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MANEJO DE FAUNA SILVESTRE

Manejo de Fauna Silvestre

O manejo de fauna silvestre é um conjunto de técnicas que permitem o aproveitamento, de uma forma
sustentável, e a conservação das faunas silvestres. É uma ciência aplicada que se apoia na ecologia,
zoologia, botânica, etologia, geografia, ciências do solo e da medicina veterinária. Além disso, para se
realizar as análises de dinâmica populacional e outros fatores necessários para o manejo acontecer,
são necessárias fundamentações matemáticas, especialmente, a estatística.

O conceito de manejo é definido de acordo com a influência humana em um sistema ecológico, e o


controle da fauna silvestre, pode evitar ou mitigar a perda de biodiversidade. Algumas ações humanas
podem favorecer o nascimento de uma população ou controlar o número de mortos.

Dessa forma, para realizar qualquer tipo de manejo é necessário um conhecimento sobre a espé-
cie da população a ser manejada. Assim, vários questionamentos devem ser realizados antes de se
iniciar um manejo de populações.

Informações necessárias para um manejo adequado levam em consideração a biologia da espécie,


que envolve seus hábitos alimentares, comportamento, interação com outras espécies. A estrutura po-
pulacional, ou seja, o tamanho, distribuição, densidade, estrutura etária, razão sexual. Além da dinâ-
mica dessa população, a taxa de natalidade, taxa de mortalidade, imigração e emigração.

Contextualização

Com o aumento constante dos problemas ambientais e crises de biodiversidade, o manejo de popula-
ções é uma atividade que teve um grande crescimento recentemente. Dessa forma, para garantir a
sobrevivência de espécies raras e ameaçadas, o manejo é considerado a principal preocupação mun-
dial relacionada à conservação da biodiversidade. Sendo assim, muitas unidades de conservação são
criadas com esse objetivo, além do crescimento de pesquisas sobre o assunto.

História

O manejo de populações, existente desde o início da humanidade, foi aprimorado tecnicamente, em


níveis da ciência aplicada, no final do século XIX e início do século XX, uma vez que perceberam que
para manejar espécies, seja de animais ou plantas, de uma forma eficiente era necessário conheci-
mento aprofundado.

Ainda no começo do século XX, principalmente nos Estados Unidos, existiam poucas ou nenhuma lei
que impedia a caça a animais silvestres.

Os chamados “jogos de caça” eram generalizados e sem regras, e os recursos eram utilizados na
alimentação, vestimenta, decoração entre outros. Em algum momento começaram a existir políticas e
prol da proteção da vida silvestre.

Por volta da década de 1930, a profissão de “manejo de vida selvagem” foi estabelecida por Aldo Leo-
pold e alguns outros, que articulando com a ciência e tecnologia mostravam como restaurar e melhorar
o habitat da vida silvestre.

Os fundamentos institucionais da profissão vieram junto ao cargo de professor universitário em gestão


de vida selvagem, a publicação do livro “Game Management” de Aldo, o Journal of Wildlife Management
que começou a publicar, e as primeiras Unidades Cooperativas de Pesquisa da Vida Selvagem foram
estabelecidas. Além disso, muitos projetos de manejo foram planejados ao longo de quarenta anos.

Outro marco importante para o começo do cuidado com as populações e seu habitat é a Lei Federal
de Auxílio na Restauração da Vida Selvagem (também conhecida como Lei Pittman-Robertson) de
1937, que foi aprovada nos Estados Unidos.

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Essa lei foi um avanço importante no campo da gestão da vida selvagem. Colocou um imposto de 10%
sobre as vendas de armas e munições e os fundos gerados foram distribuídos aos estados para uso
em atividades de gestão da vida selvagem e pesquisa. Esta lei ainda está em vigor hoje.

Objetivos de Manejar Populações

Os objetivos para realizar um manejo de populações são variados. Podem ser, por exemplo, para
o controle biológico de uma praga, erradicação de uma espécie invasora, conservação de fauna silves-
tre ou recuperação de áreas degradadas. Assim, de acordo com Caughley os objetivos podem ser
resumidos em diferentes alvos:

aumento de uma população em declínio ou ameaçada de extinção;

na exploração de uma população para obtenção de uma produção sustentável;

na redução da densidade de uma população-problema cujo tamanho encontra-se acima do desejável.

Para definir qual o objetivo e técnicas de manejo a ser realizada, é necessário realizar levantamentos
populacionais da espécie-alvo, para adquirir dados de tamanho populacional, e dinâmica populacional.

