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Práticas em

Parasitologia Clínica
Introdução ao Estudo da Parasitologia Clínica

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Niara da Silva Medeiros

Revisão Textual:
Mateus Gonçalves Santos
Introdução ao Estudo
da Parasitologia Clínica

• Biossegurança em Laboratório de Parasitologia Clínica;


• Ética Biomédica Aplicada ao Diagnóstico Parasitológico;
• O Papel do Biomédico Dentro do Laboratório Clínico Parasitológico;
• Tópico sobre Doenças de Veiculação Hídrica e/ou Alimentar;
• Considerações Gerais sobre Coleta, Seleção de Amostras,
Conservação e Transporte de Amostras Biológicas;
• Fatores que Garantem a Qualidade do Exame Parasitológico de Fezes (EPF).

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Identificar princípios de biossegurança no laboratório de parasitologia;
• Relacionar o papel do biomédico quanto aos preceitos éticos e na saúde pública;
• Identificar aspectos de controle de qualidade nos exames laboratoriais parasitológicos.
UNIDADE Introdução ao Estudo da Parasitologia Clínica

Biossegurança em Laboratório
de Parasitologia Clínica
Na área da saúde, assim como no ambiente laboratorial, podemos encontrar vários
tipos de riscos, que podem ser prevenidos, reduzidos ou eliminados através de medidas
de Biossegurança. Quando falamos de Biossegurança, falamos de proteção e cuidado
durante a rotina laboratorial composto por procedimentos, técnicas, métodos, equipa­
mentos que auxiliam na proteção do analista. Os riscos que podemos encontrar no labo­
ratório de parasitologia são os químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e acidentais.

O objetivo geral da Biossegurança é promover a saúde, pois envolve medidas de con­


trole de infecções para a proteção dos trabalhadores, dos pacientes e do meio ambiente,
assim, reduzindo os riscos à saúde.

Você Sabia?
A biossegurança nem sempre esteve presente no ambiente laboratorial. Em 1862, com a
descoberta dos microrganismos por Pasteur (Teoria da microbiota), iniciaram-se as preo-
cupações sobre cuidados na transmissão de doenças em ambientes hospitalares por mi-
crorganismos. Porém a palavra Biossegurança somente começou a ser usada depois de
108 anos, em 1970, com o aparecimento da engenharia genética. Nesta época, também,
surgiram vários trabalhadores contaminados com Tuberculose e Hepatite B. E. Em 1981,
surgiu o primeiro caso de contaminação acidental em um profissional da saúde pelo
vírus HIV. Entretanto, somente em 1987, foram estabelecidas as precauções universais,
recomendas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), que são medidas para
prevenir a contaminação por HIV e hepatite B. A partir disso, foram criados os princípios
de biossegurança, bem como legislações que foram aperfeiçoadas ao longo do tempo e
estão em vigor.

No laboratório de Parasitologia, podemos citar o risco biológico como o princi­


pal risco devido à manipulação de amostras biológicas, principalmente fezes e sangue.
Os riscos químicos compreendem a manipulação de reagentes químicos que são uti­
lizados em técnicas para detecção de parasitas. Como riscos físicos, podemos citar o
manuseio de alguns materiais e equipamentos que podem ser compostos por vidros ou
que usam chama de fogo, por exemplo. Os riscos ergonômicos estão relacionados
à postura do analista, tais como ficar em pé ou sentado no microscópio, ou a lesões
por movimentos repetitivos decorrentes de muitas pipetagens diárias durante a rotina
laboratorial. Já o risco de acidente é inerente no ambiente laboratorial, já que ele está
relacionado a todos os equipamentos, utensílios e ambiente no geral. É importante fri­
sar que todos esses riscos devem ser prevenidos, reduzidos ou eliminados utilizando os
Equipamentos de proteção individual e coletivos.

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Os equipamentos de proteção individuais (EPIs) são aqueles dispositivos de uso
pessoal e individual que têm como objetivo proteger a integridade física e a saúde do
analista. É importante ressaltar que estes equipamentos não podem tirar a mobilidade
ou serem incômodos, de modo a não prejudicar a execução das atividades no laborató­
rio. No laboratório de Parasitologia, devemos utilizar os seguintes EPIs: jaleco, luvas de
procedimento, óculos, touca e máscara (Figura 1). Além disso, devemos ressaltar outros
cuidados, como: usar calçados fechados, calças compridas, cabelos presos, não usar
acessórios como brincos longos, anéis, pulseiras, unhas compridas ou outros acessórios
que poderão atrapalhar ou causar algum acidente.

