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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ


SECRETARIA JURÍDICA DA PRESIDÊNCIA - SJP
Pça Des. Edgard Nogueira s/n - Bairro Cabral - Centro Cívico - CEP 64000-830
Teresina - PI - www.tjpi.jus.br

Parecer Nº 653/2024 - PJPI/TJPI/PRESIDENCIA/SJP


DECISÃO DO CNJ QUE NÃO INDICOU DE MODO EXPRESSO
SUA FORMA DE CUMPRIMENTO NEM SUAS CONSEQUÊNCIAS
JURÍDICAS E ADMINISTRATIVAS. AMPLA DISCUSSÃO POR
COMISSÃO DESIGNADA PELA PRESIDÊNCIA
PARA PROPOR MEDIDAS ADEQUADAS PARA O CUMPRIMENTO
DA RESPEITÁVEL DECISÃO, COM OUTORGA DE PRAZO PARA
MANIFESTAÇÕES DAS ENTIDADES DE CLASSE DE SERVIDORES
ATINGIDOS.
PARECER PARA QUE O TJ-PI EFETUE CUMPRIMENTO DA
DECISÃO SUPRINDO AS REFERIDAS LACUNAS ORIENTADO
PELA JURISPRUDÊNCIA DO STF E DO PRÓPRIO CNJ, BEM
COMO PARA QUE A REGULARIZAÇÃO OCORRA DE MODO
PROPORCIONAL E EQUÂNIME, SEM PREJUÍZO AOS INTERESSES
GERAIS E PARA QUE NÃO SE DECLAREM INVÁLIDAS
SITUAÇÕES PLENAMENTE CONSTITUÍDAS, UMA VEZ QUE NÃO
SE PODE IMPOR AOS SUJEITOS ATINGIDOS ÔNUS OU PERDAS
QUE, EM FUNÇÃO DAS PECULIARIDADES DO CASO, SEJAM
ANORMAIS OU EXCESSIVOS, NOS TERMOS DOS ARTS. 21, 22 E
24 DA LINDB, OPINANDO-SE PELA(O):
1) IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO DA ESTABILIDADE DAS
CONDIÇÕES FUNCIONAIS ATUAIS DOS SERVIDORES COM BASE
NA AUSÊNCIA DE ANÁLISE PELO CNJ DA LEI COMPLEMENTAR
Nº 230/2017 E DOS RESPECTIVOS ATOS DE ENQUADRAMENTO
DELA DECORRENTES​;
2) IMPOSSIBILIDADE DE SUSPENDER A EXECUÇÃO DA DECISÃO
DO CNJ ATÉ QUE SOBREVENHA DECISÃO DEFINITIVA DO STF
NO ÂMBITO DOS MANDADOS DE SEGURANÇA Nº 39.476-PI E
39.471-PI OU MESMO ENQUANTO PENDENTE DE APRECIAÇÃO O
PEDIDO DE LIMINAR;
3) NÃO COLOCAÇÃO DE SERVIDORES ATINGIDOS EM
DISPONIBILIDADE, PROMOVENDO-SE
OS ENQUADRAMENTOS NOS CARGOS/CARREIRAS OCUPADOS
ANTERIORMENTE POR MEIO DE ATO ADMINISTRATIVO, MESMO
SEM PREVISÃO LEGAL, POIS AS DECISÕES DO CNJ PROFERIDAS
NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE FISCALIZADORA SÃO
IMPOSITIVAS E DOTADAS DE CARÁTER
NORMATIVO, PERMITINDO ASSIM QUE OS SERVIDORES
PERMANEÇAM EXERCENDO SUAS ATRIBUIÇÕES, PARA
AFASTAR QUALQUER RISCO DE PREJUÍZO À BOA PRESTAÇÃO
DA ATIVIDADE JURISDICIONAL, COM POSTERIOR ENVIO DE
PROJETO DE LEI FAZENDO OS AJUSTES NECESSÁRIOS;
4) NECESSIDADE DE RESSALVAR OS SERVIDORES QUE, ATÉ A
DATA DE PUBLICAÇÃO DA ATA DE JULGAMENTO DO ACÓRDÃO,
JÁ SE ENCONTRAVAM APOSENTADOS OU QUE TENHAM
PREENCHIDO OS REQUISITOS PARA A APOSENTADORIA, BEM
COMO OS PENSIONISTAS DE SERVIDORES NESSAS CONDIÇÕES;
5) CONGELAMENTO DA REMUNERAÇÃO DOS SERVIDORES QUE
AINDA NÃO PREENCHIAM OS REQUISITOS PARA
APOSENTADORIA NA DATA EM QUE SE CONSIDERA PUBLICADA
A DECISÃO, TENDO EM VISTA A NECESSIDADE DE
RESGUARDAR A CONFIANÇA LEGÍTIMA, A BOA-FÉ OBJETIVA E
A SEGURANÇA JURÍDICA, NOS TERMOS DA JURISPRUDÊNCIA
DO STF, SEGUIDA DE ENVIO DE PROJETO DE LEI DE
INSTITUIÇÃO DE VPNI;

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6) RECONHECIMENTO DE QUE A CATEGORIA DOS OFICIAS DE
JUSTIÇA NÃO FOI ALCANÇADA PELA DECISÃO DO
CNJ, PORQUANTO NÃO INCLUSOS NOS INCISOS II E III DO ART.
66 DA LEI COMPLEMENTAR Nº 115/2008, MAS NO INCISO I, NEM
TAMPOUCO FORAM TRANSFORMADOS EM ANALISTAS
ADMINISTRATIVOS, CONSOANTE EQUIVOCADAMENTE
MENCIONADO NO DISPOSITIVO DO ACÓRDÃO DO CNJ, MAS
MANTIVERAM SEMPRE A MESMA NOMENCLATURA E AS
MESMAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS, NOS TERMOS
DA JURISPRUDÊNCIA DO STF, TENDO A ELEVAÇÃO DO
REQUISITO DE ESCOLARIDADE OCORRIDO POR
DETERMINAÇÃO DO PRÓPRIO CNJ POR MEIO DA RESOLUÇÃO
Nº 48/2007.
RECOMENDAÇÃO PARA QUE AS MEDIDAS ADOTADAS PELA
PRESIDÊNCIA SEJAM SUBMETIDAS AO CRIVO DO CNJ.
POSSIBILIDADE DE CRIAÇÃO DE COMISSÃO PARA
ELABORAÇÃO DE PROJETO DE LEI DE REFORMA DA LEI
COMPLEMENTAR Nº 230/2017 A FIM DE IMPLEMENTAR AS
MUDANÇAS LEGISLATIVAS NECESSÁRIAS APÓS AS
DESCONSTITUIÇÕES OPERADAS PELO CNJ BEM
COMO VISANDO A CORREÇÃO DAS DISTORÇÕES NOS CARGOS,
ATRIBUIÇÕES E CARREIRAS ADVINDAS DA SUCESSÃO DE
PLANOS DE CARGOS DOS SERVIDORES DESTE EGRÉGIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

I - RELATÓRIO

Trata-se de procedimento visando elaboração de estudos para a análise da situação


individual de cada categoria de servidores atingidos pela respeitável Decisão proferida pelo Conselho
Nacional de Justiça - CNJ no Pedido de Providências nº 0008609-69.2018.2.00.0000.

Em razão do não conhecimento dos Embargos de Declaração opostos por este Tribunal
contra a referida decisão e da inexistência de outros recursos contra decisões do Plenário do CNJ, esta
Consultoria Jurídica sugeriu ao Tribunal de Justiça elaborar um plano de execução, a fim de submetê-lo ao
crivo do CNJ, informando-o das medidas adotadas, na forma exigida na decisão que agora deve ser
cumprida, bem como orientando a necessidade de elaboração posterior de um Projeto de Lei de reforma da
Lei Complementar nº 230/2017, implementando as mudanças legislativas necessárias, para que a
regularização ocorra de modo proporcional e equânime, sem prejuízo aos interesses gerais e para que não
se declarem inválidas situações plenamente constituídas, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus
ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos, nos termos dos
arts. 21, 22 e 24 da LINDB.

Assim, esta SJP se manifestou por meio do Parecer Nº 1799/2023 -


PJPI/TJPI/PRESIDENCIA/SJP (4851011), apresentando seu entendimento preliminar quanto à forma de
execução da decisão como forma de dar início e subsidiar os trabalhos da Comissão, tomando como norte
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal - STF e do próprio CNJ a respeito da matéria, nas lacunas
deixadas pelo Acórdão.

Por meio da Portaria 6092/2023 - PJPI/TJPI/PRESIDENCIA/SECGER, de 17 de


novembro de 2023, a Presidência do TJ-PI designou membros para compor uma Comissão e
propor medidas adequadas para o adequado cumprimento da referida decisão do CNJ.

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Conforme Ata Comissão/Comitê/Grupo de Trabalho Nº 23/2024 -


PJPI/TJPI/PRESIDENCIA/SEGES (5181161), presentes os integrantes da Comissão Dr. Leonardo
Brasileiro, Juiz Auxiliar da Presidência, Henrique Luiz da Silva Neto, Secretário-Geral, Sâmya Larissa
Machado Rodrigues, Secretária da Presidência, Paulo Silvio Mourão Veras, Secretário de Administração e
Gestão de Pessoas, Rafael Rio Lima Alves de Medeiros, Secretário Jurídica da Presidência, Joice Medeiros
de Carvalho (representando Lara Larissa de Araújo Lima Bonfim, Secretária de Gestão
Estratégica), Carlos Eugênio de Sousa, Presidente do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do
Estado do Piauí – SINDSJUS, Carlos Henrique Bezerra Sales, Presidente do Sindicato dos Oficiais de
Justiça e Avaliadores do Estado do Piauí – SINDOJUS e Nilvan César do Nascimento, Presidente
da Associação dos Servidores das Carreiras de Analista e Técnico do Poder Judiciário do Piauí –
ANAJUS, fizeram ponderações acerca do tema e, após, foi deliberado que, no prazo improrrogável de 30
dias, prazo este decidido por maioria, os integrantes apresentarão sugestões de providências a serem
tomadas para o cumprimento do citado Pedido de Providências.

Na sequência, o SINDSJUS-PI apresentou a Manifestação Nº 25047/2024 (5287704),


aduzindo, em suma:

i) que a controvérsia está sub judice perante STF, pendente de deliberação sobre a medida
liminar desde 14 de dezembro de 2023, de forma que, com vistas a preservar a prudência
requerida e prevenir possíveis prejuízos decorrentes da execução imediata do decisum do
CNJ, faz-se mister que o TJ-PI aguarde a decisão do STF;
ii) a manutenção da estabilidade das condições funcionais dos servidores abrangidos pela
Lei Complementar nº 230/2017 e as Portarias de enquadramento dela decorrentes, uma
vez tais atos não foram submetidos a análise no âmbito do Pedido de Providências;
iii) inaplicabilidade da Súmula Vinculante 43, uma vez que o processo de reestruturação
e realinhamento de carreiras promovido pela legislação, que manteve inalteradas as
atribuições e responsabilidades funcionais preexistentes, difere substancialmente da
transposição indevida de cargos, pois uma modificação no plano de carreiras não implica
ingresso ou ascensão a um novo cargo sem a realização de concurso público;
iv) na hipótese de superação dos argumentos anteriormente mencionados, propõe a
edição de uma nova proposta legislativa pelo TJPI, objetivando a reorganização de seu
quadro de servidores;
v) necessidade de assegurar uniformidade no tratamento da situação funcional de todos
os servidores envolvidos no PP;
vi) que em proteção aos princípios da boa-fé, da segurança jurídica e da presunção formal
de constitucionalidade das leis, a jurisprudência do STF assegura a preservação das
situações jurídicas consolidadas ao longo do tempo, de modo que a declaração de
inconstitucionalidade produza efeitos somente a partir da data da publicação da ata de
julgamento ou que fiquem ressalvados dos efeitos da decisão os servidores que já estejam
aposentados, os respectivos pensionistas e aqueles que, até a data de publicação da ata de
julgamento, tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria; e
vii) progresso significativo na prestação jurisdicional do TJ/PI e no tempo médio da
tramitação processual, conforme Relatórios do CNJ, de forma que manter a execução da
decisão seria um verdadeiro retrocesso ao acarretar a desestabilização de vínculos
jurídicos estabelecidos há mais de 20 anos, vulnerabilizando a situação pessoal destes
servidores e implicando em detrimento ao desempenho operacional e, por extensão, à
eficácia da prestação jurisdicional.

Posicionou-se, ao final, pela “inviabilidade de atender de imediato à determinação


emanada do CNJ” e pela “necessidade de postergação do cumprimento até que sobrevenha uma decisão
definitiva do STF no âmbito dos Mandados de Segurança já instaurados para tratar da controvérsia”.

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A seu turno, o SINDOJUS-PI apresentou a Manifestação 5289885, aduzindo, em suma:

i) que é aconselhável a suspensão da execução dessa decisão no âmbito do TJ/PI até o


julgamento das ações pelo Supremo Tribunal Federal;
ii) que, quando instaurado o PP em questão ou mesmo quando instaurado o PCA que lhe
deu origem, todas as Leis tratadas pelo CNJ (a Lei nº 5.233/2002, a Lei nº 5.545/2006, a
Lei Complementar nº 115/2008 e as Leis nº 6.582/2014 e nº 6.585/2014) já estavam
revogadas expressamente e se encontrava em vigor a Lei Complementar nº 230/2017, e
que a decisão do PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000, em nenhum momento, examinou a
Lei Complementar nº 230/2017 ou desconstituiu os atos de enquadramento (provimento)
editados com fundamento nessa Lei Complementar, de forma que a Decisão do CNJ não
pode afetar a LC nº 230/17 nem os atos de enquadramento editados com fundamento
nela, que já existiam quando instaurado o PP e quando houve o julgamento em questão
pelo CNJ;
iii) inexistência de efeito vinculante contra o legislador e a consequente validade dos atos
de enquadramento editados com fundamento em lei não declarada inconstitucional (Lei
Complementar nº 230/2017), de uma vez que até mesmo a decisão de mérito em controle
concentrado pelo STF vincula apenas os “demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública”, assim como a súmula vinculante, não vinculando o Poder
Legislativo que editou a lei declarada inconstitucional, que pode editar nova lei com
idêntico teor ao do texto declarado inconstitucional, de forma que a Decisão do CNJ
logicamente também não poderia vincular o legislador estadual que editou a Lei
Complementar nº 230/2017, de forma que os efeitos desta não podem ser afetados;
iv) falsa premissa quanto à “Íntima Semelhança” do caso tratado no julgamento do RE
740.008-RR (Tema nº 697) pois, no caso paradigma, o STF considerou como
transposição de cargos inconstitucional a equiparação remuneratória entre os dois cargos
de Oficial de Justiça então existentes em Roraima, um de nível médio e um de nível
superior. Já no caso do TJ-PI, na origem, havia apenas um cargo/categoria de Oficial de
Justiça, o qual se manteve exatamente com as mesmas atribuições, designação, natureza e
com o mesmo nível de escolaridade;
v) que a elevação de requisito de escolaridade do cargo de Oficial de Justiça feita pela
Lei Complementar nº 115/2008 apenas atendeu ao disposto na Resolução CNJ nº 48, de
18 de dezembro de 2007, que ditou o seguinte: “Art. 1º Determinar aos Tribunais que
passem a exigir, como requisito para o provimento do cargo de Oficial de Justiça, a
conclusão de curso superior, preferencialmente em Direito.”, concedendo o prazo de 60
(sessenta) dias, para os Tribunais adotarem as providências necessárias ao atendimento da
Resolução;
vi) que o CNJ concluiu pela constitucionalidade dessa transformação realizada pela Lei
Complementar nº 115/2008 no julgamento conjunto de 8 (oito) Pedidos de Providências
(PP 0002831-65.2011.2.00.0000, rel. Conselheiro Jorge Hélio Chaves de Oliveira, 133ª
Sessão Ordinária, unânime, julgamento 30/08/2011, e outros 7 (sete) julgados por
unanimidade na mesma sessão), não podendo agora, mais de 12 (doze) anos depois,
alterar esse julgamento, sob pena de grave violação ao princípio da segurança jurídica;
vii) inexistência de violação da Súmula Vinculante nº 43 por ter ocorrido mera alteração
de escolaridade sem nenhuma alteração das atribuições do cargo de Oficial de Justiça ao
longo das mudanças legislativas, situação essa que caracteriza reestruturação ou
reorganização administrativa e não transposição de cargos, conforme diversos
precedentes do Supremo;
viii) que no recente julgamento conjunto das ADIs 4.151-DF, 4.616-DF e 6.966-DF o
STF reafirmou seu entendimento ao declarar a constitucionalidade da transformação do
cargo de Técnico do Tesouro Nacional (de nível médio) no cargo de Técnico da Receita
Federal (de nível superior) e por fim no cargo de Analista Tributário da Receita Federal
(especificamente, no julgamento da ADI 4.616-DF), evidenciando que se existe
“reestruturação” e não transposição quando são unificados cargos de atribuições
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semelhantes com requisitos de escolaridades distintos, com mais razão se deve considerar
“reestruturação” a reunião de cargos de Oficial de Justiça e Avaliador do Estado do Piauí
de nível médio com o cargo de igual designação de nível superior, já que esses cargos
sempre tiveram as mesmas atribuições;
ix) que ao apreciar caso semelhante (AgRg no Rcl 56.367-RS, 1ª Turma, rel. Min.
Cármen Lúcia, unânime, DJe 23/11/2022) o STF entendeu que a mera elevação de
escolaridade do cargo de Oficial de Justiça não constitui transposição, não violando a
Súmula Vinculante nº 43;
x) que a mera elevação da escolaridade do cargo de Oficial de Justiça, sem alteração das
atribuições, não viola a Súmula Vinculante nº 43, conforme decidido pelo STF na Rcl
53.185-RS, rel. Min. Cármen Lúcia;
xi) que o legislador federal, mais de uma vez, mantendo as mesmas atribuições, elevou a
escolaridade de cargo público federal, sem que houvesse nenhum questionamento de
constitucionalidade, como nos casos da Lei nº 9.266/1996, que transformou os cargos de
Agente da Polícia Federal e Escrivão de Polícia Federal, antes de nível médio, em cargos
de nível superior e da Lei nº 9.654/1998, que exigiu nível superior para o cargo de
Policial Rodoviário Federal, antes de nível médio;
xii) que o deferimento de liminar e/ou a concessão de segurança, em qualquer dos
Mandados de Segurança nº 39.476-PI e nº 39.471-PI, impedirá a execução da decisão do
CNJ ou importará na sua reforma, caso seja executada antes do julgamento dessas ações
pelo STF;
xiii) que a nova redação do art. 106 do Regimento Interno do CNJ permite interpretação
no sentido de que a judicialização perante o STF não importa o imediato cumprimento da
decisão, independentemente do momento da judicialização, conforme precedentes do
Supremo e do próprio CNJ;
xiv) a modulação dos efeitos da Decisão, com fundamento no art. 21 da LINDB e na
jurisprudência do STF, ao menos para resguardar a situação dos servidores afetados pela
decisão que estejam aposentados, tenham preenchido os requisitos para aposentadoria e
seus respectivos pensionistas e para manter os servidores afetados em efetivo exercício,
mesmo não existindo cargos de Oficial de Justiça de nível médio ou mesmo cargos vagos
de Técnico Judiciário (de nível médio), em vez de os colocar em disponibilidade com
perda remuneratória;
xv) que a jurisprudência do CNJ, embora também entenda pela inaplicabilidade de
decadência para anulação de provimento de cargo sem concurso público depois da
CF/1988, também ressalva servidores aposentados e aqueles com direito à aposentadoria,
citando PCA 0001443-69.2007.2.00.0000, PP 0005826-22.2009.2.00.0000, PCA
0001213-27.2007.2.00.0000, PCA 0000326-09.2008.2.00.0000, PP 0001336-
20.2010.2.00.0000, PP 0006377-02.2009.2.00.0000 e PP 0007772-29.2009.2.00.0000;
xvi) que muitas aposentadorias e várias pensões por morte foram apreciadas e registradas
pelo Tribunal de Contas do Estado do Piauí no exercício da sua competência
Constitucional, cabendo notar que a própria Constituição, quando trata das competências
do CNJ, ressalva a expressamente a competência do Tribunal de Contas, quando estatui
que o controle do Conselho é exercido “sem prejuízo da competência do Tribunal de
Contas da União” (CF, art. 103-B, II, parte final) pelo que, com mais razão, devem ser
ressalvados tais servidores e pensionistas que tiveram seus benefícios previdenciários
registrados pelo Tribunal de Contas; e
xvii) que o Tribunal de Justiça permita que os Oficiais de Justiça e Avaliadores afetados
permaneçam no exercício das suas atribuições, mesmo não havendo cargos de Oficial de
Justiça de nível médio ou cargos vagos de Técnico Judiciário, para afastar qualquer risco
de que sejam colocados em disponibilidade e de prejuízo à boa prestação da atividade
jurisdicional pelo Poder Judiciário do Estado do Piauí.

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Ao final, o SINDOJUS requereu, preliminarmente, o reconhecimento de que a


categoria dos Oficiais de Justiça não foi alcançada pela Decisão do CNJ, a manutenção da Decisão Nº
16938/2023 - PJPI/TJPI/PRESIDENCIA/SECGER, a inaplicabilidade da decisão do CNJ aos atos de
enquadramento ou que seja suspensa a execução da decisão do PP ao menos enquanto pendente de
apreciação pelo STF o pedido de liminar nos Mandados de Segurança nº 39.476-PI e 39.471-PI.

