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Crise ambiental: adaptar ou

transformar? As diferentes
concepções de educação
ambiental diante deste dilema

Vicente Paulo dos Santos Pinto


Rachel Zacarias**

Resumo
Este artigo propõe discutir as diferentes concepções da
crise ambiental que estão em disputa na sociedade civil,
visando demonstrar que as diversas interpretações sobre
essa crise não são apenas divergências superficiais, mas
representam um compromisso com a transformação ou
conservação da ordem econômico-social vigente. Além
disso, procura demonstrar as relações entre as concepções
de crise ambiental e o papel da educação ambiental
nesse contexto. O estudo foi realizado a partir de uma
pesquisa bibliográfica e tem como referenciais teórico-
metodológicos os pressupostos centrais do método de
investigação da teoria social marxiana.

Abstract
This article discusses the different conceptions of the
environmental crisis that are in dispute in the civil society,
aiming to show that the different interpretations of this
crisis are not just superficial differences, but they represent
a commitment to the transformation or conservation of
the economic-social system. Further, this article attempts
to demonstrate the relationship between the concepts


Doutor em Geografia, professor do Departamento de Geociências e do Programa
de Pós-Graduação em Educação e Ecologia da UFJF. E-mail: vicente.paulo@
ufjf.edu.br
**
Pedagoga, Mestre em Educação e Doutoranda no Programa de Pós-Graduação
em Serviço Social da UFRJ. É pesquisadora colaboradora do NEC e membro
do Grupo de Educação Ambiental da Faculdade de Educação da UFJF. É coor- Educ. foco,
denadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão das Faculdades Integradas Vianna Juiz de Fora,
v. 14, n. 2, p. 39-54,
Junior- Juiz de Fora. E-mail: rachel.zacarias@gmail.com set 2009/fev 2010
Vicente Paulo
dos Santos Pinto of environmental crisis and the role of environmental
e Rachel Zacarias
education in this context. The study was conducted from
a literature research and its theoretical and methodological
assumptions are based on the central research method of
the Marxist social theory.

Introdução

O capitalismo contemporâneo vem induzindo uma série de


contradições que destroem o trabalho, a natureza e a possibilidade
de reprodução da humanidade, resultado de uma crise estrutural do
capital. Uma crise que vem sendo considerada orgânica, endêmica
e permanente, na qual o sistema se encontra com seus próprios li-
mites intrínsecos.
Uma das principais contradições do sistema do capital na
atualidade é o crescimento da produção a todo custo e o aniqui-
lamento dos recursos naturais. A destruição incontrolável desses
recursos gera sérios problemas ambientais em escala globalizada:
aquecimento da terra, desflorestamento, contaminação de rios e
mares, desertificação, extinção de fauna e flora, perda da biodiversi-
dade entre outros, colocando em risco a vida no planeta.
As consequências ambientais provocadas pela demanda in-
controlável de recursos naturais tende a materializar-se sob formas
graves e num ritmo veloz. Isto leva a vários entendimentos sobre as
causas e consequências da crise ambiental assim como as alternativas
para enfrentar essa problemática e em especial o papel da educação
ambiental nesse contexto.
Os setores reformistas1, de maneira alarmista, vêm dando
ênfase à necessidade de a sociedade global contemporânea se adap-
tar aos problemas ambientais através de mecanismos do mercado
como ecoeficiência, certificações ambientais, protocolos diplomáti-
cos no âmbito da política externa realista (tal como os Tratados de
Quioto e de Copenhague).
Em relação a um trabalho educativo, essa perspectiva
considera que a educação ambiental tem como objetivo incenti-
var comportamentos que favoreçam a adaptação dos indivíduos,
e da sociedade como um todo, face aos problemas ambientais
Educ. foco, contemporâneos, incentivando comportamentos considerados
Juiz de Fora,
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40 “ecológicos”.
O presente artigo utiliza um quadro teórico bastante distinto, Crise ambiental: adaptar
ou transformar? As

pois, ao contrário dessas formulações, parte-se da tese de que a destrui-


diferentes concepções
de educação ambiental

ção ambiental, ou a chamada “crise ambiental”, é uma manifestação da


diante deste dilema

lógica destrutiva do processo de produção e acumulação do capital.


