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Bruno Gabriel Remígio Cansope

Samito Cândido Mazivila


Steffan Rabina Aube da Fonseca

O Sistema Fiscal Moçambicano


(Licenciatura em Gestão de Empresas com Habilidades em Gestão Financeira)

Universidade Rovuma
Lichinga
2023
Bruno Gabriel Remígio Cansope

Samito Cândido Mazivila

Steffan Rabina Aube da Fonseca

O Sistema Fiscal Moçambicano

Trabalho em grupo da cadeira


Fiscalidade a ser apresentado ao
Departamento de Ciências Económicas e
Empresariais sob orientação do MBA
Gamito Custódio

Universidade Rovuma

Lichinga

2023
Índice Geral
Lista de Abreviaturas................................................................................................................III
Lista de Tabelas..........................................................................................................................4
1. Introdução ..........................................................................................................................5
1.1. Contextualização..........................................................................................................5
1.2. Objectivos.....................................................................................................................5
1.2.1. Geral......................................................................................................................5
1.2.2. Específicos............................................................................................................5
1.3. Metodologias................................................................................................................5
2. Sistema Fiscal Moçambicano..............................................................................................6
2.1. Sistema Tributário........................................................................................................6
2.2. Reforma Tributária.......................................................................................................7
2.2.1. Principais Tipos de Reforma Tributária................................................................8
2.2.2. A Primeira Reforma Tributária de 1978...............................................................8
2.2.3. A Segunda Reforma de 1987..............................................................................10
2.2.4. A Terceira Reforma de 2002...............................................................................12
3. Actual Sistema Tributário..................................................................................................13
3.1. Eficácia do Sistema Tributário...................................................................................15
3.2. A Implementaçao do e-Tributação.............................................................................15
3.3. Os Impostos Do Sistema Tributário...........................................................................17
3.3.1. Classificação dos Impostos.................................................................................17
3.3.2. Principais Impostos do Estado............................................................................19
3.3.3. Imposto Sobre os Rendimentos das Pessoas Colectivas (IRPC)........................19
3.3.4. Imposto Sobre os Rendimentos das Pessoas Singulares (IRPS).........................21
3.3.5. Imposto Simplificado Para Pequenos Contribuintes (ISPC)..............................22
3.3.6. Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA)......................................................23
3.3.7. Imposto do Selo..................................................................................................25
4. Perspectivas Futuras do Sistema Fiscal Moçambicano.....................................................25
4.1. Medidas de Política Fiscal Advocacia e Alargamento da Rede Tributária................25
4.2. Arrecadação de Receitas ao Nível Municipal............................................................26
4.3. Arrecadação de Receitas ao Nível Descentralizado...................................................26
5. Conclusão..........................................................................................................................27
6. Referências Bibliográficas.................................................................................................28
III

Lista de Abreviaturas
AT – Autoridade Tributária de Moçambique

NUIT – Número Único de Identificação Tributária

ICE – Imposto de Consumo Especifico

IRPC – Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas

IRPS – Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares

ISPC – Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes

IVA – Imposto sobre Valor Acrescentado

PIB – Produto Interno Bruto

PRE – Programa de Reabilitação Económica

LBST – Lei de Bases do Sistema Tributário


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Lista de Tabelas
Tabela 1: Benefícios do e-Tributação......................................................................................17
Tabela 2: Taxas do IRPC Aplicáveis a Situações Particulares................................................20
Tabela 3: Taxas Aplicáveis do IRPS.......................................................................................22
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1. Introdução
O presente trabalho tem como tema o Sistema Fiscal Moçambicano, no qual abordaremos
sobre as principais reformas no sistema tributário, as características dos mesmos e os
principais impostos pertencentes a este sistema.
O novo sistema fiscal Moçambicano inclui já soluções adaptadas às novas realidades
económicas, quer através da diferenciação das regras aplicáveis em função dos tipos de
contribuintes, quer através das preocupações de integração internacional já reveladas. O
sistema está em conformidade com os padrões internacionalmente exigidos e bem enquadrado
nos países em desenvolvimento, tendo como principais fontes de receita os impostos.

1.1. Contextualização
O sistema fiscal Moçambicano possui hoje uma estrutura equiparável aos mais modernos
sistemas fiscais, apresentando uma estrutura tripartida, através da qual se tributa,
separadamente, o rendimento, o consumo e o património. Em qualquer caso, a actual
configuração do sistema fiscal moçambicano é relativamente recente, derivando da reforma
de 2002, altura em que foi totalmente reformulado o sistema então vigente e que apresentava,
ainda, um relevante matriz da pró-independência.

1.2. Objectivos

1.2.1. Geral
 Compreender a temática da fiscalidade no sistema Fiscal Moçambicano.

1.2.2. Específicos
 Apresentar as diferentes reformas do Sistema Fiscal Moçambicano;
 Vislumbrar as caracteristicas do Sistema Fiscal Moçambicano;
 Descrever os diferentes Tipos de Impostos.

1.3. Metodologias
O presente trabalho de pesquisa foi desenvolvido com a obtenção de informações teóricas
fruto de uma pesquisa bibliográfica abalizada e exaustiva, junto de autores consagrados no
tema em alusão e baseou-se na análise crítica da operacionalização dos 3 códigos de
tributação nomeadamente: o código do IVA, IRPS e IRPC usando vários indicadores tais
como, Base Tributável, Sistema Informático, Pessoal qualificado, Base legal, Cobertura
6

Nacional e coordenação fiscal, Taxas, Gestão de risco e Internacionalização e por fim a


comparação dos sistemas fiscais Português e Moçambicano.

2. Sistema Fiscal Moçambicano


Orientadas fundamentalmente à satisfação de necessidades públicas (necessidades colectivas
da sociedade organizada politicamente), o Estado necessita de obter receitas. Tais receitas
provêm prioritariamente da cobrança de tributos (prestações compulsivas, pecuniárias ou em
espécie) que podem revestir a natureza de impostos ou de taxas, ou da venda e exploração de
bens do património público (receitas patrimoniais).
Nisso segundo Correia (2019), existem três características principais ou essenciais para que se
possa enquadrar certa obrigação na noção de tributo: (i) compulsoriedade ou obrigatoriedade;
(ii) natureza pecuniária, isto é, geralmente em forma de dinheiro; e por fim (iii) o tributo não
constituí uma punição pela prática de um acto proibido.
Nesse mesmo debate Pimpão (2012), por sua vez, acrescenta dois elementos aos já
apresentados por Correia (2019), que são a legalidade instituída pela Lei, e a cobrança
mediante actividade administrativa plenamente vinculadas.

