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Síndrome de Burnout em acadêmicos de pós-graduação stricto sensu em

contabilidade no Brasil
SHEILA DA SILVA
UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
VINICIUS ABILIO MARTINS
UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Resumo
Devido às demandas e pressões que os acadêmicos de pós-graduação em nível stricto sensu
sofrem, uma das consequências que podem emergir é a apresentação dos sintomas da
Síndrome de Burnout. A Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico, onde os indivíduos
acometidos por ela se sentem desmotivados e exaustos no âmbito físico e mental. Deste
modo, esta pesquisa objetivou identificar a manifestação dos sintomas da Síndrome de
Burnout em alunos de pós-graduação stricto sensu em Contabilidade no Brasil. Compuseram
a amostra 141 acadêmicos, sendo 85 alunos de mestrado e 56 de doutorado. O instrumento
utilizado divide-se em duas partes, sendo a primeira referente o perfil dos estudantes e a
segunda se refere à análise da existência da síndrome - MBI-SS (Maslach Burnout Inventory–
Student Survey). A pesquisa enquadra-se em descritiva com abordagem quantitativa, o método
deu-se por dedutivo. Os resultados alcançados identificaram maior sentimento de desgaste
físico e emocional com relação à Exaustão Emocional. Já nas dimensões Eficácia Profissional
e Descrença, os alunos não mostraram nível elevado. Nas análises, os acadêmicos se
mostraram satisfeitos e motivados quando conseguem concluir os objetivos nos estudos e
pesquisas. Os acadêmicos não mostraram desinteresse quanto ao curso e as aulas. E ainda, não
se identificou diferenças estatisticamente significativas nos resultados entre mestrandos e
doutorandos.

Palavras-chave: Síndrome de Burnout. Pós-graduação. Contabilidade.

Área Temática: Áreas afins das Ciências Sociais Aplicadas

1 Introdução

A procura por conhecimento deve ser constante e a universidade atualmente, no papel


de instituição educativa, possui o intuito de disseminar este conhecimento, tendo por
finalidade “o permanente exercício da crítica, que se sustenta na pesquisa, no ensino e na
extensão” (BISPO; JUNIOR, 2014, p. 2). É o local onde ocorre a descoberta e invenção
como uma instituição social, onde o conhecimento é guiado pela própria necessidade e lógica
(PIMENTA; ANASTASIOU, 2002).
Assim, para o acadêmico que ingressa na pós-graduação, “o processo de aprendizagem
pode ser significativo na formação acadêmica de mestrandos e doutorandos e pode possibilitar
a compreensão da aprendizagem a partir de suas vivências” (LIMA; SILVA, 2018, p. 38).
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Mediante a necessidade em conhecimento nos variados setores, aliado ás limitações
dos cursos de graduação, não sendo estes suficientes para proporcionar o treinamento
adequado em muitas áreas (CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, 1965), que se iniciou
a discussão referente à pós-graduação no Brasil, sendo esta uma onda crescente em todos os
países, legitimada na década de 60, no Brasil, com a promulgação da Lei n. 4.024/61, que
tratava do objetivo do ensino superior (BRASIL, 1961).
O desenvolvimento dos cursos de pós-graduação no Brasil foi de grande sucesso, pois,
dividido entre mestrado e doutorado, existe em torno de três mil cursos no país
(GUIMARÃES, 2006).
Na Contabilidade, os primeiros programas de pós-graduação a serem instituídos no
Brasil foi no período de 1970.O pioneiro foi o Programa de Mestrado da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, e seguidamente, o
Programa de Mestrado em Ciências Contábeis da Fundação Getúlio Vargas, o qual em 1991
foi transferido para a Universidade Estadual do Rio de Janeiro após ser reestruturado
(PELEIAS et. al. 2007). Em 1978, também originário da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, foi criado o primeiro Programa
de Doutorado (PELEIAS et. al. 2007).
Diante disto, também foi possível observar a produção cientifica no Brasil, que se
desenvolveu desde 1996, quando representava cerca de 0,6% da produção no ISI - instituto
responsável por classificar e registrar a produção científica mundial - e alavancou para 1,5%
em 2003, sendo esta produzida em sua maior parte nos programas de pós -graduação
(GUIMARÃES, 2006).
Como consequência deste crescimento, os acadêmicos sofrem com a necessidade de
produzir e a cobrança dos cursos, podendo este ser um fator estressante para os estudantes
(VOLTARELLI, 2002). O estudante estar em constante pressão, tendo que conciliar o papel
de pesquisador com suas atividades particulares, ter de lidar com prazos, são situações que
podem desencadear inúmeras consequências psicológicas, sendo uma destas a Síndrome de
Burnout (DUQUE; BRONDANI; LUNA apud SOUZA et al, 2010).
A Síndrome de Burnout possui um caráter depressivo, onde o indivíduo acometido por
este distúrbio se sente desmotivado, não possui mais energia, encontra-se em um estado de
exaustão física e emocional, onde não possui mais condição ou motivação para desempenhar
suas atividades. Ao considerar que a atividade de pesquisa é de certa forma desgastante,
aliado à pressão exercida pelos programas de pós-graduação e orientadores, é possível inferir
que o ambiente que os acadêmicos de pós-graduação se encontram seja propício ao
desenvolvimento dos sintomas da Síndrome de Burnout (LÓPEZ, 2012; BENEVIDES-
PEREIRA, 2002; CODO, 2002).
Desta forma, emerge a seguinte questão: em que nível os alunos de pós-graduação
stricto sensu em Contabilidade no Brasil apresentam os sintomas da Síndrome de Burnout?
Para responder à questão levantada, a presente pesquisa tem por objetivo identificar a
manifestação dos sintomas da Síndrome de Burnout em alunos de pós-graduação stricto sensu
em Contabilidade no Brasil.
O incentivo para a realização desta pesquisa é a possibilidade de contribuir com os
programas de pós-graduação em medidas que prezem pelo bem-estar e a saúde dos
estudantes, para assim prevenir a Síndrome. O presente artigo poderá ajudar tanto docentes,
quanto discentes que fazem parte dos programas.
O presente estudo encontra-se estruturado em cinco sessões, sendo a primeira esta
introdução. Na segunda, é apresentada a fundamentação da pesquisa, com o histórico da pós-

