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BELO HORIZONTE
2023
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 3
2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................................4
2.1 Literatura sobre eficiência de tributação......................................................................... 4
2.2 Literatura sobre teoria da escolha pública, rent seeking e grupos de interesse........... 7
3. SISTEMA TRIBUTÁRIO ATUAL E SUAS FALHAS.....................................................8
4. PROPOSTA DA REFORMA............................................................................................ 11
5. DIFICULDADES PARA APROVAÇÃO DA REFORMA.............................................16
6. CONCLUSÃO.................................................................................................................... 18
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................... 19
1. INTRODUÇÃO
1
(OCDE, 2022)
offshore, eram incididos por alíquota de 15% de Imposto de Renda. No entanto, essa taxação
só ocorria sobre os recursos que voltavam ao Brasil. Ou seja, uma vez fora do país, essa renda
poderia nunca ser tributada de fato.
Tal efeito regressivo da estrutura tributária brasileira - concentrada na taxação do
consumo - é aprofundado pelas políticas de isenção tarifária existentes. Se, à priori, a
desoneração de impostos deveria servir o propósito de aliviar os encargos tributários sobre a
população de baixa renda, na prática, essas políticas tendem a fazer com que o governo deixe
de arrecadar mais com os ricos que com os pobres, acarretando um custo elevado para o
Estado ao mesmo tempo em que apresentam pouquíssimo poder redistributivo (BARREIX et
al., 2012; SILVEIRA, 2023). Silveira (2023) denuncia, por exemplo, que a atual prática de
desoneração da cesta básica concede um equivalente a 15 reais para cada pessoa de baixa
renda, ao mesmo tempo em que isenta de taxação produtos alimentícios comumente
consumidos pelas classes mais ricas. Ademais, o governo tem gastos substanciais com
deduções tarifárias com grupos sociais que teriam condições para arcar com tributos mais
altos. Nessa linha, isenções concedidas à compra de agrotóxicos se destacam como um dos
maiores gastos tributários do governo brasileiro, junto à desoneração da folha de pagamentos,
desoneração da cesta básica e o SIMPLES. Outrossim, abatimentos de imposto de renda por
gastos em saúde privada somam cerca de 50 bilhões de reais por ano, caracterizando uma
dedução consideravelmente recessiva, dado que são as classes mais ricas que utilizam tais
serviços. Portanto, fica evidente como o sistema tributário brasileiro não só é penoso com
relação aos mais pobres, como é conivente com os mais ricos, caracterizando um regime
diametralmente oposto àquele que seria necessário para a redistribuição de renda em um país
desigual como o Brasil.
Para além de se distanciar do princípio da equidade, o atual sistema tributário
brasileiro está longe de ser eficiente. Essa questão é marcada pelo efeito de cumulatividade
dos impostos do país, o que ocorre quando as bases de incidência são atingidas por mais de
um tributo. Isso ocorre principalmente com os impostos indiretos - como ICMS, ISS, IPI,
PIS e Cofins - trazendo um caráter contencioso ao processo e o contínuo repasse desses
impostos para o consumidor. A cumulatividade prejudica a produtividade nacional como um
todo, visto que distorce a alocação de recursos por meio da dificuldade ou impossibilidade de
aproveitamento de créditos tributários por parte dos contribuintes. Essa situação gera um
desequilíbrio no sistema, prejudicando a competitividade das empresas no mercado nacional
e internacional, já que muitas vezes elas acabam arcando com custos tributários maiores do
que deveriam, afetando sua capacidade de precificação e investimento.
Além disso, outra falha causada por esse sistema é a competição interestadual. Como
o ICMS é cobrado nos Estados onde a mercadoria é produzida (ou seja, na origem), os
Estados usam o tributo como meio de atrair investimentos para seu território - mediante
incentivos e benefícios fiscais - fazendo com que haja circulação de mercadorias entre
Estados com 27 legislações diferentes, e cada um dos 5.570 municípios têm regras
particulares de ISS, o que trás a tona o problema da falta de unidade na tributação de bens e
serviços. Ademais, essa falta de unidade evidencia também a possibilidade iminente de
corrupção por meio de benefícios fiscais. Por fim, a chamada “guerra fiscal” ocorre quando
municípios começam a competir pela partilha de algum bem lucrativo produzido na região,
como por exemplo, a competição pelos royalties do petróleo no litoral norte de São Paulo e
na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
4. PROPOSTA DA REFORMA
Dado esse contexto do atual sistema tributário brasileiro, este tópico irá mostrar como
a reforma tributária vem sendo organizada e evidenciar as principais mudanças, visto que é
uma reforma complexa e ainda está em processo de mudanças constantes no texto, portanto
ainda irá passar por diversas discussões e aprovações no meio político e em todo processo
institucional para a sua aprovação ou não. Os detalhes presentes nas linhas abaixo a respeito
das mudanças propostas pela reforma foram obtidas da reportagem da Agência Brasil
“Entenda a Reforma Tributária Aprovada pela Câmara”, escrita por Máximo (2023).
