ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.6081-52328-1-SM.

0808201423

Lídia Ester Lopes da Silva, Reis PED dos, Jesus CAC de. Processo de enfermagem aplicado ao contexto da...

ARTIGO ORIGINAL
PROCESSO DE ENFERMAGEM APLICADO AO CONTEXTO DA INSUFICIÊNCIA
RESPIRATÓRIA: IMPLICAÇÕES NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO
NURSING PROCESS IN THE CONTEXT OF RESPIRATORY DISEASE: CARE IMPLICATIONS IN
CRITICAL PATIENT
PROCESO DE ENFERMERÍA APLICADO AL CONTEXTO DE LA INSUFICIENCIA RESPIRATORIA:
IMPLICACIONES EN LA ASISTENCIA AL PACIENTE CRÍTICO
Lídia Ester Lopes da Silva1, Paula Elaine Diniz dos Reis2, Cristine Alves Costa de Jesus3
RESUMO
Objetivo: identificar o perfil de pacientes com insuficiência respiratória, bem como os diagnósticos de
enfermagem relacionados. Método: estudo descritivo, quantitativo e transversal, realizado com 20 pacientes
em uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de ensino localizado em Brasília/DF. Os dados
originaram do exame físico, prontuários e foram posteriormente registrados em um questionário, sendo as
inferências diagnósticas validadas por perito. O estudo teve o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa, CAAE nº 053/2010. Resultados: a amostra foi de maioria masculina, com a média de 58 anos,
procedentes do Distrito Federal e portando pneumopatias. No grupo, foram identificados 39 diagnósticos de
enfermagem, 27 reais e 12 de risco. Conclusão: a presença de pneumopatias e de idade elevada são achados
comuns em pacientes críticos. Ademais, observou-se que o elevado número de diagnósticos de enfermagem
encontrados ressalta a necessidade da utilização do Processo de Enfermagem como ferramenta para
aperfeiçoar o cuidado. Descritores: Insuficiência Respiratória; Terapia Intensiva; Cuidados de Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: to identify the patients’ profile with respiratory disease, as well as the related nursing diagnosis.
Method: descriptive study, quantitative and transversal, conducted with 20 patients in na Intensive Care Unit
the teaching hospital in Brasília/DF. The data were form physical examinations, reports and then registered in
a questionnaire, and the diagnostic inferences validated by experts. The Committee of Ethic in Research
approved the study, CAAE nº 053/2010. Results: the sample were most men, about 58 years old, from the
Federal District and having pneumopathies. In the group, 39 were nursing diagnosis, 27 actual and 12 at risk.
Conclusion: the presence of pneumopathies and with high age were common in critical patients. The high
number of nursing diagnosis found showed the necessity of using the Nursing Process as a tool to improve the
care. Descriptors: Respiratory Disease; Intensive Care; Nursing care.
RESUMEN
Objetivo: identificar el perfil de pacientes con insuficiencia respiratoria, así como los diagnósticos de
enfermería relacionados. Método: estudio descriptivo, cuantitativo y transversal, realizado con 20 pacientes
en una Unidad de Terapia Intensiva de un hospital de enseñanza localizado en Brasília/DF. Los datos surgieron
de exámenes físicos, prontuarios y fueron posteriormente registrados en un cuestionario, siendo las
inferencias diagnósticas validadas por perito. El estudio tuvo el proyecto aprobado por el Comité de Ética en
Investigación, CAAE nº 053/2010. Resultados: La muestra fue de mayoría masculina, con aproximadamente 58
años, procedentes del Distrito Federal y portando neuropatías. En el grupo, fueron identificados 39
diagnósticos de enfermería, 27 reales y 12 de riesgo. Conclusión: la presencia de neuropatías y de edad
elevada son comunes en pacientes críticos. Además, se observó que el elevado número de diagnósticos de
enfermería encontrados nuestra la necesidad de la utilización del Proceso de Enfermería como herramienta
para perfeccionar el cuidado. Palabras claves: Insuficiencia Respiratoria; Terapia Intensiva; Cuidados de
Enfermería.
1
Enfermeira, Unidade de Saúde do Ministério Público do Trabalho/MPU. Aluna, Mestrado Profissional, Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Saúde/Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS/SES-DF). Brasília (DF), Brasil. E-mail: lidia.silva@mpt.gov.br; 2Enfermeira,
Professora Doutora em Enfermagem Fundamental, Departamento de Enfermagem, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de
Brasília/UnB. Brasília (DF), Brasil. E-mail: pauladiniz@unb.br; 3Enfermeira, Professora Doutora em Enfermagem Fundamental,
Departamento de Enfermagem, Faculdade de Ciências da Saúde/Universidade de Brasília/UnB. Brasília (DF), Brasil. E-mail:
cristine@unb.br

Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(8):2746-53, ago., 2014 2746
ISSN: 1981-8963
Lídia Ester Lopes da Silva, Reis PED dos, Jesus CAC de.
INTRODUÇÃO
A Insuficiência Respiratória (IR) é uma
disfunção na qual o sistema respiratório não
consegue manter os valores de oxigênio e/ou
gás carbônico dentro da normalidade para
determinada demanda metabólica. Nessa
condição, os pacientes habitualmente
demonstram taquipneia, taquicardia e, à
medida que a hipoxemia se acentua, ocorrem
manifestações neurológicas, levando à rápida
deterioração da função respiratória e até
mesmo coma e morte.1-2
A IR é consequência de uma doença de
base, tais como pneumonia, edema pulmonar,
dentre outras. Destaca-se que o tratamento
deve ser individualizado e baseado na
administração de medicamentos que previnam
a fadiga diafragmática, em oxigenoterapia,
como também no manejo de adequadas
condições da função respiratória por meio da
reabilitação pulmonar2, no entanto, nem
sempre o tratamento imediato com finalidade
curativa é possível, sendo fundamental a
compensação do quadro para não colocar o
paciente sob risco.2-3
Os pacientes com IR são tratados tanto em
Unidades de Pronto Atendimento quanto em
Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), os quais
constituem serviços especializados que
atendem a pacientes em estado crítico, porém
passíveis de recuperação, reunindo recursos
para proporcionar adequado cuidado,
minimizar danos e elevar a qualidade de vida
subsequente à recuperação. Nesse contexto, a
Enfermagem Intensivista destaca-se por
permanecer 24 horas na assistência ao
doente, identificando precocemente o elaborado como requisito final para obtenção
surgimento de complicações, o que facilita a
escolha de intervenções.1-2
A Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) é o método utilizado pelo
enfermeiro a fim de aplicar seus
conhecimentos e direcionar suas
4-5
intervenções. O Processo de Enfermagem
(PE) é a base de sustentação da SAE e
reconhecido pela Organização Pan-Americana
de Saúde (OPAS) como um importante
instrumento para nortear o cuidado, sendo
constituído por cinco fases: coleta de dados,
identificação dos Diagnósticos de
Enfermagem, planejamento das intervenções,
implementação dos cuidados e avaliação.6-9
Os Diagnósticos de Enfermagem (DE) são
respostas aos problemas de saúde reais ou
potenciais, sendo a base para propor as
intervenções de responsabilidade do
enfermeiro quanto aos problemas de saúde
detectados.5 Eles são desenvolvidos pela
NANDA-I, uma associação internacional que
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DOI: 10.5205/reuol.6081-52328-1-SM.0808201423
Processo de enfermagem aplicado ao contexto da...
periodicamente atualiza revisões desta
classificação, tendo atualmente 13 Domínios e
cerca de 216 DE em sua versão 2012-2014 /
Taxonomia II.10 Além desta nomenclatura,
existem a Classificação das Intervenções de
Enfermagem (NIC), que auxilia na prescrição e
na implementação dos cuidados, bem como a
Classificação de Resultados de Enfermagem,
que identifica a qualidade dos cuidados
implementados.11-3
A aplicação do PE é imprescindível ao
paciente crítico devido a sua situação
instável. Assim, quanto maior o número de
disfunções, maior é a necessidade de se
planejar a assistência, uma vez que a
sistematização das ações visa à qualidade do
cuidado prestado.7-9,14 Ressalta-se que a
relevância em conhecer o perfil de DE dos
clientes de uma unidade consiste na
possibilidade em prever os cuidados
necessários e orientar programas educativos,
além de direcionar o cuidado, a busca pelo
conhecimento e a melhoria na implementação
do PE.7,17 Deste modo, diante da escassez de
estudos em UTIs que associem Insuficiência
Respiratória e Diagnósticos de Enfermagem, a
escolha dessa temática é essencial para
compreender o desenvolvimento dessa
disfunção e entender a atuação da
enfermagem neste contexto.
Este estudo tem por objetivo identificar o
perfil de pacientes com insuficiência
respiratória, bem como os diagnósticos de
enfermagem relacionados.
MÉTODO
Este artigo foi extraído do trabalho
do título de Especialista em Atenção
Cardiopulmonar, Residência Multiprofissional
em Saúde do Hospital Universitário de Brasília
(HUB/UnB) em 2012.
Trata-se de um estudo exploratório,
descritivo, quantitativo e transversal,
realizado na UTI de um hospital de ensino
localizado em Brasília-DF. A referida unidade
apresenta seis leitos e taxa média de
internação de 20 pacientes por mês,
predominando os quadros de pós-operatórios e
de Insuficiência Renal Aguda.
A amostra foi constituída por 20 pacientes
internados entre setembro/2011 a
janeiro/2012, com idade superior ou igual a
18 anos, de ambos os sexos, e internados
devido à IR ou com necessidade de algum tipo
de suporte ventilatório, além de pelo menos
uma gasometria igual a PaO2 < 50 mmHg e
PaCO2 > 50 mmHg. Ademais, ressalta-se como
critério de inclusão na pesquisa a autorização
do paciente (quando possível) ou de
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familiar/acompanhante por meio da O projeto de pesquisa foi aprovado pelo

