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Kung Fu
A MILENAR ARTE MARCIAL CHINESA
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Editorial
O Templo Shaolin 11
Após a destruição do Templo Shaolin 21
A história do estilo Wing Chun 25
Sumário
O mestre Yip Man 28
Bruce Lee e o Kung Fu 30
Capítulo 2 - Os estilos de Kung Fu 31
O melhor estilo de Kung Fu 32
O Kati 32
Águia 33
Técnica do Bêbado 40
Louva-a-deus 54
Tai Chi Chuan 64
Tigre 73
Wing Chun 83
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
5
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Inclui índice
ISBN 978-85-8073-267-2
1. Kung-fu. 2. Artes marciais. 3. Luta (Esporte). I. Bueno, Fábio Amador. II. Título. III. Série.
A
palavra é de origem chinesa e significa tempo de habilidade. Mas, no
ocidente, este termo passou a ser sinônimo de arte marcial chinesa. No
entanto, há uma sutileza importante. O termo Wu Shu é usado na China
para designar arte marcial e Kuo Shu significa arte marcial chinesa. A
principal diferença entre Wu Shu e Kuo Shu é que o primeiro se refere
às artes marciais de uma forma geral, independente de sua origem. Já
o segundo termo se refere às artes marciais de origem chinesa. A China
antiga é cheia de histórias nas quais as artes marciais estão presentes. Num passado de
imperadores tiranos, o povo era estimulado à guerra – fosse para auto-defesa, fosse para
proteger seus superiores. Apesar desse espírito guerreiro, o povo chinês vivia em plena
harmonia com a natureza. Uma das explicações para isso é que eles dependiam da agri-
cultura para sobreviver. Essa proximidade permitiu a criação de uma visão de mundo que
aproximava o homem do universo. Para eles, o homem é uma cópia em miniatura do
universo. É da harmonia entre o microcosmo (homem) e o macrocosmo (universo) que
se conseguiria uma saúde perfeita. A partir dessa filosofia é que surgem alguns conceitos
fundamentais para a compreensão das artes marciais.
Harmonia
Os chineses acreditam na existência de uma energia universal que chamam de “chi”.
No Japão, essa energia recebeu o nome de “ki”. A compreensão da existência dessa ener-
gia, e de como harmonizá-la com o universo, é a base de toda luta marcial originada no
Oriente. Acupuntura, tuinah, moxaterapia, chi kung e shiatsu são exemplos de terapias
orientais que se valem dessa idéia de harmonização do “chi”.
Mas como funciona essa energia vital? De acordo com a tradição oriental, “chi” flui
pelo corpo humano, percorrendo canais existentes chamados, no Ocidente, de meridia-
nos. Essas idéias permitiram aos chineses criar exercícios físicos e respiratórios baseados
nas suas observações da movimentação do “chi” por toda a natureza: tanto nos animais,
quanto nos seres humanos.
O Wu Chinsi, por exemplo, é um antigo sistema de exercícios criado pelo médico
e filósofo Hua To. Para tanto, ele se baseou nas observações dos movimentos de cinco
animais: veado, macaco, águia, urso e tigre. O objetivo desse conjunto de exercícios é a
harmonização da energia nos aspectos psicológico e biológico humanos.
Estilos
Há diversos estilos de lutas marciais surgidos na China. A tal ponto que, em cada lu-
gar do país, foram desenvolvidos sistemas particulares de Kung Fu. As variedades de estilos
se devem ao fato de que as aulas marciais na China antiga eram feitas de pai para filho.
Com o tempo, cada um adaptava o sistema marcial à própria realidade e à utilidade para
defesa pessoal. Em muitos casos, cada família fazia sua adaptação marcial e a ensinava
como correta acreditando que as demais eram falhas.
Na parte norte do país, predominava um maior uso das pernas nos estilos de luta. Já
O
Templo Shaolin teve sua fundação nos primórdios da era Cristã como
um templo budista na montanha de Soong Shan, província de Honan.
Esse templo esteve presente direta e indiretamente nas histórias envol-
vendo artes marciais, política e religiosidade na China, tornando-se
famoso e admirado mundialmente. Nos anos de 1970, o seriado de
TV Kung Fu, com o ator David Carradine, foi pioneiro ao mostrar ao
Ocidente o Templo Shaolin.
