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UNIVERSIDADE JOAQUIM CHISSANO

Licenciatura em Administração Pública


3º Ano – período Laboral
Jornadas Científicas

Análise do Contributo da Descentralização Fiscal na Prestação dos


Serviços aos Contribuintes: Caso do Município de Maputo (2020-2022)

Nomes:
Jacinto Matsolo
Muniro Ija Ismail

Maputo, Outubro 2023

1
Índice
CAPITULO 1: INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4

1.1. Delimitação Espacial e Temporal ............................................................................ 5

1.2. Contextualização ..................................................................................................... 5

1.3. Justificativa ............................................................................................................. 6

1.4. Problematização ...................................................................................................... 7

1.5. Objectivos ............................................................................................................... 7

1.5.1. Objectivo geral ................................................................................................ 7

1.5.2. Objectivos específicos...................................................................................... 8

1.6. Hipóteses ................................................................................................................ 8

1.7. Metodologia de trabalho .......................................................................................... 8

1.7.1. Quanto a natureza da pesquisa.......................................................................... 8

1.7.2. Quanto a forma de abordagem do problema ..................................................... 8

1.7.3. Quanto aos Objectivos de pesquisa .................................................................. 8

1.7.4. Métodos de pesquisa ........................................................................................ 9

1.7.5. Técnicas de recolha de dados ........................................................................... 9

1.8. População e amostra................................................................................................ 9

1.9. Estrutura do trabalho ............................................................................................. 10

CAPITULO 2: ENQUADRAMENTO TEORICO E CONCEPTUAL ................................. 11

2.1 Enquadramento teórico ......................................................................................... 11

2.1.1 Teoria institucional ........................................................................................ 11

pressupostos básicos da teoria institucional .................................................................. 11

2.1.2 Teoria funcional ............................................................................................. 12

2.2 Debate conceptual ................................................................................................. 13

2.2.1 Descentralização fiscal ................................................................................... 13

2.2.2 Serviços públicos ........................................................................................... 14

2.2.3 Município ...................................................................................................... 14

2
CAPITULO 3: Descentralização fiscal e a prestação dos serviços aos contribuintes ............ 15

3.1 Descentralização fiscal ............................................................................................... 15

3.1.1 Sistema tributário autárquico .......................................................................... 15

3.2 Prestação de serviços aos contribuintes ................................................................. 16

3.3 Indicadores de prestação de serviços aos contribuintes .......................................... 17

CAPITULO 4: Descentralização Fiscal e a Prestação de Serviços Públicos: Caso do Município


de Maputo (2019-2020)....................................................................................................... 18

4.1. Perfil e caracterização do município de Maputo .................................................... 18

4.1.1 Organograma ....................................................................................................... 18

4.2 Estratégias de arrecadação de receitas usadas pelo conselho municipal da cidade de


Maputo. ........................................................................................................................... 18

4.2.1 Fontes de arrecadação de receitas ................................................................... 19

4.3 Desafios da descentralização fiscal na cidade de Maputo....................................... 20

4.4 Contributo da descentralização fiscal na prestação de serviços aos contribuintes do


município de Maputo. ...................................................................................................... 21

4.4.1 Prestação de serviço aos contribuintes ............................................................ 22

5. Conclusão ................................................................................................................. 27

6. Recomendações ........................................................................................................ 28

7. Referências Bibliográficas ........................................................................................ 29

3
CAPITULO 1: INTRODUÇÃO
O presente trabalho é realizado no âmbito do cumprimento dos requisitos para realização de
jornadas científicas na Universidade Joaquim Chissano (UJC), cujo tema é Análise do
Contributo da Descentralização Fiscal na Prestação dos Serviços aos Contribuintes. Caso do
Município de Maputo (2019-2021)

A partir dos anos 1980 muitos países da africa subsariana iniciaram os processos de
descentralização.1 Materializados por programas de reforma do sector publico, em muitos
casos, estas reformas podem ser vistas como uma resposta a crise do estado que se manifestou
por um lado na regulação política e por outro lado na provisão de serviços públicos.

Por sua vez, moçambique iniciou o seu processo de descentralização a partir de meados dos
anos 1990. O governo de moçambique constatou a necessidade de se criar as autarquias locais
efectivado pela lei 2/97 bem como autonomizar o processo de arrecadação de receitas e a
realização de despesas das autarquias locais conforme n° 1 artigo7 lei 2/97. Nesse sentido a
descentralização fiscal é entendida como a autonomia financeira que é atribuída as autarquias
locais.

As autarquias locais são tidas como o impulsionador do desenvolvimento local podendo


arrecadar receitas e realizar despesas. Contudo a base tributária local revela-se pouco eficaz
para a sustentabilidade das autarquias, obrigando desse modo o governo central a efectuar
transferências para os cofres locais. Ademais, na óptica de Cistac (2012:13-14) um dos grandes
desafios para que a descentralização seja realmente efectiva, é que as autarquias locais
disponham de recursos que lhes permitam realizar as suas despesas de forma sustentável.

A descentralização fiscal por um lado permite maior inovação e flexibilidade na arrecadação


de receitas locais e por outro lado permite maior compreensão das necessidades da população
local e consequentemente a definição das despesas locais a serem realizadas de modo eficaz
eficiente. Portanto é nessa prespectiva da administração financeira que o presente trabalho
analisa as dinâmicas da autarquia de Maputo, buscando compreender como as receitas são
geradas e como as despesas são realizadas atendendo as exigências do contribuinte na autarquia
de Maputo.

1
https://www.iese.ac.mz/descentralizacao-governacao-local-servicos-publicos-e-construcao-do-estado/
consultado as 10 horas do dia 19 de Agosto 2023

4
1.1.Delimitação Espacial e Temporal
A presente pesquisa centra-se na análise do Contributo da Descentralização Fiscal na Prestação
dos Serviços aos Contribuintes. O estudo foi realizado na autarquia de Maputo. A escolhe deste
espaço deve-se ao facto do presidente do conselho municipal2 ter destacado avanços
inquestionáveis na prestação de serviços de qualidade nas áreas de saneamento, emprego,
educação, habitação conforme o plano de desenvolvimento municipal 2019-2023.