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Esclarecido. Medicina da Universidade de Brasília
Os dados foram registrados em instrumento (FM/UNB), com o registro CEP-FM 053/2010,
adaptado4, tendo em sua versão final, além conforme a Resolução 196/1996 CNS/CONEP.16
das condições de saúde do cliente, a análise
RESULTADOS
sociodemográfica, sendo previamente testado
em dois pacientes da mesma unidade em um  Análise sociodemográfica
estudo piloto, os quais não compuseram a A amostra foi composta por 20 pacientes
amostra final da pesquisa. Os achados foram com motivos de internações variados e pelo
obtidos através de entrevista e exame físico, menos duas condições clínicas comprometidas
sendo complementados com dados dos na admissão. Desse total, apenas 25% estavam
prontuários, prescrições médicas e exames em condições de responder à entrevista,
laboratoriais, além de informações obtidas enquanto os demais (75%) tiveram a entrevista
com os familiares e por consultoria com a realizada com seus respectivos familiares.
equipe de saúde.
As pneumopatias estiveram presentes em
A análise envolveu a validação, por perito, 60% dos pacientes, assim como a Insuficiência
das inferências diagnósticas, bem como dos Renal em 35% e neoplasias correspondendo a
componentes a elas relacionados 5%. Observa-se, de modo geral, que os
(características definidoras, fatores pacientes da amostra apresentaram idade
relacionados e de risco) a todos os DE média de 58,3 anos, variando entre 18 e 81
identificados, com base na Taxonomia II da anos, com tempo de permanência médio na
NANDA-I.15 Foram estabelecidas medidas de UTI de 07 dias e sendo a maioria do sexo
frequência absoluta e percentual, com auxílio masculino (65%), conforme pode ser observado
do programa Excel for Windows 2013 para a na Tabela 1.
construção do banco de dados.
Tabela 1. Distribuição da amostra segundo sexo e faixa etária. Brasília, 2012.
Sexo Masculino Feminino Total
Faixa n % n % n %
Etária (anos)
18 – 39 - - 02 10 02 10
40 – 59 05 25 02 10 07 35
60 – 82 08 40 03 15 11 55
Total 13 65 07 35 20 100