Templo Shaolin significa o Templo da Jovem Floresta ou Monastério do Pequeno Bos-
que. Tudo que se refere à marcialidade chinesa dentro dos aspectos espirituais tem uma
ampla relação com este templo. Assim, é quase impossível falar de artes marciais chinesas
sem citar o nome Shaolin.
Os mais de trezentos estilos de Kung Fu existentes na China em sua maioria tiveram
ligações com este templo. O treinamento em Shaolin era bastante rigoroso e sistemático.
O termo usado para as artes de lutas era Shaolin Chua, que, traduzindo, significa: Artes
dos Punhos da Jovem Floresta. O termo Jovem Floresta se deu ao fato de os monges, neste
templo, plantarem muitas árvores frutíferas.
O primeiro templo Shaolin foi construído por volta de 450 d.C. e, nesta época, várias
pessoas se convertiam à religião de Buda, que, havia pouco tempo, chegara da Índia. O ex-
cesso de conversões ao budismo não era em sua maioria pela verdadeira fé do povo, nem
mesmo se devia à procura da paz e da harmonia espiritual. O que realmente queriam era
se ver livres de perseguições e sofrimentos impostos pelos imperadores. Segundo as leis da
China da época, todos estavam ligados aos desejos do Imperador, mas, ao se converter ao
budismo, os chineses deixavam de ser parte do Império Chinês e passavam a ser integran-
tes da espiritualidade, desvinculando-se imediatamente do Imperador, devendo, então,
respeito somente às leis de Buda e da espiritualidade.
Desse ponto de vista, a ordem monástica de Shaolin rapidamente possibilitava o
refúgio espiritual. Com o desenvolvimento da ordem, outros templos Shaolin foram
surgindo, dentre outros o de Honan da província de Fukien, fundado pelo monge cha- 11
mado Tashin Sheng. Segundo os historiadores chineses, cinco templos foram fundados,
mas, quando se estuda a história da China, o que se nota é uma variedade de teorias de
acordo com cada autor estudado. Isso se deve aos múltiplos e variados escritos chine-
ses, segundo os quais as localizações destes templos divergem. Uns dizem que os cinco
templos localizavam-se em: Honan, Funkien, Wotang, Oweishan e Kwantung. Outros
afirmam que as localizações corretas são: Honan, Fukien, Ngor Mee, Wu Tang e Kwang
Tung. Pelo menos, eles concordam que Honan e Fukien fazem parte da localização
exata dos templos Shaolin.
Podemos observar nesta caminhada histórica que, nos momentos iniciais do budis-
mo, os templos Shaolin na China somente objetivavam a espiritualidade, mas já existiam
princípios de marcialidade entre estes monges budistas.
As artes marciais no templo Shaolin
O que se sabe de concreto é que as artes marciais surgem, de fato, no templo Shaolin,
por volta de 520 d.C., graças ao pioneirismo de Bodhidharma, o 28º patriarca do budismo,
conhecido também pelos nomes de Ta Mo, em chinês, e Daruma Taishi, em japonês.
Bodhidharma era filho do rei Sughanda, que pertencia à casta dos guerreiros Kshas-
triya. Apesar de ter se convertido ao budismo muito cedo, o Príncipe Bodhidharma man-
tinha um esquema severo de treinamento marcial aliado aos seus estudos religiosos – es-
quema baseado nas artes de lutas do famoso mestre marcial indiano Prajntara. Pouco a
pouco, o mestre indiano foi se afeiçoando a Bodhidharma e lhe passou todos os princípios
da marcialidade de acordo com a visão interna e externa, transformando-o em um guer-
reiro muito poderoso, possuidor de uma consciência espiritual bastante apurada, graças
aos ensinamentos budistas que o espiritualizaram.
Bodhidharma, ainda na Índia, começou a perceber que a meditação era a base para
evolução espiritual e que de nada adiantaria a técnica marcial sem a espiritualidade. A
marcialidade e a espiritualidade, aliadas, seriam uma “porta aberta’ para outros níveis de
evolução humana. A parte física vai se desgastando com o avanço da idade no homem,
mas, se esta for aliada aos princípios da espiritualidade com raízes na meditação, poderão
condicioná-lo ao pleno equilíbrio – tanto internamente quanto com o universo exterior.
As lutas passam a ser uma maneira para dominar o mundo interior do homem,
levando-o a controlar seus medos. As artes marciais servem, então, como recursos de
luta, tanto para auto-defesa quanto para proteger os mais fracos dos abusos praticados
por outros.
