

O livro didá tico, nessa perspectiva, constitui um material de suporte ao trabalho e à


intencionalidade docentes. Ele traz uma organizaçã o de conteú dos segundo critérios
estabelecidos pelos autores. Todavia, cabe ao professor seguir ou reordenar a sequência do
material de acordo com seus pressupostos educativos, as finalidades que estabeleceu ao
processo de ensino-aprendizagem e as habilidades e competências que elaborou para cada ano
ou turma.

A Coleçã o traz elementos para que o estudante tenha condiçõ es de desenvolver sua autonomia,
ter perspectivas de pesquisa, selecionar as informaçõ es mais adequadas ao que se pretende e,
com isso, desenvolver e ampliar a capacidade de elaborar raciocínios centrados no espaço.

Pá gina 287

As atividades propostas, tanto no livro do aluno como neste Manual, devem ser usadas de
acordo com o planejamento e a intencionalidade docentes. Assim, as atividades de
problematizaçã o e sondagem sã o voltadas ao resgate dos conhecimentos prévios dos
estudantes, enquanto aquelas de pesquisa se voltam ao desenvolvimento de competências e de
habilidades relacionadas à seleçã o, organizaçã o e divulgaçã o de informaçõ es, de modo a
potencializar a produçã o do conhecimento.

Há também atividades que utilizam linguagens variadas, a fim de permitir a sistematizaçã o, o


questionamento e a problematizaçã o de determinadas concepçõ es e visõ es sociais de mundo
(LÖ WY, 1995). Os textos complementares, seçõ es como “Saiba mais” e a indicaçã o de filmes e
documentá rios também seguem o pressuposto de que novas linguagens, abordagens
diferenciadas e outras leituras do mundo e dos problemas contemporâ neos sã o instrumentos
capazes de auxiliar os estudantes em seu processo de aprendizagem. Todavia, é o docente que
deve estabelecer as formas e processos pelos quais essas atividades, sugestõ es, leituras, filmes
etc. serã o utilizados, apropriados e questionados em suas aulas.
Além disso, a concepçã o da seçã o de encerramento de cada capítulo traz diferentes leituras – e
diversas linguagens – a respeito de questõ es que afetam as sociedades e os espaços na
atualidade. Seu diferencial reside no estímulo para que os estudantes proponham alternativas
possíveis à s problemá ticas apontadas.

Essa Seçã o, intitulada “A notícia em diversas ó ticas”, está assentada na concepçã o do “mundo
como fá bula, como perversidade e como possibilidade”, do geó grafo Milton Santos (2000).

Na introduçã o de seu livro Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal (2000), Milton Santos enfatizou a importâ ncia de conhecer, analisar e propor
mudanças no contexto atual. Segundo o autor:

A ê nfase central do livro vem da convicçã o do papel da ideologia na produçã o, disseminaçã o, reproduçã o e manutençã o da
globalizaçã o atual. Esse papel é , também, uma novidade do nosso tempo. Daí a necessidade de analisar seus princípios
fundamentais, apontando suas linhas de fraqueza e de força. Nossa insistê ncia sobre o papel da ideologia deriva da nossa
convicçã o de que, diante dos mesmos materiais atualmente existentes, tanto é possível continuar a fazer do planeta
um inferno, conforme no Brasil estamos assistindo, como também é viável realizar o seu contrário. Daí a relevâ ncia da
política, isto é , da arte de pensar as mudanças e de criar condiçõ es para torná -las efetivas. (SANTOS, 2000, p. 14, grifos
nossos.)

A partir dessa premissa, o autor procura evidenciar a coexistência de três mundos em um só .

O primeiro é o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalizaçã o como fábula, que constró i e
divulga como verdadeiras “certo nú mero de fantasias, cuja repetiçã o, entretanto, acaba por se
tornar uma base aparentemente só lida de sua interpretaçã o’’ (TAVARES apud SANTOS, 2000,
p. 18).

O segundo é “o mundo tal como é: a globalizaçã o como perversidade”, marcado pela


concentraçã o de renda, fome, pobreza e outras mazelas que “sã o direta ou indiretamente
imputá veis ao presente processo de globalizaçã o” (SANTOS, 2000, p. 20).

O terceiro, ‘‘o mundo como ele pode ser: uma outra globalizaçã o’’, é a possibilidade, uma
globalizaçã o mais humana, que realmente atenda aos anseios da humanidade, em todas as suas
diversidades (SANTOS, 2000, p. 20-21).

Ao final de cada capítulo, portanto, na seçã o “A notícia em diversas ó ticas”, é apresentado aos
estudantes um assunto para ser analisado na perspectiva apontada por Santos (2000): fá bula e
perversidade como situaçõ es antagô nicas e a possibilidade como proposta a ser criada que
contemple a sociodiversidade. Em consonâ ncia com a redaçã o do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem), a possibilidade pode ser vista como a proposta de intervençã o requerida no
projeto de produçã o de texto, em que se exige também o respeito aos direitos humanos.

A Cartografia é uma linguagem fundamental ao ensino de Geografia, na medida em que


possibilita localizar, sistematizar, compreender e significar os conceitos e temas abordados por
meio de mapas, grá ficos, tabelas etc. A Cartografia permite compreender relaçõ es e processos
que se tornam mais explícitos quando sistematizados e inter-relacionados por meio dessa
linguagem.

De acordo com Joly:

Um mapa é uma representaçã o geomé trica plana, simplificada e convencional, do todo ou de parte da superfície terrestre,
numa relaçã o de similitude conveniente denominada escala. [...] É uma construçã o seletiva e representativa que implica o
uso de símbolos e de sinais apropriados. [...] O nú mero e o acú mulo dos símbolos dependem, com efeito, do espaço
disponível: quanto maior a reduçã o da imagem terrestre (ou seja, quanto menor for a escala), mais severa é a seleçã o e mais
abstrata a simbologia (1990, p. 7-8).

Desse modo, os mapas apresentam informaçõ es codificadas, que se dirigem de um sujeito para
outro, constituindo-se, portanto, numa “enunciaçã o” (DEL GAUDIO, 2003).
No entanto, é preciso compreender que se a palavra é o “signo ideoló gico por excelência”
(BAKHTIN, 1992), os mapas, especialmente os políticos em pequena escala, também podem
exercer essa funçã o.

Pá gina 288

Katuta (2006) afirma que o importante no uso da cartografia na escola é trabalhar com mapas,
e nã o “dar aulas de mapas”.

Essa autora assevera ainda que:

A apropriaçã o e o uso da linguagem cartográ fica devem ser entendidos no contexto da construçã o dos conhecimentos
geográ ficos, o que significa dizer que nã o se pode usá -la per se, mas como instrumental primordial, poré m nã o ú nico, para
elaboraçã o de saberes sobre territó rios, regiõ es, lugares e outros. [...] A apropriaçã o e utilizaçã o da linguagem cartográ fica
depende nã o só , mas em grande parte, das concepçõ es de Geografia e do ensino dessa disciplina que os professores e os
alunos possuem. (KATUTA, 2006, p. 133-134.)

Por isso, é preciso, nas aulas, problematizar a construçã o e aprofundar o processo de leitura e
compreensã o de mapas, cartas, tabelas, grá ficos e de suas intencionalidades e potencialidades
para conhecer, investigar, analisar e problematizar a realidade. Do mesmo modo, acreditamos
ser esse um caminho para explorar a iconografia (charges, fotografias, infográ ficos etc.)
presentes na Coleçã o.

A educação cartográfica, entendida, portanto, como parte integrante do processo de ensino-


aprendizagem, corresponde à capacidade de compreensã o e elaboraçã o de mapas, plantas,
grá ficos, tabelas e croquis, bem como de aná lise e interpretaçã o de globos, imagens de satélite
e fotografias aéreas, linguagens em que se expressam conhecimentos espaciais e sua
problematizaçã o. Essas habilidades devem ser desenvolvidas na escola com base em exercícios
que envolvam diferentes conceitos e prá ticas associadas à aná lise e leitura do espaço.

Os mapas tê m duas funçõ es distintas e nã o excludentes. A primeira é a de localizar os fatos; a segunda a de apresentar
informaçõ es quantitativas, ordenadas ou qualitativas. Desse modo, os documentos podem desencadear raciocínios
sugerindo e respondendo questõ es. (SANTOS; LE SAN apud SOUZA; KATUTA, 2001, p. 114.)

Souza e Katuta destacam ainda que “a principal finalidade desse instrumento no ensino de
Geografia não é de dar aulas de Cartografia, de mapas, mas desencadear raciocínios para o
entendimento do espaço geográ fico” (2001, p. 115).

Assim, a Cartografia no ensino de Geografia deve auxiliar a responder questõ es como “onde?” e
“o quê?”, sem ficar no ensino da técnica por si mesma. Segundo Nascimento e Ludwig:

Os Parâ metros Curriculares Nacionais (PCN) de Geografia (BRASIL, 1998) ressaltam a importâ ncia da Cartografia ao
estabelecerem como um dos objetivos do estudo da disciplina no Ensino Fundamental a utilizaçã o da linguagem cartográ fica,
a fim de subsidiar a obtençã o de informaçõ es a partir de documentos cartográ ficos, bem como para representar a
espacialidade dos fenômenos geográficos. Neste contexto, sugerem blocos temá ticos em que elencam conteú dos, como a
leitura e a compreensã o das informaçõ es que sã o expressas em linguagem cartográ fica. (2015, p. 32, grifos nossos.)

Desse modo, a Cartografia, na Coleçã o, encontra-se associada a conceitos e contextos, assim


como com o desenvolvimento da proposta pedagó gica e teó ricometodoló gica e dos conteú dos.

Nesse sentido, consideramos essencial o estabelecimento de relaçõ es entre os diferentes


mapas presentes nos capítulos – por exemplo, na abordagem de um conflito relacionando-o à
existência e à localizaçã o de recursos, sejam minerais, energéticos, á gua, entre outros. Com
base no material existente, acreditamos ser importante a ressignificaçã o dos mapas, grá ficos e
tabelas, por meio da construçã o de novos infográ ficos, mapas, maquetes ou outras formas
adequadas à intencionalidade do processo de ensino-aprendizagem escolhido pelos docentes –
de modo a potencializar a apropriaçã o, compreensã o, aná lise e o estabelecimento de novas
relaçõ es por parte dos estudantes.

Representaçõ es cartográ ficas e iconográ ficas aparecem, assim, em cada capítulo, destacando
temá ticas associadas aos conteú dos trabalhados. Mapas, em suas diversas representaçõ es,
escalas e projeçõ es, além de grá ficos e tabelas, sã o apresentados de acordo com os conteú dos
discutidos nos capítulos.

Em nossa perspectiva, imagens e representaçõ es cartográ ficas constituem textos aos quais os
estudantes devem não apenas ter acesso, mas, sobretudo, aprender a ler, interpretar, analisar,
questionar e relacionar a outras linguagens e abordagens.

A proposta da Coleçã o relaciona-se aos pressupostos e objetivos dos Parâ metros Curriculares
Nacionais (PCN) para o ensino de Geografia, especialmente no Ensino Médio, entendido como
etapa conclusiva da Educaçã o Bá sica, mas considera também as possibilidades e perspectivas
dos estudantes, o desejo de continuidade de estudos no Ensino Superior. Por isso,
consideramos as questõ es, habilidades e competências requeridas pelo Enem, tanto em relaçã o
à problematizaçã o de questõ es como em relaçã o ao desenvolvimento de atividades ao longo
dos capítulos. Para tanto, a Coleçã o objetiva maior integraçã o com as demais disciplinas,
principalmente aquelas consideradas como á reas afins (Histó ria, Sociologia, Filosofia) e Língua
Portuguesa, buscando, dessa forma, nã o um aprendizado estanque, mas um que forneça
subsídios para estimular o estudante a pensar, contextualizando temas fundamentais na
Geografia. Compreendemos ainda que os estudantes devem ser preparados para o exercício
pleno da cidadania. A proposta materializada nos textos, imagens e atividades busca capacitar
o estudante a ser um agente transformador da sociedade, a reconhecer o outro e a ter uma
postura de cidadã o participativo e dinâ mico.

Pá gina 289

2. Finalidades do ensino-aprendizagem de
Geografia no Ensino Médio
Nesta seçã o do Manual, apresentamos as finalidades do ensino de Geografia no Ensino Médio,
considerando os Parâ metros Curriculares Nacionais, propostas de mudanças (aspectos
relacionados à Base Nacional Comum Curricular – BNCC –, que está em elaboraçã o e
discussã o), as Diretrizes Curriculares para a Educaçã o Bá sica e aspectos relacionados à s
competências e habilidades requeridas pelo Enem.

Quando observamos, analisamos, identificamos e adquirimos conhecimento com o objetivo


implícito, ou talvez, explícito de modificá -lo, é necessá rio considerar a importâ ncia do
conhecimento acadêmico para o saber geográ fico. Embora o ensino escolar seja diferente do
proposto na academia, é imprescindível que este (o conhecimento acadê mico) seja
incorporado aos conteú dos didá ticos do Ensino Médio. Os debates, as propostas, as pesquisas e
as teses feitas nas universidades devem servir de inspiraçã o para a atualizaçã o dos conteú dos
geográ ficos exemplificados nos PCN.

Os conteú dos geográ ficos devem ser motivos de provocaçõ es para a formaçã o da cidadania.
Fornecer elementos que possam facilitar as discussõ es e a produçã o do conhecimento sã o
prioridades que norteiam a Coleçã o. Permitir a reflexã o e estimular o estudante a propor
alternativas à ordem instituída é essencial à formaçã o do cidadã o e para a cidadania.
Cavalcanti afirma a importâ ncia de conhecermos o mundo em que vivemos, de localizarmos
fenô menos, de sermos capazes de representar o mundo linguística e graficamente. Porém,
afirma que, se esses aspectos sã o centrais no processo de ensinoaprendizagem de Geografia:

É necessá rio nã o se contentar com o que sã o, na verdade, pré -requisitos para a funçã o mais importante da Geografia, que é
formar uma consciê ncia espacial, um raciocínio geográ fico. E formar uma consciê ncia espacial é muito mais do que conhecer
e localizar, é analisar, é sentir, é compreender a espacialidade das prá ticas sociais para poder intervir nelas a partir de
convicçõ es, elevando a prá tica cotidiana, acima das açõ es particulares, ao nível humano gené rico. (CAVALCAN- TI, 1998, p.
128.)

Para atingir os objetivos de uma geografia mais atuante, busca-se na Coleçã o apoio em textos
(acadêmicos, jornalísticos, literá rios), imagens, fotografias, mapas, grá ficos, letras de mú sicas,
poemas, obras de artes, entre outros. Com diversidade de gêneros e textos minuciosamente
pesquisados, a Coleçã o foi construída sob uma perspectiva ética e humanista.

Castrogiovanni e Goulart (2003, p. 133-134) indicam cinco elementos fundamentais que


devem ser levados em consideraçã o na escolha de livros didá ticos nas escolas nacionais. Sã o
eles: fidedignidade das informaçõ es, estímulo à criatividade, correta representaçã o
cartográ fica, abordagens que valorizam a realidade e enfoque do espaço como totalidade.

O ensino de Geografia deve preocupar-se com o espaço nas suas multidimensõ es. O espaço é tudo e todos: compreende todas
as estruturas e formas de organizaçã o e interaçõ es. E, portanto, a compreensã o da formaçã o dos grupos sociais, a
diversidade social e cultural, assim como a apropriaçã o da natureza por parte dos homens deve fazer parte també m dessa
alfabetizaçã o. (CASTROGIOVANNI; GOU LART, 2003, p. 12.)

A importâ ncia dos conhecimentos geográ ficos na contemporaneidade é destacada também por
Yves Lacoste, embora considerando a realidade francesa:

De fato, nunca conhecimentos geográ ficos e uma iniciaçã o ao raciocínio geográ fico verdadeiro foram tã o necessá rios à
formaçã o dos cidadã os. Isso resulta, ao mesmo tempo, do papel considerá vel da mídia e do desenvolvimento de
procedimentos democrá ticos na sociedade francesa da segunda metade do sé culo XX. A mídia transmite informaçõ es
procedentes de todos os países do mundo (ciclones, tremores de terra, mas també m guerras civis e conflitos de todas as
ordens). Se nã o se quer que essa onda de notícias provoque a indiferença da opiniã o, é preciso que esta possa integrá -las a
uma representaçã o do globo suficientemente precisa e diferenciada. O mundo é ininteligível para quem nã o tem um mínimo
de conhecimentos geográ ficos. (LACOSTE, 1995, p. 254.)

Lacoste destaca a importâ ncia dos conhecimentos geográ ficos como mais uma forma de ler e
apreender o mundo em suas mú ltiplas dimensõ es e contradiçõ es, daí a importâ ncia do ensino
de Geografia na Educaçã o Bá sica, especialmente no Ensino Médio.

Pá gina 290

2.1 – Os Parâmetros Curriculares Nacionais para


o ensino de Geografia no nível médio
No Ensino Fundamental, o papel da Geografia é “alfabetizar” o aluno espacialmente em suas diversas escalas e configuraçõ es,
dando-lhe suficiente capacitaçã o para manipular noçõ es de paisagem, espaço, natureza, Estado e sociedade. No Ensino
Mé dio, o aluno deve construir competê ncias que permitam a aná lise do real, revelando as causas e efeitos, a intensidade, a
heterogeneidade e o contexto espacial dos fenô menos que configuram cada sociedade. A distinçã o que aqui se faz é que nã o
se deve compreender o Ensino Mé dio apenas dentro da ó tica de simples continuaçã o do Fundamental ou da reduçã o de um
curso de graduaçã o. O Ensino Mé dio é o momento de ampliaçã o das possibilidades de um conhecimento estruturado e
mediado pela escola que conduza à autonomia necessá ria para o cidadã o do pró ximo milê nio. (BRASIL, 2000b, p. 30.)

Nos Parâ metros Curriculares Nacionais (PCN), os princípios estabelecidos para a Educaçã o
Bá sica implicam em “oferecer uma educaçã o bá sica de qualidade para a inserçã o do aluno, o
desenvolvimento do país e a consolidaçã o da cidadania” (BRASIL, 2006, p. 5).
Como finalidades do Ensino Médio, esse documento, que orienta a Educaçã o Bá sica no Brasil,
pressupõ e:

o aprimoramento do educando como ser humano, sua formaçã o é tica, desenvolvimento de sua autonomia intelectual e de
seu pensamento crítico, sua preparaçã o para o mundo do trabalho e o desenvolvimento de competê ncias para continuar seu
aprendizado. (BRASIL, 2006, p. 7.)

Desse modo, além de contemplar a formaçã o cidadã , o Ensino Médio deve capacitar o
estudante ao mundo do trabalho, para a autonomia e para prosseguir seu processo de
escolarizaçã o no Ensino Superior.

Na Coleçã o, contemplamos esses aspectos por meio de textos, atividades e o uso das
linguagens cartográ fica e iconográ fica de modo a propiciar o desenvolvimento da cidadania e
da autonomia intelectual. Desse modo, observar fenô menos, sistematizar informaçõ es
transformando-as em conhecimento, analisar um mesmo processo em diferentes ó ticas e
propor alternativas para a ordem instituída sã o formas que utilizamos para atingir esses
objetivos e pressupostos.

Os PCN afirmam que o ensino de Geografia:

deve preparar o aluno para: localizar, compreender e atuar no mundo complexo, problematizar a realidade, formular
proposiçõ es, reconhecer as dinâ micas existentes no espaço geográ fico, pensar e atuar criticamente em sua realidade tendo
em vista a sua transformaçã o. (BRASIL, 2006, p. 43.)

Esses aspectos privilegiam a “interpretaçã o da espacialidade dos fenô menos geográ ficos”
(ASCENÇÃ O; VALADÃ O, 2014, p.1) e a atuaçã o dos estudantes no mundo com autonomia e
criticidade, e apontam para a necessidade de o estudante compreender as possibilidades de
sua açã o como agente transformador da realidade.

Nesse sentido, na presente Coleçã o, tanto a redaçã o dos textos como o uso de imagens, mapas,
grá ficos e tabelas, associados à s atividades individuais e coletivas propostas, procuram
destacar a importâ ncia da compreensã o dos processos – contraditó rios – da e na produçã o do
espaço e o desenvolvimento da autonomia intelectual dos estudantes.

Os PCN consideram como conceitos fundamentais para o desenvolvimento dos estudantes por
meio do ensino de Geografia, no nível médio:

a natureza, paisagem, espaço, territó rio, regiã o, rede, lugar e ambiente, incorporando também dimensõ es de aná lise que
contemplam tempo, cultura, sociedade, poder e relaçõ es econô micas e sociais e tendo como referê ncia os pressupostos da
Geografia como ciê ncia que estuda as formas, os processos, as dinâ micas dos fenô menos que se desenvolvem por meio das
relaçõ es entre a sociedade e a natureza, constituindo o espaço geográ fico. (BRASIL, 2006, p. 43.)

Todos esses conceitos, seja especificamente no campo da ciência geográ fica, seja recorrendo ao
auxílio de ciências afins, foram desenvolvidos e aprofundados na Coleçã o, ao longo dos
diferentes capítulos, atividades, representaçõ es cartográ ficas, iconografia etc., assim como foi
privilegiada a abordagem escalar dos fenô menos – geográ fica e temporalmente.

Em consonâ ncia com os fundamentos estabelecidos pela Comissã o Internacional sobre


Educaçã o para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors, a Coleçã o contempla os quatro
pilares da Educaçã o, conforme o Relató rio para a Unesco (2010, p. 31):

• aprender a conhecer;

• aprender a fazer;

• aprender a viver juntos;


• aprender a ser.

“Aprender a conhecer” em relaçã o à Geografia significa, em nosso entendimento, conhecer o


espaço geográ fico considerando o processo de sua construçã o e suas contradiçõ es.

“Aprender a fazer” implica no desenvolvimento de habilidades e competências pró prias ao


ensino de Geografia e associadas à participaçã o efetiva no â mbito local.

“Aprender a viver juntos” significa respeito à s diferenças e a participaçã o social como motor da
vida em sociedade.

“Aprender a ser” é, ao nosso ver, a essência do ensino, especialmente na á rea das Ciências
Humanas, e dentro dela a Geografia, pois diz respeito a se posicionar no mundo e diante
das questões como cidadão e agente de mudanças.

Pá gina 291

Compartilhamos da premissa que os livros didá ticos não devem conter insinuaçõ es políticas
ou partidá rias, nem ser a favor ou contra determinadas ideologias ou religiõ es. Tarefa á rdua
para os autores, pois é muito difícil dissociar o texto das ideologias e crenças de quem o
escreve. Ao mesmo tempo, vivemos em um país muito heterogêneo e acreditamos que os livros
devem dar subsídios para a construçã o de conhecimentos e a formaçã o de opiniõ es que
contemplem essa diversidade, sobretudo de forma didá tica e pedagó gica, utilizando recursos
ou mecanismos que a imprensa nã o utiliza. Assim, procuramos ser imparciais, mostrar as
diferenças e nã o inserir nas entrelinhas visõ es pessoais, nem ausentar informaçõ es
importantes que possam levar à desvalorizaçã o do ser humano.

Trata-se de um projeto que busca a formaçã o do cidadã o. Além disso, é preciso considerar a
premência do Enem para o acesso ao Ensino Superior, que tem provocado manifestaçõ es e
planos de açã o em diversas escolas em busca de projetos para melhorar a educaçã o.
Considerando esse contexto e partindo dos objetivos e princípios já mencionados, a Coleçã o
objetiva conciliar as necessidades do mercado e, ao mesmo tempo, contribuir para a
construçã o de uma sociedade mais justa.

Entendemos que, especificamente em relaçã o à construçã o do conhecimento no Ensino Médio,


o ensino de Geografia, conforme disposto nos PCN, deve possibilitar ao educando:

• compreender e interpretar os fenô menos considerando as dimensõ es local, regional, nacional


e mundial;

• dominar as linguagens grá fica, cartográ fica, corporal e iconográ fica;

• reconhecer as referências e os conjuntos espaciais, ter uma compreensã o do mundo


articulada ao lugar de vivência do aluno e ao seu cotidiano (BRASIL, 2006, p. 45).

Essas premissas foram contempladas em todos os capítulos na formulaçã o e exploraçã o das


atividades, na organizaçã o do conteú do e sua distribuiçã o ao longo dos três anos do Ensino
Médio.

A Coleçã o também considera a centralidade do docente como promotor do processo de


aprendizagem, a importâ ncia do seu planejamento e o estabelecimento de diversas formas de
uso, apropriaçã o e crítica da presente obra. Os PCN ainda apontam que:
a articulaçã o entre a realidade local, a capacidade e a liberdade intelectual do professor e os aspectos organizacionais e
políticos da escola é fundamental para que o perfil do trabalho a ser desenvolvido esteja claro desse modo, todos os agentes
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem reconheçam seu papel e tenham efetiva capacidade de exercê -lo. A partir
dos eixos podem-se levantar algumas questõ es que permitem pensar como o jovem se coloca no mundo do trabalho e quais
as possibilidades reais de enfrentar um mundo com forte componente tecnoló gico. (BRASIL, 2006, p. 55-56.)

Com o uso de diferentes linguagens e variadas propostas de atividades e problematizaçõ es,


buscamos, nesta Coleçã o, contemplar os eixos e aspectos assinalados como fundamentais para
a formaçã o do educando no nível médio, por meio da Geografia como disciplina escolar.
Também destacamos e valorizamos a importâ ncia do docente no sentido de usar do seu modo
a Coleçã o, apropriando-se dela criticamente e utilizando-a como instrumento auxiliar do seu
processo de ensino-aprendizagem.

2.2 – As novas Diretrizes Curriculares para a


Educação Básica – Ensino Médio
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaçã o Bá sica (DCN-EB) compreendem um
conjunto de normas obrigató rias para a Educaçã o Bá sica e, desse modo, norteiam o
planejamento nas diferentes escolas. Sua elaboraçã o é competência do Conselho Nacional de
Educaçã o (CNE), e elas têm sua origem e embasamento na Lei de Diretrizes e Bases da
Educaçã o Nacional (LDB 9394/96).

As novas DCN-EB foram promulgadas em 2013 e preveem algumas alteraçõ es significativas em


relaçã o à Educaçã o Bá sica e mais especificamente ao que nos concerne nesse momento, que é o
Ensino Médio. As novas DCN-EB procuram se adaptar à s mudanças ocorridas na organizaçã o
da Educaçã o Bá sica, como o Ensino Fundamental com 9 anos e a obrigatoriedade do ensino
pú blico gratuito dos 4 aos 17 anos.

Como resultado das mudanças em curso na sociedade brasileira, além das etapas da Educaçã o
Bá sica relacionadas à Educaçã o Infantil, Fundamental e Média, foram acrescidas nessas novas
diretrizes: a Educaçã o do Campo; a Educaçã o Escolar Indígena; a Educaçã o Escolar
Quilombola; a Educaçã o Especial; a Educaçã o de Jovens e Adultos; a Educaçã o em Direitos
Humanos; a Educaçã o Ambiental; a Educaçã o das Relaçõ es É tnico-Raciais e aquelas voltadas ao
ensino da Histó ria e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas.

Pá gina 292

Ateremo-nos nesse tó pico especificamente à s propostas relacionadas ao ensino de Geografia


no nível médio, porque estã o diretamente relacionadas à nossa Coleçã o e sua proposta
didá tico-metodoló gica e pedagó gica. As DCN entendem que:

Quando o estudante chega ao Ensino Mé dio, os seus há bitos e as suas atitudes crítico-reflexivas e é ticas já se acham em fase
de conformaçã o. Mesmo assim, a preparaçã o bá sica para o trabalho e a cidadania, e a prontidã o para o exercício da
autonomia intelectual sã o uma conquista paulatina e requerem a atençã o de todas as etapas do processo de formaçã o do
indivíduo. Nesse sentido, o Ensino Mé dio, como etapa responsá vel pela terminalidade do processo formativo da Educaçã o
Bá sica, deve se organizar para proporcionar ao estudante uma formaçã o com base unitá ria, no sentido de um mé todo de
pensar e compreender as determinaçõ es da vida social e produtiva, que articule trabalho, ciê ncia, tecnologia e cultura na
perspectiva da emancipaçã o humana. (BRASIL, 2013, p. 39.)

Desse modo, as novas DCN reafirmam o Ensino Médio como terminalidade da Educaçã o Bá sica,
o que implica em ter formado, ao longo do processo de escolarizaçã o, um sujeito ético, com a
habilidade de refletir/atuar no mundo e na realidade que o cerca em diversas escalas
temporais e espaciais, e com a capacidade de articular e construir conhecimentos em
diferentes campos do saber e do mundo do trabalho. As Diretrizes também almejam propiciar
uma formaçã o que tenha como meta a emancipaçã o humana e a possibilidade de continuidade
da escolarizaçã o no Ensino Superior.

Esses princípios gerais coadunam com a proposta expressa na abordagem dos diversos temas
e na construçã o das diversas atividades, especialmente por meio da chamada para a busca de
alternativas ao vivido/experienciado, como na seçã o “A notícia em diversas ó ticas”.

Especificamente, as DCN afirmam que o Ensino Médio, como ú ltima etapa da Educaçã o Bá sica,
precisa:

oferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes e dotá -los de autonomia
intelectual, assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente acumulado e à produçã o coletiva de novos
conhecimentos, sem perder de vista que a educaçã o també m é , em grande medida, uma chave para o exercício dos demais
direitos sociais. (BRASIL, 2013, p. 145.)

Desse modo, o alargamento das visõ es de mundo dos estudantes, associado a um processo de
produçã o coletiva dos conhecimentos – ancorado em bases científicas – e o exercício dos
direitos sociais, estã o norteando as concepçõ es presentes nas grandes á reas do conhecimento
e nas disciplinas escolares específicas.

Esse princípio justifica a prerrogativa de atividades coletivas sobre as individuais, bem como
aquelas voltadas à capacidade de expor, ouvir, participar, respeitar e debater. Para além dessas
habilidades, as Diretrizes expressam a preocupaçã o com a aprendizagem dos princípios da
investigaçã o científica e o desenvolvimento da autonomia intelectual, no sentido de propor
perguntas e elaborar um percurso capaz de oferecer uma compreensã o mais verticalizada de
algum processo e/ou fenô meno.

A articulaçã o entre vá rios níveis da Educaçã o Bá sica e do Ensino Superior é prevista nas DCN:

A concepçã o de uma educaçã o sistê mica expressa no PDE [Plano de Desenvolvimento da Educaçã o], ao valorizar
conjuntamente os níveis e modalidades educacionais, possibilita açõ es articuladas na organizaçã o dos sistemas de ensino.
Significa compreender o ciclo educacional de modo integral, promovendo a articulaçã o entre as políticas orientadas para
cada nível, etapa e modalidade de ensino e, também, a coordenaçã o entre os instrumentos disponíveis de política pú blica.
Visã o sistê mica implica, portanto, reconhecer as conexõ es intrínsecas entre Educaçã o Bá sica e Educaçã o Superior; entre
formaçã o humana, científica, cultural e profissionalizaçã o e, a partir dessas conexõ es, implementar políticas de educaçã o que
se reforcem reciprocamente. (BRASIL, 2013, p. 147.)

Nesse sentido, observamos a construçã o, em nível federal e estadual, de uma aproximaçã o


entre as academias e as escolas bá sicas de nível médio por meio do incentivo à participaçã o de
jovens estudantes em projetos de iniciaçã o científica – a exemplo do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciaçã o Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM), patrocinado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló gico (CNPq), além de outros na mesma
modalidade, financiados por agências estaduais de pesquisa. O que coaduna com a
especificaçã o da pesquisa como princípio pedagó gico no Ensino Médio, expressa nesse
documento (BRASIL, 2013, p. 163-164).

Em virtude dessa preocupaçã o, incluímos na Coleçã o a proposiçã o de debates e atividades de


construçã o de projetos de pesquisa marcadamente interdisciplinares, como modo de auxiliar o
educando do Ensino Médio a lidar com a diversidade de opiniõ es, a capacidade de construir e
expor argumentos e de elaborar um percurso de pesquisa.

As DCN passaram ainda a ressignificar o sentido da qualidade da/na educaçã o:

Na dé cada de 90, sob o argumento de que o Brasil investia muito na educaçã o, poré m gastava mal, prevaleceram
preocupaçõ es com a eficá cia e a eficiê ncia das escolas, e a atençã o voltou-se, predominantemente, para os resultados por
elas obtidos quanto ao rendimento dos estudantes. A qualidade priorizada somente nesses termos pode, contudo, deixar em
segundo plano a superaçã o das desigualdades educacionais. Outro conceito de qualidade passa, entretanto, a ser gestado por
movimentos de renovaçã o pedagó gica, movimentos sociais, de profissionais e por grupos políticos: o da qualidade social da
educaçã o. Ela está associada à s mobilizaçõ es pelo direito à educaçã o, à exigência de participaçã o e de democratização e
comprometida com a superação das desigualdades e injustiças. [...].

Pá gina 293

Para além da eficá cia e da eficiê ncia, advoga que a educação de qualidade, como um direito fundamental, deve ser antes
de tudo relevante, pertinente e equitativa. A relevâ ncia reporta-se à promoção de aprendizagens significativas do
ponto de vista das exigências sociais e desenvolvimento pessoal. (BRASIL, 2013, p. 151, grifos nossos.)

Portanto, entendem os proponentes que, no contexto atual, nã o basta oferecer uma extensa
lista de informaçõ es aos estudantes. É fundamental que eles aprendam a transformá -las em
conhecimento a serviço dos processos democrá ticos e da superaçã o das desigualdades e
injustiças, o que vem ao encontro da proposta pedagó gica de toda a Coleçã o. Em nossa
concepçã o, uma educaçã o de qualidade investe na construçã o da autonomia do pensamento
dos estudantes e na possibilidade de avaliar e agir na realidade circundante de modo a
construir um mundo mais justo e solidá rio.

As novas diretrizes afirmam que, para conquistar a inclusã o social, uma educaçã o escolar de
qualidade deve ter por princípios fundamentais a ética, a liberdade, a justiça social, a
pluralidade e a sustentabilidade (BRASIL, 2013). Como materializar todas essas proposiçõ es
em um livro didá tico, reconhecendo sua importâ ncia como meio de promoçã o da cidadania
(CALLAI, 2011)?

Acreditamos que a clareza do projeto pedagó gico e dos pressupostos teó ricos e metodoló gicos
que orientam a proposiçã o e a escrita de um livro – que indicam onde se quer chegar e por que
–, a organizaçã o e disposiçã o dos capítulos, a escolha e as formas de apresentaçã o dos textos,
imagens e atividades variadas sã o meios pelos quais podemos nos aproximar desses
pressupostos – que dizem respeito ainda à s opçõ es teó ricas, metodoló gicas, políticas e
ideoló gicas dos autores.

Logo, os autores nã o se encontram inseridos nos textos: suas crenças e visõ es de mundo
permeiam todas as escolhas realizadas na hora de selecionar, organizar, dimensionar e redigir
as informaçõ es; assim como no momento de propor atividades, construir as argumentaçõ es,
escolher os textos, os materiais variados e os livros que os amparam na elaboraçã o/escrita do
livro didá tico. Freitas (2015, p. 23) afirma que:

Choppin (2004) sustenta que o livro, mais do que um mero portador de informaçõ es e conhecimentos, també m é
representativo de concepçõ es dos autores por meio da conformaçã o de discursos e de representaçõ es que pretendem
corresponder a essas concepçõ es. De acordo com esse autor, o livro didá tico – por atingir um pú blico ainda em formaçã o e
por ser considerado um instrumento de uniformizaçã o cultural e ideoló gica – é submetido a processos de regulamentaçã o
estritos que compreendem, numa fase inicial, a “elaboraçã o, concepçã o e produçã o, procedimentos pré vios de aprovaçã o”, e,
no processo final, os “modos de financiamento, de difusã o, procedimentos de escolha, formas de utilizaçã o”. (CHOPPIN,
2004, p. 560 apud FREITAS, 2015, p. 23.)

Logo, embora pareçam simples, os livros didá ticos sã o materiais complexos e que
refletem/refratam (BAKHTIN, 1992) as concepçõ es dos autores, dos professores, dos
avaliadores, do tempo presente, das políticas pú blicas, entre outras. E se há uma disposiçã o da
legislaçã o em orientar na direçã o da construçã o da cidadania, da ética e da justiça social, é
preciso, em nosso entendimento, que os autores compartilhem também desses pressupostos –
que aparecerã o materializados na concepçã o e composiçã o da obra. E mais, devem estar em
consonâ ncia com o que as DCN definem como finalidades do Ensino Médio: “a preparaçã o para
a continuidade dos estudos, a preparaçã o bá sica para o trabalho e o exercício da cidadania”
(BRASIL, 2013, p. 154).
Outro aspecto a se considerar nas DCN, especialmente em relaçã o ao Ensino Médio, é que elas
procuraram definir os sentidos e significados das “juventudes”, pois é com esse grupo que os
professores que atuam nesse nível de ensino lidam. De acordo com o documento:

Os estudantes do Ensino Mé dio sã o predominantemente adolescentes e jovens. Segundo o Conselho Nacional de Juventude
(Conjuve), sã o considerados jovens os sujeitos com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos, ainda que a noçã o de
juventude nã o possa ser reduzida a um recorte etá rio (Brasil, 2006). Em consonâ ncia com o Conjuve, esta proposta de
atualizaçã o das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mé dio concebe a juventude como condiçã o só cio-histó rico-
cultural de uma categoria de sujeitos que necessita ser considerada em suas mú ltiplas dimensõ es, com especificidades
pró prias que nã o estã o restritas à s dimensõ es bioló gica e etá ria, mas que se encontram articuladas com uma multiplicidade
de atravessamentos sociais e culturais, produzindo mú ltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes. Entender o jovem do
Ensino Mé dio dessa forma significa superar uma noçã o homogeneizante e naturalizada desse estudante, passando a
percebê -lo como sujeito com valores, comportamentos, visõ es de mundo, interesses e necessidades singulares. Além disso,
deve-se também aceitar a existê ncia de pontos em comum que permitam tratá -lo como uma categoria social. Destacam-se
sua ansiedade em relaçã o ao futuro, sua necessidade de se fazer ouvir e sua valorizaçã o da sociabilidade. (BRASIL, 2013, p.
155.)

Logo, é fundamental considerar a participaçã o ativa desses jovens em seu processo de


escolarizaçã o e construçã o de conhecimentos, valores e visõ es de mundo – eles nã o chegam à
escola “vazios de valores, crenças, saberes”, mas os trazem cotidianamente para o ambiente
escolar, principalmente para as aulas, e por isso questionam saberes estanques e cristalizados.

A proposiçã o de atividades e questionamentos e a indicaçã o de outras fontes de aprendizagem


para leitura, análise e compreensã o do mundo, especialmente no ensino de Geografia, sã o
fundamentais para instigá -los e provocá -los.

Pá gina 294

Se os estudantes nã o podem ser considerados, em nenhum nível de escolarizaçã o, como


“tá bulas rasas”, isso se faz mais premente ainda no Ensino Médio, pois observamos nesses
jovens um enorme potencial criativo e questionador e uma imensa vontade de fazer diferença
nos contextos em que estã o inseridos. Assim, os livros didá ticos devem, na medida do possível,
possibilitar que esses jovens se tornem protagonistas ativos de seu processo de aprendizagem
e participaçã o social.

Considerando a realidade da sociedade brasileira, as DCN também asseveram que:

Muitos jovens, principalmente os oriundos de famílias pobres, vivenciam uma relaçã o paradoxal com a escola. Ao mesmo
tempo em que reconhecem seu papel fundamental no que se refere à empregabilidade, nã o conseguem atribuir-lhe um
sentido imediato (SPOSITO, 2005). Vivem ansiosos por uma escola que lhes proporcione chances mínimas de trabalho e que
se relacione com suas experiê ncias presentes. Alé m de uma etapa marcada pela transitoriedade, outra forma recorrente de
representar a juventude é vê -la como um tempo de liberdade, de experimentaçã o e irresponsabilidade (DAYRELL, 2003).
Essas duas maneiras de representar a juventude – como um “vir a ser” e como um tempo de liberdade – mostram-se
distantes da realidade da maioria dos jovens brasileiros. Para esses, o trabalho nã o se situa no futuro, já fazendo parte de
suas preocupaçõ es presentes. Uma pesquisa realizada com jovens de vá rias regiõ es brasileiras, moradores de zonas urbanas
de cidades pequenas e capitais, bem como da zona rural, constatou que 60% dos entrevistados frequentavam escolas.
Contudo, 75% deles já estavam inseridos ou buscando inserçã o no mundo do trabalho (SPOSITO, 2005). Ou seja, o mundo do
trabalho parece estar mais presente na vida desses sujeitos do que a escola. (BRASIL, 2013, p. 155-156.)

Assim as preocupaçõ es e discussõ es em torno dos direitos humanos e sociais e do trabalho


devem se fazer presentes no ensino de Geografia, uma vez que sã o processos associados à
produçã o do espaço e à realidade vivida pelos jovens estudantes do Ensino Médio.

Além dessas discussõ es relacionadas à s finalidades sociais, especificidades e inclusã o social da


escolarizaçã o no Ensino Médio, as DCN também buscam afirmar os pressupostos e
fundamentos para esse nível de escolarizaçã o, considerando principalmente a questã o da
qualidade dessa/nessa formaçã o.
A respeito da dimensã o do trabalho, ciência, tecnologia e cultura, na perspectiva da formaçã o
humana, as DCN afirmam a “perspectiva ontoló gica do trabalho de transformaçã o da
natureza”; a ciência como “conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos
socialmente” e a cultura, que deve ser compreendida “no sentido mais ampliado possível”
(BRASIL, 2013, p. 161-2). Essas dimensõ es foram consideradas tanto na elaboraçã o da
proposta pedagó gica e teó rico-metodoló gica como, a partir dela, na construçã o dos livros dos
alunos.

As novas diretrizes preconizam ainda a pesquisa como princípio pedagó gico – o que incide na
organizaçã o dos conteú dos, em sua exposiçã o e nos pressupostos avaliativos – e os direitos
humanos como princípios norteadores do ensino – que pressupõ em a (re)construçã o de
princípios éticos e solidá rios e a promoçã o do bem comum, sem preconceitos relacionados a
origem, etnia, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminaçã o, de modo a
propiciar o desenvolvimento e a progressiva eliminaçã o das desigualdades sociais e regionais.
Material fértil para o ensino de Geografia, uma vez que esse lida com todas essas questõ es ao
considerar os processos de produçã o dos espaços, territó rios e lugares.

Além disso, as novas DCN também afirmam a necessidade de reconhecer a sustentabilidade


como meta universal. Por isso, os diversos temas e questõ es relacionados à sustentabilidade –
ambiental, social, humana – foram abordados, especialmente quando relacionadas ao
protagonismo dos jovens na proposiçã o de alternativas possíveis à ordem existente.

As novas propostas presentes nas DCN mantêm a concepçã o de que o Ensino Médio deve
possuir uma base nacional comum (daí a proposiçã o, em desenvolvimento, de uma Base
Nacional Comum Curricular – BNCC), e uma parte diversificada, escolhida e adaptada em cada
escola ou rede de modo a atender à s necessidades e características sociais, culturais,
econô micas e também à diversidade e expectativa dos jovens estudantes. Os conteú dos nas
novas DCN mantêm sua organizaçã o em á reas do conhecimento, e como componentes
curriculares das Ciências Humanas permanecem, no Ensino Médio, Histó ria, Geografia,
Sociologia e Filosofia.

Reiteramos que não concebemos esta Coleção com base nos pressupostos expostos nas
novas DCN, mas procuramos destacar, neste texto, as convergências entre as propostas
de mudanças em curso nas regulamentações que regem a escolarização no nível médio e
nossas próprias concepções teóricas, metodológicas, pedagógicas, políticas e
ideológicas.

Assim, embora ainda nã o regulamentadas ou aprovadas e instituídas nacionalmente,


consideramos importante apresentar neste Manual alguns pressupostos presentes na Base
Nacional Comum Curricular BNCC, especialmente naquilo que concerne ao ensino de
Geografia.

Pá gina 295

Como princípios gerais, a BNCC apresenta a educaçã o como direito; o desenvolvimento e


reconhecimento de suas pró prias qualidades e o respeito ao outro; o convívio e o debate de
ideias; o cuidado e o bem estar consigo e com o pró ximo, bem como com o ambiente; a
capacidade de se expressar em mú ltiplas linguagens (da corporal à científica, técnica, artística
etc.); a capacidade de situar a família, a comunidade e a naçã o espacial e temporalmente; a
experimentaçã o de vivências e a capacidade de se posicionar diante de questõ es e situaçõ es
problemá ticas, entre outras.

Esses direitos fundamentais, que a escola deve contribuir para promover, serã o de fato garantidos quando os sujeitos da
educaçã o bá sica – estudantes, seus professores e demais partícipes da vida escolar – dispuserem de condiçõ es para: o
desenvolvimento de múltiplas linguagens como recursos pró prios; o uso criativo e crítico dos recursos de informação e
comunicação; a vivê ncia da cultura como realização prazerosa; a percepçã o e o encantamento com as ciê ncias como
permanente convite à dúvida; a compreensã o da democracia, da justiça e da equidade como resultados de contínuo
envolvimento e participaçã o. Essas condiçõ es se efetivam numa escola que seja ambiente de vivê ncia e produçã o cultural,
de corresponsabilidade de todos com o desenvolvimento de todos, e em contínuo intercâ mbio de questõ es, informaçõ es e
propostas com sua comunidade, como protagonista social e cultural. (BRASIL, 2015, p. 8-9, grifos nossos.)