A educação ambiental, nessa perspectiva, tem um papel de-
cisivo no sentido de contribuir para ampliar a consciência crítica
dos indivíduos para a necessidade de construção de uma nova or-
dem sociometabólica sustentável. Isto significa uma opção por uma
educação ambiental crítica, emancipatória que vai além de “ensinar”
bons comportamentos em relação à natureza e ao meio ambiente. É
uma educação ambiental comprometida com as mudanças de valo-
res e a transformação da sociedade.
A partir desse cenário, o objetivo desse trabalho é analisar
as concepções de crise ambiental em disputa na sociedade civil pro-
curando demonstrar o papel da educação ambiental diante das con-
cepções apresentadas.
Para efetivar esse estudo, foi realizada uma pesquisa bi-
bliográfica apoiada nos referenciais teórico-metodológicos cen-
trais do método de investigação da teoria social marxiana. Nessa
perspectiva, a apreensão da realidade social é baseada no princípio
da totalidade, isto é, os fenômenos são compreendidos a partir
de uma realidade complexa e articulada, formada por mediações,
contradições e processos. Uma totalidade que é vista “não como
um todo no qual as partes não sejam explicitadas e bem definidas,
mas uma totalidade constituída a partir da autonomia relativa de
seus múltiplos momentos parciais” (COUTINHO, 2008, p. 92).
Nesse processo de múltiplas determinações, destaca-se o momen-
to econômico, uma determinação entendida não como um mero
reflexo das condições materiais de existência, mas sim como um
elemento que vai condicionar todos os outros processos.

A crise ambiental e a visão reformista

A situação de precariedade encontrada nos sistemas naturais


que sustentam a vida no planeta passa a ser reconhecida oficialmen-
te por diversos setores da sociedade global a partir da década de
1970. A partir desse reconhecimento surgem diversas reações sobre
as determinações da chamada crise ambiental, assim como a busca Educ. foco,
Juiz de Fora,

de alternativas para o enfrentamento desses problemas. 41 v. 14, n. 2, p. 39-54,


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Vicente Paulo
dos Santos Pinto Uma posição hegemônica, defendida por setores refor-
e Rachel Zacarias
mistas, entende que o cerne da destruição ambiental está ligado às
seguintes causas: ao desperdício de matéria e energia, aos limites
físicos e naturais dos recursos naturais, ao excesso da população,
aos altos padrões de produção e ao consumo, dentre outros. Nessa
concepção, esses problemas são causados por uma disfunção que
dificulta compatibilizar desenvolvimento e proteção do meio am-
biente. Portanto, a chamada crise ambiental está ligada ao estilo de
desenvolvimento vigente considerado insustentável.
Uma das causas mais frequentes e consensuais apontadas
por esse campo para explicar a destruição ambiental é a escassez e a
finitude dos recursos naturais. Para demonstrar essa relação, vários
estudos vêm sendo realizados. O relatório “Planeta Vivo”, produ-
zido pelo WWF em 2008, revela que 20% da população mundial
consomem entre 70% a 80% dos recursos no mundo. Esses 20%
comem 45% de toda a carne e de todo o peixe, consomem 68%
de eletricidade, 84% de todo o papel e possuem 87% de todos os
automóveis. Diante desses números, uma das conclusões presentes
no relatório é: “caso o modelo atual de consumo e degradação não
seja superado é possível que os recursos naturais entrem em colapso
a partir de 2030, quando a demanda pelos recursos ecológicos será
o dobro do que a Terra pode oferecer”.
Não resta dúvida de que os resultados do estudo produzido
pela WWF são importantes, pois demonstram as iniquidades pre-
sentes no acesso ao consumo pelo conjunto da humanidade. Nesse
sentido é legítima a preocupação com a economia dos recursos na-
turais – água, solo fértil, florestas. No entanto, o estudo deixa de
lado o que se pode considerar o cerne da discussão em relação a um
novo modelo de produção e consumo que são os fins pelos quais
esses recursos estão sendo usados, ou seja, “são eles usados para pro-
duzir o quê? para quem? na satisfação de quais interesses? para pro-
duzir tanques ou arados? para servir à especulação fundiária ou para
produzir alimentos? para assegurar uma vida digna às maiorias?”
(ACSERALD; MELLO; BEZERRA, 2009, p. 28).
Além dessa lacuna, o documento reforça uma concepção
dominante no seio da sociedade que é a defesa de que as causas da
“crise ambiental” estão relacionadas a uma contradição insuperável
entre um mundo com recursos finitos e um crescimento infinito da
Educ. foco,
Juiz de Fora, produção. Essa é uma das visões mais consensuais a respeito da cri-
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se, mas, quando se passa por uma análise mais profunda, emergem Crise ambiental: adaptar
ou transformar? As

várias dificuldades teóricas que vão desconstruir essa visão.