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graduação no Brasil e os conceitos da Síndrome de Burnout. Na terceira, encontram-se os
procedimentos metodológicos para realização da pesquisa. A quarta contempla a apresentação
e análise dos resultados; e, por fim, a quinta traz as considerações finais do estudo.

2 Referencial Teórico

Nesta sessão, são abordados o histórico da pós-graduação no Brasil e os conceitos


relacionados à Síndrome de Burnout.

2.1 Pós-graduação no Brasil

As universidades possuem um “papel imprescindível e gerador frente ao


desenvolvimento humano” (DEMO, 2002, p. 49), “cuja natureza é marcada pelo duplo papel
de formação das novas gerações e produção do conhecimento é habitat propício para
desencadear a força estratégica da produção da pesquisa científica” (FRANCO et al. 2009, p.
92).
No ano de 1951, durante o segundo mandato do Presidente Getúlio Vargas, com o
crescimento da industrialização e a dificuldade na administração pública, observou-se a
necessidade de profissionais especializados nas mais variadas áreas. Em vista disto, o foco
voltou-se para o projeto de uma nação detentora de conhecimento e através do Decreto nº
29.741 foi criada a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES, 2019).
A criação da pós-graduação no Brasil foi influenciada por duas principais razões: (i) a
carência de pessoal qualificado para o mercado e, com a expansão existente no ensino
superior, (ii) à necessidade de qualificar o corpo docente (SGUISSARDI, 2006).
Foi através da promulgação da Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, que se
iniciou a discussão referente à pós-graduação no Brasil. Conforme aponta o art. 66 do capítulo
I da referida Lei, o objetivo do ensino superior é a pesquisa, o desenvolvimento e a formação
de profissionais de nível universitário. O art. 69 se refere ao candidato à pós-graduação, o
qual deve ter concluído o curso de graduação e obtido o respectivo diploma (BRASIL, 1961).
Segundo o Decreto n. 86.816, de 16 de novembro de 1982, para o bom
desenvolvimento do docente é imprescindível que ele esteja familiarizado tanto teórica,
quanto metodologicamente com a pesquisa em sua área de trabalho. Sendo assim, a pós-
graduação e a pesquisa são elementos indispensáveis para sua devida qualificação (BRASIL,
1982).
Os cursos de pós-graduação no Brasil surgiram no início da década de 60 (MARTINS,
2009). Porém a regulamentação dos cursos de pós-graduação em lato sensu e stricto sensu foi
realizada com a emissão do Parecer nº 977/65 pelo extinto Conselho Federal de Educação -
CFE, atual Conselho Nacional de Educação - CNE (MARTINS apud ESPEJO et. al. 2017).
A diferença entre as categorias de graduação lato sensu e stricto senso está na
finalidade de cada uma. Enquanto a primeira categoria fornece cursos de especialização e
aperfeiçoamento técnicos, a segunda tem objetivo acadêmico, fornecendo cursos ligados a
pesquisa e extensão (OLIVEIRA, 1995).

2.1.1 Pós-graduação em Contabilidade no Brasil

O surgimento da pós-graduação na área da Contabilidade foi em meados dos anos


1970, sendo o primeiro Programa de Mestrado ligado a Faculdade de Economia,
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Administração e Contabilidade - FEA, da Universidade de São Paulo - USP (DURANTE et
al, 2019). Logo, na região Sudeste, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ e a
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP fundaram cursos de mestrado
(MARTINS; MONTE, 2010).
Por um período aproximado de duas décadas não houve a criação de novos programas
Stricto Sensu em Contabilidade, porém no início do século XXI, algumas razões levaram a
implantação de novos programas (PELEIAS et al, 2007):
a) A Lei nº 9394 de 1996 que em seu artigo 52, nos itens II e III trata do corpo de
docentes das instituições de ensino superior, e que este deve ser ocupado por pelo
menos um terço de professores com titulação mínima de Mestrado e que alguns
destes deve dedicar-se à docência e pesquisa em tempo integral;
b) O aumento de cursos de graduação no Brasil, sendo um desses o de Ciências
Contábeis;
c) O aumento no número de professores com titulação de doutor em Ciências
Contábeis;
d) E o fato de professores doutores estarem atuando em áreas distintas que não em
programas Stricto Sensu em Contabilidade.

No estudo realizado por Martins e Monte (2010) em 2008 no Brasil havia 19 cursos de
pós-graduação na área de Contabilidade, ocasionando na titulação de cerca de 2.187 mestres
em Contabilidade.

