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Professor: Walter Lopes

Universidade Lusíada de Angola


VII. Estratificação e mobilidade social

1. Estratificação social

Os indivíduos e grupos de uma sociedade diferenciam-se entre si em decorrência


de varios factores, formando uma hierarquia de posições, estratos ou camadas mais ou
menos duradouros. Este facto real, observado em todas as sociedades, significa que nelas
os indivíduos e grupos não possuem a mesma posição e os mesmos privilégios, mas, sob
esse aspecto, diferem entre si. Portanto, inexistem sociedades igualitárias puras. A esta
diferenciação de indivíduos e grupos em camadas hierarquicamente sobrepostas e que
denominamos de estratificacão.

O processo de estratificação social, referindo-se à disposição hierárquica dos


grupos ou indivíduos numa escala (Stavenhagen, 1973), constitui uma característica
universal das sociedades humanas, que assume formas diferentes no tempo e noespaço
(Hirano, 1974).

Urn dos primeiros autores a tratar do problema de estratificação foi Karl Marx,
em estreita correlação com o conceito de classe social. Marx considerava o factor
econômico como determinante da estratificacão.

1.1. Estratificação social na perspectivas de diferentes autores

Max Weber fez uma distinção entre as três dimensões da sociedade: a ordem
econômica, representada pela classe, a ordem social, pelo status ou “estado”, e a ordem
política, pelo partido. Cada uma das três dimensões possui uma estratificação propria: o
interesse econômico é factor que cria uma classe, podendo-se até considerar que as classes
estão estratificadas segundo suas relações com a produção e a aquisição de bens; a
estratificação econômica é, portanto, representada pelos rendimentos, bens e serviços que
o indivíduo possui ou de que dispõe.

Os grupos de status estratificam-se em função do princípia de consumo de bens,


representados por estilos de vida específicos; a estratificação social é, portanto,
evidenciada pelo prestígio e honra desfrutados. A dimensáo política manifesta-se através
do poder; a estratificação política é, assim, observada através da distribuição do poder
entre grupos e partidos políticos, entre indivíduos no interior dos grupos e partidos, assim
como entre os indivíduos na esfera da acção política.

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O autor que mais recentemente se referiu a estratificação social foi Melvm M.
Tumm (Cit. Lakatos e Marconi, 1999: 237). Esse sociólogo considera os termos
desigualdade social e estratificação social como sinônimos. Seu conceito de estratificação
compreende a “disposição de qualquer grupo ou sociedade numa hierarquia de
posições desiguais com relação a poder, propriedade, valorização social e satisfação
psicológica”.

Poder: capacidade de obter a realização dos objectivos; propriedade: direito a


bens e serviços; valorização: julgamento ou consenso de opinião do grupo acerca do
prestígio, honra e importância de determinada posições ou status; satisfação psicológica:
todas as demais fontes de prazer, contentamento e satisfação, excluindo propriedades,
poder e valorização.

Exemplo: classificando a renda de um indivíduo como propriedade, a


possibilidade de exigir e obter diversos bens e serviços, através de sua renda, constituirá
o poder desse individuo; tendo conseguido obter determinado bem, tal como casa, carro,
joias, o indivíduo terá certo prestigio decorrente da valorização da sociedade em relação
a posse desses bens; tal facto dará prazer e orgulho ao proprietário, constituindo assim a
satisfação psicológica. Em virtude das diferenças observadas nas sociedades, por
exemplo, no que diz respeito a valorização de suas posses, a satisfação obtida por seus
possuidores também varia.

Segundo Lakatos estratificação social é a diferenciação de funções ao mesmo


tempo hierarquizada e avaliada de acordo com os critérios específicos de cada
sociedade, normalmente a estratificação apresenta a classificação de pessoas em grupos
com base em condições socioeconómico comuns, ou seja, um conjunto de relacional de
desigualdades com as dimensões económicas, social, política e ideológicas

1.2. Tipos de estratificação

Para Sorokin (Cit. Lakatos e Marconi, 1999: 238), as formas concretas de


estratificação apresentam-se interdependentes e, por este motivo, podem ser reduzidas a
tres tipos fundamentais:

 Estratificação econômica - a desigualdade da situacão econômica ou financeira dos


indivíduos da origem a uma divisão em ricos e pobres. significando a existência da
estratificação econômica. Onde há desigualdade econômica, esta estratificação real,

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concreta, que se manifesta no nível de vida, na posse de bens, aparece; pode surgir,
partanto, nos diferentes tipos de sociedade, capitalista ou socialista, independente do
tipo de organização política e forma de governo.

