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ISSN 0103-3360

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE


INSTITUTO FLORESTAL
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An20a0i8s

Série Registros

IF Sér. Reg. São Paulo n. 36 p. 1 - 186 jul. 2008


GOVERNADOR DO ESTADO
José Serra

SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE


Francisco Graziano Neto

DIRETOR GERAL
Cláudio Henrique Barbosa Monteiro

COMISSÃO EDITORIAL/EDITORIAL BOARD


Waldir Joel de Andrade
Marilda Rapp de Eston
Antônio da Silva
Dimas Antonio da Silva
Eliane Akiko Honda
Frederico Alexandre Roccia Dal Pozzo Arzolla
Giselda Durigan
Gláucia Cortez Ramos de Paula
Israel Luiz de Lima
João Aurélio Pastore
Miguel Luiz Menezes Freitas
Yara Cristina Marcondes

PUBLICAÇÃO SEMESTRAL/SEMESTRAL PUBLICATION

SOLICITA-SE PERMUTA Biblioteca do


Instituto Florestal
Caixa Postal 1322
EXCHANGE DESIRED 01059-970 São Paulo, SP
Brasil
Fone: (11) 2231-8555
ON DEMANDE L’ÉCHANGE nuinfo@if.sp.gov.br

An20a0i8s

Foto 1 - Eucalyptus camaldulensis - Janete Motta da Silva


Foto 2 - Picramnia glazioviana (cafezinho) - Rita de Cássia Souza
Foto 3 - Aratinga leucophthalma (aratinga de bando) - Marcio Rossi
Foto 4 - Rio Paraibuna em Cunha, São Paulo - Valdir de Cicco
ISSN 0103-3360

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE


INSTITUTO FLORESTAL
PR IA
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B

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o
2 SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
DO INSTITUTO FLORESTAL
27 de junho de 2008
São Paulo - SP

Série Registros

IF Sér. Reg. São Paulo n. 36 p. 1 - 186 jul. 2008


COORDENAÇÃO
Marcio Rossi
Elaine Aparecida Rodrigues
COMISSÃO ORGANIZADORA COMITÊ INTERNO
Marcio Rossi (Coordenador Acadêmico) Marcio Rossi
Elaine Aparecida Rodrigues (Coordenadora Administrativa) Elaine Aparecida Rodrigues
Alexsander Zamorano Antunes Alexsander Zamorano Antunes
Isabel Fernandes de Aguiar Mattos Isabel Fernandes de Aguiar Mattos
Israel Luis de Lima Israel Luis de Lima
Maria Teresa Zugliani Toniato Maria Teresa Zugliani Toniato
Maurício Ranzini Maurício Ranzini
Natália Macedo Ivanauskas Natália Macedo Ivanauskas
Priscila Weingartner Rui Marconi Pfeifer
Rui Marconi Pfeifer Valdir de Cicco
Valdir de Cicco
CONSULTORES
Prof. Dra. Eda Terezinha de Oliveira Tassara
Departamento de Psicologia Social e do Trabalho – Instituto de Psicologia/USP
Prof. Dra. Vânia Regina Pivello
Departamento de Ecologia Geral – Instituto de Biociências/USP
Prof. Dr. Omar Yasbek Bitar
Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT
APOIO
Carlos Eduardo Spósito Lígia Kenarik Rodrigues Caldeira Raphael Macedo Pereira
José Darci Senhorinho Priscila Weingartner Solange Caldana da Costa Caldeira
Keny Paschoal Fochetto Rafael Pitsch Pinheiro Yuri Veneziane
Leandro França Castro Martins
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PUBLICAÇÃO IRREGULAR/IRREGULAR PUBLICATION

IF SÉRIE REGISTROS
São Paulo, Instituto Florestal.

1989, (1-2) 2001, (21-23)


1990, (3-4) 2002, (24)
1991, (5-9) 2003, (25-26)
1992, (10) 2004, (27)
1993, (11) 2005, (28-29)
1994, (12) 2007, (30-31-32)
1995, (13-15) 2008, (33-36
1996, (16-17)
1997, (18)
1999, (19-20)

COMPOSTO NO INSTITUTO FLORESTAL


julho, 2008
_

A terminologia empregada para as análises anatômicas seguiu as recomendações do IAWA


Committee (1989). Todas as mensurações foram realizadas em microscópio equipado para captura de
imagens e sistema de medições (Marca Olympus modelo BX 50 com software de análise de imagens Image–
Pro Express versão 4.0).

Ps
DB =
Pu - Pi
Posição radial 2 0,0016
Resíduo 12 0,0007 0,0061
31

CAETANO, T. B. et al. O artesanato como estratégia de educação ambiental e de geração de renda na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde
da Cidade de São Paulo.

CIÊNCIAS AMBIENTAIS

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 33-39, jul. 2008.


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CAETANO, T. B. et Oal.ARTESANATO COMO


O artesanato como estratégia de ESTRATÉGIA
educação ambiental e DE EDUCAÇÃO
de geração de renda na AMBIENTAL
Reserva da Biosfera do Cinturão Verde
da Cidade de São Paulo.
E DE GERAÇÃO DE RENDA
NA RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Talita Braga CAETANO1


Thaís Soares NEVES1
Rochelle Lima Ramos dos SANTOS2
Geraldo Antônio Daher Corrêa FRANCO3
Elaine Aparecida RODRIGUES4

1 INTRODUÇÃO

Na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo - RBCV existem mais de 6.000 km²
de florestas e outros ecossistemas associados, com uma diversidade biológica singular. Os ecossistemas da
RBCV também produzem inestimáveis serviços ambientais, ou seja, benefícios proporcionados pela natureza
para a sobrevivência humana, incluindo água, alimentos, controle de doenças e desastres naturais, equilíbrio
climático, oportunidades para o turismo e o lazer, entre inúmeros outros (Rodrigues et al., 2006).
Para conciliar a necessidade de desenvolvimento humano e de conservação ambiental dos
remanescentes de mata atlântica, a RBCV desenvolve desde 1996 o Programa de Jovens - Meio Ambiente e
Integração Social - PJ-MAIS, visando à formação integral e ecoprofissional de jovens entre 15 e 21 anos de
idade em situação de vulnerabilidade social, habitantes das áreas de entorno das unidades de conservação.
Os cursos do PJ-MAIS têm a duração sugerida de dois anos, estruturados em quatro oficinas temáticas:
1) Produção e Manejo Agrícola e Florestal Sustentável; 2) Turismo Sustentável; 3) Consumo, Lixo e Arte;
4) Agroindústria Artesanal.
Os locais de treinamento do PJ-MAIS são os chamados Núcleos de Educação Ecoprofissional - NEEs,
estabelecidos em sistema de parcerias entre governo estadual, municipal, sociedade civil organizada e parceiros
locais. No período de 1996 a 2006, foram implantados 15 núcleos em 11 municípios: Cajamar, Cotia, Diadema,
Embu-Guaçu, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Roque e
São Paulo (Rodrigues et al., 2006).
Considerando a importância dos serviços ambientais para o bem-estar humano e o potencial de exploração
sustentável destes serviços, a presente pesquisa analisa a Oficina de Consumo, Lixo e Arte do PJ-MAIS, no NEE
de São Paulo Horto/Cantareira, a partir de duas vertentes: em primeiro, sua contribuição como instrumento de
educação ambiental, em segundo, seu potencial de geração de renda para os alunos do Programa.
O objetivo geral deste estudo é mostrar a viabilidade da utilização de materiais descartados no dia-a-dia
e de produtos da floresta (como sementes, folhas, cascas, galhos) para a elaboração de peças de artesanato,
diminuindo os impactos humanos ao meio ambiente e formando profissionais aptos para atuar no ecomercado.

2 METODOLOGIA

2.1 Área de Estudo

Esta pesquisa foi realizada no NEE de São Paulo Horto/Cantareira, que desenvolve suas atividades
no Parque Estadual Alberto Löfgren, zona Norte de São Paulo. A área do Parque abrange 174 hectares,
dos quais 35 hectares são abertos para visitação pública. O Parque Estadual Alberto Löfgren forma um
contínuo ecológico com o Parque Estadual da Cantareira, que possui 7916 ha (São Paulo, 2008).
______
(1) Aluna do Programa de Jovens, Meio Ambiente e Integração Social, da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo. Iniciação Científica
Júnior. Colaboradora Voluntária.
(2) Discente do curso de Ciências Biológicas da Faculdade São Judas. Estagiária FUNDAP.
(3) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: gfranco@if.sp.gov.br
(4) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: erodrigues@if.sp.gov.br

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CAETANO, T. B. et al. O artesanato como estratégia de educação ambiental e de geração de renda na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde
da Cidade de São Paulo.

O Núcleo de Educação Ecoprofissional de São Paulo Horto/Cantareira - NEEHC − foi inaugurado


em março de 2006, selecionando 21 jovens da região de entorno, alunos da Escola Estadual Francisco Voccio,
para comporem a primeira turma do Núcleo.

2.2 Métodos

Esta investigação caracteriza-se pela abordagem metodológica do estudo de caso, utilizando como
procedimento de coleta de dados a observação participante na Oficina de Consumo, Lixo e Arte, no período de
maio a novembro de 2007. Além da observação participante, cujos apontamentos foram anotados no caderno
de campo, foram coletados e analisados documentos sobre a Oficina, o Programa de Jovens e sobre a RBCV,
bem como livros e periódicos pertinentes à pesquisa.
A fotografia foi utilizada como recurso de coleta de informações referentes às peças confeccionadas,
além de uma campanha de campo no Parque Estadual Alberto Löfgren para identificação in loco das espécies
cujas folhas, caules e frutos são usados na confecção de peças de artesanato. As árvores foram fotografadas
e posteriormente identificadas com base em literatura pertinente (Lorenzi, 1996; Bondar, 1964). Após sua
identificação, foram confeccionadas fichas com informações sobre nome científico, nome popular, origem,
ocorrência e habitat, status de conservação, floração, frutificação, colheita e propagação das sementes.
Quando a fotografia tirada in loco não estava adequada para representar a espécie na ficha, a partir do seu
nome científico foram localizadas imagens melhores na internet.
Para esta pesquisa foi detalhada a elaboração de uma luminária feita a partir de cimbas de palmeiras,
que são as brácteas lenhosas que protegem suas inflorescências. Seus componentes foram coletados depois de
completado o ciclo caducifólio de cada espécie, ou seja, após quedas naturais ou causadas pela chuva.
A peça confeccionada durante a Oficina teve seu custo avaliado, em termos de materiais utilizados e
horas de trabalho. Para a confecção da luminária, foram utilizados, além das cimbas, cola, pincel, lixas, cloro,
verniz, seladora, furadeira, formão, tora de árvore, bocal de lâmpada, lâmpada, fio elétrico, tinta e pó de serra.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Brasil e em muitos outros países, o lixo domiciliar urbano é composto na maior parte por materiais
orgânicos biodegradáveis ou compostáveis (entre 65 a 70% do total), sendo que de 25 a 30% do peso total
do lixo corresponde a materiais recicláveis como papel, metal, vidro e plástico. Embora em percentual menor
que o resíduo orgânico, o lixo reciclável representa uma parcela significativa em termos de volume, ocupando
grandes espaços nos aterros e lixões. Em São Paulo esta composição corresponde a 49,5% de matéria orgânica
seguida pelos plásticos (22,8%) e por papéis, papelão e jornais (18,8%) (Ribeiro & Günther, 2003).
A diminuição dos resíduos domésticos constitui um dos focos da presente pesquisa, a partir da
contextualização da Oficina de Consumo, Lixo e Arte. A estrutura pedagógica e técnica da Oficina em cada
Núcleo são definidas em função da disponibilidade local de matéria-prima, equipamentos para desenvolvimento
das técnicas de artesanato e área de formação dos oficioneiros/artesãos locais. Em decorrência desta oficina, podem
ser gerados produtos tais como enfeites, quadros, bijuterias, acessórios, artigos para decoração, entre outros.
A Oficina capacita os jovens para a utilização dos resíduos como matéria-prima alternativa para a
produção de artesanato. A peça de artesanato selecionada para este estudo, a luminária confeccionada com
cimbas, foi objeto de um estudo que considerou o levantamento de custos de produção, detalhamento dos
materiais e das técnicas utilizadas, características ecológicas das espécies envolvidas, etc.
A elaboração da luminária compreendeu várias etapas, como segue: 1) seleção da base em madeira;
2) preparação da base da luminária lixando o disco de madeira para retirada de impurezas; 3) seleção das
cimbas de palmeira; 4) marcação das cimbas na base de madeira para a perfuração da base; 5) montagem da
estrutura da luminária, fixando a cimba na perfuração da base com uma mistura de cola branca e serragem;
6) secagem da estrutura da luminária; 7) acabamento utilizando técnicas e materiais diversos (tinta, areia
colorida, cola colorida, entre outros). O produto final é visualizado na FIGURA 1.

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CAETANO, T. B. et al. O artesanato como estratégia de educação ambiental e de geração de renda na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde
da Cidade de São Paulo.

FIGURA 1 − Modelo de luminária confeccionada com cimbas de palmeiras.

Após sua confecção, os materiais utilizados foram listados e tiveram seu custo avaliado.
Foram necessários materiais permanentes e equipamentos que já estavam disponíveis no Atelier da Oficina,
como furadeira e formão. Estes custos foram levantados, mas não foram incorporados ao preço do produto.
Todos os demais materiais utilizados foram sistematizados e tiveram seu custo médio calculado a partir dos
preços de produtos de mesma marca e peso/volume cotados em três estabelecimentos, resultando em um custo
de material no valor de R$ 81,64 (oitenta e um reais e sessenta e quatro centavos). Para o cálculo do valor
da mão-de-obra, equivalente a R$ 35,63 (trinta e cinco reais e sessenta e três centavos), foram consideradas
15 horas de trabalho em relação ao salário mínimo vigente no Brasil, em novembro de 2007 (R$ 380,00).
Desse modo, o custo final do produto, que incluiu materiais utilizados e mão-de-obra, foi de R$ 117,27 (cento
e dezessete reais e vinte e sete centavos).
Foram levantados os preços de vendas de outros produtos similares no mercado, cuja média oscilou
entre R$ 80,00 (oitenta reais) e R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais), dependendo do grau de complexidade
e dos materiais utilizados. A partir destes levantamentos, foi sugerida como margem de venda da luminária
10% sobre o preço de custo, contabilizando um preço final ao consumidor de R$ 128,90 (cento e vinte e oito
reais e noventa centavos).
Em relação à contribuição da Oficina para a educação ambiental foi considerado o aprendizado
relacionado à botânica e ecologia vegetal de algumas espécies que podem ser utilizadas para a confecção de
produtos artesanais. Especificamente em relação ao local de estudo, chama-se a atenção para o fato do Parque
Estadual Alberto Löfgren apresentar diversos experimentos e coleções exóticas, além de espécies nativas da
Mata Atlântica. Em decorrência da confecção da luminária com material vegetal proveniente de espécie da
Mata Atlântica, foram estudados também temas correlatos, como conceituação de bioma, ecossistema, Mata
Atlântica, gestão de resíduos sólidos, qualidade de vida.
A partir da campanha de campo, das fotografias das espécies e da bibliografia pertinente (Bondar, 1964;
Lorenzi, 1996), as espécies foram identificadas para elaboração de fichas, conforme síntese apresentada na
TABELA 1. A FIGURA 2 apresenta as fotos das referidas espécies identificadas no Parque Estadual
Alberto Löfgren.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 33-39, jul. 2008.


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TABELA 1 − Informações sobre as espécies identificadas no Parque Estadual Alberto Löfgren. Fontes: Bondar (1964); Lorenzi (1996).

Ameaçada de
Nome científico Nome popular Origem Ocorrência e habitat
extinção
Ocorre com freqüência nos estados: Bahia, Espírito Santo,
da Cidade de São Paulo.

Syagrus jerivá, coqueiro gerivá, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
romanzoffiana coco-babão, barba de Sul do Brasil Apresenta grandes variações morfológicas regionais e ocorre Não
(Cham.) Glassman boi, coco de catarro em várias formações vegetais. Boa dispersão na América
Latina, ocorrendo ainda no Paraguai, Argentina e Uruguai.
Em perigo
palmito-juçara,
(Fundação

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palmito-doce, ripa, Do sul da Bahia e de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul.
Biodiversitas,
Euterpe edulis palmiteiro-doce, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, ocorre matas
Brasil 2008)
Mart. ripeira, ensarova, ciliares. Ocorre ainda na Argentina e Paraguai. Nativa da
Vulnerável
palmiteiro, içara, Mata Atlântica
(São Paulo,
juçara
2004)
Raphia farinifera África Oriental,
Espécie introduzida no Brasil. Cultivada para fins paisagísticos
(J. Gaertner) palmeira-ráfia África Central e Não
e artesanais.
Hylander Madagascar

palmeira-rabo-de-peixe, Espécie utilizada no Brasil para fins paisagísticos. Possui boa


Caryota mitis Lour. Índia e Malásia Não
cariota-de-touceira adaptação.

Dypsis lutescens areca-bambu, Espécie utilizada no Brasil para fins paisagísticos. Quando
Madagascar Não
H. Wendl. palmeira-areca jovens, não suportam sol excessivo e falta de umidade.
Archontophoenix
Espécie cultivada a pleno sol, muito utilizada para fins
cunninghamii H. seafórtia Austrália Não
paisagísticos no Brasil.
Wendl. & Drude

Madagascar, Espécie cultivada para arborização de parques e jardins


cica, cicas, palmeira- Índia, Filipinas, em quase todas as regiões climáticas do Brasil, tanto
Cycas circinalis L. Não
samambaia, sagu Sumatra, Java e isoladamente como em grupos e para formação de vasos.
África Tropical Espécie de Gymnosperma, muito semelhante a uma palmeira.
CAETANO, T. B. et al. O artesanato como estratégia de educação ambiental e de geração de renda na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde

continua
continuação – TABELA 1

Ameaçada de
Nome científico Nome popular Origem Ocorrência e habitat
extinção
da Cidade de São Paulo.

Phoenix reclinata Espécie cultivada com freqüência em jardins e em regiões de


tamareira-do-senegal África Tropical Não
N. J. Jacquin clima tropical, subtropical e temperado ameno.

Livistona falsa-latânia, palmeira- China Central, Espécie largamente cultivada em regiões tropicais e em clima Não
chinensis de-leque-da-china Bonon e Ilhas subtropical e temperado. Pioneira no cultivo com vasos,

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(N.J.Jacquin) R. Ryukyu, Kyushu freqüente em jardins e parques. Exótica.
Brown ex Mart.

Livistoma palmeira-livistona, Austrália Espécie pouco difundida no país e cultivada quase que Não
decipiens Becc. palmeira-de-leque-da- exclusivamente por colecionadores.
China

Pinanga merrillii pinanga-bambu Ásia Espécie cultivada apenas em coleções botânicas, Não
Hort. de características ornamentais aliadas ao porte gracioso e
folhagem delicada. Adequada para parques e jardins.

Rhapis humilis palmeira-ráfia, China Espécie não difundida, cultivada apenas em coleções Não
Blume palmeira-rápis botânicas. Adequada para parques e jardins, isoladamente ou
em grupos, com ampla adaptação às intensidades luminosas,
vegetando bem desde locais expostos ao sol até meia-sombra
e sombra.

Roystonea regia palmeira-real, Cuba, Guiana, Espécie cultivada com grande freqüência. Não
(H. B. K.) O. F. palmeira-imperial-de- Panamá
Cook Cuba

Attalea sp. Brasil Ocorre na parte oriental do continente sul americano, desde o −
Rio Grande do Sul até a Colômbia, Venezuela e Haiti.
CAETANO, T. B. et al. O artesanato como estratégia de educação ambiental e de geração de renda na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde
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CAETANO, T. B. et al. O artesanato como estratégia de educação ambiental e de geração de renda na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde
da Cidade de São Paulo.

Syagrus Euterpe edulis Raphia farinifera Caryota mitis Dypsis lutescens


romanzoffiana Mart. (J. Gaertner) Lour. H. Wendl.
(Cham.) Glassman Hylander

Archontophoenix Cycas circinalis L. Phoenix reclinata Livistona chinensis Livistoma


cunninghamii H. Única espécie de N. J. Jacquin (N.J.Jacquin) R. decipiens Becc.
Wendl. & Drude Gimnosperma Brown ex Mart.

Pinanga merrillii Rhapis humilis Roystonea regia Attalea sp.


Hort. Blume (H. B. K.) O. F.
Cook

FIGURA 2 – Espécies de palmeiras e uma única gimnosperma identificada no Parque Estadual Alberto Löfgren,
cujas partes são geralmente utilizadas para a confecção de peças de artesanato.

Ainda em relação à educação ambiental, o trabalho desenvolvido possibilitou o conhecimento de


aspectos ecológicos e ambientais referentes à degradação/conservação dos ecossistemas no tocante à extração
de produtos para a confecção de artesanato. Neste sentido, devem ser respeitados os processos ecológicos
como requisito à coleta dos frutos, galhos, cimbas das palmeiras etc., de modo a não comprometer o equilíbrio
ambiental da área.

4 CONCLUSÕES

Em sua proposta de transformar resíduos domésticos e materiais vegetais em artesanato,


questionando o padrão atual de consumo, promovendo a capacitação em técnicas de artesanato e a aprendizagem

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 33-39, jul. 2008.


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CAETANO, T. B. et al. O artesanato como estratégia de educação ambiental e de geração de renda na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde
da Cidade de São Paulo.

em relação ao ambiente, a Oficina de Consumo, Lixo e Arte, configura-se como instrumento inovador e
abrangente de formação integral, ecoprofissional e contribui para a inclusão social juvenil ao possibilitar
alternativas de geração de renda.
Concluímos com esta pesquisa que entre os serviços ambientais proporcionados pelos ecossistemas,
encontramos o fornecimento de matérias-primas que podem ser utilizadas para a confecção de peças artesanais
e para a geração de renda. Concomitante à elaboração das peças de artesanato, foi verificada a viabilidade de
se trabalhar conteúdos transversais relacionados ao meio ambiente, como botânica, aspectos ecológicos de
espécies e conservação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONDAR, G. Palmeiras do Brasil. São Paulo: Instituto de Botânica, 1964. p. 50-54. (Boletim, n. 2).
FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. Lista da flora brasileira ameaçada de extinção. Disponível em:
<http://www.biodiversitas.org.br/floraBr/>. Acesso em: 20 abr. 2008.
LORENZI, H. Palmeiras do Brasil: exóticas e nativas. São Paulo: Editora Plantarum, 1996. 303 p.
RIBEIRO, H.; GÜNTHER, W. M. R. Urbanização, modelo de desenvolvimento e a problemática de resíduos
sólidos urbanos. In: RIBEIRO, W. C. (Org.). Patrimônio ambiental brasileiro. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2003. p. 469-488.
RODRIGUES, E. A.; VICTOR, R. A. B. M.; PIRES, B. C. C. A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da
Cidade de São Paulo como marco para a gestão integrada da cidade, seus serviços ambientais e o bem estar
humano. Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 71-89, 2006.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Resolução SMA 48, de 21 de setembro de 2004.
Lista oficial das espécies da flora do Estado de São Paulo ameaçadas de extinção. Diário Oficial do Estado de
São Paulo, São Paulo, v. 114, n. 179, 22 set. 2004.
    . Instituto Florestal. Unidades de Conservação. Disponível em: <http://www.iflorestal.sp.gov.br/
unidades_conservacao/index.asp>. Acesso em: 22 abr. 2008.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 33-39, jul. 2008.


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COMÉRCIO
SALGADO, A. C.; RODRIGUES, E. A.; ANTUNES, ILEGAL
A. Z. Comércio DE AVIFAUNA
ilegal de avifauna na Região Metropolitana de São Paulo.
NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Ágata Cobos SALGADO*


Elaine Aparecida RODRIGUES**
Alexsander Zamorano ANTUNES***

1 INTRODUÇÃO

O Brasil encontra-se entre os países de maior riqueza de fauna do mundo. Em aves, ocupa a 3ª
posição com cerca de 1670 espécies, sendo 1524 residentes e 153 visitantes (Rede Nacional Contra o Tráfico
de Animais Silvestres - RENCTAS, 2001; Sick, 1997). Por ser um país rico em espécies de fauna silvestre,
o Brasil é alvo do comércio ilegal de avifauna.
Este tipo de tráfico movimenta entre US$ 20 e US$ 25 bilhões no mundo, sendo que somente no
Brasil é movimentado de US$ 1,5 a 2 bilhões por ano (Martoni, 2008), submetendo os animais capturados
a maus tratos e crueldades para esconder sua agitação e facilitar o transporte. O ônus dessa atividade recai,
sobretudo, nas espécies vitimadas pelo comércio ilegal: de cada 10 aves tiradas de seu habitat, 9 perdem a vida
durante o trajeto ou ficam seriamente debilitadas (RENCTAS, 2001).
Considera-se nesta pesquisa que a captura de aves para o comércio ilegal provoca desequilíbrio
ambiental, uma vez que pode levar à extinção as próprias espécies comercializadas bem como predadores
naturais e dispersores de sementes, comprometendo a conservação da biodiversidade de fauna e flora.
A partir desta problemática, o objetivo geral da pesquisa foi analisar o comércio ilícito de avifauna na
Região Metropolitana de São Paulo.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Área de Estudo

O local de estudo desta investigação corresponde à área de atuação do 1º e 2º Pelotão da 1ª CIA da


Polícia Militar Ambiental - PM Ambiental, que se localiza no estado de São Paulo, região Sudeste do Brasil
(FIGURA 1).
A 1ª CIA da PM Ambiental comanda o 1º e 2º Pelotão, atendendo aos seguintes municípios da
grande São Paulo: Mairiporã; Guarulhos; Caieiras; Cajamar; Francisco Morato; Franco da Rocha;
São Paulo−Centro; São Paulo−Zona Norte e São Paulo−Zona Oeste. Para melhor visualização da estrutura de
atuação do Policiamento Ambiental, é apresentada na FIGURA 2 a hierarquização de policiamento ambiental,
considerando os municípios atendidos pelos respectivos pelotões da PM Ambiental do Estado de São Paulo.
______
(*)   Aluna do Programa de Jovens, Meio Ambiente e Integração Social da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo. Iniciação
Científica Júnior. Colaboradora Voluntária. E-mail: agatacobos@gmail.com
(**) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: erodrigues@if.sp.gov.br
(***) Co-orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: alexsanderantunes@ig.com.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 41-47, jul. 2008.


42

SALGADO, A. C.; RODRIGUES, E. A.; ANTUNES, A. Z. Comércio ilegal de avifauna na Região Metropolitana de São Paulo.

FIGURA 1 – Divisão Administrativa do Comando de Policiamento Ambiental da 1ª CIA da PM Ambiental.

FIGURA 2 – Estrutura de Policiamento da PM Ambiental na Região Metropolitana de São Paulo.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 41-47, jul. 2008.


43

SALGADO, A. C.; RODRIGUES, E. A.; ANTUNES, A. Z. Comércio ilegal de avifauna na Região Metropolitana de São Paulo.

2.2 Metodologia

Esta pesquisa se caracteriza como uma investigação exploratória descritiva. Para o desenvolvimento da
pesquisa as técnicas de levantamento de dados incluíram revisão bibliográfica, análise da legislação pertinente
e convenções internacionais, análise documental e entrevistas com pesquisadores e profissionais relacionados à
temática da pesquisa. Realizaram-se levantamentos secundários sobre o tráfico em instituições de proteção aos
animais (Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres - RENCTAS; Centro de Triagem de Animais
Silvestres - CETAS; e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA).
Também se realizou visita técnica à PM Ambiental, com levantamento documental sobre ocorrências
na região atendidas pela 1ª CIA da PM Ambiental de São Paulo, para identificar o número de aves e as espécies
apreendidas no período de 2001 a 2007.
Além do levantamento documental, procedeu-se a entrevistas semi-estruturadas com os policiais
Allan Cardoso Túbero, Rafael Oliveira Prado e João Bosco Barbosa, da 1ª CIA da PM Ambiental.
Estas entrevistas foram realizadas em 28/09/2007, a partir de roteiros previamente definidos por meio de
pesquisa exploratória sobre o comércio ilegal de avifauna, com duração de duas horas, sendo gravadas em fita
cassete e posteriormente transcritas e digitadas para análise de conteúdo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em termos gerais, a atuação da PM Ambiental ocorre da seguinte forma: 1) a PM Ambiental recebe


denúncias anônimas sobre comércio e maus tratos a animais. O anonimato do denunciante é garantido em
termos de que o denunciado não conheça o autor da denúncia, mas nos registros da polícia, o autor da denúncia
deve ser identificado, até mesmo para diminuir o número de “trotes” ou para identificar possíveis “emboscadas”
para os policiais; embora muitas pessoas deixem de denunciar por terem que revelar seu nome à PM Ambiental;
2) é gerado o número da ocorrência que é passado para o denunciador a fim de que este acompanhe o processo,
todavia, no Brasil geralmente o denunciador não acompanha o seguimento do processo; 3) é cadastrado
o Boletim de Ocorrência - BO no sistema interno administrativo da Companhia, e enviado uma cópia para
o Pelotão mais próximo que será responsável pela averiguação.
Na Região Metropolitana de São Paulo atendida pelo 1º e 2º Pelotão da 1ª CIA de PM Ambiental, é comum
o recebimento de ocorrências como corte de árvores isoladas, poda ilegal e comércio ilegal da fauna silvestre
brasileira; ao contrário das regiões atendidas pelo 3º e 4º Pelotão, cuja maioria das ocorrências refere-se à mineração.
A intensificação do combate ao tráfico de animais em 2006 no estado de São Paulo resultou no
acréscimo de 16,8% da quantidade de exemplares da fauna silvestre apreendidos. Foram 30.216 contra 25.211
do ano anterior, sendo que deste total, 26.236 espécies apreendidas são de aves. As regiões administrativas
que apresentaram maior número de apreensões de fauna silvestre foram: Região Metropolitana de São Paulo
(27%), Campinas (12%), Sorocaba (11%), Ribeirão Preto (8%), Guarujá (8%), São José do Rio Preto (6%),
Registro (4%), Fernandópolis (4%), Franca (4%), Bauru (3%), Marília (3%), Taubaté (3%), Presidente Prudente (2%),
Birigui (2%) e Caraguatatuba (1%). Somando-se as regiões de São Paulo, Campinas e Sorocaba, o número de
animais apreendidos equivale à metade das apreensões em todo o Estado (50%) (São Paulo, 2007). O ranking
das espécies de avifauna mais apreendidas, em um total de 16.313 aves, é apresentado na TABELA 1.
Os pássaros são as espécies mais apreendidas sendo tradicionalmente procurados pela população em
razão de seu canto ou de sua beleza. Além disso, são pequenos e percebidos como abundantes na natureza,
e podem ser transportados discretamente. No topo da lista estão o canário-da-terra, o picharro (trincaferro) e o
coleirinha, procurados pelo canto. Os dois primeiros constituem as espécies da fauna silvestre brasileira mais
apreendidas, somando 31,87% do total (8.360 animais) (São Paulo, 2007).
Em princípio a PM Ambiental procura depositar os animais apreendidos no Parque Ecológico do Tietê,
no Departamento de Parques e Áreas Verdes - DEPAVE, ou no Centro de Manejo de Animais Silvestres - CEMAS,
que são centros de recuperação onde os animais recebem cuidados veterinários, já que geralmente se encontram
em péssimas condições de saúde. Quando não há vagas nestes locais, os animais são encaminhados para criadores
conservacionistas autorizados pelo IBAMA, que utilizam as aves provenientes do tráfico, de cativeiro e de
maus tratos como matrizes, quando saudáveis e sem comprometimento da sua reprodução.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 41-47, jul. 2008.


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SALGADO, A. C.; RODRIGUES, E. A.; ANTUNES, A. Z. Comércio ilegal de avifauna na Região Metropolitana de São Paulo.

TABELA 1 − Ranking das espécies de avifauna mais apreendidas no estado de São Paulo, no ano de 2006.

Número de
Espécie Percentual
Apreensões
Canário-da-terra Sporophila nigricollis 5.630 21,46%
Picharro Saltator similis 2.730 10,41%
Coleirinha 2.148 8,19%
Pássaro-preto Gnorimopsar chopi 1.387 5,29%
Pintassilgo Carduelis magellanica 1.050 4,00%
Azulão Cyanocompsa brissoni 916 3,49%
Galo-de-campina Paroaria dominicana 527 2,01%
Bigodinho Sporophila lineola 511 1,95%
Pichochó Sporophila frontalis 436 1,66%
Tico-tico Zonotrichia capensis 399 1,52%
Papagaio outros Amazona spp. 362 1,38%
Cardeal Paroaria coronata 261 0,99%
Curió Oryzoborus angolensis 261 0,99%
Papa-capim Sporophila spp. 252 0,96%
Tico-tico-rei Coryphospingus cucullatus 250 0,95%
Sabiá-laranjeira Turdus rufiventris 213 0,81%
Sanhaço Thraupis sayaca 122 0,47%
Chupim Molothrus bonariensis 83 0,32%
Papagaio-verdadeiro Amazona aestiva 83 0,32%
Tiziu Volatinia jacarina 74 0,28%
Gralha Cyanocorax spp. 64 0,24%
Sabiá-coleira Turdus abbicollis 56 0,21%
Arara outros Ara sp. 50 0,19%
Arara-canindé Ara ararauna 48 0,18%
Gurandi Tachyphonus coronatus 45 0,17%
Saíra-azul Dacnis cayana 37 0,14%
Bico-de-pimenta Saltator fuliginosus 29 0,11%
Sabiá-branca Turdus leucomelas 21 0,08%
Sabiá-una Turdus flavipes 8 0,03%
Arara-vermelha Ara chloropterus 4 0,02%
Outras aves 8.179 31,17%
TOTAL 26.236 100,00%
Fonte: São Paulo (2007).

De acordo com Martoni (2008), o comércio ilegal de animais silvestres no Brasil é responsável pela
retirada de 38 milhões de animais de seu habitat natural todos os anos, sendo que as aves respondem a 82% do
comércio ilegal de animais silvestres.
Somente na área de atuação do 2º Pelotão foram apreendidos 26.225 animais no período de 2000 a
2006 (FIGURA 3), representando aumento significativo de apreensões em relação ao ano de 2000. Tais índices
foram produzidos em razão de maior participação da sociedade através de denúncias e de maior esforço de
captura de animais silvestres. Em 2006 foram lavrados 2.481 autos de infração na Região Metropolitana
de São Paulo, número este 332,57% em relação a 2005, que teve 746 autos de infração ambiental.
O atendimento às denúncias pela PM Ambiental em todo o estado de São Paulo passou de 10.912
atendimentos em 2001 para 17.516 em 2005, o que corresponde a um aumento de 62,29%. Esta ferramenta é
bastante utilizada e considerada uma das principais e mais eficazes pela PM Ambiental, em razão das próprias

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SALGADO, A. C.; RODRIGUES, E. A.; ANTUNES, A. Z. Comércio ilegal de avifauna na Região Metropolitana de São Paulo.

peculiaridades do tráfico dos animais. Estas denúncias são encaminhadas via fax, através de ligação telefônica,
correio, e-mail ou realizadas pessoalmente pelo denunciante (São Paulo, 2006a, 2006b).

FIGURA 3 – Número de animais apreendidos pela 1ª CIA de PM Ambiental de São Paulo, entre 2000 e 2006.
Fonte: registros da 1ª CIA de PM Ambiental.

Para que a PM Ambiental tenha atuação efetiva no combate ao tráfico de animais silvestres,
principalmente o de avifauna, é necessário, em primeiro lugar, melhorar a estrutura de atuação, incluindo
viaturas, contingente, treinamento adequado, equipamentos, material de estudo e capacitação para que
os policiais estejam mais preparados e informados; e em segundo lugar, é necessário a definição de locais
apropriados para alojar os animais apreendidos.
O grande número de animais apreendidos e a necessidade de que estes sejam manejados de forma
responsável, pressionam as autoridades para lidar adequadamente com estas situações. Em decorrência, foi
desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Ornitologia, um fluxograma de decisões (FIGURA 4) para nortear o
processo de destinação de aves silvestres proveniente do tráfico e cativeiro, visando a conservação das espécies e suas
populações naturais, com uma série de 14 passos a serem seguidos, apresentados na seqüência (Efe et al., 2006).

FIGURA 4 – Fluxograma de Decisões. Os números referem-se aos passos descritos no texto.


Fonte: adaptado de Efe et al. (2006).

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SALGADO, A. C.; RODRIGUES, E. A.; ANTUNES, A. Z. Comércio ilegal de avifauna na Região Metropolitana de São Paulo.

Estas diretrizes consideram que as autoridades governamentais que foram responsáveis pelas
apreensões de animais silvestres são também responsáveis pela sua destinação adequada, cuja decisão deve
atingir três pontos: 1º) maximizar o valor conservacionista dos animais sem qualquer prejuízo para sua saúde,
comportamento e características genéticas, ao status de conservação de populações das espécies selvagens ou
de cativeiro ou à biota nativa; 2º) não incentivar o comércio ilegal ou irregular; e 3º) fornecer uma solução clara
para o problema, mesmo que esta envolva a manutenção de animais em cativeiro, a sua reintrodução à natureza
ou o emprego de eutanásia. Embora a devolução dos animais à natureza seja a solução preferencial de maior
apoio popular, em geral esta possibilidade apresenta alto potencial de risco aos ambientes e às populações
naturais, devido à soltura em locais impróprios e sem avaliação do seu estado sanitário, sendo o efeito dessas
solturas desconhecido (Efe et al., 2006).

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

No período de 2000 a 2007, foram capturados pelos Policiais Ambientais em torno de 26.300 espécies
da fauna silvestre brasileira somente na região atendida pela 1ª Companhia, na qual houve intensificação
significativa do esforço operacional da Polícia Militar Ambiental para o combate ao tráfico de aves silvestres.
Nota-se também maior participação da sociedade paulistana nas ações da Polícia Militar Ambiental no Estado
de São Paulo, verificada no atendimento às denúncias que tiveram um aumento de 62,29% entre 2001 e 2005,
passando de 10.912 para 17.516 atendimentos.
Concluiu-se com esta pesquisa que a intensificação da atuação da PM Ambiental na Região
Metropolitana de São Paulo possibilitou o aumento das apreensões de avifauna comercializada ilegalmente,
todavia, enquanto houver consumidores dispostos a comprar animais “não-legalizados”, esta atividade
continuará desafiando a sociedade. Como a captura predatória de aves silvestres que consomem pequenos
frutos e insetos provoca desequilíbrio ambiental, é preciso intensificar as ações de conscientização. Estas ações
devem desestimular os compradores e romper com este “ciclo vicioso”, mostrando alternativas ecologicamente
adequadas para a apreciação da avifauna, como a observação de aves. Neste sentido, devem ser reforçadas a
fiscalização e autuação dos infratores, bem como a intensificação de campanhas de educação ambiental para
conscientização sobre a problemática e suas conseqüências.

5 AGRADECIMENTOS

Aos policiais da 1ª CIA de Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EFE, M. A. et al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Ornitologia para a destinação de aves silvestres provenientes
do tráfico e cativeiro. Revista Brasileira de Ornitologia, São Leopoldo, v. 14, n. 1, p. 67-72, 2006.
MARTONI, L. M. Cruel tráfico de animais silvestres. O Estado do Paraná, Curitiba, 31 mar. 2006.
REDE NACIONAL DE COMBATE AO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES - RENCTAS. 1º Relatório
Nacional sobre o Tráfico de Animais Silvestres. Brasília, DF, 2001. 108 p.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. Polícia Militar do Estado de
São Paulo. Divisão Operacional do Comando da Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo. Tráfico
de Animais da Fauna Silvestre Nacional. Dados Estatísticos e Estratégicos Operacionais 2001 – 2005.
São Paulo, 2006a. 26 p.
    . 1º Relatório do Tráfico de Animais da Fauna Silvestre. São Paulo, 2006b. 20 p.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 41-47, jul. 2008.


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SALGADO, A. C.; RODRIGUES, E. A.; ANTUNES, A. Z. Comércio ilegal de avifauna na Região Metropolitana de São Paulo.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública. Polícia Militar do Estado
de São Paulo. Divisão Operacional do Comando da Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo.
2º Relatório do Tráfico de Animais da Fauna Silvestre. São Paulo, 2007. 26 p.
SICK, H. Ornitologia brasileira: uma introdução. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1997. v. I
e v. II, 952 p.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 41-47, jul. 2008.


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VERDASCA, S.; BRENHA, IMPORTÂNCIA


M. R.; RODRIGUES, E.DAS ÁREASdasPROTEGIDAS
A. Importância MARINHAS
áreas protegidas marinhas para a conservação dos recifes de coral:
considerações sobre a atividade turística no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, São Paulo.
PARA A CONSERVAÇÃO DOS RECIFES DE CORAL:
CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATIVIDADE TURÍSTICA NO
PARQUE ESTADUAL MARINHO DA LAJE DE SANTOS, SÃO PAULO

Stella VERDASCA*
Marina Rito BRENHA**
Elaine Aparecida RODRIGUES***

1 INTRODUÇÃO

Os recifes de coral são ecossistemas marinhos ricos em biodiversidade. São estruturas calcárias constituídas,
principalmente por corais antozoários; além destes, participam também de sua formação os hidrocorais, as algas
calcárias, os moluscos e vários outros organismos (Laboratório de Ambientes Recifais, 2008).
Geologicamente, os corais existem há cerca de 200 milhões de anos e alcançaram seu nível atual
de diversidade biológica 50 milhões de anos atrás. Por sua rica biodiversidade, os recifes de corais têm
características muito importantes para o equilíbrio ecológico do ambiente marinho. Além de exportar matéria
orgânica e nitrogênio para suas zonas circundantes, aumentando a produtividade dessas águas, eles constituem
um importante local de reprodução e de crescimento juvenil para muitas espécies de peixes (Ramos, 2006).
Apesar das espécies de corais serem encontradas praticamente em todos os oceanos e latitudes,
as espécies construtoras de recifes (corais hermatípicos) estão restritas às regiões tropicais e subtropicais
(Migotto, 2008), sendo comuns na costa leste da África, no oceano Índico, no Atlântico e no Pacífico,
especialmente na costa das Filipinas, Papua Nova Guiné, Polinésia, nordeste da Austrália e nas ilhas do leste
australiano até o Havaí, zonas onde a temperatura média anual da água é superior a 20 ºC no inverno
(Ramos, 2006). Os recifes necessitam, geralmente, de águas quentes (25 – 30 ºC) e claras, longe da influência
de água doce, sendo sua ocorrência reduzida nos limites das áreas tropicais, como na costa oeste da América
do Sul e da África, devido à interface entre o ambiente marinho e terrestre com elevação de massas de água
fria de áreas mais profundas e devido às correntes frias.
No Brasil, os recifes de coral se distribuem por aproximadamente 3 mil quilômetros de costa, do estado
do Maranhão ao sul da Bahia, mais especificamente Abrolhos, representando as únicas formações recifais do
Atlântico Sul. Nessa área, existem nove unidades de conservação que protegem uma parcela significativa do
ecossistema recifal (Prates, 2007).
Em países da região intertropical o turismo depende dos ambientes recifais para geração de divisas
(Melo et al., 2005). Este tipo de turismo é muito procurado, pois apresenta uma beleza incomum por sua
grande biodiversidade. O PEMLS é um dos lugares mais procurados por turistas que desejam apreciar este
exuberante ecossistema (Kodja, 2007). Contudo, as atividades antrópicas, como coleta de corais, pesca
desordenada, desenvolvimento e ocupação costeira, disposição de lixo nas margens dos recursos hídricos e
turismo desordenado constituem ameaças constantes a este ecossistema.

