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Rio de Janeiro
2008
2ª Edição - 2022
Patrocinadores:
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Trama Criações de Arte
REVISÃO DE TEXTO
Mariflor Rocha
Sonia Cardoso
Inclui Bibliografias.
Patrocínio ANTT, TRANSBRASILIANA.
CDD 625.85
APRESENTAÇÃO
Apresentação 3
Prefácio 9
1 Introdução 11
2 Ligantes asfálticos 35
2.1 INTRODUÇÃO 35
2.2 ASFALTOS 36
Desde a sua primeira versão em 2007, este livro foi pensado de modo a apoiar o
ensino de graduação de Engenharia, especificamente para disciplinas de infraestru-
tura de transportes. Ao longo dos anos, o retorno da comunidade de pavimentação
sobre o conteúdo foi bastante positivo e evidenciou-se a utilidade deste tipo de ma-
terial também para engenheiros, técnicos e pós-graduandos da área.
Fizemos à época uma analogia da elaboração de um livro como este à construção
de uma estrada, influenciada por vias preexistentes e abrindo-se para muitos caminhos
possíveis. Desde então, novos caminhos surgiram pelo avanço da área em ciência,
em tecnologia e em inovação, na compreensão dos materiais, nas técnicas de pro-
jeto e de execução, e até nos propósitos ampliados dos pavimentos (e.g. geração
de energia, captura de CO2, etc.). Com o intuito de alinhar o escopo anterior com
o conhecimento disponível e aplicado hoje, traz-se a presente versão atualizada.
Diversos novos métodos e ensaios foram incorporados, com centenas de referências
bibliográficas adicionais.
Como em um projeto de manutenção viária, decisões foram tomadas com vistas
à delimitação do que deveria ser alterado ou mesmo descartado. Nesta espécie de
reciclagem, na qual se aproveita parte dos materiais sem comprometer o sistema,
foram priorizados melhoramentos nas camadas do livro referentes aos ligantes as-
fálticos e aos tipos e propriedades das misturas asfálticas, técnicas executivas e de
avaliação de desempenho. Além da relevância destes assuntos para a pavimentação,
os mesmos passaram por transformações tão significativas nos últimos 15 anos, que
as atualizações são entendidas como essenciais para proporcionar a devida estrutura
de conhecimento.
Os autores reconhecem a limitação do escopo, mesmo frente à presente atuali-
zação, e recomendam que os leitores busquem bibliografia complementar em temas
tão diversos quanto dimensionamento de pavimentos, mecânica dos pavimentos,
química e reologia de materiais, geotecnia, projeto de tráfego e drenagem, técnicas
de controle tecnológico, gerência de pavimentos etc.
Assim como na primeira versão, contamos para esta revisão com a contribuição
de colegas e alunos, os quais gostaríamos de reconhecer por seus valiosos comentári-
os e sugestões. Nossos agradecimentos especiais a Leni Figueiredo Mathias Leite e
Luis Alberto do Nascimento; também a Suelly Barroso; Sandra Soares; Jorge Lucas
Junior; Jardel de Oliveira; Juceline Bastos; Aline Fialho; Alessandra Oliveira; Beatriz
Gouveia; Kamilla Vasconcelos; Clóvis Gonzatti; Armando Morilha Júnior; Ana Karo-
liny Bezerra; Lucas Sassaki. Note-se ainda o uso de textos anteriormente escritos
pelos autores em coautoria com seus vários colaboradores, sendo estes devidamente
referenciados.
Os autores agradecem a Danilo Martinelli Pitta pela atuação junto à conces-
sionária para a viabilização do projeto RDT junto à ANTT e pelo apoio durante a
execução deste projeto que viabilizou a revisão do livro.
A experiência de revisitar este livro, novamente a oito mãos, agora mais experien-
tes, foi deveras gratificante. Isso só foi possível num período tão agudo como o
da pandemia graças à harmonia entre os quatro autores. Competências e disponi-
bilidades de tempo foram devidamente dosadas e, se fizeram falta os encontros
presenciais, houve uma adaptação aos encontros virtuais que possibilitaram viagens
instantâneas do Rio Grande do Sul ao Ceará, passando pelo Rio de Janeiro e por
São Paulo.
Como previsto desde que foi lançado este projeto, qual uma estrada, a obra
estava sujeita a falhas. O olhar atento dos pares ajudou na manutenção ora entre-
gue. O avanço do conhecimento na área de pavimentação prosseguirá e, portanto,
alguns trechos da obra merecerão novos reparos, reciclagens, inserções inovadoras.
Certamente novos trechos surgirão na infindável estrada que é o conhecimento.
Boa viagem. De novo.
Os autores
8
Técnicas executivas de camadas asfálticas
8.1 INTRODUÇÃO
A obtenção de uma mistura asfáltica envolve a associação de agregado e fíler com ligante asfál-
tico, em proporções predeterminadas no projeto de dosagem, para produzir uma massa homo-
gênea de acordo com especificações e critérios adotados, conforme visto no capítulo 5. Antes
da mistura com o ligante asfáltico, o agregado deve ser composto na graduação especificada
por meio de mistura de diferentes frações granulométricas, podendo ainda ter adição de fíler ou
aditivos especiais, como fibras. Se o ligante a ser misturado é um cimento asfáltico de petróleo,
o agregado deve ser aquecido previamente para remoção de umidade e para ter sua temperatu-
ra elevada para que seja possível seu envolvimento pelo ligante asfáltico. Esses procedimentos
são realizados em instalações apropriadas conhecidas como usinas de asfalto – simplificação
da designação, visto que se trata de usinas para a produção de misturas asfálticas a quente ou
misturas asfálticas mornas. Caso o ligante utilizado seja a emulsão asfáltica, as usinas são para
misturas asfálticas a frio.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 583
8.2.1 Tipos de usinas de asfalto para misturas a quente
O objetivo básico das usinas de asfalto é proporcionar de forma adequada a mistura de frações
de agregados, aquecer essa mistura e o ligante asfáltico, e misturar todos esses materiais, pro-
duzindo misturas asfálticas dentro de características previamente especificadas.