No contexto moçambicano, em conformidade com o disposto no artigo 3 da Lei n.º 2/2006, de


22 de Março, os tributos são agrupados conforme a designação que se segue: (i) os impostos
nacionais e autárquicos; (ii) as taxas, nacionais e autárquicas; (iii) as contribuições especiais,
nacionais e autárquicas; e por fim (iv) as demais contribuições financeiras estabelecidas por
Lei a favor de entidades públicas, desde que a gestão das mesmas seja da competência da
administração tributária.

2.1. Sistema Tributário


O debate sobre o sistema tributário é complexo e constantemente analisado em vários prismas
nisso para Musgrave (s/d), Apud Silva (2014), o conceito de sistema tributário é entendido
como sendo o complexo de regras jurídicas formado pelos tributos instituídos em um país ou
região autónoma e os princípios e normas que os regem.

De acordo com Passos (2014), o sistema tributário é o conjunto de impostos, taxas e


contribuições através dos quais o Estado obtém recursos para cumprir suas funções, como a
oferta de bens e serviços públicos de qualidade. Corroborando com o pensamento acima
Correia (2019), defende que o sistema tributário é o conjunto das regras destinadas a regular a
instituição, a cobrança, a arrecadação e a partilha de tributos.
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Fazendo uma análise ao debate acima evidenciado percebemos que enquanto Passos (2014),
olha para o sistema tributário como o conjunto de tributos, e Correia (2019), por sua vez
defende que o sistema tributário como o conjunto de regras que disciplinam a instituição,
cobrança, a arrecadação e a partilha de tributos, sendo que ambos autores acabam por
apresentar apenas uma parte do que é o sistema tributário, no entanto para o presente trabalho
a definição que é utilizada é a de Musgrave (s/d ), pois ela é mais abrangente e o
entendimento aceite é que o sistema tributário engloba tanto os tributos, assim como os
princípios e normas que os regem.

2.2. Reforma Tributária


Para Arvate e Biderman Apud Guilherme (2014), falar de reforma significa a necessidade de
adaptar as organizações à actual realidade de modo a acompanhar a dinâmica no contexto de
mundo globalizado. Essa reforma pode-se cingir em várias frentes, quer em termos de
recursos no geral, infra-estruturas e no tocante à legislação adequada e actualizada. Nisso para
Francisco (2018), uma reforma tributária é uma reforma do sistema tributário de um
determinado país, visando a mudança da estrutura legislativa e operativa de impostos, taxas e
outras contribuições vigentes de modo a actualizar e modernizar o sistema tributário como
forma de obtenção mais optimizada de receitas tributárias para satisfazer as necessidades
públicas.

Por sua vez Rubin e Kelly (2007), defendem que o processo de reforma tributária é uma área
da reforma da gestão de finanças públicas. Um dos elementos desta é a reforma para o
equilíbrio orçamental, que pode aparecer sobre diferentes facetas: priorização de despesas,
cortes e reforma tributária. Em outras palavras, a redução de déficits orçamentais pode figurar
como um dos objectivos das reformas na gestão de finanças públicas.

Outro ponto que tem sido avançado é abranger áreas que não são devidamente tributadas
como o comércio electrónico e outras questões relacionadas ao emergente mundo digital. Em
geral Santos (2011), defende que a implementação do e-Tributação enquadra-se na tendência
das reformas na gestão de finanças públicas, enfocando o aumento na eficiência na
arrecadação dos tributos e sua devida canalização aos cofres do Estado.

O MdE estabelece que a AT tem a responsabilidade de assegurar que os referidos mecanismos


de utilização de recursos estejam em concordância com os objectivos gerais da Reforma da
Administração Tributária e são consistentes com acções estratégicas definidas no âmbito do
MdE, entre elas:
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 Aplicação de práticas modernas de gestão na AT;


 Melhoramento na arrecadação de receitas em termos de volume absoluto e
percentagem do PIB, através da melhoria da cobrança e alargamento da base
tributária;
 Melhoramento da cobrança de impostos em termos de eficiência e justiça tributárias.
(AT 2014, p.56)
Podemos observar nessas acções uma parceria para melhor adequar a administração tributária
moçambicana ao sistema tributário internacional, pois legitimam a percepção de a simples
redução de despesas não basta para corrigir os desequilíbrios orçamentais, pelo que iniciativas
como o e-Tributação olham para o aumento das receitas.

2.2.1. Principais Tipos de Reforma Tributária


Para Orair e Gobetti (2018), é possível imaginar dois caminhos de reforma tributária. Um
primeiro seria de uma reforma radical, e também de mais difícil implementação. O segundo,
de carácter pragmático, é trilhar um processo de mudança gradual ou uma “reforma fatiada”.
É preciso, entretanto, diferenciar essa segunda alternativa da opção de se proceder a meras
mudanças pontuais.

Para Rezende (1996), estas mudanças devem ser conduzidas com firmeza e cautela para evitar
paralisias e retrocessos. O importante, agora, não é brigar por um modelo ideal, mas sim pela
instauração de um ciclo virtuoso de mudanças. Nele, o açodamento cede lugar à prudência. As
mudanças pretendidas vão sendo implementadas paulatinamente, de modo a propiciar uma
acomodação não-traumática dos distintos interesses envolvidos. À medida que as mudanças
ora propostas mostrarem seus frutos ficará mais fácil evoluir na direção de um modelo ideal
que poderia ser alcançado.

2.2.2. A Primeira Reforma Tributária de 1978


A necessidade de garantir o funcionamento dos sectores sociais, nomeadamente a saúde e a
educação trouxe para o Estado moçambicano a problemática dos meios para assegurar a
realização das receitas para os objectivos de justiça social traçados (os supracitados), cuja
exequibilidade não passa de simples sonho, mas de concretização.