Contextualizando assim, depois de três décadas de discussão sobre o tema, a Câmara
dos Deputados aprovou no dia 7 de Julho de 2023 a primeira fase da reforma tributária e a
reformulação da tributação sobre o consumo, entretanto, é preciso que isso ainda seja
aprovado pelos senadores. Essa Proposta de Emenda à Constituição (PEC), caso aprovada no
Congresso Nacional, simplifica e unifica os tributos sobre o consumo e representa apenas a
primeira etapa da reforma. O texto em vigor unifica duas PECs que tramitam nos últimos
anos, uma na Câmara e outra no Senado (PEC 45/2019 que propõe a adoção do CBS e do
IBS e a PEC 110/2019 que propõe um IBS dual, um federal e outro subnacional).
A principal mudança com a Reforma Tributária 2023 será a extinção de cinco
tributos, que juntos representaram quase 38% da arrecadação em 2021. Dentre estes estão os
tributos federais: Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (Cofins) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Estes tributos
serão substituídos pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), o qual será arrecadado
pela União e com isso o governo espera acabar com as alíquotas diferenciadas para vários
setores.
Outra importante mudança da reforma proposta será a substituição de cinco tributos
(IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) por um imposto sobre Valor Adicionado (IVA) dual, Imposto
sobre Bens e Serviços (IBS) e um Imposto Seletivo. De forma mais detalhada os principais
pontos são:
● NOVO IBS: imposto a ser cobrado no local de consumo dos bens e serviços, com
desconto do tributo pago em fases anteriores da produção que substituirá o ICMS
(Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e o ISS (Imposto sobre
Serviços)
○ Uma parcela desse imposto será gerida pela União e outra por estados e
municípios; 2
○ Haverá uma sobretaxa sobre os produtos e serviços que prejudiquem a saúde
ou o meio ambiente;
○ Alíquota padrão e outra diferenciada para atender setores como o da saúde;
○ A Zona Franca de Manaus e o Simples manteriam suas regras atuais;
○ Outras exceções serão aplicadas em setores com regimes fiscais específicos:
operações com bens imóveis, serviços financeiros, seguros, cooperativas,
combustíveis e lubrificantes.
De forma resumida o CBS abrange os impostos federais, enquanto o IBS abrange os impostos
estaduais e municipais, e ambos estão unificados no IVA - Imposto sobre Valor Agregado
(MÁXIMO, 2023).
Já os impostos que não representam de forma tão significativa para arrecadação do setor
público também terão algumas mudanças com suas diversas especificidades, bem como
mudanças na forma do gasto público:
2
Que será fiscalizado e administrado pelo Conselho Federativo, composto pelas Fazendas estaduais e
municipais que atuarão para garantir a distribuição dos recursos conforme o princípio do destino, a unicidade da
regulamentação do imposto e a ágil devolução dos créditos aos contribuintes.
possível também que os carros elétricos paguem alíquotas menores (MÁXIMO,
2023).
Por fim, alguns alterações que foram incluídas de última hora na reforma tributária e que é
necessário levantar:
● Autorização para estados e o Distrito Federal criarem tributo local sobre produtos
primários e semielaborados para financiar investimentos até 2043;
● Ampliação da imunidade tributária para templos de qualquer custo, incluindo também
suas organizações assistenciais e beneficentes;
● Produtos e insumos aquícolas, atividades desportivas e cibersegurança terão alíquota
reduzida de 60% do IVA;
● Retomada do programa emergencial de retomada do setor de eventos (Perse);
● Isenção ou alíquota zero para reabilitação urbana de zonas históricas e de reconversão
urbanística;
● Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais, criado para manter benefícios,
também compensará montadoras e fabricantes beneficiárias do Programa Rota 2030,
que será prorrogado até 2032;
● Obrigatoriedade para que o Ministro da Fazenda compartilhe informações, inclusive
protegidas por sigilo fiscal, para o Senado calcular alíquotas de referência
(MÁXIMO, 2023).
