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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG

REGIONAL CATALÃO
CURSO DE ENGENHARIA DE MINAS
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

LUCAS HENRIQUE FELISARDO

ÁGUA SUBTERRÂNEA E SUA EXPLORAÇÃO ATRAVÉS DE POÇOS


TUBULARES

CATALÃO GO
2014
LUCAS HENRIQUE FELISARDO

ÁGUA SUBTERRÂNEA E SUA EXPLORAÇÃO ATRAVÉS DE POÇOS


TUBULARES

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de
Engenharia de Minas da
Universidade Federal de Goiás –
UFG, como requisito parcial para
obtenção do título de bacharel em
Engenharia de Minas.

Orientador: Gabriel Gomes Silva

CATALÃO GO
2014
LUCAS HENRIQUE FELISARDO

ÁGUA SUBTERRÂNEA E SUA EXPLORAÇÃO ATRAVÉS DE POÇOS


TUBULARES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de


Goiás – UFG, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em
Engenharia de Minas.

BANCA EXAMINADORA

Renato de Paula Araújo


Universidade Federal de Goiás - UFG

Joana Tábata Estevam


Universidade Federal de Goiás - UFG

Gabriel Gomes Silva (ORIENTADOR)


Universidade Federal de Goiás – UFG

Aprovado em / /
A Deus, aos meus pais por todo o apoio e
confiança, à minha noiva por todo amor e
dedicação e ao meu filho que me faz a cada
dia uma pessoa melhor.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por sempre estar ao meu lado guiando meus passos no caminho
correto.
Meus pais, pelos ensinamentos, apoio durante minha graduação e sempre estarem ao
meu lado em todos os momentos que passei durante esse tempo.
Ao meu orientador Gabriel, por toda paciência, atenção e dedicação na elaboração
dessa monográfia.
Aos membros da banca de defesa, Renato e Joana.
Todos os meus amigos, em especial, meu grande amigo Danilo por sempre estar
presente durante quinze anos de amizade.
Minha noiva Lívia, pelo carinho, amor e apoio nos momentos de dificuldade.
E ao meu filho Miguel, por todo o amor, alegria e mesmo sem entender, iluminou meu
caminho me dando força para que eu pudesse atingir meus objetivos.
RESUMO

O presente trabalho apresenta um breve estudo sobre a importância das águas


subterrâneas como fonte de abastecimento para consumo humano, função estratégica de
muitos países, e como alternativa a problemas de escassez hídrica em várias regiões no
mundo, com destaque especial para região do semiárido brasileiro. Abordou-se ainda, de
forma sucinta, os métodos de construção de poços tubulares para exploração dos mananciais
subterrâneos e a legislação vigente que torna possível ao interessado adquirir a outorga de
direito de uso da água, bem como o ajuda a saber qual o profissional responsável para realizar
esse tipo de trabalho. A partir desta revisão bibliográfica, observou-se a importância em
realizar a perfuração de poços da maneira mais adequada e por profissionais habilitados para
tal fim, evitando possíveis contaminações em aquíferos, os quais possuem recuperação lenta,
e a necessidade de estudos relacionados a esse tema, além de ajudar no melhor planejamento
dos recursos hídricos.

Palavras chave: Água subterrânea. Outorga. Poço tubular.


ABSTRACT

The present work presents a short study on the importance of groundwater as a source
of supply for human consumption, a strategic function in many countries, and as an
alternative to problems of water scarcity in many regions in the world, with special emphasis
on the region of the Brazilian semiarid. We discussed also, briefly, the methods of
construction of wells for exploration of underground springs and the current law that makes it
possible to the interested the possibility of acquire in granting the right of use of water, as
well as helps to know the professional responsible to perform this type of work. From this
literature review, it was noted the importance of performing well drilling in the most
appropriate manner and for qualified professionals for this, avoiding possible contamination
in aquifers, which have slow recovery, and the need for studies related to this topic for help in
better planning of water resources.

Keywords: Groundwater. Grant. Well.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Ciclo hidrológico ...................................................................................................15


Figura 2: Zona saturada e não saturada .................................................................................17
Figura 3: Tipos de aquíferos..................................................................................................17
Figura 4: Principais domínios sedimentares e cristalinos .................................................19
Figura 5: Semiárido brasileiro ...............................................................................................22
Figura 6: Perfil de poço tubular construído em rocha sedimentar ...........................................30
Figura 7: Trépano .................................................................................................................31
Figura 8: Haste .....................................................................................................................31
Figura 9: Balancim ...............................................................................................................32
Figura 10: Caçamba de limpeza ............................................................................................32
Figura 11: Coluna de perfuração ...........................................................................................34
Figura 12: Mesa giratória e kelly ..........................................................................................34
Figura 13: Tanque de lama ....................................................................................................36
Figura 14: Boletim para controle da perfuração.....................................................................37
Figura 15: Poço em relação ao plano de fratura .....................................................................40
Figura 16: Conjunto motobomba submerso ...........................................................................45
Figura 17: Testes de bombeamento .......................................................................................46
Figura 18: Vertedouro triangular ...........................................................................................48
Figura 19: Vertedouro retangular ..........................................................................................49
Figura 20: Medição da vazão através de um volume conhecido .............................................50
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9
2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 11
2.1. OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 11
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 11
3. JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 12
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 13
4.1. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ......................................................................................... 13
4.1.1. Histórico.................................................................................................................... 13
4.1.2. Origem ...................................................................................................................... 15
4.1.3. Aquíferos .................................................................................................................. 17
4.2. ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BRASIL......................................................................... 18
4.3. IMPORTÂNCIA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ..................................................... 20
4.4. OUTORGA DE DIREITO DE USO.............................................................................. 24
4.4.1. Outorga para água mineral...................................................................................... 27
4.5. POÇOS TUBULARES PROFUNDOS .......................................................................... 29
4.5.1. Métodos de perfuração ............................................................................................. 30
4.5.2. Locação de poços ...................................................................................................... 38
4.5.3. Projetos de poços tubulares ...................................................................................... 40
4.5.4. Desenvolvimento de poços tubulares ....................................................................... 42
4.5.5. Conjuntos de bombeamento ..................................................................................... 44
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 51
REFERÊNCIAS: ............................................................................................................... 52
9

1. INTRODUÇÃO

Estima-se que 97% da água doce potável existente no planeta encontra-se no subsolo e
pouco menos de 3% está disponível na superfície da terra. A água subterrânea pode ser
utilizada para vários fins, tais como, uso industrial, consumo humano e irrigação no setor da
agricultura. Além disso, em muitos locais é a principal fonte de abastecimento, sendo
intensamente aproveitada, constituindo o mais importante recurso de água doce.
O sistema de captação de água subterrânea mais utilizado ocorre por meio de poços
tubulares, também denominados poços artesianos. A perfuração não é uma tarefa simples, por
isso, deve ser realizada apenas por profissionais qualificados e habilitados técnica e
legalmente. Um poço artesiano construído sem os devidos cuidados pode acarretar problemas,
como exemplos, contaminação da água e rebaixamento do lençol freático. Os cursos de
graduação em geologia e engenharia de minas fornecem o embasamento teórico para os
trabalhos de planejamento, pesquisa, locação, perfuração, limpeza e manutenção de poços
tubulares.
Hirata, Zoby e Oliveira (2010) descrevem que, no Brasil, de 30 a 40% da população é
abastecida por aquíferos, principalmente em cidades de pequeno e médio porte, embora haja
relatos que esse recurso subterrâneo, em diferentes proporções, abastecem várias capitais
como, por exemplo, Natal, Fortaleza, Belém, Maceió, Recife, Porto Velho e São Paulo.
A abertura de poços é bastante antiga, havendo registros com cerca de 4.000 anos de
poços perfurados pelos chineses, que chegaram a atingir, com tecnologia bastante simples,
profundidades da ordem de 900 metros (FEITOSA; MANOEL FILHO, 2000). Dentre os
métodos de perfuração existentes, os mais utilizados são a percussão, o rotativo e o
rotopneumático, sendo o uso de cada um dependente de alguns fatores, tais como a origem da
rocha que compõe o solo, a profundidade em que se encontram os aquíferos e as condições
topográficas dos locais de perfuração.
Segundo Feitosa e Vidal (2004), em vários locais do mundo, assim como na região
Nordeste do Brasil, o desenvolvimento socioeconômico é garantido através das águas
subterrâneas, condição fundamental para garantir que gerações futuras possam usufruir dos
recursos hídricos. Hirata, Zoby e Oliveira (2010) relatam a relevância no setor turístico por
meio das águas termais ou minerais em cidades como Caldas Novas em Goiás, Araxá e Poços
de Caldas em Minas Gerais e Lindóia em São Paulo, além do crescente mercado de água
mineral e potável de mesa.
10

A fim de assegurar o uso sustentável da água, cada estado brasileiro dispõem de


legislações específicas sobre a outorga do direito de uso, visando dessa forma, prevenir que a
construção de poços seja realizada por pessoas despreparadas para tal tipo de trabalho.
11

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

O presente trabalho tem por objetivo descrever os passos para realizar a perfuração de
poços tubulares, viabilizando, assim, o aproveitamento da água subterrânea.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Apresentar a importância das águas subterrâneas como fonte estratégica de recursos


hídricos;
 Apresentar embasamento teórico para explotação sustentável de água subterrânea
através de poços tubulares;
 Discorrer sobre a outorga de direito de uso da água que se encontra no subsolo
brasileiro.
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3. JUSTIFICATIVA

A utilização das águas subterrâneas tem aumentado de forma considerável nos últimos
anos no Brasil. Tal evento pode ser explicado devido aos constantes problemas de escassez de
águas superficiais em determinadas regiões do país, devido às condições climáticas
desfavoráveis que geram sérios problemas sociais e econômicos.
Assim, torna-se imprescindível o conhecimento e a capacitação dos profissionais
envolvidos na explotação de água subterrânea a fim de minimizar a ocorrência de problemas
ambientais gerados pela captação desses recursos hídricos através de poços tubulares.
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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

