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Técnicas de terapia manual: definições, conceitos e princípios básicos.

Uma revisão bibliográfica

Francilene Guedes Araújo1


francy_guedes@hotmail.com
Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-ortopedia com ênfase em Terapia Manual – Faculdade Ávila

Resumo

As técnicas de terapia manual são manipulações, mobilizações e exercícios específicos com


objetivo de estimular a propriocepção, produzir elasticidade a fibras aderidas, estimular o
líquido sinovial e promover a redução da dor. O objetivo dessa pesquisa é realizar uma
revisão bibliográfica sobre as principais técnicas da terapia manual: osteopatia,
mobilização articular, mobilização neural, em suas definições, conceitos e princípios básicos.
A pesquisa bibliográfica foi realizada no período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012,
utilizando o portal do Pubmed, Lilacs e Scielo com as palavras-chave: “terapia manual”,
“osteopatia”, “mobilização articular” e “mobilização neural”. Foi realizada também,
revisão bibliográfica no acervo da biblioteca da Universidade do Estado do Pará, Campus
XII. O resultado e discussão foram realizados por aspectos relevantes da literatura
selecionada. Concluímos que a terapia manual tem grande comprovação científica e vem
sendo cada vez mais utilizadas nas mais diversas patologias.
Palavras-chave; Terapia manual; Mobilização articular e neural; Osteopatia.

Abstract

The manual therapy techniques are manipulation, mobilization and specific exercises in order
to stimulate proprioception, produce elastic fibers adhered to stimulate synovial fluid and
promote the reduction of pain. The objective of this research is to realize a bibliographic
review of the main techniques of manual therapy, osteopathy, joint mobilization, neural
mobilization, in their definitions, basic concepts and principles. The literature search was
conducted from November 2011 to February 2012 using the Pubmed, Scielo and Lilacs portal
with the keywords: "manual therapy", "osteopathy," "joint mobilization" and "neural
mobilization". Was also performed, literature review in the library collection at the
University of Pará, Campus XII. The results and discussion were carried out by relevant

____________________________________
1
Pós-graduação em Fisioterapia Traumato-ortopedia com ênfase em Terapia Manual
aspects of selected literature. We conclude that manual therapy has great scientific evidence
and is being increasingly used in various pathologies.
Key words: Manual Therapy, Joint mobilization and neural; Osteopathy.

1. Introdução

A terapia manual se tornou um importante componente na intervenção de doenças


ortopédicas e neurológicas sendo hoje considerada uma área de especialização da fisioterapia.
Os primeiros documentos sobre terapia com as mãos foram encontrados na China Antiga e
também em escritos que constam em paredes do Egito que tem cerca de 15 mil anos e
serviram de base para o desenvolvimento da grande maioria das técnicas atuais. Varias
abordagens ou técnicas de terapia manual evoluíram com o passar dos anos e são comumente
aplicadas, a técnicas de Cyriax, de Mennell e as osteopáticas foram criadas por médicos,
enquanto as abordagens de Maitland, de Kaltenborn e de Mckenzie foram desenvolvidas por
fisioterapeutas. Entre essas filosofias básicas, surgiu uma grande quantidade de subconjuntos
como a liberação miofascial, a técnica de liberação posicional, técnica de mobilização
neurodinâmica, mobilização e manipulação articular, exercícios de resistência manual,
facilitação neuromuscular proprioceptiva (DUTTON, 2010).

Atualmente, a terapia manual é utilizada no tratamento de várias patologias, incluindo


