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No auge das crises econômicas,

a primeira reação de homens (e mulheres)


é o desânimo e a consequente perda
do apetite sexual. Dagmar O'Connor
é sexóloga com quinze anos de prática
em terapias baseadas no Método
0M0 FAZER
Masters e Johnson. Sua orientação para
fazer ressuscitar o desejo tanto de
homens quanto de mulheres ligados por
- casamentos às vezes monótonos apesar
da afeição que une os dois, é
excepcional. Essas "técnicas" inesperadas
podem até impedir o afastamento
emocional dos dois ao
OM A MESMA i
estimular a intimidade de seus corpos, ISSOA POR TODA
mostrando que as almas se entendem
melhor quando os corpos também se
J E CONTINUAR
GOMANDO
entendem...

Dagmar O' Connor


5? ROSAIXIS
Tmiíb
iretora do Programa de Terapia Sexual do
Departamento de Psiquiatria do
St. Luke's - Roosevelt Hospital Center
( 12- EDIÇÃO )
ISDN 85363—04—5
64703/2

EDITOR
A
ROSAD
9 788585 363048 OS
TEMPOS
DAGMAR
O'CONNOR
Diretora do Programa de Terapia Sexual do
Departamento de Psiquiatria do St. Luke's -
Roosevelt Hospital Center

Como Fazer Amor


com a Mesma Pessoa
por Toda a Vida
e Continuar Gostando

Tradução de
LUCIANA M. SIGAUD SELLOS

12? EDIÇÃO

EDITOR
A
ROSAD
OS
TEMPOS
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

O’Connor, Dagmar
018c Como fazer amor com a mesma pessoa por toda
12- ed. a vida e continuar gostando / Dagmar O’Connor;
tradução Luciana M. Sigaud Sellos. —12 ! ed. — Rio de Janeiro: Record: Rosa
dos Tempos, 1996.

Tradução de: How to make love to the same person for rest of your life
and still love it.
ISBN 85-85363-04-5

1. Sexo no casamento. 2. Sexualidade. I. Título.


Para Gene, Ian e Eric
CDD — 646.78
95-0208 CDU — 392.3

Titulo original norte-americano


HOW TO MAKE LOVE TO THE SAME PERSON FOR REST OF YOUR
LIFE AND STILL LOVE IT.

Copyright © by Dagmar O’Connor


Publicado mediante acordo com William Morris Agency, Inc.

Capa:
GLÁUCIO CUNHA CRUZ PEREIRA

EDITORA AFILIADA

Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa no Brasil


adquiridos pela
DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVIÇOS DE IMPRENSA S. A.
Rua Argentina 171 — 20921-380 Rio de Janeiro, RJ — Tel.: 585-2000
que se reserva a propriedade literária desta tradução
Impresso no Brasil

ISBN 85-85363-04-5

PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL


Caixa Postal 23.052 — Rio de Janeiro, RJ — 20922-970
Agradecimentos
Este livro jamais poderia ter sido escrito sem a ajuda de Daniel M.
Klein que ouviu pacientemente minhas idéias e as organizou,
ajudando-me a colocá-las no papel.
Acima de tudo, quero agradecer a William Masters, M.D. e
Virginia Johnson, da Fundação de Biologia Reprodutiva em St.
Louis, por terem generosamente me ensinado as inovadoras técnicas
de tratamento. Da mesma forma, sinto-me profundamente
agradecida a todos os casais que passaram por meu consultório ao
longo destes anos, ensinando-me sobre os problemas e as alegrias
de um relacionamento a dois.
Pelo apoio profissional como orientadores e terapeutas
colaboradores, quero agradecer: ao falecido Harley Shands, M.D.,
Diretor de Psiquiatria, Roosevelt Hospital Center St-Luke; Stephen
Katz, M.D., membro da Comissão do Estado de Nova Iorque para
Doenças Mentais; Joseph Zubin, Ph.D., Lothar Gidro Frank, M.D., .
Stanley Coen, M.D., e Iona Ginsberg, M.D., todos da Universidade
de Columbia; Ellen Wachtell, Ph D., e Stephen Reibel, M.D.,
ambos do Roosevelt Hospital Center — St. Luke, que leram,
criticaram e corrigiram com boa vontade e entusiasmo; Birgitta e
Stu Tray e Freke Vuijst por suas leituras críticas; meu agente, Mel
Berger; minha editora, Susan Schwartz; e minhas datilografas, Mary
Ann Manfrini, Myrna Fleming e Marceida Lopez.
Sumário
Introdução 11

Parte I: COMO NÓS NOS DESLIGAMOS


1. Fatores que nos Desligam na Rotina do
Casamento 17
2. “Eu Estou com Vontade de Fazer Amor...
Por que Você não Está?” 25
3. Família — a Principal Causa de Nosso
Desligamento 51
4. A “Verdadeira Relação” 71
5. O Desempenho de Hoje à NoiteFoi Cancelado 89
6. Excessivamente Próximos 107
7. O Esporte de Salão mais Competitivo doMundo 127
8. Resistindo à Tentação 145

Parte II: COMO NOS LIGAMOS NOVAMENTE


9. Pensando Sexualmente 159
10. “Vamos Ficar em Forma” 169
11. A Arte de Usar um ao Outro 187
12. Levando um ao Outro — e um Sanduíche
— para a Cama 199
13. Somente Quando Ele É Bom 211
14. Banquete Sexual 233
15. Os Sete Estágios do Sexo com Compromisso 251
Introdução
"Como é possível fazer amor com a mesma pessoa para o resto de minha
vida?”

Depois de todas as loucuras que tentamos, de todas as barreiras que


rompemos, quem poderia jamais imaginar que fazer amor, vibrante e
desinibido, com a mesma pessoa por toda a vida, ainda se tornaria o
maior desafio sexual de nossas vidas?
Mas isto é verdade. E aqui está um livro que responderá a este
desafio.
Como Fazer Amor com a Mesma Pessoa por Toda a Vida é para
aqueles de nós, que nos anos noventa acreditam em compromisso sexual
novamente, e que estão assustados com a monotonia sexual. É para todos
nós, solteiros, casados, divorciados ou re- casados — que decidimos
finalmente rejeitar programas de uma noite, e relacionamentos em série,
infidelidades secretas e casamentos abertos e que agora ansiamos por um
relacionamento sexual completo e duradouro.
É para a mulher jovem e perplexa que se queixou a mim:

Eu me formei na Revolução Sexual, sabendo tudo que era possível


saber sobre sexo. Eu era uma completa conhecedora de técnicas. A
única coisa que não aprendí foi a me divertir com isso.

E é para o homem de meia-idade, de aparência perfeitamente


saudável que me contou com absoluta sinceridade:

Veja bem, Philips e eu temos um relacionamento tão gratifi- cante


em todos os outros aspectos, não importa que não tenhamos agora
uma vida sexual plena. É uma fase que passou. E é para os milhões
de todas as idades que dizem:

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Eu daria qualquer coisa para fazer com que nosso relacionamento e maridos como “Mamãe” e “Papai” para nos tornarmos verdadeiros
pudesse ser duradouro, mas vamos encarar a realidade; prometer amantes novamente. Observei as maneiras pelas quais competitividade,
fazer amor com apenas uma mesma pessoa para o resto de minha raiva, ciúmes e medo da intimidade podem roubar ao sexo todo o seu
vida é como prometer comer salada de galinha todos os dias para prazer.
o resto de minha vida. As simples palavras “compromisso sexual” Em seguida, na segunda metade do livro, mostrei como podemos
soam como uma prisão em vida. pensar e sentir sexualmente de novo e como podemos “usar” um ao
outro sexualmente no melhor sentido da palavra. Detalhei um menu
Com base nos meus quinze anos como terapeuta, discípula e completo de prazeres, de regiões e situações sensuais que podem manter
praticante do método de Masters e Johnson, procurei organizar um livro a aventura e a sedução, e mesmo uma sensação de transgressão em um
que acredito ser muito mais do que um manual de sobrevivência pós- relacionamento sexual ativo.
Revolução Sexual. O livro possui uma premissa revolucionária em si
Ao contrário dos livros atuais, este livro não diz a você como fazer
mesma: a de que um compromisso sexual por toda a vida possui o
amor com alguém que esteja ocasionalmente com você esta noite; nem
potencial de ser mais excitante, mais variado, mais gra- tificante em
descreve em jargões acadêmicos técnicas comprovadas em laboratório
todos os aspectos que qualquer outro acordo sexual que se possa
imaginar. para a superação de disfunções sexuais; assim como também não
demonstra, com mapas e gráficos, uma comparação de nossas práticas
*** sexuais com as do restante da população. Tentei escrever um livro para
pessoas normais e inteligentes que desejam combinar o melhor dos dois
Nos últimos anos, um número crescente de pessoas atendidas em
mundos: uma relação de compromisso e sexo maravilhoso... com a
meu consultório funciona adequadamente — elas podem “fazer sexo”
mesma pessoa.
sem maiores problemas — mas, não o “fazem” de forma alguma, tão
frequentemente quanto gostariam e raramente “fazem sexo” com o gosto
e o prazer pelos quais anseiam. Como resultado do trabalho realizado
com uma variedade de casais — jovens e maduros, trabalhadores e
profissionais, sexualmente conservadores e sexualmente liberais —,
desenvolví técnicas e exercícios para tratar os problemas comuns da vida
sexual no casamento, problemas como a baixa frequência e a apatia
sexual, a monotonia sexual e a insensibilidade. Adaptei algumas destas
novas técnicas com base nos exercícios de Masters e Johnson; outras,
descobri e aperfeiçoei através dos anos em minhas terapias de
tratamento, a que chamei de “Laboratórios de Expansão Sexual”, para
casais que desejam tornar o compromisso sexual o melhor possível.
O conteúdo deste livro se constitui de casos verdadeiros de casais
que se submeteram a este tipo de terapia. O livro mostra como todos os
casais podem otimizar seu potencial sexual. Examinei a variedade de
maneiras através das quais os casais modernos se desligam em relação
um ao outro e como podem se ligar novamente em um relacionamento
envolvente. Explorei os mitos que têm nos guiado ao longo da vida para
que nos desliguemos de um sexo experimental ou frívolo em um
relacionamento dito “sério”: o mito do “Perder a Cabeça” e o mito da
“Verdadeira Relação”. Analisei como aprendemos na família a nos
desligar da sexualidade e como podemos deixar de tratar nossas esposas
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PARTE I
Como Nós nos
Desligamos
Fatores que nos Desligam na
Rotina do Casamento

O casamento é um arranjo perfeito para que se possa evitar o sexo. Pode


fornecer mais álibis, desculpas, distrações e tensões que nos impeçam de
usufruir sexualmente um ao outro, do que qualquer outro esquema
planejado pelo ser humano.
Ao mesmo tempo, o casamento é também o melhor arranjo possível
para que se possa usufruir o sexo mais excitante e prazeroso que existe. Ele
fornece mais oportunidades para variações sexuais, experimentações e
desenvolvimento que qualquer outra alternativa * de contato sexual
disponível para homens e mulheres.
Isto não é um paradoxo — é uma questão de escolha fundamental.
Podemos usar o casamento a serviço de nossas culpas e ansiedades
relacionadas ao sexo, para nos tornarmos pessoas desinteressadas. Ou então,
usá-lo para nos tornarmos pessoas interessadas.
Após quinze anos no exercício de terapia sexual, estou convencida de
que não é o casamento em si que faz com que nos desliguemos: nós nos
desligamos no casamento.
Porém, minha experiência como terapeuta também me convenceu de
que nós temos o potencial para nos ligarmos novamente e para aproveitar o
melhor sexo que pode existir.
Colocado desta forma parece muito simples. Mas, é justamente o
contrário. É muito fácil nos tornarmos pessoas desligadas no casamento: os
hábitos e rotinas que matam nossos desejos sexuais parecem surgir
naturalmente. Na Parte I deste livro analisaremos

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as principais maneiras utilizadas por muitos para se cansarem do casamento sexo no casamento precisava ser “maduro” e não esta coisa boba e frívola a
e por que fazem isto — os mitos sexuais de autodestrui- ção que aceitamos que se entregam os adolescentes. Ou então eram pessoas que me diziam
sem críticas, os perigosos jogos sexuais que jogamos uns com os outros, e que fazer amor quando se é casado deveria ser algo cheio de sentimentos —
os truques que aplicamos a nós mesmos para evitar um dos maiores de preferência uma expressão de amor eterno ... todas as vezes. Ou ainda,
prazeres que a vida — e o casamento — nos oferece. pessoas que, consciente ou inconscientemente, julgavam que um sexo mais
espontâneo ou sexo experimental — de fato, qualquer outro diferente de
uma relação sexual — não era o comportamento adequado para Mães e
Pais. E muito frequentemente, eram pessoas que haviam se casado pelo
"Não É Minha Culpa, meu Bem" conforto e segurança que isto lhes proporcionava, embora se sentissem
sexualmente pouco excitáveis com o excesso de intimidade. Em resumo,
Ao longo dos anos, sinto como se tivesse me tornado uma co- destas e de outras inúmeras maneiras, essas pessoas usaram o casamento
nhecedora de álibis sexuais. Praticamente todos os dias alguém me diz que para se desinteressarem — para tornarem um sexo pleno e excitante
“não é minha culpa” se sua vida sexual se tornou rara, monótona e virtualmente impossível. E culpam o casamento por sua apatia sexual.
insatisfatória. É o casamento, o parceiro, “a natureza”, ou centenas de Quando nós consideramos a carga de culpas e ansiedades sexuais que
outras “circunstâncias acima de meu controle” que devem levar a culpa. E, muitos de nós carregamos, começando na infância, não nos surpreende que
à primeira vista, essas pessoas parecem ter razão.
encontremos maneiras de evitar a responsabili-, dade do sexo para o resto
“Como pode o sexo permanecer espontâneo, quando é sempre o
de nossas vidas. Sexo, segundo decidimos, é algo que “nos acontece”, e não
mesmo corpo, o mesmo cheiro, a mesma velha rotina?” Me perguntam. “A
algo que fazemos acontecer. Esta atitude se mostra mais evidente em
monotonia sexual é construída dentro do casamento.”
Ou: mulheres jovens carregadas de culpas que somente se entregam no sexo,
“Ele simplesmente não me excita mais; eu realmente não sinto coisa quando são “arrebatadas”, quando algum “demônio sexy” as faz perder a
alguma, quando ele me toca agora.” cabeça. “Simplesmente aconteceu — não pude fazer nada,” dizem a elas
Ou: próprias (e, quem sabe, a suas mães) posteriormente. De fato, esta é a
“O corpo dela mudou. O que posso dizer a você? Ela não me parece maneira pela qual muitas mulheres jovens chegam a uma gravidez
mais sexy agora.” indesejada. Medidas contraceptivas que as preparassem para o sexo
Ou: tornariam o ato consciente demais — e portanto, carregado de muitas
“Na realidade não é culpa de ninguém. Apenas a ‘química’ acabou. culpas. Ser “arrebatada” pelo sexo faz com que não sejamos responsáveis
Não há nada que alguém possa fazer a respeito.” por ele. Simplesmente aconteceu. Os homens também não estão imunes a
Ou: esta atitude: muitos justificam suas infidelidades como “a exaltação do
“Eu estou velho demais para o sexo.” momento”. “Eu me deixei levar — não sabia o que estava acontecendo,”
Ou- dizem a si próprios (e, quem sabe, a suas esposas) posteriormente. Quando
“Ou eu estou cansada demais para sexo, ou ele está.” o sexo “sim
Ou:
“Nós não temos tempo o bastante para sexo.”
Ou simplesmente:
“Apenas isso não funciona mais.”
Para todas estas pessoas, o sexo “perdeu sua magia”. Quando
realmente tinham sexo, era apenas “para ficarem livres disto”, para manter
seus parceiros em paz ou para manter suas “médias semanais”. Raramente o
faziam por prazer. E, na verdade, raramente o faziam de qualquer forma.
Como poderíam se culpar por isso?
Ao mesmo tempo eram estas as mesmas pessoas que me diziam que o

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plesmente acontece” não precisamos nos sentir culpados ou pelo suave roçar das costas daquele estranho ou por uma fantasia sexual
ansiosos em relação a isto. enquanto trabalhamos. Passamos nossos dias em um permanente estado de
Mas o sexo quase nunca ‘‘acontece simplesmente” no casamento. De apatia sexual pelo medo de ficarmos impropriamente ‘ligados’. No
fato, tão logo fazemos nossos votos matrimoniais — de fazer amor com momento em que entramos em contato com nosso companheiro em casa
uma mesma pessoa para o resto de nossas vidas — o sexo se torna, de novamente, estivemos nos ‘desligando’ por todo o dia E isto é apenas o
repente, algo que deveria acontecer. E nós deveriamos fazê-lo acontecer. começo. Porque o Lar é nosso definitivo fator de desligamento.
Escalar o leito matrimonial noite após noite torna difícil para nós acreditar
que o sexo seja um “acidente”, que nós estamos simplesmente “arrebatados
pela exaltação do momento”. Através dos anos, no casamento, torna-se
virtualmente impossível evitar fazer do sexo um “ato consciente”. E é este O Lugar Menos Sexy do Mundo — Nossa Casa
justamente seu fardo e sua felicidade potencial. Porque o sexo consciente
pode ser repleto de ansiedades. Mas o sexo consciente pode ser também o Comparado a nossa casa, o restante do mundo é uma orgia em
melhor sexo que existe. potencial. A maioria de nós fica mais excitada com fantasias passageiras
Infelizmente, as ansiedades com relação ao sexo aumentam para sobre pessoas do nosso ambiente de trabalho, do que ficamos ao beijar
muitos, logo que se inicia o casamento. O sexo está muito presente na nosso marido ou esposa ao chegar em casa. O lar é o cenário de nossas
situação, uma possibilidade consciente demais para que muitos de nós maiores ansiedades, nossas principais responsabilidades e nossos conflitos
saibamos usá-la, e então, em vez de cuidarmos destas ansiedades, mais perturbadores. Faz com que pensemos imediatamente nas contas a
escolhemos caminhos para evitar o sexo no casamento — ou pelo menos, pagar e compromissos a serem honrados, crianças a serem cuidadas e
para evitarmos um sexo excitante. A partir disto, ao invés do sexo tarefas a cumprir, horários, rotinas ... tudo menos sexo. E, acima de tudo,
“simplesmente acontecer”, ele “simplesmente não acontece". Nós não nossa casa é o lugar onde somos uma família, exatamente como éramos
somos responsáveis por nossas ausências e apa- tias sexuais. A “química” com Mamãe e Papai — este fato, por si só, pode reativar todos os nossos
acabou; não mais “perdemos a cabeça”; estamos ocupados demais para desligamentos automáticos que aprendemos, como crianças, em nossas
sexo. Não é nossa culpa. primeiras famílias. Na verdade, nossa casa é também a fonte maior de
Mas na verdade é. nosso alívio e conforto, nosso abrigo contra as tormentas de um mundo de
perigos e loucuras, mas, como veremos adiante, isto também contribui para
tornar o Lar um lugar muito pouco excitante. Não, nosso Lar é quase o
lugar menos sexy do mundo. E também o lugar onde assumimos o
Você se Liga ... e se Desliga compromisso de fazer amor apenas com uma só pessoa para o resto de
nossas vidas.
Somos potencialmente sexuais todo o tempo. O sexo está ali pronto e, “Quem pode se sentir sexy enquanto a máquina de lavar está
aguardando por nós para que se manifeste a cada momento do dia. trabalhando?”, comentou comigo uma mulher. “Ou quando você sabe que
Podemos ficar excitados com uma fantasia passageira, enquanto estamos na
as visitas chegarão para jantar em uma hora? Quem pode responder a um
lavanderia, uma passagem em um livro, uma foto em uma revista, quando
beijo apaixonado na cozinha, quando as crianças
as costas de um estranho tocam acidentalmente as nossas em um trem, a
rápida visão de uma mulher jovem que passa por nossa janela. Entretanto,
de forma rotineira e automática, nos desligamos sexualmente, antes que tais
estímulos possam nos afetar.
Como foi colocado por Freud na Psicopatologia da Vida Cotidiana, a
repressão e a supressão de nossa sexualidade é o que torna o ser humano
civilizado. Sem estas defesas estaríamos sexualmente ativos o tempo todo
com qualquer pessoa que estivesse à nossa volta — o amor acabaria, a
família desaparecería, ninguém trabalharia. Porém, a maioria de nós se
torna supercivilizada. Deus proíbe que nos permitamos sentir excitação
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podem estar entrando a qualquer momento? E quem pode dançar à luz de aquilo que queremos que aconteça — e assim, podemos experimentar e
velas e rosnar como um tigre, quando as crianças estão no quarto ao lado desenvolver, conscientemente um com o outro, um espírito de confiança e
fazendo suas lições de casa? Desisti do sexo em minha casa. Simplesmente aventura. Nós estamos no controle de nossas vidas sexuais agora —
é o lugar errado para ele.” nenhuma “mágica” ou “química”. Podemos sentir tudo o que quisermos.
Nosso quarto de dormir é, especificamente, “o lugar errado para o E a melhor maneira de começar é, tentando juntos, exercícios e jogos
sexo’', o lugar da casa onde se concentram nossas maiores cargas de sexuais. Através dos anos, adaptei exercícios de Masters e Johnson para
ansiedade. O quarto de dormir é o lugar onde temos nossas maiores brigas e aqueles de nós que não possuem disfunções sexuais, mas que simplesmente
discussões, porque é o único lugar reservado, onde as crianças não nos perderam espontaneidade e vigor sexuais e senso de aventura. Sendo assim,
ouvirão. É o lugar onde negociamos quem se levantará primeiro e onde ao longo do tempo, desenvolví meus próprios exercícios e jogos para nos
lutamos pelas cobertas e espaço, por causa de roncos e luzes noturnas. É o ajudar a resgatar as emoções sexuais que encobrimos e para a redescoberta
lugar onde dormimos. E é o lugar onde podemos liberar nosso interesse de nossos corpos. Os exercícios são simples e progressivos: eles começam
sexual pela primeira vez do dia. “São onze horas da noite, hora de me por etapas, simplesmente nos tocando um ao outro, e avançam,
ligar.” Mas como? gradativamente, para todos os tipos de aventuras sexuais. Não importa
Para despertarmos nossos interesses sexuais precisamos nos quanto tempo leve para que você sinta que está pronto, estou convencida de
concentrar relaxadamente em nossos sentimentos sexuais, desligando- nos
que o melhor é começar pelo início com Exercício de Toque I; na menor
de tudo o mais — todas as distrações e ansiedades devem ficar de fora. Não
das hipóteses, auxilia você a se acostumar com a idéia de reservar um
podemos esperar aprender a fazer isto em um dia, uma semana, ou mesmo
em um mês. É uma questão de reavaliação, até que nossos sentimentos tempo especial para experiências conscientes com sexo — isto, por si só, é
quanto ao sexo se tornem novamente um dos aspectos mais importantes de o maior obstáculo a ser superado pela maioria de nós.
nossas vidas. Sempre que determino um exercício sexual para um casal, um dos dois
Provavelmente, o caminho mais fácil para começarmos a nos sempre resmunga:
convencer de que estamos no controle de nossos sentimentos é através de “Espera-se que o sexo seja uma coisa espontânea. Todo o prazer vai
um exercício simples e sensato que demonstra o quanto podemos controlar desaparecer se o praticarmos como ginástica. Parece mais uma tarefa.”
nossas reações quanto ao sexo: Ou:
“Nós não somos crianças. Isto parece mais um jogo infantil.” Ou:
Acaricie as costas de seu braço com sua mão, enquanto está pensando “Não temos tempo para isto.”
em um problema específico que está lhe aborrecendo — como Acredito que cada uma destas observações é, na verdade, uma
dinheiro ou crianças. Ou, simplesmente faça a mesma coisa durante resistência a tornar o sexo consciente — uma atitude comandada pela
suas ocupações domésticas — crianças gritando, máquina de lavar vontade. O confronto deliberado de nossos desejos com nossos temores nos
funcionando. torna ansiosos. Não acredito sequer por um minuto que estes exercícios
Agora, vá para um local sossegado, onde ninguém lhe tornem nosso sexo menos espontâneo dentro de qual
interromperá e acaricie novamente seu braço. Feche os olhos, relaxe o
máximo possível, soltando suas fantasias, e se concentre em seus
próprios sentimentos. Examine a diferença. Na primeira situação você
provavelmente sentiu muito pouco; na segunda, provavelmente muito
mais. O “toque” não foi diferente, apenas a maneira pela qual você se
permitiu senti-lo.
Confiante para se Sentir Bem
De fato, o casamento é o melhor arranjo possível para que se possa
usufruir o sexo mais excitante que existe. Isto é porque precisamos desejar
sexo no casamento — precisamos decidir conscientes de que o sexo é

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quer sentido básico: nossas respostas sexuais são sempre espontâneas;
estamos apenas criando circunstâncias relaxantes e convidativas nas quais
estas respostas espontâneas podem ocorrer. E sim, estes exercícios são tão
brincadeiras quanto os jogos infantis — graças a Deus. Suas principais
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finalidades são as de nos auxiliar na superação da seriedade com a qual nos
comportamos no sexo “maduro” do casamento e nos transportar de volta a “Eu Estou com Vontade de Fazer
nossas experiências sensuais mais remotas. Somos bastante capazes de
fazer sexo de maneira “imatura” sem fazê-lo de maneira irresponsável. E Amor...
finalmente, se não temos o “tempo” necessário para estes exercícios, então
já decidimos que não temos tempo para o sexo — que esta é nossa
Por que Você não Está?”
prioridade menos importante. Antes mesmo de começar é preciso
decidirmos juntos que o sexo deve ser pelo menos tão importante quanto
ver televisão ou frequentar nossas aulas de aeróbica ou ainda, jantar com
amigos; o tempo existe, caso sexo seja importante o suficiente para você.
Entretanto, dito isto, ainda sei muito bem como é difícil tentar iniciar
estes exercícios: eles nos fazem sentir conscientes de nós mesmos, ou No filme Annie Hall de Woody Allen há uma cena da qual todos devem se
bobos, ou, pior, nos fazem sentir como se fôssemos um “problema” já que lembrar. A tela está dividida: de um lado Woody está no consultório de seu
tivemos que recorrer a tais meios para melhorar nossas vidas sexuais. Posso psiquiatra; do outro lado, sua amante (Diane Keaton) está no consultório do
apenas garantir que a parte mais difícil é simplesmente o começar — dando psiquiatra dela. A ambos foi perguntado com que frequência faziam amor.
um voto de confiança, ousando sentir-se bem —, porque do instante em que “Quase nunca,” Woody responde. “Talvez três vezes por semana.”
se inicia, o prazer se inicia. Os exercícios não têm a intenção de ser uma “Constantemente,” Diane responde. “Eu diría que umas três vezes por
tarefa pesada, pretendem ser jogos de alegria. Devem ser realizados com o semana.”
mesmo espírito com que se experimenta um novo tipo de comida ou um Não é por acaso que as pessoas se recordam desta cena: ela atinge
lugar diferente para as férias. É uma aventura. E você começará a sentir nosso lar. Em quase todos os casamentos existe uma certa desigualdade
seus resultados em muito pouco tempo: poderá resgatar sensações e sexual: um parceiro deseja fazer amor mais frequentemente que o outro. E
respostas sensuais que podem ter ficado adormecidas durante anos; poderá ambos discutem sobre o fato de que raramente estão, os dois, com
reaprender a relaxar e sentir prazer sem culpa por sentir-se egoísta ou disposição para o sexo na mesma ocasião.
indulgente; poderá começar a ver novamente o corpo do outro como uma “É por isso que o casamento não pode funcionar jamais”, me disse um
fonte de prazeres sexuais e sensuais maravilhosos. Em resumo, estes
homem recém-separado. “É um despropósito imaginar que duas pessoas
exercícios podem ajudar você a romper com seu desinteresse, desoertando
vão sempre querer fazer amor nas mesmas ocasiões com igual regularidade.
novamente seu interesse.
É quase como receber duas vezes na mesma noite cartas iguais em uma
mesa de packer — as probabilidades estão simplesmente contra. E todas
aquelas vezes em que um dos dois quer fazer amor e o outro não, se
estabelece um impasse — não se pode fazer amor com outra pessoa.”

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“Não havia coisa alguma que você e sua esposa fizessem ao mesmo não quer ser uma pílula de vitaminas e sim uma princesa. Penso que nós
tempo regularmente?”, perguntei. “Nem mesmo jantavam juntos?” simplesmente não combinamos.”
“Não se pode comparar fazer amor com jantar juntos”, respondeu-me Na verdade, Jack e Gwynne pareciam mesmo não combinar
o homem. “Você não precisa estar no estado de espírito ideal para um sexualmente — pelo menos na ocasião em que vieram me procurar. Porém,
jantar.” como pude logo observar, nem sempre os dois haviam sido assim. Ao longo
“Certamente não”, respondí. “Mas não existe qualquer dificuldade dos anos haviam polarizado um ao outro. Sim, Gwynne sempre havia
para deixar seu estômago no “estado ideal”, quando a refeição chega às seis desejado “um estado ideal” antes de ter sexo mas, no início de seu
horas todas as noites. E penso que o mesmo pode valer para o sexo — você relacionamento com Jack, ficava “inspirada” duas ou três vezes por
pode se preparar emocionalmente para o momento do encontro — se você o semana. Da mesma maneira, Jack sempre havia tido uma necessidade
está desejando.” constante de sexo, mas sentia-se perfei- tamente satisfeito no início.
“É muito fácil falar”, ele respondeu. “Difícil é fazer.”
Entretanto, depois de alguns anos, Gwynne começou a encarar a
Realmente o é.
“necessidade” de Jack como uma rede sobre ela; sentia-se chantageada pela
ameaça de mau-humor dele, ratraindo-se então, cada vez mais, para sua
posição de “esperar pelo momento mágico em que se sentiría excitada.” E
Jack começou a se sentir mais e mais rejeitado: Independente do quanto
A Princesa e a Pílula
tentava criar a “magia” para sua mulher, ela agora, raramente ficava
Um grande número de homens e mulheres aguardam a chegada do interessada. E quanto mais Jack se sentia rejeitado, maior se tornava sua
“estado de espírito ideal” antes de se envolverem sexualmente, da mesma necessidade — não apenas necessidade física, mas necessidade emocional
maneira que um poeta aguarda a inspiração perfeita antes de começar a também, de sentir-se ligado à Gwynne, de ter certeza de que ela ainda se
escrever. importava com ele. Jack e Gwynne estavam em apuros. A distância entre
“O sexo não é algo meramente físico, como sentir uma coceira ou ir eles havia se tornado muito grande. Eles haviam empurrado um ao outro
ao banheiro”, me disse uma mulher, Gwynne G. “É um sentimento para extremos. Como muitas mulheres — e homens também — Gwynne se
totalmente mágico que simplesmente toma conta de mim. Não posso ofendia, sentindo-se “usada” para preencher as necessidades de seu marido.
planejá-lo. E se Jack tenta criar o clima — você sabe, luz de velas e Sentia como se isto a diminuísse, desvalorizando o relacionamento dos dois
champanhe —, eu frequentemente perco o interesse por completo. Ele é tão e desvalorizando o próprio sexo. Outra mulher que conheço diz que seu
deliberado e óbvio quanto a sexo. Não posso fazer nada a respeito, é assim marido sempre se refere ao sexo como sua “vitamina”, e outra diz que seu
que me sinto.” marido chama o sexo de sua “coceira”. É o suficiente para que qualquer um
Aqui, novamente, está nosso velho amigo “Não posso fazer nada a anseie por um pouco de romance.
respeito”. É a desculpa que nos permite evitar o sexo o máximo possível Por outro lado, seria uma distorção boba imaginar que o sexo não é
sem jamais ter que assumir qualquer responsabilidade por isto. E, uma necessidade natural contínua, tanto física quanto emocional. A vida
acreditem-me, as pessoas que ficam esperando a “inspiração” perfeita para sem alguma regularidade quanto a sexo e sem comunicação física —
o sexo, em geral não têm sexo algum. Como Gwynne, elas em geral não se especialmente a vida do casamento — pode ser muito melancólica.
permitem sequer ser levadas a sentir vontade; as tentativas de seus Colocado da forma mais simplificada, todos nós
parceiros são consideradas “deliberadas e óbvias demais”. Em outras
palavras, tornam o sexo consciente demais.
Infelizmente, Gwynne era casada com um homem que desejava sexo
de maneira regular. Jack me disse que se não fizesse amor pelo menos uma
vez por semana se tornava terrivelmente ansioso e mal-humorado.
“Se fico muito tempo sem sexo não posso nem dormir”, disse ele. “É
como uma pílula de vitamina que preciso tomar regularmente para não
pifar. Mas se digo uma coisa dessas a Gwynne, ela fica furiosa. Ela diz que

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somos ainda crianças pequenas que precisamos ser acariciadas, para que masculina, que constato com frequência: mulheres, independente de quão
não fiquemos deprimidas. “Precisar” não é uma palavra feia: descreve a facilmente podem atingir o orgasmo, não têm tendência a se tornar
sexualidade que há em todos nós, ainda que não queiramos admiti-la. orientadas apenas para o final, como os homens. Naturalmente, como
Assim como disse à Gwynne, “Pare de se preocupar com as necessidades mostram os estudos, isto se inicia na infância; quando as meninas em geral
sexuais de Jack e comece a pensar nas suas próprias.” recebem muito mais afeição física que os meninos, começando então o
Mesmo assim, encarar o sexo como outra de nossas necessidades modelo — e as diferenças. Quando esses meninos e meninas atingem a
animais, juntamente como comer, beber e ir ao banheiro pode torná-lo idade adulta, frequentemente já possuem as razões para o desencontro
muito sem graça. Os homens, em especial aqueles que encaram o sexo sexual entre homens e mulheres. Como Gwynne e Jack, eles podem se
desta forma, tendem a reduzi-lo a um ato totalmente mecânico — e polarizar: um, ansiando por afeição, com esperas infindáveis pelo
puramente genital —, destituído de sentimentos e envolvimento pessoal. “momento mágico”; o outro, precisando “resolver negócios”, vivendo de
Tendem a querer tratar a situação como um negócio, um trabalho. Carinho maneira permanente com suas próprias frustrações. A primeira “tarefa” que
e afeição são apenas meios para que atinjam o fim — “acionando a determinei para Gwynne e Jack foi a de um exercício paradoxal simples,
bomba”, como se diz — de modo que a “necessidade” seja resolvida. Estes programado para despolarizá-los. Pedi aos dois que fizessem uma
maridos podem ser “trabalhadores” zelosos que, de maneira metódica, concessão um ao outro:
tratam de “preparar suas esposas”; mas essas esposas não precisam ser
psicólogas para perceber que alguma coisa está faltando — que atingir o or- Durante um mês, Gwynne deveria permitir que Jack pedisse sexo até
gasmo é o único motivo de toda a preparação. todos os dias da semana. E, que quando ele o pedisse, Gwynne
“Sempre tento fazer pelo menos quinze minutos de preparação”,
deveria corresponder, tomando a iniciativa.
contou-me Jack com sinceridade. “Não é como se eu a agarrasse à força.”
“‘Preparação’ é a palavra menos sexy que conheço”, respondí. “É
No início, Gwynne resistiu, mas finalmente concordou, dizendo, “Eu
como se você quisesse se livrar, primeiro, de algo que está no seu caminho
farei isto, mas não prometo gostar do que vou fazer — ou dele.”
para, então, se lançar sobre aquilo que realmente está procurando.”
Jack não estava voltado para o processo de fazer amor, para todos os “Está tudo bem”, eu disse. “Não é preciso apreciar isto, nada além do
prazeres que o simples tocar e ser tocado poderia proporcionar a ambos: que queira.”
não, ele estava concentrado apenas no resultado final. Não é de se admirar Como costumava acontecer, Jack pediu para fazer amor todos os dias
que Gwynne estivesse sempre à espera do momento ideal, culpando-o por durante a primeira semana, dias alternados na segunda semana, e nas
este nunca chegar. terceira e quarta semanas contentou-se com duas vezes por semana.
Algumas vezes vejo mulheres que se queixam de seus maridos Tipicamente, Gwynne havia pensado que ele desejaria “fazê-lo” todo o
“direcionados para o final”. tempo; mas ele havia desejado sexo o tempo todo apenas quando parecia
“Ele conhece todos os botões certos a apertar”, me disse uma mulher. que não poderia tê-lo jamais. Além disso,
‘ ‘Ele transformou isto em uma Ciência. Cinco minutos nos meus seios,
então — bingo! — ele desce para meu clitoris e gasta dez minutos ali, antes
de pular sobre mim. Eu me sinto como uma máquina de fliperama.”
Esta mulher prosseguiu dizendo que ela usualmente ficava excitada de
verdade e chegava ao orgasmo, “mas havia qualquer coisa tão automática
em tudo, que começou a me desgastar. Depois de algum tempo, eu gostava
muito mais de pensar em fantasias sobre um amante romântico, do que de
ficar na cama, tendo orgas- mos mecânicos com meu marido”.
Todas as mulheres que conheco, independente de quanto tenham se
tornado sexualmente desinibidas, ainda valorizam muito o carinho e a
afeição — não apenas como um aquecimento prévio. Mesmo correndo o
risco de ser chamada de terapeuta sexual feminista preciso mencionar esta
diferença fundamental que existe entre a sexualidade feminina e a

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Gwynne admitiu timidamente que por volta da terceira Tente ignorar tais pensamentos e sentimentos e se concentrar apenas
semana percebeu que estava gostando “um pouco mais” da em suas sensações.
Não se sinta na obrigação de dar a seu parceiro um retorno positivo
vida sexual dos dois, do que havia imaginado que gostaria, e — como dizer “isto é bom” ou gemer. Se estas reações forem
que uma vez “dada a partida” ela, de alguma forma, encontrava espontâneas, ótimo. Se não, não desvie a atenção de suas sensações
“sua inspiração”. Eu havia esperado por esta resposta. Muitos por causa delas.
homens e mulheres me contam que o “dar a partida” é que se Deixe a experiência durar um minimode quinze minutos e um
torna seu verdadeiro problema; uma vez “começado” não têm máximo de quarenta e cinco. Não olhe para o relógio: você tem um
em sua mente. O acariciado irá decidir quando a experiência
problemas para continuar. terminou. Não tente descobrir quando o seu parceiro “está satisfeito”
Desde que foram capazes de deixar de ver um ao outro em extremos
ou se ele ou ela já se cansou.
— “Eu, como um maníaco sexual e ela como uma freira”, como Jack o
Novamente, a experiência é para você. Você não tem que dar a seu
colocou — Gwynne e Jack estavam prontos para passar à etapa seguinte em
parceiro um tempo igual ao seu. O acariciador pode realmente se
direção a uma vida sexual de satisfações mútuas. Minha segunda tarefa para
sentir cansado ou constrangido, ou até mesmo magoado ou rejeitado,
os dois foi o Exercício de Toque
caso não obtenha uma resposta equivalente, ou talvez seu parceiro
1 — ter sexo que não atingisse qualquer orgasmo.
durma em consequência do relaxamento. Mas o acariciador deve
tentar ignorar estes sentimentos e se concentrar no prazer de
proporcionar prazer. E deve lembrar-se de que mais tarde será a sua
Exercício de Toque 1
vez de ser o acariciado.
Finalmente, não trapaceie, usando o exercício de toque como uma
Alterne o tocar e o ser tocado.
preparação para uma relação sexual. Vivencie a excitação e o
Decida quem serão o acariciador e o acariciado.
estímulo. Você pode passar uma noite sem orgasmo — não vai
Tirem suas roupas no quarto, com a porta trancada e as luzes acesas
adoecer por isso. É possível saborear a entrada sem ter que comer
(e o telefone fora do gancho), deixe seu parceiro tocá- lo por completo
toda a refeição.
— exceto nos seios e genitais. Não se permita retribuir o toque. Você
tem apenas uma responsabilidade: comunicar ao seu parceiro caso A idéia principal neste exercício foi, com certeza, a de permitir que
alguma coisa que ele ou ela faça seja desagradável. Isto coloca você Jack se familiarizasse, de maneira despreocupada, com seus próprios
no controle, com seu parceiro sabendo que ele ou ela está apenas lhe sentimentos, sua sensualidade — experimentados por ele anteriormente
dando prazer. apenas como um instrumento para seu gol final, o orgasmo. Ele foi forçado
Tente uma comunicação não-verbal. Por exemplo, coloque sua mão a nada fazer e sentir passivamente tais sensações para seu próprio
sobre a de seu parceiro — afaste a mão de seu parceiro se algum benefício; ele pôde se deixar relaxar através delas. Também, quando Jack
toque não lhe agradar ou se sente cócegas em uma determinada fez seu papel de acariciador com Gwynne, ele precisou aprender a
região. transformar a “preparação” em “jogo de verdade”. Propositalmente, o
Feche seus olhos: você agora está livre para se concentrar em suas exercício não conduzia a um final, para que Jack pudesse descobrir o prazer
próprias sensações, e não nas de seu parceiro. Você não precisa de tocar Gwynne somente pelo prazer de tocá-la. E o prazer de vê-la
interpretar a expressão no rosto dele ou dela ou se preocupar com o sentindo tal prazer.
que ele ou ela está sentindo. Porém, este exercício — e os outros exercícios de toque seguintes —
Isto é para você. não foram determinados apenas para beneficiar Jack. Por tocar e ser tocada
Tente não criar qualquer expectativa: apenas sinta o que estiver regularmente, Gwynne conseguiu se aj ustar a suas
sentindo. Na primeira vez em que tentar este exercício, poderá sentir
certa ansiedade, sua mente poderá divagar, você poderá não sentir
coisa alguma e começar a pensar por que você não está sentindo nada.
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próprias necessidades sexuais. Ela também as tinha. Todos os anos em que Apenas admitindo isto para nós mesmos, fazemos surgir um conjunto
ficara a maior parte do tempo “à espera do momento mágico”, ela estivera de temores e culpas sexuais que não precisamos enfrentar, quando o sexo é
contrariando suas próprias necessidades — não apenas as de Jack. E uma uma “questão de inspiração”. Se, como em muitos casos, você carrega
vez que “se sentiu ligada”, o momento se apresentou. culpas por julgar sexo algo “sujo” e “ruim” e acha que será punido se
“Eu estava sempre à espera do momento certo”, Gwynne contou apreciá-lo, você terá que enfrentar cara a cara este demônio anti-sexo, todas
alegremente em nossa última seção, “mas a verdade é que o momento certo as vezes em que tomar a decisão consciente de pular do trampolim. Mas, as
sempre esteve esperando por mim”. probabilidades são de que você mude de idéia antes do salto.
Então, quando pensamos em começar com sexo — ou quando nosso
parceiro faz tal sugestão — nós provavelmente diremos que, já está muito
tarde para começarmos: estamos muito cansados; temos medo de dormir
"Nossa, Como Foi Ótimo — Por que não Fazemos muito pouco. Ou talvez decidamos que ainda é muito cedo para
Isso Sempre?"
começarmos: por que ter todo o trabalho de tirar a roupa e ir para a cama,
quando ainda vamos ter que nos vestir novamente depois? (Ainda que se
“Dar a partida” é o maior dos obstáculos a ser vencido na maioria dos
for para jogar uma partida de tênis ou para um banho refrescante durante o
casamentos, o maior culpado deste flagelo da vida do casamento, a baixa
dia, não nos importa- - mos de tirar e colocar as roupas.) Ou talvez façamos
frequência do sexo. Uma vez que um casal tomou a decisão de fazer sexo
hoje (ou pela manhã ou à noite) e a relação se inicia — um botão uma programação diária que elimine nossas oportunidades para o sexo,
desabotoado, um zíper aberto — nada mais pode interrompê-los. Mas, de com compromissos sociais ou solicitações de trabalho: nós não podemos ter
alguma forma, a maioria de nós simplesmente não toma tal decisão, não dá sexo hoje à noite porque “devemos” ir ao teatro ou terminar um trabalho.
a partida — pelo menos não tão frequentemente quanto gostaríamos. E se Chegamos até a evitar o sexo com a desculpa da televisão: “Precisamos”
não damos a partida, nada acontece em seguida. Como disse o Rei Lear, ouvir as Últimas Notícias da noite antes de irmos para a cama e então fica
“Nada virá do nada”. “tarde demais” para o sexo. Uma cidade do Centro-Oeste que
“É pura loucura”, me disse um homem. “Sei que uma vez iniciado eu voluntariamente deixou de assistir televisão durante um mês, teve como
vou adorar. É como saltar na piscina: pular do trampolim é a parte mais resultado mais extraordinário o aumento considerável da frequência sexual.
difícil. Uma vez dentro d’água, me sinto o máximo. Mas, de alguma forma, Não foi tanto pelo fato de, ficando sem TV “não se ter outra coisa para
existe sempre um motivo para minha mulher e eu nunca darmos a partida.” fazer exceto sexo”; mas, sem TV, foi eliminado o último álibi para se evitar
E uma mulher que veio a mim com seu marido, por não fazerem amor o sexo.
de maneira frequente, disse o seguinte: “É estranho, mas sempre que nós
realmente fazemos amor, olhamos um para o outro depois e dizemos,
“Nossa, como foi ótimo. Por que não fazemos mais isto?”
Por que eles não fazem?
Eu imagino que a principal razão para que a maioria de nós não
“mergulhe direto” é a de que tomar a iniciativa em relação ao sexo precisa
ser uma decisão consciente no casamento — não pode ser uma “inspiração
súbita” todas as vezes, semana após semana, não para todo o sempre. E,
juntamente com esta decisão consciente, vêm todas as ansiedades que
temos sobre o sexo. Estas ansiedades não podem ser “arrebatadas”
juntamente conosco, na excitação do momento. O fato é que nós,
geralmente, não estamos nos sentindo assim tão sexy no momento em que
tomamos a decisão de fazer amor — estamos simplesmente planejando nos
sentir sexy. Mas, sem estes sentimentos para facilitar o caminho,
precisamos enfrentar friamente a implicação básica de nossa decisão: Nós
desejamos ativamente o prazer do sexo.
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A Gangorra Sexual e Outros Jogos Perigosos somente suas inibições que bloquearam sua sexualidade — seu marido a
queria bloqueada. Pior do que isso, ele a fez sentir-se culpada e
“Dar a partida”, porém, é apenas metade do problema na maioria dos envergonhada de si mesma. Fez com que se sentisse vulgar. Brenda
casamentos. “Quem dá a partida” é a outra metade. A questão sobre qual começou a dar-lhe o troco, sem realizar completamente por que fazia
dos dois parceiros inicia o sexo, abre uma caixa de Pandora de aquilo. Na vez seguinte, quando Louis iniciou com o sexo, ela se
ressentimentos, recriminações e jogos sexuais de poder. desculpou, alegando não estar disposta. Não era somente uma desculpa; ela
Brenda e Louis V., um casal do Centro-Oeste em torno dos quarenta realmente não sentia vontade sexual. Ela recusou a outra vez, e a outra.
anos, veio a Nova Iorque durante suas férias para duas semanas de terapia Louis, por sua vez, humilhado, parou de solicitar sexo. Eles não fizeram
intensiva. Depois de quinze anos de casamento, a vida sexual dos dois amor por um ano.
cessou por completo. Em resumo, esta foi a descrição que deram para o que Brenda e Louis dão exemplo de um dos mais perigosos jogos
aconteceu: nos seus primeiros quatorze anos juntos, Louis sempre havia conjugais, “A Gangorra Sexual”. Neste jogo, não era apenas uma “infeliz
sido aquele a tomar a iniciativa no sexo e, nove entre dez vezes, Brenda coincidência”, quando um queria sexo e o outro não. Na Gangorra Sexual,
concordara de bom grado. Uma noite, porém, após uma festa na qual, fora um parceiro não quer sexo porque o outro o quer. Existe uma contagem de
de seus hábitos, Brenda havia tomado uns drinques, ela deslizou por sob as
pontos, desfeitas sexuais são retribuídas: uma recusa sexual merece outra, e
cobertas e começou a acariciar o peito de seu marido.
vamos para cima e para baixo, nunca — ou raramente — querendo sexo ao
“Ele simplesmente afastou minha mão”, contou Brenda, recordando o
mesmo tempo. Este jogo pode durar uma semana ou um mês ou, com
incidente com ressentimento e dor ainda visíveis. “Ele me disse que eu
estava bêbada e que não queria fazer amor comigo se eu agisse daquele pequenos períodos de harmonia, pode durar por toda uma vida conjugal.
modo.” Para Brenda e Louis, a gangorra — e suas vidas sexuais — chegaram a um
“Não sei por que precisamos sempre voltar a falar daquela noite.” fim.
interrompeu Louis. “Eu disse a você que eu simplesmente não estava com Se entrarmos na Gangorra Sexual a maneira como respondemos às
vontade. E, além do mais, você não parecia a mesma naquela noite, lería recusas sexuais torna-se crítica: se nosso parceiro rejeita o sexo por duas
sido como fazer amor com outra pessoa qualquer.” noites seguidas, encaramos isto como uma rejeição sexual pessoal? Três
“Você quer dizer que não era típico de Brenda tocá-lo primeiro?”, noites? Quatro? Uma semana de “dores de cabeça” de nosso parceiro é o
perguntei. suficiente para nos sentirmos com raiva e humilhados — ainda que
“Não era somente isso”, Louis insistiu. “Toda sua atitude — seus saibamos que nosso parceiro tem estado sob pressão no trabalho ou
risinhos e tudo o mais — não parecia dela.” deprimido de maneira geral? Uma vez que nos sentimos de fato humilhados
Para Louis, uma esposa alegre, sexualmente agressiva, não era uma com uma recusa, usualmente respondemos, tanto deixando de tomar a
esposa de maneira alguma: era uma mulher assanhada. E um homem não iniciativa — para não correr o risco de outras humilhações — como
faz amor com uma mulher assim na sua cama de casal. Ele estava revidando a nosso parceiro, rejeitando-o na próxima vez em que tomar a
bloqueado pela clássica confusão masculina: as mulheres ou são “madonas” iniciativa. Com isto, tem início o ciclo de vaivém.
ou “prostitutas”, e nenhum homem quer uma prostituta como esposa e mãe Como uma disputa de crianças, isto pode se agravar. A recusa ao sexo
de seus filhos. Para alguns homens esta confusão faz com que raramente se torna um jogo de forças: “Se você diz ‘Não’, também
tenham sexo com suas esposas — o sexo fica reservado para “prostitutas”,
e não “madonas”. Outros homens assim como Louis, aceitam fazer amor
com suas esposas desde que estas ajam como madonas; do momento,
porém, em que estas esposas dão sinais de serem “prostitutas” — momento
em que iniciam ativamente o sexo — os homens se desinteressam. Louis
insistia em dizer que ela era “outra pessoa”; ou então seria obrigado a
pensar que se casara com uma mulher prostituta.
Brenda, porém, estava com raiva, e a raiva ficou dentro dela. Ela
percebera que após todos aqueles anos, aquela havia sido a primeira vez em
que tomara a iniciativa com seu marido — e ele a recusara. Não foram

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posso dizer o mesmo.” A mínima rejeição, mesmo que não intencional, a iniciativa no sexo com seus parceiros porque não querem arriscar uma
pode assumir as proporções de um vaivém até uma verda deira guerra recusa — que é sempre encarada como uma rejeição absoluta. E foi
sexual, particularmente no caso de um dos dois ou ambos serem necessária apenas uma recusa para julgarem ter uma confirmação disto.
sexualmente inseguros. No caso de um infeliz casal que conheci, a esposa
realmente sofria de frequentes dores de cabeça — dores de cabeça tão
dolorosas que fazer amor em um destes períodos dolorosos podería somente
aumentar seu sofrimento, sem lhe dar qualquer prazer. Porém, seu marido, Os Direitos à Iniciativa
que sempre fora sexualmente inseguro, encarava tais dores de cabeça como
desculpas — como um sinal de que ela não mais o julgava sexualmente Voltemos, porém, a Brenda e Louis. Sua disputa começou com um
atraente. Sua esposa, tentando melhorar as coisas para ele, tomava a incidente de significado consideravelmente mais profundo do que o de uma
iniciativa no sexo, sempre que se sentia bem, mas, já era tarde demais para indisposição passageira: ele cristalizou um desequilíbrio nunca mencionado
ele: estava confuso e defensivo em suas humilhações. Encarava as aberturas nos seus quinze anos de relacionamento. Quando Louis repeliu a mão de
sexuais dela como “protetoras” e não as correspondia; então ela passou a ter Brenda, estava dizendo a ela de modo claro, “Isto está fora das regras.
raiva e a se recusar a corresponder a ele na vez seguinte. Após uma semana Somente eu posso iniciar o sexo entre nós dois. Você não possui direitos à
de dores de cabeça verdadeiras, eles lutaram na gangorra até chegarem a iniciativa.”
um impasse sexual sem saída. Como vimos depois, a transgressão de Brenda a esta regra
É necessária uma certa dose de segurança sexual, assim como de subentendida, transformou instantaneamente uma esposa adequada em uma
generosidade de espírito, para não se chegar a um destes ciclos sexuais “mulher devassa”. Também transformou o sexo em uma exigência feita a
infelizes. Um homem que se sente facilmente humilhado em seu trabalho, Louis: chegando até ele sob as cobertas, ela solicitou a ele um desempenho
verá também muito facilmente a recusa de sua mulher ao sexo por uma sexual — pelo menos da maneira como ele encarou isto — e ele ficou
noite, como uma rejeição sexual, qualquer que sejam os motivos dela; e perturbado e ansioso. O que aconteceria se não estivesse apto para a tarefa?
uma mulher que está convencida de estar perdendo seu poder de atração (E, sentindo tanta ansiedade, provavelmente não estaria mesmo.) Tendo
devido a algum excesso de peso, interpretará uma semana sem sexo como sido sempre aquele a tomar a iniciativa, Louis estivera sempre no controle,
um sinal de que seu marido perdeu todo o interesse sexual por ela. Apenas e por estar no controle, nunca tivera que viver o sexo como resposta a uma
um passo, da humilhação para a fúria; e o próximo passo, na maioria das solicitação. Porém, naquela noite, sentiu-se profundamente ameaçado.
vezes, é a retribuição. Naquela mesma noite, Brenda fez uma descoberta: jamais havia tido
Quando casais vêm a mim com seus problemas, minha primeira sexo com seu marido simplesmente porque ela estivesse com vontade. Ela
medida é a de determinar como o ciclo começou e a de fazer a simples sempre havia esperado que ele tomasse a iniciativa. Talvez ela houvesse
observação de que algumas vezes nossos parceiros não estão realmente insinuado seu desejo por meio de um perfume, um olhar ou gesto, mas
bem para fazer amor, que toda a recusa sexual não precisa ser encarada nunca antes havia agido de modo direto para obter o que queria. Alguns
como uma rejeição sexual. Um parceiro que está sob pressão no trabalho, drinques haviam sido necessários para que ela chegasse a agir daquele
que está cansado ou deprimido, provavelmente não estará com disposição modo e, quando o fez, foi desprezada. Ela recebeu a mensagem de Louis
para sexo durante algum tempo e isto nada tem a ver conosco em absoluto. em alto e bom som: “Fique no seu lugar! Sou eu quem decide quando
De algum modo, estamos mais dispostos a encarar a indisposição de um teremos sexo.” E esta
companheiro de quarto ou amigo como problema deles, alguma coisa que
deverá passar. Mas quando se trata de nossos parceiros sexuais, encaramos
uma disposição como uma rejeição pessoal a nós: se ele não quer fazer
amor esta noite, quer dizer que está cansado de mim, frio, sexualmente
desinteressado; certamente significa o princípio do fim. Não podería ser por
acaso, pelo simples fato de que ele não está disposto para o sexo está noite.
Vejo um incontável número de homens e mulheres que deixaram de tomar

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mensagem revelou um ressentimento que Brenda carregava há quinze anos: sexo. É sua moeda primordial de troca. Quando ela “Concorda”, é
não era justo. Foram necessárias várias seções até que Brenda conseguisse merecedora da gratidão e reconhecimento do marido, e talvez até de algum
extravasar tudo isso. favor. E, quando recusa as intenções sexuais dele, ela o está “mantendo na
“Eu não desejo ser uma dessas mulheres modernas que querem seguir linha”, fazendo-o lembrar-se de quem é realmente o chefe no
suas carreiras, férias separadas e tudo o mais”, disse Brenda. “Mas tenho os relacionamento sexual dos dois. Brenda, à sua maneira, havia estado no
meus sentimentos também — sentimentos quanto a sexo. Por que sempre controle tanto quanto Louis. Aquela noite perturbara o equilíbrio de forças
tem que ser à maneira dele? Por que sempre tenho que esperar para que ele para ambos.
sinta vontade primeiro? “Ei! Um momento!” posso ouvir alguns de vocês protestando. “Você
Provavelmente, Brenda estava falando por mais da metade das está descrevendo alguma organização tribal primitiva aqui, e não um
mulheres casadas da América. Mesmo nos casamentos mais “liberados”, casamento moderno. Já ficou para trás o tempo em que as mulheres
onde as mulheres seguem uma carreira, onde afazeres domésticos e o negociavam sexo pelo casamento e casacos de pele. Esta é uma visão
cuidado das crianças são divididos igualmente; quando se volta ao quarto degradante da mulher.”
do casal, raramente as vemos com “direitos à iniciativa”. Se o marido Eu concordo: é uma visão degradante da mulher. E do homem
deseja ter sexo, ele procura o corpo de sua mulher; se ela deseja ter sexo, também. E eu gostaria que não fosse tão precisa. O fato, porém, é de que na
ela procura o perfume. E, como Brenda compreendeu naquela noite, não é maioria dos casamentos — modernos ou não — ainda é o homem que
justo. ativamente inicia a relação sexual, a maioria das vezes. E ainda é a mulher
Minha tarefa porém, não é a de estabelecer padrões morais. Se eu, por que detém o direito à recusa. De vez em quando, vejo mulheres em meu
exemplo, estivesse realizando terapia sexual em Timbuktu (embora duvide consultório que argumentam não sentir prazer no sexo, descobrirem
que exista sequer um terapeuta sexual em toda Mali), não me atrevería a posteriormente que não têm vontade de sentir prazer porque, se sentirem,
enfrentar a tradição, insistindo para que todas as mulheres exigissem perderão o controle sexual sobre seus parceiros: uma mulher que sente
direitos à iniciativa. Brenda, porém, era uma típica mulher americana,
prazer no sexo não pode mais alegar que está fazendo uma concessão ao
“moderna” ou não; e sentia-se interiorizada pelo desequilíbrio do acordo
seu parceiro.
sexual de seu casamento. Por quinze anos havia sido somente uma corrente
de ressentimentos submersa; agora se transformara em guerra aberta. Meu Em uma igualdade sexual verdadeira, tanto o homem quanto a mulher
trabalho não era o de convencer Louis de suas “obrigações morais” quanto renunciam ao poder. Cada um tem o direito de tomar a iniciativa no sexo. E
à justiça sexual. Meu trabalho era o de ajudá-los a reacender seu cada um tem o direito a recusá-lo. Porém, fazer a transição para este tipo de
relacionamento sexual e, em última análise, salvar o casamento deles. igualdade sexual autêntica não é muito fácil. Para a maioria de nós é mais
Comecei tentando mostrar a Brenda que, durante todo o tempo ela fácil entrar na Gangorra Sexual.
havia sido uma cúmplice voluntária no desequilíbrio sexual deles. Não era O fato de Louis e Brenda terem viajado até Nova Iorque, buscando
somente culpa de Louis. ajuda, mostrava que parte de sua batalha pelo poder sexual estava vencida.
“Gostaria de saber: o que havia de vantajoso para você neste Os dois queriam seu casamento — e sua vida sexual — funcionando. Meu
arranjo?”, perguntei a ela. trabalho seria o de ajudá-los a dar novamente a partida. Como de costume,
“Nada. Apenas eu não conhecia nada diferente”, ela respondeu. minha primeira tarefa para eles foi o Exercício de Toque 1 — um acaricia o
“Verdade? Talvez você não tivesse o poder da iniciativa sexual, mas outro por até quarenta minutos, excetuando-se seios e genitais, sem a
sempre teve o poder da recusa — ainda que na maioria das vezes você não permissão de subsequente relação sexual orgásmica. Devido ao fato de que
o tenha exercido. E este tipo de poder deixa de ser tão valioso, se você fazê-los dar a par
também passa a tomar a iniciativa sexual — porque, então, ele pode recusar
você da mesma maneira.
Tradicionalmente, este “Direito a Recusar Primeiro” tem sido uma
fonte feminina de poder sexual, considerando-se suas primeiras
experiências sexuais. Em quase todos os casos, foi ela quem decidiu,
unilateralmente, com quem e quando perder sua virgindade. E na maioria
dos casamentos, ela passou a deter este controle desde o início: ela regula o

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tida era justamente o mais difícil, disse a Louis que ele deveria ser o fingir que você é aquilo que ele quiser que você seja. É o exercício de
parceiro ativo — o acariciador — na primeira noite; eu estava con vencida acariciar e o prazer que vocês dois podem obter, o que realmente importa.
de que pedir a ele, logo de início, que fosse ele o acariciado seria ameaçá-lo Deixe que seus corpos se tornem amigos primeiro. Vocês podem falar sobre
demais. Aquela primeira noite, como já era esperado, esteve longe de ser quem vocês são e como se sentem, depois.”
um sucesso. Seus corpos realmente se tornaram amigos naquela noite. Mesmo
“Eu não senti coisa alguma”, medisse Brenda na seção seguinte à depois de tantos anos como terapeuta sexual, ainda é para mim uma fonte
primeira noite. “Me senti simplesmente como uma pedra jogada ali. Depois de admiração permanente, a maneira pela qual o simples tocar e ser tocado
de algum tempo, já estava realmente cansativo. Para nós dois. Disse a ele pode resolver grande parte de nossos problemas. Uma vez que nos
que parasse depois de quinze minutos.” permitimos sentir o carinho da pessoa que nos toca, torna-se difícil para nós
Louis concordou. continuar a sentir raiva desta pessoa. Uma vez que conseguimos relaxar sob
No mesmo instante percebi o que acontecia. Eu sabia que a raiva os cuidados de nosso parceiro, a questão sobre quem está “no controle” ou
acumulada dos dois os estava impedindo de se lançarem na experiência, e sobre quem “tomou a iniciativa” parece se tornar irrelevante. Tudo que
que, enquanto estivessem contendo esta raiva, não conseguiríam dar a parece relevante é que nos faz sentir bem — tanto acariciar quanto ser
partida novamente. Ao final da seção apanhei duas sacolas cheias de acariciado.
bolinhas de pingue-pongue e entreguei uma a cada um dos dois. Pela primeira vez em sua vida, Louis permitiu-se ser passivo —
“Esta noite eu quero que vocês façam um duelo, atirando bolinhas de
deixando Brenda tomar a iniciativa sexual e dar continuidade a ela. E ele
pingue-pongue um no outro”, disse a eles. “Existe apenas uma condição,
admitiu, muito satisfeito, ter se sentido muito bem. Progredindo através de
que é a de que vocês estejam despidos. Mais tarde, se tiverem vontade,
vocês podem tentar o exercício de toque novamente.” cada um dos exercícios de toque até que levassem um ao outro
No momento em que entraram em meu consultório, no dia seguinte, alternativamente ao orgasmo, Brenda e Louis redescobriram a mais
pude perceber que as coisas já estavam melhores — muito melhores. primordial das verdades sexuais: faz com que nos sintamos bem. E apenas
“Nós nos divertimos”, exclamou Brenda, não podendo esconder seu nós mesmos podemos entrar no caminho destes bons sentimentos.
sorriso. “Fizemos amor.” Ao longo destes exercícios, sempre insisti para que alternassem quem
Podendo extravasar a raiva fisicamente — mas de maneira inofensiva deveria iniciar o sexo e na última seção, pedi a eles que fizessem um trato,
—, eles puderam abrir a porta para fazer amor pela primeira vez, depois de tendo a mim como testemunha: de que, quando voltassem para casa,
quase um ano. Somente isto, porém, não iniciou o processo de continuassem a alternar a iniciativa no sexo.
normalização de desequilíbrio que causara o problema dos dois. Eles não “Não é justo”, disse Louis com um sorriso. “Ela ainda me deve pelos
haviam ainda atravessado a ponte que os levaria para o lugar, onde quinze anos em que sempre tomei a iniciativa.”
qualquer um dos dois teria o direito à iniciativa sexual, de modo que, pedi
aos dois que tentassem o Exercício de Toque 1 novamente, sendo Brenda,
desta vez, a acariciado- ra e Louis o receptor passivo do prazer.
“Resista à tentação”, avisei a ele. “Não tente retribuir-lhe os afagos de
modo algum. Se isto ajudá-lo, feche seus olhos e imagine estar sendo
massageado por uma gueixa.”
Para os homens que se sentem ameaçados pela idéia de serem
sexualmente passivos — e esta categoria parece incluir a maioria dos
homens — a fantasia de serem servidos por uma gueixa ou uma massagista
torna a situação muito mais fácil. De fato, a maioria dos homens tem,
muitas vezes, a fantasia de estarem sendo “cuidados” por uma gueixa; é
apenas na vida real que acham esta fantasia ameaçadora. Louis, porém,
parecia disposto a tentar: era Brenda quem permanecia relutante.
“Não sei se quero ser a gueixa dele”, ela disse.
“Você pode ser o que quiser”, eu disse a ela, “mas Louis pode também