A proposta da BNCC prevê ainda maior articulaçã o das disciplinas escolares, seja entre aquelas
de uma mesma á rea, seja entre as diferentes á reas. Com isso, a proposiçã o e realizaçã o de
atividades interdisciplinares sã o valorizadas. Se, por um lado, isso pressupõ e maior articulaçã o
das informaçõ es na direçã o da construçã o do conhecimento, por outro, pode implicar numa
espécie de esvaziamento interno a cada componente curricular. Por isso, caso a BNCC seja
implantada tal como está proposta, faz-se necessá rio que cada docente, cuja identidade no
Ensino Médio é marcadamente disciplinar, afirme e conheça seu pró prio campo em
profundidade, como seja capaz de propor projetos ou um curso interdisciplinar significativo e
que articule os saberes disciplinares específicos e aqueles mais amplos.

Na proposiçã o da Base, em construçã o, as Ciências Humanas sã o entendidas como:

um campo cognitivo dedicado aos estudos da existê ncia humana e das intervençõ es sobre a vida, problematizando as
relaçõ es sociais e de poder, os conhecimentos produzidos, as culturas e suas normas, as políticas e leis, as sociedades nos
movimentos de seus diversos grupos, os tempos histó ricos, os espaços e as relaçõ es com a natureza. Essa á rea reú ne estudos
de açõ es, de relaçõ es e de experiê ncias coletivas e individuais que refletem conhecimentos sobre a pró pria pessoa e sobre o
mundo em diferentes manifestaçõ es naturais e sociais. Ainda que sujeita a diferentes correntes e vertentes teó ricas, o
pressuposto fundamental da á rea considera o ser humano como protagonista de sua existê ncia. (BRASIL, 2015, p. 236.)

Com base nessas consideraçõ es gerais, a proposta da BNCC para as Ciências Humanas reafirma
a consideraçã o das questõ es locais e globais:

transversalizadas no conhecimento escolar da á rea, sem hierarquizaçõ es, mas como unidades de conhecimento, a saber: a
terra e os territó rios; o espaço e sua territorializaçã o pelas sociedades; as territorialidades; as diversidades; o trabalho e a
relaçã o com a natureza; a formulaçã o do tempo histó rico, do sentido de pertença e de intervençõ es de sujeitos nas
transformaçõ es das sociedades; as identidades e as alteridades; as memó rias; a é tica; a esté tica; as desigualdades sociais; as
ideologias; os modos de produçã o e de apropriaçõ es; os modos de pensar, de crer e de agir das pessoas. (BRASIL, 2015, p.
237.)

No Ensino Médio e em consonâ ncia com as DCN, prevê-se o aprofundamento das atividades
interdisciplinares, seja entre os componentes curriculares da á rea, seja com outras á reas do
conhecimento. Ademais, a BNCC destaca a importâ ncia da construçã o dos conhecimentos de
modo a potencializar a vida em comum e o desenvolvimento de relaçõ es sociais mais justas.

Para o Ensino Médio, a BNCC (2015, p. 267-268) prevê a organizaçã o de todo o conteú do com
base em quatro princípios educativos gerais, a saber:

• O sujeito e o mundo, que implica na localizaçã o dos sujeitos no conjunto das relaçõ es sociais
mais amplas, com base em analogias e convergências/ conflitos entre o local e o global e seus
impactos na construçã o das subjetividades.

• O lugar e o mundo, que significa compreender a construçã o dos lugares como resultado
provisó rio – daí a dimensã o da temporalidade na espacialidade – de processos dinâ micos em
diversas escalas, considerando a diversidade natural e de processos sociais, econô micos,
tecnoló gicos, políticos, histó ricos.

• As linguagens e o mundo, que considera a apropriaçã o dos conhecimentos da ciência


geográ fica e o uso de mú ltiplas linguagens para expressá -la, implicando diretamente a
apropriaçã o e a expressã o, em diversas linguagens, dos conceitos de lugar, paisagem, regiã o,
territó rio e escalas geográ ficas e sua construçã o histó rica.
• As responsabilidades e o mundo, que procura evidenciar o protagonismo, a
responsabilidade e a participaçã o dos estudantes em processos espaciais dinâ micos, mediados
por açõ es éticas e políticas. Uma das bases dessas proposiçõ es se assenta na importâ ncia da
apropriaçã o e do uso da escala geográ fica para a análise dos diversos processos espaciais, bem
como a articulaçã o entre essas diversas dimensõ es.

Há , no documento integral (disponível em:


<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio>, acesso em: 11 abr. 2016, o
detalhamento das habilidades e competências a serem desenvolvidas e aprofundadas nesse
nível de escolarizaçã o, de acordo com esses quatro princípios. Sugerimos que, embora a BNCC
ainda esteja em construçã o e discussã o, os docentes conheçam as proposiçõ es e mudanças
previstas.

Pá gina 296

3. Habilidades e competências no Ensino Médio


e no Enem
Para pensarmos em habilidades e competências a serem desenvolvidas e considerando os
pressupostos filosó ficos, teó ricos, pedagó gicos e metodoló gicos que orientam a proposiçã o
desta Coleçã o, é fundamental entendermos a concepçã o do Ensino Médio como terminalidade
da Educaçã o Bá sica e, simultaneamente, refletirmos a respeito da possibilidade de
escolarizaçã o no Ensino Superior.

Essa possibilidade, na ú ltima década, se materializou em diversas propostas e leis que


institucionalizaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como meio de seleçã o e
entrada nas universidades brasileiras.

Desse modo, é salutar ponderar que essas habilidades e competências considerem tanto os
objetivos conceituais, pró prios ao campo – a Geografia Escolar – como os procedimentais e
atitudinais (ZABALA, 1998).

Os objetivos conceituais dizem respeito aos “conteú dos e conceitos” fundantes de uma
disciplina escolar – no caso da Geografia, espaço, lugar, territó rio, paisagem, regiã o,
territorialidades, escalas, redes, entre outros, materializados e problematizados nas diversas
configuraçõ es que constituem o espaço geográ fico em suas contradiçõ es.

Desse modo, sã o objetivos conceituais amplos da Coleçã o:

• Desenvolver e aprofundar as noçõ es de territó rio, lugar, nacionalidade, patrimô nio e cultura
como constituintes das identidades.

• Reconhecer, nas heterogeneidades e homogeneidades do espaço geográ fico, a existência de


diferentes formas e padrõ es de distribuiçã o e relaçõ es entre os fenô menos geográ ficos.

• Compreender que certas formas de uso dos territó rios pelas sociedades humanas têm
implicado em desequilíbrios socioambientais e desagregaçã o de ecossistemas.

• Compreender as interaçõ es entre o local e o global, por meio das relaçõ es econô micas,
políticas, culturais, ideoló gicas e ambientais, mediadas pelas escalas geográ ficas.
• Relacionar a emergência dos nacionalismos e de diversos conflitos aos usos e formas de
apropriaçã o dos territó rios e recursos (minerais, energéticos, á gua, biodiversidade, entre
outros).

• Compreender temporal e espacialmente o processo de produçã o de desigualdades (sociais e


espaciais), avaliar políticas pú blicas destinadas à sua resoluçã o e as lutas de povos e
comunidades diversos pelo respeito à s suas tradiçõ es, territó rios e territorialidades.

• Compreender as formas de produçã o da fome e do desperdício na atualidade, relacionando-


as à agropecuá ria em suas mú ltiplas contradiçõ es (propriedade da terra, transgenia,
agricultura orgâ nica, agricultura familiar, mercado de commodities etc.).

• Analisar as relaçõ es de poder nas prá ticas sociais e espaciais, em diversas escalas.

• Compreender e propor alternativas possíveis para combater a exclusã o social, tomando como
referência parâ metros sustentá veis política, social e ambientalmente.

• Avaliar e compreender as relaçõ es políticas, econô micas e culturais do Brasil em relaçã o ao


mundo e vice-versa.

• Compreender criticamente o consumo espacial das paisagens locais, nacionais e mundiais


pelo turismo predató rio, argumentando a respeito de novas possibilidades de relaçã o entre a
sociedade e a natureza.

• Analisar e compreender as origens das fronteiras, em diversas escalas.

• Reconhecer o significado, uso e impacto das novas tecnologias para a produçã o do


conhecimento e do cotidiano.

• Descrever e analisar processos de regionalizaçã o do espaço mundial, considerando seus


aspectos temporais e espaciais.

Os objetivos procedimentais reportam-se ao saber fazer, ou seja, o processo de ensino-


aprendizagem. Ao mesmo tempo que é preciso potencializar os saberes que os estudantes
trazem, deve-se também desorganizá -los, desestabilizá -los e oferecer subsídios aos estudantes
para que possam construir novos saberes, novas visõ es de mundo.

Pá gina 297

A Coleçã o propõ e como objetivos procedimentais amplos:

• Desenvolver habilidades relacionadas à s variadas formas de expressã o e comunicaçã o da


linguagem geográ fica para a compreensã o dos fenô menos espaciais.

• Entender e utilizar as funçõ es das escalas cartográ fica e geográ fica, estabelecendo diferentes
conexõ es.

• Identificar as diferentes representaçõ es do mundo, compreendendo-as como construçõ es


histó rico-espaciais relacionadas à s relaçõ es de poder, à s ideologias e à s relaçõ es econô micas,
políticas e culturais.
• Localizar, selecionar e transformar dados e informaçõ es geográ ficas em conhecimentos
espaciais.

• Utilizar com desenvoltura atlas, mapas, cartas, croquis, tabelas, grá ficos e outras formas de
representaçã o e aná lise do espaço geográ fico.

• Selecionar e organizar variadas informaçõ es, utilizando-as em argumentaçõ es.

• Comunicar-se de formas variadas, tendo como referência, no caso desta disciplina escolar, as
linguagens geográ ficas e outras.

• Transpor dados e informaçõ es para a linguagem cartográ fica.

• Ler o espaço de vivência, a regiã o, o Brasil e a Terra em mú ltiplas linguagens, desenvolvendo


habilidades de problematizaçã o, aná lise, discussã o e proposiçã o de alternativas.

Os objetivos atitudinais dizem respeito ao conjunto de valores e atitudes que precisam ser
estimulados e aprofundados, como o respeito aos direitos humanos, à pluralidade e à
diferença, a construçã o da cidadania, o respeito a si mesmo, ao ambiente e ao pró ximo, a busca
pela reduçã o das desigualdades sociais e regionais, entre outras, de modo a construir uma
postura cidadã e democrá tica.

Como objetivos atitudinais amplos, destacamos:

• Avaliar o potencial de sustentabilidade em variados aspectos (sociais, ambientais,


econô micos).

• Conscientizar-se de seu papel enquanto produtor dos espaços, territó rios e lugares e assumir
um posicionamento ativo e cidadã o.

• Desenvolver e aprimorar a ética, o respeito ao pró ximo, a alteridade como princípios


educativos e de sociabilidade.

• Desenvolver atitudes positivas e de respeito à s diferentes comunidades e sociedades que


existem no Brasil e no mundo, conhecendo e valorizando suas visõ es de mundo e
compreendendo que nã o há uma forma ú nica de sociabilidade, propriedade e relaçã o com a
natureza.

• Exercitar o protagonismo, participando e buscando soluçõ es para as questõ es econô micas,


políticas e ambientais de nosso tempo.

• Argumentar em defesa de um desenvolvimento econô mico não excludente, e que priorize a


melhoria da qualidade de vida e o respeito ao ambiente, pautados na ética e na justiça social.

• Estabelecer relaçã o entre preservaçã o do patrimô nio, garantia do direito à memó ria
individual e coletiva como elemento fundamental da afirmaçã o da cidadania e da identidade
cultural, e o papel da comunidade como cogestora desse patrimô nio.

3.1 – As habilidades, competências e objetos do


conhecimento no Enem
Os objetivos gerais do Enem nortearam a organizaçã o dos conteú dos e a proposiçã o de
diversas atividades. Mas, além deles, é preciso considerar a importâ ncia que o Enem tem
assumido em termos de avaliaçã o do Ensino Médio e possibilidade de ingresso no Ensino
Superior.

O Enem é parte da política educacional brasileira, sendo integrante da Política Nacional de


Avaliaçã o, que inclui o Sistema de Avaliaçã o da Educaçã o Bá sica (Saeb), para o Ensino
Fundamental e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), para o Ensino
Superior.

Segundo Marçal (2014), o Enem foi criado em 1998 e definido com base em parâ metros
internacionais de avaliaçã o da Educaçã o Bá sica. Ainda segundo a autora, na sua criaçã o era
composto por uma prova com 63 questõ es e uma redaçã o, de modo a aferir o desenvolvimento
de habilidades fundamentais ao exercício da cidadania.

Marçal (2014, p. 79) aponta que, inicialmente, esse exame nã o tinha por objetivo abordar
conteú dos específicos, “pois definia como prioridade a capacidade de leitura, de interpretaçã o
de texto e a aplicaçã o de conceitos dos estudantes, abordados de maneira interdisciplinar”.

Pá gina 298

Todavia, a autora ressalta também que, ao longo de sua existência, o exame foi sendo
redefinido pelo Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), sendo a
mudança mais recente ocorrida em 2009, e passou desse modo a assumir diferentes funçõ es:

Atualmente o Enem pode ser utilizado para vá rias funçõ es. [...] Como crité rio para distribuiçã o de bolsas do Programa
Universidade para Todos (Prouni); como certificado da conclusã o do Ensino Mé dio de estudantes com mais de 18 anos que
frequentam a Educaçã o de Jovens e Adultos (EJA) [...]. Há , ainda, outras atribuiçõ es do exame que, associadas ao Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies), concede bolsas restituíveis a estudantes que nã o têm condiçõ es financeiras de arcar com as
mensalidades de graduaçã o em IES [Instituiçõ es de Ensino Superior] privadas, alé m da exigência do exame para os
estudantes que tê m interesse em fazer intercâ mbio no exterior pelo Programa Ciê ncia Sem Fronteira (CsF) [...]. Além dessas
funçõ es, a de maior destaque é a de servir como oportunidade de acesso à s vagas no Ensino Superior, por meio do Sisu
[Sistema de Seleçã o Unificada], na rede pú blica. (MARÇAL, 2014, p. 81-82.)

Para além dessas funçõ es e mesmo em razã o delas, o Enem também passou a redefinir e
reordenar os projetos pedagó gicos e as disciplinas na Educaçã o Bá sica de nível médio. Assim, é
preciso considerar o impacto que o Enem teve e tem para a organizaçã o disciplinar e dos
conteú dos no Ensino Médio, por meio das habilidades e competências valorizadas no exame,
que, agora, é constituído por quatro provas, com 45 questõ es de mú ltipla escolha, organizadas
nas quatro grandes á reas do conhecimento (Linguagens, Matemá tica, Ciências Humanas e
Ciências da Natureza), e um tema para desenvolvimento de uma redaçã o. Atualmente, o Enem
engloba a perspectiva de 30 competências amplas, organizadas em 120 habilidades, sendo 30
para cada grande á rea. De acordo com Marçal:

A MR [Matriz de Referê ncia] se pauta em habilidades consideradas essenciais aos estudantes que concluem a educaçã o
bá sica. [...] Os itens das provas sã o elaborados a partir de quatro dimensõ es: domínios cognitivos, competê ncias, habilidades
e objetos de conhecimento. [...] O domínio cognitivo indica os eixos que sã o comuns a todas as á reas do conhecimento, os
eixos cognitivos. [...] De acordo com a MR do Enem, e considerando esses eixos cognitivos, a prova desse exame busca avaliar
a capacidade do estudante para dominar as linguagens [...]; compreender fenômenos [...]; enfrentar situações
problema [...]; construir argumentações [...] e elaborar propostas com base no conhecimento adquirido de forma
solidá ria, respeitando os valores humanos e considerando as diversas realidades socioculturais. (2014, p. 157, grifos
nossos.)

Os princípios expostos nos eixos cognitivos do Enem sã o um reflexo das mudanças em curso na
educaçã o brasileira, e tendem a estimular o trabalho em todas as disciplinas escolares. Sã o
eles: domínio das linguagens do campo; a compreensã o dos fenô menos e, no caso da Geografia,
sua expressã o espacial; a construçã o de argumentaçõ es e a proposiçã o de alternativas para a
ordem instituída, tendo como valores principais a alteridade, o respeito ao outro, a ética e o
exercício da cidadania. Marçal sistematizou também as seis competências em Ciências
Humanas avaliadas pelo Enem, a saber:

Competências da área de Ciências Humanas da MR do Enem

• Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.

• Compreender as transformaçõ es dos espaços geográ ficos como produto das relaçõ es socioeconô micas e culturais de poder.

• Compreender a produçã o e o papel histó rico das instituiçõ es sociais, políticas e econô micas, associando- -as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.

• Entender as transformaçõ es té cnicas e tecnoló gicas e seu impacto nos processos de produçã o, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.

• Utilizar os conhecimentos histó ricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia,
favorecendo uma atuaçã o consciente do indivíduo na sociedade.

• Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interaçõ es no espaço em diferentes contextos histó ricos e
geográ ficos. (2014, p. 160.)

Desse modo, seja diretamente ou interdisciplinarmente, o ensino de Geografia no Ensino


Médio deve considerar essas competências e eixos cognitivos na proposiçã o do programa, na
organizaçã o dos conteú dos específicos, na proposiçã o de atividades, assim como no estímulo
ao processo de construçã o do conhecimento de modo articulado e verticalizado.

Apresentamos a seguir, com base nos documentos disponibilizados pelo Inep, a Matriz de
Referência das Ciências Humanas do Enem e as Habilidades e Competências requeridas para o
ensino de Geografia, bem como os objetos do conhecimento específicos do campo.

Pá gina 299

Compreender os elementos culturais que constituem as


Competência de área
identidades
Habilidades (destacamos Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes
as duas em interface com documentais acerca de aspectos da cultura.
a Geografia)
Analisar a produçã o de memó ria das sociedades humanas.
Compreender as transformações dos espaços geográficos como
Competência de área
produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
Interpretar diferentes representaçõ es grá ficas e
cartográ ficas dos espaços geográ ficos.
Identificar os significados histó rico-geográ ficos das relaçõ es
de poder entre as naçõ es.
Analisar a açã o dos estados nacionais no que se refere à
dinâ mica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de
Habilidades problemas de ordem econô mico-social.
Comparar o significado histó rico-geográ fico das
organizaçõ es políticas e socioeconô micas em escala local,
regional ou mundial.
Reconhecer a dinâ mica da organizaçã o dos movimentos
sociais e a importâ ncia da participaçã o da coletividade na
transformaçã o da realidade histó rico-geográ fica.
Competência de área (que Compreender a produção e o papel histórico das instituições
pode ser abordada sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
interdisciplinarmente) grupos, conflitos e movimentos sociais.
Identificar registros de prá ticas de grupos sociais no tempo
e no espaço.
Analisar o papel da justiça como instituiçã o na organizaçã o
das sociedades.
Analisar a atuaçã o dos movimentos sociais que
contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de
Habilidades disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos
analíticos e interpretativos, sobre situaçõ es ou fatos de
natureza histó rico-geográ fica acerca das instituiçõ es sociais,
políticas e econô micas.
Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos,
econô micos ou ambientais ao longo da histó ria.

Pá gina 300

Competência de Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de


área produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organizaçã o
do trabalho e/ou da vida social.
Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo
de territorializaçã o da produçã o.
Analisar diferentes processos de produçã o ou circulaçã o de riquezas e suas
Habilidades
implicaçõ es socioespaciais.
Reconhecer as transformaçõ es técnicas e tecnoló gicas que determinam as
vá rias formas de uso e apropriaçã o dos espaços rural e urbano.
Selecionar argumentos favorá veis ou contrá rios à s modificaçõ es impostas
pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos
Competência de
da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na
área
sociedade.
Identificar o papel dos meios de comunicaçã o na construçã o da vida social.
Analisar a importâ ncia dos valores éticos na estruturaçã o política das
Habilidades sociedades.
Relacionar cidadania e democracia na organizaçã o das sociedades.
Identificar estratégias que promovam formas de inclusã o social.
Competência de Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em
área diferentes contextos históricos e geográficos.
Identificar em fontes diversas o processo de ocupaçã o dos meios físicos e as
relaçõ es da vida humana com a paisagem.
Analisar de maneira crítica as interaçõ es da sociedade com o meio físico,
levando em consideraçã o aspectos histó ricos e (ou) geográ ficos.
Relacionar o uso das tecnologias com os impactos só cio-ambientais em
Habilidades
diferentes contextos histó rico-geográ ficos.
Reconhecer a funçã o dos recursos naturais na produçã o do espaço
geográ fico, relacionando-os à s mudanças provocadas pelas açõ es humanas.
Avaliar as relaçõ es entre preservaçã o e degradaçã o da vida no planeta nas
diferentes escalas.

(BRASIL, 2012)

Pá gina 301
Em relaçã o aos objetos do conhecimento (ou, genericamente, “lista de conteú dos”),
especificamente relacionados ao ensino de Geografia no nível médio, destacamos:

• Formas de organizaçã o social, movimentos sociais, pensamento político e açã o do Estado.

– Formaçã o territorial brasileira; as regiõ es brasileiras; políticas de reordenamento territorial.


– Políticas de colonizaçã o, migraçã o, imigraçã o e emigraçã o no Brasil nos séculos XIX e XX.

– Geopolítica e conflitos entre os séculos XIX e XX: Imperialismo, a ocupaçã o da Á sia e da


Á frica, as Guerras Mundiais e a Guerra Fria.

– Conflitos político-culturais pó s-Guerra Fria, reorganizaçã o política internacional e os


organismos multilaterais nos séculos XX e XXI.

– Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades, pobreza e segregaçã o espacial.

• Características e transformaçõ es das estruturas produtivas.

– Revoluçã o Industrial: criaçã o do sistema de fá brica na Europa e transformaçõ es no processo


de produçã o. Formaçã o do espaço urbano-industrial. Transformaçõ es na estrutura produtiva
no século XX: o fordismo, o toyotismo, as novas técnicas de produçã o e seus impactos.

– A industrializaçã o brasileira, a urbanizaçã o e as transformaçõ es sociais e trabalhistas.

– A globalizaçã o e as novas tecnologias de telecomunicaçã o e suas consequências econô micas,


políticas e sociais.

– Produçã o e transformaçã o dos espaços agrá rios. Modernizaçã o da agricultura assim como,
estruturas agrá rias tradicionais. O agronegó cio, a agricultura familiar, os assalariados do
campo e as lutas sociais no campo. A relaçã o campo-cidade.

• Os domínios naturais e a relaçã o do ser humano com o ambiente.

– As questõ es ambientais contemporâ neas: mudança climá tica, ilhas de calor, efeito estufa,
chuva á cida, a destruiçã o da camada de ozô nio. A nova ordem ambiental internacional;
políticas territoriais ambientais; uso e conservaçã o dos recursos naturais, unidades de
conservaçã o, corredores ecoló gicos, zoneamento ecoló gico e econô mico.

– Origem e evoluçã o do conceito de sustentabilidade.

– Estrutura interna da Terra. Estruturas do solo e do relevo; agentes internos e externos


modeladores do relevo.

– Situaçã o geral da atmosfera e classificaçã o climá tica. As características climá ticas do


territó rio brasileiro.

– Os grandes domínios da vegetaçã o no Brasil e no mundo.

• Representaçã o espacial.

– Projeçõ es cartográ ficas; leitura de mapas temá ticos, físicos e políticos; tecnologias modernas
aplicadas à cartografia.

(BRASIL, 2012.)
Pá gina 302

4. Sugestão geral de planejamento de


habilidades e competências por ano do Ensino
Médio
O ensino da Geografia Escolar, no nível médio, pressupõ e, de acordo com todas as questõ es
apresentadas anteriormente, a construçã o de habilidades e competências específicas para cada
ano. Desse modo, e tendo por parâ metro os diversos documentos que, na atualidade,
regulamentam e orientam a Educaçã o Bá sica no nível médio, indicamos a seguir as
competências e habilidades distribuídas em cada ano desse nível de ensino. Ao docente
reforçamos que as nossas sugestõ es devem ser adequadas à sua intencionalidade educativa, e
se necessá rio, propor outras.

Os diversos documentos orientam que o Ensino Médio constitui a etapa final de escolarizaçã o
bá sica. Ao final desse período de escolarizaçã o, os estudantes devem ter desenvolvido
habilidades relacionadas ao saber conhecer, saber fazer, saber viver juntos e saber ser.
Mas cabe ao docente adequá -las à s finalidades que ele pró prio estabelece, a partir de suas
prá ticas.

E o que pode significar essas quatro premissas na prá tica do cotidiano escolar? Espera-se que,
ao final desse nível de ensino, os estudantes tenham adquirido autonomia para estudar (saber
aprender), sejam capazes de aplicar conceitos e conteú dos em diferentes circunstâ ncias (saber
fazer) e tenham desenvolvido a capacidade de viver em sociedade, respeitando os outros e as
diferenças, enfim, que tenham adquirido noçõ es e prá ticas cidadã s (saber viver juntos e saber
ser).

Como desenvolver todas essas habilidades no trabalho com os conteú dos de Geografia?
Utilizando diferentes linguagens e prá ticas, desenvolvendo habilidades, conforme o
planejamento e a intencionalidade educativa que o docente almeja alcançar. A seguir,
sugerimos apenas uma das formas possíveis dessa organizaçã o em termos de competências e
habilidades. Mas, com base nas disposiçõ es do Enem, das DCN, do projeto político pedagó gico
de cada instituiçã o de ensino e da autonomia docente para organizar sua prá tica e seus
objetivos, os professores podem e devem readequar, modificar, propor e redimensionar as
sugestõ es que damos aqui.

Competências a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Médio:

• Investigaçã o e compreensã o.

• Representaçã o e comunicaçã o.

• Contextualizaçã o sociocultural.

Tais competências deverã o permitir aos estudantes posicionar-se no mundo diante de dados e
informaçõ es, aplicar conceitos, e ler e utilizar diferentes linguagens. Deverã o ainda auxiliá -los
a problematizar o mundo contemporâ neo e as complexidades das relaçõ es sociais e, por fim, a
recorrer aos conhecimentos geográ ficos para perceber esses processos e estabelecer relaçõ es
com o vivido.
Com base nas competências gerais, os estudantes deverã o desenvolver as seguintes
habilidades – tendo por base os objetos do conhecimento da Geografia Escolar – também
gerais e em todos os anos do Ensino Médio:

• buscar, ler e interpretar as complexidades do mundo atual;

• ler, compreender e utilizar a linguagem cartográ fica;

• estabelecer relaçõ es de contradiçã o;

• explicar as transformaçõ es em curso;

• analisar o arranjo geopolítico atual e sua historicidade;

• reconhecer e respeitar as diferenças (étnicas, culturais, religiosas etc.);

• julgar pontos de vista divergentes;

• construir suas pró prias opiniõ es (autonomia);

• utilizar diferentes escalas de tempo e espaço.

Especificamente para os estudantes que estã o no primeiro ano do Ensino Médio, as


habilidades a serem desenvolvidas sã o:

• Reconhecer:

Pá gina 303

– os diferentes fenô menos espaciais;

– as diferentes categorias presentes na ciência geográ fica: espaço; territó rio; lugar; paisagem;
regiã o e regionalizaçã o;

– e localizar diferentes fenô menos espaciais;

– diferentes representaçõ es do espaço;

– e compreender a dinâ mica da litosfera;

– e compreender a dinâ mica climá tica e os impactos das alteraçõ es antró picas.

• Analisar:

– os elementos presentes em representaçõ es cartográ ficas;

– os sentidos relacionados à s mudanças climá ticas e sustentabilidade;

– a dinâ mica mercado x ló gica de exploraçã o dos recursos.

• Investigar e observar as transformaçõ es das paisagens no tempo.


• Avaliar o impacto da utilizaçã o dos recursos naturais no â mbito socioambiental global.

Para os estudantes do segundo ano do Ensino Médio, as habilidades sã o as seguintes:

• Reconhecer:

– os contrastes presentes na organizaçã o do espaço brasileiro;

– os fenô menos espaciais a partir da sua comparaçã o em territó rios distintos;

– e analisar o processo de construçã o do territó rio e das fronteiras brasileiras;

– e analisar o processo de construçã o das diversas propostas de regionalizaçã o para o Brasil.

• Analisar:

– e comparar as diferentes formas de apropriaçã o, uso e exploraçã o do solo no Brasil;

– os processos de produçã o no campo: o agronegó cio, a agricultura familiar, as formas da


propriedade;

– os indicadores sociais brasileiros e sua relaçã o com a organizaçã o econô mica, social e política
do país;

– a relaçã o entre a produçã o do espaço brasileiro e imperativos associados à “ordem


internacional”.

• Compreender:

– a relaçã o entre recursos naturais, crescimento econô mico e impactos ambientais;

– o processo e as contradiçõ es relacionadas à industrializaçã o brasileira e à produçã o do


espaço nacional;

– a relaçã o entre crescimento econô mico e redes de transportes.

Por fim, para os estudantes cursando o terceiro ano do Ensino Médio, as habilidades gerais
sã o:

• Compreender:

– a importâ ncia, para a organizaçã o do espaço global, dos processos políticos, espaciais e
histó ricos relacionados à Guerra Fria;

– as novas formas de organizaçã o do espaço mundial com o fim da Guerra Fria;

– as novas propostas e encaminhamentos relacionados à economia mundial e suas implicaçõ es


sociais e ambientais;

– as principais organizaçõ es multilaterais e internacionais que atuam no contexto atual.

• Analisar:
– criticamente a relaçã o entre as mudanças no mundo do trabalho e a produçã o do espaço;

– a relaçã o entre consumo, violência e trabalho;

– e compreender as tendências da populaçã o mundial;

– o crescimento dos nacionalismos no século

XXI; – o continente africano no contexto atual.

• Reconhecer:

– as diferentes intencionalidades nos processos de representaçã o do espaço global;

– os processos de (re)produçã o do/no espaço geográ fico;

– os blocos econô micos mundiais e suas contradiçõ es;

– as diversas alianças econô micas e políticas existentes no contexto atual.

Pá gina 304

5. Geografia Acadêmica e Geografia Escolar: as


especificidades da Geografia Escolar
Aquilo que se ensina nas escolas nã o é nem o saber acadê mico nem mesmo uma simplificaçã o desse saber, mas é uma forma
muito particular de conhecimento a que se denomina saber escolar. (VEIGA NETO, 1994, p. 40 apud SCHÄ FFER, 2001, p. 89.)

A discussã o sobre a Geografia ensinada nas escolas é denominada por diversos autores
[Audigier (1992); Lestegá s (2002); Cavalcanti (2002); Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007)]
de “Geografia escolar”.

Segundo François Audigier (1992, p. 19, traduçã o nossa), a Geografia Escolar é “fruto de longas
tradiçõ es pedagó gicas, científicas e sociais, de variados imperativos e determinaçõ es”. O autor
destaca ainda que a Geografia Escolar é extremamente plural, daí usar o termo “Geografias
Escolares”.

Para ele, o professor de Geografia é um sujeito que circula em um conjunto complexo de


saberes, constituído de acordo com seus interesses de estudo pessoal, suas concepçõ es, os
imperativos dos programas e as características pró prias dos alunos.

Audigier aponta que as finalidades do ensino de Geografia na atualidade estã o associadas a


quatro grandes conjuntos ou dimensõ es: cultural, prá tica, intelectual e científica.

A finalidade cultural associa-se à:

Transmissã o de uma sé rie de conhecimentos, referê ncias, modos de pensar e representar o mundo comuns a todos os
habitantes de um país, que possibilitam a construçã o de uma identidade coletiva e têm por objetivo facilitar a comunicaçã o.
(AUDIGIER, 1992, p. 25, traduçã o nossa.)
Essa finalidade conduz assim à construçã o de um corpo de conhecimentos partilhados e
capazes de permitir aná lises e interpretaçõ es da realidade vivida, comparando-a com outros
lugares, regiõ es, países.

A finalidade prá tica corresponde, de acordo com esse autor, à relaçã o entre o que é ensinado e
suas possibilidades de uso prá tico e cotidiano pelos sujeitos/estudantes. Em relaçã o à
Geografia, compreende nã o apenas a habilidade de ler e compreender mapas, mas também a
construçã o de referências espaciais, a aná lise dos processos de construçã o espacial e suas
contradiçõ es, e a capacidade de compreender e analisar as informaçõ es da mídia.

A finalidade intelectual, para Audigier, situa-se entre os fins e propó sitos culturais e científicos,
tendo por meta possibilitar a familiarizaçã o com diferentes métodos de raciocínio, centrados
em geral na realidade vivida e discutida em sala de aula.

Por fim, a finalidade científica possibilita, para Audigier, estabelecer uma relaçã o entre o saber
ensinado e a produçã o científica. Para o autor, a legitimidade da disciplina escolar está
associada ao conhecimento acadêmico ou científico, que assegura sua legitimidade no sistema
escolar e a do docente como profissional da educaçã o.

Francisco Rodríguez Lestegá s (2002) destaca também a importâ ncia do ensino de Geografia
para a construçã o de uma identidade coletiva e considera as disciplinas escolares como
construçõ es particulares, que transmitem determinadas representaçõ es do mundo. No caso da
Geografia, o objeto de estudo está centrado na análise espacial.

Cavalcanti afirma que:

Um dos crité rios para a construçã o do saber geográ fico escolar é sua relevâ ncia social, ou seja, é a possibilidade de esse
saber contribuir para a formaçã o de cidadã os. Sua presença no currículo deve-se à necessidade que têm os alunos de
apreender o espaço como dimensã o da prá tica social cotidiana. Geografia é uma prá tica social que ocorre na histó ria
cotidiana dos homens. [...] O espaço e as percepçõ es e concepçõ es sobre ele sã o construídos na prá tica social, de modo que
vai se formando um conjunto de saberes sobre o espaço mais ou menos sistematizados, científicos ou nã o. (2002, p. 74.)

Os autores citados demonstram a necessidade premente, no ensino de Geografia, de relacionar


os saberes acadêmicos à realidade vivida e experienciada pelos estudantes. Os conhecimentos
trabalhados na escola devem relacionar-se ao cotidiano, problematizando-o e capacitando os
estudantes a se reconhecer como sujeitos das transformaçõ es sociais e espaciais, por menores
que sejam essas intervençõ es.

Pá gina 305

Segundo Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007) a Geografia, como disciplina escolar:

Oferece sua contribuiçã o para que alunos e professores enriqueçam suas representaçõ es sociais e seu conhecimento sobre
as mú ltiplas dimensõ es da realidade social, natural e histó rica, entendendo melhor o mundo em seu processo ininterrupto
de transformaçã o, o momento atual da chamada mundializaçã o da economia. (2007, p. 37-38.)

Para possibilitar a construçã o de representaçõ es sociais sobre as variadas dimensõ es da


realidade, é fundamental, de acordo com Cavalcanti, “levar as pessoas em geral, os cidadã os, a
uma consciência da espacialidade das coisas, dos fenô menos que elas vivenciam diretamente,
ou nã o, como parte da histó ria social” (2002, p. 12-13). De acordo com ela, um dos objetivos
mais importantes do ensino de Geografia é formar raciocínios espaciais, mas:

Formar esses raciocínios é mais que localizar, é entender as determinaçõ es e implicaçõ es das localizaçõ es, e isso requer
referê ncias teó rico-conceituais. A ideia é a de que conceitos geográ ficos mais abrangentes sã o ferramentas, recursos
intelectuais fundamentais para a compreensã o dos diversos espaços. (CAVALCANTI, 2002, p. 14.)
Essa autora defende, nas prá ticas da Geografia Escolar, a construçã o de raciocínios espaciais,
uma vez que:

O ensino de Geografia tem a finalidade de trabalhar essas referê ncias na escola, as mais gené ricas e sistematizadas em
contato com as cotidianas. [...] O objeto do estudo geográ fico na escola é , pois, o espaço geográ fico, entendido como um
espaço social, concreto, em movimento. Um estudo do espaço assim concebido requer uma aná lise da sociedade e da
natureza e da dinâ mica resultante da relaçã o entre ambas. [...] Uma das propostas de se conceber a especificidade da
Geografia [...] é a de que sua perspectiva é a de responder à s perguntas: onde e por que nesse lugar? (CAVALCANTI, 2002, p.
13.)

Logo, tais questõ es demarcam as especificidades da Geografia Escolar, que, ademais, transita e
deve considerar a especificidade dos saberes escolares, entendidos como conceitos,
procedimentos e valores.

Buscando maior aproximaçã o aos preceitos ditados anteriormente e aos objetivos explicitados
nos diversos documentos voltados ao Ensino Médio, a Coleçã o tem como principal objetivo a
formaçã o do cidadã o e do raciocínio espacial, utilizando os conceitos e conhecimentos da
Geografia como caminho e estímulo.

Os objetivos do ensino de Geografia se afinam, em primeiro plano, com os parâ metros gerais
mundiais para o desenvolvimento de cidadã os autô nomos, críticos, atuantes e com visã o
abrangente.

Tomamos essas referências gerais como norteadoras daquelas específicas, adequadas ao


desenvolvimento biopsicocognitivo dos estudantes e afeitas à s temá ticas e problemas
específicos da Geografia Escolar.

Com base nessas habilidades, pode-se pensar não apenas o desenvolvimento dos conteú dos,
mas a elaboraçã o e aplicaçã o de atividades avaliativas, que devem, em nossa concepçã o, serem
plurais e possibilitarem o aprimoramento dos educandos. No processo educativo, a funçã o
docente é primordial, na medida em que organiza tempos e conteú dos, distribui atividades e
possibilita a ocorrência da aprendizagem.

O docente é qualificado em duas frentes: de um lado, equipado de formaçã o específica,


disciplinar; de outro, capacitado a lidar com prá ticas, demandas e necessidades associadas à
didá tica e à s metodologias de ensino em escolas e salas de aula. Em seu fazer cotidiano, esses
conhecimentos e prá ticas se mesclam a vá rios outros, definindo e ampliando a compreensã o
da profissã o, a construçã o identitá ria e a pró pria construçã o do campo disciplinar.

Para auxiliar seu trabalho, oferecemos na Coleçã o diversas possibilidades de atividades a


serem desenvolvidas com os estudantes no desenvolver do processo educativo, sempre
acompanhadas por orientaçõ es e respostas. E neste Manual indicamos textos e sites que
possibilitam a continuidade da formaçã o em serviço e a reflexã o sobre seu saber-fazer e a
ciência de referência – a Geografia –, que é outro aspecto central da atividade docente.

Pá gina 306

6. A interdisciplinaridade no ensino-
aprendizagem de Geografia no nível médio
A interdisciplinaridade aparece com vigor nas propostas das novas DCN relacionadas à
organizaçã o curricular do Ensino Médio.
Nesse documento, a interdisciplinaridade relaciona-se à questã o de como organizar os
componentes curriculares de modo a contribuir para a formaçã o humana integral,
considerando as dimensõ es do trabalho, da ciência, tecnologia e cultura (BRASIL, 2013).

Citando diretamente o documento:

[Nas] Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaçã o Bá sica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resoluçã o CNE/CEB
nº 4/2010) [se estabelece que] “A interdisciplinaridade pressupõ e a transferê ncia de mé todos de uma disciplina para outra.
Ultrapassa-as, mas sua finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar ocorre a
transversalidade do conhecimento constitutivo de diferentes disciplinas, por meio da açã o didá tico-pedagó gica mediada
pela pedagogia dos projetos temá ticos.” A interdisciplinaridade é , assim, entendida como abordagem teó rico-metodoló gica
com ênfase no trabalho de integraçã o das diferentes á reas do conhecimento. (BRASIL, 2013, p. 184.)

A construçã o da interdisciplinaridade, para que seja eficiente, implica necessariamente um


repensar dos tempos e espaços escolares, bem como dos processos e procedimentos
avaliativos.

Entre os pesquisadores do campo da Educaçã o, é consenso que o conceito e a busca pela


interdisciplinaridade surgiram na Europa, mais especificamente na França e Itália em meados
da década de 1960, em decorrência dos movimentos estudantis, que reivindicavam mudanças
nas escolas e nas universidades.

Segundo Fazenda (1999), essa discussã o chega ao Brasil ainda na década de 1960, sendo
incorporada ao ensino sem muitas preocupaçõ es teó ricas ou epistemoló gicas. De acordo com a
autora, ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990 observa-se uma crescente preocupaçã o
com a construçã o da definiçã o, suas contradiçõ es e a busca por uma teoria em torno dessa
proposta e prá tica pedagó gica.

De acordo com os PCN:

A interdisciplinaridade supõ e um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigaçã o, um
plano de intervençã o. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar,
compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atençã o de mais de um olhar, talvez
vá rios. (BRASIL, 2000a, p. 88-89.)

A interdisciplinaridade procura integrar saberes oriundos de diferentes disciplinas escolares,


relacionados a um objetivo comum, a saber, o de melhor (re)conhecer as complexidades do
contexto atual.

O desenvolvimento de atividades interdisciplinares implica no domínio e conhecimento


disciplinar, de forma a propor atividades conjuntas com vistas à resoluçã o de problemas
teó ricos e prá ticos propostos na escola ou derivados da sociedade, sem olvidar os conceitos e
procedimentos metodoló gicos específicos de cada campo do conhecimento envolvido no
projeto ou em uma proposta pedagó gica.

Tendo isso em consideraçã o, as prá ticas interdisciplinares desenvolvidas nas escolas podem
possibilitar a interligaçã o de diferentes disciplinas escolares, favorecendo a construçã o de uma
compreensã o mais complexa da realidade analisada ou investigada.

Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007) afirmam que:

A atitude interdisciplinar precisa ser estimulada na escola para auxiliar o entendimento do mundo e da realidade
contraditó ria vivida pela sociedade. É importante também que a produçã o da vida seja compreendida como resultado de
mú ltiplas relaçõ es e determinaçõ es. (LORIE- RI, 2002 apud PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 148.)

Os objetivos da interdisciplinaridade estã o associados, portanto, à aná lise e compreensã o de


processos oriundos das contradiçõ es apresentadas pelas sociedades e/ou de conteú dos
disciplinares passíveis de abordagem conjunta por diversas disciplinas. A intencionalidade é a
construçã o, pelos estudantes, de conhecimentos, habilidades e competências voltados a uma
compreensã o mais integrada e pró xima da materialidade dos fenô menos e processos
analisados.

Pá gina 307

As autoras anteriormente citadas apontam ainda que:

A definiçã o do tema, os objetivos e caminhos a ser percorridos, os conceitos-chave e os mé todos das diversas ciê ncias
precisam ser conhecidos sem eliminar as diferenças, porque cada conceito foi construído segundo as especificidades de cada
ciê ncia ou disciplina escolar. (PONTUSCHKA; PAGA- NELLI; CACETE, 2007, p. 149.)

Considerando os pressupostos anteriores, a Coleçã o oferece esse recurso aos docentes, com
base em sugestõ es para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares incluindo diferentes
disciplinas escolares.

Entretanto, cabe ao docente avaliar e desenvolver cada proposta de acordo com sua realidade,
discutindo com os colegas os métodos, conceitos, procedimentos, resultados e formas de
avaliaçã o.

A interdisciplinaridade possibilita ao docente da Educaçã o Bá sica maior liberdade para


organizar e ordenar os conteú dos, “relacionando as aprendizagens de vá rias á reas ou dentro
de cada uma”. Todavia, as dificuldades para o desenvolvimento dessas atividades aumentam
na medida em que o avanço da escolarizaçã o implica no aumento do nú mero de professores
especialistas (Geografia, Histó ria, Português, Matemá tica, Ciências etc.). Nessa situaçã o,
“somente o planejamento conjunto pode minimizar as fronteiras entre as disciplinas e o
consequente parcelamento da aprendizagem do aluno”. (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE,
2007, p. 115.)

7. Processos e procedimentos avaliativos


Uma das etapas mais complicadas e importantes do processo de ensino-aprendizagem diz
respeito à s avaliaçõ es. Em geral, deparamos com procedimentos avaliativos que medem o grau
de conhecimento memorizado, ou eficazmente repetido, pelos estudantes.

Avaliar é uma das etapas mais complexas do processo de ensino-aprendizagem, porque


demanda clareza do que, como e por que avaliar. Muitas vezes é possível observar uma quase
oposiçã o entre os mecanismos e propostas de trabalho desenvolvidos em classe e os
momentos específicos de avaliaçã o – as provas –, que acabam por medir o conhecimento
acumulado pelos estudantes, quase na contramã o do desenvolvimento do conteú do e das
relaçõ es estabelecidas entre professores e estudantes.

Nas avaliaçõ es processuais, geralmente é requerida maior clareza de professores, estudantes e


pais em relaçã o aos critérios e etapas dos procedimentos. Quando esses processos e
procedimentos nã o estã o claros para os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem, podem
resultar em confusã o e insegurança.

De acordo com diferentes abordagens do processo de ensino-aprendizagem, observa-se


variaçã o nã o só dos procedimentos avaliativos, mas principalmente dos instrumentos e
objetivos da avaliaçã o. Apoiados em Mizukami (1986), destacamos os principais objetivos da
avaliaçã o de acordo com algumas abordagens do processo de ensino-aprendizagem.
Na denominada abordagem tradicional, que enfatiza o desenvolvimento de modelos e cuja
centralidade do processo está no docente, a avaliaçã o objetiva a reproduçã o exata do conteú do
comunicado em sala de aula, no intuito de aferir a quantidade e exatidã o das informaçõ es.

Na abordagem comportamentalista ou behaviorista, o destaque é o desenvolvimento de


habilidades que levem à competência tecnoló gica educacional. Nesse caso, os procedimentos
avaliativos implicam em constatar se o estudante aprendeu e atingiu os objetivos propostos
quando o programa foi conduzido até o final.

Na abordagem humanista, cujo centro dos procedimentos de ensino-aprendizagem sã o o


sujeito e as relaçõ es interpessoais, o docente tem o papel de facilitador do processo de ensino-
aprendizagem e a avaliaçã o está focada na autoavaliaçã o.

Segundo uma abordagem cognitivista, o foco dos processos de ensino-aprendizagem se


assenta na articulaçã o entre emoçã o e conhecimento, no interacionismo e no desenvolvimento
do processo cognitivo de acordo com o desenvolvimento do estudante.

