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Sumário

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 2
2. ASPECTOS LEGAIS, SOCIAIS E AMBIENTAIS ................................................................... 4
Questões de ordem legal ............................................................................................................. 4
Questões de ordem social ......................................................................................................... 13
Questões de ordem ambiental .................................................................................................. 13
3. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA A AQUISIÇÃO DE PÓS-LARVAS (PL) ........... 14
1º etapa: Análise Macroscópica no Laboratório .................................................................. 15
2º etapa: Análise Microscópica (estruturas externas e internas).................................... 17
Teste de estresse ......................................................................................................................... 18
4. CUIDADOS NO TRANSPORTE DAS PÓS-LARVAS DO LABORATÓRIO PARA A
FAZENDA............................................................................................................................................ 19
5. CUIDADOS NA RECEPÇÃO DAS PÓS-LARVAS NA FAZENDA: .................................. 21
6. CULTIVO DE PÓS-LARVAS EM BERÇÁRIOS PRIMÁRIOS (INTENSIVO) E
SECUNDÁRIOS (RACEWAY) ......................................................................................................... 23
6.1 Captação de água............................................................................................................. 25
6.2 Limpeza e Sanitização das instalações...................................................................... 27
6.3 Preparação do ambiente de cultivo ............................................................................. 28
8.1 Povoamento do viveiro ................................................................................................... 35
9 REQUERIMENTO DE ÁGUA E SOLO PARA O CULTIVO ............................................... 36
9.1 Temperatura....................................................................................................................... 37
9.2 Oxigênio dissolvido (OD) ............................................................................................... 37
9.3 pH ......................................................................................................................................... 39
9.4 Alcalinidade Total ............................................................................................................. 40
9.5 Compostos nitrogenados .............................................................................................. 40
9.6 Dureza ................................................................................................................................. 41
9.7 Transparência da Água ................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 46
1. INTRODUÇÃO

A produção de pescado mundial tem crescido constantemente nas últimas


décadas de acordo com as informações sobre a produção global de pescado do
documento “Estado Mundial da Pesca e Aquicultura”, publicado pela Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Isso se deve ao constante
crescimento da atividade aquícola, haja vista que a pesca extrativista de organismos
aquáticos alcançou os limites sustentáveis e segue estável desde o final da década
de 1980. Além disso, a demanda mundial pelo pescado cresce em ritmo acelerado em
função do crescimento da população e da busca por alimentos saudáveis.
A aquicultura, ou cultivo de organismos aquáticos, vive atualmente um
momento que evidencia seu constante crescimento, tendo em vista que a produção
aquícola deste 2014, ultrapassou a produção de pescado de captura, quando este é
destinado ao consumo humano. De acordo com a tabela 01, podemos verificar que a
produção mundial da aquicultura teve um crescimento de 18,2 milhões de toneladas
de 2011 a 2016, o equivalente a um crescimento de 24,52%.

Tabela 01. Produção de pescado no mundo (Milhões de toneladas)


2011 2012 2013 2014 2015 2016
Pesca de Captura
Continental 10,7 11,2 11,2 11,3 11,4 11,6
Marinha 81,5 78,4 79,4 79,9 81,2 79,3
Total de capturas 92,2 89,5 90,6 91,2 92,7 90,9
Aquicultura
Continental 38,6 42,0 44,8 46,9 48,6 51,4
Marinha 23,2 24,4 25,4 26,8 27,5 28,7
Total Aquicultura 61,8 66,4 70,2 73,7 76,1 80,0
Total de Pescado 154,0 156,0 160,7 164,9 168,7 170,9
Utilização
Consumo Humano 130,0 136,4 140,1 144,8 148,4 151,2
Usos não alimentar 24,0 19,6 20,6 20,0 20,3 19,7
População (Bilhão) 7,0 7,1 7,2 7,3 7,3 7,4
Consumo de pescado per capita 18,5 19,2 19,5 19,9 20,2 20,3
Fonte: FAO, 2018

A aquicultura pode ser definida como o cultivo de organismos vivos que


possuem pelo menos uma parte do seu ciclo de vida na água. Esta atividade é
equiparada à atividade agropecuária, de acordo com o artigo 20 da Lei Nº 11.959 de
2009. A aquicultura é uma atividade milenar, havendo registros da criação de carpas
e de outros peixes pelos chineses há 4.000 anos.
A carcinicultura é o ramo específico da aquicultura voltado para a criação
de crustáceos, tendo os camarões como destaque. O camarão Penaeus vannamei é
a principal espécie cultivada mundialmente, haja vista que no ano de 2016
representou 53% das 7.862.000 toneladas de crustáceos produzidos.
No Brasil, a carcinicultura iniciou-se em 1994 com uma produção de 2.385
toneladas, chegando ao ápice de 90.000 toneladas, em 2003, período esse que 80%
dos camarões eram destinaram-se ao mercado internacional. No entanto,
enfermidades abalaram a indústria, como o vírus da mionecrose infecciosa muscular
(IMNV), e o vírus da mancha branca (WSSV), fazendo com que a produção de 2016
fosse de 60.000 toneladas, abaixo da produção recorde e sendo destinado quase em
sua totalidade para o mercado interno.
O estado do Ceará que em 2003 ocupava a 2° colocação como maior
produtor do país, tornou protagonista, após as enchentes ocorridas nos anos de 2008
e 2009 que destruíram ou danificaram as instalações de produção do Rio Grande do
Norte, maior produtor de camarões cultivados até então. Assim o camarão cultivado
em território cearense chegou no ano de 2016 com 700 produtores envolvidos com a
atividade, no qual ocupavam uma área de 10.407 hectares e obtiveram uma produção
de 27.614 toneladas. (Tabela 02)

Tabela 02. Dados Comparativos da Carcinicultura no Ceará


Produtores Ativos 2004 2011 2015 2016
Número de produtores 191 325 630 700
Área (ha) 3.804 6.580 9.744 10.407
Produção (Ton) 19.405 31.982 41.414 27.614
Fonte: Censo da Carcinicultura do Estado do Ceará 2015/2016, ABCC

De acordo com a tabela 02 é possível verificar que apesar da produção ter


diminuído no último ano, devido principalmente à chegada do vírus da Mancha Branca
(WSSV), que iniciara sua jornada no Sul do Brasil, em 2004 e chegara aos viveiros do
Ceará em junho de 2016, contudo existe uma expansão da atividade, sendo assim
importante dar suporte aos produtores continuarem a crescer e conviverem com as
enfermidades.
2. ASPECTOS LEGAIS, SOCIAIS E AMBIENTAIS

A aquicultura moderna segundo VALENTI (2000), possui três pilares: a


produção lucrativa, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social. Os
três componentes são essenciais e indissociáveis para que se possa ter uma atividade
perene.

Questões de ordem legal

As leis podem regular:


 Espécie e locais permitidos para o cultivo
 Quantidade de água a ser utilizada
 Qualidade dos efluentes
 Tipos de químicos e outras substâncias empregadas
 Formas de cultivo, despesca, processamento e comercialização dos
organismos aquáticos produzidos

Figura 01 – Influências das leis na aquicultura


Fonte: Modificado de Glenn & White, 2007. Prof Alberto

Na constituição brasileira de 1988 no CAPÍTULO VI é inteiramente


dedicado ao meio ambiente. Neste capítulo, no Artigo 225, fica assegurado que:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”

Como base para constituição 1988, a qual é considerada primeira


constituição brasileira verde, utilizou-se como base a lei federal Nº 6.938/81, a qual
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências. Está prevista na lei alguns
instrumentos, dentre ele o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA

Figura 02 – Organograma do SISNAMA em instância federal

Fonte: Arquivo pessoal

Conselho de Governo – Órgão superior do sistema, reúne todos os


ministérios e a Casa Civil da Presidência da República na função de formular a política
nacional de desenvolvimento do País, levando em conta as diretrizes para o meio
ambiente. Entretanto na pratica não existe.
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) – é o órgão consultivo
e deliberativo, formado por representantes dos diferentes setores do governo (em
âmbitos federal, estadual e municipal), do setor produtivo e da sociedade civil.
Assessora o Conselho de Governo e tem a função de deliberar sobre normas e
padrões ambientais, através de suas resoluções.
Ministério do Meio Ambiente (MMA) – órgão central, com a função de
planejar, supervisionar e controlar as ações referentes ao meio ambiente em âmbito
nacional.
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) – encarrega-se de executar e fazer executar as políticas e as
diretrizes nacionais para o meio ambiente.
Instituto Chico Mendes (ICMBio) - executar as ações do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, podendo propor, implantar, gerir, proteger,
fiscalizar e monitorar as UCs instituídas pela União.

