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Tributação

PASSO 3
Finanças Públicas

PASSO 3

Sumário

Tributação
3.1 - Propostas de um Modelo de Sistema Tributário................................................................................ 3.3
3.2 - Conceito de Tributação Ótima.............................................................................................................3.4
3.2.1 - Base Teórica da Tributação Ótima................................................................................................... 3.5
3.2.2 - Usos da Teoria da Tributação para a Composição do Sistema Tributário........................... 3.9
3.3 - Regras para o Imposto sobre o Consumo.......................................................................................... 3.9
3.4 - Composição Qualitativa do Sistema Tributário..............................................................................3.14
3.5 - Características das Regras e Sugestões para a Implantação de um Sistema de Ótima........3.16
3.6 - Uma Avaliação da Aplicabilidade das Sugestões da Tributação Ótima...................................3.17
3.7 - O Trade-OFF entre Trabalho x Tempo Livre (lazer)........................................................................3.19
3.8 - Solução Proposta pela Teoria da Tributação Ótima......................................................................3.19
Passo 3

3.1 - PROPOSTAS DE UM MODELO


DE SISTEMA TRIBUTÁRIO
Stiglitz (2000) e Musgrave e Musgrave O ponto comum mais analisado e
(1980) possuem uma definição do que comentado pelos referidos autores é o
vem a ser um Sistema tributário dese- de que tal sistema deve acarretar custos
jável, com base em estudo de Ozaki e administrativos baixos. Ambos frisam
Biderman (2004). Veementemente esta ideia. Há um ônus
administrativo do sistema tributário em
Para Stiglitz (2000), o sistema mencio- vigência, no sentido de que o contri-
nado caracteriza-se pela: buinte, em função da complexidade da
legislação tributária, contrata terceiros
Eficiência Econômica sendo que não profissionais (advogados, contadores,
deve interferir na alocação eficiente de entre outros) para ajudar o pagante
recursos; quanto à questão do pagamento de
impostos, especialmente para que se
Simplicidade Administrativa em que
pague menos imposto. Tais gastos são
deve ser fácil e relativamente barato de
um tipo de peso morto, ineficiência,
se operar;
decorrente da complexidade da legis-
Flexibilidade, ou seja, deve responder lação tributária. Um sistema tributá-
rapidamente (de preferência automati- rio mais simplificado poderia reduzir o
camente) a mudanças Econômicas; ônus administrativo, visando o aumento
da eficiência do sistema, diminuindo o
Responsabilidade política, em que os peso morto.
indivíduos devem saber o quanto estão
pagando e recebendo visando atender Ocorre que, muitas vezes, conforme
à transparência; atesta a Teoria das finanças públicas, o
ganho em eficiência é obtido em detri-
Justo, sendo que os indivíduos iguais mento da Eqüidade. Há que se bus-
devem ser tratados da mesma forma e car o equilíbrio entre eficiência econô-
com garantia de que quem pode mais mica e equidade, porém, tributo é um
paga mais. dos trade-offs presentes em tal teoria
(Musgrave e Musgrave, 1980 e Stiglitz,
2000).

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3.2 - CONCEITO DE TRIBUTAÇÃO ÓTIMA

Segundo Lagemann (2004), conce- Tal teoria trata principalmente da tribu-


ber um novo sistema tributário, num tação de bens e serviços e da renda,
processo de reforma, é influenciado por analisando esta renda em suas funções
diversos fatores, sendo que um deles, o de cunho econômico e redistributivo e as
primeiro, é o sistema tributário existente, tais origens encontram-se num artigo de
que carrega a experiência do passado e Ramsey (1972) que analisa um sistema
que tende, pela inércia, a determinar o tributário indireto na cobrança, voltado
futuro. Outro fator, em segundo lugar, à tributação de bens e serviços, verifi-
é o efeito da demonstração, que é a cando as condições de sua otimização,
cópia da experiência de outros países, lembrando que, embora fossem agre-
com preferência aos economicamente gadas importantes contribuições nos
desenvolvidos. O terceiro fator são os anos 1950, só no início dos anos 1970 é
sistemas tributários racionais, as constru- que se cristalizou uma linha de pesquisa
ções teóricas caracterizadas pela lógica mais direcionada (Lagemann, 2004).
das suas propostas. O quarto fator, que
condiciona também os três primeiros a Segundo Lagemann (2004), a publica-
ele, constitui a realidade política, econô- ção de Diamond e Mirrlees (1971) deu a
mica e social. orientação para a análise da otimização
da tributação dos bens e serviços, indire-
Para Lagemann (2004), a teoria da ta, e o artigo de Mirrlees (1971) traçou as
tributação ótima é uma das teorias que, linhas básicas para a tributação ótima
junto com a tributação eqüitativa (justa) da renda (Lagemann, 2004).
e da troca fiscal, oferece a base teórica
para a construção dos modernos siste-
mas tributários no mundo.