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Guia do Homem de Meia-Idade com sua mulher pelos cabelos para a caverna marital está ligada a nós. A relação
Vida Sexual Preguiçosa sexual propriamente dita parece simbolizar a dominância masculina: ele
penetra nela. A posição dele é de domínio. Mas, no mundo de hoje, as
Algumas coisas mudam realmente entre os sexos, e ainda bem. Uma noções de dominância masculina e de submissão feminina não parecem ser
das mudanças muito marcantes que tenho observado nos últimos anos diz consideradas muito importantes. Entretanto, quando uma mulher admite
respeito ao desejo feminino de admitir abertamente que desejam sexo e que abertamente que deseja ter mais sexo com seu marido muitas vezes, isto é,
desejam obter mais dele. Infelizmente, estas mudanças trouxeram sua demais para ele. Ele murcha — literal e figurativamente. Uma coisa é não
parcela de problemas também. Vejo um número crescente de mulheres ser mais o agressor, mas outra coisa é estar na cama com uma “Mulher
casadas que discutem sobre o fato de seus maridos terem se tornado Voraz”.
sexualmente preguiçosos, e sobre o fato de que os homens não possuem Mais uma vez, os homens tendem a ver as mulheres de maneira
energia sexual suficiente para acompanhá-las. extrema: se ela não é sexualmente tímida ou reticente, então ela é, com
Uma mulher me disse, “Sempre pensei que fosse um mito, que o certeza, voraz e insaciável. Ou ela é uma “Princesa Perfeita” ou uma
apetite sexual de uma mulher aumenta, enquanto o pique sexual masculino amazona. Nenhum meio-termo. Muitos homens temem profundamente uma
se dá em torno dos vinte anos, começando então a de- crescer. Mas, agora, “Amante Voraz”; revive neles os terrores da infância e de uma mãe
estou começando a acreditar nisto”. dominadora. Uma amante voraz e insaciável o comerá vivo. Atinge uma de
“Não acredite”, eu a prevent. “Se você começa a pensar assim, pode
suas mais terríveis fantasias: a de ser engolido pela vagina de sua mulher,
transformar o mito em uma verdade.”
tal como Jonas e a Baleia.
O fato é que mulheres e homens saudáveis podem ter uma vida sexual
Mas, espere aí! Tudo o que estas esposas estão dizendo é que
ativa e frequente, mesmo em idade avançada. Talvez alguns homens
demorem mais a atingir o orgasmo, quando atingem a meia- idade, do que descobriram que realmente gostam de sexo. E que querem tê-lo com maior
quando eram mais jovens — um fato apreciado tanto por eles quanto por frequência podendo também tomar a iniciativa algumas vezes. Isto as torna
suas esposas; e talvez, também, alguns homens de meia-idade demorem um de algum modo insaciáveis?
pouco mais a se recuperar após um orgasmo — mas a diferença aqui é de “Eu descobri que estou tendo uma certa dificuldade para me acostumar
alguns minutos ou horas, não dias ou semanas. Não, um homem que se com isto”, comentou um marido, a respeito da nova atitude sexual de sua
esconde atrás da meia- idade como a razão para a sua perda de apetite esposa. “Mas, tudo o que ela tem a fazer é dizer alguma coisa como, ‘Sabe,
sexual está enganando tanto sua mulher quanto a si próprio. Não é de esta noite eu podería voltar aos nossos bons tempos na cama’ e se instala
energia que está precisando — é alguma outra coisa. em mim o pânico. A única maneira que encontro para me acalmar é
A Parte I deste livro trata principalmente das diversas possibilidades fantasiar que estou seduzindo a jovem que mora ao lado.”
existentes para esta “alguma outra coisa”. Aqui, porém, eu quero ressaltar Não me admira que sua fantasia o acalme: nela ele é o agressor, o
uma Gangorra Sexual que tem acontecido em muitos casamentos sedutor, o que possui a virgem. Para um homem como ele, qualquer tipo de
contemporâneos: com as mulheres casadas, dizendo, de repente, que casamento necessitará de uma certa adaptação sexual, porque sua esposa
querem sexo e querem tê-lo com mais frequência, os homens casados não pode sempre voltar a ser uma virgem durante todas as noites de sua
também estão dizendo agora, “Esta noite não, querida — estou muito vida de casado. Mas ele tende a ver
cansado”.
Acredito que, mais de uma vez, a causa disso esteja relacionada com
um senso masculino de poder sexual. O mesmo homem que se comporta de
maneira preguiçosa quanto ao sexo, na sua cama de casal, pode passar um
dia inteiro fora de casa, sentindo-se sexualmente animado, enquanto flerta
no escritório e tem fantasias no trem. Ele é “preguiçoso” porque sua mulher
abertamente quer sexo; isto o priva de seu papel de agressor e caçador
sexual. E sem ter um papel a desempenhar, não se sente nada sensual.
Historicamente, em diversas culturas, os homens têm se mostrado
como os agressores sexuais; a imagem do homem das cavernas, arrastando

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tudo no sexo como um desempenho e a ver qualquer solicitação sexual raiva influencia o sexo pode determinar quão bem se desenvolve um
como um “Desempenho Comandado”, uma exigência possessiva. No casamento.
capítulo 5, falaremos ainda sobre os tipos de problema com os quais ele se “Não podemos estar no meio de uma briga estrondosa”, contou-me
defronta e como pode começar a superá-los. Agora, porém, vamos analisar Janice G., uma jovem mulher recém-casada, “e, de repente, Brian diz, ‘Isto
como ele e sua esposa chegaram à polarização um do outro. Ele a vê como não vai nos levar a lugar algum — vamos para a cama!’ Simplesmente
uma Amante Voraz e recua no sexo, em pânico; ela, por sua vez, o vê como assim! Ele pensa que sexo resolve tudo. Mas que droga! Quando estou com
um “Amante Preguiçoso”, um homem de meia-idade com sua “Potência em raiva, estou mesmo, e a última coisa que tenho vontade de fazer é abrir
Declínio”, e tenta levá-lo à ação sexual. Quanto mais ela tenta, mais ele fica minhas pernas.”
em pânico. Gangorra. “O fato de você ‘abrir suas pernas’ faz você se sentir como se perdesse
Existe um exercício que recomendo para a despolarização de um casal a briga?” perguntei a ela.
que entrou nesta gangorra, em particular. Eu o chamo de “O Guia do “Pode apostar que sim”, respondeu Janice.
Homem de Meia-Idade com Vida Sexual Preguiçosa.” “Talvez, então, tenhamos que descobrir de que maneiras você pode ter
sexo e ainda assim sentir-se vencedora,” disse eu.
Durante um mês, a esposa pode solicitar sexo, sempre que queira — Em geral, partilho do ponto de vista do marido de Janice quanto à
até duas vezes por dia — e o marido tem que concordar. Porém ele raiva e sexo: disputas verbais podem nos levar longe demais para, cm
tem a permissão para satisfazê-la com um mínimo de esforço seu. Ele seguida, esvaziarem-se por si mesmas — não nos conduzindo realmente à
pode ficar deitado, olhando para o teto, e masturbá-la com uma só parte alguma. E o sexo nos dá a possibilidade de romper com a raiva,
mão, se isto for tudo o que ele tenha vontade de fazer. E ela, por sua fornecendo um relaxamento, levando os dois parceiros para um novo plano
vez, não deve reclamar da preguiça dele: ela está sendo saciada. de sentimentos e compreensão.
Com certeza, é muito difícil não permitir que a raiva se atravesse no
Este é, certamente, um exercício paradoxal. Para muitos casais, são
caminho do sexo. Entretanto, permitimos que, muitas vezes, o amor se
necessárias apenas algumas semanas para o marido descobrir que sua
atravesse neste mesmo caminho. Pensamos que devemos sempre nos sentir
mulher não é assim tão insaciável — apenas parecia sê-lo, quando ele
suaves em relação um ao outro para fazer amor e, quando estamos nos
passava a maior parte do tempo se esquivando. Além do mais, ele pode
logo descobrir que, com a ausência de uma cobrança de desempenho, ele sentindo com raiva, não “cedemos” para o sexo. O simples termo “fazer
pode se sentir disposto e com vontade de fazer todas as coisas para as quais, amor” é pesado: talvez haja momentos nos quais seja mais adequado “fazer
antes, estava sempre “cansado demais”. raiva” ao invés de “fazer amor”. De qualquer forma, o importante é fazê-lo.
Este é um exercício que recomendo sinceramente, para qualquer casal “Fazer Raiva” não é na verdade uma idéia tão estranha ou errada.
que tenha um sinal, ainda que mínimo, deste tipo de desequilíbrio e de sua Todos nós lembramos de certas cenas de filmes — E O Vento Levou... tem
consequente polarização; pode colocar os dois no caminho da igualdade uma destas clássicas — onde um homem e uma mulher interrompem
sexual calma e carinhosa. Mas, para muitos de nós, existem etapas a serem subitamente uma violenta discussão, caindo inesperadamente nos braços
vencidas antes de tentarmos este exercício: devemos estar prontos a aceitar um do outro. A transição emocional tem para nós um sentido intuitivo:
o prazer sexual “de maneira egoísta” — uma coisa especialmente difícil raiva e excitação provêm de uma mesma parte de nós. Ambas são
para mulheres; e devemos desejar nossa satisfação própria, com variações expressões de estímulo e animação. Ambas são produto de uma interação
sexuais que não sejam especificamente a relação sexual, o que é um passional de um com o outro.
problema para muitos casais casados. Adiante exploraremos as maneiras
através das quais estes obstáculos podem sei suoerados.
Faça Raiva, não Faça Amor
Quando um parceiro se recusa a fazer amor, em geral é porque está
com raiva de alguma coisa e não deseja “ceder” no sexo. Raiva e disputa
são componentes de todos os casamentos; a maneira através da qual esta

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Ao nível mais primitivo, raiva, medo e excitação sexual são uma estava conseguindo o que queria, como estava também ficando com todo o
mesma coisa. Quando um cão está assustado, uma de suas primeiras prazer, enquanto eu ficava sem prazer algum.”
reações físicas é uma ereção. De maneira semelhante, os seres humanos se Para Janice, todas as brigas que tinha com Brian pareciam cataclismos:
sentem sexualmente despertos, em diferentes momentos de excitação: uma ela considerava cada uma delas uma ameaça ao relacionamento dos dois,
mulher dominada pelo riso pode mais tarde verificar que ficou com a um sinal de que havia algo de muito errado com seu casamento. Ela havia
calcinha molhada de excitação; um homem dominado por uma aflição pode crescido em uma família onde as discussões eram muito raras e ainda não
ter uma ereção prolongada por horas. E pode ser muito adequado ter sexo conseguia compreender que discutir pode fazer parte do ritmo do
com nossos parceiros em qualquer uma destas situações — simplesmente casamento, uma maneira de extravasar sentimentos e de fornecer “espaços”
como uma frívola continuidade a um momento de riso; como um elo de saudável distância entre os dois. Em vez de se constituírem em uma
passional com a vida em um momento de aflição. O sexo não precisa ser a
ameaça ao relacionamento dela com Brian, as brigas podiam muito bem ser
expressão de apenas uma emoção. Impor a nós mesmos uma tal limitação
a “cola” que os mantinha juntos. Mas, desde que ela encarava o sexo como
nos garante a monotonia sexual. O fato é que, quando um dos parceiros
“perder uma briga” não havia meio de fazê-la ver suas brigas como um
grita, “Eu estou com muita raiva para fazer amor!”, ele ou ela já está, com
certeza, sexualmente excitado. A questão é: o que nós temos a perder, se possível elo.
cedermos a este sentimento de excitação, quando estamos com raiva um do “Quando estou com raiva de Brian, ele simplesmente me parece uma
outro? pessoa doente, apodrecida,” ela disse. “E como posso fazer amor com uma
Para um grande número de pessoas, o sexo no casamento pessoa assim? Quero dizer, o que isso me torna?”
simplesmente não dá permissão para que se “faça raiva”, assim como “A mim parece que você ainda é você mesma, independente do que
também não permite o sexo frívolo, brincalhão. Não, o sexo no casamento pense de Brian neste momento”, disse a ela. “Mas, desde que, nestes
tem que ser “sério” — exatamente como Mamãe e Papai costumavam fazê- momentos o sexo faz com que você se sinta dominada por ele — como uma
lo. “Fazer raiva” parece arriscado demais, perigoso demais — passional criança — posso entender perfeitamente por que você se recusa a ceder aos
demais — para a vida de casados. Então, limitamos nossas oportunidades seus sentimentos sexuais, correspondendo a ele. Mas, em vez de ter você
sexuais àqueles momentos, quando partilhamos apenas uma pequena parte simplesmente evitando sexo ou não correspondendo, nessas situações,
do espectro das emoções que sentimos: momentos de terno amor. E, então, vamos tentar fazer com que se sinta no controle do sexo.”
discutimos um com o outro o porquê de não fazermos amor com maior Sugeri a Janice que na próxima vez em que Brian iniciasse sexo
frequência. durante um momento de discussão, no qual ela estivesse com raiva dele,
Para outros, como Janice, a jovem mulher que mencionei antes, que ela deveria concordar e prosseguir, mas deveria tomar conta da
deslocar-se da raiva para o sexo, de uma briga para a cama, faz com que se situação:
sintam perdendo uma disputa. Quando os conheci, ela e seu marido Brian,
comecei a compreender porque ela se sentia desta maneira. Brian tinha uma Quando ele penetrar em você, prenda-o firmemente dentro de você.
personalidade dominante e impetuosa; ele havia crescido em uma família Sinta-se como se o estivesse segurando, e não como se ele
onde as disputas eram uma rotina doméstica e por isso ele não encarava penetrasse em você.
com seriedade as discussões com sua esposa. Mas quando, no meio de uma
briga, ele sugeriu de repente que “fossem para a cama”, não estava
simplesmente tentando transcender a discussão deles, usando o sexo, mas
tentava, também, usar o sexo como um controle — para distrair Janice e
mantê-la “ocupada” e para, basicamente, reafirmar sua do- minância sobre
ela. E Janice sentiu isto. Por algum tempo, sempre que Brian iniciara sexo
no meio de uma briga, Janice cedera, ainda que relutante. Ela colocou desta
forma:
“Eu dizia a mim mesma, ‘Tudo bem, eu farei sexo, mas não vou
correspondê-lo. Não darei a ele esta satisfação.’ Mas depois de algum
tempo, passei a me sentir como uma dupla perdedora. Não apenas Brian

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Em seguida, sugeri que trabalhasse sua raiva fisicamente no sexo: “É como se jogássemos um jogo sexual do tipo ‘Vamos Fazer um
Trato’,” contou-me uma mulher.
Fique por cima dele, na posição “superior”, e sinta-se como se você o Para casais que têm necessidades desiguais com relação à frequência
controlasse, assuma o comando nos movimentos. Deixe que os — isto é, quase que noventa por cento dos casais casados — sugiro um tipo
golpes de sua pélvis expressem sua raiva. muito simples de acordo, que se constitui mais ou menos no seguinte: “Eu
farei amor mais frequentemente— vamos dizer, três vezes por semana — se
Janice, muito naturalmente, relutou em tentar estes exercícios por você me prometer que vai ficar mais tempo me acariciando no início — isto
algum tempo. Não estava acostumada a sentir-se tão assertiva — é, uma hora inteira.”
sexualmente ou de qualquer outro modo — e tinha medo da reação de “Concordo, mas com as luzes acesas.”
Brian. Mas, finalmente, durante uma briga, Brian novamente sugeriu que “Feito!”
“fossem para a cama”. Estas ‘ ‘Trocas de Desej os’ ’ podem se estender a todos os níveis de
“Fiquei furiosa”, contou-me Janice, quase não podendo conter seu
seu relacionamento; da maneira como você deseja ser “incentivado” ao
sorriso, “e disse, ‘Tudo bem, vamos lá!’ Ele não tinha idéia do que estava
sexo, a uma especial variação sexual que você tenha sempre fantasiado,
acontecendo. E, quando fomos para a cama, ele não sabia o que o atingira!
mas ficava tímido ou amedrontado demais para pedi-la. Uma vez
Eu fiz tudo o que havíamos combinado e foi maravilhoso — para mim pelo
menos. Foi o melhor sexo que tive desde que nos casamos. Acho que ele manifestado um desejo outros parecem fluir com mais facilidade:
ficou mais atordoado do que qualquer outra coisa. Mas, depois de tudo, “Sempre desejei ser recebido à porta por uma mulher sorridente com
parecia um bebezi- nho, e de algum modo, nos sentimos tão próximos um um drinque em sua mão.”
do outro que, momentos depois, fizemos amor. Primeiro fizemos raiva, “E eu sempre quis ser carregada para o quarto de dormir e fazer amor
depois, fizemos amor.” por muitas horas.”
É uma boa combinação. Com o tempo, Janice e Brian passaram a “Sempre quis que você beijasse meu peito e minha barriga.”
brigar menos, e a apreciar mais suas brigas. No sexo onde cada parceiro “E eu sempre quis que você falasse comigo enquanto fazemos amor.”
está no controle, não há perdedores. E uma única verdade persiste: é difícil Se escutamos com sinceridade os desejos do outro e fazemos tratos
permanecer com raiva, quando se dá prazer um ao outro. honestos com os quais podemos conviver — por uma noite ou uma semana
— estamos no caminho certo para o equilíbrio em nossas vidas sexuais. E
não há nada de frieza e falta de romantismo em tudo isto .

"Vamos Fazer um Trato"


No casamento, querer fazer sexo nas mesmas ocasiões, e com uma
mesma frequência, se constitui em uma dificuldade para os dois parceiros.
Apesar disto, sempre que digo a um casal que “sexo é negociável”, os dois
parecem ficar horrorizados.
“Você faz parecer tudo muito frio e profissional”, eles dizem. “Nós
queremos romance e você está nos falando de negociações”, protestam.
“Eu estou falando sobre vocês dois obterem aquilo que dese- jam,”
respondo, “de romance e orgasmos. E ficar apenas aguardando que isto
‘aconteça’, pode fazê-los esperar pelo resto de suas vidas. Vocês não
precisam negociar enquanto estão fazendo amor
- isto não parece de modo algum divertido. Mas negociações podem ser,
certamente, um bom caminho para dar-se a partida no sexo”.
Para muitos casais, uma vez começado o processo, a negociação de
suas vidas sexuais pode se tornar realmente divertida.
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Família — a Principal Causa de
Nosso Desligamento

Há uma história que um de meus professores de psicologia gostava de


contar, que é a seguinte:
Um casal de meia-idade sentou-se em seu consultório para uma
primeira sessão, quando ele então lhes perguntou o que os havia feito
optar pela terapia sexual. Por um momento, o casal se entreolhou
nervosamente, e então o homem disse, “Você conta a ele, Mamãe.”
A história, claro, é uma brincadeira. Ela põe em evidência, porém,
a maior causa de infelicidade sexual no casamento: nós costumamos
identificar nossos cônjuges com nossos pais — esposa com mãe, marido
com pai — e então descobrimos que não gostamos muito de fazer amor
com eles.
É mais velho que a história de Édipo e tão velho quanto o tabu do
incesto, mas o fato é que não existe outro lugar onde sintamos tanto as
inibições destas infames confusões neuróticas quanto em nossa cama de
casal. Tudo já foi dito sobre o complexo de Édipo e o complexo de
Eletra e sobre os diversos estágios do desenvolvimento sexual infantil
— não pretendo aqui trazer qualquer novidade para a clássica teoria.
Existe, porém, uma observação muito simples e fundamental sobre o
Amor da Família e o Amor Sexual, que é muitas vezes desprezada —
talvez por ser tão fundamental: nós aprendemos, como um processo de
desenvolvimento normal, a nos desligar sexualmente daqueles a quem
amamos — a Mamãe,

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Papai, Irmã e Irmão — dentro da família em que nascemos. E quando que, precisando dormir no mesmo quarto com seus pais, testemunham
casamos e formamos nossa própria família, o tabu é reaceso: nós, mais suas relações sexuais; mas muito pouco tem sido dito sobre os danos
uma vez, nos desligamos sexualmente daqueles a quem amamos — nosso causados às crianças porque crescem totalmente alheias ao
marido ou esposa. O Amor Familiar impede o Amor Sexual. A pessoa relacionamento sexual dos pais, como se pais e mães “responsáveis”
que escolhemos para amar e também fazer amor, para o resto de nossas fossem de uma pureza absoluta.) Mesmo depois de nos tornarmos
vidas, é aquela pessoa da qual, muitas vezes, “aprendemos” a nos adultos, a maioria de nós tem dificuldade para imaginar seus pais
desligar sexualmente. fazendo amor: a simples idéia nos deixa um pouco confusos e um tanto
É considerável o grande número de pessoas que me diz que suas apreensivos.
vidas sexuais iam muito bem — até que se casaram! Antes, tinham Quando afinal aprendemos sobre a “realidade da vida’ ’, temos a
relacionamentos maravilhosos, sexualmente desinibidos, muitas vezes certeza de que a Mamãe e o Papai devem ter feito amor algumas vezes
com a pessoa com quem vieram a se casar. Mas, do momento em que — mas apenas porque queriam ter a nós, crianças. Aprendemos que o
fizeram seus votos matrimoniais, estas pessoas se desligaram sexo é para a procriação — não para diversão. Sendo assim, o sexo da
sexualmente. Para citar um exemplo extremo: tenho visto um número Mamãe e ao Papai é um assunto muito sério: sério, objetivo, responsável
incontável de mulheres que não tinham qualquer dificuldade em atingir o — tudo, menos alegre.
orgasmo, até a noite de núpcias, quando então descobriram que haviam Então, quando nos casamos e nos tornamos também “Mamãe” e
se tornado incapazes de atingir o orgasmo. Outro exemplo extremo: “Papai”, ingressamos em um padrão: começamos a ter sexo como Papai-
tenho visto muitos homens que funcionavam sexualmente de maneira e-Mamãe, diferente de todo o sexo frívolo, livre e puramente recreativo,
perfeita até o nascimento do primeiro filho quando, então, sendo a esposa que havíamos experimentado quando éramos solteiros. Os espíritos da
agora mãe, passaram a ter crises de impotência. Estes são casos Mamãe e do Papai rondam nossa cama de casal, como anjos punitivos,
extremos, mas imagino que de tempos em tempos, todos nós sussurrando em nossos ouvidos, “Ei, não se divirta tanto assim, isto não é
experimentamos os efeitos mortíferos do Amor de Família. Fazer amor brincadeira. Vocês agora são Mamãe e Papai.”
desinibido e estimulante com aquele a quem amamos parece se “É engraçado", me disse uma jovem mulher, “mas exatamente a
transformar no grande tabu. partir da minha primeira noite de casada, passei a me sentir formal
Como podemos acabar com esta horrível confusão sexual? quanto ao sexo. Quero dizer, quando entrei no meu quarto,
“Você conta a ele, Mamãe.” imediatamente vesti um robe — coisa que jamais havia feito, em todos
os meus anos de solteira. Meu marido pensou que fosse uma brincadeira,
como se eu representasse a * noiva virgem’, mas eu simplesmente me
sentia diferente O sexo precisava ter um significado, agora que
O Sexo Papai-e-Mamãe estávamos casados.”
“E nenhuma diversão?”, perguntei a ela.
Mamãe e Papai não fazem amor — pelo menos a maioria de nós “Bem, não apenas diversão”, ela disse. “Não mais.”
quer acreditar nisso, quando somos crianças. É uma crença nascida da Para que o sexo do tipo Papai-e-Mamãe tenha um “significado”, é
necessidade: ela impede que nos sintamos desprezados, que sintamos que necessário que seja sempre uma expressão de amor — de preferência de
não somos o Número Um na competição pela afeição da Mamãe ou do amor por toda a vida, permanentemente — toda a vez que deitarmos
Papai. E nossa crença, em muitos casos, é reforçada pelo segredo que juntos em nossa cama de casal. E que fardo incrível isto é! Elimina o
envolve a vida sexual de nossos pais: nós nunca vemos os dois fazendo sexo que seja estimulado por um conjunto completo de outras emoções e
amor; alguns de nós jamais os escutam: e, na verdade, a maioria de nós sensações: sexo divertido e sexo raivoso,
não consegue sequer recordar alguma ocasião em que a Mamãe tenha se
atrasado para preparar o café da manhã, por ter ficado na cama até mais
tarde com Papai, e ainda que isto tenha acontecido, nós bloqueamos
nossa memória. (Muito já foi escrito sobre os danos causados às crianças
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rápido, “irrefletido ” e “picante”. Elimina, de fato, quase todas as queria ter um lar para onde voltar.”
oportunidades que existem para se ter sexo. Além do mais, quem pode Parece bastante sensato, não? Entretanto, este mesmo homem
sentir “amor duradouro, permanente”, com tanta regularidade — estava em meu consultório porque, em menos de dois anos de casamento,
especialmente às onze horas da noite? ele caíra em apatia sexual.
Não é de se admirar que aqueles que se tornam prisioneiros deste “Eu olho para minha esposa,” contou ele, “e digo a mim mesmo, eu
sexo de Papai-e-Mamãe recordem com saudades suas vidas de solteiros amo de verdade esta mulher. Ela é tudo que sempre desejei — uma
— uma saudade que pode nos levar facilmente a relações extract) rqugais companheira perfeita. A questão é, por que eu não sinto mais qualquer
em vez de nos levar a um meio de rompermos com o modelo Papai-e- interesse por ela?”
Mamãe. Porque o sexo extraconjugal, assim como o sexo premarital, “Talvez um ‘lugar seguro e reconfortante’ não seja um lar muito
não invoca os fantasmas da Mamãe e do Papai. Por definição, sexo fora sexy para você.” Eu disse. “Talvez se pareça demais com um lar.”
do casamento é ilícito, permitindo, assim, que tenhamos sexo “picante”, Em nosso lar, queremos ser afagados e confortados; queremos sair
livre e recreativo — sexo como diversão. do “mundo assustador” e ser convencidos de que “tudo vai dar certo”. E
Mas não existe qualquer razão para que nos transformemos em uma esposa ou um marido amoroso e leal estarão — e devem estar —
Mamãe e Papai a partir do momento em que casamos, nenhuma razão aptos a fazer isto por nós. Mas, se este é o componente principal a
para nos limitarmos a um sexo “sério” no casamento, quando iniciamos enfocarmos no casamento — “Amor Reconfortante” — estamos, como
nossas famílias. Somos ainda seres sexuais, com uma enorme gama de
Édipo, seduzindo as Parcas. Estamos pedindo a nossas esposas que sejam
sentimentos sexuais, mesmo depois de colocarmos as alianças de casados
nossas mães e a nossos maridos que sejam nossos pais, para
em nossos dedos; somos ainda capazes de sexo alegre e de sexo raivoso e
mesmo de sexo “picante” em nossas camas de casal. Se desejamos descobrirmos, em seguida, que não sentimos mais qualquer interesse
analisar os motivos que nos levam a cair na armadilha de nossos papéis sexual por eles.
de Mamãe e Papai, podemos dar o primeiro passo para sairmos dela — e Aprendermos a nos desligar de nossas mães e nossos pais é uma
começar a ter prazer sexual novamente. lição de sobrevivência fundamental que experimentamos ainda crianças.
Nós não temos permissão para ter Mamãe e Papai como nossos
parceiros, sendo assim, damos o primeiro passo no controle de nossa
sexualidade: nós nos tornamos insensíveis quanto a nossos sentimento
Exatamente Como a Garota que se Casou com sexuais para com eles. Faz parte de nosso desenvolvimento sexual, e de
Nosso Querido Velho Pai uma forma ou de outra, esta lição nos acompanha através da vida como
adultos. Na melhor das hipóteses, nos permite controlar nossas
A armadilha já está previamente armada pelas mesmas razões premências sexuais, quando são impróprias; na pior das hipóteses, nos
básicas que nos fazem optar pelo casamento. Para a maioria de nós, hoje impede de expressar nossas premências sexuais, quando são
em dia, o sexo simplesmente não é mais a razão primordial para um perfeitamente convenientes — com nossos maridos e esposas.
casamento: afinal de contas, o sexo está disponível para a grande maioria Para alguns, o pior desta lição começa com a escolha básica pelo
de nós, sem a necessidade de alianças e juras de fidelidade eterna. Mas, casamento. Conscientemente ou não, podemos colocar parceiros
são justamente dessas juras que necessitamos; após as inseguranças e “sexualmente atraentes” em uma categoria e “parceiros para o
vazios de relacionamentos passageiros, queremos conforto, segurança e a casamento” em outra.
continuidade de um relacionamento de compromisso. E queremos uma
família.
Segundo colocou um homem que conheço, “Existe um mundo
assustador lá fora. Tenho tido um trabalho desgastante, a competição é
muito grande, e absolutamente nada parece permanente — nem mesmo a
Terra. Simplesmente me cansei de ter incertezas na minha vida social
também. Decidi pelo casamento porque desejava um pon- lo fixo em
minha vida — um lugar seguro e reconfortante para onde se ir à noite. Eu
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Uma mulher me disse, “Do momento em que vi Rob, eu soube que O Saco de Água Quente que Matou um Casamento
ele era o homem com quem gostaria de me casar — mas, jamais me senti
sexualmente interessada, de verdade, por ele.” Na década de sessenta no filme Diary of a Mad Housewife (Diário
Ela poderia muito bem ter colocado assim, “Eu sabia que gostaria de uma Dona-de-Casa Enlouquecida) o marido (interpretado por Richard
de me casar com Rob porque jamais me senti sexualmente interessada, Benjamin) pega uma gripe que arruina seu casamento. Entre espirros, ele
de verdade, por ele.” Ela estava escolhendo um parceiro “casável” grita do quarto, pedindo aspirinas, geme por xarope, grita por lenços de
baseada no que, inconscientemente, considerava adequado para um papel — por outro saco de água quente! E sua mulher (interpretada por
marido: alguém que não a despertasse sexualmente. Um marido é uma Carrie Snodgrass) está no corredor, arrancando os cabelos. Ela está
família, e você não deve sentir-se sexualmente atraída por um membro saturada. Está cansada de cuidar dele, cansada de sua dependência
da família. Entretanto, esta mulher veio a mim, porque achava sua vida patética. Ela não quer ser a mãe dele; ela já tem seus filhos: ela quer um
sexual de casada muito sem graça.
homem! No dia seguinte começa a ter uma relação extraconjugal.
Para muitos homens, a diferença entre “casáveis” e “sexualmente
Muitas vezes, mulheres que um dia foram envolvidas pelo “charme
atraentes” corresponde a separação fundamental das mulheres entre
“madonas” e “prostitutas”. Uma “madona” é exatamente como a garota de garoto” de seus maridos, vêm a mim, reclamando por não poderem
que se casou com nosso querido velho Pai: ela é boa e pura — ela está mais suportar conviver com uma criança crescida. Decerto existem
“acima” do sexo. E “prostitutas” são puramente sexuais: isto é tudo para ocasiões — e talvez uma gripe seja uma delas — nas quais precisamos
que servem. É claro que estes homens se casam com as “madonas”; pelo ser “maternais” com nossos maridos e “paternais” com nossas esposas.
menos é com quem pensam que estão se casando. Mas muitos deles logo Faz parte do casamento. Mas um grande número de pessoas assume os
descobrem que suas “madonas” são sexuais também — desejam sexo papéis maternais e paternais com os parceiros, virtualmente o tempo
ativamente — e, então, estes homens perdem duplamente seu interesse: todo. Torna-se a única maneira pela qual vemos um ao outro. E não é um
Eles não querem fazer amor com uma “prostituta” em suas camas de papel muito sexy para alguém.
casal, especialmente no quarto vizinho ao das crianças. “No momento em que Larry chega em casa, ele me olha com um ar
Alguns de nós escolhemos, conscientemente, um parceiro que nos desprezível”, me contou uma jovem dona-de-casa, Martha G., “E este
recorda Mamãe ou Papai, alguém semelhante em tudo, desde a aparência olhar quer dizer, ‘Eu tive um péssimo dia — tome conta de mim.’ Eu
até a ocupação. A canção “Eu Quero uma Garota Exatamente como a realmente não me incomodo em trazer-lhe um drinque ou em massagear-
Garota que se Casou com Nosso Querido Velho Pai” pode nos soar lhe os ombros, mas depois de cinco dias consecutivos com isto, tenho
muito inocente agora; mas seu sentimento está ainda bastante presente vontade de gritar, ‘Pare com isto! Eu tenho sido mãe o dia inteiro. Eu não
hoje. E, na verdade não existe nada de errado com ele tampouco. Mas, de quero um cordeiro — eu quero um homem! Eu quero um romance!’
tempos em tempos, atendo mulheres em meu consultório que se casaram Apenas uma vez eu gostaria que ele abrisse a porta de casa, me tomasse
com “alguém exatamente igual ao Papai.” nos braços e me desse um beijo apaixonado. Mas em vez disto, eu ganho
Existem, também, aqueles entre nós que vão para o extremo oposto: um beijinho no rosto e aquele seu famoso olhar.”
escolhemos certos parceiros justamente porque eles não nos recordam
Mamãe e Papai.
A chamada “atração de opostos” tem raízes em nosso desejo de
encontrar alguém que não desperte em nós as inibições “familiares”. Na
Suécia, conheci muitos homens e mulheres que se sentiam atraídos, e se
casavam apenas com estrangeiros — quanto mais morenos, melhor: um
marido italiano não desperta, em sua mulher sueca, recordações do Pai
louro.
Mas a quem escolhemos como cônjuge é apenas metade da história.
No que nós — e o próprio casamento — o transformamos é a metade
mais importante.

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Martha prosseguiu, contando que sua vida sexual era pouco pais e a casa em que vivo agora.” Com quatro anos de casado, a vida
frequente e sem brilho. sexual deste homem havia se lornado inexistente — ele só se excitava
“Às onze horas da noite em ponto, ele diz, ‘Vamos para a cama’, fantasiando sobre outras mulheres. Foi quando,então, começou a ter
mas eu não consigo acionar meus botões assim tão rápido. Em um relações extraconjugais.
segundo, de sua mãe, para sua amante. O sexo me parece uma das muitas “Eu precisava”, ele insistia em afirmar. “Por respeito próprio. Para
obrigações das quais devo me desimcumbir — tal como cuidar de suas me sentir como adulto novamente. Para me sentir como um homem.”
camisas e mandar lubrificar o carro. Para mim, ele em nada se parece Ele prosseguiu, contando-me uma passagem que seria cômica se
com o Príncipe Charmoso.” não fosse, na realidade, tão dramática.
Curiosamente, seu marido Larrj via os papéis da mesma maneira, “Ela sabia que eu estava tendo casos, mas jamais disse alguma coisa
mas por uma razão muito diferente: — apenas ficava de cara amarrada, quando eu saía. Então, uma noite, no
“Martha cuida da casa como de um navio, e ela é, definitivamente, momento em que eu estava saindo, ela disse, ‘Você está saindocom outra
o capitão. Voltar para casa é como estar pisando em território inimigo. mulher, não está?’ E eu disse, ‘Sim, estou.’ Por um segundo achei que
Ela diz, ‘Limpe seus sapatos’ e ‘Pendure seu casaco’ e ‘O jantar estará ela fosse chorar, mas de repente ela começou a balançar a cabeça e disse,
pronto em exatamente quinze minutos! É igualzinha à minha mãe. Fora, ‘Bem, você não pode sair deste jeito. Não com esta camisa!”’
cuido de negócios durante todo o dia e, quando volto para casa sou
Ser maternal era o único papel que esta mulher havia aprendido, e
tratado como se tivesse novamente sete anos. E então, ela discute comigo
não era totalmente culpa sua. Ela, seu marido, e o próprio casamento
porque eu não sou passional o bastante. Quem pode ser um amante
passional com sete anos de idade?” haviam conspirado para polarizá-los nestes papéis. Ele sentia que a única
Sem que percebessem, Martha e Larry haviam colaborado um com maneira de sair deste papel seria deixar a sua casa; e ela achava que a
o outro para manterem seus papéis de “mãe” e “filho.” Mas havia um única maneira de prendê-lo seria tratando-o como filho, com submissão.
terceiro fator de contribuição: o próprio casamento. A simples estrutura As duas posições estavam condenando suas vidas sexuais — e seu
do casamento nos preparava para vermos nossas esposas como “mães” e casamento — ao fracasso.
nossos maridos como “pais”; os outros únicos marido e esposa com os Em lares tradicionais, o marido com frequência adota o papel de
quais convivemos entre quatro paredes foram nossos próprios pais e “Pai” também para sua mulher. É ele que geralmente ganha e
mães, sendo assim natural a identificação. Quando criamos nossas admininstra o dinheiro, tal como Papai costumava fazer; é ele quem está
próprias famílias e nossas esposas se tornam as mães de nossos filhos e em maior contato com o mundo exterior; e o mais importante, ele é
nossos maridos, os pais, a identificação é reforçada. Além do mais, o aquele a quem se deve agradar e quem profere palavras de aprovação ou
costume de alguns de chamarem a sogra de “Mãe” reduz o desagrado. Em uma das canções mais conhecidas de Dory Previn, “I
relacionamento marido-mulher a um relacionamento familiar não-sexual. Dance an Danced”, ela recorda como, quando criança, cia costumava
Se os dois a chamam de “Mãe”, então devem ser apenas irmão e irmã. E dançar para seu pai, para vê-lo sorrir, e agora, mulher, como ainda
irmãos e irmãs, assim como crianças e seus pais, não devem se interessar “dança” para seu marido.
sexualmente um pelo outro. “De algum modo, sempre acabo caindo na armadilha de ser a
Em lares tradicionais (menos frequentes em lares onde os dois garotinha aduladora e graciosa de Bill”, contou-me Marilyn L., uma
cônjuges têm uma profissão), as esferas de obrigações e esposa de trinta anos de idade, de Washington. ‘ ‘Estou sempre
responsabilidades são prescritas para forçar a esposa ao papel de “Mãe”, mostrando a ele alguma coisa que fiz, sempre aguardando para ver
o marido ao papel de “Pai”, e ambos ao papel de “Filho” um do outro.
“Logo que nos casamos e nos mudamos para nosso próprio
apartamento, senti-me como se estivesse morando novamente com minha
mãe”, um homem me contou. “Eia faz o meu jantar, sabe onde estão as
minhas meias — até escolhe as roupas para mim. Mas não é só isso; ela
me diz quando trocar minhas cuecas, para não roer minhas unhas, e para
jogar fora o lixo. Meu Deus, a única época em que me senti como um
adulto foram os cinco anos de solteiro cm que vivi entre a casa de meus

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se ele será crítico ou não. E, é claro que ele é, geralmente, crítico.” arquétipos — especialmente no quarto de dormir. De repente, o marido
Marilyn veio a meu consultório pois seus orgasmos haviam se tornado dos “direitos iguais” precisa desesperadamente de algum conforto
cada vez menos frequentes. maternal: “Meu Deus, que dia terrível tive hoje”, ele diz, apresentando
‘‘Quando ele fica sobre mim e começa a fazer amor, sinto algumas em seguida suas costas para a esposa, para uma massagem urgente. Não
vezes, como se não pudesse respirar”, ela contou. “Me sinto sufocada por importa que ela tenha tido um dia terrível e que precise também de
ele, e só consigo pensar em terminar logo para que eu possa respirar atenção “maternal”.
novamente.” Ou a esposa, uma grande executiva durante o dia, se coloca diante
Conviver com um “pai” crítico é geralmente sufocante; certamente do espelho do quarto e diz, “Estou envelhecendo. Olhe para mim —
não conduz a um sexo livre e compreensivo. “Conviver com o Pai” não é pareço uma bruxa velha”, e de repente, a autoconfiante mulher do
de modo algum sexy. mundo, pela qual seu marido aguardava para fazer amor, parece precisar
Entretanto, novamente, quando falei com o marido de Marilyn, Bill, de apoio de um Paizão, mais do que de um pouco de sexo quente e
um procurador do estado, percebí que não apenas ele deveria ser instigante.
condenado pelo seu papel de “Pai” para a “pequena” Marilyn: “Ela está E, muitas vezes, apesar dos protestos e afirmações de que eles
sempre deprimida”, ele me disse. “Está sempre dizendo alguma coisa possuem um casamento moderno e de “igualdades”, o marido é um
como ‘Não consigo fazer nada’ ou, ‘Estou engordando’, e ela espera que chauvinista disfarçado: ele prepara o jantar, mas insiste também que é ele
eu a console, dizendo, ‘Não você está ótima, querida.’ Mas depois de quem administra as finanças dos dois, mesmo quando sua mulher é uma
algum tempo, simplesmente perco o intere- se e saio. Eu quero dizer que, alta executiva e tem emprego em Wall Street.
se alguém diz a você o tempo todo que está ficando feia, você começa a “Em última análise, ele não difere em coisa alguma do meu pai”, me
acreditar. Estou cansado de ser o Paizão que deve elogiá-la e tratá-la com disse uma esposa enfurecida. “Ele é mesmo um porco chauvinista em
cuidado. Não posso lhe descrever o quanto desejo ter uma mulher
pele de cordeiro. E não é este o tipo de homem com quem desejo
confiante e sensual que acredite ser bonita — uma mulher que possa
partilhar minha cama.”
manejar a turbulência de um sexo verdadeiramente sexy em vez desta
coisa delicada que Marilyn deseja.” É preciso lembrar que estamos falando de extremos. É inevitável
Mais uma vez, vemos duas pessoas que se aprisionaram em um que, de vez em quando, desempenhemos os papéis de “Mãe” e “Pai” um
relacionamento do tipo Pai e Filha e a vida sexual falha que obtiveram para o outro; como eu disse, faz parte do casamento. E os papéis de
com este relacionamento. Uma esposa que sempre age como mãe de seu “Mãe” e “Pai” que testemunhamos na infância em nossas famílias —
marido o encontrará muitas vezes agindo na cama como uma criança seja uma mãe dominadora e um pai passivo, ou uma mãe frustrada e um
inibida, pouco expansiva e, certamente, sem romantismo; e um homem pai insensível — terão influên cia nos papéis que adotaremos em nossos
que trata rotineiramente sua mulher como sua mãe, vai achar, próprios casamentos. Mas os graus a que levamos estes papéis são
frequentemente, que sua mulher está perdendo o interesse sexual nele. decisivos — especialmente quando ocorre a transição de um para o
Sendo assim, um homem que age como o pai de sua esposa é capaz de outro, como amantes.
julgá-la uma amante relutante e nervosa, depois de certo tempo; assim
como uma esposa que quase sempre “pede” a seu marido para que
assuma o papel de “pai” em diferentes situações, e que perceberá a apatia
sexual em que ele caiu depois de algum tempo.
Estes personagens não morrem facilmente. Nos casamentos
modernos, onde os dois parceiros possuem carreiras e ambos partilham a
tarefa de cuidar da casa e das crianças, alguém poderia pensar que temos
agora maiores chances de evitar os desempenhos da “mãe” e “pai” uns
dos outros. Com o marido preparando o jantar e a esposa saindo para o
trabalho, as simples identificações com os personagens ficariam mais
difíceis. Mas, ai de nós! Tão logo a louça está lavada e as crianças na
cama, nós, muitas vezes assumimos de volta os papéis dos velhos

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Como "Desmaternalizar" sua Esposa e nosso “Eu” entra em contato com o do outro: não pode haver qualquer
"Despaternalizar" seu Marido fantasia sobre uma outra pessoa, sem “nuvens” em torno de nossas
identidades. Estamos fazendo contato direto e íntimo um com o outro.
O processo de “Desmaternalização” de nossas esposas e “Des- Como veremos no Capítulo 6, pode nos lazer sentir “excessivamente
paternalização” de nossos maridos começa em nossas mentes, onde toda próximos”; contudo, pode também trazer para uma visão mais realista
a confusão teve início: primeiro, seria bobagem tentarmos nos convencer nossas ansiedades sobre ter contato sexual com um membro da família
de que vamos remover totalmente os papéis de “Mater- nalização” e — ainda que este membro da família seja nosso próprio cônjuge.
“Paternalização” de nossos relacionamentos. Estes papéis, são, O problema parece ser tanto dos homens quanto das mulheres. Nós
intrinsecamente, parte do motivo para nos casarmos: pelo conforto e nos acostumamos de tal forma a nos desligarmos, quando beijamos e
segurança que nos garantem. Mas precisamos compreender que ser um abraçamos nossos pais, e agora, quando beijamos nossos filhos, que
“conforto maternal” para nossos maridos é apenas um dos papéis que continuamos sem interesse quando beijamos e abraçamos nossos
podemos desempenhar — um entre muitos. E não excluir outros papéis cônjuges não conseguimos ver afeição e sexo como uma continuidade.
— os papéis de amiga, colaboradora e amante. Homens e mulheres Assim, abraçar nosso marido em um gesto reconfortante do tipo “tudo
maduros podem aprender a fazer a transição de “Mamãe” e “Papai” sem vai dar certo”, pode muito bem se transformar em um sentimento sensual
que tenham que se sentir confusos ou culpados por isso. de contato com o corpo. Em vez de simplesmente sentir o abraço como
Fundamental para que se faça esta transição é o aprendizado sobre nossa obrigação “esposa/maternal” — algo que fazemos para nossos
como unir afeição e sexo. Para muitos de nós, afeição simboliza Amor maridos — podemos apreciar o prazer que isto nos dá: a pressão suave
Familiar, excluindo Amor Sexual. Para tal, não existe melhor exemplo de suas cabeças ou peitos contra nossos seios ou pescoços. É uma
que o beijo. questão de permitirmos nos direcionar neste sentido antes de nos
O que acontece com o hábito de beijar na vida sexual de casados? desinteressarmos automaticamente. Tente lembrar-se de que este abraço,
Um beijinho ocasional no rosto, tipo Mamãe-e-Papai, tudo bem — este beijo é exatamente o mesmo ato físico que já nos fez delirar de
mas, e aqueles beijos amorosos, de boca aberta, apaixonados de nossos excitação sexual no passado; o ato não mudou em si, apenas o que nós
dias antes do matrimônio? Por que não nos faziam sentir tão nos permitimos sentir sobre ele.
desconfortáveis e nervosos? Para muitos homens, aceitar afeição pode ser uma fonte geradora de
Parece que tão logo casamos, dessensibilizamos e “minimali- nervosismo. Eles não se habituaram a isto, quando meninos, tanto quanto
zamos” abraços e beijos. Nós os transformamos em conforto e falta de as meninas e agora eles sentem mais desconforto com isto do que a
sensualidade exatamente como aqueles beijos no rosto que víamos maioria das mulheres. O último lugar onde meninos costumam receber
Mamãe e Papai trocar à porta. Houve um tempo, para a maioria de nós, conforto físico de suas mães é o pescoço e as costas. E estes permanecem
no qual podíamos gastar horas com abraços e beijos, no portão da frente, na idade adulta como os lugares menos ameaçadores para se iniciar um
ou no banco de trás do carro, e ardíamos em excitação sexual — e ainda carinho. É uma questão de deslizamento: dos ombros e costas para peito
somos aquelas mesmas pessoas, com aqueles mesmos sentimentos e estômago, da afeição para a sensualidade, para o sexo. Tudo é parte de
sexuais, embora os tenhamos desligado. Parece que ficou decidido que uma mesma coisa: Fazer com que o outro — e nós mesmos — sintamos
para nós que “Afeição” é uma coisa, e “Sexo”, outra. O sexo diz respeito prazer.
somente a seios, clitoris e pênis — e, talvez um beijo, ao final — e Quando Martha e Larry G. (o casal que se fechou nos papéis
afeição são os beijos e abraços que trocamos, totalmente vestidos, como
aqueles que damos em nossos filhos.
O ato de beijar pode nos fazer ficar mais sexualmente nervosos do
que a própria relação sexual. Face a face, lábios contra lábios, e olhos
nos olhos, parece nos colocar em contato mais íntimo do que quando
apenas nossos genitais estão sendo tocados. Pensamos em nosso “Eu”
como se morasse por detrás de nossos olhos e, quanto nos beijamos,

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de “Mamãe” reconfortante, e a capita do lar e de “Criança” carente e poderia dar e receber afeição dentro de uma visão sensual, de que “Amor
solicitadora) vieram me ver, suas vidas sexuais estavam em um autêntico Reconfortante” poderia, muito naturalmente, conduzir a um sexo
ponto morto. maravilhoso.
“Tudo que ele quer é um tapinha na cabeça e alguém que o escute A primeira tarefa que determinei para Martha e Larry foi um
sobre o dia terrível que passou”, contou-me Martha. “Não é de se Exercício de Desmaternalização planejado para recolocar o Amor
admirar que eu tenha perdido o interesse por ele. Quando o abraço, sinto Reconfortante em um contexto sensual. Eu desejava que eles rompessem
como se abraçasse mais um de meus filhos. Eu quero alguma paixão em caminho através de seus papéis de “Mamãe/Filhinho”, em vez de
minha vida; será que é pedir muito?” tentarem evitá-los, para com isso deixarem para trás suas culpas
“De maneira alguma”, respondí. “E também não é muito para se residuais. Eu disse a Martha:
dar. Mas, você tem que começar do ponto onde se encontra agora e se
deslocar daí para a paixão. Larry não vai, de repente, aparecer à porta Dê a ele toda a “maternalização” que ele desejar, mas você
vestindo uma capa e tomar você nos braços, tanto quanto você não vai determina a situação — e a transforma em uma situação sexual.
começar a usar, de uma hora para outra, meias pretas e uma blusa Conduza-o pela mão até o banheiro, prepare um banho quente e tire
decorada para recebê-lo à porta — embora substituir o vestido de casa e as roupas dele. Traga-lhe um drinque se ele o desejar. (Desta vez, a
o avental por outra coisa possa ser um bom ponto de partida: eles “Mamãe” não lhe traz um copo de leite; ela lhe traz um martini!)
realmente fazem você parecer a mamãe.”
Esfregue suas costas, pescoço e ombros, enquanto ele relaxa. Mas
Mas, em vez de gritar, “Eu não sou sua mãe!” — o que Martha
pense sexualmente enquanto estiver fazendo tudo isto. Vista um
jamais deveria se permitir em qualquer hipótese — sugeri que ela desse a
Larry toda a atenção maternal antes que ele a requisitasse, antes que ele robe atraente ou roupa de banho, enquanto você o trata
se apresentasse a ela com seu olhar desprezível. “maternalmente” — a verdadeira mãe dele nunca agiu deste modo\
“Não faça com que ele arranque isto de você”, disse a Martha. “Não Permita-se sentir prazer ao ensaboar e enxaguar o corpo dele.
deixe que ele entre na rotina da criança carente.” Dê ta- pinhas em sua Deslize para seu peito, seu estômago — gradualmente — dando
cabeça, ouça-o por quinze minutos, e então diga, “OK agora é a minha tempo para que você dois relaxem com a sensualidade do que está
vez. Deixe-me contar a você sobre o meu dia.” acontecendo.
Utilizando esta tática, Martha poderia começar a libertar os dois de
seus personagens, sem negar o fato de que Larry realmente precisava de Como sempre, nestes exercícios não é necessário que ocorra
algum conforto — mas não durante a noite inteira. Ela poderia dizer a subsequentemente sexo orgásmico — nem mesmo contato genital.
ele, “OK, nós dois precisamos de um ‘colo materno’ de vez em quando, Porém a sensualidade terá sido estabelecida. Martha seria capaz de
mas não vamos deixai que isto saia de nosso controle. E não vamos compor seu papel de “Mãe” com seu papel de “Amante” sem a negação
deixar isto assim tão unilateral”. de qualquer um dos dois. E Larry, uma vez que estivesse apto a se ajustar
Larry, por sua vez, não sabia como sentir-se mais “homem”, se no a estas mudanças, estaria apto a aceitar a afeição de Martha sem sentir-se
instante em que entrava em casa era como se penetrasse em território dessensibilizado por ela. De fato, após algumas semanas, ele estava se
“inimigo”, onde sua esposa, tal como sua mãe, detinha o controle sentindo muito sensibilizado por este exercício.
absoluto de tudo. Ele gostaria que sua vida doméstica fosse menos “A quinta vez que o conduzi para o banheiro”, contou-me Ma-
ordenada, um pouco mais descontraída, e muito menos controlada.
“Você nunca vai exagerar seu papel pedindo permissão para
alguma coisa, disse a Larry. “Se você se sente como uma criança, quando
precisa perguntar onde estão suas meias, então não pergunte. Cresça e
encontre-as você mesmo. Pare de imitar a maneira como agia com sua
própria mãe. Tome você mesmo conta de suas meias. Você não
conseguirá isto agindo de maneira contraditória. Em princípio, não há
qualquer pessoa fazendo você se sentir pouco sexy, exceto você mesmo.”
Além disso, tentei fazer com que Larry aceitasse a idéia de que ele

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tha, alegremente, “ele me puxou para a banheira com Para alguns homens, o papel de paizão é muito sensual para se dar a
ele.” partida. Permite o controle total — e, além disso, não representa ameaça
Outro Exercício de Desmaternalização que constatei ser muito sexual para eles. Podem ser os professores e críticos sexuais; podem ser
eficiente, confronta os personagens aos quais nos prendemos ainda mais aqueles que “precisam ser agradados”. Mas a combinação
diretamente, levando-os a extremos: “Paizão/Menina tímida” raramente resiste dentro do casamento. Com o
tempo, o marido se cansa da passividade da “garotinha” e passa a desejar
Deixe que seu marido se estique no sofá, com a cabeça em seu colo uma mulher confiante e que corresponda a ele na cama. E “garotinhas”
na posição clássica de “Madona e Menino”. Deixe que ele fale, se — especialmente depois que se casam — têm uma tendência a “crescer”
quiser. O mais importante é que ele se sinta seguro e relaxado. e desenvolver seus próprios desejos sexuais.
Vocês dois devem se permitir ver e sentir a sensualidade inerente a Marilyn e Bill L. (o casal que se fechara nos papéis de “Garotinha
esta posição. A cabeça dele está próxima de seus seios; quando Mimada/Insegura” e “Paizão Crítico/Tratado com Cuidado”) haviam,
você acaricia a cabeça dele, você sente a pressão dela de encontro ambos, caído em apatia sexual na época em que chegaram ao meu
ao seu peito. Não se deslique, automaticamente, “Nós, não estamos consultório. Marilyn sentia “como se não pudesse respirar”, quando
na posição correta — no estado de espírito ou papéis adequados — faziam amor: “Tudo em que eu penso é ‘Estou fazendo do jeito certo?
para sentimentos sexuais.” Transponha a idéia fixa de que esta é Será que é assim que ele quer que eu me mexa? Será que ele me acha
uma posição pouco sexy para uma mulher estar. sexy?' Estou sempre tão ocupada, tentando agradá- lo, que a última coisa
Comece, lentamente, a passar a mão por dentro da camisa dele, e no mundo em que penso é como me sinto.”
toque gentilmente seu pescoço e peito com as pontas dos dedos. Bill, por outro lado, sentia-se paralisado pela insegurança infantil de
Você está levando a ele a sensação de que o sente atraente, também Marilyn. Ele dizia que ansiava pela “excitação e turbulência” do sexo
nesta posição, simplesmente para corresponder à demonstração com uma mulher “de verdade”: “Sempre tenho esta sensação de que
dele, de que está gostando de receber prazer. Agora pode ser que preciso ser muito cuidadoso, quando fazemos amor E preciso ficar
vocês dois já estejam prontos para que você pressione a cabeça sussurrando palavras encorajadoras — ‘Assim está ótimo, querida; você
dele, deliberadamente, contra seus seios — talvez, desabotoando está fazendo muito bem’ — assim, delicadamente. E, é claro, preciso
sua blusa, puxando o rosto dele de encontro a você. ficar reafirmando que a amo e que ela está linda. Algumas vezes, tenho
Seu marido deve sentir que pode afastar-se se quiser — se por vontade de atacá-la!”
acaso, no início, ele se sentir muito solicitado ou ameaçado. Ele Novamente, os Exercícios de Despaternalização que sugeri a
pode fechar seus olhos, afastar-se e soltar tanto quanto o desejar. Marilyn e Bill haviam sido planejados para que exagerassem seus papéis,
e não para que os evitassem. Na recriação de meios, através dos quais
O Exercício de Madona e Menino confronta uma ansiedade sexual Bill poderia dar a Marilyn apoio do tipo Paizão e encorajá- la em um
básica literalmente de frente. Para um homem, colocar seu rosto próximo contexto sexual, eu poderia ajudá-los a fundir Amor Reconfortante e
aos seios de sua esposa na clássica posição de “Mamãe e Filhinho”, Amor Sexual:
permite que ele, aos poucos, supere seu temor de ser “ma- ternalizado até
morrer”, de ser sufocado nos seios de sua “mãe”. Ele fica apto, Tome-a em seus braços, acariciando-a como a uma criança,
finalmente, a transformar os seios de sua esposa em objetos sexuais que reafirmando seu amor por ela, durante todo o tempo. E, quando ela
ele pode apreciar. Por fim, Desmaternalizar nossas esposas não significa parecer relaxada e feliz leve-a para o quarto e deite-a na cama.
torná-las menos “Maternais” — simplesmente as torna sexuais também.

De maneira semelhante, podemos Despaternalizar nossos maridos.


Novamente, não rejeitamos o papel, mas o misturamos com nossos
outros papéis. Deixamos que “Pai” e “Amante” se misturem, de maneira
tal que não possamos identificá-los.

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Massageie-a gentilmente, dizendo-lhe que é especialmente para ela
— que ela não precisa corresponder em nada. Gradualmente,
transforme suas observações encorajadoras sobre a aparência dela
em avanços sexuais. Passe de “você está realmente linda, querida”
para “Eu adoraria passar minha mão entre suas pernas.” Sua
parceira, por sua vez, deve se permitir imergir em seus sentimentos
sexuais, sentindo-se como o objeto sexual dos desejos do outro.

Mas, não tendo que corresponder, Marilyn estava apta a recon-


tactar seus próprios sentimentos sexuais e, ao mesmo tempo, a sentir sua
atração por Bill: o Paizão pode ser também o Amante. Bill, por outro
lado, poderia reavaliar Marilyn como um corpo sensual, desejável e com
desejos também.
Eu disse a eles para buscarem dentro de si seus potenciais sexuais,
sempre que se encontrassem na situação clássica de Paizão/Ga- rotinha,
observando como poderiam fazer a transição de Amor Familiar para
Amor Sexual. Para grande surpresa e satisfação de Bill, Marilyn aceitou
esta idéia com bastante criatividade.
“Ela andava me implorando para que lhe ensinasse a dirigir meu
carro novo que não é hidramático”, Bill me contou, “então, uma tarde
saímos, dirigindo até uma estrada secundária na direção de Virgínia, com
Marilyn ao volante. Eu realmente não estava pensando em sexo naquele
momento, mas depois de um tempo, percebí que ela estava puxando sua
saia cada vez mais para cima. Então, vi que ela tinha um sorriso
malicioso no rosto. Ela notou que eu olhava suas pernas, tirou uma das
mãos do volante e colocou no meu colo. É assim que você faz isso? Ela
disse. Puxa, que aula tivemos!”
Tanto para a Desmaternalização, quanto para a Despaternali- zação,
o truque consiste em nos permitirmos ser crianças novamente — sendo
que agora somos crianças que podem “ir em frente” Uma vez que
sentimos segurança suficiente em nossa habilidade de passar de um papel
para o outro, podemos jogar qualquer jogo sexual que desejarmos; e a
maioria dos jogos mais divertidos são os de crianças. Conheço um casal
que conseguiu transpor a barreira do “Papai/Filhinha”, brincando do
“Jogo Proibido”, que consistia num homem mais velho ensinar sobre
sexo a uma mulher mais jovem. “O que é isso?”, ela deveria perguntar,
bastante admirada, quando ele tirasse as calças. “Eu vou mostrar a você”,
seu marido deveria responder. Outros casais que conheço podem relaxar
sexualmente, na cama, falando como um bebê. Adultos de verdade
sentem- se bem com o sexo regressivo; eles não têm medo da sensação
de alegria. Tornando-se crianças na cama, podemos romper com os tabus
que nos inibiam quando crianças. E podemos viver um sexo muito
melhor do que o fizeram nossos Pais.