No mérito, o SINDOJUS requereu a modulação dos efeitos da decisão para:

“b.1) afastar a aplicação da Decisão do CNJ em relação (i) a Oficiais de Justiça e


Avaliadores aposentados; (ii) que tenham preenchido os requisitos para aposentadoria;
e (iii) os pensionistas dos Oficiais de Justiça afetados que tenham falecido; e
b.2) Manter todos os Oficiais de Justiça e Avaliadores em efetivo exercício sem perda
remuneratória pelo tempo necessário à aprovação de projeto lei de lei criando os
cargos”

Após, seguiu-se a Manifestação Nº 25592/2024 da ANAJUS (5292853), aduzindo, em


suma:

i) necessidade de modulação dos efeitos da decisão do CNJ;


ii) possíveis desdobramentos resultantes de pedido liminar formulado perante o STF nos
MS 39471/DF e MS 39476/PI, interpostos respectivamente pelas entidades SINDSJUSPI e SINDOJUSPI;
iii) omissão da análise da Lei Complementar Estadual nº 230/2017;
iv) o“Evidente e pujante salto de qualidade na prestação jurisdicional ante as últimas
reestruturações ocorridas no TJ-PI”, uma vez que o impacto substancial sobre os servidores envolvidos
poria fim a todo o trabalho realizado em quase duas décadas pelo TJPI de motivação, capacitação e
engajamento de seu quadro funcional;
v) que a jurisprudência do STF em sede de controle de constitucionalidade em casos
análogos admite que a nulidade decorrente da declaração de inconstitucionalidade pode ser mitigada em
favor da segurança jurídica, mantendo-se a validade dos atos, quando passados muitos anos e reconhecida
a boa-fé dos beneficiados pelo ato impugnado, como ocorreu no julgamento de embargos de declaração no
MS 27.673-DF, no qual o Supremo Tribunal Federal privilegiou os princípios proteger a confiança
legítima, a boa-fé objetiva e a segurança jurídica.
vi) a inviabilidade da colocação dos servidores em disponibilidade, nos termos do art. 41,
§3º, da CF/88, sob pena de ensejar verdadeira desordem de operacionalidade no Poder Judiciário estadual;
e
vii) violação ao art. 21 da LINDB e ao princípio da boa-fé.

Ao final, reiterou "a impossibilidade de se cumprir a decisão atrelada ao PP nº


0008609-69.2018.2.00.0000, sugestionando que a administração superior do TJ-PI maneje a
postergação do cumprimento até que advenha posicionamento decisório do relator no STF, no bojo dos
remédios constitucionais impetrados."

Após as manifestações das entidades sindicais e associativas de servidores do TJ-PI, os


autos seguiram aos Gabinetes dos Juízes Auxiliares da Presidência, para conhecimento e providências que
entendessem pertinentes (5292142).

O GABJAPRES2 encaminhou os autos à SECPRE, para manifestação superior


(5297609), e o GABJAPRES1 encaminhou os autos à esta Secretaria Jurídica da Presidência para análise

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(5317802).

É o relatório.

II - ANÁLISE JURÍDICA

Cuida-se de matéria que retorna para análise conclusiva desta Secretaria Jurídica após
ampla discussão pela Comissão designada pela Presidência para propor medidas adequadas para
o adequado cumprimento da respeitável Decisão proferida nos autos do PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000.

Com efeito, a análise jurídica da forma de cumprimento da r. decisão já fora


majoritariamente deslindada no Parecer preliminar desta SJP de id. 4851011.

Sem embargo, ante as prodigiosas manifestações apresentadas pelas entidades sindicais e


associativas, procede-se à análise dos fundamentos apresentados pelo SINDOJUS-PI, SINDISJUS-PI e
ANAJUS, à luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, cujo
enfrentamento corrobora para o aprimoramento da conclusão pronunciada anteriormente por esta
Consultoria e contribui para subsidiar a decisão que será adotada pela Presidência neste caso tão
emblemático.

II. I. DA IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO DA ESTABILIDADE DAS


CONDIÇÕES FUNCIONAIS ATUAIS DOS SERVIDORES COM BASE NA AUSÊNCIA DE
ANÁLISE PELO CNJ DA LEI COMPLEMENTAR Nº 230/2017 E DOS RESPECTIVOS ATOS DE
ENQUADRAMENTO DELA DECORRENTES​

Em síntese, as entidades alegam que, quando instaurado o PP em questão ou mesmo


quando instaurado o PCA que lhe deu origem, todas as Leis analisadas pelo CNJ (a Lei nº 5.233/2002, a
Lei nº 5.545/2006, a Lei Complementar nº 115/2008 e as Leis nº 6.582/2014 e nº 6.585/2014) já estavam
expressamente revogadas pela Lei Complementar nº 230/2017, o que esvaziaria, na prática, os efeitos da
decisão do Conselho Nacional de Justiça.

É bem verdade que a decisão do PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000 em nenhum


momento examinou a Lei Complementar nº 230/2017 ou desconstituiu os atos de enquadramento
(provimento) editados com fundamento nessa Lei Complementar.

De fato, a decisão do CNJ não afeta a LC nº 230/17.

Contudo, não se pode concluir, com base nisso, que os servidores atingidos pelo PP
em questão ficam ressalvados dos efeitos da decisão do CNJ, pois a Lei Complementar nº 230/2017,
em nenhum de seus dispositivos, "guindou servidores que prestaram concursos para cargos de nível
médio a cargos de nível superior". Na verdade, tais ascensões funcionais foram operadas pelas leis
efetivamente analisadas pelo CNJ.

A LC nº 230/2017 realmente realizou enquadramentos, mas manteve os servidores na


mesma carreira, mudando somente a nomenclatura dos níveis e referências e a quantidade dos cargos
(Anexo I), extinguindo alguns cargos em razão de vacância e de sua desnecessidade (art. 69), colocando

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alguns cargos e seus atuais ocupantes em quadro em extinção (art. 70) e criando alguns cargos, como
fonoaudiólogo e fisioterapeuta.

Porém, na sua tabela de transformação de cargos da carreira de Analista Judiciário, a LC


nº 230/17 e os atos de enquadramento dela decorrentes levaram em consideração os ocupantes dos
cargos anteriormente existentes.

Ou seja, ao enquadrar os servidores nos cargos de Analista Judicial, Analista


Administrativo, Oficial de Justiça e Avaliador, Oficial Judiciário, Atendente Judiciário, dentre outros, a LC
nº 230/17 o fez com base nos ocupantes dos cargos de idêntica nomenclatura existentes na vigência da Lei
Complementar nº 115/2008, os quais agora se encontram desconstituídos.

Com o retorno de alguns servidores à situação anterior, a aplicação da LC nº


230/17 resulta em enquadramento em cargos distintos dos atualmente ocupados.

Assim, considerando que os atos que "guindaram servidores de nível médio a cargos de
nível superior" foram desconstituídos pelo CNJ, o Tribunal deve realizar um novo ato de enquadramento
baseado na LC nº 230/17 considerando a nova situação funcional que deveriam estar os ocupantes sob a
égide da LC nº 115/08, considerando que agora os "enquadramentos de servidores de nível médio para
nível superior" feitos pelas Leis nº 5.233/2002, a Lei nº 5.545/2006, a Lei Complementar nº 115/2008 e as
Leis nº 6.582/2014 e nº 6.585/2014 foram anulados.

Veja-se o teor do dispositivo da decisão:

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO para desconstituir, no âmbito do Tribunal de Justiça do
Estado do Piauí, os seguintes enquadramentos de servidores de nível médio para nível superior realizados
pelas:
i) pela Lei nº 5.237/2002, que determinou o enquadramento de dois cargos de nível intermediário em cargo de
nível superior (Assistentes Técnicos Administrativos passaram a Assessor Técnico Administrativo, PJ/AS –
Atividade Superior Judiciária; e os cargos de Escrivão Judicial de 1ª, 2º ou 3º entrância foram transformados
em Escrivão Judicial, PJ/AS – Atividade Superior Judiciária);
ii) pela Lei nº 5.237/2002, que determinou que os cargos de Oficial de Justiça e Avaliador e Escrevente
Cartorário de 4ª Entrância passassem a ser privativos de portador de curso superior;
iii) pela Lei Complementar nº 115/2008, que transformou alguns cargos de Atividade Intermediária em
Analistas Judiciários, como os cargos de Assistente Judiciário, de Escrevente Cartorário de 1ª, 2ª e 3ª
entrâncias, de Oficial de Justiça e Avaliador que, conforme art. 66–II e III, foram transformados no cargo de
Analista Administrativo do grupo funcional de Analista Judiciário; e
iv) pelas Leis nº 6.582/2014 e nº 6.585/2014, que alteraram a Lei Complementar nº 115/2008 para incluir no
rol dos cargos transformados no grupo funcional de Analista Judiciário os Oficiais Judiciários e os Atendentes
Judiciários com diploma de curso superior.

Quando reconhecida e declarada a nulidade do ato, via de regra, o pronunciamento


de invalidade opera ex tunc, desfazendo todos os vínculos entre as partes e obrigando-as a reposição
das coisas ao status quo ante, como consequência natural e logica da decisão anulatória.

Salvo em casos excepcionais, quando a decisão expressamente decide proteger os


direitos adquiridos em relação aos terceiros de boa-fé, por força do princípio da segurança jurídica e da
boa-fé do administrado ou do servidor público, a anulação pode ter efeitos ex nunc – o
que infortunadamente não foi o caso, embora hajam robustos fundamentos, com a devida vênia à
respeitável decisão do augusto Conselho.

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Nessa perspectiva, os atos de enquadramento editados com fundamento na LC nº


230/17, que levaram em consideração situação funcional anterior que fora desconstituída
(anulada) necessitam ser retificados com base na nova situação jurídica advinda da decisão
proferida pelo CNJ no PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000.

É que os efeitos da anulação dos atos administrativos retroagem às suas origens,


invalidando as consequências passadas, presentes e futuras do ato, tendo em vista que o ato nulo não gera
direitos para as partes, não cria situações jurídicas definitivas e não admite convalidação. (Hely Lopes
Meirelles, "Direito Administrativo Brasileiro", Editora RT, São Paulo: 32ª Ed. p.204)

Portanto, não há como proceder o argumento da inexistência de efeitos práticos da


decisão do CNJ com base nos enquadramentos posteriores feitos com fundamento na LC nº 230/17,
ainda que esta estivesse em vigor quando da instauração dos procedimentos pelo CNJ.

Cabe recordar que o CNJ é o órgão máximo responsável pelo controle da atuação
administrativa e financeira do Poder Judiciário, bem como por fiscalizar a atuação dos seus membros,
podendo, para isso, expedir atos normativos que estabeleçam regras gerais e abstratas ou determinações
concretas, no âmbito de sua atividade de fiscalização, consoante art. 103-B, § 4º, II, da Constituição de
1988:

Art. 103-B.
(...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura,
podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar
providências; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-
los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem
prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus
serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação
do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais,
podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar outras
sanções administrativas, assegurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019)
(...)

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Petição nº 4.656/PB, Rel.


Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, j. em 19/12/2016 e publicado em 4/12/2017, ao analisar da atuação
do Conselho Nacional de Justiça no PCA nº 200910000018762, entendeu que:

"(...) 2. Atuação do órgão de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura nacional


nos limites da respectiva competência, afastando a validade dos atos administrativos e a aplicação de lei
estadual na qual embasados e reputada pelo Conselho Nacional de Justiça contrária ao princípio
constitucional de ingresso no serviço público por concurso público, pela ausência dos requisitos
caracterizadores do cargo comissionado. 3. Insere-se entre as competências constitucionalmente
atribuídas ao Conselho Nacional de Justiça a possibilidade de afastar, por inconstitucionalidade, a
aplicação de lei aproveitada como base de ato administrativo objeto de controle, determinando aos
órgãos submetidos a seu espaço de influência a observância desse entendimento, por ato expresso e
formal tomado pela maioria absoluta dos membros dos Conselho.

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Portanto, entender que a Decisão do CNJ não produz qualquer efeito em razão
da ausência de análise da​ LC nº 230/17 implicaria retirar a autoridade do órgão máximo de controle da
atuação administrativa do Poder Judiciário e negar eficácia às suas decisões, proferida no exercício de
competência constitucionalmente estabelecida.

II. II. DA IMPOSSIBILIDADE DE SUSPENDER A EXECUÇÃO DA DECISÃO


DO CNJ ATÉ QUE SOBREVENHA DECISÃO DEFINITIVA DO STF NO ÂMBITO DOS
MANDADOS DE SEGURANÇA Nº 39.476-PI E 39.471-PI OU MESMO ENQUANTO PENDENTE
DE APRECIAÇÃO O PEDIDO DE LIMINAR

De outra banda, as entidades buscam a postergação do cumprimento da decisão proferida


no PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000, ante os possíveis desdobramentos resultantes de pedido liminar
formulado perante o STF nos MS 39471/DF e MS 39476/PI, interpostos respectivamente pelas entidades
SINDSJUSPI e SINDOJUSPI.

Com razão, aduzem que o deferimento de liminar e/ou a concessão de segurança em


qualquer dos Mandados de Segurança nº 39.476-PI e nº 39.471-PI impedirá a execução da decisão do CNJ
ou importará na sua reforma, caso seja executada antes do julgamento dessas ações pelo STF.

Entretanto, na decisão do CNJ que não conheceu dos Embargos de Declaração opostos
pelo Tribunal de Justiça contra a decisão do Plenário que julgou o PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000
consta expressamente:

"Logo, sem maiores esforços interpretativos, cabe à Corte Piauiense dar fiel e efetivo cumprimento, de
imediato, as determinações constantes do acórdão proferido pelo CNJ (Id. 5259872), informando-se,
outrossim, a este Conselho as medidas já adotadas."
(sublinhou-se)

Como o Conselho Nacional de Justiça não estabeleceu prazo e determinou o


cumprimento imediato em decisão de 18 de setembro de 2023, em tese este Tribunal de Justiça já está
em mora, podendo sofrer as consequências legais e disciplinares caso o CNJ entenda que a Presidência
está "postergando" (protelando) ou se recusando em cumprir a decisão.

A propósito, veja-se o que estabelece o Regimento Interno do CNJ:

"CAPÍTULO IV - DA EFETIVAÇÃO DAS DECISÕES


Art. 104. Cabe à Secretaria-Geral, mediante órgão específico, o acompanhamento do fiel cumprimento
dos atos e decisões do CNJ, e à Secretaria da Corregedoria Nacional de Justiça, o das deliberações do
Corregedor Nacional de Justiça.
§ 1º A Secretaria-Geral informará o Presidente e o Relator, conforme o caso, permanentemente, sobre os
eventos e omissões relacionados com as deliberações do CNJ.
§ 2º A Secretaria-Geral disponibilizará ao público, através do sítio eletrônico do CNJ, planilha atualizada
mensalmente indicando o cumprimento ou não, pelos tribunais, dos atos normativos e das decisões do
CNJ, separadas por ato decisório e por tribunal.
Art. 105. Comprovada a resistência ao cumprimento da decisão proferida pelo CNJ em mais de 30 dias
além do prazo estabelecido, o Plenário, o Presidente ou o Corregedor Nacional de Justiça, de ofício ou
por reclamação do interessado, adotará as providências que entenderem cabíveis à sua imediata
efetivação, sem prejuízo da instauração do competente procedimento disciplinar contra a autoridade

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recalcitrante e, quando for o caso, do envio de cópias ao Ministério Público para a adoção das
providências pertinentes.
Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no artigo anterior, o
imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não o Supremo
Tribunal Federal. (Redação dada pela Emenda Regimental nº 1, de 9.3.2010)"

Como visto, pode o CNJ entender pela instauração de procedimento disciplinar contra o
Presidente do TJ-PI e adotar providências cabíveis, que podem incluir até mesmo o afastamento da
autoridade da presidência do Egrégio Tribunal de Justiça do Piauí, o que evidentemente não se deseja.

Nos termos do § 2º do art. 100 do RICNJ, pode ser determinada a execução do Pedido
de Providências pelo Presidente do CNJ, uma vez que lhe compete velar pelo respeito às prerrogativas
do CNJ além de executar e fazer executar as ordens e deliberações do CNJ (art. 6º, I e XIV, do RICNJ), ou
mesmo pelo Corregedor Nacional de Justiça, caso entenda que se trata de matéria de sua competência,
uma vez que o PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000 foi instaurado a partir de determinação da Corregedoria
Nacional de Justiça nos autos do 0003763- 09.2018.2.00.0000.

De outra sorte, eventuais denunciantes ou interessados podem propor Reclamação


para Garantia das Decisões, nos termos do art. 101 do RICNJ, alegando descumprimento do acórdão do
Plenário, in verbis:

Art. 101. A reclamação para garantia das decisões poderá ser instaurada de ofício ou mediante provocação,
sendo submetida à Presidência do CNJ. (redação dada pela Resolução n. 536, de 7.12.2023)
§ 1º O requerimento deverá ser instruído com cópia da decisão atacada e referência expressa ao acórdão do
Plenário cuja autoridade se deva preservar, sob pena de indeferimento liminar. (incluído pela Resolução n.
536, de 7.12.2023)
§ 2º Não será processada como reclamação para garantia das decisões a alegação de descumprimento de atos
normativos ou qualquer outra determinação geral emanada do Plenário, podendo a parte se valer do disposto
nos arts. 91 e 98. (incluído pela Resolução n. 536, de 7.12.2023)

Quanto ao disposto no art. 106, em que pese a perspicaz argumentação habilmente


esgrimada no item II.3 da Manifestação do SINDOJUS (5289885), entender que a simples
impugnação perante o Supremo Tribunal Federal poderia impedir o cumprimento da decisão do
CNJ seria um tanto imprudente por parte desta Assessoria Jurídica e bastante temerário para o
Tribunal de Justiça.

É que não parece que a intenção contida no art. 106 do RICNJ foi a de conferir uma
espécie de efeito suspensivo automático das decisões do Plenário do CNJ, ante a mera impugnação perante
o Supremo.

O fato do desenho institucional do CNJ só poder ser assegurado com a exigibilidade dos
atos do Conselho diante de todos os juízes hierarquicamente situados abaixo da Suprema Corte (voto do
Ministro Cezar Peluso, relator da ADI 3.367, julgada em 13.4.2005) levou à interpretação, pelo STF, no
julgamento da ADI 4.412, Rel. Min. Gilmar Mendes, publicada em 15/03/2021, de que a decisão
jurisdicional proferida por magistrado incompetente não é cassada ou reformada por ato
administrativo do Conselho Nacional de Justiça, o que corresponderia a uma indevida atribuição de
competência jurisdicional ao CNJ, mas "trata-se apenas e tão somente de permitir que o órgão de
controle exija o cumprimento imediato de decisão ou ato seu, quando suspenso ou inibido por decisão
flagrantemente nula".

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Assim, a interpretação do art. 106 do RICNJ no sentido de que a mera impugnação da


decisão do CNJ no juízo competente (STF) importaria na suspensão de sua execução não parece alinhada à
finalidade de "permitir que o órgão de controle exija o cumprimento imediato de decisão ou ato seu"

Na verdade, a interpretação que prevaleceu no julgamento da ADI 4.412 foi a


de que apenas o STF teria competência jurisdicional para afastar as decisões do CNJ. Veja-se outro trecho
do voto do Min. Gilmar Mendes acerca da previsão do artigo 106 do Regimento Interno do CNJ:

"No mais, além de formalmente legítimo, o dispositivo impugnado reproduz a jurisprudência mais recente
deste Tribunal, no sentido de que compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar ações
ajuizadas em face do Conselho Nacional de Justiça."

Veja-se a ementa do julgado:

Ação direta de inconstitucionalidade. 1. Art. 106 do Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça,
na redação dada pela Emenda Regimental 01/2010. 2. Exigência de imediato de decisão ou ato
administrativo do CNJ, mesmo quando impugnado perante juízo incompetente. 3. Higidez do
dispositivo impugnado. 4. Competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal para julgar ações
ajuizadas contra atos do CNJ praticados no exercício de suas competências constitucionais. 6.
Inteligência do art. 106 do RI/CNJ à luz da Constituição e da jurisprudência recente do STF. 7. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
(ADI 4412, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 18-11-2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-049 DIVULG 12-03-2021 PUBLIC 15-03-2021)

Justifica o eminente Relator que "permitir que decisões administrativas do Conselho –


criado justamente para funcionar como órgão de controle da magistratura – sejam afastadas
liminarmente por órgãos absolutamente incompetentes implicaria, indiretamente, a inviabilização do
exercício de suas competências constitucionais."

Contudo, data venia, firmar a exigibilidade da decisão do CNJ mesmo quando


impugnada perante juízo incompetente não implica na sua inexigibilidade diante da simples
impugnação perante o juízo competente.

Cite-se o seguinte trecho do parecer elaborado pela Vice Procuradora-Geral da


República na ADI 4.412:

“Não há, na atual versão da norma impugnada, decisão do CNJ desconstituindo provimento jurisdicional,
donde ser incabível falar em violação ao devido processo legal. Trata-se, apenas e tão somente de tornar
efetivas as atribuições do CNJ, não possibilitando que decisões nulas, por ausência de competência do juízo,
produzam algum efeito.
De resto, a norma impugnada, principalmente após a correção de seus termos, nada mais é do que a
explicitação do art. 102, I, ‘r’, da CR, segundo o qual compete ao Supremo Tribunal Federal processar
e julgar, originariamente, as ações contra o Conselho Nacional de Justiça”.
(grifou-se)

Dessa forma, não obstante a interpretação literal do art. 106 do RICNJ possa dar
margem a esse entendimento, pela interpretação teleológica e sistemática tal entendimento não deve
prevalecer, não se podendo concluir pela necessidade de convalidação das decisões do CNJ apenas
em razão de sua simples impugnação perante o STF, antes de proferida qualquer decisão judicial
pelo referido órgão.

