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Encontro Com a Fama

Blind Date
Emma Darcy

Sabrina 494
Um homem de tirar o fôlego. Uma mulher inconquistável.

Era a glória! Adam Gale, o ídolo das mulheres, o grande cantor


da música pop, seria o acompanhante da feliz ganhadora do
concurso da tevê. Peggy talvez fosse a única concorrente que não
se derretia por causa dele. O segundo prêmio era bem mais
cobiçado: um maravilhoso aparelho de som. Mas naquele dia os
astros haviam se conjugado para provocar a maior confusão em
suas vidas. E Peggy descobriu que, quando um leonino se
aproximava de uma sagitariana, qualquer coisa podia acontecer,
até mesmo uma grande paixão!
Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos, de fãs para fãs.
Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.
Cultura: um bem universal.

Doação: Mana
Digitalização: Alê M.
Revisão: Juju

CAPÍTULO 2

Quando fizeram uma pequena pausa para descansar, depois de passar horas
estudando toda a matéria do primeiro semestre, Gavin não resistiu mais à curiosidade e
perguntou a Peggy:
— O que você está tramando, Peggy? Não adianta tentar esconder, porque estou
notando aquele brilho característico nos seus olhos!
Ao voltar-se para responder, Peggy viu Gavin servindo-se de leite e pegando a última
maçã da fruteira. Sem esconder um sorriso, deixou de lado a carta que lia.
— Gavin, da próxima vez que você vier estudar aqui, trate de trazer comida de casa —
disse, fingindo-se de brava.
— Puxa, Peggy! Nunca esperei isso de você — disse o rapaz num tom de mágoa pouco
convincente. — Eu venho até aqui para ajudá-la e...
— Você veio para estudar comigo, e não para esvaziar minha geladeira.
— Ora, Peggy, preciso compensar tudo que gastei com condução para chegar até aqui
— argumentou ele enquanto mordia a maçã.
Na verdade, Gavin costumava vir com muita freqüência estudar na casa de Peggy.
Morando do outro lado da baía, precisava tomar uma condução até a barca e outra do
porto até o apartamento. Por isso, ela resolveu levar em consideração os custos da
viagem, apesar de saber que os ataques à sua despensa continuariam. Deixando de lado
o assunto, Peggy explicou o motivo da sua agitação:
— Vou ganhar um equipamento estéreo, uma coleção completa dos discos de Adam
Gale e duas entradas para o musical Encontro com um Desconhecido. Que tal?
— É ótimo! Eu estava mesmo querendo ir a esse show — convidou-se Gavin,
entusiasmado.
— É, talvez você vá comigo — resmungou ela, enquanto lia atentamente o formulário
que acompanhava a carta.

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— Você gostaria de conhecer os bastidores do programa Ross Elliot Show também?
O interesse do rapaz cresceu de repente. Afinal, tanto ele quanto Peggy estavam no
último ano do curso de comunicações e, para eles, nada seria mais interessante do que
entrar em contato com técnicas de produção de filmes, vídeos, programas de rádio e de
televisão, principalmente daquele nível.
— Como vai conseguir tudo isso?
— Tomando parte do show — esclareceu ela com naturalidade, estendendo-lhe a
carta.
Deitando-se no sofá, Gavin arrumou as almofadas sob a cabeça, procurando uma
posição bem confortável, como sempre fazia quando precisava ler.
Enquanto seu olhar percorria atentamente a extensa carta, Peggy teve tempo
suficiente para preencher e envelopar o formulário de participação do concurso que lhe
daria direito a todas aquelas coisas. Depois ficou observando o amigo, divertida.
Gavin era muito simpático: magro, cabelos castanhos e crespos, nariz reto, lábios não
muito grossos mas bem sensuais e olhos verdes. Além das qualidades físicas, ele era
ativo, inteligente, ambicioso e, acima de tudo, muito competitivo, o que certamente faria
dele uma pessoa bem sucedida na área de comunicações.
— Onde você conseguiu o formulário? — perguntou ele, sem interromper a leitura.
— Com uma amiga — respondeu Peggy, voltando à análise de Gavin.
Talvez fossem todas essas qualidades, somadas à sua eloqüência, que faziam dele
uma figura dominante entre os colegas de faculdade, exceção feita a Peggy, a quem
concedia, relutante, o status de igual. Seu único senão era o seu hábito irritante de se
pôr demasiadamente à vontade todas as vezes que ia ao apartamento dela. No entanto,
eles tinham muitas afinidades, nenhum dos dois procurava um relacionamento mais
profundo do que uma simples amizade platônica. Gavin gostava de ter sempre a última
palavra em tudo, tratando as garotas com quem se relacionava com enorme desdém,
como se fossem suas discípulas submissas, papel que ela, Peggy, nunca aceitaria
desempenhar na vida de um homem.
— Você vai mesmo participar do concurso? — Gavin perguntou incrédulo.
— Por que não? — respondeu ela, dando de ombros.
— Parece-me meio estranho que uma feminista declarada como você concorra a um
encontro com um astro da música pop.
— Para início de conversa, não sou uma feminista declarada. Além do mais, não vou
concorrer a um encontro com Adam Gale — Peggy começava a irritar-se.
— Ora, Peggy! Vamos lá! A carapuça serve direitinho. Você tem um corpo tão atraente
que às vezes fico na dúvida se a minha opinião a seu respeito é correta. Sabe, tenho
quase certeza de que você é virgem, porque espanta todos os rapazes que tentam
aproximar-se. Bonita desse jeito, com vinte e um anos, você é mesmo um espécime bem
raro!
Antes que Peggy pudesse tentar alguma reação em defesa própria, Gavin, que não
perdia uma oportunidade de caçoar dela, continuou:
— Isso tudo acontece porque você está sempre competindo com eles, querendo
superá-los, ou igualar-se a eles, sem nunca mostrar que é uma mulher.
Aquelas palavras atingiram-na como uma bofetada, fazendo com que reagisse
imediatamente, perguntando com certa austeridade no tom de voz.
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— E o que é uma mulher para você? É uma espécie de objeto para ser usado nos
momentos de necessidade e que, depois guarda no armário até uma próxima vez?
Gavin não se deu por vencido pelos argumentos de Peggy e, cínico, rebateu:
— Mas você vai parecer uma bela mercadoria exposta na TV, pronta para ser
adquirida como um artigo de luxo. Sendo uma das três finalistas, vai participar do Ross
Elliot Show para que Adam escolha uma de vocês para sair com ele, não é?
— É verdade. Só que pretendo ser uma das perdedoras e, assim, receber todos aqueles
prêmios de consolação que estão na carta — esclareceu, convicta.
— Você... uma perdedora? — Gavin não conteve o riso.
— Ganharei o que quero ganhar — replicou ela, arrancando-lhe a carta das mãos.
Gavin conseguira irritá-la bastante, principalmente com a insinuação de que não era
feminina. Crer na igualdade de direitos não a tornava uma feminista declarada, e achava
inaceitável a idéia de compartilhar sua cama com alguém sem algum envolvimento
amoroso.
— Detesto discordar, Peggy, mas vai ser o Adam quem vai escolher a vencedora. Na
minha opinião, você é a mais forte candidata à cama dele. Pobre Adam! Já estou até ven-
do o infeliz tentando aproximar-se de você. Eu daria tudo para ficar invisível só para ver
a cena. Seria o máximo ver o jeito dos dois na hora do encontro. — Gavin tentava con-
trolar o riso.
Assumindo uma postura desdenhosa, com as mãos à cintura, Peggy explicou:
— Para sua informação, espertinho, tudo não passa de um golpe publicitário. O
concurso chama-se Encontro com o Desconhecido não só para promover o musical de
Adam, que tem o mesmo nome, mas porque ele não poderá ver as garotas que estarão
concorrendo ao encontro. Adam escolherá a vencedora baseado em respostas dadas a
uma série de perguntas feitas por ele e...
— Já entendi. Suas respostas serão horríveis — concluiu Gavin, pesaroso.
— É isso aí! — disse ela, com ar de superioridade.
— Que pena! — lamentou-se Gavin, recuperando-se do acesso de riso. — Aposto que
ele nunca se deu mal com garotas, principalmente com tantas fãs ao seu redor,
bajulando-o o tempo todo.
— É justamente por isso que não quero sair com ele. Por mais que sua música me
agrade, a atitude dele com as mulheres deve ser insuportável — comentou Peggy
secamente.
— Feminista! Um dia desses você vai ficar sem argumento e, então, quero ver como se
arranjará. — O sorriso jocoso tinha voltado aos lábios do rapaz.
— Ora, meu caro! Isso está longe de acontecer — respondeu, espirituosa. — Você se
lembrou de trazer o livro de peças teatrais?
— E, por um acaso, eu já esqueci o que combino? — perguntou ele, arrogante.
— Um dia desses, você esquece, e eu só quero ver como vai se arranjar — rebateu ela,
sorrindo. — Voltemos aos estudos, que foram o motivo de sua vinda!
Nada mais foi dito sobre o concurso até o momento em que Gavin estava se
preparando para ir embora.
— Sabe, Peggy, ainda acho que você deveria tentar o primeiro prêmio. Adam deve
conhecer muita gente influente na TV, e seria muito bom tê-lo como "padrinho".

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— Concordo. Só que não pretendo fazer da minha cama um trampolim para o êxito da
minha carreira profissional, Gavin — debochou Peggy.
Gavin balançou a cabeça em sinal de reprovação.
— Às vezes você é muito conservadora, sabia? Sexo é poder!
— Na sua opinião, tudo é poder.
— Ainda vou ensinar-lhe algumas coisinhas, Peggy.
— Obrigada, mas prefiro conseguir as coisas do meu jeito.
Gavin colocou sua mochila às costas e, caminhando em direção à porta aproveitou
para provocar Peggy uma última vez.
— Não creio que do seu jeito as coisas funcionem, garota.
Ele saiu tão rápido que Peggy nem teve tempo de rebater a gracinha mas, apesar de
tudo, sentiu-se aliviada por não ter de pensar em uma resposta. Ela odiava admitir que
Gavin estava certo. Apesar da convicção ao defender seus pontos de vista, no fundo
sentia-se muito frágil e infeliz. Se Gavin tivesse certeza de que ainda era virgem e que
nunca tinha sentido um desejo mais forte por algum de seus namorados, nunca mais
acabaria com as chacotas.
Enquanto as outras garotas trocavam de namorados constantemente, Peggy achava
isso uma futilidade e uma forma de exibicionismo. Mas aos poucos começava a achar
que sua opinião sobre o assunto era apenas uma desculpa para esconder sua
incapacidade de envolvimento emocional. Esses pensamentos a perturbavam,
principalmente quando pensava na sua idade e no fato de ainda não ter uma vida afetiva
tão intensa quanto a de suas colegas. Será que era emocionalmente imatura? Talvez
fosse apenas falta de uma visão mais romântica do sexo oposto. Os quartos de suas
amigas eram forrados de posters de artistas de cinema e televisão, enquanto em seu
apartamento só havia reproduções de quadros famosos. Apesar de tudo, não se sentia
muito diferente das pessoas de sua geração.

No dia do programa, já pronta, Peggy olhava-se no espelho, quando as provocantes


insinuações de Gavin vieram-lhe à mente. Não se deixou abater: sua linda imagem e a
roupa que vestia tornaram as acusações de seu colega ridículas.
Uma blusa cinza de seda, contrastando com seu tom de pele, moldava-lhe
sensualmente os seios. A saia, de lã preta rodada, acentuava suavemente sua cintura.
Botas de couro e cinto pretos completavam a graça da roupa. Como toque final, um longo
casaco de lã, também preto, que, além de torná-la mais feminina, era uma ótima
proteção contra os ventos frios de agosto.
Os cabelos negros e cacheados, até a altura dos ombros, eram muito bem tratados e
lustrosos, formando uma bela moldura para seu lindo rosto de traços muito suaves e
marcantes. Os lábios bem contornados, os grandes olhos castanhos, os cílios longos, as
sobrancelhas espessas e o nariz reto formavam um conjunto harmonioso, conferindo a
Peggy uma beleza singular.
Ela estava linda! E não poderia ser diferente, pois seus pais e amigos estariam vendo o
show.
Com um leve sorriso, lembrou da graça que seu pai achara ao saber do seu plano de
não ser escolhida por Adam Gale. Contudo, sua mãe não reagira da mesma forma. A sra.

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Dean não podia entender a razão da filha, para recusar-se a passar uma tarde romântica
com um homem tão bonito e talentoso.
A mãe de Peggy nunca conseguira passar à filha noções importantes a respeito de sexo
e de homens por causa da enorme diferença de idade entre as duas. O sr. Dean, porém,
muito mais sensível às mudanças de valores, soube mostrar-lhe as desvantagens e
perigos dos excessos, assim como as vantagens de um casamento duradouro.
Os conselhos paternos sempre pareceram muito sensatos, deixando Peggy disposta a
segui-los. Ela não era uma feminista como Gavin julgava. Na verdade, era sua femi-
nilidade que o incomodava, e não seu suposto feminismo.
O estúdio era muito longe de sua casa, em Neutral Bay, o que a fez sair mais cedo.
Apesar de precisar tomar dois ônibus, ela chegou com uma certa antecedência à emisso-
ra de TV. Na mesma hora, foi levada para a sala de maquiagem para ser preparada.
— Hummm... Não será preciso muito. Um pouco de blush para realçar as maçãs do
rosto e sombra para os olhos. Você tem sorte em ter tantos atributos naturais. Prin-
cipalmente os cabelos — comentou a maquiladora.
Esse comentário foi mais uma constatação do que um cumprimento e, sem dar tempo
de resposta a Peggy, continuou:
— Nervosa?
— Um pouquinho — admitiu Peggy.
— Bem, boa sorte! Pena que você ficará escondida até a hora da escolha. Aposto que,
se ele pudesse vê-la, não teria nenhuma dúvida.
— Se ele pudesse ver-me, eu não estaria aqui.
— Sério? Pois eu já perdi horas e horas em filas para conseguir um lugar bem próximo
do palco só para poder vê-lo bem de perto em seus shows. Você já o viu apresentando-se
ao vivo? — indagou a funcionária do estúdio.
— Não.
— Poxa! Você não sabe o que perdeu. Na primeira vez, quase desmaiei de tanta
emoção! A música, a voz, o homem... Meu coração queria saltar para fora do peito! Eu...
A conversa foi interrompida pela entrada de outra moça, uma loira de estatura
mediana e corpo muito bem-feito. Trajava um vestido azul de tricô, justo e provocante,
que deixava marcada sua roupa de baixo. Para completar, tinha exagerado na pintura
dos olhos verdes para ficar com um ar de mulher fatal e irresistível.
— Srta. Dean, esta é a srta. Merrill — apresentou a funcionária da TV que a
acompanhava. — A terceira concorrente não tardará.
Peggy sorriu polidamente, mas recebeu um olhar frio e hostil da oponente. A srta.
Merrill, sem dúvida, viu nela uma rival com quem não queria muita intimidade.
— Já terminamos — disse a maquiladora à colega. — Pode levar a srta. Dean.
Peggy desvencilhou-se do avental que protegia as suas roupas e seguiu a outra
mulher, tentando tirar proveito dos minutos que ainda faltavam para o início do
programa.
— Será que eu poderia observar os técnicos trabalhando por alguns momentos? Não
vou atrapalhá-los. É que estou no último ano de comunicação audiovisual e...
— Não — respondeu a guia secamente. — As três concorrentes têm de ficar em uma
sala totalmente isolada para que não haja o risco de serem vistas por Adam. Ele não
tardará a chegar.
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Peggy ficou muito desapontada ao perder aquela oportunidade, mas procurou
submeter-se às regras do concurso. Afinal de contas, ela estava ali para participar do
programa, e não para observá-lo dos bastidores.
A sala de espera era muito agradável. À direita, meia dúzia de poltronas macias e
coloridas, dispostas lado a lado, perfeitas para um bom relaxamento antes de se entrar
em cena. Na mesinha de centro, além de um belo arranjo de flores, havia revistas de
vários tipos: moda, esporte, variedades etc. À esquerda, um bar sofisticado, abastecido
com vários tipos de bebidas, alcoólicas ou não. No outro canto da sala, um aparelho de
TV, que, ligado no canal da emissora, mostrava o programa que antecedia ao Ross Elliot
Show. Enfim, o local estava decorado para ser extremamente agradável e repousante.
— Virei buscá-la às doze e trinta. Relaxe e fique à vontade, srta. Dean — aconselhou a
mulher antes de partir.
Peggy escolheu uma revista e sentou-se em uma das poltronas. Não demorou muito
para a loira sensual, usando enormes saltos, vir fazer-lhe companhia. Tão logo ficaram a
sós, a srta. Merrill foi até o bar e serviu-se de uma boa dose de vodca pura. A
maquilagem ao redor dos olhos havia sido suavizada, tornando-a ainda mais bonita e
fatal. Sem dúvida, com aquele visual tão atraente, ela podia ser classificada de pantera,
fazendo sombra para muita estrela de cinema famosa. Se pudesse, arrancaria os olhos
de Peggy com suas garras.
— Quantos anos você tem? — perguntou, medindo Peggy com os olhos.
— Vinte e um.
— Só? Não aparenta — insinuou.
— Um dia desses, minha idade vai alcançar meu tamanho — rebateu Peggy, olhando
para o copo de vodca. — Nervosa?
— Você não está? — E tomou um gole.
— Não muito.
Peggy tentou cortar a conversa antes que tomasse rumos indesejáveis. Continuou a
leitura. Mas a outra jovem não deixou.
— Você redigiu sozinha?
— O quê?
— Você redigiu sozinha a frase que enviou para o concurso? — repetiu a loira em um
tom mais elevado.
— Ah, sim.
— Espertinha, hein?
— Não, só não me saio mal com palavras.
— Pois eu pedi a um amigo que escrevesse a minha. Ele é ótimo redator. — A
presunção de sua voz demonstrava que ela nem percebera a própria desonestidade.
Peggy retomou a leitura, tentando inibir qualquer diálogo. Quando se encontrava
concentrada em meio a um assunto interessante, foi interrompida pela entrada da ter-
ceira concorrente, que foi logo apresentada.
— Esta é a srta. Wilson. Srta. Dean, srta. Merrill. Eu as apanharei na hora do show —
explicou a funcionária da emissora, retirando-se em seguida.
A recém-chegada olhou sorrindo para as duas jovens, e observou:
— Ainda bem que ele não pode nos ver. Se pudesse, eu estaria perdida! A propósito,
meu nome é Amy.
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— Olá, Amy! Sou Peggy — respondeu ela, também bem-humorada.
— Marilyn — apresentou-se a loira, fazendo charme. Amy era muito espontânea; fazia
piada de tudo, inclusive de si mesma.
— Puxa vida! Se eu me chamasse Marilyn, talvez tivesse algumas curvas atraentes
como as suas! Acho que o meu problema está no nome!
Na verdade, Amy tinha um rosto comum e um corpo muito magro. Mas compensava a
falta de beleza com uma enorme simpatia e muita espontaneidade.
Marilyn alisou o corpo, toda vaidosa. Estava mais segura de si com a presença de
Amy, que realçava favoravelmente sua beleza. Ao passo que Peggy, sentindo-se
espectadora, pois não queria ganhar o encontro, divertia-se a valer com a situação.
Sentando-se em uma poltrona com toda a sua magreza, Amy continuou a falar;
— Bem, pelo menos um milagre eu já consegui! Vou chegar bem perto daquele tesouro
de homem! — consolou-se, franzindo a testa.
Peggy riu ao ver a expressão fatalista no rosto de sua oponente. Aquele nariz cheio de
espinhas e os lábios muito finos não eram seus pontos fortes, mas a personalidade que
deixava transparecer a tornava especialmente atraente.
— Você fez permanente? — Amy quis saber, olhando, com inveja, os cabelos de Peggy.
— Não, é natural.
— Gostaria de ter cabelos assim.
— Mas seus cabelos são bonitos — elogiou Peggy. Eles eram macios, ondulados,
brilhantes e estavam penteados de uma forma que lhe caía muito bem.
— Que nada! O que vocês estão vendo é o resultado de uma hora de secador, muita
escova e cãibras na mão direita. As duas não sabem a sorte que têm.
Entre perguntas e brincadeiras de Amy, os minutos passaram rápidos e agradáveis. A
moça falava sem parar, talvez uma forma de superar a tensão.
Quando o programa de Ross Elliot começou, ao meio-dia, Marilyn aumentou o volume
da TV. Aquele era um programa de variedades, entrevistas e reportagens com
personalidades do mundo dos shows. O primeiro convidado era um astrólogo famoso,
Victor Renshaw. Sua maneira de falar era cativante e prendia a atenção do público.
— Você acredita nos astros, Peggy? — quis saber Amy.
— Não. É tudo besteira — respondeu ela secamente.
— Um dia eu estava lendo...
— Psiu! — fez Marilyn, franzindo a testa para as duas, que não paravam de raiar.
— Creio que você fez o horóscopo de Adam para nós esta noite, não é, Victor? — Ross
demonstrava-se interessado.
— Sim. Como você sabe, ele é de Leão, Ross...
— Claro! Todos sabemos que ele é um leão nas paradas de sucesso. — Ele riu.
— O astro regente de Leão é o Sol, o que demonstra que Adam é um vencedor, um
dominador.
— Quais as outras características dos leoninos, Victor? — E Ross olhou sorrindo para
a platéia no estúdio. — Também sou de Leão.
— Eles são orgulhosos, arrogantes, vaidosos...
— Já é o suficiente — interrompeu Ross, para divertimento do público.
— Mas também são calorosos, generosos, fortes, protetores e amáveis — emendou o
astrólogo.
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— Você ouviu isso, Adam? Ele está revelando os nossos segredos.
— Espero que nem todos — brincou Adam, entrando no palco.
Sob o caloroso aplauso do público, Adam cumprimentou os dois homens que estavam
em cena e sentou-se em uma cadeira. O terno cinza-escuro, muito elegante e sóbrio,
fazia-o parecer um príncipe.
Sem dúvida, Adam era o elemento masculino mais atraente do cenário artístico. Sem
maquilagem berrante. Sem corte de cabelo extravagante. Sem roupas exóticas. O forte de
seu visual era o impacto estonteante da beleza do rosto e do corpo.
Adam parecia uma escultura grega que, por algum milagre, tomara vida: alto, atlético,
rosto másculo, olhos profundos e azuis, pele morena, cabelos negros, lisos e curtos.
— Eu queria mergulhar naqueles olhos — desejou Amy em voz baixa.
Peggy sorriu para ela, mas sua concentração na imagem da televisão não animava
qualquer conversa. Amy só tinha ouvidos para Ross:
— ...então o musical é basicamente um conto de Cinderela, Adam?
— Só que mais moderno. Billy Prince, o protagonista, é um astro da música pop,
enquanto Cindy Jones é uma moça simples, do povo. O musical mistura as grandes his-
tórias de amor, como Romeu e Julieta, com os conflitos atuais da nossa sociedade. O
Encontro com o Desconhecido é emotivo e dramático.
Adam discorreu sobre o show com eloqüência e convicção tão grandes que deixou
Peggy impressionada. Ele falava com tanto carisma quanto cantava.
— Você deve estar satisfeito com o enorme sucesso da canção-título do musical —
comentou Ross.
— Realmente, tem sido muito encorajador.
— A autoria é sua?
— Sim. As outras músicas foram feitas por Jenny Ross ou em parceria comigo.
— Jenny escreve canções muito bonitas.
— De fato, ela é uma pessoa maravilhosa — acrescentou Adam, caloroso. — Aprendi
muito com ela.
— A canção Encontro com o Desconhecido tem um peso emocional muito forte, superior
às outras músicas que você compôs. Influência de Jenny?
— Não sou incapaz de novas emoções, Ross — brincou Adam.
— Bem, Adam, há três lindas jovens ansiosas para saber quem será a escolhida. Como
se sente às vésperas do seu encontro com uma desconhecida? Será que você é como o
Billy Prince do musical, alguém à procura de um amor verdadeiro?
— A esperança está sempre viva! — replicou Adam, sorrindo.
— Você já tem as questões prontas?
— Sim.
— Então, enquanto trazemos as concorrentes para o palco contíguo, onde não poderá
vê-las, exibiremos o vídeo do sucesso Encontro com o Desconhecido.
A sala de espera foi invadida pela moça encarregada das garotas, que disse apressada:
— Hora de ir, meninas.