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A “Verdadeira Relação”

Recentemente, Amy e Bill um casal atraente, em torno dos cinquenta


anos, veio a meu consultório para falar sobre o “rumo desastroso” que a
vida sexual deles tomara. Eles estavam terrivelmente desanimados. Por
quase trinta anos, disseram, haviam saboreado uma vida sexual plena,
mas agora Amy, devido a uma infecção vaginal reincidente, achava
dolorosa demais a penetração do pênis de seu marido.
“A frustração está simplesmente acabando conosco”, disse Bill. “Já
tem quase um ano que não temos sexo algum e isto está perturbando
todo o nosso relacionamento.”
Fiquei observando os dois. Ambos eram pessoas inteligentes e
cultas, com profissões interessantes e um sofisticado círculo de
amizades. Ao longo dos anos, haviam percorrido juntos todos os cantos
do mundo, podendo conhecer, de perto, uma fascinante variedade de
culturas. Mesmo seu conhecimento sobre sexo era considerável —
haviam lido tudo, de Kama Sutra às obras completas de Freud.
Entretanto, este casal se encontrava vítima do mito sexual mais simplista
já praticado pelo Homem — e pela Mulher. O mito de que a relação
sexual propriamente dita é a única relação sexual “Verdadeira”, a única
maneira “adequada e madura” de sexo para casais casados.
“Digam-me uma coisa”, comentei, reprimindo um sorriso.
“Quantos filhos ainda vocês planejam ter?”
Por um momento, ambos olharam estarrecidos para mim, como se
eu fosse louca. Mas, em seguida, os dois irromperam simultaneamente
em risos. Eram gargalhadas de compreensão. E

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gargalhadas de alívio. Pois minha pequena piada foi o primeiro passo estão exclamando da platéia, “Você está realmente tentando nos dizer
que lhes permitiu voltar para casa, e aproveitar outros tipos de sexo que que o ato sexual propriamente dito está fora de moda?’’
não fosse relação sexual propriamente dita. De jeito nenhum. Nem estou dizendo também que é a pior forma de
É claro que Amy e Bill (pais de quatro filhos já crescidos) não sexo que existe. Ou, necessariamente, a melhor. Apenas quero enfocar o
planejavam ter outros bebês, na idade em que estavam. Entretanto, a ponto de que o coito é apenas uma das muitas maneiras que existem para
relação sexual propriamente dita — o modo reprodutivo de se fazer sexo que um casal experimente, junto, o prazer sexual, apenas uma das
— havia sido tudo a que se permitiram em trinta anos, mesmo muito maneiras através das quais um casal pode atingir o orgasmo. E se nos
depois de ultrapassarem a fase reprodutiva de suas vidas juntos. Se Amy reduzimos a apenas uma das maneiras existentes — qualquer uma delas
e Bill não podiam ter a “Verdadeira Relação”, bem, então, eles não — podemos estar nos condenando ao desânimo da monotonia sexual.
teriam qualquer outra coisa. Não é difícil imaginar como nos fechamos dentro desta rotina
A história de Amy e Bill ilustra apenas uma das maneiras através
sexual única no casamento. Pessoas de todas as culturas monogâ- micas
das quais o mito da relação sexual “Verdadeira” invade nossas vidas
sabem, instintivamente, que o propósito primeiro de um compromisso
sexuais, nos limitando e, por fim, estabelecendo a monotonia sexual.
Mesmo na situação oposta, com casais que de vez em quando se por toda a vida com um companheiro é o de criar filhos, e o de estar
permitem sexo de maneira não-reprodutiva — como sexo oral ou seguro dc que a crianças nos pertencem, de que não existe dúvida, para
masturbação mútua — o mito persiste, fazendo com que um, ou dois qualquer dos dois parceiros, sobre a paternidade de seus filhos. É a base
parceiros, sintam-se culpados, rebaixados ou anormais. O mito parece do Tabu sobre a Virgindade (de que uma mulher precisa permanecer
cobrar seu preço a todos, mas ninguém parece sofrer mais do que os virgem até o casamento) e, embora este tabu não seja tão respeitado
casais casados. como o era antigamente, permanece ligado a nós.
O Tabu da Virgindade assegura a um homem que ele é o pai da
primeira criança nascida de sua esposa, assim como, mais tarde, o Tabu
da Infidelidade desencoraja um homem a gerar (e ter que sustentar)
O Sexo e a Única Rotina filhos, com qualquer outra parceira. A regra consistia, simplesmente, em
que você tinha permissão para a relação sexual apenas com seu parceiro,
Existe um conceito na psicologia e na antropologia modernas, ou cônjuge. Mas, em algum lugar nos resquícios de nossas mentes,
conhecido como “comportamento remanescente”. Um bom exemplo é a demos um estranho salto: passamos da idéia de que tínhamos permissão
maneira como o cão ou o gato andam em círculos por algum tempo, para a relação sexual verdadeira, somente com nosso parceiro de toda a
antes de se acomodarem sobre um tapete: é um comportamento herdado vida, para a idéia de que, a relação sexual verdadeira, o coito, é o único
dos tempos ancestrais nas florestas quando, dando voltas na relva alta, tipo de sexo que podemos ter com nosso parceiro de toda a vida.
criavam um pequeno espaço onde podiam se acomodar. A relação sexual As duas idéias, “verdadeira relação sexual” e “parceiro de toda a
propriamente dita, ou coito, como a única maneira através da qual vida”, estão fundidas em nossas mentes, tal como “amor” e “casamento”.
muitos de nós se permitem aproveitar um sexo orgásmico no casamento Você não pode ter um, sem ter o outro. E vocêpode ter somente um —
é outro exemplo: é um hábito proveniente do passado (na verdade, não um tipo de sexo — com o outro.
muito distante), quando o sexo e a reprodução estavam ligados de Para muitos casais, o resultado final é a monotonia sexual.
maneira indivisível no casamento, na época em que a expectativa de vida Encurralados pelo tipo de sexo unicamente reprodutivo, estes casais
era pequena, a taxa de mortalidade infantil elevada, e o sexo era afundam em frustração e monotonia. Muitos têm fantasias sobre
completamente voltado para a pro- criação. Mas, ao contrário do gato usufruírem uma variedade de atividades sexuais, e logo são estabe
que fica rodando sobre o tapete, este nosso hábito não é graciosamente
antiquado, nem muito menos inofensivo — ele pode reduzir nossas vidas
sexuais a uma única rotina.
Antes de prosseguir, sinto que devo atender àquelas pessoas que
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lecidos ressentimentos, depois sonhos de infidelidade — pois se não Esta informação, simples e inofensiva, podería nos levar, quando
podem usufruir uma variedade sexual com um parceiro, passam a querer adultos, ao caminho de uma vida sexual variada e livre de culpas. Da
usufruir uma variedade de parceiros sexuais. Mas tanto um, como ambos maneira como é, a maioria de nós atinge a maturidade sexual acreditando
os parceiros, não podem simplesmente superar o mito da “Verdadeira profundamente que existe alguma coisa de errado, sujo e anormal com o
Relação”; não conseguem deixar de lado a idéia de que o sexo no sexo desvinculado da reprodução.
casamento deve ser “maduro”, “sério”, e “responsável”. E que não deve Não existe melhor exemplo que a masturbação. Para a grande
ser divertido demais. maioria de nós, a masturbação foi nossa primeira experiência sexual
ativa. Porém, é realmente raro a criança que não começa a se sentir
culpada (a partir de algum momento) com relação a este prazer solitário.
Mesmo que não tenha havido qualquer pai lhe dizendo que isso era uma
É Possível que Mamãe, a Igreja e o Código Penal prática “suja e vil”, que aconselhando a “manter suas mãos sobre os
Estejam Todos Errados? lençóis, querido,” ou batendo na porta do banheiro e gritando, “O que
diabos você está fazendo aí dentro este tempo todo?”; mesmo que você
Lutar contra o mito da “Verdadeira Relação” é como lutar contra o não tenha lido no Manual dos Escoteiros, que este era um hábito “não-
Estado. Existe um significante conjunto de autoridades que se dedicam a masculino” ou, que não tenha sido solenemente informado por algum
manter vivo o mito, tornando nossas vidas sexuais um verdadeiro tédio. jovem sábio da vizinhança que e isto faria crescer verrugas em suas
Começa com a maior de todas as autoridades, nossos pais (o que não mãos, interrompería seu crescimento, ou que o transformaria em um
começa por eles?) e inclui nossos amigos de infância, a Igreja, muitas “maricas”
leis estaduais, c, como se isto já não bastasse, muitos psicanalistas. — mesmo assim, sem qualquer uma destas propagandas indutoras de
Mesmo os pais mais esclarecidos e liberais, que se sentam com suas culpa sobre a masturbação — a maioria de nós teria sucumbido em
crianças para conversar francamente sobre sexo, conseguem passar a pouco tempo à idéia de que existe algo extremamente antinatural sobre a
mensagem de que existe apenas uma maneira verdadeira para se fazer prática. Além do mais, o que pode estar mais distante da reprodução do
amor: o pênis penetra na vagina, deposita o sêmen, e é desta forma que que fazer sexo sozinho? Este é o verdadeiro motivo; esta é a primeira e
começam os bebês. Esta é a idéia geral sobre sexo que nos é
mais importante razão para toda a nossa culpa
pacientemente fornecida, quando somos crianças —fazer ba- bês. Sexo é
— fazemos isto simplesmente para nosso prazer pessoal, não pela
reprodução.
verdadeira finalidade do sexo — fazer bebês.
“Bem, claro”, alguns pais podem ainda acrescentar, envergonhados,
“É realmente gostoso, mas é apenas a maneira que a Natureza tem para Na adolescência, quando começamos nossos primeiros ensaios no
assegurar a reprodução das espécies.” mundo do sexo partilhado, o mito da “Relação Verdadeira” é reafirmado
Com estas informações — nosso primeiro conhecimento oficial de forma paradoxal. Em vez da relação sexual, de fato, ser a única forma
sokre sexo — muitos de nós crescem não apenas acreditando que existe de sexo proibida. Na melhor das hipóteses, torna- se um favor especial
somente uma maneira verdaderia dos adultos fazerem sexo, mas prestado por uma jovem mulher a um jovem homem merecedor. E, então
acreditando também que a Mamãe e o Papai o fizeram, provavelmente, para muitos — especialmente para garotos adolescentes — a relação
cinco ou seis vezes na vida — uma para o irmão, uma para a irmã, uma sexual de fato, o coito, assume um status de Aquisição Máxima. Para um
para nós, e talvez algumas outras vezes que não deram certo. Assim adolescente, “fazer tudo” ou “ir até o fim” significa uma coisa apenas. E
começa a Infelicidade da Educação Sexual. qualquer outra coisa diferente de “ir até o fim,” mesmo que inclua
O segredo culposo, que os pais parecem jamais querer revelar às carinho que atinjam o orgasmo ou masturbação mútua, é considerada
crianças, é o de que sexo é um dos maiores prazeres da vida — mesmo como sexo
quando não implica em fazer bebês. Certamente é difícil de se imaginar
qualquer pai explicando a uma criança que existem muitas formas
diferentes das pessoas sentirem prazer no sexo — não apenas na relação
sexual de fato e que cada uma destas formas pode ser ótima por si só.

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incompleto, pálidos substitutos incomparáveis à Aquisição Máxima. qualquer sentido. Em certos aspectos, a Igreja Católica parece mais
A ironia, aqui, é uma faca de dois gumes precisamente, pois todos liberal nestas determinações do que muitas outras religiões: ela permite
estes “pálidos substitutos” da “Relação Verdadeira” praticados pelos alguma variação sexual, desde que sirva de preparação para a relação
adolescentes são, o que muitos casais que conheço desejariam estar sexual de fato. Finalmente, a proibição do Vaticano relacionada ao
fazendo agora. Dariam qualquer coisa para recuperar a excitação, lenta e controle da natalidade, diz tudo.
agradável, dos namoros de horas no banco traseiro do carro, as Eu realmente não desejo aqui me envolver em uma argumentação
maravilhas visuais e orgasmos explosivos das mas- turbações mútuas, e teológica sobre as Razões Divinas: Não estou qualificada para tal
as imprudências românticas. Entretanto, estes casais adultos estão argumentação e nós, terapeutas sexuais, já temos problemas suficientes
sufocados por suas versões sobre o Mito da “Verdadeira Relação”: Sexo em nossa situação, recusando o rótulo de “Auxiliares do Demônio”,
no Casamento - Coito — nada mais. A relação sexual de fato deixa de quando se trata de sexo e religião. Meu único ponto é uma pergunta que
ser a única coisa que não se pode fazer na adolescência, para ser a única você próprio deve responder:
coisa que você pode fazer no sexo adulto, de compromisso. Você acredita, honestamente, que você e seu parceiro devem fazer
Mas, fiquemos por alguns momentos com estes adolescentes. sexo somente quanto este conduz — ou pode conduzir — à concepção?
Porque, antes que eu prossiga, demonstrando como uma sociedade Você se envolve sexualmente apenas com esta finalidade e nunca utiliza
proibitiva limita nossas opões sexuais, tenho que admitir que existem qualquer mecanismo anticoncepcional?
algumas maneiras, através das quais, todas estas restrições de fato Para a maioria de nós, a resposta é, obviamente não. Entretanto,
ampliam nossos horizontes sexuais. Um adolescente, impedido de “ir até
como veremos, somente esta resposta não é garantia de que estamos
o fim”, é forçado a experimentar todos estes adoráveis substitutos —
livres das inibições e limitações causadoras de monotonia, do Mito da
mesmo que ele ou ela sintam-se lesados. As carícias lentas e sensuais são
uma lição que um adolescente ficará feliz por ter aprendido, quando as “Verdadeira Relação”.
rotinas da “Relação Verdadeira” começarem a se tornar monótonas em Existe um argumento secular, que é praticamente igual ao da Razão
sua vida, mais tarde. Tendo crescido na permissiva sociedade sueca, vi Divina, e que é o seguinte: a relação sexual de fato é o modo “natural” de
muitos adolescentes irem a 0 e 100 sexualmente. A primeira de todas as se fazer sexo. É para isto que serve a vagina, por isso tem tal
suas experiências sexuais era a relação sexual de fato. Nenhum conformação, o pênis foi feito para ela, e colocá-lo em qualquer outro
desperdício de tempo com namoros e carícias, ou quaisquer outras lugar é “antinatural”.
“substituições”; estas eram consideradas “pervertidas” e “pouco Novamente a resposta é “Sim”, é onde penetra o pênis, se você está
saudáveis”. Iam direto à “Verdadeira Relação”, o que era visto pela fazendo bebês. “Mas existe um grande número de pessoas que usufruem
sociedade sueca como “saudável” e “adequado”. Em consequência, os dois prazeres mais ‘naturais’, sem colocá-lo ‘no lugar para o qual foi
suecos — apesar do mito popular americano que diz o contrário — são feito’.”
geralmente bastante limitados em seus repertórios sexuais. Nenhum Considere outros dois pilares da sociedade, que tentam nos
banquete sexual para eles. Em um estudo que realizei sobre os homens convencer de que existe apenas uma maneira correta de se fazer sexo: os
suecos que haviam tido experiências sexuais com mulheres americanas, legisladores e os psicanalistas, um par realmente incomum.
estes homens disseram que as amantes americanas eram muito mais Determinados estados americanos ainda possuem leis em seus livros
divertidas do que as do seu país. considerando o sexo oral e o sexo anal entre adultos maiores de ida-
“As moças americanas são mais difíceis de se levar para a cama”,
me disse um deles, “mas uma vez lá parece haver muito o que fazer.”
Infelizmente, os efeitos de uma sociedade proibitiva não se limitam
às nossas vidas sexuais de adolescentes. A religião organizada contribui
bastante na conservação do Mito da “Verdadeira Relação” ao longo de
nossas vidas adultas. Desde o Velho Testamento, advertindo contra
derramarmos sementes ao chão, até as proibições da maioria das
religiões cristãs modernas, a mensagem é bem clara: a Razão Divina do
sexo é a reprodução e o sexo não voltado para este objetivo não tem
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de — ainda que sejam casais casados — atos ilegais. Estas leis raramente com suas vidas sexuais. Mas existe um número muito maior de casais
são cumpridas, mas o poder de tais proibições colocadas como leis, que de forma deliberada, aprender sobre meios anticoncepcionais, que
reforça nossas suspeitas de que há alguma coisa “não muito correta” com desacreditam irracionalmente em sua eficácia, ou que se juntam ao coro
práticas sexuais que não sejam a relação “normal”. do “não parece valer a pena toda esta discussão”.
Infelizmente, teorias psicanalíticas do passado se uniam à Na verdade, em todos estes casos, os casais estavam expressando
campanha de limitação de nossas vidas sexuais somente à relação sexual. suas culpas sobre cederem ao sexo não-reprodutivo. Eles evitaram
De acordo com tais teorias, nossas práticas sexuais e preferências muitas inconscientemente aprender sobre meios anticoncepcionais, porque
vezes são vistas apenas no contexto de estágios do desenvolvimento chegar à Paternidade Programada, a um curso sobre educação sexual, ou
“normal”, relegando uma predileção por sexo oral a pessoas “fixadas” no ao ginecologista da esposa os teria feito conscientes demais do fato de
estágio oral do desenvolvimento e sugerindo que o interesse de um estarem buscando uma vida sexual de puro prazer e não para fazer bebês.
homem em experimentar sexo anal com sua esposa é um indicação Em uma tendência semelhante, mulheres que me dizem que não
segura de homossexualidade latente. A crença subentendida é de que confiam na eficácia dos meios anticoncepcionais estão geralmente me
pessoas totalmente desenvolvidas devem estar interessadas apenas em dizendo que não confiam em sua própria eficiência para utilizá- los da
sexo “maduro” — na “Relação Verdadeira”. Tais teorias, penso eu, são maneira certa. Existe um número espantoso de mulheres brilhantes e
superficiais demais. Não levam em consideração o desejo de quase todos cultas, que conseguem engravidar — e fazer abortos — ano após ano.
de experimentar, e nossa necessidade de manter nossos relacionamentos Elas dizem que os meios anticoncepcionais “parecem não funcionar”
de toda a vida vibrantes e excitantes, através da opção de variações com elas, mas, quando pressionadas, admitem que “esqueceram” de
sexuais. tomar a pílula ou inserir o diafragma, que no calor da paixão elas “não
desejam interromper o fluxo natural” do sexo. Uma destas mulheres
finalmente confidenciou que as únicas ocasiões em que tivera orgasmos
satisfatórios foram quando ela sabia haver uma chance de engravidar.
Fazer Bebês Versus Gritar Hurras Para todas estas mulheres — desde a mãe que não podia ter orgasmos
por ter medo de engravidar, até a jovem esposa que só podia ter
Com certeza um terço dos casais a que atendo tem problemas orgasmos se pensasse que poderia engravidar — o Mito da “Relação
sexuais relacionados diretamente com a questão de reprodução. Ou eles Sexual Verdadeira” atua ativamente, impedindo que elas apreciem um
têm medo de gerar mais um bebê, ou têm medo de não estarem aptos a sexo recreativo para seu próprio bem. Elas simplesmente não podem se
gerá-lo. permitir uma separação entre Fazer Bebês e Gritar Hurras.
“Tenho tanto medo de engravidar”, me contou uma mãe de três Estes são os extremos, embora para muitos de nós o assunto da
filhos, ‘ ‘que jamais consigo realmente me soltar. Quase não tenho mais anticoncepção seja fonte de alguma inibição em nossas vidas sexuais.
orgasmos. Durante o sexo, já estou pensando na minha fuga para o Dizemos que colocar um diafragma é muito confuso, que o cheiro de
banheiro, de modo a poder me lavar logo em seguida.” geléia vaginal provoca o desinteresse imediato, que todo o procedimento
“Eu não creio que você esteja tentando uma fuga para a prevenção”, de interrupção das preliminares, o sair da cama, correndo para o banheiro
disse a ela. “Creio que você está tentado fugir da prevenção. — fugir da para colocar “aquela borracha”, já é o suficiente para fazer com que os
verdade de que pode apreciar sexo que nada tenha com reprodução.” dois “percam a vontade” e desistam.
Um pai admitiu para mim, que quando pensa em sua esposa tendo
uma ovulação, não consegue uma ereção. E inúmeros casais têm
argumentado comigo, quando conversamos sobre métodos
anticoncepcionais, que “não parece valer a pena toda esta discussão”.
É sabido que existem alguns casais que não tiveram a oportunidade
de aprender como pode ser fáceis e eficientes os modernos meios
anticoncepcionais, quando utilizados da maneira correta, e uma vez que
recebem estas informações, podem ir alegremente para casa e prosseguir
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“Do momento em que volto para o quarto”, contou-me uma sinais de “solicitação sexual” em todas as situações, saber que você está
mulher, “meu marido perdeu a ereção e está, em geral, lendo jornal ou usando um diafragma e que está “pronta para dar a partida” pode ser o
assistindo televisão. Encaremos a verdade — realmente interrompe o suficiente para intimidá-lo quanto ao seu desempenho sexual. (Ver
fluxo das coisas. É simplesmente tão mecânico e restritivo. É Capítulo 7.) Porém, existe uma razão mais genérica e eloquente para que
praticamente a coisa menos romântica do mundo e acontece bem no eu recomende este método como um meio temporário para se superar as
meio do ato sexual”. prevenções existentes contra meios anticoncepcionais: ele não nos
A verdade sobre a “falta de romance” dos meios anticoncepcionais, auxilia na superação de nossas ansiedades quanto ao aproveitamento
eu creio, é a de que, inserir um diafragma ou colocar um preservativo é prazeroso do sexo não- reprodutivo. Assim como a pílula e o DIU, ele
uma lembrança muito clara e irrefutável de que o que estamos apenas nos auxilia a evitar todas as consequências.
pretendendo fazer é deliberadamente sexo não-reprodutivo. A Tenho constatado que não existe melhor maneira para os casais se
popularidade da pílula e do DIU (antes de muitas deixarem de usá-los tornarem totalmente conscientes da distinção emocional entre Fazer
devido aos possíveis efeitos colaterais) estava relacionado ao fato de que Bebês e Gritar Hurras, do que Jazer com que os meios anticoncepcionais
não precisávamos pensar em meios anticoncepcionais quando estávamos utilizados se tornem parte do jogo sexual:
com vontade de fazer amor — em outras palavras, não precisávamos ser
lembrados de que aquilo que estávamos prestes a fazer nada tinha a ver Em vez de deixar seu diafragma escondido em algum lugar secreto
com reprodução. do banheiro, deixe que seu lugar seja exatamente ao lado de sua
Já posso ouvi-los, protestando: “Absurdo! Colocar um diafragma é cama — na gaveta de sua mesa-de-cabeceira ou do guarda-roupa.
trabalhoso! E realmente interrompe nossa vontade! Faz tudo voltar ao E, quando parecer que você vai querer utilizá- lo — quando o jogo
ponto de partida." sexual já estiver acontecendo — simplesmente busque-o, tire-o da
Mas não necessariamente. Toda a polêmica sobre meios anti- embalagem e coloque-o na presença de seu parceiro. Acredite-me,
concepionais é criada principalmente por nós mesmos — é ainda uma isto será qualquer coisa, menos um fator de desligamento
outra maneira da culpa nos pegar para que nos desinteressemos. O fato é
instantâneo para a maioria dos homens; de fato, vê-la inserindo-o,
que existe uma grande variedade de meios para a superação desta
lentamente, decerto trará a vocês, uma sensação de ligação
polêmica.
perturbadora.
O segundo passo é ainda mais erótico: vocês dois inserem o
Talvez o meio mais simples seja o de inserir o diafragma de forma
diafragma juntos. Tenham calma. Deslizem-no para dentro e para
rotineira todos os dias à mesma hora, podendo ser no início da
noite, antes ou depois do jantar. A maioria das ge- léias vaginais fora quantas vezes quiserem. Lembrem-se: isto é uma parte do
mantém sua eficiência como espermicidas por cinco ou seis horas, jogo inicial, não um intervalo comercial. Após algum tempo,
de modo que se pode ter sexo por todo o período da noite, com muitos maridos vão desejar fazê-lo sozinhos — não existe nada
segurança. Não importa que você não tenha pensado em sexo mais deliciosamente regressivo do que “brincar de médico”. E para
durante todo o dia. E quanto ao trabalho, é realmente mais aquelas mulheres que têm gastado a vida tentando
trabalhoso do que escovar os dentes ou depilar as pernas? desesperadamente evitar excitação em exames ginecoló- gicos, é
Torne isso uma rotina e esqueça-se do fato, usufruindo os prazeres uma chance para induzir uma fantasia secreta. (É claro que o
do sexo sempre que tiver vontade. mesmo método serve para casais que usam camisa-de- vênus como
meio preventivo: coloque-a diante dela, ou ainda melhor, deixe que
Eu hesito em recomendar este método para todos os casais. Para ela o faça para você.)
aqueles cuja baixa preferência sexual se tornou um fator de tensão e
ansiedade, a inserção do diafragma noite após noite, raramente o
utilizando, pode vir a se tornar um ressentimento. O diafragma se torna
um lembrete depressivo do quão pouco está acontecendo entre você e
seu parceiro. E para um homem que seja vulnerável à percepção de

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Partilhando a responsabilidade da prevenção de uma gravidez desta Porque sexo sem prazer pode restringir o sexo para reprodução mesmo
maneira, muitas mulheres sentem menos ressentimento sobre serem as antes de seu início. Mas estes problemas derivam dos mesmos mitos e
responsáveis pelas precauções. Mas, ainda mais importante, tornar estes confusões que afetam a todos nós. Fazer Bebês versus Gritar Hurras é
meios preventivos parte do jogo sexual, faz com que encaremos de frente apenas metade da história do Mito da “Relação Verdadeira”: ele
a verdadeira razão pela qual nós os utilizamos: deste modo, podemos descreve as ansiedades que sentimos sobre o ato sexual que não conduz à
sentir prazer, puro e simples. E desta maneira, damos o primeiro passo concepção. A outra metade da história é a maneira pela qual nos
em direção da nossa dessensibilização em relação a nossas culpas e limitamos ao tipo de sexo reprodutivo — ao ato sexual apenas — mesmo
ansiedades sobre os prazeres do sexo não-reprodutivo. Deixando que quando o assunto da reprodução é a coisa mais distante de nossas mentes
nossas medidas de prevenção da gravidez sejam tomadas aberta e e de nossas vidas.
naturalmente — sem mencionar, sensualmente — podemos de maneira
simples admitir para nós mesmos que esta noite, pelo menos, nós apenas
queremos gritar hurras.
Existe ainda um outro método que recomendo para que se "Mas, não com a Minha Esposa..."
estabeleça a paz com os mecanismos de prevenção. Trata-se mais de uma
brincadeira de família do que de exercício, mas foi-me ensinado por um De fato, uma grande número dos casais casados de hoje tiveram
charmoso casal de meia-idade, que jurou sempre tirar- lhes toda a tensão excitantes experiências sexuais que podem ter sido tudo, menos a
sexual- “Relação Verdadeira”; apenas não tiveram estas experiências um com o
outro — pelo menos, não desde que se casaram. Tentaram todas estas
Sempre que um dos dois deseja iniciar sexo com o outro, ele ou ela coisas “selvagens e doidas” antes do casamento ou, possivelmente, até
sorri e diz, “Você quer fazer bebês esta noite?” A que o outro depois de estarem casados, mas com outros parceiros. Parece que tudo
responde, “Deus me livre, não!” está bem se experimentarmos na cama — ou no banco traseiro do carro
“Ótimo!” é a resposta. “Vamos nos divertir!” — com qualquer um que não seja o seu parceiro de toda a vida.
E vão em seguida para a cama. “Claro, tenho experimentado todo o tipo de variações”, me contou
um marido, com uma mistura de orgulho e confusão, “mas, que diabos,
Infelizmente, existe um número crescente de casais com ansiedades não com minha esposa. Essas coisas exóticas simplesmente não
sexuais por estarem tendo dificuldades para conceber uma criança. Para combinaram com ela.”
eles, sexo e reprodução se tornam uma mesma coisa muito rapidamente. “Porque não?”, perguntei. “Você tem medo de que ela possa gostar
Sempre que têm uma relação sexual, ela está carregada de apreensões — muito?”
“Será que finalmente vamos conceber esta noite? É esta a hora certa? Para este homem, assim como tantas outras pessoas, sexo exótico,
Será que a contagem de meus esper- mas está elevada o bastante? Estarei experimental, puramente recreativo, equivale a sexo não- marital. Em
ovulando?” Não é de se admirar que problemas sexuais se estabeleçam sua cabeça ele não poderia fazê-lo apenas por diversão com sua própria
com frequência — o ato de alegria tornou-se pura ansiedade. Também esposa. Além do mais, ela é mãe — a mãe de seus filhos. E acima de
não é de se admirar que os casais, lutando contra a infertilidade, reduzam tudo, ela é, bem, ela é uma senhora distinta.
suas variações sexuais ao ato sexual de fato. Fazer sexo de qualquer Aqui, o clássico complexo de Freud de Madona/Prostituta mostra
outro modo torna-se uma oportunidade perdida e um desperdício de novamente suas garras: existem mulheres para serem usadas para a
espermas. Muitos destes casais param completamente de ter contato diversão e experimentação sexual — mulheres com as quais seria
sexual sob uma tal pressão e muitas vezes a relação dos dois começa a se impossível o casamento; e existem mulheres respeitáveis e adequa
romper. Como todos os casais, estes fazem a distinção entre sexo para
procriação e sexo para recreação. E meu primeiro passo é encorajá- los a
praticar todos os tipos de sexo exceto o próprio ato sexual, durante
algum tempo, para que recuperem o sentido do sexo como puro prazer.

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das ao casamento — mulheres com as quais seria impossível orgasmo com muito mais facilidade, simplesmente se ele também
praticar sexo frívolo e experimental. Culturas inteiras quisesse isso.”
“Talvez a melhor maneira de começar”, disse eu a ela, “seja apenas
construíram seus costumes sexuais baseados nesta divisão;
dizer isso a ele. Talvez você se surpreenda: pode ser que ele se sinta
através dos séculos homens espanhóis abastados possuíam aliviado, ouvindo isso.” Na verdade, estudos mostram que muitas
suas esposas — com as quais tinham seus filhos — e mulheres têm orgasmos com mais facilidade e mais satisfatórios, no sexo
possuíam suas amantes — com as quais tinham diversão. Em oral e na masturbação (mútua ou não), do que no ato sexual. A
graus apenas ligeiramente inferiores, este complexo persiste estimulação direta do clitoris pode ser realizada mais facilmente e a
em nossa sociedade de hoje. Talvez poucos homens língua e os lábios de um homem podem ser estimula- dores mais gentis
americanos mantenham amantes, mas, muitos deles ainda do que seu pênis em ereção. Muitas mulheres acham estas alternativas
um alívio de tensões bem-vindo, um alívio para todas as ansiedades
recusam sexo puramente recreativo com a mãe de seu filhos:
associadas com as medidas anticoncepcionais.
‘’Simplesmente, não parece certo”. Entretanto, um grande número de mulheres sente inibição sobre a
O complexo de Madona/Prostituta não é um problema exclusivo
prática de variações sexuais com seus maridos. E muitas mais sentem
dos homens. Existe um grande número de mulheres perfeita- mente
inibição até para iniciarem tais variações — em falar sobre elas com seus
capazes de desfrutar variações sexuais — talvez até com experiência
maridos. Quando falei a sós com a esposa do homem que disse “não
nelas — mas que “simplesmente não achariam correto” ter tais aventuras
achar correto” fazer sexo “erótico” com ela, ela própria admitiu para
com seus maridos, o pai de seus filhos. Há muitos anos atrás, um filme
mim que durante anos havia desejado fazer sexo oral com seu marido.
de Bunuel intitulado Belle de Jour (A Bela da Tarde) captou as
“Posso ficar excitada com a simpes fantasia sobre isso”, ela me
imaginações sexuais de muitas mulheres que conheço. No filme,
disse. “Mas, tudo o que realmente fazemos sempre é a mesma rotina —
Catherine Deneuve representava uma mulher dentro de um casamento
um rápido aquecimento e em seguida ele me penetra. É como se nós dois
muito respeitável, que passava seus dias como uma garota de programa,
ligássemos nossos pilotos automáticos, quando iniciamos o sexo.”
entregue a todos os tipos de jogos sexuais exóticos com seus clientes.
Que vergonha. Aqui tínhamos duas pessoas saudáveis, ambas
Mulheres me contaram que a vida retratada em Belle de Jour coincidia
aspirando por alguma variação sexual em suas vidas e ambas se
com suas fantasias mais profundas; em outras palavras, elas viam a si
restringindo ao mesmo roteiro sem imaginação, que acabou por levá- los
mesmas, tanto como uma prostituta, que fazia experiências sexuais,
às profundezas da monotonia sexual.
quanto como uma esposa, que não as fazia.
Geralmente, apenas um dos dois parceiros resiste à experimentação.
Tenho conversado com um número incontável de mulheres que têm
Não é incomum para um parceiro querer tentar uma variação sexual —
fantasias sobre sexo oral ou masturbação mútua, mas que jamais
digamos, sexo oral — mas o outro não querer, e isto pode ser a causa de
tentaram estas variações sexuais com seus maridos. Da mesma forma,
uma tensão tremenda no casamento.
tenho visto muitas mulheres que mantêm estas fantasias presentes em
“Estou cansado de tentar convencê-la a simplesmente experimentar
suas mentes, expressando-as apenas quando conversam comigo ou com
sexo oral”, contou-me um marido. “Ela sempre acaba conseguindo fazer
um grupo de apoio formado por outras mulheres. Muitas destas mulheres
com que eu me sinta um pervertido ou algo parecido. Ela diz que tudo
já me disseram que realmente preferiríam estas variações ao ato sexual.
isso é para os que gostam de sexo grupai e para gente jovem?
“Eu deixaria de lado o ato sexual, de bom grado”, me disse uma
Perguntei então para sua esposa. “Você se acha realmente velha
dessas mulheres. “Eu quero dizer, a parte cansativa do ato sexual com
demais para experimentar sexo oral?”
meu marido, é a que ele espera que eu tenha um orgasm o, e ele se
“Eu penso que sim”, ela admitiu. “Não me parece uma coisa que
empenha como um louco em mim, para que eu tenha um. No entanto,
pessoas maduras devessem fazer.”
tenho certeza de que seria muito mais agradável para mim se nos
acariciássemos e simplesmente brincássemos um com o outro. Talvez
um pouco de sexo oral. O mais engraçado é que eu imagino que teria um

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“Educar crianças requer maturidade”, eu disse, “mas obter prazer Se nascemos ou não com o comando específico de “colocá-lo no
sexual deve ser um divertimento completo. Quando chegamos a este lugar certo”, certamente, todos nascemos com a capacidade de ter prazer
estágio, temos todos a mesma idade.” sexual em qualquer das inúmeras variações sexuais possíveis diferentes
Entretanto, eu me sentia tão sensibilizada pela resistência dessa da “Relação Verdadeira”. E muitos casais que tenho visto têm
mulher quanto pelos desejos de seu marido. Não é tão fácil atingir a acrescentado, felizes e muito naturalmente, estas variações a suas vidas
maturidade e, de repente, começar a tentar experimentações sexuais. As sexuais, a partir do momento em que lhes é dada a oportunidade e o
inibições que envolvem sexo oral, em particular, são difíceis de ser estímulo necessários. Para eles, tudo começa com o Exercício de Toque
superadas e eu dedico uma seção especial a elas na Parte II. Mas, para + 1 ea sua etapa lógica seguinte:
começar, queria que esta mulher amenizasse suas idéias sobre sexo
“maduro” — para que modificasse seu conceito sobre o Mito da
“Verdadeira Relação”. Exercício de Toque + 2
“Espera aí!”, posso ouvir alguns de vocês protestarem. “O que há
de errado se tanto eu quanto meu marido estamos perfeitamente felizes,
Novamente, alternem-se tocando um ao outro, mas desta vez
simplesmente com a “Verdadeira Relação”? Você quer dizer que
incluindo seios e genitais, após vocês terem se tocado mutuamente
deveriamos tentar estas variações em quaisquer circunstâncias?”
em todos os outros lugaies por, pelo menos, quarenta e cinco
Não necessariamente. Não creio que as pessoas devam se forçar a
fazer sexo de alguma forma que realmente não queiram. Mas, minutos.
perguntem-se honestamente: “Eu já tive alguma vez uma fantasia que Não tenham pressa. Não se precipitem para os genitais. Tratem-
incluísse sexo oral ou masturbação mútua?” E se vocês tiveram, não nos como o fizeram com qualquer outra parte de seus corpos. E,
acreditam que merecem tentar tais fantasias um com o outro — pelo quando seus genitais estiverem sendo tocados, coloque suas mãos
menos uma vez? sobre as de seu parceiro. Conduza a ele ou a ela. Mostrem o que os
Na verdade, rara é a pessoa que jamais teve pelo menos um leve faz sentir-se bem — onde vocês são sensíveis, o quão rápido ou
pensamento sobre uma dessas fantasias. Mas não tão raras são aquelas de lento.
nós que “simplesmente não acham correto” tentá-las com seus parceiros Permitam-se serem levados ao orgasmo, tanto manual, quanto
no casamento. oralmente — de qualquer modo, exceto pelo ato sexual. Evitem as
tentações de “finalizar” com a “Verdadeira Relação.”

Para muitos casais, este exercício se mostra extremamente


Indo até o Fim da Linha — mas em Outra Direção liberador. Pode ter sido a primeira vez em que experimentaram orgasmo
fora do ato sexual e, por uma vez, estiveram concentrados
Recentemente, me deparei com uma passagem em um livro, na completamente em seu próprio prazer.
qual um homem jovem que acabara de ter sua primeira experiência “Senti-me tão maravilhosa”, contou-me uma mulher, após tentar
sexual com uma jovem mulher, está deitado na cama, meditando sobre o este exercício com seu marido. “Foi como se violássemos todas as
que acontecera: regras. E por algum motivo, fez com que nos sentíssemos jovens —
como adolescentes namorando no carro. É loucura, mas tive um orgasmo
“Fico pensando, se eu tivesse nascido na selva, se saberia onde muito melhor do que geralmente tenho com o ato sexual.”
colocá-lo. Primeiro podería ter tentado colocá-lo embaixo de seu Não era loucura em absoluto. Por uma vez, ela estava
braço, ou talvez no seu umbigo. É realmente um lugar tão fora de simplesmente se divertindo.
vista, escondido sob tudo. Talvez este tenha sido o primeiro teste de
Seleção Natural: aqueles que o colocaram debaixo do braço não
sobreviveram.”

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0 Desempenho de Hoje à Noite
Foi Cancelado

John G. entrou em meu consultório com uma expressão mal- humorada.


Ele era um executivo de publicidade, alto e bem-vestido, na faixa dos
trinta e cinco anos, e estava furioso. Por cinco anos havia tido o que
considerava uma vida sexual maravilhosa com sua esposa, Ruth. Mas,
uma noite, após terem feito amor, Ruth desabafou, dizendo que, na
verdade, não tivera orgasmo algum. Ela havia simplesmente fingido. De
fato, ela admitiu haver fingido pelo menos a metade das vezes desde que
haviam se casado. Isto ocorrera poucos meses antes e, desde então, John
e Ruth não fizeram mais amor.
“É como se ela houvesse mentido para mim o tempo todo.” John
protestou. “Eu me sinto enganado.”
“Você se considera um bom amante?”, perguntei a ele. John sorriu
pela primeira vez. “Sim”, ele disse. “Eu me considero muito bom nisso”.
“Talvez seja este o problema”, eu disse. “Talvez esteja tão
ocupado, tentando ser um bom amante que não sobre nenhuma diversão
para vocês dois.”
Após ver John e Ruth, separadamente e juntos, algumas vezes
mais, minhas suspeitas estavam confirmadas. John era um “Amante
Estrela”. Ele se “desempenhava” no sexo da mesma maneira como se
desempenhava em tudo o mais na vida: com perícia, agressividade e
com necessidade de impressionar sua platéia. Por muito anos, Ruth
admirara a personalidade decidida de John, e sem que enten-

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desse por que estava fazendo aquilo, ela “aplaudia” o desempenho de seu obtém perícia sexual. Um homem disse a mim que ele e sua esposa
marido, com falsos orgasmos. Mas, finalmente, com frustração e raiva, alugavam, às vezes, fitas de vídeo eróticas para ver se aprendiam algumas
ela cancelara os desempenhos de ambos, revelando sua verdade. “técnicas novas”.
“Eu não pretendia, conscientemente, magoar John,” ela me disse, “Você quer dizer que vocês os assistem como se fossem filmes
“mas eu acho que sabia que o magoaria. Eu estava com raiva dele, porque educacionais?”, perguntei a ele.
ele tirara toda a alegria do sexo. Simplesmente, não parecia ter restado “É, um pouco.”
qualquer sentimento para nós dois. Era como se nós dois “Soa muito monónoto para mim”, eu disse. O que realmente era
representássemos os seguintes papéis: John era o Sr. Amante verdade. Aquilo me soava como se alguém assistisse Casablanca para
Maravilhoso e eu, a Sra. Esposa Agradecida. Mas o curioso é que não aprender a preparar drinques.
sobrou ninguém para apreciar nossos desempenhos.” Mesmo os meus orientadores, Masters e Johnson, de certa forma
A percepção singular de Ruth serviu para salvar seu relacionamento contribuíram para perpetuar a idéia de que fazer amor se constitui,
com o marido. Sim, primeiro houve uma grande dose de sofrimento. basicamente, no aprendizado supervisionado de uma série de técnicas e
Durante a terapia, John finalmente teve que confrontar sua necessidade na prática destas, até que sejam executadas com perfeição. Na realidade,
de controlar, e Ruth precisou encarar o fato de que ela, deliberadamente, a terapia de Masters e Johnson é direcionada para auxiliar casais no
desistira das responsabilidades sobre sua própria sexualidade. Mas, após restabelecimento do contato com seus sentimentos sexuais; mas no
dispensarem algum tempo aprendendo sobre eles próprios e sobre cada conceito popular, Master é o campeão em perícia, o proeminente guru de
um dos dois, e após se dedicarem ao reaprendizado do prazer sexual de técnicas sexuais. Ele pode nos ensinar como ser Astros do Amor.
dentro para fora, ao invés do desempenho de fora para dentro, eles Eu tenho esta idéia engraçada e fora de moda de que não existe
redescobriram o prazer sexual simples, para o benefício deles próprios. muita coisa que a maioria de nós precise aprender sobre a técnica de fazer
amor. É quase a mesma coisa que aprender como se chega ao aeroporto
em uma cidade desconhecida — um par de informações e você sabe
como chegar lá. Tudo o mais vem de forma bastante natural. Isto pode
"Talvez Eu Esteja Fazendo Tudo Errado" parecer uma afirmação bizarra, partindo de uma pessoa que tem vivido
esses últimos quinze anos como terapeuta sexual. Mas meu trabalho com
A hilariante música de Randy Newman “Maybe I’m Doing It a grande maioria das pessoas que atendo não é o de ajudá-las a aprender
Wrong” satiriza a maneira como muitos pensam sobre fazer amor. como “fazer certo”; ao invés disto, usamos a maior parte de nosso tempo
Pensamos que existem pessoas no mundo — os “especialistas” e os tentando desaprender os mitos e propagandas que têm nos impedido de
“amantes extraordinários” — que estão “fazendo tudo certo”. Eles sabem simplesmente sentir prazer sexual. E no topo da lista destes mitos
todos os movimentos corretos; a sincronia deles é impecável (os homens autodestrutivos está um que proclama que fazer amor é uma “ação” que
podem esperar para sempre e as mulheres têm orgasmos explosivos, um requer perícia especializada para que seja “desempenhada” com astúcia.
após o outro); eles conhecem bem uma variedade de “truques” exóticos; Desarmados por este mito, nós nos censuramos, ou a nossos parceiros (ou
podem manter um equilíbrio perfeito entre o abandono selvagem e o a ambos) por não estarmos à altura das expectativas.
controle absoluto, e durante todo o tempo parecem tão belos e charmosos, Nós acabamos de passar por um dos períodos de maior forma
quanto Nureyev e Fonteyn executando um pas de deux. Enquanto isto, a
maioria do restante de nós está “fazendo tudo errado” — ou, pelo menos,
não estamos fazendo isso tão bem como poderiamos.
Em algum ponto de nosso percurso, adquirimos a idéia de que
aprender a fazer amor está na mesma categoria de aprender a jogar tênis
ou a falar francês. Requer estudo diligente e muita, muita prática. Alunos
aplicados se lançam sobre Prazer do Sexo, “manuais do casamento”
ilustrados, e o “Forum” da Penthouse, buscando dicas e pistas de como se
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ção de mitos sexuais de todos os tempos: o período da chamada sentimentos sexuais — que se concentra em nossas próprias sensações e
Revolução Sexual. Ironicamente, o mandamento da Revolução Sexual da não em nosso desempenho — encontra sua própria técnica.
“liberdade sexual para todos”, logo se tornou uma compulsão de “pressão
sexual sobre todos”. Não apenas nos disseram que o sexo estava
disponível para ser aproveitado em qualquer oportunidade e com
qualquer um que quiséssemos, como também nos disseram que, se não O Placar: Conquistas 100, Prazer 0
tirássemos vantagem de toda esta disponibilidade sexual, estaríamos “por
fora”, ou pior, em retrocesso sexual. Desta forma, a Revolução Sexual Existe uma teoria de que Don Juan andou pelo mundo, seduzindo
produziu milhões do que eu denominei “Amantes Fantasmas”, homens e uma mulher diferente a cada noite, porque procurava aquela mulher com
mulheres que se sentiram compelidos pela pressão social e saíram em quem partilharia o sexo prazerozamente.
busca de desempenhos, mesmo quando não se sentiam emocionalmente Como disse um de meus colegas, “Don Juan teria feito melhor se,
prontos para tal. Em vez de chegarem a um acordo com suas próprias simplesmente, tivesse ficado em casa uma noite e se masturbado. Deste
inibições sexuais naturais, competiam desordenadamente na corrida modo, ele podería ter divertido a si mesmo pelo menos uma vez: estava
sexual, equipados com técnicas sexuais. A autodevoção à perícia sexual tão preocupado em ter o controle sobre suas parceiras sexuais que não
se tornou um substituto para o aprendizado de como relaxar com o prazer restava qualquer prazer para ele próprio. Ele era somente controle e
sexual. Eles se tornaram “especialistas” sexuais; ficou faltando nenhum prazer. A conquista, por si só, era a única excitação”.
sentimento sexual. Agora nos anos oitenta, vejo os veteranos da Conquista sexual — o que alguns homens chamam de “marcar
Revolução Sexual, cujo maior problema é não sentirem mais coisa pontos” — é a finalidade do Desempenho Sexual. Isto vira a sexualidade
alguma. de cabeça para baixo: torna a realização do ato sexual uma finalidade por
“Aprendi tudo que era preciso saber sobre sexo, durante a si só, em vez de tornar o ato sexual o meio para obtenção de um sexo
Revolução Sexual”, contou-me uma mulher. “A única coisa pela qual não gratificante. E, como no caso de muitas atividades voltadas para uma
me interessei foi em aprender a me divertir com isto. É quase como se eu meta, o Sexo Conquista é uma maneira pela qual muitos homens (e
personificasse uma amante perfeita, durante todo o tempo. Se eu fosse mulheres também) evitam o confronto com suas ansiedades sobre o
uma mosca no teto de meu quarto de dormir, assistindo a toda aquela procedimento no sexo. Analisando um Don Juan, você provavelmente
agitação e gemidos acontecendo lá embaixo, eu teria visto a mim mesma descobrirá um homem que se sente culpado por, simplesmente, sentir
como uma amante sensacional. Mas, enquanto isto, na minha cama, eu prazer com o sexo.
apenas vencia etapas, fazendo todas as coisas certas, mas jamais Don Juanismo é machismo levado ao seu extremo. Desde tempos
deixando as coisas realmente fluírem, aproveitando os bons momentos. imemoriais, faz com que um “Verdadeiro Homem” seduza a “Virgem
Instigada pela moda da liberdade sexual, esta mulher estava Esquiva”. Seu desempenho, como todos os bons desempenhos, começa
forçando a si mesma a executar atos de intimidade para os quais não com a aparência e roupas certas, gestos corretos (o encontro de olhares é
estava emocionalmente preparada. Em outra época, ela podería ter adiado também importante) e palavras certas (as chamadas “falas”, como um
o sexo até que tivesse uma melhor percepção de suas ansiedades sobre ator lendo suas falas) e culmina com os movimentos perfeitamente
homens e sexo; mas em plena Revolução Sexual, ela pulava para a cama coreografados de “Astro” do desempenho amoroso. Então, por que será
e conservava os homens à distância emocional de um braço, através de que apesar de toda esta perfeição, tantas mulheres conquistadas por esse
abraços de paixão não sentida. Ela estava fazendo sexo sem desfrutar Don Juans vêm a meu
dele.
O que todos estes especialistas em desempenho sexual têm em
comum é o fato de que vivenciam o sexo de fora para dentro: eles
começam pela técnica, com os movimentos certos, o olhar correto, o
controle perfeito, enquanto o prazer sexual — se existir algum — é o
resultado final de toda esta técnica. Mas o sexo que começa com nossos

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consultório dizendo que jamais conseguem realmente “se soltar” na cama seus próprios sentimentos sexuais. Você nunca pensou realmente em que
com estes Astros do Amor? se perdeu. Você se perdeu do sexo.”
“Ele era o tipo de amante sobre o qual sempre tivera fantasias Nos meados da Revolução Sexual, alguma coisa há mais foi perdida
contou-me uma mulher. “Ele sabia como apertar todos os botões certos de repente, para muitos desses homens: a emoção da conquista. Agora,
no momento exato. E eu ficava realmente ligada no início. Com o tempo, havia toda a disponibilidade sexual; as mulheres não precisavam ser
porém, fui tomada por esta horrível sensação de vazio e acabei por conquistadas, elas eram parceiras desejosas, indicando o caminho de suas
esfriar. No final, eu não chegava ao clímax e ele parecia louco, e toda a camas. E, subitamente, estes homens que eram escolados e experientes
noite terminava de maneira amarga. Me sentia horrível. Era como se eu nas artes da sedução e do amor, tiveram o tapete puxado sob seus pés.
tivesse perdido aquela oportunidade de ouro.” Eles não mais sabiam o que fazer. Sentiram-se perdidos e confusos, e
“O que você acha que estava faltando?”, perguntei. muitos deles sentiram-se castrados. A meta sexual fora embora e nada foi
deixado em seu lugar. Então, eles — ou pelo menos seus corpos —
A jovem mulher refletiu calmamente por um longo tempo. “Uma
desistiram completamente do sexo.
pessoa real”, ela disse por fim.
Quando alguém preocupado com desempenho sexual se casa, pode
Sim, uma pessoa real. acontecer algo muito parecido com isso. Ele fez sua conquista e, agora,
Para os próprios Don Juans, voltados somente para as metas, ela repousa na cama dele, uma parceira desejosa para toda a vida. E, de
algumas vezes é necessário um bom tempo para que consigam resgatar repente, a excitação acaba. Como é possível para ele fazer amor com uma
suas próprias “personalidades perdidas”. No meio dos anos setenta, um mesma pessoa para o resto da vida?
número crescente destes “heróis da conquista” vinham ao meu
consultório, sentindo-se sexualmente derrotados. Muitos deles
queixavam-se de que, algumas vezes, nem sequer chegavam ao climax.
Para eles, “uma ereção demorada” e levar suas parceiras ao clímax A Obrigação do Sexo
primeiro (de preferência muitas vezes) é a suprema conquista sexual. E,
assim, o sexo começa e termina com controle — controle de suas Um jovem e atraente casal, Jane e Edgar K., entraram em meu
parceiras e controle de si mesmos. A terrível ironia é que este controle consultório parecendo ambos desconsolados. Estavam casados há quatro
perfeito — ereção eterna — significa não chegar a clímax algum: um meses e só haviam feito amor duas vezes neste período.
“Amante Perfeito” não possui absolutamente qualquer satisfação sexual “Antes de nos casarmos, fazíamos amor três, quatro vezes por
pessoal. semana”, contou-me Jane. “Mas, a partir da nossa noite de núpcias, nossa
Eu receio que isto seja um sinal dos tempos porque, recentemente, vida sexual tem sido um desastre.”
tenho visto um bom número de homens que tem fingido seus próprios “Eu acho que você está exagerando demais em tudo isso”,
orgasmos — uma certa representação reservada às mulheres, até agora. interrompeu Edgar, nervosamente. “Me parece um pouco cedo para
“Simplesmente chega a um ponto em que já estou cansado e desejo julgarmos nossa vida sexual de casados.”
acabar logo com tudo”, contou-me um desses homens. “Então, fingindo, Infelizmente, era uma história com a quai eu já estava familiarizada:
me saio bem da situação sem torná-la desagradável para minha parceira.” o sexo mudara radicalmente, quando foi assumido um compromisso para
Ecos da “Esposa Agradecida”. toda a vida. Pode haver uma variedade de motivos para esta mudança
Outros homens se queixam de que estão perdendo seus interesses radical em nossos relacionamentos sexuais, a par-
sexuais e motivações, de que muitas vezes perdem sua concentração (e
algumas vezes suas ereções) no meio de um ato sexual.
“Parece loucura”, lamentou um desses homens. “O sexo sem- pre foi
a coisa mais importante da minha vida. Eu adorava sexo. E agora, ele me
abandonou.”
“Eu não creio que ele o tenha abandonado”, disse a ele. “Creio que
você o abandonou há muito tempo. Você não se envolveu o bastante com

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tir do momento em que um compromisso é assumido. tantos anos representando a menininha tímida. Durante muitas seções,
Mas, com Jane e Edgar, tive uma percepção bem exata do Edgar, em particular, resistiu a esta inversão: ele dizia que o fazia sentir-
se desconfortável e culpado. Dizia que não se sentia como um “homem”.
que dera errado: Jane era virgem, quando Edgar e ela fizeram
Mas, com o tempo, aprendeu a usufruir os prazeres de simplesmente
amor pela primeira vez, mas Edgar havia tido um grande relaxar e apreciar sensações sexuais pela primeira vez em sua vida. O
número de experiências sexuais com muitas parceiras, antes executor desapareceu, emergindo o apreciador.
de tê-la encontrado. Eu suspeitei de que com sua “Noiva Se os homens são os protagonistas sexuais antes do casamento, são
Inocente” conquistada para toda vida, a motivação sexual de as mulheres que, frequentemente, desempenham papéis depois do
Edgar se fora. Se ele não podia ver Jane como uma conquista casamento. Estes, porém, não são papéis principais, mas de coadjuvantes.
sexual, ele a via como uma obrigação sexual. E Jane Mesmo nesta era de direitos sexuais iguais para as mulheres, persiste nas
mentes de muitas mulheres o mito de que, após o casamento, o sexo
tampouco ajudava: ela ainda esperava que seu “amante
pertence ao homen, cabendo à mulher fazer sexo para a satisfação dele.
experiente” assumisse o controle. Edgar sentia-se Torna-se o dever dela, sua obrigação contratual, a Obrigação do Sexo.
impossibilitado de prosseguir com sua Obrigação Sexual. Do momento em que é colocada em seu dedo a aliança de casamento, ela
Este desequilíbrio é um fator muito comum em vários casamentos. abre mão do sexo, como seu prazer egoísta e começa a representar, para
O sexo é visto em extremos: ou um é o “conquistador” ou o outro é toda a vida, a “Esposa Zelosa”.
aquele a ser “conquistado”; ou um encena o papel de Astro do “De jeito nenhum!", posso ouvir muitas jovens mulheres pros-
Desempenho, ou outro, o de Desempenho Comandado — não há meio- testando. ‘ ‘Isso pode ter sido verdade para a geração de nossas mães,
termo. Mas, nos dois extremos, o atuante vê o sexo como alguma coisa a mas não para a nossa. ’’
ser feita para ou por seu parceiro e não simplesmente para sua própria Gostaria que estivessem com razão. Na verdade, no momento em
satisfação. que chegam ao meu consultório, muitas mulheres — jovens ou mais
Um homem assim geralmente não representa seu triste papel velhas — já atingiram o ponto de não suportar a Obrigação do Sexo.
sozinho: Muitas vezes este papel nada gratificante é apoiado por uma Estão prontas a abandoná-lo. Elas querem novamente sexo para elas.
parceira com grandes expectativas — e duras observações. A idéia de que Mas, antes de chegarem a este ponto, um grande número de mulheres já
um bom amante tem ereções eternas é reforçada por esposas queixosas de se deixou levar pelo papel de Esposa Zelosa, sem sequer perceber o que
que seus maridos são muito rápidos, e elas podem até mesmo gritar, acontecia. Mesmo em alguns dos casamentos mais liberados, onde os
quando eles ejaculam, “Você nunca me considera! Você só pensa em dois parceiros trabalham e dividem as tarefas domésticas e o cuidado das
você mesmo!” crianças, quando chegam ao quarto, as antigas encenações ainda estão lá:
É um desempenho perfeito o que ela está querendo, pois será um sexo é basicamente para o homem. Nove entre dez vezes, é o homem
desempenho perfeito o que ela terá. Raramente ocorre a ele que poderá quem inicia o sexo e, se sua mulhei o recusa, ela está em falta, e ele a faz
ter sua insistência para que ele “faça certo” poderá levá-los ao sentir-se culpada, com táticas que variam do mau humor às ameaças
Desempenho Sexual Perfeito cheio de ansiedades ocultas. intimidan- tes. E nestas raras ocasiões em que ela toma a iniciativa, não
Ao final de uma de nossas primeiras seções, sugeri a Edgar e Jane faz parte da obrigação contratual de seu marido satisfazê-la. Não, as
que tentassem os exercícios de toque não-genital, com Edgar repousando probabilidades são de que ela seja gentilmente reprovada por ultrapassar
completamente quieto, com Jane tocando-o e acariciando seu corpo. suas fronteiras, por pressioná-lo, por não representar o seu conveniente
“Você tem sido o sedutor durante todos esses anos”, eu disse a papel de passividade A comunicação desta idéia pode ser sutil — apenas
Edgar. um ligeiro olhar reprovador, um suspiro, um longo
“Agora é a sua vez de descobrir também como é bom ser o
seduzido.”
Não era fácil para Edgar tornar-se, de repente, um passivo
“apreciador”, após tantos anos sendo um “executor” ativo; nem era fácil
para Jane tornar-se ativa e responsável pela iniciativa no sexo, após
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silêncio — mas a mensagem é alta e clara: Seja uma boa esposa, cumpra sexo nas mesmas ocasiões, porque ela se sentia ligada somente no dia
o seu dever! seguinte àquele em que haviam feito sexo.
De forma semelhante, as escolhas sobre como farão sexo, tornam-se “Ela é simplesmente teimosa”, contou-me seu marido com um
prerrogativas do homem; ele decide quando, onde, por quanto tempo, sorriso, tentando fazer aquilo soar como uma brincadeirinha de sua
qual e em que posição. Ele pode não verbalizar suas preferências (de fato, esposa com ele.
ele provavelmente nem abre a boca), mas está claramente no controle do Mas não era brincadeira. Como descobrimos após algumas seções,
ela era uma mulher que jamais conseguia ter prazer total no sexo quando
sexo Ele é o “diretor” e ela é a fiel e ansiosa “subordinada”. A conversa à
estava apenas “cedendo”. Mas, tão logo se via livre de seu “dever”,
mesa do jantar pode ser sobre feminismo e igualdade sexuais, mas a
sentia-se livre para se divertir... no dia seguinte. Era a maneira pela qual
prática no quarto de dormir na maioria dos casos não difere muito
se recompensava por cumprir com sua Obrigação do Sexo.
daquela da Mamãe e do Papai. Paradoxalmente, muitas mulheres modernas têm que desempenhar
E como já vimos antes, o papel de esposa vem diretamente da papéis sexuais muito mais complexos do que suas mães jamais tiveram.
Mamãe. A mãe cuida das coisas; ela satisfaz as necessidades de todos. Estas jovens mulheres não sobem a escada zelosamente para “cuidar do
Ela prepara o jantar e lava as roupas, e o sexo é apenas mais uma de suas Papai” — um marido moderno não ficaria feliz se sua esposa
obrigações. Uma mulher contou-me que se recordava de sua mãe, se simplesmente ficasse ali, passiva. Não, a esposa moderna deve realizar
recolhendo mais cedo uma vez por semana, desculpando-se, dizendo, “eu um desempenho “receptivo”. Ela deve agir como alguém que está
preciso subir e cuidar de seu pai agora”. Cuidar! Ela estava simplesmente gostando do que faz — caso esteja ou não, na verdade. Porém, ela não
cumprindo mais uma de suas tarefas domésticas. E que proibição divina pode ser receptiva demais, ou seu desempenho será considerado como
sentir prazer com ela. “exigente”, e alguns homens particularmente competitivos ficam furiosos
Tradicionalmente, sexo era a maneira pela qual a mulher segurava se o desempenho “arrebatado” de suas mulheres excede os seus próprios.
seu homem, prendendo-o em casa e mantendo-o livre de depressões ou A mulher ideal deve se confrontar com um equilíbrio perfeito entre
raiva. Atuar sexualmente era a maneira pela qual ela administrava seu “abandono selvagem” e Esposa Agradecida. E o ponto máximo de seu
relacionamento e sua ansiedade sobre o relacionamento dos dois. Mas desempenho tem que ser seu orgasmo — novamente, caso ela tenha um
durante todo o tempo, ela estava apenas fazendo sexo — desempenhando ou não. Ela não pode correr o risco de um desapontamento ou fúria do
um papel — abrindo mão de ter sexo para sua própria satisfação também. marido, caso falhe em dar a ele a resposta sexua] máxima.
O que está implícito neste papel de esposa — seja para uma Mãe Fingir um orgasmo é uma boa maneira de não se ter um de verdade.
fora de moda ou para uma mulher moderna-porém-acomodada — é o fato Assim como realizar qualquer tipo de representação sexual é uma boa
de que sexo é “ceder”. É uma obrigação passiva, não um prazer ativo. maneira de não se sentir realmente sexual. Os Don Juans e as Esposas
Certamente, a maioria das mulheres que “cedem” todas as vezes que seus Zelosas não são, na verdade, muito diferentes uns dos outros: eles, em
maridos iniciam sexo, arranjam uma maneira de se divertir, uma vez resumo, dissociam seus sentimentos íntimos do “ato” sexual. Mas, a
começado. Mas com frequência elas nutrem um ressentimento, um Esposa Zelosa pode ter ainda muito mais do que apenas um mito contra o
ressentimento que pode crescer. Por que é sempre nos termos dele? qual deve lutar — ela pode ter a pressão permanente de um marido
Quando é ele quem quer? E todas aquelas oportunidades perdidas, Trabalhador Dedicado.
quando era eu quem queria?
A menos que isto faça parte de uma cena de comum acordo, do tipo
“venha seduzir-me” (ver Capítulo 13, Somente Quando ele é Bom),
muitas mulheres nunca aproveitam o sexo com prazer verdadeiro, quando
se trata apenas de “ceder”. A simples idéia possui uma conotação
negativa. Como uma mulher em um de meus grupos descreveu, “Como é
que eu posso me divertir, quando sei que estou fazendo aquilo somente
para que ele não fique de mau humor?
Um casal se queixava de que nunca estavam com disposição para o

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O Trabalhador Dedicado na Cama Brian balançou a cabeça, relutante, mas pude perceber que ele ainda
estava com raiva, e penso que sei o que o transtornava, ele supeitava de
Algumas mulheres que fingem ter orgasmos mantêm isto como um que sua esposa estava deliberadamente se contendo para com ele. Se ela
segredo para seus maridos enquanto, através de terapias e exercícios, não estava tendo orgasmos, ela o estava privando propositalmente de sua
aprendem a ter orgasmos de verdade. Ao final, quando estas mulheres safistação, ou pior, ela não o amava o bastante. Ele não conseguia se
não precisam mais fingir, os maridos frequentemente não percebem a livrar da preocupação com seu próprio desempenho, para poder enxergar
diferença. que, se Anna estava privando alguém do prazer, este alguém era ela
Deixo que minhas pacientes abram uma exceção quanto a um sexo própria. Ele havia se convencido de que se preocupava apenas com a
honesto e não direcionado para um desempenho, neste caso, porque satisfação de Anna; mas, na realidade, ele se preocupava apenas com seu
existem alguns homens que simplesmente não tolerariam tais inovações. próprio desempenho.
Isto os destruiría e a seus casamentos. Infelizmente, maridos (e esposas) com ansiedades quanto aos seus
Recentemente, desde a chamada “redescoberta” do orgasmo desempenhos, encaram cada confronto sexual como um teste
feminino, muitos homens com comportamentos direcionados para — e um fracasso em potencial. E muitas vezes eles manipulam o teste
desempenho, ficaram com idéia fixa em relação a isso. Eles tinham que para terem a certeza de que falharão. O teste pode simplesmente começar
dar a suas parceiras “O Grande O” — e eles tinham que fazer isto através com um: “Será que eu consigo fazer isto (ter uma ereção)?” Mas esta é
do ato sexual — ou se considerariam fracassos sexuais. Um “Amante apenas a preliminar. Em seguida vem: “Será que vou conseguir prolongar
Perfeito” proporciona um orgasmo a sua parceira, todas as vezes. É tanto por muito tempo, até que ela tenha um orgasmo, antes de mim? Ou, para
o seu fardo, quanto sua recompensa. Não é de se admirar que sua parceira que cheguemos juntos ao orgasmo?” As exigências para um desempenho
muitas vezes acabe fingindo. aprovado são crescentes, acompanhando nossas inseguranças. Conversei
Esta preocupação com o orgasmo para a esposa é puro Don com um homem com preocupação voltada para seu desempenho, cuja
Juanismo. É a maneira pela qual a perícia do desempenho invade nossas mulher frequentemente tinha múltiplos orgasmos. E ele, é claro, os
camas de casal e, frequentemente, torna marido e mulher muito infelizes. contava. Então, se ela tinha quatro orgasmos numa noite, e três na noite
Tenho conversado com homens que chegaram mesmo a se tornar infiéis seguinte, ele ficava contrariado. Talvez ele estivesse fazendo tudo errado!
porque suas mulheres não tinham orgasmos; eles precisavam provar sua Existe um antigo número de Lenny Bruce, no qual ele recorda que
competência como amantes. E tenho conversado com alguns homens que ouvia através da parede, enquanto seu irmão mais velho fazia amor com a
perderam o interesse sexual — ou pior, que se tornaram impotentes — namorada. Tudo o que o jovem Lenny conseguia ouvir eram sons que
porque suas mulheres não tinham orgasmos. Para esses maridos, o fato de pareciam a ele uma estranha canção vodu. Levou meses, até que ele
suas mulheres não atingirem o orgasmo é uma prova positiva de que eles percebesse que era seu irmão, perguntando repetidamente — então,
estão “fazendo tudo errado”. E as vezes em que fazem amor tornam-se garota — sua namorada, “É agora? É agora? É agora?” A namorada
lembretes do que eles consideram suas próprias deficiências sexuais. estava, certamente, tendo momentos muito pouco divertidos. Com tantas
Um casal, Anna e Brian G., haviam chegado a esse ponto, quando parceiras de amantes preocupados com seus desempenhos, ela estava
eu os vi pela primeira vez. sendo parte de um teste. O gol
“Eu me sinto tão culpado, todas as vezes”, disse Brian desapontado. — o clímax — significava tudo. E o processo — prazer sensual — era
“Como se eu falhasse para com ela. Ao invés de satisfazer Anna, tudo o apenas o meio de se obter este gol. Eu chamo estes amantes, com
que faço é torná-la mais frustrada.” preocupação voltada para seus desempenhos, de Trabalhadores
“Isto não é verdade”, protestou sua esposa. “Eu gosto de fazer sexo, Dedicados. Eles trabalham no sexo da mesma maneira que tra
mesmo não chegando ao clímax.”
Julguei ter visto uma ponta de raiva nos olhos de Brian, quando
Anna disse isso.
“Não acha possível que isto não seja sua culpa?”, perguntei a ele,
“que seja principalmente um problema com Anna?”
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balham em quase tudo em suas vidas: com dedicação, profissionalismo, Sabendo que sua esposa não se importava realmente se ele tivesse
lealdade, e com um olho na meta final. Sexo é mais um dever a ser bem orgasmos antes dela, ele teria dado o primeiro passo no sentido de
cumprido. O processo de realizá-lo não é nem de leve tão importante abandonar desempenhos — e todo o autocontrole que vem com eles — e
quanto vê-lo realizado. É simplesmente mais uma conquista. É claro que teria se voltado para seus próprios prazeres sexuais. Paradoxalmente, sua
existe pouca descontração e prazer sensual para esses Trabalhadores esposa teria começado a se divertir muito mais também.
Dedicados. E existe, frequentemente, pouco prazer sensual descontraído Outra mulher contou-me que seu marido estava tão preocupado com
para suas parceiras. ereções “eternas”, que ela muitas vezes fingia orgasmos “simplesmente
“Eu nunca sinto que ele está realmente ali,” confidenciou-me uma para se ver livre de toda aquela provação. É sempre uma maratona para
mulher. “Eu me sinto como se eu fosse algum video game que ele está ele. Como eu gostaria de uma bem rápida!”
jogando. Mexendo os botões, puxando as alavancas, tentando obter o Para estes casais, eu costumava recomendar o segundo exercício de
maior número de pontos no menor tempo.” toque, no qual cada parceiro tem um orgasmo por vez.
Uma queixa frequente entre as esposas de maridos Trabalhadores É fácil se ter ressentimentos para com um marido Trabalhador
Dedicados é a de que eles têm sempre muita pressa. Trabalhadores Dedicado, mas é difícil sentir-se raiva dele. Afinal de contas, ele está
Dedicados, em geral, não querem perder muito tempo com carícias e sendo tão altruísta. Ele está, ao que parece, tendo todo esse trabalho para
brincadeiras, principalmente se já têm uma ereção. Eles têm medo de o benefício de sua parceira, para o prazer dela. E na maioria dos casos,
que, se ficarem excitados por muito tempo antes de começarem com o ato ele não está agindo com a vaidade machista e o egoísmo óbvio de um
sexual, não conseguirão manter a ereção o tempo necessário para que Don Juan. A maioria dos Trabalhadores Dedicados trata da questão fazer
suas esposas cheguem ao orgasmo e isto seria o maior dos desastres; pois, amor com toda a delicadeza sincera e consideração atenciosa que podem
para os Trabalhadores Dedicados, chegar ao orgasmo antes de sua ser encontradas em sua outra metade, a Esposa Zelosa. Eles estão tão
parceira é sua “falta” pessoal. Uma triste ironia é que um grande número ocupados, “fazendo tudo certo”, quanto escoteiros trabalhando por
de esposas realmente não se importa se seus maridos têm orgasmos antes distintivos de mérito. Um Trabalhador Dedicado parece ser todo
delas. De fato, muitas até gostariam disso. A outra ironia é a de que, se sentimento e solicitude: “Você teve orgasmo?” “Foi bom para você,
estes homens não estivessem tão preocupados com ereções eternas, eles querida?”
realmente te- riam ereções mais prolongadas. A ansiedade quanto ao Mas será que ele é assim tão altruísta?
desempenho é a causa principal para a ejaculação prematura. O Trabalhador Dedicado está tão preocupado com controle quanto
“Foi maravilhoso vê-lo ser espontâneo, para variar”, contou-me uma qualquer Don Juan — controle sobre sua parceira e controle sobre si
mulher, descrevendo uma noite em que seu marido ej aculara enquanto próprio. Ele usa sua parceira para testar sua própria competência sexual.
eles estavam apenas acariciando um ao outro. “Ele perdera seu controle O orgasmo dela, acima de tudo, é para ele. O prazer dela é o instrumento
pela primeira vez. E o que eu posso dizer é que foi o melhor orgasmo que para a satisfação do ego dele, independente de quanto ele possa parecer
ele teve depois de muito tempo. Mas, em seguida, ele começou a se altruísta ao proporcionar este prazer a ela. E sua parceira acaba por sentir
desculpar e a fazer aquelas expressões de culpa e toda a graça acabou. isto. No final, os dois parceiros perdem o contato com seus próprios
Ele não conseguia acreditar que eu me divertira muito!’ sentimentos sexuais — sentimentos que se iniciam dentro deles próprios.
E um homem assim também não consegue acreditar que o sexo não E isto é o mais lamentável.
precisa ser interrompido no momento em que ele ejacula. Em vez de se
desculpar, este homem deveria ter continuado a acariciai sua esposa,
talvez levando-a, também deste modo, ao orgasmo. Este homem, porém,
era um Trabalhador Dedicado e o pano havia baixado durante a sua
atuação. Nenhuma prorrogação sensual após o espetáculo; o show havia
acabado.
Uma pena que ele não conseguisse acreditar em sua esposa; te- ria
sido um alívio estupendo tirar de seus ombros um fardo tão pesado.