4.1.1. Histórico

Os antigos seres humanos já conheciam a ocorrência de águas subterrâneas. Os


primeiros sistemas de captação surgiram no início do período Neolítico e com o passar do
tempo foram se aprimorando, porém, sua origem ainda é um mistério. O filósofo grego
Aristóteles, apresentou as primeiras tentativas de explicar a ocorrência de água no subsolo,
considerando que a infiltração da água do mar em cavernas nas profundezas era fonte
exclusiva responsável pela formação desses recursos hídricos (MACHADO, 2008).
Alguns filósofos gregos preocuparam-se em tentar explicar como ocorreu a formação
das águas subterrâneas, porém isso prejudicou o início da Hidrologia e da Hidrogeologia, pois
suas teorias influenciaram filósofos romanos e a Igreja, que se baseava nas teorias filosóficas
para interpretar as Sagradas Escrituras. Somente no século XVI, Bernard Palissy, um
estudioso francês, ofereceu condições para a primeira explicação correta sobre a origem das
águas subterrâneas através da infiltração das águas da chuva, estabelecendo, dessa maneira, a
Hidrologia Superficial e a Hidrologia Subterrânea como ciência (MACHADO, 2008).
No final do século XVII, ainda havia muitas dúvidas se somente a água da chuva era
suficiente para explicar a água que escoava nos grandes rios. De acordo com Feitosa e Manoel
Filho (2000), três passos foram importantes para esclarecer essa questão:
 O francês Pierre Perraut (1608-1680) foi o responsável por iniciar o processo
de esclarecimento, medindo pela primeira vez a precipitação pluviométrica
sobre uma bacia hidrográfica e o volume de água de escoamento
correspondente. O experimento ocorreu na bacia do Rio Sena, em uma área de
drenagem de 122 km², obtendo em um período de três anos (1668 a 1670) uma
precipitação média anual de 530 mm. A descarga do rio registrada durante esse
período foi de 10 milhões de m³/ano, porém a lâmina média precipitada
correspondeu a um volume da ordem de 63 milhões. Dessa forma, foi
demonstrado que as chuvas conseguiriam garantir o fluxo de água tanto para os
rios como para as plantas e para infiltrações em grandes profundidades.
 O segundo passo desse processo aconteceu na mesma época, por outro francês,
o físico Edmé Mariotté (1620-1684), que através de medidas realizadas no Rio
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Sena em Paris, confirmou os experimentos de Perraut. Apesar de Pierre Perraut


ter iniciado os passos da hidrologia subterrânea, o físico Edmé Mariotté é
considerado por muitos o fundador da hidrologia das águas subterrâneas, pois o
primeiro era advogado e se ocupava grande parte do tempo com posições
administrativas e financeiras, não sendo muito conhecido no meio científico.
 O astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742) foi responsável pelo terceiro
passo: ele demonstrou, a partir de várias medições, que a precipitação da água
do mar poderia atender os fluxos de cursos de água e nascentes de todos os
continentes.

Segundo Machado (2008), Abdon Jacques Frambourg Garnier, nascido em 1875, teve
uma boa contribuição para os estudos das águas subterrâneas. Diplomou-se em engenharia de
minas na conceituada École de Mines de Paris e foi vencedor do concurso da Société
d’Encouragement pour l’industrie nationale, apresentando um trabalho sobre sondagem e
captação de águas subterrâneas artesianas. A participação nesse concurso culminou no livro
Traité sur les puits artésiens, considerado um clássico sobre geologia e perfuração de poços
por muitos anos.
Machado (2008) descreve que, em meados do século XIX, a hidrologia de águas
subterrâneas se tornou quantitativa graças à conhecida Lei de Darcy. Henry Phillibert Gaspard
Darcy nasceu em Dijon, na França, em 1803 e foi diplomado engenheiro de pontes e estradas
na École de Pounts e Chaussés, em Paris. Devido a dificuldades encontradas para captar água
subterrânea em sua cidade natal para abastecimento público, Henry Darcy precisou utilizar
águas superficiais, surgindo, assim, a necessidade de se projetar filtros mais eficientes. Foi
observado que o fluxo de água do filtro estava em função do gradiente entre dois pontos: a
área do meio e habilidade de transportar água, originando, assim, a hidráulica dos meios
porosos e a hidrogeologia quantitativa.
Feitosa e Manoel Filho (2000) descrevem que, no Brasil, as atividades desenvolvidas
no âmbito da hidrologia de águas subterrâneas iniciaram na região nordeste, limitadas a
perfuração de poços. Segundo os autores, essas atividades ocorreram na tentativa de atenuar
problemas oriundos dos períodos de seca nessa região, sem grandes preocupações com
estudos básicos para avaliar a disponibilidade de recursos e, consequentemente, sem
planejamento de políticas permanentes para o melhor uso da água. A partir de 1960, com a
criação da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), os estudos da
hidrogeologia avançaram no Brasil: a perfuração de poços começou a ser realizada por
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pessoal especializado, dando origem a diversos estudos de caráter exploratório. Durante a


década de 1970, o sul e sudeste brasileiro também iniciaram o seu desenvolvimento: em
Minas Gerais por meio da CETEC, em São Paulo pelo DAEE e IPT, e no Paraná pela
SURHEMA.

4.1.2. Origem

Segundo Cleary (2007), a origem da água subterrânea está intimamente relacionada à


água superficial. Todavia, há grandes diferenças entre o ambiente superficial e o subterrâneo,
havendo assim, distinção entre os estudos das águas superficiais e subterrâneas, porém, com
pouca ênfase na complexa ligação existente entre os dois.
A água subterrânea, em quase toda sua totalidade, tem origem no ciclo hidrológico,
(Figura 1) que é o sistema responsável pelo movimento contínuo da água presente nos
oceanos, continentes (superfície, solo e rocha) e na atmosfera (FERREIRA, et. al., 2007). No
solo e subsolo, o ciclo é realizado pela ação da gravidade e pelo tipo de densidade da
cobertura vegetal. Já na atmosfera e nas superfícies líquidas, ocorre pelos fatores climáticos,
tais como temperatura do ar, ventos, umidade relativa do ar e radiação solar.

Figura 1: Ciclo hidrológico

Fonte: Ciclo (2014)

Segundo o Ground Water Manual (1995), o vapor de água na atmosfera condensa-se


dentro de cristais ou gotas de água que caem na terra através da chuva ou neve. Uma parte
evapora, retornando à atmosfera, enquanto outra porção escoa sobre a superfície do solo até
encontrar uma fonte de água e seguir em direção ao oceano. O restante pode infiltrar
16

diretamente no solo, ser transpirado por raízes de plantas ou movido através da capilaridade e,
assim, evaporar ou originar os aquíferos.
Feitosa e Manuel Filho (2000) descrevem a evapotranspiração como um fenômeno
que ocorre quando a evaporação das moléculas de água na superfície líquida, ou compondo a
umidade do solo, adquirem energia suficiente através da radiação solar, passando do estado
líquido para o vapor; enquanto a transpiração é o processo pelo qual as plantas perdem água
para a atmosfera. Os valores quantitativos da água decorrentes da evaporação e transpiração
são difíceis de serem medidos separadamente, criando-se assim o termo evapotranspiração,
para medir o valor máximo dessas perdas.
Ainda segundo os autores, a infiltração das águas das chuvas no solo depende do tipo
de cobertura vegetal e da granulometria das partículas que o constitui. A água precipitada
infiltra no solo preenchendo os espaços vazios, processo denominado percolação. O solo pode
ser dividido em zona saturada, que se encontra abaixo do nível freático e na qual todos os
poros existentes estão preenchidos totalmente com água, e em zona não saturada, localizada
acima da superfície freática, constituída por poros parcialmente preenchidos por água (Figura
2). A zona não saturada pode ser dividida em três partes:
 Zona capilar: estende-se do nível freático até o limite da elevação capilar da água.
Sua espessura varia de acordo com a uniformidade do terreno e tamanho dos poros.
O solo encontra-se perto do ponto de saturação na parte inferior e na parte superior
apenas os poros menores encontram-se preenchidos, pois a umidade é reduzida à
medida que se aproxima da superfície.
 Zona intermediária: encontra-se entre o limite de elevação capilar da água e a parte
inferior das raízes das plantas.
 Zona de evapotranspiração: compreendida entre os limites das raízes da vegetação e
a superfície do solo. Sua espessura depende do tamanho da cobertura vegetal sobre
a superfície do terreno, alcançando vários metros quando a vegetação é farta.
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Figura 2: Zona saturada e não saturada

Fonte: Busarello et al. (2013)

4.1.3. Aquíferos

Segundo Cleary (2007), um aquífero consiste em uma formação rochosa com


condições de permeabilidade e porosidade necessárias para armazenar e transmitir grandes
quantidades de água, sob gradientes hidráulicos naturais. Feitosa e Manuel Filho (2000)
descrevem que, quando a formação geológica contém quantidade de água significativa, mas é
incapaz de transmiti-la em condições naturais, dá-se o nome de aquiclude. Há dois tipos
comuns de aquíferos: não confinado e confinado, conforme ilustrado na figura 3,
representados pelos aquíferos A e B respectivamente.