Uma usina de asfalto é um conjunto de equipamentos mecânicos e eletrônicos interconecta-
dos de forma a produzir misturas asfálticas com qualidade. Variam em capacidade de produção
e princípios de proporcionamento dos componentes, podendo ser estacionárias ou móveis.
Existem dois tipos básicos de usina de asfalto que são: a usina de produção por batelada ou
gravimétrica, conforme princípio geral exposto na figura 8.1, que produz quantidades unitárias
de misturas asfálticas a cada operação, e a usina de produção contínua ou drum-mixer, confor-
me a figura 8.2, cuja produção é contínua, como a própria designação classifica. As figuras 8.3
e 8.4 mostram exemplos dessas usinas. Os dois tipos de usinas têm condições de produzir as
misturas asfálticas em uso corrente no país. Normalmente, as misturas asfálticas, mesmo com
características particulares, não exigem sua produção em um tipo específico de usina, a não
ser as misturas recicladas, que precisam de concepção de usinas específica para receber os
agregados provenientes de fresagem de revestimentos asfálticos deteriorados ou de uma usina
com concepção tradicional que apresenta uma certa adaptação para receber o material fresado.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 585
Figura 8.4 – Exemplo de uma usina asfáltica contínua (Foto: Ciber Ltda.)
Figura 8.5 – Exemplo de estoques e silos cobertos para proteção dos materiais
de uma usina gravimétrica
Tanque de
armazenamento
de ligante
O ligante asfáltico deve ser mantido fluido o suficiente para que possa se movimentar através
dos dutos e ser utilizado na operação de usinagem. Para isso, os tanques devem ter sistema de
aquecimento através de circulação de óleo térmico ou elétrico. Nunca deve ser utilizado aque-
cimento através de chama em contato com o tanque ou seu conteúdo. Faz-se necessária uma
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 587
atenção especial quanto às temperaturas de estocagem e usinagem de ligantes asfálticos, visto
que, quando superaquecidos, esses materiais podem sofrer degradação térmica, o que, por sua
vez, pode levar à perda das suas características aglutinantes. Na tabela 8.1 estão indicadas,
como exemplo de ordem de grandeza, faixas de temperaturas de estocagem e usinagem de
alguns tipos de ligantes asfálticos e do agregado.
Portas localizadas no fundo de cada silo controlam as quantidades de cada fração de agre-
gado a ser transportada ao secador através de correia transportadora. A figura 8.8(a) mostra o
controle no fundo de cada silo e a figura 8.8(b) mostra a correia transportadora de agregados
para o secador.
Figura 8.9 – Exemplo de secador e sistema de aquecimento para secagem dos agregados
Há dois tipos básicos de secadores, diferenciados pela relação entre o fluxo de agregados e
o fluxo de ar no seu interior.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 589
Nos secadores de fluxo paralelo o agregado e o ar fluem na mesma direção, conforme
mostra a figura 8.10. Nesses secadores o agregado frio é introduzido no secador na mesma
extremidade onde existe o queimador, e movimenta-se na direção da outra extremidade. Nos
secadores de contrafluxo, o agregado e o fluxo de ar aquecido movimentam-se em direções
opostas, conforme o esquema mostrado na figura 8.11. As usinas asfálticas mais modernas são
em sua grande maioria equipadas com secadores do tipo contrafluxo.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 591
Proporcionamento, alimentação e mistura do ligante asfáltico com o agregado aquecido
O processo de mistura do ligante asfáltico com o agregado varia de acordo com o tipo de
usina de asfalto utilizado.
Na usina de produção por batelada ou gravimétrica, os agregados secos e aquecidos pro-
venientes do secador são transportados por meio de um elevador e passam por uma série de
peneiras que os separam em várias frações granulométricas e que são depositadas nos silos
quentes, conforme mostra o esquema da figura 8.14. A figura 8.15 mostra o exemplo de um
elevador e dos silos quentes.
Frações de agregados predeterminadas são pesadas e estocadas juntas em um depósito
de pesagem interna. Deste depósito elas são transferidas a um misturador logo abaixo, onde
são misturadas com o ligante asfáltico em proporção predeterminada. A figura 8.16 ilustra o
processo de mistura.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 593
troduzido e vigorosamente misturado. Durante esse processo, o controle efetivo da temperatura
dos componentes da mistura asfáltica é fundamental para o seu desempenho futuro. Nesta usi-
na, existe a possibilidade da mistura do ligante asfáltico ser realizada dentro do tambor secador
em uma zona de mistura fora do contato com a chama do queimador, através de misturador
rotativo. Existem usinas com misturador do tipo pugmill externo ao tambor secador.
Dois são os tipos principais de tambores secadores e misturadores. No de fluxo paralelo,
o agregado entra no tambor na extremidade do queimador e flui na mesma direção dos gases
aquecidos. O ligante asfáltico é introduzido no último terço do tambor, conforme mostra a figura
8.17. No de contrafluxo o agregado entra na extremidade oposta ao queimador e flui na direção
oposta aos gases aquecidos. O queimador é posicionado de modo que a injeção de ligante e
a mistura deste com os agregados ocorram fora de sua zona de influência, conforme mostra a
figura 8.18.