Sob o ponto de vista temporal, o estudo compreende o período 2019-2021, a escolha deste
espaço deve-se ao facto de ter-se verificado avanços, nas políticas de descentralização fiscal
(Lei nº 16/2019 de 24 de Setembro e decreto 95/2020), o lançamento do Sistema de Gestão,
Planificação e Execução das Despesas Municipais denominado e-SISTAFE Autárquico , pelo
Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Informação de Finanças (CEDSIF)3. O estudo parte
de 2019 por apresentar-se apropriado para verificar o impacto do Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Local Sustentável (2017), Plano de Operacionalização das Reformas da
Descentralização (PORD) bem como avaliar impacto da Lei nº1/2018 de 12 de Junho, sobre a
reforma da descentralização, e a escolha de 2021 como limite deve-se ao facto de ser o ano
que marca o fim do cenário fiscal de medio prazo 2019-2021 do governo, Havendo deste modo
condições favoráveis para analisar o contributo da descentralização fiscal na prestação dos
serviços aos contribuintes

1.2. Contextualização
A presente análise enquadra-se no âmbito da descentralização, cuja base legal foi estabelecida
em 1997 com a aprovação da lei 2/97, a descentralização consiste na aproximação da
administração a comunidade local permitindo que a autoridade local defina as suas reais
necessidades, bem como a sua satisfação de maneira flexível, eficaz e eficiente.

Sobre o processo de descentralização importa referir que a guerra que opôs a Frelimo, no
governo desde a independência, e a Renamo é em larga medida responsável pela degradação
da situação de Moçambique, o acordo de paz entre a Frelimo e a Renamo, assinado em 1992
em Roma, é um ponto de viragem na situação de Moçambique, confirmando e consolidando
mudanças económicas e políticas fundamentais em curso já desde finais de 80. Em 1987,
Moçambique iniciou um programa de reabilitação económica. (Faria e Chichava 1999:3)

2
Disponível em https://opais.co.mz/maputo-celebra-hoje-134-anos-de-elevacao-a-cidade/ consultado aos 23 de
agosto 2023
3
disponível em https://www.mef.gov.mz/index.php/imprensa/noticias/522-financas-autarquicas-com-novo-
processo-de-gestao-e-execucao-das-despesas consultado aos 23 de agosto

5
Em 1990, a reforma da Constituição introduziu o pluralismo e a democracia multipartidária em
1994 antes das eleições gerais foi aprovada pela assembleia mono-partidária a primeira lei da
descentralização a lei 3/94, no âmbito do programa de reforma dos órgãos locais (PROL) em
curso desde 1991, que criava o quadro legal e institucional de reforma dos órgãos locais, o
PROLE suscitou vários debates na arena política devido a sua inconstitucionalidade, visto que
a constituição não previa a existência de órgãos locais, o que levou a emenda da Constituição
em 1996 através da Lei nº 9/96, de 22 de Novembro, que acomoda o capítulo destinado aos
órgãos locais, facto que culminou na aprovação da Lei nº2/97, de 18 de Fevereiro que cria as
autarquias locais e órgãos do poder local dotadas de autonomia administrativa, politica e
financeira (Faria e Chichava 1999:3)

No âmbito da autonomia financeira, foi criada a Lei nº 11/97 de 31 de Maio, que estabelece o
regime jurídico das finanças autárquicas, contudo para se adequar por um lado ao actual
Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) criado pela Lei nº 9/2002, de 12
de Fevereiro, e por outro lado ao Sistema Tributário Nacional (STN), definido pela Lei nº
15/2002, de 26 de Junho, a Lei nº 11/97 teve que ser revogada pela Lei nº 1/2008, de 16 de
Janeiro, e o respetivo Código de Tributação Autárquica (CTA), definido pelo Decreto nº
63/2008, de 30 de Dezembro. É neste contexto que se enquadra o tema em alusão, ao analisar
o contributo da descentralização fiscal na prestação de serviços aos contribuintes.

1.3.Justificativa
O processo de autarrcização em moçambique é irreversível em 1997 moçambique contava com
33 municípios e actualmente conta com 53 municípios o que traduz-se em mais despesas a
realizar e receitas a arrecadar a nível local. Contudo a descentralização fiscal revela-se
deficitária a medida que as autarquias locais dependem em grande média do financiamento do
governo central.

Este estudo é relevante do ponto de vista acadêmico, a medida que contribui para a expansão
do conhecimento sobre a descentralização fiscal em Moçambique, ajuda à orientar as políticas
públicas, tornando-as mais eficazes e a melhora a qualidade de vida da população.

No âmbito social destaca-se a qualidade dos serviços públicos, como saúde, educação e
infraestruturas, que está intrinsecamente ligada á descentralização fiscal. Por tanto, entender
como essa politica afecta directamente a vida dos contribuintes é fundamental para melhorar o
bem-estar da população.

6
Actualmente a situação econômica e político de Moçambique, caracterizada pela instabilidade
política, pressões fiscais e emergências sanitárias, torna-se relevante avaliar como a
descentralização fiscal influencia a resiliência do município de Maputo na prestação de
serviços.

1.4.Problematização
Os conflito de atribuições entre os municípios que já cobram taxas nos respectivos territórios
e os órgãos de governação descentralizada provincial (OGDP) que passam a cobrar taxas para
si próprios. Tem consequência negativas na arrecadação de receita, observa-se por exemplo o
caso da taxa de mercados, que é uma importante fonte de receita local, não esta claro se quem
deveria cobrar a receita, é o município ou o governo provincial. Portanto essa dificuldade,
afecta a arrecadação de receita e propicia o fracasso na prestação dos serviços aos contribuintes.
(cip)

Por sua vez Weimer et al (20124) citado por Banze (2019:7) consideram que a perspectiva de
uma descentralização dinâmica, forte e de governos locais responsáveis e bem dotados é difícil
devido a aspectos como a dificuldade de abertura política suficiente para o envolvimento dos
governos locais na economia formal limitando apenas na informal.

