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RELATO DE EXPERIÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUÇÕES

TEXTUAIS SOBRE CONTOS DE FADA EM TURMAS DO ENSINO


FUNDAMENTAL NO SUBPROJETO PIBID LETRAS-INGLÊS

Cleiton Willian da CONCEIÇÃO


cleitonwillianprofissional@outlook.com (UFPB)
Raianne Leite DINIZ
raianne-milk@hotmail.com (UFPB)
Renan Cabral PAULINO
renancpaulino@hotmail.com (UFPB)

Resumo: A literatura dos contos de fada traz consigo uma linguagem específica que
desperta em seu leitor curiosidade e motivação pela história que está sendo contada.
Como grandes aliados para o ensino de língua estrangeira (LE), os contos de fada
representam uma forma de nossos alunos contextualizarem situações e emoções
internalizadas, socializando as experiências com seus colegas e desenvolvendo
habilidades como a criatividade, a imaginação, a dedução e a assimilação de valores
considerados fundamentais pela sociedade (COELHO, 2010). Baseado nisso, os
bolsistas do Programa de Iniciação à Docência (Pibid) Letras Inglês da UFPB refletem
neste trabalho acerca da experiência pedagógica de desenvolvimento de produções
textuais sobre contos de fada com alunos do 7º ano no semestre 2017.1. Sendo o
professor o grande facilitador desse processo de ensino-aprendizagem e aquisição (da
língua inglesa), nos debruçaremos também acerca das reflexões propostas por Lev
Vygotsky (1987) sobre o papel do professor enquanto principal mediador desse
processo no contexto escolar. Para o teórico, todo aprendizado humano é de natureza
social, e em virtude dessa socialização com o outro, constrói a si mesmo e o outro. Com
o trabalho de intervenção realizado, os alunos foram capazes de desenvolver habilidades
linguísticas na língua inglesa, praticar pronúncia e escrita, enriquecer vocabulário, além
de fortalecer a motivação, a autoconfiança e a criatividade. E para os bolsistas, foi
possível perceber a relevância dessa relação na construção da identidade do professor
em formação enquanto mediador do processo e principal veículo motivacional direto da
aprendizagem dos alunos.

Palavras-chave: Produções textuais. Contos de fada. Ensino de língua inglesa.

Introdução

A literatura dos contos de fada traz consigo uma linguagem específica que
desperta em seu leitor curiosidade e motivação pela história que está sendo contada.
Como grandes aliados para o ensino de língua estrangeira (LE), os contos de fada
representam uma forma de nossos alunos contextualizarem situações e emoções
internalizadas, socializando as experiências com seus colegas e desenvolvendo
habilidades como a criatividade, a imaginação, a dedução e a assimilação de valores
considerados fundamentais pela sociedade (COELHO, 2010).
Baseado nisso, os bolsistas do Programa Institucional de Iniciação à Docência
(Pibid) Letras Inglês da UFPB refletem neste trabalho acerca de uma experiência
pedagógica de desenvolvimento de produções textuais sobre contos de fada com alunos
do 7º ano no semestre 2017.1 de uma escola municipal da cidade de João Pessoa. As
produções desenvolvidas pelos alunos fizeram parte de uma proposta de sequência
pedagógica intitulada pelos bolsistas do Pibid Letras Inglês de "Projeto Fairy Tales".
Apesar do projeto ter sido desenvolvido nas turmas de 6º a 9º ano do ensino
fundamental, o presente trabalho irá refletir como se deu o papel do professor enquanto
principal mediador do processo ensino-aprendizagem do aluno com foco nas turmas de
7º ano (pois são as turmas acompanhadas pelos bolsistas e autores deste trabalho), e
como os alunos responderam à proposta do projeto, cuja culminância foi a produção e
apresentação de contos de fada pelos estudantes.