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Além disso, não há qualquer dispositivo na legislação que corrobore esse entendimento,
seja no Regimento Interno do CNJ, seja no Regimento interno do próprio STF, o que revela que tal
interpretação vai de encontro ao princípio da legalidade.

Em vista disso, a melhor interpretação para o dispositivo é a de que as decisões


administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em sentido contrário
proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF, o que não dá abrigo à pretensão ventilada.

Ademais, o Supremo entende que o CNJ detém poder normativo voltado a uniformizar
regras que alcancem todo o Judiciário, visto tratar-se de órgão de caráter nacional. Ressalta ainda que o
poder normativo do CNJ possui como fonte primária a própria Constituição Federal, com a redação que
lhe foi dada pela EC 45/2004, o qual deve ser levado a efeito, observando-se as normas constitucionais e as
disposições contidas na LOMAN (ADI 4638 MC-Ref, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 08-02-2012).

Do contrário, se acabaria por destituir o CNJ do poder de fazer valer suas decisões, pois
bastaria à parte impugnar Supremo e, valendo-se da habitual morosidade decorrente do volume de
processos que chegam ao órgão máximo do Poder Judiciário, sobretudo nos casos sem grande repercussão,
protelar o cumprimento da decisão.

Veja-se que o CNJ, no julgamento do Pedido de Providências nº 0003459-


83.2013.2.00.0000, citado pelo SINDOJUS em seus prodigiosos fundamentos, entendeu, em um caso em
que havia medida liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal, que não cabe ao Conselho
Nacional de Justiça conhecer de matéria previamente judicializada sob pena de, por vias transversas,
imprimir ineficácia à decisão judicial ou esvaziar seu objeto, citando precedentes da corte (Decisão da
Conselheira Gisela Gondin Ramos, de 1/10/2013).

Portanto, embora se mencione que "Segundo entendimento pacificado por este


Conselho Nacional de Justiça, uma vez judicializada a questão, não cabe ao CNJ examiná-la", não se
está a afirmar que a mera judicialização importa na suspensão de uma decisão do Conselho, pois no caso
em análise já havia medida liminar favorável à parte concedida pelo STF.

II. III. DA NÃO COLOCAÇÃO DOS SERVIDORES ATINGIDOS EM


DISPONIBILIDADE

Com a desconstituição, pelo Conselho Nacional de Justiça, dos atos de enquadramento


de servidores de nível médio para nível superior feito pelas Leis 5.237/2002, 5.545/2006, Complementar
115/2008, 6.582/14 e 6.585/2014, como no quadro de pessoal permanente do Poder Judiciário do
Estado do Piauí não existem cargos vagos na carreira de Técnico Judiciário, que se encontra em
extinção conforme Lei Complementar nº 230/17, ventilou-se, a princípio, que o retorno dos
servidores atualmente ocupantes de cargos da carreira de Analista Judiciário à carreira de
Técnico seria inviável.

Nessa perspectiva, os atuais ocupantes não teriam como ser aproveitados e


deveriam ser colocados em disponibilidade, na forma do art. 41, § 3º, da Constituição Federal, na forma
do art. 41, § 3º, da Constituição Federal e dos arts. 30 e seguintes do Estatuto dos Servidores Públicos
Civis do Estado do Piauí (Lei Complementar nº 13, de 3 de janeiro de 1994):

CF/88
Art. 41 (...)
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§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade,
com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo.

LC nº 13/94
Art. 30. O retorno à atividade de servidor em disponibilidade far-se-á mediante aproveitamento obrigatório
em cargo de atribuições e vencimentos compatíveis com o anteriormente ocupado. (Redação dada pela Lei
Complementar nº 84, de 07/05/2007)
§ 1º A Secretária da Administração determinará o imediato aproveitamento de servidor em disponibilidade de
vaga que vier a ocorrer nos órgãos ou entidades da Administração Pública Estadual. (Redação dada pela Lei
Complementar nº 84, de 07/05/2007)
§ 2º O retorno à atividade do servidor em disponibilidade far-se-á em vaga que vier a ocorrer nos órgãos da
Administração Direta, das autarquias e das fundações públicas, respectivamente da origem do servidor. § 2º
Na hipótese prevista no § 3º do art. 39-A, o servidor posto em disponibilidade poderá ser mantido sob
responsabilidade da Secretaria da Administração, até o seu adequado aproveitamento em outro órgão ou
entidade. (Redação dada pela Lei Complementar nº 84, de 07/05/2007)
§ 3º Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em
exercício no prazo de 30 (trinta) dias, salvo doença comprovada por junta médica oficial. § 3º Será tornado
sem efeito o aproveitamento e cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em exercício no prazo legal,
salvo doença comprovada por junta médica oficial. (Redação dada pela Lei Complementar nº 84, de
07/05/2007)
Art. 31. A reintegração é a reinvestidura do servidor estável no cargo anteriormente ocupado ou no cargo
resultante de sua transformação, quando invalidada a sua demissão, por decisão administrativa ou sentença
judicial, transitada em julgado, com ressarcimento de todas as vantagens.
§ 1º Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor ficará em disponibilidade, observado o disposto no art.
30. (Redação dada pela Lei Complementar nº 84, de 07/05/2007).
§ 2º Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocupante será reconduzido ao cargo de origem, sem
direito à indenização ou aproveitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponibilidade com remuneração
proporcional ao tempo de serviço. (Redação dada pela Lei Complementar nº 84, de 07/05/2007)

Ocorre que, embora a colocação em disponibilidade seja a providência legal mais lógica
e intuitiva para o caso de reinvestidura do servidor estável no cargo anteriormente ocupado quando
seu cargo é extinto, compulsando os autos do Pedido de Providências em análise, verifica-se que não
foi abordada a colocação em disponibilidade dos servidores envolvidos. Notável, portanto, a
inexistência​contraditório e ampla defesa quanto a esse ponto.

No dispositivo do decisum também não houve a imputação dessa medida, até


porque o CNJ não indicou de modo expresso a forma de cumprimento da sua decisão.

Noutra vereda, a colocação em disponibilidade dos servidores atingidos pela Decisão


do CNJ, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em
outro cargo, na forma do art. 41, § 3º, da Constituição Federal e dos demais dispositivos legais
aplicáveis, ensejaria drástica redução da remuneração, sem que os servidores tenham dado causa a
tal situação, além de elevado prejuízo à prestação da atividade jurisdicional, ante a enorme carência
de servidores que sucederia.

Mais grave ainda, a colocação em disponibilidade dos servidores atingidos provocaria


enorme prejuízo para a própria administração e para os jurisdicionados, inviabilizando
a continuidade do serviço judiciário, em contrariedade aos princípios da eficiência e da razoável
duração do processo, sem falar na grave violação aos princípios do contraditório, ampla defesa, e
não-surpresa, visto que as partes não tiveram oportunidade ou não foram instadas a se manifestar a
respeito da medida.

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Em vista disso, na esteira do disposto nos arts. 21 a 24 da LINDB, em especial no seu


art. 21, fica evidente que a colocação em disponibilidade não é a melhor medida para que a
regularização ocorra de modo proporcional e equânime, sem prejuízo aos interesses gerais, e de
forma a não impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso,
sejam anormais ou excessivos, além de não ter sido expressamente determinada pelo CNJ. A
propósito:

“Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades
reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos
administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado
a ação do agente.
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que
dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do
agente.
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de mesma
natureza e relativas ao mesmo fato.
Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova
sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá
prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja
cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as
orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se
declarem inválidas situações plenamente constituídas.
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos
públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por
prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público."

Portanto, os servidores atingidos pelas desconstituições determinadas pelo CNJ não


devem ser postos em disponibilidade, mas enquadrados no cargo/carreira ocupado anteriormente
por ato administrativo, mesmo sem previsão legal, pois as decisões do CNJ proferidas no exercício
da atividade fiscalizadora possuem "caráter normativo" e se impõem aos órgãos submetidos
constitucionalmente à sua atuação (voto da Min. Cármen Lúcia, Relatora da Petição nº 4.656/PB,
Tribunal Pleno, j. em 19/12/2016 e publicado em 4/12/2017, ao analisar da atuação do Conselho Nacional
de Justiça no PCA nº 200910000018762).

Nesse sentido, porquanto dotadas de eficácia cogente, o CNJ pode determinar à


autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas decisões, ainda que impugnadas perante a
Justiça Federal de primeira instância (STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 18/11/2020, Info 1000).

Portanto, a solução que se apresenta viável juridicamente para o fiel cumprimento


da decisão do CNJ que ora se analisa é a de que o TJ-PI, considerando a desconstituição dos atos
que "guindaram servidores que prestaram concursos para cargos de nível médio a cargos de nível
superior", promova o reenquadramento dos servidores atingidos na carreira de nível médio
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existentes sob à égide do Plano de Cargos atual (Lei Complementar nº 230/2017), mesmo nos casos
em que os cargos ocupados anteriormente foram extintos ou mudaram de nomenclatura, ante a
coercitividade da decisão do CNJ e o caráter normativo das suas determinações proferidas no
exercício de sua atividade fiscalizadora, a fim de a Decisão do CNJ e não colocar nenhum servidor
em disponibilidade, permitindo que os servidores permaneçam exercendo suas atribuições para
afastar qualquer risco de prejuízo à boa prestação da atividade jurisdicional pelo Poder Judiciário
do Estado do Piauí.

Em seguida, deve o Tribunal de Justiça dar início a procedimento de elaboração


de Projeto de Lei de alteração da LC nº 230/17, a fim de realizar as devidas adequações no Plano de
Cargos e Carreiras dos servidores deste Poder Judiciário, em conformidade com o que fora decidido
no julgamento do PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000​, e após informar ao CNJ.

II. IV. DA NECESSIDADE DE RESSALVAR OS SERVIDORES QUE, ATÉ A


DATA DE PUBLICAÇÃO DA ATA DE JULGAMENTO DO ACÓRDÃO, JÁ SE ENCONTRAVAM
APOSENTADOS OU TENHAM PREENCHIDO OS REQUISITOS PARA A APOSENTADORIA,
BEM COMO OS PENSIONISTAS DE SERVIDORES NESSAS CONDIÇÕES

Alegam as entidades que, em proteção aos princípios da boa-fé, da segurança jurídica e


da presunção formal de constitucionalidade das leis, a jurisprudência do STF assegura a preservação
das situações jurídicas consolidadas ao longo do tempo, de modo que a declaração de
inconstitucionalidade produza efeitos somente a partir da data da publicação da ata de julgamento ou que
fiquem ressalvados dos efeitos da decisão os servidores que já estejam aposentados, os pensionistas e
aqueles que, até a data de publicação da ata de julgamento, tenham preenchido os requisitos para a
aposentadoria.

Aduzem que a jurisprudência do STF em sede de controle de constitucionalidade em


casos análogos admite que a nulidade decorrente da declaração de inconstitucionalidade pode ser mitigada
em favor da segurança jurídica, mantendo-se a validade dos atos, quando passados muitos anos e
reconhecida a boa-fé dos beneficiados pelo ato impugnado, como ocorreu no julgamento de embargos de
declaração no MS 27.673-DF, no qual o Supremo Tribunal Federal privilegiou os princípios proteger a
confiança legítima, a boa-fé objetiva e a segurança jurídica.

Frisam ainda que a jurisprudência do CNJ, embora também entenda pela inaplicabilidade
de decadência para anulação de provimento de cargo sem concurso público depois da CF/1988, também
ressalva servidores aposentados e aqueles com direito à aposentadoria, citando PCA 0001443-
69.2007.2.00.0000, PP 0005826-22.2009.2.00.0000, PCA 0001213-27.2007.2.00.0000, PCA 0000326-
09.2008.2.00.0000, PP 0001336-20.2010.2.00.0000, PP 0006377-02.2009.2.00.0000 e PP 0007772-
29.2009.2.00.0000.

Em vista disso, solicitam "a modulação dos efeitos da Decisão", com fundamento no art.
21 da LINDB e na jurisprudência do STF, ao menos para resguardar a situação dos servidores afetados
pela decisão que estejam aposentados, tenham preenchido os requisitos para aposentadoria e os
pensionistas de servidores nessas condições, bem como para manter os servidores afetados em
efetivo exercício, mesmo não existindo cargos de Oficial de Justiça de nível médio ou mesmo cargos
vagos de Técnico Judiciário (de nível médio), em vez de os colocar em disponibilidade com perda
remuneratória (Manifestação 5289885 SINDOJUS, pleiteando em defesa de todas as categorias de
servidores atingidos).

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Pois bem. Mesmo julgando enquadramentos praticados há mais de 20 ou de 5 anos e que


eram fundados em disposições expressas de leis, a desconstituição (anulação) realizada pelo Colendo
CNJ nada tratou sobre a situação dos servidores afetados que já estavam aposentados, que já tinham
preenchidos os requisitos para a aposentadoria, assim como nada dispôs sobre os pensionistas de
servidores falecidos durante esse largo período de tempo, situações essas que têm sido ressalvadas
pelo Supremo Tribunal Federal e até mesmo pela jurisprudência do próprio CNJ.

Desconsiderando os argumentos apresentados nos Embargos de Declaração opostos


pelo Estado do Piauí, o colendo Conselho Nacional de Justiça não atentou para que o que determina o art.
21 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB, que dita o seguinte:

“Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências
jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as condições
para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não
se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso,
sejam anormais ou excessivos.”

Como o Colendo CNJ foi omisso nesse ponto, não indicando de modo expresso a
forma de cumprimento da sua decisão, o Tribunal de Justiça deve considerar, para a devida
execução da decisão, a existência de jurisprudência consolidada pelo Supremo Tribunal Federal em
sede de controle abstrato.

Em situações semelhantes (de julgamento de ações diretas de inconstitucionalidade –


ADIs contra leis que permitem o provimento de cargo público sem concurso), mesmo havendo a separação
entre os efeitos da declaração de inconstitucionalidade no plano normativo (abstrato ou legal) e os efeitos
dela no plano concreto (dos atos praticados com fundamento na lei inconstitucional), em respeito ao
princípio da segurança jurídica e para proteger a confiança legítima e a boa-fé dos servidores, o
Supremo Tribunal Federal tem modulado os efeitos da declaração de inconstitucionalidade no plano
concreto, por exemplo, para ressalvar servidores aposentados ou com direito à aposentadoria ou
preservar a remuneração nominal dos servidores:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. TRANSPOSIÇÃO. PROVIMENTO


DERIVADO DE CARGOS PÚBLICOS. AUDITORES FISCAIS. ART. 37, II, DA CARTA FEDERAL.
CONCURSO PÚBLICO. INOBSERVÂNCIA. ARTS. 156, I, II e III, DA LEI COMPLEMENTAR Nº
92/2002 E AO ART. 150, I, II e III, DA LEI COMPLEMENTAR Nº 131/2010, AMBAS DO ESTADO DO
PARANÁ. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO. PROCEDÊNCIA PARCIAL.
SEGURANÇA JURÍDICA. MODULAÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS DO ACÓRDÃO EM MAIOR
EXTENSÃO. 1. Ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pelo
Procurador-Geral da República, em face dos arts. 150, I a VI e § 1°, e 156 da Lei Complementar nº 131, de
29.09.2010, e dos arts. 156, I a VI e § 2°, e 157 da Lei Complementar nº 92, de 05.07.2002, ambas do Estado
do Paraná. As normas dispuseram sobre a reestruturação da carreira de Agente Fiscal da Coordenação da
Receita do Estado do Paraná. 2. Nos termos do art. 27 da lei n.º 9.868/99 que autoriza, por razões de
segurança jurídica ou excepcional interesse social, a restrição dos efeitos da declaração de sua
inconstitucionalidade, modulo os efeitos da decisão (i) para que produza efeitos a partir de 2 (dois) anos
contados da publicação da Ata deste julgamento; (ii) para preservar os atos praticados pelos servidores
investidos irregularmente no cargo de Auditor Fiscal, inclusive nesse período de 2 (dois) anos; (iii) para
congelar, na data da publicação da Ata deste julgamento, o valor nominal das remunerações dos
servidores afetados pela decisão, até que a diferença recebida com base na lei ora declarada
inconstitucional seja absorvida por aumentos futuros; (iv) para preservar as situações até aqui
consolidadas exclusivamente para fins de aposentadoria, ou seja, os aposentados e os indivíduos que
implementaram os requisitos para a aposentadoria até a data da publicação da Ata deste julgamento e,
divergindo do Relator, modulo em maior extensão os efeitos da decisão, de modo a também (v) preservar as
promoções concedidas na vigência das Leis Complementares nº 92/2002 e 131/2010 do Estado do Paraná,
como também para preservar o quadro funcional dos agentes fiscais 3 que tiveram seus cargos transformados

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em auditores fiscais e os atos por eles executados. 3. Pedido na ação direta de inconstitucionalidade julgado
parcialmente procedente, para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 156, I, II e III, da Lei
Complementar nº 92/2002, e ao art. 150, I, II e III, da Lei Complementar nº 131/2010, ambas do Estado do
Paraná, de modo a afastar qualquer aplicação que possibilite a investidura de outrora ocupantes do cargo de
Agente Fiscal 3 (AF-3) em cargo de Auditor Fiscal. Modulação de efeitos em maior extensão.
(ADI 5510, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 05-06-2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 07-08-2023 PUBLIC 08-08-2023)

Ementa: Direito constitucional e administrativo. ADPF. Lei estadual. Transposição de regime celetista para
estatutário. Inclusão de servidores públicos não concursados e detentores de estabilidade excepcional no
regime próprio de previdência social. I. Objeto 1. Arguição de descumprimento de preceito fundamental
contra os arts. 8º e 9º da Lei nº 4.546/1992, do Estado do Piauí, que incluíram no regime próprio de
previdência social daquele ente federativo servidores públicos não admitidos por concurso público e aqueles
detentores da estabilidade excepcional do art. 19 do ADCT. II. Preliminares 2. A ADPF é o instrumento
processual adequado para impugnar dispositivos que antecedem a norma constitucional invocada como
paradigma (art. 40, CF, na redação dada pela EC nº 20/1998), sendo possível que o parâmetro de
inconstitucionalidade reúna normas constitucionais anteriores e posteriores ao ato questionado. 3. A Lei
Complementar estadual nº 13/1994, que dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos Civis do Estado do
Piauí, não explicitou quais categoriais de servidores seriam abrangidas pelo regime estatutário nem criou
qualquer regime de transição para os servidores admitidos no serviço público antes da Constituição de 1988 e
da EC nº 20/1998. Não houve, portanto, revogação tácita da Lei Estadual nº 4.546/1992. 4. É possível afastar
o óbice de ausência de impugnação do complexo normativo quando (i) houver relação de interdependência
entre as normas; e (ii) os dispositivos possuírem teor análogo e a causa de pedir for a mesma. Precedentes. III.
Mérito 5. Consoante já decidido por esta Corte, admite-se a transposição do regime celetista para o estatutário
apenas para os servidores admitidos por concurso público e para aqueles que se enquadrem na estabilidade
excepcional do art. 19 do ADCT. A criação do regime jurídico único previsto na redação original do art. 39 da
CF não prescinde da observância à regra do concurso público. 6. A jurisprudência do STF é no sentido de que
os beneficiados pela estabilidade excepcional prevista no art. 19 do ADCT não são detentores das vantagens
privativas dos servidores ocupantes de cargo efetivo, o que afasta a possibilidade de participação no regime
próprio de previdência social. A partir da EC nº 20/1998, o regime próprio é exclusivo para os detentores de
cargo efetivo, os quais foram aprovados em concurso público. Precedentes. IV. Conclusão 7. Interpretação
conforme a Constituição do art. 9º da Lei Estadual nº 4.546/1992, de modo a excluir do regime próprio de
previdência social todos os servidores públicos não detentores de cargo efetivo, ou seja, aqueles servidores
públicos admitidos sem concurso público, inclusive aqueles abrangidos pelo art. 19 do ADCT.
Inconstitucionalidade, por arrastamento, do art. 5º, IV, da Lei Estadual nº 4.546/1992. 8. Modulação de
efeitos da decisão para ressalvar os aposentados e aqueles que tenham implementado os requisitos para
aposentadoria até a data da publicação da ata de julgamento, mantidos estes no regime próprio dos
servidores daquele estado. 9. Pedido julgado parcialmente procedente, com a fixação da seguinte tese: “1. É
incompatível com a regra do concurso público (art. 37, II, CF) a transformação de servidores celetistas não
concursados em estatutários, com exceção daqueles detentores da estabilidade excepcional (art. 19 do ADCT);
2. São admitidos no regime próprio de previdência social exclusivamente os servidores públicos civis
detentores de cargo efetivo (art. 40, CF, na redação dada pela EC nº 20/98), o que exclui os estáveis na forma
do art. 19 do ADCT e demais servidores admitidos sem concurso público”.
(ADPF 573, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 06-03-2023, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 08-03-2023 PUBLIC 09-03-2023)

Ementa: Direito constitucional e administrativo. Embargos de declaração em ação direta de


inconstitucionalidade. Lei complementar estadual. Provimento derivado de cargo público. Interpretação
conforme a CF/1988. Modulação de efeitos. 1. Embargos de declaração contra acórdão que declarou a
inconstitucionalidade do art. 2º; do art. 5º; do art. 7º, parágrafo único e alínea b; do art. 10, II e XII; e do art.
11, todos da Lei Complementar nº 98/2001, do Estado de Mato Grosso, com efeitos ex nunc, fixando-se a
seguinte tese de julgamento: “A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui
ascensão funcional, vedada pelo art. 37, II, da CF/88”. 2. Contradição configurada. Correção impositiva
para que, em lugar da declaração da inconstitucionalidade dos arts. 2º, 5º e 7º, parágrafo único, b, da Lei
Complementar do Estado do Mato Grosso nº 98/2001, conste do dispositivo do acórdão a interpretação
conforme a Constituição desses mesmos dispositivos legais, de modo a afastar qualquer aplicação que
possibilite a investidura de outrora ocupantes do cargo de Agente de Fiscalização e Arrecadação de Tributos
Estaduais (AFATE) em cargos de Agente de Fiscalização e Arrecadação de Tributos Estaduais (ATE).
3. Modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade para (i) preservar os atos praticados pelos
ocupantes dos cargos declarados irregulares e (ii) ressalvar, exclusivamente para fins de aposentadoria, os
aposentados e os indivíduos que implementaram os requisitos para a aposentadoria até a data da
publicação da ata do julgamento de mérito. Precedentes: ADI 1.301-ED, Rel. Min. Roberto Barroso; ADI

