Você está na página 1de 10

LEMBRANÇAS DO GURU

(fragmentos de) A IMPORTÂNCIA DE UM VERDADEIRO GURU

Por Brother Anandamoy

Um verdadeiro guru não apenas transmite ensinamentos e nos inspira, mas assume em
grande parte, o fardo cármico de seus discípulos, como observou Yogananda: “O discípulo
faz 25%, o guru mais 25%, e 50% vem da graça de Deus.”
Pode-se imaginar o que significaria assumir 25% do carma de milhões de discípulos? Quem
poderia fazê-lo senão uma encarnação divina? É óbvio que um jivanmukta (aquele que ainda
está esgotando seu próprio carma) não poderia. Até mesmo um sidha não poderia tomar a
si esta tremenda tarefa. Somente um avatar o faria!

*
Sri Daya Mata nos contou que, pouco antes do Mestre abandonar o corpo, ele lhe disse:
“Quando eu me for, o mundo saberá o que eu sou.” E Daya Mata comentou: “Observem que
ele não disse “quem eu fui”, mas “o que eu sou”- significando “eterna consciência, unificada
com deus.”

*
Aquele que percebe Deus em todos os seres, que sente naturalmente - como em si mesmo -
os prazeres e sofrimentos dos outros; não deseja o mal a ninguém, tenta antes fazer o bem
a todos.... vimos nosso guru dar este exemplo muitas vezes. Certa vez assim falou nosso
Guru Angélico: “Saibam que eu vivo a vida de todos vocês. Vivo ambos os papéis, o humano
e o divino, e às vezes é difícil separá-los.“ Assim é o guru. Ele sente por nós tal como uma
mãe – e até mais!

*
Um verdadeiro mestre atua em todos os níveis. Há muitos exemplos disso na vida de
Paramahansaji. Lembro-me de uma vez, já no final de sua vida, numa fase em que ele se
encontrava fisicamente incapacitado por estar esgotando em seu próprio corpo o carma de
muitos de seus discípulos. Guruji não podia andar nesta época, e assim pedira a outro
monge e a mim que o ajudássemos. Quando o levantamos, ele gemeu de dor, e ao mesmo
tempo senti tamanha alegria interior que mal podia contê-la. Pensei comigo: “Ele está
sofrendo, e eu estou quase delirante de alegria! Se ao menos eu pudesse tomar um pouco
do seu fardo!” Então ele me olhou e sorriu dizendo: “Não se preocupe, sua vez chegará.”

Sozinho, mais tarde, racionalizei: “Como é possível que eu sentisse tanta alegria quando ele
estava sofrendo tanto?” Então me ocorreu: “Ah, ele quis apenas mostrar-me que,
fisicamente havia dor, mas sua consciência interna estava intacta; interiormente ele só
conhecia a bem-aventurança divina.”
Em virtude de minha compaixão, talvez eu tivesse sintonizado com o nível superior de seu
ser, e assim sentido tanto quanto possível, naquele momento, a bem-aventurança em que
ele estava imerso.

Sintonia com o Guru

É importante perceber que não é necessário estar na presença física de um guru


para receber sua orientação e suas bênçãos. Esta é apenas uma questão de sintonia interna.
Diz Swami Sri Yukteswarji, em The Holly Science: “Estar em companhia do guru não é
Lembranças do Guru - A importância de um verdadeiro Guru - 2

somente estar na sua presença física (Já que isso às vezes é impossível), mas significa
sobretudo tê-lo em nossos corações, unificarmo-nos com ele e com ele nos
sintonizarmos.”... E ao falar em sintonia, lembro-me de Sri Gyanamata, uma das grandes
discípulas de Paramahansaji. Após a visita do Mestre em Seattle, 1925, ela lhe escreveu:
“Depois que o senhor partiu de Seattle, perguntei a mim mesma que método deveria eleger
para ser receptiva ao senhor. Não me ocorreu outro meio senão o de mantê-lo em minha
mente através de atos deliberados. Portanto, todas as manhãs às sete horas, parava o que
estivesse fazendo e me concentrava por um momento dizendo: “Ele está rezando por mim.”
E mentalmente lhe seguia em suas viagens pelo país, quando o senhora estava realizando
conferências de cidade em cidade.”