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Desculpe-me, Sexo tentando passar por uma porta: “Você primeiro”; “Não, por favor, você
primeiro”; e finalmente, “Desculpe-me, eu fui o primeiro.”
“Eu sei que isso parece loucura”, disse-me uma mulher, “mas meu É o suficiente para fazer qualquer um gritar.
marido é simplesmente educado demais na cama. Justamente quando
começo a me soltar nas minhas sensações, ele diz, ‘Eu estou muito
pesado para você, querida? Machuco você? Você quer que eu vá mais
devagar?’ É como se estivéssemos em uma festa formal, e não em nossa Como Parecer uma Modelo de Vogue Enquanto
própria festinha. Ele é tão polido que tenho vontade de gritar.” Você Está Tendo um Orgasmo
Eu sabia exatamente o que esta mulher queria dizer. Maridos
Trabalhadores Dedicados e Esposas Zelosas podem levar suas Um dos maiores prejuízos abertamente causados pelos filmes com
“Delicadezas” até um ponto em que não sobre qualquer prazer cenas de sexo, foi o de nos dar uma idéia absurdamente gla- mourosa
espontâneo para os dois. Novamente eles estão representando um papel sobre como devemos nos comportar durante um orgasmo. Nenhuma
— um desempenho educado. contorção da boca. Nenhum revirar de olhos. Nenhuma careta ou gemido
“Durante muitos anos, eu fiz amor com minha esposa somente na animalesco. Todas nós devemos permanecer imóveis e profundamente
posição de Missionário, com a maior parte do meu peso sobre meus emocionadas, como Jane Fonda em um clímax no filme Coming Home,
cotovelos”, confidenciou-me um homem de meia-idade. “Eu havia lido
ou de olhar perdido e tão romanticamente enlevada como Debra Winger
em algum manual de casamento, anos antes, que esta era a melhor
no filme An Officer and a Gentleman.
maneira de tirar o próprio peso de sobre a esposa, para o conforto dela.
É impressionante como tantas mulheres se preocupam com sua
Jamais me ocorreu que ela poderia gostar mais de outra maneira.”
O comportamento educado no sexo — o que eu chamo de aparência durante estes desempenhos em especial — seus desempenhos
“Desculpe-me, Sexo” — leva a idéia do “fazer certo” a um extremo de clímax. Sempre há mulheres que me contam que se tornam inibidas
absurdo. Leva a etiqueta ao único lugar onde deveria ser completamente assim que estão se aproximando do orgasmo, porque elas “perdem o
esquecida: o quarto. Foram necessárias diversas sessões até que um casal controle” e isto faz com que pareçam feias. Elas temem ser rejeitadas por
conseguisse discutir sobre algo que os estava perturbando: “Depois que seus parceiros, porque deixam de ficar atraentes durante o orgasmo.
eu tenho um orgasmo”, contou o marido, “eu geralmente perco a ereção. O orgasmo é, de preferência, uma total perda de controle. Nós nos
Quer dizer, saio de dentro dela.” contraímos e gememos, contorcemos nossos rostos, e víramos nossas
“Sim, claro, qual o problema?”, perguntei. cabeças, quase da mesma maneira como quando estamos tendo um filho.
“Bem, ela geralmente diz, ‘Ah, eu queria que você ficasse dentro de E não, não é bonito — não no sentido cinematográfico. Mas um grande
mim’, e eu me desculpo, e nenhum de nós se sente bem com a situação.” número de homens e mulheres prefere muito mais ver a expressão de um
“Mas isto é o que acontece com a maioria das pessoas”, eu garanti a orgasmo totalmente natural e desinibido do que meros glamour e beleza.
eles. “O pênis, naturalmente encolhe e sai para fora.” Os suspiros e sons de um abandono total podem ser maravilhosos de se
Outro marido me perguntou,particularmente, se era “certo” contemplar. Conseguimos
continuar se movendo, enquanto sua esposa estava tendo um orgasmo.
‘ ‘Só existe uma pessoa que pode responder a você esta pergunta”,
disse a ele, “sua esposa. Tenho certeza de que ela não vai se importar se
perguntar a ela — mas seria bem melhor se você não fizesse esta
pergunta fazendo amor.”
O exemplo mais frequente que conheço de um comportamento
educado no sexo está relacionado ao momento do orgasmo — quem o
atinge primeiro. E não são somente os homens que se desculpam; muitas
mulheres terminam, dizendo que sentem muito por terem “demorado
demais” para chegar ao clímax. Para alguns casais torna- se quase uma
comédia de costumes, como duas pessoas extremamente educadas,
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ver um ao outro de uma maneira, que jamais conseguimos em qualquer outra situação. O resto é pura representação.

Sexo sem Encenação “Penso que sou naturalmente pervertida”, disse Tara, “e não consigo
modificar isso.”
Existem maneiras pelas quais muitos de nós desejam manter alguma Ela me contou que durante os últimos cinco anos de seu casamento
encenação em nossas vidas sexuais. Elementos de sedução podem que durou sete, ela foi sendo aos poucos levada à monotonia sexual com
acrescentar a tão necessária diversão, e mesmo recriar a emoção e seu marido. Tornou-se cada vez mais e mais difícil para ela ter um
aventura da conquista. Na Parte II, veremos como desempenhos orgasmo. Já no final, ela contou, “cedia” aos desejos sexuais do marido
programados podem nos impedir de cair nas rotinas sexuais sem graça e quase que só uma vez por mês — “e mesmo assim, somente porque me
imaginação. Mas, primeiramente, precisamos vivenciar as maneiras sentia terrivelmente culpada”. Enfim, por insistência dela, eles se
através das quais os controles e deliberações de um sexo voltado para separaram; “Sentia-me como se estivesse murchando e jogando fora
desempenhos, nos impede, e a nossos parceiros, de sentir puro prazer minha vida”, contou Tara. “Decidi que seria melhor estar só, do que me
fazendo amor. Isso começa, como sempre, com nossos sentimentos e sentir como uma tia velha assexuada, aos trinta anos.”
sensações sexuais básicos. Voltando a esses sentimentos, voltamos àquele Foi então que surgiu sua “perversão”: “David mudou-se e nós
ponto anterior ao início dos desempenhos e encenações. ficamos sem nos ver durante duas semanas. Então ele apareceu num
Para pessoas preocupadas com desempenhos, não existe melhor sábado para buscar nossa filha para um passeio e, quando ele a trouxe de
maneira de se reconectarem a esses sentimentos do que não fazer coisa volta e colocou-a na cama, disse a ele que ficasse para um drink. E
alguma. Um homem que fica deitado quieto, enquanto sua mulher o toca enquanto estávamos ali sentados, encarando um ao outro, perce- bi que de
e acaricia, não está controlando coisa alguma, pela primeira vez. Nenhum repente estava imaginando fazer sexo com ele. Não pude evitar e disse
desempenho, nenhuma conquista — apenas seu próprio prazer sexual. isso a ele, e logo em seguida estávamos na cama, fazendo o melhor sexo
Pode ser difícil para ele se manter tão passivo — o sexo sempre foi desde que nos casamos.”
iniciativa dele, alguma coisa que ele fazia acontecer. Mas, ao final, acaba A história de Tara não termina aí. No decorrer dos seis meses
fazendo com que um “Homem de Verdade” simplesmente receba prazer seguintes, sempre que David vinha aos sábados, faziam amor quen
sensual. Ele não precisa provar coisa alguma; ele precisa apenas se
divertir.

6
Excessivamente Próximos

Uma jovem mulher, Tara M., brilhante, porém muito confusa, veio ao
meu consultório e disse-me sem rodeios que ela julgava haver um
“problema muito sério” com sua sexualidade. Ela contou que ficava
sempre ligada “no momento errado”.

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te e desinibido, naquela que havia sido formalmente sua David queixou-se de que se sentia sempre solitário em seu
cama de casal, e Tara tinha orgasmos todas as vezes. Por relacionamento com Tara, que ela nunca parecia dar-se completamente a
ele. “Nunca sei como ela vai reagir comigo de um dia para outro, ela
volta desta época, ambos concordaram que era uma bobagem
parece tão isolada — tão reservada — que me sinto como se estivesse
continuarem vivendo separados — uma vez que o principal indo para a cama com uma esfinge.”
motivo para a separação deles havia sido uma vida sexual Tara e David estavam em sua Gangorra Sexual “Excessivamente
falha — e assim, David mudou-se de volta. Próximos/Excessivamente Distantes”: ela só conseguia fazer um amor
“Logo na primeira noite depois de sua volta”, contou-me Tara, “eu desinibido, quando sentia haver “um espaço para respirar” entre os dois: e
simplesmente congelei em termos sexuais. Quando ele me tocou, foi ele só conseguia fazer amor apaixonadamente, quando sentia estar “enfim
como um choque. E quando ficou sobre mim, senti-me como se estivesse penetrando em sua armadura”. Então, para o relacionamento dos dois, o
sendo fechada dentro de uma caixa — um caixão — com claustrofobia. E único equilíbrio eficiente foi o de viverem separados e fazer amor
é assim que tem sido desde então. E agora eu sei que se ele sair de casa apaixonado nas noites de sábado.
outra vez, vou me sentir ligada nele novamente. Se isto não é perversão,
eu não entendo mais nada!”
O comportamento de Tara pode parecer estranho, mas é também
muito comum. De uma forma ou de outra, muitos casais se desligam "Alguma Vez Você Teve a Sensação de que Você
sexualmente, quando sentem que estão ficando “muito próximos” um do Quer Ir Embora, mas Quer Ficar, mas Quer Ir
outro; e, quando recolocam alguma “distância” em seus relacionamentos, Embora ..."
começam a se sentir ligados novamente. Sem chegar aos extremos a que
chegaram Tara e David, muitos casais constroem um tipo semelhante de Tara e David estavam isolados sexualmente pela guerra contra a
distância dentro de seus relacionamentos, para evitar que suas vidas intimidade. Sempre que David se aproximava demais dela, Tara sentia-se
sexuais caiam em apatia: eles brigam e se reconciliam na cama; mantêm sufocada; quando ele fazia amor com ela (depois de esta- . rem morando
períodos de afastamento um do outro para em seguida ter “reencontros” juntos novamente), ela se sentia como se estivesse sendo fechada dentro
passionais. Para frente e para trás, eles prosseguem como ímãs de de uma caixa — “um caixão”, como ela o chamava. Sentia claustrofobia
brinquedo que chegam bem próximos e em seguida se “repelem” um ao sexual. David, por outro lado, sentia- se eternamente frustrado por jamais
outro. Algumas vezes, pode funcionar bem — um casal encontra um sentir-se “próximo o bastante” de Tara; ela sempre lhe parecia esquiva,
equilíbrio entre “proximidade” e “distância” com o qual conseguem especialmente na cama (exceto durante o período em que estiveram
conviver e que os mantém sexualmente ativos. E, algumas vezes, o separados). Ele se sentia “excluído” e solitário em termos sexuais. E é
desgaste e a incerteza de um relacionamento que está sempre oscilando claro que, quanto mais David buscava uma intimidade maior — “para
atinge um limite para um ou para ambos, e o casamento, como o de Tara penetrar sua armadura” — mais Tara se retraía e se desligava
e David, chega a um impasse. sexualmente. Quanto mais ela se retraía, mais ele a buscava; quanto mais
Mas se o temor de estar “excessivamente próximo” é uma das ele a buscava, mais ela se retraía. Ao final, eles haviam polarizado um ao
principais razões pelas quais acabamos nos desligando sexualmente, seu outro em posições onde não podia mais haver contato algum.
rival mais próximo é a frustração por “não se sentir próximo o bastante”. Na maioria de nossos relacionamentos, existem componentes do
E esta, como se podia esperar, era justamente a maior frustração de relacionamento de Tara e David. Um parceiro é mais “o perseguidor”, o
David. outro, mais “o perseguido”. Um dos dois diz que ele ou ela quer possuir
“Sempre me senti como se Tara se esquivasse de mim, quando eu a mais o outro, quer que o outro se revele mais, que seja mais “aberto”; e o
tocava na cama, exceto naquela época, quando estivemos separados, é outro parceiro quer mais “espaço” e
claro”, contou-me David. “É como se eu nunca pudesse tê-la para mim de
forma completa. Você já ouviu falar em ter um pé fora de casa — bem,
Tara sempre parece ter um pé fora da cama.”
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privacidade, não quer se sentir adulado ou oprimido por excesso de
Um Parceiro Diz O Outro Parceiro Diz
agrados. Naturalmente, estes sentimentos também têm seu lugar no sexo:
“Você não é receptiva.”
um parceiro deseja “possuir” sexualmente o outro, deseja que seu parceiro
“Você é carente demais.”
ou sua parceira seja mais “dado” e receptivo, mais aberto em termos
sexuais. Geralmente, este perseguidor é aquele que tem a iniciativa no
“Você está me evitando.” “Você é tão auto-indulgente em
sexo com mais frequência — e que, com mais frequência, é rejeitado. E o termos sexuais."
outro parceiro sente-se sexualmente importunado, sempre “atacado” e
“solicitado”. Ele ou ela geralmente inicia o sexo menos freqiientemente, “Se você me amasse, você ia querer “Você é importuno e valentão.”
se é que o faz, e sente em geral raiva ou culpa (ou ambos), por ter que se fazer amor com mais frequência."
esquivar dos avanços sexuais do outro. “Você não respeita meus
O diálogo proferido (ou não) entre estas duas posições é quase que “Você é sexualmente egoísta.” desejos sexuais.”
esquemático:
Elementos deste diálogo são “Se você me amasse, você me
provavelmente familiares a todos deixaria em paz até que eu
O Outro Parceiro Diz nós. Pode haver algumas variações: tivesse vontade.”
Um Parceiro Diz uma mulher, por exemplo, pode
“Preciso de mais espaço entre sentir que seu marido não é “Não, você é sexualmente
“Preciso me sentir mais perto nós.”
sexualmente “aberto” ou “descon-- egoísta.”
de você.”
traído” o bastante , mas, ao mesmo
“Preciso estar comigo mesma de
tempo sente que ele é por demais
“Eu nunca recebo o bastante de vez em quando.”
você.” agressivo e exigente sexualmente — um importuno e um valentão sexual.
A dinâmica, porém, permanece a mesma em sua essência.
“Sinto-me atacada por você.”
“Sinto-me repelido por você.” A chave para um relacionamento que funcione é a do equilíbrio e
“Você é curioso demais.” flexibilidade entre estes papéis — e não a polarização. Em um
“Você é reservada demais.” relacionamento maduro, nós passamos de “perseguidor” a “perseguido” de
“Você espera demais de mim tempos em tempos; damos a nossos parceiros “espaço”, quando é
“Você não é expansiva — você — você não respeita minha necessário, e damos “proximidade”, quando isto é o necessário. E o mais
guarda seus privacidade.” importante é que nós não tentemos forçar nossos parceiros a nos dar ou
sentimentos.” mais espaço, ou mais proximidade. Uma atitude de jogo de poder, de força
“Sinto-me adulada, quando estou ou exigência contribui para afastar-nos um do outro, como o fez com Tara
“Sinto-me só, quando estou com você.” e David.
com você.” Tara encarou todo o comportamento de David como um sinal de que
“Eu conheço você demais — você ele estava se aproximando demais — ela se sentiu sufocada simplesmente
“Você parece uma estranha é familiar demais para mim.” por estarem vivendo na mesma casa e sentia-se atacada sempre que ele a
para mim.” procurava na cama. Assim como muitas pessoas jovens e no início da
O diálogo prossegue no quarto: meia-idade, hoje em dia, ela sofria de um

“Você é fria.”

“Você não é bastante descontraída sexualmente.”


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medo exagerado da intimidade. E no caso de Tara, assim emocionalmente insegura— “esquisita”. E, de fato, como uma viciada em
como para tantos de nós, sob seu medo de estar ficando drogas, ela tinha medo de ficar “dependente” de David; ela tinha medo de
se tornar uma criança dependente, de novo.
“próxima demais” reside um medo básico de estar “sentindo Tanto os homens quanto as mulheres estão sujeitos a temer
demais”. Quando exploramos aos poucos os sentimentos de “sentimentos excessivos” em relação ao sexo e, como consequência a
Tara, ela disse isto a mim: temer a perda do controle sobre eles próprios. Mas sexo, na sua melhor
“Quando eu por fim forcei David a sair de casa, naquela ocasião tive forma, é perda de controle — é deixar que nossos sentimentos sexuais
a reação mais estranha. Por um ou dois dias me senti realmente aliviada tomem conta de nós, fazendo desaparecer nossas inibições sexuais.
— como se pudesse respirar novamente. Mas, depois, comecei a sentir a Entretanto, temos medo de nos tornarmos criancinhas novamente —
horrível sensação de que ele havia abandonado a mim. E eu dizia a mim crianças pequenas, dependentes e bobas, se perdermos o controle. É o
mesma: eu sempre soube que ele me deixaria. Tinha mesmo que mesmo temor que nos impede de gritar — especialmente na frente um do
acontecer. Eu conseguia de fato me convencer disso. Então, quando ele outro.
começou a vir nas noites de sábado, eu o desejava desesperadamente — é
Este temor pode existir a um nível puramente físico: um homem que
como se eu desejasse David para me provar que ele ainda me amava,
veio me ver, queixou-se de que jamais conseguia relaxar na cama; sentia-
fazendo amor comigo de modo apaixonado.”
se sempre amarrado. Podia funcionar de forma correta, ele me disse, mas
Para a maioria de nós, o medo do compromisso é realmente nosso
medo da perda. Como crianças com medo de serem abandonadas por seus jamais se soltava completamente. Contou que seus orgasmos nunca eram
pais, temos medo de que se nos envolvermos demais, se ficarmos de fato satisfatórios — nunca os sentia completamente. Perguntei a ele se
excessivamente “próximos” de nossos parceiros, nós os perderemos com podia se lembrar de alguma ocasião na qual ele havia se soltado
certeza — e perderemos o mundo inteiro também. Rejeitando-os, completamente; ele afirmou que sim, mas foram necessárias muitas
manipulamos nosso terror de sermos rejeitados. Exigindo “espaço” semanas para que ele se recordasse — e admitisse — o que acontecera em
manipulamos nosso terror de sermos abandonados. Somos como aquele uma destas ocasiões, quando ele se soltara completamente nos seus
homem que só conseguia conviver com seu pavor por alturas morando no sentimentos sexuais:’ “Foi com minha namorada na universidade, e bem
topo de uma montanha. no meio do meu orgasmo eu — bem, soltei um gás. Eu não pude evitar. E
Uma consequência do nosso medo de perdermos nosso parceiro é fiquei mor- tificado. Acho que comecei a me desculpar ou coisa assim.
nosso medo de perdermos a nós mesmos. Tara me disse que ela sentia Lembro que terminamos o namoro pouco tempo depois disso.”
como se caso “ela se desse completamente” a David, jamais se teria de “Mas o que aconteceu não é incomum”, disse a ele, o aperto do
volta. Seria totalmente sobrepujada pelo excesso de cuidados dele — o esfíncter anal — e a passagem de ar — é uma reação normal de reflexo,
que significa que seria totalmente sobrepujada pelo amor e dependência no momento de um forte orgasmo. Tenho certeza de que foi embaraçoso
que sentia por ele: mas, de certa forma, foi um elogio.”
“Quando fazíamos amor naquelas noites de sábado”, contou- me Supõe-se que adultos não soltam gases na cama, nem gritam, nem
Tara, “eu me soltava completamente. O céu era o limite. Eu era totalmente gemem — isto é o que as crianças fazem. Assim, inibindo este reflexo,
dele. Algumas vezes eu tive três ou quatro orgasmos — cada qual mais este homem estava inibindo seus orgasmos. Para não correr o risco de ser
delicioso e arrebatador que o anterior. Mas então, como o funcionamento uma “criança boba”, ele estava negando a si próprio sua satisfação sexual.
de um relógio, eu me senti finalmente arrebatada em excesso. Como se
De uma maneira semelhante, muitas mulheres que conheço jamais
caso ele ficasse e nós fizéssemos amor novamente na noite seguinte e na
relaxam completamente no sexo, porque elas têm medo do que poderão
seguinte, eu fosse ficar totalmente a sua mercê — quase uma escrava. Eu
fazer no meio de um orgasmo — gritar, gemer, chorar, vi-
me sentiría esquisita — como uma viciada em drogas ou coisa assim. E
então, que alívio seria quando ele fosse embora pela manhã Eu estaria
bem novamente.”
Em essência, Tara tinha medo de perder o controle sobre si mesma
— um medo que quase sempre se manifesta no quarto de dormir.
Totalmente rendida aos seus sentimentos sexuais, sentia-se
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rar os olhos, ou fazer xixi. Novamente, tudo isso pode fazer parte de semelhante, de forma menos extremada: jogamos um jogo contínuo de
“soltar-se”, mas o medo da perda de controle vence tudo: essas pessoas se malabarismo um com o outro. Nós brigamos; um dos parceiros ameaça ir
negam à satisfação sexual, porque não querem parecer bobas ou feias — embora para sempre; e então, com um pé fora da porta, caímos nos braços
crianças fora de controle. um do outro — e na cama.
Tara tinha o medo especial de, com a sua perda de controle, tornar-se Segundo contou-me uma mulher, “Sempre que chegamos naquele
sexualmente dependente de seu marido. Ela se tornaria “viciada” — uma ponto de uma discussão, em que um de nós decide que o casamento não
“maníacasexual”. A níveis diversos, muitas mulheres sofrem deste medo tem futuro, que não faz qualquer sentido prosseguirmos juntos, chegamos
— mais mulheres do que homens, creio, porque as meninas são mais ao ponto onde fazemos o melhor dos sexos. Na verdade, é o único sexo
frequentemente advertidas sobre os perigos do “ceder” e do “soltar-se”. E realmente bom que temos.”
uma mulher que cresce contendo seus sentimentos sexuais, começa a Muitas vezes, as brigas são o mais poderoso afrodisíaco no
acreditar que, se ela se soltar, o “inferno” terá início: ela jamais será capaz casamento. Libertam nossos sentimentos ruins, que impedem nossa
de interrompê- lo. Mitologicamente, uma jovem mulher foi ensinada a aproximação um do outro; deixam nossos ânimos fluírem; e estabelecem
permanecer ligada para sempre ao homem que lhe tirou a virgindade. algum “espaço” entre nós. Contudo, as brigas que sempre terminam em
“Uma mulher jamais supera realmente a primeira vez”, prossegue o mito. um jogo político, geralmente trazem prejuízos: às vezes nos tornamos
“Ela fica presa a esse homem para o resto de sua vida.” É um mito
emocionalmente desgastados por todos os altos e baixos e passamos a
conveniente do ponto de vista dos homens: se uma mulher acredita nele,
aspirar por um pouco do conforto e segurança pelos quais, em princípio,
se torna uma autocompensação — ela nem mesmo vai pensar algum dia
em se separar do homem que a deflorou. Mas, nem por um só minuto buscamos no casamento; ou finalmente enjoamos de nossos próprios
acredito que este seja um mito verdadeiro: a maioria das mulheres com as melodramas.
quais converso, recordam-se da primeira vez como uma experiência Isto foi o que aconteceu com a mulher que mencionei acima. “O
principalmente dolorosa e sem muita excitação sexual; essas mulheres não problema é que”, ela me disse, “com o passar dos anos a rotina começou a
se sentem de forma alguma “presas” ao seu primeiro amante. Entretanto, o se desgastar. Era tão previsível que já não funcionava mais. Depois de
mito está em nossas mentes e com ele vem a idéia de que as mulheres são algum tempo, quando ele dizia, ‘Já chega, eu vou embora!’ eu pensava,
capazes de se sentirem “presas” sexualmente a um homem, e que a ‘não, ele não vai. Daqui a três segundos ele vai me fazer um carinho e me
dependência delas em relação aos homens sairá de seus controles. beijar.’ Toda a sensação de perda se fora e nós ficamos sem qualquer sexo
Um exemplo extremo deste temor — um sobre o qual muitas bom.”
mulheres me confidenciaram — é o temor de que nós somos, bem no Sem ao menos a ameaça da separação, o sexo era desanimado,
íntimo, verdadeiras ninfomaníacas. Uma feliz consequência do feminismo exatamente como o era para Tara. Quando David voltou a viver com ela,
e da Revolução Sexual foi a de que esta absurda palavra — ela se sentiu desligar do momento em que ele a tocou. Mas é claro que
“ninfomaníaca” — realmente desapareceu de nossa linguagem comum. Tara estava se autodesligando; era seu único modo de conviver com a
Em sua época, esta palavra se referia às mulheres sexualmente insaciáveis ameaça da intimidade. A técnica de Tara para se desligar era o método
— que desejavam sexo com qualquer um, a qualquer hora, como certos testado-e-aprovado da “lista negra”:
homens, sobre os quais acredita-se que desejam sexo com qualquer uma, o “Logo que David se deitava na cama, no mesmo momento eu
tempo todo. Contudo, ainda pesa sobre muitas mulheres o fardo que começava a pensar sobre todas as coisas que não me agradam nele”, Tara
provém desta idéia. Assim como Tara, elas carregam o temor de que se me contou. “Coisas grandes e coisas pequenas. Que ele
realmente se soltarem, tornar- se-ão insaciáveis — viciadas em sexo.
O medo de Tara — perder o controle — se manifestava em um
cenário absurdo: ela só se sentia ligada a David se sabia que ele iria logo
embora. Isto tornou impossível um casamento de verdade com ele.
Entretanto a história dela não é assim tão incomum: frequentemente ouço
falar de casais que deixam seus processos de divórcio para trás e vão
diretamente para a cama mais próxima.
Existem muito de nós, porém, que representam uma situação
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fuma demais. Que ele dança mal. E coisas físicas também: como o sinal que o outro se preocupa com ela.
de nascença em seu pescoço. Eu olhava bem para ele, e me sentia “Se ele realmente me amasse, ele estaria ali comigo”, elas dizem. “Se
revoltada. Claro que naquelas noites de sábado, eu costumava beijá-lo ele realmente se importasse, ele teria vontade de falar comigo.”
exatamente naquele ponto.” Contestados por seus maridos ou esposas, o Parceiro Silencioso
Tara precisava encontrar uma maneira pela qual ela pudesse geralmente possui um catálogo completo de contra-argumentos:
responder sexualmente a David, e ao mesmo tempo conviver com ele, mas “Eu me comunico de outras maneiras”, ele ou ela podem dizer. “Eu
a única maneira pela qual ela conseguia isto, era estabelecendo algum falo o dia inteiro, mas é somente quando vou para a cama que posso
“espaço” — e o controle que obtinha com este — entre eles. Se ela relaxar e me comunicar apenas com carinhos.”
estivesse dando um passo na direção de David, ele deveria dar, pelo Ou, seguindo uma linha similar, ele ou ela podem argumentar: “Falar
menos, meio passo atrás, se afastando dela. é bobagem. Se você fala, pode tirar a magia do sexo.” Ou
simplesmente:
“Eu não sou do tipo verbal. Nunca falo muito, por que eu deveria de
repente me modificar na cama?”
A Solidão do Amante à Distância Uma outra linha de defesa segue desta forma:
“Nós conhecemos tanto um ao outro agora, que não precisamos falar.
“Jamais senti como se tivesse o bastante de Tara”, David comentou E você bem sabe o quanto a amo, sem que eu tenha que ficar repetindo
comigo. “Ela parece sempre recolhida, como se estivesse guardando uma isso o tempo todo.”
Ou, finalmente, de acordo com Tara, ele ou ela pode dizer apenas:
parte importante de si mesma. Ela não partilha de verdade seus
“Preciso de meu próprio espaço.”
sentimentos comigo. E, quando fazemos amor, às vezes tenho a sensação
de que estou fazendo tudo sozinho. Ao invés de um pas de deux, eu estou ***
lá, fazendo um solo.” Sinto profunda pena da solidão em que vivem estas esposas e
Ouço queixas como as de David quase todos os dias, provavelmente maridos de amantes distantes. Uma vez que vemos o sexo como a maior
mais frequentes da parte de mulheres do que de homens. Falam de sua “experiência compartilhada”, ela pode se tornar a experiência de. maior
intensa solidão com seus parceiros, especialmente na cama. De modo isolamento para nós, quando sentimos que nosso parceiro não está ali
típico, falam da sensação de fazer amor com um “Parceiro Silencioso”: do “presente”. E fazer amor, noite após noite, com um parceiro que está tão
instante em que ele vai para a cama, é como se fosse mudo, contou-me preocupado com seu próprio “desempenho”, a ponto de negar
uma mulher. “Ele não profere uma única palavra, até que tudo esteja virtualmente nossa existência, pode se tornar a mais solitária das
terminado, e aí é qualquer coisa como ‘Isto foi ótimo, querida. Boa noite.’ experiências. Similarmente, se, assim como David, sempre sentimos nosso
E eu tenho vontade de dizer, ‘Bom para você, mas uma droga para mim. parceiro se afastando de nós — física ou emocionalmente — sentimos
Tudo que sinto é um vazio.” rejeição e também solidão.
Um Parceiro Silencioso não é apenas incomunicável, em geral ele Mas, talvez muitos de nós esperem e exijam de seus parceiros um
fecha os olhos, assim como sua boca, tão logo se iniciam os grau absurdo de proximidade. Se, por exemplo, estamos casados com
procedimentos sexuais, e se ele chega a beijar sua parceira, é uma vez no alguém que não expõe com facilidade seus sentimentos para qualquer
início e uma vez no final, antes das palavras de “despedida”. situação da vida, não me parece justo esperar-se desta
“Ele é tão absorto em si mesmo que não sinto como se de fato
houvesse alguém ali”, contou-me outra mulher. “Ele poderia estar fazendo
aquilo com qualquer outra, pela ausência total de contato pessoal entre
nós. Deste jeito, ele poderia se masturbar com uma boneca infláveL”
Não só essas mulheres se sentem solitárias, como se sentem também
usadas — como se fossem meros objetos sexuais, e não pessoas. E o que
faz falta a todas estas pessoas — homens e mulheres — é o sentimento de
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pessoa uma súbita expansão na cama — injusto com nosso parceiro, mas, David sentia-se “excluído” por Tara, e com boas razões: ela somente
especialmente, injusto conosco, porque contribuímos para que, no final, se aproximava quando ele estava prestes a partir. Porém, como acabei por
nos sintamos sempre sós e deseprezados. E talvez muitos de nós descobrir eventualmente, o relacionamento dos dois não tinha sido sempre
reivindiquem confirmações de proximidade e compromisso muito além do assim. De acordo com o que se revelou, David teve sua participação no
necessário: o seu parceiro precisa realmente proferir juras de amor todas afastamento de Tara. Desde o princípio do relacionamento dos dois, ele
as vezes em que ele ou ela vai com você para a cama? Olhe para trás e exigia dela uma grande intimidade.
considere toda a vida que têm juntos — ela, por si só, já não responde às “Sempre tive esta idéia de que duas pessoas apaixonadas deveríam,
suas necessidades de reafirmação? de certa forma, se ‘fundir’ uma com a outra,” contou-me David, “mas, eu
Se nós estamos com uma necessidade especial de proximidade e não sentia isto acontecer. No meio de qualquer coisa — um jantar, ou no
contato, temos a tendência de levar incidentes a proporções in- carro — eu simplesmente perguntava a ela o que ela estava pensando
controláveis. Encaramos uma semana de distanciamento de nosso parceiro naquele exato momento. Ou, então, eu era capaz de interromper qualquer
como um retrato de todo o nosso relacionamento, em vez de situação — até mesmo sexo — para perguntar a ela exatamente o que
considerarmos que nosso parceiro está passando por alguma fase difícil, estava sentindo naquele instante. Nem é preciso dizer que Tara se calava,
ou simplesmente uma fase em que está precisando de seu próprio espaço. quando eu agia assim.”
Precisamos tentar ver nossos parceiros como pessoas separadas de nós, Nada pode nos tornar mais introspectivos do que uma solicitação
com variações emocionais e de humor que não estão relacionadas a nós, insistente de proximidade. E inconscientemente David sabia disso.
em vez de sucumbirmos às nossas próprias inseguranças. Silêncio nem Exigindo intimidade, ele estava na verdade, manipulando seu próprio
sempre significa rejeição — geralmente é apenas uma necessidade medo da intimidade — ele sabia que isto a afastaria. Nós descobrimos isto
pessoal. Precisamos aprender a deixar nossos parceiros a sós durante quando David finalmente fez uma revelação sobre aquelas noites de
algum tempo — apenas para permitir que sejam, e que sejam eles sábado, “loucamente sensuais”, durante a separação dos dois:
próprios. E para fazermos isto, precisamos abandonar a idéia de que um “Era como se ela fosse uma mulher totalmente diferente naquelas
dia conseguiremos finalmente modificar nossos parceiros — a idéia de noites. Ela não só fazia coisas que nunca havia feito antes, como dizia
que temos o poder de “construir” ou “destruir” a vida de nossos parceiros. coisas que nunca havia dito antes — e algumas vezes, não apenas dizia,
Nós não podemos “construir” nada, exceto nós mesmos. como também gritava! Ela dizia coisas como ‘Meu Deus, isto é ótimo!’
A maior parte do meu trabalho consiste em auxiliar as pessoas a se ou, ‘Parece que estou flutuando nas nuvens’ ou ‘Eu poderia engolir você
modificarem elas próprias — a descobrirem e redescobrirem seus vivo.’ Era maravilhoso — mas, quando chegava finalmente a hora de ir
sentimentos e a expressá-los; a encontrar novas formas de embora, eu me sentia um pouco aliviado. Sentia-me como se tudo aquilo
correspondência de um com o outro — pois afinal acredito que a fosse, de certa forma, demais para mim, como se não pudéssemos viver
verdadeira intimidade é obtida quando simplesmente somos nós mesmos assim, noite após noite, ou eu ficaria totalmente desgastado — quero
um com o outro. E do ponto de vista sexual quando permitimos que dizer, emocionalmente. Depois que me vestia e saía pela porta, sentia-me
nossos parceiros sejam eles próprios. Isto é válido sim como em qualquer livre.”
outro setor de nossas vidas. Se, por exemplo, nosso parceiro ou parceira se Existe um antigo provérbio beduíno que diz: “Cuidado com o que
expressa com gemidos e lágrimas no orgasmo, sinta prazer com isto. E se você desejar, porque você certamente irá conseguir.” Após solicitar tanta
nosso parceiro ou parceira se expressa com respiração ofegante e olhos intimidade de Tara durante todos aqueles anos, quando David finalmente a
fechados, sinta prazer com isto também — porque isto é o que ele ou ela conseguiu, sentiu-se dominado. É uma inversão que constato
é. Além do mais, é um erro sempre se exigir que o sexo seja a mais frequentemente em terapia: a esposa ou marido
elevada intimidade partilhada — o sexo pode ser também muitas outras
coisas, incluindo simplesmente a satisfação de uma pura necessidade
física E naquelas ocasiões em que é apenas uma necessidade física, não
temos que sentir solidão — podemos sentir simplesmente prazer.
Mesmo assim, este sentimento de solidão pode persistir.

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que tem que “puxar” seu parceiro para a terapia é, muitas vezes aquele perfeição”.
que é, em última análise, o mais “fechado” dos dois. Mas até que atinjam O sexo mostrou-se muito longe da perfeição, tanto para Alice quanto
este ponto, os que solicitam se mostram aptos a manter seus parceiros à para Carl. Desde o início, Carl foi sexualmente relutante: ele dizia que
distância de um braço, através de suas insistências para uma maior queria “preservar” o sexo até que se casassem porque ela era “especial”.
intimidade. Isto surpreendeu Alice: Carl já tivera muitas experiências sexuais — a
A “psicomania” das psicoterapias pós-anos sessenta, infelizmente maioria de uma noite — antes que ele encontrasse Alice, e ele sentia que o
nos ajudou a aplicar esse truque em nós mesmos e em nossos parceiros. sexo jamais significara problema para ele. “Eu julguei que se ele me
Insistindo em que nossos parceiros deveríam “deixar tudo às claras, nós amava tanto assim, o sexo seguiría seu curso natural”, contou-me Alice.
encobrimos nossos próprios medos de intimidade com uma conversa sem Isto não ocorreu, mesmo depois do casamento. E quando conversei
fim sobre “como realmente nos sentimos”. Por fim, criamos uma parede com Carl, comecei a compreender porquê.
verbal de falsa intimidade, que é mais difícil de penetrar do que se nos “Alice é minha melhor amiga”, disse Carl, “a melhor que jamais tive.
fecharmos em silêncio. Sinto-me incrivelmente próximo dela — mais próximo do que qualquer
David, ao que parecia, necessitava de algum espaço próprio, um de meus amigos se sente em relação às suas esposas. E, vindo de uma
exatamente como Tara. Agora, ambos podiam começar a se aproximar um família unida, isso é muito importante para mim. Então, decidi que não
do outro, através de algum afastamento, de um controle consciente e do importava se nossa vida sexual não era muito animada — era um preço a
respeito pela distância de que ambos precisavam.
pagar. Era preferível abrir mão de um ótimo sexo, para poder ter uma
companheira perfeita. Além do mais, o melhor dos sexos significa apenas
uns poucos minutos de prazer de vez em quando, e a verdadeira
intimidade é para sempre.”
O Companheiro Ideal Assexuado
Em última análise, contudo, intimidade sem sexo mostrou-se
insuficiente para os dois. Exatamente como os famosos Companheiros
Muitos de nós crescem com o ideal matrimonial de ser um
Perfeitos da literatura Virginia e Leonard Woolf, partilhar tudo, exceto
“Companheiro Perfeito”. Nós havemos de encontrar nossa “metade
sexo, levou Carl a procurar sexo fora do casamento. Esta solução porém,
perfeita” e, através dos anos, obteremos a “intimidade total” com ele ou
como acontece com a maioria de nós, acabou causando mais dor do que
ela.
prazer.
“Quando eu era uma adolescente”, contou-me uma mulher, Alice K.,
“eu costumava sonhar acordada sobre encontrar um homem que pudesse
me compreender perfeitamente desde o primeiro instante. Ele saberia
exatamente como eu me sentiría a respeito de todas as coisas, sem precisar
perguntar; ele seria capaz de ler minha mente. E, é claro, este seria o
A Morte do Amante Misterioso
homem com quem me casaria. Bem, quando conheci Carl na universidade,
No caso de Alice e Carl, foi ele quem sentiu os efeitos de des-
algo muito parecido com isso realmente aconteceu. Nós dois fazíamos o
sensibilização sexual causados por excesso de proximidade, embora, no
mestrado em História da Arte, e nos especializavamos em pinturas pré-
início, ele não percebesse isso. Mas, desde o princípio, ele me forneceu
Rafael. Nós dois adoravamos comida indiana e Erik Satie e Nantucket —
pistas para o seu problema: contou que valorizava sua proximidade com
e a lista era grande. Era emocionante. Não podíamos conter a idéia de
Alice, porque como filho único de mãe divorciada, havia desenvolvido um
como tínhamos sorte por termos encontrado um ao outro. Recordo- me de
relacionamento muito próximo com sua
uma vez em que saímos do cinema, um filme de Truffaut, e simplesmente
olhamos um para o outro e sorrimos: Não precisavamos dizer coisa
alguma; sabíamos exatamente o que o outro pensava sobre o filme. Penso
que foi naquela noite que senti que iria me casar com Carl. Não havíamos
feito amor ainda, mas creio que imaginei que também seria uma

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mãe; assim, era compreensível que ele, inconscientemente, visse a suas respostas sexuais para Carl, por estar totalmente concentrada nele E
intimidade como uma espécie de Amor Familiar, oposto ao Amor Sexual. Carl percebera isto também: ele se ressentia por ela não lhe corresponder
Para ele, sentir-se próximo a alguém significava que ele deveria se sexualmente; ‘Alice é tão meiga", ele disse, “que se torna fria.”
desligar sexualmente, como foi preciso fazer com sua mãe. Alice e Carl estavam tão fechados em sua intimidade que haviam
Após diversas seções, Carl admitiu que havia algo mais que o inibia deixado o sexo de fora. Minha tática, como veremos depois, foi ajudá-los
em relação à Alice: nós já éramos bastante parecidos um com o outro a se tornarem um pouco mais “estranhos” um para o outro, ajudá-los a
quando nos conhecemos, mas, com o passar dos anos, nos tornamos ainda parar de se concentrarem tão intensamente um no outro, de modo que
mais parecidos. Acabamos por moldar um ao outro à nossa própria pudessem começar a se concentrar no sexo. Todos dois tinham que
imagem — até fisicamente. Como Alice, que ergue uma sobrancelha aprender a ser mais egoístas do ponto de vista sexual de modo que
quando acerta alguma coisa — exatamente como eu. É uma expressão que pudessem corresponder melhor um ao outro. Colocando alguma distância
ela adquiriu desde que nos casamos. Algumas vezes, quando olho para entre eles, eu estava certa de que se aproximariam mais um do outro — na
ela, me sinto como Narciso, mirando a própria imagem no lago. Mas não cama.
creio que sou realmente Narciso — eu não quero fazer amor comigo
mesmo. Quando eu faço amor, quero poder esquecer de mim."
Carl havia tocado em um dos principais pontos que explicam porque
o excesso de intimidade pode matar nossos sentimentos sexuais em um Deixe o Sol Entrar
relacionamento: Pode matar o componente da fantasia de nossa
sexualidade; pode matar o Amante Misterioso em todos nós. O fim do sexo indicara o fim do relacionamento de Alice e Carl,
Parte da excitação encontrada por Carl no sexo fora do casamento — exatamente como indicara o fim do relacionamento de Tara e Da-. vid.
com alguém “novo” — se justificava pelo fato de que ele também era um Sendo assim, o sexo me parecia um bom ponto de partida para os dois
estranho. A pessoa na cama com ele não possuía uma idéia completa casais.
sobre quem ele era ou como se sentia sobre qualquer coisa, de modo que Para começar, sugeri que afastássemos a questão da “intimidade’ ’
Carl sentia-se livre para ser quem quisesse ser — para ser um Amante desta situação, por algum tempo. Todas as reivindicações de proximidade
Misterioso. Ele podia demonstrar sentimentos novos — não apenas e espaço haviam imposto uma incrível pressão em suas vidas sexuais.
aqueles que Alice já havia definido como o “verdadeiro” Carl. Ele podia “Cessem fogo e desistam”, disse a eles. “Deixe que suas vidas
se deixar levar por uma fantasia que incluísse não somente sua amante, sexuais corram livremente e a ‘intimidade’ cuidará de si própria. Ela
mas também ele: podia esquecer de si mesmo e apenas fazer amor. encontrará seu próprio nível, seu próprio equilíbrio.”
Em casa, Alice e Carl estavam tão concentrados um no outro, tão Solicitei a cada casal que preparassem esquemas de “períodos de
envolvidos com seu relacionamento, que se tornara difícil para eles a afastamento”. Para Tara, isto significava “uma noite só para ela” uma vez
concentração no sexo. Depois de algum tempo, Alice estava apta a admitir por semana — e isto incluía que deveríam dormir em quartos separados
que todo este envolvimento mútuo possuía um poder de inibição sexual naquela noite. David optou por um fim de semana por mês, acampando
também sobre ela própria: “Sempre que fazemos amor — ou tentamos com amigos. Alice e Carl combinaram uma noite fora por semana, para
fazer amor — geralmente fico imaginando o que Carl possa estar cada um. Além disso, eu os pressionei para que tentassem estar “sozinhos
sentindo. Eu tento penetrar em sua mente — Será que ele está tenso? juntos”, em casa, com mais frequência. Alertei especialmente a David
Cansado? Será que a luz está forte demais para ele? Será que ele gosta do para que deixasse
meu cabelo assim? E, então, quando ele realmente me toca, eu sinto como
se levasse um choque, como um ‘Ei!’ Eu esquecí tudo sobre meu próprio
corpo”.
Alice estava tão interessada em Carl — em ser para ele uma
Companheira Perfeita — que ela, de fato, esquecera de seu próprio corpo
e de seus próprios sentimentos sexuais. Paradoxalmente, ela bloqueava

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Tara à vontade, quando esta parecesse absorta e silenciosa. dele do que jamais me sentira. E de um modo totalmente diferente.”
“Veja o que acontece se você aguardar até que ela fale primeiro”, eu Da parte de Carl também foi um sucesso: “Foi engraçado apenas
o aconselhei. “Minha impressão é de que ela sairá da concha mais brincar com o corpo dela — nada sério, nada daquela investigação e
depressa do que se você pressioná-la.” intensidade.”
Para fazer com que suas vidas sexuais recomeçassem, meu conselho Quando chegou a vez de Carl ser o acariciado, tudo correu bem
básico foi simples: mantenham um relacionamento sexual impessoal, também — embora eles tivessem “trapaceado” e feito amor em seguida.
durante algum tempo. No final, seus corpos haviam estabelecido uma intimidade nunca antes
Para os Companheiros Perfeitos, Alice e Carl, este foi um conselho obtida com todas as experiências e companheirismo vividas por eles —
particularmente perturbador. Todo o seu convívio estava baseado em um uma intimidade de dar e receber prazer sensual. Começando com “sexo
contato pessoal íntimo, como poderíam ter sexo — logo este, o mais impessoal”, estabeleceu-se uma distância entre eles, necessária para que se
íntimo dos relacionamentos — de maneira impessoal? reaproximassem.
“A idéia toda não me parece correta”, protestou Alice. ‘“Sexo
Para Tara e David, o ponto de partida foi deixar para Tara toda a
impessoal’ soa vulgar — como algo que você pode fazer com qualquer
iniciativa sexual, durante algum tempo. Ela se sentia “atacada”, quando
um.”
“Exatamente”, eu lhe respondí. “Quero que você tenha sexo com David a tocava; sendo assim, eu a aconselhei a fazer todas as carícias por
Carl como se fosse com ‘qualquer um’. Esqueça-se completamente dele e um tempo. David demonstrou resistência na primeira vez.
concentre-se somente em você.” “Eu, automaticamente, procurei tocá-la”, ele contou. “Eu queria fazer
Durante anos, Alice havia estado tão preocupada com os contato com ela.”
sentimentos de Carl, que negligenciara os seus próprios. Para que eles “Deixe que ela faça contato com você”, disse a ele. “Esqueça- se dela
pudessem começar a ter um sexo satisfatório, Alice precisava se sentir por um tempo. Finja que você está em outro lugar se isto ajudar. Na
sexual. verdade, vocês dois podem fingir que estão em algum outro lugar; deixem
Minha primeira orientação para eles foi o exercício básico de toque, apenas seus corpos na cama.”
com Carl — para começar — realizando todas as carícias. Pedi a Alice De sua parte, Tara “desempenhou” os exercícios de toque mas,
que se concentrasse em suas próprias sensações: segundo ela, jamais se deixou levar realmente por eles.
“Simplesmente se torna cansativo depois de algum tempo”, disse ela.
Feche seus olhos e se concentre somente em seus sentimentos. “Eu fico pensando em um milhão de outras coisas que eu preferia estar
Esqueça que existe mais alguém ali. Lute para não pensar em Carl, fazendo.”
ou em como ele se sente, ou no que ele está fazendo — se ele está “Como o quê?” perguntei a ela.
gostando; ou se está aborrecido. Nada disso importa no momento. “Bem, lendo, por exemplo.”
Ele terá sua própria vez mais tarde. Por hora, imagine que aquelas “Leve um livro com você da próxima vez”, disse a ela. “Você poderá
são apenas mãos, tocando você — as mãos de qualquer um. ler tudo o que quiser, enquanto o acaricia. Os exercícios transcorreram
melhor depois disso, mas a verdadeira abertura do caminho se deu quando
Alice, como eu suspeitara, foi relutante na primeira noite em que oferecí a eles outra sugestão. Tara havia me dado uma pista do que
tentaram o exercício. Ela já queria parar depois de cinco minutos. funcionaria para ela, quando solicitara uma noite só para ela, uma vez por
“Eu não consegui relaxar”, contou-me. “Eu simplesmente me senti
semana — incluindo dormir em quartos separados.
muito — bem, culpada.”
Insisti com eles para que tentassem novamente — e novamente. A
terceira tentativa foi um enorme sucesso.
“Nunca me senti tão relaxada em minha vida,” Alice relatou,
radiante. “Eu simplesmente adormecí. E a melhor parte foi — não sei
como isso aconteceu, mas quando abri os olhos no final, tudo passara e
Carl estava ali, sorrindo para mim. Eu realmente me senti mais próxima

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“Por algum tempo”, eu disse a eles, “façam desta noite a única em
que terão sexo. Mesmo se Tara sair de casa, espere por ela, David, e
façam amor, quando ela voltar. E, em seguida, lembre-se de se retirar, e
que devem dormir em quartos separados.”
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Ambos riram, quando sugeri esta idéia: eles sabiam muito bem
quais eram minhas intenções — recriar a distância que tornara aquelas O Esporte de Salão mais
noites de sábado, quando estavam separados, em noites maravilhosas.
Mas, funcionou. E, até onde eu sei, continua funcionando muito bem Competitivo do Mundo
para eles.
“Eu ainda me sinto um pouco ‘pervertida’”, contou-me Tara, em
sua última sessão. “Mas também me sinto muito feliz.”

No ano passado, quando a Seção Científica do New York Times publicou


estatísticas recentes, mostrando que a média dos casais americanos faz
amor com frequência decrescente em proporção ao tempo em que estão
casados, eu juro que podia ouvir um suspiro de alívio por toda a cidade,
ecoando do Battery ao Bronx.
Todos os casais parecem pensar que todos os outros casais es- tào
“fazendo amor” mais frequentemente que eles — e, provavelmente,
“fazendo amor” melhor, e se divertindo mais. Sempre que pergunto a um
casal com que frequência fazem amor, após responderem à pergunta,
dizem, “Isto é normal?” ou então, “Estamos dentro de uma faixa
normal?”
E eu respondo, “Normal para quê? Para sua idade? Para seu peso?
Vocês estão me perguntando se vocês são médios? Vocês são médios em
tudo o mais que fazem? É isto o que desejam ser?
Os casais americanos são preocupados com “manter suas médias.”
Parece que cada um deles possui um número absoluto em sua mente —
seja este uma vez por dia, uma vez por semana, ou uma vez por mês — e
se estão abaixo, começam a se sentir como perdedores. Existe algo
errado com suas vidas sexuais. Não são “normais”. E muitas vezes
acabam censurando um ao outro por causa de suas “médias baixas”. A
última pergunta na mente dessas pessoas é se realmente desejam o sexo
mais frequentemente do que o têm. Isso de certa forma parece
irrelevante. O “número” possui uma vida própria; e é tudo o que
importa. Esta preocupação com uma

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“média normal” faz de casais parceiros iguais na forma mais predominante sexuais com a de outros casais. De fato, concentrando-se em “estatísticas”
do Sexo Desempenho — marido e mulher tornam-se membros de um time eles deixavam de encarar as inibições que os mantinham longe de uma
no esporte de salão mais competitivo do mundo. Infelizmente, este é um maior expressividade sexual. Eles tinham vindo a mim na esperança de
esporte no qual todos saem perdedores. que pudesse ajudá-los a “melhorarem suas médias” — eles desejavam
aprender como fazer sexo com mais frequência, para que se sentissem
“normais”. Minha tática, porém, foi a de fazê-los parar de “ter” sexo
juntos e começarem juntos a “fazer” sexo — sexo que começa com o
Mantendo um Padrão Igual ao do Vizinho desejo natural, desinibido. Os números, disse a eles, cuidarão de si
próprios.
Sally e Ted M., um atraente casal de Nova Iorque próximos dos Outro casal a quem atendí, possuía um problema competitivo que
quarenta anos, sentaram-se nervosamente em meu consultório por alguns teria parecido cômico se eles não estivessem tão infelizes. Peg e Peter L.,
minutos, antes que qualquer um dos dois começasse a falar. Finalmente, um casal de profissionais no início de seus quarenta anos, estavam lado a
após muito encorajamento de minha parte, Ted contou-me o “problema” lado, cheios de ansiedades e cansaço, quando os vi pela primeira vez. Eles
deles: “Nós estamos abaixo do padrão, sexualmentc. Em geral, fazemos
sabiam exatamente qual era seu problema: há um ano, um novo casal
amor apenas uma vez por mês — e em certas ocasiões, podemos chegar a
havia se mudado para o apartamento vizinho ao deles. Apenas uma fina
seis semanas.”
parede separava seus quartos de dormir e, todas as noites, Peg e Peter
“Nós nos sentimos como se estivéssemos velhos antes do tempo,”
acrescentou Sally. “Eu creio que foi porque começamos mal, desde o ouviam o casal fazer um amor barulhento que parecia durar horas. Não
início. Nós nos casamos assim que terminamos o Colegial, quando todo muito tempo depois, Peg e Peter descobriram que eles próprios quase não
mundo estava fazendo amor por toda parte. Nós simplesmente nunca faziam. mais amor.
chegamos a aquecer nossas máquinas. Tanto Peg quanto Peter diziam que achavam seu problema
De novo, ambos caíram em silêncio. Os dois estavam vestidos de “estúpido”, que sentiam vergonha por deixarem este casal “fantasma”
maneira conservadora, pessoas bem-comportadas, que falavam calma e interferir em suas vidas a este ponto, mas eles também admitiram que, de
refletidamente. alguma forma, isso fez com que se sentissem sexualmente inseguros, que
“Vocês sc sentem frustrados a maior parte do tempo?”, eu perguntei. isso havia tocado numa ferida que andara escondida sob a superfície de
“Sim”, respondeu Ted. “Especialmente quando percebo que se seu relacionamento, durante todo aquele tempo.
passaram cinco ou seis semanas sem que fizéssemos coisa alguma Eu disse a eles que seu problema não era de forma alguma in-
“Eu quero dizer, sexualmente frustrados’ ’, continuei, ‘ ‘não comum, que frequentemente casais entram em competição — real ou
estatisticamente”. Todos dois se permitiram um sorriso. De fato, a imaginária — com outros casais — e que isso muitas vezes possuía um
frustração de Ted neste ponto estava mais relacionada com um número efeito inibidor em suas vidas sexuais. Disse a eles que seu problema
não-atingido, do que propriamente com seu desejo não-satisfeito. Suas apenas tinha atingido uma escala mais exagerada do que o da maioria dos
primeiras palavras já indicavam sua atitude: “Abaixo do padrão” casais: a competição deles estava bem ali, atrás da parede.
significavaclaramenteabaixo da média, abaixo do que ele considerava Para começar, fiz a sugestão óbvia de que podiam verificar se seria
como sendo o normal. E Sally também estava de acordo com a maneira possível isolar acusticamente a parede — competição ou não,
como se comparavam a outros casais: Ela tinha certeza de que nos anos
sessenta “todo mundo estava fazendo sexo por toda parte’ ’. Ela se
preocupava em saber como estavam nesta comparação — se estavam
perdendo alguma coisa que todo mundo tinha — em vez de se preocupar
com seus verdadeiros desejos.
Como podemos constatar, tanto Ted quanto Sally possuíam de fato
um apetite sexual maior do que o que haviam posto em prática. Mas antes
que pudessem penetrar em seus verdadeiros sentimentos e necessidades
sexuais, eles tiveram que superar o hábito da comparação de suas vidas
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barulhos podem incomodar a qualquer um de nós, nos inibindo para fazer “Provavelmente, não”, respondí. “Você agora esteve falando sobre o
amor, ou mesmo dormir. Se isto falhasse, sugeri que mudassem sua cama que você realmente quer, e não sobre o que você deveria querer, para se
para a sala de estar ou mesmo que procurassem outro apartamento. Dito considerar ‘normal’ ou igual a uma pessoa qualquer.”
isto, porém, conversei com Peg e Peter sobre o que haviam percebido, o Novamente, como acontece com muitos casais a quem assisto, eu
fato de que esse casal fantasma havia tocado em um problema que estivera estava apta a começar com eles a sequência de exercícios de toque, que
escondido por todo aquele tempo, no relacionamento dos dois: a fariam com que eles se relacionassem novamente com seus próprios
preocupação com o casal fantasma da porta ao lado era um sinal de que sentimentos sexuais e com os corpos um do outro. Isso mostrou-se muito
não estavam satisfeitos com eles próprios como seres sexuais. rapidamente um sucesso. Não muito tempo depois — “Só como uma
Ao final de nossa primeira sessão, disse a Peg e Peter que tentassem brincadeira”, segundo contou Peter — eles fizeram amor uma noite no
um exercício paradoxal. É um exercício que pode beneficiar qualquer antigo quarto de dormir, fazendo o máximo de barulho possível.
casal — escolhendo seus próprios “competidores” “Pensamos que podería ser engraçado para nossos vizinhos”, disse
Peg, rindo.
Finjam que vocês são o casal do apartamento ao lado, que estão Frequentemente, caímos em competição sexual com um casal que
fazendo amor com mais frequência e de modo mais divertido que conhecemos, com membros de um grupo, ou com amigos. Fre-
vocês. Falem um com o outro sobre o que vocês pensam que eles qüentemente, eles são um casal atraente, que se preocupa com a aparência
estão fazendo. Improvisem. Tentem fazer algumas coisas que vocês e que parece sempre estar aos beijos e abraços. Em alguns ' casos, eles
imaginam que eles fazem entre si. Soltem a imaginação o máximo podem até fazer alusões a quão “animada” é sua vida sexual. É difícil não
que puderem. nos sentirmos desajeitados diante de um casai assim — eles realmente
parecem estar se divertindo mais.
Foram necessárias muitas semanas para que Peg e Peter “tivessem Mas, será que estão mesmo?
tempo para fazer este exercício, mas neste período eles seguiram meu Talvez isso se deva aos meus muitos anos como terapeuta, mas
conselho e mudaram a cama para a sala de estar. Quando finalmente sempre sou um pouco cética em relação a casais que fazem uma grande
tentaram o exercício, disseram que havia sido um total fracasso. exibição de sua sexualidade e de suas vidas sexuais. Simplesmente,
“Só fez com que me sentisse ainda mais angustiado que o normal”,
suspeito de que isso é uma cobertura para uma vida sexual falha, ou que é
contou-me Peter. “Senti-me ridiculamente desajeitado. Não posso fingir
uma manifestação do nervosismo que muitas vezes acompanha o Sexo
que sou alguém que não sou.”
Desempenho, destituído de sentimentos.
“Isto é ótimo!” exclamei. Ambos olharam para mim, como se eu não
o tivesse entendido de modo correto. “Era extamente o que eu pretendia. Mesmo assim, ainda seria mais uma forma de competição se nos
Como é que você pode competir com alguém que você não é e nem sentíssemos aliviados com estas minhas suspeitas. E se de fato este outro
gostaria de ser? Este é o verdadeiro ponto, não é? O sexo é muito mais casal está “fazendo amor” com mais frequência ou por mais tempo, ou um
uma parte de quem você é, do que qualquer outra coisa. É uma expressão outro mais qualquer, do que nós? O que isso pode importar para você e
de você mesmo, exatamente como o seu jeito de falar, ou de assinar seu para sua própria vida sexual? Um resultado infeliz — desnecessário — de
nome. Não faria qualquer sentido você querer que sua vida sexual fosse tais sentimentos de competição
como a de qualquer outra pessoa.”
Peter pareceu achar esta revelação feliz e tranqüilizadora, mas Peg
parecia não estar ainda convencida. Perguntei a ela o que estava pensando.
“Bem, é que eu ainda acho que em algumas coisas gostaria de ser
como outros casais”, disse. “Quando nós tentamos conversar sobre o casal
vizinho, percebí que uma coisa que eles faziam era destinar mais tempo ao
sexo do que nós dedicamos, e eu gostaria de ser como eles. E também, eles
pareciam se demorar mais, mais do que nós, e eu queria tentar isso
também. Será que isso significa que ainda estou sendo competitiva?”