Ar
Ar
As misturas dos agregados com emulsões asfálticas são realizadas em usinas que podem ser
estacionárias ou móveis, com capacidade de produção de 30 tf/h a 600 tf/h. Essas usinas são
mais simples por não necessitarem de aquecimento do agregado ou do ligante.
Geralmente, as usinas estacionárias utilizadas são aquelas empregadas também para produ-
zir misturas de solos, britas, solo-cimento etc. As de maior capacidade de produção possuem
silos individuais para os agregados com comportas reguláveis, que descarregam os agregados
em uma correia transportadora que os conduz ao misturador, onde é injetada a emulsão asfál-
tica na dosagem previamente estabelecida. A figura 8.19 apresenta um exemplo de uma usina
estacionária.
As usinas do tipo móvel são montadas sobre um chassi único e, devido à sua funcionalidade,
podem ser colocadas em operação em poucas horas. Um exemplo de uma usina desse tipo
está na figura 8.20. Há vários fabricantes de usinas de misturas a frio no país.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 595
Figura 8.19 – Exemplo de usina estacionária para produção de misturas a frio
Fonte: www.ciber.com.
As misturas para reciclagem a quente são produzidas nas usinas utilizadas para produção de
misturas para revestimentos, adicionando-se um silo para armazenagem e proporcionamento
de material fresado, como visto no item 8.2.1.
A norma DNIT 169/2014-ES especifica a usina a frio com sistema de espuma de asfalto
para produzir misturas recicladas. Conforme esta norma o equipamento deve dispor de silos
dotados de peneiras vibratórias e dispositivos de controle de pesagem dos materiais envolvidos
na produção da mistura. Deve ser dotado também de acessórios para a dosagem de espuma,
sua produção e espargimento, assim como de acessórios específicos para injeção e dosagem
de água, em sistema separado do sistema de espuma. A figura 8.21 mostra esquema de usina
de asfalto estacionária para produção de misturas recicladas com espuma de asfalto.
Bonfim (2021) descreve usina móvel para reciclagem a frio, rebocada por um cavalo mecâ-
nico que é liberado logo após o posicionamento do equipamento no local de usinagem. A figura
8.22 mostra o esquema deste tipo de equipamento.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 597
8.3.1 Produção de misturas recicladas em usina
Fíler ativo
A quantidade de fíler ativo (cal hidratada ou cimento Portland) adicionada à mistura é rela-
tivamente pequena, em geral ≤1% em massa. Esta quantidade de fíler ativo pode ser propor-
cionada manualmente antes da entrada do misturador da usina ou, alternativamente, através
de silos específicos, quando a usina permanece no local por período de tempo mais estendido.
Água
A água necessária para aumentar o teor de umidade do material da mistura é normalmente
suprida a partir de um caminhão tanque ou de um reservatório, conectados à usina. Quando é
utilizado o asfalto espuma o reservatório acoplado à usina é usado exclusivamente para arma-
zenar e suprir água potável para as câmaras de expansão que irão produzir o asfalto espuma.
As misturas asfálticas são levadas ao local de execução do pavimento por meio de caminhões
transportadores geralmente com báscula traseira. O número de caminhões necessário é deter-
minado por alguns fatores, tais como: a velocidade de produção da mistura asfáltica na usina;
a distância de transporte; o tipo de tráfego no percurso; e o tempo estimado para descarrega-
mento. O número de caminhões necessários para manter constante o lançamento da mistura
asfáltica na pista pode ser estimado considerando-se o tempo de ida e volta, dividido pelo
tempo de carregamento de cada caminhão mais um.
As principais razões que podem justificar a rejeição de cargas de mistura asfáltica transpor-
tadas para a obra, são:
• temperatura excessiva – o aquecimento em excesso da mistura é normalmente indicado
por emanação de fumaça de coloração azul. A temperatura deve ser verificada imedia-
tamente e, se ultrapassar os limites especificados, a carga deve ser rejeitada;
• temperatura baixa – a mistura asfáltica apresenta aspecto endurecido ou recobrimento
irregular das partículas maiores dos agregados. A temperatura deve ser verificada ime-
diatamente e, se for menor que os limites especificados, a carga deve ser rejeitada;
• excesso de ligante asfáltico – a mistura asfáltica apresenta aparência de montes com picos
abatidos na caçamba do caminhão e aspecto brilhante;
• falta de ligante asfáltico – a mistura asfáltica apresenta aspecto opaco, sem qualquer
brilho e aparência granular;
• cobertura não homogênea – são observados pontos onde o agregado encontra-se parcial-
mente recoberto e de aspecto opaco e pontos onde a mistura apresenta-se brilhante;
• excesso de agregado graúdo em relação ao projeto de dosagem – misturas asfálticas
com excesso de agregado graúdo apresentam baixa trabalhabilidade e aparência granu-
lar após compactação;
• excesso de agregado miúdo – misturas asfálticas com excesso de agregado miúdo
apresentam textura diferente daquelas com agregados apropriadamente graduados
após compactação e aspecto de falta de ligante asfáltico;
• excesso de umidade – a liberação de vapor d’água durante o processo de descarrega-
mento do caminhão transportador é indicativa de presença de umidade na mistura
asfáltica. Esta apresenta aspecto brilhante e pode-se observar a formação de bolhas.