Vejam como isto é lindo! Como ela criou um método pessoal. Quanto mais pessoal é o
método, maior é a sintonia, e quanto mais perto chegarmos, mais receptivos nos
tornaremos. Pensem: “Ele veio à mim, está me abençoando, está me ajudando”, pensando
assim nos tornamos interiormente receptivos à sua ajuda.

Continua Gyanamata em sua carta: “Lembra-se de quando o levei lá em cima ao meu


quarto, por ocasião de sua visita à minha casa em Seattle? Em silêncio o senhor olhou para
os quadros dos santos, e depois dando as costas para a longa fileira de janelas, rezou por
mim suavemente e me deu a primeira bênção, a bênção que me fez ouvir o Aum. Depois
disso, enquanto morei em Seattle, um jarro de flores de laranjeira permaneceu no chão,
para marcar o lugar onde o senhor esteve.”

“Em meu quarto agora tenho o rosário do Monte das Oliveiras, juntamente com o rosário de
Kriya e a pedrinha branca que o senhor abençoou para mim na última vez em que estive
doente; todos eles me foram dados pelo senhor, e por conseguinte todos são sagrados. Esta
carta se faria longa demais se eu fosse falar de todas as coisas que fiz para que sua
presença pudesse ser real e permanecesse comigo em meu quarto, em minha mente e em
minha alma.”

Vejam só como tudo é tão simples, apenas pequeninas coisas. Praticar a presença de Deus e
do Guru é realmente muito simples.

Métodos Espirituais de Sintonia

Sendo uno com Deus, o guru é onipresente. Ao fim da meditação, o discípulo deve
concentrar-se no olho espiritual e visualizar a imagem de seu guru. Pensando nele com
amor e devoção, deve fazer as perguntas cujas respostas aguarda. Se a visualização e a
concentração no guru forem profundas, o discípulo receberá invariavelmente silenciosas
respostas às suas perguntas na forma de novas percepções internas.

Um vez o Mestre recomendou a um estudante que cultivasse amizades espirituais, e este


perguntou: ”E quando estiver sozinho, sem nenhuma companhia espiritual?” O Mestre
respondeu: - “Eu não estou sempre com você?” É isto que temos que cultivar – o
pensamento de que ele está sempre conosco. Como disse Sri Yukteswarji: “Estar em
companhia do guru significa principalmente tê-lo em nossos corações.” É um contato
interno, espiritual.

O Mestre escreveu a um discípulo: “Espiritualmente tenho estado em contato com você


muitas vezes, e sua devoção tem tirado vibrações de mim centenas de vezes.” Foi este o
sentido das palavras de Jesus: “Quem é que me tocou? ... Alguém me tocou, porque bem
conheci que de mim saiu virtude.” E a carta continua: “O contato físico e as cartas nem
Lembranças do Guru - A importância de um verdadeiro Guru - 3

sempre são necessários, pois se o devoto, com profunda concentração mental, transmite
seus pensamentos ao guru, este os recebe e do mesmo modo emite silenciosamente as
vibrações de ajuda solicitadas. Sua dificuldade consiste apenas em não alcançar uma
concentração mais profunda na meditação.” ... A obediência ao guru significa destruir o ego.
É evidente que estamos sujeitos à lei do carma, mas o guru, de vez em quando, cria
situações que nos forçará a enfrentar diretamente os nossos problemas e resolvê-los mais
depressa.

A aparente atenção do guru não é o que devemos buscar. Lembro-me de uma época que o
Mestre não me dava a mínima atenção. Um dia, quando ele saía do elevador, os monges
foram ao seu encontro a fim de reverenciá-lo. Ao ajoelhar-me para tocar o pó dos seus pés
(como fazíamos habitualmente, seguindo o antigo costume da Índia) eu pensei: “Hoje,
novamente ele não vai me dar a menor atenção.” Com a rapidez de um raio o Mestre tirou o
xale que estava usando e o enrolou na minha cabeça como um turbante e então exclamou:
“Olhem para ele! Olhem o paxá, todos olhem para ele!” Senti-me rastejando e ansioso para
que o chão se abrisse e me tragasse para sempre! Mas aprendi a lição – não é a atenção
externa ou o reconhecimento do guru que importa, pois isto só satisfaz o ego. É o contato
interno que satisfaz a alma.