Pá gina 308

Os procedimentos avaliativos devem considerar se o estudante adquiriu noçõ es, conservaçõ es,
realizou operaçõ es e relaçõ es. Seguindo essa perspectiva, os erros, incompletudes e distorçõ es
devem ser considerados parte do processo de desenvolvimento cognitivo e servir como guia
para o desenvolvimento dos conteú dos e atividades.

Por fim, na abordagem sociocultural os processos de ensino-aprendizagem estã o associados


à compreensã o da ciência como produto histó rico, da educaçã o como ato político e do
conhecimento como transformaçã o contínua, tendo o sujeito do conhecimento como foco.
Nessa abordagem, que nã o descarta os aspectos técnicos do conhecimento e da educaçã o, os
procedimentos avaliativos implicam em autoavaliaçã o e/ou avaliaçã o mú tua, uma vez que se
observa o conjunto dos processos e prá ticas, nã o apenas uma etapa ou parte dela.

Souza (2006) afirma que a avaliaçã o é parte integrante da vida cotidiana e que, numa
perspectiva abrangente, todos estamos continuamente avaliando e sendo avaliados. De acordo
com a autora:

Para que o processo de avaliaçã o escolar tenha o potencial de contribuir com o aperfeiçoamento das açõ es em
desenvolvimento deve [...] ser democrá tico [...], ser abrangente [...], ser participativo [...] e ser contínuo, constituindo-se
efetivamente em uma prá tica de investigaçã o que integra o planejamento escolar em uma dimensã o educativa. (SOUZA,
2006, p. 370.)

Em consonâ ncia com a proposta teó rico-metodoló gica da coleçã o, a avaliaçã o é entendida
como mú tua e permanente, parte integrante da prá tica educativa e, por isso, propostas
avaliativas sã o desenvolvidas durante os capítulos e nã o ao seu final.

Foram criadas atividades ao longo dos capítulos que podem ser utilizadas pelo docente como
parte dos procedimentos de avaliaçã o e que implicam no desenvolvimento de habilidades
diversas, tais como:

• apreensã o do conhecimento prévio dos estudantes a respeito do tema abordado;

• leitura e redaçã o;

• desenvolvimento de trabalhos coletivos (em duplas ou grupos);


• atividades participativas e que implicam no desenvolvimento e ampliaçã o de
posicionamentos e atitudes cidadã s;

• resoluçã o de problemas e desafios do cotidiano;

• argumentaçã o, organizaçã o e escuta tanto na realizaçã o dos trabalhos coletivos como nas
discussõ es em classe;

• observaçã o e aná lise das características e processos associados ao mundo vivido e


experimentado pelos estudantes;

• identificaçã o e compreensã o de diferentes có digos e linguagens da Geografia e de á reas afins;

• reconhecimento das diversas formas de organizaçã o do espaço geográ fico, em especial o


brasileiro.

Entendemos que é necessá rio ainda compreender o erro como parte do processo de
aprendizagem, pois, com base no erro de um estudante, o docente pode apreender os
mecanismos de construçã o do conhecimento, que sã o individuais, embora estejam ancorados
na coletividade, de modo a readequar suas prá ticas, propostas e procedimentos avaliativos.

Assim sendo, elaboramos para cada atividade nã o apenas as respostas, mas também
orientaçõ es sobre o seu desenvolvimento, e sugerimos ao docente algumas formas para
aprofundar a aná lise e a construçã o do conhecimento.

Acreditamos que:

para a aprendizagem significativa, pode-se pensar como os diferentes saberes interagem para produzir outro saber,
representado pelo escolar, que nã o se confunde com o acadê mico, mas nã o prescinde deste saber na construçã o do saber a
ser ensinado. (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 114.)

O desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares permite a integraçã o de disciplinas


escolares e possibilita a construçã o de conhecimentos espaciais, histó ricos, sociais, naturais,
físicos e econô micos, mais que sua simples memorizaçã o.

Memorizar e reproduzir um conteú do, um conceito ou uma característica, embora integre o


processo de aprendizagem, por si só não garante nem estimula a produçã o do conhecimento
sobre algum fenô meno.

Portanto, sugerimos que os docentes utilizem diversos procedimentos avaliativos ao longo do


ano, possibilitando o desenvolvimento de habilidades e competências variadas, assim como a
valorizaçã o daquelas habilidades e competências associadas à s características individuais de
cada estudante.

Todavia, independentemente dos processos avaliativos escolhidos e desenvolvidos pelos


docentes, é necessá rio que os estudantes tenham clareza e compreensã o do que está sendo
avaliado, assim como dos critérios utilizados em cada atividade proposta e desenvolvida.

Ainda indicamos, em diversas atividades, o contato e o trabalho com diferentes meios de


comunicaçã o, uma vez que:

O mundo de hoje é um mundo de grandes avanços tecnoló gicos, sobretudo nas á reas de comunicaçã o e informaçã o. O aluno
é um sujeito permanentemente estimulado pelos artefatos tecnoló gicos: TV, vídeo, games, computador, internet. Ainda que
ele nã o seja dono de uma sé rie deles, esse mundo “entra” em sua cabeça pela TV e outros meios, ditando os ritmos e os
movimentos da sociedade atual, os padrõ es e valores da vida, as linguagens e leituras de mundo. (CAVALCANTI, 2002, p. 82.)
Pá gina 309

Sugerimos que diversas atividades e processos avaliativos contemplem essas mú ltiplas


linguagens, técnicas e meios de comunicaçã o, que também devem ser utilizados no preparo e
organizaçã o das aulas, como forma de capacitar e possibilitar ao estudante maior inserçã o
nesse universo.

A utilizaçã o desses recursos, especialmente do computador e da internet, quando bem


organizados e sistematizados, possibilita diversificar os procedimentos avaliativos, considerar
diferentes habilidades e integrar os estudantes entre si e com o docente.

Esses instrumentos, de acordo com Cavalcanti, podem “possibilitar ao estudante perceber a


geografia no cotidiano, para fazer a ponte entre o conhecimento cotidiano e o científico, para
problematizar o conteú do escolar a partir de outras linguagens e outras formas de expressã o”
(2002, p. 83).

Todavia, reiteramos que cabe ao docente selecionar quais processos e procedimentos


avaliativos propostos na Coleçã o melhor correspondem à sua proposta de ensino e à forma
como o conteú do será desenvolvido em classe.

8. As novas tecnologias de comunicação e


informação, o estudo do meio e os projetos de
investigação no ensino de Geografia – nível
médio
Uma das características do tempo atual é o impacto das novas tecnologias de informação e
comunicação no cotidiano das pessoas e nas salas de aula, em particular.

Kenski questiona:

como utilizar as tecnologias interativas de comunicaçã o e informaçõ es na docê ncia para superar a solidã o e viver a emoçã o
na “aula”? Como pedir auxílio à tecnologia para també m nã o se sentir só , mas apenas desacompanhado nas aulas virtuais?
(2002, p. 255.)

Essa autora aponta para a construçã o de graus variados de interatividade, na medida em que a
utilizaçã o de tecnologias digitais:

possibilita a alteraçã o dessas estruturas verticalizadas de ensinar (professor > aluno) e as formas lineares pelas quais se dá a
suposta aprendizagem (ouvir (ou ler) – pensar – fazer). As possibilidades dos ambientes digitais garantem a construçã o de
novos espaços e tempos de interaçã o com a informaçã o/conhecimento e de comunicaçã o social. (KENSKI, 2002, p. 257.)

Como usar isso no ensino de Geografia? Pode-se, de acordo com Kenski (2002), disponibilizar
o programa do curso, textos a serem lidos, vídeos, filmes e documentá rios para todos os
estudantes, o que corresponderia ao nível interativo mais elementar. Ou, em classe, fazer
propostas simples, como solicitar aos estudantes que usem seus celulares para buscar
informaçõ es e dados, passando para níveis mais complexos de elaboraçã o de documentos
cartográ ficos por meio de aplicativos ou programas que possibilitam a construçã o coletiva de
textos. Enfim, sã o variadas as possibilidades de uso das tecnologias digitais a fim de
potencializar os processos de ensino-aprendizagem.
O importante é valorizar as possibilidades de interatividade e aprendizagem por meio das
novas tecnologias, propiciando o desenvolvimento do educando de acordo com as
intencionalidades educativas estabelecidas pelos docentes.

Segundo Toschi:

As mídias [...] provocam alteraçõ es no trabalho e na vida em sociedade, mas a principal alteraçã o que propiciam refere-se à
pró pria cultura da qual sã o fruto e na qual interferem. Por se caracterizar como tecnologia e conteú dos, as mídias adquirem
valor formativo, educativo. As mídias sã o criaturas culturais e criam cultura. Mídias sã o tecnologias, mas sã o també m meio
de divulgaçã o de conteú dos, sã o, enfim, tecnologias midiá ticas. (2002, p. 268.)

Essas possibilidades implicam na construçã o coletiva dos conhecimentos, na exploraçã o e no


aprofundamento de determinado tema, na utilizaçã o de linguagens variadas para abordar
determinado conteú do, enfim, em aprofundar os saberes a respeito do mundo em que estamos
inseridos.

Ainda segundo Toschi:

Mais do que incorporar esses recursos na escola, é importante transformá -los em mídias didá ticas, isto é , conhecer seu
processo de produçã o, identificar as intençõ es que as mensagens trazem, conhecer como as linguagens de cada meio se
processam, como é o processo de ediçã o das mensagens. É preciso saber “ler” o que as mídias dizem e interpretar seus
sentidos. (2002, p. 270.)

E tais princípios, leituras e objetivos das mídias devem estar relacionados ao planejamento do
professor e à s diversas intencionalidades presentes em sua proposta educativa, especialmente
considerando as características dos jovens que estã o no Ensino Médio.

Pá gina 310

A autora ainda assevera que:

Uma mesma tecnologia pode ser usada para manter a vida ou para matar, melhorar o sentido da vida humana ou aniquilar
ou excluir pessoas. [...] As tecnologias sã o parte da herança cultural da humanidade, e assim sendo, nã o podem estar fora da
escola. [...] Vivemos na sociedade da informaçã o e nã o na sociedade do conhecimento. [...] [Poré m] O conhecimento é muito
mais que informaçã o. Conhecimento supõ e a reelaboraçã o e ressignificaçã o da informaçã o e isso se dá num processo
coletivo, social. [...] O conhecimento supõ e diá logo, aná lise da informaçã o, criticidade dos dados, donde se forma seu cará ter
social, histó rico, plural, coletivo. É o conhecimento que traz a crítica da informaçã o, que garante a formaçã o da cidadania.
(TOSCHI, 2002, p. 271-273.)

Podemos aproveitar as variadas informaçõ es disponíveis hoje e as variadas formas pelas quais
essas informaçõ es sã o veiculadas e comunicadas para complementar a educaçã o escolar
geográ fica, no sentido de contribuir para a formaçã o da cidadania e a construçã o de raciocínios
espaciais.

Ao longo da Coleçã o e neste Manual, você encontrará sugestõ es de links, textos, vídeos,
documentá rios e filmes que o ajudarã o a incorporar algumas dessas tecnologias de informaçã o
e comunicaçã o em suas aulas. Para além dessas sugestõ es, há variados programas e aplicativos
que podem ser usados no ensino de Geografia, devendo-se ter sempre em conta o que quer
ensinar, por que, para quem e de que modo.

Outra forma de potencializar o ensino- aprendizagem da Geografia é utilizando os estudos do


meio como aproximaçã o/leitura da realidade. De acordo com Cavalcanti:

O objetivo do estudo do meio no ensino é o de mobilizar em primeiro lugar as sensaçõ es e percepçõ es dos alunos no
processo de conhecimento para, em seguida, proceder-se à elaboraçã o conceitual. [...] a indicaçã o desse procedimento para o
ensino de Geografia deve-se ao valor pedagó gico que tê m as saídas a campo para o estudo da paisagem, da natureza, de
espaços específicos como fá bricas, parques, equipamentos urbanos, e do espaço geográ fico em geral. (2002, p. 91.)
Segundo Pontuschka, os estudos do meio compreendem desde a saída dos alunos e professores
com o objetivo de entretenimento “até trabalhos interdisciplinares que demandem pesquisas
de campo, bibliográ fica, iconográ fica e, portanto, investimento em trabalho individual e
coletivo” (2004, p. 249).

Os estudos do meio representam uma possibilidade concreta e viá vel de desenvolvimento de


atividades interdisciplinares nas escolas, na medida em que um mesmo fenô meno, local e/ou
processo pode ser analisado a partir de â ngulos e questõ es diferenciadas, construídas
coletivamente. Mas, simultaneamente, constituem um desafio aos professores, pois esses
precisam sair de “suas caixinhas disciplinares” para compartilhar saberes e promover a
construçã o do conhecimento. Todavia, isso somente é possível se o docente detiver
conhecimentos disciplinares e clareza de seus objetivos educacionais e do que deseja alcançar
com esse tipo de atividade.

Ainda segundo Pontuschka:

O estudo do meio realiza um trabalho coletivo e interdisciplinar que exige a postura de um pesquisador que nã o conhece a
totalidade dos fatos, que vai “ao campo” com olhos de quem quer ver, que tem alguns poucos fragmentos e precisa encontrar
outros para estabelecer relaçõ es, que tem a consciê ncia que precisa ir mais longe e conhecer as determinaçõ es sociais,
políticas e econô micas que se consubstanciam em um espaço social e físico aparentemente organizado ou desorganizado,
mas sobretudo contraditó rio. Aluno e professor descobrem juntos fatos importantes, têm uma “atitude de estranhamento”
de algo que sempre lhes foi familiar, que sempre foi considerado “natural”. (2004, p. 267.)

Considerando esses aspectos, um estudo do meio pode ser realizado no entorno da escola, no
bairro, na cidade ou mesmo em lugares distantes. O que importa, na perspectiva da autora, é a
elaboraçã o/ realizaçã o do estudo tendo por foco a abertura para o novo e o estranhamento
com aquilo que parece “natural” ou organizado/desorganizado.

O objetivo, de acordo com ela, é encontrar os pontos de tensã o, reconhecer o processo de


produçã o daquele lugar, numa rede de intersecçõ es entre o local e o global, o mediato e o
imediato, o aparente e sua essência.

A autora ainda aponta um percurso metodoló gico para a utilizaçã o do estudo do meio como
método de ensino, considerando a preparaçã o, a realizaçã o e a avaliaçã o do processo:

• O reconhecimento do espaço geográ fico e social a ser estudado, com o levantamento das
fontes histó ricas (arquivos, fotografias, memó ria e objetos materiais); a observaçã o informal e
sistemá tica do espaço.

• Definiçã o da problemá tica a ser estudada apó s esse primeiro reconhecimento.

• Organizaçã o do cronograma a ser seguido, com a identificaçã o das tarefas individuais e


grupais: coleta e seleçã o de material e equipamento a serem utilizados.

• Elaboraçã o do caderno de pesquisa de campo.

• Pesquisa de campo propriamente dita.

• Sistematizaçã o das informaçõ es para aná lise da problemá tica de estudo e abertura para
outros eixos.

• Produçã o de material didá tico (PONTUSCHKA, 2004, p. 270-271).

Portanto, a elaboraçã o de um estudo do meio exige o envolvimento entre estudantes e


professores desde a preparaçã o inicial até os procedimentos avaliativos, que podem implicar
na produçã o de material sob a forma de textos, documentá rios, blogs, entre outros.
Pá gina 311

Como procedimento pedagó gico no ensino de Geografia, o estudo do meio:

favorece a construçã o de conceitos geográ ficos; permite o desenvolvimento de habilidades variadas; auxilia no
desenvolvimento da observaçã o; possibilita a integraçã o de vá rios conteú dos; e permite o desenvolvimento de habilidades
cartográ ficas. (CAVALCANTI, 2002, p. 92.)

Assim, é um procedimento que possibilita a sistematizaçã o e verticalizaçã o de conteú dos e


problemá ticas abordados em classe, considerando a escala local, mas simultaneamente,
dependendo do planejamento docente, possibilitando a articulaçã o com outras escalas.

Por isso, salientamos tanto no livro do aluno como neste Manual, algumas possibilidades de
estudos do meio, considerando os objetivos educacionais e as intencionalidades desta Coleçã o.
Mas reiteramos que sã o apenas algumas indicaçõ es e sugestõ es, as quais os docentes podem
acatar ou questionar, assim como propor novas, sempre considerando seus pró prios objetivos
educacionais.

Sendo assim, em relaçã o à perspectiva do trabalho por projetos, ou sua inclusã o no


desenvolvimento das atividades educativas no Ensino Médio, já apontamos a busca pela
articulaçã o entre os diferentes níveis de ensino, prevista nas DCN, por meio do incentivo à s
atividades de pesquisa no Ensino Médio. Vamos agora discorrer a respeito desses
procedimentos investigativos e sua pertinência na Educaçã o Bá sica.

Como procedimento de ensino, o trabalho com projetos na Educaçã o Bá sica pode ser associado
aos métodos propostos pela chamada “Escola Nova”, relacionada aos pressupostos de John
Dewey.

A construçã o do ensino por projetos, na atualidade, está vinculada ao desejo de buscar novas
formas e métodos para propiciar o desenvolvimento da autonomia e da aprendizagem dos e
com os estudantes.

Nã o sugerimos que os docentes adotem somente esse procedimento em suas aulas e suas
atividades, mas que o incluam como parte do processo formativo dos educandos. Por isso,
apresentamos algumas sugestõ es de elaboraçã o e execuçã o de procedimentos de pesquisa ao
longo da Coleçã o. O desenvolvimento de um projeto de pesquisa no ensino deve ser entendido
como:

Uma unidade significativa e prá tica de atividade dotada de valor educativo e voltada para uma ou mais metas definidas de
compreensã o; implica investigaçã o e resoluçã o de problemas [...] planejada e realizada até sua culminâ ncia pelo aluno e pelo
professor de um modo natural como na vida. (JIMÉ NEZ, 1996, p. 143 apud CAVALCANTI, 2002, p. 88.)

Esse tipo de atividade auxilia na construçã o do pensamento científico, investigativo,


questionador e propositivo, na medida em que os estudantes precisam elaborar uma questã o,
apresentar seus objetivos e sua relevâ ncia, construir procedimentos metodoló gicos que
permitam a execuçã o da pesquisa, sistematizar os dados e discutir os resultados. Para
Cavalcanti:

O desenvolvimento de projetos na escola tem a peculiaridade de ser um mé todo ativo e interativo [...] que busca a ligaçã o de
diferentes saberes no espaço escolar, dado seu cará ter interdisciplinar. [...] É um tipo de procedimento que requer uma
compreensã o mais globalizada do conteú do e com ele há maior possibilidade de convergir, de articular, de relacionar
conhecimentos. O desenvolvimento de projetos na escola permite que se alcancem os seguintes objetivos: a construçã o de
conhecimentos pelo aluno (formaçã o de atitude indagadora, capacidade de identificar problemas, de construir conceitos e de
processar informaçõ es); a prá tica da busca pelo conhecimento (em outras palavras, o aprender a aprender); a prá tica do
trabalho coletivo [...]; a tomada de decisõ es sobre aspectos da realidade pesquisada e a habilidade para apresentaçã o dos
resultados de investigaçã o. (2002, p. 88.)
Essa autora procura ainda destacar a diferença entre a realizaçã o de uma pesquisa escolar e a
pesquisa baseada na metodologia de projetos. Esta corresponde a “uma pesquisa real, em que
o sujeito (geralmente grupo de alunos) é ‘tocado’, é ‘acionado’ por um problema real, que quer
resolver, quer buscar resolver, ou quer realmente compreender melhor”. (CAVALCANTI, 2002,
p. 89.)

Ou seja, a prá tica da elaboraçã o, execuçã o e discussã o de um projeto de pesquisa auxilia os


estudantes a desenvolver maior autonomia, elaborar questionamentos e posicionar-se frente à
realidade, com base em dados e aná lises elaboradas por eles.

Como declaramos, é mais uma possibilidade de trabalho no Ensino Médio, e que pode
contribuir para a emancipaçã o dos sujeitos e a construçã o dos saberes geográ ficos e da
cidadania.

Pá gina 312

9. Referências bibliográficas do Manual do


Professor
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ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

10. Sugestões de textos: formação pedagógica


Professor, a seguir indicaremos alguns recursos, além dos listados nas referências, para que
você possa continuar seu processo de formaçã o.

ALBARRACÍN, E. S.; SILVA, S. de C. R. da; SCHIRLO, A. C. Interdisciplinaridade: saberes e


prá ticas rumo à inovaçã o educativa. Interciência, v. 40, n. 1, jan. 2015. Disponível em: <www.
redalyc.org/pdf/339/33933115010.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2016.

ASSOCIAÇÃ O DOS GEÓ GRAFOS BRASILEIROS (AGB). Revista Terra Livre. Disponível em:
<www. agb.org.br/publicacoes/index.php/terralivre/ issue/archive>. Acesso em: 7 abr. 2016.

COSTA, H. H. C. Políticas de currículo e ensino de Geografia: perspectivas sobre discurso,


subjetividade e comunidade disciplinar. Revista Brasileira de Educação em Geografia,
Campinas, v. 2, n. 4, 2012. Disponível em: <www.revistaedugeo.com.br/ojs/index.php/
revistaedugeo/article/view/85/83>. Acesso em: 7 abr. 2016.

INSTITUTO DE ESTUDOS SÓ CIO-AMBIENTAIS (IESA). Boletim Goiano de Geografia. Disponível


em: <http://revistas.ufg.emnuvens.com.br/ bgg>. Acesso em: 7 abr. 2016.
NEDOCHETKO, A. R.; MELLO, L. A. Alfabetizaçã o cartográ fica – símbolos que ajudam a
observar, ler, compreender e demonstrar o espaço em que vivemos. O professor PDE e os
desafios da escola pública paranaense, v. I, 2012. Disponível em:
<www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/ cadernospde/pdebusca/producoes_pde/
2012/2012_fafiuv_geo_artigo_algacir_roberto _nedochetko.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2016.

SILVA, J. L. B. da; KAERCHER, N. A. O mapa do Brasil não é o Brasil. Geograficidade, v. 3, n. extra,


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SOUZA, B. S. P. e. A geografia e a aná lise da natureza. Geoamazonia, Belém, v. 3, n. 5, p. 18-34,


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SOUZA, R. P. de; MOITA, F. M. C. da S. C.; CARVALHO, B. G. (Orgs.). Tecnologias digitais na


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UNIVERSIDADE DE SÃ O PAULO (USP). Revista GEOUSP. Disponível em: <www.usp.br/


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA (UFSM). Revista Geografia, Ensino & Pesquisa.
Disponível em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/ index.php/geografia>. Acesso em:
7 abr. 2016.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂ NDIA (UFU). Revista Ensino de Geografia. Disponível


em: <www.revistaensinogeografia.ig.ufu.br>. Acesso em: 7 abr. 2016.

Pá gina 316

11. Distribuição dos conteúdos por ano: sumário


dos livros do aluno
1º Ano
CAPÍTULOS SEÇÕES
a. A Geografia como conhecimento
1. O saber geográ fico e o
b. Regionalizaçõ es do espaço mundial
conhecimento do mundo
c. Para entender um pouco mais o período atual
a. Anamorfose

b. Posiçã o geoestratégica do Brasil

c. Projeçõ es cartográ ficas


2. Noçõ es de Cartografia
d. Mapas, cartas e seus elementos

e. Coordenadas geográ ficas

f. Fusos horá rios


a. Diversos olhares sobre o mundo no tempo

b. O desenvolvimento da Cartografia no século XX

c. Aerofotogrametria

d. Satélites artificiais
3. A Cartografia e as relaçõ es de
poder
e. Sistema de Posicionamento Global (GPS)

f. Sistema de Informaçã o Geográ fica (SIG)

g. Os avanços brasileiros

h. Cartografia e dominaçã o
a. A Terra e seus subsistemas

b. Estrutura interna do planeta, os limites e os alcances


dos conhecimentos humanos

c. A dinâ mica da litosfera e a tectô nica de placas

4. O planeta como sistema d. O intemperismo: encontro de forças formadoras e


destruidoras

e. Exemplos de relevo mundial

f. As grandes bacias hidrográ ficas do mundo

g. Solos: formaçã o e açã o humana


a. Tempo e clima

b. Diversidade bioló gica

c. Climas e vegetaçõ es do mundo

d. Origem dos desertos


5. Aspectos climatobotâ nicos
e. Classificaçã o climá tica de Kö ppen

f. Classificaçã o climá tica de Strahler

g. Ciclones

h. Anomalias climá ticas: El Niñ o e La Niñ a

Pá gina 317

1º Ano
CAPÍTULOS SEÇÕES
6. Aspectos da natureza brasileira a. Clima e tempo no Brasil
b. Influências no clima

c. O modelado do relevo brasileiro

d. Ecossistemas e biomas do Brasil

e. Domínios morfoclimá ticos


a. Alteraçõ es no clima da Terra

b. Mudanças na atmosfera terrestre

c. Do efeito estufa ao aquecimento global

d. O aquecimento global
7. Mudanças climá ticas globais
e. Da Conferência de 1972 à COP21

f. Os movimentos ambientalistas

g. Conservar, preservar, negociar...

h. Desenvolvimento sustentá vel e economia verde:


falá cias?
a. Preocupaçõ es ambientais

b. Sustentabilidade

c. Desenvolvimento sustentá vel × sociedades


sustentá veis
8. Questõ es ambientais globais
d. E-lixo

e. Cooperaçã o internacional

f. A á gua no centro da discussã o socioambiental

g. Os objetivos do desenvolvimento sustentá vel

2º Ano
CAPÍTULOS SEÇÕES
a. O país de contrastes

1. Os contrastes brasileiros b. A nova Geografia comercial do Brasil

c. BRICS e IBAS
2. A construçã o do territó rio a. A formaçã o territorial e política do Brasil no tempo
brasileiro
b. Calha Norte e Sivam/Sipam
c. Amazô nia Azul

d. Povos indígenas: territó rios e territorialidades

e. A cultura negra: territorialidades e inserçã o social


a. Regiã o geográ fica

b. Domínios morfoclimá ticos: outra forma de dividir e


organizar
3. Regionalizaçõ es
c. As regiõ es geoeconô micas

d. Regiã o concentrada

e. Regionalizaçõ es do espaço mundial


a. Contagem da populaçã o

b. Conceitos sobre populaçã o

c. Crescimento da populaçã o brasileira

d. Populaçã o absoluta e populaçã o relativa


4. A populaçã o brasileira
e. Transiçã o demográ fica brasileira

f. Populaçã o economicamente ativa

g. Composiçã o étnica da populaçã o brasileira

h. Migraçõ es externas e internas

Pá gina 318

2º Ano
CAPÍTULOS SEÇÕES
a. Qualidade de vida

b. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)


5. Indicadores sociais brasileiros
c. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDHM)

d. Violência segundo a cor, a idade e o gênero no Brasil


a. O que sã o recursos naturais?

b. Recursos naturais, pobreza e ambiente


6. Recursos naturais e crescimento
econô mico
c. Recursos naturais e localizaçã o industrial

d. Recursos naturais brasileiros


7. A industrializaçã o do Brasil a. A industrializaçã o tardia do Brasil
b. Regiõ es industriais do Brasil
a. Antecedentes e perspectivas da expansã o urbana
global

b. A urbanizaçã o brasileira
8. A urbanizaçã o do Brasil
c. Problemas urbanos

d. A poluiçã o atmosférica e suas consequências


a. Questã o agrá ria × questã o agrícola no Brasil

9. Produçã o de alimentos × fome b. Reforma agrá ria × posse da terra

c. A produçã o agropecuá ria no Brasil


a. Tipos de transportes utilizados no Brasil
10. Os transportes no Brasil
b. Corredores de exportaçã o

3º Ano
CAPÍTULOS SEÇÕES
a. As revoluçõ es industriais e o perfil do trabalhador

b. Mulheres no mercado de trabalho

1. O mundo do trabalho c. Trabalho escravo na atualidade

d. Trabalho infantojuvenil e políticas pú blicas

e. Trabalho, consumo e violência


a. Quem somos? Quanto somos?

b. O modelo econô mico global

c. Concentraçã o de renda: um problema cada vez mais


grave

d. Controle de natalidade ou distribuiçã o de renda:


2. A populaçã o mundial como combater a miséria?

e. Como vivemos?

f. Estratégias e problemas do crescimento populacional

g. A estrutura da populaçã o

h. Os movimentos migrató rios

Pá gina 319
3º Ano
CAPÍTULOS SEÇÕES
a. Multiculturalismo no Brasil

b. Identidades
3. Multiculturalismo e geografia
c. Nacionalismo e xenofobia

d. Muros e barreiras da intolerâ ncia


a. Focos de tensã o e zonas de conflito

b. Do final da Segunda Guerra Mundial à Guerra Fria

c. A ordem da Guerra Fria


4. Guerra Fria e a Nova Ordem
Mundial
d. A Nova Ordem Mundial

e. A tese do mundo “unipolar”

f. A tese do mundo multipolar


a. Movimentos nacionalistas e separatistas
5. Nacionalismos no século XXI
b. O nacionalismo como argumento para os
separatismos
a. Maniqueísmo

b. Fundamentalismos religiosos

c. Fundamentalismo econô mico

6. Fundamentalismos d. Fundamentalismo político

e. Terrorismo

f. A Primavera Á rabe

e. Conflito á rabe-israelense
a. Á frica

b. As grandes divisõ es regionais do continente africano

c. Da conferência de Berlim aos dias atuais

d. Á frica: anos 2000


7. A Á frica no contexto da
geopolítica mundial
e. Novos/Velhos conflitos no continente

f. O Sudã o e os conflitos em Darfur

g. O conflito na Repú blica Democrá tica do Congo

h. Á frica: entre o interesse e o esquecimento


8. A Nova Ordem Mundial e as a. As organizaçõ es econô micas mundiais
organizaçõ es internacionais b. Organizaçõ es não Governamentais

c. Os fó runs mundiais: econô mico × social


a. A globalizaçã o econô mica

b. Dominaçã o tecnoló gica


9. O mundo multipolarizado
c. Dominaçã o econô mica: os grandes conglomerados
mundiais

d. Dominaçã o financeira
a. Principais blocos econô micos mundiais

b. SADC
10. Parcerias políticas e econô micas
globais
c. OCDE

d. BRICS

Pá gina 320

12. Comentários das atividades por capítulo


Capítulo 1 – O mundo do trabalho
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO)

• Analisar as questõ es que envolvem o trabalho no mundo contemporâ neo, compreendendo


suas complexidades e processos.

• Explicar as principais mudanças no mundo do trabalho.

• Interpretar as mudanças no mundo do trabalho e suas consequências para a vida dos


diferentes grupos humanos.

• Sistematizar informaçõ es e processos pertinentes à s mudanças no mundo do trabalho.

• Aplicar conceitos e categorias para analisar e compreender as transformaçõ es no mundo do


trabalho e seus impactos sobre a vida dos trabalhadores.

• Localizar os principais conflitos e problemas associados à s mudanças no mundo do trabalho.

• Expressar fenô menos e processos em escalas distintas: do global ao particular e do particular


ao global.

• Discutir os impactos sociais e econô micos das mudanças no mundo do trabalho.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES
Professor, o capítulo permitirá a que você discuta com os alunos o mundo do trabalho e suas
mudanças.

É um capítulo denso, conceitual e, ao mesmo tempo prá tico na medida em que utiliza conceitos
para analisar a realidade atual.

Nã o se pode perder de vista nem a historicidade dos processos nem suas manifestaçõ es
espaciais. De fato, a organizaçã o do espaço materializa processos políticos e econô micos e,
compreendendo as formas pelas quais o espaço geográ fico constantemente se transforma e a
aparência dessas transformaçõ es (evidenciada em mapas, anamorfoses etc.), podemos
conhecer em maior profundidade suas condicionantes.

Como assinalou Henri Lefebvre:

o espaço nã o é um objeto científico afastado da ideologia e da política; sempre foi político e estraté gico. Se o espaço tem uma
aparê ncia de neutralidade e indiferença em relaçã o a seus conteú dos e, desse modo, parece ser “puramente” formal, a
epítome da abstraçã o racional, é precisamente por ter sido ocupado e usado, e por já ter sido o foco de processos passados
cujos vestígios nem sempre sã o evidentes na paisagem. O espaço foi formado e moldado a partir de elementos histó ricos e
naturais, mas esse foi um processo político. O espaço é político e ideoló gico. É um produto literalmente repleto de ideologias.

LEFEBVRE, H. In: SOJA, E. Geografias pós-modernas: a reafirmaçã o do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1993. p. 102.

Discutir a Nova Ordem Mundial implica conhecer a que a antecedeu, perceber suas
contradiçõ es e suas configuraçõ es espaciais.

Para abordar esse capítulo,indicamos aulas expositivas (nã o se esquecendo de seu cará ter
dialó gico), e também as seguintes estratégias:

• Realização de seminários: esse tipo de atividade permite que o aluno sinta-se


corresponsá vel por seu processo de aprendizagem. Uma vez que os seres humanos sã o por
excelência relacionais/sociais, este tipo de atividade favorece e aprofunda a interaçã o entre
alunos e professores em sala de aula e favorece o desenvolvimento do diá logo, possibilitando a
ambos compreenderem criticamente sua realidade. Porém, alguns cuidados devem ser
tomados na realizaçã o desse tipo de atividade: nã o substituir o monó logo ou a aula expositiva
do professor por um monó logo dos alunos; tomar cuidado para nã o subdividir demais as
temá ticas, fragmentando-as e tornando-as descontínuas (por isso, sugerimos um “fio
condutor” para os diversos seminá rios); ter cuidado para não deixar os seminá rios restritos a
generalidades e superficialidades (nesse sentido, seria muito interessante que você orientasse
os alunos a relacionarem os temas ao cotidiano deles).

• Para realizar um seminá rio, cabe a você, professor(a), explicitar os objetivos; auxiliar os
alunos na seleçã o bibliográ fica e na disponibilizaçã o dos textos do grupo para os colegas (com
tempo há bil para que todos possam ler o texto relativo ao seminá rio, criando condiçõ es para a
discussã o crítica do assunto); orientar os grupos por escrito; preparar o calendá rio de
apresentaçõ es com antecedência; organizar o espaço físico da sala de aula de modo que
favoreça o debate.

Pá gina 321

Oriente os alunos sobre as suas responsabilidades, como realizar as pesquisas e sistematizar o


conhecimento de forma a fornecer aos colegas pequenos textos ou roteiros para os dias de
apresentaçã o; ler os textos entregues, participando ativa e dialogicamente das discussõ es;
expor os temas com objetividade; e estabelecer um diá logo respeitoso com opiniõ es
contrá rias: o seminá rio é o momento de exercitar o ouvir e o falar, respeitando o outro e as
opiniõ es contrá rias à nossa.

• Realização de trabalhos em grupo: o encontro entre os alunos, suas negociaçõ es, os


arranjos que realizam e os acordos que estabelecem sã o momentos muito profícuos de
aprendizagem. Além disso, ao ter de buscar, selecionar e organizar informaçõ es em mapas,
quadros, peças teatrais, ou mesmo organizar a apresentaçã o oral, os alunos desenvolvem não
somente seu senso crítico (pois poderã o encontrar informaçõ es conflitantes e terã o de saber
selecionar o que lhes interessa diretamente e o que nã o lhes interessa), como também a
habilidade de síntese. Nesse tipo de atividade, destaca-se o papel do professor como um
mediador e orientador da aprendizagem e aos alunos é conferida a responsabilidade por seu
processo de formaçã o, o que é interessante sob a perspectiva do seu amadurecimento psíquico
e cognitivo. Se os trabalhos forem interdisciplinares, como sugeridos neste Manual, serã o
ainda mais interessantes, permitindo maior interaçã o no processo de ensino-aprendizagem.

• Estudos de textos: estudar um texto significa trabalhá -lo de modo analítico e crítico,
apreendendo sua estrutura, os recursos de linguagem utilizados, o(s) objetivo(s) do autor –
enfim, é mais do que “passar os olhos”, é ler e compreender a mensagem explícita e implícita
que o texto traz. Para isso, o capítulo conta com diferentes textos (científicos, jornalísticos,
mapas etc.) que fazem parte do conteú do programá tico para o ano. Elabore roteiros para que
os alunos leiam e estudem os textos e aproveite as leituras e fichas de leitura como material
para uma avaliaçã o processual. A habilidade de leitura e interpretaçã o de diferentes textos
(científicos, jornalísticos, mapas, grá ficos etc.) será exigida dos alunos ao longo de sua vida
escolar e profissional. Essa técnica tem a vantagem adicional de envolvê-los na produçã o e
compreensã o do pró prio conhecimento.

• Como os textos estã o incluídos no livro do aluno, sugerimos que você dê uma aula sobre o
tema e, depois, indique a leitura do capítulo. Determine como os alunos farã o a leitura:
silenciosa (individual) ou coletivamente. Preferimos a ú ltima forma, por sua possibilidade de
interaçã o. Para isso, reorganize o espaço da sala de aula em círculo a fim de que todos os
alunos fiquem em posiçã o de igualdade. Inicie a leitura, atribuindo um pará grafo a cada aluno,
aleatoriamente. Sua intervençã o deve ser motivadora, direcionadora, mas sem imposiçã o, por
meio de atividades sugestivas e questionadoras. Peça aos alunos que reinterpretem
verbalmente o texto lido. Por fim, solicite a redaçã o de outro texto, refutando, aceitando e/ou
criticando as ideias do autor do texto lido. Novamente, essa atividade permite a avaliaçã o
processual dos alunos e uma avaliaçã o formal sem ser pontual: a redaçã o do novo texto, com a
produçã o do conhecimento pelo pró prio aluno. Você também poderá convidar os professores
de Literatura e Redaçã o para dirigirem essa atividade com você.

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E AS ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 13 Conexão de conhecimentos - Condições de trabalho

Os alunos podem estabelecer as seguintes relaçõ es: o trabalho como alternativa para obter
renda; as injustas condiçõ es de trabalho tanto no século XIX como atualmente; a
superexploraçã o dos trabalhadores; a presença do trabalho infantil etc.

p. 18 Atividade – Walmartização

Características:

• terceirizaçã o;

• nã o remuneraçã o de horas extras;


• sub-remuneraçã o do trabalho – menos de um dó lar a hora;

• desrespeito à s leis trabalhistas;

• cooptaçã o dos trabalhadores (alçados à categoria de “colaboradores”);

• nã o fornecimento de equipamentos de proteçã o aos funcioná rios;

• impedimento de constituiçã o de sindicatos;

• reduçã o das margens de lucro dos fornecedores;

• exigência de prazo rígido na entrega dos produtos e baixo custo de produçã o.

Professor, indicamos alguns textos para você se aprofundar no assunto. Se achar pertinente,
pode utilizá -los com os alunos.

A “Walmartizaçã o” da economia global. Entrevista com Mark LeVine. Disponível em:


<www.ihu. unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/14786-a-walmartizacao-da-economia-
global>. Acesso em: 11 maio 2016.

Pá gina 322

PEREIRA NETO, N. S.; LUZ, N. S. da. Mundializaçã o do capital e divisã o sexual do trabalho: a
walmartizaçã o das operadoras de checkout. Em Debate, Florianó polis, n. 6, p. 194-213, jul./
dez., 2011. Disponível em: <https://periodicos. ufsc.br/index.php/emdebate/article/viewFile/
1980-3532.2011n6p194/21304>. Acesso em: 11 maio 2016.

RAPOSO, C. T. M. As particularidades da questão social na realidade brasileira contemporânea:


superpopulaçã o, precarizaçã o do trabalho e superexploraçã o da força de trabalho. Tese de
doutorado. Programa de Pó s-Graduaçã o em Serviço Social. Recife: UFPE, 2015. Disponível em:
<http://repositorio.ufpe.br/handle/ 123456789/16558>. Acesso em: 11 maio 2016.

SERVANT, J. C. O preço dos preços baixos. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em:
<www. diplomatique.org.br/acervo.php?id=1861>. Acesso em: 11 maio 2016.

p. 22 Atividade – As barreiras imigratórias no tempo

1. Do atual Norte econô mico para o atual Sul econô mico.

2. Unificaçã o italiana e alemã ; disponibilidade de terras, especialmente nas Américas; crises de


fome na Irlanda; crise econô mica com dispensa de milhares de trabalhadores na Inglaterra;
imperialismo e ocupaçã o da Á sia e da Á frica; políticas de estímulo à imigraçã o, principalmente
nas Américas.

3. A direçã o e as causas das migraçõ es. Atualmente, os principais fluxos se dirigem do Sul
econô mico para o Norte econô mico. Além disso, guerras, conflitos, instabilidade econô mica e
mesmo mudanças ambientais têm estimulado esses fluxos em direçã o aos países do Norte.

4. De fato, o mundo está muito mais rico atualmente quando comparado ao século XIX.
Todavia, se há mais riqueza global, há também maior concentraçã o dessa riqueza. Por
exemplo, o nú mero de bilioná rios nos países europeus e norte-americanos supera, e muito, a
quantidade de bilioná rios no resto do mundo. Ainda assim, sã o poucas pessoas detendo a
maior parte da riqueza mundial quando comparamos esse nú mero com o mapa que mostra a
concentraçã o de pobres, maior nos países do chamado Sul econô mico.

5. As pessoas migram por causa de guerras e conflitos, atraídas pela possibilidade de uma vida
melhor; migram também por sofrerem perseguiçõ es religiosas ou ideoló gicas e em razã o das
mudanças ambientais. Se elas deixam á reas de risco potencial ou de graves crises econô micas e
políticas, vão buscar lugares onde aparentemente terã o mais chances de uma vida melhor para
si e seus familiares; onde supostamente encontrarã o maior qualidade de vida, liberdade e
tolerâ ncia. Desse modo, os países mais desenvolvidos/ricos se apresentam como destinos
potenciais para milhares de migrantes e refugiados.

6. As respostas poderã o variar, mas os alunos poderã o citar: a construçã o de muros, como na
fronteira entre Estados Unidos e México; as leis anti-imigraçã o na Europa; as formas de
perseguiçã o e o aumento da xenofobia na Europa; entre outros.

p. 26 Atividade – Terceirização e precarização do trabalho em escala nacional e global

A terceirizaçã o é hoje uma realidade à qual se encontram submetidos milhõ es de


trabalhadores em todo o mundo, mesmo no chamado “mundo desenvolvido”. Estimule a
realizaçã o de pesquisas sobre as condiçõ es de trabalho nesses países e, durante o debate,
avalie com os alunos as formas de submissã o e resistência dos trabalhadores a esse processo.

Indicamos a seguir algumas referências:

ALVES, G. A ló gica da terceirizaçã o e o capitalismo no Brasil: a precarizaçã o do trabalho na era


do neodesenvolvimentismo. O público e o privado, n. 25, 2015. Disponível em:
<www.seer.uece.br/?-journal=opublicoeoprivado&page=article&op=view&path%5B
%5D=1228>. Acesso em: 11 maio 2016.

ANDRETA, R. L.; CAMPOS, R. S. Base da pirâ mide social brasileira? O perfil dos trabalhadores
terceirizados no contexto dos anos 2000. Revista da ABET, v. 14, n. 2, 2016. Disponível em:
<www.okara.ufpb.br/ojs/index.php/abet/ article/view/27952>. Acesso em: 11 maio 2016.

ANTUNES, R. et al. Neoliberalismo, trabalho e sindicatos: reestruturaçã o produtiva no Brasil e


na Inglaterra. Sã o Paulo: Boitempo, 1997.

______. Desenhando a nova morfologia do trabalho no Brasil. Estudos Avançados, v. 28, n. 81, p.
39- 53, 2014. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.

Pá gina 323

php?pid=S010340142014000200004&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 11 maio 2016.

______. A nova morfologia do trabalho e as formas diferenciadas da reestruturaçã o produtiva no


Brasil dos anos 1990. Sociologia, v. 27, p. 11-25, 2014. Disponível em:
<www.scielo.mec.pt/scielo.php?
pid=S087234192014000100002&script=sci_arttext&tlng=es>. Acesso em: 11 maio 2016.

______. Dimensõ es da crise estrutural do capital e suas respostas. Confluências: Revista


Interdisciplinar de Sociologia e Direito, v. 10, n. 1, p. 43-61, 2013. Disponível em:
<www.confluencias.uff.br/index.php/confluencias/article/ view/12>. Acesso em: 11 maio
2016.
DRUCK, M. da G.; FRANCO, T.; BORGES, A. A perda da razão social do trabalho: terceirizaçã o e
precarizaçã o. Sã o Paulo: Boitempo, 2007.

______.; SELIGMANN-SILVA, E. As novas relaçõ es de trabalho, o desgaste mental do trabalhador


e os transtornos mentais no trabalho precarizado. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v.
35, n. 122, p. 229-248, 2010. Disponível em: <www.fasul.edu.br/portal/app/webroot/files/
links/Seguran%C3%A7a%20Trabalho/RBSO/ RBSO%20122%20vol%2035.pdf#page=52>.
Acesso em: 11 maio 2016.

FEITOSA, R. L.; MONTENEGRO, A. de V. Consideraçõ es sobre terceirizaçã o e precarizaçã o do


trabalho no contexto brasileiro: uma revisã o. Revista de Psicologia, v. 6, n. 2, 2016. Disponível
em: <http://periodicos.ufc.br/index.php/ psicologiaufc/article/download/2583/1980>.
Acesso em: 11 maio 2016.

p. 40 Questões de Enem e vestibular

1. (Enem) E

A Revoluçã o Industrial promoveu um intenso processo de urbanizaçã o na Inglaterra. A oferta


de empregos e a maior possibilidade de mobilidade social oferecidas pelo espaço urbano
atraíram milhares de camponeses para as cidades, que passaram a crescer de forma acelerada
e desorganizada. O inchaço urbano causado pelo intenso êxodo rural tornou o espaço das
cidades ambientes insalubres, marcados por precá rias condiçõ es de moradia, saú de e higiene.

2. (Enem) C

A foto evidencia uma linha de montagem, com trabalho repetitivo.