A umidade em excesso faz com que a mistura asfáltica apresente comportamento
como se tivesse ligante asfáltico em excesso;
• segregação – a segregação dos agregados da mistura asfáltica pode ocorrer em algum
ponto antes de a mistura ser lançada no local de execução da camada ou durante o
processo de lançamento devido ao manuseio de maneira indevida. Sua causa deve
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 599
ser corrigida na origem. A segregação pode ser potencializada pela graduação escolhida
na dosagem (excesso de agregados graúdos) ou pela diferença de temperatura nos
diversos componentes da massa asfáltica; ou
• contaminação – contato com substâncias indesejáveis quase sempre devido à má lim-
peza das caçambas dos caminhões transportadores. Se verificada em pequena escala,
pode ser removida, caso contrário, a carga deve ser rejeitada.
O lançamento de uma mistura asfáltica e o início de um serviço de compactação de uma
camada de revestimento asfáltico devem ser precedidos por um planejamento em que são con-
siderados detalhes importantes no processo, como por exemplo:
• continuidade e sequência de operações;
• número de vibroacabadoras necessárias para a execução do serviço;
• número e tipos de rolos compactadores necessários;
• número de caminhões transportadores necessários;
• a cadeia de comando para dar e receber instruções;
• razões para possível rejeição de mistura asfáltica;
• condições climáticas e de temperatura;
• controle de tráfego.
Além da consideração desses detalhes, devem ser realizadas todas as preparações e inspe-
ções necessárias para garantir seu sucesso. Em geral, os seguintes itens são verificados:
• superfície da base ou revestimento existente apropriadamente preparados (imprimação
ou pintura de ligação executadas);
• plano de execução do serviço;
• sincronia apropriada de produção da mistura asfáltica, lançamento e compactação;
• equipamentos em boas condições e calibrados;
• planejamento de amostragem e ensaios de controle.
A mistura asfáltica deve ser lançada em camada de espessura uniforme e seção transversal
definidas, pronta para a compactação. O lançamento é realizado por vibroacabadoras que sejam
capazes de executar camadas de pelo menos 25 mm, em larguras ajustáveis de acordo com o
serviço. As velocidades de deslocamento são reguláveis e podem atingir até 20 m/minuto.
A otimização do lançamento pode ser obtida com a utilização de veículos de transferência de
materiais (VTM) do tipo Shuttle Buggy. Na figura 8.23 é apresentado um exemplo de equipa-
mento VTM. Estes veículos permitem que os caminhões de transporte parem a uma distância
apropriada adiante da vibroacabadora ou lateralmente a esta e descarregue sua carga sem mo-
ver-se e sem interferência no deslocamento contínuo da vibroacabadora. Estes equipamentos
têm capacidade de armazenamento de 30 t a 35 t de mistura asfáltica.
O VTM permite que a vibroacabadora opere de modo contínuo, revolve o material recebido
dos caminhões antes de transferi-lo para a caçamba da vibroacabadora, com isto minimizando
a segregação devido à diferença de temperatura dos componentes da mistura ocorrida durante
o transporte e a descarga. Também impede a segregação de fim de carga nas vibroacabadoras,
evitando a acumulação de material grosso nas laterais da caçamba da vibroacabadora e evitan-
do a necessidade de descarte desse material ao fim de cada carga da caçamba. A figura 8.24
mostra a operação de um VTM posicionado lateralmente à vibroacabadora.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 601
As vibroacabadoras são compostas por duas unidades: a tratora e a de nivelamento. A uni-
dade tratora compreende o motor, as transmissões e os controles, o silo de carga com laterais
basculantes, as barras alimentadoras, as roscas distribuidoras e o posto de condução. A unida-
de tratora é apoiada sobre um par de esteiras ou sobre pneus. Esta unidade tem como funções
o deslocamento da vibroacabadora e o recebimento, condução e lançamento uniforme da carga
de mistura asfáltica à frente da unidade de nivelamento.
A unidade de nivelamento é formada por uma mesa flutuante e vibratória ligada à unidade
tratora por braços de nivelamento fixados através de articulações próximas à parte central do
equipamento. Suas funções são nivelar e pré-compactar a mistura asfáltica sobre a superfície
em que foi lançada, de acordo com especificações de geometria previamente definidas. As
figuras 8.25 e 8.26 apresentam tipos de vibroacabadoras e seus componentes e a figura 8.27
mostra um exemplo de vibroacabadora.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 603
8.5 TRANSPORTE E LANÇAMENTO DE MISTURAS RECICLADAS
8.5.1 Transporte
8.5.2 Lançamento
O lançamento da mistura reciclada na pista deve ser realizado preferencialmente com utilização
de vibroacabadora. O tipo e a condição do equipamento utilizado e a experiência dos opera-
dores são fatores críticos na qualidade final da camada executada. A espessura da camada e
a largura da faixa em execução irão definir o volume de mistura reciclada a ser lançado pela
vibroacabadora e, portanto, a capacidade que este equipamento deve apresentar.
Diferentemente da execução de camadas asfálticas de revestimento sem material reciclado,
a mistura reciclada é lançada e compactada à temperatura ambiente.
O DNIT através da norma DNIT 169/2014-ES, por exemplo, especifica que o lançamento
e o espalhamento da mistura asfáltica reciclada devem ser realizados com vibroacabadora ou
motoniveladora.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 605
O processo de execução de uma camada asfáltica geralmente abrange duas fases: a rolagem
de compactação e a rolagem de acabamento. É na fase de rolagem de compactação que se
alcançam a densidade, a impermeabilidade e grande parte da suavidade superficial. Na rolagem
de acabamento são corrigidas marcas deixadas na superfície da camada pela fase de rolagem
anterior.