O actual cenário do município de Maputo é caracterizado por um lado pelas constantes


exigencias, reclamações dos cidadãos em torno dos serviços públicos e por outro lado o
município necessita de mais recursos financeiros para fazer face a essas exigências. Os serviços
públicos prestados pelo município de Maputo tem sido alvo de muitas queixas por parte de
alguns extractos da população. Tanto que de 2019 até aos dias de hoje tem-se observado em
parte situações de reclamações sobre a qualidade dos serviços prestados no município, bem
com tem-se verificado também indagações dos munícipes em torno do destino das suas
contribuições
Nesse contexto surge como pergunta de partida: até que ponto a descentralização fiscal
contribui na prestação de serviços aos contribuintes no município de Maputo?

1.5.Objectivos
1.5.1. Objectivo geral
 Analisar o contributo da descentralização fiscal na prestação dos serviços aos
contribuintes.

4
Weimer, B et al (2012) Moçambique: Descentralizar O Centralismo? Economia Política, Recursos e Resultados.
Disponível em: http://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/Descent/IESE_Decentralizacao.pdf (consultado a 21
de Dezembro de 2019)

7
1.5.2. Objectivos específicos
 Identificar estratégias de arrecadação de receitas usadas pelo conselho municipal da
cidade de Maputo.
 Identificar os desafios enfrentados pelo conselho municipal da cidade de Maputo na
gestão financeira
 Avaliar o contributo da descentralização fiscal na prestação de serviços aos
contribuintes do município de Maputo

1.6.Hipóteses
 As estratégias de arrecadação de receitas usadas pelo conselho municipal da cidade de
Maputo não tem sido satisfatórias devido a conflitos de atribuições entre os OGD.
 O município de Maputo tem enfrentado dificuldades na gestão financeira devido a
complexidade das despesas.
 No município de Maputo a descentralização fiscal exerce um papel fundamental na
prestação de serviços aos contribuintes a medida que assegura maior compreensão das
reais necessidades do município.

1.7.Metodologia de trabalho
Entende-se por metodologia a determinação das formas que serão utilizadas para reunir os
dados necessários para a consecução do trabalho (Moresi 2003:79). Nesta etapa definimos
como pesquisa foi realizada.

1.7.1. Quanto a natureza da pesquisa


No presente trabalho privilegiou-se a pesquisa aplicada. Cujo objectivo é gerar conhecimentos
para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. (Ibid).

1.7.2. Quanto a forma de abordagem do problema


No que concerne a forma de abordagem a pesquisa é mista (ou quali-quantitativa). Os
procedimentos de métodos mistos empregam aspectos tanto dos métodos quantitativos quanto
dos procedimentos qualitativos. Creswell (2007:18). A pesquisa mista permitiu aos
pesquisadores analisar as variáveis do tema a luz de duas formas de abordagem numa única
pesquisa.

1.7.3. Quanto aos Objectivos de pesquisa


A presente pesquisa privilegiou a pesquisa explicativa. Segundo Gil (2008:23), a pesquisa
explicativa identifica os factores que determinam ou contribuem para á ocorrência dos
fenómenos. Aprofundando o conhecimento da realidade, visto que explica; a razão e o porque
das coisas.

8
1.7.4. Métodos de pesquisa
a) Método de abordagem

A presente pesquisa privilegiou o método hipotético-dedutivo. Assente na ideia de que quando


os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são insuficientes para a explicação
de um fenômeno, surge o problema. Para tentar explicar a dificuldades expressas no problema,
são formuladas conjecturas ou hipóteses. (Popper citado por Moresi 2003:26), este método
parte do geral para o particular.

b)Métodos de procedimentos

1.7.5. Técnicas de recolha de dados


Segundo Lakatos (19795:29-40) citado por Lundin (2016:146), cada método exige o emprego
de um conjunto de técnicas para a condução da pesquisa. para a recolha de dados na presente
pesquisa privilegiou-se a pesquisa bibliográfica, documental, entrevistas e questionário.

a) Técnica bibliográfica

A pesquisa bibliográfica foi desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído


principalmente de livros e artigos científicos. (Gil 2008:50).

b) Técnica documental

Na óptica de Lundi (2016:147) Trata-se de fontes primárias que são usadas como suporte para
a pesquisa em combinação com outros métodos.

c) Questionário

Trata-se de uma técnica usada para guiar entrevistas, visa levantar ou recolher dados,
informações ou opiniões através de uma serie de perguntas escritas dispostas de forma
sistematizada. Lundi (2016:147)

1.8. População e amostra


Partindo do pressuposto de que população é o conjunto definido de elementos que possuem
determinadas características comuns (Gil 2008:89). Constitui a população deste estudo todos
residentes do município de Maputo, e peritos na área de finanças púbicas, política púbicas e
governação autárquica.

Amostra é o Subconjunto do universo ou da população tendo em vista a representatividade e a


fiabilidade dos resultados foi definida uma amostra 73. Dos quais 70 foram questionados, e 3

5
Lakatos,.E.M. (1979), Ciências Sociais e Sociologia, 3 ed, Editora atlas SA, São Paulo

9
entrevistados. Aplicou-se a amostragem aleatória simples para os residentes e intencional para
os peritos.

1.9. Estrutura do trabalho


De modo a proporcionar o melhor desenvolvimento e assegurar a compreensão da matéria o
presente trabalho esta estruturado em 4 capítulos, o primeiro capítulo dedica-se a introdução,
delimitação do tema e espaço, contextualização, justificativa, problematização, objectivo geral
e específicos, questões de pesquisa, hipóteses e metodologia do trabalho.

O segundo capítulo é reservado ao enquadramento teórico e conceptual. O terceiro capitulo é


reservado à revisão da literatura, ou seja, ao desenvolvimento do tema e da experiencia dos
outros pesquisadores.

Finalmente, o quarto capítulo, reservado a apresentação, análise e interpretação dos resultados


da pesquisa, a fim de responder os objectivos pré-definidos. E apresenta-se a conclusão que,
de uma forma sintética, expõe o que se consideram ser as principais constatações do presente
trabalho. São ainda apresentadas recomendações julgadas pertinentes para o desenvolvimento
da área em estudo.

10
CAPITULO 2: ENQUADRAMENTO TEORICO E CONCEPTUAL
Neste capítulo debruça-se sobre as teorias que sustentam o estudo e os conceitos relevantes
para a realização da pesquisa de modo a permitir uma melhor compreensão do tema em análise.