3. (Enem) E

A partir da leitura do texto, constata-se a construçã o identitá ria das quebradeiras de babaçu e
sua luta por acesso ao trabalho.

4. (Enem) C

É a alternativa que caracteriza melhor e corretamente a terceira fase da Revoluçã o Industrial.

5. (Fuvest-SP) D

A partir da leitura do texto, ficam evidentes a superexploraçã o do trabalho em condiçõ es


análogas à da escravidã o nas indú strias de bens de consumo nã o durá veis, como a de vestuá rio
e relacionada à imigraçã o ilegal de bolivianos e peruanos.

6. (Uerj) B

A imagem de Andy Warhol faz referência direta à padronizaçã o dos produtos por meio da
produçã o em série, típica do modelo fordista taylorista.

7. (UEPB) E

Com base no texto de Lia Luft e considerando a violência no Brasil, todas as alternativas estã o
corretas.

8. (UFSM-RS) E
A alternativa III está incorreta porque o trá fico nã o se restringe apenas à s grandes cidades do
mundo. Considerando o mapa, a produçã o, a distribuiçã o e o consumo envolvem de á reas ricas
e urbanizadas a á reas pobres e rurais.

p. 43 A notícia em diversas óticas

Professor, essa atividade traz três textos a respeito da questã o do trabalho e dos trabalhadores
e suas formas de resistência, a partir da premissa apontada por Milton Santos na obra Por uma
outra globalização. Leia os textos em classe com os alunos. Você pode dividi-los em duplas para
que elaborem a proposiçã o, e depois discutir cada uma coletivamente.

Nã o há uma ú nica possibilidade de resposta. Estimule a leitura dos textos, a realizaçã o de


debates em classe e as propostas apresentadas pelos estudantes.

SUGESTÕES DE TEXTO PARA O PROFESSOR

Nessa seçã o, incluímos alguns textos sobre a China e a Nova Ordem Mundial, bem como a
respeito do trabalho na contemporaneidade. Se considerar pertinente, pode aproveitá -los
também em suas aulas.

Ethnos e demos: a construção discursiva da identidade coletiva

Pá gina 324

O artigo trata da questã o da construçã o de fronteiras identitá rias, sociais e políticas em diferentes contextos histó ricos
(França, Rú ssia), considerando fundamentalmente a noçã o de naçã o, relacionada à língua, e a construçã o discursiva dos
nomes (do povo, da língua) dos elementos postos como fronteira. O autor considera que o estado atual dos problemas
nacionais da Europa do Leste na ex-Uniã o Sovié tica pode ser parcialmente estudado, ou explicado, graças à histó ria das
definiçõ es conflitantes e incompatíveis de naçã o.

SERIOT, P. Ethnos e demos: a construçã o discursiva da identidade coletiva. Rua, v. 7, n. 1, p. 11-20, 2001. Disponível em:
<http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rua/ article/view/8640714>. Acesso em: 11 maio 2016

EUA e China: uma história de conflitos

As relaçõ es entre os Estados Unidos e a China enfrentaram tempos difíceis durante o meio sé culo de existê ncia do regime
comunista de Pequim.

A BBC listou os altos e baixos da convivê ncia entre os dois países.

1949-1999

1949: Mao Tse-Tung anuncia a criaçã o da Repú blica Popular da China. Os chineses nacionalistas fogem para Taiwan. Os
Estados Unidos nã o reconhecem o novo regime chinê s.

1950: A Coreia do Norte invade a Coreia do Sul. O presidente americano, Henry Truman, envia tropas para a Coreia do Sul e
ordena que a Sé tima Esquadra da Marinha americana proteja Taiwan. A China entra na Guerra da Coreia, que é suspensa em
1953, com um armistício.

1957: Mao Tse-Tung proclama que o “imperialismo americano é um tigre de papel”.

1965: O bombardeio do Vietnã pelos Estados Unidos leva a China a aumentar sua ajuda a Hanó i.

1969: O presidente americano, Richard Nixon, suspende a patrulha da Sé tima Esquadra no estreito de Taiwan.
Julho de 1971: A China convida a equipe de tê nis de mesa americana para jogar em Pequim, numa atitude conhecida como
“política do ping-pong”. O secretá rio de Estado Henry Kissinger vai secretamente à China para preparar o terreno para uma
visita de Nixon ao país.

Fevereiro de 1972: O presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, encontra-se com Mao Tse-Tung em Pequim. Nixon
assina um acordo que diz existir apenas uma China e que Taiwan faz parte do país.

Dezembro de 1975: O presidente Gerald Ford visita a China.

1978: Morre Mao Tse-Tung.

Janeiro de 1979: China e Estados Unidos estabelecem relaçõ es diplomá ticas depois que o presidente Jimmy Carter muda
representaçã o de Taipé para Pequim. Um comunicado conjunto diz que Washington manterá ligaçõ es informais com Taiwan.
Logo depois, o vice-primeiro-ministro Deng Xiaoping visita os Estados Unidos. Num rodeio no Texas, ele aparece vestindo
um chapé u de vaqueiro, criando uma imagem mais amigá vel da China para o pú blico americano.

Abril de 1979: O Congresso americano aprova o Ato para Relaçõ es com Taiwan, reafirmando o compromisso dos Estados
Unidos com Taiwan e mantendo a venda de armas à ilha dissidente.

Agosto de 1982: Num terceiro comunicado conjunto com a China, os Estados Unidos prometem nã o aumentar e
gradualmente reduzir a venda de armas a Taiwan.

Abril de 1984: O presidente Ronald Reagan visita a China para se encontrar com Deng Xiaoping, que diz que Taiwan
continua um problema crucial na relaçã o com Washington.

Fevereiro de 1989: O presidente George Bush visita a China. Ele convida dissidentes para um banquete. A China responde
proibindo a ida de um deles, Fang Lizhi.

4 de junho de 1989: O Exé rcito chinê s reprime com violê ncia as manifestaçõ es de estudantes, a favor da democracia, na
praça da Paz Celestial, em Pequim. Os Estados Unidos e outros países ocidentais impõ em sançõ es a Pequim.

Setembro de 1992: O presidente George Bush aprova a venda de 150 caças F-16 para Taiwan, mudando a política anterior
americana, que durou uma dé cada.

Janeiro de 1993: Bill Clinton toma posse com a política de usar a economia para promover a democracia na China. Ele
insiste que o status da China de parceiro preferencial deve depender de avanços no respeito a direitos humanos no país.

Novembro de 1993: O presidente chinê s, Jiang Zemin, se encontra com Clinton num encontro de líderes de naçõ es do
Pacífico, em Seattle.

Maio de 1994: Clinton suspende a política que condicionava o status de parceiro preferencial da China à melhoria no
respeito aos direitos humanos no país.

Maio de 1995: Clinton autoriza a visita a Nova York do líder de Taiwan, Lee Teng-Hui, revertendo uma política de 15 anos
de nã o concessã o de vistos a líderes da ilha. Como forma de protesto, China chama de volta seu embaixador em Washington.

Março de 1996: A China realiza um teste de mísseis pró ximo a Taiwan para intimidar os eleitores de Lee Teng-Hui, durante
eleiçã o presidencial da ilha. A China teme que ele defenda uma declaraçã o de independê ncia. Os Estados Unidos enviam dois
porta-aviõ es, numa demonstraçã o de apoio a Taiwan. Lee vence as eleiçõ es com folga.

Julho de 1997: A China retoma da Grã -Bretanha o controle de Hong Kong, o que melhora as relaçõ es com os Estados
Unidos.

Abril de 1998: A China liberta o dissidente Wang Dan da prisã o e obriga a pedir asilo nos Estados Unidos.

Junho de 1998: Bill Clinton é o primeiro presidente americano a visitar a China desde a repressã o da manifestaçã o por
democracia da praça da Paz Celestial. Ele critica a açã o do Exé rcito e exige da China respeito aos direitos humanos bá sicos. A
viagem é considerada um sucesso, mas fracassa na tentativa de acordo sobre reformas econô micas que a China deve fazer
para entrar na Organizaçã o Mundial do Comé rcio.

Em Xangai, Clinton reafirma a sua política dos “trê s nã os”:

• Nã o apoiar a independê ncia de Taiwan.


• Nã o reconhecer um governo independente de Taiwan.

• Nã o apoiar a entrada de Taiwan em organizaçõ es internacionais.

8 de maio de 1999: Aviõ es da Otan que bombardeavam Belgrado, durante a Guerra de Kosovo, atingem a Embaixada da
China na cidade. O incidente suspende as negociaçõ es envolvendo a entrada da China na OMC.

Setembro de 1999: Estados Unidos e China retomam negociaçõ es sobre a OMC.

Novembro de 1999: Estados Unidos e China chegam a um acordo sobre os termos para a entrada da China na OMC.

Março de 2000: Chen Shui-Bian, que defende abertamente a independê ncia de Taiwan, vence as eleiçõ es na ilha. A China
ameaça atacar a ilha se ele tentar se separar formalmente de Pequim.

Abril de 2000: Os Estados Unidos decidem vender um novo pacote de armamentos a Taiwan, mas recua na venda de
armamentos polê micos, como submarinos e aviõ es antissubmarinos.

Junho de 2000: A secretá ria de Estados americana, Madeleine Albright, se encontra com líderes chineses em Pequim, o
primeiro encontro oficial desde o bombardeio da embaixada chinesa em Belgrado, em 1999.

Setembro de 2000: A China elogia decisã o de Clinton de adiar o desenvolvimento do escudo de defesa antimísseis.

Pá gina 325

Janeiro de 2001: O presidente americano, George W. Bush, deixa claro que nã o considera a China um parceiro estraté gico.
China teme o apoio de Bush à ideia de um sistema de defesa antimísseis.

11 de fevereiro de 2001: China prende um acadê mico chinê s que trabalha nos Estados Unidos, Gao Zhan, em Pequim, e o
acusa de colocar em perigo a segurança nacional.

6 de março de 2001: Pequim diz que os Estados Unidos nã o deveriam seguir com seus planos de vender armamentos
avançados para Taiwan. Também nega as acusaçõ es de que empresas chinesas tenham ajudado o Iraque a melhorar suas
defesas antiaé reas, num desafio à s sançõ es impostas pela ONU contra Bagdá .

7 de março de 2001: China aumenta o orçamento da Defesa para cerca de US$ 17 bilhõ es. Washington diz que observará de
perto o aumento do poderio militar chinê s.

19 de março de 2001: Os Estados Unidos derrubam a política dos “trê s nã os”, estabelecida por Bill Clinton em relaçã o ao
Taiwan. A decisã o reflete o grande apoio que Taiwan tem no Congresso americano, principalmente no Partido Republicano,
de George W. Bush.

22 de março de 2001: O vice-primeiro-ministro chinê s, Qian Qichen, se encontra com Bush na Casa Branca. Ele protesta
contra a possível venda de armas a Taiwan. Bush diz que os Estados Unidos nã o tomarã o nenhuma atitude que coloque a
China sob ameaça.

30 de março de 2001: Mais uma vez Pequim prende uma pessoa da comunidade acadê mica americana, Li Shaomin,
durante sua viagem à China.

1 de abril de 2001: Um aviã o de espionagem americano faz um pouso de emergência na ilha chinesa de Hainan, depois de
colidir com um caça chinê s. A China acusa os EUA de ter provocado o choque, mas Washington diz que foi um acidente.

BBC Brasil, 6 abr. 2001. Disponível em: <www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2001/010404_historiachinaeua.shtml>.


Acesso em: 11 maio 2016.

Violações dos direitos humanos

Os promotores dos direitos humanos estã o de acordo em que, anos depois da sua emissã o, a Declaraçã o Universal dos
Direitos do Homem ainda é mais um sonho que uma rea lidade. Existem violaçõ es da mesma em qualquer parte do mundo.
Por exemplo, o Relató rio Mundial de 2009 da Anistia Internacional, Relató rio Mundial e de outras fontes mostram que os
indivíduos sã o:
• Torturados ou maltratados em pelo menos 81 países.

• Enfrentam julgamentos injustos em pelo menos 54 países.

• A sua liberdade de expressã o é restringida em pelo menos 77 países.

As mulheres e as crianças, em especial, sã o marginalizadas de muitas formas, a imprensa nã o é livre em muitos países e os
dissidentes sã o silenciados, com frequê ncia de forma permanente. Ainda que tenham sido conseguidas algumas vitó rias em
seis dé cadas, as violaçõ es dos direitos humanos ainda sã o uma praga no nosso mundo atual.

Para ajudar a informar da situaçã o real em todo o mundo, esta seçã o fornece exemplos de violaçõ es de sete artigos da
Declaraçã o Universal dos Direitos Humanos (UDHR):

Artigo 3º – O direito à vida

“Todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”

Estima-se que 6 500 pessoas foram mortas em combate armado no Afeganistã o em 2007, quase a metade delas foram
mortes de civis nã o combatentes nas mã os de insurgentes. Centenas de civis també m foram mortos em ataques suicidas por
grupos armados.

No Brasil em 2007, conforme os nú meros oficiais, polícia matou pelo menos 1 260 pessoas, o total mais elevado até a data.
Todos os incidentes foram qualificados oficialmente como “atos de resistê ncia” e receberam pouca ou nenhuma
investigaçã o.

Em Uganda, 1 500 pessoas morrem a cada semana nos acampamentos de pessoas internamente refugiadas.

De acordo com a Organizaçã o Mundial da Saú de, 500 mil morreram nesses acampamentos.

As autoridades vietnamitas levaram à força pelo menos 75 mil dependentes de drogas e prostitutas para 71 acampamentos
de “reabilitaçã o” superlotados, qualificando os detidos como “de alto risco” de contrair HIV/SIDA, mas sem prover nenhum
tratamento.

Artigo 4º – não à escravidão

“Ninguém deverá ser mantido em escravidã o ou trabalho forçado; a escravidã o e o comé rcio de escravos foram proibidos em
todas as suas formas.”

Em Uganda do norte, as guerrilhas do LRA (sigla do inglê s de Lord’s Resistance Army, que em portuguê s significa Exé rcito da
Resistê ncia do Senhor) sequestraram 20 mil crianças nos ú ltimos anos e forçaram-nas a servir como soldados ou como
escravos sexuais do exé rcito.

Na Guiné-Bissau, traficam-se crianças tã o jovens como de 5 anos tirando-as do país para trabalhar em campos de algodã o no
Senegal do sul ou como mendigos na capital. Em Gana, crianças de 5 a 14 anos sã o enganadas com falsas promessas de
educaçã o e futuro para trabalhos perigosos, e sem remuneraçã o na indú stria pesqueira.

Na Á sia, o Japã o é o maior país-destino para mulheres traficadas, especialmente mulheres oriundas das Filipinas e Tailâ ndia.
A Unicef estima que haja 60 mil crianças na prostituiçã o nas Filipinas.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos estima que entre 600 mil a 820 mil homens, mulheres e crianças sã o
traficados nas fronteiras internacionais todos os anos, metade dos quais sã o menores e incluindo um nú mero recorde de
mulheres e crianças a fugir do Iraque. Em quase todos os países, incluindo Canadá , Estados Unidos e Reino Unido, o exílio ou
a perseguiçã o sã o as respostas usuais do governo, sem nenhum serviço de ajuda para as vítimas.

Na Repú blica Dominicana, as operaçõ es de um bando de trá fico de pessoas levou à morte por asfixia de 25 trabalhadores
emigrantes haitianos. Em 2007, dois civis e dois oficiais militares receberam sentenças de prisã o indulgentes pela sua
participaçã o na operaçã o.

Na Somália, em 2007, mais de 1 400 etíopes e somalienses deslocados morreram no mar em operaçõ es de trá fico de pessoas.

Artigo 5º – não à tortura

“Ninguém deverá ser submetido à tortura ou a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.”
Em 2008, as autoridades dos Estados Unidos continuaram a manter 270 prisioneiros na Baía de Guantá namo, Cuba, sem
acusaçã o ou julgamento, sujeitos a “water-boarding,” uma tortura que simula o afogamento.

O antigo presidente, George W. Bush, autorizou a CIA a continuar com a detençã o e interrogaçã o secretas, apesar das
mesmas violarem a lei internacional.

Em Darfur, a violê ncia, as atrocidades e o sequestro sã o predominantes, e a ajuda externa está praticamente cortada. Em
especial as mulheres sã o vítimas de ataques incessantes, com mais de 200 violaçõ es na vizinhança de um acampamento de
pessoas refugiadas num período de cinco semanas sem nenhum esforço por parte das autoridades para castigar os autores.

Na Repú blica Democrá tica do Congo, serviços de segurança do governo e grupos armados cometem rotineiramente atos de
tortura e maltrato, incluindo espancamentos contínuos, facadas e violaçã o dos que estã o detidos por eles. Os detidos sã o
mantidos incomunicá veis, à s vezes em lugares de detençã o secretos.

Pá gina 326

Em 2007, a Guarda Republicana (guarda presidencial) e a divisã o de polícia de Serviços Especiais em Kinshasa deteve e
torturou arbitrariamente numerosas pessoas qualificadas como críticas do governo.

Artigo 13º – liberdade de movimento

“1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residê ncia no interior de um Estado.”

“2. Todos tê m o direito a abandonar qualquer país, incluindo o seu pró prio, e de voltar a seu país.”

Em Myanmar, milhares de cidadã os foram detidos, incluindo 700 prisioneiros de consciê ncia, destacando a prê mio Nobel
Daw Aung San Suu Kyi.

Em retaliaçã o à s suas atividades políticas, nos ú ltimos dezoito anos ela tem estado no total doze anos presa ou sob prisã o
domiciliar, e recusou todas as ofertas do governo de libertaçã o que exigissem que ela abandonasse o país.

Na Argé lia, refugiados e pessoas em procura de asilo foram vítimas frequentes de detençã o, expulsã o ou maus tratos. 28
pessoas de países africanos subsaarianos com status oficial de refugiados por parte do Alto Comissariado das Naçõ es Unidas
para Refugiados (ACNUR) foram deportados para o Mali apó s serem falsamente julgados, sem um advogado ou inté rprete,
sob acusaçõ es de entrar ilegalmente na Argé lia. Foram largados numa cidade do deserto, sem comida, á gua nem ajuda
mé dica onde estava ativo um grupo armado Mali.

No Quê nia, as autoridades violaram a lei internacional de refugiados quando fecharam a fronteira a milhares de pessoas que
fugiam do conflito armado na Somá lia. Os que procuravam asilo foram detidos ilegalmente na fronteira do Quê nia, sem
acusaçõ es ou julgamento, e foram devolvidos à força para a Somá lia.

No norte de Uganda, 1,6 milhõ es de cidadã os permaneceram em campos de deslocados. Na sub-regiã o de Acholi, a á rea mais
afetada pelo conflito armado, 63% do 1,1 milhã o de pessoas deslocadas em 2005 ainda viviam em campos em 2007, com
apenas 7 mil que regressaram definitivamente aos seus lugares de origem.

Artigo 18º – liberdade de pensamento

“Todos têm liberdade de pensamento, consciê ncia e religiã o; este direito inclui a liberdade de mudar a sua religiã o ou crença
e a liberdade de manifestar a sua religiã o ou crença no ensino, na prá tica, no culto e no cumprimento, quer seja só ou em
comunidade com outros e em pú blico ou em privado.”

Em Myanmar, o conselho militar esmagou manifestaçõ es pacíficas conduzidas por monges, fez 84 buscas e fechou mosteiros,
confiscou e destruiu propriedade, disparou, golpeou e deteve manifestantes e acossou e deteve como refé ns amigos e
familiares dos manifestantes.

Na China, os praticantes de Falun Gong foram escolhidos para tortura e outros maus tratos enquanto estavam em detençã o.
Os cristã os foram perseguidos por praticarem a sua religiã o fora dos canais aprovados pelo Estado.

No Cazaquistã o, as autoridades locais numa comunidade perto de Almaty autorizaram a destruiçã o de doze lares, todos
pertencentes a membros de Hare Krishna, alegando falsamente que o terreno em que tinham sido construídas as casas
tinham sido adquiridos ilegalmente. Só foram destruídos lares pertencentes a membros da comunidade Hare Krishna.
Artigo 19º – liberdade de expressão “Todos tê m o direito à liberdade de opiniã o e de expressã o. Este direito inclui a
liberdade para ter opiniõ es sem interferê ncia e para procurar, receber e dar informaçã o e ideias por meio de qualquer meio
de comunicaçã o e sem importar as fronteiras.”

No Sudã o, dezenas de defensores dos direitos humanos foram presos e torturados pelos serviços secretos nacionais e forças
de segurança.

Na Etió pia, dois proeminentes defensores dos direitos humanos foram condenados por falsas acusaçõ es e sentenciados a
quase trê s anos na prisã o.

Na Somália, foi assassinado um proeminente defensor dos direitos humanos.

Na Repú blica Democrá tica do Congo, o governo ataca e ameaça os defensores dos direitos humanos e restringe a liberdade
de expressã o e de associaçã o.

Em 2007, disposiçõ es do ato de Imprensa de 2004 foram usadas pelo governo para censurar os jornais e limitar a liberdade
de expressã o.

A Rú ssia reprimiu a dissidê ncia política, exerceu pressã o sobre meios de comunicaçã o independentes ou fechou e perseguiu
organizaçõ es nã o governamentais.

Manifestaçõ es pú blicas pacíficas foram dispersadas à força e advogados, defensores dos direitos humanos e jornalistas,
foram ameaçados e atacados. Desde o ano 2000, os assassinatos de 17 jornalistas, todos críticos das políticas e açõ es do
governo, ainda permanecem por resolver.

No Iraque, pelo menos 37 empregados iraquianos das redes de meios de comunicaçã o foram assassinados em 2008 e um
total de 235 desde a invasã o de março de 2003, o que faz do Iraque o lugar mais perigoso do mundo para os jornalistas.

Artigo 21º – direito à democracia

“1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direçã o dos negó cios pú blicos do seu país, quer diretamente, quer por
intermé dio de representantes livremente escolhidos.”

“2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condiçõ es de igualdade, à s funçõ es pú blicas do seu país.”

“3. A vontade das pessoas será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressada em eleiçõ es perió dicas e
genuínas que serã o universais e de sufrá gio igualitá rio e que serã o realizadas mediante voto secreto ou procedimentos de
voto livre equivalentes.”

No Zimbá bue, centenas de defensores dos direitos humanos e membros do principal partido opositor, o Movimento para a
Mudança Democrá tica (MCD), foram presos por participar de reuniõ es pacíficas.

No Paquistã o, milhares de advogados, jornalistas, defensores dos direitos humanos e ativistas políticos foram encarcerados
por exigirem a democracia, um Estado de Direito e um poder judicial independente.

Em Cuba, no final de 2007, continuavam presos 62 presos políticos pelos seus pontos de vista políticos ou atividades nã o
violentas.

Resumo

Os direitos humanos existem, tal como sã o expressados na Declaraçã o Universal dos Direitos do Homem e em todo o corpo
da lei de direitos humanos internacional. Sã o reconhecidos pelo menos em princípio por parte da maioria das naçõ es e
formam a essê ncia de muitas constituiçõ es nacionais.

Nã o obstante a situaçã o atual no mundo dista muito dos ideais imaginados na Declaraçã o.

Para alguns, a realizaçã o completa dos direitos humanos é uma meta remota e inalcançá vel. Inclusive as leis de direitos
humanos internacionais sã o difíceis de impor, e seguir uma denú ncia pode levar anos e custar uma grande quantidade de
dinheiro. Estas leis internacionais servem como funçã o de contençã o, mas sã o insuficientes para prover uma proteçã o
adequada de direitos humanos, tal como evidencia a crua realidade dos abusos perpetrados diariamente.

A discriminaçã o está crescendo por todo o mundo. Milhares estã o na prisã o por dizerem as suas ideias. A tortura e a prisã o
por motivos políticos, com frequê ncia sem julgamento, sã o comuns, corriqueiras e sã o praticadas inclusive em alguns países
democrá ticos.
Pá gina 327

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maio 2016.

Pá gina 328

Capítulo 2 – A população mundial


COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO)

• Problematizar a questã o do crescimento populacional, analisando-a do ponto de vista


econô mico, social e ambiental.

• Aplicar e diferenciar conceitos importantes para a fundamentaçã o do saber geográ fico.

• Abstrair de conceitos e teorias uma visã o de mundo pró pria e adequadamente embasada.

• Compreender o processo de globalizaçã o, relacionando-o com os povos e a padronizaçã o dos


costumes.
• Problematizar as origens do subdesenvolvimento.

• Compreender os processos relacionados aos deslocamentos populacionais e o papel do


Estado e das Instituiçõ es nesse fenô meno.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

Professor, o estudo da populaçã o é um tema envolvente para o aluno, uma vez que ele
naturalmente pode se identificar com o objeto do estudo.

Cabe a você escolher por onde começar o trabalho, nã o sendo necessá rio seguir a sequência
proposta. Porém, julgamos ser de grande importâ ncia enfatizar alguns pontos:

I. O ritmo do crescimento populacional e suas implicaçõ es econô micas, sociais e ambientais.

II. As visõ es contraditó rias sobre o problema da miséria no mundo:

– o processo de desideologizaçã o das discussõ es políticas;

– a divisã o do mundo em Norte e Sul;

– as causas da pobreza no Sul e a xenofobia no Norte.

III. Os costumes e as religiõ es e suas influências na geopolítica.

IV. O IDH como indicador da qualidade de vida e, sobretudo, como instigador da aplicaçã o dos
recursos dos países.

V. O crescimento populacional visto como um problema por uns e como estratégia geopolítica
por outros.

VI. Os deslocamentos populacionais como processos naturais ou forçados, de acordo com sua
á rea de origem e motivaçã o.

Em todos os momentos, o enfoque deve ser dado para a causa dos fenô menos que serã o
estudados, em vez de simplesmente informar a respeito dos fatos.

As formas de desenvolvimento de conteúdo

A aula expositiva é importante e inevitá vel, e nã o necessariamente precisa ser no início do


estudo do tema populaçã o. Sugerimos iniciar os assuntos referentes a essa temá tica com
perguntas ao invés de dar respostas. Os alunos, reunidos em grupos, podem discutir os temas
antes da explanaçã o. A sua atitude será a de problematizar e contemporizar das discussõ es.
Sugerimos também, criar um fó rum de discussõ es na internet que aborde filmes ou outras
obras artísticas relacionadas aos temas tratados. É importante conduzir um debate,
posteriormente, para fechar o conteú do em classe.

As propostas de atividades

Os conceitos devem ser abordados dentro de estudos/aná lises e a proposta é evitar a mera
memorizaçã o, pois isso desviaria a atençã o dos alunos em desenvolver a capacidade de
analítica e a atitude crítica.

As atividades visam ao desenvolvimento do aluno em aspectos variados:


• pesquisa e envolvimento com o tema abordado;

• sociabilizaçã o;

• desinibiçã o;

• encorajamento à troca de ideias com o professor, com os colegas de classe e, também com os
pais ou responsá veis;

• fortalecimento das capacidades analítica e de formulaçã o de propostas e soluçõ es à s questõ es


apresentadas.

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E AS ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 45 Conexão de conhecimentos - Escala populacional e desenvolvimento econômico

Professor, a comparaçã o entre os dois mapas demonstra que nã o é possível fazer uma
correlaçã o entre a escala da populaçã o e o nível socioeconô mico.

O propó sito desta atividade é sondar conhecimentos prévios dos alunos e confrontá -los com
dois aspectos principais: a dimensã o da populaçã o mundial e o total de pessoas subnutridas
por país. Para isso, os mapas de anamorfose podem ser considerados um recurso de grande
valia para a comparaçã o de dados diferentes, sempre lembrando que essa modalidade
cartográ fica já foi abordada na série anterior.

De modo geral, podemos dizer que na aná lise dos mapas de algumas regiõ es do globo
apresentam uma dimensã o igual ou até superior à dimensã o apresentada no mapa de total de
populaçã o.

Pá gina 329

Um caso muito claro é o da Índia, que apresenta grande destaque em termos populacionais,
visto que é um dos países mais populosos do planeta, atrá s apenas da China. No mapa que
representa a populaçã o desnutrida, contudo, esse país apresenta uma dimensã o ainda maior, o
que evidencia uma presente questã o de segurança alimentar, ou seja, a existência da fome
como problema nacional.

Em situaçã o semelhante se encontram a Etió pia e a Nigéria, esse ú ltimo sendo considerado um
dos países mais promissores do continente africano, sendo um dos grandes produtores de
petró leo do mundo, mas que apresenta também um sério problema de distribuiçã o de renda.

No continente americano, no geral a dimensã o subnutriçã o ficou inferior à dimensã o


populacional, embora a questã o da fome nã o tenha sido ainda totalmente debelada. Contudo, é
perfeitamente evidente que países como o Haiti, convulsionado por crises políticas e sociais,
apresentam um total de subnutridos proporcionalmente maior. O mesmo pode ser dito a
respeito de Honduras e Guatemala, ambos na América Central.

Embora a Europa possa ser facilmente identificada no mapa de total populacional, ela
praticamente “desaparece” no mapa que retrata a subnutriçã o. O mesmo pode ser dito a
respeito do Japã o.
Por outro lado, a populaçã o da Oceania não apresenta grande destaque populacional no
contexto global, assim como também não apresenta grande evidência no tema da subnutriçã o.

As conclusõ es para essa aná lise poderã o ser tã o variadas quanto a diversidade de países
retratados nos mapas, mas consideramos importante que os alunos percebam que não existe
um determinismo entre escala populacional e nível de desenvolvimento/subnutriçã o. Para
tanto, uma alternativa para a conduçã o desta atividade seria a exposiçã o do determinismo
geográ fico para a classe, acompanhada de um questionamento desse tema por meio da aná lise
dos mapas apresentados.

p. 57 Atividade – Controle de natalidade

O objetivo dessa atividade é centrado no aprendizado das teorias demográ ficas. Além disso,
por meio da aná lise e discussã o em grupo, também será motivada a capacidade de expressã o
da aná lise feita pelo aluno.

É também interessante a proposta de que o aluno eleja a melhor abordagem demográ fica,
“colocando-se no lugar de famílias” que estejam sujeitas a uma política de cunho
neomalthusiana ou reformista.

Essa particularidade é de grande importâ ncia até para o processo de amadurecimento


humano.

No item que questiona qual dos modelos é adotado no Brasil, poderã o surgir opiniõ es tã o
controversas quanto polêmicas.

Nesse caso, o professor poderá buscar elementos que mostrem que os dois aspectos
(neomalthusiano e reformista) sã o identificados na política demográ fica do Estado brasileiro.
Como açã o de cunho neomalthusiano, podemos citar os programas de esterilizaçã o feminina.
Como açã o de cunho reformista, podemos citar a expansã o que os serviços de previdência
social pú blica receberam nos ú ltimos anos.

Poderia restar uma questã o a ser aclarada somente no futuro: qual dos modelos irá
prevalecer?

p. 60 Atividade – Comparação entre países

Essa atividade permite fazer uma comparaçã o do nível de vida, medido pelo IDH, entre países
colonizadores e colonizados.

Também podem ser feitas comparaçõ es entre países dominantes, como os Estados Unidos, e
países dependentes, como o Brasil.

A atividade poderá mostrar um certo grau de resultados polêmicos, pois evidenciará


sociedades que foram dominadas/colonizadas no passado e que, apesar disso, não apresentam
índices baixos de desenvolvimento.

Esse é o caso dos Estados Unidos, que fizeram a sua revoluçã o contra o domínio britâ nico.
Também é o caso de Cuba, que, também por meio de uma revoluçã o, saiu da ó rbita de poder
dos Estados Unidos.

Levando em consideraçã o os conhecimentos dos alunos sobre o espaço atual e sobre Histó ria,
conduza os debates entre os alunos.
p. 64 Atividade – Estrutura da população

Essa atividade proporciona aos alunos o trabalho com os conceitos já aprendidos, usando-os
na exibiçã o das representaçõ es populacionais. Fica a critério de você, professor, a possibilitar
aos alunos a confecçã o de suas pró prias representaçõ es, ou utilizarem representaçõ es já
disponíveis.

O acompanhamento por parte do professor nas apresentaçõ es é fundamental.

É recomendado que a classe seja estimulada a ouvir e participar dos trabalhos com toda a
atençã o, valorizando também a oportunidade de expressã o e desinibiçã o dos apresentadores.

p. 68 Questões de Enem e vestibular

1. (Enem) A

Os grandes centros urbanos, localizados nos países desenvolvidos, apresentam quedas


regulares nas taxas de crescimento populacional. A cosmopolitizaçã o de sua populaçã o mostra
que as pessoas têm novos focos de atençã o, enfatizando as carreiras profissionais, viagens e
lazer.

Pá gina 330

O nú mero de casamentos diminui ou casam-se tarde e têm pouca preocupaçã o com a geraçã o
de filhos.

A alternativa B é falsa, pois as mulheres impõ em cada vez mais sua autonomia profissional aos
homens.

A alternativa C é falsa, uma vez que o nú mero de casamentos diminuiu nos ú ltimos anos.

A alternativa D é falsa, pois as pensõ es estã o em alta devido ao aumento da populaçã o de


idosos.

A alternativa E é falsa, pois, devido à s condiçõ es socioeconô micas de alta qualidade, a


mortalidade infantil da Europa Ocidental está entre as menores do mundo.

2. (Enem) E

A humanidade passou por vá rios ciclos migrató rios ao longo da histó ria. Os fatores sã o muito
variados, mas existe uma causa bá sica em praticamente todos eles: o deslocamento em busca
de melhores condiçõ es de vida.

A alternativa A é falsa: nã o sã o todos os países da OCDE que sofrem ameaças terroristas.

A alternativa B é falsa, pois os países mais ricos tentam restringir a imigraçã o.

A alternativa C é falsa, uma vez que chineses, filipinos, russos e ucranianos nã o sofrem
perseguiçã o religiosa, pois sã o comunidades pequenas em países muçulmanos.

A alternativa D é falsa pois os países do Leste Europeu, atualmente, sã o politicamente abertos.


3. (Enem) D

Os países asiá ticos apresentam as maiores populaçõ es absolutas, resultado de processos


associados a religiõ es e grandes estratos sociais marcados pela pobreza generalizada, mesmo
em fase de reduçã o de suas taxas de crescimento populacional.

A alternativa A é falsa: apesar do declínio absoluto, a taxa nã o será negativa, o que ocorreria
somente se a populaçã o tivesse valor absoluto inferior a 1,2 bilhã o, em 2050.

A alternativa B é falsa, pois a populaçã o do Brasil estará abaixo de 310 milhõ es.

A alternativa C é falsa, porque a taxa indonésia será menor que a estadunidense.

A alternativa E é falsa, pois a Índia será o país com a maior taxa de crescimento no mundo.

4. (Enem) A

Uma das principais causas do processo de migraçã o é a busca por melhor qualidade de vida e
trabalho. No entanto, a maioria dos trabalhadores que abandonam os países subdesenvolvidos
tem pouca qualificaçã o, causando um aumento do fluxo imigrató rio legal e ilegal em direçã o
aos países desenvolvidos. Diante da pressã o, os países desenvolvidos têm aumentado cada vez
mais as suas barreiras contra a imigraçã o. Para isso, têm contribuído as diversificadas
manifestaçõ es xenofó bicas, que ganharam crescente força política nos ú ltimos anos.

5. (UFBA) 01 + 02 + 04 = 07

A proposiçã o 08 é incorreta por incorrer em determinismo. Nã o há relaçã o entre dimensã o


populacional e PIB.

A proposiçã o 16 é incorreta, pois nã o há uma expressiva disparidade de representaçã o do


Brasil nos dois mapas, assim como é incorreta a afirmaçã o de que não há desemprego
estrutural no Brasil.

6. (Enem) A

Nas á reas urbanas, devido, entre outros fatores, ao maior acesso à informaçã o, à disseminaçã o
de métodos contraceptivos, à entrada da mulher no mercado de trabalho e ao maior custo para
a criaçã o dos filhos, tende a haver uma queda das taxas de natalidade e fecundidade em
comparaçã o com as á reas rurais, o que fica nítido com a comparaçã o dos grá ficos, que
apresentam uma porcentagem de jovens menor entre a populaçã o residente nas cidades.

7. (UFRGS-RS) B

Há evidências de que nos anos anteriores o Brasil passou por um processo de diminuiçã o da
pobreza e de distribuiçã o da renda. Contudo, esse processo nã o ocorreu de forma homogênea,
portanto pode-se excluir a alternativa A.

Na alternativa B, há a mençã o a dois dos melhores posicionamentos de estados no ranking de


IDH, o que, portanto, é um forte indicador da diminuiçã o da pobreza.

Pá gina 331
Na alternativa C, a inverdade está na afirmaçã o sobre o Nordeste, que, por meio de programas
de transferência de renda, também teve os seus índices diminuídos.

Na alternativa D, devemos tomar cuidado com a afirmaçã o de que todos os brasileiros


elevaram seus padrõ es de vida a partir do crescimento econô mico, lembrando que nã o adianta
o crescimento econô mico se nã o ocorre a distribuiçã o dos recursos.

Na alternativa E, poderíamos questionar se a maior desigualdade não estaria na regiã o


Sudeste, ou ainda, se a pesquisa apresentada não estaria avaliando um ú nico ano, e sim um
período maior.

8. (UFC-CE) A

É a ú nica alternativa que relaciona corretamente as teorias populacionais à s alternativas e


propostas de cada uma.

9. (Uerj)

Nos dois cartogramas estã o representadas, pela técnica de anamorfose, as dimensõ es


territoriais de cada país em proporçã o à parcela da renda mundial que está em poder dos 10%
mais ricos ou dos 10% mais pobres dessas sociedades.

A aná lise desses dois extremos da estrutura social, sob o ponto de vista da renda, permite
inferir se a distribuiçã o social da riqueza está ou nã o muito concentrada nos diferentes países
e regiõ es do globo. Sob essa ó tica, é possível identificar claramente os seguintes países com
boa distribuiçã o de renda: Japã o, Coreia do Sul, Estados Unidos, Canadá , Austrá lia, Nova
Zelâ ndia e os países da Europa Ocidental. O grande contraste entre a á rea da América Latina no
primeiro e no segundo cartogramas indica a maior concentraçã o de renda nessa regiã o em
relaçã o à s anteriormente mencionadas.

O Brasil se encontra entre os países com processo bastante acentuado de concentraçã o de


riqueza, em funçã o, dentre outras causas socioeconô micas, de sua concentraçã o fundiá ria
histó rica, da debilidade dos serviços sociais pú blicos, do nível relativamente baixo de
formalizaçã o dos trabalhadores e do período prolongado de inflaçã o elevada registrado no
final do século XX.

p. 71 A notícia em diversas óticas

Professor, é possível que muitos alunos da 3ª série, ao menos os que vivem em centros médios
e grandes, convivam com os problemas e limites da mobilidade urbana. Tanto em termos de
custo como de qualidade, o transporte urbano no Brasil é considerado precá rio, mal planejado
e obsoleto. Assim, a mobilidade urbana pode ser considerada um dos maiores problemas
vivenciado pela populaçã o brasileira.

Sugerimos que na conduçã o desta atividade os alunos sejam convidados a questionar esse
paradoxo da modernidade tecnoló gica: vivemos em um mundo onde as facilidades permitidas
pela tecnologia sã o inéditas e, ao mesmo tempo, o direito de ir e vir é seriamente
comprometido, nã o só no Brasil como também em outros países em desenvolvimento.

O paradoxo entre o que é oferecido pela tecnologia e o que é efetivamente possível para a
populaçã o mundial em termos de deslocamento fica ainda mais evidenciado quando
abordamos os movimentos populacionais pelo mundo. Nessa atividade convidamos os alunos a
questionar as barreiras que impedem a livre circulaçã o das pessoas, em especial imigrantes.
Esses aspectos podem ser observados na sala de aula: verifique quantos alunos tiveram a
oportunidade de fazer viagens internacionais, por exemplo. Outro aspecto a ser levantado para
a consideraçã o da classe é a instituiçã o da exigência de vistos de viagens por diversos países,
que funcionam como uma barreira prévia à imigraçã o.

Diante desses temas, sugerimos que os alunos sejam incentivados a debater a seguinte
questã o: na atual ordem mundial, seria possível a supressã o das fronteiras e um livre trâ nsito
das populaçõ es? Seria possível as pessoas alcançarem a mesma liberdade permitida aos fluxos
financeiros e econô micos? Ou será que as fronteiras só poderiam servir como elos entre os
povos em uma ordem global diferente?

Consideramos que o modelo de globalizaçã o atual nã o é marcado pela solidariedade ou pela


fraternidade entre os povos. Na verdade, o processo de globalizaçã o em andamento acirra as
desigualdades e as assimetrias econô micas, aumenta o poder e a influência das grandes
corporaçõ es transnacionais, bem como a dos países hegemô nicos e, ao mesmo tempo, coloca
em situaçã o de dependência os países em desenvolvimento e condena suas populaçõ es mais
vulnerá veis à pobreza e à exclusã o.

Pá gina 332

Acreditamos que, diante desse fato, o mero desenvolvimento técnico-científico nã o se


configura como garantia ou oportunidade para a liberdade de movimentaçã o espacial das
populaçõ es do mundo.

Contudo, é prová vel que nessa atividade os alunos nã o cheguem a apresentar uma proposta
para outra globalizaçã o, nos moldes da proposiçã o de Milton Santos. Nesse caso, sugerimos
que o professor estimule o livre pensamento e a criatividade de todos, tendo apenas o cuidado
de balizar cada proposiçã o com os obstá culos presentes nas relaçõ es de poder do mundo atual.

Questõ es como essa e outras podem ser encontradas na obra de Milton Santos, Por uma outra
globalização (Sã o Paulo: Record, 2000).

SUGESTÕES DE LIVRO E TEXTO PARA O PROFESSOR

Professor, nessa seçã o do Manual, indicamos um livro e um texto para seu estudo e formaçã o.
Caso seja possível, pode aproveitá -los também em suas aulas.

Sexo e poder: a família no mundo

O soció logo sueco Gö ran Therborn é responsá vel pela mais ousada aná lise da instituiçã o familiar em termos mundiais das
ú ltimas dé cadas. Sua bem-sucedida proposta é comparar as mudanças ocorridas entre 1900 e 2000 nos principais sistemas
familiares mundiais. Therborn destaca trê s grandes temas. Em todos, o leitor é confrontado com uma imensa massa de
informaçõ es, de natureza diversa – jurídico-política, histó rica, antropoló gica, demográ fica –, por meio de um diá logo
constante com a literatura especializada e com mú ltiplas fontes de dados que também incluem Á sia, Á frica, Amé rica Latina e
o Brasil. O primeiro tema é o patriarcado e os direitos relativos de pais e filhos, homens e mulheres. O segundo é o papel do
casamento e do nã o-casamento na regulaçã o do comportamento sexual e, em particular, dos vínculos sexuais. E por fim,
analisa a fecundidade e seu controle para entender como um padrã o de família pequena e nuclear, restrito à França e aos
Estados Unidos no início do sé culo XIX, dissemina-se por todo o mundo no sé culo XX.

Disponível em: <http://editoracontexto.com.br/autores/ - goran-therborn/sexo-e-poder.html>. Acesso em: 12 maio 2016.

THERBORN, G. Sexo e poder: a família no mundo, 1900-2000. Sã o Paulo: Contexto, 2006.

Questões demográficas: fecundidade e gênero

O objetivo da demografia é a aná lise das populaçõ es humanas. A demografia estuda o tamanho da populaçã o, sua
composiçã o por sexo e idade e sua taxa de crescimento. Num contexto em que prevalecem baixas taxas de mortalidade, a
compreensã o do fenô meno da queda da fecundidade é fundamental para o entendimento da dinâ mica populacional. Por sua
vez, a compreensã o das mudanças nas relaçõ es de gê nero é essencial para o entendimento da transiçã o da fecundidade, seus
níveis e diferenciais nas diversas sociedades. O objetivo deste texto é abordar como as mudanças nas relaçõ es de gênero
afetam a fecundidade e, consequentemente, a dinâ mica demográ fica. Pretendese mostrar que sexo é uma variá vel bioló gica,
poré m, gê nero é uma variá vel cultural, histó rica e relacional e como isto afeta a aná lise demográ fica.

ALVES, J. E. D. Questõ es demográ ficas: fecundidade e gê nero. Textos para Discussã o, Escola Nacional de Ciê ncias Estatísticas
(ENCE), v. 9, 2004. Disponível em: <http:// biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv3127.pdf>. Acesso em: 12 maio
2016.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, J. E. D. A transição demográfica e a janela de oportunidade. Sã o Paulo: Instituto Fernand


Braudel de Economia Mundial, 2008.

AGIER, M. Refugiados diante da nova ordem mundial. Tempo Social, revista de sociologia da
USP, v. 18, n. 2, p. 197-215, 2006.

BRITO, F. Transiçã o demográ fica e desigualdades sociais no Brasil. Revista Brasileira


Estatística Populacional, v. 25, n. 1, p. 5-26, 2008.

DAMIANI, A. L. População e geografia. Sã o Paulo: Contexto, 1991.

HARVEY, D. Condição pós- moderna. Sã o Paulo: Ediçõ es Loyola, 1994.

MUSSET, A. De Lênin a Lacoste: os arquétipos espaciais do subdesenvolvimento. Salvador:


EDUFBA, 2009. Disponível em <http://labmundo.org/pt/wp-content/uploads/2011/08/ D-
alain-musset.pdf>. Acesso em: 12 maio 2016.

PAIVA, P. de T. A.; WAJNMAN, S. Das causas à s consequências econô micas da transiçã o


demográ fica no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, v. 22, n. 2, p. 13-15, 2005.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Sã o Paulo: Á tica, 1993.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razã o e emoçã o. Sã o Paulo: Edusp, 2002.

______. A urbanização brasileira. Sã o Paulo: Edusp, 2005.

THERBORN, G. Sexo e poder: a família no mundo, 1900-2000. Sã o Paulo: Contexto, 2006.

