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Parasitologia Clínica
Introdução ao Estudo da Parasitologia Clínica
Revisão Textual:
Mateus Gonçalves Santos
Introdução ao Estudo
da Parasitologia Clínica
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Identificar princípios de biossegurança no laboratório de parasitologia;
• Relacionar o papel do biomédico quanto aos preceitos éticos e na saúde pública;
• Identificar aspectos de controle de qualidade nos exames laboratoriais parasitológicos.
UNIDADE Introdução ao Estudo da Parasitologia Clínica
Biossegurança em Laboratório
de Parasitologia Clínica
Na área da saúde, assim como no ambiente laboratorial, podemos encontrar vários
tipos de riscos, que podem ser prevenidos, reduzidos ou eliminados através de medidas
de Biossegurança. Quando falamos de Biossegurança, falamos de proteção e cuidado
durante a rotina laboratorial composto por procedimentos, técnicas, métodos, equipa
mentos que auxiliam na proteção do analista. Os riscos que podemos encontrar no labo
ratório de parasitologia são os químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e acidentais.
Você Sabia?
A biossegurança nem sempre esteve presente no ambiente laboratorial. Em 1862, com a
descoberta dos microrganismos por Pasteur (Teoria da microbiota), iniciaram-se as preo-
cupações sobre cuidados na transmissão de doenças em ambientes hospitalares por mi-
crorganismos. Porém a palavra Biossegurança somente começou a ser usada depois de
108 anos, em 1970, com o aparecimento da engenharia genética. Nesta época, também,
surgiram vários trabalhadores contaminados com Tuberculose e Hepatite B. E. Em 1981,
surgiu o primeiro caso de contaminação acidental em um profissional da saúde pelo
vírus HIV. Entretanto, somente em 1987, foram estabelecidas as precauções universais,
recomendas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), que são medidas para
prevenir a contaminação por HIV e hepatite B. A partir disso, foram criados os princípios
de biossegurança, bem como legislações que foram aperfeiçoadas ao longo do tempo e
estão em vigor.
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Os equipamentos de proteção individuais (EPIs) são aqueles dispositivos de uso
pessoal e individual que têm como objetivo proteger a integridade física e a saúde do
analista. É importante ressaltar que estes equipamentos não podem tirar a mobilidade
ou serem incômodos, de modo a não prejudicar a execução das atividades no laborató
rio. No laboratório de Parasitologia, devemos utilizar os seguintes EPIs: jaleco, luvas de
procedimento, óculos, touca e máscara (Figura 1). Além disso, devemos ressaltar outros
cuidados, como: usar calçados fechados, calças compridas, cabelos presos, não usar
acessórios como brincos longos, anéis, pulseiras, unhas compridas ou outros acessórios
que poderão atrapalhar ou causar algum acidente.
Sabemos que o laboratório possui sério risco à saúde dos trabalhadores e ao meio
ambiente, e o nosso papel é minimizar a exposição baseando em um bom planejamento
e organização das atividades, conhecimento das situações de risco, medidas de controle
e proteção e implementação de práticas seguras.
É importante saber que o uso dos EPIs e EPCs é fundamental para se ter maior segu
rança no ambiente laboratorial. Além disso, todas as pessoas que estão no laboratório
devem ser treinadas constantemente quanto às medidas de biossegurança.
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Importante!
Sempre que você ver este símbolo mostrado na Figura 2, indica que neste ambiente
existe rsco biológico, ou seja, ocorre a manipulação ou armazenamento de amostras de
origem biológica (seres vivos) e que podem conter parasitas, vírus e/ou bactérias poten
cialmente infectantes. Este símbolo pode ser encontrado em frascos, paredes como
avisos, portas, lixos (lixo branco), caixas transportadoras, bancadas, etc. Proteja-se ao
manipular estas amostras. Sempre!
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(Figura 3). De modo geral, podemos dizer que a ética forma a postura e o modo de ser
do ser humano, mostrando como podemos lidar em diferentes situações da vida e rela
ções com as outras pessoas.
No dia a dia, vamos nos deparar com situações onde devemos saber como agir de
forma sábia e de acordo com os princípios éticos: autonomia, respeito pelas pessoas, be
neficência ou não maleficência e justiça. Dessa forma, é importante conhecer o Código
de ética da profissão de Biomédico aprovado em 1984, com uma versão atualizada
em 2011 que está em vigor atualmente.