 Estratificação política- da mesma forma que há a desigualdade econômica entre os


indivíduos, há a diversidade política em uma mesma sociedade, decorrente da
distribuição não uniforme de poder, de autoridade (dirigentes e dirigidos), de
prestígio, de honras e de títulos. Essa estratificação ocorre independentemente da
constituição particular da sociedade ou da inexistência dela (inclusive nos povos
ágrafos).

 Estratificação profissional- se as diferentes ocupações dos indivíduos na sociedade


se apresentam hierarquizadas no que diz respeito a valorização social, ao grau de
prestígio, significa que a sociedade possui estratificação profissional. Esta
diferenciaçãao em profissões mais ou menos apreciadas independe do facto de seus
titulares ocuparem tal posição por nomeação ou eleição, por herança social ou por
capacidade pessoal. O valor que se confere as diferentes ocupações varia no tempo e
no espaço: na maioria das sociedades ocidentais, determnadas profissões, tais como
proprietários e altos executivos de empresas industriais, banqueiros, técnicos de
elevado nível e cientistas, ganham cada vez mais prestígio, em detrimento de
actividades outrora mais importantes. A propria industrialização criou uma serie de
funções novas que vão adquirindo importância.

2. Mobilidade social

Sorokin (Cit. Lakatos e Marconi, 1999) define mobilidade social e cultural da


seguinte forma: “Por mobilidade social entende-se toda passagem de um indivíduo ou de
um grupo de uma posição social para outra, dentro de uma constelação de grupos e
estratos sociais. Por mobilidade cultural entende-se um deslocamento similar de
significados, normas, valores ou veiculos”.

2.1. Tipos de mobilidade social

Em virtude da existência de duas classes fundamentais de dimensões no universo


social, há dois tipos básicos de mobilidade social e cultural:

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 Modalidade social e cultural horizontal: Significa a passagem de um
indivíduo (Ou de significados, normas, valores, veículos) de um grupo
social para outro, situado no mesmo nível ou estrato.

A mobilidade horizontal existe sob dois aspectos:

1. deslocamento ou passagem de individuos de um grupo para outro, situado


no mesmo estrato;
2. deslocamento de grupos no interior de um mesmo estrato.

 Mobilidade social e cultural vertical: Significa a passagem de um


individuo (ou de significados, normas, valores, veículos) de urn grupo
social para outro, situado em nivel ou estrato diferente.

A mobilidade vertical, de acordo com a direção em que se dá a passagem ou


transição, apresenta dois tipos:

1) Mobilidade social e cultural vertical ascendente: significando ascensão


ou promoção social;

A mobilidade social vertical ascendente tambem toma dois aspectos:

 Infiltração de indivíduos de um estrato ou camada mais baixa, em outra


mais elevada;
 Colocação de grupos em um estrato ou camada superior, ao lado dos
grupos ali existentes, ou em lugar deles.
2) Mobilidade social e cultural vertical descendente: significando desceno
ou rebaixamento social.

A mobilidade social vertical descendente, por sua vez, apresenta também dois
aspectos:

 Rebaixamento ou queda de indivíduos de uma camada mais elevada para


outra de nivel mais baixo; essa passagem não significa a desintegração ou
a descida de todo o grupo;
 rebaixamento ou queda de grupos, passando de uma camada superior a
uma inferior, ou desintegração, perdendo a posição que ocupavam na
camada mais elevada.

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3. Divisão da sociedade em camada e estratos sociais

A Sociedade Estratificada recebe esse nome, posto que está dividida em estratos
sociais (camadas sociais), ou seja, diferente de uma estrutura homogênea, a estratificação
social desenvolve-se numa sociedade hierarquizada, pautada na complexidade e/ou
especialização do trabalho, compartilhada por laços sociais mais frágeis e instáveis

Estratificação Social por Castas

Em algumas culturas, as Castas são um tipo de estratificação social, baseada na


hereditariedade e na profissão dos indivíduos, resultante de grupos sociais rígidos
fundamentados nas tradições culturais e religiosas.

Essa organização social, já utilizada nas sociedades antigas, não admite a


mobilidade social, ou seja, o indivíduo deverá permanecer durante toda sua vida em sua
Casta de nascimento e, por consequência, o matrimônio deve ser apenas realizado por
pessoas pertencentes ao mesmo grupo social (denominado de endogamia). Dentro do
sistema de Castas, merece destaque a cultura indiana com os Brâmanes (sacerdotes e
letrados), Xátrias (guerreiros), Vaixás (comerciantes) e os Sudras (operários).