Pá gina 333

Capítulo 3 – Multiculturalismo e geografia


COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DESTE CAPÍTULO)

• Estabelecer relaçõ es entre objetos, situaçõ es, fenô menos e grupos sociais, considerando-os
em suas especificidades e no processo de inserçã o no mundo globalizado.

• Reconhecer, diferenciar e interpretar os sentidos de grupos étnicos, culturais e sociais,


aprendendo a perceber e respeitar as diferenças nesses e em outros aspectos.
• Relacionar aspectos, problemas e contradiçõ es regionais e globais referentes à s identidades e
culturas.

• Analisar os processos de construçã o de identidades.

• Compreender o multiculturalismo, a diversidade e as açõ es afirmativas no Brasil.

• Apreender criticamente teorias a respeito de povos e civilizaçõ es.

• Relacionar nacionalismo, intolerâ ncia, problemas econô micos e xenofobia.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

• Aulas expositivas, de cará ter dialógico: apesar das críticas à s aulas expositivas no processo
de construçã o do conhecimento feitas pelo campo da pedagogia e da educaçã o, a aula
expositiva pode ser um veículo de aprendizagem tanto para os alunos como para o professor.
Uma aula expositiva poderá se tornar uma atividade dinâ mica, participativa e estimuladora do
pensamento crítico dos alunos se for dialógica. O que seria uma aula expositiva dialógica? É
uma aula em que há a transformaçã o da sala em um ambiente propício à reelaboraçã o e
produçã o de conhecimentos, por meio do diá logo entre professor e alunos, para estabelecer
uma relaçã o de troca de conhecimentos e experiências. O diá logo, entretanto, deverá ser
entendido como uma busca recíproca pelo saber (Paulo Freire), nã o como simples
conversaçã o. O docente, nesse tipo de aula expositiva, poderá utilizar, ao longo da exposiçã o
dos conteú dos selecionados, as diversas experiências dos alunos (viagens, por exemplo) para
trazer seu cotidiano e sua realidade para a sala de aula, tornando a exposiçã o do conteú do um
momento muito rico de troca de experiências e significaçã o dos conteú dos.

• Utilização de questões durante as aulas: antes de iniciar um novo tó pico, escolha algumas
questõ es e apresente-as aos alunos. Peça a eles que as resolvam utilizando a bagagem de
conhecimentos que já trazem. Solicite que anotem suas dificuldades e dú vidas.

• Realização de trabalhos em grupo: o encontro entre os alunos, suas negociaçõ es, os


arranjos que realizam e os acordos que estabelecem sã o momentos muito profícuos de
aprendizagem. Além disso, ao ter de buscar, selecionar e organizar informaçõ es em mapas,
quadros, peças teatrais, ou mesmo organizar a apresentaçã o oral, os alunos desenvolvem não
somente seu senso crítico (pois poderã o encontrar informaçõ es conflitantes e terã o de saber
selecionar o que lhes interessa diretamente e o que nã o lhes interessa), como também a
habilidade de síntese. Nesse tipo de atividade, destaca-se o papel do professor como um
facilitador e orientador da aprendizagem e aos alunos é conferida a responsabilidade por seu
processo de formaçã o, o que é interessante sob a perspectiva do seu amadurecimento psíquico
e cognitivo. Se os trabalhos forem interdisciplinares, como sugeridos neste Manual, serã o
ainda mais interessantes, permitindo maior interaçã o no processo de ensino-aprendizagem.

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E AS ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 72 Conexão de conhecimentos - Povos e identidades

Professor, explore as fotos com os alunos evidenciando a relaçã o entre identidades e


manifestaçõ es culturais como tradiçõ es ancestrais expressas pela mú sica, dança, vestimentas,
expressõ es religiosas e também por meio do ufanismo – nesse caso a identidade é geralmente
forjada e manipulada para se moldar a um interesse político de cunho nacionalista.

p. 73 Atividade – Inclusão social


Professor, a atividade é muito importante para que os alunos compreendam e se interessem
por açõ es afirmativas e conheçam quais existem em seu município.

Oriente-os na construçã o do questioná rio e elabore uma carta de apresentaçã o para os grupos,
se possível, com o timbre da escola.

Solicite a eles que realizem as entrevistas, transcrevam as fitas e/ou questioná rios e elaborem
textos que respondam à s questõ es apresentadas.

Pá gina 334

p. 75 Atividade – Doroteo Gamuch ou Mateo Flores?

1. Porque a vitó ria de Doroteo Gamuch em vá rias competiçõ es de atletismo deveriam se tornar
motivo de orgulho, unindo as diversas identidades culturais da Guatemala. No entanto, ao
mudar o seu nome para um de origem latina, o governo da época demonstrou preconceito em
relaçã o à identidade indígena. O multiculturalismo prevê a aceitaçã o à s diferenças étnicas e
culturais, visã o oposta, portanto, à do preconceito e segregaçã o.

2. As comunidades indígenas que habitavam o territó rio guatemalteco na década de 1950 nã o


só aceitaram a mudança do nome de Doroteo Gamuch com naturalidade, como era comum a
imitaçã o dessa atitude a fim de serem aceitos e tratados com igualdade. Essa atitude denota
que a ideologia nacional empregada conseguiu criar uma hierarquizaçã o entre os povos,
embutindo nas comunidades indígenas locais o sentimento de inferioridade em relaçã o aos
brancos de origem europeia.

3. Professor(a), os pontos de vista poderã o ser variados. Contudo, na redaçã o, é importante


frisar que as açõ es afirmativas representam uma atitude mais recente na histó ria da América
Latina. Contudo, a histó ria de Doroteo Gamuch indica a necessidade de políticas de
fortalecimento das identidades e combate ao preconceito, valorizando a diversidade étnica e
cultural.

p. 77 Atividade transdiciplinar – Entre os muros da escola

Professor(a), recomendamos o filme Entre os muros da escola por diversas razõ es. O enredo
tem por base o tema da vivência escolar, o que certamente proporcionará uma identificaçã o
com os alunos e professores envolvidos na atividade, que até poderã o se reconhecer em
determinados personagens da obra. O tom da obra é tão realista que chega a parecer
documental. Mostra as dificuldades, erros e acertos em um ambiente de aprendizado que
apresenta, ao mesmo tempo, grande diversidade étnica e também uma evidente desigualdade
social. Desse modo, semelhanças com aspectos da realidade escolar do Brasil poderã o ser
notadas, eventualmente até em temas como o da segregaçã o e do preconceito. Nesse caso,
consideraríamos positivo o apoio a eventuais iniciativas que os alunos venham a promover no
sentido das chamadas questõ es identitá rias.

A segregaçã o e o preconceito estiveram entre as queixas que teriam motivado um longo


período de conflitos de rua, principalmente em Paris, no ano de 2005. A crise surgiu nos
chamados “banlieues”, os vastos subú rbios ao redor da capital francesa, onde reside a grande
maioria dos imigrantes de origem africana, bem como seus filhos e netos. Embora a maioria
dessas pessoas tenha cidadania francesa, elas sã o nitidamente segregadas em á reas específicas
e convivem com altos níveis de desemprego e desalento social.
Em Entre os muros da escola podemos constatar que o “muro” adotado no título brasileiro do
filme está muito presente no cotidiano dos alunos.

Sugerimos que o(a) professor(a) promova uma açã o interdisciplinar nessa atividade, com o
apoio do(a) professor(a) de Sociologia. Seria uma oportunidade para abordar nos trabalhos
diversos conceitos inerentes aos temas das relaçõ es na escola retratada na obra, bem como o
modo como o Estado atua nesse contexto. Outro aspecto a abordar nesse caso seria o
levantamento de semelhanças e dessemelhanças entre a realidade mostrada no filme e a
realidade dos alunos brasileiros.

O professor de Português poderia dar uma grande contribuiçã o ao orientar a produçã o da


redaçã o, propondo métodos e incentivando a criatividade.

Texto de apoio: Periferia francesa pouco mudou, cinco anos apó s protestos de jovens.
Disponível em: <www.dw.com/pt/periferiafrancesa-pouco-mudou-cinco-anos-ap
%C3%B3sprotestos-de-jovens/a-6095660>. Acesso em: 12 maio 2016.

p. 77 Atividade – Choque de civilizações

1. Leia o texto em classe com os alunos. Oriente-os a ir à biblioteca e construir, no caderno, seu
glossá rio. Esse glossá rio poderá variar muito de um aluno a outro.

2. De acordo com B. Lewis: “Uma reaçã o talvez irracional, mas seguramente histó rica, de um
antigo adversá rio contra nossa herança judaico-cristã , nosso presente secular e a expansã o
mundial de ambos […] é um aspecto importante das relaçõ es internacionais modernas, embora
poucos, entre nó s, chegassem ao ponto de dizer – como alguns já fizeram – que as civilizaçõ es
têm políticas externas e formam alianças.”

3. “Sem exagerar sua importâ ncia, escreveu Emmanuel Brenner num panfleto intitulado
França, cuida para que não percas tua alma... (France, prends garde de perdre ton â me…), é
preciso levar em consideraçã o açõ es culturais que explicitam conflitos entre concepçõ es do
mundo distintas, e até antagô nicas. [...]

Pá gina 335

Essa dimensã o cultural está ausente em inú meros observadores que deixam de levar em conta
os antecedentes histó ricos que influenciam nosso inconsciente.”; “de Maomé ao cerco de Viena
pelos otomanos, da descolonizaçã o ao islamismo, do islamismo à al-Qaeda, do véu islâ mico ao
antissemitismo dos jovens magrebinos, fecha-se a roda do círculo, repete-se a histó ria. E viva
os sarracenos!”.

p. 84 Questões de Enem e vestibular

1. (Enem) B

Colocar-se na posiçã o do outro e buscar compreender o seu posicionamento e o seu modo de


vida é um exercício de alteridade. A alteridade é um passo importante para o desenvolvimento
da ética. Esta, por sua vez, baseia-se em princípios de justiça e bem comum que podem se
contrapor à s normas sociais de uma época.

2. (Unisc) E
O texto afirma que a diversidade contempla a noçã o de diferente que não pode ser confundida
com desigualdade. Enquanto as diferentes culturas contribuem para enriquecer a diversidade,
a desigualdade hierarquiza as relaçõ es sociais e produz o sentimento de
superioridade/inferioridade, que desemboca em preconceitos e discriminaçõ es. A relaçã o de
dominaçã o, a exemplo da colonizaçã o, produz a desigualdade.

3. (PUC-RJ) B

A charge evidencia que as referências culturais, no caso, a questã o de gênero abordada pela
vestimenta, devem ser debatidas na perspectiva da alteridade e observando sempre o contexto
sociocultural em que as sociedades estã o inseridas.

4. (Uern) B

Muito embora o cartaz também transmita uma ideia racista, observada pela ovelha de cor
preta que está sendo chutada, o título está focado na imigraçã o indesejada. Logo, a maior
expressã o discriminató ria é a da xenofobia.

5. (Uema) C

A questã o busca mostrar que a questã o cultural é muito relevante do ponto de vista identitá rio
e que um Estado Nacional é sempre multicultural, não sendo aceitá vel, tampouco ética, a
discriminaçã o étnico-cultural e a hierarquizaçã o desses grupos em superiores e inferiores. A
questã o cultural também é mutá vel, na medida que não é bioló gica, mas uma construçã o social.

6. (Unesp) D

O autor afirma que a atitude nobre em relaçã o à s culturas diferentes é o contato estabelecido e
a capacidade de cada uma aproveitar o que a outra tem de melhor. Dessa forma, nã o é
interessante analisar as culturas isoladamente ou por algum feito especial, mas a aná lise crítica
deve recair sobre a forma como essas se relacionaram e se relacionam com as diferentes
culturas, analisando principalmente se essa relaçã o ocorreu na forma de dominaçã o para
subjugar outros povos.

p. 86 A notícia em diversas óticas

É importante destacar a identidade forjada e o nacionalismo ufanista presentes nas


competiçõ es futebolísticas. No caso da França, a convocaçã o de imigrantes e seus descendentes
se tornou comum nessa modalidade esportiva. Contudo, as condiçõ es de vida dessa populaçã o
na capital, Paris, sã o muito piores em relaçã o à s dos nativos. Vivendo em subú rbios, os
imigrantes nã o contam com a infraestrutura e os serviços oferecidos nas á reas nobres.
Também não há o reconhecimento desses imigrantes como iguais, e a xenofobia é recorrente.

A atitude do jogador de nã o cantar o hino nacional francês (Marselhesa) nã o pode ser vista
como desrespeitosa. Ao contrá rio, é uma manifestaçã o para que todos os imigrantes e seus
descendentes sejam tratados com dignidade e respeito na terra em que nasceram ou
escolheram para viver.

Conciliar os interesses nacionais com os das comunidades de imigrantes requer justamente o


olhar da alteridade por parte da sociedade, não o da discriminaçã o. E em relaçã o ao governo,
cabe argumentar que a uniã o de diferentes povos vistas no campeonato poderia se estender
para a vida cotidiana, mediante a oferta das mesmas oportunidades.

Para aprofundar o tema, sugerimos fazer um paralelo com a histó ria do futebol no Brasil. Os
campeonatos de futebol, por serem muito populares no país, conseguem unir
temporariamente os brasileiros para a mesma causa: torcer por sua seleçã o e expressar o
orgulho nacional. Contudo, vale frisar que esse sentimento já foi muito manipulado pelos
governos para oferecer um motivo de “orgulho” à populaçã o, mesmo diante de situaçõ es de
disparidades socioeconô micas gritantes e também em tempos sombrios de ditadura.

As imagens a seguir exemplificam alguns desses momentos. Sã o propagandas de revista de


época, retratando as vitó rias brasileiras em Copas do Mundo.

Pá gina 336

Anú ncio publicitá rio veiculado como outdoor, nos anos 1970.

Coleçã o particular

Anú ncio publicitá rio veiculado na revista Manchete, em setembro de 1975.

SUGESTÕES DE TEXTOS PARA O PROFESSOR

Professor, nessa seçã o do Manual, indicamos alguns textos para seu estudo e formaçã o. Caso
seja possível, pode aproveitá -los também em suas aulas.
Ações afirmativas da perspectiva dos direitos humanos

Objetiva o artigo desenvolver uma aná lise a respeito das açõ es afirmativas sob a perspectiva dos direitos humanos.
Inicialmente, trata da concepçã o contemporâ nea de direitos humanos, introduzida pela Declaraçã o Universal de 1948, com
ênfase na universalidade, indivisibilidade e interdependê ncia dos direitos humanos. Em um segundo momento sã o
apreciadas as açõ es afirmativas da perspectiva dos direitos humanos, com destaque dos valores da igualdade e diversidade.
Por fim, sã o avaliadas as perspectivas e desafios para a implementaçã o da igualdade é tnico-racial na ordem contemporâ nea.

PIOVESAN, F. Açõ es afirmativas da perspectiva dos direitos humanos. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 124, p. 43-55, jan.-abr.
2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/cp/v35n124/a0435124>. Acesso em: 12 maio 2016. Resumo disponível na fonte.

Cidadania transnacional: realidade ou utopia?

Historicamente, cidadania e nacionalidade caminharam juntas. A construçã o do conceito de cidadã o sempre esteve ligada à
existê ncia de uma estrutura politicamente organizada num territó rio, unindo indivíduos que apresentam determinados
traços de identidade cultural, religiosa, linguística, dentre outras. No entanto, o sé culo XX trouxe-nos um paradigma
diferente, decorrente da tese da universalidade dos direitos humanos, estampado na Declaraçã o Universal de 1948, que logo
em seu art. 1º proclama “que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. A pró pria condiçã o humana é
suficiente para atrair todo um sistema protetivo de dignidade, alçado a um plano internacional. Paradoxalmente, aquela
mesma Declaraçã o estipula, num dos primeiros artigos de seu extenso catá logo de garantias, que “todo homem tem direito a
uma nacionalidade” e que “ningué m será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, do direito de mudar de
nacionalidade” (art. XV).

A situaçã o agudiza-se quando presenciamos, a partir da segunda metade do sé culo XX, a intensificaçã o do processo de
globalizaçã o da economia, que levou ao rompimento das fronteiras nacionais no que toca à migraçã o de capitais, com a
consequente perda da centralidade do Estado como ente dirigente do cená rio político, graças ao advento de empresas
transnacionais com poder econô mico até mesmo superior à boa parte das unidades nacionais existentes no mundo.

SILVA, P. H. T. da; SILVA, J. C. T. da. Cidadania transnacional: realidade ou utopia? Revista da ESMAT, ano V, n. 5, p. 107-119,
dez. 2012. Disponível em: <www.amatra13.org.br/arquivos/ revista/4969.8%20-%20Revista%20Esmat%20n.%205%20-
%20 final%202%20PDF.pdf#page=107>. Acesso em: 12 maio 2016. Resumo disponível na fonte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DA MOITA LOPES, L. P. Identidades fragmentadas: a construçã o discursiva de raça, gênero e


sexualidade em sala de aula. Sã o Paulo: Mercado de Letras, 2002.

HALL, S. Da diáspora: identidades e mediaçõ es culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

______. Identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.

HAESBAERT, R. Des-territorialização e Identidade: a rede “gaú cha” no Nordeste. Niteró i: Ed.


UFF, 1997

______. Identidades territoriais. manifestaçõ es da cultura no espaço. Rio de Janeiro: Eduerj.

Pá gina 337

______. Identidades territoriais: entre a multiterritorialidade e a reclusã o territorial (ou: do


hibridismo cultural à essencializaçã o das identidades). Identidades e territó rios: questõ es e
olhares contemporâ neos. Rio de Janeiro: Access, 2007.

PERCEVAL, J. M. Nacionalismos, xenofobia y racismo en la comunicación: una perspectiva


histó rica. Barcelona: Paidó s Ibérica, 1995.
REIS, R. R. Políticas de nacionalidade e políticas de imigraçã o na França. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, v. 14, n. 39, p. 118-138, 1999. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbcsoc/
v14n39/1725.pdf>. Acesso em: 12 maio 2016.

SOARES, C. Tolerâ ncia e xenofobia ou a consciência de um universo multicultural nas Histó rias
de Heró doto. Hvmanitas, v. LIII, 2001. Disponível em: <https://estudogeral. sib.uc.pt/jspui/
bitstream/10316/2588/1/ toleranciaexenofobiaouaconscienciade
umuniversomulticulturalnashistoriasd.pdf>. Acesso em: 12 maio 2016.

Capítulo 4 – Guerra Fria e a Nova Ordem


Mundial
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO)

• Analisar criticamente o mundo contemporâ neo, considerando as complexidades das relaçõ es


político econô micas da atualidade a partir do contexto da Guerra Fria e o seu fim.

• Estabelecer relaçõ es entre estruturas, situaçõ es, grupos sociais e grupos econô micos,
considerando-os em suas especificidades e no processo de inserçã o no mundo globalizado.

• Reconhecer, diferenciar e interpretar as transformaçõ es e as inter-relaçõ es das estruturas


políticas, econô micas e sociais; bem como as suas consequências na construçã o do espaço
geográ fico ocasionados pela Guerra Fria, como também pelo seu fim..

• Relacionar aspectos, problemas e contradiçõ es regionais e globais originados pela Guerra


Fria e seu fim.

• Analisar o mundo em sua complexidade e heterogeneidade.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

Professor(a), o capítulo trata de diferentes períodos histó ricos e uma profunda e complexa
alteraçã o da organizaçã o dos espaços globais. Aborda conflitos étnicos, ideoló gicos e políticos,
tendo, portanto, muitos detalhes. Por isso, é necessá rio dosar o nú mero de aulas expositivas e
atividades e outros recursos.

Para abordar esse capítulo, indicamos além das aulas expositivas (nã o se esquecendo de seu
cará ter dialó gico), as seguintes estratégias:

• Faça questões como desafios aos alunos: antes mesmo de iniciar um novo tó pico, escolha
algumas questõ es e apresente-as aos alunos. Peça a eles que tentem resolvê-las utilizando a
bagagem de conhecimentos que já trazem. Solicite que anotem suas dificuldades e dú vidas.
Você perceberá que os alunos têm um conhecimento acumulado ao longo da vida escolar e de
viagens e experiências concretas.

• Realização de trabalhos em grupo: O encontro entre os alunos, suas negociaçõ es, os


arranjos que realizam e os acordos que estabelecem sã o momentos muito profícuos de
aprendizagem. Além disso, ao ter de buscar, selecionar e organizar informaçõ es em mapas,
quadros, peças teatrais, ou mesmo organizar a apresentaçã o oral, os alunos desenvolvem não
somente seu senso crítico (pois poderã o encontrar informaçõ es conflitantes e terã o de saber
selecionar o que lhes interessa diretamente e o que nã o lhes interessa), como também a
habilidade de síntese.
ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E AS ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 88 Conexão de conhecimentos – Caracterizando a Guerra Fria

É importante que respostas sejam diferentes. Considere tó picos como: equilíbrio pelas armas e
pelo terror; disputas entre as superpotências; o mundo como um tabuleiro de xadrez; entre
outros. Solicite aos alunos que façam a leitura de seus textos e discuta-os em classe.

p. 92 Atividade – Relações internacionais: em cena, o imperialismo

O encaminhamento desta atividade pode ter, como ponto de partida, a análise e reflexã o do
texto e das imagens anteriores. Essa atividade tem como objetivo a introduçã o de questõ es
ligadas ao imperialismo e suas consequências para a construçã o do espaço global no passado.

Discuta em classe a partir dos textos produzidos pelos alunos, os aspectos relativos ao texto e à
charge, a partir dos textos elaborados pelos estudantes.

Pá gina 338

Observe se os textos abordam o questionamento da ambiçã o e da ganâ ncia, pela busca


frenética por mercados, levando o mundo à destruiçã o e sofrimento.

Pontue que apesar do avanço das pesquisas e das ciências sociais, é possível que, para muitos
alunos, ainda subsistam conceitos errô neos que ligam superioridade tecnoló gica a certa
“superioridade” cultural. Discuta com eles a construçã o histó rica das ideias de superioridade e
inferioridade, especialmente em relaçã o à cultura.

Sugerimos se possível, utilizar em aulas o texto de Gö ran Therbron, “Os campos de extermínio
das desigualdades”, integral ou parcialmente, pois ele discute como se constroem
desigualdades e diferenças. Você professor pode traçar uma similitude em relaçã o à ideia de
“superioridade cultural”.

THERBORN, G. Os campos de extermínio da desigualdade. Novos estudos - CEBRAP, Sã o Paulo,


n. 87, p. 145-156, jul. 2010. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S0101-33002010000200009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 maio 2016.

O texto que serve como referência para a atividade de redaçã o introduz um forte
questionamento a respeito desses aspectos. Assim, é interessante notar se os alunos ficaram
atentos, em seus textos, a essa questã o e ao processo de construçã o histó rica, geográ fica, social
e política do imperialismo.

Considere nas redaçõ es dos estudantes se eles percebem como o cartum expressa a cobiça dos
impérios diante das riquezas da China.

Discuta também se a tecnologia é uma garantia para a realizaçã o dos problemas humanos à luz
de acontecimentos recentes em escala regional (violências diversas), nacional ou internacional.

Averigue se os alunos percebem que a expansã o colonial e o imperialismo, apesar de marcados


pelo desenvolvimento tecnoló gico, legaram à humanidade processos “selvagens” de
competiçã o e destruiçã o, com empobrecimento crescente das regiõ es colonizadas.

p. 92 Atividade – Segunda Guerra Mundial


Essa atividade deve ser desenvolvida em grupo e, se possível, com a participaçã o do professor
de Histó ria.

Organize a turma em grupos e oriente-os na realizaçã o da pesquisa. Estabeleça com o


professor de Histó ria os critérios de orientaçã o, correçã o e avaliaçã o da atividade. Agende a
apresentaçã o dos trabalho de modo que ambos os docentes (Geografia e Histó ria) estejam
juntos.

Os dados levantados pelos alunos deverã o ser anotados no caderno. Os grupos, além de se
aprofundar no tema, poderã o pesquisar material adicional, como textos e imagens para
compor um ú nico painel a respeito da Segunda Guerra Mundial.

Ao final do processo, o professor poderá propor uma questã o à classe, com o objetivo de
questionar a teoria de Kautsky: existe hoje um superimperalismo?

Para responder, os alunos poderã o levar em consideraçã o que as potências capitalistas outrora
conflitantes, hoje nã o apresentam mais hostilidades. Atualmente, os conflitos bélicos ocorrem
nos países periféricos ou subdesenvolvidos. Ou seja, os países dominantes, já a partir da
Guerra Fria, “exportaram” os conflitos para as suas respectivas periferias.

Outro aspecto é a ascensã o das corporaçõ es internacionais, as chamadas empresas


transnacionais, que estã o presentes com suas marcas e produtos em todos os países do mundo.

p. 96 Atividade – Os movimentos de contestação da “geração de 68”

Professor, para realizar esse trabalho, indique a leitura do livro a seguir:

VENTURA, Z. 1968: o ano que nã o acabou. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Esse é um trabalho que pode ser realizado desde o início de forma interdisciplinar, envolvendo
todas as disciplinas de Ciências Humanas, uma vez que os acontecimentos de 1968 sã o
explorados pela Filosofia, Sociologia, Histó ria e Geografia. Grande parte da produçã o
intelectual de referência na atualidade foi e ainda é produzida por intelectuais de diversos
campos e em diferentes países. Esses intelectuais participaram ativamente desses
movimentos. De certa forma, eles reconfiguraram a produçã o intelectual que nos influencia até
hoje.

É fundamental que os estudantes compreendam os diversos sujeitos e processos de luta


implicados em todos os movimentos, no mundo e no Brasil.

Se tiver possibilidade, vale a pena assistir e debater o filme A insustentável leveza do ser
(direçã o: Philip Kaufman. Estados Unidos, 1988, 170 min. Classificaçã o: 14 anos), baseado no
livro homô nimo de Milan Kundera – que pode ser outra referência de leitura também.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

ANTUNES, R.; RIDENTI, M. Operá rios e estudantes contra a ditadura: 1968 no Brasil.
Mediações, v. 12, n. 2, p. 78-89, 2007. Disponível em: <www.
uel.br/revistas/wrevojs246/index.php/mediacoes/ article/view/3319>. Acesso em: 11 maio
2016.

BENEVIDES, S. C. O. Na contramão do poder: juventude e movimento estudantil. Sã o Paulo:


Annablume, 2006.
Pá gina 339

BLANCO, M. D. F. La revolució n hú ngara de 1956: el cará cter político y la organizació n social.


Historia Actual Online, n. 10, p. 99-113, 2006. Disponível em: <http://dialnet.unirioja.es/
servlet/ articulo?codigo=2188082>. Acesso em: 11 maio 2016.

CHIAVENATO, J. J. O golpe de 64 e a ditadura militar. Sã o Paulo: Moderna, 1994.

FEIXA, T. A Revoluçã o Hú ngara de 1956. Marxismo e Autogestão, v. 2, n. 4, p. 35-38, 2015.


Disponível em: <http://redelp.net/revistas/index.php/ rma/article/download/7feixa4/322>.
Acesso em: 11 maio 2016.

FERREIRA, N. M. Paz e amor na era de Aquá rio: a contracultura nos Estados Unidos. Cadernos
de Pesquisa do CDHIS, v. 33, p. 68-74, 2005. Disponível em:
<www.seer.ufu.br/index.php/cdhis/ article/viewFile/130/89#page=68>. Acesso em: 11 maio
2016.

GROPPO, L. A. Uma onda mundial de revoltas: movimentos estudantis de 1968. Piracicaba:


Editora Unimep, 2005.

HOBSBAWM, E. J. Era dos extremos: breve século XX. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1994.

MARQUES, T. C. S.; DE OLIVEIRA, A. Eduardo Alves. De Praga ao Mundo Á rabe: uma análise
comparada de primaveras políticas. Conjuntura Austral, v. 4, n. 17, p. 115-129, 2013.
Disponível em: <www.seer.ufrgs.br/ConjunturaAustral/ article/download/34863/25324>.
Acesso em: 11 maio 2016.

PAES, M. H. S. A década de 60: rebeldia, contestaçã o e repressã o política. Sã o Paulo: Á tica, 1992.

PEREIRA, L. C. B. As revoluções utópicas dos anos 60: a revoluçã o estudantil e a revoluçã o


política na Igreja. Sã o Paulo: Editora 34, 2006.

QUATTROCCHI, A.; NAIRN, T. O começo do fim: França, maio de 68. Rio de Janeiro: Record,
1998.

ROMÃ O, J. E. Os frutos de maio de 1968 – o grito dos silenciados. Revista Historia de la


Educación Latinoamericana, n. 11, p. 189-204, 2008. Disponível em:
<http://dialnet.unirioja.es/descarga/ articulo/2907432.pdf>. Acesso em: 11 maio 2016.

SKIDMORE, T. E.; SILVA, M. S. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1988.

SZABO, L. Hungria 1956…: e o muro começa a cair. Sã o Paulo: Contexto, 2006.

VIDAL, C. M. Las nuevas evidencias documentales sobre la insurrecció n hú ngara de 1956.


Mientras Tanto, n. 77, p. 111-125, 2000. Disponível em: <www.jstor.org/stable/27820487>.
Acesso em: 11 maio 2016.

VIEIRA, M. A.; GARCIA, M. A. Rebeldes e Contestadores: 1968 Brasil, França e Alemanha. Sã o


Paulo: Editora Fundaçã o Perseu Abramo, 1999.

p. 99 Atividade – Fahrenheit 11 de setembro


Professor, marque uma data com os estudantes para assistir ao documentá rio Fahrenheit 11
de setembro, de Michael Moore.

Solicite a eles que enumerem as questõ es abordadas e, em seguida, discuta as problemá ticas
que eles levantarem, pedindo que respondam coletivamente à questã o proposta: “A Nova
Ordem pode realmente ser considerada de paz e estabilidade?”.

Traga para a discussã o exemplos atuais de focos de tensã o e conflito, especialmente


relacionados ao final da Guerra Fria.

p. 103 Atividade – Adeus, Lênin!

Novamente tendo o cinema como linguagem, a intençã o desta atividade é aprofundar as


discussõ es em torno do fim da Uniã o Soviética e do socialismo.

Sugerimos que você peça aos alunos que assistam ao filme em casa, anotando as questõ es
relevantes e que produzam um texto com aproximadamente 15 linhas, justificando as escolhas
e a problemá tica apontada.

Com base no texto dos alunos, promova uma discussã o coletiva, destacando aspectos
significativos relacionados aos problemas na ex-URSS e nos antigos países do Leste Europeu e
os impactos que a adoçã o do capitalismo trouxe para as economias e sociedades desses países.

p. 106 Atividade – Cuba pós-Fidel

As respostas poderã o variar. Considere a construçã o argumentativa dos alunos.

Ao assumir o poder, Raú l Castro fez uma ampla pesquisa para saber quais eram as principais
queixas da populaçã o cubana. A partir da aná lise do material recebido, definiu algumas
mudanças importantes na organizaçã o do país.

Decidiu distribuir entre os cubanos as terras cultivá veis, que até entã o pertenciam ao Estado, a
maioria em forma de cooperativas. O objetivo era ceder à populaçã o 70% da á rea agrícola e a
formaçã o de cooperativas autô nomas.

Pá gina 340

A populaçã o pode adquirir bens tecnoló gicos, como celular e outros eletrodomésticos, e a
estadia em hotéis também foi liberada. Além disso, centenas de novos ô nibus foram
incorporados à frota de Havana, melhorando os serviços.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

BANDEIRA, L. A. M. Cuba: do socialismo dependente ao capitalismo. Revista Brasileira de


Política Internacional, 1996. Disponível em: <http:// search.ebscohost.com/login.aspx?
direct=true& profile=ehost&scope=site&authtype=crawler&
jrnl=00347329&AN=20902917&h= HiYEaTBjVs4zrjc6NSo5HDHuC5xjkGJkbeaC6T-
qPdDgJx9g2Ta1IbkO0XAqrHWYUm6ynUC4Pb- DUhaM2Pyd%2BbNQ%3D%3D&crl=c>.
Acesso em: 11 maio 2016.

FERREIRA, M. A. S. V. Tensõ es em um passado nã o tão distante: as relaçõ es entre Cuba e


Estados Unidos nos governos Bill Clinton e George W. Bush. Monções: Revista de Relaçõ es
Internacionais da UFGD, v. 4, n. 7, p. 207- 224, 2015. Disponível em: <www.periodicos.
ufgd.edu.br/index.php/moncoes/article/view- Article/4021>. Acesso em: 11 maio 2016.

MORAIS, F. A Ilha: um repó rter brasileiro no país de Fidel Castro. Sã o Paulo: Companhia das
Letras, 2001.

SERBIN, A. Cuba: mirando hacia el futuro. El sistema internacional ante los cambios
irreversibles: Retos urgentes e inaplazables del siglo XXI. Madrid: Fundació n Cultura de Paz-
Ceipaz, 2016. Disponível em: <www.ceipaz.org/images/contenido/10.AndresSerbin
-AnuarioCEIPAZ2015-16.pdf>. Acesso em: 11 maio 2016.

SILVA, M. A. da; JOHNSON, G. A.; ARCE, A. M. Reaproximaçã o, revoluçã o e desenvolvimento: um


balanço das relaçõ es Brasil-Cuba. Monções: Revista de Relaçõ es Internacionais da UFGD, v. 4, n.
7, p. 93-112, 2015. Disponível em: <www. periodicos.ufgd.edu.br/index.php/moncoes/
article/viewArticle/3831>. Acesso em: 11 maio 2016.

p. 108 Atividade – Utopia e barbárie

Professor, esse documentá rio é excelente para o fechamento do capítulo, pois o diretor, Sílvio
Tendler, fez um apanhado muito didá tico a respeito da segunda metade do século XX.

Sugerimos que, se possível, você passe o documentá rio ao final do capítulo a fim de
sistematizar e consolidar os temas tratados.

É importante discutir as ideias de utopia e barbá rie apresentadas no documentá rio. A respeito
da Utopia, sugerimos a excelente citaçã o para ser debatida com os estudantes:

A Utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se afasta dez passos.
Quanto mais eu buscá -la, menos eu a encontrarei, porque ela vai se afastando a medida que eu me aproximo. Boa pergunta:
para que serve a Utopia? Pois a Utopia serve para isso, para caminhar.

Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano. Para Que Serve a Utopia? - Eduardo Galeano. Disponível em: <www.youtube.
com/watch?v=9iqi1oaKvzs>. Acesso em: 11 maio 2016.

p. 111 Atividade – Coreia do Norte e armamento nuclear

1. Os Estados Unidos nunca atacaram um país que tivesse a posse de armas nucleares, pois os
riscos e custos econô micos, sociais, ambientais e políticos seriam muito elevados. Isso
encorajou o regime de Pyongyang a desenvolver a bomba nuclear. Além disso, a doutrina
geopolítica da Coreia do Norte tem como ponto principal a autonomia. Desse modo, o país nã o
depende de relaçõ es amigá veis com os Estados Unidos, embora a China seja um importante
aliado.

2. A Coreia do Norte tem um regime ditatorial, em que os líderes políticos formaram uma
verdadeira dinastia. Os maiores investimentos tecnoló gicos foram direcionados para a
indú stria nuclear, a produçã o de bombas nucleares e ao aparelhamento das forças armadas.
Desse modo, se os investimentos sã o voltados para a produçã o de armas e a exportaçã o para
compra de armas, sobra muito pouco para investir em outras á reas, como a agropecuá ria. Por
meio do seu poderio militar, a Coreia do Norte frequentemente faz uma espécie de
“chantagem” com os vizinhos e mesmo outros países, a fim de diminuir a carência crô nica de
alimentos no país.

3. Permitir que os alunos escolham determinado tema a respeito da realidade de Cuba, do


Vietnã e da Coreia do Norte pode ser uma boa estratégia de motivaçã o para o conhecimento. Se
preferir, você pode centralizar o foco dos temas abordados para integrar melhor a distribuiçã o
de conhecimentos ligados à realidade física e ao aspecto humano. O pró prio documentá rio de
Sílvio Tendler, Utopia e barbá rie, pode ajudar na elaboraçã o do tema.

p. 116 Questões de Enem e vestibular 1.

(Enem) C

Pá gina 341

As manifestaçõ es na década de 1960 foram marcadas por questõ es políticas, como a


contestaçã o à Guerra do Vietnã , e por questõ es comportamentais, associadas a mudanças nos
â mbitos da sexualidade, das vestimentas e das relaçõ es sociais.

2. (Enem) B

O pró prio nome e as vestimentas do “heró i” remetem à bandeira dos EUA. Além disso, o texto
destaca o “sopapo” no Fü rer, o que remete ao contexto da II Guerra Mundial.

3. (Unesp) D

A tensã o entre as duas Coreias tem sua origem no período da Guerra Fria. Apesar do fim desta,
a fronteira entre as duas continua sendo uma zona de tensã o permanente.

4. (PUC-RJ) C

A charge faz referência direta aos desafios que a Coreia do Norte faz continuamente aos países
capitalistas, especialmente aos EUA, em especial em relaçã o aos testes com armamentos
nucleares.

5. (Unicamp-SP)

a) O cartaz mostra a sociedade capitalista ocidental como geradora de desigualdade social.


Nesse sentido, parte da sociedade, inclusive as crianças, sofrem com a exclusã o social. Já a
sociedade socialista aparece como equilibrada, provedora de recursos para todos e cuidadosa
com a infâ ncia em decorrência da melhor distribuiçã o de renda. Observe as expressõ es das
crianças no socialismo, bem como a denotaçã o de saú de e bem-estar que elas estampam em
contraposiçã o à s crianças no mundo capitalista, ou trabalhando ou com expressõ es tristes e
assustadas. Esse tipo de propaganda foi usado por ambas as superpotências para a justificaçã o
ideoló gica.

b) Entre os conflitos, a Guerra da Coreia (que resultou na divisã o da naçã o entre Coreia do
Norte e Coreia do Sul), a Guerra do Vietnã , a ocupaçã o soviética no Afeganistã o, a guerra civil
em Angola entre MPLA e Unita, entre outros.

6. (UPF-RS) A

A assertiva IV está errada porque, apesar de as relaçõ es diplomá ticas terem sido retomadas,
não houve suspensã o do embargo econô mico dos EUA em relaçã o a Cuba.

7. (Enem) A
A questã o menciona a separaçã o entre as duas Europas no contexto da Guerra Fria, marcada
pela existência da Cortina de Ferro, uma fronteira econô mica, social e político-ideoló gica entre
elas.

p. 118 A notícia em diversas óticas

Nã o há uma ú nica possibilidade de resposta. Estimule a leitura dos textos, a realizaçã o de


debates em classe e a discussã o das propostas apresentadas pelos estudantes.

A concepçã o da proposta implica em observar a criança com o globo como fá bula, retratando
as promessas nã o cumpridas de paz e prosperidade para todos.

O texto a respeito do declínio da paz mundial retrata exatamente a perversidade dessa


promessa nã o cumprida, do atendimento dos interesses das grandes corporaçõ es e do capital
financeiro em detrimento do bem-estar das sociedades.

Por fim, o texto que narra a trajetó ria de Rigoberta Menchú procura mostrar as possibilidades
relacionadas à s lutas coletivas e sua importâ ncia para a conquista de melhores condiçõ es de
vida.

O ideal é que os alunos façam uma análise dos três textos, relacionando-os entre si, e formulem
propostas que deem maior visibilidade à s lutas e resistências em prol da paz e do bem-estar.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

Vietnã 25 anos depois

No dia 30 de abril de 1975, os Estados Unidos retiravam seus últimos representantes de Saigon, que cairia sob o
domínio das tropas vietcongues.

A foto da garota Kim Phuc, nua, fugindo de seu povoado, que estava sofrendo um bombardeio de napalm, até hoje é
lembrada como uma das mais terríveis imagens da Guerra do Vietnã .

No momento em que a foto foi tirada, em 8 de junho de 1972, a vida de Kim Phuc, entã o com 9 anos, mudaria para sempre.
Hoje [2004], 32 anos depois, Kim Phuc é Embaixatriz da Boa Vontade da Unesco. Ela contou à BBC sua experiê ncia.

“Em 1972, os americanos lançaram uma bomba de napalm em meu povoado, no sul do Vietnã .

Um fotó grafo, Nick Ut, tirou uma foto minha, fugindo do fogo, a foto que hoje é tã o famosa.

Eu me lembro que tinha 9 anos, era apenas uma menina. Naquela noite, nó s do povoado havíamos ouvido que os vietcongues
estavam vindo e que eles queriam usar a vila como base.

Entã o, quando já era dia, eles vieram e iniciaram os combates no povoado. Nó s está vamos muito assustados. Eu me lembro
que minha família decidiu procurar abrigo em um templo, porque nó s acreditá vamos que lá era um lugar sagrado.

Nó s acreditá vamos que, se nos escondê ssemos lá , estaríamos a salvo.

Eu nã o cheguei a ver a explosã o da bomba de napalm; só me lembro que, de repente, eu vi o fogo me cercando.

De repente, minhas roupas todas pegaram fogo, e eu sentia as chamas queimando meu corpo, especialmente meu braço.

Naquele momento, passou pela minha cabeça que eu ficaria feia por causa das queimaduras, que eu nã o ia mais ser uma
criança como as outras.

Eu estava apavorada, porque de repente nã o vi mais nin guém perto de mim, só fogo e fumaça.
Pá gina 342

Eu estava chorando e, milagrosamente, ao correr, meus pé s nã o ficaram queimados.

Só sei que eu comecei a correr, correr e correr.

Meus pais nã o conseguiriam escapar do fogo, entã o eles decidiram voltar para o templo e continuar abrigados por lá .

Minha tia e dois de meus primos morreram.

Um deles tinha 3 anos e o outro só 9 meses, eram dois bebê s.

Entã o, eu atravessei o fogo.

Queimaduras

O fotó grafo Nick Ut nos levou para um hospital das redondezas.

Assim que ele nos deixou lá , foi para uma sala escura revelar as fotos.

Depois, me falaram que eu e as outras pessoas feridas seríamos transferidas para o hospital de Saigon.

Dois dias depois, meus pais me encontraram no hospital.

Eu passei bastante tempo no hospital: 14 meses.

Os mé dicos fizeram 17 cirurgias para curar as queimaduras de primeiro grau.

Metade do meu corpo ficou queimado.

Aquele foi um momento decisivo na minha vida.

A partir daí, eu comecei a sonhar em como ajudar outras pessoas. Meus pais guardaram a foto, que tinha saído num jornal, e
depois a mostraram para mim. ‘Esta é você , quando você estava ferida’, disseram eles. Eu nã o consegui acreditar que era eu,
era uma foto aterrorizante.

Eu acho que todas as pessoas deveriam ver essa foto, mesmo hoje.

Porque essa foto mostra claramente como uma guerra é terrível para as crianças. Você pode ver o terror no meu rosto. Basta
ver a foto, para as pessoas aprenderem.”

Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/esp_viet_04.htm>. Acesso em: 11 maio 2016.

China: potência do século XXI?

A China, que acaba de enviar um homem ao espaço (o terceiro país a realizar tal façanha), lidera o crescimento econô mico
mundial há um quarto de sé culo, levando muitos a considerar que está emergindo uma nova potê ncia desafiante à liderança
americana. Outros, contudo, enfatizam as debilidades do “dragã o chinê s”. Alguns visitantes ficam deslumbrados com a
singularidade da cultura e a pujança do acelerado desenvolvimento, enquanto outros ressaltam o cará ter predató rio do
mesmo, o autoritarismo do regime e as dificuldades político-sociais.

Mas ningué m fica indiferente e eu, pessoalmente, apó s duas visitas, fiquei impactado. Afinal, em que medida o “Impé rio do
Centro”, uma civilizaçã o com cinco mil anos de histó ria, pode ser considerado a nova potê ncia do sé culo XXI?

A China é o país mais populoso do planeta, com 1,3 bilhã o de habitantes, e o quarto maior em extensã o territorial, com 9,5
milhõ es de km² (o Brasil tem 8,5 milhõ es de km²). Trata-se do ú nico país em desenvolvimento que se encontra no centro do
poder mundial, com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (portanto com direito a veto), dotado de
indú stria aeroespacial e armas nucleares. Seu PIB, somado ao territó rio de Hong Kong, já está nivelado ao do Japã o e, se se
mantiverem as atuais taxas de crescimento, deverá alcançar o dos Estados Unidos em menos de duas dé cadas. Mas o país
ainda nã o possui uma atuaçã o em escala planetá ria, e nem o deseja.
Por volta do sé culo XV, a China era a civilizaçã o mais avançada do mundo, conhecendo posteriormente uma estagnaçã o.
Apó s as Guerras do Ó pio, desencadeadas pelos ingleses na dé cada de 1840, o país entrou em guerra civil e desagregaçã o por
um sé culo (a Repú blica foi proclamada em 1911). Em 1949, os comunistas derrotaram seus adversá rios (que se refugiaram
em Taiwan) e proclamaram a Repú blica Popular da China. Mao Zedong (Mao Tse-tung) teria entã o declarado que “a China
está novamente de pé e jamais voltará a se curvar”. Foram necessá rios 25 anos para consolidar o regime e, em 1971, a China
reaproximou-se dos Estados Unidos e passou a ocupar o lugar do país no Conselho de Segurança da ONU.

Em 1978, Deng Xiaoping, sucessor de Mao, lançou a política de reformas, modernizaçã o e abertura, visando aprofundar a
industrializaçã o do país. Tal estraté gia apoiava-se em dois princípios: a noçã o de “um país, dois sistemas” (pregando a
reconciliaçã o nacional, visando recuperar Hong Kong e Taiwan) e a de economia socialista de mercado (descentralizando o
planejamento e unificando o mercado interno). Desde entã o, a economia passou a crescer a taxas de aproximadamente 10%
ao ano (8% apó s a crise asiá tica de 1997-1998).

O país passou a ocupar a posiçã o de maior receptor de investimentos do mundo e ingressou na OMC no início do sé culo XXI.