Figura 3: Tipos de aquíferos

Fonte: Cleary (2007)


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Na Figura 3, o aquífero A é caracterizado como não confinado, podendo também


receber as denominações de freático ou livre. O termo “não confinado” se deve ao fato de não
haver restrições aos movimentos da superfície freática, seja para cima ou para baixo. O poço
representado pelo número 7, possui nível de água na mesma posição da superfície do lençol
freático. A partir desse pressuposto, pode-se dizer que, em condições de fluxo horizontal, ao
perfurar um poço, o nível de água dele representará o nível freático. Os aquíferos
representados pelos números 3 e 4 são exemplos de aquíferos suspensos, os quais possuem
extensão horizontal limitada (CLEARY, 2007).
O aquífero B, também representado na Figura 3, é um exemplo de aquífero confinado,
no qual a pressão da água na superfície limitante superior, chamada topo, é maior que a
pressão atmosférica (FEITOSA; MANOEL FILHO, 2000). A superfície potenciométrica é
definida pelo nível de água de um poço perfurado em um aquífero confinado, e que depende
do tipo de recarga, geologia, localização e das taxas de bombeamento. O poço representado
pelo número 5 representa um exemplo de poço jorrante (CLEARY, 2007).
O processo pelo qual um aquífero é reabastecido é chamado de recarga, a qual pode
ser natural, dependendo fundamentalmente da quantidade de chuvas e do equilíbrio instituído
entre a infiltração, escoamento e evaporação. Dessa maneira, a topografia do local, o tipo de
solo e a condição atual da cobertura vegetal, possuem grande importância na recarga de
aquíferos. A recarga pode ocorrer de forma direta em aquíferos livres, em toda sua extensão,
através da infiltração da água na superfície do solo, ou em aquíferos confinados, nos locais de
afloramento da rocha na superfície (FERREIRA, 2007).

4.2. ÁGUA SUBTERRÂNEA NO BRASIL

O Brasil é um país de grandeza continental, possui distintas condições físico-


climáticas, encontrando-se em um embasamento geológico que abrange rochas do período
pré-cambriano do Arqueano até sedimentos quaternários recentes. Com base nesta
heterogeneidade de condicionantes, as características físico-químicas das águas subterrâneas
variam bastante conforme a natureza de dissolução das rochas e seu curso na superfície
(ZOBY, 2008).
Em relação à forma de armazenar e transmitir água através das rochas, a Agência
Nacional de Águas (ANA, 2005) divide as unidades geológicas em três domínios aquíferos:
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 Fraturado: a água está vinculada à presença de descontinuidades na rocha, que


causam uma porosidade secundária associada a falhas, fraturas e diáclases. As
rochas ígneas e metamórficas compõem esse domínio, que constitui os terrenos
denominados cristalinos;
 Fraturado-Cárstico: a água está relacionada à descontinuidades na rocha,
associadas a feições de dissolução, sendo que sua ocorrência se dá em regiões que
possuem rochas sedimentares ou metassedimentares, atreladas a rochas
carbonáticas, às quais estão relacionadas às feições de dissolução.
 Poroso: a água está compreendida entre os grãos que formam a rocha. O domínio
é representado pelas rochas sedimentares.

As rochas sedimentares possuem os melhores aquíferos em termos de produtividade


de poços e reservas hídricas. Cerca de 4.130.000 km² da área do território nacional são
ocupados pelos terrenos sedimentares, correspondendo a aproximadamente 48% do total, e
dispostos na maioria das regiões hidrográficas. A área de recarga dos principais sistemas de
aquíferos do Brasil constituem 32% do total dos terrenos sedimentares (ANA, 2005).
Considerando os terrenos sedimentares e cristalinos, pode-se dividir os principais
domínios de acordo com a Figura 4.

Figura 4: Principais domínios sedimentares e cristalinos

Fonte: ANA (2005)


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A bacia sedimentar mais representativa do período proterozóico, considerando uso e


potencial hidrogeológico, é a do São Francisco, que possui dois importantes sistemas de
aquíferos de dimensões regionais (ANA, 2005). O Grupo Bambuí, responsável pela origem
do sistema aquífero Bambuí, está situado nos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás, em
uma área de aproximadamente 175.000 km², e o sistema aquífero Urucuia-Areado, principal
aquífero desta bacia.
Encontram-se no Paleozóico (540 a 250 Ma) as mais representativas bacias
sedimentares brasileiras, destacando-se a Bacia do Paraná, Parnaíba e do Amazonas (ANA,
2005). Na Bacia do Paraná encontra-se o Sistema Aquífero Guarani, que por alguns anos foi
considerado pelos estudiosos como o maior reservatório de água doce do mundo e que
poderia abastecer toda a população mundial por milhares de anos. Entretanto, Machado
(2005), concluiu, a partir de diversos estudos realizados por outros autores, assim como por
seus próprios estudos anteriores, que o Sistema Aquífero Guarani é simplesmente um
agrupamento de unidades hidroestratigráficas, não obrigatoriamente com conexão hidráulica,
completamente descontínuo, com muitas compartimentações, possuindo grandes extensões
com águas salobras e salgadas de qualidade imprópria para o consumo humano.
Os terrenos cristalinos ocupam todas as regiões do território nacional e constituem
aproximadamente 4.380.000 km². São representados por vários tipos de rocha, incluindo
gnaisses, xistos, filitos, granitos, metacalcários e quartzitos de idade pré-cambriana (superior a
540 Ma) (ANA, 2005). No Brasil grande parte do semiárido, cerca de 600.000 km² é formada
por terrenos cristalinos. As características do clima da região, com escassas quantidades de
chuva e solo com pouca cobertura vegetal, contribuem para o escoamento superficial em
detrimento da infiltração no solo. Dessa forma, os poços perfurados nessa região apresentam
vazões baixas, entre 1 e 3 m³/h, e alto grau de salinidade.

4.3. IMPORTÂNCIA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

A importância das águas subterrâneas está crescendo no decorrer dos anos em todo o
mundo, por possui características peculiares em relação ao modo de armazenamento,
qualidade, potencial quantitativo, controle de oferta e proximidade da fonte hídrica do local da
demanda. Constitui-se em um bem mineral competitivo no mercado, possuindo grande
destaque para o desenvolvimento em vários locais, nos quais garante o abastecimento para a
população e o setor produtivo (VERÍSSIMO, 1999).
21

Albuquerque Filho et al. (2011) descrevem que a água subterrânea apresenta boas
condições de proteção aos mais variados tipos de uso e ocupação do solo que, de alguma
maneira, podem contribuir com a alteração da qualidade ou quantidade desta. Assim, essa
fonte hídrica têm obtido destaque na parte estratégica de recursos hídricos, principalmente
para as gerações futuras, levando-se em conta o elevado crescimento demográfico, grandes
aglomerações urbanas, leis ambientais mais rígidas, aliadas às constantes alterações climáticas
do planeta.
Os aquíferos podem ser utilizados para o fornecimento de água para populações de
diversos países (Tabela 1). No Brasil, esse tipo de abastecimento ocorre em 30 a 40% dos
casos, podendo ser feito total ou parcialmente pelos mananciais subterrâneos. Além do
abastecimento, os mananciais suprem as mais variadas necessidades em diversas cidades e
comunidades, bem como em sistemas autônomos residenciais, indústrias, serviços de
irrigação agrícola e o lazer que ocorre pelo turismo nos locais de águas termais ou minerais.

Tabela 1: Proporção de uso de água subterrânea

País Proporção de uso de água subterrânea


para abastecimento humano (%)

Arábia Saudita 100


Dinamarca 100
Malta 100
Áustria 70
Alemanha 70
Bélgica 70
França 70
Hungria 70
Itália 70
Holanda 70
Marrocos 70
Rússia 70
Suíça 70
Brasil 60

Fonte: Albuquerque Filho et al. (2013)

As águas subterrâneas desempenham um importante papel socioeconômico no Brasil,


compondo o abastecimento de grande parte do estado de São Paulo, e em áreas do semiárido
brasileiro, onde há grande escassez de recursos hídricos superficiais devido as características
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climáticas do local. A região Nordeste do país possui uma área de 1.561.000 km², dos quais
cerca de 1.237.000 km² correspondem ao denominado Polígono das Secas (Figura 5),
instituído pela Lei 1.348 de 10.02.1957 (FEITOSA; VIDAL, 2004). O Polígono das Secas é
um fenômeno caracterizado pela escassez dos recursos hídricos de superfície, resultante das
baixas precipitações pluviométricas, possuindo apenas uma estação úmida, que na maioria das
vezes é passageira, além de irregularidades interanuais, responsáveis por períodos de seca
bastante danosos.

Figura 5: Semiárido brasileiro

Fonte: Brasil (2009)

Segundo um programa de estudos e plano de aproveitamento de águas subterrâneas no


nordeste, descrito em um dos artigos publicados pela Associação Brasileira de Águas
Subterrâneas (ABAS, 2003), diversos pontos positivos foram encontrados, dentre os quais
destacam-se:
 Atendimento a uma população com cerca de 16 milhões de pessoas;
 Estados como o Piauí, com 100% de sua área fortemente afetada pela seca,
possuem elevado potencial subterrâneo, podendo assim, através de poços
tubulares, suprir todas as necessidades de utilização da água.
 A distribuição geográfica dos poços tubulares profundos nas diversas faixas
sedimentares é extremamente positiva para a implantação de vários projetos de
irrigação.
23