Figura 1 – Analista utilizando microscópio com Equipamentos de proteção individual


Fonte: Getty Images

Os equipamentos de proteção coletiva (EPCs) são equipamentos utilizados no


laboratório para execução de técnicas necessárias para o diagnóstico, tais como como
cabines de segurança biológicas ou equipamentos de uso contra acidentes, como extin­
tores, chuveiros de emergência e lava olhos (link a seguir). Estes equipamentos são utili­
zados para minimizar ou eliminar riscos e devem passar regularmente por manutenções
e estarem em perfeitas condições de uso quando necessário.

Equipamento de proteção coletiva: lava olhos utilizado em situações de acidente laborato-


rial, disponível em: https://bit.ly/3pFoC1w

Sabemos que o laboratório possui sério risco à saúde dos trabalhadores e ao meio
ambiente, e o nosso papel é minimizar a exposição baseando em um bom planejamento
e organização das atividades, conhecimento das situações de risco, medidas de controle
e proteção e implementação de práticas seguras.

É importante saber que o uso dos EPIs e EPCs é fundamental para se ter maior segu­
rança no ambiente laboratorial. Além disso, todas as pessoas que estão no laboratório
devem ser treinadas constantemente quanto às medidas de biossegurança.

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UNIDADE Introdução ao Estudo da Parasitologia Clínica

Importante!
Sempre que você ver este símbolo mostrado na Figura 2, indica que neste ambiente
existe rsco biológico, ou seja, ocorre a manipulação ou armazenamento de amostras de
origem biológica (seres vivos) e que podem conter parasitas, vírus e/ou bactérias poten­
cialmente infectantes. Este símbolo pode ser encontrado em frascos, paredes como
avisos, portas, lixos (lixo branco), caixas transportadoras, bancadas, etc. Proteja-se ao
manipular estas amostras. Sempre!

Figura 2 – Símbolo utilizado para indicar risco biológico


Fonte: Getty Images

Teste seu Conhecimento


Quais os objetivos das medidas de biossegurança em um laboratório clínico?
• Qual o principal risco em um laboratório clínico de Parasitologia? Explique;
• Cite e explique os riscos químicos, físicos, ergonômicos e acidentais em um laboratório clí-
nico de Parasitologia;
• O que são e qual a finalidade de EPIs? E de EPCs? Cite exemplos e aplicações;
• Desenhe o símbolo de Risco Biológico em seu caderno de anotações. O que ele significa?

Ética Biomédica Aplicada ao


Diagnóstico Parasitológico
Antes de tudo, devemos lembrar o que significa ética. Para você, o que é ética?

Quando falamos no conceito de ética, podemos dizer que é um conjunto de ideias


que norteiam a humanidade em busca da melhor convivência. São normas e princípios
que são elaborados para que os seres humanos consigam distinguir entre o bem e o
mal, o certo e o errado, assim, a sociedade como um todo pode ter um convívio melhor

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(Figura 3). De modo geral, podemos dizer que a ética forma a postura e o modo de ser
do ser humano, mostrando como podemos lidar em diferentes situações da vida e rela­
ções com as outras pessoas.

Figura 3 – Equilíbrio nas decisões éticas


Fonte: Getty Images

Com os avanços na medicina e tecnologias biomédicas, assim como novos tratamentos


e pesquisas, houve a necessidade de criar o conceito Bioética (ética da vida), que atualmente
significa a área que cuida de questões éticas, desde o início até o fim da vida humana.

A prestação de serviços de saúde, especificamente no caso do laboratório clínico,


envolve aspectos bioéticos que devem ser considerados. Na rotina laboratorial, temos
desde a abordagem do paciente até o acesso a dados pessoais e de saúde através de
dados gerados no laboratório. E devemos saber o que podemos fazer ou não com estas
informações, mantendo sempre o sigilo.

No dia a dia, vamos nos deparar com situações onde devemos saber como agir de
forma sábia e de acordo com os princípios éticos: autonomia, respeito pelas pessoas, be­
neficência ou não maleficência e justiça. Dessa forma, é importante conhecer o Código
de ética da profissão de Biomédico aprovado em 1984, com uma versão atualizada
em 2011 que está em vigor atualmente.

O código de ética do Biomédico, disponível em: https://bit.ly/3aqlZdQ

Particularmente, no setor de Parasitologia Clínica, teremos acesso a informações


pessoais dos pacientes, bem como realizar exames que norteiam o diagnóstico parasito­
lógico. Os achados encontrados nas amostras biológicas pertencem exclusivamente ao
paciente e somente devem ser reportadas no laudo e nunca a terceiros, não podendo ser
divulgadas por outras fontes. Além disso, os exames devem ser realizados com atenção
e a técnica deve ser seguida conforme os protocolos para que o resultado final não seja
comprometido. Isso também compreende questões éticas, você sabia?

