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O Bastonário da Ordem dos Médicos, Prof. Dr. Carlos Alberto Pinto de Sousa, considera que a dig‑
nificação da classe médica passa, entre outros aspectos, pela defesa da classe médica, visando a
melhoria da carreira profissional, aspectos remuneratórios, condições de trabalho, formação continua
e pós‑graduada. Em entrevista ao “Boletim da Ordem dos Médicos de Angola”, anuncia ainda que no
aspecto deontológico será promovido um maior rigor e atenção às carreiras médicas, com a definição de
uma política de incentivos e de estímulos apropriados à dignificação e à permanência no serviço.
Notícias
Bastonário quer mais faculdades de medicina . ......................................................................10
Estudos de medicina em Angola nos séc. XVIII e XIX..........................................................10
“Piercings” na boca provocam complicações...........................................................................10
Laboratório português busca parcerias em Angola................................................................11
Boa saúde: EUA apoiam Angola com 30 milhões de dólares................................................11
Combate à doença melhora vida no continente......................................................................11
Saúde em Benguela reforçada com 25 médicos cubanos . ....................................................12
V Congresso Internacional da Ordem dos Médicos de Angola ..........................................12
Notificados 102 novos casos de bócio no Kuando‑Kubango................................................12
Actividades desenvolvidas e em curso . ....................................................................................12
Desaconselhado solários a menores de 18 anos .....................................................................13
Campanha de investigação em medicamentos para crianças...............................................13
Comunidade Médica de Língua Portuguesa reúne em Lisboa.............................................13
Agenda ............................................................................................................................................13
Relatórios OMS
Álcool causa 3,7% das mortes anuais no mundo.....................................................................14
Epidemia global do tabaco ..........................................................................................................14
OMS reconhece avanços de Angola . ........................................................................................15
Tuberculose continua a matar.....................................................................................................15
Grupo César e Filhos patrocina prémio de investigação biomédica...................................15
Estatutos.......................................................................................................................................16
Ficha técnica
Propriedade: Ordem dos Médicos de Angola Secretariado: Beatriz e Catarina. Produção:
Director: Prof. Dr. Carlos Alberto Pinto de Sousa Rua Amílcar Cabral, 151-153 Edições XIETU, Lda.
Tel: (- 244) 222 392 352 (Revista XIETU Angola)
Directores adjuntos: Miguel Bettencourt e Isabel Massocolo Fax: (- 244) 222 391 631 geral@revistaxietu.com
Directora Executiva: Mariana Afonso E-mail: secretariaormed@gmail.com Grafismo
Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, António Salsinha
e quaisquer fins.
En t r e v i s ta
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O que é a Ordem dos Médicos de Angola cultura médica e concorrer para o reforço e aperfeiçoamen‑
e qual é o fundamento da sua existência? to constante do Serviço Nacional de Saúde, colaborando na
A Ordem dos Médicos de Angola é uma instituição de direi‑ Política Nacional de Saúde em todos os aspectos, nomeada‑
to público que goza de personalidade jurídica, de autonomia mente no ensino médico e nas carreiras médicas; dar parecer
administrativa, financeira e patrimonial, de âmbito nacional, sobre todos os assuntos relacionados com o ensino, com o
tem a sua sede em Luanda e é constituída por quatro regiões exercício da medicina e com a organização dos serviços que
(norte, centro, leste e sul). Tem por finalidades defender a se ocupem da saúde, sempre que julgue conveniente fazê‑lo,
ética, a deontologia e a qualificação profissional médicas a junto das entidades oficiais competentes ou quando por estas
fim de assegurar e fazer respeitar o direito dos utentes a uma for consultada; velar pelo exacto cumprimento do Estatuto e
medicina qualificada; fomentar e defender os interesses da dos Regulamentos; emitir a cédula profissional e promover
profissão médica a todos os níveis, nomeadamente no res‑ a qualificação profissional dos médicos pela concessão de tí‑
peitante a promoção sócio‑profissional, a segurança social tulos de diferenciação e pela participação activa no ensino
e as relações de trabalho; promover o desenvolvimento da pós‑graduado.