O licenciamento ambiental é outro integrante dos instrumentos da Política


Nacional do Meio Ambiente, o qual atesta a viabilidade ambiental através dos Estudos
de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) da atividade
proposta. O licenciamento Ambiental foi conceituado pela Resolução CONAMA n.º
237, de 19 de dezembro de 1997, que diz:

“O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo pelo qual o órgão


ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de
empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas
efetivas ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam
causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e
as normas aplicáveis ao caso”.

O documento gerado é a licença ambiental, que tem prazo de validade


definido, em que o órgão ambiental estabelece regras, condições, restrições e
medidas de controle ambiental a serem seguidas por sua empresa. Possui três
etapas:
Licença Prévia: Antes de dar início, a empresa precisa requerer a Licença
Prévia (LP), que atende aos requisitos básicos exigidos pelo órgão ambiental
responsável. A licença é concedida na fase preliminar de planejamento, depois de
cumpridos esses requisitos durante a localização, instalação e operação. As leis de
uso do solo municipais, estaduais ou federais também devem ser observadas pelo
empreendedor.
Licença de Instalação: É concedida após o projeto executivo ser
aprovado com todos os requisitos atendidos. Por meio da Licença de Instalação (LI),
o órgão ambiental analisa a adequação do empreendimento ao local escolhido pelo
empreendedor.
Licença de Operação: A licença de operação (LO) é necessária para a
prática das atividades do empreendimento. Será concedida após as verificações do
cumprimento dos requisitos condicionantes, previstos na Licença de Instalação por
órgão responsável.

Além das leis de proteção ambiental, temos a Política Nacional de


Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela lei 9433/97, tem como um de seus
fundamentos o uso múltiplo das águas.
De modo garantir que todas as demandas de água do recurso hídrico como
irrigação, indústria, aquicultura, consumo humano e dessedentação animal, sendo
estas duas últimas prioridades em caso de escassez, a Lei da Água faz-se uso dos
instrumentos como:

Art. 5º
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

A outorga é o ato administrativo mediante o qual o poder público outorgante


faculta ao outorgado (requerente) o direito de uso de recurso hídrico, por prazo
determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato administrativo.
A outorga de água permite ao administrador do recurso hídrico realizar o
controle qualitativo e quantitativo minimizando conflitos entre os diversos setores
usuários e evitar impactos ambientais negativos.
Estão sujeitos a pedido de outorga empreendimentos que necessitam de:
 Derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água
para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo
produtivo;
 Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de
processo produtivo;
 Lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou
gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição
final;
 Aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
 Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água
existente em um corpo de água.

Para regularização aquícola, o empreendedor deve verificar a


dominialidade das águas onde se localiza o cultivo, ou seja, as águas públicas podem
ter domínio do Estado ou da União.
As águas da União são aquelas que banham mais de um Estado da
Federação, isto é, fazem fronteira entre estados nacionais e com outros países.
Também estão nesta condição as águas acumuladas em represas construídas com
aporte de recursos da União e o Mar Territorial brasileiro que se estende até as 200
milhas náuticas.
No Estado do Ceará em 10 de março de 2015, a Lei Nº15.773 que altera a
Lei Nº13.875, de 07 de fevereiro de 2007 e cria a Secretaria do Meio Ambiente
(SEMA). Vinculada ao SEMA, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente –
SEMACE tem a obrigação de executar a Política Ambiental do Estado do Ceará, ou
melhor, é responsável pela emissão da licença ambiental, independentemente da
dominialidade da água, conforme Lei Complementar nº 140/11 de 08 de dezembro de
2011, e Moção nº 090, de 06 de junho de 2008, pois está previsto que as OEMAs
(organizações estaduais do meio ambiente) ou prefeituras municipais são
responsáveis pelo o processo de licenciamento ambiental.
A emissão da outorga de uso da água está encarregada da Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH, também independentemente da
dominialidade da água, tendo em vista que até 2024, o Ceará poderá emitir outorgas
de direito de uso de recursos hídricos de domínio da União em território cearense.
Esta competência legal foi delegada pela Agência Nacional de Águas (ANA), por meio
da Resolução nº 1.047/2014.
Todavia, o Ceará não poderá outorgar aproveitamentos de potenciais
hidrelétricos no estado, atribuição que permanece com a ANA. No caso das outorgas
preventivas e de direito de uso de recursos hídricos do domínio da União com a
finalidade de aquicultura em tanques-rede, a Secretaria de Recursos Hídricos do
Ceará (SRH) terá que seguir os trâmites definidos entre a Agência Nacional de Águas
e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Figura 03 – Organograma do SISNAMA em instância estadual

Fonte – Arquivo Pessoal

Os procedimentos de licenciamento ambiental são orientados


principalmente pelas legislações:

CONAMA: COEMA:
Resolução nº 237/1997 Resolução n° 18/2013
Resolução nº 312/2002 Resolução nº 17/2013
Resolução nº 357/2005 Resolução n° 04/2012
Resolução nº 413/ 2009 Resolução n° 02/2002
Resolução nº 459/ 2013 Resolução n° 05/2001

A atividade aquícola desenvolve-se principalmente na zona rural, desta


forma sendo necessário conhecimento do novo código florestal, Lei 12.651 de 25 de
maio de 2012. Assim fica entendido sobre:
 Área de Preservação Permanente: Área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico
de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas.
 Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,
que no caso do bioma a qual o estado do Ceará está contido (Caatinga) e de
20% da propriedade rural.
 Área Rural Consolidada: Área de imóvel rural com ocupação antrópica
preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades
agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio.
 Interesse Social: implantação de instalações necessárias à captação e
condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos
são partes integrantes e essenciais da atividade.
 Atividades Eventuais ou de Baixo Impacto Ambiental: implantação de
instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados,
desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando coube.
 Leito regular: a calha por onde correm regularmente as águas do curso d'água
durante o ano
 Manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à
ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se
associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue,
com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e
com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do
Amapá e de Santa Catarina;
 Salgado ou marismas tropicais hipersalinas: áreas situadas em regiões com
frequências de inundações intermediárias entre marés de sizígias e de
quadratura, com solos cuja salinidade varia entre 100 (cem) e 150 (cento e
cinquenta) partes por 1.000 (mil), onde pode ocorrer a presença de vegetação
herbácea específica;
 Apicum: áreas de solos hipersalinos situadas nas regiões entre marés
superiores, inundadas apenas pelas marés de sizígias, que apresentam
salinidade superior a 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil),
desprovidas de vegetação vascular;

Figura 04 – Diferenças dos ambientes

Fonte – Prof. Márcio Bezerra

Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei. Os manguezais, em toda a sua extensão, margens dos
rios e corpos hídricos lênticos
Figura 05 – Diferenças dos ambientes

Fonte – Prof. Márcio Bezerra

Figura 06 – Diferenças dos ambientes

Fonte – Prof. Márcio Bezerra


Questões de ordem social

Geração de emprego e renda, principalmente em regiões rurais com pouca


atividade econômica, necessita-se de elevada mão de obra por área cultivada. A
cadeia produtiva envolve, sementes (pós-larvas, alevinos), ração, corretivos agrícolas,
fertilizantes, equipamentos e maquinário como motobombas, tratores, aeradores e
todo a linha de processamento e comercialização da espécie em questão.
A aquicultura requer uma infraestrutura composta de estradas para escoar
a produção, energia elétrica, incentiva a melhoria da educação local para formação
de mão de obra especializada, oferece novas oportunidades de emprego. Além de
promove a segurança alimentar, tendo em vista que a aquicultura gera fonte proteica
de alta qualidade.
Todavia pode gerar conflito de uso do solo com outros usuários locais, bem
como é uma atividade que faz uso direto da água superficiais ou subterrâneas podem
criar conflitos com outros usuários.