Com o fim da Guerra Fria, a aliança sino-americana converteu-se numa discreta rivalidade, pois Washington perdeu o
interesse estraté gico, uma vez que a Uniã o Sovié tica desaparecia como opositora. Mais que isso, os Estados Unidos, com
enormes deficits comerciais, passaram a atacar o modelo de Estado desenvolvimentista asiá tico (inclusive o japonê s e o sul-
coreano) e a criticar o regime socialista chinê s, que sobreviveu (reformado) à queda da Uniã o Sovié tica. A repressã o ao
movimento da Praça da Paz Celestial (Tiananmen), a questã o do Tibete, o problema de Taiwan e dos Direitos Humanos
passaram a ser instrumentalizados, com objetivos político-diplomá ticos e econô mico-comerciais.

Mas a China procurou conservar boas relaçõ es com os Estados Unidos por razõ es econô micas, mesmo quando Washington
passou a defender o chamado Escudo Antimísseis, iniciativa visivelmente voltada contra Beijing (Pequim).

Temerosos da integraçã o asiá tica que o Japã o passou a liderar desde 1985, quando foi forçado a valorizar o iene (Acordos
Plaza), os Estados Unidos trataram de esvaziar este processo, condenando a economia japonesa a uma longa estagnaçã o.
Mas, ao agirem assim, os americanos provocaram duas consequê ncias inesperadas: fizeram o Japã o investir ainda mais na
regiã o e criaram condiçõ es para que a China passasse a liderar o movimento de integraçã o asiá tica. Este processo se
aprofundou com a capacidade de resistê ncia chinesa diante da crise asiá tica. Até 2010, Beijing deve concluir a implantaçã o
de uma á rea de livre comé rcio envolvendo o Sudeste e o Nordeste asiá tico. A China estabeleceu com a Rú ssia uma aliança
estraté gica e ambos os países criaram a Organizaçã o de Cooperaçã o de Xangai, um acordo econô mico e de segurança,
juntamente com quatro das repú blicas da Á sia central.

Evidentemente a situaçã o interna da China possui certas fragilidades, o Japã o vacila em aceitar a liderança chinesa e a
situaçã o mundial com o advento do governo Bush guarda mil perigos (daí a forma discreta como Beijing tratou o problema
do Iraque). Mas trata-se de uma tendê ncia que vem se configurando gradualmente. A China apoia a reforma do Conselho de
Segurança (e a inclusã o do Brasil), a estruturaçã o de um sistema internacional multipolar e uma política de paz, soberania e
desenvolvimento, de acordo com os chamados Cinco Princípios de Coexistê ncia Pacífica, formulados por Chu En-lai nos anos
1950.

Mas, para que tudo isso se concretize, a China necessita consolidar seu desenvolvimento, o que levará mais uma ou duas
dé cadas. Assim, sua prioridade é garantir as condiçõ es internacionais necessá rias para tanto, devendo lidar com o gigante
americano com a paciê ncia típica dos asiá ticos. Enquanto isso a renda per capita cresce, a sociedade se moderniza e se
democratiza de baixo para cima, embora nã o no padrã o liberal que vigora no Ocidente, pois ele se baseia na primazia da
noçã o de indivíduo, que nã o faz parte da tradiçã o asiá tica.

VIZENTINI, P. F. China: potê ncia do sé culo XXI? Tema Educaçã o, 28 out. 2003. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.
br/vizentini/artigos/artigo_136.htm>. Acesso: 11 maio 2016.

Outras sugestõ es:

Pá gina 343

BIAGI, O. L. Imprensa, histó ria e imagens: questõ es sobre a cobertura das guerras da Coréia
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Capítulo 5 – Nacionalismos no século XXI


COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO)

• Compreender os diversos tipos de nacionalismo.


• Contextualizar historicamente os processos separatistas.

• Posicionar-se diante de dados e informaçõ es.

• Analisar e estabelecer as relaçõ es e contradiçõ es dos movimentos nacionalistas de cunho


separatista.

• Considerar pontos de vista divergentes.

• Compreender as transformaçõ es em curso relacionadas aos nacionalismos.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

Professor, o capítulo aborda alguns conceitos de difícil definiçã o, como exemplo o termo
ideologia, ou também os movimentos separatistas, especialmente na Europa, no contexto atual.
Sugerimos dosar o nú mero de aulas expositivas, atividades e outros recursos.

• Utilização de questões durante as aulas: antes de iniciar um novo tó pico, escolha algumas
questõ es e apresente-as aos alunos. Peça a eles que as resolvam utilizando a bagagem de
conhecimentos que já trazem. Solicite que anotem suas dificuldades e dú vidas.

• Realização de trabalhos em grupo: o encontro entre os alunos, suas negociaçõ es, os


arranjos que realizam e os acordos que estabelecem sã o momentos muito profícuos de
aprendizagem. Além disso, ao ter de buscar, selecionar e organizar informaçõ es em mapas,
quadros, peças teatrais, ou mesmo organizar a apresentaçã o oral, os alunos desenvolvem não
somente seu senso crítico (pois poderã o encontrar informaçõ es conflitantes e terã o de saber
selecionar o que lhes interessa diretamente e o que nã o lhes interessa), como também a
habilidade de síntese. Nesse tipo de atividade, destaca-se o papel do professor como um
mediador e orientador da aprendizagem e aos alunos é conferida a responsabilidade por seu
processo de formaçã o, o que é interessante sob a perspectiva do seu amadurecimento psíquico
e cognitivo. Se os trabalhos forem interdisciplinares, como sugeridos neste Manual, serã o
ainda mais interessantes, permitindo maior interaçã o no processo de ensino-aprendizagem.

• As atividades sugeridas reforçam o aprendizado e possibilitam a troca de informaçõ es e


opiniõ es entre os alunos. Consideramos extremamente relevante que os alunos também
pesquisem e nã o recebam tudo pronto, pois, dessa forma, estaremos estimulando-os a buscar o
conhecimento por meio da leitura de textos e imagens, e certamente eles terã o um universo
mais rico e uma bagagem cultural mais ampla.

• Filmes: uma forma de reforçar o estudo é a discussã o sobre filmes e o seu contexto histó rico.
O filme pode ser indicado ou passado em aula. Os alunos devem assistir os fillmes com um
olhar crítico para depois comentar a obra em sala. Sugestã o de filme:

Em nome do pai. Direçã o: Jim Sheridan. Irlanda/ Grã Bretanha/EUA, 1993, 132 min.
Classificaçã o: 16 anos.

Sinopse: Em 1974, um atentado do Exército Republicano Irlandês (IRA) mata cinco pessoas
num pub de Guilford, perto de Londres. O jovem rebelde irlandês Gerry Conlon e três amigos
sã o presos e condenados pelo crime. Quando Giuseppe Conlon, pai de Gerry, tenta ajudar o
filho, e pede ajuda à advogada Gareth Peirce, que investiga as irregularidades do caso. O
atentado a bomba retratado pelo filme é uma situaçã o que se tornou rotineira na Inglaterra
desde a divisã o da Irlanda em 1921.
Pá gina 345

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E AS ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 120 Conexão de conhecimentos - “Ideologia: eu quero uma pra viver”

1. As respostas poderã o variar um pouco, dependendo da fonte consultada. Mas, de um modo


geral, é possível que os estudantes identifiquem ideologia como: falsa consciência;
compreensã o errô nea da realidade; um ideá rio histó rico, social e político que oculta a
realidade; um modo de dotar de significado as açõ es humanas.

2. Socialismo; anarquismo; movimento hippie; nacionalismo; capitalismo; xenofobia; nazismo;


entre outros.

3. O nacionalismo é uma ideologia que “homogeneíza”, por exemplo, todos sã o iguais por
serem brasileiros, independentemente das diferenças de classe, gênero, crenças religiosas etc.
Ao mesmo tempo, o nacionalismo como ideologia constroe a diferenciaçã o em relaçã o ao
outro: “se sou brasileiro, não serei, obviamente, argentino”. Daí sua força quando atrelado a
discursos xenó fobos, separatistas etc.

Sugerimos alguns textos sobre ideologia, escola e Geografia.

Há muitos artigos e debates interessantes no site Marxismo21. Disponível em: <www.marxis


mo21.org>. Acesso em: 12 maio 2016.

CALLAI, H. C. A Geografia e a escola: muda a geografia? Muda o ensino? Terra Livre, v. 1, n. 16,
p. 133-152, 2015. Disponível em: <www.agb. org.br/publicacoes/index.php/terralivre/article/
view/353>. Acesso em: 12 maio 2016.

COELHO, L. P.; MESQUITA, D. P. C. de. Língua, cultura e identidade: conceitos intrínsecos e


interdependentes. Revista Entreletras, v. 4, n. 1, p. 24-34, 2013. Disponível em: <www.revista.
uft.edu.br/index.php/entreletras/article/down load/975/516>. Acesso em: 12 maio 2016.

COUTINHO, J. A. Na rota do capital: a ideologia do desenvolvimento e os movimentos de


resistência. Revista Políticas Públicas, v. 18, 2014. Disponível em:
<www.periodicoseletronicos.ufma. br/index.php/rppublica/article/view/2710>. Acesso em:
12 maio 2016.

DEL GÁ UDIO, R. S.; BRAGA, R. B. A Geografia, a educaçã o e a construçã o da ideologia nacional.


Terra Livre, v. 1, n. 28, p. 177-196, 2015. Disponível em: <www.agb.org.br/publicacoes/
index.php/terralivre/article/view/229>. Acesso em: 12 maio 2016.

ESCOLAR, M.; ESCOLAR, C.; PALÁ CIOS, S. Q. Ideologia, didá tica e corporativismo: uma
alternativa teó rico-metodoló gica para o estudo histó rico da Geografia no ensino primá rio e
secundá rio. Terra Livre, n. 8, 2015. Disponível em: <www.agb.org.br/publicacoes/index.php/
terralivre/article/viewFile/94/93>. Acesso em: 12 maio 2016.

IASI, M. Alienação e ideologia: a carne real das abstraçõ es ideais. Marx e a dialética da
sociedade civil. Marília: Oficina Universitá ria, 2014. p. 95-124. Disponível em:
<http://marxismo21. org/wp-content/uploads/2012/12/Marx-e-
adialetica_ebook.pdf#page=95>. Acesso em: 12 maio 2016.

LYNCH, C. E. C. Cartografia do pensamento político brasileiro: conceito, histó ria, abordagens.


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MAZUCATO, T. Ideologia e utopia em Karl Mannheim. Sem Aspas, v. 2, n. 1, 2015. Disponível
em: <http://piwik.seer.fclar. unesp.br/semaspas/article/view/6934/0>. Acesso em: 12 maio
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MIANI, R. A. Charge: uma prá tica discursiva e ideoló gica. Nona Arte: Revista Brasileira de
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PERRUSI, A. Sobre a noçã o de ideologia em Gramsci: aná lise e contraponto. Estudos de


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THERBORN, G. A formaçã o ideoló gica dos sujeitos humanos. Lutas sociais, n. 1, 1996.
Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/ls/ issue/ view/1214/showToc>. Acesso
em: 12 maio 2016.

p. 125 Atividade – O nacionalismo e os movimentos de direita na Europa

Professor, a ideia é que os estudantes percebam, nas charges, tanto o slogan da extrema direita
(charge 1) como as tentativas de imigraçã o para a Europa e seus percalços (charges 2 e 3).

Observe a utilizaçã o correta de conceitos e a coe rência textual e argumentativa. Se quiser,


explore com os estudantes aspectos relacionados ao seguinte texto (indicado também na
atividade anterior):

MIANI, R. A. Charge: uma prá tica discursiva e ideoló gica. Nona Arte: Revista Brasileira de
Pesquisas em Histó rias em Quadrinhos, v. 1, n. 1, p. 37-48, 2012. Disponível em: <www2.eca.
usp.br/nonaarte/ojs/index.php/nonaarte/article/ view/3>. Acesso em: 12 maio 2016.

O importante é analisar, em classe, a importâ ncia da linguagem sintética das charges para
refletir a respeito de diferentes aspectos sociais, políticos, ideoló gicos e econô micos.

p. 126 Atividade – A onda


Esse filme é muito interessante para analisar os modos pelos quais formas de pensamento
autoritá rio e totalitá rio tendem a se disseminar pelas sociedades e angariar seguidores
beirando o fanatismo.

A partir da proposiçã o de uma experiência para compreender o nazifascismo numa escola, os


estudantes acabam se envolvendo de tal maneira com os discursos proferidos que assumem
posturas antidemocrá ticas, autoritá rias e totalitá rias.

O filme possibilita uma excelente reflexã o a respeito dos riscos do pensamento ú nico,
sobretudo quando interpelam as pessoas naquilo que parece, em determinada situaçã o, mais
complexo e importante.

Sugerimos a seguinte aná lise sobre o filme:

SILVA, C. L. B. da; SANTOS, R. P. dos. Resenha: “Tragam o traidor para cá !”: algumas
consideraçõ es sobre o filme A onda. Boletim do Tempo Presente, n. 4, 2015. Disponível em:
<http://seer. ufs.br/index.php/tempopresente/article/download/4225/3522>. Acesso em: 12
maio 2016.

MAYNARD, A. Resenha: A experiência Jones: The Wave, o ensino de histó ria e o tempo
presente. Boletim do Tempo Presente, n. 08, 2015. Disponível em:
<www.seer.ufs.br/index.php/tempopresente/article/viewFile/4157/3436>. Acesso em: 12
maio 2016.

Observe também a proposta de cineclube dos professores do Instituto Federal Fluminense:

SILVA, R. F. T. et al. Cineclube Debates. III Encontro de Extensão, 2015. Disponível em: <www.
essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/encon tro_de_entensao/article/viewFile/6796/4498>.
Acesso em: 12 maio 2016.

p. 128 Atividade – A favor ou contra o separatismo basco?

Apó s a realizaçã o das pesquisas, divida a sala em dois grupos: um a favor do separatismo basco
e outro contra. À medida que os alunos explanarem as suas ideias, coloque-as de maneira
simplificada no quadro. Por fim, haverá um panorama da linha de pensamento dos dois lados,
sem uma conclusã o. O importante é sempre analisar os fatos sob ó ticas conflitantes.

A ideia dessa atividade é promover uma discussã o entre os alunos, a fim de aprofundarem a
compreensã o dos argumentos favorá veis e contrá rios ao separatismo basco.

Oriente-os a realizar pesquisas em jornais, livros, revistas e na internet de modo a construir


sua argumentaçã o.

Sugerimos alguns textos:

BERNARDO, F. Recuperando uma Memória: A Guerra Civil de Espanha nos Meios de


Comunicaçã o. Dissertaçã o de mestrado. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2014. Disponível
em: <https://estudogeral.sib.uc.pt/ handle/10316/27000>. Acesso em: 12 maio 2016.

MARQUES, J. F. A Europa e os novos racismos: algumas reflexõ es. Estudos II, p. 5-24, 2005.
Disponível em: <https://sapientia.ualg.pt/hand le/10400.1/5536>. Acesso em: 12 maio 2016.
Pá gina 347

p. 132 Atividade – Nacionalismo, religião e o separatismo

Professor, selecione alguns grupos para ler as aná lises ou, ainda, faça dessa atividade uma
avaliaçã o. O importante é que você conclua mostrando que o movimento separatista da Irlanda
do Norte é pautado em uma experiência nacionalista e nã o religiosa. A religiã o é um aspecto da
diferenciaçã o e nã o a causa das divergências entre as comunidades daquele país.

p. 135 Atividade – Existem movimentos separatistas no Brasil?

1. Sã o argumentos relacionados à ideologia nacional, por exemplo: os brasileiros sã o cordiais e


recebem estrangeiros com alegria e acolhimento; o Brasil se caracteriza pela miscigenaçã o;
“Deus é brasileiro”; a natureza brasileira é pró diga e rica; temos a maior bacia hidrográ fica do
mundo; temos o melhor futebol do mundo; temos a maior festa popular do mundo, o carnaval;
entre outros.

2. Sim. Sã o exemplos a mineiridade, o gauchismo, a paulistanidade, a baianidade, o


carioquismo, entre muitos outros.

3. Sim. Localizam-se principalmente na regiã o Sul, e desejam a separaçã o de todos os estados


da regiã o, mais o estado de Sã o Paulo, que unidos formariam um novo país. Os defensores da
ideia alegam que existem diferenças culturais, mas, principalmente, diferenças econô micas,
como o fato de essa regiã o ser mais rica e importante economicamente, e nã o concordam com
repasses econô micos para regiõ es mais pobres como o Nordeste, por exemplo.

4. Professor, esse debate é fundamental para evidenciar e colocar em xeque algumas imagens
comuns dos brasileiros, como a crença na cordialidade brasileira, na natureza grandiosa do
país etc.

Além disso, os nacionalismos possuem uma forte carga ideoló gica e emocional, podendo servir
aos interesses mais variados, dos mais libertá rios aos mais conservadores. Ademais, discuta
com os alunos as fracas possibilidades de separatismo da regiã o Sul, uma vez que há uma
articulaçã o dependente entre as regiõ es brasileiras.

Como sugestõ es bibliográ ficas, indicamos:

ALMEIDA, L. F. R. de. Corrosõ es da cidadania: contradiçõ es da ideologia nacional na atual fase


de internacionalizaçã o do capitalismo. Lutas Sociais, n. 1, 1996. Disponível em:
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ARRUDA, M. A. N. Mitologia da Mineiridade. Sã o Paulo: Brasiliense, 1990.

CHAUÍ, M. Brasil: mito fundador e sociedade autoritá ria. Sã o Paulo: Fundaçã o Perseu Abramo,
2000.

DAMATTA, R. O que faz o brasil, Brasil? 5. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

HEIDRICH, Á . L. Regiã o e regionalismo: observaçõ es acerca dos vínculos entre a sociedade e o


territó rio em escala regional. Boletim Gaúcho de Geografia. Porto Alegre: AGB, 1999. Disponível
em: <www.seer.ufrgs.br/bgg/article/ download/39730/26286>. Acesso em: 12 maio 2016.
LONGHI, R. S. D. G. O movimento separatista do Triâ ngulo Mineiro. Revista Lutas Sociais, n. 4,
1998. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/ index.php/ls/article/view/19021>. Acesso
em: 12 maio 2016.

OLIVEN, R. G. O renascimento do gauchismo. Disponível em: <www.ufrgs.br/difusaocultural/


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chos.pdf>. Acesso em: 12 maio 2016.

PINHO, O. S. A. A Bahia no Fundamental: notas para uma interpretaçã o do discurso ideoló gico
da baianidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais Sã o Paulo Associaçã o Nacional de Pó s-
Graduaçã o e Pesquisa em Ciências Sociais, v. 13, n. 36, fev. 1998. Disponível em: <www.scielo.
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Acesso em: 8 abr. 2016.

p. 144 Questões de Enem e vestibular

1. (Fuvest-SP) E

Os bascos fazem parte de uma etnia ú nica, sem qualquer ligaçã o com quaisquer outras da
Europa, um caso que a ciência até hoje não soube explicar.

2. (Mackenzie-SP) D

As á reas A e C correspondem à Escó cia e Catalunha, respectivamente; e B, à Ucrâ nia.

3. (Uerj) D

As taxas de fecundidade entre as irlandesas cató licas sã o mais elevadas que entre as
protestantes.

Pá gina 348

4. (Uerj) D

Os interesses sã o o fortalecimento do nacionalismo russo e o domínio estratégico sobre o


porto de Sebastopol.

5. (Fatec-SP) B

A questã o sintetiza os conflitos relacionados ao nacionalismo e seus desdobramentos em


territó rio europeu, na atualidade.

6. (Unicamp-SP) C

Trata-se do separatismo flamengo e valã o, na Bélgica.

7. (FGV-SP,)

a) Na Espanha, os movimentos separatistas na Catalunha (sudeste) e País Basco (nordeste)


ganharam vigor devido à crise financeira a partir de 2008 e em decorrência da vitó ria eleitoral
de partidos regionais nacionalistas. No País Basco atua o ETA (Pá tria Basca e Liberdade),
grupo separatista e com tradiçã o terrorista criado em 1959. O grupo abandonou o terrorismo e
hoje foca na atividade política.

b) Na Bélgica, nos ú ltimos anos, cresceram os movimentos separatistas nas regiõ es de Flandres
(etnia flamenga com língua similar ao holandês) e Valô nia (etnia com língua francesa),
liderados por partidos como N-VA e Vlaams-Belang.

c) No Reino Unido, existem movimentos separatistas na Irlanda do Norte e Escó cia. Na Irlanda
do Norte, territó rio com maioria protestante e minoria cató lica, o IRA (Exército Republicano
Irlandês), grupo separatista e com tradiçã o terrorista, lutou contra o domínio britâ nico e pela
fusã o com a Repú blica da Irlanda, ao sul. Existe um acordo de paz desde 1998 entre cató licos e
protestantes. Na Escó cia, o separatismo cresceu nos ú ltimos anos em decorrência da vitó ria de
um partido regional nacionalista nas eleiçõ es.

p. 146 A notícia em diversas óticas

Professor, nã o há uma ú nica possibilidade de resposta. Estimule a leitura dos textos, a


realizaçã o dos debates em classe e a aná lise das propostas apresentadas pelos alunos.

Os textos abordam a histó ria de um jovem recrutado por movimentos nazifascistas, mostram
as razõ es que o levaram a se alinhar ao grupo (texto 1) e, posteriormente, a deles se afastar
(texto 3). O texto 2 evidencia as perseguiçõ es perpetradas por esses grupos a que estã o
sujeitos os imigrantes.

O que demandamos dos alunos é a análise desse fenô meno, bem como uma proposta de
intervençã o, a fim de compreender os impactos negativos desse discurso nacionalista e propor
formas de combatê-lo.

INDICAÇÕES DE TEXTOS PARA AUXILIAR NA REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES

Ao longo das atividades, sugerimos diversos artigos para estudo e aprofundamento dos
diversos temas tratados. Além deles, sugerimos os dois textos a seguir.

Estudante checo mata-se em protesto contra a guerra e a corrupção

A autoimolaçã o de um jovem estudante de 19 anos em Praga, em protesto contra a situaçã o na Repú blica Tcheca, abalou o
país. À s 7h30 da manhã do dia 6 de março Zdenek Adamec, excelente estudante, encharcou-se de gasolina e transformou-se
em tocha viva na Praça Sã o Venceslau diante de passageiros de ô nibus e circunstantes. Um policial conseguiu apagar as
chamas, mas Adamec faleceu apó s falharem tentativas de ressuscitaçã o.

Adamec, que vivia com seus pais em Humpolec, a 60 milhas de Praga, cometeu o desesperado ato a apenas pouca distâ ncia
do ponto onde o estudante de filosofia Jan Palach pô s-se em chamas em janeiro de 1969 para protestar contra a invasã o da
Tchecoslová quia por tropas sovié ticas.

Vá rios fatores contribuíram para o suicídio de Adamec. A polícia tinha investigado o jovem por abrigar um web site de um
grupo de “darkers” – hackers que utilizam seus conhecimentos de engenharia elé trica e computaçã o para cortar a
eletricidade de toda uma vizinhança. Adamec asseverou que simplesmente prestara obsé quio a um amigo. De acordo com
seu genitor, a polícia o tinha ameaçado de dois anos de prisã o para obter informaçõ es. “Eles o tinham pressionado
constantemente para obriga-lo a dar informaçõ es, mas ele era tímido e de natureza vulnerá vel. É terrível que a polícia se
tenha conduzido tã o egoisticamente”.

O jovem era reconhecidamente solitá rio, religioso, algo excê ntrico, sempre contente com seu computador. Afirmou sua mã e:
“Ele pensou que o podiam jogar na prisã o e lá nã o disporia de livros, de escola, nem de internet, nem levaria vida normal”.

Em anotaçõ es que Adamec deixou, ele se descreveu como “outra vítima do sistema democrá tico, onde nã o é o povo que
decide, mas o poder e o dinheiro”. Criticou as condiçõ es nas escolas checas, afirmando que “as drogas, a violê ncia, o dinheiro
e o poder – sã o os lemas de nossa civilizaçã o”.
Adamec colocou outra carta na internet algumas horas antes de viajar a Praga e cometer suicídio. Confusas como
demonstram trechos dela, as notas de Adamec refletem a reaçã o de um jovem por demais sensível e inteligente diante da
situaçã o criada desde a queda do stalinismo em 1989. O estudante identificou-se claramente com Palach, que se denominou
“Tocha nú mero um”, ao intitular sua mensagem de “Açã o tocha 2003”.

Escreveu ele: “Nã o conseguimos nada melhor apó s a ‘ Revoluçã o de Veludo’ (novembro de 1989)… A chamada democracia
que ganhamos nã o é democracia. É mais ou menos o domínio dos burocratas, do dinheiro e o povo espezinhado.” Continuou
“todo o mundo foi corrompido pelo dinheiro, apodreceu e depravou-se”.

“Nã o é demasiado tarde para a salvaçã o, mas, se continuarmos assim, nó s logo nos sufocaremos num ambiente de imundície
ou em guerras. Você pode ter lido isto nos jornais ou visto essa coisa na TV. Todo fim de semana há tiroteios, até mesmo em
escolas. E qual a causa de tudo isto?”

Pá gina 349

Adamec condenou a guerra, e os planos dos Estados Unidos particularmente no Iraque: “E quanto a guerras? Testes
nucleares que nunca findam, estamos todo o tempo inventando novos meios de matar-nos uns aos outros. Os povos deviam
unir-se, nã o lutarem entre si… Por que você pensa que os americanos atacam o Iraque e procuram por outro Osama Bin
Laden? É tã o somente uma populaçã o manipulada pela mídia e pelo governo. O Iraque possui o petró leo e os americanos o
querem també m, esta é a razã o. A Coreia tem armas nucleares – este fato nã o os perturba tanto”.

Adamec retornou vá rias vezes à degradaçã o da sociedade americana e sua influê ncia no mundo. “A civilizaçã o leva a sua
autodestruiçã o. Já viu alguma vez as lixeiras dos Estados Unidos? É uma infinda montanha de entulhos, de imundície. E
fazemos a mesma coisa todos os dias – voltamos para casa e vamos imediatamente ver a televisã o.”

Ele falou da violê ncia internacional e da violê ncia na vida cotidiana. “E veja o relacionamento das pessoas. Olhe em sua volta.
É um nunca acabar de violê ncia, quase toda semana um assassinato, em todas as grandes cidades há gente sem teto. Na
maioria das vezes, nã o é culpa dela. Drogados perambulando pelas ruas, propina e corrupçã o por toda parte, e o que
incentiva esse comportamento? É a maneira como deixamos crescer nossos filhos. Colocamo-los diante da televisã o e aí está .
É fá cil. Já aos 10 anos de idade as crianças assistem a filmes violentos… E, se você tiver algum problema, todo mundo te vira
as costas. As pessoas gostam de ver o sofrimento dos outros. É fá cil causar mal-estar ao pró ximo, mas muito difícil ajudar
algué m. Daria muito trabalho fazer isto, mas deveríamos tentar.”

Jaroslava Moserova, mé dica que tratou Jan Palach em 1969, é agora senadora. Ela declarou à imprensa: “A situaçã o nesse
país nã o é a mesma de antes. Mas tenho de dizer que há muita desesperança surgindo no meio juvenil”.

Alguns comentadores notaram a coincidê ncia da autoimolaçã o de Adamec com a posse do direitista Vá clav Klaus na
presidê ncia. Joseph Broz, escritor freelancer, sugeriu que a eleiçã o de Klaus em 28 de fevereiro influenciou Adamec. “Esta
tragé dia é um impacto direto no símbolo do Castelo (referindo-se à sede da presidê ncia).”

Klaus é uma mediocridade reacioná ria eleita pelo Parlamento checo em terceiro escrutínio. O ex-dissidente Vá clav Havel
afastou-se do poder apó s ocupá -lo 13 anos. Klaus serviu como ministro das finanças em sequê ncia ao colapso do stalinismo e
é umbilicalmente ligado à introduçã o das políticas neoliberais. Tornou-se primeiro-ministro depois que a Tchecoslová quia
dividiu-se entre a Repú blica Checa e a Eslová quia em 1993.

Na ú ltima eleiçã o parlamentar, o Partido da Democracia Cívica recebeu apenas 24,5% dos votos, seu pior desempenho até
entã o. O inconformado Partido Comunista obteve 18,5% dos escrutínios, numa eleiçã o assinalada por votos de protesto e
comparecimento geral baixo (58% dos votantes qualificados).

Enquanto uma pequena camada tem enriquecido, as condiçõ es econô micas para a esmagadora maioria da populaçã o checa
pioram. O índice de desemprego, em alta, de um dos mais pró speros países ex-stalinistas, chega a 10%. Nas á reas do norte
da Monró via e da Boê mia, o desemprego é de 25% a 30%.

A renda efetiva das famílias da classe operá ria caiu cerca de 13% desde 1989, e por volta de 1997 o valor bá sico dos
benefícios sociais como indicativo da parcela do Produto Interno Bruto tinha caído 44%. O poder aquisitivo dos aposentados
sob regime de pensõ es é 10% mais baixo do que antes da “Revoluçã o de Veludo”. As tensõ es sociais aumentam a cada dia,
com o racismo contra os ciganos encorajado por elementos direitistas e nacionalistas. O futuro para os jovens é desolador.

De maneira alguma o desalento sentido por Adamec é ú nico na Repú blica Checa. Ao condenar a corrupçã o do poder do
dinheiro em todos os aspectos da vida, e o cinismo de políticos e da mídia, em sua aversã o ao domínio americano, ele sem
dú vida reflete os sentimentos de grande nú mero de jovens em escala mundial.

Que ele sentiu este desespero e nã o viu nenhuma saída exceto o suicídio nã o é essencialmente por sua culpa. É em grande
parte dimensã o resultante da prevalê ncia da sordidez no Ocidente e na Europa central, onde o domínio do “neoliberalismo”
tem sido, econô mica e moralmente, desastroso para a vasta maioria. No entanto, de maneira alguma deve-se imitar o trá gico
ato de Adamec.

Sem minimizar a profundidade dos sentimentos dos jovens checos ou extrair liçõ es fá tuas de sua morte, é uma realidade de
que o vagalhã o planetá rio de protestos e repulsa contra os Estados Unidos abre perspectiva diversa para a juventude.
Trotsky certa vez observou que os “povos nunca recorrem ao suicídio,” e prosseguiu, “quando seus fardos se tornam
intolerá veis, eles procuram uma saída por meio da revoluçã o”.

WALSH, D. World Socialist Web Site. 3 abr. 2003. Disponível em: <www.wsws.org/pt/2003/apr2003/port-a03.shtml>.
Acesso em: 7 abr. 2016.

A geografia dos povos curdos

A naçã o curda conta com aproximadamente 36 milhõ es, dos quais 15 milhõ es estã o localizados na Turquia, formando, assim,
o maior grupo é tnico sem Estado do mundo. No Iraque, eles representam algo em torno de 20% da populaçã o. Em funçã o
das perseguiçõ es, milhõ es de curdos encontravam-se refugiados na Europa Ocidental, principalmente na Alemanha.

A sua populaçã o é de origem indo-europeia e se estabeleceu na regiã o onde vive há cerca de 3 mil anos. Por sua estraté gia de
ocupaçã o das rotas comerciais entre Oriente e Ocidente, o territó rio curdo foi muito disputado pelos antigos impé rios até ser
conquistado e islamizado pelos á rabes por volta do sé culo VII. A naçã o apresenta uma tradiçã o guerreira e uma sociedade de
democracia tribal, fundamentada na propriedade coletiva de terras. Sã o esses os traços peculiares dos curdos preservados
ao longo do tempo.

A regiã o encontra-se dividida por quatro fronteiras nacionais principais: Turquia, Iraque, Irã e Síria, alé m de uma pequena
parte na Armê nia e Azerbaijã o. Apenas o Irã reconhece a regiã o por esse nome. O Curdistã o nunca foi uma naçã o
politicamente unida, apesar de algumas tribos, organizadas em principados, terem experimentado autonomia ao longo de
sua histó ria.

Na Turquia, o líder Mustafa Kemal Ataturk procurou fortalecer a identidade nacional e iniciou uma forte política de
assimilaçã o dos curdos aos quais passaram a chamar de “turcos montanheses”. Sua língua é declarada ilegal ou classificada
como dialeto turco, e sã o impedidos de usar suas vestes típicas. Desde 1925, ocorrem rebeliõ es curdas principalmente na
Turquia, no Iraque e no Irã . Diversos levantes armados se deram nos anos 20 e 30, mas, numa açã o conjunta entre Turquia,
Irã e Iraque, os curdos foram violentamente reprimidos.

A Turquia, durante a Segunda Guerra Mundial, lutou ao lado da Alemanha. Com a derrota, a Grã -Bretanha e a França
(vencedoras) repartiram o Impé rio Otomano em zonas coloniais. Parte da populaçã o dos curdos ficou ao norte do Iraque,
submetida ao domínio britâ nico.

O desmembramento do Impé rio Otomano gerava as condiçõ es para o nascimento de um Estado Curdo, mas a descoberta de
jazidas de petró leo na regiã o e o temor da influê ncia da Revoluçã o Russa foram fundamentais para um rearranjo que
desencadeou feroz repressã o na Turquia, onde o idioma curdo foi proibido.

Pá gina 350

No Irã , durante a Segunda Guerra Mundial, os curdos, submetidos pelos iranianos, recuperaram terreno e força militar,
conseguindo formar um partido político, o Jiani Curdistan. Em fins de 1945, haviam libertado amplos territó rios e chegaram
a fundar, em 1946, a Repú blica de Mahabad, que durou apenas onze meses, até sua retomada pelo exé rcito iraniano. Essa
repú blica seguiu um modelo influenciado pelo socialismo e foi apoiado pelos sovié ticos. No entanto, pressionada pelos EUA
na Guerra Fria, a antiga Uniã o Sovié tica retirou o apoio à Repú blica Mahamad.

Na Síria, durante a dé cada de 60, o presidente Mohamed Talab Hilal, baseando-se na afirmaçã o de que os curdos nã o tê m
histó ria, língua ou origem é tnica, elaborou um plano de eliminaçã o da etnia. Alguns dos itens dessa política foram: dispersã o
da populaçã o curda; privaçã o de instruçã o, inclusive em língua á rabe; submissã o pela fome; colonizaçã o das á reas curdas
por á rabes puros e nacionalistas.

No final dos anos 60, reaparece a guerrilha curda no Irã e no Iraque e, em 1978, é fundado o Partido dos Trabalhadores
Curdos, na Turquia, que logo se transformaria na maior organizaçã o política e militar dos curdos.

O Iraque é o ú nico Estado da regiã o a reconhecer a existê ncia de uma etnia curda. A Constituiçã o iraquiana diz que o país é
á rabe e curdo, embora o governo nã o permita a autonomia da regiã o e reprima violentamente essa naçã o.

Durante a Guerra Irã × Iraque (1980-1988), os curdos se encontravam no meio da guerra. A Turquia, apoiada pela
Organizaçã o do Tratado do Atlâ ntico, praticou açõ es violentas e repressivas quando aldeias inteiras habitadas por civis
foram arrasadas. També m no Iraque, milhares de pessoas foram deportadas de suas regiõ es de origem e mais de mil
povoados foram destruídos.

Saddam Hussein aproveitou para utilizar suas tã o famosas armas químicas, causando a morte de 5 mil pessoas.

A luta pelo Curdistã o independente continua, apesar de dé cadas de repressã o. Mesmo repartido em países diferentes, o povo
curdo se identifica pela cultura, histó ria, ancestrais e língua. Variadas tê m sido as formas de resistê ncia dos curdos.

As rivalidades entre eles sã o fomentadas pelos países em que se localizam a fim de enfraquecer-lhes a luta.

Apesar do elevado nú mero de mortos, a luta da naçã o curda para a formaçã o do Estado do Curdistã o aparece muito pouco
nos meios de comunicaçã o internacionais e, quando é noticiada, a versã o dos países dominadores é quase sempre
apresentada como aceitá vel.

O silê ncio cú mplice do mundo ocidental é um dos principais incentivos para que os governos continuem massacrando a
populaçã o curda.

BERTELLO, E. Minimanual de pesquisa: Geografia. Minas Gerais: Claranto, 2005.

A resistência curda na Turquia

A resistê ncia curda na Turquia, liderada sobretudo pelo PKK, tem aumentado nos ú ltimos anos, tanto no campo político-
militar, como na defesa dos costumes e tradiçõ es do povo. É claro que sua luta representa um fator de instabilidade em toda
a regiã o. A Turquia pretendeu fazer aquilo que Saddam Hussein tentou e nã o conseguiu – destruir o PKK – e, com isso,
angariar novos trunfos para suas tentativas de integrar a Uniã o Europeia.

As forças políticas curdas legais estã o quase desaparecidas na Turquia. O Partido Trabalhista do Povo (HEP) foi proibido em
1993, e o Partido da Democracia, sucessor do HEP, també m foi proscrito. Muitos de seus dirigentes estã o presos ou exilados.
A tortura de prisioneiros curdos é amplamente utilizada, tendo sido denunciada por vá rias organizaçõ es internacionais de
direitos humanos.

A resistê ncia armada conta com aproximadamente 20 mil guerrilheiros, 200 mil milicianos e quase 5 milhõ es de
simpatizantes. També m melhoraram suas ligaçõ es com as organizaçõ es populares urbanas, os exilados e a oposiçã o turca.

Desde 1989 a Turquia utilizou, pelo menos em 29 ocasiõ es, armas químicas contra os redutos curdos nas montanhas, na
tentativa de exterminar a guerrilha do PKK. Nos ú ltimos 4 anos, essa guerra produziu uma mé dia de 2 500 vítimas anuais,
entre soldados, guerrilheiros e civis, estes ú ltimos os mais afetados. Em 1995, 35 mil soldados turcos voltaram a fustigar as
á reas controladas pelo PKK no Iraque. Por ser país-membro da Otan e aliado dos EUA, a Turquia nunca sofreu qualquer tipo
de sançã o internacional.

Apesar do elevado nú mero de mortos, essa guerra aparece muito pouco nos meios de comunicaçã o internacionais e, quando
é veiculada, prevalece a versã o turca. O silê ncio cú mplice do mundo ocidental é um dos principais incentivos para o governo
turco continuar massacrando a populaçã o curda.

IBN Khaldoun. Disponível em: <http://ibnkhaldoun.net.br/ curdistao1.htm>. Acesso em: 12 maio 2016.

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Capítulo 6 – Fundamentalismos
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELO ALUNO (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DESTE CAPÍTULO)

• Analisar criticamente o mundo contemporâ neo, considerando as complexidades das relaçõ es


sociais na atualidade.

• Contextualizar histó rica e geograficamente diversos tipos de fundamentalismo.

• Compreender sentidos, significados e prá ticas fundamentalistas.

• Analisar a importâ ncia do maniqueísmo para a construçã o de fundamentalismos.

• Apreender e se posicionar frente aos diversos tipos de fundamentalismo.

• Analisar criticamente a relaçã o entre fundamentalismo e terrorismo, e suas açõ es e reaçõ es,
através do instrumento de estudos de caso.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

• Utilização de questões durante as aulas: antes de iniciar um novo tó pico, escolha algumas
questõ es e apresente-as aos alunos. Peça a eles que as resolvam utilizando a bagagem de
conhecimentos que já trazem. Solicite que anotem suas dificuldades e dú vidas.

Pá gina 353

• Realização de trabalhos em grupo: o encontro entre os alunos, suas negociaçõ es, os


arranjos que realizam e os acordos que estabelecem sã o momentos muito profícuos de
aprendizagem. Além disso, ao ter de buscar, selecionar e organizar informaçõ es em mapas,
quadros, peças teatrais, ou mesmo organizar a apresentaçã o oral, os alunos desenvolvem não
somente seu senso crítico (pois poderã o encontrar informaçõ es conflitantes e terã o de saber
selecionar o que lhes interessa diretamente e o que nã o lhes interessa), como também a
habilidade de síntese. Nesse tipo de atividade, destaca-se o papel do professor como um
facilitador e orientador da aprendizagem e aos alunos é conferida a responsabilidade por seu
processo de formaçã o, o que é interessante sob a perspectiva do seu amadurecimento psíquico
e cognitivo. Se os trabalhos forem interdisciplinares, como sugeridos neste Manual, serã o
ainda mais interessantes, permitindo maior interaçã o no processo de ensino-aprendizagem.

• As atividades sugeridas reforçam o aprendizado e possibilitam a troca de informaçõ es e


opiniõ es entre os alunos. Consideramos extremamente relevante que os alunos também
pesquisem e nã o recebam tudo pronto, pois, dessa forma, estaremos estimulando-os a buscar o
conhecimento por meio da leitura de textos e imagens, e certamente eles terã o um universo
mais rico e uma bagagem cultural mais ampla.

• Filmes: uma forma de reforçar o estudo é a discussã o sobre filmes e o seu contexto histó rico.
O filme pode ser indicado ou passado na escola, e o olhar crítico do aluno fomentará o debate
em sala de aula.

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO


p. 148 Conexão de conhecimentos - O teatro do bem e do mal

Professor, a seguir indicamos algumas respostas possíveis para a atividade de sondagem, que
tem como finalidade o questionamento do viés maniqueísta adotado por governos e pela mídia
em relaçã o a diversos conflitos em escala global. As respostas podem tanto ser escritas, como
discutidas em um curto debate introdutó rio.

1. As imagens mostram as cenas reais e fictícias que reforçam o estereó tipo do bem contra o
mal. Elas realçam a ideia do Ocidente como o bem, propondo uma visã o simplista e
maniqueísta da realidade.

2. A verdade ú nica é a histó ria contada apenas sob uma ó tica sem considerar a versã o do
outro. É tida como uma doutrina, sem contestaçã o ou relativizaçã o. A “verdade” é a histó ria de
um dos lados e o outro é completamente ignorado.

3. Busca mostrar que a reaçã o a um ato de violência nã o deve ser também respondido com
violência, pois, desta forma, as sociedades nã o estarã o abertas ao diá logo e ao entendimento,
apenas ao conflito e à guerra.

p. 152 Atividade – Fundamentalismos

Professor, leia o texto em classe com os alunos, solicite a eles que respondam à s questõ es e, em
seguida, faça as correçõ es com uma discussã o sobre o tema.

1. a) O autor se refere ao processo de colonizaçã o desumano efetivado pelas potências, que


semeou o terror ente os países do Sul, deixando marcas indeléveis que ainda “sangram”.

b) O abandono do Sul colonizado, definido pelo autor como estado de ‘’prescindência’’ ou


ausência de utilidade, gera nas populaçõ es que estã o à s margens do sistema econô mico um
sentimento de decepçã o e desalento. Em determinadas situaçõ es, esses sentimentos podem se
transformar em revolta contra o Norte desenvolvido.

c) A globalizaçã o, entendida pelo autor como globocolonizaçã o, causa um nivelamento de


diferenças e ameaça as singularidades culturais. Isso afeta diretamente as religiõ es, que sã o
poderosos ingredientes na construçã o da identidade dos povos. Quando se sentem ameaçados
pelo processo de globalizaçã o, eventualmente parcelas da populaçã o de países dominados se
agarram à religiã o para autoafirmar-se. Nesses casos, o terrorismo pode explodir como uma
autodefesa ou uma contraofensiva dos fracos contra os poderosos. Casos assim sã o frequentes
nas naçõ es islâ micas, submetidas a processos de modernizaçã o e ocidentalizaçã o.

Pá gina 354

p. 154 Atividade – Análise do fato com toda a sua complexidade

Professor, seria interessante que o texto dos alunos destacasse temas como a legalidade e a
legitimidade das operaçõ es externas efetivadas como “ato de revide” em decorrência de
ataques terroristas. Nesse caso, seria proveitoso que você fizesse um questionamento a
respeito de temas, incluindo a ética e alteridade nesses contextos.

Em seu livro, Noam Chomsky chama a atençã o do leitor para os pesos e medidas diferentes em
relaçã o à s açõ es terroristas. Muitos atentados sã o domésticos, isto é, arquitetados por nativos
do país e nã o por estrangeiros. A política estadunidense e inglesa para esses casos é a de
investigar, prender, julgar e sentenciar os responsá veis, unicamente. Dã o ainda o direito a
defesa ao réu, ainda que o delito seja assumido. Quando se trata de açã o internacional, a
proposta imediata é o ataque ao país que, supostamente, acoberta o grupo infrator. É como se
todo o país fosse terrorista como o grupo extremista. Quando essa ideia toma corpo, as açõ es
militares intervencionistas sã o aceitas e respaldadas pela populaçã o. Os atos de revide,
invariavelmente, incluem o uso da força, o que leva pâ nico e sofrimento aos civis.

p. 159 Atividade – A “ética” da guerra

O primeiro ponto do projeto é o entendimento por parte dos alunos que em um conflito
armado existem regras assumidas mundialmente. A Convençã o de Genebra estabelece os
parâ metros dos atos de guerra. Qualquer infraçã o nesse sentido pode desencadear processo e
julgamento no Tribunal Penal Internacional, situado em Haia, na Holanda.

Assistir à animaçã o Normas da guerra (em poucas palavras) é essencial para que os alunos
tenham as noçõ es gerais da chamada “ética” da guerra.

Uma vez que esses princípios estejam introjetados, é hora de partir para a aná lise crítica.
Muitas das açõ es militares das forças de coalizaçã o ocidental que agiram no Afeganistã o e no
Iraque desrespeitaram as normas de guerra. A mídia divulgou as torturas nas prisõ es militares
de Guantá namo e Abu Ghraib, mas uma pesquisa mais minuciosa se faz necessá ria.

Embora nã o esteja citada no livro do aluno, uma das principais empresas (denominadas
“contractors”) que operaram com destaque no Iraque e em outras açõ es foi a chamada
Blackwater, atualmente Academi. Ela e outras empresas funcionaram como “terceirizadas” na
ocupaçã o do Iraque, tendo assumido o controle de tropas privadas, eventualmente
denominadas “mercená rias”. Pelo fato de nã o serem diretamente administradas pelas forças
armadas dos Estados Unidos, esses agrupamentos se notabilizaram pela violência, e por
diversos casos de assassinato e tortura de civis.