disfunção da extremidade articular, disfunção vertebral, distúrbios da articulação temporo-
mandibular, dores de cabeça, fibrose cística, compressões nervosas, imobilização, entre outras
(SMITH JR, 2007). Um diagnóstico definitivo não é possível em 80% de dor lombar, a
terapia manual é considerada elemento-chave nas recentes diretrizes internacionais para o
tratamento da dor lombar (KENT, 2010). Dor no pescoço é uma das queixas mais comuns do
sistema músculo-esquelético, aproximadamente, dois terços da população, em algum
momento de sua vida vão sentir essa dor, a terapia manual tem o mesmo resultado na maioria
dessas dores se comparados com outras terapias, por exemplo, a medicamentosa, porém por
um menor custo (GROENEWEG, 2010). Em um programa que envolveu técnicas de
mobilização aplicada com cuidado para a coluna torácica em pacientes com osteoporose, a
aplicação do centro de força póstero-anterior para processos espinhosos torácicos causa
extensão dos segmentos torácicos movidos, levando a melhor amplitude de movimento em
extensão localmente e em segmentos adjacentes de movimento o que pode melhorar a
amplitude de extensão ativa e reduzir a dor relacionada com a rigidez intervertebral
(BENNELL et al, 2010).
As técnicas de terapia manual são manipulações, mobilizações e exercícios específicos
com objetivo de estimular a propriocepção, produzir elasticidade a fibras aderidas, estimular o
líquido sinovial e promover a redução da dor (ANDRADE, 2008).

Este estudo tem por objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre as principais
técnicas da terapia manual: mobilização articular, manipulação articular, mobilização neural e
osteopatia em suas definições, conceitos, princípios básicos com o intuito de esclarecer e
fornecer mais uma fonte de pesquisa para os profissionais da área da fisioterapia.

2. Método

No período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012, foi realizada uma revisão


bibliográfica de artigos, livros, monografias, dissertações e teses sobre o tema terapia manual.
Para esta pesquisa, foi utilizado o bando de dados disponível no portal do Pubmed para
obtenção de literatura em língua Inglesa e espanhola com as seguintes palavras-chave:
“manual therapy”, “osteopathy”, “joint mobilization” e “mobilizatin neural”, a seleção buscou
citações no índice título, e em todas as fontes. Foram escolhidas as literaturas contendo texto
completo livre, em língua inglesa e espanhola dos últimos seis anos. Para a obtenção da
literatura em língua portuguesa, foi utilizado o portal do lilacs e scielo, utilizando a palavras-
chave “terapia manual”, “osteopatia”, “mobilização articular” e “mobilização neural”. A
seleção buscou citações no índice título, e em todas as fontes como lilacs, ibecs, medline,
scielo, entre outras, para se obter maior número de artigos. Foram escolhidas as literaturas
contendo texto completo, em língua portuguesa dos últimos seis anos. Foi realizada também,
revisão bibliográfica no acervo da biblioteca da Universidade do Estado do Pará, Campus XII.

Com isso, foi construído o artigo e discutidos os resultados das citações bibliográficas
e os aspectos relevantes da literatura selecionada nesta pesquisa sobre o tema.

3. Resultado e Discussão

3.1 Mobilização e Manipulação Articulares

A mobilização articular refere-se às técnicas de terapia manual usadas para modular a


dor e tratar as disfunções articulares que limitam a amplitude de movimento, abordando
especificamente alterações na mecânica articular. A mecânica articular pode estar alterada em
razão de dor, mecanismo de defesa muscular, derrame articular, contraturas ou aderências nas
cápsulas articulares ou ligamentos de suporte, ou desalinhamento e subluxação das superfícies
ósseas. Para que a mobilização articular seja usada efetivamente como tratamento, o
profissional precisa conhecer e ser capaz de examinar a anatomia, a artrocinemática, a
osteocinemática e os mecanismos neurofisiológicos musculoesqueléticos (KISNER, 2009).

Quando se observa a mobilidade articular, os termos artrocinemática e


osteocinemática devem ser diferenciados. A movimentação artrocinemática refere-se aos
movimentos das superfícies articulares de rolamento, rotação, giro e deslizamento. Este é um
componente necessário da movimentação osteocinemática, que se refere ao movimento do
osso descrito em planos como a flexão e extensão que ocorrem no plano sagital, abdução e
adução no plano coronal, entre outros. A mobilidade pode ser afetada por alterações na
movimentação artrocinemática, na movimentação osteocinemática, ou em ambas (HALL,
2007).