Desde logo, o sistema clamava por uma Reforma. Reforma que se concretizou em Fevereiro
de 1978, que se basearia nos princípios de política fiscal definidos na Resolução 5/77 da
Assembleia Popular (AP) que incluía taxas progressivas e outras medidas que visavam a
prossecução da justiça social.
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 A Resolução 5/77 da Assembleia Popular

O princípio da legalidade e a observância das normas constantes da Constituição


evidenciavam uma profunda razão para a Reforma (Cfr. Art. 13 CRM), pois dispunha que o
rendimento e a propriedade privada estavam sujeitos a impostos progressivos, fixados
segundo os critérios de justiça social.

Ainda, a Resolução supracitada, enquadrava os impostos adoptados na política orçamental do


país assentes na política económica da “ideologia” concebida, virada à solução de problemas
sociais de todo o povo, na defesa da soberania e numa economia centralmente planificada em
que o sector público tinha papel preponderante na arrecadação de receitas do Orçamento
Geral do Estado.

 Fins da Reforma

Os objectivos que a Reforma visava assentavam, em suma, na arrecadação de receitas com


base numa fórmula que fizesse face às exigências orçamentais. Analiticamente destaca-se:

 Simplificação do processo de captação do rendimento das empresas, retendo-o no


processo de circulação de mercadorias e facturação de serviços;
 Manutenção da contribuição industrial e do Imposto Complementar apenas como
impostos correctivos;
 fusão das diversas formas de tributação do Rendimento do Trabalho num só imposto,
estabelecendo-se taxas progressivas nos termos da Constituição vigente.
 Agravamento das taxas dos impostos sobre o lucro das empresas;
 Simplificação da legislação fiscal em vigor.
Todavia, esta Reforma funcionou eficazmente até 1983 com reflexo no PIB que passou de 9%
em 1976 para 16% em 1983. Porém, em 1984, o PIB baixou para 13%, o que demonstrou a
inadequação do sistema adoptado à realidade da época. Tal situação deveu-se porque o
sistema estava concebido para vigorar num ambiente de paz e segurança social onde o
mercado oficial fosse controlado pelo Estado. A não ser assim, dos estudos feitos em 1986,
notou-se que o estado detinha 30% do controlo tributário em detrimento dos 70% que
escapavam, debilitando deste modo a economia nacional e tornando o sistema fiscal cada vez
mais ineficaz.

Aliás, houve muita indiferença nos contribuintes para com o fisco, pois a cobrança não incidia
sobre o mercado paralelo, vulgo “candonga”, daí os prejuízos enunciados, que não satisfaziam
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os objectivos preconizados na Resolução 5/77. Ainda, o agravamento das receitas públicas e a


inadaptação das receitas fiscais à economia prejudicou o Estado na aceleração progressiva do
PIB. Quer dizer, a redução da distribuição das riquezas pelo Estado por via dos impostos era
notável por seguintes causas:

 Graves distorções na estrutura económica e comercial;


 Inadequação do sistema tributário que não incidia sobre o mercado paralelo;
 Progressiva deterioração da economia por causa da guerras.

Consequências deste sistema não tardaram, pois dificultavam a captação de excedentes


gerados pelos agentes económicos, factor que fez com que do lado da procura aumentasse
cada vez mais o dinheiro e do lado da oferta, os preços oficiais não correspondessem o valor
da oferta. Por conseguinte, assistiu-se ao nascimento da candonga.

2.2.3. A Segunda Reforma de 1987


Dadas as circunstâncias da guerra e a preocupação em minimizar os seus efeitos para
melhorar o estado da economia nacional foi lançado em 1987 o Programa de Reabilitação
Económica (PRE). Este programa consistia numa série de acções nas áreas de formação dos
preços, de taxa de câmbio, alteração da política e legislação fiscal e outras estruturais e
administrativas, visando melhorar a eficiência dos agentes económicos, aumentar o
abastecimento e a produção e ajudar a restabelecer o equilíbrio financeiro.

Por assim dizer, a Reforma implicava a revogação da Resolução 5/77, cujos princípios já não
solucionavam os problemas da altura, pela Lei 3/87 que fixava novos princípios em que
deveria assentar o sistema fiscal de modo a:

 Aumentar a elasticidade das receitas em relação ao crescimento do PIB;


 alargar a base tributária.

Porém, mantiveram-se os seguintes Impostos: sobre o Rendimento de Trabalho, sobre Lucro


de Empresas, sobre as Transacções e sobre o Consumo e Importação, e alterou-se:

 A amplitude e a base de incidência dos impostos sobre o consumo e importação, com


objectivo de captar para o Estado de forma selectiva os proveitos anormais que em
condições de novos preços e salários se encontravam nas mãos de um número
reduzido de cidadãos;
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 A gravosidade do imposto sobre transacções – imposto de circulação – repercutindo


sobre o consumidor, obrigou a partilhar com o Estado uma porção maior dos lucros
realizados pelo sector comercial;
 A redistribuição da tributação dos rendimentos do trabalho fazendo com que: os
trabalhadores do estado ficassem isentos, a adaptação das taxas não desvirtuasse o
significado do aumento salarial;
 O imposto complementar que passou a incidir sobre os rendimentos de trabalho;
 A sujeição das empresas estatais ao regime geral dos impostos;

Criou-se o calendário fiscal que introduziu o sistema de cobranças antecipadas em lugar de


sistemas de correcção. Em 1988, completou-se a Reforma adoptando-se algumas medidas
adicionais no domínio aduaneiro. (DC 20/78).

 Impostos Adoptados Pela Reforma de 1987


Com a Reforma de 1987, o sistema fiscal da RPM passou a integrar: Impostos Directos e
Impostos Indirectos dos quais se destacam:

Directos:

 Contribuição industrial, incidente sobre os lucros da actividade Comercial;


 Imposto sobre os Rendimentos de Trabalho, Secção A e B;
Secção A: incidente sobre remunerações;

Secção B: incidente sobre o valor da produção e dos serviços.

 Imposto Complementar, incidente sobre o rendimento global de pessoas singulares,


rendimento de aplicação de capitais (singulares e colectivos) e sobre rendimento de
trabalho independente.