2.1 Enquadramento teórico


2.1.1 Teoria institucional
Segundo Carvalho e Vieira (2003), a partir da década de 1950 acrescentaram-se aos estudos
empíricos realizados no campo das organizações, sob os enfoques estrutural e comportamental,
as contribuições da perspectiva institucional. Contudo, Scott (1995) afirma que a origem da
abordagem institucional remonta a conceitos formulados no final do século XIX.

Philip Selznick, discípulo de Robert Merton, é considerado precursor dessa abordagem


principalmente com a sua obra the organizational strategy and tactis, publicada em 1952.

Pressupostos básicos da teoria institucional


A abordagem institucional volta sua atenção para o exame das componentes de redes
relacionais e sistemas culturais que modelam e sustentam a estrutura e a ação das organizações
(FONSECA, 2003). Buscam legitimação na interação com o ambiente, preocupam se em ser
vistas como conformes e respeitadoras das normas e valores do ambiente institucional. Pois a
legitimidade está relacionada à sobrevivência e ao apoio público. As instituições buscam ser
vistas comforme as políticas fiscais do governo cental para garantir seu apoio e recursos e isso
pode influência suas decisões.

Na óptica de MEYER; ROWAN, (19776) citado por Bobsin (2021: 2) as estruturas formais são
compreendidas como sistemas de atividades coordenadas e controladas, que irão propiciar o
surgimento de organizações formais em ambientes altamente institucionalizados. Assim, as
organizações que adotam essas práticas e procedimentos garantem sua legitimidade em
determinado campo institucional, e, consequentemente, a sobrevivência em longo prazo,
independentemente de sua eficácia organizacional. As próprias práticas e procedimentos
advêm de um processo de institucionalização, baseado em isomorfismos miméticos,
normativos e coercitivo. as autarquias podem sentir pressões coercitivas para aderir a
determinadas politicas fiscais do governo central, bem como normativas para adoptar praticas
fiscais que são consideradas socialmente legitimas.

O pressuposto central da Teoria Institucional alicerça-se na tentativa de obtenção de


legitimidade pelas organizações e actores, que buscam a aceitação e, consequentemente, a

6
MEYER, J. W.; ROWAN, B. (1977), Institutionalized organizations, v. 83, n. 2, p. 340-363

11
garantia de sua sobrevivência em longo prazo (Bobsin2 2021 et al citando a MEYER ROWAN,
19777).

Critica a Teoria Institucional

A teoria institucional, como qualquer abordagem teórica, não está isenta as críticas nesse
âmbito apresenta-se as seguintes críticas:

 Determinismo Institucional: o que pode limitar a capacidade das organizações de tomar


decisões independentes ou inovar.
 Simplificação da Variedade Organizacional: A teoria institucional, ao enfatizar o
isomorfismo e a conformidade com as normas institucionais, pode simplificar demais
a diversidade de estruturas e práticas organizacionais.
 Enfase nas organizações Formais: deixa de lado outras formas de interações
institucionais, como redes informais, o que pode limitar sua aplicabilidade em
contextos mais fluidos.

2.1.2 Teoria Funcional


A teoria funcional se concentra nas funções e nos resultados que as políticas públicas buscam
alcançar. No contexto da descentralização fiscal, essa teoria consideraria como a alocação de
recursos fiscais afeta a prestação de serviços aos contribuintes. A abordagem funcionalista tem
origem nas concepções de Whitney e Von der Gabelentz.

Pressupostos

Funcionalismo encontra-se na dimensão objectiva no sentido ontológico, pressuposto no qual


predomina o realismo, isto é, a concepção de que o mundo existe independentemente da
avaliação das pessoas e que os indivíduos são condicionados pelo contexto externo. No sentido
epistemológico, está relacionado ao positivismo, que explica o mundo social através de
relações causais e de regularidades que só podem ser verificadas empiricamente. (André
2017:19)

Critica a Teoria Funcional

A teoria funcional é criticada por não aprofundar os processos sociais em si, mas apenas estuda-
los de maneira superficial, sem dar muita atenção as causas, problemas, dificuldades, e

7
MEYER, J. W.; ROWAN, B. (1977), Institutionalized organizations, v. 83, n. 2, p. 340-363

12
mecanismos de aperfeiçoamento. A sua concepção é positiva, vê a sociedade organizada e bem
estruturada, o que impede de identificar falhas. (André 2017:19)

Complementaridade das duas teorias para o desenvolvimento do tema

A complementaridade entre essas duas teorias surge quando se reconhece que as instituições
governamentais (teoria institucional) desempenham um papel fundamental na implementação
e operacionalização da descentralização fiscal, afetando diretamente a prestação de serviços
(teoria funcional). Essa abordagens integram se a medida que a teoria institucional pode ser
usada para examinar as regras e estruturas institucionais que governam a descentralização
fiscal. Isso incluiria leis de autonomia fiscal, acordos intergovernamentais e a organização de
agências governamentais responsáveis pela administração fiscal e prestação de serviço. e a
teoria funcional pode ser aplicada para avaliar como a descentralização fiscal impacta a
qualidade dos serviços prestados aos contribuintes, a capacidade dos governos locais de
responder às necessidades locais e a eficiência na alocação de recursos fiscais.

2.2 Debate conceptual


Neste espaço pretende-se apresentar os conceitos básicos e pertinentes para uma melhor
compreensão dos assuntos abordados ao longo do trabalho. Desta forma, ira-se abordar as
diferentes concepções de descentralização fiscal, município, prestação de serviços,
contribuintes.

2.2.1 Descentralização fiscal


De acordo com Tanzi (19958), citado por Gadelha e da Fonseca (2021:2), Descentralização
fiscal é à devolução da autoridade sobre as finanças públicas e sobre a prestação de serviços
governamentais do nível nacional para os níveis subnacionais. Essa devolução está associada
às quatro principais inter-relações entre níveis de governo em relação a questões fiscais,
denominadas como sendo a responsabilidade por decisões de gastos, competências tributária e
de aumento de receitas, empréstimos subnacionais e por último as transferências fiscais
intergovernamentais.