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A bioética inclui aspectos de análise e processamento das amostras, na qual devemos


tomar os devidos cuidados durante o processo para não haver troca de amostras, erros
na análise e no processamento das amostras, que implicam em um resultado falso para
o paciente.

Você realiza um exame parasitológico e está esperando o resultado. Seu pai vê que você
está aflito e ansioso pelo resultado e vai até o laboratório para ver se o resultado do exame
está pronto. Chegando ao laboratório, o seu pai explica a situação, fala o seu parentesco e
solicita uma cópia do exame. A atendente, pensa: já que é o pai da paciente, não há proble-
ma eu entregar o laudo para ele levar para a sua filha. Seu pai, como também estava curioso
com o resultado, abre o exame para ficar tranquilo e conta para a sua mãe. Ao final do dia,
você lembra que pode pegar o resultado do exame no laboratório, então, você se desloca
até lá e pede pelo exame. A atendente comenta que mais cedo seu pai foi até o laboratório
e já pegou o resultado. E então? Aqui temos violação ética em dois momentos. O resultado
pertence exclusivamente a quem fez o exame. Pessoa alguma, parente, pai, mãe, irmão,
cônjuge, filho, amigos, têm o direito de ter informações pessoais e sigilosas de outra pessoa
e ainda de maneira nenhuma devemos passar estas informações adiante sem devida auto-
rização ou justificativa.

Teste seu Conhecimento


• O que é ética?
• O que é, como surgiu, qual a finalidade e aplicações da bioética?
• Em que situações a bioética deve ser aplicada em um laboratório clínico de Parasito-
logia? Explique;
• O que é e qual a finalidade do código de ética do Biomédico? Cite alguns exemplos
citados e explicados dentro do código;
• Você já passou por uma situação em que seus direitos éticos foram violados? Como
você reagiu a essa situação? Como a mesma poderia ser evitada?

O Papel do Biomédico Dentro do


Laboratório Clínico Parasitológico
Na rotina laboratorial, o biomédico que atua no setor de parasitologia será responsá­
vel por realizar procedimentos desde a orientação sobre a coleta do material biológico,
processamento da amostra, aplicação de técnicas específicas no diagnóstico, análise das
amostras até a aprovação e liberação dos laudos parasitológicos.

Além da análise das amostras biológicas, o biomédico pode exercer o papel de coor-
denar as atividades no setor, assumir a responsabilidade sobre o controle de qualidade,
implantação e validação de metodologias novas e mais eficientes e buscar a atualiza­
ção contínua no que diz respeito ao diagnóstico laboratorial de parasitoses.

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O biomédico, neste contexto, tem capacidade de executar diagnósticos laborato­
riais precisos e de forma eficiente, sempre levando em consideração a vida do paciente.
Vale ressaltar que o diagnóstico laboratorial impacta diretamente a vida do paciente,
refletindo os aspectos de prognóstico, diagnóstico e tratamento.

Quando estamos realizando um exame, devemos ter um olhar abrangente. Por trás
de cada amostra e análise, existe uma história, um contexto. Devemos verificar o his-
tórico do paciente, dados complementares, como idade, sexo, lugar onde reside, do-
enças associadas, por exemplo. Assim, teremos cada vez mais resultados fidedignos.

Teste seu Conhecimento


Em quais etapas do diagnóstico o biomédico pode atuar em um laboratório clínico de
Parasitologia?

Importância do Diagnóstico em Parasitologia Clínica


para o Tratamento e Prognóstico e Participação
no Controle das Doenças Parasitárias
O diagnóstico parasitológico compreende a identificação de parasitas em amostras
biológicas. Geralmente, no setor de Parasitologia, a amostra mais utilizada é a amostra
fecal para detecção de enteroparasitoses (parasitas intestinais). Entretanto, é importante
ressaltar que amostras como sangue, aspirados biológicos, urina, líquor, por exemplo,
também podem ser utilizadas no setor.

Podemos encontrar formas evolutivas de parasitas em diferentes regiões do corpo


humano ou anticorpos (Testes imunológicos) que podem auxiliar no diagnóstico.

Formas evolutivas são as etapas de maturação que o parasita sofre durante o seu ciclo evo-
lutivo. Temos como formas evolutivas os trofozoítos e cistos para os protozoários. Para os
helmintos temos as formas evolutivas macroscópicas (larvas, progletes e vermes adultos) e
microscópicas, que são ovos e larvas.