2.2 Síndrome de Burnout

O termo Burnout faz referência “a um estado mental de exaustão, semelhante ao de


um incêndio que extingue ou uma bateria que se esgota” (LÓPEZ et al, 2012). A expressão é
utilizada como definição para o estado daquela pessoa “que chegou ao limite e por falta de
energia, não tem mais condições de desempenho físico e mental” (BENEVIDES-PEREIRA,
2002, p. 21).
Os estudos referentes à Síndrome de Burnout tiveram maior destaque a partir dos
artigos de Freundenberger (1975). Porém, em 1969 este termo já havia sido utilizado, com o
intuito de propor “uma nova estrutura organizacional a fim de conter o fenômeno psicológico
que acomete trabalhadores assistenciais” (SCHAUFELI; EZMANN; apud BENEVIDES-
PEREIRA, 2002, p. 21).
É característico do indivíduo acometido pela Síndrome de Burnout se sentir sem
energia, sendo esta uma resposta ao estresse sofrido no ambiente de trabalho (ZULUAGA;
MORENO, 2012). Também poderá apresentar exaustão emocional, despersonalização e baixa
realização profissional (FUENTE et al, 2014).
A síndrome tem um desenvolvimento gradual e cumulativo. Apresenta-se em
diferentes graus e são notáveis os seguintes sintomas: irritação, inquietação, frustração e
esgotamento (MALLMANN et al. 2009). Os sintomas podem evoluir de uma apresentação
esporádica para permanente e contribuir para surgimento de doenças e sintomas físicos
ocasionados pelo mal-estar.
É "uma síndrome através da qual o trabalhador perde o sentido de sua relação com o
trabalho [...] afeta, principalmente, profissionais da área de educação e saúde quando em
contato direto com seus usuários" (CODO, 2002, p. 238).

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Burnout é a manifestação prolongada de estressores crônicos sejam emocionais ou
interpessoais (MASLACH apud SCHUSTER et al. 2015). A Síndrome pode ser definida em
três dimensões, que se encontram no quadro a seguir:

Quadro 1 – Dimensões da Síndrome de Burnout


Dimensões Conceito
Está associada a sentimentos de excesso de esforço, cansaço extremo, fadiga,
Exaustão
que advêm de um longo envolvimento com atividades exigentes.
O indivíduo reflete uma atitude indiferente e distante em relação ao trabalho
Cinismo não possui entusiasmo, redução da energia empregada na realização das
atividades, diminuição da eficácia profissional.
Refere-se às expectativas do indivíduo quanto ao trabalho, incluindo as
Eficácia
expectativas de eficácia continuada no trabalho.
Fonte: Adaptado de Ahola et al. apud Schuster et al. (2015)
As características que podem levar ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout são
diversas. No estudo apresentado por Jodas e Haddad (2009), atividades que demandam mais
tempo do que o indivíduo tem disponível, ou seja, a falta de tempo para realização de algumas
atividades torna-se um facilitador para desenvolvimento da Síndrome de Burnout.
Na pesquisa desenvolvida por Silva et al (2012), no que se refere à idade dos
profissionais pesquisados e que apresentaram risco elevado para Síndrome de Burnout, existe
maior incidência em pessoas jovens, com idade inferior a 30 anos.
Teixeira apud Moreira et al (2017) destaca que profissionais na área da educação e
suas relações com o trabalho podem ser tornar um desencadeador da Síndrome, pois
disparidade entre o esperado e o realizado é imensa. Entretanto, Ruviaro e Bardagi (2010)
pontuam que fatores como gênero, estado civil e turno podem não apresentar associação com
o grau severo de Burnout.

2.1.3 A Síndrome de Burnout em estudantes

A exigência direcionada a alunos de pós-graduação, especificamente a stricto, pode ser


um estressor para o indivíduo, ele precisa desenvolver o papel de pesquisador, dedicar-se a
produtividade acadêmica de forma exclusiva, as publicações devem ser realizadas em revistas
de alto nível e muita das vezes, não contam com apoio financeiro. E no momento que não
alcança as expectativas estabelecidas, é comum o indivíduo frustrar-se, sentindo-se exausto
mental e emocionalmente (VOLTARELLI, 2002).
Originalmente, acreditava-se que a síndrome de Burnout atingia apenas indivíduos que
desempenhavam funções com gestão de pessoas, como: saúde, educação, assistência social,
entre outros (MASLACH apud SILVA; VIEIRA, 2015). Porém, pesquisas já evidenciam a
ocorrência da síndrome em relacionamentos entre pais e filhos e entre estudantes
(MASLACH apud SILVA; VIEIRA, 2015).
O estudo da síndrome em estudantes aponta que ela pode se desenvolver durante a
vida acadêmica e perpetuar por toda a vida (SCHAUFELI, SALANOVA, GONZÁLEZ-
ROMÁ E BAKKER apud SILVA; VIEIRA, 2015). E o fato do indivíduo ser obrigado a
conciliar diversas atividades na vida acadêmica, as dúvidas em relação ao futuro profissional,
lidar com a pressão referente a prazos, podem ser desencadeadores da síndrome (DUQUE,
BRONDANI; LUNA apud SOUZA et al, 2010)

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De acordo com Carlotto e Câmara apud Souza (2010), a síndrome de Burnout em
estudantes também contempla as três dimensões: exaustão, cinismo e irrealização pessoal.

