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CONFECÇÃO DE

PANO DE REDE
DE PESCA
Teodoro Vaske Júnior

2019
V456c Vaske Junior, Teodoro

Confecção de pano de rede de pesca / Teodoro Vaske Junior.


– São Vicente: Campus do Litoral Paulista – Instituto de
Biociências, 2019.
50 p.; il.

ISBN: 978-85-61498-15-3

1. Pesca. 2. Rede – Confecção. I. Teodoro Vaske Junior.


II. Título

CDD 639.2
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Biblioteca e Documentação
UNESP – Instituto de Biociências / Campus do Litoral Paulista

Teodoro Vaske Júnior


Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Campus do Litoral Paulista – (UNESP-CLP), Instituto de Biociências
Laboratório de Biologia e Conservação de Organismos Pelágicos (LABCOP)
Praça Infante Dom Henrique, s/n, Parque Bitaru
CEP: 11380-972 - São Vicente, SP - Brasil
E-mail: teovaske@gmail.com

Todas as ilustrações e fotos são do autor

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AGRADECIMENTOS
O autor gostaria de agradecer a colaboração das seguintes
colegas que auxiliaram na sequência das fotografias, fundamentais
para o entendimento das confecções:
Fernanda Lopes Fonseca da Silva (modelo destra)
Jéssica Thais Corsso (modelo destra)
Priscilla Marchetti Dolphine (modelo canhota)
Camila Regis Segala (modelo do nó de tarrafa)
Igualmente gostaria de agradecer as sugestões e correções
dos colegas Profs. Drs. Paulo Eurico Pires Ferreira Travassos
(UFRPE-Recife), Antonio Olinto Ávila da Silva (IP-Santos),
Domingos Garrone Neto (UNESP-Registro) e Otto Bismarck
Fazzano Gadig (UNESP-São Vicente) que gentilmente atuaram como
revisores (Portaria n.o 038/2018, UNESP-IB-CLP) para a
elaboração final deste trabalho.

São Vicente – SP

Março de 2019

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ÍNDICE

Apresentação ............................................................................................. 5
Material para confecção .......................................................................... 6
Preenchimento da agulha ........................................................................ 12
Confecção pra destros ............................................................................ 14
Confecção com nó de escota duplo....................................................... 31
Confecção com o nó de tarrafa ............................................................. 33
Confecção para canhotos........................................................................ 36
Recarregamento da agulha com linha .................................................. 48
Nós úteis .................................................................................................... 49
Bibliografia consultada ........................................................................... 50

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APRESENTAÇÃO

O presente livro tem o objetivo de ensinar a confeccionar uma


malha de rede básica de pesca. A rigor é uma malha que serve não
apenas para redes de pesca, mas para qualquer rede utilizada para
os mais diversos fins, como redes para equipamentos esportivos,
redes de proteção, adornos, e outros fins.
A rede de pesca é um artefato utilizado pelo homem há pelo
menos 5.000 anos para capturar diversos tipos de organismos
aquáticos, mas principalmente peixes, e desde a antiguidade pouco
mudou na sua estrutura e forma de uso. A principal mudança foi a
invenção do náilon nos anos 1930, que substituiu as linhas antigas
compostas e trançadas de algodão e fibras. Mas
independentemente do tipo de linha, a confecção das redes
continua idêntica como as de antigamente, embora muitos panos
sejam fabricados hoje de forma industrial pela necessidade de
rapidez de finalização. Os aparelhos de pesca podem ser
categorizados em seis tipos: emalhe, arrasto, cerco, cesto, tarrafa
e armadilha. Todos utilizam um pano confeccionado da mesma
maneira e com a mesma finalidade de reter os organismos pescados,
o que muda vai ser o tipo de linha e tamanho de malha que são muito
variáveis para cada tipo de arte de pesca.
Nas últimas décadas surgiram diversos cursos direcionados
não só aos estudos de biologia marinha, e recursos pesqueiros ao
longo da costa brasileira, mas também ecologia de águas interiores
como rios e lagoas que utilizam redes em coletas e nas disciplinas
específicas para tecnologia pesqueira. Dentro desta linha a
presente proposta é levar ao conhecimento dos acadêmicos,
profissionais e estudiosos, como se confecciona uma rede de pesca,
objetivando vivenciar na prática como é o trabalho artesanal dos
pescadores e contribuindo na qualificação profissional. Também
como obra de apoio em disciplinas teóricas e práticas que tratam de
artes de pesca nas diversas instituições e universidades brasileiras.
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MATERIAL PARA CONFECÇÃO

Para se confeccionar um pano de rede são necessários alguns


equipamentos e objetos, dentre os quais agulhas, linhas, corda
grossa e malheiro (Fig. 1):

Figura 1- Material básico para confecção de pano de rede de pesca.

