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Margarida Bernardino
Sou uma pessoa que pensa muito. Então desenvolvi uma técnica para fazer com que a minha
Não metaforicamente como quando estamos a fazer alguma coisa que nos dá prazer.( eu não
sinto prazer) Ou até mesmo quando estamos com aquele amigo e não queremos que o tempo
acabe ( eu não tenho muitos amigos). E certamente não me refiro àquela figura de estilo que
diz quando “soltamos um suspiro que não sabiamos que estavamos a prender”. Não, senhor,
eu estou totalmente consciente de cada respiração que dou, seja esta intencional ou não,
porque o tempo, de facto, para. Enquanto eu não estiver a inspirar ou a expirar, pelo menos.
Devido à minha capacidade única, tenho treinado para acalmar o coração e diminuir o
consumo de oxigênio e, com isso, aumentei o meu limite para quase dois minutos e meio, o
que é bastante surpreendente. Alguns atletas podem aguentar 5 minutos ou mais. O recorde
mundial é superior a vinte e quatro. Eu poderia fazer muita coisa com o tempo congelado em
vinte e quatro minutos, mas de que adiantaria se eu tivesse que permanecer completamente
imóvel?
Dois minutos é muito tempo quando o tempo se dissolveu como uma restrição, mas mesmo
com dois minutos estou limitada. Então, por que não juntar vários pedaços de dois minutos?
É alarmante. As pessoas a ligarem para o 112 e ter que explicar educadamente que obrigado,
mas não, obrigado. Depois de alguns minutos de recuperação, posso simplesmente prender a
Felizmente, esta minha proeza não foi parar a nenhum site de um meio de comunicação.
Ainda. Estou a chegar ao ponto em que me importo cada vez menos em assustar as pessoas
ou em deixá-las desconfortáveis, então aparecer nos trend topics das redes sociais parece
Principalmente eu não me importo porque começo a perceber que todos estão presos nesta
progressão linear do tempo. Mas não importa. Assim que reconheci que o tempo era algo que
poderia ser controlado e que com isso poderia apagar a minha existência por breves
momentos, algo rachou dentro de mim, como uma casca de ovo da qual eu poderia sair a
rastejar nascendo de novo num outro mundo. Algo que me prendia antes. Algo que
tempo, daquela ansiedade, angústia e antecipação. A necessidade de ir, ir, ir. Eu posso parar.
Parar de verdade. E quando eu o faço, o mundo para comigo. É milagroso. Até as gotas de
chuva ficam suspensas no ar. Os beija-flores tornam-se uma natureza morta, livres do seu
bater frenético. O riso de uma criança perlonga-se como um caramelo; o momento em que
um marinheiro beija a sua amada dura mais alguns minutos. Eu pergunto-me se aquela
gargalhada ou aquele beijo se tornaram de alguma forma mais doces por causa do que lhes
dei. Não a dádiva de mais tempo, mas alguns minutos completamente fora dele.
Apenas uma estadia temporária, e então a vida volta com força total. As ondas sonoras
retornam, atividade incessante dos seres humanos, o caos incontrolável, o nosso planeta a
girar em torno do Sol, pairando algures na nossa galáxia, voando no vazio infinito do
universo.
De repente, avistei ao longe uma senhora, com uma expressão tranquila. De cabelos brancos
Naquele momento parei de perceber a minha própria respiração e olhei atentamente à minha
volta. Estou num jardim cheio de vida, as cores vibrantes dançam sob a luz do sol, criando
um espetáculo de vida e alegria. À minha volta, uma profusão de flores em tons vivos e
delicados erguem-se em canteiros bem cuidados. Rosas vermelhas exalam o seu perfume
doce, contrastando com lírios brancos que brilham sob os raios solares.
A idosa olhou para mim e sorriu como se me entendesse, em vez de correr até mim
Eu inalei e prendi aquela respiração preciosa, preciosa. O tempo parou. Eu considerei o meu
próximo passo. Cuidado, não podia pisar as flores tão lindas que são.
Eu não tinha vontade de parar o tempo novamente. Eu queria aprender a viver com a vida até