CAPÍTULO II

9
As três garotas levantaram-se. Amy respirou fundo e, com um olhar expressivo para
Peggy, disse:
— Seja o que Deus quiser! — E saiu.
Marilyn umedeceu os lábios, ajeitou o vestido e os cabelos e seguiu Amy. Peggy sentia
o coração bater mais forte, estimulado pela adrenalina que sempre aumentava quando se
via diante de um novo desafio. Procurando manter o controle, foi a última a dirigir-se ao
palco.
No caminho, a encarregada de acompanhar as moças deu-lhes instruções breves e
claras.
— Não falem ao entrar em cena. A srta. Merrill será a concorrente número um. Srta.
Wilson a número dois. Você será a número três, srta. Dean. Não esqueçam seus
números, pois é assim que serão chamadas até que o sr. Gale tenha escolhido uma de
vocês. Sigam-me.
Elas foram conduzidas por um corredor cheio de móveis, adornos e outras partes de
cenários de vários programas de TV, no final do qual havia uma porta estreita que dava
direto no palco. Peggy surpreendeu-se por ter estado tão próxima dali, o tempo todo, sem
perceber. Havia três cadeiras estilo Luís XIV enfileiradas lado a lado no palco, próximas a
uma tela divisória que impedia a comunicação entre as garotas e o grupo de convidados
de Ross.
Marilyn sentou-se perto da divisória, Amy ao centro e, a seu lado, Peggy. Depois de ter
acomodado as três, a assistente fez um sinal de positivo para a produção e retirou-se.
Olhando para Amy, que fazia sinal de figas com as duas mãos, Peggy sorriu,
encorajadora, desejando boa sorte a ela, embora, em sua opinião, alguém do estilo de
Marilyn fosse mais do gosto de Adam.
Peggy nunca acreditara em astrologia, mas a descrição que Victor fizera do leonino
parecia perfeita para Adam: orgulhoso, arrogante e vaidoso. Se ele esperava que ela fosse
derreter-se por sua causa, como as outras, estava muito enganado. Desta vez, ele teria
uma surpresa.
O anúncio chegara ao fim e o apresentador dava continuidade ao show.
— Bem, Adam, atrás desta tela estão as candidatas ao seu encontro. Nossos
telespectadores podem vê-las, mas você só o fará depois de sua escolha. Elas são as
srtas. número um, dois e três, que deverão ser tratadas somente pelos números. Elas
responderão a três perguntas alternadamente. Quando você estiver pronto, pode fazer
sua primeira pergunta à candidata número um.
Adam aguardou alguns segundos e perguntou em tom não muito sério.
— Número um, qual sua opinião sobre a liberdade masculina?
— Sou totalmente a favor — respondeu Marilyn, com voz melosa. — Adoro homens
liberais. Eles são muito mais excitantes e imprevisíveis que os conservadores.
Houve uma pequena agitação no auditório.
— Número dois? — disse Adam, sem acrescentar mais nada.
— Creio que todos deveríamos ser libertados dos padrões castradores da sociedade
atual. Tanto o homem quanto a mulher merecem ter liberdade total para poderem viver
sem ser tolhidos por rótulos sociais. Todos nós deveríamos fazer tudo o que nos agrada,
sem temor de críticas preconceituosas baseadas em conceitos arcáicos.
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A platéia aplaudiu.
— E você, número três? Qual a sua opinião? Peggy quase deixou escapulir um sorriso
malicioso, mas, controlada, afirmou:
— Sou totalmente contra. Os homens deveriam enfrentar uma gravidez por ano, lavar
roupa e ficar na frente de um fogão, que é o seu lugar.
— Você concorda com ela, Adam? — brincou Ross.
— Bem, eu acho que teria uma certa dificuldade em conseguir engravidar — Adam riu.
A audiência agitou-se muito, achando graça.
— O que me diz das respostas? — O apresentador quis saber de Adam.
— Gostei de todas. Acho que a srta. número dois colocou muito bem o que pensa da
padronização social de hoje em dia. Se tivéssemos mais liberdade, acho que seríamos
efetivamente mais felizes.
Marilyn mordia os lábios, demonstrando sua irritação com o que Adam dissera da
resposta de Amy, que, corada, sorria satisfeita. Peggy, por sua vez, estava surpresa com
a aceitação de Adam da resposta um tanto filosófica de Amy. Isso demonstrava que talvez
ele não fosse tão superficial quanto ela supunha. Mas, agora, o mais importante era
"caprichar" nas respostas seguintes.
— Então nesta rodada você escolheu a srta. número dois, Adam? — concluiu Ross.
— Eu apenas concordei com sua resposta — esquivou-se ele.
— Você está sendo político, hein?
— É melhor não ser apressado em minha opinião, Ross.
— Você tem toda razão, Adam. E agora é a vez da candidata de número dois dar a
primeira resposta — orientou o apresentador.
— Número dois, como você demonstraria a um homem que ele é especial em sua vida?
— Bem, eu o abraçaria bem forte e diria que o amo — afirmou Amy.
A audiência deu sinais de aprovação.
— Número três?
— Não faria absolutamente nada. Um homem que precisa de uma mulher para
alimentar seu ego, para sentir-se especial, não merece respeito.
A platéia recebeu a resposta com grande silêncio, o que Peggy interpretou como um
sinal de que sua pequena sabotagem estava correndo muito bem.
— E você, número um, o que faria?
Marilyn lançou um olhar desdenhoso para Peggy e, com a mesma voz açucarada da
primeira resposta, disse:
— Procuraria agradá-lo o máximo possível. Descobriria tudo o que ele gosta e o faria
quando ele assim o desejasse.
O tom insinuante de Marilyn deixava claro suas intenções. Peggy sentiu repulsa ante
aquela atitude, mas, sem dúvida, era exatamente o que Adam esperava das mulheres.
— Qual a sua opinião quanto a estas respostas? — O animador indagou, curioso, para
Adam.
— Duvido que algum homem resista à resposta da srta. número três. — E sorriu.
Peggy sentia-se triunfante com a confirmação de seu julgamento, enquanto Marilyn
mostrava-se muito animada pelo comentário de Adam. Amy, visivelmente abatida, re-
cebia um olhar encorajador de Peggy. Afinal, havia ainda uma pergunta para ela
recuperar o terreno.
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— A última pergunta será endereçada à concorrente número três — lembrou Ross.
— Número três, o que é mais importante para um casamento ser duradouro e feliz? —
indagou Adam.
A platéia agitou-se na expectativa da resposta de Peggy, que, muito tranqüila, afirmou:
— Reconhecer que ninguém é perfeito. — Com o tom agressivo que empregara, Peggy
tinha certeza de ter impressionado Adam negativamente e de estar eliminada.
— Número um?
— Acho que a satisfação sexual é o alicerce de todo casamento duradouro — declarou
Marilyn, convicta, arrancando sorrisos maliciosos da platéia.
— Número dois?
— Pressupondo que o casamento foi por amor, creio que o senso de humor é muito
importante na vida de um casal, como forma de suavizar as dificuldades comuns a todo
casamento, principalmente no período de ajustamento à nova vida de casados.
— O que me diz destas respostas, Adam? — perguntou Ross, animado.
— Bem, se por um lado o humor é fundamental em qualquer relacionamento e, na
cama, se resolvem muitos problemas de um casamento, tudo isso tem uma base muito
mais sólida, que é o respeito mútuo.
Peggy levou um choque. Adam demonstrara preferência pela sua resposta que fora
cuidadosamente preparada para ferir-lhe a vaidade e o orgulho. Será que ela teria errado
em suas estimativas quanto a Adam?
— Adam, você é um verdadeiro showman, mantendo-nos em suspense até o último
momento. Inclinando-se a uma resposta de cada uma das candidatas, não demonstra
sua real preferência — disse Ross.
As palavras de Ross tranqüilizaram Peggy. Era claro que tudo não passava de
combinação para manter o público atento ao show. Peggy até já imaginava onde colocaria
o equipamento estéreo e o que faria com os outros prêmios.
— E agora, enquanto Adam reflete sobre sua escolha, Victor consultará as outras e
tentará adivinhar quem será a eleita — esclareceu Ross. — Ele escreverá o número da
candidata que acha que será escolhida por Adam e colocará seu prognóstico em um
envelope, que abriremos assim que tivermos uma definição. Você é bom nisso, Victor?
— Razoável. Claro que Adam pode fazer uma escolha incoerente só para confundir-me
— brincou ele.
— Posso assegurar-lhe de que minha mente está totalmente voltada para as jovens
que estão atrás da tela, Victor, especialmente para uma delas.
— O que me diz, Victor? — indagou Ross, caçoando. — Nos astros está escrito que
Adam encontrará seu destino nesta escolha às escuras?
— Tudo depende dele, Ross. Os indícios são favoráveis para que tudo corra bem para
ele no campo afetivo.
— Bem, Adam, seu tempo terminou. Pode anunciar sua escolhida e satisfazer a nossa
curiosidade — pediu o animador.
O suspense cresceu. Peggy olhava para Amy e Marilyn, curiosa em observar suas
reações. Ambas estavam tensas. Amy, de cabeça baixa e olhos fechados, continuava a fa-
zer figas, enquanto Marilyn, irrequieta, não parava de alisar os cabelos, aguardando o
pronunciamento de Adam, que disse:
— Gostei muito da desinibição demonstrada pela srta. número um...
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Marilyn assumiu um ar empertigado. Amy sentiu-se desolada.
— Mas também apreciei muito a profundidade e o calor das respostas da srta. número
dois...
Agora, um pouco mais aliviada, Amy recebia o olhar exasperado de Marilyn, que ficou
mais agitada. Peggy, por sua vez, tranqüila por considerar-se já eliminada, experi-
mentava uma sensação de triunfo e já assumia ares de vencedora. Ela se julgava perfeita
em seus cálculos e, em poucos isntantes, teria sua vitória sobre Gavin e Adam con-
firmada pelo próprio Adam Gale, não importando qual das outras duas ele escolhesse.
Após uma breve pausa, Adam continuou: — Se tivesse que escolher entre as duas, eu
teria muitas dificuldades, mas acontece que fiquei muito intrigado com a srta. número
três, a quem escolho para meu Encontro com o Desconhecido.

CAPÍTULO III

Três? Adam dissera mesmo três? Não! Não era possível uma coisa dessas! Peggy não
podia crer em seus ouvidos, mas tanto Amy quanto Marilyn estavam lhe lançando olha-
res invejosos e venenosos. Como ele pudera dizer três? Que diabos teria acontecido com
aquele homem? Estaria ficando louco? Três!
Peggy tinha deixado perfeitamente claro que não queria ser a escolhida. Uma grande
revolta tomou conta de seu coração. Estava decidido: ela não aceitaria o encontro. A
imagem de Gavin fazendo chacotas de seu erro de julgamento era terrível, insuportável.
Droga! Mil vezes droga! Ela não iria mais ganhar o equipamento estéreo.
Talvez fosse possível desistir do encontro e... Não. Quando enviara sua inscrição para
o concurso, concordara em aceitar o resultado da competição, não importando qual
fosse.
"Não foi isso que planejei. Maldição!", dizia ela para si mesma, num misto de ódio e
frustração.
A audiência, no estúdio, aplaudia com entusiasmo, como se a escolha de Adam tivesse
a aprovação de todos. Peggy demonstrava sua decepção acenando com a cabeça.
"Estariam todos loucos? Será que não podiam perceber? Tudo aquilo era um absurdo! E
embaraçoso. Por que Adam teria sido tão perverso a ponto de escolhê-la?", pensou
— Bem, Adam, a sua hora da verdade está próxima — afirmou Ross, provocante. —
Porém, antes que conheça a sua escolhida gostaria que conhecesse as outras duas jo-
vens. A número um é uma dançarina profissional: a srta. Marilyn Merrill. Por favor, srta.
Merrill, queira vir até aqui.
Marilyn aproximou-se de Adam, e os apupos da platéia deixaram bem claro que eles
não se cumprimentaram apenas com um amigável aperto de mão. Peggy sentiu um frio
no estômago. Morreria de vergonha se Adam a beijasse em público.
— Obrigado, srta. Merrill. Tem um pouco de batom nos lábios, Adam — indicou Ross.
— A srta. número dois é uma professora secundária: srta. Amy Wilson. Por favor srta.,
venha até aqui, para que Adam possa conhecê-la também.

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Amy levantou-se, fazendo um gesto de boa sorte para Peggy, e foi ter com Adam. A
reação menos barulhenta da platéia demonstrava que seu contato com Adam não fora
tão íntimo quanto o anterior.
— As srtas. Merril e Wilson levarão, cada uma, um conjunto estéreo, uma coleção
completa dos discos de Adam e duas entradas para o musical Encontro com o Desco-
nhecido. Muito obrigado pela sua participação.
Aquelas palavras de Ross foram a deixa para que, sob o aplauso da platéia, as duas se
retirassem de cena. Peggy desejou que o chão se abrisse e a engolisse. Ela sentia ondas
de arrepio percorrerem-lhe a espinha, a cada instante em que o momento de conhecer
Adam chegava mais perto. A única coisa que servia de consolo era o fato de que sua mãe
ficaria contente com isso.
— E agora, Adam, é a vez de conhecer sua acompanhante para o encontro. Ela é uma
estudante do curso de comunicação do New South Wales Institute of Technology, e está
graduando-se este ano em comunicação Audiovisual: a srta. Peggy Dean!
Peggy levantou-se horrorizada, sentindo os joelhos falsearem. Com um sorriso amarelo
nos lábios, controlou as pernas e caminhou lentamente até o outro lado da divisória. Seu
coração parecia querer saltar do peito.
Ela hesitou, trêmula, quando Adam caminhou em sua direção, com os braços fortes e
longos estendidos. Ele tinha que ser tão bonito assim? Apesar de Peggy não ser muito
baixa, ele era vários centímetros maior do que ela.
Tentando escapar à grande atração magnética que Adam exercia, em uma atitude
instintiva de defesa, Peggy estendeu-lhe a mão, fria e formal, enquanto seus olhos de-
monstravam nítida repulsa.
— Prazer em conhecê-lo, sr. Gale.
— Acho que tomei a decisão correta, srta. Dean — disse ele com um largo sorriso no
rosto, fitando-a com os vívidos olhos azuis.
Peggy sentiu como se um grande jogo houvesse começado com aquele sorriso e, de
imediato, pôs-se a analisar a situação. Ela subestimara a inteligência de Adam. Estava
claro, em seus olhos, que ele sabia que a intenção de Peggy não era ser a vencedora.
Então, por que a escolhera?
— Um belo par, não é, senhoras e senhores? — comentou Ross. — Vamos sentar ali,
perto de Victor, para sabermos mais sobre sua escolhida, Adam.
Sob os aplausos da platéia, o apresentador tomou Peggy pelos braços e a conduziu até
quatro cadeiras dispostas em semicírculo. Victor e Ross sentaram-se ao centro, deixando
Adam e Peggy, virtualmente, frente a frente.
Os olhares cruzaram-se, inevitáveis. Adam mediu-a, lentamente, dos pés à cabeça, ao
que Peggy respondeu da mesma forma, com uma leve expressão de desdém. Quando os
olhares encontraram-se novamente, Adam ria-se da situação engraçada em que se
encontravam, o que arrancou um lindo sorriso de Peggy.
Talvez não fosse tão ruim assim sair com Adam. Não havia dúvidas de que ele era
arrogante, mas o que aparentava ocultar dentro de si despertou o interesse de Peggy.
Ross percebeu a situação e perguntou:
— Você já o tinha visto pessoalmente antes, Peggy?
— Não, só na TV.
— Que tal?
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— Ele é um pouco mais alto do que imaginava.
— E você, Adam, esperava que sua escolhida fosse tão adorável quanto a srta. Dean?
— Sim — respondeu ele.
— Por que você tinha essa impressão? — surpreendeu-se Ross.
— Pelo que sei, a segurança que ela demonstrou ao dar as respostas sempre está
associada a pessoas muito bonitas — E deu uma piscadela para Peggy.
— Foi isso que pensou na hora da escolha? — interessou-se o animador.
— Absolutamente. Eu a escolhi por achar que temos muito em comum.
— Você também acha que têm coisas em comum, Peggy?
— Não sei, mas estou curiosa para saber — Ela fitou Adam, esperando alguma reação.
Todos acharam muita graça. Porém quem mais parecia estar se divertindo era Adam.
Às custas dela? Será que ele achava engraçado tê-la forçado a recebê-lo como prêmio no
lugar do estéreo que tanto queria?
Voltando-se para o astrólogo, o apresentador disse:
— Bem, Victor, o que me diz? Você acertou quanto a escolha de Adam?
— Sim. — E retirou do envelope a papeleta onde tinha escrito o número da escolhida:
três.
Depois que os aplausos diminuíram, Ross indagou:
— Como sabia, Victor?
— Simples. A srta. Dean se apresentou como um desafio que nenhum leonino
recusaria. Não seria de admirar que ela fosse uma arqueira.
— Posso assegurar-lhe que nunca peguei uma flecha e muito menos num arco, sr.
Renshaw — tentou desmentir Peggy. Essa história de desafio e astrologia era ridícula.
— Ele quer dizer sagitariana — esclareceu Victor.
— Não entendi sua colocação, sr. Renshaw — desculpou-se ela. — O sr. tem razão,
sou de Sagitário.
— E como chegou a essa conclusão quanto à srta. Dean, Victor? — O apresentador
estava curioso.
— O tom rebelde de sua primeira resposta, a franqueza da segunda e o senso
humanitário da última são típicos do sagitariano.
Sem perceber que uma descrição pública de Peggy a irritara, Ross pediu-lhe que
dissesse, honestamente, o que sentira ao ser escolhida.
— Frustrada — respondeu, e olhou desafiadora para Adam.
Todos ficaram embaraçados e surpresos, enquanto Adam, achando muita graça, disse,
esportivo:
— Bem, aí estão a honestidade e a rebeldia novamente. Diga-me, srta. Dean, Você se
frustra com muita freqüência?
— Só quando perco, sr. Gale — rebateu ela, percebendo uma pequena alusão sexual
na pergunta.
— Eu não entendo, Peggy — interrompeu Ross. — Entre as centenas de candidatas,
você foi a escolhida de Adam.
Peggy desejou ter contido sua língua. Sua declaração parecia menosprezar o desejo
que várias garotas tinham de passar uma tarde com Adam e essa não fora sua intenção.
Tentando desfazer a situação embaraçosa que causara, Peggy remendou:

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— Honestamente, não esperava vencer, sr. Elliot. Sou uma estudante de poucos
recursos e o meu objetivo era o conjunto de som. Eu adoraria sair com o sr. Gale. Ele é
muito bonito, talentoso e tem um senso de humor muito refinado, mas o aparelho de
som me proporcionaria mais horas agradáveis.
— Mais uma vez, a lógica do arqueiro está presente — interrompeu o astrólogo.
— Será que a nossa "arqueira" acertou-o com uma flecha de cupido, Adam? — brincou
Ross, tentando mudar o clima.
— A srta. Dean me delicia mais a cada momento — disse ele, bem-humorado.— Tanto
que gostaria de oferecer-lhe um equipamento de som como um presente pessoal. Sendo
músico, compreendo perfeitamente o que ela sente.
— Uma atitude generosa, típica do leonino — comentou Victor.
— Infelizmente não posso aceitá-lo, sr. Gale — recusou Peggy.
— Por que não? Eu a privei de seu objetivo.
— As normas do concurso estabelecem que eu ganharia um encontro. Somente isso.
— Não diria somente isso, srta. — objetou Adam, sorrindo. — Não há regras que
impeçam outros encontros.
— Então devo supor que o senhor sente uma pequena atração por mim — disse ela.
Neste momento, Ross olhou para Victor.
— O que temos aqui, Victor? Um encontro amoroso ou um combate?
— São apenas as faíscas naturais do encontro de dois signos do fogo.
— Então isso vai virar um conflito — concluiu Ross.
— Não. Ambos estão se apreciando. A srta. Dean diz o que pensa, enquanto o sr. Gale
se opõe a ela. Pode ter certeza de que ambos se sentem empolgados.
— Ainda bem que isso não é uma briga — aliviou-se Ross, fazendo o auditório rir.
— Eu não estou brigando — inocentou-se Adam.
— E eu estou apenas esclarecendo as coisas — defendeu-se Peggy.
— Nada como pôr tudo em pratos limpos! — completou Adam.
— Já que concorda comigo, se o senhor sabia o que eu queria por que me escolheu,
afinal?
— Lamento pelo seu aparelho de som. Por favor, reconsidere minha oferta.
— Está fugindo da questão, sr. Gale — afirmou Peggy.
— De fato.
E o astrólogo mais uma vez expôs sua opinião:
— Está vendo, Ross? Empatia natural.
— Você quer dizer que este encontro pode, realmente, dar certo para eles?
— Eles são compatíveis.
— Mas eles nem se tratam pelo primeiro nome, Victor. Este comentário de Ross fez
com que um espectador se manifestasse:
— Ande, Adam! Chame a moça de Peggy.
— Você acha que eu sou louco? Ela é uma fera! — respondeu ele, brincando.
— Então chame-o de Adam, Peggy — gritou outro espectador.
Um pequeno alvoroço se formou no auditório, que começou a manifestar-se, tentando
aproximar os dois de maneira insistente. Atendendo à solicitação da platéia, Peggy disse:
— Sr. Gale, o senhor quer que eu o chame de Adam?
— Acho que seria um bom sinal de amizade. Posso atrever-me a chamá-la de Peggy?
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Ela e todo o auditório não contiveram o riso. E o animador continuou o show,
aproveitando a descontração.
— Bem, agora que chegaram a um acordo, o que você planejou para este encontro,
Adam?
— A escolha é de Peggy. É o mínimo que posso fazer pelo desapontamento que lhe
causei. — E sorriu.
— E o que você vai querer, Peggy? — indagou Ross.
— Acho que vou aproveitar a oportunidade e ir a um lugar onde se possa fazer uma
refeição requintada, regada com um bom vinho, e dançar. Você sabe dançar, Adam? —
brincou ela.
— Bem, prometo não pisar nos seus pés.
— No seu musical, Adam, as coisas acontecem como aqui? Quando Billy Prince e
Cindy Jones se encontram é guerra à primeira vista? — disse Ross, bem-humorado.
— Não. No Encontro com o Desconhecido tudo é diferente. Aliás, espero que todos
possam assisti-lo. Ele é muito bonito, tão bonito quanto espero que seja este encontro
para Peggy.
— Senhoras e senhores, como puderam ver, não tivemos nenhuma influência sobre as
reações de ambos. E, como eles parecem de bem agora, nada mais nos resta a fazer a
não ser desejar-lhes uma boa-tarde. Boa sorte, Adam! Boa sorte, Peggy! — concluiu
Ross.
Sob o aplauso do público, o casal saiu de mãos dadas.

— Você está com fome, Peggy?


— Muita!
Sempre sorrindo, Adam continuou a conversa.
— Gostei muito do seu jeito, Peggy.
— Minha opinião a seu respeito também melhorou. Quase morri quando me escolheu.
— Questão de autopreservação. As outras duas iriam me devorar.
— Deve incomodar ser tão sexy assim — brincou ela.
— Você sabe melhor que eu.
Peggy ia responder-lhe, mas achou melhor mudar de assunto.
— Tenho que pegar meu casaco na sala de espera.
— Está bem. Quanto mais cedo sairmos, melhor. Esses lances publicitários me
aborrecem — disse, pegando-lhe o braço.
— Foi você quem concordou com tudo — rebateu ela.
— Outro show... outra garota... qual a diferença? — disse ele cínico.
Peggy parou abruptamente, desvencilhando-se de Adam, fitando-o de maneira hostil.
— Eu sabia que você era esse tipo de homem! Só que eu não sou o tipo de mulher que
imagina — disse, indignada. — No que me diz respeito, nosso encontro acabou aqui, sr.
Gale. O senhor pode ir para o inferno!
O assombro de Adam a fez sentir-se triunfante, mas antes que pudesse chegar à
porta, foi presa por dois braços.
— Quem você pensa que é, afinal? — perguntou Adam, com o orgulho ferido.
— Sou uma mulher diferente daquelas com que costuma sair! Tire as mãos de mim —
replicou, tentando livrar-se.
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— Sei muito bem onde gostaria que pusesse minhas mãos! Você é irracional, sabia? —
disse ele, furioso.
— Seu machista arrogante! — E, livrando um dos braços, deu-lhe uma bofetada.
A atitude inesperada de Peggy libertou-a totalmente. Quando entrou furiosa na sala de
espera, bateu a porta.
Maldito! Nunca em sua vida ela se descontrolara a ponto de agredir alguém. Mas o
insulto sofrido fora mesmo sério. No fundo, não fora apenas raiva que levara a partir
para a agressão. Jamais em sua vida havia ficado tão perturbada com a presença de um
homem quanto naquele instante. A companhia de Adam estava ficando tão agradável que
o equipamento de som já tinha passado para segundo plano. Era mesmo uma tonta por
ter se deixado enganar por sua beleza e fala macia!
Para Adam, ela certamente não passava de uma outra mulher, de uma outra
companhia para preencher algumas horas de prazer e diversão. Mas ele conseguira
afetá-la a tal ponto que estava trêmula e abalada como qualquer uma das outras
concorrentes do concurso.
Ela não costumava beber, mas seus nervos pediam um pouco de álcool para relaxar.
Servindo-se de um pouco de vodca, Peggy lembrou-se de Marilyn, que não teria se
importado em ser mais uma na enorme lista de Adam.
De repente, a porta abriu-se e o olhar sério de Adam encontrou o seu. O orgulho de
Peggy a fez assumir uma pose impertigada. Pelo menos aquele sorriso traiçoeiro ha via
desaparecido do rosto dele. Ela achava que havia pos to um ponto final em tudo, mas
sentia um peso no coração que perturbava. Por que Adam não partia, deixando-a em
paz? Ela não queria mais nada com um homem daqueles

CAPÍTULO IV

Adam entrou na sala e perguntou, pesaroso:


— A bofetada compensou a ofensa?
O tom suave de sua voz desarmou Peggy por uns instantes. Mas depois lembrou-se de
que aquelas palavras não representavam nenhuma mudança na sua forma de pensar ou
na sua atitude.
— Não. Não compensou — respondeu fria. — Sinto muito tê-lo agredido. Você devia ter
me impedido. Sou totalmente contra qualquer tipo de violência e sinto vergonha por ter
apelado. Desculpe-me, por favor.
— Hei! Era eu quem deveria dizer isso — afirmou, Adam irônico.
A expressão séria de Peggy quase foi suavizada por um sorriso. O que Victor Renshaw
dissera mesmo? Empatia natural... comunicação rápida e fácil... Mas, por mais que
Adam fosse atraente, ela não seria seduzida pelo charme de um colecionador de
mulheres.
— Você está se desculpando pelo insulto ou pelo ferimento? — perguntou cética.
— Eu a machuquei? — Adam assustou-se.