diferentes concepções
de educação ambiental

A primeira dificuldade apontada por Foladori (2001) está


diante deste dilema

relacionada à defesa da finitude dos recursos naturais, pois o planeta


Terra, como tal, é finito como lugar de vida, haja visto que qualquer
espécie tem seu ciclo de vida determinado. Isso significa que o pro-
blema não está na finitude dos recursos naturais ou das espécies – já
que o limite ou a finitude é uma característica da própria vida na
Terra –, mas, sim, da velocidade de sua utilização. Portanto, nessa
perspectiva, o problema dos limites deve ser considerado um pro-
blema de velocidade de utilização.
A segunda dificuldade está ligada à utilidade de um deter-
minado recurso. Um recurso pode ser ou não utilizado, estando seu
caráter de utilidade ligado à evolução através do tempo. Um dos
exemplos é o petróleo: esse recurso passa a ser utilizado sistematica-
mente em meados do século XIX; antes disso, apesar de existir, não
era considerado útil. Nesse sentido, o que conta é o ritmo da sua
utilização, de seu emprego pela sociedade humana. Para Foladori
(2001, p. 120), “ritmo e utilidade, mostram que os limites físicos ao
desenvolvimento humano dizem respeito primeiro a como se pro-
duzem e se consomem os recursos, isto é, aos ‘limites’ humanos,
acima dos físicos”.
É por isso que a contradição entre os limites físicos e o de-
senvolvimento social parece ser equivocada, uma vez que a sociedade
nunca se defronta em seu conjunto com limites físicos, pois, como
muito bem esclarece Foladori (2001, p. 18), “a sociedade humana
antes de deparar com limites naturais ou físicos está frente a frente
com as contradições sociais”.
No entanto, na perspectiva reformista e liberal, os proble-
mas ambientais são frutos de um mau funcionamento no sistema,
derivados de um estilo de desenvolvimento considerado insusten-
tável. É a partir desse entendimento que esse setor advoga a ne-
cessidade de se adotar um novo estilo de desenvolvimento, agora
“sustentável”. Esse novo conceito passa então a ser referência para se
pensar o desenvolvimento no contexto do domínio do capital.
A implantação desse novo tipo de desenvolvimento defende
ações reformistas da chamada modernização ecológica, destinadas es-
sencialmente a promover ganhos de eficiência e ativar mercados. Suas
Educ. foco,
alternativas estão no âmbito da lógica econômica, conferindo ao mer- Juiz de Fora,
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Vicente Paulo
dos Santos Pinto cado a capacidade institucional de resolver a degradação ambiental,
e Rachel Zacarias
economizando o meio ambiente e abrindo mercados para novas tecno-
logias ditas limpas. Um exemplo de alternativa dentro dos parâmetros
da lógica do mercado é o Protocolo de Quioto. Ele prevê, dentro dos
marcos atuais, que a redução das emissões de carbono na atmosfera
seja estabelecida dentro de um “limite médio” imposto globalmente.
As nações ricas ganham o direito de poluir, aumentando a produção
industrial e compensando suas emissões de carbono através de um
mecanismo de mercado, ou seja, compram as cotas dos países pobres,
possuidores de baixa atividade industrial, para manterem o crescimento
econômico. Trata-se do velho princípio: “eu pago, eu poluo”.
Pode-se dizer que esse novo modelo de desenvolvimento,
proposto dentro da ordem do capital, traz ações remediadoras, ajus-
tes feitos estritamente nos efeitos e consequências. Essas ações refor-
mistas, remediadoras, não são surpresas, e nem poderia ser de outra
maneira, pois enfrentar a destruição ambiental em suas causas exige
adoção de estratégias reprodutivas que mais cedo ou mais tarde en-
fraqueceriam inteiramente a viabilidade do sistema do capital.

