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Licenciatura em Contabilidade e Auditoria

CONTABILIDADE PÚBLICA

INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DO SECTOR PÚBLICO BASEADO


NO e-SISTAFE

Docentes:

Pedro Samissone

Jerónimo Uamba

Maputo
Junho/2021
ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 1

TÍTULO I - TEORIA BÁSICA .................................................................................................................................. 2

2 CONCEITOS BÁSICOS DE CONTABILIDADE PÚBLICA ...................................................................... 2

2.1 CONCEITO ........................................................................................................................................................ 2


2.2 OBJECTO .......................................................................................................................................................... 2
2.3 OBJECTIVO ...................................................................................................................................................... 3
2.4 ÂMBITO DE APLICAÇÃO................................................................................................................................... 3
2.5 CRITÉRIO DE ESCRITURAÇÃO .......................................................................................................................... 3
2.6 REGIME CONTABILÍSTICO E EXERCÍCIO FINANCEIRO....................................................................................... 3
2.7 MOEDA ............................................................................................................................................................ 4
2.8 PARTICULARIDADES DA CONTABILIDADE PÚBLICA ......................................................................................... 5
2.8.1 Enquadramento Legal da Contabilidade Pública em Moçambique ........................... 5
2.8.2 Princípios Contabilísticos da Contabilidade do Sector Público................................. 5
2.8.3 Receitas e Despesas Públicas...................................................................................... 6
2.9 ESCRITURAÇÃO POR SISTEMAS CONTABILÍSTICOS .......................................................................................... 7
2.9.1 Sistema Orçamental (SO) ............................................................................................ 8
2.9.2 Sistema Financeiro (SF) .............................................................................................. 9
2.9.3 Sistema Patrimonial (SP) .......................................................................................... 10
2.9.4 Sistema de Ordem (SOr)............................................................................................ 11

3 PLANO BÁSICO DE CONTABILIDADE PÚBLICA – PBCP .................................................................. 11

3.1 LISTA DE CONTAS .......................................................................................................................................... 12


3.1.1 Codificação das Contas Contabilísticas, Tipos e Natureza ...................................... 13
3.1.2 Desdobramento das Contas Contabilísticas ............................................................. 14
3.1.3 Estrutura das Contas do PBCP – até o segundo nível .............................................. 21
3.2 PLANO DE OBJECTOS ..................................................................................................................................... 22
3.3 ATRIBUTOS DAS CONTAS CONTABILÍSTICAS ................................................................................................. 22
3.4 TABELA DE OPERAÇÕES CONTABILÍSTICAS ................................................................................................... 23

TÍTULO II – CONTABILIZAÇÃO DE ACTOS E FACTOS .............................................................................. 25

4 ACTOS E FACTOS DE NATUREZA ORÇAMENTÁRIA ........................................................................ 25

4.1 EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA DA RECEITA ..................................................................................................... 25


4.2 EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA DA DESPESA ..................................................................................................... 26
4.3 PAGAMENTO DA DESPESA ............................................................................................................................. 27
4.3.1 Programação Financeira .......................................................................................... 27
4.3.2 Contabilização das Variações Patrimoniais ............................................................. 28
4.3.3 Contas de Resultado .................................................................................................. 29
4.3.4 Mecanismos de Débito e Crédito – do Activo ........................................................... 29
4.3.5 Mecanismos de Débito e Crédito – do Passivo ......................................................... 31
4.4 RECEITA PÚBLICA .................................................................................................................................... 33
4.4.1 Estágios da Realização da Receita ........................................................................... 33
4.4.2 Anulação da Receita .................................................................................................. 34
4.4.3 Mutações Activas - exemplos de registos contabilísticos .......................................... 34
4.5 DESPESA PÚBLICA ................................................................................................................................... 35
4.5.1 Fases da Despesa Pública ......................................................................................... 35
4.5.2 Fundo de Maneio....................................................................................................... 37
4.5.3 Despesas por Pagar .................................................................................................. 37
4.5.4 Anulação de despesa ................................................................................................. 38
4.6 MUTAÇÕES PASSIVAS - EXEMPLOS DE REGISTOS CONTABILÍSTICOS ............................................................ 38

TÍTULO III – DEMONSTRATIVOS CONTABILÍSTICOS ............................................................................... 39

5 BALANÇO E DEMONSTRATIVOS ............................................................................................................ 39

5.1 BALANÇO ORÇAMENTÁRIO ........................................................................................................................... 39


5.2 BALANÇO FINANCEIRO .................................................................................................................................. 41
5.3 BALANÇO PATRIMONIAL ............................................................................................................................... 42
5.4 DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS......................................................................................... 43
DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS ................................................................................. 43

6 CONTA GERAL DO ESTADO ..................................................................................................................... 44

6.1 PRINCÍPIOS E REGRAS .................................................................................................................................... 44


6.2 ESTRUTURA ................................................................................................................................................... 45
6.3 PRAZOS .......................................................................................................................................................... 45

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1 INTRODUÇÃO

O presente manual visa transmitir os conhecimentos necessários ao desempenho das actividades


contabilísticas no SISTAFE. Está dividido em três títulos, I - Teoria Básica, II - Contabilização de
Actos e Factos e III - Demonstrativos Contabilísticos.

No título I é exposto o conhecimento teórico básico para a compreensão das rotinas contabilísticas
utilizadas no SISTAFE. Esta teoria deve ser ampliada com a leitura de livros especializados em
Contabilidade Pública.

No título II são apresentadas as principais rotinas contabilísticas existentes no SISTAFE. Esta


matéria deve ser ampliada com o estudo do Plano Básico de Contabilidade Pública (PBCP).

No título III são apresentados os principais relatórios finais, produtos do e-SISTAFE, os balanços,
demonstrativos e a Conta Geral do Estado.

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TÍTULO I - TEORIA BÁSICA

2 Conceitos Básicos de Contabilidade Pública

2.1 Conceito

A Contabilidade Aplicada à Administração Pública é o ramo da contabilidade que colecta, regista e


controla os actos e factos da Administração Pública, mostra o valor do Património Público e suas
variações, bem como acompanha, controla e demonstra a execução do orçamento.1

Contabilidade Pública é um ramo da Contabilidade Geral aplicada a administração pública


conforme os níveis do Governo (Central, Provincial e Distrital) e nas entidades autárquicas.

A Contabilidade Pública regista a previsão da receita e a fixação da despesa estabelecidas no


Orçamento do Estado (OE) aprovado para o exercício, escritura a realização orçamentária da receita
e a execução orçamentária da despesa, faz a comparação entre a previsão e a realização das receitas
e despesas, controla as operações de crédito, a dívida activa, os valores, os créditos e obrigações,
regista as variações patrimoniais orçamentárias e extra-orçamentárias e mostra o valor do
património.