A escassez hídrica é um problema eminente em todo o mundo. Muitos países sofrem


com a falta de água e os problemas gerados por longos períodos de estiagem. Em março de
2014 o índice de armazenamento de água do Sistema Cantareira em São Paulo chegou a
15,8%, registrando a menor marca já atingida. Além disso, outras regiões também são
afetadas, o que pode ser explicado pela falta de planejamento do aproveitamento integrado e
racional dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, considerando o uso múltiplo deste
recurso.
L’Vovich (1979, apud Hirata; Varnier, 1998) relatam que três quartos da água doce
usada pelo homem no planeta, são utilizados para atividades agrícolas e, segundo a National
Groundwater Association (2013), aproximadamente 60% da água subterrânea no mundo
também é utilizada para este fim. O uso de recursos hídricos subterrâneos em sistemas
agrícolas é uma boa opção, pois alia a perenidade, muito importante se tratando de irrigação, e
a qualidade bacteriológica e físico-química natural das águas. No Brasil, a utilização desse
recurso na agricultura irrigada ainda é restrito devido à falta de conhecimento, tradição do uso
por parte do agricultor e falta de projetos e estudos na área.
A água mineral é obtida diretamente de fontes naturais ou por extração de águas
subterrâneas, sendo caracterizada pelo conteúdo definido e constante de sais minerais,
oligoelementos e outros constituintes. A indústria de água mineral está presente em todas as
partes do mundo. Estima-se que o consumo mundial de água engarrafada em 2012 tenha sido
de aproximadamente 249 bilhões de litros, 7% a mais que no ano de 2011 (Departamento
Nacional de Produção Mineral - DNPM, 2013). O mercado de água engarrafada em cada país
é controlado por empresas locais, porém quatro grandes empresas destacam-se no mundo: a
suíça Nestlé, a francesa Danone, e as norte-americanas Coca-Cola e PepsiCo, que buscam
expandir suas atividades principalmente em países onde o consumo é mais elevado. A tabela 2
ilustra o consumo em alguns países.
No Brasil, de acordo com o Sumário Mineral de 2013, o estado que mais se destacou
em 2012 foi São Paulo, com 17% da produção de água envasada. O país importou 1,447
milhões de litros de água mineral, enquanto exportou 297 mil. Em relação as Portarias de
lavra para água mineral, 55 foram abertas em 2012 contra 38 em 2011, sendo aprovados, no
ano de 2012, 46 novos Relatórios Finais de Pesquisa e de Reavaliação de Reservas.
24

Quadro 1: Consumo mundial de água subterrânea


Discriminação Consumo per capita (litros/ano) Consumo (milhões de litros)
Países 2011 2012 Classificação 2011 2012 %
Brasil 86,6 90,7 20º 17.038 17.447 7,01
Estados Unidos da América 110,5 115,8 10º 34.475 36.621 14,71
China 104,1 105,6 14º 29.096 36.254 14,56
México 247,9 258,9 1º 28.469 29.608 11,89
Indonésia nd nd nd 14.235 15.869 6,37
Tailândia 170 189,3 2º 11.806 13.460 5,41
Itália 188,9 179,4 3º 11.488 10.953 4,4
Alemanha 136,3 129,8 7º 11.183 10.698 4,3
França 137,4 132,5 6º 8.672 8.881 3,57
Índia nd nd nd nd 6.447 2,59
Espanha 110,9 118,1 8º 5.733 nd nd
Outros Países • • • 60.115 62.714 25,19
TOTAL • • • 232.310 248.950 100

Fonte: Adaptado de Assirati (2013)

Zoby e Matos (2002) relatam o quanto é limitado o conhecimento da disponibilidade


hídrica subterrânea. A falta de conhecimento da situação das águas subterrâneas no país não
permite identificar e delimitar a extensão dos problemas dos nossos aquíferos. A fim de
melhorar essa situação, é importante que o uso dos mananciais subterrâneos ocorra através de
uma licença de perfuração e outorga, pois, aproximadamente 70% dos poços tubulares são
ilegais. A regulação pode minimizar possíveis impactos ambientais causados principalmente
pela contaminação através do nitrato, provenientes em grande parte do esgoto não tratado
(HIRATA; ZOBY; OLIVEIRA, 2009).

4.4. OUTORGA DE DIREITO DE USO

A outorga de direito de uso de recursos hídricos foi estabelecida como instrumento da


Política Nacional de Recursos Hídricos, pelo art. 5º da Lei 9.433, de 08 de janeiro de 1997. A
Lei n° 9.984, de 17 de julho de 2000, institui a criação da ANA e complementa a
regulamentação da outorga, através da possibilidade da emissão das outorgas preventivas,
definindo limites para os prazos de vigências delas e de direito de uso, dispondo ainda sobre a
declaração de reserva de disponibilidade hídrica.
De acordo com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM, 2010) são passíveis
de outorga todos os usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente
em um curso de água, excetuando-se os usos considerados insignificantes que são, entretanto,
passíveis de cadastramento junto à autoridade outorgante. A outorga de direito de uso de
recursos hídricos não é definitiva, sendo concedida por um prazo limitado, para o qual a lei já
25

estipulou a validade máxima em 35 (trinta e cinco) anos, ainda que possa haver renovação,
como também a sua suspensão ou seu cancelamento, conforme regulamento.
Segundo Silva et. al. (2008), os critérios adotados pelos estados para a análise dos
pedidos de outorga das águas subterrâneas, consistem nas análises hidrogeológicas, onde se
verifica a geologia, os dados fornecidos na ficha de solicitação, os perfis litológicos e
construtivos do poço, o teste de bombeamento, as informações de possíveis captações
subterrâneas na região de interesse, análise da qualidade da água, capacidade de recarga do
aquífero, além de problemas de contaminação do solo ou aquífero. A outorga deve ser
solicitada junto à Agência Nacional de Águas, quando os corpos de água forem de domínio da
União, caso contrário deve ser solicitada junto ao estado, onde se encontra o recurso
subterrâneo.
Na maioria dos estados brasileiros a outorga já está implementada, mas em algumas
situações, os usuários dos mananciais subterrâneos ficam isentos da outorga e os estados
diferem uns dos outros em relação a esses valores, os quais são baseados principalmente na
vazão captada, em torno de 1000 l/h. Condições a respeito da profundidade e diâmetro dos
poços também são mencionadas. O cadastro junto ao órgão outorgante é realizado mesmo que
o usuário fique livre da outorga, para possíveis interferências e para conhecimento da
produtividade.
Segundo IGAM (2010) “para a obtenção de outorga de direito de uso dos recursos
hídricos para extração de águas subterrâneas por meio de poço tubular profundo, o requerente
deverá inserir a autorização de perfuração na documentação”. A autorização de perfuração é
necessária para que o órgão competente verifique a sua viabilidade, considerando a área e a
vulnerabilidade do aquífero e ainda a proximidade com corpos d´água e áreas de proteção
ambiental. Além do requerimento próprio a ser entregue, é necessário apresentar outras
informações, dentre as quais:
 Formulário técnico do empreendimento, de acordo com o modelo fornecido pelo
órgão outorgante, em Minas Gerais por exemplo, fica a cargo do IGAM;
 Comprovante de pagamento referente aos custos de análise técnico-processual;
 Relatório técnico, que deve conter:
1. Projeto das obras destinadas à captação de água subterrânea, com informações
de profundidade e diâmetro do poço, a vazão a ser captada, utilização de filtros e a
finalidade do uso;
2. A caracterização hidrogeológica e a justificativa locacional que embase a
escolha do ponto de perfuração, bem como croqui de localização do poço;
26

3. As informações referentes à caracterização do entorno do ponto de captação;


4. Fotografias do ponto de captação e circunvizinhanças que possibilitem a
visualização do contexto fisiográfico;
5. Características da unidade geológica;
 Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, dos profissionais responsáveis
pelo relatório técnico e pela perfuração do poço tubular profundo.

Silva et al. (2008) descrevem que “os estudos hidrogeológicos, os projetos e a


execução dos trabalhos para captação de água deverão ser executados por profissionais
habilitados”, seguindo as normas técnicas brasileiras pertinentes. Outro fator importante a ser
considerado na etapa de perfuração de poços é a qualidade da água com base no uso posterior
desta. O tipo de consumo destinado à água é definido de acordo com as características
hidrogeoquímicas e seus níveis de poluição. Segundo a Resolução do Conselho Nacional do
Meio Ambiente – CONAMA nº 396/08 (Art. 3º), as águas são classificadas segundo os seus
usos preponderantes em:
I - Classe Especial: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses
destinadas à preservação de ecossistemas em unidades de conservação de proteção integral e
as que contribuam diretamente para os trechos de corpos de água superficial enquadrados
como classe especial;
II - Classe 1: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, sem
alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, e que não exigem tratamento para
quaisquer usos preponderantes devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;
III - Classe 2: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, sem
alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, e que podem exigir tratamento
adequado, dependendo do uso preponderante, devido às suas características hidrogeoquímicas
naturais;
IV - Classe 3: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, com
alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, para as quais não é necessário o
tratamento em função dessas alterações, mas que podem exigir tratamento adequado,
dependendo do uso preponderante, devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;
V - Classe 4: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, com
alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, e que somente possam ser utilizadas,
sem tratamento, para o uso preponderante menos restritivo;
27

VI - Classe 5: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, que


possam estar com alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, destinadas a atividades
que não têm requisitos de qualidade para uso.
De modo geral, o início do processo administrativo da outorga acontece, normalmente,
quando o usuário de recursos hídricos encaminha ao órgão gestor de recursos hídricos os
formulários de outorga preenchidos e acompanhados da documentação técnica e legal
solicitada. Em seguida, o material enviado é analisado e caso ocorra algum tipo de
incoerência de informações, o usuário precisa corrigí-las para que o pedido seja aceito e se
transforme em processo administrativo. Uma vez que o processo esteja com todas as
informações corretas, ele é submetido a uma série de avaliações, dentre elas a técnica e a
jurídica. O pleito de outorga é entendido como tecnicamente deferido se houver uma
manifestação favorável em relação as avaliações, restando, apenas uma definição política da
direção do órgão sobre o pleito. Caso aconteça o deferimento também político, o documento
de outorga é assinado e, por fim, publicado no Diário Oficial do Estado ou da União,
dependendo do domínio das águas e do órgão competente.