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Peggy respirou fundo e colocou o copo sobre a mesa. De qualquer forma, não
precisava mesmo daquilo. Sentia-se mais aliviada agora, sem o menor sinal de
descontrole. Ao passar por Adam em direção à poltrona, onde estavam seu casaco e sua
bolsa, respondeu:
— Creio que meu orgulho foi mais afetado do que qualquer outra coisa, mas não
precisa se alarmar com isso. Eu sobreviverei.
Adam manteve-se em silêncio enquanto ela começava a vestir o casaco. E aproximou-
se sem ruídos por trás dela, assustando-a quando segurou o casaco para ajudá-la a
vesti-lo.
— Obrigada — disse, ela sem jeito.
Peggy não entendia aquela reação. "Que diabos estaria acontecendo? Não tinha
acontecido nada de mais para que corasse e sentisse aquele frio no estômago! Não, não
poderia ser a proximidade de Adam. Na certa era a perturbação causada pela bofetada,
mas “perturbação dá arrepios na espinha?", refletiu.
— Peggy, você vai perdoar minha grosseria?
A suavidade de sua voz acariciou-lhe os ouvidos, seduzindo-a de tal forma que ela
seria capaz de dar-lhe qualquer coisa que pedisse. Peggy sentiu-se chocada, tão chocada
que precisou contar vagarosamente até dez. Então ele tinha uma voz sensual. Um corpo
sensual. Tudo nele era sensual! E daí? Iria desistir de seus princípios e ser desonesta só
porque Adam era dotado de um forte magnetismo pessoal que a atraía? Ela tomou
coragem e voltou-se.
Droga! Ele tinha que ser tão bonito? Era extremamente difícil resistir àqueles olhos
azuis, que pareciam hipnotizá-la, enviando-lhe impressões positivas.
Peggy respirou fundo e endireitou o corpo, esforçando-se ao máximo para manter uma
postura firme e neutra.
— Aceito suas desculpas, mas creio que você não teria dito o que disse se não
pensasse com tanta leviandade em relação às mulheres. Para você não passamos de
máscaras femininas sem expressão.
— Bem, sua forma de expressão me deixou impressionado. Tanto que não creio que
alguém possa esquecê-la em menos de dois dias depois do primeiro encontro — disse ele,
levando a mão à face esbofeteada.
Peggy sorriu.
— Talvez mudasse sua opinião quanto às garotas se elas o impressionassem assim
mais vezes.
— Ainda gostaria que almoçasse comigo — convidou ele, charmoso.
— Por que não? Minha fome ainda não passou — confessou Peggy.
"Um almoço grátis era um almoço grátis", dizia a si mesma, enquanto Adam a
conduzia pelo braço para fora do estúdio. Ela não estaria, de fato, comprometendo seus
princípios só por almoçar com ele. Desde que fosse tratada com o devido respeito...
Não seria justo de sua parte julgá-lo antes de conhecê-lo um pouco melhor. Um
homem na posição de Adam, com toda a certeza atraía dezenas de garotas como Marilyn.
De tudo o quanto pudera observar do comportamento sexual masculino, os homens
não pareciam ser capazes de diferenciar seu modo de agir em relação às mulheres.
Gavin, por exemplo, mantinha relações com várias garotas, sem o menor envolvimento

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emotivo. E se ela era capaz de ser amigável com ele, não havia razões que a impedissem
de agir da mesma forma com Adam.
Eles foram em silêncio até a garagem, onde para espanto de Peggy, Adam parou em
frente a um Range Rover e começou a procurar pelas chaves nos bolsos.
— Por que essa cara? — perguntou ele, abrindo o jipe. — Já sei. Você imaginava que
eu tivesse um carrão super-luxuoso.
O carro de Adam era um modelo convencional, sem nada de especial que o
identificasse como sendo de um astro famoso. Até um pequeno amassado recente na
porta servia para torná-lo ainda mais comum.
Desmanchando a expressão de surpresa, Peggy comentou, um pouco sem graça:
— Detesto desapontá-lo, mas nunca pensei em você o suficiente para imaginar que
carro tinha.
— Realmente não sou nada para você, não é? — observou ele, rindo.
— Não diria isso. Você é um ótimo cantor — afirmou Peggy.
— Obrigado!
Ele abriu-lhe a porta do passageiro, ajudando-a a entrar e Peggy ficou feliz por não
estar usando uma saia muito curta, que lhe exibisse as pernas bem-feitas. Percebendo
que não tinha sido muito amistosa no caminho até o carro, continuou a conversa,
procurando demonstrar que não guardava ressentimentos.
— Devo lhe dizer que não acho graça em fantasiar sobre gente famosa como você.
Pessoalmente, creio que você também não goste disso.
Confortavelmente sentada, ela se voltou para Adam, deparando com o rosto dele muito
perto do seu. Mas ele só tinha se aproximado para ajustar o cinto de segurança.
— Eu acharia muito estranho se você precisasse desse tipo de fantasia. Uma garota
como você pode ter tantos homens quanto queira. — E depois que acabou de apertar o
cinto, voltou-se para ela. — Agora que está segura, tenho de mostrar-lhe o que realmente
sou...
Peggy foi surpreendida por um beijo. O contato dos lábios foi tão doce que impediu
qualquer rejeição, fazendo-a descobrir que nunca tinha sido beijada de verdade até
aquele momento. Nenhum dos homens com os quais costumava sair havia conseguido
fazer o seu sangue ferver nas veias como Adam. Por isso, já estava imaginando os outros
tipos de mágicas que ele era capaz de fazer.
Tocando-lhe o rosto, Adam explorava seus lábios sem a menor pressa ou exigência de
ser correspondido. Era uma carícia tentadora e irresistível que mexia com todos os seus
sentidos, excitando-a, seduzindo-a aos poucos, derrubando vagarosamente suas defesas,
conduzindo-a inconscientemente a reagir da única maneira possível: corresponder.
Após alguns instantes, Adam interrompeu o beijo e, fitando-a com os olhos
expressivos, murmurou:
— Mais real agora?
— Quando me convidou para almoçar, não me disse que eu seria o prato principal —
replicou ela com vivacidade. A presunção de Adam fizera com que voltasse a si.
Ele sorriu. De volta a seu assento, após ter travado as duas portas, perguntou:
— Você gosta de peixe? Sei de um lugar aqui perto que faz um ótimo peixe. Não é
muito sofisticado nem extravagante, mas é muito acolhedor e tranqüilo.
— Parece bom! — respondeu ela, tentando esconder a perturbação.
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Observou-o atentamente, enquanto se dirigiam para o restaurante. Era certo que ele a
atraia e sabia beijar e, como era mais velho que seus ex-pretendentes, tinha mais
experiência. Fosse o que fosse que ela estivesse sentindo por ele, sem dúvida alguma era
uma nova experiência e um pouco de cuidado não seria demais.
— É bom preveni-lo que, se pensa em mim como a sobremesa, vai ficar com fome —
advertiu.
— Corrija-me se estiver errado, mas tive a nítida impressão de que gostou de
minha...hum... iniciativa — comentou ele, arrogante.
— Gostei — admitiu. — Nunca fui beijada assim antes, mas uma vez é o bastante.
Prefiro beijos com mais afeição.
— Minha afeição por você é muito grande, sabia? — maliciou Adam.
O coração de Peggy disparou, como se fosse saltar fora de seu peito. Numa atitude
instintiva de defesa, desviou rapidamente o olhar do rosto de Adam e, muito fria, disse:
— Você paquera todas as garotas que conhece?
— Você paquera todos os rapazes que conhece? — rebateu ele.
— Não costumo ficar flertando por ai. — Afirmou, desdenhosa.
— Nem eu — disse Adam, subindo em uma calçada rebaixada e entrando com o Range
Rover num estacionamento. Manobrou o veículo com muita habilidade e, puxando o
breque de mão, voltou-se para Peggy com um sorriso insinuante. — E estou achando
você muito interessante também.
Adam não deu a menor chance para ela dar uma boa réplica àquele comentário. Com
ares de vencedor por ter dito a última palavra, ele saiu do carro, trancou a porta e
contornou o veículo a fim de abrir a porta para Peggy.
Aquela atitude de Adam e o seu olhar de superioridade eram uma provocação que
Peggy não podia deixar sem resposta: antes que ele pudesse ajudá-la, soltou o cinto de
segurança e saiu sozinha do carro.
— Poderia comer um cavalo!
— Peixe — corrigiu ele.
— Pode ser cavalo-marinho então — brincou ela. Não estava certa de que era só a
fome que lhe causava aquela sensação estranha no estômago.
O restaurante era o lugar mais despretencioso que Peggy já vira. Nenhum centavo fora
gasto para melhorar a decoração do ambiente. O local tinha o mesmo tipo de instalações
da época de sua inauguração, provavelmente antes de Peggy nascer: uma dúzia de mesas
quadradas com cadeiras de palha, ventiladores enormes presos ao teto, um balcão de
metal com algumas cadeiras giratórias enfileiradas. Para finalizar, quadros de antigos
jogadores nas paredes.
Apesar de ser quase duas horas da tarde, a casa estava lotada e só havia uma mesa
vaga ao lado da porta da cozinha. Sem outra opção, sentaram-se e foram logo atendidos.
— Desculpe... Se tivesse avisado que viria... — disse o dono.
— Tudo bem, Harry! Contanto que possamos comer. O que você recomenda?
— O especial da casa está ótimo.
— Está bem. O especial da casa então e vinho.
— É pra já! — E retirou-se para a cozinha, deixando-os a sós.
Peggy estava admirada por Adam tê-la levado a um lugar daqueles, mas, a julgar pela
liberdade que tinha com o dono, ele ia lá com uma certa regularidade.
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Peggy percorreu o olhar pelo salão, notando que até mesmo a pintura das paredes era
velha, como mostrava a cor fraca e os descascados de algumas partes.
De repente, outra surpresa. Dois conhecidos jornalistas da TV passaram por eles.
— Como vê, Peggy, não é sofisticado, mas muita gente famosa vem aqui. A comida é
boa, além de ser bem perto dos estúdios — contou Adam. — O Harry chama todos os
fregueses de xará sem nenhuma atenção especial por serem conhecidos.
— Você não liga que ele o chame de xará? — perguntou, curiosa.
— O que você acha?
Peggy percebeu, então, o que o levara a recusar Marilyn e Amy, e a querer o encontro
mesmo depois de ser esbofeteado: o estrelato não lhe subira à cabeça.
— Você se arrepende de ser um astro?
— Arrependimentos são perda de tempo. Há vantagens e desvantagens como em tudo
o que se faz.
— O que você gosta mais de fazer?
Os olhos de Adam brilharam com malícia por alguns instantes e, num tom que não
merecia muito crédito, ele afirmou:
— Compor.
— Não é de apresentar-se?
— Toda aquela bajulação em massa? Hummm...
— Se você não gosta disso, por que faz shows?
— É uma forma mais atuante de comunicação. Mas não é isso o que você estuda,
comunicação?
Peggy ficou surpresa por ele ter se lembrado. Realmente, shows, vídeos e filmes
causavam mais impacto que discos.
Harry voltou da cozinha com uma garrafa de vinho, taças e um cesto com fatias de
pão, além de uma vasilha com salada, e pediu, antes de se retirar:
— Só mais alguns minutos.
Adam serviu vinho aos dois e, notando que Peggy ficara muito espantada com os
modos pouco amáveis de Harry, explicou:
— Ele disse isso só para que você tivesse tempo de passar manteiga no pão e saboreá-
lo. O pão vem fresquinho da padaria aí da esquina e é muito gostoso. — E comeu uma
fatia.
Seguindo-lhe o exemplo, ela pegou uma fatia do pão de casca crocante com miolo
macio, ainda quente, e passou manteiga. Adam, que já estava repetindo a entrada, olhou
para Peggy e disse:
— Eu adoro isso! Nada como um pão quentinho com manteiga!
— Exceto peixe fresco — brincou ela.
— Disso eu também gosto... Sou humano, sabia?
— Estou começando a acreditar nisso — disse ela, sorrindo.
Adam tomou outro gole de vinho e, com uma expressão maliciosa nos olhos, afirmou
provocante:
— Ficarei feliz em fornecer mais evidências disso assim que você queira.
— Dá para perceber que você tem um apetite grande, mas eu sou muito cuidadosa
com o que quero. Uma garota, na minha posição, deve pesar bem as conseqüências de
suas atitudes.
22
— Você calculou bem quando recusou o presente que eu quis lhe dar?
— Prefiro viver a meu modo. Por isso, aceitar presentes de você estava tão fora dos
meus planos quanto estarmos aqui agora.
— Depois de comermos, iremos a uma loja comprar o seu conjunto de som.
Peggy não gostou da idéia. Mesmo querendo o equipamento, seu orgulho não
permitiria que aceitasse. Por outro lado, queria continuar mais tempo na companhia
daquele homem desafiador e fascinante. Ele mexia com seus sentimentos de maneira tão
curiosa que ela queria saber mais sobre as estranhas sensações que estava
experimentando.
— Peggy, eu lhe devo isso. — E continuou com determinação: — Afinal, você deixou de
receber o prêmio que queria só porque eu quis evitar uma daquelas caçadoras de
autógrafos. É uma questão de honestidade.
O ponto de vista dele era razoável e por certo ela teria ganhado o equipamento se
Adam não fosse gozador o suficiente para escolher uma garota rebelde para o seu
encontro.
— É... parece justo — concordou ela, com o orgulho vencido pelos argumentos do
cantor.
Adam sorriu satisfeito, fazendo com que Peggy se retraísse, imaginando se devia ter
mesmo cedido à vontade dele. Não queria assumir nenhuma obrigação só porque não
resistira e aceitara o presente. Se ele tentasse tirar proveito disso, ela trataria de tirar
essa idéia de sua cabeça imediatamente.
Os pensamentos de Peggy foram cortados pelo aroma do molho apimentado da comida
que Harry trazia, distribuindo as travessas sobre a mesa. Sorrindo, ela agradeceu:
— Obrigada.
— Vocês vão gostar — respondeu ele, sorrindo também. Assim que Harry afastou-se,
Adam comentou:
— O poder da beleza feminina! Basta um sorriso e até o Harry deixa de ser
carrancudo.
— Só estava sendo educada — rebateu ela irritada. — Eu não costumo tirar proveito
da minha condição de mulher. Não me julgue precipitadamente, sr. Gale.
— Todos tiram proveito de suas vantagens. Você não esperava que eu devolvesse o
tapa. E sabe por quê? Justamente porque é mulher!
Sem uma resposta pronta, Peggy achou melhor experimentar o peixe e descobrir se o
sabor era igual ao aroma.
Peggy admitia que as palavras de Adam tinham certa veracidade mas, para ela, havia
uma grande diferença entre alguém explorar o próprio charme da maneira que ele fazia e
uma reação inconsciente, tipicamente feminina, como fora a sua. Partindo um pedaço de
peixe, ela mergulhou no molho e provou. Estava uma delícia. Literalmente desmanchava
na boca.
— O que me diz? — indagou Adam.
— Ótimo! E o seu?
— Delicioso! Experimente as batatas.
— Depois. Obrigada.
Peggy concentrou-se tanto apreciando o prato que Adam só começou a conversar
quando já estavam terminando.
23
— Você disse que luta com dificuldades, mas essa roupa não combina com a imagem
que eu faço de uma estudante de poucos recursos.
— O casaco e as botas foram presentes. A blusa e a saia fui eu mesma que fiz. Sou
uma ótima costureira — disse sorrindo. — Esta é a minha melhor roupa e fico feliz em
saber que gostou. Como meus pais não perdem o Ross Elliot Show. Eu queria fazer uma
boa figura.
— Você vive com eles?
— Não. Eles moram em Wyong, há algumas horas daqui, enquanto eu, numa quitinete
em Neutral Bay.
— Sozinha?
— É.
— Não seria mais econômico dividir as despesas com alguém?
Peggy serviu-se de um pouco de batatas enquanto refletia sobre a resposta que daria à
pergunta de Adam. Tinha a impressão de que ele estava um tanto curioso sobre sua
situação financeira, mas, como não tinha nada a esconder, respondeu francamente:
— Sou filha única. Meus pais são aposentados, vivem de suas pensões que não
permitem gastos muito elevados. Por isso tenho meus estudos custeados por uma bolsa
de estudos do governo e consigo um dinheiro para despesas extras trabalhando como
garçonete aos domingos. Prefiro fazer isso a dividir meu apartamento com alguém. Gosto
de ter meu próprio espaço. Acho que é por ser filha única. Satisfeito?
— Uma garota independente, heim? — brincou Adam.
— Sou. Além disso, sou também muito boa em qualquer tipo de competição, entro em
todos os concursos. Foi assim que consegui quase tudo que possuo.
— Humm... Inteligente também!
— E é por isso que, apesar de não ser do tipo que corre atrás de artistas famosos,
estou aqui! — acrescentou ela. — Mas agora é a sua vez de falar um pouco a respeito de
você e de sua vida!
— Você já não sabe tudo que sai nas revistas? — perguntou ele, com ironia.
Fitando-o nos olhos, Peggy sentiu-se um tanto culpada por ter feito o seu julgamento
baseado apenas nas fofocas que costumavam ser publicadas.
— Você tem parentes, Adam? — insistiu ela. Surpreso com a pergunta, ele demorou
um pouco para responder.
— Meu pai e meus dois irmãos mais velhos são médicos cirurgiões, em Melbourn.
Minha mãe fugiu de casa com um músico quando eu tinha apenas dois anos. Não preci-
so dizer que meu pai foi totalmente contra quando abandonei a educação acadêmica que
ele planejou para ser artista. Como pode ver, também sei o que é precisar se arranjar
sozinho, querer comprar algo sem poder.
Enquanto ele falava, Peggy ia formando em sua mente uma nova imagem de Adam,
passando a respeitá-lo como um homem rebelde, que lutara pela carreira, procurando
sucesso e auto-afirmação, apesar da rejeição e das pressões do pai.
— O seu sucesso ajudou na reconciliação com seu pai? — indagou, mesmo sabendo
que a pergunta era delicada.
— Nunca fui um sucesso para meu pai. Para ele, sucesso é operar, remendar as
pessoas dando-lhes nova vida. A música é apenas uma distração supérflua.

24
Obviamente Peggy não concordava com o pai de Adam. A música em sua opinião,
assim como qualquer outra forma de entretenimento, era tão importante para a saúde
das pessoas como a medicina.
— Lamento muito! Isso deve magoá-lo bastante — disse, mostrando sua simpatia.
— Agora já não é mais importante. A opinião das pessoas a meu respeito não me afeta.
Sou o que sou e só faço o que gosto.
— Esse musical é muito importante para você?
Adam abriu um sorriso amigável e confessou:
— Sim. Tanto que seria capaz de vender minha alma na sua promoção. E é por isso
que estamos hoje aqui, Peggy.
— Se depender de mim, você não precisa vender sua alma, Adam; um conjunto de
som é o suficiente — afirmou, consciente das implicações de suas palavras. — Sabe, fi-
quei curiosa em ouvir as outras canções do Encontro com o Desconhecido.
— As fitas estarão à venda na semana que vem, mas, se quiser, eu tenho uma no
carro que podemos escutar.
— Ótimo! Eu adoro as músicas da Jenny Ross... e as suas também — completou.
— Jenny vai gostar de saber que tem uma fã como você. Ela é maravilhosa! Tem sido
muito bom trabalhar com ela.
— Diga-me, como é o trabalho de vocês juntos? Como compõem as canções?
— Isso pode levar horas. Provavelmente você teria de passar a tarde comigo — disse
ele com um sorriso provocante nos lábios.
Ela deu a única resposta que o momento permitia:
— Seria muito agradável. Eu gostaria muito. Adam fitou-a por alguns instantes antes
de dizer com muito calor na voz:
— Eu também adoraria.
Peggy sentia o estranho desejo de mergulhar e perder-se para sempre nas profundezas
daqueles olhos tão azuis, que faziam-na sentir como se não fosse mais dona de si
mesma, mas parte de Adam. Esta sensação de entrega abalava as estruturas da sua
independência. Mas tudo era insignificante ante o irresistível desejo de estar com aquele
homem, compartilhando com ele de tudo o que quisesse.

CAPÍTULO V

Bem, estava feito! Por mais que Peggy tivesse tentado dissuadir Adam de fazer a
compra, ele ignorou seus protestos com a desculpa de que não tocaria a fita de seu
musical num aparelho de som de qualidade inferior. Portanto, o porta-malas do Range
Rover, que agora se dirigia a Neutral Bay, carregava um equipamento de som muito mais
caro e sofisticado do que o prêmio de consolação oferecido pelo concurso do Ross Elliot
Show. Peggy fora obrigada a aceitar o presente luxuoso.
— Feliz? — Adam quis saber.
— Sim. Obrigada.

25
Seria inútil negar sua felicidade. Peggy sorria para ele, pensando nas horas agradáveis
que passariam juntos ouvindo música e conversando. Tudo o que tinha a dizer aquele
homem, que a cada minuto tornava-se mais atraente e interessante, despertava sua
curiosidade.
A caminho do apartamento de Peggy, Adam descrevia o seu próprio equipamento de
som e os inúmeros instrumentos que tocava: piano, bateria, guitarra, baixo e sinte-
tizador, que era o seu favorito pelos efeitos orquestrais que podia produzir. A música
parecia dominar toda a vida dele.
— E você pratica algum esporte, Adam?
— Às vezes uma partida ou outra de squash, um pouco de natação e dança. Dançar
nos musicais é um ótimo exercício para manter a forma.
— Eu sempre quis aprender a dançar quando criança.
— Mas ainda há tempo, por que não tenta?
— Falta de dinheiro. Talvez no ano que vem.
Adam franziu a testa, deixando-a aborrecida consigo mesma por ter lançado um
comentário sobre sua situação econômica. O dinheiro que ele gastara na compra do som
tornara evidente o desnível econômico entre os dois, e pela primeira vez Peggy
envergonhava-se de sua condição financeira.
— Espero já ter encontrado um bom emprego até lá — corrigiu.
— O que você pretende ser? Jornalista?
— Não. Estou me especializando em comunicação audiovisual. Eu quero trabalhar na
TV.
— Noticiário? Documentário? Diversão?
— Tanto faz. O importante é comunicar da maneira mais ampla possível.
— Hum... É muito desafiador! — murmurou Adam.
O comentário agradou Peggy. O olhar caloroso dele demonstrava que a compreendia, o
que lhe trouxe uma enorme sensação de bem estar. Ela percebeu uma afinidade entre os
dois que nunca imaginara existir. Começava a entender suas reações físicas: era o
instinto tomando a frente da razão.
Adam estacionou o carro diante da entrada do prédio e retirou uma das duas
embalagens do equipamento do porta-malas.
— Depois eu pego a outra caixa. Por favor, apanhe esta sacola para mim.
— O que é isso?
— Uma muda de roupa. Você não se importa que eu fique mais à vontade, não é?
— De modo algum! — respondeu ela ao subirem a escada.
— Você também deveria vestir algo mais confortável — sugeriu Adam, fitando-a com
uma expressão provocante.
— No meu guarda-roupa não há roupas glamourosas e meu apartamento não está
preparado para recepções formais nem para encontros elegantes. Portanto, não alimente
muita esperança.
— Estou desapontado... — brincou com meiguice. — Seus cabelos, com todos esses
cachos, me lembram uma cortesã famosa do passado! Será que você não deu umas
voltas com Luís XV? — caçoou.