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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer
3.609, Rel. Min. Dias Toffoli; ADI 4.876, Rel. Min. Dias Toffoli; ADI 3.415-ED-Segundos, Rel. Min.
Alexandre de Moraes. 4. Embargos de declaração conhecidos e parcialmente providos.
(ADI 3199 ED. Rel. Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, Sessão Virtual de 13.5.2022 a 20.5.2022.)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


TRANSPOSIÇÃO DE REGIME JURÍDICO. ATRIBUIÇÃO DE INTERPRETAÇÃO CONFORME.
INADEQUAÇÃO. MODULAÇÃO DOS EFEITOS. RESSALVAS. APOSENTADO. BENEFICIÁRIO DE
PENSÃO. NOMEADOS MEDIANTE APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO. ESTABILIDADE DO
ART. 19 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS. 1. É inadequada a
pretensão de conferir efeitos modificativos aos embargos de declaração, de modo a atribuir-se interpretação
conforme à Constituição aos dispositivos impugnados. 2. O caráter alimentar da verba remuneratória recebida,
por significativo lapso temporal, de boa-fé, sob o manto da presunção de constitucionalidade do respectivo
quadro normativo, afasta o dever de devolução ou ressarcimento. 3. É compatível com a Constituição de 1988
a alteração do regime celetista para o estatutário em relação aos empregados públicos que, aprovados em
concurso público, permaneceram no exercício do mesmo cargo no novo regime jurídico. Precedentes. 4.
Acolhido, em parte, o pedido de modulação de efeitos da decisão, (a) ressalvam-se da declaração de
inconstitucionalidade (a.1) os servidores aposentados ou que cumpriram os requisitos para a
aposentadoria até a data da publicação do acórdão embargado – 31 de agosto de 2018 –, (a.2) os
beneficiários de pensão decorrente do falecimento de servidor abrangido pela norma inconstitucional,
(a.3) os servidores que, aprovados em concurso público, permaneceram no exercício do mesmo cargo no
novo regime jurídico (a.4) e a estabilidade adquirida por servidores com fundamento no art. 19 do ADCT;
bem como (b) afasta-se a necessidade da devolução dos valores recebidos a título de remuneração por ex-
servidores alcançados pelos preceitos. 5. Embargos de declaração conhecidos e providos em parte.
(ADI 1476 ED, Relator(a): NUNES MARQUES, Tribunal Pleno, julgado em 21-03-2022, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-073 DIVULG 18-04-2022 PUBLIC 19-04-2022)

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Lei do Estado do Amazonas que realizou a modificação do
regime dos servidores do Instituto de Medicina Tropical de Manaus para o regime estatutário. Transformação
dos empregos em cargos públicos. Ocupação automática dos cargos públicos pelos antigos servidores
celetistas. Ausência de distinção entre servidores concursados e não concursados. Violação dos arts. 37, II; e
39 da Constituição Federal, e do art. 19, caput, e § 1º, do ADCT. Parcial procedência. Interpretação conforme
à Constituição. Modulação dos efeitos da decisão. Efeitos ex nunc. 1. Não se afigura inconstitucional a lei
amazonense quando promove a modificação do regime jurídico dos funcionários da autarquia, já que o Estado
do Amazonas atendeu a determinação constitucional de conformar seus servidores da administração direta,
autárquica ou fundacional a um regime jurídico de sujeição uniforme, no caso, ao regime estatutário. O
Instituto de Medicina Tropical de Manaus, como autarquia, deveria, de fato, ter seus servidores submetidos ao
regime estatutário, não mais se admitindo que os servidores da autarquia permanecessem regidos pela CLT.
Entretanto, não é possível extrair-se do art. 39 da Constituição que a adoção do regime único deva se dar em
desconformidade com a regra imperativa do concurso público (art. 37, II, da CF/88). 2. A
inconstitucionalidade do art. 1º da lei questionada aflora da extensão com que se promoveu a transposição do
regime dos funcionários da autarquia estadual, uma vez que a norma não especificou a quais servidores se
dirigia o comando. A expressão “atuais servidores sujeitos ao regime trabalhista” pode dizer respeito, sem
dúvida, a servidores que foram contratados sem realização de concurso até a data de publicação da lei, no
caso, 7 de maio de 1993. No entanto, esses servidores, se contratados antes do novo regime constitucional,
poderiam não atender os requisitos previstos no art. 19 do ADCT da Constituição, em especial o do exercício
ininterrupto por cinco anos, e, ainda assim, serem todos aproveitados como servidores estatutários. É
necessário se conferir interpretação conforme à Constituição à expressão “os atuais servidores sujeitos ao
regime trabalhista” contida no art. 1º da Lei nº 2.205 do Estado do Amazonas, de 7 de maio de 1993, para
excluir do âmbito de sua incidência os servidores que não foram admitidos por meio de concurso público e
que não estavam em exercício há pelo menos 5 anos ininterruptos na data da promulgação da Constituição da
República, nos termos do art. 19 do ADCT da Constituição Federal. 3. A Lei 2.205/93 determinou, ainda, em
seu art. 2º, a transformação dos empregos ocupados pelos então servidores da autarquia em cargos públicos. A
segunda parte da disposição (“mantidas as atuais situações funcionais de seus titulares, que passam a ser
regidas pela Lei nº 1.762/86”) acabou por vincular a transformação à consequente titularização desses cargos
pelos servidores beneficiários da modificação do regime. Essa transposição automática equivale ao
aproveitamento de servidores, ainda que não concursados, em cargos efetivos, nos quais a investidura se devia
dar, conforme a atual Constituição, mediante prévia submissão de tais servidores a concurso público, seja
aquele previsto no art. 37, inciso II, de seu texto permanente, seja o concurso para fins de efetivação
mencionado no § 1º do art. 19 do ADCT. 4. Mesmo os celetistas estabilizados pela regra do art. 19 do ADCT,
e agora amparados pelo regime estatutário, não poderiam titularizar cargo de provimento efetivo sem a
aprovação em concurso ao qual se refere o § 1º do art. 19 do ADCT. Esses possuem apenas o direito de
permanecer na função para as quais foram admitidos, somente vindo a adquirir efetividade no cargo quando se
submeterem a certame público. A interpretação a ser conferida ao art. 2º deve ser mais restritiva que a

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atribuída ao art. 1º da lei estadual, devendo-se excluir do âmbito de incidência da expressão “mantidas as
atuais situações funcionais de seus titulares, que passam a ser regidas pela Lei nº 1.726/86”, contida no art. 2º
da Lei estadual nº 2.205/93, os servidores que não tenham se submetido ao concurso público previsto no art.
37, II, da Constituição Federal, ou ao concurso para fins de efetivação referido no § 1º do art. 19 do ADCT. 5.
Igual interpretação conforme à Constituição deve ser conferida aos §§ 1º e 2º do art. 3º da Lei 2.205/93,
restringindo-se o âmbito de sua incidência apenas àqueles servidores concursados. Não é cabível assegurar
aos servidores não concursados – inclusive os estáveis na forma do art. 19 do ADCT que não realizaram
concurso de efetivação (§ 1º) – a concessão de vantagens e deveres próprios dos servidores públicos
ocupantes de cargos efetivos. 6. Considerando-se que a lei combatida está em vigor há mais de 28 anos e
que, provavelmente, muitos dos servidores admitidos até sua edição estão, atualmente, recebendo
proventos de aposentadoria, ou seus dependentes, pensões por morte, hão de se modular os efeitos da
decisão, com fundamento no art. 27 da Lei 9.868/99, para se conferir ao julgado efeitos ex nunc, ficando
expressamente ressalvados dos efeitos da decisão os servidores que já estejam aposentados e aqueles
que, até a data de publicação da ata deste julgamento, tenham preenchido os requisitos para a
aposentadoria. Precedentes. 7. Ação julgada parcialmente procedente.
(ADI 3636, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 11-10-2021, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-249 DIVULG 17-12-2021 PUBLIC 07-01-2022)

EMENTA Embargos de declaração. Ação direta de inconstitucionalidade. Emenda Constitucional nº 38/2005


do Estado do Acre. Termo inicial do prazo de 12 (doze) meses para o cumprimento da decisão concedido em
modulação dos efeitos. Publicação da ata de julgamento. Adequação. Aposentados e servidores que reuniram
os requisitos para a aposentadoria. Segurança jurídica. Embargos de declaração parcialmente acolhidos. 1. A
conclusão do julgamento é perfeitamente compreensível a partir da leitura de suas atas, revelando-se adequada
a escolha da data da publicação da ata de julgamento sobre a modulação como termo inicial do prazo de 12
(doze) meses para o cumprimento da decisão. O embargante pretende renovar o prazo conferido pelo
Tribunal, fazendo com que ele recomece a contar a partir da publicação do acórdão, ocorrida somente em
30/10/14. Entretanto, o Estado do Acre teve tempo suficiente para tomar providências no sentido da
adequação de seu quadro funcional, visto que está a par da declaração de inconstitucionalidade da EC nº
38/2005 no mínimo desde 24/5/13, quando foi publicada a ata do julgamento do mérito da ação. 2. O prazo de
12 (doze) meses é suficiente para o cumprimento da decisão, tendo sido adotado em casos semelhantes ao
presente julgados pelo Tribunal, o qual, para evitar o déficit de pessoal na Administração Pública estadual em
decorrência da declaração de inconstitucionalidade, decidiu modular os efeitos da decisão para preservar a
continuidade dos serviços públicos. Precedentes: ADI nº 4.876/DF, de minha relatoria, Tribunal Pleno, DJe de
1/7/14; ADI nº 4.125/TO, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe de 15/2/11. 3. O magistrado não é
obrigado a rebater todos os argumentos trazidos pela parte, bastando que os fundamentos apresentados sejam
suficientes para embasar a decisão. Precedente: AI nº 805.685 AgR-ED, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma,
DJe de 18/6/12. No entanto, o princípio da segurança jurídica sinaliza para a necessidade de se ressalvar
dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade os aposentados e aqueles servidores que, até a data
de publicação da ata do julgamento, tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria. Precedente:
ADI nº 4.876, de minha relatoria, Tribunal Pleno, DJe de 1/7/14. 4. Embargos de declaração parcialmente
acolhidos.
(ADI 3609 ED, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 14-06-2021, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 13-09-2021 PUBLIC 14-09-2021)

EMENTA: PROCESSO CONSTITUCIONAL. DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. SEGURANÇA
JURÍDICA. ESTABILIDADE EXCEPCIONAL PARA SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS NÃO
CONCURSADOS. HIPÓTESES DE APOSENTADORIA. NECESSIDADE DE PRESERVAR A VALIDADE
DOS ATOS PRATICADOS PELOS SERVIDORES DE PROVIMENTO IRREGULAR. POSSIBILIDADE
DE MODULAR EFEITOS. PARCIAL PROVIMENTO DOS DECLATÓRIOS. 1. Modulação de efeitos da
declaração de inconstitucionalidade para (i) preservar os atos praticados pelos ocupantes dos cargos
declarados irregulares e (ii) ressalvar, exclusivamente para fins de aposentadoria, os aposentados e os
indivíduos que implementaram os requisitos para aposentação até a data da publicação da ata de
julgamento. Precedentes representativos: ADI nº 1.301-ED, Rel. Min. Roberto Barroso; ADI nº 3.609, Rel.
Min. Dias Toffoli; ADI nº 4.876, Rel. Min. Dias Toffoli; ADI nº 3.415-ED-Segundos, Rel. Min. Alexandre de
Moraes. 2. Embargos de declaração parcialmente providos.
(ADI 3552 ED, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 14-12-2018, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-026 DIVULG 08-02-2019 PUBLIC 11-02-2019)

EMENTA: PROCESSO CONSTITUCIONAL. DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. ESTABILIDADE
EXCEPCIONAL PARA SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS NÃO CONCURSADOS. POSSIBILIDADE E
NECESSIDADE DE MODULAR EFEITOS. 1. Admite-se, excepcionalmente, a modulação de efeitos em
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sede de embargos de declaração na ação direta de inconstitucionalidade, sem prejuízo de que os fundamentos
não tenham sido previamente suscitados. Nesse sentido: ADI-ED nº 2.797, Rel. Min. Menezes Direito, DJe de
28.02.2013. 2. Modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade do art. 14 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado do Rio Grande Norte, no sentido de ressalvar os
aposentados e os indivíduos que implementaram os requisitos para aposentação até a data da
publicação da ata de julgamento, mantidos estes no regime próprio dos servidores daquele estado.
Precedente representativo: ADI nº 4.876, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 01.07.2014. 3. Embargos de
declaração providos.
(ADI 1301 ED, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10-09-2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-197 DIVULG 18-09-2018 PUBLIC 19-09-2018)

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Artigos 1º e 2º da Lei nº 6.697 do Estado do Rio Grande do
Norte. Permanência no cargo de servidores contratados por prazo determinado e sem a realização de certame
público. Vício de iniciativa. Violação do princípio do concurso público (art. 37, II, CF/88). Ação julgada
procedente. 1. Os arts. 1º e 2º da Lei nº 6.697 do Estado do Rio Grande do Norte asseguraram a permanência
dos servidores da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte admitidos em caráter temporário
entre o período de 8 de janeiro de 1987 a 17 de junho de 1993 sem a prévia aprovação em concurso público,
tornando ainda sem efeitos os atos de direção da universidade que, de qualquer forma, importassem em
exclusão desses servidores do quadro de pessoal. 2. A proposição legislativa decorreu de iniciativa
parlamentar, tendo sido usurpada a prerrogativa conferida constitucionalmente ao chefe do Poder Executivo
quanto às matérias afetas ao regime jurídico dos servidores públicos (art. 61, § 1º, inciso II, alíneas c, da
CF/88). Precedentes. 3. Ofensa, ainda, ao princípio do concurso público (art. 37, II, CF/88), haja vista a
estabilização de servidores contratados apenas temporariamente. O art. 19 do ADCT concedeu estabilidade
excepcional somente aos servidores que, ao tempo da promulgação do texto, estavam em exercício há mais de
cinco anos. Precedentes. 4. Modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, nos termos do art.
27 da Lei nº 9.868/99, para dar efeitos prospectivos à decisão, de modo a somente produzir efeitos a partir de
doze meses, contados da data da publicação da ata de julgamento, tempo hábil para a realização de concurso
público, a nomeação e a posse de novos servidores, evitando-se, assim, prejuízo à prestação do serviço
público de ensino superior na Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN). Ademais, de forma
semelhante ao que realizado por esta Corte na ADI nº 4.876/MG, ficam ressalvados dos efeitos desta
decisão os servidores que já estejam aposentados e aqueles que, até a data de publicação da ata deste
julgamento, tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria, exclusivamente para efeitos de
aposentadoria. 5. Ação direta julgada procedente.
(ADI 1241, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 22-09-2016, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-170 DIVULG 02-08-2017 PUBLIC 03-08-2017)

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 7º da Lei Complementar nº 100/2007 do Estado de


Minas Gerais. Norma que tornou titulares de cargos efetivos servidores que ingressaram na administração
pública sem concurso público, englobando servidores admitidos antes e depois da Constituição de 1988.
Ofensa ao art. 37, inciso II, da Constituição Federal, e ao art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias. Modulação dos efeitos. Procedência parcial. 1. Desde a Constituição de 1988, por força do seu
art. 37, inciso II, a investidura em cargo ou emprego público depende da prévia aprovação em concurso
público. As exceções a essa regra estão taxativamente previstas na Constituição. Tratando-se, no entanto, de
cargo efetivo, a aprovação em concurso público se impõe. 2. O art. 19 do Atos das Disposições
Constitucionais Transitórias tornou estáveis os servidores que estavam em exercício há pelo menos cinco anos
na data da promulgação da Constituição de 1988. A estabilidade conferida por essa norma não implica a
chamada efetividade, que depende de concurso público, nem com ela se confunde. Tal dispositivo é de
observância obrigatória pelos estados. Precedentes: ADI nº 289/CE, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence,
Tribunal Pleno, DJ de 16/3/07; RE nº 199.293/SP, Relator o Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJ de
6/8/04; ADI nº 243/RN-MC, Relator o Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ de 24/8/01; RE nº
167635/PA, Relator o Ministro Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ de 7/2/97. 3. Com exceção do inciso III
(que faz referência a servidores submetidos a concurso público), os demais incisos do art. 7º da Lei
Complementar nº 100, de 2007, do Estado de Minas Gerais tornaram titulares de cargo efetivo servidores que
ingressaram na Administração Pública com evidente burla ao princípio do concurso público (art. 37, II,
CF/88). 4. Modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, nos termos do art. 27 da Lei nº
9.868/99, para, i) em relação aos cargos para os quais não haja concurso público em andamento ou com prazo
de validade em curso, dar efeitos prospectivos à decisão, de modo a somente produzir efeitos a partir de doze
meses, contados da data da publicação da ata de julgamento, tempo hábil para a realização de concurso
público, a nomeação e a posse de novos servidores, evitando-se, assim, prejuízo à prestação de serviços
públicos essenciais à população; ii) quanto aos cargos para os quais exista concurso em andamento ou dentro
do prazo de validade, a decisão deve surtir efeitos imediatamente. Ficam, ainda, ressalvados dos efeitos da
decisão (a) aqueles que já estejam aposentados e aqueles servidores que, até a data de publicação da ata
deste julgamento, tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria, exclusivamente para efeitos

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de aposentadoria, o que não implica efetivação nos cargos ou convalidação da lei inconstitucional para esses
servidores, uma vez que a sua permanência no cargo deve, necessariamente, observar os prazos de modulação
acima; (b) os que foram nomeados em virtude de aprovação em concurso público, imprescindivelmente, no
cargo para o qual foram aprovados; e (c) a estabilidade adquirida pelos servidores que cumpriram os
requisitos previstos no art. 19 do ADCT da Constituição Federal. 5. Ação direta julgada parcialmente
procedente.
(ADI 4876, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 26-03-2014, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 27-06-2014 PUBLIC 01-07-2014)

Como se pode ver, o STF tem determinado não só a modulação dos efeitos para
ressalvar os casos dos servidores inativos e dos pensionistas mas também garantido os direitos
daqueles servidores ainda em atividade, que já preencheram os requisitos para a concessão da
aposentadoria.

Corroborando com o exposto, as seguintes decisões do Pretório Excelso dignas de nota:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO.


TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. APOSENTADORIA. NEGATIVA DE REGISTRO. DECADÊNCIA
DA IMPETRAÇÃO. INOCORRÊNCIA. TRANSPOSIÇÃO DE REGIME A ANISTIADOS. PRINCÍPIOS
DA SEGURANÇA JURÍDICA E DA CONFIANÇA LEGÍTIMA. NECESSIDADE DA
ESTABILIZAÇÃO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS. DECADÊNCIA. ARTIGO 54 DA LEI 9.784/1999.
DA NÃO FLAGRANTE INCONSTITUCIONALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A
publicação do ato impugnado no Diário Oficial constitui o termo inicial do prazo de cento e vinte dias para
impetrar mandado de segurança, contando-se o prazo a partir do primeiro dia útil seguinte à publicação. 2. O
Acórdão nº 303/2015-TCU-Plenário ocasionou a anulação da Portaria que efetivou a transposição dos
Impetrantes do regime celetista para o estatutário. Em razão desse ato, houve a perda de direitos à percepção
de benefício previdenciário e parcelas remuneratórias a que mensalmente faziam jus, sem a devida
comprovação da existência de hipóteses que ressalvem a incidência da decadência administrativa nos termos
do art. 54 da Lei nº 9.784/99 e sem que se pudesse afirmar, sem sombra de dúvidas, tratar-se de situação
flagrantemente inconstitucional. 3. A instabilidade de entendimentos e o longo decurso do tempo para que a
Administração tomasse providências concretas configuram circunstâncias excepcionais, que justificam a
incidência dos princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança na espécie, para garantir aos
impetrantes a permanência no regime estatutário. 4. Os valores da segurança jurídica, da boa-fé objetiva e
da proteção da confiança legítima, bem como a necessidade de proteger situações consolidadas, vêm
sendo utilizados para proteger a expectativa criada nos servidores já aposentados ou que reuniram os
requisitos para a aposentadoria, a despeito da existência de irregularidade no ato de transposição de
regime. Precedentes. 5. O caso em tela não se enquadra nas hipóteses de flagrante inconstitucionalidade, a
excepcionar, nos termos da jurisprudência desta Casa, o transcurso do prazo decadencial. 6. Agravo
regimental a que se nega provimento.
(MS 33702 AgR, Relator(a): EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 03-05-2023, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 31-05-2023 PUBLIC 01-06-2023)

Agravo regimental no recurso extraordinário. 2. Direito Administrativo. 3. Agente investido em função


pública sem prévia realização de concurso. Decurso do tempo. Aposentadoria concedida há mais de 20
anos. Peculiaridades do caso concreto. Necessidade excepcional de flexibilização dos efeitos do ato
inconstitucional, em respeito aos princípios da boa-fé e da segurança jurídica. Precedentes 4. Ausência
de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 5. Negado provimento ao agravo regimental.
(STF - RE: 1336979 RJ, Relator: GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 03/07/2023, Segunda Turma,
Data de Publicação: PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 26-07-2023 PUBLIC 27-07-2023)

EMENTA AGRAVO REGIMENTAL EM AÇÃO RESCISÓRIA. DIREITO ADMINISTRATIVO.