A todo discípulo sincero, Paramahansaji fez uma promessa: “Deus os enviou à mim e eu
nunca lhes faltarei. Tudo que lhes peço é que jamais tentem enganar-me, pois isto não seria
possível. Sejam sempre sinceros comigo, porque estou bem dentro de seus corações e sinto
todos os seus pensamentos. ...Mesmo depois de ter partido, estarei sempre velando por
cada um de vocês, e sempre que um devoto sincero pensar em mim nas silenciosas
profundezas de sua alma, ele
saberá que estou perto.” ...Se vocês se sentem tristes por não terem estado aqui quando
Paramahansaji se encontrava fisicamente presente, lembrem-se das palavras dele:
“Conheço as almas realmente interessadas, e conheço as almas destinadas a vir no futuro, e
que seguirão este caminho com firmeza e determinação. Estou com elas, e elas estão
comigo.” Um Mestre autêntico está além das limitações do tempo e do espaço – estes
aspectos da ilusão não existem em sua consciência. Ele está AQUI e AGORA!.

Tenho verificado que alguns devotos julgam que o Guru está muito distante, e esta é a
maior ilusão. No primeiro aniversário do mahasamadhi de nosso Guru, fui em companhia de
alguns monges à sua cripta em Forest Lawn. Enquanto estávamos ali, diante de sua
sepultura, tive repentinamente a mais forte experiência de sua presença – não assomando
por trás daquele mármore, mas dentro de mim, bem dentro de mim. Então pensei: “Ele
está tentando me ensinar afirmando: ”Não precisas ir a nenhum lugar especial. Estou
contigo, estou bem dentro de ti.”
Pensem nisso, pratiquem interiormente sua presença. O Mestre sempre disse: “Estou em
seus corações.”

Na Autobiografia de Um Iogue, Swami Kebalananda fala de seu guru Lahiri Mahásaya: “O


Mestre era um templo vivo de Deus, cujas portas secretas estavam abertas à todos os
discípulos através da devoção.” Pensando com devoção no Guru, atraímos sua presença – é
a lei do magnetismo.

... O Guru é aquele que assumiu a responsabilidade de nossa iluminação, de nossa liberdade
em Deus. Ele é o mais amoroso – até mesmo nas pequeninas coisas. Vou dar um exemplo
disso. Poucos dias antes de Paramahansaji abandonar o corpo, eu sentia um impulso muito
forte para preservar tudo o que ele tocasse. Muitas vezes, quando ele chegava a Mount
Washington, costumava apoiar-se no meu braço a caminho do elevador. Numa dessas
vezes, pensei comigo: “Se ele tocar meu braço, cortarei a manga do casaco e a guardarei
Lembranças do Guru - A importância de um verdadeiro Guru - 4

como lembrança.” Ao sairmos do carro, o Mestre me chamou. Depois, segurou-me a mão –


com o maior cuidado, como se não quisesse tocar no meu paletó. Encaminhamo-nos para o
elevador, e juntamente com os outros monges fiquei ouvindo o que o Mestre dizia. Enquanto
ele falava, ia tirando cuidadosamente minha gravata, sem tocar no meu paletó. Pos a
brincar com ela, e depois recolocou-a em meu pescoço, com todo cuidado para não tocar no
paletó. A seguir sorriu-me como se dissesse: - “Está satisfeito agora?” Vejam como ele
demonstrava seu grande amor mesmo nas pequeninas coisas. Eu queria apenas alguma
coisa dele como lembrança, e ele satisfez este pequeno desejo, de modo que eu pudesse
guardar a gravata sem ter de cortar a manga do casaco.

“Estarei contigo nas horas mais difíceis.”

Um monge da SRF, Brother Sarolanada, esteve doente durante os últimos anos de sua vida
e por algum tempo andei cuidando dele (isto foi anos depois do mahasamadhi do Mestre).
Sarolananda sabia que a morte se aproximava e então me disse: - “Sabe, por mais que
tentasse, nunca consegui aprofundar-me na meditação.” Respondi: - “Não se preocupe. Com
sua devoção, seu serviço e sua sinceridade para com o Guru, tudo acabará bem.” Já no
hospital, poucos dias antes de sua morte, encontrei-o radiante: - “O Mestre veio a mim”-
disse ele – “e deu-me a experiência, eu vi o Deus vivo!” Naquele momento, perguntara ao
Mestre: “Vai me levar agora? – “Ainda não”- respondeu o Guru.
Antes de ser monge, Sarolananda foi casado. Tinha um filho e seu maior desejo era trazer o
filho para a SRF. Nos seus primeiros anos, dera-lhe para ler a Autobiografia de um Iogue,
mas o rapaz ainda não estava receptivo nessa época. No entanto, quando Sarolananda
estava em seu leito de morte, o filho veio vê-lo e lhe disse: “Pai, percebi finalmente o que
tudo isto significa. Tornei a ler a Autobiografia, e agora estou pronto para entrar neste
caminho.“ Este foi o último desejo de Sarolananda. O Mestre esperava que esse desejo se
realizasse, e então disse: - “Agora!” – e Sarolananda partiu.