3.4
Passo 3

3.2.1 - Base teórica da tributação ótima, segundo Lagemann


(2004)
Para Lagemann (2004), a tributa- como, por exemplo, através da evasão
ção ótima tem como objetivo oferecer à tributação. Do outro lado, está o con-
sugestões de ordem qualitativa que tribuinte-pagador, que percebe a tribu-
sejam consideradas marcos de orien- tação como uma carga que não apenas
tação por ocasião da concepção e da lhe retira uma parte do poder aquisitivo,
implantação de sistemas tributários óti- diminuindo seu bem-estar, mas também
mos, tais como o tax design, ou da alte- o obriga a mudar decisões econômicas
ração de sistemas tributários já existen- para minimizá-la.
tes, tais como o tax reform.
Continua o autor, informando que a
O mencionado autor Lagemann tributação ótima tem o pressuposto de
(2004) informa que a tributação deve que, geralmente, as habilidades natu-
ser examinada de acordo com suas fun- rais, tais como o quociente de inteligên-
ções econômica de influir na alocação cia ou habilidades inatas dos indivíduos
dos recursos para a produção de bens e (uma característica que mede o poten-
serviços e redistributiva, de afetação da cial de adquirir renda) constituem a única
distribuição da renda entre os indivídu- característica de diferencial pessoal dos
os. A função administrativa, de fornecer contribuintes. Mirrlees (1971) e Sheshinski
os recursos necessários ao financiamen- (1972) têm por pressuposto que as habi-
to do gasto público e política, de rela- lidades inatas são a única característica
cionar os gastos à receita tributária, são diferenciadora dos indivíduos. Fair (1971)
consideradas como executadas. e Atkinson (1973) acrescentam o nível de
ensino na análise. Por isso, o “modelo do
Existe uma problemática que é a con- trabalho” só analisa os efeitos da tribu-
traposição entre o fisco e o contribuinte. tação sobre a oferta de habilidades ina-
Ela está embasada num suposto posi- tas seria, assim, uma tributação equi-
cionamento contraditório entre o fisco e tativa ou justa, idealmente adequada
o contribuinte. Para Lagemann (2004), às condições pessoais dos contribuintes.
por um lado, o fisco procura encontrar Esse objeto de tributação, entretan-
a fonte mais perfeita de tributação de to, não é possível de ser diretamente
cada um dos contribuintes que não seja observado pelo fisco, ou sua observa-
por este influenciável e que elimine, por- ção implica custos excessivamente altos.
tanto, qualquer forma de adequação

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Outras características naturais Importante ressaltar que, para Lage-


observáveis a custos relativamente mann (2004), a decisão quanto às
baixos, como, por exemplo, idade e sexo, alternativas de tributação se realiza,
são descartadas, devido às concepções portanto, com base nessas informa-
do que seja equânime (Lagemann, ções secundárias a respeito das habili-
2004). dades naturais: renda, consumo, patri-
mônio, dentre outras, cuja observação
Para Lagemann (2004), como a solu- pode ocorrer, supostamente, sem custos.
ção ideal, que é o tributo lump sum, Assim, essas fontes de informações
não é possível, procura-se a segunda observáveis podem e devem servir, simul-
melhor solução, denominada de second taneamente, como fontes de tributação.
best em que o fisco deve se satisfazer Em relação ao contribuinte, essa teoria
com o controle indireto dos contribuin- considera que a tributação provoca dois
tes, por meio de indicadores. Conside- efeitos: o efeito-renda e o efeito-substi-
rando que as habilidades naturais se tuição. O efeito-renda é definido como
expressam através dos níveis diferentes a retirada de uma parcela do poder
de qualificação do fator trabalho e, com aquisitivo do contribuinte. Essa redução
base nele, em diferentes valores de salá- no poder de compra é encarada como
rios brutos, a administração fazendária sendo da própria natureza da tributa-
pode se orientar, para se aproximar ao ção e deve ser assumida como certa
máximo da base tributável ideal, por de ocorrer. O efeito-substituição, por
informações mais fáceis de serem levan- sua vez, origina-se da reação do contri-
tadas, como, por exemplo, a renda efe- buinte, que procura sonegar a carga do
tivamente auferida e o consumo. Desses tributo, e é determinado pela alíquota
indicadores, espera-se obter uma descri- marginal efetiva. No caso dos bens, ele
ção, a mais exata possível, das habilida- se apresenta através da alteração na
des inatas de cada indivíduo pagante estrutura de preços relativos ocasionada
de tributos.

LUMP SUM
Impostos de montante fixo (lump sum tax) são aqueles cujo pagamento independe
das ações dos agentes e por isso são considerados pela teoria clássica como a melhor
forma de tributação do ponto de vista de eficiência na economia. Pelo fato de não
serem distorcivos, por definição, estes impostos não têm efeitosubstituição, só apre-
sentando efeito-renda. Fonte: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/
TDs/td_0811.pdf Acesso em: 06/03/2019