A crise ambiental e a visão crítica

Diferentemente da proposta reformista, a perspectiva crí-


tica entende que a chamada crise ambiental deve-se a um conjun-
to de variáveis interconexas, dadas em bases sociais, econômicas,
culturais e políticas, estruturalmente desiguais, que conformam a
sociedade capitalista. Portanto, a crise ambiental não tem como
causa o desenvolvimento tecnológico, o excesso de população, os
altos padrões de produção e consumo, mas é de responsabilida-
de da lógica destrutiva da acumulação do capital. Diz respeito a
um processo que tem duas fontes privilegiadas de riqueza: a ex-
ploração da força de trabalho, através retirada da mais-valia e a
exploração dos recursos naturais. Essas duas fontes contribuem,
fundamentalmente, para o acúmulo de capital. A primeira geran-
do valor, pois só o trabalho tem essa capacidade. Já a natureza é
incorporada como agente no processo de produção pelo capital,
através da apropriação dos recursos naturais coletivos que não são
propriedades privadas, possibilitando, assim, a redução dos custos
Educ. foco,
Juiz de Fora, da produção, de modo a cumprir o desígnio da obtenção do lucro
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44 fácil e imediato do regime de produção capitalista.
Para Foster (2005), a história do capital mostra que o pro- Crise ambiental: adaptar
ou transformar? As

cesso de acumulação impôs a necessidade de expandir fronteiras a


diferentes concepções
de educação ambiental

todas as regiões do mundo para a exploração de seus recursos, assim


diante deste dilema

como da força de trabalho. Esse processo começa a configurar-se


na fase de desenvolvimento mercantil, período em que o capital
conseguiu transformar em mercadorias os minerais, os vegetais, os
animais e o espaço do mundo permanecido até então usufruto das
sociedades pré-capitalistas. Esse processo de saqueamento dos recur-
sos naturais tornou-se uma guerra de extermínios: animais mortos
em numerosas zonas do planeta; ouro e prata pilhados da América,
convertidos em moeda; destruição das florestas com a introdução da
agricultura; e retirada de madeiras para a transformação em carvão.
Pode-se dizer que essa pilhagem de recursos naturais é uma
tendência exclusiva de comportamento em relação ao meio ambien-
te própria do modelo de produção capitalista. Foladori (2001) res-
salta que a primeira tendência exclusiva mais geral é de produção
ilimitada, fruto direto e fundamental de um modelo econômico que
gira em torno da produção de lucro e não da satisfação das necessi-
dades diretas.
Para Mészáros (2007), a lógica da expansão do capital vem
induzindo a uma série de contradições, uma delas é o crescimento
da produção a todo custo e a concomitante destruição ambiental.
Tais contradições levam à destruição dos recursos naturais, solapan-
do uma importante fonte de acumulação do capital. Para o referido
autor, a busca pelo crescimento, em última instância incontrolável,
sempre foi uma característica fundamental do capital, como uma
determinação sistêmica intrínseca. Sem isso o capital não teria con-
quistado o palco histórico, como de fato conquistou. Esse cresci-
mento está fundamentado na taxa de utilização decrescente do valor
de uso das mercadorias.
Para Mészáros (2006, p. 671), essa tendência em reduzir a
taxa de utilização real das mercadorias “tem sido um dos meios pelo
qual o capital conseguiu atingir o seu crescimento verdadeiramen-
te incomensurável no curso do desenvolvimento histórico”. Trata-
se de uma técnica empregada, sobretudo, na área de consumo de
duráveis, como eletrodomésticos, eletrônicos etc., que consiste em
piorar a qualidade dos produtos, levando-os a possuir resistência e
durabilidade menores; “é o obsoletismo artificial, a deterioração dos
Educ. foco,
produtos” (HAUG, 1997, p. 52). Juiz de Fora,
45 v. 14, n. 2, p. 39-54,
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Vicente Paulo
dos Santos Pinto Durning (2002) aponta que estudos realizados na Ingla-
e Rachel Zacarias
terra revelam uma tendência na direção a essa obsolescência plane-
jada. Os eletrodomésticos datados de 1950 são muito mais sólidos,
feitos, em sua maior parte, de metal, com suas partes parafusadas
ou soldadas. Com o passar dos anos, essas máquinas tornaram-se
mais inconsistentes, frágeis, sendo a maioria delas feita de partes
de plástico coladas, em vez de parafusadas. Atualmente, um exem-
plo significativo dessa tendência decrescente do valor do uso dos
objetos é a indústria de computadores. Um equipamento recém-
lançado torna-se obsoleto em pouco tempo, pois a utilização de
novos sistemas passa a ser incompatível com as máquinas, que se
tornam arcaicas.
Para Mészáros (2006), somente se a sociedade puder con-
sumir artificialmente e em grande velocidade (descartar prematu-
ramente) imensas quantidades de mercadorias, antes pertencentes
à categoria de bens duráveis, é que ela se mantém como sistema
produtivo, manipulando até mesmo a aquisição dos chamados bens
de consumo, lançados ao lixo antes mesmo de se esgotar sua vida
útil. Ademais, o que é benéfico para a expansão do capital não é um
incremento na taxa com que uma mercadoria é utilizada, e sim, ao
contrário, o decréscimo de suas horas de uso diário.
Pode-se dizer que isso só foi possível, pois, nesse sistema, o
vínculo entre o uso e a produção foi rompido, impondo a impla-
cável submissão da necessidade humana à necessidade alienante do
capital. Nessa perspectiva, a produção é voltada não para o aten-
dimento das necessidades humanas e sim, para as necessidades de
autorreprodução do capital.
Para Mészáros (2006), tudo isso demonstra como o sistema
do capital é essencialmente antagônico devido à estrutura hierár-
quica de subordinação do trabalho ao capital. De acordo com o
autor, esse antagonismo prevalece em todo o lugar, e é precisamente
por ser estrutural que o sistema do capital sempre deverá permane-
cer assim – irreformável e incontrolável. Partindo desses princípios,
o referido autor ressalta que é inconcebível introduzir mudanças
fundamentais, requeridas para remediar a situação, sem superar o
antagonismo estrutural destrutivo do sistema do capital.
Nesse contexto, o campo crítico defende que a alternativa
capaz de apontar uma saída para a crise verdadeiramente global da
Educ. foco,
Juiz de Fora, humanidade é uma “reorientação qualitativa da reprodução meta-
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bólica” (MÉZÁROS, 2006, p. 632). Isso significa que a construção Crise ambiental: adaptar
ou transformar? As

