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Universidade do Estado do Rio de Janeiro


Centro de Educação e Humanidades
Instituto de Psicologia

Cristianne Almeida Carvalho

Para além do tempo regulamentar: uma narrativa sobre a história da


psicologia do esporte no Brasil

Rio de Janeiro
2012
1

Cristianne Almeida Carvalho

Para além do tempo regulamentar: uma narrativa sobre a história da psicologia


do esporte no Brasil

Tese apresentada, como requisito parcial para


obtenção do título de Doutor, ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Orientadora: Profª Dra. Ana Maria Jacó Vilela

Rio de Janeiro
2012
239

CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CEH/A

C331 Carvalho, Cristianne Almeida. \


Para além do tempo regulamentar : uma narrativa sobre a história da
Psicologia do Esporte no Brasil / Cristianne Almeida Carvalho. – 2012.
238 f.

Orientadora: Ana Maria Jacó Vilela.


Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Instituto de Psicologia.

1. Psicologia do movimento – Brasil – História – Teses. 2. Educação


física – Aspectos psicológicos – Teses. 3. Educação física – Periódicos –
Teses. I. Vilela, Ana Maria Jacó. II. Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Instituto de Psicologia. III. Título.

nt CDU 796:159.9(81)(091)

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese.

30 de março de 2012
Assinatura Data
2

Cristianne Almeida Carvalho

Para além do tempo regulamentar: uma narrativa sobre a história da psicologia


do esporte no Brasil

Tese apresentada, como requisito parcial para


obtenção do título de Doutor, ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Aprovada em: ___/___/___

Banca Examinadora:

_________________________________________
Profª. Dra. Ana Maria Jacó Vilela (Orientadora)
Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro

_________________________________________
Profª. Dra. Kátia Rúbio
Universidade do Estado de São Paulo

_________________________________________
Prof. Dr. Victor Andrade de Melo
Universidade Federal do Rio de Janeiro

_________________________________________
Profª. Dra. Renata Patrícia Forain de Valentin
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

_________________________________________
Prof. Dr. Cristiano Roque Antunes Barreira
Universidade do Estado de São Paulo

Rio de Janeiro
2012
3

DEDICATÓRIA

A todos aqueles que se deixam mover pela paixão em busca de seus ideais.
4

AGRADECIMENTOS

Tenho a sensação que agradecer com palavras àqueles que de alguma forma
participaram dessa jornada é muito pouco, mas ainda é uma forma concreta de manifestar
tamanha gratidão. Cada um, à sua maneira, colaborou para que eu chegasse até aqui e, por
isso, considero todos parceiros nessa caminhada, não importando a ordem ou a sequencia que
farei isso. Como na História, onde não há um entendimento linear dos fatos, os sentimentos,
valores e as relações afetivas ocupam espaços diferentes em momentos distintos.
Agradeço inicialmente à minha orientadora Ana Maria Jacó-Vilela, pelo acolhimento e
disponibilidade em me acompanhar nesse caminho. Sua seriedade, sabedoria, experiência,
dedicação e paciência iluminaram muitos momentos de escuridão e insegurança.
Aos colegas “dinterianos” Francisco, Carla, Fátima, Josenildo, Conceição, Jovelina; as
“burguesinhas de Copa” (Patrícia e Rose) e o “Valete de Copa” Jean que mesmo diante das
adversidades de nossa estada no Rio de Janeiro, como as dificuldades de acomodação, os três
tiroteios nos morros cariocas e as questões institucionais, não perderam a solidariedade e o
humor. “Minha colega” e querida parceira de orientação Márcia, com quem aprendo sempre a
administrar as obrigações sem perder o humor. Tivemos poucos, mas bons momentos juntos
nessa cidade que aprendemos a conhecer além de suas maravilhas.
Não poderia deixar de agradecer à Déa, que me acolheu em sua casa, nas tantas idas e
vindas ao Rio de Janeiro, sempre de forma bem humorada.
Aos colegas do Clio Psiché que, apesar de tantas atribuições, estavam sempre a postos
para ajudar em alguma pesquisa. Destaco entre eles Maria, Filipe e Alice (ou Alice-do), esta
indispensável nas questões burocráticas do DINTER.
Aos queridos parceiros da ABRAPESP que ajudaram a vencer as dificuldades e
permaneceram na luta por um ideal com dedicação e responsabilidade.
À UERJ, em nome dos professores do Instituto de Psicologia da UERJ que, mais uma
vez nos acolheram com o DINTER, possibilitando uma qualificação docente de qualidade em
Psicologia Social.
À UFMA e à CAPES que mesmo diante de tantos atropelos e obstáculos viabilizaram
o DINTER e possibilitaram que chegássemos ao final dessa jornada.
Aos colegas e alunos do curso de Psicologia da UFMA que souberam compreender
meu esforço em atender ao doutorado e minhas obrigações na instituição, mediante algumas
ausências.
5

Aos servidores das bibliotecas visitadas pela sua disponibilidade e presteza no


atendimento, em especial à Tenente Marlena da Biblioteca da EsEFEx, por sua gentileza e
simpatia.
Agradeço aos serviços virtuais da Google Inc., sem o qual seria impossível diminuir a
distância entre fontes científicas importantes para essa tese.
Ao professor Victor Melo que mui gentilmente, me apresentou aos periódicos de
Educação Física e abriu caminho para minhas investigações.
À professora Kátia Rubio, responsável pelo meu encontro com a Psicologia do Esporte
e que continua nutrindo essa área com dedicação, conhecimento e ousadia. Obrigada por
despertar em mim, esperança e persistência para continuar desbravando esse campo e
enfrentando os obstáculos dessa área.
Agradeço a compreensão de meus amigos e amigas, abandonados durante essa
caminhada.
À minha família, em especial meus pais Acyr e Telma, com quem sempre encontro
aceitação, segurança e afeto. Com vocês, descobri que é possível conviver bem apesar das
diferenças; aprendi a fazer escolhas e a colher os frutos merecidos delas.
A Aurea, companheira de uma longa estrada, que mesmo de longe, sempre esteve
perto em mais uma de minhas aventuras acadêmicas.
6

Tempo de História
Tempo que nos remete a uma história,
História que se constrói com o tempo;
Remetemo-nos ao túnel do tempo
para revivermos o nunca vivenciado por nós;
Nos perdemos em infindáveis buscas
Nos encontramos nesse tempo, tempo de histórias.
Transpor o passado, trazê-lo para o presente,
que já é o futuro em busca de entendimentos.
Tempo de História, Tempo de Conhecimento
Aurea Bacelar
7

RESUMO

CARVALHO, Cristianne Almeida. Para além do tempo regulamentar: uma narrativa sobre
a História da Psicologia do Esporte no Brasil. 2012. 238 f. Tese (Doutorado em Psicologia
Social) – Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2012.

Esta tese objetiva construir uma narrativa sobre os primórdios da Psicologia do


Esporte através da análise da inserção da Psicologia em periódicos de Educação Física dos
anos 1930 a 1960. O texto discorre sobre as apropriações do saber psicológico, seus conceitos
e teorias no universo dos primeiros periódicos da Educação Física no Brasil, caracterizando o
percurso de construção de mais uma especialidade na Psicologia, a Psicologia do Esporte. Por
se tratar de uma análise documental, investigamos fontes e documentos escritos, brasileiros e
de domínio público, de caráter acadêmico – apresentados em periódicos especializados – ou
governamental – no formato de leis, decretos, estatutos. Analisamos tais documentos como
práticas discursivas, pois envolvem diversos elementos, distribuídos de forma harmônica ou
não, localizados historicamente, no tempo e no espaço, produzindo seus efeitos. A análise dos
dados permitiu averiguar a construção de sentidos que os interessados em Educação Física
fazem em relação ao campo psicológico. Concluímos que o percurso de construção da
Psicologia do Esporte perpassa outros profissionais, como médicos, militares, educadores
físicos e psicologistas, interessados em conhecer melhor os fenômenos humanos diante da
prática de atividade física e dos esportes, caracterizando-se em duas fases, psicologia
complementar (1930-1940) e prática psicológica (1950-1960). Sem dúvida, caracterizam uma
construção gradativa da Psicologia do Esporte como a conhecemos hoje.

Palavras-chave: História da Psicologia. Psicologia do Esporte. Educação Física. Periódicos.


8

ABSTRACT

This thesis aims to construct a narrative about the early times of Sport Psychology
through insertion analysis of Psychology in Physical Education magazines back in the years
between 1930 and 1960. The text talks about the appropriations of the psychological
knowledge, their concepts and theories in the universe of the first Physical Education
magazines in Brazil, characterizing the construction way of one more Psychology
specialization, the Sport Psychology. For being a documental analysis, sources and written
documents were investigated, Brazilian and of public domain, academic profile – presented in
specialized magazines – or governmental – as laws format, decrees, statutes. Such documents
were analyzed as discursive, because they involve several elements, distributed in a harmonic
way or not, historically placed, in time and space, producing their effects. The data analysis
allowed verify the senses construction that the interested ones in Physical Education have in
relation to the psychological field. We concluded that the construction way of Sport
Psychology goes through other professionals, such physicians, militaries, physical educators
and psychologists, interested in learning more about human phenomena facing the physical
activity and sport practice, characterizing in two phases, complementary psychology (1930-
1940) and psychological practice (1950-1960). With no doubt, they characterize a continuous
construction of the Sport Psychology as it is known today.

Keywords: Psychology History. Sport Psychology. Physical Education. Magazines.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Foto da capa do primeiro exemplar da revista ................................................. 41

Figura 2 - Foto da contracapa e a página 1, que consideramos hoje edital ...................... 42

Figura 3 - Seção de humor ................................................................................................ 43

Figura 4 - Capa da Revista Arquivos ................................................................................ 44

Figura 5 - Editoria da Revista Arquivos ........................................................................... 46

Figura 6 - Relação do corpo docente da ENEFED e suas respectivas disciplinas,


indicando a disciplina de Psicologia Aplicada ................................................ 47

Figura 7 - Capa da Revista Educação Physica de 1936 .................................................... 50

Figura 8 - Contra capa da Revista Educação Physica de 1938 ......................................... 51

Figura 9 - Capa da Revista Brasileira de 1944 ................................................................. 53

Figura 10 - Capa da Revista Brasileira de 1944 ................................................................. 54

Figura 11 - Página com indicação de profissionais autônomos .......................................... 57

Figura 12 - Pôster da Copa do Mundo de 1950 no Brasil - 4ª Copa do Mundo FIFA ..... 179

Figura 13 - Foto do Estádio Mário Filho em 1950 ........................................................... 180


10

LISTA DE SIGLAS

24BC 24°Batalhão de Caçadores

AAASP Associação para Progresso da Psicologia do Esporte

ABRAPESP Associação Brasileira de Psicologia do Esporte

ANL Aliança Nacional Libertadora

CBD Confederação Brasileira de Desportos

CDE Comissão de Desportos do Exército

CEFD Centro de Educação Física e Desportos

CEME Centro de Memória do Esporte

CEP Centro de Estudos de Pessoal

CFP Conselho Federal de Psicologia

CMEF Centro Militar de Educação Física

CMTC Companhia Municipal de Transportes Coletivos

CND Conselho Nacional de Desportos

COJ Centro de Orientação Juvenil

CRP/SP Conselho Regional de Psicologia Paulista

DEF Divisão de Educação Física

DINTER Programa de Doutorado Interinstitucional

DNE Departamento Nacional de Educação

DPEP Diretoria de Pesquisa e Estudos de Pessoal

EEFD Escola de Educação Física e Desportos

EEFE-USP Escola de Educação Física e Esportes da Universidade do Estado de São


Paulo

EEFUSP Esporte da Universidade do Estado de São Paulo

ENEFD Escola Nacional de Educação Física e Desportos

EsEFEx Escola de Educação Física do Exército


11

ESEP Escola Superior de Educação Physica

FAMEB Faculdade de Medicina da Bahia

FGV Fundação Getúlio Vargas

FIEP Federação Internacional de Educação Física

FIFA Federação Internacional de Futebol Associado

FMRJ Escola de Anatomia, Cirurgia e Medicina

ICHPER International Council on Health, Physical Education, and Recreation

IES instituição de ensino superior

IFCS Instituto de Filosofia e Ciências Sociais

IP Instituto de Psicologia

IPCFEx Instituto de Pesquisa de Capacitação Física do Exército

IPES Inspetoria de Propaganda de Educação Sanitária

ISOP Instituto de Seleção e Orientação Profissional

ISSP International Society of Sport Psychology

JC João Carvalhaes

LBHM Liga Brasileira de Higiene Mental

LBI Laboratório de Biologia Infantil

LSD Dietilamida do Ácido Lisérgico (substância sintética alucinógena produzida


em laboratório)

MEC Ministério da Educação e Cultura

MES Ministério da Educação e Saúde

MINTER Programa de Mestrado Interinstitucional

NASPSPA Sociedade Americana para a Psicologia do Esporte e Atividade Física

NEHPSI Núcleo de Estudos em História da Psicologia

ONU Organização das Nações Unidas

PROTEORIA Instituto de Pesquisa em Educação Física

PUC Pontifícia Universidade Católica


12

SOBRAPE Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da


Recreação

SOHM Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental

SPAESP Sociedade de Psicologia Aplicada ao Esporte, Atividades Físicas e Recreação


de São Paulo

SPSP Sociedade de Psicologia de São Paulo

UB Universidade do Brasil

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFBA Universidade Federal da Bahia

UFES Universidade Federal do Espírito Santo

UFMA Universidade Federal do Maranhão

UFRG Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRGS Universidade do Estado do Rio Grande do Sul

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

USP Universidade de São Paulo


13

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1 CONSTITUINDO NOVOS CAMPOS: PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
FÍSICA ........................................................................................................................ 63
1.1 O movimento higienista e a eugenia .......................................................................... 63
1.2 A Institucionalização de novos campos: Psicologia e Educação Física .................. 92
2 PSICOLOGIA COMO SABER COMPLEMENTAR: UMA
PRIMEIRA APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS DA PSICOLOGIA PELA
EDUCAÇÃO FÍSICA .............................................................................................. 112
2.1 Processos psicológicos ............................................................................................... 112
2.2 Desenvolvimento humano ......................................................................................... 120
2.3 Caráter e personalidade............................................................................................ 133
2.4 Psicopatologia e deficiência (física e mental) .......................................................... 146
2.5 Comportamento social ............................................................................................. 151
3 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO FÍSICA: A CONSTRUÇÃO DE UMA
PRÁTICA PSICOLÓGICA .................................................................................... 161
3.1 Psicologia e Educação Física: uma segunda aproximação .................................... 161
3.2 O esboço de uma nova psicologia ............................................................................. 182
4 CONTAGEM REGRESSIVA .................................................................................. 193
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 200
APÊNDICE A –Todos os artigos dos periódicos citados na tese ......................... 219
APÊNDICE B – Notas biográficas .......................................................................... 223
ANEXO A – Programa da disciplina Psicologia Aplicada do Curso Educação
Física (ENEFD), em 1944 ......................................................................................... 233
14

INTRODUÇÃO

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não


conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em
entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Clarice Lispector (1920-1977)

As palavras de Clarice sintetizam o que vivi ao longo desses quatro anos de pesquisa.
Uma entrega, um mergulho em um passado não muito distante, mas que me exigiu
desprendimento e abertura diante de algumas concepções para buscar o desconhecido com
curiosidade genuína e cuidado para interpretá-lo de forma contextualizada. “Para além do
tempo regulamentar: uma narrativa sobre a história da Psicologia do Esporte no Brasil”
pretende ser uma contribuição à História da Psicologia do Esporte no Brasil.
A fim de aproximar o leitor do que foi a experiência de construção dessa tese, peço
licença para usar, aqui na introdução, a linguagem em primeira pessoa do singular. Assim,
posso apresentar alguns momentos de minha história, pois os considero pertinentes e
partícipes desse processo de construção intelectual. História, Esporte e Psicologia tornaram-se
temas afins não apenas nessa tese, mas também em meu próprio percurso.
A narrativa apresentada pode se tornar, em alguns momentos cansativa e longa. Que o
leitor me desculpe, mas diante da densidade e quantidade de informações documentais e da
necessidade de articular passagens históricas em universos distintos e muitas vezes
desconhecidos, minha preocupação maior se situou em analisar sem macular os valiosos
dados encontrados nas fontes de pesquisa, o que me impulsionou a narrar os fatos de modo
mais detido.
O passado e o esporte sempre despertaram meu interesse. Em minha infância, meu pai
costumava passear com meu irmão e eu nos finais de semana por nossa cidade, São Luis 1.
Naquele tempo era só mais um dos passeios com ele. Hoje sei que, como economista e
professor, ele foi um eterno admirador da história. Sempre tinha algo para contar sobre
pontos, históricos ou não, por onde passávamos. Sua forma respeitosa e saudosa de falar sobre
o que já havia existido, me fazia imaginar como teria sido a vida das pessoas naquele
contexto, para mim, tão distante. Além disso, quando o destino era o interior do Estado, onde
costumava passar as férias na fazenda de meus avós maternos, o trajeto se tornava um passeio

1
São Luís, capital do Maranhão, patrimônio histórico da humanidade desde 1997, título concedido pela
UNESCO. Fundada por franceses (1612) e colonizada por portugueses, possui em seus casarões o maior
acervo de azulejos portugueses.
15

que hoje chamaríamos de ecoturístico. Mais uma vez meu pai discorria sobre cada tipo de
vegetação ou geografia ao longo da estrada.
Hoje é possível perceber aquelas férias como um retorno ao passado, onde o interior
do Estado se constituía de uma realidade socioeconômica precária e estilo de vida muito
diferente da cidade, mais próximo do que nos livros de história se descreve como a Era
Feudal.
A fazenda de meus avós situava-se em um vilarejo, distante cerca de quinhentos
quilômetros da capital, onde a maioria das pessoas vivia em casas de taipa e subsistia
principalmente da pesca e dos animais criados em seus currais ou quintais. Boa parte desses
moradores trabalhava nas terras de meu avô em sistema de meia – tinham um pedaço da terra
em que plantavam arroz e outros grãos e metade de sua produção ficava para meu avô.
Na minha visão infantil, tais elementos faziam parte de um cenário maravilhoso que
me permitia conviver e brincar com outras crianças, alheia a qualquer diferença social. Por
vários anos, os banhos de rio, os passeio a cavalo, os bolos de minha avó feitos no forno de
barro, a comida no fogão à lenha, a conversa dos adultos na porta de casa à luz da lua ou de
lamparinas2, era o que mais importava. Lembro bem do pesar que senti com a chegada da luz
elétrica e da televisão. Temia que aquelas experiências fossem perdidas. Tudo isso fazia o
retorno à vida na cidade a parte mais difícil das férias.
Aos poucos, meus interesses foram se diversificando diante das possibilidades que a
vida me oferecia. Na pré-adolescência as exigências do presente e os desafios do futuro, onde
o novo e o desconhecido se encontravam, faziam cada vez mais parte do meu cotidiano. Filha
mais velha com um irmão e uma irmã, sempre procurei atender às expectativas que esse lugar
exigia, como ser responsável e servir de modelo aos irmãos mais novos, sem, contudo, perder
a liberdade de experimentar coisas novas.
Nessa fase da vida, minhas primeiras experiências esportivas podem ser consideradas
exemplos dessa liberdade em experimentar coisas novas, mas que vieram acompanhadas de
alguns limites. Em geral, eu estava sempre disposta a brincar de tudo com meu irmão e nossos
amigos e amigas da vizinhança, até de futebol, uma modalidade não indicada às meninas na
época e que me renderam várias broncas maternas.
Na escola, já nos anos 1980, eu fazia o antigo ginásio, onde era permitido escolher
uma modalidade esportiva para praticar ao longo do ano. Meu desejo de conhecer um pouco

2
Lamparina era um objeto feito de lata, com um pavio de estopa que armazenava querosene e servia para
iluminar os ambientes. Muito comum nesse lugar, onde a luz elétrica, que chegou nos anos 1970, funcionava
com muita irregularidade.
16

de tudo me fazia escolher um esporte diferente a cada ano. Até que um dia minha mãe,
sabiamente, me alertou: “minha filha, desse jeito você não vai aprender nenhum esporte
direito, você precisa escolher um e se dedicar a ele, ao menos mais de um ano!”
Naquele momento, não entendi muito bem, pois mais me interessava conhecer as
modalidades que me especializar em alguma, afinal meu tipo físico não me favorecia para o
destaque nos esportes. Essa é apenas uma das participações significativas de minha mãe que,
exercendo seu papel materno de educadora, me fazia pensar nas responsabilidades com o
presente e nas expectativas com o futuro.
Atendi ao alerta de minha mãe, quando já faltava apenas dois anos para concluir o
científico, hoje ensino médio. Resolvi me fixar em uma modalidade, ambicionando algum
destaque. Mas minha estatura média baixa e meu pouco peso, conforme disse, não ajudavam
muito. Eu era baixinha e magrinha para qualquer modalidade. Como já havia praticado quase
todas – natação, ginástica rítmica, vôlei, atletismo –, só me restava o basquete, pois outra
possibilidade, o handebol, me parecia muito violento.
Escolhido o basquete, consegui fazer parte da seleção feminina do Colégio Marista,
onde estudava. Minha mãe estava certa, consegui me destacar a partir de uma prática mais
frequente. Descobri que minhas deficiências físicas, mesmo naquele esporte, podiam ser
compensadas pelo meu esforço, dedicação e responsabilidade. Além disso, era possível
manter meu interesse pelo novo, pois a cada dia aprimorava um pouco mais minhas
habilidades. Descobri uma forma diferente de manter acesa a chama pelo desconhecido.
Infelizmente, com a saída do colégio, não pude continuar com o basquete.
Depois, na década de 90, nos primeiros anos na universidade, em Brasília, continuei a
prática de esportes, pois a Educação Física era obrigatória como disciplina curricular 3. Assim,
meu interesse pelo esporte se manteve e pude reencontrá-lo na minha vida profissional na
prática da Psicologia do Esporte, onde o conhecimento sobre as modalidades esportivas é
necessário.
Nesse compasso, segui meu percurso e, mais uma vez, me rendo às palavras de
Clarisse “...viver ultrapassa qualquer entendimento...”. De fato, hoje, tais palavras fazem mais
sentido, mas tentei entender esse movimento de idas e vindas, de interesses diversos, ao longo
de boa parte da minha vida pessoal ou profissional. Muitas vezes me angustiei por me

3
Educação Física assim como Estudo dos Problemas Brasileiros (EPB) foram disciplinas curriculares tornadas
obrigatórias pela ditadura militar. A EBP foi sendo retirada dos currículos quando a ditadura começou a
definhar. A Educação Física permaneceu e, ainda hoje, aparece como eletiva em alguns currículos.
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perceber diferente de muitos colegas de profissão, que faziam escolhas consistente e


coerentemente lógicas na Psicologia.
Atualmente me sinto tranquila com as escolhas feitas, pois percebo que a estabilidade
e coerência profissional não dependem de uma lógica linear. Assim como a História, a vida
não pode ser vivida linearmente. Meus interesses diversos, minhas incursões esportivas e
profissionais, muitas vezes aventureiras, fazem parte da minha história e sempre me
acrescentaram algo importante. Desse modo, ao longo desse doutorado, pude compreender o
lugar da História e do Esporte em minha vida, assim como da Psicologia do Esporte. Hoje,
esses campos não fazem parte apenas dessa produção intelectual, mas de uma escolha
profissional, na qual me desafio a compreendê-las de forma articulada.
Na Psicologia, minha formação na área clínica ocorreu em 1998, o que ampliou meu
olhar sobre o outro, sua história, seus conflitos, suas possibilidades de existência. No entanto,
a prática clínica se mostrou um trabalho solitário e eu sentia necessidade de aliar algo mais a
essa prática, algo que me aproximasse de outras pessoas ou que me mobilizasse de uma forma
mais dinâmica na Psicologia. A sala de aula foi, então, minha segunda descoberta valiosa. Em
1999, iniciei minha carreira como professora universitária e, em 2002, recebi o título de
Mestre em Psicologia Social, adquirido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
No mesmo ano, fui aprovada em concurso público para o cargo de professora Assistente na
Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Durante o processo seletivo para o Mestrado, devido às condições do Programa de
Mestrado Interinstitucional (MINTER) e o fato de ainda não fazer parte do quadro efetivo de
professores da UFMA, me restaram poucas opções para escolher sobre um tema de pesquisa.
O programa era em Psicologia Social e não havia um orientador disponível no referencial
clínico. Além disso, a Psicologia do Esporte ainda era algo recente em minhas descobertas. A
alternativa viável foi escolher uma linha de pesquisa que pudesse conciliar o trabalho
desenvolvido por algum professor do programa com meu interesse pessoal.
Novamente meu apreço pela história se fez presente. Escolhi conhecer mais sobre o
Bumba-meu-boi, uma manifestação cultural tradicional maranhense que, na época, passava
por transformações, em função das demandas turísticas que a capital de São Luis enfrentava
por ter se tornado Patrimônio Cultural da Humanidade.
Mesmo morando onze anos em Brasília (1988-1999), onde cursei Psicologia e
permaneci trabalhando por mais seis anos, não deixei de acompanhar as transformações
sociais e culturais de meu Estado. Como maranhense e admiradora das tradições locais, vi no
mestrado uma oportunidade de atualizar as informações sobre o Bumba-meu-boi de forma
18

acadêmica, pois era uma manifestação cultural que mobilizava a sociedade maranhense
significativamente nas Festas Juninas. Decidi, então, conhecer a cultura e as tradições do Boi
do Maracanã, considerado pelos historiadores locais um dos mais tradicionais da cidade.
Realizei uma pesquisa de campo que incluiu entrevistas com seus brincantes, distribuídos
entre senhores, senhoras e crianças.
Com a ajuda do Professor Luis Felipe Baêta Neves, meu orientador nessa pesquisa,
aprendi que, para mergulhar no passado, era necessário desprendimento e abertura para
conhecer seus significados particulares para cada um dos entrevistados. Foi uma experiência
inesquecível e enriquecedora, pois descobri várias estratégias de conciliação entre Tradição e
Modernidade, na tentativa de manter viva a manifestação cultural quase centenária do Bumba-
meu-boi diante das demandas comerciais locais. Depois do Mestrado, segui meu percurso,
dedicando-me à vida acadêmica e à Psicologia clínica.
Com relação à Psicologia do Esporte, meu primeiro contato ocorreu em 1999, logo no
início de minha carreira como docente em uma faculdade privada em São Luís, ao participar
do I Congresso Norte/Nordeste de Psicologia em Salvador, em 1999. Na ocasião, procurava
me atualizar no meio acadêmico e conhecer novas tendências da Psicologia. Dentre as opções
que o evento oferecia, me interessei pelo curso sobre Psicologia do Esporte, uma área até
então desconhecida por mim. O curso foi ministrado pela psicóloga e professora doutora da
Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP) Kátia Rubio. Sua
disponibilidade intelectual, assim como sua paixão pelo tema, aliados ao que essa área
oferecia como prática psicológica, logo me mobilizaram.
Minha única referência nessa área, por muito tempo, foi a professora Kátia Rubio,
autora de obras importantes sobre o assunto. Era a terceira descoberta importante em minha
busca por outros fazeres na Psicologia, que incluía minha paixão pelo esporte. Dali em diante,
estava decidida a trabalhar nesse campo em São Luís e, por isso, dediquei-me a estudar sobre
o assunto. Mas o caminho não foi fácil. Ainda que as distâncias hoje em dia pareçam
menores, em função da maior facilidade de transporte, dependendo da área profissional só é
possível qualificação nos grandes centros urbanos, situados no sudeste do país.
Além disso, poucas eram as oportunidades acadêmicas para tratar sobre Psicologia do
Esporte no Brasil, mesmo nesses grandes centros. Não havia cursos de especialização na área.
O primeiro a surgir, credenciado pelo Conselho Federal de Psicologia 4, só iniciou em 2003,

4
Não é ponto pacífico na categoria os critérios de credenciamento do Conselho Federal de Psicologia (CFP)
relativos aos cursos de especialização, assim como sobre a existência do título de especialista, mas como isto
não faz parte dos objetivos dessa tese, não avançarei nessa discussão.
19

no Instituto Sedes Sapientae, em São Paulo. Minhas atividades na UFMA me impediam de


buscar essa formação, pois havia aulas uma vez por mês, durante dois anos, além do período
de um mês destinado ao estágio supervisionado.
Mas essas dificuldades não me impediram de conhecer mais sobre a área. Para me
manter atualizada, participava de todo e qualquer evento sobre Psicologia do Esporte, além de
comprar e ler toda a escassa literatura disponível. Nos anos seguintes, dediquei-me a buscar
espaços para uma prática experimental a partir de pequenas oportunidades de trabalho com
modalidades esportivas na capital maranhense e, aos poucos, esta atividade consolidou-se de
modo efetivo.
Esses investimentos resultaram em outros convites para atuar como voluntária junto a
equipes infantil e juvenil de natação até que, em 2004, teve início uma parceria pioneira e
frutífera com a Federação de Futebol de Areia ou Beach Soccer, resultando na minha inclusão
como psicóloga da comissão técnica dessa Seleção por três temporadas consecutivas, e em
2007, a equipe sagrou-se campeã nacional. Digo frutífera não apenas por esses resultados,
mas pelo fato de essa experiência proporcionar a criação de um campo de estágio na área e
consequentemente tornar a Psicologia do Esporte conhecida na capital.
Desde 2006, lecionando há cinco anos na UFMA com esses trabalhos voluntários
como psicóloga do esporte, percebi que já era tempo de formalizar um estágio curricular nessa
área. Meus conhecimentos estavam mais sedimentados e um campo de trabalho se constituía
desde 2000, quando realizei a primeira atividade específica na área com uma categoria juvenil
do futebol de campo em um time da capital. Mas foi durante o trabalho com o futebol de
areia, em 2006, que resolvi elaborar uma proposta à coordenação do curso de Psicologia da
UFMA de criação do campo de estágio curricular em Psicologia do Esporte, atendendo a uma
pequena demanda de alunos do curso.
Essa experiência contou com o apoio de uma ex-aluna, Maria Emília Álvares, já
especialista na área, através daquele único curso existente até então, em São Paulo. Os
resultados revelaram-se, mais uma vez, frutíferos e enriquecedores para a área. Passei
juntamente com Maria Emília a integrar uma equipe multiprofissional de um projeto social –
iniciativa da Federação Maranhense de Beach Soccer – voltado para a iniciação esportiva
dessa modalidade e que serviu de campo de estágio para os alunos de Psicologia da UFMA.
Eu atuava como supervisora docente e a outra colega como supervisora técnica em campo.
Desse modo, em 2008, retomar os investimentos na qualificação acadêmica era uma
necessidade urgente e o Doutorado seria o projeto da vez. Embora ainda trabalhasse com a
psicologia clínica, a Psicologia do Esporte me mobilizava cada vez mais. Estava certa que
20

gostaria de estudar algo relacionado a essa área, mas esbarrava na carência de profissionais e
de cursos de pós-graduação. Com a viabilização da proposta de um Programa de Doutorado
Interinstitucional (DINTER) a partir de nova parceria entre UFMA e a UERJ, havia a
possibilidade de construir um projeto de doutorado.
Nessa ocasião, eu fazia parte do quadro de professores efetivos do Departamento de
Psicologia da UFMA, o que favoreceu minha participação na elaboração do projeto, que
contaria com um grupo de onze professores de diversos departamentos dessa instituição de
ensino superior (IES).
Mais uma vez, ao planejar meu projeto de pesquisa, aquele modo de pensar racional e
linear me dizia para escolher um tema que pudesse dar continuidade aos estudos feitos no
Mestrado. Afinal, como alertara minha mãe outrora, um maior aprofundamento sobre o que se
escolhe era preciso. Aprofundar para conhecer mais. Mas, lá estava eu, novamente em busca
de algo novo, e, naquele momento, o que me mobilizava era a Psicologia do Esporte, que não
tinha qualquer relação com história ou cultura, ao menos aparentemente.
Como havia realizado o Mestrado, também na UERJ, pude conhecer o trabalho de
vários professores, entre eles o da professora Ana Maria Jacó-Vilela sobre História da
Psicologia do Brasil, que já nessa época havia despertado minha atenção. Mas como trabalhar
com História da Psicologia se minha motivação era a Psicologia do Esporte? Mais uma vez
tentei conciliar meu interesse às condições possíveis e vislumbrei a possibilidade de unir
História, Psicologia e Esporte. Graças à disponibilidade da professora Ana Jacó, que abriu
vagas para o Programa DINTER, conhecer mais sobre a História da Psicologia do Esporte no
Brasil seria possível. Por que não? E assim, a ideia tomou corpo. O que antes era apenas uma
possibilidade, tornou-se realidade. Embora a Psicologia do Esporte não estivesse entre seus
temas de estudo, a História da Psicologia do Esporte no Brasil passou a estar. Dessa forma,
construí o projeto e fui aprovada no processo seletivo, realizado em abril de 2008.
A intenção era conhecer um pouco mais sobre a história da constituição dessa área,
pois as informações sobre o assunto eram escassas e as poucas que existiam sempre se
situavam em torno do final dos anos 1950, trazendo a atuação de João Carvalhaes (JC) junto à
Seleção Brasileira de Futebol, campeã em 1958. Parecia-me que Carvalhaes era visto como
um marco fundador da Psicologia do Esporte. Isso me inquietava porque entendia que tal
prática não podia surgir de forma repentina e que deviam existir outros personagens e eventos
na construção desse processo. Além disso, não havia registros sobre como ocorreu o processo
de inserção da Psicologia no contexto esportivo brasileiro.
21

Assim, pensei que esta poderia ser uma proposta relevante para a construção de minha
tese: investigar “Para além do tempo regulamentar” estabelecido pela literatura existente e
construir uma “narrativa sobre a história de constituição da Psicologia do Esporte no Brasil”.
Para isso, estabeleci como recorte temporal final meados da década de 60, ainda sem precisão
sobre o período inicial desse recorte.
Logo após a definição do recorte e do objeto da tese, uma inquietação surgiu na
definição do título. “Para além do tempo regulamentar: uma narrativa sobre a história da
Psicologia do Esporte no Brasil”. Mais que uma frase de efeito, esse título foi pensado no
intuito de usar um trocadilho com terminologia característica do esporte, uma vez que o
estudo remete ao que ocorreu no âmbito da Psicologia em relação à Educação Física e a sua
inserção no universo esportivo antes do “tempo regulamentar” delimitado pela literatura atual
da área. Ir além desse tempo regulamentar significa ultrapassar um limite cronológico na
direção de um passado não tão remoto em busca de questões ou informações históricas que
não estavam presentes nesse tempo, mas que também fizessem parte do percurso da
Psicologia do Esporte no Brasil.
O faro aguçado de pesquisadora experiente de minha orientadora me levou a uma nota
de rodapé de Lenharo (1986), onde encontrei indícios sobre a relação entre Educação Física e
Exército. Vasculhando um pouco mais, descobri que a primeira Escola de Educação Física do
Brasil foi criada no Rio de Janeiro, pelo Exército, a Escola de Educação Física do Exército
(EsEFEx) e com ela, o primeiro periódico específico da área, em 1932.
A partir de então, novos achados surgiram e o passo seguinte foi visitar a Biblioteca da
EsEFEx, situada no Forte São José, na Urca, para buscar mais pistas sobre a presença da
Psicologia nesse contexto. Deparei-me com um acervo – surpreendentemente em ótimo
estado de conservação – da primeira revista dessa escola, desde os seus primeiros exemplares,
contendo artigos que tratavam sobre Psicologia. Bastante surpresa por ter acesso fácil a fontes
primárias tão antigas e de valor histórico incalculável, não imaginava que o que estava por vir
era ainda mais impressionante.
Além desse periódico, descobri outras fontes de divulgação da Educação Física que,
em seus artigos, revelaram a existência de uma aproximação com a Psicologia. Aos poucos
percebi que tal aproximação ocorria a partir da interlocução entre conhecimentos da época
sobre Educação Física, eugenia, higienismo, além de estudos sobre Psicologia geral e
experimental, onde nomes como William James (1841-1910), Edward Lee Thorndike (1874-
1949), Henri Bergson (1859-1941) e outros fundamentavam os escritos.
22

Neste sentido, essas fontes demonstravam que, nos anos 1930, era possível ler sobre
temas psicológicos nos principais periódicos direcionados à Educação Física no Rio de
Janeiro. A maioria dos artigos era de autoria de médicos e militares, além de educadores de
relevância que discorriam sobre temas importantes na época ou relativos a seus interesses
profissionais. Assim, o objeto de estudo dessa tese começou a se definir melhor – estudar a
Psicologia que aparecia nos periódicos de Educação Física.
Tais escritos, em geral, baseavam-se na Psicologia que se estabelecia como disciplina
científica, desde o final do século XIX na Europa e Estados Unidos, onde realidades distintas
e aparentemente opostas como, esporte/Exército, Psicologia/Educação Física, mente/corpo
faziam-se presentes. Uma consequência dessas aproximações desemboca na construção de um
saber psi voltado à realidade esportiva, justificando o interesse principal dessa tese no estudo
de um período anterior (1930-1950) ao marco histórico estabelecido como gênese da
Psicologia do Esporte no Brasil pela literatura vigente (RUBIO, 2000; ABDO, 2000; ROSE,
2000; SAMUSLKI, 2002; RODRIGUES; AZZI, 2007; CASAL, 2007). Antes disso, não
encontrei qualquer referência na literatura, salvo o estudo de Lima (2003) que reconhece a
existência de trabalhos na área desde o século XIX, embora não especifique quais seriam
estes.
À medida que avançava na pesquisa descobria novas informações que relativizavam o
lugar de marco fundador de João Carvalhaes na constituição histórica da Psicologia do
Esporte e esse fato, a meu ver, guardadas as devidas proporções e contextualizações, se
assemelha à construção do “mito de origem” que transformou W. Wundt no “pai da
Psicologia Moderna”, conforme Danzinger (1991). Esse autor questiona os critérios de
escolha para datas e fatos diante da riqueza potencial das informações históricas e refere-se a
uma visão sociológica positivista em que

[...] la tendencia es a tratar la evidencia histórica como si fuera un caudal de hechos


objetivos, cuando, usualmente, consiste en reconstrucciones realizadas por partes
altamente interesadas. Más aun, el tipo de relación entre generaciones sucesivas es
reducida a la de „pioneros‟5 y „continuadores‟ o „maestros‟ y „discípulos‟, un
esquema que, incidentalmente, hace posible ocuparse del desarrollo completo de la
psicología moderna, a partir del supuesto acto de creación de Wundt, como un
proceso de desarrollo interno dentro de la disciplina, sin entender al rol crítico
jugado por factores extra disciplinarios (DANZINGER, 1991, p. 5).

Dansinger (1991) analisa que, do ponto de vista social, o desenvolvimento de novas


especialidades científicas envolve uma interlocução e divisão do trabalho. E que, para a
produção dessas novas classes de conhecimento, é necessário um grupo com identidade
5
N. do T.: o nome original é founders, literalmente, fundadores. Mantive a tradução original “pioneros” no
sentido que é utilizado por Dansinger (1991).
23

profissional específica que, para ter êxito nessa reivindicação, depende de como se articula
para legitimar suas atividades.
Danzinger (1991) complementa ainda que estes grupos – formados por aqueles
inseridos no âmbito acadêmico, assim como pelas instituições de caráter educacional e
político – , mesmo sendo relevantes para a prática da profissão, terão problemas diante das
realidades políticas e econômicas da sociedade da qual fazem parte.
Essa análise se aproxima do que vive a Psicologia do Esporte brasileira em seu
processo de legitimação. Considerada como um campo novo de conhecimento, partilha sua
gênese com demandas sociais emergentes e interesses intelectuais. Além disso, sua história,
ainda que recente, se compõe da construção de mitos ou marcos fundadores como João
Carvalhaes, construídos para contribuir nesse processo de legitimação histórica da área.
Outra concepção que auxiliou na compreensão, e também se aproxima desse contexto,
foi a noção de “tradição inventada” de Hobsbawn e Ranger (1997, p. 10 e 12). Estes autores
afirmam que “[...] inventam-se novas tradições quando ocorrem mudanças suficientemente
amplas e rápidas tanto do lado da demanda quanto da oferta [...].” Os autores consideram,
ainda, que a invenção da tradição é um processo de formalização e ritualização, referente ao
passado mesmo que pela imposição da repetição, sempre que possível, estabelece “[...] uma
continuidade com um passado histórico apropriado [...].”
Assim, consegue-se entender João Carvalhaes (JC) também como um “marco
inventado” por se formalizar a partir da repetição de seu nome em fontes teóricas que fizeram
de sua prática, ainda insipiente em um passado próximo, uma demarcação histórica. Sua
atuação, no final dos anos 1950, ainda não caracterizava a prática da Psicologia do Esporte,
mas, sem dúvida, sintetiza uma aproximação real da Psicologia aplicada ao universo
esportivo. A presente tese pretende demonstrar que tal atuação não foi a única a fazer parte
desse processo. Ainda assim, é válido reconhecer a importância de Carvalhaes, pois passados
quarenta anos, a área permanece carente de identidade e reconhecimento social apesar da
crescente demanda do contexto esportivo brasileiro, embora tenha tido avanços teóricos e
metodológicos.
Sabe-se que outras modalidades esportivas já eram praticadas no Brasil desde o século
XIX, mas o universo do futebol reúne informações significativas para fins desse estudo, a
começar pelo fato de ser o Brasil a única nação a participar de todas as Copas do Mundo. No
entanto, só no final dos anos 1950, pela primeira vez, o Estado ofereceu condições técnicas e
estruturas adequadas para o preparo da Seleção Brasileira de Futebol, na Copa de 1958. Essa
24

iniciativa incluiu profissionais até então não imaginados nesse contexto, como um dentista e
um psicólogo, o que gerou muita repercussão nos jornais da época.
Vale ressaltar que a atuação de João Carvalhaes no futebol ou com os futebolistas,
assim como na escola de árbitros, já obtinha repercussão no cenário paulista. No período de
1954 a 1959, Carvalhaes trabalhou na Federação Paulista de Futebol, aplicando seus
conhecimentos de psicotécnica e implantou uma unidade para seleção de árbitros de futebol,
atuando também na preparação psicológica destes e junto à Seleção Brasileira de Futebol
(WAENY; AZEVEDO, 2003).
Na mesma época prestou serviços de avaliação psicológica no São Paulo Futebol
Clube, utilizando os mesmos testes de inteligência, personalidade e de habilidades específicas
aplicados no âmbito empresarial em motoristas e cobradores, quando trabalhou como
Assistente Técnico da Divisão de Psicologia e Formação Profissional (1947-1970) na
Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), uma companhia de transportes da
cidade de São Paulo. Mas, com o futebol, o objetivo de Carvalhaes era melhor orientar os
atletas para suas atividades esportivas.
O percurso de João Carvalhaes, segundo Barreto e Ribeiro (2006), incluiu de 1942 a
1946, cargos de escriturário e, depois, encarregado do Setor de Seleção de Pessoal na Light &
Power6, onde executou, a título experimental, trabalhos relativos à aplicação de testes de nível
mental, de interesses e de personalidade, tornando-se responsável pelos testes de admissão de
motoristas e cobradores. Ainda nessa empresa, também chegou a ser Chefe da Divisão de
Higiene e Segurança do Trabalho do Departamento Médico. Assim, Carvalhaes iniciou suas
incursões no âmbito esportivo, a partir da transferência de conhecimentos de seu trabalho no
campo então denominado de psicologia industrial. O elemento em comum foi o uso de testes
psicológicos.
O Brasil, naquela época, tentava avançar em seu processo de desenvolvimento
industrial e a mão de obra qualificada se fazia necessária, razão pela qual os conhecimentos e
a experiência de JC no âmbito da psicologia industrial foram necessários para atender a uma
demanda social de seleção de pessoas nesse contexto. Tal experiência lhe serviu para inserir-
se no mundo esportivo, onde, por analogia, a seleção de atletas capazes e adequados à sua
função era feita nos mesmos moldes dos processos seletivos realizados nas indústrias. Este
interesse, todavia, já existia. Nesta pesquisa demonstro que desde os anos 1940 havia a

6
A São Paulo Light and Power foi uma empresa canadense autorizada a funcionar no Brasil no governo de
Campos Salles. Responsável pela concessão de serviço de bondes elétricos e energia elétrica em São Paulo.
Em 1947, transformou-se na CMTC.
25

construção de um discurso de uso de seleção psicológica de atletas, nos periódicos de


Educação Física.
Outro momento relevante também lembrado na história da Psicologia do Esporte
brasileira é a participação de Athayde Ribeiro da Silva representando o Brasil em 1965, em
Roma, no International Society of Sport Psychology (ISSP) apresentando o trabalho
“Observações sobre Psicologia aplicada ao futebol”. Este evento teve significado mundial,
pois reuniu psicólogos e profissionais do esporte pela primeira vez. De volta ao país, Athayde
Ribeiro fundou uma associação7 para promover a nova área de conhecimento e intervenção,
mas esta não perdurou (BARRETO; RIBEIRO, 2006).
Outros eventos podem ser elencados com o lançamento dos livros “Futebol e
psicologia” (SILVA; MIRA Y LOPEZ, 1964), de autoria do mesmo Athayde Ribeiro da Silva
e de Emílio Mira y Lopez, além de “Um psicólogo no futebol: relatos e pesquisas”
(CARVALHAES, 1974), de João Carvalhaes. Por fim, nos anos 1970, outros nomes como
João Serapião (Guarani Futebol Clube), Paulo Gaudêncio e Flávio Gicovati (Sport Club
Corinthians) também aparecem no cenário da psicologia esportiva, além do surgimento da
Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da Recreação
(SOBRAPE)8, em Porto Alegre (1979), filiada à ISSP e presidida pelo psicólogo e educador
físico Benno Becker Junior. Em São Paulo, filiada a esta sociedade, surge a Sociedade de
Psicologia Aplicada ao Esporte, Atividades Físicas e Recreação de São Paulo (SPAESP), em
1990, ambas com objetivo de divulgar e expandir a prática da Psicologia do Esporte.
No final de 2003, um grupo de psicólogos pautados na resolução 14/00 do Conselho
Federal de Psicologia, que determinou a criação das especialidades em Psicologia, fundou a
Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP), presidida pela psicóloga e
educadora física Kátia Rubio. Dentre as finalidades sobressaem-se o zelo e incentivo ao
crescimento da ciência e da profissão de psicólogo do esporte (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE PSICOLOGIA DO ESPORTE, 2011). Vale ressaltar que essa associação é a única a
publicar um periódico específico da área, sob a forma virtual, a partir de 2007. Ainda assim,
com o surgimento de novas demandas, a área continua carente de uma legitimação social.
A atuação de João Carvalhaes não se configura, portanto, como uma tradição na
Psicologia do Esporte, mas como disse, um “marco inventado”, pois, nos anos 1990, havia a

7
Não encontrei o nome dessa associação nas referências consultadas.
8
Ainda existente e composta em sua maioria por profissionais da Educação Física, essa sociedade realizou
eventos nacionais e internacionais, reunindo profissionais das Ciências do Esporte, mas suas ações parecem
ter contribuído pouco para a sedimentação da Psicologia do Esporte no país.
26

urgência de sedimentação da área e para isso, a construção de um passado se fazia necessária.


Não à toa a bibliografia que o coloca como “marco” é desse período.
Não há um intuito em desmerecer nenhum dos eventos descritos, tampouco o trabalho
de Carvalhaes, mas sim, revelar outros momentos, fatos e pessoas que se constituem como
condições para a emergência e formação do campo da Psicologia do Esporte no país. Desse
modo, a importância da atuação de JC pode ser melhor compreendida.
Em síntese, o objeto desta tese visa à construção de uma possível história dos
primórdios da Psicologia do Esporte no Brasil através da análise da inserção da Psicologia em
periódicos de Educação Física dos anos 1930 a 1960. Questões surgiram a partir disso, como:
quais atores colaboraram e interagiram para esse encontro? Haveria relação entre as ações da
primeira metade do século XX e a prática de João Carvalhaes e atores posteriores a ele?
Como a Psicologia deixou de ser um saber imigrante do território seguro da Filosofia e da
Medicina para se tornar um conhecimento necessário no cenário de atuação da Educação
Física?
Na tentativa de responder tais questões e construir uma narrativa sobre essa história,
corroboro com a postura adotada em boa parte da Psicologia Social contemporânea, a qual
considera que todo conhecimento se constrói a partir de sua produção social, em que os
sentidos e seus significados são construídos. Neste caminho, entendo que, os pesquisadores,
devem reconhecer o caráter histórico dos fenômenos sociais e estabelecer um diálogo fluido e
transdisciplinar, sinalizando um compromisso com as transformações da sociedade.
Falar sobre a história da Psicologia do Esporte possibilita, portanto, um diálogo entre
objeto, sujeito e contexto, considerando-se que o contexto constrói o objeto e o sujeito social.
Tais elementos não podem ser vistos de forma isolada, mas sim interagindo social e
historicamente, localizados no tempo e no espaço. Sendo assim, a Psicologia, a Educação
Física, o fazer psi, eu pesquisadora, o contexto social e os demais atores ou elementos que
fazem parte dessa rede de interações constituem uma construção coletiva que resulta, em certo
sentido, no que é chamado hoje Psicologia do Esporte. Antes de revisitar os fatos que
contribuem para a constituição dessa área, considero importante descrevê-la brevemente e
apresentar um pouco de sua história conforme já foi contada por outros como Rubio (2000),
Rose (2000), Rodrigues e Azzi (2007), para citar alguns.
Entendida no Brasil como prática profissional e especialidade do saber psicológico,
segundo a Resolução nº 02/01 do CFP, a Psicologia do Esporte dedica-se a cuidar da pessoa
que pratica atividade física, independentemente da faixa etária, da modalidade esportiva ou
27

dos objetivos no esporte, que podem estar voltados à iniciação esportiva, reabilitação, lazer e
recreação ou ao esporte de alto rendimento.
Aos poucos essa caracterização foi sendo construída a partir de práticas e caminhos
diversos, percorridos por personagens distintos, desde as primeiras décadas do século XX,
transformando gradativamente o saber psi em, primeiro, Psicologia do Desporto e, no
momento, Psicologia do Esporte.
No entanto, para configurar-se como uma nova prática psi, dificuldades teóricas,
metodológicas e interdisciplinares compareceram, uma vez que o psicólogo inseriu-se em um
contexto, a priori, desconhecido, composto por profissionais de outras áreas de saber como a
Medicina e a Educação Física. O psicólogo, então, se depara com um novo cenário e uma
nova demanda social, onde os fenômenos psicológicos ocorrem no habitat da prática
esportiva, o que implica a necessidade de compreensão da subjetividade no universo das
diferentes modalidades do esporte.
O psicólogo foi, adaptando-se de forma gradual, a esse novo universo e, através da
aproximação com outros saberes, no cenário das modalidades esportivas, conseguiu construir
um saber diferenciado. A Psicologia do Esporte então, se caracteriza por uma interface entre o
esporte e as chamadas Ciências do Esporte – Antropologia, Filosofia, Sociologia, Medicina,
Fisiologia e Biomecânica do Esporte.
Weinberg e Gould (2001, p. 28) a denominam como Psicologia do Esporte e do
Exercício, afirmando que “[...] é o estudo científico de pessoas e seus comportamentos em
atividades esportivas e atividades físicas e a aplicação desse conhecimento [...]”.
Compartilham dessa ideia Barreto (2003) e Samulski (2002), para citar alguns. Contudo, além
da perspectiva competitiva e de alto rendimento esportivo, a PE contempla também a
iniciação esportiva, as atividades físicas em geral, assim como as atividades em tempo livre e
de reabilitação (RUBIO, 2003). Rodrigues e Azzi (2007) complementam essa última
definição ao tratarem da diversidade de definições da Psicologia do Esporte em sua obra
Trilhando Caminhos em busca de iniciação na área, na qual apresentam pesquisa sobre a
literatura publicada no país, a inserção em cursos de formação, além de sites específicos sobre
o tema.
Mundialmente essa área de atuação dá indícios de surgimento no fim do século XIX e
Rubio (2000) indica que os primeiros sinais dividem-se entre a Europa e os EUA, com ênfase
nos estudos norte-americanos que obtiveram destaque em função de ampla divulgação,
favorecendo maior possibilidade de acesso aos estudos de seus pesquisadores.
28

Nos EUA, de acordo com Weinberg e Gould (2001) e Rubio (2000) os primeiros
registros da Psicologia do Esporte datam de 1890. São os estudos sobre ciclismo de Norman
Triplett, psicólogo da Universidade de Indiana e pesquisador sobre as motivações que
levavam ciclistas a treinar em grupo e terem melhor desempenho que aqueles que treinavam
sozinhos. Tais estudos figuram próximos ao surgimento do Movimento Olímpico, em 1896,
criado com o objetivo de promover a paz entre os povos através do esporte.
Coleman Griffith (1893-1966) também se destacou no cenário norte-americano nos
anos 1920 e 1930 por sua atuação na Psicologia do Esporte. Publicou vários artigos e livros
voltados à temática – Psicologia de Técnicos (1926), Psicologia de Atletas (1928) – e dirigiu
o primeiro laboratório de Investigação em Atletismo na Universidade de Illinois, onde
também criou, em 1925, o primeiro curso de Psicologia do Esporte (GREEN, 2003).
Na Europa, em meados do século XX, os estudos do médico russo Pyotr Fanzevich
Lesgaft (1837-1909) serviram de base para o sistema de Educação Física soviético. Para
Riordan (2009, p. 7), tais estudos descreviam possíveis benefícios psicológicos da atividade
física utilizando noções como “[...] 'harmonious development', of social awareness and self-
realisation through physical education, of the principle of gradual and consistent
training,[...]”.
A Psicologia voltada ao esporte na antiga União Soviética recebeu, em função da
relevância dada aos resultados esportivos, todo apoio do governo da época, pois utilizavam
indicadores comparativos entre as potências capitalistas e comunistas, impulsionando as
atividades de seleção, treinamento e preparação dos atletas de alto rendimento realizadas por
psicólogos locais.
Entre as décadas de 20 a 50 outros médicos russos, Avksenty Cezarevich Puni (1898-
1986) e Peter Rudik9, foram responsáveis pela inclusão da disciplina Psicologia do Esporte
nos cursos de Educação Física daquele país, além de organizarem eventos e publicações na
área, paralelamente à criação dos Institutos para a Cultura Física de Moscou e Leningrado –
considerados o marco inicial da Psicologia do Esporte na antiga União Soviética
(RODRIGUES, 2006). Outros países também aparecem nesse contexto como a Itália que
sedia em Roma, no ano de 1965, o primeiro Congresso Mundial de Psicologia do Esporte,
fato que levou à fundação, no mesmo ano, da ISSP, com objetivo de promover e disseminar
informações sobre a PE em todo o mundo10. Ainda nos EUA, Rubio (2000) informa que em
1968 foi criada a Sociedade Americana para a Psicologia do Esporte e Atividade Física

9
Até o momento não foi possível encontrar mais referências sobre Peter Rudik.
10
Evento a que, como me referi, Athayde Ribeiro compareceu representando o Brasil.
29

(NASPSPA) e em 1985 a Associação para Progresso da Psicologia do Esporte (AAASP),


objetivando divulgar o trabalho de instituições ligadas a área.
Os fatos mencionados ilustram o percurso de construção e legitimação dessa área,
permeados pelo avanço de uma aplicação técnica e de produtividade científica, levando a
Psicologia do Esporte a destacar-se como prática no cenário mundial desde o início do século
XX. O Brasil, ao mesmo em tempo que acompanha alguns desses eventos, trilha seu próprio
rumo.
Os primeiros passos no país parecem ter sido dados a partir da década de 30, embora a
literatura aponte para as décadas de 50 e 60, quando essa prática ganha expressividade social,
a partir dos trabalhos direcionados ao futebol, como os já citados de João Carvalhaes e
Athayde Ribeiro da Silva, ambos por suas atuações nas Seleções Brasileiras de Futebol de
1958 e 1962, respectivamente. No caso de Carvalhaes, incluem-se ainda as publicações de
seus artigos em jornais paulistas e suas participações em eventos internacionais sobre o tema.
Nos anos 1930 e 1940 houve um discurso relativo à possibilidade de aplicação da
Psicologia no universo da atividade física e do esporte, mas esse discurso, até onde se pode
saber, ficou restrito aos periódicos da Educação Física. As iniciativas voltadas à aplicação da
Psicologia nesse contexto ocorridas no Rio de Janeiro, antes e até mesmo depois de João
Carvalhaes e em São Paulo, parecem figurar como ações isoladas, pois não identificam-se
conexões entre elas. Por exemplo, o fato de não encontrar artigos de autoria de João
Carvalhaes – ou de Athayde Ribeiro – nos periódicos de Educação Física, uma vez que suas
ações tiveram repercussão social nos meios de comunicação da época.
Dessa forma, a Psicologia do Esporte se constitui como especialidade psi
desconhecendo parte de sua própria história, como nas palavras de Jacó-Vilela (1999b), sendo
um “saber sem memória”, onde o passado é apagado e o presente é passageiro. As atuações
dos psicólogos foram se estabelecendo, lentamente, em outras modalidades além do futebol e
embasadas em outras práticas psi, ao longo das décadas seguintes. Conhecendo um pouco
mais sobre esse percurso, percebo que revisitar o passado auxilia na compreensão de algumas
das dificuldades que os psicólogos do esporte vivem no presente.

Percurso metodológico

Diante da diversidade de campos e subtemas foi necessário lançar mão de fontes


díspares para a fundamentação teórica desta tese. Foram poucas para cada tema porque
pretendia que elas me abrissem os olhos para o tema em questão. Assim, para contextualizar o
30

cenário brasileiro no recorte temporal escolhido, o brasilianista Skidmore (2007) e o


historiador Fausto (1997), foram norteadores dos eventos políticos, econômicos e sociais. A
noção de militarização dos corpos de Lenharo (1986), os estudos de Gondra (2004) nas teses
dos cursos de Medicina do Rio de Janeiro, além dos trabalhos de Soares (2005) sobre o uso do
corpo e da ginástica na Modernidade, foram fundamentais para compreender a participação da
Educação Física no projeto civilizatório do país na primeira metade do século XX.
Considerando que a presença dos movimentos higienistas influenciou o cenário
nacional, assim como os saberes da época, os estudos de Góis Junior (2000, 2001, 2007) e
Góis Junior e Luvisolo (2005) foram esclarecedores sobre os efeitos de tais movimentos na
Educação Física. Somam-se ainda, estudiosos da História da Educação Física como Ferreira
Neto (1999), Barreto e Ribeiro (2006), Schneider (2002, 2003), Soeiro (2003), Goellner
(2003), Souza Neto (2004) e Melo (1996, 2005) com importantes contribuições sobre
aspectos pedagógicos e políticos da área no processo de institucionalização da Educação
Física.
Na Psicologia, a influência de tais movimentos dilui-se nos estudos sobre seu processo
de constituição, mas uma boa delimitação sobre o tema foi encontrada em Boarini e
Yamamoto (2004). O processo histórico dessa área é bem narrado nos trabalhos de Centofani
(1982), Penna (1992), Mitsuko (1999), Massimi (2000), Massimi e Guedes (2004) e Jacó-
Vilela (2005, 2008), fundamentais para a compreensão dos usos das ideias e fazeres da
Psicologia no começo do século XX.
Na revisão sobre a literatura em torno da história da Psicologia do Esporte no Brasil,
foram importantes os estudos de Rubio (2000), Rose (2000), Abdo (2000), Samuslki (2002),
Lima (2003), Casal (2007) e Rodrigues e Azzi (2007).
Para realizar essa pesquisa tive que ampliar meus conhecimentos no campo da História
e a noção de “tempo histórico” proposta por Bloch (2001) foi fundamental nesse sentido. Para
esse autor, a História se constrói a partir dos homens em um tempo, um tempo continuum e
transitório. Assim, foi possível tratar de um recorte temporal entendendo as relações que os
documentos estabelecem com acontecimentos do presente, pois este, ainda na visão desse
autor, é entendido como um passado recente.
Mesmo sem estabelecer um nexo causal, as conexões entre os documentos e a
realidade atual preencheram algumas lacunas e iluminaram vários aspectos do percurso de
institucionalização do saber psicológico e do surgimento da Psicologia do Esporte. Foi
possível, então, constatar que não há grande distância desse passado que se reflete, tem seus
efeitos no presente e é transformado pelos novos eventos sociais.
31

Também partilho da definição de Le Goff (1996), que entende os documentos como


“testemunho histórico”. De igual modo sou partidária da visão da História Nova que
revolucionou a compreensão dos fenômenos históricos, ampliando o sentido de interpretação
dos documentos, privilegiando uma história descontínua, em lugar de uma linear. Desse
modo,

[...] O interesse da memória coletiva e da história já não se cristaliza exclusivamente


sobre os grandes homens, os acontecimentos, a história que avança depressa, a
história política, diplomática, militar. Interessa-se por todos os homens, suscita uma
nova hierarquia, mais ou menos implícita dos documentos; [...] (LE GOFF, 1996, p.
341).

As palavras de Le Goff ilustram o que encontrei nos periódicos, testemunhos


históricos marcados por eventos políticos e sociais. De posse dessas informações, tentei
construir uma narrativa aliando uma visão ampliada sobre os documentos à noção de tempo
histórico, o que possibilitou o encontro de todos os homens, representados por militares,
médicos, educadores e psicólogos, que inseridos em um contexto histórico e cultural dinâmico
e diversificado foram responsáveis por uma “sistematização coletiva conhecimento”,
entendida por Burke (2003), como uma atividade coletiva composta por estudiosos
burocratas, artistas e impressores nos grandes centros urbanos, que transformavam as novas
informações e eram transformados pela visão dos letrados. Além disso, na moderna análise
dos documentos há que se considerar que, por mais antigos que sejam, alguns já se encontram
digitalizados e armazenados em banco de dados, o que requer do pesquisador maior
flexibilidade e manejo na busca e organização das informações.
Sobre o processo de localização das fontes documentais, como disse antes, foi a partir
do estudo da literatura vigente sobre a história da Psicologia do Esporte no Brasil e da leitura
de uma citação do livro de Lenharo (1986), que as primeiras pistas apareceram e me levaram
à biblioteca da Escola de Educação Física do Exército. Lá encontrei uma revista que datava
dos anos 1930. Nela, há vários artigos tratando de temas relativos à Psicologia. Naquele
momento, considerei que aquela revista de Educação Física da primeira metade do século XX
poderia ser minha fonte de pesquisa.
Nesse sentido, as fontes e os documentos dessa pesquisa se constituem em
documentos escritos, brasileiros e de domínio público, de caráter acadêmico – apresentados
em periódicos especializados – ou governamental – no formato de leis, decretos, estatutos –,
que entendo como instrumentos valiosos.

[...] As fontes documentais foram incorporadas ao próprio cotidiano da cultura


letrada e são instrumentos que divulgam e debatem esse cotidiano e até buscam sua
normalização. Assim, a pesquisa que toma como base de análise as fontes
32

documentais, faz com que elas saiam da sombra e deixem de ocupar o lugar de
fontes „secundárias‟[...] (MÉLLO, 2006, p. 60).