1 – Agulha de rede: Também conhecida como agulha de reparo é


uma agulha com formato apropriado para o trabalho de finalização
dos nós e para armazenar a linha. As agulhas clássicas possuem um
formato alongado, com ponta afilada, duas hastes ou
prolongamentos na parte posterior e uma haste na parte central
vazada (Fig. 2).

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Figura 2 – Agulha padrão de rede de pesca.

As agulhas antigas eram fabricadas manualmente em osso,


madeira e bambu e as linhas eram elaboradas a partir de fibras
vegetais e crina de cavalo. As agulhas modernas podem ser de
metal, madeira, náilon ou plástico rígido de várias cores. Há
diversos formatos e tamanhos disponíveis no mercado, sempre
adequadas ao tipo de rede que se quer confeccionar (Fig. 3).

Figura 3 – Agulhas de redes de pesca de diferentes formatos.

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Quanto menor o tamanho da malha da rede, menor deve ser a
agulha para poder passar entre as malhas durante a confecção, ou
seja, a largura da agulha sempre deverá ser menor do que o
tamanho da malha. As agulhas devem ter as pontas bem afiladas
para facilitar a passagem entre as malhas, por isso algumas agulhas
com pontas arredondadas são inadequadas e devem ser evitadas
(Fig.4).

Figura 4 - Pontas arredondadas ou afiladas de agulhas de pesca.

2 - Linhas: As linhas devem ser adequadas aos mais diversos tipos


de panos de redes que se deseja confeccionar. Podem ser de
algodão, náilon, seda, fibra, e também podem ser monofilamento, ou
seja, um único fio, ou também multifilamento, onde a linha é
composta por vários fios. As linhas multifilamento podem ser
torcidas ou trançadas e são fabricadas com fios iguais ou
diferentes, tanto em composição quanto em cor, o que vai conferir à
linha as mais diferentes características de formatos, cores e
resistências para as mais diversas finalidades. Por exemplo, para
redes de pesca de emalhe, as linhas de náilon monofilamento são
mais adequadas pela resistência, espessura, transparência,
durabilidade e elasticidade. Para redes de arrasto, as linhas
trançadas são mais adequadas, pois conferem resistência ao atrito
com o fundo e ao pano como um todo. Para redes ornamentais, as
linhas multifilamento de algodão e fibra são mais adequadas pelo
volume e por serem mais facilmente tingidas com diferentes cores.

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3 – Malheiro: O malheiro é um equipamento que vai definir na
confecção o tamanho da malha que se deseja trabalhar. É uma peça
de madeira, plástico ou metal, em formato retangular nem muito
comprida e nem muito curta, ou seja, com comprimento mínimo de
10 cm e no máximo 30 cm para facilitar o manuseio durante a
confecção. As réguas escolares clássicas de plástico ou madeira
servem bem como malheiro, dependem apenas da largura para se
poder obter o tamanho de malha desejado. O tamanho da malha
entre-nós (Fig. 5) é definido pela largura da régua. Uma régua com
3,0 cm de largura vai originar uma rede com 3,0 cm de malha entre-
nós. Uma régua com 10,0 cm de largura vai originar uma rede com
10,0 cm entre-nós. Quando se pensar no tipo de rede que se quer
confeccionar é preciso já se pensar no tamanho da agulha, no tipo
de linha e na largura do malheiro para que o trabalho de confecção
não passe por dificuldades durante a execução.

Figura 5 – Medidas de malha de rede nos modos de nós opostos ou


entre-nós com diferentes aberturas de malhas possíveis.

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4 – Corda: Um pequeno pedaço de corda grossa de qualquer tipo,
com cerca de um metro de comprimento, é necessário para se
segurar a primeira fileira de malhas do pano de rede. Após a
fixação da primeira fileira de malhas, a outra extremidade da corda
será amarrada em uma estrutura pesada ou fixa qualquer, de
preferência uma alça ou gancho na parede.