Na verdade, a invasã o do Iraque em 2003 rendeu vá rios contratos milioná rios para as
empresas dos Estados Unidos, sendo o maior destaque a pró pria Halliburton, contratada para
diversas obras de recuperaçã o de infraestrutura no país. A Halliburton na época era presidida
por Dick Cheney, vice-presidente de George W. Bush (2001-2009).

Recomendamos dois textos de apoio:

BANDEIRA, L. A. M. Os Estados Unidos e a arte da tortura. Revista Espaço Acadêmico, n. 51, ago.
2005. Disponível em: <www.espacoacademi co.com.br/051/51bandeira.htm>. Acesso: 12
maio 2016.

NASSER, R. M.; PAOLIELLO, T. O. Uma nova forma de se fazer a guerra? Atuaçã o das Empresas
Militares de Segurança Privada contra o terrorismo no Iraque. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v. 23,
n. 53, mar. 2015. Disponível em: <www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
44782015000100027>. Acesso: 12 maio 2016.

Os estudantes podem criar um projeto de texto com posicionamento crítico e apresentar para
os professores. O processo de embasamento crítico e o produto final, a apresentaçã o, podem
ser usados como avaliaçã o.

p. 170 Atividade – Construção de um mapa mental sobre o Estado Islâmico

Professor, diferentemente do mapa conceitual, o mapa mental permite que sejam feitas apenas
associaçõ es, sem a necessidade de hierarquizá -las.
Essa atividade é interessante para estimular os alunos a criar sínteses através dessa técnica. A
ideia das cores dos retâ ngulos é importante para diferenciar as estratégias e os objetivos do
grupo extremista.

No caso da temá tica abordada, os estudantes podem usar o pró prio texto do livro para compor
o seu mapa mental. Pode-se criar novos retâ ngulos, inclusive com explicaçõ es.

Esse diagrama pode ser montado em computador utilizando um software de ediçã o de texto.

Pá gina 355

Estado Islâmico

Controle das jazidas e refinarias de petró leo e gá s.

Violência extrema em relaçã o a todos os considerados “infiéis”. A populaçã o curda tem sido um
alvo preferencial do Estado Islâ mico.

Criaçã o de um califado e uma política que controle todos os muçulmanos do mundo.

Derrubada dos governos xiitas do Iraque e da Síria.

Irã se prontificou a enviar tropas para combater o Estado Islâ mico.

Rú ssia: já promoveu bombardeios aos alvos do Estado Islâ mico.


A maior parte dos Estados nacionais se opõ e ao Estado Islâ mico em funçã o das suas prá ticas
desumanas e violentas.

Famílias da Ará bia Saudita.

A elite saudita teme que os xiitas possam ganhar força na regiã o.

Parte dos sunitas do Iraque e da Síria.

Os sunitas do Iraque querem restabelecer a rede de proteçã o que tinham na época de Saddam
Hussein e os sunitas da Síria desejam derrubar o governo Assad.

p. 174 Questões de Enem e vestibular

1. (Enem) D

Em 2012, a Palestina foi aceita na ONU como Estado Observador. Desta forma, ela passa a ser
reconhecida como autoridade jurídica, embora ainda nã o tenha o mesmo status dos países-
membros.

2. (UEPB) A

A Primavera Á rabe se iniciou na Tunísia mediante a insatisfaçã o popular com a situaçã o


socioeconô mica vigente. Desemprego e corrupçã o levaram o jovem tunisiano a atear fogo ao
pró prio corpo em protesto contra o governo autoritá rio e distante das necessidades
populacionais.

3. (FGV-RJ) D

O entã o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pertence ao partido Likud (direita


mais conservadora) e se opõ e à criaçã o de um Estado Palestino independente. Ele considera
que a existência de um Estado Palestino livre coloca em risco a segurança dos israelenses.
Prova disso é a manutençã o do muro da Cisjordâ nia e os constantes ataques impetrados na
faixa de Gaza. O Hamas, por sua vez, responde aos ataques com violência, acirrando o conflito.

4. (Unesp) B

A guerra preventiva do ex-presidente estadunidense George W. Bush pode ser entendida como
uma arbitrariedade e um fundamentalismo de Estado. Bush invocou o artigo 51 da ONU, que
prevê os ataques em legítima defesa. Contudo, isso só pode acontecer mediante um ataque de
fato, nã o apenas uma ameaça.

5. (PUC-RJ)

a) A Primavera Á rabe foi um movimento reivindicando democracia e mais açõ es


governamentais em prol da sociedade. Os países da Primavera Á rabe possuem disparidades
sociais que foram agravadas pela crise econô mica mundial e grande sectarismo étnico-cultural.

Pá gina 356

O movimento se espalhou rapidamente devido à semelhança entre eles na situaçã o política e


social.
b) Na Síria, o conflito eclodiu com os rebeldes contrá rios ao governo ditatorial de Bashar al-
Assad. A maioria da populaçã o é sunita, enquanto o governo é xiita alauíta. O conflito na Síria
se tornou uma guerra civil, na medida em que os rebeldes e os grupos fiéis a Assad se
armaram. Há claros indícios da participaçã o externa no conflito, a exemplo do Ará bia Saudita,
do Catar, da Turquia, dos Estados Unidos e da Síria.

6. (Unicamp-SP)

a) O povo curdo se encontra em territó rios da Turquia, Iraque, Síria, Irã e Armênia, e reivindica
a criaçã o de um Estado curdo – o Curdistã o.

b) O Estado Islâ mico é um grupo fundamentalista de orientaçã o sunita. Reivindica a criaçã o de


um califado, ou seja, de uma organizaçã o que represente todos os muçulmanos do mundo. Age
de forma violenta nos territó rios da Síria e do Iraque. Declara guerra aos infiéis, assassinando
todos aqueles que se opõ em à conversã o forçada ou ao seu mando. É implacá vel com as
mulheres e impõ e o trabalho aná logo à escravidã o. Vende os recursos naturais de forma
clandestina e, com o dinheiro, adquire novas armas. Possivelmente recebe ajuda externa com a
intençã o de impedir a ascensã o dos grupos xiitas na regiã o. Utiliza o confisco de bens e armas e
recruta centenas de pessoas que estã o em situaçã o de vulnerabilidade econô mica, com
destaque para os sunitas do Iraque.

7. (UFSJ-MG) D

A Primavera Á rabe se notabilizou pelas reivindicaçõ es de democracia e maior atençã o à s


questõ es sociais em alguns países do Norte da Á frica e do Oriente Médio. Na Síria, o conflito
adquiriu ares de guerra civil, impelindo milhares de pessoas ao exílio. Segundo o secretá rio
geral da ONU, é a maior crise humanitá ria em tempos recentes.

p. 176 A notícia em diversas óticas

Professor, o texto deve conter uma proposta que contemple a alteridade. Isso só é possível pelo
conhecimento. Conhecer e entender as diferentes culturas e povos é o primeiro passo para
eliminar a intolerâ ncia. També m é fundamental que a informaçã o seja pesquisada em fontes
diversas para que as notícias sejam comparadas. Só assim é possível emitir opiniõ es e ter um
posicionamento crítico.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

Professor, nessa seçã o do Manual, indicamos um livro para seu estudo e formaçã o:
Fundamentalismo, de Leonardo Boff, que explora o conceito e a origem do fundamentalismo,
apresentando um panorama histó rico da globalizaçã o e sua relaçã o com conflitos pelo mundo.
Se considerar pertinente, pode aproveitá lo também em suas aulas.

BOFF, L. Fundamentalismo: a globalizaçã o e o futuro da humanidade. Sã o Paulo: Sextante,


2002.

BOUAMAMA, S. et al. Mais que nunca é preciso combater a islamofobia. Disponível em:
<http://indigenes-republique.fr/mais-que-nun ca-e-preciso-combater-a-islamofobia>. Acesso
em: 12 maio 2016.

MONGE, Y. Islamofobia, o preço do medo nos EUA. El Pais, 23 nov. 2015. Disponível em:
<http:// brasil.elpais.com/brasil/2015/11/21/internacional/1448146095_804494.html>.
Acesso em: 12 maio 2016.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, P. et al. Balanço do neoliberalismo. Pós- - neoliberalismo: as políticas sociais e o
Estado democrá tico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

BANDEIRA, M. Formação do Império Americano: da guerra contra a Espanha à guerra no


Iraque. Rio de Janeiro: Record, 2005.

CHOMSKY, N. A nova guerra contra o terror. Estudos Avançados, v. 16, n. 44, p. 5-33, 2002.
Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
40142002000100002&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 16 maio 2016.

COCKBURN, P. As origens do Estado Islâmico. Sã o Paulo: Autonomia Literá ria, 2015.

ISBELLE, S. A. O Estado Islâmico e sua organização: sistema político, sistema econô mico,
sistema jurídico, sistema penal, conceito de jihad. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007.

JOFFÉ , G. A Primavera Á rabe no Norte de Á frica: origens e perspectivas de futuro. Relações


Internacionais, n. 30, p. 85-116, 2011.

Pá gina 357

FERABOLLI, S. Entre a revoluçã o e o consenso: os rumos da Primavera Á rabe. Ciências &


Letras, Porto Alegre, n. 51, 2012.

ROCHE, A. A. E. A primavera do mundo á rabe-sunita: o Islã á rabe-sunita entre o Wahhabismo


conservador e o espírito crítico, entre a política do petró leo e a independência econô mica.
Conjuntura Austral, v. 2, n. 7, p. 3-15, 2011.

VISENTINI, P. F. et al. O verã o á rabe: guerra civil e intervençã o internacional na Líbia, Síria e
Iêmen. Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 51, 2012.

Capítulo 7 – A África no contexto da geopolítica


mundial
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO)

• Compreender o contexto histó rico em que ocorreu a colonizaçã o africana.

• Analisar o continente Africano com base nos interesses das superpotências no período da
Guerra Fria.

• Observar e dispor de postura crítica quanto à s consequências de séculos de exploraçã o


econô mica e política da Á frica.

• Posicionar-se diante de dados e informaçõ es.

• Ter capacidade de discernimento para questõ es de ordem natural e política.

• Julgar pontos de vista divergentes.


• Compreender as transformaçõ es em curso no continente africano.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

Esse capítulo aborda questõ es geopolíticas atuais do continente africano. Procura discutir a
historicidade do contato desse continente com outros e também as suas consequências. A
partir de algumas atividades, busca problematizar a abordagem e os riscos de uma
“histó ria/discurso ú nico” em relaçã o a esse imenso continente. É muito importante que os
alunos entendam as origens das desigualdades econô micas e sociais sob a ó tica da
manipulaçã o política e do poder. Saliente que o chamado “darwinismo social” foi uma ideologia
criada para justificar as diferenças entre países e pessoas com base na “sobrevivência do mais
apto” e, assim, mascarar a responsabilidade das potências, em diferentes períodos da histó ria,
sobre a pilhagem feita no continente africano.

A seguir, um trecho de um texto de Henrique Cunha Jr. coloca o assunto dentro do enfoque dos
PCN.

A inclusão da história africana no tempo dos Parâmetros Curriculares Nacionais

A ausê ncia da histó ria africana é uma das lacunas de grande importâ ncia nos sistemas educacionais brasileiros. Essa
ausê ncia tem […] consequê ncias sobre a populaçã o brasileira. Tomando o ambiente brasileiro como de exclusõ es é tnicas, os
quais denominamos racismos, existe um processo de criaçã o de credos sobre a inferioridade do negro, do africano e dos
afrodescendentes. Dessa forma, a ausê ncia de uma histó ria africana, em primeiro lugar, retira a oportunidade dos
afrodescendentes de construírem uma identidade positiva sobre as nossas origens. Segundo, a ausê ncia abre espaço para
hipó teses preconceituosas, desinformadas ou racistas sobre as nossas origens, criando, assim, terreno fé rtil para produçã o e
difusã o de ideias erradas e racistas sobre as origens da populaçã o negra. Alimenta um universo do africano e
afrodescendente como ignorante, inculto, incivilizado. Os seres vindos da tribo dos homens nus. É o eixo central
determinante dos conceitos inferiorizantes sobre nó s, negros, no país. Em terceiro lugar a ausê ncia da histó ria africana
coloca a apresentaçã o dos continentes e das diversas culturas no mundo em desigualdade de informaçã o sobre os conteú dos
apresentados pela educaçã o. Visto termos uma ampla abordagem da histó ria europeia, a ausê ncia da histó ria africana nos
currículos induz à ideia de que ela nã o existe. Que ela nã o faz parte do conhecimento a ser transmitido. […]

CUNHA JÚ NIOR, H. A inclusã o da histó ria africana no tempo dos parâ metros curriculares nacionais. In: A Cultura Negra no
currículo escolar. Cadernos de Educação, p. 17-30, 2007.

Uso de imagens e filme

Os adolescentes ficam bastante sensibilizados com imagens, assim o estudo do capítulo pode
ser iniciado a partir de um olhar sobre o mapa político da Á frica e um questionamento sobre as
fronteiras retilíneas. Professor(a), instigue sem dar respostas, apenas observando as respostas
dos alunos. Num segundo momento, exponha a questã o da Conferência de Berlim e, em
seguida, exiba o filme Amistad.

Amistad. Direçã o: Steven Spielberg. Estados Unidos, 1997, 155 min. Classificaçã o: 12 anos.

Pá gina 358

Resumo disponível na fonte:

Na costa de Cuba, em 1839, dezenas de escravos negros se libertam e assumem o comando do


navio La Amistad. Eles almejam retornar à Á frica, mas sã o obrigados a confiar em dois
tripulantes sobreviventes, os quais os traem e os levam a ser capturados por um navio
americano. Inicialmente julgados pelo assassinato da tripulaçã o, o caso fica polêmico e chega à
Suprema Corte Americana. A condenaçã o é apoiada pelo presidente Martin Van Buren e
envolve o ex-presidente John Quincy Adams, um abolicionista, que defende os africanos.
Uma aná lise do filme poderia ser cobrada como avaliaçã o em grupo, juntamente com uma
pesquisa sobre o assunto. Os alunos podem trazer informaçõ es, fazer uma discussã o prévia
sobre o filme e responder a algumas questõ es propostas pelo professor.

Mantendo os alunos atualizados

Semanalmente, os alunos podem pesquisar, em grupos, temas recentes sobre a Á frica,


montando cartazes com imagens e apresentando-os para a classe nos quinze minutos iniciais
da aula. Os cartazes podem ser afixados em um local designado para que todos possam
observá -los e para que o assunto seja assimilado pela classe. Essa atividade mantém os alunos
atualizados e estimula a pesquisa e a leitura crítica.

Aula expositiva dialógica

As explicaçõ es do professor sã o sempre indispensá veis, porém é importante permitir aos


alunos entrar em contato com o assunto antes da sua exposiçã o. Trabalhe os conceitos, as
análises críticas, instigue-os a expor suas ideias e atue como um mediador de opiniõ es
abalizadas cientificamente. Procure, sobretudo, desmistificar a ideia da Á frica como “um país”
e da Á frica como “tribos”. Aproveite a atividade sobre Chimamanda Adichie para
problematizar com eles a questã o de uma histó ria ú nica para todo o continente.

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E AS ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 178 Conexão de conhecimentos - África: riqueza x pobreza

A ideia é levar os estudantes a compreender as contradiçõ es presentes na Á frica. Esse imenso


continente é, de fato, extremamente rico, porém suas riquezas sã o apropriadas por uma
minoria ou estã o sob controle de grandes corporaçõ es internacionais. Sua agropecuá ria é
controlada por empresas estrangeiras, que investem emcommodities e ao mesmo tempo
expulsam as populaçõ es camponesas locais.

O subsolo é explorado muitas vezes por milícias, que usam a riqueza para adquirir armas.
Desse modo, enormes contingentes de africanos sã o cotidianamente assolados pelos dois tipos
de fome aos quais se refere Josué de Castro: tanto a fome crô nica, como a aguda.

p. 182 Atividade – Ameaças aos ecossistemas africanos na atualidade

Professor, essa atividade deverá ser desenvolvida em grupos e os resultados, discutidos em


classe. É importante, na orientaçã o dos trabalhos, considerar que a mineraçã o envolve
segmentos ligados ao petró leo e minerais; a agropecuá ria implica em produçã o de
commodities e formas de agricultura tradicionais; a urbanizaçã o/industrializaçã o deve
considerar aspectos climá ticos e relacionados ainda à ocupaçã o de á reas de nascentes,
manguezais etc., e o turismo em geral é voltado à caça de grandes animais até à conservaçã o
ambiental.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

AQUINO, G. Agronegócio ameaça soberania de países africanos, afirma diretor da FAO. MST.
Disponível em: <www.mst.org.br/2014/02/26/ agronegocio-ameaca-soberania-de-
paisesafricanos-afirma-diretor-da-fao.html>. Acesso em: 16 maio 2016.

BRITO, B. J. B. F. da R. Preservaçã o ambiental e turismo de natureza em á rea protegida:


iniciativas e experiências em contexto africano. Nature and Conservation, Aquidabã , v. 6, n. 1,
nov.-dez. 2012, jan.-abr. 2013. Disponível em: <www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/pdf/
preservacao-ambiental-e-turismo-de-naturezaem-area-protegida-iniciativas-e-
experienciasem-contexto-africano.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.

BRITO, B. R. Turismo em meio insular africano: aná lise comparativa de impactos.


ambientalMEN- TEsustentable, ano V, v. 1, n. 9-10, p. 157-177, 2010. Disponível em:
<https://dialnet.unirioja. es/descarga/articulo/3610516.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.

______. Turismo em meio insular africano: potencialidades, constrangimentos e impactos.


Disponível em: <http://hdl.handle. net/10071/11090>. Acesso em: 16 maio 2016.

MATOS, E. A. C. de; MEDEIROS, R. M. V. Conservaçã o e desenvolvimento de comunidades


tradicionais: o caso de Chimanimani no centro de Moçambique. Geo UERJ, ano 13, n. 22, v. 1,
2011. Disponível em: <www.e-publicacoes. uerj.br/index.php/geouerj>. Acesso em: 16 maio
2016.

Pá gina 359

Á reas protegidas em Á frica. Janus: anuá rio de relaçõ es exteriores. Disponível em:
<www.janusonline.pt/popups2010/2010_3_5_7.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.

OLALDE, M. O legado assombroso das minas de ouro da Á frica do Sul. (Relató rio). Yale
environment 360. Disponível em: <http://e360yale. universia.net/o-legado-assombroso-das-
minasde-ouro-da-africa-do-sul/?lang=pt-br>. Acesso em: 16 maio 2016.

TUBINO, N. Á frica: o agronegó cio é a nova versã o do colonialismo. Carta Maior, 05 de maio de
2015. Disponível em: <http://cartamaior. com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/africa-
oagronegocio-e-a-nova-versao-do-colonialismo/3/33388>. Acesso em: 16 maio 2016.

Poluição do carvão em Moçambique não se resolve apenas com mais árvores. Deutsche Welle.
Disponível em: <www. dw.com/pt/polui%C3%A7%C3%A3odo-carv%C3%A3o-em-mo
%C3%A- 7ambique-n%C3%A3o-se-resolve -apenas-com-mais-%C3%A1rvores/ a-
16540625>. Acesso em: 16 maio 2016.

WORLD RAINFOREST MOVEMENT. O desenvolvimento do setor extrativo e os impactos sobre


as comunidades e a biodiversidade nos países da Bacia do Congo, na Á frica Central. Disponível
em: <http:// wrm.org.uy/pt/artigos-do-boletim-do-wrm/ secao1/o-desenvolvimento-do-
setor-extrativoe-os-impactossobre-as-comunidades-e-abiodiversidade-nos -paises-da-bacia-
do-congona-africa-central>. Acesso em: 16 maio 2016.

p. 191 Atividade – Diamante de sangue

Esse filme mostra a relaçã o entre riquezas e guerras no continente africano. Motive os alunos a
assistir ao filme, solicitando a eles que façam uma síntese dos problemas e questõ es abordadas
no filme e possibilite a discussã o em um debate posterior com a classe.

p. 192 Atividade – A África e suas relações com o mundo branco, cristão e ocidental

Organize a turma em seis grupos. Cada grupo se encarregará de uma etapa.

O grupo 1 deverá problematizar os processos de colonizaçã o do continente africano, em


relaçã o à s ideologias da “missã o civilizató ria” do branco e suas repercussõ es culturais,
religiosas, políticas e econô micas.
O grupo 2 deverá abordar historicamente o processo de descolonizaçã o e a construçã o do
panafricanismo.

O grupo 3 deverá aprofundar a relaçã o entre a Guerra Fria e a açã o dos países africanos na
Conferência de Bandung.

O grupo 4 deverá detalhar a açã o da ONU em relaçã o aos conflitos no continente ainda na
Guerra Fria.

O grupo 5 deverá detalhar a criaçã o da OUA e suas açõ es atuais como mediador de conflitos e
açõ es econô micas e sociais.

O grupo 6 deverá detalhar a açã o das ONGs citadas do continente.

Cada grupo deverá efetuar a pesquisa, redigir o texto e complementá -lo com pesquisa
iconográ fica e cartográ fica. Em seguida, deverã o elaborar um resumo para os colegas e
preparar uma apresentaçã o utilizando slides.

Algumas referências:

AJAYI, J. F. A. de. História Geral da África: Á frica do século XIX à década de 1880. v. VI. Brasília:
Unesco, 2010.

BOAHEN, A. du. História Geral da África: Á frica sob dominaçã o colonial (1880-1935). v. VII.
Brasília: Unesco, 2010.

DEL PRIORI, M.; VENÂ NCIO, R. P. Ancestrais: uma introduçã o à Histó ria da Á frica Atlâ ntica. 4.
ed. Sã o Paulo: Elsevier/Campus, 2004.

LIEBIG, S. M. Artérias raciais no coração do mundo: império e impropério em Joseph Conrad e


Chinua Achebe. XIII Encontro da ABRALIC Internacionalizaçã o do Regional, 10 a 12 out. 2012
UEPB/UFCG – Campina Grande (PB). Disponível em:
<http://editorarealize.com.br/revistas/abra- lic/trabalhos/c33a02901e58984344c7800bc-
286c0ad_344_102_.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.

MAGNOLI, D. Uma gota de sangue: histó ria do pensamento racial. Sã o Paulo: Contexto, 2015.

MAZRUI, A. A.; WONDJI, C. História Geral da África: Á frica desde 1935. v. VIII. Brasília: Unesco,
2010.

Professor, a coletâ nea da UNESCO completa sobre a Histó ria da Á frica desde a antiguidade (8
volumes) está disponível para download gratuito no seguinte endereço:
<www.unesco.org/new/ pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/
general_history_of_africa_collection_in_portuguese-1/#.VzNR74QrJD8>. Acesso em: 16 maio
2016. Recomendamos o material para estudo e aprofundamento sobre o continente africano.

Pá gina 360

p. 193 Atividade – O perigo de uma história única

Apó s assistir à palestra de Chimamanda Adichie, indicaçã o da 1ª etapa, os grupos devem


discutir as questõ es propostas na 2ª etapa.
1. A partir da literatura. Primeiro, ela lia somente livros ingleses ou estadunidenses que
falavam de uma realidade que não era a dela, mas que ajudava a conformar determinada visã o
de mundo. Ao descobrir a literatura e os escritores africanos, ela percebeu a importâ ncia de
falar sobre si mesma, a importâ ncia de sua singularidade e de contar histó rias relacionadas a
seu lugar de vivência e sua realidade. Ela começou a reconhecer uma histó ria ú nica quando
visitou a família do menino que foi morar em sua casa e viu o lindo cesto feito por seu tio;
quando, ao ir estudar nos EUA, percebeu que sua colega de quarto tinha uma ú nica impressã o
sobre a Á frica – considerada como “um país”, ao invés de um continente; quando visitou o
México e percebeu a diferença entre o que era “contado” pelos meios de comunicaçã o sobre os
imigrantes e a realidade dos habitantes de Guadalajara. Ela destaca a influência que uma
“histó ria ú nica” tem para a formaçã o de crianças e jovens e afirma à necessidade de contar
muitas e diferentes histó rias.

2. Essa palavra remete à s estruturas de poder e significa, em Igbo, “ser maior que o outro”.
Assim, a escritora faz referência à necessidade de construir uma imagem positiva de si a partir
da imagem negativa do outro, seja na escala pessoal ou até mesmo nacional, quando
relacionada aos diferentes Estados nacionais.

3. Manter as estruturas de poder e dominaçã o em diversas escalas; provocar o estranhamento


em relaçã o ao outro, criar e manter estereó tipos. Uma histó ria ú nica, de acordo com
Chimamanda, dificulta o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada, rouba das
pessoas sua dignidade e enfatiza as diferenças, ao invés das semelhanças.

A terceira etapa deve envolver toda a sala em um debate. Os estudantes discutirã o quais os
reais perigos de uma histó ria ú nica, exemplificando com situaçõ es do cotidiano local, e se
existe uma histó ria ú nica sobre o seu país, a sua cidade, ou sobre o seu bairro. As respostas
deverã o variar muito. Estimule a prá tica do ouvir, respeitar e reconhecer o outro e sua
humanidade.

p. 195 Atividade – Simulação da União Africana

Professor, você deverá atuar como mediador. Estimule os grupos a pesquisar mais
profundamente sobre cada país membro da OUA e a pró pria estrutura dessa organizaçã o. A
partir daí, cada grupo deverá escolher um país para representar no fó rum de discussã o.

Aproveite, para essa atividade, as pesquisas realizadas pelo grupo 6 na atividade sobre a Á frica
e suas relaçõ es com o mundo branco, cristã o e ocidental.

Os alunos deverã o simular um fó rum de debates internacional. Estimule-os a construir


argumentos, estabelecer o debate e, especialmente, redigir um texto como se fosse uma
resoluçã o – semelhante à quelas da ONU, por exemplo.

p. 197 Atividade – Interpretação de charge

1. A charge critica o fato de conflitos que ocorreram com povos brancos devem ser
continuamente lembrados, a fim de evitar que voltem a acontecer.

2. Porque o conflito, além de “esquecido” pela mídia, continua a ocorrer e a matar e/ou
deslocar milhares de pessoas.

p. 204 Questões de Enem e vestibular

1. (Enem) E
Uma característica que prevalece no setor agroexportador da maioria dos países africanos é o
fato de as terras ainda se encontrarem concentradas nas mã os de empresas internacionais
produtoras de alimentos. Como consequência, observa-se o deslocamento populacional para
á reas com terras menos férteis e uma desarticulaçã o da produçã o alimentícia local.

2. (Enem) E

Como tratado na atividade de fechamento do capítulo, a açã o desse grupo de mulheres em


torno da fronteira verde da Á frica tem por finalidade evitar a expansã o desertificaçã o.

3. (UFSC) 02 + 04 + 32 = 38

A questã o aborda a historicidade do processo de ocupaçã o africana pelo Europeu. Assim, estã o
corretas as alternativas 02, 04 e 32.

Pá gina 361

4. (ESPM-SP) B

A epidemia afetou mais profundamente a Á frica Ocidental. Mas, em 2015, foi considerada
controlada pela OMS.

5. (Uern) A

A questã o faz referência à atuaçã o dos janjaweed na regiã o de Darfur.

6. (Udesc) E

A questã o aborda aspectos gerais da Á frica, sendo que todas as alternativas estã o corretas.

7. (Uerj) D

O mapa evidencia os problemas relativos ao acesso e ao abastecimento de á gua na Á frica


Subsaariana.

8. (UFRGS-RS) C

Outra questã o que aponta para o processo histó rico de ocupaçã o do continente, destacando
sua partilha na conferência de Berlim.

p. 206 A notícia em diversas óticas

Professor, nã o há uma ú nica possibilidade de resposta. Estimule a leitura dos textos, a


realizaçã o dos debates em classe e as propostas apresentadas pelos estudantes. Se puder,
problematize: essas soluçõ es poderiam ser aplicadas também à realidade brasileira?

A ideia dessa atividade é problematizar a relaçã o entre riqueza e pobreza no continente e,


simultaneamente, destacar açõ es dos pró prios africanos em defesa do ambiente e de seus
modos de vida – a fim de desmistificar a histó ria ú nica.
Estimule os alunos a pensar e propor outras açõ es a fim de possibilitar o conhecimento da
realidade africana para além de miséria, opressã o e doenças – que sã o reais, mas nã o
representam todo o continente – e discuta suas propostas em classe.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

Professor, nessa seçã o apresentamos mais alguns textos para aprofundamento no tema. Se
considerar pertinente, pode aproveitá -los também em suas aulas.

A Nigéria e a história de Amina Lawal: Condenação à pena de morte por apedrejamento


choca o mundo

Amina Lawal transformou-se num símbolo da luta pelos direitos da mulher e sua histó ria corre o mundo via internet.
Sentenciada por um decreto islâ mico, ela foi condenada à pena de morte por apedrejamento em razã o de ter um filho sem
estar casada.

Segundo a Constituiçã o da Nigé ria, os processos sobre penas capitais devem passar pelo crivo do presidente da Repú blica,
que pode anular a sentença. Uma decisã o difícil para o cristã o Olusegun Obasanjo, já que 50% da populaçã o nigeriana é
muçulmana.

A Nigé ria possui 115 milhõ es de habitantes, que, divididos em mais de duas centenas de grupos é tnicos, desde os anos 1960,
se dilaceram numa guerra tribal. No norte, há maioria islâ mica (haussas e fulanis) e, no sul, a dominaçã o é cristã (ibos e
iorubas).

Até 1967, a Nigé ria era formada por uma federaçã o de quatro regiõ es, mas, em razã o dos conflitos tribais, foi desmembrada
em doze Estados. A mudança pretendia reduzir a força da etnia ibo, que controlava as á reas petrolíferas.

Refratá rios à nova ordem, líderes ibos declararam a independê ncia da regiã o e criaram a Repú blica da Biafra, em maio de
1967. Apó s quatro anos de conflito, os separatistas foram derrotados e 1 milhã o de pessoas morreram.

Apó s dé cadas de regime militar e de sucessivos golpes de Estado, o oitavo produtor mundial de petró leo enfrenta a tensã o
entre cristã os e muçulmanos. O caso de Lawal revela a tensã o entre a ordem constitucional e a tradiçã o religiosa. Numa
demonstraçã o iné dita de solidariedade mundial via internet, o planeta pressiona as autoridades para evitar mais uma
violaçã o dos direitos humanos.

CANDELORI, R. Folha de S.Paulo. 1 nov. 2003. Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-


disciplinas/atualidades/a-nigeriana-amina-lawal-e-os-direitos-da-mulhercondenacao-a-pena-de-morte-por-
apedrejamento-choca-o-mundo. htm>. Acesso em: 16 maio 2016.

Adeus à hora da largada

Minha Mã e
(todas as mã es negras cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis

Mas a vida
matou em mim essa mística esperança
Eu já nã o espero
sou aquele por quem se espera
Sou eu minha Mã e
a esperança somos nó s
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida

Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos nos areais
[ao meio-dia]
somos nó s mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde nã o chega a luz elé trica
os homens bê bedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mã e
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nó s mesmos
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da aboliçã o desta escravatura

Pá gina 362

Nó s vamos em busca de luz


os teus filhos Mã e
(todas as mã es negras cujos filhos partiram)
Vã o em busca de vida.

NETO, A. Disponível em: <www.agostinhoneto.org/index. php?option=com_content&view=article&id=610:partida-para-o-


contrato&catid=45:sagrada-esperanca&Itemid=233>. Acesso em: 16 maio 2016.

No site, você encontrará a biografia do autor e outras obras e poemas que poderá usar em suas
aulas.

Os porquês da fome na África

Vivemos em um mundo de abundâ ncia. Hoje [2011] se produz comida para 12 bilhõ es de pessoas, segundo dados da
Organizaçã o das Naçõ es Unidas para a Agricultura e a Alimentaçã o (FAO), quando no planeta habitam 7 bilhõ es. Comida
existe. Entã o, por que uma em cada sete pessoas no mundo passa fome?

A emergê ncia alimentar que afeta mais de 10 milhõ es de pessoas no Chifre da Á frica voltou a colocar na atualidade a
fatalidade de uma catá strofe que nã o tem nada de natural. Secas, inundaçõ es, conflitos bé licos(…) contribuem para agudizar
uma situaçã o de extrema vulnerabilidade alimentar, mas nã o sã o os ú nicos fatores que a explicam.

A situaçã o de fome no Chifre da Á frica nã o é novidade. A Somá lia vive uma situaçã o de insegurança alimentar há 20 anos. E,
periodicamente, os meios de comunicaçã o nos atingem em nossos confortá veis sofá s e nos recordam o impacto dramá tico da
fome no mundo. Em 1984, quase um milhã o de pessoas mortas na Etió pia; em 1992, 300 mil somalis faleceram por causa da
fome; em 2005, quase cinco milhõ es de pessoas à beira da morte no Malaui, só para citar alguns casos.

Causas políticas

A fome nã o é uma fatalidade inevitá vel que afeta determinados países. As causas da fome sã o políticas. Quem controla os
recursos naturais (terra, água, sementes) que permitem a produçã o de comida? A quem beneficiam as políticas agrícolas e
alimentares? Hoje, os alimentos se converteram em uma mercadoria e sua funçã o principal, alimentar-nos, ficou em segundo
plano.

Aponta-se a seca, com a consequente perda de colheitas e gado, como um dos principais desencadeadores da fome no Chifre
da Á frica, mas como se explica que países como Estados Unidos ou Austrá lia, que sofrem periodicamente secas severas, nã o
sofram fomes extremas? Evidentemente, os fenô menos meteoroló gicos podem agravar os problemas alimentares, mas nã o
bastam para explicar as causas da fome. No que diz respeito à produçã o de alimentos, o controle dos recursos naturais é
chave para entender quem e para que se produz.

Em muitos países do Chifre da Á frica, o acesso à terra é um bem escasso. A compra massiva de solo fé rtil por parte de
investidores estrangeiros (agroindú stria, governos, fundos especulativos) tem provocado a expulsã o de milhares de
camponeses de suas terras e diminuído a capacidade desses países de se autoabastecerem. Assim, enquanto o Programa
Mundial de Alimentos tenta dar de comer a milhõ es de refugiados no Sudã o, ocorre o paradoxo de os governos estrangeiros
(Kuwait, Emirados Á rabes Unidos, Coreia) comprarem terras para produzir e exportar alimentos para suas populaçõ es.
Ajustes estruturais

Assim mesmo, há que se recordar que a Somá lia, apesar das secas recorrentes, foi um país autossuficiente na produçã o de
alimentos até o final dos anos 1970. Sua soberania alimentar foi arrebatada em dé cadas posteriores. A partir dos anos 1980,
as políticas impostas pelo Fundo Monetá rio Internacional e o Banco Mundial para que o país pagasse sua dívida com o Clube
de Paris forçaram a aplicaçã o de um conjunto de medidas de ajuste.

No que se refere à agricultura, estas implicaram em uma política de liberalizaçã o comercial e abertura de seus mercados,
permitindo a entrada massiva de produtos subvencionados, como o arroz e o trigo, de multinacionais agroindustriais
estadunidenses e europeias, que começaram a vender seus produtos abaixo de seu preço de custo e fazendo a competiçã o
desleal com os produtores autó ctones.

As desvalorizaçõ es perió dicas da moeda somali geraram também a alta do preço dos insumos e o fomento de uma política de
monocultivos para a exportaçã o que forçou, paulatinamente, o abandono do campo. Histó rias parecidas se deram nã o só nos
países da Á frica, mas també m nos da Amé rica Latina e Á sia.

A subida do preço de cereais bá sicos é outro dos elementos assinalados como detonante da fome no Chifre da Á frica. Na
Somá lia, os preços do milho e do sorgo vermelho aumentaram 106% e 180%, respectivamente, em apenas um ano. Na
Etió pia, o custo do trigo subiu 85% em relaçã o ao ano anterior. E, no Quê nia, o milho alcançou um valor 55% superior ao de
2010.

Na Bolsa de Valores

Uma alta que converteu esses alimentos em inacessíveis. Mas, quais sã o as razõ es da escalada dos preços? Vá rios indícios
apontam a especulaçã o financeira com as maté rias-primas alimentares como uma das causas principais.

O preço dos alimentos se determina nas bolsas de valores – a mais importante das quais, a nível mundial, é a de Chicago –,
enquanto que na Europa os alimentos se comercializam nas bolsas de futuros de Londres, Paris, Amsterdã e Frankfurt. Mas
hoje em dia, a maior parte da compra e venda dessas mercadorias nã o corresponde a intercâ mbios comerciais reais.

De acordo com Mike Masters, do Hedge Fund Masters Capital Management, calcula-se que 75% do investimento financeiro
no setor agrícola é de cará ter especulativo. Compram-se e vendem-se maté rias-primas com o objetivo de especular e fazer
negó cio, repercutindo finalmente em um aumento do preço da comida para o consumidor final. Os mesmos bancos, fundos
de alto risco, companhias de seguros que causaram a crise das hipotecas subprime sã o os que hoje especulam com a comida,
aproveitando-se dos mercados globais profundamente desregulados e altamente rentá veis.

Transnacionais

A crise alimentar em escala global e a fome no Chifre da Á frica em particular sã o resultado da globalizaçã o alimentar a
serviço dos interesses privados. A cadeia de produçã o, distribuiçã o e consumo de alimentos está nas mã os de umas poucas
multinacionais que antepõ em seus interesses particulares à s necessidades coletivas e que, ao longo das ú ltimas dé cadas,
vê m destruindo, com o apoio das instituiçõ es financeiras internacionais, a capacidade dos países do sul de decidir sobre suas
políticas agrícolas e alimentares.

Voltando ao princípio: por que existe fome em um mundo de abundâ ncia? A produçã o de alimentos se multiplicou por trê s
desde os anos 1960, enquanto que a populaçã o mundial tã o só duplicou desde entã o. Nã o estamos enfrentando um
problema de produçã o de comida, mas sim um problema de acesso a ela. Como assinalou o relator da ONU para o direito a
alimentaçã o, Olivier de Schutter, em uma entrevista ao jornal El País: “A fome é um problema político. E uma questã o de
justiça social e políticas de redistribuiçã o”.

Pá gina 363

Se queremos acabar com a fome no mundo, é urgente apostar em outras políticas agrícolas e alimentares que coloquem no
seu centro as pessoas, as suas necessidades, aqueles que trabalham a terra e o ecossistema. Apostar no que o movimento
internacional da Via Campesina chama de “soberania alimentar” e recuperar a capacidade de decidir sobre aquilo que
comemos. Tomando emprestado um dos lemas mais conhecidos do Movimento 15-M, é necessá rio uma “democracia real, já ”
na agricultura e na alimentaçã o.

VIVAS, E. Os porquês da fome na África. Disponível em: <www. pragmatismopolitico.com.br/2011/08/os-motivos-da-fome-


naafrica-por-que.html>. Acesso em: 16 maio 2016.

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2016.

Capítulo 8 – A Nova Ordem Mundial e as


organizações internacionais
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO)

• Compreender os diversos organismos internacionais, suas açõ es e importâ ncia.

• Contextualizar esses organismos em relaçõ es aos interesses coletivos e individuais.

• Posicionar-se diante de dados e informaçõ es.

• Julgar pontos de vista divergentes.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

Professor, por meio de aulas expositivas dialó gicas, explique a origem dos diversos organismos
e o seu papel no sistema-mundo. Mostre a importâ ncia do Fó rum Social Mundial como um
espaço atual de discussõ es sem vínculos com organismos econô micos.

Estimule os alunos a fazer pesquisas sobre o funcionamento atual desses organismos e,


principalmente, sobre o que se refere ao Brasil. É interessante montar painéis explicativos e
colocá -los na sala de aula. Se possível, abra na internet um fó rum de discussã o sobre os temas
apresentados.

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E AS ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 208 Conexão de conhecimentos - A Nova Ordem Mundial


1. Uma ordem em que alguns se especializam em ganhar e muitos, em perder. A letra da
mú sica e as charges expressam as desigualdades relacionadas à s trocas, aos interesses e ao uso
da força para impor determinadas condiçõ es aos demais países.

2. O desejo de que as pessoas e os países pobres teriam de ingressar no mundo rico, tal como
expresso na imagem 2.

Pá gina 365

p. 209 Atividade – Organizações internacionais

Estimule a leitura do texto e promova um debate em classe a respeito das açõ es positivas e
desastrosas das organizaçõ es internacionais no contexto global.

p. 211 Atividade – Por que o Brasil quer um assento no Conselho de Segurança da ONU?

O Brasil argumenta que é necessá rio estabelecer um balanço de forças dentro do Conselho de
Segurança da ONU, tornando-o mais democrá tico.

Insiste na ideia de que a América Latina deveria ser representada por meio de uma cadeira
cativa, ocupada pelo Brasil, uma vez que o país também enviou tropas para lutar ao lado dos
Aliados na Segunda Guerra Mundial.

Por isso, deveria receber um destaque especial ao lado das cinco naçõ es com cadeira
permanente que compõ em o Conselho de Segurança.

p. 213 Atividade – Analisando as ações da ONU no mundo

Professor, estimule os alunos a pesquisar em dupla, dois países, detalhadamente. Em seguida,


promova um fó rum de discussõ es em classe a respeito das açõ es da ONU nos países escolhidos.

Destaque temas como, por exemplo, ajuda humanitá ria; contençã o de conflitos; interesses
econô micos; violaçõ es de direitos humanos, entre outros.

Sites

ALBUQUERQUE, J. A. G. A ONU e a nova ordem mundial. Estudos avançados, Sã o Paulo, v. 9, n.


25, p. 161-167, dez. 1995. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-40141995000300013&lng =en&nrm=iso>. Acesso em: 16 maio 2016.

A ONU em açã o. UNIC Rio de Janeiro. Disponível em: <http://unicrio.org.br/a-onu-em-acao>.


Acesso em: 16 maio 2016.

Missões de paz da ONU: Novos desafios em tempos de mudança. ONUBR. Naçõ es Unidas no
Brasil. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/ novos-desafios-em-tempos-de-mudanca>.
Acesso em: 16 maio 2016.

ONU conta história das Missões de Manutenção de Paz, que completam 68 anos. ONUBR. Naçõ es
Unidas no Brasil. Disponível em: <https:// nacoesunidas.org/onu-conta-a-historiamissoes-de-
manutencao-de-paz-que-completa- 68-anos-de-existencia>. Acesso em: 16 maio 2016.
O Brasil e as operaçõ es de paz da ONU. Carta Capital. Disponível em:
<www.cartacapital.com.br/ internacional/o-brasil-e-as-operacoes-de-paz-daonu-207.html>.
Acesso em: 16 maio 2016.

Heró is ou vilõ es? O abuso e a exploraçã o sexual por militares em missõ es de paz da ONU.
Capítulo 2. Dissertaçã o de mestrado. Programa de Pó s-graduaçã o em Relaçõ es Internacionais.
Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2009. Disponível em: <www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/
tesesabertas/0710402_09_cap_02.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.

BRUGNOLLI, H. L. As Operações de Peacekeeping das Nações Unidas do Século XXI Pós o


Relatório Brahimi. CEDIN. Disponível em: <www. cedin.com.br/wp-
content/uploads/2014/05/ As-Opera%C3%A7%C3%B5es-de-Peacekeeping-das-Na
%C3%A7%C3%B5es-Unidasdo-S%C3%A9culo-XXI-P%C3%B3s-o- Relat%C3%B3rio-
Brahimi.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.

p. 214 Atividade – Violações das tropas pacificadoras

1. A seleçã o dos soldados é realizada pelos paísesmembros da ONU, que se prontificam a


enviar suas forças. Antes de integrar essas forças de paz, os soldados sã o membros dos
exércitos de seus países de origem.

2. A apuraçã o dos fatos é muito difícil; a correçã o e/ou puniçã o dos responsá veis pelas
violaçõ es dos direitos humanos é de responsabilidade do país que cedeu as tropas;
funcioná rios e soldados da ONU têm diversos tipos de imunidade diplomá tica, o que também
dificulta apuraçã o e puniçã o dos envolvidos.

3. Identificaçã o dos países de origem dos soldados ou policiais suspeitos de violaçã o dos
direitos humanos; recomendaçã o para que sejam realizadas investigaçã o e puniçã o dos
culpados; repatriaçã o dos acusados.

p. 217 Atividade – A posição do Brasil na reunião de Genebra em 2008

Alguns dados sobre a reuniã o de Genebra, em 2008:

• Em Cancun (2003), o Brasil protagonizou a criaçã o do G20, grupo de países pobres, que
impediu um acordo prejudicial no â mbito da OMC.

• Depois de muita resistência de ambas as partes (países desenvolvidos e países emergentes),


em Genebra (2008), o Brasil aceitou totalmente a proposta de liberaçã o comercial da OMC.

Pá gina 366

• Essa proposta abriria o mercado dos países pobres para os produtos industriais dos países
ricos, por meio da diminuiçã o de tarifas de importaçã o.

• Por essa mesma proposta, os países ricos se comprometeriam a estipular um teto para o
subsídio agrícola.

• A proposta dos Estados Unidos era de limitar os seus subsídios agrícolas a (no má ximo) 14
bilhõ es de dó lares.

• A Argentina, parceira do Brasil, queria um teto de 13 bilhõ es de dó lares.


• O acordo nã o saiu por obstá culo da Índia.

• Parte da mídia sugere que o Brasil tentou, nas negociaçõ es, beneficiar a exportaçã o de álcool.

• A Rodada Doha, desse modo, não foi concluída.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

Rodada Doha: Entenda o impacto do fracasso das negociaçõ es. BBC Brasil. Disponível em:
<www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/ story/2008/07/080729_dohafracassoqanda_
ac.shtml>. Acesso em: 16 maio 2016.

COSTA JR., C. N. da. Agenda Doha: o que esteve em jogo na Genebra de 2008. Instituto
Brasileiro de Relaçõ es Internacionais. Disponível em: <www.ibri-rbpi.org/?p=12240>. Acesso
em: 16 maio 2016.

