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Direito Tributário e Contabilidade

Webinar realizado em 29 de setembro de 2020, pelo Departamento de Direito Público


(DDP) da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(FDRP/USP) e Projeto de Pesquisa "Ética e Desenvolvimento" do Programa de
Mestrado da FDRP/USP.

Palestrantes:
Amaury José Rezende – Professor Associado da FEARP/USP;
Roberto Quiroga Mosquera – Professor Doutor da FD/USP;
Alexandre Evaristo Pinto – Mestre e Doutorando (FD/USP) e Conselheiro do CARF.

Moderadores:
Alexandre Naoki Nishioka – Professor Doutor de Direito Tributário da Faculdade de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FDRP/USP), Sócio do Nishioka & Gaban
Advogados;
Guilherme Adolfo dos Santos Mendes – Professor Doutor de Direito Tributário da
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FDRP/USP).

Guilherme Adolfo dos Santos Mendes – o professor abriu o evento apresentando os


palestrantes.

Alexandre Naoki Nishioka – igualmente ao professor Guilherme, também iniciou a fala


apresentando o currículo dos palestrantes e fazendo uma breve síntese do tema a ser
tratado durante a live.

Alexandre Evaristo Pinto – o professor iniciou a fala destacando que a contabilidade


tenta capturar uma série de transações econômicas de uma empresa, para que ao final
sejam transmitidas informações fidedignas sobre a vida financeira da entidade.
O processo contábil tem como premissas três etapas fundamentais que é o
reconhecimento das transações, a mensuração e, por fim, a evidenciação por meio de
demonstrações registrais.
No mundo contábil, visando uniformizar as informações contábeis, foi realizada
uma convergência internacional das normas contábeis, com a parametrização de
demonstrações financeiras obrigatórias, para fins de facilidade na interpretação das
informações contábeis pelos usuários (investidores, credores, administradores,
governo, clientes, entre outros). De todo o modo, as normas contábeis podem ainda
variar e sofrer influências dos usuários na produção contábil, de acordo com a cultura
do país em que a norma interna é produzida.
Por mais que se expresse em termos monetários, por sofrer essas influências
subjetivas, a ciência contábil não é considerada uma ciência exata, mas sim uma
ciência social, pois as demonstrações são baseadas entre incertezas e convenções.
O professor apresentou três modelos da relação entre o lucro contábil e o lucro
fiscal, propostos pelo professor José Cassalta Nabais, para exemplificar a
aplicabilidade das normas contábeis e a tributação no Brasil, mencionado leis
comerciais, leis tributárias e até mesmo instruções normativas da Receita Federal do
Brasil, como parâmetros da aplicação dos critérios contábeis.
Questionado sobre a viabilidade da existência de normas contábeis e tributária
de forma gradual aos pequenos empresários, o palestrante esclareceu que não existe
uma válvula de passagem gradual às pequenas empresas, o que impossibilita o
crescimento dessas empresas, que encontram muitos óbices na exacerbada tributação.
Existe uma norma contábil que tenta simplificar a tributação das pequenas
empresas, como uma forma de transição gradual da tributação. No entanto, a
aplicabilidade não é suficiente para auxiliar os pequenos empresários. Um dos grandes
problemas é a prática para aplicação dessas normas, visto que é pouco conhecida no
mercado contábil. Ou seja, os custos para implementação dessas normativas acaba
inviabilizando a aplicabilidade dessa norma para os pequenos empresários.
Pergunta: como conciliar tantas alterações na contabilidade (alterações
constantes nos CPCs) com o direito tributário? Podemos conviver com tantos ajustes
no LALUR? Insegurança jurídica crescente?
Em resumo, o professor esclareceu que as muitas alterações nos últimos anos
deu azo às normas contábeis se firmarem na neutralidade, e consequentemente, pela
realização de novos ajustes (nova contabilidade).