3.6
Passo 3

pela tributação, fazendo com que o completamente neutro em relação às


bem tributado fique mais caro, afetan- decisões de mercado. Cabe aos respon-
do também a alocação de recursos, na sáveis pela construção desse sistema,
medida em que a quantidade procu- como desafio, encontrar a fórmula
rada do bem encarecido vai caindo, para obter-se a menor perda possível
nos moldes da curva de Laffer. Essa de bem-estar (Lagemann, 2004).
necessidade de mudança na decisão
econômica original, ocasionada pela Para Lagemann (2004), partindo da
tributação, é percebida pelo contri- hipótese de uma determinada renda,
buinte como uma perda de satisfação desconsiderado o problema dos falsos
ou de bem-estar. Esse efeito é classi- sinais, coloca-se a tarefa de reduzir as
ficado como uma carga desnecessá- perdas de bem-estar social, desneces-
ria, uma carga adicional, o chama- sárias sob a ótica da alocação, por
do excess burden, o peso morto que parte do contribuinte, considerando
deve ser o quanto possível evitado, em também o princípio da equidade, para
termos de perda de eficiência (Lage- arrecadar uma determinada receita
mann, 2004). tributária. O procedimento consiste em
uma comparação dos diversos tipos de
O tributo mais justo, ou a única tribu- impostos, segundo seus efeitos econômi-
tação neutra, que mantém a lógica cos, e de uma escolha dos instrumentos
de preços sem alterações, é a de valor tributários, especialmente as alíquotas,
único (lump sum), eliminando, assim, com base em uma função de bem-estar
totalmente o excess burden, ou seja, social, cujo objetivo é reduzir as perdas
a perda de eficiência decorrente do de utilidade, mais especificamente, da
efeito substituição. Entretanto, como carga adicional, considerando também
essa forma de tributação é tida como a justiça distributiva; portanto, formal-
inaplicável, à exceção do flat tax, con- mente, trata-se de um problema de
clui-se que nenhum sistema tributário é otimização sob restrições.

EXCESS BURDEN
O “peso morto”, ou excess burden, é a perda de eficiência associada a um imposto
específico. Toda vez que o governo aumenta ou cria impostos, uma quantidade de
trocas que antes era realizada na economia deixa de ser realizada e é essa redu-
ção nas trocas econômicas que caracteriza o peso morto do imposto (Biderman,
2004; Lagemann, 2004).

3.7
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Entre os elementos básicos da concep- A função objetivo desse problema de


ção da tributação ótima estão (Lage- otimização trata da função de bem-es-
mann, 2004): tar social, definida pelo nível de utilida-
de individual, que deve ser maximizada.
A-O modelo econômico aplicável ao
país, com as relações técnicas e as hipó- No caso da tributação de bens, é crível
teses de comportamento, para captar a derivar sugestões para atingir os objetivos
realidade econômica de forma quantita- determinados com base numa definição
tiva; adequada da função de bem-estar a ser
maximizada. Quando se supõe o consu-
B- A determinação dos objetivos e a midor padrão (todos os consumidores são
respectiva otimização de uma função de iguais sob o ponto de vista econômico), o
preferências; objetivo é a eficiência econômica e quan-
C - O espaço de possíveis soluções, que do a função de bem-estar for composta
será determinado e descrito pela escolha pela agregação de preferências individu-
de variáveis instrumentais e pelo cálculo ais diversas, ou se ela for definida como
de valores instrumentais adequados, por uma função social, são integradas ao
parte do tomador de decisões. problema as questões relativas à distri-
buição. Como restrições desse problema
Para a construção do modelo econômico,
de otimização, contam: uma dada receita
são usados os conceitos, os modelos e os
tributária; e as reações dos contribuintes
métodos analíticos da teoria do equilíbrio
à implantação dos impostos (Biderman,
geral, sendo que o ponto de partida é a eco-
2004; Lagemann, 2004).
nomia do bem-estar, na qual se aceitam
as seguintes hipóteses: o mercado está em O espaço de solução é definido pelas va-
concorrência perfeita, há mercados per-
riáveis instrumentais consideradas na aná-
feitos (sem externalidades), há desecono-
lise, ou seja, pelos impostos previstos para
mias ou ganhos de escala constantes das
constituir o sistema tributário e pela confi-
empresas, existem taxas decrescentes de
guração prevista desses impostos. Em que
substituição do consumo dos consumido-
pese que o imposto de valor único seja
res, ressalta-se a informação perfeita e possi-
considerado como o ideal, ele fica fora
bilidade de serem introduzidos pelo governo
das soluções oferecidas, pois se trata de
tributos ou transferências do tipo lump sum,
buscar a segunda melhor solução. Nor-
menos ineficientes. Mas, como os instrumen-
malmente, estão em discussão os tributos
tos da solução ideal — os tributos tipo lump
sobre o consumo e sobre a renda (Bider-
sum — não são aplicáveis, devido à falta de
man, 2004; Lagemann, 2004).
informações, a teoria do second best con-
ta (Biderman, 2004; Lagemann, 2004).

3.8
Passo 3

3.2.2 - Usos da teoria da tributação para a composição do siste-


ma tributário e para a configuração de cada imposto

Inicialmente, será analisado o imposto que permitem uma alíquota única para
sobre o consumo diante da eficiência, o imposto sobre o consumo. Quanto
no caso de uma economia com um con- à análise da estruturação do imposto
sumidor representativo e, depois, diante sobre a renda, primeiramente, será con-
da eficiência e da justiça distributiva, no siderada a renda do trabalho, no qual
caso de uma economia com um núme- se supõe, inicialmente, a aplicação de
ro múltiplo de consumidores (Biderman, uma estrutura de alíquota marginal
2004; Lagemann, 2004). não-linear e, posteriormente, de uma
alíquota marginal linear. A avaliação
Em segundo lugar, será a vez da com- da conveniência de tributar a renda do
posição do sistema tributário, em que capital antecede o registro das carac-
se destacará a relação entre os impos- terísticas das regras para os impostos e
tos sobre o consumo e sobre a renda no as sugestões para sua implementação
questionamento a respeito dos casos (Biderman, 2004; Lagemann, 2004).