Considerações Metodológicas

Para a construção deste trabalho, analisaremos e refletiremos sobre a atuação dos


bolsistas do Pibid de Letras Inglês diante da prática de desenvolvimento das produções
textuais dos alunos, tomando como foco o papel do professor enquanto facilitador do
processo de ensino-aprendizagem, e como essa experiência refletiu na formação inicial
dos bolsistas envolvidos no projeto. Para tanto, é importante contextualizar como se deu
o desenvolvimento do projeto "Fairy Tales" com os alunos na escola.
Em resumo, a primeira etapa da sequência didática (SD) consistiu na elaboração
de um objeto de aprendizagem inspirado na proposta de uma Webquest, onde se
trabalhou a estrutura composicional básica dos contos de fadas em todas as turmas. A
segunda etapa, e foco deste trabalho, foi a produção textual de fairy tales desenvolvida
pelos alunos com a utilização do vocabulário adquirido previamente a partir do gênero
textual conto de fada. Para a construção de suas histórias, os alunos usaram imagens,
cola, tesoura, lápis de cor e hidrocor, dentre outros recursos multimodais disponíveis.
Para a terceira etapa, os bolsistas elaboraram planos de aula separadamente para cada
série que acompanharam. Os do 6º ano elaboraram um plano de aula para trabalhar
adjetivos através de um resumo textual e vídeo sobre Branca de Neve e os estereótipos
que são atribuídos aos personagens; os do 7º ano focaram na história da Bela e a Fera;
os do 8º ano Cinderela e os do 9º trabalharam a história da bruxa da Branca de Neve
através do filme Malévola.
A reflexão da atuação dos bolsistas serão feitas a partir do relato de experiência
que cada um desenvolveu acerca da prática pedagógica de ensino durante o projeto
"Fairy Tales", destacando seu papel enquanto principal mediador da aprendizagem
durante o desenvolvimento das produções textuais dos alunos.

Fundamentação Teórica

Antes de refletir como se deu a atuação dos bolsistas do projeto, vale considerar
que os gêneros são instrumentos de grande relevância na prática de ensino-
aprendizagem em sala de aula, pois representam objetos de ensino com os quais o
professor pode se valer na sua prática para fortalecer o processo de aprendizagem da
língua e a socialização. O uso dos gêneros textuais como instrumento para a
aprendizagem envolve tanto as representações do agente produtor (aluno) sobre a
situação de ação (texto), quanto os conhecimentos que possui sobre a língua em questão
(no nosso caso, o inglês). Dessa forma, o texto escrito seria o produto final desse
processo (MACHADO, 2000 apud FERRARINI, 2009), e o professor, enquanto
mediador, um dos responsáveis pelo processo dentro da sala de aula.
Considerando o ensino-aprendizagem de LE a partir de situações de uso social
da língua, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o Terceiro e Quarto Ciclos
do Ensino Fundamental de Línguas Estrangeiras baseiam seus objetivos em propostas
de um ensino contextualizado, alinhado com o mundo, com as necessidades dos alunos
de modo que seja significativo para eles, destacando o ensino das línguas estrangeiras
no contexto da transversalidade e incorporando questões como a relação entre a escola e
a juventude, a diversidade cultural, os movimentos sociais, o problema da violência,
tráfico e uso de drogas, a superação da discriminação, educação ambiental, educação
para a segurança, orientação sexual, educação para o trabalho, tecnologia da
comunicação, realidade social e ideologia.
Para tanto, os PCNs preveem que:

A Língua Estrangeira no ensino fundamental tem um valioso papel


construtivo como parte integrante da educação formal. Envolve um complexo
processo de reflexão sobre a realidade social, política e econômica, com valor
intrínseco importante no processo de capacitação que leva à libertação. Em
outras palavras, Língua Estrangeira no ensino fundamental é parte da
construção da cidadania. (BRASIL, 1998, p. 41).