Um pano de rede é feito a partir de uma primeira fileira de


malhas e a partir desta primeira fileira, será desenvolvido o pano
todo. Ou seja, os panos de redes clássicos são retangulares (Fig. 6).

Figura 6 – Pano de rede de pesca.

Por exemplo, pode-se confeccionar uma rede com a primeira


fileira contendo 20 malhas e a partir daí se desenvolver o pano com
20, 50, 200 fileiras, quanto se desejar. A rede sempre terá um lado
de tamanho fixo e crescerá indefinidamente em comprimento no
tamanho que se desejar. Existem técnicas de aumento e diminuição
do pano, de modo que também se possam confeccionar panos em
forma de triângulos e trapézios. Para isso basta aumentar ou

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diminuir malhas no último nó de cada fileira, mas é um trabalho que
exige cálculos e não será incluído no presente livro. As técnicas de
aumento e diminuição de malhas são úteis para confecção de redes
com desenho especial como redes de armadilhas e tarrafas. Outra
maneira prática de se fazer aumento ou diminuição de malhas é o
simples corte em determinados pontos do pano de rede retangular
de modo a moldar o formato de pano que se deseja. O inconveniente
deste método é a perda de linha utilizada na confecção para depois
ser cortada e descartada. Os cortes de pano podem ser feitos de
três maneiras, horizontal, vertical e oblíquo, conforme o formato de
pano desejado (Fig. 7).

Figura 7 – Diferentes cortes de pano de rede para obtenção de


formatos triangulares ou trapezoidais.

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Antes de iniciar o trabalho é preciso providenciar uma coisa
muito importante. É necessário um ponto fixo para segurar a rede
durante a sua confecção. Este ponto fixo pode ser uma alça
qualquer de algum objeto pesado ou uma estrutura fixa em alguma
parede. Pode ser uma alça de uma bombona cheia de água como será
o exemplo neste caso, ou pode ser um gancho na parede, uma viga
de uma grade, uma perna de uma mesa, enfim, qualquer ponto fixo,
imóvel e que permita fazer amarrações com facilidade.
Um detalhe na técnica manual de confecção de redes é que a
técnica varia para destros e canhotos. Por isso, serão apresentadas
as duas opções, pois para um canhoto, as posições das mãos são
invertidas como em um espelho.

PREENCHIMENTO DA AGULHA

A primeira providência é carregar a agulha com a linha. Faz-se


uma alça que passa pela haste central e segura-se com o dedo
polegar (Fig. 8). A seguir passa-se a linha pela parte de baixo da
agulha e gira-se a agulha no sentido do seu eixo menor (Fig. 9).
Passa-se novamente a linha pela haste central, passa-se novamente
pela parte de baixo e gira-se novamente a agulha. E assim por
diante, a cada passada da linha pela parte de baixo, dá-se um giro
na agulha de modo que a linha vá se acomodando de maneira
homogênea nos dois lados, até o preenchimento total da agulha
(Fig.10), momento em que a maior parte da haste estará coberta
pela linha (Fig. 11).

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CONFECÇÃO
PARA
DESTROS

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CONFECÇÃO PARA DESTROS

A seguir é descrita passo a passo a sequência de confecção de


um pano de rede para destros.
Após a escolha da agulha, linha, malheiro e de um ponto fixo, e
após carregar a agulha com a linha, o próximo passo é fazer uma
primeira alça base que será a origem da primeira fileira de malhas.
Esta primeira alça base é feita através de um nó lais de guia, um nó
de extrema utilidade, pois é muito fácil de fazer e forma uma alça
que não corre mesmo puxando qualquer uma de suas pontas (Fig.12).

Figura 12 - Nó lais de guia.

O nó lais de guia se inicia com uma passada da linha pela alça


da bombona segurando-se a extremidade com a mão direita (Fig.13).
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Com a mão esquerda faz-se uma alça menor com a linha, de modo
que a linha que vem da alça da bombona fique por baixo (Fig.14).

A seguir passa-se a extremidade da linha com a mão direita


por dentro da alça vindo por baixo (Fig.15). Passa-se então a
extremidade da linha por trás da linha que vem da bombona e
retorna a passar por dentro da alça (Fig.16). Segura-se a alça com a
mão esquerda, e com a direita segura-se a extremidade da linha
puxando-se e fechando o nó (Fig.17). Pronto, está feito o lais de
guia, que deve ser apertado com força para ficar bem firme. Tem-
se então a alça de linha que servirá de base para o início da
confecção da primeira fileira de malhas. A extremidade da linha
que sobra do nó pode atrapalhar ou não o processo de confecção,
dependerá da habilidade de cada um, mas é recomendável cortar a
extremidade com uma tesoura e deixar apenas o nó para facilitar a
passagem da agulha.