3.3 - REGRAS PARA O IMPOSTO


SOBRE O CONSUMO
Para a derivação do imposto ótimo sobre o consumo, valem as seguintes pressupo-
sições:

A - Escalas constantes de produção das empresas e preços constantes para os produ-


tores praticarem;
B - Os consumidores podem adquirir e vender bens, sendo que a venda é tratada
como um consumo negativo; e
C - Para os consumidores, existe a possibilidade da livre escolha entre o trabalho e o
tempo livre ou lazer (Biderman, 2004; Lagemann, 2004).

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O início da análise é a Regra de Ramsey, complementares ao tempo livre ou a


que caracteriza a situação ótima do eles substitutos (Ramsey, 1972).
sistema sob o ponto de vista da efici-
ência, representada pela modelagem Essa regra é explicada da seguinte
e hipótese que considera a economia forma: a tributação de todos os bens,
com um único consumidor ou também inclusive o tempo livre, equivale, no
com consumidores com os mesmos campo da tributação do consumo, ao
gostos e hábitos. No ótimo econômico, tributo ótimo de valor único, considera-
vale a seguinte regra de que, alteran- do como ideal. Porém, como já mencio-
do-se todas as alíquotas em um mesmo nado, essa forma é considerada como
percentual, as quantidades de equilíbrio impossível de ser concretizada, dada
dos bens tributados alteram-se igual- sua inaplicabilidade. A razão dessa
mente em um mesmo percentual ao explicação reside no fato de que, nesse
longo de uma curva de demanda de caso, o tempo livre não é observável e,
renda compensada. Dessa forma, para por isso, impossível de ser alcançado
minimizar o excess burden, as alíquo- pela tributação de forma direta. Com
tas devem ser definidas de forma que os procedimentos acima, consegue-se
a posterior variação percentual nas tributá-lo, mas, de forma indireta, por
quantidades dos bens tributados seja meio dos outros bens, conforme o seu
a mesma. O essencial nessa regra é relacionamento com ele, ou seja, segun-
reconhecer que um sistema tributário é do o grau de complementaridade com
avaliado basicamente pela alteração o tempo livre. Como, por meio desse
das quantidades relativas e que, neste procedimento, não se alcança uma
foco, estão, portanto, as alterações nas tributação integral do tempo livre, ela é
quantidades provocadas pelo efeito- considerada como solução second best
-substituição (Ramsey, 1972). (Ramsey, 1972).

Iniciando-se com a Regra de Ramsey e ALÍQUOTA


empregando-se um modelo com, pelo
1. Percentual ou valor que serve de
menos, um bem não tributado, no caso
base para o cálculo de um impos-
o tempo livre, destaca-se, com o objetivo
to. 2. Parcela estabelecida pelo va-
da eficiência, a regra da complemen-
lor percentual de algo, sendo paga
taridade ao tempo livre que informa
como imposto. Fonte: https://www.
que os bens complementares ao lazer
dicio.com.br/aliquota/ Acesso em:
devem ser tributados mais pesada-
06/03/2019
mente do que os bens pouco ou menos

3.10
Passo 3

A regra de complementaridade ao Em outras palavras, quanto menor a


tempo livre é a regra mais importan- reação do contribuinte aos preços (mais
te, que deriva da teoria da tributação inelasticidade), medida pela variação
ótima para o imposto sobre o consu- nas quantidades demandadas de deter-
mo. As outras regras são apresentadas minados bens devido ao aumento dos
e caracterizadas como casos especiais. preços, tanto mais pesadamente esses
Isso vale, por exemplo, para a regra do bens devem ser tributados, sendo que
inverso da elasticidade em que, se, além bens elásticos são menos afetos a tal
da livre escolha entre tempo de traba- tributação do que os inelásticos (Bider-
lho e tempo livre, ainda for admitido man, 2004; Lagemann, 2004).
que as demandas pelos diversos bens
tributáveis sejam independentes entre si, Como, geralmente, os bens com baixa
chega-se à regra do inverso da elastici- elasticidade-preço da demanda são
dade, que informa que, sob circunstân- identificados como de primeira necessi-
cias de eficiência, os bens com a menor dade, no caso de remédios, por exemplo,
elasticidade-preço da demanda devem e os com alta elasticidade-preço, como
ser submetidos a uma alíquota maior, bens de luxo, fica aparentemente fácil
por exemplo, temos remédio e alimen- concluir que a tributação ótima sugere
tos da cesta básica (Biderman, 2004; uma tributação socialmente injusta.
Lagemann, 2004).
Figura 3.1 – Elasticidade e suas aplicações