2.2 Objecto

O objecto de qualquer contabilidade é o património. O objecto da Contabilidade Pública é o


património contabilístico dos órgãos e entidades da Administração Pública e o Orçamento.

Note-se que Património Público difere do património contabilístico dos órgãos e entidades da
Administração Pública, pois “os bens de uso comum, muito embora também formados com recursos
públicos e ainda que sua manutenção requeira a utilização dos mesmos, não compõem formalmente
o património contabilístico que constitui o objecto da Contabilidade”2.

A existência da Contabilidade Pública está directamente associada ao controlo do orçamento, pois,


além do património e suas variações, também se interessa pelo orçamento e sua execução (previsão
e realização da receita e a fixação e execução da despesa).

1
FORTES, João. Contabilidade Pública, Teoria e Prática. Brasília: Franco & Fortes, 9ª ed. 2006, p. 224.
2
PISCITELLI e TIMBÓ, Roberto Bocaccio e Maria Zulene Farias. Contabilidade Pública, Uma Abordagem da
Administração Financeira Pública. São Paulo: Atlas, 10ª ed. 2009, p.12.

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2.3 Objectivo

A Contabilidade Pública tem por objectivo a produção e manutenção de registos, bem como
evidenciação das transacções realizadas pelos órgãos e instituições do Estado e os seus efeitos sobre
o seu património.

O grande objectivo de qualquer ramo da contabilidade é fornecer informações exactas e tempestivas


ao gestor. O objectivo da Contabilidade Pública é fornecer informações actualizadas e exactas:

 Aos gestores para subsidiar a tomada de decisões;


 Aos Órgãos de Controlo Interno e Externo para cumprimento da legislação; e
 Às instituições governamentais e particulares para fins estatísticos ou de interesse dessas
instituições.

Estas informações devem ainda levar em conta os critérios de eficiência (uso dos recursos), eficácia
(consecução dos objectivos) e efectividade (satisfação das necessidades do ponto de vista do
usuário, do contribuinte, do cidadão).

2.4 Âmbito de Aplicação

A Contabilidade Pública aplica-se às pessoas jurídicas de Direito Público interno, ou seja, a todos os
órgãos e instituições do Estado, compreendendo as instituições com autonomia administrativa e
financeira, as autarquias e fundos públicos.

2.5 Critério de Escrituração

O critério utilizado para os registos dos actos e factos administrativos é o das partidas dobradas, no
qual todo valor registado a débito (em uma ou mais contas contabilísticas) tem o correspondente
valor registado a crédito (em uma ou mais contas contabilísticas).

2.6 Regime Contabilístico e Exercício Financeiro

Existem dois sistemas de escrituração contabilística que são intitulados de regimes contabilísticos:

i) Regime de Caixa

É aquele no qual se reconhece a receita no período em que é arrecadada e a despesa no que é


paga. Este regime reconhece, exclusivamente, todos os recebimentos e pagamentos efectuados
no exercício, mesmo aqueles relativos a períodos contabilísticos anteriores.

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ii) Regime de competência

É aquele no qual as receitas e as despesas são atribuídas aos exercícios de acordo com a real
incorrência, isto é, de acordo com a data do facto gerador e não quando são recebidos ou pagos.
Por este regime, toda receita e despesa do exercício pertencem ao próprio exercício; uma vez
terminada a vigência do orçamento, passam para o exercício seguinte a fim de serem arrecadas
ou pagas, continuando a pertencer ao orçamento que lhes deu origem.

Em Moçambique, na escrituração dos registos contabilísticos é adoptado o regime misto, aplicando-


se para as receitas o regime de caixa e para as despesas o regime de competência, assim:

a) As receitas consideram-se realizadas:

o Com a arrecadação dos impostos, ou seja, seu pagamento pelo contribuinte;


o Nas transações com fornecedores, quando estes efectuarem o pagamento ou assumirem o
compromisso de efectivá-lo, quer pela investidura na propriedade de bens anteriormente
pertencentes à entidade, quer pela fruição de serviços por esta prestada;
o Quando da extinção, parcial ou total, de um passivo, qualquer que seja o motivo, sem o
desaparecimento concomitante de um activo de valor igual ou maior;
o Pela geração natural de novos activos independentemente da intervenção de terceiros;
o No recebimento efectivo de doações e subvenções.

b) Consideram-se incorridas as despesas:

o Com o cabimento da despesa, ou seja, com a ocorrência da liquidação, efectivado ou não seu
respectivo pagamento;
o Quando deixar de existir o correspondente valor activo, por transferência de sua propriedade
para terceiros;
o Pela diminuição ou extinção do valor económico de um activo;
o Pelo surgimento de um passivo, sem o correspondente activo.

O exercício financeiro, ou económico, coincide com o ano civil.

2.7 Moeda

A escrituração dos actos e factos administrativos é efectuada em moeda nacional, o que não impede
a execução do Orçamento do Estado em moeda estrangeira, desde que tenha sua escrituração em
moeda nacional.

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2.8 Particularidades da Contabilidade Pública

2.8.1 Enquadramento Legal da Contabilidade Pública em Moçambique

Enquadramento: a contabilidade pública é um dos subsistemas do Sistema de Administração


Financeira do Estado (SISTAFE) (Lei nr. 14/2020, 23 de Dezembro).

Conceito: Subsistema de Contabilidade Pública – compreende normas, procedimentos de todos os


órgãos e instituições do Estado e entidades descentralizadas que intervém em todas actividades de
mensuração, registo, tratamento e acompanhamento das operações relativas a administração
orçamental, financeira e patrimonial de todos os actos e factos susceptíveis de afectar o património
do Estado, com vista a elaboração das demostrações financeiras e ou contabilísticas. (art. 33, Lei nr.
14/2020, 23 de Dezembro).

2.8.2 Princípios Contabilísticos da Contabilidade do Sector Público

Às regras uniformes a serem seguidas por todos os organismos na sua contabilidade dá-se o nome de
Princípios Contabilísticos.

No Contabilidade do Sector Público Contabilidade do Sector Empresarial


1 Princípio da Relevância Princípio da Consistência
2 Princípio da Fiabilidade Princípio da Materialidade
3 Princípio da Compreensibilidade Princípio da Comparabilidade
4 Princípio da Comparabilidade Princípio de Oportunidade
5 Princípio da Oportunidade Princípio da Substância Sobre a Forma
6 Princípio do Custo Histórico
7 Princípio da Continuidade
8 Princípio da Prudência

Relevância – A informação financeira e não financeira se for capaz de trazer diferença no alcance
dos objectivos do relato financeiro;

Fiabilidade – Os procedimentos de um exercício para outro não devem ser alterados.

Materialidade – A informação deve apresentar todos os elementos relevantes que permitam o


acompanhamento da utilização dos recursos públicos.