HAKIM, P. O Brasil em ascensã o: os desafios e as escolhas de uma potência global emergente.


Política Externa, v. 19, n. 1, p. 43-53, 2010. Disponível em: <www.fes-seguridadregional.
org/images/stories/docs/5623-001_g.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.

SILVA, A. L. R. da; SPOHR, A. P. Os percalços ao diá logo estratégico: as relaçõ es entre o Brasil e
os Estados Unidos desde 2003. Monções: Revista de Relaçõ es Internacionais da UFGD, v. 4, n. 7,
p. 69-92, 2015. Disponível em: <www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/
moncoes/article/viewArticle/4298>. Acesso em: 16 maio 2016.

p. 220 Atividade – Organizações Não Governamentais

Com base nessa pesquisa, os alunos, além de apresentar as suas descobertas para a classe,
poderã o também desenvolver um cartaz a respeito de uma das ONGs. Seguem alguns links
para realizar a pesquisa:

Cruz Vermelha Brasileira. Disponível em: <www.cruzvermelha.org.br>. Acesso em: 16 maio


2016.

Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Disponível em: <www.icrc.org/pt/homepage>. Acesso


em: 16 maio 2016.

Greenpeace Brasil. Disponível em: <www. greenpeace.org/brasil/pt>. Acesso em: 16 maio


2016.

p. 222 Questões de Enem e vestibular

1. (Enem) C

O mapa aponta para as á reas de influência das potências econô micas.

2. (UFF-RJ) D

Considerada a “língua oficial dos negó cios”, o inglês se firma também língua fraca, ou seja, de
uso comum, especialmente em relaçano aos acordos econô micos mais variados (entre
organizaçõ es internacionais e mesmo, empresas).

3. (Uerj) A
A alternativa que relaciona os dois textos relaciona-se à manutençã o da produçã o agrícola
subordinada aos interesses internacionais.

4. (UFSM-RS) D

A questã o menciona os principais produtores e exportadores de petró leo, logo, trata da Opep.

5. (UEPG-PR) 02 + 16 = 18

As alternativas que contém corretamente ó rgã os ligados à ONU sã o apenas a 02 e a 16,


portanto, a soma dos itens corretos é 18.

6. (UFPE) B

O texto refere-se à criaçã o da Otan e sua açã o no conflito da Bó snia.

p. 224 A notícia em diversas óticas

Professor, nã o há uma ú nica possibilidade de resposta. Estimule a leitura dos textos, a


realizaçã o dos debates em classe e as propostas apresentadas pelos alunos.

Os três textos abordam açõ es e discursos em torno dos termos fá bula, perversidade e
possibilidade, conforme tratados por Milton Santos (2002).

A fá bula é encontrada no primeiro texto, que traz um fragmento do discurso de George Bush
(pai), abordando a promessa de um mundo de paz; o segundo texto evidencia o aumento real
de conflitos e tensõ es em escala global; e o terceiro texto mostra como povos e comunidades
tradicionais têm resistido ao solapamento de seus direitos mais fundamentais, como a á gua.

É importante que os alunos, em seus textos, façam uma aná lise dessa conjuntura e,
principalmente, elaborem propostas visando a uma maior autonomia e respeito aos povos e
comunidades tradicionais.

Pá gina 367

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

A cooperação técnica do Brasil com a África: comparando os governos Fernando


Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula da Silva (2003-2010)

É consensual entre os analistas da Política Externa Brasileira o reconhecimento da priorizaçã o do eixo Sul-Sul nas
estraté gias de inserçã o internacional do país durante o governo Lula da Silva, bem como o papel de destaque concedido ao
continente africano. Com o intuito de dar lastro empírico à s aná lises sobre a retomada e repriorizaçã o das relaçõ es entre
Brasil e Á frica, este trabalho pretende analisar comparativamente a cooperaçã o té cnica provida pelo Brasil para os países
africanos durante os governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula da Silva (2003-2010). Procura-se identificar
e comparar o nú mero e os tipos de acordos firmados, a dispersã o geográ fica desses acordos e a diversidade temá tica dos
projetos de cooperaçã o té cnica horizontal desenvolvidos pelo Brasil naquele continente. A fonte principal dos dados
analisados, ainda pouco explorada pela literatura acadê mica brasileira, é o banco de dados do Departamento de Atos
Internacionais do Ministé rio das Relaçõ es Exteriores.

JÚ NIOR, W. M.; FARIA, C. A. P. de. A cooperaçã o té cnica do Brasil com a Á frica: comparando os governos Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002) e Lula da Silva (2003-2010). Revista brasileira de política internacional, Brasília, v. 58, n. 1, jan.-jun.
2015. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
73292015000100005&lng=pt&nrm=iso&tlng=en>. Acesso em: 16 maio 2016. Resumo disponível na fonte.
Negociações comerciais em uma economia fechada: o Brasil e o comércio de serviços na
Rodada Uruguai

Por que o Brasil tem tradicionalmente adotado postura defensiva em negociaçõ es multilaterais sobre o comé rcio de
serviços? Sã o trê s as principais categorias explicativas comumente usadas para entender os determinantes domé sticos da
diplomacia econô mica: interesses, instituiçõ es e ideias. Neste estudo, avalio o papel dessas variá veis na determinaçã o da
posiçã o brasileira nas negociaçõ es de serviços da Rodada Uruguai. O estudo de caso apresentado se vale de fontes primá rias
e entrevistas para reconstituir a posiçã o negociadora do país ao longo da rodada, identificar as preferê ncias dos atores
governamentais e nã o governamentais relevantes e apontar os mecanismos e instâ ncias de interaçã o entre governo e setor
privado.

CUNHA, R. C. da. Negociaçõ es comerciais em uma economia fechada: o Brasil e o comé rcio de serviços na Rodada Uruguai.
Revista brasileira de política internacional, Brasília, v. 58, n. 1, jan./jun. 2015. Disponível em: <www.scielo.br/scielo. php?
script=sci_arttext&pid=S0034-73292015000100142>. Acesso em: 16 maio 2016. Resumo disponível na fonte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS-PLATIAU, A. F.; VARELLA, M. D.; SCHLEICHER, R. T. Meio ambiente e relaçõ es


internacionais: perspectivas teó ricas, respostas institucionais e novas dimensõ es de debate.
Revista brasileira de política internacional, v. 47, n. 2, p. 100-130, 2004.

BOCHICHIO, V. R. Atlas mundo atual. Sã o Paulo: Atual, 2003.

CASTILHOS FRANÇA, P. R. C. de. A Guerra do Kosovo a OTAN e o conceito de “intervenção


humanitária”. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2004.

DRUMOND, N. A guerra da á gua na Bolívia: a luta do movimento popular contra a privatizaçã o


de um recurso natural. Revista NERA, Unesp – Presidente Prudente, ano 18, n. 28, Ediçã o
Especial, p. 186-205, 2015.

FORTE, C. D. Consequências indesejadas das missões de paz: violaçõ es dos direitos das mulheres
nos casos da Bó snia e do Kosovo. Trabalho de Conclusã o de Curso. Florianó polis: UFSC, 2014.

GRESH, A. Atlas da globalização: Le monde diplomatique. 2. ed. Lisboa: Campo da


Comunicaçã o, 2003.

HERZ, M. Teoria das relaçõ es internacionais no pó s-Guerra Fria. Dados, v. 40, n. 2, 1997.

HOFFMAN, A.; HERZ, M. Organizações Internacionais: histó rias e prá ticas. Rio de Janeiro:
Editora Campus/Elsevier, 2004.

MERCADANTE, A. de A.; CELLI JUNIOR, U.; ARAÚ JO, L. R. de. Blocos econômicos e integração na
América Latina, África e Ásia. Curitiba: Juruá Editora, 2006.

SANTOS, N. B. dos. Cinqü enta anos de OEA: o que comemorar? Revista Brasileira de política
internacional, v. 41, n. 2, p. 159-164, 1998. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?
pid=S0034=73291998000200009-&scriptsci_arttext&tlng=es>. Acesso em: 16 maio 2016.

SAVOLDI JR., A. A política externa dos Estados Unidos nos discursos sobre o estado da União
entre o fim da Guerra Fria e o início da Guerra ao Terror (1989-2001). Trabalho de Conclusã o do
Curso de Histó ria. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre: UFRGS, 2001.

SILVA, K. de S.; COSTA, R. S. da. Organizações internacionais de integração regional: Uniã o


Europeia, Mercosul e Unasul. Florianó polis: Funjab/UFSC, 2013.

SOUZA, F. (Coord.) Dicionário de Relações Internacionais. Lisboa: Afrontamento, 2005.


YODA, A. J. V. As organizaçõ es internacionais e o poder de celebrar tratados. Revista Jurídica da
Presidência, v. 7, n. 75, p. 1-14, 2005.

Pá gina 368

Capítulo 9 – O mundo multipolarizado


COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DESTE CAPÍTULO)

• Identificar os diferentes processos de dominaçã o global na atualidade.

• Analisar e compreender os mecanismos de dominaçã o existentes nas atuais relaçõ es


internacionais.

• Compreender e problematizar os processos relacionados à financeirizaçã o da economia.

• Argumentar e estabelecer as relaçõ es e contradiçõ es existentes entre os interesses nacionais,


as potências econô micas e os conglomerados mundiais.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

Professor, nesse capítulo, tratamos mais especificamente de grandes questõ es geoeconô micas
internacionais.

Escolhemos privilegiar, na abordagem dessas questõ es, atividades em grupo, por entendermos
que essa modalidade de atividades permite a interaçã o, o diá logo, o aprendizado do saber ser e
do saber conviver. Ouvindo opiniõ es divergentes, os alunos poderã o aprimorar o senso crítico,
bem como entender que sã o corresponsá veis por seu processo de aprendizagem. Indicamos,
ainda, alguns exercícios individuais no corpo do texto e, ao final do capítulo, você encontrará
questõ es de Enem e de vestibular que abordam o tema do capítulo. Ao preparar seu curso,
considere os tó picos a seguir.

• Aulas expositivas, de cará ter dialógico: apesar das críticas à s aulas expositivas no processo
de construçã o do conhecimento feitas pelo campo da pedagogia e da educaçã o, a aula
expositiva pode ser um veículo de aprendizagem tanto para os alunos como para o professor.
Uma aula expositiva poderá se tornar uma atividade dinâ mica, participativa e estimuladora do
pensamento crítico dos alunos se for dialógica. O que seria uma aula expositiva dialógica? É
uma aula em que há a transformaçã o da sala em um ambiente propício à reelaboraçã o e
produçã o de conhecimentos, por meio do diá logo entre professor e alunos, para estabelecer
uma relaçã o de troca de conhecimentos e experiências. O diá logo, entretanto, deverá ser
entendido como uma busca recíproca pelo saber (Paulo Freire), nã o como simples
conversaçã o. O docente, nesse tipo de aula expositiva, poderá utilizar, ao longo da exposiçã o
dos conteú dos selecionados, as diversas experiências dos alunos (viagens, por exemplo) para
trazer seu cotidiano e sua realidade para a sala de aula, tornando a exposiçã o do conteú do um
momento muito rico de troca de experiências e significaçã o dos conteú dos.

• Realização de trabalhos em grupo: o encontro entre os alunos, suas negociaçõ es, os


arranjos que realizam e os acordos que estabelecem sã o momentos muito profícuos de
aprendizagem. Além disso, ao ter de buscar, selecionar e organizar informaçõ es em mapas,
quadros, peças teatrais, ou mesmo organizar a apresentaçã o oral, os alunos desenvolvem não
somente seu senso crítico (pois poderã o encontrar informaçõ es conflitantes e terã o de saber
selecionar o que lhes interessa diretamente e o que nã o lhes interessa), como também a
habilidade de síntese. Nesse tipo de atividade, destaca-se o papel do professor como um
mediador e orientador da aprendizagem e aos alunos é conferida a responsabilidade por seu
processo de formaçã o, o que é interessante sob a perspectiva do seu amadurecimento psíquico
e cognitivo. Se os trabalhos forem interdisciplinares, como sugeridos neste Manual, serã o
ainda mais interessantes, permitindo maior interaçã o no processo de ensino-aprendizagem.

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 226 Conexão de conhecimentos - O mundo globalizado

Professor, embora a letra da cançã o do grupo Titã s seja da década de 1990, continua a ser uma
referência no tema globalizaçã o. Contudo, embora o seu texto varie entre o surpreendente e o
irô nico, é prová vel que ao menos parte dos alunos em sua sala de aula nã o tenha ainda
desenvolvido alguma visã o crítica a respeito do processo da globalizaçã o. De fato, o apelo do
consumo e das marcas tem se mostrado cada vez mais forte entre as geraçõ es mais novas,
chegando a ditar formas de comportamento e até ganhando sentidos simbó licos.

Consideramos importante que nessa atividade de sondagem os alunos tenham a oportunidade


de externar os seus pontos de vista sobre o tema: a globalizaçã o é um processo que envolve
apenas oportunidades de consumos para todos? Quais seriam os limites impostos por esse
processo?

Pá gina 369

p. 229 Atividade – Regiões comerciais

Professor, explore os mapas do capítulo estabelecendo junto com os alunos análises e


correlaçõ es.

1. O mapa que apresenta o fluxo internacional de mercadorias demonstra que a América


Latina e a Á frica (em maior medida) nã o fazem parte do eixo principal de comércio global, que
inclui Á sia, Europa e América do Norte.

2. A concentraçã o dos bilioná rios globais na Á sia, Europa e América do Norte denota que essas
regiõ es concentram os principais fluxos de produçã o/comercializaçã o, visto que é nelas que os
lucros se realizam em sua maior parte.

p. 233 Atividade – Polos de alta tecnologia

Professor, estimule a aná lise dos mapas e a reflexã o sobre desenvolvimento e


subdesenvolvimento. Discuta as vá rias formas atuais da divisã o internacional do trabalho.

1. Existe no mundo uma divisã o Norte/Sul, que separa os países entre desenvolvidos e
subdesenvolvidos. Mas a situaçã o dos subdesenvolvidos nã o é homogênea. Podemos verificar
que existem países polos de alta tecnologia na América Latina (Brasil – regiã o de Campinas-SP)
e China.

2.

• ABC paulista (Brasil): superado pela regiã o de Campinas – SP.


• Sheffield e Manchester (Reino Unido): superadas por Cambridge (Inglaterra) e Glasgow
(Escó cia).

• Regiã o dos Grandes Lagos (EUA): superada por Sã o Francisco (Califó rnia) e Austin (Texas).

• Vale do Ruhr (Alemanha): superada por Munique (no estado da Baviera).

• Um novo polo tecnoló gico da Repú blica da Irlanda: Dublin (a capital do país).

p. 237 Atividade – Tecnologia e espionagem

Professor, a privacidade individual nas comunicaçõ es é um tema ligado aos direitos civis e
amplamente respeitado em países democrá ticos. Contudo, em anos recentes já ocorreram
diversos questionamentos a respeito da quebra desse direito fundamental, inclusive em países
como os EUA. Em 2013, o tema ganhou uma dimensã o bombá stica na mídia quando Edward
Snowden, técnico da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), denunciou que havia em
andamento em seu país vá rios sistemas capazes de monitorar as comunicaçõ es privadas dos
cidadã os norte-americanos, fosse via correio eletrô nico, fosse por telefone ou por mensagens
de texto. O governo dos EUA nã o negou a existência desses programas e alegou tratar-se de
uma medida de proteçã o nacional contra possíveis atos terroristas. Contudo, embora as açõ es
denunciadas por Snowden atentassem contra os direitos constitucionais do país, ele foi
acusado de espionagem e solicitou asilo à Rú ssia.

No desenrolar da divulgaçã o de dados feita por Snowden, ficou-se sabendo que os cidadã os
estadunidenses nã o foram os ú nicos a terem a sua privacidade violada. Diversos países do
mundo, entre eles a Alemanha e o Brasil, estavam entre os que tiveram as comunicaçõ es de
seus mandatá rios interceptadas pela agência NSA. Esse caso gerou diversos atritos
diplomá ticos em 2013 e colocou à vista de todos a vulnerabilidade dos sistemas de
comunicaçã o.

Nessa atividade sugerimos que os alunos debatam o tema. Nesse caso, é importante lembrar
que as comunicaçõ es da América Latina dependem em grande parte dos sistemas de internet e
de satélites mantidos e centralizados pelos EUA e que essa é uma grande vulnerabilidade,
inclusive para a comunicaçã o estratégica na nossa regiã o.

Sugestõ es para aprofundamento no tema:

Acusaçõ es de espionagem constrangem governo alemã o. Carta Capital. Disponível em: <www.
cartacapital.com.br/internacional/acusacoesde-espionagem-constrangem-governoalemao-
9116.html>. Acesso em: 16 maio 2016.

Brasil e Alemanha conseguem primeira vitó ria na ONU contra espionagem. BBC Brasil.
Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/noticias/
2013/11/131126_espionagem_resolucao_ brasil_alemanha_mm>. Acesso em: 16 maio 2016.

PEDROSA, L.; MATSUKI, E. Entenda o caso Snowden; Petrobras também é alvo de espionagem.
EBC. Disponível em: <www.ebc.com.br/ tecnologia/2013/08/web-vigiada-entenda-
asdenuncias-de-edward-snowden> Acesso: 16 maio 2016.

PEIRANO, M. ‘Vigilâ ncia nã o tem a ver com segurança, tem a ver com poder’, diz Edward
Snowden. Operamundi. Disponível em:
<http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/43546/vigilancia+nao+tem+a+ver+com+s
eguranca+tem+a +ver+com+poder+diz+edward+snowden. shtml>. Acesso em: 16 maio 2016.
Quem espiona os EUA? BBC Brasil. Disponível em:
<www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/11/ 131106_quem_espiona_quem_rw>. Acesso
em: 16 maio 2016.

Pá gina 370

p. 238 Atividade – Economia global

1. Sã o as empresas também conhecidas por multinacionais ou transnacionais. Na verdade, os


conglomerados têm sedes em pontos fixos do globo, geralmente localizadas nos países
desenvolvidos. Tecnicamente, os conglomerados sã o as empresas que possuem ao menos uma
filial no exterior, onde a sua participaçã o acioná ria é de no mínimo de 10%.

2. A dominaçã o econô mica é protagonizada pelos conglomerados mundiais, pois eles detêm o
estratégico fluxo de tecnologias, capitais e investimentos. Por isso mesmo, frequentemente
impõ em condiçõ es de investimentos desvantajosas à s unidades políticas interessadas. Além
disso, como os conglomerados visam somente à obtençã o de negó cios rentá veis, deixam para
os países pobres alguns passivos, como o comprometimento do meio ambiente. A interferência
e o domínio político desses grupos nos negó cios de Estado também constituem problemas
graves e frequentes.

p. 242 Atividade – Globalização financeira e globalização comercial

O objetivo desta atividade é demonstrar aos alunos que, em termos econô micos, a atual
globalizaçã o é primordialmente um fenô meno financeiro, da “globalizaçã o financeira”.

Isso é explicado pelas facilidades que aumentaram exponencialmente a circulaçã o do capital


pelo globo e pela existência de capitais especulativos 40 vezes maiores do que a produçã o
econô mica.

p. 245 Questões de Enem e vestibular

1. (UFMS) A

A alternativa B está incorreta, porque a globalizaçã o afeta a vida cotidiana das pessoas, por
exemplo, diminuindo os empregos formais e introduzindo novas má quinas e equipamentos. A
alternativa C está incorreta, porque liberdade e solidariedade sã o discutidas apenas no plano
discursivo, nã o no plano efetivo. A alternativa D está incorreta, porque a globalizaçã o, ao
mesmo tempo que mundializa os mercados, acentua as diferenças socioculturais entre as
pessoas. A alternativa E está incorreta, porque a linguagem, a religiã o, as culturas sã o afetadas
pelo processo de globalizaçã o.

2. (PUC-MG) B

Ao mesmo tempo que os contatos comerciais e culturais se intensificam, as possibilidades de


conflito entre os povos aumentam (sã o os processos de fragmentaçã o, complementares e
concomitantes à globalizaçã o).

3. (Enem) A

A internet foi o sistema tecnoló gico de mais rá pida difusã o pelo mundo, conquistando mais de
50 milhõ es de usuá rios em apenas quatro anos. Hoje há no mundo mais de 1 bilhã o de usuá rios
desse meio de comunicaçã o. Seu uso para disseminar ideias, colher informaçõ es, divulgar
dados, propor sugestõ es, realizar críticas, promover debates, delatar atos ilegais, dentre outras
possibilidades, tornou a internet uma das mais eficientes formas de açã o social e política, a que
atualmente recorrem pessoas físicas, instituiçõ es, empresas e governos.

4. (Uerj) B

Os meios de comunicaçã o sã o empresas poderosas, que por sua vez, pertencem e/ou
participam dos grandes grupos econô micos e financeiros internacionais. Desse modo, existe
um claro comprometimento dos grupos ligados à mídia com os interesses relativos à
acumulaçã o capitalista.

5. (Enem) C

A revoluçã o técnico-científica está centrada na qualificaçã o da mã o de obra do trabalhador.

6. (UFRJ)

A economia mundial atual vive a fase do capitalismo financeiro, em que as transaçõ es


econô micas sã o mundiais, facilitadas pelos sistemas de comunicaçã o e informá tica e
distribuídas em inú meras praças financeiras organizadas em redes de cidades mundiais.

7. (UFF-RJ)

a) Os países centrais ainda controlam os fluxos de capital e colocam barreiras protecionistas


que garantam seu predomínio.

b) Os países mais pobres sofrem variados graus de dependência tecnoló gica em relaçã o aos
mais desenvolvidos.

8. (Enem) B

No processo de globalizaçã o, as empresas mudam seus modos operacionais promovendo uma


maior mobilidade ocupacional e produzindo de acordo com vantagens competitivas oferecidas
pelos diferentes espaços.

Pá gina 371

9. (Enem) E

Os dois textos indicam mudanças ocorridas no meio rural em diferentes contextos histó ricos e
geográ ficos, cujas consequências estã o ligadas à concentraçã o de terras e ao deslocamento de
populaçã o para o meio urbano.

10. (Enem-PPL) C

Como mencionado corretamente na alternativa C, o fator essencial para a organizaçã o do


sistema produtivo global é o desenvolvimento e melhoria da infraestrutura de transportes e
telecomunicaçõ es integrando o espaço mundial. Estã o incorretas as alternativas seguintes
porque indicam mecanismos de cará ter econô mico, enquanto o texto sugere que a globalizaçã o
depende da eliminaçã o de obstá culos técnicos.
11. (Enem) E

Com o processo de globalizaçã o, a difusã o geográ fica das novas tecnologias permitiu a
modernizaçã o das linhas de produçã o nas indú strias. O avanço da automaçã o industrial
aumentou a produtividade e o lucro das empresas. Entretanto, causou consequências
perversas como o crescimento do desemprego estrutural, isto é, aquele provocado pela
modernizaçã o tecnoló gica.

12. (Enem) D

A produçã o globalizada, típica da Terceira Revoluçã o Industrial, utiliza as tecnologias da


informaçã o (telecomunicaçõ es e informá tica) e os transportes, permitindo uma organizaçã o
em rede no sistema produtivo. Assim, as empresas aproveitam vantagens comparativas em
vá rios países com o objetivo de conseguir maior lucratividade.

13. (Enem) E

Países como os Estados Unidos cada vez mais utilizam sua capacidade científica e tecnoló gica
como estratégia de poder econô mico e geopolítico em relaçã o aos demais países, inclusive os
competidores. Um dos problemas é o avanço das empresas de tecnologia sobre os mercados de
países desenvolvidos e emergentes, a exemplo do aplicativo de celular Uber, que causou
conflitos com taxistas em vá rios países. Outro exemplo foi o caso de espionagem contra o
Brasil revelado por Edward Snowden.

p. 249 A notícia em diversas óticas

Professor, ressaltamos a frase de Noam Chomsky a respeito da mídia: “formatar a opiniã o


pú blica de acordo com as agendas do poder corporativo dominante”. Acreditamos que, ao final
deste capítulo, os alunos terã o subsídios para pensar criticamente os sistemas de comunicaçã o
e a necessidade de democratizá -los, para que eles realmente passem um dia a servir como um
meio de intercâ mbio entre as populaçõ es do mundo, com toda a pluralidade de pontos de vista
que hoje é impossível de ser veiculada.

Nesse contexto, seria interessante abordar as iniciativas favorá veis à democratizaçã o da mídia,
um tema que já ganhou maiores dimensõ es na Argentina, onde há alguns anos funciona a
chamada “ley de medios”. Sugerimos a seguir alguns textos sobre essa questã o:

CASTRO, D. de. Democratizaçã o da mídia é uma emergência, diz o escritor Gregó rio Duvivier.
Disponível em: <www.ebc.com.br/cidadania/2015/12/democratizacao-da-midia-e-
umaemergencia-diz-escritor-e-humorista-gregorio>. Acesso em: 16 maio 2016.

SADER, E. A democratizaçã o da mídia, a mã e de todas as reformas. Carta Maior. Disponível em:


<www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do- Emir/A-democratizacao-da-midia-a-mae-detodas-
as-reformas/2/31257>. Acesso em: 16 maio 2016.

SUGESTÕES DE LIVRO E TEXTO PARA O PROFESSOR

Professor, nessa seçã o do Manual, indicamos um livro e um texto para seu estudo e formaçã o.
Se considerar pertinente, pode aproveitá -los também em suas aulas.

Simulacro e poder: uma análise da mídia

Marilena Chaui fala sobre a aboliçã o da diferença entre os espaços pú blico e privado e como os có digos da vida pú blica
passam a ser determinados e definidos pelos có digos da vida privada. Para a professora, enquanto o pensamento e o
discurso de direita reiteram o senso comum que permeia a sociedade, no caso da esquerda é preciso ultrapassar obstá culos,
o que representa desmontar esse senso comum e a aparê ncia de realidade e verdade que as condiçõ es sociais e as prá ticas
existentes parecem possuir.

Disponível em: <http://csbh.fpabramo.org.br/node/6797>. Acesso em: 16 maio 2016. CHAUÍ, M. Simulacro e poder: uma
aná lise da mídia. Sã o Paulo: Editora Fundaçã o Perseu Abramo, 2006.

Pá gina 372

Concentração oligopolística na mídia e efeitos sobre a sociabilidade contemporânea

Este artigo traz uma reflexã o sobre o oligopó lio midiá tico, o aumento de sua concentraçã o e sua contribuiçã o para a
manutençã o e a reorganizaçã o do capitalismo. O trabalho se fundamenta inicialmente na noçã o de hegemonia de Gramsci e
de fabricaçã o do consentimento de Chomsky. O artigo aponta, ainda, como o setor de comunicaçã o no Brasil se estrutura em
poucos grupos que atuam em favor dos interesses da classe dirigente e discute o impedimento do livre fluxo de informaçõ es
na sociedade.

GARCIA, W. F.; MATTOS, F. A. M. Concentraçã o oligopolística na mídia e efeitos sobre a sociabilidade contemporâ nea. União
Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, v. 2, 2008. Disponível em:
<www2.faac.unesp.br/pesquisa/lecotec/eventos/ulepicc2008/anais/2008_Ulepicc_0559-0573. pdf>. Acesso: 12 maio 2016.
Resumo disponível na fonte.

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SANTOS, B. de S. Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. In:


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Civilizaçã o Brasileira, 2009.

TEIXEIRA, A. et al. O império contra-ataca: notas sobre os fundamentos da atual dominaçã o


norte-americana. Revista Economia e Sociedade, v. 15, 2000.
Capítulo 10 – Parcerias políticas e econômicas
globais
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (OBJETIVOS
ESPECÍFICOS DESTE CAPÍTULO)

• Identificar os principais blocos econô micos da atualidade.

• Analisar e compreender os mecanismos de dominaçã o existentes nas atuais relaçõ es


internacionais.

• Localizar as principais organizaçõ es econô micas regionais da atualidade.

• Argumentar e identificar relaçõ es e contradiçõ es entre os megablocos, as potências


econô micas e os conglomerados mundiais.

• Analisar o papel e a importâ ncia dos chamados países emergentes no contexto da economia
global.

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES

Professor, nesse capítulo, serã o discutidos temas relacionados aos blocos econô micos: seus
países- -membros, origem, conflitos e problemas internos. Abordamos ainda a importâ ncia –
relativa – dos chamados países emergentes, assim como suas contradiçõ es e açõ es em escala
global.

Recomendamos atençã o para com as atividades, pois novamente privilegiamos as atividades


em dupla ou em grupo para a abordagem e problematizaçã o da temá tica. Sugerimos:

• Aulas expositivas, de cará ter dialógico: apesar das críticas à s aulas expositivas no processo
de construçã o do conhecimento feitas pelo campo da pedagogia e da educaçã o, a aula
expositiva pode ser um veículo de aprendizagem tanto para os alunos como para o professor.

Pá gina 373

Uma aula expositiva poderá se tornar uma atividade dinâ mica, participativa e estimuladora do
pensamento crítico dos alunos se for dialógica. O que seria uma aula expositiva dialógica? É
uma aula em que há a transformaçã o da sala em um ambiente propício à reelaboraçã o e
produçã o de conhecimentos, por meio do diá logo entre professor e alunos, para estabelecer
uma relaçã o de troca de conhecimentos e experiências. O diá logo, entretanto, deverá ser
entendido como uma busca recíproca pelo saber (Paulo Freire), nã o como simples
conversaçã o. O docente, nesse tipo de aula expositiva, poderá utilizar, ao longo da exposiçã o
dos conteú dos selecionados, as diversas experiências dos alunos (viagens, por exemplo) para
trazer seu cotidiano e sua realidade para a sala de aula, tornando a exposiçã o do conteú do um
momento muito rico de troca de experiências e significaçã o dos conteú dos.

• Realização de trabalhos em grupo: o encontro entre os alunos, suas negociaçõ es, os


arranjos que realizam e os acordos que estabelecem sã o momentos muito profícuos de
aprendizagem. Além disso, ao ter de buscar, selecionar e organizar informaçõ es em mapas,
quadros, peças teatrais, ou mesmo organizar a apresentaçã o oral, os alunos desenvolvem não
somente seu senso crítico (pois poderã o encontrar informaçõ es conflitantes e terã o de saber
selecionar o que lhes interessa diretamente e o que nã o lhes interessa), como também a
habilidade de síntese. Nesse tipo de atividade, destaca-se o papel do professor como um
facilitador e orientador da aprendizagem e aos alunos é conferida a responsabilidade por seu
processo de formaçã o, o que é interessante sob a perspectiva do seu amadurecimento psíquico
e cognitivo. Se os trabalhos forem interdisciplinares, como sugeridos neste Manual, serã o
ainda mais interessantes, permitindo maior interaçã o no processo de ensino-aprendizagem.

ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS E ATIVIDADES AO LONGO DO CAPÍTULO

p. 251 Conexão de conhecimentos - BRICS

Professor, embora o BRICS tenha ganhado grande destaque desde 2009, é possível que grande
parte dos alunos nã o tenha ainda uma noçã o da representatividade dele. Em termos de
Produto Interno Bruto (PIB), Brasil, Rú ssia, Índia, China e Á frica do Sul representaram 19% do
total mundial, ante 12% no ano de 2003. Em termos de populaçã o, os cinco países reú nem
mais de 40% do total mundial. Indo além da questã o das dimensõ es econô micas e
populacionais, o BRICS foi considerado recentemente como uma possibilidade de alcançar
algumas transformaçõ es nas relaçõ es de poder globais. Seria uma forma de aumentar a
representaçã o geopolítica de países que nã o se encontram no centro do eixo de poder atual no
mundo, marcado por EUA, Uniã o Europeia e Japã o.

Nessa atividade de sondagem, recomendamos que os alunos tenham a oportunidade de trocar


as suas impressõ es a respeito dos BRICS com base nos títulos de notícias. Uma forma atrativa
de dirigir essa atividade seria fazer uma apresentaçã o de dados que apresentem as dimensõ es
populacionais e econô micas envolvidas no contexto dos BRICS, bem como as suas
potencialidades.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

BRICS – Brasil, Rú ssia, Índia, China e Á frica do Sul. Ministério das Relaçõ es Exteriores.
Disponível em: <www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politicaexterna/mecanismos-inter-
regionais/3672-brics>. Acesso em: 16 maio 2016.

LIMA, J. A. O que a Rú ssia e a China querem dos BRICS? Carta Capital. Disponível em: <www.
cartacapital.com.br/internacional/o-que-arussia-e-a-china-querem-dos-brics-7264.html>.
Acesso em: 16 maio 2016.

Alternativa ao FMI, Banco de Desenvolvimento do BRICS entra em operaçã o. UOL Economia.


Disponível em: <http://economia.uol.com.br/ noticias/efe/2015/07/21/alternativa-ao-
fmibanco-de-desenvolvimento-do-brics-entra-emoperacao.htm>. Acesso em: 16 maio 2016.

p. 254 Atividade – Condições exigidas da Grécia são revoltantes, diz Nobel de Economia

Professor, Joseph Stiglitz é um dos mais renomados economistas do mundo e Prêmio Nobel de
economia. Foi presidente do Banco Mundial e conselheiro econô mico do Presidente Bill Clinton
(1995-1997). Desse modo, podemos dizer que, em sua expressiva carreira acadêmica, Stiglitz
trabalhou diretamente com os maiores centros de poder financeiro global – e deles se
transformou em um de seus maiores críticos.

As críticas de Stiglitz nessa atividade se dirigem principalmente à chamada “Troika”, formada


pelo FMI, pela Comissã o Europeia e pelo Banco Central Europeu.

Pá gina 374
O economista nota que, embora a Grécia tenha administrado mal as suas dívidas, por um longo
período ela foi incentivada a tomar sucessivos empréstimos, o que levou o país à bancarrota.
Desse modo, o que se questiona foi a gestã o da Grécia no contexto da Uniã o Europeia. Afinal, o
bloco econô mico e os bancos envolvidos sempre contaram com uma grande estrutura técnica
para a aná lise de crédito.

Atrelada ao Euro, a Grécia em total crise de pagamentos nã o contava e nã o poderá contar com
a saída clá ssica para os países endividados: a desvalorizaçã o da pró pria moeda. Desse modo,
em meio a uma crise sem precedentes, a Grécia recebeu recomendaçõ es de fazer um ajuste
fiscal desumano, cortando pensõ es de aposentados, serviços médicos e salá rios, tudo em meio
a um fortíssimo nível de desemprego e aumento do nú mero de pobres e miserá veis.

1. Os empréstimos feitos à Grécia foram realizados apenas para facilitar a negociaçã o de sua
dívida, ou seja, foram direcionados para o salvamento dos bancos credores. Sã o recursos que
não foram usados para atenuar o sofrimento da populaçã o do país.

2. O autor sugeriu um plano de dívida que ajudasse o país a retomar o seu desenvolvimento,
ou seja, que também fosse dirigido ao investimento em atividades produtivas internas.

SUGESTÃO DE TEXTO PARA O PROFESSOR

Entenda a crise na Grécia. EBC. Disponível em: <www.


ebc.com.br/noticias/internacional/2015/07/ entenda -crise-na-grecia>. Acesso em: 16 maio
2016.

Crise na Grécia rendeu 100 bilhõ es de euros à Alemanha. Carta Capital. Disponível em: <www.
cartacapital.com.br/internacional/crise-na-grecia -rendeu-100-bilhoes-de-euros-a-alemanha-
5870. html>. Acesso em: 16 maio 2016.

p. 255 Atividade – Assimetrias no Nafta

Por ser apenas uma á rea de livre comércio, o Nafta nã o leva em conta as assimetrias entre os
países participantes. Evidentemente, isso beneficia a economia de maior pujança e escala, que
é a dos EUA.

Comparando com a Uniã o Europeia, o Nafta nã o possui um Fundo de Desenvolvimento para


diminuir as diferenças e assimetrias regionais, nã o promove nem pretende equiparar a
cidadania, os direitos humanos nem mesmo aumentar o nível socioeconô mico do país menos
desenvolvido (México).

Também não institui ó rgã os pú blicos para a tomada de decisõ es no â mbito do bloco (como é o
caso do Parlamento Europeu) e não institui uma moeda ú nica.

Por não corrigir as assimetrias e nã o promover na prá tica o nível socioeconô mico do México
(ao contrá rio), o Nafta nã o dá condiçõ es para erradicar a imigraçã o ilegal em seu contexto,
apesar de isso fazer parte de seus acordos oficiais.

p. 261 Atividade – O potencial econômico dos países do BRICS e do N-11

Professor embora alguns países do BRICS estejam passando atualmente por uma forte crise
econô mica, com destaque para Brasil e Rú ssia, a dimensã o territorial, populacional, política e
econô mica do grupo continuará tendo relevâ ncia no mundo. Principalmente no caso de Brasil e
Rú ssia, a persistente dependência da exportaçã o de commodities é um obstá culo,
principalmente na atual conjuntura, na qual os preços de produtos como soja, minério de ferro
e petró leo estã o baixos devido a mercados deprimidos.
Contudo, todas as crises globais sã o cíclicas, e vá rios economistas já constatam uma retomada
gradual dos preços das commodities, o que no médio prazo deverá fortalecer as economias do
Brasil e da Rú ssia. Mesmo no auge da crise, países como Brasil e Á frica do Sul receberam
crescentes investimentos internacionais diretos, o que confirma a tendência de recuperaçã o
desses países.

Embora com menor ímpeto, a China continua com crescimento econô mico elevado e já se
transformou em uma potência industrial, com dimensõ es de produçã o e mercado notá veis e
crescentes.

Desse modo, conforme as palavras do embaixador Gilberto Fonseca Guimarã es de Moura, os


países do BRICS “incomodam”, pois têm obtido uma parcela crescente dos mercados – fato que
é necessariamente acompanhado pelo aumento da influência geopolítica, o que poderá no
futuro interferir na governança global.

p. 265 Atividade – Quem quer ser um milionário?

a) Mumbai é um centro econô mico e a capital da indú stria cinematográ fica da Índia. Nessa
cidade, situa-se a favela de Dharavi, a maior do mundo, com mais de um milhã o de habitantes.
Dharavi possui postos de trabalho dentro da favela, agregando o trabalho braçal dos seus
moradores. Ainda que a favela apresente condiçõ es precá rias de moradia, é bom salientar que
grande parte da populaçã o indiana dorme nas calçadas e pela manhã recolhem e andam com
seus pertences. Sã o milhares de pessoas que nã o possuem um teto, sequer na favela.

Pá gina 375

b) Na Índia, nã o há mobilidade social devido ao sistema de castas. Mesmo os indivíduos de


castas inferiores, ou os “intocá veis”, quando têm possibilidade de ascender socialmente, nã o
conseguem obter o respeito dos demais porque seu destino foi traçado no berço.

c) O sistema de castas passa a ser interessante para a exploraçã o do trabalho humano. Como a
maioria da populaçã o nã o tem acesso aos mecanismos de ascensã o social, nã o terã o êxito. Por
outro lado, o sistema de castas pode representar um empecilho ao desenvolvimento
econô mico. Atualmente, as castas superiores estã o suprindo o mercado de trabalho, porém
isso é temporá rio.

p. 272 Atividade – Aids

a) A comparaçã o entre as pirâ mides etá rias de 2000 e de 2025 permite visualizar uma
significativa reentrâ ncia na faixa etá ria de 35 a 60 anos. Isso demonstra que, caso as
estimativas se confirmem, a populaçã o sul-africana terá morte precoce em funçã o da epidemia
da aids.

b) A faixa etá ria que apresentará a maior reentrâ ncia na pirâ mide projetada para 2025 é
também a que compõ e parte da PEA (Populaçã o Economicamente Ativa). Dessa forma, caso o
problema nã o seja solucionado, o país poderá apresentar déficit de mã o de obra.

c) Grande parte da populaçã o sul-africana apresenta baixo nível de escolarizaçã o, como pode
ser observado nas informaçõ es do capítulo. Isso acarreta desinformaçã o quanto à s formas de
contaminaçã o da doença.

p. 273 Questões de Enem e vestibular


1. (Enem) C

Como mencionado corretamente na alternativa C, os países destacados, componentes do BRI-


CS, caracterizam uma aproximaçã o comercial por meio dos fó runs e acordos multilaterais,
constituindo, dessa forma, uma força expressiva no cená rio financeiro contemporâ neo. Estã o
incorretas as alternativas: A, porque evidenciam forte intervençã o do Estado em suas
economias; B, porque nã o se caracterizam como modelos vinculados à social-democracia; D,
porque especialmente China, Rú ssia e Índia apresentam fraturas em sua composiçã o étnico-
cultural; e E, porque representam um polo hegemô nico no cená rio geopolítico contemporâ neo.

2.(UFRGS-RS) C

I. Verdadeiro. O Mercosul é o bloco econô mico de maior expressã o da América Latina, sendo
composto por Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela e Paraguai (em suspensã o a partir de
2012) como membros permanentes; Bolívia, Chile, Equador e Colô mbia como membros
associados; e México como membro observador, além de contar com o Tratado de Livre
Comércio com Egito e Israel.

II. Verdadeiro. A Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América ou Tratado de Comércio
dos Povos é na atualidade a antiga Alba. É uma plataforma de cooperaçã o internacional
composta, entre outros, por Cuba, Bolívia, Equador e Venezuela.

III. Falso. O Tratado de Livre Comércio dos Estados Unidos ocorre em parceria com Canadá e
México. O Chile é associado.

3. (Enem) A

O primeiro grá fico demonstra que a maior parte das vendas do Brasil para a China é de
produtos bá sicos (minérios de ferro, soja, açú car etc.).

4. (UFG-GO) E

A Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América foi erguida pelo entã o presidente
venezuelano Hugo Chá vez como uma contraposiçã o econô mica e política à hegemonia dos
EUA. Os países signatá rios sã o: Antigua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Nicará gua, Sã o
Vicente e Granadinas e Venezuela.

5. (Uerj) A

A inclusã o social e o aumento da massa salarial sã o fatores que estimularam o investimento


nos países emergentes.

6. (Ufop-MG) D

Grande parcela da populaçã o chinesa vive em situaçã o de pobreza, embora os níveis do país
não sejam alarmantes em comparaçã o com outros países da Á sia, como a Índia. Durante a
vigência do socialismo, boa parte da populaçã o permaneceu no interior, em á reas rurais. Com a
adoçã o da orientaçã o econô mica capitalista, as maiores modernizaçõ es ocorreram em á reas
junto à extensa costa do país, para aonde deslocam-se migrantes das zonas rurais
empobrecidas.

Pá gina 376
7. (UFRJ)

A geopolítica brasileira se diferencia da dos demais países do BRIC pelos seguintes aspectos: o
Brasil nã o possui armamento de destruiçã o em massa; estabeleceu com a vizinha Argentina
laços de cooperaçã o pacífica nos setores nuclear e militar; estabeleceu com os países da costa
africana e sul-americana a Zona de Paz e Cooperaçã o do Atlâ ntico Sul; sua projeçã o enquanto
potência regional se dá preferencialmente de forma geoeconô mica e não através da dissuasã o
bélica.

p. 276 A notícia em diversas óticas

Professor, o autor Mauro Santayana é conhecido pela argú cia e pela acidez de seus textos. No
texto desta atividade, ele centra os seus argumentos contra a histó rica postura
intervencionista que marcou a presença dos EUA e das potências europeias no plano
internacional. Podemos caracterizar essa postura como “imperialista”.

À primeira vista poderia parecer quase impossível que as potências globais pudessem
observar os princípios de nã o intervençã o que o brasileiro Barã o do Rio Branco estabeleceu –
no século XIX – como um dos fundamentos do Ministério das Relaçõ es Exteriores do Brasil. É
verdade que as ditas potências necessitam urgentemente de acesso aos principais mercados de
trabalho, energia e consumo globais para manter o seu status. Contudo, ao menos uma ordem
global mais pacífica pode ser ambicionada. O Brasil, por exemplo, é um dos países que tem
cobrado, entre outras coisas, uma mudança na composiçã o do Conselho de Segurança da ONU,
atualmente controlado pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial – os quais também estã o
entre os maiores produtores de armas do mundo. Iniciativas assim nos levam a acreditar que,
por mais utó pico que possa parecer, “um outro mundo é possível”.

SUGESTÕES DE TEXTO PARA O PROFESSOR

Professor, nessa seçã o do Manual, indicamos um texto para seu estudo e formaçã o. Se
considerar pertinente, pode aproveitá -lo também em suas aulas.

Embora o texto tenha sido desenvolvido no período governamental de Hugo Chá vez, continua
importante e atual devido à s aná lises de estrutura desenvolvidas a respeito das relaçõ es de
poder na América do Sul.

A América do Sul em um mundo multipolar. A Unasul é a alternativa?

Duas lideranças desempenham um papel fundamental na Amé rica do Sul e definem duas visõ es diferentes da integraçã o
regional. De um lado está Hugo Chá vez, com um olhar geoestraté gico e militar; de outro, a diplomacia cautelosa e baseada no
desenvolvimento da economia e do comé rcio impulsionada pelo Brasil, cuja formulaçã o mais ambiciosa é a Uniã o de Naçõ es
Sul-Americanas (Unasul). A segunda estraté gia parece se impor sobre a primeira, segundo demonstra o papel deste novo
organismo na crise da Bolívia. O artigo argumenta que a Unasul pode vir a constituir-se em uma instâ ncia para enfrentar os
conflitos na regiã o e substituir progressivamente a Organizaçã o dos Estados Americanos (OEA), onde os Estados Unidos
mantê m um papel fundamental, mas ainda é necessá rio que ela adquira uma estrutura institucional capaz de sustentar suas
decisõ es ao longo do tempo.

SERBIN, A. A Amé rica do Sul em um Mundo Multipolar: A Unasul é a alternativa? Nueva Sociedad, dez. 2009. Disponível em:
<http://nuso.org/media/articles/downloads/p7-1_1.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016. Resumo disponível na fonte.

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