Na estratificação por castas, comum à sociedade tradicional hindu, as camadas


sociais estão ligadas a determinadas funções no interior da sociedade e a mobilidade
social é impossível, pois o pertencimento a uma casta é determinado pela família da qual
se é membro. Na Índia antiga, os brâmanes constituíam a casta mais elevada, responsável
pelas funções sacerdotais; por sua vez, imediatamente abaixo deles, estavam os xátrias,
que compunham o grupo dos guerreiros. Ora, no sistema de castas não há qualquer tipo
de mobilidade social, pois a transferência de casta é proibida e um indivíduo só pode se
casar com outro indivíduo da mesma casta. Assim, uma brâmane jamais poderia abdicar
de suas funções sacerdotais ou ser casada com um xátria.

Estamentos

Por sua vez, na Sociedade Estamental (classificado por “estamentos” e não por
estratos), organização social da sociedade feudal e medieval, os laços sociais são mais
fortes, sendo a divisão do trabalho mais simplificada, não existindo, portanto, a
possibilidade de mobilidade social, ou seja, nasceu servo morrerá servo.

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Na estratificação por estamentos, comum à Idade Média feudal, as camadas da
sociedade permanecem sendo associadas a certas funções sociais, porém, neste tipo de
estratificação já existe algum tipo de mobilidade social, ainda que difícil. Na Europa
medieval, por exemplo, cabia ao clero rezar pela sociedade, à nobreza proteger a
sociedade e, aos servos, trabalhar pela subsistência da sociedade. No entanto, havia
alguma chance de mobilidade social através da vida religiosa: um camponês, por
exemplo, poderia ser ordenado padre e alguns chegaram até mesmo a serem bispos.

Classes

Já a estratificação por classes é a existente em nossa sociedade. Nela, a divisão


social por camadas deixa de estar tão associada às funções sociais exercidas para estar
mais ligada ao poder econômico do indivíduo. Enquanto, no regime de castas, mesmo
que um xátria fosse mais rico que um brâmane, ele permaneceria sendo inferior
socialmente, pois sua função social era vista como inferior. No regime de estamentos, do
mesmo modo, ainda que um burguês fosse mais rico do que um nobre, ele teria menos
status socialmente. No sistema de classes, por sua vez, o que importa é o componente
financeiro: os mais ricos compõem a classe alta, os mais pobres a classe baixa, e os que
estão entre ambos, a classe média.

Naturalmente, por isso mesmo, a estratificação por classes é aquela onde a


mobilidade social é maior, pois depende fundamentalmente do dinheiro e não tanto das
funções sociais exercidas. No entanto, vale ressaltar que, para que ocorra mobilidade
social dentro de uma sociedade, medidas devem ser tomadas para que se diminua a
desigualdade social, dando oportunidades aos grupos historicamente desfavorecidos.

3.1. Diferença entre Classe Social e Estratificação Social

Embora sejam dois conceitos que se aproximem e muitas vezes sejam


erroneamente tratados como sinônimos, a Estratificação Social, composta por diversos
“Estratos Sociais”, é mais ampla em relação ao conceito de “Classe Social”, de forma que
engloba todos os aspectos de uma sociedade desde as especificidades culturais, políticas,
sociais e econômicas de cada grupo, que por sua vez, identificam as várias camadas
sociais de acordo com os estilos de vida (profissão, condutas e desempenhos, valores
sociais, dentre outros).

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Já o Conceito de “Classe Social”, sugerido pelos teóricos alemães Karl Marx
(1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1835), está pautada sobretudo nos aspectos
socioeconômicos dos indivíduos, sendo classificado de duas maneiras: a Classe
Dominante e a Classe Dominada.

Classe Social e Marxismo

Observe que no Marxismo, corrente que se relaciona com os ideais do teórico


alemão Karl Marx, na “Teoria das Classes Sociais” a desigualdade social surge a partir
da divisão social do trabalho, inviabilizando a mobilidade social, sendo classificada em
duas vertentes: a classe burguesa (dominadora), detentora dos meios de produção, e a
classe proletária (dominada), que trabalha para os primeiros.

3.2. Estratificação Social na Sociedade Moderna

Com o advento do Capitalismo na Idade Moderna (a partir do século XV), a


sociedade estamental feudal, inserida no período da Idade Média, foi substituída pela
estratificação social baseada na classe social, com o surgimento da classe burguesa.

Atualmente, esses estratos são classificados basicamente de três maneiras, as quais


indicam a posição de cada indivíduo conforme suas condições socioeconômicas (renda e
bens materiais) e que determinam as desigualdades sociais: classe alta, classe média e
classe baixa.

Embora haja mobilidade social, o próprio nome já indica que na estratificação


moderna capitalista existe uma hierarquia entre as camadas sociais, donde a classe alta
detém os meios de produção, bem como o poder econômico e político, em contraposição
aos pobres ou miseráveis que compõem a classe baixa operária, dos trabalhadores.

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