A piscicultura em reservatórios hidrelétricos no Brasil, e em particular no
Nordeste semiárido, tem se destacado como uma alternativa promissora para o desenvolvimento sustentável da pesca. Aproveitando os recursos hídricos das hidroelétricas, a formação do Polo de Tilapicultura do Submédio e Baixo São Francisco (SBSF) é um marco importante, impulsionado por iniciativas políticas e governamentais. O município de Paulo Afonso (BA) foi pioneiro, com ações que incluíram a construção de viveiros escavados e o uso de tanques-rede, atraindo investidores e formando associações para a produção de tilápias. Contudo, desafios ambientais, como mortandades de peixes, levaram à redistribuição dos projetos para outros reservatórios, expandindo a atividade para outros municípios.
A cadeia produtiva enfrenta desafios como comercialização informal, falta de
unidades de beneficiamento para pequenos e médios produtores, e períodos de estiagem. Ainda assim, a atividade se consolidou na região, com uma classificação sugerida para os empreendimentos baseada no tamanho dos produtores. A predominância de pequenas escalas de produção, com 69,23% dos produtores classificados como pequenos, influencia a viabilidade econômica e a gestão ambiental.
A piscicultura traz benefícios como o uso eficiente dos recursos hídricos,
geração de renda para comunidades locais e produção controlada. No entanto, enfrenta desafios como impactos ambientais, riscos sanitários e dependência de insumos. O acúmulo de resíduos orgânicos e a propagação de doenças requerem atenção e manejo adequado.
Além de ser uma alternativa econômica para regiões dependentes da
agricultura, a piscicultura contribui para a segurança alimentar e a conservação de espécies nativas. Por outro lado, a introdução de espécies exóticas e o aumento de nutrientes podem alterar a biodiversidade e a qualidade da água. Conflitos de uso dos reservatórios e a sustentabilidade a longo prazo são preocupações, assim como a poluição e a eutrofização. A alta densidade de peixes pode facilitar a disseminação de doenças, afetando populações cultivadas e selvagens. A atividade também pode gerar desigualdades socioeconômicas, beneficiando grandes produtores em detrimento de pequenos pescadores locais. Portanto, a piscicultura representa um complexo equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental, exigindo práticas sustentáveis e responsáveis.
A piscicultura em reservatórios hidrelétricos é uma atividade complexa que
requer gestão cuidadosa e abordagem holística. O estudo de Ribeiro et al. (2015) oferece uma visão valiosa sobre os potenciais e desafios dessa prática, destacando a necessidade de equilibrar os interesses econômicos com a preservação ambiental e a justiça social. A implementação de práticas sustentáveis e inclusivas será crucial para o sucesso a longo prazo da piscicultura nos reservatórios hidrelétricos do Brasil. É fundamental que políticas públicas e práticas de manejo adequadas sejam implementadas para maximizar os benefícios e minimizar os riscos associados a essa atividade. Assim, a piscicultura em reservatórios hidrelétricos pode ser uma estratégia valiosa para o desenvolvimento sustentável do setor pesqueiro no Brasil, desde que conduzida com responsabilidade e visão de futuro.
E.A; TENÓRIO, M.A.L.S; LINO e SILVA, I.L. A piscicultura nos reservatórios hidrelétricos do submédio e baixo São Francisco, região semiárida do nordeste do Brasil. Acta of Fisheries and Aquatic Resources., v. 13, n. 1, p. 91-108, 2015 1