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pode ser o de que nós deixamos de apreciar a companhia deste outro casal. estar sempre com ele. Para um homem negro, o fato de falhar
Assim como todas as formas de inveja, esta não conduz à amizade temporariamente com relação ao sexo — o fato de ter, por exemplo, uma
única noite de fadiga sexual — pode ser o suficiente para fazê-lo sentir-se
como um total fracasso.
A mesma pressão existe sob várias formas em cada um desses
Os Atletas Suecos do Sexo Vâo para as Olimpíadas grupos. Considerem um homem solteiro, ou recém-divorciado nos seus
trinta ou quarenta anos: de acordo com o mito, ele está lá, fazendo sexo o
Logo que cheguei a este país, vindo da Suécia, percebi que meus tempo todo. Seus amigos casados estão sempre lançando-lhe olhares
comoatriotas, homens e mulheres, desfrutavam a reputação de atletas do maliciosos e solicitando os detalhes de sua vida “promíscua”. Mas isto
sexo. A simples palavra “sueco” tinha a conotação de um sexo fácil, pode ser apenas a fantasia deles e não a sua realidade, e ele pode se ver
freqüente, e especialmente atlético. Posso, pelo menos, concordar com esta tentando uma vida que correspondia à expectativa dos amigos, porque ele
última idéia- os suecos de fato tendem a ver o sexo como uma ginástica, está competindo com eles também. É um jogo no qual ninguém vence.
eles tratam sexo como uma forma de exercício — para “boa saúde” e Segundo a explicação de um homem recentemente divorciado,
“vigor” — mais do que velejar ou esquiar. Em outras palavras, não “Senti-me como um verdadeiro perdedor, quando meu casamento acabou,
acredito que os suecos em geral tenham experimentado suas sexualidades mas de repente percebi que muitos de meus amigos casados estavam com
a um nível pessoal e expressivo especial. Mas se isto fosse verdadeiro, os inveja de mim. Sempre que eu saía com uma mulher, eles ficavam
suecos como símbolos de “campeões” fornecem um bom exemplo de outra convencidos de que estava fazendo toda a sorte de loucuras com ela. Eles
maneira pela qual nós nos tornamos sexualmente competitivos: nós não tinham a menor idéia de como me sentia solitário, do quanto eu os
acreditamos que grandes grupos de pessoas estão “fazendo sexo” mais e invejava. Então, logo eu estava saindo com mulheres do tipo sexy, apenas
melhor do que nós. Mas este tipo de mitologia corta nossas chances. para fazer inveja a eles. De fato, não creio que qualquer um de nós
Podemos nos colocar na situação de sonhar com um amante sueco ou estivesse se divertindo tanto assim.”
um amante negro ou latino) a um tal ponto que passamos a considerar Hoje, a geração de adolescentes pós-Revolução Sexual é objeto de
nossas próprias vidas sexuais — e a de nossos próprios maridos ou uma difundida inveja e competição, especialmente entre casados de meia-
esposas — simplesmente sem graça. “Eu não vejo nada demais no sexo”, idade que vivenciaram um período de grande repressão sexual. Algumas
frequentemente me dizem algumas pessoas, ao que eu respondo, “Nada vezes, esta inveja se transforma em reprovação amarga: nós dizemos que
mesmo? Ou menos do que você esperava?” Nossas fantasias sobre atletas os adolescentes são libertinos e vazios, que se desgastam em uma vã
sexuais míticos, amantes “vorazes” e “infatigáveis”, fazem com que a promiscuidade. Mencionamos o número crescente de adolescentes
realidade das cenas de nossos próprios quartos de dormir pareçam grávidas e de doenças venéreas com uma especial satisfação: como se eles
bobagem — de segunda linha. Por que os suecos (ou os homens e bem o merecessem. Mas outros de nós estão particularmente ciumentos e
mulheres com amantes suecos) ficam com toda a diversão? Por que os se sentem trapaceados pela História: nós perdemos todas estas
negros, os italianos, os adolescentes e todos aqueles que são solteiros ou maravilhosas aventuras sexuais no início de nossas vidas. Não é justo. Por
divorciados estão fazendo sexo mais e melhor do que nós? que não tivemos o que os jovens de hoje têm?
Este tipo de pensamento ciumento e competitivo — um tipo de
preconceito às avessas — só pode conduzir à amargura e à insatisfação
sexual em casa. E eu posso garantir a vocês, que estes mitos são baseados
em um mínimo de verdade, se existir alguma afinal. Sim, alguns destes
grupos que mencionei podem até ser mais devotados ao sexo, mas será
esta uma devoção ao prazer sexual ou ao desempenho sexual?
Como disse, esta mitologia pode cortar nossas chances, e um homem
negro, por exemplo, pode achar que possui uma reputação muito exigente,
com a qual se torna difícil conviver; a pressão para o desempenho pode

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Vez ou outra vejo casais que deixaram este tipo especial de ciúme “Vocês têm filhos?”, perguntei.
tomar conta de seus relacionamentos, fazendo com que os dois, ou um dos Jill respondeu que tinham dois, uma filha de doze e um
dois acabe por se sentir insatisfeito com suas vidas sexuais. Eles se tornam “maravilhoso” bebê, um menino — “Nosso querido ‘acidente’”, como ela
preocupados com as oportunidades perdidas. o chamou.
“Eu perdi a Revolução Sexual por questão de minutos”, contou- me “O bebê deve lhe tomar muito tempo”, disse a Jill.
uma mulher. “Eu estava me casando, quando todo mundo mais estava “Todo o tempo dela”, respondeu Larry.
fazendo sexo loucamente.” “Provavelmente não sobra muito tempo para sexo”, disse eu.
“Eu não sabia coisa alguma sobre sexo quando me casei”, contou-me Parece que eu estava certa. Desde que o bebê havia nascido, Jill
um homem. “Eu era totalmente ingênuo, sexualmente. E de repente, todo frequentemente passou a abrir mão do sexo, alegando muito cansaço, ou
mundo estava se divertindo, e eu estava amarrado. Não é de se admirar passou a interromper o jogo sexual por se distrair com ruídos no quarto do
que eu tivesse começado a fazer das minhas depois de casado.”
bebê. E quanto mais ela deixava Larry de lado, mais determinado ele
Eu ousaria dizer que a única grande causa para os divórcios nos
ficava, desejando sexo ainda com mais frequência do que tinham antes.
últimos vinte anos tem sido nossa preocupação com as oportunidades
sexuais perdidas. Nós lamentamos o fato de que estamos fazendo amor Eles haviam polarizado um ao outro: Jill, através de sua preocupação com
com apenas uma pessoa, enquanto “o resto do mundo” está lá fora, o bebê, passou a excluir seu marido; Larry passou a solicitá-la sempre
fazendo amor livremente. Nós nos sentimos enganados e por isso mais, devido ao ciúme que o bebê despertava.
começamos a enganar, e em muitos casos, isso leva o casamento a uma Para ajudá-los na despolarização um do outro, dei a eles um exercício
tensão insuportável. Novamente, nos concentrando nas oportunidades paradoxal:
perdidas e nos adolescentes do amor livre, libertino que nos cercam,
estamos evitando a melhor oportunidade sexual de nossas vidas: construir Disse a Jill que durante um mês ela deveria fazer sexo com seu
uma vida sexual sólida, emocionante e variada, com a pessoa que amamos. marido, tanto quanto ele o desejasse. E disse a Larry para “divertir-
se”.

De fato, na primeira semana eles fizeram amor cinco vezes. Na


Tudo em Família semana seguinte, porém, este número caiu para quatro. E nas outras duas
semanas que se seguiram e daí em diante voltaram para sua frequência
Talvez a forma mais comum de sexo competitivo com a qual me usual de duas vezes por semana, à qual estavam habituados antes da
deparo seja intramuros: pai com filho ou genro; mãe com filha; mesmo chegada do bebê. Diante da oportunidade sexual ilimitada, Larry fora
crianças adultas com seus pais. forçado a se confrontar com suas necessidades reais de sexo, e não com
Um casal suburbano próximo de seus quarenta anos, Jill e Larry E, quanto deveria praticá-lo para “ir à forra”.
vieram me ver com um problema deste tipo, embora na ocasião nenhum Não é incomum que homens de meia-idade, de repente, queiram se
dos dois tivesse consciência de sua causa. Este problema era simples e tornar “mais ativos”, queiram aumentar suas frequências além do que
básico, segundo me disseram: a cerca de um ano atrás, Larry, subitamente haviam feito durante anos. É uma maneira de se sentirem mais jovens, de
começara a querer fazer sexo de quatro a cinco vezes por semana — mais se sentirem viris. A verdade é que o sexo pode
do que as duas vezes que até então desejara em seu casamento. Jill contou-
me que não conseguia acompanhá-lo.
“Já chega”, ela disse.. “De qualquer forma, não é de modo algum por
minha causa.”
“Mas, então, é por causa de quem?”, perguntei, e os dois se limitaram
a levantar os ombros, sem resposta.
Suspeitei de que ali não estavam simplesmente duas pessoas com
apetites sexuais diferentes, e que se encontravam com dificuldades para
estabelecer um acordo; algo mais estava em jogo.
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ter este efeito se nós o abordamos com naturalidade; um homem de meia- recentemente conhecí uma mulher casada, em seus trinta e poucos anos,
idade que subitamente descobre seu potencial sexual, e que é capaz de que me contou a seguinte história, com evidentes sinais de ciúme:
exercitar este potencial, se sentirá realmente mais jovem e vital. E, em
muitos casos, ele provavelmente descobrirá que possui uma energia sexual Eu contei a minha mãe, que está com quase sessenta anos, sobre as
maior do que possuía anos antes. Decerto não há nada de errado com isto. novas esponjas contraceptivas, do tipo descartável. Ela me
Mas um homem que está preocupado com sua frequência sexual como um perguntou quanto custavam, e quando disse a ela que custavam um
número — um número que simbolize o quanto jovem e viril ele ainda é — dólar, ela disse: “Meu Deus. Ainda bem que seu pai e eu não
está condenado a jamais alcançar seu potencial sexual, porque este precisamos mais delas. Isto poderia nos custar quase 25 dólares por
potencial deve começar e terminar em seus próprios sentimentos sexuais. mês.” Nossa, ela arruinou o meu dia!
Ao final de seu mês de experiência, recomendei a Jill e Larry que
tentassem os exercícios básicos de toque. Muitas semanas depois, Larry
contou-me com um sorriso, “Nós estamos como os fumantes inveterados.
Estamos praticando menos, mas apreciando muito mais.” Mas Afinal, quem Está Ganhando?
Pais com filhas adolescentes ou jovens adultas são particularmente
vulneráveis à competição sexual. É uma velha história: a filha chega em De todas as competições nas quais nos envolvemos — sobre dinheiro
casa com um rapaz e, de repente, o Papai fica preocupado com sua própria e poder, território e força física, popularidade, posição social,
virilidade. Isso pode assumir a forma de uma maior atividade com sua empreendimentos e esportes — o sexo é a única em que nunca podemos
esposa, depressão, namoros com mulheres mais jovens ou, como vejo ter certeza de quem está ganhando. Joe pode ter uma mulher jovem e
freqüentemente, súbitos ataques de impotência. Em um caso que conhecí, atraente, mas será que eles estão realmente fazendo sexo melhor e mais
um homem de meia- idade se tornou impotente na noite do casamento de frequente do que nós? Nós não estamos a par do que acontece no quarto de
sua filha. As razões psico-sexuais para isso, é claro, eram bastante dormir deles, sabemos apenas o que Joe nos conta. E todos nós sabemos
complexas, mas acredito que uma competição sexual básica estava no que todo mundo mente, quando se trata de sexo — começa na sala de estar
centro de tudo. “Uma geração se passa, outra geração vem”, como está no e não acaba jamais. É a mentira mais segura que existe: a única evidência
Ecle- siastes. Esta bem poderia ser uma descrição de como este homem possível é uma gravidez, mas esta já não importa tanto. Mas o que torna
encarava sua sexualidade. A virilidade de seu genro significava a morte de tudo isto particularmente peculiar é o fato de que, sem uma placar de
sua própria virilidade. Era uma competição na qual ele estava condenado a pontos confiável para a maior de todas as competições, a maioria de nós
perder, e então ele desistiu completamente do jogo. ainda permanece convencida de que está perdendo.
Tampouco as mães estão imunes a este tipo de competição, embora Mas afinal, quem está ganhando?
seus ciúmes tendam, em geral, a assumir a forma de uma atitude
De alguma forma, a maioria de nós já não aguenta mais a idéia de que
repressiva. Não é incomum para uma garota adolescente voltar para casa
nós somos as únicas pessoas no mundo que estamos contendo nossa
radiante de felicidade sexual, e simplesmente encontrar sua mãe lhe
sexualidade, que somente nós somos reprimidos e impedidos de ter vidas
esperando, pronta para começar uma briga por qualquer motivo
insignificante. Uma mãe moderna e “liberada” não deve reprimir sua filha sexuais mais ativas, enquanto o resto do mundo está “fazendo amor o
por suas experiências sexuais, mas isso não quer dizer que esta mãe não tempo todo”
estará sentindo o rancor do ciúme: “Por que ela está tendo tanta diversão?
Eu nunca tive.”
Para a maioria dos adultos, a competição sexual com nossos pais
representa um pequeno ou inexistente papel em nossas vidas sexuais.
Além do mais, desde muito pequenos preferimos imaginar nossos pais
praticamente sem vida sexual. Porém, os filhos de pais namoradores são
particularmente susceptíveis à competição sexual com seus pais — e com
todo mundo mais. E — a famosa exceção que comprova a regra —

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E se as mentiras de Joe não são suficientes para confirmar nossas forçada, considerem este mito que ainda está bastante arraigado em nós:
suspeitas, o que nós ouvimos e vemos nos meios de comunicação, o são. Um homem que é pai de meninos é, ainda hoje, visto como sendo mais
Como é possível que qualquer um de nós que assista televisão (só os “homem” do que o que é pai de meninas. Nós ainda o vemos como “mais
comerciais são suficientes), que vá ao cinema, ou leia romances populares potente”.
e revistas pense coisa diferente? No mundo retratado pelos meios de Através das épocas, a atividade sexual se tornou o blefe do homem
comunicação populares, todo mundo está “fazendo amor mais” e fazendo pobre, a última arena onde ele ainda podia vencer. Mesmo se outro homem
“melhor”, tendo mais parceiros, demorando mais tempo, e claramente se fosse mais rico ou poderoso, se o homem mais pobre estivesse tendo mais
divertindo muito mais do que nós. E, é claro, eles têm uma aparência sexo — ou pelo menos dando essa impressão — então ele, de alguma
muito melhor, são sexualmente mais bem-dotados em todos os aspectos, forma, era o verdadeiro vencedor. (Isso era especialmente verdadeiro, é
confirmando um dos mitos mais destrutivos que existem: o de que claro, se o homem pobre estivesse fazendo sexo com a mulher ou a amante
“pessoas bonitas” fazem sexo melhor do que todos nós. do outro, mais rico.) Na competição geral da vida, o sexo era o Grande
As pessoas que vemos nas telas e sobre as quais lemos nos romances Equalizador.
são nossos únicos competidores sexuais sobre os quais sempre sabemos Não há melhor exemplo para isso na América do que a onda
todas as “verdades”; só não temos acesso a seus quartos de dormir (e iates competitiva que existe com o estereótipo do negro sexualmente potente:
e lagos particulares). Em outras palavras, nossos únicos competidores enquanto o Patrão estava em sua mansão, apreciando um conhaque, seu
sexuais que vemos “em ação” são personagens fictícios. criado negro estava fora nas cabanas, fazendo amor a noite toda — e os
Mas isso não importa. Continuamos mesmo assim convencidos de brancos ficavam furiosos a ponto de gerarem uma onda de homicídios. Os
que somos “sexualmente inferiores” e “abaixo da média”, perdedores no homens brancos se tornaram — e alguns ainda permanecem — obcecados
Grande Prêmio Sexual. com a sexualidade dos negros, desde o tamanho de seus pênis até sua
capacidade de resistência sexual. E alguns homens negros ainda se
orgulham (embora resistam a uma tremenda pressão em relação a seus
desempenhos) de suas reputações, sabidamente reconhecendo como sua
Pobre Blefe máxima “conquista” a sedução de uma mulher branca.
A psicologia freudiana confirma esta forma de ver-se a competição.
De fato, pode parecer estranho que o mais privado de todos os atos Este teoria mantém que toda a competição é, em suas últimas
seja a mais pública das competições. Mas em um período de nossa consequências, uma competição sexual; que o homem ou a mulher que
civilização, a competição sexual teve um correlativo público de grande busca o poder no trabalho, por exemplo, está sublimando seu próprio
significado: quanto mais crianças uma família tivesse (especialmente potencial sexual; ele ou ela está “na verdade” atrás de poder sexual. Na
meninos), mais poderosa e economicamente produtiva esta família seria. verdade, esta é uma extrema simplificação da teoria freudiana, que apenas
Chefes tribais e reis eram julgados pelo número de filhos que tivessem. favorece nossa preocupação com a competição sexual. Ela justifica esta
Potência e fecundidade realmente exerciam poder competitivo. Raro, na competição como “natural” e nos ajuda a permanecer aprisionados em
verdade, era o homem de poder que não pudesse ter filhos. uma visão do mundo que nos impossibilita a simples diversão com nossas
Aqui, novamente, está um exemplo de como um comportamento vidas sexuais.
remanescente chegou até nós. A potência e a atividade sexual permanecem
dentro de uma competição em um época na qual ter-se muitos filhos
representa, geralmente, um fardo do ponto de vista econômico. Hoje em
dia, as classes de maior poder econômico, muitas vezes se restringem a
dois ou três filhos, enquanto os menos favorecidos continuam a ter bebês;
como dizia uma paródia de uma velha canção, “os ricos fazem mais
dinheiro e os pobres fazem mais filhos”. Mas “fazer sexo” mais e melhor,
mesmo na era da contracepção, permanece um símbolo de poder. Se esta
aplicação da teoria de um comportamento remanescente parece um tanto

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O Telescópio de Dudley Moore Se Você Tem Medo de Alturas
Não se Pendure no Lustre
Em 10 (Mulher Nota Dez), um filme que por toda sua nudez contém
mais ironia sexual do que atividade sexual, Dudley Moore representa um Alan L., um homem de aparência séria com cerca de trinta anos,
homem de meia-idade que passa uma boa parte de seu tempo olhando veio me ver sozinho para discutir sua “frouxa atividade sexual”. Por mais
através de seu telescópio para a casa de seu vizinho, cheio de amantes, um de dois meses ele não havia tido qualquer contato sexual com sua mulher e
homem jovem, que promove uma orgia permanente. Dudley está obcecado sentia-se terrivelmente mal com isso.
por todo o sexo que acontece lá e se sente interiorizado por não ser parte “Eu tenho a horrível sensação de que nunca farei sexo novamente”,
dele. Enquanto isso, porém, em seu próprio quarto de dormir, ele parece disse desapontado.
nunca estar disposto a fazer amor com a mulher que ama. Sua principal Eu perguntei a ele o que mais estava ocorrendo em sua vida
atividade sexual é olhar através do telescópio — sexo a distância; em recentemente. No princípio, ele disse, “Não muita coisa, na verdade”, mas
pouco tempo, ele perde o interesse por sexo. depois contou-me que alguns meses antes ele havia sido promovido em
O telescópio de Dudley é um maravilhoso símbolo de como o sexo seu departamento e que estava muito preocupado em corresponder às
competitivo atua sobre nós. Competindo com gente real ou imaginária, “lá expectativas de seus chefes.
fora”, comparando nossa sexualidade com grupos míticos e normas “É comum a perda de apetite sexual, quando estamos perturbados
estatísticas, mantemos sexo a uma grande distância. Nunca temos que com algum outro fator em nossas vidas,” afirmei. “Tenho certeza de que
olhar para aquele amante que está na cama conosco como uma pessoa real. este não é um problema permanente.”
Transformando o sexo em um esporte competitivo, nunca temos que nos Ele não parecia convencido. Decidi, então, tentar outra tática.
confrontar com nossas ansiedades sexuais pessoais. Novamente, “Quantos anos você tinha, quando se casou?”, perguntei.
encontramos uma maneira de evitarmos nosso medo de nos perdermos no “Vinte e seis”.
sexo e de sermos dominados por nossos sentimentos sexuais. Mantendo “E durante todos esses anos antes de se casar, você nunca deixou
nossos olhos pregados no telescópio, nunca precisamos nos confrontar que se passassem dois meses sem fazer sexo?”
pessoalmente com o sexo. Alan finalmente sorriu. “Que nada, eu passava anos inteiros sem
Mas o que 10 ilustra de maneira tão cômica, o preço que pagamos por
ele”, completou.
manter o sexo a uma distância competitiva, é que nunca chegamos
realmente a apreciá-lo. No caso de Dudley, devido a toda sua bajulação e “Aposto que isto não preocupava você naquela época, do modo
perseguição à esquiva 10 (a pneumática Srta. Bo Derek), ele nunca chegou como está preocupando você hoje”, eu disse. “E qual é a diferença? Você
realmente a fazer amor. O resto de nós que está com os olhos no telescópio é uma pessoa diferente agora? Seu apetite sexual mudou em algum
pode estar até fazendo amor, mas estamos, sem dúvida, aproveitando aspecto?”
menos. “A diferença é que agora tenho obrigações sexuais”, respondeu Alan
Sexo competitivo, assim como todo o tipo de Sexo Desempenho, nos seriamente.
mantém afastados de nossos sentimentos sexuais. Estamos constantemente “Obrigações? Isto não me soa muito sexy”, eu disse. “E para com
buscando resultados, tentando manter nossas médias elevadas, ou nos quem são estas obrigações, sua esposa ou sua média mensal?”
tornando Marcadores de Pontos, mas raramente olhamos de verdade para Alan havia criado seu próprio problema sexual. Em vez de se
o corpo sensual bem ali do nosso lado. E, quando olhamos, ficamos
insatisfeitos. Sexo com ele ou ela não pode nem ser comparado com o
sexo “lá fora”. Escorregamos para a monotonia sexual e a desatenção. E se
nossa “média” decai, ficamos ainda mais deprimidos, convencidos de que
deveriamos estar “fazendo sexo” mais vezes, para nos igualarmos aos
vizinhos, para sermos “normais”. É um círculo vicioso. E totalmente
desnecessário.

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permitir um período de uma justificável inatividade sexual, ele se tornarem mais selvagens e loucos sem “se tornarem outras pessoas”. Não
preocupava a tal ponto, que poderia chegar a desenvolver um problema estou querendo dizer que “Você fez sua cama conjugal, agora faça amor
sexual bastante real. Ele nutria uma idéia de normalidade sexual conjugal nela — na alegria ou na tristeza.” Estou apenas dizendo que você deve se
— um número — e se convencera de que havia alguma coisa de muito lembrar de que a pessoa que está aí na cama com você é aquela mesma
errado com ele se não conseguia manter este número. pessoa que você ama por ser quem ela ou ele é, em qualquer outro lugar.
De fato, quando conheci sua esposa, ela estava mais preocupada com Se você casou com “Julie Andrews”, não espere que ela seja “Bo Derek”
a depressão de Alan do que com qualquer lapso de frequência sexual. Foi na cama. Lembre-se, assim como finalmente fez Dudley Moore, você não
necessário que nós duas o convencéssemos disso. quer realmente estar casado com Bo Derek, afinal.
O melhor sexo que poderemos ter é aquele que revela quem somos Nós podemos começar eliminando esses padrões impossíveis,
nós. Esperar alguma coisa além disso, seguindo o exemplo de outros, deixando de julgar cada uma das sessões de amor que temos. Se
conduz somente ao desapontamento e à depressão.
encaramos os momentos em que fazemos amor dentro do contexto de
Quando uma mulher que era fisicamente tímida em todos os aspectos
nossas vidas, não precisamos sempre nos questionar (e um ao outro) em
de sua vida diária veio até mim, queixando-se de que não era “selvagem o
bastante” na cama, eu lhe respondí, “Se você tem medo de alturas, por que seguida:
iria querer se pendurar em um lustre?” “Foi tão bom quanto da última vez?”
Fazemos a nós — e um ao outro — bastante infelizes, tentando “Semana passada?”
atingir certos ideais sexuais que em nada correspondem à sexualidade que “A primeira vez?”
realmente sentimos. A maneira como você faz amor é sua assinatura “Temos feito isto o suficiente?”
pessoal. Reflete sua completa personalidade, e a de mais ninguém. Nós “Teria sido melhor com alguma outra pessoa?”
falamos sobre o Mito da Maturidade Sexual mas, para mim, a verdadeira Se colocamos cada um dos jantares que temos sob uma tal inquisição
maturidade sexual é a capacidade de dizer que você gosta de sua — “O jantar estava tão bom quanto o de ontem?” — provavelmente jamais
sexualidade — seus desejos e apetites sexuais — exatamente como são. E voltaríamos a apreciar outra refeição.
que se você não se sente bem como um aventureiro ou “promíscuo” — e
não tenho certeza de que alguém realmente se sinta — está ótimo: Isto não
é o que você é. Correndo o risco de parecer com Norman Vincent Reale, é
gratificante sentir-se bem com quem você é — sexualmente e em todos os "Eu Fiz do meu Jeito"
outros aspectos.
O mesmo é válido para a maneira como olhamos um para o outro. Personalidades são uma matéria complexa. Eu posso ter simplificado
Esperar que a sexualidade de seu parceiro seja radicalmente diferente do demais a questão para chegar a um ponto: todos sabemos que nenhum
resto do comportamento dele ou dela é criar uma exigência e pressão homem é simplesmente “organizado e eficiente”, assim como nenhuma
impossíveis sobre vocês dois. Tenho visto um número incontável de mulher é simplesmente “fisicamente tímida”. Nós fazemos coisas
mulheres com maridos que são organizados e eficientes, que atingem suas diferentes de maneiras diferentes e nos comportamos de maneiras distintas
metas tão rápido quanto possível em todos os aspectos de suas vidas e, no em situações distintas. O marido “organizado e eficiente” pode se tornar
entanto, estas mulheres se queixam de que seus maridos são “eficientes” agressivo e insolente, no momento em que entra em seu carro esporte. A
demais na cama, de que não se demoram com preparações ou afagos, e mulher “fisicamen
que terminam muito rápido. O que elas esperavam? A ironia é que a
maioria dessas mulheres dizem que casaram com seus maridos justamente
porque tinham essas características — elas queriam maridos seguros e
empreendedores. Por que estão agora tão desapontadas se eles não são
amantes “loucos e selvagens”?
Na verdade, este livro tem como objetivo principal ajudar a todos nós
para que encontremos maneiras de nos descontrairmos sexualmente, e com
certeza, a maioria dos maridos “certinhos” possui o potencial para se
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te tímida” pode se tornar “descontraída e solta” quando dança. Algumas acontecer. Nós fomos direto para um quarto de hotel. Isso foi semana
vezes, podemos aprender a mudar nosso comportamento de acordo com a passada. Nós já fizemos isso duas vezes, desde então.” Ela balançava a
situação. E algumas vezes podemos ajudar um ao outro a atingir esta meta. cabeça desesperada. “Como é que fui me meter numa confusão dessas?”,
Aqui temos um exercício simples — e comumente divertido — para ela disse.
que consigamos atingir esta meta, e que muitos casais têm apreciado. É “Por que isso é uma confusão?”, perguntei a ela.
uma maneira não-ameaçadora e não-preconceituosa de comunicarmos um “Por quê? Você sabe por quê?”, disse Megan. “Eu amo Bob [seu
ao outro como gostaríamos de ver o outro se expressar na cama: marido]. Eu quero que a gente consiga resolver nossos problemas. E agora
acontece isso!”
Alternem-se dizendo um para o outro, “Eu gostaria que você fizesse Eu olhei para Megan. Não podia deixar de sentir uma certa pena de
amor do jeito como você (dê um exemplo, do tipo, “como você seu desespero, embora me desapontasse ver que ela se recusava a assumir
dirige seu carro”) e não tanto como você (outro exemplo específico, a responsabilidade de sua infidelidade — da mesma maneira como,
“como você paga as contas”).” Continue até que vocês dois estejam
durante todo aquele tempo, ela havia se recusado a assumir a
rindo ou prontos para começar uma tentativa.
responsabilidade de sua sexualidade no casamento.
“Você faz isso soar como se estivesse acontecendo a outra pessoa”,
Neste jogo, vocês não estão pedindo um ao outro para serem pessoas
diferentes, mas apenas para expressarem características um do outro que disse a ela.
Um grande número de pessoas a quem atendo e que são infiéis
vocês sabem que estão ali.
Segundo uma mulher me contou após ela e seu marido terem tentado
este exercício, “Agora eu faço amor com a mesma garra com que
costumava jogar tênis. E o mais engraçado é que agora jogo tênis como
antes fazia amor.”

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Resistindo à Tentação

Uma jovem mulher, Megan L., a quem comecei a ver recentemente, em


terapia, junto com seu marido, telefonou-me para dizer que precisava me
ver a sós, o mais depressa possível. Quando chegou a meu consultório
alguns dias depois, suas pálpebras estavam vermelhas.
“Eu chorei a manhã inteira”, ela contou.
“O que aconteceu?”
“Eu fiz amor com outra pessoa!”, ela desabafou. “Simplesmente
aconteceu, bum, desse jeito. É alguém do meu escritório. Ele
simplesmente olhou para mim no almoço e eu soube o que estava para

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a seus parceiros costumam dizer que, “simplesmente aconteceu”. Como casos”, disse. “Isto ocorre frequentemente. Mas é sempre uma expressão
uma garota adolescente que perde a virgindade por ter' ‘perdido a cabeça” de culpa, e o fazer amor culpado raramente perdura.”
contrariando seus princípios, elas protestam, dizendo que “não puderam Megan balançou a cabeça, infeliz.
fazer nada”, ou que foram os drinques ou as circunstâncias os causadores
Em duas sessões, nas quais eu havia visto Megan e seu marido, antes
de suas infidelidades. Mas, independente do quanto neguem suas
responsabilidades por aquilo que “simplesmente aconteceu”, sentem-se disso, ambos reclamavam de baixa frequência sexual e apatia, um de seus
perturbados com as consequências: sentimentos confusos, culpa, e o medo principais problemas, segundo o que me pareceu, era o fato de que ambos
de perder seu companheiro e a família — a confusão toda. pareciam sufocados por excesso de “intimidade”; Megan, especialmente,
Eu não vou certamente dar aqui um depoimento moral sobre o pareceu-me sexualmente inibida, por fazer amor com aquele que era ao
“delito” da infidelidade; não é disso que me ocupo. Mas de fato acredito mesmo tempo seu “melhor amigo”. Este era um exemplo clássico de
que todos nós temos responsabilidade para conosco, assim como para com “Excessivamente Próximos”. Eu encarei a infidelidade de Megan como
nossos parceiros, e por isso julgo necessário examinarmos o “porquê’ ’ da uma extensão de sua ansiedade: assumindo um amante, ela estava
tentação de sermos infiéis e decidirmos conscientemente se vale a pena colocando uma distância entre ela e seu marido. Mas, a questão era: seria
ceder a tais tentações. E, bem, acredito que tenho afinal umá premissa esta uma distância irreparável?
moral: Eu não creio que adultos se dêem o direito de sair por aí dizendo “Você diz que está dividida entre dois amantes”, eu disse a Megan.
“simplesmente aconteceu”. “Mas o que você tem que se perguntar é: você realmente ama um dos
dois? Ou esta é uma forma de você não se comprometer com ninguém?”
***
Dividida Entre dois Amantes As razões que levam os parceiros à infidelidade — ou à tentação da
infidelidade — estão geralmente muito ligadas às razões que os levam a
O dilema de Megan consistia no fato de. que, segundo ela me disse,
ter dificuldades de se expressar — em especial, sexualmente em casa: o
ela estava subitamente apaixonada por dois homens ao mesmo tempo:
homem que não pode expressar verbalmente sua raiva para com a esposa,
“Bob é minha rocha. Ele é minha segurança, meu melhor amigo, o pai do
pode exercer esta raiva tendo um caso com a melhor amiga dela; a mulher
meu filho. Não consigo imaginar a vida sem ele. Mas, com Tom eu sinto
coisas que jamais senti com Bob — uma excitação, uma sensação de estar que se culpa sobre se divertir sexualmente, enquanto as crianças estão em
viva. Sexo é uma experiência totalmente diferente com ele. Sinto que se eu alguma parte da casa, pode “resolver” seu problema, tendo um
abrisse mão de Tom, estaria abrindo mão de tudo o que é jovem e vital em relacionamento sexual com outra pessoa fora do seu lar; o homem que não
mim mesma... Sinto-me terrivelmente egoísta, mas não consigo deixar de consegue se abrir com sua esposa para propor a ela variações sexuais,
desejar ter os dois.” pode encontrar relaxamento sexual com uma prostituta. A lista de motivos
“De uma certa forma você pode ter os dois”, eu disse a ela. “Você para a infidelidade prossegue, paralela aos motivos que temos explorado
pode ter os dois com Bob, se tiver vontade de tentar. Nós tínhamos aqui neste livro, quanto ao porquê de nos desligarmos com os nossos
exatamente começado a trabalhar com isso, quando você decidiu desistir parceiros de toda a vida. E uma vez que nos esforçamos para explorar
de seu casamento.” estes motivos — por mais difíceis e angustiantes que possam ser es
“Mas eu não desisti de meu casamento”, protestou Megan.
“Eu acho que desistiu sim — pelo menos por enquanto”, disse. “Não
existe uma maneira de você melhorar sua vida sexual com Bob, se você
está fazendo amor com uma outra pessoa também.”
Megan protestou novamente, embora desta vez não tão veemente. Ela
disse que conhecia outras mulheres que lhe contaram que um caso havia
“incrementado” suas vidas sexuais no casamento.
“Tenho certeza de que estas mulheres fizeram amor com mais
frequência com seus maridos, durante os períodos em que tiveram seus
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tes esforços — nós geralmente descobrimos que a infidelidade não um relacionamento?” Se o sexo sempre foi parte de um relacionamento —
“acontece simplesmente”; existe sempre um motivo para que a façamos como havia sido para Megan — um relacionamento extraconjugal pode
acontecer. marcar o início do fim de um casamento.
Megan falou de sua atração por Tom como sendo uma “obsessão”. Nada disso pretende negar que muitos casamentos terminam por boas
Tudo o que ele precisava fazer era olhar para ela, e ela começava a se razões. Nem se deve negar que um segundo casamento com a terceira
sentir sensual, algo que jamais acontecera com seu marido. parte envolvida no rompimento do primeiro casamento seja muitas vezes
“Existe uma eletricidade incontrolável entre nós”, ela disse. “Não uma união feliz, sexualmente gratificante. Um triste fato da vida é que
posso negar isso.” muitos de nós realmente cometem erros irremediáveis de julgamento
Tenho certeza de que havia “eletricidade” entre ela e seu amante, mas quando nos casamos — erros que não podem ser corrigidos por terapia ou
eu também tenho certeza de que não se sentir próxima ou compromissada dedicação. Eu não digo invariavelmente a todos os casais que vêm me ver
com ele era a primeira fonte de sua eletricidade. Além do mais, Megan “Vocês podem melhorar; não abandonem seu compromisso e o sexo
parecia estar “apaixonada” por sua obsessão: colocando em primeiro lugar melhorará tudo.” Existem muitos casos onde isso simplesmente não é
os problemas que a haviam conduzido e a seu marido a uma terapia, ela verdade: pode ocorrer de não existirem mais bases para confiança entre os
parceiros, ou eles podem estar tão magoados que já não conseguem
sentiu um grande alívio ao ver seus problemas como algo além de seu
perdoar, ou podem ainda ter se afastado em diferentes evoluções, e nunca
“controle” — desta forma ela não tinha que se esforçar no relacionamento
se sentirão confortáveis lado a lado novamente. Entretanto, o divórcio,
com seu marido. como todos sabemos, é uma das experiências mais devastadoras que
Todos nós apreciamos ter um pouco de “obsessão” de vez em podemos ter, e precipitar um divórcio por “engano” — por um caso que
quando: como adolescentes, nada podia ser mais excitante do que “ficar “simplesmente aconteceu” — é uma verdadeira tragédia. E é uma tragédia
apaixonada” por um astro do rock ou do cinema. Mas quando convivemos que seríamos tolos em não evitar.
com estas obsessões — especialmente depois de casados — corremos os Eu ainda gostaria de apontar aqui que correr para a corte de divórcio
riscos que sempre existem quando misturamos fantasia com realidade. Já incontinent!, porque seu parceiro foi infiel pode ser também um erro
vi vários casos de homens que se divorciaram de suas esposas e casaram terrível. Certamente, a infidelidade nunca é fácil de ser perdoada e é algo
com suas amantes e que simplesmente passaram a ter as mesmas inibições que você pode não esquecer nunca, porém, explorando suas próprias
e frustrações sexuais com suas novas esposas: uma vez que “a amante da tentações, você pode, pelo menos, começar a ver o erro de seu parceiro em
fantasia” passou a ser “a esposa real” a obsessão (a emoção) foi-se embora uma perspectiva — as infidelidades de seu parceiro, geralmente, estão
e eles voltaram ao ponto de partida, mas tendo agora uma família dividida mais relacionadas com as inibições e fantasias dele ou dela, do que
atrás deles. propriamente com você.
“Espere aí um momento!, ’’posso ouvir alguns de vocês, protestando.
“Ter um caso e pedir o divórcio são duas coisas diferentes. Um não tem
que conduzir ao outro, necessariamente. ”
Não, um não tem que conduzir ao outro, mas a verdade é que "Eu Faço... Eu Acho"
geralmente conduz.
Em algum lugar, na maioria dos casos de divórcio, está uma terceira A infidelidade sempre levanta a questão do porquê nos casamos, em
parte. Ele ou ela pode não ser a causa do divórcio, mas esta pessoa primeiro lugar. E por que ainda estamos casados. Megan admitiu
frequentemente representa um passo decisivo para fora de um casamento facilmente que as razões pelas quais se casara com Bob ain
— para fora da tentativa de fazer funcionar o casamento e o sexo no
casamento. E uma vez dado este passo, o divórcio se torna uma
possibilidade real. A pergunta que fiz a Megan — e que faço a qualquer
marido ou esposa que esteja embarcando em um relacionamento fora do
casamento — é, “Você já foi uma pessoa que fizesse sexo casualmente?
Ou você sempre — mesmo antes de se casar — tinha sexo no contexto de

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da eram importantes para ela: segurança, continuidade, confiança, alguém nervosa do que fico com meu marido. Eu simplesmente fiquei lá deitada
com quem formar uma família. Ela havia tido três relacionamentos como se fosse um cadáver.”
duradouros antes de se casar e, segundo ela, “Quando o terceiro terminou, Obsessões sobre tentar outros amantes muitas vezes acabam em
soube que nâo poderia recomeçar aquilo novamente. Todo a idéia de me fiascos. De modo geral, a fantasia é muito mais doce e romântica que a
dedicar a um relacionamento, que, eu sabia de antemão, chegaria a um realidade. E a questão permanece: por que desejamos tanto nos convencer
fim, começou a me parecer sem sentido. E quando conheci Bob, ele se de que o sexo com alguma outra pessoa é algo que temos que tentar? Nós
sentia exatamente como eu ” sentimos a mesma coisa com relação a outras experiências que não
Megan começava a responder a suas próprias questões: se as razões tentamos como, por exemplo, visitar a índia ou nos tornarmos monges
pelas quais se casara com Bob ainda eram válidas, por que ela iria querer budistas? Eu não vou querer dizer que fazer amor com outras pessoas seja
arriscá-las em um caso temporário? a mesma experiência — certamente não é verdade. Mas, no final, são
Hoje, mais do que nunca, as pessoas chegam ao casamento com uma
nossas próprias respostas sexuais que fazem a diferença básica na
história de relacionamentos sexuais atrás delas. Para elas, a decisão de se
experiência: nosso “Amante de Sonhos” pode aparecer, mas se estivermos
casarem é um compromisso com a segurança da permanência, após terem
experimentado a insegurança de relacionamentos em série, ou o vazio das amarradas, ainda não saberemos apreciá-lo.
relações impessoais de uma noite. Após terem tido uma variedade de Certamente não sou nem pró nem contra o sexo premarital. Chegar a
parceiros sexuais, algumas pessoas se tornam ansiosas diante da um relacionamento de compromisso com experiência sexual anterior não
perspectiva de fazerem amor com uma mesma pessoa para o resto de suas precisa ser uma fonte de ciúmes ou desconfianças, como ocorria no
vidas; mas estão convencidas de que esta é uma previsão muito melhor do passado. Mas, por outro lado, o mito corrente de que nós precisamos ter
que a oposta: fazer amor com diferentes pessoas para o resto de suas vidas. experiências sexuais antes de nos casarmos, a fim de “fazer tudo certo” é
Ocasionalmente, converso com pessoas que são exceções para esta uma idéia errada também. O sexo no casamento é diferente do sexo sem
tendência atual: casais que chegaram ao casamento ainda virgens e agora, compromisso e a única maneira de se praticar sexo conjugal é a dois — no
vivendo em um mundo de “sexo livre’’, estão preocupadas com a idéia de casamento. Uma variedade de parceiros sexuais não nos prepara para o
estarem perdendo alguma coisa. Muitas dessas pessoas são tentadas por casamento; somente o compromisso de tornai o sexo conjugal excitante o
relacionamentos extraconjugais: elas estão convencidas de que “todo o faz.
resto do mundo” está tendo melhor sexo que elas.
“É como se tudo que eu tenha provado até hoje tenha sido sorvete de
baunilha”, contou-me uma jovem mulher. “É natural que eu deseje saber
como são o cholocate e o pistache — pelo menos como um teste.” "Vocês Fizeram suas Camas... Agora
“Por que você não os ‘provou’ antes de se casar?”, perguntei a ela. Deitem-se Nelas"
A mulher encolheu os ombros. “Eu era muito rigorosa naquela
época”, ela respondeu. Um homem de meia-idade, Jack L., contou-me a seguinte história,
Esta mulher, como Megan, veio em princípio me ver, porque ela muito confuso e perturbado:
desejava superar suas inibições sexuais e, como Megan, ela julgou que um
caso fora do casamento seria um atalho para atingir sua meta.
“Você pode tentar quantos amantes quiser”, disse a ela, “mas. ainda
será você na cama com todos aqueles amantes diferentes — isto não vai
mudar. E o que imagino que você realmente deseja, é que você seja o
‘chocolate’ e o ‘pistache’ e tudo o mais, e provavelmente você não precisa
de outro amante para isso. Esta parte é com você’ ’.
Mas ela não estava convencida e de fato “testou” outro amante,
embora esta experiência, como admitiu, não chegou nem perto de sua
fantasia a respeito.
“Foi um fiasco total”, ela me contou mais tarde. “Eu estava mais
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“Eu já estava casado com Barbara há dez anos quando conhecí Judy, da complementação de um relacionamento de compromisso, através de
e durante todos aqueles anos jamais havia pensado em ter um caso. uma vida sexual plena e excitante.
Barbara era — e ainda é — uma incrível esposa e mãe. Mas com Judy
descobri que alguma coisa estava me faltando, uma espécie de afinidade
intelectual, interesses comuns. Ambos somos advogados marítimos,
ambos interessados em política; lemos as mesmas revistas, falamos a Sintonize, Desligue, e Volte para Casa
mesma língua. Não tenho nada semelhante com Barbara. Percebi que
estava de fato ansiando por meus almo- ços com Judy, e depois de algum Megan, a mulher que estava “dividida” entre seu marido e seu
tempo, pareceu-me simplesmente natural complementar o relacionamento amante, contou-me que ela estava sexualmente obcecada por seu amante.
e ir para a cama. Agora não sei o que fazer. Judy não me faz quaisquer “Eu realmente gostaria de me libertar dele”, ela me disse, “mas, não
exigências; ela nem mesmo sugere que eu me divorcie. E o fato é que eu consigo. Estou viciada nele.”
não gostaria de fazê-lo. Mas não sei por quanto tempo mais poderei “Talvez não seja tão difícil quanto você imagina”, disse. “A maioria
manter esta vida dupla.” de nós é pós-graduada em perda de interesse.”
Eu já ouvira histórias semelhantes muitas vezes, histórias de maridos Megan me devolveu um sorriso relutante. Em minhas sessões com
e esposas que sentem haver superado seus parceiros, quando conhecem ela e seu marido, antes do outro relacionamento ter começado, havíamos
alguém que partilha seus interesses, alguém que “fala a mesma língua” que discutido algumas das maneiras através das quais haviam perdido, ao
eles. Sempre consigo entender bem esta parte. Mas é o fato de longo dos anos, o interesse um pelo outro: a “lista negra” das faltas de
“complementar o relacionamento”, consumando- o através do sexo, que cada um, que automaticamente vinha à cabeça deles sempre que iam para
sempre leva à confusão, à culpa e ao tormento de “deitar em duas camas”. a cama juntos; a maneira como se concentravam nos aspectos “não-
Jack contara que havia sido “natural” para ele ir para a cama com atraentes” do corpo um do outro, sempre que o sexo parecia iminente; os
Judy, entretanto, se ele tivesse simplesmente se limitado à afinidade que argumentos, distrações, álibis e desculpas que usavam para não se ligarem
sentia com ela, a proximidade, e mesmo a atração sexual que ele tinha por um no outro. Eles, assim como muitos de nós, haviam desenvolvido uma
ela, não estaria agora se sentindo tão dividido, desleal e inseguro. Será que variedade de truques e técnicas para se manterem desligados. Sugeri a
este relacionamento com Judy teria ficado lamentavelmente incompleto se Megan que, pelo menos uma vez seria adequado utilizar tais técnicas: para
tivessem parado antes de ir para a cama? se desligar de sua obsessão pelo amante, Tom.
Mais uma vez, não estou fazendo um julgamento moral do “Da próxima vez que se encontrar com Tom”, sugeri, “concentre-se
comportamento de Jack, mas ele havia se colocado em uma situação que em tudo de negativo que pode pensar sobre ele. Já que você tem se
considerava intolerável. Ele, como muitas pessoas que têm casos fora do concentrado apenas no que é ‘perfeito’ nele e no que está longe de ser
casamento, desejava que nada houvesse acontecido. perfeito em seu marido, veja se consegue inverter as coisas.”
Freqüentemente, as pessoas questionam que a situação ideal seria a É mais fácil falar do que fazer, como se sabe. Mas, a simples idéia de
de se ter um cônjuge e uma família em uma parte de suas vidas e sexo que sua vida podería estar sob seu próprio controle, deu a Megan a
excitante — com outro parceiro — em outra parte de suas vidas. oportunidade de ver seu dilema dentro de uma certa pers
Entretanto, este “ideal”, como possa parecer em teoria, raramente funciona
na prática: a maioria de nós simplesmente não parece ter sido feita para
comportar vidas duplas. Uma questão recentemente em pauta foi a das
experiências dos anos sessenta e setenta com “Casamentos Abertos”: um
acordo era firmado entre os parceiros casados, para que se permitissem —
e mesmo encorajassem um ao outro — ao sexo com parceiros fora do
casamento. Nada era escondido: tudo era feito com espírito de abertura e
honestidade. Entretanto, um por um, estes casamentos falharam,
terminando em separações. Ao final, a opção que pareceu “natural” foi a

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pectiva. Não era “mágica” aquilo com que ela se defrontava, era ela com seus amantes, mas que se queixam de que estão sempre muito
própria. Ela começou a considerar seriamente a idéia de que, em vez de cansados para o sexo em casa; pessoas que podem ficar dispostas para o
passar sua vida se desligando para seu marido, poderia passar a se desligar sexo com um instante de atenção para o amante, mas que estão sempre à
para seu amante e retornar a sua prioridade legítima: ligar-se novamente espera da “disposição perfeita” para fazer amor em casa; pessoas que
para seu marido. experimentarão toda a sorte de “loucuras” na cama com um amante
Um jovem casado que conheço, contou-me sua maneira bastante secreto, mas que se declaram tímidas para fazer qualquer coisa diferente
extravagante de “resistir à tentação”: do “Ato Sexual” em seus próprios quartos de dormir. Em resumo, pessoas
“Sinto-me constantemente atraído por uma mulher ou outra. No que tornam o sexo extraconjugal divertido, mas que insistem em fazer do
metrô, no escritório, andando na rua, eu me pego sempre fantasiando sobre sexo em casa um negócio “sério”.
as lindas garotas que vejo passar. Mas, então, jogo comigo o que chamo de O fato é que, se canalizarmos nossas energias neste ou naquele
jogo. ‘Casamento na Polícia’. Eu imagino que estou casado com aquela sentido — se nós “pensarmos positivamente” sobre sexo com nossos
loura fantástica que está bem ali na minha frente: nós temos cinco filhos, parceiros do casamento — estou convencida de que podemos ter o melhor
nos mudamos para o subúrbio, discutimos sobre dinheiro — tudo no curto dos dois mundos: a segurança e confiança de um relacionamento contínuo
espaço de um minuto. E, então, puff, eu estou cansado dela. Sinto-me e a emoção e aventura de um caso amoroso — um “caso” com nosso
ligado, mas prefiro me levar assim ligado, para casa, para minha mulher.” marido ou esposa. Cada um de nós pode transformar o seu parceiro no
Resistir à tentação de ser infiel não é tão impossível quanto muitos de “Amante dos seus Sonhos”. Através dos anos, tenho visto inúmeros casais
nós gostariam de acreditar que fosse. Nós não precisamos perder nossas fazerem exatamente isto, e eu sei que é esta a chave para um casamento
fantasias sexuais sobre outros parceiros; mas apenas as consequências de bem-sucedido.
pô-las em prática. Na Parte l deste livro, exploramos as principais maneiras, através -
das quais muitos de nós, automaticamente, se desligam do casamento; na
Parte II veremos como nós podemos nos ligar no casamento:
Em vez de sucumbirmos aos “Fatores que nos Desligam na Rotina do
Fazendo do seu Parceiro o Amante dos seus Casamento”, podemos ficar dispostos “Saindo para o Sexo” e Sexo
Sonhos “Picante, porém Gostoso” — com nossos parceiros.
Em vez de esperarmos eternamente pelo momento em que os dois
Como terapeuta sexual, vejo-me frequentemente acusada de muitas parceiros estejam “com disposição para o amor”, podemos ficar dispostos
coisas, mas dentre elas minha favorita foi quando um marido exasperado “Levando um Sanduíche — e Um ao Outro — para a Cama” uma vez por
chamou-me de “o Norman Vincent Peale do quarto de dormir”. semana e veremos como a “disposição perfeita” estava esperando por nós
Eu havia simplesmente dito a este marido que se ele pegasse metade todo o tempo.
da energia, do esforço e do tempo que empregava em seus Em vez de estereotiparmos um ao outro, como “Mamães” e “Papais”
relacionamentos extraconjugais, e aplicasse esta energia e esforço para assexuados, podemos ficar dispostos, “Pensando Sexualmente” sobre
tornar sua vida sexual com sua esposa mais excitante, sua vida seria muito ambos novamente.
mais feliz. Em vez de nos entediarmos com o sério e “Verdadeiro” Sexo, noite
Se isto soa como Norman Vicent Peale, então paciência. Eu após noite, podemos tentar um completo “Banquete Sexual” de variações
simplesmente acredito que isto é uma verdade. Eu tenho visto muitas um com o outro.
pessoas que encontram tempo para organizar encontros clandestinos com
seus amantes, mas que jamais pensaram em arranjar tempo para uma tarde
ou noite de sexo com suas próprias esposas e maridos; pessoas que
procuram cuidadosamente lugares românticos para seus encontros
extraconjugais, mas que jamais imaginam levar suas vidas sexuais para
fora de seus quartos em casa, e para dentro de um lugar novo e
estimulante; pessoas que encontram a energia para fazer amor a noite toda

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Em vez de nos tornarmos preocupados com o “Dever do Sexo” dos
astros sexuais, podemos aprender um enfoque “egoísta” em nosso
próprio prazer com “A Arte de Usar Um Ao Outro”.
Em vez de um sexo sufocante por estarmos “Excessivamente
Próximos”, podemos tentar transformar nossos parceiros em “Amantes
dos Sonhos”.
Em vez de vermos sempre nossa vida sexual como inadequada, por
PARTE II
Como nos Ligamos
estarmos envolvidos no “Esporte de Salão Mais Competitivo do
Mundo”, podemos redescobrir a novidade no sexo, fazendo-o “Pela
Primeira Vez — Novamente”.
Na Parte I, vimos como através da familiaridade podemos chegar à
monotonia sexual; na Parte II veremos como, através da familiaridade Novamente
com um parceiro, podemos desenvolver confiança e descontração
sexual: as chaves para uma vida sexual excitante e envolvente. Como
parceiros de tênis que ao longo dos anos desenvolvem j untos suas
técnicas, que com o tempo conhecem o movimento um do outro e que
respondem a esses instintivamente, amantes podem estar sempre
melhorando, fazendo amor com a mesma pessoa para o resto de suas
vidas. De fato, eles podem chegar a ter o melhor sexo que existe.

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Pensando Sexualmente

Dificilmente existe um homem que não recorde com ternura seus dias de
adolescente, quando a mera sugestão de sexo podia fazer o sangue correr
à virilha, fazendo aparecer um volume constrangedor em suas calças.
Qualquer coisa podia despertá-lo: o contorno de um sutiã, aparecendo
através da blusa da menina que sentava em frente a ele na aula de
francês; uma fração de segundos de visão da coxa nua, quando a garota
de saia montou sua bicicleta; um poster de um filme com Janet Leigh de
maio; e dançar — oh, Deus, dançando então, fazia acontecer todas as
vezes. .
“Começando por volta da oitava série”, contou-me um homem, “o
tópico número um das discussões com os garotos era, o que você fazia
com sua ereção — ‘o furo’ como chamavamos — quando você estava
dançando junto com uma garota? O consenso geral era de que você
deveria afastar sua pélvis e esticar para trás as costas, de modo que a
garota não percebesse que você estava excitado. É claro que ficava
difícil dançar assim — você se sentia o tempo todo como se fosse cair.”
Recordações deste tipo não são tão frequentes para algumas
mulheres: em geral elas eram melhor treinadas, desde cedo, a negar seus
sentimentos sexuais e elas não possuem um correlative físico para estes
sentimentos, que é tão óbvio para elas próprias (ou qualquer outra
pessoa) como uma protuberância nas calças. Entretanto, os sentimentos
sexuais estavam lá, juntamente com as respostas físicas — que mulher
não se recorda de, após ter assistido a um jogo de basquete na
universidade, despir suas roupas e descobrir suas calcinhas úmidas? Os
sentimentos sexuais de uma garota adolescente eram

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detonados tão facilmente quanto os dos garotos adolescentes: com uma Precisamos começar pela nossa sensibilização para o sexo, deixando nossa
leitura clandestina de Os Amantes de Lady Chatterley. uma viagem fantasias atuarem, sem interrompê-las por culpa ou embaraço.
trepidante no banco de trás de um ônibus; a simples visão da palavra Permitindo que nossos olhos vaguem desinibidamente, incitando
“sexo” impressa; e, é claro, dançar. nossa imaginação, para o reino das possibilidades sexuais. E sentindo
Após reprimir o sexo na pré-adolescência, a súbita descoberta do nossas respostas sexuais naturais para este mundo — a pulsação acelerada,
sexo, como uma adolescente foi uma surpresa maravilhosa: “Lembro-me o sangue na virilha, nossas calcinhas úmidas — como uma fonte de prazer,
de ter este pensamento estonteante de que, todas as pessoas, no mundo em vez de absorvermos estes sentimentos antes mesmo de começarem, por
todo, existiam somente porque em algum lugar, em aado momento, duas vergonha ou medo da “distração”, ou pavor de nos tornarmos “maníacos
pessoas tinham feito amor”, contou-me uma mulher. “Era assustador. Eu sexuais”.
poderia olhar para uma multidão na rua e pensar, ‘Isto representa “ Você deve estar brincando!”, posso ouvir esta voz de protesto,
quinhentos atos sexuais, bem aqui!’” argumentando. “Tudo que uma pessoa pode fazer é Não pensar
Um homem que conheço confessou um revelação adolescente sexualmente, durante todo o dia, no mundo em que vivemos hoje. Somos
bombardeados com sexo espalhafatoso e alusões sexuais a todo instante
também “estonteante”: “Eu simplesmente não conseguia parar de pensar
— em propagandas, revistas, TV, filmes. O sexo está sempre clamando
que debaixo daquelas roupas todo mundo possuía órgãos sexuais. Todo
por nós. E sem mencionar ainda o espalhafato sexual com que se vestem
Mundo!” as pessoas hoje — você nem mesmo precisa fazer funcionar sua
O sexo parecia estar por toda a parte, quando éramos jovens. Ele imaginação para pensar sexualmente hoje em dia. ”
florescia brilhante e cheio de luxúria como flores silvestres nos lugares Ah, mas precisa sim! Sexo não é simplesmente um objeto lá fora, no
mais incomuns. Uma cortina, voando para fora da janela de um quarto de mundo. É uma resposta ao mundo. Podemos nos colocar no centro de uma
dormir, enquanto passeavamos na rua, permitia um instante de fantasia orgia e não ter um só pensamento ou sentimento sexual. De fato, acredito
sobre os corpos nus de amantes tempestuosos, ondulando na cama, atrás que todo o espalhafato sexual que nos bombardeia hoje, pelos meios de
daquelas cortinas. Um carro coberto na área de estacionamento de um comunicação e nas ruas, serve apenas - para nos desligar ainda mais, ao
motel, no meio da tarde, gerava uma inevitável cadeia de pensamentos longo do caminho. Faz com que paguemos o tributo por nossa necessidade
sobre paixões clandestinas. Estranhos mentalmente despidos por nós, era de “sobrevivência não- sexual”. Como um morador da cidade que se
um passatempo de satisfações infinitas. Pensar sexualmente era um adapta a um nível de ruído insuportável, elevando seu limite sonoro —
reflexo. baixando sua sensibilidade para todos os ruídos — muitos adultos
Mas, em algum lugar ao longo do caminho — geralmente por volta respondem aos estímulos sexuais elevados do mundo hoje, elevando seu
da época em que nos casamos — perdemos este reflexo. Foi enterrado “limite sexual”— desligando suas sensibilidades para todo e qualquer
dentre os incontáveis novos reflexos que adotamos, quando nos sexo. O resultado, acredito, é uma apatia sexual maior do que nunca. É o
desligamos. caso, então, para que as pessoas pensem sexualmente o tempo todo.
O processo de nos ligarmos novamente, começa da mesma maneira
como começou na adolescência: pensando sexualmente. Quando vemos o
mundo todo e todas as pessoas nele como seres sexuais, com sentimentos "Eu Era um Maníaco Sexual Adolescente"
sexuais. E quando nos detemos antes de nos desligarmos automaticamente
para toda esta maravilha sexual. Em um recente encontro de residentes de um hospital, levantou- se a
A melhor maneira de começarmos a nos sentir mais sexuais em casa questão se havia ou não qualquer atividade sexual entre os pacientes das
é nos permitindo sentir mais sexuais em todos os. momentos do dia. É enfermarias.
virtualmente impossível mantermos nossas respostas sexuais sob um
controle rígido durante todo o dia e, de repente, acionarmos as
engrenagens, no instante em que nos encontramos a sós com nossos
parceiros às onze da noite, ficando prontos para um sexo apaixonado.