A mobilização articular trata os movimentos acessórios, com perda de mobilidade, de


forma passiva com objetivo de recuperar a artrocinemática, ou seja, os movimentos de giro,
rotação, rolamento e deslizamento entre as superfícies articulares e, por conseguinte, os
movimentos osteocinemáticos. O retorno dos movimentos promove melhora da congruência
articular, diminuindo o atrito mecânico na articulação, aliviando a dor, edema e,
conseqüentemente, a função do segmento corporal comprometido (REZENDE, 2006).

A disfunção de mobilidade articular parece ser um problema local muito específico,


mas ela é integrável à economia geral do corpo e pode se expressar em termos de mudança de
comportamento de uma ou varias relações da estrutura, responsável por um novo estado
funcional no seio de um sistema integrado com suas consequências locais ou à distância
(QUEF, 2003). A mobilidade comparativa nas articulações adjacentes reside no conceito de
flexibilidade relativa, onde o movimento no corpo humano segue o trajeto de menor
resistência, por exemplo, se um segmento da coluna vertebral apresenta-se hipomóvel em
virtude de uma lesão ou doença, o segmento é mais rígido e impõe mais resistência ao
movimento que as articulações adjacentes hipermoveis (HALL, 2007).

Com a realização da mobilização articular, o movimento estimula a atividade


biológica do líquido sinovial, trazendo nutrientes para a cartilagem articular avascular das
superfícies articulares e para a fibrocartilagem intra-articular dos meniscos. A extensibilidade
e a força tensiva dos tecidos articulares e periarticulares são mantidas com o movimento
articular. Impulsos nervosos aferentes dos receptores articulares transmitem informações para
o sistema nervoso central e, portanto, fornecem a percepção de posição e movimento. Os
movimentos de oscilação e separação de pequena amplitude são usados para estimular os
mecanorreceptores que podem inibir a transmissão de estímulos nociceptivos no nível de
medula espinhal ou tronco encefálico (KISNER, 2009).

A técnica de mobilização articular proposta por Maitland (2001) baseia-se nos


movimentos passivos oscilatórios, rítmicos, classificados em quatro níveis de mobilização e
um quinto nível chamado de manipulação articular. As técnicas se diferenciam de acordo com
a amplitude dos movimentos acessórios, naturalmente, presentes nas articulações e também
na regra côncavo-convexa, abordando a combinação dos movimentos conforme a superfície
das articulações sinoviais. A superfície convexa móvel desliza no sentido oposto ao
movimento osteocinemático (REZENDE, 2006; BARBOSA, 2008; MAITLAND; 2001).

Os quatro graus da mobilização articular do método Maitland são classificados por


suas variações nas formas de aplicações e efeitos fisiológicos: grau I é caracterizado por
micromovimentos no começo do arco de movimento em ritmo lento, livre da resistência de
tecidos, tendo como efeito fisiológico a entrada de informações neurológicas através de
mecanorreceptores, ativando as comportas medulares; grau II, movimento grande no meio do
arco em ritmo lento sem resistência, que, além de ativar as comportas medulares, estimula o
retorno venoso e linfático, causando clearance articular; grau III, movimento por todo arco
com oscilação mais rápida que o grau I e II, com resistência dada pelos tecidos
periarticulares, causando os mesmos efeitos do grau II acrescido de estresses nos tecidos
encurtados por aderências; grau IV, micromovimentos no final do arco que promovem es-
tresses teciduais capazes de movimentar discretamente tecidos fibróticos. Maitland também
classificou a manipulação articular como grau V (REZENDE, 2006; BARBOSA, 2008;
MAITLAND; 2001).