2 OBJETIVOS

Discutir as possibilidades da atividade turística e minimização de impactos relacionados ao turismo


no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos - PEMLS, no estado de São Paulo, considerando a importância
dos ecossistemas recifais.
______
(*) Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Colaborador Voluntário. E-mail: stella_verdasca@hotmail.com
(**) Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Colaborador Voluntário. E-mail: ma_ursinho@hotmail.com
(***) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: erodrigues@if.sp.gov.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 49-55, jul. 2008.


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VERDASCA, S.; BRENHA, M. R.; RODRIGUES, E. A. Importância das áreas protegidas marinhas para a conservação dos recifes de coral:
considerações sobre a atividade turística no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, São Paulo.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Área de Estudo

O Parque Estadual Marinho da Laje de Santos - PEMLS foi criado pelo Decreto Estadual 37.537, de 1993,
com a finalidade de assegurar proteção integral à fauna, flora e à beleza cênica desse ecossistema marinho.
Localiza-se na carta náutica nº 1711, delimitado pelas coordenadas 24º 15’ 48’’ S, 46º 12’ 00’’ W e
24º 21’ 12’’ S, 46º 09’ 00’’ W. Sua referência náutica continental mais próxima é o Farol da Ilha da
Moela, a 16,8 milhas náuticas. O percurso até o Parque é de aproximadamente a 25 milhas náuticas (46 km)
considerando os principais ancoradouros do Guarujá, da Ponta da Praia em Santos, e do Mar Pequeno em
São Vicente, no rumo magnético 176º a partir do Farol da Ilha da Moela. Possui uma área de 5.000 hectares,
com formato de retângulo (São Paulo, 2008a).
O PEMLS é um local de grande interesse para a conservação da diversidade biológica na costa do
Estado de São Paulo, uma vez que a ausência de outras formações rochosas ou ilhas em áreas próximas acarreta
grande concentração de peixes de passagem e recifes na área (São Paulo, 2008b). Possui infra-estrutura para
visitação, atrações como mergulho, navegação, observação da fauna e flora silvestre e passeio de barco.
Com 5.000 hectares de meio aquático, o Parque é considerado santuário ecológico, conhecido como o melhor
ponto de mergulho de São Paulo e um dos lugares mais ricos e belos de toda a costa brasileira.

FIGURA 1 – Localização do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos.

3.2 Metodologia

Este trabalho caracteriza-se como estudo de revisão de caráter bibliográfico, visando mapear e discutir
a produção acadêmica relacionada ao tema de pesquisa (Lakatos, 2004). Inicialmente, após a definição do tema
de pesquisa, foi realizado levantamento do acervo a partir de publicações impressas sobre o tema e aquelas
disponibilizadas na base de dados Google Acadêmico. As palavras chaves utilizadas foram “recifes de coral”,
“Parque Estadual Marinho da Laje de Santos” e “Turismo em ambientes recifais”. A pesquisa foi realizada
entre os dias 13 de março e 13 de abril.
Após análise dos resumos foram selecionados artigos, livros e teses a partir dos objetivos especificados
em cada trabalho científico que fosse condizente com a pesquisa proposta. Nos trabalhos selecionados foi
realizada análise de conteúdo buscando atender às seguintes finalidades: 1. identificar as informações e os
dados do material; 2. estabelecer relações entre as informações e os dados obtidos e o tema proposto;
3. analisar o conteúdo das informações e os dados apresentados pelos autores.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 49-55, jul. 2008.


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VERDASCA, S.; BRENHA, M. R.; RODRIGUES, E. A. Importância das áreas protegidas marinhas para a conservação dos recifes de coral:
considerações sobre a atividade turística no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, São Paulo.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O recife de coral é composto por camadas finas de carbonato de cálcio, que foram produzidas ao
longo de milhares de anos por pólipos de corais. (Laboratório de Ambientes Recifais, 2008).
Além de sua grande importância ecológica, a importância dos ecossistemas recifais para o homem,
direta ou indiretamente, é imensurável, destacando-se: 1) proteção da costa: os recifes protegem a costa contra
a erosão, tempestades, ondas, entre outros; 2) produção de alimento: 1/5 de toda proteína animal consumida
vem do mar; 3) proteção climática: alguns organismos fotossintetizantes marinhos, que vivem nos recifes
de corais ou fazem simbiose com eles, utilizam o CO2 que iria para a atmosfera, amenizando o efeito estufa;
4) farmacologia: além das substâncias antivirais e bactericidas encontradas nas gorgônias (tipo de coral),
metade de toda a pesquisa de medicamentos para o câncer e outras doenças está voltada para organismos
marinhos; 5) odontologia: fabricação de próteses dentárias; 6) medicina: reparação de fraturas com esqueletos
de corais; 7) indústria de cosméticos: uso de algas e outros organismos desse ecossistema em diversos produtos;
8) economia: peixes, jóias, areia, etc. 9) lazer: eles são importantes atrativos turísticos para os mergulhadores e
proporcionam empregos através da pesca e da indústria do turismo (Laboratório de Ambientes Recifais, 2008).
Os bens e serviços gerados pelos recifes de coral foram avaliados, com dados de 1997, em US$ 375 bilhões
anuais (Ramos, 2006).
Por ser um dos ecossistemas mais frágeis do mundo, os recifes estão sob ameaça constante. Entre as
décadas de 1980 e 1990 cerca de 140.000 km² de recifes de corais foram destruídos pelo homem (Laboratório
de Ambientes Recifais, 2008). Para o Global Coral Reef Monitoring Network - GCRMN, cerca de 27% dos
recifes de coral do mundo estão definitivamente perdidos. Se as atividades predatórias continuarem no mesmo
ritmo sem ações remediadoras, estima-se que a parcela de recifes perdidos atingirá o alarmante índice de 40%
até 2010 (Ramos, 2006).
Especificamente em relação aos impactos do turismo nos ambientes recifais, estes podem ser
classificados em diretos e indiretos. Dos impactos diretos se destacam os que causam danos físicos aos recifes,
como as atividades de mergulho e pesca e a coleta ilegal de organismos, o que contribui para o empobrecimento
biológico e genético do ecossistema. Dos impactos indiretos, o desenvolvimento e a construção de portos,
marinas e resorts são os mais representativos. Os resorts, hotéis e outras instalações integrantes do setor
turístico contribuem com a degradação dos recifes através do despejo de esgotos sem tratamento nas águas
costeiras (Melo et al., 2005).
Observa-se que os danos causados pelo mergulho estão se intensificando enquanto impacto
ambiental nos recifes. Em áreas onde a prática do mergulho é constante há maior perda de tecidos de corais,
crescimento excessivo de algas e quebras e rupturas de corais em relação às áreas com pouca freqüência de
visitas (Melo et al., 2005).
No Brasil, a importância de se conservar os corais está também atrelada à preservação da diversidade
biológica, sendo que existem no Brasil 20 espécies de corais, das quais 15 espécies são de corais hermatípicos
e 5 de hidrocorais (Laboratório de Ambientes Recifais, 2008). Diante da intensificação da degradação dos
ecossistemas recifais destaca-se a necessidade de proteger essas áreas e utilizar os recursos marinhos de maneira
sustentável. Os recifes artificiais estão sendo utilizados como mecanismo para alcançar esses objetivos,
sendo definidos como estruturas submersas, que, quando dispostas no ambiente marinho fornecem substrato para
a colonização de diversos organismos, criando um ambiente artificial similar aos recifes naturais. Porém, este
recurso só deve ser utilizado em situações críticas de degradação, pois a introdução de materiais artificiais
pode gerar outros desequilíbrios.
No PEMLS ainda é possível preservar o ecossistema recifal em sua forma original, mas se não
forem tomados cuidados essenciais para sua conservação, o equilíbrio deste frágil ecossistema pode se romper,
comprometendo a sustentabilidade da biodiversidade local. Neste caso, as perdas são irreparáveis, tanto para o
meio ambiente, como para o próprio ser humano, que utiliza os componentes do ecossistema para diversos fins.
Embora a implantação de recifes artificiais seja uma possibilidade de recuperação de funções
ecossistêmicas, esta ação apresenta custos elevados e não garante a completa reconstituição do ecossistema,
já que a perda de espécies, inclusive desconhecidas pelo homem, é irremediável.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 49-55, jul. 2008.


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VERDASCA, S.; BRENHA, M. R.; RODRIGUES, E. A. Importância das áreas protegidas marinhas para a conservação dos recifes de coral:
considerações sobre a atividade turística no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, São Paulo.

Para Amaral & Jablonski (2005), a criação de reservas marinhas suficientemente grandes e
cobrindo diferentes habitats aparece como possibilidade para garantir a manutenção da biodiversidade e,
principalmente, para servir como reservatório de forma a garantir o recrutamento e facilitar a recolonização
de áreas vizinhas sob exploração.
Conforme determina o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC,
estabelecido pela Lei Federal 9.985/2000 (Brasil, 2000), as unidades de conservação são áreas espacialmente
definidas, criadas e regulamentadas por meio de leis específicas, com objetivo de conservação in situ da
biodiversidade e da paisagem, bem como a manutenção dos seres vivos em seu ambiente, de modo que possam
existir sem sofrer grandes impactos das ações humanas. Existem diversas categorias de manejo, que determinam
o uso que será permitido para cada unidade. As unidades de conservação marinhas brasileiras incluem tanto
áreas federais quanto estaduais e municipais, conforme relação apresentada na TABELA 1.

TABELA 1 – Principais áreas marinhas protegidas no Brasil.

UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E RESPECTIVOS ESTADOS ÁREA (ha)

Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha – Pernambuco 11.270


Parque Nacional Marinho de Abrolhos – Bahia 88.249
Parque Estadual Marinho de Parcel Manuel Luis – Maranhão 45.238
Parque Estadual Marinho Laje de Santos – São Paulo 5.000
Parque Municipal Marinho de Recife de Fora – Bahia 1.750
Reserva Biológica Marinha de Atol das Rocas – Rio Grande do Norte 36.249
Reserva Biológica Marinha de Arvoredo – Santa Catarina 17.600
Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha – Pernambuco 93.000
Área de Proteção Ambiental de Costa dos Corais – Pernambuco/Alagoas 413.563
Área de Proteção Ambiental de “Baleia Franca” – Paraná 156.100
Área Estadual de Proteção Ambiental de Recife de Corais – Rio Grande do Norte 32.500
Área Estadual de Proteção Ambiental de Ponta da Baleia/Abrolhos – Bahia 34.600
Reserva Extrativista Marinha de Ponta do Corumbau – Bahia 38.174
Reserva Extrativista Marinha de Baía de Iguape – Bahia 8.117
Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo – Rio de Janeiro 56.769
Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé – Santa Catarina 1.444

Fonte: Amaral & Jablonski (2005, p. 49).

Observa-se que, embora de imensurável importância, somente o PEMLS integra o rol de unidades de
conservação em ambiente marinho do Estado de São Paulo. Ressalta-se que, além do PEMLS, o Estado de São
Paulo dispõe de outras 2 Unidades e Conservação situadas em ilhas, que não são consideradas como unidades
marinhas por contemplarem apenas suas áreas emersas.
Criado em 27 de setembro de 1993 pelo Decreto Estadual nº 37537, o PEMLS abrange áreas
emersas (Laje de Santos e Rochedos conhecidos como Calhaus) e imersas (parcéis, fundo arenoso e a
coluna d’água) (São Paulo, 1993).

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 49-55, jul. 2008.


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VERDASCA, S.; BRENHA, M. R.; RODRIGUES, E. A. Importância das áreas protegidas marinhas para a conservação dos recifes de coral:
considerações sobre a atividade turística no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, São Paulo.

Atualmente, 8 operadoras de mergulho operam na Laje de Santos: Anekim; ATM Diver (Byroska);
Atmosfera I; Cachalote; Kayak; Nautilus Dive Center; Orion Diver; e Pacific. Os pontos de mergulho da Laje
de Santos são apresentados no QUADRO 1 e ilustrados na FIGURA 2 (Instituto Laje Viva, 2008).

QUADRO 1 – Pontos de Mergulho da Laje de Santos.

Localizado próximo à ponta leste da Laje, constituído por um pesqueiro de ferro


abandonado. Estado atual muito instável sendo desaconselhável a penetração
Ponto Naufrágio Moréia
em seus porões. Várias espécies de invertebrados incrustados, garoupas, sargos,
corcorocas e salemas são avistados. Profundidade máxima: 22 m.

Formação rochosa que parte do lado oeste da Laje. Muitas âncoras de pesqueiros
perdidas entre as rochas. Garoupas grandes, cardumes de peixes de passagem,
Ponto Parcel das Âncoras ceriantos e poliquetas tubícolas, caracterizam o local. O mergulho exige pelo
menos certificação de avançado e boa experiência pela profundidade atingida e
pela possibilidade de corrente. Profundidade Max. 40 m.

Um dos pontos mais destacados pela presença de muitos cardumes e tartarugas.


Localizando-se na “virada” da Laje de oeste para sudeste, é comum a presença
Ponto Piscinas
de correntes. A profundidade pode variar desde 6 a 8m na parte rasa, até mais
de 35 m na parte profunda.

Face sul da Laje. Parede praticamente vertical que desce até cerca de 35 m.
Apresenta uma fenda em torno dos 16m de profundidade que penetra para o
Ponto Paredão interior da rocha, onde se abrigam muitos peixes. Geralmente várias tartarugas
(lado de fora) e cardumes de peixes de passagem aparecem durante o mergulho. Exige nível
avançado, preferencialmente com boa experiência. Mergulho em “drifting”,
não sendo possível fundear a lancha. Profundidade máxima: 35 m.

O ponto exige condições ideais, pois o refluxo pode ser muito violento. Lado
Ponto Boca da Baleia oeste. Possibilidade de encontrar peixes grandes, como um mero já avistado no
local, e grandes cardumes.
Face norte e parte mais acessível da Laje, grau de dificuldade baixo. Conta
com o apoio das lanchas que têm seus cabos de atracação nessa área. Lajeados
Ponto Portinho e blocos de rochas habitados por muitos peixes e invertebrados, descendo de
forma íngreme até o fundo arenoso. Ideal para a permanência de mergulhadores
pouco experientes. Prof. Máxima: 18 m.
Cerca de 2 milhas a sudeste da Laje, formação rochosa que possui um túnel
em forma de “U”, com um arco no centro. Profundidade máxima no túnel de
18 m. Cardumes, tartarugas, lagostas, etc. O lado de fora dos Calhaus chega
Ponto Calhaus a profundidade de mais de 30 m, com lajes e blocos de rochas em formações
interessantes. Possibilidade de encontrar peixes maiores e cardumes de peixes
de passagem. O túnel exige bom equilíbrio hidrostático devido à oscilação de
profundidade. Prof. Máxima: 30 m.
No mesmo alinhamento dos Calhaus, mais a oeste. A formação começa aos 26
m e desce até mais de 40 m. Nenhum abrigo, presença de correntes. Só para
Ponto Parcel Novo
mergulhadores bastante experientes e com ótimo senso de orientação. Prof.
Máxima: 40 m.

Fonte: adaptado de Instituto Laje Viva (2008).

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 49-55, jul. 2008.


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VERDASCA, S.; BRENHA, M. R.; RODRIGUES, E. A. Importância das áreas protegidas marinhas para a conservação dos recifes de coral:
considerações sobre a atividade turística no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, São Paulo.

FIGURA 2 – Representação ilustrativa do contexto submarino e Pontos de Mergulho da Laje de Santos.


Fonte: Instituto Laje Viva (2008).

Cabe considerar que o turismo assume dupla face: ora como agente impulsionador das economias
locais, através da geração de emprego e renda; ora transformando a paisagem, alterando os processos
ecológicos dos ecossistemas. Por isso, o turismo deve estar conectado com as complexidades do ambiente e
da cultura, de forma a melhor compreender o todo que o circunda, só assim se pode chegar a um maior nível
de sustentabilidade (Melo et al., 2005). Esta preocupação é, sobretudo, necessária no planejamento do turismo
no PEMLS devido aos impactos negativos da atividade, tais como a procura por pontos de apoio realizada por
mergulhadores fotógrafos e o contato físico com o substrato do solo decorrente da falta de equilíbrio na coluna
d’água, causada por mergulhadores inexperientes (Negocia, 2006).
A criação em 1997 do PEMLS como unidade de conservação marinha constitui importante ação
para a conservação e uso sustentável deste singular ecossistema no estado de São Paulo. Várias outras ações
complementam essa busca da transição para a sustentabilidade, como a ordenação do mergulho no PEMLS,
já que instruções e recomendações fornecidas antes do mergulho podem minimizar os impactos físicos aos
corais, influenciando e alterando o comportamento do mergulhador por meio de instruções educativas referentes
às especificidades do ambiente recifal.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como a degradação dos recifes de coral está diretamente relacionada às atividades humanas,
seu diagnóstico, planejamento e monitoramento são fundamentais para a conservação da biodiversidade
do PEMLS, até então único parque estadual marinho do Estado de São Paulo. Ressalta-se a importância de
pesquisas relacionadas à biodiversidade da UC, monitoramento e correto diagnóstico da atividade turística,
subsidiando o planejamento da capacidade de carga do turismo na Laje de Santos. Neste caso, o Plano de
Manejo do Parque também constitui ferramenta indiscutível na busca da sustentabilidade do ambiente recifal,
pois permite o controle de visitantes e embarcações na região, maior conhecimento sobre o ecossistema e
lacunas de informação para sua conservação a longo prazo.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 49-55, jul. 2008.


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VERDASCA, S.; BRENHA, M. R.; RODRIGUES, E. A. Importância das áreas protegidas marinhas para a conservação dos recifes de coral:
considerações sobre a atividade turística no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, São Paulo.

O Parque Estadual Marinho da Laje de Santos constitui uma singular atração turística no Estado de
São Paulo, todavia, antes de tudo é uma área de conservação ambiental muito importante para a preservação
dos recifes de coral e das espécies associadas. A fragilidade e a importância ecológica, ambiental, econômica,
social e cênica dos ambientes recifais evidenciam a necessidade de se inventariar sistematicamente a atividade
turística do PEMLS, de modo a garantir a sustentabilidade da atividade turística e, sobretudo, a sustentabilidade
ambiental dos ecossistemas recifais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, F. D. Recifes de corais: ecossistemas ameaçados. Disponível em: <http://www.ufrpe.br/lar/index3.html>.


Acesso em: 17 mar. 2008.
Instituto Laje Viva. Disponível em: <http://www.lajeviva.org.br/indPapers.php>. Acesso em: 26 mar. 2008.
KODJA, G. Assista ao vídeo da reportagem do Globo Ecologia Regional sobre o ILV. Disponível em:
<http://www.lajeviva.org.br/indNews.php>. Acesso em: 24 set. 2008.
LABORATÓRIO de Ambientes Recifais. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Disponível em:
<http://www.ufrpe.br/lar/>. Acesso em: 23 mar. 2008.
MELO, R. S.; CRISPIM, M. C.; LIMA, E. R. V. O turismo em ambientes recifais: em busca da transição para a
sustentabilidade. Caderno Virtual de Turismo, v. 5, n. 4, 2005. Disponível em: <http://www.ivt.coppe.ufrj.br/
caderno/ojs/include/getdoc.php?id=312& article=105&mode=pdf>. Acesso em: 26 mar. 2008.
NEGOCIA, D. Parque Estadual Marinho da Laje de Santos: um alerta aos impactos ambientais. In: ADS
Internacional. Association of Diving School, 20/11/2006. Disponível em: <http://www.adsbr.com/artigos.cfm>.
Acesso em: 30 mar. 2008.
RAMOS, J. B. Recifes de corais: ilustres desconhecidos. Informativo IEA, ano XI, n. 66, p. 4-5, março/abril 2006.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Instituto Florestal. Unidades de Conservação:
Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. Disponível em: <http://www.iflorestal.sp.gov.br/unidades_
conservacao/index.asp>. Acesso em: 30 mar. 2008a.
    . Parque Estadual Marinho de Laje de Santos - PEMLS. Disponível em: <http://www.iflorestal.
sp.gov.br/unidades_conservacao/Informativos/Laje_Santos/visitacao_publica_05.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2008b.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 49-55, jul. 2008.


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Interpretação
NUNES, C. da S. et al. Interpretação da Natureza
da natureza em trilhas do Parque do em
Estadual do Jaraguá, Sãotrilhas
Paulo – SP.
Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo – SP

Camila da Silva NUNES1


Frederico Alexandre Roccia Dal Pozzo ARZOLLA2
Gláucia Cortez Ramos de PAULA3
Victor GREGORATO4

1 INTRODUÇÃO

Atualmente um meio bastante eficiente de possibilitar que o visitante de Parques, principalmente aqueles
de centros urbanos, interaja com os recursos naturais, é através de trilhas interpretativas (Andrade, 2007).
São vários os objetivos para se fazer uma interpretação de trilha. Dentre eles, podemos citar que o
objetivo primário é ajudar o visitante a desenvolver um maior conhecimento, proporcionando entendimento
e por conseqüência uma maior apreciação pela área que está visitando, fatores que contribuirão para que a
visita seja agradável e educativa. O segundo objetivo é promover o uso apropriado dos recursos de uma área,
minimizando o impacto humano sobre esses recursos (Andrade, 1996).
Este trabalho tem como objetivos a caracterização da topografia de trilhas existentes no Parque
Estadual do Jaraguá, o levantamento da composição florística do estrato arbóreo ao longo das trilhas e a
definição de tópicos a serem abordados na interpretação.

2 MÉTODOS

O Parque Estadual do Jaraguá com seus 492,68 hectares de extensão foi criado pelo Decreto
nº 10.877 de 30 de dezembro de 1939 e protege remanescentes de Mata Atlântica e Campos de Altitude.
Está situado entre as rodovias Bandeirantes e Anhanguera. Possui quatro trilhas principais, das quais três serão
abordadas nesse trabalho, trilhas do “Pai Zé”, “Silêncio” e “da Bica”. O trabalho foi realizado no período de
outubro de 2006 a outubro de 2007.
Foram elaborados os perfis topográficos e traçado das trilhas, para isso utilizaram-se as medidas dos
ângulos verticais e horizontais, e distância entre pontos. Esses dados foram anotados em planilha
pré-elaborada, conforme FIGURA 1.

Distância
Pontos Ângulo Horizontal Ângulo Vertical Observações
(metros)

FIGURA 1 – Modelo de planilha pré-elaborada para mapeamento das trilhas no Parque Estadual do Jaraguá,
São Paulo – SP.

______
(1) Acadêmica do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário Metropolitano de São Paulo - UNIFIG. E-mail: camilasn@itelefonica.com.br
(2) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(3) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(4) Acadêmico do curso de Ciências Biológicas da Universidade Paulista - UNIP.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 57-62, jul. 2008.


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NUNES, C. da S. et al. Interpretação da natureza em trilhas do Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo – SP.

Foram medidas também as variações de altitude, comprimento da trilha e duração do percurso.


Para isto foram utilizados os seguintes equipamentos: bússola com espelho marca SILVA, trena marca LUFKIN de
30 metros, clinômetro marca SUUNTO e GPS (Global Posistioning System) marca GARMIN modelo 76 CSX.
Nas observações foram anotados os pontos de destaque para a interpretação das trilhas, tais como as
fitofisionomias, espécies mais abundantes, árvores de grande porte, presença de cursos d’água e clareiras.
O material botânico foi coletado e herborizado, conforme Fidalgo & Bononi (1984), identificado
através de bibliografia específica e comparado com exsicatas depositadas em herbários e consulta a especialistas.
Todo o material coletado foi depositado no Herbário Dom Bento Pickel (SPSF) do Instituto Florestal. O sistema
de classificação utilizado foi o APG II - Angiosperm Philogeny Group II (APG II, 2003).
Foram confeccionas placas interpretativas e indicativas para a interpretação das trilhas em madeira,
que posteriormente foram envernizadas e pintadas (modelo Instituto Florestal). A trilha do Silêncio, além das
placas em madeira, foram confeccionadas placas interpretativas e alumínio com texto em braile, para atender
à necessidade de pessoas portadoras de deficiência visual.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Levantamento Florístico das Trilhas

A Trilha do Silêncio possui um baixo grau de dificuldade. Apresenta um grau baixo de declividade,
distância aproximada de 390 metros e altitude aproximada de 800 metros.
A Trilha da Bica também apresenta um baixo grau de dificuldade. Possui aproximadamente
590 metros de comprimento e altitude aproximada de 800 metros, com um grau baixo de declividade.
A Trilha do Pai Zé possui um grau de dificuldade elevado, distância aproximada de 1.860 metros e
altitudes entre 778 a 1.130 metros.
No levantamento florístico preliminar, foram identificadas 121 espécies, de 43 famílias e 95 gêneros.
As famílias com maior número de espécies foram: Fabaceae (16 espécies), Myrtaceae (13), Euphorbiaceae (7),
Lauraceae (8), Sapindaceae (6), Melastomataceae e Rubiaceae (4).
Foram selecionadas para a confecção de placas indicativas (nomes populares e científicos) a serem
instaladas ao longo do traçado da Trilha do Pai Zé e do Silêncio, as espécies mais abundantes ou com indivíduos de
grande porte. No total foram confeccionas 21 placas indicativas com os nomes de espécies (TABELAS 1 e 2).

TABELA 1 – Lista de espécies selecionadas para a confecção de placas indicativas na Trilha do Pai Zé, Parque
Estadual do Jaraguá, São Paulo – SP.
Nome Popular Nome Científico
Açoita cavalo Luehea grandiflora
Araticum Rollinia sericea
Canela amarela Nectandra oppositifolia
Canjerana Cabralea canjerana
Capixingui Croton floribundus
Cedro Cedrela fissilis
Chal-chal Allophylus edulis
Cuvantã Cupania oblongifolia
Guapuruvu Schizolobium parahyba
Jequitibá Cariniana estrellensis
Orelha de burro Bathysa australis
Pau sangue Croton macrobothrys
Sapopema Sloanea guianensis
Tapiá guaçu Alchornea sidifolia

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NUNES, C. da S. et al. Interpretação da natureza em trilhas do Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo – SP.

TABELA 2 – Lista de espécies selecionadas para a confecção de placas indicativas em madeira e em braile na
Trilha do Silêncio, Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo – SP.

Nome Popular Nome Científico


Capixingui Croton floribundus
Cedro rosa Cedrela fissilis
Embaúba Cecropia glaziovii
Figueira branca Ficus insipida
Gerivá Syagrus romanzoffiana
Guapuruvu Schizolobium parahyba
Palmito juçara Euterpe edulis

3.2 Interpretação da Trilha do Silêncio

A Trilha do Silêncio situa-se num trecho de floresta secundária, próximo a um fundo de vale que abriga
um córrego. Essa floresta apresenta uma estrutura com espécies típicas dessa condição, com a predominância
do palmito juçara Euterpe edulis, cedro-rosa Cedrela fissilis, canjerana Cabralea canjerana, figueira-branca
Ficus insipida, fumão Bathysa australis, samambaia-açu Cyathea sp. e helicônias Heliconia sp.
As placas interpretativas sugeridas para a trilha abordaram a presença de grandes e antigas árvores,
os cursos d’água existentes e a vegetação característica desse tipo de ambiente, onde ocorre uma grande
concentração de palmito-juçara Euterpe edulis (QUADRO 1, FIGURAS 2 e 3).

QUADRO 1 – Textos propostos para a implantação de placas interpretativas na Trilha do Silêncio, Parque
Estadual do Jaraguá – SP.

Característica do ambiente Texto interpretativo


Árvores centenárias são um testemunho da Mata Atlântica
Árvores de grande porte original do nosso Estado, que se encontra protegida nos Parques
Estaduais.
Recursos hídricos
As matas do Parque Estadual do Jaraguá protegem diversas
Cursos d’água
nascentes e córregos de águas límpidas. Preservar florestas é
proteger a água e garantir a vida.
Fundo de vale
No fundo de vale predominam espécies que ocorrem em ambientes
Vegetação de fundo de vale
com maiores umidade e luminosidade, como o cedro, a canjerana,
palmito-juçara, fumão, samamabaia-açu e helicônias.

Palmito-juçara
Euterpe edulis
Presença de grande quantidade de
É uma espécie importante para a fauna. Sabiás, tucanos, jacus,
palmito nos fundos de vale
pacas, cotias e esquilos alimentam-se dos seus frutos, dispersando
suas sementes.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 57-62, jul. 2008.


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NUNES, C. da S. et al. Interpretação da natureza em trilhas do Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo – SP.

FIGURA 2 – Ficus insipida (figueira branca) com placa indicativa na Trilha do Silêncio, Parque Estadual do
Jaraguá – SP.

FIGURA 3 – Placa interpretativa na Trilha do Silêncio, Parque Estadual do Jaraguá – SP.

3.3 Interpretação da Trilha do Pai Zé

A Trilha do Pai Zé, em seu trecho inicial, apresenta características semelhantes à Trilha do Silêncio,
situando-se em um trecho de floresta secundária, próximo a um fundo de vale. Na porção final da trilha e
de solo mais raso, com afloramentos rochosos, a vegetação de Floresta Ombrófila Densa é abruptamente
substituída pela de Campos de Altitude. Os Campos de Altitude apresentam uma composição de espécies
diferentes da floresta, com a ocorrência de espécies exclusivas.
Foram identificados três temas para interpretação, os campos de altitude, as clareiras e o processo de
sucessão secundária e as florestas secundárias (QUADRO 2).

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NUNES, C. da S. et al. Interpretação da natureza em trilhas do Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo – SP.

QUADRO 2 – Textos propostos para a implantação de placas interpretativas na Trilha do Pai Zé, Parque
Estadual do Jaraguá – SP.

Característica do ambiente Texto interpretativo

Campos de altitude
Nos campos predominam as ervas e os arbustos. Os solos são rasos ou pouco
Campos de altitude profundos e as altitudes elevadas. A maior parte das espécies são exclusivas
ou endêmicas.

Clareiras e sucessão secundária


As clareiras formadas pela quebra de árvores aumentam a luminosidade da
Clareiras floresta e facilitam a ocorrência de espécies, que crescem rapidamente a pleno
sol, iniciando o processo de sucessão secundária.

Florestas secundárias
As florestas do Parque do Jaraguá são recentes em sua maioria. A regeneração
Florestas secundárias natural proporcionou que áreas agrícolas se transformassem em florestas,
com o restabelecimento da flora e fauna silvestres.

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

O método selecionado para a interpretação foi a trilha autoguiada, através de placas ou painéis
interpretativos (Vasconcellos, 2004). Para a escolha das mensagens das placas considerou-se as características
dos ambientes.
Devido ao baixo grau de dificuldade e declividade, a Trilha do Silêncio foi adaptada para pessoas
com necessidades especiais, tornando essa trilha acessível a uma ampla variedade de usuários tais como: cegos,
cadeirantes e usuários com mobilidade limitada. Para isso o piso já sofreu adequações, foram construídas
passarelas em alguns trechos e foi implantado corrimão em todo o percurso. Foram confeccionadas sete placas
indicativas de espécie em alumínio, com o texto em braile e em madeira, constituindo a primeira experiência
de inclusão de usuários portadores de necessidades especiais no âmbito das Unidades de Conservação do
Estado de São Paulo.
A principal característica que a Trilha do Pai Zé possui é a transição de Floresta Ombrófila
Densa Montana para os Campos de Altitude. A mudança no tipo de vegetação é um dos atrativos da trilha,
que também dá acesso aos Picos do Papagaio e Jaraguá, o ponto mais elevado da cidade de São Paulo.
Com a erosão intensa provocada pela chuva, observa-se a necessidade da adoção de um sistema de
drenagem para essa trilha, para isto se faz necessário a interceptação e direcionamento dessa água por meio de
valas de drenagem.
Os resultados da interpretação das trilhas do Parque Estadual do Jaraguá devem ser avaliados e
monitorados para o contínuo aperfeiçoamento desse sistema de interpretação.

5 AGRADECIMENTOS

À equipe do Parque Estadual do Jaraguá, em especial, ao diretor do Parque, Wladimir Arraes de


Almeida. Ao diretor do Parque Estadual da Cantareira, PqC Fernando Déscio, ao PqC Francisco Eduardo S. P.
Vilela, e ao Psicólogo Eduardo Farias do Instituto Guatambu.

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NUNES, C. da S. et al. Interpretação da natureza em trilhas do Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo – SP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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trilha.doc>. Acesso em: 3 maio 2007.
ANDRADE, W. J. Interpretação da natureza. 1996. (Documento interno).
APG II. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering
plants: APG II. Bot. J. Linnean Soc., London, v. 141, p. 399-436, 2003.
FIDALGO, O.; BONONI, V. L. R. (Coord.). Técnicas de coleta, preservação e herborização de material
botânico. São Paulo: Instituto de Botânica, 1984. 62 p. (Manual, n. 4).
LOPES, G. P. Educação ambiental e as trilhas interpretativas da natureza. 2004. 41 f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) - Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos,
São João da Boa Vista.
LUSVARGHI NETO, H.; MACEDO E. E. Levantamentos preliminares para subsidiar a implantação do
sistema de trilhas interpretativas no Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus. 2000. 16 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) - Faculdade de Agronomia “Dr. Francisco Maeda”, Ituverava.
MILANO, M. S. Unidades de conservação no Brasil: mitos e realidades. In: CONGRESSO INTERNACIONAL
DE DIREITO AMBIENTAL: A PROTEÇÃO JURÍDICA DAS FLORESTAS TROPICAIS, 3., 1999, São
Paulo. Anais.... São Paulo: IMESP, 1999. p. 307-316.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Instituto Florestal. Histórico do Instituto Florestal –
São Paulo – Brasil. Disponível em: <www.iflorestsp.br>. Acesso em: 3 maio 2007.
TABANEZ, M. F. et al. Implantação de trilha interpretativa no cerrado da Estação Ecológica de Assis – SP.
IF Sér. Reg., São Paulo, n. 26, p. 17-28, 2003.
VASCONCELLOS, J. M. O. Avaliação da eficiência de diferentes tipos de trilhas interpretativas no Parque
Estadual Pico do Marumbi e Reserva Natural Salto Morato – PR. Revista Brasileira de Conservação da
Natureza, Curitiba, n. 2, p. 48-57, 2004.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 57-62, jul. 2008.


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RIBEIRO, A.POTENCIAL
A. N. et al. PotencialDE EXPLORAÇÃO
de exploração econômica e deECONÔMICA Eplantas
educação ambiental de DE EDUCAÇÃO
medicinais da MataAMBIENTAL
Atlântica.
DE PLANTAS MEDICINAIS DA MATA ATLÂNTICA

Andressa Albuquerque Nunes RIBEIRO1


Ana Carolina de Freitas Miura SANTOS1
Adriane Albuquerque Nunes RIBEIRO1
Natália MEZZACAPA2
Massako NAKAOKA SAKITA3
Elaine Aparecida RODRIGUES4

1 INTRODUÇÃO

Cerca de 250 mil espécies vegetais são fontes de drogas para a população mundial, sendo
aproximadamente 220 drogas usadas atualmente derivadas de plantas (Neves, 2001). A pressão ecológica
exercida sobre os recursos naturais tende a se ampliar, já que a exploração comercial das plantas medicinais
acena também como alternativa de renda para as populações que vivem em áreas de proteção ambiental.
O apelo econômico destas plantas aumenta os riscos de destruição do nicho ecológico de várias espécies,
podendo levar à erosão genética (Montanari Junior, 2002).
Na área abrangida pelo bioma Mata Atlântica, a degradação acelerada, incluindo o desmatamento e
a perda de habitat, está provocando a extinção de espécies nativas da fauna e da flora. Para buscar alternativas
de gestão para a área de Mata Atlântica ao redor da Região Metropolitana de São Paulo, a Organização das
Nações Unidas para a Ciência, a Educação e a Cultura - UNESCO declarou em 1994 a Reserva da Biosfera
do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo - RBCV, que compreende integralmente as regiões administrativas
de São Paulo e da Baixada Santista, e parcialmente de Campinas, Registro, São José dos Campos e Sorocaba
(Rodrigues et al., 2006).
Entre as ações desenvolvidas pela RBCV, foi iniciado em 1996 o Programa de Jovens, Meio Ambiente
e Integração Social - PJ-MAIS, visando à formação integral e ecoprofissional de jovens entre 15 e 21 anos de
idade em situação de vulnerabilidade social, residentes no entorno de áreas protegidas, além do desenvolvimento
do chamado ecomercado local. Os locais de treinamento do PJ-MAIS são os chamados Núcleos de Educação
Ecoprofissional - NEEs, estabelecidos em sistema de parcerias entre governo estadual, municipal, sociedade
civil organizada e parceiros locais. No período de 1996 a 2006, foram implantados 15 núcleos em 11 municípios:
Cajamar, Cotia, Diadema, Embu-Guaçu, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Santo André, Santos, São Bernardo
do Campo, São Roque, São Paulo (Rodrigues et al., 2006).
Considerando que o PJ-MAIS exerce papel importante na busca de alternativas de conciliação entre
desenvolvimento e conservação ambiental, o objetivo desta pesquisa é analisar a viabilidade de implantação de
hortas medicinais com plantas nativas da M.A. e exóticas nos Núcleos de Educação Ecoprofissional - NEEs do
PJ-MAIS, a partir do planejamento da horta no Núcleo de Educação Ecoprofissional Horto/Cantareira.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área de Estudo

Esta pesquisa foi realizada no NEE de São Paulo Horto/Cantareira, que desenvolve suas atividades
no Parque Estadual Alberto Löfgren, zona Norte de São Paulo. A área do Parque abrange 174 hectares,
dos quais 35 hectares são abertos para visitação pública. O Parque Estadual Alberto Löfgren forma um contínuo
ecológico com o Parque Estadual da Cantareira, que possui 7916 ha (São Paulo, 2008).
O Núcleo de Educação Ecoprofissional de São Paulo Horto/Cantareira - NEEHC − foi inaugurado
em março de 2006, selecionando 21 jovens da região de entorno, alunos da Escola Estadual Francisco Voccio,
para comporem a primeira turma do Núcleo.
______
(1) Aluna do Programa de Jovens da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paula. Colaboradora Voluntária. Iniciação Científica Júnior.
E-mail: dressaanr@hotmail.com
(2) Bióloga. Colaboradora Voluntária.
(3) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(4) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: erodrigues@if.sp.gov.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 63-71, jul. 2008.


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RIBEIRO, A. A. N. et al. Potencial de exploração econômica e de educação ambiental de plantas medicinais da Mata Atlântica.

2.2 Metodologia

Esta pesquisa caracteriza-se como estudo de caso exploratório-descritivo, sobre a implantação de horta
medicinal no NEE Horto/Cantareira do PJ-MAIS. Os critérios empregados para a escolha de espécies de plantas
foram espécies nativas da Mata Atlântica e disponibilidade de informação científica sobre as espécies. Realizou-se
levantamento bibliográfico e levantamento documental sobre o PJ-MAIS, a RBCV e as oficinas desenvolvidas no
Programa. Foram realizadas a entrevistas não estruturadas com pesquisadores e técnicos do PJ-MAIS e do Instituto
Florestal. Utilizou-se o registro fotográfico como instrumento de coleta de dados das espécies selecionadas para
estudo no viveiro de mudas da Capital e suas respectivas exsicatas no Herbário D. Bento Pickel.
Para esta pesquisa, foram selecionadas as espécies Baccharis trimera (Less.) DC. (carqueja-amarga) e
Ageratum conyzoides L. (mentrasto) por serem nativas da mata atlântica, herbáceas (facilitando o manejo) e pela
facilidade de literatura disponível. Os dados foram analisados para identificar o potencial de implantação de uma
horta medicinal visando à formação ecoprofissional dos alunos. Esta formação objetiva o conhecimento de questões
ambientais como cultivo, manejo, processamento de espécies medicinais e conservação do bioma Mata Atlântica e
também tem o objetivo de geração de renda a partir do manejo de espécies nativas para fins medicinais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Devido às próprias características da Mata Atlântica, o extrativismo apresenta-se como alternativa


de utilização racional, já que não implica na remoção de florestas e, se comparado a outros usos, proporciona
menores impactos ambientais. Entretanto, o extrativismo envolve interesses diversos no âmbito social,
político e econômico e técnico-metodológico. Se não realizado de forma ambiental e socialmente sustentável,
o extrativismo pode comprometer o bioma (Pavan-Fruehauf, 2000).
Nesta perspectiva, a presente investigação procurou inserir o manejo sustentável das plantas
medicinais como proposta de atividade a ser desenvolvida no PJ-MAIS, capacitando os alunos na Oficina de
Produção e Manejo Agrícola Florestal Sustentável, cujo principal objetivo é a atuação profissional nas práticas
agrícolas e florestais, em bases sustentáveis.
Esta fase do Projeto considerou o planejamento da horta medicinal, sendo sua efetiva implantação
objeto de ação posterior prevista para o segundo semestre de 2008. O planejamento da Horta Medicinal incluiu:
1) seleção das plantas medicinais; 2) aspectos botânicos; 3) controle da qualidade dos produtos: controle do
plantio, da coleta, da preparação, do produto final; 4) formas de utilização das plantas medicinais; 5) local de
cultivo; 6) embalagem e distribuição.
1. Seleção das plantas medicinais: para atender às características dos programas de fitoterapia devem
ser utilizadas de preferência plantas cultivadas.
2. Aspectos botânicos das espécies: os aspectos botânicos das espécies selecionadas são
apresentados na TABELA 1.
3. Controle da qualidade dos produtos: a) Plantio: é indicado o cultivo em hortas caseiras ou
comunitárias, somente das plantas identificadas, contendo respaldo científico; b) Coleta: são coletadas as partes
das plantas que estejam bem desenvolvidas, sem vestígios de pragas, doenças ou deficiências nutricionais;
havendo planejamento da quantidade máxima a ser coletada para não agredir a planta; c) Preparação: durante
a coleta é realizada a separação das partes das plantas. Quando são utilizados processos de secagem, as plantas
não devem ser expostas à incidência de sol, chuva, poeira em contato com o chão e ambientes úmidos,
evitando o desenvolvimento de mofos. No caso de plantas frescas, não devem permanecer em geladeiras por
mais de uma semana ou conservadas em sacos plásticos; d) Produto final: o produto deve ser protegido do sol,
do calor e da poeira; bem como identificado com um rótulo contendo a data da preparação e outras informações
pertinentes indicadas (Lorenzi & Matos, 2002).
4. Formas de utilização: é necessário atenção quanto às formas de utilização adequada das plantas
medicinais, como quantidade, freqüência e suscetibilidade de cada indivíduo (Fávero & Pavan, 2002),
para garantir a ação dos princípios ativos e para que os consumidores não corram riscos à saúde em conseqüência
de seu emprego indevido (Lorenzi & Matos, 2002). Para os produtos comercializados pelo PJ-MAIS, as formas
de utilização das plantas medicinais estarão descritas na embalagem dos produtos.

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RIBEIRO, A. A. N. et al. Potencial de exploração econômica e de educação ambiental de plantas medicinais da Mata Atlântica.

TABELA 1 – Aspectos botânicos de Baccharis trimera e Ageratum conyzoides.

