Você está na página 1de 19

4 ESQUELETO APENDICULAR: MEMBRO INFERIOR

O esqueleto apendicular possui 126 ossos divididos entre os membros


superiores e inferiores. A seguir, serão abordados com mais detalhes os ossos do
membro inferior.

4.1 Cíngulo do membro inferior: Ossos do quadril

Também denominado de cintura pélvica, o cíngulo do membro inferior


possibilita a ligação do esqueleto do membro inferior ao esqueleto axial². É formado
pelos ossos do quadril. Alguns autores (e.g. Moore e Fattini) incluem também o sacro
como parte do cíngulo do membro inferior. O sacro também faz parte do esqueleto axial
e será estudado junto com a coluna vertebral.

Os ossos do quadril são formados pela união de três ossos, que se ossificam
em uma peça única durante a adolescência, completando a fusão na vida adulta (20-25
anos)4. Os 3 ossos que se fundem para formar o osso do quadrial serão descritos a
seguir.
Figura 4.1 - Vista anterossuperior do cíngulo do membro inferior.

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 262).

4.1.1 Ílio

O ílio é o maior dos 3 ossos primários que se unem para formar o osso do
quadril. Ele está localizado superiormente e é formado por partes e acidentes ósseos
importantes que serão destacadas aqui.

 Asa do ílio: em sua parte interna associa-se ao abdome e externamente com


o membro inferior6. Internamente, ou seja, a face medial da asa, possui a
fossa ilíaca;
 Face auricular e tuberosidade ilíaca: também localizadas na face medial da
asa do ílio, servem para articulação com o sacro;
 Linha arqueada: marca a separação entre o corpo e a asa do ílio.
Juntamente com a linha pectínea do púbis, irá formar a linha terminal,
importante para demarcar a abertura superior da pelve7;
 Corpo do ílio: é a parte que se une aos outros dois ossos (ísquio e púbis)
para formar o acetábulo, estrutura que irá receber a cabeça do fêmur (osso da
coxa);
 Espinhas ilíacas: são projeções do ílio que proporcionam inserção/local de
fixação para ligamentos e músculos4. São elas:
Espinha ilíaca anterossuperior (EIAS)
Espinha ilíaca anteroinferior (EIAI)
Espinha ilíaca posterossuperior (EIPS)
Espinha ilíaca posteroinferior (EIPI)
 Crista ilíaca: forma a margem superior do ílio, se estendendo da EIAS à
EIPS4. É palpável ao colocar as mãos nos quadris;
 Linhas glúteas: na face glútea, voltada lateralmente, as linhas demarcam
inserções de músculos da região glútea. São elas: linha glútea anterior,
linha glútea inferior e linha glútea posterior.

4.1.2 Ísquio

O ísquio forma a parte posterior do osso do quadril. O corpo do ísquio se


junta aos outros ossos (ílio e púbis) para formar o acetábulo; já o ramo do ísquio irá se
juntar ao ramo do púbis para formar a parte inferior do forame obturado4 (veremos
adiante).

 Túber isquiático: projeção posterior áspera na qual apoiamos o peso ao


sentar4;
 Espinha isquiática: localizada posteriormente, demarcará duas incisuras,
descritas a seguir;
 Incisura isquiática maior: entalhe profundo4 na porção posterior do osso do
quadril, delimitada pela espinha ilíaca posteroinferior (EIPI) e a espinha
isquiática;
 Incisura isquiática menor: inferiormente à espinha isquiática, localiza-se
entre ela e o túber isquiático.
4.1.3 Púbis

Por último, o púbis forma a parte anteromedial do osso do quadril4,


articulando com o mesmo osso contralateral pela sínfise púbica, uma articulação
cartilagínea.

 Corpo do púbis achatado e medial;


 Ramos: projetam-se lateralmente. São dois: superior e inferior. O ramo
inferior, une-se ao ramo do ísquio para formar a parte inferior do forame
obturado;
 Face sinfisial: onde encontra-se a face articular para o púbis contralateral;
 Crista púbica: com os dois corpos dos púbis unidos, a crista é um local de
inserção muscular4;
 Tubérculos púbicos: pequenas projeções arredondas encontradas na crista
púbica4;
 Linha pectínea do púbis: localizada no ramo superior do púbis, em direção
ao ílio. Juntamente com a linha arqueada, forma a linha terminal;
 Ângulo subpúbico: é formado pela união dos dois púbis e pode ser
representado pela abertura entre os dedos indicador e médio no homem. Nas
mulheres o ângulo é maior, sendo semelhante ao ângulo entre o polegar e o
indicador.