A defesa pessoal contida na marcialidade passa a servir para a autodefesa física, como
último recurso, ou ainda para defender os mais fracos das opressões dos mais fortes. Essa
idéia de justiça estava presente no budismo, ao ensinar que o forte jamais deveria se apro-
veitar da superioridade física para agredir o fraco.
Bodhidharma tinha a missão de difundir o budismo original no máximo de locais
possíveis, pois, em vários países próximos à Índia, o budismo se desenvolvia, mas de uma
maneira errada. Um dos países onde existia um forte desvio do budismo verdadeiro era a
China. Bodhidharma foi até lá para pregar a realidade budista como deveria ser. Andando
pelo território chinês, o patriarca budista dirigiu-se até a corte do imperador Liang Wu Ti,
grande tirano para o seu povo.
No domínio do imperador Liang, o patriarca Bodhidharma entrou em choque com o
soberano, pois este seguia uma linha falaciosa do budismo, com muitos rituais. O certo,
segundo Bodhidharma, é que a essência budista deveria usar basicamente a meditação
para se ter a interiorização e o autoconhecimento. Por causa dessa discórdia, Bodhidhar-
ma teve de se refugiar em um mosteiro Shaolin localizado ao norte da montanha de
Soonh Chan. Assim, evitou que o imperador o tivesse matado. No templo, permaneceu em
meditação durante nove anos, chegando a uma total harmonia interior.
Existem diversas lendas sobre a figura deste patriarca, porque os chineses da Anti-
A
pós a destruição do templo de Shaolin, somente cinco mestres
e quinze discípulos conseguiram sobreviver e fugir pela China
adentro. Ao se espalharem, iniciaram seu fortalecimento, criando
grupos secretos, com o objetivo inicial de catequizar e treinar o
povo para derrotar os Manchus e expulsá-los do território chinês.
Para isso, eram feitos treinamentos de Kung Fu, princípios de
meditação e filosofia Shaolin em pessoas escolhidas na multidão.
Elas eram treinadas secretamente pelos fugitivos do Templo Shaolin e pelos seus
discípulos imediatos.
Muitos grupos e associações ocultas de Kung Fu surgiram neste período na
China. Eram entidades com características políticas que faziam do Kung Fu a
base para a preparação do homem para o combate corpo a corpo com os Man-
chus. E o budismo servia para fundamentar a evolução interior dos revolucioná-
rios. Estas entidades eram denominadas de Hung Mun, Hung Tong ou Tríades.
E seus integrantes eram conhecidos pelo povo chinês como Tongs. A cada dia,
aumentava o número de adeptos destas entidades, pois a insatisfação do povo
chinês era muito grande.
Os Tongs eram em sua maioria pessoas cultas e bem-preparadas nas diver-
sas áreas artísticas e culturais, inclusive nos métodos terapêuticos tradicionais
chineses (acupuntura e massoterapia). Podiam atuar como verdadeiros líderes
revolucionários, capazes de doutrinar o povo com suas leis e preparar alguns para
ser peritos em inúmeras técnicas mentais, físicas e sociais.
A Dinastia Ching inteira foi marcada pela presença destes revolucionários que, 19
a cada dia que passava, conseguiam mais simpatizantes. Somente com a Repú-
blica Chinesa em 1912 é que os Tongs obtiveram seus fins. Por isso, a história da
China tem em seus escritos uma enormidade de feitos relacionados a estes revolu-
cionários. Os feitos tinham uma única finalidade: ver a China livre dos tiranos e
exploradores estrangeiros. Inicialmente, a revolta era contra os Manchus, depois
contra outros povos ocidentais (franceses, ingleses, portugueses e espanhóis que
passaram também a explorar o sofrido povo chinês).
Os Tongs usavam os cabelos longos ou cortados à maneira ocidental como
método para demonstrar suas revoltas contra os Manchus, que obrigavam os chi-
neses a usar no cabelo o rabicho semelhante aos Ming.
A Revolta dos Boxers
Um dos fatos históricos marcantes da História Chinesa com grande partici-
pação dos Tongs foi a Revolta dos Boxers. O movimento foi assim chamado por
causa dos ingleses que, não dominando o idioma, referiam-se aos movimentos do
Kung Fu como “arte do boxe” – uma luta popular na Inglaterra.
A História da China é repleta de problemas de atritos políticos e religiosos,
principalmente contra o cristianismo, que era uma religião que representava a
tentativa do domínio ocidental. Daí, todos os chineses que se convertiam ao cris-
tianismo eram vistos com desprezo pela maioria, que tinha uma visão naciona-
lista ligada aos ideais revolucionários pregados pelos Tongs.
