ARTIGO ORIGINAL

MONITORIZAÇÃO RESIDENCIAL DA PRESSÃO

ARTERIAL NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA: PERCEPÇÕES DE ENFERMEIRAS
HOME BLOOD PRESSURE MONITORING IN THE CONTROL OF SYSTEMIC ARTERIAL HYPERTENSION: NURSES’
PERCEPTIONS
MONITOREO DOMICILIARIO DE LA PRESIÓN ARTERIAL CON MIRAS A CONTROLAR LA HIPERTENSIÓN ARTERIAL
SISTÉMICA: PERCEPCIONES DE LAS ENFERMERAS
Antonio Cruz Marques Neto1 (https://orcid.org/0000-0001-8979-7025)
Carla Monique Lavareda Costa1 (https://orcid.org/0000-0003-3622-2636)
Erlon Gabriel Rego de Andrade1 (https://orcid.org/0000-0002-7109-6121)
Luana Gomes de Lima Martins1 (https://orcid.org/0000-0002-8076-0397)
William Dias Borges2 (https://orcid.org/0000-0002-7671-7855)
Laura Maria Vidal Nogueira1 (https://orcid.org/0000-0003-0065-4509)
Gisele de Brito Brasil3 (https://orcid.org/0000-0003-0633-6405)
Margarete Feio Boulhosa1 (https://orcid.org/0000-0003-1680-9368)

Descritores
Hipertensão; Monitoramento;
Cuidados de enfermagem;
Estratégia saúde da família; Atenção
primária à saúde
Descriptors
Hypertension; Monitoring; Nursing
care; Family health strategy;
Primary health care
Descriptores
Hipertensión; Monitoreo; Atención
de enfermería; Estrategia de salud
familiar; Atención primaria de salud
Submetido
11 de setembro de 2021
Aceito
05 de outubro de 2021
Conflitos de interesse:
nada a declarar.
Autor Correspondente
Erlon Gabriel Rego de Andrade
E-mail: erlon.rego@gmail.com
Editor Associado (Avaliação pelos pares):
Aurilene Josefa Cartaxo de Arruda
Cavalcanti
(https://orcid.org/0000-0003-2325-4647)
Centro de Ciências da Saúde, Universidade
Federal da Paraíba. João Pessoa, PB, Brasil
RESUMO
Objetivo: analisar as percepções de enfermeiras sobre a Monitorização Residencial da Pressão Arterial no contexto da
Atenção Primária à Saúde.
Métodos: estudo descritivo, qualitativo, realizado em sete Unidades de Saúde da Família de Belém, Pará, com participação
de 14 enfermeiras, que atuavam no Programa HiperDia. A coleta de dados ocorreu nos meses de janeiro a março de 2017,
por meio de entrevistas semiestruturadas individuais, empregando roteiro elaborado pelos pesquisadores. As entrevistas
foram gravadas, transcritas e submetidas à técnica de análise de conteúdo. Resultados: emergiram quatro categorias
temáticas, abordando os conhecimentos sobre a Monitorização Residencial da Pressão Arterial, as práticas e estratégias no
manejo da pessoa com hipertensão, a importância da monitorização, os recursos e métodos para o diagnóstico da doença
e as dificuldades na execução dessa monitorização.
Conclusão: as enfermeiras reconheceram a importância da Monitorização Residencial da Pressão Arterial nas ações
empreendidas por suas equipes, destacando a aplicação desse método na prevenção de complicações da hipertensão.
Todavia, ressaltaram que a efetividade perpassa pelo uso de aparelho adequado, não disponível nos serviços.
ABSTRACT
Objective: to analyze nurses’ perceptions about Home Blood Pressure Monitoring in the context of Primary Health Care.
Methods: a descriptive, qualitative study, carried out in seven Family Health Care Units in Belém, Pará, in which 14 nurses,
who worked in the HiperDia Program participated. Data collection was conducted from January to March 2017, through
individual semi-structured interviews, using a script prepared by the researchers. The interviews were recorded, transcribed,
and submitted to content analysis technical procedures.
Results: four thematic categories emerged, addressing knowledge about Home Blood Pressure Monitoring, the proceedings,
and strategies in the management of people with hypertension, the importance of monitoring, the resources and methods
for diagnosing the disease, and the difficulties in carrying out this monitoring.