Descentralização da pós-graduação
O Bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, Prof. Dr. Carlos Alberto Pinto de Sousa, defende a descentralização da
pós-graduação, para que os médicos das províncias tenham a oportunidade de a fazer sem terem de se deslocar a Lu‑
anda. Em entrevista à Angop, salientou que a descentralização da especialização consta dos objectivos da Ordem, porque
como defensora da classe, “pensa-se que é necessário que se reflicta sobre as carreiras médicas para que se descentralize a
pós-graduação, por forma a que colegas que estejam no interior tenham a mesma oportunidade sem terem que se deslocar
das suas áreas para Luanda”. Acrescentou que a descentralização da pós-graduação pode ser um incentivo que fará com
que o médico após dois anos de periferia não venha a Luanda para a fazer, acabando por aqui se fixar, em detrimento da
província em que esteve. “A descentralização da pós-graduação vai fazer com que as especialidades sejam levadas às prin‑
cipais regiões do país, pois o governo está a investir na reabilitação e apetrechamento das grandes unidades das províncias
do Huambo, Benguela, Malanje, Cabinda e Huíla”, frisou.
En t r e v i s ta
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Qual é o programa estabelecido para resolver o queixas, graças ao trabalho que têm sido feito com a classe
problema dos médicos em Angola? médica no sentido se valorizar mais os princípios éticos e de‑
ontológicos e nunca se esquecer do juramento de Hipócrates
A dignificação da Classe Médica passa por 1) Defesa da Classe
que todos nós fizemos. É este trabalho que está a ser feito, e
Médica visando a melhoria da carreira profissional, remunera‑
se está a preparar-se um projecto no sentido de se promo‑
tória, condições de trabalho, formação continua e pós‑gradu‑
verem seminários no âmbito dos princípios que norteiam a
ada, reconhecimento da especialização , criação e promoção
de actividades cientificas e formativas através dos Colégios de actividade médica.
especialidade; 2) Deontologia Médica ‑ neste domínio promo‑ Qual é a base das relações entre a Ordem e o governo
veremos um maior rigor e atenção as carreiras médicas, com angolano, no caso, Ministério da Saúde, sobretudo
a definição de uma politica de incentivos e de estímulos apro‑ na resolução dos problemas sócias e económicos dos
priados a dignificação e a permanência no serviço; zelar pelo médicos em Angola?
reforço da ética e deontologia profissionais para preservação
da boa imagem do médico; consagrar a competência da Or‑ A Ordem dos Médicos de Angola é um parceiro do Governo
dem dos Médicos no combate ao exercício ilegal da medicina de Angola e dará todo o seu apoio para os desafios no campo
e a publicidade enganosa relacionada com a saúde e a doença da saúde, para a o alcance das metas do milénio e na solução
dos cidadãos; promover a adopção de um sistema mais justo dos problemas que afectam a Classe Médica
que mantenha os médicos disponíveis para prestarem serviços Quais são as grandes dificuldades que enfrenta
ao Estado e aos outros sectores essenciais ao desenvolvimento a Ordem na extinção do fenómeno gasosa ainda
do País. 3) Colaboração com as Estruturas Governamentais; em rigor nalgumas unidades hospitalares do País?
4) Interacção com a Comunidade; 5) Cooperação Internacio‑
nal em especial com as congéneres da SADC e CPLP. Esse fenómeno tem diminuído muito e tem tendência a desa‑
parecer. Desde que coloquemos mais serviços a disposição da
Quantos médicos controla a Ordem (nacionais população e a haja maior consciencialização dos profissionais
e estrangeiros) e quais são as modalidades de ingresso? de saúde o fenómeno tenderá a desaparecer.
Estão inscritos na Ordem dos Médicos de Angola cerca de Para quando os doutoramentos em medicina
2.174 médicos dos quais 1.746 angolanos e 428 estrangeiros. em Angola?