Na óptica de Banze (2019:7) citando aos estudos do Banco Mundial (2019 9) a descentralização
fiscal é descrita como um conjunto de regras que definem o papel e as responsabilidades entre

8
TANZI, V. Fiscal federalism and decentralization: a review of some efficiency and macroeconomic aspects. In
M. Bruno e B. Pleskovic (eds), Annual World Bank Conference on Development Economics 1995. Washington,
DC: World Bank, 1995.
9
http://siteresources.worldbank.org/EXTSOCIALDEVELOPMENT/Resources/244362-1164107274725/Fiscal-
Decentralization-web.pdf

13
os diferentes níveis de governação em termos de funções fiscais, nomeadamente, ciclo de
planificação orçamental, execução do orçamento, geração de receitas e financiamento.
Descentralização fiscal é o centro de qualquer sistema de governação local, uma vez que as
suas regras definem como serão geridos os recursos e, por conseguinte, distribuídos (entre e
intra-governos) para a satisfação das necessidades dos cidadãos.

Deste modo, para o presente estudo privilegia-se a definição do Banco Mundial onde a
principal meta é transferir as autarquias os poderes de planificação, execuçao do orçamento,
taxação e arrecadação tributária bem como o poder de gerir as despesas locais.

2.2.2 Serviços públicos


Segundo Amaral (2015:654) serviços públicos são as organizações humanas criadas no seio de
cada pessoa colectiva pública com o fim de desempenhar as atribuições desta, sob a direcção
dos respectivos órgãos.

Para Caetano (1990:237) são organizações permanentes de actividades humanas ordenadas


para o desempenho regular das atribuições d=e certa pessoa colectiva de direito público sob a
direcção dos respectivos órgãos

Entretanto, entende-se por serviços públicos as actividades desenvolvidas por cada pessoa
colectiva publica com vista a realizar as suas atribuições de maneira regular e continua.

2.2.3 Município
o município é uma unidade de governo local que toma decisões políticas dentro de sua
jurisdição e envolve os cidadãos na tomada de decisões por meio de processos democráticos.
( Robert Dahl, 1971:23)
Segundo Charles Cooley ( 1929: 30) o município como uma comunidade geograficamente
definida onde os indivíduos interagem, formam relações sociais e cooperam para atender às
necessidades locais.
Deste modo, entende-se por município o espaço territorial politico dentro de um Estado, na
qual os cidadãos, associados pelas relações comuns de localidade, vivem sob uma
organização livre e autônoma.

14
CAPITULO 3: Descentralização fiscal e a prestação dos serviços aos contribuintes
O presente capítulo tem por objectivo apresentar a abordagem literária que gira em torno da
descentralização fiscal e o seu contributo na prestação dos serviços aos contribuintes. Portanto,

3.1 Descentralização fiscal


De acordo com Gadelha e da Fonseca (2021:3) O principal argumento em favor da descentralização
fiscal é a possibilidade de se aumentar a eficiência alocativa e produtiva da provisão de bens e serviços

Por sua vez Nguenha et al (201210) citado por Banze (2019:7) afirma que ter orçamentos
adequados é uma condição fundamental da descentralização, pois, para que os governos locais
possam ser capazes de dar respostas às necessidades dos cidadãos, eles requerem recursos e
autonomia suficientes

3.1.1 Sistema tributário autárquico


Ao embarcar no processo de municipalização, o Estado Moçambicano configurou o regime
jurídico-legal das finanças e património autárquico que, sub ponto de vista teórico-legal,
assumiram um conjunto de autonomias: administrativa, patrimonial e financeira. (Canhanga
2009:14).

Em geral a doutrina jurídica destaca duas grandes categorias de tributo os impostos e as taxas.
Contudo para Pene (2014:62) na ciência das finanças e no direito financeiro, ao lado dos
impostos e das taxas encontramos outras figuras como as contribuições ou impostos especiais,
as tarifas, os preços públicos, os tributos parafiscais

De acordo com Passos (201411) citado por Buanaheira (2021:9), O sistema tributário é o
conjunto de impostos, taxas e contribuições através dos quais o Estado obtém recursos para
cumprir suas funções, como a oferta de bens e serviços públicos de qualidade.

Por sua vez, Weimer (363ª) afirma que as fontes de receitas atribuídas aos municípios no
âmbito da descentralização fiscal em Moçambique é definida pelo quadro institucional legal
da descentralização e autonomia fiscal, conforme a lei sobre as Finanças Autárquicas (Lei
1/2008) e o Código Tributário Autárquico definido no Decreto 63/2008. Esta legislação
substitui a legislação anterior, baseada na Lei 11/ 1997.

10
Nguenha et al (2012), Finanças Locais: Desempenho e Sustentabilidade dos Municípios Moçambicanos.
Disponível em : http://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/Descent/IESE_Decentralizacao_2.2.FinLoc.pdf
(consultado em 3 de Fevereiro de 2019)
11
. PASSOS, N. (2014). O que é o Sistema Tributário e por que no Brasil ele é tão injusto? Redacção Pragmatismo.
Disponível em: https://www.pragmatismopolitico.com.br. Acesso em 03 jul. 2020.

15
Ao abrigo do artigo 51, lei nr° 1/2008, de 16 de janeiro o sistema tributário autárquico é
constituído pelos seguintes impostos e taxas:

1. Imposto pessoal autárquico IPA

2. Imposto predial autárquico IPRA

3. Imposto autárquico de veículos;

4. Imposto autárquico da sisa

5. Contribuição de melhorias

6. Taxas por licenças concedidas e por actividades económicas

7. Tarifas e taxas pela prestação de serviços

A base própria de tributação complementa as transferências para os municípios feita pelo


governo central, quer através do Fundo de Compensação Autárquica (FCA) do Fundo de
Investimento de Iniciativas Locais ou de outras transferências consignadas para um propósito
definido, como também do Fundo de Estradas. Em termos legais, o FCA e FIIL. Representam,
no total, apenas uma fatia minúscula do Orçamento do Estado (OE) ou seja apenas 1,5% das
receitas nacionais globais. (Weimer 2017:364)

3.2 Prestação de serviços aos contribuintes


A função principal de governos locais é a produzir e distribuir bens e serviços públicos e alocar
recursos para tais fins. Em muitas funções, na prestação de serviços públicos, o governo local
tem bastantes vantagens económicas em comparação com o governo central, nomeadamente
no que diz respeito aos serviços, que requerem um conhecimento nítido dos interesses e
necessidades dos cidadãos,