de uma ordem de reprodução economicamente viável e historica-


diferentes concepções
de educação ambiental

mente sustentável requer modificar as determinações internas em


diante deste dilema

si mesmas, contraditórias da ordem estabelecida, que impõe a sub-


missão da necessidade e do uso humano à necessidade alienante da
expansão do capital.
Mészáros (2006) defende que nessa nova ordem societal
deve existir uma reorientação da produção de riqueza: de limitadora
e perdulária para a direção de uma riqueza de produção humana-
mente enriquecedora, com sua taxa de utilização ótima, antinômica
àquela perigosamente decrescente. Portanto, o tipo de crescimento
necessário e plausível no socialismo só pode basear-se na qualidade
diretamente correspondente às necessidades humanas: “as necessi-
dades reais e historicamente desenvolvidas desde a sociedade como
um todo quanto de seus indivíduos particulares” (MÉSZÁROS,
2007, p. 251-252).
A partir de todas essas reflexões, pode-se dizer que um dos
maiores desafios é aquele que envolve a transformação de toda or-
dem social. Isso requer, de acordo com Mészáros (2007, p. 358),
“uma consciência crítica inflexível da inter-relação cumulativa, em
lugar de buscar garantias reconfortantes no mundo da normalidade
ilusória até que a casa desabe sobre nossas cabeças”.
É nesse cenário que o papel da educação e, em especial, o da
educação ambiental torna-se fundamental. Pois poderá contribuir
no processo de construção de uma consciência crítica dos indiví-
duos. Para tanto, é preciso que se rompa com a visão conservadora
e reformista centrada na busca de adaptações dos indivíduos diante
da crise ambiental e se assuma uma perspectiva crítica comprometi-
da com a transformação do atual modelo sociometabólico. É sobre
essas questões que o próximo item vai tratar.

O papel da educação ambiental e as concepções de crise


ambiental: adaptar ou transformar

Para discutir o papel da educação ambiental no contexto


de crise é importante clarificar que esse estudo parte do princípio
de que o cerne da educação ambiental é a educação. Uma educação
que se sustenta de uma pedagogia liberadora comprometida com Educ. foco,
Juiz de Fora,

a transformação social. O termo educação ambiental é composto 47 v. 14, n. 2, p. 39-54,