Outro conceito de mobilização articular foi proposto por Brain Mulligan, a técnica
realiza mobilização com movimento e é a continuidade natural da progressão no
desenvolvimento da fisioterapia manual: de movimentos ativos de auto-alongamento para o
movimento fisiológico passivo aplicado pelo fisioterapeuta até as técnicas passivas de
mobilização acessória (KISNER, 2009). A técnica combina força de deslizamento manual
sustentada com movimento fisiológico simultâneo da articulação. Pode ser executada
ativamente pelo paciente ou de forma passiva pelo fisioterapeuta, com a intenção de realinhar
problemas posicionais ósseos (DUTTON, 2010). A mobilização com movimento é a
aplicação concorrente de mobilização acessória sem dor com o movimento fisiológico. Uma
pressão adicional ou alongamento passivo no final da amplitude é então aplicado sem que
haja a barreira da dor, em algumas exceções, a técnica é aplicada em paralelo ao plano de
movimento e sustentada por todo o movimento até que a articulação retorne a sua posição
inicial, sem causar dor quando aplicada (KISNER, 2009).

O sucesso da técnica de Milligan se baseia na teoria de que as deficiências posicionais


ósseas contribuem de forma substancial para as restrições articulares dolorosas o que é similar
à teoria do sucesso das manipulações articulares (KISNER, 2009).

Entretando, a Escola de Utrecht trás uma técnica com outra teoria, baseada na
avaliação preferencial da individualidade do paciente de acordo com o funcionamento para
documentar e interpretar suas assimetrias naturais na forma anatômica, postural e de
movimentos. Essa escola mostrou que os movimentos são realizados de forma assimétrica,
podendo ser relacionado com a função de movimento assimétrico. O diagnóstico geral é
caracterizado por diagnósticos específicos de acordo com as assimetrias naturais. Algumas
explicações sobre as medidas e os movimentos são: (preferencial) dobrável mão;
(preferencial) dobrar o braço, o que olho é o olho mestre; uso perna (preferencial) chutando
uma bola. O objetivo aqui é descrever a direção ideal e posição dos eixos de movimento para
todas as juntas de acordo com este modelo. O objetivo dessa técnica é aperfeiçoa o
posicionamento dos eixos de movimento nas articulações. Para conseguir isso,
tridimensionais movimentos das articulações são executados repetidamente. Para fins
totalmente posicionar os eixos de movimento, o terapeuta deve (repetidamente) realizam
movimentos articulares passivos com baixa velocidade e alta precisão. O tratamento baseia-se
em movimentos preferenciais encontrados no paciente bem como a interpretação de acordo
com o protocolo destes movimentos e não sobre a queixa do paciente. Ele é executado através
da aplicação de movimentos articulares passivos nas articulações da coluna vertebral e as
articulações das extremidades. Durante este processo fisiológico, as limitações articulares são
cuidadosamente observadas e os movimentos de tração ou de alta velocidade não serão
aplicados, como pode ser o caso em outras formas de terapia manual (GROENEWEG, et.al.,
2010).

Os médicos ingleses foram os primeiros a usar as técnicas de manipulações articulares


e vários livros a respeito foram publicados no início do século XX. Ao contrário das
mobilizações, que são aplicadas uma ou várias vezes dentro ou na amplitude fisiológica dos
movimentos articulares. As técnicas de manipulações articulares envolvem thrusts alta
velocidade nas articulações, forçando-as além do limite restrito de movimento. Em
comparação com os quatro graus de mobilização articular (graus I a IV), as técnicas de thrust
de alta velocidade se denominam grau V. A mobilização articular utiliza vários graus de
amplitude, enquanto a manipulação articular emprega, geralmente, o thrust de alta velocidade
e de baixa amplitude (DUTTON, 2010).

O movimento brusco (thrust) é um movimento de alta velocidade e curta amplitude


que não pode ser impedido pelo paciente. O movimento é realizado no final do limite
patológico, ou seja, no final da amplitude de movimento da articulação e visa alterar as
relações de posicionamento, soltar aderências ou estimular receptores articulares. Quando
uma força específica é aplicada às articulações corporais para permitir sua distração, ouvem-
se alguns estalidos conhecidos por cavitação. Contudo, o objetivo das técnicas de thrust não é
produzir cavitação, mas produzir hipermobilidade temporária que restaure o jogo articular
normal (DUTTON, 2010; KISNER, 2009).