A compactação eficiente é obtida a partir de uma correta escolha do padrão de rolagem a ser
utilizado, conforme esquematizado na figura 8.31. A figura apresenta a sequência de rolagem
(1 a 6) a partir de uma borda externa. Com isso é alcançada a uniformidade e a eficiência ne-
cessárias para se obter a densidade e a suavidade superficial de acordo com as especificações
e com volume de produção adequado.
A escolha do padrão de rolagem adequado deve ser realizada por meio da execução de uma
pista-teste com monitoramento de densidade por meio de densímetros. Nesta pista-teste de-
vem ser definidos quatro parâmetros:
• número de passagens necessárias para uma cobertura da largura da faixa ou pista em
execução;
• número de repetições necessárias para alcançar o grau de compactação de projeto;
• velocidade de rolagem;
• faixa de temperatura correta de aplicação e rolagem.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 607
Figura 8.31 – Exemplo de padrão de rolagem de uma camada de mistura asfáltica
Para determinar quantas passagens são necessárias para cobrir a largura da pista uma vez,
deve-se comparar a largura do rolo de compactação a ser utilizado com a largura da pista, per-
mitindo-se uma sobreposição mínima de 150 mm, conforme indica a figura 8.32, até metade
da largura do rolo compactador.
Se existir mudança de inclinação transversal da pista no eixo longitudinal, o padrão mostrado
na figura 8.31 deverá ser modificado de forma a se ter o mesmo número de passagens em cada
tramo inclinado, conforme a figura 8.33.
Se a camada a ser compactada é espessa e não há confinamento lateral, para evitar o es-
corregamento lateral da mistura asfáltica no limite da camada, deve-se ajustar as passagens
de maneira que a primeira seja realizada próxima dessa extremidade, mas a cerca de 300 mm
para conferir confinamento, conforme mostra a figura 8.34. Para se obter uma compactação
eficiente é necessário que a largura da pista seja coberta pelos rolos compactadores tantas
vezes quantas forem necessárias para que o grau de compactação desejado seja atingido, sem
que a temperatura da mistura asfáltica alcance valores abaixo do mínimo correspondente à
faixa de trabalho. Para isso é necessário que os rolos compactadores trabalhem o mais próximo
possível da vibroacabadora.
São vários os fatores que influem na temperatura da mistura e determinam o tempo neces-
sário de rolagem, conforme a tabela 8.2.
A rolagem de compactação pode ser iniciada com rolos compactadores vibratórios ou ro-
los tandem lisos estáticos e em seguida são utilizados os rolos de pneus. Em algumas obras,
inicia-se diretamente com os rolos de pneus. O número de rolos a serem utilizados deve ser o
necessário para a obtenção do grau de compactação desejado, com a mistura asfáltica man-
tendo sua temperatura dentro da faixa de trabalho. A rolagem de acabamento é executada com
rolos tandem lisos estáticos.
Na execução de camadas com misturas asfálticas com agregados de granulometria descon-
tínua, a rolagem deve ser realizada somente com o rolo tandem duplo liso iniciando a compac-
tação de forma estática e depois usando baixa vibração, pois é fundamental evitar a segregação
durante o processo e, também, manter a estrutura pétrea desejada na camada compactada.
É sempre preferível executar em uma espessura única a camada reciclada de pavimento. A exe-
cução em mais de uma camada introduzirá juntas horizontais de construção que darão origem
a planos enfraquecidos.
A norma DNIT 169/2014-ES limita a espessura mínima de camadas recicladas compacta-
das em 10 cm, não definindo espessura máxima, cuja magnitude dependerá da eficiência dos
equipamentos de compactação disponíveis.
A construção em mais de uma camada é possível quando se utiliza o asfalto espuma na
mistura reciclada. Para isso é necessário que a superfície da primeira camada seja mantida
constantemente úmida até a execução da camada seguinte, que deve ser executada logo após
a primeira camada. Isto possibilita a ligação entre as duas camadas. Quando se utiliza emul-
são asfáltica na mistura reciclada, a umidade na superfície da primeira camada tende a lavar
a emulsão, criando um filme de asfalto na superfície da primeira camada e comprometendo a
ligação com a camada seguinte.
Juntas de construção
As juntas longitudinais de construção são praticamente inevitáveis, uma vez que em poucas
rodovias a execução da base reciclada é realizada em toda a largura do pavimento em uma
única operação. Estas juntas são zonas de fraqueza potencial e devem ser localizadas fora das
trilhas de roda trafegadas. Em rodovias com pistas simples, a junta longitudinal costuma estar
localizada no eixo central. Nestas rodovias a junta longitudinal recebe o seguinte tratamento
durante a execução da camada reciclada:
• uma vez que a mistura reciclada é lançada na primeira metade da pista simples, os 50 cm
próximos da linha central da pista deve receber apenas uma passagem do rolo compac-
tador, sem vibração, mantendo esta faixa numa condição de baixa compacidade;
• imediatamente antes de lançar a mistura reciclada na segunda metade da pista sim-
ples, deve-se promover o umedecimento vigoroso na faixa parcialmente compactada
próxima ao eixo central, bem como na extremidade lateral desta;
• após lançada a mistura reciclada da segunda camada, a faixa parcialmente compacta-
da da primeira camada recebe então a compactação completa e acabamento junto com
a segunda metade.
8.7.3 Compactação
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 611
parte de cima da camada alcance densidades altas que poderiam dificultar a penetra-
ção da energia de compactação até a parte inferior.
