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à Biomedicina
Aspectos Éticos da Biotecnologia
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Aspectos Éticos da Biotecnologia
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar ao aluno o âmbito legal e ético da Biotecnologia;
• Aprender como essa área vem sendo regulamentada;
• Conhecer e analisar os riscos e as responsabilidades ao utilizar técnicas biotecnológicas.
UNIDADE Aspectos Éticos da Biotecnologia
Organismos transgênicos são aqueles obtidos por técnicas específicas nas quais
o pesquisador quebra a cadeia de DNA em determinados locais e insere genes de
outros organismos, formando uma sequência de DNA híbrida contendo DNA do
organismo original e de um organismo exógeno.
Importante frisar que a não inclusão nessa categoria deve ser considerada apenas
se nenhum OGM foi doador ou receptor desse processo.
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O Decreto 5.591/2005, regulamenta a lei n° 11.105 e determina que a ANVISA
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é o órgão competente para emissão de
autorizações, registros e fiscalização de produtos e atividades com esses orga-
nismos, para qualquer uso.
Outra função é apoiar de forma técnica outros órgãos competentes para a prevenção
e a investigação de enfermidades relacionadas a técnicas de DNA/RNA recombinante.
Importante!
Nem toda modificação genética é enquadrada na categoria OGM!
Figura 1
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3. Algumas técnicas nas quais ocorrem modificações genéticas não estão
incluídas na categoria de OGM. Quais são elas? Você consegue entender
o porquê dessa não inclusão?
4. O que é e qual o papel da ANVISA em relação aos OGMs?
5. O que é e qual o papel da CNTBio?
Para que a CTNBio emita a decisão técnica é necessário que contenha a funda-
mentação técnica, as medidas de segurança devem estar bem explícitas e definidas
bem como as restrições de uso do OGM e seus derivados.
Um estudo envolvendo OGM que já tenha sido aprovado pela CTNBio não neces-
sita de um novo parecer técnico.
Importante!
O Certificado de Qualidade em Biossegurança concede às Instituições o desenvol-
vimento de projetos e atividades com os Organismos Geneticamente Modificados
(OGM) e seus derivados.
Para uma correta manipulação dos OGMs, algumas ações e técnicas são proibi-
das de acordo com a Lei 11.105/2005 e estão contemplados a seguir:
• Clonagem humana;
• Liberação no meio ambiente de OGM ou seus derivados, sem decisão técnica
favorável da CTNBio;
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É importante ressaltar que outros conselhos auxiliam a CTNBio, tais como a CNBS
(Conselho Nacional de Biossegurança), o CIBio (Comissão Interna de Biossegurança).
A CIBio deve ser criada quando a Instituição está voltada a Ensino, Pesquisa Cien-
tífica, Desenvolvimento Tecnológico e Produção Industrial e que utilize Técnicas e
Metodologias de Engenharia Genética e Pesquisas de OGM e derivados.
Essas resoluções foram emitidas para uma maior e melhor controle e fisca-
lização, com o objetivo de certificar que as Instituições que possuem o Cer-
tificado de Qualidade de Biossegurança (CQB) emitidos pela CTNBio estão
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adequadas e seguem os preceitos das normativas para o uso dos organismos
geneticamente modificados.
Não
Riscos
Não negligenciáveis? Execução do plano de
monitoramento
Sim
MG
Monitoramento geral Não
(avaliações periódicas)
Sim
Relação com a
Relatório técnico biossegurança do Não
MCS OGM?
Sim
Medidas de Monitoramento Confirmado o
mitigação caso-específico Experimentação nexo de casualidade
implementadas científica entre o efeito adverso
e o OGM?
Efeito Não Prazo Sim Suspensão ou
adverso do MCS revogação da
permanece? alcançado? decisão técnica
Existe Não sobre a liberação
mitigação? comercial
Sim
Sim
Fim do MCS
Sim
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Esse órgão também tem autoridade para lavrar autoinfração, indicar penalidades
cabíveis e instaurar processo administrativo.
• NB-2- Aplicado a atividades que envolvam agentes de risco II, que representam
moderado risco para as pessoas e limitado risco para o meio ambiente.