Esta é a relação guru-discípulo: incondicional lealdade, incondicional amor eterno. Esta


relação não está condicionada ao tempo e ao espaço; não dura uns poucos meses ou uns
poucos anos ou até o fim da vida. É eterna.
Com as relações humanas comuns, o que se pode dizer na hora da morte? Simplesmente: -
“Adeus querido, foi ótimo!”? Mas com o Guru é diferente – ele está perto de nós.
Paramahansaji disse: - “Estarei contigo nas horas mais difíceis.” Esta é a coisa mais
maravilhosa – as palavras não podem descrevê-la. Com o Guru estamos em segurança, não
somente nesta vida, mas para sempre...

Nas palavras de Kabir; “A grandeza do Guru supera todo louvor, e grande é a ventura do
discípulo.”
Lembranças do Guru – Palestra de Mukti Mata - 5

PALESTRA DE MUKTI MATA

Encintas 08 de agosto de 1976

A primeira vez que o vi, eu era muito jovem... É muito difícil descrever alguém com tão
vasta consciência. Eu gostava de ficar perto dele, olhando para ele. Sentia que Deus estava
lhe dizendo o que fazer a respeito de cada pessoa. Sentia que nada podia perturbá-lo. Ele
refletia o aspecto maternal – ternura, compaixão e compreensão. Às vezes refletia o aspecto
do pai – força, poder e disciplina – que para nós, iniciantes, chegava a ser assustador.
Outras vezes, ele era como uma criança – puro e sem malícia. Era semelhante ao prisma
colorido, multifacetado.

Eu gostava muito de desenhar e era sempre inspirada a desenhar uns olhos profundos. Eu
pensava: - “Por que faço isso?” E procurava por estes olhos em todo lugar. Sempre procurei
uma resposta para o sentido da vida: “Por que nascemos, vivemos, comemos e dormimos
para depois morrermos? A vida é só isso? Haverá alguém neste planeta que poderá nos
ajudar? Deus, se você existe, prove isso para mim!” E Deus provou. Mas na época não
percebi. Aconteceu assim... :

Uma amiga me convidou para ir ao templo de Hollywood. Se havia algum lugar que eu não
queria ir, era em Hollywood! Mas como não quis magoar minha amiga, e principalmente
porque não tinha uma boa desculpa, resolvi acompanhá-la. E tive uma surpresa. Havia um
parque bem perto do templo, e umas casinhas muito feias. - “Isto é Hollywood? Que lugar
horrível!!” pensei comigo mesma. Então vi no meio daquela feiúra toda, um prédio
pequeno, mas muito interessante. Concluí: - “É um diamante entre as pedras.” Então
percebi que era para lá que nos dirigíamos, que aquele era o templo. Minha amiga disse: -
“Esta é a Self-Realization Fellowship.” Depois de entramos pensei: - “Já estive em muitas
igrejas, mas esta é diferente.”

Eu nem sabia quem ia fazer o serviço. Pensei que fosse um ministro americano. Já tinha
ouvido outros falarem e não gostara, não devia ser tão crítica, me censurei: “Não devo
pensar assim...”

Quando vi o Mestre não pude acreditar, lá estavam os olhos que sempre me impressionaram
– senti que eram iguais aos de Jesus, que paradoxo, pois nunca tinha visto os olhos de
Jesus... Senti um conflito muito grande dentro de mim.

Fiquei fascinada pelo Mestre. Soube instantaneamente que ele conhecia Deus. “Se eu viver
cem mil anos, quero ter o que ele tem.” Parecia que ele falava especificamente para cada
um de nós. Pensava comigo mesma: “Ele tem que saber que eu estou aqui!”