3 Procedimentos Metodológicos

Para realização da presente pesquisa, fez-se necessário a utilização da tipologia


descritiva. A abordagem enquadra-se em quantitativa, pois serão realizadas análises
estatísticas com os dados coletados. O método deu-se por dedutivo, pois será analisada a
existência de traços da síndrome em estudantes de pós-graduação stricto sensu na área de
Ciências Contábeis, e pela tipologia descritiva, pela descrição destes.
Quanto à técnica da pesquisa, foi utilizado o questionário, que “[...] é um instrumento
de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser
respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador” (MARCONI e LAKATOS, 2010,
p. 184).
A população da pesquisa é composta por todos os estudantes de pós-graduação stricto
sensu na área de Ciências Contábeis no Brasil. O questionário eletrônico foi encaminhado
para as coordenações dos programas de pós-graduação e solicitado que fosse repassado aos
acadêmicos. Compuseram a pesquisa as seguintes instituições:

Tabela 1 – Amostra das instituições de ensino pesquisadas


Instituições Sigla
Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e
FUCAPE
Finanças
Universidade Regional de Blumenau FURB
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP
Universidade Estadual de Maringá UEM
Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ
Universidade Federal da Bahia UFBA
Universidade Federal do Espírito Santo UFES
Universidade Federal de Goiás UFG
Universidade Federal de Minas Gerais UFMG
Universidade Federal da Paraíba UFPB
Universidade Federal de Pernambuco UFPE
Universidade Federal do Paraná UFPR
Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ
Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN
Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE
Universidade Federal de Santa Catarina UFSC
Universidade Federal de Uberlândia UFU
Universidade de Brasília UNB
Universidade da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado UNIFECAP
Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE
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Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS
Universidade Comunitária da Região de Chapecó UNOCHAPECO
Universidade Presbiteriana Mackenzie UPM
Universidade de São Paulo USP
Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto USP-RP
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
A composição do instrumento utilizado para realização da pesquisa está dividido em
duas partes. A primeira parte, adaptada do estudo de Peleias et al (2017) é composta por 10
questões socioeconômicas, que possuem o intuito de descrever o perfil dos respondentes. A
segunda parte das questões se refere à análise da existência de traços da Síndrome de Burnout.
Para avaliar a Síndrome de Burnout, foi utilizado o questionário MBI-HSS, sendo ele
“o questionário de excelência para avaliação psicométrica da síndrome de Burnout”
(MONTE, 2005; PELEIAS et al, 2017). Para que a Síndrome fosse avaliada em outras
ocupações, foi necessária a adaptação do questionário (SCHAUFELI; LEITER; MASLACH
& JACKSON apud PELEIAS, 2017). Carlotto e Câmara (2006) utilizaram a versão original
traduzida do inglês para o português, e esta mesma versão é utilizada por Peleias et al. (2017)
e nesta atual pesquisa, os motivos que levaram a utilização deste questionário são duas: (i) o
questionário ser validado; e, (ii) foi adaptado e testado na realidade brasileira (PELEIAS,
2017). O instrumento é composto por 15 itens, que se dividem nas três dimensões da
Síndrome: Exaustão Emocional - cinco questões, Descrença - quatro questões e Eficácia
Profissional - seis questões. Todos os itens são avaliados em escala Likert de 7 pontos (1-
Nunca; 7- Todos os dias).
Para essa pesquisa foram utilizadas, principalmente, técnicas estatísticas descritivas,
teste de normalidade e teste de diferença de médias. Conforme Field (2011), a estatística
descritiva consiste em métodos para se organizar, exibir e descrever dados utilizando tabelas,
gráficos e medidas resumidas. Neste trabalho foram calculadas, em cima da amostra, medidas
de dispersão, tais como desvio-padrão ( ) e valores mínimos e máximos, e medidas de
tendência central, como a média aritmética ( ). Para o cálculo dessas medidas, foi utilizado o
software IBM SPSS Statistics versão 22, que oferece os instrumentos necessários para o
cálculo e a análise dos dados.
Após se realizar o teste de normalidade, identificou-se que os dados não apresentaram
normalidade e, desta forma, necessitou-se utilizar de testes não paramétricos para diferença de
médias. Desta forma, o teste utilizado foi o teste de Mann-Whitney.

4 Desenvolvimento

Dos 144 questionários respondidos, três foram desconsiderados por não terem sido
respondidos na totalidade. Sendo assim, compõem a amostra da pesquisa 141 respondentes.
Destes pesquisados, a maioria é do sexo feminino (57,4%), a faixa etária prevalecente
é dos 20 aos 29 anos (73 acadêmicos) sendo que as idades predominantes são 24 e 25 anos, o
que indica um lapso pequeno entre a graduação e a pós-graduação. Dos 141 acadêmicos,
51,8% não possuem união estável e79,4% não possuem filhos. A maioria dos estudantes é de
instituição pública (94,3%) e 60,3% são alunos de mestrado.
Na Figura 1 é possível analisar a ocupação dos estudantes de pós-graduação stricto
sensu em Contabilidade.