Conclusion: the nurses acknowledged the relevance of Home Blood Pressure Monitoring in the actions carried out by their
teams, highlighting the use of this method in preventing complications of hypertension. However, they emphasized that
effectiveness involves the use of an adequate device, which is not available in the services.
RESUMEN
Objetivo: analizar las percepciones de las enfermeras sobre el Monitoreo Domiciliario de la Presión Arterial en el contexto
de la Atención Primaria de Salud.
Métodos: estudio descriptivo y cualitativo realizado en siete Unidades de Salud Familiar en Belém, Pará, con la participación
de 14 enfermeras que trabajaron en el Programa HiperDia. La recopilación de datos tuvo lugar entre enero y marzo de 2017,
mediante entrevistas individuales semiestructuradas, utilizando un guion preparado por los investigadores. Las entrevistas
fueron grabadas, transcritas y sometidas a la técnica de análisis de contenido. Resultados: surgieron cuatro categorías
temáticas, abordando el conocimiento sobre el control de la presión arterial en el domicilio, las prácticas y estrategias en
el manejo de la persona con hipertensión, la importancia del monitoreo, los recursos y métodos para el diagnóstico de la
enfermedad y las dificultades para realizar este monitoreo.
Conclusión: las enfermeras reconocen la importancia del Monitoreo Domiciliario de la Presión Arterial en las acciones
llevadas a cabo por sus equipos, subrayando la aplicación de este método en la prevención de las complicaciones de la
hipertensión. No obstante, resaltaron que la eficacia requiere el uso de aparatos adecuados, que no están disponibles en
los servicios.

1
Universidade do Estado do Pará, Belém, PA, Brasil.
2
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
3
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

Como citar:
Marques Neto AC, Costa CM, Andrade EG, Martins LG, Borges WD, Nogueira LM, et al. Monitorização residencial da
pressão arterial no controle da hipertensão arterial sistêmica: percepções de enfermeiras. Enferm Foco. 2023;e-
202366.

DOI: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2023.v14.e-202366

Enferm Foco. 2023;14:e-202366 1

 MONITORIZAÇÃO RESIDENCIAL DA PRESSÃO ARTERIAL NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: PERCEPÇÕES DE ENFERMEIRAS
Marques Neto AC, Costa CM, Andrade EG, Martins LG, Borges WD, Nogueira LM, et al.
INTRODUÇÃO
Com a integração de serviços da Atenção Primária,
Secundária e Terciária, a Rede de Atenção à Saúde (RAS)
tem por finalidade ofertar atenção integral e contínua,
permitindo ações abrangentes por meio de estratégias
promocionais, preventivas, curativas, cuidativas, reabilita-
doras e paliativas, coordenadas pela Atenção Primária à
Saúde (APS). (1)
Destaca-se, nesse contexto, a hipertensão arterial sis-
têmica (HAS), relevante problema de saúde pública, circu-
lante em diferentes faixas etárias. Representa a causa de
pelo menos 45% dos óbitos por cardiopatia e 51% por aci-
dente vascular cerebral (AVC) no mundo, afetando de 20%
a 40% da população adulta, com prevalência, sobretudo,
entre homens, em países de média e baixa renda.(1)
As Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020
apontam, segundo Pesquisa Nacional de Saúde, o autorre-
lato de hipertensão por 21,4% dos adultos brasileiros, mas,
com aferição da pressão arterial (PA) e uso de medicamen-
tos anti-hipertensivos, o quantitativo de adultos cuja PA
foi maior ou igual a 140/90 mmHg atingiu 32,3%. Em uma
década, 2008 a 2017, foram estimados 667.184 óbitos atri-
buíveis à doença, sendo que os custos ao Sistema Único de
Saúde (SUS) excederam os de outras morbidades crônicas,
como diabetes mellitus e obesidade. Calcula-se que, em
2018, US$ 523,7 milhões foram gastos com medicamentos,
procedimentos ambulatoriais e hospitalizações.(2)
Frente às repercussões do adoecimento, na APS
está implantado o Programa de Atenção às Pessoas
com Hipertensão e/ou Diabetes (HiperDia), criado pelo
Ministério da Saúde. Formado por equipe multidisciplinar,
sua finalidade é assistir a esse público mediante o estabe-
lecimento de metas e diretrizes para expandir as ações de
prevenção, diagnóstico, tratamento e controle, bem como
avaliar e acompanhar os usuários, gerando relatórios de
acordo com faixa etária, sexo, idade e medicamentos uti-
lizados.(3) Perante os desafios de garantir a efetividade no
controle da PA, a Monitorização Residencial da Pressão
Arterial (MRPA) figura como importante estratégia.
