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08/04/2024, 15:55 A "varíola dos políticos" e os verdadeiros primatas

A "varíola dos políticos" e os verdadeiros primatas


agosto 27, 2022

E o jogo político começou esta semana, com todas as polêmicas em torno das entrevistas dos
candidatos em um certo Jornal de âmbito Nacional. E quem viveu para ver essas eleições têm tido
o privilégio de testemunhar o recrudescimento da imbecilidade, uma particularidade que
certamente não é exclusiva destas eleições ou destes tempos, mas que tem se intensificado e se
alastrado cada vez mais, como uma doença pandêmica – e nem me refiro às posturas dos
candidatos ou parcialidade ou não de seus entrevistadores.

Aliás, falando em doenças e pandemias, uma estória que ouvi dias atrás ilustra bem o nível de
ignorância que temos presenciado em nossos dias: Um colega falava sobre o caso de pessoas no
interior que estão matando macacos por conta da “varíola dos macacos” – quem será que são os
verdadeiros primatas nessa estória? –, pois bem, eu brincava que em tempos de ignorância (que
será potencializada à medida que se aproximam as eleições), de certo poderíamos rebatizar a
doença e chamá-la de varíola dos políticos, quem sabe alguma coisa boa saísse disso.

Essa estória dá um bom panorama dos tempos sombrios em que vivemos, mas a imbecilidade
generalizada a que quero fazer menção especial é a das pessoas em geral que se engalfinham
em torno dos políticos “de coração”.

E refletindo na brincadeira que fiz, ela não está de toda errada, mas também não é toda a
verdade. E como uma meia verdade é uma mentira completa, deixe-me fazer um mea culpa,
dando crédito a quem é devido, para isso faço menção à frase que um amigo disse em eleições
passadas que retrata a infelicidade da situação política do Brasil naquele tempo como agora:
“Infelizmente, as moscas se revezam, mas a bosta é a mesma”.

Não é querendo ser niilista ou incrédulo em relação ao nosso sistema de governo ou à


"credibilidade" dos representantes de nossas instituições (embora, em certa medida, eu de fato o
seja, como as aspas bem indicam) mas... Será que realmente na realidade em que vivemos faz
diferença a eleição de quem quer que seja para o cargo máximo do Executivo? (e tenho em mente
o melhorar a situação, porque se de um lado de fato talvez as coisas pouco melhorem, por outro
sempre podem piorar)

Se nesse cenário de ignorância geral e crescente, o abster-se e o desacreditar sem dúvida são
posturas que pouco contribuem para uma mudança efetiva da situação em que vivemos, as
acaloradas escaramuças entre apoiadores e detratores deste ou daquele candidato não acho que
sejam uma melhor saída, principalmente quando a postura ignora o diálogo, o ouvir, o tentar
compreender - e repito, não me refiro aos candidatos, mas ao povo em geral.

Particularmente acredito que o problema do Brasil é mais complexo e de mais difícil equalização
do que planos de governo possam solucionar. A despeito dos sérios problemas nas áreas de
educação, saúde pública, segurança, economia etc., e apesar dos não menos sérios problemas

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08/04/2024, 15:55 A "varíola dos políticos" e os verdadeiros primatas

institucionais, de um sistema que é composto por pessoas que governam em benefício próprio,
penso que o problema maior e ainda mais enraizado é o problema moral – e não acredito que eu
esteja sendo pueril naquilo que penso:

Os ilustríssimos candidatos, sejam os que tem todos os dedos ou os que tem menos, bem
assessorados que são, fizeram seus papéis, com mais ou menos desenvoltura, fizeram seu jogo
retórico, negaram os fatos inequívocos e inquestionáveis sempre que lhes era conveniente, com o
grau de cinismo que era esperado, o que não é surpresa nenhuma.

Fazendo menção a um jornalista que não citarei quem é, por que sim!, vivemos em um tempo em
que – e isto é o que surpreende de fato – "a toda uma torcida organizada pelo cinismo" (e que
adota ela mesmo o cinismo sem nenhum cinismo!), uma torcida organizada para "que o candidato
de estimação minta bem". Quando você tem grandes parcelas da população, e falo não só do
povo simples (que como porcos no abatedouro votam naquele que lhes traz lavagem, a despeito
de quantos porcos este já tenha abatido), mas falo de uma parcela significativa de intelectuais e
pessoas bem esclarecidas, que aderem à guerra de narrativas e escolhem defender com afinco
este ou aquele fulano e vibram sempre que estes simulam sem nenhuma dissimulação - torcida
esta que não se faz de rogada em fazer o mesmo, à imagem e semelhança dos seus "eleitos". Eis
os tempos em que vivemos. E como diria um habilidoso político antigo: Alea jacta est.

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