4.1.4 Acetábulo

Cavidade caliciforme no osso do quadril que recebe a cabeça do fêmur para


formar a articulação do quadril. É formado pela união dos 3 ossos citados acima (ílio,
ísquio e púbis) , e tem alguns componentes relevantes:
 Limbo do acetábulo: do latim limbus, significa borda. A borda, ou limbo,
do acetábulo é incompleta, possuindo uma incisura;
 Incisura do acetábulo: parte incompleta do limbo do acetábulo;
 Fossa do acetábulo: parte mais deprimida do acetábulo em seu interior;
 Face semilunar: é a face de articulação com a cabeça do fêmur. De acordo
com Moore e Dalley, 2019, por conta da incisura e da fossa do acetábulo, ela
não recebe completamente toda a face articular femoral;

4.1.5 Forame obturado

O forame obturado, como o próprio nome diz, é fechado pela membrana


obturadora, local de fixação de alguns músculos. A função dessa abertura é diminuir o
peso dos ossos do quadril e possibilitar ampla inserção muscular.

4.1.6 Diferenças entre a pelve feminina e masculina

É possível identificar se uma pelve pertence a um indivíduo do sexo


feminino ou masculino ao observar algumas características, apresentadas no quadro a
seguir.

Figura 4.2 – Quadro de comparação entre pelves masculina e feminina.

Fonte: Adaptado de Tortora e Nielsen (2013, p. 269).


Figura 4.3 - Vista lateral do osso do quadril.

Fonte: Retirado de Netter (2015, p. 289).

Figura 4.4 - Vista lateral de um osso do quadril natural


Figura 4.5 - Vista medial do osso do quadril.

Fonte: Retirado de Netter (2015, p. 289).


Fonte: Retirado de Netter (2015, p. 289).

Figura 4.6 - Vista medial do osso do quadril

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 264).


4.2 Fêmur

O fêmur é o maior e mais resistente osso do corpo. Articula-se com a tíbia,


patela e o acetábulo. Em sua epífise proximal:

 Cabeça do fêmur: articulação com o acetábulo (articulação do quadril);


 Fóvea da cabeça do fêmur: fixação de ligamento6;
 Colo do fêmur: separação entre a cabeça e os trocanteres3;
 Troncateres: maior e menor. São massas ósseas que oferecem inserção e
alavanca para músculos da coxa4. O trocanter maior posiciona-se
lateralmente, enquanto o menor encontra-se posteromedialmente;
 Crista intertrocantérica: margem que separa os troncateres, localizada
posteriormente;
 Linha intertrocantérica: linha que demarca a separação entre os trocanteres
anteriormente.

Em sua diáfise:

 Linha pectínea: É contínua com linha intertrocantérica, depois de se


espiralar inferiormente ao trocanter menor. Distalmente, funde-se à linha
áspera;
 Tuberosidade glútea: Espécie de rugosidade na vista posterior do fêmur.
Marca a região de fixação do músculo glúteo máximo.
 Linha áspera: estria principal da coxa que permite inserção de músculos e
se estende posteriormente.

Em sua epífise distal:

 Face poplítea: posterior, onde se localizará, juntamente com músculos, a


fossa poplítea, importante área para identificação de estruturas
neurovasculares;
 Face patelar: anteriormente, articula-se com a patela;
 Côndilos: medial e lateral. Fazem parte da articulação do joelho. São mais
proeminentes posteriormente, pois anteriormente se fundem para formar a
face patelar4;
 Epicôndilos: medial e lateral;
 Fossa intercondilar: posteriormente, localizada entre os côndilos;
 Tubérculo adutor: é o lugar de fixação de um tendão comum do músculo
adutor magno.

Figura 4.7 – Vista posterior do fêmur.

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 271).

Figura 1.8 – Vista medial da epífise proximal do fêmur.

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 271).