3.2 Mobilização Neural

Embora a técnica de mobilização neural não seja amplamente conhecida, a ideia de


utilizar um tratamento mecânico para o tecido neural não é recente. Os princípios e métodos
do alongamento neural já existem desde 1800, tendo sido progressivamente aperfeiçoados
tanto na teoria, quanto em sua aplicação clínica (MONNERAT, 2010). A interligação da
função mecânica e fisiológica do sistema nervoso foi denominada Neurodinâmica. A principal
função do sistema nervoso é a condução de impulsos; porém, esta é extremamente dependente
da parte mecânica desse sistema e vice-versa. Não cabe ao sistema nervoso somente conduzir
impulsos por meio de grandes amplitudes e complexidades de movimento, mas também
adaptar-se mecanicamente a esses movimentos, retraindo-se e alongando-se, podendo até
mesmo limitar essas amplitudes em certas combinações de movimentos. Quando a
neurodinâmica está alterada, ocorre o que se denomina de Tensão Neural Adversa, que
consiste numa resposta mecânica e fisiológica anormal quando a amplitude normal do sistema
nervoso e sua capacidade de alongamento são testadas. A atividade adequada do sistema
nervoso depende de sua integridade, o comprometimento de sua mecânica e da sua fisiologia
pode resultar em outras disfunções próprias, bem como das estruturas musculoesqueléticas
que recebem sua inervação (VASCONCELOS, 2011).

Uma lesão nervosa gera alterações nas suas propriedades mecânicas (movimento e
elasticidade) e fisiológicas (condução de impulso nervoso e fluxo axoplasmático) do nervo,
alterando sua neurodinâmica, que, por sua vez, sustentam ou agravam a lesão. A lesão
implicará alteração nas funções do nervo, por conseguinte a alteração da condução elétrica
acarreta distúrbios sensoriais (dor e parestesias), distúrbios motores (distonias) e fraqueza
autonômica (vasomotores e pilomotores), ou seja, as lesões podem derivar para disfunções
nas estruturas que recebem sua inervação. Como consequência, estruturas músculo-
esqueléticas podem estar comprometidas em uma disfunção de origem neural (MACHADO,
2010).

A mobilização neural tem como princípio que comprometimentos do funcionamento e


da mecânica do sistema nervoso (elasticidade, movimento, condução, fluxo axoplasmático)
podem gerar disfunções próprias do sistema nervoso ou nas estruturas musculoesqueléticas
por ele inervadas, e que a recuperação da biomecânica e fisiologia adequada, permite restaurar
a extensibilidade e a função normal desse sistema, bem como melhora a condutibilidade do
impulso nervoso. A técnica consiste em impor ao sistema nervoso maior tensão e ou
movimento, mediante determinadas posturas para que, em seguida, sejam aplicados
movimentos lentos e rítmicos direcionados aos nervos periféricos e à medula espinhal
(VASCONCELOS, 2011; MACHADO, 2010; VÉRAS, 2011).

A mobilização do sistema tem sido abordada nos últimos vinte anos com objetivo
terapêutico, especialmente para manutenção, aumento da amplitude de movimento e alivio da
dor. Recentemente, a técnica vem sendo utilizada também com o objetivo de diagnóstico,
avaliando as mais diversas patologias que acometem as raízes nervosas. A técnica de
mobilização neural promove facilidade na realização do movimento e a elasticidade do
sistema nervoso, gerando e aperfeiçoando suas funções normais, com consequente aumento
da amplitude. Essa modalidade de intervenção parte do pressuposto de que se houver uma
alteração da mecânica ou fisiologia do sistema neural, pode ocorrer disfunção no próprio
sistema nervoso ou em estruturas (LOPES, 2010).