4.4.1. Outorga para água mineral

A Portaria N° 374, de 1° Outubro de 2009, DOU de 07/10/2009 aprova a Norma


Técnica que dispõe sobre as Especificações Técnicas para o Aproveitamento de água mineral,
termal, gasosa, potável de mesa, destinada ao envase, ou como ingrediente para preparo de
bebidas em geral ou ainda destinada para fins balneários, em todo o território nacional. De
acordo com o Art. 1° dessa Portaria, fica aprovada a Norma Técnica n° 001/2009, que dispõe
sobre as “Especificações Técnicas para o Aproveitamento de água mineral, termal, gasosa,
potável de mesa, destinadas ao envase, ou como ingrediente para o preparo de bebidas em
geral ou ainda destinada para fins balneários”.
A pesquisa de lavra de água mineral e potável de mesa para consumo humano são
realizadas pelos regimes de Autorização de Pesquisa e de Concessão de lavra, conforme
previstos no Código de Mineração, bem como no Código de Águas Minerais. O
Requerimento de Autorização de Pesquisa exige Formulário padronizado pelo Departamento
Nacional de Produção Mineral – DNPM, Plano de pesquisa e Planta de localização da área.
Segundo Gonçalves e Rodrigues (1999), o Plano de Pesquisa é elaborado por geólogo
ou engenheiro de minas e o programa de trabalhos previstos deve atender ao disposto na
Portarias n° 222/97-DNPM e 231/98-DNPM, que respectivamente dispõem das
28

especificações técnicas para o aproveitamento das águas minerais e potáveis de mesa e das
áreas de proteção dessas fontes. A Portaria N° 231, de 31 de Julho de 1998, DOU de
07/08/1998 é muito importante, pois grande parte das fontes balneários e estâncias de águas
minerais e potáveis de mesa em exploração no país, encontram-se próximo aos centros
urbanos, distritos industriais, atividades agropecuárias e lixões. Uma vez poluída, a água
mineral é descaracterizada, pois na maioria das vezes o processo é irreversível. Portanto, os
titulares de Alvará de Pesquisa devem apresentar a área de proteção de sua fonte, quando da
apresentação do Relatório Final dos trabalhos de pesquisa. Na elaboração do Relatório Final
de Pesquisa é importante o Estudo “in loco” e ensaio de bombeamento, este de acordo com a
Portaria N° 222, de 28 de Julho de1997, DOU de 07/10/2009. O teste de produção deve ser
realizado com o acompanhamento de um técnico do DNPM. O Estudo “in loco” é realizado
de acordo com a Portaria N° 117 de 17 de Julho de 1972, DOU de 24/07/1972. Esses estudos
compreenderão o seguinte:
 Análise química completa;
 Análise química dos gases espontâneos quando existentes;
 Análise bacteriológica;
 Determinação da radioatividade da água, ao emergir, e dos gases espontâneos,
quando existentes;
 Determinação da temperatura da água;
 Determinação da vazão da fonte;
 Dosagem in loco dos elementos químicos susceptíveis de se alterarem com o
transporte da amostra.

Segundo Gonçalves e Rodrigues (1999) “os laudos das análises emitidos pela CPRM
serão encaminhados ao Serviço de Águas Subterrâneas – SEAS do DNPM, onde terá
prosseguimento a determinação da composição química provável da água e a sua classificação
segundo o Código de Águas Minerais”. Posteriormente, ocorre a aprovação do Relatório de
Pesquisa com a respectiva publicação no DOU, considerando a vazão explotável e a
classificação da água, tendo o interessado o prazo de um ano para o requerimento da
Concessão de Lavra. No requerimento deverão ser observados os dispostos nos artigos 38, 39
e 40 do código de mineração e acompanhado do Plano de Aproveitamento Econômico,
especificando, claramente, o sistema de drenagem das águas pluviais, bem como as
29

instalações sanitárias na área requerida e a metodologia a ser adotada no tratamento de


efluentes.

4.5. POÇOS TUBULARES PROFUNDOS

Segundo Vasconcelos et al. (2012),

(...) a perfuração de um poço para captação de águas subterrâneas,


geralmente ocorre a partir da necessidade de ampliação no consumo ou a
busca por maior qualidade, principalmente quando os recursos de águas
superficiais não possuem quantidades ou qualidade suficientes aos
interessados (VASCONCELOS et al., 2012, p. 2).

Com a necessidade de disponibilizar mais informações sobre recursos hídricos, o


Serviço Geológico do Brasil (CPRM) conta, desde 1997, com o Sistema de Informações de
Águas Subterrâneas (SIAGAS). Esse sistema consiste no cadastro nacional de pontos d’água,
disponibilizados livremente em um ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG),
no site www.cprm.gov.br.
Poço tubular profundo é um poço circular de diâmetro reduzido, perfurado com
equipamento apropriado para esse tipo de trabalho, formando uma estrutura hidráulica que,
projetada e construída de acordo com normas pré-estabelecidas, permite a extração econômica
de águas de camadas profundas do subsolo, constituído por um ou mais aquíferos. O poço é
revestido em seu interior por tubos, evitando possíveis desmoronamentos das camadas de
rochas que foram atravessadas. Poços perfurados em rochas sedimentares, possuem tubos de
revestimento em determinadas partes dos furos, enquanto outros perfurados em rochas
cristalinas possuem tubos de revestimento apenas nas camadas pouco consolidadas (IGAM,
2010). A Figura 6 ilustra o exemplo de poço perfurado em rocha sedimentar.
30

Figura 6: Perfil de poço tubular construído em rocha sedimentar

Fonte: Geodrilpoços

A construção de poços tubulares profundos é uma atividade especializada na área de


engenharia, portanto, todo esforço deve estar centrado na contratação de empresas de
perfuração de poços que possuam quadros especializados de funcionários, geólogos,
engenheiro de minas e engenheiros com especialização na área reconhecida pelo CREA.

4.5.1. Métodos de perfuração

4.5.1.1. Percussão

Segundo Feitosa e Manoel Filho (2000) “o método de perfuração a percussão baseia-


se no movimento contínuo de subida e descida de uma ferramenta pesada, golpeando a
formação rochosa, desagregando-a e/ou fragmentando-a”. Geralmente são utilizadas neste
método perfuratrizes de pequeno porte e fácil operação, podendo ser transportadas em um
chassi de caminhão adaptado. As partes que compõem este equipamento são as seguintes:
31

 Trépano: pesa de 100 a 500 kg quando pequenos diâmetros, e de 500 a 1200 kg


para grandes diâmetros, sendo esta uma ferramenta que tem a função de romper a
rocha (Figura 7).

Figura 7: Trépano

Fonte: Melo; Silva (2007)

 Haste: acrescentar peso à coluna de perfuração e de guia, mantendo a verticalidade


do poço. Mede entre 3 a 5 metros e pesa de 400 a 1.000 kg (Figura 8).

Figura 8: Haste

Fonte: Melo; Silva (2007)

 Percussor: remedia possíveis aprisionamentos do trépano, principalmente na


perfuração de formações argilosas. O espaçamento entre os “aneis” é de 30 a 50
cm.
 Porta cabo: conecta a coluna de perfuração ao sistema percussor, possibilitando o
movimento de vai e vem do trépano.
 Balancim: parte do equipamento que promove os movimentos de vai e vem do cabo
de aço e toda a coluna de perfuração (Figura 9).
32

Figura 9: Balancim

Fonte: Feitosa; Manoel Filho (2000)

 Caçamba de Limpeza (Figura 10) ou Bomba de Areia: ferramenta utilizada para


promover a limpeza dos poços à medida que avança a perfuração, retirando o
material desagregado presente no fundo do furo. São presas a um segundo cabo de
aço independente do cabo da coluna de perfuração, facilitando a operação de
limpeza.

Figura 10: Caçamba de limpeza

Fonte: Feitosa; Manoel Filho (2000)


33

4.5.1.2. Rotativo

“O método rotativo baseia-se na trituração e/ou desagregação da rocha pelo


movimento giratório de uma broca. O início das primeiras perfurações pelo método rotativo
data por volta de 1860” (FEITOSA; MANOEL FILHO, 2000). Há perfuratrizes de pequeno e
grande porte neste método, alcançando bons resultados para poços profundos e relativamente
para rasos. Esse sistema de perfuração relaciona o efeito cortante provocado por um peso
sobre uma broca, que gira com um fluido injetado de maneira contínua no interior das hastes
de perfuração, removendo os detritos desfragmentados até a superfície (MELO; SILVA,
2007). Segundo Feitosa e Manoel Filho (2000) os componentes da coluna de perfuração
(Figura 11) e da perfuratriz são:
 Broca: fica à frente da coluna de perfuração, desagregando e/ou triturando as
rochas. Há diversos tipos, sendo a broca tricônica a mais utilizada;
 Sub de Broca: faz a união entre a broca e os comandos;
 Comandos: tipo de haste especial presente na coluna de perfuração logo acima da
sub de broca. Possuem como finalidade dar peso à coluna de perfuração, evitando
possíveis rupturas;
 Hastes: transmitem o movimento giratório da mesa da sonda à broca em
profundidade, e por elas passam a lama de perfuração dos tanques até o fundo do
poço, já que as hastes são ocas. Dependendo da perfuratriz, as hastes e comandos
normalmente são de três comprimentos, 3, 6 e 9 metros, e diâmetro variando de 2
a 4 polegadas;
 Kelly: haste de seção quadrada ou sextavada acoplada a mesa giratória na qual
recebe e transmite os movimentos de torção à coluna (Figura 12).
 Swivel: peça rosqueada que se encontra no topo do kelly, acoplando a mangueira
da bomba de lama à coluna de perfuração. É uma peça especial que permite a
união da mangueira com a coluna de perfuração, já que esta, possui movimento
giratório e a mangueira é fixa.
 Mesa giratória: responsável pelo movimento giratório da coluna de perfuração
(Figura 12).
 Bomba de lama: bombeia a lama de tanques colocados ao lado do equipamento de
perfuração para dentro do poço através das hastes da coluna de perfuração.
34

 Tanques de lama: reservatórios de lama construídos ao lado do equipamento de


perfuração, que servem para preparar, armazenar e limpar a lama.