3.11
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Uma observação mais acurada, porém, Até aqui, foram apresentadas as


possibilita uma mudança dessa hipoté- regras, quando o princípio considerado
tica conclusão, em que, na hipótese de é apenas o da eficiência. Caso, além
elasticidades cruzadas iguais a zero, da eficiência, forem considerados os
uma elasticidade-preço direta relati- aspectos relativos à justiça distributiva,
vamente alta só pode ser interpretada as regras acima enunciadas alteram-
como uma alta capacidade de substi- -se. Diamond (1975, p. 336) generali-
tuir o tempo livre. Resta, pois, a pergun- za a Regra de Ramsey, válida para a
ta que questiona se os bens de primei- economia de uma pessoa, para o caso
ra necessidade são bens substitutos do de uma economia hipotética de inúme-
tempo livre? Uma resposta positiva ras pessoas, concluindo que a mudan-
provocaria um conflito entre as regras ça percentual, que é aproximada, nas
da complementaridade ao tempo livre e demandas, que são compensadas,
do inverso da elasticidade, se não fosse depende da utilidade social marginal
possível apontar o exagero e irrealidade da renda, sendo ela positiva ou negati-
da hipótese subjacente à última regra. A va para bens demandados, em média,
elasticidade cruzada dos bens de primei- por indivíduos com utilidades sociais
ra necessidade não é nula, sendo que marginais de renda acima ou abaixo da
os consumidores de mais baixas rendas média (Lagemann, 2004).
observam os diversos preços dos bens
e estão sempre prontos para a substi- Lagemann (2004) menciona que, em
tuição de um bem pelo outro, depen- tal generalização, são considerados
dendo do comportamento dos preços dois critérios para a decisão relativa às
(Biderman, 2004; Lagemann, 2004). alíquotas de impostos sobre bens que
são a elasticidade cruzada dos bens
A hipótese ainda mais irreal da adição tributados em relação ao tempo livre e
das funções utilidade amplia a regra do “os valores da distribuição em relação
inverso da elasticidade e, nesse caso, às diferenças nos padrões das deman-
chega-se à regra segundo a qual, consi- das” dos indivíduos. Essa generaliza-
derando apenas a questão da eficiên- ção provoca uma alteração na regra
cia, os bens com elasticidade-renda da do inverso da elasticidade, que é deri-
demanda maior deveriam ser menos vada sob a hipótese da independência
tributados, o que caracteriza a injustiça da demanda entre os bens tributados e,
(Biderman, 2004; Lagemann, 2004). nesse caso, a alíquota ainda é influen-
ciada pela elasticidade, no aspecto

3.12
Passo 3

da eficiência, porém a consideração o caso especial de demandas indepen-


concomitante do aspecto distributivo dentes, indivíduos com a mesma função
sugere uma maior tributação dos bens utilidade, e função de bem-estar social
que são consumidos por indivíduos com como uma soma não-ponderada das
renda e volumes acima da média. Dessa utilidades individuais, sugerindo-se que
forma, com a ação simultânea de duas a alíquota sobre determinado bem seja
forças com sentidos inversos na forma tanto mais alta quanto mais esse bem
de tributação sugerida, permanece a for consumido pelos indivíduos com
questão sobre qual efeito irá predomi- rendas mais altas (Lagemann, 2004).
nar, estabelecendo-se um dilema entre
a justiça na distribuição da carga e, Embora derivadas sob diversas hipóte-
logo também, na distribuição da renda ses, todas as regras até aqui menciona-
e a questão da eficiência. das sugerem um sistema com alíquotas
diferenciadas, que, em princípio, prevê
A solução a ser escolhida depen- uma alíquota para cada bem. Com o
de das características da demanda e questionamento do se e quando uma
das funções utilidade individuais e da alíquota única para todos os bens seria
função social. Existem, pois, várias solu- ótima, sob as óticas da eficiência e da
ções, dependendo das características distribuição, obtém-se, portanto, uma
efetivas da demanda e de quais funções resposta a respeito da composição
utilidade individuais e função social qualitativa do sistema tributário (Lage-
existem na realidade sendo que, para mann, 2004).

O brilhante artigo de Frank Ramsey de


1927, modestamente intitulado “Uma
contribuição para a teoria da tribulação”,
é um marco na economia das finanças
públicas. Quase meio século depois, através
de outros trabalhos, seu trabalho pode ser
considerado o lançamento do campo da
taxação ótima e a revolução do financia-
mento público. Ramsey, em sua curta vida,
deu contribuições pioneiras a dois outros
campos: a teoria do crescimento ótimo e a
teoria da probabilidade subjetiva

3.13
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3.4 - COMPOSIÇÃO QUALITATIVA