Ressalto ainda que a escolha dessas fontes de pesquisa foi motivada pela inserção da
Psicologia nos primeiros periódicos de Educação Física, caracterizados pela peculiaridade e o
pioneirismo das informações encontradas, além da possibilidade de acessá-los.
A proposta metodológica, portanto, incluiu os seguintes objetivos: levantamento da
existência de revistas de Educação Física e possíveis relações ou menções à Psicologia – seja
em título de artigos, na denominação de seções ou no conteúdo dos artigos nas revistas
pesquisadas; sumarização dos assuntos encontrados, estabelecendo crivos/categorias para uma
análise das práticas discursivas presentes no material levantado.
Sendo assim, analisei os documentos como práticas discursivas, pois envolvem
diversos elementos, distribuídos de forma harmônica ou não, localizados historicamente, no
tempo e no espaço, produzindo seus efeitos. A pesquisa visa, portanto, averiguar a construção
de sentidos que os artigos apresentam com o uso do saber psicológico e suas implicações na
Educação Física. Para isso, foi importante adentrar nesse território desconhecido e conhecer
sobre sua história de constituição. Uma incursão árdua devido a pouca familiaridade com a
área.
Concomitante a isso, continuava consultando fontes orais e teóricas que pudessem
oferecer outras pistas sobre o que eu procurava. Foi então que, através de contato virtual, fui
informada sobre o professor doutor Victor Andrade de Melo, da UFRJ. Após algumas
tentativas encontrei-me com o professor no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS),
onde ele coordena o Laboratório de História de Esporte e do Lazer no Programa de Pós-
Graduação em História Comparada do Instituto de História da UFRJ.
Mais uma vez, contei com uma disponibilidade e gentileza intelectual que nortearam
meu percurso rumo aos periódicos da Educação Física. O professor Victor Melo me informou
que as revistas podiam ser encontradas também na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e na
Biblioteca da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), da UFRJ – antiga Escola
Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), além da Biblioteca da EsEFEx, a
primeira que eu visitara. Ele também sugeriu que eu consultasse outros autores estudiosos
sobre a História da Educação Física e me presenteou com um CD-ROM contendo
informações sobre o projeto “Memória Documental da ENEFD-UB”, do qual foi um dos
responsáveis. Neste CD-ROM encontram-se além dos textos integrais da revista Arquivos, o
primeiro livro de atas, relatórios e outros documentos desde a sua fundação, todos
33

digitalizados. Lançado pelo Centro de Memória (CEME) em comemoração dos 65 anos da


EEFD, este centro passou a se chamar Inezil Penna Marinho a partir de 2004 (MELO, 2011).
De posse dessas informações iniciei minha busca nessas bibliotecas, o que me
favoreceu mapear as possíveis fontes e o acervo para a pesquisa dessa tese. Diante dessa
realidade, percebi que fazer o doutorado no Rio de Janeiro era providencial para alcançar os
objetivos propostos, pois meu programa de doutorado interinstitucional (DINTER –
UFMA/UERJ), não permitiria afastamento ao longo dos quatro anos, apenas por no máximo,
doze meses. O planejamento previa o ano de 2009 para isso e, nele deveria realizar a pesquisa
documental, além de cursar algumas disciplinas e realizar boa parte da revisão de literatura,
uma vez que teria mais possibilidade de acessar outras fontes como as bibliotecas dessa
capital.
Como mencionado, também existiam alguns boletins e relatórios que se dedicavam a
publicação de informações sobre legislação, divulgação de eventos na área e alguns artigos.
Foram os seguintes: Boletim da Federação Internacional de Educação Física (FIEP), em 1931.
Belo Horizonte; Boletim de Educação Física (1941), publicado pelo Ministério de Educação e
Saúde, Departamento Nacional de Educação, Divisão de Educação Física (DEF). Rio de
Janeiro; Boletim informativo da Associação de professores de Educação Física do Rio de
Janeiro (1946), Rio de Janeiro; Relatório do Departamento de Educação Física da Secretaria
de Educação e Saúde Pública do Estado de São Paulo (1942), São Paulo. No entanto, não
considerei que as informações ali contidas merecessem um estudo especial nesta tese, por isto
não me detenho neles.
Como fontes primárias, do início do século XX, o acesso a esse acervo não foi fácil.
Além de estarem dispersos pelas bibliotecas do Rio de Janeiro, quando encontrados, muitos
exemplares estavam em estado de conservação deplorável. Alguns nem sequer puderam ser
consultados. Então percebi que teria mais problemas no acesso a essas fontes.
Depois de descobrir que existiam os referidos periódicos de Educação Física e que
neles encontraria informações pertinentes ao meu objeto de estudo, o passo seguinte seria
encontrar os números de cada periódico. Diante do cenário de dispersão e inacessibilidade de
alguns números dos periódicos e na tentativa de alcançar uma amostra mais significativa, já
que falaria do contexto brasileiro, busquei alternativas. Lendo sobre a história da Educação
Física, descobri indícios de que os periódicos também poderiam ser encontrados em São
Paulo e em Porto Alegre. Cogitei a possibilidade de visitar as bibliotecas da USP e da
34

Universidade do Estado do Rio Grande do Sul (UFRGS)11. Detalhes desse episódio serão
relatados mais adiante.
Para alguém que iniciava uma incursão sobre a história de um território desconhecido
como era a Educação Física, as informações recebidas não foram suficientes para entender o
valioso universo de publicações da área com o qual eu me deparava. O resultado disso foi
uma pequena confusão na quantidade de periódicos existentes. Eu explico. Em um primeiro
momento, considerei a existência de três periódicos e não quatro. O professor Victor Melo, no
período da qualificação, deixou mais claro que havia quatro periódicos, além dos Boletins
informativos.
Resolvi, então, rever todo o acervo da Biblioteca do Exército e confirmei a existência
dos quatro periódicos. Identifiquei que meu erro ocorreu pela disposição equivocada de duas
revistas nas prateleiras dessa biblioteca, a da EsEFEx e a Brasileira. Como a biblioteca não
possui uma catalogação bem definida, os números de ambos os periódicos constavam como
sendo único, o que me fez considerá-los apenas uma revista que mudava de nome a partir dos
anos 1940. Ciente desse equívoco, foi necessário refazer a triagem nesses dois periódicos para
discriminar seus conteúdos, e informar a responsável pela biblioteca para que corrigisse o
erro.
O tempo a mais, gasto com esse episódio, me sinalizou que deveria ter um olhar
cuidadoso dali em diante no processo de seleção dos artigos que iniciou com um primeiro
levantamento geral percorrendo os primeiros periódicos e os Boletins informativos existentes
sobre a Educação Física nas primeiras décadas do século XX. Essa triagem inicial deu origem
ao processo de investigação a partir dos títulos dos artigos que apresentavam algum termo
relacionado aos fenômenos psicológicos ou à própria terminologia “psicologia”.
Não cabe aqui discorrer sobre todas as dificuldades enfrentadas nessa pesquisa, mas
algumas situações merecem ser lembradas por fazerem parte do percurso de investigação e
para reforçar os cuidados com a pesquisa com fontes primárias, além de algumas
peculiaridades da pesquisa documental. Para isso, ilustrarei um pouco da minha peregrinação
em cada uma das bibliotecas.
Como já disse, minha pesquisa de campo se iniciou na biblioteca da Escola de
Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro, criada em 1975 e denominada Biblioteca
General Jayr Jordão Ramos, em homenagem a um dos diretores da revista dessa escola. Não

11
Esta não foi consultada pessoalmente, mas contei com a ajuda de um amigo e professor da instituição que
fotografou alguns artigos encomendados por mim.
35

poderia ter tido melhor cartão de visitas. A biblioteca se localiza dentro do Forte São José, no
bairro da Urca.
O local é pequeno, mas arejado, bem conservado e iluminado. Ao longo dos meses
que passei pesquisando ali, esquecia que estava em um ambiente militar. O atendimento da
responsável pela biblioteca, sempre disponível e prestativa, facilitou muito o trabalho de
pesquisa. No entanto, fotos do local não eram permitidas, apenas dos periódicos, salvo com
autorização do Comandante responsável.
Na sequência, frequentei a Biblioteca Euclides da Cunha, mais conhecida como
Biblioteca Nacional, fundada em 1937 e situada na Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro, onde
não encontrei a mesma receptividade e disponibilidade. Contudo, foi possível encontrar
exemplares mais antigos da Revista Educação Physica e os Boletins da Educação Física, mas
o acesso só ocorria através de funcionários. Além disso, boa parte desse acervo estava
inacessível devido ao deplorável estado de conservação.
Outra fonte de pesquisa importante foi a Biblioteca da Escola de Educação Física e
Desportos12, da UFRJ, transferida para a Biblioteca Central do Centro de Ciências da Saúde –
CCS a partir de 1971, para a Cidade Universitária, situada na Ilha do Fundão. Embora essa
biblioteca tenha ficado fechada durante boa parte do ano de 2009 por motivo de reforma, bem
no período que eu tinha para realizar o levantamento de dados, em 2010 pude retornar em
alguns momentos e consultar diretamente esse acervo.
Apesar da disponibilidade de acesso ao material, a chegada até ele não foi fácil.
Inicialmente, não foi encontrado qualquer registro sobre tais revistas. A busca por alguns tipos
de referências nessa biblioteca, recém-reinaugurada, ainda ocorria através de fichários
datilografados, localizados em pequenas gavetas e organizados em ordem alfabética nos
armários de ferro. Uma experiência inusitada em meio ao universo virtual de hoje. Mas,
continuava sem haver registro sobre o que eu procurava. Insisti com o funcionário, indagando
se não havia outro lugar em que poderiam estar guardados, e descrevi a data e o tipo de
periódico. Então, ele recordou que havia muito material “não cadastrado” em um depósito
localizado no subsolo da biblioteca.
Sem muita formalidade, mas com presteza e, talvez, comovido com minha angústia
em achar tal material, o funcionário me levou até o depósito. Ao chegar lá, entendi o sentido
de “não cadastrado”. Livros e mais livros antigos, abandonados na escuridão, sem qualquer
sinalização ou identificação. Ficamos os dois a percorrer alguns corredores de estantes,

12
Antes desse período o acervo ficava no Campus da Praia Vermelha, onde originalmente surgiu a ENEFD, da
Universidade do Brasil (UB).
36

iluminados apenas pela luz do corredor. Graças à minha familiaridade com as revistas e à
noção de localização do generoso funcionário, pudemos encontrar todos os exemplares da
Revista Educação Physica. Para minha sorte, entre eles estavam as publicações que eu não
pude consultar na Biblioteca Nacional. E assim, conclui a consulta ao material que me
interessava, abarcando a totalidade dos periódicos no recorte temporal escolhido (1930-1960).
No entanto, o ano de 2009, destinado a realizar a pesquisa documental, não fora
suficiente, independentemente da Biblioteca da ENEFD, pois existiam algumas lacunas entre
os exemplares pesquisados e eu precisava confirmar se havia necessidade de ampliar a
amostra e, se possível, encontrar novas fontes. Sendo assim, em conjunto com minha
orientadora, decidimos estender a busca para a capital paulista, uma vez que sua primeira
escola de Educação Física surge em 1939.
Desse modo, no ano seguinte (2010), após o período de afastamento previsto pelo
DINTER, consegui uma bolsa de doutorado sanduiche de quatro meses (junho a setembro
2010), junto ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da Pontifícia
Universidade Católica (PUC/SP), o que me possibilitou conhecer o trabalho da professora
Emérita Maria do Carmo Guedes que, gentilmente, me recebeu em seu Núcleo de Estudos em
História da Psicologia (NEHPSI). Além disso, também foi possível conhecer o grupo de
pesquisa sobre Olimpismo, na USP, coordenado pela professora doutora Kátia Rubio. Assim,
essa ida a São Paulo me permitiu ampliar os conhecimentos sobre a história da Psicologia e
sobre Psicologia do Esporte e complementar a coleta de informações.
As bibliotecas Nadir Gouvêa Kfouri, da Pontifícia Universidade Católica e a Cyro de
Andrade, da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade do Estado de São Paulo
(EEFUSP) passaram a fazer parte do meu universo de investigação. Para minha surpresa,
nesta última, encontrei muita disponibilidade no atendimento por parte dos responsáveis pelo
setor e era permitido acesso direto e fotocópias do material. Porém, diante do volume de
artigos, decidi que o registro fotográfico deveria ser mantido.
Pude então, rever todo o acervo de publicações dos quatro periódicos e constatar que
as bibliotecas do Rio de Janeiro seriam suficientes para dar conta da amostra. Vale ressaltar o
acervo encontrado na Biblioteca da EsEFEx estava em melhor estado de conservação e
nenhuma biblioteca possuía os exemplares de todas as revistas, o que muito dificultou o
trabalho de coleta de dados, mas não o impossibilitou.
Ressalto que também busquei informações em São Luís, no Quartel 24°Batalhão de
Caçadores (24BC), pois este, aparece nos anos 1930, como um dos representantes da revista
37

EsEFEx no estado. Lá, fui informada pelo Subtenente Rosal, responsável pelo setor de
arquivo, que todo acervo de documentos antigos do quartel havia sido enviado a um órgão no
Rio de Janeiro, que ele não soube identificar. Tentei a Biblioteca Pública de São Luís
“Benedito Leite”, mas esta se encontrava em reforma e fechada para o público.
Apesar das dificuldades encontradas, do limite das condições financeiras impostas
pelo programa DINTER e da execução cronológica, a consulta às quatro pioneiras fontes de
divulgação da Educação Física do Brasil, no Rio de Janeiro, foi realizada com sucesso. A
consulta aos outros centros como São Paulo e Porto Alegre serviu para confirmar que as
bibliotecas do Rio de Janeiro eram suficientes para pesquisar os periódicos em questão.
No processo de investigação encontrei cerca de mil quatrocentos e quarenta artigos
com temática vinculada à Psicologia, nos quatro periódicos, durante três décadas de suas
publicações (1930-1960). Em alguns deles, cheguei a consultar todas as publicações
disponíveis, como foi o caso das revistas Educação Physica e a Revista Brasileira, que
tiveram seu período de existência compreendido no recorte temporal do estudo. Na revista
Arquivos tive que extrapolar o recorte e adentrar na década de 60, pois até 1965 encontrei
artigos tratando de uma psicologia aplicada ao desporto.
Em função da quantidade de dados, novos critérios de seleção para análise foram
estabelecidos. Após selecionar os artigos a partir de seus títulos, uma nova triagem foi feita
considerando apenas aqueles que traziam algum termo relativo a fenômenos psicológicos
expressos no texto. Além disso, também foram incluídos nesta seleção, artigos escritos por
autores relevantes no cenário histórico da Psicologia e ainda, artigos que contribuíam para o
entendimento do processo de constituição da Educação Física como saber acadêmico.
Para realizar essa segunda triagem foi necessário um olhar mais minucioso. Diante do
extenso e disperso acervo de fontes documentais primárias, não era possível fotocopiar o
material selecionado, muito menos realizar empréstimos nas bibliotecas. A alternativa viável
foi fotografar os artigos, página a página, assim como capa, contracapa, editorial, seções
diversas e alguns anúncios publicitários para compreender a estrutura de composição em cada
periódico.
Decidi, então, fotografar os artigos, mas essa opção nem sempre se viabilizou. Na
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, por exemplo, para fotografar cada página era
necessário, inicialmente, discriminar em um documento específico, quais e quantas páginas
seriam registradas e pagar o valor equivalente de R$10,00 (dez reais) por página em um banco
fora da biblioteca. Infelizmente, nessas condições, ficou inviável continuar a pesquisa nesse
38

acervo, mas ressalto sua relevância, pois em seu sistema de informações virtual, foi possível
identificar todas as referências existentes sobre a Educação Física desde o início do século
XX. Se as condições não fossem tão burocratizadas e caras, seria possível realizar através da
Biblioteca Nacional um levantamento consistente nos periódicos da Educação Física.

Folheando as revistas: uma descrição breve

Localizei algumas fontes de divulgação da Educação Física no Rio de Janeiro. Destas,


como disse, escolhi quatro revistas publicadas entre os anos 1930 e 1960 por serem pioneiras
na área e por agruparem um conteúdo relevante para o objeto de estudo. Cito aqui a
denominação que utilizo e uma breve descrição de cada um dos quatro periódicos:
a) Revista EsEFEx (Revista de Educação Física – publicada pela EsEFEx,
criada em 1932, existindo até os dias atuais);
b) Revista de Educação Physica (Educação Physica Revista Thecnica de
Esportes e Athletismo (1932-1945) editada pela Companhia Brasil Editora
S.A.13;
c) Revista Brasileira (Revista Brasileira de Educação Física, publicada pelo
Grupo “A Noite”);
d) Revista Arquivos (Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e
Desportos (ENEFD), criada por esta escola e publicada de 1945 a 1972.
No apêndice A, são apresentadas as revistas, os autores e seus respectivos artigos
relacionados para esta tese, e no Apêndice B, listam-se uma breve biografia de alguns autores
e outros personagens encontrado nos artigos. Ressalto que duas das revistas analisadas
surgiram em função das primeiras escolas de Educação Física, por isso também incluí um
breve histórico dessas escolas.
A Revista EsEFEx teve início em 1932 sob a direção do Coronel Newton Cavalcanti,
o mesmo que ajudou a criar o Centro Militar de Educação Física (CMEF) em 1922, antes de
se tornar a EsEFEx. Dos periódicos pesquisados é o único que se manteve em circulação
ininterruptamente até os dias atuais. Desde 2007 seus números estão disponíveis na versão
impressa, na Biblioteca da Escola e virtualmente em seu sítio próprio,
http://www.revistadeeducacaofisica.com.br.

13
Souza Neto (2004) informa que, além de circular em oito estados brasileiros, também era vendida em dez
outros países.
39

No sítio estão digitalizados os artigos dos primeiros números, desde seu surgimento
em 1932. Vale ressaltar que o processo de digitalização incluiu apenas os artigos da revista; as
demais informações, como capa, sumário, publicidades e outras não foram digitalizados até o
presente momento. Tal fato dificultou a pesquisa virtual pois não era possível ter uma visão
global e contextualizada da estrutura desse periódico. Esse impedimento foi irrelevante diante
da possibilidade de consultar todos os exemplares na Biblioteca da EsEFEx, situada na sede
da Escola, no Forte São José, bairro da Urca.
Atualmente a revista mantém seus objetivos de divulgação de atividades desportivas
do Exército e de sua Escola de Educação Física, acrescentando estudos desenvolvidos pela
Diretoria de Pesquisa e Estudos de Pessoal (DPEP)14. A revista aceita artigos de autores
brasileiros e estrangeiros. Encontra-se sob a responsabilidade do Instituto de Pesquisa da
Capacitação Física do Exército.
A Escola de Educação Física do Exército (E.E.F.E ou EsEFEx), tem sua história de
fundação iniciada em 1922, com a fundação do CMEF que funcionava na Escola de Sargentos
de Infantaria, na Vila Militar do Rio de Janeiro, cujo Tenente Newton Cavalcanti foi o maior
incentivador. Esse centro já possuía como um de seus objetivos ministrar cursos preparatórios
para instrutores de Educação Física. A Revolta Tenentista de 1922 impediu que o Centro
fosse adiante e seu fechamento ocorreu no mesmo ano, sem concluir nenhuma turma
(SOEIRO, 2003).
Só em 1929, durante o governo provisório de Washington Luís, o Ministério da
Guerra promove a reestruturação do CMEF e a diplomação de uma primeira turma. No ano
seguinte, o Centro Militar se transfere para a Fortaleza de São João, na Urca, marco da
fundação da cidade do Rio de Janeiro em 1685 por Estácio de Sá, onde funciona até os dias
atuais (SOEIRO, 2003; BATISTA et al., 2003).
Só em 1933, no governo de Getúlio Vargas, através do Decreto n. 23.252 de 19 de
outubro daquele ano, o CMEF passa a se chamar Escola de Educação Física do Exército
(E.E.F.E). Considerada a primeira escola de formação de professores de Educação Física no
Brasil, teve como objetivo principal a elevação do nível eugênico da nação através da
formação de instrutores em todo o território nacional. Ainda de acordo com esse decreto ela

14
A DPEP foi criada em junho de 2002, pelo Decreto N° 4.290 e é constituída pelos seguintes órgãos: Centro
de Estudos de Pessoal (CEP); Comissão de Desportos do Exército (CDE); EsEFEx; Instituto de Pesquisa de
Capacitação Física do Exército (IPCFEx) e Bateria de Comando e Serviços da Fortaleza de São João.
40

ficaria responsável pela formação de monitores e instrutores de Educação Física quer civis ou
militares; especialização de médicos na área e formação de massagistas.
A Escola e a revista foram recursos relevantes no projeto civilizatório do Estado. As
palavras de João Ribeiro Pinheiro reiteram a importância do Exército nesse processo. Em seu
texto sobre “Militarismo e Educação Física”, em 1932, o autor saúda o Exército e a inclusão
da Educação Física como disciplina obrigatória na formação de seus soldados.

[...] Mas ainda hoje pouca gente compreende o valor silencioso, nem por isso menos
formidável, da obra de alfabetisação, nacionalisação e higienisação social que o
Exército realiza implacavelmente entre os jovens [...]. Agora o Exército prepara-se
febrilmente para realisar mais uma grande obra. Ele vai ser o escultor da raça como
foi o escultor da nacionalidade. [...] estou certo, que lenta, mas seguramente, o Brasil
inteiro tomará conhecimento da grande obra nacional ora iniciada pelo C.M.E.F. fará
justiça a seus idealizadores (PINHEIRO, 1932, p. 1).

Para viabilizar a construção dessa nova raça brasileira o Exército precisaria contar com
um corpo de conhecimentos técnico-científicos capazes de lidar com as demandas que
envolviam uma formação não apenas física, mas intelectual e moral. Assim, vemos a referida
escola ser pioneira também por incluir uma disciplina de Psicologia em seu curso de
formação. Em “Aula inaugural do Curso de Psicologia”, em 1933, publicada por autor
desconhecido na Revista EsEFEx observamos um discurso de acolhimento da psicologia
moderna.

Com os progressos da biologia chegou-se à convicção de que não é mais possível,


em ciência, diferençar ou estudar, separadamente, corpo e alma. [...] Mesmo sem
estar filiada estritamente a esta ou aquela escola, mecanicista ou vitalista, a
psicologia moderna traz sua contribuição à pedagogia, à orientação e seleção de
profissionais, a todos os ramos da atividade humana (AULA..., 1933, p.12)

Ao que tudo indica, a presença da Psicologia na EsEFEx e em seu periódico parece ter
sido pensada como instrumento para o Exército e o Estado alcançarem seus ideais de
formação de uma nova raça. Com a criação da EsEFEx, o Exército transformou seu periódico
em um instrumento de difusão e divulgação de seus ideais, onde não só militares, mas
também médicos e educadores da época se aventuravam a discorrer sobre o que consideravam
relevante no universo da atividade física e da formação praticada na Escola do Exército.
Os artigos relacionam informações sobre temas diversos relativos à Educação Física,
eugenia, higienismo, além de estudos sobre Psicologia geral e experimental incluindo autores
importantes especialmente no âmbito da Psicologia, Pedagogia e Medicina. Em geral, os
números apresentam uma capa simples com o nome da revista, com desenhos de pessoas
41

praticando esporte ou relacionados aos temas a serem discutidos no interior da revista. As


primeiras capas traziam o sumário em destaque, conforme se vê na figura 1.

Figura 1 - Foto da capa do primeiro exemplar da revista


Fonte: Revista de Educação Física (1932)

Desde os primeiros números havia anúncios publicitários sobre produtos diversos,


como materiais esportivos, móveis, construtoras e escritórios de advocacia. A figura 2 ilustra
o sumário que, inicialmente, aparecia na contracapa, mas sem especificação de autores ou
numeração de páginas. As páginas dos artigos não eram numeradas nos primeiros números da
revista, assim como alguns artigos apareciam sem autoria.
42

Figura 2 - Foto da contracapa e a página 1, que consideramos hoje editorial


Fonte: Pinheiro (1933)

A inexistência de tais informações nessas fontes primárias justificam algumas lacunas


de citações. Compreende-se esta ausência recorrendo ao argumento de Margotto (2000) que,
em seu estudo sobre o saber psicológico em periódicos paulistas de Psicologia (1890-1930),
fala de uma circularidade cultural que torna possível identificar as ideias dos autores mesmo
quando estes ou suas obras não são mencionados, tornando desnecessária sua nomeação.
Nomes já relevantes na época, como Lourenço Filho, Inezil Penna Marinho, Barbosa
Lima Sobrinho, Fernando Azevedo, Arthur Ramos, sempre apareciam assinando seus textos.
O mesmo ocorria com tenentes e outros oficiais com formação na Escola.
Dentre os objetivos da revista estavam a difusão e propagação dos conhecimentos
técnicos, permeadas pelo patriotismo e pelos ideais de nacionalização do país. Por isso, os
artigos versavam sobre temas técnicos relativos à medicina e fisiologia, à prática de atividade
física, às regras de modalidades esportivas, higienismo, eugenia, raça, patriotismo; além de
aspectos psicológicos (como sensação, percepção, vontade, controle dos impulsos) e
informações sobre cursos relacionados à área.
Os primeiros números da revista continham uma quantidade pequena de artigos, oito a
dez em média. A partir dos anos 1940 essa média aumenta para mais de vinte artigos.
Destacam-se também uma seção pedagógica, uma página de humor relacionado ao esporte,
uma seção sobre o juiz de futebol, uma galeria de craques, um quadro com notícias esportivas,
43

uma seção do construtor de pista de atletismo e outra sobre o basquetebol (as modalidades
esportivas abordadas alternaram-se ao longo das décadas) (figura 3).

Figura 3 - Seção de humor


Fonte: Revista de Educação Física (1936)

No formato da revista é possível identificar algumas alterações não relevantes para


nosso estudo. De modo geral, na primeira década os números apresentam-se com capa,
sumário na contracapa e uma lista com representantes da revista em outros estados. Havia
também a descrição no cabeçalho do editorial, na primeira página, com a nomeação da equipe
da revista (fundador, diretor geral, redator-chefe), todos militares, conforme já ilustrado na
figura 2, além de anúncios publicitários no interior da revista. Não considero que essas
alterações sejam importantes para o contexto dessa tese.
Vale ressaltar que, em geral, os artigos versam menos sobre o futebol e mais sobre as
diversas modalidades esportivas, descaracterizando a representatividade do futebol na
sociedade brasileira, ao menos nos periódicos técnicos dessa área. Na década de 50 o mote da
Revista EsEFEx volta-se para a construção do estádio de futebol, o Maracanã, quando publica
um número especial e, no ano do campeonato mundial desta modalidade em que o Brasil
sagrou-se campeão (1958), a revista destina alguns artigos e fotos saudando a preparação e o
44

feito. Também não encontrei artigo ou menção a João Carvalhaes nesse ou em outro período.
Discutirei melhor sobre esse fato no último capítulo.
Nos momentos finais dessa pesquisa, novembro de 2011, encontrei no sítio da revista
uma classificação dos artigos por década e por categorias, de acordo com o conteúdo ou título
dos artigos. As categorias correspondem parcialmente à classificação escolhida por mim nessa
pesquisa. Alguns artigos relacionados ao que categorizei como processos psicológicos,
desenvolvimento, formação de caráter e personalidade aparecem no sítio em uma categoria
denominada criança e jovens ou ainda em outras categorias específicas das modalidades
esportivas e da medicina esportiva.
Na categoria Psicologia desportiva presente nesse acervo virtual encontrei apenas nove
artigos relacionados à Psicologia do Esporte, os quais incluí na categoria Psicologia e
Educação Física e psicopatologia tratados no segundo e terceiro capítulos. Categorias que
intitulei como formação integral, higiene e comportamento social parecem ter se diluído em
outras temáticas específicas da Educação Física ou em outros mais.
A Revista Arquivos, publicada pela ENEFD, diferentemente da anterior, já nasceu
planejada, prevista no Decreto-lei 1.212 de 17 de abril de 1939 – que criou a ENEFD –, mas a
revista só passou a existir durante a gestão do Capitão Antônio Pereira Lira, em 1945 (figura
4). De acordo com o referido decreto, seria uma publicação bienal, que se destinava a divulgar
os resultados do ensino e de pesquisas produzidos pela ENEFD (BRASIL, 1939).

Figura 4 - Capa da Revista Arquivos


Fonte: Acervo digital da Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (1945)
45

Segundo Melo (1996), os autores da Revista Arquivos, no início de sua circulação,


eram os professores titulares da ENEFD. Com o tempo, outros professores da escola,
convidados e ex-alunos também colaboravam com a publicação. Essa abertura favoreceu, na
visão desse autor, um avanço nas discussões teóricas das diferentes propostas envolvendo os
objetivos da Educação Física. Por outro lado, também gerou um ecletismo temático com
artigos que nem sempre estavam relacionados à área.
Inicialmente, sua publicação era anual com artigos voltados à Educação Física. Entre
os anos de 1966-1972 deixou de ser publicada e não encontrei justificativas a respeito desse
hiato no editorial do número de retorno da publicação. Desde o primeiro número contava com
três sessões: a primeira refere-se a trabalhos originais, tendo no sumário os nomes dos autores
e de seus respectivos artigos; a segunda sessão destina-se a cursos e conferências apresentados
pelos professores da escola; e a terceira divulga os relatórios da escola e prestações de contas
relativas ao período em questão.

[...] O aumento na qualidade das pesquisas realizadas na época tornou os Arquivos


um periódico de natureza diferente aos de então, fazendo-o ocupar lugar de destaque
e de grande importância, destacando-se de outras duas grandes revistas, Educação
Physica e Revista de Educação Física, por ter um caráter 'cientifico' mais
aprofundado e elaborado [...] (MELO, 1996, p. 64).

Ainda que o Decreto-lei n° 1.212 previsse uma periodicidade semestral, até 1949 foi
lançado um número por ano. Depois disso, sua publicação foi interrompida por três anos
seguintes, devido às insatisfações dos membros da Escola com as condições estruturais, pois
até o momento não possuía sede própria (MELO, 2005). Desse modo, a publicação da revista
só foi retomada em 1953, sob a direção de João Peregrino da Rocha Fagundes Junior,
conhecido como Peregrino Junior, e a partir de então, “[...] começou a viver um período de
crescimento de organização, qualidade e influência no cenário nacional [...]” (MELO, 2005, p.
37).
Em seu formato padrão, a capa traz o nome da Universidade e o da Escola; na primeira
página há um editorial, assinado pelo diretor responsável e a composição do Conselho de
Redação com nomes na edição de outubro de 1945, como Peregrino Junior, Alfredo Colombo
e Cecília Stramandinoli, conforme ilustra a figura 5.
46

Figura 5 - Editoria da Revista Arquivos


Fonte: Acervo digital da Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (1945)

A figura 6 contém uma relação do corpo docente, assistentes e disciplinas com


destaque para a disciplina Psicologia Aplicada que tinha como responsáveis Carlos Sanchez
de Queiroz, professor catedrático da Escola Nacional de Educação Física, e Cecília Torreão
Satramandinolli, sua assistente, que também pertencia ao Departamento de Pedagogia da
Escola.
47

Figura 6 - Relação do corpo docente da ENEFD e suas respectivas disciplinas, indicando a


disciplina de Psicologia Aplicada
Fonte: Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (1945)

A Revista Arquivos da ENEFD15 possui um acervo vasto de estudos relativos à sua


história, mas destaco os trabalhos de Melo (1996, 2005) e DaCosta (2006) por serem
referências constantes de outros trabalhos. Outras fontes importantes de consulta foram os
Centros de Memória sobre o Esporte e ou Educação Física16. Entre eles, ressalto uma fonte de
pesquisa fundamental nesse percurso, o “Centro de Memória Inezil Penna Marinho”, criado
em 2001, no qual a Revista Arquivos está inserida com todos os seus artigos e demais
documentos digitalizados, conforme dito antes. Relembro que tal fonte virtual foi
imprescindível, haja vista a dificuldade de acesso aos números originais, que se encontravam
perdidos e muito deteriorados no subsolo da Biblioteca da UFRJ, no Fundão. Além disso,

15
É uma revista eletrônica da ENEFD, da UFRJ e tem como objetivo divulgar e fomentar a produção científica
da área. Foi relançada em 2005, com o nome de “Arquivos em Movimento”. Cf. Arquivos em Movimento
(2011).
16
“Centro de Memória do Esporte (CEME)”, da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRG), criado em 1996 (CENTRO DE MEMÓRIA DO ESPORTE, 2011); Instituto de
Pesquisa em Educação Física (PROTEORIA), em 1999, sediado no Centro de Educação Física e Desportos
(CEFD) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) (PROTEORIA, 2011a).
48

como já informei, essa biblioteca permaneceu fechada para reforma em boa parte do ano de
2009, período destinado à pesquisa documental.
Para compreender o papel da Revista Arquivos no processo de institucionalização da
Educação Física e nela a presença da Psicologia, faz-se necessário conhecer um pouco da
história da constituição da ENEFD da Universidade do Brasil (UB), que inicialmente teve um
projeto semelhante às demais iniciativas devido a influência e presença dos militares. Essa
escola foi criada para ser a primeira escola de ensino superior a formar professores de
Educação Física no país. Além do curso superior de Educação Física, oferecia cursos de
formação em educação física elementar, técnica desportiva, massagem e medicina aplicada.
No ano de criação da Revista Arquivos o Capitão Antonio Pereira Lira propõe
alterações no decreto-lei n. 1.212 incluindo mudanças no tempo de formação do curso de
Educação Física de dois para três anos, além da inclusão de disciplinas na estrutura curricular,
onde a disciplina Psicologia Aplicada aparece presente em quase todos os cursos. Dentre os
objetivos da escola destacam-se: formação de profissionais na área de Educação Física;
aplicar unidade teórica e prática no ensino da Educação Física do país; difundir
conhecimentos e realizar pesquisas.
Para Peregrino Junior (1945, p. 2) a criação de seu periódico em 1945 representou a
possibilidade de “[...] difusão da boa doutrina e da sã orientação científica em matéria de
Educação Física, em todos os centros do país. Esse de resto foi desde o início o pensamento
que inspirou o governo a criar a ENEFD [...].”
Inezil Penna Marinho, um dos grandes responsáveis por manter viva a história dessa
área, afirma em sua obra “História Geral da Educação Física”, que a criação da ENEFD,
assim como da Divisão de Educação Física, eram “[...] a concretização do ideal com que
sonhavam quantos se dedicam aos problemas da Educação Física [...]” (MARINHO, 1980, p.
181).
Para Melo (1996), a ENEFD, que foi inicialmente dirigida por militares (1939-1946)
escolhidos pela Presidência da República, segundo o Decreto-Lei nº 1.212 (BRASIL, 1939),
ganha um novo patamar com a chegada dos médicos à direção da escola, uma vez que eles
implementaram mudanças curriculares (com a criação de disciplinas, como recreação e jogos)
e regimentais, empreendendo um caráter “mais cientificista” ao trabalho desenvolvido.
Segundo Melo (1996), a presença médica foi marcante nesse processo de mudança em
busca de um maior embasamento científico e mais qualidade na formação de professores,
caracterizando uma nova fase da ENEFD, (embora não fosse uma ruptura com o modelo
militar). O autor considera que alguns militares foram importantes na direção da ENEFD,
49

como Antônio Pereira Lyra, responsável por mudanças significativas na estrutura curricular
do curso de Educação Física, cuja duração passa de dois para três anos.

[No caso da ENEFD] os médicos assumiram a direção [...], no mesmo instante em


que assistimos um processo de democratização da sociedade brasileira, e passaram a
implementar iniciativas cada vez mais substanciais no sentido de conduzi-la a
ocupar seu papel de Escola-Padrão [...] (MELO, 2008, p. 34).

Em 1946 acontece a primeira eleição para Diretor da ENEFD, fato que ocorreu por via
de uma lista tríplice da Congregação, tendo o Reitor indicado o médico Carlos Sanchez
Queiroz para esse cargo na Escola (MELO, 1996).
O discurso de Peregrino Junior (1953), então Diretor da Revista Arquivos, na posse de
Carlos Sanchez Queiroz como catedrático é contundente em expressar a satisfação e
admiração por sua passagem como diretor da ENEFD, além de mencionar as
responsabilidades e mazelas da carreira de professor universitário.

Tendo sido Diretor desta Escola [...] êle teve a tarefa, entre tôdas difícil de adaptar a
Casa aos novos planos e às novas normas administrativas e didáticas – novo sistema
de disciplina, novo padrão de trabalho. E o fez com ânimo absoluto, honestidade de
propósitos, firmeza e seriedade (PEREGRINO JUNIOR, 1953, p. 127).

O professor Carlos Sanchez também tem seu discurso de agradecimento publicado


nesse mesmo número da revista, quando agradece as palavras de seu colega Peregrino Junior
e reconhece seu percurso na vida acadêmica como de uma crescente evolução e dedicação,
embora esse caminho não tivesse sido de todo fácil, em função de questões administrativas e
políticas.
[...] A minha experiência como assistente na Faculdade de Nacional de Medicina e a
regência interina na Cátedra de Psicologia Educacional na Faculdade Nacional de
Filosofia aumentaram depois os créditos que me levaram [...] à chefia do
Departamento de Psicologia e Pedagogia, ao Conselho Departamental e, finalmente
à Diretoria dessa Escola [...] (QUEIROZ, 1953, p. 129).

Embora tenha poucos artigos publicados nessa revista, a importância de Carlos


Sanchez Queiroz na ENEFD é evidente e reconhecida por seus pares da Educação Física.
Como médico representou a Psicologia no Curso de Educação Física e assumiu cargos
administrativos importantes. Na Psicologia, o cenário é outro. Há poucas informações a seu
respeito, o que significa que sua participação no processo de institucionalização do saber
psicológico não foi tão reconhecido quanto na Educação Física, mesmo tendo ocupado o
cargo de Diretor do Instituto de Psicologia (1967-1970).
Além dessas duas revistas institucionais, portanto, com caráter oficial, com
argumentação representando o discurso de suas escolas, duas outras revistas particulares
50

surgiram no recorte desse estudo, mostrando o quanto o tema Educação Física estava se
generalizando para a sociedade.
A Revista Educação Physica surgiu no mesmo ano da Revista EsEFEx e durou de
1932 a 1945. Ao longo de dois anos (1937-1939) o nome foi alterado quatro vezes: em abril
de 1937, é Educação Physica Revista Tecnica de Sports e Athletismo; em dezembro do
mesmo ano passa a ser Educação Physica Revista Technica de Esportes e Saude; em
fevereiro de 1938, Educação Physica Revista de Esportes e Saúde; e em março de 1939 sua
última e definitiva mudança para Educação Física Revista de Esportes e Saúde. A figura 7
ilustra uma das capas desse periódicos que, em geral, trazia uma imagem relativa ao esporte, o
nome resumido da revista e seus dados de publicação.

Figura 7 - Capa da Revista Educação Physica de 1936


Fonte: Educação Physica Revista Thecnica de Esportes e Athletismo (1936)

Dentre suas seções encontram-se: modalidades esportivas – natação, esgrima,


ginástica, atletismo, basquetebol, tênis –, uma seção de doutrina (para falar das questões
políticas e ideológicas da Educação Física), um espaço para entrevistas, trazendo algum
personagem de destaque e uma seção denominada “diversos”. Outras seções iam surgindo ao
longo de sua existência, sem alterar os que já existiam.
51

Dentre os temas abordados na revista estão conhecimentos relacionados à Fisiologia


humana, Higiene e Puericultura, Pedagogia, História da Educação Física e dos esportes. As
temáticas psicológicas como personalidade, aprendizagem, consciência, inteligência,
psicologia e educação física aparecem em artigos distribuídos em algumas dessas categorias
ou na seção diversos/várias, conforme ilustra a figura 8.

Figura 8 - Contra capa da Revista Educação Physica de 1938


Fonte: Educação Physica Revista Thecnica de Esportes e Athletismo (1938)

O contexto de surgimento desse periódico obedecia aos idênticos critérios dos citados
anteriormente, especialmente na Revista EsEFEx, que surgiu no mesmo ano (1932), ou seja, a busca
de um Brasil que se desenvolvesse com forte sentimento nacionalista, cujo foco recaísse sempre na
saúde e na educação sob os cuidados de médicos e militares.
A Revista Educação Physica configura-se como o primeiro periódico privado a ser
publicado e comercializado no país abordando essa temática, segundo Souza Neto (2004) e
Schneider (2003). Embora a Revista Brasileira também tenha sido um veículo editado pela
iniciativa privada, no caso pela Companhia Editora do Brasil S. A, as peculiaridades do surgimento
da Revista Educação Physica chamam a atenção em função de seus ambiciosos objetivos, sempre
ilustrados na contracapa dos números, conforme apresenta a figura 8 e a reprodução a seguir.
52

[...] vulgarizar os princípios scientíficos da educação física;


estimular a prática de esportes como factor de aperfeiçoamento da raça; incentivar a
formação de technicos especialistas;
propagar os fins moares e sociaes das actividades physicas;
despertar a attenção pública para esse aspecto do problema educativo; coadjuvar o
governo e instituições particulares na execução de seus programmas de educação
physica [...]. (EDUCAÇÃO PHYSICA REVISTA THECNICA DE ESPORTES E
ATHLETISMO, 1938, p. 1).

Observa-se que a revista explicita, em seus objetivos, seu papel de coadjuvante do


governo e demais instituições em prol da Educação Physica. Com a finalidade de “cooperar
na divulgação, no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos esportes em geral”, o periódico se
define como um

[...] órgão orientador da educação physica nacional, propugna pela intensificação


dos methodos gymnasticos, esportivos e athleticos nos estabelecimentos de ensino,
corporações commerciaes, e aggremiações esportivas [...] (EDUCAÇÃO PHYSICA
REVISTA THECNICA DE ESPORTES E ATHLETISMO, 1932, não paginado).

Com uma periodicidade irregular, variou entre semestral (1932-1934); quadrimestral


(1936); bimestral (1937); mensal (1938-1941) e de cinco a sete números por ano (1942-1945).
Ao longo de sua existência poucas mudanças foram identificadas nas funções administrativas,
tendo sido ocupadas por Oswaldo Marzano Rezende e Paulo Lotufo (diretores) e Paulo Lotufo
e Hollanda Loyola17 (diretor técnico e gerente) (SOUZA NETO, 2004).
Souza Neto (2004) afirma que o periódico viveu três fases: a primeira delas foi de
estruturação (1932-1937); depois houve a estabilização (1938-1941) e finalmente acontece o
declínio (1942-1945), que coincide com a morte de Hollanda Loyola, em 1944. Para Souza
Neto (2004) e Schneider (2003), a presença de Hollanda Loyola (diretor técnico da revista de
1939-1944) foi fundamental como divisor de águas na condução ideológica da revista,
conferindo ao periódico amplitude temática e estabilidade. Como seu principal e mais
produtivo redator, Hollanda Loyola foi responsável por boa parte dos artigos publicados na
revista.
Hollanda Loyola, de fato, foi um defensor da educação integral como veremos mais
adiante. Escreveu vários artigos expressando suas ideias sobre o tema. Era também um dos
autores que abordaram temas psicológicos como personalidade, em artigos como “Educação
Moral” (LOYOLA, 1939a, 1939b). Considera que a educação moral é modeladora da
personalidade, devendo ser considerada a partir das relações com a família, a sociedade, a
pátria e a humanidade. Adepto do pensamento vigente em sua época, Hollanda Loyola
percebia que a Educação Física deve ser necessária desde a infância para corrigir as

17
Hollanda Loyola exerceu o cargo de Diretor Técnico da Revista Educação Physica (1939 a 1944),
responsável pelas matérias de abertura e por grande parte do que foi publicado nesse período (ALMEIDA,
2008).
53

tendências e deformidades físicas e morais originárias no próprio indivíduo ou de seu


convívio social. A Revista de Educação Physica servia, assim, a esses propósitos, pois
apoiava ações pró Educação Física.
A crescente valorização da Educação Física pelo Governo Federal estimulou o
surgimento de mais um periódico privado nessa área. Trata-se da Revista Brasileira de
Educação Física (figura 9), surgida em janeiro de 1944, mas que durou menos de uma
década, findando em dezembro de 1952 (FERREIRA NETO, 2002).

Figura 9 - Capa da Revista Brasileira de 1944


Fonte: Revista Brasileira de Educação Física (1944)

Apesar de louvar as medidas de incentivo à Educação Física, segundo Silva e Fontour


(2011), o periódico também denunciava as discrepâncias entre as leis e a realidade encontrada
em todo o território nacional. O comando da revista encontrava-se com o Coronel e
Superintendente Luis Carlos da Costa Neto, o Diretor João Barbosa Leite e o Gerente Otavio
de Lima. Era uma publicação do Grupo empresarial “A Noite”, que acreditava ser a imprensa
o melhor e mais seguro veículo de divulgação de suas ideias. De acordo com o editorial do
primeiro número da revista, ela se propõe a prestar uma

Colaboração, sem restrições, com os Govêrnos, nos diversos escalões


administrativos, com educadores, com associações e com o público, na grande obra
54

de revigoramento físico, moral e intelectual da mocidade brasileira, de quem o


destino está a exigir elevada quota de sacrifícios e de trabalhos até que a Paz
restaure, definitivamente [...] (NOSSO..., 1944, p. 2).

A revista, cuja periodicidade era mensal se propunha, para alcançar essas promessas, a
transmitir notícias referentes aos órgãos federais, estaduais e municipais, assim como sobre as
escolas de Educação Física de todo o país. Previa, além de um editorial, a presença de artigos
clássicos estrangeiros ou nacionais, como também artigos contemporâneos de qualidade.
Dividido em seções de filosofia, técnico-pedagógica, técnico-biológica, técnico-
desportiva, administrativa, bibliografia, além das seções de consultas e curiosidades sobre a
Educação Física, o periódico, em geral, trazia em suas capas, imagens sinalizando algum evento
importante do momento ou figura relativa ao esporte, conforme se vê na figura 9. Como uma
publicação da iniciativa privada, muitos eram os anúncios publicitários dos mais diversos
produtos, conforme ilustra a figura 10. Os artigos que abordavam temáticas psicológicas não
tinham inicialmente, uma seção específica, pois em geral elas apareciam nas seções de filosofia ou
técnico-pedagógica e mesmo, em alguns números, na seção de curiosidades.

Figura 10 - Capa da Revista Brasileira de 1944


Fonte: Revista Brasileira de Educação Física (1944)
55

Com o fim da Era Vargas a postura de colaboração do Governo muda. Fato que atinge
a revista em seus aspectos econômicos. Desse modo, a empresa “A Noite” suspende suas
publicações, em 1946. No ano seguinte, após um período de muitas dificuldades, a equipe
editorial, sob o comando de Inezil Penna Marinho, desde o final de 1946 Diretor-responsável
pela revista, também catedrático da ENEFD, retoma sua publicação. Em seu editorial de
abertura de janeiro 1947 “1946 – Desilusões!...1947 – Esperanças!..., Marinho informa sobre
os motivos de paralisação do periódico e saúda sua nova fase, apesar de tantos dissabores
vividos pela área.

[...] Raia uma nova era para a Educação Física no Brasil! [...] Um ano novo
desponta, um novo ministro assume a pasta da Educação e Saúde. A conjugação
desses dois fatos nos enche de esperanças e faz com que toda nossa mente que se
encontrava voltada para o passado, vivendo das recordações do alto grau de
desenvolvimento que entre nós chegara a alcançar a Educação Física, agora se volta
para o futuro, no esforço de estudar os meios, de elaborar os planos e de reunir os
elementos para reconquistar a antiga situação e ultrapassá-la. [...] (MARINHO,
1947a, p. 1).

A citação ilustra uma saudação ao novo ministro que assume a pasta da Educação e
Saúde, Clemente Mariani Bittencourt (1900-1981). Nesse editorial, Marinho (1947a) vê com
otimismo a chegada do ano novo na expectativa de novos e bons rumos para a Revista
Brasileira. Relembra a perda de vários espaços, comprometendo o mercado de trabalho do
professor de Educação Física, como a desobrigatoriedade da prática de Educação Física nos
cursos noturnos, além da diminuição da frequência das aulas de Educação Física nas escolas,
passando de três para duas vezes semanais, bem como a desintegração do Departamento
Nacional de Educação (DNE), que pertencia à DEF, a partir do decreto-lei n° 8.535, de 1942,
que considerando a análise do autor, colaborou para enfraquecer a área.
Desde o ano anterior, quando o país passava por mudanças no Ministério da Educação
e Saúde (MES), Inezil Penna Marinho em outro editorial18 lembrava as conquistas da
Educação Física na gestão do ministro Gustavo Capanema (1934-1945), como a criação da
DEF, órgão subordinado ao referido ministério, a instituição da ENEFD e do Conselho
Nacional de Desportos (CND), a equiparação salarial entre os professores de Educação Física
e os demais professores, o apoio na realização de eventos relevantes na área como o I
Congresso Pan-americano de Educação Física, além de outros feitos.
Na segunda parte desse editorial, Marinho (1946a) passa a reclamar dos últimos meses
de 1945, direcionando suas queixas ao novo Presidente do país, o General Eurico Gaspar

18
“Feliz 1946 para a Educação Física”, publicado em jan. 1946 na Revista Brasileira de Educação Física.
56

Dutra (1946-1951). Suas reclamações persistem de forma que, em outro editorial, “Nova
Direção” (MARINHO, 1946e), o autor identifica como destrutivos à área os primeiros atos do
novo ministro da Educação, Raul Leitão da Cunha. Entre eles,

[...] o decreto-lei n° 8.193, de 20 de novembro, [que] anulou todo o honesto trabalho


desenvolvido pelos inspetores e professores de educação física, diminuindo-lhes a
fôrça moral sôbre os alunos [...] Êsse decreto-lei foi o prêmio concedido aos alunos
que durante o ano não cumpriram suas obrigações escolares, principalmente no caso
da Educação Física, em que não existe, dada sua finalidade, a atribuição de graus
para reprovação. [...] (MARINHO, 1946e, p. 3).

Suas preocupações tinham como foco o mercado de trabalho dos professores de


Educação Física que, claramente, perdiam espaços conquistados desde os anos 1930. Para
completar, o autor reitera que “[...] A essa soma de desgraças, haveria que acrescentar ainda, o
desprestígio que ficou a Divisão de Educação Física com o decreto-lei 8.535, de 2 de janeiro,
que desintegrou completamente o Departamento Nacional de Educação, enfraquecendo-o
[...]” (MARINHO, 1946e, p. 3).
As preocupações de Marinho fazem sentido. O decreto ao qual o autor se refere
institui divisões para os diferentes níveis educacionais (Educação Superior, Ensino
Secundário, Ensino Comercial e Ensino Industrial), diminuindo o campo de atuação dos
professores de Educação Física nos cursos noturnos além de desobrigar os
estabelecimentos comerciais de assegurar a prática da Educação Física a seus alunos dos
cursos diurnos, diminuíram as aulas de Educação Física nas escolas, passando de três para
duas vezes semanais.
Desde os anos 1930, o país avançava no processo de desenvolvimento, onde as
questões políticas caminhavam paralelamente às educacionais. A partir de então, a sociedade
brasileira presenciou várias reformas em sua estrutura educacional, sempre benéficas ao
processo de institucionalização da Educação Física. Mas os anos 1940, com a criação das
universidades e as novas demandas políticas e sociais, geraram novas legislações, que nas
palavras de Marinho, foram pouco favoráveis à sua área. Seus apelos diante dessa realidade
transformaram a Revista Brasileira em um instrumento de resistência, pois afirma,

[...] a „Revista Brasileira de Educação Física‟ precisa subexistir. Ela representa um


dos últimos baluartes que possuímos para defender o pouco que nos resta e, se
possível, reconquistar a imensidão do terreno perdido na luta contra aqueles que
desejam subordinar aos seus caprichos, aos seus recalques [...] (MARINHO, 1947a,
p. 3).

A postura de Inezil Penna Marinho à frente dessa revista como diretor responsável
torna o discurso desse periódico mais crítico diante das ações governamentais, que estavam,
naquele momento, andando na contramão do que havia sido obtido até então.
57

Além disso, por ser um periódico privado, dependia de seus próprios recursos e a
publicidade era um recurso bastante importante. O próprio Inezil Penna Marinho divulgava na
revista tanto as suas obras, quanto seu escritório de advocacia ilustrado na figura 11. Apesar
das dificuldades financeiras, a revista conseguiu ampliar o número de assinantes e contava
com representantes nas principais capitais do país e em outros países da América Latina,
Estados Unidos, Portugal e África oriental.

Figura 11 - Página com indicação de profissionais autônomos


Fonte: Indicador... (1946)

O discurso de Marinho também merece destaque quando o assunto é Psicologia.


Embora tenha se dedicado prioritariamente à Educação Física e ao Direito, nos anos 1940
dedicou-se também a escrever sobre o saber psicológico e muito contribuiu para sua inserção
nos periódicos de Educação Física. Foi o autor que mais publicou sobre Psicologia neste
periódico.
Para Silva e Fontour (2011), a Revista Brasileira apresentava temas importantes de
Educação Física, representando bem o panorama esportivo do país na década de 40, assim
como o lugar dessa disciplina no cenário educacional. Tal qual a Revista EsEFEx, também
abordava temas como educação, higiene, sanitarismo e eugenia visando benefícios à
população.
58

Para me auxiliar na compreensão sobre a História da Educação Física, os estudos de


Genovez e Melo (1998), Ferreira Neto (2000) e DaCosta (2006), assim como algumas
dissertações e teses dedicadas a descrever ou abordar temas específicos dos periódicos de
Educação Física foram comentadores relevantes no diálogo com essas fontes primárias. Entre
eles destaco, sobre a Revista EsEFEx, as Dissertações de Mestrado de Soeiro (2003) e de
Bermond (2007). Além dos estudos de Ferreira Neto (1999), Ferreira Neto, Maia e Bermond
(2003) sobre o ciclo de vida dessa revista e os trabalhos de Goellner (2003) e de Souza Neto
(2004) sobre a representação da mulher na mesma revista.
Sobre a Revista de Educação Physica e a Revista Brasileira encontrei uma quantidade
menor de trabalhos, mas não menos importantes. Dentre os que se destacam em relação à
Revista Educação Physica está a Dissertação de Mestrado de Schneider (2003), além de suas
pesquisas realizadas entre 2001 e 2003 (PROTEORIA, 2011b), ainda sobre esse periódico,
constando como referências para outros estudos. Incluo também o estudo de Souza Neto
(2004) sobre os aspectos ideológicos, históricos e políticos dessa revista.
Dentre as contribuições sobre a Revista Brasileira, os trabalhos de Silva e Fontoura
(2011), que tratam sobre as representações do corpo feminino e o de Parada (2006),
analisando as práticas desportivas e a Educação Física no Estado Novo, aparecem como
fontes relevantes. Somam-se a esses fundamentos, outras obras e trabalhos apresentados em
congressos sobre a História da Educação Física no Brasil, que também fizeram parte da
revisão de literatura.
a) Sintetizando: o scouting dessa partida
Assim sendo, pude reunir um acervo de novecentos e noventa e cinco fotos, sendo
(tabela 1):

Revista Quantidade
fotos
Ed. Physica 587
EsEFEx 196
Brasileira 212
Arquivos19 0
Total 995

Tabela 1 – Fotos por revista


Fonte: Cristianne Almeida Carvalho
19
Os artigos dessa revista foram consultados em CD-ROM.
59

De posse desses dados, o passo seguinte incluiu a transferência das imagens para um
computador e impressão destas para possibilitar melhor manuseio e visualização.
A leitura mais apurada de 196 (cento e noventa e seis) artigos possibilitou estabelecer
relações destes com o objeto de estudo. Artigos estes que mereceram uma nova leitura,
seguida pela redação de seus resumos. Uma segunda triagem com análise e descrição
cuidadosa gerou o conjunto de 120 (cento e vinte) artigos citados na tese (tabela 2).

Revistas nº artigos
EsEFEx 33
Ed. Physica 45
Brasileira 26
Arquivos 16
Total 120

Tabela 2 – Artigos por revista


Fonte: Cristianne Almeida Carvalho

Estes foram agrupados, através da análise do conteúdo apreendido em cada um,


resultando em categorias diversas. Para melhor visualização criei um quadro, já mencionado,
com o conjunto de todos os artigos e seus respectivos autores em cada periódico (APÊNDICE
A) e diante dos diversos personagens encontrados nos artigos criei uma lista de notas
biográficas (APÊNDICE B) procurando contextualizar melhor os artigos.
As categorias foram denominadas de acordo com as terminologias utilizadas pelos
autores, em respeito às teorias da época. Por isso, termos como deficiência mental e
reajustamento psicológico, em desuso na atualidade, estão presentes. Assim, cheguei às
seguintes categorias: higiene, formação ou educação integral, processos psicológicos,
desenvolvimento humano, caráter e personalidade, psicopatologia e deficiência (física e
mental), comportamento social e psicologia e educação física, distribuídas ao longo dos
capítulos dessa tese (tabela 3).
60

Categorias Número de artigos


Higiene 12
Formação/Educação
13
integral
Processos psicológicos 14
Desenvolvimento humano 12
Caráter e personalidade 17
Psicopatologia/ 07
deficiência
Comportamento social 10
Psicologia e 23
Educação Física
Outros20 12
TOTAL 120

Tabela 3 – Categorias
Fonte: Cristianne Almeida Carvalho

O foco foi verificar a existência de conteúdos significativos sobre fenômenos


psicológicos que levassem a uma relação da Psicologia no universo da atividade física e dos
esportes. Além disso, busquei compreender como os temas eram abordados por seus autores e
que tipo de discurso havia nessa aproximação entre Psicologia e Educação Física em cada
periódico ao longo do recorte temporal em questão.
Vale ressaltar que alguns artigos mantiveram-se na amostra mesmo sem serem citados
na tese e não se referindo aos fenômenos psicológicos, pois contribuíram, de alguma forma,
para meu entendimento sobre o contexto histórico da Educação Física como formação
profissional. Além disso, constatei também o mesmo fenômeno psicológico apresentado em
diferentes periódicos, assim como, há autores que são referências nacionais em Psicologia em
outras áreas ou mesmo, estrangeiros.
Neste sentido, como já afirmei anteriormente, os artigos foram selecionados por
sinalizarem movimentos importantes na relação entre Psicologia e atividade física, entre
Psicologia e Educação Física, indicando serem as primeiras inserções do saber psicológico

20
Artigos que contextualizam historicamente o cenário da Educação Física nesse período. Estão distribuídos
em todas as categorias.
61

nesse universo, criando as condições para a emergência do que é hoje como também, os
primeiros passos de constituição do que se denomina, hoje, Psicologia do Esporte.
Desse modo, a partir de uma análise minuciosa em tais periódicos foi possível
identificar fases distintas da presença da Psicologia no recorte de 1930 a meados de 1960. A
primeira fase, denominada da psicologia complementar se estabelece nas primeiras décadas
(1930-1940) e corresponde ao surgimento das duas primeiras revistas Revista EsEFEx e
Revista Educação Physica, criadas no ano de 1932. Nesse intervalo, estão mais presentes
artigos que tratam teoricamente de conceitos psicológicos, fundamentando fenômenos
relativos ao desenvolvimento humano, ao caráter e personalidade, ao processo de
aprendizagem, além dos processos psicológicos básicos como inteligência, motivação e
cognição. No que tange à Educação Física, os artigos voltam-se para questões metodológicas
da área, adotando um discurso eugênico e higienista.
Na segunda fase, situada a partir dos anos 1950 até meados dos anos 1960, surgem
mais dois periódicos, a Revista Brasileira e a Revista Arquivos, totalizando os quatro
periódicos que serviram de fontes para essa pesquisa. Nesse período, o discurso se amplia
direcionando-se também a uma aplicação da Psicologia no âmbito da atividade física e do
esporte, mais próxima das ações de Carvalhaes e da atualidade, por isso denominamos esta
fase de prática psicológica.
Sendo assim, as análises das práticas discursivas encontradas nos artigos dos
periódicos em questão foram fundamentais para reconhecer esse percurso de construção
baseado nas transições e obstáculos vivenciados por esse saber psi. Esta tese, portanto,
apresenta seu contexto dividido nos seguintes capítulos:
O primeiro apresenta alguns momentos que marcaram o processo de
institucionalização da Educação Física e da Psicologia, demonstrando que tais processos
ocorrem de forma paralela nas primeiras décadas do século XX, além da influência dos
movimentos higienista e eugênico na Educação Física sinalizando a participação da Educação
Física no projeto desenvolvimentista da Era Vargas e o uso da Psicologia como saber
complementar em busca de uma educação integral.
O segundo situa as primeiras apropriações de conceitos e teorias psicológicas da
Psicologia pela Educação Física – apresentados através de subitens –, quais sejam processos
psicológicos, desenvolvimento humano, caráter e personalidade, psicopatologia e deficiência
física e mental, comportamento social.
Como consequência da aproximação entre essas duas áreas finalizo com o terceiro
capítulo que reúne a categoria Psicologia e Educação Física, ilustrando o que considero uma
62

segunda aproximação entre Psicologia e Educação Física destacando, de modo mais claro,
uma Psicologia aplicada à atividade física e aos esportes através do discurso de outros atores
partícipes do percurso de construção da Psicologia do esporte, até então não revelados,
configurando “uma nova Psicologia”.
63

1 CONSTITUINDO NOVOS CAMPOS: PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO FÍSICA

A civilização avançará nos sertões impelida por essa implacável


„força motriz da História‟ que Gumplowicz, maior do que Hobbes, lobrigou,
num esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes.

Euclides da Cunha – Os Sertões

Consideramos importante retomar os processos de institucionalização da Educação


Física e da Psicologia no Brasil por entendermos que, apesar de distintos, ocorreram em
paralelo, em um mesmo tempo histórico, sofrendo as mesmas influências sociais e políticas,
como foi o caso dos movimentos higienista e eugênico. Além disso, participaram dos mesmos
projetos nacionais, como o civilizatório que idealizava o cidadão brasileiro como um homem
forte, física, intelectual e etnicamente, como ilustra a citação de Euclides da Cunha.
Tal contexto favoreceu a interlocução entre esses dois saberes e para melhor
contextualizar esse processo, torna-se fundamental apresentar, ainda que pontualmente,
alguns eventos políticos que sustentam a passagem do século XIX para o XX, em especial a
primeira metade do século XX, onde Psicologia e Educação Física encontram demandas
importantes em seus percursos de institucionalização como saberes acadêmicos.

1.1 O movimento higienista e a eugenia

Sabemos que desde a chegada da Corte portuguesa e principalmente após a


independência do país, existia, no cenário brasileiro, um projeto político e intelectual cujo
intuito era elevar o país a uma condição mais desenvolvida – civilizada. Para alcançar tais
objetivos, melhorar a qualidade de vida e educar as pessoas com hábitos saudáveis e
higiênicos era fundamental.
A chegada de muitos imigrantes europeus nas principais capitais como Rio de Janeiro
e São Paulo, no final do século XIX, também impulsionou mudanças sociais diversas, como
novos hábitos de prática de atividades físicas, de lazer e de prática esportiva, que passam a ser
símbolos de status e poder social na sociedade brasileira (GUEDES, 2006).
No que se refere à Educação Física, essas novas demandas geraram impactos
significativos em um país que, até então, via a prática da atividade física como hábitos de
moralidade. Reformas educacionais eram necessárias para dar conta dessa realidade e
64

viabilizar esse projeto. Os Regulamentos de Ensino do Exército (1889-1945)21, assim como a


Reforma de Benjamin Constant22 (1890) referente à inclusão da ginástica no currículo escolar
dos ensinos de primeiro e segundo graus haviam sido importantes ferramentas iniciais nesse
sentido.
Desse modo, as práticas corporais escolares seriam exercícios físicos específicos para
auxiliar a desenvolver o intelecto e a moral dos cidadãos. Além do caráter curativo ou
corretivo dos exercícios físicos, havia o preventivo, visando alterar a constituição individual.
Para lidar com tais demandas o Estado se mobiliza a fim de regular e normalizar o uso
dos espaços públicos como as praias, lugares atrativos de encontros para a população,
principalmente para os moradores da orla carioca. O banho de mar que, até o final do século
XIX só era praticado sob prescrição médica, ganha novas regras e passa a ser foco de controle
do governo local. “[...] Esse espaço de lazer foi desde o início rigidamente controlado, não só
porque implicava o exercício e movimentação de corpos, mas por ser um espaço público que
reunia grande contingente da população [...]” (BRANDÃO, 2003, p. 32).
De acordo com Brandão (2003), tal necessidade de controle alterou um decreto de
1913 e gerou uma instrução municipal em 1921, que legislava sobre o banho de mar, o qual
devia ocorrer em determinados dias e horários. Descrevia também o tipo de vestimentas e
comportamentos permitidos durante o uso das praias. O barulho não era permitido e nem a
prática de esportes podia ser feita fora dos horários estipulados.
Assim, a necessidade de controle não se limitava aos corpos, seguia rumo à
estruturação urbana da cidade com obras faraônicas como a polêmica derrubada do morro do
Castelo, desalojando centenas de famílias para, dentre outros fins, favorecer a construção de
grandes palacetes com objetivo de abrigar visitantes de outros países na comemoração do
Centenário da Independência (1922). Em prol da modernização a cidade se transformava e
novos espaços surgiam gerando outros impactos sociais (BRANDÃO, 2003).
Adequar-se à Modernidade era um grande desafio se pensarmos a cidade do Rio de
Janeiro como capital de um país que, há pouco, havia deixado de ser Colônia e Império. As
exigências e mudanças eram inevitáveis e pediam transformações em diversos setores da
sociedade brasileira como infraestrutura urbana, transporte, economia, política, comunicação,
segurança, saúde, educação e cultura.

21
Reforma Hermes da Fonseca; seguidos por 1918 - Reforma Caetano de Faria; 1919 - Reforma Cardoso de
Aguiar; 1924 - Reforma Setembrino de Carvalho - Tasso Fragoso; 1929 - Reforma Sezefredo dos Passos;
1934 - Reforma Góes Monteiro; 1940 e 1942 - Reformas Eurico Gaspar Dutra (FERREIRA NETO, 1999;
2007.
22
Benjamin Constant foi Ministro da Guerra e da Instrução Pública (hoje Ministério da Educação) no governo
provisório da nova República (1890) (GUEDES, 2006).
65

A sociedade brasileira convivia com uma transição forçada entre o antigo mas
conhecido, e o novo “ desconhecido”. Havia entre o hoje e o ontem incerto futuro que a
Modernidade e a República traziam. Esses reflexos da Modernidade que chegava,
redefiniriam, assim, as fronteiras entre o sagrado e o secular, impulsionariam o crescimento
do progresso técnico e científico. Passou-se então a acreditar cada vez mais na capacidade
humana de criar e dominar a natureza.
Os desafios eram imensos e o Estado brasileiro contava com os saberes científicos
existentes para viabilizar o desenvolvimento de seu projeto nacionalista. Antes dos anos 1930
as profissões no Brasil se resumiam à Medicina, à Engenharia e ao Direito. Mas diante de
vários conflitos políticos e de um grande aumento populacional, era necessário um aliado de
peso, capaz de controlar as desordens e comandar a criação de novos hábitos na população.
Não resta dúvida de que o Exército serviria como este aliado, pois, além de suas habilidades
de controle e disciplina, como afirma Skidmore (2007), era sempre solicitado para mediar os
conflitos políticos e sociais. Seu papel, nesse contexto, se confirma relevante com a criação da
primeira escola de Educação Física do país.
Como nos moldes gregos, a construção de um homem novo e forte para a nação
passava por uma educação integral, onde estariam incluídos os aspectos intelectuais, mentais,
sociais, além dos aspectos físicos.

[...] Para tanto, o caminho da educação integral, ou paidéia como a chamavam os


gregos, não era possível sem a educação física. Aos gregos devemos a máxima: não
há educação sem esporte, não há beleza sem esporte; apenas o homem educado
fisicamente é verdadeiramente educado, e portanto belo [...] (RUBIO, 2001, p.112).

Enquanto para os gregos o corpo estava relacionado à beleza e à força, considerado


um dos pilares da educação do cidadão, juntamente com as letras e a música, na Era Moderna
esse corpo passa a ser visto como objeto de controle social.

[...] o controle sobre os indivíduos pela sociedade não se opera simplesmente pela
consciência ou pela ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico,
no somático, no corporal que antes de tudo investiu a sociedade capitalista. O corpo
é uma realidade biopolítica [...] (FOUCAULT, 1986, p. 80).