26
Uma cortesã! Se ele soubesse que ainda era virgem, provavelmente ficaria surpreso.
Ela podia até imaginar sua expressão de espanto se por acaso descobrisse. No mundo
dos shows, virgens deviam ser mesmo uma raridade.
Peggy abriu a porta e eles entraram. Adam colocou a caixa sobre a mesa, passeou o
olhar pela sala, elogiando:
— O toque especial da srta. Dean!
Peggy sentiu-se lisonjeada pelo comentário. Aquele apartamento era seu lar longe de
casa; ela fizera de tudo para torná-lo bem aconchegante, apesar da simplicidade dos mó-
veis de carregação. Meio sem jeito, estendeu-lhe a sacola.
— O banheiro é atrás do quarto. Que tal um cafezinho?
— Ótimo!
Peggy ocupou-se de tarefas sem importância enquanto Adam se trocava. O simples
fato de saber que aquele homem forte e atlético estava se despindo no cômodo ao lado a
deixava corada.
Em poucos instantes ele estava de volta, usando um agasalho esportivo que o tornava
ainda mais bonito.
— Vou buscar a outra caixa, Peggy. Volto já!
Adam saiu, sem perceber o olhar apreciativo de Peggy.
Ela balançou a cabeça, tentando voltar à realidade. Quando conseguiu colocar seus
pensamentos em ordem, achou melhor trocar-se também. Aproveitando a breve ausência
de Adam, foi ao quarto e começou a despir-se. Estava ainda vestindo a calça quando ele
voltou.
— Peggy?...
— Espere aí!
Abriu o guarda-roupa para pegar um roupão felpudo que costumava usar em casa,
mas logo percebeu que não era muito adequado para o momento. Jogou-o então na cama
e abriu uma gaveta da cômoda procurando algo melhor. Logo descobriu um suéter
amarelo de tricô feito por sua mãe. Quando o vestiu, percebeu que o bico de seus seios
marcavam a malha. Agitada, tirou-a e pegou o primeiro sutiã que encontrou.
— Você não precisa disso — afirmou uma voz atrás dela.
Voltando-se, Peggy deparou com Adam caminhando em sua direção, com um sorriso
maroto e o olhar ardente, fazendo-a sentir um nó na garganta. Instintivamente, cobriu os
seios com o suéter.
— Eu não entrei quando você estava se trocando — protestou ela.
— Lamento não ser tão tentador quanto você.
O coração de Peggy quase parou de bater quando Adam chegou mais perto, abaixando
lentamente o suéter.
— Seus seios são bonitos demais para ser escondidos.
— Pare! O que pensa que está fazendo? — gritou Peggy.
— Ora, Peggy... — As intenções dele eram óbvias.
— O seu presente não me compra, sr. Gale! — protestou ela.
A doçura e o desejo nos olhos de Adam transformaram-se imediatamente.
— Jamais precisei comprar uma mulher, srta. Dean! Você me enganou direitinho.
Talvez fosse melhor reavaliar seu orgulho tolo. Faça bom proveito do seu som!
— Adam! Espere!
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O apelo de Peggy fez com que Adam parasse à porta e se voltasse. Sem perceber que
estava já no corredor do prédio, seminua, correu até ele, ainda segurando o suéter junto
ao peito.
Adam aproximou-se. Os olhares cruzaram-se.
— Desculpe-me. Não quero que vá, Adam. Eu... eu não esperava... não costumo...
— Que jogo é esse que está fazendo, Peggy? Quais as regras? Para mim é muito claro:
nós dois nos queremos!
Adam estava certo: ela o queria. Mas nunca tinha compartilhado sua cama com um
homem, e não estava muito segura de si mesma.
— Eu só o conheço há algumas horas — argumentou sem convicção.
— Relaxe. Despida desse jeito vai ficar doente. É melhor vestir-se e entrar — sugeriu
ele.
De volta ao apartamento, acariciando-lhe o rosto, Adam disse:
— Sabe de uma coisa, você fica muito sexy usando o suéter assim, sem sutiã. Faça-me
um favor: fique como está — pediu carinhosamente. — Cadê o cafezinho que você
prometeu fazer?
— Sai num instante!
Os olhos azuis de Adam observaram Peggy com carinho, enquanto seus dedos
deslizavam suavemente pelos cabelos cacheados.
— Quero que saiba que não a julgo uma garota leviana, que vai para cama com
qualquer um. E, por estranho que pareça, não divido minha intimidade com alguém que
não seja especial como você. Creio que posso esperar até que se sinta mais à vontade.
À vontade? Será que ela poderia ficar à vontade quanto a isso?
— Quero o meu café puro com pouco açúcar, Peggy — disse, enquanto abria as caixas
para começar instalar o som.
— Está bem.
Ela foi para a cozinha, fazer café, com a mente tumultuada pelos pensamentos
confusos. Havia esperado anos por um homem assim. Agora que ele surgira em sua vida,
iria jogar fora aquela oportunidade? Ela não queria saber como era o sexo? Ali estava a
situação perfeita! Só que queria algo mais do que isso... Não só físico. Gostaria que fosse
especial... para ela e para ele.
"Acorde, menina! Onde está sua lógica? Tudo não passa de um jogo, cuja finalidade é
levar um homem e uma mulher para cama. Deixe de ser tola e aproveite sua sorte!",
ordenou a si mesma.
Ao voltar com as xícaras de café, Peggy encontrou Adam terminando de ligar os
últimos fios, orientado pelo manual de instruções.
— Acho que está perfeito — disse, sorrindo e erguendo-se. Olhou as paredes em volta,
cheias de quadros, e comentou: — Vejo que gosta de Arte.
— Sim. Pena que só tenha cópias nas paredes.
— Você conhece os trabalhos de Cass Fleming e Tony Knigth?
— Sim. São lindos! Você os conhece pessoalmente?
— Foram eles que desenharam os cenários do espetáculo. A Cass caprichou nas cores
das cenas do mundo pop e o Tony foi perfeito em captar o clima romântico de amor entre
Billy Prince e Cindy Jones.
— Você é romântico, Adam?
28
— Acho que precisamos sonhar um pouco para conseguirmos suportar essa sociedade
louca em que vivemos.
Mesmo notando que ele estava dizendo exatamente a mesma coisa que ela própria
tinha afirmado algumas horas atrás, Peggy não pôde deixar de sentir-se desapontada
com a resposta que recebeu.
— Você me faz lembrar a Cass — disse ele, sorrindo.
— De que forma?
— Ela tem o seu gênio. Tony também. Eles viviam discutindo um com o outro antes de
se casarem, mas hoje em dia formam um casal muito harmonioso.
— Jenny Ross também é casada?
— É casada com o irmão de Tony, Robert. Como você está mais ou menos
familiarizada com o mundo da TV, acho que já ouviu falar dele: Robert Knight.
— Sim, claro! Ele é um gênio!
— Ele dirigiu o último espetáculo que fiz para a TV. Robert e Jenny foram de grande
ajuda no desenvolvimento da idéia do Encontro com o Desconhecido.
— Ele é o diretor do seu musical, não é?
— Sim — disse Adam com entusiasmo. — Ele, Jenny, Cass, Tony e eu até que
formamos um bom time. Cada um de nós pôs a sua contribuição pessoal no musical.
Mas, para ser franco, devo dizer que a melhor contribuição foi a que deram Robert e
Jenny, por causa do grande amor que sentem um pelo outro.
— Como é Jenny?
Peggy estava curiosa e Adam parecia muito à vontade falando de seus amigos. No
entanto nesse instante ele se dedicava a pôr uma das caixas acústicas sobre a estante e
não respondeu.
— Ajude-me com o fio, por favor, Peggy.
Ela fez o que ele pediu, mas continuou insistindo:
— Fale-me sobre Jenny, Adam.
— Bem, ela é uma pessoa meiga e modesta. Não é muito alta. Cabelos castanhos.
Tudo nela é natural. Jenny tem um rosto muito expressivo, que reluz como... — fez uma
pausa, procurando a palavra certa. — É difícil descrevê-la, mas, se pudesse vê-la
cantando uma de sua canções você entenderia o que quero dizer.
— Não sabia que ela também cantava.
— Não em público. Jenny tem uma voz muito suave, mas sem potência para ser
comercializada. Além do mais, só gosta de cantar para parentes e amigos.
— Mas você gosta de se apresentar em público, não é?
— É verdade. O que mais gosto de fazer na vida é cantar. Posso parecer convencido,
mas ninguém interpreta uma canção minha como eu mesmo.
— Você tem razão, Adam — disse ela, sorrindo.
— Não acredito no que estou ouvindo! — brincou ele arregalando os olhos.
— Acho você o melhor de todos!
— Vindo de você, isso é uma homenagem, Peggy! Você está melhorando! — disse
Adam, tomando-a nos braços.
— Ora, eu reconheço apenas que são poucos os astros que dispensam os recursos
eletrônicos para fazerem sucesso. E você sozinho já é muito elétrico — completou
sorrindo.
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— E você é a bateria de que preciso para me recarregar.
Os lábios masculinos tocaram os dela, paralisando-a como que por magia. Uma magia
que lentamente ia se apoderando de seus sentidos, de sua mente, e que ela queria
experimentar em plenitude. As mãos de Adam pressionavam o seu corpo sensualmente,
levando-a a perder o controle sobre suas reações, deixando-a cada segundo mais
excitada.
Peggy notou que estava sendo subjugada e seduzida pela masculinidade de Adam,
mas o prazer que experimentava fez com que correspondesse com um beijo ardente e
profundo. As carícias cada vez mais exigentes enfraqueciam suas últimas resistências,
fazendo com que seu desejo crescesse de forma incontrolável.
— Não podemos esperar mais — sussurrou ele, conduzindo-a para o quarto.
Deixando de lado seus temores, Peggy entregou-se às sensações de seu corpo à
medida que ia sendo despida por Adam. Quando ele começou a tirar as próprias roupas,
ficou por alguns instantes temerosa de sofrer. Seus receios porém, não duraram muito.
Adam a levou para a cama e deitou-se a seu lado, bem juntinho, afagando carinhosa-
mente seus cabelos enquanto a beijava com ternura.
Levados pelo encanto do momento, eles se acariciaram sem limites, sem encontrar
barreiras que os impedissem de expressar livremente seus sentimentos.
Peggy, frágil e inexperiente, rendia-se à sedução delirante da pressão do corpo forte e
másculo de Adam sobre o seu, um pouco tensa pelo momento delicado que se aproxima-
va. Mas quando tudo terminou e ele a olhou nos olhos, sua expressão era de ódio.
— Ah, não! Essa não! — gritou Adam rouco.
Para surpresa de Peggy, ele afastou-se abruptamente, balançando a cabeça de um
lado para o outro.
— Sua vagabunda! Maldita vagabunda! Apressado, ele vestiu as roupas com
movimentos bruscos e lançou um olhar amargurado para Peggy.
— Você ainda estava intacta, sua calculista! Seu jogo acabou. Já vi esta história antes.
Não vou permitir que me acuse de tê-la violentado.
Aquelas palavras atingiram Peggy com o impacto de uma bomba. Seus nervos
descontrolaram-se, sem deixá-la articular uma palavra. Ficou encolhida na cama,
ouvindo as acusações horríveis de Adam, tão assustada e indefesa quanto um filhote de
passarinho que caiu do ninho.
— Você é uma mercadoria de primeira, posso assegurar-lhe. Eu deveria saber o preço
era baixo demais para ser honesto - berrou Adam, com os olhos brilhando de raiva. — Se
me dissesse quanto dinheiro queria, poderia tê-lo dado — concluiu batendo a porta.
Passaram-se alguns minutos até que Peggy pudesse controlar-se. Aos poucos, sua
mente foi recobrando a lucidez.
A causa daquela explosão fora sua virgindade. Alguma experiência anterior com uma
virgem devia ter custado muito dinheiro. Teria havido chantagem? Era impossível saber
mas, o que quer que tivesse ocorrido, devia ter sido muito traumatizante.
Será que havia errado não avisando que era virgem? Mas como fazer isso em meio ao
calor da paixão? Havia sempre uma primeira vez para todos, não é? Seria isso motivo
para tanta tempestade? Outro homem veria em sua entrega a prova de seu amor por
ele...

30
Por que Adam achava que ela queria dinheiro? Será que sua opinião a respeito não
ficara clara? Talvez clara demais.
Ela falara muito em dinheiro e na sua falta de recursos. Lembrava-se agora de que
Adam mantinha um ar reservado sempre que ela tocava no assunto.
Virgindade perdida sem comunicação... sem dinheiro. Inocência e corrupção. Estes
foram os ingredientes do veneno que Adam destilara, pondo fim antes de começar ao que
poderia ter sido um relacionamento promissor.
As lágrimas rolaram pelas faces de Peggy, incontroláveis e pesarosas. Ela sentia-se
fraca e indefesa. Encostando a cabeça no travesseiro, adormeceu chorando.

CAPÍTULO VI

Peggy respirou aliviada quando o professor de Sociologia começou a aula. Caneta na


mão, estava pronta a anotar tudo o que achasse importante, pois concentrar-se em
atividades que prendessem sua atenção ajudaria muito a esquecer o incidente do outro
dia.
Parecia que todo o mundo no campus vira o Ross Elliot Show da tarde anterior,
inclusive o querido e curioso Gavin. Está certo que o horário do programa era ideal para
aquele repentino aumento da audiência. Todos haviam ficado surpresos com o
desempenho de Peggy e estavam curiosos para saber todos os detalhes de seu encontro
com Adam.
Aquela manhã fora um verdadeiro inferno: seus colegas queriam saber todos os lances
da véspera, e o pior havia sido durante o intervalo, na lanchonete que parecia pequena
para tanta gente. Peggy procurara disfarçar seus verdadeiros sentimentos em relação ao
assunto, respondendo as perguntas com naturalidade, mas sem entrar em detalhes, A
curiosidade de todos diminuía quando ela contava que trocara o encontro pelo aparelho
de som, num acordo feito com Adam.
Gavin continuava a observá-la com desconfiança, mas ela tinha certeza de que não
deixara transparecer nada. Provavelmente, a esta altura, todos já deviam estar convenci-
dos de que não acontecera nada entre ela e Adam. Gostaria de dar o caso por encerrado,
assim como se encerrara o seu breve relacionamento com o cantor.
A aula terminou, seguida logo por outra, a última do dia. Peggy foi sentar-se no fundo,
junto com seus colegas de sempre. Conseguiu eliminar o resto de curiosidade deles com
habilidade. Aceitou um convite para uma partida de squash no dia seguinte, mas negou-
se a jogar tênis depois das aulas, alegando que tinha uma montanha de tarefas
domésticas atrasadas em casa.
Chegando a seu apartamento, tratou de lavar algumas peças de roupas, passar
outras, pôr em ordem algumas gavetas, até não ter mais nada para ocupar o tempo. Na
falta do que fazer, sentou-se no sofá em frente ao equipamento de som. Assim que bateu
os olhos nele, sentiu uma enorme vontade de fazê-lo em pedaços mas, controlando os
nervos, achou melhor deixar tudo intacto, do jeito que estava. Foi quando viu que Adam

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havia esquecido a fita do musical sobre a mesa. Irritada, Peggy guardou-a na estante,
porque não sabia como devolvê-la.
Nessa altura dos fatos, nem mesmo o prazer que sentia em ouvir as músicas de Jenny
faria com que tocasse aquela fita. Não queria ter qualquer contato com nada que re-
cordasse Adam. Nunca mais!
Peggy tentou convencer-se de que Adam era parte de um mundo de fantasias que não
tinha nada a ver com o seu. Até que o incidente viera em boa hora. Agora, o melhor a
fazer era esquecer-se de todo o caso e continuar vivendo a sua própria vida. Pelo menos
tinha um consolo: aparentemente, Adam estava muito mais traumatizado do que ela.

Nos dias que se seguiram, Peggy manteve-se muito ocupada. A curiosidade sobre
Adam passou para segundo plano, graças à agitada vida estudantil, que trouxe de volta a
rotina de sempre. Ela aceitou o convite de Gavin para fazerem juntos o trabalho de
comunicação interpessoal, tentando produzir algo original e espetacular, como cos-
tumavam fazer antes.
— Quando começamos? — Perguntou ela, prática como sempre.
— Que tal eu ir com você para casa agora? Não tenho nada para fazer à noite —
sugeriu Gavin.
— Tudo bem! Mas... vamos passar no mercado antes, para você comprar algo para
comer.
Surpreso. Gavin olhou para ela e disse:
— Você virou uma avarenta mal-humorada, desde o encontro com Adam!
— Talvez tudo não tenha sido tão divertido como pensa.
— Mas foi sim. Não que eu creia em astrologia, mas o que o charlatão do Victor
Renshaw disse pareceu estar certo. Até mesmo aquela história sobre faíscas entre Adam
e você. Você pode não acreditar, mas a gente via isso na telinha da TV.
— Você está sonhando, Gavin? Não há ninguém tão cheio de si quanto o Adam, a não
ser você.
— Sempre a mesma, não é Peggy?
— Então trate de comprar a comida se quiser vir comigo — Peggy aproveitou para
impor.
— Se é assim, vou comprar duas tortas para você parar de reclamar feito uma velha.
— Faça isso. Você está mesmo em débito comigo.
— Um dia desses, Peggy...
— Sim? — perguntou ela com ar de inocência.
Depois de comprarem as tortas, foram ao ponto de ônibus. Peggy sentia-se triunfante
por ter conseguido escapar com a maior classe dos comentários maliciosos de Gavin.
Talvez, com o passar do tempo, aquela experiência constrangedora com Adam não fosse
mais que uma lembrança desagradável, ou então um simples sonho mau. Em resumo,
um pesadelo!
Em poucos minutos o circular passou. Como não havia dois lugares para que eles
sentassem juntos, Peggy ficou feliz por ocupar um banco longe de Gavin. Ela tinha es-
peranças de que a mente fértil do amigo se ocupasse de outras coisas antes de pegarem
a balsa que cruzava o canal. Assim conversariam sobre outros assuntos...

32
Apesar do tempo um tanto desfavorável — estava frio e ventava muito — Peggy
apreciou a travessia de balsa por causa da beleza da paisagem. Gavin, ao contrário, não
estava gostando da viagem. Por isso, ao ser convidado por Peggy para subir ao convés,
respondeu:
— Por um acaso eu tenho cara de pinguim, Peggy? — E, encolhendo-se de frio,
colocou as mãos nos bolsos da jaqueta, fazendo Peggy rir.
— Você deveria passar mais tempo fora dos quartos. Há muito mais na vida do que
apenas sexo.
— Como é que você sabe? — rebateu ele.
— Deixe pra lá, que tal abordarmos o cenário político em nosso trabalho?
Eles discutiram os prós e os contras até chegarem ao apartamento de Peggy. Melhor
instalados, ambos começaram a desenvolver o tema que escolheram, com base nas idéias
e pontos sobre os quais concordavam. Apenas uma hora havia se passado quando Gavin
se queixou de fome.
— Que tal comermos as tortas agora, Peggy?
— Está bem, vou esquentá-las no forno, enquanto faço uma porção de batatas fritas
para acompanhar — sugeriu.
— Ótimo.
Peggy estava na cozinha, no meio das panelas, quando Gavin comentou:
— Equipamento bonito esse aqui! O som é bom?
Peggy respondeu afirmativamente. Pelo menos quando o ouvira na loja era bom. O
aparelho, sem dúvida alguma, era seu, não fora roubado, fora um presente merecido. É
verdade que ainda não tinha sido ligado. Mas isso era apenas uma questão de tempo,
guando não sentisse mais o mal-estar causado pelas recordações desagradáveis. Por
isso, ela ficou mais aliviada quando Gavin afastou-se da estante.
Peggy acabava de tirar as batatas do fogo quando um som ensurdecedor de trompetes
chegou-lhe aos ouvidos vindo da sala.
— Desligue isso! — gritou irritada.
Os trompetes abafaram sua voz. Ela largou a panela e correu para a sala, com o
coração pulsando no ritmo dos tambores que faziam a introdução do tema de Encontro
com o Desconhecido.
— Desligue isso! — repetiu, histérica.
Corada, recebeu o olhar surpreso de Gavin, que não entendia o que estava se
passando.
— Qual é o problema, Peggy?
— Nada. Só desligue isso — ordenou e ele obedeceu. — Rebobine a fita e ponha no
lugar de onde tirou — disse abalada, voltando para a cozinha, furiosa por ter perdido o
controle.
— O que há de mais em ouvir um pouco de música enquanto comemos? — indagou
Gavin.
— A fita não é minha e não quero que seja tocada!
— Por quê? Isso não ia tirar pedaço! Que músicas estão na fita?
— Que fita?
— Não banque a tola! Eu já ouvi essa introdução não sei onde.

33
— É melhor eu tirar a comida do forno antes que queime tudo — disse Peggy,
esquivando-se.
— Deixe que eu vou — prontificou-se Gavin.
Graças a Deus! O estômago sem fundo de Gavin certamente o faria esquecer do
assunto. Com a atenção dele voltada para a comida, ela teria tempo de relaxar e
recompor-se. O som dos trompetes atingira-a como um raio, trazendo de volta à sua
mente a recordação de Adam. Ficou horrorizada ao perceber que sentia um forte desejo
de tê-lo novamente junto a si.
Gavin abriu um espaço na mesa para a comida e eles sentaram-se para comer. Peggy
lembrou-se do almoço com Adam no restaurante do Harry. Ao contrário do seu amigo,
não sentia mais a menor vontade de comer, engolindo a comida quase que forçada.
— Encontro com o Desconhecido é o novo sucesso de Adam, que está gravado na fita —
afirmou Gavin de repente.
Peggy logo sentiu o corpo amolecer. Esperar que a comida distraísse os pensamentos
de Gavin fora um erro, e a única solução agora era satisfazer-lhe a curiosidade. Sendo
assim, explicou:
— Na fita estão todas as músicas do show. Adam a esqueceu aqui quando trouxe o
equipamento. Pretendo devolver assim que o musical estréie.
— Mas isso será amanhã — lembrou-se Gavin.
— Sim.
— Você tem duas entradas?
— Não. Elas não eram parte do acordo que fiz.
— Que engraçado! Por que o Adam não quis sair com você, Peggy?
— Fui eu quem não quis sair com ele, Gavin. Esse assunto já está me cansando. Se já
terminou de comer, podemos voltar ao nosso trabalho — disse ela, transtornada,
levantando-se da mesa.
— Está bem, mas um dia desses...
Ambos retornaram aos livros. Peggy estava muito perturbada para concentrar-se.
Gavin, porém, parecia muito à vontade, dando idéias e opiniões sobre o que liam como se
o assunto não fosse novidade.
As horas passaram rapidamente. Peggy estava aquecendo água para o segundo bule
de café quando a campainha tocou.
— Quem será a esta hora? — perguntou. — Já passa de onze.
— Eu vejo quem é, Peggy.
— Passe o trinco de segurança — recomendou ela.
— Está bem.
O rapaz levantou-se da mesa, passou o trinco na porta e abriu uma pequena fresta.
Na cozinha, Peggy apanhava a lata de café, mantendo os ouvidos atentos à porta.
— Ora, ora! Vejam só! — disse Gavin.
— Quem é? — perguntou Peggy, curiosa.
— Seu amigo Adam Gale.
— Desculpe, não sabia que Peggy tinha visitas — afirmou Adam, educado.
— Não se preocupe com isso, amigo. Eu não sou uma visita, mas você certamente é —
disse Gavin, abrindo a porta, — Peggy está fazendo um cafezinho e eu já estou de saída.
Sou Gavin Howes.
34
— Muito prazer.
Peggy sentiu as pernas falsearem ao ouvir a voz de Adam. Seus nervos
descontrolaram-se totalmente. Tinha vontade de sumir dali, de ser um pássaro para
poder bater as asas para bem longe, para um lugar onde nunca seria encontrada por
Adam. Uma série de dúvidas e perguntas vieram-lhe à mente como uma torturante
descarga elétrica. O que Adam estava fazendo lá, àquela hora da noite? Será que ele não
via que estava sendo inconveniente? Aquele era o horário de as pessoas estarem na
cama! Meu Deus! Será que ele estaria pensando que ela...?
O som da porta se fechando levou Peggy ao pânico. Ele havia entrado! O que iria ela
fazer ou dizer? E na frente de Gavin, para piorar ainda mais as coisas. Calma! Era
preciso agir com calma e sangue-frio.
De repente, os dois apareceram à porta da cozinha.
— Sirva uma xícara para o Adam também, Peggy — disse Gavin, entusiasmado pelo
que aquela situação representava.
Adam usava a mesma roupa esportiva que vestia no outro dia em que se viram e,
apesar estar com um ar um pouco abatido, tinha uma presença física perturbadora. Um
tanto trêmula, Peggy tentava dissimular ao máximo a emoção que sentia.
— Sinto muito ter vindo tão tarde, Peggy. Não teria subido se não tivesse visto luzes
acesas. Espero não estar atrapalhando.
— Gavin e eu estávamos fazendo um trabalho muito importante.
— É, mas não tão importante assim que não possa ser terminado outro dia — afirmou
Gavin. — Nós praticamente já terminamos. Só faltam uns detalhes sem muita
importância.
Maldito! Gavin estava querendo deixá-la a sós com Adam. Precisava pensar em algo e
rápido, antes que o seu amigo saísse do apartamento.
— Acho que deveríamos acabar isso hoje, Gavin. Tenho certeza de que o sr. Gale só
veio até aqui por causa de sua fita. Onde foi que você a deixou?
— Oh! Desculpe-me. Eu não rebobinei. Comecei a ouvi-la para ver o som do
equipamento, mas a Peggy não deixou porque não era dela. Como vê, Adam, ela tem um
senso de integridade muito exagerado. Você teria se importado se nós tivéssemos
escutado? — perguntou Gavin, cínico e divertido, estendendo-lhe a fita.
— De modo algum! Você não a ouviu, Peggy?
— Ela não me pertence e não costumo tocar em nada que não me pertença —
respondeu ela friamente.
— Vê o que digo? — comentou Gavin. — Esse amoreco tem um orgulho danado.
— Amoreco? Vocês são namorados? — indagou Adam.
— Oh, não. Foi apenas força de expressão, Adam. Tenho convivido com este cérebro
privilegiado há quatro anos e, para dizer a verdade, ela...
— Gavin! — interrompeu Peggy. — Duvido que Adam se interesse pelo nosso
relacionamento. Por favor, dê-lhe a fita para que possa ir.
— Ir? Você quer ir, Adam? Não quer tomar um cafezinho comigo e Peggy? Sua
aparência é de quem está precisando de um descanso. Aposto que esteve, ensaiando até
agora para a estréia de amanhã, não é? Todos devem estar muito agitados ante a grande
noite que se aproxima. Você não gostaria de ficar por alguns instantes e relaxar?
Distrair-se um pouco?
35
Peggy fuzilou Gavin com os olhos, mas ele estava se divertindo muito com a situação
para deixar que ela se safasse assim tão facilmente.
— É verdade. Um cafezinho me faria bem — concordou Adam.
Ela sentiu vontade de mandar o amigo para o inferno, de pôr ambos para fora de sua
casa, mas o orgulho a impediu. O barulho da água fervendo fez com que se retirasse
para a cozinha, dizendo contrariada:
— É melhor sentar-se, Adam.
Prontamente Gavin retirou seu material da mesa e puxou conversa.
— Sabe, Adam, todos nós, os colegas de faculdade da Peggy, vimos o programa de TV e
achamos que vocês estiveram muito bem. Claro que conhecemos a língua afiada de
Peggy...
— Eu também gosto de uma rusguinha às vezes — replicou Adam, meio sem jeito.
— Eu também. Desafiar a Peggy é um dos passatempos que me dá mais prazer, você
acredita? Falando em prazeres, vivo dizendo para ela que...
— Gavin... — gritou Peggy, da cozinha. — Você começa a aborrecer-me.
— Bem, se é assim, o melhor que tenho a fazer é ir embora.
Peggy entrou na sala segurando duas xícaras de café bem quente e não pôde crer em
seus olhos. Gavin tinha se levantado e estava arrumando suas coisas, preparando-se
para partir o mais rápido possível.
— Não quero que digam por aí que fico em lugares onde não sou desejado — explicou
Gavin com um sorriso malicioso nos lábios. — Prazer em conhecê-lo, Adam. Não precisa
levantar-se. Boa noite, Peggy.
— Gavin! — gritou ela ao vê-lo dirigir-se para a porta,
— Sinto pelo café, Peggy. Jogue-o na pia.
Antes que Peggy pudesse dizer alguma coisa, Gavin já se havia retirado. Ela ficou lá,
no meio da sala, em pé, com o coração acelerado e as mãos trêmulas. Adam levantou-se
e caminhou em sua direção.
— Se você se aproximar, eu jogo o café em você — advertiu ela.
— Vai fazer a maior sujeira.
— Não faz mal. Eu limpo depois que você tiver ido embora. Não lhe pedi para entrar
nem quero sua presença aqui. Pegue sua fita e saia!
— Não foi por ela que vim. Quero falar com você.
A voz serena de Adam fez com que relaxasse a guarda. Conseguiu ir com calma para a
cozinha, seguida por ele, a fim de livrar-se das xícaras de café.
Dando as costas para Adam para não ficar ainda mais indefesa com relação a seu
magnetismo, ela jogou o café pela pia. Procurando manter uma calma que não sentia,
disse:
— Você já falou o bastante da última vez. Não creio que haja mais nada a ser dito ou
que eu queira ouvir.
— Eu estava enganado. Gostaria de explicar-me... Uma vez fui vítima de uma
armadilha que quase me destruiu, no início da carreira. Por isso preciso ter muito
cuidado com as garotas que encontro. Fiquei chocado quando percebi que você era...
inexperiente. Você não me avisou nada...