Roberto Quiroga Mosquera – o professor iniciou a fala fazendo uma relação do direito
tributário com a contabilidade, tendo em vista que ambas as disciplinas estão
totalmente interligadas, isto porque a contabilidade é um dos elementos a se analisar
para verificar possível tributação.
Com a publicação a Lei 11.638/07, surgiu no país um conjunto de normas
visando convergir todas as normas para uma melhor visão contábil e sob a mesma
perspectiva. No entanto, o professor aduziu que as ciências são muito diferentes, por
isso a dificuldade de se ajustar e convergir com eficiência essas duas ciências.
Nesse sentido, o direito passou a ter a função de positivar as normas contábeis,
transformando-as em normas jurídicas, ou seja, normas de direito. Por isso o
surgimento de um novo ramo do direito, que é o ramo do direito contábil, que nada
mais é que o conjunto de normas contábeis positivadas pelo direito.
De todo o modo é preciso ter em mente que o direito e a contabilidade vêm
determinados fenômenos de forma diferente, porque assim exige cada uma das
respetivas ciências. Como exemplo, o que pode ser visto como patrimônio/ativo para o
direito pode ser entendido como despesa para a contabilidade.
Portanto, essa miscigenação das duas ciências precisa ser levada em
consideração para os operadores das ciências, para que seja realizado um ajuste entre
as normas.
Tanto o contador quanto o jurista precisam olhar um fato ou uma coisa,
reconhecer o quê é, mensurar o fato ou a coisa e depois evidenciar como esse fato ou
essa coisa será externado. Embora cada um enxergue de uma forma, é preciso que
ambos façam uma convergência. Isto porque, normalmente a ciência contábil privilegia
a essência sobre a forma, ao passo que o jurista, em tese, faz prevalecer a forma sobre
a essência, em razão da positivação das normas.
Uma forma de convergir as normas é fazer com que o jurista se valha da prática
contábil para efetivar as normas jurídicas e que os contadores observem as normas
tributárias para a prática dos atos contábeis.
Ao final da primeira fala, o professor concluiu que direito e contabilidade são
ciências afins, porém são normas separadas e devem ser analisadas separadamente.
Porém o direito se nutre das normas contábeis para positivá-las e torná-las jurídicas.
Por obviedade, as normas contábeis se tornam o ponto de partida da aplicabilidade das
normas jurídicas tributárias.
Pergunta: a contabilidade busca uma harmonização internacional na busca de
um padrão. Qual a expectativa para uma harmonização tributária internacional? No
contexto de um mundo globalizado e economia digital, em um futuro próximo podemos
pensar em legislações tributárias globais?
O professor disse ser utópica a existência de uma harmonização contábil
internacional. Portanto, na prática é muito difícil a existência de uma norma nesse
sentido, embora fosse o cenário ideal. De todo o modo alerta que é possível essa
aplicação em blocos econômicos.
Pergunta: seria interessante, na visão interdisciplinar, expandir os raciocínios e
as metodologias do direito contábil? Se sim, de que maneira?
O professor afirmou que hoje em dia fica muito difícil ter o conhecimento pleno
de uma ciência se a preocupação está enraizada apenas nesta ciência. Logo o direito
tributário, por exemplo, precisa ser analisado de maneira ampla, fazendo-se um estudo
de todo o contexto, buscando em outras ciências conhecimentos diferentes daquele em
que se está adaptado no exercício das funções, como por exemplo, conhecimentos
contábeis. Portanto, é importante que haja uma visão interdisciplinar das diversas
ciências existentes, notadamente com relação às normas contábeis e tributárias.

Amaury José Rezende – segundo o professor, contabilidade é a perspectiva pela qual


o usuário quer enxergar os dados e informações contábeis.
A contabilidade brasileira migrou para uma ideia de globalização e passou pelo
processo de convergência no mundo juntamente com a contabilidade vista em outros
países. A migração para o padrão contábil global tem como objetivo reduzir o custo de
capital, facilitar a geração de informações financeiras e aumentar a transparência e a
compatibilidade das informações.
A nova contabilidade nos dá uma posição mais aproximada de riqueza, dos
riscos do negócio e dos ganhos potenciais do clico de produção de um
empreendimento (interpretações e julgamentos da contabilidade).
Pergunta: Na ausência de regramento específico, os métodos e critérios
contábeis ajudam ou atrapalham a correta qualificação dos instrumentos financeiros
híbridos para fins tributários?
O professor esclareceu que não é peculiar e recorrente esse tipo de operação,
pois está basicamente reservado a pouquíssimas empresas no Brasil. Esclareceu
ainda que a complexibilidade nessa mensuração não está na alçada da contabilidade,
uma vez que a contabilidade visa apenas “fotografar” os fatos.
A saída para a contabilidade como um todo, é realizar a migração para
mecanismos de simplificação. Mas na visão do professor é algo totalmente utópico no
Brasil, tendo em vista que nossas normas contábeis e nossa legislação tributária é
extremante complexa e estamos longe de vislumbrar um cenário mais simplório.

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