O exercício da medicina depende da inscrição na Ordem dos
Médicos. A inscrição na Ordem dos Médicos é requerida pelo Este assunto é da competência das Instituições de Ensino Su‑
interessado e só podem inscrever‑se os angolanos e estran‑ perior. Mas penso, acho, que antes deveremos dar maior aten‑
geiros licenciados em medicina por escola superior angolana ção a criação e apetrechamento de laboratórios para pesquisa
ou estrangeira, desde que, neste último caso, tenham obtido operacional na área de saúde.
equivalência oficial do curso devidamente reconhecida pela Como está o aumento de Instituições de formação de
Ordem dos Médicos.
médicos no País, já que o índice de população
Quais têm sido as medidas da Ordem, quando por médico é assustador no País?
informada sobre um possível comportamento antiético
Existem actualmente duas instituições formadoras de médicos
de um dos seus associados?
em Angola. Precisamos de uma Faculdade de Medicina para
Sempre que da prática do exercício da medicina resulte vio‑ cada 2.000.000 habitantes, ou seja, para o nosso caso precisa‑
lação de normas de natureza deontológica é reconhecida a ríamos de pelo menos sete Faculdades de Medicina. Pelo facto
Ordem dos Médicos a possibilidade de instaurar inquérito que da formação médica ser demorada e de elevado custo te‑
ou processo disciplinar ao abrigo do Estatuto. Mas, nos úl‑ mos que apostar na formação técnico profissional de forma a
timos anos, temos visto uma certa redução do número de aumentar rapidamente a cobertura sanitária.
A Ordem dos Médicos de Angola pretende instituir prémios de incentivos de investigação e pesquisa científica para a
classe médica angolana. O galardão visa rebuscar o amor ao próximo, há muito perdido e criar o desenvolvimento
científico do País, segundo o Bastonário Prof. Dr. Carlos Alberto Pinto de Sousa. Prof. Dr. Carlos Alberto Pinto de
Sousa salienta a importância de relevar a investigação e a pesquisa científica pelo facto de o País precisar do progresso
humano, “insubstituível para o seu desenvolvimento”. Insatisfeito com a falta de solidariedade com o sofrimento do
próximo a quem os médicos consagram na sua profissão, Prof. Dr. Carlos Alberto Pinto de Sousa acha importante
terminar o espírito desumano e mercantilista de alguns membros na classe e lembra que a melhoria das condições
sanitárias do País é de bastante sacrif ício, manifestando interesse em contribuir para a melhoria do Sistema Nacional
de Saúde, o que, no seu entender, “pode contribuir em grande para mudança e o desenvolvimento sanitário do País”.
Espera bater‑se por uma transparência à todos os níveis, e espera que “as pessoas não se apeguem na falta de recursos
como panaceia e ineficácia do Sistema Nacional de Saúde de que somos partes integrantes na sua resolução”. A intenção
de institucionalização de um prémio para promover o melhor empenho da classe médica foi recebido com satisfação
por parte do Governo, através do ministro da Saúde Ruben, Sicato, que, para ele, o prémio pode servir de estímulo,
concorrência e o cumprimento da deontologia médica em Angola. Relembrou que os prémios sempre foram meios que
estimularam os esforços de técnicos em qualquer sociedade, pelo que considerou útil e aceite a iniciativa.
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e científico, no sentido de que estas equipes venham fazer não se confine só a Luanda, mas que seja levada para outros
a sua intervenção dentro das nossas unidades hospitalares. extremos do país, por forma a que o médicos que estejam
Isto irá fazer, por um lado, que haja maior rentabilização dos lá possam realizar as suas especialidades e também fixar os
meios e, por outro, criar um “now how” interno. Estas equi‑ médicos nas referidas localidades.
pes que vêm de fora, para além de terem uma componen‑
Defende que o Estado deva investir mais na medicina
te de prestação de serviço, têm também uma componente
de formação, porque iriam deixar ficar conhecimentos aos
preventiva do que na curativa?