Indirectos, ou Sobre Despesas:

 Imposto de Circulação, com incidência sobre todos os bens e serviços;


 Imposto de Consumo, incidente sobre produtos nacionais e importados;
 Direitos Aduaneiros;
 Outros impostos cuja situação concreta justifica-se como a sisa, imposto do selo, o
imposto sucessório, etc.
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 Efeitos da Reforma

Em concordância com os objectivos da elasticidade das receitas em relação ao crescimento do


PIB, o nível da fiscalidade alterou a situação até então existente, passando-se da tributação
que abrangia os produtos transaccionados no mercado não oficial. Assim, os impostos de
consumo passaram a ter relevância deveras decisiva e eficaz. Contudo, os mesmos
significavam maior sacrifício do rendimento das populações.

Entretanto, a adequação do sistema de liquidação e cobrança e a correcção do calendário


fiscal como antecipação da cobrança da Contribuição Industrial através da tributação das
mais-valias nas exportações e da Contribuição Industrial provisória possibilitaram a
arrecadação em tempo útil dos impostos devidos, atestando os resultados benéficos de uma
escalonarão dos impostos no tempo e no espaço dada a pontualidade com que as obrigações
fiscais passaram a ser cumpridas. Isto atenuou o índice de evasão e contribuiu para a
correcção monetária da dívida fiscal, permitiu uma maior eficácia das cobranças e elevou as
receitas dos orçamentos provinciais.

Em jeito de conclusão, extrai-se que a lei 3/87 contribuiu para o aumento das receitas fiscais e
para a reposição de alguns princípios que orientam as leis do mercado. Dado que as posições
divergem em função da preferência de um ou outro sistema, não nos cabe aqui tomar posições
sobre a perfeição ou não de um sistema.

Este sistema vigorou até 31 de Dezembro de 2002, altura em que começou a funcionar o novo
sistema aprovado pela Lei 15/2002 de 26 de Junho, conhecida pela sigla LBST.

2.2.4. A Terceira Reforma de 2002


A terceira Reforma teve como prenúncio a introdução do IVA como substituição do imposto
de circulação que apesar de ter constituído grande fonte de receita para os cofres do Estado
fomentava o mercado informal e aumento dos preços dos produtos produzidos internamente; e
introdução do Imposto de Consumo de Produtos Específicos (ICE) que substituía o Imposto
de Consumo, que pelas características dava azo ao contrabando e evasão fiscal.

Estes novos impostos visavam alargar da base tributária, reduzir a carga fiscal no conjunto da
tributação directa, aumentar o nível das receitas fiscais, modernizar o sistema de impostos e
racionalizar o sistema de benefícios fiscais.
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como ficou dito, nem toda a legislação fiscal colonial foi revogada, restando para tal tudo o
que não fosse contrário à Constituição de 1975. Por assim dizer, assistiu-se a uma
reformulação da tributação, substituindo também a matéria do Código dos Impostos sobre o
Rendimento de 1987.

Nesta reforma de 2002, estabeleceram-se as bases para a implementação do novo sistema de


tributação do rendimento (Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares - IRPS e Imposto
sobre Rendimento de Pessoas Colectivas - IRPC) com carácter progressivo. Ainda, foram
constituídos os princípios de organização tributária no país, as garantias e as obrigações
tributárias dos contribuintes e da Administração fiscal, os procedimentos básicos de
liquidação e cobrança de impostos, o regime geral de infracções tributárias, introduz-se a
tributação das empresas pelo seu rendimento real.

Uma outra inovação consistiu na materialização dos princípios e na fixação de regras de


interpretação e integração de lacunas da mesma, no tratamento dos elementos da relação
jurídico tributária, conceituação de substituição fiscal e de retenção na fonte, garantias dos
contribuintes, apresentação das formas de extinção da responsabilidade tributária, das
modalidades de cobrança dos impostos e do conceito de infracção tributária (arts. 5, 6, 11 e
12, 17, 32, 37 e 41 todos da LBST).

3. Actual Sistema Tributário


O sistema fiscal moçambicano possui hoje uma estrutura equiparável aos mais modernos
sistemas fiscais, apresentando uma estrutura tripartida, através da qual se tributa,
separadamente, o rendimento, o consumo e o património. Em qualquer caso, a actual
configuração do sistema fiscal moçambicano é relativamente recente, derivando da reforma
de 2002, altura em que foi totalmente reformulado o sistema então vigente e que apresentava,
ainda, um relevante matriz da pró-independência. O novo sistema fiscal Moçambicano inclui
já soluções adaptadas às novas realidades económicas, quer através da diferenciação das
regras aplicáveis em função dos tipos de contribuintes, quer através das preocupações de
integração internacional já reveladas.

O sistema fiscal actualmente em vigor em Moçambique, está em conformidade com os


padrões internacionalmente exigidos e bem enquadrado nos países em desenvolvimento,
tendo como principais fontes de receita os impostos, nomeadamente o imposto sobre o valor
acrescentado (IVA), imposto sobre rendimentos de pessoas singulares (IRPS) e imposto sobre
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pessoas colectivas (IRPC) e os demais impostos que existem, mas, com uma fraca
contribuição. Embora o sistema fiscal moçambicano (SFM) esteja inserido num contexto de
padrões internacionais, existem alguns aspectos que fragilizam a transformação do que a
Constituição da República de Moçambique (CRM) e a legislação fiscal exigem na no contexto
prático, neste caso na operacionalização, porque para tornar um sistema fiscal a operar ao
mesmo nível dos padrões internacionais.

As principais características da legislação fiscal prevalecente em 2009 são essencialmente as


mesmas que o sistema de base de 2005 apresentado no capítulo anterior. Esta análise
apresenta mais detalhes e actualiza a informação para 2009.

Particular atenção é dada ao Imposto Simplificado para os Pequenos Contribuintes de 2009


(ISPC) e ao Código dos Benefícios Fiscais de 2009 (CBF).

A AT foi criada em 2006, tendo entrado em funcionamento ainda no mesmo ano. São
objectivos da AT, designadamente, assegurar a eficácia, a eficiência e a equidade na aplicação
das políticas tributária e aduaneira, garantindo uma maior comodidade para os contribuintes
no cumprimento das obrigações fiscais e criando uma maior capacidade de detecção sobre o
incumprimento e evasão fiscais. A sua criação visava fundamentalmente a melhoria no
desempenho da arrecadação das receitas do Estado, com vista à redução do défice orçamental
e, consequentemente, da dependência externa do Orçamento do Estado.