MRPA é um método de verificação pressórica por longo
período, em ambiente externo ao consultório. Deve ser rea-
lizada sob orientação, pelo hipertenso ou por outrem (fami-
liar ou cuidador, por exemplo), com aparelho validado, cali-
brado e munido de memória. Preconiza-se o uso de monitor
de braço, validado, inclusive, para grupos especiais: crian-
ças, gestantes, idosos e pessoas com arritmias cardíacas.(4)
Obedece a um protocolo que determina horário, núme-
ro e período das aferições, entre outros aspectos. Contudo,
nas orientações, é importante que o profissional esclareça
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os cuidados quanto ao ambiente, posicionamento e prepa-
ro do usuário, para que a monitorização seja clinicamente
aplicável. É indicada para confirmar o diagnóstico de HAS
e analisar a efetividade terapêutica anti-hipertensiva, mas
também para identificar outras condições, como hiperten-
são do avental branco e hipertensão mascarada.(4)
Além de possibilitar a obtenção de maior número de
medidas, apresenta, entre outras vantagens: baixo custo,
reprodutibilidade e aceitação significativa dos usuários,
ampliando a adesão terapêutica, a análise prognóstica e o
controle pressórico. Assim, os dados da MRPA são melhor
correlacionados com complicações cardiovasculares e le-
sões em órgãos-alvo, se comparados às medidas casuais
de consultório. Segundo diretrizes oficiais, são considera-
das anormais as médias das aferições quando ≥ 135 mmHg
para a pressão arterial sistólica (PAS) e/ou ≥ 85 mmHg para
a pressão arterial diastólica (PAD).(4)
Ressalta-se que esses dados podem subsidiar as con-
dutas do enfermeiro, sobretudo junto aos usuários cadas-
trados no HiperDia, tendo em vista suas atribuições para
o fortalecimento da APS, no acompanhamento da pessoa
com hipertensão.(5) Somando-se às evidências, o interesse
por esse tema foi motivado pela vivência nas aulas práticas
supervisionadas do componente curricular “Enfermagem
Comunitária”, no Curso de Graduação em Enfermagem de
uma Universidade Pública no estado do Pará, ministradas
em serviços da APS, durante as quais se observou que as
atividades do enfermeiro devem se pautar em recomenda-
ções oficiais. Contudo, entraves foram identificados, limi-
tando o desenvolvimento de parte das ações, a exemplo da
MRPA, cuja operacionalização perpassava necessariamen-
te por questões que excediam a governabilidade das equi-
pes de saúde e pela relação que nutriam com os usuários
dependentes de seus cuidados.
Diante da relevância do tema, objetivou-se anali-
sar as percepções de enfermeiras sobre a Monitorização
Residencial da Pressão Arterial no contexto da Atenção
Primária à Saúde.
MÉTODOS
Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, guiado pelo
checklist Consolidated Criteria for Reporting Qualitative
Research (COREQ).(6)
Foi realizado em sete Unidades de Saúde da Família (USF),
de um dos oito Distritos Administrativos do município de
Belém, Pará, onde são desenvolvidas atividades do Programa
HiperDia, no âmbito da Estratégia Saúde da Família (ESF).
Participaram 14 enfermeiras que atuavam no Programa
há mais de seis meses, e foram excluídas aquelas que se
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encontravam afastadas de suas atividades laborais, duran-
te o período de coleta de dados, independente do motivo.