Espécie Descrição
Baccharis trimera Morfologia: herbácea perene, ereta, muito ramificada na base, de caules lenhosos levemente nervada
(carqueja-amarga) e ramos verdes com expansões trialadas, de 50 a 80 cm de altura. Suas folhas quase não aparecem e
estão dispostas ao longo de caules e ramos como expansões aladas bastante reduzidas e ovais, planas de
coloração verde-clara, inflorescência em capítulos de flores quase sempre aglomeradas onde alguns pés
são femininos e em outros masculinos, dispostos ao longo dos ramos, de cor branco-amarelados. Seu fruto
é aquênio, linear e glabro. Pertence à família Asteraceae.
Habitat: é espécie nativa do Brasil, oriunda das regiões Sul e Sudeste, sendo o Paraná considerado o
principal campo de dispersão do país. Aparece em diferentes tipos de solos, dos encharcados até os poucos
úmidos e floresce independentemente de ser verão ou inverno.
Indicações: tônico amargo, aperitiva, anti-hepatotóxica e hipoglicemiante antifebril, males do estômago,
fígado e intestino, vermífugo, diarréia, diabete, gripe, diurético, digestivo, esterilidade feminina, impotência
masculina, úlcera, malária, angina, anemia, garganta inflamada.
Ageratum Morfologia: erva anual cresce até 1 metro de altura. É uma planta muito aromática. Suas folhas são retas,
opostas, verde-escuras, largas e ásperas de 3-5 cm de comprimento. Inflorescência em capítulos com cerca
conyzoides de 30-50 flores de cor lilás a branca. Seu fruto é aquênio pequeno e de coloração escura.
(mentrasto) Habitat: sua origem é da América Tropical, especialmente do Brasil. É muito comum nas áreas úmidas de
todo o Nordeste do Brasil, especialmente de serras.
Indicações: antiinflamatório, vermífugo, males do estômago, problemas hepáticos, febrífugo, fraqueza
muscular, hematomas e fraturas, reumatismo, cólicas, tônico excitante, emenagogo, diurético e carminativo,
empregado contra diarréia, catarro vesical, externamente é aplicado em banhos para fraqueza.

Fonte: adaptado de Pavan-Fruehauf (2000); Lorenzi (2002); Instituto Agronômico de Campinas (2007).

5. Embalagem e distribuição: atualmente o PJ-MAIS conta com 14 NEEs em 11 municípios.


Estes núcleos serão incorporados ao projeto gradativamente para atuação em sistema de cooperativa. Cada
núcleo deverá adquirir uma empacotadora para embalar os produtos. Na embalagem será adesivada a logomarca
confeccionada pelo PJ-MAIS, acompanhando um catálogo sobre a espécie. Após todo o processo, o material
poderá ser comercializado em lojas de produtos naturais por consignação ou diretamente à população.
Posteriormente será desenvolvido um plano de marketing para detalhar as questões sobre o processo de
distribuição, comercialização e funcionamento da cooperativa.
6. Aspectos legais da utilização de plantas medicinais: com a implantação desta horta, os alunos
poderão conhecer espécies medicinais da mata atlântica e outras espécies posteriormente incorporadas ao processo
produtivo. Ressalta-se que a receita obtida varia de acordo com a espécie e a quantidade comercializada, sendo que
o preço final do produto também é determinado pelo número de agentes envolvidos no negócio e pela qualidade
do produto. Deve-se considerar ainda, que, os núcleos precisam estruturar seu processo de cultivo, secagem,
armazenamento, embalagem e comercialização segundo normas da Secretaria de Vigilância Sanitária - Ministério
Saúde, Portaria nº 6, de 31 de janeiro de 1995, que define em seu artigo II, que “a fabricação e a comercialização de
produtos fitoterápicos serão feitos somente após autorização de funcionamento da empresa e registro de produtos
junto ao Órgão competente do Sistema Único de Saúde, de acordo com a Portaria 1565/MS de 26/08/94”.
O controle de qualidade exercido pela maioria das empresas brasileiras que trabalham com plantas
medicinais estabelece critérios tais como: características das plantas, pureza, intensidade da cor e aroma,
fragmentação e porcentagem do material estranho. Além da necessidade de identificação taxonômica,
macro e microscópica, percentual de cinzas insolúveis em ácido clorídrico, umidade, nível de contaminação
microbiológica, metais pesados e análise quantitativa dos princípios ativos e/ou marcadores, quando conhecidos.
Esses critérios são de extrema importância já que determinam a qualidade do produto, e conseqüentemente,
agregam valor ao produto final: quanto melhor a qualidade, mais alto é o valor (Montanari Junior, 2002).
Os Núcleos serão responsáveis pela implantação das hortas medicinais em suas respectivas unidades,
a partir do trabalho desenvolvido no NEE Horto/Cantareira, cuja horta medicinal será implantada no Viveiro
de Mudas da Capital, e segundo as normatizações legais para atuação no setor.
É importante considerar que as plantas medicinais podem ser utilizadas erroneamente devido ao fato
de que os nomes populares variam de acordo com a região, além de uma mesma planta receber vários nomes
populares (Montanari Junior, 2002) (TABELAS 2 e 3 e FIGURAS 1 e 2).

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TABELA 2 – Principais informações sobre os nomes populares das espécies confundidas com Ageratum conyzoides. Fonte: Lorenzi & Matos (2002).

Itens Nome Popular Nome Científico Característica/Morfologia Princípio Ativo Nº da


Imagem
Item 01 Mentrasto Ageratum conyzoides L. Erva anual, cresce até 1 metro de altura. É uma planta Possui propriedades hemostática e cicatrizante 01 e 02
muito aromática. Suas folhas são opostas, verde-escuras, de ferimentos. Em suas folhas encontra-se
largas e ásperas de 3-5 cm de comprimento. óleo essencial rico em algumas substâncias e
suas sementes fornecem 14% de óleos fixos.

Item 02 Cacália-mentrasto Ageratum conyzoides L. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02


Item 03 Camará-opela Ageratum conyzoides L. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 04 Catinga-de-barão Cordia verbenacea DC. Arbusto ereto, de 1,5 - 2,5 m de altura. Folhas Artemetina – substância que mostrou 03

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 63-71, jul. 2008.


simples, alternas, cariáceas, aromáticas, de 5-9 cm de atividade significativa como antiinflamatória.
comprimento. Tem flores pequenas, brancas, dispostas Constatou-se também a presença de dois
em inflorescências racemosas. flavonóides e dois novos triterpenos como
substâncias ativas.

Item 05 Catinga-de-bode Ageratum conyzoides L. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02


Item 06 Cúria Ageratum conyzoides L. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 07 Erva-de-santa-lúcia Ageratum conyzoides L. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 08 Erva-de-são-joão Artemisia vulgaris L. Herbácea perene, de 30-60 cm de altura. Folhas Contém óleo essencial rico em terpenos 04
simples e profundamente lobadas, de face interior (cineol e tuiona), flavonóides, taninos,
de cor prateada, de 6-16 cm de comprimento. Flores saponinas, resinas, artemisina e princípios
esbranquiçadas, discretas, reunidas em capítulos amargos. Possui também artemisinina,
pequenos. que vem sendo testada contra a malária,
tendo resultados positivos.

Item 09 Erva-de-são-joão Hypericum perforatum L. Subarbusto perene, de 30-60 cm de altura. Folhas Na composição química desta planta, além de 05
simples, opostas, sésseis, cartáceas. Flores amarelas, hipericina, uma naftodiantrona, encontra-se
dispostas em panículas corimbiformes terminais. Seus também os flavonóides hiperosídio, rutina
frutos são cápsulas ovóides estriadas. amentoflavona, um bioflavonóide, a hiperforina,
Obs.: O nome popular erva-de-são-joão, pode ser ácido clorogênico e procianidina. Em seu óleo
confundida com o Ageratum conyzoides, pois na essencial, encontra-se mono e sesquitepernos,
RIBEIRO, A. A. N. et al. Potencial de exploração econômica e de educação ambiental de plantas medicinais da Mata Atlântica.

tradução da língua inglesa para a portuguesa, as duas cetona e álcoois alifáticos. Através de ensaios
espécies são referidas pelo mesmo nome. clínicos, foi cientificamente comprovada a sua
atividade ansiolítica.

continua
continuação – TABELA 2

Itens Nome Popular Nome Científico Característica/Morfologia Princípio Ativo Nº da


Imagem

Item 10 Erva-de-são-josé Ageratum conyzoides L. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02


Item 11 Maria-preta Cordia verbenacea DC. Idem Item 04 Idem Item 04 03
Item 12 Maria-preta Solanum americanum Mill. Planta herbácea ou subarbustiva, de 40-90 cm de Em sua composição química, destaca-se a 06 e 07
altura. Tem folhas simples, de 4-8 cm de compri- acetilcolina, saponinas e os glicoalcalóides
mento. As flores são de cor branca. Seus frutos são esteroidais solasonina e solamargina, como
bagas globosas, de cor preta quando maduras de suas principais substâncias; encontra-se também
polpa adocicada. Propaga-se somente por sementes. a presença de solanina, demisina e atropina.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 63-71, jul. 2008.


Item 13 Mentraste Ageratum conyzoides L. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 14 Picão-branco Galinsoga parviflora Cav. Herbácea anual de 25-40 cm de altura. Folhas simples, Apesar de tradicionalmente seu uso ser um 08
de 2-4 cm de comprimento. Flores em capítulos, sucesso, suas propriedades medicinais não
solitários ou em pequenos grupos. Frutos pequenos são validadas, pois, poucos foram os estudos
aquênios finos de cor preta. Propagação por sementes. a ela atribuídos.

Item 15 Picão-roxo Ageratum conyzoides L. Idem Item 01 Idem Item 01 01


RIBEIRO, A. A. N. et al. Potencial de exploração econômica e de educação ambiental de plantas medicinais da Mata Atlântica.
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TABELA 3 – Principais informações sobre os nomes populares das espécies confundidas com Baccharis trimera. Fonte: Lorenzi & Matos (2002).

Itens Nome Popular Nome Científico Característica/Morfologia Princípio Ativo Nº da


Imagem

Item 01 Carqueja Baccharis trimera (Less.) DC. Herbácea perene, ereta, muito ramificada na base, de Propriedades digestivas, antiúlcera e antiácida 01 e 02
50-80 cm de altura. Folhas dispostas ao longo do caule. com redução da secreção gástrica e feito
Inflorescência do tipo capítulo. analgésico. Propriedades hepato-protetoras e
de redução dos níveis de açúcar no sangue
(efeito hipoglicêmico).

Item 02 Carqueja-do-mato Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 03 Bacárida Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02

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Item 04 Cacália Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 05 Condamina Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 06 Quina-de-condamine Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 07 Tiririca-de-babado Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 08 Carqueja-amargosa Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 09 Carqueja-amarga Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 10 Bacanta Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 11 Bacorida Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 12 Carque Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 13 Cacália-amarga Baccharis trimera (Less.) DC. Idem Item 01 Idem Item 01 01 e 02
Item 14 Vassoura Marsypianthes chamaedrys Herbácea anual, aromática, de 30-60 cm de altura. Registrou-se em análises fitoquímicas 03
(Vahl) Kuntze Folhas simples, de 2-4 cm de comprimento. no tecido desta planta a presença de
óleo essencial e de um novo composto,
denominado chamaedridiol.
RIBEIRO, A. A. N. et al. Potencial de exploração econômica e de educação ambiental de plantas medicinais da Mata Atlântica.
Imagem 01 Imagem 02 Imagem 03 Imagem 04
Ageratum conyzoides L. Ageratum conyzoides L. (maço) Cordia verbenacea DC. Artemisia vulgaris L.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 63-71, jul. 2008.


Imagem 05 Imagem 06 Imagem 07 Imagem 08
Hypericum perforatum L. Solanum americanum Mill. Solanum americanum Mill. Galinsoga parviflora Cav.
(sementes)
RIBEIRO, A. A. N. et al. Potencial de exploração econômica e de educação ambiental de plantas medicinais da Mata Atlântica.

FIGURA 1 – Imagens das espécies confundidas com Ageratum conyzoides L. Fonte: Lorenzi & Matos (2002).
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Imagem 01 Imagem 02 Imagem 03


Baccharis trimera (Less.) DC. Baccharis trimera (Less.) DC. (maço) Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 63-71, jul. 2008.


FIGURA 2 – Imagens Baccharis trimera (Less.) DC. e Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze. Fonte: Lorenzi & Matos (2002).
RIBEIRO, A. A. N. et al. Potencial de exploração econômica e de educação ambiental de plantas medicinais da Mata Atlântica.
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RIBEIRO, A. A. N. et al. Potencial de exploração econômica e de educação ambiental de plantas medicinais da Mata Atlântica.

As espécies estudadas, Baccharis trimera (carqueja-amarga) e Ageratum conyzoides (mentrasto),


proporcionam a melhoria de diversas enfermidades. Podem ser utilizadas em forma de chá, pó e tintura,
com diferentes processos chamados de fitopreparação. Chama-se a atenção para o fato de que muitas espécies
medicinais são manejadas por produtores que não têm as devidas informações sobre a planta, expondo o
consumidor a riscos. Sua exploração e manejo pelos Núcleos do PJ-MAIS constitui tema relevante para a
capacitação dos alunos do Programa, além de se configurar em alternativa de renda, e valorização das espécies
da Mata Atlântica.

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

Para esta pesquisa, foram trabalhadas as espécies Baccharis trimera (carqueja-amarga) e Ageratum
conyzoides (mentrasto), ressaltando que este projeto constitui uma proposta inicial e que novas espécies devem
ser agregadas à horta medicinal. Destaca-se a importância das plantas medicinais e a necessidade de exploração
e manejo sustentáveis, além de cuidados com sua utilização, pois há diversas espécies parecidas, mas com
princípios ativos diferentes.
Conclui-se que a implantação de hortas medicinais no PJ-MAIS é viável do ponto de vista educacional,
possibilitando o aprendizado sobre o uso das plantas, seu cultivo, processamento e sobre a conservação ambiental
e o potencial de uso da flora da Mata Atlântica. Sob o aspecto de geração de renda, o plano de negócios deverá
considerar o registro junto ao órgão competente do Sistema Único de Saúde (Portaria 1565/MS).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DI STASI, L. C. Pesquisa no Vale do Ribeira indica novas formas de aproveitar as plantas medicinais da Mata
Atlântica. Revista Pesquisa FAPESP Online, 2002. Disponível em: <http://www.revistapesquisa.fapesp.br>.
Acesso em: 22 ago. 2007.
FÁVERO, O. A.; PAVAN, S. Botânica econômica. 4. ed. São Paulo: Catálise Editora, 2002.
LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto
Plantarum, 2002. 512 p.
MONTANARI JUNIOR, I. Exploração econômica de plantas medicinais da Mata Atlântica. In: SIMÕES,
L. L.; LINO C. F. (Org.). Sustentável Mata Atlântica: a exploração de seus recursos florestais. São Paulo:
SENAC, 2002. p. 35-54.
NEVES, M. C. M. Plantas medicinais: diagnóstico e gestão. 2. ed. Brasília, DF: IBAMA, 2001. 52 p. (Série
Meio Ambiente em Debate, 35).
PAVAN-FRUEHAUF, S. Plantas medicinais da Mata Atlântica: manejo sustentado e amostragem. São
Paulo: Annablume, 2000. 216 p.
RODRIGUES, E. A.; VICTOR, R. A. B. M.; PIRES, B. C. C. A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da
Cidade de São Paulo como marco para a gestão integrada da cidade, seus serviços ambientais e o bem estar
humano. Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 71-89, 2006.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Instituto Florestal. Unidades de Conservação.
Disponível em: <http://www.iflorestal.sp.gov.br/unidades_conservacao/index.asp>. Acesso em: 22 abr. 2008.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 63-71, jul. 2008.


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GASPARETO, T. da C.; SILVA, A PRESSÃO URBANA


D. A. da; PAVÃO, SOBRE
M. A pressão OSosPARQUES
urbana sobre ESTADUAIS
parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren situados na
Região Metropolitana de São Paulo.
DA CANTAREIRA E ALBERTO LÖFGREN
SITUADOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Tadeu da Costa GASPARETO*


Dimas Antonio da SILVA**
Mônica PAVÃO***

1 INTRODUÇÃO

O Instituto Florestal e a Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo
são responsáveis pelo gerenciamento das unidades de conservação estaduais de proteção integral e de uso
sustentável, as quais somam aproximadamente 900.000,00 ha (3,47% da superfície estadual), abrangendo 114
municípios (Instituto Florestal, 2008).
Estas unidades de conservação situadas, em geral, na zona rural dos municípios, estão sujeitas as
diferentes pressões resultantes das atividades agro-pastoris desenvolvidas em seu entorno. Todavia, com o
crescimento e expansão das cidades, o meio urbano é cada vez mais presente ao redor das unidades de
conservação, gerando conflitos sociais e impactos ambientais significativos.
Os ecossistemas urbano-industriais correspondem àqueles, onde a ação antrópica é mais pronunciada,
e são habitados pela maioria da população (Cavalheiro et al., 1983). A urbanização consome grande quantidade
de áreas, tamponando-as. Com isso, solos férteis, biótipos, ecossistemas raros e valiosos são perdidos
(Cavalheiro, 1991).
Conforme Drew (1994), as áreas urbano-industriais representam a mais profunda modificação
humana da superfície da Terra, da atmosfera e do ecossistema terrestre. Ao contrário dos efeitos da atividade
agrícola, os efeitos urbanos são altamente intensivos e localizados.
O processo de expansão urbana tem desconsiderado as características dos fatores naturais e impõe o
mais severo e complexo conjunto de modificações diretas e indiretas ao meio físico e biótico, ultrapassando,
desta forma seus limites de tolerância (Moroz et al., 1994).
A Região Metropolitana de São Paulo - RMSP, com área de 8.501 km², é formada por 39 municípios.
A sua população, segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE de 2000,
é de 17,8 milhões de habitantes. Neste complexo aglomerado urbano-industrial, são encontradas as seguintes
unidades de conservação estaduais: Parque Estadual da Cantareira, Parque Estadual Alberto Löfgren, Parque
Estadual do Juquery, Parque Estadual do Jaraguá, Parque Estadual do Jurupará, Parque Estadual da Serra do
Mar (núcleos Curucutu e Pilões), Parque da Várzea do Embu-Guaçu, Parque Ecológico do Guarapiranga,
Estação Ecológica de Itapeti, que estão cada vez mais sujeitas às pressões da urbanização.
Desta forma, os gestores destas unidades de conservação precisam estar atentos para esta
realidade ambiental, que tende a se agravar com o tempo, e estabelecer estratégias para se trabalhar com
o entorno urbano.
Uma dessas estratégias é mapear e caracterizar o uso da terra do entorno da unidade de conservação,
o que permite identificar vetores de pressão e atividades impactantes. Com base nestas informações é possível
a elaboração de programas de manejo específicos para solucionar os problemas detectados e a delimitação
da zona de amortecimento, que daria um maior grau de proteção à unidade de conservação.

______
(*) Acadêmico do curso de Geografia, da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Bolsista CNPq/PIBIC.
E-mail: tadeugaspareto@yahoo.com.br
(**) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: dimas@if.sp.gov.br
(***) Co-Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: monicapavao@if.sp.gov.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 73-80, jul. 2008.


74

GASPARETO, T. da C.; SILVA, D. A. da; PAVÃO, M. A pressão urbana sobre os parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren situados na
Região Metropolitana de São Paulo.

Conforme Santos (2004), o uso e ocupação das terras é um mapa básico para o planejamento ambiental
porque retrata as atividades humanas, que implicam em pressão e impacto sobre os elementos naturais.
É essencial para a análise de fontes de poluição e um elo importante entre as informações dos meios biofísico
e sócio-econômico. Em geral, as formas de uso e ocupação são identificadas (tipos de uso), espacializadas
(mapas de uso), caracterizadas (pela intensidade de uso e indícios de manejo) e quantificadas (percentual de
área ocupada pelo tipo). As informações sobre esse tema devem descrever não só a situação atual, mas as
mudanças recentes e o histórico de ocupação da área de estudo.
Atualmente é cada vez mais comum o emprego de técnicas de sensoriamento remoto e
geoprocessamento em estudos relacionados à urbanização, expansão urbana, análises e mudanças no uso do
solo, planejamento urbano e monitoramento de áreas urbanas.
A preocupação em controlar as atividades ao redor de unidades de conservação é expressa na Resolução
CONAMA nº 13, de 6 de dezembro 1990, artigo 2º: “Nas áreas circundantes das Unidades de Conservação,
num raio de dez quilômetros, qualquer atividade que possa afetar a biota, deverá ser obrigatoriamente licenciada
pelo órgão ambiental competente.”
Por sua vez, a Lei Federal nº 9.985 de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação - SNUC, define, em seu artigo 2º, inciso XVIII, a zona de amortecimento como
o “entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições
específicas, com o propósito de minimizar impactos negativos sobre a unidade”.
Oliva (2003) comenta que o estabelecimento de zonas de amortecimento para unidades de conservação
limítrofes a áreas urbanizadas ou em processo de expansão urbana é complexo e deve ser agilizado em virtude
da dinâmica e velocidade da ocupação do território.
Com base nestas premissas, este trabalho tem como objetivos:

– mapear e caracterizar o uso do solo no entorno dos Parques Estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren;

– identificar os principais vetores de pressão urbana e impactos ambientais provocados pela expansão
metropolitana, e

– subsidiar o planejamento e a gestão destas unidades de conservação, notadamente a delimitação


e a implantação das zonas de amortecimento, conforme preconiza o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Os Parques Estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren e suas áreas de entorno localizam-se ao norte da
Região Metropolitana de São Paulo, nos municípios de São Paulo, Mairiporã, Caieiras e Guarulhos. Situam-se
entre as coordenadas 23º 19’ 12’’ e 23º 30’ de latitude sul e 46º 27’ e 46º 44’ 36’’ de longitude oeste (FIGURA 1).
Definiu-se como área de entorno uma faixa de 2 km medida a partir dos limites destes parques,
considerada de influência imediata, onde as diversas formas de uso e ocupação da terra produzem impactos
ambientais diretos sobre estas áreas naturais.
Para a realização desse trabalho, inicialmente, executou-se levantamentos bibliográficos e
cartográficos, de modo a subsidiar o seu desenvolvimento.
A elaboração do mapa de uso do solo foi feita com base ortofoto em formato digital do ano de
2007, com resolução espacial de 0,68 cm. No processo de interpretação e análise visual foi utilizado o
SIG ArcView GIS 3.2.
Foram realizados trabalhos de campo com o objetivo de conferir e atualizar as diferentes classes de
uso do solo mapeadas e elaborar documentário fotográfico.
A classificação do uso do solo valeu-se dos seguintes elementos de interpretação: tonalidade/cor,
textura, tamanho, forma, sombra, altura, padrão e a localização.

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GASPARETO, T. da C.; SILVA, D. A. da; PAVÃO, M. A pressão urbana sobre os parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren situados na
Região Metropolitana de São Paulo.

FIGURA 1 – Informações sobre as espécies identificadas no Parque Estadual Alberto Löfgren. Fontes: Bondar
(1964); Lorenzi (1996).

Com base em Anderson et al. (1979), Florenzano (2002), Silva (2000, 2005), Pavão (2005) e
Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA - EMPLASA (2006) foram definidas as seguintes classes
de uso do solo, que serviram de base para a interpretação da ortofoto digital: mata, capoeira, reflorestamento,
atividade hortifrutigranjeira, campo antrópico, bairro médio padrão, bairro-jardim, casa autoconstruída,
área residencial parcialmente ocupada, conjunto habitacional (uni e multifamiliar), condomínio alto padrão
e chácara residencial, favela, loteamento desocupado, indústria, pedreira ativa e desativada, clube,
área institucional, aterro sanitário ativo e desativado, solo exposto/movimento de terra, depósito clandestino
de lixo, área de reciclagem de lixo, reservatório de retenção de águas pluviais (piscinão), pocilga, represa, via
de circulação e linha transmissora de energia.
No mapa de uso do solo acrescentou-se, no item Hidrografia, os cursos d’água assoreados, pois estes
têm expressão significativa na área, e sua gênese está diretamente relacionada com a utilização inadequada do
meio urbano/rural.
Neste estudo, definiu-se como pressão urbana toda ação ou atividade antrópica associada à dinâmica de
expansão metropolitana. Por sua vez, impacto ambiental foi conceituado como “alteração da qualidade ambiental
que resulta da modificação de processos naturais ou sociais provocada por ação humana” (Sánchez, 2006).
A identificação dos principais impactos ambientais provocados pela expansão urbana foi realizada
por meio de observações de campo e consultas à bibliografia específica.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 73-80, jul. 2008.


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GASPARETO, T. da C.; SILVA, D. A. da; PAVÃO, M. A pressão urbana sobre os parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren situados na
Região Metropolitana de São Paulo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na face norte do Parque Estadual da Cantareira, situada nos municípios de Guarulhos, Mairiporã e
Caieiras, predominam os condomínios de alto padrão e chácaras residenciais. Destacam-se também expressivas
áreas cobertas por vegetação nativa (mata e capoeira) e reflorestamentos de Pinus spp. e Eucalyptus spp.
(FIGURA 2).
Já na face sul, que abrange os municípios de São Paulo e Guarulhos, tem-se uma grande variedade de
classes de uso do solo. Destaca-se a ocupação urbana representada pelas classes: casa autoconstruída, favela,
área residencial parcialmente ocupada, bairro de médio padrão, bairro-jardim, conjunto habitacional, loteamento
desocupado e indústria. Conforme destaca Moroz et al. (1994), a expansão urbana provoca desmatamentos e
ocupa áreas sujeitas aos escorregamentos e inundações, evidenciando a ocupação desordenada do entorno dos
Parques Estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren.
Concordando com Pavão (2005), na Bacia do Córrego Bananal, município de São Paulo, setor sul
do Parque Estadual da Cantareira, ocorrem ocupações clandestinas em áreas de forte fragilidade potencial e
ambiental. Essas ocupações localizam-se na zona de entorno desta unidade de conservação estando portanto,
submetidas a uma legislação específica, o que torna ainda mais complexa a problemática da ocupação.
Observa-se também que as chácaras que faziam parte do cinturão verde da cidade de São Paulo,
na década de 70, do século XX, hoje em dia não desempenham mais a função de abastecer a metrópole com
produtos hortifrutigranjeiros, se constituindo em áreas de reserva de valor e especulação imobiliária.
Ainda na face sul, encontra-se um aterro sanitário em funcionamento, situado no limite do Parque
Estadual da Cantareira, o que ocasiona pressões e impactos ambientais significativos (contaminação dos solos
e dos recursos hídricos e proliferação de animais e insetos indesejáveis, dentre outros) sobre esta unidade de
conservação. Dessa forma, é importante o monitoramento do funcionamento deste aterro, devido à natureza
impactante desta classe de uso do solo, e a sua proximidade da unidade de conservação.
As pedreiras ainda em atividade na área causam também danos expressivos, caracterizados por
explosões e ruídos, liberação de partículas sólidas em suspensão no ar atmosférico, tráfego intenso de veículos
pesados, assoreamentos de cursos d’água e lançamento de fragmentos rochosos.
Concordando com Silva (2005), as vias de circulação que seccionam a área de estudo, com destaque
para a duplicação da rodovia Fernão Dias (BR 381), reforçam as tendências de expansão urbana e especulação
imobiliária detectadas em toda a região, acentuando as pressões sobre as unidades de conservação.
Conforme observações de Silva (2000), a pressão urbana provoca diferentes impactos ambientais
sobre os Parques Estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren, que se traduzem em poluição de rios e reservatórios,
contaminação do lençol freático, assoreamento dos cursos d’água, inundação, eliminação de nascentes,
instabilização de encostas e taludes, erosão linear, movimentos de massa, poluição dos solos, perda da camada
fértil do solo, ocupação de áreas de risco, impermeabilização ou compactação do solo, poluição atmosférica e
sonora, formação de corredores de vento, ampliação da ilha de calor, alterações microclimáticas, chuva ácida,
perda da biodiversidade, aparecimento de plantas ruderais, homogeneidade florística, dispersão de espécies
exóticas e agressivas, coleta de espécies vegetais, caça e atropelamento de animais, proliferação de animais e
insetos nocivos à saúde, incêndios florestais e degradação estética da paisagem.
Como produto do mapeamento do uso do solo foi possível identificar os principais vetores de pressão
antrópica que atuam sobre os Parques Estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren. Além disso, observou-se quais
as classes de uso do solo que estão em expansão ou em retração no entorno das unidades de conservação.
Desta forma, obteve-se um panorama de como se dá a dinâmica urbana ao redor destes parques e
quais são as principais atividades antrópicas que estão comprometendo a sua preservação.

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Região Metropolitana de São Paulo.

FIGURA 2 – Mapa de uso do solo do entorno dos Parques Estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren, ano de 2007.

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Região Metropolitana de São Paulo.

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

Na face sul dos Parques Estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren é intensa a pressão gerada pelo
processo de urbanização, o que acentua o isolamento destas unidades de conservação na Região Metropolitana
de São Paulo. Já na face norte, caracterizada por uma ocupação esparsa, esta pressão é menor, porém os
impactos provocados pela expansão dos condomínios de alto padrão e chácaras residenciais são significativos,
contribuindo para degradação ambiental da região.
O mapeamento do uso do solo do entorno dos Parques Estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren
mostrou-se um desafio, uma vez que, essas unidades de conservação estão situadas na Região Metropolitana
de São Paulo, onde o uso do solo é heterogêneo e apresenta uma complexa dinâmica de mudanças.
A pesquisa possibilitou também, despertar o interesse para outros trabalhos, já que a partir do
mapeamento do uso do solo é possível desenvolver estudos ligados às temáticas urbana e ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, J. R. Sistema de classificação do uso da terra e do revestimento do solo para utilização com
dados de sensores remotos. Tradução de H. Strang. Rio de Janeiro: IBGE, 1979. 78 p.
BRASIL. Resolução CONAMA nº 13, de 06 de dezembro de 1990. Dispõe sobre normas referentes às atividades
desenvolvidas no entorno das Unidades de Conservação. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 1990.
Seção I, p. 25541.
    . Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição
Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 19 jul. 2000.
CAVALHEIRO, F. Ecologia urbana: o planejamento e o ambiente alterado das cidades. Revista do Serviço
Público, v. 111, n. 4, p. 109-112, 1991.
    .; ANDRADE, L. S. L; CARDOSO, M. A. Urbanização e alterações ambientais. In: TAUK, S. M. (Org.).
Análise ambiental: uma visão multidisciplinar. São Paulo: UNESP: FAPESP, 1983. p. 88-99.
DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. Tradução de J. A. dos Santos. 3. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1994. 224 p.
EMPRESA PAULISTA DE PLANEJAMENTO METROPOLITANO SA - EMPLASA. Mapa de uso do solo
da Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo. 2006. 1 CD-ROM. Windows 95 ou superior.
FLORENZANO, T. G. Imagens de satélite para estudos ambientais. São Paulo: Oficina de Textos, 2002. 97 p.
INSTITUTO Florestal. Disponível em: <www.iflorestal.sp.gov.br>. Acesso em: 5 jun. 2008.
MOROZ, I. C.; CANIL, K.; ROSS, J. L. S. Problemas ambientais nas Áreas de Proteção dos Mananciais da
Região Metropolitana de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n. 7, p. 35-48, 1994.
OLIVA, A. Programa de manejo fronteiras para o Parque Estadual Xixová-Japuí, SP. 2003. 239 f.
Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Universidade de São Paulo, Piracicaba.
PAVÃO, M. Estudo da dinâmica de urbanização na Bacia do Córrego Bananal município de São Paulo,
através da utilização de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento. 2005. 169 f. Dissertação
(Mestrado em Geografia Física) - Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 73-80, jul. 2008.


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GASPARETO, T. da C.; SILVA, D. A. da; PAVÃO, M. A pressão urbana sobre os parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren situados na
Região Metropolitana de São Paulo.

SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos,
2006. 495 p.
SANTOS, R. F. dos. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004. 184 p.
SILVA, D. A. da. Evolução do uso e ocupação da terra no entorno dos Parques Estaduais da Cantareira
e Alberto Löfgren e impactos ambientais decorrentes do crescimento metropolitano. 2000. 186 f.
Dissertação (Mestrado em Geografia Física) - Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
    . Zoneamento ambiental de um setor do Parque Estadual da Cantareira e o entorno seccionado
pela Rodovia Fernão Dias (BR 381). 2005. 232 f. Tese (Doutorado em Geografia Física) - Departamento
de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.

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SANTOS, L. R. SIGNIFICADO
dos et al. Significado E IMPORTÂNCIA
e importância DA ESTAÇÃO
da Estação Ecológica ECOLÓGICA
de Bauru para DE BAURU
a população de entorno: algumas reflexões para a
definição da zona de amortecimento.
PARA A POPULAÇÃO DE ENTORNO:
ALGUMAS REFLEXÕES PARA A DEFINIÇÃO DA ZONA DE AMORTECIMENTO

Rochelle Lima Ramos dos SANTOS1


Flávia ROSSI2
Mônica PAVÃO3
Elaine Aparecida RODRIGUES3, 4

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, a Lei Federal nº 9.985/00 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da


Natureza - SNUC, constituído pelo conjunto das unidades de conservação federais, estaduais e municipais,
ampliando o rol de áreas protegidas já existentes. As unidades de conservação correspondem a espaços
territoriais e seus atributos ambientais, legalmente instituído pelo Poder Público com objetivos de conservação
e limites definidos, sob regime especial de administração (Brasil, 2000).
O SNUC estabelece dois grupos de áreas protegidas: as de Proteção Integral e as de Uso Sustentável,
com diversas categorias de proteção. A partir deste disciplinamento, o território paulista abriga UCs de proteção
integral (Parque Nacional e Estadual, Estação Ecológica, Reserva Biológica e Refúgio da Vida Silvestre) e UCs
de uso sustentável (Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Reserva Extrativista,
Monumento Natural, Reserva Particular do Patrimônio Natural, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e
Floresta Nacional e Estadual).
Além destas, existem outras modalidades de unidades de conservação reconhecidas no nível
internacional pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO,
denominadas Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São
Paulo e Sítio do Patrimônio Mundial Natural. Existem ainda no Estado de São Paulo outras modalidades de
categorias, voltadas à conservação, que são objeto de proteção especial, definidas como Parques Ecológicos,
Reservas Estaduais, Áreas sob Proteção Especial e Áreas Naturais Tombadas; bem como unidades de produção,
representadas por Estações Experimentais, Hortos e Viveiros Florestais com objetivo de experimentação
florestal para o desenvolvimento de pesquisa, restauração de áreas degradadas, conservação de recursos
genéticos e melhoramento genético.
Sem considerar as unidades de conservação municipal, existem 237 áreas naturais protegidas no Estado de
São Paulo, divididas em 24 categorias de manejo de âmbito federal, estadual e particular, considerando as unidades
de proteção integral, unidades de uso sustentável e outras áreas especialmente protegidas (Xavier et al., no prelo).
Embora estes importantes remanescentes naturais estejam protegidos por lei, são constantemente
ameaçados pela pressão antrópica, incluindo desmatamentos, invasões, extração de produtos naturais, caça,
pesca, expansão das atividades agrícolas e urbanas. Não havendo planejamento do uso do solo em seu entorno,
estas áreas protegidas tornam-se fragmentos isolados de vegetação natural, comprometendo sua biodiversidade
e capacidade de suporte ao longo do tempo.
Conforme determinado pelo SNUC, toda unidade de conservação deve dispor de um plano de manejo,
definido como documento técnico que estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da
área e o manejo dos recursos naturais (Brasil, 2000). De acordo com o art. 27, o plano de manejo deve abranger
a área da unidade, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, sendo sua zona de amortecimento
definida como o entorno no qual as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o
propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade.
______
(1) Acadêmica do curso de Biologia, da Faculdade São Judas Tadeu. Bolsista Fundap/Instituto Florestal. E-mail: solechel@yahoo.com.br
(2) Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais. Universidade de São Paulo.
(3) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(4) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.

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SANTOS, L. R. dos et al. Significado e importância da Estação Ecológica de Bauru para a população de entorno: algumas reflexões para a
definição da zona de amortecimento.

Embora preconizado pelo SNUC, nem sempre o manejo das UCs considera as interfaces com
seu entorno (Oliva & Magro, 2004). Partindo do pressuposto que diferentes percepções e valores sobre a
importância da natureza influenciam a conservação dos ambientes naturais (Fiori, 2002), este estudo objetiva
identificar o significado e a importância da Estação Ecológica Sebastião Aleixo da Silva para os moradores
residentes na Microbacia Hidrográfica Córrego Pau d’Alho (Setor de Planejamento Urbano 7), apontando
linhas de ação para o Plano de Manejo da Estação Ecológica.
Criada em 1987 pelo Decreto 26.890, a unidade encontra-se aproximadamente a 3 km da área urbana
do município, sendo seu entorno imediato constituído por pequenos e médios proprietários rurais. Com o
intuito de identificar a percepção e tipo de relacionamento entre os moradores do entorno imediato e a Estação,
foi realizado um levantamento nas propriedades vizinhas, a partir de questionários estruturados e observações
de campo. Este levantamento mostrou que grande parte das condições limite de conservação e preservação da
área advém da presença de moradores que não residem no entorno imediato da Estação. Neste sentido,
foi levantada a hipótese de que as áreas urbanas limítrofes configuram-se como importantes vetores de pressão
para a conservação deste fragmento.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais

A Estação Ecológica Sebastião Aleixo da Silva está localizada ao norte da cidade de Bauru, próximo
ao km 352 da rodovia Bauru−Iacanga, nas coordenadas 22º 19’ S e 49º 04’ W, a uma altitude média de 570 m.
A Estação Ecológica abrange uma área de 287,28 ha, sendo que cerca de 200 ha são cobertos com vegetação
florestal isolada por pastagens que atualmente ocupam toda a área do entorno.
Nesta região, verão e inverno são as estações mais definidas, diferenciadas principalmente pela
deficiência de umidade nos meses de inverno. O clima é sub-úmido, mesotérmico, com pouca umidade no
inverno (CB’cw). Os solos predominantes na região do município de Bauru classificam-se como Latossolos
Vermelhos Eutróficos psamíticos. A vegetação deste fragmento florestal enquadra-se na categoria de floresta
estacional semidecidual submontana (Toniato, 2002).
A região administrativa de Bauru foi uma das mais desmatadas do estado de São Paulo entre os
anos de 1970 e 1990, reduzindo sua cobertura vegetal em cerca de 51% no período. Dentro dos limites do
município, a vegetação de cerrado predomina em extensão, concentrada a leste e a sudeste (Kronka et al.,
1992). Florestas semidecíduas, capoeiras, capoeirões e vegetação ripária nas proximidades do rio Batalha e
seus afluentes, também ocorrem na área do município (Toniato, 2002).
Antes da década de 1960, a área florestal da Estação Ecológica Sebastião Aleixo da Silva, pertencia a
Fazenda São Luiz, de propriedade do Sr. Sebastião Aleixo da Silva. Parte da propriedade era composta por
uma fazenda de café. Desde 1961, a área está legalmente protegida; estabelecida como Reserva Estadual
pelo Decreto Estadual nº 38.424 de 06/06/1961, e com alteração em sua categoria para Estação Ecológica
pelo Decreto Estadual nº 26.890, de 1987, a área está sob administração do Sistema Estadual de Florestas -
SIEFLOR, diretamente vinculada à Estação Experimental de Bauru.
Conforme ilustra a FIGURA 1, a Estação Ecológica constitui importante fragmento próximo à
área urbana, em um espaço territorial delimitado a leste pela Rodovia Bauru−Iacanga; a oeste pela Rodovia
Marechal Rondon, ao Norte pela estrada Murilo Vilaça Maringoni, que leva ao Aeroporto Bauru−Arealva
(Aeroporto Moussa Nakhl Tobias), e ao sul pela área urbana do município de Bauru.
A Estação encontra-se na Área de Proteção Ambiental Municipal (APA) Água Parada,
que compreende, segundo o Plano Diretor municipal, o Setor de Planejamento Rural “G” (Microbacia Córrego
Água Parada Pequena) com 2.565 ha, pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Batalha. A principal atividade
econômica da Microbacia é a bovinocultura, com baixa lotação e baixa produtividade das pastagens devido ao
manejo inadequado ou inexistente. Ao todo, são 42 produtores rurais, sendo 33 pequenos produtores;
8 produtores classificados como médio e 01 grande produtor (São Paulo, 2003).

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FIGURA 1 – Estação Ecológica de Bauru e bairros pesquisados.

Esta área é limitada ao Sul pelo Setor de Planejamento Urbano 7, analisado neste estudo, e que
corresponde, segundo o Plano Diretor Municipal, à Microbacia do Córrego Pau D’Alho, formada por 9
bairros ou unidades de observação: Jardim Colina Verde; Jardim Helena, Núcleo Habitacional Edison Bastos
Gasparini, Núcleo Habitacional Vanuire, Núcleo Residencial Nova Bauru, Parque City, Residencial Pousada
da Esperança I, Residencial Pousada da Esperança II e Vila São Paulo.
De acordo com as informações do Departamento de Água e Esgoto de Bauru - DAE, a população
estimada para este setor é de aproximadamente 19.000 habitantes, considerando a média de 2,9861 habitantes
por residência para o município. Esta média foi calculada utilizando o número de habitantes do município,
estimada em 347.601 habitantes em 01/04/07, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,
dividido pelo número das chamadas economias residenciais do DAE (referência mês 07/2007), que corresponde
a 116.406 residências. Os dados estimados para o Setor 7 são apresentados na TABELA 1.

TABELA 1 – Economias residenciais e população estimada para o Setor 7 no ano de 2007.

Bairros Economias Residenciais População Estimada


Jardim Colina Verde 319 952
Jardim Helena 75 224
Nova. Hab. Edison Bastos Gasparini 1.261 3.765
Nova. Hab. Vanuire 311 896
Núcleo Residencial Nova Bauru 962 2.872
PQ. City 118 352
PQ. Res. Pousada da Esperança I
2.533 7.563
PQ. Res. Pousada da Esperança II
Vila São Paulo 779 2.326
Total 6.358 18.950
Fonte: DAE (2007).

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definição da zona de amortecimento.

2.2 Métodos

A partir do levantamento realizado com os proprietários rurais do entorno da Estação Ecológica para
o Plano de Manejo, foram obtidas informações de que a UC seria freqüentada por moradores dos adensamentos
urbanos próximos; os dados indicaram a necessidade de novo levantamento para averiguar se estes bairros
configuravam-se como vetores de pressão à conservação do fragmento.
Para este estudo foi aplicado questionário com quinze perguntas fechadas para os moradores residentes
no Setor 7, em quatro dias de campo no mês de fevereiro de 2008. O objetivo do levantamento foi identificar o
perfil socioeconômico dos moradores e o vínculo destes com a unidade de conservação (UC) (APÊNDICE 1).
A partir do número das chamadas economias residenciais, ou seja, do número de ligações de água
fornecido DAE, foi definida uma amostra de 10% dos domicílios de cada bairro, em um total de 636 domicílios
entrevistados, sendo visitadas todas as ruas de cada bairro no sentido Norte/Sul ou Leste/Oeste, a partir da
direção que apresentava maior extensão. Foi selecionado um domicílio para entrevista com intervalo de 9
domicílios para a próxima seleção. Após a apresentação dos objetivos da pesquisa, foram entrevistados os
moradores de 12 anos ou mais. Em caso de recusa à entrevista ou ausência de moradores no domicílio,
foi entrevistado o domicílio imediatamente posterior.
Os questionários foram aplicados em quatro dias de campo no mês de fevereiro de 2008, nos finais de semana,
com duração média de 3 a 5 min. O número de domicílios amostrados por bairro é apresentado na TABELA 2.