As batalhas eram muitas, e os Tongs treinavam dia e noite as técnicas do Kung
Fu, objetivando a expulsão dos estrangeiros orientais e ocidentais do território
chinês. Muitos mestres de renome no Kung Fu iam pouco a pouco se unindo
às causas revolucionárias, todos centrados na idéia de acabar com o domínio
estrangeiro vigente.
1 – Treinar ininterruptamente
O treinamento marcial é eterno para o praticante. Treinando sempre,
deve buscar o máximo de concentração e precisão, como se cada golpe ou
exercício fosse o último a ser dado em sua vida. Por isso, o treinamento é a
base da evolução marcial, favorecendo não apenas o desenvolvimento físico
e técnico, mas também o condicionamento mental e espiritual do praticante
de Kung Fu.
3 – Respeitar os superiores
A importância do respeito aos superiores está bem ilustrada no relato sobre o
processo de seleção, admissão e treinamento das crianças no ingresso no Templo
Shaolin. Explicamos bem sobre respeito quando comentamos acerca da entra-
da das crianças no Templo. Seja mestre ou discípulo, o simples fato de ter mais 21
tempo de treino na prática do Kung Fu fará da pessoa alguém a ser respeitada
por todos os mais novos. Assim, é preservada a hierarquia centrada no respeito
aos mais velhos. Segundo a filosofia marcial dos Shaolins, o idoso é sinônimo de
sabedoria e, por isso, deve ser sempre respeitado.
A
história começa com Yim Yee, que foi um dos quinze discípulos
sobreviventes à destruição do Templo Shaolin. Yim Yee havia
se metido em diversos combates marciais e acabou tendo que
se refugiar próximo da montanha Tai Leung, passando a viver
como simples comerciante. Ele tinha uma filha de nome Yim
Wing Chun, que estava prometida em casamento a um próspero
negociante. No local onde residiam, existia um excelente lutador que se apai-
xonou pela jovem Yim Wing Chun e ameaçou a moça para que se casasse com
ele. Caso contrário, a levaria à força. Seu nome era Wong.
O velho Yim Yee já estava com muita idade, ficando assim impossibilitado de
lutar com o pretendente de sua filha.
Então, uma monja de nome Ng Mui estava hospedada no Templo da Garça
Branca, situado nas proximidades. Ela ia constantemente à vila para fazer
compras. Um dia, estava comprando com o velho Yim Yee e notou que ele
estava apreensivo. Ele contou a ela a triste história que o atormentava. Ng Mui
resolveu ajudar a filha do velho comerciante, ensinando a arte marcial a Yim
Wing Chun.
Ng Mui treinou a jovem Yim Wing Chung durante três anos. Graças aos en- 23
sinamentos adquiridos nas aulas, a jovem derrotou o seu pretendente e agressor,
casando-se pouco tempo depois com Leung Bok Chau, a quem tinha sido prome-
tida desde criança, seguindo assim a tradição chinesa.
Leung Bok Chau era lutador de Kung Fu e praticava suas técnicas diaria-
mente. Sua esposa Yim Wing Chun começou a notar e a criticar falhas em suas
técnicas. Certo dia, chateado com suas constantes observações, desafiou-a para
um combate. Leung Bok Chau foi facilmente derrotado. Imediatamente, ele quis
aprender o método marcial de sua esposa Yim Wing Chun, que, posteriormente,
foi denominado Wing Chun, ou seja, Arte dos Punhos de Wing Chun – em home-
nagem à sua esposa.
Muitos anos depois, Leung Bok Chau ensinou a já famosa técnica marcial
Wing Chun para um médico de nome Leung Lan Kwai, que durante muitos anos
preservou em segredo esta arte marcial. Ele a ensinou somente quando velho a
um jovem de nome Wong Wah Bo, que era um ator da ópera chinesa.
Em uma das suas viagens como ator de ópera, Wong Wah Bo encontrou o
mestre marcial Leung Yee Tei, que era um excelente lutador com o bastão lon-
go. Wong Wah Bo e Leung Yee Tei tornaram-se amigos e passaram suas técnicas
marciais um para o outro. Isto possibilitou ao estilo Wing Chun ter acrescido em
suas técnicas marciais o uso do bastão longo, pois neste período já tinha o uso das
espadas borboletas. O treinamento destes dois mestres possibilitou ao estilo Wing
Chun o uso dos métodos do Chi aliados ao bastão, conhecido como Chi Kwun.