As parasitoses são diagnosticadas por diferentes técnicas, que variam de acordo com
o tipo de amostra biológica e a investigação específica pelos parasitas. Cada vez mais,
a ciência busca tecnologias avançadas, com maior sensibilidade e especificidade para
serem utilizadas no diagnóstico.

Dependendo das doenças parasitárias, um diagnóstico precoce é fundamental para


evitar consequências sérias à saúde humana. As parasitoses são um grave problema
de saúde pública, implicando aumento de morbidade e mortalidade em todo o mundo.
Analisar os fatores de riscos aos quais a população está sendo exposta é fundamental
para aplicar medidas preventivas e de conscientização.

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Quando analisamos os ciclos evolutivos dos parasitas, podemos observar que é neces­
sário existirem pessoas contaminadas para que o ciclo continue, além, claro, dos fato­res
ambientais e das características intrínsecas do próprio parasita. Mas, se o parasita­está
no ambiente, é porque alguém está contaminado, seja o hospedeiro definitivo ou o inter­
mediário. É importante ressaltarmos que a detecção (diagnóstico) precoce de ­doenças
parasitárias reduz significativamente o índice de proliferação destas parasitoses e, con­
sequentemente, a morbidade e mortalidade.

Um diagnóstico precoce, no início da contaminação, indica um bom prognóstico para


o paciente. É fundamental que este parasita não consiga se proliferar no hospedeiro de
maneira que as consequências à saúde sejam graves ou irreversíveis. Além disso, um diag­
nóstico precoce e preciso favorece um tratamento específico, evitando que o indivíduo
seja exposto a medicamentos que não influenciam no tratamento de determinada doença.

É muito comum indivíduos consumirem medicamentos antiparasitários como forma


profilática. No entanto, vale lembrar que medicamentos têm como objetivo tratar os do­
entes e, para isso, é fundamental a realização do exame parasitológico. Assim, quando
os parasitas são detectados, os medicamentos específicos são prescritos. Se o resultado
for negativo, o indivíduo não necessita receber o medicamento em vão.

Mas sabemos que a realidade é outra. Nem todos têm acesso aos exames de diagnós­
tico, por isso, a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam
o tratamento em massa de pessoas que estão em áreas endêmicas, com o objetivo de
redu­zir a taxa de contaminação. Mas, ainda sim, é extremamente difícil conseguir medi­
car 100% da população e erradicar estas parasitoses.

Teste seu Conhecimento


• Qual é a amostra mais frequentemente analisada em um laboratório clínico de Para-
sitologia? Explique;
• Cite outros exemplos de amostras biológicas que podem ser analisadas;
• Como podemos “escolher” o local de coleta da amostra a ser analisada? Utilize seu
conhecimento em Parasitologia básica para responder essa questão;
• Qual a importância de um diagnostico parasitológico precoce?
• Explique a seguinte afirmação: se o parasita está no ambiente, é porque alguém
está contaminado;
• Por que em alguns locais são adotadas medidas de tratamento de parasitoses de for-
ma profilática?

Tópico sobre Doenças de


Veiculação Hídrica e/ou Alimentar
As doenças de veiculação hídrica e/ou alimentar são doenças que são adquiridas
através de água ou alimentos contaminados por microrganismos. São consideradas pro­
blema de saúde pública, tendo impacto direto na saúde das populações atingidas, sendo

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responsáveis por um importante número de morbidade e mortalidade no mundo. A pre­
valência das doenças parasitárias estão diretamente relacionadas às condições de higiene
pessoal e ambiental, saneamento básico (Figura 4), coleta de lixo, nível socioeconômico,
aumento da urbanização desordenado, água encanada, controle de vetores e ainda ques­
tões alimentares, tais como lavagem adequada dos alimentos que são consumidos crus
e não ingestão de carnes cruas ou mal passadas.

Figura 4 – Exemplo de um local onde não há saneamento básico e coleta


de lixo, aumentando o risco de doenças de veiculação hídrica
Fonte: Getty Images

Apesar da água e os alimentos serem essenciais para a vida, podem carregar micror­
ganismos que desenvolvam doenças em humanos e animais. No Brasil, por ser um país
subdesenvolvido, há altos índices de doenças de veiculação hídrica e alimentar. Estes
microrganismos podem ser bactérias, vírus ou parasitas.