NECESSIDADE DE PRÉVIO CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGO EFETIVO
MUNICIPAL. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO PARA RESCINDIR DECISÃO QUE HAVIA
DETERMINADO A PERMANÊNCIA DE SERVIDORES NOMEADOS SEM CONCURSO. ALEGAÇÃO
DE FATOS NOVOS DECORRENTES DE EXONERAÇÃO E APOSENTADORIAS. RESSALVA DOS
EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DOS PROVIMENTOS EM CASO
DE APOSENTADORIA: ADI Nº 4876/MG. 1. A decisão agravada reconheceu, nos termos da jurisprudência
desta Suprema Corte (dentre outros, RE nº 658026/MG, Pleno, Relator Ministro Dias Toffoli, DJe de
31.10.2014, RE nº 765320/MG, Pleno, Relator Ministro Teori Zavascki, DJe de 23.9.2016 e RE nº

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608482/RN, Pleno, Relator Ministro Teori Zavascki, DJe de 30.10.2014) que “os princípios da segurança
jurídica ou da proteção da confiança legítima não podem justificar a manutenção no cargo de candidato
admitido sem concurso público”, conforme tese de repercussão geral firmada no julgamento do último
precedente mencionado. 2. Publicada a decisão monocrática em que se julgou procedente o pedido de corte
rescisório ajuizado pelo Município, os agravantes informam, em agravo, a ocorrência de uma exoneração e
duas aposentadorias. Tais atos administrativos foram praticados em datas anteriores à da decisão de mérito,
mas não informados tempestivamente, de modo que a decisão agravada não poderia considerá-los. De
qualquer sorte, a decisão monocrática continha transcrição, ainda que por outros motivos, da ementa
da ADI nº 4876/MG, Pleno, Relator Ministro Dias Toffoli, DJe de 27.6.2014, na qual consta que, muito
embora indeclinável a declaração de inconstitucionalidade de nomeações sem concurso, “ficam (...)
ressalvados dos efeitos da decisão (a) aqueles que já estejam aposentados e aqueles servidores que, até a
data de publicação da ata deste julgamento, tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria,
exclusivamente para efeitos de aposentadoria, o que não implica efetivação nos cargos ou convalidação
da lei inconstitucional para esses servidores”. Tal entendimento é plenamente aplicável à presente hipótese.
3. Agravo regimental conhecido e provido, para ressalvar a aplicação do entendimento firmado na ADI nº
4876/MG aos atos de aposentadoria dos ex-servidores.
(AR 2047 AgR, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 02-05-2022, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-088 DIVULG 06-05-2022 PUBLIC 09-05-2022)

Vale ainda transcrever trecho elucidativo do voto do Min. Gilmar Mendes no julgamento
do citado RE nº 1.336.979-RJ, no qual demonstra a importância do respeito aos princípios da segurança
jurídica e da boa-fé:

(...) O tema da segurança jurídica é pedra angular do estado de direito sob a forma de proteção da
confiança. É o que destaca Karl Larenz, in verbis: “O ordenamento jurídico protege a confiança suscitada
pelo comportamento do outro e não tem mais remédio que protegê-la, porque poder confiar (...) é
condição fundamental para uma pacífica vida coletiva e uma conduta de cooperação entre os homens e,
portanto, da paz jurídica. (Derecho Justo Fundamentos de Ética Jurídica. Madri. Civitas, 1985, p. 91).
Constata-se, no caso concreto, a existência de uma situação jurídica duradoura e uma inevitável
expectativa de estabilidade e segurança jurídica para o recorrido, tendo se passado mais de vinte anos do
seu ato de aposentadoria. Registro que em diversas oportunidades já me manifestei pela possibilidade
de mitigação dos efeitos de atos inconstitucionais em prol de razões de segurança jurídica. Em tais
ocasiões, ressaltei a necessidade da comprovação da boa-fé daqueles que se beneficiaram da situação
inconstitucional decorrente da dúvida plausível acerca da solução da controvérsia.
(...)
Nesse sentido, confira-se o seguinte precedente:
"Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Direito Administrativo. 3. Investigação de agente
investido em função pública sem prévia realização de concurso. Ausência, por mais de 20 anos,
de impugnação pelo ente público. 4. Necessidade de flexibilização dos efeitos do ato inconstitucional, em
respeito aos princípios da boa-fé e da segurança jurídica. Precedentes. 5. Inexistência de argumentos
capazes de infirmar a decisão agravada. 6. Negado provimento ao agravo regimental, sem majoração da verba
honorária."
(RE 1.165.280 AgR, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 8.9.2021)

Como visto, é cediço que STF tem privilegiado a segurança jurídica, a boa-fé e as
situações consolidadas há muito tempo, optando por conferir efeito ex nunc (a partir da publicação da
ata da sessão ou mesmo data futura) às suas decisões, ressalvando, assim, os servidores já
aposentados, aqueles com direito à aposentadoria e os pensionistas.

Portanto, a fim se respeitar o princípio constitucional da segurança jurídica e o art.


21 da LINDB, além dos próprios precedentes da Corte Suprema, faz-se necessário que os servidores
inativos, os que já preencheram os requisitos para aposentadoria e os pensionistas de servidores
falecidos nessas condições sejam tratados de forma a preservar as situações até aqui consolidadas,
tendo em vista que os enquadramentos foram realizados há mais de 20 ou de 15 anos, por meio de
leis estaduais, com presunção formal de constitucionalidade, o que isenta os servidores beneficiados
de qualquer alegação de má-fé.

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O próprio CNJ, em caso de provimento originário de cargo público sem concurso após a
Constituição de 1988 que reputa "gravíssimo, grosseiro, manifesto e evidente, mormente por violar
expressamente a Constituição Federal", não sujeitos à decadência, nulos e incapazes de produzir quaisquer
efeitos desde sua origem, cuida de ressalvar os casos dos servidores aposentados, bem como daqueles
servidores ainda em atividade que já preencheram os requisitos para a concessão da aposentadoria,
mesmo entendendo pela inaplicabilidade de decadência para anulação de provimento de cargo sem
concurso público depois da CF/1988:

“PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ. SERVIDORES.


AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO APÓS A CF/88. CONTRATO TEMPORÁRIO. EXERCÍCIO DE
FUNÇÕES PERMANENTES POR TEMPO INDETERMINADO. EFETIVAÇÃO. ATO DA PRESIDÊNCIA.
NULIDADE. PRETERIÇÃO DOS APROVADOS EM CERTAME PÚBLICO. - Para o exercício de cargo ou
emprego público, essencial a aprovação em concurso público, ressalvada a possibilidade de nomeação para
cargo em comissão bem como a contratação para atendimento, por tempo determinado, de necessidade de
excepcional interesse público.
(...)
- A situação descrita assume vício gravíssimo, grosseiro, manifesto e evidente, mormente por violar
expressamente a Constituição Federal vigente. Nesse norte pode e deve a Administração decretá-lo a
qualquer tempo, não restando sujeito à decadência.
- Atos maculados por nulidade dessa monta, não são capazes de produzir quaisquer efeitos desde sua origem.
Além disso, quando o ato tem como consequência lesão a valores constitucionais, tal qual a moralidade
pública, não há que se mencionar a decadência, pois atos administrativos nulos são inatingíveis por tal
instituto.
- Pedido julgado procedente para anular o ato da Presidência do TJPA (Processo 2009001014777 -
Diário da Justiça nº 4310, de 02/04/2009) que efetivou, de forma irregular, servidores que adentraram
sem concurso público no âmbito daquele Tribunal, determinando ainda que o Tribunal de Justiça do Estado
do Pará: a) se abstenha de estabilizar servidores contratados precariamente, sem a feitura de concurso público:
b) promova, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias o distrato e desligamento de todos os servidores
irregularmente admitidos sem concurso público, após a Constituição Federal de 1988 , em observância ao
artigo 37, II e IX da CF, facultando ao requerido o aproveitamento dos mesmos em cargos comissionados de
direção e assessoramento, desde que preencham os requisitos legais para tanto e dentro dos limites
estabelecidos pela Resolução nº 88 do CNJ; salvo os servidores aposentados, aqueles que tenham
implementado o direito à aposentadoria até esta data, observando a legislação vigente à época da
implementação, e naqueles casos em que exista processo judicial em trâmite acerca da matéria; c)
apresente, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, projeto de reestruturação de seu quadro de servidores,
promovendo assim o imediato aproveitamento dos candidatos aprovados no concurso público nº 002/2009, de
26/01/2009, dentro do número de vagas ofertados no edital, procedendo à nomeação de acordo com a ordem
de classificação nas vagas que vierem a abrir em razão do desligamento dos servidores irregulares; d) em
relação aos servidores exclusivamente comissionados e os servidores requisitados de outros órgãos da
administração pública e colocados à disposição do Tribunal de Justiça, com ou sem ônus, deve-se obedecer
aos parâmetros definidos na Resolução nº 88 do CNJ, artigos 2º e 3º.
- Pedido julgado procedente.”
(PP 0005826-22.2009.2.00.0000, rel. Conselheiro Jefferson Luis Kravchychyn, unânime, 110ª sessão
ordinária, julgamento 17/08/2010, grifo acrescido).

“PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. Tribunal de Justiça de Goiás. Servidores


nomeados e efetivados após a Constituição Federal de 1988 sem concurso público. Ilegalidade.
Impossibilidade de convalidação do ato ilegal.
I – Atos inconstitucionais são nulos e destituídos, em consequência, de qualquer de eficácia jurídica.
II – A nulidade de atos de investidura não pode ser protegida pelo decurso de prazo porque servem de fonte
direta para o futuro da relação entre o servidor e a Administração.
III – Ressalva quanto aos atos de aposentadoria do servidor e quanto àqueles efetivados em razão da
extinção de seus órgãos de origem.
III – Pedidos julgados parcialmente procedentes. Determinação de imediata exoneração de servidores
nomeados sem concurso público após 1988 e a determinação para a realização de certame para novas
nomeações.”

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(PCA 0001443-69.2007.2.00.0000, rel. Conselheiro Felipe Locke Cavalcante, por maioria, 63ª sessão
ordinária, julgamento em 27/05/2008, sem realce no original).

Dessa forma, como o Colendo CNJ não indicou de modo expresso a forma de
cumprimento da sua decisão, na perspectiva inicialmente proposta de apresentar um plano de
execução da decisão, informando sobre as medidas adotadas, este Tribunal de Justiça deve efetuar o
cumprimento da decisão suprindo as eventuais lacunas orientado na jurisprudência do STF e do
próprio CNJ, ou seja, efetuando seu cumprimento ressalvando os servidores que, na data da
publicação da decisão, já se encontravam aposentados, com direito à aposentadoria e os pensionistas.

Assim, o TJ-PI não estaria propriamente realizando a "modulação dos efeitos" de


uma Decisão, mas lhe dando fiel cumprimento, recorrendo-se aos parâmetros delineados
pela jurisprudência do STF uma vez que a decisão não estabeleceu, de forma expressa, suas
consequências jurídicas e administrativas e sua forma de execução.

Frise-se que isso não implica convalidação dos atos desconstituídos, conforme
jurisprudência citada (ADI 4876, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, publicado em 01/07/2014; AR
2047 AgR, Rel. Rosa Weber, Tribunal Pleno, publicado em 09/05/2022).

II. V. DA PRESERVAÇÃO DA REMUNERAÇÃO DOS SERVIDORES


ATINGIDOS, TENDO EM VISTA A NECESSIDADE DE RESGUARDAR A CONFIANÇA
LEGÍTIMA, A BOA-FÉ OBJETIVA E A SEGURANÇA JURÍDICA, NOS TERMOS DA
JURISPRUDÊNCIA DO STF, E DA POSSIBILIDADE DE ENVIO DE PROJETO DE LEI DE
REESTRUTURAÇÃO VISANDO A CORREÇÃO DAS DISTORÇÕES NOS CARGOS,
ATRIBUIÇÕES E CARREIRAS ADVINDA DA SUCESSÃO HISTÓRICA DE PLANOS DE
CARGOS DOS SERVIDORES DESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Além de excepcionar os servidores aposentados, pensionistas e que já preencheram os


requisitos para aposentadoria, conforme sólida jurisprudência citada no item II. IV., suso, no mais
recente julgado em que enfrentou a matéria (ADI 5.510/PR, Rel. Min Roberto Barroso, Rel. p/ Acórdão
Min. Edson Fachin, julgado em 05/06/2023), a Corte Suprema, além de ressalvar as situações
consolidadas exclusivamente para fins de aposentadoria, decidiu modular os efeitos da decisão em
maior extensão.

No caso, o Rel. p/ Acórdão, Min. Edson Fachin, ao apresentar voto parcialmente


divergente tendo em conta o princípio da segurança jurídica, o da confiança legítima e o transcurso de
largo lapso temporal, entendia também por preservar as promoções concedidas na vigência das Leis
Complementares reputadas inconstitucionais por violação ao princípio do concurso público, invocando o
seguinte precedente da Corte, de relatoria da Min. Carmen Lúcia:

Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DISPOSIÇÕES DA LEI COMPLEMENTAR


N. 107/2008 DE PERNAMBUCO. AUDITOR FISCAL DO TESOURO ESTADUAL. SERVIDORES
PÚBLICOS INVESTIDOS EM CARGOS DE NÍVEL MÉDIO. REESTRUTURAÇÃO DA CARREIRA,
COM POSSIBILIDADE DE PROMOÇÃO A CARGO DE NÍVEL SUPERIOR E DE ATRIBUIÇÕES
DIVERSAS. ASCENSÃO FUNCIONAL DISSIMULADA. OFENSA AO INC. II DO ART. 37 DA
CONSTITUIÇÃO. PRECEDENTES. SÚMULA VINCULANTE N. 43. MODULAÇÃO DE EFEITOS.
AÇÃO DIRETA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.”
(ADI 6.355, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. em 31.05.2021)

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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer

Na oportunidade da ADI 6.355/PB, nos termos do voto da Relatora, o STF julgou


procedente em parte o pedido para reconhecer a inconstitucionalidade de interpretação dos dispositivos
legais atacados que possibilitavam a promoção, para o cargo de de auditor fiscal do tesouro estadual, classe
II, aos servidores públicos que ingressaram por concurso nos cargos de nível médio existentes antes da
vigência da Lei n. 11.562/1998, modulando todavia os efeitos dessa decisão para preservar as
promoções concedidas e os atos administrativos praticados até a publicação do Acórdão.

O julgamento da ADI 5.510/PR foi então suspenso quando 5 (cinco) ministros votavam
pela parcial procedência, acompanhando o Relator, sendo que o Min Fachin votou por promover, ainda, a
modulação dos efeitos da decisão em maior extensão, e 4 (quatro) pela improcedência, acompanhando o
Min. Toffoli, totalizando o placar de 6 votos a 5, fixando a seguinte tese:“[a] equiparação de carreira de
nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada pelo art. 37, II, da CF/88”.

Relativamente à modulação temporal dos efeitos da decisão, a proposta do Relator,


Ministro Luís Roberto Barroso, não alcançou a maioria necessária, razão pela qual retornam os autos a
julgamento.

Na sessão que retomou o julgamento, em aditamento ao voto, o Relator decidiu


ampliar o escopo da modulação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade.

O aditamento à proposta de modulação levou em consideração, além da significativa


divergência no julgamento de mérito, “as preocupações legítimas evidenciadas pelas autoridades do
Estado do Paraná, de risco à estrutura fazendária e à continuidade administrativa”, de um lado; e, do
outro, a segurança jurídica e os interesses dos servidores atingidos pela invalidação da norma “para
que não tenham diminuição em seus vencimentos”.

Ao final, o STF, por unanimidade, modulou os efeitos temporais, consoante os termos do


art. 27 da Lei nº 9.868/1999:

(i) para que a decisão produza efeitos a partir de 2 (dois) anos contados da publicação da
ata deste julgamento;
(ii) para preservar os atos praticados pelos servidores investidos irregularmente no cargo
de Auditor Fiscal, inclusive nesse período de 2 (dois) anos;
(iii) para congelar, na data da publicação da ata deste julgamento, o valor nominal
das remunerações dos servidores afetados pela decisão, até que a diferença recebida com base na lei
ora declarada inconstitucional seja absorvida por aumentos futuros; e
(iv) para preservar as situações até aqui consolidadas exclusivamente para fins de
aposentadoria, ou seja, os aposentados e os indivíduos que implementaram os requisitos para a
aposentadoria até a data da publicação da ata deste julgamento.

Na sequência, o Tribunal, por maioria, também modulou os efeitos da decisão para


preservar as promoções concedidas na vigência das Leis Complementares nº 92/2002 e 131/2010 do
Estado do Paraná, como também para preservar o quadro funcional dos agentes fiscais que tiveram seus
cargos transformados em auditores fiscais e os atos por eles executados, vencido, nesse ponto, o Ministro
Roberto Barroso (Relator).

O Acórdão restou assim ementado:

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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. TRANSPOSIÇÃO. PROVIMENTO
DERIVADO DE CARGOS PÚBLICOS. AUDITORES FISCAIS. ART. 37, II, DA CARTA FEDERAL.
CONCURSO PÚBLICO. INOBSERVÂNCIA. ARTS. 156, I, II e III, DA LEI COMPLEMENTAR Nº
92/2002 E AO ART. 150, I, II e III, DA LEI COMPLEMENTAR Nº 131/2010, AMBAS DO ESTADO DO
PARANÁ. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO. PROCEDÊNCIA PARCIAL.
SEGURANÇA JURÍDICA. MODULAÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS DO ACÓRDÃO EM MAIOR
EXTENSÃO.
1. Ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pelo Procurador-Geral da
República, em face dos arts. 150, I a VI e § 1°, e 156 da Lei Complementar nº 131, de 29.09.2010, e dos arts.
156, I a VI e § 2°, e 157 da Lei Complementar nº 92, de 05.07.2002, ambas do Estado do Paraná. As normas
dispuseram sobre a reestruturação da carreira de Agente Fiscal da Coordenação da Receita do Estado do
Paraná.
2. Nos termos do art. 27 da lei n.º 9.868/99 que autoriza, por razões de segurança jurídica ou
excepcional interesse social, a restrição dos efeitos da declaração de sua inconstitucionalidade, modulo
os efeitos da decisão (i) para que produza efeitos a partir de 2 (dois) anos contados da publicação da Ata deste
julgamento; (ii) para preservar os atos praticados pelos servidores investidos irregularmente no cargo de
Auditor Fiscal, inclusive nesse período de 2 (dois) anos; (iii) para congelar, na data da publicação da Ata
deste julgamento, o valor nominal das remunerações dos servidores afetados pela decisão, até que a
diferença recebida com base na lei ora declarada inconstitucional seja absorvida por aumentos
futuros; (iv) para preservar as situações até aqui consolidadas exclusivamente para fins de
aposentadoria, ou seja, os aposentados e os indivíduos que implementaram os requisitos para a
aposentadoria até a data da publicação da Ata deste julgamento e, divergindo do Relator, modulo em
maior extensão os efeitos da decisão, de modo a também (v) preservar as promoções concedidas na vigência
das Leis Complementares nº 92/2002 e 131/2010 do Estado do Paraná, como também para preservar o quadro
funcional dos agentes fiscais 3 que tiveram seus cargos transformados em auditores fiscais e os atos por eles
executados.
3. Pedido na ação direta de inconstitucionalidade julgado parcialmente procedente, para conferir interpretação
conforme à Constituição ao art. 156, I, II e III, da Lei Complementar nº 92/2002, e ao art. 150, I, II e III, da
Lei Complementar nº 131/2010, ambas do Estado do Paraná, de modo a afastar qualquer aplicação que
possibilite a investidura de outrora ocupantes do cargo de Agente Fiscal 3 (AF-3) em cargo de Auditor Fiscal.
Modulação de efeitos em maior extensão.
(ADI 5510, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 05-06-2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n DIVULG 07-08-2023 PUBLIC 08-08-2023)

Tal entendimento, além de ter invocado em seus fundamentos o precedente firmado na


ADI 6.355, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. em 31.05.2021, também está em consonância com outros
precedentes do Supremo, que promovem a modulação dos efeitos temporais da desconstituição de atos
de transposição de cargos públicos sem se restringir aos aposentados e servidores com direito à
aposentadoria:

Ementa: Direito Administrativo. Ação Direta. Leis Estaduais que concedem ao servidores não aprovados em
concurso público os mesmos direitos e deveres dos servidores estatutários e permitem a transposição de
cargos. 1. Ação direta em que se discute a constitucionalidade dos arts. 5º, §4º e 52, §1º, ambos da Lei
Estadual nº 2.065/1999 e do art. 302, parágrafo único, da Lei Estadual nº 1.102/1990, todas do Estado de
Mato Grosso do Sul, que possibilitam a concessão de vantagens, direitos e deveres dos servidores públicos
efetivos a integrantes dos quadros de pessoal suplementar, especial e celetistas, não aprovados em concurso
público, bem como autorizam a designação de servidores para ocupar outros cargos que integrem sua
categoria funcional, desde que comprovem estar habilitados ou capacitados profissionalmente para exercer as
atribuições do novo cargo. 2. O art. 5º, §4º, da Lei Estadual nº 2.065/1999, ao permitir que servidores
habilitados ou capacitados ocupem outros cargos dentro da sua categoria, promove ascensão
funcional, situação vedada pelo art. 37, II, da Constituição. Infringência da Súmula Vinculante nº 43 do STF
“É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação
em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente
investido”. 3. O art. 52, §1º da Lei Estadual nº 2.065/1999 e o art. 302, parágrafo único, da Lei nº 1.102/1990
autorizam a concessão de todos os direitos e deveres dos servidores estatutários aos membros dos quadros
suplementar e especial, não necessariamente aprovados em concurso público, em violação ao art. 37, II, da
Constituição e art. 19, §1º, do ADCT. Precedentes. 4. As leis em exame vigoram por mais de 20 (vinte)
anos, com presunção formal de constitucionalidade. Nesse contexto, a atribuição de efeitos retroativos à
declaração de inconstitucionalidade promoveria ônus excessivo e indesejável aos servidores regulados
pelas normas impugnadas. 5. Modulação dos efeitos temporais da declaração de inconstitucionalidade,

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de modo a que produza efeitos somente a partir da data da publicação da ata de julgamento. 6. Ação
direta julgada procedente, com efeito ex nunc.
(ADI 4143, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 23-08-2019, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-194 DIVULG 05-09-2019 PUBLIC 06-09-2019)

Embargos de declaração nos embargos de declaração no mandado de segurança. 2. Direito Administrativo. 3.