Leung Yee Tei ensinou arte do Wing Chun, já bastante evoluída em termos de
treinamentos, para um famoso médico, de nome Leung Jan. Este médico era de
uma família tradicional chinesa, da cidade de Fatshan na província de Kwang-
tung, que, por ironia do destino, era a província em que nascera a mestra marcial
Yim Wing Chun.
Leung Jan era um homem muito culto e proprietário de uma loja especiali-
zada em ervas de nome Jan Sang, além de atuar como médico na região onde re-
sidia. Sua cidade, Fatshan, era um grande centro comercial habitado por pessoas
ricas e de grande prestígio no governo chinês.
A paixão do sábio médico Leung Jan eram as artes marciais e a literatura.
Seu apelido era O rei do Wing Chun. Era obrigado a aceitar o desafio de diversos
lutadores marciais que sempre queriam testar a eficiência do seu estilo. Mas ele
sempre vencia, e sua fama de lutador aumentava. Ele ensinava sua técnica mar-
cial aos seus filhos Leung Tsun e Leung Bik e a alguns discípulos.
Nas proximidades da loja de ervas medicinais de Leung Jan, existia um posto
de trocas de dinheiro de um homem chamado Chan Wah Shun – popularmente
conhecido como Wah, trocador de dinheiro, devido à sua profissão. O grande
sonho de Wah era treinar Wing Chun com o mestre Leung Jan. Mas, porque
pertencia a uma classe social inferior, Wah se sentia constrangido em procurar o
Mestre para tomar aulas de Kung Fu. Ele sentia-se envergonhado e diariamente
ia até a cerca de madeira da loja de ervas do médico e ficava observando as aulas
dos filhos do mestre e demais alunos. Um dia, finalmente Wah tomou coragem
e solicitou ao Mestre que o aceitasse como seu discípulo marcial, mas o mestre
Leung Jan, de forma educada, recusou aceitá-lo como aluno.
Wah, apesar da tristeza, não desistiu e partiu para outra forma alternativa de
aprendizagem desta técnica de Kung Fu. Existia um aluno de Wing Chun do mes-
tre Leung Jan que também se chamava Wah. Era muito forte e, nos treinamentos,
era comum ele quebrar o boneco de madeira, conhecido como Mudjong. Por isso,
seu apelido era Wah, o homem de madeira.
Wah, o trocador de dinheiro, fez amizade com Wah, o homem de madeira, e
conseguiu aprender as técnicas no Wing Chun, pois treinava constantemente.
Coleção Artes Marciais • Kung Fu
Certa vez, enquanto o mestre Leung Jan viajava, Wah, o homem de madeira,
levou o seu novo amigo até a loja de ervas para observar os treinamentos de Ching
Chun. Na oportunidade, falou para Leung Tsun, filho do mestre, que seu amigo
era um perito em Wing Chun e tinha se iniciado somente observando às escondi-
das os treinamentos comandados pelo seu pai.
O filho do mestre desafiou Wah, trocador de dinheiro, para um combate real.
Rapidamente, Wah aplicou-lhe um forte golpe que o jogou contra a cadeira do
seu pai, quebrando-a de imediato. Passado o susto, todos correram para consertar
a cadeira de descanso do mestre. À noite, quando Leung Jan sentou-se para des-
cansar em sua cadeira, esta desmontou. Querendo explicações sobre o que havia
acontecido, ficou sabendo da história de Wah.
Leung Jan acabou solicitando a presença de Wah, o homem de madeira, exi-
gindo que ele contasse o ocorrido. Após isso, pediu que chamasse o outro Wah, o
trocador de dinheiro e, pouco tempo depois, ele já demonstrava o que sabia de
Wing Chun para o mestre Leung Jan. Após ver suas perícias marciais, acabou
aceitando-o como seu aluno.
Wah, trocador de dinheiro, sempre fazia uso das suas técnicas em combates
reais, pois, na sua profissão, era preciso lutar às vezes contra ladrões. Com isso,
possibilitou uma constante reciclagem do Wing Chun em termos de combates
reais. Ele acabou virando um mestre do estilo. Quando estava com mais de setenta
anos, foi convidado para ensinar Wing Chun no templo ancestral da família Yip,
uma das propriedades mais ricas da sua região, e neste local foi mestre de Yip
Man, que futuramente seria mestre de Bruce Lee.
