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à Biomedicina
Biotecnologia Clínica
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Biotecnologia Clínica
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Apresentar ao aluno o novo cenário de tratamentos que utilizam como base a Biotecnologia,
as principais estratégias adotadas e suas perspectivas no âmbito da Saúde Pública.
UNIDADE Biotecnologia Clínica
Biotecnologia Aplicada à
Produção de Biomoléculas
Anteriormente estudamos os procedimentos de como gerar uma molécula de
DNA recombinante.
Neste tópico, veremos como aplicar esse conhecimento para a produção de vacinas.
Antes disso, porém, é importante relembrar o conceito de Vacina, utilizado na
Imunologia, bem como descrever como tudo começou.
No século 18, o médico inglês Edward Jenner observou que indivíduos que ha-
viam contraído uma doença de gado (cowpox) semelhante à varíola humana eram
imunes à versão humana da doença e resolveu realizar um experimento inoculando
o pus proveniente de uma lesão de uma paciente com cowpox em um menino vo-
luntário de oito anos de idade.
O garoto apresentou um leve quadro da doença, mas em poucos dias estava com-
pletamente livre dos sintomas.
Mais tarde, Jenner confirmou que o menino estava imune à varíola humana ino-
culando o pus proveniente de uma lesão de um paciente com varíola humana no
garoto e ele não apresentou qualquer sintoma da doença.
Jenner conseguiu imunizar o garoto, protegendo-o contra possíveis infecções futuras.
Importante!
As normas da Bioética vão sendo estabelecidas ao longo do tempo. No século XVIII, não
haviam muitas restrições quanto a experimentos com seres humanos. Evidentemente,
hoje, essas regras estão bem claras e definidas, não sendo permitida a execução de pro-
cedimentos que ameacem a segurança e a dignidade do indivíduo.
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O termo vacina tem origem na palavra em latim vacca, que significa vaca, em referência à
inoculação do vírus causador da varíola bovina.
Figura 2
Fonte: TORTORA; FUNKE; CASE
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UNIDADE Biotecnologia Clínica
Figura 3
Fonte: Adaptado de TORTORA; FUNKE; CASE
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Anteriormente reforçamos a importância de o plasmídeo conter uma origem de replicação
que seja reconhecida pelo DNA polimerase da célula hospedeira.
• Em que esse conceito pode ser aplicado em relação às vacinas de DNA utilizadas para
induzir a imunidade em seres humanos?
• Que outra(s) característica(s) do plasmídeo de expressão são essenciais para que a
proteína/antígeno do microrganismo seja corretamente expressa pelo ser humano?
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UNIDADE Biotecnologia Clínica
Biotecnologia Aplicada ao
Tratamento de Doenças Genéticas
Doenças genéticas são aquelas causadas por alterações no DNA, ou seja, modifi-
cações permanentes.
Nessas situações, a farmacoterapia é um procedimento de caráter paliativo,
no sentido de minimizar ou aliviar os sintomas apresentados pelos pacientes,
mas não consegue curar a doença, pois os medicamentos não agem na causa
do problema.
O diagnóstico é precoce ainda na fase infantil, sendo que essa doença é res-
ponsável por alta taxa de mortalidade ainda nos primeiros anos de vida devido
a infecções.
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Teste Seu Conhecimento
1. O que são doenças genéticas?
2. Por que a Farmacoterapia não cura esse tipo de doença? Qual a finalidade
da Farmacoterapia nesses casos?
3. Como a Biotecnologia permitiu que pesquisadores começassem a pen-
sar em alternativas para a cura dessas doenças? Utilize o conhecimento
adquirido nas duas primeiras Unidades para responder essa questão com
bases na Biotecnologia;
4. Cite um exemplo de Doença Genética e como a Terapia Gênica pode ser
utilizada para curar pacientes portadores.
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UNIDADE Biotecnologia Clínica
Essas diferentes abordagens podem ser aplicadas em dois tipos de células: germi-
nativas e somáticas.
Células Geminativas
A introdução em células germinativas consiste na introdução de genes em óvu-
los ou espermatozoides com a intenção de transmitir a alteração para a prole. Ques-
tões éticas muito importantes estão envolvidas nessa aplicação e, por consequência,
alguns testes são executados apenas em outras espécies, como, por exemplo, a
manipulação de células-tronco embrionárias de camundongos.