A proposta de pesquisa foi apresentada, previamente,
à gerência de cada serviço, seguindo-se à coleta de da-
dos, que ocorreu nos meses de janeiro a março de 2017,
em sala reservada nas Unidades, primando pelo conforto
e privacidade das participantes. Realizaram-se entrevistas
semiestruturadas individuais, com roteiro elaborado pelos
pesquisadores, visando à produção de informações que re-
presentassem as experiências, opiniões e o sentido do fe-
nômeno investigado.(7) As participantes foram abordadas e
convidadas nas dependências da USF onde atuavam, e as
entrevistas ocorreram de acordo com sua disponibilidade.
O roteiro abrangeu questões objetivas e subjetivas, divi-
didas em duas partes: a primeira, referente ao perfil social e
profissional das participantes; e a segunda, à exploração do
objeto de estudo, com questões abertas sobre as percep-
ções acerca da HAS e MRPA no contexto da APS. Realizadas
pelo pesquisador principal, as entrevistas foram gravadas
com recurso de mídia digital após autorização formal, e pos-
teriormente transcritas, compondo o corpus para análise.
Empregou-se a técnica de análise de conteúdo, com a (8)
finalidade de obter o conteúdo das mensagens, para infe-
rir conhecimentos sobre as condições de sua elaboração.
Seguiram-se as etapas: pré-análise, exploração do mate-
rial, tratamento dos resultados e interpretação, permitindo
a identificação dos temas que ocorreram e coocorreram
nas respostas das participantes.
A partir das suas características e similaridades, os te-
mas foram organizados em quatro categorias temáticas:
“Conhecimentos sobre a MRPA”, “Práticas e estratégias no
manejo da pessoa com HAS”, “A importância da MRPA na
ESF” e “Recursos e métodos para o diagnóstico de HAS e as
dificuldades na execução da MRPA”, interpretadas e discu-
tidas à luz da literatura científica. Por sua vez, as variáveis
de perfil foram descritas com valores absolutos e relativos.
O estudo foi autorizado pela Secretaria Municipal
de Saúde de Belém e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade do Estado do Pará, através do
número de CAAE: 62696916.3.0000.5170. Para minimizar o
risco de quebra de sigilo da identidade das participantes,
adotou-se código alfanumérico, com letra “P”, seguida da
numeração sequencial das entrevistas. Todas assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS
Com relação ao sexo, foi unânime a participação feminina. A
idade variou de 23 a 53 anos, predominando as faixas etárias
de 33 a 42, para sete (50%), e 23 a 32 anos, para quatro (28,6%).
Marques Neto AC, Costa CM, Andrade EG, Martins LG, Borges WD, Nogueira LM, et al.
Verificou-se que 11 (78,6%) eram especialistas, em diferentes
áreas de conhecimento, inerentes ou não à APS, destacando-
-se as especializações em Atenção Básica/Saúde da Família
e Urgência/Emergência, ambas citadas por quatro (36,4%)
participantes distintas, totalizando oito (72,7%). Quanto ao
vínculo empregatício, todas eram contratadas, e o tempo de
atuação na USF variou de oito meses a 18 anos, prevalecendo
o tempo de nove meses, para quatro (28,6%).
Apresentam-se as categorias que emergiram da análise
do corpus:
Conhecimentos sobre a MRPA
Explicou-se que a MRPA era efetuada por meio das ferra-
mentas de trabalho inerentes à ESF, utilizadas pelas enfer-
meiras em parceria com os outros profissionais, com des-
taque para a visita:
A visita domiciliar é realizada com uma médica, téc-
nica e o agente comunitário, e sempre verificamos a
pressão. Além disso, quando o usuário chega no consul-
tório, ao aferirmos a PA em um ambiente que não está
acostumado, isso acaba alterando a sua pressão. (P7)
Verificamos que a pressão arterial não está de
acordo com o esperado diante das medicações que
ele está realizando. Com isso, começamos a investi-
gar esse usuário através da monitorização da pressão,
pelo período de uma semana, realizando constante-
mente através da visita. (P11)
Nas falas, percebeu-se que a MRPA, da forma como era
majoritariamente conduzida pelas equipes, consistia na
aferição mediante comparecimento ao domicílio, para que
o ambiente não interferisse nos níveis pressóricos.