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Na próxima etapa já é necessário o uso do malheiro, neste
caso uma régua escolar. Com o malheiro na mão esquerda, passa-se a
linha por cima e coloca-se o nó da alça na posição em cima da borda
do malheiro (Fig.18). Passa-se a linha por baixo do malheiro e com a
ponta da agulha passa-se por dentro da alça vindo de baixo para
cima. Estica-se a linha firmemente até a linha envolver a largura do
malheiro e segura-se a alça com o polegar esquerdo (Fig.19). Passa-
se então a linha por cima da mão esquerda (Fig.20) e volta a passar
a agulha por trás da alça, ou seja, por trás das duas linhas da alça,
formando o nó de escota (Fig. 21), que é o nó clássico das redes de
pesca.

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Figura 21 – Nó de escota.

Neste momento é importante que a alça do nó seja apertada


por cima do polegar e não por baixo, do contrário o nó irá correr e a
malha poderá ficar com tamanhos diferentes (Fig.22).

Figura 22 – Maneira como se forma o nó de escota no malheiro.

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Apertar firme o nó formado puxando-se a linha com a mão
direita e segurando-se firmemente o malheiro com a mão esquerda.

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Depois de feita a primeira malha, passa-se para a confecção
da segunda malha. Para isso, solta-se a primeira malha do malheiro e
refaz-se o mesmo procedimento com a próxima malha, passando-se
a agulha pela alça feita anteriormente (Fig.23 a Fig.27).
Depois de feita, tem-se então a malha que dará início a
primeira fileira de malhas do pano de rede, ou seja, a repetição
originará o número de malhas de um lado da rede, a partir do qual as
carreiras vão ser acrescentadas para se obter o comprimento da
rede. Repete-se então o mesmo procedimento para se fazer a
segunda malha, Novamente posiciona-se o malheiro por baixo da
primeira malha pronta, passa-se a agulha pela alça (Fig.28), segura-
se a alça com o polegar (Fig.29), passa-se a linha por cima da mão
esquerda (Fig.30), passa-se a agulha por trás da primeira alça e
aperta-se o nó.

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Pronto, está feita a segunda malha da primeira fileira. Solta-
se novamente esta segunda malha do malheiro e repete-se o
procedimento para se fazer a terceira malha nos mesmos
procedimentos anteriores (Fig.23 a Fig.27). Assim, vai-se montando
a primeira fileira de malhas, por exemplo, sete malhas (Fig.31 e
Fig.32). Se se deseja iniciar uma rede com sete malhas de lado,
então é necessário se fazer 14 malhas, para a separação em duas
partes, que é o próximo passo para segurar a rede em um ponto
fixo.
Ao se finalizar as 14 repetições, coloca-se a linha em cima de
uma mesa e separa-se uma malha para cada lado (Fig.33). Neste
momento é necessária a utilização da corda grossa que deverá
segurar a primeira fileira de malhas. Passa-se a corda pela primeira
fileira de malhas captando-se cada malha de maneira alternada até
se prender toda a primeira fileira de malhas (Fig.34 a Fig.36). Feito
isso, amarra-se a corda novamente na alça da bombona.

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O procedimento para se amarrar a primeira fileira de malhas
segue dois passos. O primeiro passo é dar um nó na corda que
passou nas primeiras malhas e formou uma alça (Fig.37). O nó para
se fechar esta alça com as malhas é o já conhecido lais de guia
(Fig.12). O segundo passo é se amarrar o conjunto com a outra
extremidade da corda em um ponto fixo que novamente pode ser a
alça da bombona. É importante que o nó que se vai dar para segurar
o conjunto de malhas na bombona seja um nó fácil de amarrar e de
desamarrar, e também que tenha a praticidade de encurtar ou
aumentar o comprimento da corda. Pois assim pode-se regular a
distãncia do ponto fixo que se deseja trabalhar. Este nó fácil e
regulável é agora o nó de correr (Fig. 37b). Para se fazer o nó de
correr, passa-se a corda pela alça da bombona e segura-se a
extremidade com a mão direita (Fig.38). A seguir a extremidade é
lançada por cima da mão esquerda, entre a mão e a alça da bombona
formando um seio de uns 8 cm de diâmetro (Fig.39). Na sequência,
pega-se a corda do lado esquerdo e puxa-se por dentro do seio
formado (Fig.40) de modo que se forme uma alça menor que deverá
ser apertada até que o nó se feche (Fig.41). Para desatar o nó basta
apenas puxar a extremidade da corda e o nó se desfaz com
facilidade.