Os serviços públicos autárquicos são, de uma certa maneira, a razão de ser da administração
autárquica. (cistac 2012:12)

Que a lei concede uma certa liberdade de criação dos serviços públicos às autarquias locais e
que, por outro lado, concede-lhes uma relativa liberdade nos modos de gestão destes serviços.
A lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro estabelece, verdadeiramente, um princípio de liberdade de
criação dos serviços públicos autárquicos. A alínea b) do n.º 2 do Artigo 7 da referida lei, em
especial, deixa uma grande margem de manobra, aos órgãos da autarquia local, para criar
serviços destinados à prossecução das suas atribuições: “… a autonomia administrativa

16
compreende os seguintes poderes: [...] b) criar, organizar e fiscalizar serviços destinados a
assegurar a prossecução das suas atribuições”. Assim no âmbito destas atribuições definidas
pelo Artigo 6 da Lei n.° 2/97, de 18 de Fevereiro, nomeadamente nos sectores de
desenvolvimento económico e social, ambiente, saúde, educação, cultura, urbanismo e
construção, as autarquias locais podem criar e organizar serviços públicos.

No lado da despesa, o regime jurídico estabelece que as autarquias são responsáveis pela
prestação de uma série de serviços nas áreas de: Desenvolvimento Económico e Social Local;
Ambiente; Saneamento Básico; Serviços Públicos; Saúde; Cultura, Lazer e Desportos;
Educação; Polícia Municipal; e Desenvolvimento Urbano, Construção e Habitação (Lei 2/97 e
Lei 01/08).

3.3 Indicadores de prestação de serviços aos contribuintes


Indicadores Características

Autonomia Fiscal O grau de autonomia fiscal concedido aos governos locais é um


Local indicador crucial. Quanto mais autonomia fiscal uma região possui,
mais recursos ela tem para fornecer serviços aos contribuintes
Participação do O envolvimento dos cidadãos na tomada de decisões fiscais que pode
contribuinte ser medido pela participação em orçamentos participativos e outros
mecanismos de consulta.
Qualidade dos A descentralização fiscal deve resultar em uma melhoria na qualidade
Serviços Públicos dos serviços prestados aos contribuintes locais, o saneamento básico,
Locais o transporte, educação, saúde entre outros
Proporção das É usado para avaliar a sustentabilidade e a eficiência na prestação de
despesas realizadas serviços. Quando proporção das despesas realizadas é alta, significa
com receitas que o município está cobrindo a maior parte de suas despesas com as
próprias receitas geradas por seus próprios serviços, o que é positivo e na
situação inversa é negativo.
Fonte: elaborado pelos autores com base na pesquisa

17
CAPITULO 4: Descentralização Fiscal e a Prestação de Serviços Públicos: Caso do
Município de Maputo (2019-2020)

4.1. Perfil e caracterização do município de Maputo


A cidade de Maputo tem estatuto de província, cuja jurisdição corresponde à área do
Município. A área do Município é de 346,7 quilómetros quadrados, comportando 64 bairros
divididos por 7 distritos urbanos: KaMpfumu, KaMaxakeni, Nhlamankulu, KaMavota,
KaMubukwana, KaTembe e KaNyaka e tem 63 bairros. Em 2019, a população da cidade estava
calculada em cerca de 1.170 mil habitantes. 12.

4.1.1 Organograma
Figura 1: Estrutura orgânica do município de Maputo

Fonte: Adaptado do manual metodológico do Município de Maputo

4.2 Estratégias de arrecadação de receitas usadas pelo conselho municipal da cidade de


Maputo.
Para que as autarquias locais cumpram com as suas funções de prestação de serviços locais
precisam de ter acesso a receitas, sejam elas rceitas próprias, transferência do governo, crédito

12
http://www.cmmaputo.gov.mz/?s=populacao consultado aos 27 de setembro de 2023

18
um sistema financeiro funcionais. As receitas próprias provêm dos impostos de natureza
municipal e são directamente controladas pelas autarquias. As transferências provêm de um
conjunto de recursos destinados a despesas de capital e recorrentes, controlados pelo Governo
nacional. A ajuda vem de fontes externas, na maioria dos casos para o financiamento de
despesas de capital. (Banco Mundial 2009: 115)

4.2.1 Fontes de arrecadação de receitas


Tabela 1: Evolução da receita do município de Maputo

Ano Receitas Transferências % Capital % Total


próprias (FCA/FIIL)
2019 1.933.633 65% 772.031 26% 258.097 9% 2.963.761

2020 2.192.558 65% 733.360 22¨% 452.163 13% 3.378,081

2021 2.161.947 49% 639.991 15% 1.568.059 36% 4.369.997

Fonte: Elaboração própria com base na conta geral do estado ano 2019, 2020 e 2021

Em termos da importância destas fontes de receita, os dados do município de Maputo de


receitas em 2019 mostra que 65% da receita provem da receita própria e 26% da transferências
do governo e 9% de capital. Os dados da receita de 2020 apresentam uma estrutura muito
similar com a de 2019, manteve o mesmo nível de receita própria, contudo reduziu as transferia
do governo para 22% e elevou-se o capital para 13%, por ultimo as recitas de 2021 apresentam
uma variação nas recitas própria devido a pandemia da Covid19 que baixou as próprias para
49%, as transferências do governo para 15% e aumentou o capital para 36% de capital. Nota
se, que o município de Maputo apesar da baixa para 49% na arrecadação de receita própria em
2021 apresenta a receita própria apresenta uma superioridade em relação as transferência do
governo isso justifica-se por dispor de e mais e melhores meios tecnológicos para captar mais
recursos

19
65% 65%

49%

36%

26%
22%

13% 15%
9%

2019 2020 2021

RP TG Capital

Fonte: elaborado pelo autor com base com base na conta geral do estado ano 2019, 2020 e
2021.