Quando fui embora, saí fisicamente, mas não mental ou espiritualmente. Passei os dias
pensando em quando poderia voltar lá novamente. Nesta época eu freqüentava a escola de
arte. Tinha jeito para o desenho, mas depois daquele dia não podia mais desenhar. Ficava
apenas escrevendo o nome do Mestre. Tinha medo que o professor visse, e quando ele se
aproximava, apagava depressa o nome do Guru...

Na semana seguinte, voltei ao templo para ouvi-lo, mas fiquei decepcionada porque ele não
estava lá. Esperei chegar a semana seguinte, que pareceu demorar mil anos. Tinha voltado
com uma parente, que ficou assustada. Sei que quando estamos prontas, não interessa o
que os outros nos dizem.

Na terceira vez, fui uma hora antes para absorver as vibrações de paz e alegria do
ambiente. Fui entrando no jardim e de repente tive vontade de me virara e lá estava ele.
Lembranças do Guru – Palestra de Mukti Mata - 6

Posso imaginar o que o Guru sentiu quando viu seu Mestre Sri Yukteswar pela primeira vez!!
É um elo que permanece além desta vida, por toda a eternidade. E lá estava ele... vestia um
manto ocre e usava uma bengala. Não quis perturbá-lo e segui em frente; arrependida,
olhei novamente para ele, mas ele já tinha ido embora. Nunca pensei que pudesse falar com
ele. Achava que ele era Deus...

Aquele era o dia 23 de dezembro e do púlpito, o Mestre anunciou que se alguém estivesse
interessado, podia ir a Mount Washington para trabalhar servindo a Deus, e que no dia
seguinte, 24 de dezembro, haveria uma meditação de oito horas. Imediatamente pensei: -
“Eu quero ir!!” – mas em seguida racionalizei: – “... mas você não é membro, nem faz
parte da SRF e não sabe como ir até lá!”

No dia 24 , às 8 horas da manhã, senti uma vontade irresistível de estar lá. Como ir se não
sabia onde era, se iam me deixar entrar... Então do nada me veio um pensamento: “
Telefone para seu irmão!” – Que idéia absurda, ele pensaria que eu estava maluca. Mas
assim mesmo chamei-o. Ele atendeu na primeira chamada e eu lhe disse: - “Tenho que
estar às dez horas em Mt. Washington. Você pode me levar? Ele respondeu: - “Tenho que
passar por perto deste lugar, esteja pronta que lhe pegarei agora!”-
Cheguei em Mt. Washington cinco minutos antes das dez horas. Quando entrei no portão,
esperava ver muitos iogues levitando, mas o que vi foi gente comum, igual a mim. Quis
esconder-me na biblioteca. De repente senti aquele magnetismo, e quando olhei vi o Mestre
de novo. Eu lhe disse: - “Não sei meditar, o que vou fazer?” Ele então me deu a explicação
necessária de como fazer a meditação.

Através da graça do Mestre, fiz esta primeira meditação de oito horas e senti que estava no
paraíso. Senti muito quando o tempo acabou. Vi que os devotos demoravam a sair da
capela. Percebi que o Mestre estava abençoando um homem. Há um magnetismo nas mãos
do Mestre que sai dos seus dedos e desenvolve o olho espiritual do discípulo. Neste
momento senti grande respeito por ele, senti sua grandeza e fiquei feliz de o ter
encontrado, como uma criança que confia na sua mãe. Ele me abençoou e disse: “Quero
falar com você.”

Saí do templo e fui para perto da lareira. Pensei: - “Que privilégio conhecer uma alma
assim. Mas eu sempre soube que o encontraria algum dia.”

Então Daya Mata veio ao meu encontro dizendo: - “Você deve ser a pessoa com quem o
Mestre quer falar”. E me levou para ter com ele. O Mestre sentou na biblioteca, de repente
eu vi, no Olho Crístico, muitos véus sendo afastados, e uma voz silenciosa me disse: - “Você
sempre quis saber se Eu existia: Eu sou Yogananda. E ele se tornou Eu.”

Olhei para o Mestre... nunca vi um rosto tão extraordinário. Pareci esculpido. Tara Mata,
uma discípula, dizia: “Levou muitas e muitas encarnações e muito esforço para se formar
este rosto.”