Fonte: Elaborado pelos autores com base em AT, (2018b, p. 8.)


15

Como se pode depreender que no sentido de melhorar o sistema tributário, numa perspectiva
de modernização e fortalecimento dos órgãos de gestão da administração tributária, criou-se
uma nova entidade a quem compete a administração e controlo de receitas públicas de
natureza tributária, sendo esta a AT, através dos seguintes diplomas legais:

 Lei nº. 1/2006, de 22 de Março - Cria a Autoridade Tributária de Moçambique.


 Lei nº 19/2009, de 10 de Setembro - Altera os artigos 4, 6, 8, 11 e 16 da Lei nº 1/2006,
de 22 de março que cria a Autoridade Tributária de Moçambique.
Segundo a AT (2018), durante o período 2006-2014, a economia cresceu em média 7% ao
ano, assim como foram realizadas reformas estruturais e de políticas fiscais, com destaque
para a expansão da rede de cobrança, a implementação das campanhas de educação fiscal e
aduaneira e de popularização de impostos, que concorreram para o aumento do cadastro fiscal
de 388.924 NUIT registados em 2006 para 3.254.797 NUIT, em 31 de Dezembro de 2014, a
implementação das TICs e a simplificação e harmonização da legislação e dos procedimentos,
contribuíram para este sucesso.

3.1. Eficácia do Sistema Tributário


Para a AICPA (2017), é necessária uma estrutura de princípios tributários apropriados para
analisar propostas de alteração das regras e sistemas tributários, a fim de melhor garantir um
sistema tributário eficaz baseado em uma boa política tributária. Nesta linha de pensamento,
Nguenha em seu capítulo intitulado receita pública (2016, p. 3), refere que a teoria da
tributação é alicerçada por um conjunto de princípios que devem tornar o sistema harmonioso.
Esses princípios são: a equidade, a neutralidade, a eficiência, a eficácia, a flexibilidade, a
transparência e a economia.

Por sua vez Viol (2005), defende indubitavelmente, que a finalidade primordial da tributação
é o financiamento do Estado, pois sem recursos o Estado não pode exercer suas atribuições
mínimas. É nesse sentido que a tributação dá vida ao ente público e estabelece uma relação
clara entre governante e governados. Nisso para Nguenha (2016), os Estados modernos usam
a tributação como a forma de transferência de recursos financeiros da esfera privada para a
pública para a satisfação das necessidades da colectividade.

3.2. A Implementaçao do e-Tributação


O “e-Tributação” é uma expressão adoptada pela AT para designar todo tipo de tributação
fiscal que é feito através de plataformas ou meios electrónicos. Assim, a letra “e” refere-se a
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meios electrónicos e “tributação” é referente ao cumprimento das obrigações fiscais (por


exemplo declaração de rendimentos, pagamento de imposto).

A AT está numa fase de reforma, com vista a simplificar e facilitar o processo de


cumprimento das obrigações fiscais, e consequentemente melhorar o ambiente de negócios
bem como alargar a base tributária. A administração tributária, ciente das suas
responsabilidades tem apostado no desenvolvimento de vários sistemas de informação e
comunicação visando responder os desafios que lhe são impostos pela conjuntura actual, onde
a digitalização é irreversível. O recurso as TICs para a gestão dos contribuintes e dos
impostos constitui a única alternativa viável para a criação de um ambiente de negócios
internacionalmente competitivo.

De acordo com a AT (2018), em 2007 com a aprovação do PDTI pelo CD da AT. No âmbito
das acções voltadas para o desenvolvimento tecnológico da AT recomendadas pelo PDTI,
estão pressupostas as especificações de fluxos de processos, mecanismos de segurança,
requisitos e necessidades de hardware indispensáveis para o e-Tributação. Basicamente, o
PDTI culminou, entre outros aspectos, com a aprovação do business case4 e do e-Tributação.
Nisso na sequência do PDTI, nasceram duas ferramentas nomeadamente o da JUE para a
gestão de tributos externos e o e-Tributação para gestão de tributos internos, ou seja, o e-
Tributação é concebido para ser uma plataforma electrónica de fornecimento de serviços
dentro do contexto da governação electrónica, o qual é especificamente reservado para a
tributação dos impostos internos, por oposição aos impostos do comércio internacional
cobrado pelo JUE.
17

Tabela 1: Benefícios do e-Tributação

Fonte: AT(2018)

3.3. Os Impostos Do Sistema Tributário

O critério geralmente aceite é o da repartição dos custos – carga tributária – segundo a


capacidade contributiva dos cidadãos ou empresas, avaliada pela riqueza possuída ou obtida,
consumo e venda de bens, transferências de propriedade e outras manifestações – factos
tributários – que permitam presumir que os contribuintes estão em condições económicas e
financeiras de pagar o que lhes é exigido – o imposto.

Seja qual for a respectiva base de incidência, o imposto dirige-se sempre, em última análise, a
atingir directa ou indirectamente o rendimento do contribuinte, obtido num certo período (o
“exercício fiscal”), ou acumulado na forma de património ou riqueza.

3.3.1. Classificação dos Impostos

Os impostos são classificados como:

 Impostos directos, que incidem directamente no rendimento ou na riqueza (IRPC e


IRPS e Imposto Especial sobre o Jogo);
 Impostos Indirectos, que atingem rendimento do consumidor final através do
respectivo nível de despesa (IVA).
18

Em função do tipo de taxas aplicáveis, os impostos (em particular os impostos directos)


classificam-se ainda em:

Proporcionais – quando a respectiva taxa permanece fixa, qualquer que seja o montante da
matéria colectável (é exemplo o IRPC);

Progressivos – quando a respectiva taxa é tanto mais elevada quanto maior seja o montante
da matéria colectável (é exemplo o IRPS);

Degressivos – quando o imposto é essencialmente de taxa proporcional, mas se estabelecem


taxas mais suaves aplicáveis no patamar inferior da pirâmide dos rendimentos colectáveis
(constituiu exemplo em Moçambique o antigo Imposto Profissional);

Regressivos – quando a respectiva taxa varie em função inversa do rendimento colectável (o


Imposto Pessoal Autárquico e o Imposto de Reconstrução Nacional, com as suas taxas de
quantitativo fixo.