Figura 11: Coluna de perfuração

Fonte: Melo; Silva (2007)

Figura 12: Mesa giratória e kelly

Fonte: Giampá; Gonçales (2013)


35

Segundo UOP Johnson (1974) “o fluido utilizado na perfuração pode variar, desde
uma água lamacenta até uma mistura viscosa cuidadosamente preparada com material
especial”. As principais funções do fluido utilizado são:
Suporte das paredes da cavidade, evitando desmoronamentos;
 Remoção do material desfragmentado proeminente do fundo da perfuração;
 Vedação das paredes do furo para evitar perdas do fluido;
 Esfriar e manter a limpeza das brocas;
 Lubrificar os mancais da broca, bomba e haste.

A lama é muito importante na proteção da cavidade contra o desmoronamento, pois


ela exerce certa pressão contra as paredes do furo. Enquanto a pressão hidrostática do fluido
for maior que o empuxo da terra e qualquer outra pressão que contribua para que o
desmoronamento ocorra, a cavidade se manterá estável. Na prática, o sondador prepara o
fluido com base em experiências passadas e de acordo com o desenvolvimento da perfuração.
Geralmente, adiciona-se mais bentonita ou algum material especial com maior densidade
quando há problemas de desmoronamento, pois dessa maneira, o peso específico da lama
aumenta, atingindo pressão suficiente contra as paredes do furo e evitando, assim, possíveis
desmoronamentos.
De acordo com Giampá e Gonçales (2013) “na montagem de canteiro de obra para a
perfuração de um poço tubular profundo, deve-se projetar e executar um conjunto de tanques
e canaletas (valas), de preferência revestidos, para o manuseio do fluido de perfuração a ser
empregado” (Figura 13). Considera-se importante a construção de um tanque de decantação,
pelo qual o material fragmentado no fundo do poço chega à superfície para ser lavado. O
volume recomendado para o tanque é cerca de duas vezes o volume previsto do poço que será
construído, sendo necessário um local apropriado para armazenar o material cortado durante a
perfuração. Através das canaletas, a lama chega até o tanque de armazenamento, de onde é
bombeada novamente até o poço. Alguns equipamentos, como a peneira vibratória, podem ser
utilizados para acelerar a decantação dos sólidos presentes na lama. Durante a realização dos
trabalhos de perfuração, é importante realizar o controle contínuo da lama através de
medições, tentando adequar suas principais características:
 Densidade: dada em libras por galão, é o peso da lama por unidade de volume.
Dependendo das condições de perfuração, é necessário aumentar a densidade da
36

lama, assegurando suficiente carga hidrostática como prevenção de influxos dos


fluidos da formação geológica ou desmoronamento das paredes da cavidade.
Valores comuns em perfurações convencionais ficam entre 1,25 lb/gal e 1,30
lb/gal.
 Viscosidade: propriedade comum aos fluidos de oferecer resistência ao
escoamento. Para medir a viscosidade há vários aparelhos, porém durante a
perfuração, o mais usual é o funil marsh. Os valores recomendáveis ficam entre
35 s e 45 s. O ensaio é feito enchendo-se o funil até o nível indicado (volume de
1.500 cm³) e medindo-se o tempo, em segundos, gasto para que um quarto do
fluido se escoe do funil por gravidade.

Figura 13: Tanque de lama

Fonte: Giampá; Gonçales (2013)

A amostragem na perfuração rotativa para poços tubulares auxilia na identificação das


formações aquíferas. A coleta das amostras deve ser realizada a cada 2 metros e, se
necessário, pode-se aumentar essa frequência. As amostras que são coletadas não representam
a profundidade da qual foram perfuradas, pois existe um tempo necessário para que as
amostras cheguem à superfície que deve ser descontado. Quando a lama chega à superfície, é
peneirada conforme escoa na calha em que são coletadas as amostras, sendo denominadas de
“amostras de calha”, e posteriormente são lavadas e colocadas em sacos plásticos ou caixas de
madeira com divisórias para devidas análises. A perda de partículas finas no momento da
lavagem pode interferir na identificação dos aquíferos (GIAMPÁ; GONÇALES, 2013).
37

Segundo Feitosa e Manoel Filho (2000), o tempo em que a lama necessita para se
deslocar do fundo do poço até a superfície do solo é chamado de “tempo de retorno”, que é
dependente das características da lama, da capacidade da bomba de lama, do material
atravessado e das dimensões do poço (diâmetro e profundidade). Na medida em que é
realizada a perfuração e que os dados são coletados, utilizados, medidos ou verificados,
sugere-se a anotação dessas informações em tabelas (Figura 14) para controle e verificação de
dados. Essas tabelas podem conter:
 Tempo de avanço ou penetração da perfuração;
 Parâmetros do fluido de perfuração;
 Consumo de combustíveis.

Figura 14: Boletim para controle da perfuração


BOLETIM DIÁRIO DE PERFURAÇÃO

OBRA N

LOCAL

DATA DE INÍCIO

Intervalo tempo Fluido de Perfuração


Penetr Broca Peso s/ peso
Data
(min/2m) (diâm.pol) broca
Observação
de a início (hs) término (hs) viscosidade específico ph
(lb/gal)

Fonte: Adaptado de Giampá; Gonçales (2013)

4.5.1.3. Rotativa com ar comprimido

Considerando-se a captação de águas subterrâneas em rochas duras, a substituição das


lamas como fluido de perfuração por ar comprido foi um importante avanço tecnológico. Este
38

sistema é produzido em altas pressões e grandes volumes, lançado pela coluna de perfuração
através das hastes, acionando um martelo pneumático e uma ferramenta denominada botton
bit, responsável por realizar o corte da rocha.
O ar comprimido passa por um tipo de martelo especial, que possui um sistema de
pistões, provocando percussões que acionarão o botton bit que se encontra abaixo do martelo,
perfurando a rocha e deixando-a fragmentada. A rotação contínua da coluna de perfuração se
dá através do cabeçote hidráulico rotativo ou de modo similar pelo kelly e mesa rotativa. A
rotação manterá a circularidade do furo e estabelecerá o avanço da perfuração (pull down). O
volume de ar que atravessa o martelo, sairá por orifícios no centro da base do bit, carregando
consigo até a superfície os detritos resultantes da perfuração, limpando o furo e permitindo o
avanço (GIAMPÁ; GONÇALES, 2013).
Segundo UOP Johnson (1974) as máquinas rotativas construídas para esse tipo de
trabalho são normalmente equipadas com uma bomba convencional de lama, além de um
compressor de ar de alta capacidade. Dessa forma, se houver a presença de material
inconsolidado, a lama poderá ser utilizada durante a perfuração. Ensaios realizados no campo
mostram que, para determinados tipos de broca, a velocidade de penetração é mais rápida e o
tempo de vida útil dela é mais longo ao utilizar ar em vez de lama. Essa diferença pode ser
explicada devido a uma melhor limpeza no fundo do furo realizada pelo ar, porém, quando
surge grande quantidade de água durante a perfuração, outras experiências mostraram que a
lama garante melhor eficiência.
Esse tipo de sistema com ar comprimido é vantajoso principalmente em rochas duras,
tais como granitos, gnaisses e quartzitos. A velocidade de penetração pode atingir mais de 6
m/h, podendo obter grandes diâmetros. Em rochas medianamente duras, como basaltos,
calcários, filitos e arenitos consolidados, o avanço de perfuração pode atingir um rendimento
alto na ordem de 15 m/h. Esse tipo de rocha garante menor desgaste nas ferramentas devido a
menor abrasividade.

4.5.2. Locação de poços

Segundo Giampá e Gonçales (2013) “a locação de um poço consiste em determinar o


melhor local para a sua perfuração, para se obter água em quantidade e qualidade satisfatórias
com o menor custo possível”. Pode-se classificar os fatores atuantes nas águas subterrâneas
em endógenos e exógenos, sendo o primeiro referente às características interiores da
superfície, como estruturas geológicas e a constituição litológica, enquanto os segundos são
39

aqueles de origem externa, podendo ser citados o clima, a vegetação, o relevo e a hidrografia.
Esses fatores atuam de diferentes maneiras e em graus diferentes, em função do domínio
hidrogeológico em que atuam. O clima, importante nos processos de formação do solo, e a
vegetação, que indica a presença de água em razão da presença de árvores, possuem atuação
regional e não constituem relevada importância para locação de um poço.
Já o relevo exerce uma atuação mais localizada, principalmente em aquíferos livres,
considerando todos os sistemas hidrogeológicos. Nesse tipo de aquífero, a superfície
hidrostática segue ligeiramente a superfície topográfica, sendo mais elevada nas partes mais
altas da topografia e mais deprimida nas mais baixas. Alguns estudos em aquíferos
localizados em sistemas fraturados por dissolução, demonstram que os poços perfurados nos
talvegues dos vales apresentam as melhores vazões, seguidos pelos localizados em planícies,
nas vertentes e, por último, nos topos das elevações.
A hidrografia possui grande destaque em aquíferos, pois atua como recarga e descarga,
sendo muito importante na relação água superficial/água subterrânea no balanço hídrico. Em
locais de elevada precipitação, caso das regiões tropicais, o excesso de água que penetra no
solo aumenta o nível freático, garantindo fluxos de águas superficiais durante todo o ano,
mesmo em períodos não chuvosos.
O intemperismo químico pode proporcionar mantos de alteração na rocha em regiões
em que a precipitação é alta. Esses mantos alterados passam a atuar como receptores da água
proveniente das chuvas, constituindo uma ampla zona de recarga em aquífero fissurado. Tal
fenômeno explica a diferença que há entre o aquífero fissural cristalino nas regiões Sul e
Sudeste e da Região Nordeste do Brasil, pois, no primeiro caso, o clima favorece a formação
de mantos de alteração com grande espessura, os quais atuam como aquífero de transferência
para rochas fraturadas subjacentes a ele. No Nordeste do país, prevalece o intemperismo físico
devido à escassez de chuvas, provocando solos rasos e com taxa de evaporação elevada,
prevalecendo baixas vazões nos poços perfurados nessa região.
Em relação aos fatores internos, a litologia possui influência em domínios com
espesso manto de alteração, pois rochas granulares ácidas, como o granito, dão origem a
mantos de alteração arenosos, enquanto rochas básicas, carbonatadas ou xistosas,
proporcionam mantos de composição argilosa. “As estruturas mais relevantes nas rochas
cristalinas são as secundárias – falhas, fraturas e fissuras -, que podem ou não estar associadas
às deformações plásticas (dobras); as estruturas primárias – estratificação, xistosidade e
clivagem – desempenham papel secundário” (GIAMPÁ E GONÇALES, 2013), considerando
a recarga do aquífero e até mesmo o armazenamento de água. Com relação às fraturas, é
40

importante considerar situações de maior relevância, em rochas cristalinas, visando o melhor


aproveitamento do aquífero fissural. O geólogo precisa ter muita atenção para distinguir as
fraturas tracionais, as quais possuem boa abertura, em relação às fraturas de cisalhamento,
que, em muitos casos, se encontram fechadas. O mergulho da fratura também é importante,
pois quanto menor for ângulo de inclinação, maior o número que o poço poderá interceptar
(figura 15).