O Mestre disse para mim: - “Você veio!” – “Sim, senhor” - respondi... Ele perguntou sobre
minha família e o que eu estava fazendo no momento. Disse que estava estudando na
escola de arte. Podia sentir que ele estava revendo minhas encarnações passadas. Por fim
ele me falou: “Você já foi uma artista em outras vidas.”

Neste dia 24, ele me convidou para comparecer ao seu aniversário no dia 5 de janeiro. Tive
que travar outra batalha comigo mesma: “O que se dá de aniversário a um grande Guru?
Será que ele come?” Eu não tinha muito dinheiro e não poderia dar um presente caro. Tive
a idéia de comprar uma dúzia de rosas vermelhas, que simbolizam a lealdade e a devoção.
Quis dar essas rosas, mas cada uma custava um dólar e eu não podia pagar isso. Pensei em
Lembranças do Guru – Palestra de Mukti Mata - 7

dar só meia dúzia.. mas não se dá meia dúzia de rosas, é deselegante. Lutei comigo mesma
por algum tempo, mas como não tinha dinheiro mesmo, fui disposta a dar apenas seis
rosas. Quando cheguei a floricultura loja e fiz meu pedido, a vendedora me disse: “Como as
rosas são pequenas, vou dar a você doze pelo mesmo preço da meia dúzia.”

Neste mesmo dia, ele marcou uma entrevista comigo para outra data, às três horas da
tarde. Fui no dia combinado e fiquei esperando. Esperei e senti que não existe tempo nem
espaço. De vez em quando alguém me dizia: - “Desculpe, mas o Mestre ainda não pode vir
falar com você.”
Eram nove horas da noite quando ele veio ter comigo, mas eu não percebi o tempo passar,
pois sentia o tempo todo uma alegria indescritível. Passei para a biblioteca e vi lá umas
rosas vermelhas. O Mestre me disse: - “Deus as conservou assim para mim.” Então percebi
que eram aquelas que eu lhe havia dado muitos dias antes, no seu aniversário.

Um mês depois entrei para o ashram.

O mestre era muito brincalhão. Gostava muito de fazer caminhadas a pé. Um dia, ao fazer
seu passeio habitual, um repórter quis tirar uma fotografia dele. Ele usava uma bengala que
colocou atrás do corpo, de modo que ao refletir a sombra, parecia um rabo. Quando a foto
foi revelada, ele achou muita graça.

O Guru nos faz executar coisas que não gostamos de fazer, porque as coisas que já
sabemos fazer não precisamos aprender mais.
Uma pessoa que trabalhava na cozinha tinha ido embora e ele me disse: - “Você vai ficar no
lugar dela.” Eu nunca havia cozinhado na minha vida. Nem café sabia fazer! E lá no ashram
nunca sabíamos se tínhamos seis ou sessenta pessoas para as refeições. Eu não sabia nem
descascar batatas. Quando todos acabavam na cozinha às dez da noite, lá eu ia fazer o
molho de curry que o Mestre tanto gostava. Não sabia fazer este molho e ficava até uma
hora da manhã tentando. E tinha que acordar às cinco para fazer as práticas e a meditação.
Mas o molho sempre saía bom... Um dia, um devoto foi ao Mestre e disse: - “Como é que o
curry que ela faz sai sempre bom?” Ele respondeu: - “Bem, pode ser porque ela já estava
acostumada a fazer este molho na Índia, em outras vidas.”

Um dia tive que fazer um prato com berinjelas. Nunca havia visto esse legume, nem sabia o
que fazer com ele. Ele fica logo escuro quando cortado, mas fiz o melhor que pude e disse à
pessoa que levou o prato para a mesa: - “Não deixe o Mestre comer disso, porque ficou
horrível!” Ela me respondeu: - “Vou ver o que posso fazer, mas não posso prometer nada!”
Depois, voltou para a cozinha rindo e disse: “O Mestre pediu o prato de berinjelas!!” - E
acrescentou: - “Comeram tudo!!!” Pensei que o Mestre ia ralhar comigo, mas apenas disse:
“Você se enganou na receita não foi?”

Uma vez o Mestre disse aos discípulos: - “Este mundo é um sonho.” E riu – “É só um
sonho!” Depois, entrando na consciência das pessoas, sentiu como sofrem por não saberem
disso, e chorou dizendo: - “As pessoas sofrem com esta ilusão. Se soubessem que este
mundo é um sonho, ah se soubessem...”