36
Adam fez uma breve pausa que trouxe de volta à mente de Peggy as últimas cenas de
seu encontro anterior com ele. O que Adam pensava que ela era? Uma leviana sedenta de
sexo?
— Sinto muito o modo rude como falei com você. Seria muito bom se aceitasse as
minhas desculpas — continuou ele.
— Isso o faria sentir-se melhor? — perguntou ela, mordaz.
— Gostaria que você se sentisse melhor, mas não sei como.
A sinceridade no tom de Adam emocionou Peggy, que achou melhor ficar calada.
Abrindo os braços, como que implorando perdão, ele continuou:
— Lamento o que... o que ocorreu naquela tarde. Eu me odeio só em pensar que meu
ato desastrado pode ter afetado seus futuros relacionamentos, fazendo você não querer
ser tocada de novo. Espero que possa perdoar minha estupidez, mesmo que eu não
possa.
Peggy não conseguia falar. O peito comprimido doía e as lágrimas vieram.
Adam retirou um envelope do bolso e o pôs sobre a pia.
— É uma entrada para o show de amanhã. Creio que não irá, mas mesmo assim ela
está aqui. Gostaria que fosse. É uma tentativa de proporcionar algum alívio pela dor lhe
que causei. Obrigado por ouvir-me. Foi mais do que fiz por você.
Peggy não tinha condições de tomar decisão alguma no momento. Por isso, não
esboçou nenhuma reação ao ver Adam ir embora. Só então começou a refletir
cuidadosamente sobre tudo o que havia escutado. Ele tinha admitira o erro de
julgamento, pedido desculpas, mostrando vontade de consertar as coisas. No entanto,
não dera o menor sinal de querer levar adiante seu relacionamento com ela. Fora
conduzido pelo sentimento de culpa, procurando apenas recuperar sua paz de espírito.
Teria ele perdido a concentração em meio a seus ensaios? O fato de ter vindo com
aquela roupa indicava que sim. "A purificação da alma antes da première". Sim,
provavelmente sua razão principal fora essa. Nada a ver com ela. Tudo estava acabado.
"Como foi tola em ter-se iludido!", concluiu.
Peggy apanhou o envelope que Adam deixou sobre a pia e abriu-o. Era uma entrada
que dava direito a um lugar central na platéia, na quinta fila. De certo aquele ingresso
renderia uma boa nota se tivesse sido vendido. Mas, ela teria direito a dois lugares se
Adam não a tivesse atrapalhado. Será que fora pensando nisso que ele quisera com-
pensar, dando uma entrada mais cara?
Peggy caminhou pensativa para a sala. Será que queria ver show? Ou melhor, será
que teria coragem? Adam havia deixado a fita. Impulsivamente, Peggy pegou-a e pôs no
gravador. Só tomaria uma decisão depois de ouvir a música.
Quando o primeiro lado da fita acabou, Peggy desligou o equipamento de som para ir
deitar-se. A voz de Adam a atormentara. Sua interpretação tão forte e sensual fizera com
que cada palavra soasse como uma linda declaração de amor. Para piorar, a bela canção
composta por Jenny Ross trouxera de volta as recordações da tarde maravilhosa que
tiveram. Não precisava ouvir mais nada.
Peggy foi para cama a tentando, com pouco sucesso, descansar um pouco para poder
enfrentar não só as duras atividades do dia seguinte, como a curiosidade de Gavin.

37
No dia seguinte, Peggy passou toda a manhã evitando Gavin, mas, durante uma troca
de sala, eles se encontraram frente a frente. Tentando aparentar naturalidade, começou
a conversar.
— Você parece abatido, Gavin.
— Peggy, amorzinho, sou o que restou de uma longa bebedeira — explicou.
— Não dormiu nem um pouco durante a noite?
— Eu estava numa missão de caridade. Adam precisava de mim — disse ele com ar de
importância.
— Sério? E como se encontraram? — perguntou ela, curiosa, tentando disfarçar a
surpresa.
— Eu esperei que ele saísse do seu prédio e aí pedi uma carona. Sabe como é duro
encontrar condução depois das onze.
— Você é um grande cara-de-pau!
— Peggy, ele é influente. Você pode gostar muito de sua integridade, mas este é um
mundo cão, onde é muito vantajoso conhecer gente como Adam. Por que não lhe dá uma
chance?
— Por que você acha que ele quer uma chance?
— Eu estava lá ontem à noite, lembra? Ele não foi até sua casa pela fita. Depois de
ficar a sós com você, desceu arrasado. Estava claro que não conseguira o que queria. Daí
o motivo de não ter se recusado a me dar uma carona.
— O seu encanto o seduziu? — perguntou Peggy, irônica.
— Não brinque, Peggy. Você sabe que ele só foi tão gentil comigo porque a conheço
muito bem... melhor do que qualquer outra pessoa.
— Ele falou a meu respeito?
— Nem uma palavra — afirmou Gavin. — Mas prestou muita atenção em tudo o que
falei. Ele só bebeu e ouviu. O que me diz disso?
— Você seria capaz de vender sua mãe se isso trouxesse alguma vantagem.
Peggy entrou na sala de aula, sentou-se no lugar de sempre, seguida por Gavin, que
se instalou ao seu lado.
— O pior cego é o que não quer ver — sussurrou no ouvido de Peggy.
A aula havia começado, mas a mente de Peggy estava longe. Por que Gavin e Adam
ficaram bêbados? O que teria contado Gavin? Seria verdade que Adam estava inte-
ressado nela?
Talvez o ingresso fosse mais que um pedido de desculpas. Talvez não quisesse
somente que ela fosse à première. Gavin estava convencido de que Adam queria outra
chance.
Era inútil tentar se convencer de que o cantor não significava nada para ela. O seu
pedido de desculpas fora sincero. Além disso, tinha deixado o convite. Estava decidido:
ela iria à estréia do Encontro com Desconhecido.
Um leve sorriso surgiu nos lábios de Peggy. Era ridículo ficar de repente tão
entusiasmada, mas quem sabia até onde aquele convite poderia levá-la?

CAPÍTULO VII

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Peggy olhou novamente para o relógio. Oito horas. Procurou a entrada da platéia,
achando melhor ser uma das primeiras a se acomodar. Ver de perto a nata da sociedade,
os grandes artistas exibindo suas roupas caras e sofisticadas era uma oportunidade
única que ela não queria estragar chegando atrasada ao seu lugar, incomodando aquela
multidão elegante.
Como Peggy nunca fora a uma première antes, não tinha certeza se o horário marcado
para o show começar, nove horas, seria respeitado. Sendo assim, o melhor a fazer era
procurar uma poltrona confortável ali perto, para poder observar o movimento das
pessoas. Além do mais, poderia tirar seu casaco de lã, que começava a incomodar, assim
que pudesse sentar-se. O conjunto que usava, o mesmo que vestira quando fora ao Ross
Elliot Show, não era exatamente da última moda, mas poderia passar por traje noturno
sem maiores problemas.
— Peggy!
Ela se voltou, e para sua surpresa, deparou com Gavin vestido a rigor, muito elegante
e sorridente.
— Gavin?
— Eu mesmo.
— Se não estivesse vendo, nunca acreditaria que você pudesse ficar tão bem-vestido!
— disse ela, tentando esconder o desconforto causado pela presença de Gavin. — O que
você faz aqui?
— O que você faz aqui, Peggy?
— Adam deu-me uma entrada ontem.
— Ele também deu-me uma, juntamente com um convite para a festa depois do
espetáculo. Por isso estou vestido assim. Você também vai?
— Não.
— Hum... Onde é seu lugar?
— Numa das filas da frente.
— O meu é no mezanino. Mas por quê? Só se... — sorriu antes de completar. — Você
joga direitinho, Peggy. Encontre-me aqui que depois eu levo você à festa.
— Não.
— Oh, meu Deus! Será que você não vê...
— Siga seu caminho que eu sigo o meu. E o meu não me leva aonde não fui convidada
— disse ela irritada.
— Mas...
— Você não é o porta-voz de Adam. Ele pode falar por si. Divirta-se, mas me deixe fora
disso.
Sentindo-se meio perturbada, ela se virou para ir ao seu lugar. Estaria sendo muito
tola ou Gavin que era muito esperto? O que Adam queria? Ao receber seu ingresso, o
bilheteiro medira-a de alto a baixo. Esse gesto, somado ao fato de Gavin estar vestido a
rigor, fizeram-na perceber que sua roupa não estava tão adequada quanto supusera.
Provavelmente o homem da bilheteria estava se perguntando o que ela fazia lá, vestida
daquela forma.
Peggy desejava não ter saído de casa naquela noite. Seu rosto estava tão corado que
parecia estar queimando, quando, embaraçada, foi para a poltrona. As pessoas ao seu
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redor estavam vestidas formalmente e se voltaram e ficaram olhando-a quando retirou
seu casado. Peggy os encarou. Afinal ela tinha tanto direito quanto eles de estar lá; além
disso, era uma tremenda falta de educação ficar reparando nas pessoas.
De repente, a mulher sentada a seu lado sorriu.
— Olá! Estou feliz por você ter vindo — disse.
— Desculpe, mas acho que não a conheço. — A situação era muito estranha para
Peggy. Quem era aquela mulher? E por que parecia contente em vê-la.
— O Adam não...
Adam! Peggy olhou para a mulher, que sorria.
— Oh, desculpe-me. Que estupidez a minha! — disse a mulher ante a frieza de Peggy.
— É claro que não nos conhece. Vou apresentá-la a todos.
Para surpresa ainda maior de Peggy, as quatro pessoas da fileira da frente viraram-se
sorrindo. O homem bem à sua frente era loiro, de olhos azuis e muito simpático. A seu
lado, estava uma ruiva muito bonita. Próximo a ela, uma mulher loira, também muito
simpática, e por último, um jovem de olhos negros que olhava muito interessado para
Peggy.
— Este é meu cunhado, Tony Knight, sua esposa Cass, meus cunhados Miranda e
Peter. Esses são meus sogros, Edward e Annabel Knight.
Peggy, que se mostrou muito simpática durante as apresentações, logo concluiu:
— E você deve ser Jenny Ross.
— Sim, mas prefiro Jenny Knight — corrigiu ela com educação. — Adam pediu para
tomarmos conta de você caso nos encontrássemos.
— Gostaria de ter visto o Ross Elliot Show — interrompeu Miranda, sorrindo — Jenny
disse que você não deu moleza para o Adam. Adorei aquela teoria de homens grávidos e
fogão. Um dia desses vou testar no meu marido para ver se dou um jeito nele.
— O marido de Miranda teve problemas no serviço e não pôde vir hoje — esclareceu
Jenny.
— Ele não veio, mas eu não perderia isso por nada — declarou Miranda,
entusiasmada.
— Você só veio para ver se acha alguma falha — Tony brincou com a irmã.
— Não é verdade, engraçadinho. Sei que Robert não faria nada que não fosse perfeito
— protestou Miranda.
— O Robert é o meu marido e está nos bastidores organizando os artistas e cuidando
para que tudo corra bem — explicou Jenny. — Ele tem estado muito tenso nesses
últimos dias.
— Se você tivesse visto o ensaio geral de ontem também ficaria — disse Tony.
— Adam é um profissional e não nos desapontaria — rebateu Cass, confiante. — Além
do mais, Peggy está aqui.
— O que minha presença aqui tem a ver com tudo isso? — surpreendeu-se Peggy.
Edward Knight sorriu e, inclinando-se na sua direção, explicou:
— Minha querida, quando uma mulher demonstra que não fica impressionada por um
homem, ele tenta provar que ela está errada. Estou certo de que podemos esperar por
uma grande atuação esta noite.
— Mas eu não... Ele nem sabe que estou aqui. — disse Peggy, atrapalhada com a
situação e com aquelas suposições.
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— Agora já deve saber — assegurou Jenny, satisfeita.
Peggy lembrou-se da atitude do bilheteiro e imaginou que ele fora instruído para
avisar sobre sua chegada. Ficou tão embaraçada com o interesse evidente de Adam, que
tentou mudar de assunto.
— Gostaria que soubesse que adoro suas canções, sra. Knight.
— Obrigada, querida. Mas pode me chamar de Jenny. Todos estamos tratando você
pelo primeiro nome.
— Não se deixe encantar pela música da Jenny nem pela interpretação de Adam,
Peggy — brincou Tony. — Se você não reparar nos cenários que fiz com tanto capricho,
vou ficar seriamente ofendido.
— Hei! Não se esqueça de que fiz metade deles. — lembrou Cass.
— Todos vão reparar na sua parte, querida. Os cenários parecem cair sobre o
público... Ai! — gritou de repente.
Cass olhou naturalmente para Peggy e esclareceu:
— Às vezes ele é muito engraçadinho e precisa de uns beliscões para manter-se bem-
comportado.
Peter, sorrindo, mostrou-se muito espirituoso também.
— Se quiser apreciar o show ao lado de uma pessoa normal, sente-se aqui. Eu não
vou falar de música e arte a noite inteira.
— Não, só reduzirá tudo a cálculo matemático — afirmou Miranda.
Peter preparava-se para a resposta quando a voz paterna interferiu:
— Já chega crianças!
— Crianças! — disseram os dois ao mesmo tempo.
— Não ligue para eles, pois estão sempre caçoando um do outro. A Miranda é atriz e o
Peter é formado em matemática — contou Jenny, alegre.
— Que família! — brincou Peggy.
— Foi o que pensei quando os conheci, mas, como você é parecida com Cass, duvido
que resista a eles — disse Jenny, sorrindo.
Como Cass..! Adam já lhe havia dito isso. Peggy franziu a testa, não muito satisfeita
com a comparação, e indagou:
— Por que diz que sou como Cass?
Jenny olhou com admiração para Peggy e explicou:
— Pela sua autoconfiança! Eu torci muito para que o Adam escolhesse você no
programa. Estou feliz de que tenha vindo e por poder conhecê-la.
— Conhecer-me! — surpreendeu-se Peggy. — Eu é que me sinto honrada em conhecê-
la.
— Honrada! Mas que bobagem! Como pode ver, sou tão simples quanto qualquer
outra pessoa.
Peggy sorriu, tentando esconder o embaraço que a situação lhe causava. Seria
diferente se ela e Adam estivessem bem. A sua satisfação em conhecer todas aquelas
pessoas inteligentes seria enorme. Agora, na verdade, não se sentia à vontade com a
acolhida tão calorosa que recebia; sentia-se como uma invasora que se aproximara
daquele círculo fraterno sob falsos pretextos. O pior é que fora Adam quem arranjara
tudo.

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Amarrotando a outra metade do ingresso que tinha na mão, tentava recordar o que ele
dissera na cozinha... Algo sobre compensar a dor que havia provocado.
O som de uma campainha soou por todo o teatro, interrompendo os pensamentos de
Peggy.
— É o sinal de início — avisou Jenny — Não vai demorar muito agora.
Peggy olhou ao redor. Estivera tão entretida com os Knight que nem reparara na
quantidade de gente que entrara. No entanto ainda havia lugares vazios nas primeiras
fileiras. O murmúrio da platéia tinha uma certa dose de excitação, demonstrando a
Peggy que uma première como aquela possuía uma magia toda especial e particular. Não
era apenas a companhia de tantas pessoas ilustres que a fazia pensar assim, mas toda a
emoção e expectativa que se formavam em torno da apresentação de uma nova criação.
Peggy ficava ainda mais fascinada quando tentava calcular o número de talentos que
foram necessários para transformar uma idéia em realidade. Era incrível!
Os músicos já haviam terminado de afinar seus instrumentos quando o maestro se
pôs à frente da orquestra. As luzes se apagaram.
— Bem, vai começar! — suspirou Jenny.
Ao ver Edward Knight aproximar-se de Jenny para dar-lhe um abraço, Peggy sentiu
uma corrente de emoção pelo ar. Aquele era o momento pelo qual Adam e Jenny haviam
trabalhado duro durante dois anos! Ela também estava lá, compartilhando da alegria
deles, feliz por ter ido. Toda a mágoa que curtiu no coração dissipava-se ao som da
primeira nota dos trompetes.
O contraste entre os acordes agressivos e suaves da orquestra foram se alternando,
num ritmo cada vez mais intenso, conduzindo gradualmente a platéia ao clímax da
expectativa. Ao rufar dos tambores, os instrumentos pareciam ter atingido o máximo de
sua capacidade sonora; se continuassem, com certeza iriam se desintegrar nas mãos dos
músicos. Então num repentino acorde final, calaram-se por completo.
Silêncio. A atenção de todos estava voltada para as cortinas que se abriram
vagarosamente. Os tambores começaram a rufar novamente. Era a introdução da canção
Encontro com o Desconhecido. O cenário que surgiu era muito bonito, pintado com cores
berrantes, num contraste harmonioso. Contra o fundo azul, púrpura e negro do palco,
bailarinas vestidas de amarelo, rosa, verde e violeta dançavam com movimentos
graciosos e geométricos ao redor da figura carismática de Adam, que, todo vestido de
branco, era o maior destaque visual.
De repente a música parou e junto com ela, os bailarinos. Adam começou então a
mover-se lentamente olhando para o público, até vislumbrar Peggy, quando começou
uma linda canção.
Era uma canção que Adam compusera muito antes de se conhecerem. Era ilógico,
mas ele parecia cantar para ela. As palavras eram pronunciadas com tanta emoção que o
coração de Peggy palpitava incontrolavelmente. A todo instante seus olhares se
cruzavam. Somente com a introdução da canção seguinte, O Sonho de Cindy Jones, é que
Peggy saiu do efeito hipnótico da primeira música.
O palco agora não estava mais iluminado nem colorido de modo tão berrante, mas
numa combinação de rosa-claro, prata e azul que criavam um clima perfeito para
retratar o sonho de uma garota. A composição de Jenny era linda, só servindo para
agravar ainda mais a desordem emocional de Peggy.
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O enredo, a música, o cenário, a atuação, a dança, enfim tudo fazia parte da fórmula
mágica que enfeitiçava o público, mantendo cativa a sua atenção. Talvez tudo não
passasse de um simples conto de fadas, mas a verdade é que não houve quem não
ficasse contagiado pela energia do espetáculo.
As cortinas fecharam-se, anunciando o final da primeira parte do show, sob o aplauso
emocionado de toda a audiência.
Instintivamente, Peggy voltou-se para Jenny.
— É maravilhoso! Você realmente soube como...
Ela foi interrompida por Tony que disse:
— Nada mal, hein?
— Não tão mal assim? — indagou Jenny, sorrindo.
— Adorei cada minuto — afirmou a sra. Knight.
— Eu também, querida — concordou o sr. Knight, em meio à opinião favorável de
todos.
Cass voltou-se para Peggy, dizendo:
— Parece que você também gostou.
— Nunca vi algo tão maravilhoso, totalmente integrado...
— Os cenários? — perguntou Tony.
— Os cenários captaram todo o clima das canções. E as canções... — começou
olhando admirada para Jenny.
— Adam compôs metade delas. Ele as interpretou com muita alma, não acha?
— Sim. — Peggy não conseguiu dizer mais nada. A emoção não permitia. Cada
palavra, cada olhar de Adam pareciam ter uma mensagem endereçada a ela.
— É melhor vir conosco, para dizer-lhe pessoalmente — sugeriu Tony, erguendo-se
juntamente com Cass.
Jenny levantou-se também, concordando:
— Isso mesmo! Ele gostaria muito!
— Agora? — surpreendeu-se Peggy.
— Nós vamos aos bastidores. Adam e Robert aguardam nossas impressões dessa
primeira parte — explicou Cass.
A princípio Peggy quis recusar o convite, mas a curiosidade de saber a reação de Adam
à sua presença era muito grande. Os Knight faziam suposições à vontade quanto ao seu
envolvimento com ele. Ela, porém, gostaria de ver até que ponto tais suposições eram
verdadeiras.
As atenções do grupo para com Peggy deixavam-lhe a leve impressão de que estava
sendo vítima de um plano muito bem arquitetado. Os Knight pareciam ansiosos para que
ela se encontrasse com Adam, mas era difícil imaginá-lo pedindo para que eles agissem
assim. Não. Certamente Adam não tinha nada a ver com isso. Por alguma razão, os
Knight pareciam apreciar sua companhia.
Sendo assim, Peggy levantou-se, tentando manter-se calma, e se dirigiu com eles aos
bastidores. Se o seu encontro com Adam não provasse nada, pelo menos ela teria
conhecido o famoso diretor Robert Knight.
Eles avistaram Robert e Adam, tão logo chegaram às coxias. Peggy reconheceu o
diretor assim que o viu, pela semelhança que tinha com Peter. Porém, ela não dispensou

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a ele mais que um olhar de curiosidade. Seus olhos estavam fixos no homem que estava
ao lado dele.
Adam ainda trajava a roupa cinza e púrpura da última cena. Somente um homem
másculo como ele poderia usar uma vestimenta tão agarrada ao corpo sem parecer afe-
minado. O traje misturava a suavidade feminina e a agressividade masculina, tornando-o
ainda mais sexy. Outras pessoas envolvidas com o espetáculo passavam apressadas por
Adam, dando-lhe tapinhas nas costas pelo sucesso do show, o que fazia com que ele
assumisse ares de triunfo. Este seu comportamento fez com que Peggy contivesse o
ímpeto de abraçá-lo, reerguendo as suas defesas. Triunfo? Será que, para Adam, ela não
passava de alguém sobre quem ele queria triunfar? Teria sido apenas seu ego que o
fizera querer a sua presença lá, naquela noite?
Como que lendo os pensamentos de Peggy, Adam desmanchou o ar arrogante do rosto,
assumindo uma postura suave e educada. A atitude desinibida de Cass junto com a
eloqüência de Jenny e Tony, que faziam largos elogios à dupla de artistas, fez com que
Peggy se retraísse ainda mais, um pouco acanhada.
— Feliz, meu bem? — perguntou Robert, sorrindo para Jenny.
— É muito bonito, Robert! Estou muito orgulhosa de você.
Ele sorriu e, voltando-se para Peggy, perguntou:
— Quem é esta jovem? Não vão nos apresentar?
— Peggy, este é Robert Knight. Peggy Dean, Robert — disse Adam com um tom neutro
na voz.
— O que você achou, Peggy? — indagou Robert. — Nós estamos muito próximos da
coisa para sermos imparciais.
— Sr. Knight...
— Trate-me de Robert — disse ele, amável.
Peggy ficou sem ação. Como poderia responder com Adam a observá-la? Mas sua
opinião tinha sido pedida e seria dada honestamente.
— É como um sonho que se torna em realidade. Você fez um ótimo trabalho de
direção. O impacto da abertura manteve a audiência atenta pelo resto do espetáculo.
Você foi brilhante!
— Eu? — surpreendeu-se Robert. — Você quer dizer Adam, não é?
— Não — respondeu Adam. — Ela quer dizer você. Peggy é estudante de comunicação
audiovisual. Creio que para ela o seu trabalho seja muito mais interessante.
— Sério? Então temos que achar tempo para falarmos a respeito. Você vai a festa?
— Por favor, desculpe-nos um instante — interrompeu Adam, apanhando Peggy pelo
braço e afastando-se do grupo. Haverá uma festa de celebração para nós e para a im-
prensa — continuou — e é sobre ela que Robert está falando. Ele poderá ajudá-la, mais
tarde, a conseguir um emprego em sua área.
Peggy não entendia o que se passava. A gentileza dos Knight. A preocupação de Adam
por sua carreira. Tudo era muito estranho. E, para deixá-la ainda mais embaraçada, ele
estava tão perto!
— Você quer me dizer o que está havendo? — perguntou.
— Eu queria agradá-la. Pensei que gostaria de conhecer Jenny.
— E gostei. Todos têm sido muito gentis comigo, mas... eles pensam que... eu... você...

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— Desculpe-me. Não quis embaraçá-la. Eu havia preparado tudo antes dessa noite.
Pensei em contar-lhe, mas achei que você não viria.
A tensão da noite anterior tinha desaparecido e agora, eles estavam mais próximos um
do outro.
— Estou feliz por você ter vindo — confessou Adam.
— Eu também. Foi muita gentileza sua me reservar um lugar tão bom, perto dos
Knight.
— Você gostaria de ir à festa, Peggy? — Adam hesitou.
— Acho que ficaria deslocada.
Por alguns instantes, Adam a fitou, em silêncio, admirando sua beleza antes de
perguntar receoso:
— Você gostaria de ir comigo?
O coração de Peggy disparou. Se Adam queria reaproximar-se dela, então cantara
realmente para ela. Diante disso, só havia uma resposta possível.
— Sim, Adam.
— Jenny a levará ao meu camarim no final do show — disse satisfeito, sentindo todo o
calor daquele momento.
— Vou adorar! — disse Peggy, entusiasmada com a nova chance que teriam.
— É hora de trocar-se, Adam — avisou Robert, autoritário.
— Tenho que ir agora. — Tomando as mãos de Peggy nas suas, agradeceu: —
Obrigado por ter vindo. Foi muito importante para mim.
— Adam, você está perfeito! — elogiou ela, tentando controlar sua emoção.
— É por sua causa — afirmou ele, sorrindo. — Você a leva ao meu camarim, depois,
Jenny?
— Com todo prazer, Adam.
As últimas palavras de Adam ressoavam na mente de Peggy, enquanto voltavam para
junto dos amigos. Seria sua aprovação importante para ele? Ela sabia que aceitar aquele
convite era brincar com fogo e com seus sentimentos. Mas queria ter mais tempo para
conversar com ele. Muito pouco fora dito, embora os gestos falassem por si. Aquela noite
seria um começo, um novo começo para ambos.

CAPÍTULO VIII

Adam abriu a porta traseira da limusine, ajudou Peggy e entrou logo em seguida. O
veículo luxuoso começou a rodar suavemente, conduzido por um chofer uniformizado
isolado deles por um grosso vidro fumê. Agora os dois estavam sozinhos.
O camarim estivera repleto de jornalistas, fãs e artistas que foram até lá
cumprimentar Adam pelo sucesso do espetáculo. O público aplaudira o show de pé,
demonstrando que o rei da música pop estivera mais majestoso do que nunca. Desta vez
não havia lugar para o Range Rover, o traje esportivo ou o restaurante do Harry. A
ocasião exigia uma limusine, um traje de gala e uma recepção luxuosa, no Hilton Hotel,
formando um cenário próprio para celebrar o sucesso do grande astro.