• Rolagem secundária: Após a execução de gradeamento da parte superior da camada
para conformação e nivelamento, é utilizado um rolo liso simples, ou em tandem, para
compactar o material da parte superior que foi revolvido pelo gradeamento.
• Rolagem final: Terminado o trabalho de gradeamento, conformação e nivelamento e
após a compactação, utiliza-se um rolo pneumático estático para realizar um acaba-
mento com fechamento da superfície da camada compactada.
Existem vários fatores que devem ser considerados com cuidado e planejamento antes de iniciar
um serviço, quando o material for reciclado in situ, conforme Sabita (2020). A produção diária
de um trem de reciclagem pode ser de cerca de 5.000 m2 ou mais. Quando o asfalto espuma é
utilizado, normalmente o trecho recém executado é aberto ao tráfego no final do dia de trabalho.
Vários fatores devem ser considerados durante o planejamento dos serviços de reciclagem e
são descritos a seguir:
• Detalhes específicos de projeto
Os principais fatores de projeto que influem nos serviços de reciclagem in situ são: a
localização da obra, se urbana ou não; a extensão da obra e o consequente tempo ne-
cessário para sua execução; o tipo de serviço; e a complexidade da execução, rela-
cionada ao número de linhas de reciclagem a serem consideradas e o clima, relacionado
à temperatura e pluviosidade, que são determinantes para definir quando e como o
serviço de reciclagem pode ser executado com sucesso.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 613
– Sistema automático de profundidade e nivelamento para manter a espessura de
corte nivelada e uniforme. A largura mínima efetiva, em uma única passada, deve-
rá ser de 2,50 m;
– Rolo misturador/fresador equipado com ferramentas de cortes especiais. Deverá
ser capaz de operar, no mínimo, em quatro velocidades diferentes, conforme ne-
cessidade, para permitir melhor desagregação e homogeneização dos materiais;
– Bomba d´água com dispositivo para ajustar com precisão a taxa de aplicação de
água em função da velocidade de avanço da recicladora para reciclagem com
emulsão asfáltica;
– Dispositivo para ajustar com precisão a taxa de aplicação de Cimento Asfáltico de
Petróleo/CAP, em função da velocidade de avanço para reciclagem com asfalto
espuma;
– Sistema de injeção de CAP, água e ar para formação de espuma, controlado por
microprocessador para assegurar precisão e uniformidade nas taxas de aplicação;
– “Bico teste” para obtenção de amostras de espuma de asfalto durante a operação.
• Tanques
Os tanques são depósitos de asfalto, emulsão asfáltica e água que suprem a recicladora
destes insumos e devem apresentar capacidade de acordo com o serviço a ser exe-
cutado e com a geometria da via. Normalmente são utilizados tanques de chassis único
com capacidade de ± 15.000 litros.
• Espargidores para fíler ativo
Quando um fíler ativo é aplicado na superfície da rodovia utilizando um espargidor
mecânico, o baixo grau de espargimento necessário – quando são aplicadas quanti-
dades ≤1% em massa – requer um tipo especial de espargidor. São equipamentos
que utilizam dispositivos para medição do pó e permitem graus de aplicação de pelo
menos 0,7%.
• Equipamento de compactação
As características do material a ser compactado e a espessura da camada ditam o tipo
e número de rolos compactadores a serem utilizados. Normalmente são utilizados três
tipos de rolos:
– Rolo primário
É um rolo vibratório de tambor único que segue a recicladora e tem como função com-
pactar o material antes que ele perca umidade. É o mais importante dos três rolos visto
que é responsável por garantir que a camada, especialmente a parte inferior, alcance
a densidade requerida. A massa estática do rolo é crítica e definida a partir da espes-
sura da camada. A tabela 8.3 apresenta as massas necessárias para estes rolos.
Quando são compactadas camadas com espessuras maiores do que 150 mm,
é utilizado um rolo pé de carneiro associado ao rolo primário. As inserções das
patas do rolo na parte superior da camada previnem que este material alcance
altas densidades e com isto impeça que a energia de compactação aplicada pelo
rolo primário alcance a parte inferior da camada.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 615
A sobreposição de 150 mm sobre a linha central aumenta a largura de reciclagem na metade
esquerda da rodovia para 4,15 m e a sobreposição entre os dois cortes reduz-se para 650 mm.
A segunda semilargura (a metade direita) também necessita de dois cortes, mas, desde que
a largura de reciclagem seja de 4,0 m, a sobreposição entre os dois cortes é de 800 mm.
A posição da trilha de roda trafegada pela recicladora também é mostrada no plano de corte
para verificar sua posição relativa às sobreposições. Quando possível, as sobreposições devem
ser localizadas fora das trilhas de rodas da recicladora. Estas trilhas de roda normalmente têm
largura de 750 mm, com o centro localizado a 750 mm do limite da linha de reciclagem.
Figura 8.36 – Exemplo de plano de corte em pista de 8,0 m de largura (Sabita, 2020)
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 617
Figura 8.38 – Exemplo das etapas de construção de um tratamento superficia
(fotos: Franklin Chaves)
Geralmente, os serviços de tratamento são realizados com emulsão do tipo RR-2C que pode
ser modificada ou não por polímeros SBR ou SBS (ver capítulo 2).
A compressão do agregado se dá imediatamente após o seu lançamento na pista. Ela deve
começar pelas bordas e progredir para o eixo, nos trechos em tangente e, nas curvas, deverá
progredir sempre da borda mais baixa para a borda mais alta, sendo cada passagem do rolo
recoberta na vez subsequente em, pelo menos, metade da largura deste.