Entretanto, o manejo também deve considerar as forças que atuam na sociedade humana, assim, não
basta apenas a opinião do cientista, são necessárias as opiniões da sociedade e órgãos governamen-
tais. Dessa forma, todo manejo deve seguir uma hierarquia de decisões, de tal forma que o fluxo flui do
geral para o mais específico: a escolha da política pública, do objetivo técnico e a da ação de manejo
necessária.

As políticas públicas, geralmente, representam a forma geral de uma decisão e elas servem para definir
algumas linhas que os profissionais podem e devem seguir no manejo de populações. Sendo assim, é
importante que existam políticas públicas claras, objetivas e responsáveis, pois a falta delas podem
comprometer o sucesso do manejo.

No Brasil, a importância da recuperação ambiental é firmada definitivamente na Constituição Brasileira


de 1988, em seu artigo 225, Cap. VI, Tít. VIII, que assegura que, para a efetivação do direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, é incumbência do Poder Público “preservar e restaurar os pro-
cessos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas”.

A Constituição preceitua ainda, em seu artigo 210 que, “para proteger e conservar as águas e prevenir
seus efeitos adversos, o Estado incentivará a adoção, pelos Municípios, de medidas no sentido: I -da
instituição de áreas de preservação das águas utilizáveis para abastecimento às populações e da im-
plantação, conservação e recuperação de matas ciliares; II - do zoneamento de áreas inundáveis, com
restrições a usos incompatíveis nas sujeitas a inundações freqüentes e da manutenção da capacidade
de infiltração do solo”.

Tipos de Manejo

Quando se trata de tipos de manejo, dois tipos podem ser citados, sendo eles o Tutelar e o de Inter-
venção.

O manejo Tutelar, também conhecido como Custodial Management, atua de maneira protetora ou pre-
ventiva, tendo como propósito a minimização de influências externas sobre determinada população e
seu habitat. Geralmente, é apropriado para Unidades de Conservação, nos quais é importante proteger
os processos ecológicos ou ainda para casos de espécies ameaçadas.

O manejo de Intervenção, conhecido como Manipulative Management, intervém mudando o número da


população. Essa alteração pode ser feita direta ou indiretamente, por meio de modificações na dispo-
nibilidade de alimento, habitat, quantidade de predadores, entre outros.

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Esse caso é indicado para populações em excesso ou declínio. Dentro desse tipo de manejo existem
alguns sistemas utilizados: o extensivo (ou Harvesting), o semi-intensivo (ou Ranching) e o intensivo
(ou Farming).

O extensivo, ou harvesting, se baseia em um manejo nas condições naturais e aplica técnicas com
baixa ou nenhuma intervenção do animal ou do seu meio. É um método antigo e usado por povos
primitivos e indígenas, uma dessas técnicas é a rotação de campos de caça. A caça é feita com o
esgotamento de uma ou mais espécies em um terreno que é possível de ser delimitado, posteriormente
essa área tem seu uso vedado para que possa se recuperar e a caça passa a ocorrer em uma nova
área. A mesma técnica é usada em manejo de florestas. Como exemplo, pode-se citar o manejo de
cervídeos nos EUA e de capivaras nos Lhanos.

Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris).

O semi intensivo, também chamado de ranching, já possui uma intervenção ativa e direta sobre a es-
pécie ou sobre o ecossistema que habita. Em sua maioria incluem uma parte na natureza e outra em
um cativeiro ou laboratório.

Muitas vezes é necessário que a população da espécie cresça além do que seria seu tamanho natural
e, para isso, é necessário manipular os fatores ambientais, reduzindo competidores e/ou predadores,
melhorando ou estimulando a oferta de alimento, controlar parasitas e enfermidades, entre outras in-
tervenções. Um exemplo desse sistema é o manejo de jacaré-de-papo-amarelo na argentina e de que-
lônios na Amazônia.

Quelônios no Tabuleiro de Monte Cristo, Pará

O intensivo, ou farming, ocorre em um confinamento, onde esses ambientes não podem ser conside-
rados naturais, podendo ser seminaturais ou completamente artificiais. Sendo assim, existe um elevado
grau de intervenção, contando com o controle majoritariamente a total das condições ambientais. Como
exemplo o manejo de jacaré-do-papo-amarelo no Brasil.

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Jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris) no Pantanal.

Exemplos

Manejo de Crocodilianos na Venezuela e no Brasil

As espécies de crocodilianos foram alvo de vários sistemas de exploração e conservação ao longo dos
anos e apresentam alguns casos extremos que se tornam exemplos práticos da aplicação de técnicas
de manejo manipulativas, o harvesting, ranching e farming.