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Sentada ao lado de Adam, vestindo seu casaco velho, Peggy ficou imaginando no que
havia se metido. Até aquela noite, havia ignorado o estrelato de Adam, mas isso não seria
mais possível. Ele não era uma pessoa comum. Era alguém talentoso, que pertencia ao
mundo. Mas, de algum modo, toda aquela aclamação, todo aquele luxo assumia papel
secundário em sua vida.
Peggy encarou-o, desejosa de quebrar o silêncio, mas esperou que Adam falasse
primeiro.
— Acha isso tudo assustador?
— Não tanto quanto... bem... vê-lo por um ângulo diferente. Agora sei por que suas fãs
desmaiam. Você esteve maravilhoso hoje, Adam. Acho que seria um crime deixá-lo
grávido em frente do fogão — confessou, bem-humorada.
Ele riu e ela acrescentou:
— Você deve estar feliz.
— Sim, foi fantástico — afirmou ele sério. — É maravilhoso durante a atuação e talvez
até depois, mas tudo isso é irreal. Quando o público vai embora, você fica só, e aí você
não é mais um astro. É simplesmente uma pessoa solitária em um quarto de hotel.
Entrelaçando as mãos dela nas suas, Adam encarou-a profundamente para continuar:
— Você tenta fazer com que o momento de glória dure o máximo possível porque não
quer ficar solitário. Então, sai com uma jovem que quer realizar suas fantasias e vol ta a
ser um astro por mais algum tempo. Mas tudo isso não passa de uma grande ilusão, que
depois torna a solidão ainda pior.
Adam mostrava-se vulnerável, muito diferente do modelo de homem que fora
apresentado a Peggy no Ross Elliot Show.
— Você disse uma vez, Peggy, que reconhecer que ninguém é perfeito é muito
importante. Apesar de estar longe da perfeição, estou muito arrependido pelo que fiz
naquela tarde. O que aconteceu entre nós foi mais forte que tudo o que já senti com
outra mulher. Foi por isso que reagi tão violentamente.
Adam abaixou a cabeça em sinal de arrependimento e, após alguns segundos, com um
olhar de súplica, acrescentou:
— O que fiz foi monstruoso, sem desculpas. Mas será que você me perdoar pela maior
idiotice da minha vida, Peggy?
— Eu não estaria aqui se não tivesse perdoado.
O lindo sorriso de Peggy renovou-lhe as esperanças. Adam beijou-lhe suavemente a
mão, enquanto lhe acariciava os cabelos.
— Fique comigo esta noite, Peggy. Farei tudo para que seja agradável.
A forma com que aquele convite foi formulado deixou-a totalmente sem reação. A
confusão emocional do momento não a deixava pensar direito. Queria ficar com ele, mas
não assim... não para satisfazer um simples impulso sexual.
Então, como que adivinhando o que se passava no seu íntimo, Adam a trouxe para
perto de si e, fitando-a com olhar sedutor, disse:
— Não vai ser como da outra vez! Será tão maravilhoso quanto deveria ter sido.
Gostaria de proporcionar-lhe tudo com o que sempre sonhou.
Os lábios dele procuraram os seus. A princípio, ela quis recuar, esquivar-se, mas o
magnetismo de Adam não permitiu. Ele foi carinhosamente destruindo sua resistência,

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persuadindo seus sentidos com sensualidade, aumentando aos poucos o seu desejo de
satisfazê-lo.
De repente o carro parou, apos fazer uma manobra à esquerda. Adam interrompeu
abruptamente o beijo e afastou-se de Peggy. Enquanto olhava pela janela da limusine, foi
retirando um lenço do paletó e removendo, apressado, todo o sinal de batom dos lábios.
Aquela atitude de Adam reavivou em Peggy a frustração que experimentara, em seu
apartamento no primeiro encontro. A promessa de amor, seguida da brusca rejeição
deixaram-lhe uma mágoa profunda que agora estava voltando.
A repentina mudança da expressão no rosto de Peggy chamou a atenção de Adam.
— Não! Não fique assim, Peggy! — Segurou suas mãos, tentando uma reaproximação.
— Estamos na entrada do hotel, com a imprensa inteirinha nos aguardando lá dentro.
— Será tão ruim se eles souberem que você me beijou?
— Você não entende. Eles vão fazer disso um grande alvoroço... Nossa vida privada só
diz respeito a nós, Peggy, e não quero compartilhá-la com mais ninguém. Principalmente
com a imprensa.
— Então o que espera que eu seja para você na frente do público? — indagou,
insinuante.
— Se não contarmos nada, eles não saberão nada. A única forma de nos
resguardarmos e termos tranqüilidade é não permitirmos que descubram.
As explicações de Adam não deixaram Peggy completamente convencida. Porém não
havia tempo para que o assunto se prolongasse. A limusine já estava estacionada junto à
entrada do hotel.
— Confie em mim — pediu Adam, fitando-a com firmeza.
Peggy assentiu, contudo seu coração gritava em sinal de protesto. O mal-estar que
sentia devido à idéia de ser renegada publicamente persistia, mesmo depois da
argumentação de Adam. Porém as coisas pareceram um pouco melhores quando ele
colocou as mãos de forma protetora sobre os seus ombros quando saíram do carro.
Tão logo foram vistos, uma legião de repórteres correu na direção deles, fazendo uma
quantidade enorme de perguntas e disparando centenas de flashes.
— Essa jovem com você... é a mesma do programa de TV?
— Qual o seu envolvimento com ela?
— Sem comentários, senhores — respondia Adam.
— O que a srta. achou do espetáculo?
— Adam é melhor que o conjunto de som?
Peggy não respondia a nada, corada, achando incrível como distorciam suas palavras.
Até quando entraram no elevador foram perseguidos pelos repórteres que tinham mais
perguntas.
— Vocês estão se tornando inconvenientes, rapazes — reclamou Adam.
— Ora, Adam! Não é todo dia que o vemos acompanhado por uma garota — tentou
argumentar um dos jornalistas.
— Dama. A srta. Dean é uma dama e ficarei grato se a tratarem como tal — enfatizou
Adam.
As canetas e os gravadores estiveram ativos o tempo todo e, quando as portas do
elevador se abriram, Adam e Peggy rumaram diretamente para o salão da recepção. No
corredor, ele olhou para ela, franzindo a testa, como se tivesse comprovado o seu ponto
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de vista, mas Peggy não se deu totalmente por convencida. De certo que o relacio-
namento dos dois não era da conta de ninguém. Afinal, ela própria tinha rebatido as
investidas curiosas de Gavin, porém a imprensa não se afastaria tão facilmente. Na falta
de alguma coisa mais concreta, insinuações e especulações seriam publicadas, o que
seria mais desagradável que uma declaração honesta do interesse de Adam por ela, se é
que ele estava mesmo interessado.
Ao entrar no salão de festas, Adam, foi recebido por uma salva de palmas. Ele e Peggy
se dirigiram aos seus amigos, os Knight; assim que se aproximaram, Adam foi envolvido
pelos convidados que queriam cumprimentá-lo, brindando com champanha o seu
sucesso.
Peggy perdeu a conta do número de beijos que Adam recebeu das mulheres. Esse
beijos, ele não se importou que fossem registrados pela imprensa.
Mas não foi somente ele quem recebeu os cumprimentos. Cass, Tony, Robert, Karen
Ester, a jovem que representava a personagem Cindy Jones, enfim, todos os envolvidos
no espetáculo foram congratulados com grande entusiasmo, mostrando no rosto o
quanto estavam felizes. Até mesmo Gavin, que para surpresa de Peggy não fez nenhum
comentário sobre sua presença na festa, estava à vontade no meio das celebridades.
Peggy distraiu-se com os convidados influentes que passavam por ela, imaginando se
não seria estupidez sua não tentar um contato com eles, visando um emprego em sua
área, enquanto tinha a oportunidade. No meio de tanta gente importante, o centro das
atenções era Adam, que na certa não sentia a mínima falta dela naquela noite.
— Então as estrelas estavam certas! — disse uma voz grossa e conhecida atrás dela.
Peggy assustou-se e voltou-se para ver quem estava às suas costas. Era Ross Elliot,
que parecia muito surpreso ao vê-la em companhia de Adam.
— Você está me devendo outra aparição no show, Peggy. Pelo visto você levou mais do
que o combinado — brincou ele. — Que tal uma outra visitinha só para conversarmos?
— Eu não creio que ela vá gostar muito, Ross — afirmou Adam, sorrindo.
— Foi um grande show, Adam. Se quiser promovê-lo mais um pouco, você e Peggy
podem ir ao meu programa quando desejarem. Vocês serão ótimas atrações.
Nesse instante, uma nova leva de convidados entusiastas reclamou as atenções de
Adam. Ross, percebendo pelo sorriso sem jeito de Peggy que ela não estava muito à von-
tade naquela situação, murmurou em seu ouvido, antes de afastar-se:
— Amor. Não guerra.
Amor! Seria este o sentimento que Adam despertava nela... amor? E o que ele sentia
por ela estaria remotamente ligado ao amor? Queria dividir sua cama com ela naquela
noite para afastar a solidão quando a festa terminasse. Mas estava lhe dispensando tão
pouca atenção no momento que seria mais prático se tivesse pedido que ela fosse para o
quarto e ficasse esperando lá.
Adam, ali, era como um rei homenageado por sua corte. Peggy estava ao seu lado, mas
nem de longe era reconhecida como sua consorte. Não passava de uma mulher, que era
a companheira de Adam, numa posição que já fora ocupada por muitas antes dela.
Apesar de toda a delicadeza com que era tratada, sentia-se isolada demais, como se
tivesse sido abandonada por ele.
Peggy considerava-se uma tola por estar se iludindo tanto. Afinal, todo o tempo que
haviam passado juntos fora apenas uma tarde e, provavelmente, ela não passava de uma
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novidade, de um desafio, uma conquista ainda não plenamente realizada. Seu coração
estava apertado. Deveria ir embora e procurar esquecê-lo? Tudo não seria apenas ilusão?
— Acho que o Robert vai dar início à coletiva — disse Edward Knight, aproximando-se.
— Você não gostaria de acompanhar-me ao buffet, Peggy? Acho que Adam não poderá
dispensar-lhe atenção agora. Podemos nos servir e descansar um pouco os pés.
O zelo e a simpatia que o sr. Knight demonstrou com aquela atitude deixou claro a
Peggy que, para ele, ela não era apenas mais uma das acompanhantes do famoso Adam
Gale; que merecia um pouco mais de atenção também.
— Apreciaria imensamente, sr. Knight. — respondeu, educada.
— Sinto muito, Peggy — desculpou-se Adam. — Com toda essa agitação, nem pensei
em comida.
— Não faz mal. Eu percebi que você não teve tempo — disse ela com desdém. — Nem
mesmo para mim — completou em voz baixa.
O mal-estar de Peggy não melhorava. As atitudes de Adam davam sinais bem claros de
que ela era apenas uma figurante na vida do grande astro. Isso, somado aos
acontecimentos do carro e ao pouco de álcool que ingerira, formavam uma mistura de
ingredientes muito perigosa para o seu relacionamento com ele.
Talvez aquela fosse sua oportunidade de pôr um fim a sua tortura, fugindo dali e de
Adam. Com toda a bajulação feita por seus convidados, ele sequer sentiria a sua falta,
pelo menos até a hora que quisesse ir para casa, imaginava ela.
— Pode ir para a sua coletiva, Adam. Não se preocupe comigo — disse Peggy.
— Por que deveria? Não sou um rival — brincou o sr. Knight.
— Se você não fosse casado com Annabel, eu não a confiaria a você — rebateu Adam.
— Vocês jovens têm muito que aprender. — E bateu nos ombros de Adam, afastando-
se com Peggy rumo ao centro do salão.
Com exceção das paredes brancas, todo o salão estava luxuosamente decorado em
vermelho e dourado, como se fosse um cabaré. Num dos cantos, num palco improvisado,
havia até uma banda vestida a caráter, que tocava harmoniosamente, dando um toque
de realismo ao recinto. A pequena pista de dança estava vazia e, apesar de haver várias
mesas disponíveis, as pessoas preferiam permanecer em pé.
Em outra extremidade do salão havia uma mesa muito farta, à disposição dos
convidados, e os garçons circulavam por ali com bandejas de bebidas. Para Peggy que
havia abusado um pouco do champanha, seria melhor comer alguma coisa para minorar
da tontura que sentia.
— Nada como um pouco de comida sólida no estômago para atravessarmos uma noite
como essa — afirmou o sr. Knight.
— Não está se divertindo? — quis saber Peggy, sorrindo, enquanto se dirigiam para a
mesa de comida.
— E como! Só que, se não colocar algo sólido no estômago, em breve estarei fora do ar
— brincou Edward, apanhando prato e talher.
— Ora, sr. Knight!
— Sinto como se tudo rodasse ao meu redor e conto com sua ajuda para recuperar-me
um pouco. Você é muito inteligente e sóbria, querida, exatamente o que preciso no
momento.
— Por que acha isso? — indagou ela, surpresa e encantada com o charme dele.
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— Vi o programa de TV com Jenny.
Aquele comentário inesperado fez com que Peggy arregalasse os olhos, encarando
admirada e um pouco envergonhada o sr. Knight. Maldito programa! Se não fosse por
ele, não estaria nesta situação. O seu desejo, agora era de nunca ter ido ao show.
Peggy serviu-se de peito de peru e salada, enquanto o sr. Knight preferia apenas
alguns salgadinhos. Avistando uma mesa vazia numa das extremidades da sala, eles
apanharam seus pratos e foram para lá, para que pudessem conversar tranqüilamente,
comendo mais à vontade. Mesmo estando um pouco deprimida, Peggy sentia um apetite
tão grande que seu estômago doía.
— Posso discordar de uma das respostas que deu para Adam naquela tarde? —
perguntou o sr. Knight.
— Eu já retirei aquela da gravidez e do fogão. Sem dúvidas, ele pertence ao palco —
adiantou-se.
— Não é a essa resposta que me refiro — replicou o homem, sorrindo. — Você afirmou
que não faria nada para que um homem se sentisse especial em sua vida. Mas, veja bem,
Peggy, todos gostamos de sermos especiais, principalmente para as pessoas que
amamos. É isso que faz o amor valer a pena. Se você não puder proporcionar isso a
quem ama, nunca terá um relacionamento duradouro na vida.
O sr. Knight fez um breve intervalo, levando um canapê de presunto à boca. Peggy,
por sua vez, não tirava o olhar dele, aguardando em suspense pelo que ele diria a seguir.
— Isso não significa alimentar um ego, meu bem, mas proporcionar segurança
emocional. Lamento muito que Adam não possa dar-lhe isto, hoje, nesta festa.
— Sim... Ele não precisa de mim — afirmou ela, percebendo naqueles olhos negros e
sinceros que poderia desabafar. E contou tudo a respeito do seu dilema.
— Se ele não precisasse de você, por que a convidaria? — perguntou Edward com
sabedoria.
Lembrando-se das declarações de Adam no carro, Peggy fez um ar de quem discordava
de sua lógica.
— Isso é mais complexo do que parece. Talvez seja algo que ele queira provar... eu não
sei, mas gostaria de saber. Esta dúvida está me destruindo.
— Vejo que você está muito atraída por ele.
— Qual mulher não estaria? — perguntou ela.
— Não é isso que quero dizer. Sei que, se tivesse sido atraída pela fama de Adam, você
teria tentado vencer o concurso para se encontrar com ele.
— Acho que o senhor sabe demais, sr. Knight.
— Idade e experiência, querida. Elas me dizem que será preciso uma mulher de
caráter muito forte e persistente para conseguir desenvolver um relacionamento bem
sucedido com Adam. Ele está solitário há muito tempo, precisando aprender o que as
pessoas esperam dele. É um processo de aprendizagem muito longo, que requer muita
paciência.
Edward comeu o último salgadinho de seu prato, limpou calmamente as mãos no
guardanapo e suspirou com ar de satisfação enquanto Peggy o observava, refletindo
sobre as palavras que ainda ecoavam em sua mente.
— O que acha que devo fazer? — indagou.

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— Minha intenção não era a de lhe dar conselhos, Peggy. Eu apenas falava de coisas
que sei que são verdadeiras. Às vezes, um diálogo franco ajuda a clarear a mente e esco-
lher o melhor caminho. Na minha opinião, não devemos desistir do que queremos sem
luta, mas compete a você decidir o que fazer, querida.
Peggy terminou de comer sua salada, ainda refletindo sobre as declarações do sr.
Knight. Antes daquela conversa, estava quase convencida de que seria tolice insistir num
relacionamento com Adam. Ela era muito orgulhosa para contentar-se com um papel
secundário na vida dele. Porém, o motivo que a levara ao teatro naquela noite ainda
pulsava em seu coração. Nenhum outro homem tinha conseguido causar-lhe tanto
desejo ou deixá-la numa confusão emocional tão grande quanto Adam.
— O senhor sempre conseguiu tudo pelo que lutou? — indagou curiosa.
Ele olhou para o canto onde estava sua esposa e, com um brilho nos olhos, típico de
quem está apaixonado, afirmou:
— Eu sempre dei tudo de mim para alcançar os meus objetivos. Algumas vezes
consegui, outras não. Mas não me arrependo de nenhuma de minhas lutas. O que mais
desejei na vida, a minha maior ambição, essa eu alcancei.
Nesse instante, Peggy viu Adam conduzir a estrela Karen Ester ao local das
entrevistas, sorrindo. Sentiu uma ponta de ciúmes pela proximidade dos dois, mas isso
foi como um sinal, uma luz que mostrava o caminho que devia seguir. Entre tantas
mulheres a escolher, ela fora a escolhida por Adam para acompanhá-lo à festa, o que
significava alguma coisa de positivo. Ele a queria... e ela também o queria. "Não, não iria
partir", decidiu.
— Acho que já vão começar a entrevista. Vamos para lá? — convidou o sr. Knight.
— Vamos — concordou Peggy, sorrindo. — Grata pela conversa.
— Foi um grande prazer. Espero voltar a vê-la em breve, Peggy.
Peggy também gostaria de revê-lo. Adoraria compartilhar de tudo o que dissesse
respeito à vida de Adam, inclusive sua amizade com os Knight, mas no momento, sua
prioridade era fazer-se notada por Adam, como alguém que entrara na vida dele de modo
marcante, como ele na sua.
De todos os meios possíveis, com todas as suas forças, ela lutaria. Qualquer esforço
valeria a pena para conseguir o amor de Adam!

CAPÍTULO IX

Adam respondeu às perguntas dos jornalistas com a mesma sinceridade e


profissionalismo que exibira no Ross Elliot Show. Charmoso e cordial no trato com as
pessoas, bem-humorado, contornava as questões difíceis com habilidade e sutileza.
Somente quando um repórter perguntou sobre Peggy é que fez um ar mais sério. Olhou
com desdém para o jornalista, dizendo com um sorriso frio:
— Uma vez que acabaram as perguntas sobre o show, acho que podemos considerar
essa coletiva encerrada. Obrigado por terem vindo à minha festa. Espero que todos se
divirtam.

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Levantou-se assim que terminou seu pronunciamento, seguido por Karen, Robert,
Jenny, Tony e Cass. A solidariedade demonstrada por seus amigos além do modo rápido
com que agiram não permitiu aos jornalistas nenhuma objeção, uma vez que eles já
tinham um farto material para o seu trabalho. Sendo assim, não lhes restava mais nada
a fazer, a não ser aplaudirem longamente os artistas.
Afastando-se do grupo, Adam foi ter com Peggy.
— Nunca mais vou permitir a presença daquele caçador de escândalos em uma
entrevista minha. — Ele estava muito irritado, mas, após uma pequena pausa, acalmou-
se um pouco e desculpou-se: — Sinto muito pelo transtorno, Peggy. Em todo lugar há
pessoas que não respeitam a intimidade dos outros mas eu prometo poupá-la, tanto
quanto possível, dos aborrecimentos, está bem?
Peggy teria preferido que ele respondesse francamente aos repórteres, mas sabia que
Adam tinha erguido várias barreiras de autoproteção em sua vida e que, no momento,
não lhe cabia mudar nada.
— Acho que é o preço que se paga por estar com você. Espero que valha a pena —
respondeu.
— Você se cansou desta festa? — perguntou ele com arrogância.
— O que acha?
— Pensei que a maioria das garotas apreciasse esse tipo de badalação. Você não está
gostando, não é?
— Não sou como as outras garotas, lembra-se? — ela respondeu, demonstrando sua
irritação no olhar.
— Lamento que tenha sido uma provação para você — disse ele, com a voz endurecida
pelo orgulho ferido.
Peggy respirou profundamente, tentando recuperar o autocontrole. Fora egoísta.
Afinal, esta era a grande noite dele, pela qual havia trabalhado com afinco, e não seria
justo que ela estragasse com sua irritação. Suavizando a voz, tentou remendar a
situação.
— Tive uma amostra do que esperar de você quando estivermos em público. Em todo
caso, ainda estou aqui, Adam.
— Pensei que gostaria de conhecer o pessoal influente da televisão.
— No que me diz respeito, só há uma pessoa realmente importante nesta sala, que
estou farta de compartilhar com todo mundo.
O sorriso que Peggy recebeu de Adam foi a maior recompensa que poderia esperar
naquela noite. Tinha conseguido fazê-lo sentir-se particularmente especial, o que lhe deu
uma enorme satisfação e um arrepio de desejo pelo corpo.
— Vamos sair daqui — murmurou ele conduzindo-a pelo braço.
Peggy se indagava se a segurança que sentia também existiria no coração de Adam.
Afinal sua atitude na noite anterior dificilmente poderia fazê-lo sentir-se confiante em
relação a ela.
Após apanharem o casaco e a bolsa de Peggy, eles se dirigiram ao saguão. Não
demorou muito para que o elevador que os levaria a um dos andares superiores
chegasse. Tão logo as portas se fecharam Adam tomou Peggy nos braços.
— Você não sabe como é bom senti-la junto de mim, Peggy. Meus pensamentos têm
sido seus nestes últimos dias.
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A firmeza com que ele falou convenceu Peggy de sua sinceridade. Assim como ela
passara os últimos tempos pensando nele, Adam também os passara pensando nela. Por
isso, confessou, enquanto o abraçava com carinho:
— Você também esteve em meus pensamentos.
— Pensamentos ruins?
— Alguns. Mas sempre desejando que as coisas tivessem sido diferentes.
— E serão — afirmou ele com sinceridade, e o coração de Peggy palpitou. — Com você,
tudo será diferente!
O elevador parou alguns andares acima. Peggy foi conduzida por um corredor
acarpetado, no final do qual Adam abriu a porta de um dos apartamentos para que ela
entrasse.
O aposento era muito luxuoso, decorado segundo a última palavra em mobília e
conforto: sofás e poltronas de couro, sala de jantar com mesa e cadeiras em mogno
natural e um buffet, com tapetes persas no chão, equipamentos de som e vídeo, quadros
modernos nas paredes, lustres e luminárias de cristal, vasos de porcelana chinesa e um
bar espelhado com seis banquetas. Peggy só tinha visto um duplex assim em revistas de
decoração.
— Você mora aqui? — indagou, sem poder acreditar em seus olhos.
— Oh, não! — riu-se. — Só o aluguei por esta noite.
— Tudo isso só por uma noite? — perguntou ela confusa com tanta extravagância.
— Para mim não é muito caro — explicou Adam, retirando o paletó e a gravata.
— Mas por que ficar aqui se pode ir para casa?
— Por conveniência. Se você não tivesse vindo, eu teria me embebedado naquela festa.
— Gavin contou-me que você fez isso ontem à noite!
— Ora! Eu não esperava que ele contasse isso!
— Por que você saiu com ele? — indagou Peggy; queria confirmar a versão de Gavin.
Adam retirou a gravata borboleta e as abotoaduras. Quando foi desabotoando a
camisa, ela começou a se sentir um pouco embaraçada. Será que ele pretendia despir-se
tão depressa? Mas Adam apenas abriu a camisa até a altura do peito e arregaçou as
mangas até o cotovelo.
Foi um alívio. Ser lentamente preparada para um momento íntimo era totalmente
diferente de ir direto ao assunto, como as aparências indicavam que seria. A voz calma
de Adam suavizou todos os temores de Peggy.
— A princípio eu ia apenas dar uma carona a Gavin, mas ele começou a falar sobre
você, deixando-me interessado. Olhe, Peggy, eu não fui procurá-la só para aliviar a
culpa. Estava preocupado com as conseqüências de meus atos e... não podia esquecer do
que houve entre nós antes de eu ter estragado tudo.
Adam aproximou-se para tomá-la em seus braços.
— Você não estragou nada, Adam — afirmou, sentindo os efeitos daquela proximidade
perturbadora.
— Não tenha medo, Peggy — disse ele acariciando suavemente seus cabelos.
— Não estou com medo.
— Mas você estava tensa há alguns instantes. Era porque eu estava me despindo?
— É que não estou habituada a esse tipo de situação — ela confessou, corada.