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“De jeito nenhum”, respondeu imediatamente uma jovem residente A excitação sexual não precisa conduzir ao sexo todas as vezes — e é
sincera. “Estas pessoas são doentes. O sexo é a última coisa em suas claro que não imediatamente. Pode ser um prazer fortalecedor e
mentes.” “Oh, Deus, está lá sempre!” Outra residente exclamou. “Quando sensibilizante por si próprio. (O fato é que, a despeito da opinião — e
as luzes se apagam, há sempre alguém pulando de uma cama para outra.” ansiedade — popular, que ditam o contrário, adolescentes não fazem sexo
A primeira residente havia se desligado da esfera de possibili dades o tempo todo.) Nós não vamos ficar “sexualmente frenéticos”, apenas
sexuais. Para ela, era uma idéia escandalosa, a de que seus pacientes porque vamos nos ligar sexualmente através de pensamentos, percepções e
tinham sentimentos e necessidades sexuais. Provavelmente, esta visão do fantasias sexuais. Temos pleno controle sobre nós mesmos — este não é o
mundo não estava limitada apenas às enfermarias; ela possivelmente tinha problema. O problema é nos permitirmos perder um pouco deste controle.
dificuldades para imaginar a grande maioria da população como seres
sexuais.
Algumas pessoas queconheço têm problemas para imaginar que
qualquer um acima dos sessenta seja sexual. Tenho conversado com outros Ganhando Naturalidade — em Pequenas Etapas
que não podem realmente acreditar que qualquer um que use terno e
gravata e trabalhe na Wall Street possa ter sentimentos sexuais. E a grande Tudo bem, vamos regredir. Não em todos os minutos do dia, mas
maioria de nós, no fundo do coração, acha difícil aceitar o fato de que aqui e ali, vamos acender a luz de nossas percepções para a sexualidade do
nossos pais fizeram — e continuam a fazer — amor. nosso mundo diário:
Mas todos eles têm sentimentos sexuais — todos. E é bom que você
se lembre de estar consciente disso o máximo possível. E é sexualmente • Da próxima vez que você passar pela janela de um quarto de
fortalecedor, a recaptura desse senso de admiração que sentiu aquela dormir, com cortinas balançando, imagine o que podería estar
adolescente, quando percebeu que todos no mundo são o resultado de um acontecendo por detrás delas. Sonhe um pouco. Deixe a fantasia
ato sexual, e aquele adolescente que se deliciava com a idéia de que sob as correr por si mesma. E não se deixe interromper por seu
roupas de todas as pessoas havia órgãos sexuais. Para que comecemos a “desligamento automático” se você começar a se excitar.
pensar sexualmente de novo, precisamos regredir a este modelo de Acredite-me, você não ficará “frenético”. E ninguém precisa saber
pensamento adolescente, este senso de admiração e esta frivolidade sexual. no que está pensando.
“Impossível!” (Novamente aquela voz de protesto.) “Se eu começar • Redescubra a antiga arte de “despir mentalmente” as pessoas —
a pensar como um adolescente, só vou pensar em sexo. Não vou sequer tanto estranhas como pessoas que você conhece. Imagine como
pensar em nada mais. E quem tem tempo para isto, senão um verdadeiro elas realmente são sob todas aquelas roupas — o tórax e seios,
adolescente?” barrigas e nádegas, seus órgãos sexuais. Está tudo ali, você sabe.
Bobagem. Tempo não é o problema: Nós gastamos horas todos os A única “ilusão” ou “distorção” é pensar que eles não têm corpos
dias sonhando com dinheiro e carreira e remoendo sempre os mesmos sob suas roupas. E, lembre- se, tais pensamentos não tornam você
problemas. Nosso verdadeiro medo, receio, é de que se pensarmos como “um velho tarado” ou uma “ninfomaníaca”. Nada pode ser mais
adolescentes, começaremos a nos comportar como “maníacos sexuais natural. Os seres humanos começaram a se despir mentalmente
adolescentes”. Vamos nos tornar “degenerados”, obcecados por sexo — uns aos
viciados nele — e tudo que vamos querer fazer será sexo, excluindo tudo o
mais. Nunca seremos capazes de nos concentrar nas coisas “importantes”
da vida novamente, tão preocupados estaremos com o sexo. Isto pode soar
como um exagero, mas muitos de nós realmente carregam o medo do
“maníaco sexual adolescente” dentro de si. Temos contido nossas
percepções e sentimentos sexuais por tanto tempo, que sentimos que a
menor rachadura nesta “barreira” deverá nos lançar em nossa própria
sexualidade. Nosso medo básico de pensar como um adolescente, então, é
o de ficarmos sexualmente excitados.
Mas a idéia é justamente esta.

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outros desde o dia em que começaram a se vestir. encostava acidentalmente na nossa, quando o ônibus fazia uma curva
• Imagine outros casais fazendo amor — qualquer casal. Um casal rapidamente. Era uma fonte inocente de prazeres até que — “Desculpe-
que você conhece, o casal abraçado que está a sua frente na fila, me” — começamos a nos desligar alarmados.
seus pais, a Rainha e seu Consorte. Todos eles fazem isso, você “Pare aí mesmo!” (Novamente aquela voz de protesto.) “Eu espero
sabe. E não é desagradável para eles — pelo menos não para a que você não sugira estes contatos físicos “acidentais ” com estranhos
maioria deles. Imagine o que faz com que fiquem ligados um no como uma maneira de viver. Existem malucos lá fora — por toda a parte
outro, como se tocam, como se sentem. Novamente, deixe sua hoje em dia. Eu certamente não vou me tornar uma vítima deliberada de
fantasia correr sozinha. Isto não trará problemas para você. Você um desses malucos.”
não será preso por “exibição indecente” da sua mente! Infelizmente, existem mais conquistadores malucos lá fora do que
• O mais importante: não fique alarmado quando começar a sentir a jamais houve antes. Mesmo o que era um prazer inocente e inofensivo
excitação sexual, fazendo estes ou quaisquer outros exercícios que
como uma “troca de olhares” em um ônibus ou trem — o passatempo
possa criar. Este “alarme” é a maneira pela qual você se desliga.
favorito na viagem de ônibus por Estocolmo, quando eu era uma estudante
Concentre-se em sua excitação. Sinta seu pulso acelerado, sua
contração na barriga e virilha, a ereção de seu pênis ou a umidade — é um risco hoje em dia: um grande número de homens (e mulheres
em sua vagina, a sensibilidade súbita em todo seu corpo. Tudo é também) recebem isto como um convite direto, em vez de um jogo com
parte de você, tudo uma resposta natural. Se nós nunca nos um começo e um final (o final da viagem de ônibus). Mas, dito isso, existe
desligarmos, poderemos atravessar os dias alegremente, sentindo- uma diferença entre ser molestado por um conquistador maluco e o
nos sexualmente excitados de tempos em tempos, entrando aos contato físico casual, acidental. E existe uma diferença entre ser um
poucos em outra concentração, ficando novamente excitados, tudo maluco e simplesmente apreciar a pressão do corpo de um estranho contra
tão natural quanto rir, quando alguma coisa nos parece engraçada o nosso, quando estamos comprimidos em um elevador lotado. Nós
e prosseguir com o trabalho, quando a piada já passou. conhecemos a diferença. Não precisamos ser nem vítimas nem loucos
tarados para nos permitirmos este prazer, esta excitação inocente em
Pensar sexualmente é uma disposição de espírito, um enfoque. nossas vidas diárias. E, por favor, se fazemos um erro de julgamento e
Prescreví aqui alguns poucos exercícios para entrarmos nessa disposição algum estranho realmente nos pressiona — e, um tanto demais, isto não
de espírito, mas não posso pretender descrever cenários completos para a deve nos impedir de sentir raiva e fazer o necessário para interrompê-lo.
sua imaginação. As fantasias são suas. Aproveite-as. Mas, por outro lado, nós não precisamos nos desligar a todos os instantes
por causa desta possibilidade.
Considere a seguinte situação: Você está num sofá na sala de espera
de seu dentista. Outra pessoa se senta e, de repente, você sente sua coxa
"Desculpe-me —- Você Vai me Deixar Ligado" roçando a dele ou dela. Sua resposta automática provavelmente é afastar
sua perna. Mas o que acontece — se pelo menos desta vez — você não o
O antropólogo Desmond Morris possui uma teoria, segundo a qual, faz? Ao contrário, com sua cabeça ainda afundada em sua revista, você se
quando dizemos “Desculpe-me” em um contato físico acidental com concentra na pressão deste corpo estranho de encontro ao seu próprio. Sem
alguém, estamos tentando destruir as mensagens e sentimentos sexuais que sombra de dúvida — isto
neste instante passamos a ele ou ela. Na realidade, estamos dizendo,
“Desculpe-me — você vai me deixar ligado. E eu, você”.

Quando nós éramos jovens e solteiros, o mais leve e casual contato


físico com qualquer pessoa podia nos fazer formigar de excitação sexual.
E esta sensação podia permanecer conosco por alguns minutos, até mais,
dando-nos uma elevação — uma “altura” — que parecia tornar o mundo
todo mais simpático. Não havia nenhum mal se a coxa de um estranho se

164 165
é excitante. Sua perna se aquece a este calor, se espalha para dentro de anos, muitos casais desenvolvem uma “cota de flerte” tática entre si: as
suas coxas. Você começa a ter uma fantasia sexual, não necessariamente regras do jogo. Você sabe até aonde pode ir — o quão próximo deve
sobre o estranho, mas sobre qualquer um, real ou apenas imaginário. Se dançar, quanto tempo despender em uma conversa intensa com outra
você é um homem e começa a sentir seu pênis crescer, você pode pessoa — sem embaraçar ou humilhar o seu par. E você também está
simplesmente arrumar seu jornal de modo a encobrir qualquer possível consciente de que um pouco de ciúmes mantém vocês apreciando um ao
embaraço. Se você é uma mulher e começa a sentir uma certa umidade outro. Se vocês se conhecem bem, isto não precisa ser um problema.
entre suas pernas, não se preocupe, ninguém irá notar. Pouco depois, o Mas, dito isso, existe ainda uma outra questão: permitir a nós mesmo
estranho vai embora e tudo está acabado. o prazer sexual do flerte. Muitas vezes, ao dançarmos com um homem ou
Agora, que prejuízo causou este pequeno interlúdio? Você não vai mulher atraente que não seja o nosso cônjuge, nos desligamos
ficar enlouquecido e cometer um crime sexual. Você não passa automaticamente — e com sentimento de culpa. “Sim, estou dançando
subitamente à categoria de “degenerado” — um “velho tarado” ou uma com outra pessoa”, parecemos dizer a nós mesmos, “mas não vou sentir
“ninfomaníaca”. Você não cometeu qualquer ato desleal ou de infidelidade nada. Isto seria ir longe demais.”
para com seu parceiro: afinal de contas, você está completamente vestido e Longe demais para quem? Dançar é dançar — se seu marido ou
isto é basicamente uma fantasia. Você não está obcecado ou possuído. Na mulher não se sente ferido por isto, ele ou ela provavelmente não vai se
verdade, tão logo a fantasia se vai, você retorna ao seu artigo sobre os magoar com o que você sentir enquanto o faz. Mas existe ainda outra coisa
deficits comerciais ou seu time de futebol. Mas, o fato é que você que geralmente nos perturba: Nós achamos que se alguém nos excita,
realmente se sente mais vivo, mais sensível e sensibilizado para se permitir precisamos ir até o fim — fazer alguma coisa a respeito. Novamente,
este pequeno prazer — e o prazer permanecerá com você pelo resto do dia, tolice. A excitação sexual já é por si só um prazer: não precisa conduzir a
especialmente quando você volta para casa. nada. Não existem obrigações, nem motivações “incontroláveis”. Dançar e
Eu estou longe de defender aqui a promiscuidade ou a auto- flertar faz-nos sentir seres sexuais — vivos e atraentes — e podemos sentir
indulgência leviana. Estou apenas sugerindo que, ao invés de pensarmos nossos corpos arder e vibrar com excitação. Não há mal algum nisso;
em nos afastar, fechar e desligar, sempre que percebemos o olhar de um ninguém foi magoado ou menosprezado. E mais tarde, quando voltamos
estranho, ou roçamos em alguém passando por uma porta, nós nos para casa com nosso companheiro, podemos levar esta excitação conosco.
permitamos que nossas respostas naturais tenham sua chance. O mundo Em vez de deitarmos na cama após um dia inteiro, nos desligando,
não vai acabar por isso.
deitamos nela nos sentindo e pensando sexualmente bem.
E tem uma outra coisa que você pode levar para casa: uma viva
percepção do seu parceiro. Como já vimos, a monotonia da rotina diária
frequentemente nos impede de ver nossos companheiros como algo mais
Levando Tudo de Volta para Casa
do que simples presença. Ele pode tirar o bigode e levamos semanas para
perceber. Ela pode chegar em casa com um vestido novo e nem notamos.
Provavelmente, do ponto de vista sexual, não existe melhor lugar
para se pensar e sentir do que uma festa. Ela oferece pessoas preparadas e Mas, em uma festa, temos a oportunidade de ver nossos maridos ou
vestidas no seu melhor. Oferece contato físico através da dança. Oferece esposas como os outros os vêem. E isto pode nos conduzir a pensar
uma oportunidade para o flerte. Mas também oferece o perigo de ferir ou sexualmente sobre nossos maridos ou esposas novamente.
humilhar nossos parceiros.
Primeiro o perigo. Este também possui uma atração: o Jogo Proibido
de dançar de rosto colado com outra pessoa, sabendo que seu cônjuge está
em algum lugar na sala. Mas, como você sabe, isto pode ser terrivelmente
destrutivo, em especial se você não possui um relacionamento de
verdadeira confiança com seu cônjuge, ou se você está passando por um
período particularmente pouco intenso de sexo com ele ou ela. Neste caso,
é preciso ter cautela: a diversão não paga a mágoa. Entretanto, através dos

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Existe um exercício que em geral recomendo para pessoas que vêem
seus cônjuges muito automaticamente — e que não os vêem mais como
sexuais ou atraentes. Um de meus pacientes deu a este exercício o apelido
de “Vendo Sua Esposa Pelos Olhos ou Calças de Outra Pessoa”:
10
Em um acontecimento social, olhe outros homens e mulheres “Vamos Ficar em Forma”
conversando com seu marido ou esposa. Imagine você mesmo vendo
a ele ou ela como os outros o fazem. Sinta a atração deles, quando
olham nos olhos do seu marido ou de sua esposa, quando tocam no
braço dele ou dela, ou riem de suas histórias. Fantasie um flerte com
seu marido ou sua esposa, “fazendo um programa com ele ou ela”.
Leve estes sentimentos com você, quando voltarem para casa. Com certeza, o menor tratamento de terapia que fiz, foi para um casal na
faixa dos quarenta e cinco anos, Mareia e Larry M., que vieram me ver
A excitação sexual não tem que começar e terminar em casa. Se nós porque sua vida sexual, que já fora bastante ativa, havia diminuído em
persistimos em deixar os fatores que nos desligam automaticamente na frequência para uma vez por mês, e mesmo assim, eles concordavam,
vida diária nos controlarem, não podemos pretender pensar e agir estava “sem brilho e sem graça”. Do momento em que entraram em meu
sexualmente de uma hora para outra, no pouco tempo em que nos consultório — aliás, em que se arrastaram para dentro do consultório, e
encontramos a sós com nossos parceiros. A psique — e o corpo — juntos, acenderam cigarros, pude ver que ali estava um casal fisicamente
humanos simplesmente não funcionam deste modo. É quase como esperar em ruínas: Esta vam obesos, sem fôlego, postura e musculatura deficiente,
que um cantor profissional dê uma recita apaixonada, depois de um dia e no geral, baixa energia física.
sem ter tido sequer um pensamento musical ou um exercício de escala. “Nunca parece que somos capazes de entrar no sexo juntos”, disse-
Precisamos de liberdade para fantasiar e liberdade para “praticar” nossa me Mareia. “Já chegamos mesmo a marcar ‘compromissos’ sexuais um
sexualidade durante todo o dia se pretendemos ser sexuais em casa. Assim com o outro — ‘Nós faremos sexo hoje’, nos prometemos um ao outro
como colocou uma mulher a quem ajudei a recomeçar a “pensar pela manhã antes de sairmos para o trabalho — mas então, à noite,
sexualmente”. “Por um longo tempo, eu olhei para o mundo com os olhos ficamos sentados em frente à TV, tomamos um ou dois drinques, e quando
‘vendados’ — bloqueando qualquer pensamento ou sensação sexual que vamos para a cama, um de nós já está muito cansado e marcamos um
tivesse. Sentia-me como se fosse preciso ‘guardar’ tudo, para quando compromisso para a noite seguinte. Na noite seguinte, a história se repete.”
estivesse com meu marido. Mas, após algum tempo, já não havia nada Enquanto continuamos nossa conversa, percebí não haver rancor
para guardar. É claro que toda esta maneira sexual de pensar é coisa de algum entre aquelas duas pessoas — somente desapontamento e
adolescente. Mas prefiro me sentir adolescente e sexual do que não sentir frustração.
coisa alguma.” “Eu acho que simplesmente não conseguimos nos acostumar com a
idéia de que estamos envelhecendo”, disse Larry.
“Eu acho que vocês não estão só se acostumando com esta idéia,” eu
disse, então. “Eu acho que vocês estão se fazendo velhos antes do tempo.”

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Antes que Larry e Mareia pudessem começar a renovar suas vidas fosse sentar em frente ao aparelho de televisão. Como se verificou —
sexuais, eles precisavam renovar suas energias sexuais — e para isso, eles aquelas caminhadas — e o banho que as seguia — foram a melhor
precisavam renovar suas energias físicas. Eles podiam estar usando a “preparação” sexual do mundo para eles. Foi mais do que apenas o início
“fadiga” e a “idade” como pretextos para evitar o sexo, devido a de um tratamento: reviver a energia e recontactar seus corpos era tudo o
ansiedades que eu ainda desconhecia; mas, mesmo para começarem a se que faltava para que Larry e Mareia tivessem uma vida sexual ativa, a qual
sentir sexuais, eles precisavam começar a se sentir mais vivos. Quando se tinham permitido que escapasse deles.
deu este fato, eu já sabia de antemão que uma conferência iria me impedir Manter-se fisicamente em forma é uma maneira primordial de se
de ver este casal por duas semanas, sendo assim prescreví um único manter sexualmente em forma. Andando, correndo, esquiando, jogando
exercício para eles, que foi 0 seguinte: tênis, ou nadando juntos, fazemos nossos corações baterem, nosso sangue
circular, e despertamos novamente nossos “apetites”. Sentimo-nos mais
Em vez de assistirem televisão nas próximas duas semanas, façam vitais e mais sensíveis, fortes e menos propensos à fadiga e,
uma caminhada enérgica todas as noites — sem esmorecer ou parar principalmente, mais relaxados. Um mínimo de exercício regular pode
para fumar durante o percurso. Tente aumentar a duração do passeio
diminuir incrivelmente a tensão física e o stress emocional, deixando-nos
até atingirem cerca de meia hora, até que eu os veja novamente.
mais bem dispostos e mais aptos para a nossa própria diversão sexual.
Recentemente, muitos livros têm sido escritos sobre os prazeres da corrida
Larry resmungou alguma coisa sobre como seria mais barato ir a uma
— e a boa forma física desfruta hoje uma fama sem precedentes — sendo
academia de ginástica do que a uma terapeuta, se aquilo era tudo o que eu
assim, não vou me estender aqui sobre os benefícios gerais de se ficar em
tinha para lhes oferecer, mas, mesmo assim, ele prometeu seguir minhas
boas condições físicas. Mas, devo acentuar que o sexo é, em primeiro
recomendações.
Duas semanas mais tarde, quando entraram com passos firmes em lugar e principalmente, um ato físico-, simplesmente não podemos estar
meu consultório, Mareia anunciou imediatamente que eles estavam em boa forma sexual, sem que estejamos em boas condições físicas.
“curados”. O sexo mais gratificante começa por um estado de relaxamento
“Fizemos mais amor nestas duas últimas semanas, do que fizemos completo, e por isso o álcool é tão popular como um prelúdio para o sexo.
nestes últimos seis meses”, disse Larry. Mas, como muitos já vivenciaram, álcool ou maconha e muitos outros
“Contem-me como foi.” “relaxantes” artificiais podem ser mais que um afrodisía- co — como uma
“Bem, depois de nossa quarta noite da caminhada, nós dois chegamos fonte de excitação sexual — inibidores sexuais. Excesso de álcool torna
em casa exaustos e suados, ofegantes como dois cãezinhos, e nós dois difícil para muitos homens a obtenção de uma ereção completa; e para
precisávamos de um bom banho. Mareia quis ir primeiro, e eu então tirei muitos homens e mulheres promove tanto relaxamento que adormecem
minhas roupas e fiquei esperando que ela terminasse, ali mesmo dentro do antes de começar com o sexo O mesmo pode ser dito do Valium e outros
banheiro. Então ela me pediu que esfregasse suas costas, e eu entrei ao tranquilizantes populares. Assim como muitos adeptos da maconha já me
chuveiro com ela e lavei suas costas; em seguida ela lavou as minhas, e contaram que depois de algum tempo eles descobriram que fumar antes do
ensaboou o resto de meu corpo também. Bem, uma coisa puxou outra — sexo pode ser um jogo de “Roleta Russa Sexual”: algumas vezes eleva a
você me entende. Na noite seguinte, nós simplesmente entramos juntos no sensibilidade sexual, mas com a mesma frequência, eleva também as
chuveiro como na noite anterior e as coisas aconteceram, como na noite ansiedades sexuais.
anterior. E nesta última semana, quando já estávamos na metade de nossa
caminhada, começamos a apertar o passo com pressa de chegar em casa...
e ao chuveiro!”
Larry e Mareia estavam realmente curados. Ao contrário de muitos
outros casais que conheci que usavam a desculpa de “muito cansados para
o sexo” como uma cobertura para se esquivarem de suas ansiedades e
tensões sexuais, Larry e Mareia estavam realmente cansados demais para
sexo — assim como estavam cansados demais para quase tudo que não

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Não existe melhor maneira para se relaxar e para se sentir disposto vez em quando amantes mais velhos são retratados, mas estes são sempre
para o sexo do que o exercício físico. Nós não precisamos todos nos tornar relacionamentos sentimentais, com muitas mãos afagadas, mas nem uma
peritos em corridas pela vizinhança — como vimos, apenas uma pitada de sexo quente. A idéia é passada em alto e bom som: sexo é para
caminhada regular pode fazer maravilhas. Liberando as tensões físicas do jovens; é escandaloso para pessoas mais idosas cederem a ele.
dia, fica mais fácil liberar nossa energia sexual. O fato é que as tensões e Estas duas idéias, decerto, são evidentemente absurdas; contudo, é
ansiedades gerais são a causa principal da apatia sexual. Especificamente, interessante observar o quão sutilmente penetram em nossas consciências.
nossos órgãos sexuais e os músculos que os envolvem ficam mais Uma mulher que conheço, contou-me que sua mãe viúva de setenta anos,
relaxados após uma boa série de exercícios; quando estes músculos estão estava se casando novamente, na Flórida. “Será bom para ela”, disse-me a
tensos, torna-se mais difícil a excitação sexual. Alguns casais que conheço filha; “ela sente falta do companheirismo do casamento.”
acham que a ioga e a meditação são um bom prelúdio para o sexo. “Ela provavelmente sente falta de sexo, também”, eu acrescentei.
“Primeiro, sinto-me perfeitamente relaxado’’, contou-me um praticante de A mulher olhou para mim como se eu tivesse tentado fazer uma piada
ioga, “e em seguida, começo a concentrar todas as energias em minha rude e cruel. “Ela tem setenta anos”, ela repetiu.
barriga, virilha e órgãos genitais. Eu creio que posso sentir o sangue “Mais uma razão para desejar sexo regularmente”, eu disse. “O sexo
literalmente fluindo ali. E quando termino, estou pronto para mergulhar na é ainda mais reconfortante nesta fase da vida — e provavelmente ela tem
cama.”
mais tempo para ele também.”
Mareia acrescentou ainda uma outra razão para sua excitação com o
Qualquer um que tenha trabalhado em casas para pessoas idosas sabe
exercício: “É a transpiração Nem sei dizer quanto tempo fazia que eu não
transpirava por causa de esforço. Simplesmente faz com que eu me sinta que, dentre os que são suficientemente saudáveis, a “farra” acontece o
tão — nem sei — vital, animal. Transpirar é sensual.” tempo todo. A necessidade de sexo e a satisfação proveniente dele, não
A sensação que nosso corpo nos transmite é um fator determinante desaparecem simplesmente, quando ficamos mais velhos e menos
para o quanto sensuais nos sentimos. Como nos sentimos em relação ao atraentes; se alguma coisa acontece é que a necessidade aumenta. O sexo,
nosso corpo — e ao corpo um do outro — é outro. acima de qualquer outra coisa, pode nos manter em contato com a
vibração da vida.
Mas não são somente as pessoas entre setenta e oitenta anos que estão
mais aptas a se engajar ao álibi “estou velho demais para o sexo”: são as
A Idade na Frente da Beleza pessoas de meia-idade, nos seus quarenta, cinquenta anos. Neste período
da vida, um período frequentemente relacionado a ansiedades com
“Eu estou cansado demais para sexo” é provavelmente o maior álibi carreira, dinheiro e família, a linha do “velho demais para o sexo” torna-se
que existe para se evitar sexo e as ansiedades que o acompanham. Mas o uma conveniente desculpa para que não haja o confronto com as reais
álibi que vem logo em segundo lugar depois deste é “Eu estou velho causas da apatia sexual.
demais para sexo”. “É natural uma queda nos cinquenta”, argumentou comigo um
Este álibi tem proporções míticas. Por outro lado, está amarrado com homem. “Eu quero dizer, depois de todos esses anos, o velho “tanque
o mito do “Verdadeiro Sexo”: ter sexo depois de nossa fase reprodutiva na começa a se esvaziar.”
vida é fora de questão — após termos produzido todas as crianças que
queríamos ou, talvez, após a menopausa — pode parecer a nós um sexo
“ilegítimo”. É verdade, nós fazemos sexo de vez em quando, mas seria
“impróprio” ser tão sexualmente ativo agora como quando estávamos
fazendo filhos (como se, nos nossos vinte ou trinta anos só fizéssemos
sexo para reprodução). Um corolário para esta idéia é o de que “o sexo é
para os jovens e belos”. Os meios de comunicação vão longe na promoção
deste mito específico: na televisão, nos filmes e em romances populares,
somente mulheres de busto firme e barrigas esticadas, e homens com
peitos musculosos e belos cabelos fazem amor passional. É claro que de

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“Espero que o senhor não esteja se referindo ao seu tanque de encaixados.”
sêmen”, eu disse a ele, “porque este continua se reenchendo sozinho Esta satisfação sexual está potencialmente disponível para a maioria
diariamente até o dia de sua morte.” de nós — se nós assim o permitirmos. E o lado feliz que compensa a
E uma mulher de cinquenta anos contou-me que “como esperava, monotonia da rotina de uma vida juntos. Falamos longamente sobre os
meu potencial sexual decaiu exatamente depois da me- nopausa”. perigos de entrarmos em rotinas sexuais cansativas e sem aventura, através
“Provavelmente esta queda ocorreu porque você assim o esperava”, dos anos; nós vamos nos esquecer dos confortos e prazeres relaxados que
eu disse a ela. “Para a maioria das mulheres, isto pode marcar o início de podem advir de rotinas.
um sexo mais relaxado e sensível.”
O velho adágio “nós não envelhecemos, só melhoramos”, é uma boa
descrição de nosso potencial sexual. A idade está realmente à frente da
beleza da juventude, quando se trata de fazer amor. Na meia-idade, é mais Amai-vos a Vós Mesmos
fácil para nós deixarmos de lado nossas ansiedades quanto a desempenho e
competitividade na cama; estas se tornam preocupações infantis, depois de Uma “rotina” que muitas vezes leva os casais à apatia sexual é a de
tantos anos de sexo feliz. Não precisamos mais provar coisa alguma, fazer amor sempre na mesma posição. Hoje em dia, é difícil se encontrar
simplesmente nos divertir. Para os homens que sofreram com ansiedades um casal que não conheça a maior parte das alternativas para a
quanto a desempenhos, quanto a serem rápidos demais, a idade traz outra “padronizada” Posição de Missionário (a mulher deitada de costas, e o
vantagem: homens de meia-idade se tornam menos “detonáveis” e seu homem deitado sobre ela), contudo, de alguma forma, muitos casais nunca
novo estado de “potência permanente” permite que ambos, marido e chegam a experimentar essas alternativas, especialmente a opção da
mulher, façam um amor mais luxuriante. Ainda, apesar dos mitos que mulher por cima, sentada “montada” sobre seu marido. Como nós vimos,
dizem o contrário, a maioria das mulheres de meia-idade no período pós- alguns homens resistem a esta posição porque, não estando na posição
menopausa são, geralmente, mais sensíveis ao toque e mais facilmente
dominante, não estando no controle, ficam ansiosos. E muitas mulheres
excitáveis do que mulheres mais jovens. Isto é o resultado do relaxamento
resistem a esta opção por uma razão semelhante: faz com que se sintam
sexual que provêm do mito do “Verdadeiro Sexo” de forma inversa: sem
“muito agressivas” e pouco “delicadas”. Mas existe uma outra razão, para
ter que se preocupar com reprodução — e contracepção, o sexo pode ser
enfocado como puro prazer. Uma exceção são as mulheres mais idosas que as mulheres frequentemente resistam a ficar por cima, ainda que
com problemas ginecológicos que tornam o ato sexual doloroso; desejem alguma variação de posição sexual: sentem-se embaraçadas com
entretanto, a maioria destes problemas é facilmente remediável com a própria aparência.
cuidados médicos. Ficando em cima, um torso de mulher — seus seios e barriga —
Existe uma outra vantagem para os amantes de meia-idade: estão sendo completamente vistos por seu parceiro, se compararmos com a
familiaridade. Para um casal que fez amor com o outro durante o período Posição de Missionário, onde, face a face, ele quase não pode ver o corpo
de vinte ou trinta anos, a familiaridade sexual pode desenvolver dela. E para uma mulher insatisfeita com a aparência de seu próprio torso
contentamento, ao invés de desinteresse. Existe um prazer relaxado que — especialmente com a aparência de seus seios — a “vergonha” que ela
provém do conhecimento do corpo um do outro tão intimamente — cada sente por estar sendo olhada enquanto faz amor já é normalmente o
ondulação, cada curva e cada ponto secreto — e existe um prazer especial bastante para impedi-la de relaxar em suas sensações sexuais.
em sentir-se capaz de antecipar as respostas um do outro — a sensibilidade
especial do bico dos seios dela ou a maneira como ela deve segurar os
testículos dele, ou uma posição favorita, quando os dois estão com uma
vontade especial. Não existe qualquer uma das ansiedades do trabalho de
adivinhação e da preocupação com estar “fazendo a coisa certa”. Assim
como me descreveu alegremente um homem casado de meia-idade.
“Algumas vezes eu penso na minha mulher e em mim mesmo como dois
felizes animais de quintal, que fazem amor juntos com a mesma facilidade
com que nós comemos ou dormimos juntos. Estamos simplesmente bem

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“Eu simplesmente não consigo me sentir sexy, quando estou tão em Uma auto-imagem ruim é uma auto-sugestão. Você é bonita se
evidência assim”, admitiu uma mulher para mim. “Eu fico me vendo da acreditar que é bonita, exatamente como nos ensinaram nossas mães.
maneira como Bill deve estar me vendo... como meu seio esquerdo é mais Homens ou mulheres que agem e se conduzem como se fossem atraentes,
baixo que o direito, o modo como ambos já começam a cair, a cicatriz de são atraentes aos outros. Infelizmente, o oposto é também verdade, e uma
minha cesariana. Eu não sou exatamente uma ‘gatinha’ vista assim deste auto-imagem ruim é o que a maioria de nós tem de si própria.
ângulo ” Uma exigência que faço para todas as pessoas ou casais que vêm a
“Bill já se queixou da sua aparência?”, perguntei a ela. “Ele meu consultório é a de que comprem imediatamente um espelho grande e
comentou bem aqui neste consultório que se sente ligado só de olhar para o instalem em seus quartos de dormir. É tempo de começarmos a olhar
você.” realmente para nós mesmos — e de começarmos a nos olhar com bons
A maioria de nós, mulheres e homens igualmente, possuem idéias olhos. Este agora é o primeiro exercício “Amai- vos a Vós Mesmos” que
desastrosas sobre nossas próprias aparências. Podemos ficar horas sugiro:
pensando sobre tudo de “errado” em nossos corpos — cada flacidez, cada
dobra, cada mancha, cada volume. Eu não creio que tenha conhecido uma Durante cinco minutos exclusivos, cada dia, tire suas roupas e se
única mulher que esteja completamente feliz com suas coxas. Toda mulher olhe por completo — da cabeça aos pés em frente a um espelho de
na América parece pensar ter sido a escolhida pelo Criador para ter coxas seu tamanho natural. Concentre-se no que você considerar atraente.
gordas ou sem forma. Rara também é a mulher que está completamente Isto não é simplesmente um exercício de Poly- anna, para ver o
satisfeita com a forma de seus seios: eles são muito pequenos, ou muito “bom” e o “belo” em todas as coisas: todos nós temos linhas e partes
grandes, ou assimétricos; são muito caídos, os mamilos não “rosados” o e ângulos especiais que apreciamos em nossos corpos, da mesma
suficiente. O verdadeiro problema com os seios, ao que parece, é que eles forma como quando olhamos * nossos rostos no espelho e temos
não têm a aparência dos de nossas bonecas “Barbie” ou a atual for ma dos nossos ângulos e poses que mais nos agradam. Não olhe sua
das estrelas ou “Playmates” siliconadas — grandes melões, duros, como “figura”; olhe para as linhas e formas agradáveis. Por uma vez,
bolas de borracha, e mamilos que apontam para o céu, como antenas. concentre-se naquilo que você gosta em seu corpo ao invés de se
Confusas com estes ideais bizarros, nos sentimos condenadas à autocrítica concentrar naquilo de que não gosta.
e à vergonha. O quanto nos sentimos confusas sobre a forma que nossos E enquanto isso, converse com você mesmo, fazendo comentários
seios deveríam possuir é demonstrado por estatísticas sobre cirurgia sobre o que está vendo; por exemplo, dizendo, “Existe algo de leve e
cosmética dos seios: nos Estados Unidos da América, a grande maioria de convidativo no contorno do meu pescoço, não é mesmo? Não me
mulheres que se submeteu a esta cirurgia, teve o volume dos seios admira que ele goste de me beijar aqui.”
aumentado; na Holanda, a maioria das que se submeteu a esta operação ou:
teve seus seios reduzidos em volume. Os seios “perfeitos” parecem existir “Quando me viro desta forma, o contorno de meus seios fica muito
somente em nossa imaginação. bonito — como o de uma estátua.”
Se estamos convencidos de que somos “feios”, como pode ser ou (um homem):
possível para nós fazer amor sem autocrítica ou inibições? Com todas as “Quando eu fico ereto, meus ombros realmente parecem fortes,
luzes apagadas e as cobertas puxadas até o queixo? Isto parece uma quadrados. Nada mau.”
terrível limitação que nos impomos, uma limitação que elimina o prazer da Não se esqueça de ponto algum. Faça um auto-exame.
contemplação sensual um do outro — nos empurrando ainda mais para o
abismo da insatisfação sexual. Fazer amor, quando estamos infelizes como
nossa aparência física é como ir a uma festa com um vestido oue sabemos
ser feio: tudo em que pensamos é no vestido. E pior, nos sentindo pouco
atraentes, nos tornamos pouco atraentes a nossos parceiros.
“Gail queixou-se de suas coxas durante tanto tempo, que finalmente
me convenceu de que eram horríveis”, contou-me um marido.
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O fato é que a maioria das pessoas que não aprecia seus corpos, as lavarem antes, como se suas mãos fossem ficar sujas segurando o pênis,
raramente — se é que o fazem alguma vez — olham para seus corpos. A ao invés de ficarem sujas com qualquer coisa ao redor. Sim, nós ainda
maioria de suas auto-imagens residem apenas em suas imaginações. acreditamos que “ali embaixo” é sujo, mesmo nos mantendo enrolados e
Olhando para nossos corpos durante cinco minutos por dia, tudo pode se cobertos o dia todo...
modificar — e na minha experiência, geralmente se modifica. A simples São estas partes “sem atração” e “sujas” de nossos corpos que
atitude inusitada de olharmos nossos corpos nos faz sentir mais partilhamos um com o outro no sexo. É de admirar que nos sintamos
confortáveis em relação a eles. Começamos a perceber que nossos corpos, tímidos e envergonhados quando vamos para a cama, e que esta vergonha
assim como nossos rostos, <>ão expressões do que nós somos. Como uma faz de nós amantes inibidos e constrangidos? Este exercício é programado
mulher me disse, “Lembro-me de um dia no qual, durante o exercício, para ajudar na liberação destas inibições:
percebi que ao longo dos anos eu sempre me sentira feia porque não me
parecia com Bo Derek. Então, eu imaginei a minha cabeça — eu — no De pé, diante de um espelho, olhe bem para seus genitais. Da
corpo de Bo Derek e a minha figura ficou tão engraçada que comecei a rir. primeira vez, faça isto sem emoções, objetivamente — um médico
Então, me ocorreu que se mudasse tudo — minha cabeça também — eu fazendo um exame.
deixaria de existir.
Camus disse certa vez que todo homem (e mulher) acima dos (Mulheres) Com as duas mãos, afaste seus grandes lábios — as
quarenta anos era responsável por sua aparência. Ele não quis dizer que se bordas externas de sua vagina — e olhe para dentro dela. Ponha um
não mantivermos uma dieta rigorosa e se não fizermos os exercícios de pequeno espelho no chão e fique acima dele de pé, de um ângulo
Jane Fonda todos os dias, mereceremos nossa censura; ele quis dizer que diferente, e em seguida sente-se defronte ao espelho para uma visão
na época em que atingimos os quarenta anos, nossos rostos e corpos são bem próxima.
expressões de quem somos, de como temos vivido. Gostarmos de nós
próprios e de nossos corpos são idéias inseparáveis. E assim com não (Homens) Levante o seu pênis, puxe para trás a pele, e olhe bem
para a cabeça e a parte de baixo de seu pênis.
podemos aceitar o amor até que nos amemos, não poderemos partilhar
nossos corpos com nossos companheiros de maneira desinibida e sem
Descrevam em voz alta o que vêem.
autocrítica, até que estejamos felizes com estes nossos corpos.
O próximo passo do exercício Amai-vos a Vós Mesmos no espelho é
Novamente, o simples ato de olharmos com objetividade para nossos
mais difícil de ser tentado pela maioria de nós — consiste em olhar muito
genitais, pode fazer com que nos sintamos mais à vontade com eles. Além
proximamente nossos órgãos genitais.
do mais, eles não são tão “grotescos” ou “sujos” como talvez os tenhamos
“Hum...”, posso ouvir vocês protestando — a reação inicial da
representado em nossas imaginações. Eles são simplesmente partes pouco
maioria das pessoas a quem dou este exercício. “Se você não se importa,
familiares de nós, como joelhos e nádegas — eles não são uma “coisa” tão
eu não acho que preciso me conhecer tão bem assim. De qualquer forma,
radicalmente diferente, colocados no último instante em nossos corpos
não é melhor deixarmos algumas coisas um pouco misteriosas?”
puros.
O tão falado “mistério” de nossos órgãos sexuais é porque pensamos
que são feios — antiestéticos, apêndices de aparência suja e grosseira, que
ficam muito melhor ocultos. Tudo isto, é claro, sem que jamais olhemos
para eles — porque jamais olhamos para eles.
Toda esta vergonha de nossos órgãos sexuais começou, segundo a
história, com Adão e Eva. Desde pequenos, somos ensinados a nos cobrir
“ali”, a tirar nossas mãos “dali”, e mais especialmente, somos ensinados
que “ali” é sujo. As mensagens se incorporam a nós de maneiras
peculiares; por exemplo, a maioria dos homens ainda lava suas mãos
depois de urinarem — depois de terem segurado seus pênis — ao invés de

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Os Trinta Anos de Encontro com o Desconhecido verdadeira satisfação sexual se não nos sentimos à vontade com os corpos
um do outro — tanto visualmente, quanto com o contato.
Há alguns anos atrás, um casal em torno dos cinquenta e cinco anos Existem diversas maneiras de ficarmos nus juntos que podem nos
veio me ver, porque já não faziam amor há um ano, e o marido, em tornar menos ansiosos e mais à vontade com o corpo um do outro. E estas
especial, estava terrivelmente perturbado e frustrado pela ausência de sexo não precisam ser situações potencialmente sexuais no sentido de que sejam
em sua vida. Na busca de maiores detalhes sobre os dois, pedi que cada o prelúdio para o contato sexual; mas, no mínimo, são situações onde sexo
um descrevesse uma noite típica em que faziam amor antes que tudo é uma possibilidade.
tivesse sido interrompido. Para o casal que permanecia no encontro com o desconhecido há
“Tudo era perfeitamente normal’’, contou-me a mulher. “Eu trinta anos, sugeri o seguinte exercício:
geralmente ia para a cama primeiro, apagava a luz, e ficava esperando por
Alternem-se lavando os cabelos um do outro. Para começar, se isto
Bob para se deitar ao meu lado. Então nós nos abraçáva- mos e nos
faz com que se sintam mais à vontade, usem roupas de banho no
beijávamos e depois de algum tempo, eu tirava minha camisola e Bob
banheiro. Façam disto uma verdadeira massagem de cabeça. E
tirava seu pijama e nós começávamos...”
enquanto vocês fazem isso, olhem para o corpo de seu marido ou
O que era “perfeitamente normal” para este casal, como foi revelado,
esposa, com atenção. Concentrem-se no que consideram atraente
era fazer amor sem que vissem o corpo nu um do outro. De fato, eles
nele. Se você quiser, diga ao seu marido ou esposa o que está
estavam em um encontro com um desconhecido há trinta anos. Não é de se
pensando.
admirar que depois de todo esse tempo eles ainda se sentissem pouco à
Mais tarde, quando se sentirem mais à vontade um com o outro,
vontade um com o outro na cama. Os corpos um do outro permaneciam
façam o mesmo exercício sem roupas de banho.
estranhos, coisas das quais se envergonhavam. Eles haviam levado a
timidez a um extremo que eventualmente acabou por eliminar o sexo.
Esse é o tipo de coisa que muitos de nós costumávamos fazer
O casal era um claro extremo ultrapassado; contudo, em um grau
espontaneamente no início de nossos relacionamentos — por que
menor muitos de nós permanecem um tanto desconfortáveis com os corpos
paramos? Lavar os cabelos um do outro, massagear um ao outro com óleos
um do outro. E, para muitos de nós, existem partes do corpo de nosso
e loções, cortar o cabelo um do outro — estas são atividades simples que
parceiro para as quais fechamos eternamente os olhos.
podem nos aproximar um do outro de uma forma que longas conversas,
Uma mulher que conheço, que tem uma vida sexual ativa com o
saídas para jantar e idas ao cinema jamais o conseguem. Ficando sem
marido, admitiu para mim que ela jamais olha para o pênis de seu marido,
roupa juntos, em uma atmosfera relaxada — sem qualquer solicitação
quando o toca. “Eu apenas olho automaticamente para outro lado, ou fecho
sexual e as ansiedades que podem vir com ela — pode nos fazer olhar um
meus olhos”, ela disse. “O que eu posso dizer? Para mim é como se fosse
para o outro com prazer. Pelo simples toque e massagem um do outro,
um ciclope raivoso e vermelho.”
começamos a nos sentir relaxados e confortáveis um com o outro. Nos
Esta mulher tinha uma vida sexual ativa e frequente, contudo, ela
sentimos bem, e nos sentimos bem um com o outro. E muitas vezes o
estava em terapia porque o sexo poucas vezes era completamente
contato sexual vem a seguir, naturalmente.
satisfatório para ela. Mas, como podia ser o sexo satisfatório, se ela achava
O sexo raramente começa no auge da paixão. Começa com uma
o pênis de seu marido — os pênis em geral — tão pouco atraentes que
apreciação relaxada dos corpos um do outro.
nem podia olhar para ele? Como ela podia se sentir à vontade com o sexo
se ela não se sentia à vontade com a parte mais sexual do corpo de seu
marido?
Tenho conversado também com muitos homens que têm uma aversão
automática, não conseguindo olhar certas partes dos corpos de suas
esposas — especialmente as partes genitais. Olhar de verdade a vagina de
suas mulheres os faz sentir extremamente ansiosos e, em alguns casos, os
desliga automaticamente. O fato simples é que nós não podemos ter

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A Questão Contra Camas Separadas separadas porque um, ou os dois não conseguem adormecer
confortavelmente quando em contato com o corpo do outro. Um reclama
Logo que comecei a aprender inglês, achei engraçado descobrir que a porque o outro “pula sobre ele” demais. A outra reclama de que se sente
expressão “dormir juntos” significava a mesma coisa que “fazer sexo “esmagada”. Os dois reclamam da “guerra por espaço” — empurrando o
juntos”. “Dormir é dormir e sexo é sexo”, eu pensava, “e quem pode fazer outro para a ponta da cama — e da “guerra de lençóis” — uma noite
amor dormindo?” inteira de batalha de puxões. E eu suponho que, para alguns destes casos,
Eu estava errada. Como se sabe, todos nós, em certo sentido, fazemos camas separadas são a melhor e mais “pacífica” solução. Mas, novamente,
amor durante o sono. O sono é uma atividade sexual — durante o período tanto potencial sexual é perdido desta forma que eu acredito valer a pena
de uma noite de sono, todos nós ficamos excitados e relaxados diversas uma tentativa de reaprendizado sobre dormir juntos em contato físico. Um
vezes. Dormir, então, é uma continuação natural do sexo: No meio da simples roçar de pés pode tornar tudo diferente. E quando damos uma
noite ou pela manhã, cedo, podemos deslizar muito naturalmente da chance a esta idéia, podemos muito rapidamente constatar que o contato
excitação de um sonho para o contato sexual com o nosso parceiro. É uma físico uma vez considerado “irritante” ou “opressivo” começa a parecer
pena que, na prática, tantos de nós continuem a “dormir juntos” e “fazer agora com uma fonte de prazer relaxado — especialmente se descobrimos
sexo juntos” como atividades separadas. que estamos fazendo amor mais frequentemente.
Minha opinião pessoal é a de que a adoção do hábito das camas
separadas no casamento contribui, mais do que imaginamos, para reduzir o
sexo conjugal. Indo dormir sem qualquer contato físico — nenhum braço
passando sobre o peito, nenhuma face de encontro a um pescoço — "Eu Mostro a Você o meu, Se Você me Mostrar o
abandonamos a melhor “preparação” natural do mundo. Da mesma forma, seu"
dormir juntos despidos parece ser uma arte perdida nos dias de hoje e com
isso, perde-se um grande potencial de sexualidade. Dormindo separados, Provavelmente não existe um modo melhor para ficarmos à vontade
nossos corpos se tornam alienados, estranhos um para o outro. Perdemos com os órgãos sexuais um do outro do que jogando-se um jogo de “Eu
tanto o conforto e a estimulação do tocar como o de ser casualmente Mostro a Você o meu, Se Você me Mostrar o seu” — mas desta vez não
tocado. Para os casais que vêm a mim queixando-se de baixa frequência como um jogo proibido. Antes dos protestos de que isso é “infantil
sexual, costumo oferecer esta simples recomendação: demais”, deixem-me dizer mais uma vez que o melhor sexo que podemos
ter é alegre e infantil, e até regressivo. Não há nada de “maduro” sobre o
Liguem os termostatos, deixem seus pijamas e camisolas no outro próprio sexo — somente em suas consequências e implicações. A
quarto, e durmam juntos. Isto mesmo — apenas durmam. Mas brincadeira de “Eu Mostro a Você o meu...” pode nos colocar em um
adormecer com seus corpos nus se tocando de algum modo — de um estado de espírito relaxado e até mesmo entorpecido, que pode ir longe,
modo que seja confortável para vocês dois. nos conduzindo à redução de quaisquer ansiedades que possamos ter em
Se vocês dois concordarem, façam um trato entre si: o de que relação a olhar de perto o corpo um do outro.
qualquer um dos dois pode acordar o outro a qualquer hora para
fazerem amor.

Muitos casais ficam admirados de como esta simples mudança de


hábitos pode revitalizar suas vidas sexuais sem esforço aparente.
“Espere aí!” Posso ouvir alguns de vocês protestando. “A razão
principal para optarmos por camas separadas em primeiro lugar, foi para
que pudéssemos ter uma noite de sono decente, ininterrupta. E ninguém
pode realmente dormir com um braço ou perna do outro sobre si.”
Estou bem consciente de que muitos casais optam por camas

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Começa com ambos sem roupa, de frente para o espelho de corpo — eu digo que não as rejeitem antes de experimentá-las.
inteiro do quarto de dormir. Cada um por sua vez olha para si Muitos de nós acham que estas secreções naturais são “sujas”, e a
próprio da mesma maneira como olhou antes, quando estava simples idéia de as colocarmos dentro da boca já nos faz sentir
sozinho. Olhe da cabeça aos pés, concentrando-se no que você terrivelmente mal. E, sendo assim, perdemos uma variação sexual muito
aprecia em seu corpo. Não se esqueça de nada. Diga ao seu parceiro agradável, uma que pode transformar o sexo do casamento em uma
o que você vê e o que aprecia. Agora, concentre- se em seus próprios aventura novamente — a estimulação oral dos genitais. Se temos aversão
genitais, utilizando o espelho pequeno se quiser. Com suas mãos, às secreções sexuais dentro de nossas bocas, o que isso revela do que
mostre a seu parceiro seus genitais “as partes de dentro e de fora”, os sentimos sobre nossos próprios órgãos sexuais? Uma mulher que
pontos especialmente sensíveis. comentou comigo que considerava agradável seu marido ejaculando em
sua vagina, mas que não desejava aquela “substância horrível” dentro de
sua boca, está na realidade dizendo que sua vagina é uma lata de lixo.
Em seguida, levem o jogo para a cama e brinquem de “médico” um com o
Aquela “substância horrível” pode ser depositada lá, sem problemas.
outro.
"Não seja absurda!” (Novamente aquela voz de protesto.) “Existe
uma enorme diferença entre minha vagina e minha boca. Pelo simples
Alternando-se, façam um “exame” completo dos genitais um do
fato de que eu não tenho que sentir o gosto do sêmen em minha vagina."
outro. Vejam como são, como funcionam, sempre os tocando
Isto é verdade. E é justamente o meu ponto. De uma vez por todas,
gentilmente.
vamos experimentar as secreções um do outro e decidir se real mente
queremos “deixá-las de lado”. Isto se aplica ao casal — para ambas as
Este não é um jogo sexual por si só: não conduz necessariamente à
secreções. Por muitas vezes tenho ouvido queixas de homens que se
excitação ou ao contato sexual. É apenas uma maneira de se reduzir as sentem rejeitados por suas esposas porque elas se recusam a deixá-los
possíveis ansiedades em relação aos genitais um do outro — em relação a entrar em suas bocas ou, porque se recusam a engolir o sêmen deles —
olhar para eles, ou a ter alguém olhando para os seus. Para alguns casais embora estes mesmos homens não queiram beijar suas esposas, se os
que são particularmente perturbados — consciente ou inconscientemente lábios delas estão com o seu próprio sêmen. Da mesma forma, existem
— pela “sujeira” dos órgãos sexuais, sugiro que levem este jogo para o muitas mulheres que desejam sexo oral com seus maridos, mas a mera
banheiro e que lavem os genitais um do outro, enquanto os inspecionam. possibilidade de se beijarem em seguida, os faz sentir pouco à vontade.
Contudo, esta brincadeira “inocente” não precisa terminar aí. Muitos Em algum lugar, ao longo do caminho, passamos a associar nossas
casais que conheço encontraram uma grande parcela de relaxamento, secreções sexuais com excremento — os restos de nosso corpo, em vez de
diversão — e mesmo prazer hilariante, brincando como crianças com os fazermos a associação com os “sumos do amor” de nosso corpo. Não
órgãos sexuais um do outro. Uma mulher contou- me que “deu asas à temos aversão em provar as lágrimas um do outro, por que deveriamos ter
fantasia” e começou a amarrar laços no pênis de seu marido; outra contou- avesão em pro-
me que começou a cantar para o pênis do marido — “Me lembrou um
microfone”, ela riu. E um homem contou-me que levou uma lanterna para
a cama, quando brincaram de “médico”. Todos revelaram ter se divertido
muito.
“Um alívio saber que só precisavamos brincar”, disse-me um deles.

Você não Pode Recusá-lo, Antes de Experimentá-lo


Como em muitas outras casas, meus pais tinham uma regra simples
com relação à comida: “Você não tem que comer de tudo. Mas você não
pode rejeitar alguma coisa antes de tê-la experimentado.”
É uma regra razoável e penso que se aplica muito bem ao sexo.
Quando se trata de secreções sexuais — secreções de sêmen ou vagi- nais
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var as secreções um do outro? Como eu digo, não vamos rejeitá-las antes capazes de nos sentir como antes.”
de prová-las, ao menos uma vez: “Talvez seja tempo de fazerem algo diferente um com o outro”, eu
disse a eles. “Seus gostos sexuais mudam, vocês sabem, da mesma forma
Alternem-se mergulhando seus dedos em uma poça de sêmen dele, como mudam seus gostos por comida, livros e tudo o mais. Vocês têm
como se estivessem experimentando um novo “molho”. Descrevam conversado ultimamente sobre seus desejos sexuais mais profundos? Sobre
o que sentem um para o outro. o que gostariam de fazer um ao outro na cama — onde gostariam de ser
tocados e, como?”
Em seguida, alternem-se “experimentando” as secreções va- ginais Novamente os dois encolheram os ombros e pareceram um tanto
dela — outro “molho”. Novamente, descrevam o que sentem um embaraçados. Depois de uma certa hesitação, Penny contou-me o que a
para o outro. desanimava em ter que conversar com Rick sobre o que ela desejava dele
na cama: “A mim parece que falar destas coisas tira toda a magia do sexo.
Os resultados deste exercício para a maioria das pessoas varia entre Torna tudo tão casual, simplesmente sentar ali e dizer, ‘Eu quero que você
uma faixa de “não foi tão ruim assim” para “gostoso”; raramente se revela me toque aqui deste jeito e ali do outro jeito.’ Nenhum romance,
tão desagradável quanto esperávamos. Como uma mulher comentou-com simplesmente um assunto de interesses. Antes, nunca precisava fazer isto.
seu marido, brincando, após ter provado o sêmen dele. “Se você Rick sempre sabia exatamente o que eu desejava, sem que eu precisasse
acrescentar um pouco de pimenta e manjeri- cão, até que pode ficar dizer a ele.”
interessante.”
A idéia toda, assim como a de todos os exercícios deste capítulo, é a
de simplesmente remover as ansiedades e aversões que se interpõem no
caminho da amizade entre nossos corpos. Porque corpos “amigos” fazem
melhor amor juntos.

11
A Arte de Usar um ao Outro

Um atraente casal com cerca de trinta e cinco anos, Penny e Rick L.,
arrasados pelo que chamaram “depressão sexual”, vieram a mim na
esperança de descobrir o que saíra errado em seu casamento. Nos
primeiros anos, antes e depois de casados, o sexo havia sido maravilhoso
para ambos; mas, de repente, segundo colocou Penny, “Passou a ser uma
obrigação e logo se tornou uma amolação”.
“O que vocês costumavam fazer juntos, que não fazem mais?”,
perguntei.
Penny e Rick encolheram os ombros. “Nós ainda fazemos tudo mais
ou menos como antes”, disse Rick. “Mas parece que agora não somos mais

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“E se ele agora não consegue ler sua mente,” disse eu, irônica, “então queijo em vez de azeite? Eu penso que não. Então, por que levamos esta
você não vai contar a ele, certo? Eu quero dizer, se ele realmente amasse mesma idéia impossível para nossos quartos de dormir?
você, saberia exatamente os seus desejos sem ter que lhe perguntar.” A resposta não se justifica tanto no “romance”, mas, muito mais no
Penny sorriu, relutante. “Bem, é mais ou menos isso, ” ela disse. embaraço. Nós temos medo de dizer claramente o que queremos um do
Muitos casais se sentem confusos com o mito do “Se Você outro na cama, porque temos medo de parecer egoístas — para nossos
Realmente me Amasse Saberia Exatamente O que Eu Quero” e acabam parceiros e para nós mesmos. Este é o pior dos “delitos” sexuais: significa
indo para a cama, noite após noite, jamais conseguindo obter aquilo que que, sem álibis ou desculpas, queremos realmente usufruir o máximo de
realmente desejam. Eles dizem que um Amante Perfeito saberia prazer sexual possível.
“instintivamente” o que os faria ficar ligados, simplesmente olhando em
seus olhos e para seus corpos, simplesmente tocando- os. E ainda dizem
que alguma coisa está faltando em seus relacionamentos, se seus amantes
não têm (ou perderam) este “instinto”. O Primeiro Mandamento do Sexo no Casamento:
Os Companheiros Perfeitos, ou Almas Gêmeas, fornecem ainda uma
Satisfaça a Você Mesmo
outra variação de autodefesa para este mito: “Nós somos tão parecidos”,
eles dizem, “eu simplesmente acredito que aquilo que me faz bem, deve
“Egoísmo” tornou-se um nome feio para o sexo, especialmente para o
fazer igualmente bem ao meu parceiro — por isso, não há razão para
eliminar a magia, falando sobre isso.” Estas são pessoas que não se sexo no casamento. A simples idéia de nos colocarmos no centro da cama
sentiríam “próximas o bastante” se descobrissem que seus gostos sexuais de casal — de nos concentrarmos e pedirmos aquilo que satisfaz a nós
verdadeiros são um tanto diferentes dos de seu parceiro, que um prefere mesmos — é o bastante para que muitas pessoas se encolham,
ser tocado aqui, enquanto o outro prefere ser tocado ali. Penny e Rick embaraçadas.
estavam se prendendo firmemente a uma outra variação do mito “Se Você “Mas o que faz um casamento funcionar é o dar e partilhar”,
Realmente me Amasse” — o mito do “Parceiro Imutável”. Eles me protestam as pessoas, quando sugiro que tentem ser mais egoístas do ponto
contaram que ainda faziam na cama as mesmas coisas que costumavam de vista sexual uns com os outros. “Temos que nos comprometer com a
fazer logo que se casaram e Penny insistia no fato de que “naqueles bons satisfação um do outro. O casamento é uma proposta de meio a meio.”
tempos” Rick nunca precisava lhe perguntar sobre o que a agradava. De Ou, então dizem:
algum modo, jamais ocorrera a qualquer um dos dois que as preferências “O verdadeiro amor é altruísta. Significa nada pedir — especialmente
sexuais do outro haviam se modificado, que, por exemplo, Penny na cama.”
descobrira um ponto mais sensível, onde gostaria de ser tocada, ou que Ou, então dizem:
Rick sonhava com uma nova fantasia sexual há meses, e que gostaria de “Sexo egoísta é para porcos e ninfomaníacas. Eu desejo apenas o
experimentá-la. Mas, o principal, é que não ocorrera a nenhum dos dois sexo atencioso, obrigada.”
expressarem estas novidades um para o outro — e tudo em nome do Mas a todos estes protestos eu respondo que “Sexo egoísta é o melhor
“Amor”. O exemplo de mito do “Parceiro Imutável” mais surpreendente caminho para que os dois satisfaçam um ao outro. Duas pessoas egoístas
que conheço, ocorreu em meu consultório, quando uma mulher contou que na cama, conseguem as duas exatamente o que de
desejava que seu marido lhe acariciasse os seios.
“Mas você me disse que não gostava de carinhos nos seios”,
protestou seu marido.
“Isso foi há quinze anos atrás”, replicou a esposa.
Em conjunto, estas variações do mito “Se Você Realmente me
Amasse Saberia Exatamente O que Eu Quero”, constituem um dos mitos
“românticos” mais destrutivos que existem, e a mim parece que um dos
mais absurdos também. Alguma vez pretendemos que nossos maridos ou
esposas façam o pedido por nós em restaurante — que “instintivamente”
saibam que esta noite preferimos truta em vez de salmão, ou molho de
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sejam. Ao invés de uma proposta de meio a meio, o sexo no casamento com vergonha de serem “egoístas”.
deve ser uma proposta de totalidade para os dois. E se isso significa que Para “Aprender a Ser Um Porco” é necessário que deixemos de ver o
vocês dois são porcos sexuais, ótimo, porque ‘porcos’ sensuais se divertem “egoísmo” sexual de maneira negativa e que comecemos a vê-lo como a
muito mais na cama do que as pessoas que se preocupam com sacrifício, obtenção de prazer de uma maneira positiva. “Usar um ao outro” é uma
compromissos e em satisfazer ao outro, e que jamais obtêm totalmente coisa positiva; é uma atitude de confiança e afeição, exatamente como
suas próprias satisfações.” “usar” sua camisa, raquete de tênis ou restaurante preferido, é um claro
Anteriormente, vimos como os Don Juans e outros astros sexuais do sinal de afeição que você tem por estes objetos familiares em sua vida.
mundo, tão preocupados em satisfazer seus parceiros e em iludir a si Egoísmo sexual significa satisfazer-se completamente com a ajuda de seu
mesmos, muitas vezes não obtêm prazer sexual, porque não se preocupam parceiro. Significa modificar antigos padrões do casamento, sobre como
suficientemente com seus próprios sentimentos — em resumo, por mais você obtém satisfação sexual e sobre quem inicia o sexo: significa superar
possessivos que pareçam, na realidade, não são egoístas o suficiente. Da sua timidez e embaraço e todas as outras resistências e pedir sexo
mesma forma, os Trabalhadores Dedicados e as Esposas Zelosas obtêm diretamente ao seu parceiro em vez de ficar deprimido, alegando estar
suas famas fazendo “tudo certo” e “cedendo”, mas, na realidade, tornam o doente , ou de intimidá-lo para que ele faça amor com você.
ato de fazer amor uma jornada sem alegrias, por concentrarem suas Em vez de aguardar em frustração e raiva até que seu parceiro “leia
atenções nas respostas de seus parceiros e nunca em suas próprias. Sendo sua mente” e descubra seus desejos e necessidades sexuais, é preciso
assim, as mulheres “femininas” que insistem em que seria “pouco mostrar a seu marido ou esposa o que você gosta e como você gosta.
delicado” serem agressivas na cama e os homens “machistas” que insistem
Em vez de representar o papel de “Mártir” ou “Grande Dama”, “O
em que seria humilhante se agissem passivamente na cama, todos estão
Sr. Educação” ou “Super Amante, é preciso buscar e concentrar-se em seu
sacrificando a satisfação sexual porque temem parecer “porcos”.
O fato é que o sexo que tem por objetivo a satisfação do parceiro ou próprio prazer sexual — em Primeiro Lugar!
o desejo de atingir algum ideal “masculino” ou “feminino” conduz, “Pare aí’, posso ouvir alguns de vocês, protestando. “Você faz isso
frequentemente, à monotonia e à frustração sexual. E tudo que se consegue soar como se somente um dos dois fosse ficar satisfeito — somente o
obter é um marido ou esposa sexualmente insatisfeito que poderá acabar egoísta.”
com o relacionamento. Ao longo do caminho, não é o egoísmo, mas o Não, não somente o egoísta — somente os dois egoístas: vocês dois.
altruísmo sexual que tem um preço a pagar no casamento. A última coisa que estou sugerindo é que um dos dois seja o “sacrificado”
ou o “comprometido”; ao contrário, estou sugerindo que os dois façam um
trato para se satisfazerem um ao outro e para fazerem isso exatamente
como o outro o desejar. Existe uma distância universal entre um dos dois
Aprendendo a Ser um Porco ser altruísta, e ambos serem “mutuamente generosos”.
O trato é bastante sério e é também bastante difícil para muitas
“Meu marido simplesmente nunca se manifesta e me pede sexo”, pessoas, mas se for tentado com o espírito de um jogo ou exercício, todo o
contou-me um mulher. “Em vez disso, ele vagueia pela casa de mau enfoque de suas vidas sexuais pode começar a mudar!
humor durante alguns dias até que eu pergunte a ele o que está errado,
quando então ele resmunga, ‘O que está errado? Não fazemos sexo há uma
semana, isto é o que está errado!’”
E um homem contou-me que sua esposa nunca diz a ele que deseja
sexo, “Ela espera até que eu tome a iniciativa e, então, quando já estou
ligado ela diz, ‘Tenho esperado por isso durante toda a semana — já me
perguntava quando você iria perceber’.”
Nos dois casos, os parceiros não podiam dizer simplesmente o que
desejavam e o resultado, quando o sexo afinal “acontecia”, era um ato sem
alegrias, de má vontade — tudo porque eram pessoas tímidas demais ou

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Dai e Receberás se de que o próximo turno é de seu marido ou esposa: é este o
verdadeiro significado da generosidade mútua.
Façam um trato entre vocês para as próximas duas semanas, no qual
podem pedir o que quer que seja em termos sexuais, quando assim o Assim como nos Exercícios de Toque na Parte I, o sucesso deste
desejarem! exercício depende da alternância entre vocês; mas, ao contrário dos
exercícios de toque, este aqui não possui limitações. A idéia é que nos
Não espere até o momento em que considerar seu parceiro receptivo ou na liberamos para pedir qualquer coisa.
“disposição certa”. Não ceda a sua inclinação “natural” para a timidez ou “Mas o que acontece se o meu parceiro ficar revoltado com meus
embaraço. E não tema parecer muito explícito ou dizer com exatidão que 'desejos extravagantes?”’ Posso ouvir vocês impacientes.
deseja. Isto pode acontecer. De fato, acontece com frequência, e, nesse
momento, você pode até se sentir bastante embaraçado. Nesse instante,
Permitam-se pedir absolutamente qualquer coisa um ao outro, mesmo que você reuniu toda a sua coragem para revelar o mais secreto de seus
seja acordar às três da manhã e dizer “Agora”. segredos e seu marido ou esposa o recebe, dizendo com desdém, “Você
quer isto?” Muito naturalmente, você vai desejar jamais ter aberto a boca:
Porém, sempre dê a liberdade para que seu parceiro se reserve o direito de você se culpava por sua fantasia, e agora você se sente “impertinente”.
dizer, “Eu não estou com disposição para uma superprodução agora, mas
Mas espere um pouco, antes de desistir de toda a aventura de
se você quiser, eu ficaria satisfeito em masturbar você... ou simplesmente
partilhar suas fantasias. Aqui, mais do que nunca, paciência e
em abraçá-la enquanto você se masturba.” E aceite este tipo de resposta
compreensão podem ser recompensadoras ao longo do caminho. Lembre-
sem argumentar
se primeiro de que as fantasias sexuais femininas e masculinas são, de
Peça seus desejos mais extravagantes. Não se censure, julgando seus modo geral, muito diferentes: o que pode parecer “impertinente” ou
desejos “selvagens” demais, ou “loucos”, ou “sujos”. E não tente adivinhar “incorreto” para ela, pode ser considerado bem “normal” para ele, e vice-
se o seu marido ou sua esposa realmente gostaria de experimentá-los. Vá versa. Também nos ajuda a recordar quão “nojento” nos parecia tudo
em frente e peça, você pode se surpreender com a resposta dele ou dela — sobre sexo, quando éramos crianças: quando uma criança ouve falar, pela
podem descobrir que este era também o seu “desejo mais ardente”. Não há primeira vez, do que se trata o ato sexual, tudo o que se refere a isso
mal algum em perguntar e não deve haver nenhum mal ou mágoa caso seu parece a ela decididamente “nojento”. Pode levar algum tempo até que seu
desejo seja recusado. marido ou esposa aceite seu desejo mais extravagante, até que entre na
idéia. Um “ruim” não precisa, necessariamente, fechar a porta da expansão
E não se preocupe se seu “desejo mais extravagante” for considerado até de nosso repertório sexual para sempre, não incluindo cada um de nossos
bastante suave ou mesmo se você não tem fantasias “alucinadas”. Você desejos.
não está tentando bater recordes, apenas se satisfazer — exatamente do Apenas em um relacionamento de cumplicidade ousamos realizar
modo que deseja. nossas fantasias até o fim. No sexo casual, por mais livre que possa
parecer, estamos sempre conscientes do risco de afastarmos de uma vez
Se vocês dois sentirem que este “trato” pode se tornar desigual, por todas o nosso parceiro se manifestarmos nossos de
determinem quantos “favores sexuais” cada um de vocês pode solicitar
durante estas duas semanas.