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Comparabilidade – Os registos e operações efectuados devem observar as normas determinadas ao
longo da vida dos respectivos órgãos ou instituições, por forma a que os dados possam ser
comparados ao longo do tempo e do espaço.

Oportunidade – A informação deve ser produzida em tempo oportuno e útil por forma a apoiar a
tomada de decisões e a análise de gestão (art.: 36, Lei nr. 14/2020, 23 de Dezembro)

2.8.3 Receitas e Despesas Públicas

Outra particularidade importante diz respeito à classificação como receitas de todos os desembolsos
e, como despesa, dos desembolsos (além dos compromissos a pagar). Esse caráter marcante, de que
quaisquer recebimentos e pagamentos são considerados receitas e despesas, se contrapõe à
Contabilidade Empresarial, em que podem ser classificados, por exemplo, como antecipações,
adiantamentos. A grande diferença que se estabelece é quanto à natureza da receita e da despesa:
umas afectam, outras não, o resultado patrimonial e, consequentemente, o saldo patrimonial, o
património (ou património líquido, na Contabilidade Empresarial). Em outras palavras, é
fundamental distinguirem-se as receitas e despesas efectivas (receitas e despesas propiamente ditas,
como na Contabilidade Empresarial) das demais.3

Na Contabilidade Empresarial, os factos permutativos não passam pelas contas de resultado,


envolvem somente as contas de activo e/ou passivo.

Venda  Activo Entrada de


Saída de património  Activo
Veículo Circulante recursos Imobilizado
Compra  Activo  Activo
Saída de recursos Entrada de património
veículo Circulante Imobilizado

O registo dos factos permutativos decorrentes das receitas e despesas orçamentais faz a grande
diferença entre a escrituração destes factos na Contabilidade Pública, pois neste ramo da
Contabilidade os factos permutativos, que envolvem movimentação financeira, passam pelas contas
de resultado, sem contudo, afectar o resultado patrimonial.

Os factos permutativos são representados por entrada ou saída de recursos (receita/despesa) trocados
por património (bens, direitos ou obrigações).

3
PISCITELLI e TIMBÓ _____, p.15.

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Saída de património (venda)
Receita Entrada de recursos Mutação Passiva
Entrada de obrigação (emprést.)

Despesa Entrada de património (compra)


Saída de recursos Mutação Ativa
Saída de obrigação (pag emprest.)

Como se observa, os factos permutativos geram lançamentos simultâneos nas contas de resultado, a
débito e a crédito. Quando se regista a receita orçamental, faz-se também a baixa dos bens ou
direitos ou incorporam-se as obrigações assumidas em troca dos recursos financeiros recebidos. Da
mesma forma, quando se apropria a despesa orçamental, faz-se também a entrada dos bens ou
direitos ou a baixa das obrigações pagas com os recursos que saíram.

É de notar que a Contabilidade Pública não faz o registo nem o reconhecimento explícito dos factos
mistos (simultaneamente permutativos e modificativos) como tais, isto é, em um único lançamento.
Para se ter uma ideia, exemplifique-se com a alienação de um bem do activo, por valor diferente
daquele pelo qual o mesmo está registrado; a contabilização se fará em lançamentos distintos: pelo
valor da alienação, classificando-se o ingresso correspondente como receita de capital, e pelo valor
de aquisição (custo), para que se proceda à respectiva baixa.4

A Lei nº 14/2020, 23 de Dezembro, já mencionada, dispõe:

 Constituem receita pública todos os recursos monetários ou em espécie, seja qual for a sua
fonte ou natureza, postos à disposição do Estado, com ressalva daquelas em que o Estado
seja mero depositário temporário. (art 26.1)

 Constitui despesa pública todo o dispêndio de recursos monetários ou em espécie, seja qual
for a sua proveniência ou natureza, gastos pelo Estado, com ressalva daqueles em que o
beneficiário se encontra obrigado à reposição dos mesmos. (art. 27.1)

O título II estudará as contas de resultado e os mecanismos inerentes às mutações activas e passivas.

2.9 Escrituração por Sistemas Contabilísticos

Sistema Contabilístico é o agrupamento de contas contabilísticas, em nível de escrituração, de forma


a oferecer maior segurança no momento dos registos contabilísticos e facilitar a elaboração dos
Balanços e Demonstrativos exigidos pela Lei 14/2020, 23 de Dezembro.

Os sistemas são classificados em:

4
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 140

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Sistema Orçamental
Sistema Financeiro
Sistema Patrimonial
Sistema de Ordem

É importante esclarecer que os lançamentos contabilísticos são efectuados fechados em cada


sistema, ou seja, para cada lançamento o total de débitos nas contas de um determinado sistema deve
ser igual ao total de créditos nas contas do mesmo sistema, conforme se observa a seguir:

D - Conta Financeira D - Conta Patrimonial


C - Conta Financeira C - Conta Patrimonial

Excepção à esta regra é o apuramento do resultado, quando as contas de variações patrimoniais


activas e passivas, do sistema financeiro ou patrimonial, serão encerradas tendo com contrapartida a
conta de Resultado do Exercício, pertencente ao sistema patrimonial.

As contas pertencentes aos sistemas financeiro e patrimonial estão ligadas a factos administrativos
contabilísticos, enquanto as contas dos sistemas orçamental e de ordem estão ligadas aos actos
orçamentais e potenciais.

2.9.1 Sistema Orçamental (SO)

A Contabilidade Orçamental regista as operações de despesa, desde que são previstas até ao
momento em que são pagas, as operações de receitas desde a sua previsão à sua cobrança.

Indica as contas contabilísticas que pertencem aos grupos de Contas de Controlo Orçamental e que
tenham interferência directa no controlo do detalhamento da execução orçamental da Receita e da
Despesa. Apresenta, a qualquer momento, a situação orçamental, ou seja, o comportamento da
receita e da despesa.

Na Contabilidade Orçamental não são registadas operações que não impliquem entrada ou saída de
dinheiro, como por exemplo as Amortizações. Deste modo, não fornece o valor do património nem o
valor dos custos por centros, projectos, actividades ou por produto. É, assim, uma contabilidade
elaborada na base de Caixa e Compromisso.

É representado pelos actos de natureza orçamental, tais como: previsão de receita, fixação de
despesa, movimentação de dotação, emissão de cabimento etc.

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No Sistema Orçamental, também, é feita a comparação da receita prevista e da despesa fixada com
as suas respectivas realizações, sendo obrigatória a passagem por este sistema dos factos de
arrecadação da receita e de liquidação da despesa.