Quanto ao estado civil, 50% dos 20% da amostra, ensino fundamental 45%,
entrevistados eram casados, 20% eram ensino médio 25% e ensino superior 5% dos
solteiros, 15% separados e 15% viúvos. Em pacientes. Na Tabela 2, a seguir, além dos
relação à variável escolaridade, a amostra foi dados acima relatados, estão apresentados os
assim caracterizada: analfabetos constituíram dados referentes à religião dos entrevistados.
Tabela 2. Características sociodemográficas dos clientes estudados. Brasília, 2012.
Estado Civil n % Escolaridade N % Religião n %
Casado 10 50 Analfabeto 04 20 Católico 09 45
Solteiro 04 20 Ens. Fundam. 09 45 Evangélico 05 25
Separado 03 15 Ens. Médio 05 25 Não informado 03 15
Viúvo 03 15 Ens. Superior 01 5 Espírita/espiritualista 02 10
Não informado 01 5 Ateu 01 5

Quanto à ocupação, a maioria era Estado de Saúde (SES/DF) - por meio do

aposentada (40%) ou foi definida como “donas
de casa” (20%) segundo a Classificação
Brasileira de Ocupações do Ministério do
Trabalho.20 Referente à variável procedência,
observou-se que 70% da amostra residia no
Distrito Federal, advinda de inúmeras cidades
satélites, tais como Samambaia, Ceilândia e
Plano Piloto. Os demais, 30% dos
entrevistados, foram provenientes de outros
estados.
Em relação ao hospital de procedência, 45%
da amostra na UTI era proveniente da própria
instituição. Os demais pacientes vieram
transferidos de hospitais da Secretaria de
Sistema de Regulação de Leitos Hospitalares -
procedentes de hospitais regionais localizados
em Taguatinga (20%), Asa Norte (10%),
Samambaia (5%), Ceilândia (5%), Sobradinho
(5%), Guará (5%) e Gama (5%).
 Perfil dos Diagnósticos de Enfermagem
Os diagnósticos identificados na amostra
estão apresentados nas tabelas a seguir,
respeitando-se a tipologia de diagnósticos de
enfermagem reais (Tabela 3) e diagnósticos de
enfermagem de risco (Tabela 4).

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Tabela 3. Distribuição dos DE reais identificados na amostra. Brasília,

2012.
Diagnósticos de Enfermagem Reais n %
Integridade tissular prejudicada 20 100
Déficit no autocuidado 20 100
Comunicação verbal prejudicada 19 95
Volume de líquidos excessivo 18 90
Proteção ineficaz 18 90
Troca de gases prejudicada 17 85
Percepção sensorial perturbada* 17 85
Deglutição prejudicada 16 80
Mobilidade no leito prejudicada 16 80
Perfusão tissular periférica ineficaz 15 75
Ventilação espontânea prejudicada 14 70
Mucosa oral prejudicada 14 70
Desobstrução ineficaz de vias aéreas 12 60
Eliminação urinária prejudicada 12 60
Débito cardíaco diminuído 10 50
Dentição prejudicada 08 40
Nutrição desequilibrada: menos do que as 06 30
necessidades corporais
Resposta disfuncional ao desmame ventilatório 04 20
Mobilidade física prejudicada 03 15
Constipação 03 15
Fadiga 02 10
Nutrição desequilibrada: mais do que as necessidades 01 5
corporais
Padrão respiratório ineficaz 01 5
Intolerância à atividade 01 5
Hipotermia 01 5
Dor aguda 01 5
Motilidade gastrointestinal disfuncional 01 5
*Diagnóstico presente apenas na Classificação 2009-2011 da
Taxonomia da NANDA-I15

Tabela 4. Distribuição dos DE de risco identificados na amostra. Brasília,

2012.
Diagnósticos de Enfermagem de risco n %
Risco de síndrome de desuso 17 85
Risco de aspiração 16 80
Risco de perfusão renal ineficaz 02 10
Risco de intolerância à atividade 02 10
Risco de desequilíbrio na temperatura corporal 02 10
Risco de volume de líquidos deficiente 01 5
Risco de perfusão tissular gastrintestinal ineficaz 01 5
Risco de constipação 01 5
Risco de infecção 01 5
Risco de quedas 01 5
Risco de função hepática prejudicada 01 5
Risco de sangramento 01 5