O número de passadas depende das características do rolo compressor, do substrato, do
agregado e do ligante. É necessária uma avaliação subjetiva, por inspeção visual, do resultado
da compressão de um trecho-teste para a determinação de qual é o procedimento mais ade-
quado de execução e o número ótimo de passadas do rolo. Como a compressão num trata-
mento superficial por penetração não é tão crítica como a compactação nas misturas asfálticas
a quente, pode-se considerar que o número de passadas necessário deve ser tal que não se
perceba mais o rearranjo significativo das partículas nem o sulcamento ou outra marcação pelo
rolo compressor.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 619
Figura 8.40 – Sequência esquemática de construção de um tratamento superficial
A liberação ao tráfego, no caso de se usar como ligante o cimento asfáltico, é permitida após
o término da compactação. Quando se usa emulsão asfáltica como ligante, é aconselhável que
a pista fique fechada até a ruptura e cura total da emulsão, o que se dá em algumas horas.
A especificação de serviço DER/PR ES-P 36/17 do Departamento de Estradas de Rodagem
do Estado do Paraná define a utilização de asfaltos modificados com polímero e asfalto-borra-
cha na execução de tratamentos superficiais a quente. Nesta especificação é indicado o asfalto-
borracha do tipo AB-22 para este serviço.
Conforme Antosczezem Jr (2014), a aplicação de tratamentos superficiais com asfalto-
borracha originou-se nos Estados Unidos na década de 1970 e posteriormente foi difundida
em outros países, com destaque para a África do Sul, que já utiliza esta técnica desde 1980.
Para que a adesão entre ligante asfáltico e a face do agregado aconteça de forma eficaz,
faz-se necessário que o agregado esteja isento de pó e umidade. Sendo assim, há a necessi-
dade da realização de um pré-envolvimento do agregado, geralmente com CAP50/70 num teor
que pode variar entre 0,3 a 1,0%, utilizando-se usina de asfalto convencional, dias antes da
aplicação do tratamento superficial com asfalto-borracha.
Linhares (2021) apresenta pesquisa de utilização de tratamento superficial duplo com as-
falto-borracha em trecho experimental na BR-116 entre Curitiba e São Paulo com o objetivo de
melhorar a aderência pneu-pavimento e reduzir acidentes. O tratamento foi executado sobre
o revestimento asfáltico existente e mostrou bom desempenho mesmo sob condições de tráfego
pesado.
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 621
8.10 EXECUÇÃO DE LAMAS E MICRORREVESTIMENTOS ASFÁLTICOS
As lamas asfálticas são misturas de agregado miúdo, fíler (cal hidratada ou cimento Portland),
água, aditivo (em casos específicos) e emulsão asfáltica. São aplicadas por usinas móveis como
a da figura 8.42, que possui depósitos para os constituintes, misturador e mesa ou caixa distri-
buidora. A figura 8.43 apresenta dois exemplos de aplicação de lama asfáltica.
Assim como as lamas asfálticas, os microrrevestimentos a frio são misturas de agregado
miúdo, fíler (cal hidratada ou cimento Portland), água, aditivo e emulsão asfáltica. A principal
diferença entre ambos é o tipo de emulsão asfáltica utilizada: enquanto na lama asfáltica se usa
uma emulsão de ruptura lenta convencional, no microrrevestimento a frio a emulsão deve ser
de ruptura controlada modificada por polímero.
A especificação de serviço DNIT ES-035/2018 estabelece parâmetros para execução dos
microrrevestimentos asfálticos a frio.
A temperatura de aplicação da emulsão asfáltica para microrrevestimento asfáltico a frio
na pista deverá ser de no máximo 35°C. Caso a temperatura da emulsão seja superior a 35°C,
deve-se aguardar a redução até a temperatura atingir 35°C para então proceder o início da
aplicação.
As usinas móveis para produção e aplicação de lama asfáltica geralmente não possuem de-
pósito para armazenamento de aditivo controlador de ruptura. A mistura produzida com emul-
são de ruptura lenta convencional não apresenta, necessariamente, um tempo preestabelecido
para a ruptura da emulsão e cura da mistura, evaporação de toda a água e liberação ao tráfego,
tempo este que pode ser de quatro a seis horas dependendo das condições climáticas.
No microrrevestimento a frio com emulsão de ruptura controlada, é necessária a utilização
de aditivos retardadores que têm o propósito de evitar a ruptura prematura da emulsão na caixa
distribuidora ou aditivos aceleradores que são responsáveis em auxiliar na cura da mistura após
a aplicação na pista.
A usina móvel de microrrevestimento a frio difere da usina móvel de lama asfáltica pela pre-
sença de um depósito desses aditivos e de uma caixa distribuidora, dotada de uma rosca sem
fim com a função de levar a mistura de forma mais rápida aos pontos laterais da caixa – figura
8.44.
Deve ser realizada uma regulagem prévia das taxas de cada componente da mistura de
modo a assegurar o perfeito controle da dosagem dos materiais conforme o projeto de labora-
tório (ver capítulo 5). A mistura ocorre na seguinte sequência:
a) O agregado cai do silo numa esteira que o leva até a parte de trás da usina móvel numa
velocidade previamente estabelecida.
b) O fíler é dosado, numa taxa que usualmente varia de 0,5 a 1,5% sobre o total de
agregado, logo antes do agregado cair no misturador (pug-mill), onde é adicionada a
água já misturada com o aditivo (se necessário). A quantidade de água ideal é aquela
na qual é obtida uma consistência uniforme da mistura de modo a facilitar sua distri-
buição pela caixa. A quantidade de aditivo pode variar atingindo até 1,0%, a depender
das características da emulsão, agregado, temperatura de pista e condições climáticas.
c) Logo em seguida, após a total mistura dos componentes anteriores, é adicionada a
emulsão convencional (no caso da lama asfáltica) ou modificada por polímeros (no caso
do microrrevestimento a frio).
d) A mistura pronta cai numa caixa de distribuição que tem o objetivo de realizar, de forma
contínua e homogênea, o espalhamento da mistura asfáltica sobre toda a superfície a
ser revestida. A largura da caixa de distribuição é regulável e varia de acordo com a
largura da faixa de rolamento, algumas podendo chegar a até 4,0 m.