Podemos apresentar os actos e factos de natureza orçamental, da seguinte forma:

ACTOS DE NATUREZA ORÇAMENTAL FACTOS DE NATUREZA ORÇAMENTAL


Previsão da Receita
Fixação da Despesa Arrecadação da Receita
Movimentação de Dotação Liquidação da Despesa
Cabimento da Despesa
As contas que pertencem ao Sistema Orçamental são aquelas das classes 7 e 8, especificamente aos
grupos:

7. Contas de Ordem Passivas 8. Contas de Ordem Activas


7.1. – Execução Orçamental da Receita 8.1. – Previsão Orçamental da Receita
7.2. – Fixação Orçamental da Despesa 8.2 – Execução Orçamental da Despesa

2.9.2 Sistema Financeiro (SF)

Sistema financeiro indica as contas contabilísticas que pertencem às classes do activo e do passivo
(que venham afectar os recursos financeiros disponíveis), das variações activas financeiras e das
variações passivas financeiras, bem como as receitas e despesas, com destaque para estas últimas,
uma vez que as contas que compõem essas classes pertencem, exclusivamente, a este sistema.

O Sistema Financeiro está relacionado com os ingressos (entradas) e os dispêndios (saídas) de


recursos, ou seja, com o registo dos recebimentos e pagamentos de natureza orçamental ou
extraordinária.

É representado pelas contas contabilísticas que pertencem às classes do Activo, do Passivo, das
Variações Activas Financeiras e das Variações Passivas Financeiras, bem como as Receitas e
Despesas, que de forma mediata ou imediata venham afectar os recursos financeiros disponíveis.

As contas de receita e despesa pertencem, exclusivamente, a este sistema.

Em resumo temos:

Entradas Saídas
Receitas Orçamentais Despesas Orçamentais
Transferências Recebidas (Variação Activa): Transferências Concedidas (Variação Passiva):

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- Quotas Financeiras Recebidas - Quotas Financeiras Concedidas
- Quotas Financeiras Recebidas para - Quotas Financeiras Concedidas para
Pagamento de Despesas por Pagar Pagamento de Despesas por Pagar
Recebimentos Extraordinários: Pagamentos Extraordinários
- Recebimento de valores de terceiros - Devolução de valores de terceiros
- Operações de Tesouraria à Débito

Os factos que se relacionam com entradas e saídas de recursos, na Contabilidade Pública terão,
obrigatoriamente, lançamento no Sistema Financeiro.

2.9.3 Sistema Patrimonial (SP)

Indica as contas contabilísticas pertencentes:

 Às classes do Activo, onde estão demonstradas as aplicações dos recursos, e do Passivo,


onde estão evidenciadas as origens dos recursos aplicados no Activo;

 Às Variações Activas Patrimoniais e Variações Passivas Patrimoniais;

 À conta de apuramento do resultado, Resultado Patrimonial do Exercício; e

 O Sistema Patrimonial regista os factos não financeiros ou extra-caixa, tais como: os bens
móveis, bem imóveis, materiais, créditos, operações de crédito.

As contas do sistema patrimonial não têm interferência directa na composição das disponibilidades
de numerário e obrigações pendentes de circulação (estas são do sistema financeiro).

Exemplo: Aquisição de um veículo:

SISTEMA FINANCEIRO SISTEMA PATRIMONIAL


D - Despesa de Capital D Veículos
C- CUT/Fornecedor C Mutação Activa Patrimonial

Em qualquer plano de contas, as receitas e despesas orçamentais serão contabilizadas em contas de


resultado no sistema financeiro e as mutações patrimoniais serão contabilizadas em contas de
resultado no sistema patrimonial.

Assim, nos factos permutativos, as receitas (entrada de recursos) serão igualadas às mutações
passivas (saída de património) e as despesas (saída de recursos) às mutações activas (entrada de
património) o que não gerará alteração no resultado do exercício.

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2.9.4 Sistema de Ordem (SOr)

Indica as contas contabilísticas que pertencem ao grupo de Contas de Controlo Extra-Orçamental,


com função primária de controlo e acompanhamento da Programação Financeira, das Despesas por
Pagar, dos direitos e obrigações decorrentes de contratos e de outras que integrem o grupo.

Demonstra o comportamento dos actos potenciais até sua extinção ou até provocar efeito no
património. Principais actos registados no Sistema de Ordem são:

Grupos Descrição
7.3.0.0.0.00
Execução da Programação Financeira
8.3.0.0.0.00
7.4.0.0.0.00
Execução das Despesas por Pagar
8.4.0.0.0.00
7.5.0.0.0.00
Execução de Acordos e Contratos
8.5.0.0.0.00
7.6.0.0.0.00
Execução da Despesa Por Operação de Tesouraria
8.6.0.0.0.00
7.7.0.0.0.00
Acompanhamento da Elaboração da Proposta Orçamental
8.7.0.0.0.00
7.9.0.0.0.00 Outras Contas de Ordem Passivas e Activas

3 PLANO BÁSICO DE CONTABILIDADE PÚBLICA – PBCP

Tem por objectivo a uniformização e sistematização do registo contabilístico dos actos e factos
relacionados com execução orçamental, financeira e patrimonial do Estado. O PBCP deve ser
adoptado por todas as Unidades do SISTAFE.

O PBCP está estruturado de forma a atender os seguintes objectivos principais:

 Realçar o estado patrimonial e as suas variações;

 Padronizar o nível de informação dos órgãos da administração central e local com a


finalidade de auxiliar o processo de tomada de decisões;

 Possibilitar a extração de relatórios necessários, tanto para a análise de gestão quanto para o
cumprimento das exigências dos Órgãos do Controlo Interno e Externo, incluindo emissão
dos balanços, mapas de controlo orçamental e demonstrações de resultados.

 Permitir, por intermédio da lista de contas básicas, a implementação de um sistema integrado


de informação orçamental, financeira e patrimonial na administração do Estado, capaz de
atender aos aspectos legais e de gestão.

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Composição

 Lista de contas;
 Plano de objectos;
 Tabela de operações contabilísticas.

É de responsabilidade da Unidade de Supervisão do Subsistema de Contabilidade Pública (US do


SCP) – DNCP, a normalização do PBCP, competindo-lhe:

i. Criar, especificar, desdobrar, codificar e extinguir contas;

ii. Criar e adequar o Plano de Objectos e a Tabela de Operações Contabilísticas de modo a


atender às necessidades de registo pelas Unidades Executoras dos actos e factos relacionados
com a execução do Orçamento do Estado;

iii. Emitir instruções sobre a utilização do Plano Básico de Contabilidade Pública, contendo os
procedimentos contabilísticos pertinentes; e

iv. Proceder os ajustes no PBCP, sempre que julgado necessário, observada a sua estrutura
básica determinada pela legislação em vigor.

3.1 Lista de Contas

É a relação de contas contabilísticas adoptadas pela contabilidade pública, organizada de maneira


uniforme e sistematizada, a fim de atender aos registos contabilísticos dos actos e factos
relacionados à administração dos recursos do Estado pelos seus órgãos e instituições.