Práticas e estratégias no manejo da pessoa com HAS
Aqui são apresentadas as práticas e estratégias no acom-
panhamento dos diagnosticados com a doença e cadastra-
dos no Programa HiperDia:
É realizado através da consulta de enfermagem,
onde se deve saber o estado do paciente [...], as suas
condições clínicas. Essa consulta é realizada de três em
três meses. (P1)
No HiperDia, eles são acompanhados na clínica mé-
dica e enfermagem, dentro do consultório ou na pró-
pria residência também, por meio das visitas domici-
liares, pelo menos dois dias na semana. Já a consulta
de enfermagem, geralmente acontece de três em três
meses. (P3)
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Marques Neto AC, Costa CM, Andrade EG, Martins LG, Borges WD, Nogueira LM, et al.
O acompanhamento dos cadastrados no Programa
HiperDia acontece a partir das reuniões e no ambulató-
rio, que normalmente ocorre de três em três meses. (P4)
As consultas são realizadas de dois em dois me-
ses. Dependendo das condições clínicas, já marcamos
uma consulta extra [...]. Matriculado o usuário, depois
de prescrita pelo médico a medicação, é realizado o
acompanhamento mensalmente, um mês com a enfer-
magem e outro mês com o médico. (P10)
Nota-se, portanto, que as enfermeiras manifestaram a
necessidade de variar a frequência das consultas de enfer-
magem e intercalá-las com outros atendimentos, seja na
Unidade de Saúde ou na residência, dependendo das con-
dições clínicas que demarcavam tal necessidade.
Nesse contexto, ressaltaram a importância da educa-
ção em saúde, materializada em ações que abordavam te-
mas como alimentação saudável, prática de atividade física
e outras mudanças no estilo de vida, considerados funda-
mentais para o controle dos níveis pressóricos entre os
que convivem com a doença:
Tentamos realizar um controle do usuário refe-
rente à alimentação e uma atividade física que pra-
tique. (P2)
Então, é feita orientação sobre a patologia, preven-
ção, as atitudes que devem ser tomadas com objetivo
de ajudar o controle da pressão arterial, realizando ati-
vidade física e alimentação [saudável]. (P7)
A importância da MRPA na ESF
Nesta categoria, mostra-se o reconhecimento da MRPA
como método que possibilita a prevenção de complicações
decorrentes da HAS, a exemplo das lesões em órgãos-al-
vo, evitando, também, o uso da RAS em um nível de maior
complexidade:
É a respeito da prevenção [referindo-se à impor-
tância da MRPA], pois o enfermeiro tem que prevenir
situações que possam ser danosas à saúde do usuário
futuramente, uma vez que a hipertensão pode causar
uma série de malefícios, caso não tenha um acompa-
nhamento e controle da mesma. A equipe de saúde da
família está preocupada em prevenir futuros proble-
mas de saúde aos usuários. (P3)
É importante, para que o usuário não chegue no ní-
vel secundário e/ou terciário. Com isso, trabalhamos
na prevenção das lesões aos órgãos-alvo. (P12)
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Recursos e métodos para o diagnóstico de HAS
Esta categoria aborda os recursos e métodos utilizados
pelas enfermeiras, visando ao diagnóstico de HAS junto à
equipe de saúde, para, assim, facilitar o controle e acompa-
nhamento de usuários nos serviços:
A pressão do usuário se apresentou normal e, du-
rante a visita pelo ACS, [ele] o identificou como hiper-
tenso. Mas, quando aferida a PA aqui no ambulatório,
estava dentro dos parâmetros de normalidade [...].