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Vicente Paulo
dos Santos Pinto por um substantivo e um adjetivo que envolvem respectivamente
e Rachel Zacarias
o campo da educação e o campo ambiental. Segundo Layrargues
(2004), o substantivo educação confere a sua essência, definindo os
próprios fazeres pedagógicos necessários à prática educativa, o adje-
tivo ambiental anuncia o contexto desta prática educativa, ou seja, o
enquadramento motivador da ação pedagógica. Portanto, educação
ambiental é educação e, como tal, pode contribuir para manter a
atual estrutura da sociedade ou colaborar para a transformação do
atual modelo sociometabólico.
Além disso, acredita-se que as visões que estruturam o de-
bate da crise ambiental refletem por extensão nas práticas educativas
que tem como tema a questão ambiental. É nesse contexto que esse
item do trabalho discute as relações existentes entre as concepções
de crise ambiental e o papel da educação ambiental.
Como discutido acima, uma compreensão reformista da
crise ambiental defende que as causas do atual estágio de degra-
dação do planeta estão relacionadas ao desperdício de matéria e
energia, a “explosão demográfica”, a falta de eficiência nos proces-
sos produtivos. As alternativas dessa visão para superação da crise
estão relacionadas às ações da chamada modernização ecológica,
destinadas essencialmente a promover ganhos de eficiência e ativar
mercados. Agem, principalmente, no âmbito da lógica econômi-
ca, conferindo ao mercado a capacidade institucional de resolver a
degradação ambiental, economicizando o meio ambiente e abrin-
do os mercados para novas tecnologias ditas limpas, sem mudar o
modelo econômico vigente.
Em relação a um trabalho educativo, essa perspectiva con-
sidera que a educação ambiental tem um papel decisivo no sentido
de incentivar comportamentos que possam favorecer a adaptação
dos indivíduos e a sociedade face aos problemas ambientais con-
temporâneos, incentivando comportamentos que são considerados
“ecologicamente corretos”.
Para Gustavo Lima (2002), as ações de educação ambiental
baseadas nessa visão têm, entre outras, as seguintes características:
uma tendência a sobrevalorizar as respostas tecnológicas diante dos
desafios ambientais; uma leitura individualista e comportamentalis-
ta da educação ambiental e dos problemas ambientais; uma abor-
dagem despolitizada da temática ambiental; uma separação entre
Educ. foco,
Juiz de Fora,
as dimensões sociais e ambientais da problemática ambiental; uma
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48 responsabilização dos impactos ambientais a um homem genérico.
Essa abordagem é facilmente visível em programas e pro- Crise ambiental: adaptar
ou transformar? As

jetos de educação ambiental desenvolvidos pelas grandes ONGs2,


diferentes concepções
de educação ambiental

pelas TVs3, empresas e por muitos educadores ambientais. Em ge-


diante deste dilema

ral, incentivam a criação de hábitos como, por exemplo, a econo-


mia de energia e de água, a separação do lixo visando a reciclagem
das embalagens, etc. É importante ressaltar que todas essas ações
são fundamentais em um outro modelo sociometabólico. O que
se questiona são os pressupostos dessa concepção e a forma como
são abordados os problemas e o papel da EA. Genericamente, esses
programas educativos partem da ideia de que, se “cada um fizer
sua parte”, é possível superar os problemas da degradação ambien-
tal. Além disso, essa proposta pedagógica não discute as causas e
os sintomas dos problemas, e muito menos visa a transformação
da ordem social vigente.
Ao contrário da visão reformista, a concepção crítica4 se
define no compromisso de transformação da ordem social vigen-
te, de renovação plural da sociedade e de sua relação com o meio
ambiente. Está relacionada aos movimentos sociais e libertários da
sociedade civil.
Para essa concepção, a crise ambiental é uma manifestação
da lógica destrutiva do processo de produção e acumulação do ca-
pital. Isso significa que as condições que levam à degradação am-
biental têm causas econômicas e políticas: sua gênese está ligada às
relações sociais que se firmam entre os seres humanos a partir da
maneira como se distribuem os meios de produção.
Quanto ao papel da educação ambiental, a abordagem crí-
tica acredita que este seja um processo permanente, no qual indi-
víduos e comunidades tomam consciência das questões relativas ao
ambiente e adquiram conhecimentos. Valores e atitudes que possam
torná-los aptos a agir, individual e coletivamente, no sentido de bus-
car transformar as causas estruturais da crise ambiental. Isto implica
uma opção por uma educação ambiental crítica, emancipatória, que
vai além de “ensinar” bons comportamentos em relação à natureza e
ao meio ambiente. É uma educação ambiental comprometida com
as mudanças de valores e a transformação da sociedade.
Para Lima (2002), uma proposta pedagógica a partir dessa
visão possui algumas características: uma compreensão complexa e
multidimensional da questão ambiental; uma politização e publi-
Educ. foco,
cização da problemática socioambiental; uma associação dos argu- Juiz de Fora,
49 v. 14, n. 2, p. 39-54,
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Vicente Paulo
dos Santos Pinto mentos técnico-científicos à orientação ética do conhecimento, de
e Rachel Zacarias
seus meios e fins, e não sua negação.
Além dessas características, uma proposta pedagógica de
educação ambiental numa perspectiva crítica deve aplicar um en-
foque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada
disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva de totalidade.
Deve ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas
e conflitos socioambientais.
Pode-se dizer que as práticas educativas, que têm como
elemento estruturante os conflitos ambientais, podem se constituir
num espaço privilegiado para discutir as questões ambientais numa
perspectiva crítica. A noção de conflito ambiental vem sendo pen-
sada no interior do processo de construção do campo ambiental e
a noção de campo; neste estudo está tomada no sentido conferido
por Bourdieu (1989) a noção de campo de forças, isto é, um campo
social em que se constituem relações de concorrência e de disputa
de poder entre agentes nele situados.
Para Oliveira (2004), o campo ambiental, tal como os cam-
pos jurídico e político definidos por Bourdieu, constitui-se também
num espaço social de diferenciações, em que são travadas lutas de
poder e lutas simbólicas, no bojo das quais os agentes se esforçam para
manter ou transformar a estrutura das relações existentes no campo,
legitimando ou deslegitimando práticas sociais ou culturais.
Nesta perspectiva, os conflitos ambientais são:

