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Algum lugar. Cabeça de What. Algum Momento.

Aos moldes gregos de um mar sem fim com uma perturbadora


protuberância em formato de farol rodeada por áreas rasas praieiras e
pássaros brancos que possuíam essa única cor para se destacar minimamente
ao horizonte antes de sumirem quando encontravam as nuvens.
Nesse pequeno farol, ao enorme som das ondas e sobre a sombras
inexplicável em um local a céu aberto, What observava o semblante divino a
beber um liquido azulado cristalino com cubos de gelo perfeitamente
quadrados, quase emitindo um brilho próprio.
-- Porque estamos aqui? – What questionou percebendo aos poucos
onde estava sentada, vendo moveis de pedra semelhantes aos pilares gregos.
-- Apenas quero fazer um teste, pra isso pensei em um local para lhe
acalmar. – comentou deslizando os braços enquanto desviou o olhar ao
horizonte que abriu e reluziu, distorcendo parapeitos e aflorando a zona
marinha em imensidões de sua fauna e flora alterada. – Me diga What, gosta
do que vê?
A doutora retraiu-se enquanto percebeu que sua posição se aproximava
da de Tetra, tendo seu deslocamento feito por irregularidades que dançavam
no canto de seus olhos como vultos a consumir as poucas coisas que tinha
noção.
-- Você pode ler o que eu penso, do que vale me perguntar?
-- Não responda uma pergunta com outra pergunta, estou paciente hoje,
quero fechar pequenas lacunas que acabei criando. – comentou com certo ar
superior, mas pouco severo, algo completamente desconexo com o habitual. –
Vamos, me explique cada detalhe do que sua reles existência humana
consegue sentir para que eu poça falar o quão falha você é com base em
nossa diferença.
-- Tsc... – murmurou desviando a visão. – A agua tras certo conforto,
mas eu não sei explicar o porquê, parte dessa ambientação artificial me remeta
e um sentimento de calma e uma fadiga distorcida.
-- Só isso?
-- O que você fala é tão interessante quanto. – retrucou tentando se
levantar, tendo dificuldade a cada paço enquanto o solo se provava realmente
solido.
What caminhou até próximo a brecha criada, percebendo que, com seu
aproximar, a sombra que os rondava se expandia. Cabisbaixa e pensativa,
desviou o olhar para Tetra que cruzou os braços, também se levantando.
-- Uma deusa que representava os desertos não conseguir curar a
fraqueza de um corpo ao sol, mesmo que essa parte da Inglaterra possua
poucos focos de deserto ou savana, é bom ver que mantem o complexo de
inferioridade.
Com passos lentos e sem produzir som algum, as duas se encararam
durante todo o percurso, parando a poucos metros onde continuaram em
silencio, como se Tetra estivesse contendo um forte sentimento, algo que What
viu como ameaça de um possível ataque, mas não foi o caso.
Trazendo o foco a suas distorções novamente, o olhar de Tetra
demarcou o local de foco. Novamente as duas encaravam o mar a se elevar,
como um tsunami que cobria o farol em que estavam, o evitando como se
ambas estivessem em uma grande cúpula transparente.
-- Diga, o que você considera um deus ou divindade.
Desviando o olhar com leve desdenho, What rapidamente se aquietou e
focou na imensidão de água a lhe rondar.
-- Poderia ser mais especifica?
-- Um conceito que eu acabei observando de fora em sociedades
humanas foi o próprio conceito de divindade. Na visão de pessoas limitadas e
sem acesso a conexões com o meio divino, o próprio conceito de divindade
fora difundido e teorizado de formas diferentes. Desde de que um deus é uma
força natural, uma pessoa ou um simples conceito imaterial... – suspirou
cabisbaixa. – De certa forma todas essas definições estão certar, no primórdio
dos tempos, deuses eram puras representações de conceitos e ideias que hoje
em dia seriam coisas banais, mas antigamente o próprio conceito de sons
distintos formando palavras era algo incrível.
-- Você parece descrever neandertais quando fala dessa forma...
-- Sim, eu sei, é estranho pensar isso, me faz pensar que deuses nada
mais são que humanos, que nossos conceitos primordiais seriam o que hoje
seria uma personalidade ou arcana. Muitos povos que nunca tiveram conexão
com divindades acabaram criando algo equivalente, desenvolvendo ideias e
ideais com base em coisas naturais como chuva, relâmpagos ou fertilidade.
-- De certa forma, de todos esses anos junto a você, eu sinto que essa
foi a coisa mais humana que você falou, mas não sei se eu já to tão
desgraçada pra delirar a esse ponto ou se seu argumento é de fato bom.
-- Claro que é o segundo, onde já viu eu errando em alguma coisa. –
murmurou desviando o olhar. – Enfim eu quero apenas conciliar sobre algo...
Lentamente What retraiu seu corpo e enrijeceu a postura.
-- Independentemente do que você e sua mentalidade limitada conclua
sobre mim e meus meios, saiba que eu carrego o conceito de conhecimento
essa que é a força mais forte. A alquimia é puro reflexo da aplicação de minha
essência.
-- Desculpe, mas onde você quer chegar?
-- Quando você for usar de meus poderes, o mínimo que você deve
conseguir é seu objetivo primário. Você tem uma arma de manipulação
suprema em mãos, e eu só tenho você pra aplicar, mesmo revisando de certa
forma a pose desse corpo, eu não vou aceitar desrespeito com o que eu
construí.
-- Veio roubar meu tempo só pra isso? Me parece algo que eu faria
normalmente. – comentou rindo, mesmo que de forma travada.
-- A sua mediocridade também me é cômica, mas não é como se você
fosse compreender meus pontos mesmo. Pelo menos é bom ver que você
entendeu a mensagem.

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