Focando nos parasitas, podemos citar a Amebíase, Giardíase, Esquistossomose,


Ancilostomose, Teníase, Enterobiose e Ascaridíase, que podem contaminar os huma­
nos através da ingestão de cistos ou ovos, ou, ainda, penetração das formas evolutivas
na pele (Tabela 1). O que todos têm em comum é que em regiões que não existe sane­
amento básico, a água com dejetos humanos e de animais é utilizada diretamente para
consumo humano e isso favorece a contaminação.

Tabela 1 – Resumo das vias de contaminação de alguns exemplos de


parasitoses relacionadas a doenças de veiculação hídrica e alimentar
Parasitose Parasita responsável Via de Contaminação
Ingestão de cistos através de água ou alimen-
Giardíase Giardia lamblia
tos ontaminados.
Ingestão de cistos através de água ou alimen-
Amebíase Entamoeba histolytica
tos contaminados.
Ingestão de ovos através de água ou alimen-
Ascaridíase Ascaris lumbricoides
tos contaminados.
Ancylostoma duodenale/
Ancilostomose Penetração da larva filarioide na pele.
Necator americanos

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Parasitose Parasita responsável Via de Contaminação


Penetração da cercaria na pele em ambien-
Esquistossomose Schistossoma mansoni
tes aquáticos.
Ingestão de carne de porco ou gado crua ou mal
Teníase Taenia sp
passada contendo cisticerco.
Cisticercose Ingestão de água ou alimentos contendo ovos
Taenia solium
humana ou proglotes.
Ingestão de oocistos em água ou alimentos
Toxoplasmose Toxoplasma gondii
contaminados.

Vale ressaltar que estas doenças podem ser prevenidas, através da educação sanitá­
ria, coleta adequada de lixo, água encanada e tratada, saneamento básico, hábitos de
higiene pessoal e higienização dos alimentos. Além disso, o tratamento das pessoas
contaminadas é fundamental para que a prevalência diminua. Reduzindo o número de
pessoas contaminas, menor quantidade de parasitas irá para o ambiente através dos
desejos humanos e menor será a taxa de contaminação na região.

Teste seu Conhecimento


• O que são doenças de veiculação hídrica e/ou alimentar?
• Cite 8 fatores que influenciam a prevalência dessas doenças. Explique;
• Cite as 8 doenças de veiculação hídrica e/ou alimentar no Brasil. Como elas são adqui-
ridas e como podem ser evitadas?

Considerações Gerais sobre Coleta,


Seleção de Amostras, Conservação
e Transporte de Amostras Biológicas
Neste tópico, vamos focar no exame parasitológico de fezes (EPF), pois, como expli­
cado anteriormente, a amostra fecal é a mais utilizada no setor de Parasitologia.

Importante!
Algumas doenças não podem ser detectadas por exame de fezes do paciente, tais como
doença de Chagas, pois os parasitas não são liberados nas fezes. Nesse caso específico,
exames de sangue e/ou sorológicos são mais adequados.

A coleta de amostra para o exame parasitológico de fezes (EPF), também chamado


de coproscopia, é crucial para um diagnóstico confiável. Sabemos que alguns parasi­
tas são liberados nas fezes de forma intermitente e, por isso, nem sempre eles estão
presentes no bolo fecal. Para aumentar as chances de detecção de formas evolutivas,
é recomendado que se colete amostra múltiplas, que, geralmente, são compostas por
3 amostras obtidas em dias alternados.

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Alguns medicamentos e substâncias químicas podem interferir na detecção dos para­
sitas nas fezes. É necessária uma pausa no uso destes medicamentos ou realizar o EPF
pelo menos 7 dias após o seu uso.

Toda a amostra destinada ao diagnóstico parasitológico deve ser coletada em um


recipiente limpo, seco e com vedação hermética. O ideal é que o paciente colete todo o
bolo fecal. Se não for possível, a coleta até a metade do frasco é o suficiente. O frasco
de coleta deve sempre ser identificado com os dados do paciente, data e hora da coleta.

É importante ressaltar que o tempo entre a coleta até a análise das amostras frescas
(sem conservantes) deve ser o mais rápido possível. Formas evolutivas como os trofozo­
ítos se degradam rapidamente e recomenda­se que amostras liquidas sejam levadas ao
laboratório em até 30 minutos após a coleta. Já os cistos, ovos e larvas resistem por mais
tempo fora do hospedeiro. O tempo entre a colheita e análise da amostra fecal é depen­
dente da sua consistência. Amostras mais líquidas devem ser analisas mais rapidamente
do que amostras formadas, por exemplo. Estas últimas podem ser acondicionadas em
geladeira pelo paciente até 24 horas após a coleta.

Na próxima unidade, veremos detalhadamente como realizar a colheita adequada da amos-


tra fecal, assim como conservar e realizar o seu transporte.