Durante muito tempo a doutrina clássica considerou os impostos directos e, em particular, o


imposto progressivo, como os mais adequados à aplicação e realização de critérios e
objectivos de justiça social. E se examinado a esta luz, o actual sistema tributário
moçambicano teria de classificar-se como profundamente injusto, pois que cerca de 75% das
receitas fiscais totais do Estado provêm dos impostos indirectos (IVA, ICE, direitos de
importação, etc.), representando o imposto progressivo (IRPS) pouco mais de 10% das
mesmas receitas

O sistema tributário actualmente em vigor é o produto da reforma iniciada em 1998, e que tem
como pilares principais:

No âmbito da tributação indirecta (tributação da despesa), o IVA - Imposto sobre o Valor


Acrescentado, incidente à taxa geral de 16% sobre as transacções de bens e serviços
realizadas no País, incluindo a importação, substituiu o anterior imposto de circulação criado
em 1978, o qual revestia a natureza de “imposto em cascata”, com taxas diferenciadas nas
diferentes fases de comercialização, respectivamente 5% no produtor ou importador, 5% no
grossista e 10% no retalhista.

No âmbito da tributação directa dos rendimentos, o IRPC - Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Colectivas e o IRPS - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, os quais
vieram substituir o anterior sistema de tributação do rendimento instituído em 1968 e regulado
pelo Código dos Impostos sobre o Rendimento.
19

3.3.2. Principais Impostos do Estado

3.3.3. Imposto Sobre os Rendimentos das Pessoas Colectivas (IRPC)


 Regras de Incidência:

São tributadas em IRPC (sujeitos passivos):

 As sociedades comerciais e as demais pessoas colectivas de direito público ou privado


com sede ou direcção efectiva em território moçambicano, pela totalidade dos seus
rendimentos, incluindo os obtidos fora do território nacional, sem prejuízo das regras
de prevenção da dupla tributação internacional aplicáveis - convenções internacionais
estabelecidas com Portugal, Itália, Maurícias e Emirados Árabes Unidos;
 As entidades, com ou sem personalidade jurídica, que não tenham sede nem direcção
efectiva no território nacional, relativamente apenas à parcela dos respectivos
rendimentos obtidos no País e aqui não sujeitos a Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Singulares (IRPS).
Para efeitos de sujeição a imposto consideram-se obtidos no território nacional os
rendimentos imputáveis a estabelecimento estável aí situado, e bem assim os que, não se
encontrando nessas condições, sejam relativos a imóveis aí situados, ou respeitem a
rendimentos cujo devedor tenha residência, sede ou direcção efectiva em território nacional,
ou cujo pagamento seja imputável a um estabelecimento estável nele situado.

 Isenções:

São, entre outros, isentos de IRPC:

 Os rendimentos directamente resultantes do exercício da actividade sujeita ao Imposto


Especial sobre o Jogo estabelecido pela Lei n.º 8/94, de 14 de Setembro;
 As sociedades e outras entidades às quais seja aplicável o regime de transparência
fiscal acima enunciado.
 Taxas Aplicáveis:

Taxa do IRPC é de 32%, salvo nas seguintes situações:


20

Tabela 2: Taxas do IRPC Aplicáveis a Situações Particulares

Fonte: AT(2018)

 Determinação do Rendimento e da Matéria Colectável:

O exercício económico, para efeitos de tributação, coincide em regra com o ano civil, sem
prejuízo da possibilidade de ser adoptado período anual de tributação diferente, quando a
natureza da actividade o justifique, ou quando se trate de estabelecimento estável de
sociedades e outras entidades sem sede nem direcção efectiva no território nacional, na
condição sempre de o período assim adoptado dever ser mantido durante os cinco exercícios
seguintes, pelo menos.

O rendimento colectável compreende:

 O lucro das sociedades comerciais e demais entidades que exerçam a título principal
uma actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, considerando-se como
tal todas as actividades que consistam na realização de operações económicas de
carácter empresarial, incluindo a prestação de serviço;
 Os prejuízos fiscais apurados em determinado exercício, das referidas sociedades e
demais entidades, são deduzidos aos lucros tributáveis, havendo-os, de um ou mais
dos cinco exercícios posteriores.
21

3.3.4. Imposto Sobre os Rendimentos das Pessoas Singulares (IRPS)

 Regras de Incidência:

O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRPS) incide sobre o valor global
anual dos respectivos rendimentos, expressos quer em dinheiro quer em espécie, seja qual for
o local onde se obtenham e a moeda e a forma por que sejam auferidos, mesmo que
provenientes de actos ilícitos, classificados nas seguintes categorias:

 Primeira Categoria: rendimentos do trabalho dependente;


 Segunda Categoria: rendimentos empresariais e profissionais;
 Terceira Categoria: rendimentos de capitais e das mais-valias;
 Quarta Categoria: rendimentos prediais;
 Quinta Categoria: outros rendimentos.
São sujeitas a IRPS as pessoas singulares que residam no território nacional, pela totalidade
dos respectivos rendimentos, incluindo os produzidos fora desse território, e as não residentes,
pelos rendimentos aqui obtidos.

 Determinação do Rendimento Colectável:

O rendimento colectável em IRPS é o que resulta do englobamento dos rendimentos das


várias categorias auferidos em cada ano, depois de feitas as deduções e os abatimentos
previstos no respectivo Código.

Não são englobados para efeito de tributação os rendimentos aos quais seja aplicado o regime
de taxa liberatória, sem prejuízo da opção pelo englobamento.

Os rendimentos isentos entram no englobamento apenas para efeito de determinação da taxa a


aplicar aos restantes rendimentos.
22

 Taxas Aplicáveis:

Tabela 3: Taxas Aplicáveis do IRPS

Fonte: AT(2018)

3.3.5. Imposto Simplificado Para Pequenos Contribuintes (ISPC)

Foi aprovado pela Lei nº 5/2009, de 12 de Janeiro, o Imposto Simplificado para Pequenos
Contribuintes com o objectivo de reduzir custos de cumprimento das obrigações tributária,
encargos de fiscalização e controlo através das simplificação dos procedimentos, bem como
incentivar os contribuintes registar-se e pagar imposto.