Células Somáticas
A introdução em células somáticas, por sua vez, consiste na introdução de genes
em células diploides, o que acarreta em alteração das células-alvo sem a transferência
para a próxima geração. Por esse motivo, é considerada mais segura e conservadora.
Entretanto, ainda enfrenta desafios, como o transporte do gene às células-alvo e o
tempo de vida das células alteradas. A transferência do DNA para a célula-alvo pode
se dar de duas formas diferentes nessas células somáticas, conhecidas como in vivo e
ex vivo (Figura 6):
• No modelo in vivo, as células são alteradas no próprio paciente in situ, ou seja,
diretamente no tecido alvo. A vantagem desse modelo é que pode ser aplicado
em células que não podem ser cultivadas em quantidade suficiente em Laboratório
ou quando as células não podem ser reimplantadas eficientemente nos pacientes,
por exemplo, células do cérebro. A principal desvantagem está no fato de ser um
procedimento invasivo, principalmente, nos casos de o tecido-alvo ser em órgãos
internos. Trata-se de uma estratégia muito promissora, principalmente, depois do
desenvolvimento recente de vetores virais com capacidade de entregar as moléculas
de DNA sem causar infecções importantes. Relembrando que a transferência do
material genético para o tecido alvo ocorre com o auxílio de um vetor apropriado;
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• No modelo ex vivo, as células-alvo são retiradas do paciente e o DNA recombinante
é inserido in vitro nas células. Elas são amplificadas em cultivo e reintroduzidas no
paciente. A vantagem dessa metodologia é que ela permite que apenas as células
apropriadas recebam o DNA recombinante. Além disso, a modificação genética
pode ser checada em Laboratório antes da reinserção no paciente. Como a mo-
dificação genética das células ocorre fora do corpo, essa abordagem é chamada
Terapia Gênica ex vivo. Esse modelo é, geralmente, utilizado quando as células-alvo
possuem um longo tempo de vida e uma alta taxa de proliferação, adotado em tra-
tamento para hemofilia e como vacina para tratamento de alguns tipos de câncer.
Na Terapia Gênica in vivo, as células são modificadas por inserção de DNA recom-
binante dentro do próprio paciente.
Na Terapia Gênica ex vivo, as células são retiradas do paciente, modificadas por
inserção de DNA recombinante em Laboratório e reinseridas no paciente.
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Estudos recentes indicam que os vetores virais garantem maior sucesso à terapia,
pois possuem alta capacidade de infectar células e podem ser obtidos facilmente,
enquanto os métodos físico-químicos possuem menor eficácia e são transitórios.
Apesar disso, a escolha do método de entrega vai depender do tecido a ser tratado,
do tamanho do gene a ser transferido, do tipo de doença e dos riscos, dentre outros.
Métodos Físicos
Um dos métodos físicos mais eficientes é o de biobalística, que consiste no bom-
bardeio de partículas muito pequenas de ouro ou tungstênio coberto pelo DNA de
interesse, diretamente nas células-alvo.
Métodos Químicos
Atualmente, um dos métodos químicos que mais se destaca são os lipossomas.
São compostos por dupla camada lipídica semelhante a estrutura das membranas
biológicas. Por serem substâncias catiônicas, unem-se aos ácidos nucleicos formando
complexos. Podem incorporar tanto compostos hidrofílicos como DNA quanto hidro-
fóbicos, como alguns fármacos.
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Métodos Biológicos
A utilização de vírus como vetores na Terapia Gênica requer que os genes respon-
sáveis por patologias e pela proliferação viral sejam removidos e substituídos pelo
gene terapêutico.
Figura 8
Fonte: Adaptado de STRACHAN; READ
Embora os vírus sejam os vetores mais comumente empregados, alguns pesquisadores uti-
lizam plasmídeos.
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CRISPR-Cas9
Em 1995, foi observado que no genoma de bactérias havia repetições em tandem
chamadas TREPs – do inglês “Tandem repeats”.
Alguns anos mais tarde, em 2002, essas repetições foram denominadas CRISPR
(do inglês, Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeat) e se perce-
beu que pareciam ser transcritas e processadas em pequenos fragmentos de RNA,
podendo ter diversas funções.