Essa visão sociointeracional da aprendizagem adotada nos PCNs defende a


interação entre professor-aluno e aluno-aluno como lugar de construção e produção de
sentidos para as experiências vividas na língua estrangeira em sala de aula (DOURADO
& MEDRADO, 2015).
É nesse sentido que o ato de ensinar e, principalmente, de aprender uma língua
estrangeira desperta vários processos internos de desenvolvimento, os quais funcionam
apenas quando o aluno interage em seu ambiente de convívio (VYGOTSKY, 2000). Em
outras palavras, todo aprendizado humano é de natureza social e é parte de um processo
em que o aluno desenvolve seu intelecto dentro (e a partir) da troca de conhecimento
com aqueles com quem interage, sendo uma via de mão dupla.
Esse processo de ensino-aprendizagem pode ser melhor compreendido quando
remetido ao conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), proposto por
Vygotsky (2000). A ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, a
capacidade que a criança detém em resolver problemas de maneira independente
(sozinha), e o nível de desenvolvimento potencial, que corresponde aos conhecimentos
e habilidades que podem ser adquiridos com ajuda de um mediador. Esses níveis são
dinâmicos e é justamente nesse nível de desenvolvimento potencial que a aprendizagem
vai ocorrer. No contexto escolar, o mediador entre a criança e seu aprendizado seria
então o professor.

Análise da Experiência
Como um dos principais responsáveis pela mediação entre o aluno e a
aprendizagem, cabe ao professor levar em consideração a subjetividade de cada um. A
produção textual dos alunos da escola desenvolvida na segunda etapa do projeto Fairy
Tales reflete muito bem o professor como mediador considerando essa subjetividade de
cada estudante.
Com o auxílio dos bolsistas do projeto durante o desenvolvimento das
produções, os alunos demonstraram uma maior motivação para a criatividade e
imaginação. Além do vocabulário adquirido nas aulas iniciais a partir do gênero textual
conto de fada e do uso de recursos multimodais, a interação entre os bolsistas e os
alunos fez com que a aprendizagem destes últimos ocorresse de maneira mais fluida e
com mais facilidade.
A atuação dos bolsistas enquanto mediadores para a aprendizagem da língua
inglesa dos alunos foi fundamental para a construção dos seus textos, pois, como havia
diálogo durante todo o processo, os alunos se sentiam parte do seu aprendizado.
Diferentemente de um aprendizado de forma independente (a nível de desenvolvimento
real), o aprendizado em interação com o outro (a nível de desenvolvimento potencial),
tanto professor-aluno quanto aluno-aluno, desperta no estudantes habilidades até então
desconhecidas pelos docentes. Para Vygostky (2000), toda aprendizagem parte do nível
de desenvolvimento real (NDR) em direção ao nível de desenvolvimento potencial
(NDP). No caso do projeto, o conhecimento que os alunos já possuíam correspondem ao
nível de desenvolvimento real.
A partir da interação com os bolsistas e a professora supervisora, como também
os próprios colegas, o processo de mediação (vygotskiano) contribuiu para a eficácia do
ensino-aprendizagem acerca da temática das fairy tales, ou seja, o aprendizado
individual do aluno junto ao aprendizado por interação permitiu o alcance do nível de
desenvolvimento potencial (NDP) proposto por Vygotsky.
A prática de ensino com os contos de fada mediada pelos bolsistas e professora
regente proporcionou aos alunos o desenvolvimento do seu imaginário, criatividade,
motivação, interesse pela língua inglesa, bem como uma reflexão acerca de sua
condição social, econômica e política. Os textos refletiram a realidade que cada aluno
vivencia fora da escola. Mas isso só foi possível porque os bolsistas do Pibid permitiram
essa abertura através não só da interação direta que tiveram com os alunos, mas porque
desenvolveram também uma sensibilidade e um grau de empatia muito grande por eles.
Durante todo o processo de elaboração de seus textos, foi dada abertura aos
alunos para que houvesse diálogo e troca de experiência entre eles e os bolsistas,
permitindo um melhor engajamento com a atividade proposta e, consequentemente, o
aprendizado da língua inglesa. Os alunos partiram do que já conheciam previamente
(NDR) para o que conseguiram aprender através das aulas para a construção de suas
próprias fairy tales.
Conforme relatado por uma das bolsistas do Pibid, a prática de ensino com o
projeto Fairy Tales foi "um momento de (re)pensar maneiras de incentivar os/as
alunos/as a expressarem suas opiniões sobre a temática proposta" (Bolsista 1).
Outro bolsista refletiu acerca da prática dizendo, "e ai que entra a necessidade
de mais trabalhos como esse – ajudar os alunos a pensar criticamente, ensinar uma LE,
mostrar que há outras realidades ao redor deles e que muitas vezes o esforço deles com
a educação vale a pena; tentar fazer os alunos sentirem um pouco da cultura do outro,
desenvolver o respeito" (Bolsista 2).
Esse diálogo construído entre os bolsistas e os alunos foi fundamental para que a
aprendizagem ocorresse, pois todo aprendizado é de natureza social, e o aprendizado
fruto de uma interação tem mais chances de ser eficaz pois acontece a nível de
desenvolvimento potencial (VYGOTSKY, 2000).
Considerando uma prática de ensino fruto dessa interação, um dos bolsistas faz o
seguinte declaração, "o fato de os/as alunos/as estarem em grupos, possibilitou uma
interação que gerou também conforto, pois se sentiram à vontade em
expor/compartilhar as ideias uns com os outros" (Bolsista 3). O relato demonstrou que
o conhecimento produzido pela interação faz com que os alunos compartilhem
experiências entre si e se tornem mais interessados pelo que o outro tem a dizer e
contribuir para seu aprendizado.
Conforme esses relatos dos bolsistas, fica claro a eficácia de um ensino cada vez
mais integrado, com práticas aliadas à realidade dos alunos. Os relatos refletiram a
importância que tem a mediação durante o processo de ensino-aprendizagem,
permitindo um melhor engajamento dos alunos com a atividade, fortalecendo a
interação com o professor e os demais alunos, bem como a interação entre os bolsistas e
com a professora supervisora.