Conta é o título representativo de formação, composição, variação e situação de um


patrimônio, bem como dos bens, direitos e obrigações e situações nelas não compreendidas,
que directa e indirectamente, possam vir a afectá-lo, exigindo, por isso, controlo específico.5

O plano de contas é o conjunto de títulos, previamente definidos, representativos de um


estado patrimonial e de suas variações, organizados e codificados com o objetivo de
sistematizar e uniformizar o registro contábil dos atos e fatos de uma gestão, devendo permitir,
de forma precisa e clara, a obtenção dos dados relativos ao património.6

As contas são agrupadas segundo suas funções, possibilitando:

5
FORTES, ______, p. 240
6
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 289

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i. Identificar, classificar e efectuar a escrituração contabilística, pelo método das partidas
dobradas, dos actos e factos de gestão, de maneira uniforme e sistematizada;
ii. Conhecer a situação dos responsáveis que, de algum modo, arrecadem receitas, efectuem
despesas e administrem ou guardem bens pertencentes ou confiados ao Estado;
iii. Acompanhar e controlar a execução orçamental, evidenciando a receita prevista, cobrada e
recolhida, bem como a despesa autorizada, cabimentada e realizada e, também, as dotações
disponíveis;
iv. Elaborar os Balanços, Mapas de Controlo Orçamental e as Demonstrações de Resultados;
v. Conhecer a composição e situação do património analisado;
vi. Analisar e interpretar os resultados económicos e financeiros;
vii. Individualizar os credores e devedores, com a especificação necessária ao controlo
contabilístico do direito ou obrigação;
viii. Controlar contabilisticamente os direitos e obrigações oriundas de ajustes ou contratos de
interesse da gestão;
ix. Fornecer informações gerenciais para a tomada de decisão.

3.1.1 Codificação das Contas Contabilísticas, Tipos e Natureza

As contas contabilísticas são estruturadas por níveis de desdobramento, classificadas e codificadas


de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação orçamental, financeira e patrimonial,
compreendendo seis níveis de desdobramento, da seguinte forma:

X. X. X. X. X. XX

1º Nível: Classe

2º Nível: Grupo

3º Nível: Sub-grupo

4º Nível: Elemento

5º Nível: Sub-elemento

6º Nível: Item

Exemplo: Conta – 2.1.1.1.1.06 – Assistência Médica e Medicamentosa

Níveis Conta Título dos Níveis


Classe 2 Passivo

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Grupo 1 Passivo Circulante
Sub-grupo 1 Retenções de Curto Prazo
Elemento 1 Consignações
Sub-elemento 1 Previdência Social
Item 06 Assistência Médica e Medicamentosa

As contas que integram o PBCP terão as suas funções e âmbito de movimentação descritos em nível
de SUBGRUPO - 3º Nível, ou seja, não pede haver lançamentos contabilísticos em contas de 1º ou
2º nível. Exemplos:

1.1.1.0.0.00 Activo circulante - disponível


1.1.2.0.0.00 Activo circulante - créditos
2.1.1.0.0.00 Passivo circulante - retenções de curto prazo
2.2.1.0.0.00 Passivo exigível a médio e longo prazo - dívida interna
3.1.1.0.0.00 Despesas correntes - despesas com pessoal
4.1.1.0.0.00 Receitas correntes - receita fiscal
5.1.2.0.0.00 Resultado ordinário - transferências de bens e valores concedidas
6.2.3.0.0.00 Resultado extraordinário - acréscimos patrimoniais

Além dos seis níveis acima mencionados as contas podem sofrer desdobramentos de acordo com o
Plano de Objectos, que não faz parte da estrutura da conta contabilísticas, mas objectiva
individualizar os actos e factos a serem registados, a fim de permitir a qualificação do registo
contabilístico.

As contas são, ainda, separadas em “escrituradas”, aquelas que admitem registos, e “não
escrituradas”, aquelas que não admitem registos, e compreendem o somatório dos valores
escriturados nos seus desdobramentos.

As contas contabilísticas são também classificadas segundo à sua natureza:

i. Devedoras – lançamentos devedores aumentam seus saldos, em regra são iniciadas por
números ímpares;
ii. Credoras – lançamentos credores aumentam seus saldos, em regra são iniciadas por
números pares;
iii. De Redução ou Rectificadora – deduzem o grupo a que pertencem, sendo a sua natureza
contrária às demais do mesmo grupo.

3.1.2 Desdobramento das Contas Contabilísticas

O primeiro nível de desdobramento representa a classificação máxima na agregação das contas e é


denominado de classe. A Lista de Contas da Administração Pública contém as seguintes classes:

- 14-
1 – Activo 2 - Passivo
3 – Despesas 4 - Receitas
5 – Resultado de Variação Patrimonial 6 – Resultado de Variação Patrimonial
Negativa Positiva
7 – Contas de Ordem Activas 8 - Contas de Ordem Passivas

i. ACTIVO

Classe “1” que inclui as contas correspondentes aos bens e direitos, demonstrando as aplicações de
recursos e compreendem os seguintes grupos de contas, dispostas em ordem decrescente de grau de
liquidez:

a) 1.1 - Activo Circulante – as disponibilidades de numerário, os recursos a receber, bem como


outros bens e direitos, pendentes ou em circulação, realizáveis até ao término do exercício
seguinte.
Exemplos: banco, adiantamento de fundos aos gestores, créditos a receber, etc.

b) 1.2 - Activo Realizável a Médio e Longo Prazo – os bens e direitos, normalmente realizáveis
após o término do exercício seguinte.
Exemplos: créditos diversos a receber, dívida activa, etc.

c) 1.3 - Activo Imobilizado – os activos de carácter permanente, representados pelas


imobilizações corpóreas e incorpóreas, bem como as amortizações e reintegrações
acumuladas.
Exemplos: Bens móveis, imóveis e incorpóreos.

Obs.: as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Sector Público estipula que na


classificação dos elementos patrimoniais deve ser considerada a segregação em “circulante” e “não
circulante”, com base em seus atributos de conversibilidade e exigibilidade.

ii. PASSIVO

Classe “2” que inclui as contas relativas às obrigações, evidenciando as origens dos recursos
aplicados no Activo, as quais estão dispostas no PBCP em ordem decrescente de grau de
exigibilidade e compreendem os seguintes grupos:

a) 2.1 - Passivo Circulante – as retenções de curto prazo, as coberturas de défices de tesouraria,


as obrigações a pagar exigíveis até o término do exercício seguinte e os valores de terceiros.

Exemplos: consignações, obrigações a pagar, descontos da folha de salário etc.

- 15-
b) 2.2 - Passivo Exigível a Médio e Longo Prazo – as obrigações exigíveis, normalmente, após
o término do exercício seguinte.