TABELA 2 – Número de domicílios amostrados por bairro.

Economias Amostra
Bairros Percentual
Residenciais 10% entrevistada
Colina Verde, Jardim 319 32 5%
Helena, Jardim 75 8 1%
Edison Bastos Gasparini, Núcleo Habitacional 1.261 126 20%
Vanuire, Núcleo Habitacional 311 31 5%
Nova Bauru, Núcleo Residencial 962 96 15%
City, Parque 118 12 2%
Pousada da Esperança I, Parque Residencial 1.351 135 21%
Pousada da Esperança II, Parque Residencial 1.182 118 19%
São Paulo, Vila 779 78 12%
Total geral 6.360 636 100%

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta pesquisa desenvolve-se na perspectiva de que o planejamento ambiental constitui ferramenta


utilizada para minimizar e evitar conflitos resultantes das interferências humanas nos componentes estruturais
e funcionais dos ecossistemas (Rodiek, 1978), incorporando a percepção ambiental como instrumento de
diagnóstico socioambiental e de educação ambiental, em uma abordagem interdisciplinar.
A bacia hidrográfica do Córrego Pau d’Alho pertence à área urbana do município de Bauru e é
formada por 9 bairros, com cerca de 19.000 moradores distribuídos em 6.360 economias residenciais,
cuja dinâmica gera impactos decorrentes de relações não harmônicas entre o homem e a natureza, provocando
desequilíbrio ambiental. Destaca-se a situação de urbanização “não consolidada” na maioria destes bairros,
com predomínio de população de baixa renda e baixa escolaridade, bem como deficiência de equipamentos
públicos, sobretudo relacionados ao lazer e recreação.
Em relação ao perfil dos entrevistados, do total de 636 respondentes, a maioria (62%) é do gênero
masculino. As faixas etárias situam-se entre 12 e 24 anos (32%), 25 e 35 anos (26%), 36 e 59 anos (26%),

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definição da zona de amortecimento.

e 60 anos ou mais (8%). Com relação à escolaridade 3% dos respondentes são analfabetos, 51% cursaram até
o ensino fundamental, 43% o ensino médio e 3% possuem curso superior. No tocante à atividade profissional,
3,6% do total de entrevistados (N = 636) não informaram a profissão, 14,5% declaram-se como “do lar” e 0,9%
estão desempregados. As demais profissões foram: estudante (13,4%); empregado em serviços especializados
(11,0%); empregado da construção civil (8,6%); empregado no comércio (8,0%); empregado em serviços
domésticos e limpeza (7,1%); ajudante geral (5,7%); empregado em transporte, cobrança e entrega (4,6%);
aposentado (4,2%); empregado em mecânica e metalurgia (3,8%); operador de carga/máquina (3,3%);
empregado em escritórios (3,1%); empregado em confecções e estética (2,4%); empregado em segurança e
vigilância (2,4%); profissional especialista (2,2%); e trabalhador rural (1,2%).
Na categoria “serviços especializados”, foram agrupados: acionista, agente comunitário, agente escolar,
agente funerário, agente de saneamento, almoxarife, armador, artesão, auxiliar enfermagem, auxiliar de pista, auxiliar
técnico, babá, coletor de dados, coletor de lixo, conferente, contador de história, cozinheira, dançarino, desossador,
eletricista de auto, embaladeira, encarregado de produção, frentista, garçom, gráfico, jardineiro, laminação de fibra,
lustrador de móveis, marmorista, montador, músico, operador refino de chumbo, padeiro, processamento de dados,
protética, repositor, serviços de saúde, soldador, tapeceiro, técnico de alarme, técnico de informática, técnico de
pesquisa, telefonista, vidraceiro. Na categoria “profissional especialista” foram agrupados os seguintes profissionais:
advogado, analista de sistemas, analista fiscal, biólogo, funcionário público, militar, e professor.
O vínculo com a área foi identificada em termos de conhecimento sobre sua existência e interação direta
com a Estação Ecológica, verificando-se que 43% dos entrevistados têm conhecimento sobre a existência da área
protegida e que, para estes (N = 275), a maioria (61%) já esteve na Estação ou conhece pessoas que a visitaram.
Em relação à visitação, a pesquisa apresentou uma lacuna em termos temporais, uma vez que não
precisou os momentos de interação direta dos entrevistados (passado recente ou remoto). Em geral, os relatos
apontam para uma intensificação da visitação no período associado à existência da represa nos limites da
unidade, conhecida como “Represa dos Sete Metros”, cuja barragem foi destruída em torno de 1990.
Embora com menor intensidade, esta interação prevalece no momento presente, sendo a visitação
apontada como freqüente pelos proprietários rurais que moram no entorno da Estação Ecológica, conforme
identificado nas entrevistas realizadas para a elaboração do Plano de Manejo. Este dado foi confirmado pelos
respondentes dos adensamentos urbanos, já que 12% dos respondentes realizaram até duas visitas à Estação
Ecológica e 24% fizeram mais de duas visitas.
Em relação à faixa etária que apresenta maior interação com a Unidade, verifica-se forte relação nos
grupos entre 12-24 anos e 36-59 anos, representando cada faixa etária 31% dos respondentes; em seguida tem-se
o grupo de 25-35 anos (29%) e com mais de 60 anos (9%). Cabe ressaltar que, entre os respondentes que sabem
da existência da Estação Ecológica, 12% encontram-se na faixa dos 12-17 anos, evidenciando que, independente
da idade, os moradores dos bairros próximos podem configurar-se como vetor de pressão à conservação do
fragmento; no tocante ao gênero, os homens que sabem da existência da UC constituem 76% dos respondentes.
Os significados atribuídos à Estação Ecológica pelos moradores, em ordem de importância, foram:
Conservação (64%), Passeio (22%), Coleta de frutos, cipós, sementes (4%); Pesca (3%), Caça (1%), sendo que
6% dos entrevistados não souberam/não responderam esta questão. Neste aspecto, chama-se atenção para 64%
dos respondentes que atribuem o valor de conservação à Estação. Este percentual é alto, porém, parece demonstrar
que as populações desses bairros não associam a conservação com sua própria intervenção na área, ou, embora
saibam o que significa uma área de conservação, não demonstram resistência a infligir a proibição de visitas.
Conforme o SNUC, o objetivo básico das unidades de proteção integral é a preservação da natureza,
sendo admitidos apenas usos indiretos dos seus recursos naturais. No tocante, às Estações Ecológicas,
o referido instrumento remete o uso somente à preservação e realização de pesquisas científicas, sendo proibida
a visitação pública, exceto com o objetivo educacional (Brasil, 2000).
A maioria dos respondentes (69%) também não soube identificar o órgão gestor responsável
pela Reserva, sendo considerada área particular por 12% dos entrevistados, evidenciando a fragilidade da
comunicação e ação institucional. Analisando a distribuição do vínculo com a Estação Ecológica nos bairros,
a partir da consideração do percentual de 50% como indicador de interação expressiva, somente o Jardim Helena

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 81-88, jul. 2008.


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SANTOS, L. R. dos et al. Significado e importância da Estação Ecológica de Bauru para a população de entorno: algumas reflexões para a
definição da zona de amortecimento.

(33%) e o Parque City (0%) apresentam conhecimento reduzido sobre a existência da Estação Ecológica.
Em relação à visitação, os bairros apresentam a seguinte ordem de interação direta com a Unidade:
Colina Verde (100%); Vanuire (50%); São Paulo (49%); Edison Bastos Gasparini (34%); Helena (33%);
Pousada da Esperança I (31%); Pousada da Esperança II (31%); Nova Bauru (28%); Parque City (0%).
Chama-se a atenção para o fato de que, para 38% dos respondentes, é permitida a visitação no interior
da UC, revelando desconhecimento em relação aos objetivos de criação da área protegida. Considera-se que
a carência de equipamentos públicos para o lazer da população local nestes bairros, bem como a distância ou
desconhecimento de outras áreas adequadas a este uso pode influenciar o acesso indevido à Estação Ecológica.

4 CONCLUSÕES
A investigação do sistema de percepção de valores e de importância dos grupos sociais urbanos
próximos à Estação Ecológica Sebastião Aleixo da Silva constitui instrumento para orientar diretrizes
de planejamento da ocupação espacial na zona de amortecimento da UC, bem como para fundamentar as
possibilidades de uso desta área protegida, considerando seus objetivos legais de conservação.
Verificou-se que, com exceção do Parque City, todos os demais bairros amostrados apresentaram
interação direta dos seus moradores com a Estação Ecológica, em todas as faixas etárias, caracterizando-se
efetivamente como vetor de pressão para a conservação da área protegida.
As seguintes linhas de ação são propostas em relação à área abrangida pelo estudo:
1. inserção da área (Setor de Planejamento Urbano 7) como componente da zona de amortecimento da UC;
2. estruturação de programas de educação ambiental nas escolas dos bairros, associações de moradores e igrejas locais
para fortalecimento da imagem institucional e informação sobre os objetivos de conservação da Estação Ecológica;
3. negociação junto à Prefeitura do Município de Bauru para o estabelecimento de áreas de lazer nestes bairros,
bem como para facilitar o acesso e divulgar outros espaços adequados à visitação e recreação;
4. estruturação de um Programa de Educação Ambiental para a Estação Ecológica adequado à sua categoria de manejo.

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SANTOS, L. R. dos et al. Significado e importância da Estação Ecológica de Bauru para a população de entorno: algumas reflexões para a
definição da zona de amortecimento.

APÊNDICE 1 – Pesquisa realizada com os moradores do Setor de Planejamento Urbano 7 do município de


Bauru, no entorno da Estação Ecológica Sebastião Aleixo da Silva.

Objetivo: identificar o vínculo dos moradores do Setor de Planejamento Urbano 7 de Bauru com a
Estação Ecológica Sebastião Aleixo da Silva

1. Nome do entrevistado
2. Sexo
3. Idade
4. Escolaridade
5. Profissão do entrevistado
6. Bairro
7. Telefone
8. O Sr. já ouviu falar da Estação Ecológica de Bauru? ( ) Sim ( ) Não
9. O Sr. sabe se pessoas da região já foram passear na Reserva? ( ) Sim ( ) Não
10. O Sr. já fez visitas ao interior da reserva?
Nenhuma Duas vezes Não respondeu
Uma vez Mais de duas vezes

11. O que significa a reserva do governo para o Sr.?


É um lugar para caçar É um local para pescar
É uma área de preservação É uma área de passeio
É um lugar para colher frutos, sementes, Outro ____________________
Cipós, entre outros Não sabe/não respondeu

12. O Sr. sabe quem é o responsável pela Reserva?


A prefeitura de Bauru O Horto de Bauru Não sabe/não respondeu
O governo do Estado Área de particular
A Polícia Ambiental Outro_____________

13. O Sr. já esteve no Horto de Bauru? ( ) Sim ( ) Não

14. O Sr. acha que atualmente são permitidos passeios e visitas na Reserva do Governo?
Sim (ENCERRE A ENTREVISTA) Não
Não sei (ENCERRE A ENTREVISTA)

15. Por que o Sr. acha que não são permitidas visitas na reserva?
O governo não quer
Para não usarem drogas no local
Para não desmatar
Para não ser esconderijo de “bandidos”
As pessoas fazem muita bagunça e sujeira
Para não judiarem dos bichos
Não sei/não respondeu

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GREGORATO, V. et al. Composição florística de áreas em processo de regeneração natural na Serra da Cantareira, São Paulo _ SP.

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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COMPOSIÇÃO
GREGORATO, FLORÍSTICA
V. et al. Composição DEem
florística de áreas ÁREAS EM
processo de PROCESSO
regeneração da Cantareira, São Paulo _ SP.
DE REGENERAÇÃO
natural na Serra NATURAL
NA SERRA DA CANTAREIRA, SÃO PAULO _ SP

Victor GREGORATO1
Camila da Silva NUNES2
Frederico Alexandre Roccia Dal Pozzo ARZOLLA3
Francisco Eduardo Silva Pinto VILELA4
Gláucia Cortez Ramos de PAULA4

1 INTRODUÇÃO

As florestas estão sujeitas a ações antrópicas, diretas ou indiretas, que causam sua alteração,
supressão ou degradação. Ao cessar as atividades antrópicas após a supressão da floresta, inicia-se o processo
de regeneração florestal ou sucessão secundária (Rodrigues, 1995), que depende de diversos fatores como o
histórico de perturbação, o tempo de abandono, a presença de fontes de rebrota, de remanescentes florestais
e agentes dispersores que promovam a chuva de sementes no local (Purata, 1986; Whitmore, 1983; Gomez-
Pompa, 1971). A medida da taxa na qual esse sistema retorna a uma condição mais próxima à sua condição
inicial (pré-distúrbio) é denominada resiliência (Ewel, 1980).
Florestas secundárias são florestas em regeneração após distúrbios naturais ou antrópicos.
As florestas secundárias fazem parte de uma determinada paisagem onde há diferentes formas de relevos,
tipos de vegetação e usos da terra, onde existem fragmentos de vários tamanhos, várias origens e em vários
estádios de regeneração. Essas florestas de diferentes idades e condições de regeneração formam um mosaico
sucessional (Brown & Lugo, 1990; Urban et al., 1987). Na estruturação desse mosaico participam fatores
antrópicos e fatores naturais bióticos e abióticos (Ewel, 1980).
A Serra da Cantareira apresenta um histórico relacionado a antigas fazendas de café que foram
desapropriadas para a preservação de mananciais de abastecimento de água para a cidade de São Paulo no final
do século XIX. A regeneração dessas áreas proporcionou uma grande extensão de florestas secundárias.
Este trabalho estudou a regeneração florestal de áreas no interior do Parque Estadual da
Cantareira - PEC, onde houve o corte recente da vegetação, para a instalação das torres do novo traçado da
Linha de Transmissão Guarulhos−Anhangüera.
O objetivo deste trabalho é caracterizar a composição florística da vegetação arbóreo-arbustiva em
início de regeneração no Parque Estadual da Cantareira, contribuindo para o conhecimento do processo de
regeneração natural de áreas no interior do Parque e identificando espécies iniciais de sucessão (pioneiras e
secundárias iniciais) que possam ser utilizadas em projetos de revegetação em áreas no entorno do PEC.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O Parque Estadual da Cantareira, de 7.916,5 hectares, abrange parte dos municípios de Caieiras,
Guarulhos, Mairiporã e São Paulo. Está situado no Planalto Atlântico, ocupando parte da Serra Cantareira e da
Serra de Pirucaia, com altitudes que variam de 750 a 1.213 metros (São Paulo, 2000).
O clima é classificado como mesotérmico úmido, sem estação seca definida, do tipo Cfb, havendo
deficiência hídrica anual de 0 a 25 mm (Ventura et al., 1965/66). Conforme a Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE (1992), a vegetação da Serra da Cantareira é classificada como Floresta
Ombrófila Densa Montana.
______
(1) Acadêmico do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Paulista. Instituto Guatambu de Cultura. Bolsista PIBIC. E-mail: victor_gregorato@yahoo.com.br
(2) Instituto Guatambu de Cultura.
(3) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(4) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 91-95, jul. 2008.


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GREGORATO, V. et al. Composição florística de áreas em processo de regeneração natural na Serra da Cantareira, São Paulo _ SP.

A área de estudo localiza-se no Parque Estadual da Cantareira, em doze sítios, onde estão instaladas
as torres da Linha de Transmissão Guarulhos−-Anhangüera da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica
Paulista - CTEEP. Está inserida na face sul da Serra da Cantareira entre as estradas da Roseira e Vista Alegre.
As altitudes variam entre 870 a 980 metros.
No traçado da linha de transmissão, o dossel da floresta é composto por espécies pioneiras e secundárias
iniciais indicando encontrar-se em estádio intermediário de sucessão, diferindo das áreas de floresta madura
estudadas por Arzolla (2002), Baitello et al. (1993) e Baitello et al. (1992).
O levantamento da composição florística das espécies arbóreo-arbustivas foi realizado em janeiro de
2007 e maio de 2008. Foi efetuado na projeção das bases das torres, totalizando 0,5 ha de área amostral,
onde foram identificados todos os indivíduos de arbustos e árvores. O material botânico foi coletado e
herborizado, conforme Fidalgo & Bononi (1984), e identificado por meio de bibliografia específica, comparação
em herbários e consulta a especialistas. O material botânico foi depositado no Herbário Dom Bento Pickel
(SPSF) do Instituto Florestal. A classificação das espécies nas diferentes síndromes de dispersão de sementes
foi feita a partir das características morfológicas dos frutos das espécies, segundo critérios de Pijl (1982), e
baseada em literatura (Alves et. al., 2006; Morelatto & Leitão-Filho, 1992). O sistema de classificação utilizado
foi o Angiosperm Phylogeny Group (APG II, 2003). As espécies foram classificadas nos grupos sucessionais
pioneiras, secundárias iniciais e secundárias tardias com base nos trabalhos realizados por Alves et al. (2006),
Gandolfi et al. (1995) e Budowski (1965).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No primeiro levantamento, foram identificadas 22 espécies estabelecidas por sementes e no segundo


levantamento, foram identificadas 80 espécies, sendo 37,50% secundárias iniciais, 33,75% pioneiras, 15%
secundárias tardias e 13,75% não foram classificadas, diferindo do trabalho realizado por Alves et al. (2006),
na Reserva Florestal do Morro Grande, onde 62,26% das espécies são secundárias tardias, 17,92% secundárias
iniciais, 7,55% pioneiras e 12,26% não foram classificadas (FIGURA 1).
Houve um incremento de 58 espécies entre os dois levantamentos. Dentre essas espécies que
ingressaram no segundo levantamento 34,48% são secundárias iniciais, 27,59% são pioneiras, 18,97% são
secundárias tardias e 18,97% não foram classificadas.
Os tipos dispersão de sementes na área de estudo foram por zoocoria com um total de 53,75% das
espécies amostradas, anemocoria com 20%, autocoria com 11,25% e não classificadas com 15% (FIGURA 2).
A zoocoria foi a síndrome de maior abundância em concordância com os trabalhos realizados por Alves et al.
(2006), na Reserva Florestal do Morro Grande (85,3%), e por Morelatto & Leitão-Filho (1992), na Serra do
Japi (69 e 70%).
As famílias com maior riqueza de espécies ao final do levantamento foram Fabaceae (12 espécies),
Solanaceae (8 espécies), Euphorbiaceae (7 espécies) e Asteraceae (5 espécies), e os gêneros foram Solanum,
com 7 espécies, e Croton e Dalbergia com três espécies cada.
Dentre os gêneros de espécies pioneiras de ampla distribuição, citadas por Tabarelli & Mantovani
(1997), constatou-se no presente estudo os gêneros Vernonia (Asteraceae), Cecropia (Urticaceae), Alchornea
e Croton (Euphorbiaceae) e Piptadenia (Fabaceae-Mimosoideae).
As seis espécies de maior freqüência absoluta foram Croton macrobothrys, Trema micrantha
e Sessea brasiliensis, com 41,7%, Alchornea triplinervia, Croton floribundus e Sapium glandulosum,
com 25% no primeiro levantamento, e Sessea brasiliensis e Solanum mauritianum com 75%, Croton
macrobothrys, com 66,7% e Cupania oblongifolia, Piptadenia gonoacantha e Trema micrantha, com
50%, no segundo levantamento.
Dentre as espécies mais freqüentes, Trema micrantha e Solanum mauritianum destacaram-se pela
dominância em estudo conduzido por Castellani & Stubblebine (1993), em floresta em estádio inicial de
regeneração na Reserva da Mata de Santa Genebra.

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GREGORATO, V. et al. Composição florística de áreas em processo de regeneração natural na Serra da Cantareira, São Paulo _ SP.

FIGURA 1 _ Distribuição das espécies em grupos sucessionais, em pioneiras, secundárias iniciais, secundárias
tardias e não classificadas, expressas em porcentagem, em áreas em regeneração natural no
Parque Estadual da Cantareira, SP.

FIGURA 2 _ Distribuição das espécies em síndromes de dispersão, onde zoo = zoocórica, anemo = anemocórica,
auto = autocórica e nc = não classificada, expressas em porcentagem, em áreas em regeneração
natural no Parque Estadual da Cantareira, SP.

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GREGORATO, V. et al. Composição florística de áreas em processo de regeneração natural na Serra da Cantareira, São Paulo _ SP.

4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Houve um incremento da riqueza de espécies estabelecidas por sementes, no segundo ano após o
corte da vegetação. Foi identificado um amplo conjunto de espécies pioneiras e secundárias iniciais que podem
ser utilizadas em plantios de revegetação na Serra da Cantareira.

5 AGRADECIMENTOS

À equipe do Parque Estadual da Cantareira e, em especial, ao Diretor do Parque, Fernando Déscio,


à Bióloga Márcia de Oliveira Leite e ao funcionário José Rodrigues dos Santos. Ao pesquisador Osny Tadeu
Aguiar pela identificação de Myrtaceae. Ao Ernane Lino da Silva pelo auxílio no manuseio do material
botânico. Ao Eduardo Farias do Instituto Guatambu de Cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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do Morro Grande, Cotia, SP. Biota Neotropica, Campinas, v. 6, n. 2, p. 1-26, 2006. Disponível em: <http://
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FLORA
SOUSA, R. de C. et al. Flora arbustivo-arbórea ARBUSTIVO-ARBÓREA
do Parque EstadualDO
do Jaraguá, São Paulo − SP.
PARQUE ESTADUAL DO JARAGUÁ, SÃO PAULO _ SP1

Rita de Cássia SOUSA2


Flaviana Maluf de SOUZA3
Rejane ESTEVES4
Natália Macedo IVANAUSKAS5
Geraldo Antônio Daher Corrêa FRANCO6

1 INTRODUÇÃO

A progressiva redução da cobertura vegetal nativa do estado de São Paulo já foi amplamente
documentada, sendo enumerada como algumas das causas a exploração madeireira, a expansão agropecuária
e o crescimento industrial e urbano (Victor, 1975; Leitão Filho & Morellato, 1995; Kronka et al., 2005),
que atingiram a vegetação do estado, desde as formações litorâneas até as áreas de cerrado e de floresta
estacional. Os remanescentes de maior extensão localizam-se ao longo da Serra do Mar, a leste do estado, onde
a topografia acidentada inviabilizou o uso da terra para outras finalidades.
A região metropolitana de São Paulo concentra alguns fragmentos florestais que se encontram
protegidos na forma de Unidades de Conservação, entre eles os Parques Estaduais Alberto Löfgren, Cantareira,
Fontes do Ipiranga, Juquery, Serra do Mar e Jaraguá (Arzolla, 2002). A vegetação dessa região é caracterizada,
segundo a classificação de Veloso et al. (1991), pela ocorrência de Floresta Ombrófila Densa, de Florestal
Estacional Semidecidual e de alguns remanescentes de Cerrado (Kronka et al., 2005).
No que se refere à vegetação do Parque Estadual do Jaraguá - PEJ, as informações mais antigas
datam de 1908 e constam em relatos de A. Usteri, um pesquisador alemão que estudou a flora da região
metropolitana de São Paulo. Contudo, não existem estudos detalhados sobre a vegetação do PEJ, sendo que
as únicas informações sobre sua flora provêm de coletas isoladas e que se encontram dispersas em algumas
coleções biológicas do país.
Assim, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a flora arbustivo-arbórea do PEJ de forma a
contribuir para o conhecimento de sua diversidade, fornecendo subsídios para uma avaliação sobre o estado
de conservação da vegetação, para a indicação de áreas prioritárias para a conservação e para a definição do
zoneamento, etapas fundamentais no processo de elaboração de seu plano de manejo.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área de Estudo

Este trabalho foi realizado no Parque Estadual do Jaraguá - PEJ, que se localiza no município de
São Paulo (23º 27’ 42’’ S; 46º 45’ 44’’ W) e abrange área de 491,98 ha, em altitudes variando de 700 a 1300 m
(Instituto Florestal, 2008). De acordo com o mapeamento do Inventário Florestal de São Paulo (Kronka et al.,
2005), a vegetação do PEJ é definida como Floresta Ombrófila Densa Montana, segundo a classificação de
Veloso et al. (1991).
______
(1) O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil.
(2) Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, Universidade Nove de Julho. Bolsista do CNPq. E-mail: rita-sousa@uol.com.br
(3) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: flavianams@yahoo.com.br
(4) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: esteves.rejane29@gmail.com
(5) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: nivanaus@yahoo.com.br
(6) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: gfranco@iflorestal.sp.gov.br

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SOUSA, R. de C. et al. Flora arbustivo-arbórea do Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo − SP.

Segundo o Sistema Internacional de Classificação Climática de Köppen (1948), o clima da região é


classificado como Cfb, ou seja, temperado de inverno seco, com temperatura do mês mais quente inferior a 22 ºC
e do mês mais frio, inferior a 18 ºC (Ventura et al., 1965/1966). O solo da região é o Latossolo vermelho-amarelo
(Ventura et al., 1965/1966).
Por ser margeado por duas grandes rodovias (rodovia dos Bandeirantes e rodovia Anhangüera) e
por receber uma intensa atividade de visitação (cerca de 360.000 visitantes por ano), o PEJ é freqüentemente
submetido a pressões antrópicas. Dentre as conseqüências mais graves para a conservação da flora e da fauna
estão a ocorrência de incêndios, especialmente na parte mais alta, onde a vegetação é composta por gramíneas
(V. A. Arraes, comunicação pessoal, 2008).
O Parque conta com quatro trilhas oficiais destinadas à visitação pública (Trilha da Bica, Trilha do
Lago, Trilha do Pai Zé e Trilha do Silêncio) e um número indeterminado de trilhas secundárias, utilizadas pela
equipe de segurança para a fiscalização.

2.2 Levantamento da Vegetação

Durante três meses foram realizadas visitas de reconhecimento do Parque, nas quais registrou-se
o tempo de percurso e realizaram-se coletas e observações para uma avaliação preliminar do estádio de
conservação da vegetação.
Foram selecionadas algumas trilhas, com base no estádio de conservação da vegetação e no tempo
para a realização do percurso, considerando-se também a necessidade de percorrer o gradiente altitudinal do
Parque, a fim de amostrar as possíveis diferenças florísticas associadas a ele. De acordo com esses critérios,
selecionou-se uma trilha de uso público (Trilha do Pai Zé) e duas trilhas utilizadas para a fiscalização (Trilha
do Mauro e Trilha das Garças).
Para a caracterização da composição florística foram realizadas visitas mensais de quatro a cinco
dias, sendo a equipe de campo composta por três a quatro pessoas, incluindo um profissional habilitado
para a escalada das árvores. A sistemática de coleta envolveu caminhadas ao longo das trilhas e eventuais
deslocamentos para o interior da mata, durante as quais foram observados todos os indivíduos arbustivos e
arbóreos em estágio reprodutivo, com o auxílio de um binóculo. A coleta e herborização de material botânico
destes indivíduos foi realizada de acordo com Fidalgo & Bononi et al. (1984).
Além das espécies nativas, registrou-se também a ocorrência de espécies exóticas ao longo das
trilhas. Foram consideradas espécies exóticas aquelas de ocorrência fora dos limites geográficos historicamente
reconhecidos (Ziller, 2000).
O material coletado foi identificado por comparação com exsicatas presentes no acervo do herbário
D. Bento Pickel (SPSF), além de consultas a bibliografia especializada, como chaves de identificação,
revisões taxonômicas e listas florísticas. Também foram consultados taxonomistas da Seção de Ecologia Florestal
e da Seção de Madeiras e Produtos Florestais do Instituto Florestal, além de especialistas de outras instituições,
nos casos em que não foi possível identificar os espécimes com os procedimentos anteriormente citados.
A nomenclatura científica seguiu as normas propostas pelo APG II (Angiosperm Phylogeny Group II),
com o auxílio de bibliografia especializada (Souza et al., 2005). A grafia e sinonimização das espécies foram
checadas utilizando os bancos de dados W3 Tropicos (MOBOT, 2008) e o banco de dados do International
Plant Names Index - IPNI (2008).
A lista de espécies resultante do levantamento foi confrontada com as listas oficiais de espécies
ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo (São Paulo, 2008), no Brasil (Biodiversitas, 2006) e no mundo
(International Union for Conservation of Nature - IUCN, 2006).
Em decorrência da ausência de trabalhos sobre a vegetação do PEJ, foram feitas buscas aos registros
dos herbários de todo o país disponíveis on-line (SpeciesLink, 2008) para a obtenção da lista de espécies
coletadas no Parque. Da base de dados proveniente dessa busca, foram selecionadas apenas as espécies
arbustivas e arbóreas, resultando em uma lista que foi utilizada para comparação com a lista oriunda do
levantamento de campo.

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SOUSA, R. de C. et al. Flora arbustivo-arbórea do Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo − SP.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontradas 166 espécies arbustivas e arbóreas, pertencentes a 108 gêneros e 48 famílias.
As famílias mais representativas foram Fabaceae (22 espécies), Myrtaceae (18), Lauraceae (13),
Melastomataceae (13) e Asteraceae (12) sendo que as três primeiras também foram as famílias de maior riqueza
observadas em outros remanescentes de Floresta Ombrófila Densa da região do município de São Paulo, como
a Reserva da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira - USP, localizada na própria capital (Dislich
et al., 2001), na Reserva Florestal do Morro Grande (Catharino et al., 2006), no município de Cotia, e em 21
remanescentes florestais localizados no município de Ibiúna (Bernacci et al., 2006).
A distribuição das espécies ao longo das trilhas amostradas ocorreu da seguinte forma: 120 espécies na
Trilha do Pai Zé, 103 espécies na Trilha do Mauro e 71 espécies na Trilha das Garças. O fato que possivelmente
justifica a maior riqueza encontrada na trilha do Pai Zé é a presença de uma área com vegetação distinta do
restante do Parque, localizada na região mais alta, conhecida como “Pico do Jaraguá”. Tal vegetação caracteriza-se
pela predominância de plantas herbáceas, com árvores e arbustos esparsos, sendo a abundância de arbustos
nessa área superior à observada nos demais trechos amostrados. Essa diferença fisionômica tem reflexo direto
na composição florística dessa trilha, que apresentou 41 espécies exclusivas.
O levantamento de campo indicou que a flora do PEJ é predominantemente característica da Floresta
Ombrófila Densa, tendo sido registrada a presença de algumas espécies de ocorrência comum em áreas de Floresta
Estacional Semidecidual. Desse modo, pode-se dizer que a vegetação do PEJ segue o padrão descrito para as
florestas da região metropolitana de São Paulo, onde a flora tem um caráter de transição entre essas duas formações
(Struffaldi de Vuono, 1985; Gomes, 1998; Dislich et al., 2001; Bernacci et al. , 2006; Catharino et al., 2006).
A busca pelos registros de espécies arbustivas e arbóreas nas coleções biológicas do país resultou em
uma relação de 55 espécies nativas, pertencentes a 36 gêneros e 21 famílias. A comparação desses registros
com a lista obtida em campo revelou a existência de apenas 19 espécies em comum entre as duas. Os dados de
herbário contemplaram 36 espécies não amostradas no levantamento de campo, que, por sua vez, acrescentou
146 novos registros para a flora do Parque. Ao compilar ambas as listas e verificar as sinonímias, obteve-se uma
lista final de 202 espécies, 119 gêneros e 51 famílias de plantas arbustivas e arbóreas de ocorrência no PEJ.
Dentre as espécies amostradas em campo, verificou-se a ocorrência de oito espécies presentes em
alguma das categorias de ameaça existentes nas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção (TABELA 1),
sendo quatro na Trilha das Garças, três na Trilha do Mauro e seis na Trilha do Pai Zé. A presença dessas espécies
reforça a importância da conservação e proteção de remanescentes florestais, mesmo quando a vegetação é
secundária ou quando há fortes pressões antrópicas no local, como destacado por Franco et al. (2007).

TABELA 1 _ Espécies arbustivas e arbóreas registradas no Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo _ SP e
suas respectivas categorias de ameaça, de acordo com as listas oficiais de espécies ameaçadas
no estado de São Paulo (São Paulo, 2008), no Brasil (Biodiversitas, 2006) e no mundo (IUCN,
2006), e CR _ Criticamente em perigo; EN − Em perigo; VU _ Vulnerável.

Família Espécie Lista Categoria


IUCN, São Paulo, CR, EN,
Araucariaceae Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze Biodiversitas VU
Biodiversitas,
Arecaceae Euterpe edulis Mart. EN, VU
São Paulo
Meliaceae Cedrela odorata L. IUCN VU
Myrtaceae Gomidesia tijucensis (Kiaersk) D. Legrand. São Paulo VU
Myrceugenia campestris (DC.) D. Legrand & Kausel IUCN VU
Siphoneugenia densiflora O. Berg. IUCN VU
Rutaceae Balfourodendron riedelianum (Engl.) Engl. IUCN EN
Esenbeckia leiocarpa Engl. IUCN VU

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SOUSA, R. de C. et al. Flora arbustivo-arbórea do Parque Estadual do Jaraguá, São Paulo − SP.

Além das 166 espécies nativas, foram registradas nove espécies exóticas: Caesalpinia pluviosa
DC. (Fabaceae) _ “sibipiruna”; Camellia sinensis (L.) Kuntze. (Theaceae) _ “chá-verde”; Coffea arabica L.
(Rubiaceae) _ “café”; Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl (Rosaceae) _ “nêspera”; Eucalyptus sp. (Myrtaceae) _
“eucalipto”; Hovenia dulcis Thunb. (Rhamnaceae) _ “uva-japonesa”; Persea americana Mill. (Lauraceae) _
“abacateiro”; Pittosporum undulatum Vent. (Pittosporaceae) − “pau-incenso”, Psidium guajava L. (Myrtaceae) _
“goiabeira” e Schizolobium parahyba (Vell.) S. F. Blake (Fabaceae) _ “guapuruvu”. Dentre essas espécies,
C. pluviosa e S. parahyba são nativas do Brasil, porém uma ocorre naturalmente fora do estado de São Paulo e
outra em regiões litorâneas desde a Bahia até o Paraná, respectivamente (Corrêa, 1984; Lorenzi, 2002).
As observações de campo sugerem que nenhuma dessas espécies está em processo de expansão
populacional ou exerce algum tipo de dominância sobre as demais espécies nativas. C. arabica é uma espécie
muito abundante em alguns trechos, porém apenas estudos específicos poderão avaliar se a presença desta
espécie causa algum tipo de impacto sobre as espécies nativas. Assim, o monitoramento da dinâmica da
vegetação é fundamental para avaliar possíveis alterações na estrutura da comunidade e orientar medidas de
conservação e manejo.

4 CONCLUSÃO

A despeito da área relativamente pequena e das fortes pressões antrópicas a que está submetido, o Parque
Estadual do Jaraguá exerce um importante papel na conservação da flora arbustivo-arbórea da região metropolitana
de São Paulo, abrigando 202 espécies arbustivas e arbóreas e pelo menos oito espécies presentes em alguma das
categorias de ameaça das listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção no estado, no Brasil e no mundo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 97-101, jul. 2008.


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MORAES, FLORA EPIFÍTICO-VASCULAR


T. T. de; PASTORE, DO MANGUEZAL
J. A.; MOURA, C. de. Flora epifítico-vascular do manguezalDO
do rioRIO UNA
Una do DO
Prelado, PRELADO,
Estação Ecológica Juréia-Itatins,
Iguape, SP: dados preliminares.
ESTAÇÃO ECOLÓGICA JURÉIA-ITATINS, IGUAPE, SP: DADOS PRELIMINARES

Thais Tamamoto de MORAES*


João Aurélio PASTORE**
Claudio de MOURA***

1 INTRODUÇÃO

O manguezal é um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho,


característico de regiões tropicais e subtropicais, e sujeito ao regime das marés. Ocorre em regiões costeiras
abrigadas como estuários, baías e lagunas, e apresenta condições propícias para alimentação, proteção
e reprodução para muitas espécies animais, sendo considerado importante transformador de nutrientes em
matéria orgânica e gerador de bens e serviços (Schaeffer-Novelli, 1995).
A importância ecológica dos manguezais deriva de um grande número de funções desempenhadas
por este ecossistema como amenização do impacto das águas do mar na terra, controle da erosão pelas raízes
de mangue, retenção de sedimentos terrestres do escoamento superficial, atuação como “filtro biológico” de
sedimentos, nutrientes e mesmo poluentes, impedindo o assoreamento e a contaminação das águas costeiras
além de atuar como abrigo de fauna, particularmente em estádios juvenis, em meio ao emaranhado de raízes
aéreas. Considerando que essa é a fase mais sujeita á predação, o manguezal é um “habitat crítico”, na forma
de berçário para moluscos, crustáceos e peixes (Chapman, 1976; Twilley apud Lamparelli, 1999).
Andrade & Lamberti (1965) estudando a vegetação da Baixada Santista, relataram a degradação
sofrida pelos manguezais, tanto para a agricultura quanto para a edificação de vilas e casas modestas.
Recentemente Rossi & Aguiar Mattos (2002) relataram as constantes pressões sócio-econômicas que os
manguezais estão sofrendo.
Esta pressão de uso do solo levou os manguezais a representarem atualmente 0,08% da vegetação
natural remanescente do Estado de São Paulo, concentrando-se principalmente nas Bacias Hidrográficas da
Baixada Santista (97,87 km²) e do Ribeira de Iguape/Litoral Sul (108,30 km²) (Kronka et al., 2005).
Os manguezais do Litoral Sul são os mais preservados do Estado de São Paulo em função do pequeno
desenvolvimento urbano e industrial dessa região quando comparada a outras regiões do litoral (Lamparelli, 1999).
Os manguezais da Estação Ecológica Juréia-Itatins não alcançam grandes extensões exceto o do rio
Una do Prelado, cuja flora é composta por três espécies arbóreas, Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa
e Avicennia schaueriana, que ocorre mais raramente (Por, 2004).
Além das espécies arbóreas, alguns autores têm relatado a ocorrência da hemiparasita Struthanthus
vulgaris, de orquídeas como a Brassavola sp. e Encyclia longifolia, de samambaias da família Polypodiaceae e uma
Cactaceae do gênero Rhipsalis (Andrade & Lamberti, 1965) além de belas espécies de orquídeas como Cattleya
intermedia, Encyclia patens, Brassavola tuberculata e algumas micro-orquídeas (Catharino & Barros, 2004).
A região da Juréia foi considerada uma das áreas prioritárias para a conservação da flora e da
biodiversidade da Mata Atlântica, definindo como uma das ações prioritárias para preencher a enorme lacuna
sobre a biodiversidade a realização de inventários biológicos nas unidades de conservação (Brasil, 2000).
Com exceção ao trabalho realizado por Piliackas et al. (2000) na região de Picinguaba, município de
Ubatuba, poucos trabalhos enfocaram as epífitas vasculares dos manguezais como objetivo principal de estudo.

______
(*) Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Santa Cecília. E-mail: thaistamamoto@hotmail.com
(**) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: jaurelio_77@hotmail.com
(***) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 159, 11750-000, Peruíbe, SP, Brasil. E-mail: claudio.jureia@if.sp.gov.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 103-108, jul. 2008.


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MORAES, T. T. de; PASTORE, J. A.; MOURA, C. de. Flora epifítico-vascular do manguezal do rio Una do Prelado, Estação Ecológica Juréia-Itatins,
Iguape, SP: dados preliminares.

Devido à importância biológica e econômica dos manguezais associado à carência de informações


sobre o componente epifítico-vascular deste ecossistema, no ano de 2007 iniciou-se o projeto de pesquisa
“Aspectos florísticos da vegetação epifítico-vascular do manguezal do rio Una do Prelado Estação Ecológica
Juréia-Itatins, Iguape, SP” objetivando levantar a composição florística das epífitas vasculares ocorrentes
no manguezal do rio Una do Prelado; ampliar o conhecimento sobre a vegetação do ecossistema manguezal;
contribuir para a conservação do patrimônio natural e, enriquecer o acervo do Herbário Dom Bento Pickel
(SPSF) do Instituto Florestal. Desta maneira apresenta-se neste trabalho os resultados preliminares do
primeiro ano de projeto.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A Estação Ecológica Juréia-Itatins, criada inicialmente pela Lei nº 5.649/87, localiza-se no litoral
sul do Estado de São Paulo entre as coordenadas 24º 15’ e 24º 32’ S e 47º 00’ e 47º 30’ W, com uma área
de 79.270 hectares e teve seus limites alterados pela Lei nº 12.406/2006 que criou o Mosaico de Unidades
de Conservação Juréia-Itatins. Segundo Mamede et al. (2001) caracteriza-se como um dos trechos melhor
protegidos e preservados de Mata Atlântica do Brasil, possui uma flora bastante diversificada, com grande
número de espécies raras e endêmicas, ou seja, ocorrem somente na Mata Atlântica, que é considerada umas
das florestas tropicais úmidas mais ameaçadas de extinção do Planeta.
Tais características ambientais resguardadas pela Estação Ecológica de Juréia-Itatins permitiram sua
classificação como Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecida pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO no ano de 1991, no Programa MaB - Man
and Biosphere (Costa Neto, 1997).
Na Planície Litorânea do rio Una do Prelado o clima predominante é o Subtropical Oceânico das Baixadas
Litorâneas da Fachada Sul-Oriental do Brasil, com temperatura média anual maior que 21,1 ºC e pluviosidade
média anual de 2800-3000 mm, ou seja, do tipo Af, segundo a classificação de Köppen (Tarifa, 2004).
Segundo Suguio (2004) os materiais geológicos que constituem a Baixada Litorânea são sedimentos
arenosos e/ou argilosos mais ou menos orgânicos, cuja origem está vinculada à história geológica do Quaternário
tardio, principalmente nos últimos milhões de anos.
Os principais rios nascem nos domínios das serras e possuem sua principal área de drenagem nas
planícies costeiras. A Bacia Hidrográfica do rio Una do Prelado é uma das principais da Juréia, destacando-se
pela extensão e por ser formada por grande parte dos rios que descem da Serra dos Itatins e pelos canais da
vertente norte da Serra da Juréia, reunindo assim todos os fluxos de drenagem da planície costeira do Una no
sentido leste (Souza & Souza, 2004).
O levantamento florístico foi realizado no período de abril de 2007 a março de 2008, através de visitas mensais
ao manguezal do rio Una do Prelado, na região do Núcleo Barreirinho da Estação Ecológica Juréia-Itatins, município de
Iguape, onde todas as plantas epífitas-vasculares férteis foram coletadas, e os indivíduos estéreis fotografados visando
sua identificação posterior. O material botânico foi herborizado conforme Fidalgo & Bononi (1984) e identificado
através de bibliografia específica, por comparação com exsicatas depositadas em herbários e consulta a especialistas.
Todo o material coletado foi depositado no Herbário Dom Bento Pickel (SPSF) do Instituto Florestal.
O sistema de classificação utilizado está de acordo com o Angiosperm Phylogeny Group (APG, 2003).
Para realização das coletas foi utilizada embarcação com motor de popa e visando facilitar o
deslocamento da equipe no interior do mangue optou-se pelos dias de marés mais baixas, cujos dados foram
obtidos na Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil - DHN (2007-2008).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste primeiro ano de projeto foram realizadas quatro coletas, em seis pontos distintos distribuídos ao longo
de mais de 7 quilômetros do manguezal do rio Una do Prelado, Estação Ecológica Juréia-Itatins, conforme FIGURA 1.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 103-108, jul. 2008.