nossos médicos. Isto é possível ser feito. E o outro aspecto Eu penso que deve haver mais investimentos na medicina
é aumentar a formação dos médicos. O que temos de fazer preventiva, porque é de baixo custo e os resultados são mui‑
é aumentar a formação interna através dos procedimentos to mais rápidos e com a possibilidade de se poder atingir
acima referidos. um maior número de pessoas. Por isso é que defendo que
devemos estruturar, de forma muito organizada e siste‑
Que propostas a Ordem dos Médicos tem feito ao
mática, a rede primária, por ser ali onde estão os serviços
Ministério da Saúde (MINSA) em relação à política
básicos de saúde e onde se mantém o primeiro ponto de
de formação de médicos especialistas? contacto com a população. Se tivermos estruturas da rede
Nós estamos a trabalhar com o MINSA neste sentido. Por primária fortes, com serviços de prevenção lá implantados,
um lado, para descentralizar a pós‑graduação, uma vez que estaremos a reduzir grande parte dos nossos indicadores
o Governo está a fazer uma grande investimento em grandes que nós conhecemos. É isto que se faz habitualmente. Por
unidades hospitalares, em diversas províncias, como, por um lado, reduzimos o fluxo de doentes para os outros níveis
exemplo, Malanje, Huíla, Benguela e Cabinda. Estas unida‑ e aumentamos a cobertura sanitária, porque a rede sani‑
des, para além da componente prestação de serviços, deve‑ tária primária pode ser facilmente estendida para todas as
rão ter também as componentes formação e investigação. regiões do país. As redes secundárias e terciárias são, natu‑
Por isso é que estamos a propor que a pós‑graduação, no‑ ralmente, para aquelas situações que merecem uma atenção
meadamente a especialização, seja descentralizada, para que mais especializada.
n embro da Assembleia
M n urso de Investigação em
C n urso de Didáctica
C
da Faculdade de Medicina da Serviços de Saúde Faculdade ‑ Faculdade de Medicina
Universidade Agostinho Neto de Medicina da Universidade da Universidade
n Membro do Conselho de São Paulo, Brasil; de São Paulo, Brasil
Perfil de Direcção da Faculdade
de Medicina da Universidade
n Curso de Metodologia
Epidemiológica ‑ Faculdade
n Especialista em Saúde
Pública pela Faculdade
Agostinho Neto de Medicina da Universidade
Nome: de Medicina da Universidade
n Regente da disciplina de São Paulo, Brasil; de São Paulo, Brasil;
Carlos Alberto Pinto de Sousa de Epidemiologia
n Curso de Métodos n Especialista em Saúde
Idade: 49 anos Cargos anteriores:
Quantitativos em Medicina Pública pelo Colégio
Naturalidade: Malanje n Director do Hospital do de Pós‑graduação de Angola
Preventiva ‑ Faculdade
Estado Civil: Casado Caminho‑de‑ferro de Medicina da Universidade n Doutor em Saúde Pública
Profissão: de Benguela
de São Paulo, Brasil; pela Faculdade de Medicina
Doutorado em Saúde Pública n Administrador da CLIDOPA
n Curso de Epidemiologia da Universidade
pela Universidade (Clínica do Corpo de São Paulo, Brasil.
de São Paulo/Brasil Diplomático e Petróleos) das Doenças Transmissíveis
Cargos actuais: n Médico da Clínica do Prenda
‑ Faculdade de Medicina Participação docente
da Universidade de São no exterior:
n Bastonário da Ordem dos Organismos Nacionais Paulo, Brasil;
Médicos de Angola, Reitor e Internacionais n Professor Convidado na
da Universidade Privada de de que é membro: n Curso de Fundamentos Disciplina de Epidemiologia
Angola (UPRA) e Professor n Associação Brasileira
Epistemológicos da Pesquisa da Faculdade de Medicina
Titular da Universidade de Saúde Colectiva ‑ Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Agostinho Neto (ABRASCO) da Universidade no período de 1995‑1997
n Chefe de Departamento de n Associação Americana
de São Paulo, Brasil; Pesquisa que desenvolve:
Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública n Curso de Meta‑ n Co‑Orientador da Tese
de Medicina da Universidade ‑Epidemiologia: Análise
Agostinho Neto n Conselho Superior de Doutoramento sobre
de Ciência e Tecnologia Critica do Método Factores de Risco no
n Membro Efectivo de Angola Epidemiológico ‑ Faculdade Câncer do Colo Uterino
do Conselho Cientifico de Medicina da Universidade
n Conselho de Reitores da População de Luanda
da Faculdade de Medicina
de Angola de São Paulo, Brasil; – Pesquisa conjunta com
da Universidade
Agostinho Neto Pós‑graduação: n Curso de Metodologia a Universidade do Porto,
de Investigação em Medicina Portugal.
n Membro do Conselho n Curso de Planejamento
Pedagógico da Faculdade em Saúde Faculdade Social Faculdade de n Factores de Risco na
de Medicina da Universidade de Medicina da Universidade Medicina da Universidade Schistosomiase Hematóbica,
Agostinho Neto de São Paulo, Brasil; de São Paulo, Brasil; na província do Bengo.