Figura 4.9 – Vista anterior do fêmur.

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 271).

4.3 Patela

A patela é um osso sesamoide, constituído por uma base mais larga e um


ápice estreito. Possui duas margens, medial e lateral. A margem medial é mais
proeminente, e por isso, ao colocar uma patela sobre a mesa, ela irá “tombar” para a
margem medial. Sua face articular é posterior e lisa, articulando-se com a face patelar
do fêmur.
Figura 4.10 – Vista anterior (imagem à esquerda) e vista posterior (imagem à direita) da patela.

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 272).

4.4 Tíbia

A tíbia é osso da perna mais medial e proeminente. Articula-se com o fêmur


por meio dos côndilos da tíbia, formando um platô na articulação do joelho para apoiar
os côndilos do fêmur.

Em sua epífise proximal:

 Côndilos: medial e lateral. Formam um platô tibial com suas faces


articulares, uma medial e lateral, respectivamente. O côndilo lateral possui
uma face articular para a cabeça da fíbula;
 Eminência intercondilar: formada por dois tubérculos intercondilares que
demarcam áreas intercondilares anterior e posterior²;
 Tubérculo intercondilar anterior e tubérculo intercondilar posterior,
que encaixam na fossa intercondilar do fêmur²;

Em sua diáfise:

 Tuberosidade da tíbia: lugar de fixação do ligamento da patela;


 Margem anterior da tíbia: muito proeminente, e juntamente com a face
medial da tíbia forma o que é conhecido como “canela” ². É facilmente
palpável;
 Margem interóssea: inserção da membrana interóssea que mantém a tíbia
unida com a fíbula.

Em sua epífise distal:

 Maléolo medial: expansão medial palpável no tornozelo.


 Incisura fibular: recebe a extremidade distal da fíbula².
 Face articular inferior da tíbia.

4.4 Fíbula

A fíbula é osso da perna mais fino e lateral. Articula-se com a tíbia. Em sua
epífise proximal, a cabeça da fíbula possui um ápice – ápice da cabeça da fíbula.
Distalmente, o colo da fíbula marca a transição entre epífise e diáfise.
Em sua diáfise, a margem interóssea é a formação de maior relevância.
Em sua epífise distal, o maléolo lateral é a proeminência na região lateral
do tornozelo.

Figura 4.11 - Vista superior da epífise proximal da tíbia.

Fonte: Retirado de Sobotta (2000, p. 284).


Figura 4.12 - Vista anterior da tíbia e fíbula.

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 274).


Figura 4.13 – Vista posterior da tíbia e fíbula.

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 274).

4.5 Ossos do pé
Os ossos do pé são divididos em regiões, de forma equivalente ao membro
superior, em tarso, metatarso e falanges.

4.5.1 Tarso

Os ossos do tarso, ou ossos tarsais, formam a parte mais proximal do pé².

Tálus: é o único osso que se articula com a tíbia e fíbula. A parte mais
relevante a ser identificada é a tróclea do tálus, superfície articular superior que se
associa aos maléolos – medial e lateral². Localizado posteriormente e medial no pé;

 Calcâneo: o osso que forma a região popularmente conhecida como


calcanhar. Localizado na parte posterior e lateral do pé. Possui a
tuberosidade do calcâneo, posteriormente,
 Navicular: com a forma de um barco, situado na parte medial do pé. Situa-se
entre o tálus e os cuneiformes;
 Cuboide: como o próprio nome diz, possui formato cúbico e ocupa uma
posição mais lateral no tarso.
 Cuneiformes: são três ossos, nomeados de cuneiforme medial, cuneiforme
intermédio e cuneiforme lateral.

4.5.2 Metatarso e Falanges

Os ossos do metatarso são os metatarsais, e junto com as falanges, formam


o antepé². Da mesma forma da mão, os metatarsais são numerados de I a V, para cada
pododáctilo (dedo do pé), de medial para lateral. O dedo I é chamado de hálux. As
falanges, de forma similar à mão, são três nos dedos II a V: proximal, medial e distal.
No hálux, as falanges são somente duas: proximal e distal; possuem também, uma base
proximal, corpo e uma cabeça distal².
4.5.3 Arcos do pé

Os arcos do pé são os responsáveis em distribuir o peso do corpo pelos


tecidos duros e moles do pé, além de gerarem um força de alavanca quando
caminhamos. Há dois arcos: o longitudinal e o transverso4.