As palavras de Foucault sinalizam que o capitalismo em ascensão facilitou o diálogo


entre Medicina e Estado, quando a primeira ajudaria a conter as agitações sociais do início do
século XIX decorrentes do aumento populacional, da recente industrialização, da Revolução
Francesa.
Mais uma vez, diante de tais fenômenos, as primeiras décadas do século XX trazem
consigo uma necessidade de controle. Inicialmente, pela via da higienização e cuidados com a
66

saúde, que depois se desdobraram em cuidados com o corpo voltado para a força de trabalho.
Sustentado pelas fortes influências positivistas da época e diante de rupturas com a Igreja
Católica, o Estado republicano, com um projeto civilizatório para o país, tomou diversas
iniciativas assumindo o controle em setores sociais como urbanização, educação e saúde,
através dos movimentos Eugenista, Higienista e da Escola Nova23.
O higienismo, um movimento oriundo da Europa e fruto da industrialização francesa,
inglesa e alemã, objetivava soluções científicas para problemas sociais. Insere-se entre o
capital e os trabalhadores com vistas a promover melhorias na saúde da população
trabalhadora e ao mesmo tempo atingir aumento de produtividade. Assim, em busca da saúde
coletiva e individual da população constrói o lema de que um povo saudável e educado é
sinônimo de progresso.
Eugenia é um termo criado pelo fisiologista inglês Francis Galton (1822-1911) que
baseava seus estudos genéticos na teoria de evolução social, idealizando aumentar o
nascimento de indivíduos mais capazes e diminuir o nascimento dos incapazes. Define-se,
portanto, como a ciência que estuda as condições favoráveis à melhor manutenção da espécie.
Para Boarini e Yamamoto (2004) a marca das propostas eugenistas está no controle da
constituição do indivíduo, através do controle da reprodução.
Estas propostas chegam ao Brasil na virada do século XIX para o XX articulada pelo
saber médico e com o endosso do Estado, torna-se um meio para a formação de uma
identidade nacional. Nesse caso, foram propostos, por exemplo, programas em prol da
organização da sociedade, prevenindo-a dos fatores degenerativos a partir do controle dos
casamentos a fim de evitar cruzamentos genéticos entre delinquentes e anormais. Contudo,
estes programas não se concretizaram.
A literatura consultada, como Manasera e Silva (2000), Góis Junior e Lovisolo (2005)
e Ghiraldelli (2007), registra estudos diversos abordando as relações entre o movimento
higienista e a eugenia sob diferentes prismas e em áreas de conhecimento distintas como
Biologia, Antropologia, Medicina/Psiquiatria, Educação e Educação Física.
No que se refere à Psicologia, estudos recentes, como os de Patto (2000) e Boarini e
Yamamoto (2004) apresentam indícios sobre a relação da Psicologia com o higienismo e a
eugenia. Naquela época, os estudos psicológicos, originários da Europa, chegavam ao Brasil

23
Também conhecido por “Educação Nova” foi um movimento iniciado no final do século XIX, na Europa, em
contraposição à pedagogia clássica humanista. Assim como o Higienismo também mobilizou a elite
intelectual e política desse período na luta contra o analfabetismo, um “mal social”.
67

através das leituras daqueles autodidatas neste campo, em geral, médicos ou, como
encontramos nos periódicos, também militares.

Os estudos publicados revelam que partia-se do princípio que há uma essência


humana definida a priori, que pode deteriorar ou se desenvolver dependendo de sua
predisposição hereditária e das influências do meio. [...] E neste percurso o
instrumental da Psicologia foi de grande valia no esquadrinhamento e classificação
do indivíduos. Ignorava-se assim, o legado sócio-histórico (BOARINI;
YAMAMMOTO, 2004, p. 70).

Através das aproximações entre Educação, Saúde, Trabalho, na primeira metade do


século XX encontramos uma proliferação das ideias higienistas e eugênicas, favorecendo,
entre outros o processo de institucionalização da Educação Física e da Psicologia.
Sabemos que essa passagem do século XIX para o XX no Brasil foi marcada por
eventos que trariam fortes consequências a curto e médio prazo, como a Abolição da
Escravatura e a Proclamação da República. Tais eventos impulsionaram, por exemplo, a
chegada de imigrantes e a migração interna para a capital da República, além de um processo
de urbanização desta, sustentados por uma industrialização incipiente.
Desse modo, o Estado e os profissionais da saúde uniram-se em prol da saúde pública
e do ensino de novas práticas higiênicas. As atenções dos republicanos voltavam-se para o
controle higiênico dos portos, a sanidade da força de trabalho e para uma política sanitária que
desse conta do avanço demográfico, contemplando a questão racial, um fator cada vez mais
evidenciado como possível causa das mazelas sociais (MANASERA; SILVA, 2000).
Embora o país insistisse em copiar o modelo europeu de desenvolvimento - e uma
prova disso é a assimilação dos ideais higienistas, eugênicos e escolanovistas -, a realidade
nacional, reconhecida no exterior, se constituía de raças e culturas diferentes, em sua maioria
negra e indígena, o que impedia uma aplicação ipsis litteris de tais ideais. Ainda assim, era
importante encontrar soluções para sanar as dificuldades e avançar em um projeto de
desenvolvimento e modernização do país. Desse modo, a assimilação dos ideais higienistas e
eugênicos surge como solução possível para o desenvolvimento da nação, tendo em vista que
o “problema” situava-se na preponderância de negros e índios. Contudo não produziu o efeito
esperado.
Para Manasera e Silva (2000), o movimento higienista, em linhas gerais, relacionava a
desorganização social como causas das doenças, e isso levou a Medicina a intervir nos
aspectos naturais e urbanísticos das cidades, bem como nos institucionais. Góis Junior e
Lovisolo (2005) entendem que esse movimento chega definitivamente ao Brasil no começo
do século XX. Diferentemente da Europa, onde serviu para proteger a população trabalhadora
68

em prol da experiência de produtividade, aqui, essa função é observada apenas nesse primeiro
momento, que coincide com o início do processo de industrialização no país. Logo em
seguida, a elite intelectual brasileira aproximando-se de tendências eugênicas passa a
considerar os “problemas raciais e de miscigenação”, na busca de uma “higienização da raça”.
Para completar esse cenário, o mundo, já vivia uma crise econômica, por consequência
dos resultados da Primeira Guerra Mundial, que deixou a economia americana em situação
calamitosa, gerando a crise de 1929. O Brasil que dependia da importação de produtos
americanos manufaturados e, essencialmente, da exportação do seu café, na época o motor da
economia brasileira, tem sua demanda internacional drasticamente reduzida,
concomitantemente a uma excessiva safra de café nessa década.
O país crescia de forma complexa e passava por transformações em diversos setores,
mas nem sempre de modo organizado e harmonioso (FERREIRA; PINTO, 2006). Além
disso, articulações políticas e militares culminaram com o fim da Primeira República (1889-
1930) e do sistema oligáquico, gerando a Revolução de 1930, que dentre outras
consequências, culminou com o fim da hegemonia da burguesia do café, expressando a
necessidade de repensar a estrutura econômica do país (FAUSTO, 1997).
Para tentar explicar tantos problemas, em especial a crise econômica, algumas teses
surgiam. Dentre elas estava a tese fatalista, com base na eugenia culpando os brasileiros de
raças “inferiores”, constituídas pelos negros, pobres e indigentes, como fracos para o trabalho.
Para os adeptos desse pensamento como o sociólogo e jurista carioca Oliveira Vianna (1883-
1951) era necessário “eugenizar” a raça brasileira através de estratégias de
“embranquecimento da raça” como a esterilização dos negros e a regulamentação dos
casamentos.
Tais argumentos encontravam resistência em outra vertente também higienista, a
intervencionista que, diferentemente da anterior, justificava as mazelas do povo brasileiro
pelo abandono do Estado em relação às questões de saúde e educação. Entre seus defensores
estavam Belisário Penna e Miguel Couto. Desse modo, as questões sociais e econômicas eram
mais relevantes que os determinantes raciais24 (GÓIS JUNIOR; LOVISOLO, 2005).
A Medicina foi, talvez, a ciência que mais abraçou os ideais higienistas. Com a
hegemonia do saber médico, os profissionais dessa área estavam autorizados a prescrever não

24
Para Góis Junior e Lovisolo (2005), o movimento higienista no Brasil não obedece as mesmas configurações
originárias da Europa e EUA, por se estenderem além dos anos 1940, permanecendo até os dias atuais com
algumas adaptações.
69

só medicamentos, como também novos hábitos em todas as condições que, de alguma forma,
afetassem a saúde, a saber: escola, trabalho, moradia, higiene corporal, lazer e moralidade.

Se o país estava doente, cabia curá-lo, ou em seus termos, saneá-lo. Os primeiros


passos dos higienistas caracterizaram-se por uma crítica à situação de abandono e,
depois, pela negação do determinismo racial [...]. O brasileiro seria mais saudável
porque aprenderia os novos hábitos higiênicos indicados pelos cientistas, criando
assim, um sentimento comum de nacionalidade, uma cultura própria (GÓIS
JUNIOR; LUVISOLO, 2003, p. 27-28).

Se por um lado médicos como Oswaldo Cruz (1872-1917), Belisário Penna (1868-
1939) e Miguel Couto (1865-1934) abraçavam o projeto desenvolvimentista e os cuidados
higiênicos de controle dos hábitos da população, outros intelectuais, também adeptos desse
movimento, como Monteiro Lobato, Gilberto Freyre, Fernando Azevedo e Manoel Bonfim
pensavam sobre tais mazelas questionando os motivos de tantos problemas diante das
riquezas naturais e da extensão demográfica do país (GÓIS JUNIOR; LUVISOLO, 2005).
O Estado encontrou nas Forças Armadas, em especial Exército e Marinha, outro
aliado, além da Medicina. Juntos seguiram no projeto desenvolvimentista em busca do
homem ideal para representar essa grande nação. O Exército por seu papel mediador em
outros momentos de conflitos sociais, conforme Skidmore (2007) e como liame unificador de
várias frações da classe dominante, segundo Fausto (1997), mais uma vez se apresenta para
ajudar o país a construir uma nova estrutura nacional, assim como uma raça brasileira.
Mas para isso seria necessário, portanto, disciplinar os corpos e educar a mente dos
cidadãos, pois de outro modo os ideais de desenvolvimento previstos para a nação não
aconteceriam, como observamos nas palavras de um autor desconhecido cujo artigo
“Educação Physica: como deve ser compreendida e praticada” foi publicado na Revista
Educação Physica.

Paralellamente ao physico, a nova theoria estuda o desenvolvimento mental, desde


os primeiros lampejos da razão, índice que distingue o homem de outros animaes.
No preparo do individuo para a vida, applicam-se os mesmos princípios que para o
desenvolvimento da raça. [...] Com a pratica do exercício physico, pois, consegue-se
maior domínio sobre o corpo, facultando a utilização delle com mais efficiencia em
todo e qualquer mistér (A EDUCAÇÃO..., 1938, p. 9).

É neste entrelaçamento de relações entre Medicina, Estado e Exército que a Educação


Física encontra espaço para se estabelecer como um instrumento do Estado, visando a educar
o corpo para obter um cidadão forte. Mas aos poucos começa a ser reconhecida como um
saber e mais tarde, torna-se uma profissão. Nesse contexto, a Psicologia insere-se como saber
complementar para auxiliar a Educação Física a conhecer e controlar os fenômenos
relacionados à conduta e ao desenvolvimento humanos. Afinal, esse corpo, muitas vezes,
70

ficava refém de seus “nervos” e precisava se tornar obediente para enfrentar as guerras e os
desafios da vida moderna, como defende o Capitão Inácio de Freitas Rolim em seu artigo
“Educação Moral e Educação Física” publicado na Revista EsEFEX. Para ele

[...] a educação física pode ser considerada não só como uma preparação física para
a guerra, como também uma preparação moral, visto como a vida do soldado em
campanha consiste, tanto em resistir à fadiga, como em vencer os sofrimentos e
desprezar os perigos. [...] em tempos de paz, é a educação física a forma de trabalho
mais aconselhável para uma preparação compatível com as exigências da guerra
moderna, [...]. A fôrça moral do soldado mantêm-se graças ao espírito de disciplina
[...] (ROLIM, 1935, p. 35).

Assim, encontraremos, na Educação Física, forte influência higienista. Neste sentido,


Ghiraldelli (2007, p. 16) identifica cinco fases ou tendências na Educação Física ao longo dos
séculos XX e XXI: a higienista (até 1930), a militarista (1930-1945); a pedagogicista (1945-
1964); a competitivista (pós 1964) e, finalmente, a popular. O autor deixa claro que tal
classificação e periodicidade devem ser vistas com cautela, pois não são excludentes. Uma
tendência pode aparecer em uma época, mas já estaria latente num período anterior e aquelas
que, supostamente, desaparecem, podem estar subjacentes em outras. No entanto,
independentemente de suas tendências e fases, é possível identificar um objetivo comum à
Educação Física: a capacidade de gerar e manter a saúde do indivíduo.
Nos primeiros periódicos de Educação Física é possível identificar as quatro primeiras
fases citadas acima. Por terem surgido no período higienista, ainda que tenham passado por
muitos processos em sua institucionalização, esta marca está presente em suas origens.

Como estes periódicos se organizam a partir dos anos trinta, divulgavam as teorias
mais modernas, que já não falavam de uma culpa da raça negra ou indígena em
nossa debilidade física. [...] O consenso sobre a intervenção sobrepujava as
diferenças teóricas, construindo um pensamento legitimador a favor da prática.
(GOIS JUNIOR; LUVISOLO, 2005, p. 326-327).

No entanto, diante do papel da Educação Física para a construção de uma nova raça
brasileira, esses autores apontam outros embates teóricos passíveis de identificação nos
periódicos dessa área.
Para Góis Junior e Luvisolo (2005, p. 323) “[...] duas correntes [galtoniana e
lamarckista] reproduziam as contradições entre intervenção governamental no campo da
educação e a determinação genética inferior do brasileiro”. Um desses movimentos era
sustentado pela teoria de Galton, que se baseava nos estudos de Darwin e era favorável a uma
política eugênica. Tal política tinha implicações com movimentos racistas de controle e
planejamento da reprodução através da regulamentação dos casamentos e esterilização dos
doentes.
71

Segundo Góis Junior e Luvisolo (2005), essa concepção era respaldada pelo professor
catedrático de Higiene Aplicada, Fisiologia e Anatomia da ENEFD, Waldemar Areno, um de
seus defensores. Este, embora adepto da teoria galtoniana, acreditava que a Educação Física
era um elemento indissociável da educação, mas não podia ser transmitida geneticamente,
pois era um hábito higiênico capaz de aprimorar e conservar a saúde individual e coletiva. Na
sua visão, apenas através da eugenia seria possível a melhora da raça.
O segundo movimento, o lamarckista25, de caráter intervencionista, era defendido por
Fernando de Azevedo (1894-1974), educador muito presente nos primeiros periódicos de
Educação Física, adepto da democratização da saúde e da educação e o principal nome do
movimento dos educadores, base dos escolanovistas. Para essa vertente, como a raça
brasileira ainda estava se constituindo, uma reforma social daria ao povo condições de superar
suas debilidades, adquirindo novos hábitos higiênicos e condições de trabalho. Tais
características poderiam ser transmitidas geneticamente no futuro. Esse foi o caminho adotado
pela educação física pedagogicista (GÓIS JUNIOR; LUVISOLO, 2005).
Embora o movimento galtoniano não tenha se estabelecido no Brasil, ainda assim há
muito de suas influências nos ideais da Educação Física brasileira, conforme pode ser
constatado nos primeiros periódicos publicados nos anos 1930, como a Revista Educação
Physica e, principalmente, a Revista de Educação Física do Exército (EsEFEx), que em
alguns artigos apresentam, claramente, pressupostos eugenistas. Na primeira revista, por
exemplo, retomando “A Educação Physica: como deve ser compreendida e praticada” vemos
que o autor revela suas crenças nos benefícios dessa prática

A formação do caracter deve ser o principal objectivo da educação physica. É certo


que a actividade physica, por si só, não seria capaz de formar um caracter, mas é
indiscutível que, conforme a orientação que se dê à pratica da educação physica, ella
constituirá uma notável contribuição neste sentido. Bem organizados e dirigidos os
esportes representam verdadeira escola ethica, individual e collectiva (REVISTA
EDUCAÇÃO PHYSICA, 1938, n. 15, p. 9).

Nesse período, os esportes já eram mais valorizados e praticados no Brasil. Além dos
benefícios físicos esperados pela prática esportiva, era também atribuída à Educação Física a
formação do caráter. Observamos que os avanços dessa área eram proporcionais ao seu
reconhecimento social.
No artigo “A Educação Physica no Exército” escrito pelo Major do Estado Maior do
Exército Faustino Filho, em 1937, e publicado na Revista Educação Physica é possível
25
Movimento baseado nas ideias de Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet (1744-1829), também conhecido
como Chevalier de Lamarck. Criou uma teoria da evolução defendendo que as características das espécies
mudariam com o tempo. Essa teoria foi superada pelos estudos de Darwin e sua lei da seleção natural das
espécies (FARIA, 2009).
72

identificar sua reverência aos benefícios da Educação Física, que acredita terem sido
reconhecidos, ao longo da história, pelas nações que a utilizam em prol das guerras.

[...] As nações precisam de homens fortes para a sua defesa e somente os que
tiverem adestramento physico estarão em condições de influir directamente na
obtenção d‟uma victoria. A história que é mestra nos ensina a influencia que a
educação physica tem exercido no destino dos povos [...] (FAUSTINO FILHO,
1937, p. 13).

O autor segue o texto valorizando a prática de esportes no Brasil que, em sua visão,
começou como mera distração por praticantes isolados de ciclismo, corrida, remo e equitação.
Segundo Faustino Filho (1937), só em 1888 o exercício físico como educação começa a
ocorrer através do futebol, a partir da criação de três associações: a Fundação São Paulo
Athletico Club, em São Paulo, e em 1902, o Payssandú Cricket Club e o Fluminense Foot-
Ball Club, no Rio de Janeiro. Continua seu texto ilustrando e elogiando as práticas físicas
oferecidas no Exército, que incluíam marchas de treinamento, gymnastica de aparelhos,
esgrima de baioneta, gymnastica respiratória e a sueca. Para o autor, a

[...] missão mais importante, qual seja a de contribuir com o maior factor para o
aperfeiçoamento da raça, que é a educação physica; competindo à sua Escola de
Educação Physica o preponderante papel de formar instructores e orientar a prática
desta educação, prescrevendo o methodo a seguir. É com ufania patriótica que
asseveramos: acha-se ella à altura de sua elevada missão. [...] (FAUSTINO FILHO,
1937, p. 16).

Embora a Revista Educação Physica fosse da iniciativa privada, era comum haver a
presença de autores militares, fornecendo informações e tecendo elogios sobre as atividades
do Exército. No entanto, o discurso dos militares torna mais explícitos os princípios eugênicos
na Revista EsEFEx. No artigo “Eugenia e a Constituinte”, em 1933, sem autoria definida, a
existência desse movimento é representada por uma descrição da Comissão Central de
Eugenia “constituída na capital da Republica com objetivo de estudar e divulgar os ideais de
regeneração física e moral do homem”. Tal comissão apresentou onze proposições baseadas
na Comissão da Sociedade Alemã de Higiene Racial, criada em 1931. Entre as proposições
que mais caracterizam a presença dos ideais eugênicos, destacamos essas três:

[...] 7) Medidas legais que facultem o casamento, na idade mais favorável e precoce
possível para a procriação, de todos os indivíduos considerados eugenizados e de
valor intelectual aprovado.
8) Seleção rigorosa para os candidatos a cursos acadêmicos e para cargos públicos,
tendo em vista premiar os indivíduos somato-psiquicamente superiores, de moral
reconhecida e de boa linhagem no sentido eugênico.
9) Impedimento ao casamento do indivíduos patentemente degenerados, tarados e
dos que, pelos seus antepassados, provenham, evidentemente, de ascendentes com
cabedais genotípicos incompatíveis com bôa progenitura (EUGENIA..., 1933, não
paginado).
73

No início da década de 30, principalmente na Revista da EsEFEx, era comum o


registro de artigos que valorizavam os princípios eugênicos. Alguns louvavam as iniciativas
do governo alemão visando as vitórias de seus atletas nos Jogos Olímpicos, como foi o caso
de J. R. Toledo de Abreu, um admirador manifesto das ações alemãs, que, em um de seus
artigos, publicado em 1933, com o título em alemão “Ich Rufe Die Jugend der Welt” (Eu
chamo a mocidade do mundo), faz um chamado para as olimpíadas em Berlim, na Alemanha,
com elogios ao povo e ao seu representante maior.

Soam em Berlim os clanglores do sino germânico, convocando todos os jóvens do


mundo para mais uma aferição de qualidades raciais. Expressões atléticas de todas
as partes da imensa orbe medirão seus valores em competições várias, na Capital
bávara. [...] se balancearão as capacidades físico-morais dos Povos, representados
por seus elementos seletos, no grandioso certamen, patrocinado por êsse povo
extraordinário que traz o mundo preso de contraste admiração ao seu gênio
inegualável e às manifestações sem par das suas energias multiformes. [...].
(ABREU, 1933d, p. 1).

Abreu (1933d) afirma que o Brasil também levará seus representantes da perfeição
moral e física, embora ainda estivessem longe do ideal e sem poder afirmar vitoriosamente
seu valor racial. Apresenta votos de sucesso do CMEF em favor do “alteamento eugênico”
(sic) do povo brasileiro.
Seguindo esse discurso ressaltando a importância da eugenia na formação da raça, J.
R. Toledo de Abreu ainda publica, no mesmo ano, os artigos “Cruzada Cívica e Eugênica do
CMEF”em abril, “Hegemonia da Raça” no mês de agosto e “ Um ano de atividade”, em
novembro. No primeiro, saúda o início dos trabalhos desse ano do então CMEF e ressalta os
feitos pela busca do ideal de perfeição da raça afirmando que

Este estabelecimento educacional não é mais que a manifestação visível da fé e do


sentimento que congregou e irmanou esses beneméritos patrícios enamorados do
ideal eugênico. [...] É notória a importância da Educação Física moderna pelas
reações sociais que suscita, pelo papel que representa para a destinação étnica da
nacionalidade. Robustecendo o corpo, não descuidando do intelecto, retemperando
e vivificando o moral, se afirma um poderoso instrumento étnico-social, altamente
civilizador [...]. (ABREU, 1933a, não paginado).

Com o objetivo de ajudar no projeto civilizatório do país, J. R. Toledo de Abreu no


editorial “Cruzada Cívica e Eugênia do CMEF” (ABREU, 1933a) ressalta o sentimento
patriótico e empenho na causa do aperfeiçoamento racial, como elementos motivadores para
vencer os obstáculos.
Em “Hegemonia e Raça” (1933b), Toledo de Abreu chama a atenção para os cuidados
com a raça e enfatiza as diferenças raciais como um obstáculo de alcançar uma formação ideal
para um povo forte. Utiliza-se de dados estatísticos olímpicos para fundamentar seus
argumentos de que as raças fortes são detentoras da hegemonia da civilização, pois mais
74

facilmente se apoderam dos instrumentos de civilização e progresso. Considera que àquela


altura o Brasil ainda não possuía um tipo antropológico definido e que diante de distintas
origens é natural que padeça da incapacidade das raças inferiores que constituem a raça
brasileira.

Provenientes de raças dissemelhantes – a branca, a preta, e a indígena – a nossa raça,


por certo, se ressente da disparidade dos elementos que a integraram. E é princípio
biológico consagrado que o êxito dos cruzamentos é tanto menos favorável, quanto
mais diversos são os elementos cruzados. Corroborando na verdade dêsse princípio,
aí estão os resultados da inquirição sobre o grande problema da psicologia
comparada da humanidade – o efeito da mistura das raças sobre a natureza mental.
(ABREU, 1933b, p. 1).

O autor cita os estudos do psicólogo H. Spencer (1820-1903) para fundamentar sua


afirmação sobre a Psicologia e a mistura das raças. No intuito de pôr fim às consequências dos
“males endêmicos e hereditários” oriundos da mistura de raças tão distintas, Abreu (1933b)
indica ser a Educação Física

[...] um fatôr potente capaz de contrabalançar, com seus benefícios, todo rigôr
daquêles máus influxos. E esse é, sem dúvida, o fatôr eugênico que deverá operar
pela educação física metódica e sistemática, isto é, científica. Só esta poderá realizar
o objetivo visado na melhoria da raça, em todos os seus aspectos.
Conhecidos os efeitos da prática da educação física racional, os seus reflexos sobre a
psiché individual e coletiva, a ninguém é dado descrer do milagre de redenção que
ela é capaz de operar! (ABREU, 1933b, p. 1).

No artigo que encerra as atividades do ano, o autor descreve a revista como um “órgão
de difusão técnica” e “instrumento de propaganda” por levar aos mais diferentes locais do
país seus ensinamentos e princípios. Toledo de Abreu no editorial “Um ano de Atividade”
(ABREU, 1933c) ainda enfatiza a importância da imprensa por sua atuação sempre solícita e
pelo apoio às causas nacionais, assim como à “Cruzada em bem da raça”. Para esse autor a
imprensa é

[...] coerente com a sua finalidade de orientadora da opinião pública, fiel a alta
relevância de sua missão social, a Imprensa não tem poupado esforços para nos
facilitar, por todos os meios de seu alcance, a consecução do ideal que nos empolga
[...] (ABREU, 1933c, não paginado).

As palavras do autor são claras quando situa a Revista EsEFEx como um instrumento
para disseminar as informações sobre Educação Física como também sobre os ideais
eugenistas.
Nos anos 1930, portanto, a preocupação higienista se mantém, mas sofre alterações de
acordo com as novas demandas sociais e políticas. Nessa primeira década de existência as
revistas pioneiras da Educação Física também veicularam artigos sobre as atividades físicas e
75

treinamento físico militar, novos conhecimentos pedagógicos, assim como técnicas biológicas
e esportivas, visando a uma atualização da sociedade nas atividades físicas.
A noção de higiene encontrada nos artigos, aos poucos, vai se direcionando ao
processo de educação do cidadão brasileiro no sentido de uma educação integral,
corroborando com a análise de Góis Junior e Lovisolo (2005) mencionada anteriormente. Os
investimentos iniciais visavam à criação não só de um soldado forte, mas do homem ideal
para a nação e a construção desse homem voltava-se cada vez mais à aquisição de novos
hábitos higiênicos que incluíam, além da vestimenta, dos cuidados com a saúde, com os
aspectos físicos e o ambiente escolar, também os aspectos mentais e morais do indivíduo.
Estes complementariam a formação do homem tornando-a mais completa, integral.
Gondra (2004) afirma que a perspectiva civilizatória atribuída à educação tornou-se a
tônica do discurso médico nesse período. Em nome da educação e da civilização seria
possível produzir um futuro novo, sem vícios, regenerando os indivíduos para a sociedade e
para os Estado. A Educação Física era considerada mais um meio propício para alcançar os
ideais nacionalistas de construção do novo cidadão brasileiro, pois entre seus princípios estava
a educação física e moral, mas para isso, a Educação Física deveria participar de todo o
processo de desenvolvimento do ser humano, desde a idade escolar.
Assim, ao longo do período pesquisado, encontramos o movimento higienista presente
nessa educação integral, agora como mais um movimento da Educação Física. Na verdade,
ainda em busca do mesmo ideal de formação do homem forte para a nação, mas
apresentando-se com outro discurso, excluindo os determinantes raciológicos. Seria a
transição da fase higienista, demarcada até os anos 1930, para as outras duas fases, a
militarista e a pedagogicista, conforme a classificação de Girardelli (2007) mencionada
anteriormente.
A maioria dos artigos relacionados à temática higienista encontra-se nos dois
primeiros periódicos – Revista EsEFEx e Revista Educação Physica -, certamente em função
de seu período de surgimento, a década de 1930, mas ainda é possível perceber que esse
movimento se estende até os anos 1950, quando ainda encontramos alguns artigos embasados
nessa perspectiva.
Com menos frequência e com discurso transformado, a mesma temática pode ser
encontrada nos outros dois periódicos – Revista Brasileira e Revista Arquivos –, na segunda
metade dos anos 1940. Em geral, tais artigos enfatizam o aspecto moral da formação daquele
homem ideal, embora os aspectos biológicos e físicos não desapareçam. Dentre os defensores
76

do movimento higienista nesses periódicos destacam-se Lourenço Filho, Hollanda Loyola e


Inezil Penna Marinho, como ilustraremos a seguir.
A palestra do então Diretor do Instituto de Educação26 Lourenço Filho, “Educação e
Cultura Física” de 1933, realizada no CMEF da Fortaleza São João e publicada na Revista
EsEFEx, apresenta como sendo ponto pacífico nas teorias de Educação a necessidade da
cultura física, baseando-se na obra do médico e professor da Universidade de Munique, Eugen
Mathias. Lourenço Filho (1933) afirma que na última década muita coisa vem sendo feita,
principalmente no âmbito da educação e do “reerguimento” da raça, diante do aumento do
número de praticantes de ginástica e de esporte. Mas, para o autor, o problema da Educação
Física não se resume a isso, e sim, à cultura integral da personalidade, decorrente da filosofia
do povo, de seus valores e de sua forma de compreender a vida.
Lourenço Filho (1933) diz não querer dar peso excessivo à Filosofia, mas cita a
história chinesa, que adotou a concepção de Confúcio sobre a unidade do ser humano, dois
séculos antes de Cristo. Compara ainda com a Grécia Antiga, onde os caracteres político,
atlético e militar dominaram e, com isso, a separação entre cultura, corpo e espírito.
Posteriormente, a Idade Média, com uma concepção filosófica espiritualista, valorizou a alma
em detrimento do corpo, deixando a Educação Física de lado e, só no século XVIII a cultura
física volta a ser reconhecida como necessária à educação, mas somente para os humanistas
admiradores da cultura clássica.
O autor considera ainda que, na época atual, nenhum educador poderia ignorar os
fundamentos da cultura física aliados aos ideais de saúde, equilíbrio e harmonia, assim como
o respeito ao corpo para o cultivo da personalidade integral. Lourenço Filho (1933) indaga
sobre o objetivo da educação e sintetiza o que existe em comum entre as teorias antigas e
modernas, destacando que sempre encontraremos as noções de desenvolvimento, adaptação e
aperfeiçoamento.
Afirma que existem autores que consideram o aspecto moral nesse contexto como uma
condição de harmonia ou equilíbrio da vida em grupo e um limite social. Refere-se a outros
autores que reduzem a vida ao aspecto biológico, pois esse aspecto nos dá razão de existir.
Para ele, independentemente das concepções, o aspecto biológico tem seu lugar garantido,
assim como a importância e necessidade da cultura física em defesa da conservação e
desenvolvimento da vida.

26
A Escola Normal transformou-se em Instituto Pedagógico de São Paulo, em 1931, tornando-se a primeira
experiência de sucesso a elevar os estudos dessa área ao nível superior. Em 1933, os objetivos desse instituto
foram ampliados, transformando-o no Instituto de Educação (BRZEZINSKI, 1996).
77

Reafirma o movimento como significado da Educação Física, resultado da interação


entre músculos, ossos, circulação sanguínea, metabolismo e outros elementos capazes de
regular e dar equilíbrio ao funcionamento do organismo humano. Reconhece, nesse sentido a
importância da biotipologia27, um novo ramo da biologia que estuda os tipos de personalidade
e que “[...] dia a dia se enriquece com novas conclusões uteis a medicina em geral, à
psiquiatria, à Educação física, à orientação profissional [...].” (LOURENÇO FILHO, 1933, p.
7).
O autor acrescenta que a Psicologia clássica já reconhecia a importância de tais fatores
remetendo-se à Feré que relaciona as representações mentais e os movimentos. Cita William
James (1842-1910) e sua teoria das emoções, que demonstra a influência orgânica sobre o
sentimento e pensamento, corroborada pelo alemão Dubois Raymond (1818-1896) que
afirmava ser o exercício do corpo não só um exercício dos músculos, mas também do sistema
nervoso. Cita também Paul Adam e suas ideias sobre as emoções e a relação destas com o
movimento, onde o gesto é regulado pelos exercícios físicos, exercendo papel importante na
formação moral.
A intenção de Lourenço Filho (1933) é equiparar em importância os aspectos
intelectuais e morais aos físicos, embora deixe claro a relevância do aspecto biológico
independentemente da teoria em questão. Por isto, ressalta que

[...] A ideia capital não é a de formar atletas nem a de produzir monstros. Porque si o
desenvolvimento mental, sem equilíbrio físico produz neurastênicos, o
desenvolvimento físico, como preocupação exclusiva e absorvente, não formaria
homens equilibrados. O gosto pelo esforço, a resistência e o vigor físico, a disciplina
dos nervos e dos músculos, sob o domínio dum caráter viril e duma inteligência
esclarecida – êste sim, deve ser o ideal, necessário a todas as profissões a todas as
classes sociais, a ambos os sexos e a todas as idades. [...] (LOURENÇO FILHO,
1933, p. 7).

Portanto, reconhece a cultura física como intimamente ligada aos problemas gerais da
educação, como os ideais de desenvolvimento, adaptação social e aperfeiçoamento, uma vez
que “[...] o homem são, cultivado fisicamente, e preparado pelas qualidades do caráter, tem
por via de regra, uma predisposição para a moral [...]” (LOURENÇO FILHO, 1933, p. 7).
Outro autor que favorável à relação entre os aspectos físicos e psíquicos foi o médico e
professor do Instituto de Educação e Diretor da Assistência de Psicopatas do hospital
Nacional Plínio Olinto. Em seu artigo “Educação física e educação psíquica” (1933),
publicado na Revista EsEFEx afirma que a moderna psicologia do comportamento não mais
distingue o fisiológico do psicológico, justificando uma harmonia entre as funções vegetativas
27
Essa teoria será muito utilizada para explicar a formação do caráter e da personalidade, como veremos no
capítulo seguinte.
78

e a vida mental. Para esse autor “[...] cultura física é cultura psíquica. [...] O bem estar
corporal produz pensamentos nobres e elevados, desperta a inteligência a aperfeiçoa a moral
[...]” (OLINTO, 1933, não paginado).
Discurso semelhante e mais enfático sobre a importância da Psicologia no universo da
Educação Física está presente em outro artigo de Lourenço Filho “Psicologia e Educação
Física” (1935), publicado também na Revista EsEFEx, dois anos depois. Nele, o autor
reconhece o quão recente é a intervenção das doutrinas psicológicas na técnica e teorização da
cultura física. Afirma que algumas causas comuns têm levado o homem a certa concepção
psicológica, como a compreensão do corpo, de seu valor e de suas relações com o espírito.
Lourenço Filho (1935, não paginado) propõe que a Educação Física aprofunde esses
estudos a fim de verificar as influências deles sobre sua prática, afinal “[...] A psicologia de
hoje não separa o pensamento da ação. A educação de hoje não pode separar, também, o
exercício do corpo, da disciplina dos valores do espírito e do caráter [...].”
Para fundamentar seus argumentos, o autor destaca novamente, além dos trabalhos de
William James sobre emoção, citados em seu artigo anterior, os trabalhos de Hébert, “La
culture virile” (1913); de Bergson, sobre sentimento; os estudos de Feré sobre “Sensação e
movimento” (1887); os de Tissé sobre a fadiga (1896); ainda os de E. L. Thorndike sobre
fadiga muscular e intelectual e R. S. Woodworth (1869-1962) e seus estudos sobre
movimento, influenciando as concepções “ativistas” da Psicologia. Segundo o autor, todos
estes trabalhos tiveram repercussão na Educação Física.
Observamos que as interpretações e citações de autores como Lourenço Filho, Inezil
Penna Marinho, Hollanda Loyola, revelam influências dos estudos europeus a partir do século
XVIII, como o movimento empirista inglês e o cientificismo alemão, onde o primeiro
enfatizava a importância dos sentidos e o segundo buscava descrever seu funcionamento. O
pensamento positivista proporcionou uma convergência dessas duas versões de pensamento,
originando, entre outras coisas, o que seria uma nova ciência, a Psicologia. É a essa Psicologia
moderna que os autores dos periódicos da Educação Física se referem.
Lourenço Filho (1935) legitima seu discurso através da citação de teóricos importantes
na Psicologia daquela época. Ainda que fossem de abordagens distintas, para o autor
importava a ênfase na relação corpo-mente-espírito, até então ignorada pela Educação Física,
mas que entendia ser relevante para os estudiosos e profissionais dessa área que quisessem
pensar em uma educação integral.
Embora fosse um incentivador do estudo e da Psicologia na Educação Física, o que
nos ajuda a compreender o cenário fértil e favorável a uma aproximação entre estes dois
79

campos, Lourenço Filho não deixa de se manifestar adepto do higienismo e da eugenia. Seu
artigo “Educação Física e a futura raça brasileira”, de 1939, publicado na Revista Educação
Physica, ilustra seus argumentos nesse sentido. E mesmo que o autor não tenha se referido à
temática psi diretamente, consideramos importante manter este artigo por auxiliar na
compreensão dos referenciais adotados pelos estudiosos da Educação Física nessa época.
É com esta frase do filósofo Montaigne: “Para robustecer a alma é necessário
robustecer os músculos” que Lourenço Filho (1939) inicia o artigo. Complementa que, para
robustecer os músculos, é necessário educá-los. Diz que desde o tempo das cavernas, ou da
Grécia Antiga, os homens eram dotados de grande porte físico para lutar por sua
sobrevivência. Afirma que a ciência foi oferecendo recursos e a civilização gerou uma
acomodação a esse novo modo de viver.

Intelectualmente, o homem civilizou-se, aperfeiçoou-se, refinou-se, dono


maravilhoso das forças da natureza. Fisicamente ele foi perdendo, numa
generalização progressiva, o seu corpo sadio e assoalhado, livre e exuberante, de
primitivo. [...] hoje, com a máquina, de nada valeria a um soldado moderno o valor
guerreiro de um Achilles. [...] (LOURENÇO FILHO, 1939, p. 10)

Para o autor essa realidade leva o homem a lutar e a exercitar-se menos. A máquina
passou a fazer quase tudo e com mais eficiência. O conforto dessas conquistas gerou uma
acomodação. Relembra que, durante um século, já como nação, o Brasil tentou seguir
modelos europeus em busca de civilização, sem adaptação nem assimilação adequadas. “[...]
Em política almejávamos ser Inglaterra, como em literatura ser França. E queríamos realizar
um Brasil, sem olhar para a tela, só contemplando os modelos [...]” (LOURENÇO FILHO,
1939, p. 11).
O autor eleva a educação, em especial a Educação Física, ao nível de um instrumento
poderoso na luta contra as deformações e enfermidades advindas da vida moderna, pois, para
ele,

[...] se a vida nos obriga a muito mais trabalhos do espírito, outro remédio não há
que salve o corpo no abandono e na desnecessidade, senão a cultura ou o cultivo,
senão a educação física. Se as condições da vida civilizada lhe prejudicam o
funcionamento natural, que seja ele tratado especialmente. Sob pena de lesar os
rendimentos do próprio espírito e de se inferiorizar uma raça. [...] (LOURENÇO
FILHO, 1939, p. 10).

Afirma que nem todos têm noção do quanto a Educação Física precisa fazer parte dos
“projetos de correção e realização dessa pátria ideal”, e que as contribuições de nossa tríplice
raiz étnica – português, índio, negro –, nos gerou uma essência não construtiva, mas
sentimentalista e ornamentária, sem o dinamismo e força necessários para subjugar uma
natureza selvagem e exuberante.
80

O autor acredita que mesmo quando o homem é forte e sua aparência é negativa, como
o sertanejo de Euclides da Cunha, falta-lhe a plasticidade que uma estrutura atlética correta
possui: “[...] para que esse brasileiro do futuro surja da terra, suficiente, pletórico é necessário
que a nossa geração atual o prepare com uma educação completa, que é a intelectual e a física.
Chega de desdem pelo corpo [...].” (LOURENÇO FILHO, 1939, p. 12).
Adverte que é importante manter uma disciplina e regularidade na distribuição e
direcionamento de algumas modalidades atléticas na população, além de incentivar a
solidariedade e a sociabilidade, através da democratização, cooperação e congraçamento que a
atividade esportiva proporciona. Faz uma ressalva em relação ao futebol como uma
demonstração da urgência da Educação Física para o povo brasileiro, pois o considera um
esporte jogado apaixonadamente não apresentando por isso, uma “mentalidade esportiva”,
que se caracterizaria, dentre outros aspectos, por uma disposição mental adquirida pela prática
dos esportes, tenacidade, resistência, gosto de vencer, precisão da vontade, capacidade de
iniciativa.
Para o autor, longe de considerar a Educação Física uma panacéia capaz de sanar todas
as mazelas do cidadão brasileiro, em sua missão salvadora está a cura da apatia e resignação
diante da natureza, o combate aos vícios como o alcoolismo e outros agentes destruidores da
saúde. Lourenço Filho (1939, p. 12) ressalta ainda que a Educação Física não será, sozinha, a
responsável por salvar o povo brasileiro, mas em um tom eugênico o autor almeja que “[...]
ela contribua para esse saneamento racial e que ela é absolutamente indispensável, na
obtenção de um Brasil Grande [...].” O autor segue afirmando que

[...] Em luta, mais tarde, com a vida e a natureza, o brasileiro terá aprendido a
confiar, a ousar, a ter iniciativa e expediente, nas situações necessárias. [...]
Esmerando-se, durante a vida escolar e universitária pela manutenção de um físico
sadio e harmonioso, o jovem brasileiro capacitar-se-á da responsabilidade do próprio
vigor [...] A eugenia muito lucrará. Disseminar-se-á o hábito da higiene, de gosto
apurado, do conforto, o arejamento mental, as ventilações da alma, a tonificação
geral da espécie, produzirão o conceito sadio de existência, otimismo substituidor de
nossa melancolia tropical [...] (LOURENÇO FILHO, 1939, p. 12).

Ao final do artigo Lourenço Filho (1939) apresenta as referências feitas ao longo do


texto, um movimento raro entre os autores dessa época. Dentre outros, cita o sociólogo e
jurista Oliveira Vianna (1883-1951) e sua obra “Populações meridionais do Brasil”, que
apresenta uma tipologia de caráter baseada nas regiões brasileiras; o engenheiro e jornalista
Euclides da Cunha (1866-1909) e sua obra “Os Sertões”, um relato sobre a Guerra de
Canudos que debate sobre as diferenças entre o interior e o litoral brasileiro, centrando suas
impressões na realidade sertaneja que almeja um projeto civilizatório diferente do proposto
81

pela República; o advogado, diplomata e escritor maranhense Graça Aranha (1868-1931) que
em seu livro “Estética da vida”, apresenta o confronto entre teorias distintas sobre o papel da
imigração no futuro do país, onde uma manifesta a supremacia da raça ariana e outra a
integração do imigrante na realidade brasileira, resultando em uma democracia étnica. Em
comum, tais autores apontam, através da literatura, a impossibilidade de uma raça
homogênea.
Com outro enfoque, inserido na categoria educação/formação integral, objetivando
ressaltar a responsabilidade dos educadores físicos diante do processo de educação integral,
Hollanda Loyola, diretor técnico da Revista Educação Physica (1939-1944) e inspetor de
Educação Física no Ministério de Educação e Saúde, no ano de 1939 publica dois artigos,
com o título “Educação Moral” (1939a e 1939b), em números consecutivos da Revista
Educação Physica. Em ambos o autor considera que a educação intelectual completa a
educação integral do homem, que é a etapa máxima de seu aperfeiçoamento, a última etapa
em sua formação, influenciando no êxito do indivíduo, em sua vida e na coletividade.
No primeiro artigo, Loyola (1939b) destaca o papel dos educadores na história do
povo. Define a educação da inteligência como

[...] um processo reacional de aprendizado constante caracterizado pela progressão


lógica do simples para o composto, da análise para a síntese, abrangendo a aquisição
o aperfeiçoamento a e a utilização de conhecimentos úteis À vida do homem e ao
progresso da humanidade [...] (LOYOLA, 1939b, p. 9).

Para o autor o conteúdo desse aprendizado deve incluir o conhecimento tanto de uma
cultura geral quanto de uma especializada para que o indivíduo possa projetar-se na sociedade
como um cidadão e também com uma profissão. Refere-se ao Brasil como uma nação
privilegiada e com um povo jovem, o que conferirá um futuro promissor. É necessário, então,
preparar esse povo jovem para

[...] o gosto pelas pesquisas científicas, pela aquisição constante de novos


conhecimentos, pela aplicação útil do saber adquirido; torná-los elementos
produtivos e cuja produção interesse de perto ao imperativo de nossas necessidades
e ao engajamento de nossa pátria; disciplina-los no estudo por métodos racionais e
eficientes [...] dar-lhes uma noção exata sobre a geografia econômica e política do
Brasil, não visando apenas o interesse individual, mas também os superiores
interesses da nação [...] (LOYOLA, 1939b, p. 60).

Seu outro artigo revela a educação moral como modeladora da personalidade, devendo
ser considerada a partir das relações com a família, a sociedade, a pátria e a humanidade.
Loyola (1939a, p. 9) atribui ao professor a responsabilidade de orientar a criança em relação
aos sentimentos e deveres que cada uma dessas instituições demanda. Tais cuidados vão
desde a formação de uma consciência a uma observação rigorosa da conduta. Em seguida,
82

descreve como cada instituição apresenta suas demandas e afirma que, para alcançar os
objetivos da educação moral, o caminho são processos racionais para criar no indivíduo a
consciência de boas regras e transformá-las em hábitos cotidianos. “[...] Não basta iniciar o
indivíduo no conhecimento dos sagrados deveres para com a família, a sociedade, a pátria e a
humanidade si ele não possui para fiscalizá-lo no cumprimento dessas obrigações esta força
poderosa – a consciência. [...]”.
O artigo que acompanha essa visão de forma mais pontual, é “Educação Physica”,
publicado em 1938 na Revista Educação Physica pelo neurologista da Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro A. Austragésilo. Trata da importância da Educação Física no
desenvolvimento do organismo, afirmando que a ginástica deveria ser realizada desde o início
da segunda infância. Ressalta que no Brasil as condições econômicas e a falta de uma cultura
escolar impedem que tais práticas aconteçam dessa forma e descreve algumas práticas
aconselháveis às crianças, como banho de sol e boa alimentação. Para o autor, a Educação
Física é mais importante que a educação intelectual, pois, além dos benefícios físicos,
estimula o bom humor.
Para Austragésilo (1938), a Pedagogia necessita da Medicina na fase escolar, uma vez
que esta visa a atender aspectos psíquico e físico, assim como a convivência social e a
nutrição. No entanto, a ciência ainda se encontra em uma condição rudimentar no Brasil, se
comparada a países como Inglaterra, EUA e Japão. Ressalta a existência da Inspetoria de
Propaganda de Educação Sanitária (IPES), responsável por campanhas a favor da boa
alimentação. Cita Nina Simmonds e seu livro “Alimentação e Saúde”, traduzido pelo médico
Arnaldo de Morais, como um bom exemplo sobre como praticar a alimentação saudável.
Conclui reforçando o valor e a importância da alimentação da criança em fase escolar, em
especial o uso do leite, pois beneficia os aspectos somático e psíquico da criança. Nomeia os
pais, os pedagogos e os mestres como responsáveis pela saúde infantil, pois sem ela o
aprendizado não se estabelece.
Um tripé de saberes se estabelece com a Medicina, Pedagogia e Educação Física
participando do processo de civilização e educação da população baseado na concepção
higienista. Não percebemos a presença da Psicologia de forma clara como em outros artigos,
mas a preocupação com a formação integral do homem para a nação inclui, além da boa
higiene e dos aspectos físicos, também os aspectos morais que se traduzem no controle das
emoções e na boa conduta. É importante ressaltar também que, ao tratar sobre boa
alimentação, não são discutidas as condições econômicas da população.
83

Na Revista Educação Physica ainda encontramos artigos nos anos 1940 com um
discurso voltado ao uso da Educação Física para a formação moral do soldado. “Educação
Moral e Educação Física” do Major Inácio Freitas Rolim, publicado pela segunda vez nesse
periódico em 1940 – a outra publicação fora em 1935, quando ainda capitão. Esse fato reforça
o argumento que esse movimento teve seu auge no período da Era Vargas e foi
incessantemente ressaltado nos periódicos dessa área. Nesse artigo, o Major inicia com
citações de regulamentos militares sobre a força moral do soldado como “[...] Exaltar o
patriotismo, desenvolver o espírito de sacrifício e o sentimento do dever militar, inspirar
confiança e fazer compreender a necessidade da disciplina – eis o objeto da educação moral
do soldado [...].” (ROLIM, 1940, p. 10).
Rolim (1940, p. 10) considera que todos os métodos são importantes para treinar o
soldado para enfrentar o perigo, dentre eles a cultura corporal enfatizada pelos filósofos,
citando Montaigne para quem “para endurecer a alma é preciso antes endurecer os
músculos”28.
Afirma que a ginástica é tida como uma prática que abrange todos os exercícios e isso
torna o homem mais inteligente, sensível, forte, habilidoso, flexível e ágil. Deste modo a
Educação Física é compreendida como uma preparação para a guerra e para a moral. É
considerada a forma de trabalho mais adequada em tempos de paz, pois oferece uma
preparação compatível com as exigências da guerra moderna e

[...] dá aos homens o sentimento do próprio valor como combatente. A força moral
do soldado mantem-se graças ao espírito da disciplina a estrita obediência das
ordens recebidas. [...] só pode haver real disciplina quando nosso próprio corpo
obedece as ordens emanadas do nosso próprio eu [...] (ROLIM, 1940, p. 10).

Rolim (1935, 1940) considera que uma boa oportunidade para desenvolver o espírito
de obediência, de disciplina, de vontade e do sistema nervoso é quando os homens executam
exercícios de flexão, pois estão submetidos ao ritmo fisiológico e mecânico. Cita o médico
Fernando de Magalhães que afirma ser a Educação Física a ciência do movimento e de suas
aplicações morais. Segundo Rolim (1940), outro benefício disciplinador da atividade física é
desviar os penitenciários das práticas de masturbação e pederastia, assim como dos maus
pensamentos, pois necessitam de repouso compensador para suas energias. Além disso, a
prática do desporto também tem ajudado a desviar os jovens dos vícios, pois,

[...] As faculdades morais apresentam os mesmos fenômenos negativos. O seu


caráter é sombrio; o amor pela humanidade cede lugar a um individualismo
desmedido, criando em torno destes anormais um ambiente tendente exclusivamente

28
Observe-se que é a mesma citação de Montaigne feita por Lourenço Filho (1939).
84

para o mal e para uma debilidade moral incompatível com as necessidades do


convívio social [...] (ROLIM, 1940, p. 72).

O autor também cita o General Spire, ex-chefe da Missão francesa que, em sua
conferência “Infantaria em luta contra a fadiga” alerta para as reações recíprocas entre as
fadigas do cérebro e dos músculos, afirmando que os homens moralmente abatidos pela
fadiga de vontade e do cérebro, mais rapidamente sentem o cansaço dos músculos, levando à
desmoralização de uma tropa. Em sua opinião, a solução mais eficaz é uma preparação física
judiciosa, capaz de exigir da máquina humana o máximo de rendimento e o mínimo dispêndio
de energia, alcançando a resistência, uma das qualidades mais almejadas pela prática
consciente da educação física. O preparo individual visa também o combate ao individualismo
que “campeia todas as camadas sociais”. Afirma que o logos fundamental para a formação do
caráter

[...] está baseado nos instintos e nas emoções. A conduta do homem depende de seus
sentimentos, mais do que seus pensamentos, e é assim que desejo e emoções têm
uma influência poderosa na realização de seus atos. Como os instintos e as emoções
mais importantes exigem para sua completa expressão a atividade muscular, é
evidente que os jogos devem ter um alto valor na formação do caráter [...] (ROLIM
1940, p. 73-74).

Os desportos coletivos são considerados o coroamento da Educação Física por serem


capazes de desenvolver a potência física e as fontes do espírito e da vontade como altruísmo,
amizade, gentileza, justiça, humanidade, respeito, lealdade, generosidade, liberdade,
obediência, cooperação e sociabilidade. No entanto, tais virtudes dependem do instrutor, do
mestre, responsável por reeducar seus homens através dos jogos para se desenvolverem. Em
sua conclusão, o autor retoma os objetivos da Educação Física com a preparação física e
moral que, além de valorizar o papel do instrutor dessa área, deve ser visto como um capital
de energia e força física, que se frutifica e se irradia na sociedade

[...] pondo assim à disposição de todo gênero de autoridade, braços mais vigorosos,
peitos mais fortes e vontades mais temperadas.
Eis aqui a maneira das classes armadas indenizarem amplamente as despesas
julgadas exageradas com o serviço militar, melhorando física e moralmente os
soldados e fortificando as gerações sucessivas [...] (ROLIM, 1940, p. 75).

Nessa citação observamos uma justificativa dos investimentos governamentais com as


Forças Armadas. Também fica claro, o valor e o papel da Educação Física como recurso ou
instrumento fundamental para este fim. Há aqui um investimento recíproco, benéfico às
Forças Armadas e à Educação Física, em seus objetivos de se firmar como disciplina e
profissão necessária à sociedade.
85

O advogado Hermes Lima (1902-1978), diretor da Faculdade de Direito da


Universidade do Distrito Federal, em 1935, corrobora com esse movimento por acreditar que
a saúde física e moral são essenciais para a educação desde os primeiros anos de vida. Na
revista Educação Physica escreveu sobre “A má educação, fonte de má saúde física e moral”,
onde cita os estudos do prof. Hermann Bouman – titular da cadeira de psiquiatria e neurologia
da Universidade de Amsterdam – apresentados no Congresso Internacional de Higiene
Mental.
Neste Congresso foram abordadas as grandes doenças sociais, com destaque para o
alcoolismo, a sífilis e a tuberculose, as quais não poderiam ser tratadas sem um esforço
solidário entre biologia, sociologia e psicologia. Lima (1945) apresenta estudos sobre o
alcoolismo, já considerado doença e não apenas vício, com perturbações mentais e
psicológicas, considerando-se as influências do meio também responsáveis pela aquisição
desse mal. Para Lima (1945, p. 37), “[...] a chave do tratamento seria em tais casos de
natureza eminentemente sociológica, porque consistiria antes de tudo, em achar a fonte social
da moléstia, o desajustamento social e suas origens [...]”.
O autor reforça a necessidade da saúde física e moral para a educação desde os
primeiros anos e afirma que as crianças têm suas personalidades próprias e assim devem ser
tratadas, não simplesmente como referência ou cópia dos adultos. Vemos que os interesses
começam a se direcionar para outros aspectos na formação integral desse homem ideal para a
nação. As preocupações se expandem para o ambiente familiar e social, assim como para os
primeiros anos de vida como causas de tais males.
Em meio aos ideais higienistas alguns autores também se preocupavam com os rumos
da Educação Física brasileira. Inezil Penna Marinho (1948), ao publicar “O Moderno
Conceito Bio-Psico-Sócio-Filosófico da Educação Física”29 na Revista Brasileira, objetiva
discutir tais rumos contextualizando a passagem do século XIX para o XX, esclarecendo que
o sentido dominante dessa área era puramente anatômico e os métodos culturistas estavam em
ascensão.
No entanto, informa que uma reação contrária ao exagero do conceito anatômico
influenciou o Regulamento Geral de Educação Física n. 7 (Método Francês), que introduziu a
fisiologia como base da Educação Física, deixando em segundo plano a anatomia. Para o
autor, esse método possui uma função utilitária, pois, “[...] os processos resultantes do

29
Esse artigo é uma atualização realizada a pedido de alguns leitores de artigo anteriormente publicado, em
1944, na Revista Brasileira com o título “Conceito bio-socio-psico-filosófico da Educação Física em
oposição ao conceito anatomo-fisiológico”. Cf. Marinho (1944b).
86

conhecimento prático do homem em movimento, visam o desenvolvimento harmonioso e a


melhor exploração de todas as qualidades físicas e morais que constituem o aperfeiçoamento
real da natureza humana [...]” (MARINHO, 1948, p. 36, grifo do autor). As referidas
qualidades físicas e morais são descritas pelo autor como saúde, força, resistência, destreza e
caráter.
Assim, a concepção anatomo-fisiológica foi adotada inicialmente pelo Exército,
posteriormente pelo Ministério da Educação e Saúde. Contudo, Marinho (1948), cita a
Reforma do Ensino de Fernando de Azevedo, de 1928, que previa também a criação de uma
Escola Profissional de Educação Física, além da obrigatoriedade da prática de Educação
Física nas escolas do país.30 Ressalta que tais propostas não se concretizaram.
Para entender um pouco mais esse contexto, fazemos uma breve retomada histórica. A
escolha do método francês não ocorreu apenas pela necessidade de valorizar a fisiologia no
processo educacional dessa área. O interesse do Estado em introduzir a Educação Física de
forma sistemática no Brasil sofre influência da França que desde 1852, possuía um instituto
de ginástica em seu Exército, na Escola Joinville-le-Pont.
O Brasil também vivia o momento de reconstrução de sua sociedade, nem tanto por
consequência de guerras, mas para avançar em seu projeto desenvolvimentista. Assim, nas
primeiras décadas do século XX, o governo cria uma comissão interministerial, em 1904, na
qual, entre outras ações junto às Forças Armadas brasileiras, constrói o Manuel d‟exercices
physiques et de jeux scolaires, reimpresso em caráter definitivo em 1932 como Règlement
général d‟éducation physique (Méthode Française).
Vale ressaltar que, em 1929, o então Ministro da Guerra, através de um anteprojeto de
lei publicado pela Comissão de Educação Física, presidida por ele, cria o Conselho Superior
de Educação Física, cuja finalidade é centralizar os trabalhos de órgãos técnicos e coordenar
informações para a criação de um Método Nacional de Educação Física, além de disseminar
toda e qualquer informação sobre o assunto. Uma das consequências dessa medida é a criação
do CMEF31, via portaria ministerial (10/1/1922) para coordenar e difundir o novo método e
suas práticas desportivas (CASTRO, 1997).
Desse modo, na ausência de um Método Nacional de Educação Física, o Brasil adota o
método francês em todo o território nacional. Alguns estudiosos dessa área eram favoráveis a

30
Portaria n° 70, de 30 de junho de 1931, assinada pelo Ministro da Guerra, General Nestor Sezefredo Passos
que previa obrigatoriedade do ensino de educação física para ambos os sexos a partir de seis anos em todas as
escolas nacionais.
31
“[...] já em 1921 havia o Regulamento de Instrução Física Militar, destinado ao Exército e calcado no Project
francês [...]” (CASTRO, 1997, p.5). Lembramos que o CMEF transformou-se na EsEFEx, em 1932.
87

uma adaptação de tal metodologia às condições culturais do brasileiro, conforme Castro


(1997). Ilustrando esse conflito, o artigo “O método francês em face da criação de outros
métodos adaptáveis ao Brasil”, publicado em 1948, na Revista EsEFEx, traz a posição da
EsEFEx. Esse artigo foi apresentado no Congresso de Educação Física realizado em 1947, em
São Paulo, pela Associação de Professores de Educação Física desse estado e inicia da
seguinte forma:

Desde algum tempo temos verificado entre alguns responsáveis pela educação física
no meio civil, certa inquietação, decorrente da prática do método francês nos
estabelecimentos de ensino primário, secundário, superior e sociedades desportivas
em geral.
Procurando verificar as causas dessa agitação, verificamos que ela decorre da
dificuldade de aceitação por parte desses dirigentes, dos processos de trabalho e das
regras relativas a êsses trabalhos preconizados pela ESCOLA DE JOINVILLE LE-
PONT. [...] (O METODO..., 1948, p. 2).

De início é possível perceber que a “certa inquietação” distribuía-se em todos os níveis


e estabelecimentos de ensino do país, além das sociedades esportivas. O artigo parece uma
tentativa de acalmar os descontentes com a referida metodologia. O texto segue apontando
elementos que motivam a insatisfação dos professores como a falta de estímulo dos
exercícios, da variedade dos trabalhos, ausência de motivação para os flexionamentos e jogos,
além da organização de grupos homogêneos.
Sobre este último aspecto o texto aponta para a prioridade do critério fisiológico na
formação de grupos e justifica que o método francês reconhece a necessidade de respeitar a
atividade mental, mas não desconhece que os mecanismos de seleção intelectual são escassos.
Cita um princípio presente nos testes de Binet, Ballard e Deaborn de adaptação para
realidades regionais. Além disso, afirma que o método admite a educação integral, mas que

[...] as ciências de que nos valemos para educar o ser humano jamais poderão ser
solicitadas na mesma medida; há prioridade de uma sobre as outras em função do
escopo que se busca. Não é com predomínio de princípios de ordem fisiológica que
conseguiremos desenvolver a inteligência do homem; [...] (O METODO..., 1948, p.
5).

Portanto, para os adeptos desse método, embora os aspectos fisiológicos sejam


relevantes, suas bases pedagógicas decorrem dos objetivos dos exercícios e podem ser
calcadas na fisiologia, na psicologia, na sociologia e filosofia.

[...] O método francês não se limita a reconhecer a necessidade de atração no


trabalho físico. Dentro de suas bases pedagógicas que encerram, naturalmente, os
princípios de ordem psicológica, encontramos várias regras destinadas a fazer do
esfôrço metodizado um prazer [...] (O METODO..., 1948, p. 3).

Ao longo do artigo algumas partes do Regulamento Geral n° 7 são citadas para


comprovar que o método adotado atende a essas demandas, assim como questionamentos são
88

levantados no sentido de discutir a viabilidade das críticas, sob a alegação de que são
necessários mais estudos de laboratório e mais experiência para legitimá-las e ainda que “[...]
estas investidas são por demais débeis para minar os alicerces em que se encontra apoiado o
verdadeiro método condensado pela Escola de Joinville [...].” (O METODO..., 1948, p. 4).
Dentre as conclusões levantadas pelo artigo, destacamos: o método francês é
considerado plenamente satisfatório a todos os objetivos da Educação Física; a EsEFEx se
esforçará, junto às escolas civis, em uma adaptação do método francês de acordo com as
necessidades, sem contudo transgredir a aplicação dos princípios pedagógicos adotados pelo
método em questão; e por fim, a criação de um novo método dependeria de muitos anos de
estudos e observações no âmbito da ginástica e nos laboratórios.
Entendemos que apesar da imposição do método francês, os descontentes tinham voz,
vide alguns autores dos periódicos. Marinho (1948), por exemplo, embora pareça de acordo
com essa metodologia, apresenta sua proposta de adaptação ao método por considerá-lo
deficitário no aspecto psicológico. Neste texto comenta alguns pontos do Regulamento Geral
e destaca o capítulo II, dedicado às bases pedagógicas da Educação Física que descreve quatro
regras para a aplicação do método, três de natureza fisiológica e uma psicológica, quais
sejam: grupamento dos indivíduos, adaptação do exercício, atração do exercício e verificação
periódica da instrução.
Marinho (1948) ressalta que, para as regras de natureza fisiológica são destinadas oito
páginas, enquanto que para as psicológicas, apenas oito linhas. A regra psicológica – atração
do exercício – orienta os professores a tornarem as atividades atrativas e prazerosas aos
alunos. Entretanto, tais esforços ainda não foram suficientes. O conhecimento psicológico
deveria ser utilizado pelos professores no sentido de estimular os alunos no processo de
aprendizagem.
Para o autor, os anos de experiência da Divisão de Educação do Ministério da Saúde
fizeram com que esta percebesse a necessidade de rever os métodos usados nas escolas
primárias e secundárias, propondo mudanças que incluíam fundamentos biológicos,
psicológicos e sociológicos que deveriam satisfazer um método nacional de Educação Física.
Seria, em sua visão, a substituição do conceito anatomo-fisiológico pelo conceito bio-psico-
sociológico. Assim, “[...] O papel da educação física estaria representado pelo trabalho capaz
de desenvolver o homem até o máximo de suas possibilidades somato-psíquicas para melhor
colocá-lo a serviço da sociedade. [...]” (MARINHO, 1948, p. 36).
O autor esclarece cada um dos pontos do conceito bio-psico-sociológico em seu artigo.
Sobre o aspecto “biológico”, cita o biologista francês Alexis Carrel e sua obra “O homem esse
89

desconhecido”32 para fundamentar as questões biológicas importantes no conhecimento do


corpo humano. Sobre o aspecto “psicológico” afirma que é importante conhecer a alma dos
educandos e descobrir o que lhes agrada e repugna.

[...] A psicologia nos facultará um maior conhecimento do mundo psíquico daqueles


que vamos educar, de maneira que realizem suas tarefas com prazer desde que estas
correspondam aos seus interesses, aos seus desejos, às suas necessidades. [...] A
formação da personalidade deverá constituir, dentro da educação, qualquer que seja
seu aspecto, especial cuidado para nós. [...] (MARINHO, 1948, p. 37).