Quando ocorre um alongamento neural, os vasos sanguíneos são estrangulados


comprometendo assim o fluxo intraneural e deteriorando a função nervosa. Se este
alongamento for discreto, além dos limites de proteção por breve período, a função nervosa
tende a voltar rapidamente ao normal. Entretanto, se a tensão sobre o nervo for severa ou
sustentada por longo período de tempo, as alterações na função nervosa serão permanentes. O
termo “alongamento neural” não deve ser utilizado, pois o alongamento do nervo poderá
irritar e ocasionar dor. Em uma disfunção do tecido neural, é comum que a microcirculação
no nervo esteja anormal e, portanto, um alongamento mínimo poderá comprometer o fluxo
circulatório e reduzir a função nervosa. Por estas razões é imprudente tratar o tronco nervoso
danificado ou comprimido com técnicas de alongamento (MONNERAT, 2010).

Segundo Veloso (2009), o tratamento através da mobilização neural é baseado em dois


tipos de manobras, as tensionantes e as deslizantes. As manobras tensionantes são utilizadas
de forma passiva para restaurar a mobilidade fisiológica e melhorar a propriedade
viscoelastica do tecido neural. A tensão aplicada não ultrapassa o limite elástico da estrutura
neural, por isso não é lesiva. O deslizamento neural é obtido na técnica tensionante por meio
do movimento de uma ou duas articulações de maneira que o leito e o tecido conjuntivo do
nervo sejam alongados (tracionados). As manobras deslizantes são manobras utilizadas de
forma passiva para restaurar a mobilidade fisiológica do tecido neural, sem que com isso seja
utilizada tensão exagerada no nervo. A tensão gerada só é necessária para permitir o
deslizamento do nervo em relação às estruturas adjacentes. Tal manobra propicia diminuição
do quadro álgico devido à melhora do suporte nutricional e retorno venoso intraneural.

3.3 Osteopatia

Nos Estados Unidos, no final do século IXX, encontra-se os primórdios da osteopatia.


Quando AndrewTaylor Still, infeliz com a prática médica ortodoxa, fundava a osteopatia em
1874, com ênfase no cuidado holístico de saúde, incluindo a medicina preventiva e o papel
vital do sistema músculo-esquelético na saúde. Ainda propôs a inter-relação entre a estrutura
do corpo com a sua função, capacidade inata de se curar. Contudo, esta inter-relação pode ser
melhorada através da técnica manual, especificamente, tratamento osteopático manipulativo
(SMITH JR, 2007)

O conceito básico da osteopatia é de que “O homem é um ser indivisível” e como


princípio a auto-regulação, onde o corpo tem a capacidade de autocura, ou seja, o “Princípio
da Imunidade”. Outro principio é que a estrutura comanda a função, sendo assim, pode-se
diagnosticar e tratar as disfunções. A osteopatia analisa o corpo como uma unidade, onde tudo
se interliga e tem a função de adquirir a homeostásia. Deste modo, o corpo tem a capacidade
de reencontrar o equilíbrio (RAUBER, 2007; REZENDE, 2008).

A lesão osteopática é geralmente uma tensão na fascia que em uma articulação puxa
um segmento ósseo móvel para si e o impede de mover-se no sentido oposto, tudo isso
ocorrendo dentro das possibilidades fisiológicas desta articulação. Esta definição tem como
primeiro corolário a máxima osteopática de “vai no sentido da lesão, não vai no sentido
inverso”. A lesão osteopática é uma lesão fisiológica não ultrapassando a amplitude articular
normal da articulação, ou seja, não é uma luxação nem uma subluxação. Isso nos traz a
máxima, “a normalização articular nunca é uma manobra forçada” (BIENFAIT, 1997).

A osteopatia faz o diagnóstico palpatório de bloqueios tissulares, em geral, e


articulares, em particular, igualmente chamados lesões ou disfunções, necessitando utilizar a
manipulação. A lesão osteopática vai se instalar entre as barreiras anatômicas, impedindo o
movimento ou tornando-o diferente em razão de fatores articulares, musculares.
Ligamentares, fasciais, neurológicos ou endócrinos (QUEF, 2003).