Co n g r ess o
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Encerramento do Congresso.
O bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, Prof. Dr. Carlos Alberto Pinto de Sousa, defendeu, no
Uíje, a abertura de mais faculdades de medicina.
Para Prof. Dr. Carlos Alberto Pinto de Sousa, que fazia parte da delegação que acompanhou a vice‑ministra
da Saúde para a área Hospitalar, Evelise Frestas, ao Uíje, a criação de condições para a formação profissional
dos técnicos de saúde poderá contribuir para que seja melhorado o nível de assistência que as unidades
sanitárias municipais oferecem às populações locais. O bastonário da Ordem dos Médicos reconheceu que
a única faculdade de medicina do País dispõe de boas condições. Segundo ele, há necessidade de se apostar
na formação técnico‑profissional, a nível da rede primária, no caso os postos de saúde, centros médicos
e hospitais municipais, para que os técnicos médios de saúde ali colocados possam dar resposta às várias
situações que ocorrem nas localidades. Os estudantes da Faculdade de Medicina recém‑formados, defendeu,
deviam ter pelo menos dois anos de periferia, pois são uma grande escola, já que aí são submetidos a contacto
directo com a realidade, e com o nosso contexto. Isso fá‑los‑ia crescer, tanto do ponto de vista técnico, de conhecimentos, como de
competências profissionais. Referiu ainda ser necessário dotar os profissionais de saúde de conhecimentos sobre gestão hospitalar,
no sentido de não só assegurarem a assistência sanitária da população enferma, nos postos de saúde, centros médicos e hospitais
municipais, por exemplo, mas também, no sentido de assegurarem a gestão destas unidades.
O s estudos de medicina em Angola tiveram o seu início no século XVIII, quando, sob orientações da
Rainha D. Maria I foi fundado em 1791, o curso superior de Medicina sob a designação de “ Aula de
Medicina e Anatomia de Luanda”. “ Nos termos duma Carta Patente assinada por D. Maria I, foi nomeado
aos 24 de Abril de 1789, o médico José Pinto de Azeredo para as funções de Físico Mor do então Reino
de Angola, com a obrigação de curar para além do corpo militar do Reino, os doentes do Hospital e
igualmente abrir uma escola de medicina para os que se quisessem empregar no exercício e prática da
medicina”. (MANUEL, Carlos ‑ 1997). Foi proferido então o acto inaugural da Aula de Medicina, a Oração
de Sapiência, a 11 de Setembro de 1791. O curso estava constituído por aulas de Anatomia, Fisiologia,
Química, Matéria Médica e Prática de Medicina. “ Aos 29 de Dezembro de 1836, Lisboa, (...), aprovou e
publicou a lei sobre a Instrução Superior nas Províncias Insulares. Essa lei parece ter sido criada em especial
para o ensino da Medicina e ordenou a constituição de uma Escola Médico‑Cirúrgica... ”. (MANUEL, Carlos
‑ 1997). Esta escola leccionaria duas cadeiras. A primeira consistiria em Anatomia, Fisiologia, Operações
Cirúrgicas e Arte Obstétrica. A segunda cadeira consistiria em Patologia, Matéria Médica e Terapêutica.
Essa lei regularizava também o quadro orgânico da Escola, o nível académico dos docentes e pessoal auxiliar,
regência das cadeiras, salários e autorizava a formação de Farmacêuticos. Aos 2 de Abril de 1845, a Rainha e o Ministro dos
Negócios da Marinha e do Ultramar, assinaram, publicaram e mandaram executar o Plano de Organização e Regulamento
do Ensino Médico nas Províncias Portuguesas de África, que de entre outros aspectos, limitava a natureza das intervenções
cirúrgicas que os recém cursados poderiam realizar, em virtude da inferior diferenciação profissional dos mesmos.