Conselho Nacional de Justiça. Desconstituição dos atos de investidura de servidores do Tribunal de
Justiça do Estado de Goiás. Nomeações efetivadas após a Constituição Federal de 1988, sem aprovação
em concurso público. 4. Inaplicabilidade do prazo decadencial de 5 anos, previsto no art. 54 da Lei
9.784/1999. 5. Possibilidade de mitigação dos efeitos de atos inconstitucionais em prol de razões de
segurança jurídica. Atos de nomeação em cargos públicos sem a realização de concurso público foram
assinados por Presidente de Tribunal de Justiça há mais de 20 anos. Boa-fé dos impetrantes. 6. Proposta
de modulação de efeitos acolhida. 7. Embargos de declaração acolhidos em parte, tão somente para
reconhecer a boa-fé dos embargantes e, assim, modular os efeitos da decisão para manter a validade dos
atos inconstitucionais em relação a eles.
(MS 27673 ED-ED, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Relator(a) p/ Acórdão: GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 10-10-2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-268 DIVULG 09-11-2020 PUBLIC 10-11-
2020)

Por fim, frise-se que o próprio CNJ reconhece "a existência de uma legítima expectativa
de proteção da boa-fé de servidores que há décadas estão em atividade, em uma situação funcional
amparada por uma lei estadual não declarada inconstitucional pelo Poder Judiciário" não se podendo
negar que, apesar da necessidade de concurso público específico como forma de ingresso no serviço
público ser princípio constitucional, a boa-fé e a segurança jurídica também o são, demandando
assim "a necessidade de harmonização prática, de modo que a solução não pode se dar a partir da
lógica do tudo ou nada, mas antes deve ser buscada através da harmonização dos princípios colidentes,
por meio do balanceamento e da ponderação.". Veja-se:

EMENTA: RECURSOS ADMINISTRATIVOS. PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS. TRIBUNAL DE JUSTIÇA


DO ESTADO DA BAHIA. SERVIDORES PÚBLICOS. INVESTIDURA. CONCURSO PÚBLICO.
OBRIGATORIEDADE. DECISÃO DO STF. MS 27673 ED-ED. PRINCÍPIOS BOA-FÉ E SEGURANÇA
JURÍDICA. ISONOMIA AO PRECEDENTE DO STF. RECURSOS PROVIDOS.
1. Cuida-se de Recursos Administrativos interpostos contra Decisão monocrática terminativa proferida em
11/10/2017, que determinou ao Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJBA) que, em três meses, finalizasse
o procedimento instaurado para apurar a situação individual dos servidores não concursados, exonerando
aqueles que adquiriram estabilidade em desacordo com a Constituição Federal/88.
2. O caso tem como objeto a situação de servidores públicos que ingressaram na Administração Pública em
data anterior à promulgação da CF/88, sem prestarem concurso público, tendo sido contratados pelo Instituto
Pedro Ribeiro de Administração Judiciária (IPRAJ), Autarquia estadual instituída para prestar atividades de
apoio administrativo ao Poder Judiciário do Estado da Bahia. Em 1994 tais servidores foram
considerados estáveis pela Lei Estadual nº 6.677, que instituiu o Estatuto dos Servidores Públicos Civis do
Estado da Bahia.
3. Apesar de a irregularidade da situação dos servidores não concursados não poder ser convalidada
pelo decurso do tempo, força é reconhecer que o caso concreto traz peculiaridades que revelam a
existência de uma legítima expectativa de proteção da boa-fé de servidores que há décadas estão em
atividade, em uma situação funcional amparada por uma lei estadual não declarada inconstitucional
pelo Poder Judiciário e que não se restringe ao Poder Judiciário, mas atinge servidores em igual situação nos
demais poderes do Estado da Bahia
4. Evidencia-se, assim, a existência de uma verdadeira colisão entre princípios, que demanda uma análise não
só da situação fática, mas também uma correta valoração das dimensões de peso e precedência a serem
conferidas a cada um dos princípios contrapostos, a fim de possibilitar a prolação de uma decisão correta. Se
por um lado a necessidade de concurso público específico como forma de ingresso no serviço público
configura um princípio extremamente denso no rol de normas constitucionais, por outro lado não se pode
negar que a boa-fé dos servidores no trato com a administração e a segurança jurídica, especialmente
quando regulamentada a situação em lei estadual editada há quase 30 anos, também configuram
princípios constitucionalmente previstos, e que demandam a necessidade de harmonização prática, de
modo que a solução não pode se dar a partir da lógica do tudo ou nada, mas antes deve ser buscada
através da harmonização dos princípios colidentes, por meio do balanceamento e da ponderação.

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5. Situação análoga de ponderação já foi apreciada pelo STF nos julgamento dos EMB .DECL. NOS
EMB.DECL. E M MANDADO DE SEGURANÇA 27.673 DF, referente a servidores do TJGO que haviam
ingressado no serviço público depois da promulgação da CF/88 e cuja exoneração havia sido determinada
pelo CNJ. Naquele julgado, após inicialmente ter mantido a decisão do CNJ que determinava a exoneração
dos servidores, entendeu a Suprema Corte ser necessário modular os efeitos da decisão em nome da proteção
da boa-fé dos servidores e da segurança jurídica.
6. No caso em tela, presente a boa-fé dos servidores, que ingressaram no serviço público antes da CF/88 e
permaneceram trabalhando no Poder Judiciário da Bahia por décadas, confiando em uma Lei Estadual
publicada em 1994 e que até hoje está vigente. Dadas as circunstâncias concretas, violaria a proporcionalidade
a exoneração de servidores que passaram a vida laborando na Justiça baiana, já em uma fase da vida que não
conseguirão se recolocar no mercado de trabalho.
7. Recursos conhecidos e, no mérito, providos para reconhecer a boa-fé dos servidores e manter a
validade dos atos inconstitucionais em relação a eles.
(PP nº. 0002182-27.2016.2.00.0000, Plenário, Conselheiro Márcio Luiz Coelho de Freitas, Jul. 15/09/2023)

Cabe destacar que o caso acima muito se assemelha ao ocorrido no TJ-PI, uma vez
que existe uma legítima expectativa de proteção da boa-fé de servidores que há décadas estão em
atividade, em uma situação funcional amparada por uma lei estadual nunca declarada
inconstitucional pelo Poder Judiciário.

Nessa perspectiva, com relação aos servidores que ainda não preenchiam os
requisitos para aposentadoria na data da publicação do julgamento do PP nº 0008609-
69.2018.2.00.0000, mesmo realizando-se o reenquadramento para fins de cumprimento
do decisum, conforme orienta o mais atual entendimento do Supremo proferido na ADI 5.510/PR,
o Tribunal de Justiça do Piauí deve congelar o valor nominal das remunerações até que a diferença
recebida seja absorvida por aumentos futuros ou que advenha decisão judicial do STF ou do CNJ
em sentido contrário, sem que isso implique convalidação dos atos desconstituídos (ADI 4876, Rel.
Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, publicado em 01/07/2014; AR 2047 AgR, Rel. Rosa Weber, Tribunal
Pleno, publicado em 09/05/2022).

É que, assim como na questão que fora objeto de análise no bojo da ADI 5.510/PR, os
servidores foram admitidos por meio de concurso público e reenquadrados por iniciativa da
Administração, visando a reestruturação da carreira e melhoria da situação funcional dos
servidores, por meio de leis e atos de enquadramento há mais de 20 ou de 15 anos, leis essas que não
tiveram sua constitucionalidade sequer questionada perante o Poder Judiciário, o que isenta
totalmente os servidores beneficiados de qualquer alegação de má-fé.

A redução drástica da remuneração desses servidores além de poder implicar em grave


prejuízo à prestação jurisdicional, com grave risco à continuidade dos serviços públicos e à
sociedade piauiense, promoveria ônus excessivo e indesejável aos servidores atingidos pela
desconstituição dos atos, em ofensa ao princípio da segurança jurídica.

Portanto, a diferença entre a remuneração atualmente percebida pelos servidores


que serão afetados e a remuneração do nível da carreira de nível médio que deveriam ocupar, de
acordo com o tempo de serviço prestado a este Poder Judiciário e com os demais requisitos legais
para promoção e progressão deve ser mantida como VPNI, como tem feito o STF quando declara a
inconstitucionalidade de lei que institui vantagem remuneratória:

AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE. 2. LEI 13.909 DO ESTADO DE GOIÁS. 3.


GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO PARA SERVIDORES PÚBLICOS. FIXAÇÃO PELO
GOVERNADOR E DISTRIBUIÇÃO PELO SECRETÁRIO DE ESTADO. VIOLAÇÃO DO ART. 37, X, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NECESSIDADE DE LEI. 4. CARREIRA DO MAGISTÉRIO ESTADUAL.
PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA. INGRESSO POR CONCURSO PÚBLICO. CARGO DE
CARREIRA. ACESSO ÀS CLASSES DA CARREIRA POR PROMOÇÃO COM BASE EM
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MERECIMENTO. POSSIBILIDADE. 5. AÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. 6.
MODULAÇÃO DE EFEITOS PARA QUE OS SERVIDORES NÃO SOFRAM DECRÉSCIMO
REMUNERATÓRIO.

(ADI 3551, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 29/06/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-206 DIVULG 18-08-2020 PUBLIC 19-08-2020)

No julgamento da ADI nº 3.551/GO, o Plenário, seguindo voto do relator, Ministro Gilmar Mendes, decidiu
por modular os efeitos da decisão de modo a garantir que os servidores não tenham diminuição nos seus
vencimentos, devendo os valores recebidos com base nos atos infralegais editados com base nos artigos
declarados inconstitucionais ser pagos como vantagem pessoal nominalmente identificável – VPNI, até que o
valor seja absorvido por aumentos futuros ou até que lei venha a dispor sobre tais gratificações.

Com o mesmo entendimento foi julgada a ADI nº 3.725/RJ:

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Artigos 46 e 57-C da Lei Complementar nº 15/80 do Estado
do Rio de Janeiro, com a redação dada pela Lei Complementar Estadual nº 111/06. Lei Orgânica da
Procuradoria do Estado. Integralidade e paridade. Abono de permanência x benefício de permanência.
Idêntica natureza e nome distinto. Inconstitucionalidade material das normas. Modulação dos efeitos.
Procedência do pedido.
1. A partir da promulgação da Emenda Constitucional nº 41, de 2003, o regime próprio dos servidores
públicos deixou de ser caracterizado pela integralidade e paridade. Essas garantias ficaram restritas às regras
de transição estampadas no art. 7º da Emenda Constitucional nº 41/03 e nos arts. 2º e 3º da Emenda
Constitucional nº 47/05, cuja incidência deve ser observada. Há nítida intenção no art. 46 da Lei
Complementar Estadual nº 15/80, com a redação dada pela Lei Complementar Estadual nº 111/06, de se
frustar o desígnio das reformas previdenciárias instituídas pelas Emendas Constitucionais nºs 20/98, 41/03 e
47/05, restabelecendo a sistemática anterior às ditas reformas. Inconstitucionalidade material configurada.
2. A norma do § 19 do art. 40 da Constituição Federal criou um abono de permanência de caráter transitório
para o servidor que preenchesse os requisitos para a aposentadoria voluntária mas que permanecesse em
atividade, o qual seria “até completar as exigências para aposentadoria compulsória”. O dispositivo fixou
também a base de cálculo do referido abono, devendo ser “equivalente ao valor da sua contribuição
previdenciária”. Diante disso, não pode a lei estadual criar benefício com a mesma natureza, mas com nome
distinto, desrespeitando a transitoriedade e os valores já especificados na Constituição Federal.
3. O nominado “benefício de permanência”, previsto na legislação estadual, da forma descaracterizada como
foi criado pelo legislador fluminense, reveste-se de natureza permanente, como se fosse espécie de
gratificação, sendo incompatível com a fórmula de parcela única do subsídio (art. 39, § 4º, da CF/88).
4. Modulação dos efeitos da decisão com respaldo no art. 27 da Lei nº 9.868/90, para determinar que os
valores recebidos com base nas normas ora declaradas inconstitucionais passem a ser pagos como
vantagem nominalmente identificada (VPNI) até que os respectivos valores sejam absorvidos por
aumentos futuros, na esteira do que foi decidido pela Corte na ADI nº 3.551, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 29/6/20, publicado em 19/8/20.
5. Pedido julgado procedente.
(ADI 3725, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 22/04/2022, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG 28-04-2022 PUBLIC 29-04-2022)

Reitere-se ainda o entendimento firmado na ADI nº 5.510/PR, que na prática resulta em


igual providência à que é adotada pela Administração quando institui a VPNI:"2. Nos termos do art. 27 da
lei n.º 9.868/99 que autoriza, por razões de segurança jurídica ou excepcional interesse social, a
restrição dos efeitos da declaração de sua inconstitucionalidade, modulo os efeitos da decisão (...) (iii)
para congelar, na data da publicação da Ata deste julgamento, o valor nominal das remunerações dos
servidores afetados pela decisão, até que a diferença recebida com base na lei ora declarada
inconstitucional seja absorvida por aumentos futuros".

Portanto, embora a desconstituição dos atos operada pelo CNJ tenha de fato
alcançando inclusive atos praticados há mais de 20 (vinte) anos, como o CNJ não indicou de modo
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expresso a forma de cumprimento da sua decisão nem suas consequências jurídicas e


administrativas, entende-se que o TJ/PI, pelo menos a priori, deve adotar a alternativa mais
moderada, que melhor harmoniza os princípios constitucionais da exigência de concurso público e
da segurança jurídica, conforme as diretrizes apontadas na jurisprudência do STF e do próprio
CNJ.

Logo, para a execução do referido Acórdão, além de preservar as situações até aqui
consolidadas para fins de aposentadoria, na forma delineada no item anterior, mesmo com o
reenquadramento dos servidores atingidos nos cargos e nas carreiras ocupados antes dos atos que
promoveram "ascensões/transposições funcionais de carreiras de nível médio para carreiras de nível
superior", esta SJP entende que, em relação aos servidores que ainda não preenchiam os requisitos
para aposentadoria na data da publicação do julgamento, o TJ-PI deve, para cumprir a decisão:

i) determinar o congelamento o valor nominal das remunerações até que a diferença


recebida seja absorvida por aumentos futuros ou que advenha decisão judicial do
STF em sentido contrário;
ii) comunicar ao Conselho Nacional de Justiça as medidas adotadas, informando que,
diante das lacunas existentes, pois o CNJ, com todo respeito, não indicou de modo
expresso as consequências jurídicas e administrativas de sua decisão, este Tribunal de
Justiça promoveu seu cumprimento seguindo os ditames traçados pela jurisprudência do
STF e do próprio CNJ, sendo que, para os servidores que não possuem direito à
aposentadoria, adotou como parâmetro o item (iii) da modulação de efeitos aplicada
no julgamento da ADI 5.510/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, Rel. p/ Acórdão Min. Edson
Fachin, publicada em 08/08/2023; e
iii) determinar a criação de uma Comissão ou Grupo de Trabalho para a elaboração
de Projeto de Lei de reestruturação administrativa ou de alteração da LC nº
230/2017 com fim de corrigir as distorções nos cargos, atribuições e padrões
remuneratórios decorrentes da sucessão histórica dos Planos de Cargos e Carreiras
dos Servidores deste Poder Judiciário do Estado do Piauí.

É que, de fato, é patente a inexistência de efeito vinculante contra o legislador, o


que permite a elaboração de projeto de lei de reestruturação futuro, de uma vez que até mesmo a
decisão de mérito em controle concentrado pelo STF vincula apenas os “demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública” (CF, art. 102, § 2º), assim como a súmula vinculante (art. 103-A,
caput, CF, e AgRg na Rcl 17.217-DF, 1ª Turma, rel. Min. Edson Fachin, unânime, DJe 11/09/2015), não
vinculando o Poder Legislativo, que pode editar nova lei (AgRg na Rcl 13.019-DF, Plenário, rel. Min.
Celso de Mello, unânime, DJe 12/03/2014; Rcl 467-DF, Plenário, rel. Min. Celso de Mello, unânime, RTU
157/773; ADIMC 1.850-RS, Plenário, rel. Min. Sepúlveda Pertence, unânime, RTJ 177/160; AgRg na Rcl
2.617-MG, Plenário, rel. Min. Cezar Peluso, unânime, RTJ 193/858; ADI 2.903-PB, Plenário, rel. Min.
Celso de Mello, unânime, DJe 19/09/2008; AgRg na Rcl 14.156-AP, Plenário, rel. Min. Celso de Mello,
unânime, DJe 13/05/2014).

II. VI. DO CASO ESPECÍFICO DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA E DO NÃO


ALCANCE DESSA CATEGORIA DE SERVIDORES PELA DECISÃO DO CNJ

O Sindicato dos Oficiais de Justiça e Avaliadores do Piauí - SINDOJUS-PI traz ainda, em


relação aos servidores que representa, o argumento da inexistência de violação da Súmula Vinculante nº
43, por ter ocorrido mera alteração de escolaridade sem nenhuma alteração das atribuições do cargo de
Oficial de Justiça ao longo das mudanças legislativas, situação essa que caracteriza reestruturação ou
reorganização administrativa e não transposição de cargos, conforme diversos precedentes do Supremo.

É
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É que a elevação de requisito de escolaridade do cargo de Oficial de Justiça feita pela Lei
Complementar nº 115/2008 apenas atendeu ao disposto na Resolução CNJ nº 48, de 18 de dezembro de
2007, que ditou o seguinte: “Art. 1º Determinar aos Tribunais que passem a exigir, como requisito para o
provimento do cargo de Oficial de Justiça, a conclusão de curso superior, preferencialmente em Direito.”,
concedendo o prazo de 60 (sessenta) dias, para os Tribunais adotarem as providências necessárias ao
atendimento da Resolução.

Defendem que o CNJ teria falsa premissa quanto à “Íntima Semelhança” do caso tratado
no julgamento do RE 740.008-RR (Tema nº 697) pois, no caso paradigma, o STF considerou como
transposição de cargos inconstitucional a equiparação remuneratória entre os dois cargos de Oficial de
Justiça então existentes em Roraima, um de nível médio e um de nível superior. Já no caso do TJ-PI, na
origem, havia apenas um cargo/categoria de Oficial de Justiça, o qual se manteve exatamente com as
mesmas atribuições, designação, natureza e com o mesmo nível de escolaridade;

Ao apreciar caso semelhante (AgRg no Rcl 56.367-RS, 1ª Turma, rel. Min. Cármen
Lúcia, unânime, DJe 23/11/2022) o STF entendeu que a mera elevação de escolaridade do cargo de Oficial
de Justiça não constitui transposição, não violando a Súmula Vinculante nº 43.

Acrescenta ainda o SINDOJUS que o CNJ concluiu pela constitucionalidade da


transformação realizada pela Lei Complementar nº 115/2008 no julgamento conjunto de 8 (oito) Pedidos
de Providências (PP 0002831-65.2011.2.00.0000, rel. Conselheiro Jorge Hélio Chaves de Oliveira, 133ª
Sessão Ordinária, unânime, julgamento 30/08/2011, e outros 7 (sete) julgados por unanimidade na mesma
sessão), não podendo agora, mais de 12 (doze) anos depois, alterar esse julgamento, sob pena de grave
violação ao princípio da segurança jurídica.

Recorda que o legislador federal, mais de uma vez, mantendo as mesmas atribuições,
elevou a escolaridade de cargo público federal, sem que houvesse nenhum questionamento de
constitucionalidade, como nos casos da Lei nº 9.266/1996, que transformou os cargos de Agente da Polícia
Federal e Escrivão de Polícia Federal, antes de nível médio, em cargos de nível superior e da Lei nº
9.654/1998, que exigiu nível superior para o cargo de Policial Rodoviário Federal, antes de nível médio.

Traz ainda novo argumento, fundado em recente posicionamento do Supremo, no


julgamento conjunto das ADIs 4.151-DF, 4.616-DF e 6.966-DF, no qual declarou a constitucionalidade da
transformação do cargo de Técnico do Tesouro Nacional (de nível médio) no cargo de Técnico da Receita
Federal (de nível superior) e por fim no cargo de Analista Tributário da Receita Federal (especificamente,
no julgamento da ADI 4.616-DF), concluindo que "se existe 'reestruturação' quando são unificados
cargos de atribuições semelhantes com requisitos de escolaridades distintos, com mais razão se deve
considerar “reestruturação” a reunião de cargos de Oficial de Justiça e Avaliador do Estado do Piauí de
nível médio com o cargo de igual designação de nível superior, já que esses cargos sempre tiveram as
mesmas atribuições e tinham a mesma escolaridade até a vigência da Lei nº 5.545/2006 (...) e não
transposição."