• NB-3- Aplicado a atividades que envolvam microrganismos de classe de risco 3,
que acarretam elevado risco individual e moderado risco para a comunidade.
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IBAMA, Ministério do Meio Ambiente e
Secretaria Especial de Agricultura e Pesca
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) também participa da regulamentação referente à manipulação de OGMs,
conforme Resolução Normativa n° 9, de 2 de dezembro de 2011.
Além das Legislações citadas no decorrer desta Unidade, há muitas outras que
regem o uso e a comercialização dos organismos geneticamente modificados e algu-
mas estão citadas na Tabela 1, a seguir:
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Ainda na área de clonagem, no final do ano de 2004, a Empresa americana
Genetic Savings & Clones apresentou o primeiro animal de estimação clonado a
partir de uma encomenda.
O gato, chamado de Little Nick, custou cerca de 50 mil dólares e levantou ainda
mais as questões éticas acerca da clonagem de animais.
Além do âmbito biotecnológico, vamos ver uma breve conceituação acerca da Ética.
A palavra ética é proveniente do termo grego Ethos, cuja tradução livre compre-
ende o estudo de caráter, ou ainda o juízo do ser humano. Diversos autores, como
Moreira (2002) e Vázquez (2008), atrelam a Ética à conduta moral do ser humano
em agir conforme crenças e valores.
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Em linhas gerais, a Ética, nesse campo de conhecimento, pode ser definida como
um grupo de fatores a serem ponderados, para casos em que a Legislação, as Regras
e as Normas vigentes não são capazes de fornecer argumentos diretos para se obter
um veredito.
Coelho (2004) defende que há quatro diferentes prismas da Bioética: dos animais,
do receptor, da equipe médica e dos aspectos da Saúde Pública. O autor entende que
a Ciência é a grande responsável em prover conhecimento capaz de gerar conforto
e segurança as quatro partes envolvidas.
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O que pode ser observado é que a Humanidade caminha para o aperfeiçoamento
da Biotecnologia em geral, em especial da Engenharia Genética, permitindo às pró-
ximas gerações um ambiente mais justo e uma vida mais saudável.
Argumentos Pró-OGMs
Pesando a favor dos OGMs, a eficiência na produtividade, fácil aplicabilidade e
alta lucratividade, principalmente nos meios agrícolas, puxam a fila dos benefícios
que os organismos transgênicos trazem a uma Sociedade cada vez mais necessitada
de tais recursos.
Uma visão utilitarista também aponta para resultados positivos, trazendo um con-
ceito de maior bem-estar possível para o maior número de pessoas, visto que países
em desenvolvimentos necessitam de maiores produções, para a redução de fome e
excedentes para exportações e consequente crescimento econômico.
Essa percepção utilitarista da Ética entende que o valor agregado a uma determi-
nada ação é constituído pela contribuição que esta ação agrega à utilidade global.
Porém, esta lógica não se mostra perfeita, como, aliás, todas as outras ponderações
éticas, visto que exclui o interesse de certos grupos da Sociedade, como os traba-
lhadores rurais que não teriam acesso às tecnologias dos organismos transgênicos.
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Outra aplicação é a criação de plantas que possuem maior teor nutritivo, como,
por exemplo, o arroz dourado, que é um arroz transgênico produzido por técnicas de
Engenharia Genética para sintetizar beta-caroteno, que é um precursor da vitamina A.
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Diversas Associações, tais como a Associação Americana para o Avanço da Ciência,
a Associação Médica Americana e até mesmo a Organização Mundial de Saúde deram
declarações favoráveis ao consumo de alimentos transgênicos afirmando que seu con-
sumo não representa um risco à saúde humana maior do que os alimentos não modifi-
cados geneticamente. Essas declarações são baseadas em diversos Artigos Científicos.
Um outro argumento é que alguns alimentos naturais e não modificados, tais
como nozes e castanhas, também causam uma série de alergias em diversas pessoas
e nem por isso são taxados como impróprios para o consumo humano.