C erca de 30 por cento dos “piercings” colocados na cavidade oral (língua e lábios) provocam complicações, como hemorragias,
infecções e inchaço. Há casos em que os problemas só são sanados com a remoção do “piercing”.
Orlando Monteiro da Silva, bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas de Portugal, discorda que se proíbam estes artefactos,
mas realça a necessidade de informação. Os perigos são muitos e os cuidados a ter também.
A língua é uma das regiões do corpo mais atravessadas por vasos sanguíneos e nervos e é
fortemente colonizada por bactérias. Trespassá‑la, de um lado ao outro, com um objecto metálico,
sem anestesia, pode ser uma intervenção bastante agressiva e perigosa, se não for feita nas ideais
condições de assepsia. De acordo com Orlando Monteiro da Silva, aos consultórios de medicina
dentária chegam muitas complicações que só se resolvem com a retirada do “piercing”. Não há
estatísticas nem notícias de casos graves porque a maioria das situações é resolvida em consultórios
particulares, acrescenta o bastonário dos dentistas. Em termos imediatos, os riscos mais frequentes
são hemorragia (sangramento) descontrolada, edema (inchaço) da língua ‑ que pode provocar graves
dificuldades em respirar e engolir ‑ e infecções, além da dor, que varia consoante a sensibilidade e
tolerância de cada pessoa.
Durante o período de cicatrização, que demora entre quatro a seis semanas, o inchaço pode
acentuar‑se, o risco de infecção aumenta, podem ocorrer fracturas dos dentes (por contacto com o
objecto metálico) e retracção das gengivas. A higiene bucal fica também dificultada e há casos de
perda de sensibilidade do paladar.
Not í c i a s
N.º 0 ‑ JUNHO DE 2008 11
T rinta milhões de dólares foram investidos, nos últimos dos anos, pelo governo dos Estados Unidos no combate de
várias doenças e na promoção da boa saúde em Angola. O embaixador americano no País, Dan Mozena, que falava no
acto do lançamento oficial de um novo produto desinfectante de água denominado “Certeza”, ocorrido no município de
Cacuaco, disse que este montante tem sido usado para apoiar o governo de Angola no combate à malária, na prevenção do
VIH/Sida, redução da mortalidade materno‑infantil, assim como na imunização das crianças e fortalecimento do sector
da saúde. Para o embaixador dos Estados Unidos em Angola, o novo produto de tratamento de água fará grande diferença,
uma vez que dará, por um mês, água potável a uma família de seis pessoas. “Quero dizer com isto que 40 por cento de
angolanos que usam água de fonte não segura têm agora um meio fácil de purificá‑la antes de a beber”. Dan Mozena
lembrou que as doenças causadas por água contaminada, tal como doenças diarreicas e cólera, que matam milhares de
crianças e mulheres grávidas, podem ser prevenidas com uma simples gota do “Certeza”. “A saúde é uma das necessidades
básicas do ser humano, e o alicerce de todas as sociedades”, referiu Dan Mozena, realçando que cidadãos doentes não
podem participar numa democracia, não estão em condições de trabalhar, de contribuir para a paz e a segurança e não
podem desfrutar da vida. As doenças provocadas pela água contaminada contribuem directamente para a infecção da
diarreia, que é a segunda causa de morte de crianças abaixo de cinco anos em Angola.
Agenda
Curso de actualização Curso de actualização XXXXII World Congresso 3 Reuniões Cientificas
em Urologia em Urologia of The Internacional sobre Osteoporose
Local: Barcelona Local: Madrid Society of Hematology Local: Milão, Itália.
Data: 10 a 13 de Julho Data: 25 a 28 de Setembro Local: Banguecoque Data: 29 de Novembro
Contactos: Tel. 217 952 494 Contactos: Tel. 217 952 494 Data: 19 a 23 de Outubro Contactos: Admedic
Fax: 217 952 497 Fax: 217 952 497 Contactos: Grunenthal Tel. 218 429 710
Tel. 214 726 300
Re l at ó r i o s OM S
14 N.º 0 ‑ JUNHO DE 2008
P elo menos 2,3 milhões de pessoas morrem por ano no mundo todo devido a
problemas relacionados ao consumo de álcool, o que totaliza 3,7% da mortalidade
mundial, segundo um relatório elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
No relatório, a OMS afirma que “o consumo de álcool provoca grandes problemas de
saúde pública”. O produto é a quinta causa de morte prematura e de incapacidade no
mundo todo e provoca 4,4% das doenças em todo o planeta. Além disso, o álcool foi
relacionado a 6,1% das mortes de homens ocorridas em todo o mundo em 2002, e de
1,1% entre as mulheres.