O sistema de ranching, manejo semi-intensivo, baseou-se na coleta de ovos na natureza e a posterior


engorda dos filhotes em cativeiro. Para adotar essa técnica, é necessário que haja previamente o es-
tabelecimento de uma taxa de retirada que seja sustentável pensando na dinâmica de crescimento da
população.

O sistema de harvest, manejo extensivo, se baseou na caça seletiva de indivíduos da população sem
que ela entrasse em declínio. No exemplo dos jacarés, essa técnica tem como objetivo a exploração
direta do produto oferecido pelos jacarés, como sua carne e pele, diferentemente do sistema anterior,
que envolve a criação e produção.

Dessa forma, esse sistema é adotado também mediante um monitoramento da população para que as
retiradas não afetem sua dinâmica de crescimento significativamente. Já o sistema de farming, um
manejo intensivo, foi baseado na criação e reprodução da espécie em cativeiro. O sistema busca con-
trolar fatores que possibilitem a maior produtividade possível, como alimentação, sanidade e ambiência.

Como exemplo da aplicação das três técnicas, pode-se observar o manejo de espécies de crocodilianos
feitos na Venezuela e no Brasil e as suas consequências tanto na população do animal quanto na
economia do país. O sistema de harvesting foi aplicado eficientemente na Venezuela e é provavelmente
o melhor exemplo de aplicação da técnica. Na década de 60, ocorria no país uma espécie de crocodi-
liano de pouco valor no mercado externo, o babo venezuelano (Caiman crocodilus), mas, devido a sua
abundância, a espécie era capaz de suportar uma devida taxa de caça.

Porém, a intensa caça causou um considerável declínio populacional, até que em 1972 o governo Ve-
nezuelano se viu obrigado a proibir sua caça e criar um programa de monitoramento. Nesta época, o
Brasil apresentava-se em uma situação muito semelhante à da Venezuela, com o jacaré-do-Pantanal.
Dessa forma, a caça seletiva dessa espécie seria a melhor opção de manejo.

Porém, como a caça foi proibida em 1967, os métodos de farming e ranching foram adotados. Entre-
tanto, com o baixo valor do couro e o alto custo da engorda dos filhotes e das instalações, os empre-
endimentos que faziam esse manejo acabaram tendo limitações demais para continuar funcionando.
Além do prejuízo econômico, o fim desses empreendimentos causou a soltura dos indivíduos, que fo-
ram introduzidos como espécies exóticas no sul e sudeste onde criadouros funcionavam.

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Projeto Caboclinho da Mata

O Projeto Caboclinho da Mata é um exemplo na aplicação do manejo intensivo, que tem o foco de
ajudar na reprodução de animais silvestres. O projeto tem como objetivo o estabelecimento de técnicas
que permitam o manejo racional da fauna local, dentro do conceito de sustentabilidade que envolve
critérios sociais, econômicos e ambientais. A proposta é de promover o cruzamento e assim aumentar
o número de animais, diminuindo as chances de extinção da espécie causada por endogamia.

Paca (Cuniculus paca)

Cateto (Pecari tajacu)

Cabe lembrar que o método de planejamento pode variar de acordo com a realidade da região, da
unidade de conservação e conforme a concepção e entendimento do órgão gestor e da equipe que
está atuando.

O criatório está inserido em uma área de 819 hectares, sendo 30 de área antropizada, 10 de capoeira
e o restante de floresta primária, e composto por três recintos com a capacidade para receber 60 pacas,
30 capivaras e 30 catetos.

Assim que os animais chegam ao criatório, eles são pesados e identificados. A cada três meses são
novamente pesados e submetidos a exames de sangue e para detectar a presença de parasitas.

A equipe observa ainda o peso ao nascer, ganho de peso mensal, número de partos ao ano, de crias
por parto, primeiro cio pós-parto e intervalo entre eles.

O resultado das pesquisas referentes ao plantel, à alimentação, comportamento reprodutivo e dos re-
cintos de criação foram editados no livro com o título: “Pacas e Capivaras: criação em cativeiro com
ambientação natural”, publicado em 2008.

O trabalho de soltura das pacas é acompanhado por órgão de controle (IBAMA) que continua o moni-
toramento depois dos animais soltos nas ilhas florestais.

Os dados coletados por esse projeto são necessários para que se conheça o comportamento e a bio-
logia dessas espécies e assim seja possível traçar os planos de manejo sustentável ou em programa
de conservação.

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