DIRETRIZ: o trabalho poderá ser feito individualmente ou em grupos de até 06 pessoas, e
entregue pessoalmente ou por e-mail (para liliangulmini@yahoo.com.br); neste caso, aguarde confirmação do recebimento em sua caixa postal. Data máxima para entrega do trabalho: 25 de junho de 2009 – impreterivelmente.
FRAGMENTOS PARA ANÁLISE
Considere os fragmentos abaixo, extraídos de BRUNTON, PAUL, A Índia Secreta. São Paulo, Ed. Pensamento, s/d., nos quais o autor documenta seu encontro com dois yogues na Índia dos anos 1930-40:
1. VISITA AO SÁBIO QUE NUNCA FALA
Voltei ainda para visitar o »Sábio que nunca fala«, mas desta vez acompanhado de duas pessoas: uma, o meu intérprete habitual, e a outra, o yogue a que devo tantos conhecimentos preciosos, o meu bom amigo Brahma, o anacoreta de Adyar. Evidentemente Brahma não aprecia muito o bulício da cidade, mas ao saber do objetivo de minha jornada aceitou logo acompanhar- me. Perto do cercado encontramos um outro visitante que deixara seu carro estacionado na estrada e vinha atravessando o campo a pé, sem dúvida também desejoso de contemplar o sábio. Acaba por narrar-me que é irmão da rainha de Gadwal, um pequeno estado tributário do Nizam de Hyderabad, e arroga-se a generosidade de também ser protetor do yogue, contribuindo para sustentar o bangalô. Estando de passagem em Madras, não quer regressar à sua terra sem antes homenagear o sábio e solicitar a sua bênção. Quanto ao valor dessa ação de graça, o irmão da rainha cita a seguinte história: »Uma dama da corte da rainha de Gadwal vivia em desespero por ter o filho atacado por uma perniciosa doença. Um dia, ouvindo por acaso uma conversa, soube da existência do Sábio que nunca fala, e apesar de ser muito longa a viagem até Madras, não hesitou e veio suplicar ao sábio que lhe salvasse a criança. O yogue cedeu às lágrimas da mãe e, no mesmo instante, o milagre se fez: o enfermo incurável e condenado à morte foi salvo! O fato chegou aos ouvidos da rainha, que fez questão de vir agradecer ao eremita: sua majestade ofereceu-lhe a soma de seiscentas rúpias, que ele não quis aceitar. Finalmente, ao ver a devoção e a insistência da rainha, o asceta consentiu que empregasse o dinheiro na construção de um cercado em volta da casa que o protegesse dos curiosos e evitasse que tão freqüentemente ele fosse interrompido durante a meditação. A rainha satisfez-lhe a vontade.« Eis-nos, afinal, os quatro, diante do bangalô. O criado deixa-nos entrar. Como da primeira vez, achamos o yogue em êxtase e acocoramo-nos em silêncio, formando meio círculo em torno dessa estátua majestosa e grave, ereta no seu suporte de mármore. No fim de uma hora e meia, começamos a perceber os primeiros sinais de retorno à vida: a respiração vem mais funda, mais perceptível, as pálpebras começam a bater, os globos oculares se revolvem e voltam ao lugar na órbita. Os músculos se distendem, a posição do corpo toma uma atitude mais frouxa e, no fim de cinco minutos, uma expressão diferente no seu olhar deixa perceber que o sábio voltou à consciência do meio que o rodeia. Com atenção ele olha meu intérprete, volta a cabeça para o lado de Brahma, para o irmão da rainha, e por fim para mim. Aproveitando o interesse, coloco aos seus pés um bloco de papel e um lápis; por um momento ele vacila, depois os toma e escreve com letra elegante, em tâmil: - Quem foi que, um dia desses, quis tirar-me fotografias? Sou obrigado a confessar minha ousadia, embora minhas chapas não estivessem boas por faltar-lhes nitidez. Ele retoma o lápis e escreve: - Quando o senhor for visitar yogues em êxtase, não os incomode jamais dessa forma. É arriscado interromper bruscamente uma meditação. No meu caso não houve maior importância, mas eu lhe digo, apenas para avisá-lo, a não proceder assim por ocasião das visitas que pretende futuramente fazer aos yogues. Tal interrupção pode ser perigosa para eles e também atrair maldição para o senhor. (pp. 102-103) (...) ...meu desencanto é prematuro, pois eis que o sábio retoma o lápis e escreve algo no papel; curvo-me para apanhá-lo de sua mão, passando-o ao intérprete. - Sinto dificuldade em decifrar a caligrafia, que é difícil de ser lida – diz o intérprete, voltando-se para mim. - O universo é tão cheio de mistérios... – balbucio, perplexo. Mas, ao ouvir essas palavras, percebo um leve sorriso irônico passar pelos lábios do sábio. - Se o senhor não entende a si mesmo, como quer compreender o universo? Nossos olhares se encontram. Ele está me fixando com seu estranho olhar; sinto por trás desse olhar um mundo de pensamentos ocultos, segredos ciosamente guardados. (...) - Mas, mestre, onde buscar, aonde ir? - Procure em si próprio, pois só em si achará a verdade que aí se oculta profundamente. - Procurei em mim e não achei senão ignorância. - A ignorância existe só em seus pensamentos – escreveu ele laconicamente. - Perdoe-me mestre, mas suas respostas não fazem senão aumentar minha confusão. O sábio, sorrindo da minha temeridade, hesita um pouco e acrescenta: - Isso acontece porque o senhor está raciocinando em seu atual estado de ignorância. Volte ao ponto de partida e comece a pensar com sabedoria que, na realidade, não é outra coisa senão o autoconhecimento. O pensamento é como uma carroça de bois que leva o homem à escuridão de uma gruta funda encravada na rocha. Volte para trás e o senhor verá novamente a luz. O yogue, vendo-me cada vez mais confuso, faz sinal para retomar o papel e escreve, depois de ter levantado o lápis no ar por um momento: - Este retorno do pensamento é o Yoga em sua essência; o senhor me compreende agora? (pp. 104-105)