Questões de ordem ambiental

A intensificação e expansão descontrolada da produção aquícola nos


últimos anos resultou em um aumento de impactos negativos sobre o meio ambiente.
Pode-se citar de acordo com Boyd (2003):

 Destruição de manguezais, áreas de inundação, e outros ambientes aquáticos


sensíveis.
 Conversão de terras agrícolas a tanques aquícolas.
 Poluição da água resultante dos efluentes dos tanques de engorda.
 Uso excessivo de drogas, antibióticos, e outros produtos químicos.
 Utilização ineficiente de rações
 Salinização de terras e águas por efluentes, esgotos, e sedimentos de águas
salobras provenientes de sistemas de engorda.
 Uso excessivo de água subterrânea e outras fontes de água doce para
abastecimento de tanques.
 Propagação de doenças animais da cultura de organismos para populações
nativas.
 Efeitos negativos sobre a biodiversidade causados pela fuga de espécies
exóticas introduzidas para produção, destruição de pássaros e outros
predadores.
 Conflitos com outros usuários dos recursos hídricos e rompimento das
comunidades vizinhas.

Contudo estes impactos ocorrem devido:

 Falta de ordenamento das fazendas.


 Pouco ou nenhum controle sanitário.
 Tratamento inexistente dos efluentes.
 Fazendas não projetadas para reutilização da água.
 Inobservância de procedimentos regulares de biossegurança.
 Falta de planejamento ambiental.

3. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA A AQUISIÇÃO DE PÓS-LARVAS


(PL)

A viabilidade no cultivo de camarão, depende que todas as etapas do ciclo


produtivo sejam bem realizadas, contudo em uma fazenda bem estruturada e
gerenciada, a qualidade das pós-larvas (PL) é o ponto crítico da produção. A aquisição
de PL de baixa qualidade poderá trazer riscos sanitários, através da introdução de
animais doentes ou portadores de agentes patogênicos, acarretando assim
mortalidade no viveiro e consequentemente perdas econômicas. Ainda que isso não
aconteça, os parâmetros zootécnicos como a taxa de crescimento e fator de
conversão alimentar poderão ser comprometidos.
Desta maneira recomenda-se que o produtor adquira pós-larvas de
laboratórios reconhecidamente idôneos e com histórico de produção de qualidade.
Apesar disso é aconselhável uma visita ao laboratório de modo a realizar uma
avaliação das pós-larvas quanto aos seus aspectos comportamentais, nutricionais,
fisiológicos e sanitários, pois essa é uma das ferramentas mais importantes para
atestar a qualidade.
Existem em torno de 20 indicadores de avaliação da qualidade de pós-
larvas, contudo de modo a facilitar ao produtor está avaliação pode ser feita em duas
etapas:

1º etapa: Análise Macroscópica no Laboratório

As características físicas e comportamentais das pós-larvas podem indicar


seu estado geral de qualidade, desta maneira o produtor pode realizar exames a olho
nu observando os seguintes aspectos:

1. Ausência de pós-larvas mortas - A presença de pós-larvas mortas pode indicar


condições desfavoráveis a sanidade dos animais.
2. Uniformidade – Se houver alteração superior a 20%, é indicativo de problemas
de subnutrição ou à qualidade da ração, perda da qualidade genética dos
reprodutores ou presença de enfermidade viral, como o vírus do nanismo,
IHHNV.
3. Crescimento pela idade - Esse parâmetro é acompanhado através da relação
entre o número de pós-larvas em 01 (um) grama, de acordo com a tabela 03
abaixo.

Tabela 03 - Avaliação do crescimento das pós-larvas em função da idade.


IDADE VALORES DE REFERÊNCIA DO PLs/g
PL5 1012 1115
PL6 835 937
PL7 712 720
PL8 589 606
PL9 493 565
PL10 403 466
PL11 334 376
PL12 239 299
Fonte: Curso de Boas Práticas de Manejo e Biossegurança: Fazendas de Engorda Nível II – ABCC,
2012.
A tabela informa um intervalo de quantas Pl’s deve-se conter em um grama
de acordo com a sua idade. É recomendável a aquisição a partir de PL10, haja vista
que a estrutura branquial está quase completa, como será demostrado mais à frente.
4. Estrutura corporal – As Pl’s devem apresentar um formato alongado e
coloração translúcida.

Foto 07: PLs com formato alongado e coloração translúcida

Fonte: Google Imagens

5. Atividade natatória – As pós-larvas de qualidade nadam contra a corrente


(reotaxia positiva), não se agrupam, não nadam de forma errática ou
espiralada.

Foto 08: Atividade natatória das Pl’s

Fonte: BEZERRA, João Henrique - 2017


2º etapa: Análise Microscópica (estruturas externas e internas)

A avaliação microscópica garante ao produtor uma maior garantia da


qualidade das Pl’s, a julgar por aumentar a capacidade de identificar os problemas
antes que se tornem perceptivos aos exames macroscópicos. Desta forma, é ideal
analisar entre 50 e 100 pós-larvas, averiguando 5 pl’s/lâmina com ampliação de 40x,
os seguintes critérios:

1. Grau de pigmentação - A avaliação deve ocorrer imediatamente, haja vista


que o os cromatóforos tendem a se expandir com o manejo. Os
cromatóforos expandidos e ramificados podem indicar nutrição deficiente,
manejo inadequado, infecções e estresse.
2. Conteúdo intestinal - Pós-larvas com boa saúde geralmente se alimentam
continuamente, com isso contém toda sua extensão de seu intestino todo
preenchido por alimento.
3. Movimento intestinal (peristaltismo) - Os movimentos rítmicos do trato
intestinal indicam um bom funcionamento do sistema digestório das pós-
larvas. Da mesma forma, a coloração variando da cor parda a alaranjada
do hepatopâncreas sugere que as pós-larvas foram alimentadas
adequadamente.
4. Ausência de deformidades físicas - Deformidades são decorrentes de
infecções bacterianas, infecção viral (IHHNV), alimentação de baixa
qualidade ou problemas genéticos. Sujeiras e impregnações na carapaça e
brânquias.
5. Presença de lipídeos no trato intestinal e hepatopâncreas - A presença de
vacúolos digestivos, também chamados gotas de lipídeos, no
hepatopâncreas e intestino indicam uma boa alimentação e digestão. A
coloração do hepatopâncreas pode variar de tons pardos a alaranjado.
Hepatopâncreas atrofiados e descoloridos sugerem infecção ou má
nutrição.
6. Idade dos animais pela avaliação dos espinhos no rostrum e/ou arcos
branquiais - Pós-larvas entre 9 e 12 dias de idade apresentam entre 3 e 4
dentes na parte superior do rostrum e arcos branquiais de acordo com a
foto 09

Foto 09: Avaliação de espinhos rostrais e arcos branquiais de Pl’s de acordo com a idade

Fonte: Curso de Boas Práticas de Manejo e Biossegurança: Fazendas de Engorda Nível II – ABCC,
2012

7. Relação músculo x intestino - A largura do músculo ventral no sexto


segmento abdominal deve representar uma proporção entre 3 ou 4 vezes
maior em relação ao intestino. Recomenda-se que a análise seja realizada
até 20 minutos após a morte dos animais.

Foto 10: Relação Músculo x Intestino em animal saudável

Fonte: Curso de Boas Práticas de Manejo e Biossegurança: Fazendas de Engorda Nível II – ABCC,
2012

Teste de estresse

A qualidade das pós-larvas também deve ser avaliada por meio de um teste
de estresse, o qual consiste em expor os animais a uma variação brusca de um
parâmetro conhecido e depois avaliar sua recuperação. Normalmente se utiliza uma
redução da salinidade como descrito a seguir.
1. Prepara-se uma amostra (500 mL) com salinidade entre 0 e 2 ppt;
2. Deposita-se uma amostra contendo entre 100 e 200 pós-larvas na água com
baixa salinidade;
3. Retiram-se as pós-larvas da água de baixa salinidade após 30 minutos e
submetem-nas à salinidade do tanque de cultivo por mais 30 minutos;
4. Ao final do segundo período devem-se contar as larvas mortas. O resultado
deve ser expresso em percentagem.

Para produtores que cultivam camarão marinho em baixas salinidades realiza-


se o teste com formalina (100 mg/L por 30 minutos), seguindo o mesmo processo.

Tabela 03 - Avaliação do teste de estresse.


SOBREVIVÊNCIA AVALIAÇÃO
90 a 100% Excelente
85% Bom
80% Regular
<80% Inaceitável
Fonte: Curso de Boas Práticas de Manejo e Biossegurança: Fazendas de Engorda Nível II – ABCC,
2012.