25
O Mestre Yip Man
O
mestre Wah era famoso em sua região pelo fato de cobrar mui-
to caro pelas suas aulas de Wing Chun. Isto favorecia que seu
grupo de alunos fosse muito seleto.
Um dia, ao chegar para dar aulas, ficou surpreso ao encon-
trar o jovem Yip Man, esperando-o com três moedas de prata
na mão, valor que correspondia a um mês de aulas. Yip Man
era filho do dono do templo onde ele ministrava aulas. Este jovem tinha apenas
treze anos. Por isso, Wah foi conversar com seu pai sobre a origem daquele di-
nheiro. O pai do rapaz disse que seu filho estava pagando-o com suas economias,
e que podia aceitá-lo como aluno. Wah, mesmo não acreditando que um menino
rico como Yip Man fosse se dedicar ao Wing Chun, aceitou-o como aluno. Feliz-
mente, com o passar do tempo, o jovem Yip Man passou a mostrar uma grande
dedicação pela prática do Wing Chun, ganhando assim a simpatia do seu mestre,
o velho Wah.
Yip Man treinou com Wah até os dezesseis anos, quando, infelizmente, este
faleceu. No ano do falecimento do Mestre Wah, o pai do jovem mandou-o para
Hong Kong. Ele foi estudar no Colégio Santo Estefano, onde eram adotados os
costumes ingleses, que eram a moda, naquela época, na aristocracia chinesa.
Neste colégio, eram costumeiras as brigas entre colegas e o conhecimento do
Wing Chun logo fez que Yip Man se tornasse respeitado e temido, porque sempre
vencia os combates. Mas tornou-se arrogante.
Certo dia, um colega de Yip Man perguntou a ele se aceitaria lutar com um
homem de cinqüenta anos que era muito bom no Kung Fu. Ele, que era muito
bom de briga e se sentia o grande lutador, aceitou de imediato. Chegando ao local
da luta, seu adversário perguntou o estilo que ele lutava e quem era o seu mestre.
Após responder, iniciou a tecer profundos comentários sobre o estilo Wing Chun.
A ansiedade em vencer a luta cegou Yip Man para alguns detalhes na conversa
com seu adversário. Um detalhe - como era que aquele homem sabia tanto sobre
o estilo que ele praticava?
O adversário de Yip Man o derrotou com facilidade, mas não o machucou.
Depois, Yip Man soube que aquele homem era Leung Bik, um dos filhos de Leung
Jan, o mestre do seu mestre, o Wah.
Dentro da filosofia do Kung Fu, foi um ato imperdoável, pois Yip Man havia
A
história do Kung Fu tem um marco importante em Bruce Lee,
considerado “o rei”. Em parte pelas suas aparições nas telas de
cinema em todo o mundo, em filmes nos quais aparecia lutando
e que, por essa publicidade, se tornou respeitado e imortal.
Graças a ele, o Kung Fu obteve uma adesão admirável no
Ocidente. Antes de Bruce Lee, os filmes chineses de Kung Fu já
eram exibidos no Ocidente e bem-aceitos. Mas foi o Pequeno Dragão, como Bruce
Lee também era conhecido, que iniciou uma revolução nos filmes de luta marcial
chinesa em todo o mundo.
Apesar de sua morte prematura em l973, Bruce Lee deixou-nos uma herança
cultural marcial e de cinema de amplitude inigualável. Graças a este imortal
artista marcial que o “nunchaku” (arma do Kung Fu constituída de dois bastões
curtos de madeira, ligados entre si por corda ou corrente) se tornou conhecido
internacionalmente.
Seus filmes eram sempre centrados no uso das técnicas marciais de origens
chinesas, apesar de Bruce ter o seu próprio estilo marcial, o Jeet Kune Do. Um
estilo que se caracterizava por ser um sincretismo marcial, no qual se faz uso de
diversas técnicas de artes marciais treinadas e testadas por ele mesmo, bem como
na defesa do aspecto da individualização de cada estilo. Ou seja, cada um deve
desenvolver o estilo marcial que melhor se adapte à sua realidade.
O estilo marcial treinado por Bruce Lee foi o Wing Chun, tendo como mestre
Yip Man, ainda quando residia em Hong Kong, sem contar o Tai Chi Chuan, que
ele praticou com o seu pai.