53
— Peggy, quero amar você, não posso negar, mas não sou insensível ao que possa
estar sentindo. Se quiser só conversar, não me importo — sugeriu ele, tranqüilo.
Ah, não, Peggy não queria ser tratada como um bibelô! Adoraria ficar com Adam sem
nenhuma preocupação gerada por sentimentos de culpa.
— Eu quero você — confessou ela ternamente.
Seus lábios se tocaram e os dois sucumbiram à paixão. O longo e ardente beijo que
trocaram levou-os ao delírio de desejo.
De repente, ele interrompeu aquele momento de êxtase para dizer, enquanto alisava
seus cabelos:
— O que você faz comigo, Peggy? Perco o controle. E não posso tomá-la tão depressa
assim. Antes você precisa estar preparada.
— Eu estou, Adam — sussurrou ela.
As mãos dele agora deslizavam sedutoramente pelo corpo de Peggy.
— Nem perguntei se é seguro para você. Também não o fiz da última vez. Eu poderia
engravidá-la, já pensou nisso?
— Não, nem da outra vez — admitiu Peggy. Não queria falar ou pensar no que estava
fazendo. Tudo o que queria era ser amada por Adam.
— E esta noite? Não quero magoá-la de modo algum. Se não for seguro, eu posso...
— Não! — interrompeu ela com veemência, sem estar certa de quem Adam queria
realmente resguardar. — Obrigada, mas é seguro.
— Eu quero protegê-la, Peggy. Quero proporcionar-lhe boas recordações.
Boas recordações. Era tudo o que representaria para ele? Por alguns instantes Peggy
perdeu o controle; em poucos segundos, contudo, recobrou a confiança. Ela era especial
para Adam, diferente de todas as outras garotas de sua vida. Ele se importava com ela.
— Não temo nada, Adam — reafirmou.
— Você está linda, Peggy, e eu quero compartilhar esse momento com você, sem
precipitações. Tem que ser como... criar música.
Sabendo o que isso significava para ele, Peggy sentiu um leve arrepio percorrer-lhe a
sua espinha.
— Eu tenho uma garrafa de champanha que podemos levar lá para cima. Você já viu
um banheiro com hidromassagem?
— Não.
— Nada é tão relaxante quanto uma hidromassagem. Você vai gostar!
Adam dirigiu-se ao bar, apanhou uma bandeja com a garrafa de champanha, um
balde de gelo e duas taças.
— Lá há uma sauna também, mas acho melhor deixarmos isso para outra vez.
Com as mãos ocupadas, começou a subir a escada espiralada que ficava num dos
cantos da sala. Os degraus conduziam a um quarto muito aconchegante, com uma
grande cama redonda ao centro.
— Você abre a porta para mim, Peggy?
Peggy atendeu prontamente ao pedido e, meio surpresa, deu passagem para ele
atravessar o quarto, indo diretamente ao espaçoso banheiro todo de mármore, tão
luxuoso quanto o resto do duplex. Ele colocou a bandeja na borda de uma banheira que
poderia acomodar duas pessoas sem problemas. Abriu as torneiras temperando a água
até ficar morna.
54
— Vou deixá-la por uns minutos enquanto ligo para a recepção. Volto já.
Peggy não moveu um músculo sequer. Adam esperava que ela se despisse, ficasse
totalmente nua... pronta para ele quando voltasse? Sentiu-se desconfortável com a situa-
ção. Dessa forma não seria possível qualquer tipo de aproximação.
Olhou para a banheira. Como a noite fora longa para Adam, talvez alguns minutos na
hidromassagem fossem uma boa preparação antes de se amarem. E, por que não entrar
na banheira para ver se conseguia ficar à vontade? Certamente Adam estava acostumado
com garotas que não davam a mínima importância ao fato de tirar a roupa assim, na sua
frente. Por isso, estava sendo educado ao se retirar para que ela pudesse utilizar as
instalações do banheiro.
Peggy respirou fundo, tranqüilizando-se, e, começou a se despir. Entrou na banheira,
e justamente quando estava se acostumando com a agitação da água, conseguindo
relaxar, Adam voltou. Estava completamente nu.
Os olhos de Peggy observaram-lhe o corpo másculo ao entrar lentamente na banheira
e sentar-se à sua frente. Como se estivesse em um restaurante, Adam abriu a garrafa e
serviu as duas taças com champanha.
— Sobre o que você e Edward conversaram?
Ela hesitou por alguns instantes, tentando concentrar-se na pergunta. A visão de
Adam nu a deixara estática, como que hipnotizada. Foi preciso uma dose de força de
vontade para que voltasse a agir normalmente. No entanto estava grata porque ele não
fizera nenhum comentário sobre sua nudez.
— Nós só comentamos quão memorável estava sendo esta noite.
— Sim. Uma noite memorável. Eu dominei a platéia, não foi?
— Eles adoraram — afirmou Peggy. — Acho que terá uma longa temporada pela
frente.
— Bebamos a isso — brindou ele, sorrindo. — Invejo Robert e o Tony pelo pai que têm.
— Ele é muito gentil e muito esperto. Você deve gostar muito dos Knight, não é,
Adam?
— Sim... Mas eles fazem com que eu sinta falta de algo. Eles são tão completos, tão...
Você me entende?
— Sim. Eles já se definiram em tudo na vida, não é?
— Tem razão.
Peggy sentiu um arrepio percorrendo-lhe a espinha quando o olhar de Adam
escorregou lentamente pelo seu corpo. Tomou outro gole de champanha, enquanto sentia
o efeito relaxante dos jatos de água em volta de seu corpo. Tudo era muito romântico. Os
pés de Adam deslizaram suavemente por suas coxas, criando nela uma forte onda de
excitação.
— Venha aqui — murmurou gentil.
Não. Em uma banheira, não. Rejeitou logo a idéia e suas dúvidas retornaram. Queria
que aquela noite com Adam fosse algo mais importante do que uma simples união física.
Mas de repente parecia-lhe que ele já vivera dezenas de momentos iguais àquele com
dezenas de outras parceiras.
Peggy saiu da banheira, envolveu-se em uma grande toalha felpuda, dizendo:
— Esqueça, Adam! Esqueça tudo! — Em seguida apanhou suas roupas e saiu.
— Mas...
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Sem dar ouvidos a Adam, ela entrou no quarto, deixando um rastro de água atrás de
si. Estava furiosa por ter feito papel de tola, tentando construir um sonho que nunca se
tornaria realidade.
Quando Adam conseguiu alcançá-la, segurou seus ombros para forçá-la a encará-lo
nos olhos:
— Espere um minuto! — ordenou com raiva.
— Não espero nada! — gritou zangada. — Não preciso de sua experiência sexual para
sentir-me melhor. Pegue sua hidromassagem e faça bom proveito com uma outra!
— Não quero outra, Peggy. O que é isso? Uma vingança pelo que fiz a você da outra
vez?
Adam segurou-a com violência, fazendo com que derrubasse a toalha no chão. Antes
de dar uma resposta agressiva, Peggy procurou proteger o corpo com suas roupas.
— Isso não tem mais importância. Eu não preciso de que você me dê uma boa
recordação para compensar o que me fez. A partir de agora pode considerar-se livre de
qualquer culpa. Eu não quero seu sentimento de culpa nem nada seu, entendeu?
Ela tentou desvencilhar-se de Adam, mas ele a puxou contra si, enquanto sussurrava
em seu ouvido:
— E isso? Isso não é nada para você?
Beijou-a ardentemente, tirando-lhe o fôlego. O contato com o corpo nu de Adam
somado à atração física que sentia por ele fez com que cedesse. Deixou cair a roupa ao
chão e envolveu-o com um terno abraço, retribuindo os carinhos que recebia.
— Nunca desejei uma mulher como desejo você, Peggy. A banheira foi só um prelúdio
para você ficar menos tensa. Por acaso acha que isso é sentimento de culpa? Eu mal
consigo me conter, entende?
A força do desejo a fez tremer, tirando suas energias.
— Diga que me quer, Peggy.
— Sim, eu o quero, Adam — respondeu sussurrando.
Mais uma vez eles se beijaram, sedentos de satisfazerem suas vontades, desejando
que aquele momento se prolongasse indefinidamente. Os lábios de Adam percorreram o
corpo de Peggy, fazendo seu coração acelerar mais e mais. Ele tocava o pescoço, os
ombros, os seios, com mãos provocantes, causando sensações cada vez mais fortes e
irresistíveis, deixando-a louca com a alteração ardente de suas sensações.
Peggy deslizou as mãos pelos cabelos, os ombros e a cintura dele, numa resposta
silenciosa aos estímulos e carícias recebidas. Todas as barreiras e temores foram sendo
gradualmente destruídos por um crescendo de emoções e prazer que fazia seu sangue
ferver nas veias.
Unidos, como um só ser, eles se entregaram finalmente sem restrições, tomados pelo
ritmo de seus corpos. Um suspiro rouco, num misto de prazer e dor, marcou o clímax
daquele ato de amor. Depois, inertes, eles permaneceram abraçados, como que querendo
prolongar a magia daquele instante para sempre.
Depois de um longo silêncio, Adam falou:
— Você está bem?
— Sim.
— Quero agradecer-lhe, querida — disse, beijando sua testa.
— Ela sorriu. — Por quê?
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— Não sei... você tornou esta noite a mais especial de minha vida. — Puxou a cabeça
de Peggy contra seu peito, antes de completar. — Quando a vi no teatro, senti-me ali-
viado. Depois, no intervalo... a antecipação deste momento. No carro... excitação e
frustração. Mas nada, nada que senti antes foi igual a isso. — Beijou mais uma vez os
seus cabelos. Cansada?
— Hummm... cansada e feliz.
— Eu também.
Adam abraçou Peggy com carinho, aconchegando-a junto ao corpo. Tocou-a
novamente nos seios. Dessa vez não era o prelúdio de uma nova união, mas uma doce
recordação do que compartilharam juntos, como que querendo prolongar as sensações
boas durante o sono.
Feliz, Peggy sorria. Agora tinha certeza de que fora especial para ele o tempo todo; era
o homem, não o astro pop, quem a estava acariciando. Um homem que a queria mais do
que a qualquer outra mulher de sua vida e pelo qual lutaria com todas as forças de seu
coração.

CAPÍTULO X

Na manhã seguinte, quando Peggy acordou, Adam ainda dormia, tranqüilo. Dava
muita pena interromper aquele descanso merecido, mas ela não poderia partir sem dizer
alguma coisa. Seria horrível, para ele, despertar sozinho depois de tudo o que
compartilharam na noite anterior.
Ele parecia vulnerável, deitado ali, relaxado e com uma expressão tão suave no rosto
que aparentava ter menos que os seus vinte e oito anos. Peggy curvou-se sobre ele para
retirar seus cabelos da testa.
— Adam... — chamou, carinhosamente.
Adam abriu os olhos, sonolento, e olhou para Peggy.
— O que você faz vestida?
— Preciso ir embora. Só queria avisá-lo.
— Por quê? — ele perguntou, pegando suas mãos e puxando-a para a cama. — Quero
que fique, Peggy.
Peggy venceu a tentação de ficar e reviver os acontecimentos da noite anterior. Nada
seria mais agradável do que poder deixar tudo de lado para ficar mais algumas horas
com Adam, porém o seu bom senso exigia que assumisse suas responsabilidades.
Havia tempo para a diversão e tempo para o trabalho. Naquela manhã tinha uma
prova a ser feita e um trabalho para entregar. Se deixasse de ir à faculdade, perderia as
orientações para os exames finais que se aproximavam. Por certo não era a melhor hora
para matar aula.
— Tenho aula as nove, Adam. Preciso mudar de roupa e pegar o material das aulas de
hoje.
— Não vá. Não faz mal matar uma aula, faz?
— Não é apenas uma aula, Adam. São quatro, e muito importantes.

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— O que importa? Copie a matéria de Gavin depois.
Adam puxou a cabeça de Peggy contra o peito e pediu:
— Passe o dia comigo, querida.
O coração dela palpitava, pedindo que ficasse, enquanto sua mente protestava contra
a fuga às responsabilidades. Queria participar da vida de Adam, mas não à custa de seus
estudos. Ambos teriam que saber dar e receber para levar aquele relacionamento
adiante.
Tocando os lábios dele com os seus, como que para recordar a intimidade da noite
anterior, Peggy disse:
— Você desistiria do show desta noite se eu pedisse para que ficasse comigo?
— Você sabe que isso é impossível — ele respondeu, rejeitando a idéia.
— Não há ninguém que possa substituí-lo? Alguém como Gavin, que pudesse sentir as
emoções por você?
Adam fitou Peggy por um instante, franzindo a testa em sinal de descontentamento.
— As situações não se comparam — afirmou.
Peggy teve vontade de explodir, dizer-lhe algumas verdades, mas conseguiu se
controlar.
— Seu trabalho é importante demais para ser posto de lado, enquanto meus estudos
podem ser ignorados toda a vez que atrapalharem seu programa ou contrariarem seus
desejos?
— Não. Não é isso o que quero dizer. Pare de pôr palavras na minha boca! — ele
reclamou furioso.
— Então o que quer dizer, Adam? — indagou ela, levantando-se.
— Será que desejar que a deliciosa noite de ontem se prolongue pelo dia de hoje é
pedir demais?
— Não. Eu também gostaria muito.
— Então?
— Assim como você não está livre à noite, eu não estou durante o dia.
— Por que você vive discutindo comigo? Droga! Nós poderíamos estar nos amando
agora!
Ela respirou fundo, recobrando as energias para resolver o conflito entre o desejo de
ficar com Adam e o fato de não poder aceitar suas condições.
— Sou mais que um corpo, Adam, e tenho mais coisas a fazer na vida do que apenas
fazer amor. Não sacrificarei minha vida pelo seu prazer.
— E o seu — rebateu ele.
— Sim. Meu — concordou, sentindo-se mal por ter que discutir com Adam, mas era a
sua liberdade que estava defendendo. Fora a parceira de Adam por uma noite, mas sabia
que nunca se sentiria bem naquela posição. Mais uma vez, aparentando calma, tentou
explicar seu ponto de vista.
— Eu poderia dar uma desculpa esfarrapada para o Gavin e copiar a matéria dele,
sem problemas, mas não creio que ele vá ser tão camarada das outras vezes. Nós dois
sempre competimos pelo primeiro lugar da turma e os exames finais estão próximos. Não
cheguei tão longe para desistir agora.
— Mas é só um dia! — insistiu Adam.

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— Não! Não é só um dia! Você quer que as coisas aconteçam sempre como e quando
você deseja, como ontem na festa. Você representou o grande Adam Gale para seus
admiradores. Quando se cansou, veio procurar-me. O que importa é a sua conveniência.
Para o inferno com o que eu preciso fazer, não é?
A cor dos olhos de Adam se alterou, tamanha a irritação que sentia.
— Sinto muito não ser de sua conveniência ficar comigo. Se seus estudos vêm antes
de nós, só posso desejar-lhe um bom-dia — disse sarcástico.
As palavras de Adam atingiram o coração de Peggy. Mas, mais uma vez, a razão falou
mais alto.
— Respeito sua necessidade e o seu direito de trabalhar e só peço o mesmo
tratamento. O que tenho a fazer não é importante para você, mas é muito importante
para mim.
— Estou vendo — disse ele secamente.
Lágrimas de tristeza umedeceram os olhos de Peggy. Estava bem claro que tentar
argumentar com Adam seria inútil, e o orgulho ferido só lhe deixava uma atitude para
tomar: ir embora.
Peggy desceu a escada lentamente, na esperança de que ele dissesse alguma coisa,
fizesse algum sinal para que ela pudesse voltar para abraçá-lo bem forte. Silêncio. Tudo
o que ouvia eram seus próprios passos.
Com dificuldade, chegou até a porta e segurou a maçaneta trêmula, aguardando ainda
alguns instantes. Queria voltar, ficar na cama com Adam, amando e se sentindo amada,
com o coração tranqüilo, sem dúvidas.
Impossível. Na verdade, não era amada. E agora não podia mudar de idéia. O mal já
estava feito e não havia como voltar o tempo para recuperar a harmonia de algumas
horas atrás. Além do mais, a voz da razão lhe dizia que Adam precisava aprender a ceder
para que o relacionamento deles fosse agradável também fora da cama. Peggy sabia que
apenas os prazeres do leito não seriam suficientes para mantê-los juntos. Era preciso
existir uma maior compreensão e tolerância dos dois lados.
Peggy deixou o hotel e foi para casa trocar de roupa. Naquele dia assistiu a todas as
aulas e, mesmo tendo recebido a nota máxima num trabalho, seu estado de espírito não
melhorou. Era muito difícil concentrar-se quando se sentia tão melancólica.
Gavin, por sua vez, ainda estava eufórico por causa da festa e tentou especular sobre
o relacionamento dela com Adam, mas não teve muitas informações a respeito. Muito
concisa em suas declarações, ela não se importou com o que o colega pudesse deduzir do
que vira na noite anterior. O assunto era muito doloroso para ser discutido,
especialmente com alguém como ele.
Quando, a última aula terminou, às quatro da tarde, Peggy foi sem demora pegar o
circular. Dessa vez, a viagem de balsa pela baía, com sua bela paisagem, não lhe
despertou o interesse. Fez todo o percurso até Neutral Bay sem conseguir tirar a imagem
de Adam de sua mente. Argumentar com ele na hora de acordar não tinha sido uma boa
tática. Ela poderia perfeitamente ter deixado a discussão para depois, dividindo seu dia
entre a faculdade e o cantor. Sem dúvida, tinha sido orgulhosa, tola e vaidosa.
Quando chegou ao apartamento, sentindo-se infeliz, estava tão distraída que nem
notou a aproximação de alguém enquanto procurava a chave na bolsa. Assustou-se com

59
a mão masculina que agarrou seus livros. Ia gritar em sinal de protesto quando, ao
erguer a cabeça, vislumbrou o rosto que estivera o dia todo presente em sua mente.
— Adam — gritou ela aliviada, abraçando-o.
— Isso significa que sou bem-vindo?
— Oh, Adam! Fui tão tola esta manhã, falando de maneira tão arrogante. Você tinha
todo o direito de...
Ele a interrompeu, pondo os dedos em seus lábios.
— Não. Você estava certa, Peggy. Pensei o dia todo no assunto e a verdade é que estou
acostumado a que as mulheres façam tudo o que quero. Eu deveria saber que com você
seria diferente — Adam sorriu, alisando o rosto que fora esbofeteado uma vez. — Você já
tinha me avisado.
Em resposta ela sorriu, feliz pelo fato de ter sido compreendida.
— Eu adoraria ter passado o dia com você, Adam. Foi horrível ter que partir.
— Ainda nos restam algumas horas antes do show — brincou ele. — Trouxe um pouco
de comida chinesa. Que tal?
— Ótimo. Não comi nada o dia todo. Estou morta de fome.
Adam apanhou o seu material com uma das mãos e abraçou-a com a outra. Peggy
sentia-se muito feliz ao caminhar ao lado dele até o Range Rover para pegar a comida.
Uma vez no apartamento de Peggy, falaram longamente sobre o curso dela na
faculdade. Comunicação era um assunto que Adam achava muito atraente, tanto que
expressava sua opinião sobre filmagens e vídeos com base em sua própria experiência.
Preocupado com a imagem, ele habitualmente se ocupava de todos os detalhes técnicos
que envolviam o seu trabalho.
Peggy esquentou a comida chinesa e eles a comeram com muito apetite, achando
aquela refeição a mais deliciosa de suas vidas, ainda mais tendo o tempero especial do
amor. Sentados frente a frente, eles se olhavam com um brilho diferente nos olhos,
demonstrando todo o prazer que sentiam por estar juntos.
— Preciso ir agora, Peggy, mas gostaria de voltar depois do show — disse Adam
olhando no relógio.
— Eu também gostaria que você viesse.
— Estarei livre lá pelas onze e trinta, está bem?
— Eu não tenho champanha — advertiu ela quando ele a tomou nos braços.
— Com você não preciso disso!
Peggy correspondeu com toda a emoção ao beijo ardente que ele lhe deu. Então,
acariciando seus cabelos, ele murmurou:
— Esta noite...
Depois que Adam partiu, Peggy sentiu-se a mulher mais feliz do mundo. Estava
profundamente apaixonada por ele, certa de que todos os desentendimentos haviam se
acabado e radiante com os resultados positivos da discussão matutina. Já não tinha
dúvidas de que era especial para ele e diferente de todas as outras mulheres que Adam
havia conhecido. Aquele romance poderia durar para sempre.
Nas horas seguintes, Peggy deu alguns retoques na arrumação da sala, trocou os
lençóis da cama, tomou banho, cuidou de sua beleza, sempre ao som da fita de Encontro
com o Desconhecido. As onze e trinta estava pronta, esperando por ele.

60
Onze e quarenta e cinco. Talvez Adam estivesse atrasado por causa do assédio das fãs.
Era preciso ser paciente; afinal um astro como ele tinha que dar atenção a suas fãs.
Meia-noite... Peggy estava atenta a qualquer ruído de passos na escada ou no
corredor. Ele não demoraria muito tempo.
Meia-noite e meia... Peggy andava pela sala, preocupada e um pouco brava também.
Teria ocorrido alguma coisa? Não. De certo ele estava dando entrevistas a algum
jornalista. Além do mais, ela não iria sair de lá mesmo. Ficaria em casa esperando por
ele, pronta para dar-lhe todo o seu amor.
Às quinze para a uma Peggy apagou as luzes e foi deitar-se. O mínimo que Adam
poderia ter feito era ligar avisando o motivo de seu atraso. Mas não. Ele nem sequer
pensara nisso. Maldito Adam! Que fizesse bom proveito de sua vida de astro famoso!
Os olhos de Peggy encheram-se de lágrimas. Adam não podia fazer isso com ela! Não
depois de tudo o que conversaram e da promessa feita.
A campainha soou de repente, fazendo seu coração disparar. Mas o orgulho a fez
permanecer na cama. Após alguns segundos, um longo toque seguiu o primeiro. Adam
poderia gastar o dedo no botão da campainha que ela nunca abriria...
Não! Seria melhor dizer-lhe umas verdades! Jogando as cobertas para o lado, marchou
para a porta.
Adam trazia no rosto uma expressão confusa, um misto de arrependimento e euforia.
— Sinto muito estar...
— Como você ousa voltar aqui com marcas de batom de outra mulher no rosto? —
interrompeu Peggy, gritando.
O ar de surpresa de Adam foi a gota d'água. Peggy lhe teria batido a porta na cara se
ele não tivesse enfiado o pé no vão.
— Vá embora, Adam! Volte para onde estava. Vá para o inferno!
Usando de um pouco de força, Adam entrou no apartamento. Precisou de mais força
para dominar Peggy, que se debatia em seus braços.
— Posso explicar tudo, Peggy. Lamento tê-la aborrecido com meu atraso, mas, se você
me ouvir, posso explicar tudo.
Peggy fuzilava-o com o olhar, mas, em poucos instantes, a perturbadora proximidade
dele começou a fazer efeito. Cansada de debater-se, cedeu.
— Você tem um minuto — disse.
— Está bem. Meu pai veio me ver após o show. Meu pai, Peggy! E sua esposa beijou-
me quando nos despedimos. Vim para cá assim que pude.
Seu pai! Que estivera afastado por tantos anos! A fúria de Peggy desapareceu de
imediato.
— Oh, Adam! É maravilhoso!
— Para mim foi um choque. Eu fiquei meio sem jeito, feito uma criança. Dá para
acreditar? — disse ele sorrindo mais aliviado.
— Ele reconheceu seu talento afinal, Adam?
— Acho que sua esposa teve algo a ver com isso. Meu pai estava muito gentil!
— Oh, estou tão contente por você! E seus irmãos? — indagou, entusiasmada.
— Minha madrasta está planejando uma reunião de família em setembro, quando o
show for para Melbourne.
— É fantástico, não é?
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— Oh, Peggy. Eu devia ter ligado, você me perdoa?
— Só desta vez — E deu-lhe um delicioso beijo, demonstrando o seu desejo.
O encantamento da noite anterior foi mais uma vez lançado sobre eles. Trocaram
carícias, numa demonstração de que um sentimento mais profundo de posse mútua os
dominava. Era mais que magia o que unia aqueles corpos de maneira tão perfeita.
Depois de se amarem com muita ternura, adormeceram, exaustos e satisfeitos.
A manhã de sábado já estava quase no fim quando eles finalmente acordaram. Peggy
ficou nos braços de Adam, bem colada a ele, sem o menor desejo de sair de lá tão cedo.
— Gostaria de não ter que me apresentar hoje à tarde — lamentou Adam —, mas pelo
menos temos todo o dia de amanhã.
Um calafrio percorreu a espinha de Peggy. Adam se esquecera, de que ela costumava
trabalhar aos domingos. Mesmo sem querer estragar o clima romântico com uma nova
discussão, ela sabia que não poderia iludi-lo, por isso respirou fundo e contou:
— Sinto muito, Adam, mas não tenho todo o dia de amanhã. Aos domingos trabalho
como garçonete e não posso faltar. Preciso do dinheiro. Já tinha lhe falado a respeito no
restaurante do Harry.
Adam permaneceu imóvel, pensativo, demonstrando no rosto a frustração que sentia.
De repente sentou-se, quebrando o silêncio.
— Este trabalho é só pelo dinheiro, não é?
— Não posso passar sem ele, Adam.
— Bem, então eu lhe dou esse dinheiro que está faltando.
Peggy sentiu-se ofendida com aquela oferta. Era óbvio que Adam estava acostumado a
mulheres que aceitavam presentes e dinheiro, e não percebia a repulsa que ela sentia ao
ser tratada assim.
— Não posso aceitar seu dinheiro, Adam — afirmou, séria.
— Por quê? Se você quiser, pode me pagar quando tiver um emprego definitivo. Este
serviço de domingo não é especial para a sua carreira.
— Eu odeio toda vez que você quer me dar dinheiro, Adam. Sinto-me como se estivesse
sendo comprada.
— Você sabe que, com os nossos horários, só temos alguns minutos para ficarmos
juntos durante a semana — protestou ele, desgostoso. — Só nos resta o domingo.
— Lamento muito, mas empregos não aparecem com facilidade e esse é uma
segurança para mim.
Mais do que nunca, Peggy odiava aquele trabalho de garçonete. Se não fosse pelo
dinheiro, já teria desistido dele, pois tinha que andar tanto que ficava com dor nas
pernas. Pela primeira vez na vida, desejou que seus pais recebessem uma boa pensão
para poderem sustentar seus estudos, como acontecia com os colegas da faculdade. De
nada adiantava tentar se consolar pensando que seus pais sempre haviam feito o
máximo, e que ela era muito mais independente que seus amigos.
— Quanto você ganha, Peggy?
— Setenta dólares.
— Se eu lhe desse agora um cheque de dois mil, daria para cobrir suas despesas até o
final do curso, certo?
— Sim, mas...