Figura 15: Poço em relação ao plano de fratura

Fonte: Giampá; Gonçales (2013)

4.5.3. Projetos de poços tubulares

Segundo Giampá e Gonçales (2013) um projeto deve ter definições claras quanto à
litologia a ser perfurada; à metodologia de perfuração; à perfuração para instalação de tubo
para proteção sanitária; ao método de cimentação desse tubo; aos diâmetros de revestimento
da tubulação lisa; às especificações de materiais; aos diâmetros e especificação de materiais
dos filtros; ao tipo de fluido de perfuração; ao pré-filtro; à forma de injeção do pré-filtro; à
perfilagem; ao desenvolvimento e aos testes.
Os componentes básicos de um projeto são descritos a seguir:
 Tubo de boca para proteção sanitária: parte anelar situada entre a perfuração e o
tubo, é cimentada para proteger o poço de águas indesejáveis. O comprimento
varia de acordo com o tipo de aquífero e a espessura das camadas de solo. Em
rocha sedimentar, o comprimento fica entre 10 m e 20 m, enquanto em aquíferos
fraturados, apenas na poção alterada, introduzindo-se alguns metros na rocha sã.
 Câmara de bombeamento: “o diâmetro dessa câmara está em função dos
diâmetros dos equipamentos de bombeamento projetados para explorar as vazões
desejadas”.
 Coluna de produção e zona filtrante: é necessário que os diâmetros da coluna de
produção e da zona filtrante sejam adequados com as perdas de carga decorrentes
do fluxo axial. Essas perdas dependerão da vazão e do comprimento da coluna e
41

seu reflexo se dará em um maior rebaixamento do nível, que irá onerar custos de
exploração.
Depois de escolher os diâmetros, é preciso definir outros fatores também importantes,
como a localização das seções filtrantes e a quantidade que será instalada, considerando o tipo
de aquífero no qual o poço está sendo construído. Na literatura há muitas recomendações para
definição desses fatores, porém, na natureza, é difícil encontrar formas aquíferas homogêneas
e com espessuras constantes, necessitando-se de métodos complementares, como a perfilagem
elétrica e a coleta de amostras de perfuração de forma criteriosa. Feitosa e Manoel Filho
(2000) descrevem alguns critérios que podem ser seguidos para um bom dimensionamento
dos filtros:
 Dimensionar o comprimento de filtros em função da vazão prevista para o poço,
segundo uma velocidade de entrada de água menor ou igual à raiz quadrada da
condutividade hidráulica do aquífero;
 O ideal é contar com uma perfilagem geofísica do poço, minimizando erros na
localização de filtros, quando existirem camadas intercaladas de sedimentos muitos
finos no aquífero;
 Não se deve colocar filtros na zona de bombeamento, pois o fluxo de água pode
carrear partículas finas para o equipamento, comprometendo sua vida útil;
 Em aquíferos livres, costuma-se colocar revestimentos com filtros ao longo de 1/2 a
2/3 da espessura saturada a partir da base do aquífero;
 A experiência mostra que em aquíferos confinados, a porcentagem de penetração
não possui aumento significativo quando o revestimento do filtro é superior a 80%
da espessura total.

Em relação aos tipos de filtros que podem ser empregados, a escolha deve ser feita
levando-se em consideração a natureza do material a ser telado, a vazão pretendida e recursos
disponíveis para realizar o trabalho. “Os filtros geomecânicos (PVC) são bastante utilizados
atualmente, principalmente em poços para abastecimento de condomínios e residências”
(FEITOSA; MANUEL FILHO,2000). Além dos tipos de filtros industrializados, os
perfuradores utilizam filtros construídos de forma artesanal, geralmente por motivos
econômicos, uma determinada parte do tubo liso é perfurada através de serras ou maçaricos
(GIAMPÁ; GONÇALES, 2013).
42

O aço também pode ser utilizado como material para filtros podendo ser encontrado de
dois tipos:
 Filtro de frestas ou tipo nold: construído em chapas de aço, com as frestas dispostas
longitudinalmente ou ortogonalmente ao comprimento do tubo. Possui fluxo
tangencial, dificultando a limpeza do filtro, além de possuir uma baixa área aberta.
 Filtro de ranhuras contínuas: dentre os tipos conhecidos, os filtros de ranhura
possuem melhores rendimentos, pois dispõem de uma área aberta maior quando
comparado aos demais. Porém, devido a um processo de fabricação mais
sofisticado, esse tipo de filtro é o mais caro.

O pré-filtro é colocado entre a parede do poço e o revestimento, ele é aplicado


geralmente, em poços perfurados que possuem sedimentos inconsolidados, com a finalidade
de reter partículas mais finas do aquífero. O pré-filtro é injetado no poço preenchendo todo o
espaço anelar existente entre a coluna de revestimento centralizada e a parede do poço.
Para fazer o dimensionamento do pré-filtro, é importante realizar o estudo
granulométrico do material, o qual é feito coletando uma quantidade predefinida para
amostragem, que após a secagem em estufa, passa por uma bateria de peneiras vibratórias
com diferentes aberturas de malha e dispostas verticalmente uma sobre a outra. As
quantidades retidas em cada peneira são pesadas e calcula-se a percentagem em relação à
quantidade inicial da amostra. Com os resultados, um gráfico com as frequências relativas
acumuladas em cada peneira e os diâmetros é gerado (FEITOSA; MANOEL FILHO, 2000).
“Estudos mostram que apenas 0,5 polegada de espaço entre o revestimento/filtro e a
perfuração, seriam suficientes para o pré-filtro desempenhar suas funções” (DRISCOLL,
1987, apud FEITOSA et al., 2000).

4.5.4. Desenvolvimento de poços tubulares

Segundo Giampá e Gonçales (2013), a etapa de desenvolvimento de poço tubular


profundo deve ter um planejamento adequado e criterioso, com uma sequência operacional
que permita, de fato, a exploração econômica e racional do aquífero. O planejamento começa
com os serviços que completarão o poço, quando se discutem detalhes da aplicação da coluna
de revestimento, a posição e o tipo de filtro a ser utilizado, as características litológicas das
rochas perfuradas e o tipo de fluido utilizado durante a perfuração do poço tubular profundo.
43

Não importa o método de perfuração utilizado, sempre há intervenções no meio físico


que provocam perdas de carga construtivas. A fim de minimizar essas perdas, é preciso que o
desenvolvimento atue diminuindo a velocidade de entrada da água no poço, evitando a
penetração de partículas finas, minimizando processos de corrosão e aumentando a vida útil
do poço e do equipamento de bombeamento, e, consequentemente, haverá reduções de custos
por metro cúbico de água.
O desenvolvimento é uma etapa necessária, que envolve a remoção de partículas finas
e coloidais, tanto da formação quanto os introduzidos durante a invasão do filtrado da
perfuração ou do envoltório do pré-filtro. Feito de forma correta, aumenta a porosidade e a
permeabilidade desse envoltório e das proximidades da formação, garantindo um fluxo mais
laminar do aquífero para o poço, permitindo uma produção livre de areia e material coloidal,
com eficiência hidráulica na ordem de 100%. Segundo Feitosa e Manoel Filho (2000) os
métodos mais utilizados são:
 Superbombeamento: o bombeamento do poço ocorre com uma vazão
aproximadamente duas vezes maior que vazão de operação do poço. O método
possui como desvantagem a formação de pontes de areia, pois o fluxo ocorre em
apenas uma direção, e não é indicado para poços perfurados em formações não
consolidadas sem pré-filtro;
 Reversão de fluxo: consiste em um método de superbombeamento com
paralisações, para evitar formações de pontes de areia, permitindo uma melhor
acomodação do envoltório filtrante. Além disso, injeta-se água na formação,
criando uma inversão no fluxo de dentro do poço para dentro do aquífero,
removendo as partículas do pré-filtro;
 Pistoneamento: método eficiente realizado por máquinas percussoras. Através de
um movimento de sobe e desce, realizado por um êmbolo semelhante a uma
seringa de injeção, as partículas mais finas orientam-se em direção ao poço e
durante intervalos determinados o êmbolo é retirado e o poço limpo;
 Air-lift: assemelha-se ao método de superbombeamento, porém é realizado por
um compressor que trabalha em pulsos, funcionando também como fluxo e
refluxo, evitando pontes de areia;
 Jateamento: ocorre através de uma peça chamada jateador, que é colocada no final
do hasteamento na base dos filtros. A água pode ser injetada pela própria bomba
44

de lama, ou bomba específica para este tipo de operação, através das hastes,
produzindo um jato de alta pressão que limpará as ranhuras dos filtros.