A partir de inúmeros estudos, a osteopatia conseguiu interligar o estudo músculo-


esquelético ao craniano, ao visceral e a todas as estruturas e sistemas. Por exemplo, a
osteopatia visceral é um conjunto de técnicas manuais destinadas a diagnosticar e normalizar,
tanto quanto possível, as disfunções mecânicas, vasculares e neurológicas das vísceras e
órgãos localizadas no pescoço, tórax, abdômen e bacia, com objetivo de melhorar seu
funcionamento e diminuir a causa determinante das dores projetadas no corpo em geral e das
disfunções articulares ao nível do músculo-esquelético (REZENDE, 2008).

A osteopatia utiliza as manipulações articulares para o tratamento da melhora do


alinhamento postural e outras expressões da dinâmica músculo-esqueléticas em pacientes.
Essas manipulações envolvem movimentos de cisalhamento, extensão longitudinal
estiramento, compressão de pressão profunda, e descontrair movimentos de torção. No
entanto, a carga mecânica excessiva e manobras de alta velocidade apresentam alguns riscos
para os pacientes e deve ser abordada com cautela por profissionais manuais. Atualmente, as
forças mecânicas são aplicadas de maneira intuitiva, que pode ser útil em alguns casos, mas
prejudicial em outros (CHAUDHRY, 2008).

O verdadeiro tratamento osteopático não está na correção da lesão dolorosa, mas na


procura e correção da lesão primaria inicial (BIENFAIT, 1997).

4. Conclusão

Segundo Dutton (2010), apesar da grande variedade de abordagens e lógicas, há


consenso sobre os critérios que são importantes para a aplicação correta das técnicas de
terapia manual. Esses critérios envolvem:
 Conhecimento das formas relativas das superfícies articulares (côncava ou convexa): se a
superfície da articulação for convexa em relação à outra superfície, o deslizamento
ocorrerá na direção oposta ao movimento do osso angular. No entanto, se a superfície
articular for côncava, o deslizamento articular ocorrerá na mesma direção do movimento
do osso.
 Duração, tipo e irritabilidade dos sintomas: essas informações oferecem ao fisioterapeuta
algumas diretrizes para a determinação da intensidade da aplicação de uma técnica
selecionada.
 O paciente e a posição do fisioterapeuta: o posicionamento correto do paciente é essencial
tanto pata ajudá-lo a relaxar como para garantir a utilidade da mecânica mais segura para
o corpo. Quando os pacientes estão relaxados, a atividade muscular diminui, reduzindo a
quantidade de resistência encontrada durante a aplicação da técnica.
 Posição da articulação a ser tratada: a posição da articulação a ser tratada deve ser
apropriada para o estágio de cicatrização e para a habilidade do fisioterapeuta. Quando o
paciente apresentar uma condição aguda, recomenda-se trabalhar com a articulação na
posição de repouso, que se refere aquela adotada pela articulação lesionada, em vez de
posição clássica de repouso das articulações normais.
 Colocação das mãos: sempre que possível, o contato com o paciente deve ser
maximizado. A mão deve amoldar-se à área em tratamento, de maneira que as forças
sejam distribuídas sobre a área maior.
 Especificidades: a especificidade refere-se à precisão do procedimento em relação a seus
objetivos. Sempre que possível, as forças geradas por determinada técnica devem correr
no ponto em que são tratadas.

Segundo as literaturas encontradas, a maioria das técnicas de terapia manual tem como
exame diagnóstico na função da articulação, na estabilidade, nos padrões de movimento, na
quantidade de movimento e na gravidade das lesões. Para diagnosticar as queixas do paciente,
é feita a palpação das estruturas, realizado movimentos passivos e ativos das articulações e
teste de tensão neural. Os resultados dão informações quanto a dor, a parestesia, a articulações
com rigidez de movimento e músculos com espasmo. Essa sintomatologia vai direcionar o
tratamento e a melhor técnica de terapia manual.
Atualmente, as técnicas de terapia manual tem grande comprovação científica e vem
sendo cada vez mais utilizadas nas mais diversas patologias, devido o grande número de
benefícios em um menor tempo e pelo baixo custo.

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