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— Ouça. Considere isso como um empréstimo. Você põe o dinheiro no banco, retira
quando precisar, e, assim que puder, devolve tudo. Que tal?
O apelo no olhar de Adam era muito forte. Talvez essa fosse mesmo a melhor saída
para o impasse. Pondo o orgulho de lado, um tanto corada, ela concordou:
— Está bem, Adam. Você é muito generoso. Eu devolverei cada centavo que gastar.
Adam pulou fora da cama, com um sorriso triunfante nos lábios, e começou a vestir-
se.
— O dinheiro não me importa. Tudo o que quero é que você fique feliz. Enquanto você
liga para o seu patrão, eu pego o meu talão de cheques. E não se esqueça de dizer que
sua decisão é irrevogável.
— Está bem.
Talvez aquela fosse uma forma disfarçada de Adam comprá-la, mas Peggy não ligava
mais para isso. O importante era que aquela oferta de dinheiro demonstrava que ele
queria um relacionamento também a longo prazo.
Enquanto Adam foi até carro pegar o talão de cheques, Peggy telefonou para o patrão.
Ele ficou furioso por ter sido comunicado de maneira tão abrupta, mas reconheceu que
ela não tinha contrato e não havia nada a fazer além de acusá-la de irresponsabilidade.
Ao desligar ela sentiu que tinha começado uma viagem sem volta. Ainda estava
sentada no sofá quando Adam entrou com o talão de cheques, que colocou sobre a mesa.
Abraçando-a gentilmente e deslizando as mãos por seus cabelos, ele perguntou:
— Não foi uma decisão tão difícil assim, foi?
— Creio que eu estava tão acostumada com minha independência que não foi fácil
desistir dela.
— Mas esse cheque vai torná-la independente — afirmou Adam.
— É claro que sim, só que eu gosto mais da idéia de termos mais tempo juntos —
rebateu ela, meiga.
— Eu estava justamente pensando nisso. O que acha de mudar-se para a minha casa?
A sugestão de Adam fez o coração de Peggy disparar. A idéia era excitante e alarmante
ao mesmo tempo. Compartilhar com ele todos os momentos disponíveis era o que mais
desejava, mas... o que significaria para ele? Sentiu um mal-estar ao lembrar-se das
mulheres com quem Adam já vivera, sobre as quais lera a respeito nos jornais. Não
queria ser como elas: um simples passatempo de que ele se descartava quando se
cansava.
E quanto a seus pais? Por certo não resistiriam à mágoa se o assunto chegasse aos
jornais. Principalmente sua mãe. Mas Adam prometera não expô-la à imprensa e talvez
ela pudesse escapar dos jornalistas até que assumisse uma posição mais sólida na vida
dele.
— Se o seu dinheiro é tão curto como você diz, não vejo por que deva continuar a
pagar aluguel. Além do mais, Peggy, eu quero ser recebido por você todas as noites quan-
do voltar para casa.
Ela também o queria. Todas as noites. Sempre. E Adam parecia precisar da segurança
emocional que ela lhe podia proporcionar, e esse era mais um motivo para querê-la para
sempre.
O pai de Peggy costumava dizer: "Perdido por um, perdido por mil". Só que o que
estava em jogo desta vez era sua vida. Se aquele arranjo não desse certo, ela não
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resistiria a tamanha desilusão. As palavras do sr. Knight vieram-lhe à mente, como uma
carga de energia e coragem: "Não devemos desistir do que queremos sem luta".
Finalmente, decidiu:
— Aceito, Adam. — Selou o trato com um terno abraço.
A expressão dele era um misto de surpresa e de alegria. Enquanto a beijava, mal
continha sua empolgação.
— Venho à noite para ajudá-la com os pacotes e faremos a mudança amanhã.
— Está certo.
— Sabe do que mais gosto em você? — indagou ele, sorrindo, puxando a cabeça dela
contra seu peito.
— Do quê?
— Da maneira direta como você coloca tudo o que pensa. Você sempre joga
objetivamente.
— É verdade, Adam — concordou ela. Só que desta vez seu objetivo no jogo era Adam,
e a sua tática, o amor.

CAPÍTULO XI

— Peggy, Peggy!
O coração da moça disparou ao ouvir seu nome pronunciado com tanta alegria por
Adam. Todas as noites ele entrava em casa, barulhento, gritando por ela.
— Estou na sala de estar — respondeu, deixando de lado o livro que lia para ir-lhe ao
encontro. Duas semanas já se haviam passado desde se mudara para aquela casa e a
magia do relacionamento deles ainda perdurava.
Ao entrar na sala, o rosto de Adam exibia um largo sorriso de triunfo.
— Consegui! Dessa vez eu consegui, Peggy! A idéia surgiu-me a caminho de casa.
Vamos até a sala de música e depois você me diz sua opinião — disse, puxando-a pelo
braço.
Sentada numa poltrona, num dos cantos da sala, Peggy sentia-se feliz por Adam dar
tanta importância à sua opinião. Durante toda a semana, ele trabalhara naquela canção.
A melodia era boa, mas o ritmo e o arranjo ainda não estavam harmoniosos. Agora,
dedilhando em seu órgão eletrônico, ele aparentava confiança, fazendo-a sentir-se feliz
por isso.
O que lhe causava mais prazer era o fato de ter ajudado Adam a compor a letra. Adam
folheava um de seus livros quando a idéia de fazer uma sátira política veio-lhe à mente.
O projeto ficou ainda mais excitante quando ela deu algumas sugestões para um
vídeoclip que faria da canção um sucesso.
A introdução da música que ele tocava e cantava agora era a mesma, mas o arranjo
havia mudado. Logo nos primeiros acordes, foi possível notar uma grande diferença para
melhor. A letra e o ritmo da música combinavam com perfeição, sem deixar dúvidas de
que alcançariam seu objetivo de satirizar.
Quando Adam terminou de cantar, Peggy aplaudiu.

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— Você é um gênio! Ficou ótima, Adam!
— Sabe no que mais pensei? Por que você não dirige o vídeoclip para mim? —
perguntou, pondo-a no colo.
— Oh, Adam! Eu adoraria, mas ainda não tenho experiência suficiente para isso e...
Adam colocou os dedos nos lábios de Peggy, interrompendo-a. Com um sorriso,
explicou-se:
— Já pensei nisso também. Uma vez que vamos almoçar com os Knight amanhã,
podemos perguntar ao Robert como organizar tudo. Gostaria que você fizesse isso, Peggy.
Quero mostrar seu talento para o mundo.
"Eu o amo! Eu o amo!", pensou ela, quando Adam puxou-a para mais perto de si e a
beijou, acariciando o seu corpo como nenhum homem jamais fizera. A cada dia, o desejo
dele crescia mas Peggy ainda sentia uma certa insegurança emocional. Queria que ele
dissesse que a amava como nunca amara outra antes... Exclusivamente e para sempre.
Sequer uma vez, Adam lhe falara em amor e ela era muito orgulhosa para pedir-lhe que o
fizesse. Se Peggy se declarasse, provavelmente ele diria que também a amava, mas seria
uma resposta automática, que ela não queria.
O casal compartilhou a alegria da criação, de ambos, sentindo a química do amor
reagir em seus corpos de maneira irresistível. Adam levou-a nos seus braços ao quarto.
Com muita habilidade, tocou-lhe o corpo até vê-la rendida à vontade de se entregar
inteiramente.
Após o êxtase daquele momento em que seus corpos e almas estiveram unidos, Adam
adormeceu. Peggy porém, permaneceu acordada, no escuro com lágrimas nos olhos. Nem
mesmo o calor do corpo masculino junto ao seu pôde evitar a onda de solidão que se
apossou dela ao pensar nos sentimentos que Adam não expressava com clareza. Ele não
aparentava ter o menor conhecimento de suas dúvidas. No entanto, já havia aprendido a
repartir, a ceder quando não tinha razão. Para conseguir isso, ora Peggy usara armas
femininas, como a suavidade, quando ocorreram as discussões. A primeira semana
juntos fora um pouco difícil, mas agora tudo parecia estar correndo bem. Se ao menos
Adam tivesse dito uma vez que a amava, sua inquietação se dissiparia. Mas ele nunca
dissera nada, e talvez nunca o fizesse.
As sombras de depressão turvaram a mente de Peggy. Por fim, exausta, ela encostou a
cabeça no travesseiro e adormeceu, chorando.

O domingo chegou trazendo um belo céu límpido e ensolarado de primavera. Como de


costume, o casal foi tomar o café da manhã no pátio, à beira da piscina. Aproveitaram
para folhear o jornal, lendo com especial interesse as notícias relativas ao mundo dos
artistas.
Peggy, ainda aborrecida com o que sentira na noite anterior, mal percebia o significado
das manchetes. De repente, ao virar uma página, o horror tomou conta de seu rosto.
Uma foto sua, ao lado de Adam, na entrada do Hilton Hotel, estava no jornal, com o
título:
"A fã de O encontro com o desconhecido, de Adam Gale, muda-se para a casa do astro".
Os olhos surpresos de Peggy percorreram a matéria inteira. Em estilo de fofoca,
contava como fora o seu encontro com Adam, no Ross Elliot Show, sua presença na festa

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da première, com destaque para a palavra "dama", usada por Adam e, por fim, a maldita
informação de que estava vivendo com ele.
Peggy sentiu-se mal. Bem ali, à sua frente, em letras garrafais, sua vida privada estava
exposta para todos que quisessem ler, como se o seu relacionamento com Adam não
passasse de um caso leviano e inconseqüente. O artigo fora redigido de maneira dúbia,
dando margem a interpretações escusas e cheio de alusões sexuais, sem ao menos
mencionar a hipótese de que havia uma emoção real entre eles. Nenhuma importância
era dada aos seus sentimentos. Ela era tratada apenas como mais uma garota que
passara a viver com Adam.
— O que foi, Peggy? — Adam quis saber, ao notar sua palidez.
Peggy passou-lhe o jornal, e esperou trêmula, pela reação, já que estavam explorando
o caso e invadindo também a vida particular dele.
— Bastardo maldito! — praguejou Adam, jogando o jornal ao chão. — Meu Deus! O
que eles não fazem para vender jornal. Esqueça isso, Peggy. A única forma de lidar com a
imprensa é ignorá-la!
— Mas ela existe, Adam. Além disso, outras pessoas também estão lendo essa matéria
— argumentou.
— E o que elas pensam é importante? Pessoas insignificantes... mentes
insignificantes. É simples — replicou ele, desdenhoso.
— Meus pais também lerão a respeito, Adam — comentou ela, meio desesperada.
Ele balançou a cabeça em sinal de descontentamento, como se a situação não
merecesse muito crédito.
— O que você quer que eu diga? Que lamento?
Peggy não respondeu. O tom irritadiço de Adam demonstrava que, para ele, ela estava
fazendo tempestade em um copo d'água, que não passava de um grande exagero seu.
Desapontada, abaixou a cabeça.
— Está bem. Lamento, Peggy. Mas eu já tinha avisado que às vezes a imprensa pode
ser desagradavelmente indiscreta. Por mais que eu tente evitar, sempre acontece algo
desse tipo. Você tem que dar a volta por cima se quiser continuar comigo.
— É. Acho que tem razão, Adam — concordou, abatida. Sentia-se triste e derrotada.
Não era tão especial na vida dele, nem mesmo merecia ouvir de sua boca que era amada.
Era apenas a mais recente conquista de Adam Gale.
— Por favor, apresente as minhas desculpas aos Knight pela minha ausência no
almoço. Tenho que ir para casa — falou, melancólica.
— O quê?
— Diga-lhes que precisei ir embora
Peggy ergueu-se e rumou para dentro da casa.
— O que quer dizer com precisar ir? — perguntou ele, seguindo-a irritado.
Peggy respirou fundo, para controlar a confusão emocional em que se encontrava.
Voltando-se para Adam, explicou, com um olhar frio e orgulhoso a voz emocionada:
— Meus pais sempre se orgulharam de mim. Eu não lhes contei que estávamos
morando juntos, uma atitude que eles nunca esperariam de minha parte. Devem estar
muito magoados e preocupados, principalmente minha mãe. A única coisa que posso
fazer é tentar explicar-lhes o porquê de... — interrompeu-se sem conseguir controlar o
choro. — Só espero que eles me entendam.
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Chorando, Peggy entrou no banheiro, e pôs alguns objetos pessoais dentro de uma
bolsa. Adam seguiu-a com um ar de preocupação e frustração, tentando argumentar.
— Você não acha que está exagerando? Hoje em dia é comum um casal viver junto.
Seus pais devem ter amigos cujos filhos vivem como nós, Peggy.
Mesmo achando difícil falar sem alterar a voz, Peggy controlou a dor e o desespero que
comprimiam o seu coração. Afinal fora ela quem decidira entrar no jogo e ele não tinha
culpa de seu erro de julgamento.
— Meus pais, Adam, principalmente minha mãe, são antiquados. O que é bom para a
filha dos outros nem sempre é bom para a filha deles.
— Em que época eles vivem? Vitoriana?
Não adiantaria dizer mais nada. Agora, ambos pareciam estranhos um para o outro.
Ela fechou a bolsa e caminhou para a porta.
— Peggy...
Adam estendeu os braços, tentando uma reaproximação, mas foi inútil.
— Pegarei o primeiro trem para Wyong, Adam. Não quero mais discutir.
— Você não pode telefonar? Vá à tarde se quer mesmo ir. Droga! Você já é dona do seu
nariz, Peggy! Justo hoje que íamos falar do vídeo com o Robert. E a canção?
O vídeo e a canção! A criação deles! A realidade era cruel: sua ausência não o
impediria de continuar a compor. A canção era de Adam, assim como os desejos e a
conveniência de tê-la junto de si. Peggy não representava nada de importante na vida
dele e isso ficara bem claro ante a sua preocupação com a música que compusera.
— Você não acha que está fazendo as coisas um pouco piores do que realmente são?
— Talvez só esteja vendo tudo por um ângulo diferente, Adam. Adeus! — disse, saindo
apressada.
— Não precisa se alterar, Peggy. Já que você está mesmo decidida a partir, posso
oferecer-lhe uma carona até a estação?
— Ficaria muito grata — respondeu ela friamente.
Os quase vinte minutos de percurso até a estação de trem foram feitos num silêncio
profundo. Peggy não tinha mais nada a dizer, e Adam não lhe pediria para ficar. Mesmo
que o fizesse, ela não o atenderia. Se ele a amasse de verdade, iria com ela, dando apoio,
fazendo tudo para tornar as coisas mais fáceis.
O clima entre os dois continuou o mesmo na estação ferroviária. Com o bilhete
comprado, Peggy sentiu-se aliviada ao ver que o trem que tomaria em poucos minutos já
estava aguardando na plataforma. Olhou para Adam com o olhar inexpressivo, e,
sentindo o coração pesado, disse:
— Obrigada.
— Quando você voltará?
— Não sei — murmurou.
— O que quer dizer com isso? — indagou Adam irritado, segurando-a, firme, pelos
braços.
— Não sei, Adam. Deixe-me ir! Você está me machucando!
Adam deixou-a partir. Ela caminhou, pesarosa, em direção ao trem, esforçando-se
para não chorar. Não pretendia olhar para trás, mas quando ia embarcar, uma força
irresistível a fez voltar-se. Adam estava lá, onde o deixara, fitando-a. Olharam-se. A

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pequena distância poderia ser eliminada se ele realmente a amasse. Bastaria chamá-la,
segui-la. No entanto, ele continuou inerte.
Abatida, Peggy entrou no trem e sentou-se, alimentando um último fio de esperança
de que Adam viesse procurá-la. Inútil. O trem começou a mover-se, cada vez mais
rápido, dando início à sua pequena viagem atormentada e solitária.
O rápido percurso pelos subúrbios até Wyong pareceu durar horas, mas Peggy só
percebeu que chegara a seu destino por ser ele a estação final do trem.
No caminho até sua casa, por sorte, não encontrou nenhum conhecido. Ao tocar a
campainha, foi recebida pelo pai. Isso era um sinal claro de que as coisas não estavam
bem.
— Olá, papai! — saudou, trêmula. — Acho que sabe o porquê de eu ter vindo!
— Ele não veio com você, filha? — indagou o sr. Dean, pesaroso.
Peggy sentiu um nó na garganta e não conseguiu responder. Amparada pelo pai,
entrou.
— Filha, estou feliz por você ter vindo. Sua mãe ficou muito magoada.
Em prantos, sua mãe acolheu-a. O sr. Dean, muito sensato, procurou acalmar as
duas até que a tranqüilidade imperasse outra vez. Peggy foi então perdoada pelo
escândalo em que envolvera a família e que não seria esquecido facilmente.
Ao final da tarde, o pai de Peggy convidou-a a ajudá-lo no jardim, sua maior
preciosidade depois da filha. Os cravos, as rosas e as margaridas requeriam muitos
cuidados e, concentrada na tarefa, ela desviou a mente dos problemas por alguns
momentos.
— Você vai voltar para ele? — perguntou o sr. Dean, subitamente.
— Não sei o que fazer. Eu o amo, papai.
— Nunca duvidei disso, filha, mas ele devia ter vindo com você.
Seus olhares se encontraram, e Peggy desabafou:
— Ele pode aprender a me amar, pai.
O sr. Dean sacudiu negativamente a cabeça e repetiu, aborrecido:
— Ele devia ter vindo com você, filha.
— Peggy... — gritou a sra. Dean da casa. — Telefone! É ele... — exclamou ressentida.
Adam ligando? O coração de Peggy pulsou mais forte esperançoso do que nunca.
Correu, tentando controlar confusão de emoções que sentia.
— Alô.
— Peggy?
— Sim, sou eu!
— Peggy, eu quero que se case comigo.

CAPÍTULO XII

Peggy não acreditava em seus ouvidos. Adam pedira que se casasse com ele? Sim, não
havia dúvidas: ele a pedira em casamento. Sua emoção foi tamanha que começou a
dançar e a pular, esquecendo-se da ligação.

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— Peggy? — chamou Adam pelo telefone.
— Oh, Adam, sim! Se você quiser se casar comigo, eu aceito — respondeu eufórica.
— Fantástico! — exclamou ele, emocionado. — Se me disser o caminho, irei até aí
tranqüilizar seus pais e trazê-la para casa. Está bem?
— Claro! — E, satisfeita, ensinou o caminho.
— Estarei aí em poucos minutos. Lamento o que houve, Peggy. Não vai mais
acontecer. Eu prometo fazer de tudo para protegê-la e, pelos céus, o farei! Nós nos casa-
remos tão logo tudo esteja arranjado. Todos saberão que você é minha esposa, não um
caso temporário. Diga isso a seus pais, está bem?
— Sim, Adam!
— Estarei com você em breve. Não vá embora! — pediu Adam alegremente.
Lágrimas de alívio e contentamento rolaram pelas faces de Peggy. Adam se importava
com ela, queria um relacionamento permanente e duradouro, amava-a!
— Peggy?
Seu pai entrou na sala, apreensivo, mas o sorriso largo no rosto dela mostrava que
tudo estava bem.
— Ele está a caminho, papai. Quer se casar comigo — contou e abraçou o pai,
contente.
Pasma, a mãe de Peggy não soube o que dizer ao tomar conhecimento da notícia. Ela,
que passara a tarde toda fazendo-lhe sermões, agora ficava ali, abrindo e fechando a
boca, sem conseguir emitir um som. De repente, uma súbita preocupação a fez quebrar o
silêncio.
— O que vamos servir no jantar?

Ao toque da campainha, Peggy correu para a porta. Uma súbita timidez envolveu-a
quando Adam, com um abraço forte e muitos beijos, disse:
— Não quero mais saber de fugas, ouviu, Peggy? Foi encantador o modo como Adam
assegurou a seus pais suas intenções sinceras de proporcionar um futuro feliz para a
filha, eliminando qualquer dano que a publicidade negativa pudesse ter causado a ela.
Os Dean impressionaram-se com o charme persuasivo de Adam, e ficaram felizes e
satisfeitos por ver os dois juntos.
A caminho de casa, Adam não haviam avançado cinco quilômetros quando resolveu
encostar o carro.
— Há algo que quero lhe dizer.
— O que é?
Envolvendo as mãos dela nas suas, com o olhar terno, ele falou:
— Eu não haviam entendido o que você sentiu esta manhã, Peggy. Para mim aquele
era apenas mais um artigo sobre minha pessoa contando meias verdades. Você parecia
estar pondo seus pais acima de nosso relacionamento, e eu não aceitava isso. Então você
tomou aquele trem e eu senti que estava saindo de minha vida. Tive que controlar a
vontade de tirá-la do trem e levá-la de volta.
Adam suspirou e, sorrindo, continuou:
— O orgulho me impediu. Compareci àquele almoço com os Knight, furioso por ter que
dar desculpas pela sua ausência. Mas eles a compreenderam, Peggy, e comentaram
sobre a situação, fazendo com que eu começasse a pensar com mais clareza no assunto.
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Depois da refeição, Edward desafiou-me para uma partida de xadrez, mas, durante o
jogo, eu não consegui me concentrar. Ele então comentou sobre a festa no Hilton e sobre
o quanto tinha apreciado a conversa com você.
Peggy fez menção de interromper Adam, mas ele não permitiu, prosseguindo:
— Não costumo fazer isso, mas falei com o Edward sobre meus sentimentos, e sobre
nosso relacionamento. Ele fez alguns comentários, e tudo ficou claro na minha mente.
Peggy conhecia a sutileza dos comentários do sr. Knight, bem como seu efeito positivo
nas pessoas.
— Você não ia mais voltar para mim, não é, Peggy? — perguntou Adam, emocionado.
— Não sei, Adam. Seria muito duro ficar longe, mas eu pensava que você não ligava
para mim. Não o suficiente... Achei que fosse apenas mais uma na sua vida.
— Não, Peggy. Eu a amo, — declarou ele, e a puxou para perto de si. — Nunca disse
isso a outra mulher antes, mas amanhã direi ao mundo inteiro que a amo e que quero
passar o resto de minha vida com você.
— Oh, Adam! Eu o amo também! Sempre quis dizer-lhe isso, mas tinha medo de que
tudo fosse ilusão — completou, abraçando-o.
— Oh, não Peggy! Você é única! — E beijou-a longamente.
Permaneceram abraçados e quietos por muito tempo, até que Peggy quebrou o
silêncio.
— Você mostrou a canção a Robert?
— Não quis fazê-lo sem sua presença, querida. Antevendo os maravilhosos momentos
que passariam juntos, Peggy teve vontade de chegar logo em casa.

Na manhã seguinte Adam comprou um lindo solitário, que colocou na mão direita de
Peggy, e uma bela roupa de primavera. Após as compras, ambos foram até o estúdio de
TV. onde se encontraram pela primeira vez, para uma aparição especial, para anunciar a
novidade a todos.
— Tenho certeza de que todos se lembram de nosso show no qual Adam Gale
conheceu seu par para o Encontro com o Desconhecido, Peggy Dean. Segundo o próprio
Adam Gale, as notícias incorretas dos jornais de ontem causaram muito aborrecimento
para Peggy e seus pais.
Ross fez uma breve pausa para criar algum suspense, antes de prosseguir:
— A verdade é que Adam encontrou seu destino neste show e, em breve, ele e Peggy
irão casar-se. Senhoras e senhores, vamos receber novamente os noivos Adam e Peggy!
A platéia aplaudiu-os longamente quando entraram no palco e foram conduzidos a
suas poltronas. Segurando a mão de Peggy para que a câmara focalizasse seu anel, Ross
comentou:
— Pelo que vejo, Peggy venceu a guerra.
Adam riu-se e fitou a noiva.
— Não sei se houve guerra, Ross, mas tenho certeza de a ter conseguido com a vitória.
Eu nunca vou deixá-la partir.
— Adam parece decidido — observou Ross. — Diga-nos, Peggy, como tudo começou?
De certo que não foi amor à primeira vista.
— Talvez à segunda — brincou ela.

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— Não creio nisso — retrucou Adam cauteloso. — Tão logo deixamos o estúdio, eu
disse algo de que ela não gostou e recebi uma bofetada em troco. Ela é muito firme em
suas decisões, Ross, e quase a deixei escapar. Só agora, depois que ela prometeu casar-
se comigo, é que me senti seguro.
— É verdade que você o "acertou", Peggy? — gracejou Ross, curioso.
— Sim. Mas depois lamentei muito ter me descontrolado e ele foi muito compreensivo
comigo. — Lançou um olhar insinuante para Adam. — Acho que foi depois da segunda
olhadela que me apaixonei por ele.
— E você, Adam? Quando percebeu que a amava? — perguntou o apresentador.
— Quando a localizei na platéia na noite de estréia do Encontro com o Desconhecido.
Creio que naquela ocasião fiz a melhor atuação da minha vida.
— De fato, foi uma grande atuação — Ross comentou com o auditório. E fez uma série
de questões curiosas, colocadas de modo a dar a chance de Adam esclarecer alguns
pontos de seu relacionamento sem se tornar chato. Então, despediu-se do casal,
desejando muita sorte e felicidade no futuro.
Ao saírem do estúdio, para surpresa de Peggy, eles foram abordados por Gavin.
— Ei, parabéns aos dois!
— Obrigada, Gavin, mas o que faz aqui?
— Ross disse que eu poderia visitar o estúdio um dia desses e aconteceu de ser hoje.
"Gavin não dorme no ponto", pensou Peggy. Sorriu para o amigo sem se preocupar
com a vantagem que ele estaria conseguindo sobre ela, e disse:
— Bom para você!
Gavin, então, quis aproveitar-se da oportunidade para demonstrar-lhe que sempre
estivera errada em seus pontos de vista, como ele nunca cansara de afirmar.
— Você andou fazendo promessa para algum santo, Peggy? — indagou, sorrindo com
malícia.
— Não, engraçadinho — respondeu ela, bem-humorada.
— Está vendo só? Não é o que eu sempre lhe disse? Sexo é poder! — afirmou ele,
categórico.
— Creio que você está enganado, Gavin — rebateu Adam. — Amor é poder. — E sorriu
para Peggy.
Abraçados, eles saíram, sendo recebidos por uma bela tarde de primavera, a mais bela
e inesquecível estação de suas vidas.

FIM

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