DO SISTEMA TRIBUTÁRIO
Tendo a hipótese de uma oferta flexí- renda. Alterações na oferta de trabalho
vel do trabalho, tanto a composição e, por conseqüência, na renda não alte-
qualitativa ótima do sistema tributário, rariam a estrutura dos gastos com bens.
envolvendo impostos diretos e indiretos, Dessa forma, não existe a possibilidade
quanto a otimização de um imposto de o imposto sobre o consumo compen-
sobre consumo com uma alíquota única, sar as perdas de bem-estar acarreta-
estas opções dependem das caracterís- das pela tributação da renda. Ou seja,
ticas das funções utilidade individuais e uma alíquota única do imposto sobre
do tipo de instrumento disponível, que o consumo para todos os bens é ótima
é, no caso em análise, a estrutura das nas hipóteses da existência de uma
alíquotas do imposto sobre a renda tributação ótima da renda, de forma
(Lagemann, 2004). não-linear, e da fraca separabilidade
das funções do bem-estar entre o tempo
As colunas mestras do sistema tributário livre e os bens de consumo tributados
são, em princípio: (Lagemann, 2004).
I - O imposto sobre a renda; e
Entretanto, se as possibilidades de estru-
II - O imposto sobre o consumo. turação da alíquota do imposto sobre a
Porém, seria possível abrir mão comple- renda forem limitadas, então, sugere-se
tamente de uma tributação indireta, se a implantação de um imposto sobre
a estrutura das alíquotas do imposto o consumo com alíquotas tanto mais
sobre a renda fosse ótima e também diferenciadas quanto maiores forem as
as funções utilidade dos indivíduos restrições. As características que devem
fossem fracamente separáveis entre ser consideradas nas funções utilidade
a oferta de trabalho (tempo livre) e os individuais, para que ainda se possa
bens de consumo tributados. Have- manter o imposto sobre o consumo
ria, então, um imposto de renda com com alíquota única, se afastam, porém,
estrutura de alíquota não-linear, onde mais da realidade, na medida em que
a alíquota marginal está perfeitamente mais cresce o número de limitações a
sob controle, quer dizer, podendo ser que fica sujeita a estrutura da alíquota
adequada às bases de cálculo individu- do imposto sobre a renda (Lagemann,
ais, no caso de uma tributação ideal da 2004).

3.14
Passo 3

No Quadro 3.1 consta que, se a estru- com apenas uma alíquota e sem faixa
turação de alíquotas do imposto sobre de renda mínima isenta, então, para
a renda for não-linear (sem restrições), possibilitar o emprego de uma alíquota
conhecida pela total liberdade de fixa- única para o imposto sobre o consumo,
ção da alíquota, então, as funções é necessário que se acrescentem às
utilidade dos indivíduos precisam apre- funções utilidade dos indivíduos mais
sentar apenas uma característica, qual duas características, além da fraca
seja, a fraca separabilidade entre o separabilidade entre o tempo livre e os
tempo livre e os bens tributados, para bens tributados; elas também devem ser
que um imposto sobre o consumo com homotéticas nos bens de consumo tribu-
uma alíquota única seja ótimo. Porém, tados e isso significa elasticidade-renda
quando a estrutura de alíquotas do igual à unidade, além de serem idênti-
imposto sobre a renda ficar rígida, cas para todos os indivíduos (Lagemann,
2004).

Tabela 3.1 – Casos de um imposto ótimo sobre o consumo com alíquota única

ESTRUTURA DE ALÍQUOTAS DO IMPOSTO SOBRE A RENDA

DISCRIMINAÇÃO Estrutura de alíquota mar-


Estrutura de alíquotas
ginal linear (faixa de renda Alíquota média constante
marginais não-linear (sem
mínima isenta e alíquota (tributação proporcional) (1)
restrições)
marginal constante)

1 - Fraca separabilidade entre 1 - Fraca separabilidade entre o


o tempo livre e os bens tribu- tempo livre e os bens tributados
tados. 2 - Homotéticas nos bens de
Características das 1 - Fraca separabilidade
2 - Quase homotéticas nos consumo tributados (elasticida-
funções utilidade dos etre o tempo livre e os bens
bens de consumo tributados de-renda igual a um; Curva de
indivíduos tributados.
(Curvas de Engel lineares, não Engel passando pela origem).
obrigatoriamente passando 3 - Idêntica para todos os
pela origem). indivíduos.

Fonte: Lagemann (2004)

Em resumo, as hipóteses para excluir a implantação de um imposto sobre o consumo,


tal como o imposto sobre a renda ideal, com estrutura de alíquotas marginais não-
linear ou de um imposto sobre a renda - dentre outras, funções utilidade idênticas
de todos os indivíduos de uma sociedade - são irrealistas. Logo, ambos os impostos
ocupam uma posição importante dentro do sistema tributário idealizado (Lagemann,
2004).

3.15
Finanças Públicas

3.5 - CARACTERÍSTICAS DAS REGRAS E


SUGESTÕES PARA A IMPLANTAÇÃO
DE UM SISTEMA DE TRIBUTAÇÃO ÓTIMA
Deve-se ressaltar novamente que a Até uma alteração inesperada das regras
teoria da tributação ótima estabelece pode ser julgada como iníqua, pelo
regras para uma composição ótima simples fato de ela tomar do indivíduo
do sistema tributário e para uma o direito a um regramento estável do
estruturação ótima dos impostos no caso homem em relação aos recursos. Sendo
de um tax design, de uma concepção a reforma tributária um processo, cresce
do sistema tributário normativa. Essas entre os contribuintes a incerteza quanto
mesmas regras, entretanto, devem à direção das medidas que seguirão,
servir de orientação para uma reforma o que é menos observável no caso da
tributária, que é reconhecida, muitas concepção do sistema tributário. Como
vezes, como a única possibilidade de a compensação de todos os perdedores
alterar o sistema tributário vigente, já é ótima, mas não constitui uma solução
que apenas pequenas correções são prática, são sugeridas as prorrogações
possíveis de ser politicamente aprovadas. para a entrada em vigor da lei, sendo
Em oposição à concepção de realização que, na própria lei pode estar prevista a
única, a reforma constitui um processo sua vigência, a partir de uma data mais
dinâmico, realizado por etapas por longínqua e a redução na intensidade
meio de mudanças no sistema tributário das alterações (Lagemann, 2004).
vigente, por isso, ela coloca alguns
problemas para a sua efetivação.
A “amarração” a uma determinada
alocação histórica dos recursos significa
a primeira dificuldade que envolve
alterações nas regras com o objetivo
de elevar a eficiência e de melhorar
a distribuição da renda que podem
prejudicar drasticamente a igualdade
horizontal (Lagemann, 2004).