Ao final, após citar diversos outros precedentes do STF, requer o reconhecimento de que
essa categoria de servidores públicos não foi alcançada pela respeitável decisão do CNJ.

Pois bem. Em primeiro lugar, , em relação ao caso dos Oficiais de Justiça, importa
ressaltar que o CNJ, ao proferir o Acórdão de julgamento do PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000,
julgou procedente o pedido para desconstituir, no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí,
os enquadramentos de servidores de nível médio para nível superior realizados pela Lei
Complementar nº 115/2008, que transformou cargos de Atividade Intermediária em Analistas
Judiciários, como "Oficial de Justiça e Avaliador que, conforme art. 66–II e III, foram transformados
no cargo de Analista Administrativo do grupo funcional de Analista Judiciário". Veja-se:
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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer

"Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO para desconstituir, no âmbito do Tribunal de Justiça do
Estado do Piauí, os seguintes enquadramentos de servidores de nível médio para nível superior realizados
pelas:
i) pela Lei nº 5.237/2002, que determinou o enquadramento de dois cargos de nível intermediário em cargo de
nível superior (Assistentes Técnicos Administrativos passaram a Assessor Técnico Administrativo, PJ/AS –
Atividade Superior Judiciária; e os cargos de Escrivão Judicial de 1ª, 2º ou 3º entrância foram transformados
em Escrivão Judicial, PJ/AS – Atividade Superior Judiciária);
ii) pela Lei nº 5.237/2002, que determinou que os cargos de Oficial de Justiça e Avaliador e Escrevente
Cartorário de 4ª Entrância passassem a ser privativos de portador de curso superior;
iii) pela Lei Complementar nº 115/2008, que transformou alguns cargos de Atividade Intermediária em
Analistas Judiciários, como os cargos de Assistente Judiciário, de Escrevente Cartorário de 1ª, 2ª e 3ª
entrâncias, de Oficial de Justiça e Avaliador que, conforme art. 66–II e III, foram transformados no
cargo de Analista Administrativo do grupo funcional de Analista Judiciário; e
iv) pelas Leis nº 6.582/2014 e nº 6.585/2014, que alteraram a Lei Complementar nº 115/2008 para incluir no
rol dos cargos transformados no grupo funcional de Analista Judiciário os Oficiais Judiciários e os Atendentes
Judiciários com diploma de curso superior."
(negritou-se)

Ocorre que o art. 66, II e III, da Lei Complementar nº 115/2008 assim previu:

"Art. 66. Observado o limite do art. 65, ficam transformados, na forma do Anexo I, em cargos do grupo
funcional de Analista Judiciário, os seguintes cargos da antiga atividade Judiciária Intermediária – PJ/AI:
I - Oficial de Justiça e Avaliador de 1ª, 2ª, 3ª entrâncias, em Oficial de Justiça e Avaliador;
II - de Escrevente Cartorário de 1ª, 2ª, 3ª entrâncias, em Analista Judicial;
III - Assistente Judiciário, em Analista Administrativo;
IV - Taquígrafo Judiciário, em Taquígrafo.
V – os Atendentes Judiciários com diploma de curso superior (Incluído pela Lei Ordinária Nº 6.585, de
23.09.2014)
VI – os Oficiais Judiciários (antigos Contadores, Partidores e Distribuidores Gerais, com como antigos
Avaliadores Gerais e Depositários Públicos). (Incluído pela Lei Ordinária Nº 6.582, de 23.09.2014)"
(com destaques)

Ao que parece, o respeitável Acórdão incorreu em erro material ao mencionar o


cargo de Oficial de Justiça e Avaliador como sendo transformado em Analista Administrativo
conforme o art. 66, II e III, da LC nº 115/2008.

É que, na verdade, o cargo de Oficial de Justiça e Avaliador, de 1ª, 2ª, 3ª entrâncias


foi ""transformado"" no cargo de "Oficial de Justiça e Avaliador", conforme art. 66, inciso I, da
mesma lei, o qual não foi mencionado no dispositivo do Acórdão.

Notadamente, o que ocorreu foi apenas o fim da divisão de classes de oficiais por
entrância, passando a existir apenas uma categoria de Oficiais de Justiça.

Verifica-se, portanto, evidente equívoco que incorreu o Acórdão de julgamento do


PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000 ao tratar do caso dos Oficiais de Justiça e Avaliadores, pois essa
categoria de servidores não foi incluída no art. 66, II e III, da Lei Complementar nº 115/2008 nem
tampouco seus ocupantes foram transformados em Analistas Administrativos.

Apesar disso, infelizmente os embargos de declaração opostos contra a respeitável


decisão não foram conhecidos pelo Colendo Conselho, o que não permitiu conhecer a exata intenção
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do decisum nesse ponto em particular.

Por outro lado, a jurisprudência do Supremo, nos termos dos precedentes anteriormente
citados pelo SINDOJUS, indica a necessidade de atribuições semelhantes, congêneres, para que seja
possível o enquadramento na nova carreira. Nesse sentido o seguinte posicionamento da Corte:

“Agravo regimental em ação direta de inconstitucionalidade. 2. Arts. 22 e 28 da Lei estadual 15.464/2005 e


seus anexos I.2 e IV, e arts. 3º, 4º e 24 da Lei estadual 16.190/2006, ambas do Estado de Minas Gerais.
Provimento derivado, sem concurso público, quando da transformação do cargo de Técnico de Tributos
Estaduais no novo cargo de Gestor Fazendário. 3. Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos
Estaduais (FEBRAFITE). 4. Legitimidade ativa. 5. Ausência de violação ao princípio constitucional da
exigência de concurso público, haja vista a similitude das atribuições desempenhadas pelos ocupantes
dos cargos extintos. 6. Ação conhecida e não provida” (ADI nº 3.913, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal
Pleno, DJe de 25/6/2021).

Importante cotejar também a jurisprudência do próprio CNJ, a fim de elucidar a


melhor forma de cumprimento da decisão:

RECURSO ADMINISTRATIVO. PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. EDITAL N. 43/2019. CONCURSO PÚBLICO
PARA PROVIMENTO DO CARGO DE OFICIAL DE JUSTIÇA CLASSE “O”. APROVEITAMENTO DOS
CANDIDATOS APROVADOS. PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME. LEI 15.737/2021.
ESCOLARIDADE DO CARGO DE OFICIAL DE JUSTIÇA ESTADUAL. CONCURSOS REALIZADOS
APÓS A VIGÊNCIA DA LEI. DECISÃO PROFERIDA PELO STF. RECLAMAÇÃO N. 53.185/RS.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE N. 43. PARECER PGR. IMPROCEDÊNCIA DO
PEDIDO. IDENTIDADE DA MATÉRIA CENTRAL DOS PROCEDIMENTOS. AUTONOMIA DO
TRIBUNAL. AUTORIZAÇÃO LEGAL PARA O APROVEITAMENTO. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.
1. Trata-se de Procedimento de Controle Administrativo por meio do qual pretende-se a “sustação” da
Resolução n. 015/2022 – TJRS, a fim de que o requerido se abstenha de realizar o aproveitamento de
candidatos aprovados no Concurso Público para o Cargo de Oficial de Justiça Classe “O”, redigo pelo Edital
n. 43/2019 – DDP – SELEÇÂO – RECSEL.
2. A Lei Estadual n. 15.737/2021 estabeleceu, em seu art. 5º, §4º, o grau de escolaridade superior para o Cargo
de Oficial de Justiça Estadual apenas para os concursos realizados a partir da publicação da Lei, no mesmo
sentido em que expresso no respectivo Anexo II.
3. O art. 65 da Lei Estadual n. 15.737/2021 prevê, expressamente, que para o provimento dos cargos de
Oficial de Justiça Estadual poderão ser aproveitados os candidatos aprovados em concurso em
andamento ou já homologado e que ainda não tenha expirado sua validade.
4. No julgamento da Reclamação n. 53.185/RS, bem como na Reclamação n. 56.367/RS, o STF analisou
o contexto fático objeto deste PCA e entendeu não haver violação à Súmula Vinculante n. 43.
Reconheceu que a situação em foco caracteriza apenas transição entre duas disciplinas legais,
preservadas as regras do concurso anterior, nos moldes da lei vigente à época.
5. Havendo prévia análise da questão central deste PCA pelo STF, a questão não comporta reavaliação em
sentido oposto, pelo CNJ, como pretendem os recorrentes, sob pena de extrapolação da competência
constitucionalmente atribuída a este órgão administrativo, bem como por se verificar compatibilidade com os
termos da Lei Estadual n. 15.737/2021.
6. Recurso conhecido e não provido.
(CNJ - RA – Recurso Administrativo em PCA - Procedimento de Controle Administrativo - 0004811-
61.2022.2.00.0000 - Rel. MARCOS VINÍCIUS JARDIM RODRIGUES - 1ª Sessão Virtual de 2023 - julgado
em 10/02/2023 ).

No caso, o augusto Conselho assegurou a validade, em consonância com decisões do


STF, das nomeações de oficiais de justiça aprovados em concurso que exigia nível médio como requisito
de escolaridade para ocupar os mesmos cargos, que posteriormente passaram a exigir nível superior,
conforme o art. 65 da Lei Estadual 15.737/2021. Confira:

Art. 65. Para o provimento dos cargos criados nesta Lei, poderão ser aproveitados os candidatos
aprovados em concurso em andamento ou já homologado e que ainda não tenha expirado sua
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validade”.

A mesma questão foi submetida à apreciação do STF no bojo das Reclamações n.


53.185/RS e n. 56.367/RS, às quais foi negado seguimento por decisão da Ministra Carmem Lúcia, no dia
23/05/2022, sendo relevante a transcrição dos seguintes trechos:

Reclamação, com requerimento de medida liminar, ajuizada por Marcelo da Silva, em 2.5.2022, contra o
seguinte julgado proferido, em sessão administrativa, pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, pelo qual teria sido descumprida a Súmula Vinculante n. 43 deste Supremo Tribunal:
“RESOLUÇÃO. INSTITUIÇÃO DE REGULAMENTO DO PLANO DE CARREIRAS, CARGOS,
FUNÇÕES E REMUNERAÇÕES DOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL – LEI ESTADUAL Nº 15.737/2021. APROVAÇÃO” (fl. 1, doc. 12).
2. O reclamante alega que, “[pela] decisão, ora impugnada, exarada no processo administrativo n. 0023-
22/000006-8 (Anexo 1 - Acórdão, páginas 86- 97), afronta[-se] a Súmula Vinculante 43 do STF, na medida
em que [se] autoriza o aproveitamento de candidatos aprovados em concurso de nível Médio (Oficial de
Justiça Classe O) para cargo de nível superior (Oficial de Justiça Estadual), caracterizando o
provimento derivado, o que justifica o cabimento da presente reclamação com base no art. 103-A, § 32 da
CF e no art. 988, III3 do CPC.” (fls. 2-3, doc. 1).
8. Na espécie em exame, não se comprova tenha a autoridade reclamada descumprido a Súmula
Vinculante n. 43 deste Supremo Tribunal, limitando-se a unificar o Quadro de Pessoal dos servidores do
Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, exigindo níveis de escolaridade iguais para o cargo de Oficial
de Justiça, a dizer, Oficial de Justiça Estadual e Oficial de Justiça Classe O.
Não se vislumbra contrariedade à Súmula Vinculante n. 43 deste Supremo Tribunal. Não se comprova ter
ocorrido, na espécie, “provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso
público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido”,
como vedado pela Constituição da República.

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL. REESTRUTURAÇÃO


DE CARREIRAS SIMILARES. ALEGADA CONTRARIEDADE À SÚMULA VINCULANTE N. 43 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: INOCORRÊNCIA. TEMA 697 DA REPERCUSSÃO GERAL:
NÃO CABIMENTO. AUSÊNCIA DE ESGOTAMENTO DE INSTÂNCIA NA ORIGEM: PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO, COM APLICAÇÃO DE MULTA DE 1% SOBRE O VALOR
ATUALIZADO DA CAUSA, SE UNÂNIME A VOTAÇÃO.
(Rcl 56367 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 22-11-2022, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-237 DIVULG 22-11-2022 PUBLIC 23-11-2022)

Na oportunidade, a Rel. Min Cármem Lúcia entendeu não comprovação do


descumprimento a Súmula Vinculante n. 43 deste Supremo Tribunal, limitando-se a unificar o Quadro de
Pessoal dos servidores do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, exigindo níveis de escolaridade iguais
para o cargo de Oficial de Justiça, a dizer, Oficial de Justiça estadual e Oficial de Justiça classe O.

Ao final, entendeu que "não se demonstrou ter havido investidura de servidor em cargo
diverso daquele para o qual tenha prestado concurso público", não havendo que se cogitar de
contrariedade à Súmula Vinculante n. 43 do Supremo.

No caso dos Oficiais de Justiça do TJ/PI, também ocorreu um momento de transição


entre duas disciplinas legais, entre quando se exigia nível médio para o cargo de Oficial de Justiça e
quando se passou a exigir nível superior (preferencialmente em Direito), por determinação do próprio
CNJ, por meio da Resolução nº 48, de 2007:

Resolução CNJ nº 48 de 18/12/2007


Dispõe sobre a exigência, como requisito para provimento do cargo de Oficial de Justiça, da conclusão de
curso superior, preferencialmente em Direito.

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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer
Art. 1º Determinar aos Tribunais que passem a exigir, como requisito para provimento do cargo de
Oficial de Justiça, a conclusão de curso superior, preferencialmente em Direito.

Art. 1º-A Deverão os Tribunais de Justiça dos Estados em que a legislação local disciplinar de forma diversa
do artigo 1º desta resolução quanto à escolaridade mínima para o provimento de cargos de oficial de justiça
encaminhar projeto de lei, no prazo de 90 (noventa) dias, contados da republicação desta resolução, para
adequação ao fixado nesta, ficando vedado o envio de projeto de lei para fixação de critério diverso do nela
estabelecido.
Art. 2º Os Tribunais deverão, no prazo de 60 (sessenta) dias, informar as medidas adotadas para cumprimento
da presente resolução.
Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Ocorre que, nas diversas convergências de carreiras análogas ocorridas no quadro de


pessoal do TJPI, feitas com a finalidade de atualizar a estrutura funcional às crescentes demandas do Poder
Judiciário ao longo de décadas, os Oficiais de Justiça notadamente nunca mudaram de cargo e sempre
se mantiveram com atribuições idênticas.

A respeito disso, vale transcrever trecho notável da Petição 5289885:

"No julgamento da ADI 4.233-BA, embora o Supremo Tribunal Federal tenha se dividido, ficou claro que a
igualdade ou semelhança de atribuições dos cargos é traço distintivo para separar “reestruturação”
administrativa de “transposição”, conforme se pode ver a seguir:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL E


ADMINISTRATIVO. ARTS. 2º, I E II, DA LEI 11.470/2009, E ART. 24 E ANEXO V DA LEI
8.210/2002, AMBAS DO ESTADO DA BAHIA. EXIGÊNCIA DE NOVOS REQUISITOS PARA
INGRESSO NO CARGO DE AGENTE DE TRIBUTOS ESTADUAIS. ALTERAÇÃO DE
ATRIBUIÇÕES. INOCORRÊNCIA DE AFRONTA AO PRINCÍPIO DO CONCURSO PÚBLICO
(CF, ART. /37, II). REESTRUTURAÇÃO ADMINISTRATIVA DO GRUPO OPERACIONAL
FISCO. POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO CONFORME. EXCLUSÃO DOS AGENTES DE
TRIBUTOS ESTADUAIS QUE INGRESSARAM ANTES DA LEI 8.210/2002 DO ÂMBITO DE
INCIDÊNCIA DOS DISPOSITIVOS IMPUGNADOS DA LEI 11.470/2009. PARCIAL
PROCEDÊNCIA.
1. A legislação que promove o enquadramento de ocupantes de cargos diversos em carreira estranha à
de origem configura ofensa à regra constitucional do concurso público, prevista no art. 37, II, da
Constituição Federal. Inteligência da Súmula Vinculante 43 do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
2. A exigência de curso superior para os novos candidatos ao cargo de Agente de Tributos Estaduais
configura simples reestruturação da administração tributária estadual, fundada na competência do
Estado para organizar seus órgãos e estabelecer o regime aplicável aos seus servidores, da qual não
decorre, em linha de princípio, qualquer inconstitucionalidade. Precedentes
3. O art. 2º, incisos I e II, da Lei 11.470/2009 do Estado da Bahia acrescentou novas atribuições aos
titulares dos cargos de Agentes de Tributos Estaduais, todas pertinentes com a exigência de formação
em curso superior, já que relacionadas ao exercício de atividades de planejamento, coordenação e
constituição de créditos tributários.
4. No presente caso, as questões atinentes às atividades desenvolvidas pelos antigos Agentes de
Tributos Estaduais, que concluíram somente o segundo grau, e àquelas desenvolvidas pelos novos
titulares, com curso superior, guardam estrita conexão com regra constitucional do concurso público,
de modo que os antigos servidores passariam a exercer, com a superveniência da Lei 11.470/09,
atividades exclusivas de cargo de nível superior, em afronta ao art. 37, II, da Constituição Federal.
5. Necessária interpretação conforme à Constituição para excluir do âmbito de incidência dos incisos
I e II do art. 2º da Lei 11.470/2009 do Estado da Bahia, os Agentes de Tributos Estaduais cuja
investidura se deu em data anterior à Lei 8.210/2002.
6. Ação julgada parcialmente procedente.
(ADI 4.233-BA, rel. p/ac. Alexandre de Moraes, por maioria, DJe 29/04/2021)

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Confirmando que o traço distintivo entre a “reestruturação” administrativa (que é constitucional) da
“transposição” (que é inconstitucional) reside não manutenção ou pequena alteração das atribuições dos
cargos, como fica claro pelo voto divergente vencedor do Ministro Alexandre de Moraes, in verbis:

“No presente caso, contudo, observo que a exigência de curso superior para os novos candidatos
ao cargo de Agente de Tributos Estaduais configura simples reestruturação da administração
tributária estadual, fundada na competência do Estado para organizar seus órgãos e
estabelecer o regime aplicável ao seus servidores, da qual não decorre, em linha de princípio,
qualquer inconstitucionalidade (ADI 4.883, Rel. Min. EDSON FACHIN, Pleno, DJe de 28/5/2020;
ADI 4.303, Rel. Min. CARMEN LUCIA, Tribunal Pleno, DJe de 28/8/2014; ADI 1.561 MC, Rel.
Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, DJ de 28/11/1997; e ADI 1.591, Rel. Min. OCTAVIO
GALLOTTI, Tribunal Pleno, DJ de 30/6/2000). No ponto, cumpre destacar a seguinte passagem da
manifestação apresentada pela Procuradoria-Geral da República (peça 21):

Relativamente ao tema de fundo, a primeira observação necessária é a de que a reorganização de


carreiras, por si só, não significa inconstitucionalidade alguma. Decorre, pura e simplesmente, da
competência que o Estado de organizar seus órgãos e estabelecer o regime de seus servidores (ADI
2.335, Relator p/ acórdão Ministro GILMAR MENDES). De modo que os dispositivos impugnados
da Lei 11.470, porque limitados a conferir nova estrutura às carreiras de Auditores Fiscais e Agentes
de Tributos Estaduais, transferindo pequeníssima parcela de atribuições daqueles a estes, não
padecem, em princípio, do vício que a inicial lhes imputa. […]
Certamente, o requisito de curso superior para os novos candidatos àquele cargo não encontra óbice
constitucional. E, em relação aos antigos, também não. Se as atribuições são as mesmas, o só fato de,
no futuro, o cargo vir a ser ocupado por pessoas detentoras de nível superior de escolaridade não
traduz provimento derivado. Daí por que não há inconstitucionalidade no art. 24 da Lei 8.210.” (com
destaques, pp. 48/49 do Acórdão).
E, em relação aos antigos, também não. Se as atribuições são as mesmas, o só fato de, no futuro, o
cargo vir a ser ocupado por pessoas detentoras de nível superior de escolaridade não traduz
provimento derivado. Daí por que não há inconstitucionalidade no art. 24 da Lei 8.210.” (com
destaques, pp. 48/49 do Acórdão).

Depois, no julgamento de ADI contra leis do Estado de Tocantins, o Supremo Tribunal Federal esclareceu
que o essencial é a similitude de atribuições dos cargos, para que se tenha “reestruturação administrativa”
sem burla ao princípio do concurso, conforme seguinte julgado:

Embargos de declaração em ação direta de inconstitucionalidade. Unificação e extinção de


cargos. Preenchimento dos requisitos estabelecidos pela jurisprudência da Corte. Ausência de
premissas fáticas equivocadas. Uniformidade das atribuições e alteração do critério de
escolaridade em relação aos agentes de fiscalização e arrecadação admitidos antes da Lei nº
1.208/01. Reestruturação administrativa. Não conhecimento e não provimento dos embargos de
declaração.
(...)
4. Se as atribuições funcionais dos agentes de fiscalização e arrecadação sempre foram
efetivamente as mesmas, possuindo, inclusive, similitude com as atribuições do cargo de auditor
de rendas, o qual já exigia, sob a égide de leis anteriores, nível superior completo, a exigência de
curso superior para os agentes, à luz da Lei nº 1.208/01 (mantida pela Lei nº 1.609/05), traduz-
se tão somente em simples reestruturação da administração tributária estadual, “fundada na
competência do Estado para organizar seus órgãos e estabelecer o regime aplicável ao seus
servidores, da qual não decorre, em linha de princípio, qualquer inconstitucionalidade​ (ADI nº
4.883, Rel. Min. Edson Fachin, Pleno, DJe de 28/5/2020; ADI nº 4.303, Rel. Min.Cármen Lúcia,
Tribunal Pleno, DJe de 28/8/2014; ADI nº 1.561 MC, Rel. Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, DJ
de 28/11/1997; e ADI nº 1.591, Rel. Min. Octávio Gallotti, Tribunal Pleno, DJ de 30/6/2000)” (ADI
nº 4.233/BA, Rel. Min. Rosa Weber, red. do ac. Min. Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, DJe de
29/4/21).
(...)
(EDcl na ADI 4.214-TO, rel. Min. Dias Toffoli, unânime, DJe 09/10/2023, só os sublinhados
constituem destaques acrescidos).