Direciona o aspecto “social” à sociologia educacional, a qual objetiva educar a criança


para ser um elemento útil a si mesmo e à sua sociedade. Por fim, o aspecto “filosófico” diz
respeito à reflexão e discussão sobre os problemas propostos em busca das soluções mais
adequadas.
Para esse autor o conceito bio-psico-socio-filosófico atende a todas as necessidades
humanas, físicas, psíquicas, sociais, além de outras capacidades e qualidades que favoreçam a
aspiração de um mundo melhor. A Educação Física, nesse conceito, caracteriza-se como um
instrumento educacional individual e social capaz de “[...] integrá-lo [o homem] na sociedade
perfeitamente ajustado, como ainda desenvolver-lhe a personalidade, as qualidades potenciais
para líder e permitir a perfeita compreensão e discussão dos problemas existentes [...]”
(MARINHO, 1948, p. 37)
Nessa época – anos 1940 – o saber psicológico no Brasil já se apresentava como tal,
em instituições ligadas à Medicina, à Educação, ao Direito e nas empresas. O uso dos testes
psicológicos com objetivos de diagnosticar e classificar o indivíduo era comum, embora ainda
restrito. Inezil Penna Marinho soma-se aos demais estudiosos da Educação Física favoráveis
ao movimento em prol de uma educação integral com uma metodologia que valorizava os
aspectos psicológicos e sociais do indivíduo.
Outro autor que compartilha desse discurso desde os anos 1930 é Lourenço Filho. Em
“Educação Integral” (1952), publicado na Revista EsEFEx, apresenta uma retrospectiva sobre
as origens da organização do ensino técnico-profissional da Educação Física no Brasil,
tecendo elogios ao papel do Exército nesse contexto. Historiciza a criação da EsEFEx
lembrando quando o Ministro da Guerra Pandiá Calógeras, em 1922, faz as primeiras
tentativas em criar um centro de formação até o surgimento da EsEFEx em 1933,
proporcionando nova organização, atualização dos currículos e ampliação de seus objetivos.
Inclui nessa revisão a criação da Escola de Educação Física do Estado de São Paulo
(1931) por Arthur Neiva, além de outros núcleos semelhantes em todo o país, um reflexo das

32
Cf. Carrel (1936).
90

funções da DEF no Ministério da Educação e Saúde (criada em 1937 e cujo responsável era o
Major João Barbosa Leite). Revela ainda que, quando Diretor do Departamento Nacional de
Educação, teve a incumbência de instalar a DEF e acompanhar suas realizações. Explica seu
empenho em função da visão de buscar uma educação integral, pois “[...] A cultura física não
visa apenas o corpo. Visa a personalidade. Não é tão somente os músculos que ela deve falar.
Mas, a toda a pessoa, e, assim, ao corpo e ao espírito.[...]” (LOURENÇO FILHO, 1952, não
paginado).
Segundo o autor, Fernando de Azevedo, então Diretor Geral de Instrução Pública no
Distrito Federal, solicitou autorização para matricular professores de escola primária na
Escola do Exército. Assim, militares e civis caminhariam juntos para o revigoramento físico
do povo brasileiro. A Escola de Educação Física do Exército cresceu muito em número de
atividades e na realização de pesquisas científicas. Também adquiriu novos materiais, criou
novos cursos de formação para especialistas em educação física, médicos e professores, o que
favoreceu a regulamentação da profissão no país e a criação da ENEFD, em 1939, na UB,
através do decreto-lei 1212, assinado pelo Presidente Getúlio Vargas e pelo então Ministro
Gustavo Capanema, no mesmo ano.
Lourenço Filho (1952) ressalta, ainda, o mérito da Escola do Exército pela iniciativa
de criar um curso especial ministrado por técnicos dessa escola, em 1938, para o qual foi
escolhido como organizador o Major Inácio Rolim, que também exerceu a função de redator-
chefe na Revista da EsEFEx por vários anos e foi o primeiro diretor da Escola da UB, a
ENEFD.
Diferentemente dos artigos anteriores, onde o autor fundamentava teoricamente seus
argumentos em favor da educação integral, aqui, mais de uma década depois, ele parece mais
interessado em demonstrar seus feitos em funções administrativas e reconhecer o papel do
Exército como precursor da institucionalização da Educação Física.
Peregrino Junior catedrático da ENEFD e um dos diretores da Revista Arquivos,
periódico dessa escola, em seu artigo “Sentido Espiritual da Educação Física” publicado na
Revista EsEFEx, em 1952, também enfatiza o relevante papel da Educação Física na
construção de um novo homem, considerando os aspectos fisiológicos e psicológicos de uma
educação integral, um discurso iniciado nos anos 1930. Para o autor

[...] A Grande obra a realizar, pois, não é apenas construir fábricas, pontes, estradas,
palácios ou usinas, nem promover o progresso material do mundo: é, antes e acima
de tudo, melhorar a qualidade humana do homem, criar uma disciplina
fisiológica, psíquica e profissional, - a grande obra redentora e salvadora é a criação
de um homem novo – equilibrado e completo, sadio de corpo e alma, honesto, forte
e lúcido [...] (PEREGRINO JUNIOR, 1952, não paginado, grifo do autor).
91

Peregrino Junior (1952) cita Tomás de Aquino e o filósofo italiano Aloysius Taparelli
(1793-1862) para afirmar a necessidade de gerar homens fortes e eficientes. Relaciona os
conceitos espiritual e psíquico à lucidez e à saúde da alma.
Assim como Peregrino Junior, seu contemporâneo de cátedra na ENEFD, Carlos
Sanchez de Queiroz, em 1964, ainda defendia um ensino de qualidade baseado na higiene e na
educação, confirmando a tese de Góis Junior e Luvisolo (2005) que a Educação Física
brasileira conservou os ideais higienistas e ainda os mantêm, embora transformados, na
atualidade.
Queiroz (1964) é outro autor que se preocupa com a qualidade da educação. Na
Revista Arquivos, transcreve sua Conferência “Condições psicológicas para aplicação do
ensino-de-qualidade à higiene, à educação e à recreação realizada”, em 1964, apresentada no
VI Congresso Internacional de Saúde, Educação Física e Recreação, no Rio de Janeiro, em
1963. O evento foi promovido pelo International Council on Health, Physical Education, and
Recreation (ICHPER).
Nesse texto, o autor procura estabelecer a diferença entre ensino de qualidade e
tecnicismo profissional. Considera que os preceitos dos movimentos na Educação Física têm
base behaviorista, mas acrescenta que a didática baseada em Dewey e W. James apresenta o
interesse motivando a ação. Fundamenta sua visão de aprendizagem em W. Khöler e afirma
que não se aprende fazendo, mas pensando no que se faz. Seguindo Ribot, Queiroz (1964, p.
29) afirma que o ato desportivo não é a expressão de reflexos condicionados, e pergunta-se se
o atleta não teria consciência plena do que realiza no momento da competição. Considera
aprendizagem gímnico-desportiva um fenômeno psíquico, pois afirma que a razão organiza e
dirige os movimentos dos atletas. Conclui seu artigo afirmando que “[...] as condições
psicológicas do homem constituem os fundamentos científicos para aplicação correta do
ensino-de-qualidade à higiene, à Educação Física e à Recreação.”.
O discurso de Carlos Sanchez Queiroz em muito se difere dos demais artigos. No
entanto, o autor fala sobre o ensino de qualidade relacionando higiene, educação física e
psicologia, temas presentes em todos os artigos selecionados nesse capítulo. Algumas
considerações podem nos fazer entender a diferença de seu discurso em relação aos demais.
Nele, ocorre a defesa de uma teoria psicológica que valoriza a consciência e
autonomia do indivíduo diante do meio e uma crítica ao behaviorismo, que considera estar na
base dos preceitos da Educação Física. Queiroz (1964) parece partilhar do interesse de Nilton
Campos, catedrático de Psicologia do Instituto de Psicologia da UB, por outra escola
psicológica, a da Gestalt.
92

Artigos como esse nos periódicos da Educação Física demonstram a presença do


movimento higienista também nos anos 1960, ainda que transformado pelas demandas
vigentes. Além disso, vemos um médico, em um periódico de Educação Física escrevendo
sobre Psicologia. E notamos que há várias abordagens teóricas sobre as quais o higienismo se
apresenta.

1.2 A Institucionalização de novos campos: Psicologia e Educação Física

Nesse projeto de civilização do povo brasileiro a intervenção dos médicos também foi
considerada importante não só no âmbito da saúde física, mas em todo o processo de
educação do indivíduo, fosse ela intelectual, moral ou comportamental – a chamada educação
integral. A ideia principal era construir uma nação potente e para isso os homens tinham que
ser fortes em todos esses aspectos. Como dissemos antes, tais demandas fomentaram reformas
educacionais, pois havia a necessidade formar professores para educar também o físico e
consequentemente criaram-se espaços apropriados, como a EsEFEx para viabilizar uma
educação baseada na disciplina e no controle.
O saber psicológico, como mais um produto da Modernidade, assimila as influências
desse contexto caracterizado pela ruptura com a tradição e estímulo ao novo e ao progresso,
entendendo as demandas emergentes como fruto da capacidade e da potencialidade humana.
(JACÓ-VILELA, 2001, p. 25).
Além do progresso, noções como civilização, a distinção entre público e privado, a
valorização exacerbada da técnica e das máquinas trouxeram consigo mudanças agudas na
noção de tempo e espaço nas sociedades ocidentais (EWALD, 2001). Foi o momento de
valorização da velocidade dos acontecimentos, do conforto e das facilidades. O mundo passa
a viver em função dos ideais modernos e o Brasil, não imune a esses efeitos, lutou para
inserir-se cada vez mais nessa Modernidade.
O efeito dessas transformações pode ser ilustrado por Mancebo (2002) quando afirma
que o modelo racional de fazer ciência, construído pela revolução científica dos séculos XVI e
XVII e por seus representantes principais, Bacon e Descartes, influenciaram o surgimento de
novas formas de relação entre sujeito e objeto de conhecimento. Assim, o sujeito, agora
senhor de suas vontades, autoconsciente, centro e fundamento do mundo, passou a ocupar
lugar mais definido na Idade Moderna.

[...] Em outros termos, [...] Ao longo dos tempos, construiu-se a expectativa de


cultivo e respeito à interioridade, através da proteção da privacidade e instituiu-se
uma nítida separação entre as esferas públicas e privadas da vida. No entanto, esse
93

processo de constituição da subjetividade moderna foi longo e continua sofrendo


modificações intensas até a atualidade [...] (MANCEBO, 2002, p. 2).

Essas e outras mudanças constitutivas da subjetividade participaram da construção de


um homem movido pela individualidade competitiva, pela intimidade exagerada e isolamento
social, pela disciplina, submissão e alienação imposta aos corpos. “[...] Com a fragmentação e
indiferenciação próprias do mundo moderno, o indivíduo busca seus pontos de referência cada
vez mais em si próprio, em sua intimidade [...]” (JACÓ-VILELA, 2001, p. 26).
Aos poucos, diminui sua capacidade de formular e agir em prol da coletividade, e sua
referência pessoal pode se confundir com as demandas sociais. É neste contexto de
Modernidade que a Psicologia se constitui como disciplina científica autônoma. Pensando no
âmbito da prática esportiva, ela deve arcar com as demandas da atividade física, do esporte
moderno e das exigências impostas ao atleta. Mas tais demandas vão se apresentando aos
poucos e se constituindo inicialmente, em espaços de inserção da Psicologia no universo da
Educação Física.
A Psicologia, portanto, se constitui como ciência no mundo a partir das mudanças em
torno das concepções de individualidade e da noção de público e privado, assim como através
da relevância que a natureza humana passa a ter para as Ciências a partir do século XVI. O
pensamento evolucionista e a noção de adaptação ao meio ambiente implicam a necessidade
de disciplinas que lidem com os grupos humanos. Daí surgem as distinções entre normal e
anormal e a busca de formas de adaptação e ajustamento ao meio social.
A discussão sobre mente e corpo não desaparece, mas cede espaço para outras
perspectivas. Nos EUA, a Psicologia se fundamenta no estudo da consciência, de sua função
adaptativa e de sua evolução na espécie humana. Na Europa, notadamente na França, a ênfase
esteve na relação entre a Psiquiatria e Neurologia, quando a loucura passou a ser explicada
como uma patologia da mente e não mais dos nervos, através dos trabalhos de Charcot e de
Janet. Na Alemanha, W. Wundt (1832-1920) e seu laboratório de Psicologia (1879)
proporcionaram o estudo experimental da Psicologia em uma formação universitária.
Com a expansão e apropriação do pensamento de Wundt nos EUA, na versão
estruturalista de Titchener e sua difusão por Boring, em 1929, a Psicologia se volta para a
estrutura da consciência, para o controle, a mensuração, a classificação em todos os aspectos,
individual e coletiva, interna e externa ao indivíduo. Assim, o saber psicológico seguiu a trilha
positivista e ganhou maior repercussão mundial.
No âmbito da atividade física, para Soares (2005), o movimento ginástico europeu foi
a grande base para o pensamento moderno em torno das práticas corporais no ocidente, que
94

como dissemos, tentava retomar o modelo grego, onde a formação do cidadão incluía a
purificação do espírito e o cultivo da beleza do corpo.

[...] A aplicação da ginástica tinha uma vantagem diante da aquisição e preservação


da saúde, quando compreendida como conquista e responsabilidade individual a
partir de sua prática sistemática. Era uma forma de inibir os „excessos do corpo‟
vividos por acrobatas e funâmbalos [...] (SOARES, 2005, p. 19).

As atividades físicas não poderiam mais ser executadas sem um objetivo específico e
as atividades circenses, embora exercendo grande fascínio na sociedade europeia, bem como
na brasileira no século XIX, passaram a ser temidas pela burguesia, pois nelas o corpo era tido
como centro do espetáculo – por isso também a repressão à capoeira. O corpo, livre para
executar qualquer movimento, ameaçava a ideia de disciplina e o controle social. O corpo
deveria servir ao trabalho e não apenas para despertar o riso e as emoções. Em lugar de
incentivo às atividades lúdicas, surgiram os exercícios físicos em série, pensados para partes
específicas do corpo, atendendo a grupos musculares e funções orgânicas com objetivos úteis.
A gymnastica33 passa a ser o meio de intervenção racional no corpo, a razão médica
garantindo a organização de sua aplicação e o controle do corpo e das emoções para favorecer
a civilização. Entretanto, se no fim do século XIX a Educação Física era imposta pelos
médicos, no século XX, passou também às mãos do Exército brasileiro que, assim, assumiu o
controle sobre o corpo.

[...] A defesa do movimento e do exercício fica, pois, ancorada em uma ordem, uma
série, em ações sucessivas que desenvolveriam os músculos, duplicariam as forças e
educariam os movimentos corporais segundo o modelo de „gymnastica‟ estabelecido
pelos higienistas, que inscreviam o corpo e as atividades corporais em sua órbita de
ação [...] (GONDRA, 2004, p. 298).

Como dissemos antes, além do higienismo, o movimento da Escola Nova também foi
importante nos anos 1920-1930. Influenciado pelo pragmatismo e funcionalismo norte-
americanos, buscava contornos científicos e preconizava uma educação racional e prática,
voltada para a experiência.
Ferreira Neto (1999) afirma que os regulamentos de ensino do Exército, citados
anteriormente, foram marcados por um ensino objetivo e pela praticidade dos métodos e
processos, responsáveis por um ensino do “fazer para aprender”, onde o uso do laboratório, do
trabalho de campo, da experimentação e do exercício aplicativo caracterizavam uma doutrina
didática moderna, baseada nos ideais da Escola Nova e da psicologia da aprendizagem.

33
A concepção de gymnastica refere-se à ginástica racional higiênica ou terapêutica, baseada em dados
fisiológicos, conforme citação anterior de Soares (2005).
95

Assim, segundo esse autor, a Psicologia foi determinante na construção do pensamento


pedagógico no Exército e na Educação Física.
Dentre os educadores que se destacaram nesse movimento temos Fernando Azevedo
(1894-1974), Anísio Teixeira (1900-1971) e Manuel Bergstrom Lourenço Filho (1897-1970).
Este foi um personagem reconhecido tanto na Educação Física, como também na Psicologia
por afirmar em seu livro “Introdução ao Estudo da Escola Nova” (1930) ser a Psicologia uma
das bases da Educação, capaz de fornecer conhecimento acerca das diferenças individuais e
sobre motivação, personalidade e dificuldades de aprendizagem.
Lourenço Filho foi também um dos autores encontrados nos periódicos de Educação
Física ressaltando a importância de uma educação integral, além de ser um dos primeiros
autores desses periódicos a incluir o termo psicologia em seus artigos para ressaltar a
importância do saber psicológico na formação dos professores de Educação Física. Tal fato
pôde ser constatado em seu artigo “Psicologia e Educação Física” de 1935, na Revista de
Educação Física do Exército ao admitir uma relação entre Psicologia e Educação Física ainda
em meados dos anos 1930, quando a própria área dava os primeiros passos para se estabelecer
como saber acadêmico. Sabemos que nesse período Biologia e Fisiologia eram as bases da
metodologia adotada pelas escolas militares e, portanto, do ensino nas escolas de Educação
Física, que seriam criadas logo depois.
Baseado nos estudos da psicologia experimental, Lourenço Filho propõe que a
Educação Física atente para as descobertas científicas da Psicologia e seu uso pela prática da
Educação Física. Afirma que toda a Psicologia atual, definida como ciência do
comportamento, possui suas raízes na noção de arco reflexo para explicar a conduta humana.
Para o autor “[...] A psicologia de hoje não separa o pensamento da ação. A educação de hoje
não pode separar, também, o exercício do corpo, da disciplina dos valores do espírito e do
caráter. [...]” (LOURENÇO FILHO, 1935, p. 1)
O discurso de Lourenço Filho somou-se a outros, como de Inezil Penna Marinho – que
nos anos 1940 tornou-se um reconhecido professor e estudioso da Educação Física (MELO,
2008) – em favor de uma educação integral que não supervalorizasse os aspectos físicos em
detrimento dos demais, e que também incluísse os aspectos intelectuais e morais. A busca de
uma educação integral mobilizou os estudiosos dessa área na primeira metade do século XX.
Podemos confirmar isso em outro artigo de Lourenço Filho, “Educação Integral”, publicado
em 1952, onde fez uma breve retrospectiva sobre as origens da organização do ensino técnico-
profissional no Brasil e o papel do Exército nesse contexto, em especial da EsEFEx, em 1933.
96

Na época, como Diretor do Departamento Nacional de Educação do Ministério da


Educação e Saúde, Lourenço Filho teve a incumbência de instalar, neste departamento, a DEF
– que ficaria sob o comando do Major João Barbosa Leite, mais tarde um dos editores da
Revista EsEFEx – e acompanhar suas realizações em todo o território nacional. Lourenço
Filho explica o empenho em tais ações de busca por uma educação integral, pois em sua visão
“[...] A cultura física não visa apenas o corpo. Visa a personalidade. Não é tão somente aos
músculos que ela deve falar. Mas, a toda a pessoa, e, assim, ao corpo e ao espírito [...].”
(LOURENÇO FILHO, 1952, p. 1).
A questão do método nas escolas de Educação Física não foi consensual entre os
estudiosos e acadêmicos da época, gerando um movimento, ao longo da primeira metade do
século XX, em busca de mudanças que valorizassem a educação integral. Apesar disso,
presente desde o Brasil-Império, a Educação Física já dava grandes passos para sua
profissionalização em 1882 com o parecer do então deputado geral do Império e membro da
Instrução Pública Rui Barbosa (1849-1923), em seção da Câmara dos Deputados que tratava
do projeto n. 224 sobre a “Reforma do ensino primário e várias instituições complementares
da Instrução Públicas”. Dentre outros pontos, Barbosa (1946/1947) ressaltou o valor da
ginástica na formação do cidadão, a importância da Educação Física precedendo outras
formas de educação bem como um feito significativo para a inclusão obrigatória da Educação
Física nos currículos escolares.
Para Marinho (1980, p. 162) esse ato é “[...] a primeira tentativa para solucionar o
problema da Educação Física no Brasil [...]”, pois é pioneiro em apresentar detalhes técnicos
para a introdução dos programas de Educação Física no currículo escolar.
Esse processo de formação profissional esteve vinculado à Marinha e à Força Pública
do Exército, utilizando-se dos métodos ginásticos alemão e francês além das concepções
pedagógicas de autores que influenciaram o movimento da Escola Nova como Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778), Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) ou foram participantes desse
movimento como Edouard Claparède (1873-1940) e Jonh Dewey (1859-1952). Bermond
(2007, p. 18) aponta a presença destes autores no periódico da Escola de Educação Física do
Exército, mostrando que isto representa uma “[...] concepção educacional que forneceria as
bases pedagógicas de uma Educação Física „racional‟ e/ou „científica‟ [...].”
A discussão metodológica ainda persiste durante as primeiras décadas do processo de
institucionalização da Educação Física, pois não só os educadores se posicionavam a respeito,
como também os militares que escreveram na revista. No artigo “Importância da Educação
Física para um Povo: método adotado – razões de sua adoção”, publicado pelo primeiro
97

Tenente Antonio de Mendonça Molina, em 1932, na Revista EsEFEx, são enfatizados os três
aspectos aos quais a Educação Física se destina: a educação física, moral e intelectual. No
entanto, o autor questiona por que o aspecto físico vem sendo deixado de lado em detrimento
dos demais. Ele entende que, nos tempos modernos, por iniciativa de pedagogos e filósofos, a
necessidade do desenvolvimento integral do corpo humano impulsiona a uma educação física
aliada à moral e à intelectualidade. Mas, na visão do autor, para a efetivação disso, seria
necessário adotar um método que oferecesse um ponto de vista estritamente científico dos
meios e exercícios para que pudesse tornar-se um método nacional (MOLINA, 1932).
Molina (1932, não paginado) afirma que, dentre os métodos mais conhecidos, foi
escolhido o francês34 por seu caráter generalista, por atender a ambos os sexos, servir a uma
diretriz e basear-se no conhecimento das ações e reações orgânicas dos exercícios nas diversas
idades, enfocando os aspectos pedagógico e psicológico no sentido de manter o interesse dos
praticantes. A Educação Física é, pois, “[...] o único meio de regenerar a raça francesa e salvá-
la da ruína [...]. É este método científico-fisiológico e psicológico – idealizado para uma raça
latina como a nossa que adotamos.”.
Em meio a toda essa discussão metodológica emergia também a necessidade de uma
formação técnica diante da demanda educacional em formar homens fortes e saudáveis para
representar a nova nação brasileira. Havia ainda a dificuldade em manter a autonomia do
Exército, com a constante necessidade de investir em seus quadros para enfrentar os conflitos
e tensões sociais. Tais elementos explicam, em parte, o investimento do Estado para a criação
das Escolas de Educação Física nos anos 1930.

[...] Dentro desse percurso, a década de 1930 vai assinalar, ainda, entre outras
realizações, a criação da Escola de Educação Física de São Paulo em 1934; a
regulamentação da Escola de Educação Física da Força Pública do Estado de São
Paulo (criada em 1909), com o Decreto 7.688, em 1936; e a criação da Escola
Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD), na Universidade do Brasil, em
1939, Decreto-Lei 1212 [...] (BENITES; SOUZA NETO; HUNGER, 2008, p. 345).

Assim, através do Decreto n. 1212, os programas de Educação Física da ENEFD


destinavam-se a ministrar os seguintes cursos: curso superior e o curso normal de educação
física, curso de técnica desportiva, curso de treinamento e massagem, curso de medicina da
educação física e do desporto. Todos com duração de um ano, exceção ao curso superior que
previa dois anos de formação. Estudiosos da História da Educação Física apontam a ênfase

34
O decreto n. 14.784, de 27 de abril de 1921, previa a regulamentação do método francês baseado nas “[...]
leis physiologicas que regulam o crescimento e o densenvolvimento do homem [...] para a preparação
physica dos soldados. Tal tem sido a excellencia dos resultados obtidos com esses methodos, que haverá
certamente interesse em applica-los no Brasil, quer para a educação das creanças até 16 annos, quer dos
adultos. [...]” (BRASIL, 1921, não paginado).
98

curricular essencialmente técnica nestes cursos, sem a presença de fundamentos filosóficos e


pedagógicos, que objetivassem dar suporte prático ao profissional (BENITES; SOUZA
NETO; HUNGER, 2008).
A Europa ainda se recuperava do estrago da Primeira Guerra e os Jogos Olímpicos de
Antuérpia (1920), na Bélgica, de certa forma serviram para promover os ideais de paz
propostos por Pierre Cobertain, idealizador dos jogos. O Brasil, estreante nesses jogos, voltou
com três medalhas, uma de ouro, uma de prata e uma de bronze, ambas na modalidade de tiro.
O primeiro medalhista “dourado” brasileiro foi Guilherme Paraense que desde os cinco anos
estudou em escola militar e lá concluiu não só sua vida acadêmica, como também se fez
atleta. “[...] Seu nome batiza o estande de tiro da Academia das Agulhas Negras em uma justa
homenagem das Forças Armadas ao primeiro de vários outros atletas que iniciaram sua
carreira nessa instituição [...].” (RUBIO, 2004, p. 27).
A partir dos Jogos Olímpicos de 1948 o Brasil não deixou de participar de qualquer
Jogos Olímpicos e sempre com medalhistas. Apesar das precárias condições técnicas e
estruturais de preparo para essas competições, além dos desportistas civis, sempre houve a
participação dos militares, em especial da Marinha e do Exército. Recentemente, essas forças
militares realizaram um processo de “repatriação” de atletas a seus quadros de oficiais,
visando melhoria nos resultados em eventos esportivos mundiais militares. Essa inserção nas
Forças Armadas também serve, muitas vezes, como única alternativa de preparo para os Jogos
Olímpicos de alguns atletas brasileiros diante do abandono de seus patrocinadores ou da falta
de recursos do Estado para esses fins.
Consideramos importante revisitar brevemente o contexto histórico desse período. Os
anos 1930, marcados por transição de regime político, trariam consigo a chamada Era Vargas
(1930-1945). A estrutura republicana denominada República Velha ruiu em nome da
democracia e deu lugar aos vencedores da Revolução de 1930. Com apoio das Forças
Armadas e em meio a transformações políticas, não populares, mas das elites, o Brasil viveu
um período de instabilidade política, econômica e social. Os intelectuais da época são
descritos por Skidmore (2007) como uma classe atraída pelos argumentos do “nacionalismo
econômico”, proposto por Vargas.
Para Skidmore (2007) desde os anos 1930 alguns desses intelectuais dedicavam-se a
criar uma nova compreensão sobre o Brasil. Foi nessa década que “Casa Grande e Senzala”,
de Gilberto Freyre, “Evolução política do Brasil”, de Caio Prado Junior e “Raízes do Brasil”,
de Sérgio Buarque de Holanda, passaram a compor o universo do pensamento social
99

brasileiro, na tentativa de construir uma nova compreensão da nação, principalmente do povo


que a habita, escapando das antigas culpabilizações raciais presentes no século XIX.
Havia também interesses diversos entre os revolucionários. Os liberais e os civis
queriam mais mudanças políticas, os militares e os tenentes visavam a grandes mudanças
econômicas e sociais. Os resultados desse embate foram novas experiências políticas que
perduram pelos sete anos que se seguiram: uma revolta armada em São Paulo - Revolução
Constitucionalista (1932) –, uma nova Constituição, um movimento de frente popular, de
caráter fascista denominado de Integralismo e uma tentativa de golpe comunista liderado pela
Aliança Nacional Libertadora35. Em 1937 o Brasil, desgastado com tais experiências, abre
espaço para um período de oito anos de regime autoritário, o Estado Novo, e Getúlio Vargas
dá início à segunda parte de seu domínio político no país (1937-1945).
Outro movimento importante nessa época foi o “tenentista”, ocorrido mais
precisamente nas décadas de 20 e 30. Os tenentes no primeiro momento (década de 20)
apresentam-se com objetivos de organizar setores civis e de combater as oligarquias, em um
movimento de conteúdo centralizador, elitista, pois não era vinculado às classes populares,
considerado vagamente nacionalista, mas de estreita vinculação e simpatia com a classe média
do país.
Para Fausto (1997, p. 80) “[...] „os tenentes‟ desempenharam um papel organizatório
significativo no episódio revolucionário e detiveram vários postos de direção do Estado
durante os primeiros anos do governo Vargas [...].” No entanto, ressalta que existe uma
diferença entre o movimento tenentista anterior à Revolução de 30 e o pós-revolução.
Segundo esse autor, o tenentismo não se caracteriza apenas por uma representação das classes
médias, mas

[...] como um movimento política e ideologicamente difuso, com características


predominantemente militares, [...] „os tenentes‟ se identificam como responsáveis
pela salvação nacional, guardiães da pureza das instituições republicanas, em nome
do povo inerme. Trata-se se um movimento substitutivo e não organizador do
„povo‟[...] (FAUSTO, 2008, p. 80-81).

A participação dos tenentes no governo Vargas demonstrou as inconsistências e


incoerências de um grupo pouco integrado. Em sua segunda fase, passa a servir ao governo
sem impor modificações relevantes na estrutura sócio-econômica do país, como era esperado.
Para Fausto (1997), os tenentes serviram de instrumento a Vargas para impedir que grupos

35
No Brasil, surgiram, nesta época, os primeiros movimentos políticos radicais, com orientação ideológica
distinta: o Integralismo, movimento fascista da direita, liderado por Plínio Salgado e a Aliança Nacional
Libertadora (ANL) comandada por Luís Carlos Prestes, e que representava os sindicatos dos trabalhadores,
ainda que em pequena escala. Cf. Skidmore (2007, p. 39).
100

políticos de São Paulo chegassem ao poder. Embora houvesse uma aproximação e simpatia
entre a classe média e os tenentes, o tenentismo não se configura como um movimento que
levou a burguesia ao poder, mas como um movimento que se propõe a operar reformas
pequeno-burguesas, como as realizadas no âmbito educacional, mesmo sem muita
participação da burguesia da época.
Ainda envolto em muitos conflitos políticos, na tentativa de modernizar o país, o
Estado mantinha sua hegemonia e ampliava seu poder de ação em áreas diversas da
sociedade, carente de outras forças mobilizadoras. Segundo Lenharo (1986, p. 22).

[...] a expansão desmesurada do Estado é percebida também pela sua função


modernizadora. O capitalismo brasileiro, atrasado, tardio ou desigual e combinado
face ao capitalismo internacional, requeria um agente histórico capaz de suprir as
ausências das forças sociais insipientes [...].

O Estado assume o lugar desse agente histórico, pois a luta de classes no Brasil não
acontecia de maneira expressiva, ao menos aos olhos dos marxistas, que buscavam por classes
sócio-econômicas bem definidas: a burguesia e o proletariado. Com o processo de
industrialização tardio, se comparado ao primeiro mundo, o Brasil se constituía de camadas
populares diversas distribuídas em todo o território nacional.
Havia então a necessidade de educar os trabalhadores para alcançar a tão desejada
Modernidade. Os sindicatos passaram a ser um instrumento do Estado para alcançar tal
objetivo sem que este perdesse o controle e o poder de ação sobre os trabalhadores. O período
que vai dos anos 1920 até 1945 será marcado pela crise no sistema oligárquico do país e pela
emergência de massas urbanas no cenário político nacional, que

[...] se expandem e se diferenciam de forma acelerada como resultado do processo


de industrialização e urbanização – produto indireto, [...] da dinâmica da economia
exportadora – e do processo de burocratização, decorrência, por um lado, da própria
ampliação das funções do Estado e, por outro, da incipiente industrialização do país
[...] (MENDONÇA, 2000, p. 14-15).

Economicamente, o Brasil vivia as expectativas do progresso e do desenvolvimento


industrial, acelerados pela Segunda Guerra Mundial. A intervenção do Estado na economia
favoreceu o surgimento de empresas mistas ou públicas como a Companhia Siderúrgica
Nacional. Somado a isso, o estreitamento das relações com os Estados Unidos gerou
investimentos de bancos americanos e sua participação no planejamento do desenvolvimento
econômico do País.
Os militares apoiaram com fervor a industrialização, pois queriam garantir uma
indústria siderúrgica; a depressão mundial demonstrava que o Brasil não tinha outro caminho,
senão a industrialização, para modernizar-se e transformar-se em uma potência. Como já
101

dissemos, esse é mais um viés dentro do processo civilizatório brasileiro no século XX. Sobre
outras tentativas de disciplinar o povo houve manifestações de várias maneiras, como
acrescenta Lenharo (1986, p. 37-38): “[...] são muito claros, portanto, os delineamentos
políticos de transformação dos sindicatos em „escolas de união e disciplina‟, uma estratégia
institucionalizada visando o congelamento das posições de classe e a instrumentalização
disciplinar dos trabalhadores [...].”
Resta saber, portanto, em que bases se encaixam Psicologia e Educação Física nesse
contexto? É que paralelamente a esses acontecimentos políticos, o Brasil vivia um momento
de sedimentação de alguns saberes, dentre eles a Educação e a Medicina; afinal, se o país
precisava se desenvolver com ordem e progresso, a saúde e a educação eram prioritárias. Esse
período apresenta uma característica básica: a militarização do corpo. Logo, para que a
sociedade se transformasse de acordo com os objetivos da Modernidade e o país se tornasse
desenvolvido era necessário que o corpo dos indivíduos fosse fisicamente educado e
favorecesse o desenvolvimento de faculdades morais mais elevadas (LENHARO, 1986). Esse
contexto torna-se um cenário favorável para que a Educação Física também se estabeleça
como um saber científico, útil à sociedade.
Sem dúvida, o que Lenharo (1986) nos apresenta sobre a militarização do corpo nos
anos 1930-1940 ilustra a emergência de práticas que vêm se afirmando ao longo dos anos,
onde podemos encontrar campos heterogêneos como Medicina, Educação Física, Exército e
Psicologia caminhando em paralelo e construindo novas relações. O que torna esse período
assaz importante é o fato de ele situar o início de institucionalização da Educação Física e da
Psicologia.
Assim, vimos que a Medicina adquirira prestígio social junto ao Estado, desde finais
do século XIX, com a responsabilidade de civilizar e higienizar as massas a partir de normas e
estratégias de saúde pública. A Educação Física e a Psicologia também integram esse projeto:
aquela como ferramenta para a disciplinarização dos corpos e esta como instrumento de
classificação através dos testes psicológicos e de teorias sobre a normalidade.
Nesse sentido, com a Revolução de 1930, considerada o marco para a industrialização
e urbanização do país e as estratégias políticas visando ao desenvolvimento industrializado do
país, os olhares das elites voltam-se para a criança, o “adulto de amanhã”. A infância parece
ser eleita como prioridade nas metas desenvolvimentistas do país, com iniciativas
contundentes do Estado com vistas à sua educação e o controle do futuro adulto.
Sabemos que nas décadas de 20 a 40, o país já tinha seus representantes em
competições internacionais como os Jogos Olímpicos. As preocupações do Estado voltavam-
102

se então para a saúde dos trabalhadores, mas também cediam lugar para o lazer,
principalmente quanto ao uso do tempo livre pelas crianças. A partir daí, experiências de
políticas públicas são desenvolvidas nesse sentido (SOARES, 2007).
O foco nas crianças perpassa alguns saberes da época e a Psicologia inicia seu
processo de institucionalização, inserindo-se em alguns órgãos públicos, dentre eles a Liga
Brasileira de Higiene Mental (LBHM), fundada, em 1923, pelo médico Gustavo Kholer
Riedel (1887-1934). Neste ano, Riedel criou também o Laboratório de Pesquisas Psicológicas,
da Colônia de Psicopatas, para o qual convidou o psicólogo polonês Waclaw Radeki (1887-
1953) para ser seu diretor. Este laboratório adquire relevo e em 1932, o Governo Provisório,
através do decreto n° 21.173, converte o Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas
em Instituto de Psicologia (IP) – subordinado ao Ministério da Educação e Saúde Pública –,
cuja finalidade principal seria criar um curso de formação de psicólogos profissionais,
oferecendo disciplinas aplicadas à Educação, à Medicina e ao Direito, conforme artigos 2° e
3° do decreto 21.173.

[...] Art. 2º O Instituto de Psicologia, que fica sob a dependência imediata da


Secretaria de Estado da Educação e Saude Pública, enquanto não for instalada a
Faculdade de Educação, Ciências e Letras, terá por objetivo:
a) coordenar estudos e pesquisas de psicologia geral e aplicada;
b) servir como centro de aplicação das técnicas de diagnose psicológica, para os
serviços de orientação e seleção profissionais;
c) contribuir para os estudos de aplicação da psicologia à pedagogia, medicina,
técnica judiciária e racionalização do trabalho industrial;
d) formar psicologistas profissionais, mediante cursos teóricos e práticos, e com
estágio obrigatório em seus laboratórios.
Art. 3º O Instituto de Psicologia compreenderá as seguintes secções:
I, psicologia geral;
II, psicologia diferencial e orientação profissional:
III, psicologia aplicada à educação;
IV, psicologia aplicada à medicina;
V, psicologia aplicada ao direito. [...] (BRASIL, 1932, não paginado).

O primeiro curso de Psicologia teria duração de quatro anos, composto por um


conjunto de disciplinas, entre elas, Psicologia Geral Psicologia Diferencial e Coletiva
Psicologia Aplicada à Educação, esta incluía as disciplinas de Psicologia da Criança, História
da Psicologia, Ética e Estética. No entanto, após sete meses de funcionamento, o IP encerra
suas atividades (JACÓ-VILELA, 1999a).
Segundo Centofani (1982), três são as possíveis causas de seu fechamento: falta de
recursos orçamentários, pressão de grupos médicos e pressão de grupos católicos. Na análise
de Jacó-Vilela (1999b, p. 84) “[...] a proposta pioneira de Radecki sucumbiu por pressões
corporativas e ideológicas [...]”, que envolviam lutas políticas pela preservação de um campo
de conhecimento sem as delimitações próprias do capitalismo.
103

Só em 5 de julho de 1937, através da Lei n° 452, em seu artigo 1°, o Instituto de


Psicologia torna-se parte integrante da UB como órgão vinculado à Reitoria e colaborador das
seguintes Faculdades: Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras, Faculdade
Nacional de Educação e Faculdade Nacional de Política e Economia. Nesse período, a
Psicologia servia como saber complementar aos diversos saberes acadêmicos dessa
instituição, inclusive ao Curso de Educação Física.
Com o Decreto-lei de 1945, que complementa o anteriormente citado, este concede à
UB a condição de pessoa jurídica, “com autonomia administrativa, financeira, didática e
disciplinar” (BRASIL, 1945, não paginado). O Instituto de Psicologia mantém suas funções
de estabelecimento de ensino e evolui para a categoria de Instituto Científico e de Pesquisa.
Em 1946, outro decreto (21.321, de 1946)36 que aprova o Estatuto da UB, eleva o IP à
categoria de Instituto especializado incorporado a essa instituição que, além de cooperar com
as escolas e faculdades no ensino e pesquisa, passa também a desenvolver atividades de
produção e pesquisa com fins coletivos e sociais (BRASIL, 1946a). Desse modo, o Instituto
de Psicologia permaneceu e funcionou até a reforma universitária de 1967, quando a
reestruturação da UB terminou com as cátedras e o Instituto de Psicologia passou a ser o
órgão responsável pelo curso de Psicologia e pela lotação dos docentes de Psicologia.
Paralelamente a esses acontecimentos, a inserção da Psicologia continuaria em outros
órgãos públicos, como o Serviço de Ortofrenia37 e Higiene Mental (SOHM) (1934-1978), que
destinava-se a atender crianças de escolas primárias com problemas de adaptação e
ajustamento psíquico no lar e na escola, além de ter o objetivo de diagnosticar alunos com
dificuldade de aprendizagem. Outro espaço que permitia a presença do saber psicológico foi o
Laboratório de Biologia Infantil (LBI) (1936-1941) criado por Leonídio Ribeiro, seguidor de
uma concepção determinista, que buscava prevenção para os crimes a partir de uma
predisposição biológica, o qual introduziu métodos pedagógicos e uma clínica médica para
atuar como órgão de assistência social aos menores infratores no LBI.
Um órgão que se revelou muito importante foi o Centro de Orientação Juvenil (COJ),
criado em 1946, pertencente ao Ministério da Educação e Saúde, objetivava oferecer serviço
psicológico como complemento da orientação médica e pedagógica na maternidade e
infância. Foi a primeira clínica psicológica pública de toda a América Latina. Observamos
desse modo, a existência de um cenário favorável à Psicologia no país desde o início do

36
Esse Decreto ainda pode ser localizado em outros sites. Cf. http://www2.camara.gov.br,
http://www6.senado.gov.br, http://www.crpsp.org.br, http://www.psicologia.ufrj.br e
http://www.abepsi.org.br.
37
Ortofrenia (entendido como “correção dos nervos” ou “correção psíquica”).
104

século XX, mais precisamente com o advento da industrialização e o processo de urbanização.


A prática psicológica era necessária para atender às demandas tanto no âmbito do trabalho,
quanto da educação e da clínica, e também do esporte.
No entanto, ao que parece, tais acontecimentos ocuparam as atenções dos profissionais
da Psicologia e, apesar da existência do Instituto de Psicologia e de sua presença nos órgãos
citados anteriormente desde os anos 193038, a Psicologia brasileira ainda não possuía um
instrumento para divulgar seus estudos, como possuía a Educação Física. A criação dos
primeiros periódicos de Psicologia só ocorre em 1949. O Instituto de Seleção e Orientação
Profissional (ISOP), fundado em 1947 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), tinha como
objetivo realizar pesquisas sobre psicotécnica e difundir temas relativos ao trabalho, uma
temática destacada no Governo Vargas. Os técnicos desse instituto criaram a Associação
Brasileira de Psicotécnica, que por sua vez, criou a revista “Arquivos Brasileiros de
Psicotécnica” (1949)39. Em seguida o Instituto de Psicologia passa a publicar seu periódico, o
“Boletim do Instituto de Psicologia” (1951 -1974) que se dedicava a uma “produção teórica e
reflexiva, nos moldes do modelo científico” (JACÓ-VILELA, 1998, p.7).
Idealizado pelos professores Antônio Gomes Penna e Elieser Schneider, o Boletim
seria um veículo de responsabilidade dos docentes do Instituto de Psicologia com fins de
reflexões e exposição de seus trabalhos (PENNA, 1992). Segundo Jacó-Vilela (1998), em São
Paulo havia a Sociedade de Psicologia de São Paulo fundada em 1945 e o Boletim de Instituto
de Psicologia da USP criado em 1949.
O surgimento de tais periódicos no período pós-guerra e de democratização do país
sinaliza mais uma preocupação da Psicologia em discutir suas teorias e práticas e menos um
interesse de abordar criticamente os fenômenos sociais emergentes. “A impressão é que a
Psicologia se compraz em sua ocupação do espaço dos micro-fenômenos, não considerando
como pertencentes também a ela os processos sócio-culturais e econômicos que fervilham no
Brasil [...].” (JACÓ-VILELA, 1988, p. 17).
A preocupação dos profissionais dessa área em torno da legitimação de sua prática foi
um assunto que ocupou os periódicos nessa época. Embora tenha tido um cenário favorável,
seu percurso de regulamentação como profissão foi longo e sinuoso, envolvendo discussões
38
O site oficial do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) baseado em
documentos oficiais no Arquivo Nacional, Imprensa Nacional e Biblioteca Nacional informa que comemorou
em 4 de outubro de 1982 o cinquentenário de sua fundação. O que confirma o fato de considerarem sua
criação em 1932 ainda no Ministério da Educação e Saúde e não em 1937 na Universidade do Brasil, numa
visão continuísta de História.
39
Essa revista a partir de 1969 passou a se chamar “Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada” e em 1979 se
redefine como “Arquivos Brasileiros de Psicologia”, nome que mantém até hoje. Juntamente com o “Boletim
do Instituto de Psicologia” (1951-1974) são os dois primeiros periódicos do Rio de Janeiro.
105

de projetos, emendas e muitas negociações, segundo estudo realizado por Baptista (2010)
sobre o tema. Só no final dos anos 1940 uma mobilização em prol da regulamentação da
Psicologia começa a ficar evidente.
Mas também em São Paulo o movimento dos psicólogos estava se
organizando. A Sociedade de Psicologia de São Paulo (SPSP) existia desde 1945. Neste
período surgem os primeiros cursos de Psicologia na capital paulista, ainda sob o signo de
cursos de pós-graduação – Psicologia Educacional (1947), organizado pela USP e o de
Psicologia Clínica (1953) pela Faculdade de Filosofia Ciência e Letras Sedes Sapientiae e, em
1954, também de Psicologia Clínica na USP (BAPTISTA, 2010).
Anita Castilho Cabral (1911-1991) foi responsável pelo projeto que implantou o curso
de Psicologia na USP em 1957. A SPSP criou uma comissão40 cujo objetivo principal era
discutir a carreira do psicólogo, realizando, para isto, estudos e debates. Permeada por
discussões e divergências entre os profissionais de todo o país, em especial os paulistas e
cariocas, segundo Baptista (2010), essa mobilização gera, em 1953, duas propostas
apresentadas ao Ministério de Educação e Cultura, visando regulamentar a profissão de
psicologista. O ponto de maior divergência foi a formação do psicologista. A primeira
proposta, desenvolvida pela Associação Brasileira de Psicotécnica (ABP), sediada no ISOP –
assinada por vários profissionais entre eles Lourenço Filho e Emílio Mira y Lopez –,
estabelecia que a psicologia clínica ficaria sob a responsabilidade da Medicina e defendia a
existência do técnico psicologista.
A segunda proposta foi elaborada por uma comissão composta por representantes de
vários estados como, Carolina Bori, Arrigo Angelini, Madre Cristina, Anita Castilho Cabral e
Betti Katzenstein (SP); Hans Ludwig Lippmann (RJ); Francisco Pedro Pereira de Sousa
(RS); Flávio Neves, Irene Lustosa e Pedro Parafita Bessa (MG). Concebida durante o I
Congresso Brasileiro de Psicologia realizado em Curitiba (1953)41 enfatizava a formação
desse profissional em nível universitário a ser implementada pelas Faculdades de Filosofia,
Ciências e Letras. Outras questões como, a denominação do profissional, do nível de
profissionalização e a subordinação ou não aos médicos eram pontos de conflito entre as duas
propostas. Desse modo, outras discussões e documentos foram necessários até a
regulamentação definitiva da Psicologia como profissão, em 1962 (BAPTISTA, 2010).

40
Além de Anita Cabral essa comissão era composta por Raul de Morais, Joel Martins, Virginia Bicudo,
Marcos Pontual, Carlos Oliveira Penteado, Betti Katzenstein e Aniela Ginsberg.
41
Outros estados como Rio Grande do Sul e Minas Gerais também criaram suas sociedades nessa época.
Sociedade Mineira de Psicologia (1958), que teve entre seus fundadores Maria Helena Antipof e Pierre Weil
e Sociedade do Rio Grande do Sul (1959), cujo ato de fundação foi assinado por Arthur de Matos Saldanha e
mais outros vinte membros.
106

Tudo indica que a inserção da Psicologia nas revistas de Educação Física também
serviu de base para seu fortalecimento como campo autônomo, contribuindo para a construção
teórico-prática de uma nova especialidade psi, que se estabelecia além dos discursos internos
da categoria, na interface com outro campo de saber.
Assim, os percursos de institucionalização da Psicologia e Educação Física como
campos acadêmicos e profissionais se entrecruzam. No entanto, apesar do percurso lento e
burocrático do ensino superior no país, a Educação Física se institucionalizou
academicamente mais cedo. Apesar das tentativas de criar universidades no país desde o
Brasil Colônia até a República, o país consegue apenas o funcionamento de algumas escolas
superiores de caráter profissionalizantes, até o século XIX.
Embora as primeiras escolas de ensino superior do país tenham surgido em 1808 – a
Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB), instalada no Hospital Real Militar, hoje
pertencente à Universidade Federal da Bahia (UFBA) em Salvador, e a Escola de Anatomia,
Cirurgia e Medicina (FMRJ) no Rio de Janeiro –, só em 1920 houve a institucionalização
universitária no país através da criação da Universidade do Rio de Janeiro, depois
Universidade do Brasil e hoje, UFRJ, fruto da reunião da Escola Politécnica, da Faculdade de
Medicina e da Faculdade Nacional de Direito então existentes.
Outros cursos técnicos foram criados com o objetivo de suprir as necessidades da
família real. A de defesa militar propiciou o surgimento, em 1810, da Academia de Marinha e
da Academia Real Militar, para a formação de oficiais e de engenheiros civis e militares.
Também alguns cursos avulsos foram criados em Pernambuco, ainda em 1809 (matemática
superior), em Vila Rica no ano de 1817 (desenho e história) e em Paracatu, Minas Gerais, em
1821 (retórica e filosofia) (MENDONÇA, 2000).
Portanto, se os cursos vêm do século XIX, o processo de institucionalização
universitária no Brasil se inicia em 1920 com a criação da Universidade do Rio de Janeiro e
em 1934 com a Universidade de São Paulo. A USP contou com a participação efetiva de
vários cientistas europeus, vindos da Alemanha, da França e da Itália. Nos anos 40, outras
universidades públicas e privadas foram formadas, principalmente, pela associação de
faculdades existentes, como a Universidade Federal de Minas Gerais – que já vinha
funcionando desde 1927 com outra denominação. No contexto mais amplo da saúde, a
preocupação com o saneamento era crescente e surgiram medidas diversas, como a prescrição
de novos hábitos à população – como o banho de mar. Nesse período (1935-1945) ocorre uma
preocupação maior com a pesquisa científica e a produção de conhecimento especializado nas
áreas de saúde, higiene e educação, perpassando pela educação das crianças.
107

A preocupação com a infância esteve presente na atuação da LBHM na tentativa de


resolver o impasse criado pela contradição entre herança biológica e os valores morais no
entendimento dos fatores de formação da criança, através da intervenção médica. Atuar junto
à infância poderia reverter as maléficas heranças biológicas através da educação e da
formação do caráter. Esse caráter profilático visava a evitar futuros conflitos sociais, uma vez
que os indivíduos poderiam aprender a se adaptar à ordem desde a mais tenra idade.
Complementando as palavras de Alberti (1999), quando afirma que os discursos
psicológicos no século XX têm suas bases junto ao Direito e à Pedagogia, acrescentamos
também a Medicina, uma vez que, para atender às demandas ilustradas acima na Liga
Brasileira de Higiene Mental, no Laboratório de Biologia Infantil e no Serviço de Ortofrenia e
Higiene Mental, a Psicologia aproxima-se do viés biológico e classificatório vigente à época,
tornando-se um saber da observação e experimentação, distanciando-se dos fundamentos
filosóficos e do enfoque no raciocínio e na experiência que, a partir da consciência,
estimulariam a autonomia do indivíduo. A psicologia experimental, então, torna-se uma
disciplina viável nesse processo de servir aos demais campos de conhecimento, tendendo para

[...] o esquadrinhamento do indivíduo à sua revelia, e a subseqüente „formação da


personalidade do aluno‟, „de seu caráter‟ (idem). [...] De maneira que podemos
observar claramente, o discurso da desautorização subjetiva, da destituição de toda
integridade, em que se entende o „aluno‟, o „menor‟, o „delinqüente‟, como
organismo - conjunto de órgãos cientificamente estudados e reintegrados.
(ALBERTI, 1999, p. 142).

A noção de fases do desenvolvimento humano adotada pelos médicos nesse período,


fundamentada no evolucionismo spenceriano, embasa também os princípios da higiene
mental. Mas, além da importância atribuída aos fatores hereditários ou endócrinos presentes
no desenvolvimento da criança e do adolescente, os médicos do início do século XX também
consideravam os fatores ambientais. Assim, o discurso e as ações médicas, em nome da
ciência, se direcionavam para o ambiente familiar, que deveria cuidar da educação da criança
(ESPIRITO SANTO; JACÓ-VILELA; FERRERI, 2006).
No âmbito privado, as orientações se dirigiam à criação dos filhos e ao papel da
mulher /mãe em sua educação. Ao pai caberia a função de provedor dos recursos materiais.
Os periódicos de Educação Física nos anos 1930-1940 ilustram esse contexto como
observamos no artigo “Educação Moral” de Alex Riedel, em 1939, na revista Educação
Physica, que toma a família como exemplo para levar a criança a se sentir amada e amar a si
mesma.

[...] É pelo exemplo da família que se desenvolvem nas crianças, desde a tenra idade,
desde o regaço materno mesmo, os bons ou maus sentimentos, as virtudes ou os
108

vícios, [...] o espírito e o coração a fonte donde emana a educação moral, e sendo
esses formados pela mulher, educada esta em bons e são princípios, teremos atingido
o nosso desideratum. [...] (RIEDEL, 1939, p. 53-53).

Além de Riedel, Hollanda Loyola (1939a) em seu artigo “Educação Moral” para a
mesma revista, considera a educação moral modeladora da personalidade, devendo ser
entendida a partir das relações com a família, a sociedade, a pátria e a humanidade. Para ele,
cabe ao professor orientar a criança em relação aos sentimentos e deveres que cada uma
dessas instituições demanda. Tais cuidados vão desde a formação de uma consciência a uma
observação rigorosa da conduta.
O autor descreve ainda como cada instituição apresenta suas demandas e afirma que,
para alcançar os objetivos da educação moral, o caminho são deve obedecer aos processos
racionais para criar no indivíduo a consciência de boas regras e transformá-las em hábitos
cotidianos.
Essa preocupação em torno da educação familiar perdurou nas décadas seguintes.
Stramandinoli (1958), escrevendo sobre a “Redescoberta da família pelo mundo
contemporâneo” na revista Arquivos da ENEFD, também ilustra esse tipo de preocupação a
serviço dos ideais nacionais. Neste caso, diferente dos demais autores, temos uma psicóloga,
oriunda do ISOP e professora assistente da disciplina de Psicologia Aplicada no Curso de
Educação Física, desde os primórdios da ENEFD (1939), que faz um relato sobre o Congresso
Mundial da Família, ocorrido em Paris, em junho de 1958. O congresso contou com a
presença de representantes da Organização das Nações Unidas (ONU), Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Conselho Econômico da
Europa, Cruz Vermelha e outras, além de embaixadores, parlamentares, magistrados,
psicólogos, sociólogos, médicos e educadores.
A autora participou como representante do Serviço Social do Comércio do Distrito
Federal. Dentre os temas discutidos estavam a evolução das estruturas familiares no mundo;
problemas médico-sociais da infância no mundo; contribuição de técnicas psicológicas e
educativas para a felicidade dos lares e para o desenvolvimento da criança; lugar das famílias
nas instituições nacionais e internacionais. Relatou ainda o reconhecimento da influência
familiar na formação da criança em seus aspectos afetivos e de personalidade.
Entendemos que artigos como esse representam um esboço da dedicação da Psicologia
aos fenômenos sócio-culturais, uma característica marcante de sua atuação nos dias de hoje.
Além disso, nos confirma que as preocupações com a criança e com a família não eram
exclusivas do Brasil e que o país estava de fato voltado para atender e seguir os modelos
109

internacionais em busca de seu desenvolvimento. Outros artigos serão discutidos nos


capítulos II e III, sobre tais temáticas.
No âmbito da Educação Física a presença de uma Missão Militar francesa no país
influenciou a criação de espaços como uma cadeira de Educação Física anexa à Diretoria
Geral de instrução Pública em 1906 no Estado do Amazonas. Em São Paulo, no ano de 1909
ocorre a criação da Escola de Educação Física da Força Pública do Estado, demarcando o
início da profissionalização dos agentes policiais militares (MOURA, 2008).
Tal movimento ilustra a busca em atender à necessidade de produção de
conhecimentos específicos e técnicos motivados pelos ares modernistas. A ideologia
cientificista e capitalista toma conta da sociedade transformando-a em um grande organismo
vivo, movido pela noção crescente de desenvolvimento.
Saúde, higiene e educação tornam-se, então, os focos prioritários do Estado na
primeira metade do século XX que, através das Escolas, Instituições médicas e o Exército
formam a base do projeto civilizatório. Entendemos, portanto a criação da EsEFEx como uma
estratégia importante para viabilizar esse projeto favorecendo a convergência entre esses
saberes e a Psicologia.
Não pretendemos nos aprofundar na História da Psicologia e tampouco da Educação
Física, pois essa não é a proposta desse estudo. Consideramos fundamental pontuar aspectos
do percurso da Educação Física que apontam a inserção da Psicologia, servindo de parâmetros
para nortear a história da Psicologia do Esporte no Brasil. Assim, reconhecemos as redes de
significados e relações dos diversos fenômenos sociais que permeiam esses campos.
Resta dizer que o recorte cronológico em questão (1930-1960) foi providencial para
esclarecer as influências políticas e sociais presentes na formalização do campo da Educação
Física no Brasil. O que o mundo europeu e norte-americano já vivia desde o século XIX, o
Brasil começa a viver de forma mais intensa no século XX. O discurso encontrado nos artigos
dos periódicos de Educação Física, nesse período, alinhava o percurso de institucionalização
dessa área e nos sinaliza a presença da Psicologia nesse contexto.
Apesar dos reveses sofridos com mudanças na legislação ao longo desse período,
vimos que muitos foram os fatores que favoreceram ao processo de escolarização 42 e
institucionalização da Educação Física. Sem dúvida, seus periódicos figuram como elementos
significativos nesse processo.

42
Termo usado por Ferreira Neto (1999) para referir-se ao processo de inclusão da educação física nas escolas
primárias e secundárias.
110

No que tange ao saber psicológico ressaltamos a descoberta de alguns nomes


relevantes como o de Carlos Sanchez Queiroz e Cecília Torreão Stramandinolli que se
revelaram no cenário da Psicologia, em especial para a Psicologia do Esporte, desconhecidos
nesses campos, até as investigações iniciais dessa tese. Na Educação Física, Carlos Sanchez
Queiroz é reconhecido na área e assume um papel relevante na ENEFD, ocupando os cargos
de professor catedrático da disciplina de Psicologia Aplicada na ENEFD 43, desde 1939; Chefe
do Departamento de Pedagogia (1959-1966) e Diretor do Curso de Educação Física (1947-
1949). Também escreveu vários artigos na revista e participou de eventos nacionais e
internacionais, em geral, falando da Psicologia e da Educação Física.
Na Psicologia, ao contrário, encontramos poucos registros sobre Carlos Sanchez
Queiroz. Poucas pessoas lembram-se de seu nome44 e nada aparece dele ou sobre ele nos
periódicos da Psicologia no recorte de nossa pesquisa. Apenas em trabalhos recentes
encontramos alguma informação como, o de Autuori (2010) sobre sua presença na direção do
IP (1967-1970) na Universidade do Brasil e em Penna (2010). Mesmo no percurso da
Psicologia do Esporte também não encontramos referências sobre a contribuição de Carlos
Sanchez Queiroz na ENEFD ou através de seus artigos na revista dessa escola.
Na Revista Arquivos, os artigos de Carlos Sanchez Queiroz (1954/1955, 1963, 1964,
1966), aparecem voltados para questões psicológicas, enfatizando o uso da Psicologia pelos
médicos, conforme abordaremos de modo mais detalhado no último capítulo. Veremos que o
médico e professor da disciplina de Psicologia Aplicada no curso de Educação Física ao longo
de uma década preocupava-se com o uso indiscriminado dos fenômenos e dos testes
psicológicos junto aos atletas. O autor alertava sobre a atuação dos responsáveis pela seleção
profissional de atletas sobre os equívocos ao realizar estudos fatoriais da produtividade dos
desportistas, chamados pelo autor de “pseudo-cientistas”.
Desse modo, a Psicologia também passa a ser uma prática no período que vai dos anos
1950 – 1960, na busca de soluções para alguns problemas no âmbito do esporte como a
seleção de atletas para um melhor desempenho na prática de atividades desportivas e o uso
das técnicas e testes psicológicos.
Esse tipo de articulação do saber psicológico, somado à recepção de novos
conhecimentos e à incorporação das demandas da ciência moderna, agregaram entendimentos

43
Em 1944 apresentou no Programa: Curso Superior de Educação Física da ENEFD, a VII cadeira (Disciplina
de Psicologia Aplicada), ministrada na 3ª série (ANEXO A).
44
Em busca de informações sobre Carlos Sanchez Queiroz, consultamos o então Diretor do IP Marcos Jardim
Freire e a Prof. Fany Tchaicovsky (Núcleo de Trabalho e Contemporaneidade- UFRJ). Ambos recordavam de
Carlos Sanchez como diretor do IP, mas pouco tinham a informar além disso.
111

diversos no que se refere à visão de mundo e aos fundamentos da Psicologia no Brasil.


Fortemente influenciado pelo viés de controle e mensuração que a psicometria oferecia, esse
saber encontra um canal de aproximação com o desenvolvimento industrial, mais uma vez
oferecendo seus serviços na avaliação psicológica. Está claro que esse processo só tem de
novo no século XX, o uso dos testes psicológicos sob a forma introduzida por Binet. Mas é
neste século que surge a necessidade de também gerar um conhecimento especializado sobre
avaliação.
Com as devidas contextualizações, esses discursos, que serão melhor apresentados ao
longo dessa tese, representam uma tentativa de construir uma prática psicológica no universo
do esporte, ainda que seja através de outros saberes psi como o clínico e o industrial.
112

2 PSICOLOGIA COMO SABER COMPLEMENTAR: UMA PRIMEIRA


APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS DA PSICOLOGIA PELA EDUCAÇÃO FÍSICA

Investigar a história da psicologia nos permite, portanto, proceder à


desnaturalização de nossos atuais saberes e práticas. Estes não são
uma evolução contínua e ininterrupta em direção a um perfeito
conhecimento científico, um desenvolvimento em singela linha reta.

Jacó-Vilela, 2000.

Quais foram, de fato, as apropriações de conceitos psicológicos em quatro dos


principais periódicos de Educação Física nos anos 1930-1960 é o objeto desse capítulo.
Consideramos tais apropriações como as primeiras inserções da Psicologia na seara do saber
dedicado a cuidar do homem em atividade física. Nesse recorte temporal, a Educação Física,
influenciada pelo modelo europeu, voltava-se especialmente para a formação de um homem
forte física, intelectual e moralmente para servir a nação.
Delimitaremos aqui a análise dos periódicos às décadas de 30 a 40, pois neste
identificamos a inserção da Psicologia no universo da atividade física como um saber
complementar, oferecendo para a Educação Física alguns de seus principais conceitos e
teorias como os processos psicológicos básicos45, além de personalidade e desenvolvimento.
Portanto, neste capítulo, o foco do nosso olhar recai sobre o conjunto do conhecimento
psicológico apresentado ao público interessado em Educação Física, principalmente os
médicos e militares.

2.1 Processos psicológicos

Esta categoria foi assim definida por reunir os artigos que apresentam alguns dos
processos psicológicos básicos como consciência, inteligência, motivação e emoções. A
aprendizagem, embora também faça parte do campo do desenvolvimento humano na
Psicologia, será abordada apenas no que tange às suas relações de proximidade com os demais
processos psicológicos.
Os artigos de que tratamos aqui foram publicados nas décadas de 1930-1940 e em
apenas dois dos quatro periódicos pesquisados, a Revista Educação Physica e a Revista
EsEFEx. Os outros dois periódicos, além de terem surgido a partir de 1945, não apresentam

45
A literatura descreve os seguintes processos psicológicos básicos: cognição, percepção, aprendizagem,
memória, inteligência, pensamento e raciocínio, motivação, linguagem e emoção. Discorreremos apenas
sobre aqueles encontrados de forma significativa nos periódicos pesquisados (HOCKENBURY;
HOCKENBURY, 2003; DESSEN; COSTA JUNIOR, 2005).
113

artigos com tais temáticas. Aos poucos e à medida do possível, iremos contextualizando os
conceitos e teorias utilizados nos artigos dentro da Psicologia existente na época.
Iniciamos com uma tradução, do artigo “Sobre a anatomia da inteligência” publicado
em 1942, na Revista Educação Physica pelo médico Eduardo Podolsky, um estudioso sobre a
musicoterapia e seus efeitos psicológicos, ou ainda sobre a relação entre as cores e
personalidade, que resultou em sua obra The doctor prescribes music: the influence of music
on health and personality (1939). Nesse artigo o autor ressalta descobertas mais precisas
sobre as zonas de inteligência como um dos resultados da frenologia, como as do médico
Hindzie, em 1926, considerado pioneiro em demonstrar resultados significativos sobre a
capacidade intelectual, analisando a fluência do sangue no cérebro o que o levou a afirmar
que os indivíduos mais inteligentes possuem uma fluência maior de sangue nas membranas
cerebrais.
Na tentativa de compreender a natureza da inteligência, os recursos disponíveis nesse
período enfatizavam os aspectos biológicos e fisiológicos, usados para explicar também
outros fenômenos como consciência, caráter e personalidade.
“Consciência, Inteligência e Senso moral”, publicado em 1938 pelo fisiologista,
biólogo e sociólogo francês Aléxis Carrel (1873-1944) é outro artigo que aborda a
inteligência, relacionando-a ao caráter. Trata-se de uma tradução, onde o autor postula sobre a
formação da personalidade baseada no desenvolvimento de outras atividades cognitivas além
das intelectuais.

A inteligência é quási inútil àquele que nada mais possue. [...] A capacidade de
aprender as relações das coisas não é fecunda senão quando associada a outras
actividades, tais como senso moral, a afetividade, a vontade, o juízo, a imaginação e
uma certa força orgânica [...] (CARREL, 1938, p. 72).

Carrel (1938) trata da relação entre vontade e inteligência como uma forma de
domínio do senso moral e considera as atividades afetivas fundamentais para o progresso da
consciência; entretanto, devem resumir-se ao entusiasmo. Diferentemente do artigo anterior,
neste há uma carência de embasamento fisiológico para os argumentos apresentados. Há sim,
uma visão característica do senso comum, onde consciência, inteligência e senso moral estão
diretamente ligados à formação do caráter. Imaginamos que para os autores dos periódicos da
Educação Física não interessavam as divergências teóricas da Psicologia, uma vez que
estavam focados no que o saber psicológico poderia contribuir ao seu próprio campo.
O médico Fhilippe Tissié, membro da Liga Francesa de Educação Física é também
mais um exemplo do uso de um discurso fisiológico para explicar elementos cognitivos. Seu
artigo intitulado “Psicologia aplicada à educação física”, publicado na Revista Educação
114

Physica em 1941, nomeia a relação entre Psicologia e Educação Física. Tissié (1941a) analisa
o ato através dos processos psicológicos que nele estão envolvidos, mas mantém uma
explicação fisiológica do funcionamento cerebral que promove o ato.
Para o autor, o processus do ato compreende a impressão inicial e uma série de outros
elementos como a percepção dessa impressão, a concepção, o princípio mesmo do ato, a
sensação, a memória, a representação, a atenção, a emoção, as associações das imagens, a
comparação, a imaginação, o raciocínio, o julgamento, a decisão ou veredicto, a vontade e,
enfim, o próprio ato.
Tissié (1941a) considera o cérebro o promotor psíquico do ato e o subdivide em três
zonas: a sensitiva, a motriz e a psíquica, descrevendo cada uma das funções cognitivas.
Destacamos aqui a percepção, por ser definida pelo autor como a relação entre o mecanismo
físico objetivo e o psiquismo subjetivo, sendo esse processo

[...] a vitalização da impressão. Esta vitalização constitue o princípio mesmo do


psiquismo [...] e a sensação, [...] momento dinâmico da concepção, à entrada da
percepção no domínio psico-sensorial e psico-dinâmico [...] é a função qualitativa da
percepção [...] (TISSIÉ, 1941a, p. 44-45).