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Fig. 37b - Nó de correr.

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Com o conjunto amarrado na bombona e com a primeira fileira
de malhas fixas pode-se dar início a confecção da segunda fileira
de malhas. Antes de iniciar a confecção da segunda fileira de
malhas da rede é importante localizar bem onde estão as malhas da
primeira fileira, pois nesta primeira fileira as linhas estão
amontoadas e deve-se ter o cuidado de conferir corretamente as
malhas a serem trabalhadas, ou seja, se estão com os nós bem
firmes e se estão com os tamanhos padronizados (Fig.42).

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Aí se repete o processo de confecção das malhas para a
próxima fileira (Fig.43 a Fig.45).
Importante: Apenas as malhas da primeira fileira é que vão sendo
soltas do malheiro na medida em que cada uma vai sendo finalizada.
A partir de agora todas as malhas que forem sendo finalizadas
devem ficar armazenadas no malheiro (Fig.46).

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Então, a partir daí, basta ir se confeccionado as malhas
sempre se mantendo a rede esticada e tracionada, segurando-se o
malheiro com firmeza para que os nós sejam sempre bem
padronizados e apertados (Fig.47 a Fig.50). Ao terminar a segunda
fileira de malhas, aí sim, soltam-se todas as malhas do malheiro e
começa-se a confecção da terceira fileira de malhas repetindo-se o
mesmo processo (Fig.51 a Fig.54).

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Com as primeiras fileiras confeccionadas já é possível ver o
pano de rede que começa a tomar forma (Fig.55 a Fig.56).

Por fim, quando a linha da agulha acabar, basta reabastecer a


agulha e dar um nó firme para emendar as linhas e continuar o
trabalho. Um nó de emenda fácil e eficiente é o nó direito (Fig. 57),
embora outros nós também possam ser usados como o nó de
pescador, nó de escota e nó de emenda (anexo I)

Figura 57 – Nó direito.

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CONFECÇÃO COM NÓ DE ESCOTA DUPLO

Este é outro tipo de nó que pode ser aplicado como nó da


malha. É mais firme que o nó de escota simples e não corre, como
pode acontecer com o nó de escota simples caso este não seja
finalizado corretamente. Por isso, é até recomendado se utilizar o
nó de escota duplo no primeiro ensino em uma aula de confecção de
rede, pois basta puxar para apertar. Não é preciso o cuidado que se
tem que ter ao apertar o nó de escota simples. Para fazer o nó de
escota duplo repete-se o mesmo procedimento do nó de escota
anterior, no entanto, há uma laçada a mais neste nó. Estica-se a
linha firmemente até a linha envolver a largura do malheiro e
segura-se a alça com o polegar esquerdo. Passa-se então a linha por
cima da mão esquerda e volta a passar a agulha por trás da alça
como se fosse fazer o nó de escota anterior (Fig.58), mas após
passar a linha por trás da alça, volta-se a passar a linha desta vez
por dentro da alça (Fig.59), formando o nó de escota duplo (Fig.60).

Ao finalizar, puxar a linha com a mão firmemente para baixo,


até o nó se apertar no malheiro (Fig.61).

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O nó de escota duplo é mais firme e mais volumoso que o nó de
escota simples e sua visualização de como é confeccionado no
malheiro pode ser vista na figura 62.

Figura 62- Nó de escota duplo confeccionado no malheiro.