Aos dezoito anos de idade, Bruce mudou-se para os Estados Unidos, sua terra
natal, e lá ministrou aulas de Kung Fu, no estilo Wing Chun. Foi para a televisão
e depois para o cinema, transformando as artes marciais com suas idéias novas
e arrojadas.
Segundo os médicos, Bruce morreu devido a um edema cerebral. Muitos du-
vidam desta versão. De qualquer modo, ele foi um dos grandes divulgadores do
Kung Fu em nível mundial. Eis um grande mérito que inspira as homenagens em
agradecimentos, de parte de todos os amantes das artes marciais.
Exemplo disso é que, recentemente, em Hong Kong, admiradores custearam a
produção e ergueram uma estátua em homenagem a Bruce Lee, o imortal.
Os estilos de Kung Fu
29
2
O melhor estilo
A
s artes marciais são iguais às religiões. Não é por acaso que a reli-
giosidade chinesa se encontra acoplada à prática marcial, pois to-
dos os mestres e praticantes de arte marcial acreditam cegamente
que seu estilo é o melhor e mais eficiente.
Na verdade, todos os estilos de Kung Fu são bons, cabendo a
cada um escolher o que melhor se adapta à sua realidade, sendo
isto de caráter pessoal e intransferível.
As pessoas fazem as coisas de acordo as suas necessidades e os seus interes-
ses. O importante quando for escolher um estilo de Kung Fu é perceber qual a
finalidade, qual o estilo — se é da linha interna ou externa. Realizando uma
pesquisa sobre suas origens, sua árvore genealógica, seus movimentos, controle
da respiração, daí, então, deve-se procurar saber onde poderá praticar este estilo.
Após a pesquisa e conhecimento do estilo de Kung Fu, visite academias e procure
conhecer o mestre e suas técnicas de aulas. Assim, você poderá ingressar com
segurança no estilo que mais lhe convém.
Técnica do Bêbado
Tigre
K
ati é seqüência de movimentos simulando um combate com
adversários imaginários. As técnicas do Tai Chi Chuan, quan-
do executadas através de Kati, têm o objetivo de fazer que o
praticante desenvolva a criatividade, a imaginação, o domínio
do movimento (equilíbrio, coordenação motora, flexibilidade,
tenacidade, força) e, principalmente, a sensibilidade corporal
Wing Chun
Louva-a-deus
31
Garra de Águia
através de formas de percepção do Chi (força interior).
Na seqüência, apresentamos os Katis dos respectivos estilos para ilustrar
melhor as características distintas de cada um deles.
33
Águia
O
estilo garra de águia faz parte do contexto dos estilos de
Shaolin, e inspira-se nas técnicas de ataque e defesa da
referida ave de rapina. Este estilo se baseia em algumas car-
acterísticas surpreendentes da águia, das quais se destaca a
sua incrível visão capaz de enxergar um minúsculo roedor
há mais de mil metros de altura; a força da águia também
é extremamente considerada, sendo suficiente para levar aos seus ninhos, no
topo das montanhas, presas cujo peso é maior do que o do próprio predador. O
estilo da águia tornou-se muito famoso em virtude da beleza e da eficácia dos
movimentos, além de fazer que o bom praticante obtenha o ganho de muita
força, resistência, velocidade e eficiência.
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Os estilos
de Kung Fu
Técnica do Bêbado
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1 2
5 6
9 10
7 8
11 12 43
13 14
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67 68
71 72 53
Os estilos
de Kung Fu
Louva-a-deus
5 6
9 10
7 8
11 12 57
13 14
17 18
21 22
19 20
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25 26
29 30
33 34
31 32
35 36 61
37 38
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63
Os estilos
de Kung Fu
Tai Chi Chuan
65
1 2
5 6
9 10
7 8
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13 14
17 18
21 22
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25 26
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33 34
31 32
35 36 71
37 38
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73
Tigre
O
estilo do tigre faz parte do conjunto de estilos do Kung Fu
Shaolin. Os movimentos do estilo do tigre são inspirados nos
movimentos de ataque e defesa do próprio animal, preser-
vando inclusive algumas características corporais do referido
felino. O estilo do tigre possui, ao redor do mundo, centenas
de diferentes ramificações deste segmento; porém, tantas vari-
antes do mesmo estilo são unânimes em preservar as características mais tradi-
cionais desta arte milenar. O estilo do tigre possui seus primeiros registros logo
nos primórdios da história documentada do Kung Fu, ou seja, há cerca de 5000
anos. As principais características do estilo do tigre durante a prática e o treino
do kati são as seguintes:
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5 6 75
7 8
11 12
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43 44
45 46
47 48
Wing Chun
83
E
ste sistema foi desenvolvido por uma monja que, por ser mulher,
desejava criar um estilo de Kung Fu mais adequado às limitações
fisiológicas femininas. Este sistema de Kung Fu não faz parte do
segmento Shaolin, pois não é inspirado em comportamentos de
ataque e defesa de um animal específico.