Um dia o Mestre me disse: - Os livros não lhe darão o que você quer. É que eu achava que
tinha de estudar mais...

Pode-se sintonizar com o Mestre não resistindo à ele. Quando sintonizamos com ele, nossa
mente fica mais forte. Ele dizia: - “Aqueles que vierem a mim com um coração sincero, se
modificarão. A melhor maneira de manifestar Deus em suas vidas é estar impregnado Dele.
Mesmo quando eu me tiver ido, quando tiver partido, trabalharei por vocês.”
Lembranças do Guru – Palestra de Brother Mokshananda - 8

LEMBRANÇAS DO GURU

PALESTRA POR BROTHER MOKSHANANDA (extratos)

Em 1920, o primeiro discípulo que Paramahansa Yogananda encontrou nos Estados Unidos
foi o Dr. Lewis. Ele já tinha visto a luz do Centro Crístico, mas não sabia o que era.
Perguntou ao Mestre: - "O Senhor pode me explicar?" Paramahansa Yogananda apenas
colocou a mão na testa do Dr. e ele entrou em Samadhi.

***

Paramahansa Yogananda encontrou Gyanamata em 1944. Ela era a discípula mais adiantada
do Mestre. O filho dela tinha ido assistir a uma palestra do Mestre, e entusiasmado levou a
mãe para assistir a outras palestras. Depois, ela convidou o Mestre para ir na sua casa. Lá
chegando, ele conheceu o quarto de orações com fotos de santos, que mantinha. Ele gostou
muito de ver que ela dedicava um lugar a Deus. Como bênção, tocou-lhe o Centro Crístico e
ela entrou em samadhi e ouviu a vibração OM. Gyanamata tinha tanta devoção ao Guru, que
manteve sempre isolado aquele lugar onde ele pisou. Colocava ali um vaso de flores de
laranjeira para mantê-lo sagrado.

Logo depois Tara Mata encontrou o Guru. Ela gostava de filosofia hindu. Sua companheira
de quarto tinha ido assistir a uma palestra de Yogananda, mas ela achava que ele não podia
ser um mestre verdadeiro, porque se fosse, não teria vindo para os Estados Unidos, uma
terra tão materialista. No entanto, a amiga tanto insistiu que ela acabou indo. Mais tarde ela
disse: "Eu sempre quis ir à Índia, e quando encontrei o Guru soube que o melhor da Índia
veio à mim." Tara Mata era tão sintonizada com ele que um dia ao olhar-se no espelho, viu
refletido ali o Mestre e não ela, e permaneceu em samadhi por um longo tempo.

***

Daya Mata contou que quando foi assistir a uma palestra de Paramahansa Yogananda pela
primeira vez, o alento lhe foi sugado e ela ficou transfixada, entrou em samadhi só ao vê-lo
pela primeira vez.

***

Em 1932 Paramahansaji encontrou Rajarsi. Ele era tão adiantado espiritualmente que entrou
em samadhi na primeira prática de Kriya Yoga. Paramahansa Yogananda tinha este poder de
dar a Consciência Cósmica aos que eram receptivos. Milhões de pessoas o encontraram, mas
não tinham condições de receber o que o Mestre queria lhes dar.

***

Dois monges, após a iniciação de Kriya Yoga procuraram o Guru: - "Mestre, não vimos a luz
no olho espiritual no momento da Kriya." O Mestre respondeu: "Venham meditar comigo!"
Depois de algum tempo, Paramahansaji tocou o Centro Crístico, na fronte dos monges e eles
viram a Luz. O Mestre disse: - "Vocês estavam tão inquietos que tive de meditar bem
profundamente para acalmá-los e dar-lhes esta experiência."
Recebemos de acordo com a nossa capacidade de receber.

***

O Mestre manifesta a consciência onisciente de Deus. Daya Mata contou que ele estava na
Índia, e ela passava por um teste espiritual muito sério. Ninguém sabia de nada, então eis
Lembranças do Guru – Palestra de Brother Mokshananda - 9

que chegou um telegrama da Índia onde o Guru dizia entre outras coisas: - "... e digam a
Faye (nome de Daya Mata) que tudo acabará bem."

***

No Natal, Dr. Lewis deu um par de chinelos para o Guru. Fez um embrulho enorme e disse: -
"Aposto que o senhor não sabe o que é!" O Mestre sorriu e apontou para os pés.