4.5.5. Conjuntos de bombeamento

Depois de concluir as etapas de perfuração, o próximo passo é definir o sistema de


bombeamento para a extração de água. Os sistemas mais utilizados referem-se aos conjuntos
motobomba submersa, turbina, injetora e ar comprimido. Os tipos de bombas submersas são
ilustradas na Figura 16, sendo o tipo de conjunto preferido pelas vantagens que o
equipamento apresenta de caráter construtivo e funcional, podendo ser usadas até mesmo em
poços inclinados. Elas apresentam solução simples, confiável e econômica quando
comparadas com as verticais tipo turbina, utilizadas em poços profundos, e comparadas as
injetoras e sistemas de ar comprimido, por suas respectivas limitações, custo e rendimento.
Segundo Giampá e Gonçales (2013) elas apresentam:
 Baixo custo de fabricação;
 Manutenção e reparos mínimos;
 Alto grau de adaptabilidade;
 Nenhum problema quanto à sucção ou escorva;
 Adaptável em poços inclinados;
 Profundidade de instalação virtualmente limitada.

Em relação ao sistema de ar comprimido, as bombas submersas apresentam custos de


bombeamento menores, pois possuem baixo consumo de energia. Este consumo, para
instalações de compressores de ar, pode ser até três vezes maior que o necessário para uma
bomba submersa, conforme as condições de instalação do poço. No compressor pode ocorrer
a contaminação da água devido as partículas de óleo que acompanham o ar comprimido na
forma evaporada.
45

Figura 16: Conjunto motobomba submerso

Fonte: Giampá; Gonçales (2013)

4.5.5.1. Dimensionamento da bomba submersa

Segundo Giampá e Gonçales (2013) “a função essencial de uma bomba hidráulica é


fornecer uma vazão desejada contra a resistência total existente, ou seja, a correspondente a
altura manométrica total”. A escolha correta do equipamento é de suma importância para que
o conjunto motobomba trabalhe da forma mais eficiente possível, sendo esse equipamento
escolhido de acordo com a altura manométrica total (HMT), representada pela equação:

𝐻𝑀𝑇 = 𝐻𝑟 + 𝐻𝑐 + 𝑁𝐷
Onde:
Hr: altura de recalque fora do poço (m);
Hc: perda de carga na tubulação (m);
ND: nível dinâmico (m).
46

A altura de recalque fora do poço é o desnível geométrico dele entre a boca do poço e
a chegada à tubulação no reservatório. A perda de carga na tubulação equivale a somatória
das perdas distribuídas e localizadas. A primeira acontece devido à velocidade do líquido e da
rugosidade da tubulação, enquanto a segunda o líquido muda sua direção quando passa por
algum tipo de conexão, registro ou válvula. O nível dinâmico é o desnível entre a boca do furo
e o nível de água no poço, quando ocorre a exploração deste. “A medida deve ser feita pouco
antes de desligar a bomba, simultaneamente com a medida de vazão, sempre com o cuidado
de registrar o tempo de duração do bombeamento” (JORBA; ROCHA, 2007, p. 51).
As perdas de carga dependem do tipo de material, do diâmetro e da vazão, assim,
fabricantes e autores utilizam tabelas para organizar esses valores e facilitar o controle dessas
perdas. De posse da vazão requerida e da altura manométrica total, depois de realizados os
testes de aquífero e produção, pode-se definir qual tipo de bomba a ser usada com base em
catálogos com especificações técnicas feitos pelos fabricantes.
Segundo Giampá e Gonçales (2013), os ensaios de bombeamento são divididos em
dois tipos: teste de aquífero e teste de produção (Figura 17).
 Teste de aquífero: o bombeamento desse teste possui a função de determinar
parâmetros hidrodinâmicos do aquífero. Uma forma de realizar o teste consiste em
bombear uma vazão constante de um poço e verificar o rebaixamento causado em
outros poços de observação.
 Teste de produção: ocorre o bombeamento da mesma forma que no teste de
aquífero, porem o rebaixamento provocado é verificado no próprio poço no qual é
feito o bombeamento.

Figura 17: Testes de bombeamento

Fonte: Feitosa; Manoel Filho (2013)


47

Embora esses testes sejam de execução simples, é uma operação cara e que precisa ser
feita seguindo cuidados, para conseguir o maior número de informações possível. Os testes de
bombeamento devem ser feitos seguindo a Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT.
De acordo com a NBR 12244, algumas condições devem ser seguidas para a realização dos
testes como:
 O construtor deve dispor de equipamentos necessários para garantir a
continuidade da operação durante o período de teste;
 O equipamento de teste deve ter capacidade para extrair vazão igual ou superior à
prevista em projeto. O emprego de ar comprimido só deve ser aceito
excepcionalmente e com aprovação da fiscalização;
 Na instalação do equipamento de bombeamento no poço, deve-se colocar uma
tubulação auxiliar, destinada a medir os níveis de água;
 Antes de iniciar o bombeamento, o operador deve certificar-se do retorno da água
ao nível estático;
 As medições de nível de água no poço devem ser feitas com medidor que permita
leituras com precisão centimétrica;
 Na determinação da vazão bombeada, devem ser empregados dispositivos que
assegurem facilidade e precisão na medição. Para vazões de até 40 m³/h, devem
ser empregados recipientes de volume aferido. Vazões acima de 40 m³/h devem
ser determinadas por meio de sistemas contínuos de medida, tais como vertedores,
orifício calibrado, tubo Venturi e outros;
 A tubulação de descarga da água deve ser dotada de válvula de regulagem
sensível e de fácil manejo, permitindo controlar e manter constante a vazão em
diversos regimes de bombeamento;
 O lançamento da água extraída deve ser feito a uma distância do poço
determinada no projeto, que não interfira nos resultados dos testes.

Segundo Jorba e Rocha (2007), o nível estático refere-se ao nível de água quando o
poço encontra-se em repouso, sendo medido em relação à superfície do local. A posição do
nível estático depende do tempo de recuperação do poço e nem sempre quando medido depois
de certo tempo, será o nível estático real do poço. Caso a recuperação do poço for lenta,
48

provavelmente deverá existir outro nível, medido diariamente, diferente do nível estático que
precisa de um tempo longo de repouso para sua medição.
Segundo Feitosa e Manoel Filho (2000) a vazão pode ser calculada através de
vertedouros, os quais apresentam uma abertura por onde a água passa, disposta
perpendicularmente à direção da corrente. “Estes dispositivos proporcionam também uma
forma simples e segura de medição e controle da vazão durante um ensaio de bombeamento”
(FEITOSA; MANOEL FILHO, 2000, p. 199). Os vertedouros mais utilizados são os dos tipos
triangulares e retangulares.
A figura 18 mostra as variáveis que se levam em conta na construção de um
vertedouro triangular. É preciso levar em conta que a distância W deve ser pelo menos igual a
3/4L. A vazão nesse tipo de equipamento é calculada seguindo a fórmula de Gourley, de
acordo com a equação:
𝑎
𝑄 = 1,32𝑡𝑔 ( ) ℎ 2,47
2

Onde:
Q: vazão, expressa em m³/s
Α: ângulo do vértice
h: altura da água sobre o vértice, expressa em metros

Figura 18: Vertedouro triangular

Fonte: Feitosa; Manoel Filho (2000)


49

A figura 19 ilustra um vertedouro retangular com contração lateral, que precisa de


cuidado especial em relação à distância W que deve ser pelo menos igual 3h. Nesse tipo de
equipamento, a vazão pode ser calculada segunda a equação:

3
𝑄 = 1,83(𝐿 − 0,2ℎ)ℎ2

Onde:
Q: vazão, expressa em m³/s
h: altura da água sobre a base do vertedouro, em metros
L: largura do vertedouro, em metros

Figura 19: Vertedouro retangular

Fonte: Feitosa; Manoel Filho (2000)

Dependendo da precisão na instalação de um vertedouro, a exatidão da medida da


vazão pode alcançar percentuais da ordem de 97% a 98%. Outra maneira de medir a vazão
consiste em calcular o tempo necessário para encher um recipiente com volume conhecido. É
um método muito simples, porém apresenta a desvantagem de não ter um acompanhamento
contínuo dos valores da vazão. Esse método é ilustrado na figura 20.
50

Figura 20: Medição da vazão através de um volume conhecido

Fonte: Feitosa; Manoel Filho (2000)

Para realização dos testes de aquífero e produção é essencial que a vazão permaneça
constante. De nada adianta o hidrogeológico dispor de excelentes modelos matemáticos se os
dados que irão alimentar esses modelos são incorretos ou insuficientes. Portanto para o
conhecimento dos parâmetros hidrodinâmicos, tão importantes para definir a capacidade de
produção de poços, é fundamental que os testes sejam realizados com a maior precisão
possível (GIMPÁ; GONÇALES, 2013).
51

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo, descrever os primeiros passos para construção de
poços tubulares para o aproveitamento dos mananciais subterrâneos, com a perspectiva de
aprender mais a respeito de técnicas construtivas e sobre os principais equipamentos
utilizados nesse tipo de trabalho, que deve ser realizado por profissionais capacitados e
habilitados.
Durante as pesquisas em artigos e livros técnicos, observou-se a importância das águas
subterrâneas na agricultura, lazer e, principalmente, como fonte de abastecimento,
necessitando assim, mais estudos nessa área e um melhor planejamento dos governantes em
relação a esse tipo de recurso, considerando que a maioria dos poços perfurados no Brasil
encontra-se clandestina ou abandonada, servindo de porta de entrada para vários tipos de
contaminações dos lençóis subterrâneos.
Por fim, acredito na relevância em realizar de forma correta os trabalhos de perfuração
de poços tubulares, e também de melhores políticas nessa área, para que a água subterrânea
possa ser utilizada de maneira sustentável em todo o país, diminuindo os problemas causados
pela escassez de água em várias regiões.
Como futuro profissional em engenharia de minas, espero que os trabalhos realizados
sobre esse assunto evoluam e que toda a população tome conhecimento da importância da
preservação dos nossos aquíferos.
52

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