Exemplos: obrigações a pagar, dívida a pagar, etc.

c) 2.3 - Resultado de Exercícios Futuros – as contas representativas das receitas de exercícios


futuros, bem como das despesas a elas correspondentes;

d) 2.4 - Património Líquido – o património da gestão, reservas de capital e outras que forem
definidas, assim como o resultado acumulado.

Exemplos: Resultado do exercício, reservas, etc.

iii. DESPESA

Classe “3” que inclui as contas representativas dos recursos despendidos na gestão, a serem
consideradas no apuramento do resultado do exercício. Têm característica de contas de resultado e
estão desdobradas nas seguintes categorias económicas:

a) Despesas Correntes – despesas do governo que se realizam de forma contínua, uma vez que
estão ligadas à sua manutenção. São despesas permanentes que representam o consumo
governamental.

Compreende as contas desdobradas em Custeio (despesas com pessoal, bens e serviços, subsídios,
outras despesas correntes e exercícios findos) e transferências correntes (subvenções 7, inactivos e
pensionistas, encargos da dívida etc);

(...) as despesas corrente, também chamadas de despesas efectivas, ou despesas propriamente


ditas, correspondem a factos modificativos (diminutivos) na Contabilidade Empresarial (...)8

b) Despesas de Capital – sua característica principal é a descontinuidade. É através delas que o


Poder Público expande os serviços públicos prestados.

Compreende as contas desdobradas em investimentos (construção de imóvel, material permanente,


equipamentos e instalações etc.), inversões financeiras (aquisição de imóveis, concessão de
empréstimos etc.) e transferências de capital.

7
Subvenção económica: Alocação destinada a cobertura dos déficits de manutenção das empresas públicas;
Subvenção social: Destina-se a instituições públicas ou privadas, de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade
lucrativa. A subvneção visará à prestação de serviços essenciais de assistência social, médica e eduacacional.
8
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 184

- 16-
(...) as despesas capitais, também chamadas de por mutação patrimonial, correspondem a
factos permutativos.9

Os códigos das contas de despesa iniciam-se com o número 3, sendo que os demais dígitos
correspondem à Classificação Económica da Despesa.

Exemplo: Classificação Económica da Despesa – CED:


Vencimento Base do Pessoal do Quadro

3. 1. 1. 1. 0. 01 – Conta Contabilística: Vencimento Base do Pessoal do Quadro


Classe - Despesas
Grupo – Despesas Correntes
Sub-grupo – Despesas com Pessoal
Elemento – Salários e Remunerações
Sub-elemento - ---
Item - Vencimento Base do
Pessoal do Quadro

iv. RECEITA

Classe “4” que inclui as contas representativas dos recursos auferidos na gestão a serem
consideradas no apuramento do resultado do exercício. Têm característica de contas de resultado,
desdobradas nas categorias económicas de Receitas Correntes e de Receitas de Capital:

a) Receitas Correntes – derivadas de tributos, contribuições ou receitas industriais, etc. São as


receitas fiscais, não fiscais, as consignadas e as de donativos;

Exemplos: Imposto sobre o Rendimento de Pessoa Singular, Rendas de Casa, Taxas de Portagem,
Donativos em Espécie à Projectos.

(...) as receitas correntes estão associadas ao que na Contabilidade Empresarial


corresponde às receitas propriamente ditas, ou factos modificativos aumentativos.10

b) Receitas de Capital – decorrentes de empréstimos ou donativos ou receitas originárias da


venda ou alienação de bens, etc.

9
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 184
10
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 139

- 17-
Exemplos: alienação do património do Estado, donativos em espécie a projectos de investimento,
transferências de lucro das empresas do Estado.

As receitas correntes, receitas por mutação patrimonial, no dizer de alguns autores -, constituem,
em princípio factos meramente permutativos (...) de que resulta o aumento de um item do activo
(por ingresso de recursos) com a redução de outro, ou com aumento simultâneo do passivo.11

Os códigos das contas de receita iniciam-se com o número 4, sendo que os demais dígitos
correspondem à Classificação Económica da Receita.

Exemplo: Classificação Económica da Receita – CER:


Imposto sobre Veículos

4. 1. 1. 3. 0. 02 – Conta Contabilística: Imposto sobre Veículos


Classe - Receita
Grupo – Receitas Correntes
Sub-grupo – Receita Fiscal
Elemento – Outros Impostos
Sub-elemento - ---
Imposto sobre
Item -
Veículos

v. RESULTADO DE VARIAÇÃO PATRIMONIAL NEGATIVA

Esta classe e a próxima são novidades na Contabilidade Pública, inexistentes na Contabilidade


Empresarial.

As contas de resultado devedor, comumente denominadas “despesas” nos outros ramos da


Contabilidade, na Contabilidade Pública são denominadas de variações passivas e são classificadas
em dois grupos distintos:

 Despesas orçamentais – classe 3; e


 Resultado de variação patrimonial negativa – classe 5.

A Classe “5” inclui as contas representativas das variações negativas da situação líquida que são
consideradas no apuramento do resultado exercício. Têm características de contas de resultado e são
desdobradas nos grupos:

11
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 140

- 18-
a) Variações Ordinárias – correspondem à diminuição da situação líquida resultante da
execução das despesas orçamentais, transferências passivas e mutações passivas.

- Despesas orçamentais – não fazem lançamentos neste grupo, são lançadas na classe 3;

As Despesas Orçamentais correspondem a todos os valores despendidos que afetam o orçamento do


exercício. É bom acrescentar que, nesse subgrupo, não se fazem lançamentos e sim na classe 3 do
Plano de Contas Único, Despesas Orçamentárias, servindo esse subgrupo, tão-somente, para efeito
de demonstração das variações que afectaram, negativamente, o património.12

- Transferências passivas – transferências financeiras efectivadas para as unidades gestoras;

- Mutações passivas – referem-se aos reflexos da contabilização dos factos permutativos


decorrentes da receita orçamentária.

Quando estamos contabilizando uma receita de capital que não pode afectar o património, por não
ser uma receita, fazemos um lançamento neste subgrupo, para compensar o valor lançado como
receita orçamentária. Na realidade, quando temos receita de capital é porque estamos alienando os
bens ou direitos ou contraindo obrigações, tendo, em ambos os casos, uma mutação patrimonial
negativa pelo registro da baixa dos componentes do Activo ou o registro da incorporação das
obrigações no Passivo.13

Exemplos: Quota Financeira Concedida, Desincorporação de Activos, Incorporação de Passivos.

b) Variações Extraordinárias – correspondem à diminuição da situação líquida ocorrida de


forma independente da execução orçamental e incluem as contas de despesas não
orçamentais, transferências passivas e decréscimos patrimoniais.

Exemplos: Subsídio de Tesouraria Concedido, Transferência Financeira Concedida para


Pagamento de Despesas por Pagar, Desincorporação de Activos por doação, Incorporação de
Passivos por correção da dívida.