Foram encontrados 39 DE da Taxonomia II clientela de uma UTI de Belo Horizonte-

da NANDA-I15, dos quais 27 diagnósticos reais e
12 diagnósticos de risco. Ressalta-se que,
durante a coleta de dados com a clientela
estudada, a versão disponível da NANDA-I
ainda contemplava o diagnóstico Percepção
sensorial perturbada.15 Contudo, na versão
atual da referida Taxonomia10, tal diagnóstico
foi excluído. Sendo assim, optou-se pela
manutenção do diagnóstico, visto que sua
exclusão não tem caráter definitivo. Ao todo,
foram arrolados 317 DE, com média (±DP) de
15,8(±1,95) diagnósticos por cliente.
DISCUSSÃO
A presença de afecções pulmonares em
pacientes de UTI é um achado comum nestas
unidades hospitalares. Estas afecções foram
verificadas neste estudo, como também em
23% dos entrevistados em uma UTI de
Fortaleza-CE, em 28% em um pesquisa
realizada no Rio Grande do Sul e 30% na
MG.7,14,17
Com relação à idade média dos
entrevistados, a literatura relata outras
pesquisas que também encontraram
semelhanças a este estudo, com idade em
torno de 64 anos.7,14 A idade em torno de 60
anos também foi um achado em uma pesquisa
desenvolvida em uma UTI adulta em Belo
Horizonte e, segundo os autores, a idade
média dos pacientes de UTIs tem aumentado
nos últimos anos e aumentará ainda mais com
o envelhecimento da população em geral, o
que traz repercussões importantes ao setor
saúde que necessitará de reajustes para
atender a essa demanda.18-9
Quanto ao tempo médio de internação, o
qual foi de 7 dias, percebe-se que o resultado
difere de outro estudo realizado com amostra
semelhante, em que a média de internação foi
de 4,3+1,9 dias.17