A avaliação dos parâmetros não pode ser realizada individualmente, como


também ser excessivamente rigorosos, de forma que raramente possam ser
cumpridos, tendo em vista que alguns dos parâmetros possuem correções à curto
prazo, a partir de modificações simples no manejo.
Seguindo as recomendações apresentadas, facilita ao avaliador escolher
pós-larvas de melhor qualidade.

4. CUIDADOS NO TRANSPORTE DAS PÓS-LARVAS DO LABORATÓRIO


PARA A FAZENDA

O produtor ou seu técnico deve acompanhar a contagem das Pl’s ainda no


laboratório, sempre que possível, caso contrário poderá ser realizado na fazenda
antes do povoamento.
A contagem da Pl’s pode ser principalmente:

 Método Volumétrico

Promover agitação aleatório e constante na água do tanque a qual as Pl’s


se encontram, com auxílio de um frasco graduado de 500mL, retiram amostras e com
uma peneira fina e uma agulha de injeção encurvada realiza-se a contagem das Pl’s
(Foto 11). Esse procedimento deve ser realizado no mínimo três vezes. O cálculo total
dos animais existente no tanque é realizado por:

NTL = (VT x NL) / VF,


Onde:
NTL – Número de larvas no tanque
VT – Volume de água no tanque
NL – Número médio de larvas amostradas
VF – Volume do frasco amostral

Foto 11: Contagem das Pl’s

Fonte: Fazenda Barra de Mamanguape – 2017

As pós-larvas são geralmente transportadas por vias rodoviárias, em sacos


plásticos duplos com capacidade para 16L de água, infladas com oxigênio puro e
acondicionados em caixas de papelão, ou em caixas de isopor para viagens acima de
8h. Como também em caixas de transporte (submarino) equipadas com cilindros de
oxigênio puro e compressores de ar de 12 volts, nesse último caso é indispensável a
higienização a cada uso.
O metabolismo das Pl’s durante o transporte resulta no consumo de
oxigênio dissolvido (O2) e na liberação de dióxido de carbono (CO2) e amônia (NH3)
reduzindo o pH. Tanto o CO2 como a NH3 podem ter efeitos adversos na saúde dos
camarões, assim é importante durante o transporte manter sempre uma alta
concentração de O2 para reduzir o estresse. A temperatura é um dos fatores chaves
para alcançar uma boa eficiência no transporte, sendo assim importante programar
de tal forma que as pós-larvas cheguem a fazenda em horários de menor temperatura.
Na tabela 04 há recomendações de tempo, temperatura, densidade de estocagem e
alimentação durante o transporte.

Tabela 04: Recomendações para o transporte de PL’s 10.


TEMPO TEMPERATURA DENSIDADE ALIMENTO (NÁUPLIOS/PL)
(HORAS) (°C) (PL/Litro)SACOS CAIXAS DE
PLÁSTICOS TRANSPORTE
0-3 Ambiente 1.000 30 35
3,1 – 5 25 1.000 35 40
5,1 – 8 24 1.000 45 50
8,1 – 12 23 900 – 1.000 50 55
12,1 – 15 22 900 55 -
12,1 – 15 20 800 – 900 60 -
> 18 18 700 - 800 65 -
A utilização de caixas de transporte requer parada a cada três horas para
alimentação das pós-larvas e checagem do sistema de aeração.
Fonte: Programa de Biossegurança na Fazenda de Camarão Marinho – ABCC, 2003.

5. CUIDADOS NA RECEPÇÃO DAS PÓS-LARVAS NA FAZENDA:

Conforme já explicado é fundamental que a chegada de pós-larvas ocorra


em horários de temperatura mais amena, tendo em vista que os camarões são animais
ectotérmicos, cuja a fonte de calor corporal provém fundamentalmente do meio
exterior, dessa maneira tendo seu metabolismo influenciado pela a temperatura do
ambiente.
O tempo de aclimatação, ou seja, tempo necessário para o organismo
ajusta-se ao novo ambiente, deve ser o menor possível. A redução do tempo de
aclimatação depende da sincronia entre o produtor e o laboratório, de modo que o
laboratório fornecedor faça uma aclimatação prévia das pós-larvas para minimizar as
diferenças entre os ambientes. Parâmetros abióticos da água (temperatura, pH,
salinidade, oxigênio dissolvido, alcalinidade, dureza, amônia e nitrito) deverá ser
cuidadosamente acompanhado, de forma que o povoamento só ocorra quando os
valores das variáveis estiverem equilibrados (diferença máxima de 3 para salinidade,
2°C para temperatura e 0,5 para o pH).
Para aclimatar as pós-larvas adiciona-se lentamente água do novo
ambiente de cultivo. A coleta dessa água deverá ser feita de modo que não traga
sólidos em suspensão. Contudo na tabela 05 há recomendações de tempo para
variação dos parâmetros.
Tabela 05: Recomendações para aclimatação da salinidade, pH e temperatura.
VARIÁVEL FAIXA PROCEDIMENTO
Salinidade 30 a 15 1 a cada 20 minutos
(reduzir) 15 a 10 1 a cada 30 minutos
10 a 0 Consultar Tabela 6
Salinidade 30 – 40 1 a cada 15 minutos
(elevar) 40 – 50 1 a cada 30 minutos
pH - Aumentar ou reduzir 0,5 unidade/hora
Temperatura (°C) Reduzir 1°C a cada 15 minutos
Elevar 1°C a cada 15 minutos
Fonte: Curso de Boas Práticas de Manejo e Biossegurança: Fazendas de Engorda Nível II – ABCC,
2012.

Tabela 06: Recomendações para aclimatação da salinidade, pH e temperatura.


VARIÁVEL FAIXA PROCEDIMENTO
Salinidade 6 a 10 1 a cada 3 horas
3a6 1 a cada 4 horas
0a3 1 a cada 6 horas
Fonte: Curso de Boas Práticas de Manejo e Biossegurança: Fazendas de Engorda Nível II – ABCC,
2012.

 Fórmula para ajustar a salinidade

VAA = VC – ((SD – SV) x VC) / (SC – SV)

Onde:
VAA – Volume de água a ser retirada da caixa de aclimatação
VC – Volume da caixa
SD – Salinidade desejada
SV – Salinidade do viveiro/tanque
SC – Salinidade da caixa

Para atingir a salinidade final desejada, siga orientações das tabelas de


aclimatação.
É importante observar o comportamento e estado das Pl’s, alguns fatores
indicam estresse do animal, tais como o nível de atividade, a opacidade do músculo
da cauda (cauda esbranquiçada), a frequência de muda, mortalidade e natação em
parafuso. Nesses casos a velocidade de alteração dos parâmetros deve ser diminuída
ou até interrompida por algum tempo. Após a aclimatação, as pós-larvas são
transferidas por sifonamento para o viveiro.
Para estimar a sobrevivência e avaliar a eficiência da aclimatação, o
produtor pode construir três pequenas gaiolas com tampa, com armação de madeira,
com dimensões aproximadas de 30 x 30 x 70 cm (Foto 12), toda revestida com telas
de 0,5 ou 1mm dependendo da idade da PL. As três gaiolas devem ser fixadas ao
fundo do viveiro e no momento do povoamento cada uma recebe cerca de 100 Pl’s e
com 24, 48 e 72 horas cada uma é analisada respectivamente. O número de pl’s
sobreviventes é indicativo do estresse e qualidade.

Foto 12: Caixa telada para estimar sobrevivência inicial após o povoamento

Fonte: Camarões Marinhos (Engorda) - 2002

6. CULTIVO DE PÓS-LARVAS EM BERÇÁRIOS PRIMÁRIOS (INTENSIVO) E


SECUNDÁRIOS (RACEWAY)

A engorda do camarão pode acontecer em diferentes fases de cultivo, ou


seja, pode ocorrer do início ao fim em uma única estrutura de cultivo, denominada de
monofásica, ou pode ser bifásico ou trifásico quando apresentar duas ou até três
estruturas de cultivos em um único ciclo de produção. Estas estruturas intermediárias
entre a larvicultura e a engorda, são chamadas de berçários, abrange o estágio de
crescimento do camarão compreendido entre as fases pós-larval e juvenil.
Os tanques berçários intensivos são uma importante ferramenta para
otimizar a logística de produção, regularizando o fluxo de recebimento de pós-larvas
dos laboratórios e o povoamento de viveiros recém preparados. Os tanques berçários
permiti:
(a) aclimatar os camarões as condições ambientais da fazenda;
(b) manter um inventário e avaliar a qualidade dos estoques adquiridos;
(c) reduzir o risco de exposição de camarões muito jovens a potenciais
patógenos e predadores;
(d) detectar precocemente problemas e enfermidades, antecipando a
aplicação de medidas profiláticas e (ou) corretivas;
(e) implementar programas mais agressivos de nutrição e alimentação de
pós-larvas;
(f) homogeneizar as características zootécnicas dos camarões a serem
utilizados na engorda;
(g) diminuir a frequência de viveiros com baixas taxas de sobrevivência;
formar estoques reguladores de pós-larvas, e;
(h) elaborar projeções mais confiáveis referentes a produção.