12
FORTES, ______, p. 248.
13
FORTES, ______, p. 249.

- 19-
vi. RESULTADO DE VARIAÇÃO PATRIMONIAL POSITIVA

A Classe “6” inclui as contas representativas das variações positivas da situação líquida que são
consideradas no apuramento do resultado exercício. Têm características de contas de resultado e são
desdobradas nos grupos:

a) Variações Ordinárias – correspondem ao aumento da situação líquida e incluem as contas


de receita orçamental, transferências activas e mutações activas.

- Receitas orçamentais – não fazem lançamentos neste grupo, são lançadas na classe 4;

As Receitas Orçamentais correspondem a todos os valores recebidos à execução orçamentária da


receita. É bom acrescentar que, nesse subgrupo, não se fazem lançamentos e sim na classe 4 do
Plano de Contas Único, Receitas Orçamentárias, servindo esse subgrupo, tão-somente, para efeito de
demonstração das variações que afectaram, negativamente, o património.14

- Transferências activas – transferências financeiras recebidas das unidades intermédias;

- Mutações activas – referem-se aos reflexos da contabilização dos factos permutativos


decorrentes da despesa orçamentária.

Quando estamos contabilizando uma despesa de capital, por exemplo, que não pode afetar o
património, por não ser uma despesa, fazemos um lançamento neste subgrupo, para compensar o
valor lançado como despesa orçamentária.

Na realidade, quando temos despesa de capital é porque estamos adquirindo bens, ou direitos ou
amortizando obrigações, tendo, em ambos os casos, uma mutação patrimonial positiva pelo registro
da incorporação dos componentes do Ativo ou o registro da baixa das obrigações no Passivo.15

Exemplos: Quota Financeira Recebida, Incorporação de Activos, Desincorporação de Passivos.

b) Variações Extraordinárias – correspondem ao aumento da situação líquida do património,


ocorrido de forma independente da execução orçamental e incluem as contas representativas
das receitas não orçamentais, transferências activas e acréscimos patrimoniais.

14
FORTES, ______, p. 251.
15
FORTES, ______, p. 251.

- 20-
Exemplos: Subsídio de Tesouraria Recebido, Transferência Financeira Recebida para Pagamento de
Despesas por Pagar, Incorporação de Activos pelo recebimento de uma doação ou de um bem
encontrado no inventário, Desincorporação de Passivos como o cancelamento de despesa por pagar.

c) Resultado Patrimonial – conta transitória utilizada no encerramento do exercício, para


demonstrar o apuramento do resultado patrimonial do exercício, obtido pelo confronto das
variações activas e passivas (Classes 3+5 X Classes 4+6) ocorridas no período, podendo ser
positivo (quando apurado um Superávit) ou negativo (quando apurado um Déficit).

vii. CONTAS DE ORDEM

Classes “7” e “8” compostas por contas de ordem activas e passivas, respectivamente, têm a função
primária de controlo da execução orçamental, financeira e de outros controlos não compreendidos
no património, mas que directa ou indirectamente possam vir a afectá-lo. Contêm as contas dos
sistemas orçamental e de ordem.

Exemplos:

Conta Tipo de Controlo Conta Tipo de Controlo


7.1.1.1.1.00 - Receita a Exec. Orçamental 8.1.1.1.0.00 Previsão Previsão Orçament.
Realizar Classificada da Receita Inicial da Receita da Receita
7.2.1.1.0.00 –Dotação Fixação Orçamental 8.2.1.1.0.00 Dotação Exec. Orçament. da
Inicial da Despesa Disponível Despesa
7.3.0.0.0.00 – Exec. da Programação 8.3.0.0.0.00 – Exec. da Programação
Programação Financeira Financeira Programação Financeira Financeira
7.4.0.0.0.00 – Execução Execução das 8.4.0.0.0.00 – Execução Execução das
das Despesas por Pagar Despesas por Pagar das Despesas por Pagar Despesas por Pagar
7.5.1.0.0.00 Valor Exec. de Acordos e 8.5.1.0.0.00 – Celebração Exec. de Acordos e
Acordado Contratos de Acordos e Contratos Contratos
7.9.0.0.0.00 – Contas de Demais Controlos 8.9.0.0.0.00 – Contas de Demais Controlos
Ordem Activas Diversas Necessários Ordem Passivas Diversas Necessários

3.1.3 Estrutura das Contas do PBCP – até o segundo nível

1. ACTIVO 2. PASSIVO
1.1 Circulante 2.1 Circulante
1.2 Realizável a Médio e Longo Prazo 2.2 Exigível a Médio e Longo Prazo
1.3 Imobilizado 2.3 Resultado de Exercícios Futuros
2.3 Fundos Próprios
3. DESPESAS 4. RECEITAS
3.1 Despesas Correntes 4.1 Receitas Correntes
3.2 Despesas de Capital 4.2 Receitas de Capital

- 21-
5. RESULTADO DA VARIAÇÃO 6. RESULTADO DA VARIAÇÃO
PATRIMONIAL NEGATIVA PATRIMONIAL POSITIVA
5.1 Resultado Ordinário 6.1 Resultado Orçamental
5.2 Resultado Extraordinário 6.2 Resultado Extraordinário
6.3 Resultado Patrimonial
7. CONTAS DE ORDEM ACTIVAS 8. CONTAS DE ORDEM PASSIVAS
7.1 Execução Orçamental da Receita 8.1 Previsão Orçamental da Receita
7.2 Fixação Orçamental da Despesa 8.2 Execução Orçamental da Despesa
7.3 Execução da Programação Financeira 8.3 Execução da Programação Financeira
7.4 Execução das Despesas por Pagar 8.4 Execução das Despesas por Pagar
7.5 Execução de Acordos e Contratos 8.5 Direitos e Obrigações Acordadas
7.6 Execução da Despesa Por Operação de 8.6 Execução da Despesa Por Operação de
Tesouraria Tesouraria
7.7 Acompanhamento da Elaboração da
8.7 Controlo da Elaboração do Orçamento
Proposta Orçamental
7.9 Outras Contas de Ordem Activas 8.9 Outras Contas de Ordem Passivas

3.2 Plano de Objectos

O Plano de Objectos consiste numa técnica de codificação do e-SISTAFE que permite a utilização
simultânea de uma mesma conta contabilística, com atributos distintos, pelos diversos usuários do
sistema, sem a necessidade de desagregação dos códigos da conta. Os códigos são detalhados de
acordo com as necessidades de desdobramento e individualização dos actos e factos a serem
registados, a fim de permitir a qualificação do registo contabilístico.