aqueles envolvendo grupos sociais com modos diferentes de


apropriação, uso e significado do território, tendo origem
quando pelo menos um dos grupos tem a continuidade das
formas sociais de apropriação do meio que desenvolvem
ameaçada por impactos indesejáveis-transmitidos pelo solo,
água, ar ou sistemas vivos-decorrentes do exercício de práti-
cas de grupos (ACSELRAD, 2004, p. 26).

Para Oliveira (2004), a luta destes grupos sociais no campo


simbólico estará relacionada à capacidade de cada qual em fazer com
que suas respectivas representações e crenças, neste caso, relaciona-
das aos recursos ambientais, sejam reconhecidas como legítimas. No
campo material, os diversos tipos de capital (social, econômico, e
Educ. foco, político) constituem trunfos com pesos relativos no espaço social
Juiz de Fora,
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50 em que se configuram as relações de hegemonia e dominação.
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Outro elemento importante a ser considerado é quanto Crise ambiental: adaptar
ou transformar? As

à origem dos conflitos. Estes podem derivar das disputas por


diferentes concepções
de educação ambiental

apropriação de uma mesma base de recursos ou de bases distintas,


diante deste dilema

mas interconectadas por interações ecossistêmicas mediadas pela


atmosfera, pelo solo, pelas águas etc. É importante ressaltar que,
apesar de os problemas ambientais serem os motes dos conflitos,
a existência destes problemas não se constitui em conflito, pois
o conflito se estabelece quando há alguma reação da sociedade.
Carvalho e Scotto (1995) afirmam que, onde há risco e/ou dano
social/ambiental, pode não haver nenhum tipo de reação por parte
dos atingidos ou de outros atores da sociedade civil; portanto, isto
não se configura em um conflito.
Essas colocações sobre as diferenças entre problemas am-
bientais e conflitos ambientais são fundamentais, pois, numa pers-
pectiva crítica de EA, os conflitos ambientais podem ser o fio con-
dutor, os “temas geradores”5 de um trabalho educativo. Para que isso
aconteça, é fundamental que o professor, ou o educador ambiental,
tenha uma formação consistente que o possibilite compreender as
causas políticas, sociais, econômicas e naturais do conflito, e, prin-
cipalmente, o papel dos sujeitos envolvidos na organização social e
participação popular.