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Figura 1 – Ocupação atual dos acadêmicos

Profissional de outra área

Profissional na área contábil

Professor celetista/Rede privada

Professor concursado/Rede pública

Professor em tempo integral

Professor em tempo parcial

Somente estuda

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0%

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)


Referente à ocupação atual (Figura 1), 40,4% dos acadêmicos somente estuda, isso se
deve ao fato de que o mestrado e doutorado possuem atividades que demandam tempo por
parte dos acadêmicos. Sendo assim, é possível inferir que muitos acadêmicos não conseguem
conciliar a vida acadêmica com outras atividades. Dos 141 respondentes, 43,2% atuam na
área de docência, tanto no setor público quanto privado. Dos discentes dos cursos de pós-
graduação, 21,3% são profissionais que atuam na área contábil e 12,8% são profissionais que
atuam em outras áreas.
A Figura 2 demonstra a origem da renda dos acadêmicos de pós-graduação stricto
sensu em Contabilidade.

Figura 2 – Renda dos acadêmicos

Exclusiva proveniente da família

Parte proveniente da família

Parte proveniente do trabalho

Exclusiva proveniente do trabalho

Parte da bolsa de pós-graduação

Exclusiva da bolsa de pós-graduação

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0%

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)


Quanto à renda evidenciada na Figura 2, é possível observar que 53,2% dos
acadêmicos a obtém exclusivamente do trabalho e 24,8% é proveniente das bolsas dos
programas de pós-graduação, concedida com a intenção de incentivar os acadêmicos a se
dedicarem exclusivamente aos estudos e pesquisas. Os estudantes que recebem bolsa parcial
de pós-graduação correspondem a 16,3% (23 estudantes) e destes mesmos estudantes 43%
trabalham para complementar a renda e apenas 21,7% recebem apoio financeiro da família.

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A Figura 3 demonstra as quais universidades os acadêmicos respondentes encontram-
se vinculados.

Figura 3 – Universidade vinculada


40
35
30
25
20
15
10
5
0

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)


Das instituições que receberam o questionário eletrônico, o retorno obtido foi das
destacadas na Figura 3, onde é possível observar que a Universidade Federal de Santa
Catarina - UFSC e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE tiveram,
respectivamente, a participação de 38 e 27 acadêmicos, o equivalente a 46,1% dos
respondentes.
A Figura 4 evidencia os motivos que influenciaram no momento de escolha da
instituição por parte do acadêmico.

Figura 4– Motivos da escolha da Universidade/campus


60,0%

50,0%

40,0%

30,0%

20,0%

10,0%

0,0%

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)


E para a escolha da instituição de ensino, é possível observar na Figura 4 que a maior
relevância é a cidade em que a instituição está situada (52,5%) e seguidamente o fato de ser
pública (48,9%), ambos são importantes para os acadêmicos, pois os custos da pós-graduação
não são baratos e pode tornar-se mais oneroso caso o estudante precise mudar de cidade. A
instituição ser reconhecida apresentou relevância 43,3%, quanto ao nome e a tradição tiveram
menor relevância, totalizando 22%.

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Na segunda etapa, o intuito é medir o nível de exposição dos alunos a Síndrome de
Burnout nas três dimensões. Nesta, são apresentados os resultados, tanto para todos os
acadêmicos, quanto a segmentação dos acadêmicos entre estudantes de mestrado e estudantes
de doutorado.
Na Tabela 2 são apresentados os resultados para todos os acadêmicos, sendo que das
15 questões referente à Síndrome de Burnout, 9 delas apresentaram médias superiores a 5
(algumas vezes por semana). A partir disso, é possível observar que a maioria das questões
que apresentam média superior a 5, se referem a um sentimento de esgotamento e fadiga por
parte dos estudantes (questões 11, 12, 13 e 14). Porém, em contrapartida, algumas dessas
questões com média superior a 5 apresentam resultados onde é possível observar que os
alunos estão motivados e se sentem capazes de realizar suas atividades (questões 16, 17 e 18).

Tabela 2 – Estatística descritiva para os acadêmicos de mestrado e doutorado em


contabilidade
Desvio
Mín. Máx. Média Padrão
11 - Sinto-me consumido pelos meus estudos e pesquisas. 1 7 5,87 1,341
12 - Sinto-me emocionalmente esgotado pelos meus estudos e pesquisas. 1 7 5,38 1,589
13 - Sinto-me esgotado no fim de um dia em que tenho aula. 1 7 5,32 1,490
14 - Sinto-me cansado quando me levanto para enfrentar outro dia de aula. 1 7 5,01 1,742
15 - Estudar e frequentar as aulas são para mim um grande esforço. 1 7 4,26 1,984
16 - Posso resolver os problemas que surgem nos meus estudos e pesquisas. 2 7 5,27 1,320
17 - Durante as aulas, sinto-me confiante, realizo as tarefas de forma eficaz. 1 7 5,43 1,410
18 - Considero-me um bom estudante. 2 7 5,34 1,230
19 - Sinto-me estimulado quando concluo com êxito a minha meta de
2 7 5,76 1,398
estudos e pesquisas.
20 - Tenho aprendido muitas coisas interessantes no decorrer dos meus
1 7 5,72 1,311
estudos e pesquisas.
21 - Acredito que eu seja eficaz na contribuição das aulas que frequento. 2 7 4,99 1,363
22 - Tenho me tornado menos interessado nos meus estudos e pesquisas. 1 7 3,76 2,003
23 - Tenho me tornado menos interessado nos estudos e pesquisas desde
1 7 3,26 2,103
que entrei nesta universidade.
24 - Tenho estado mais descrente do meu potencial e da utilidade dos meus
1 7 3,71 1,966
estudos e pesquisas.
25 - Eu questiono o sentido e a importância de meus estudos e pesquisas. 1 7 4,55 1,994
N válido (de lista) 141
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
A maior média apresentada é na questão 11 (5,87) onde 39% dos estudantes se sentem
consumidos por suas atividades acadêmicas todos os dias e 38,3% se sentem consumidos
algumas vezes por semana. Seguidamente, com a questão 19, é possível observar uma média
elevada de 5,76 onde mesmo exaustos com os estudos e pesquisas (questão 11), os
acadêmicos se sentem motivados quando concluem as metas de estudos e pesquisas, sendo
que 36,2% sempre se sentem motivados, 29,8% quase sempre e 14,2% em vários momentos
se sentem estimulados. Apenas 6 questões apresentaram médias abaixo de 5, sendo que 3
questões apresentaram média 4 ‘algumas vezes ao mês’ e as demais apresentaram média 3
‘uma vez ao mês ou menos’. A menor média apresentada (3,26) se refere à questão 23, onde
se trata do desinteresse nos estudos e pesquisas por parte dos acadêmicos, sendo que 31,9%
nunca se sentem desinteressados, 29,8% uma vez ao ano e algumas vezes por semana
apresentam desinteresse. Seguido da média 3,71 na questão ‘24 - Tenho estado mais descrente
do meu potencial e da utilidade dos meus estudos’.
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A Tabela 3 apresenta a estatística descritiva para os acadêmicos de mestrado em
contabilidade no Brasil.