4.3 Desafios da descentralização fiscal na cidade de Maputo.


O município de Maputo apresenta uma grande evolução em termos de descentralização fiscal
principalmente no que tange a geração de récitas própria e a gestão de despesa. Não obstante
enfrentam uma situação difícil a medida que por um lado, as receitas são limitadas e, por outro,
aumentam as responsabilidades com a despesa

O município de Maputo tem autonomia para aprovar novos emolumentos/taxas e actualizar o


seu valor. Mas Para tal, é importante ter um registo completo e actualizado das actividades
económicas. As taxas dos mercados são uma das principais receitas do município, mas devido
à falta de um registo integral dos vendedores, ao deficiente sistema de cobrança e à falta de
controlo, é difícil para o município de Maputo utilizar eficazmente esta fonte de receitas.

A Lei 01/08 constitui também um limite para o município de Maputo a medida que estabelece
uma isenção de 5 anos às novas construções de propriedade urbana, que poderiam representar
uma importante base tributária para o município, dado que se verifica um elevado
desenvolvimento imobiliário na cidade de Maputo. A estrutura de recurso ao crédito das
autarquias é muito limitada e rígida, o que na prática torna esta fonte de receita inoperante para
o município de Maputo (Banco mundial 2009:131).

O município de Maputo tem enfrentado dificuldades em termos de promoção da participação


participação e envolvimento dos cidadãos nos processos de governação ou tomada de decisão,
embora o município de Maputo tenha desenvolvido o programa de orçamento participativo, o
mesmo não trouxe mudanças em termos de participação popular na tomada de decisão sobre

20
os investimentos a serem levados a cabo no município com vista a satisfazer as necessidades
da mesma. 97% Dos questionados no município de Maputo afirma que não participam no
momento a definição das necessidades locais. Por outro lado 3% afirma que participam no
processo de tomada de decisão sobre as necessidades a realizar mas chamam atenção que esta
participação não é integra a medida que está mais para uma consulta, que o governo municipal
faz a comunidade local.

A deficiência na transparência é um problema já antigo no município de Maputo e continua


afectando negatvamente o envolvimento cívico e a boa governação devido a falta de acesso a
informações publicas, relacionadas a orçamentos, gastos públicos o que cria um ambiente
propicio para a corrupção o que leva a desconfiança por parte dos munícipes.

Um outro elemento importante que continua afectando o processo de descentralização fiscal é


no município de Maputo é a falta de sensibilização dos cidadãos para as suas responsabilidades
fiscais

4.4 Contributo da descentralização fiscal na prestação de serviços aos contribuintes do


município de Maputo.
Uma forma de avaliar a viabilidade financeira das autarquias, é calcular a proporção das
despesas (de Bens e prestação de serviços) que pode ser financiada com as receitas próprias

Tabela 2: contributo da receita própria na despesa de Bens e prestação de serviços

Ano Receitas (receitas Despesa (Bens e prestação Percentagem


próprias) serviços)
2019 1.933.633 738.791,64 38%
2020 2.192.558 770.046,35 35%
2021 2.161.947 852.987,09 39%
Fonte: elaborado pelo autor com base no relatório da Conta geral do Estado 2019, 2020 e 2021.

21
Chart Title

2021
100%
39%

2020
100%
35%

2019
100%
38%
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%

RP DBS

4.4.1 Prestação de serviço aos contribuintes


Na óptica de Banze (2019: 6) o principal objectvo da descentralização fiscal é assegurar que os
governos locais tenha a capacidade de produzir e distribuir bens e serviços públicos e alocar
recursos para tais fins. Em muitas funções, na prestação de serviços públicos, o governo local
tem bastantes vantagens económicas em comparação com o governo central, nomeadamente
no que diz respeito aos serviços, que requerem um conhecimento nítido dos interesses e
necessidades dos cidadãos, nas cidades e uma interacção proactiva com estes

No âmbito da celebração do dia da cidade de Maputo éneas comiche expressou que13


“Seguindo o plano de desenvolvimento municipal 2019-2023, o Conselho Municipal procurou
aprimorar a capacidade de prestação de serviços ao munícipe, de manutenção de infraestrutura,
garantir o ordenamento do solo urbano e uso adequado dos espaços públicos, planificar e
elaborar projectos para a melhoria de assentamentos informais, lidar com as situações de
inundações pela chuva, formação e apoio os jovens em diferentes áreas profissionais, melhorar
as condições de ensino e aprendizagem nas escolas, melhorar as condições de mobilidade
urbana”

Conjugando o depoimento acima citado com os dados recolhidos por meio do questionário a
população, estima-se que 37% afirmam que é razoável a medida que se verifica uma gradual
redução de vendedores informais nos passeios. contudo 43% considera a prestação de serviços

13
Éneas comiche (2022), entrevistado ao 10 de novembro de 2022 STV: Maputo

22
não satisfatórias, argumentando que em tempos de chuva as suas residências são inundadas
pelas aguas das chuvas, associado a ma gestão de resíduos sólidos, queixam-se do lixo e do
cheiro nauseabundo que é causado pelas chuva o que cria condições para o desenvolvimento
de doenças como a cólera. Não obstante a esses problemas 13% residentes expressam que a
prestação de serviços é satisfatório a medida que se verifica um esforço por parte do município
em responder as preocupações dos munícipes expostos por meio de manifestações como é o
caso da expansão dos serviços de recolha de lixo em alguns bairros. Por sua vez 7% dos
munícipes afirma que a prestação de serviços é muito satisfatório a medida que o município
tem efeituado esforços para organizar e melhor a qualidade dos mercados.

Em relação ao serviço de saneamento básico (SSB) 37% afirmam que a situação é satisfatório
a medida que o município assegura o abastecimento regular de água potável e uma qualidade
aceitável dado que não gera surtos de doenças transmitidas pela agua. Associado ao período da
vigência da covid19 o município procurou aperfeiçoar a os serviços de saneamento básico. Não
obstante 39% consideram que o serviço de saneamento básico não é satisfatório a medida que
se verifica sistemas de esgoto inadequados. 20 %. Destaca que o serviço é razoável a medida
que o serviço de saneamento básico no município atende às necessidades mínimas, e procura
melhorar os sistemas de esgoto. Por sua vez 4% dos residentes destacam que o serviço de
saneamento básico é muito satisfatório a medida que se desenvolveu um programa de
reciclagem que incentiva os residentes a reduzir, reutilizar e reciclar, o que é benéfico para o
meio ambiente