Português/Inglês
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Lídia Ester Lopes da Silva, Reis PED dos, Jesus CAC de.
Referente ao sexo dos entrevistados, houve
predominância do sexo masculino, a exemplo
de outro estudo também realizado em UTI.17
Observa-se que a presente pesquisa
identificou 317 DE, com uma média de 15,8 DE
por cliente. Esses resultados diferem de
outros estudos de perfil diagnósticos em
clientelas semelhantes cujos resultados
indicaram 73 DE na amostra7, 195 DE com
média de 1,3 DE por paciente17 e 1.087 DE
com média de 8,5 diagnósticos por paciente.18
Essas diferenças podem estar relacionadas a
inúmeros fatores, tais como características
dos setores, diversidade da clientela estudada
e tamanho amostral.
Neste estudo, foram identificados tanto os
diagnósticos reais quanto os de risco,
presentes na amostra analisada. Ressalta-se
que os diagnósticos reais descrevem respostas
presentes nos pacientes e os de risco as
respostas que podem ser desenvolvidas. O fato
de a maioria dos diagnósticos ser classificada
como real é a evidência de que os cuidados
em UTI devem ser centrados na recuperação
da saúde. No entanto, a identificação de
diagnósticos de risco, apoiada em fatores que
contribuem para o aumento da
vulnerabilidade a patógenos, também indica
que existe preocupação quanto aos aspectos
preventivos no cuidado aos pacientes.18-9
Levando em consideração a hierarquia de
organização dos diagnósticos da Taxonomia II,
seis domínios foram contemplados, a saber:
Nutrição, Eliminação e troca,
Atividade/repouso, Percepção/cognição,
Segurança/proteção e Conforto. Entretanto, a
maioria dos DE identificados nesta
investigação pertencia ao domínio
Atividade/repouso, compondo um total de 28%
dos diagnósticos arrolados.
Optou-se por discutir os DE que
apresentaram frequências iguais ou superiores
a 80%, os quais denotam as necessidades
fisiológicas mais comuns na amostra, que
foram: Integridade tissular prejudicada
(100%), Déficit no autocuidado (100%),
Comunicação verbal prejudicada (95%),
Volume de líquidos excessivo (90%), Proteção
ineficaz (90%), Troca de gases prejudicada
(85%), Percepção sensorial perturbada (85%),
Deglutição prejudicada (80%) e Mobilidade no
leito prejudicada (80%). Estes DE também são
descritos, de forma prevalente, por outros
pesquisadores, o que reforça a relevância em
se conhecer as intervenções de enfermagem
necessárias ao cuidado adequado desses
pacientes, visto que os mesmos são comuns no
cotidiano da Enfermagem.7,14,17-8,21-3
Quanto ao diagnóstico Integridade tissular
prejudicada, este esteve presente em 100% da
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Processo de enfermagem aplicado ao contexto da...
amostra estudada. Tal DE teve como principal
causa os fatores mecânicos relacionados à
pressão ou abrasão por presença de cateteres
a fim de infundir medicamentos, verificar a
pressão arterial ou realizar hemodiálise. A
realização de procedimentos invasivos é
comum nas UTIs com o objetivo de monitorar
os sinais vitais do paciente e tratar diferentes
desequilíbrios. Assim, é uma condição
esperada e relatada em diversos trabalhos
relacionados a essa clientela.7-8,14,17-8,23
Destaca-se, ainda, a existência de feridas
operatórias e por dreno torácico, pele
ressecada, lesões decorrentes de punção
venosa e de confecção de estomas que
contribuíram para o levantamento de
evidências clínicas desse diagnóstico.
No que se refere aos diagnósticos Déficit no
autocuidado relacionados à alimentação,
banho, higiene íntima e vestir-se, estes foram
agrupados, a exemplo de outras pesquisas, em
virtude de todos pacientes da amostra
apresentarem déficits simultâneos nas quatro
áreas.7,17 Tais déficits também apresentaram-
se elevados em outros estudos, com
frequências em torno de 100% em relação ao
banho, ao vestir-se e à higiene íntima.14,18,22-3
Apesar de caber à enfermagem prestar
assistência direta aos pacientes críticos,
muitas vezes, o grau de dependência não é
determinado e alguns recebem ajuda maior do
que necessitam, enquanto outros não têm o
devido auxílio,23 porém, o enfermeiro deve
atentar à participação dos pacientes
estimulando o autocuidado. Percebeu-se que a
ausência de um banheiro para pacientes na
unidade estudada limitou a autonomia para
aqueles em condições de tomar banho de
aspersão, colaborando, assim, para a alta
frequência deste diagnóstico.
Outro diagnóstico identificado foi o de
Comunicação verbal prejudicada, estando
presente em 95% da amostra. Representa a
habilidade alterada para receber e transmitir