O autor cita Henri Bergson (1859-1941) e Pierre Villey (1880-1933), professor


especialista em literatura francesa do século XVI e seu livro Le Monde des Aveugles (1914),
para fundamentar que perceber é preparar para lembrar, é colocar em estado de reminiscência.
A lembrança, portanto, nasce da percepção e não o contrário.
Na continuação desse artigo, presente no número seguinte da mesma revista, Tissié
(1941b, p. 36) cita a obra de Bergson, Matière et mémoire, de 1896, um ensaio sobre a relação
entre corpo e espírito, e descreve os demais aspectos cognitivos já listados (memória,
representação, emoção). Para esse autor “[...] O primeiro movimento do feto seria, pois, sua
primeira „sensação‟ e sua primeira „emoção‟, entendidas no sentido da percepção [...].”
Afirma ainda que, se a emoção é de origem fetal, é, por isso, impulsiva e reflexa e,
diferentemente dos animais que só se emocionam, o homem raciocina. A razão é um fator
inibidor dos impulsos, o que leva à conclusão de que “[...] As raças inferiores, de psiquismo
pouco desenvolvido, são mais emotivas que as raças intelectuais. [...].” (TISSIÉ, 1941b, p.
37).
Todos os saberes do começo do século XX, influenciados pelo pensamento positivista,
por isso buscavam explicar os fenômenos a partir da observação, da objetividade e da
mensuração. Diante da necessidade de educar os cidadãos em prol do desenvolvimento da
nação, para a Educação Física não bastava conhecer e educar em termos físicos, era também
importante conhecer o lado intelectual humano. Assim, a inteligência, diferentemente da
115

consciência, passa a ser abordada nos periódicos de Educação Física, especialmente com
explicações fisiológicas e orgânicas.
Embora um fenômeno subjetivo, a inteligência precisava tornar-se mensurável para ser
estudada. A solução encontrada foi a decomposição de seus elementos. Para Bock, Furtado e
Teixeira (1994), os psicólogos estudiosos dos elementos cognitivos dividiram-se em dois
grandes grupos, o da psicologia diferencial e o da psicologia dinâmica. No primeiro, a
inteligência passaria a ser definida por um composto de habilidades e seria medida a partir dos
testes de inteligência46 que, logo, tornar-se-iam o cartão de visitas da psicologia diante de
outros saberes no decorrer de seu processo de constituição e institucionalização.
A abordagem dinâmica, contemporânea aos testes, inclui uma visão clínica da
personalidade, adotando uma postura crítica diante da decomposição dos fenômenos humanos
subjetivos. A inteligência passa a ser redefinida como um atributo que qualifica a produção
intelectual e cognitiva do indivíduo, por isso não pode ser medida isoladamente, uma vez que
abrange aspectos da personalidade em seu todo. Nessa concepção, os testes não são
desconsiderados, mas adquirem outra forma de interpretação, inferindo avaliações sobre
eficiência intelectual. Uma referência dessa abordagem no Brasil é Anne Anastasi e sua obra
Psicologia diferencial (1965) (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1994).
O início do século XX, segundo Baquero (1974) contextualiza esse período e é
marcado na educação pelos estudos de Binet sobre avaliação das aptidões humanas e por
Charles Edward Spearman (1863-1945), precursor da psicometria. Assim, os primeiros trinta
anos desse século caracterizam-se pela era dos testes de inteligência (1910-1930), cuja maior
demanda nos Estados Unidos, surgiu após a primeira Guerra Mundial diante da necessidade
em selecionar soldados para o Exército. Dos testes de inteligência surgem estudos de outros
componentes cognitivos e a sistematização de dados de medida da personalidade.
Além de expoentes da Psicologia e Filosofia, na Sociologia encontramos Emile
Durkheim (1858-1917) filósofo, dedicado às ciências sociais, considerado o fundador da
escola francesa de sociologia, lembrado em uma espécie de editorial da Revista Educação
Physica, em agosto de 1941, quando um texto seu sobre educação é publicado47. Inserções
como essas demonstram que os editores buscavam referências teóricas em áreas diversas.
Como dissemos anteriormente, a aprendizagem também era uma preocupação para os
estudiosos da Educação Física brasileira. Dentre os artigos voltados a essa temática

46
Alfred Binet (1857-1911) em 1904, na França, criou o primeiro teste que media a idade mental de crianças.
Depois, outros testes surgiram para medir outros tipos de habilidades cognitivas, comportamentos e aspectos
da personalidade.
47
Cf. Durkheim (1941).
116

destacamos aqui cinco, encontrados na Revista Educação Physica. Destes, quatro são do
mesmo autor, Jackson R. Sharmann, professor de Saúde e Educação Física e Chefe do
Departamento de saúde e Educação Física da Universidade de Alabama.
O quinto artigo, “Educação Física e Motivação”, de 1945 é de autoria do professor
Mário de Queiroz Rodriguez. Dentre os aspectos comuns com os de Sharmann encontra-se
ênfase na responsabilidade do professor de Educação Física no processo de aprendizagem. A
esse profissional caberia utilizar estratégias e métodos para a identificação da fadiga
intelectual dos alunos e para despertar seus interesses nas aulas. Para Rodrigues (1945, p. 11)
o professor deveria apresentar algumas características para alcançar seus objetivos, como:

[...] Fazer da educação física um ideal e não somente um meio de vida; [...] ser
calmo, solícito, enérgico e disciplinado; ter um grande espírito de civismo,
acreditando que a Pátria será maior quando todos forem proporcionalmente fortes;
[...] fazer propaganda e trabalhar pela educação física e pelos desportos; despertar
nos educandos a disciplina consciente, o amor ao trabalho e o hábito sadio da vida
ao ar livre [...].

A “motivação”, do título está presente na postura de atenção e disponibilidade que o


professor deve ter para captar os interesses de seus alunos pelas aulas. Queiroz (1945)
considera que o aluno apresenta sua personalidade em plenitude, incluindo seus anseios,
tendências e a influência do meio. Para o autor, o professor deveria estar atento às mudanças
de comportamento dos alunos em seus aspectos físico, moral e social, ampliando seus
conhecimentos de Psicologia e do método francês, adotado pela Educação Física na época.
Destaca, ainda, a atração como forma de captar o interesse do aluno, para ele, elementos
importantes no processo de aprendizagem, e o ecletismo, possibilidade de agregar outros
conhecimentos, como os psicológicos.
Um dos artigos de Jackson R. Sharmann “Psicologia na Educação Física”, em 1939, é
publicado em duas partes, no mesmo ano da Revista Educação Physica, ambas apresentando
leis e princípios das teorias de aprendizagem, legitimando a importância dos estudos da
Psicologia nessa área.

É afirmação integralmente verdadeira que os bons métodos de educação física


devem ter uma sólida base psicológica. [...] Inclui isto as leis de aprendizagem, as
características da curva de aprendizagem, os métodos de assegurar um aprendizado
eficiente, as técnicas do desenvolvimento das habilidades motoras, o lugar da prática
na aprendizagem e os fatos e teorias concernentes à transmissão do entrenamento
[...] (SHARMANN, 1939a, p. 12).

O autor considera importante a forma como as habilidades são desenvolvidas e


aprendidas, valorizando a individualidade. Afirma que as variações corretas devem ser
encorajadas e as erradas desestimuladas, através de sua relação com sensações desagradáveis.
117

Considera o exercício físico fundamental para automatizar os movimentos a fim de que


possam ocorrer de forma eficiente sem requerer o uso da atenção em sua execução. Destaca a
transferência de treinamento, ou seja, a transmissão de habilidades ou reações a situações
diferentes da aprendida. Indica também que “[...] Pessoas que não são tão brilhantes, devem
possuir maior número de experiências em muitas situações diferentes a fim de formar a
generalização que podem aplicar a novos problemas que se lhes deparem. [...].”
(SHARMANN, 1939b, p. 85).
Vemos aqui, alguns conceitos das teorias de aprendizagem skinerianas 48, como a
transferência de aprendizagem, sendo assimiladas a situações práticas da atividade física.
O artigo de Sharmann, em 1941, “Psicologia e Metodologia aplicadas ao exercício
físico”, também dividido em dois números, tratam do uso que a Educação Física pode fazer
dos princípios da aprendizagem. O autor descreve alguns desses princípios por considerá-los
eficientes, uma vez que

[...] aprendemos qualquer coisa fazendo-a. [...] todo aprendizado é reação. Quem
aprende deve ter intenção de aprender. Trata de estímulos aos aprendizes para
despertar seus interesses em aprender; as reações sem importância devem ser
evitadas. Evitar adquirir hábitos desnecessários; a maioria das habilidades em
educação física deve ser aprendida em um todo e não em partes; qualquer esforço
para excitar as emoções dos jogadores a um elevado grau deve ser evitado; [...]
(SHARMANN, 1941a, p. 10).

Sharmann (1941a) considera que as emoções não auxiliam nas reações sutis requeridas
nos atos de habilidade, julgamento ou raciocínio. Para ele, excitar os jogadores
emocionalmente é uma estratégia medíocre que demonstra falta de visão. Destaca que existem
técnicas mais eficientes para adequar as atividades físicas às características individuais e
define o exercício como promotor de reações musculares com a finalidade de tornar hábitos e
habilidades autônomos.
Outro tópico abordado pelo autor é a transferência de treino, termo semelhante a
“transferência de aprendizagem” usado pelos skinerianos. Significa que, uma vez aprendida
uma habilidade, é possível transferir o conteúdo apreendido a uma situação diferente. Isso
inclui ações concretas entre as modalidades esportivas e o desenvolvimento do caráter
(honestidade, franqueza, valor, cortesia e lealdade dentre outras). Por fim, Sharmann (1941b)
conclui que os professores de educação física precisam usar um método mais amplo para o
ensino e os orienta a uma familiarização com os bons métodos de ensino apresentados pelos
princípios de psicologia.

48
Análise Experimental do Comportamento se define como uma ciência do comportamento, desenvolvida por
B. F. Skinner (1904-1990) (BAUM, 1999).
118

Dentre os autores citados em seus artigos estão W. Kilpatrick (1871-1965) e sua


classificação sobre as diferentes espécies de aprendizados e o americano Edward Lee
Thorndike e seu livro Elementary Principles of Education, de 1929.
Vemos que muitos argumentos e conceitos citados pelo autor referem-se a teorias
psicológicas de aprendizagem. Nos periódicos da Educação Física encontramos artigos
fundamentados em diversas perspectivas. Além da behaviorista e da biológica, a cognitiva
também se faz presente nos periódicos criados a partir da metade dos anos 1940, quando os
estudos referentes a esse enfoque ganhou mais força no Brasil.
Os próximos dois artigos também relacionam inteligência e Educação Física,
apresentando um discurso favorável à robustez física e direcionados à pratica de atividade
física. Vieira de Melo em seu artigo “Inteligência e Desportos”, de 1941, publicado na Revista
Educação Physica trata sobre o preconceito dos intelectuais em relação aos desportos.

[...] Começa-se ao contrário, a crer na necessidade da disciplina e da conveniência,


para o funcionamento do cérebro, de possuirmos bíceps rijos e casa confortável.
De resto, o preconceito intelectual contra o chamado burguês vai acabando por falta
de burgueses e o desprezo das gentes letradas pelos desportos eugênicos de nosso
tempo não passa de um anacronismo. Estamos no fim do „gentleman‟.
[...] Nos nossos tempos industrializados [...] não vejo por onde o intelectual justificar
seu menosprêzo pelas emoções desportivas, tão largas e generosas, das multidões
contemporâneas. O esporte e o fanatismo do povo por ele teem causas profundas e
respeitáveis, e como tudo que vem realmente do povo, deve possuir motivos
estéticos, fontes de beleza, à espera do artista que os valorize. [...] (MELO, 1941, p.
47).

Considera que o melhor da paixão desportiva é a torcida, ou melhor, o amor da torcida


por seu time e acredita que se existe uma mobilização exacerbada do povo, devem existir
razões para isso, logo os intelectuais deveriam dedicar-se a compreender esse fenômeno e não
a repudiá-lo.
Peregrino Junior (1898-1983), médico e professor da ENEFD, também diretor da
Revista Arquivos nos anos 1950, corrobora com Melo (1941). Em seu artigo “O músculo e a
inteligência” (PEREGRINO JUNIOR, 1941) para a Revista Educação Physica, ele demonstra
sua insatisfação com o preconceito e com a falsa incompatibilidade entre a literatura e os
esportes. O autor cita versos do poeta Ferreyra para ilustrar tal insatisfação e apresenta a
preferência de renomados escritores brasileiros (Gilberto Amado, José Lins do Rego, Amando
Fontes e Henrique Pongetti) pelo foot-ball, bem como de Jorge Amado pelo boxe.
Peregrino Junior (1941) lista ainda alguns escritores estrangeiros, como o romancista
francês Henry de Montherland e Marcel Berget, que são adeptos ao esporte e às letras. Cita
ainda o romancista norte-americano Ernest Hemingway e o poeta inglês Rey Campbell com
119

sua paixão pelas corridas de touros e esportes violentos, além de George Bernard Shaw,
praticante de golfe. Tudo isso para reforçar a relação entre a inteligência e a força física.
Outro autor que estabelece esse tipo de relação é Paulo Stempniewski, diretor do
Clube Esperia de São Paulo, que em seu artigo “O esporte e a inteligência”, de 1939 na
Revista Educação Physica, associa inteligência à espiritualidade e à prática de esportes.
Considera inteligente aquele que pratica o esporte, entendendo a

[...] estreita dependência entre o corpo e o espírito. [...] Uma sociedade que viva
afastada à religião, à moral, ao direito e à justiça, sem inteligência, nada vale, pois
vive em completa cegueira. Sem a intervenção desses elementos o desequilíbrio se
torna patente e calamitoso, certo que a felicidade de um povo não depende somente
do poder econômico e do progresso material, mas de uma combinação com a
educação e cultura em todos os seus aspectos, os quais por sua vez tornam „os
caracteres senhores da alta responsabilidade e da dignidade humana‟! [...].
(STEMPNIEWSKI, 1939, p. 9).

O autor afirma ainda que a inteligência possui uma função espiritual de entendimento
e compreensão capaz de levar o povo a realizações significativas.
Um artigo nos chamou a atenção a este respeito, não pela relação entre Psicologia e
Educação Física, mas pela autoria. “A psicologia vista por um psicólogo” é um trecho da obra
The Principles of Psychology, de William James (1842-1910), publicada em 1935 na Revista
EsEFEx, sem tradutor definido. W. James, uma das referências relevantes na Psicologia
Moderna, foi filósofo, médico e psicólogo funcionalista americano, influenciado pelo
pragmatismo e a fenomenologia. Estudioso da natureza humana, do funcionamento cerebral e
das experiências religiosas, discutiu em suas obras conceitos como consciência e emoções. O
trecho citado aborda as causas das estruturas mentais, considerando-as naturais e considera o
interesse, a estética, a moral, as noções de tempo e espaço, além das diferenças e semelhanças
entre os sentimentos e seus tipos elementares. Refere-se à evolução de algumas características
humanas e a falta de domínio da ciência sobre o assunto, com tentativas fracassadas em
conhecer o verdadeiro roteiro da psicogênese ou atributos da inteligência (JAMES, 1935).
Artigos como esse são raros, mas demonstram o interesse e o cuidado na escolha das
fontes relativas à Psicologia utilizadas pelos redatores-chefes das revistas. Como vimos,
alguns dos processos psicológicos eram abordados nos artigos visando a atender as demandas
emergentes no âmbito do ensino da Educação Física em suas escolas. Neste primeiro
momento, os editores utilizam-se principalmente de traduções, mostrando o quanto ainda era
pequena a recente produção brasileira em Psicologia. Por outro lado, há a escolha criteriosa de
autores estrangeiros, como W. James, Henri Bergson, Philipe Tissié, Claparède, Binet e
120

Thorndike. O interesse pelas fontes de informações nos situam sobre as influências recebidas
pela Educação Física, com relação ao que se conhecia da Psicologia no momento.

2.2 Desenvolvimento humano

A temática envolvendo aspectos do desenvolvimento humano aparece com mais


frequência a partir dos anos 1940. Os enfoques voltam-se, especialmente, às fases da infância,
adolescência e da vida adulta. Os artigos visam, em geral, a uma perspectiva formativa, visto
incluírem aspectos relativos à higiene, formação do caráter e personalidade, para dar conta do
homem idealizado para a nação e adequado ao projeto nacionalista de Getúlio Vargas.
No primeiro capítulo observamos que os cuidados destinados à infância, no início do
século XX, estavam relacionados à prevenção de comportamentos desajustados. Assim sendo,
os artigos que tratam das primeiras fases do desenvolvimento humano dirigem-se a
orientações e controle da conduta da criança, assim como à formação de seu caráter, pois os
autores acreditam numa formação da personalidade ajustada desde a mais tenra idade.
A pesquisa nos oferece artigos que alternam seu conteúdo entre as necessidades da
criança e do adolescente para formar uma personalidade adequada e subsídios que a
Psicologia pode oferecer à formação e educadores físicos aptos ao trato com seus alunos.
A Psicologia do Desenvolvimento dedica-se ao estudo do desenvolvimento humano ao
longo de suas fases de crescimento – nascimento, infância, adolescência, vida adulta e a
terceira idade – em todos os seus aspectos (físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e
social). Em função disso, aproxima-se e dialoga com os estudos sobre educação. Dentre as
teorias tradicionais destacam-se a de Jean Piaget com enfoque biologicista e a interacionista
de Lev S. Vigostky.
O artigo, sem autoria, “Conduta da criança: significação psicológica de sua conduta
durante os jogos”, encontrado na Revista EsEFEx, em 1935, é um dos poucos a retratar a
realidade infantil a partir de sua conduta mediante os jogos (quadro 1). O conteúdo é
apresentado de forma esquemática, onde sete esferas – afetiva, das emoções, dos sentimentos
ligados à personalidade, dos sentimentos sociais, a esfera volitiva, a esfera motriz e a esfera
intelectual – representam aspectos relativos ao desenvolvimento da criança. Cada uma delas
implica em reações psicológicas específicas durante o jogo, conforme ilustra a tabela abaixo a
respeito da esfera afetiva (CONDUTA ..., 1935).
121

Caráter geral dos sentimentos Reações psicológicas


a) “[...]Encantada pelo jôgo, a criança
entusiasma-se, agita as mãos, escuta com
a) Excitabilidade afetiva
paciência as explicações das regras, querendo
começar o mais breve possível [...]”
As Emoções Reações psicológicas
b) Manifesta medo durante o jogo, inquieta-
se ou arrisca-se e se põe em situações [...] b) covardia, coragem, arrôjo.
perigosas [...]”
Sentimentos ligados à personalidade: Reações psicológicas
“[...] a) Toma voluntariamente a direção do a) egocentrismo, amor próprio,
jogo, procura distinguir-se.[...]” orgulho;
Sentimentos Sociais: Reações psicológicas
“[...] c) comanda, dá ordens ou submete-se
c) Dominação, subserviência.
passivamente.[...]”

Quadro 1 - Conduta da criança: significação psicológica de sua conduta durante os jogos


Fonte: Conduta... (1935, p. 29)

O formato descritivo das reações emocionais descritas no quadro nos faz lembrar um
manual de ensino, um livro-texto próprio para auxiliar profissionais a compreenderem e lidar
com o universo infantil. Ainda que careça de análise e contextualização relativa à faixa etária
e ao tipo de atividade praticada, a busca deste tipo de articulação, já é per se inovadora, uma
vez que só nas duas décadas seguintes tais preocupações começarão a ser mais acolhidas,
conforme os artigos a seguir demonstram.
O artigo, buscando orientação aos educadores físicos sobre as fases do
desenvolvimento humano, ainda se fundamenta em autores como Louis Dufestel, que se
destacou por seu trabalho em higiene escolar na França no fim do século XIX; Karl Groos
(1861-1946) autor de Die Spiele der Tiere (1900) e criador da Teoria do Jogo, que valoriza as
tendências naturais da criança, assim como suas tendências para o brinquedo, entendidas
como tendo a função de preparar a criança para a vida adulta, além de Edouard Claparède,
considerado um importante nome da psicologia infantil funcionalista.
122

O artigo “Programas de Educação Física para o jardim de infância e escolas primária,


secundária, comercial, normal e superior” é de autoria da educadora física Maria Jacy Vaz e
da psicóloga e professora da ENEFD Cecília T. Stramandinolli. Em 1947, o artigo foi
publicado na Revista Arquivos com o intuito de construir um programa educacional
abrangente da Educação Física a partir das teorias mais importantes da época.
As autoras tomam como base uma concepção de unidade entre corpo, espírito,
inteligência e costumes, a fim de contribuir para o aperfeiçoamento físico, para o
aprimoramento da inteligência, orientação do caráter, desenvolvimento da vontade e da
personalidade do educando. Defendem uma concepção unitária de Educação para compor os
programas dessa área com base no respeito às características bio-psicológicas do indivíduo,
em suas diferentes fases evolutivas e nas concepções filosóficas dominantes na época.
Utilizam-se dos conhecimentos da Biologia e Psicologia para embasar a Pedagogia na
estruturação do sistema escolar, dividindo-o em cinco fases por faixa etária, quais eram: a
Escola maternal (0 a 4 anos), Jardim de Infância (4 a 7 anos), Escola primária (7 a 12 anos),
Escola Secundária, (adolescência, 12 a 18 anos, ginasial, normal, comercial e técnico-
profissional), Universidade (juventude, 18 a 25 anos). Além de descreverem as principais
características do desenvolvimento humano, sugerem atividades físicas para cada uma das
fases descritas.
Seguindo esse caminho, mas direcionada à dança, Maria Helena Pabst de Sá Earp
(1919-) publica “O Campo Psicológico da dança” em 1946, na Revista Arquivos da ENEFD
e, em 1948, com o mesmo título, na Revista Brasileira. Segundo Earp (2010) a autora foi
introdutora da dança em 1939 no ensino da ENEFD e fundadora do grupo de dança da UFRJ
em 1943.
Em seu artigo, Earp (1946, p. 17) afirma ser possível, através desta atividade,
favorecer experiências importantes no ciclo educacional como a infância e a adolescência,
suas tendências, emoções, sentimentos, temperamento e caráter, aspectos constituintes de sua
personalidade. Considera a dança natural educacional com papel importante não só no sistema
de educação infantil, mas também no feminino, influenciando “[...] na descoberta do „eu‟
individual, na libertação das emoções sadias, na eliminação dos complexos, no ajustamento
com a natureza e na possibilidade de auto-criação, valores psicológicos de enorme alcance
para o conhecimento da personalidade [...]”.
Define a Psicologia como ciência das atividades mentais e atribui à dança uma função
de servir, como instrumento para o estudo das atividades internas e suas manifestações
externas através do corpo. Afirma ainda, que a dança educacional e os folguedos infantis são
123

meios que favorecem o conhecimento da criança de forma espontânea, “[...] sem a


necessidade de qualquer processo de testes que só deficientemente poderão produzir
resultados que a psicologia propõe. [...].” (EARP, 1946, p. 18).
Tal prática, na visão da autora, favorece o conhecimento da criança de forma
espontânea, além de ser de grande auxílio para a Psicologia estudar a sensibilidade infantil e
feminina, pois toca a natureza emocional da mulher, podendo corrigir a timidez, a dificuldade
de concentração e a deficiência de imaginação, dentre outros aspectos. A visão da autora nos
recorda a imagem tradicional feminina, construída ao longo dos séculos. Informa ser a dança
educacional, até o momento, só aplicável aos públicos infantil e feminino.
Nas primeiras universidades brasileiras havia uma discriminação de atividades
justificadas pelas condições biológicas de cada gênero. Essa restrição da dança ao universo
masculino se explica, talvez, pela característica de emoção – não própria do homem – ao qual
era permitido cursar disciplinas relativas aos desportos de ataque e defesa e futebol.
(CAMPOS, 2006).
Para Goellner (2003), a inserção feminina no esporte brasileiro se inicia no século
XIX, mas só nas primeiras décadas do século XX essa participação se amplia49. Ainda nessa
época, a mulher era educada para ser esposa e mãe. Tal fato ilustra uma visão da época, onde
a mulher era vista com uma natureza frágil, biologicamente inferior ao homem e, por isso,
desaconselhada à prática desportiva competitiva.
Para essa autora, incentivos, apoios, as visibilidades, as oportunidades, as relações de
poder ainda são distintos entre homens e mulheres no Brasil, seja no âmbito da participação,
da gestão ou da administração. A prova disso é que, mesmo com a participação feminina em
Jogos Olímpicos desde 1932, as primeiras medalhas brasileiras só vieram na Olimpíada de
Atlanta, em 1996 (RUBIO, 2006). Mas essas diferenças não estão restritas ao universo do
esporte.
Direcionados ao desenvolvimento infantil, destacamos ainda quatro artigos de Inezil
Penna Marinho para a Revista Brasileira, que referem-se à Psicologia aplicada a Educação
Física da criança e do adulto. Diplomado em Educação Física, Direito e Psicologia, esse autor
escreveu alguns artigos bem fundamentados, outros baseados em seus conhecimentos
pessoais como é o caso de “Conquiste a confiança de seu filho (ensaio de psicologia aplicado
à infância)”, publicado em 1945 na Revista Brasileira.

49
Só em 1932 acontece a primeira participação feminina em Olimpíadas, através da nadadora Maria Lenk.
124

Nesse artigo, Marinho (1945) se preocupa em orientar os pais sobre a necessidade de


construção e manutenção da confiança dos filhos desde a infância. O autor afirma que a
confiança se constrói desde as pequenas promessas e que estas devem ser cumpridas e que
deve haver a compreensão das necessidades dos filhos. Para ele os pais não devem resolver
todos os problemas dos filhos a fim de não os deixarem inseguros, pois, através das próprias
experiências, os filhos podem aprender a superar os obstáculos.
Diferentemente de seus outros artigos, onde apresenta sempre referências teóricas,
neste Marinho (1945) relata alguns conflitos ocorridos entre seu filho Inemar, de 4 anos, e sua
esposa. Segundo ele, encontrou alternativas para compreender os comportamentos do filho e
resolver os conflitos.
Uma das situações que relata é que, em um dia frio, seu filho queria passear de
velocípede e de calção de banho. A mãe disse que ele só iria se estivesse vestido e o filho
começou a chorar insistentemente para ir só de calção. Inezil interveio e disse para ele pegar o
calção e pediu para a mãe sair. Inemar pegou o calção e vestiu, então seu pai perguntou: “e
agora, como você vai sair sem sua mãe ver o calção? Vista uma roupa por cima”, falou Inezil.
O filho obedeceu e assim passou pela sala na frente da mãe. Para o autor, distrair a criança
com outro problema é mais importante que frustrá-la ou reprimi-la. Conclui o artigo
aconselhando os pais da seguinte forma: “[...] Conquiste a confiança de seu filho e
desenvolva-lhe a personalidade, evitando que ele se transforme em um homem sem espírito
de iniciativa, feito para obedecer, incapaz de dirigir os outros e até a si próprio.” (MARINHO,
1945, p. 49).
Embora este artigo seja uma exceção entre os escritos por Marinho, vários outros
autores escreveram sobre temáticas psi voltadas ao desenvolvimento humano, caráter,
personalidade, apresentando opiniões sobre esses e outros assuntos sem uma fundamentação
bibliográfica. Muitos desses artigos se encaixariam na categoria de literatura de autoajuda na
atualidade. Esta era uma atitude comum na época, quando não havia se instaurado o
procedimento acadêmico de demonstração de um determinado discurso através da citação de
fontes bibliográficas. Além disto, no caso específico de relato de conclusões, digamos,
teóricas a partir de experiências com membros da família, na Psicologia esta estratégia está
presente em diversos autores como Jean Piaget e Sigmund Freud. Além disso, nessa época,
havia menos uma preocupação com uma linguagem técnica nos artigos e mais uma
necessidade em divulgar conteúdos considerados relevantes.
Inezil Penna Marinho é autor de diversos artigos envolvendo a temática psi,
principalmente no período em que assume a direção da Revista Brasileira (1946-1952). Nos
125

dois primeiros anos de sua gestão, publica vários artigos voltados à aplicação da Psicologia à
Educação Física em realidades distintas: ao adulto, a atividade física dos surdos-mudos e dos
débeis mentais50, aos desajustados de conduta e ao desportista, que serão abordados nas
categorias pertinentes ao seu conteúdo.
Aqui destacamos dois desses artigos que abordam a noção de desenvolvimento
humano na infância e na fase adulta. O primeiro, “Psicologia Aplicada à Educação Física da
Criança” é um artigo longo e, por isso, foi dividido e publicado em dois números
consecutivos em 1947, sendo em fevereiro e março. Neles Marinho (1947b, 1947f) expressa a
importância da Educação Física em voltar-se à criança e afirma que as atividades direcionadas
a estas, não têm sido as mais adequadas aos seus desejos e necessidades. Segundo Marinho
(1947b, p. 6),

[...] Precisamos antes de tudo, conhecer bem a natureza da criança, as suas


necessidades de ordem física, psíquica e social. [...] Devemos penetrar na alma da
criança, conhecê-la profundamente, adivinhar todos os seus desejos, compreender
todas as manifestações de seus comportamentos, [...] não de acordo com o nosso
raciocínio, mas consoante com o modo de pensar da própria criança, dentro do seu
limitado mundo psíquico e pelo prisma que encara todas as coisas [...].

O autor apresenta estudos e leis sobre o crescimento físico da criança, classificações


sobre as fases do desenvolvimento e suas faixas etárias, citando obras relevantes de estudiosos
de Medicina e da Educação como La Croissance (1894), de Maurice Springer; La Croissance
pendant l´áge scolaire (1913) de autoria de P. Godin; La Croissance (1920) de L. Dufestel;
Scienza dell‟Ortogenesi (1939), cuja autoria é de N. Pende; Psicologia da Infância publicado
em 1937 pelo brasileiro Silvio Rabelo e Psicologia da criança e Pedagogia Experimental
(1940) de E. Claparéde.
Marinho (1947b) concilia os enfoques biológico e psicológico para ressaltar a relação
entre crescimento psíquico e físico. Descreve duas fases do desenvolvimento nervoso da
criança, a intrauterina, entendida como referente à constituição morfológica do eixo céfalo-
modular, a partir do aparecimento da medula e do encéfalo, e a extra-uterina, caracterizada
pelo desenvolvimento funcional, condicionado à mielinização das fibras e evolução dos lobos
corticais. Cita K. Koffka e sua obra Bases de la Evolucion Psíquica – Introdución a La
psicologia infantil, de 1926, para legitimar sua teoria sobre o aparecimento dos processos
mentais coincidindo com o surgimento de novas porções do encéfalo ou com o
desenvolvimento das porções já existentes. Para Marinho (1947b, p. 9),

50
A terminologia “débil mental”, em desuso na atualidade, ainda muito era utilizada no período em que os
artigos foram escritos.
126

[...] A determinação das fases do crescimento psíquico só poderá ser feita com pleno
conhecimento da evolução dos diversos órgãos que integram o sistema nervoso. [...]
O crescimento psíquico não se verifica independente do crescimento físico [...] este
influi de maneira razoavelmente notável sobre as funções mentais. [...].

Marinho (1947b) afirma que a psicologia da infância importa à Educação Física pelas
preferências peculiares de cada sexo e reforça que o professor dessa área precisa compreender
a capacidade imaginativa da criança. Para fundamentar seus argumentos recorre a Théodore
Ribot (1839-1916), um dos primeiros nomes da Psicologia francesa e autor de Essai sur
l‟imagination créatrice (1900), para explicar os estágios do processo evolutivo da imaginação
da criança. Apresenta, ainda, as leis da conduta segundo Claparéde a partir de sua obra
“Educação Funcional”, em 1940, e os métodos citados por este para o estudo da evolução dos
interesses da criança: método da extrospecção (observar as condutas) e o método da
introspecção (perguntar à criança sobre seus interesses).
Considera que a família é a base e exerce maior influência na formação da criança nos
primeiros anos, como também que os grupos sociais se formam a partir dos interesses e
necessidades que mantêm unidos seus integrantes. Assim, a criança precisa ser preparada para
a vida em sociedade e cita os autores que consideram a sociedade como fator importante no
crescimento infantil, dentre eles J. J. Rousseau em “Contrato Social ou Princípios de Diretores
Políticos” (1944); D. Snedden em “Sociologia Educacional” (1941); T. Paine em Los
Derechos Del hombre (1944); G. L. Duprat em La solidarité sociale (1907); J. Dewey51 em
“Democracia e Educação” (1936) – breve tratado de Filosofia da Educação – e E. Durkheim
em “Educação e Sociologia” (1922). Sobre as condições de crescimento da criança Marinho
(1947b, p. 13) adverte que

[...] Não devemos pois, ensinar os exercícios físicos às crianças, mas dar-lhes
atividade física sabiamente orientada, de maneira a lhes favorecer o
desenvolvimento físico e mental [...]” Os nossos programas de educação física têm
pecado pelo fato de repousar exclusivamente em bases anatomo-fisiológicas; nem
sempre o ótimo fisiológico corresponde ao ótimo psicológico [...].

Marinho (1947b) afirma ainda que os exercícios analíticos, formais, artificiais,


conhecidos no Brasil como flexionamentos e na França como assouplissements devem ser
eliminados dos programas para alunos normais, pois geram um alto índice de insatisfação e
desânimo para a prática das atividades. Além disso, diz que as mulheres também devem
praticar atividades físicas, citando Rui Barbosa e seu parecer sobre a “Reforma do Ensino

51
Algumas datas dessas publicações referem-se às citadas pelo autor, visto que não encontramos referências
bibliográficas no texto.
127

Primário e Várias Instituições Complementares da Instrução Pública” (1883), o qual estendeu


a ambos os sexos a ginástica nas escolas primárias.
Marinho (1947f) ainda reverencia B. Russel que em “Educação e vida perfeita”, numa
tradução de Monteiro Lobato de 1941, afirma que a educação moderna deverá ser útil e não
ornamental. O indivíduo deve ser útil não apenas a si mesmo, mas a toda a sociedade, por isso
mais importante que desenvolver sua força é ensiná-lo a usá-la com inteligência. Estes
argumentos baseiam-se nos princípios da Escola Nova, que lutava por uma educação para a
massa, sem desconsiderar a individualidade. Priorizava o processo de aprendizagem,
valorizando os interesses e necessidades infantis, assim como o aspecto lúdico das atividades,
contrapondo-se ao modelo da escola tradicional.
Afirma que os exercícios analíticos, através da repetição, criam o automatismo e
impedem o desenvolvimento da inteligência e da personalidade, tornando os homens apenas
obedientes. Tais exercícios são mais indicados às crianças com anormalidades. Já os
exercícios sintéticos favorecem à personalidade integral, ajudando no desenvolvimento do
espírito de iniciativa, na formação de homens com vontade própria e conscientes de sua força
e de seu valor.
Marinho (1947f) destaca serem as atividades naturais (salto, corrida, cambalhotas,
jogar bola, etc.) as mais indicadas à educação física da criança, principalmente nos quatro
primeiros anos. As crianças não devem ser dirigidas, mas orientadas. Devem ter a liberdade
de escolher o que lhes interessa e o papel do professor é orientar no uso dos aparelhos e evitar
acidentes.
Esse autor também se refere ao jogo como uma atividade espontânea, psicológica e
fisiologicamente, além de uma manifestação da tendência de afirmação da personalidade.
Mais uma vez se fundamenta em obras de estudiosos reconhecidos, como “Psicologia da
criança e Pedagogia Experimental” (1940), de Claparéde; “O brincar como fator psicológico”
(1940) cujo autor é Karl Groos e “Técnica do Jôgo infantil Organizado” (1940) de Nicanor
Miranda, para quem o jogo se constitui um elemento importante na educação moral da
criança. Segundo Marinho (1947b), este último autor, Diretor da Divisão de Educação e
Recreio do Departamento de Cultura da Municipalidade de São Paulo, considera que a
formação do caráter surge por meio ou através do jogo, pois a conduta revelada no jogo pode
ser transferida para outras atividades.
No outro artigo sobre essa temática, Marinho (1947c) direciona-se ao
desenvolvimento adulto. Em “Psicologia Aplicada à Educação Física do Adulto”, publicado
em 1947, afirma que o adulto, assim como a criança e o adolescente, também possui
128

necessidades físicas, psíquicas e sociais e por isso precisa satisfazê-las a fim de manter o
equilíbrio. A atividade física produz efeitos no organismo do adulto, como a melhora da
respiração, estimula a circulação sanguínea, o sistema nervoso. Cita Alexis Carrel “O homem
esse desconhecido” (1939), e M. Boigey Manual Scientifique d‟Education Physique (1923).
Descreve, ainda, uma série de patologias decorrentes de atividades realizadas em pé e orienta
como seria a postura correta.
Sobre as necessidades psíquicas do adulto sua referência é, mais uma vez, E.
Claparéde, por este afirmar que, no adulto, as funções derivativas do jogo são superiores à sua
função genética. Diante de problemas, o adulto desenvolve tensão nervosa, irritabilidade,
mau-humor, qualquer motivo pode provocar uma explosão de sentimentos e perda do
controle. Novamente, o autor apresenta o jogo ou desporto como recreação, uma forma de
escape para tais tensões e instintos agressivos. “[...] A mente encontra em tais práticas um
derivativo e por ele se absorve inteiramente; o indivíduo, por alguns instantes pelo menos, se
esquece completamente de seus problemas e vive num mundo inteiramente novo [...].”
(MARINHO, 1947c, p. 33).
Diferentemente da criança e do adolescente, o adulto não está subordinado à família,
pois já é senhor de seus atos, independente, mas as relações sociais precisam ser renovadas e
alimentadas. Os desportos, então, funcionariam como atividades que possibilitam satisfação
social.
Corroborando com as ideias de Inezil Penna Marinho sobre a importância da educação
física para a criança e o adulto e as diferenças entre essas fases de desenvolvimento, o
professor de práticas educativas da Escola Superior de Educação Physica (ESEP), Idyllio
Alcântara de Oliveira Abbade em “A criança necessita de educação física para firmar
espiritual e fisicamente sua personalidade” (1945), ressalta a importância da educação integral
e a necessidade de efetivar uma educação física racional nas escolas primárias, por considerar
essa faixa etária uma das fases mais significativas no aprendizado. O autor apresenta
diferenças concretas entre a criança e o adulto no que se refere ao crescimento. Destaca que
importa saber as relações sobre as crises do crescimento e o trabalho mental, afirmando que
existe uma relação inversamente proporcional entre crescimento físico e intelectual, pois
quando o físico aumenta, o intelectual diminui.

[...] Daí este atrito entre o físico e o psíquico devido, unicamente, ao uso demasiado
de energias, sobrevindo então a „surmenage‟, se não advierem ainda perturbações
mais terríveis [...] Não há dúvida que por meio de uma educação física bem
orientada e principalmente nos jogos que se firma, espiritual e fisicamente, a
personalidade da criança [...] (ABADDE, 1945, p. 36).
129

Embora Abbade tenha publicado dois artigos com títulos diferentes, como
“Necessidade da Educação Física para firmar espiritual e fisicamente a personalidade da
criança”, na Revista EsEFEx (ABBADE, 1942) e na Revista Brasileira (ABBADE, 1945), é
possível perceber algumas semelhanças no conteúdo. No da EsEFEx há uma ênfase na
importância dos estudos de autores relacionados à Educação como Binet, Claparéde e Dewey,
referenciados para fundamentar uma educação integral e a atuação da educação física
racional, ratificando aspectos de desenvolvimento humano e do cuidado nos primeiros anos
do crescimento. No segundo artigo, o autor apresenta diferenças concretas entre a criança e o
adulto no que se refere ao crescimento e suas especificações de acordo com a idade. Destaca
que mais importa saber as relações sobre as crises do crescimento e o trabalho mental.
É comum nos dois artigos uma apresentação breve das fases do crescimento humano
(primeira e segunda infância, adolescência e puberdade), reafirmando a influência do
crescimento físico diante do desenvolvimento mental ou intelectual das crianças. Apresenta
ainda, uma análise negativa do ensino nacional, pois o considera falho nesses aspectos,
embora elogie a iniciativa da Escola de Educação Física do Exército pelo seu pioneirismo na
formação de educadores multiplicadores da educação física racional e pela publicação da
revista onde escreveu um desses artigos.
Na Revista EsEFEx, encontramos ainda o artigo “Psicologia do adolescente” (1953),
do professor Mário Gonçalves Viana, que foi Diretor do Instituto Nacional de Educação
Física em Portugal. Nesse artigo, Viana (1953) descreve algumas das principais características
da adolescência, como a vontade de ser mais velho; atitudes espetaculosas quando não são
levados a sério; impressionar-se facilmente seja com elogios ou repreensões; necessidade de
independência. Fala das pressões religiosas, morais e sociais que os jovens têm que enfrentar
para afirmar sua personalidade. Diferencia as preferências entre homens e mulheres em
relação às atividades e em comportamentos e afirma que a sociedade deve canalizar o instinto
de luta dos jovens e que as atividades desportivas e gímnicas possuem uma função
moderadora, catártica e compensadora.
O professor de Educação Física Jair G. Raposo escreve para a mesma revista o artigo
“A infância, a adolescência e os problemas da orientação educacional” (RAPOSO, 1957a).
Seu texto trata da importância dos cuidados com a faixa etária de quatro a sete anos, em que a
criança precisa expandir suas energias e desenvolver-se nos aspectos ósseo, muscular e do
sistema nervoso. Considera que a infância compreende o período do nascimento até os onze
anos, fase em que uma das características é a agressividade. Esta pode ser controlada pelo
professor de Educação Física, mas para tanto, este deve apresentar linguagem clara, uso de
130

terminologia fácil, expressões no rosto para suas atitudes, elogios ao grupo e cuidados nas
censuras para demonstrar ser um professor interessado na adaptação desse novo ser.
Raposo (1957a, p. 3) considera ainda que os interesses perceptivos também
caracterizam essa fase e os ilustra como instabilidade de humor, curiosidade, descuido e
pouca concentração. O autor acredita que, após os sete anos, os grupos devem ser formados e
os sexos separados. Seu discurso nos remete aos estudos do comportamento na visão
skineriana: para que o aluno aprenda o comportamento adequado e receba a recompensa, a
modelagem é estratégia mais eficaz que a punição. “[...] A uma criança não se diz „não faça
isto‟, mas se sugere que „faça outra coisa‟, atendendo, em parte seu desejo e corrigindo erros
sem humilhá-la com uma repreensão ou recusa. [...].” Esta deveria ser a conduta apresentada
pelo professor diante de um comportamento inadequado da criança.
Para Raposo (1957a), um dos principais problemas da infância é a angústia, que surge
a partir de dificuldades educacionais, dos conflitos em casa, dos defeitos físicos,
acanhamento, mentira, orgulho, medo e respeito. Sobre estes sentimentos o autor distribui a
responsabilidade entre a escola e a família.

[...] Angústia é ansiedade, preocupação, agonia. A criança não sabe porque está
angustiada e por isto mesmo não pode evitar esse fenômeno da vida psíquica, que se
caracteriza como um estado de emoção. [...] O mêdo é a inquietação do espírito e se
apresenta em 3 aspectos: pavor, ameaça e susto.[...] Timidez, fuga, vagabundagem e
perversões são consequências de uma vida escolar mal orientada, juntamente com
uma situação conflitual dentro do lar [...] (RAPOSO, 1957a, p. 3).

Raposo (1957a) segue descrevendo a adolescência, que se inicia aos onze e termina
aos dezoito anos, e suas alterações morfofisiológicas e psíquicas, caracterizando uma
instabilidade emocional concomitante a um movimento de integração ou desajustamento na
busca de uma unidade. Em um viés naturalista, considera que nesse período o caráter deve
estar formado, pois existe não só o amadurecimento fisiológico e sexual, mas também
experiências vividas que contribuem para o desenvolvimento da mentalidade diante da vida.
Raposo (1957a) considera que o professor de Educação Física é quem está mais
próximo do adolescente para ajudá-lo diante das dificuldades e transformações dessa fase da
vida.

[...] Assim, através de instruções quanto à higiene mental e à vida sexual, pode a
professora permitir à adolescente conhecer-se e o professor ensinar ao educando
como iniciar-se na expansão da vontade, evitando consequências de agir na vida
como ser social perfeitamente ajustado ao grupo. [...] (RAPOSO, 1957a, p. 4).

Afirma que dos treze aos quinze anos, a ginástica e a prática de desportos coletivos são
mais indicados e que o adolescente nessa idade prioriza agir com liberdade. Punições
131

frequentes levam ao abandono das atividades praticadas. Para Raposo (1957a), cabe o
estímulo ao convívio no grupo, à necessidade do companheiro para alcançar a vitória, a
importância do juiz e das regras para a condução da competição, além da participação da
torcida para lembrar a disputa entre duas forças.
Raposo (1957a) continua descrevendo as fases seguintes do desenvolvimento,
ressaltando as evoluções cognitivas e suas respectivas aptidões para outras atividades no
esporte como o conhecimento de sistemas táticos. Os jogos seriam instrumentos importantes
nesse processo para o treino de tais habilidades e para o desenvolvimento do adolescente, mas
enfatiza que a ginástica não deve deixar de ser praticada. Conclui afirmando que seu objetivo
é

[...] criar uma mentalidade nova no professor de educação física, ampliando seu raio
de ação na assistência à formação da juventude brasileira, desenvolvendo-lhe sua fé
na vitória, objetivo definido, controle de si mesmo, entusiasmo, segurança, espírito
de luta, cooperação, paciência e persistência [...]. (RAPOSO, 1957a, p. 5).

Percebe-se, em alguns momentos, concepções teóricas convergentes entre os


diferentes autores, embora apresentem também teorias antagônicas.
Como não havia ainda uma delimitação do que seria o campo de atuação do
profissional psicólogo, percebe-se, algumas vezes, que o profissional da educação física se
considera competente também para exercer esse papel. As orientações presentes nos artigos
dos anos 1940 e 1950 tinham como objetivo não só aproximar o professor dessa área das
questões emocionais e sociais do aluno, mas também instrumentalizá-lo para intervir frente a
elas, estimulando uma conduta que hoje, com maior diferenciação profissional, é atribuída ao
psicólogo do esporte. Mas, na atualidade, essa delimitação de atuação desses saberes ainda
parece conflituosa. Uma questão que voltará a ser discutida nas considerações finais dessa
tese.
O artigo do militar e Instrutor da EsEFEx, Capitão Albino Manoel da Costa
“Psicologia e o ensino da Educação Física infantil”, publicado na Revista EsEFEx, em 1950,
ratifica as afirmações dos artigos anteriores, ressaltando a importância da Psicologia para
qualquer campo do ensino, especialmente para a educação infantil. Costa (1950) afirma que a
Educação Física Infantil visa preparar o homem do futuro através do desenvolvimento
integral e, assim, deve incluir instrumentos capazes de intervir na educação moral e
intelectual. Considera importante a especialização do instrutor de Educação Física que, para
atuar nesse ramo, precisa entender mais sobre pedagogia e psicologia da criança, além de
desenvolver em si mesmo interesses pelo universo infantil.
132

Costa (1950), embora pareça acompanhar os estudos da Psicologia na área, apresenta


estudiosos da educação e psicólogos que cita como tendo se destacado nessa temática sem
demonstrar discernimento entre as diferentes teorias psicológicas, como os adeptos das
concepções behaviorista, gestaltista, psicanalista e outras. Entre eles, E. L. Thorndike (1874-
1949), K. Koffka (1886-1941), K. Bühler (1879-1963), J. Piaget, H. Wallon (1879-1962), W.
L. Stern (1871-1938), Theobaldo Miranda dos Santos (1904-1971), E. Mira y Lopez (1896-
1964), H. Spencer (1820-1903), F.W. Nietzsche (1844-1900) e S. Freud (1856-1939). Inclui
ainda, informações sobre os testes mentais que contribuíram para estudos sobre a
personalidade infantil no início do século XX.
Costa (1950) informa que Theobaldo Santos considera que o instrutor de Educação
Física deve se basear na idade crono-fisiológica para escolher os instrumentos adequados ao
processo de educação. Para isso, usa a classificação de Claparéde sobre as fases do
desenvolvimento, por considerar que a criança aprende durante o dia através das brincadeiras
e, que, nesse contexto, forma seu modo de pensar, agir e sentir, elementos definidores de sua
personalidade no futuro. Sugere ao instrutor respeitar as fases de desenvolvimento e suas
características,

[...] orientando e estimulando a recreação dá à criança uma atividade física associada


ao desenvolvimento psico-sociológico. [...] A atividade agradável ocupa
inteiramente os sentimentos, a vontade e a ação da criança e age sobre sua esfera
senso-motriz, as suas inclinações intelectuais, a sua fantasia imaginativa e,
finalmente, sobre todo o fundamento da sua personalidade, tanto no lado físico como
no psíquico [...] (COSTA, 1950, p. 7).

Costa (1950) conclui seu artigo sugerindo uma série de atividades e brincadeiras para
desenvolver tais habilidades nas diversas fases do crescimento e cita outros autores brasileiros
consultados para seu artigo, que de alguma forma fundamentam seus argumentos sobre o
tema.
Vemos que diversos autores citados nos textos são comuns quando o assunto é
educação como, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Johann Heinrich Pestalozzi (1746-
1827), Edouard Claparède (1873-1940) e Jonh Dewey (1859-1952). Para Bermond (2007)
uma justificativa para a presença destes autores estrangeiros está no fato de que a Educação
Física escolar baseava-se nas concepções pedagógicas lideradas por tais estudiosos.
133

2.3 Caráter e personalidade

Ao verificar que, para os estudiosos da Educação Física, em nosso período de estudo,


tais termos pouco se diferenciavam e quase sempre eram utilizados para tratar das
características pessoais do indivíduo e de seu processo de formação moral, reunimos os
artigos que tratam de personalidade e caráter
O conceito de personalidade ainda é encontrado em manuais como os de Fadiman e
Frager (2000), Hall, Lindsey e Campbell (2002), Hockenbury e Hockenbury (2003) e Pervin
(2004) que buscam extrair, à revelia das abordagens teóricas, uma teoria sobre personalidade.
Nossa intenção, portanto, não é adentrar nessa celeuma, uma vez que esse conceito nos anos
1950, tornou-se agregador dos diversos aspectos do indivíduo estudados isoladamente, como
aptidão, comportamento, inteligência. Baseava-se em juízos de valor e correspondia à
identidade moral do indivíduo. Atualmente ainda observamos esse conceito sendo usado na
psicometria, mas a noção de subjetividade aparece como fenômeno mais abrangente na
Psicologia.
As primeiras décadas do século XX, embaladas com a psicometria, favorecem a
chegada, no Brasil, dos primeiros testes, entre eles os de personalidade. Entendidos como uma
forma de mensurar objetivamente aspectos do ser humano, os testes ganham aceitação e
reconhecimento, principalmente nos campos da Medicina e Educação, e, mais tarde, na
indústria.
Os artigos apresentam algumas teorias como Biotipologia, também chamada de
Antropologia Diferencial, Antropologia Constitucional ou Caracterologia, que se destaca por
ser a mais citada. Define-se como uma teoria de tipos, que supõe a existência de uma relação
entre os caracteres morfológicos, físicos e psicológicos, relação esta passível de explicar a
personalidade. Para Gomes (2011) o termo foi criado nos anos 20, pelo médico italiano
Nicola Pende (1880-1970) com objetivo de caracterizar a base de uma nova ciência, unindo os
estudos experimentais da constituição humana. Estaria ancorada em procedimentos de
mensuração morfológicos, fisiológicos, endócrinos e psicológicos.
Dentre os estudiosos do tema estão o neurologista alemão Ernst Kretschmer (1888-
1964), e o psicólogo americano William Sheldon (1836-1915), que se destacou com sua teoria
correlacionando os tipos físicos e os aspectos psicológicos. De acordo com Pasquali (2000),
essa teoria também foi classificada como teoria morfológica por tratar do estudo do
temperamento e do formato do corpo. A Biotipologia não prosperou muito na Psicologia.
134

Como dissemos, os termos caráter, formação do caráter e personalidade aparecem nos


artigos, por vezes, de maneira informal, sugerindo “conselhos” para pais e mães sobre como
participarem do processo de formação do caráter de seus filhos, ou ainda, de modo mais
categórico, ilustrando a preocupação da Educação Física com uma formação integral, visando
ao ajuste social do cidadão brasileiro.
Floriano Stoffel, auxiliar técnico da cadeira de Clínica Propedêutica Médica da
Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, em seu artigo “Biotipologia,
Endocrinologia e Psicanálise (Pende, Kretschmer e Freud)” publicado na Revista EsEFEx, em
1933, apresenta estudos modernos sobre a Biotipologia, denominada pelo autor de “biologia
da individualidade”. Fundamenta seu artigo com os autores citados acima, das escolas
italiana, alemã e americana. No Brasil, refere-se ao professor de Clínica propedêutica, Juvenil
Rocha Vaz, responsável pelo gabinete de Biologia da Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, e apresenta as ideias da psicanálise freudiana (STOFFEL, 1933).
Das influências estrangeiras sobre a Biotipologia o autor detém-se na escola italiana
do médico e professor da Universidade de Gênova, Nicolas Pende que, a seu ver, sintetiza e
harmoniza as demais teorias. Essa escola explica a Biotipologia em analogia à figura da
pirâmide onde a base representa os caracteres hereditários, e as demais faces são
representadas pelo aspecto morfológico (forma e volume das vísceras), o conjunto humoral
(temperamento) e a psicologia do indivíduo (caráter e inteligência).
O autor define a constituição do indivíduo como uma resultante morfo-fisio-
psicológica variável em cada um, determinada pela hereditariedade e pelas ações do meio.

[...] Da soma de todos êsses conhecimentos resultou a biotipologia que aliada à


psicanálise nos dá a chave miraculosa capaz de abrir as passagens do „soma‟ e do
„psique‟ por mais reconditas que sejam. [...] Assim, a aplicação e influencias
conhecimentos que viemos de referir a cerca da biontologia e da doutrina de Freud
na educação, abrangerá [...] o crescimento e desenvolvimento das faculdades inatas
do indivíduo como sobre aquela que concerne a plasmação de atitudes, a formação
do caráter e a formação de uma filosofia da vida. [...] (STOFFEL, 1933, não
paginado).

Stofell (1933) descreve a constituição dos caracteres hereditários – instintos e


impulsos –, como partes integrantes do temperamento e afirma que a psicanálise explica como
impedir que desenvolvam as qualidades indesejadas através da sublimação das “forças
energéticas maléficas”. Para o autor, o indivíduo precisa compreender o mundo em que vive e
ser capaz de discriminar os fenômenos que o rodeiam, formando ideias próprias para poder
mudar o ambiente à sua volta.
135

Considera ainda que o processo educativo pode ocorrer ao longo de toda a vida e não
apenas na infância e sugere que, nos cursos destinados a professores, sejam introduzidos
conhecimentos de psicanálise e biotipologia para facilitar a compreensão do temperamento
dos alunos, além de conhecimento sobre os tests (sic) para avaliar o desenvolvimento mental e
suas causas. Observe-se que não há reconhecimento da biotipologia por parte da psicanálise.
O mesmo ocorre com Jair da Graça Raposo ao falar sobre “O Técnico desportivo e o
conhecimento de sua especialidade” (1958), na Revista EsEFEx, onde também apresenta as
características da personalidade, mas a partir de pesquisas biotipológicas direcionadas ao
futebol. Raposo (1958) considera que a personalidade do treinador deve apresentar mais
capacidade e conhecimento que seus atletas, além do desejo de vitória eminente e espírito
competitivo.
Raposo (1958) destaca duas formas de estudar o ser humano: a estática, que diz
respeito à aparência física ou externa, um estudo superficial que encontra a forma, mas não a
natureza, como o método usado na polícia para identificar ladrões; e a dinâmica que coordena
forma e natureza, de onde se originou a Biotipologia. Define os termos bio = vida; biotipo =
tipo de vida; logia = estudo. Portanto, Biotipologia, para esse autor, é o estudo do tipo de vida
e, assim como Stofell, refere-se às várias escolas estrangeiras, mas se detém nas propostas das
italiana e americana, por considerá-las mais coerentes com a prática do futebol.
Ainda de acordo com seu ponto de vista, “[...] A Escola Italiana tem por base englobar
a personalidade psíquica através do método biológico, no qual deseja transparecer que êsse
conjunto de fenômenos estabelece a fronteira entre o fisiológico e o psicológico [...]”
(RAPOSO, 1958, não paginado). O biótipo somatotônico, na descrição de Sheldon, tem como
objetivos na vida dinamismo, ação e poder, características atribuídas pelo autor às funções de
goleiro ou zagueiro.
Raposo (1957b), versando sobre essa temática, apresenta uma extensa pesquisa
bibliográfica sobre o tema em seu artigo “A infância, a adolescência e a formação do caráter”,
para a mesma Revista EsEFEx. Resumindo, ele afirma que o caráter vem sendo estudado por
duas correntes, sendo que a dos constitucionalistas o entende como baseado nos fatores
biológicos e definido desde cedo, não podendo ser modificado, enquanto a corrente dos
correlacionistas, embora também considere que tenha base biológica, entende que possa ser
modificado pelo meio, para melhor ou pior. Raposo (1958) reconhece que o estudo do
dinamismo humano não pode ficar preso a determinismos fisiológicos e que existem outros
dados mais gerais a serem considerados.
136

Apresenta algumas referências teóricas sobre o tema, entre elas a do filósofo alemão
Ludwig Klages (1872-1956), que afirma ser o caráter constituído de uma proporção diferente
entre o instinto de afirmação e o instinto de negação; os parceiros da Universidade de
Croningne, G. Heymans, professor de filosofia e psicologia e o neurologista e psiquiatra E. D.
Wiersma, autores de estudos sobre a transmissão hereditária dos traços psicológicos na
formação do caráter; o cientista alemão Otto Gross (1877-1920) estudioso dos mesmos
fatores, mas denominando-os de ressonância; o filósofo e psicólogo francês Renée Le Senne
(1882-1954), juntamente com G. Heymans, autores do tratado “Tipologia Caracterológica”,
onde apresentam como fatores na formação do caráter: emotividade, atividade e ressonância
das representações.
Raposo (1957b) cita ainda C. G. Jung, W. James, A. Binet e a concepção do médico,
psicólogo e filósofo francês Henri Wallon (1879-1962) sobre emotividade, traduzida como
ponto de partida para uma construção psicológica mais complexa. Na visão do autor, dentre
os fatores que influenciam a formação do caráter estão a sociedade, a escola, a família, o
clima, a alimentação, entre outros, mas o ambiente familiar é o de maior significado e, por
isso, orienta os educadores a conhecerem a história familiar de seus alunos.
Em um tempo onde a memória se destacava como elemento importante na aquisição
de conhecimento, as referências utilizadas por Raposo (1957b) ainda que voltadas para um
enfoque biológico, demonstram uma abertura para os fatores psicológicos, não só no processo
de formação da personalidade, mas também no de aprendizagem.
Raposo (1957b, 1958) apresenta uma visão mais fundamentada sobre a formação da
personalidade, citando vários teóricos da época, onde o enfoque biológico predomina e a
noção de moral é convertida em caráter. Assim, o saber psicológico vai inserindo-se, aos
poucos, no universo da atividade física como um saber complementar pelas mãos dos médicos
e militares.
Com um enfoque mais voltado à Educação Física, Inezil Penna Marinho publica na
Revista Brasileira o artigo “A Contribuição da Educação Física na preparação do Soldado
Brasileiro”, em 1944, demonstrando como essa área se apropria de elementos relativos à
formação do caráter para auxiliar em seu projeto de preparação dos soldados. Marinho
(1944a) apresenta tópicos que constituem a preparação do soldado brasileiro a partir da
Educação Física, incluindo os aspectos físico, técnico, tático, moral e psicológico. Como se
trata de um artigo extenso, destacamos os dois últimos tópicos por serem mais relacionados
aos nossos objetivos.
137

A preparação moral pode ser individual ou social. A primeira diz respeito a um


conjunto de qualidades pessoais, o caráter. A segunda é representada pelos preceitos
estabelecidos pela sociedade. A moral social terá como base a moral individual. Marinho
(1944a) destaca a coragem, a tenacidade, a perseverança, a generosidade, o espírito de
disciplina, de solidariedade e de cooperação, a energia, a confiança em si mesmo, a lealdade e
a predisposição à luta como qualidades morais que devem ser desenvolvidas na formação do
caráter do soldado brasileiro.
A preparação psicológica se diferencia da preparação moral no sentido que visa a
educar a vontade e favorecer o controle das emoções pela continuidade dos estímulos e pela
consciência de suas consequências. Segundo Marinho (1944a), a preparação psicológica se
faz fundamental no preparo do soldado brasileiro e deve constituir o estágio final de todo o
processo. Dentre as referências citadas encontramos Fernando de Azevedo, Lourenço Filho,
A. Carrel, J. B. Griffing.
Quase uma década antes o redator-chefe da Revista EsEFEx e Capitão Inácio de
Freitas Rolim em seu artigo “Educação Moral e Educação Física”, publicado em 1935 nessa
revista, já afirmara que o valor do soldado não está no material bélico ou no preparo para o
combate, mas na força moral, que faz os homens acreditarem em sua própria força. Rolim
(1935) cita os regulamentos militares para fundamentar a noção de educação moral, que
significa exaltação ao patriotismo, desenvolvimento do espírito de sacrifício e o sentimento do
dever militar, inspiração de confiança e compreensão do valor da disciplina.
Para ilustrar a visão filosófica da cultura corporal como primeiro passo para a
preparação moral, retomemos o Capitão Rolim (1935) quando refere-se ao filósofo francês
Michel E. de Montaigne (1533-1592), um humanista dedicado a compreender as paixões, a
organização social e a doutrina moral. Rolim (1935) acredita que a ginástica e seus exercícios
favorecem o desenvolvimento de diversas características do homem, como inteligência,
sensibilidade, coragem, velocidade, flexibilidade, agilidade, além de servir para a preparação
moral e social dos jovens. A Educação Física é também uma preparação física e moral para a
guerra, pois a força moral do soldado se mantém diante da disciplina e obediência às ordens
recebidas.
Rolim (1935) cita o médico e professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro
Fernando de Magalhães (1878-1944), uma das referências na Educação Física, para reiterar o
valor dessa área como ciência do movimento e das aplicações morais, considerando o papel
desse saber no combate ao individualismo social.
138

[...] A conduta do homem depende de seus sentimentos, mais que dos pensamentos e
é assim que desejos e emoções têm uma influência poderosa na realização de seus
atos. Como os instintos e as emoções mais importantes exigem para sua completa
expressão a atividade muscular, é evidente que os jogos devem ser um fator de alto
valor na formação do caráter [...] (ROLIM, 1935, p. 37).

Embora voltados para o universo da Educação Física, podemos destacar uma diferença
entre esses dois artigos sobre a noção de moral. Enquanto na visão de Marinho (1944a) a
moral é definida como caráter, conjunto de qualidades pessoais e influências sociais, na
concepção do Capitão Rolim (1935) esta reflete-se no patriotismo, no espírito de sacrifício, no
sentimento do dever militar e no valor da disciplina. Consideramos que o contexto histórico
que permeia essas duas concepções em muito influencia tais distinções. A necessidade de
conhecer e controlar os fenômenos humanos nesse processo impulsiona o olhar dos estudiosos
da Educação Física para os estudos sobre a personalidade.
Na década de 30, havia uma demanda para a formação do homem ideal para a Nação e
a Educação Física assumia um papel importante nesse processo. Rolim (1935) escreve no
auge deste projeto desenvolvimentista e situa a Educação Física como elemento fundamental
no processo de formação do soldado brasileiro. O país vivia um clima de guerra não só pelos
conflitos na Europa, mas também devido aos confrontos políticos internos como a Intentona
ou Levante Comunista (1935) e o Golpe de 1937.
O artigo “Rápidos traços caracteriológicos dos frívolos e fúteis” do médico e eugenista
brasileiro Renato Kehl (1889-1974), publicado em 1939, na Revista Educação Physica, é mais
um exemplo da tentativa de definir e classificar a personalidade a partir de teorias tipológicas.
Kehl (1939) apresenta uma classificação dos traços caracterológicos baseada na frivolidade e
futilidade, onde define o primeiro termo como algo presente em todos nos momentos de
angústia da existência. Ainda para diferenciar o frívolo do fútil – frívolo seria aquela pessoa
que facilmente se quebra e se faz em pedaço; fútil é caracterizado como falar e fazer sem
razão, sem reflexão, não sabendo o que diz.
No entanto, Kehl (1939) também percebe aspectos positivos na futilidade quando
afirma que a vida se tornaria intolerável sem o trabalho, que ajuda a esquecer as amarguras
passadas e presentes, mas que, em alguns momentos, é necessário devanear, fantasiar, ter
leituras leves e outras práticas recreativas e fúteis que podem ser consideradas benéficas
mental e higienicamente para o psiquismo. Também descreve algumas pessoas como frívolas
e fúteis por ocuparem a maior parte de seu tempo com ociosidade, mesquinhez, obsessão por
moda, bebida, jogo ou reuniões sociais. Classifica como principal sintoma desse tipo de
caráter o sinal psicológico da estreiteza mental o julgamento fácil e rápido. Para o autor, os
139

fúteis e frívolos ignoram os pareceres daqueles que realmente sabem, pretendem aprender ao
acaso e têm antipatia pelos livros.
Vemos, pois, uma classificação de tipos de caráter baseada em características
subjetivas e estereotipadas, embora houvesse um esforço para dar enfoque científico às
explicações sobre o caráter; ainda assim, é possível identificar a forte presença de senso
comum nas análises feitas.
Na Revista Educação Physica, o médico francês Philippe Tissié, então Presidente da
Ligue Française de l‟Educacion Physique, também publica sobre as tipologias do caráter. Em
“Classificação dos caracteres”, de 1940, o autor afirma que os homens podem ser
classificados de acordo com sua capacidade de adaptação ao meio, sendo este construído pela
coletividade que vive em determinado ambiente físico. Define o caráter como um agente de
adaptação e o divide em três classes, segundo a ordem psíquica de reação ao meio: passiva,
afetiva e afirmativa. O tipo passivo corresponde à maioria das pessoas que compõem a
multidão, pois fazem “[...] parte de um todo; não procurando compreender esse todo nem
modificar sua vida, tem necessidade de ser mandado. [...].” (TISSIÉ, 1940, p. 53).
Os tipos afetivos possuem uma constituição emotiva, duvidam de si, ignoram-se.
Consideram-se impotentes, são brandos e apegam-se facilmente aos que sentem serem mais
fortes. O terceiro tipo, afirmativo “[...] reage à sugestão dubitativa do “Tu não podes”. É
preciso duvidar deles para fazê-los desenvolver o máximo de força. O afirmativo é um
independente, um contraditor, uma personalidade que tem consciência do seu valor [...].”
(TISSIÉ, 1940, p. 55). Mais uma vez o papel da família, desde a infância, é responsável pelas
tendências e pela administração dos caracteres construídos no lar.
Podemos concluir que, na primeira metade do século XX a presença das teorias
tipológicas do caráter nos artigos das revistas de Educação Física revela discursos sobre o
comportamento humano. Os artigos a seguir, ainda no mesmo recorte temporal, também
fazem esse percurso, mas acrescentam a noção de personalidade, às vezes, como sinônimo de
caráter.
Assim sendo, o psiquiatra alagoano Arthur Ramos (1903-1946) uma das referências na
história da Antropologia, da Educação e da Psicologia, no artigo “Formação física e o caráter”
(1941) em dois números distintos e subsequentes da Revista Educação Physica, considera a
Educação Física como um processo global inseparável do educacional e, por isso, não deve
ser entendida apenas em seu ensinamento técnico, mas deve incluir também os aspectos
morais.
140

Ramos (1941a) relata que a Educação Física não tem se preocupado com
características morfológicas e temperamentais, apenas com a idade cronológica e escolar para
realizar seus agrupamentos. O autor afirma que classes heterogêneas recebem a mesma
orientação técnica sem o cuidado necessário com seu desenvolvimento relativo, seja o
morfológico (estrutura corporal, peso, altura etc.), seja o temperamental e caracteriológico
(capacidade vital, polos humorais, variações psiquestésicas, comportamento caracteriológico).
Considera a Caracterologia uma nova ciência para o estudo da personalidade e se refere à
psicologia funcionalista como algo superado pelas correntes psicológicas modernas, pois o
homem não pode ser fragmentado em funções isoladas.