Ainda no mesmo sentido, entendendo haver “reestruturação” e não transposição nos casos em que o legislador
unifica cargos de atribuições semelhantes, mesmo com elevação de escolaridade de um deles, as seguintes
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decisões do Supremo Tribunal Federal: ADIMC 1.561-SC, rel. Min. Sydney Sanches, unânime, DJU
28/11/1997; ADI 4.883-MS, rel. Min. Edson Fachin, unânime, DJe 28/05/2020; ADI 7.081-BA, rel. Min.
Edson Fachin, unânime, DJe 23/11/2022.

Esse entendimento foi reafirmado pela unanimidade do Supremo Tribunal Federal, no recentíssimo
julgamento conjunto das ADIs 4.151-DF, 4.616-DF e 6.966-DF, no qual declarou a constitucionalidade da
transformação do cargo de Técnico do Tesouro Nacional (de nível médio) no cargo de Técnico da
Receita Federal (de nível superior) e por fim no cargo de Analista Tributário da Receita Federal
(especificamente, no julgamento da ADI 4.616-DF), na forma do seguinte julgado:

“AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE. JULGAMENTO CONJUNTO.


REFORMULAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA FEDERAL. TRANSPOSIÇÃO DO
CARGO DE TÉCNICO DO TESOURO NACIONAL PARA O CARGO DE TÉCNICO DA
RECEITA FEDERAL. MEDIDA PROVISÓRIA 1.915/1999 E LEI FEDERAL 10.593/2002.
TRANSFORMAÇÃO DO CARGO DE TÉCNICO DA RECEITA FEDERAL EM CARGO DE
ANALISTA-TRIBUTÁRIO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL. REDISTRISTRIBUIÇÃO DE
CARGOS DA SECRETARIA DA RECEITA PREVIDENCIÁRIA PARA A RECEITA FEDERAL
DO BRASIL. LEI FEDERAL 11.457/2007. AMPLIAÇÃO DOS EFEITOS DA
TRANSFORMAÇÃO A OUTROS CARGOS INICIALMENTE NÃO CONTEMPLADOS.
EMENDA PARLAMENTAR. PROJETO DE LEI DO PODER EXECUTIVO. VETO. SUPERAÇÃO
DO VETO. LEI FEDERAL 11.907/2009. 1. A reestruturação de cargos públicos pressupõe a
similitude entre as atribuições, a equivalência salarial e a identidade dos requisitos de escolaridade
para ingresso nos cargos envolvidos. A transposição do cargo de Técnico do Tesouro Nacional
para o cargo de Técnico da Receita Federal (Art. 9º da MP 1.915/1999 e Art. 17 da Lei
10.593/2002) não implicou em alteração substancial das atribuições dos cargos em questões.
Constatada a absoluta identidade de atribuições e padrão remuneratório, a alteração tão
somente do nível de escolaridade exigido para ingresso na carreira não implica, consideradas as
particularidades do caso concreto, em provimento derivado de cargo público. 2. A
transformação do cargo de Técnico da Receita Federal em cargo de Analista-Tributário da
Receita Federal do Brasil se mostra compatível com a Constituição Federal ante a similitude
entre as atribuições e a identidade dos requisitos de escolaridade. Equivalência salarial.
Comparação inaplicável. Constitucionalidade. Precedentes. 3. Mostra-se ofensivo à isonomia e à
eficiência administrativa a não inclusão do cargo de Analista Previdenciário dentre os cargos
transformados em Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil. Distinções e particularidades
quanto ao requisito da equivalência salarial. Interpretação conforme sem redução de texto. 4. É
inconstitucional, porque ofensiva à reserva de iniciativa do chefe do Poder Executivo, a ampliação,
via emenda parlamentar, dos cargos inicialmente previstos na estreita transformação de cargos
enunciada na redação original do Art. 10, II da Lei 11.457/2007. 5. Ação Direta de
Inconstitucionalidade 4.616 julgada improcedente. Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.151
julgada parcialmente procedente. Ação Direta de Inconstitucionalidade 6.966 julgada procedente,
referendando-se a medida cautelar anteriormente deferida.” (ADIs 4.151-DF, 4.616-DF e 6.966-DF,
rel. Min. Gilmar Mendes, unânime, DJe 31/01/2024)

13. Desse modo, se existe “reestruturação” quando são unificados cargos de atribuições semelhantes com
requisitos de escolaridades distintos, com mais razão se deve considerar “reestruturação” a reunião de
cargos de Oficial de Justiça e Avaliador do Estado do Piauí de nível médio com o cargo de igual
designação de nível superior, já que esses cargos sempre tiveram as mesmas atribuições e tinham a
mesma escolaridade até a vigência da Lei nº 5.545/2006, a partir da qual passaram a existir cargos de
Oficial de Justiça e Avaliador de nível médio (1ª, 2ª e 3ª entrâncias) e nível superior em qualquer área (4ª
entrância), logo (repita-se) a transformação realizada pela Lei Complementar nº 115/2008 – que unificou o
requisito de escolaridade para curso superior em Direito, independentemente da entrância – constitui
“reestruturação” e não transposição

Confirmando isso, especificamente em caso em que lei estadual elevou a escolaridade exigida para o cargo de
Oficial de Justiça, de nível médio para nível superior, possibilitando o aproveitamento dos candidatos
aprovados em concurso público em que se exigia escolaridade de nível para nomeação no cargo de nível
superior, o Supremo Tribunal Federa tem entendido que não viola a súmula vinculante nº 43, conforme o
seguinte julgado:

“AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL. REESTRUTURAÇÃO DE


CARREIRAS SIMILARES. ALEGADA CONTRARIEDADE À SÚMULA VINCULANTE N. 43
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: INOCORRÊNCIA. TEMA 697 DA REPERCUSSÃO
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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer
GERAL: NÃO CABIMENTO. AUSÊNCIA DE ESGOTAMENTO DE INSTÂNCIA NA ORIGEM:
PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO, COM APLICAÇÃO DE MULTA DE
1% SOBRE O VALOR ATUALIZADO DA CAUSA, SE UNÂNIME A VOTAÇÃO.”
(AgRg no Rcl 56.367-RS, 1ª Turma, rel.ª Min.ª Cármen Lúcia, unânime, DJe 23/11/2022)

No seu voto, inclusive recorrendo ao Parecer da Procuradoria-Geral da República, a relatora esclarece que a
mera elevação de escolaridade do cargo de Oficial de Justiça não constitui transposição, não violando
então a súmula vinculante nº 43. Disse a relatora:

“ (…)
15. Por conseguinte, não está caracterizado o alegado provimento derivado. A situação descrita
reflete, tão somente, momento de transição entre duas disciplinas legais, quando a norma legal
superveniente, embora modificando a exigência para o ingresso de novos oficiais de justiça nos
quadros da justiça estadual, preservou o contexto fático e temporal da existência de concurso
prévio finalizado e homologado, com candidatos aprovados na conformidade das regras antigas,
aguardando nomeação, dentro do prazo de vigência. regulou positivamente o aproveitamento do
resultado do certame anterior, igualmente positivando a modificação, para o futuro, da nova
exigência de escolaridade para a carreira.
16. Esta providência da nova legislação, ao contrário de agredir o princípio do concurso público, e
consequentemente a decisão ora combatida que nela se respalda, na verdade, preserva as regras do
processo seletivo público anteriormente realizado nos moldes estritos da legalidade vigente à época
de sua realização. Assim, diversamente das alegações trazidas na Reclamação, a decisão está
congruente com a Súmula Vinculante n. 43 dessa Corte Suprema.
17. Sendo assim, não merece reparos a decisão que indefere o pleito liminar, por não vislumbrar
mácula de ilegalidade na decisão administrativa da Corte estadual, sendo bem-vinda a menção à
ADI n. 4.303 e aos demais precedentes do Supremo Tribunal Federal, em hipóteses nas quais se
reconhece a possibilidade de reestruturação de carreiras desde que mantidas as características
dos cargos, das remunerações e das atribuições correspondentes. Este entendimento enseja a
possibilidade de aproveitamento de concursos públicos anteriores, realizados, como o caso presente,
em momento de transição legislativa e/ou para os novos cargos que mantém a mesma estrutura de
complexidade e remuneração, dentro de seu prazo de validade. (...)
19. O quadro ora analisado suscita a mesma conclusão, mutatis mutandi. Não se configura ofensa ao
concurso público, não há modificação de atribuições ou remuneração entre o cargo para qual
fora realizado o concurso prévio e a nova carreira, há, tão somente, a adequação da exigência
de escolaridade, com a devida e necessária previsão do método de transição para que a
Administração Pública não sofra prejuízo da perda de todo o processo, normalmente bastante
oneroso, diga-se, da realização perfeitamente legal, daquele certame anterior, colhido pela transição
entre leis.
20. Por conseguinte, diante do quadro fático e das razões jurídicas expostas, observa-se a ausência
dos critérios e pressupostos legais que justificam o deferimento do pedido constitucional excepcional.
21. Isto posto, manifesta-se o Ministério Público Federal pela improcedência da reclamação” (doc.
21, Rcl. n. 53.185). 21. Isto posto, manifesta-se o Ministério Público Federal pela improcedência da
reclamação’ (doc. 21, Rcl. n. 53.185)”.

13.1. Aliás, deve-se frisar que a mera elevação de escolaridade de um dado cargo é prática até mesmo comum,
podendo-se mencionar, por exemplo, que o legislador federal, mais de uma vez, mantendo as mesmas
atribuições, elevou a escolaridade de cargo público federal, sem que houvesse nenhum questionamento de
constitucionalidade, como nos casos das seguintes Leis:
a) Lei nº 9.266, de 15 de março de 1996, transformou em cargos de Agente da Polícia Federal e Escrivão de
Polícia Federal, antes de nível médio, em cargos de nível superior;
b) Lei nº 9.654, de 2 de junho de 1998, que exigiu nível superior para o cargo de Policial Rodoviário Federal,
antes de nível médio.

13.2. Logo não se pode falar em “reestruturação”, quando existe unificação de cargos com significativa
diferença de atribuições e requisitos distintos de escolaridade, nesses casos sim a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal é pacífica em afastar a ocorrência de “reestruturação” e reconhece a inconstitucionalidade
das normas por burla ao princípio do concurso público, conforme os seguintes julgados: ADI 1.030-SC, rel.
Min. Carlos Velloso, unânime, DJU 13/12/1996; ADI 3.857-CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, por maioria,
DJe 27/02/2009; ADI 3.199-MT, rel. Min. Roberto Barroso, unânime, DJe 12/05/2020; ADI 5.406-PE, rel.

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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer
Min. Edson Fachin, unânime, DJe 26/06/2020; ADI 6.853-SP, rel.ª Min.ª Rosa Weber, unânime, DJe
29/09/2022; AgRg no ARE 1.393.377-RS, 1ª Turma, rel. Min. Luiz Fux, unânime, DJe 25/10/2022.
14. Com relação à remuneração, quando o § 1º do art. 39 da CF determina que os padrões de vencimento
observem a “natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos” (inciso I) e os
“requisitos para a investidura” (inciso II), parece correto interpretar (sistematicamente) que os próprios
“requisitos para investidura” dependam da “natureza e complexidade do cargo”, afinal a investidura é
feita por concurso público cujas provas devem ser “de acordo com a natureza e complexidade do cargo”
(art. 37, II).
(...)
15. Por todo o exposto, fica evidente (com o devido respeito) o desacerto do CNJ quando considerou existente
“íntima semelhança” entre o decidido no RE 740.008-RR (tema nº 697) e a situação dos Oficiais de Justiça do
Estado do Piauí, DEVENDO-SE RECONHECER QUE ESSA CATEGORIA DE SERVIDORES PÚBLICOS
NÃO FOI ALCANÇADA PELA DECISÃO DO CNJ."

Como se percebe, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal esclarece que o


essencial é a similitude de atribuições dos cargos para que se tenha “reestruturação administrativa”
sem burla ao princípio do concurso.

Consoante bem destacado, no caso do Estado de Roraima (tema nº 697), quando do


julgamento pelo STF, havia simultaneamente cargos de Oficial de Justiça de nível médio e Oficial de
Justiça de nível superior e a Lei Complementar estadual (de Roraima) nº 175/2011, alterou os artigos 33 e
35 da Lei Complementar estadual nº 142/2008, passando o art. 33 a colocar o cargo de Oficial de Justiça
de nível médio “em extinção”, enquanto o art. 35 estabelecia a mesma remuneração para os dois cargos
de Oficial de Justiça, de nível médio e de nível superior, ou seja, estabelecia a mesma remuneração
para os dois cargos de Oficial de Justiça, mesmo havendo níveis de escolaridade diferentes.

Já no caso do TJ-PI, em relação ao cargo de Oficial de Justiça, ocorreu tão somente


uma "transição entre duas disciplinas legais", pelo simples fato de ter ocorrido mera alteração de
escolaridade sem nenhuma alteração das atribuições desse cargo ao longo das diversas mudanças
legislativas promovidas.

Dessa forma, observa-se que tais medidas amoldam-se ao que o STF


considera constitucional e que não constitui burla à regra do concurso público (art. 37, II, da CF) e à
súmula vinculante nº 43, pois se trata apenas de reestruturação de carreiras, com elevação de
requisito de escolaridade para cargo de atribuições não semelhantes mas idênticas, e não de
transposição de cargos (ADI 4.303-RN, rel.ª Min.ª Cármen Lúcia, por maioria, DJe 28/08/2014, ADI
4.233-BA, rel. p/ac. Alexandre de Moraes, por maioria, DJe 29/04/2021, ADI 4.214-TO, rel. Min. Dias
Toffoli, unânime, DJe 09/10/2023, ADIMC 1.561-SC, rel. Min. Sydney Sanches, unânime, DJU
28/11/1997; ADI 4.883-MS, rel. Min. Edson Fachin, unânime, DJe 28/05/2020; ADI 7.081-BA, rel. Min.
Edson Fachin, unânime, DJe 23/11/2022.).

Diante disso, se as atribuições funcionais dos Oficiais de Justiça sempre foram


efetivamente as mesmas, a exigência de curso superior pela legislação que se sucedeu traduz-se tão
somente em simples reestruturação do quadro de pessoal do Poder Judiciário estadual, “fundada na
competência do Estado para organizar seus órgãos e estabelecer o regime aplicável ao seus servidores,
da qual não decorre, em linha de princípio, qualquer inconstitucionalidade" (ADI nº 4.883, Rel. Min.
Edson Fachin, Pleno, DJe de 28/5/2020; ADI nº 4.303, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe de
28/8/2014; ADI nº 1.561 MC, Rel. Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, DJ de 28/11/1997; e ADI nº
1.591, Rel. Min. Octávio Gallotti, Tribunal Pleno, DJ de 30/6/2000)” (ADI nº 4.233/BA, Rel. Min. Rosa
Weber, red. do ac. Min. Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, DJe de 29/4/21 e EDcl na ADI 4.214-TO,
rel. Min. Dias Toffoli, unânime, DJe 09/10/2023)

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Já com relação à remuneração, de fato, quando o § 1º do art. 39 da CF determina


que os padrões de vencimento observem a “natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade
dos cargos” (inciso I) e os “requisitos para a investidura” (inciso II), exsurge compatível com a
diretriz constitucional a medida adotada pelo TJ-PI de elevar o padrão remuneratório do cargo de
Oficial de Justiça que teve seu pré-requisito de escolaridade elevado por força da Resolução CNJ nº
48/2007.

Por todo o exposto e ante o evidente equívoco que incorreu o dispositivo do Acórdão
de julgamento do PP nº 0008609-69.2018.2.00.0000 ao tratar do caso dos Oficiais de Justiça e
Avaliadores, porquanto não foram incluídos no art. 66, II e III, da Lei Complementar nº 115/2008
nem tampouco transformados em Analistas Administrativos, mas mantiveram a mesma
nomenclatura e desempenharam as mesmas atribuições nas Leis nº 5.237/2002, nº 5.545/2006 e na
Lei Complementar nº 115/2008, necessário se faz reconhecer que essa categoria de servidores não foi
alcançada pela Decisão do CNJ.

Mesmo reconhecendo que os Oficiais de Justiça e Avaliadores não foram alcançados


pela decisão, visto que nunca mudaram de cargos nem de atribuições, na forma dos precedentes do
STF, e considerando o erro material do item "iii)" do dispositivo do Acórdão ao mencioná-los como
categoria inserida no rol dos incisos II e III do art. 66 da Lei Complementar nº 115/2008 e afirmar
que "foram transformados no cargo de Analista Administrativo do grupo funcional de Analista
Judiciário"​, o que evidentemente não ocorreu, é importante recomendar que o Tribunal de Justiça,
por cautela, dê a devida ênfase e solicite a a anuência do CNJ quanto a este ponto.

III - CONCLUSÃO

Ao lume do exposto, na ausência de indicação expressa da forma de cumprimento e


das consequências jurídicas e administrativas da respeitável Decisão do CNJ proferida no julgamento do
Pedido de Providências nº 0008609-69.2018.2.00.0000, opina-se que lhe seja dado cumprimento
conforme o tratamento que é dado à matéria pela jurisprudência do STF e do próprio CNJ, bem
como considerando a necessidade de que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime, sem
prejuízo aos interesses gerais e para que não se declarem inválidas situações plenamente constituídas, não
se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam
anormais ou excessivos, nos termos dos arts. 21, 22 e 24 da LINDB, opinando-se pela(o):

i) impossibilidade de manutenção da estabilidade das condições funcionais atuais dos


servidores com base na ausência de análise pelo CNJ da Lei Complementar nº 230/2017
e dos respectivos atos de enquadramento dela decorrentes​;
ii) impossibilidade de suspender a execução da decisão do CNJ até que sobrevenha
decisão definitiva do STF no âmbito dos Mandados de Segurança nº 39.476-PI e 39.471-
DF ou mesmo enquanto pendente de apreciação o pedido de liminar;
iii) não colocação de servidores atingidos em disponibilidade, permitindo que os
servidores permaneçam em atividade, para afastar qualquer risco de prejuízo à boa
prestação da atividade jurisdicional, promovendo-se os enquadramentos
nos cargos/carreiras ocupados anteriormente por meio de ato administrativo, mesmo sem
previsão legal, pois as decisões do CNJ proferidas no exercício da atividade fiscalizadora
são impositivas e dotadas de caráter normativo;
iv) necessidade de ressalvar os servidores que, até a data de publicação da ata de
julgamento do Acórdão, já se encontravam aposentados ou que tenham preenchido os
requisitos para a aposentadoria, bem como os pensionistas de servidores nessas
condições, nos termos da jurisprudência do STF e do próprio CNJ;
v) congelamento da remuneração dos servidores que ainda não preenchiam os requisitos
para aposentadoria na data em que se considera publicada a decisão, até que a diferença
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12/04/2024, 14:16 SEI/TJPI - 5327285 - Parecer

recebida seja absorvida por aumentos futuros ou que advenha decisão do STF em sentido
contrário, tendo em vista a necessidade de resguardar a confiança legítima, a boa-fé
objetiva dos servidores e a segurança jurídica, nos termos da jurisprudência do STF,
seguida de envio de projeto de lei de instituição de VPNI, sem prejuízo do
reenquadramento nos cargos e carreiras ocupados anteriormente;
vi) reconhecimento de que a categoria dos Oficias de Justiça não foi alcançada pela
decisão do CNJ, porquanto não inclusos nos incisos II e III do art. 66 da Lei
Complementar nº 115/2008, mas no inciso I, e nem tampouco foram transformados em
Analistas Administrativos, consoante equivocadamente mencionado no dispositivo do
acórdão do CNJ, e em razão de sempre terem mantido mesma nomenclatura e as mesmas
atribuições legais, nos moldes albergados pela jurisprudência do STF, tendo a elevação
do requisito de escolaridade ocorrido por determinação do próprio CNJ por meio
da Resolução nº 48/2007.

Recomenda-se ainda que as medidas adotadas pela Presidência sejam


submetidas ao crivo do CNJ, seguida da designação de Comissão/Grupo de Trabalho para elaboração de
Projeto de Lei de reforma da Lei Complementar nº 230/2017 com a finalidade de implementar as
mudanças legislativas necessárias após as desconstituições operadas pelo CNJ bem como visando a
correção das distorções nos cargos, atribuições e carreiras advindas historicamente com a sucessão de
Planos de Cargos e Carreiras dos servidores deste Egrégio Tribunal de Justiça.

Dessa forma, o TJ-PI não estará realizando "modulação dos efeitos" de uma Decisão do
CNJ, mas lhe dando fiel cumprimento, recorrendo aos parâmetros delineados pela jurisprudência do STF
uma vez que, reitere-se, a decisão não estabeleceu, de forma expressa, sua forma de execução e nem
suas consequências jurídicas e administrativas.

Frise-se, ainda, que isso não implica convalidação dos atos desconstituídos, conforme
jurisprudência do STF citada.

É o parecer, salvo melhor entendimento.

Rafael Rio Lima Alves de Medeiros


Secretário Jurídico da Presidência

Documento assinado eletronicamente por Rafael Rio Lima Alves de Medeiros, Secretário Jurídico
da Presidência - SJP, em 12/04/2024, às 13:56, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site http://sei.tjpi.jus.br/verificar.php informando


o código verificador 5327285 e o código CRC 9071552C.

18.0.000051994-0 5327285v184

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