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CONFECÇÃO COM O NÓ DE TARRAFA

O nó de tarrafa é outro tipo de nó que pode ser aplicado como


nó da malha na confecção. É assim chamado porque os pescadores
que confeccionam tarrafas costumam ter preferência por este nó
que é considerado mais adequado e firme para este tipo de rede.
Para se fazer o nó de tarrafa é necessário se segurar o malheiro
com a mão por baixo (Fig.63), pois é preciso usar o dedo mínimo da
mão. Inicia-se com o mesmo procedimento do nó de escota simples,
no entanto, há uma mudança na próxima etapa. Ao invés de fazer a
laçada por cima da mão esquerda, passa-se a linha por baixo do
malheiro e apoia-se a linha com o dedo mínimo. Aí se passa a agulha
pegando as duas linhas (Fig.64), depois se sobe a agulha um pouco,
volta por baixo passando desta vez por entre as duas linhas da
malha (Fig.65) e termina-se o nó pegando-se a alça que está sendo
segura pelo dedo mínimo (Fig.66 a Fig.68). Aí se amarra o nó
puxando-se a agulha firmemente para baixo (Fig.69). Este nó é
composto por três passagens, ou seja, após segurar a linha com o
dedo mínimo, pega-se duas linhas, depois entre as linhas e por
último pega-se a alça no dedo mínimo. A sequência depois é igual a
dos outros nós até finalizar a fileira (Fig.70). O nó de tarrafa é um
nó mais volumoso, mas igualmente forte para redes de uso ativo e
de muito manuseio como é a tarrafa (Fig.71).

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Figura 71- Nó de tarrafa confeccionado no malheiro.

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CONFECÇÃO
PARA
CANHOTOS

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CONFECÇÃO PARA CANHOTOS

A seguir é descrita passo a passo a sequência de confecção de


um pano de rede para canhotos. A rigor é a mesma sequência para
destros, muda-se apenas o posicionamento e a maneira de segurar o
material.
Após a escolha da agulha, linha, régua e de um ponto fixo, e
após carregar a agulha com a linha, o próximo passo é fazer uma
primeira alça base que será a origem da primeira fileira de malhas.
Esta primeira alça base é feita através de um nó lais de guia, um nó
de extrema utilidade, pois é muito fácil de se fazer e forma uma
alça que não corre mesmo puxando qualquer uma de suas pontas. O
nó lais de guia se inicia com uma passada da linha pela alça da
bombona segurando-se a extremidade com a mão esquerda (Fig.72).
Com a mão direita faz-se uma alça menor com a linha, de modo que a
linha que vem da alça da bombona fique por baixo (Fig.73). A seguir
passa-se a extremidade da linha com a mão esquerda por dentro da
alça vindo por baixo (Fig.74). Passa-se então a extremidade da linha
por trás da linha que vem da bombona (Fig.75) e retorna a passar
por dentro da alça (Fig.76).

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Segura-se a alça com a mão direita, e com a esquerda segura-
se a extremidade da linha puxando para fechar o nó (Fig.77).
Pronto, está feito o lais de guia, que deve ser apertado com força
para ficar bem firme (Fig.78). Tem-se então a alça de linha que
servirá de base para o início da confecção da primeira fileira de
malhas.

Na próxima etapa já é necessário o uso do malheiro. Com o


malheiro na mão direita, passa-se a linha por cima do malheiro e
coloca-se o nó da alça na posição em cima da borda do malheiro
(Fig.79). Passa-se a linha por baixo do malheiro e com a ponta da
agulha passa-se por dentro da alça vindo de baixo para cima
(Fig.80). Estica-se a linha firmemente até a linha envolver a largura
do malheiro e segura-se a alça com o polegar direito (Fig.81).

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Passa-se então a linha por cima da mão direita e volta a passar
a agulha por trás da alça formando o nó de escota, que é o nó
clássico das redes de pesca (Fig.82). Neste momento é importante
que a alça do nó seja apertada por cima do polegar (Fig.83) e não
por baixo, do contrário o nó irá correr e a malha ficará com
tamanhos diferentes. Apertar firmemente o nó formado puxando-
se a linha com a mão esquerda e segurando-se firmemente a régua
com a mão direita (Fig.84). Depois de feita a primeira malha, passa-
se para a confecção da segunda malha. Para isso, solta-se a primeira
malha do malheiro e refaz-se o mesmo procedimento com a próxima
malha, passando-se a agulha pela alça feita anteriormente (Fig.85).

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Depois de feita, tem-se então a malha que dará início a
primeira fileira de malhas do pano de rede, ou seja, a repetição
originará o número de malhas de um lado da rede, a partir do qual as
carreiras vão ser acrescentadas para se obter o comprimento da
rede. Repete-se então o mesmo procedimento para se fazer a
segunda malha, Novamente posiciona-se o malheiro por baixo da
linha, passa-se a agulha pela malha, segura-se a linha com o polegar
(Fig.86), passa-se a linha por cima da mão esquerda (Fig.87), passa-
se a agulha por trás da primeira malha, e aperta-se o nó (Fig.88 a
Fig.93).