Tabela 3 – Estatística descritiva para os acadêmicos de mestrado em contabilidade


Desvio
Mín. Máx. Média Padrão
11 - Sinto-me consumido pelos meus estudos e pesquisas. 2 7 5,82 1,226
12 - Sinto-me emocionalmente esgotado pelos meus estudos e pesquisas. 1 7 5,33 1,546
13 - Sinto-me esgotado no fim de um dia em que tenho aula. 1 7 5,29 1,542
14 - Sinto-me cansado quando me levanto para enfrentar outro dia de aula. 1 7 4,96 1,802
15 - Estudar e frequentar as aulas são para mim um grande esforço. 1 7 4,08 2,013
16 - Posso resolver os problemas que surgem nos meus estudos e pesquisas. 2 7 5,28 1,351
17 - Durante as aulas, sinto-me confiante, realizo as tarefas de forma eficaz. 1 7 5,42 1,409
18 - Considero-me um bom estudante. 2 7 5,32 1,104
19 - Sinto-me estimulado quando concluo com êxito a minha meta de
2 7 5,94 1,303
estudos e pesquisas.
20 - Tenho aprendido muitas coisas interessantes no decorrer dos meus
2 7 5,82 1,136
estudos e pesquisas.
21 - Acredito que eu seja eficaz na contribuição das aulas que frequento. 2 7 4,99 1,452
22 - Tenho me tornado menos interessado nos meus estudos e pesquisas. 1 7 3,81 1,961
23 - Tenho me tornado menos interessado nos estudos e pesquisas desde
1 7 3,15 2,021
que entrei nesta universidade.
24 - Tenho estado mais descrente do meu potencial e da utilidade dos meus
1 7 3,58 1,898
estudos e pesquisas.
25 - Eu questiono o sentido e a importância de meus estudos e pesquisas. 1 7 4,51 2,056
N válido (de lista) 85
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
O primeiro ponto a ser comentado, é o de que, do total dos 141 acadêmicos de pós-
graduação, 85 são alunos de mestrado. E ao comparar com a Tabela 2 - onde os resultados
apresentados são de todos os acadêmicos respondentes, tanto de mestrado, quanto de
doutorado - é possível observar que a questão 14 passa a apresentar um média abaixo de 5,
sendo assim, apenas 8 questões mantiveram médias acima de 5 e a maior média apresentada
(5,94) é na questão 19, seguido da questão 20, com uma média de 5,82. Porém, a menor
média apresentada permanece sendo na questão 23.
A Tabela 4 apresenta a estatística descritiva para os acadêmicos de doutorado em
contabilidade no Brasil.

Tabela 4 – Estatística descritiva para os acadêmicos de doutorado em contabilidade


Desvio
Mín. Máx. Média Padrão
11 - Sinto-me consumido pelos meus estudos e pesquisas. 1 7 5,95 1,507
12 - Sinto-me emocionalmente esgotado pelos meus estudos e pesquisas. 1 7 5,46 1,662
13 - Sinto-me esgotado no fim de um dia em que tenho aula. 1 7 5,36 1,420
14 - Sinto-me cansado quando me levanto para enfrentar outro dia de aula. 1 7 5,07 1,661
15 - Estudar e frequentar as aulas são para mim um grande esforço. 1 7 4,52 1,926
16 - Posso resolver os problemas que surgem nos meus estudos e pesquisas. 2 7 5,25 1,283
17 - Durante as aulas, sinto-me confiante, realizo as tarefas de forma eficaz. 1 7 5,43 1,425
18 - Considero-me um bom estudante. 2 7 5,38 1,409
19 - Sinto-me estimulado quando concluo com êxito a minha meta de
2 7 5,48 1,501
estudos e pesquisas.