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Você realiza um exame parasitológico e está esperando o resultado. Seu pai vê que você
está aflito e ansioso pelo resultado e vai até o laboratório para ver se o resultado do exame
está pronto. Chegando ao laboratório, o seu pai explica a situação, fala o seu parentesco e
solicita uma cópia do exame. A atendente, pensa: já que é o pai da paciente, não há proble-
ma eu entregar o laudo para ele levar para a sua filha. Seu pai, como também estava curioso
com o resultado, abre o exame para ficar tranquilo e conta para a sua mãe. Ao final do dia,
você lembra que pode pegar o resultado do exame no laboratório, então, você se desloca
até lá e pede pelo exame. A atendente comenta que mais cedo seu pai foi até o laboratório
e já pegou o resultado. E então? Aqui temos violação ética em dois momentos. O resultado
pertence exclusivamente a quem fez o exame. Pessoa alguma, parente, pai, mãe, irmão,
cônjuge, filho, amigos, têm o direito de ter informações pessoais e sigilosas de outra pessoa
e ainda de maneira nenhuma devemos passar estas informações adiante sem devida auto-
rização ou justificativa.
Além da análise das amostras biológicas, o biomédico pode exercer o papel de coor-
denar as atividades no setor, assumir a responsabilidade sobre o controle de qualidade,
implantação e validação de metodologias novas e mais eficientes e buscar a atualiza
ção contínua no que diz respeito ao diagnóstico laboratorial de parasitoses.
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O biomédico, neste contexto, tem capacidade de executar diagnósticos laborato
riais precisos e de forma eficiente, sempre levando em consideração a vida do paciente.
Vale ressaltar que o diagnóstico laboratorial impacta diretamente a vida do paciente,
refletindo os aspectos de prognóstico, diagnóstico e tratamento.
Quando estamos realizando um exame, devemos ter um olhar abrangente. Por trás
de cada amostra e análise, existe uma história, um contexto. Devemos verificar o his-
tórico do paciente, dados complementares, como idade, sexo, lugar onde reside, do-
enças associadas, por exemplo. Assim, teremos cada vez mais resultados fidedignos.
Formas evolutivas são as etapas de maturação que o parasita sofre durante o seu ciclo evo-
lutivo. Temos como formas evolutivas os trofozoítos e cistos para os protozoários. Para os
helmintos temos as formas evolutivas macroscópicas (larvas, progletes e vermes adultos) e
microscópicas, que são ovos e larvas.
As parasitoses são diagnosticadas por diferentes técnicas, que variam de acordo com
o tipo de amostra biológica e a investigação específica pelos parasitas. Cada vez mais,
a ciência busca tecnologias avançadas, com maior sensibilidade e especificidade para
serem utilizadas no diagnóstico.
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Quando analisamos os ciclos evolutivos dos parasitas, podemos observar que é neces
sário existirem pessoas contaminadas para que o ciclo continue, além, claro, dos fatores
ambientais e das características intrínsecas do próprio parasita. Mas, se o parasitaestá
no ambiente, é porque alguém está contaminado, seja o hospedeiro definitivo ou o inter
mediário. É importante ressaltarmos que a detecção (diagnóstico) precoce de doenças
parasitárias reduz significativamente o índice de proliferação destas parasitoses e, con
sequentemente, a morbidade e mortalidade.
Mas sabemos que a realidade é outra. Nem todos têm acesso aos exames de diagnós
tico, por isso, a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam
o tratamento em massa de pessoas que estão em áreas endêmicas, com o objetivo de
reduzir a taxa de contaminação. Mas, ainda sim, é extremamente difícil conseguir medi
car 100% da população e erradicar estas parasitoses.
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responsáveis por um importante número de morbidade e mortalidade no mundo. A pre
valência das doenças parasitárias estão diretamente relacionadas às condições de higiene
pessoal e ambiental, saneamento básico (Figura 4), coleta de lixo, nível socioeconômico,
aumento da urbanização desordenado, água encanada, controle de vetores e ainda ques
tões alimentares, tais como lavagem adequada dos alimentos que são consumidos crus
e não ingestão de carnes cruas ou mal passadas.
Apesar da água e os alimentos serem essenciais para a vida, podem carregar micror
ganismos que desenvolvam doenças em humanos e animais. No Brasil, por ser um país
subdesenvolvido, há altos índices de doenças de veiculação hídrica e alimentar. Estes
microrganismos podem ser bactérias, vírus ou parasitas.