105

MORAES, T. T. de; PASTORE, J. A.; MOURA, C. de. Flora epifítico-vascular do manguezal do rio Una do Prelado, Estação Ecológica Juréia-Itatins,
Iguape, SP: dados preliminares.

FIGURA 1 _ Área de estudo no manguezal do rio Una do Prelado, E.E. Juréia-Itatins, Iguape, SP.

Tais coletas permitiram levantar 15 espécies de plantas epífitas-vasculares, representadas por


3 famílias (Araceae, Bromeliaceae e Orchidaceae), havendo predomínio de Bromeliaceae e Orchidaceae,
com 10 e 4 espécies, respectivamente (TABELA 1). Além das epífitas também foram coletadas e depositadas
no Herbário Dom Bento Pickel sob o número SPSF 37.903 amostras da hemiparasita Struthanthus vulgaris
(Loranthaceae), cuja ocorrência em manguezais foi relatada por Andrade & Lamberti (1965).
Os resultados obtidos até o momento são satisfatórios, pois, Piliackas et al. (2000) estudando epífitas-
vasculares no manguezal do Rio das Bicas, em Ubatuba, registraram 26 espécies distribuídas em sete famílias,
sendo Bromeliaceae e Orchidaceae aquelas de maior riqueza com 10 e 8 espécies cada.
Araújo et al. (2004) estudando a ocorrência de Bromeliaceae em quatro tipos de habitats (Floresta
ripária, Restinga, Costão rochoso e Floresta densa) na região do rio Verde, na Estação Ecológica Juréia-Itatins,
encontraram 27 espécies. Comparando-se tais resultados com aqueles encontrados no presente trabalho,
constatamos que das 10 (dez) espécies levantadas no rio Una do Prelado apenas duas não foram registradas
para o rio Verde, Tillandsia dura e Vriesea gamba.

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MORAES, T. T. de; PASTORE, J. A.; MOURA, C. de. Flora epifítico-vascular do manguezal do rio Una do Prelado, Estação Ecológica Juréia-Itatins,
Iguape, SP: dados preliminares.

TABELA 1 _ Epífitas-vasculares do manguezal do rio Una do Prelado, Estação Ecológica Juréia-Itatins,


Iguape, SP.

QUANT. FAMÍLIA ESPÉCIE Nº DO HERBÁRIO

1 ARACEAE Philodendron sp. observada


2 BROMELIACEAE Aechmea distichantha Lem. SPSF 38846, 38853
3 Aechmea pectinata Baker SPSF 38850
4 Nidularium sp. SPSF 38849
5 Quesnelia arvensis (Vell.) Mez SPSF 38183/38851
6 Tillandsia dura Baker SPSF 38180
7 Vriesea carinata Wawra SPSF 38852
8 Vriesea flammea L. B. Sm. SPSF 37904
9 Vriesea gamba F. Müller SPSF 38184
10 Vriesea philippocoburgii Wawra SPSF 38848
11 Vriesea rodigasiana E. Morren SPSF 37901-902, 38178-179
12 ORCHIDACEAE Catasetum cf. atratum Lindl. em processamento
13 Cattleya sp. SPSF 38181
14 Epidendrum rigidum Jacq. SPSF 38182
15 Pleurothalis sp. observada

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

A metodologia prevê a realização de coletas sistemáticas mensais, porém, está periodicidade não
foi cumprida em função de problemas logísticos para realização de coletas (falta de veículo ou barco);
chuvas prolongadas no verão de 2007-2008 e interrupção repentina do estágio pela Fundação do Desenvolvimento
Administrativo - FUNDAP.
Apesar disto, acredita-se que tais dificuldades não comprometeram a execução do projeto,
pois mesmo com apenas 40% das coletas previstas, houve a possibilidade de se levantar 15 espécies de epífitas-
vasculares, permitindo assim, considerar que os resultados obtidos até o momento são bastante satisfatórios.
Tais resultados estão permitindo, de uma maneira geral, a ampliação do conhecimento sobre os
manguezais da Estação Ecológica Juréia-Itatins no Litoral Sul do Estado de São Paulo, preenchendo assim
uma lacuna do conhecimento botânico sobre a flora epifítico-vascular daquele ecossistema.

5 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todos os Guardas-Parque da Juréia, pelo apoio nos trabalhos de campo e aos
Pesquisadores Científicos do Instituto de Botânica, M. G. L. Wanderley e E. L. M. Catharino pela identificação
dos materiais coletados.

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MORAES, T. T. de; PASTORE, J. A.; MOURA, C. de. Flora epifítico-vascular do manguezal do rio Una do Prelado, Estação Ecológica Juréia-Itatins,
Iguape, SP: dados preliminares.

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MORAES, T. T. de; PASTORE, J. A.; MOURA, C. de. Flora epifítico-vascular do manguezal do rio Una do Prelado, Estação Ecológica Juréia-Itatins,
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IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 103-108, jul. 2008.


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REGENERAÇÃO
POLISEL, R. DE arbustivas
T. et al. Regeneração de espécies ESPÉCIES ARBUSTIVAS
e arbóreas E de
no subosque de florestas ARBÓREAS NO históricos
araucária com diferentes SUBOSQUE do Jordão _ SP.
em CamposDE
FLORESTAS DE ARAUCÁRIA COM DIFERENTES HISTÓRICOS EM CAMPOS DO JORDÃO _ SP

Rodrigo Trassi POLISEL1


Marta Camargo de ASSIS2
Rose Pereira Muniz de SOUZA3
Rejane ESTEVES4
Natália Macedo IVANAUSKAS5

1 INTRODUÇÃO

A Floresta Ombrófila Mista (Veloso et al., 1991) é popularmente conhecida como Floresta de
Araucária, Pinhais ou Pinheirais. A denominação “Mista” refere-se à presença das gimnospermas Araucaria
angustifolia (Bert.) O. Kuntze (araucária) e Podocarpus lambertii Kl. (pinheirinho-brasileiro) consorciadas
com angiospermas de gêneros primitivos como Drymis (Winteraceae), Ocotea, Cryptocarya e Nectandra
(Lauraceae), entre outras.
Mittermeier et al. (1999) elegeram as 25 regiões biológicas mais ricas e ameaçadas do planeta,
entre elas a Floresta de Araucária. Com a drástica redução em sua área de ocorrência, estima-se que atualmente
os remanescentes ocupem entre 1 e 4% da área original (Mantovani et al., 2004), o que torna o ecossistema
crítico em termos de conservação e inclui a araucária na lista de espécies na categoria “vulnerável” à extinção,
segundo critérios da International Union for Conservation of Nature - IUCN (2006).
Estudos realizados por Sanquetta & Mattei (2006), Backes (2001) e Hueck (1953) evidenciam a
escassez da regeneração natural da araucária e do pinheirinho-brasileiro em áreas com dossel fechado, além da
alta taxa de mortalidade natural das populações dessas espécies. Esses autores, por isso, especulam que a ausência
completa de distúrbios na floresta de araucária pode impedir a sua própria perpetuação. Em detrimento dessas
observações, pouco se sabe sobre a composição da regeneração de espécies, o que dificulta tomar conclusões
mais gerais a respeito da dinâmica dessa fisionomia florestal cada vez mais escassa no centro-sul Brasileiro.
Nessa linha, esse estudo fitossociológico sobre a regeneração da sinúsia arbustiva e arbórea será
conduzido visando responder certos questionamentos: qual a densidade de regeneração de araucária no subosque
florestal? Qual a composição da regeneração das espécies e quais são as espécies que mais se destacam?
Os diferentes históricos de uso alteraram a composição de espécies?

2 MATERIAL E MÉTODOS

O Parque Estadual de Campos do Jordão - PECJ está localizado ao norte do município de Campos
do Jordão, com coordenadas geográficas de 22º 45’ S e 45º 30’ W. O clima é Cfb, segundo a classificação de
Köppen. A variação na precipitação pluviométrica é considerável, com valores de 1500 mm/ano a 1800 mm/ano,
causada pelo efeito das chuvas orográficas (Seibert et al., 1975).
No interior do PECJ e áreas de entorno, foram selecionados quatro ecossistemas sobre o mesmo tipo
de solo e com diferentes históricos de utilização, a fim de evitar que outros efeitos influenciassem os objetivos do
trabalho que não aqueles proporcionados pelas atividades antrópicas. Os ecossistemas selecionados e o esforço
amostral para cada local foram: a) floresta de araucária natural, sem interferência antrópica aparente _
250 subparcelas (código MN _ 22º 41’ 30” S e 45º 27’ 52’’ W); b) reflorestamento artificial de araucária e
______
(1) Acadêmico do curso de Ciências Biológicas, do Instituto de Biociências da USP. Bolsista FAPESP (Proc nº 2006/03288-1). E-mail de contato: nest_usp@yahoo.com.br
(2) EMBRAPA – Meio Ambiente, Jaguariúna, SP, Brasil.
(3) Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal – ESALQ-USP, Piracicaba, SP, Brasil. Bolsista de Mestrado do Projeto Temático (Proc. nº 2006/54440-8).
(4) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(5) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.

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POLISEL, R. T. et al. Regeneração de espécies arbustivas e arbóreas no subosque de florestas de araucária com diferentes históricos em Campos do Jordão _ SP.

pinus _ 45 subparcelas (código RP _ 22º 39’ 33’’ S e 45º 26’ 35’’ W), c) reflorestamento artificial de araucária
incendiado há 30 anos _ 40 subparcelas (código RF _ 22º 38’ 12’’ S e 45º 26’ 59’’ W) e d) reflorestamento
antigo de araucária _ 85 subparcelas (código RA _ 22º 40’ 41,4’’ S e 45º 28’ 22,2’’ W), com idade estimada de
aproximadamente 90 anos, obtida com o uso da equação que correlaciona a idade da araucária ao perímetro,
desenvolvida por Backes (2001). Não foram feitas replicações entre os ecossistemas avaliados.
Para a amostragem do estrato de regeneração foram locadas aleatoriamente cinco subparcelas de 1 x 1 m
no interior de cada parcela de 10 x 20 m (utilizada para levantamento do estrato arbóreo) de forma a obter
uma amostra representativa de 5 m2 do subosque de cada parcela (FIGURA 1). Todos os indivíduos lenhosos
presentes nas subparcelas com altura ≥ 30 cm e perímetro a 1,30 cm do solo (PAP) < 15 cm foram amostrados,
tendo sido anotados os valores de altura e observações de campo, tais como presença de látex, odores, presença
de espinhos. A identificação das espécies foi feita no campo ou através de coleta de material botânico para
identificação posterior em laboratório por meio de literatura especializada.

FIGURA 1 _ Croqui de locação das subparcelas sorteadas para a amostragem do estrato de regenerantes no
interior de cada parcela de 10 x 20 m. A soma das cinco subparcelas representa a unidade amostral
neste trabalho (5 m2).

O esforço de amostragem para cada tipo de ecossistema foi verificado por meio da construção da
curva de acumulação de espécies, utilizando como unidade amostral as parcelas de 10 x 20 m (somatória
das 5 subparcelas de 1 m2) e o índice de MAOTAU (Sobs), a partir do uso do programa EstimateSWin800
(Colwell, 2005). Para as espécies regenerantes foram calculadas a freqüência e a densidade e gerados índices
de diversidade de espécies de Shannon (Muller-Dombois & Ellenberg, 1974) e de equabilidade de Pielou
(Odum, 1988). As quatro áreas (MN, RP, RF e RA) foram comparadas por meio de métodos de classificação
por distâncias médias (UPGMA) a partir do índice de Jaccard presentes no programa MultiVariate Statistics
Package (Kovack, 1993). Para a análise de agrupamento foi elaborada uma matriz qualitativa (binária - 0 e 1)
usando como variável a presença/ausência de cada espécie em cada tipo de ecossistema.

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POLISEL, R. T. et al. Regeneração de espécies arbustivas e arbóreas no subosque de florestas de araucária com diferentes históricos em Campos do Jordão _ SP.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O esforço para a amostragem do estrato regenerante na floresta natural (MN) e artificial (RP, RF
e RA) foi verificado pela curva de rarefação (FIGURA 2).

FIGURA 2 _ Curvas de acumulação de espécie com base no índice de MAOTAU (com intervalos de confiança
de 95%) para o estrato de regeneração no subosque de floresta natural de araucária (MN) (linha
azul), reflorestamento de araucária antigo (RA) (linha verde), reflorestamento de araucária
incendiado há 30 anos (RF) (linha roxa) e reflorestamento de araucária e pinus (RP) (linha vermelha).

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POLISEL, R. T. et al. Regeneração de espécies arbustivas e arbóreas no subosque de florestas de araucária com diferentes históricos em Campos do Jordão _ SP.

Foi possível constatar uma relação gradual positiva entre os principais parâmetros analisados no
componente de regeneração das quatro áreas de floresta de araucária estudadas (TABELA 1), quanto maior
o nível de preservação, maior foram esses parâmetros e menores foram os desvios-padrão com base nas
estimativas de densidade. Com base na FIGURA 2, constatou-se maior riqueza de espécies em regeneração na
floresta natural. As áreas RF e RA obtiveram riquezas semelhantes e inferiores à floresta natural e a área RP,
a menor riqueza dentre as demais.

TABELA 1 _ Síntese dos parâmetros fitossociológicos do estrato de regenerantes obtidos num trecho de
floresta natural de araucária (MN), num reflorestamento de araucária e pinus (RP), num
reflorestamento de araucária incendiado há 30 anos (RF) e reflorestamento antigo de araucária
(RA) em Campos do Jordão _ SP.
Legenda: DT: densidade de indivíduos por hectare, DesvP: desvio-padrão das densidades relativas (em %) por espécie, H’: índice de diversidade de
Shannon, J: índice de equabilidade de Pielou.

Parâmetros MN RP RF RA
Área amostral (m2) 250 45 40 85
Famílias 30 8 14 25
Espécies 84 9 20 54
DT (ind/ha) 31800 5110 28500 48941
DesvP 1,689 10,6 8,46 5,286
H’ 3,72 1,92 2,12 2,72
J 0,84 0,36 0,83 0,68

Dentre as espécies amostradas, destacaram-se as ocorrências de Alsophila capensis var. polypodioides


(Sw.) Conant considerada “vulnerável” na listagem estadual (São Paulo, 2004) e Dicksonia sellowiana Hook
na Floresta Natural considerada “em perigo de extinção” e “vulnerável” na listagem estadual (SMA, 2004)
ou nacional (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, 2007) de
espécies ameaçadas.
A regeneração natural de Araucaria angustifolia (Bert.) O. Kuntze foi considerada baixa na floresta
natural, com valores mais elevados nas áreas reflorestadas, possivelmente em função do maior número
de matrizes fonte de sementes (FIGURA 3). A importância do fogo na regeneração dessa espécie não foi
constatada, já que a área de reflorestamento incendiado (RF) apresentou menor densidade de regenerantes de
araucária, comparada aos reflorestamentos sem esse tipo de interferência.

FIGURA 3 _ Avaliação da regeneração de Araucaria angustifolia na floresta natural (MN), no reflorestamento


artificial de araucária e pinus (RP), no reflorestamento de araucária incendiado há 30 anos (RF)
e no reflorestamento antigo de araucária (RA) em Campos do Jordão _ SP. DR _ Densidade
relativa, FR _ Freqüência relativa.

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Ao comparar a composição e a estrutura da regeneração de espécies lenhosas das três áreas


reflorestadas com a floresta natural (FIGURAS 4 e 5), verificou-se que a área do reflorestamento antigo (RA)
foi a que apresentou maior semelhança com a floresta natural (MN), evidência de que os processos ecológicos
envolvidos na restauração estão sendo recuperados e que a complexidade do ecossistema está aumentando.
Dentre as espécies presentes no subosque florestal, Miconia cinerascens Miq. e Rapanea umbellata
(Mart.) Mez destacaram-se como as mais importantes na estrutura da regeneração nas áreas do reflorestamento
antigo (RA) e da floresta natural (MN) (FIGURA 5). Além destas, Gomidesia sellowiana O. Berg. ocorreu em
todas as áreas (áreas MN, RA e RF), exceto no reflorestamento misto (RP). O sucesso no estabelecimento destas
espécies em áreas reflorestadas indicou o potencial de uso das mesmas na restauração de áreas degradadas
na região. Todas as espécies citadas são dispersas por pássaros, o que ressalta a importância da avifauna na
recuperação da flora das florestas avaliadas.

FIGURA 4 _ Dendrograma de similaridade de Jaccard a partir da presença ou ausência das espécies regenerantes
na floresta natural (MN), no reflorestamento artificial de araucária e pinus (R), no reflorestamento
de araucária incendiado há 30 anos (RF) e no reflorestamento antigo de araucária (RA) em
Campos do Jordão.

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FIGURA 5 _ Espécies que somam 50% do valor de importância para cada área amostrada, na floresta natural (MN), no reflorestamento artificial de
araucária e pinus (RP), reflorestamento incendiado há 30 anos (RF) e no reflorestamento antigo de araucária (RA) em Campos do Jordão _ SP.
FR: Freqüência relativa e DR: Densidade relativa.
POLISEL, R. T. et al. Regeneração de espécies arbustivas e arbóreas no subosque de florestas de araucária com diferentes históricos em Campos do Jordão _ SP.
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4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

A estrutura, riqueza e diversidade de espécies arbustivas e arbóreas presentes no subosque da floresta


natural avaliada não se mantiveram nos reflorestamentos artificiais da espécie. No entanto, havendo fragmentos
no entorno, processos de dispersão natural levaram ao enriquecimento da flora desses reflorestamentos ao
longo do tempo, com destaque para Miconia cinerascens, Gomidesia sellowiana e Rapanea umbellata.
A densidade de indivíduos de araucária nos quatro ecossistemas foi baixa, corroborando outros estudos
realizados em Floresta Ombrófila Mista.

5 AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Geraldo A. D. C. Franco e Osny T. Aguiar pelo auxílio na identificação de material


botânico e à FAPESP pelo auxílio à bolsa concedida (nº 2006/03288-1).

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NAKAOKA UTILIZAÇÃO DE EXTRATO


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de extrato pirolenhoso (EPL)
(epl) e finos de carvão Erevitalização
(fc) na FINOS DE CARVÃO
de áreas (FC)
com essências florestais. Fase I.
NA REVITALIZAÇÃO DE ÁREAS COM ESSÊNCIAS FLORESTAIS. FASE I

Massako NAKAOKA SAKITA1


Paulo Ramazzotti PORTO2
André Eidi Nakaoka SAKITA3
Francisco de Assis HONDA4
Felipe Santiago Faustino INHETVIN5

1 INTRODUÇÃO

Segundo Ehrlich & Ehrlich (1981), nos últimos milhares de anos, as áreas de desertos aumentaram
sob o impacto da exploração de pastagens, as florestas sofreram queimadas e derrubadas e o clima do planeta
sofreu transformação à medida que a vegetação foi destruída. Hoje, sob o impacto de uma população de
aproximadamente 6,5 bilhões de habitantes, as florestas tropicais, com sua diversidade de espécies, estão na
iminência de extinção sem antes terem sido estudadas tanto botânica quanto quimicamente.
Victor (1979) cita que no início do século dezenove, 70,5% da área do estado de São Paulo era
coberta por florestas naturais, sendo que em 1975, restavam apenas 7% da cobertura florestal natural.
Inúmeras espécies arbóreas ocorrentes no Estado entraram na lista das espécies altamente ameaçadas de
extinção, como: Aspidosperma polyneuron, Araucaria angustifolia, Balfourodendron riedelianum, Cariniana
legalis, Dipteryx alata, Hymenaea courbaril, Myracrodruon urundeuva e Tabebuia cassinoides (Food and
Agriculture Organization of the United Nations - FAO, 1988). Para tanto, há necessidade da conservação e
preservação da biodiversidade para uso atual e para as futuras gerações.
Apesar desse quadro de alerta quanto à devastação acelerada e extinção das espécies da nossa vegetação,
dados promissores quanto à recuperação das nossas florestas podem ser encontradas no trabalho de Inventário
Florestal da Vegetação Natural do Estado de São Paulo de Kronka et al. (2005), onde consta a diminuição da
pressão e estabilização no desmatamento em determinadas áreas do Estado de São Paulo. Entre 2000 a 2001,
a área remanescente, abrangendo todos os tipos de vegetação, totaliza cerca de 3,457 milhões de hectares.
O resultado supera em 3,8% o constatado no levantamento anterior (1990-92): 3,33 milhões de hectares.
No Brasil, a vinda do pesquisador Guinji Suguiura, do Wood Carbonization Laboratory do Forestry
and Forest Product Research Institute do Japão, em 1998, a convite da Associação dos Produtores de Agricultura
Natural - APAN, deu início à utilização dos subprodutos da carbonização da madeira, especificamente o
extrato pirolenhoso, na agricultura. O extrato pirolenhoso (EPL) é conhecido também como ácido, líquido,
licor pirolenhoso ou vinagre da madeira.
O Brasil é o maior produtor de carvão vegetal do mundo, porém, poucos efetuam a recuperação
dos gases. As pesquisas realizadas no Japão por Kishimoto (1998), Saigusa (2000), Suguiura (1998), Yatagai
(1998), mostraram que o extrato pirolenhoso (EPL) juntamente com finos de carvão (FC), exerceu ação múltipla
no solo e nas plantas, quando aplicado dentro de certos critérios, diminuindo a utilização de agrotóxicos.
Contribuem, na regeneração físico-química e biológica do solo controlando certas pragas e doenças, favorecendo
a germinação e crescimento radicular. No Brasil, ainda são escassas as informações científicas quanto à sua
eficácia no solo, nas plantas, no combate às pragas bem como as concentrações adequadas a serem utilizadas.
Vários trabalhos já publicados como de Miyasaka et al. (2001), Souza-Silva et al. (2006), Zanetti
et al. (2003), Alves (2006), Nakaoka Sakita et al. (2006), Nakaoka Sakita & Peres (2006), Porto et al. (2007)
contribuem com informações importantes quanto à utilização deste produto.
______
(1) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: massako_nakaoka@yahoo.com.br
(2) Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental, da Faculdades Oswaldo Cruz. Bolsista FUNDAP. E-mail: ramazzottiporto@yahoo.com.br
(3) Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental, da Faculdades Oswaldo Cruz. Bolsista FUNDAP. E-mail: andresakita@gmail.com
(4) Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo – Instituto Florestal. E-mail: geocis@gmail.com
(5) Acadêmico do curso de Biologia, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: felipebio@gmail.com.

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NAKAOKA SAKITA, M. et al. Utilização de extrato pirolenhoso (epl) e finos de carvão (fc) na revitalização de áreas com essências florestais. Fase I.

O trabalho teve por objetivo revitalizar com essências florestais nativas e exóticas, pequenas áreas
internas da sede do Instituto Florestal inseridas no Parque Estadual Alberto Löfgren, com utilização do extrato
pirolenhoso (EPL), incorporados com finos de carvão (FC) e composto orgânico. A utilização do EPL nas
áreas plantadas atribui relevância ecológica e científica, pela falta de informações e experimentações quanto à
atuação deste produto em essências florestais.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Local

Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo e a Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica, Instituto Florestal – Parque Estadual Alberto Löfgren, São Paulo. Áreas gramadas e expostas e
ausentes de indivíduos arbóreos.

2.2 Espécies Utilizadas

As espécies transplantadas encontram-se relacionadas nas TABELAS 1 e 2.

TABELA 1 – Espécies transplantadas na Parcela 1 (gramado – acesso à Reserva da Biosfera).

Quantidade Família Gênero/Espécie Grupo Ecológico Nome Popular

1 Anacardiaceae Schinus terebinthifollius Raddi NAT/PI/PE/HL aroeira-pimenteira

pinheiro-brasileiro,
1 Araucariaceae Araucaria angustifolia (Bert.) Kuntze NAT/PI/PE/HL
pinheiro-do-paraná

1 Bignoniaceae Tabebuia avellanedae Lor. ex Griseb. NAT/PI e SD/DC/HL ipê-roxo


1 Bombacaceae Chorisia speciosa St. Hil. NAT/PI/DC/HL/HG paineira rosa
3 Bixaceae Bixa orellana L. NAT/PE/HL urucum
2 Caprifoliaceae Sambucus nigra L. EXOT sabugueiro

mangustão-amarelo,
2 Clusiaceae Garcinia cochinchinensis Choisy EXOT
bacopari

1 Leg. Caesalpinoideae Caesalpinia echinata NAT/CL/SD/HL ou ES pau-brasil


2 Leg. Mimosoideae Acacia polyphylla DC. NAT/PI/SD/DC/XE/HL monjoleiro
1 Meliaceae Cedrela fissilis Vell. NAT/DC/HL ou ES cedro-rosa

Pimenta pseudocaryophyllus var. cravo-da-terra, louro,


9 Myrtaceae NAT
pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum chá-da-terra

4 Myrtaceae Eugenia sp. NAT/SD/HL piuna


1 Myrtaceae Psidium cattleianum Sabine NAT/PE ou SD/HL/HG araçá-amarelo
1 Myrtaceae Eugenia uniflora L. NAT/SD/HL/HG pitanga
1 Sapindaceae Sapindus saponaria L. NAT/PE ou SD/HL sabão-de-soldado
2 Verbenaceae Cytharexyllum myrianthum Cham. NAT/DC/HL/HG pau-viola

NAT = Nativa; EXOT = Exótica; PI = Pioneira; SE = Secundária; CL = Clímaxes; HL = Heliófita;


ES = Esciófita; HD = Hidrófita; ME = Mesófita; XE = Xerófita; PE = Perene/Perenifólia; SD = Semidecídua;
DC = Decídua/Caducifólio.

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NAKAOKA SAKITA, M. et al. Utilização de extrato pirolenhoso (epl) e finos de carvão (fc) na revitalização de áreas com essências florestais. Fase I.

TABELA 2 – Espécies transplantadas na Parcela 2 (barranco, próximo à garagem).

Quantidade Família Gênero/Espécie Grupo Ecológico Nome Popular


1 Bignoniaceae Tabebuia avellanedae (Mart.) Standl. NAT/PI/SE/DC/HL ipê-roxo-de-bola
1 Bombacaceae Chorisia speciosa St. Hil. NAT/DC/HL/HD paineira branca
1 Bombacaceae Chorisia speciosa St. Hil. NAT/OR paineira rosa
2 Euforbiaceae Synadenium grantii Hook EXOT maria-mole
1 Leg. Mimosoideae Inga uruguensis Hooker et Arnott NAT ingá-do-brejo
5 Leg. Mimosoideae Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan NAT/PI/DC/HL/XE angico-vermelho
1 Leg. Mimosoideae Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong NAT/PI/DC/HL/HD tamboril, orelha-de-negro
1 Melastomataceae Tibouchina mutabilis Cong. NAT/OR quaresmeira, manacá
1 Meliaceae Cedrela fissilis Vell. NAT/DC/HL ou ES cedro-rosa
2 Moraceae Ficus guaranitica Schodat NAT/PI, SE/PE/HL figueira-branca
Pimenta pseudocaryophyllus var. cravo-da-terra, louro,
5 Myrtaceae NAT
pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum chá-da-terra
5 Myrtaceae Eugenia uniflora L. NAT/SD/HL/HG pitanga
1 Myrtaceae Eugenia involucrata DC. NAT cereja do rio grande do sul
1 Myrtaceae Syzygium jambos (L.) Alston (Eugenia jambos) EXOT jambo rosa
1 Myrtaceae Myrciaria trunciflora Berg. NAT/PE/HL/ME HG jabuticaba
Syzygium australe (JC Wendl. ex Link)
2 Myrtaceae EXOT lilly pilly
B. Hyland
20 Proteaceae Grevillea robusta A. Cunn. ex R. Br. EXOT/OR grevilea
1 Phytolaccaceae Gallesia integrifolia (Spreng) Harns. PE/HL/HG pau d’alho
1 Sapindaceae Sapindus saponaria L. NAT/PE ou SD/HL sabão-de-soldado
2 Sapindaceae Litchi chinensis Sonn EXOT lichia
1 Verbenaceae Cytharexyllum myrianthum Cham. NAT/PE ou SD/HL pau-viola
NAT = Nativa; EXOT = Exótica; PI = Pioneira; SE = Secundária; CL = Clímaxes; HL = Heliófita;
ES = Esciófita; HD = Hidrófita; ME = Mesófita; XE = Xerófita; PE = Perene/Perenifólia; SD = Semidecídua;
DC = Decídua/Caducifólio.

2.3 Metodologia

O extrato pirolenhoso (EPL) também é conhecido como ácido, licor pirolenhoso ou vinagre da
madeira. Foi obtido pela carbonização das madeiras de Eucalyptus grandis, carbonizado em forno de tijolo,
conforme o modelo adotado para recuperação dos gases por Suguiura et al. (1998). A temperatura de 80 a
120 ºC na boca da chaminé, foi utilizada para coleta e condensação dos gases voláteis.
Foi determinado o pH do EPL concentrado e na dosagem de 1:100, no aparelho medidor de pH de
bancada MB-10. A granulometria de finos de carvão (FC) utilizado entre 2 a 5 mm incorporado no substrato,
foi o recomendado por Kishimoto (1998).
Para determinar a transparência do extrato pirolenhoso, utilizou-se de uma proveta graduada de
100 mL, adicionando 100 mL de EPL. Debaixo da proveta, colocou-se um papel marcado com um ponto,
conforme o método de Yatagai (1998). O EPL utilizado foi decantado pelo prazo de um ano e seis meses.
Para aplicação do EPL foi utilizado um pulverizador costal manual de 20 L, munido de um bico JD 12.
Na parte aérea das mudas transplantadas foram pulverizadas EPL na concentração de 1:100.

2.4 Plantio

O plantio foi efetuado em 18 de janeiro de 2008, com espaçamento de 3 m x 3 m em “zig-zag”,


a partir da borda e ao longo das vias de acesso à Casa da Reserva da Biosfera e garagem do Instituto
Florestal, em berços de 60 cm de largura x 60 cm de profundidade, priorizando as espécies pioneiras na
borda do plantio.

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NAKAOKA SAKITA, M. et al. Utilização de extrato pirolenhoso (epl) e finos de carvão (fc) na revitalização de áreas com essências florestais. Fase I.

Foi colocado nos berços composto orgânico incorporado com finos de carvão (FC) e extrato
pirolenhoso (EPL) na concentração de 1:100. A retirada das mudas de G. robusta foi efetuada por sangria com
torrão e raiz nua, e após o transplante nos berços, as folhas foram retiradas, uma vez que as alturas das mudas
eram de aproximadamente de 2 m.
Também foi feito o plantio de outras espécies florestais germinadas em canteiros e transplantas em
saco de polietileno “para engorda e fortalecimento” e introduzidas na área do plantio que foram retirados no
momento do transplante (TABELAS 1 e 2).
Foi efetuado o coroamento de 30 cm de cada muda, colocação de cobertura seca ou morta na proteção
da muda e solo pela perda de umidade, tutoramento para as espécies de pequeno porte que foram plantadas
intercaladas entre as mudas de G. robusta. Todas as mudas foram identificadas, representadas e mapeadas
junto a imagens de satélites e ganharam placas de identificação de plástico.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O EPL utilizado no trabalho, obtido pela carbonização da madeira de Eucalyptus grandis,


apresentou coloração amarelo levemente castanho, com odor característico de fumaça, límpido e não
apresentando material em suspensão. O valor de pH medido foi de 2,69 para o extrato concentrado, e na
diluição de 1:100 foi de 3,63.
O valor de pH de 2,69 está em concordância com Saigussa (2000), que menciona a alteração de pH
de acordo com a elevação da temperatura de carbonização. O autor menciona que entre 80 a 100 ºC o pH do
EPL foi de 2,87; entre 100 a 120 ºC foi de 3,95 e de 120 a 150 ºC foi de 4,08.
Quanto à transparência do EPL utilizado, que caracteriza um dos parâmetros para classificar o
extrato de boa qualidade, verificou-se que o ponto marcado no papel colocado debaixo da proveta de 100 mL
com extrato, pode ser visualizado sem dificuldade, demonstrando que o extrato utilizado no experimento
apresentava coloração clara, dentro dos requisitos preconizado pelos autores.
Verificou-se que a aplicação do EPL incorporado com FC e composto orgânico no desenvolvimento
das mudas transplantadas apresentou resultados positivos. Não ocasionaram redução ou efeito negativo,
no desenvolvimento das mudas, como foi verificado nos trabalhos de Lopes et al. (2006), que obtiveram
resultados negativos na utilização do EPL na germinação das sementes de soja, bem como no trabalho de
Barbosa et al. (2006) em cultura de milho que apresentou redução na altura da inserção da espiga. Trabalho de
Hermannn et al. (2006) que efetuaram aplicação de EPL em dois cultivares de cana-de-açúcar, não obtiveram
resultados positivos quanto à produção de massa de colmos.
Já Nakaoka Sakita & Peres (2006), obtiveram resultados positivos na utilização do EPL nas 50
espécies de plantas medicinais e principalmente na recuperação e desenvolvimento de Tropaeolum majus L.
atacada pela lagarta curuquerê-da-couve (Ascia monute orseis).
Após 120 dias, das 23 mudas de G. robusta transplantadas, 10 sofreram com a adaptação,
por serem mudas acima de 2 metros. Houve dúvidas, quanto à sobrevivência de todas as mudas de G. robusta
transplantadas devido ao seu tamanho e raiz exposta. O substrato onde foram transplantadas as outras espécies,
também foram tratadas com EPL incorporado com FC e composto orgânico. Na parte aérea das mudas foram
pulverizadas, ao entardecer, o EPL na concentração de 1:100. Por ser uma época de muita chuva, após 1
semana iniciou-se a brotação de G. robusta, onde foram retiradas as folhas, com exceção das 10 mudas com
altura de 2 metros.
Não se verificou murcha ou definhamento em todas as outras espécies plantadas intercaladas com
a G. robusta. Após 1 semana de transplante, verificou-se que as mudas apresentaram boa adaptação ao local.
As outras espécies que não sobreviveram, além das 10 mudas de G. robusta foram: 1 Bixa orellana (transplante),
2 Garcinia cochichinensis (roçadeira), 1 Cariniana estrellensis (roçadeira), 1 Litchi chinensis (formiga), 1 jequitibá-rosa
(transplante), 1 Anadenanthera macrocarpa (transplante) e 1 Eugenia uniflora (roçadeira).
A adição de composto orgânico incorporado com FC e EPL revitalizou as mudas que estavam
nos sacos de polietileno. Das 110 mudas transplantadas, 17 mudas não sobreviveram: 12 por transplante,

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 117-122, jul. 2008.


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NAKAOKA SAKITA, M. et al. Utilização de extrato pirolenhoso (epl) e finos de carvão (fc) na revitalização de áreas com essências florestais. Fase I.

4 por agressões acidentais das roçadeiras efetuadas na limpeza da área e 1 por ataque de formiga cortadeira.
Todas serão substituídas por novas mudas. Apesar da necessidade de um período maior para certificar o
desenvolvimento das mudas transplantadas, foi observado e constatado sucesso na realização do transplante
e o tratamento com utilização de EPL e FC e uma boa adaptação das espécies, com exceção das mudas de
G. robusta com altura aproximada de 2 metros. Serão efetuadas pulverizações com extrato pirolenhoso após
120 dias, uma vez por mês.

4 CONCLUSÕES

Pelos resultados obtidos pode-se concluir:


• as mudas de G. robusta com altura igual ou maior a 2 metros, não sobreviveram ao transplante;
• a incorporação de finos de carvão (FC) + composto orgânico + extrato pirolenhoso (EPL), utilizado nos
berços para transplante, resultou no fortalecimento e ajudou na fixação e desenvolvimento das mudas;
• o EPL utilizado não provocou redução ou efeito negativo nas mudas transplantadas;
• para obter resultados eficazes, há necessidade de se utilizar extrato obtido com controle de temperatura
de carbonização entre 80 a 120 ºC, como preconiza a norma e respeitar o período de decantação para não
utilizar extrato com alcatrão incorporado;
• há necessidade de se efetuar novas repetições com inclusão de outras espécies e outros parâmetros não
considerados neste trabalho, para confirmação do potencial de utilização do extrato pirolenhoso e finos
de carvão em essências florestais, e
• as áreas do plantio necessitam de monitoramento constante de forma a evitar ataques de formigas cortadeiras
e irrigação durante o período de estiagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 117-122, jul. 2008.


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VARIAÇÃO
SANTOS, F. W.; SEBBENN, GENÉTICA
A. M.; FLORSHEIM, EM CARACTERES
S. M. B. Variação genética em caracteresSILVICULTURAIS
silviculturais em uma população base de Eucalyptus
camaldulensis Dehnh.
EM UMA POPULAÇÃO BASE DE Eucalyptus camaldulensis DEHNH

Fernando Wergles SANTOS*


Alexandre Magno SEBBENN**
Sandra Monteiro Borges FLORSHEIM***

1 INTRODUÇÃO

Diante do rápido aumento da população mundial presenciado nas últimas décadas, torna-se cada
vez mais necessário o desenvolvimento de programas e tecnologias que propiciem o aumento da produção de
madeira de qualidade, visando atender a demanda crescente.
As florestas plantadas com o gênero Eucalyptus merecem destaque no setor florestal brasileiro,
visto que nos últimos anos, a sua silvicultura alcançou alto nível de desenvolvimento tecnológico, e neste
avanço destaca-se o melhoramento genético, que propiciou ganhos de grande magnitude, principalmente na
produtividade volumétrica (Caixeta et al., 2003).
A despeito de todo este avanço, alguns autores consideram que o Eucalyptus encontra-se ainda em
estágios iniciais de melhoramento, de tal forma que as principais modificações genéticas que se seguem ao
período de domesticação ainda não foram realizadas (Grattapaglia, 2004).
Diversas universidades e instituições públicas e privadas do Brasil colaboram de alguma forma com
o melhoramento do gênero Eucalyptus (Resende, 1999). A espécie E. camaldulensis, vêm sendo melhorado
por várias empresas florestais privadas, que via de regra, estão associadas a indústrias de papel e celulose,
de móveis, siderúrgicas, dentre outras.
Os programas de melhoramento de espécies florestais têm como principais objetivos: o aumento
da produtividade, a obtenção da matéria-prima de maior qualidade, a melhoria nas condições adaptativas
das espécies, a tolerância a pragas e doenças, assim como a manutenção da variabilidade genética, requisito
fundamental para a obtenção de ganhos genéticos em longo prazo. No entanto, para a obtenção de ganhos
genéticos ressalta-se a importância do monitoramento da base genética, a fim de evitar perdas excessivas de
variabilidade, o que compromete os objetivos do programa de melhoramento (Mori, 1993).
Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho foi quantificar a variabilidade genética para caracteres
fenotípicos silviculturais em uma população base de Eucalyptus camaldulensis DEHNH.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A população base de E. camaldulensis, proveniente das sementes de 25 árvores matrizes originárias


da região de Katherine River, no estado de Queensland, Austrália, foi instalada em 26/04/1986, na Fazenda
de Ensino, Pesquisa e Extensão da Faculdade de Engenharia, Campus de Ilha Solteira (FEIS/UNESP),
localizada no município de Selvíria – MS.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos completos casualizados, composto de 25
tratamentos (progênies), 60 repetições, totalizando 1.500 indivíduos, sendo que cada parcela foi representada
por uma árvore, no espaçamento de 4 x 4 metros.
Foram avaliadas somente 4 repetições das 60 que compõe o experimento. Os caracteres medidos
foram: a) altura total de plantas; b) diâmetro à altura do peito (DAP); c) volume; d) forma do fuste das árvores,

______
(*) Acadêmico do curso de Agronomia, da Faculdade de Engenharia da Unesp de Ilha Solteira. Bolsista do CNPq. E-mail: fnd.wergles@gmail.com
(**) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: alexandresebbenn@yahoo.com.br
(***) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: sflorsheim@if.sp.gov.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 123-126, jul. 2008.


124

SANTOS, F. W.; SEBBENN, A. M.; FLORSHEIM, S. M. B. Variação genética em caracteres silviculturais em uma população base de Eucalyptus
camaldulensis Dehnh.

sendo esta obtida com base em uma escala de notas de 1 (tortuosidade acentuada) a 5 (perfeitamente reto),
e) altura da bifurcação; e f) brotação de cepa.
As variáveis quantitativas foram analisadas pela metodologia do modelo linear misto
(aditivo univariado)-REML/BLUP, aplicado aos testes de progênies de meios-irmãos, delineamento blocos
ao acaso, uma planta por parcela, um só local e uma única população, seguindo o procedimento proposto por
Resende (2002a):

y = Xb + Za + e

em que: y = vetores de dados; b = vetores dos efeitos de blocos (fixos); a = vetores dos efeitos genéticos
aditivos (aleatórios); e = vetores dos efeitos de erros aleatórios; X, Z = matrizes de incidência para b
e a, respectivamente.
As estimativas de componentes de variância e parâmetros genéticos foram obtidas pelo método
da máxima verossimilhança restrita e melhor predição linear não viciada (REML/BLUP), a partir de dados
desbalanceados, empregando-se o software genético-estatístico SELEGEN-REML/BLUP, desenvolvido por
Resende (2002b). Tais componentes foram utilizados para estimar parâmetros genéticos, como coeficiente de
variação genética, herdabilidades e ganhos na seleção. Também foi estimado o erro associado aos coeficientes de
herdabilidade. Os parâmetros genéticos e erros foram também estimados utilizando o programa SELEGEN.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores de média obtidos foram de 22,85 m para altura de plantas; 9 m para altura de bifurcação;
25,93 cm para o DAP; 3,82 para forma do fuste e 1,19 m³/árvore para volume. Foram detectadas diferenças
significativas entre progênies (teste-F, 1% de probabilidade), para todos os caracteres quantitativos avaliados.
Isso é um indicativo de que existe variabilidade genética na população base, a qual pode ser explorada por
seleção para obtenção de ganhos genéticos, corroborando os resultados obtidos por Paula et al. (2002) estudando
a mesma espécie, e por Kalil Filho et al. (1983), Santos et al. (1990), Silva (1989) e Cornacchia (1993), em seus
estudos sobre outras espécies florestais. O coeficiente de variação experimental (CVexp) para os caracteres
variou de médio a alto. Observou-se que o caráter volume teve os maiores CVexp, com média de 74%, o que
era esperado, pois o caráter é composto basicamente pelo produto das variáveis altura total de plantas e DAP,
e também em função das condições de variabilidade existente entre as matrizes. Tais resultados podem ser
observados na TABELA 1.

TABELA 1 – Estimativas da média [ m̂ ± s(m̂) ], do coeficiente de variação experimental CVexp e teste F (F)
para os caracteres silviculturais: altura total de plantas (m), altura de bifurcação (m), diâmetro
à altura do peito (DAP) (cm), forma do fuste e volume, de uma população base de Eucalyptus
camaldulensis, aos 21 anos, em Selvíria–MS.

Caracteres m̂ ± s(m̂) 1 CVexp (%) F

Altura (m) 22,85 ± 0,16 24,60 2,38**


Altura Bif. (m)3 9,00 ± 0,16 58,81 4,14**
DAP (cm) 25,93 ± 0,24 31,59 3,13**
Forma Fuste 3,82 ± 0,03 27,17 3,43**
Volume (m3/árv.) 1,19 ± 0,03 73,97 2,38**
s(m̂)
(1) : desvio-padrão da média (m); CVexp (%): coeficiente de variação experimental; **: valor significativo
(Pr < 0,01); (3) Altura Bif.: altura de bifurcação das árvores (m).