Além disso, foi identificado que o gene Cas, que codificava para uma endonucle-
ase estava localizado adjacente ao locus CRISPR, o que poderia indicar uma relação
funcional com as repetições nas bactérias e associação a esse Sistema.
Verificou-se que quando a bactéria era infectada por um bacteriófago, seu geno-
ma era clivado e pequenas sequências eram incorporadas ao genoma da bactéria.
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Mais tarde, Jennifer Doudna e Emannulle Charpentier perceberam que esse “Sis-
tema Imune” das bactérias poderia ser utilizado para gerar quebras na dupla fita de
DNA de forma direcionada, o que foi a base para a atual revolução da terapia gênica
utilizando o Sistema CRISPR-Cas9.
O vídeo disponível no link a seguir explica de forma muito simplificada a Técnica de CRISPR.
Embora seja um vídeo em inglês, é possível adicionar legendas em português.
Disponível em: https://bit.ly/2Rgsebs
Quando esse Sistema é aplicado à Terapia Gênica, o RNA guia (gRNA) pode ser
direcionado, por complementariedade de bases, para o gene alvo de interesse, ou
seja, aquele que se deseja alterar por ser não funcional.
Assim como o nome sugere, o gRNA guia a endonuclease Cas9 para o local cor-
reto e esta gera uma quebra na dupla fita de DNA adjacente à sequência PAM (do
inglês, Protospacer Adjacent Motif).
Por outro lado, se a quebra na dupla fita for reparada pelo Mecanismo de Recom-
binação Homóloga (HDR, do inglês Homology-Directed Repair), não propenso a
erros, é possível substituir a região contendo a mutação por uma sequência “sadia”.
Para essa última aplicação, resultados muito promissores foram obtidos recente-
mente, como o sucesso na excisão do provírus em células de pacientes infectados, o
que abre perspectivas reais para a cura desta doença que vitima milhões de pessoas
em todo o mundo.
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Entretanto, a despeito de seu enorme potencial, os Princípios Bioéticos preconi-
zados pelas Sociedades científicas e as Leis instituídas pelos países sobre o uso desse
Sistema em humanos devem ser obedecidos à risca para a segurança da Sociedade
como um todo.
Em Síntese
Nesta Unidade, apresentamos a Biotecnologia como estratégia eficaz na prevenção (vaci-
nas) e tratamento (Terapia Gênica) de doenças infecciosas e genéticas, respectivamente.
Os últimos sessenta anos testemunharam avanços significativos nessa área, abrindo
perspectivas ainda melhores para o futuro próximo.
A segurança da Terapia Gênica baseada em CRISPR-Cas9 ainda necessita ser testada em
modelos adequados e, posteriormente, em humanos, para que possa beneficiar pacien-
tes acometidos por tais doenças.
No cenário brasileiro, estudos em Terapia Gênica ainda são escassos. Em 2005, foi criada
uma Rede de Terapia Gênica Brasileira, que incluía Grupos de Pesquisa de três estados:
Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
O alvo da Rede era Terapia Gênica e vacinas de DNA para câncer e doenças neurodege-
nerativas, dentre outras.
Já pensou em estudar e trabalhar com Terapia Gênica e ser um futuro biomédico e agente
transformador nesse cenário promissor, cheio de desafios científicos e com possíveis apli-
cações terapêuticas?
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Biotecnologia Aplicada ao Desenvolvimento de Vacinas
https://bit.ly/2Xg2BLI
Terapia gênica: o que é, o que não é e o que será
https://bit.ly/39GJ35C
Vetores virais para Terapia Gênica
https://bit.ly/2V54R5I
The Potential Use of the CRISPR-Cas System for HIV-1 Gene Therapy
https://bit.ly/34hrHLi
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Referências
ALBERTS, B. et al. Biologia Molecular da Célula. Porto Alegre: Artmed, 2011. 1396p.
TORTORA, J. G.; FUNKE, R., B.; CASE, L., C. Microbiologia. 12.ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
WATSON, J. D. et al. Biologia Molecular do Gene. Porto Alegre: Artmed, 2015. 912p.
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