Um tempo de mistura adequado deve ser aquele que permita que a mistura asfáltica seja
conduzida do meio até os extremos da caixa distribuidora (trave) sem que ela rompa.
A superfície na qual será executado o microrrevestimento asfáltico a frio deve estar limpa,
seca e livre de defeitos superficiais severos, devendo os reparos necessários serem realizados
antes da execução da camada. Antes da aplicação deve-se verificar a ocorrência de afundamen-
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 623
tos de trilhas de rodas na superfície do pavimento – se ocorrerem e forem superiores a 8 mm, é
necessário o preenchimento dessas trilhas com equipamento apropriado para a execução deste
serviço.
A aplicação do microrrevestimento asfáltico a frio deve ser executada no sentido contrário
ao tráfego.
Após a aplicação do microrrevestimento asfáltico a frio deve-se fazer a rolagem da camada
com objetivo de acomodação dos agregados e com a utilização de rolo liso leve, rolo de pneus
sem lastro ou rolo corrugado leve, com peso máximo de 3 tf.
O início da rolagem deve ocorrer imediatamente após a cura e antes da limpeza e liberação
ao tráfego.
O processo de cura se dá pela ação do calor e por reações físico-químicas que acontecem
entre os emulsificantes e o agregado. Estes dois processos estimulam a liberação e evaporação
da água do sistema, evento facilmente visualizado pela mudança na coloração da mistura apli-
cada, que passa de marrom (cor inicial) ao preto (cor final).
O microrrevestimento asfáltico a frio deve ser mantido com tráfego controlado (velocidade
de 60 km/h) por um período de até duas horas após a liberação ao tráfego, a fim de reduzir
o desprendimento de agregados causado pelo efeito do tráfego. A espessura desses tipos de
serviços varia entre 4 a 15 mm, sendo que para espessuras superiores a 8 mm recomenda-se
sua aplicação em duas camadas.
Recomenda-se executar pintura de ligação somente sobre pavimentos bastante envelhecidos
ou em concreto de cimento Portland. Essa pintura deve ser feita com emulsão de ruptura rápida
diluída em água, na proporção de 1:3 em volume, respectivamente, e aplicada na taxa de 0,5
litros/m2.
Os microrrevestimentos também podem ser a quente, consistindo em misturas de cimento
asfáltico de petróleo e agregados, produzidas em usinas de asfalto e aplicadas utilizando-se
vibroacabadora, exatamente como uma mistura a quente convencional discutida antes, sendo
utilizadas espessuras delgadas (10 a 25 mm) e, por isso, recebendo esta denominação particu-
lar de microrrevestimento a quente.
É possível combinar técnicas consagradas, como o tratamento superficial, seguido de apli-
cação de microrrevestimento, gerando o que se denomina de cape seal, aplicada como uma
solução técnica de recuperação estrutural (ver capítulo 11). Em geral consiste de um tratamento
superficial simples composto de pedrisco com diâmetro máximo de 12,5 mm ou ½ polegada e
emulsão asfáltica modificada por polímero do tipo RR-2C, sobre o qual se executa um micror-
revestimento a frio ou lama asfáltica.
Na recuperação de revestimentos asfálticos com o cape seal, o tratamento superficial sim-
ples é responsável pela inibição da reflexão de pequenas trincas existentes no pavimento, além
de conferir características de flexibilidade e suporte ao sistema. O microrrevestimento a frio
diminui o tempo para liberação ao tráfego (uma hora e meia a duas horas) e tem a função de
reduzir a rugosidade excessiva do tratamento, promovendo uma característica melhor de ma-
crotextura da superfície que garanta a segurança sem comprometer o conforto do usuário. Na
figura 8.45 estão apresentadas as etapas de execução de um serviço típico de cape seal.
Figura 8.45 – Etapas da execução de cape seal (fotos: Greca Asfaltos S.A.)
Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros – Técnicas executivas de camadas asfálticas 625
8.11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
______. DNIT 031/2006-ES: Pavimentos flexíveis: concreto asfáltico. Rio de Janeiro, 2004.
HUNTER, R.N. Asphalts in road construction. London: Thomas Telford Publishing, 2000.
LCPC – LABORATOIRE CENTRAL DES PONTS ET CHAUSSÉES. Les enduits superficiels et les
routes économiques. Paris: LCPC, 1989.
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LINHARES, G.R. Redução de acidentes rodoviários por derrapagem com emprego de Tratamento
Superficial Duplo com Asfalto Modificado por Borracha. 2021. 139 f. Dissertação (Mestra-
do) – Escola Politécnica – Universidade de São Paulo. Universidade de São Paulo. São Pau-
lo. 2021.
SHELL. The Shell bitumen handbook. 5. ed. London: Thomas Telford Publishing, 2003.
SUZUKI, K. (2019). Avaliação de misturas asfálticas recicladas a quente com diferentes teores
de material fresado. Tese USP. São Paulo.