Entre as mortes dos menores de 60 anos, a percentagem atribuível à ingestão de álcool sobe para 5% (7,5% entre os homens
e 1,7% entre as mulheres). Os efeitos fatais do consumo de álcool são maiores entre os mais jovens de ambos os sexos,
especialmente devido a acidentes com morte. Por regiões, os mais afectados por mortes resultantes da ingestão de álcool são
os homens da Europa (10,8% das mortes), da América (8,7%) e da Oceânia (8,5%). Os que sofrem menos consequências são
os do Mediterrâneo Oriental (0,9%), da África (3,4%) e do Sudeste Asiático (3,7%). Entre as mulheres, onde há mais mortes
relacionadas ao álcool é na Europa e na América (1,7% em ambos os casos), seguidos do Oceânia (1,5%), da África (1%), do
Sudeste Asiático (0,4%) e do Mediterrâneo Oriental (0,2%). Em geral, o consumo de álcool é a terceira maior causa de doenças
nos países desenvolvidos, e a primeira entre os homens nos países em desenvolvimento com taxas de mortalidade baixas. Por
tipos de patologias, o efeito nocivo do álcool se relaciona com os transtornos neuropsiquiátricos (entre eles, o alcoolismo), que
somam 34,3% das doenças e mortes ligadas a esse hábito. Além desses problemas, o álcool está estritamente ligado a acidentes
de trânsito, queimaduras, afogamentos e quedas (25,5%), além de se relacionar ao suicídio (11%), à cirrose hepática (10,2%), às
doenças cardiovasculares (9,8%) e ao câncer (9%). Se apenas as mortes forem consideradas, as três categorias principais ligadas
ao álcool são os acidentes (25%), as doenças cardiovasculares (22%) e o câncer (20%). “Embora existam indícios de que o
consumo moderado de álcool pode reduzir a mortalidade geral e a relacionada a algumas doenças e a determinados grupos de
idade, é dif ícil estabelecer um nível para o consumo nocivo de álcool”, reconhece a OMS no relatório. A agência defende, ainda,
que, em muitas doenças ‑ entre elas, o câncer de mama ‑, o risco aumenta em função da quantidade de álcool consumido. O
documento indica, também, que “a acumulação de indícios sugere uma relação entre o consumo e as doenças infecciosas, tais
como a Sida e a tuberculose, embora essa relação ainda tenha que ser demonstrada e quantificada”. A OMS calcula que, em
2002, o custo total relacionado ao consumo nocivo de álcool pode ter chegado a 665 biliões de dólares, o que equivaleria a 2%
do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No entanto, a parcela mais conservadora da organização acredita que pelo menos
50 biliões de dólares desse custo seriam correspondentes a despesas derivadas de doenças, 55 biliões dólares, à mortalidade
prematura, 30 biliões de dólares, à condução sob efeito do álcool, 30 biliões de dólares, ao abandono de emprego, 80 biliões de
dólares, ao desemprego, 30 biliões de dólares, a despesas do sistema judiciário e 15 biliões de dólares, a danos à propriedade
alheia. Entre consequências sociais citadas pela OMS estão a embriaguez em público, os maus‑tratos infantis, a violência
juvenil e entre marido e mulher. A OMS alerta, ainda, que cada vez mais a produção e comércio de álcool são envolvidos pela
globalização, o que implica novos desafios para combater o problema.
A menos que uma medida urgente seja tomada, um bilião de pessoas morrerá no mundo
todo por causa do tabagismo neste século. O tabagismo é tão devastador ao corpo humano
que constitui um factor de risco para seis das oito causas principais de morte no mundo.
A boa notícia é que essa epidemia está longe de ser inevitável e sabemos como acabar com ela.