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20 - Tenho aprendido muitas coisas interessantes no decorrer dos meus
1 7 5,55 1,536
estudos e pesquisas.
21 - Acredito que eu seja eficaz na contribuição das aulas que frequento. 2 7 4,98 1,228
22 - Tenho me tornado menos interessado nos meus estudos e pesquisas. 1 7 3,68 2,081
23 - Tenho me tornado menos interessado nos estudos e pesquisas desde
1 7 3,43 2,231
que entrei nesta universidade.
24 - Tenho estado mais descrente do meu potencial e da utilidade dos meus
1 7 3,91 2,065
estudos e pesquisas.
25 - Eu questiono o sentido e a importância de meus estudos e pesquisas. 1 7 4,63 1,912
N válido (de lista) 56
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
O primeiro ponto a ser comentado, é o de que, do total dos 141 acadêmicos de pós-
graduação, 56 são alunos de doutorado. Em comparação com a Tabela 2, as mesmas questões
se mantém superiores a média 5. A maior média apresentada (5,95) pertence à questão 11,
sendo assim é possível analisar que os alunos de doutorado se sentem consumidos por seus
estudos e pesquisas. Ao observar os resultados apresentados nas Tabelas 2 e 3, em
comparação a Tabela 4, a questão 23 se mantém com a menor média (3,43).
Após a identificação das estatísticas descritivas, tanto para mestrandos quanto para
doutorandos, identificou-se a diferença de médias entre mestrandos e doutorandos. Os
resultados são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 – Diferença de Médias entre mestrandos e doutorandos


Média Média
Mest. Dout. Dif.
11 - Sinto-me consumido pelos meus estudos e pesquisas. 5,82 5,95 0,13
12 - Sinto-me emocionalmente esgotado pelos meus estudos e pesquisas. 5,33 5,46 0,13
13 - Sinto-me esgotado no fim de um dia em que tenho aula. 5,29 5,36 0,07
14 - Sinto-me cansado quando me levanto para enfrentar outro dia de aula. 4,96 5,07 0,11
15 - Estudar e frequentar as aulas são para mim um grande esforço. 4,08 4,52 0,44
16 - Posso resolver os problemas que surgem nos meus estudos e pesquisas. 5,28 5,25 -0,03
17 - Durante as aulas, sinto-me confiante, realizo as tarefas de forma eficaz. 5,42 5,43 0,01
18 - Considero-me um bom estudante. 5,32 5,38 0,06
19 - Sinto-me estimulado quando concluo com êxito a minha meta de estudos e
5,94 5,48
pesquisas. -0,46
20 - Tenho aprendido muitas coisas interessantes no decorrer dos meus estudos e
5,82 5,55
pesquisas. -0,27
21 - Acredito que eu seja eficaz na contribuição das aulas que frequento. 4,99 4,98 -0,01
22 - Tenho me tornado menos interessado nos meus estudos e pesquisas. 3,81 3,68 -0,13
23 - Tenho me tornado menos interessado nos estudos e pesquisas desde que entrei
3,15 3,43
nesta universidade. 0,28
24 - Tenho estado mais descrente do meu potencial e da utilidade dos meus estudos e
3,58 3,91
pesquisas. 0,33
25 - Eu questiono o sentido e a importância de meus estudos e pesquisas. 4,51 4,63 0,12
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
Ao analisar a Tabela 5, é possível perceber que a diferença de médias entre mestrados
e doutorandos apresenta-se muito baixa. Em nenhuma questão a média extrapola a 1 ponto.
As únicas questões que apresentam com diferenças ligeiramente superiores são a questão ‘15 -
Estudar e frequentar as aulas são para mim um grande esforço’, onde doutorandos apresentam
médias superiores a mestrandos, e a questão 19, que será comentada mais à frente.
Após a identificação da diferença entre médias de mestrandos e doutorandos, realizou-
se o teste de diferença de médias. Neste teste, objetivou-se comparar se, os sintomas da
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Síndrome de Burnout apresentaram diferenças entre acadêmicos de mestrado e acadêmicos de
doutorado.
O primeiro passo foi à identificação da normalidade dos dados, como requisito dos
testes paramétricos. Realizada o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov, tanto para a
totalidade dos dados, quanto para os dados segregados entre mestrandos e doutorandos, não
foi possível aceitar a hipótese de que os dados seguem uma distribuição normal. Desta forma,
para o teste de diferença de médias, utilizou-se o teste não-paramétrico Mann-Whitney.
Os resultados do teste Mann-Whitney são apresentados na Tabela 6.