[...] Um novo conceito de totalidade modificou os aspectos do psiquismo, agora


considerado uno e total. A reflexologia e o „behaviorismo‟, concluindo pela
observação da conduta externa, o modo de apresentação psíquica, o personalismo e a
constitucionalistica, estudando a personalidade total (Gesamm Itepersonlichkeit), a
psicanálise e as doutrinas derivadas [...] a „Gestalt-hypothese‟, estudando a gênese e
desenvolvimento de estruturas, que são fenômenos globais... todas as correntes
reivindicam o conceito de totalidade (Gaanzheit, Wholism) que fora despresado
pelos funcionalistas.
Surge uma nova ciência, a caracterologia, lançando as bases deste estudo global,
totalitário da máquina humana, no seu tríplice aspecto: morfológico temperamental e
psíquico. É o estudo da personalidade [...] que envolve todos os aspectos desta
mesma personalidade, aspectos, qualidades, fenômenos que, por sua própria
natureza não podem ser resolvidos em número, em definições estatísticas porque são
inextensos e incomensuráveis [...] (RAMOS, 1941a, p. 10).

Concorda com essa nova psicologia que adere à visão de totalidade, sugerindo que a
Educação Física também se dirija à personalidade total do educando. Afirma que não basta a
fórmula behaviorista S-R para explicar as reações humanas. Acrescenta que a Gestalt provou
a existência de um todo indivisível e que não existem estímulos simples, mas vivências
(Erlebnis) que se estruturam e que posteriormente determinam uma modalidade pessoal. Em
sua visão, entre o estímulo e a reação existe a personalidade.
Seu segundo artigo é embasado na concepção psicanalítica. Ramos (1941b) considera
que a prevenção é o objetivo principal da educação física elementar e que, no campo psíquico,
seu propósito é evitar complexos. Retoma a noção de personalidade e ressalta a atenção que o
educador físico deve ter com ela no paradigma S-R.

[...] Quer dizer deverá indagar si tal exercício, si tal jogo, si tal esporte é adaptável à
personalidade em questão. Ele pedirá, então o auxílio do antropologista, do
psicólogo, do higienista, para definição daquela personalidade, no plano físico – em
síntese para a definição caracterológica. [...] (RAMOS, 1941b, p. 10).

Tais argumentos nos mostram que, embora fosse um estudioso da psicanálise, Arthur
Ramos buscava articular as ideias do Behaviorismo e da Psicologia da Gestalt. Mais uma vez
confirmamos que a divergência teórica não parecia ser uma preocupação entre os autores
141

dessa época, como vemos hoje. Tudo indica que havia uma demanda em compreender tais
fenômenos com as teorias disponíveis naquele momento. Concomitantemente, a ausência de
um saber psicológico estruturado como saber acadêmico, no Brasil, e a inexistência de um
corpus profissional favorecia esse quadro.
Ramos (1941b) volta a afirmar que as crianças devem ser separadas não por idade
cronológica, mas por tipos morfológicos diagnosticados previamente pelos antropólogos e
afirma que o trabalho da Educação Física não estará completo se os profissionais não
atentarem para além dos aspectos físicos, como o temperamento e o psiquismo, elementos
inseparáveis que integram o conceito caracterológico, também visado pelos jogos e
exercícios, seja no nível pré-escolar ou no escolar.
Fundamenta seus argumentos nas ideias de Gross sobre os jogos infantis como
exercícios preparatórios às atividades futuras dos adultos e afirma que estas devem ser
ampliadas, pois a partir dos estudos da psicanálise ficou claro que a criança intervém com sua
personalidade nos jogos. Cita o Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental, do qual era diretor,
como exemplo para a comprovação de tais informações; relata usar os jogos infantis para
analisar o comportamento das crianças baseado nos estudos da psicanalista Melanie Klein
(1882-1940) e descreve dois princípios presentes nos jogos, o do prazer e da repetição.
Ramos (1941b) ainda complementa apontando os estudos do médico A. Thooris,
Presidente da Scientific Commission of the French Athletic Federation, que pela classificação
biotipológica da personalidade de 1500 estudantes alemães esportistas, concluiu quais os
esportes mais adequados a cada um. Assim, o leptossomático, correspondente ao tipo
longilíneo dos corredores; o tipo pícnico, característico da forma física brevilínea dos atletas
pesados, lutadores e levantadores de peso e o tipo mediolíneo aos pugilistas.
O autor conclui reafirmando a importância da higiene mental no sentido de zelar para
que vivências negativas não sejam acrescidas a uma personalidade mal formada e evitar a
formação de estruturas inadequadas, ou reforçar complexos preexistentes e que
[...] A educação física deverá ser um complemento, uma face da educação global.
Deve dirigir-se a uma personalidade, corrigindo estruturas resultantes de vivências
negativas. [...] desenvolvimento orgânico, correção de defeitos orgânicos e
sensoriais [...] além disso e superpondo-se a isso a educação física deve conhecer a
personalidade do educando, pedindo auxílio ao antropologista e ao neuro-higienista
(RAMOS, 1941b, p. 11 e 72).

O discurso de Arthur Ramos, defensor da atenção a ser dada aos aspectos psicológicos
na formação da personalidade, nos remete ao lugar de autoridade que a Medicina ocupou (e
ainda ocupa) embasada pela relevância de seu papel social na primeira metade do século XX,
no Brasil. O enfoque empregado pelo autor orienta e atribui responsabilidades aos
142

profissionais da Educação Física não apenas para conhecer a personalidade do seu educando,
mas também, estimulando a intervenção, corrigindo estruturas desviantes. Para isso, o autor
oferece a ajuda dos antropologistas e neuro-higienistas.
Outro artigo que merece destaque é “Psicopedagogia da sociabilidade”, publicado em
1939 na Revista Educação Physica, pelo psicólogo Emílio Mira y Lopez (1896-1964).
Estudioso de diversas temáticas como psicologia da dor, conduta moral, sociabilidade e
delinquência, além de psicologia jurídica que resultou em uma obra do mesmo nome em
1932. Emílio Mira y Lopez é considerado um dos expoentes na história da Psicologia
brasileira e nos anos 1940, proferiu várias conferências e cursos, em áreas diversas,
sedimentando as bases da Psicologia aplicada no país. Na Educação Física, também traz sua
contribuição sobre personalidade.
Mira y Lopez (1939, p. 6) inicia seu artigo apresentando uma definição sobre
sociabilidade, relacionando-a à formação da personalidade. Para ele sociabilidade é “[...] a
capacidade de viver em sociedade sem dar lugar a conflitos e sem experimentar sofrimento
íntimo algum no processo da adaptação ao mundo humano [...].” Afirma que, ao nascer, é
notório que o indivíduo nada possui de elementos para seu convívio social. Fala do homem
primitivo e da evolução de suas necessidades em direção à coletividade, pois

[...] depois de uma luta feroz para repetir os despojos, é proclamado o direito do
mais forte, podemos dizer que se plasma definitivamente o convívio social, uma vez
que, implicitamente, ficava reconhecida a diferenciação das individualidades no seio
da coletividade, de acordo com sua eficiência biológica [...] (MIRA Y LOPEZ,
1939, p. 7).

Para esse autor, pensamento e linguagem servem de instrumentos para a expressão de


ideias elementares. Assim, reforça a concepção da criança como ser social. “[...] A criança
possui somente três mecanismos reacionais de conjunto, que correspondem às emoções do
pânico (reação catastrófica), de cólera (reação agressiva), e de prazer (reação narcisista) [...]”
(MIRA Y LOPEZ, 1939, p. 7). É na segunda fase do ciclo emocional que ocorre o progresso
psíquico e a evolução da personalidade humana sob o ponto de vista cronológico, onde

[...] pode-se dizer que na infância predomina a atitude de medo, e na puberdade a


cólera (rebeldia contra a opressão familiar [...]. Na juventude aparece atitude
amorosa geral, a serenidade afetuosa que caracteriza a idade adulta e perdura
também a atitude hostil e iconoclasta e revolucionária da puberdade. [...] Ao
começar o período regressivo da personalidade psíquica, o caráter torna-se desabrido
e austero, o que significa o reaparecimento da atitude colérica, hipercrítica durante a
madurez e princípios da velhice [...] (MIRA Y LOPEZ, 1939, p. 75).

Mira y Lopez (1939) afirma que o papel do pedagogo é fazer com que seus alunos
fixem e realizem habitualmente atitudes e condutas sociais concretas. Para isso, apresenta
143

uma série de dez regras práticas a fim de favorecer os educadores no desenvolvimento da


sociabilidade de seus alunos, baseado em estudiosos da aprendizagem como E. L. Thorndike,
Dalton Winnetka e John Dewey (1859-1952), estes últimos pelos seus trabalhos sobre
projetos coletivos e os métodos de self-goverment.
Outra maneira de expressar a preocupação com a família e as crianças é vista nos
artigos da inspetora assistente de Educação Física de Baltimore, Maryland, Bertha M. Schools
“Recesso para a formação do caráter” de 1940 e da Dra. Mary Halton “O caráter de seu filho
depende de você” de 1941, traduzidos para a Revista Educação Physica. Ambos apresentam
sugestões sobre a formação da personalidade da criança, apontando primeiro para a
responsabilidade dos educadores e depois para a da mãe nesse processo.
Na concepção de Schools (1940) a formação do caráter é necessária, mas
problemática, e sempre foi um dos mais altos objetivos da Educação Física. Para ela, a
professora primária deve ter seu caráter educado, ou seja, ter respeito à autoridade, ser
tolerante e observar os mais rígidos princípios de honestidade moral antes de ensinar às
crianças. Além disso, as professoras devem instigar seus alunos a escolhas sábias, pois
considera que o caráter da criança está relacionado às suas preferências.
Schools (1940, não paginado) propõe que o preparo moral infantil seja pautado em
embates de existência e que as escolas devem criar situações semelhantes às vivenciadas na
sociedade como conselhos de segurança, bibliotecas, assembleias, entre outras, todas
integradas por crianças. Denomina tais situações como Recesso para a Formação do Caráter,
as quais atuarão como “[...] verdadeiras estufas que preservarão o caráter infantil do contato
quase sempre pernicioso com uma vida repleta de solicitações danosas e exemplos perigosos
[...].” Conclui que, para a educação do caráter, é necessário dar oportunidade às crianças de
planejarem e programarem elas mesmas suas atividades.
A médica Halton (1941) focaliza seus argumentos nas emoções da criança ao nascer,
conforme os estudos de John B. Watson (1878-1958), professor da Universidade de John
Hopkins e um dos expoentes da psicologia behaviorista. Afirma que emoções como raiva,
medo e amor são inatas e as demais emoções são acrescidas pela convivência com os adultos
e o ambiente.
A raiva é desencadeada pela privação de liberdade. O amor também pode gerar a
generosidade, mas oferece perigos se apresentado de forma exagerada, pois a criança pode
tornar-se egoísta e mimada. Suas conclusões indicam que as bases do caráter e da
personalidade da criança encontram-se nos primeiros anos de sua vida e que o mau caráter dos
144

adultos pode gerar timidez e medo às crianças, assim como os maus tratos podem trazer
consequências negativas em seu processo de formação.
Ainda justificando uma relação entre a formação da personalidade e a
responsabilidade da família, o ex-presidente da França Paul Doumer publica para a Revista
Educação Physica o artigo “A família” de 1940, de caráter eugênico, em que considera a
família como o centro afetivo para o combate à vida e a compara como uma pequena pátria.
Retoma o culto que os gregos e romanos mantinham em relação à família e a seus mortos e
como isso favoreceu a duração de seus impérios. Afirma que

[...] As raças fortes, as nações vigorosas se apoiam sobre uma robusta constituição
moral e legal da família. Sem esse fundamento não há povo que possa viver, nem
império que possa se sustentar. A família é a instituição primordial da humanidade.
[...]” quem não ama a seus pais constitui uma exceção, um fenômeno, um monstro
como a natureza às vezes os produz, física ou moralmente. É um detrito humano que
não se deve levar em consideração [...] (DOUMER, 1940, p. 78-79).

Doumer (1940) conclui o artigo afirmando que, ao longo do desenvolvimento da


criança, sua personalidade também se desenvolve e o amor dos pais deve estar presente no
coração dela, apoiado pela razão e pela ideia do dever.
Assim como esse, na mesma revista, o artigo “A arte de formar o caráter de nossos
filhos” publicado em 1941, de James Lee Ellenwood segue a mesma diretriz, enfatizando a
importância da participação dos pais na formação do caráter dos filhos. Com uma visão
próxima do senso comum, o autor apresenta, inicialmente, o desejo hipotético de existir um
método capaz de aperfeiçoar o caráter das crianças sem a participação dos pais.
Considera que um dos problemas mais complexos para ter bons filhos é a educação do
caráter e afirma não ser possível comparar o caráter com a conduta, mas diz que existe uma
diferença conceitual entre tais aspectos, que não esclarece com precisão, apenas ilustra com
exemplos, como o fato de seu filho receber orientações de conduta diferentes de sua mulher,
de sua sogra e dele mesmo, o pai. “[...] Nós pais, insistimos em controlar até o mais
insignificante detalhe do comportamento de nossos filhos, o que na realidade, faz perigar seu
caráter e, em muitos casos, cria neles complexos de inferioridade. [...].” (ELLENWOOD,
1941, p. 13). O autor apresenta três princípios que, a seu ver, são importantes na formação do
caráter dos filhos:
a) ao falar de caráter deve-se fazê-lo de modo preciso, esclarecendo qualidades
particulares, nunca de modo vago, pois o caráter, é dividido em quatro elementos
ou necessidades a serem satisfeitas: inteligência; a confiança em si próprio;
integridade e sentido social (convivência em grupo em sociedade);
145

b) as qualidades do caráter devem ser administradas da melhor maneira possível, sem


autoritarismos e controles rígidos. O autor é favorável que os ensinamentos sigam o
curso natural das coisas, aproveitando as circunstâncias e acontecimentos
cotidianos da vida;
c) a criação de um ambiente favorável à formação do caráter é considerado um
princípio de difícil definição, pois está relacionado à tolerância e à paciência, além
de um certo controle do ambiente para criar situações que favoreçam o
desenvolvimento do caráter das crianças. Por fim, o autor reconhece que, nem
sempre os acertos são possíveis, ainda que tais princípios sejam seguidos e afirma
que o êxito pode ocorrer em alguns aspectos e em outros não.
Outros artigos abordam uma possível relação entre o desenvolvimento da
personalidade e outros fatores como a postura corporal, o trabalho ou a inteligência.
“A posição do corpo e a personalidade” publicado em 1939, na Revista Educação
Physica, por autor desconhecido, representa um olhar que se constrói a partir da década de 40
mais voltado à mulher. Nessa fase, os periódicos de Educação Física destinam vários artigos,
notícias e, mesmo, capas de seus exemplares à temática feminina. Afinal, a mulher e mãe
seria a principal responsável pela criação e formação da personalidade infantil. Esse artigo
inicia perguntando sobre a idade mais importante na vida da mulher e sugere que seja a idade
do momento presente. Aconselha a mulher a não ser negligente com sua postura e procurar
corrigi-la, pois há uma relação entre a boa postura e a personalidade.

[...] Uma moça pode ter todos os encantos possíveis para agradar, mas se descuida
sua posição, nunca poderá chegar no grau que o mereceria. Quando falta a
personalidade, falta tudo.
Quanto mais jovem se comece a compreender isto, tanto mais atraente se será
quando chegar à idade madura.[...].
Exercerá grande poder de atração, experimentará uma sensação de intensa satisfação
cada vez que comprovar que seu aspecto físico é o que lhe dá personalidade [...]. (A
POSIÇÃO..., 1939, p.49-50).

Julio Rodriguez, responsável pela orientação técnica da Comissão de Educação Física


no Uruguai, apresenta uma visão diferente sobre as influências na personalidade. Em “A
influência de um uso adequado do tempo livre na felicidade dos povos”, publicado em 1944
na Revista Educação Physica, o autor afirma que o tempo livre ou recreação são alternativas
para o descanso do trabalhador que, cada vez mais, se submete ao poder das máquinas e da
industrialização. O autor relata que, com a distribuição das horas de trabalho, o homem ficou
com mais tempo livre e sem autonomia para decidir por si mesmo. Em sua opinião, as horas
de ócio não deviam ser separadas das horas de trabalho, pois trabalho, educação e recreação
146

possuem grande capacidade de energia criadora, além de poderem ampliar e desenvolver a


personalidade do indivíduo.

[...] Desta forma, além de tudo, harmonizando as atividades de educação física, com
aquelas destinadas a impulsionar o desenvolvimento da cultura física, e unindo-as a
todas no período destinado ao recreio, podemos chegar a fortificar física e
psiquicamente a coletividade inteira. [...] (RODRIGUEZ, 1944, p. 42).

Os artigos vistos até aqui nos revelam que os conceitos de caráter e personalidade são
analisados a partir de enfoques diversos, com base em teorias vigentes na época, quer seja de
forma restrita ou associada a outros fatores como pensamento, inteligência, corpo, moral,
comportamento, aprendizagem ou ao desenvolvimento humano como um todo. Os autores
elegem, em especial, a criança e a família como elementos importantes quando analisam a
formação desses aspectos, abrindo possibilidades para incluir os aspectos sociais, além dos
biológicos, na compreensão da formação da personalidade.

2.4 Psicopatologia e deficiência (física e mental)

Nos periódicos dos anos 1930 e 1940 encontramos profissionais de áreas diversas
abordando temas que hoje relacionamos diretamente ao fazer psi, mas que ainda
encontravam-se dispersos em campos diversos. Em relação à psicopatologia e à deficiência
física e mental não foi diferente.
Artigos voltados aos deficientes físicos e mentais em três dos quatro periódicos
pesquisados, traziam enfoque de como orientar os professores de Educação Física para lidar
com tais alunos, seja por possuírem uma “deficiência ou por um “descontrole dos nervos”.
Estes artigos buscavam causas na infância e no ambiente familiar. O médico Nicolau
Ciâncio acrescenta ainda o ambiente escolar nesse contexto. Para tanto, publicou o mesmo
artigo, “Crianças nervosas”, em dois anos distintos (1940 e 1943), ambos na Revista Physica.
Ciâncio (1940) trata da manifestação nervosa, afirmando que esta é sempre um resultado,
nunca um princípio e que suas causas são oriundas dos ambientes familiar e escolar da
criança. Acredita que os médicos devem observar a maneira como os adultos e crianças se
relacionam na sala de espera e analisar bem os gestos e hábitos da criança no ambiente em
que vive. O médico ainda acrescenta que

[...] A criança é nervosa por doença hereditária, adquirida por vícios de alimentação,
por defeitos do ambiente em que vive, por transtornos de repouso, por traumatismos,
por cenas de pavor, [...] uso dos excitantes (café, bebidas, etc.), as quedas,
principalmente sobre a cabeça [...]„Nervoso‟ é uma denominação cômoda para os
preguiçosos que se não queira dar ao trabalho de pesquisar a causa que deu origem
ao mal! (CIANCIO, 1940, p. 27).
147

Apresenta também informações sobre artigo publicado pelo neurologista e professor


francês Pototzky Paul Dubois (1848-1918) autor de um método chamado sugestão ambiental,
que combina a ação do ambiente e da imaginação com os materiais tradicionais de ensino.
Ciâncio (1940) concorda com o médico afirmando que o diagnóstico deve ser neurológico,
psiquiátrico e pediátrico e que o ideal seria que os novos médicos possuíssem formação em
pediatria e psiquiatria. Fala da possibilidade de cura do nervosismo das crianças tanto através
do conhecimento das doenças hereditárias e das glândulas supra-renais, como da observação
da qualidade do ambiente em que vivem.
O outro artigo que aborda a mesma temática é “Porque fracassam seus nervos”,
publicado em 1944 pelo também médico Pablo Cardini na mesma revista. Aqui, o autor
estabelece uma analogia entre um knock-out no boxe e um colapso nervoso, em que o
primeiro atinge diretamente o corpo e o segundo a personalidade (corpo e espírito sofrem).
Considera ambos como alertas da natureza humana e afirma que
[...] Psicologicamente, o quebramento nervoso indica somente uma coisa: que a
personalidade se viu submetida a um esforço que não pode suportar. [...] sofremos
sentimentos de temor, depressão ou ansiedade. Na atmosfera psicológica, esta
ansiedade ou depressão é comparável à dor de estômago na esfera puramente
fisiológica. São os sinais de advertência, os sinais de perigo que se originam nas
profundidades de nossa personalidade inconsciente da personalidade. [...].
(CARDINI, 1944, p. 54-55).

Ao longo do artigo, Cardini (1944, p. 55-56) apresenta dez orientações sobre o colapso
nervoso relacionando-o a uma moratória da personalidade, pois não atinge de fato os nervos,
mas a personalidade como um todo. Suas orientações possuem um tom de sugestão para o
leitor como ilustra a citação seguinte: “[...] Há um erro em sua estratégia da vida que o
colocou em conflito com sua natureza e a realidade. [...] O Sr. não é demasiado velho, nem
demasiado débil para começar de novo. [...].” O autor acrescenta, ainda, dez leis sobre a
natureza humana que devem ser seguidas para encontrar uma boa filosofia de como se
conduzir na vida. Dentre elas:

[...] Os seres humanos tem que trabalhar para viver. Se não tem necessidade de fazê-
lo para comer, tem que fazê-lo para evitar morrer de aborrecimento. [...] Os seres
humanos são dotados de mente para ajudá-los a resolver os complicados problemas
de trabalho, ócios, sociedade e sexo. A solução desses problemas é o emprêgo
permanente da mente normal [...] (CARDINI, 1944, p. 56).

O médico considera a felicidade um atributo da vida sadia e indica como requisitos


indispensáveis a uma vida feliz o valor, a cooperação social e a independência
espiritual.Trata-se, pois, mais de um texto de autoajuda como outros que temos citado.
Na Revista EsEFEx o Tenente Coronel Jayr Jordão Ramos (1907-?), instrutor
nomeado da EsEFEx em 1935, e estudioso dos projetos pedagógicos do curso, publica
148

“Necessidade de assistência física e psíquica ao convalescente”, em 1954, um artigo


direcionado aos soldados convalescentes de um ferimento ou inativos por doença prolongada
que precisam se recuperar e obter resultados mais rápidos e eficazes. O autor considera que
para que isso ocorra é necessário associar os exercícios de recondicionamento físico a outras
práticas benéficas de recondicionamento educacional, terapia ocupacional e um serviço
especial. Além disso, considera os jogos e desportos produtores da sensação de bem-estar,
relaxamento das tensões e da confiança em si. Sobre recondicionamento físico, afirma que

[...] visa manter e restaurar a eficiência física e psíquica do soldado, durante sua
convalescência, através de sua participação em atividades progressivamente
graduadas. [...] Além disso, o trabalho físico exercerá importante papel no
reajustamento psicológico e social do soldado, dando-lhe oportunidade para adquirir
personalidade e livrar-se de suas emoções, conflitos psicológicos, recalques e
complexos de inferioridade. [...]. (RAMOS, 1954, p. 3).

Ramos (1954) define o recondicionamento educacional como atividades educacionais,


orientadoras e informativas que vão manter, modificar ou restaurar a eficiência psicológica do
soldado convalescente, tais como o tratamento de problemas pessoais e de ajustamento,
apresentação e discussão de assuntos em destaque no momento, conselhos e classificações
vocacionais. A Terapêutica Ocupacional é descrita pelo autor como atividades físicas ou
mentais orientadas para certas partes do sistema muscular e articular, a fim de controlar
distúrbios nervosos ou mentais e reeducar habilidades perdidas.
Por fim, o serviço especial é definido como atividades agradáveis para manter o bem-
estar e atitude mental sadia e recuperadora, como jogos de salão, música, teatro, trabalhos
manuais, fotografia e outros. Ramos (1954) afirma ainda que cabe ao médico, responsável
pela equipe de recondicionamento do hospital, integrar as formas de recondicionamento. Para
isso, é necessário que os hospitais estejam abastecidos de material e instalações adequadas.
A aplicação da Psicologia à Educação Física ganha mais evidência na Revista
Brasileira com Inezil Penna Marinho (1946), quando ele assume a direção dessa revista
(1946-1952), escreve vários artigos voltados à Psicologia e a fenômenos psicológicos
relacionados ao âmbito esportivo.
Em relação às pessoas com deficiências, destacamos dois de seus artigos publicados
em 1946: “Psicologia aplicada à atividade física dos surdos mudos” e “Psicologia aplicada à
atividade física dos débeis mentais”. No primeiro, apresenta uma classificação fisiológica
deste tipo de deficiência: os surdos-mudos completos, aqueles que não distinguem nenhum
tipo de som; os surdos-mudos incompletos, os que apresentam vestígios auditivos mínimos;
os semi-surdos com audição mais extensa que permite aquisição de vocabulário e os semi-
149

mudos ou surdos-mudos impróprios, os quais perderam audição até os cinco anos de idade,
mas mantêm resquícios de uma linguagem (MARINHO, 1946b).
O autor explica que o programa de atividades físicas desenvolvido para essa clientela
deve dividi-los em quatro grupos: aqueles desenvolvidos sob o ponto de vista psíquico e
somático; os que apresentam alguma anomalia de caráter; os indivíduos que apresentarem
debilidade mental e deficiência física formarão outros dois grupos específicos. Marinho
(1946b, p. 20) apresenta o cabo de guerra como sugestão de ótimo exercício para satisfazer o
grupo no seu desejo de realização a partir de um grande esforço. Conclui afirmando que “[...]
a psicologia aplicada é mais consequência das observações, mediações e experimentações do
professor do que daquilo que os livros possam ensinar.”
Consideramos as palavras do autor como um exemplo do uso da Psicologia a grupos
especiais, assim como o termo “psicologia aplicada”, no enunciado de um artigo sobre
Educação Física, nos anos 1940, sinaliza um movimento inovador e um olhar sensível a essa
realidade.
Para Andrade e Brandt (2008), o esporte para deficientes físicos, hoje, obedece a uma
classificação médica-desportiva mundial, que separa as deficiências em função de sua
natureza. Atualmente, o esporte para deficientes físicos, mais que uma prática regular na
busca de bem-estar e socialização, se revela uma possibilidade no alto rendimento, com uma
prática adaptada às diversas modalidades esportivas. Os Jogos Paraolímpicos são um exemplo
de que, apesar das limitações físicas, os portadores de necessidades especiais também podem
experimentar a prática esportiva competitiva.
Em “Psicologia aplicada à atividade física dos débeis mentais”, Marinho (1946c),
embora apresente o termo psicologia no título, tal qual no artigo anterior, neste limita-se a
orientar os educadores para uma postura de cuidado com essa clientela. Marinho (1946c)
apresenta considerações de ordem geral sobre a anormalidade na sociedade e destaca que a
Europa, nos campos de batalha ou de concentração, sacrificou seus homens mais capazes e a
perpetuação da espécie ficou a cargo dos menos capazes. Defende que o anormal não é um
desajustado, mas pode assim se transformar caso não seja devidamente assistido e considera
importante a intervenção do Estado nesse processo.
Define a oligofrênia (oligo = pouco; frenos = espírito) e a relaciona com a debilidade
mental, onde a

[...] debilidade do espírito resulta de um desenvolvimento insuficiente das funções


psíquicas intelectivas. Os oligofrênicos compreendem três grupos, sem que se possa
precisar o limite de passagem de um ao outro com exatidão: idiotas, os imbecis e os
débeis mentais ou cretinos. [...] (MARINHO, 1946c, p. 12).
150

Como base para seus argumentos, Marinho (1946c) apresenta alguns teóricos e suas
respectivas obras sobre o tema como “La Psychologie du raisonnement” (1886) de A. Binet
que refere à incapacidade dos oligofrênicos de se proteger dos perigos físicos, devido à
dificuldade em associar dois estados de consciência; “A Educação Funcional” (1940) de E.
Claparéde, onde este apresenta seus estudos sobre as operações principais da inteligência;
além de Pintner e “Intelligence Testing” (1931); “Source book in the Philosophy of
Education” (1938) de W. H. Kilpatrick; “Educational Psychology” (1916) de E. L. Thorndike
e “Psychology from the Standpoint of the Behaviorist” (1919) de J. B. Watson. O autor
concorda com todos estes, exceto Watson, no sentido de que a inteligência é uma capacidade
inata e varia de acordo com o patrimônio hereditário, podendo sofrer alguma influência de
acordo com as condições do meio. Cita ainda “Psicologia Pedagógica”, de 1943, de J. de La
Vaissière e “Psicologia para estudantes de Educação” de 1939, de A. I. Gates para falar das
anomalias no desenvolvimento intelectual e moral e de suas dificuldades de adaptação ao
regime escolar e convívio social.
Marinho (1946c) considera que o professor de Educação Física tem mais condições de
estimular o sistema nervoso central através de exercícios e, consequentemente, atingir a
inteligência e a vontade. Afirma que dificilmente a debilidade mental não vem acompanhada
de uma deficiência física, em função de um atrofiamento muscular por falta de estimulação e
descreve uma série de atividades físicas voltadas para essa clientela.
Não desconhecemos a existência dos problemas políticos e sociais que envolvem a
doença mental. Contudo, ainda que fosse um tema preocupante para a época, a presença de
artigos voltados a essa temática é mínima. No entanto, fica claro que havia uma preocupação
em adequar e controlar a conduta humana ao padrão de normalidade estabelecido na época,
visando a uma educação integral (física e moral). A Educação Física, na visão de Inezil Penna
Marinho, era o melhor caminho para alcançar tal objetivo.
Ainda de autoria desse autor “Educação Física para desajustados da conduta” de 1947
apresenta considerações gerais sobre a sociedade e suas leis de conduta, afirmando que é
necessário orientar sabiamente as condutas das crianças para que estas não se agravem.
Marinho (1947d) questiona se os criminosos trarão o estigma do crime ou se são produtos do
meio. Esclarece que o tema é discutido por sociólogos e criminologistas como Frédéric Le
Paly (1806-1882) sociólogo francês autor de Les Theories sociologiques contemporaines
(1938), os médicos legistas Eusébio Q. Lima em “Teoria do Estado” de 1930, e Leonídio
Ribeiro (1893-1976) com sua obra “Antropologia Criminal” de 1937. Estes últimos eram
atuantes no Rio de Janeiro, à época.
151

Os artigos de Inezil Penna Marinho se destacam dos demais pela fundamentação


teórica apresentada e pela evidente preocupação em relacionar Psicologia nos mais diversos
contextos de atuação da Educação Física. Além das referências acima, o autor relata outros
estudos realizados no cenário americano por Clifford R. Shaw que geraram o livro A
Delinquente Boy‟s own story (1931) cujas conclusões afirmam que a prevenção do crime é
mais útil que sua repressão quando os objetivos são a proteção da sociedade. “[...] A
psicologia nos ensina que tôda atividade imposta é desagradável e que todo trabalho em que
estamos virtualmente interessados, por penoso que seja, é realizado com prazer. E é essa fonte
de prazer que precisamos explorar inteligentemente [...] (MARINHO, 1947d, p. 23).
Marinho (1947d) sugere o uso do desporto como uma necessidade social, uma válvula
de segurança para os instintos de agressão. Descreve as orientações da educação física para os
estabelecimentos prisionais de adolescentes e adultos, do sexo masculino e feminino. Ele
acredita que essas atividades devem despertar o próprio interesse dos sentenciados e atraí-los
por seus benefícios. Demonstra ser um estudioso não só da Filosofia, do Direito e da
Educação Física, mas da Psicologia também.

2.5 Comportamento social

Os artigos que integram essa categoria aparecem em quase todos os periódicos


pesquisados, exceção feita à Revista EsEFEx. Há uma valorização do comportamento social
no cenário esportivo e nas atividades físicas e os artigos voltam-se para fenômenos diversos
como o comportamento da torcida, opção religiosa de jogadores de futebol, liderança ou
aspectos morais do atleta. Em sua maioria, foram publicados na década de 40, exceção ao
artigo de Yesis Ilcia y Amoedo Passarinho (1957) para a Revista Arquivos.
Optamos, aqui, por organizar a apresentação dos artigos em função das temáticas
abordadas e iniciamos pelos que versam sobre temas ligados ao esporte, no caso o futebol. Na
Revista Brasileira, Inezil Penna Marinho publica “Psicologia aplicada à torcida”, em 1946,
onde começa definindo multidão a partir da obra do sociólogo francês Gustav Le Bon (1841-
1931) Psychologie dês Foules, publicada em 1905, na França. Le Bon divide a multidão em
heterogêneas e homogênea e relaciona a torcida a uma multidão do tipo heterogêneo e
anônimo. Assim,

[...] A multidão se caracteriza, assim, pela perda da individualidade da pessoa no


grupo; é um ser provisório formado de elementos heterogêneos que por um instante
se unem, atraídos pela fôrça irresistível de um sentimento ou interesse em comum.
[...] (MARINHO, 1946d, p. 10).
152

O autor nos apresenta outras citações de Le Bon, extraída da tradução espanhola


Psicologia de las Multitudes (1945), sobre a relação entre personalidade consciente e
inconsciente e multidão. Destaca ainda a classificação de grupo proposta pelo médico
brasileiro Raul Briquet (1887-1953) em sua obra “Psicologia Social” (1935), na qual afirma
serem condições para um grupo transformar-se numa multidão: objetivo em comum; razões
de ação idênticas; um fator emotivo externo e um líder. Citando ainda Briquet (1935),
apresenta três características do comportamento da multidão: predomínio do inconsciente;
sugestionabilidade e a irreprimibilidade do desejo e da ação. Para esse autor o comportamento
da torcida
[...] nada mais representa que uma multidão, em que cada um dos indivíduos que a
compõe perde a sua personalidade, sua vontade indivudual e adquire as
características que identificam aquele grupo.
O torcedor é, em geral, um indivíduo habitualmente morigerado, que trabalha
durante tôda a semana [...] obedece às ordens de seus superiores, é incapaz de
ofender uma pessoa que não conhece, [...] Mas quando na multidão, como um dos
integrantes da torcida, ele sofre transformação radical [...] torna-se exaltado, perde
completamente o controle de si mesmo e não lhe será impossível depredar o estádio,
o ginásio [...] Não raciocina com lucidez e é vítima de grande número de êrros de
percepção pela paixão que o domina [...](MARINHO, 1946d, p. 11).

A análise de Marinho (1946d) sobre a multidão segue os cânones da época,


normalmente baseados em Le Bon, além de concepções teóricas como a psicanalítica,
presente nas ideias do médico J. P. Porto-Carrero (1887-1937) e seu livro “Psicanálise de uma
civilização” (1933), e o psicólogo americano, E. D. Martin The Behavior of Crowds (1920).
Já vimos que, para os autores desses periódicos, mais importante que uma delimitação teórica,
era a compreensão dos fenômenos.
O autor retoma alguns eventos da humanidade, como os jogos circenses dos romanos,
os gladiadores, a guilhotina e o linchamento após a Revolução Francesa, para comparar o
comportamento das multidões naqueles tempos com o dos atuais. Afirma que, na multidão,
não existe a responsabilidade pessoal e é isso que, muitas vezes, garante aos indivíduos o
anonimato dos seus atos. Sugere que num jogo de futebol pode haver os mesmos elementos
que num espetáculo de gladiadores do Coliseu. A diferença, segundo o autor, estaria no
disfarce dos instintos primitivos dos expectadores no caso do futebol que não desejam a morte
dos vencidos, mas sua derrota.
Apresenta ainda, uma série de notícias de jornais da época ilustrando os
comportamentos agressivos das torcidas de diversos clubes nacionais. Considera a torcida
uma multidão como outra qualquer, mas que pode ser educada com muito empenho e
disposição por parte dos clubes de futebol. Sugere que estes organizem suas torcidas para
153

evitar os excessos e indica, como primeiro passo, educar os dirigentes das entidades e explicar
o papel social que os desportos possuem, assim como educar juízes e cronistas esportivos.
As sugestões de Marinho (1946d) dirigem-se para a busca de controle dos fenômenos
coletivos presentes no futebol. Em um período em que o país ainda buscava sua identidade
nacional, o futebol, em crescente ascensão desde o início do século XX, reunia condições para
canalizar os anseios e situar-se como símbolo brasileiro. Aceito e praticado por classes sociais
e etnias diversas, mobilizava as multidões emocionalmente e configurava-se como um
instrumento poderoso para penetrar nas diversas formas da vida cotidiana.
Para Guedes (2009, p. 462) o futebol no Brasil, a partir dos anos 1940, ocupou não
apenas campos e várzeas populares, mas os debates intelectuais sobre o povo brasileiro. Do
ponto de vista sociológico, os esportes são elementos fundamentais na criação de identidades
nacionais. No Brasil, em especial, isso se concretizou, nesse período, com o futebol e as
Copas do Mundo, eventos esportivos de grande porte, onde a cada quatro anos, “[...] o
sentimento de pertencimento comum é vigorosamente praticado, reinventado, renovado,
recriado”.
Para essa autora, nesse processo de reinvenção também estão inseridas fragmentações,
diferenciações e desigualdades estruturantes da vida cotidiana, assim como a abstração de
fenômenos sociais, políticos, tornando eventos como esse o “ópio do povo”, pela alienação
produzida diante das questões que afligem a sociedade.
A preocupação de Inezil Marinho sobre o comportamento das multidões aparece nas
vésperas do Brasil sediar sua primeira e mais decepcionante Copa do Mundo, em 195052. O
autor, em sua análise, identificava que as soluções para tais problemas perpassavam a
mobilização dos diversos atores partícipes, como imprensa, dirigentes, atletas e comissão
técnica, no sentido de educar as multidões sobre o papel social daquele esporte. Ao que
parece, alguns desses problemas sociais permanecem atuais e negligenciados.
A preocupação com fenômenos relativos ao futebol também aparece em uma pesquisa
realizada com uma equipe de futebol brasileira. Pio Piano Junior53, pseudônimo usado pelo
professor Mario Miranda Rosa, titular da cadeira de futebol da Escola de Educação Física da
USP e ex-técnico do Clube de Futebol Corinthians (1944), em seu artigo “Um estudo de
Psicologia Social em uma equipe de futebol profissional” publicado em 1944 na Revista
Brasileira, descreve o estudo que realizou com o objetivo de averiguar os motivos dos

52
Na revista EsEFEx, em alguns números de 1950, encontramos artigos e fotos que versam sobre a construção
do Estádio Mário Filho, “o Maracanã”.
53
Cf. Universidade de São Paulo (2010).
154

constantes e inexplicáveis maus resultados da equipe do Corinthians. A demanda partiu dos


dirigentes do clube, inconformados com os problemas e as derrotas de um time composto por
grandes jogadores. O objeto de estudo era investigar a influência da superstição religiosa no
comportamento da equipe.
Piano Junior (1944) informa que o estudo foi realizado com 30 jogadores entre
brancos, negros e mulatos, brasileiros oriundos da Bahia, Ceará, Paraná, Rio de Janeiro e São
Paulo. A pesquisa foi realizada na sede do clube. Dentre as técnicas utilizadas estavam a
observação direta e conversas informais com pessoas que conheciam a vida pessoal dos
atletas. Os temas foram intencionalmente escolhidos pelo pesquisador, mas este não os
especifica no texto. Além disso, utilizou “entrevistas com questionários verbais” (sic) sem que
o entrevistado soubesse a razão da pesquisa. Os resultados indicaram que, dos 30 jogadores, 8
frequentavam macumbas, 3 aceitavam e acreditavam nessa prática, 13 concordavam com
certas indicações a este respeito para não desagradar os colegas, 2 não aceitavam estas
práticas e 4 não especificaram suas respostas.
Dentre as conclusões do estudo, o autor destaca que as opções religiosas estão
relacionadas às origens dos jogadores e que aqueles que acreditavam nas previsões dos
macumbeiros tinham seu rendimento decorrente destas previsões. Informa que estas, muitas
vezes, eram solicitadas por times adversários ou outros clubes. O estudo aponta os baianos
como os mais fanáticos, responsáveis por formar um grupo de “amizade” e induzirem o grupo
em dia de jogos, a seguirem as previsões dos macumbeiros. Os jogadores que não aceitavam
eram considerados “„azares”, eram hostilizados e careciam de “muito trabalho”. E para
combater suas influências maléficas, era necessário “muita reza”.
Por fim, o rendimento da equipe estava completamente dependente da boa vontade dos
integrantes em aceitar as “indicações proféticas da macumba” (sic). Piano Junior (1944)
ressalta que a constatação desse conflito explicaria o motivo do baixo rendimento da equipe.
Entretanto, suas conclusões não agradaram os dirigentes do clube, pois não estavam
relacionadas ao contexto do desporto.
Embora os resultados dessa pesquisa não tenham sido bem aproveitados na época, não
deixa de ser um estudo psicossocial que analisa a relevância da religião na vida cotidiana, um
tema que só mais recentemente passou a ser de interesse da Psicologia. Os resultados
demonstrados parecem eivados de preconceitos em relação à religião afro-brasileira, uma vez
que tais crenças são comparadas a superstições. Sem dúvida, também no âmbito do esporte e
da psicologia do esporte, este se revela um trabalho inovador, indicando dificuldades de
aceitação da influência de questões subjetivas.
155

Encontramos na Revista Arquivos um artigo sobre outra modalidade esportiva da


catedrática e livre docente da disciplina de Psicologia da ENEFD, Yesis Ilcia y Amoedo
Passarinho, “O Comportamento Social nas Atividades de Equipe”, publicado em 1957.
Apresenta resultados de uma pesquisa com equipes de basquete e vôlei de alunos de
educandários do Distrito Federal, na época Rio de Janeiro. O objetivo era investigar o
comportamento dos alunos em uma competição, avaliando seu rendimento físico e a atuação
psicossocial nas vésperas de um campeonato.
A metodologia consistiu na aplicação de um questionário aos alunos que estivessem
passando por um treinamento esportivo excessivo, com indagações sobre a aquisição de
qualidades físicas, habilidades; a compreensão das limitações e possibilidades do corpo
humano, a tolerância com o sucesso alheio.
O artigo apresenta uma análise estatística desses resultados, concluindo pela
supervalorização da vitória e um baixo aproveitamento da oportunidade de estar em grupo e
cooperar com os colegas. Além disso, os alunos sentiam-se inseguros em relação ao seu
controle emocional e à sua capacidade de tomar decisões imediatas durante o jogo
(PASSARINHO, 1957).
Podemos inferir que havia uma preocupação, ainda que episódica, em verificar
aspectos psicológicos a partir dos comportamentos dos jovens atletas em momentos críticos
da prática esportiva.
Nessa mesma revista, uma década depois, Carlos Sanchez de Queiroz, publicou “A
Educação Física como fator de integração Psicossocial” (QUEIROZ, 1966a) onde descreve
este tipo de integração e defende que a Educação Física tem nele um papel fundamental
através dos desportos. Cita os filósofos W. Dilthey (1833-1911) e J. Ortega y Gasset (1883-
1955), para quem o homem se constitui a partir da sua relação com a sociedade, e que
acreditam no papel humanizante do convívio social e na sua influência no comportamento
humano.
Podemos observar que os interesses em estudos mais específicos sobre os fenômenos
relacionados ao esporte, com vistas a conhecer um pouco mais sobre o comportamento social
dos grupos envolvidos, começavam a se estabelecer. Aos poucos os artigos abordavam
questões mais voltadas às demandas sociais de acordo com os objetivos e o direcionamento de
cada periódico em relação a seu público alvo. Esta proposta já estava presente na Revista
Educação Physica, na década anterior.
Abordando a temática da liderança, o militar e advogado americano J. Mac Cloy
(1896-1989) escreve dois artigos semelhantes para a Revista Educação Physica, com
156

publicações em anos distintos, “Características de um verdadeiro „leader‟” em 1936 e “Como


deve ser um „leader‟ esportivo”, em 1937. O primeiro indica as qualidades e ações que um
“leader” deve ter e o segundo especifica tais ações e qualidades em relação ao atleta.
Como qualidades de “leaderança” (sic), Mac Cloy (1936) cita a capacidade de inspirar
respeito, devoção a uma causa, ter prestígio entre os grupos, conquistar admiração e servir de
exemplo aos outros. Além disto, também cita ética social e eficiência; cooperação social,
caracterizada pela obediência à autoridade e altruísmo e lealdade ao grupo; sociabilidade,
definida como a capacidade em agradar as pessoas; ser sociável, apresentar no trato social
respeito aos demais, cortesia, lealdade e modéstia; além de atitudes mentais positivas como
confiança em si mesmo, entusiasmo, coragem moral e convicção. Para Mac Cloy (1937) o
líder esportivo deveria ter controle de seu temperamento, raciocínio frio diante de
provocações e evitar bravatas.
Outro artigo sem autoria, mas escrito na primeira pessoa, “O Código Moral de um
atleta”, de 1937, também indica regras e ações sobre condutas e sentimentos que o atleta
dever ter ou adquirir para possuir uma boa moral.

[...] actuar até o limite das minhas capacidades [...] corrigir minhas faltas, estar
sempre disposto a apprender e aperfeiçoar, jamais encobrir meus erros. [...] transpor
todos os obstáculos, lutando corajosamente quando a competição se mostra
desfavorável. Lutar com espírito de conquista, comprehendendo que o valor do
homem está nos seus actos. [...] Não desanimar com a derrota, mas com a vontade
temperada pela adversidade procurar apprender a causa do fracasso. Não se
lisongear com a Victória, comprehendendo que os homens se enfraquecem mais
pelo êxito que pelo fracasso [...]. (O CÓDIGO..., 1937 p.79).

Vemos que esses artigos sobre liderança partem do senso comum e são discursos
visando a persuasão do atleta. Em geral, versam sobre a necessidade de controle de alguns
sentimentos para alcançar ou manter a liderança, ou ainda, para a aquisição de valores sociais.
George Heberth (1875-1957), um oficial da marinha francesa, que na primeira metade
do século XX criou o Método Natural54 de Educação Física, explica na publicação para a
Revista Educação Physica de seu artigo “Os perigos morais do esporte”, em 1941, o estado de
espírito gerado nos esportistas em função da prática de esportes. Para o autor esse estado pode
ser benéfico ou não e um exemplo de perigo é a ausência do

[...] sentimento de medida, o espírito de luta ou de combatividade, que já não


encontra restrições, produz rapidamente agressividade, e até, em certos casos, a
irascibilidade. Esta última repercussão sôbre o caráter será tanto mais manifesta

54
Método Natural é um conjunto de procedimentos para exercitar o corpo em condições naturais, como
atividades ao ar livre. Entre suas obras sobre o tema destaca-se L‟education physique virile et morale par la
méthode naturelle. Exposé doctrinal et principes derecteus de travail. 2. ed. Paris: Vuibert, 1941a, t.1. (1. ed.
1912) (SOARES, 2002).
157

quanto mais considerável for a fadiga física, e sobre tudo a nervosa. [...].
(HEBERTH, 1941, p. 30).

O autor considera que existe pouca informação no sentido de saber frear e moderar os
impulsos exagerados, principalmente nos jovens, pois

[...]a ignorância ainda é tamanha nessa matéria psicológica, que não se acha
insensato reunir moços e lançá-los cegamente ao esporte extremado, sem lhes
assegurar os lhes dar os meios para refrear seus impulsos [...] Existe uma neurastenia
dos esgotados físicos, muito mais difícil de curar dos que os esgotados cerebrais.
Êstes últimos não teem, em efeito, senão que praticar sabiamente os exercícios do
corpo, para restabelecerem o equilíbrio. Mas o repouso físico não cura
necessariamente o nervo dos outros. [...] (HEBERTH, 1941, p. 30).

Refere-se aos “maníacos modernos” (sic) em relação ao abuso da prática esportiva,


mas ressalva que essa terminologia não é exclusiva do esporte. “[...] O esportista atacado de
monomania já não pode conceber que um exercício seja praticado com moderação. [...]
Procura em tudo a dificuldade e, quando necessário, a inventa. [...] O menor incidente é
pretexto para se abespinhar e desafiar. [...]” (HEBERTH, 1941, p. 31).
Questiona assim, os perigos do esporte se o esportista não tem clareza sobre a
utilidade de sua prática ou uma diretriz moral, pois acredita que o praticante procura tornar-se
forte para vencer os outros e não em função do dever físico que o esporte proporciona. Cita o
livro Voeux sur l‟educacion, de 1706, do escritor francês Jacques-Henri Bernadin de Saint-
Pierre (1737 - 1814), que acreditava ser a emulação um estimulante perigoso, pois não
devemos subjugar um adversário, bem como o pedagogo inglês F. W. Sanderson (1857-1922)
que afirmava que o trabalho cooperativo era mais estimulante que a competição. O autor faz
referência ainda à Declaração de Genebra e relembra os direitos da criança para reafirmar que
elas devem ser educadas para usar suas qualidades em favor dos outros.
O controle dos impulsos também era necessário em outras atividades. A Revista
Educação Physica indicava estar atenta à demandas sociais emergentes, como a condução dos
automóveis. O início dos anos 1940 parece propício para alertar a sociedade sobre os perigos
do automobilismo e esse periódico abriu espaço para isso. Os artigos incluídos aqui se
justificam por relacionarem uma demanda psi – preocupação com o comportamento social no
trânsito – ao universo de publicações da Educação Física.
Provavelmente em função da repercussão desse tema na época, encontramos dois
artigos publicados na Revista de Educação Physica: “A Inteligência aplicada à condução do
automóvel”, de 1940, sem autoria, e “A histeria de correr: uma das mais estranhas e estúpidas
psicoses do automobilista” de 1939, do médico Américo R. Neto. Tais artigos se assemelham
158

no sentido de abordarem o tema da velocidade e os perigos da condução do automóvel,


caracterizando o que poderia ser um alerta para comportamentos de risco.
Apesar dos primeiros automóveis haverem chegado ao Brasil no final do século XIX,
sua evolução tecnológica ganha expressividade no país a partir da década de 1920, quando a
Ford se torna a primeira fabricante no Brasil em 1919. Mas é nos anos 1950, no governo de
Juscelino Kubitschek que, de fato, vemos essa indústria se estabelecer no país.
“O espírito dos que vão ao volante de um carro precisa estar livre de graves
preocupações e principalmente de velocidades [...]”. Frase inicial do artigo “A Inteligência
aplicada à condução do automóvel” de 1940, ilustra a preocupação do autor com o excesso
de velocidade praticada pelos motoristas. O texto segue apresentando dois tipos de
velocidades e suas consequências, caso o motorista deixe a vaidade se sobrepor à inteligência:
o primeiro é descrito como oportuno e utilizado de acordo com a necessidade e com
inteligência; o segundo, denominado extemporâneo e perigoso, caracteriza-se pelo domínio da
inconsciência ou vaidade (A INTELIGÊNCIA..., 1940).
O artigo pondera que a vaidade pode ser um diferencial entre os dois tipos e que os
mais jovens estão mais propensos ao segundo. O artigo apresenta informações para o uso
mais comedido dos recursos do automóvel, como sua força e combustível, além de ensinar um
cálculo para a economia de combustível. Conclui com um apelo aos motoristas para usar a
inteligência em lugar da vaidade diante da velocidade.
Em 1936, uma corrida de rua em São Paulo ocasionou a morte de quatro pessoas e
mais de trinta feridos. O desastre de 1936 impulsionou a construção do autódromo, planejado
desde 1926 e inaugurado em 1940 com a ajuda do Automóvel Clube do Brasil. Tornou-se o
primeiro autódromo brasileiro em Interlagos, em São Paulo. No Rio de Janeiro existia o
circuito da Gávea, cuja primeira corrida foi realizada em 1933. Com a Segunda Guerra
Mundial essa prática ficou paralisada em todo o mundo, inclusive no Brasil
(ENCICLOPÉDIA DO AUTOMÒVEL, 2010; OS INTOCÁVEIS CLUBE DE
AUTOMÓVEL ANTIGO, 2011).
Esse contexto parece ter motivado os autores a discorrerem sobre a temática da
velocidade. Além da preocupação com a segurança, a conduta dos motoristas mesmo fora de
situações competitivas, também é motivo de reflexão, como é o caso do artigo do médico R.
Neto (1939) “A histeria de correr: uma das mais estranhas e estúpidas psicoses do
automobilista”, em 1939. O autor utiliza sua experiência pessoal como esportista militante,
pois foi corredor de motocicleta, campeão de tiro ao alvo, patinador e automobilista nas
estradas do Brasil, para apresentar ao leitor o que ele chama de uma “tese técnico-social”
159

sobre o assunto. R. Neto (1939) afirma que a maioria dos automobilistas brasileiros não
possui carteira de habilitação e questiona o modo de aquisição da mesma pelos poucos que a
possuem. Considera que essas pessoas, no comando de um carro, se esquecem de qualquer
noção de segurança que possam ter quando estão fora dele ou quando são passageiros.

[...] Si fosse possível penetrar na psicologia de quem está dirigindo uma viatura
auto-motora e investigar qual sua idade mental no momento, ficaríamos
dolorosamente surpreendidos verificando que homens geralmente tidos como
ponderados se que estão investidos de funções de alta responsabilidade, na vida
comum, não passam – como automobilistas de – crianças cujo plano mental não vai
além dos 12 anos. [...] uma verdadeira obliteração do senso de auto-crítica, na
ausência do qual „os volantes‟ pensam e agem de modo verdadeiramente anti-social,
apenas conhecendo e seguindo seu próprio egoísmo.[...]. (R. NETO, 1939, p. 52).

R. Neto (1939) inclui nesse contexto tanto os analfabetos quanto os diplomados, os


pobres e os ricos, embora considere que os “doutores” se ambientem melhor em função da
falsa noção de superioridade que o domínio de um carro possa oferecer, mas ainda assim os
denomina de „alfabetos morais‟. Ele afirma que, fora do carro, essas pessoas voltam à sua
normalidade.
O autor considera que a palavra de ordem do século é “velocidade”, causa primeira e
única de grandes e fatais acidentes e desastres. Para ele existe a “doença-da-velocidade”.
Associa a velocidade à embriaguez, como causadora de acidentes, mas a velocidade se
diferencia potencialmente por ser um estado de espírito no qual se encontra uma das mais
conhecidas psicoses da época. Sugere que, para resolver o problema não se deve atacar apenas
os sintomas, mas sua origem; nesse caso, o que move o homem a buscar obsessivamente a
velocidade. Descreve as campanhas de segurança desenvolvidas em outros países como
ineficazes por não saber abordar o problema, “[...] apelam para uma noção de dever pessoal e
social a cumprir, mas si tal noção se manifesta com o motorista „parado‟[...] ela de todo se
anula quando ele entra em função dinâmica, guiando o carro [...].” (R. NETO, 1939, p. 54).
O autor conclui sugerindo que se use uma estratégia em relação à velocidade, se
enalteça os emancipados que se utilizam do automóvel com elegância e correção, sabendo
utilizar a velocidade do carro para fins realmente úteis em momentos e lugares próprios. Essas
preocupações parecem estar relacionadas com o aumento da quantidade de automóveis e a
imprudência dos motoristas em lidar com a velocidade em um tempo onde, dada a raridade do
carro eram poucas as regras e punições.
A velocidade como um dos signos da Modernidade, através do carro, deu ao indivíduo
possibilidade para ultrapassar limites, no tempo e no espaço. Observamos nos discursos
apresentados nessa categoria a noção de moralidade diretamente relacionada ao controle dos
160

sentimentos, ao “freio dos impulsos” e à adequação da conduta às normas sociais, seja para o
atleta ou para o indivíduo comum na condução do automóvel. Este tipo de discurso parece ter
sido utilizado em diversos contextos sociais com o objetivo de despertar a sociedade para os
desajustamentos consequentes da modernidade.
161

3 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO FÍSICA: A CONSTRUÇÃO DE UMA PRÁTICA


PSICOLÓGICA

O valor das coisas não está no tempo que elas duram,


mas na intensidade com que acontecem.
Por isso, existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Fernando Sabino

Deixamos para este capítulo a apresentação de alguns artigos da categoria psicologia e


educação física, sugerindo, assim uma segunda aproximação entre esses saberes e o esboço da
construção de uma intervenção psicológica no âmbito esportivo. Os artigos que sugerem essas
ações, convém lembrar, foram publicados, em sua maioria, ao longo das décadas 50 nos
quatro periódicos pesquisados e até meados de 60 na Revista Arquivos.
A frequência de publicação equivale a uma média de sete artigos por década em cada
periódico. Isso significa dizer que, em torno de uma vez por ano, a Psicologia era assunto
abordado em mais de um periódico. Analisando estatisticamente, parece pouco, mas esses
dados tornam-se significativos quando entendemos que se trata de uma inserção da Psicologia
em outro campo de conhecimento, em um momento onde o próprio saber psicológico ainda
estava se estabelecendo como campo disciplinar.

3.1 Psicologia e Educação Física: uma segunda aproximação

Ao que parece, à medida que o saber psicológico surge no campo da Educação Física
sem um corpus próprio, podemos dizer, à deriva, a Educação Física o utiliza como ferramenta
complementar para constituir seu próprio campo. Apropria-se principalmente das teorias
psicológicas. À proporção que um corpus teórico e prático da Psicologia se solidifica, este
aparece no âmbito da Educação Física como uma orientação à prática.
A pesquisa nos periódicos em questão, ao longo das décadas de 30 até 60, nos revelou
um percurso crescente e claro de aproximação entre Psicologia e Educação Física em direção
às demandas que, hoje, entendemos como próprias da Psicologia do Esporte.
Vimos que nas décadas de 30 até 40 nos dois primeiros periódicos – Revista EsEFEx e
Educação Physica –, os artigos publicados versavam sobre conceitos e teorias psicológicas. O
médico Raul Clemente Rego Barros, Chefe do Gabinete de Psicologia Experimental da Escola
de Educação Física do Exército, examina de forma detalhada o exame psicológico dos
praticantes de atividades físicas para reconhecer os aspectos individuais em “Considerações
162

sobre o ensino da Psicologia aplicada a Educação Física”, publicado em 1941 na Revista


Educação Physica.
Para fundamentar-se o autor se vale de várias instituições e estudiosos sobre o tema.
Cita o italiano Castellino - adepto da escola biotipológica de Nicola Pende -, pois permite
conhecer todas as “ectípias físicas e espirituais” (sic) e seus estudos sobre o homem como
uma resultante morfo-fisio-psicológica variante em cada pessoa. Refere-se aos estudos de J.
Sharmann - autor americano já traduzido nos periódicos pesquisados - por falar amplamente
de uma psicologia aplicada à Educação Física e sobre a utilização de métodos racionais da
Educação Física, os médicos Waldemar Berardinelli (?-1956) e Agostino Gemelli (1878-
1959), este, também psicólogo italiano, reforçando a importância dos elementos psicológicos
e os mecanismos fisiológicos presentes nos desportos. Relata os estudos feitos em campeões
olímpicos de atletismo, realizados pelos médicos franceses Alfred Fessard e Laugier55.
Barros (1941) ilustra, ainda, exemplos do uso da Psicologia no curso de Educação
Física em outras instituições como a Escola de Educação Física e Técnica do Chile, fundada
em 1916, que já contava, em seus diversos programas de cursos, com a disciplina Psicologia
Aplicada. Do mesmo modo, a Escola de Educação Física do Exército de Portugal que, além
da disciplina, possuía gabinetes para estudos médicos-psicológicos, assim como a Escola
Normal Superior de Educação Física na Turquia. Para esse autor,

[...] com o conhecimento das relações entre as forças espirituais, que contribuem
para a constituição da alma, e as forças materiais que dão forma e função do corpo,
podemos conseguir uma educação física científica. Não é possível conhecer os
segredos do corpo ignorando as riquezas da alma (BARROS, 1941, p. 25).

O autor revela que, desde 1931, já havia uma demanda para a disciplina de Psicologia
Aplicada na Escola de Educação Física do Exército, mas que, aos poucos, tal disciplina foi
desaparecendo dos quadros gerais da Educação Física do país, sem explicar as possíveis
causas. Em 1939, o ensino de Psicologia foi resgatado pelo médico Capitão Arauld da Silva
Brêtas com a organização do Gabinete de Psicologia Experimental. Tal gabinete iniciou suas
atividades após o encerramento do Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas, em
1932, dirigido pelo psicólogo W. Radeki, onde Araud da Silva Brêtas também trabalhou.
De fato, Centofanti (1982), Penna (1992) e Jacó-Vilela (2008) sinalizam a existência
desses laboratórios de psicologia nas primeiras décadas do século XX, em algumas capitais
brasileiras como São Paulo (1914), Belo Horizonte (1929) e Rio de Janeiro (1924). Nesta
capital, o laboratório de Psicologia instalou-se na Colônia de Psicopatas do Engenho de

55
Alfred Fessard dirigiu o laboratório criado pela Liga de Higiene Mental no Rio de Janeiro em 1922. Não
encontramos referência sobre Laugier.
163

Dentro. Idealizado pelo médico Gustavo Riedel, fundador da Liga de Higiente Mental,
dirigido pelo também psicólogo polonês Waclaw Radecki até 1932, conforme citado antes.
Portanto, os estudos experimentais de Psicologia já eram conhecidos no Brasil, desde os anos
1920, o que favoreceu à existência de uma disciplina e um laboratório na Escola de Educação
Física do Exército nos anos 1930.
O autor conclui seu artigo considerando a importância de acrescentar às provas de
capacidades físicas, novas medidas para estabelecer até que ponto a educação física influencia
na formação do espírito, do caráter e das capacidades intelectuais.
A preocupação do autor com a Psicologia se justifica, pois Raul Clemente Rego
Barros assumiu a chefia do gabinete de psicologia experimental e a disciplina psicologia nos
cursos de instrutores e de medicina especializada, procurando dar um cunho prático ao ensino,
estudando a constituição psíquica dos alunos, motivando-os a conhecer o fundo psíquico das
ações humanas para que, no futuro, pudessem avaliar melhor o comportamento de seus
próprios alunos.
O interesse pelo saber psicológico e pelas estratégias de mensuração reaparece em
outro artigo desse autor, “Considerações sobre o exame psicológico dos árbitros de futebol”,
publicado em 1947, para a Revista EsEFEx. Aqui, Barros (1947, p. 10) afirma que toda
ciência que estuda o homem considera a existência de uma personalidade com características,
atitudes e tendências individuais e que qualquer tipo de atividade requer atributos especiais
para um melhor desempenho. Diz que em todos os “países civilizados” a psicotécnica vem
sendo aplicada com frequência “[...] como elemento de organização científica do trabalho,
concorrendo de modo especial para a solução do importante problema da orientação e seleção
profissional [...].”
Esse apelo talvez justifique o exame psicológico realizado em alunos da Escola de
Árbitros, criada e organizada pelo Capitão Lourenço Coluci, instrutor da EsEFEx, em 1934.
Barros (1947) pergunta quais problemas de ordem psicológica devem ser investigados e quais
qualidades um árbitro deve possuir para assumir uma função difícil como essa.
O autor informa que, após longa e intensa pesquisa entre aqueles que, em seu meio,
vêm se dedicando à Psicologia Aplicada, identificou as características do exame que poderiam
ser resumidas numa ficha de informações contendo dados como nome, idade, biótipo, raça,
profissão, naturalidade, instrução, estado civil, cor e nutrição. Ele justifica a presença de tais
dados como “[...] os elementos indispensáveis na identificação, bem como outros de ordem
étnica, somática e social, que não devemos desprezar, quando procuramos uma avaliação sob
o ponto de vista psíquico [...].” (BARROS, 1947, p. 10). A inclusão dos dados étnicos se
164

fundamenta na classificação de tipologia óssea feita pelo médico legista e antropólogo Edgard
Roquette-Pinto (1884-1954).
Para medir o estado psico-fisiológico o autor incluiu o item nutrição e descreve os
métodos usados para analisar a qualidade dos sentidos da visão e audição, assim como a
sensibilidade da forma, mensurados a partir dos aparelhos de Rupp56, do Gabinete de
Psicologia Experimental. Outro fator considerado importante tinha a ver com o grau de
sugestionabilidade, considerada uma das qualidades mais notáveis do psiquismo humano. Era
mensurada através do questionário do teste de Rossolimo e Demoor em uma escala de zero a
dez. Ainda havia a investigação sobre a fadiga para diferenciar os atrasos no decorrer das
atuações dos árbitros.
No final da ficha havia um espaço para os examinadores escreverem juízos sintéticos
das funções examinadas, assim como a presença de complexos. “[...] Para um estudo mais
completo da personalidade do examinando (caráter, complexos, moralidade, interesse, etc.),
submetemos todos os alunos da Escola de Árbitros aos testes de Pressey, Heuyer, Courthial,
Dublineau e Néron [...].” (BARROS, 1947, p. 11). O autor conclui ressaltando a necessidade
dos princípios de justiça e respeito aos jogadores que o árbitro deve ter.
Os anos 1940 caracterizam, pois, uma aproximação entre a Psicologia e a Educação
Física mais voltada às demandas diversas do cenário esportivo em geral. A construção dessa
aproximação se inicia com os artigos publicados em meados dos anos 1930, onde os autores
buscam demonstrar a importância e os avanços dos estudos psicológicos e seus fundamentos
teóricos, caracterizando um período em que a teoria era aplicada à prática, e, por isso, vemos
muitos artigos utilizarem a terminologia de “psicologia aplicada”. A prática como produção
de conhecimento é uma construção contemporânea.
Um exemplo dessa forma de aplicar a Psicologia é a transcrição da “Aula Inaugural do
Curso de Psicologia”, em 1933 na Revista EsEFEx, informando que o CMEF, através dos
professores do Conselho Técnico, definiu em seu programa a disciplina de Psicologia. O
artigo justifica tal ação, afirmando que ficou insustentável separar corpo e alma. “[...]
Fisiologia e psicologia são matérias que a biologia engloba e trata igualmente. E tanto a
psicologia vai buscar suas bases na fisiologia, como esta completa seus capítulos na
psicologia. [...].” (AULA..., 1933 sem paginação).
O texto afirma que a Psicologia moderna deixou de se ocupar com cogitações
abstratas, hipotéticas,

56
Aparelho adquirido em processo de licitação pelo Ministério de Educação e Cultura, de acordo com o Diário
Oficial da União, de 1 de dezembro de 1938, seção 2, p. 28.
165

[...] Deixou de se preocupar com coisas desconhecidas para estudar as atividades do


homem, a sua conduta, o seu comportamento. [...] Mesmo sem estar filiada
estritamente a esta ou aquela escola, mecanicista ou vitalista, a psicologia moderna
traz a sua contribuição à pedagogia, à orientação e seleção profissionais, a todos os
ramos da atividade humana [...] (AULA..., 1933, sem paginação).