Finalmente, e o mais importante, concentre-se em você mesmo, seus


sentimentos e sensações sexuais, e não nos de seu marido ou esposa.
De fato, em princípio, esqueça-se dele ou dela. Feche os olhos se isto
facilitar sua concentração no que está sentindo. E se você começar a
sentir culpa por seu “egoísmo” afaste isto de sua mente, lembrando-

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sejos mais extravagantes. Mas, em um “acordo” de longo prazo, sabendo- dormir a “casa de massagens” e deixe que sua esposa faça todo o
se que “amanhã é a sua vez”, podemos ousar ser “egoístas” — para “trabalho”. Se você começar a se sentir ansioso ou desconfortável por
tentarmos novamente um outro dia. não estar no controle da situação, afaste esta ansiedade,
concentrando-se na fantasia e em seus sentimentos. Lembre-se, você
“pagou” por estes privilégios no trato que fez com sua esposa.

Homem o Bastante para Ser Passivo/ Mulher o Bastante E não se preocupe se vai ficar “viciado” em sexo passivo — é apenas
para Ser Ativa mais uma maneira de você adicionar variedade a sua vida sexual.

Provavelmente, a principal maneira através da qual os homens acabam A maioria dos homens que tenta este exercício admite ter vivido
deixando de usufruir todas as alegrias do sexo “egoísta” é considerando uma sensações que o fez escapar de suas vidas adultas. Pela primeira vez, desde
“questão de honra” serem sempre os agressores, aqueles que iniciam o sexo e o tempo de bebês, podem ter seus desejos sexuais atendidos de maneira
que controlam o ato de fazer amor. Isto está basicamente ligado à idéia popular passiva. E, apesar do medo que têm de se infantili- zarem ou de perderem
de masculinidade, e é uma idéia bem aceita por muitas mulheres. Contudo, a masculinidade através desta experiência de passividade, eles aprendem
muitas fantasias sexuais masculinas algumas vezes compõem cenas onde eles muito rapidamente que eles não permanecem um bebê depois de terminada
ficam deitados de costas, enquanto uma mulher realiza todos os seus desejos a experiência. Logo que se levantam, são novamente “gente grande”. De
sexuais, fazendo todo o “trabalho”, enquanto eles relaxam em puro prazer. fato, a maioria dos homens faz a descoberta paradoxal de que, somente ao
Alguns homens colocam em prática esta fantasia secreta em “clubes de se permitirem tais “regressões” podem ser realmente maduros, somente
massagens”, com prostitutas, mas em casa, eles voltam a seus papéis de através do ato de “relaxar como um bebê” de vez em quando, podem se
agressores, perdendo a chance de ter muita satisfação. Muitos homens vêem conduzir com segurança e livre de tensões nas suas vidas adultas. Tanto na
uma esposa agressiva como uma ameaça, uma solicitação ao desempenho deles, cama, como fora dela. Exatamente como me contou um homem. “É difícil
ou pior ainda, vêem uma esposa ativa como opressora — forçando-os a ser uma acreditar que estou casado há quinze anos, e que jamais me ocorreu pedir a
“criança obediente”. Nós já exploramos aqui algumas maneiras através das quais minha esposa que ‘fizesse por mim’ uma vez sequer. Não creio que jamais
os homens podem se desapegar do papel pouco grati- ficante de “agressor tenha relaxado tanto no sexo, antes.”
permanente” — exercícios de toque são um passo na direção desta meta, os Nem tinha sido tão “egoísta” assim antes.
exercícios de Desmaternalização são outro — mas, um passo ainda mais Muitas vezes as mulheres também se negam prazer sexual de maneira
positivo nesta direção é o da concentração em nossas fantasias passivas. E o semelhante: com medo de parecer “pouco femininas”, agressivas,
primeiro passo para torná-las realidade: desperdiçam suas vidas deitadas passivamente, ocultando seus impulsos
ativos. Como já vimos, para muitas mulheres assim, o verdadeiro medo é o
de perder seus “controles passivos” — seus poderes de utilização dos
Deixe que Ela Faça o Trabalho favores sexuais, seus “sins” e “nãos”,

Imagine que você está em uma casa de massagens. Você gastou seu
dinheiro e agora você está deitado sem roupa sobre a mesa de
“massagem”. Uma mulher nua entra e diz a você que ela fará qualquer
coisa que você desejar que ela faça — todos os seus desejos sexuais são
uma ordem para ela. Ela diz, “Fique simplesmente deitado” enquanto ela
faz todo o “trabalho”.

Quando é sua vez de ser “egoísta” com sua esposa — como parte do
trato — faça sua fantasia virar realidade. Faça do seu quarto de

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que mantêm seus maridos dependentes. Mais uma vez , o melhor caminho Como Ser "Generoso" sem Fazer Disto um
para escaparmos desta armadilha de autonegação é o de entrarmos em "Sacrifício"
contato com nossas fantasias. Sempre e sempre, mulheres me contam que
um de seus desejos mais ardentes é o de terem um amante “escravo”, um “Ceder” às solicitações de nossos parceiros é desanimador; garante
homem que possam utilizar para a satisfação de todos os seus anseios de antemão que você não vai sentir grande coisa, uma vez que se sente
sexuais. É uma fantasia que pode fazer parte de qualquer trato entre o “conduzido” de má vontade. Mas quando você sabe que não terá que dar
casal. nada além do que você quiser — que é perfeita- mente justo que diga, por
exemplo, “Eu não estou com muita disposição hoje, mas ficaria feliz se
masturbasse você”, ou “Estou bastante cansado, vamos fazer isto da
Um “Escravo” para a Noite ‘maneira preguiçosa’ [ver capítulo 14, “Banquete Sexual”] por esta noite”
— então, o sexo se torna imediatamente muito menos uma
Imagine que você tem um amante que fará qualquer coisa que você “superprodução” ameaçadora e muito mais uma parte casual-porém-
pedir a ele, que obedecerá a todas as suas ordens. Fantasie sobre carinhosa de sua vida diária. É a mesma coisa que se você dissesse
como você usaria o corpo dele para satisfação de seus próprios (generosamente), “Não estou com fome esta noite, mas faço com prazer
desejos sexuais. um sanduíche para você”, em vez de dizer (como mártir), “Está bem, eu
vou ceder esta noite, mas lembre-se, só por sua causa.”
Quando chegar a sua vez de ser “egoísta” com seu marido, torne esta Esta mudança de atitude pode fazer toda a diferença em nossas vidas
fantasia realidade. Faça de seu parceiro um “escravo” para a noite — sexuais. Em vez de um dos dois ser o martirizado e o outro, o culpado, nós
faça do corpo dele o seu “pirulito”. Se você começar a sentir chegamos a termo com duas pessoas sexualmente satisfeitas e com
ansiedade porque acha que está sendo “pouco feminina”, afaste para felicidade sem culpas. Através do trato de “cuidar um do outro”, a
longe estas ansiedades, concentrando-se em sua fantasia e em seus obrigação sexual se transforma muito rapidamente em prazer sexual.
sentimentos. Lembre-se: é o privilégio que lhe foi concedido através Como pais, que abraçam seus filhos por amor, e não por obrigação, nós
do trato feito entre seu parceiro e você. A vez dele vai chegar. redescobrimos a satisfação sensual do “dar”, diferente do “ceder”.
Ironicamente, sexo egoísta — dando apenas aquilo que você deseja dar —
Nestes dois exercícios, um dos parceiros solicita do outro a sua se revela como o mais generoso sexo que existe.
própria satisfação sexual, mas os exercícios ficarão mais fáceis para vocês
dois, se as solicitações forem colocadas de maneira positiva. Em vez de
uma premissa sexual negativa, que pode levar todo o sexo para um ponto
morto — a negação do tipo “Você-nunca-me-deu-o- bastante-disto-ou-
daquilo” — diga: “O que eu realmente adoraria agora seria isto-ou-
aquilo.” Torna muito mais fácil para seu parceiro responder de maneira
positiva. Mas não podemos nos esquecer de que nossos parceiros sempre
se reservam o direito de dizer, “Ainda não me sinto pronto para este tipo
de fantasia, mas tenho vontade de tentar alguma outra coisa, enquanto
isso.” E novamente, isto deve ser encarado dentro de um enfoque positivo.
O “Não” é um “Não por enquanto”, e não uma rejeição sexual definitiva.
Seria contra o espírito do trato permitir que um “Não impedisse você de
solicitar uma fantasia especial novamente — até mesmo na noite seguinte.

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Levando um ao Outro — e um
Sanduíche — para a Cama

"Nós Estamos Ocupados Demais para Sexo"


Esta é a mais comum das queixas que ouço, especialmente hoje em dia,
com os dois, marido e mulher trabalhando. Invariavelmente, contudo,
minha resposta é: “Absurdo!”
Tenho conversado com centenas de casais “ocupados demais para
sexo”, que consideram natural dedicarem uma hora inteira na
preparação de seus jantares, que de algum modo conseguem se OY-
ganizar para assistirem pelo menos uma hora de televisão todas as
noites, e que saem em média duas vezes na semana com amigos,
comparecem a cursos, ginástica, ou reuniões. Em termos de prioridade
diária, o sexo vem por último, muito aquém das novelas de televisão e
de exercitarem seus corpos até a perfeição. Literalmente, estas pessoas
não programaram o sexo para suas vidas.
Para a maioria de nós, estar “ocupado demais” é simplesmente
outra maneira sutil de evitar o sexo — outra maneira através da qual nos
desligamos, sem nos confrontarmos honestamente com o que estamos
fazendo. Dizemos: “Olhe para todas estas coisas concretas que tenho
que fazer — os encontros do comitê, a ginástica aeróbica, o curso, os
concertos” e assim, jamais precisamos pensar sobre o que não estamos
fazendo e por que não. Sem tempo para o sexo, jamais temos que nos
confrontar com as ansiedades e ressentimentos, que são as verdadeiras
razões para que não façamos amor por semanas ou meses.
Uma mulher estava à beira das lágrimas, quando me contava,

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“Todas as noites, quando vou para a cama e vejo suas costas ali do meu sabíamos de antemão o que iríamos fazer depois do cinema, e no
lado, tudo que penso é: Este é mais um dia em que não faremos amor. apartamento de quem iríamos fazê-lo? E agora, morando juntos, sem
Agora já são seis semanas.” dúvida desenvolvemos rotinas para fazer amor, nos mesmos dias, nas
Contudo, quando prossegui minha conversa com esta mulher, mesmas horas — as manhãs de domingo parecem as favoritas da Nação.
descobri que ela frequentava aulas de aeróbica três vezes por semana, Então, para principiantes, tudo que estou sugerindo é que façamos este
enquanto seu marido ficava em casa sozinho. Não demorou muito até que horário de maneira consciente e aberta, que um casal consulte um ao
ela admitisse para si mesma que estava com vergonha por ter engordado outro, exatamente como fariam a respeito de qualquer outro compromisso
alguns quilos e que não se permitiría sentir qualquer prazer sexual, até se para a noite e que marquem explicitamente as datas no calendário para
considerar em forma novamente. noites regulares de mútuo prazer sexual. Em resumo, sugiro que façamos
E um casal que conhecí havia caído em uma terrível depressão por do sexo uma parte de nossas vidas tão importante e definida quanto
que haviam feito amor apenas uma vez em três meses, mas novamente,
encontrar com os amigos ou assistir ao show semanal na televisão. E não
quando examinamos suas rotinas diárias, descobrimos que quase não
se preocupem, este esquema não estabelece uma limitação para eventos
haviam deixado um minuto sequer livre para fazer amor relaxadamente.
Descobrimos que cada um dos dois estava usando o trabalho para sexuais não-programados; de fato, uma consequência mágica do
esconder antigos ressentimentos: ela se ressentia do fato de que, durante calendário para o sexo é que ele geralmente revitaliza o sexo inesperado
anos eles haviam feito amor somente quando ele queria; e ele se ressentia — como as já esquecidas “rapidinhas” matinais no chão do banheiro.
com o fato ela estar perdendo o interesse sexual por ele. Em vez de se Sexo com regularidade faz com que a antiga corrente elétrica seja
confrontarem com seus ressentimentos, eles deixaram de se confrontar na novamente ativada.
cama.
Para a maioria de nós, as razões desconhecidas pelas quais nos
damos tão pouco tempo para o sexo, não são muito fáceis de apontar; com
frequência são uma combinação dos fatores que nos desligam, explorados Eu Realmente Deveria Estar Fazendo Alguma Coisa
na Parte I deste livro. Porém, uma coisa maravilhosa no sexo é que você Mais Importante
não precisa ter sempre que analisá- lo — você pode simplesmente fazê-lo
e os problemas parecem se resolver sozinhos. A melhor maneira que Para a maioria das pessoas que o tentam, colocar um círculo
tenho encontrado para romper com o padrão “ocupados demais” é a vermelho em todas as quartas-feiras do mês, já é por si só um
derrubada com um só golpe — direto para a cama. maravilhoso afrodisíaco. Fornece um motivo para a fantasia, uma
E uma idéia tão simples que parece piada: agradável expectativa.
“Eu já começo a pensar no assunto lá pelas dez horas da manhã das
Uma noite por semana — quarta-feira é um dia neutro, agradável — quartas-feiras”, contou-me uma mulher. “Eu penso, ‘hum, o que será que
comprem uma garrafa de vinho e dois sanduíches para viagem, no vamos fazer esta noite?’ Às três horas da tarde, eu já dei um ou dois
caminho de volta do trabalho para casa, e levem vocês dois — e os telefonemas ‘obscenos’ para o meu marido no escritório”.
sanduíches — diretamente para a cama. Não liguem a televisão. Mas para outros — especialmente para homens preocupados com
Deixem o telefone desligado (ou liguem a secretária eletrônica). E desempenhos — antecipar uma noite completa de sexo pode gerar
nas próximas três ou quatro horas, comam, bebam e divirtam-se. ansiedade, pelo menos nas primeiras quartas-feiras iniciais. Às

Geralmente nesta parte sou interrompida por gargalhadas, risos com


um ligeiro toque de nervosismo.
“Você está realmente sugerindo que marquemos horários para
nosso sexo?” Realmente, estou. E o que é que isso tem de tão bizarro? A
maioria de nós tem marcado horários para nosso sexo desde que nossas
vidas sexuais tiveram início. Quando saíamos para encontros, já não
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três da tarde, ele está pensando: “Meu Deus, esta noite é a noite! O que Tempo de Sobra, Nada para Fazer
será de mim, se as coisas não correrem bem? Como serei capaz de superar
isso?” Como veremos adiante, o programa com final em aberto para estas Muitos casais me perguntam, “O que nós podemos realmente fazer
soirées sensuais, é determinado para dissipar ansiedades como estas. durante todo este tempo”.
O riso nervoso persiste. Uma porção de coisas — de fato, o suficiente para uma vida inteira
“OK, nós podemos programar o sexo semanal — mas uma noite destas quartas-feiras. Mas, para começar, sugiro que vocês abram sua
inteira?” garrafa de vinho, desembrulhem seus sanduíches e a vocês mesmos — a
Sim, para uma noite inteira. Do instante em que você chega em casa, ordem não importa. Este vai ser um piquenique de nudismo.
até a hora em que você desliga o termostato e vai dormir. Três a quatro (Para aqueles que se preocupam com migalhas de pão e pingos de
horas — o equivalente a um cinema e um jantar. Mas não estamos aqui maionese, eu recomendo que estendam uma toalha de mesa por sobre os
planejando uma maratona sexual: é uma noite de divertimento amoroso, lençóis, ou melhor ainda, reservem um jogo especial de lençóis para as
de jogos sensuais, do restabelecimento da familiaridade dos corpos um do noites de quarta-feira. Também, por razões de conforto, eu penso que um
outro e dos prazeres que podem nos oferecer. O ato sexual será apenas condicionador de ar regulável é uma boa idéia. Todas as medidas práticas
uma fração da noite (se chegar a ser alguma) — o resto é apenas um devem ser providenciadas e retiradas da , mente antes do início da noite.)
OK, vamos começar. E, lembrem-se, existe apenas uma regra: não
piquenique — um piquenique muito sensual. Entretanto, a idéia de uma
apressem coisa alguma. Muitos casais que conheço podem passar uma
noite inteira devotada à diversão sensual e a jogos de prazer não parece
boa hora apenas comendo e bebendo e contemplando um ao outro. Para a
assentar bastante bem em alguns de nós.
maioria de nós, é rara a oportunidade da contemplação da nudez um do
“Mas nós estamos realmente ocupados”, protestou uma mulher. “Eu outro. Durante o resto da semana, apenas temos tempo para rápidos
honestamente não consigo ver como poderemos nos ajustar a uma noite olhares, para a visão passageira de partes do corpo um do outro, saindo do
inteira por semana.” chuveiro ou colocando os pijamas. E, frequentemente, quando fazemos
“Quatro horas me parece um pouco exagerado”, disse-me um amor, passamos do despir ao abraçar, sem muito mais do que uma troca
homem. “Significa uma enorme parcela de tempo improdutivo e de de olhares à distância de um braço entre nós. As noites de quarta-feira são
autocondescendência. ” maravilhosas para a contemplação despreocupada.
A todos esses protestos posso apenas responder com uma pergunta E conversar. Nada especial, apenas o diálogo costumeiro de volta
minha: “Antes de mais nada, o quanto o sexo é importante para você e para casa, sobre o que aconteceu no trabalho e a história que você leu no
para o seu relacionamento?” jornal. Mas vocês estão deitados juntos na cama e vocês não estão
Esta pergunta deve ser respondida com honestidade e franqueza vestidos e, durante todo o tempo em que conversam, vocês estão olhando
antes que possa prosseguir. Estão vocês dois verdadeiramente satisfeitos um para o outro também. E, quando você se in-
com a frequência e a duração de suas vidas sexuais “espontâneas”? Seu
relacionamento sexual é de fato menos importante que todas as outras
atividades que mantêm você ocupado e fora da cama? Sim, o prazer
próprio e o que vocês se dão por um período de três a quatro horas é
totalmente autocondescendente. Mas ele o é realmente mais do que um
jantar ou um cinema (os quais, de vez em quando, podem ser muito mais
extravagantes que uma garrafa de Chablis e dois sanduíches de atum para
viagem)? Eu acredito que não. E acredito que qualquer casal que esteja
interessado em manter suas vidas sexuais vitais e excitantes está disposto
a desistir do conceito de que “Realmente Deveria Estar Fazendo Alguma
Coisa Mais Importante”. Um ou dois piqueniques de quarta- feira à noite
em geral são suficientes para convencer a maioria dos casais de que é
justamente deste tipo de autocondescendência que precisam.

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clina para remover aquela pequena mancha de mostarda tem experimentado desde os tempos em que recebia carinhos, ainda
da bochecha dele, você se demora um pouco, contornando os crianças. O resultado final é que vocês dois emergem do interlúdio
sentindo-se muito bem um com o outro. Sem argumentos ou análises,
lábios dele com a ponta de seus dedos. É um prazer, puro,
seus ressentimentos e recriminações simplesmente se evaporam. Um fazer
simples e despreocupado. amor sensual e desinibido é o que em geral acontece depois,
Agora existe apenas a possibilidade de, depois de algum tempo, um
naturalmente.
ou os dois de vocês desejarem tocar a um ao outro mais intimamente,
Contudo, talvez — especialmente na primeira quarta-feira — não
mas, novamente eu diría, façam um favor a vocês mesmos
acontece nada além depois. Ótimo. Apenas prossigam, comendo,
— não se apressem. E não se preocupem sobre até aonde isto poderá
conversando e contemplando. Quem sabe, talvez, um pouco de leitura em
conduzi-los. Porque tudo isto talvez conduza apenas a mais carinho e
voz alta, ou ouvir música. Esta primeira quarta-feira pode fazer você se
conversa, comer e beber. E talvez tudo isso conduza a uma surpresa
sentir um tanto atordoado e autocrítico, para que faça algo além disso. A
sexual não-planejada por vocês. Uma das maravilhosas ironias destas
pressão sobre vocês dois pode ser removida, se deixarem a noite com um
noites programadas é que, geralmente, elas incluem experiências sexuais
final aberto. Não haverá desapontamentos — silêncios ou quaisquer
mais espontâneas do que as noites não-progra- madas. Parece que aquelas
outras coisas — que mereçam a sua preocupação. Nenhuma solicitação
noites não-programadas, com muita frequência se tornam vítimas dos
quanto a desempenhos. Nenhum orgasmo a computar. Especialmente para
velhos hábitos e das rotinas cômodas
os homens que se preocupam com desempenhos, esta atitude de o que
— porém sem inspiração. Dando tempo a vocês e mantendo uma atitude
tiver que ser, será pode representar a diferença entre antecipar uma noite
de “tudo pode acontecer” pode abrir uma caixa de surpresa de delícias
de ansiedades ou uma noite de prazer livre e casual. Muitos casais com
sexuais.
que tenho conversado mantêm este ambiente casual, com uma mistura de
Para conseguir deixar que as coisas corram naturalmente — em
componentes, fazendo duas ou três coisas ao mesmo tempo:
especial nas primeiras noites de quarta-feira, onde ainda deverá existir um
certo autocontrole — vocês devem querer começar revendo o Exercício
Algumas vezes ele se deita espalhado, de bruços, lendo uma história
de Toque 1. Isto é o que pode haver de melhor em matéria de em voz alta, enquanto eu me sento sobre as nádegas dele e
autocondescendência: massageio suas costas.
Com as luzes acesas, espalhe-se na sua cama, enquanto o seu Uma ocasião, tivemos uma de nossas melhores noites realizando
parceiro toca e acaricia seu corpo todo, excetuando seus genitals (e todo este número de Tom Jones — saboreando nossa comida como
seios). Deixe que ele prossiga por pelo menos quinze minutos, mas se fosse alguma cena supererótica. Rindo, metade do tempo, e nos
não por mais de uma hora, e enquanto ele o faz, expresse em alto e tocando por todo o corpo, na outra metade.
bom som exatamente o que deseja — por exemplo, “Mais devagar,
por favor” ou “É delicioso, quando você passa somente a ponta de Fazendo uma mistura de atividades, podemos romper sequências
seus dedos na minha barriga”. Em seguida, retribua-lhe o favor. categóricas rígidas, romper com a velha rotina, “primeiro comemos,
depois tiramos as roupas, depois começamos com a preparação, depois
Este simples interlúdio pode dar o toque sensual e amoroso para o fazemos amor, boa noite, meu bem”. Podemos comer e fazer carinhos ao
resto da noite. Acima de tudo, permite que vocês dois superem qualquer mesmo tempo. E podemos interromper o ato sexual para contar uma
timidez que possam sentir sobre pedir prazer. Vocês dão permissão um ao piada, se quisermos. Sem regras, sem sequências previstas. E sem
outro para serem totalmente egoístas. E, pedindo, vocês se livram do qualquer contagem regressiva para o “Evento Principal” que nos deixe
fardo de terem que ler as mentes um do outro, tentando descobir aquilo nervosos como dois pugilistas.
que lhes dá prazer. O contato sensual prolongado sem qualquer contato
genital remove as ansiedades sexuais. Vocês dois, cada qual na sua vez,
têm a oportunidade de relaxar, de se sensibilizar e de corresponder. Isto
revive aquele senso de confiança e de bem-estar, que muitos de nós não
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"Isto não É Pouco Romântico?" vamos chegar ao sexo de verdade, não é mesmo?”
Apenas se isto for o que vocês dois desejarem. Honestamente. É
Entretanto, existem ainda muitos casais que vêem o “piquenique” claro que, para muitos casais, a noite costuma incluir sexo com orgasmo
como algo “casual demais”. Como me disse uma mulher, “Comer durante um bom tempo. Mas haverá ocasiões nas quais o sexo com
sanduíche de atum com uma das mãos e fazer carinhos com a outra. Isto orgasmo será excluído da noite de quarta-feira, devido ao cansaço,
me soa terrivelmente pouco romântico”. ansiedade ou, simplesmente porque você não está com vontade esta noite,
Pouco romântico não — apenas não horrivelmente sério. Em não obrigado. Mas, certamente esta não é justificativa para vocês abrirem
resumo, bem mais divertido. Quando se trata de sexo, a grande maioria de mão de todo o piquenique. Vocês ainda podem levar os sanduíches para a
nós se torna tão séria quanto pequenos escoteiros, trabalhando por um cama e ter uma noite langorosa e fisicamente reconfortante juntos, sem
distintivo de mérito. Com a mistura de atividades, podemos clarear a qualquer estimulação genital. Ou vocês podem excitar um ao outro, e em
situação. Conforme um adepto entusiasmado dos piqueniques nas noites seguida se ocuparem de alguma outra coisa, e se excitarem novamente,
de quarta-feira colocou: sem jamais chegar ao clímax. Ou um de vocês pode ter um orgasmo e o
outro não, isto também pode acontecer. Honestamente, não existem
Que alívio para mim ter tirado toda aquela reverência ao sexo de regras. Sendo assim, eu não acredito que este seja apenas um modo
nosso caminho. O incrível paradoxo é que agora, como tratamos elaborado de nos tapearmos: ao contrário, é uma maneira muito simples
sexo naturalmente, como mais uma das coisas que fazemos de nos lembrarmos de que o prazer sexual pode ser qualquer coisa que
enquanto comemos nossos sanduíches e resolvemos as palavras tenhamos vontade de fazer em um determinado momento — e não sempre
cruzadas, ele ficou infinitamente mais excitante. uma mesma coisa.
Esta certeza — e os piqueniques das noites de quarta — têm feito
E como ainda estamos na discussão sobre o que é Sexo Romântico uma tremenda diferença nas vidas sexuais de muitos casais que conheço.
— e o que não é — a mim também parece que, mais uma vez, caímos em Transformo o sexo em uma aventura novamente, uma experiência
uma armadilha de velhos conceitos ultrapassados. Por que o “Sexo contínua. Para casais “Ocupados Demais Para o Sexo”, pode se tornar
Romântico” deve significar somente luzes difusas em champanha, Ravel
uma revelação: quatro horas exclusivas por semana não é realmente muito
no toca-disco, e doces sussurros?
— bem, e que quatro horas maravilhosas são estas. Para casais que se
São um sanduíche de atum e a leitura do jornal obrigatoriamente
ressentem por sempre terem que se acomodar ao horário disponível um do
menos românticos? Ou uma guerra de travesseiros? Ou uma brincadeira
sob os lençóis? Deve haver mais coisas no sexo romântico do que aquelas outro, esta experiência torna-se um grande equalizador: o horário é
que nos mostram nas propagandas de perfumes — na verdade, os únicos programado para vocês dois. E, para os Trabalhadores Dedicados e os que
limites são os da nossa própria imaginação. “Contam Pontos”, o relaxamento e o descompromisso de uma noite sem
Conheço um casal que pode passar horas pintando o corpo um do ter que ceder às críticas na cama ou manter as médias comparativas,
outro com os dedos. Sem romantismo? Não é o que eles dizem. fazem com que o sexo-obrigação se torne novamente um prazer genuíno.
Outro casal — ela é corretora da Bolsa e ele advogado, o casal de Alguns casais me perguntam, “E se nós terminarmos de fazer amor
aparência mais conservadora que conheço — contou-me que gostam de às nove da noite, e ainda tivermos duas horas desta noite pela frente?”
fazer algumas acrobacias e cambalhotas despidos, enquanto ouvem Vocês podem cochilar um pouco ou assistir meia hora de televisão.
música de circo. Me soa bastante engraçado. E sempre podem ainda ir à cozinha e preparar outros sanduíches. Vocês
Adiante, em “Banquete Sexual”, entrarei em maiores detalhes podem conversar um pouco mais, se olhar um pouco
quanto a estes jogos, mas por agora a questão é esta: o apego e algumas
idéias limitadoras sobre “Sexo Romântico” é o caminho certo para que se
perca um banquete de diversões sexuais.
“Veja bem, toda essa conversa sobre aliviar a pressão, não é
apenas uma maneira elaborada de nos tapearmos?” Posso ouvir vocês
resmungando. “Toda a idéia do ‘piquenique’ é de que eventualmente nós

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mais e se tocarem um pouco mais. A idéia de que o orgasmo marca o agirem assim; vocês estarão simplesmente criando a própria privacidade.
final de todo o desejo sexual e sensual é uma das idéias erradas mais É muito mais fácil para vocês superar o sentimento de culpa por não
absurdas de todos os tempos. permitir que seus filhos entrem na vida sexual de vocês, do que superar o
E ainda temos aqui uma idéia verdadeiramente arrojada para o que ressentimento para com seus filhos por estarem dificultando a vida sexual
podem fazer o resto da noite: vocês podem fazer amor novamente! de vocês. Por volta dos dois anos de idade, já é tempo de começar a
Vocês se lembram de como foi delicioso? Bem, a despeito da ensinar às crianças que há momentos em que vocês desejam ficar a sós
mitologia popular, “fazer duas vezes” não é apenas uma opção para um com o outro assim como há momentos em que a criança gosta de
adolescentes e atletas do sexo. Gente casada pode fazer isso também. Na poder fechar a porta de seu quarto e ficar sozinha.
verdade, tenho conversado com um grande número de pessoas já Regra Número Dois é jamais deixar o único aparelho de TV da casa
aposentadas, que subitamente redescobriram esta arte perdida. Um no quarto do casal. Eu fico sempre admirada ao constatar que muitos
homem de meia-idade pode precisar de um pouco mais de tempo para casais transformam seus próprios quartos de dormir em verdadeiras “salas
readquirir potência depois de um orgasmo, se comparado a um de estar” e depois reclamam do fato de jamais terem privacidade para o
adolescente mas, fisicamente falando, não precisa de muito mais tempo: sexo. Façam do seu quarto de dormir um ambiente privado, se quiserem
uma hora, talvez duas. E nem você está tão cansado quanto acredita estar: usufruir um sexo desinibido e sem interrupções.
para um homem médio atingir o orgasmo requer quase que a mesma Existem ainda duas outras soluções para o problema de se ter sexo
quantidade de energia necessária para caminhar três quarteirões. O que sem interrupções, quando existem crianças pequenas na casa. Primeiro,
impede a maioria dos casais de “fazer duas vezes” e nunca terem tentem “Sair para Sexo” (ver Capítulo 14) sempre que possível, da mesma
acreditado que podiam fazê-lo. forma como vocês saem ocasionalmente para jantar, deixando as crianças
com uma baby-sitter. Uma outra solução simples é deixar que as crianças
saiam para um passeio com a. baby-sitter, ou para um cinema ou
teatrinho, sábado à tarde, de modo que vocês tenham tempo e privacidade
"Mamãe, Você Pode me Dar um Copo d'Água?" e para desfrutar sexo dentro de casa.
Outros Desastres Sexuais Entretanto, com crianças pequenas em casa, sempre haverá as
ocasionais batidas na porta do quarto e “Mamãe, você pode me dar um
Existe uma última pergunta que sempre surge: “O que é que nós copo d’água?” justamente quando vocês estão fazendo amor. Tente se
vamos dizer aos nossos amigos? E às nossas crianças?” manter calma e diga, “Eu vou aí daqui a pouco, querido.” Uma mulher
Alguma coisa bem próxima da verdade. Um casal que conheço que conheço sentiu-se tão “liberada”, respondendo deste modo, que logo
simplesmente declarou: “quartas-feiras ficamos sempre em casa, só nós em seguida teve um orgasmo.
dois”. Você pode também esquecer de trancar a porta uma noite e ser
Alguns amigos piscaram os olhos com ar malicioso. Outros “pego em flagrante” por um pequeno sonolento que quer saber o que está
pareceram reprovar sinceramente, como se o casal tivesse acabado de acontecendo aqui. O que quer que faça, não fique alarmado ou em pânico
declarar que havia aderido a algum culto bizarro. E houve um amigo que e não fique com raiva. Você corre o risco de perturbar a criança somente
demonstrou muita preocupação. “O que é que há? Vocês dois estão tendo se transformar o episódio em uma “grande cena”. Controle seu impulso
problemas?”, perguntou. de pular fora da cama com culpa ou de aproveitar a oportunidade para
“Não”, respondeu o casal. “Estamos tendo diversão”. explicar bem ali os fatos da vida.
Crianças exercem maior pressão e não apenas nas noites de
“piqueniques”. É comum casais se queixarem de que é “impossível” fazer
sexo agora, que têm crianças em casa.
Não é impossível; requer apenas mais planejamento. Regra Número
Um de qualquer lar com crianças: colocar uma fechadura na porta do
quarto do casal e utilizá-la. Vocês não estarão rejeitando seus filhos por
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Ganhe tempo; calmamente conduza a criança de volta para seu próprio
quarto de dormir e, quando você voltar para sua cama, lembre- se de
trancar a porta desta vez.
Crianças mais velhas apresentam um problema diferente. Se vocês
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ficarem esperando até que seus filhos adolescentes resolvam ir dormir,
para somente então iniciarem o piquenique, pode ser que esperem a
Somente Quando Ele É Bom
noite inteira.
Não vejo nada de errado com o fechar e trancar a porta do quarto,
uma noite por semana e dizer para seus filhos mais velhos, “Sua mãe e
eu queremos ficar a sós um com o outro esta noite. Por favor não nos
perturbem, a menos que haja uma emergência real”. Quando perguntaram a Woody Allen se ele considerava sexo uma coisa
Talvez eles dêem algumas risadinhas. E, quando ficarem mais obscena, o comediante respondeu, “Somente quando ele é bom"
velhos, talvez eles simplesmente adivinhem o que vocês dois estão “Obscenidade”, “mau comportamento”, “ilegalidade” — sempre
fazendo por detrás daquela porta. E eu digo “Bravo” a isso. Porque isto foram componentes da excitação sexual. Porém estes componentes são
será provavelmente a melhor e mais confiante educação sexual que geralmente perdidos no sexo do casamento. Quando fazemos nossos
poderão ter em suas vidas adolescentes. Sem dúvida, eles se tornarão votos matrimoniais, o “Jogo Proibido” do sexo se torna, de repente, o
adultos para desfrutarem seus próprios e maravilhosos piqueniques nas “Dever do Sexo”. O que antes era ilícito, passa a ser uma exigência.
noites de quarta-feira. Como me contou um marido, “durante a primeira metade de minha vida,
o sexo era algo que eu fazia sem ter - permissão, e agora na segunda
metade é algo que faço por obrigação. A primeira metade foi certamente
muito mais divertida”.
Para muitos de nós, nossas primeiras experiências sexuais foram
relações “furtivas”, nos bancos traseiros de carros, em lugares escondidos
nos jardins, ou nas salas de jogos dos porões. “Romper as regras”
constituía metade de toda a excitação — nós estávamos estirando a língua
para a sociedade, passando a perna em nossos pais — e aquela excitação
era justamente intensificada pelo risco de ser pego em flagrante.
“Quando eu estava no colegial, eu costumava levar meu namorado
para a sala de jogos do porão”, contou-me uma mulher “E todas as vezes
que ouvíamos passos no andar de cima, começavamos a nos abotoar e
entrávamos em pânico. Mas, hoje, quando mc recordo daquela época,
percebo que tudo aquilo fazia parte da excitação — abotoar e desabotoar,
prender nossa respiração, todo aquele recomeçar e interromper nos
mantinha em um delírio febril.

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Quem tinha tempo para se preocupar com a qualidade do sexo? Já Não, o sexo maduro não precisa ser “malcomportado”, mas em
estávamos ocupados demais tentando fazer sexo.” muitos casos, isto contribui bastante para mantê-lo excitante. Só esta
Bem ou mal, essas primeiras façanhas sexuais “rompendo regras” noção de “sexo maduro” já soa bastante insípida para mim: tem gosto de
condicionaram nossa experiência com o sexo — a ilegalidade tornou-se obrigação sem alegria, totalmente destituída de qualquer diversão. E,
parte da bagagem sexual. Estas primeiras façanhas nos deram um apetite quanto a servirmos de instrumento para nossas neuroses, fico imaginando
por um pouco de “mau comportamento” em nossas vidas sexuais. se isto é inteiramente verdadeiro: mesmo nas sociedades mais liberadas,
Alguns de meus colegas acreditam que a atual “epidemia” de apatia existe algo de “não-civilizado” quanto ao sexo — especialmente quando
sexual é um resultado direto da Revolução Sexual: “Sendo tudo permitido, ele é bom. Sexo, no que tem de melhor, nos aproxima de nossos instintos
o sexo perdeu seu sabor de ilegalidade”, comentou um colega meu. “E animais e nos afasta de nosso eu “socializado” — representa sempre um
sem regras a serem rompidas, estabelece-se a apatia.” “rompimento das regras” do comportamento civilizado. Finalmente, dizer
Talvez ele esteja certo, mas o sexo sempre perdeu sua ilegalidade
que vocês estão “velhos demais para jogos” soa tão assustador quanto se
com a realização do casamento e isto pode se tornar um problema para
vocês acreditassem estar “velhos demais para o sexo”.
muitos de nós: no casamento, sem regras a serem rompidas, a apatia pode
se estabelecer. De fato, eu arriscaria dizer que a causa mais importante da
infidelidade conjugal é um desejo de “romper as regras” — de recuperar
um pouco da ilegalidade e do segredo que tornaram nossas primeiras
experiências sexuais tão excitantes. Um homem com quem conversei Saindo para Sexo
aprendeu esta lição de uma maneira dolorosa:
“Quando estava casado com Linda, meu romance com Sarah Um casal, Terri e Borden V., contou-me que a única ocasião na qual
representava o melhor sexo que eu jamais tivera”, ele disse. “Nós nos realmente se divertiam com o sexo eram as duas semanas que passavam,
esgueirávamos para quartos de hotel nas horas de almoço, ou nos todos os verões, em Nantucket.
encontrávamos às escondidas depois do trabalho e achavamos algum lugar “Do momento em que chegamos no chalé é como se fôssemos
para fazer amor — meu escritório, o carro — qualquer lugar servia. Mais pessoas totalmente diferentes”, contou Borden. “Geralmente, assim que as
tarde, depois que me separei e tinha meu próprio apartamento, nós crianças vão para a praia, nós tiramos nossas roupas e vamos direto ao
fazíamos amor somente lá, é claro, e não precisá- vamos nos esgueirar até assunto. É maravilhoso.”
ele. De alguma forma, o sexo começou a ficar menos animado quase que “Mas duas semanas está longe de ser muita coisa”, queixou-se Terri.
de imediato. Simplesmente já não era tão excitante. Em dois meses, nosso “Começo a contar os dias, no instante em que entramos em casa.”
romance havia terminado. Eu odeio ter que admitir isso, mas creio que nós Muitos casais desfrutam uma vida sexual mais ativa durante suas
dois sentimos falta de todo aquele perigo e furtividade. Mais uma vez, férias. Eles deixaram para trás as ansiedades do trabalho e da
tudo passou a ser exatamente como o sexo do casamento.” administração do lar; eles podem romper com as rotinas inibidoras e
Mantenho minha opinião de que, se utilizássemos metade da energia hábitos tediosos associados com o lar e o quarto de dormir: eles se sentem
que colocamos — ou ficamos tentados a colocar — em romances mais descansados, mais relaxados, mais felizes. Todos estes
extraconjugais, para tornar nossas vidas sexuais no casamento um pouco
mais “malcomportadas”, poderiamos matar dois coelhos com uma só
cajadada. Poderiamos resgatar aquela emoção de “romper com as regras”
sem termos que romper com nossos ca- sarnentos. Tudo que se precisa é
de um pouco de imaginação e um certo atrevimento.
“Pare aí!” Posso ouvir alguns de vocês, protestando. “Sóporque
aprendemos sobre sexo às escondidas, não vejo razão alguma para
servirmos de instrumento de nossas neuroses agora. Sexo maduro não
precisa ser ‘malcomportado’. Além do mais, já estamos velhos demais
para jogos. ”

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fatores contribuem para uma atmosfera melhor para o sexo. Mas existe tempos, mas eles procuram diferentes lugares todas as vezes. Uma mulher
ainda um outro fator: fazer amor em um lugar diferente — em uma cama contou-me. “Uma noite nós ‘Saímos para Sexo’ em um hotel de luxo e, na
diferente — e em diferentes horas do dia ou da noite — resgata um pouco vez seguinte, buscamos um hotel de segunda. Certa vez, encontramos um
da emoção do “sexo malcomportado”. No caso de Terri e Borden, eles não tipo de casa de pensão dos velhos tempos em uma cidadezinha não muito
só faziam amor com maior frequência durante estas duas semanas de distante da nossa; achamos que era o lugar perfeito para um ‘romance
férias, como também experimentavam variações que, por algum motivo, secreto’ — com cara de Traição ou coisa parecida. Por mais estranho que
nunca tinham vontade de experimentar em casa. Em resumo, eles isto possa parecer, a idéia tornou-se uma completa fantasia para nós —
“rompiam todas as regras”. nós estávamos tendo aquele ‘romance secreto’ um com o outro.”
Minha recomendação para eles foi uma recomendação que eu Aquilo não me pareceu estranho de forma alguma. Um novo lugar,
acredito, pode dar sabor às vidas sexuais de todos os casais — criem frequentemente desencadeia fantasias excitantes dentro de nós. Ficamos
“Noites de Férias”, “Saindo para Sexo” com a maior frequência possível: liberados para que possamos ser “uma outra pessoa” por um certo tempo,
para que sejamos Amantes Misteriosos.
Em vez de contratar uma baby-sitter e saírem para jantar, para o “Nestas ocasiões, eu via Myra como minha amante, e não como
cinema ou teatro, chamem uma sitter e saiam para uma noite de minha esposa”, contou-me um homem. “Ela realmente parecia diferente,
sexo em um hotel ou motel. Quando você fizer as contas, verá que quando eu a tinha em uma cama diferente. Chegamos mesmo, nem sei
os custos são quase os mesmos. E isto pode ser infinitamente mais quando, a adotar apelidos para nós, que usamos apenas quando estamos
divertido. Não existe necessidade alguma de se limitar o “sexo nas em quartos de hotéis.”
férias” a duas semanas por ano — você pode tê-lo uma vez por Outro casal que conheço — um par habitualmente muito bem- -
semana ou a cada quinze dias. comportado — gosta de “Sair para Sexo” de vez em quando, em motéis
“especiais”: motéis equipados com vídeos pornográficos e espelhos no
“Saindo para Sexo” nos liberta da “exigência” do sexo. Torna o sexo teto.
uma aventura, ao invés de uma obrigação. Nós saímos com a finalidade “É o nosso segredo”, contou-me a esposa. “Nenhum de nossos
explícita de ter diversão sexual, ao invés de ficarmos em casa e amigos sabe sobre isso. Nós simplesmente fazemos esta loucura e
desempenharmos um papel rotineiro. Esta simples mudança na rotina fez escapulimos para ela com intervalo de poucas semanas. Nós
uma diferença total para Terri e Borden. Terri disse: provavelmente ficaríamos muito embaraçados se alguém nos descobrisse,
“A primeira vez em que nos registramos no Holiday Inn sem mas não creio que seja este o único motivo para que não contemos a
bagagem alguma, o gerente nos deu aquele olhar suspeito e reprovador, e ninguém — acho que é porque também fica mais excitante ter uma ‘vida
precisamos nos controlar para não rir até que estivéssemos a sós no secreta’.”
quarto. Começamos a brincar, imaginando que o detetive do hotel iria Este casal ficava particularmente inibido em ter sexo dentro de casa e
derrubar a porta e exigir nossa certidão de casamento. A metade do tempo, isto nunca chegou a mudar por completo — com eles não ocorria o “efeito
nós rimos e na outra metade fizemos amor. Quando voltamos para casa, a de corrente contínua”. Contudo, eles encontraram uma maneira totalmente
baby-sitter perguntou se havíamos gostado do filme e começamos a dar inofensiva e excitante para evitar que suas vidas sexuais se extinguissem
risadas novamente. Na vez seguinte, fomos a um motel em outra cidade, e juntas. “Saindo para Sexo” não era apenas o melhor sexo que tinham, era
Borden nos registrou como George e Martha Washington. Desta vez, o virtualmente o único sexo
gerente sorriu. E nós tivemos outra noite maravilhosa.”
Do momento em que Terri e Borden fizeram do “Sair para Sexo”,
uma parte de suas vidas, o sexo em casa também melhorou, tornando-se
mais frequente e mais variado: “Foi uma espécie de efei to de corrente
contínua”, contou Borden. “Nós levamos algo do ‘motel’ conosco para
casa.”
Um pouco de “mau comportamento” pode render muito. Outros
casais que conheço não se limitam a “Sair para Sexo” de tempos em • 215
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que tinham. Mas era muito melhor do que não terem sexo algum. Frequentemente, depois de me contarem sobre seus jogos de
Existe um outro casal cujas aventuras de “Sair para Sexo” eu quero fantasias, alguns casais me dizem que se sentem de alguma forma
mencionar, porque eles encontraram uma excitação extraordinária em culpados e envergonhados por fazerem isso.
“romper com as regras”. Eles descobriram que, sempre que passavam um “Eu me sinto como se estivesse trapaceando, por estar quase o tempo
fim de semana na casa dos pais dela, ficavam metade da noite fazendo todo fingindo”, contou-me uma mulher. “Não me parece correto não ser
amor. eu mesma, quando estamos fazendo amor.”
“No início, não percebemos por que isto acontecia todas as vezes”, E um homem comentou, “Detesto pensar que os jogos e fantasias que
contou-me a esposa. “E então, quando em certa noite, ouvimos meus pais utilizamos são um truque necessário para que tenhamos um bom sexo.
subindo as escadas depois que nós já estávamos na cama, percebemos o Parece que há algo de anormal conosco.”
que nos ‘ligava’ daquela maneira. Sentimo-nos um pouco envergonhados, Para cada um desses casais eu digo que vocês têm sorte por poderem
pois percebemos que estávamos adorando ser ‘as criancinhas levadas’. se divertir com suas fantasias. Elas são um maravilhoso rompimento com
Mas, depois de um tempo decidimos: ‘E daí? É divertido!’ Agora,
as rotinas da vida diária. Na verdade, não há trapaça alguma: vocês estão
costumamos ir para lá cerca de um fim de semana por mês, e temos um
jogando estes jogos juntos. E parte da emoção das fantasias sexuais se
sexo estupendo sempre que estamos lá.”
Felicidades pára eles, é o que eu digo. deve ao fato de que vocês têm uma visão dupla: vocês são vocês mesmos
e outra pessoa, ao mesmo tempo. Não, não existe nada de anormal com
fantasias sexuais. Só existe o fato de que simplesmente alguns de nós são
mais explícitos sobre elas e se sentem melhor quando as realizam, do que
outros. (Interessante é que ultimamente tenho atendido pessoas em meu
Façam seus Próprios Filmes Pornográficos
consultório que se preocu- . pam porque elas não têm fantasias sexuais.
Sem uma certa fantasia, o sexo pode se tornar um negócio bastante Para elas também, eu digo, “Se vocês estão bem com o sexo, por que
prosaico, assim como disse, brincando, um homem que conheço, “A devem se preocupar?”)
fantasia no sexo é o que nos separa dos animais. Qualquer par de cães Conheço diversas pessoas para as quais realizar suas fantasias
pode copular, mas somente o Homem pode transformar isso em uma sexuais estabeleceu toda a diferença entre vidas sexuais felizes e infelizes.
grande produção”. Uma mulher que conheço nunca atingia o orgasmo até que ela e seu
As melhores “produções” de que tenho ouvido falar, geralmente têm marido começaram a jogar o jogo do “mau comportamento”, fingindo que
uma certa dose de coisa proibida — são fantasias partilhadas sobre ela era uma prostituta: “Depois de tudo eu sempre digo, ‘pode deixar o seu
“romper as regras”. dinheiro sobre a mesinha’. Existe qualquer coisa neste jogo que
Diversos casais conhecidos que costumam “Sair para Sexo”, gostam simplesmente me libera — e a meu marido também. Suponho que isto seja
de fantasiar que estão tendo um caso extraconjugal. Alguns elevam esta ‘perversão’, mas agora tenho orgasmos todas as vezes.”
fantasia, chegando separadamente no hotel e outros gostam de marcar seus Brincando de “prostituta”, esta mulher se sentiu capaz de abandonar
“encontros” no último minuto, para torná-los uma aventura ainda maior. todas as inibições de “boa garota” que a estavam impedindo de se divertir.
“Algumas vezes, meu marido telefona para mim do escritório”, A fantasia foi um atalho que funcionou. Seu marido também aprovou —
contou-me uma mulher, “e tudo o que ele diz é, ‘Hotel Lexington às cinco ninguém foi prejudicado. Eu seria a última pessoa a chamar isso de
horas’. Eu até perco o fôlego, quando ele faz isso.” perversão.
Outro casal contou-me que eles jogam o jogo do “romance
clandestino” em casa.
“Uma vez, exatamente quando fazíamos amor, minha esposa disse de
repente, ‘Depressa, meu marido está chegando’. Foi engraçado e delicioso
ao mesmo tempo. Algumas vezes ela até faz queixas de seu ‘marido’ para
mim, e eu consigo ouvir tudo sem ficar aborrecido. Eu sou o amante
solidário e é surpreendente como posso me tornar compreensivo sobre os
defeitos do ‘marido’ dela.”

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Muitas vezes me perguntam se complementos sexuais como fotos aventureiros, por introduzirem um certo mau comportamento em suas
pornográficas, livros, vídeos, vibradores e outras parafernálias podem vidas sexuais. Mas, como muitos outros casais assim, eles se preocupavam
ajudar um casal a “temperar” uma vida sexual sem sabor. Assim como com o fato de se tornarem dependentes de seu pequeno jogo.
para muitas outras questões sexuais, a resposta é: “Eles podem, se vocês “O que poderia ser melhor do que ficarem dependentes da sua
assim o desejarem. E se nenhum de vocês dois se sentir perturbado por própria imaginação?”, perguntei a eles. Na realidade, eles estavam
eles.” pedindo minha permissão para serem malcomportados. Mas isto não era
Muitas pessoas, especialmente mulheres, acham pornografia uma de modo algum necessário — ser “mau” não requer qualquer permissão.
coisa degradante; e acham particularmente degradante para as mulheres Como prova do que digo, vibradores e outras parafernálias vendidas
que posam para as fotos. É claro que, se vocês dois assumem esta posição em sex shops podem adicionar variedade em sua vida sexual se utilizados
moralista, pornografia não é adequada para vocês. Para algumas mulheres, de maneira higiênica e se nenhum de vocês dois se sentir ofendidos com
fotos pornográficas podem também fazer nascer um sentimento de eles. Mas se seu parceiro considerar essas coisas degradantes ou
ciúmes. Elas realmente não gostam da idéia de seus maridos pensando no assustadoras, não haverá qualquer ganho se tentar intimidá-lo ou fazer
corpo da mulher da página do meio da Penthouse (geralmente um corpo com que ele ou ela se sinta culpado para que os experimente; isto pode
mais jovem do que o delas próprias), enquanto estão fazendo sexo juntos. acabar com todo o sexo.
Novamente, este é caso onde a pornografia não serve para vocês. Mas se
vocês não se sentem perturbados por ela, e uma foto, um filme ou uma
folheada num livro ajuda vocês dois a criar uma fantasia sexual, eu não
vejo mal algum em utilizá-la para se excitarem ou para terem novas Como Falar Obsceno e Influenciar Pessoas
“idéias”.
Muitos casais que conheço usam vídeos pornográficos em casa, Um casal que veio me ver, queixando-se de que não tinham “tempo
como um prelúdio para o sexo. Na verdade, são os vídeos mais vendidos para sexo” estava realmente dizendo a verdade. Eles tinham profissões
na América. que exigiam frequentemente longas viagens de negócios, mantendo-os
“Nós nunca entraríamos em um cinema para filmes pornográficos”, afastados de casa. Geralmente, eles ficavam juntos em casa uma em cada
contou-me um marido, “mas, com um vídeo, podemos esperar até que as quatro semanas.
crianças estejam dormindo, para termos nossa própria seção privada. A “Nenhum de nós dois quer relacionamentos extraconjugais”, contou-
primeira vez que trouxe um destes filmes para casa, minha mulher ficou me o marido, “mas masturbar-se sozinho em um quarto de hotel pode ser
um pouco desconcertada com a idéia. Mas. quando terminamos fazendo um negócio bastante solitário. Já pensamos em largar ou mudar de
amor no chão, antes que o filme estivesse na metade, ela decidiu que emprego. Chegamos mesmo a cogitar no divórcio — mas isto não é o que
aquela não era uma idéia assim tão ruim. O clima todo — no chão e tudo nós dois queremos.”
mais — nos fez sentir como adolescentes excitados.” “Por que não fazer sexo pelo telefone?” perguntei a eles.
Outro casal me contou que, depois de algum tempo, se tornaram “Certamente, será melhor do que nada.”
verdadeiros conhecedores de filmes pornográficos: Como se revelou, mais tarde, “Sexo por Telefone” foi muito melhor
“Nós ficamos dizendo, ‘Se eu tivesse dirigido este filme, eu te- ria do que nada, para esses dois. Ao longo dos meses, eles aperfeiçoaram a
feito com que eles fizessem isto ou aquilo diferente’. Depois de algum idéia, desenvolvendo uma arte muito sexy. A mulher
tempo, nós escrevíamos nossos próprios filmes ‘pornô’, bem ali, em frente
à televisão — e os colocávamos em prática, é claro. Fizemos coisas nas
quais nunca havíamos pensado antes, enquanto as ‘câmeras’ iam filmando
tudo. Eu tenho que admitir, nossa vida sexual tem melhorado muito desde
que nos tornamos nossos próprios astros ‘pornos'.”
Novamente, vemos aqui um casal que encontrou uma fantasia sexual
que funcionou para os dois, permitindo que eles se sentissem livres e mais

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me contou: “Em geral, começamos nos alternando, contando um para o “No lugar do velho beijinho sem gosto na bochecha, enquanto as
outro o que nós faríamos um ao outro se estivéssemos juntos. Onde seriam crianças pulavam sobre nós”, contou-me a esposa, “nós nos abraçamos e
nossos carinhos, e como seriam estes carinhos, e então, o que faríamos em sussurramos as coisas mais escandalosas no ouvido um do outro —
seguida. É interessante a maneira como entramos em detalhes. Depois, enquanto as crianças pulam a nossa volta. Mesmo assim, a sensação
quando já estamos bastante excitados, falamos do que nós estamos permanece até que estejamos finalmente a sós. Neste momento, então, já
fazendo a nós mesmos e como nos sentimos. Fazemos muito barulho no estamos prontos para juntar as ações às palavras.”
telefone, quando atingimos o orgasmo. É ótimo.” “Falar Obscenamente” modificou por completo a maneira dos dois se
Seu marido completou ainda dizendo que o Sexo por Telefone deu verem um ao outro. Em vez de se sentirem sufocados pela atmosfera
vida nova àquela única semana do mês em que estão juntos: “É como se insípida de um lar tumultuado, eles “romperam com as regras” e
recomeçássemos a partir de nossa última conversa telefônica, em vez de sussurraram “coisas escandalosas” um para o outro, bem ali, na frente das
termos que relatar nossos sentimentos sexuais por inteiro, novamente. crianças. Em vez de serem oprimidos por um local pouco sensual, eles
Antes, gastávamos meia semana até atingirmos esse ponto. Mas, além de utilizaram o local para se tornarem “malcomportados”.
tudo, existe algo mais com este Sexo por Telefone que faz nossa
imaginação correr livremente. Falamos sobre fazer coisas um ao outro que
jamais havíamos experimentado antes. Mas agora, quando estamos juntos,
experimentamos todas elas, de verdade.” "Seduza-me"
Conversas telefônicas sensuais permitiram que a imaginação deste
casal se desenvolvesse, como jamais ocorrera antes. Certamente, foi a De vez em quando, homens e mulheres me dizem que o que mais
distância que os separava que permitiu a eliminação de todas as lhes faz falta no sexo do casamento é a excitação da sedução. Uma
ansiedades que ainda existiríam, caso estivessem em um mesmo quarto. mulher, Liz Q., contou-me: “Antes de nos casarmos, Hal costumava
Mas, de acordo com o que percebeu a mulher, havia mais alguma coisa sempre preparar uma supercena para me levar para a cama. Começava
influenciando a situação. “Vamos encarar os fatos”, ela disse, “nós com flores, passava para o vinho, música suave e conversa romântica, e
estamos fazendo chamadas telefônicas obscenas um para o outro. Nós em seguida ele costumava me beijar e conversar um pouco mais antes de
chegamos mesmo a ficar ofegantes. Isto faz com que eu me sinta começarmos. Era maravilhoso. E agora, tudo isso acabou! Agora ele
maravilhosamente ‘malcomportada’ — especialmente após um longo dia espera até a hora de irmos para a cama e então ele quer começar logo, no
de reuniões e negócios no meu escritório de ‘Srta. Formalidade’.” mesmo minuto em que se deita.”
Costumo sempre encorajar casais que se queixam de vidas sexuais Esta era uma mulher que raramente se sentia “com disposição” para
monótonas, para que tentem conversar de maneira obscena um com o o sexo com seu marido. Ela já inventara uma ladainha completa de
outro, tanto por telefone, como pessoalmente. Por telefone, como já desculpas — de dores de cabeça a cólicas menstruais — para recusar estas
vimos, pode ser a melhor maneira de se começar, por ser menos investidas mecânicas tarde da noite. Para Liz, o sexo do casamento não
ameaçadora. Uma mulher me contou que ela e seu marido costumam passava agora de uma obrigação, nada além disso; a emoção estava
“fazer rápidas e obscenas chamadas telefônicas” um para o outro, o dia definitivamente ultrapassada.
todo: “Eu o chamo ao telefone — mesmo que ele esteja bem no meio de “Da próxima vez em que ele quiser fazer amor sem preliminares”, eu
uma reunião — e digo alguma coisa como ‘Não se mova — estou com disse a ela, “em vez de você dizer que está com dor de
minha mão bem na sua virilha. Falo com você depois’. Damos boas
risadas, mas não há qualquer dúvida de que isso nos deixa ligados.”
Outro casal que conheço, que estava eternamente sendo desligado
pelas interrupções e inibições costumeiras da vida familiar — eles tinham
quatro filhos em casa — instituíram o ritual de sussurrarem “coisas
obscenas” no ouvido um do outro, quando se encontravam em casa à
noite.