Solicitamos para ser feita uma aferição no mínimo de
três dias, para estar acompanhando. É observado se a
pressão vai se manter normal, ou apresentou-se nor-
mal somente naquele dia, e também vai verificar se o
mesmo já faz outro tipo de tratamento. (P5)
Solicitamos que esse usuário faça aqui na ESF
a aferição da sua pressão, pelo menos três vezes na
semana. (P9)
Observa-se que as profissionais manifestaram a adoção
de padrões estabelecidos para a APS, revelando o direcio-
namento de suas condutas acerca das estratégias para o
diagnóstico da doença. Contudo, segundo as enfermeiras,
o aparelho adequado para a MRPA figura como peça basal,
mas não era disponibilizado nas USF onde atuavam. Para
elas, isso possivelmente interferia no método, constituindo
o principal entrave para sua execução:
É o aparelho, que não é fornecido [referindo-se à di-
ficuldade], pois aqui a Unidade possui somente um es-
figmo [esfigmomanômetro] para realizar a consulta e a
visita domiciliar. (P1)
A dificuldade seria fornecer o aparelho por parte da
gestão. (P13)
A aquisição do aparelho. Se não fosse isso, não teria
dificuldade de implantar o método. (P14)
Demonstra-se que as questões estruturais e materiais
do serviço interferiam fortemente no trabalho da enfer-
magem e, por consequência, nas ações da equipe, posto
que a disponibilidade do equipamento manual não basta
para que a monitorização seja acurada e fidedigna, ape-
sar dos esforços empreendidos para que o usuário seja
acompanhado.
DISCUSSÃO
Os dados mostram como as enfermeiras percebem a doença
e a importância da monitorização, especialmente para o seu
controle, revelando práticas e estratégias que engendravam
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no cotidiano do trabalho em equipe. Essas ações foram con-
cebidas como fundamentais para o acompanhamento do
hipertenso, pois propiciavam não apenas o controle, mas a
proximidade entre profissionais e público-alvo, mediada, so-
bretudo, pela dinâmica das relações humanas na APS, ape-
sar das limitações referidas nesse contexto.
De modo consonante, pesquisa realizada com equipes
de saúde da família, no munícipio de Belém, Pará, corro-
borou o entendimento de que a APS atua para promover,
proteger, diagnosticar, tratar e recuperar a saúde, atentan-
do para as necessidades biopsicossociais do trinômio indi-
víduo-família-comunidade. Por sua vez, a ESF capilariza e
amplia tais ações, valorizando a criação de vínculos, o cui-
dado continuado e humanizado, bem como a participação
efetiva dos sujeitos.(9)
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) repre-
sentam, na atualidade, desafios que se agigantam nos sis-
temas de saúde, principalmente dos países em desenvol-
vimento,(10) como o Brasil, onde constituem a maior carga
de morbidade e mortalidade. (11)
Demandam atenção das
equipes de saúde da família, cujos esforços figuram como
estratégia para minimizar as repercussões sobre o cotidia-
no do doente e de sua coletividade.(9)
Nesse grupo de agravos, salienta-se que a HAS é con-
trolável pelo acompanhamento clínico regular,(11) sendo
condição sensível à APS, isto é, dotada de perfil capaz de
ser alterado por intervenções factíveis e resolutivas, no
primeiro nível de atenção.(12) Tal característica se mostrou
relevante para este estudo, pois justifica e ajuda a explicar
as ações das enfermeiras junto às suas equipes.
O controle objetiva manter os níveis de PA em estado
de normalidade, evitando complicações a partir da conti-
nuidade do cuidado, preferencialmente ofertado por equi-
pe multiprofissional. (11)
Demonstra-se que é imperativa a
participação conjunta de diferentes categorias na presta-
ção de assistência qualificada aos hipertensos, dado que,
além de expressado pelas enfermeiras, é reforçado por ou-
tras publicações, (2,13)
inclusive internacionais. (14,15)
Entretanto, visando à integralidade do cuidado e à
transcendência de uma configuração puramente multipro-
fissional, importa que as equipes exerçam suas funções na
perspectiva da interdisciplinaridade e interprofissionalida-
de, fundamentais à prática colaborativa. Com ela, os desa-
fios, inerentes ao atendimento das necessidades de saúde,
podem ser melhor enfrentados e solucionados.(16,17)
Verificou-se que as concepções e ações das enfermeiras,
em torno da MRPA, eram influenciadas pelas condições de tra-
balho. Demarcando essa constatação, percebeu-se que a as-
sistência, no controle pressórico, era prestada com técnicas
Marques Neto AC, Costa CM, Andrade EG, Martins LG, Borges WD, Nogueira LM, et al.