Com isso, o Wing Chun mostra-se como um estilo que possui
as seguintes características:
3 4
5 6 85
7 8
11 12
15 16
13 14
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31 32
35 36
39 40
37 38
41 42 91
Coleção Artes Marciais • Kung Fu
Capítulo
Bibliografia
GONZALES, Argimiro e GONZALES, Magali: Quem Foi Bruce Lee. Edições de Ouro
RIBEIRO, Sérgio: Conceitos de Bruce Lee. Edição Independente
LEE, Bruce: O Tao Do Jeet Kune Do. Editora Conrad 97
NATALI, Marco: O Soco De Uma Polegada de Bruce Lee. Edições de Ouro
NATALI, Marco: Vajramushti — a arte marcial dos monges budistas. Edições de Ouro
CORCORAN, John e FARKAS, Emil: Martial Arts: traditions, history, people. Gallery
Books/ New York
Sobre o autor
JOSÉ AUGUSTO MACIEL TORRES é natural de Salvador, capital baiana, onde reside, sendo
praticante de Artes Marciais desde a década de 1970; teve seu início marcial na cidade de
Itapetinga, interior da Bahia, no Karatê estilo Shotokan, supervisionado pelo Sensei Joan Lemos.
Atualmente, é faixa preta em karatê, 5º dan, pela Shotokan Karate International (Ski-Brasil) e
diversas outras entidades nacionais e internacionais e praticante de Taekwondo, Hapkido, Jiu Jitsu
e Aikido.
É presidente da Confederação Brasileira de Karatê de Semi-Contato, Federação Baiana de Kung
Fu e Associação Alakija de Taekwondo Tradicional I.T.F. e vice-presidente do Centro Cultural
Brasil/ China.
É assessor de imprensa da Federação de Jiu Jitsu do Estado da Bahia.
Publicou diversas obras relacionadas às artes marciais e ao orientalismo, tais como: Guia Prático
do Orientalismo; Viva sem dores nas costa; Exercícios Chineses para manutenção da saúde;
Manual de Yôga; Filosofia do Kung Fu, Yôga e Massagem Oriental; Guia do Esoterismo; Dicionário
das Artes Marciais etc.
É diretor-fundador e editor do Jornal Bahia Marcial, desde 1996.
Foi colunista da extinta revista KIAI.
É coordenador e criador dos Programas de instrução para Provisionados (PIP) realizados em
níveis de extensão por faculdades e reconhecidos pelo Conselho Regional de Educação Física da
Bahia e de Sergipe (CREF-13) na cidade do Salvador, e destinados a todos os Provisionados do
sistema CONFEF / CREF no Estado da Bahia (profissionais de artes marciais e de atividades físicas
e esportivas em geral, porém não graduados em Educação Física).
É doutor em Psicologia e Filosofia (Cambridge International University - Inglaterra) e Doutor
Honoris Causas em Medicina Tradicional Chinesa pelas Universidade de Los Pueblos de Europa
(Espanha) e Cambridge International University – (Inglaterra) e Ciências (Universidade de Sri-
Lanka).
Apresentou programa na rádio Cultura AM – Salvador/ Bahia – nos anos de 1995 à 1996,
intitulado “Conversando sobre artes marciais”.
Coordenou e foi professor dos cursos de acupuntura, massagem oriental e quiropraxia, em nível
de extensão universitária, das UNIBA / Centro Cultural Brasil-China em parceria com a Faculdade
Montenegro de Educaçao; Faculdade São Salvador e Faculdade de Ciências da Bahia (FACIBA).
Diretor, coordenador e professor de Filosofia e Psicologia em diversas entidades de Ensino Superior
(Graduação e Pós-Graduação) na cidade de Salvador e Lauro de Freitas (Bahia).
Fundador e reitor-presidente da Universidade Livre de Terapias Psicobioenergérticas (ULTEP) e
Diretor-Geral da Escola Pao Zhe Lin de Formação Profissional, sediados em Salvador/ Bahia.