 Arco longitudinal: formado pelos ossos tarsais e metatarsais, formando o


arco da parte anterior do pé para a posterior. Esse arco possui duas partes: a
parte medial, que se origina no calcâneo, elevando-se até o tálus e desce pelo
osso navicular, pelos três cuneiformes e pelas cabeças dos três metatarsais
mediais. Essa parte medial é tão alta que não toca ao solo ao deambular. Já a
parte lateral, também começa no calcâneo, passa pelo osso cuboide e desce
até as cabeças dos metatarsais laterais4.
 Arco transverso: encontra-se entre as faces medial e lateral do pé. Formado
pelo ossos: navicular, pelos três cuneiformes e pelas bases dos cinco
metatarsais4.

Figura 4.14 - Arcos do pé.

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 278).


Figura 4.15 – Vista superior dos ossos do pé (esquerda) e vista inferior (direita).

4.6 Correlações clínicas – Esqueleto apendicular: Membro inferior.

Nessa seção serão abordadas alterações que as estruturas anatômicas do


membro inferior estão suscetíveis a ocorrência.

 Lesões do osso do quadril

O termo fratura do quadril é muitas vezes atribuído a lesões na epífise


proximal do fêmur. As fraturas pélvicas ocorrem geralmente por traumatismo direto ou

Fonte: Retirado de Tortora e Nielsen (2013, p. 277).


transmissão de força do membro inferior para o acetábulo, lesionando com frequência
as asas do ílio, acetábulo e ramos do púbis.

Além disso, há as fraturas por avulsão do osso do quadril, onde um


fragmento ósseo sofre avulsão com um pedação de tendão ou ligamento fixado à ele.
Ocorre com frequência durante prática de esportes que exijam aceleração e
desaceleração súbita. Áreas comuns de serem fraturadas dessa forma são as espinhas
ilíacas anteriores, túberes isquiáticos e ramos isquiopúbicos².

 Coxa vara e valga

Ocorre quando há diminuição ou aumento do ângulo de inclinação do corpo


do fêmur em relação ao colo, devido à defeitos congênitos ou processos patológicos
(raquitismo, por exemplo). O termo coxa vara é designado para quando há diminuição
do ângulo, projetando o corpo do fêmur em direção à linha mediana, o que causa
encurtamento do membro inferior e dificuldade de abrir as pernas. Já o termo coxa
valga descreve o aumento do ângulo, onde afasta-se o fêmur da linha mediana².

 Fraturas do colo do fêmur

O colo do fêmur é o local desse osso que é fraturado com maior frequência,
por ser uma parte mais estreita. Torna-se mais vulnerável com o aumento da idade,
principalmente em mulheres². É comum que essas fraturas sejam intracapsulares, ou
seja, lesões em partes do osso contidas na cápsula da articulação do quadril. Nesse caso,
há o agravante de traumatismo vascular, por rompimento de vasos que irrigam a cabeça
do fêmur. Consequentemente, há uma necrose avascular².
 Enxertos ósseos

A fíbula é usada com frequência para enxertos ósseos, onde um fragmento,


contendo a artéria nutrícia é retirado para substituir um segmento afetado por defeito
congênito, traumatismo ou tumor maligno. Mesmo após a retirada de parte do corpo da
fíbula, a caminhada, corrida e salto podem ser normais².

 Infusão intraóssea

Quando o acesso venoso periférico é difícil ou impossível, a infusão


intraóssea é uma opção de administração de fármacos, sangue ou soluções em um
paciente. Usados em caso de choque traumático ou em crianças em estado de colapso
circulatório, a administração é feita com uso de uma agulha que irá atravessar o osso –
mais comum a tíbia, próximo à tuberosidade da tíbia, mas pode ser realizado no fêmur,
esterno, úmero e fíbula².

 Fratura do dançarino

Uma fratura comum dos metatarsais, principalmente em bailarinas, é a


fratura do dançarino. Ocorre quando há perda de equilíbrio e o peso do corpo é colocado
sobre o metatarsal².

Você também pode gostar