Por fim, em relação às alíquotas e ao tempo de transição, está previsto que ele se
inicie em 2026 e termine em 2032 com os impostos atuais sendo extintos em 2033 para que
assim não haja prejuízos na arrecadação dos Estados e municípios. Pelo cronograma, é
previsto que em 2026, haverá uma alíquota teste de 0,9% para a CBS e de 0,1% para o IBS.
Já em 2027, PIS e COFINS são extintos e a CBS será totalmente implementada. A alíquota
do IBS permanece a 0,1%. No período de 2029 e 2033, deve haver uma redução gradual das
alíquotas do ICMS e do ISS e elevação gradual do IBS, até a sua integralidade em 2033. De
forma agregada, é esperado um IVA que varia de 25% a 27,5%.
Porém a transição de cobrança de impostos da origem para o destino deve acontecer
em 50 anos, de 2029 até 2078. É previsto também a criação de um Fundo de Compensações
de Benefícios Fiscais, no qual o objetivo é garantir os benefícios tributários já negociados
pelos estados e que devem acabar em 2032, sendo um total de recursos no montante de
R$160 Bilhões. Bem como a possibilidade de criação de outro, o Fundo de Desenvolvimento
Regional para compensar o fim da guerra fiscal, uma vez que os estados irão perder a
possibilidade de reduzir a alíquota do ICMS para atrair investimentos. Ele terá aportes de
R$8 bilhões em 2029 e R$40 bilhões a partir de 2033 para projetos de desenvolvimento
locais. Os critérios de distribuição do fundo ainda estão em discussão.
Mais recentemente, em 22 de novembro de 2023, o senado aprovou também uma
proposta de nova tributação para fundos exclusivos e offshores, que propõe, entre outros
aspectos, alíquotas anuais (semestrais para exclusivos) de no mínimo 15% sobre os
rendimentos dos fundos, mesmo se o dinheiro permanecer no exterior. Dessa forma, espera-se
que essas políticas reduzam a regressividade do sistema, em conjunto, evidentemente, com a
reforma tributária proposta.
5. DIFICULDADES PARA APROVAÇÃO DA REFORMA
Este trabalho visou apresentar uma breve discussão sobre a reforma tributária em
curso no Brasil, contrastando as concepções daquilo que a literatura considera como um
regime tributário ideal com as práticas tributárias em vigor no país. O atual contexto nacional
é marcado por um sistema amplamente regressivo que onera demasiadamente as famílias
mais pobres, por meio de uma a carga tributária extremamente dependente de tributos que
incidem sobre a produção e a circulação de bens e serviços, ao mesmo tempo em que não há
uma progressividade relevante e justa na tributação da renda, fazendo-se imprescindível uma
reforma tributária pautada nos princípios de equidade e eficiência.
Em meio a esse panorama, mostramos, de maneira geral, que a proposta de reforma
dos impostos indiretos tem potencial de tornar o sistema mais eficiente, ao unificar uma série
de impostos em um único imposto sobre bens e serviços (IBS), o que reduz o problema da
cumulatividade e da distorção de preços. Todavia, face às pressões de grupos de interesse e
da influência conservadora do poder judiciário, estruturas que beneficiam classes mais ricas
permanecem, transpondo, ao novo regime tributário, injustiças que já existiam no modelo
anterior. Resta, então, acompanhar a próxima etapa da reforma - que diz respeito à tributação
de rendas e patrimônio - com um olhar crítico, em busca de que se atinja um mínimo de
poder redistributivo com a nova política.
BIBLIOGRAFIA
BARREIX, A.; BÈS, M.; ROCA, J. Solving the impossible trinity of consumption taxes:
personalized VAT. Inter-American Development Bank, Washington, 2012.
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1971; 61:261-278.
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2023. "Propostas de reforma tributária dos impostos sobre o consumo no Brasil com medidas
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Cedeplar, Universidade Federal de Minas Gerais.
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Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/blog/ana-flor/post/2023/10/19/reforma-tributaria-mi
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YANO, Célio. Alíquota do IVA no Brasil será pelo menos 70% maior que a média
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<https://www.gazetadopovo.com.br/economia/aliquota-iva-brasil-sera-pelo-menos-70-maior-
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