um sistema de símbolos15, sendo detectados
como fatores relacionados à presença de tubo
orotraqueal ou traqueostomia e à percepção
alterada em virtude da sedação na amostra
estudada. Este DE também foi identificado em
outras pesquisas, com valores de 100% e em
27,3% das respectivas amostras estudadas.22-3
Para melhorar a capacidade de comunicação,
é preciso ouvir ativamente o paciente
utilizando recursos, como o toque, conforme o
grau de sedação e aceitação, procurando
diminuir a ansiedade ao comunicar-se.13
O DE Volume de líquidos excessivo,
presente em 90% da amostra estudada, é
definido pela NANDA-I como a retenção
aumentada de líquidos isotônicos em razão do
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ISSN: 1981-8963
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comprometimento de mecanismos
15
regulatórios. Embora outros estudos tenham
identificado esse diagnóstico em pacientes
críticos, sua frequência não chega a
ultrapassar valores correspondente a 20%,
diferentemente dos achados do presente
trabalho.8,14,17-8,22-3 Deve-se, no entanto,
discutir que as enfermidades apresentadas na
amostra estudada indicavam situações de
comprometimentos regulatórios (como
insuficiência renal e choque séptico), o que
pode ter contribuído para a maior frequência
detectada. Com vistas ao equilíbrio
hidroeletrolítico e ácido-básico, o enfermeiro
deve estar atento à promoção do controle de
líquidos, eletrólitos e da eliminação urinária.13
O DE Proteção ineficaz refere-se à
diminuição na capacidade de proteger-se
contra ameaças internas ou externas.15 Na
amostra analisada, o uso de anticoagulantes,
a fraqueza muscular, a imobilidade e o estado
de consciência rebaixado contribuíram para a
elevada frequência deste diagnóstico, que
correspondeu a 90% da clientela, ou seja, 18
pessoas. Outros estudos apontam frequências
inferiores à observada.14,17-8 Os pacientes com
alterações no perfil sanguíneo, deficiências
imunológicas e em tratamentos invasivos
estão sujeitos a essa condição. Assim, o
enfermeiro deve assistir ao autocuidado,
promover exercícios físicos, controlar
hemorragias, além de proporcionar um
ambiente seguro através da monitorização de
sinais vitais, controle de vias aéreas e
precauções contra aspiração.13
Outro DE identificado em 85% da amostra
estudada foi Troca de gases prejudicada. Este
diagnóstico é definido como o excesso ou
déficit na oxigenação e/ou na eliminação de
dióxido de carbono na membrana
15
alvéolocapilar , tendo como motivos o
desequilíbrio na ventilação perfusão e/ou
mudanças na membrana alveolar. Outros
diagnósticos ligados à necessidade de
oxigenação, tais como Ventilação Espontânea
Prejudicada, Desobstrução Ineficaz de Vias
Aéreas e Resposta Disfuncional ao Desmame
Ventilatório, também foram estabelecidos na
amostra estudada, porém receberam
frequências inferiores às do DE em questão.
Alguns trabalhos com populações semelhantes
também relatam tais DE com frequências
também muito próximas, e, em alguns casos,
encontravam-se presentes no mesmo
indivíduo, simultaneamente.8,14 Embora todos
os pacientes apresentassem, em algum
momento da internação, quadros de IR, alguns
deles, após terem estabilizado o quadro, já
não apresentavam desequilíbrios nas trocas
gasosas, mesmo sob ventilação mecânica,
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Processo de enfermagem aplicado ao contexto da...
semelhante a alguns achados de outras
pesquisas.17-8,23 Visando melhorar a troca
gasosa, é fundamental realizar a aspiração de
vias aéreas, promover a monitorização
hemodinâmica, o controle ácido-básico, a
oxigenoterapia e verificar o correto
posicionamento do paciente. 13
O DE Percepção sensorial perturbada
consiste na mudança no padrão dos estímulos
recebidos acompanhada por resposta
alterada.15 Esteve presente em 85% da
amostra e estava relacionado ao desequilíbrio
bioquímico e eletrolítico, bem como à
integração sensorial alterada devido aos
sedativos. Com o objetivo de melhorar a
capacidade de recepção, deve-se promover a
estimulação cognitiva, o suporte emocional e
a supervisão da pele, além da realização de
exercícios.13
O DE Deglutição prejudicada refere-se ao
funcionamento anormal da deglutição
associado com déficit na estrutura e/ou na
função oral, faríngea ou esofágica.15 A
obstrução por tubos, o nível de consciência
rebaixado, a existência de distúrbios
respiratórios, a história de alimentação por
sonda e as anormalidades orais e esofágicas
(anatômicas e devido a lesões) foram fatores
relacionados encontrados. A fim de melhorar