Considera também a aplicação da Psicologia à Educação Física frequente e oportuna,


embora reconheça que existam outras formas de aplicação desse saber à cultura física como a
especialização da higiene individual e coletiva com a finalidade de melhoria da raça, ou seja,
a eugenia.
Recorre à figura do higienista francês George Demeny e suas ideias sobre a
correspondência entre as imagens, as emoções e os movimentos, considerando o estudo da
destreza uma grande contribuição da Psicologia à Educação Física. A psicologia do
comportamento e seu método experimental eram vistos como os mais eficientes e por isso,
mereciam permanecer presentes nos interesses dessa escola e da Educação Física.
Nesse discurso é possível perceber também um embate entre as diferentes concepções
biológica e filosófica sobre mente e corpo. Esse é um período em que a Educação Física
assume um papel social importante, compondo um projeto nacional de reeducação da
sociedade brasileira a partir de princípios eugênicos e higienistas, conforme o modelo europeu
do século XIX. Um momento propício no processo de institucionalização desse saber, mas
também rico em divergências, conforme diz Góis Junior e Luvisolo (2001).

A década de trinta representa para a Educação Física Brasileira uma época de


legitimação e de apoio institucional. Surgem nesta década periódicos especializados;
fundação de clubes esportivos; sua presença nas instituições escolares se consolida;
o Governo Getúlio Vargas adota, oficialmente, o método francês no Brasil [...]
(GÓIS JUNIOR, 2001, p. 14-15).

Lourenço Filho (1897-1970), como já apontamos, é um dos defensores da Psicologia,


assim como de uma nova metodologia para a Educação Física, com menos ênfase nos
aspectos fisiológicos. Escreve vários artigos sobre essa temática, dentre os quais um
publicado em 1935, outros em 1944, na Revista Brasileira.
“Psicologia e Educação Física”, publicado como editorial em 1935, expõe sua visão
sobre a presença das ideias psicológicas no contexto mundial e seu interesse em aprofundar os
conhecimentos sobre as descobertas psicológicas e seu uso na Educação Física. Lourenço
Filho (1935) destaca o quão recente é a intervenção das doutrinas psicológicas na técnica e
teorização da cultura física pelos estudiosos. Considera que algumas causas comuns têm
levado o homem a certa concepção psicológica, assim como a uma compreensão do corpo, de
seu valor e de suas relações com o espírito.
166

O autor retoma os conceitos filosóficos de Sócrates e Platão sobre corpo e alma como
não bem-vindos à Educação Física do momento, pois tais concepções preparavam para uma
filosofia onde o misticismo e a kabala faziam parte da Educação Física da antiguidade
clássica. Propõe enfoque nos estudos sobre as influências das descobertas psicológicas
científicas sobre a prática da Educação Física. Para isso, cita os trabalhos do educador físico
francês George Hébert “La culture virile” (1913); do psicólogo americano William James
sobre emoção; do filósofo francês Henri Bergson sobre sentimento; do médico Ferrér e seus
estudos sobre “Sensação e movimento” (1887); do médico francês Philipe Tissié sobre a
fadiga (1896); ainda os mais recentes trabalhos de Angelo Mosso e da médica Ioteyko, assim
como os de Thorndike sobre fadiga muscular e intelectual. Outro autor citado é um dos
representantes do funcionalismo na Psicologia, Robert Woodworth (1869-1962) e seus
estudos sobre movimento, influenciando as concepções “ativistas” da Psicologia
(LO0URENÇO FILHO, 1935).
Segundo esse autor todos esses estudos tiveram repercussão sobre a Educação Física.
Para ele, a Psicologia atual, definida como ciência do comportamento, possui suas raízes na
noção de arco reflexo. Na conclusão, relembra a importância dessa temática e assegura o
empenho da Escola de Educação Física do Exército em aderir a essas ideias, pois deve
investir em uma educação integral e não apenas no exercício do corpo.
Outro artigo, sem autoria, que corrobora com esses argumentos, mas acrescenta
poderes de intervenção e controle emocional à Educação Física é escrito em 1935 para a
Revista EsEFEx. “Objetivos psicológicos na educação física” diz que, em geral, não há por
parte dos estabelecimentos de ensino uma relação estreita entre educação física e educação
intelectual e que a educação moderna deve visar simultaneamente o corpo e o espírito, uma
vez que a prática da Educação Física é a única capaz de realizar um verdadeiro
desenvolvimento físico e psíquico.

[...] A educação física visa também a saúde e desenvolve o controle emotivo,


tornando ainda mais equilibrados moralmente os indivíduos. [...] Atualmente,
chegou-se à conclusão de ser a educação física capaz de corrigir anormalidades
psíquicas.[...] Outras finalidade da educação física sob o ponto de vista psíquico é o
de frenar e corrigir certos impulsos agressivos, punindo os indivíduos toda as vezes
que se fizer necessário. [...] (OBJETIVOS..., 1935, p. 31).

É impossível desperceber que houve de fato, um movimento em favor da inclusão das


teorias psicológicas no universo da educação física nesse começo do século XX, quer seja
através de autores brasileiros ou por traduções de autores estrangeiros. Os periódicos desse
campo, nos anos 1930 e 1940, não economizavam palavras quando o assunto era discutir
167

sobre os rumos da Educação Física. A Psicologia, muitas vezes, preenchia lacunas sobre os
estudos relativos ao corpo e à alma. Compreendida na época como relativa aos aspectos
morais e mentais que favoreciam o controle do corpo, esta visão comparece também no artigo
“Psicologia da Educação Física”, de 1935 traduzido por Amélia de Oliveira na Revista
EsEFEx.
Tal artigo refere-se à compreensão do professor alemão Adolf Thiele, autor de A Nova
educação quando existe Educação Física (1919) (Die neue Erziehung. Werdenum Wensen der
Leibesüngen), a questão abordada afirma que a ação é uma atividade muscular assim como é
atividade mental e que é inegável o significado da vontade, do corpo, dos nervos, do cérebro
ou dos músculos.
O texto lembra que os estudos teóricos realizados pela Educação Física versam sobre a
noção de espírito, juntamente com alma, conceitos de difícil definição. Fundamenta-se no
pedagogo suíço J. J. Rosseau, no educador alemão Guts Muth, no economista americano
Theodor Shultz. Informa que a Educação Física estabelece grandes discussões e que cabe aos
estudiosos considerarem não apenas o ponto de vista histórico, mas também o psicológico.
Questiona a inacreditável resistência por parte de alguns em aceitar aspectos da Psicologia na
Educação Física. Retoma a noção de indivisibilidade ou pluralidade entre corpo, espírito e
alma, considerando necessário refazer o conhecimento sobre a estrutura humana ao levar em
conta uma relação psicológica entre tais instâncias, alertando também para o fato de que

[...] Já houve pedagogos que trabalharam sem o conhecimento da psicologia, tendo


por guias a intuição e a incompreensão. Se existem muitos assim, seria pouco
perigoso deixar à pedagogia o trabalho de ir esclarecendo o que é obscuro e
inexplicável no homem. [...]. (PSICOLOGIA..., 1935, p. 35).

Também é lembrado Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), grande expoente da


educação e incentivador da visão psicológica na educação, e sua obra “Educação Física”
(1807). Segundo o texto, Pestalozzi foi quem melhor compreendeu a alma da criança.
Demonstra contrariedade pelos métodos adotados no esporte pela Inglaterra e EUA em busca
de recordes e questiona o papel da Educação Física no âmbito do esporte competitivo, pois
não sabe se atua com supressão ou desenvolvimento dos movimentos naturais.
Apresenta alguns autores como o fisiologista Carl Friedrich Burdach (1776-1847),
autor de “Fisiologia como ciência empírica” (1838)57, o matemático e fisiologista Melchoir
Palagyi e Ludwig Klages, filósofo e psicólogo alemão, autor de “Movimento expressivo e

57
Título original Physiologie als Erfahrungswissemschaft (1838).
168

força criadora”58. Todos fizeram estudos sobre a importância do ritmo para a explicação dos
fenômenos psíquicos. O texto distingue, ainda, o aspecto mental e o espiritual, uma vez que a
vida é um conjunto de atos contínuos e a consciência um processo que relaciona os atos
intermitentes. Afirma que a existência espiritual não tem limites no espaço e tempo e que
alma e vida são duas realidades naturais, eternidade do ser e o tempo da ação.
Por fim, cita os trabalhos do psicólogo estruturalista Felix Krueger (1874-1948), que
também demonstra uma tendência em usar o conceito mecânico atomista do psíquico para
reconhecer o crescimento rítmico orgânico. Diferentemente dos demais artigos, este apresenta
notas de rodapé com as referências bibliográficas citadas.
Os discursos apresentados até aqui reverenciam uma psicologia geral e experimental,
defendendo seu uso na prática da Educação Física e confirmando que as décadas de 30 e 40
serviram de base para a construção gradativa, nas décadas seguintes, de uma linguagem mais
específica voltada à aplicação da Psicologia no universo da atividade física, como aparece de
forma explícita no artigo seguinte.
O Tenente Coronel Jair da Graça Raposo em “A divisão de Psicologia Aplicada no
Ministério da Educação Física e Desportos” (1959), publicado na Revista EsEFEx apresenta
seus anseios pela criação de um ministério próprio dessa área, a partir do desligamento do
Ministério da Educação, além da criação de uma Divisão de Psicologia Aplicada diante da
necessidade de uma preparação psicológica, além da física e técnica.

Nos próximos anos... que nós almejamos alcançar a Divisão de Psicologia Aplicada
do Ministério da Educação Física e Desportos será um laboratório de estudos dos
conflitos comumente ocorridos com um, dois ou mais desportistas, fornecendo
parecer conclusivo das causas desencadeantes desses referidos conflitos [...]
(RAPOSO, 1959, p. 15).

Para esse autor a preparação psicológica era indispensável quando emoção, coragem,
entusiasmo e afetividade são constantemente solicitadas, como no caso do preparo do atleta
ou do soldado para o combate. Raposo (1959) informa que assumiria no ano seguinte a
Divisão de Psicologia Aplicada do Ministério da Educação Física e Desportos, um órgão que
seria responsável pela regulação e sistematização do processo de formação profissional e
autorização do funcionamento das escolas.

Nos próximos anos ... que nós almejamos alcançar à Divisão de Psicologia Aplicada
caberá, portanto, a tarefa de orientar a afetividade nos atletas brasileiros, para que
cada um deles [...] seja sempre soldado em potencial, pronto a defender a Pátria se a
sua honra for ultrajada [...] (RAPOSO, 1959, p. 16).

58
Título original Ausdrucksbewengung und Gestaltungskraft (1921).
169

Insiste ainda na importância da preparação psicológica também para o soldado


alcançar resultados no combate, pois de nada adiantaria uma preparação física e técnica sem a
serenidade do espírito e o preparo psicológico, visto que “[...] É disso que o Brasil precisa. De
uma juventude sadia, praticamente da bravura e amante do esforço físico, isenta de problemas
psicológicos que tanto atrofiam o mundo psíquico das pessoas. [...]” (RAPOSO, 1959, p.15-
16). Para isso, sugere que sejam introduzidos esportes de ataque e de defesa nas escolas e
universidades, bem como a criação de campeonatos intercolegiais, interestaduais e nacionais
para acirrar o espírito competitivo entre os alunos.
O discurso do autor sobre a amplitude de aplicação da Educação Física faz sentido
diante das conquistas desse campo, nas décadas de 30 e 40. Pauta-se na legislação vigente
desde 1946, quando o Decreto n° 8.529, tratando da Lei Orgânica do Ensino Primário, incluiu
a Educação Física no currículo de todas as séries da educação primária, além da Lei Orgânica
do Ensino Normal que também habilita a Educação Física a constar na lista de disciplinas
oferecidas aos alunos do curso normal, com atividades recreativas e jogos. Esse período
caracteriza o processo de “esportivização da Educação Física Escolar”, iniciado pela
introdução do Método Generalizado Desportivo, cujo objetivo era desenvolver uma educação
integral, estimulando os jovens a praticarem atividades esportivas eficazes e econômicas,
além de aproveitar o tempo livre (PICCOLI, 2006).
Ainda no primeiro capítulo, apontamos que Marinho (1946a), em editorial para a
Revista Brasileira “Feliz 1946 para a Educação Física”, se preocupava com os rumos políticos
do país relativos à Educação, em especial, em relação ao Decreto Lei 8.535, de 1942, as
medidas que desfavoreciam os espaços antes conquistados pela Educação Física, como o
enfraquecimento do Departamento Nacional de Educação do ao qual pertencia a Divisão de
Educação Física.
No entanto, apesar de tais esforços, parece que os resultados encontrados diferem dos
esperados também no âmbito do esporte competitivo. No final dos anos 1950, as críticas de
Raposo (1959) alcançam não só a falta de disciplina na prática dos esportes e a necessidade de
haver uma fiscalização maior sobre a atuação dos orientadores, mas também a DEF, do
Ministério da Educação e Cultura (MEC), definida pelo autor como único órgão fiscalizador,
mas muito deficiente.
Reclamando da falta de campeões nos esportes em geral, o autor atribui essa realidade
à incompetência dos técnicos das confederações, negligentes diante dos problemas de
indisciplina dos atletas. De igual modo, Raposo (1959) critica também o Conselho Nacional
170

de Desportos59 e a Confederação Brasileira de Desportos (CBD)60, esta por receber verbas do


Ministério e não oferecer nenhum retorno em termos de resultados ou produção bibliográfica.
O autor denuncia o desperdício de verbas e a ausência de pesquisas sobre as vitórias e
fracassos no esporte. Afirma que os profissionais envolvidos não aprenderam a catalogar,
fichar e coletar dados estatisticamente, assim como não estavam habituados às críticas.
Embora críticas sempre estejam presentes nos artigos dos periódicos, não é comum
encontrarmos críticas como essas, nominando órgãos chave da estrutura institucional. Em
geral, os autores direcionam seus questionamentos aos conflitos teóricos e metodológicos que
envolvem as práticas da Educação Física. A postura de Raposo (1959), portanto, parece
demonstrar a insatisfação com o crescimento desordenado da prática esportiva e com os
órgãos responsáveis por esse setor no país.
Em se tratando de um militar, escrevendo para um periódico de uma instituição
militar, a Escola de Educação Física do Exército, destacamos o incômodo do autor pela falta
de controle do Estado e dos órgãos privados, responsáveis pela gerência do esporte brasileiro,
em especial o futebol, uma modalidade que mobilizava a massa e já se mostrava lucrativa.
Muitas dessas reclamações atravessam o século passado e se manifestam na atualidade em
proporções muito maiores. Esse é um tema complexo e que merece novas reflexões.
Três artigos, “Psicologia e Educação Física: I – de como se propõe o problema”,
“Psicologia e Educação Física: III como observar os alunos” e “Psicologia e Educação Física:
IV Atributos da personalidade” (LOURENÇO FILHO, 1944a, 1944b, 1944c), fazem parte de
uma trilogia publicada em 1944 na Revista Brasileira, por Lourenço Filho.
Ao contrário de seu artigo apresentado anteriormente, que tratou de questões políticas
e metodológicas da Educação Física, esta trilogia descreve, de forma curiosa, conversas do
autor com professores nos corredores de turmas de Educação Física no ensino secundário. O
autor apresenta então, orientações bem como críticas à postura dos professores diante de seus
alunos.
Lourenço Filho (1944a) sistematiza inicialmente os ambientes distintos que encontrou,
no que se refere à coesão de grupo, em duas turmas distintas. Na turma “A”, estavam alunos
mais insatisfeitos, com baixa frequência, ansiosos para o término da aula, diferente dos alunos
da turma B, onde o entusiasmo inicial era mantido, assim como o interesse pelo trabalho. O

59
O Conselho Nacional de Desportos é criado em 1937 a partir de um projeto de lei elaborado pela Secretaria
Geral do Conselho de Segurança Nacional, juntamente com o Instituto Nacional de Educação Física e com a
Escola Nacional de Educação Física e Desportos. Cf. Leandro (2002).
60
A CBD é criada pelo então Ministro de Relações Exteriores, em 1916, ao assinar um memorando de
intenções, confirmando a unificação do futebol brasileiro, que já possuía clubes em todo o Brasil.
(SARMENTO, 2006).
171

autor ilustra que, ao conversar com os professores de ambas as turmas, identifica que o
conteúdo abordado está correto; no entanto o professor da turma A tem como objetivo a
realização do trabalho em padrões fixos, por idade, em ordem preestabelecida e metódica,
enquanto o professor da turma “B” se preocupa em desenvolver a personalidade dos alunos.
Lourenço Filho (1944a, p. 5) acredita que em cada aluno há uma pessoa a considerar,
não se podendo tomar os alunos como máquinas e, apesar de enfatizar o êxito dos professores
como técnicos, os critica como educadores. Afirma que é preciso saber educar, não apenas os
músculos, mas também pessoas, pois existe “[...] todo um sistema de emoções, de tendências,
de pensamentos, de relações de vida pessoal [...].”.
O autor reforça que a Educação Física não deve ser vista como um aspecto técnico
isolado, mas como parte da educação integral, pois atua sobre a personalidade das crianças e
jovens. Analisa o desempenho do professor que não obteve bom rendimento com seus alunos
em função de sua falta de percepção das relações humanas e de uma visão psicológica para
motivar sua turma. Argumenta que a inteligência social - trato com pessoas -, a inteligência
técnica - trato com as coisas - e a inteligência abstrata - trato com as ideias - resultam das
experiências de cada um na infância e que tudo é psicologia, ou seja, tudo são relações
humanas. “[...] A psicologia é o mais concreto dos estudos, o mais real, o mais presente, o
mais constante sobre nós [...].” (LOURENÇO FILHO, 1944a, p. 6).
Em suas contínuas conversas com os professores, Lourenço Filho (1944b) relata que
um deles apresenta mudanças em sua forma de perceber e tratar os alunos, em especial os
considerados “indisciplinados”, pois seu movimento era sempre de classificá-los em bons ou
maus; disciplinados ou não. Uma de suas mudanças foi considerar a possibilidade de
perguntar aos alunos o que deveria ser feito e não levar tudo pronto, impondo-lhes as
atividades. O referido professor concordava com o autor que para o ajustamento ocorrer seria
necessário uma pré-disposição do indivíduo, assim como fatores sociais que favorecessem tal
ajustamento. Podemos dizer, pois, que de forma exploratória, Lourenço filho fazia um
exercício próximo ao do psicólogo do esporte com estes professores, quando se preocupa com
o desempenho dos alunos.
Lourenço Filho (1944c) diz que a personalidade de qualquer pessoa pode ser definida
por suas tendências mais constantes, mas afirma que o conceito de personalidade não é fácil
de ser tratado e não corresponde à simples presença ou ausência de um atributo. Além disso,
as tentativas de classificação referem-se aos casos extremos e isso dificulta uma comparação
entre os alunos. Em função desta diversidade, considerava mais apropriado o termo atributos
de personalidade.
172

O interesse desse professor pela Psicologia, uma vez despertado, aguçou seu estímulo
mais para o campo da pesquisa e leituras, a partir das conversas que tiveram. No entanto,
Lourenço Filho passou a se preocupar que optasse por uma teorização exagerada, com
dificuldade de aplicação à realidade da Educação Física.

[...] um perigo, porém começava a surgir: era o de que nosso caro professor passasse
a interessar-se, demasiadamente, pela questão da classificação e dos nomes, mais do
que pela realidade dos fatos. A psicologia foi, por tanto tempo uma ciência de
„palavras‟, que o meu temor se justificava. [...] (LOURENÇO FILHO, 1944c, p. 2).

O autor considera inadequado o uso das classificações dos seres humanos com fins
práticos, ou seja, uma classificação de tipos ou um inventário analítico sobre as capacidades
dos alunos. O que deve haver, em sua opinião, é uma impressão geral sobre os atributos e
formas de reação de cada aluno, pois a personalidade é entendida como padrão total, o
conjunto da pessoa, como ela age e reage diante dos fatos do ambiente. “[...] A personalidade
que distinguimos nos outros, chega a ser, em parte, conceito de realidade, mas é, sempre,
também, conceito de valor. Por outras palavras: nossos julgamentos implicam também
expressão de nossa personalidade [...].” ( LOURENÇO FILHO, 1944c, p. 3).
Lourenço Filho baseia-se nos teóricos da personalidade gestaltistas, os alemães E.
Spranger (1882-1963) e G. Wheeler e seus estudos sobre as tendências capitais do homem,
mas os considerava profundos demais para servirem de leitura dos professores. Sugere, então,
que se leia uma análise mais simples e mais prática feita pelo sociólogo americano W.
Thomas, defensor de estudos qualitativos sobre o tema.
Conclui o artigo afirmando que a personalidade é algo ativo, atuante, uma expressão
total e sujeita a oscilação e uso de mecanismos em busca de seu próprio equilíbrio e que, nos
adolescentes, esta se encontra em fase de organização, de crescimento, de expansão.
Observamos, até aqui, que a Psicologia, quando invocada, aparece na forma de
fundamentação teórica para tratar de alguma temática como personalidade, sociabilidade,
controle das emoções ou da conduta, com o objetivo de oferecer recursos aos educadores
físicos diante de suas demandas. Mais que isso, vemos um educador defender uma visão
abrangente e qualitativa da personalidade, em um cenário, até então, constituído por um
enfoque biológico e tipológico, conforme apresentamos anteriormente. Participações como
essas, valorizando um discurso menos biológico e determinista, estarão cada vez mais
presentes na passagem para os anos 1950 e 1960.
Para incluir os aspectos psicológicos e ao mesmo tempo manter as concepções
biológicas, os educadores físicos optaram por uma visão tipológica da personalidade. Inezil
Penna Marinho, em seu artigo “Psicologia Aplicada ao Desportista” publicado em 1947 na
173

Revista Brasileira, ilustra mais uma tentativa em reiterar a importância dos aspectos
psicológicos na preparação do atleta baseada em uma visão tipológica da personalidade.
O autor define um desportista como uma pessoa que pratica o desporto, cujo objetivo é
a competição, seja nos esportes individuais, seja nos coletivos. Em seguida, esclarece sobre as
condições de valor do desportista e os cuidados que devem existir em sua preparação.
Acrescenta que esse valor depende de suas condições morfológicas, fisiológicas e
psicológicas, pois para praticar qualquer desporto é necessário ter boa saúde, o que não
significa ausência de doença, mas um organismo equilibrado, harmonicamente desenvolvido,
com os órgãos em bom funcionamento.
Para Marinho (1947e, p. 12) “[...] O treinamento desportivo só poderá processar-se
quando o organismo estiver no pleno gôzo de seu completo equilíbrio psico-somático [...].”
Apresenta definições sobre as condições morfológicas baseadas na obra de F. Vasconcelos “O
valor físico do indivíduo: sua medição e avaliação” (1922), assim como os estudos do médico
W. Berrardinelli “Tratado de Biotipologia e Patologia Constitucional” (1942) na qual este
afirma ser o conhecimento morfo-físio-psicológico uma premissa fundamental para a
educação física racional; bem como Arnold Thooris, um dos introdutores da biotipologia e
seus estudos com 1500 alemães praticantes de atletismo, além das afirmações do italiano N.
Pende sobre a adequação do tipo longilíneo para determinadas modalidades.
Marinho (1947e) apresenta algumas tipologias físicas ideais para a prática de
modalidades específicas como a do lutador que, segundo ele, deve ter pernas grossas e curtas,
tórax largo e forte, braços curtos. Para o autor, as condições fisiológicas requerem um
organismo adaptável aos esforços exigidos, mas as condições psicológicas são tão importantes
quanto as demais, uma vez que em situação de competição, essas se apresentam como uma
disposição psíquica favorecendo à prática esportiva.
Acrescenta ainda que os complexos, as crendices e as supertições possuem um papel
importante na condição psicológica. Para fundamentar esses argumentos, Marinho (1947e)
recorre a dois trabalhos do professor Mario Miranda Rosa61, do Departamento de Educação
Física de São Paulo, “Um estudo de Psicologia Social em uma equipe de futebol
profissional”, de 1944, assim como o artigo “O papel da magia do futebol”, ambos publicados
em 1945 na Revista Brasileira, abordando sobre a influência da religião no futebol.
Cita A. I. Gates que, em “Psicologia para estudantes de educação” (1935), afirma que
a preparação do desportista compreende três aspectos: a física, incluindo desenvolvimento

61
Esse autor aparece também com um pseudônimo de Pio Piano Junior e este artigo foi analisado no capítulo
anterior.
174

corporal e o treinamento orgânico; a técnica, obtida para melhor uso de suas habilidades; e a
tática, entendida como a melhor maneira de usar a técnica e impor ao adversário sua
estratégia.
Retomando os aspectos psicológicos, para Marinho (1947e) existem dois tipos de
complexos nos esportes individuais: o de superioridade e o de inferioridade62. Além disso, os
estados emocionais preponderantes na atuação dos desportistas são a cólera e o medo,
encontrados principalmente em desportos onde ocorre o contato direto com os adversários,
como é o caso do boxe, basquete e futebol.
O autor lembra ainda um item que considera necessário: o controle de desportista, que
inclui os elementos fisiológicos (a cargo do médico), físicos e táticos (técnico desportivo).
Neste caso, o controle técnico inclui as observações sobre as condições psicológicas do
desportista para o treinamento que, segundo o autor, podem ser observadas, por exemplo,
através das oscilações de peso, aspecto físico antes e depois dos treinos.
Por fim, apresenta um esquema de planejamento geral a ser considerado para fins de
um treinamento que inclui duas etapas principais: obtenção de condições de desenvolvimento
das qualidades físicas e aquisição do estilo e obtenção da forma, uma adaptação do organismo
à natureza da prova, ou seja, uma apuração do estilo. Embora seu discurso mencione a
presença de sentimentos e estados emocionais, o autor não inclui a preparação psicológica.
Observamos um teor de incongruência nesse discurso e incoerência com o título, pois
a Psicologia e/ou alguns fenômenos psicológicos se fazem presentes de forma teórica, mas
não são incluídos nos procedimentos metodológicos da Educação Física. Esse processo de
inserção da Psicologia na Educação Física, de fato, parece transcorrer de forma ambígua. Em
parte, por ser iniciado pelas mãos dos próprios profissionais da Educação Física; por outro
lado, o uso que fazem do saber psicológico se confronta com o próprio fazer da Psicologia
que ainda engatinhava, gerando dificuldades na interlocução entre esses dois campos na
atualidade.
Nas décadas seguintes, até meados dos anos 1960, encontraremos um discurso menos
dúbio, indicativo de aplicação de uma prática psicológica frente à realidade esportiva. Tal
mudança no discurso parece vir se construindo paulatinamente desde o processo de
militarização do corpo, no final dos anos 1930, conforme analisado por Lenharo (1986).
Segundo ele,

62
Alfred Adler (1870-1937) médico e psicólogo austríaco criou a teoria da Psicologia individual, da qual fazem
parte os complexos de inferioridade e superioridade.
175

[...] o corpo está na ordem do dia e sobre ele voltam-se as atenções de médicos,
educadores, engenheiros, professores e instituições como o exército, a Igreja, a
escola, os hospitais. De repente, toma-se consciência de que, repensar a sociedade
para transformá-la, passava necessariamente pelo trato do corpo como recurso de se
alcançar toda a integridade do ser humano [...] (LENHARO, 1986, p. 75).

Para atender a essa demanda, os professores de Educação Física, responsáveis pela


educação desses corpos também deveriam estar adequados e à altura dessa exigência. O artigo
de João Nazareth “A Seleção Profissional do professor de Educação Física” de 1948, para a
Revista Brasileira, ilustra como essa preocupação se manteve ao apresentar a necessidade de,
no processo seletivo para professor de Educação Física, incluir-se a avaliação de
características subjetivas, definidas como “psicotécnica do indivíduo” (sic).
Seu processo seletivo inclui a construção de um profissiograma, a fim de facilitar a
classificação dos perfis individuais, fundamentando-se no Instituto Nacional de Psicotécnica
de Madri que adotou critério semelhante. Sendo assim, a classificação varia de 0-2, onde o
número 0 = desenvolvimento normal; 1 = um certo grau de superdotação e 2 = elevado grau
de superdotação. As características são divididas em cinco grandes grupos sendo, I.
Biológicas; II. Motoras; III. Psicomotoras; IV. Psicológicas; V. Personalidade. Cada um
destes ainda possui subdivisões, como por exemplo, as características psicomotoras, que
incluem visão e audição e as psicológicas, englobando inteligência, memória, atenção,
imaginação, percepção e personalidade. Esta era considerada a mais complexa, por sua
dificuldade de mensuração e por se modificar em função da educação e do meio ambiente,
muitas vezes influenciando o exercício da profissão.
Nazareth (1948) considera que todos estes aspectos podem estar presentes ao se
estudar as aptidões e as características do indivíduo. Afirma ainda que, mesmo diante da
dificuldade em quantificar os atributos da personalidade, é possível encontrar um quantum de
cada um. Por fim, e sem mais referências teóricas que justifiquem seu processo de avaliação,
o autor descreve as características avaliadas e aquelas que devem ser encontradas nos
professores de Educação Física, quais sejam: a) expressivas: incluem alegria, expansividade,
dinamismo, serenidade, atratividade, difusão, adaptabilidade expressiva; b) sociabilidade:
simpatia, confiança, domínio, sugestionabilidade, compreensão, veemência, cooperação,
organização; c) comportamentais: estado de alerta, vivacidade, ser ativo, segurança,
responsabilidade, valorosidade, audácia, tenacidade e ética.
Seguindo esse mesmo rumo, agora na Revista Arquivos, Ruy Gaspar Martins, Diretor
da Escola Superior de Educação Física do Rio Grande do Sul, escreve sobre a “Necessidade
176

de seleção vocacional nas Escolas de Educação Física63” (1961), apresentando um plano de


trabalho com diretrizes para realizar seleção vocacional dos professores das escolas de
Educação Física. Inicia tratando sobre o conceito, os objetivos e o papel da educação na
escola. Martins (1961) descreve o papel do professor de Educação Física, indicando as
qualidades necessárias a esse profissional. Aponta problemas educacionais, econômicos,
sociais e familiares relativos à escolha da profissão de educador físico. O autor sugere a
criação de estratégias de propaganda nas escolas, informando sobre a profissão, além de uma
avaliação criteriosa, com análise de currículo e exames psicológicos com testes de
inteligência, personalidade, provas vocacionais, entrevistas, além da atuação do médico para
realização de exames físicos.
Nessa primeira metade do século XX, o Brasil vivia os ares da Modernidade e do
desenvolvimento, ainda que de forma insipiente e pouco planejada e, na segunda metade, se
definiu pelo triunfo da noção de progresso, com avanços econômicos e industriais (SILVA,
2001). No âmbito da relação entre Psicologia e Educação Física, o foco a partir de então passa
a ser mais específico para atender às novas demandas e os periódicos da área procuraram
acompanhar esse processo, como ilustram os artigos a seguir.
A Revista EsEFEx, em 1949, noticia, um resumo do 1º Congresso Brasileiro de
Medicina da Educação Física e Desportos, realizado em Curitiba. Presidido pelo catedrático
da ENEFD Waldemar Areno, nomeia os temas apresentados e seus respectivos autores, assim
como decisões e recomendações tomadas durante o evento em torno do controle médico nos
esportes universitários. Dentre outras ações, tornava esse controle obrigatório em todas as
associações atléticas das faculdades e realizado por médicos especializados. Mas reforçava
que, para isso, deveria ser incentivada a formação de médicos especializados em Educação
Física (ARENO, 1949).
Considerado indispensável à formação integral do universitário, outra recomendação
estendia o desporto universitário ao sexo feminino, permitindo às mulheres a prática das
modalidades natação, vôlei, tênis, esgrima de florete e atletismo. As colônias de férias para
colegiais também deviam ser melhor atendidas em relação à educação integral. Por fim,
ocorreu a fundação da Sociedade Brasileira de Educação Física com o objetivo de congregar
os médicos especializados na área em todo o território nacional.
Transcrita como artigo na Revista Brasileira em 1949 foi a Conferência realizada no
Instituto de Educação em Belo Horizonte, ministrada pelo psicólogo espanhol Emílio Mira y

63
Um trabalho apresentado ao I Congresso Luso-Brasileiro de Educação Física em Lisboa (1960).
177

Lopez e intitulada “Problemas psicológicos nos esportes e na Educação Física”. O teor revela
uma preocupação na integração entre esporte e educação, mas acrescentando um olhar
psicológico.
O conferencista inicia agradecendo ao convite do amigo, o Presidente da Associação
Mineira de Professores de Educação Física, pela oportunidade de falar sobre o desporto e
esclarece que, mesmo não estando em contato na atualidade com essa área, sempre foi um
apaixonado pelo tema e, como médico, tem observado as vantagens e inconveniências dos
desportos. Vale ressaltar que Mira y Lopez de fato se aproxima do universo esportivo nos
anos 1960, quando, em parceria com o também psicólogo Athayde Ribeiro Silva, escreve o
livro “Futebol e Psicologia” (1964).
O percurso de Mira y Lopez no Brasil inclui não só essa relação com o futebol, pois
seu reconhecido saber sobre Psicologia lhe abriram outros espaços em áreas diversas como na
indústria e no âmbito jurídico. Em função disso, nesta conferência, era esperado que ele
abordasse diversos assuntos relativos à prática de esportes. No entanto, Mira y Lopez informa
que os pontos solicitados eram muitos e que como seria impossível responder a todos, faria o
possível para opinar de forma breve sobre alguns.
Descreve então, os diversos tipos de interesses em praticar esportes e afirma que o
esporte pode atender a fins higiênicos, terapêuticos, lúdicos, educacionais e econômicos,
porém a finalidade que deve predominar é a educativa, por contribuir para a formação e
desenvolvimento da personalidade.
Destaca a resistência de alguns em não aceitar os esportes como parte da educação,
haja vista os comportamentos agressivos presenciados nos estádios, mas reafirma que esporte
sempre é educação, pois possui uma finalidade de superação competitiva e ocupa uma posição
intermediária entre o jogo e o trabalho, tornando-se

[...] evidente que as pessoas que fazem os desportos não podem desenvolver o
músculo sem a inteligência e têm que prestar atenção ao exercício das condições de
caráter, isto é, tem que fazer uma aprendizagem educacional. Para realizar bem o
esporte não é suficiente que o exame médico assegure a existência de boas
condições fisiológicas. Precisa, além disso, que o exame psicotécnico revele uma
boa adaptação pessoal do tipo de exercício escolhido [...]. (MIRA Y LOPEZ, 1949,
p. 5).

Mira y Lopez (1949) afirma que não há um tipo de esporte específico para as crianças,
nem para os adolescentes, o que existe são esportes que favorecem a grupos musculares
diferentes havendo alguns que atingem um número maior de músculos como o basquete,
vôlei, remo e a natação. Informa, também, que não há melhor ou pior esporte do ponto de
vista psicológico, e que, pessoas com dificuldades de socialização ou no caráter podem
178

procurar os esportes individuais; deve-se somente orientá-los para os esportes coletivos, sem
contudo, obrigá-las a isto.
Por fim, se declara favorável às competições amistosas e sem premiações, pois é de
opinião que não se deve estimular competições que visem algo além da resistência física. O
prêmio, segundo o autor, é útil para estimular a competição, mas não o é na formação do
caráter. Considera que o professor de educação física deve ter uma formação pedagógica,
deve ser mais um atleta mental que um atleta muscular. Mas as demandas emergentes
relativas ao esporte não ocorrem apenas no âmbito escolar.
Os anos 1930-1940, apesar dos problemas políticos e econômicos, demonstraram-se
frutíferos no que tange a um crescente desenvolvimento do esporte brasileiro. Enquanto o
cenário mundial ainda se recuperava dos efeitos da Segunda Guerra que, dentre outras
consequências, dividiu o mundo em dois blocos político-militares liderados pelas
superpotências da época, EUA e URSS, o Brasil ensaiava construir um regime democrático
sustentado por uma política desenvolvimentista que, geraria um novo estilo de vida aos
brasileiros, difundido pelos meios de comunicação, em ascensão no país, em especial a
televisão que também aportava no território nacional nos anos 1950 (KORNIS, 2011).
No âmbito do esporte, várias modalidades já eram praticadas, mas foi o futebol que
ganhou o clamor das massas. Para Silva (2006), diferente de outros esportes como o remo ou
corrida de cavalo, não havia impedimento em torcer e praticar o esporte, pois suas condições
estruturais permitiam que fosse jogado em campos de várzeas, nas escolas ou nas ruas.
A década de 30 marca o início dos Campeonatos Mundiais de Futebol organizados
pela Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) e a profissionalização do esporte
no Brasil já era uma realidade (figura 12). Para esse autor, o papel da imprensa nacional
também ocupa um lugar de destaque na popularização do futebol no país nessa época, em
especial no Rio de Janeiro, onde foi liderada pelo jornalista Mário Filho que, através dos
jornais onde escrevia e de eventos diversos que organizava, despertou a atenção dos
brasileiros para o futebol tornando-se um dos maiores incentivadores da relação entre futebol
e as classes populares (SILVA, 2006).
179

Figura 12 - Pôster da Copa do Mundo de 1950 no Brasil - 4ª Copa do Mundo FIFA


Fonte: Dipity (2011)

Com a popularização dessa modalidade, a construção de estádios no país não era


novidade, e em 1950 o Brasil inaugura o maior estádio do mundo para sediar o Campeonato
Mundial daquele ano, pois dentre as sequelas da Segunda Guerra Mundial, uma delas foi a
suspensão dos campeonatos de 1942 e 1946. O Brasil e a Suíça foram escolhidos para sediar
os jogos de 1950 e 1954 respectivamente, por terem sido menos afetados pela guerra.
O artigo que bem representa o momento de mobilização do país em torno da
construção espaço é “Inauguração do estádio, 16 de junho de 1950”, publicado pela Revista
EsEFEx e assinado por essa revista em 1950 (figura 13). O artigo saúda a inauguração do
Estádio Mário Rodrigues Filho, mais conhecido por Maracanã, por ter sido erguido no lugar
do antigo Derby Club, às margens do rio Maracanã, após quase três anos do lançamento da
pedra fundamental.
180

Figura 13 - Foto do Estádio Mário Filho em 1950


Fonte: Veja... (2011)

Construído mediante críticas em torno de sua administração o estádio foi inaugurado


dias antes do início do evento, com capacidade para abrigar mais de cem mil pessoas. O artigo
registra momentos solenes durante a inauguração, destacando algumas personalidades
presentes, como o então Prefeito do Distrito Federal o General Angelo Mendes de Moraes,
que após saudar o então presidente da República passou a

[...] historiar emocionado o que foi a „Batalha do Estádio‟, essa audaciosa obra
nacional portento da engenharia brasileira, maior realização arquitetônica levada a
efeito no Brasil. [...] fica aí o colosso do Maracanã, alfaneiro e imponente,
engalanado e festivo para positivar nossas aspirações servindo de exemplo à
posteridade (INAUGURAÇÃO, 1950, p. 45).

No entanto, mesmo com todo esse investimento e uma excelente campanha, a Seleção
Nacional perdeu a Copa do Mundo em casa. Esse triste feito foi apelidado de “Maracanazo”,
rendendo traumas e supertições até os dias atuais, quando o país novamente se prepara para
sediar outra Copa do Mundo em 2014, com alguns dos mesmos problemas em torno das
obras, agora em proporções ampliadas.
Os dois periódicos de Educação Física ainda existentes na época pouco se
manifestaram sobre o evento. O artigo descrito foi um dos únicos encontrado na Revista
EsEFEx, que mais procurou exaltar com fotos a construção do estádio que falar sobre o
evento esportivo. Vale ressaltar que, por mais instigante que seja falar desse contexto, não
aprofundamos nossa busca nesse sentido, visto que nos distanciaríamos de nossa temática. No
entanto, não podemos deixar de considerar que o cenário desenvolvimentista do país, que
incorporou o esporte esteja relacionado à nossa temática.
181

Ainda tratando do desporto, mas mais voltado à saúde física e psíquica, “Exercício
físico e psicoterapia” (1956) publicado pelo professor Maurício de Medeiros na Revista
EsEFEx, ilustra algumas qualidades da Educação Física quando voltada aos desportos, como
a sociabilidade, gerando nas pessoas um caráter de compreensão mútua nas relações, chamado
de espírito desportivo. “[...] A educação física, já pelos seus resultados sobre a saúde física, já
pelas qualidades mentais de adaptabilidade nas inter-relações humanas pode ser considerada
como importante fator de higiene mental. [...]” (MEDEIROS, 1956, p. 1).
Além disso, o autor considera que o exercício físico pode ser útil como elemento
terapêutico na psiquiatria, conectando afetivamente o doente com o meio. A associação do
exercício físico com a psicoterapia (sic) é definida pelo autor como ergoterapia (sic), ramo da
terapêutica que utiliza o trabalho como instrumento. Medeiros (1956) cita o Instituto de
Psiquiatria e um psiquiatra francês, Dr. Pierre Le Gallais, discípulo do Dr. Sivadon,
especializado nessa prática terapêutica em Ville-Evrard. O autor descreve os três estágios da
ergoterapia e seus respectivos objetivos e exercícios e conclui afirmando que o educador
físico está na base de tais atividades e que através da atividade física o homem se desenvolve
mentalmente e pode recuperar sua saúde mental.
Seguindo essa linha terapêutica, mas enfocando os aspectos psicológicos, Emílio Mira
y Lopez publica “Ginoterapia”64, em 1946 para a Revista Arquivos e, em 1948, para a Revista
Brasileira. Mira y Lopez (1946) fala sobre uma espécie de terapia a partir do exercício
muscular ou psicomuscular necessário para manter a saúde psíquica. A ginoterapia
proporciona efeitos psicoterapêuticos a partir da combinação de exercícios com a condição
física individual, disposta em modelos distintos de ginástica como: a) ginástica atlética, onde
o uso de pesos e aparelhos gera os efeitos psicológicos de auto-avaliação e confiança; b)
ginástica sueca que exige esforços musculares intensos, associada à respiratória e rítmica,
sugerida aos tipos astênicos e neurastênicos, bem como aos psicopatas instáveis e ansiosos
com carência de ritmo; c) ginástica lúdica, uma forma mista de fisioterapia e ludoterapia,
recomendável aos casos de autismo e tristeza; d) ginástica desportiva: importante para
evidenciar a junção de força física e mental e auxilia na formação do caráter, na correção de
alguns traços e no tratamento de desequilíbrios de conduta. Mira y Lopez (1946) afirma,
ainda, que existe outra classificação para esse tipo de inástica em relação à prática individual
e coletiva, direcionada ao tratamento de diversos transtornos de personalidade. Assim, vemos
Mira y Lopez aliando diversas formas de atividade física a seus efeitos psicológicos.

64
Encontramos publicação “Manual de Psicoterapia”, de 1942, da Editora Científica, na qual o autor apresenta
um capítulo sobre o tema. Atualmente a ginoterapia é um dos serviços oferecidos pela Fisioterapia.
182

3.2 O esboço de uma nova psicologia

No final dos anos 1940 uma segunda aproximação, a qual chamamos de uma nova
psicologia, começa a se estabelecer entre Psicologia e Educação Física de modo mais
específico, em especial a necessidade de melhor selecionar os atletas para suas funções no
esporte e de tratar de fenômenos intrínsecos à realidade esportiva. Há disciplinas de
Psicologia aplicada nas duas escolas de Educação Física do Rio de Janeiro, a ENEFD a partir
do Decreto-lei n° 1.212, de abril de 1939, e na EsEFEx, embora não haja referência a esse
ponto no Decreto de sua criação, 1933, encontramos um artigo sem autoria intitulado “Aula
Inaugural do Curso de Psicologia”, louvando a iniciativa da escola em incluir a disciplina de
psicologia em seu curso de Educação Física.
Desse modo, pouco a pouco, até os anos 1960 o foco passa a ser mais específico, não
mais centrado em questões gerais sobre o desenvolvimento e formação do caráter do homem,
mas gradativamente mais direcionado aos fenômenos específicos da realidade esportiva, como
comportamento da torcida e das equipes esportivas, necessidade de seleção e orientação dos
atletas. Os artigos demonstram essa mudança de enfoque, assim como apresentam autores
conhecidos do campo psicológico, mas desconhecidos em sua relação com a psicologia
aplicada ao esporte, e consequentemente, ignorados no processo de constituição histórica
dessa área.
Dentre os atores conhecidos de outros cenários da Psicologia temos Emílio Mira y
López, Athayde Ribeiro, Lourenço Filho e Arthur Ramos. Há também desconhecidos do
mundo psi como, Carlos Sanchez Queiroz e Cecília Torreão Stramandinolli, reconhecidos na
Educação Física, como também Inezil Penna Marinho, importante personagem na história
dessa área, já apresentado antes.
Remetemo-nos agora a estes que, embora desconhecidos ou pouco lembrados,
possuem participação importante nesse percurso de construção do campo psicológico no
esporte. Começamos pelo médico Carlos Sanchez de Queiroz e seu artigo “A investigação
psicológica no controle científico das atividades desportivas” (1954/55), escrito para a Revista
Arquivos, cujo objetivo era denunciar os excessos e equívocos na aplicação de testes
psicológicos.
O artigo é um resumo de seu trabalho apresentado no Congresso de Medicina
Desportiva ocorrido em São Paulo, por ocasião do Campeonato Sul-Americano de Atletismo.
Trata das limitações do controle científico nas atividades desportistas. Carlos Sanchez critica
183

o uso equivocado das técnicas psicológicas, denominando-as de testomancia, devido a seu uso
por pessoas não qualificadas, chamadas por ele de pseudo-cientistas.
Queiroz (1954/1955) propõe às entidades desportivas de todo o país o controle
psicológico de seus atletas através de “psicólogos autênticos” para atuar na seleção e
orientação dos desportistas através da “Psicologia Aplicada”. Informa que após consultar
bibliografia nacional e estrangeira concluiu que os estudos em torno do tema limitam-se às
condições somáticas apresentadas pelos desportistas antes, durante e depois das competições.
Para o autor, a estrutura somática é condição e não causa do comportamento do atleta,
portanto,

[...] Admitir que tais condições são causas dos êxitos ou dos fracassos dos atletas
constitui, salvo melhor juízo em contrário, um autêntico sofisma de causalidade,
baseado num reducionismo grosseiro, incompatível com o espírito filosófico que
deve presidir, em qualquer pesquisa científica, a procura da verdade [...].
(QUEIROZ, 1954/55, p. 108).

Para fundamentar seu discurso, cita os estudos do filósofo e médico inglês Thomaz
Brown (1778-1820) que em 1920 já discorria sobre a aprendizagem como um ato do
conhecimento e por isso, não poderia ser explicada como um epifenômeno da experiência
sensorial. Além disso, considera que, como toda aprendizagem, a aprendizagem desportiva
resulta de fenômenos psíquicos dinâmicos e que a máxima “Learn by doing” já foi superada
pelo “aprender pensando”, tanto na Pedagogia como na Didática.
Queiroz (1954/1955) baseia seus argumentos nos estudos da Psicologia da Gestalt,
tanto através do trabalho de Christian Von Ehrenfels (1859-1932) quanto de Khölher, para
explicar a fragilidade do determinismo causal na Psicologia. William James (1842-1910) e
Samuel Alexander (1859-1938) também são referências devido à suas concepções sobre
experiência passada baseada nos princípios bergsonianos, uma vez que, em se tratando do
treinamento e da competição, para o autor

[...] a experiência passada não aparece com a mesma „forma‟ anteriormente vivida
porque uma evolução criadora é da sua própria essência; em permanente equilíbrio
dinâmico, as novas „formas‟, que orientam o comportamento do atleta, emergem das
anteriormente vividas, num processo semelhante aos das mutações genéticas, isto é,
surgem por diferenciação e não por transformação. [...] (QUEIROZ, 1954/1955, p.
113).

Assim, nas conclusões, o autor alerta veementemente para que o controle científico
das atividades desportivas não se limite ao levantamento das condições somáticas dos atletas e
que o controle psicológico seja recomendado às entidades desportivas com o objetivo de
promover e selecionar os atletas para a prática desportiva de modo mais eficaz, desde que tal
controle
184

[...] seja realizado por especialistas esclarecidos e seguros, diplomados por institutos
de ensino superior, onde se ministre o ensino sistemático da Psicologia científica e,
não, por meros „amadores‟, improvisados no manejo das técnicas psicológicas, com
total ignorância dos fundamentos científicos (QUEIROZ, 1954/1955, p. 114)

A assistente de Carlos Sanchez Queiroz na cátedra de Psicologia Aplicada da ENEFD,


Cecília Torreão Stramandinolli é mais uma das psicologistas 65 que se interessa pelo campo
psicológico no âmbito da atividade física e do esporte. Na Psicologia, trabalhou no ISOP,
onde sua produção também se fez presente, publicando quatro artigos na revista Arquivos
Brasileiros de Psicotécnica66: “A eficácia do Conselho de Orientação Profissional” (1956);
“Casos Negativos de Orientação Profissional” (1957); “Experiência como observadora de
Sessões de Estudo de Psicopedagogia Familiar” (1959); “Redescoberta da Família pelo
mundo Contemporâneo” (1959).
Alguns anos depois, escreve dois artigos para a Revista Arquivos. No primeiro,
“Necessidade de orientação na prática de atividades desportivas”, de 1962, estabelece uma
comparação entre o trabalho e o desporto – como dissemos anteriormente, houve uma
transição da Psicologia no âmbito do trabalho para o âmbito esportivo.
Nesse artigo, tal transição fica clara quando a autora compara as vantagens da
orientação profissional científica na escolha do melhor trabalho para o homem, relacionando
os mesmos benefícios na escolha do atleta diante do esporte, através da psicotécnica. Segundo
Stramandinolli (1962, p. 89), se esse recurso evita inconvenientes no mundo do trabalho,
também o fará no mundo esportivo. A autora analisa, sob o ponto de vista psicológico, o
desporto como um instrumento de educação, afirmando que a orientação desportiva, apoiada
na orientação profissional, pode indicar o melhor desporto ao desportista, considerando suas
condições socioeconômicas, aptidões e vocação.

[...] O possível ajustamento entre o desportista e o desporto, conseguido através da


orientação científica, traz, entre outras vantagens, a de evitar os perigos que possam
ocorrer do seu uso discriminado.
Do ponto de vista psicológico, considerando o desporto como instrumento de
educação: [...] a prática desportiva, se bem orientada, significa prática de educação,
já que oferece oportunidade de correção, modificação e, inclusive, supressão de
defeitos caracterológico de seus praticantes. [...] (STRAMANDINOLLI, 1962, p.
89).

Desse modo, para a autora, o desporto significa o “coroamento da Educação Física”


pois representa a forma de exercício mais completa. No entanto, a busca pelo desporto nem
sempre ocorre em função de seus princípios educativos. Dentre os demais objetivos propostos

65
Essa terminologia era utilizada na época para referir-se aos profissionais que atuavam em Psicologia.
66
Em 1969 essa revista publicou um índice por autores e por assuntos, de todas as matérias publicadas no
período de 1949, ano de fundação do periódico, a 1968, quando circulou o último número da revista com esse
nome, o que facilitou nossa investigação.
185

pela Educação Física a seus praticantes estão o lúdico, quando o desporto é procurado pelo
prazer da prática; o higiênico, entendido como sinônimo de vida saudável; o terapêutico,
quando os fins visam a saúde física; o educativo, quando os praticantes fazem de sua prática
um meio de equilíbrio da personalidade, e é em geral, praticado nas escolas; o compensador,
visando a satisfação de frustrações e impulsos; o econômico, quando buscam o desporto como
meio de vida e trabalho e por fim, o narcisista, quando o desporto é procurado pelo acentuado
amor ao corpo.
Em contraponto, o desporto também oferece desvantagens que podem prejudicar o
equilíbrio psíquico do indivíduo ou levá-lo a risco de vida. Fisicamente, o excesso do deporto
pode causar deformações do corpo por uma hipertrofia muscular exagerada.
Psicologicamente, as desvantagens são identificadas pela autora quando deformam ou
modificam o estilo de vida da pessoa, gerando sentimentos de menos valia e inferioridade,
oriundos de uma insatisfação ou ausência de resultados na prática do deporto escolhido. Para
essa autora, “[...] a prática desportiva, se bem orientada, significa prática de educação, já que
oferece oportunidade para correção, modificação e, inclusive a supressão de defeitos
caracterológicos de seus praticantes [...].” (STRAMANDINOLLI, 1962, p. 89).
Assim sendo, a autora destaca alguns motivos que determinam a escolha do tipo de
atividade física, baseada em um breve levantamento teórico, que incluem o sociólogo
americano W. I. Thomas, adepto da influência social no comportamento individual e coletivo
e de Willian McDougall (1871-1938), defensor da relevância dos aspectos internos ou
instintivos na motivação, assim como S. Freud sobre instintos e motivação.
Longe de ser apenas uma salada teórica, embora não descartemos essa possibilidade,
pois não fica claro qual a escolha teórica da autora, seu discurso parece mais dedicado em
demonstrar os diversos estudos científicos na área, com objetivo de sustentar seus argumentos
sobre a necessidade de orientação na prática de atividade física.
O segundo artigo de Stramandinolli complementa o anterior e corrobora com as
palavras de Carlos Sanchez Queiroz sobre a necessidade de os psicólogos fazerem parte das
delegações desportivas, a fim de selecionar e orientar os atletas para as competições com
bases científicas e objetivas. Afinal, segundo a autora, desde 1954, no IV Congresso Sul-
Americano de Medicina Desportiva, realizado em São Paulo, o professor Carlos Sanchez já
tratava desse tema.
Em “Contribuição da Psicologia à Orientação Desportiva”, publicado em 1964,
Stramandinolli descreve sua experiência profissional como professora assistente da cátedra de
Psicologia aplicada da ENEFD, como psicotécnica ISOP, onde foi assistente técnica de Mira
186

y Lopez por dez anos, nas atividades da psicologia do industrial, além de sua atuação na
Federação de Tênis do Rio de Janeiro (1943 a 1953). Em função dessa experiência, propõe-se
a orientar um trabalho de investigação sistemática das aptidões e traços psicológicos dos
desportistas campeões, além de realizar estudos comparativos entre as qualidades requeridas
para as atividades desportistas.
A autora apresenta ainda, princípios gerais da orientação profissional aplicados à
orientação desportiva e estudos sobre a personalidade do desportista. Para isso se fundamenta
nos trabalhos sobre personalidade e psicometria dos psicólogos G. Allport e W. Stern e de
Luella Cole, dedicada aos estudos sobre desenvolvimento. Stramandinilli (1964) inclui ainda
estudos sobre as aptidões e suas diversas escalas, vários métodos de exame como os testes de
personalidade do tipo projetivo, e os trabalhos de S.S.Stevens, voltados para uma aplicação da
psicometria no esporte americano nos mesmos moldes propostos pela autora.
A psicóloga Cecília T. Stramandinolli parece, pois, uma profissional dedicada,
buscando referências teóricas significativas da Psicologia para auxiliar o esporte. Seus
esforços em divulgar tal prática, esclarecendo seus benefícios ao desporto, não diferem muito
das iniciativas dos profissionais na atualidade.
Como professora assistente da cátedra de Psicologia aplicada da ENEFD,
Stramandinolli (1964) propõe-se a orientar um trabalho de investigação sistemática das
aptidões e traços psicológicos dos desportistas campeões, comparando-os com as qualidades
requeridas para as atividades desportistas. Tais iniciativas visam a estabelecer o perfil
profissional dos atletas, mas em uma prática profissional, o que indica o movimento de
ampliação dos campos de aplicação da Psicologia do Esporte.
Na conclusão de seu artigo, Stramandinolli (1964) ainda apresenta princípios gerais da
orientação profissional aplicados à orientação desportiva diante da iniciação esportiva, tais
como, conhecer o indivíduo a orientar; oferecer-lhe outra visão do mundo dos desportos;
orientá-lo na escolha do desporto e reajustar os já orientados diante das dificuldades.
Tais ações estariam a serviço dos estudantes e amadores do esporte, das escolas e dos
clubes desportivos, assim como aos adultos nas horas de lazer e recreação. Além disso, os
beneficiados por esse tipo de serviço, como indica a autora, incluiriam profissionais dos
desportos e dirigentes de clubes, que teriam a possibilidade de contratar jogadores mais
capazes, além dos técnicos desportivos. Stramandinolli (1964) já descrevia alguns dos
principais campos de atuação da PE, mais delimitados somente a partir dos anos 1980:
iniciação esportiva, alto rendimento, recreação e lazer.
187

Numa perspectiva psico-fisiológica, talvez em razão de sua profissão, o médico e


catedrático da disciplina de Psicologia aplicada na ENEFD, o professor Carlos Sanchez de
Queiroz também é uma das vozes em favor da aplicação da Psicologia ao desporto, mas pelas
mãos dos médicos. O autor apresenta outros dois artigos na Revista Arquivos, sendo que no
primeiro, “Reflexões de um Psicólogo Médico sobre a Medicina Desportiva” (1963), afirma
que “A Medicina Desportiva é uma especialidade que possui problemática específica, de
natureza psico-somática, pois o seu objeto é manter em boa correlação corpo e alma, visto que
é o pensamento que dirige a ação do desportista [...].” (QUEIROZ, 1963, p. 125).
O autor continua sua justificativa de o médico desportivo ser um sanitarista preventivo
e não curativo, uma vez que, é um “guardião da sanidade integral do indivíduo, cabendo-lhe a
missão de decifrar os segredos do corpo e da alma” (QUEIROZ, 1963, p. 126) e deve se
manter aberto a novas concepções para alcançar objetivos como os de “transcender a
fisiologia ou a patologia e incluir estudos de correlação fatorial entre os elementos
somáticos”.
Queiroz (1963) menciona sua participação no Congresso de Medicina Desportiva
realizado em São Paulo em 1954, durante o Campeonato Sul-Americano de Atletismo, onde
já se referia à formação do médico especializado em Educação Física. Para Queiroz (1963)
essa abertura se faz necessária devido a impossibilidade de realização de um diagnóstico e
prognóstico sobre o êxito ou fracasso dos atletas.
Reitera ainda a necessidade de aliar, ao treinamento físico, técnico e tático, um preparo
psicológico, necessidade levantada por Inezil Penna Marinho desde os anos 1940. “[...] As
atitudes dos desportistas dependem, pois de sua capacidade de adaptação holística, visto que
ele é um organismo que age como um todo (Ganzheit), em função da consciência que tem
(Verstehen) da situação problema que se encontra [...].” (QUEIROZ, 1963, p. 128).
Reforça suas críticas aos responsáveis pelas seleções desportivas, já veiculadas em
outro artigo, em que acusa os pseudo-cientistas de cometerem um grande equívoco ao realizar
estudos fatoriais da produtividade dos atletas, pois realizam uma análise dissociativa de
elementos que influenciam o comportamento dos atletas, ao invés de promoverem exames
diferenciais e integrativos dos fenômenos em questão. O autor conclui dizendo que

[...] dentre os especialistas capazes de investigar o sentido normativo desta síntese


prospectiva representada pela integração do preparo físico, técnico, tático e
psicológico dos atletas, antes durante e após as competições, creio não ser injusto
nem exagerado ao afirmar serem os médicos desportivos os profissionais mais
habilitados face a alta e extensa formação científica que recebem, o que sem favor
lhes dá autoridade e competência incontestáveis [...] (QUEIROZ, 1963p. 129).
188

Assim, para ele, os médicos, devido à sua extensa formação científica, teriam
autoridade e competência incontestáveis. Seu outro artigo é mais específico, mas mantém a
linguagem médica. Trata da “Coalescência dos fenômenos Neuro-Psicológicos e seu
significado Heurístico em Educação Física”. Queiroz (1966b) inicia citando o II Congresso
Luso-Brasileiro de Educação Física, realizado em 1966, em Luanda, Angola. Lá apresentou
um ensaio sobre as peculiaridades psicossomáticas do treinamento e das competições
desportivas e defendeu a existência de uma íntima relação entre os fatores psicogênicos e
somatogênicos, o que favoreceria uma análise diferencial-integrativa de tais estruturas diante
dos fenômenos em questão.
Segundo o autor, essa discussão é antiga e as investigações científicas se iniciaram no
início do século, mais precisamente em 1902. Apresenta os autores Scheferd Franz e Karl
Lashley e suas pesquisas experimentais no sentido de comprovar a “[...] provável relação
biunívoca entre os fenômenos psicológicos e neurofisiológicos [...].” (QUEIROZ, 1966, p.
52).

[...] Este princípio básico da coalescência neuropsicológica, postos em evidência por


Lashley, confirmam o caráter holístico do processo de aprendizagem, do qual
participa toda a estrutura do ser cognoscente [...] porque aprender é „reformar-se‟,
mudar de „forma‟, „diferenciar-se‟ para poder executar com técnica, isto é, com
virtuosidade, uma ação de real valor motórico (sic) (QUEIROZ, 1966, p. 53).

O autor rechaça a ideia da preparação psicológica dos atletas e da aprendizagem


desportista ocorrer a partir da fixação indiscriminada da imagem ou do “estímulo-condição”,
por esta não possuir confirmação científica e por acreditar que a aprendizagem “[...] é um ato
de conhecimento, ou seja, de vivência gnosiológica da „forma‟ cognoscível [...].” (QUEIROZ,
1966, p. 55).
Cita os estudo de Thorndike sobre o efeito dos exercícios e a melhoria da
performance, assim como, as primeiras experiências com LSD e seus efeitos sobre as funções
psíquicas. Reconhece as limitações das ciências biológicas sobre as potencialidades do
cérebro. Queiroz (1966) conclui o artigo definindo as práticas desportivas como atividades
psicossomáticas autocontroladas, que se realizam a partir dos centros nervosos (tálamo,
hipotálamo e tronco cerebral) e via excitação no córtex cerebral, regulando a atividade
psíquica (percepção e organização voluntária do movimento), sendo responsáveis pela
adequação do movimento ao esquema motor. Para ele a “boa forma” desportista não é efeito
da causalidade mecânica e pode ser explicada pela visão isomórfica de W. Köhler, assim
como pela teoria dos traços.
189

Além da presença nos periódicos como autores, havia os professores que assumiam
disciplinas de Psicologia Aplicada no Curso de Educação Física. Da ENEFD temos Carlos
Sanchez de Queiroz, Cecília Torreão Stramandinolli e Yesis Ilcia Y Amoedo Passarinho,
todos autores de alguns artigos presentes no periódico “Arquivos” da ENEFD. Também
encontramos Elisa Dias Veloso que, embora não vinculada a qualquer curso de Educação
Física, participa da Seção de Psicologia, criada na gestão de Inezil Penna Marinho na revista
Brasileira entre os anos 1947 e 1948, sucedendo Cecília Torreão Stramandinolli.
No âmbito da Psicologia aplicada ao esporte, Mira y Lopez pontua sua rápida, mas
intensa e conhecida participação, ao escrever um livro com Athayde Ribeiro “Futebol e
Psicologia”, em 1964. Mas é em sua inserção nos periódicos da Educação Física na primeira
metade desse século que sua participação, até então não mencionada na literatura, nos chama
a atenção.
Tais atores transitaram no cenário da Educação Física falando de Psicologia,
juntamente com outros tantos nomes de médicos, militares e educadores apresentados ao
longo dos demais capítulos. Estes aqui destacados participaram do que chamamos imigração
do saber psicológico, construindo um discurso psicológico direcionado ao universo da
atividade física e do esporte. Por isso, uma nova psicologia diz respeito a um novo fazer psi,
que vai além de um saber complementar à Educação Física. Com um discurso voltado aos
fenômenos do homem atleta e da realidade esportiva, essa nova psicologia cria as bases para o
que conhecemos hoje como Psicologia do Esporte.
Já vimos que a psicotécnica foi o cartão de visitas da Psicologia, em seu percurso de
institucionalização, ao inserir-se em diversas áreas. Ao que parece, no processo de construção
da Psicologia do esporte não foi diferente. As críticas de Queiroz (1954/55) sinalizam para um
uso excessivo e equivocado dos testes psicológicos também nesse campo.
Vale lembrar que, nesse período, a atuação de João Carvalhaes (1917-1976) como
psicólogo do São Paulo Futebol Clube, em São Paulo, já era uma realidade. No entanto,
nenhuma menção ou artigo foram encontrados nos periódicos pesquisados sobre ele.
Ressaltamos ainda que Carvalhaes sempre buscou legitimação de seu fazer como psicólogo.
No início dos anos 1950 tornou-se sócio efetivo da Sociedade Paulista de Psicologia e
em 1962 procurou reunir documentos que comprovassem sua atuação como tal para se
enquadrar na Lei n° 4119 de 27/08/6267, que regulamenta a profissão de psicólogo, mas só a
partir de 1975, pouco antes de falecer, quando os conselhos regionais passam a funcionar,

67
O artigo 21° da lei permite que aquele que comprovar exercício de atividades próprias do psicólogo durante
cinco anos a obtenção do registro profissional junto ao Ministério da Educação e Cultura.
190

conseguiu o registro n° 29 no Conselho Regional de Psicologia Paulista (CRP/SP)


(CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA, 2011).
Assim sendo, não podemos afirmar que tais críticas se referiam a esse trabalho ou que
João Carvalhaes pudesse se encaixar na descrição de “pseudocientista”, por ser um jornalista
aplicando testes psicológicos. Outros como Lourenço Filho e Emílio Mira y Lopez criaram e
aplicaram testes psicológicos em um tempo onde a Psicologia ainda não era regulamentada.
As críticas de Queiroz talvez se refiram às pessoas que exerciam a prática psicológica com
competência, estudo e cuidado duvidosos.
Participando da história de formação do Instituto de Psicologia da antiga Universidade
do Brasil, onde foi um dos diretores no período de 1967-1970, Carlos Sanchez Queiroz
mostrava-se um crítico feroz do uso exacerbado e irresponsável das práticas psicotécnicas e
defendia seu uso apenas pelas mãos dos médicos, os quais considerava os mais capacitados
para essa prática. Tal fato, talvez ajude a entender a ausência de artigos dos praticantes
contemporâneos dessa nova psicologia, reconhecidos nacionalmente, como João Carvalhaes e
Athayde Ribeiro no periódico dessa escola, uma vez que além de não serem médicos não
faziam parte do universo acadêmico.
Essa é apenas uma inferência com base nas lacunas que permanecem nesse percurso,
talvez mais um exemplo da dialética entre teoria e prática, como vimos no início dessa tese,
no primeiro capítulo, quando nos referimos a ausência de artigos sobre essa temática também
nos primeiros da Psicologia, pois estes pareciam dedicar-se a enfoques diversos, como
esclarece Jacó-Vilela (1998) quando estabelece uma análise comparativa entre esses dois
primeiros periódicos de psicologia no Brasil.68

Os primeiros espaços da Psicologia no Brasil – os laboratórios e institutos –


normalmente objetivavam tanto a produção de conhecimento quanto a atuação
profissional. Entretanto, [...] embora trabalhos de cunho marcadamente teórico
tivessem uma presença constante em todo periódico estudado, em cada época
encontramos uma ênfase específica em determinada vertente prática [...] (JACÓ-
VILELA, 1998, p. 144).