Refira-se que a tributação dos sujeitos passivos no ISPC é de carácter optativo. Para os
sujeitos passivos que optem pela tributação em ISPC, sobre as transmissões de bens e
prestações de serviços que realizem não há lugar ao IVA e, sobre os rendimentos obtidos, não
incide IRPS ou IRPC.

Os sujeitos passivos de ISPC que aufiram outros rendimentos, para além de rendimentos
classificados como da segunda categoria em sede de IRPC (rendimentos empresarias e
profissionais), são tributados em ISPC apenas relativamente aos rendimentos desta categoria,
devendo os restantes rendimento serem declarados para efeitos de tributação em IRPS.

 Regras de Incidência:

As pessoas singulares ou colectivas que desenvolvam actividades agrícolas, industriais ou


comercias, bem como a indústria transformadora e a prestação de serviços (incluindo
exportadores e importadores), podem optar pela tributação em ISPC, desde que:

 O volume de negócios do ano anterior seja inferior ou igual a 2.500.000,00MT;


23

 Não sejam obrigados, para efeitos de IRPS ou IRPC a possuir contabilidade


organizada.

 Isenções:

Ficam isentos do ISPC os sujeitos passivos com um volume de negócios equivalente a 36


salários mínimos do salário mínimo mais elevado em 31 de Dezembro do ano anterior ao que
respeitam os negócios.

 Determinação do Rendimento Colectável:

O rendimento colectável é o volume de negócios realizado e apurado pelo sujeito passivo em


cada trimestre do ano civil, quando o sujeito passivo opte ser tributado em função do volume
de negócios.

 Taxas Aplicáveis:

A taxa anual do ISPC é de 75.000,00MT ou, alternativamente, a taxa é de 3% sobre o volume


de negócios desse ano.

3.3.6. Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA)

 Regras de Incidência:

O imposto sobre o Valor Acrescentado incide sobre o valor das transmissões de bens e
prestações de serviços realizadas no território nacional, a título oneroso, por um sujeito
passivo agindo como tal, bem como sobre as importações de bens.

São, em particular; havidas como transacções tributáveis:

 As prestações de serviços gratuitos efectuados pela própria empresa com vista às


necessidades particulares do seu titular, do pessoal ou, em geral, para fins alheios à
mesma;
 A utilização de bens da empresa para uso próprio do seu titular, do pessoal ou, em
geral, para fins alheios à mesma e ainda em sectores de actividade isentos quando,
relativamente a esses bens ou aos elementos que os constituem tenha havido dedução
total ou parcial do imposto;
 Salvo prova em contrário, são também considerados como tendo sido objecto de
transmissão pelo sujeito passivo os bens adquiridos, importados ou produzidos que
24

não se encontrarem nas existências dos estabelecimentos do sujeito passivo e bem


assim os que tenham sido consumidos em quantidades que, tendo em conta o volume
de produção, devem considerar-se excessivas.
 Isenções:

São isentas do imposto, as seguintes operações internas (enumeração meramente


exemplificativa):

 Transmissões de determinados bens e as prestações de serviços expressamente


indicadas no código do imposto:
 Prestações de serviços na área da Saúde e transmissões de bens com eles
correlacionadas;
 Prestações de serviços efectuadas no interesse colectivo dos seus associados por
organismos sem finalidade lucrativa, desde que esses organismos prossigam
objectivos de natureza política, sindical, religiosa, patriótica, filantrópica, recreativa,
desportiva, cultural, cívica ou de representação de interesses económicos e a única
contraprestação seja uma quota fixada nos termos dos respectivos estatutos;
 Prestações de serviços que tenham por objecto o ensino, bem como as transmissões de
bens e prestações de serviços conexas;
 Transmissões de bens e prestações de serviços no âmbito de actividades agrícola,
silvícola, pecuária e pesca expressamente enumeradas.
 Valor Tributável:

O valor tributável das transmissões de bens e das prestações de serviços sujeitas a imposto é,
em regra, o valor da contraprestação obtida ou a obter do adquirente, do destinatário ou de
um terceiro, nele se incluindo os impostos, direitos, taxa e outras imposições, com excepção
do próprio imposto sobre o valor acrescentado.

 Taxa do Imposto:
 A taxa do imposto é de 16%.

Merecem, todavia, referência:

No caso de bens ou serviços sujeitos ao regime de preços fixos, incluindo os combustíveis, a


existência de taxas reais diferenciadas, resultantes de se fazer aplicar a taxa geral do imposto
apenas sobre uma fracção do respectivo preço;
25

O regime de taxa “zero” aplicável num número limitado de isenções, nomeadamente a


actividade de exportação;

A percentagem de 5% aplicável sobre as vendas a contribuintes do “regime simplificado”,


sem direito a dedução.

 Direito à Dedução:

Para apuramento do imposto a entregar mensalmente nos cofres do Estado, os sujeitos


passivos deduzem ao imposto incidente sobre as operações tributáveis que efectuaram, o IVA
dedutível que lhes foi facturado na aquisição de bens e serviços por outros sujeitos passivos.

3.3.7. Imposto do Selo

O Imposto do Selo incide sobre os documentos, contratos, livros, papéis e actos designados
na Tabela anexa ao respectivo Código, compreendendo designadamente, entre outros:

 Actos e contratos celebrados junto de notário e outros;


 Emissão de apólices de seguro, no momento da cobrança dos prémios;
 Emissão de cartões de crédito e de débito e cheques editados por instituições de
crédito domiciliadas em território nacional;
 Emissão, aceitação ou apresentação a pagamento de letras e livranças;
 Operações de crédito, incluindo os casos em que revista a forma de conta corrente,
descoberto bancário ou modalidade equivalente;
 Operações realizadas por ou com intermediação de instituições de crédito, sociedades
financeiras ou outras entidades a elas legalmente equiparadas, sempre que dêem lugar
a cobrança de juros, prémios, comissões ou outras contraprestações semelhantes;
 Testamentos públicos, no momento em que forem efectuados, e testamentos cerrados
ou internacionais, no momento da aprovação e abertura;