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Vale ressaltar que estas doenças podem ser prevenidas, através da educação sanitá
ria, coleta adequada de lixo, água encanada e tratada, saneamento básico, hábitos de
higiene pessoal e higienização dos alimentos. Além disso, o tratamento das pessoas
contaminadas é fundamental para que a prevalência diminua. Reduzindo o número de
pessoas contaminas, menor quantidade de parasitas irá para o ambiente através dos
desejos humanos e menor será a taxa de contaminação na região.
Importante!
Algumas doenças não podem ser detectadas por exame de fezes do paciente, tais como
doença de Chagas, pois os parasitas não são liberados nas fezes. Nesse caso específico,
exames de sangue e/ou sorológicos são mais adequados.
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Alguns medicamentos e substâncias químicas podem interferir na detecção dos para
sitas nas fezes. É necessária uma pausa no uso destes medicamentos ou realizar o EPF
pelo menos 7 dias após o seu uso.
É importante ressaltar que o tempo entre a coleta até a análise das amostras frescas
(sem conservantes) deve ser o mais rápido possível. Formas evolutivas como os trofozo
ítos se degradam rapidamente e recomendase que amostras liquidas sejam levadas ao
laboratório em até 30 minutos após a coleta. Já os cistos, ovos e larvas resistem por mais
tempo fora do hospedeiro. O tempo entre a colheita e análise da amostra fecal é depen
dente da sua consistência. Amostras mais líquidas devem ser analisas mais rapidamente
do que amostras formadas, por exemplo. Estas últimas podem ser acondicionadas em
geladeira pelo paciente até 24 horas após a coleta.
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Para que os resultados que são liberados pelo laboratório tenham credibilidade, é
fundamental que o laboratório tenha implementado o controle de qualidade. Este é utili
zado para monitorar continuamente os processos préanalítico, analítico e pós analítico.
Utiliza ensaios de materiais que mimetizam as amostras biológicas reais. Avalia o desem
penho das técnicas envolvidas da rotina, bem como o analista. Identifica as falhas e suas
causas e aplica medidas corretivas, levando a uma educação continuada da qualidade.
O controle de qualidade do laboratório deve ser bem estabelecido, deve fazer parte
da rotina diária de todos os setores. Geralmente, o laboratório tem um setor que cuida
destes aspectos, que também é responsável por desenvolver estratégias de qualidade,
monitoramento, análise, treinamentos e ações para todas as atitudes fora de controle.
Com isso, o controle de qualidade é composto pelo controle de qualidade interno (CQI)
e o controle de qualidade externo (CQE). Que juntos garantem a qualidade dos exames.
Você Sabia?
Você sabia que controle de qualidade e garantia da qualidade não são sinônimos? Cada
vez mais os laboratórios vêm buscando garantia que os resultados liberados sejam fi-
dedignos e condizentes com a citação clínica do paciente. Por isso, o laboratório deve
sempre evitar ou reduzir ao máximo as falhas e suas consequências, isto é a garantia
da qualidade. Já o controle de qualidade se refere aos processos, técnicas e atividades
que são adotados no dia a dia para monitorar e detectar as falhas durante a rotina labo-
ratorial e assim cumprir as exigências requeridas pela qualidade.
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analítica, verificar o desempenho dos métodos utilizados e, se for necessário, revisar os
protocolos ou a execução e, por isso, este teste deve ser periódico. Vale ressaltar que o
teste de proficiência, por analisar a qualidade apenas na fase analítica, é necessário que
outros controles de qualidade sejam aplicados e que englobem as fases pré e pós analíticas.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Coleta e Processamento de amostras – Capítulo 2
ZEIBIG, E. A. Coleta e Processamento de amostras. Trad. SUDRÉ, A. p. 1. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
https://bit.ly/2MLfsSI
Vídeos
Quais são os diferentes tipos de parasitas intestinais?
https://youtu.be/l4OlOo4mTvg
Stool Examination – Routine and Microscopy
https://youtu.be/_ePqcdDKCe0
Leitura
O que são vermes intestinais (helmintíase transmitida pelo solo)?
https://bit.ly/3cArHfW
Código de Ética da Profissão de Biomédico
https://bit.ly/3aqlZdQ
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Referências
DE CARLI, G. A. Parasitologia clínica: seleção de métodos e técnicas de laboratório
para o diagnóstico das parasitoses humanas. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2010.
REY, L. Bases da Parasitologia médica. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
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