42
43
Pronto, está feita a segunda malha da primeira fileira. Solta-
se novamente esta segunda malha do malheiro e repete-se o
procedimento para se fazer a terceira malha nos mesmos
procedimentos anteriores (Fig.94 a Fig.95).

44
Assim, vai-se montando a primeira fileira de malhas, por
exemplo, sete malhas. Se se deseja iniciar uma rede com sete
malhas de lado, então é necessário se fazer 14 malhas, para a
separação em duas partes, que é o próximo passo para segurar a
rede em um ponto fixo.
Ao se finalizar as 14 repetições, coloca-se a linha em cima de
uma mesa e separa-se uma malha para cada lado (Fig.96). Neste
momento é necessária a utilização da corda grossa que deverá
segurar a primeira fileira de malhas. Passa-se a corda pela primeira
fileira de malhas captando-se cada malha de maneira alternada até
se prender toda a primeira fileira de malhas (Fig.97 a Fig.99). Feito
isso, amarra-se a corda novamente na alça da bombona. Tem-se
agora então, a primeira fileira de malhas presa pela alça da corda e
pode-se dar início à confecção da segunda fileira de malhas da
rede.

45
Antes de iniciar a segunda fileira de malhas, localizar bem
onde estão as malhas (Fig.100 e Fig.101), pois nesta primeira fileira
as linhas estão amontoadas e deve-se ter o cuidado de se pegar
corretamente as malhas a serem trabalhadas.

Aí se repete o processo de confecção dos nós para a próxima


fileira como visto para os destros.

Importante: Apenas as malhas da primeira fileira é que vão


sendo soltas do malheiro na medida em que cada uma vai sendo
finalizada. A partir da segunda fileira de malhas, todas as malhas
que forem sendo finalizadas devem ficar armazenadas no malheiro.
A partir daí, então, basta ir se confeccionado as malhas
sempre se mantendo a rede tracionada, segurando-se o malheiro
com firmeza para que os nós sejam sempre bem padronizados e
apertados (Fig.102 a Fig.105). Ao terminar a segunda fileira de
malhas, aí sim, soltam-se todas as malhas do malheiro e começa-se a
confecção da terceira fileira de malhas repetindo-se o mesmo
processo (Fig.106 e Fig.107).

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47
RECARREGAMENTO DA AGULHA COM LINHA

Vai chegar um momento em que a linha da agulha vai acabar


durante o trabalho de confecção. Então, deixa-se a extremidade da
linha solta da rede e se procede o preenchimento da agulha
novamente pelo mesmo processo de preenchimento para se iniciar o
trabalho com agulha. Após a agulha estar preenchida com a linha dá-
se um nó para unir a linha da agulha com a extremidade da linha do
pano de rede e assim pode-se retomar a confecção das malhas. Há
vários nós que podem ser utilizados para amarrar as duas linhas.
Recomenda-se o nó direito por ser o mais simples, fácil, menos
volumoso e de boa amarração (Fig. 57). Também pode-se usar o nó
de escota, o nó de pescador e o nó de emenda (anexo I). Um detalhe
importante é que este nó de emenda das linhas pode atrapalhar a
passagem da agulha e da própria linha na confecção da próxima
malha. É necessário um pouco de habilidade para fazer com que o nó
de emenda se forme de maneira adequada e de preferência em um
ponto afastado do nó da confecção da malha.

48
ANEXO I - NÓS ÚTEIS

Nó Torto Lais de Guia

Nó Direito

Nó de Correr Nó de Escota

Nó de Pescador Nó de Emenda

49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CALAZANS, D. (org.). Estudos oceanográficos: do instrumental ao


prático. Pelotas, Ed. Textos, 462 p. 2011.

OGAWA, M. & KOIKE, J. Manual de Pesca. Fortaleza: Associação


dos Engenheiros de Pesca do Estado do Ceará, 799 p. 1987.

POTTER, E.C.E. & PAWSON, M.G. Gill Netting. Lab. Leafl., MAFF
Direct. Fish. Res., Lowestoft, 69, 34 p. 1991.

STRANGE, E. S. A guide to the preparation of net drawnings.


Scottish fisheries information pamphlets. (2), 18 p.1978.

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