4. Perspectivas Futuras do Sistema Fiscal Moçambicano

4.1. Medidas de Política Fiscal Advocacia e Alargamento da Rede Tributária


A base tributária em Moçambique continua limitada e a economia informal é grande; em
virtude da inexistência de estimativas mais recentes, o melhor palpite é de cerca de 40 por
cento do PIB. A actual crise económica também está a retirar várias empresas do mercado e
não é irrealista supor que a formalização possa aumentar. Além da capacidade, esta questão
26

também se relaciona com a vontade de pagar. O fraco contracto social entre o governo e os
cidadãos, bem como a falta de confiança de que o sistema usará os recursos contribuídos com
prudência podem explicar por que uma grande parte dos economicamente activos permanece
fora da rede tributária. A divulgação das dívidas ocultas pode ter consolidado ainda mais esta
visão. Além disso, o contexto actual em que as grandes empresas, especialmente os
megaprojectos, gozam de isenções e benefícios fiscais generosos, enquanto outras devem
pagar impostos a taxas legais elevadas, mesmo quando se verificam grandes atrasos nos
reembolsos do IVA por parte do governo, perpetua o sentimento de injustiça do sistema
tributário. Estes desafios precisam ser atendidos antes dos esforços com vista a aumentar a
rede tributária.

4.2. Arrecadação de Receitas ao Nível Municipal


Embora os municípios sejam descentralizados e tenham o mandato de arrecadar as suas
próprias receitas, a base permanece extremamente limitada. O imposto sobre a propriedade
pode gerar receitas significativas, mas a sua não implementação significa que a capacidade de
geração de receitas por meio desta fonte é limitada. Os outros impostos são o imposto sobre
veículos, embora se conteste se este imposto pode trazer receitas substanciais, dado que a
concentração de veículos se regista principalmente no sul do país. Em resultado das cobranças
de impostos limitadas a este nível, a maioria dos municípios depende fortemente de
transferências intergovernamentais.

4.3. Arrecadação de Receitas ao Nível Descentralizado


O actual projecto de descentralização não faz referência à mobilização de receitas nos níveis
descentralizados. Todavia, uma medida desta natureza pode aumentar o potencial de geração
de receita local e fortalecer a autonomia fiscal. Embora a capacidade de gerir e utilizar estes
recursos gerados pudesse melhorar a prestação de serviços à população local, seria importante
implementar o quadro institucional necessário antes de se tomar tal medida.
27

5. Conclusão
Chegado ao fim deste trabalho conclui-se que o sistema fiscal Moçambicano apresenta uma
conjuntura complexa e robusta, dinâmica e que está em constantes reformas com vista a
melhorar os desafios da nossa economia.

O Estado sendo o maior responsável pelo funcionamento dinâmico do País, é constituído com
o fim de atender o bem comum de uma sociedade organizada e como organizador máximo de
sua soberania, tem de dispor do aparelhamento indispensável e capaz de garantir à consecução
de seu objectivo de criar uma sociedade economicamente sólida e confiável. Visando atender
os interesses dessa sociedade buscar meios, para cumprir seus fins. Um dos aspectos da
soberania deste Estado, é o seu poder de penetrar no património dos particulares, exigindo-
lhes as contribuições de que necessita, desde que legalmente previstas, para ser capaz de
financiar, e sustentar sua existência e propósitos.

Até então constatou-se que Moçambique passou por três reformas tributárias desde sua
independência, sendo estas as ocorridas em 1978, 1987 e 2002.

Em qualquer caso, a actual configuração do Sistema Fiscal Moçambicano é relativamente


recente, derivando da reforma de 2002, altura em que foi totalmente reformulado o sistema
então vigente e que apresentava, ainda, uma relevante matriz da pré-independência. O novo
Sistema Fiscal Moçambicano inclui já soluções adaptadas às novas realidades económicas,
quer através da diferenciação das regras aplicáveis em função dos tipos de contribuintes, quer
através das preocupações de integração Internacional. Em geral não obstante a aprovação da
Lei de Bases do Sistema Tributário, continuou o processo de actualização das normas
jurídicas que definem o sistema tributário.
28

6. Referências Bibliográficas
AICPA. (2017).Guiding principles of good tax policy: a framework for evaluating tax
proposals. Association of International Certified Professional Accountants.

Colecção Legislação (2023). Legislação Fiscal. 3ªed. Plural Editores. KPMG.

Correia. N. (2019). Sistema Tributário Nacional. Consultoria Legislativa. Disponível em:


https://www2.camara.leg.br. Acesso em 23 de Agosto de 2023.

Delloite. (2013). Actualização e Registo de dados do NUIT no e-Tributação. Maputo: Deloitte


& Touche Moçambique Lda. Alerta Fiscal Nº 3/2013.

Ibraimo. I. O Direito e a fiscalidade, Um Contributo para o Direito Fiscal Moçambicano,


Maputo, s.a.

Manjate.J.H. (2018) Ineficiência da operacionalização do Sistema Fiscal Moçambicano.


Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto.Instituto Politécnico do Porto;

Lei nº 15/2002, de 26 de Junho. (2002,26 de Junho). Lei de Bases do Sistema Tributário.


(Legislação Fiscal).pg.22

Lei nº 2/2006, de 22 de Março. (2006, 22 de Março). Lei Geral Tributária. (Legislação


Fiscal).pg.40

Lei nº 34/2007 de 31 de Dezembro. (2007, 31 de Dezembro). Aprova o Código do Imposto


Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas. (Legislação Fiscal).pg.179

Lei nº 33/2007 de 31 de Dezembro. (2007, 31 de Dezembro). Aprova o Código do Imposto


Sobre o Rendimento de Pessoas Singulares. (Legislação Fiscal).pg.107

Lei nº 32/2007 de 31 de Dezembro. (2007, 31 de Dezembro). Aprova o Código do Imposto


Sobre o Valor Acrescentado. (Legislação Fiscal).pg.317

Robinson. C. (2018). 4 Tópicos Indispensável Para um Business Case Bem Fundamentado.


Disponível em: https://robsoncamargo.com.br/. Acesso em 23 de Agosto de 2023.

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