Teste seu Conhecimento


• O que é e qual a finalidade da coproscopia?
• O EPF pode ser utilizado no diagnóstico de qualquer parasita? Explique;
• Explique a importância da coleta de 3 amostras em dias alternados em EPF;
• “Alguns medicamentos e substâncias químicas podem interferir na detecção dos pa-
rasitas nas fezes”. O que pode ser feito nessa situação?
• Por que o tempo entre a coleta e a análise de determinadas amostras deve ser curto?
Cite exemplos dessas situações.

Fatores que Garantem a Qualidade


do Exame Parasitológico de Fezes (EPF)
A implantação do controle de qualidade dos exames parasitológicos tem como obje­
tivo implementar medidas que aumentam a confiabilidade dos resultados liberados,
determinar uniformidade operacional, monitorar os processos, promover melhorias con­
tínuas e garantir a satisfação do cliente.
As estratégias para garantir a qualidade dos exames laboratoriais já vêm sendo dis­
cutidas por pelo menos 30 anos. Os padrões de qualidade podem seguir regras interna­
cionais como nacionais.

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UNIDADE Introdução ao Estudo da Parasitologia Clínica

Existem dois padrões internacionais que estabelecem normas de controle de qua­


lidade e garantia da qualidade. São: as normas ISO (International Organization for
­Standartization) e o modelo CLSI/NCCLS (Clinical and Laboratory Standards Institute)­.
Ambos têm o objetivo de implementar medidas de controle de qualidade para que tudo
seja padronizado e confiável.
No Brasil, temos a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e a Sociedade de
Brasileira de Patologia Clínica (SBPC), que são entidades que cuidam da garantia da qua­
lidade em laboratórios clínicos. Estas entidades criaram programas de controle de qua­
lidade, que são o Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ) e o Programa
de Excelência para Laboratórios Clínicos, que realizam avaliações externas de qualidade.
Antigamente, a qualidade no laboratório estava relacionada apenas à prestação de
serviços, ter bons equipamentos, reagentes e insumos e seguir as boas práticas de labo­
ratório. Com o passar do tempo e avanços tecnológicos, incluindo novas técnicas, equi­
pamentos mais modernos, exigência do consumidor e competição comercial, o labo­
ratório sentiu a necessidade de implementar um sistema de qualidade certificada e/ou
acreditado por organizações com padrão de normas estabelecidas.
Quando falamos em sistema da qualidade, falamos em organização, recursos, proces­
sos e procedimentos essenciais para garantir a qualidade. A garantia da qualidade tem o
objetivo de reduzir ou detectar erros em qualquer processo no laboratório clínico, desde
a coleta da amostra, identificação, manipulação, análise, laudo e armazenamento, até
reagentes, processos administrativos e comunicação com os pacientes.
Todo laboratório deve ter um manual da qualidade, recursos gerenciais, procedimen­
tos operacionais padrões (POPs) para os métodos analíticos, manuais e registros de
todos os equipamentos, reagentes e insumos, garantindo que todos os procedimentos
de qualidade sejam executados.
Quanto aos métodos analíticos, devem sempre ser padronizados e atualizados. No labo­
ratório de parasitologia clínica, os métodos tradicionais vêm sendo acompanhadas de téc­
nicas imunológicas e moleculares aumentado a eficiência do diagnóstico. Não esquecendo
que não importa a técnica que usamos, precisamos sempre de uma amostra colhida,
armazenada e processada corretamente para maior confiabilidade dos resultados.
Quando trabalhamos na rotina do laboratório de parasitologia, vimos que a maioria das
técnicas é simples, não utiliza equipamentos elaborados, tem baixo custo e ainda sim per­
mite um resultado a curto prazo e identificação de todas as formas evolutivas. Os diferentes
procedimentos são elaborados baseado nas características biológicas de cada parasita,
concentrando-o e identificando através de um microscópio e de um analista treinado.
Você verá no decorrer desta disciplina que são utilizadas variadas técnicas para detec­
ção dos parasitas, cada uma tem seu objetivo, suas vantagens e desvantagens. Nenhuma
técnica é totalmente eficiente para detectar todas as formas evolutivas e cabe ao analista
verificar a melhor, de acordo com o seu objetivo. Além disso, o diagnóstico realizado
através de amostras múltiplas aumentam as chances de encontrar parasitas, pois resul­
tados negativos não significam que o paciente não está infectado.