Começar a engorda com juvenis ou pós-larvas em um estágio mais


avançado de desenvolvimento, além de reduzir os riscos financeiros, tem diminuído o
tempo de permanência dos camarões nos viveiros, aumentando a rotatividade dos
ciclos de engorda e a produtividade anual do empreendimento.
Por outro lado, a utilização de berçários primários e secundários (Foto 13)
ainda representa como uma alternativa de maior viabilidade para a exclusão de
possíveis enfermidades, especialmente pela facilidade de controle e manutenção da
temperatura da água de cultivo em valores entre 31 a 33ºC por um período contínuo
de no mínimo 7 dias o que, segundo informações amplamente divulgadas na literatura,
desativa o vírus WSSV em pós-larvas positivas, as quais se apresentam como uma
das ameaças de disseminação de enfermidades para as fazendas de camarão. A
utilização de menores volumes de água nos berçários e raceways em relação aos
viveiros de engorda facilita o tratamento da água para eliminação de vírus e bactérias
patogênicas.
Foto 13: Imagens de Berçário Primário e Secundário

Fonte: Berçários Intensivos, Raceways e Crescimento Compensatório - Aumentando o número de


ciclos de cultivo por ano, ABCC - 2016

Os tanques berçários intensivos podem ter um formato quadrado,


retangular ou circular. No Brasil os berçários primários são geralmente circulares.
Esses apresentam algumas vantagens operacionais, pois são mais fáceis de limpar,
tendo em vista que não possuem cantos e, portanto, não tendem a acumular restos
orgânicos. Devido ao seu formato, propicia uma melhor circulação de água e uma
renovação mais homogênea. No fundo, os tanques berçários apresentam uma
geometria parcialmente cônica, ou seja, o piso possui uma leve declividade de 0,5 a
1% em direção ao centro do tanque onde é montado o sistema de drenagem.
Os berçários secundários tendem a ser retangulares ou compridos com
correnteza d'água, também conhecidos como Raceways (Água em movimento).
Os materiais mais utilizados na construção são concretos, tijolos, fibra de
vidro, madeira, compensados, lona de alta resistência, PVC e a borracha de etileno-
propileno (EPDM).

6.1 Captação de água

Cada tanque berçário é equipado com um sistema independente de


abastecimento e drenagem de água. Os berçários são abastecidos mecanicamente
com água provinda dos canais de adução dos viveiros, utilizando-se uma bomba
elétrica centrífuga de 1 a 2 cv. O abastecimento mecânico é utilizado, pois se faz
necessário uma filtragem preliminar da água. Podem ser utilizados filtros de areia ou
tanques de decantação, sendo mais comum o uso de filtros de bolsa feitos com malha
fina.
Foto 14: Manga de filtragem no cano de abastecimento de água do berçário.

Fonte: Panorama da Aquicultura (n° 69)

Os filtros de bolsa devem ser instalados em dois pontos, no local de sucção


de água e na torneira de abastecimento do tanque berçário. Na captação, é construído
um sistema de filtro simples utilizando tubulações de PVC. Imerso no canal de adução,
deve ser instalado um cano de PVC com 6" de diâmetro (bitola) por 1,5 m de
comprimento, lacrado com um cap em uma de suas extremidades e possuindo ao
longo de toda sua extensão, perfurações com 2 cm de diâmetro. No seu interior, é
fixado um tubo de PVC de 110 mm de diâmetro corrugado e perfurado. O cano deve
ser revestido com uma bolsa feita com uma malha de 1000 micras. Esta estrutura tem
como objetivo reduzir a incidência de pequenas pedras, gravetos ou de materiais
finos, como areia, no sistema de abastecimento. Estes materiais podem vir a danificar
a bomba ou entupir as tubulações. No ponto de captação, o filtro deve manter-se
completamente imerso na água, posicionado horizontalmente e distante cerca de 10
a 15 cm do fundo do canal. Na torneira de abastecimento de água do berçário, é fixada
uma manga de filtragem com aproximadamente 20 cm de comprimento, feita com
malha de 300 micras.
A captação dessa água também pode ser através de poços, cujo benefício
é a inexistência de patógenos, eliminando os tratamentos de filtragem e desinfecção.
Entretanto, águas oriundas de poços, podem oscilar sua composição física e química
ao longo do ano e de região para região, logo devem ser previamente analisadas
quimicamente em laboratórios especializados. Águas de poços são comumente ricas
em amônia, gás sulfídrico, ferro, gás carbônico, entre outros compostos tóxicos, os
quais devem ser eliminados através do emprego de uma forte aeração na água antes
do povoamento durante 48h ou até eliminação total destes compostos, assim como a
utilização de torres de desgaseificação pré-abastecimento. Parâmetros como
alcalinidade e dureza de águas de poço também podem estar fora dos valores ideais,
podendo ser corrigidos.
Independente da origem da água de captação do setor de berçário, de
modo a evitar qualquer tipo de contaminação, deve-se realizar a desinfecção por meio
de produtos específicos e em concentrações adequadas. O cloro na concentração de
30 ppm de produto ativo (cloro livre) proporciona uma esterilização microbiana eficaz,
embora possam ser utilizadas concentrações maiores, especialmente se o nível de
matéria orgânica for elevado. Nesse processo recomendamos o uso de hipoclorito de
cálcio cuja concentração comercial é comumente de 65% de produto ativo. Neste caso
deve-se aplicar 48g/m3 do produto comercial para a obtenção de uma concentração
de 30mg/L (= 30ppm) do produto ativo. Após a aplicação espera-se agir por um
período mínimo de 48 horas. Caso se faça necessário, o cloro residual deve ser
neutralizado empregando-se tiossulfato de sódio na proporção de 2,85g do produto
para cada grama de cloro ativo residual.

6.2 Limpeza e Sanitização das instalações

Todo início e fim de um ciclo de cultivo as estruturas de berçários e seus


equipamentos devem passar por uma limpeza (Foto 15), na qual consiste em remoção
física das impurezas e em seguida utiliza-se sanitizantes (produtos químicos) nos
equipamentos e instalações. Esse último deve ser utilizado em concentrações e
períodos suficientes para eliminar os organismos patogênicos.

Foto 15: Limpeza de um berçário após a despesca.

Fonte: MCR Aquacultura Ltda – 2003.


A sanitização deverá ser efetuada por pessoal treinado e devidamente
paramentado com Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como botas e luvas
impermeáveis, máscaras que impedem a inalação de partículas e gases, óculos
incolor e de plástico com proteção lateral e válvulas para ventilação.

O fluxograma da limpeza e sanitização seguem as seguintes etapas:

Fonte: MCR Aquacultura Ltda – 2003.

6.3 Preparação do ambiente de cultivo

A preparação dos tanques berçários primários tem início pelo sistema de


aeração. A aeração é realizada por compressores de ar (sopradores) e distribuída por
difusores de ar feitos de mangueiras de borracha microperfuradas, também chamadas
de aerotubos. O teor de oxigênio dissolvido (OD) na água deve estar acima de 5,0
mg/L, considerando-se 4,0 mg/L como um valor mínimo recomendado.