Tabela 6 – Teste de Diferença de Médias entre mestrandos e doutorandos


U de
Mann- Wilcoxon Sig. (2
Whitney W Z ext.)
11 - Sinto-me consumido pelos meus estudos e pesquisas. 2081,000 5736,000 -1,341 ,180
12 - Sinto-me emocionalmente esgotado pelos meus estudos e
2185,500 5840,500 -,855 ,392
pesquisas.
13 - Sinto-me esgotado no fim de um dia em que tenho aula. 2356,500 6011,500 -,102 ,919
14 - Sinto-me cansado quando me levanto para enfrentar outro dia
2322,000 5977,000 -,250 ,802
de aula.
15 - Estudar e frequentar as aulas são para mim um grande esforço. 2082,500 5737,500 -1,273 ,203
16 - Posso resolver os problemas que surgem nos meus estudos e
2318,000 3914,000 -,272 ,786
pesquisas.
17 - Durante as aulas, sinto-me confiante, realizo as tarefas de
2367,000 6022,000 -,059 ,953
forma eficaz.
18 - Considero-me um bom estudante. 2207,000 5862,000 -,759 ,448
19 - Sinto-me estimulado quando concluo com êxito a minha meta
1943,500 3539,500 -1,926 ,054
de estudos e pesquisas.
20 - Tenho aprendido muitas coisas interessantes no decorrer dos
2252,000 3848,000 -,561 ,575
meus estudos e pesquisas.
21 - Acredito que eu seja eficaz na contribuição das aulas que
2313,500 3909,500 -,289 ,773
frequento.
22 - Tenho me tornado menos interessado nos meus estudos e
2291,500 3887,500 -,379 ,705
pesquisas.
23 - Tenho me tornado menos interessado nos estudos e pesquisas
2216,000 5871,000 -,706 ,480
desde que entrei nesta universidade.
24 - Tenho estado mais descrente do meu potencial e da utilidade
2153,000 5808,000 -,969 ,332
dos meus estudos e pesquisas.
25 - Eu questiono o sentido e a importância de meus estudos e
2311,000 5966,000 -,295 ,768
pesquisas.
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
Conforme Field (2011), se não existe diferença entre os dois grupos, espera-se
encontrar um número semelhante nos valores das médias. Para Field (2001), a parte
importante da tabela é o valor da significância do teste, que fornece a probabilidade bilateral
de que a magnitude da estatística teste seja um resultado casual. Para o teste U de Mann-
Whitney, existe diferença entre as médias dos grupos quando p < 0,05. Ou seja, considera-se
que não há diferença entre grupos quando p >0,05.
Ao se analisar a Tabela 6, observa-se que, para a os valores de p (Sig), nenhuma das
15 questões relativas à Síndrome de Burnout apresentou diferenças estatisticamente
significativas entre mestrandos e doutorandos de contabilidade. Cabe uma observação na
questão ‘19 - Sinto-me estimulado quando concluo com êxito a minha meta de estudos e
pesquisas’. Caso se considere o nível de significância em 0,10, ou seja, caso se considere
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probabilidade bilateral de que a magnitude da estatística teste seja um resultado casual até o
limite de 10%, pode-se considerar haver uma diferença estatisticamente significativa nesta
questão, tendo em vista p = 0,054.
Ao se comparar as médias da questão 19, entre mestrandos e doutorandos, por meio
das Tabelas 3 e 4, observa-se que os acadêmicos de mestrado apresentaram média de 5,94,
enquanto os acadêmicos de doutorado apresentaram média de 5,48. Infere-se assim que os
acadêmicos de mestrado estão mais próximos da frequência ‘Quase sempre’ em relação a se
sentirem estimulados quando concluem com êxito uma meta de estudos e pesquisas, quando
os acadêmicos de doutorado estão mais próximos da frequência ‘Em vários momentos’.
Ao observar os índices obtidos na Tabela 2, é possível presumir que mesmo com o
estresse e exaustão sofridos com as obrigações da pós-graduação os acadêmicos não ficam
desinteressados ou desmotivados. E os mesmos se sentem capazes de desempenhar suas
atividades. Tal resultado corrobora com os achados de Silva e Vieira (2015) nas dimensões
Eficácia Profissional e Descrença.

5 Conclusões e considerações finais

A Síndrome de Burnout é um distúrbio de caráter depressivo e seu desenvolvimento é


gradual e cumulativo (LÓPEZ, 2012; MALLMANN et al. 2009). É normal do indivíduo
acometido pela síndrome sentir-se desmotivado e sem energia em resposta ao estresse
(ZULUAGA; MORENO, 2012). Para os estudantes de pós-graduação, em especifico de
stricto sensu, que precisam atuar como pesquisadores, muitos exercem à docência de forma
concomitante, necessidade de publicar em revistas de alto nível, desempenhar demais
atividades, sejam elas voltadas a vida pessoal ou a pesquisa, podem ser desencadeadores da
síndrome (VOLTARELLI, 2002). Desta forma, o objetivo desta pesquisa foi identificar a
manifestação dos sintomas da Síndrome de Burnout em alunos de pós-graduação stricto sensu
em Contabilidade no Brasil.
Nos dois grupos analisados, mestrandos e doutorandos, as médias mais altas se
referiam ao sentimento de esgotamento e exaustão emocional por parte dos acadêmicos.
Ainda assim, nas questões que se referiam à satisfação e motivação diante das pesquisas e
estudos realizados, os acadêmicos se reportaram de forma positiva. As médias baixas
apareceram nas questões que tratavam do desinteresse por parte dos acadêmicos, indicando
que o interesse nos estudos não é menor por conta da exaustão elevada.
Além disso, foram comparados os sintomas de Burnout em termos dos acadêmicos de
mestrado e doutorado, observou-se que não há diferenças estatisticamente significativas nas
médias entre mestrandos e doutorandos, no entanto é muito próximo do limite aceitável.
Identificou-se uma diferença estatisticamente significativa entre mestrandos e doutorandos
quanto à motivação ao concluir as metas de estudos e pesquisas.
Para trabalhos futuros, sugere-se aos interessados avaliar a existência dos sintomas da
Síndrome de Burnout entre estudantes de graduação e pós-graduação, avaliando a existência
de diferenças significativas nas dimensões da Síndrome entre os grupos. Ainda, recomenda-se
identificar os sintomas da Síndrome de Burnout em estudantes das áreas de administração, da
economia e outras áreas das ciências sociais aplicadas, além disso, se aprofundar com outros
temas correlatos, por exemplo, a relação orientador-orientando e a autoestima dos
acadêmicos.

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