Considerações Finais

Ao final dessas reflexões, pode-se reafirmar que as diferentes


concepções sobre as determinações da crise ambiental, presentes na
sociedade civil, não são divergências superficiais, mas representam a
conservação ou transformação da ordem vigente.
Como se depreende, a visão reformista argumenta que as
determinações da crise ambiental estão relacionadas às dificuldades
técnicas, que se originam da contradição entre os limites físicos e so-
ciais, ou aos altos padrões de produção e consumo, principalmente
dos países ricos.
Um ponto que evidencia o compromisso dessa concepção
com a conservação da ordem política, social e econômica vigente
está nas alternativas defendidas por esse campo para o enfrentamen-
to da crise ambiental. Essas são pensadas dentro da lógica do mer-
cado; portanto, se conectam perfeitamente ao fluxo da história das Educ. foco,
Juiz de Fora,
classes dominantes. 51 v. 14, n. 2, p. 39-54,
set 2009/fev 2010
Vicente Paulo
dos Santos Pinto A educação ambiental a partir da perspectiva reformista
e Rachel Zacarias
tem um papel importante no sentido de incentivar bons comporta-
mentos em relação ao meio ambiente, como por exemplo, as cam-
panhas de coleta seletiva e reciclagem. Essas campanhas, como já
foi apontado por vários estudos6, ao invés de possibilitarem uma
discussão profunda sobre os atuais padrões de produção e consumo,
o consumismo e as desigualdades distributivas, dão ênfase ao papel
individual do consumidor, valorizando apenas um único bom com-
portamento: a separação do lixo.
A visão crítica adota uma perspectiva diametralmente opos-
ta à perspectiva reformista. Considera a chamada “crise ambiental”
como sendo uma das principais manifestações da lógica destrutiva
do capital. Essa lógica destrutiva está presente tanto na exploração
do capital pelo trabalho, quanto na irracionalidade do uso dos re-
cursos naturais.
Portanto, o pensamento crítico compreende que as causas
da crise ambiental não são apenas determinadas por fatores con-
junturais ou pela ignorância tecnológica. As causas da degradação
socioambiental devem-se a um conjunto de variáveis intercone-
xas que se dão em bases sociais, econômicas, culturais e políticas
estruturalmente desiguais, que conformam o modo de produção
capitalista.
As práticas sociais e educativas, a partir de uma visão críti-
ca, devem ir além do incentivo de comportamentos considerados
ecologicamente corretos e o mapeamento dos problemas ambien-
tais. Devem possibilitar a discussão crítica dos problemas e conflitos
socioambientais, identificando suas causas, consequências e alterna-
tivas. Além disso, deverão proporcionar a construção de novos valo-
res e atitudes diante desses novos desafios ambientais, e, principal-
mente, estar comprometidas com a construção de uma nova ordem
sociometabólica. Por fim, para que isso aconteça, é necessário que
o professor, o educador ambiental, tenha uma formação ambiental
que o possibilite a compreender os problemas e conflitos ambientais
numa perspectiva integral envolvendo as dimensões econômicas,
sociais, política, ideológica, cultural e ecológica.

Notas
Educ. foco,
Juiz de Fora,
Esses setores integram desde representantes ligados a instituições financeiras mul-
1

v. 14, n. 2, p. 39-54,
52 tilaterais, as grandes corporações nacionais, até ONGs ambientalistas globais.
set 2009/fev 2010
2
Um dos exemplos é a campanha desenvolvida pelo Greenpeace sobre o aqueci- Crise ambiental: adaptar
ou transformar? As
mento da Terra. O filme “Mudança de vida e mudança de clima” apresenta uma diferentes concepções

discussão interessante sobre o aquecimento global, apresenta causas como o des-


de educação ambiental
diante deste dilema

matamento da Amazônia, o tipo de transporte utilizado nas grandes cidades, mas


não toca no modelo econômico. Além disso, apresenta como alternativa a adap-
tação do indivíduo nesse novo contexto, incentivando, por exemplo, a adoção de
energia solar.
3
Um dos programas de TV que se insere nessa concepção é o Globo Ecologia.
4
Para definir uma concepção de EA que rompe com a visão reformista, os educa-
dores ambientais no Brasil vem utilizando: Educação ambiental emancipatória,
educação ambiental transformadora, educação ambiental popular. Todos esses
conceitos partem de uma visão crítica da crise ambiental e estão comprometidos
com a transformação da atual ordem vigente.
5
O conceito de temas geradores é entendido a partir da Pedagogia de Paulo Freire.
6
A dissertação de mestrado de um dos autores desenvolvida nos meados da década
de 1990 já apontava para essa contradição. O referido estudo demonstrou que na
época uma das mais populares campanhas de latinhas desenvolvidas nas escolas,
patrocinada pela Latasa, na verdade era mais uma necessidade de mercado do que
um trabalho educativo, já que a empresa tinha como objetivo mudar os padrões
de consumo dos brasileiros. Para maiores informações, consultar: ZACARIAS, R.
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Data de recebimento: fev/2009


Data de aceite: jul/2009

Educ. foco,
Juiz de Fora,
v. 14, n. 2, p. 39-54,
set 2009/fev 2010
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