Considerações finais

A experiência pedagógica de desenvolvimento das produções fez com que os


alunos e os bolsistas interagissem diretamente entre si, pois a medida que as produções
iam se formando durante as aulas, ambos iam se comunicando, dialogando e
construindo juntos. Já propunha Vygotsky (2000) que todo aprendizado humano é de
natureza social, e é a partir dessa socialização com o outro que construímos a nós
mesmos e o outro.
Então, com o trabalho de intervenção realizado, os alunos foram capazes de
desenvolver habilidades linguísticas na língua inglesa, praticar pronúncia e escrita,
enriquecer vocabulário, além de fortalecer a motivação, a autoconfiança e a criatividade.
E, para os bolsistas, foi possível perceber a relevância dessa relação na construção da
identidade do professor em formação enquanto um dos principais mediadores do
processo e veículo motivacional direto da aprendizagem dos alunos.
Nesse sentido, a experiência com as produções dos alunos fez com que os
bolsistas, enquanto professores em formação, refletissem seu papel como mediadores
facilitando o ensino-aprendizagem dos alunos, motivando sua prática para um trabalho
cada vez mais contextualizado e coerente com a realidade dos estudantes.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:


terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira /Secretaria de
Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 120 p.

COELHO, N. N. O conto de fadas: o imaginário infantil e a educação. Criança: do


professor de educação infantil. Brasília: Ministério da Educação. v. 38, 2005. 14
FERRARINI, Marlene Aparecida. O gênero textual conto de fadas didatizado para o
ensino de produção escrita em língua inglesa. Dissertação de Mestrado - UEL, 2009.
Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp125679.pdf

MEDRADO, B. P.; DOURADO, M. R. Uma proposta de transposição didática: a


língua inglesa no ensino fundamental II. João Pessoa: Editora da UFPB, 2015.

VYGOTSKY, Lev. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000

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