Para a autora, as duas – teoria e prática – em geral apareciam de forma completamente


desvinculada, o que favorecem que tais contextos sejam percebidos internamente na

68
Os “Arquivos Brasileiros de Psicotécnica” foi um periódico caracterizado por uma ênfase na prática da
psicologia e divulgação dessa prática aplicada junto às empresas e indústrias, criado pela Associação
Brasileira de Psicotécnica. Seus artigos eram escritos por pesquisadores do ISOP. O “Boletim” (1952-1974),
periódico do IP era dedicado à produção teórica e reflexiva dos professores do IP, nos moldes científicos da
época.
191

Psicologia como dicotômicos e inconciliáveis, gerando obstáculos para uma prática coesa e
consistente.
De fato, na revista da ENEFD, além de Carlos Sanchez, só vemos publicações
referentes à Psicologia no desporto aquelas de Cecília T. Stramandinolli, sua assistente de
cátedra e de Yesis Amoedo y Passarinho, também catedrática da cadeira de Psicologia
Aplicada. Dos autores sem vínculo com a ENEFD, aparecem artigos do professor do
Departamento de Educação Física de São Paulo Miranda Rosa (com pseudônimo Pio Piano
Junior) e do psicólogo Emílio Mira y Lopez.
Como vimos, a polêmica sobre o mau uso dos testes psicológicos também está
presente na gênese da Psicologia do Esporte e, nesse caso, é denunciado por um médico
inserido na Psicologia e preocupado com as consequências de tal uso. Não se pode descartar
também a possibilidade de disputa desse mercado, ainda em construção na época e que hoje é
restrito aos psicólogos e pedagogos.
O processo de regulamentação da Psicologia cercou-se de conflitos com a Medicina e
as palavras de Carlos Sanchez no Congresso de Medicina Desportiva realizado em São Paulo
(1954) revelam algumas pretensões sobre a prática da Psicologia, pois para ele,

[...] o prestígio cultural e científico de que desfruta o médico especializado nos


meios esportivos é de tal ordem que, para o exercício honesto e fecundo de suas
atribuições, ele não se poderá limitar ao terreno da medicina preventiva ou
terapêutica; ele terá que ser também, e quiçá principalmente, um psicólogo do mais
alto quilate ou, então não será o profissional esclarecido e seguro que a
especialidade exige [...] (QUEIROZ, 1954/1955, p. 107).

Ainda assim, podemos ver a contribuição de Carlos Sanchez ao apresentar também em


seus artigos, um discurso propondo aos dirigentes esportivos, a utilização da “psicologia
aplicada” para atuar na seleção e orientação dos desportistas, um discurso corroborado por sua
assistente de cátedra na ENEFD Cecília Torreão Stramandinolli. Ambos enfatizam a
necessidade de os psicólogos fazerem parte das delegações desportivas a fim de selecionar e
orientar os atletas para as competições com bases científicas e objetivas.
Analisamos essa repetição nos discursos como uma argumentação, visando convencer
a sociedade intelectual do critério de cientificidade presente na aplicação da Psicologia ao
desporto – da funcionalidade e benefícios de tais práticas – uma vez que este era um periódico
acadêmico.
Desse modo, o discurso encontrado nos artigos do final dos anos 1950 em diante,
especialmente os de Cecília Stramandinolli e Carlos Sanchez Queiroz, na revista Arquivos,
192

cada um à sua maneira, parecem clamar pelo reconhecimento científico e prático de um novo
fazer por eles denominado “psicologia aplicada ao desporto”.
Ainda que fosse hibridizado com outros fazeres psi e caracterizado pela separação
entre teoria e prática, representa uma segunda aproximação entre a Psicologia e a Educação
Física delineando o que estamos chamando nova psicologia, pois de fato não é sinônimo da
Psicologia do Esporte como a conhecemos hoje, uma prática psicológica que produz
conhecimento. Mas sem dúvida essa construção ocorreu de forma gradativa, desde a da
atuação de médicos, militares, educadores físicos e psicologistas, interessados em conhecer
melhor os fenômenos humanos diante da prática de atividade física e dos esportes.
193

4 CONTAGEM REGRESSIVA

O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas;


é quem faz as verdadeiras perguntas.

Claude Levi-Strauss

No momento final em que me deparo com uma contagem regressiva dos fatos
documentados, convém que eu sintetize as análises desenvolvidas nessa tese sem o caráter de
conclusão, tendo em vista que o propósito era desvelar elementos, até então desconhecidos da
história da Psicologia e da Psicologia do Esporte. Também problematizo alguns pontos
relevantes que se assemelham às questões contemporâneas experienciadas no fazer psi,
especialmente na Psicologia do Esporte. Para isso, peço, mais uma vez ao leitor, licença para
me reportar na primeira pessoa.
Julgo que não há como dissociar o percurso de construção da Psicologia do Esporte no
Brasil dos eventos políticos e sociais ocorridos no recorte histórico (1930-1960), escolhido
por esta pesquisa, assim como do processo de institucionalização da Psicologia e da Educação
Física, que ocorrem em paralelo, com destaque para as primeiras escolas desta última área e
seus periódicos.
Revisitar os primeiros periódicos da Educação Física possibilitou-me conhecer, década
a década, suas demandas e reivindicações relativas à profissão; as inserções teóricas de
saberes que complementaram seu fazer; a postura de alguns personagens e a participação de
instituições relevantes nas transformações ao longo desse percurso, como o Exército e a
Universidade do Brasil.
Diante da necessidade de formar não apenas soldados, mas cidadãos, foi acontecendo
a constituição de novos campos como a Educação Física, apoiada pelas Forças Armadas e
outros saberes como a Medicina, Educação e a Psicologia. A Educação Física era vista por
vários setores e pela sociedade como atividade Militar e o Exército, por sua vez, também vivia
momentos de transformações em termos doutrinários, organizacionais e de instrução. Estava
intimamente ligado aos projetos nacionais como formador, além de seu papel na defesa do
país (CASTRO, 1997).

[...] Nas primeiras décadas do século XX, esse quadro alterou-se significativamente,
no sentido da modernização e da profissionalização do Exército. A formação de
oficiais passou por uma fase de predomínio dos aspectos profissionais e, com a
reforma implementada por José Pessoa, comandante da Escola Militar entre 1930 e
1934 [...] (CASTRO, 1997, p. 2).
194

Essa época foi marcada por movimentos na formação ideológica e política do país, dos
quais destacamos os movimentos da Escola Nova, o eugênico e o higienista, por participarem
de forma significativa nos discursos encontrados nos periódicos da Educação Física. A
necessidade de constituir uma Nação potente frente às demandas da Modernidade, exigia que
seu povo fosse preparado à altura para atendê-las. Os movimentos citados foram úteis nesse
sentido, ilustrando a participação da Educação Física no processo civilizatório do Brasil,
solicitando a Psicologia como um saber complementar e estabelecendo as primeiras
aproximações com seus conceitos e teorias, que também se faziam presentes em instituições
educacionais de saúde mental, nos laboratórios de psicologia experimental, nas escolas
normais, assim como na Liga de Higiene Mental.
Considero importante, no sentido de que superou minhas expectativas encontrar,
durante a pesquisa, o saber psicológico aplicado à atividade física em ambiente militar,
relacionando-se à Educação Física, à Medicina e à Educação, numa época em que a
Psicologia ainda engatinhava em seu processo de institucionalização e vinte anos antes do que
é reconhecido como marco fundador da Psicologia do Esporte, o psicólogo João Carvalhaes.
Diante do acervo extenso e valioso encontrado nos primeiros periódicos de Educação
Física – documentos públicos e fontes documentais dessa tese – realizei uma triagem e análise
cuidadosa dos artigos selecionados, que se referiam à Psicologia ou a algum de seus
fenômenos que julguei serem indícios da inserção do saber psicológico no cenário esportivo.
Construí uma narrativa sobre um viés da história da Psicologia do Esporte no Brasil.
Identifiquei que o saber psicológico estava presente nesse universo em formas diversas,
apresentadas em duas fases.
A primeira fase (1930-1950), nomeada psicologia complementar por ser uma primeira
aproximação entre Psicologia e Educação Física. A Psicologia é abordada, em geral, em sua
diversidade teórica por parte dos educadores, médicos e militares envolvidos na Educação
Física, servindo de maneira complementar ao alcance de seus objetivos. Para tanto, o
profissional dessa área deveria aprofundar os conhecimentos psicológicos para motivar e
despertar o interesse de seus alunos nas aulas, como pude ver em alguns artigos de Lourenço
Filho, Arthur Ramos e Inezil Penna Marinho. Este revelou-se um autor assíduo sobre a
Psicologia aplicada em searas diversas nos anos 40.
Identifiquei uma preocupação dos profissionais de Educação Física com sua
metodologia, buscando uma educação integral, que incluía aspectos físicos, intelectuais,
morais e psicológicos para avançar em seu processo de construção como prática profissional.
Arrisco-me a dizer que a valorização desses aspectos psicológicos também favoreceu à
195

utilização da Psicologia na compreensão dos fenômenos emergentes relativos à atividade e


física e à formação do cidadão ideal para a nação.
Para tanto dentre as teorias e conceitos encontrados há destaques sobre personalidade,
caráter, processos psicológicos, desenvolvimento humano, aprendizagem, psicopatologia,
deficiência e comportamento social, diluídos nos periódicos pesquisados. O conhecimento
dessa demanda psicológica por parte dos educadores físicos, tornou-se mais uma, dentre
tantas, no rol de atribuições e responsabilidades destinadas a eles, seja na educação escolar ou
na prática de esportes. Relembrei que os autores, tanto os brasileiros como estrangeiros, ao
fundamentarem seus artigos, apresentavam teóricos relevantes em outros campos como na
Educação, na Sociologia, na Filosofia, como base para suas ideias.
Concomitantemente a isso, constatei o surgimento do início de um processo de
aplicação do saber psicológico no campo da Educação Física e dos esportes. Nos anos 1950-
1960, essa forma aplicada sinaliza uma segunda aproximação entre esses campos, a partir do
uso dos testes psicológicos na seleção profissional, na seleção de técnicos, de árbitros de
atletas e de dirigentes, visando melhores resultados no esporte, caracterizando a fase prática
psicológica e o esboço de uma nova psicologia.
Nas primeiras décadas do recorte temporal da tese, pelo que pesquisei, não se
observava as características atuais da Psicologia do Esporte, mas sem dúvida anunciava-se a
inserção da Psicologia e a construção de um novo fazer psi. Se antes a Psicologia atendia às
demandas da Educação Física através de suas concepções teóricas, agora passava a servir e
criar novas searas na prática esportiva, caracterizando uma gênese do que chamamos hoje
Psicologia do Esporte.
Os periódicos de Educação Física, portanto, serviram de palco para a estreia daqueles
que consideramos os primeiros personagens a tratar da relação entre Psicologia e Esporte.
Utilizando uma linguagem bem próxima à Psicologia do Esporte na atualidade, cabe destacar
a Revista Arquivos como o periódico em que essas cenas podem ser assistidas com mais
clareza, especialmente nas figuras de Carlos Sanchez Queiroz e Cecília Torreão
Stramandinolli, que se preocuparam em defender o uso responsável de tais testes e a
viabilidade de aplicação da Psicologia aos esportes pela via da seleção profissional.
O resgate dessas informações nos periódicos de Educação Física foi uma surpresa e
um passo importante em minha caminhada sobre a história da Psicologia do Esporte no Brasil
ao encontrar, nos anos 1930, profissionais de outros campos discorrendo sobre temas relativos
ao saber psicológico, enquanto na Psicologia as primeiras publicações só surgiram a partir de
1949.
196

Considerei importante destacar os discursos de Carlos Sanches Queiroz, ao criticar


ações de pseudocientistas, com o uso improvisado de técnicas psicológicas (os testes)
empregando uma espécie “testomancia” (sic), desmoralizando a verdadeira ciência
psicológica, ao afirmar que,

[...] Se, porém, evitarmos a invasão dêsses pseudo-cientistas e confiarmos aos


psicólogos autênticos a missão de orientar e selecionar os desportistas, haveis de ver
que a Psicologia aplicada possui métodos de pesquisa rigorosamente científicos,
capazes de realizar este trabalho de maneira honesta e fecunda, compatível com a
dignidade humana e com os altos propósitos que inspiram as competições
desportivas (QUEIROZ, 1955, p. 112).

É natural que essas palavras tenham me despertado o desejo de saber: a quais


psicólogos ele se refere? Sabemos que João Carvalhaes e outros profissionais em São Paulo e
no Rio de Janeiro já trabalhavam como a psicometria, a exemplo de sua assistente Cecília
Torreão Stramandinolli. Não tenho intenção de responder, mas de problematizar esse fato.
Considerada uma das searas médicas, compartilhada apenas com o educador físico até
então, a Psicologia aplicada ao desporto precisava ser fortemente defendida da invasão dos
“pseudo-cientistas” que proliferavam no país, na visão de Carlos Sanchez. Sem desconsiderar
a veracidade de suas palavras, não descarto também a possibilidade de seu discurso
representar uma voz na luta política para demarcar território entre médicos e psicólogos no
mercado dos fenômenos psicológicos. Não há como desconhecer que, nesse período, a
Psicologia já iniciava um processo para legalizar a profissão de psicólogo e alguns embates
retardaram a concretização disso, como a disputa com a Medicina sobre a psicologia clínica e
a psicoterapia (BAPTISTA, 2010).
Em outra frente, Stramandinolli (1962), também na Revista Arquivos, sugere que a
orientação profissional científica é capaz de indicar o melhor trabalho para o homem e a
psicotécnica pode evitar, na vida desportiva, os inconvenientes identificados no mundo do
trabalho, pois considera o desporto como um instrumento de educação por favorecer a
correção, modificação ou supressão de “defeitos caracterológicos” em seus praticantes. Para a
autora,

[...] Se a tarefa ideal da Psicologia aplicada ao trabalho é a de transformar o trabalho


em jogo, suavizando o rigor das ocupações, [...] e despertando-lhe a alegria de
trabalhar, não é menos importante a tarefa que a Psicotécnica poderá empreender
para evitar, na vida desportiva,os inconvenientes verificados no mundo do trabalho.
Assim como a Orientação profissional é capaz de indicar o melhor trabalho para
cada homem, visando o bem-estar individual e social, a orientação desportiva
indicará o melhor desporto ao desportista (STRAMANDINOLLI, 1962, p. 88).

Além da relação com a Educação Física e a Medicina, pude perceber também a


presença da Psicologia aplicada às indústrias no processo de constituição da Psicologia do
197

Esporte. Como disse antes, a segunda fase do processo de construção dessa especialidade
também é delineada pela inserção de outros fazeres psi, caracterizando essa nova psicologia
por um hibridismo entre psicologia clínica e industrial através do uso de testes psicológicos
voltados para o diagnóstico de patologias e seleção profissional.
Como pesquisadora, procurei sintetizar pontos relevantes no discurso dos autores da
época a fim de atender aos propósitos dessa tese e iluminar alguns dos conflitos políticos
vividos na atualidade entre tais áreas. A valorização do saber psicológico pela Medicina e
Educação Física vai “além do tempo regulamentar”, pois, em algumas situações, extrapola seu
uso como um saber teórico e complementar.
Considero que, historicamente, os percursos da Educação Física e da Psicologia
ocorreram concomitantemente, mas com objetivos e interesses diversos. A Psicologia
demorou mais tempo a se firmar como disciplina autônoma, permanecendo como campo
auxiliar de outras disciplinas A Psicologia seguia mais preocupada em servir outras áreas e
menos em se estabelecer como ciência no Brasil. As consequências disto ainda respingam
hoje em suas especialidades como a Psicologia aplicada ao esporte, que continua
reivindicando seu espaço como uma especialidade frente á categoria profissional dos
psicólogos e á sociedade.
A Psicologia do Esporte do século XXI ainda enfrenta problemas relativos à sua
identidade como campo de atuação. Embora exista hoje uma Psicologia do Esporte no Brasil
com foco amplo de atuação, fundamentos teóricos e metodológicos definidos, característicos
de uma reconhecida especialidade do saber psicológico, ainda “[...] encontramos engenheiros,
médicos, professores de Educação Física e profissionais de outra formação universitária,
trabalhando e, até mesmo, 'treinando mentalmente' atletas [...]” (BRANDÃO, 1995, p. 140).
De fato, conforme Angelo (2003), só na segunda metade do século XX vemos
Psicologia do Esporte e da Atividade Física extrapolando suas funções diagnósticas originada
no estudo do desvio, do patológico, voltando-se para a promoção e prevenção de saúde.
Longe de ser uma postura corporativista essa constatação nos demonstra a dificuldade
de se estabelecer o lugar e a identidade do psicólogo do esporte em território nacional. Essa
falta de clareza e delimitação da atuação do psicólogo do esporte não é um problema do
passado e está relacionado não mais à sua inserção nos cursos de Educação Física, mas à falta
de inserção da Psicologia do Esporte nos cursos de Psicologia. Um saber sem a devida
legitimação em sua própria profissão é um saber disponível a todos que, por ele, tenham
interesse em conhecer e aplicar...
198

Não há como deixar de estabelecer uma relação entre o uso da Psicologia nas
primeiras décadas do século XX com as dificuldades atuais da Psicologia do Esporte. Desde o
primeiro momento de criação das escolas de Educação Física, a Psicologia é acolhida como
um saber complementar e assimilada como um dos conhecimentos necessários aos
profissionais dessa área.
Aparentemente, nada há de errado nisso, ao contrário, o conhecimento psicológico, de
fato, é uma necessidade na formação desses e de outros profissionais e as ciências
disciplinares são complementares entre si. O problema se estabelece, quando, mesmo após a
institucionalização da Psicologia (1962), e ainda mais recentemente, após o surgimento da
Psicologia do Esporte como especialidade (2000), ainda encontramos dificuldades em
delimitar de seu campo de atuação entre esses profissionais.
Também não há como desconsiderar a inabilidade política e acadêmica da própria
Psicologia nesse contexto. Se a Educação Física, desde as suas primeiras escolas reconheceu o
saber psicológico como disciplina acadêmica, o mesmo não ocorre nos cursos de Psicologia.
São raros os que oferecem uma disciplina curricular para tratar da Psicologia do Esporte. A
consequência disso é que, existe desconhecimento sobre a especialidade e ausência de
profissionais qualificados no mercado de trabalho. Resta, portanto, perguntar: o que fazer,
então, diante da falta de reconhecimento perante outras categorias profissionais? Essa questão
não se encerra aqui, uma vez que existem outros questionamentos e reflexões sobre situações,
que parecem se perpetuar ao longo da história.
Quero reafirmar que realizar essa pesquisa não foi um processo fácil. Não só pelo
tamanho da amostra ou pelas dificuldades durante o percurso, mas principalmente pela
dificuldade em estabelecer conexões em campos distintos e pouco familiares como História e
Educação Física. A maior preocupação estava no fato de estar inserida em algumas matrizes e
tendenciar a visão de pesquisadora. Mas havia muita disposição para enfrentar esse desafio,
relativizando a realidade e contextualizando o passado, assim como suas diferentes e
dinâmicas formas de expressão, além de reflexões críticas sobre o conhecimento que eu
estaria produzindo. Reconhecer o papel do Exército e da Educação Física no percurso
histórico de construção da História da Psicologia do Esporte foi um exemplo disso. Perceber
que os limites que separam os fazeres e saberes legitimados ou em construção são fluidos e
transitórios foi outro aprendizado que representam um prisma desse universo dinâmico e
contínuo que envolve eventos históricos e a subjetividade humana.
Se viver como disse Clarice Lispector ultrapassa qualquer entendimento, conhecer a
história nem sempre traz respostas, mas acalma algumas das incertezas do presente e confirma
199

esta tese no sentido da existência de um campo de crescimento da Psicologia do Esporte antes


de João Carvalhaes, relativizando seu lugar de marco histórico. Deixo ainda, muitas janelas e
questões para novos estudos, como o fato desse relevante personagem não aparecer em
nenhuma dessas revistas analisadas.
Espero que esse trabalho possa significar uma contribuição para a história da
Psicologia, em especial da Psicologia do Esporte no Brasil, não se esgotando em si mesmo as
possibilidades de novas descobertas, pois não resta dúvida, que em se tratando de história, a
diversidade de fatos e os eventos sociais são influências dinâmicas e constantes em cada
tempo histórico.
Tenho consciência de que muito ainda há para investigar e que as conclusões aqui
apresentadas podem gerar satisfações e discordâncias. Mesmo não estando imune e descolada
do universo desse estudo busquei construir uma narrativa histórica a partir do conteúdo dos
artigos pesquisados, o que me levou, em alguns momentos, a tecer análises mais calorosas ou
angustiadas. Afinal, foi na angústia da carência de informações e da ânsia de novas
descobertas sobre a Psicologia do Esporte que essa pesquisa se construiu.
200

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WEINBERG, Robert, A.; GOULD, Daniel. Fundamentos da psicologia do esporte e do


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219

APÊNDICE A – Todos os artigos dos periódicos citados na tese

ANO REVISTA AUTOR TÍTULO


A Contribuição da Educação Física na preparação
Maio/1944 BRASILEIRA Inezil Penna Marinho
do Soldado Brasileiro
Out/1946 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho Psicologia aplicada à torcida
Um estudo de Psicologia Social em uma equipe de
Ago/1944 BRASILEIRA Pio Piano Junior
futebol profissional
Psicologia aplicada à atividade física dos surdos
Nov/1946 BRASILEIRA Inezil P. Marinho
mudos
Psicologia aplicada à atividade física dos débeis
Dez/1946 BRASILEIRA Inezil P. Marinho
mentais
Jul/1947 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho Educação Física para desajustados da conduta
Conquiste a confiança de seu filho (ensaio de
Mar/1945 BRASILEIRA Inezil Penna Marinho
psicologia aplicado à infância)
Idyllio Alcântara de Oliveira A criança necessita de educação física para firmar
Jan/1945 BRASILEIRA
Abbade espiritual e fisicamente sua personalidade
Psicologia Aplicada à Educação Física da Criança
Mar/1947 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho
(cont. do anterior)
Jan/1948 BRASILEIRA Maria Helena Pabst de Sá O Campo Psicológico da Dança Educacional
Fev/1947 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho Psicologia Aplicada à Educação Física da Criança
Maio/1947 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho Psicologia Aplicada à Educação Física do Adulto
O Moderno Conceito Bio-Psico-Sócio-Filosófico
Jan/1948 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho
da Educação Física
Conceito bio-socio-psico-filosófico da Educação
Fev/1944 BRASILEIRA Inezil Penna Marinho Física em oposição ao conceito anatomo-
fisiológico
Ago-set./ Problemas psicológicos nos esportes e na
BRASILEIRA Emílio Mira y Lopes
1949 Educação Física
Jan/1948 BRASILEIRA Emílio Mira y Lopes Ginoterapia
A Seleção Profissional do professor de Educação
Fev/1948 BRASILEIRA João Nazareth
Física
Psicologia e Educação Física: IV Atributos da
Ago/1944 BRASILEIRA Lourenço Filho
personalidade
Psicologia e Educação Física: I – de como se
Abr/1944 BRASILEIRA Lourenço Filho
propõe o problema
Psicologia e Educação Física: III Como observar
Jun/1944 BRASILEIRA Lourenço Filho
os alunos
Jan/1947 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho Psicologia Aplicada ao Desportista
Mar/1946 BRASILEIRA Sem autoria Indicador profissional
Fev/1946 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho Nova direção
Jan/1946 BRASILEIRA Inezil Pena Marinho Feliz 1946 para a Educação Física
Jan/1947 BRASILEIRA Inezil P. Marinho 1946 – Desilusões!...1947 – Esperanças!...
Jan/1944 BRASILEIRA Sem autoria Nosso programa
Mar- Psicologia na Educação Física (cont. artigo
Ed. PHYSICA Jackson R. Sharmann
Abr/1939 anterior)
Fev/1939 Ed. PHYSICA Jackson R. Sharmann Psicologia na Educação Física
Psicologia e Metodologia aplicadas ao exercício
Out/1941 Ed. PHYSICA Jackson R. Sharmann
físico
Psicologia e Metodologia aplicadas ao exercício
Nov/1941 Ed. PHYSICA Jackson R. Sharmann
físico (cont. do anterior)
Jan-
Ed. PHYSICA Mário de Queiroz Rodrigues Educação Física e Motivação
Fev/1945
Jan/1940 Ed. PHYSICA Sem autoria A Inteligência aplicada à condução do automóvel
Maio/1941 Ed. PHYSICA Peregrino Junior O músculo e a inteligência
Mar/1941 Ed. PHYSICA Vieira de Melo Inteligência e Desportos
220

ANO REVISTA AUTOR TÍTULO


Rápidos traços caracteriológicos dos frívolos e
Dez/1939 Ed. PHYSICA Renato Kehl
fúteis
Jun/1940 Ed. PHYSICA Philippe Tissiê Classificação dos caracteres
Ago/1941 Ed. PHYSICA Mary Halton O caráter de seu filho depende de você
A histeria de correr: uma das mais estranhas e
Fev/1939 Ed. PHYSICA Américo R. Neto
estúpidas psicoses do automobilista
Jan/1940 Ed. PHYSICA Bertha M. Schools Recesso para a formação do caráter
Jul/1940 Ed. PHYSICA Nicolau Ciancio Crianças nervosas
Mar-
Ed. PHYSICA Nicolau Ciâncio Crianças nervosas
Abr/1943
Maio -Jun/
Ed. PHYSICA Pablo Cardini Porque fracassam seus nervos
1944
Dez/1939 Ed. PHYSICA Hollanda Loyola Educação Moral
Ago/1940 Ed. PHYSICA Inácio Freitas Rolim Educação Moral e Educação Física
Jan-
Ed. PHYSICA Hermes Lima A má educação, fonte de má saúde física e moral
Fev/1945
Nov/1939 Ed. PHYSICA Hollanda Loyola Educação Moral
Considerações sobre o ensino da Psicologia
Dez/1941 Ed. PHYSICA Raul Clemente Rego Barros
aplicada a Educação Física
A Educação Physica: como deve ser compreendida
Dez/1938 Ed. PHYSICA Sem autoria
e praticada
Jul/1941 Ed. PHYSICA George Heberth Os perigos morais do esporte
Fev/1941 Ed. PHYSICA James Lee Ellenwood A arte de formar o caráter de nossos filhos
Dez /1938 Ed. PHYSICA A. Austragésilo Educação Physica
Jul/1939 Ed. PHYSICA Alex Riedel Educação Moral
Dez 1937 Ed. PHYSICA Sem autoria O Código Moral de um atleta
Fev/1939 Ed. PHYSICA Sem autoria A posição do corpo e a personalidade
Ago/1939 Ed. PHYSICA Paulo Stempniewski O Esporte e a Inteligência
Dez/1939 Ed. PHYSICA Lourenço Filho Educação Física e a futura raça brasileira
Jun/1942 Ed. PHYSICA Eduardo Podolsky Sobre a anatomia da inteligência
Dez/1936 Ed. PHYSICA Mac Cloy Características de um verdadeiro “leader”
Dez 1937 Ed. PHYSICA Mac Cloy Como deve ser um “leader” esportivo
Ago/1941 Ed. PHYSICA Emile Durkheim Educação
Formação física e o caráter (continuação do n.
Mar/1941 Ed. PHYSICA Arthur Ramos
anterior)
Nov/1938 Ed. PHYSICA Aléxis Carrel Consciência, Inteligência e Senso moral
Maio-Jun/ A influência de um uso adequado do tempo livre
Ed. PHYSICA Julio Rodriguez
1944 na felicidade dos povos
Abr/1941 Ed. PHYSICA Arthur Ramos Formação física e o caráter (continua no n. 53)
Mar-Abr/
Ed. PHYSICA Emílio Mira y Lopez Psicopedagogia da sociabilidade
1939
Psicologia aplicada à educação física (continuação
Abr/1941 Ed. PHYSICA Fhilippe Tissié
do n. anterior)
Psicologia aplicada à educação física (continua no
Mar/1941 Ed. PHYSICA Fhilippe Tissié
n.53)
Abr/1937 Ed. PHYSICA José Faustino Filho A educação physica no exército
Abr/1940 Ed. PHYSICA Paul Doumer A família
Nov/1938 Ed. PHYSICA Contra Capa Objetivos da revista
Jan-
Ed. PHYSICA Expediente - Sumario
Jun/1932
Dez/1957 ARQUIVOS Yesis Ilcia Y Amoedo Passarinho O Comportamento Social nas Atividades de Equipe
Programas de educação física para o jardim de
Maria Jacy Vaz e Cecília T.
Jun/1947 ARQUIVOS infância e escolas primária, secundária, comercial,
Stramandinolli
normal e superior
Jun/1946 ARQUIVOS Maria Helena Pabst de Sá Earp O Campo Psicológico da dança educacional
Redescoberta da família pelo mundo
Dez/1958 ARQUIVOS Cecília Torreão Stramandinoli
contemporâneo
Condições psicológicas para aplicação do ensino-
Jun/1964 ARQUIVOS
Carlos Sanchez de Queiroz de-qualidade à higiene, à educação e à recreação
221

ANO REVISTA AUTOR TÍTULO


A investigação psicológica no controle científico
1954-1955 ARQUIVOS Carlos Sanchez de Queiroz
das atividades desportivas
Jun.- Reflexões de um Psicólogo Médico sobre a
ARQUIVOS Carlos Sanchez de Queiroz
Dez/1963 Medicina Desportiva
Coalescência dos fenômenos Neuro-Psicológicos e
Out/1966 ARQUIVOS Carlos Sanchez de Queiroz
seu significado Heurístico em Educação Física
Necessidade de orientação na prática de atividades
Jun/1962 ARQUIVOS Cecília Torreão Stramandinolli
desportivas
Contribuição da Psicologia à Orientação
Jun/1964 ARQUIVOS Cecília Torreão Stramandinolli
Desportiva
Jun/1946 ARQUIVOS Emílio Mira y Lopez Ginoterapia
Necessidade de seleção vocacional nas Escolas de
Jun/ 1961 ARQUIVOS Ruy Gaspar Martins
Educação Física
A Educação Física como fator de integração
Dez/1966 ARQUIVOS Carlos Sanchez de Queiroz
Psicossocial
Jan/1953 ARQUIVOS Carlos Sanchez de Queiroz Seção Noticiário – Posse Catedrático
Out/1945 ARQUIVOS Peregrino Junior Nosso aparecimento
Jan/1953 ARQUIVOS Peregrino Junior Noticiário: posse de catedrático
Biotipologia, Endocrinologia e Psicanálise (Pende,
Mar/1933 EsEFEx Floriano Stoffel
Kretschmer e Freud)
O Técnico desportivo e o conhecimento de sua
0ut/1958 EsEFEx Jair da Graça Raposo
especialidade
Dez/1957 EsEFEx Jair da Graça Raposo A infância, a adolescência e a formação do caráter
A infância, a adolescência e os problemas da
Nov/1957 EsEFEx Jair da Graça Raposo
orientação educacional
Necessidade da Educação Física para firmar
Abr/1942 EsEFEx Adílio Alcantara Abbade
espiritual e fisicamente a personalidade da criança
Conduta da criança: significação psicológica de
Dez/1935 EsEFEx Sem autotria
sua conduta durante os jogos
Educação e Cultura Física (palestra no centro de
Abr/1933 EsEFEx Lourenço Filho
educação física da Fortaleza São João)
Out/1952 EsEFEx Lourenço Filho Educação Integral
Jul/1952 EsEFEx Peregrino Junior Sentido Espiritual da Educação Física
Abr/1956 EsEFEx Maurício de Medeiros Exercício físico e psicoterapia
Importância da Educação Física para um Povo:
Jul/1932 EsEFEx Antonio de Mendonça Molina
método adotado – razões de sua adoção
Mar/1935 EsEFEx Inácio de Freitas Rolim Educação Moral e Educação Física
Abr/1935 EsEFEx William James A psicologia vista por um psicólogo
Abr/1953 EsEFEx Mário Gonçalves Viana Psicologia do Adolescente
Jun/1935 EsEFEx Lourenço Filho Psicologia e Educação Física
Jun/1935 EsEFEx Sem autoria Objetivos psicológicos na educação física
Abr/1933 EsEFEx Sem autoria Aula Inaugural do Curso de Psicologia
Out/1935 EsEFEx Sem autoria Psicologia da Educação Física
Jan-
EsEFEx Albino Manoel da Costa Psicologia e o ensino da Educação Física infantil
Jun/1950
A divisão de Psicologia Aplicada no Ministério da
Ago/1959 EsEFEx Jair da Graça Raposo
Educação Física e Desportos
Considerações sobre o exame psicológico dos
Nov/1947 EsEFEx Raul Clemente do Rego Barros
árbitros de futebol
Necessidade de assistência física e psíquica ao
Abr/1954 EsEFEx Jayr Jordão Ramos
convalescente
Jan-
EsEFEx Sem autoria “Inauguração do Estádio, 16 de junho de 1950”
Jun/1950
Abr/1933 EsEFEx J. R. Toledo de Abreu Cruzada Cívica e Eugênica do C.M.E.F
Ich Rufe Die Jugend der Welt (eu chamo a
Out/1933 EsEFEx J. R. Toledo de Abreu
mocidade do mundo)
Nov/1933 EsEFEx J. R. Toledo de Abreu Um ano de atividade
Jan/1933 EsEFEx Sem autoria A eugenia e a constituinte
222

ANO REVISTA AUTOR TÍTULO


O método francês em face da criação de outros
Mar/1948 EsEFEx Sem autoria
métodos adaptáveis ao Brasil
Maio/1932 EsEFEx João Ribeiro Pinheiro Militarismo e educação física
Jan/1933 EsEFEx João Ribeiro Pinheiro Dia glorioso
1º Congresso Brasileiro de Medicina da Educação
1949 EsEFEx Wlademar Areno
Física e Desportos
Ago/1933 EsEFEx João Ribeiro Toledo de Abreu
Hegemonia e raça
Nov/1933 EsEFEx Plínio Olinto Educação física e educação psíquica
Brasileira = Revista Brasileira de Educação Física
Ed. PHYSICA = Educação Physica Revista Thecnica de Esportes e Athletismo
Arquivos = Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos
EsEFEx = Revista de Educação Física
223

APÊNDICE B – Notas biográficas

Albino Manoel da Costa foi instrutor de educação física infantil da escola primária Mem de
Sá e ex-aluno da classe de Psicologia aplicada do Curso de Extensão Universitária da
Faculdade do Brasil.

Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000) pernambucano, advogado, jornalista,


ensaísta, historiador, professor e político. Foi presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool,
de 1938 a 1945. Deputado federal por Pernambuco, na Assembléia Constituinte de 1946. Na
Câmara dos Deputados, em 1946, foi membro da Comissão de Finanças e designado relator
do orçamento do Ministério da Guerra. Cf. BIBLIO. Biografias: Lima Sobrinho. Disponível
em: <http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/biogra
fias/barbosalimasobrinho.htm > Acesso em: 22 out. 2009.

Alexis Carrel (1873-1944) Fisiologista, cirurgião, biólogo e sociólogo francês. Nascido em


Saint Foy-lès-Lion e naturalizado americano. Estudou medicina na universidade de sua
cidade, na Universidade de Lion, onde se graduou (1900).

Alfred Fessard (?) médico francês e professor do Collège de France e um dos primeiros a
estudar sobre o funcionamento eletroquímico do cérebro. Cf. INSTITUT DE
NEUROBIOLOGIE ALFRED FESSARD. Presentation. Disponível em: <http://www.inaf.
cnrs-gif.fr/accueil.html>. Acesso em: 15 dez. 2011. Dirigiu o laboratório criado pela Liga de
Higiene Mental no Rio de Janeiro em 1922 (MASSIMI; GUEDES, 2004).

Aloysius Taparelli (1793-1862) nasceu em Turim, Itália, filósofo e escritor de livros como
“Soberania do Povo (1848) e “Os Fundamentos da Guerra” (1847), além de vários artigos
para “Civilità Cattolica” sobre economia, política e direitos sociais. Cf. NEW ADVENT.
Aloysius Taparelli. Disponível em: <http://www.newadvent.org/cathen/14449a.htm>. Acesso
em: 10 out. 2011.

Angelo Mosso (1846-1910) médico e fisiologista italiano sobre fadiga muscular, integrando
conceitos fisiológicos, filosóficos e psicológicos em seus estudos experimentais. Cf. GIULIO,
Camillo di; DANIELE, Franca; TIPTON, Charles M. Angelo Mosso and muscular fatigue:
116 years after the first congress of physiologists: IUPS commemoration. Advances in
Physiology Education, n. 30, p. 51-57, 2006.

Arthur Ramos de Araújo Pereira (1903-1949), médico também foi Diretor da seção técnica
da Liga de Ortofrenia e Higiene mental do Departamento de Educação e Cultura do distrito
Federal (1934). Com a criação da Universidade do Distrito Federal em 1935, assume a cátedra
de Psicologia Social, o que o leva a escrever Introdução à Psicologia social (1936). Em 1946
torna-se catedrático em Antropologia na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do
Brasil. Destacou-se na construção do mito da democracia racial e no processo de
institucionalização das Ciências Sociais no Brasil. Cf. CAMPOS, Regina Helena de Freitas
(Org.). Dicionário biográfico da psicologia no Brasil: pioneiros. Rio de Janeiro: Imago,
2001).

Belisário Augusto de Oliveira Pena (1868-1939) médico formado na Bahia, foi Diretor do
Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) (1930) e Ministro da Educação e Saúde
224

(1931). Cf. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Pesquisa e Documentação de


História Contemporânea do Brasil. Belisário Pena. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/
producao/dossies/AEraVargas1/biografias/belisario_pena>. Acesso em: 15 maio 2010.

Bertha M. Schools: inspetora assistente de Educação Física de Baltimore, Maryland.

Carl Gustav Jung (1875-1961) médico suíço dedicou-se a compreender a mente humana em
relação a cultura. Discidende do pensamento freudiano, criou sua própia concepção teórica, a
Psicologia Analítica, que incluía uma classificação tipológica da personalidade baseada na
noção de arquétipos. Entre suas publicações estão: Os Tipos Psicológicos (1920); Psicologia
do Inconsciente (1943) e O Homem e seus Símbolos (1977). Cf. ACADEMIA BRASILEIRA
DE PSICOLOGIA. Carl Gustav Jung. Disponível em: <http://www.psicologia.org.br/
internacional/artigo7.htm>. Acesso em: 29 nov. 2011.

Cecília Torreão Stramandinoli (1913-) professora assistente da cátedra de Psicologia


Aplicada na Escola de Educação Física e Desportos (ENEFD) da Universidade do Brasil. Na
tese falamos mais sobre ela no capítulo 3.

Christian Von Ehrenfels (1959-1932) psicólogo austríaco precursor da escola Gestalt com
sua obra Gestaltpsychologie (1890).

Clemente Mariani Bittencourt (1900-1981) nascido na Bahia, atuou como advogado e


jornalista. Também seguiu carreira política como deputado em seu Estado. Assumiu a pasta
da Educação e Saúde Pública em 1946, no governo Dutra. Cf. FUNDAÇÃO GETÚLIO
VARGAS. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil.
Clemente Mariani Bittencourt. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies
/AEraVargas2/biografias/clemente_mariani>. Acesso em: 16 dez. 2011.

Dublineau e George Heyer, educadores e ortofrenistas dos anos 1930. Não encontramos
referências sobre Courthial e Néron.

Edgard Roquette-Pinto (1884-1954) médico legista, antropólogo, membro da Academia


Brasileira de Letras e diretor do Museu Nacional (1915-1936). Considerado pai da radiofusão
no Brasil, também é referência nos sobre a constituição do povo brasileiro a partir da
anatomia racial e teses de eugenia no final dos anos 1920. Ver mais em Inventário Analítico
do Arquivo de Antropologia Física do Museu Nacional. Cf. UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO DE JANEIRO. Museu Nacional. Roquette-Pinto: um brasileiro realista e idealizador.
Disponível em: <http://www.museunacional.ufrj.br/MuseuNacional2010/Principal/
siteroquete/>. Acesso em: 10 set. 2011; ACADEMIA BRASILEIRA; ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS. Roquette-Pinto: biografia. Disponível em:
<http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=198>. Acesso em: 10 set.
2011; SANTOS, Ricardo Ventura; SILVA, Maria Celina Soares de Mello. Inventário
analítico do arquivo de antropologia física do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu
Nacional, 2006. (Série Livros, 14). Disponível em: <http://www.museunacional.ufrj.br
/antropologia_biologica/pdf/inventario_antropologia_fisica.pdf>. Acecsso em: 10 set. 2011.

Édouard Claparède (1873-1940): Médico e psicólogo suíço é considerado um dos pioneiros


no estudo da psicologia da criança, a partir de um enfoque interacionista sobre a gênese dos
processos cognitivos.
225

Elisa Dias Veloso (1914- ) coordena a seção de psicologia na Revista Brasileira de Psicologia
no período de 1947-1948 . Também trabalhou no ISOP (1945-1948). Com Mira y López no
Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, em um curso sobre seleção,
orientação e readaptação profissional de 1936 a 1941. Cf. CAMPOS, Regina Helena de
Freitas (Org.). Dicionário biográfico da psicologia no Brasil: pioneiros. Brasília, DF:
Conselho Federal de Psicologia, 2001.

Émile Durkheim (1858-1917) Dentre suas principais obras: Da divisão social do


trabalho (1893); O suicídio (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Também
fundou a revista L‟Année Sociologique. Cf. CIÊNCIA.ORG. Durkheim e sociologia.
Disponível em: <http://www.consciencia.org/durkheim-e-a-sociologia>. Acesso em: 12 abr.
2011.

Emílio Mira y López (1896-1964) psicólogo espanhol que veio para o Brasil em 1941. Foi
convidado a trabalhar na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, ajudou a criar o SENAI
(1942) e o Instituto de Seleção e Orientação Profissional, o ISOP (1947). Nesse instituto
fundou um dos periódicos mais representativos no âmbito da psicologia no Brasil, a Revista
Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, existente até hoje com o nome de Arquivos Brasileiros
de Psicologia. Cf. Campos (2001) e Cf. ACADEMIA BRASILEIRA DE PSICOLOGIA.
Mira y López: pioneiro da psicologia e dos direitos humanos. Disponível em:
<http://www.psicologia.org.br/internacional/artigo3.htm>. Acesso em: 16 set. 2011.

Ernst Kretschmer (1888 -1964) psiquiatra alemão, pesquisou sobre a constituição física o
temperamento. Entre suas obras estão Constituição e caráter (1947), onde demonstrou uma
teoria biotipológica que leva seu nome e que estabelece uma correlação entre os tipos
morfológicos os tipos e personalidade. INFOBIOGRAFIAS. Biografia e vida de Ernst
Kretschmer. Disponível em: <http://pt.infobiografias.com/biografia/23114/Ernst--
Kretschmer.html>. Acesso em: 28 nov. 2011.

Eusébio de Queiroz Lima escreveu “Princípios de Sociologia Jurídica em 1922.

Fernando Augusto Ribeiro Magalhães (1878-1944) médico obstetra e reitor da


Universidade do Rio de Janeiro (1913). Atuou na política nacional como deputado do Rio de
Janeiro (1934). Um nome importante na história da Educação Física. Ocupou a cadeira 23 na
Academia Brasileira de Letras. Cf. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Fernando
Magalhães: biografia. Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/
start.htm?infoid=539&sid=308>. Acesso em: 24 nov. 2011.

Fernando de Azevedo (1894-1974) educador e sociólogo, adepto das ideias de E. Durkheim


no Brasil, foi um dos expoentes do movimento da Escola Nova. Participou da fundação da
Universidade de São Paulo, onde foi diretor do Instituto de Educação (1933-1938) e Diretor
da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (1941-1943) e Secretário da Educação e Saúde do
Estado de São Paulo (1945) (PILETTI, 1994).

Floriano Stoffel auxiliar técnico da cadeira de Clínica Propedêutica Médica da Faculdade de


Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, Assist. gabinete de Biologia do Serviço do prof.
Rocha Vaz

Francisco José de Oliveira Vianna (1883-1951) sociólogo e Jurista no Rio de Janeiro, entre
suas funções estava ser Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Dentre suas
226

obras destacamos “Pequenos estudos de psicologia social” (1921) e “Raça e assimilação”


(1932), onde o autor tratava de suas ideias polêmicas sobre a eugenia. Cf. ACADEMIA
BRASILEIRA DE LETRAS. Oliveira Viana: biografia. Disponível em: <
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=423&sid=136>. Acesso
em: 12 out. 2011.

Georges Hébert (1875-1957) educador físico francês, averso às formas de exercícios


baseados na formalidade ou artificialidade como a ginástica, criou o Méthode
Naturelle (Método Natural de Educação Física) que se baseava no retorno aos movimentos
naturais (SOARES, 2002).

Gordon Allport (1897-1967) um dos precursores das teorias da personalidade, baseava-se na


noção de traços e acreditava na individualidade e singularidade da pessoa. Cf. FEIST, Jest;
FEIST, Gregory J. Theories of personality. Disponível em: <http://highered.mcgraw-
hill.com/sites/0072316799/student_view0/part4/chapter14/chapter_outline.html>. Acesso em:
12 set. 2011.

Gustav Le Bon (1841-1931) etnógrafo, arqueólogo, biólogo e sociólogo francês. Autor de


várias obras nas quais expôs teorias sobre superioridade racial, comportamento de massa.
Dentre elas estão La vie: physiologie humaine (1872), L'homme et les societés, leurs origines
et leur histoire (1877) e La Psychologie des foules (1895). Cf. LE BOM, Gustav. Disponível
em: <http://www.eltercertiempo.com.ar/ventanitas/Biog_Le_Bon.htm>. Acesso em: 10 nov.
2011.

Gustavo Kohler Riedel (1887-1934) nascido em Porto Alegre formou-se em medicina em


1909 e 1ornou-se membro da Academia Nacional de Medicina (1916). Dentre seus feitos
encontramos a criação do Ambulatório Rivadávia Correa cujo objetivo era atuar
preventivamente em Psiquiatria e em outras especialidades médicas (1919). Grande estudioso
da higiene mental e entre suas obras está Riedel, Gustavo (1931). Na fase da higiene mental.
Arquivos Brasileiros de Medicina. Cf. PICCININI, Wlamor J. et al. Historia da psiquiatria:
Gustavo Kohler Riedel (1887-1934). Psychiatry Brasil on Line, v. 13, n. 2, fev. 2008.
Disponível em: < http://www.polbr.med.br/ano08/wal0208.php>. Acesso em: 10 mar. 2011.

Heinrich Du Bois-Reymond (1818-1896), alemão, fundador da eletrofisiologia moderna.


Conhecido por seus estudos sobre atividade elétrica no nervo e fibras musculares. Cf.
ENCYCLOPEDIA BRITANNICA. Emil Heinrich Du Bois-Reymond. Disponível em:
<http://www.britannica.com/EBchecked/topic/172492/Emil-Heinrich-Du-Bois-Reymond>.
Acesso em: 23 fev. 2011.

Henri Bergson (1859-1941) conhecido por usar o método intuitivo na teoria do


conhecimento e repudiar o meterialismo, escreveu várias obras dentre elas, Essai sur les
données immédiatesde Ia conscience (1889) que contém a sua teoria do
conhecimento; Matière et Mémoire (1896) .Cf. CONSCIÊNCIA.ORG. Henri Bergson:
resumo, biografia, pensamentos. Disponível em: <http://www.consciencia.org/bergso
nbochenski.shtml>. Acesso em: 12 abr. 2011.

Henri Wallon (1879-1962) médico, psicólogo e filósofo francês com seus estudos foi
pioneiro em considerar as emoções e o corpo da criança em sala de aula. Considerava que o
desenvolvimento intelectual englobava muito mais do que um simples cérebro.
227

Henrique Maximiano Coelho Netto (1864-1934) nasceu em Caxias, Maranhão, ficou


conhecido como romancista, crítico e teatrólogo. Tentou as faculdades de medicina e direito,
mas não chagou a concluir nenhuma das duas. Atuou como jornalista no Rio de Janeiro
(1899), onde assumiu o cargo de secretário do Governo, no ano seguinte. Eleito Deputado
Federal do Maranhão (1909 e 1917). Autor de várias obras literárias membro fundador da
Academia Brasileira de Letras. Cf. GOMES, W. B.; GAUER, G.; SOUZA, M. L. História da
psicologia. 2007. Disponível <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?tpl=home>. Acesso em: 5 dez. 2011.

Hermes Lima (1902- 1978) baiano, advogado diplomado pela Faculdade de Direito da Bahia.
Foi colaborador do jornal A Manhã, porta-voz da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Em
1945, participou da fundação da União Democrática Nacional (UDN) e da Esquerda
Democrática (ED). No governo de João Goulart (1962) acumulou os cargos de primeiro-
ministro e ministro das relações exteriores. Cf. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro
de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Hermes Lima. Disponível
em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/biografias/hermes_lima>. Acesso em: 23
fev. 2011.

Hollanda Loyola (?-1944) foi inspetor de Educação Física do Ministério da Educação e


Saúde (MEC), presidente do Departamento de Educação Física Superior da Associação
Brasileira de Educação Física (ABEF) e diretor do Departamento de Educação Física da
Universidade da Capital Federal. Dentre os temas se dedicou estão educação integral, unidade
de doutrina na educação física (onde tinha como parceiros intelectuais Fernando de Azevedo e
Inezil Penna Marinho) e educação infantil (FREITAS, L. L. L. de; SCHNEIDER, O.;
FERREIRA NETO, A. Hollanda Loyola, produção e circulação de saberes escolares: infância
e educação física (1938-1944). In: CONGRESSO LUSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO, 8., São Luis, 2010. Anais..., São Luis: UFMA, 2010. v. 1, p. 1-19).

Idyllio Alcântara de Oliveira Abbade professor de práticas educativas da Escola Superior


de Educação Physica (ESEP) considerada a primeira escola de educação física de caráter civil
no Brasil era subordinada ao Departamento de Educação Physica (DEP). Encontramos grafias
diversas para seu nome Idylio e Adilio assim como Abade e Abbade.

Inezil Penna Marinho formou-se como instrutor de educação física na Escola de Educação
Física do Exercito em 1938. Na Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD),
assumiu as cátedras de Metodologia da Educação Física (1949) e História e Organização da
Educação Física (1956). Na Divisão de Educação Física (DEF) do Departamento de Educação
do Ministério da Educação e Saúde assumiu como assistente técnico em 1939 e em 1941, já
era Técnico de Educação e chefe da Secção Pedagógica. Possui uma extensa produção em
livros, artigos em diversas áreas como Educação Física, Filosofia, Psicologia, Direito e
História. Além disso, também se diplomou em Filosofia (1958) e Direito (1943) (MORAES;
SILVA; FONTOURA, 2011).

J. Dublineau foi educador e ortofrenista nos anos 1930. Publicou La Surveillance èducative
des jeunes délinquants em millieu libre. Cf. THE INTERNATIONAL LIBRARY OF
SOCIOLOGY. Social defence. London: New Fetter Lane, 1998. p. 110. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=a8qGXqgjJfcC&pg=PA110&lpg=PA110&dq=dubline
au+e++1930&source=bl&ots=hcY20NHpwJ&sig=iCZtq5H1W49vs1jbJeRR31HqHDA&hl=
pt-#v=onepage&q=dublineau%20e%20%201930&f=false>. Acesso em: 10 nov. 2011.
228

James Lee Ellenwood foi um dos criadores da Young Men's Christian Associations (YMCA)
dos EUA, criado em 1852 para fornecer aos novos jovens cristãos apoio para se ajustar à vida
urbana. Desenvolvia programas especiais para crianças e jovens e lidava com questões de
degradação urbana e abuso de drogas. Admitiu judeus nos anos 1920 e mulheres nos anos
1940. Cf. KAUTZ FAMILY YMCA ARCHIVES. YMCA biographical files. Minnesota:
Universidade de Minessota, 2004. (Y.USA, 12). Disponível em: <http://special.lib.
umn.edu/findaid/html/ymca/yusa0012.phtml#a2b>. Acesso em: 1 jan. 2011.

Jayr Jordão Ramos (1907-?) cursou a Escola Militar e seguiu a carreira dedicando-se às
questões relacionadas à prática e ao ensino de Educação Física. Publicou 53 artigos na Revista
de Educação Física, entre 1936 e 1979, em sua maioria voltados para o projeto pedagógico da
educação física. Torna-se instrutor nomeado da EsEFEx em 1935 e estabeleceu contato com
outras escolas internacionais importantes, como a Escola Superior de Educação
Física Joinville-Le-Pont. Em 1983 a Secretaria de Educação Física e Desportos instituiu o
Prémio Jayr Jordão Ramos para estimular pesquisas e incentivar a criação literária entre os
alunos do Curso de Graduação de Educação Física.

Jean-Jaques Rousseau (1712-1778) filósofo alemão crítico do abuso do poder no campo


social. É referência para a educação física na infância, pois considerava esse campo um dos
meios seguros para estabelecer relações naturais entre o homem e as) coisas.(PICCOLI,
2006).

João Peregrino Junior da Rocha Fagundes (1898-1983) jornalista, ensaísta e médico


formado na Faculdade do Rio de Janeiro (1929). Docente das cadeiras de Clínica Médica e
Biometria na Faculdade Nacional de Medicina do RJ, professor da Faculdade Fluminense de
Medicina e professor emérito da UB. No âmbito do esporte foi professor da ENEFD e
membro do Conselho Nacional de Desportos, além de diretor da Revista Arquivos, dessa
escola.

Johann Christoph Friedrich Guts Muths (1759-1839) foi um educador alemão. Acreditava
que a educação Física devia ser ensinada com objetivo de exercitar de forma harmônica o
corpo, o espírito e a moral. Fundou a primeira escola de ginástica com exercícios adaptados às
mulheres. (PICCOLI, 2006).

Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), educador suíço, precursor da escola primária


popular, influenciado pelas ideias de J.J.Rousseau. Referência na educação brasileira. Para ele
a gisnástica era um meio de formação do espírito e desenvolvimento moral e estético
(PICCOLI, 2006).

John Dewey (1859-1952), filósofo, educador e psicólogo americano. Considerado uma das
maiores influencias da Filosofia, Educação e Psicologia no século XX, foi adepto do
movimento da Escola nova. Entre as causas que defendia destacam-se a defesa da escola
pública, a legitimidade do poder político e a necessidade de autogoverno por parte dos
estudantes. Psychology (1887); “Democracia e Educação” (1916); “Natureza Humana e
Conduta” (1922); “Liberdade e Cultura” (1939). Cf. TEITELBAUM, K.; APPLE, M.
Clássicos: John Dewey. Kent State University. University of Wisconsin – Madison.
Currículo sem Fronteiras, v.1, n. 2, p. 194-201, jul./dez. 2001. Disponível em:
<http://www.planetaeducacao.com.br>. Acesso em: 24 nov. 2011.
229

John Mac Cloy (1896-1989) nascido na Pensilvânia, EUA, foi militar, advogado e banqueiro.
Trabalhou como assistente Secretário da Guerra, na Segunda Guerra Mundial. Nesse período
McCloy era importante no estabelecimento de prioridades militares EUA. Atuou como
presidente do Chase Manhattan Bank (1953-1960), como presidente da Fundação
Ford, (1958-1965) e da Fundação Rockefeller, (1946-1949). Sua experiência em áreas
diversas, mas em funções de liderança devem lhe ter favorecido à construção dos artigos.

José Ortega e Gasset (1883-1955) filósofo espanhol, doutor em Filosofia pela universidade
de Madri. Continuou os estudos de Filosofia na Alemanha, recebendo influência de Hermann
Cohen e Wilhelm Dilthey.

Julio Pires Porto-Carrero (1887-1937) médico pernambucano da Marinha, em assumiu a


cátedra de Medicina Legal na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (1929). Um dos
fundadores da Sociedade Brasileira de Psicanálise no Rio de Janeiro (1928). Membro
destacado da Liga Brasileira de Higiene Mental, participou da Comissão Central Brasileira de
Eugenia no Rio de Janeiro nos anos 1930 com Renato Kehl e outros.

Julio Rodrigues, responsável pela orientação técnica da Comissão de Educação Física no


Uruguai.

Leonídio Ribeiro (1893-1976) médico legista da Polícia Civil do Distrito Federal em 1917.
Em 1933 torna-se professor de Medicina Legal da Faculdade de Direito do RJ, com a tese “O
direito de curar”. Nesse mesmo ano ganha o prêmio Lombroso da Real Academia de
Medicina da Itália, por seus estudos sobre impressões digitais, causas endócrinas do
homossexualismo masculino e biotipologia dos negros criminosos. Também publicou em
1939 Omossessualitá e endocrinologia (Roma: Livraria Cittá Del Castello, 1939).

Ludwig Klages (1872-1956) filósofo alemão, influência importante na Grafologia. Publicou


as obras Introdução à Psicologia da escrita (1924) e O que é capaz de grafologia (1949). Cf.
INFOBIOGRAFIAS. Biografia e vida de Ludwig Klages. Disponível em: <http://
pt.infobiografias.com/biografia/23015/Ludwig--Klages.html>. Acesso em: 24 nov. 2011.

M. Josephine Ioteyko (1866-?), professora da Universidade Nova de Bruxellas.

Maria Jaci Nogueira Vaz (?-?) paulista, formada na primeira turma de Educação Física
tornou-se assistente da disciplina de Ginástica Geral Feminina e catedrática de Metodologia
da Educação Física e Desportos.

Mary Halton. Médica americana. Não foi possível encontrar informações sobre essa autora
até o momento.

Miguel Couto (1865-1934), médico, um dos precursores das ideias da Escola Nova e
membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) da qual foi presidente por 21 anos
consecutivos. Cf. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Miguel Couto: biografia.
Disponível em: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=520&sid
=358>. Acesso em: 12 out. 2011.

Oswaldo Cruz (1872-1917), médico dedicado à microbiologia, Diretor Geral de Saúde


Pública (1903); criou Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 1900, um centro de referência em
230

vacinas e pesquisas na América Latina, vinculado ao Ministério da Saúde. Cf. FIOCRUZ. A


trajetória de Oswaldo Cruz e a sua luta como médico sanitarista no século 19. Disponível
em: <http://www.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1084&sid=19>. Acesso em: 8
abr. 2011.

Paul Doumer (1857-1932) político francês que foi presidente da República da França, entre
1931 e 1932. Iniciou sua carreira política encrevendo para o jornal Courrier de l´Oise e foi
diretor do La Tribune de l´Oise de tendências radicais.

Philippe Tissié (1845-1909) médico francês, Presidente da Ligue Francaise de l´Education


Physique, aprofundou os estudos no método sueco de ginástica. Cf. SOARES, Carmen Lúcia.
Imagens da educação do corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX.
Campinas: Autores Associados, 2005.

Pio Piano Júnior: pseudônimo usado pelo professor Mario Miranda Rosa titular da cadeira
de futebol da Escola de Educação Física e professor Emérito (1978) da USP. Foi a´rbitro de
futebol (nas décadas de 1930 e 1940. Assumiu como técnico do Corinthians em 1944 por 10
meses. Publicou o livro “Curso de Técnica de Futebol”. Cf. SPORT CLUB CORINTHIANS
PAULISTA. Mário Miranda Rosa (1944). Disponível em: <http://www.acervosccp.
com/mariomirandarosa.htm>. Acesso em: 10 mar. 2011; UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO. Escola de Educação Física e Esporte. Galeria dos professores eméritos. Disponível
em: <http://www.usp.br/eef/?pagina/mostrar/id/117>. Acesso em: 10 mar. 2011.

Pyotr Fanzevich Lesgaft (1837-1909) formou-se em Medicina na Academia Imperial de


Medicina (1861). Foi encarregado do treinamento físico de cadetes militares e esboçou um
programa de educação física para os colégios militares na antiga Rússia.

Raul Briquet (1887-1953) paulista, assumiu a cátedra de Clínica Obstétrica”da Faculdade de


Medicina e Cirurgia de São Paulo (1925). Em 1927, juntamente com Franco da Rocha,
Durval Marcondes e Lourenço Filho, criou a Sociedade Brasileira de Psicanálise e foi um dos
precursores da Psicologia Social no Brasil. Cf. BOMFIM, Elizabeth de Melo. Históricos curso
de psicologia social no Brasil. Psicologia & Sociedade, v. 16, n. 2, p. 32-36, maio/ago. 2004.

Samuel Alexander Kirk (1859-1938) filósofo e psicólogo que influenciou o campo


educacional tem como obra Moral, Order and Progress: An Analysis of Ethical Conceptions
(1889) lançada no ano da Republica no Brasil (MELBOURNE, 2009).

Sidney Pressey, professor da Universidade de Ohio, responsável pelo uso da informática na


educação. Na década de 1920 cria uma máquina que permitia a apresentação de testes aos
alunos. Essa ideia foi reaproveitada por B.F. Skinner na psicologia comportamental nos anos
1950. Cf. FONSECA, Isabel. Sidney L. Pressey. 2007. Disponível em: <
http://aprendizagens-te.blogspot.com/2007/03/sidney-l-pressey.html>. Acesso em: 12 ago.
2011.

Stanley Smith Stevens (1906-1973) conhecido na psicologia por seus estudos com medição e
pela função de potência ou Lei de Stevens, uma lei psicofísica que trata da relação entre a
intensidade de um estímulo e o valor da experiência sensória correspondente. Destaque para
sua obra Handbook of Experimental Psychology (1951). STEVENS, Stanley Smith.
Psychophysics: introduction to is percentual, neural, and social prospects. New York: Wiley,
1975. Disponível em: <http://books.google.ch/books?id=r5JOHlXX8bgC&printsec=frontco
231

ver&dq=inauthor:%22Stanley+Smith+Stevens%22&hl=de&sa=X&ei=byAYT5aeDYTbggeQ
w43XCw&ved=0CDwQ6AEwAA#v=onepage&q=inauthor%3A%22Stanley%20Smith%20S
tevens%22&f=false>. Acesso em: 12 set. 211.

Teodor Schultz (1908-1998), americano criou a Teoria do Capital humano, unindo uma visão
econômica à educação.

Theobaldo Miranda (1904-1971), graduado em Farmácia e Odontologia, assumiu a cátedra


de Filosofia da Educação no Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1944) e autor do
Manual Noções de História da Educação (1945), onde inclui noções de psicologia
experimental, diferencial, da criança, da aprendizagem e outras (ROBALLO, 2007).

Waldemar Berardinelli (? – 1956) médico endocrinologista, fundou a Sociedade Brasileira


de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM), um órgão que fundiu as sociedades do Rio de
Janeiro e São Paulo em 1954. Agostino Gemelli,(1878-1959) médico e psicólogo italiano,
membro da Ordem Franciscana e fundador da Universidade Católica do Sagrado Coração em
Milão.

Wilhelm Dilthey (1833-1911) foi um filósofo, historiador e crítico literário alemão. Seus
estudos sobre a metodologia das Ciências Humanas distinguindo-se das Ciências Naturais por
utilizarem o método compreensivo.

William H. Sheldon (1898-1977) psicólogo norte americano dos anos 1940, teórico da
personalidade, relacionava o tipo físico e o temperamento para encontrar uma tipologia de
personalidade. Não foi muito reconhecido pela psicologia e dentre suas obras, The Varieties of
Human Psysique: An Introduction to Constitutional Psychology (1940), e em 1942, The
Varieties of Temperament: A Psychology of Consitutional Differences, ambas em parceria
com

William James (1842-1910) filósofo, psicólogo e médico inserido nas idéias funcionalistas
americanas foi considerado pioneiro da nova psicologia americana na virada do século XIX-
XXcom destaque para seus estudos sobre emoções e consciência. Tem como primeira grande
obra “The principles of psychology" (1890). Cf. SCHULTZ, 200; LOUCEIRO, L. M.
William James, uma biografia intelectual. Cognitio-Estudos: Revista Eletrônica de Filosofia,
São Paulo, v. 7, n. 2, p. 242-244, jul./dez. 2010.

William Kilpatrick (1871-1954) um dos criadores do Método dos projetos (1918) o qual
afirma que o aprendizado ocorre mediante motivação prática, ou seja, quando há uma
finalidade para tal.

William Stern (1871-1938) psicólogo alemão, adepto da psicologia experimental, é


considerado um dos introdutores ao lado de Binet e Galton, a psicologia diferencial e foi
criador do termo quociente de inteligência (Q.I.) para designar a diferença entre idade mental
e cronológica.

Yesis Ilcia y Amoedo Passarinho, em 1963 assumiu a cátedra de psicologia aplicada e


Carlos Sanchez era o Chefe do Depto de Pedagogia que respondia pela pedagogia, psicologia
e história e prestou concurso de livre docência na ENEFD para: 1.Psicologia Aplicada (1949)
com o tema “ Do valor dos exercícios físicos e da sua aplicação na correção das
232

personalidades psicopáticas”; 2. Metodologia da Educação Física e Desportos (1960) com o


tema “Alguns recursos para promover nas aulas de atividades físicas, melhor aproveitamento
das relações humanas nos grupos”.
233

ANEXO A - Programa da disciplina Psicologia Aplicada do Curso Educação Física


(ENEFD), em 1944
234
235
236
237
238
239

CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CEH/A

C331 Carvalho, Cristianne Almeida. \


Para além do tempo regulamentar : uma narrativa sobre a história da
Psicologia do Esporte no Brasil / Cristianne Almeida Carvalho. – 2012.
238 f.

Orientadora: Ana Maria Jacó Vilela.


Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Instituto de Psicologia.

1. Psicologia do movimento – Brasil – História – Teses. 2. Educação


física – Aspectos psicológicos – Teses. 3. Educação física – Periódicos –
Teses. I. Vilela, Ana Maria Jacó. II. Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Instituto de Psicologia. III. Título.

nt CDU 796:159.9(81)(091)

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese.

30 de março de 2012
Assinatura Data

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