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cabeça, diga para ele: ‘Convença-me’. Talvez você consiga recuperar “Você quer dizer que o sexo não deve mais ser divertido, agora que
alguma sedução para sua vida sexual”. estão casados?”, perguntei a ele.
Continuei dizendo a ela que se tentasse este “jogo”, ele deveria se Ele encolheu os ombros. “Eu quero dizer que nesta altura da minha
sentir com desejo de desejar fazer amor. Em outras palavras, ela não teria vida, não tenho tempo para toda esta paparicação. Eu trabalho duro o dia
que prometer de que se “deixaria convencer a fazer amor”, mas ela teria todo; e não quero ter que trabalhar duro também para obter um
que pelo menos abrir a porta para esta possibilidade. relaxamento sexual dentro da minha própria casa.”
Um jogo ocasional de “Convença-me” é uma maneira excitante para Hal, aparentemente, tinha tempo bastante para o sexo; ele apenas não
a maioria de nós romper com as rotinas preguiçosas de “Vamos Resolver tinha “tempo bastante” para transformá-lo em uma experiência excitante
Logo Este Assunto” do sexo do casamento. Para homens preocupados para os dois. Ele encarava a sedução como uma tarefa, e não como um
com desempenhos em particular, isto pode trazer de volta as emoções da prazer.
conquista: a esposa não está simplesmente ali deitada, na expectativa — “O que é melhor?”, perguntei a ele. “As ‘dores de cabeça’ de sua
nem exigindo — sua “quota” de sexo, que ela deve “cumprir”. O marido esposa, ou uma aventura sexual que possa requerer um pouco de energia e
deve ser sedutor o bastante iniciativa de sua parte?”
— isto é, se desempenhar bem o suficiente — para “marcar pontos”. Da Novamente ele encolheu os ombros, mas quando Liz disse a ele
mesma forma, para mulher (em particular) que sentem falta do novamente, “Convença-me” ele fez um pequeno esforço para “seduzi-la”.
romantismo da sedução, a atenção carinhosa e o clima de sonhos de estar “Um esforço pequeno demais”, contou-me Liz mais tarde. “Ele
sendo cortejada por um amante ardente, pode fazê-la se sentir mais correu sua mão pelos meus cabelos e disse alguma coisa sobre como eu
desejável — e, consequentemente, mais sensual. Sendo assim, para estava bonita, e foi tudo. Já queria começar naquele minuto. Eu
mulheres como Liz, dizer ao marido que ele deve “Convencê-la”, pode simplesmente não estava ainda preparada. E ele ficou furioso. Ele disse
ajudar a sair do ciclo do “sacrifício sexual”. Em vez de sempre “cederem” que tentara meu joguinho e que se aquilo não tinha sido suficiente, podería
ao sexo, como mais uma das obrigações do casamento, a mulher pode desistir.”
colocar em prática a mais antiga das fantasias femininas de fazer seu “Vamos começar tudo de novo”, eu disse a ela, “mas desta vez você
amante “pagar” seus favores sexuais com flores e juras de amor. Tanto o seduzirá. E comece logo no princípio da noite, antes que ela tenha
para o homem quanto para a mulher neste cenário, o jogo da sedução sequer pensado em sexo”.
exclui o confronto sexual, torna-o menos áspero e, aos poucos, mais Liz resistiu. Ela disse que isto tornaria o sexo “uma coisa só para ele”
excitante novamente, mas eu a convencí de que valia a pena tentar. E valeu. Em
— exatamente como costumava ser o sexo antes de ser reduzido por nós meu consultório, até mesmo Hal admitiu que se divertira: “Foi um
a um puro ato genital. E existe ainda um outro elemento de nossas verdadeiro jogo de gato e rato. Ela me dizia alguma coisa provocante e,
primeiras experiências sexuais que pode ser reaceso pelo “Seduza- me”: a quando eu tentava alcançá-la, ela escapava para outro quarto, e então
expectativa sexual de não saber como tudo irá acontecer. Ela vai ou não voltava e desabotoava minha camisa e massageava meu peito. Isto levou
vai querer? Em vez da conclusão antecipada de que o sexo do casamento horas.”
sempre se realiza, o jogo da sedução traz novidades. Sabendo que o sexo Subitamente, para Hal, já não era tão ruim fazer uma brincadeira.
já é um fato consumado mesmo antes de começarmos, faz com que Sem que percebesse, ele mesmo já se cansara daquele papel de “iniciador
tenhamos pressa de chegar ao final; mas, a incerteza do que pode sexual”, que havia começado mesmo antes do casamento com Liz. Em
acontecer, transforma o sexo em uma aventura permanente. parte, isso contribuira para sua “preguiça” sexual, e evidentemente
Mas existem perigos neste jogo também. A primeira vez em que Liz contribuiu para sua resistência em concordar
pediu a seu marido Hal, “Seduza-me” a resposta dele foi “Você deve estar
brincando!” Para ele, agora que estavam casados, “jogos” estavam fora de
questão. Em meu consultório, ele disse: “Considero ridículo ter que
seduzir minha própria esposa. Esta parte de nossas vidas já foi
ultrapassada. Nós não somos mais adolescentes.”

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com o jogo “seduza-me”. Uma vez, ele queria ser o qualquer um. E então, “entendam-se” e divirtam- se como fizeram
seduzido. Quando sugeri que se alternassem neste jogo, ele antes.
ficou ainda mais entu siasmado. Ele a convenceu na vez Um casal que conheço, de vez em quando desce do carro no meio da
seguinte, e ambos disseram ter sido uma noite maravilhosa. rua, durante a noite e “se entendem” como adolescentes.
Depois de algum tempo, o jogo do “Seduza-me” se “É claro que é uma loucura”, disse o marido, “mas é divertido.
transformou no jogo do “Quem Vai Seduzir Quem Esta Quando eu me recordo, ‘fazendo aquilo’ vejo que foi muito mais excitante
Noite?” — um jogo que se revelou ainda mais excitante para do que o sexo um-dois-três que temos em nosso quarto de dormir. Agora,
os dois. começamos com as carícias no carro e corremos para a cama. É a melhor
combinação dos dois mundos.”
Em muitos casamentos, “fazer carícias” — especialmente enquanto
ainda estamos vestidos ou parcialmente vestidos — é apenas uma doce
A Primeira Vez — Novamente recordação. Parece absurdo para nós o “agarramento”, quando nós
sabemos que podemos simplesmente tirar a roupa e ir para a cama se
Em toda sedução, existe um componente de “malícia”. A tensão e quisermos. Mas este “agarramento” costumava ser excitante. Devemos
suspense do “será que ela vai querer, ou não?” transforma este em um perdê-lo só porque agora tudo nos é permitido? Contudo, romper com o
jogo proibido, um rompimento de regras. E este componente pode ser padrão “sexo um-dois-três em casa é muito difícil para a maioria de nós.
intensificado pela mudança do local da sedução, do quarto de nossa casa Nós precisamos mudar nosso ponto de vista, e a melhor maneira de
para o local de nossas primeiras seduções — o carro, o drive-in, um começarmos é mudando o ponto de encontro.
restaurante, ou motel. Tudo isso para recuperar o sentimento de como “Primeiro, nós nos sentimos conscientes demais para começar,
costumavamos fazer amor antes que as rotinas e conclusões antecipadas quando tentamos recriar a primeira vez em que tivemos supersexo”,
roubassem toda a espontaneidade. contou-me uma mulher. “Nós escolhemos o mesmo motel, e até o mesmo
Sempre que um casal casado me diz que sua vida sexual perdeu o quarto, e simplesmente ficamos parados, olhando um para o outro como se
entusiasmo, digo a eles que devem tentar reviver uma determinada fôssemos dois estranhos. Mas j ustamente isso acabou tornando tudo
experiência sexual que tiveram no passado, quando ainda era excitante. muito bom. Foi como se nós estivéssemos tão tímidos um com o outro
Quase todo mundo se recorda de uma experiência assim. como quando nos conhecemos. Foi realmente muito romântico e
“Nós estávamos no cinema”, contou-me uma mulher, “uma comédia arrebatador. Agora, temos voltado àquele motel todos os meses. A esta
ridícula na qual nenhum de nós dois estava particularmente interessado. E altura, já fizemos tudo ‘pela primeira vez” umas vinte vezes!’
aí, começamos a “nos entender”. Que termo maravilhoso este — “nos
entender” — eu quase o tinha esquecido. Bem, nós realmente entramos
fundo na história. Eu fiquei sem sutiã, com a mão na virilha dele. De
repente, olhamos um para o outro e saímos correndo para o carro e Sexo em Público — o Sexo mais Irreverente que
fizemos amor bem ali, no estacionamento. Foi fantástico! Mas eu acho Existe
que é uma coisa difícil de se repetir: Nós nunca o fizemos”.
“Façam pela ‘primeira vez’ de novo”, disse a ela e a seu marido. O casal que “se entendia” no meio da rua admitiu para mim que parte
“Vão assistir a um filme no cinema — quanto mais enjoado, melhor — e da emoção para eles era o efeito que podiam causar nos vizinhos.
‘se entendam’. Vão o mais longe que puderem. Quebrem todas as regras.”
É uma experiência que todos nós podemos realizar:

Recordem-se de um lugar onde tiveram uma experiência sexual


quente, no passado — um ônibus, um carro, um balanço na varanda,
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“Às vezes, nós víamos a senhora da casa ao lado nos espiando por então com certeza para você ela o é. Mas esta é a sua opinião, não a de
detrás das cortinas’’, contou o marido, “e nós nos afundáva- mos mais no todo mundo — e não a minha. Para mim, quando vejo um casal se
assento do carro, dando risadas, e continuando com tudo. Nós tínhamos abraçando e beijando em público, me sinto como se gostasse um pouco do
certeza de que ela nos invejava.” mundo. Pode estabelecer um clima romântico por muitas horas.
Para toda a “irreverência” no sexo, o elemento básico é o de Mas quando a demonstração pública de afeto se funde com sexo em
estarmos dando as costas para o resto do mundo. Romper regras, em público é que as coisas se complicam. E se tornam muito excitantes.
última análise, é uma atitude social: nós não seremos “maus” ou Novamente, comece por algo bem inofensivo:
“obscenos” a menos que exista uma sociedade a nossa volta nos
desaprovando... e nos ameaçando de um “flagrante”. Para muitos de nós, o Da próxima vez que vocês se beijarem em público, sussurrem
sexo mais “irreverente” e emocionante que existe é o sexo que joga com a alguma coisa “obscena” no ouvido um do outro. Novamen te,
nenhum mal será feito — ninguém será preso ou ficará
possibilidade da revelação pública.
escandalizado. Mas o “pequeno segredo obsceno” de vocês pode
“Pare aí!” (Aquela voz de protesto mais veemente do que nunca.)
fazê-los formigar pelo resto do dia.
‘‘Se você vai nos recomendar o exibicionismo, para o bem de uma
‘emoção barata’, já ouvi demais sobre seu conselho ‘saudável’. O que
“Segredos obscenos” ditos em público podem ser terrivelmente
duas pessoas fazem sozinhas é assunto delas, mas o que fazem em público divertidos. Sempre que vão a uma festa, um casal que conheço,
se torna assunto de todo mundo. E o que vocêestá nos recomendando é ocasionalmente escapa das rodas de conversa e ao se encontrarem
uma coisa bastante desagradável. ” sussurram mensagens lascivas no ouvido um do outro, para depois
Primeiro, eu jamais recomendaria o exibicionismo a quem quer que retornarem à festa.
fosse. Dentre outras coisas, a nudez pública e o sexo em público são “Nossos amigos sempre nos perguntam qual é este grande segredo”,
contra a lei. Mas o que eu realmente recomendo para aqueles que, como contou-me a mulher. “Nós dizemos a eles que estamos trabalhando para a
Woody Allen, acreditam que sexo é obsceno “somente quando é bom”, é CIA.”
que eles experimentem sexo que esteja a um passo do público. Nós ainda É o clima de segredo que torna estes jogos públicos tão excitantes e
estamos a sós. Ninguém precisa ser ofendido ou ficar escandalizado. que, de um certo modo, pode nos fazer sentir mais próximos um do outro:
Contudo nós ainda resgatamos boa parte da emoção de romper com as o segredo é nosso e de mais ninguém. Mas, certamente, não podemos nos
regras. divertir com a emoção do segredo em nossos próprios quartos de dormir,
Para alguns de nós, a simples idéia de “fazer em público” traz muita às onze horas da noite — não existe absolutamente nada de “furtivo”
ansiedade. Existem aqueles dentre nós que ainda se sentem um tanto nisso.
incomodados com demonstrações públicas de afeto — que não podem Quando eu era uma estudante no Instituto Karolinska em Estocolmo,
sequer dar um beijo, parados numa esquina, sem se sentirem cheios de nós tínhamos a opção de dois elevadores: um com uma janela, o outro sem
embaraço e vergonha. E é esta justamente a grande vergonha: um beijo janela. Os casais, invariavelmente, escolhiam o elevador sem janela: ele
em público tem um sabor especial — um sabor muito sexy. E pode ser um fornecia um local privado-mas-quase- público para algum “entendimento”
bom ponto de partida: no intervalo das aulas. O jogo, é claro, era ver o quão longe você
conseguia ir, antes que as portas se abrissem novamente. Nem todos os
Da próxima vez que vocês dois estiverem sozinhos na rua, no casais chegavam ao
caminho para um show, ou jantar, parem e se beijem bem ali. Não
se preocupem, vocês não vão ser presos. Vocês poderão ouvir
alguns risinhos, mas o mais provável é que recebam apenas olhares
invejosos.
‘‘Afeição é coisa particular”, posso ouvir aquela voz de protesto
novamente. ‘‘E ser alvo de demonstrações de afeto em público é
depreciativo. ”
Se você considera depreciativa a demonstração pública de afeto,
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limite. E era isso, justamente, que tornava o jogo tão excitante. — e abrimos caminho através dele — diversas outras inibições podem
Provavelmente, todos nós possuímos fantasias sobre sexo em explodir automaticamente, nos liberando para usufruir sexo de modo mais
público. É certo que os meios de comunicação elevaram a popularidade completo. Mas o inverso também é verdadeiro: quando inibimos um
desta fantasia: a cena mais lembrada por todos no filme Shampoo mostra aspecto de nossa sexualidade, automaticamente inibimos diversos outros
Julie Christie engatinhando sob a mesa de um jantar formal e, oculta pela aspectos, tornando sexo uma experiência nervosa e muito pouco
toalha da mesa, tentando fazer sexo oral com Warren Beatty. A principal satisfatória. Uma pequena explosão que pode detonar diversos fogos
excitação desta cena provém do fato de sei um jantar formal; a idéia não sexuais é a de nos permitirmos ser ruidosos no sexo. É contra as “regras”
teria se tornado tão excitante se a cena ocorresse em uma casa noturna — chega a beirar o sexo público
escura e barulhenta. Ninguém que conheço se arriscaria a ir tão longe — mas isso é o que o torna tão divertido.
quanto Julie Christie foi nesse filme, mas existem jogos em público que “Dê um Grito de Alegria” é um exercício que recomendo a todos os
podemos apreciar e que não são tão arriscados. casais. Não só favorece a emoção de romper as regras, mas é um alívio
por si só — um “deixar correr” que torna todos os nossos sentimentos
Uma mulher me contou que ela e seu marido adoram sair para jantar
sexuais mais explosivos. Mas, para muitos de nós, significa transpor uma
em restaurantes luxuosos, e “fazer coisas obscenas” por baixo da mesa.
inibição muito consistente.
“Em algum momento, durante o jantar, eu tiro meu sapato e coloco Em primeiro lugar, nós temos medo do que as crianças ou vizinhos
meu pé em sua calça, abrindo-a gentilmente. Isto o deixa maluco. Eu irão pensar se nós gemermos e gritarmos muito alto, ou se dermos risadas
descobri que você pode levar adiante qualquer coisa se estiver vestida escandalosas. Mas, geralmente, este é um temor exagerado: nossos
como uma dama’.” aparelhos de televisão e estéreos são provavelmente tão barulhentos
Desempenhar o papel de “dama” ou “cavalheiro” faz parte da quanto os sons que faremos — as crianças continuarão dormindo mesmo
diversão — nós ficamos ligados devido ao contraste entre toda esta com o barulho. E além do mais, podemos deixar o estéreo ligado para
formalidade civilizada e as “coisas obscenas” que estamos fazendo em disfarçar nossos sons. Um casal me contou que colocam a Abertura 1812
segredo. sempre que fazem amor: “Para alguém conseguir nos ouvir através de
Outro casal que conheço, ocasionalmente entram juntos na cabine todos aqueles tambores e canhões, tem que estar debaixo de nossa cama.”
telefônica do lobby de um hotel e fazem “toda a sorte de obscenidades” Como observei, temos medo de fazer barulhos porque temos medo
um com o outro apenas ocultos, enquanto um dos dois finge estar falando do que cada um de nós irá pensar. Muitas mulheres têm me contado que
no telefone. têm medo de emitir algum som que seja mais do que um leve choramingo,
“Algumas vezes, nós até fazemos uma ligação telefônica”, contou o quando atingem o orgasmo, porque elas não desejam “soar como
marido, “e mantemos uma conversação enquanto tateamos um ao outro. prostitutas”. Um gemido, ou um grito, ou uma gargalhada é “pouco
Contudo, eu não recomendaria isto para importantes telefonemas de feminino” demais para elas:” só podem soar como “boas moças”.
negócios”. Para estas mulheres eu digo, “Uma ‘boa moça’ geralmente não se
Aproveitando a idéia do filme Emmanuelle, outro casal que conheço diverte muito na cama. E uma boa maneira para se deixar de ser uma ‘boa
gosta de entrar furtivamente no banheiro, quando estão dentro de um moça’ e começar a se divertir mais é abrindo a boca e gritando de prazer”.
avião e fazer amor atrás da porta trancada. Os transportes públicos Mas, muitas vezes, é com seus maridos que elas se preocupam
— o que eles vão pensar? Certamente, alguns maridos que estão fe
parecem oferecer toda sorte de oportunidades para sexo em público —
porém às escondidas: outro casal, ainda, contou-me que esperam até que o
filme do vôo comece, e estendendo um cobertor sobre o colo dos dois,
brincam um com o outro por baixo dele. Nenhum mal é causado; ninguém
jamais descobre — mas a emoção de se estar à beira dessa descoberta está
bastante presente.
Dê um Grito de Alegria
As inibições são como fogos de artifício: quando “explodimos” um

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chados na idéia de que suas esposas são “madonas” ficarão ouvi-los, alternem-se imitando ruídos sexuais. Façam ruídos em tão
desconcertados com um bom gemido; contudo, frequentemente, isso pode alto som ou tão totalmente quanto o desejarem. Tornem os ruídos
ajudá-los a romper com a situação mental de um sexo monótono. A mais e mais lascivos em cada turno, até que vocês dois estejam
despeito deles próprios, acabam descobrindo que o sexo barulhento os simulando o orgasmo mais sonoro que puderem. Não se preocupem
deixa ligados; pela primeira vez, eles vêem suas esposas como verdadeiros com quem possa escutá-los. E não tenham medo de rir. Isto é só um
seres sexuais e percebem que podem ter algum divertimento “obsceno” jogo.
em casa, e não somente em suas fantasias ou com mulheres “baixas”.
Existem também homens que se sentem ameaçados por uma Mas este é um jogo que pode muito rapidamente nos deixar à
correspondência vocal da parte de suas esposas, porque eles recebem esses vontade com os sons do sexo. Um casal me contou que logo após a
gemidos e gritos como uma solicitação da parte delas: como eles poderão “prática” de sons sexuais, tiraram as roupas e passaram aos gemidos e
se desempenhar suficientemente bem para corresponder à expectativa grunhidos de verdade.
delas? Mas, novamente, habituando-se aos poucos com os “sons de “Ficamos surpresos pelo quanto isso nos deixou ligados”, eles
alegria”, podem se tornar menos sensíveis à aparente ameaça e começar a disseram.
receber os gemidos e gritos de suas esposas como expressões de prazer — Para mim, não foi surpresa alguma. Eles estavam se ligando.
e aprovação, de fato — e não como uma solicitação. Existem mulheres, Com “sons de alegria”, assim como com todos os exercícios de “mau
muitas, que de início ficam desconcertadas pelos gemidos e grunhidos de comportamento” sobre os quais falamos aqui, nós tivemos que aproximá-
seus maridos durante o sexo; elas os consideram aca- brunhantes, como se los sutilmente — um pouco de cada vez, de modo que nenhum dos dois se
estivessem na cama “com algum animal”. tornasse oprimido e fosse necessário um retorno ao ponto de partida.
“Tanto melhor”, digo a elas. “Não existe um lugar melhor para se Temos que encontrar o nível de “mau comportamento” com o qual ambos
sentirem como animais, do que a cama.” se sintam à vontade; tentando - forçar nosso parceiro, corremos o risco de
Para muitos homens e mulheres, manter “a boca fechada” durante o provocar uma inibição ainda maior. Mas, por outro lado, nós dois
sexo é um hábito remanescente de suas primeiras experiências com sexo precisamos estar desejosos de nos tornarmos sexualmente e experimentá-
“furtivo” — masturbação no banheiro, apertos no portão da frente. los com o espírito da aventura e do divertimento. Todos nós temos a
Excesso de barulho facilitaria uma descoberta. Contudo, é justamente capacidade para isso.
rompendo com este hábito — rompendo com as regras — que podemos Provavelmente a maneira mais hilariante de sermos “malcom-
tornar o sexo sonoro tão estimulante. portados” é rompendo a maior de todas as regras do sexo no casamento —
“Dar um grito de alegria” é uma coisa que podemos exercitar. a regra de que nós devemos praticar somente a “Verdadeira Relação” — o
Alguns casais tentam a primeira vez, quando fazem “Sexo Fora”. ato sexual — e nada mais. No próximo capítulo, Banquete Sexual,
exploraremos estas opções sexuais. Será necessária uma boa disposição
“Nós estávamos em um motel e eu não dava a mínima para quem
para muitos de nós — mas, talvez alguns Gritos de Alegria possam
pudesse nos ouvir”, contou-me uma mulher, “então, eu simplesmente abri
explodir as inibições e nos levar até lá.
minha boca e deixei tudo sair. Bill também. Parecíamos galinhas de
quintal; depois de algum tempo, nós dois começamos a rir”.
Gradualmente, este casal foi se acostumando a levar o seu “quintal”
para casa deles e, como uma chuva de fogos, toda a sensualidade deles foi
libertada: “Por algum motivo, quando dou um gemido, me mexo de modo
diferente”, contou-me a esposa. “E tudo que tenho vontade de fazer parece
funcionar.”
Outra maneira de se exercitar um sexo sonoro é começando por
ruídos sensuais que vocês façam em conjunto, totalmente sem contato
sexual:

Completamente vestidos, mas os dois a sós, onde ninguém possa

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Banquete Sexual

“Nossa vida sexual se tornou tão rotineira — tão monótona e pre visível
— que tudo o que penso é em fazer amor com outra pessoa.”
Nem conseguiría enumerar a quantidade de vezes em que já ouvi
esta queixa, de homens e mulheres frustrados que vêm até mim. E a
cada vez que os escuto dizendo isso, fico perplexa pelo modo triste e
sem imaginação através do qual nos limitamos: a maioria dessas
pessoas acharia melhor mudar de parceiro do que mudar suas rotinas
sexuais com o seu parceiro de toda vida.
Os hábitos marcam profundamente. Nós nos habituamos tanto aos
velhos hábitos de nossos parceiros fazendo amor, em uma sequência e
maneira determinadas, que a simples idéia de romper com nossa rotina
sexual nos parece mais difícil e complicada do que, por exemplo, mudar
a alimentação, ou mudar de cidade — ou, Deus nos ajude, mudar de
família. Através dos anos, fazendo amor com a mesma pessoa,
tendemos a encontrar uma maneira de fazer as coisas, uma rotina que
“funciona”, e, sendo assim, nós a conservamos, até aquele dia
inevitável, quando se estabelece a apatia e a monotonia sexuais. De fato,
na minha experiência, as pessoas que estão menos desejosas de tentar
variações sexuais — de testar o Banquete Sexual disponível a todos nós
— são aquelas pessoas que jamais viveram um problema sexual, até o
dia em que descobriram que estavam entediados. Aqueles que possuem
um problema sexual específico vão querer experimentar qualquer coisa
que possa melhorar suas vidas sexuais; mas aqueles que vinham
funcionando normalmente em uma pequena esfera de rotinas sexuais,
não percebem que têm um problema de verdade, que os conduziu

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para a apatia sexual. O problema deles é inflexibilidade sexual. dizia, ‘Eu também. Me passa o açúcar, e nós dáva- mos boas risadas. Mas,
Na “Verdadeira Relação” examinamos a causa fundamental para a da próxima vez em que fazíamos amor, não nos esquecíamos de nossa
maioria das inflexibilidades. Nós nos habituamos ao ato sexual como se conversa no café.”
fosse a única forma legítima e “decente” de atividade sexual para adultos Muito bem, o papo do café já acabou. Agora, ao Banquete.
“maduros” — especialmente adultos maduros e casados — e, sendo assim,
desprezamos todas as outras variações sexuais como se fossem formas
inferiores de sexo — infantis, obscenas, perversas e humilhantes. Mesmo
muitas pessoas que de vez em quando tentam a masturbação mútua ou o Não Tire suas Calças
sexo oral admitem que saem da experiência com uma vaga sensação de
desconforto e culpa. A última vez em que a maioria dos casais iniciou sexo ainda vestido
Mas é justamente assim que podemos ficar entediados. foi, quando ainda eram adolescentes — provavelmente no banco de trás de
Eu não imponho as variações sexuais que se seguem neste capítulo um carro. Contudo, desde que nos tornamos adultos e casados, nós,
para todos os casais — eu não desejo estabelecer mais metas competitivas, geralmente “nos preparamos”, isto é, tiramos nossas roupas, mesmo antes
que podem nos dar a todos a sensação de estarmos perdendo o Grande de começarmos. Que vergonha, em especial se considerarmos o quão
Prêmio Sexual. Mas, por outro lado, pressiono todos os casais para que excitante era pressionar a mão contra um seio coberto ou, em um abraço
pelo menos considerem estas variações como alternativas para o que eles apertado, pressionar nossa pélvis para frente e roçarmos um contra o outro
estão fazendo agora — especialmente se estão se sentindo tapeados pelo — sem tirar as calças. Passar a mão por dentro de uma blusa ou sutiã ou
que fazem no momento. Será que estas variações correspondem a alguma correr por uma perna com meia, ou deslizar os dedos por sobre a abertura
fantasia secreta que vocês vêm alimentando por todos estes anos? Parece de uma calça eram o próprio Paraíso. Havia tanta promessa no ar. Por que
que vale a pena tentá- las — pelo menos uma vez? Nada temos a perder, se pulamos todas estas maravilhosas etapas agora? É tão urgente assim “ir
pensarmos simplesmente nestas alternativas e se conversarmos um com o direto ao assunto” imediatamente?
outro sobre elas. E o que temos a ganhar é um completo espectro de “Mas, uma vez casados, não é mais necessário passar por toda aquela
prazeres sexuais, e uma excitante expansão de nossos gostos sexuais, um paparicação”, as pessoas me dizem. “Você está apenas prolongando as
conjunto de opções sexuais que pode nos manter bem afastados das garras coisas em um jogo de adolescentes desnecessário. E você sabe que não
da monotonia sexual. passa de uma brincadeira.”
Mas mesmo o simples conversar sobre isso não é assim tão fácil. “Ótimo”, eu digo. “Não há nada de errado em brincar com você e um
Após todos esses anos não é fácil revelar sua fantasia mais secreta — com o outro um pouquinho, se isto pode melhorar o sexo.”
dizer, com franqueza, o que está faltando em sua vida sexual; dizer, por Quanto mais divertidamente exercitamos o sexo, nos demorando mais
exemplo, “eu realmente gostaria de experimentar sexo oral” depois de para “chegar ao assunto”, mais chance temos de um sexo melhor. Mais
quinze anos sem jamais ter tentado isso. especificamente, nós temos mais chances de ter melhores orgasmos com
A primeira regra relativa a essas conversas é não ter este tipo de uma grande preparação, porque ocorre uma maior congestão em nossos
conversa na cama — especialmente, não pouco antes de fazer amor. Isso órgãos sexuais e, consequentemente, maior relaxamento quando afinal
poderá arruinar uma noite perfeitamente agradável, enchendo-a de culpas atingimos o clímax.
ou recri mi nações, ou ainda pior, de brigas. A melhor solução para onde e Sendo assim, começar o jogo do sexo, vestidos, nos dá a oportunidade
quando devem conversar sobre “tentar algo diferente” foi- me dada por um de resgatar a emoção dos jogos de sedução. Em vez de
casal que me disse que de vez em quando se encontravam em um café,
depois do trabalho, para conversarem sobre que tipo de variação gostariam
de tentar da próxima vez em que fizessem amor.
“Por algum motivo, estar em uma ‘zona neutra’ fazia uma grande
diferença”, contou-me a mulher. “Toda a pressão e ansiedade ficavam de
fora. Ele dizia: ‘Algumas vezes gostaria que você me lambesse todo,’ e eu
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começarmos sexo no meio do jogo, com uma finalização quando fôssemos adultos. Na verdade, a masturbação no adulto ainda é
prematura, podemos jogar com as qualidades quase perfeitas encarada como uma regressão e qualquer adulto que persista nesta prática
“depravada” deve ser feio, velho, ou excêntrico, alguém incapaz de
do sexo com roupa. Nós podemos provocar a nós próprios e encontrar um parceiro sexual. Muitas pessoas têm me dito, com mais do
um ao outro com a antecipação do que “pode acontecer” e que um toque de orgulho, que, desde que se casaram, “abriram mão” da
imaginarmos, “Ele/ela vai querer ou não?” masturbação, como se estivessem me dizendo que haviam aberto mão do
Muitos homens e algumas mulheres apreciam um “agarramen- to uísque. Contudo, na verdade, a grande maioria dos adultos se masturba,
surpresa” ocasional. Por exemplo, na sala de projeção às escu ras de um sozinhos e secretamente, e geralmente, um tanto envergonhados. Tirar a
cinema ou, sentado num sofá em frente à TV, você de repente desliza sua masturbação do banheiro e levá-la para a cama, que você divide com seu
mão pelo colo dele, para dentro da calça e mas- sageia o pênis dele, ou ele marido ou sua esposa, requer coragem. Mas é justamente a coragem que
vem por trás de você, enquanto você penteia o cabelo, e aperta seus seios pode contribuir para uma vida sexual mais variada e emocionante.
por sobre sua roupa. Isso pode ser tanto o prenuncio do sexo que “vai até o Em primeiro lugar, a masturbação partilhada fornece a vocês dois
fim”, ou pode, simplesmente, ser um pouco de diversão — o tipo de uma alternativa excitante para a “Verdadeira Relação”. Possibilita que
diversão que faz com que nos sintamos sexy e sensuais no casamento. vocês façam outras práticas sexuais agradáveis em si mesmas, e não como
Contudo, um aviso: alguns homens — e muitas mulheres — não apreciam simples aquecimentos para o ato sexual. E," uma vez que vocês dois se
um agar- ramento surpresa. Faz com que se sintam assaltados, e se sintam à vontade com ela, a masturbação partilhada permite algumas das
alegrias da regressão, recordando as lembranças excitantes do sexo
contraem em uma resposta assustada; o fato pode mesmo relembrar
adolescente furtivo, quando a “Verdadeira Relação” não era permitida, ou
infelizes experiências do passado. Em tais casos, este é um jogo que não
não havia um local para experimentá-la.
deve ser experimentado.
A um nível emocional fundamental, a masturbação partilhada com
Um jogo inofensivo que também parece ter ficado perdido na atitude seu parceiro fornece uma oportunidade incomum para a proximidade:
de “direto ao assunto” do sexo de “adultos” é o de despir um ao outro, de partilhando o seu segredo “vergonhoso” um com o outro, vocês partilham
maneira sedutora. Na verdade, despir um ao outro antes do sexo, parece ter suas vulnerabilidades um com o outro — e que maravilhoso alívio isso
se tornado uma arte perdida. Mas, especialmente mulheres, sentem falta da pode ser. Mas isto pode ser também traiçoeiro: se vocês se masturbam um
vibrante excitação de seus parceiros, soltando os cabelos delas, lentamente, diante do outro (o que chamo de masturbação “em série”) ou se masturbam
desabotoando suas blusas, abrindo o zíper de suas saias, o tempo todo, as um ao outro (o que eu chamo de masturbação “mútua”), vocês estão
tocando e acariciando. Para algumas, o toque mais erótico é justamente o admitindo que algumas vezes se masturbam às escondidas, que o sexo com
deste procedimento. Uma mulher sexualmente feliz contou-me: “Meu seu parceiro não é a única prática sexual que exercem. Alguns parceiros
marido pode algumas vezes levar uma meia hora me despindo. E ele nunca podem, automaticamente, no primeiro momento, encarar isso como uma
tira minha roupa íntima até chegarmos bem no final, pressionando e for-
acariciando minha vagina por sobre a seda. Algumas vezes eu tenho
orgasmo antes mesmo de tirar minha calcinha.”
Esta mulher desejava saber se havia alguma coisa de “anormal” com
sua vida sexual.
“Você não é anormal”, eu disse a ela. “Você simplesmente tem sorte.”
Mãos no Sexo
Masturbação tem sido um nome feio desde o tempo em que éramos
crianças. “Abuso próprio” como era chamado, e juntamente com isso, nos
diziam que nasceríam verrugas em nossas mãos, ou que deixaríamos de
crescer, nos preveniam de que ficaríamos viciados — como com drogas e
cigarros — o que nos impediría de desfrutar a “Verdadeira Relação”

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ma de rejeição — isto é, até que consigam admitir que a masturba- ção quando estamos sozinhos, deveriamos tentar fazê-lo deitados ou de pé; se
nada tem de rejeição. Para homens que estão acostumados com uma nos masturbamos com a mão direita, deveriamos experimentar fazê-lo com
imagem de suas mulheres como “madonas” sem necessidades ou desejos a mão esquerda; e se nos masturbarmos de olhos fechados, deveriamos
sexuais próprios, a masturbação partilhada pode tirar suas esposas de seus tentar fazê-lo de olhos abertos, talvez até diante do espelho — uma boa
pedestais e permitir que elas sejam vistas como seres sexuais reais, com maneira de aceitarmos o que estamos fazendo espontaneamente, de modo
quem eles podem partilhar todos os tipos de variações sexuais — não que, mais tarde, achemos mais fácil para nosso parceiro aceitá-lo também.
somente a “Verdadeira Relação”. Se nos tornarmos mais flexíveis, quando estamos sozinhos,
A masturbação alternada (tanto fazendo você mesma diante de seu automaticamente nos tornaremos mais flexíveis, quando estivermos juntos.
parceiro ou seu parceiro fazendo-a para você), abre caminho para uma Na masturbação mútua, muitos de nós se tornam vítimas da
excitação especial que não está disponível no ato sexual ou outras afirmação de que o que é gostoso para nós — a pressão, a velocidade — é
variações sexuais: você pode olhar! Você pode se concentrar igualmente gostoso para nosso parceiro. Isto raramente, ou nunca, é
completamente nas sensações e respostas de seu parceiro e assistir a ele ou verdade. A comunicação — mostrando e dizendo nossas preferências ao
a ela, atingindo o orgasmo em toda sua plenitude. Isto não é somente uma nosso parceiro — é a chave para podermos apreciar a masturbação mútua
excitação em si mesma — é uma fantasia secreta de muitos de nós — e é ao máximo, assim como é a chave para apreciarmos todo o sexo mútuo.
também uma maneira de aprender sobre as respostas sexuais de nosso Não sejam polidos. Não digam, “o que você está fazendo é bastante bom”
parceiro. se isso não é o que você realmente sente. Pois, assim como você está se
A masturbação em conjunto (mútua ou em série) pode ser também menosprezando, está menosprezando também o seu parceiro. Quando ela
diz: “Diga-me o que eu estou fazendo de errado”, se ele perde sua ereção,
um grande alívio de pressão para vocês dois. A “contagem de tempo”, o
ela já sabe de antemão que alguma coisa está errada; assim como, quando
bicho-papão daqueles que estão preocupados com desempenhos sexuais —
ele diz, “Este ponto é muito sensível?”, quando ela se contrai
que se preocupam se são muito rápidos, ou se demoram muito para atingir desconfortável, ele já sabe de antemão que alguma coisa está errada.
o orgasmo, ou ainda se atingirão — fica fora de questão. Não tem Honestidade não é apenas a melhor política, é a política do sexo.
importância se ela demora demais ou se ele é muito rápido para chegar ao Provavelmente, a melhor maneira para se começar com a
orgasmo; não existem limites de tempo, nenhuma sincronização de masturbação partilhada é através da masturbação em série, ao mesmo
resposta com as quais nos preocuparmos. O sexo não precisa chegar a um tempo. Isto tira vocês dois do centro das atenções. Nenhum dos dois se
final, quando ele atinge o orgasmo — sua mão ainda permanece “ereta” — sente no “palco” e, uma vez que ambos estão se masturbando, ninguém
nem é preciso parar, quando a mão dela está cansada: períodos de repouso tem que se sentir embaraçado ou com vergonha diante do outro. O outro
não são apenas “permitidos”, eles podem incrementar a situação. lado disso é que, certamente, você sozinho é o responsável por sua
O embaraço é apenas um dos meios através dos quais nos inibimos, satisfação sexual: você não pode culpar seu parceiro ou às “circunstâncias”
evitando tentar ou desfrutar da masturbação partilhada. Outra, é nossa por uma experiência insatisfatória. Mas isto é realmente uma bênção: você
habitual inflexibilidade, quando nos masturbamos sozinhos. Muitas está livre para se satisfazer e livre de críticas constrangedoras.
pessoas tendem a se masturbar de uma mesma maneira, sempre que o Em seguida, você poderá querer tentar a masturbação em série
fazem: com a mesma fantasia na cabeça, com a mesma mão, na mesma alternada, onde vocês se revezam, se masturbando em frente um do outro.
posição, e com a mesma velocidade. Esta inflexibilidade pode conduzir a Como eu já disse, isto pode ser surpreendentemente erótico
problemas, quando a masturbação é partilhada com nosso parceiro: nós
achamos que não estamos na mesma posição a que estamos acostumados,
que não podemos nos concentrar em nossa fantasia habitual, se nosso
parceiro está ali, que (no caso da masturbação mútua) nosso parceiro não
pode ou não sabe nos tocar da maneira a que estamos acost amados.
Aprender a apreciar a masturbação partilhada começa aprendendo-se a
sermos mais flexíveis quando nos masturbamos a sós.
Por exemplo, se temos o hábito de nos masturbarmos sentados

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para cada um de vocês, assim como pode ser um modo de partilharem uma orgasmo. Muitos homens preferem que seu pênis seja firmemente seguro
intimidade especial e de aprenderem sobre a sexualidade um do outro. Esta neste momento, são muito sensíveis para serem diretamente estimulados na
poderá ser uma experiência sem fronteiras: se, por exemplo, você algumas ponta do pênis. Mas este não é o caso de todos os homens; existem alguns
vezes se masturba a sós no banheiro, usando um jato de água para homens que são capazes de orgasmos múltiplos: eles não perdem a ereção
estimular seu clitoris, leve seu marido ao banheiro, quando for a sua vez; após a ejaculação e podem ser estimulados para um ou mais orgasmos
ou se você usa um vibrador para se masturbar, novamente não fique sucessivos.
envergonhada de tirá-lo de sua gaveta secreta. Se acaricie onde gostar de Masturbação mútua fornece uma boa oportunidade para um homem
ser acariciada: sua barriga, suas coxas, seus seios, sua região anal, assim experimentar uma ereção, perdê-la, e recuperá-la sem ficar embaraçado ou
como seu clitoris e vagina. Da mesma forma, homens devem utilizar derrotado por uma ansiedade quanto à impotência. Na masturbação, a
quaisquer que forem os recursos a que estão habituados, quando o fazem a perda de ereção não é a calamidade momentânea que parece ser, quando
sós. Cremes, loções. E eles devem se tocar nos pontos que lhes dão o
isso acontece durante o ato sexual — não é, como digo a meus pacientes,
maior prazer: testículos, região anal, coxas, assim como pênis. Seu
“a queda do Monumento de Washington”. Os dois parceiros podem
“segredo” básico está revelado — seria bobagem envergonhar-se com
detalhes. aprender a relaxar — e até mesmo a adotarem algumas pausas — durante a
Após tudo isso, vocês dois estão prontos para apreciar a mas- masturbação mútua com a confiança de que a ereção ocorrerá mais tarde,
turbação mútua, primeiro, alternando-se em turnos e, depois, novamente. Desta forma, outro mito destrutivo pode ser dispensado
simultaneamente. durante a masturbação mútua: o mito de que uma vez que o homem atinge
o orgasmo, todo o sexo deve ficar em estado de expectativa. Não é bem
assim. Ele não está totalmente exausto — nada que um descanso de cinco
minutos não possa remediar — e, embora ele possa não ter outra ereção
Masturbação Mútua: Mulher para Homem naquela noite, nada precisa impedi-lo de iniciar ou prosseguir com a
masturbação de sua parceira.
Em toda a masturbação mútua, os dois parceiros ficam mais felizes,
quando o que está sendo masturbado fica no comando: ele mostra e diz o
que lhe dá mais prazer. Para começar, pelo menos, ele coloca a sua mão
sobre a dela, guiando-a para os “pontos” certos, mostrando a pressão, vigor Masturbação Mútua: Homem para Mulher
e velocidade que mais o agradam. Muitos homens apreciam a estimulação
manual de seus pênis de maneira vigorosa e enérgica, especialmente se a Novamente, a chave é que ela está no comando: você diz a ele
experiência se aproxima do orgasmo, contudo muitas mulheres encontram exatamente o que deseja, onde e como é mais gostoso para você, e coloque
dificuldade em fazer isso: elas têm medo de machucar seu parceiro, se sua mão sobre a dele para conduzi-lo. Aqui, isto é de par ticular
torcerem ou balançarem muito seu pênis. Acreditem naquilo que ele disser importância, devido à anatomia feminina: o clitoris é sensível demais para
e mostrar a você. Ele vai fazer você saber, caso fique doloroso. que seja esfregado sob a sua pele até que a mulher já esteja
Uma outra coisa que ele irá dizer é se ele aprecia ou não a sua mão suficientemente excitada. Somente, então, a estimulação direta do clitoris é
sobre seu pênis antes que este esteja pelo menos parcialmente ereto. confortável e excitante. E nenhum homem consegue saber exatamente
Muitos homens se sentem desconfortáveis com uma estimulação direta do quando o clitoris já se retesou sob a sua pe
pênis antes deste estar ereto o suficiente, e preferem ser tocados em suas
barrigas ou coxas ou nádegas até chegar o momento. Entretanto, alguns
homens que se sentem desconfortáveis com a estimulação manual direta
antes da ereção, apreciam a estimulação oral antes da ereção. Mas,
novamente, isto varia, e a comunicação é a chave da satisfação. Outro
aspecto da masturbação mulher-para-homem a ser conversada antes que
comecem é como você (homem) quer ser tocado imediatamente após o
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le, a menos que leve uma bola de cristal para a cama — ou que sua detesto quando ele me pede para fazê-lo. É como se eu fosse a escrava
parceira o diga e o conduza. Do mesmo modo, quando uma mulher atinge dele.”
o orgasmo, ela pode achar desconfortável ter a estimulação manual direta Eu a incentivei para que tentasse não se sentir desta maneira —
de seu clitoris. Segure a mão dele firmemente e movimente seu corpo de especialmente se ela souber que ele vai lhe retribuir o favor.
encontro a ela: você está no controle. Da mesma forma, imediatamente Sabe-se que existem alguns homens e mulheres com “aversão” a
depois do orgasmo o clitoris se retrai sob sua pele e fica novamente qualquer forma de lambida em seus corpos. Estas são as mesmas pessoas
bastante sensível. Não fique encabulada de afastar a mão dele neste que têm aversão à umidade e adesão em geral: elas não gostam de areia
momento. Se vocês conversarem antes sobre este fenômeno juntos, seu molhada, loção para as mãos ou, tampouco, picolés. Seria injusto e pouco
parceiro não vai se sentir rejeitado, quando você temporariamente remover razoável tentar forçá-las a superar esta aversão. Mas muitas outras resistem
a mão dele. Ele saberá do que se trata. ao sexo oral por razões que elas próprias considerariam superáveis.
Algumas mulheres podem atingir o orgasmo apenas com a Novamente, a principal dentre essas razões é a idéia de que o sexo oral não
estimulação dos seios e estas mulheres frequentemente apreciam a é a “Verdadeira Relação”: ele representa um “substituto” sexual imaturo
estimulação vigorosa: puxando os mamilos, chupando fortemente, — um sexo frívolo e pouco sério. Como já disse antes, este é o tipo de
segurando com firmeza. Mas muitas mulheres preferem apenas um leve pensamento que conduz diretamente à apatia sexual.
carinho em seus seios. Somente você pode dizer ao seu parceiro qual é a Também existem pessoas que acreditam que o sexo oral é “sujo”, no
sua preferência. E somente vocês dois poderão negociar as suas sentido de que é anti-higiênico. Tento esclarecer a essas pessoas que
preferências, se ele gostar de agarrar seus seios e você prefere uma nossos órgãos sexuais são mais limpos que nossas bocas e o fato de que
estimulação mais gentil. passa urina através do pênis em nada altera isso: a urina contém menos
Tanto para os homens quanto para as mulheres, a comunicação germes transmissíveis que a saliva. Nós não vemos problema algum em
durante a masturbação mútua é frequentemente melhor quando não-verbal: colocar nosso próprio dedo ou o de nosso parceiro em nossa boca, então
um gemido de prazer demonstra que seu parceiro a está satisfazendo, por que insistimos em fixar limi- . tes para nossos órgãos sexuais? Eu não
melhor do que quaisquer palavras, assim como um rápido “ai” e o desejo minimizar as condições que nos conduziram a sentir
direcionamento da mão dele para um outro ponto, quando você está automaticamente que “lá embaixo é sujo”, mas pelo menos, eu insistiría
desconfortável. com as pessoas para que tentassem superar esta aversão irreal. Lavem os
órgãos sexuais um do outro, antes de começarem com sexo oral se isto os
fizer sentir melhor.
Outro mito insustentável que faz com que algumas pessoas deixem de
Baixo mas não Sujo apreciar o sexo oral é a associação automática que fazem entre o sexo oral
e o homossexualismo. É a maneira como “eles” fazem sexo; não requer
Na gíria popular, sexo oral é conhecido como “ir para baixo”, e isso parceiros de sexos opostos, e sendo assim, deve ser uma perversão,
explica toda a história de como o encaramos: baixo e sujo, baixo e acreditam estas pessoas. Minha resposta para elas é a de que o mesmo
humilhante. Alguém que solicite a seu parceiro ou parceira a satisfação por argumento podería ser usado contra dar a mão a seu parceiro. Ninguém se
sexo oral, o/a está rebaixando, fazendo dele ou dela uma pessoa inferior. torna homossexual por apreciar o sexo oral com seu parceiro.
Em particular, considera-se que um homem que solicite de sua esposa este Alguns casais vêm a mim queixando-se de que um dos dois deseja o
prazer, está fazendo dela sua “prostituta”. Então, muitos de nós se sentem sexo oral e o outro não — o que eles devem fazer? Eu digo
inibidos para solicitar esta forma de prazer a nossos parceiros, mesmo que
esta seja nossa fantasia mais querida. E muitos de nós se ressentem se
nossos parceiros nos pedem para fazer isto.
Uma mulher me disse, “Algumas vezes, eu realmente gosto de levar o
pênis de meu marido a minha boca — mas somente se for minha idéia! Eu

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a eles que devem tentar fazer o máximo que cada um desejar: sexo oral tornar menos inibidas se sabem que não estão sendo observadas.
para um e não para o outro. Não é um problema, a menos que um ou os
dois o transforme nisso.
Beijar é o início de todo o sexo oral — boca a boca, boca no ouvido,
boca no seio. Não é somente a parte do corpo que está sendo beijada, que Sexo Oral: Mulher para Homem
está sendo estimulada, são nossas próprias bocas: nossos lábios e línguas
são zonas erógenas também. Muitas mulheres e homens gostam do sexo Muitos homens gostam de uma variedade de maneiras com as quais
oral que não começa e termina pelos órgãos sexuais: nós gostamos de seus pênis são oralmente estimulados: lambendo da base até a ponta,
beijar e lamber o corpo todo, da cabeça aos pés. lambidas provocantes na parte inferior da ponta, sugadas vigorosas, beijos.
Muitos apreciam também a lambida de seus escrows e suas bolas
gentilmente sugadas, embora alguns considerem este último muito
ameaçador. Como sempre, deixe que ele fale e conduza você ao prazer
Sexo Oral: Homem para Mulher máximo dele.
Existem dois principais problemas com os quais as mulheres
Em geral, o que as mulheres gostam que seja feito nelas frequentemente se defrontam, quando dão estimulação oral aos homens: o
manualmente, é o mesmo que apreciam oralmente: elas gostam de ser primeiro, é que elas acham a estimulação cansativa; e o segundo é que elas
estimuladas nos mesmos pontos com a mesma pressão, velocidade e vigor. têm medo do sufocamento com o pênis ou com o esperma.
Mais uma vez, compete a sua parceira conduzir você, verbal ou Para o cansaço que pode advir de manter a boca rigidamente
gentilmente com as mãos na sua cabeça. semiaberta (e, tomando cuidado para não morder o pênis com seus dentes),
Muitas mulheres gostam que o sexo genital oral comece com carícias a melhor solução é a de pequenas pausas para descanso, estimulando-o
suaves da língua em torno do clitoris, mas não diretamente sobre ele. com suas mãos, enquanto você descansa seu maxilar. Ou você pode fazer
Muitas apreciam ainda uma pequena exploração da língua dentro de suas uma mistura de coisas: lambendo a base de seu pênis por algum tempo, em
vaginas e em torno dos grandes lábios (os lábios externos da vagina). seguida, sugando de novo, alter- nadamente.
Somente quando estão completamente excitadas é que muitas mulheres O temor do sufocamento é partilhado por muitas mulheres; muitas
desejam a estimulação direta sobre o clitoris: lambendo, chupando, mulheres já passaram pela experiência de vomitarem, quando um homem
beijando, e pressionando gentilmente com sua boca. Mas, como sempre, subitamente empurra seu pênis em direção à garganta dela. Muitos homens
pergunte: somente ela sabe o que ela mais gosta. fazem isso automaticamente, buscando uma estimulação mais firme,
Frequentemente, quando surge a idéia do sexo oral, homens (e quando necessitam. Existem duas soluções para este problema: a primeira,
mulheres) me dizem que apreciam tudo que se refere a ele, menos o gosto. simplesmente, consiste em dar a ele uma estimulação firme o suficiente,
Como eu disse no Capítulo 10, ele pode muito bem se tornar um gosto com seus lábios e através do sugamento, para que ele não sinta a
adquirido. Mas, mesmo que isto não aconteça, este está longe de ser um necessidade de empurrar. Mas somente isso não consegue apagar o temor
problema insuperável: geléia, creme chantilly, mesmo um pouco de mel, de uma mulher: ela precisa sentir alguma segurança contra o sufocamento,
pode não apenas tornar o sexo oral “mais saboroso”, como torná-lo ou então não
também mais frívolo e engraçado. E quanto ao reconhecido “gosto ruim”
do gel vaginal que acompanha um diafragma, simplesmente não coloque o
diafragma até mais tarde, se o sexo oral é o que virá primeiro.
Uma última observação: muitas mulheres que não podem atingir o
orgasmo através da masturbação mútua, acreditam que o mesmo ocorrerá
com o sexo oral. Não necessariamente. Muitas destas mesmas mulheres
descobrem que o sexo oral é a única maneira de atingirem o orgasmo. A
razão, pelo menos em alguns casos, está no fato de que elas podem se
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conseguirá se divertir. Eu recomendo que você segure o pênis dele pela “sujeira”, é uma questão de bactérias incompatíveis que podem causar
base — com os cinco dedos ligeiramente em volta dele — e, quando você irritação, ou mesmo infecção vaginal.
mover sua cabeça para cima e para baixo, na estimulação oral, deixe que A melhor maneira de se exercitar para o sexo anal é manual: inserindo
sua mão deslize para cima e para baixo, entre o corpo dele e a sua boca. um dedo e o girando (talvez com o auxílio de vaselina), em seguida, outro
Desta maneira você sabe que se ele distraidamente empurrar, a sua mão dedo e depois, um terceiro, enquanto sua parceira aprende gradativamente
servirá de freio. E, quando ele ejacula, você não tem motivos para a relaxar seu esfíncter anal e a distender os músculos em torno dele. Três
engasgar, é como se ele tivesse derramado uma colher de sopa sobre a dedos em geral são suficientes para assegurar um amplo espaço para o
parte de trás de sua língua. pênis. (Em vez de dedos, alguns casais gostam de começar com a inserção
Contudo, existem mulheres que não conseguem evitar o engasgo com delicada de um objeto macio, como um pepino ou vibrador.)
esperma. Nesses casos, ao invés de abandonarem por completo o sexo oral,
sugiro que vocês façam o seguinte trato: ele promete afastar a sua cabeça,
quando ele estiver próximo do orgasmo e você promete confiar nele.
Devo observar que O Mito da Simultaneidade também encontrou o A "Verdadeira Relação" — mais...
seu lugar no sexo oral: um número excessivo de pessoas acredita que o
Antes de começar a escrever este livro, prometí a mim mesma que
único jeito “certo” de se praticar o sexo oral é simultaneamente — na
não escrevería um manual sexual que incluísse as 101 posições exóticas e
posição “69”. Sim, a posição “69” pode ser agradável para muitos casais,
acrobáticas — para o ato sexual. De fato, a maioria de nós não gosta de se
mas, pelo menos, para muitos mais, o sexo oral alternado é mais agradável
pendurar em lustres, enquanto se concentra nas próprias sensações sexuais.
— ele possibilita que você se concentre mais completa e egoisticamente
Contudo, existem algumas maneiras não acrobáticas, através das quais
em suas próprias sensações.
podemos expandir nosso prazer no ato sexual, e que eu gostaria de
mencionar:
Ato sexual mais estimulação manual. Um grande número de mulheres
encontra dificuldade para atingir o orgasmo somente através da
A Porta dos Fundos
estimulação vaginal; não basta apenas o pênis de seu parceiro se movendo
A simples noção de sexo anal heterossexual (um homem inserindo dentro delas. A melhor maneira destas mulheres chegarem a um orgasmo
seu pênis no ânus de uma mulher) é difícil de ser mencionada, sem a durante o ato sexual é combinando este com a estimulação manual do
invocação de todos os tipos de reações e ansiedades. Em nossas mentes, clitoris — tanto por sua própria mão, quanto pela de seu parceiro.
não está apenas associado com homossexualismo, mas também com Provavelmente será mais fácil para ela manipular seu clitoris se ela ficar
bestialidade (sexo com animais). E, acima de tudo, envolve a parte “mais por cima ou na “Posição T” (veja abaixo), durante o ato sexual. E
suja” de nosso corpo. Para a maioria de nós é, de fato, uma experiência provavelmente, será mais fácil para ele manipular o clitoris dela, se ele
sexual que ultrapassa os limites. Novamente, esta não é uma variação que penetrar na sua vagina por trás e passar sua mão em volta pela frente dela.
eu recomendaria a qualquer pessoa que tenha uma forte antipatia por ela. No Topo do Mundo. Outra possibilidade para mulheres que gostam da
Mas, se a idéia já surgiu para você, em fantasias, como para um grande estimulação do clitoris durante o ato sexual é começarem com a mulher
número de pessoas, e você sabe que é sexualmente sensível em seu ânus, sentada sobre o homem, pênis na vagina, e em seguida, com ela se
não se negue este prazer, simplesmente devido a todas as más associações esticando sobre ele, cabeça com cabeça e pé com pé. Ao invés de se mover
e propagandas que acompanham esta idéia. Sexo anal não significa para cima e para baixo sobre o pênis dele,
introdução na porta “errada”; pode muito bem ser a realização de sua
fantasia mais ardente e excitante.
Contudo, um aviso: não passe da inserção anal do pênis para a
inserção vaginal, sem uma prévia lavagem: não é uma questão de

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ela se move para frente e para trás, estimulando seu clitoris de encontro à mais fácil é começar com o homem por cima para, em seguida, rolar
base do pênis. delicadamente de modo que os dois fiquem sobre suas laterais. A mulher
Sexo Para Cansados-Demais-Para-Sexo. A posição frequentemente pode colocar sua perna inferior sob a cavidade da cintura dele, de modo
negligeciada, chamada “Posição T” fornece uma oportunidade para o ato que ela não tenha pressão do corpo dele e a dureza de seus ossos para lhe
sexual quase sem esforços, que é ideal para gestantes, um parceiro com tirar a concentração. rápido e longe da perfeição, mas significa permitir a
dores nas costas, ou se um de vocês, ou os dois estão cansados demais para vocês mesmos o tipo de diversão espontânea que mantém vivo o apetite
sexo. Na Posição T, o homem fica deitado de lado e a mulher fica deitada sexual de um pelo outro.
de costas em um ângulo de 45 graus em relação a ele, com suas pernas E também permite que vocês combinem diferentes lugares para
sobre a lateral dele e sua vagina de encontro ao pênis, de modo que ele fazerem sexo: no banheiro, no chuveiro, no tapete da sala de estar, quando
possa penetrá-la por trás. O movimento é fácil: tanto ela o empurra para as crianças estão fora. Ou fiquem realmente tolos e peguem a tinta de
frente e para trás ou ela própria se move para frente e para trás com suas pintura com os dedos do Júnior e pintem o corpo um do outro —
pernas. completamente. Façam cócegas um no outro com penas; espalhem gelatina
Lado a Lado. Muitos casais estão familiarizados com a posição lateral no pênis dele, geléia nas coxas dela. Eu não posso fazer o cenário para
para o ato sexual, mas acham difícil encontrar a posição correta. A maneira vocês. Deixem que suas próprias imaginações voem alto.

Misturando as Coisas
A variedade sexual começa e termina com imaginação e espontaneidade. Significa um retorno à atitude de que sexo é diversão, e não um negócio sério e
controlado, governado por regras e hábitos. Significa adotar uma atitude de “tudo pode acontecer” e o que “acontece” esta noite não implica necessariamente em
uma “repetição” na próxima vez. Uma noite vocês podem se masturbar juntos, na noite seguinte, sexo oral, na próxima, ato sexual. Ou vocês podem querer começar
com masturbação mútua e passarem desta para o ato sexual. Tudo pode acontecer. E não precisa ser “sexo perfeito” todas as vezes.
Por exemplo, um grande número de casais casados relegou as alegrias das “rapidinhas” ao plano de nostálgicas recordações. Mas, por uma vez, porque não
ceder a um súbito impulso sexual, quando vocês dois já estão completamente vestidos e prontos para sair para jantar: ela tira as calcinhas e desce suas meias, ele abre
a calça e, “num minuto”, vocês fazem tudo, pela simples diversão. Pode ser

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Os Sete Estágios do Sexo com
Compromisso

“Como posso fazer amor com a mesma pessoa para o resto de minha
vida?”
Como nós vimos, existem duas respostas para esta pergunta.

A primeira é:
“É praticamente impossível.”
E a segunda é:
“É o melhor sexo que existe.”

A sua resposta depende de algumas opções fundamentais feitas por


você: optar junto com seu parceiro, pelo sexo positivo e em evolução,
onde vocês dois tenham a responsabilidade de ligar um ao outro; ou
sucumbir ao sexo negativo e apático, onde vocês dois colocam a culpa
de suas vidas sexuais falhas em tudo, menos em vocês mesmos.
Os padrões do sexo decorrentes de cada uma destas duas opções
varia de casal para casal; contudo, através dos anos, detectei
determinados estágios genéricos de desenvolvimento sexual positivo em
casais que optaram por um sexo envolvente, assim como estágios
genéricos de colapso sexual negativo em casais que sucumbiram à apatia
sexual. Observando estes estágios, você pode ter uma idéia de onde se
encontra e como está pensando no momento. Você também poderá ter
uma idéia de como você e seu parceiro poderão voltar a retomar o
caminho para o melhor sexo que existe:

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Sete Estágios Negativos: 3. Perspectiva: “De vez em quando, parece que nos aproveitamos do
prazer sexual a um nível totalmente diferente do que em todas as
1. Auto-Satisfação. “Nossa vida sexual vai bem, obrigado. Nós outras vezes. É como se o estivéssemos fazendo pela primeira vez,
mantemos uma freqüência normal — adequada à nossa idade e a novamente. Isto pode acontecer uma em cada dez vezes, mas faz com
média nacional. E nós sempre o fazemos da maneira normal — a que todo o esforço consciente tenha valido a pena.”
“Verdadeira Relação”. Não temos queixas.” 4. Recaída: “Parece difícil demais — todo este ‘trabalho’ apenas por
2. Primeiro Álibi: ‘Natureza’. “É natural que o sexo decline, quando o um pouco mais de diversão. Ficamos cansados de tentar aperfeiçoar
casamento amadurece. Isto acontece com todo mundo que conheço. nossa vida sexual. Eu acho que deveriamos ficar satisfeitos com as
coisas como estão — afinal, não estão assim tão más.”
As crianças e o trabalho impõem limites naturais à freqüência. Com o
5. Relaxado: “Depois, nós nos sentimos muito à vontade com tudo. Não
passar dos anos, o sexo se torna menos importante. É uma questão de
que sejam fogos de artifício todas as noites — mas, não importa. O
perspectiva.”
fato é que nós estamos fazendo amor com mais freqüência do que
3. Segundo Álibi: ‘Tempo’. “Nós dois estamos ocupados demais ou jamais fizemos antes e nos sentimos mais felizes por isso.”
cansados demais para o sexo. Simplesmente não há tempo suficiente 6. Confiante: “É realmente um prazer fazer amor com a mesma pessoa
para tudo e, então, o sexo precisa ser sacrificado.” ao longo dos anos, conhecer seus desejos e respostas e ser capaz de
4. O Dever do Sexo. “Neste ponto de nossas vidas, o sexo é apenas expansão e desenvolvimento juntamente com eles. Eu me sinto
outra obrigação que temos que cumprir — alguma coisa a superar. seguro e confiante ao mesmo tempo.”
Nós o fazemos agora, para manter uma média respeitável e para 7. Aventuroso: “Nossa vida sexual está sempre em evolução. Nós nos
manter um ao outro apaziguados”. sentimos como se pudéssemos encontrar sempre novos caminhos
5. Terceiro Álibi: ‘O Parceiro’. “Vamos encarar os fatos — a química para juntos nos sentirmos ligados pelo resto de nossas vidas.”
acabou. Ele ou ela, simplesmente, não me deixa ligado agora.”
6. Frustração. “O fato é que eu me sinto sexualmente frustrado a maior Esta aventura está disponível a todos nós que temos a sorte de
parte do tempo. Os únicos sentimentos sexuais que tenho agora são estarmos em um relacionamento de compromisso para toda a vida. E
quando fantasio sobre estar fazendo amor — com uma outra pessoa.” agora é, sem dúvida, o melhor momento para iniciarmos esta aventura.
7. Álibi Final: ‘A Idade’. “Nós estamos velhos demais para o sexo. Esta
parte de nossas vidas está ultrapassada ... Graças a Deus.”

Sete Estágios Positivos:


1. Cautelosamente Esperançoso: “Nós continuamos a sentir que, de
algum modo, nossa vida sexual ainda pode ser melhor do que é. Se
nós apenas ficarmos alertas, evitando de nos desligarmos o tempo
todo, e se começarmos a relaxar, tenho certeza de que poderemos ter
muito mais diversão.”
2. Autoconsciente: “Nós nos sentimos bobos, realizando jogos e
fazendo exercícios para tentar melhorar nossa vida sexual. Faz com
que nos sintamos como crianças tímidas e envergonhadas ao invés de
adultos maduros. De qualquer forma, o sexo não deveria vir
naturalmente? Por que devemos fazer um esforço consciente para
melhorá-lo?”
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