Foto 16: Uso de mangueiras porosas de alta eficiência para aeração artificial de tanques berçários

Fonte: Google Imagens


Após o sistema de aeração está completamente instalado é ideal a
introdução de substratos artificiais. A utilização de substratos artificiais aumenta a área
de acomodação para as PLs, reduzindo o canibalismo; bem como, proporciona uma
disponibilidade de alimento natural (biofilme ou perifíton); funcionando também, como
substrato adicional para bactérias nitrificantes; promovendo o desenvolvimento da
comunidade microbiana autóctone, que atuam com ação probiótica sobre os
organismos cultivados, reduzindo os riscos de doenças por meio da exclusão
competitiva de patógenos e, melhorando os índices zootécnicos.
Recomenda-se a utilização de telas de polietileno (1,0 mm) por sua alta
durabilidade que devem ser instalados verticalmente na proporção de 1:1 em relação
à área de fundo (50 m2 de área de fundo: 50 m2 de substrato) e dispostos de forma
que não dificultem o manejo.
Com toda parte estrutural montada à atenção é voltada para as condições
ideais da qualidade da água, onde a mesma é alcançada por meio do sincronismo
entre a preparação da água e a estocagem das PLs. Dessa forma é fundamental saber
os valores ideais de cada parâmetro da água como também suas relações.

Tabela 07 – Resultados obtidos na análise qualitativa da água.


Variável Limnológica Valor de referência Unidade
Alcalinidade > 100 mg/L CaCO3
Cálcio > 40 mg/L
Magnésio > 20 mg/L
Dureza total > 200 mg/L CaCO3
Nitrito < 1,0 mg/L
Amônia < 0,5 mg/L
pH 7,3 – 8,8
Ferro < 1,0 mg/L
Potássio > 40,0 mg/L
Gás sulfídrico < 0,002 mg/L
Matéria orgânica < 80 mg/L
Fósforo < 0,5 μg/L
Salinidade > 0,1
Condutividade > 1000 μS/cm
Fonte: Boyd & Tucker (1998); Nunes (2001); Lin &Chen (2003)

Em regra geral, o aumento da produtividade primária da água utilizada nos


cultivos em tanques berçários e raceway se dá por meio do uso de fertilizantes
químicos.
Recomenda-se que os fertilizantes sejam incorporados na água buscando
concentrações máximas de 2,0 mg/L de Nitrogênio (N), 0,3 mg/L de Fósforo (P) e 1,0
mg/L de Sílica (Si). Cultivos realizados em baixas salinidades devem manter os níveis
de potássio (K) e magnésio (Mg) próximos de 40 e 20 mg/L, respectivamente.
Assim é iniciado o protocolo de cultivo de acordo com a tabela 08.

Tabela 08 – Protocolo de Cultivo.


DIA PROCEDIMENTO
-5 Esterilizar
-4 Repouso
-3 Repouso
-2 Abastece até 100 % do volume + correção balanço iônico + fertilização
-1 Repouso
0 Povoa
1 Sem procedimentos
2 Sem procedimentos
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a ração + probiótico
3 10% de renovação (caso necessário)
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a ração + probiótico
4 10% de renovação (caso necessário)
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a ração + probiótico
5 10% de renovação (caso necessário)
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a ração + probiótico
6 10% de renovação (caso necessário)
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a ração + probiótico
7 10% de renovação (caso necessário)
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a ração + probiótico
8 10% de renovação (caso necessário)
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a ração + probiótico
9 10% de renovação (caso necessário)
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a ração + probiótico
10 10% de renovação (caso necessário)
Sifonagem de fundo + melaço de acordo com a amônia + probiótico
11 10% de renovação (caso necessário)
Fonte: Autor

Observações:

Realizar análise de amônia e nitrito a cada 3 dias


Melaço: Dividir aplicação do melaço em no mínimo duas aplicações/dia.
Alcalinidade: Corrigir sempre que necessário
O camarão Litopenaeus vannamei e outros organismos de água salgada
exigem constantes químicas na qualidade da água que devem ser mantidas. Recentes
pesquisas têm demonstrado que a composição iônica da água exerce influência direta
no crescimento e na sobrevivência final.
O balanço iônico são proporções de determinados cátions e ânions
expressos em Mg/l, que devem ser mantidos para que os organismos se desenvolvam
de forma saudável. A relação Ca/Mg/K, que melhor se aplica, independentemente de
salinidade, irá ser a mais próxima da proporção da água do mar 1-3-1
respectivamente.

Tabela 09 – Exemplo de correção do balanço iônico


BALAÇO IÔNICO NA ÁGUA
Sais
Cálcio Magnésio Potássio
3
Concentração (g m ) 25,23 22,84 19,79
Fator* 11,6 39,1 10,7
Salinidade (ppt) 0,59
3
Concentração Mínima (g/m ) 6,8 23,1 6,3
Volume (m3) 5.000
Quantidade do íon na água do
126,2 114,2 99,0
viveiro(kg)
Relação Real na água do viveiro 1 0,9 0,8
Relação ideal 1 3 1
Quantidade ídeal do íon a ser
378,5 126,2
adicionada (kg)
Quantidade do íon a ser adicionada
264,3 27,2
(kg)
Fonte Sulfato de magnésio Cloreto de potássio
% do íon na fonte 9 60
Quantidade do íon por kg da fonte
0,1 0,6
(kg)
Kg por saca 25 25
Quantidade do íon por saca da fonte
2,25 15
(KG)
Nº de sacas 117,44 1,81
Saca (R$) 39 44
Custo (R$) 4.580 80
Custo total (R$) R$ 4.660,12
Fonte: Autor
7 PRODUÇÃO DE PÓS-LARVAS E JUVENIS COM TECNOLOGIA DE
BIOFLOCOS

O sistema de cultivo em bioflocos (BFT), ou também denominado de “zero


exchange aerobic heterotrophic culture system” (ZEAH). A grande vantagem desse
sistema é a diminuição da emissão de efluentes, além de aumentar a produtividade
em um menor espaço físico. O sistema reduz ainda o risco de introdução e
disseminação de doenças e possui a capacidade de complementar a dieta dos
animais através da produção de alimento natural.
A manutenção dos flocos bacterianos adotando os procedimentos de
Avnimelec (2007) com melaço de cana de açúcar em pó para manter a relação
carbono: nitrogênio em torno de 20:1 até a formação dos bioflocos. Para isso,
determinou-se a quantidade de carbono adicionado a ser assimilado pelos
microrganismos, pela equação abaixo.

ΔCmic = ΔCH x %C x E

Onde:
ΔCmic - quantidade de carbono assimilada pelos microrganismos;
ΔCH – quantidade de carbono
%C - percentual de carbono presente na fonte de carboidrato adicionado e;
E - Coeficiente de conversão microbiana.

A quantidade de nitrogênio necessária para produção de novas células


bacterianas (ΔN), a qual depende da relação C: N na biomassa microbiana. A razão
entre carbono e nitrogênio na biomassa microbiana está em torno de 4.

ΔN = ΔCmic / [C/N]mic

Substituindo, tem-se que: ΔN = ΔCH x %C x E / [C/N]mic

Pode-se considerar os valores de %C e E, como sendo 0,5 e 0,4,


respectivamente. Porém, uma vez que (ΔN) é a quantidade de nitrogênio necessária
para produção de novas células microbianas, esta pode ser a quantidade de nitrogênio
adicionada. Ou seja, depende do teor de proteína contido na ração ofertada.

ΔN = Ração (g) x % N ração x % N excretado

Onde:
Ração (g) - quantidade de ração fornecida;
% N ração - o percentual de nitrogênio na ração e;
% N excretado - o percentual de nitrogênio excretado no ambiente de cultivo.

Para se calcular a quantidade de nitrogênio na ração, utilizou-se o


percentual de proteína bruta (PB), substituindo-o.

% N ração = % de PB x (6,25-1) / 100

Finalmente, a quantidade de carboidrato necessária para remoção do


nitrogênio foi calculada pela equação 05. Para isto, utilizou-se o percentual de carbono
(%C) presente no melaço, que fica em torno de 33%.

ΔCH = ΔN / (%C x E x [C/N]mic)

8 CULTIVO EM VIVEIROS DE ENGORDA

A preparação do viveiro visa disponibilizar alimento natural, ou seja, o


plâncton (fitoplâncton + zooplâncton) em quantidade e qualidade necessárias, além
de contribuir com a manutenção da qualidade da água.
O preparo do viveiro envolve sua limpeza, calagem, adubação e
enchimento. Antes do enchimento é importante efetuar uma limpeza prévia, retirar o
excesso de vegetação e matéria orgânica. Entre os ciclos de produção, deve-se
esvaziar totalmente o viveiro e aplicar cal virgem em toda a sua extensão,
principalmente dentro das poças de água. É importante que o viveiro possa
permanecer vazio por no mínimo cinco dias, para total secagem pelo sol, quando for
possível.
A calagem é uma técnica, na qual funciona como desinfecção e também
para melhorar a qualidade química, física e biológica da água e do solo do viveiro.
Aplicação de um composto a base de cálcio e magnésio. O aumento dos
teores de cálcio e magnésio elevam a dureza e consequentemente à alcalinidade
devido a maioria desses compostos estarem ligados aos carbonatos e bicarbonatos.
Uma análise do solo do fundo do viveiro pode expressar a necessidade ou
não da calagem. É retirada uma camada de 15 centímetros de espessura de vários
pontos do viveiro, misturados em um recipiente e retirado uma amostra para se
determinar a quantidade exata de calcário necessária para a correção do pH.

