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Vacinas
A vacinação é de longe o método mais eficaz e de baixo custo para o controlo das doenças
infecciosas em humanos e animais. Exemplo: Foi utilizada a vacinação para erradicação global
da varíola e da peste bovina, a eliminação da cólera suína e da brucelose em diversos países,
além do controlo de doenças como a febre aftosa, a cinomose, a raiva, a influenza, etc. A
tecnologia de produção de vacinas segue um rápido avanço, especialmente pelo uso de técnicas
moleculares modernas e pela nossa maior compreensão dos mecanismos imunológicos e formas
para optimizar respostas imunes para alcançar uma protecção máxima.
1. Tipos de imunização
Há dois métodos básicos pelos quais qualquer animal pode se tornar imune a uma doença
infecciosa: a imunização passiva e activa.
1.1.1. Colostro
O colostro contém as secreções acumuladas da glândula mamária nas últimas semanas de
gestação juntamente com proteínas activamente transferidas a partir da corrente sanguínea sob
influência dos estrógenos e da progesterona. Portantanto, ele é rico em IgG, IgA, IgM e IgE. A
imunoglobulina predominante no colostro da maioria dos animais domésticos é a IgG, pode
representar de 65% a 90% do conteúdo total de anticorpos, a IgA e outras imunoglobulinas são
geralmente componentes menores mas significativos.
À medida que a lactação progride e o colostro muda para leite, surgem diferenças entre as
respostas. Nos primatas, a IgA predomina tanto no colostro quanto no leite. Nos suínos e
equinos, a IgG predomina no colostro, mas sua concentração diminui rapidamente à medida que
a lactação progride predominando a IgA. Nos ruminantes, a IgG1 é a imunoglobulina
predominante tanto no leite quanto no colostro, nos bovinos em particular são predominantes a
IgG, IgM e IgA. O colostro é rico em citocinas, por exemplo o bovino contém quantidades
significativas de IL-1β, IL-6, TNF-α e INF-γ.
A vacina ideal para a imunização activa deve portanto, propiciar uma imunidade eficaz e
prolongada, a qual deve ser conferida tanto ao animal imunizado quanto a seus fetos, caso
existam. Para a obtenção de uma imunidade eficaz, a vacina não pode apresentar efeitos
colaterais adversos, deve ser barata, estável e adaptável a vacinação em populações, além de,
preferencialmente, estimular uma resposta imune distinguível da resultante em uma infecção
natural, de forma que a imunização e a erradicação possam existir simultaneamente.
Organismos inativados para utilização em vacinas devem apresentar uma antigenicidade o mais
similar possível à dos organismos vivos, segurança com relação à virulência residual e na
relativa facilidade de armazenamento. As desvantagens das vacinas inactivadas correspondem às
vantagens das vacinas vivas. O uso de adjuvantes para aumentar a antigenicidade pode causar
inflamação grave ou toxicidade sistémica, enquanto doses múltiplas ou elevadas doses
individuais do antígeno aumentam o risco de ocorrência de reacções de hipersensibilidade, além
de elevar os custos da vacina.
1.2.2. Atenuação
Atenuação é o processo de redução da virulência de organismos vivos, que podem causar doença
quando utilizados na produção de vacinas. Uma atenuação insuficiente resultará em virulência
residual, levando à doença e a atenuação excessiva poderá resultar em uma vacina ineficaz.
Tradicionalmente, os vírus têm sido atenuados pelo cultivo em células ou em espécies às quais
não são naturalmente adaptados. Infelizmente, a estabilidade genética nem sempre pode ser
garantida nas cepas atenuadas. Pode haver ocorrência de mutação reversa, possibilitando que os
organismos atenuados desenvolvam novamente sua virulência.
Um método mais confiável de tornar bactérias a virulentas é pela manipulação genética. Estes
mutantes dependem da presença de estreptomicina para o seu crescimento. Quando
administrados a um animal, a ausência de estreptomicina resultará na morte das bactérias, mas
não antes de terem estimulado uma resposta imune protectora.