e condições adaptadas das recomendações oficiais para a
MRPA.(4) considerando a realidade local dos serviços de saúde
e dos usuários, no intuito de possibilitar o acompanhamento
clínico, a despeito das limitações que extrapolavam a governa-
bilidade das equipes, sobretudo a ausência de aparelho digital,
com técnica oscilométrica, devidamente validado.(2,4)
Dessa forma, relataram o uso de esfigmomanômetro
manual, tanto por ocasião do atendimento nas Unidades
quanto nas visitas domiciliares, permitindo inferir que, na
operacionalização do controle, registravam os dados em
prontuários. Assim, encararam as visitas como estratégia
exequível, resguardando o ambiente domiciliar como ca-
racterística da MRPA, a fim de diluir potenciais manifes-
tações de ansiedade, tensão e preocupação por parte dos
usuários, posto a familiaridade que o mesmo representa
quando comparado ao ambiente ambulatorial.
Tais resultados conduzem à reflexão de que lacunas
possivelmente ocorreram nos processos de gestão/ge-
renciamento da APS, considerando a indisponibilidade de
equipamentos adequados à monitorização, comprome-
tendo a qualidade do cuidado no Programa HiperDia. Cabe
ressaltar que políticas públicas devem ser (re)direcionadas,
contemplando o atendimento biopsicossocial frente à de-
terminação social do processo saúde-doença(18) e aos con-
dicionantes de saúde.
Enfatiza-se a aplicação da MRPA não apenas como al-
ternativa para a confirmação diagnóstica e o controle de
indivíduos hipertensos, tal como referido pelas partici-
pantes, mas também para incentivar a adesão terapêutica,
visto as facilidades e o reduzido custo de sua execução.(2,4)
Esse controle, na ótica das enfermeiras, guarda estreita
relação com a prevenção de complicações, a exemplo das
lesões em órgãos-alvo, fato reiterado pela literatura.(2,19)
Dialogando com os resultados, estudo avaliou 6.731 pa-
cientes, a maioria do sexo feminino e com idade média de 57,8
anos, para averiguar, entre outros aspectos, se os valores
pressóricos no consultório e no domicílio tinham diferenças.
Seguindo protocolo, forneceu-se aparelho automático vali-
dado, orientando seu uso e a técnica correta para a MRPA
aos pacientes. Concluiu-se que o controle, de hipertensos
em tratamento, deve se pautar nas medidas de consultório e
nas domiciliares, ratificando a importância da MRPA.(20)
Outra pesquisa foi conduzida com 1.273 pessoas, de
nove estados das diferentes regiões brasileiras, que rece-
beram diagnóstico clínico de pré-hipertensão ou HAS está-
gio um e não usavam medicamentos. A MRPA possibilitou o
reconhecimento dos fenótipos de HAS e a reclassificação
de 424 (33,3%) indivíduos para outras condições, fornecen-
do dados robustos à continuação dos cuidados.(21)
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Marques Neto AC, Costa CM, Andrade EG, Martins LG, Borges WD, Nogueira LM, et al.
A equipe de saúde deve acompanhar o usuário periodica-
mente, visando à regularidade do controle, atentando, tam-
bém, para as ações educativas individuais e/ou coletivas.(2,5)
Nesse contexto, a enfermagem tem como uma de suas fun-
ções a promoção da saúde pela educação, oportunizando
mudanças no estilo de vida mediante a adoção de hábitos
saudáveis, citados pelas participantes como parte de suas
orientações, a exemplo da reeducação nutricional, da prá-
tica de atividade física e consequente perda de peso,(19,22,23)
concomitantes à terapêutica farmacológica prescrita.
Ademais, compete ao enfermeiro o atendimento, por
meio de consultas, a quem convive ou não com a doença,
incentivando a prevenção, o diagnóstico precoce e a adesão
às modalidades de tratamento. (13,19,24)
Com tal perspectiva, é
preciso empoderar e conscientizar para o necessário ajus-
tamento comportamental, estimulando a colaboração entre
pessoas.(25) visto que, nas situações de saúde que exigem
acompanhamento prolongado, a diversidade e proximidade
das redes de apoio podem subsidiar a condução efetiva.(26)
Isso corrobora a aplicabilidade da Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE) como ferramenta de tra-
balho e o relevante papel do enfermeiro na comunicação
com a equipe, potencializando o planejamento e a execução
de ações, segundo o Ministério da Saúde.