Tabela 10: Calagem conforme pH do solo


pH do solo do viveiro Tipo de solo – Quantidade de calcário
Argiloso Arenoso
4,5 3.000 kg/ha 1.500 kg/há
5,0 2.500 kg/há 1.500 kg/há
5,5 1.500 kg/há 1.000 kg/há
6,0 1.000 kg/ha 500 kg/ha
Fonte: Apud. Manual Criação de Peixes em Viveiros, Zimmermann, 1998

A calagem deve ser feita com antecedência de 10 dias ao enchimento,


entretanto podem ser utilizados quando viveiros já estão cheios, através de em sacos
imersos que permitam o escoamento do produto ou a lanço por toda a superfície
d’água.

Figura 17: Calagem em um viveiro

Fonte: Gooogle Imagens


A fertilização dos viveiros pode ser química ou orgânica. É utilizada para
promover o plâncton. Assim os viveiros devem ser fertilizados previamente ao
povoamento, visando o fornecimento de alimento natural, além de uma cobertura
contra os raios solares.

Recomendações de fertilização pra 1ha (Bocashe)


 30Kg de Farelo de trigo
 25Kg de Silicato
 500g de fermento biológico
 15Kg de Melaço
 Probiótico
 Água (Deixar a mistura pastosa)

No enchimento do viveiro o sistema de abastecimento deve está provido


de proteção contra entrada de outros organismos aquáticos.

8.1 Povoamento do viveiro

A soltura dos animais pode ocorrer quando o viveiro ainda pela metade,
contudo o ideal é quando estiver completamente cheio. Essa operação deve ser feita
nas primeiras horas do dia.
A densidade de estocagem vai depender da especialidade do cultivo, ou
seja, qual a fase do ciclo de vida do organismo. Atuamente é visto densidades de
estocagem variando entre 7 a 70 camarões/m 2 em sistemas semi-intensivo, quando
se utiliza novas tecnologias pode alcançar até 500 cam/m2
Semanalmente ou a cada 15 dias é realizado uma biometria, o manejo de
captura, medição e pesagem de uma amostra dos camarões cultivados, assim o
aquicultor conseguirá saber se o crescimento dos animais está dentro da normalidade.
Quando o cultivo se encontra em perfeitas encontra-se crescimento de 1 a 1,5 g por
semana.
A aeração mecânica aumento o nível de OD de um determinado corpo
hídrico, através da turbulência, aumentando área de exposição da água com a
atmosfera, além de promover a circulação, assim levando água oxigenada para outras
áreas do viveiro. O seu uso depende da biomassa estocada, no Brasil se em utilizado
cerca de 2 a 8 cv para cada 200 a 400 kg de camarão

9 REQUERIMENTO DE ÁGUA E SOLO PARA O CULTIVO

A qualidade da água é um fator determinante para o sucesso ou o fracasso


de um empreendimento aquícola. Vários compostos químicos dissolvidos na água
como também os atributos físicos e biológicos se combinam para formar a qualidade
da água.
A água com características, químicas e biológicas ideais para aquicultura
vai depender:
a. A espécie escolhida para o cultivo
b. O sistema de cultivo a ser adotado
c. O nível de intensificação a ser utilizado

Para todos os parâmetros de qualidade de água os organismos aquáticos


possuem uma faixa de conforto que permite um máximo crescimento e sobrevivência,
fora desta faixa, dependendo do tempo de exposição, o animal pode sofrer efeitos
deletérios como redução no consumo alimentar, maior vulnerabilidade a doenças e
menor crescimento ou até mesmo ser letal.
As propriedades da água podem ser divididas em:

Propriedades Químicas - Nitrito, nitrato, amônia, pH, alcalinidade, dióxido


de carbono, oxigênio dissolvido, dureza
Propriedades Físicas - Temperatura, turbidez, cor, odor, transparência,
sólidos em suspensão
Propriedades Biológicas - Espécies e quantidades de plâncton
Propriedades Microbiológicas - Espécies e quantidades de patógenos
9.1 Temperatura

Tem efeito biológico (fotossíntese, respiração e decomposição), devido os


organismos aquáticos em sua grande maioria serem organismos ectotérmicos.
Quando a temperatura da água está fora da faixa ótima, ocorre uma depressão do
sistema-imune, aliado com o fato de que a temperatura inadequada para hospedeiro
é a temperatura adequada para patógeno, podendo causar problemas ao cultivo.
Água dos ambientes de cultivo podem estratificar-se termicamente, o calor é
absorvido mais rapidamente perto da superfície do corpo d’água, e esta, eleva sua
temperatura, tende a permanecer na superfície por ser menos densa e a água de
fundo com temperatura mais baixa fica mais densa, desta forma formando camadas
separadas.

Figura 18 – Diferenças dos ambientes

Fonte: Prof Alberto

9.2 Oxigênio dissolvido (OD)

Considerado um parâmetro crítico para aquicultura, em partículas em sistemas


mais intensivos. O aumento na produção de camarões em condições de confinamento
depende da disponibilidade de oxigênio dissolvido na água
Processos que afetam a disponibilidade de OD.

• Atividade fotossintética: Fitoplâncton e plantas aquáticas liberam oxigênio


durante o dia através da fotossíntese. Deve-se evitar floração de fitoplâncton,
tendo em vista que durante o período noturno as mesmas deixam de produzir
OD e passam apenas consumir podendo exaurir o mesmo nas primeiras horas
do dia. Dias nublados afeta diretamente na atividade fotossintética, pois a
mesma para acontecer necessita de luz.
• Respiração: Atividade respiratória de peixes e outros organismos vivos
(bactérias, zooplâncton) presentes no sistema de cultivo consumem oxigênio
dissolvido na água. Assim é importante que evite densidades de estocagem em
excesso
• Troca de água e aeração mecânica: Renovação de água nos sistemas de
cultivo são capazes de aumentar a disponibilidade de oxigênio na água. Há
uma relação direta da renovação da água com a biomassa estocada.

O oxigênio dissolvido na água é geralmente medido através de um oxímetro


digital. Os animais mostram sinal que a pode ter algum problema com OD, como a
subida para água superficial “boiar”.

Figura 19 – Diferenças dos ambientes

Tabela11: Concentração de OD e efeitos sobre camarões cultivados


Concentração de Oxigênio Efeitos
dissolvido (mg/L)
0,0 – 1,0 Letal
1,0 – 1,5 Letal quando exposto a exposição prolongada
1,7 – 3,0 Conversão alimentar baixa, crescimento lento e
residência a enfermidades reduzidas
9.3 pH

A faixa do pH é representada por uma escala que vai de 0 a 14, no qual o


pH 7 indica a absoluta neutralidade.