Com base em ciência e experiência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou seis
soluções com boa relação custo‑benefício que foram comprovadas para reduzir o tabagismo
e que todo país deve implementar. Essas soluções exigem que as nações: protejam todas as
pessoas do fumo passivo com leis que exigem ambientes de trabalho e espaços públicos sem
fumaça; avisem as pessoas sobre os perigos do tabagismo com fortes advertências ilustrativas
sobre saúde nas embalagens de cigarro; decretem e coloquem em vigor proibições completas
referentes à publicidade, à promoção e a patrocínios do tabaco e ao uso de termos enganosos
como “leve’ e “baixo alcatrão; aumentem os preços dos produtos com tabaco, elevando os
impostos sobre o produto; ofereçam programas para ajudar os usuários a deixarem o vício e
monitorem o consumo do tabaco e avaliem o impacto dos esforços de prevenção e suspensão
do vício. Mais de 150 nações comprometeram‑se a implementar essas medidas, ratificando
o tratado para o controle do tabaco da OMS, a Convenção‑Quadro para o Controle do
Tabaco. Há provas científicas incontestáveis de que essas soluções funcionarão. Também, é
importante destacar que elas são viáveis e possíveis. A maioria pode ser implementada com
pouco ou nenhum custo para os governos.
Re l at ó r i o OM S
N.º 0 ‑ JUNHO DE 2008 15
A directora‑geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margareth Chan, reconheceu os avanços registados no domínio
da saúde, consubstanciados na assistência médica primária às populações. “Estou muito satisfeita com os resultados que
pude observar no terreno”, disse à imprensa Margareth Chan, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, antes de deixar Angola,
depois de três dias de visita ao País. A chinesa ao serviço da OMS acrescentou que a sua visita a Angola deu‑lhe uma grande
oportunidade de conhecer aquilo que se está a passar no sector da saúde em Angola. Margareth Chan disse entender que o país
acabou de sair de uma longa guerra civil, por isso, muito ainda não foi feito para melhorar todo o sistema nacional de saúde.
Há dois anos a frente dos destinos da OMS, Chan lamentou não ter tido a oportunidade de visitar os serviços de saúde noutras
províncias do país. Apesar disso, considerou “totalmente satisfatório” o trabalho desenvolvido no domínio da saúde, tendo em
conta aquilo que pôde constatar em Luanda.
“Apesar de não ter visitado o interior do país, diria que os trabalhos que até agora foram feitos no sentido de prestar uma
melhor assistência médica às pessoas são satisfatórios”, declarou Margareth Chan, confessando ter ficado especialmente muito
surpreendida com o engajamento político do Governo angolano no melhoramento do sistema nacional de saúde.
A Ordem dos Médicos de Angola tem vindo a desenvolver a sua actividade normal, dentro das competências que
estatutariamente lhe estão conferidas, procurando dignificar a classe médica e colaborar no desenvolvimento de
acções que permitam melhorar a saúde das populações. A dinâmica de mudança que temos procurado implementar
enquadra-se no reforço da capacidade de intervenção das estruturas governamentais, das universidades, das organizações
privadas e da capacidade de iniciativa da sociedade civil através dos seus próprios mecanismos de iniciativa. O Prémio
de Investigação Biomédica destinado a galardoar a investigação científica relevante e pertinente no domínio da saúde
tem os seguintes objectivos: investir no desenvolvimento, a médio e longo prazo, na capacidade de investigação de
pessoas e instituições, especialmente nas áreas tradicionalmente negligenciadas como a epidemiologia e a gestão de
unidades de saúde; fomentar o trabalho investigacional de peritos interessados e motivar os mais novos para esta área
do saber; recompensar profissionalmente a boa investigação e estabelecer laços de cooperação numa vasta área da
saúde. Conforme estatui o Regulamento, estão previstos três prémios e duas menções honrosas, a atribuir de acordo
com a relevância, qualidade e com resultados na saúde das populações. Para a materialização do projecto, a Ordem
dos Médicos de Angola contou com o apoio do Grupo César e Filhos, o que desde já expressa os seus agradecimentos.
O apelo está, assim, lançado à classe médica e a outros profissionais da área da saúde, às universidades e às estruturas
governamentais e à sociedade civil.
Es tat u t o s
16 N.º 0 ‑ JUNHO DE 2008