2 – VISITA A RAMANA MAHARISHI
Olho o Maharishi, fixando-lhe bem os olhos, esperando chamar-lhe a atenção; seus olhos, de cor castanho-escura, são muito abertos. Não sei se ele tem ou não consciência de minha presença, pois nenhum sinal exterior o denota; o corpo conserva a rigidez de estátua. Essa imobilidade, acho-a sobrenatural. Não, ele não pode me ver porque seus olhos estão parados num vácuo, fixos e ausentes como se estivessem em esferas longínquas, onde não se tem acesso. (...) Ao ver o homem sentado, imóvel, minha primeira idéia deve ser a mesma de qualquer ocidental: essa atitude, será simplesmente uma atitude fingida? – Não, o homem está em êxtase! Tenho certeza, embora meu guia não me explicasse nada. Aí vem uma outra hipótese: será que esse estado de contemplação mística é apenas um vácuo da mente? Finalmente, afasto também essa idéia, por uma razão muito simples: acho-me incapaz de responder. Contudo, alguma coisa neste homem me atrai como ímã: não posso desviar dele meus olhos e, pouco a pouco, com minha surpresa, a confusão que senti ao chegar aqui desapareceu e cedeu lugar a uma muito estranha, porém imperiosa fascinação. Duas horas se passam. Começo a notar uma mudança singular a efetuar-se em mim. As perguntas que meticulosamente elaborei no trem começam a cair, uma após outra. Acho-as tão fúteis para formulá-las. Os problemas que me assediavam parecem tão insignificantes!... Começo a sentir uma imensa quietude, uma paz infinita a envolver-me como se ela fosse vinda das partículas do ar que respiro aqui. Não compreendo como se pode dar isso, mas sinto minha mente, torturada pela tirania dos pensamentos, acalmar-se, como que perder-se no esquecimento. Percebo agora quão fúteis são, de fato, essas perguntas! Quão mesquinha é a fuga dos anos perdidos... Com nitidez concebo de súbito que a mente cria seus próprios problemas, torturando-se em vão para resolvê-los. Para quem até agora dava valor soberano ao intelecto, a idéia é de fato nova. Abandono-me a ela com tanto prazer que me dá essa sensação de repouso – eis que duas horas se passaram sem que me sentisse aborrecido ou irritado! A corrente pesada de problemas à qual estava amarrada minha mente parece afrouxar-se e largar-me. Pouco a pouco, todavia, uma nova pergunta me invade: qual será o mecanismo desse fenômeno? A sensação de paz que sinto emana desse homem qual o perfume da flor? Não acho resposta. No entanto, sinto minhas próprias reações! Essa suspeita vai crescendo: será que essa paz divina que nasce em mim é o resultado de minha situação geográfica atual, ou quiçá um reflexo natural da minha mente, perante a forte personalidade do Maharishi? Essa quietude que se segue ao bulício de minha alma, será obra sua? Como a consegue? Por algum processo telepático ainda desconhecido? - Não sei, mas por incrível que pareça, ele ali está, quietinho, completamente absorto, e na certa nem sabendo da minha existência. (pp. 130-132) QUESTÃO 1 (valor: 6,0 pontos) Considere os fragmentos acima e as questões do autor colocadas em negrito. Tomando como base seus conhecimentos acerca da cultura sânscrita do período bramânico obtidos no decorrer do curso, e com o auxílio dos textos de apoio que fizeram parte da bibliografia do curso, elabore uma resposta às questões de Paul Brunton. Como você explicaria ao autor as idéias e princípios que norteiam as práticas e objetivos desses yogues? Como você lhe elucidaria o »mecanismo desse fenômeno«? Sua resposta deve conter referências a fragmentos das Upaniṣad e do Yogasūtra, e também explicações para os seguintes termos sânscritos: ātman, Brahman, puruṣa, pU rakṛti, Sāṁkhya, buddhi, manas, sattva, saṁsāra, samādhi.
QUESTÃO 2 (valor: 4,0 pontos)
ESCOLHA UMA dentre as três questões abaixo e, com o auxílio dos textos de apoio e do conteúdo das aulas, elabore um texto dissertativo em que sejam discutidos os principais elementos relativos ao tema escolhido: a) Por quais razões as Upaniṣad são consideradas uma 'ortodoxia desviante' com relação aos textos Brāhmaṇa, e por que estes são considerados representativos da »ortodoxia conservadora«? Argumente e exemplifique com excertos dos textos de apoio e da apostila do curso. b) Quais são os principais fatos da história e da formação da sociedade hindu no período épico-bramânico (séculos IX a.C.-I-II d.C.)? (Faça referências ao Império Maurya e ao Código de Leis de Manu) c) Elabore uma dissertação acerca das principais idéias das duas mais importantes heterodoxias surgidas no período épico-bramânico: Jainismo e Budismo.