Resenha crítica – A Arte no contexto de Promoção à Saúde Mental no Brasil
Maria Priscila Figueiredo Angelim1
Graduação em Medicina Disciplina: Metodologia
O texto “A arte no contexto de Promoção à Saúde no Brasil”, a qual se pretende a
discussão a seguir, possui como autores Guerreiro, et.al (2022) e foi designado às discussões propostas pela revista eletrônica Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento” em seu décimo primeiro volume. É interesse das obras anexadas nessa revista, notabilizar a necessidade do debate acerca dos avanços tecnológicos na área da saúde, uma vez que estas práticas careceram de uma atenção específica no âmbito da saúde mental, como é percebido até hoje. O artigo, em suma, discute a respeito do processo histórico da atenção à saúde mental, relacionando-a não apenas a um construto nosológico, mas considerando a perspectiva cultural, social e pessoal de cada época. Com a evolução da forma de perceber e tratar dos quadros de saúde mental, as práticas do fazer saúde destinadas ao outro neste contexto foram, cada vez mais, necessitando de intervenções da bioética, a ética que trata de questões intrinsicamente ligadas ao humano e se desenvolve a partir do interesse pelas ações pautadas no bem-estar e integridade da pessoa humana. Esta discussão se estende, especialmente, em dois tópicos: o da introdução, onde se faz uma reflexão sobre a transição paradigmática em saúde mental, desde um período onde as explicações mágico-religiosas eram predominantes até as descobertas “desmistificantes” de Freud, que se contrapunha a noção de que a medicina era capaz de explicar toda a anormalidade do corpo, definindo, deste então, um espaço muito importante para a compreensão dos processos mentais e o seu adoecimento. O segundo tópico, o dos resultados e discussões, destina-se a apresentar o histórico do desenvolvimento das artes expressivas no cuidado à saúde mental, a apresentação de casos e contextos que nortearam e fortificaram a relevância da efetivação desta ao longo dos anos no campo da Rede de Atenção Psicossocial. Ao que se refere ao conteúdo trabalhado no tópico da introdução, os autores dedicam-se a apresentar para o leitor o percurso teórico-prático da saúde mental, inicialmente marcado por uma noção de que o doente mental ora era dotado de uma experiência espiritual “superior”, tido como alguém eleito pelas divindades, ora era percebido como uma manifestação do mal, oriunda da possessão de demônios, apontados como castigo ou punição. Com os avanços das pesquisas e da percepção prática, aqui os autores denotam inicialmente uma forte influência dos papiros, a noção acerca da saúde mental toma, progressivamente, uma forma mais corporal do que espiritual, traçando um caminho onde, para a compreensão desta área, carecerá dos conhecimentos das áreas de anatomia e fisiologia, período marcado pela arte médica. Já no segundo tópico, onde se desenvolve a discussão sobre o uso da arteterapia no cuidado em saúde mental, os autores propõem que inicialmente a arte era tida como uma atuação confusa frente à utilização de outros recursos tecnológicos, estando um tanto distanciada da percepção desta como uma prática de cuidado possível e acessível no campo da saúde, mas que tornou-se, ao longo dos anos uma ferramenta potente no tocante ao trabalho coletivo, a expressão do sujeito e possibilidade de margear esse conteúdo. Toda a discussão levantada pelos autores da obra aqui citada acerca da construção histórica das ações e percepções no âmbito da saúde mental é fortalecida pelos estudos de Amarante (2003) e Frayze-Pereira (2002), que apresentam também uma extensa discussão no período em que a loucura recebia uma perspectiva mística e traçam em seus estudos marcos em cada período (Idade Média, Moderna e Tempos Contemporâneos), que no texto em si é pouco trabalhado. Segundo Pessotti (1996) as práticas que são propostas no campo da saúde mental nos últimos anos produzem uma revolução no contexto das práticas asilares por trazer para este uma noção de cuidado médico, noção esta que antes era destituída desta realidade, trazendo para a loucura uma noção nosológica, porém o tratamento contemporâneo é, muitas vezes, baseado e fundamentado, ainda, em ações coercivas, propondo uma relação terapêutica baseada na autoridade. No tocante às ações em saúde, especificamente no contexto de saúde mental, a discussão, como indiciado pelos autores, é extensiva, mas ainda insuficiente, muitos autores, aqui destaco Heidrich (2007), Perrone (2014), Fossi e Guareschi (2015) indicam práticas transvestidas de cuidado que, na verdade, são pautadas para coibir o sujeito e distanciam as práticas de saúde do modelo ideal de cuidado ao qual se pretende quando se discute e se aplica o conceito da arteterapia, a modelo, as comunidades terapêuticas fortalecidas pelas últimas políticas destinadas a população de saúde mental. Portanto, o interesse pretendido pelos autores, através do debate realizado aqui, é de alcançar não apenas profissionais de saúde que, diretamente, estão implicados com o paradigma das ações desenvolvidas no cuidado em saúde mental, mas a comunidade em geral, que também está relacionada de forma extensiva, já que são os “consumidores” de todas as ações pautadas no contexto da saúde e necessitam assumir uma postura crítica frente das ações que lhe são destinadas, em busca de promover ferramentas que possibilitem um cuidado subjetivo e de produção de autonomia e trabalho participativo.
REFERÊNCIAS
AMARANTE, Paulo et al. A (clínica) e a Reforma Psiquiátrica. Archivos de saúde
mental e atenção psicossocial, v. 1, p. 45-65, 2003.
FOSSI, Luciana Barcellos; DE FÁTIMA GUARESCHI, Neuza Maria. O modelo de
tratamento das comunidades terapêuticas: práticas confessionais na conformação dos sujeitos. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 15, n. 1, p. 94-115, 2015.
FRAYZE-PEREIRA, João. O que é loucura? São Paulo: Brasiliense, 2002.
HEIDRICH, Andréa Valente et al. Reforma psiquiátrica à brasileira: análise sob uma perspectiva da desinstitucionalização. 2007
PERRONE, Pablo Andrés Kurlander. A comunidade terapêutica para recuperação da
dependência do álcool e outras drogas no Brasil: mão ou contramão da reforma psiquiátrica?. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, p. 569-580, 2014.
PESSOTTI, Isaías. O século dos manicômios. Editora 34, 1996.