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 123-126, jul. 2008.


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SANTOS, F. W.; SEBBENN, A. M.; FLORSHEIM, S. M. B. Variação genética em caracteres silviculturais em uma população base de Eucalyptus
camaldulensis Dehnh.

As estimativas dos parâmetros relacionados com a variação genética, encontram-se na TABELA 2.


As estimativas do coeficiente de variação genética individual (CVgi) foram maiores que o coeficiente de
variação genética entre progênies (CVgp), para todos caracteres analisados. O caráter Altura de bifurcação foi
o que apresentou maiores coeficientes de variação genéticos, o que indica uma maior variação genética entre
plantas dentro de progênies do que entre as progênies, em relação aos demais caracteres analisados.

TABELA 2 – Estimativas do coeficiente de variação genética individual e genética de progênies (CVgi e CVgp),
quociente de seleção (CVr), herdabilidade, no sentido restrito, de indivíduo na
2 2
parcela ( ĥ ), herdabilidade no sentido restrito, de média de progênie ( ĥ m ), e acurácia de
seleção (r̂aa), de uma população base de Eucalyptus camaldulensis, aos 21 anos em Selvíria–MS.

Caracteres CVgi (%) CVgp (%) CVr (%) ĥ 2 ĥ 2m r̂aa

Altura (m) 7,46 3,73 0,15 0,09 ± 0,05 0,58 0,76


Altura Bif. (m)1 26,90 13,45 0,23 0,20 ± 0,07 0,76 0,87
DAP (cm) 11,91 5,95 0,19 0,14 ± 0,06 0,68 0,82
Forma Fuste 10,93 5,47 0,20 0,16 ± 0,06 0,71 0,84
Volume (m3/árv.) 22,46 11,23 0,15 0,09 ± 0,05 0,58 0,76

(1) Altura Bif.: altura de bifurcação das árvores (m).

O quociente de seleção, conforme Vencovsky & Barriga (1992), foi relativamente baixo para todos
os caracteres, variando de 0,15 a 0,23, o que evidencia que o controle genético dos caracteres sofre grande
influência ambiental e, portanto, sugere que a seleção possa ser pouco efetiva. Em concordância, o coeficiente de
herdabilidade em nível de plantas individuais no sentido restrito ( ĥ 2 ) foi igualmente baixo para os caracteres de
crescimento Altura total, Volume e DAP (0,09 ± 0,05; 0,09 ± 0,05 e 0,14 ± 0,06, respectivamente),
e medianas para os caracteres Altura de bifurcação e Forma do fuste (0,20 ± 0,07 e 0,16 ± 0,06, respectivamente).
Isto reforça que o controle genético dos caracteres é baixo para os caracteres de crescimento em nível de plantas
individuais e, portanto, que a seleção individual dentro do ensaio possa ser pouco efetiva para a capitalização
de ganhos genéticos. Já as herdabilidades em nível de médias de progênies, também no sentido restrito ( ĥ 2m ),
foram altas para todos os caracteres analisados, o que também foi observado por Paula et al. (2002), sendo o
caráter altura de bifurcação o que apresentou o maior valor (0,76). Tais resultados indicam melhor condição
para seleção com base nas médias de progênies e maiores ganhos nas gerações posteriores, do que para
a seleção individual dentro de progênies e individual dentro do experimento.
Finalmente, a estimativa da acurácia da seleção de progênies (r̂aa), que representa a relação entre
o valor genético verdadeiro e o estimado, foi alta para todos os caracteres analisados, sendo maior para o
caráter Altura de bifurcação (0,87). Segundo Resende (2002a), a acurácia é uma medida que está associada à
precisão na seleção, e é o principal componente do progresso genético que o melhorista pode alterar visando
maximizar o ganho genético.

4 CONCLUSÕES

Existe variação genética significativa entre as progênies da população base de E. camaldulensis,


para todos os caracteres avaliados.
O caráter Altura de bifurcação é o que apresenta maior variação genética, herdabilidades e acurácia seletiva
e, portanto, tem o maior potencial para a seleção dos melhores indivíduos e a capitalização de ganhos genéticos.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 123-126, jul. 2008.


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SANTOS, F. W.; SEBBENN, A. M.; FLORSHEIM, S. M. B. Variação genética em caracteres silviculturais em uma população base de Eucalyptus
camaldulensis Dehnh.

5 AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Mario Luiz Teixeira de Moraes e ao pesquisador Israel Luiz de Lima pelo apoio e
contribuição indispensáveis para o desenvolvimento deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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moleculares. Revista Árvore, Viçosa−MG, v. 27, n. 3, p. 357-363, 2003.
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Ribeirão Preto, v. 3, n. 3, p. 369-379, 2004.
KALIL FILHO, A. N.; PIRES, C. L. S.; FONTES, M. A. Análise do comportamento e estimação de parâmetros
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RESENDE, M. D. V. Melhoramento de essências florestais. In: BORÉM, A. (Ed.). Melhoramento de espécies
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    . Software SELEGEN - REML/BLUP. Colombo: EMBRAPA – CNPF, 2002b. 67 p.
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ROCHA, F. T.; FLORSHEIM, S. M. B.; COUTO, H. T. Z. Variação das dimensões dos elementos anatômicos
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Brasileira de Genética, 1992. 496 p.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 123-126, jul. 2008.


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VARIAÇÃO
TUNG, E. S. C.; FREITAS, GENÉTICA
M. L. M.; FLORSHEIM, S. M.PARA CARACTERES
B. Variação SILVICULTURAIS
genética para caracteres silviculturais e sobrevivência em progênies de
Myracrodruon urundeuva (Engler) Fr. Allem.
E SOBREVIVÊNCIA EM PROGÊNIES DE Myracrodruon urundeuva (Engler) Fr. Allem

Ellen Su Ching TUNG*


Miguel Luiz Menezes FREITAS**
Sandra Monteiro Borges FLORSHEIM***

1 INTRODUÇÃO

O processo de ocupação do Brasil caracterizou-se pela falta de planejamento e conseqüente destruição


dos recursos naturais, particularmente das florestas. Segundo Barbosa (2006), a análise dos problemas
envolvendo a substituição da cobertura florestal natural por áreas agrícolas tem sido preocupante, não só pelos
processos erosivos e redução da fertilidade dos solos agrícolas, mas também pela brutal extinção de espécies
vegetais e animais, verificada nas últimas décadas, e suas interações que são de extrema importância para que
os processos ecológicos continuem a acontecer. A última lista de espécies ameaçadas de extinção publicada
pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Resolução SMA 48/04) apresentou a existência de 1085 espécies
nativas ameaçadas de extinção, sendo 240 delas arbóreas, com algum grau de ameaça.
Dentre as espécies ameaçadas encontra-se a Myracrodruon urundeuva, conhecida popularmente
como aroeira e aroeira-preta. Pertencente à família Anacardiaceae é nativa da caatinga e do cerrado (Carvalho,
1994). Por ser uma espécie que possui madeira de boa qualidade, principalmente quando em contato com o solo,
foi e é muito explorada; madeira muito pesada, de grande resistência mecânica e praticamente imprutescível
(Lorenzi, 2002) tornando-se escassa em todas as áreas de ocorrência. Atualmente encontra-se na lista oficial
das espécies brasileiras ameaçadas de extinção, na categoria vulnerável (Resolução SMA 48/04).
Para uma maior garantia da sobrevivência de populações que estão sendo dizimadas, é necessária
a conservação ex situ, da sua variabilidade genética, como em teste de progênies (Valois et al., 2002).
A estratégia de conservação ex situ objetiva manter amostras representativas de populações para que, após
serem caracterizadas, avaliadas e multiplicadas estejam disponíveis para o melhoramento genético e/ou
pesquisas correlatas (Lleras, 1992).
Segundo Kageyama (1987) e Dvorak et al. (1996), os testes de progênies constituem uma forma
de conservação genética ex situ, sendo a variabilidade restrita ao uso de curto prazo e de utilização imediata,
sem preocupar-se com a evolução e as relações com outras espécies. Os testes de progênies se prestam para
informar a respeito do controle genético de algumas características silviculturais de importância econômica ou
adaptativa através de estimativas de parâmetros genéticos que, segundo Kageyama (1980), obtêm informações
sobre as estratégias alternativas para o melhoramento genético, com os quais permitem conhecer a natureza
da ação gênica envolvida na herança dos caracteres estudados, estabelecendo as bases para a definição dos
programas de melhoramento. Desse modo, procura -se relacionar aspectos da variação genética para caracteres
silviculturais e da qualidade da madeira em progênies de Myracrodruon urundeuva.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O teste de progênies de M. urundeuva foi instalado em dezembro de 1987, na Fazenda de Ensino, Pesquisa
e Extensão da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – FEIS/UNESP, localizada no município de Selvíria–MS.
O delineamento experimental utilizado é o de blocos casualizados com 28 tratamentos (progênies), 3 repetições
e 10 plantas por parcela, na forma linear, no espaçamento de 3,0 x 3,0 metros.
______
(*) Acadêmica do curso de Agronomia, da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira- UNESP. Bolsista CNPq/PIBIC. E-mail: ellen.tung@bol.com.br
(**) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: miguellmfreitas@yahoo.com.br
(***) Co-orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: sflorsheim@iflorestal.sp.gov.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 127-132, jul. 2008.


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TUNG, E. S. C.; FREITAS, M. L. M.; FLORSHEIM, S. M. B. Variação genética para caracteres silviculturais e sobrevivência em progênies de
Myracrodruon urundeuva (Engler) Fr. Allem.

Os caracteres silviculturais avaliados foram: altura (m), mensurada através do Vertex (FIGURA 1),
diâmetro e altura do peito (cm), mensurado através da estimativa média entre duas medidas perpendiculares
realizadas com um paquímetro, porcentagem de sobrevivência e forma do fuste, utilizando-se uma escala
de notas variando de 1 a 5, considerando bifurcação (B) e retidão (R), sendo que a nota final foi dada utilizando-se
da expressão: (Guerra, 2008). As descrições das notas utilizadas são apresentadas nas
FIGURAS 2 e 3.

FIGURA 1 – Hipsômetro Vertex e transponder, instrumento da classe dos hipsômetros, que possibilita a
medição da altura das árvores sem escalas de distâncias horizontais fixas e permite o cálculo
direto de distâncias corrigidas, através do ultra-som.

FIGURA 2 – Escala de notas para Bifurcação, considerando um fuste de 2,20 m: 1: Bifurcação abaixo de 1,30 m
com diâmetro igual ao fuste principal; 2: Bifurcação acima de 1,30 m com diâmetro igual ao fuste
principal; 3: Bifurcação abaixo de 1,30 m com diâmetro inferior ao fuste principal; 4: Bifurcação
acima de 1,30 m com diâmetro inferior ao fuste principal; 5: Sem bifurcação.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 127-132, jul. 2008.


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TUNG, E. S. C.; FREITAS, M. L. M.; FLORSHEIM, S. M. B. Variação genética para caracteres silviculturais e sobrevivência em progênies de
Myracrodruon urundeuva (Engler) Fr. Allem.

FIGURA 3 – Escala de notas para Retidão, considerando um fuste de 2,20 m: 1: Tortuosidade acentuada em
toda extensão; 2: Tortuosidade acentuada abaixo de 1,30 m; 3: Tortuosidade acentuada acima de
1,30 m; 4: Leve tortuosidade em toda extensão; 5: Sem tortuosidade.

As estimativas de componentes de variância e parâmetros genéticos foram obtidas pelo método


REML/BLUP (máxima verossimilhança restrita/melhor predição linear não viciada), empregando-se o software
genético-estatístico SELEGEN-REML/BLUP, desenvolvido por Resende (2002a). As variáveis quantitativas
serão analisadas pela metodologia do modelo linear misto (aditivo univariado) – REML/BLUP, aplicado aos
testes de progênies de meios-irmãos, delineamento blocos ao acaso, várias plantas por parcela, um só local e
uma única população, seguindo o procedimento proposto por Resende (2002b):

y = Xb + Za + Wc + e;
em que: y = vetores de dados;
b = vetores dos efeitos de blocos (fixos);
a = vetores dos efeitos genéticos aditivos (aleatórios);
c = vetores dos efeitos de parcela (aleatórios);
e = vetores dos efeitos de erros aleatórios.
X, Z e W = matrizes de incidência para b, a e c, respectivamente.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise do desenvolvimento silvicultural e sobrevivência de um teste de progênies de M. urundeuva,


aos 20 anos de idade, instalado em Selvíria (MS) estão apresentados na TABELA 1.

TABELA 1 – Estimativas da média ( m̂ ), coeficiente de variação experimental (CVe), teste-F (F) e estimativa
da correlação devida ao ambiente comum da parcela ( Ĉ 2 ) para os caracteres silviculturais altura
total (m), diâmetro à altura do peito (DAP) (cm), forma do fuste e sobrevivência para o teste de
progênies de Myracrodruon urundeuva.

Caracteres m̂ CVe (%) F Ĉ 2


Altura (m) 9,110 11,701 1,309 ns 0,212
DAP (cm) 11,352 18,156 1,338 ns 0,084
Forma 2,282 16,587 1,028 ns
0,065
Sobrevivência (%) 80,8 18,980 1,103 ns 0,057
ns: não significativo.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 127-132, jul. 2008.


130

TUNG, E. S. C.; FREITAS, M. L. M.; FLORSHEIM, S. M. B. Variação genética para caracteres silviculturais e sobrevivência em progênies de
Myracrodruon urundeuva (Engler) Fr. Allem.

A média de altura foi 9,11 m, sendo esse valor inferior quando comparado às médias encontradas
para este caráter por Baleroni (2003), que avaliou este mesmo teste de progênies homogêneo de aroeira aos
14,5 anos, quando o valor foi 9,59 m. A redução do valor da média das alturas aos 20 anos de idade pode estar
relacionada com o número de indivíduos presentes no experimento, uma vez que a sobrevivência que era de
83,21%, agora é de aproximadamente 81%.
A média do DAP aos 20 anos (11,35 cm) foi 14,30% superior em relação à média do DAP aos 14,5 anos
(9,93 cm) encontrado por Baleroni (2003), indicando um acentuado crescimento secundário das progênies neste período.
A forma do fuste apresentou média muito baixa (2,28) indicando que a maioria das árvores apresentou
tronco com bifurcação e tortuosidade acentuada abaixo de 1,30 m. Carvalho (1994) afirma que geralmente a
espécie apresenta forma péssima em plantio, com fuste curto, crescimento simpodial, não formando fuste
principal, e com muitas ramificações mesmo sob espaçamento apertado. Nogueira (1977) cita que aroeira
cultivada a céu aberto tende a bifurcar a cerca de 2-3 metros do solo, não adquirindo forma vertical e se
tornando muito esgalhada, o que prejudica em muito seu aproveitamento. De acordo com Carvalho (1994),
recomenda-se uma intervenção artificial, através de desbrota e desrama, para a formação de um fuste principal
ou fazer um plantio misto associado com espécie pioneira de crescimento rápido, como Trema micrantha
(candiúba), para forçar a melhoria da forma do fuste da aroeira.
A precisão experimental revelada pelo CVe foi média, variando de 11,70% a 18,98 % para os
caracteres altura total e sobrevivência, respectivamente, sendo que o coeficiente da sobrevivência foi o que
apresentou o maior valor.
As estimativas para o Teste F indicaram que não houve diferença significativa entre as progênies,
devido estas já estarem estabilizadas no campo, ou seja, não competem mais entre si por luz e nutrientes.
Em relação à correlação devida ao ambiente comum da parcela, o caráter altura foi o que apresentou
maior valor (0,212), quando comparado aos demais caracteres. Os valores de Ĉ 2 para DAP, forma e sobrevivência
variaram de 0,057 a 0,084, evidenciando que a maior variação interna dentro das parcelas ocorreu em função
dos efeitos ambientais nesses caracteres.
As estimativas dos parâmetros relacionados com a variação genética como os coeficientes de
herdabilidade, individual, no sentido restrito ( ĥa2 ), da média de progênies ( ĥm2 ), e aditiva dentro de parcela
( ĥd2 ), de variação genética em nível de indivíduo (CVgi) e de parcela (CVgp) e, de variação relativa (CVr) e
da acurácia (Ac), são apresentados na TABELA 2 para os caracteres altura total , diâmetro a altura do peito
(DAP), forma do fuste e sobrevivência.

TABELA 2 – Estimativas dos coeficientes de herdabilidade individual no sentido restrito ( ĥ a2 ), da


média de progênies ( ĥ 2m ) e, aditiva dentro de parcela ( ĥ d2 ); de variação genética em nível
de indivíduo (CVgi) e de parcela (CVgp); de variação relativa (CVr) e da acurácia (Ac) para os
caracteres silviculturais do teste de progênies de M. urundeuva.

Caracteres h a2 h m2 h d2 CVgi CVgp CVr Ac

Altura (m) 0,118 0,236 0,117 7,506 3,753 0,321 0,486


DAP (cm) 0,078 0,253 0,065 12,187 6,093 0,336 0,503
Forma 0,006 0,027 0,005 3,197 1,599 0,096 0,165
Sobrevivência 0,021 0,094 0,017 7,045 3,522 0,186 0,306

Observou-se que as melhores estimativas de herdabilidade estão na média de progênies ( ĥm2 ),


variando de 0,027 a 0,253 para forma do fuste e DAP, respectivamente. Os valores encontrados foram menores
em relação aos de Baleroni (2003) para o mesmo teste de progênies de aroeira aos 14,5 anos, que foram de 0,31
para a altura e 0,04 para o DAP. O mesmo ocorre em Freitas et al. (2006) que encontrou, para uma população
homogênea de aroeira de 4 anos proveniente de Selvíria, uma herdabilidade média de progênies de 0,36 para
forma, valor superior em relação ao encontrado no presente trabalho.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 127-132, jul. 2008.


131

TUNG, E. S. C.; FREITAS, M. L. M.; FLORSHEIM, S. M. B. Variação genética para caracteres silviculturais e sobrevivência em progênies de
Myracrodruon urundeuva (Engler) Fr. Allem.

Os coeficientes de herdabilidade individual, no sentido restrito, variaram de 0,006 a 0,118, para


forma do fuste e altura, respectivamente. Os valores de tais coeficientes encontrados por Fonseca (2001) para
duas populações de aroeira (Seridó−RN e Paulo de Faria−SP) no 2º ano de idade em Selvíria (MS) foram 0,28
para altura e 0,41 para forma do fuste, sendo assim superiores em relação aos encontrados no presente trabalho.
De acordo com Sebbenn et al. (1998) cabe ressaltar que, como esse coeficiente não é propriedade de um caráter
em uma determinada população, é normal variar entre espécies, entre populações da mesma espécie,
entre características na mesma população e entre idades para mesmas características e população.
Nos coeficientes analisados, as estimativas do coeficiente de variação genética em nível de indivíduo
(CVgi), para todos os caracteres avaliados, foram mais altos, variando entre 3,197 a 12,197, para forma do fuste
e DAP, respectivamente.
O teste de progênies apresentou, para a maioria dos caracteres, estimativas boas de acurácia,
que representam a relação entre o valor genético verdadeiro e o estimado, variando de 0,306 até 0,503,
para sobrevivência e DAP, respectivamente, e ruim para a forma cuja estimativa foi de 0,165.

4 CONCLUSÕES

Os resultados do teste de progênies de M. urundeuva indicam que dentre os caracteres avaliados,


o DAP é o mais indicado para a seleção dos melhores indivíduos, pois é o caráter que apresentou os maiores
valores estimados de coeficiente de variação genética, herdabilidades e acurácia.
Não foi encontrada uma expressiva variabilidade genética para os caracteres analisados, pois as
árvores já alcançaram estágio de maturidade. Deste modo, recomenda-se o desbaste com a finalidade de pressão
de seleção, possibilitando assim um desenvolvimento suficiente para expressar todo seu potencial genético.

5 AGRADECIMENTOS

A todos que contribuíram para o meu trabalho. Especialmente Cambuim, Manoel e Alonso
funcionários da fazenda que me auxiliaram nas mensurações, Fernando Wergles Santos, Daniela Silvia
de Oliveira Canuto, Janete Motta da Silva, Prof. Mário Luiz Teixeira de Moraes, Israel Luiz de Lima,
pela paciência e contribuições ao trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VARIAÇÕES
LUCCAS, NOS
N. I.; ANTUNES, A. Z. PADRÕES DE ATIVIDADE
Variações nos padrões EM PSITACÍDEOS
de atividade em psitacídeos (Aves: Psittacidae) no (AVES: PSITTACIDAE)
Parque Estadual Alberto Löfgren – SP.
NO PARQUE ESTADUAL ALBERTO LÖFGREn _ SP*

Nara Inacio LUCCAS**


Alexsander Zamorano ANTUNES***

1 INTRODUÇÃO

Os psitacídeos englobam perto de 400 espécies, distribuídas principalmente nas regiões tropicais e
subtropicais do globo (Del Hoyo et al., 1997). Apresentam dieta especializada, baseada em frutos e sementes.
O tamanho corpóreo pode ser considerado grande quando comparado ao da maioria das aves, sendo muito
suscetíveis às variações na disponibilidade de recursos. Muitas espécies estão ameaçadas de extinção pela
destruição de habitats e também pela captura (Snyder et al., 2000). Os psitacídeos geralmente se reproduzem
em cavidades de troncos de árvores, recurso naturalmente limitado, e seus filhotes apresentam desenvolvimento
relativamente longo quando comparado a outros grupos de aves. Por possuírem, em geral, grande capacidade
de vôo, a presença de psitacídeos numa dada área pode estar relacionada à utilização de um recurso específico,
presente naquele local, e não necessariamente significar que aquela área tem condições de manter
populações residentes.
Devido a essa boa capacidade de vôo e por se deslocarem em grupos grandes, estimativas de densidade
de psitacídeos numa dada área são muito difíceis de serem obtidas, fazendo com que os pesquisadores utilizem
métodos que permitem estimativas apenas de abundância relativa (Nunes & Betini, 2002).
Estes geralmente consistem na contagem de bandos em um dado período de tempo e no tamanho
médio de grupo para a espécie estudada (Pizo et al., 1997). Ambas as medidas podem variar sazonalmente
e também ao longo do dia. Essas variações podem estar relacionadas à temperatura e a fatores fisiológicos e
comportamentais, e espécies distintas podem apresentar padrões de atividade diferenciados (Blake, 1992; Pizo
et al., 1997).
Considerando que as espécies de psitacídeos podem apresentar alterações nos seus padrões de
atividade em decorrência da estrutura da vegetação e da disponibilidade de recursos, os objetivos deste trabalho
são: 1) analisar a variação diária e sazonal do número de grupos contatados e do tamanho médio de grupo para
espécies de psitacídeos no Parque Estadual Alberto Löfgren - PEAL e 2) comparar os resultados obtidos aos
apresentados por Pizo et al. (1997) para o Parque Estadual Intervales.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido na área administrativa do Instituto Florestal, Parque Estadual Alberto
Löfgren - PEAL, São Paulo-SP (23º 27’ 43” S, 46º 37’ 59” W; 723 m de altitude), entre agosto de 2007 e
março de 2008. A vegetação nessa área é constituída, basicamente, por reflorestamento com espécies vegetais
nativas e exóticas, na maioria das vezes, apresentando um sub-bosque bem desenvolvido. O PEAL com 174 ha
é contíguo ao Parque Estadual da Cantareira, que ocupa uma área de 7.900 ha. As duas áreas são consideradas
Áreas Importantes para a Conservação das Aves (Bencke et al., 2006).

______
(*) O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil.
(**) Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, da Faculdade Centro Universitário São Camilo. Bolsista CNPq/PIBIC. E-mail: narailu@yahoo.com.br
(***) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP. E-mail: alexsanderantunes@ig.com

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LUCCAS, N. I.; ANTUNES, A. Z. Variações nos padrões de atividade em psitacídeos (Aves: Psittacidae) no Parque Estadual Alberto Löfgren – SP.

Foram pesquisadas as seguintes espécies: tiriba-de-testa-vermelha Pyrrhura frontalis (Vieillot,


1817); periquito-rico Brotogeris tirica (Gmelin, 1788); tuim-de-asa-azul Forpus xanthopterygius (Spix, 1824)
e maitaca-verde Pionus maximiliani (Kuhl, 1820).
Percorreram-se as trilhas existentes e ao se detectar, por vocalização ou visualização, grupos de
psitacídeos, se anotou a espécie, o tamanho do grupo e o horário. Foram considerados tanto grupos em vôo
quanto pousados. Os trajetos eram conduzidos três vezes por semana, entre 06:00 e 17:59 h, com duração de
quatro horas por dia. Para auxiliar na identificação foram utilizados binóculos Bushnell 8x40 e guia de campo
(Develey & Endrigo, 2004).
Para analisar a variação sazonal foi utilizada a média de encontros de grupos por hora do dia para
a estação chuvosa (setembro a março) e para a estação seca (agosto). Os dados de tamanho de grupo foram
convertidos em logaritmos (Log 10) e, com a finalidade de verificar variações significativas ao longo do dia,
analisados através de ANOVA seguida por teste de Tukey, ou pelo teste de Kruskal-Wallis (H) quando a
distribuição dos dados não era normal. Os resultados foram considerados significativos para P < 0,05.
Para Pyrrhura frontalis e Brotogeris tirica se compararam os resultados obtidos aos apresentados
por Pizo et al. (1997), para essas mesmas espécies no Parque Estadual Intervales (24º 16’ S, 48º 25’ W),
Ribeirão Grande – SP.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram efetuadas 141 horas de observação, registrando-se 333 contatos com grupos de periquito-rico
Brotogeris tirica, 183 grupos de maitaca Pionus maximiliani e 134 grupos de tiriba-de-testa-vermelha Pyrrhura
frontalis. Apenas 11 grupos de tuim Forpus xanthopterygius foram detectados, impossibilitando análises sobre
o comportamento desta espécie.
Foi detectada uma variação no número de grupos contatados ao longo do dia para as três espécies
estudadas (FIGURA 1). Esta foi mais acentuada durante a estação seca para duas espécies, tiriba e maitaca
(TABELA 1; FIGURA 2), e pode ser resultante de uma menor disponibilidade de recursos alimentares nesta época
(Sick, 1997). Em busca destes recursos os grupos se deslocariam mais do que na estação chuvosa, tornando-se
mais detectáveis. Este padrão é contrário ao observado por Pizo et al. (1997), que encontraram maior variação
nos registros durante a estação chuvosa. Estes autores sugeriram que o fator responsável por essa variação seria a
temperatura ambiente mais alta durante a estação chuvosa em sua área de estudo, e que muitos indivíduos ficariam
inativos durante os horários mais quentes do dia. Assim, foram observados padrões diferentes entre as espécies
quanto ao número médio de indivíduos detectados por período do dia (FIGURA 3). Entretanto, combinando
os dados de ambas as estações, as variações de detecção observadas não foram significativas estatisticamente:
periquito-rico (F = 1,48; P = 0,14); tiriba (F = 0,81; P = 0,62) e maitaca (H = 10,53; P = 0,39).
Analisando a média do número de indivíduos por período do dia e por estação (FIGURA 4),
constata-se que o periquito-rico Brotogeris tirica sofre alterações mais acentuadas na quantidade de indivíduos
durante a estação chuvosa. Para a maitaca Pionus maximiliani notam-se maiores picos na estação da seca.
Já a tiriba Pyrrhura frontalis, possui variações mais acentuadas nas duas estações em relação às outras duas
espécies estudadas, porém na estação chuvosa observam-se variações com maiores amplitudes.
Os registros de maior número de grupos e de grupos maiores no início da manhã e final da tarde,
tanto para o periquito-rico quanto para a tiriba, podem estar relacionados à existência de dormitórios no
parque ou no seu entorno imediato (Sick, 1997). Provavelmente, devido ao seu maior porte, as maitacas
podem percorrer distâncias maiores ao longo do dia, o que possibilita que grupos pernoitem em locais
distantes das áreas de forrageio.

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LUCCAS, N. I.; ANTUNES, A. Z. Variações nos padrões de atividade em psitacídeos (Aves: Psittacidae) no Parque Estadual Alberto Löfgren – SP.

FIGURA 1 _ Número médio de grupos detectados por período do dia para os psitacídeos estudados no Parque
Estadual Alberto Löfgren, São Paulo _ SP.

TABELA 1 _ Total de grupos registrados por estação, média e amplitude, e número de indivíduos registrados
por estação, média e amplitude, para os psitacídeos estudados no Parque Estadual Alberto
Löfgren, São Paulo _ SP.

Espécie Estação Total de Grupos Número de indivíduos

Pyrrhura frontalis Seca 2,20 (1-6) 3,28 (1-12)

Chuvosa 1,82 (1-5) 4,04 (1-14)

Brotogeris tirica Seca 3,06 (1-11) 2,47 (1-20)

Chuvosa 3,14 (1-10) 3,01 (1-16)

Pionus maximiliani Seca 2,17 (1-7) 2,16 (1-8)

Chuvosa 1,97 (1-6) 2,22 (1-13)

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LUCCAS, N. I.; ANTUNES, A. Z. Variações nos padrões de atividade em psitacídeos (Aves: Psittacidae) no Parque Estadual Alberto Löfgren – SP.

FIGURA 2 _ Número médio de grupos detectados por período do dia e por estação, para os psitacídeos estudados no Parque Estadual Alberto
Löfgren, São Paulo _ SP.

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LUCCAS, N. I.; ANTUNES, A. Z. Variações nos padrões de atividade em psitacídeos (Aves: Psittacidae) no Parque Estadual Alberto Löfgren – SP.

FIGURA 3 _ Número médio de indivíduos detectados por período do dia para os psitacídeos estudados no Parque Estadual Alberto Löfgren,
São Paulo _ SP.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 133-139, jul. 2008.


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LUCCAS, N. I.; ANTUNES, A. Z. Variações nos padrões de atividade em psitacídeos (Aves: Psittacidae) no Parque Estadual Alberto Löfgren – SP.

FIGURA 4 _ Número médio de indivíduos detectados por período do dia e por estação, para os psitacídeos estudados no Parque Estadual Alberto
Löfgren, São Paulo _ SP.

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LUCCAS, N. I.; ANTUNES, A. Z. Variações nos padrões de atividade em psitacídeos (Aves: Psittacidae) no Parque Estadual Alberto Löfgren – SP.

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

Em relação às variações sazonais no número de indivíduos, não se pode definir ou até mesmo
discutir padrões pelo fato da amostragem durante a estação seca ainda estar incompleta. Com o aumento
do esforço amostral é possível que alguns dos padrões obtidos se alterem, mas no momento conclui-se que
as espécies estudadas diferem na sua detecção tanto ao longo do dia quanto sazonalmente. Tanto diferenças
comportamentais intrínsecas quanto respostas diferenciadas à variação na oferta de recursos podem ser
responsáveis por estas particularidades, merecendo pesquisas mais aprofundadas. Quanto aos padrões
comportamentais distintos observados entre áreas, para tiriba Pyrrhura frontalis e para o periquito-rico
Brotogeris tirica, estes podem resultar tanto de diferenças na composição e estrutura da vegetação, que se
refletem na disponibilidade de recursos, quanto de diferenças climáticas entre as localidades, que influenciam
o comportamento dos indivíduos.

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A VEGETAÇÃO
SANTOS, R. L. P. dos; POLISEL, DO PARQUE
R. T.; IVANAUSKAS, ESTADUAL
N. M. A vegetação DE VASSUNUNGA:
do Parque Estadual de Vassununga: lacunas do conhecimento e áreas
prioritárias para pesquisa.
LACUNAS DO CONHECIMENTO E ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA PESQUISA

Rochelle Lima Pereira dos SANTOS*


Rodrigo Trassi POLISEL**
Natália Macedo IVANAUSKAS***

1 INTRODUÇÃO

Os levantamentos secundários de vegetação são componentes-chave na execução de planos de


manejo, pois é atribuída a esse tema a etapa de mapeamento e caracterização inicial da paisagem e que resulta na
definição dos locais de amostragem para as equipes de flora e fauna (Keel et al., 2003). Estas informações podem
ser utilizadas para priorizar sítios e definir estratégias de manejo em uma Unidade de Conservação, abordando
zonas potenciais para os diferentes usos definidos pelo Sistema Nacional de Unidade de Conservação - SNUC
(pesquisa, educação ambiental e turismo ecológico) e de áreas com características relevantes para proteção.
Como parte das atividades propostas para a elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual de
Vassununga, foi realizado o levantamento dos dados florísticos preexistentes para o município de Santa Rita do
Passa Quatro, a fim de conhecer as lacunas de conhecimento e tornar possível o direcionamento das pesquisas
a serem realizadas no Parque.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O Parque Estadual de Vassununga - PEV foi criado em 26 de outubro de 1970 (Decreto Estadual
nº 52.546), em sua maior parte sobre terrenos da antiga Usina Açucareira Vassununga (Clauset, 1999).
Localiza-se no município de Santa Rita do Passa Quatro e possui área total de 2069,24 ha, dividida em seis
glebas descontínuas: 1) capão da Várzea (12,10 ha); 2) Capetinga Oeste (327,83 ha); 3) Capetinga Leste
(236,56 ha); 4) Praxedes (152,75 ha); 5) Maravilha (127,08 ha) e 6) Pé de Gigante (1212,92 ha).
O PEV está inserido na zona de contato entre a Cuesta Basáltica, com altitudes de 700 a 780 m, e a
Depressão Periférica (Zona Mogi Guaçu), que apresenta altitudes 540 a 650 m (Ruggiero et al., 2006).
O clima na região é caracterizado como temperado, com verão chuvoso e inverno seco (Cwa de
Koeppen). O período chuvoso estende-se de outubro a março, sendo o período seco de abril a setembro.
Na região, a precipitação média anual é de 1478 mm, com temperaturas médias mensais que variam de 17,6 ºC
no mês mais frio (julho) a 23,5 ºC no mês mais quente (fevereiro).
Registros em herbários e estudos científicos foram utilizados como fonte de referências para
a compilação dos dados sobre a flora do parque e arredores. Os registros em herbários foram obtidos a
partir da consulta à base de dados SpeciesLink (http://splink.cria.org.br, acessado em agosto de 2007) e
SinBiota (http://sinbiota.cria.org.br, acessado em agosto de 2007). Foram considerados apenas os materiais
que mencionassem em algum dos campos (e.g., localidade e notas) que a coleta havia sido realizada no
município de Santa Rita do Passa Quatro. Quanto aos estudos científicos, foram considerados apenas os
realizados no nível de comunidade (levantamentos florísticos e fitossociológicos), desenvolvidos no PEV e
áreas de entorno, provenientes das seguintes fontes: a) projetos cadastrados na Comissão Técnico-Científica -

______
(*) Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, da Universidade São Judas Tadeu. Bolsista FUNDAP. E-mail: solechel@yahoo.com.br
(**) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(***) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 141-146, jul. 2008.


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SANTOS, R. L. P. dos; POLISEL, R. T.; IVANAUSKAS, N. M. A vegetação do Parque Estadual de Vassununga: lacunas do conhecimento e áreas
prioritárias para pesquisa.

COTEC do Instituto Florestal; b) publicações técnicas e científicas disponíveis nas bibliotecas das principais
Universidades do Estado de São Paulo, nos centros e institutos de pesquisa e em bases de dados disponíveis
na internet (BDT, Web of Science e outros); c) dados não publicados disponíveis em dissertações de Mestrado
e teses de Doutorado.
As coletas georreferenciadas presentes no PEV e áreas de entorno, oriundas desses dados,
foram padronizadas de acordo com o sistema APG II, baseado em Souza & Lorenzi (2007), e espacializadas
numa base cartográfica contendo os limites do Parque, por meio do software ArcView GIS 3.2. A partir desse
mapa e dos trabalhos publicados sobre as diferentes formações vegetais do PEV, foram produzidos os mapas
de lacunas de conhecimento e de áreas prioritárias para inventários botânicos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Doze herbários apresentaram exsicatas de material coletado no PEV, sendo estes o Herbário Dom
Bento Pickel, do Instituto Florestal do Estado de São Paulo (SPSF), Herbário de São José do Rio Preto (HSJRP),
Xiloteca Calvino Mainieri (BCTw), Herbário da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESA),
Herbário da Universidade Estadual de Londrina (FUEL), Herbário do Instituto Agronômico de Campinas
(IAC), Herbário Dimitri Sucre Benjamin RJ (JBRJ_RB), The New York Botanical Garden − Brazilian Records
(NYBG_BR), Coleção de Fanerógamas do Herbário do Estado “Maria Eneyda P. Kaufmann Fidalgo” (SP),
Herbário do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (SPF), Herbário da Universidade Estadual
de Campinas (UEC) e Herbário do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UPCB).
Foram obtidos 1.120 registros, que corresponderam a 222 espécies botânicas, tendo sido
desconsideradas aquelas identificadas apenas no nível de gênero ou família. Do total de registros,
apenas 265 (24%) estavam georreferenciados, sendo estes provenientes dos herbários UEC, NYGR, SP, SPF e
SPSF (FIGURA 1). Mesmo esses registros apresentaram problemas: espécies com registro de coleta no interior
do PEV, verificada pelas observações de coleta, tiveram a plotagem das coordenadas geográficas no entorno
do Parque. Este erro parece ser comum nas coletas botânicas, cuja origem pode estar no erro da anotação/
digitação da coordenada, na padronização do GPS (informação de datum e zona) ou mesmo na coleta das
coordenadas fora do ponto da amostragem, em função da maior facilidade da obtenção do sinal de satélite
em áreas abertas.
Quanto ao levantamento bibliográfico, foram encontradas nove referências relacionadas ao tema
vegetação, resumidas na TABELA 1. A compilação florística oriunda desses trabalhos resultou numa listagem
com 684 espécies.
Após a união dos dados bibliográficos e de coleções científicas, obteve-se uma lista final com
768 espécies, pertencentes a 121 famílias botânicas. A contribuição das diferentes fontes de dados para o
conhecimento da flora do PEV é apresentada na FIGURA 2.
As coletas botânicas realizadas no Parque concentraram-se na borda dos fragmentos, principalmente
na gleba Pé-de-Gigante (FIGURA 1), que possuí vegetação de cerrado. Apesar de terem sido compilados
estudos realizados nas áreas de Floresta Estacional Semidecidual em outras glebas do PEV (e.g. Praxedes,
Maravilha, Capetinga Leste e Oeste), a falta de material testemunho desses trabalhos, depositado em coleções
científicas; mostra que ou o pesquisador não depositou integralmente seus materiais ou as coleções não
disponibilizaram seu acervo digital na base de dados do SpeciesLink, conforme indicado na FIGURA 3A.
Com base no grau de conhecimento atual, foram então indicadas as áreas prioritárias para inventários botânicos,
a serem consideradas nas linhas de ações para o Plano de Manejo do PEV (FIGURA 3B).

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SANTOS, R. L. P. dos; POLISEL, R. T.; IVANAUSKAS, N. M. A vegetação do Parque Estadual de Vassununga: lacunas do conhecimento e áreas
prioritárias para pesquisa.

FIGURA 1 _ Mapa de coleta botânica no PEV, no qual os pontos indicam áreas de coleta de material botânico
depositados nas coleções científicas (herbários) ou via base de dados (SinBiota).

TABELA 1 _ Descritores dos levantamentos florísticos e/ou fitossociológicos realizados no interior do Parque
Estadual de Vassununga.

Cod. – Código; Lat. – latitude; Long. – longitude; Alt. – altitude (m); Met. – método; P – parcelas; Q – quadrantes; C – coletas em
trilhas; DAP – diâmetro à 1,30 m do solo; N – número de indivíduos; S – número de espécies; H’ – índice de diversidade de Shannon;
J – equabilidade; Ni – dado não informado; (–) dado não se aplica a levantamentos florísticos.

Autor Lat. Long. Alt. Met. Área/Pontos DAP N S H’ J


Batalha & Mantovani (2005) 21º 36’ 38’’ 47º 36’ 39’’ Ni C − − − 497 − −
Bertoni et al. (1988) Ni Ni 640 P 8.800 m2 ≥ 10 cm 698 73 3,6 Ni
Tibiriçá et al. (2006) Ni Ni Ni C − − − 120 − −
Rodrigues (2006) Ni Ni Ni C − − − 78 − −
Vieira et al. (1989) 21º 41’ 00” 47º 34’ 37” 590 P 17.600 m 2
≥ 10 cm 1.812 81 3,14 0,834
Martins (1991) Ni Ni Ni Q 250 pontos ≥ 4,78 1.000 92 3,63 Ni
Colli et al. (2004a) 21º 41’ 00” 47º 34’ 37” Ni C − − − 34 − −
Colli et al. (2004b) 21º 36’ 39” 47º 37’ 03” 712 C − − − 15 − −
Weiser & Godoy (2001) 21º 43’ 47º 35’ 600 C − − 428 141 − −

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SANTOS, R. L. P. dos; POLISEL, R. T.; IVANAUSKAS, N. M. A vegetação do Parque Estadual de Vassununga: lacunas do conhecimento e áreas
prioritárias para pesquisa.

FIGURA 2 _ Contribuição das diferentes fontes de dados para a listagem florística do PEV. (IFF: Inventário
Florístico e Fitossociológico, SinBiota: Sistema de Informação do Biota e demais fontes: siglas
de coleções científicas de herbários).

FIGURA 3 _ Mapas elaborados para o Plano de Manejo do Parque Estadual de Vassununga. A. Grau de
conhecimento botânico. B. Áreas prioritárias para realização de inventários florísticos.

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SANTOS, R. L. P. dos; POLISEL, R. T.; IVANAUSKAS, N. M. A vegetação do Parque Estadual de Vassununga: lacunas do conhecimento e áreas
prioritárias para pesquisa.

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

As principais fontes de informações sobre a composição florística das glebas do Parque Estadual de
Vassununga são os trabalhos científicos publicados.
O material registrado em coleções esta muito aquém do conhecimento existente, demonstrando que
não há material testemunho dos levantamentos ou o material não é depositado em coleções oficiais.
Há um forte desequilíbrio no conhecimento florístico entre as glebas, que deve ser observado na
priorização de pesquisas sobre o assunto nesta Unidade de conservação.

5 AGRADECIMENTOS

À Fundação do Desenvolvimento Administrativo - FUNDAP pela bolsa concedida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATALHA, M. A.; MANTOVANI, W. M. Alguns aspectos das comunidades vegetais. In: PIVELLO, V. R.;
VARANDA, E. M. (Org.). O cerrado Pé-de-Gigante: ecologia e conservação – Parque Estadual de Vassununga.
São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, 2005. 312 p.
BERTONI, J. E. A. et al. Composição florística e estrutura do Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do
Passa Quatro, SP – Gleba Praxedes. Bol. Técn. IF, São Paulo, v. 42, p. 149-170, 1988.
CLAUSET, L. R. Paisagem paulista: áreas protegidas. São Paulo: Empresa das Artes, 1999. 185 p.
COLLI, A. M. T. et al. Pteridófitas das glebas Capetinga Leste e Capetinga Oeste do Parque Estadual de
Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP), Brasil. Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 16, n. 1, p. 25-30, 2004a.
    . Pteridófitas do Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP), Brasil. Gleba Pé-de-
Gigante. Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 16, n. 2, p. 121-127, 2004b.
Keel, S.; Sayre, R.; Sedaghatkish, G. Levantamentos da vegetação e espécies de plantas. In: SAYRE,
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MARTINS, F. R. Estrutura de uma floresta mesófila. Campinas: Editora da Unicamp, 1991. 246 p.
RODRIGUES, R. R. (Coord.). Diversificação e regionalização de coleta de sementes de espécies arbóreas
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RUGGIERO, P. G. C. et al. Relação entre solo, vegetação e topografia em área de cerrado (Parque Estadual
de Vassununga, SP): como se expressa em mapeamentos? Acta Botanica Brasilica, São Paulo, v. 20, n. 2,
p. 383-394, 2006.
SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de
Angiospermas da flora brasileira, baseado em APG II. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2005. 640 p.
TIBIRIÇÁ, Y. J. A.; COELHO, L. F. M.; MOURA, L. C. Florística de lianas em um fragmento de floresta
estacional semidecidual, Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro, SP, Brasil. Acta Botanica
Brasilica, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 339-346, 2006.
VIEIRA, G. M. L. et al. Composição florística e estrutura fitossociológica da vegetação arbórea do Parque
Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP). II – Gleba Capetinga Oeste. Rev. Inst. Flor.,
São Paulo, v. 1, n. 1, p. 153-159, 1989.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 141-146, jul. 2008.