3.16
Passo 3

3.6 - UMA AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE


DAS SUGESTÕES DA TRIBUTAÇÃO ÓTIMA

O start da teoria da tributação ótima nômica inicial, já que, agora, a capa-


é a análise da minimização da carga cidade de extrair utilidade dos bens e
tributária excedente e da maximização do tempo livre é predominante e, em
do bem-estar. O foco original está na conseqüência, ao invés de uma alíquota
eficiência. A distribuição é introduzida, única, conclui-se pela diferenciação das
normalmente, na literatura, como uma alíquotas do imposto sobre o consumo.
fase posterior da análise (Lagemann, Tal nova variável, ou a consideração de
2004). outras diferenças entre os indivíduos,
porém, traz problemas de ordem ope-
A concepção de justiça vertical, ou jus- racional e dificulta a ordenação segun-
tiça entre desiguais, na distribuição da do a teoria do bem-estar (Lagemann,
renda, torna-se explícita na função de 2004).
bem-estar social a ser maximizada atra-
vés da ponderação das funções utilida- Há conflito entre os objetivos da efici-
de dos indivíduos. As possíveis variações ência alocativa e a justiça horizontal
nas formas de distribuição da carga tri- na análise da tributação ótima, que só
butária são ilimitadas. Também as nor- poderia ser amenizado através de con-
mas de distribuição das diversas teorias dições que, em princípio, são impossíveis
de sacrifício estão incluídas na análise de serem atendidas. Torna-se compre-
e são consideradas (Biderman, 2004; ensível a razão pela qual as diferenças
Lagemann, 2004). entre os indivíduos, que originam e agra-
vam o problema da justiça horizontal,
Um tratamento horizontal dos indivídu- são encaradas pela tributação ótima
os de forma justa (justiça entre os iguais) como determinadas de forma exógena
exige que sejam consideradas não ape- na análise (Lagemann, 2004).
nas as diferentes capacidades, mas
também as diferentes preferências indi- A crítica à tributação ótima dirige-se
viduais entre todos. A consideração das também a seus argumentos econô-
diversas preferências, segundo os críti- micos e teóricos, ou seja, a economia
cos, retira o significado da posição eco- do bem-estar, à sua presumida ordem

3.17
Finanças Públicas

política e à validade e à aplicabilida- desconsidera os custos administrativos,


de de suas sugestões. Esta presumida a incerteza e os objetivos macroeconô-
ordem política é criticada pelos adeptos micos, como a estabilização conjuntural
da public choice, da “nova política eco- e o estímulo ao crescimento; e ela ana-
nômica” e da teoria de tributação consti- lisa apenas o lado das receitas do orça-
tucional. Para eles, o valor da tributação mento. Por outro lado, falta-lhe oferecer
ótima limita-se apenas à elaboração de uma diretiva geral para o imposto sobre
afirmativas com consistência. Também o consumo e o imposto sobre a renda
consideram que ela tem pouco a suge- (Lagemann, 2004).
rir para a prática da política tributária,
seja pela ausência de uma análise do Tal limitação se justifica pela sua carac-
processo político de uma reforma tribu- terística metodológica, que busca as
tária, seja pela implícita suposição do soluções second best. Lembra-se, então,
modelo político irreal do “príncipe escla- que a teoria do segundo melhor oferece
recido”, que conhece todas as necessi- uma quantidade incontável de tarefas,
dades de seu povo. Tal procedimento correspondendo ao número de desvios
é interpretado como uma quebra de das condições do ótimo (Lagemann,
lógica em que a teoria da tributação 2004).
ótima encararia o homem na atividade
econômica como um egoísta, um maxi- A aplicabilidade das sugestões da tri-
mizador da utilidade própria, mas, na butação ótima sofre restrições, porque
atividade política, como um benfeitor, ela não tem a oferecer respostas que
maximizando o bem-estar social (Lage- possam ser transformadas de forma
mann, 2004). direta numa política tributária concreta.
Salienta-se que a mesma não objetiva
Quanto à validade das suas suges- apresentar um sistema tributário com
tões, existem claros limites a considerar, definições numéricas, deixando essa
em que os objetivos consistem apenas tarefa ao agente de tributação (Lage-
na alocação e na distribuição; a teoria mann, 2004).