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Para que os resultados que são liberados pelo laboratório tenham credibilidade, é
fundamental que o laboratório tenha implementado o controle de qualidade. Este é utili­
zado para monitorar continuamente os processos pré­analítico, analítico e pós analítico.
Utiliza ensaios de materiais que mimetizam as amostras biológicas reais. Avalia o desem­
penho das técnicas envolvidas da rotina, bem como o analista. Identifica as falhas e suas
causas e aplica medidas corretivas, levando a uma educação continuada da qualidade.
O controle de qualidade do laboratório deve ser bem estabelecido, deve fazer parte
da rotina diária de todos os setores. Geralmente, o laboratório tem um setor que cuida
destes aspectos, que também é responsável por desenvolver estratégias de qualidade,
monitoramento, análise, treinamentos e ações para todas as atitudes fora de controle.
Com isso, o controle de qualidade é composto pelo controle de qualidade interno (CQI)
e o controle de qualidade externo (CQE). Que juntos garantem a qualidade dos exames.

Você Sabia?
Você sabia que controle de qualidade e garantia da qualidade não são sinônimos? Cada
vez mais os laboratórios vêm buscando garantia que os resultados liberados sejam fi-
dedignos e condizentes com a citação clínica do paciente. Por isso, o laboratório deve
sempre evitar ou reduzir ao máximo as falhas e suas consequências, isto é a garantia
da qualidade. Já o controle de qualidade se refere aos processos, técnicas e atividades
que são adotados no dia a dia para monitorar e detectar as falhas durante a rotina labo-
ratorial e assim cumprir as exigências requeridas pela qualidade.

Teste seu Conhecimento


• Quais os objetivos da implantação do controle de qualidade dos exames parasitológicos?
Quais os parâmetros analisados quando se avalia o padrão de qualidade de uma laboratório?
• Quais são as entidades que cuidam da garantia de qualidade em laboratórios clínicos
no Brasil? Quais os programas criados por essas entidades? Eles estão em consonância
com os padrões internacionais?
• O que é e qual a importância de POPs?
• Quais fatores permitem o aumento da eficiência em diagnósticos em um laboratório
de parasitologia clínica?
• Explique a seguinte afirmação “Quando trabalhamos na rotina do laboratório de
parasitologia, vimos que a maioria das técnicas é simples, não utiliza equipamentos
elaborados, tem baixo custo e, ainda sim, permite um resultado a curto prazo e iden-
tificação de todas as formas evolutivas”;
• Qual o papel do biomédico em um laboratório de parasitologia clínica?
• O que é CQI e CQE e qual a importância dos mesmos em um laboratório de parasitolo-
gia clínica?
• Qual a diferença entre “garantia da qualidade” e “controle de qualidade”?

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UNIDADE Introdução ao Estudo da Parasitologia Clínica

Controle de Qualidade Interno Associado


ao Laboratório Clínico Parasitológico
O Controle de qualidade interno se baseia em utilizar materiais ou amostras internas
para o controle de qualidade. Este procedimento reduz os erros analíticos e operacio­
nais, além de detectar problemas ou conflitos.

Então, como funciona? O laboratório possui amostras controles, ou seja, amostras


que já se sabe os resultados, sejam eles qualitativos ou quantitativos. Todos os dias estes
controles são analisados como se fossem uma amostra de um paciente, passando por
todas as etapas. Os resultados são tabelados e comparados com o valor ou o resultado
de referência. Quando os resultados não coincidirem, medidas devem ser tomadas para
verificar onde ocorreu o problema e assim poder executar a correção.

Existe o controle comercial, o caseiro e o controle duplo cego. O controle comercial,


como o nome já diz, o laboratório adquire estas amostras que se assemelham a amos­
tras verdadeiras. O controle caseiro diz respeito às amostras verdadeiras que já foram
analisas e aos laudos liberados. Estas amostras vão para um banco de amostras que são
utilizadas como controle, já que se sabe o seu resultado. A vantagem de se usar o con­
trole caseiro é que o laboratório pode reanalisar todos os tipos de amostras utilizados
na rotina. Já o controle duplo-cego é quando uma amostra de um paciente é separado
em duas partes. Uma parte é analisada normalmente para o diagnóstico do paciente e
a outra parte é reidentificada, entra na recepção novamente e é reintroduzida na rotina,
ou seja, a amostra será analisada duas vezes, porém o analista não sabe e, claro, o re­
sultado deve ser o mesmo.

Qualquer resultado derivado de um controle de qualidade deve ser colocado em pla­


nilhas e acompanhado. Além disso, nesta planilha, deve conter os resultados originais,
se estes não estavam de acordo com os valores de referência, se deve especificar na
planilha quais foram as medidas realizadas para concertar o erro.