146

SANTOS, R. L. P. dos; POLISEL, R. T.; IVANAUSKAS, N. M. A vegetação do Parque Estadual de Vassununga: lacunas do conhecimento e áreas
prioritárias para pesquisa.

WEISER,V. L; GODOY, S. A. P. Florística em um trecho de cerrado strictu sensu na ARIE – cerrado Pé-de-Gigante,
Santa Rita do Passa Quatro, SP. Acta Botanica Brasilica, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 201-212, 2001.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 141-146, jul. 2008.


147

DONATO, C. et al. Características do deflúvio de uma microbacia experimental com Mata Atlântica, Cunha _ SP.

CIÊNCIAS EXATAS
E DA TERRA

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CARACTERÍSTICAS
DONATO, C. et al. Características do deflúvioDO DEFLÚVIO
de uma DE UMA
microbacia experimental Atlântica, Cunha _EXPERIMENTAL
MICROBACIA
com Mata SP.
COM MATA ATLÂNTICA, CUNHA _ SP

Cíntia DONATO1
Maurício RANZINI2
Valdir de CICCO3
Francisco Carlos Soriano ARCOVA3
Carla Daniela CÂMARA3
João Batista Amaro dos SANTOS4

1 INTRODUÇÃO

Os processos hidrológicos em microbacias recobertas com florestas vêm sendo estudados desde
o século XIX, com o registro do primeiro estudo em 1850 na França e na seqüência em outros países
(Andréassian, 2004). O experimento implantado nas montanhas do Estado do Colorado, EUA, na região de
Wagon Wheel Gap, de 1910 a 1926, destaca-se por ser o primeiro a utilizar a metodologia de microbacias
pareadas (Bates & Henry, 1928). Em nosso país o Instituto Florestal de São Paulo, órgão da Secretaria de
Estado do Meio Ambiente, desenvolve desde o final da década de 70 pesquisas hidrológicas em microbacias
hidrográficas com Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), no Laboratório de Hidrologia Florestal Eng.
Agr. Walter Emmerich - LHFWE, no Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Cunha, município de Cunha/SP.
Três microbacias experimentais (denominadas A, B e D) são monitoradas continuamente, com medições das
precipitações pluviométricas e do deflúvio (Cicco, 2004).
O deflúvio de uma microbacia pode ser considerado como o produto final da interação da água da
chuva com características climáticas, fisiográficas e o uso do solo. É composto por dois processos principais:
o escoamento direto, que é o volume de água que deixa a microbacia durante e imediatamente após a chuva;
e o escoamento de base, que alimenta o curso d’água através da água subterrânea.
A representação gráfica das vazões escoadas ao longo do tempo em um curso d’água é denominada
de hidrograma e, a partir dele, podem ser obtidos o deflúvio total, a sua distribuição sazonal, o escoamento
diário, o pico de vazão, o deflúvio mínimo e a freqüência de várias taxas de fluxos (Hewlett, 1982).
De acordo com Chang (1982), uma outra forma de se analisar o deflúvio é através da curva de
duração de fluxo, a qual permite calcular o percentual de tempo, onde as descargas diárias permanecem em
um determinado intervalo de valores ou excedem seu limite superior. Segundo este autor, os deflúvios tendem
a uma reta quando são plotados num gráfico monologarítmico. A forma e a inclinação da curva refletem
as características hidrológicas da microbacia. Assim, uma inclinação acentuada reflete o predomínio do
escoamento direto no fluxo total da microbacia. Por outro lado, uma curva com uma inclinação suave revela
uma contribuição preponderante do escoamento de base.
O presente trabalho teve como escopo aprofundar os conhecimentos dos processos hidrológicos da
microbacia A, a menos estudada das três microbacias experimentais do LHFWE, através da análise do regime
do deflúvio, de curvas de duração de fluxo diário, de características do escoamento direto e do pico de vazão.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A microbacia A, com área de 37,5 ha, localiza-se nas cabeceiras do rio Paraibuna, um dos formadores
do rio Paraíba do Sul. Possui elevações variando de 1.175 m a 1.030 m. A declividade média é de 18º 48’,
seu perímetro é de 2.800 m, a largura média é de 350,5 m e o comprimento do canal principal é de 1.070 m.
______
(1) Acadêmica do curso de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo - USP. Bolsista PIBIC. E-mail: tin_donato@hotmail.com
(2) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(3) Co-orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(4) Colaborador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.

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DONATO, C. et al. Características do deflúvio de uma microbacia experimental com Mata Atlântica, Cunha _ SP.

Para se obter as curvas de duração de fluxo diário foram utilizados os dados do período de setembro
de 2001 a outubro de 2006. Utilizando-se o método descrito em Chang (1982), foram plotados em papel
monologarítmico os valores de deflúvio nas ordenadas, contra o valor percentual de tempo correspondente
no eixo das abscissas. Os dados diários foram agrupados em classes de intervalos, variando do menor para
o maior. O número de vezes que os deflúvios foram enquadrados em cada uma das classes foi computado e
somado; o valor final da menor classe se igualou ao número total de dias do período. Dividindo-se o valor
acumulado em cada classe pelo número total de dias do período, obteve-se o percentual de tempo em que o
deflúvio diário iguala ou excede o limite superior da classe.
A determinação do escoamento direto é um processo muito trabalhoso, pois exige a tabulação de
todos os hidrogramas de um determinado período de tempo. Por essa razão, selecionou-se o ano hídrico de
2006 (setembro de 2005 a outubro de 2006), pois, de acordo com Donato et al. (2007), pode ser considerado o
mais representativo do período estudado (setembro de 2001 a outubro de 2006) para a microbacia A.
De posse das cartas que contêm os registros de chuva e nível de água do vertedouro, procedeu-se a
separação manual dos hidrogramas, conforme o procedimento apresentado em Japan International Cooperation
Agency - JICA (1986). Dessa forma, todos os hidrogramas foram plotados em papel monologarítmico para que
o volume e a duração do escoamento direto fossem obtidos. Calculou-se o volume do escoamento direto através
da diferença entre os valores do escoamento total e do escoamento de base para cada evento de chuva.
As taxas de pico de vazão, referentes ao ano hídrico de 2006, foram analisadas por intermédio de
curvas de freqüência relativa acumulada para as estações seca e chuvosa, definidas a partir da descarga máxima
instantânea, em litros por segundo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Curvas de Duração de Fluxo do Deflúvio Diário

A curva de duração de fluxo do deflúvio diário da microbacia A para o período de 5 anos hídricos
(FIGURA 1a) mostra que, para 90% do tempo, o deflúvio foi inferior a 5,5 mm. Para fluxos superiores a este
valor a curva apresenta uma inclinação bastante acentuada, que, de acordo Chang (1982), denota uma maior
contribuição do escoamento direto no deflúvio diário.
A contribuição do escoamento de base para o deflúvio diário durante o período seco (FIGURA 1b) foi
maior quando comparada com a contribuição do período úmido (FIGURA 1c). No período seco, cerca de 91%
do tempo de todo o fluxo correspondeu ao escoamento de base e apenas 9% do tempo deveu-se ao escoamento
direto na microbacia A. Já no período úmido, o escoamento direto aumentou, passando a representar 13% do
tempo. Um resumo das principais características das curvas de duração de fluxo é apresentado na TABELA 1.

FIGURA 1 _ Curvas de duração de fluxo do deflúvio diário da microbacia A, Cunha – SP, para o período total
(setembro de 2001 a outubro de 2006) (a), período seco (b) e período úmido (c).

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DONATO, C. et al. Características do deflúvio de uma microbacia experimental com Mata Atlântica, Cunha _ SP.

TABELA 1 _ Valores característicos das curvas de duração de fluxo do deflúvio diário da microbacia A, Cunha _ SP,
período de setembro de 2001 a outubro de 2006.

Deflúvio diário
Período Médio Mediano Máximo Mínimo
mm
Seco 2,48 2,12 17,76 1,08
Úmido 3,29 2,78 33,40 0,97
Total 2,89 2,38 33,40 0,97

O deflúvio médio diário para o período seco foi de 2,48 mm, equivalendo a 64,2% do tempo de
escoamento. O deflúvio mediano para o mesmo período registrou 2,12 mm, correspondendo a 50% do tempo
de fluxo. Para o período úmido, a média do deflúvio diário foi de 3,29 mm, correspondendo a 84,0% do tempo
de escoamento, com uma mediana igual a 2,78 mm.
Arcova (1996), estudando duas microbacias próximas a área de estudo, com superfície e vegetação
semelhantes, encontrou valores para o escoamento médio diário de 4,0 e 4,3 mm para as microbacias B e D,
respectivamente. Esses fluxos mais altos, quando comparados com a microbacia A (2,89 mm), deveram-se,
dentre outros fatores, ao regime pluviométrico distinto entre os dois períodos estudados e, conseqüentemente,
às taxas de evapotranspiração.
Enquanto para o período de outubro de 1986 a setembro de 1992 a precipitação média anual foi de
2.013 mm para a microbacia B e de 2.159 mm para a microbacia D (Arcova, 1996), na microbacia A, para o
período de outubro de 2001 a setembro de 2006, a precipitação média foi de 1.784 mm (Donato et al., 2007).
Por outro lado, as perdas evaporativas foram superiores na microbacia A, da ordem de 698 mm anuais,
contra 540 e 604 mm para as microbacias B e D, respectivamente.
Assim, o menor índice pluviométrico, associado à maior perda evaporativa, proporcionou à microbacia
A menor quantidade de água armazenada no solo e, portanto, menor deflúvio médio diário.

3.2 Escoamento Direto

O fator de resposta médio da microbacia A, estimado de 90 hidrogramas para o ano hídrico de 2006,
foi de 0,05. Ou seja, 5,1% da precipitação anual deixa a microbacia pelo escoamento direto. Em comparação,
os fatores de resposta médios nas microbacias B e D foram de 23% e 12%, respectivamente (Arcova, 1996).
As FIGURAS 2a e 2b contêm os hidrogramas da microbacia A gerados por precipitações ocorridas
nos dias 9 de fevereiro de 2006 e 8 de abril de 2006, respectivamente.

FIGURA 2 _ Hidrogramas da microbacia A, Cunha – SP, ocorridos nos dias 9 de fevereiro de 2006 (a) e
8 de abril de 2006 (b).

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DONATO, C. et al. Características do deflúvio de uma microbacia experimental com Mata Atlântica, Cunha _ SP.

Os hidrogramas apresentaram uma elevação imediata do pico de vazão em função das chuvas e o
retorno rápido das vazões nos níveis registrados no início dos eventos, não ultrapassando 6 horas após o início
dos hidrogramas.
A chuva ocorrida no dia 09/02/06, num total de 28,5 mm, proporcionou um escoamento direto de 2,7 mm.
Para o evento do dia 08/04/06, precipitação de 19,5 mm, gerou escoamento direto de 3,2 mm. A razão entre
o escoamento direto e o escoamento total para o hidrograma do dia 09/02/06 foi de 0,76. Para o dia 08/04/06
o valor deste coeficiente foi de 0,63. Já o quociente entre o escoamento direto e a precipitação para os dois
eventos foram 0,10 e 0,16, respectivamente. Esses resultados permitem inferir que, durante os eventos hídricos,
uma elevada proporção do deflúvio total deixa a microbacia como escoamento direto.
Por outro lado, a relação percentual entre o volume do escoamento direto e a precipitação que o
gerou mostra que a maior parte desse volume não ultrapassa 10%, mesmo para as precipitações mais elevadas
(FIGURA 3). Esta resposta hidrológica é parecida com aquela encontrada por Arcova (1996) para a microbacia D.
No entanto, ambas diferem da microbacia B, onde inúmeros eventos possuem percentuais do escoamento
direto em relação à precipitação, variando entre 30% a 60% (Arcova, 1996).

FIGURA 3 _ Relação percentual entre o volume do escoamento direto e a precipitação da microbacia A, Cunha – SP,
período de setembro de 2005 a outubro de 2006.

Entre outubro de 2005 e setembro de 2006 não houve chuva cujo montante individual fosse superior
a 30 mm (TABELA 2).

TABELA 2 _ Distribuição de classes, freqüência e freqüência relativa das precipitações dos eventos que geraram
os hidrogramas na microbacia A, Cunha – SP, período de setembro de 2005 a outubro de 2006.

Período seco Período úmido


Classe (mm)
Freqüência Freq. relativa Freqüência Freq. relativa
0 − 30 24 0,96 62 0,95
30 − 60 1 0,04 3 0,05

A microbacia encontra-se normalmente com maiores teores de umidade do solo nas épocas de chuva
que no restante do ano (TABELA 3). Por exemplo, para 16% dos hidrogramas ocorridos na estação seca,
não houve chuva nos cinco dias que antecederam os episódios. Por outro lado, para apenas 5% dos eventos na
estação úmida não ocorreram chuvas nos cinco dias precedentes aos hidrogramas.

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DONATO, C. et al. Características do deflúvio de uma microbacia experimental com Mata Atlântica, Cunha _ SP.

TABELA 3 _ Distribuição de classes, freqüência e freqüência relativa das precipitações que antecederam em
5 dias os eventos selecionados para a análise dos hidrogramas gerados na microbacia A, Cunha – SP.
Período de setembro de 2005 a outubro de 2006.

Período seco Período úmido


Classe (mm)
Freqüência Freq. relativa
Freqüência Freq. relativa
* 4 0,16 3 0,05
0 − 20 13 0,52 9 0,14
20 − 40 7 0,28 17 0,26
40 − 60 1 0,04 15 0,23
60 − 80 12 0,18
80 − 100 4 0,06
100 − 120 4 0,06
120 − 140 1 0,02
(*) Não houve precipitação nos cinco dias antecedentes à geração do hidrograma.

3.3 Pico de Vazão

Nas FIGURAS 4a e 4b estão representadas as curvas de freqüência relativa acumulada das taxas de
pico de vazão do ano hídrico 2006 para os períodos seco e úmido, respectivamente. Os picos de vazão não
ultrapassaram 40 L/s para 50% de todos os hidrogramas.

FIGURA 4 _ Curvas de freqüência relativa acumulada das taxas de pico de vazão da microbacia A, Cunha _ SP,
para os períodos seco (a) e úmido (b) (setembro de 2005 a outubro de 2006).

Durante o período seco, os picos de vazão não ultrapassaram 55,9 L/s para 92% do tempo.
Na realidade somente um pico ultrapassou este valor, registrando 312,3 L/s no dia 08/04/2006. Em contrapartida,
no período úmido, a freqüência de picos de vazão foi maior, sendo que em 32% do tempo foram observados
valores superiores a 55,9 L/s e, em 17% do tempo (7 eventos), superiores a 100 L/s.

4 CONCLUSÕES

Com base nos resultados, a microbacia A apresenta um regime de descarga bastante regular, com a
produção de água do período úmido muito próxima à do período seco. O escoamento de base é o principal
componente do deflúvio, sendo pequena a contribuição do escoamento direto. Em função dessas características,
os valores de pico de vazão apresentam-se baixos.

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DONATO, C. et al. Características do deflúvio de uma microbacia experimental com Mata Atlântica, Cunha _ SP.

5 AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, pela bolsa de iniciação


científica concedida ao primeiro autor.

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v. 291, p. 1-27, 2004.
ARCOVA, F. C. S. Balanço hídrico, características do deflúvio e calibragem de duas microbacias
hidrográficas na Serra do Mar, SP. 1996. 155 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba.
BATES, C. G.; HENRY, A. J. Forest and streamflow experiment at Wagon Wheel Gap, Colorado. Monthly
Weather Review Supplement, v. 30, p. 1-79, 1928.
CICCO, V. Análise de séries temporais hidrológicas em microbacia com cobertura vegetal natural de
Mata Atlântica, Cunha-SP. 2004. 149 f. Dissertação (Mestrado em Geografia Física) - Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
CHANG, M. Laboratory notes forest hydrology. Nacogdoches: School of Forestry, Stephen F. Austin State
University, 1982. 203 p.
DONATO, C. F. et al. Balanço de massa em microbacia experimental com Mata Atlântica, na Serra do
Mar, Cunha, SP. São Paulo: Instituto Florestal, 2007. 15 p. (Relatório final do Projeto PIBIC-IF).
HEWLETT, J. D. Principles of forest hydrology. Athens: The University of Georgia Press, 1982. 183 p.
JAPAN INTERNATIONAL COOPERATION AGENCY - JICA. Synthetic report of the Japanese technical
cooperation project for the forestry research in São Paulo, Brazil. [S.l.], 1986. 555 p.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 149-154, jul. 2008.


155

SOUZA, E.DETERMINAÇÃO
M. de; BATISTA, M. A. B.;DA CAPACIDADE
HONDA, DEdaINFILTRAÇÃO
E. A. Determinação EM
capacidade de infiltração SOLO
em solo no município de Assis _ SP.
DE CERRADO
de cerrado
NO MUNICÍPIO DE ASSIS _ SP1

Estela Mara de SOUZA2


Maria Alice Borges BATISTA3
Eliane Akiko HONDA4

1 INTRODUÇÃO

O uso do solo pelo homem, tanto para a agricultura, como para a pecuária, quando mal planejado
e executado leva a alterações nas características físicas do solo. A compactação é uma alteração que leva
à diminuição da porosidade (Bertoni & Lombardi Neto, 1999), que ocorre em áreas de pastagens com o
pisoteio intensivo de animais ou também em locais com grande fluxo de pessoas e automóveis, dificultando a
penetração da água.
A infiltração é o fenômeno de penetração da água nas camadas de solo próximas a superfície do terreno
(Martins, 1976). Assim, durante uma chuva ou irrigação, parte da água infiltra nos horizontes superficiais do
perfil de forma vertical, de forma que umidifica a área até que esta sature. Outra parte da água tende a escorrer
pela superfície, configurando o escoamento superficial.
Um dos fatores mais importantes a influenciar a taxa de infiltração da água no solo é a cobertura
vegetal. A cobertura vegetal protege a superfície do solo contra a compactação causada pelas gotas de chuva,
estimula o estabelecimento de uma camada de matéria orgânica em decomposição, que favorece a ação
escavadora de insetos e animais (Martins, 1976), aumenta a rugosidade do solo, o que dificulta a formação de
escoamento superficial (Kitahara et al., 1995).
O pastoreio intensivo leva ao rareamento da vegetação da superfície do solo, o que pode dar início
ao processo acelerado de erosão (Bertoni & Lombardi Neto, 1999). De fato, no oeste paulista, grandes áreas
foram submetidas ao pastoreio intensivo, estando hoje sujeitas à erosão acelerada.
O advento da mentalidade conservacionista e a conscientização de que os recursos naturais são
limitados, vem estimulando a recuperação destas áreas degradadas. Um dos métodos mais simples e efetivos
é a limitação à entrada de gado em áreas degradadas, pois segundo Abe et al. (1997), a simples retirada
dos fatores de degradação faz com que haja recuperação espontânea da vegetação em locais cujo clima se
caracteriza pela alta temperatura e umidade.
Portanto, o objetivo desta pesquisa foi verificar a efetividade do método de exclusão do gado na
recuperação do solo, através da análise da capacidade de infiltração da água no solo sob condição saturada,
após dois anos de interrupção de pastoreio.

2 MATERIAL E MÉTODO

A área de estudo está localizada na Floresta Estadual Assis, São Paulo, entre as coordenadas geográficas
de 22º 35’ 30” e 22º 35’ 39” S, e 50º 24’ 51” e 50º 25’ 07” W (FIGURA 1). A vegetação original desta área
era o cerradão (savana florestada), com a ocorrência de um solo de característica arenosa (LATOSSOLO
VERMELHO Distrófico Típico).

______
(1) Parte do Projeto “Avaliação da disponibilidade de recursos hídricos no manancial de abastecimento do município de Assis”, financiado pelo FEHIDRO.
(2) Acadêmica do curso de Geografia, da Universidade Estadual Paulista - UNESP. Colaborador Voluntário. E-mail: souza.estelinha@gmail.com
(3) Acadêmica do curso de Geografia, da Universidade Estadual Paulista - UNESP. Colaborador Voluntário. E-mail: lice_borges@yahoo.com.br
(4) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: eahonda@gmail.com

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 155-159, jul. 2008.


156

SOUZA, E. M. de; BATISTA, M. A. B.; HONDA, E. A. Determinação da capacidade de infiltração em solo de cerrado no município de Assis _ SP.

FIGURA 1 _ Mapa da Floresta Estadual de Assis com localização da área de estudo, Assis _ SP.

Em uma área de seis hectares, utilizada há mais de 20 anos para pastoreio, foram instaladas 20
parcelas com 100 m² cada, sendo dez abertas, com a presença de gado entre 1,5 a 3 cabeças por hectare,
e dez fechadas (FIGURA 2), para a exclusão do gado e regeneração da mata nativa. A instalação das parcelas
ocorreu no ano de 2006 e, na ocasião da coleta de dados, a exclusão de gado completava dois anos.
Foram dois, portanto, os tratamentos estudados, com dez repetições cada. O delineamento experimental foi
em blocos sistematizados.

FIGURA 2 _ Parcela para estudo de recuperação do solo, cercada há dois anos, Assis _ SP.

Dentro de cada parcela foi realizado um ensaio utilizando o infiltrômetro de anel único com aplicação
de água por inundação (FIGURA 3). Os infiltrômetros foram instalados diretamente no solo à profundidade de
20 cm, ficando 20 cm expostos. Na parte exposta do aro foi adicionada água e a leitura do nível foi realizada
diretamente em régua graduada acoplada ao infiltrômetro em intervalo de dez minutos. Esta operação foi
repetida até obtenção de valores constantes e durante pelo menos uma hora após a estabilização da leitura.
Com a estabilização da leitura, considerou-se que foi atingido a capacidade de infiltração máxima sob condição
saturada. Esse valor foi multiplicado por seis para cálculo da capacidade de infiltração máxima horária,
sob condição saturada (doravante, infiltração).

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SOUZA, E. M. de; BATISTA, M. A. B.; HONDA, E. A. Determinação da capacidade de infiltração em solo de cerrado no município de Assis _ SP.

FIGURA 3 _ Infiltrômetro de anel único (ao centro) e equipamentos utilizados para a sua instalação e manuseio.

No QUADRO 1 estão descritas as parcelas de 1 a 10 com os seus respectivos tratamentos (aberta ou


fechada), as datas de coleta e as condições de chuva antecedentes, que fornecem indicação sobre a umidade do
solo na ocasião da coleta.

QUADRO 1 _ Descrição das parcelas e respectivas datas de coletas, com descrição das condições de clima na
ocasião da coleta.

Descrição das parcelas Data de coleta Condições de clima


Aberta
1 15/01/08 63,5 mm de chuva nos 6 dias anteriores
Fechada
Aberta
2 25/01/08 Sem chuva com mais de 1 mm h-1 nos 3 dias anteriores
Fechada
Aberta
3 07/02/08 Sem chuva nos 8 dias antecedentes
Fechada
Aberta 25/01/08 Sem chuva com mais de 1 mm h-1 nos 3 dias anteriores
4
Fechada 31/01/08 44,6 mm de chuva nos 3 dias anteriores
Aberta 07/02/08 Sem chuva nos 8 dias anteriores
5
Fechada 08/02/08 7,4 mm de chuva no dia anterior
Aberta 31/01/08
6 44,6 mm de chuva nos 3 dias anteriores
Fechada 31/01/08
Aberta 08/02/08
7 7,4 mm de chuva no dia anterior
Fechada 08/02/08
Aberta 09/02/08
8 8,7 mm de chuva nos 2 dias anteriores
Fechada 09/02/08
Aberta 10/02/08 Sem chuva no dia anterior
9
Fechada 09/02/08 8,7 mm de chuva nos 2 dias anteriores
Aberta 10/02/08
10 Sem chuva no dia anterior
Fechada 10/02/08

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 155-159, jul. 2008.


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SOUZA, E. M. de; BATISTA, M. A. B.; HONDA, E. A. Determinação da capacidade de infiltração em solo de cerrado no município de Assis _ SP.

Para avaliar a efetividade do tratamento e permitir comparações entre a área de cerrado utilizada
como pastagem daquela que está em fase de regeneração, foi aplicado o teste estatístico análise de
variância de fator único. Os dados climáticos do período de estudo foram obtidos do Instituto Agronômico
de Campinas - IAC (2008).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dois padrões de comportamento de variação da velocidade de infiltração foram verificados.


No primeiro padrão, os valores de infiltração diminuíram em função do tempo até atingirem valores
relativamente constantes após a 15ª medição. Este comportamento foi verificado nas parcelas fechadas de 1 a
7 e nas parcelas abertas 2 a 6, tratando-se de curvas típicas de decréscimo de capacidade de infiltração do solo
em função do tempo, descrita por Horton, que ocorre quando o ensaio de infiltração tem início sem que o solo
esteja saturado, visto que a estabilização ocorre na ocasião da saturação, em concordância com o descrito por
Martins (1976).
No segundo padrão, os valores de infiltração foram constantes durante todo o ensaio. Este comportamento
foi verificado nas parcelas fechadas de 8 a 10, e na parcela aberta 1.
As condições de chuva dos dias que antecederam as coletas foram variadas (QUADRO 1), o que
provavelmente influenciou as condições de umidade do solo no início dos ensaios. Entretanto, não houve
padrão de comportamento definido em função das condições de clima dos dias anteriores.
A distribuição dos resultados seguiu padrão normal (teste de Shapiro-Wilk), com maior número
de dados concentrados nos quartis inferiores em ambos os tratamentos, notadamente nas parcelas abertas.
A amplitude dos dados foi maior nas parcelas fechadas, onde os menores valores se igualam aos menores
valores das parcelas abertas (FIGURA 4).

FIGURA 4 _ Boxplot com mediana, distribuição de quartis e valores máximo e mínimo de capacidade de
infiltração sob condição saturada das parcelas com pastoreio (aberta) e em regeneração (fechada)
em região de cerrado.

O valor médio da capacidade de infiltração foi maior nas parcelas fechadas, com valor de 364 mm h-1,
contra 248 mm h-1 nas parcelas com pastagem, sendo que a diferença foi considerada estatisticamente
significante (F = 6,23 e P = 0,0225). Segundo a classificação de percolação da Soil Survey Division Staff (1993),

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SOUZA, E. M. de; BATISTA, M. A. B.; HONDA, E. A. Determinação da capacidade de infiltração em solo de cerrado no município de Assis _ SP.

os valores obtidos são enquadrados em classes de velocidade “rápida” e “moderada a rápida”, respectivamente.
Estes valores demonstram a alta capacidade de infiltração neste solo que, mesmo após longo tempo sendo
pastoreado, continua a manter padrões elevados.
É necessário ressaltar, porém, que a quantificação da infiltração ainda não tem um método
universalmente estabelecido, e o método do anel individual tende a superestimar os valores de infiltração (Pott,
2001). Entretanto, é um método válido quando se objetiva analisar a variação espacial e comparação entre dois
ou mais tratamentos.

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

Os resultados obtidos indicam que o solo estudado (LATOSSOLO VERMELHO Distrófico Típico)
submetido a pastoreio por mais de 20 anos apresentou capacidade de infiltração da ordem de 230 a 270 mm
hora-1, valor este considerado “moderado a rápido”. A capacidade de infiltração da água no solo aumentou
de forma estatisticamente significativa após dois anos de exclusão do gado, de maneira a possibilitar o
enquadramento na categoria “rápida”. O aumento de capacidade de infiltração não ocorre de forma uniforme:
enquanto algumas parcelas, ao final de dois anos demonstram valores altos, acima de 400 mm hora-1,
outras apresentam valores pouco superiores a 350 mm hora-1.

5 AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Floresta Estadual de Assis - FEA do Instituto Florestal da Secretaria do Meio


Ambiente do Estado de São Paulo pela oportunidade de realizar o estágio, pois foi uma experiência bastante
profícua e enriquecedora.
Aos funcionários da FEA, pela paciência e atenção durante o período de realização do estágio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABE, T. et al. A general situation of gully erosion in São Paulo State. Journal of the Japan Society of Erosion
Control Engineering, Tokyo, v. 50, n. 1, p. 72-75, 1997.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1999. 355 p.
INSTITUTO AGRONÔMICO DE CAMPINAS - IAC. CIIAGRO OnLINE. Balanço hídrico diário: Assis
no período de 01/01/2008 até 12/02/2008. Disponível em: <http://www.ciiagro.sp.gov.br/ciiagroonline>.
Acesso em: 12 fev. 2008.
KITAHARA, H. et al. Effects of vegetation for surface erosion. In: INTERNATIONAL SABO SYMPOSIUM,
1995, Tokyo. Proceedings... Tokyo: Japan Sabo Society, 1995. p. 355-360.
MARTINS, J. A. Infiltração. In: PINTO, N. L. S. et al. Hidrologia básica. São Paulo: Edgar Blücher,
1976. p. 44-45.
POTT, A. C. Determinação da velocidade de infiltração básica da água no solo por meio de infiltrômetros
de aspersão, de pressão e de tensão, em três solos do estado de São Paulo. 2001. 77 f. Dissertação (Mestrado
em Agricultura Tropical e Subtropical) - Instituto Agronômico de Campinas, Campinas.
SOIL SURVEY DIVISION STAFF. Soil survey manual. Washington, D.C.: U.S. Department of Agriculture,
Soil Conservation Service, 1993. (Handbook, 18).

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DIAGNÓSTICO
SOUZA, L. F. S. de et al. Diagnóstico DAdoHIDROLOGIA
da hidrologia superficial SUPERFICIAL
Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus como contribuição à elaboração de seu
plano de manejo.
DO PARQUE ESTADUAL DAS FURNAS DO BOM JESUS
COMO CONTRIBUIÇÃO À ELABORAÇÃO DE SEU PLANO DE MANEJO

Lívia Fagnani Sanchez de SOUZA1


Francisco Carlos Soriano ARCOVA2
Maurício RANZINI3
Valdir de CICCO3
João Batista Amaro dos SANTOS4
Alexandre VIOTTO5

1 INTRODUÇÃO

A região onde está localizado o Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus - PEFBJ destaca-se pela
importância quanto aos recursos hídricos (rios Sapucaí, do Carmo e Grande). O principal deles é o rio Grande,
que nasce na Serra da Mantiqueira nas divisas dos estados de São Paulo e Minas Gerais, a aproximadamente
1.500 m de altitude com uma extensão de 1.050 km, desaguando no rio Paraná (Castro et al., 2004).
No rio Grande existem quatro reservatórios: Estreito, Jaguara, Igarapava e Volta Grande. O primeiro
utilizado para a regularização de vazões e geração hidrelétrica, é operado por Furnas S.A.; os demais,
gerenciados pelas Centrais Elétricas de Minas Gerais - CEMIG, são usados apenas para geração de energia
elétrica. Também no rio do Carmo, existe o reservatório de Buritis e, no rio Sapucaí, os reservatórios do
Esmeril, Dourados, São Joaquim e Monjolinho, todos para geração hidrelétrica (Conselho Estadual de Recursos
Hídricos - CRH, 2006).
Apesar da relevância dos recursos hídricos há poucos estudos quantitativos e qualitativos dos corpos
d’água dessa região. Assim, este artigo apresenta uma contribuição para o diagnóstico da situação das águas
superficiais do PEFBJ para subsidiar o seu Plano de Manejo.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O PEFBJ está inserido na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica


do Sapucaí Mirim/Grande (UGRHI-8). Aproximadamente 90% de sua superfície está inserida na microbacia
do córrego Pedregulho, que tem área de 3.747 ha. O restante pertence à microbacia do ribeirão Bom Jesus,
que drena 9.246 ha. A maior parte das nascentes dos cursos d’água localiza-se fora do parque. Os usos do solo
predominantes nas duas microbacias são as pastagens e o cultivo de café.
As unidades geológicas presentes na região do PEFBJ são as rochas pertencentes ao Grupo São
Bento (rochas sedimentares das formações Pirambóia e Botucatu e as rochas ígneas basálticas da Formação
Serra Geral), as rochas quartizíticas do Grupo Canastra, os sedimentos correlatos à Formação Itaqueri e os
sedimentos quaternários à rede de drenagem (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí-Mirim/Grande -
CBH-SMG, 2000).
O diagnóstico das águas superficiais do PEFBJ foi realizado a partir de duas campanhas a campo,
empreendidas em agosto e setembro de 2006. Na primeira campanha foram selecionados 24 pontos de
amostragem nos limites do parque em cursos d’água que adentram a unidade, e três pontos no interior das
furnas. Na segunda campanha outros 24 pontos foram amostrados no interior da Unidade de Conservação
(FIGURA 1). Nesses locais foram realizadas análises de qualidade da água e medições de vazão.
______
(1) Acadêmica do curso de Geografia, do Centro Universitário FIEO. Bolsista FUNDAP. E-mail: li_2908@hotmail.com
(2) Orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(3) Co-orientador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(4) Colaborador. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil.
(5) Colaborador. Geógrafo.

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SOUZA, L. F. S. de et al. Diagnóstico da hidrologia superficial do Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus como contribuição à elaboração de seu
plano de manejo.

FIGURA 1 _ Pontos de medição de vazão e variáveis de qualidade da água no Parque Estadual das Furnas do
Bom Jesus, Pedregulho, SP.

Quanto aos aspectos de qualidade da água foram realizadas análises de variáveis físico-químicas.
Medições da turbidez, da cor aparente, da condutividade elétrica, do pH, do teor de oxigênio dissolvido e da
temperatura do ar e da água foram feitas com espectrofotômetro DR 2000/HACH, condutivímetro portátil
SC82/YOKOGAWA, pHmetro portátil Q-400H/QUIMIS e medidor portátil de oxigênio dissolvido Q-408P/
QUIMIS, respectivamente.
A vazão instantânea dos córregos foi determinada usando-se o método “área − velocidade”, por meio
de medições da seção transversal molhada e da velocidade média da água, com molinetes JO51/NAKAASA
e VO-401A/KENEK. Para os cursos d’água de menor porte, a descarga foi obtida pela medição do volume
de água com proveta, para um intervalo de tempo predefinido. Para a estimativa do potencial de produção
hídrica do PEFBJ, a partir das vazões instantâneas determinadas em agosto e setembro de 2006, calcularam-se
os fluxos diários para esse período. Há que se considerar que as vazões de alguns tributários que nascem no
interior do parque e de poucos afluentes do córrego Pedregulho que nascem fora de seus limites não puderam
ser medidas devido a dificuldades de acesso.
Para se conhecer o regime pluviométrico da região do parque foram utilizados dados diários de
chuvas obtidos em pluviômetro do Instituto Agronômico de Campinas - IAC, localizado na Fazenda Chapadão,
próxima à Unidade de Conservação. A série histórica, consistida a partir de dados de outro pluviômetro instalado
junto à estação de trens da Ferrovia Mogiana, no mesmo município, contempla o período de 1905 a 2005.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 161-165, jul. 2008.


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SOUZA, L. F. S. de et al. Diagnóstico da hidrologia superficial do Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus como contribuição à elaboração de seu
plano de manejo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Precipitação Pluviométrica

A precipitação média anual da série histórica foi de 1.753,6 mm, que pode ser considerada elevada,
se comparada à média estadual de 1.360 mm do período de 1941 a 1970 (Departamento de Águas e Energia
Elétrica - DAEE, 1972). Os maiores valores ocorreram nos anos de 1991 (2.517 mm) e 1992 (2.557 mm).
Os anos de 1983, 1989 e 1995 também apresentaram elevados índices de precipitação: 2.421 mm, 2.350 mm e
2.374 mm, respectivamente. As menores médias anuais ocorreram nos anos de 1908 (1.156 mm), 1915 (1.064 mm)
e 1963 (1.024 mm).
Quanto à época de ocorrência das chuvas, podem ser caracterizados dois períodos distintos:
um período chuvoso, que se estende de outubro a março e representa 85% do total anual, e um período seco,
compreendendo os meses de abril a setembro (FIGURA 2). Janeiro foi o mês com o maior índice pluviométrico,
com valor médio de 335 mm, enquanto julho foi o mês com menor média pluviométrica, apenas 16,3 mm.

FIGURA 2 _ Distribuição da precipitação pluviométrica média mensal ao longo da série histórica de 1905 a
2005 próximo ao Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus, Pedregulho, SP.

3.2 Vazão

As vazões de entrada de água do PEFBJ, determinadas nos pontos P1 a P5, P8 e P10 a P21,
oscilaram numa faixa entre 0,2 L/s a 141,9 L/s. Este último valor refere-se à vazão do ribeirão Bom Jesus,
localizado na cascata Grande (P17). Com exceção desta vazão, todas as demais foram inferiores a 10,9 L/s.
No interior das furnas foram medidas vazões de tributários do córrego Pedregulho,
representados pelos pontos P23 a P25, P27 a P45 e P48, cuja variação foi de 0,02 L/s a 27,3 L/s. Com exceção
deste último valor (ponto P30) e do ponto P33, com vazão de 13,5 L/s, todas foram inferiores a 5,1 L/s.
O volume total medido de água que adentra o parque é de 211,5 L/s e o produzido pelas nascentes
nas furnas é de 78,8 L/s, totalizando 290,3 L/s. Já na saída, no ribeirão Bom Jesus (P9), foi registrada uma
vazão de 620,5 L/s. Nota-se uma diferença de 330,2 L/s, atribuída às vazões não quantificadas de alguns
tributários que nascem no interior do parque em virtude das dificuldades de acesso aos corpos d’água.
Pela mesma razão, muitos afluentes do córrego Pedregulho oriundos de fora dos limites do PEFBJ não tiveram
a descarga avaliada.

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SOUZA, L. F. S. de et al. Diagnóstico da hidrologia superficial do Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus como contribuição à elaboração de seu
plano de manejo.

3.3 Produção de Água

A fim de se ter uma noção do potencial de produção de água do Parque Estadual Furnas do Bom
Jesus, utilizou-se a vazão instantânea medida na saída da Unidade de Conservação (P9) no período seco,
isto é, 620,5 L/s. O volume d’água corresponde a, aproximadamente, 53.600 m3/dia. Considerando este como
um valor médio, a microbacia pode produzir anualmente cerca de 19.500.000 m3 de água.
Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - SABESP (2007) o consumo
per capita médio de água no município de São Paulo é de 200 litros/habitante/dia. Assim, o PEFBJ com uma
produção de água de 53.600 m3/dia, pode suprir pelo menos 268 mil pessoas. Portanto, o parque possui como
um dos principais atributos o serviço de produção de água para abastecimento público e geração de energia
elétrica, tendo em vista que o ribeirão Bom Jesus é afluente do rio Grande.

3.4 Qualidade da Água

A condutividade elétrica oscilou numa ampla faixa; entre 6,9 µS.cm 1 e 135,6 µS.cm 1. O maior valor
foi registrado no ponto P35, no interior das furnas, em um tributário do córrego Pedregulho. A Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB (2004) preconiza que níveis de condutividade superiores a
100 µS.cm-1 podem indicar ambientes impactados. Conforme observado em campo, as atividades antrópicas
que podem estar influenciando a qualidade da água neste local são a compactação e a erosão do solo de uma
estrada não pavimentada, utilizada para manutenção de uma linha de transmissão de energia elétrica.
Outro aspecto que vale ser destacado e que pode estar contribuindo para o aumento da concentração
iônica da água neste ponto é uma característica natural deste córrego. Próximo ao terço final o curso d’água
flui na subsuperfície, emergindo próximo à sua foz. Esta característica proporciona maior contato da água com
as partículas do solo enriquecendo-a, o que pode explicar o valor mais elevado de condutividade elétrica em
relação aos demais pontos. Este mesmo processo pode explicar o valor de 99,9 µS.cm-1 no ponto P48;
bica d’água localizada na trilha dos macacos.
No outro extremo, os pontos P47, P46 e P21 apresentaram condutividade inferior a 10 µS.cm 1.
Estes baixos valores estão relacionados a solos arenosos, com pouca reserva de minerais. Estas características
parecem também refletir nos valores de pH, que nos pontos P46 e P48 são os mais baixos encontrados, ou seja,
4,6 e 4,7, respectivamente.
Chamam atenção os resultados de turbidez verificados nos pontos P16 e P18, ambos no limite do
parque. Embora 46 NTU (ponto P16) e 64 NTU (ponto P18) não sejam valores necessariamente elevados,
podem ser decorrentes do avançado estágio de degradação do solo das respectivas microbacias de drenagem,
ambas com agricultura e/ou pastagem, além de estrada de terra junto à zona ripária. Estes fatores notoriamente
contribuem para a erosão do solo e, conseqüentemente, para a sedimentação e turbidez da água.
Nos pontos P13, P25, P26, P35, P46, P47 e P48 as concentrações de oxigênio dissolvido na água
foram menores do que 5,0 mg/L, valor este inferior ao estabelecido pela Resolução CONAMA nº 357 para rios
de classe 1 (Brasil, 2008). Esses resultados podem ser decorrentes, dentre outros fatores, das pequenas vazões e
baixa turbulência da água nestes locais. Porém, não deixam de ser preocupantes, uma vez que as concentrações
são muito baixas, incompatíveis com as condições de preservação do equilíbrio natural das comunidades
aquáticas. Nesses locais seria interessante realizar monitoramento mais intenso para verificar se as tendências
para estas características se confirmam e, em caso afirmativo, diagnosticar as reais causas.

4 CONCLUSÃO

O Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus e seu entorno apresentam o serviço de produção de
água como um de seus principais atributos. Porém, algumas recomendações são importantes para que a água
produzida tenha boa qualidade:

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SOUZA, L. F. S. de et al. Diagnóstico da hidrologia superficial do Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus como contribuição à elaboração de seu
plano de manejo.