Quanto ao Serviço de Saúde (SS), 67% afirma que o serviço não é satisfatório devido as filas
para consultas médicas que são excessivamente longas, e às vezes esperam semanas para obter
atendimento médico e a higiene em hospitais é questionável, o que pode aumentar o risco de
infecções nos pacientes. Contudo 18% acreditam que o serviço de saúde é razoável a
argumentando que a qualidade dos cuidados de saúde é aceitável, mas é preciso melhorar o
acesso a especialistas médicos em certas áreas, no mesmo pensamento 15% dos munícipes
afirmam que o serviço é satisfatório a medida que no contexto da covid19 as instituições de
saúde conseguiram responder aos impasses que a pandemia impunha. Associada a realização
de campanhas de conscientização e programas de vacinação realizada pelo serviço de saúde
que contribuíram para o controle de doenças contagiosas. E nenhum residente afirmou que o
serviço de saúde era muito satisfatório

23
No que refere ao serviço educação (SE) 28% expressam que o serviço não é satisfatório pois
as escolas carecem de recursos e infraestrutura adequadas. Contudo 26% afirma que o serviço
é satisfatório a medida que se verifica um acesso à educação amplo. 37 % Afirmam que é
razoável, interpreta-se que embora existam escolas de boa qualidade há espaço para melhorias
na infraestrutura, e algumas áreas do município ainda carecem de acesso igualitário à educação
de qualidade.

Quanto ao serviço de transporte (ST), 71% dos questionados afirma que o serviço não é
satisfatório devido aos congestionamentos de trânsito, tornando o deslocamento demorado e
estressante os residentes clamam por soluções de alívio ao tráfego, agravado pelo aumento dos
preço e a falta de manutenção dos veículos. 15% dos questionados considera o serviço razoável
a medida que o sistema de transporte público oferece um serviço básico, não obstante precise
de mais investimentos para torná-lo uma opção viável para todo, em consonância 10 % afirma
que é satisfatório pois apresenta uma boa cobertura na cidade 4% afirma que é muito
satisfatório devido ao investimento do município em transporte público sustentável, como bus
a gas, reduzindo a poluição e o impacto ambiental

Gráfico 2: opinião dos munícipes em torno da dos serviços públicos prestados pelo município
de Maputo

100%
20% 18% 15%
90%
37%
80%
70%
39%
60%
67% 28% 71%
50%
40%
30%
37% 26%
20%
15% 10%
10% 9%
4% 0 4%
0%
SSB SS SE ST

Muito satisfatorio Satisfatorio Não satisfatória Razoável

Fonte: elaborado pelo autor com base no questionário dirigido aos munícipes

24
25
Hipótese 1: "As estratégias de arrecadação de receitas usadas pelo conselho municipal da
cidade de Maputo não tem sido satisfatórias devido a conflitos de atribuições entre os OGD".

Com base nos dados apresentados no ponto 3.1.1 da revisão da literatura e da analise feitas e
interpretações no 4.2, esta hipótese é invalida, na medida em que se apresenta um sistema
tributário eficaz e uma evolução de arrecadação de receita no município de Maputo satisfatório
durante o período em analise.

Hipótese 2: "A descentralização fiscal enfrenta diversos desafios no município de Maputo


devido a fraca participação dos munícipes"

De acordo com os dados apresentados, analisados e interpretações feitas no ponto 4.3 constata-
se que a hipótese é valida na medida em que a lei 1/2008 estabelece algumas isenções na
arrecadação de receitas.

Hipotese3: "No município de Maputo a descentralização fiscal exerce um papel fundamental


na prestação de serviços aos contribuintes a medida que assegura maior compreensão das reais
necessidades do município."

A hipótese acima é inválida, considerando a analise feita no ponto 3.3 Na revisão da literatura
e da análise feita e interpretações no 4.4 o Descentralização fiscal no município de Maputo é
acompanhado por uma forte evolução financeira no município de Maputo principalmente da
receita própria. Contudo a mesma não se traduz numa melhoria na prestação de serviços básicos
aos munícipes.

26
5. Conclusão
No presente trabalho analisamos a descentralização fiscal e o seu contributo na prestação de
serviços no município de Maputo. A nossa conclusão é de que durante o período de 2019-2021
a despeito da geração de receita o município registou uma grande evolução, não obstante as
limitações legais para explorar mais impostos. O estudo constata uma a falta de prestação
adequada de serviços básicos, apesar da contribuição da descentralização fiscal para a geração
de receita no município de Maputo. É essencial abordar a capacidade institucional, a
transparência, e a responsabilização para garantir que os benefícios da descentralização fiscal
alcancem os cidadãos de forma eficiente. É preciso promover a participação ativa da sociedade
civil e o envolvimento dos cidadãos pois desempenham um papel fundamental na promoção
de serviços públicos de qualidade. A descentralização fiscal pode ser uma ferramenta poderosa
para o desenvolvimento local, desde que seja acompanhada por práticas de governança sólidas
e compromisso com o bem-estar dos cidadãos.

27
6. Recomendações
De acordo com o estudo feito no município de Maputo foi possível perceber que a
descentralização fiscal apresenta dificuldades para a prestação de serviços aos contribuintes,
sendo assim, é evidente a necessidade de adopção de mecanismos para superar as dificuldades,
entretanto, para o efeito faz-se as seguintes recomendações:

 Investimento em Infraestrutura, para melhorar as infraestruturas básicas, como, valas,


estrada, saneamento e educação por forma a assegurar a melhorar a qualidade dos
serviços.
 Flexibilidade e Adaptação dos serviços de acordo com as necessidades locais
específicas, levando a soluções mais apropriadas.
 Transparência Orçamental fornecendo informações claras sobre como os recursos
fiscais são alocados e utilizados. Isso inclui a divulgação de orçamentos, gastos e
relatórios financeiros.
 Participação Cidadã Ativa: Promova a participação ativa dos cidadãos de Maputo na
formulação de orçamentos locais e na definição de prioridades para a prestação de
serviços.
 Educação Pública: Realize campanhas de educação pública para sensibilizar os
cidadãos sobre a importância da descentralização fiscal e como eles podem se envolver
ativamente no processo.

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7. Referências Bibliográficas
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BOLETIM DA REPUBLICA decreto 95/2020: Maputo

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