Figura 20 – Escala de pH e os efeitos nos animais cultivados

Fonte: Copilado de Luis Vinatea Arana (2003)

Fatores que levam a uma variação no pH da água

 Tipos de solo: solos orgânicos ou ácidos sulfatados


 Alimentação: excesso de alimento ofertado
 Atividade fitoplanctônica: fitoplâncton em excesso pode levar a um aumento
no pH da água (absorve CO2 da água)
 Alcalinidade: baixo poder tampão da água resulta em variações no pH da
água
9.4 Alcalinidade Total

Capacidade da água para neutralizar ácidos e manter seu equilíbrio


acidobásico (poder tampão da água), os bicarbonatos (HCO3-) e carbonato (CO3-2)
são mais abundantes e representam a maior parte da alcalinidade da água. A unidade
expressa em (mg/L CaCO3).
Alcalinidade das águas naturais gira em torno de 5 - 500 mg/L CaCO3. Em
águas subterrâneas vai depender da geologia do local em aquíferos calcários terá
uma alta alcalinidade, quando os aquíferos basálticos terão baixa alcalinidade.
A água do mar tem uma alcalinidade próxima de 120 mg/L CaCO3, para
carcinicultura marinha o ideal de ≥ 80 mg/L CaCO3
É um parâmetro que devesse monitorar regularmente (semanal/quinzenal),
pois possibilita a realizar calagens preventivas, evitando, com isso a queda no pH da
água, haja vista que a tendência é que a alcalinidade da água caia durante o cultivo,
devido ao acúmulo de matéria orgânica.
Benefícios para o meio da alcalinidade alta:

 Tamponamento do pH da água;
 Aumento na produtividade primária;
 Diminuição da toxicidade de metais do solo

9.5 Compostos nitrogenados

É o principal produto de excreção dos organismos aquáticos, resultante da


digestão das proteínas. Amônia é um gás extremamente solúvel em água e quando
se encontra em solução, apresenta a seguinte reação de equilíbrio

NH3 + H2O = NH4+ + OH-

O equilíbrio da equação dependente do pH, temperatura e salinidade da água.


A forma não ionizada (NH3) é a mais tóxica para os organismos aquáticos,
devido ao seu tamanho molecular que a deixa permissível as membranas celulares.
 Em pH < 7, a fração de NH4+ será predominante
 Em pH > 7, a fração de NH3 aumenta, podendo atingir concentrações tóxicas
para os organismos aquáticos

Sinais clínicos de intoxicação CRÔNICA ou AGUDA por amônia:

1. Hiperatividade/convulsões;
2. Letargia;
3. Perda de equilíbrio;
4. Coma (não reage a estímulos externos)

Intoxicação aguda em poucas horas de exposição já levam ao aparecimento


de sinais clínicos [NH3] água ≥ 1 mg/L. Já a intoxicação crônica os sinais clínicos
somente irão aparecer após muitos dias ou semanas de exposição, antes disso,
estresse causa distúrbios osmorregulatórios e queda na eficiência respiratória retardo
no crescimento e menor imunidade. [NAT] ≥ 3 mg/L e pH água > 8,
Deve-se monitorar semanalmente [NAT] em sistemas de criação
Amônia é oxidada em nitrato pela ação das bactérias quimioautotróficas
nitrosomonas e nitrobacter
O nitrito (NO2-) atravessa as brânquias pelo mesmo mecanismo de transporte
utilizado pelo Cl-. Para diminuir o efeito do nitrito basta adicionar NaCl à água
O excesso de nitrito pode causar a doença do sangue marrom, a hemoglobina do
sangue do peixe deixa de transportar OD para transportar nitrito na forma de
metahemoglobina, causando insuficiência respiratória.

9.6 Dureza

Dureza total = [Ca2+] + [Mg2+] expressa por (mg/L CaCO3), assim possuindo a
dureza cálcica e dureza magnesiana. Águas superficiais variam de 5 – 200 mg/L
CaCO3, os ecossistemas aquáticos continentais do semiárido podem apresentar
dureza > 200 mg/L CaCO3
A muda de crustáceos necessita de Ca+ presente na água, desta maneira
recomenda-se uma dureza cálcica > 50 mg/L CaCO3 para bom crescimento.
Para peixes eurihalinos cultivados em águas de baixa salinidade necessitam
de água dura. Em águas com alcalinidade muito maior que dureza podem apresentar
pH > 10 durante à tarde. A calagem com CaCO3 é melhor que com Na2CO

9.7 Transparência da Água

Medida da penetração de luz na água ela é utilizada como indicativo de


produtividade natural primária (fitoplâncton) e concentrações de oxigênio dissolvido.
A transparência é medida com um disco de Secchi onde o ideal se encontra
entre 30-40 cm, a baixa do limite inferior, poderá sofrer problemas com oxigênio
dissolvido, e alta transparência > 40cm, há necessidade de fertilizar a água.

Figura 21 – Leitura da transparência da água com disco de Secchi

Fonte – Google Imagens

Turbidez é o oposto de transparência da água. A turbidez inorgânica provém


da argila, humos e silte. E a turbidez orgânica é oriunda do fitoplâncton, detrito de
algas, zooplâncton e material fecal de organismos cultivados.
A turbidez desejável e com plâncton (até certo limite; a depender das espécies),
quando a turbidez indesejável e composta por detritos orgânicos ( DBO na coluna
d’água + absorção de luz); e detritos inorgânicos (dificuldade respiratória + absorção
de luz + assoreamento de canais e viveiros)
Deve-se monitorar a transparência da água diariamente
As análises de água e solo em aquicultura servem para o responsável técnico
da fazenda saiba o que fazer depois do efeito pós-manejo.

Principais manejos de qualidade de água em aquicultura

1. Fertilização;
2. Calagem;
3. Aeração mecânica;
4. Troca de água;
5. Restrição alimentar;
6. Probióticos

Monitoramento rotineiro da qualidade da água permite manejar a qualidade de


água com eficiência, permite identificar os efeitos dos manejos de qualidade de água
aplicados ao viveiro/tanque, permite identificar precocemente problemas de qualidade
de água.
A qualidade do solo é composta por seguintes parâmetros:

 Composição da textura: classificação do solo em relação a sua granulometria

Figura 22 – Classificação da textura do solo


Fonte – modificado Prof. Alberto

 Índice de plasticidade: propriedade do solo para se deixar moldar quando


submetido a uma pressão permanecendo na nova forma ao ser cessada a ação
da força

Figura 23 – Classificação da textura do solo

Fonte – Apostila de cultivo de peixes cultivados em viveiros escavados

 Taxa de permeabilidade: capacidade do solo de deixar transpassar água ou


ar em uma maior ou menor intensidade
Classificação do solo de acordo com acidez

Tabela 12. Classificação do solo quanto a acidez


Característica pH
Extremamente acido < 4,5
Fortemente acido 4,5 – 5,0
Muito acido 5,1 – 5,5
Moderadamente acido 5,6 – 6,0
Pouco acido 6,1 – 6,5
Neutro 6,6 – 7,5

A acidez do solo pode originar:

 Substâncias toxicas a base de Fe, Al e Mn.


 Sequestro do fosforo
 Redução da dureza total e alcalinidade total
 Diminuição da nitrificação
 Aumento na quantidade de matéria orgânica não degradada
Teor de matéria orgânica na solo influência na produtividade.

Tabela 13. Classificação do solo quanto ao teor de matéria orgânica (MO)


Carbono Orgânico (%) Comentário
15 Solo orgânico
3,1 - 15 Solo mineral, com alta concentração de MO
1,0 - 3,0 Solo mineral, MO moderada (melhor para viveiro)
< 1,0 Solo mineral, baixa concentração de MO
REFERÊNCIAS

ABCC, Curso de Boas Práticas de Manejo e Biossegurança: Fazendas de Engorda


Nivel II, 2012.

ABCC, Berçários intensivos, raceways e crescimento compensatório - aumentando o


número de ciclos de cultivo por ano, 2016.

AVNIMELECH, Y. Carbon/nitrogen ratio as a control element in aquaculture systems.


Aquaculture, v.176, n.3-4, p.227–235, 1999.

BARBIERI JR.; OSTRENSKY, A. Camarões marinhos II - engorda.


Viçosa: Aprenda Fácil Editora, 2002. v.2.

BOYD, C.E. Water quality in warmwater fish ponds. Auburn: Auburn University, AL,
EUA. 359p. 1979

BRASIL. Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009. Dispõe sobre a Política Nacional de


Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, regula as atividades
pesqueiras, revoga a Lei no 7.679, de 23 de novembro de 1988, e dispositivos do
Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, e dá outras providências. Diário
Oficial da União República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 30
jun. Seção 1, p. 1. 2009

FAO - FOOD AND AGRICULTURAL ORGANIZATION. The state of world fisheries


and aquaculture 2018. Roma: FAO.

FAO. Manejo sanitario y mantenimiento de la bioseguridad de los


laboratorios de postlarvas de camarón (Penaeus vannamei) en
América Latina. Roma: FAO, 2004. (Documento Técnico de Pesca,
450).

NUNES, A. J. P., Engenharia e logística operacional de berçário intensivo,


Panorama da Aquicultura, v. 69

SÁ, M.V.C. Limnocultura: Limnologia para aquicultura. Edições UFC, 218p. 2012.

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