• levantar e mapear os processos erosivos e recuperar as áreas degradadas, principalmente as matas ciliares;

• adotar medidas de proteção e conservação do solo e da água nas estradas e trilhas, sendo que estas deverão
ser orientadas e/ou monitoradas;

• prestar orientação técnica aos proprietários de chácaras, sítios e fazendas, por intermédio do órgão
oficial de extensão rural; quanto aos cuidados a serem adotados com os recursos hídricos na aplicação de
defensivos agrícolas, inclusive no tocante à lavagem de implementos usados para tal e descarte de
embalagens e vasilhames;

• propor adoção de práticas de uso, conservação e preservação do solo nas atividades agropastoris, em especial
nos plantios de café; bem como adequar a locação de estradas, carreadores e canais de irrigação aos
princípios conservacionistas, e

• estimular pesquisas científicas relacionadas aos recursos hídricos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre
a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.mma.
gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459>. Acesso em: 19 ago. 2008.
CASTRO, R. M. C. et al. Estrutura e composição da ictiofauna de riachos da bacia do rio Grande no estado de
São Paulo, sudeste do Brasil. Biota Neotropica, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 1-39, 2004.
COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SAPUCAÍ-MIRIM/GRANDE - CBH-SMG. Diagnóstico da
situação atual dos recursos hídricos e estabelecimento de diretrizes técnicas para a elaboração do Plano
da Bacia Hidrográfica Sapucaí-Mirim/Grande: “Relatório Zero”. CBH-SMG, 2000. 138 p. Disponível em:
<http://www.sigrh.sp.gov.br/sigrh/ARQS/RELATORIO/CRH/CBH-SMG/238/relsmgseg.pdf.>.
Acesso em: 22 mar. 2007.
COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SABESP. Programa de
uso racional da água. Disponível em: <http://www.sabesp.com.br/CalandraWeb/CalandraRedirect/?temp=2
&temp2=3&proj=sabesp&pub=T&nome=Uso_Racional_Agua_Generico&db=>. Acesso em: 22 mar. 2007.
COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL - CETESB. Relatório de qualidade
das águas interiores do estado de São Paulo 2004. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/rios/
relatorios.asp>. Acesso em: 22 mar. 2007.
CONSELHO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS - CRH (São Paulo – SP). Plano Estadual de Recursos
Hídricos: 2004-2007. São Paulo: DAEE, 2006. 92 p.
DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA - DAEE (São Paulo – SP). Atlas pluviométrico do
Estado de São Paulo (período 1941-1970). São Paulo, 1972. 84 p.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 161-165, jul. 2008.


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ESTUDO
BATISTA, M. A. B.; HONDA, HIDROLÓGICO
E. A.; NERY, EM
J. T. Estudo hidrológico DUAS
em duas baciasBACIAS
hidrográficasHIDROGRÁFICAS
com usos diferentes no oeste Paulista, Ourinhos − SP.
COM USOS DIFERENTES NO OESTE PAULISTA, OURINHOS _ SP1

Maria Alice Borges BATISTA2


Eliane Akiko HONDA3
Jonas Teixeira NERY4

1 INTRODUÇÃO

O oeste paulista sofreu enorme expansão da fronteira agrícola desde o início do século 20,
com a substituição da vegetação primitiva por lavouras diversas, acompanhada de crescimento urbano intenso
e desorganizado. Segundo Brannstrom & Oliveira (2000), o quadro de degradação ambiental verificado
atualmente na região oeste paulista não se deve somente à retirada da vegetação, mas também ao manejo
inadequado do solo e à urbanização acelerada.
Assim, se o uso do solo tendo como finalidade a produção agrícola é inevitável, é desejável que o
manejo se baseie em preceitos de conservação, que recupere o que já foi degradado e preserve os recursos solo e
água ao máximo. O monitoramento da qualidade da água e do regime de vazão tem sido uma ferramenta básica
para acompanhar o estado de preservação de bacias hidrográficas, pois a água, ao interagir com os diversos
elementos do sistema, tem as suas características modificadas e as proporções nos processos hidrológicos
alterados (Tucci & Clarke, 1997; Bicudo et al., 2002).
Vários são os parâmetros utilizados para avaliar a qualidade da água, entre os quais figuram a
concentração de fósforo e a quantidade de coliformes termotolerantes.
O fósforo é um elemento cuja presença é essencial nos ecossistemas, porém o seu excesso indica
desequilíbrio ambiental. É uma das variáveis utilizadas pela Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental - CETESB, juntamente com a transparência e com o teor de clorofila “a”, para indicar o potencial
de eutrofização (CETESB, 2006). A Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
(Ministério do Meio Ambiente - MMA, 2008) institui valores máximos de concentração de fósforo total nos
vários ambientes aquáticos, objetivando o enquadramento em classes de uso.
Os coliformes termotolerantes são considerados os principais indicadores de contaminação fecal e a
determinação da concentração dos coliformes assume importância como parâmetro indicador da possibilidade
da existência de microorganismos patogênicos, responsáveis pela transmissão de doenças de veiculação hídrica,
tais como febre tifóide, febre paratifóide, disenteria bacilar e cólera (CETESB, 2005).
Apesar da importância do fósforo e dos coliformes termotolerantes como parâmetros de qualidade
da água, a variação das suas quantidades no decorrer do tempo, em reservatórios e rios de pequeno porte no
oeste paulista, é desconhecida. O presente estudo objetivou avaliar as diferenças ocasionadas pelo uso do solo
no regime de vazão e na concentração de fósforo, assim como na quantidade de coliformes termotolerantes em
dois rios com usos do solo diferenciados.

2 MATERIAL E MÉTODOS

As sub-bacias do Córrego Fundo e Rancho Fundo, distantes aproximadamente 15 km da área urbana


de Ourinhos, pertencem à bacia do médio Paranapanema e estão localizadas entre as coordenadas geográficas
de 22º 51’ 19’’ e 22º 53’ 52’’ S, e 49º 51’ 53’’ e 49º 52’ 10’’ W.
Na sub-bacia Córrego Fundo concentram-se pequenas e médias propriedades, que aplicam métodos
tradicionais de cultivo do solo. Na sub-bacia do Rancho Fundo há uma grande plantação de cana-de-açúcar desde
os divisores de água até sua confluência com o canal principal, utilizando técnicas de conservação do solo.
______
(1) O presente trabalho está sendo realizado com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP.
(2) Acadêmico do curso de graduação em Geografia da UNESP - Ourinhos. Bolsista FAPESP. E-mail: lice-borges@yahoo.com.br
(3) Co-orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-970, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: eahonda@gmail.com
(4) Orientador. Professor assistente doutor do curso de Graduação em Geografia da UNESP – Ourinhos. E-mail: jonas@ourinhos.unesp.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 167-171, jul. 2008.


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BATISTA, M. A. B.; HONDA, E. A.; NERY, J. T. Estudo hidrológico em duas bacias hidrográficas com usos diferentes no oeste Paulista, Ourinhos − SP.

Os pontos de coleta foram nomeados de acordo com a sua localização, sendo eles: Após Junção (AP);
Córrego Fundo (CF); Córrego Fundo - nascente (CFN); Rancho Fundo - nascente (RFN) e Rancho Fundo
(RF). Na bacia do Córrego Fundo há uma represa na área da nascente, sendo que o ponto de coleta CF situa-
se a jusante dessa represa. Na bacia do Rancho Fundo estão presentes quatro represas pequenas, sendo que
o ponto de coleta RF está localizado a jusante da terceira represa. Os dois corpos de água se juntam em uma
represa, sendo que o ponto de coleta AP está situado a jusante dessa represa (FIGURA 1).

FIGURA 1 _ Croqui com localização da área de estudo dentro dos limites do município de Ourinhos, com os
pontos de coleta de dados.

Houve coleta de amostras de água em todos os pontos para a análise dos parâmetros fosfato e
coliformes. A vazão foi quantificada nos pontos AP, CF e RF.
A vazão foi quantificada pelo método “área-velocidade” (Departamento Nacional de Águas e Energia
Elétrica - DNAEE, 1970).
Os frascos, o acondicionamento, o transporte, as técnicas de coleta e preservação das amostras
seguiram normas estabelecidas pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, ligada à Secretaria
do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Fanchini, 19--). Os métodos para a determinação da concentração
de fosfato total e do número mais provável de colônias de bactérias seguiram o estabelecido pela American
Public Health Association - APHA (1992) e foram realizados no Centro de Pesquisas em Ciências - CEPECI,
pertencente à Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Foram realizadas quatro incursões em campo. A primeira coleta foi realizada no dia 25/09/2007,
em período de estiagem de inverno que, no ano em questão, foi prolongado devido à ocorrência do fenômeno
La Niña que afetou o regime de chuvas em toda a região Sudeste do Brasil. Os dados pluviométricos obtidos
junto ao Instituto Agronômico de Campinas - IAC (IAC, 2008), em estação pluviométrica pertencente
à Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATIE, na cidade de Ourinhos, demonstram ser esse
período de pouca pluviosidade. A segunda coleta foi realizada no dia 12/11/2007, dia seguinte a um índice
pluviométrico de mais de 53 mm dia-1 (IAC, 2008). A terceira coleta foi realizada no dia 18/12/2007,
precedido por quatro dias sem chuva. A quarta coleta ocorreu no dia 16/01/2008, com registro de cerca de
20 mm de chuva no dia anterior.

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 167-171, jul. 2008.


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BATISTA, M. A. B.; HONDA, E. A.; NERY, J. T. Estudo hidrológico em duas bacias hidrográficas com usos diferentes no oeste Paulista, Ourinhos − SP.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das quatro campanhas de coleta realizadas, a coleta de 12/11/2007 registra maior vazão em todos
os pontos de amostragem, reflexo do alto índice pluviométrico do dia anterior (TABELA 1). Nos demais
eventos as vazões mantiveram-se próximas, considerando os mesmos pontos de amostragem. Esses resultados
permitem concluir que as bacias provavelmente têm respostas hidrológicas rápidas, de maneira que poucas
horas após evento chuvoso ocorre a normalização da hidrógrafa (situação de 18/12/2007) e que a presença de
reservatórios pode estar fornecendo amortecimento para eventos pequenos (situação de 16/01/2008).

TABELA 1 _ Vazão medida em campanhas mensais de coletas de dados na bacia do Córrego Fundo, Ourinhos _ SP.

Vazão (L s-1)
Data de coleta
AP CF RF

25/09/2007 129,5 17,4 16,0

12/11/2007 157,9 41,8 27,9

18/12/2007 109,7 11,6 10,1

16/01/2008 127,9 19,6 9,5

Aparentemente, a bacia hidrográfica com a presença de pequenas e médias propriedades


(bacia Córrego Fundo) é a que apresenta transitórios hidráulicos mais intensos, pois enquanto a vazão no ponto
RF era 1,7 vezes maior no dia 12/11/2007 em relação ao fluxo de base (dia 25/09/2007), o ponto CF registrou
vazão 2,4 vezes maior, ao passo que o ponto AP a relação foi de 1,22. À luz do que se conhece em hidrologia,
bacias maiores demoram mais a responder em relação a bacias menores e respondem de forma menos intensa
(Tucci & Clarke, 1997). Como o ponto AP representa uma bacia maior, é natural que a sua resposta seja menos
intensa. A intensidade de resposta do ponto CF, por sua vez, pode ser decorrente do uso do solo, com alta
freqüência de moradias e pastagem, o que pode estar favorecendo os processos hidrológicos de superfície,
em detrimento dos processos de subsuperfície (Brannstrom & Oliveira, 2000).
Na determinação do parâmetro fosfato foi utilizado um método cujo valor mínimo de detecção é de
0,05 mg L-1, superior ao máximo estabelecido pela Resolução CONAMA 357/05 (MMA, 2008) para águas
doces de classes 1 e 2, o que torna o método não adequado para fins de enquadramento segundo esta resolução.
Entretanto, mesmo com esse inconveniente, a determinação dos teores de fósforo é útil para avaliar o seu grau
de antropização e o potencial de eutrofização.
As duas nascentes sempre apresentaram valores de fosfato superiores ao limite de detecção do
método (TABELA 2), o que automaticamente as desclassificam no enquadramento das classes 1 e 2 de uso
(MMA, 2008). Os valores de fosfato determinados classificam os corpos de água estudados nas categorias
“mesotrófico” (concentração de fosfato entre 0,0265 mg/L e 0,053 mg/L), “eutrófico” (concentração de fosfato
entre 0,053 mg/L e 0,2119 mg/L) e “hipertrófico” (concentração de fosfato superior a 0,2119 mg/L).
Essas categorias indicam antropização e, em caso mais grave, comprometem acentuadamente os usos da água,
podendo inclusive estar associados a episódios de florações de algas e de mortandade de peixes e causar
conseqüências indesejáveis sobre as atividades pecuárias nas regiões ribeirinhas (CETESB, 2005).

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BATISTA, M. A. B.; HONDA, E. A.; NERY, J. T. Estudo hidrológico em duas bacias hidrográficas com usos diferentes no oeste Paulista, Ourinhos − SP.

TABELA 2 _ Concentração do parâmetro de qualidade da água fosfato, em campanhas mensais de coletas de


dados na bacia do Córrego Fundo, Ourinhos _ SP.

Data de Fosfato (mg L-1)


coleta AP CF CFN RFN RF
25/09/2007 < 0,05* < 0,05* 0,19 0,14 0,05
12/11/2007 0,18 0,06 0,12 0,12 0,06
18/12/2007 0,30 0,19 0,10 0,89 < 0,05*
16/01/2008 < 0,05* 0,08 0,12 0,10 < 0,05*
(*) Valores abaixo do limite de detecção do método utilizado.

As maiores quantidades de coliformes termotolerantes foram determinadas em todos os pontos na


campanha de setembro, quando a rede hidrográfica estava em escoamento de base (TABELA 3). Nas demais
campanhas, somente o ponto AP manteve valores altos. Esse parâmetro de qualidade biológica depende da
presença de fonte contaminadora e água na superfície do solo para o seu transporte. Em período de estiagem,
quando não há escoamento direto, os coliformes gerados no local não são removidos, o que explicaria a alta
concentração de coliformes verificada na coleta de setembro. Nas demais coletas a presença de escoamento
direto teria colaborado para a remoção dos coliformes.

TABELA 3 _ Número mais provável (nmp) de coliformes termotolerantes em campanhas mensais de coletas
de dados na bacia do Córrego Fundo, Ourinhos _ SP.

Data de Coliformes (nmp 100mL-1)


coleta AP CF CFN RFN RF
25/09/2007 2200 2400 1300 230 300
12/11/2007 500 40 0 0 0
18/12/2007 70 40 20 70 0
16/01/2008 230 70 0 20 40

4 CONCLUSÕES

A resposta hidrológica da bacia hidrográfica Córrego Fundo, ocupado por pequenas e médias
propriedades, foi mais rápida em comparação com a bacia hidrográfica do Rancho Fundo, ocupada por
atividade agrícola com aplicação de técnicas de conservação do solo e presença de vários represamentos de
água. Esse comportamento indica favorecimento de processos hidrológicos superficiais na bacia hidrográfica
Córrego Fundo.
O método utilizado para determinar os teores de fósforo não foi o mais apropriado para enquadrar
os corpos de água estudados em classes de uso, segundo a Resolução CONAMA 357/05 (MMA, 2008).
Entretanto, a determinação dos teores de fósforo é útil para avaliar o seu grau de antropização e o potencial
de eutrofização. Os valores de fosfato classificam os corpos de água estudados nas categorias “mesotrófico”,
“eutrófico” e “hipertrófico” indicando antropização e comprometimento dos usos da água.
A determinação de maior quantidade de coliformes termotolerantes durante o período de escoamento
de base indica fonte de contaminação próxima aos pontos de coleta, principalmente ao longo do canal que
drena a bacia com maior presença humana (Córrego Fundo).

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BATISTA, M. A. B.; HONDA, E. A.; NERY, J. T. Estudo hidrológico em duas bacias hidrográficas com usos diferentes no oeste Paulista, Ourinhos − SP.

5 AGRADECIMENTOS

À FAPESP, pela concessão de bolsa de iniciação científica. A Edison Adriano Berto e Édson
Damasceno, da Seção de Floresta Estadual de Assis do Instituto Florestal - SMA, pelo apoio em campo e
à Patrícia Aparecida Figueiredo, aluna de graduação em Química Industrial da Fundação Educacional do
Município de Assis (FEMA), pelo apoio em Laboratório. Ao Centro de Pesquisas em Ciências, da FEMA,
pelo uso do laboratório.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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and wastewater. 18. ed. Washington, D.C.: American Public Health Association, 1992. 1268 p.
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2002. p. 161-200.
BRANNSTROM, C.; OLIVEIRA, A. M. S. Human modification of stream valleys in the Western Plateau
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IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 167-171, jul. 2008.


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CRUZ, M. O. da;A MATTOS,


EVOLUÇÃO I. F. de A.DAS MANCHAS
A evolução DE
das manchas de TAQUARAS
taquaras sobre a mata SOBRE A MATA
natural da bacia do CórregoNATURAL
do Chapéu no Parque Estadual
Turístico do Alto Ribeira (petar) _ SP.
DA BACIA DO CÓRREGO DO CHAPÉU NO
PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO DO ALTO RIBEIRA (PETAR) _ SP*

Mariana Oliveira da CRUZ**


Isabel Fernandes de Aguiar MATTOS***

1 INTRODUÇÃO

O Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira - PETAR foi criado em 1958, através do Decreto Estadual
nº 32.283. Em 1988, pelo Decreto Estadual nº 28.086 passou à administração do Instituto Florestal (São Paulo,
2006). Localizado no Vale do Ribeira, compõe o continuum ecológico da Serra de Paranapiacaba perfazendo
mais de 200.000 ha de florestas. Abriga uma grande biodiversidade, sítios paleontológicos, arqueológicos,
históricos e cavernas.
O Núcleo dos Caboclos foi a primeira sede do Parque, constituindo-se em ponto de partida para
visitas em várias trilhas, cavernas e algumas cachoeiras (Gonçalves et al., 2007). Neste núcleo situa-se a bacia
do Córrego do Chapéu, área de estudo do presente trabalho.
Diferentes trabalhos realizados em várias regiões de Mata tropical do país vêm mapeando um
fenômeno de provável desequilíbrio ambiental. As taquaras compreendem um conjunto de espécies nativas
da mata tropical que têm se expandido por extensas áreas de Mata Atlântica, com efeitos de dominância sobre
outras espécies, impedindo a regeneração secundária. Associados geralmente à vegetação lenhosa,
as taquaras (Poaceae: Bambusoideae: Bambuseae), típicos de florestas tropicais e subtropicais, apresentam
ampla distribuição, ocorrendo entre 46º N e 47º S segundo Santos-Gonçalves (2000), não há explicação
conclusiva para o fenômeno que também está se desenvolvendo no PETAR.
Silveira (2001) cita que, as comunidades de taquaras (Guadua sp., Chusquea sp. e Merostachys sp.)
que estão avançando sobre grandes áreas de vegetação secundária e clímax são resultado de algum desequilíbrio
ecológico. Podem ser encontrados no Parque Estadual de Intervales – PEI e estão geralmente associados a
áreas perturbadas, alterando a dinâmica das populações e a estrutura e dinâmica das comunidades. O hábito
semi-escandente agressivo permite que Guadua cresça sobre as árvores pequenas do sub-bosque, alcançando
a copa das árvores do dossel, quebrando ou matando-as. Ocorre que a dominância das taquaras pode reduzir
em quase 40% o número de espécies na amostra de 1 hectare, alterando a estrutura da floresta, diminuindo a
densidade e a área basal, reduzindo em 30-50% o potencial de armazenamento do carbono (Silveira, 2001).
A abertura natural de clareiras é um importante mecanismo de manutenção da biodiversidade
das florestas tropicais permitindo a coexistência de espécies com diferentes estratégias de crescimento.
Porém, neste recrutamento e crescimento, a espécie Guadua weberbaueri, de acordo com Silveira (2001),
atua na sucessão ecológica favorecendo direta e indiretamente as espécies de estágios iniciais e suprimindo
o crescimento de espécies tolerantes à sombra, características de estágios finais de sucessão, atenuando desta
forma, a substituição seqüencial de espécies.
Araujo et al. (2007) comentam que, a abertura de clareiras por intervenção antrópica propicia
a colonização por taquaras e interfere na biodiversidade negativamente. Esclarece que este fenômeno estudado
não é isolado, ocorrendo simultaneamente em diversas áreas de floresta tropical. Segundo Silveira (2001),
a sazonalidade pluviométrica afeta de maneira determinante o crescimento dos taquaras sendo o incremento
na altura total maior durante o período chuvoso, especialmente nos primeiros meses de crescimento,

______
(*)  O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil.
(**) Discente do curso de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Bolsista do CNPq.
(***) Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-070, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: if-mattos@uol.com.br

IF Sér. Reg., São Paulo, n. 36, p. 173-179, jul. 2008.


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CRUZ, M. O. da; MATTOS, I. F. de A. A evolução das manchas de taquaras sobre a mata natural da bacia do Córrego do Chapéu no Parque Estadual
Turístico do Alto Ribeira (petar) _ SP.

permitindo que eles atinjam o dossel mais rapidamente que a maioria das árvores da floresta, sobrepujando
inclusive as espécies pioneiras de crescimento rápido.
Buscando obter informações sobre o processo evolutivo dessas manchas de taquaras no PETAR,
o presente trabalho propõe o mapeamento de uma mesma área em dois períodos distintos, visando subsidiar
estudos sobre a dinâmica da própria diversidade florestal, possivelmente ameaçada por um fenômeno natural
desencadeado, segundo Araujo et al. (2007), por ações antrópicas.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Caracterização da Área

Inserido na sub-bacia do Alto Ribeira (FIGURA 1), o Parque apresenta um relevo de degradação e
interplanáltico, sobre a formação Açungui, de origem pré-cambriana (Shimada et al., 1999). As amplitudes em
geral excedem os 100 metros com declividades significativas. A Serra dos Caboclos encontra-se à direita do
Córrego do Chapéu e varia em altitude de 500m a 800m; já à noroeste do Córrego ocorre a Serra da Dúvida
com altitudes entre 600 m e 1000 m (IBGE, 1974).
Na área, ocorrem solos bastante argilosos com graus de pedogênese extremamente variável
(Theodovicz, 2005). Segundo Karmann & Ferrari (2002), o clima é classificado como mesotérmico úmido
(Cfb), sem estação seca, com médias térmicas anuais entre 20º e 22 ºC e média anual de precipitação de
1.900 mm/ano no Núcleo Caboclos.
A cobertura vegetal é denominada Mata Atlântica. Conforme Velloso et al. (1992), a floresta se
desenvolve em clima de elevadas temperaturas e alta precipitação bem distribuída durante o ano (de 0 a 60
dias secos). Ela ocorre em estratos, apresentando algumas clareiras, abertas pela queda de grandes árvores e
escorregamentos que fazem parte da dinâmica desse relevo, com boa luminosidade até estratos mais baixos, o
que gera maior diversidade de espécies (Leite, 2007).

FIGURA 1 _ Localização da bacia do Córrego do Chapéu no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, SP.

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Turístico do Alto Ribeira (petar) _ SP.

2.2 Métodos

O mapeamento da vegetação foi realizado através da fotointerpretação de fotografias aéreas verticais


em colorido natural na escala de 1:35.000, de vôo realizado pelas empresas: AEROCARTA SA Engenharia de
Aerolevantamento; BASE Aerofotogrametria e Projetos S.A. e ENGEFOTO Engenharia de Aerolevantamento
S.A. para o Projeto de Preservação da Mata Atlântica da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São
Paulo e o Banco KfW (SMASP-PPMA-KFW), em 2000/2001) e na escala aproximada de 1:25.000 para o
IBC, em 1962). As informações levantadas foram digitalizadas através dos Programas ARQVIEW e ERDAS,
georeferenciadas na base cartográfica digital Mina do Espírito Santo (folha SG-22-X-B-II-4 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE de 1974, de escala 1:50.000) para a produção dos 2 mapas da
ocorrência de taquaras na bacia do Córrego do Chapéu – PETAR/SP, para os anos de 1962 e 2001.
O método básico está centrado nos procedimentos adotados por Spurr (1960), que identificaram e
classificaram a vegetação através da fotointerpretação de fotografias aéreas, utilizando-se os elementos da
imagem fotográfica: cor, tonalidade, textura, forma, dimensão e convergência de evidências, correlacionadas
aos parâmetros de campo, tais como porte, densidade e estrutura da vegetação, condições de preservação e
condições ecológicas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultados são apresentados o mapa hipsométrico (FIGURA 2), o modelo digital do terreno
(FIGURA 3) e o da ocorrência de taquaras, para os anos de 1962 (FIGURA 4) e de 2001 (FIGURA 5). O mapa
hipsométrico e o de modelo digital do terreno foram confeccionados como apoio e referência para estabelecimento
da situação topográfica em que se encontram as taquaras e definição da área de mapeamento.

FIGURA 2 _ Carta hipsométrica do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, SP.

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Turístico do Alto Ribeira (petar) _ SP.

FIGURA 3 _ Modelo digital do terreno do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, SP.

FIGURA 4 _ Mapa da ocorrência de taquaras na bacia do Córrego do Chapéu no ano de 1962, do Parque
Estadual Turístico do Alto Ribeira, SP.

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CRUZ, M. O. da; MATTOS, I. F. de A. A evolução das manchas de taquaras sobre a mata natural da bacia do Córrego do Chapéu no Parque Estadual
Turístico do Alto Ribeira (petar) _ SP.

FIGURA 5 _ Mapa da ocorrência de taquaras na bacia do Córrego do Chapéu no ano de 2001, do Parque
Estadual Turístico do Alto Ribeira, SP.

O exame das fotografias aéreas e o mapeamento de 2001 permitiu observar que na área do Núcleo
Caboclos as taquaras dominam a paisagem. O mapeamento revelou sua grande presença, ora em pequenas
manchas não mapeáveis na escala final de apresentação do mapa, ora em maior concentração. As áreas
mais afetadas em 2001 estão relacionadas às que sofreram desmatamento intenso ou forte alteração em
1962; nestes locais o mapa de 2001 (FIGURA 5) revela que as taquaras ou predominaram na vegetação,
formando um mosaico com indivíduos arbóreos e taquaras, ou, em alguns trechos da mata, um “grande
tapete”, dominando completamente a paisagem. No entanto, nas áreas que sofreram desmatamento seletivo
(no qual foi mantida a estrutura florestal) a floresta resistiu. Essas espécies aparecem em pequenas manchas
na margem direita do Córrego do Chapéu já em 1981.
A área teve em seu histórico, períodos de intensas atividades de roça, mineração de calcário e
extração de madeira e palmito (constatados nas fotografias aéreas dos anos de 62 e 81). Diante dos distúrbios
antrópicos ocorridos na área, as taquaras passaram a se comportar como uma espécie oportunista, e suas
populações se expandiram em detrimento de outras, principalmente de hábito arbóreo.
Embora essas espécies sejam nativas da Floresta Atlântica, pode-se dizer que há um desequilíbrio
na área estudada, concordando com Silveira (2001), para o qual comunidades equilibradas são estáveis
em relação ao conjunto de suas espécies e tendem a retornar ao estado original, ao passarem por um
determinado distúrbio.

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Turístico do Alto Ribeira (petar) _ SP.

No entanto, a maneira como essas manchas vêm aumentando em tamanho, torna-se preocupante
tendo em vista que as taquaras crescem rapidamente no sentido vertical, sobrepondo-se, com auxílio de seus
espinhos e sua densa folhagem, sobre a copa das árvores, competindo por água, nutrientes e luz. Isto poderá
trazer sérias conseqüências para a floresta, que vai morrendo lentamente abaixo do “tapete” de taquaras.
As áreas que se encontravam desmatadas ou fortemente alteradas em 1962, como pode ser observado
no mapa, apresentam-se hoje invadidas por taquaras que avançaram sobre a mata já perturbada. O mesmo deve
estar acontecendo em outras áreas do Parque. Os estudos em longo prazo tornam-se, assim, importantes para o
monitoramento de áreas demarcadas com o objetivo de verificar a velocidade de crescimento dessas manchas
na Mata Atlântica e se essa expansão causa uma homogeneização da paisagem.

5 COMENTÁRIOS FINAIS

As taquaras vêm dominando antigas áreas de maior desmatamento e intervenção antrópica, e na


área estudada se encontra em maior proporção, próximo ao vale do Córrego do Chapéu. A dominância dessa
espécie, provavelmente se deve à alteração das condições naturais ocorridas na área e às condições climáticas
favoráveis ao seu crescimento e desenvolvimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Conservação da mata Atlântica. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 13.,
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FIGUEIREDO, INFLUÊNCIA
P. A.; HONDA, E. A. DO USOdoDO
Influência uso SOLO
do solo naNA VAZÃO
vazão E NA
e na qualidade da QUALIDADE DA ÁGUAdo oeste paulista.
água em três bacias hidrográficas
EM TRÊS BACIAS HIDROGRÁFICAS DO OESTE PAULISTA*

Patrícia Aparecida FIGUEIREDO**


Eliane Akiko HONDA***

1 INTRODUÇÃO

A análise do regime de vazão e da qualidade da água da rede fluvial fornece informações importantes
sobre o estado de equilíbrio da bacia hidrográfica, pois ao passar pelos compartimentos que compõem
o ecossistema, a água interage com vários elementos, tendo com isso as suas características e a proporção
dos processos hidrológicos modificadas. Em bacias hidrográficas florestadas, os processos hidrológicos de
subsuperfície são favorecidos, alimentado a água subterrânea. Conforme aumenta o grau de antropização a
proporção dos processos hidrológicos de subsuperfície diminui em detrimento dos processos hidrológicos de
superfície (Swank & Crossley, 1984; Bruijnzeel, 1990; Tucci & Clarke, 1997; Bicudo et al., 2002).
No oeste paulista a ocupação do solo foi feita de maneira desordenada e sem critérios conservacionistas
(Brannstron & Oliveira, 2000), de maneira que, na atualidade, são visíveis os prejuízos causados pelo
favorecimento dos processos hidrológicos superficiais (Domingues et al., 1997; Mattos et al., 1997).
Entretanto, nessa região são poucos os estudos sobre o comportamento hidrológico de bacias hidrográficas,
tanto florestadas como antropizadas, assim como são desconhecidas as proporções dos processos hidrológicos
que ocorrem. Realizar estudos hidrológicos para esclarecer estas lacunas é essencial quando se objetiva o
desenvolvimento sustentável e o gerenciamento racional dos recursos naturais disponíveis na região em
questão, que apresenta alto potencial para o desenvolvimento agropecuário.
Assim, o presente estudo acompanhou o ritmo hidrológico em três bacias hidrográficas e a variação
em alguns parâmetros de qualidade da água, na região oeste do Estado de São Paulo, para testar a hipótese de
que bacias hidrográficas com diferentes usos do solo têm comportamentos hidrológicos distintos.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Encontra-se inserida na Província Geomorfológica do Planalto Ocidental, oeste do Estado de São Paulo.
A litologia arenítica, pertencente à formação Adamantina, do Grupo Bauru (Instituto de Pesquisas Tecnológicas -
IPT, 1981), caracteriza o solo, que é do tipo LATOSSOLO VERMELHO Escuro Álico A moderado textura
média, composto por mais de 70% de areia. A composição granulométrica predominantemente arenosa torna
este solo altamente suscetível à erosão (Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE, 1989).
A bacia hidrográfica do manancial de abastecimento de Assis (bacia do Cervo) possui 40,67 km2, e está
localizada entre as coordenadas geográficas de 22º 33’ 24” e 23º 38’ 545” S, e 50º 23’ 33” e 50º 26’ 51” W.
No presente estudo foram considerados três afluentes do rio do Cervo: (1) Sub-bacia da Matinha;
(2) Sub-bacia da Água da Porca e (3) Sub-bacia do Barro Preto (FIGURA 1).

______
(*) O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil.
(**) Discente do curso de licenciatura em Química e Bacharelado em Química Industrial, da Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Bolsista PIBIC/CNPq IF. E-mail: patylene@bol.com.br
(***) Orientadora. Instituto Florestal, Caixa Postal 1322, 01059-070, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: eahonda@gmail.com

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FIGUEIREDO, P. A.; HONDA, E. A. Influência do uso do solo na vazão e na qualidade da água em três bacias hidrográficas do oeste paulista.

FIGURA 1 _ Localização da área de estudo, com os usos de solo predominantes e os pontos de amostragem no
manancial de abastecimento do município de Assis, SP.

A sub-bacia do Barro Preto possui 15,30 km2, está ocupada em 89,4% por vegetação florestal na área
de nascente e nas partes altas do terreno. Porém, as margens e laterais da metade a jusante do canal fluvial estão
ocupadas por agricultura e pastagem, sem presença de mata ciliar.
A sub-bacia da Água da Porca possui 8,75 km2 e está urbanizada em 52,4% da área a montante;
a jusante encontra-se ocupada por agropecuária, com pastagem predominando e não possui mata ciliar.
A sub-bacia da Matinha tem área de 1,78 km2 e está totalmente ocupada por atividade agrícola,
que utiliza métodos não-estruturais de conservação do solo. Nessa bacia, as margens do canal fluvial estão
protegidas por mata ripária, que ocupa 12,8% da área.
A precipitação pluviométrica foi medida com pluviógrafo basculante com 0,1 mm de resolução,
localizado próximo aos pontos de coleta (FIGURA 1).
A vazão foi quantificada pelo método “área-velocidade” (Departamento Nacional de Água e
Energia Elétrica - DNAEE, 1970) e a vazão específica foi obtida mediante a divisão da vazão pela área
da bacia a montante.
Foram determinados os seguinte parâmetros de qualidade de água: condutividade elétrica (CE),
sólidos totais dissolvidos (STD), turbidez (Tb) e matéria orgânica. A condutividade elétrica e a turbidez foram
determinados por equipamentos digitais; a determinação da matéria orgânica seguiu o método descrito pela
American Public Health Association - APHA (1992). A quantidade de STD na água foi calculada a partir
da sua condutividade elétrica. Para a avaliação da qualidade analítica dos resultados, brancos e padrões
foram analisados em conjunto com as amostras. Os frascos, as técnicas de preservação das amostras,
acondicionamento, transporte e técnicas de coleta seguiram normas específicas estabelecidas pela Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB, ligada à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São
Paulo - SMA (CETESB, 1988).

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FIGUEIREDO, P. A.; HONDA, E. A. Influência do uso do solo na vazão e na qualidade da água em três bacias hidrográficas do oeste paulista.

Obtida a concentração do parâmetro químico, o valor foi multiplicado pela vazão para obtenção da
descarga total, que por sua vez foi dividida pela área da bacia a montante para cálculo da descarga específica,
ou seja, a quantidade de material que deixa a bacia hidrográfica por unidade de área. A descarga específica foi
utilizada para caracterizar as sub-bacias hidrográficas em estudo, permitindo assim a comparação dessas entre si.
Três campanhas de coleta foram realizadas: em 28 de agosto, 06 de novembro e 13 de dezembro de
2007, sendo que a primeira foi durante a estação seca e as demais em período de chuva.
A sub-bacia da Matinha encontrava-se com a cana-de-açúcar recém colhida em agosto; e em
novembro e dezembro ainda não havia sido efetuado novo plantio. A bacia de uso agrícola estava, portanto,
nesse período, sem vegetação.
Nos trinta dias que antecederam a coleta em período seco não houve precipitação pluviométrica
significativa. As coletas dos dias 06 de novembro e 13 de dezembro foram efetuadas após episódio chuvoso.
Entre os dias 01 e 04 de novembro houve registro de 55,3 mm de chuva, concentrados no dia 01 de
novembro. A coleta foi iniciada 48 horas após término deste episódio. Entre os dias 10 e 12 de dezembro
houve registro de 66,9 mm de chuva, concentrados no dia 11 de dezembro. A coleta foi iniciada 14 horas
após término deste episódio.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da quantificação da vazão em cada sub-bacia, assim como a sua vazão específica e
resultados das determinações de qualidade da água, estão expostos na TABELA 1.

TABELA 1 _ Vazão, vazão específica e parâmetros da qualidade da água em três bacias com diferentes usos no
manancial de abastecimento do município de Assis, SP. (MO: matéria orgânica; STD: sólidos totais
dissolvidos; CE: condutividade elétrica; Tb: turbidez).

Vazão Aporte Aporte


Data de Vazão MO STD CE Tb
Sub-bacia específica MO STD
coleta
(L s-1) (L s-1 km-2) (mg L-1) (µs cm-1) (NTU) (mg s-1 km-2)

28/08/07 130,1 14,87 18,61 3,08 36,1 7,01 276,7 45,8


Porca
(agrícola- 06/11/07 83,5 9,54 30,89 3,85 40,3 17,40 294,8 36,7
urbana)
13/12/07 172,6 19,73 39,04 4,46 51,8 23,00 770,1 88,0

28/08/07 46,5 3,04 19,10 0,67 6,8 3,04 58,0 2,0


Barro
Preto 06/11/07 77,7 5,08 23,94 − − − 121,6 −
(florestal)
13/12/07 108,2 7,1 39,36 0,48 6,8 4,75 278,4 3,4

28/08/07 17,5 9,83 11,42 1,96 19,7 0,69 112,3 19,3


Matinha
(agrícola) 06/11/07 12,5 7,02 11,19 0,51 4,6 0,60 78,6 3,6
13/12/07 16,8 9,44 14,32 0,80 8,0 0,46 135,2 7,6
_: sem determinação
NTU: unidade nefelométrica de turbidez
uH: Unidade Hazen - mg Pt-Co L-1

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FIGUEIREDO, P. A.; HONDA, E. A. Influência do uso do solo na vazão e na qualidade da água em três bacias hidrográficas do oeste paulista.

No período de estiagem, a vazão foi maior na bacia da Porca, seguida pela bacia do Barro Preto e
bacia da Matinha. Se o uso do solo fosse igual em todas as bacias hidrográficas estudadas, a produção hídrica
seria proporcional à dimensão. Entretanto, em bacias com usos diversos há diferenças nas taxas de recarga e
perda de água (Bruijnzeel, 1990; Swank & Crossley, 1984), de forma a tornar possível uma bacia de menor
dimensão (Porca) produzir mais água do que uma bacia maior (Barro Preto). Sendo o uso florestal o uso
considerado com as maiores taxas de perda evaporativa e sendo que o Barro Preto é uma bacia florestada em
90% da área, a sua perda evaporativa pode ter sido maior do que na bacia da Porca, que tem aproximadamente
a metade da área ocupada por atividade agropastoril e a outra metade urbanizada. Assim, a maior vazão obtida
na bacia da Porca durante o período de estiagem pode ter sido devida à maior recarga nesta bacia, em função
da sua menor perda por evapotranspiração.
A produção hídrica por unidade de área, porém, não segue a tendência verificada na análise de vazão.
A bacia da Porca continua com a maior vazão unitária, porém a bacia da Matinha passa a ter maior produção
hídrica por unidade de área do que o Barro Preto. A bacia da Matinha é ocupada em 90% por agricultura com
práticas de conservação do solo, o que lhe proporciona menores perdas evaporativas em relação ao Barro Preto
e quantidade menor de escoamento direto em relação à Porca, o que pode resultar em recarga maior da água
subterrânea e mais água disponível para o escoamento de base.
As vazões registradas na coleta do dia 06 de novembro, tanto na bacia da Porca, assim como na bacia
da Matinha, foram menores em relação à coleta efetuada em período de estiagem. Duas hipóteses podem ser
formuladas quanto a esse comportamento.
Primeira hipótese: a vazão de agosto foi medida em plena estação de seca, quando as perdas
evaporativas são baixas e há, portanto, mais água disponível para a recarga do lençol subterrâneo. A diminuição
das perdas evaporativas é decorrente de dois fatores: a baixa perda evaporativa por transpiração, devido à
pequena atividade metabólica das plantas desse período e a diminuição de perdas evaporativas por interceptação
da água das chuvas, pois na região de estudo muitas plantas são decíduas, perdendo as folhas durante o período
seco. Deve-se considerar também que, em novembro e dezembro, a bacia da Matinha encontrava-se sem
cultura agrícola, o que deve ter diminuído ainda mais a sua perda por evapotranspiração.
Segunda hipótese: devido ao tempo decorrido entre a finalização da chuva e o momento da quantificação
de fluxo na chuva de novembro, o que realmente foi medido nessa coleta não contou com o acréscimo de água do
escoamento direto, pois o transitório hidráulico decorrente pela chuva possivelmente já estava finalizado nessa
ocasião. Dessa forma, o que realmente foi medido foi o escoamento de base que, à época, poderia estar ainda
em fase descendente da hidrógrafa anual nessas duas bacias. Explica-se a rapidez da ocorrência dos processos
de superfície na bacia da Matinha em função da sua pequena dimensão (Souza Pinto, 1976) e, na bacia da Porca,
em função da grande área impermeabilizada pela urbanização e atividades agropecuárias.
Na bacia florestada (Barro Preto), as vazões obtidas nas coletas em época de chuva foram maiores em
relação à medida na época de estiagem. Esse comportamento pode ter ocorrido porque, nessa bacia, o transitório
hidráulico demora mais a ser concluído. Dois fatores devem contribuir para uma hidrógrafa individual mais
demorada: a sua maior dimensão e a sua maior capacidade de infiltração, condicionada pela presença da floresta.
As altas taxas de infiltração que ocorrem sob vegetação florestal estimulam a geração de escoamento subsuperficial,
que continua a alimentar o fluxo do canal mesmo após o encerramento do escoamento direto (Hewlett, 1982).
As vazões registradas no dia 13 de dezembro nas bacias hidrográficas do Barro Preto e da Porca
foram maiores em relação às obtidas na coleta em estiagem, indicando possível presença de escoamento direto
nesses canais. A vazão obtida na bacia da Matinha, entretanto, foi pouco inferior à do dia 28/08/2007,
porém superior à do dia 06/11/2007, indicando a fase final do escoamento direto ou, se o escoamento direto já
estivesse finalizado, ligeira recarga da água subterrânea.
A bacia da Porca, em todas as coletas, apresentou maiores valores de condutividade elétrica (CE)
e sólidos totais dissolvidos (STD) em relação aos demais pontos. Nessa bacia, valores de CE e STD foram
maiores nas coletas efetuadas em período chuvoso, indicando uma contribuição maior de água advinda do
escoamento direto carregada de material originada de fontes difusas e pontuais, além de ressuspensão do
material disponível no leito, durante os eventos de cheia (Redá & Jaquiê, 2002).

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FIGUEIREDO, P. A.; HONDA, E. A. Influência do uso do solo na vazão e na qualidade da água em três bacias hidrográficas do oeste paulista.

Os menores valores de turbidez (Tb) foram determinados na bacia da Matinha, com diminuição
sensível dos valores de Tb nas coletas em período chuvoso, o que pode ser devido à diluição dos materiais
suspensos pela água do escoamento direto nessa bacia.
A concentração de STD sempre foi maior na Porca, seguida pela Matinha e, por último, Barro
Preto. Os valores de concentração de matéria orgânica, entretanto, foram semelhantes entre as bacias do
Barro Preto e da Porca. O cálculo do aporte de STD não modifica de forma acentuada a tendência verificada
na concentração, porém modifica sensivelmente o resultado quanto à matéria orgânica (o aporte de material
orgânico pela bacia da Porca passa a ser o maior, enquanto os valores da Matinha e do Barro Preto passam
a ser semelhantes).

4 CONCLUSÕES

Com base no exposto, é possível concluir que diferentes usos do solo influenciam sobre a variação
da vazão e de alguns parâmetros de qualidade de água.

5 AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, pela concessão de bolsa de iniciação científica. A Edison Adriano Berto e Édson
Damasceno, da Seção de Floresta Estadual de Assis do Instituto Florestal – SMA, pelo apoio em campo e,
também, aos demais funcionários da Floresta Estadual de Assis que, de alguma forma, forneceram a sua valiosa
contribuição para a realização deste estudo. À AgSolve Monitoramento Ambiental, pela manutenção do Posto
Meteorológico Automatizado. Ao Centro de Pesquisas em Ciências - CEPECI, da Fundação Educacional do
Município de Assis - FEMA, pelo uso do laboratório.

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