3.18
Passo 3

3.7 - O TRADE-OFF ENTRE


TRABALHO X TEMPO LIVRE (LAZER)
A hipótese aceita pela teoria da tributação ótima de que existe uma livre escolha
entre o trabalho e o tempo livre também é questionada pela crítica e considerada
não como uma regra, mas como um caso de exceção, válida apenas para eventuais
horas-extras dos trabalhadores e para um número relativamente pequeno de pro-
fissionais autônomos. A regra da complementaridade ao tempo livre, por sua vez,
é considerada não operacional, primeiro, porque existem dúvidas quanto à existên-
cia de bens tipicamente complementares ao tempo livre e, segundo, porque, se sua
existência fosse aceita, ela não seria percebida da mesma forma pelos diferentes
agentes econômicos, impedindo que se conseguisse uma classificação útil (Biderman,
2004; Lagemann, 2004).

3.8 - SOLUÇÃO PROPOSTA PELA


TEORIA DA TRIBUTAÇÃO ÓTIMA
A diferenciação da alíquota, de acordo Simulações de aplicação da diferencia-
com as transações individuais, é consi- ção das alíquotas para uma determina-
derada no Relatório Meade (Meade, da realidade, como, por exemplo, a da
1978, p. 43-4) como uma lacuna para Índia, foram realizadas por Ahmad e
desvios em favor dos diversos grupos de Stern (1984), utilizando como variáveis
interesse, sendo que a sua aplicação, principais a avaliação da justiça na dis-
por isso, é desaconselhada por ocasião tribuição da renda e o cálculo de reações
da reformulação do sistema tributário de demanda e, como resultado, eles
inglês (Lagemann, 2004). salientam, por exemplo (Stern, 1984, p.
374-5), que, se forem considerados os
Enfim, Hettich e Winer (1985, p. 430-1) custos sociais marginais, é preferível ele-
informam que a quantidade de informa- var o imposto sobre a renda do que o
ções necessárias para a implementação imposto indireto e que um imposto sobre
dessas regras é uma barreira importan- o consumo é mais adequado para os
te para se chegar às sugestões quanti- estados conseguirem arrecadar receitas
tativas, mais úteis para a sua aplicação adicionais do que um imposto específico
(Lagemann, 2004). sobre o consumo aplicado pelo governo
central (Lagemann, 2004).

3.19
Finanças Públicas

Para a concretização das alíquotas do A ideia é montar o sistema tributário e


imposto sobre o consumo, Stern (1987, configurar os impostos de forma a aten-
p. 34-6) também analisa as vantagens der a esses princípios, considerando os
administrativas de uma alíquota única diferentes comportamentos da deman-
e indica-se, no caso de países relativa- da de bens e serviços e da oferta de
mente desenvolvidos e de países em fatores de produção e de valoração da
desenvolvimento, a preferência por um distribuição de renda. O resultado é um
imposto sobre o valor adicionado com trade off entre as soluções eficientes e
três alíquotas (com alíquota nula, por justas (Lagemann, 2004).
exemplo, para bens de primeira neces-
sidade; e as alíquotas de 10% e 20%) e O sistema tributário sugerido tem como
a um imposto específico, com alíquotas bases os impostos sobre o consumo e
maiores, para fumo, álcool e petróleo sobre a renda. Para a configuração do
(Lagemann, 2004). imposto sobre o consumo, tem-se como
resultado mais premente a regra da
Portanto, as regras formuladas, carac- complementaridade, segundo a qual os
teristicamente qualitativas, só podem bens complementares ao lazer devem
ser encaradas como regras normativas ser tributados mais pesadamente do
que exigem do agente de tributação que os bens pouco ou menos comple-
uma adequação ao contexto, como, por mentares ao tempo livre ou deles substi-
exemplo, os custos administrativos para tutos (Lagemann, 2004).
a sua aplicação (Lagemann, 2004).
Para o imposto sobre a renda do tra-
Enfim, para a teoria da tributação óti- balho, quando existe a possibilidade de
ma, a solução ideal consiste na tributa- se aplicarem alíquotas adequadas a
ção em um valor único, mas, por uma cada nível de renda, opta-se pela apli-
questão de falta de informações a res- cação de alíquotas marginais nulas nos
peito das habilidades naturais dos indi- extremos inferior e superior, mas não se
víduos, ela se caracteriza pela busca da define a alíquota — que pode chegar a
segunda melhor solução, tendo como até 100% — a ser aplicada nas faixas de
referência os princípios da eficiência e renda intermediárias.
da justiça (Lagemann, 2004).

3.20
Passo 3

No caso da alíquota marginal linear, A aplicabilidade das sugestões de ca-


única, a alíquota ótima correlaciona-se ráter qualitativo dessa teoria exige do
positivamente com a aversão à desi- agente de tributação uma adequação
gualdade de renda e com a necessida- destas sugestões ao contexto e à reali-
de de receita e negativamente com a dade específica. Assim, por exemplo,
elasticidade compensada da oferta de no caso da tributação sobre o consu-
trabalho. Quanto ao imposto de renda mo que, em princípio, deveria ocorrer
do capital, este não necessita ser parte através da adoção de alíquotas dife-
constituinte do sistema tributário ideal renciadas para cada bem, na prática,
em todos os casos (Lagemann, 2004). por causa dos custos administrativos
excessivos, permite-se que seja realiza-
da através de um número reduzido de
alíquotas (Lagemann, 2004).

3.21

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