o estado de deglutição e controlar a bronco-
aspiração, é imprescindível estar atento à
presença de secreções na boca, verificar o
correto posicionamento dos tubos e identificar
o risco de bronco-aspiração aspirando as vias
aéreas, se necessário, além de avaliar as
dificuldades na deglutição.13
O DE Mobilidade no leito prejudicada é
definido como a limitação ao movimento
independente de uma posição a outra.15 A
existência de dor, força muscular
insuficiente, limitações ambientais em
virtude da contenção dos membros no leito e
do uso de sedativos colaboram para uma
menor mobilidade na amostra estudada. Este
diagnóstico foi identificado em outros estudos
nas frequências de 82%, 60% e 61%,
respectivamente.7,14,18 A necessidade de
sedação e a manutenção de ventilação
mecânica em uma UTI explicam a ocorrência
tão frequente desse diagnóstico. O
enfermeiro, visando aumentar o nível de
mobilidade e melhorar a força muscular,
deve estar atento às mudanças de
posicionamento no leito, realizar exercícios
passivos e estimular a mobilidade física dos
pacientes.
CONCLUSÃO
Foram identificados 39 DE da Taxonomia II
da NANDA-I, sendo 27 diagnósticos reais e 12
2751
ISSN: 1981-8963
Lídia Ester Lopes da Silva, Reis PED dos, Jesus CAC de.
diagnósticos de risco, com um total de 317 DE
arrolados, 15,8 DE por cliente. Este grande
número de DE, bem como a complexidade da
assistência requerida ao paciente crítico,
ressaltam a necessidade de utilização do PE
como ferramenta válida para aperfeiçoar o
cuidado prestado.
Ao realizar o PE, observa-se que o
enfermeiro torna-se mais ativo na assistência,
compreende melhor a evolução dos pacientes
e interage mais com a equipe, pacientes e
familiares, todavia, para o correto
levantamento dos DE é necessário ter
informações completas do estado clínico do
paciente baseado nos dados que o próprio
enfermeiro colheu, exigindo que o profissional
desenvolva e coloque em prática o seu
raciocínio clínico, o pensamento crítico e
capacidade de tomar decisões.
Em uma UTI, as necessidades são mais
complexas, pois os pacientes exigem
avaliações críticas e rápidas, planos
assistenciais abrangentes e serviços bem
coordenados. Assim, a utilização do PE
apresenta-se como ferramenta válida na
melhoria da assistência, desenvolvendo-se um
cuidado mais seguro e eficaz.
Um ponto a ser observado é que o PE ainda
não está completamente implantado na UTI
do hospital estudado, nem são ainda
utilizados, sistematicamente, sistemas de
classificação em enfermagem (NANDA-I, NIC
ou NOC). Embora se reconheça a importância
da implementação do PE, inclusive com
exigências legais, ainda há limitações e
resistências na sua implementação que, entre
outros fatores, deve-se ao pouco grau de
conhecimento obtido pelo profissional durante
a graduação e da falta de incentivo à
implantação do mesmo no ambiente
hospitalar.
Por melhor que seja a assistência de
enfermagem em uma unidade, ela pode ser
aperfeiçoada pela sistematização do cuidado.
Contudo, não depende apenas do empenho
individual, mas da inter-relação de toda a
equipe de saúde e do interesse institucional
refletido por meio de educação permanente,
fiscalização da execução da SAE na prática
clínica e avaliação de indicadores de
qualidade assistencial.
Entre algumas limitações do estudo, cita-se
o número total de participantes e o
acompanhamento pontual da amostra. Sugere-
se que estudos semelhantes em UTIs sejam
conduzidos no sentido de ampliação da
amostra e acompanhamento da evolução dos
DE em relação ao atendimento a outras
condições clínicas a fim de construir um corpo
de conhecimentos baseados no cuidado ao
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(8):2746-53, ago., 2014
DOI: 10.5205/reuol.6081-52328-1-SM.0808201423
Processo de enfermagem aplicado ao contexto da...
paciente. Espera-se que este estudo
proporcione uma reflexão rumo às mudanças
nas práticas dos enfermeiros, bem como
informações ao embasamento científico
quanto aos julgamentos de enfermagem, ao
desenvolvimento de novas pesquisas e à
elaboração de protocolos de SAE referente à
IR com o objetivo de melhorar a qualidade
assistencial ao paciente crítico.
AGRADECIMENTOS
Aos funcionários da UTI, aos professores da
Universidade de Brasília, aos preceptores da
Residência Multiprofissional em Saúde do
Hospital Universitário de Brasília, bem como
aos colegas residentes pelo incentivo na
realização deste estudo.
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Andar
CEP 70380-570  Brasília (DF), Brasil
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(8):2746-53, ago., 2014 2753