Vacinas altamente eficazes da categoria III também foram desenvolvidas para a peste bovina, as
quais consistem em uma vacina de vector vaccínia ou capripox contendo os genes da
hemaglutinina (H) ou de fusão (F) do vírus da peste bovina. Estas vacinas têm sido tão efectivas,
que sua utilização sistemática levou à erradicação da peste bovina.
As vacinas de ácidos núcleicos são ideializadas para a protecção contra organismos cujo cultivo
em laboratório é difícil ou perigoso, não podem ser utilizadas para induzir imunidade contra
antígenos polissacarídicos. Algumas vacinas de DNA podem induzir imunidade mesmo na
presença de títulos bastante elevados de anticorpos maternos. Em relação à segurança, alguns
problemas em teoria são o potencial de integração do DNA vacinal ao genoma do hospedeiro e a
possibilidade de activar oncogenes ou inibir genes supressores tumorais. A presença de um gene
de resistência a antibióticos nos plasmídeos também leva ao risco de transferência desta
resistência às bactérias.
1.4. Adjuvantes
Os mecanismos de acção dos adjuvantes são pouco compreendidos, um problema que tem
dificultado seu desenvolvimento racional e tornado a selecção de adjuvantes um tanto empírica.
2. Vacinação
Os avanços no desenvolvimento e produção de vacinas resultaram em grandes melhorias na
eficácia e segurança, permitindo uma reavaliação dos riscos e benefícios relativos a vacinação,
resultando em mudanças dos esquemas de vacinação. A vacinação nem sempre é um
procedimento inofensivo. Por essa razão o uso de qualquer vacina deve ser acompanhado de uma
análise da relação risco-benefício, conduzida pelo veterinário em conjunto com o proprietário do
animal. Os esquemas de vacinação devem ser personalizados para cada animal, considerando-se:
a seriedade da doença e o potencial zoonótico do agente, o risco de exposição do animal e as
exigências legais relacionadas à vacinação.
Os dois principais factores que determinam o uso de uma vacina são a segurança e a eficácia.
Devemos sempre nos assegurar de que os riscos da vacinação não excedam aqueles associados às
chances de se contrair a própria doença. Portanto, pode ser inadequado utilizar uma vacina contra
uma doença que seja rara, facilmente tratada por outras formas, ou que apresente pouco
significado clínico.
A primeira categoria consiste em vacinas essenciais (ou centrais) – necessárias porque protegem
contra doenças comuns e perigosas, porque se não forem utilizadas os animais apresentarão um
risco significativo de contrair a doença ou morrer. As vacinas consideradas essenciais podem
variar de acordo com as características da região e perigo da doença.
A segunda categoria consiste em vacinas opcionais (ou não centrais). Elas são direccionadas
contra doenças cujos riscos associados a não vacinação sejam baixos. Em diversos casos, os
riscos oferecidos por estas doenças são determinados pela região ou pelo estilo de vida do
animal. O uso das vacinas opcionais deve ser determinado por um veterinário, com base no risco
de exposição.
Uma terceira categoria consiste em vacinas que podem não ter aplicação na vacinação
convencional, porém podem ser utilizadas em circunstâncias bastante especiais. São vacinas
destinadas a doenças de pouca significância clínica ou cujos riscos não prevalecem de forma
significativa sobre os benefícios.
A vacinação por aerossóis possibilita a inalação por todos os animais de um grupo. A técnica é
utilizada para a vacinação contra a cinomose, contra a doença de Newcastle em aves domésticas.
Como alternativa, a vacina pode ser colocada na ração ou na água para consumo, conforme
realizado para as vacinas de Erysipelothrix rhusiopathiae em suínos e para as vacinas contra a
doença de Newcastle, a laringotraqueíte infecciosa e a encefalomielite aviária em aves
domésticas. Vias alternativas de administração, que estão em desenvolvimento ou são
empregadas a humanos, incluem infecções a partir da pulverização de líquido, microinjeção e
aplicação tópica na pele.