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No conjunto complexo das manifestações culturais populares do

Maranhão, o tambor de crioula se destaca como uma das modalidades


mais difundidas e ativas no cotidiano da capital e do interior do Estado,
fazendo parte das atividades festivas, da sensibilidade musical e da
definição da identidade cultural dos maranhenses.

Não se pode precisar com segurança as origens históricas do tambor


de crioula. No entanto, por meio de documentos impressos e da
tradição oral, é possível associá-lo a práticas lúdico-religiosas
realizadas ao longo do século XIX por escravizados e por seus
descendentes, como forma de lazer e de resistência à escravidão.
O tambor de crioula é praticado como divertimento e em devoção a
São Benedito, o santo católico negro, cuja mitologia cristã o associa à
resistência de escravizados. Não há local definido, nem época pré-
determinada para as apresentações. No entanto, elas são mais
frequentes durante o Carnaval e nas festas de bumba-meu-boi.

A dança é praticada, em geral, só por mulheres. A coreografia é


bastante livre e variada, com passos miúdos e rodopios, conduzidos
pelo ritmo dos tambores.
Os músicos se reúnem minutos ou até mesmo horas antes de suas
apresentações para acender a fogueira. Às vezes, lambuzam as mãos
de cachaça para não sentirem dor ao batucar no tecido em brasa.

No centro da roda, a coreografia se completa na punga (ou umbigada),


movimento no qual elas tocam o ventre umas das outras, em um gesto
entendido como saudação e convite. A dançarina que recebe a punga
vai ao centro e dança para cada um dos tocadores, repetindo os
movimentos até procurar uma substituta.
A tática de afinar instrumentos através do fogo é uma tecnologia
ancestral comum em muitas percussões africanas.
Em temperatura ambiente, o tecido do tambor fica fofo e o som sai
meio abafado. Com o aquecimento e a dilatação, o couro fica esticado
e a sonoridade melhora. Para conferir a afinação, os percussionistas
vão tocando nele, atras das chamas, ouvindo o timbre.

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