Veja na Tabela a seguir o impacto da utilização de soja transgênica no Brasil entre
os anos de 1997 e 2005.
Em uma análise simplificada do custo-benefício, é possível visualizar as vantagens
econômicas trazidas ao país com a Biotecnologia:
Tabela 2 – Utilização de Soja Transgênica no Brasil (1997-2005)
Redução de Impacto na renda
Ano
Custos (US$/ha) das fazendas (US$ milhões)
1997 38.80 3.8
1998 42.12 20.5
1999 38.76 43.5
2000 65.32 43.7
2001 46.32 58.7
2002 40.00 66.7
2003 77.00 214.7
2004 88.00 377.6
2005 74.00 538.4
Fonte: Távora, 2019
Além das pesquisas sobre a produção de alimentos transgênicos, outras áreas de-
mandam especial atenção. Pesquisas com camundongos geneticamente desenvolvidos
para terem tumores, mostram-se cada vez mais eficientes no estudo de neoplasias.
Importante!
Em termos de xenotransplantes, não é adotado ao animal o termo “doador”. Doador se
refere ao ato de doar, que remete a ideia que o animal tem plena consciência do trans-
plante e bom grado sobre ele.
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Argumentos Contra-OGMs
Em contrapartida, há os potenciais riscos causados ao ser humano e ao meio
ambiente, ainda desconhecidos e regulamentados por leis e normas dinâmicas.
Visto que os números a favor dos OGMs não levam em consideração os poten-
ciais riscos ambientais e ao consumidor de organismos transgênicos, aos olhos de
ambientalistas e de Instituições ligadas à saúde em geral, ocorre a nulidade dos pon-
tos positivos.
Figura 8
Fonte: Adaptado de Getty Images e Wikimedia Commons
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A rotulagem correta de produtos tem sido motivo de muitas disputas ideológicas
e políticas.
Parte da população exige que sejam adicionadas informações aos rótulos dos pro-
dutos para que o consumidor possa saber se o alimento é transgênico e assim fazer
uma decisão de compra consciente.
Em tal imperativo, não é admitido que o meio ambiente e o ser humano sejam co-
locados em risco, sendo que nesse tipo de análise, as decisões de viés moral devem
ser tomadas de forma livre.
A Tabela a seguir ilustra de forma objetiva alguns dos principais prós e contras do
desenvolvimento de animais transgênicos.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Avaliação de risco dos organismos geneticamente modificados
COSTA, T. E. M. M. et al. Avaliação de risco dos organismos geneticamente
modificados. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, jan. 2011.
https://bit.ly/2XdOmqx
Avaliação de risco dos organismos geneticamente modificados
GARCIA, M. A. Alimentos Transgênicos: riscos e questões éticas. Revista de
Agricultura, Piracicaba, v. 76, fasc. 3, 2001.
https://bit.ly/2VbbZxv
A Biotecnologia e os impactos bioéticos na saúde
MAFTUM, M. A.; MAZZA, V. M. A.; CORREIA, M. M. A Biotecnologia e os
impactos bioéticos na saúde. Goiânia, Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 6,
n. 1, 2004.
https://bit.ly/2wogOLu
Organismos Geneticamente Modificados: A Legalização No Brasil e o Desenvolvimento Sustentável
ULTCHAK, A. A. M. S. Organismos Geneticamente Modificados: A Legalização
No Brasil e o Desenvolvimento Sustentável. R. Inter. Interdisc. INTERthesis,
Florianópolis, v. 15, n. 2, p.125-142, maio/ago. 2018.
https://bit.ly/3bX8v8p
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Referências
ALHO, C. DE SOUZA, R. T. Ciência e ética: os grandes desafios. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2006.
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TÁVORA, F. L. Ética e pragmatismo: o dilema dos Organismos Geneticamen-
te Modificados (OGM) e o papel do Parlamento. Disponível em: <https://www12.
senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/outras-publicacoes/
agenda-legislativa/capitulo-2-etica-e-pragmatismo-o-dilema-dos-organismos-geneti-
camente-modificados-ogm-e-o-papel-do-parlamento>. Acesso em: 8 set. 2019.
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