***

O Mestre aconselhou um discípulo: - "Não quero que você vá nadar sozinho." Um dia esse
discípulo foi a praia, como estava um dia muito quente, resolveu nadar. Ia tudo bem até que
ele quis voltar e não conseguiu. Era levado cada vez mais para longe. Estava afundando e
começou a desesperar-se. Resolveu então boiar e rezou pedindo desculpas ao Mestre: - "Se
o senhor quer que eu faça alguma coisa nesta vida, por favor me ajude." Então ele viu uma
luz protetora envolver seu corpo, sentindo-se entregue a Deus. Do nada, se formou uma
onda que o levou até a praia.
Depois, foi agradecer ao Mestre. Antes que ele pudesse falar qualquer coisa, o Mestre
ralhou: - "Não quero que vá mais nadar sozinho. Tive que rezar muito a Deus e argumentar
com Ele para salvá-lo. Sua hora havia chegado."

***

Uma senhora analfabeta estava fazendo a faxina num salão e viu uns folhetos das palestras
do Guru sobre a mesa. Se interessou e pediu para sair mais cedo para ouvi-lo. Quando
Yogananda entrou na sala, antes de começar perguntou: - "Quem é a senhora que não sabe
ler nem escrever? Onde está ela? Quero falar-lhe mais tarde, após a palestra!" Depois de
encontrar-lhe, ele lhe perguntou: - "A senhora não sabe ler? Pois eu vou lhe ensinar!" Ela
assistia as palestras e em seguida ele lhe dava aulas de alfabetização

***

Um dia Daya Mata estava numa mesa de um restaurante com o Mestre e outros discípulos.
Ouviram em outra mesa gracejos e críticas maldosas sobre o Guru. - "Como o senhor pode
aturar isso? – perguntou-lhe. Ele pegou uma rosa, amassou-a e deu a Daya Mata para
cheirá-la. - "Vejam esta rosa. Mesmo esmagada exala perfume."

Foi o amor e sabedoria que nos atraíram, o poder divino que emana de seus ensinamentos.

***

As fotos do Mestre tem vibração. Alguns de vocês, só em olhar as fotografias desse ser
Iluminado, entraram para este caminho. Um dos ensinamentos seguidos nesta senda é a
sintonia com o Guru.

***

O que mais me impressionava no Mestre era o amor e a humildade que ele irradiava. Ele era
sincero e autêntico. O Mestre nos mostra como chegar a Deus e nos protege em situações
difíceis. Ele nos ajuda mais do que imaginamos. As vezes ele organiza nossa vida ou nos cria
determinadas situações para que possamos ver melhor nosso defeitos. A verdade é que, se
sofremos, é porque criamos nosso próprios problemas.

***
Certa vez, Yogananda telefonou a um discípulo, pedindo-lhe que viesse imediatamente a
Lembranças do Guru – Palestra de Brother Mokshananda - 10

Mount Washington. O discípulo pegou o carro e viu que o pneu estava com problemas, mas
não dava tempo para trocá-lo. Saiu então cantando OM GURU até chegar lá. Assim que
chegou o pneu estourou.
O Mestre serve como centro de nossa devoção. A devoção ao Guru é o melhor modo de
sintonizar com Deus.

***

O papel mais importante do Guru é nos encaminhar para o outro mundo na hora da morte.
Ele disse: - “Quando mais precisarem de mim, aí estarei.” E esta é uma hora em que muito
precisamos dele.

***

Sintonizar com o Guru é ter na mente os seus atributos, contemplando seu retrato, seguindo
os seus ensinamentos e tendo-o constantemente em nossos pensamentos. No final da
meditação devemos concentrar-nos no Centro Crístico pensando nele intensamente,
pronunciando seu nome. Recebemos sua resposta no coração (anahata chakra). A melhor
maneira de sintonizar com o Mestre é servi-lo de vários modos – com a nossa energia, o
nosso tempo, a nossa capacidade financeira. Os que progridem no caminho são os que
servem a obra. Pode-se colaborar meditando e servindo de exemplo de seus ensinamentos.

***

Durante a guerra, uma pessoa estava dando leite às crianças. Era uma colher de leite para
cinco crianças. Uma delas perguntou: - “Até onde posso beber?” – “Até onde puder” -
responderam-lhe.
Possamos todos beber os ensinamentos do Guru até onde pudermos.

Você também pode gostar