Teste seu Conhecimento


• Como funciona o processo de controle de qualidade interno em um laboratório de pa-
rasitologia clínica?
• Explique as diferenças entre controle comercial, controle caseiro e controle duplo-cego;
• Qual a importância de plotar os resultados obtidos nos controles de qualidade inter-
nos em planilhas?

Controle de Qualidade Externo Associado


ao Laboratório Clínico Parasitológico
O Controle de qualidade externo é realizado através da comparação dos resultados
obtidos no laboratório com resultados externos, que podem ser de outros laboratórios
(Interlaboratorial) ou resultados de referência (Comercial). Este tipo de controle de quali­
dade chamamos de teste de proficiência. Este teste tem como objetivo monitorar a fase

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analítica, verificar o desempenho dos métodos utilizados e, se for necessário, revisar os
protocolos ou a execução e, por isso, este teste deve ser periódico. Vale ressaltar que o
teste de proficiência, por analisar a qualidade apenas na fase analítica, é necessário que
outros controles de qualidade sejam aplicados e que englobem as fases pré e pós analíticas.

O controle de qualidade externo interlaboratorial tem como finalidade comparar os


resultados de um laboratório com outro, mesmo se utilizam métodos diferentes entre si.
A troca de materiais para comparação pode ser qualquer amostra biológica, ou tam­
bém campo focado (imagem de um parasita do microscópio) ou um caso clínico. Vale
ressaltar que estas amostras devem já ter sido analisadas por alguém e já possuírem o
resultado ou a resposta.

Além disso, existe o controle de qualidade externo comercial, geralmente formulado


por órgãos nacionais e internacionais, citados anteriormente, que são reguladores e de
credenciamento. Os testes de proficiência enviados por estes órgãos são compostos de
amostras preservadas, lâminas de microscopia de esfregaços fixados e casos clínicos.
Estas amostras, quando chegam ao laboratório, são tratadas como se fossem a amostra
de um paciente, são processadas e analisadas.

Após as análises tanto do controle de qualidade interlaboratorial como o comercial,


todos os resultados são planilhados e comparados com os valores já analisados. Se es­
tiver dentro da margem de variação aceitável, o teste é tido como válido e, quando há a
partir de 80% de acertos, o laboratório recebe o certificado de qualidade, a acreditação.
É importante que todos os dados dos controles de qualidade sejam guardados, assim o
laboratório tem seu histórico e pode acompanhar a sua reprodutibilidade.

Teste seu Conhecimento


• Como funciona o processo de controle de qualidade externo em um laboratório de
parasitologia clínica?
• O que é, como funciona e qual a finalidade do teste de proficiência?
• Explique as diferenças entre controle externo comercial e controle interlaboratorial;
• Quais os parâmetros que devem ser seguidos e obedecidos para que um laboratório
de parasitologia clínica obtenha o certificado de acreditação?

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UNIDADE Introdução ao Estudo da Parasitologia Clínica

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Coleta e Processamento de amostras – Capítulo 2
ZEIBIG, E. A. Coleta e Processamento de amostras. Trad. SUDRÉ, A. p. 1. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
https://bit.ly/2MLfsSI

Vídeos
Quais são os diferentes tipos de parasitas intestinais?
https://youtu.be/l4OlOo4mTvg
Stool Examination – Routine and Microscopy
https://youtu.be/_ePqcdDKCe0

Leitura
O que são vermes intestinais (helmintíase transmitida pelo solo)?
https://bit.ly/3cArHfW
Código de Ética da Profissão de Biomédico
https://bit.ly/3aqlZdQ

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Referências
DE CARLI, G. A. Parasitologia clínica: seleção de métodos e técnicas de laboratório
para o diagnóstico das parasitoses humanas. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2010.

FREITAS, E. O.; GONÇALVES, T. O. F. Imunologia, parasitologia e hematologia


aplicadas à biotecnologia. 1. ed. São Paulo: Érica/Saravaiva, 2015.

HIRATA, M. H. Manual de Biossegurança. 3.ed. São Paulo: Manole, 2017

REY, L. Bases da Parasitologia médica. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

SILVA J. V. Bioética: visão multidimensional.1. ed. São Paulo: Iátria, 2010

SIQUEIRA­BATISTA R.; GOMES A. P; SANTOS, S. S.; SANTANA L. A. Parasito-


logia: fundamentos e prática clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020.

STAPENHORST, F. F. Bioética e biossegurança aplicada. Porto Alegre: SAGAH, 2017.

ZEIBIG E. Parasitologia Clínica – Uma abordagem clínico laboratorial. 2. ed. Rio


de Janeiro: Elsevier, 2014.

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