bém, o Programa HiperDia como estratégia para a opera-
cionalização e consolidação do atendimento ao público-al-
vo, ofertando condições para vida mais saudável.(27)
Considerando a unanimidade da participação femini-
na nesta pesquisa, demonstra-se que a profissão, por sua
história, ainda é marcada fortemente pela presença de mu-
lheres no desenvolvimento de suas atividades. A literatura
ampara esse dado e reafirma o protagonismo mundial da
enfermagem, bem como nas Unidades Federativas do Brasil
e em todas as estruturas organizacionais de saúde, incluindo
sua atuação na ESF e em outros âmbitos do SUS.(28)
Limitações do estudo
Entende-se, como limitação, o desenvolvimento do estu-
do apenas na região Norte e em Unidades de Saúde de um
Distrito Administrativo no município de Belém. Isso invia-
biliza, ao menos parcialmente, a generalização dos resulta-
dos, dada a influência de fatores socioculturais, político-e-
conômicos e operacionais.
Contribuições para a prática
O estudo contribui para a discussão do tema e sensibili-
zação de sua importância nessa e em outras realidades.
Dessa forma, pode subsidiar o desenvolvimento de outras
pesquisas para incrementar evidências acerca do tema,
6 Enferm Foco. 2023;14:e-202366
com o intuito de ampliar seu esclarecimento e propor al-
ternativas que fomentem decisões por parte de profissio-
nais de saúde, gestores e autoridades públicas, sobretudo
na adoção da MRPA para a acurácia diagnóstica e o contro-
le da HAS, doença que impacta expressivamente nos perfis
de morbidade e mortalidade da população.
CONCLUSÃO
Constatou-se que as enfermeiras reconheceram a importân-
(2)
cia da MRPA no contexto das ações empreendidas pelas equi-
pes de saúde da família, destacando a aplicação desse méto-
do na prevenção de complicações da HAS, sendo de grande
valia para a obtenção de dados que evidenciem o estado de
controle pressórico, fornecendo indícios à detecção de pos-
síveis lesões em órgãos-alvo. Todavia, ressaltaram que a efeti-
vidade perpassa pelo uso de aparelho adequado, não disponí-
vel nos serviços. Isso caracterizou um obstáculo no trabalho
das equipes, apesar das alternativas que encontravam para
mitigá-lo, visando ao acompanhamento regular do usuário.
Os resultados também mostraram o potencial da en-
fermagem como partícipe ativo dessas ações, contribuindo
para o avanço da profissão na APS. Tal afirmativa se ampara
na atuação do enfermeiro em diferentes dimensões, como
(5)
Avaliza, tam- na assistência, por meio de atividades cuidativo-educacio-
nais, ou no gerenciamento dos processos de trabalho, cor-
roborando o cotidiano dos serviços, tecido no relato das
participantes, seja nas Unidades de Saúde ou fora delas.
Por fim, ressalta-se que a difusão do tema é importante
nos cenários de atenção à saúde, especialmente na APS,
cuja proximidade entre profissionais e grupos humanos
pode viabilizar ou fortalecer práticas de cuidado mais efeti-
vas às pessoas com hipertensão.
Agradecimentos
Agradecemos (in memoriam) a mais uma vítima da
COVID-19, Professora Vilma Maria Alves de Lima, por ter
participado da banca avaliadora do Trabalho de Conclusão
de Curso que resultou no presente artigo.
Contribuições
Concepção e/ou desenho do estudo: Neto ACM, Borges
WD, Brasil GB, Boulhosa MF; Coleta, análise e interpre-
tação dos dados: Neto ACM, Brasil GB, Boulhosa MF;
Redação e/ou revisão crítica do manuscrito: Neto ACM,
Costa CML, Andrade EGR, Martins LGL, Borges WD,
Nogueira LMV, Brasil GB, Boulhosa MF; Aprovação da ver-
são final a ser publicada: Neto ACM, Costa CML, Andrade
EGR, Martins LGL, Borges WD, Nogueira LMV, Brasil GB,
Boulhosa MF.
 MONITORIZAÇÃO RESIDENCIAL DA PRESSÃO ARTERIAL NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: PERCEPÇÕES DE ENFERMEIRAS
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