Exemplo:

Tipo Detalhe
0 Sem detalhamento
1 Número da Nota de Cabimentação;
2 Identificador do Credor/Devedor (NUIT);
3 UO + Fonte de Recursos + Classificador Económico da Receita;
4 Ordem de Pagamento;
5 Domicílio Bancário (banco + balcão + conta bancaria);
6 Identificação do Credor (NUIT) + Nota de Liquidação da Despesa;
7 Célula Orçamental Completa: Gestão (20) + UO (09) + Função (05) + Programa (22) + FR
(12) + CED (6) + Setorial (24) + Seccional (27) + UGB (09)
... ...

3.3 Atributos das Contas Contabilísticas

A Lista de Contas indica as seguintes características de cada conta contabilística:

Sim – Indica que a Conta está em nível de escrituração


Escrituradas Não – Indica que a conta não está em nível de escrituração; compreendem o
somatório dos valores esc riturados em seus desdobramentos
- 22-
O - Sistema Orçamental
Sistema de Contas F - Sistema Financeiro
P - Sistema Patrimonial
Or - Sistema de Ordem ou de Compensação

Código numérico que indica o detalhamento da conta de acordo com


Tipo de Objecto sua característica.

Tem natureza (D / C) contrária à natureza da classe na qual


Conta Redutora está inserida.
(ou retificadora) Sim – Indica que a Conta é “de Redução”

Sim – Indica que a conta aceita registo que cause saldo


Admite Inversão de Saldo inverso ao de sua natureza
Branco – Indica que a conta não aceita registo que cause
saldo inverso ao de sua natureza

Obs.: uma conta rectificadora não pode admitir inversão de saldo e vice e versa.

Lançamentos Início – Indica o mês a partir do qual podem ocorrer registos na conta contabilística;

Lançamentos Término – Indica o mês até quando podem ocorrer registos na conta contabilística.

Meses Início / Término


0 Mês de abertura – saldo originário do exercício anterior
1 a 12 Janeiro a Dezembro
13 Encerramento de contas de resultado
14 Apuramento de Reservas

Encerramento - Indica se a conta transfere ou não seu saldo para o exercício seguinte.

0 Transfere seu saldo para o exercício seguinte


13 Não transfere seu saldo para o exercício seguinte

3.4 Tabela de Operações Contabilísticas

A escrituração dos actos e factos no e-SISTAFE é feita automaticamente pelo próprio sistema, uma
vez que todos os actos e factos contábilísticos foram, previamente, cadastrados no sistema com os
respectivos roteiros de contabilização.

- 23-
Operação contabilística é o instrumento utilizado pelo sistema para transformar actos e factos
administrativos rotineiros em registos contabilísticos automáticos. Ao emitir um documento de
entrada de dados, o sistema monta os lançamentos contabilísticos constantes da respectiva operação
contabilística automaticamente.

A Tabela de Operações Contabilísticas relaciona estas codificações de actos e factos administrativos


em lançamentos contabilísticos, como exemplificado a seguir:

Registos Contabilísticos
Operação Contabilística
Débito Crédito
11001 - Previsão Inicial da 7.1.1.1.1.00 – Receita a Realizar 8.1.1.1.0.00 – Previsão Inicial da
Receita Classificada Receita
8.2.1.1.0.00 – Dotação Disponível 8.2.1.3.1.00 – Dotação
Cabimentada a Liquidar
23001 – Emissão de
8.3.1.4.1.00 – Quota de Limite 8.3.1.4.2.00 – Quota de Limite
Cabimento da Despesa
Orçamental a Utilizar Orçamental Utilizada
por via Directa
7.2.4.1.1.00 – Emissão de Nota de 8.2.4.1.1.01 – Cabimentos a
Cabimento Liquidar por via Directa

- 24-
TÍTULO II – CONTABILIZAÇÃO DE ACTOS E FACTOS

Os actos contabilísticos se distinguem dos factos contabilísticos por que estes afectam qualitativa
e/ou quantitativamente o património, sendo, por isso, objecto de contabilização através de conta
patrimonial ou conta de resultado, podendo ou não alterar o Patrimônio Líquido. Já os actos
contabilísticos são acontecimentos que não afectam o património, mas, por sua importância, devem
ser registados.

4 Actos e Factos de Natureza Orçamentária

ACTOS DE NATUREZA ORÇAMENTAL FACTOS DE NATUREZA ORÇAMENTAL


Previsão da Receita
Fixação da Despesa Arrecadação da Receita
Movimentação de Dotação Liquidação da Despesa
Cabimento da Despesa

As contas que controlam o sistema orçamentário estão alocadas nos grupos:

7. CONTAS DE ORDEM ACTIVAS 8. CONTAS DE ORDEM PASSIVAS


7.1 Execução Orçamental da Receita 8.1 Previsão Orçamental da Receita
7.2 Fixação Orçamental da Despesa 8.2 Execução Orçamental da Despesa

4.1 Execução Orçamentária da Receita

i. Actos de Natureza Orçamentária

Receita prevista é aquela que foi estimada para o exercício. São as receitas que se espera arrecadar,
por fontes de recurso, no exercício.

No registo da previsão da receita, da previsão adicioanl ou da anulação da previsão serão


movimentadas as contas dos grupos 7.1 e 8.1:

Acto Orçamentário Débito Crédito


Previsão da receita e previsão adicional 7.1 -  8.1 - 
Anulação da previsão da receita 8.1 -  7.1 - 

ii. Factos de Natureza Orçamentária

A arrecadação da receita corrente é um facto modificativo, pois implica na entrada de recursos na


CUT e respectiva receita. Assim, seu registo envolve contas dos sistemas financeiro, de ordem e,
obviamente, orçamental.

- 25-
Acto Orçamentário Débito Crédito Sistema
1.1 -  4.X -  Financeiro – entrada do recurso na CUT e respectiva
receita
Arrecadação da
7.3 -  8.3 -  Ordem – controlo da programação financeira,
receita corrente
disponibilidade por fonte de recursos
7.1 -  7.1 -  Orçamental - realização da receita prevista

Por sua vez, a arrecadação da receita de investimento é um facto permutativo, mas, como já visto,
como implica a entrada de recursos na CUT, haverá uma receita e uma variação patrimonial
negativa. Assim, seu registo envolve, além das contas dos sistemas financeiro, de ordem e
orçamental, também contas do sistema patrimonial.

Acto Orçamentário Débito Crédito Sistema


1.1 -  4.X -  Financeiro – entrada do recurso na CUT e respectiva
receita
Arrecadação da 7.3 -  8.3 -  Ordem – controlo da programação financeira,
receita de disponibilidade por fonte de recursos
investimento 7.1 -  7.1 -  Orçamental - realização da receita prevista
5.1 -  1.X -  Patrimonial – pela variação negativa do património,
baixa do bem alienado, por exemplo.

4.2 Execução Orçamentária da Despesa

Dotação orçamentária é a autorização da Assembleia da República para que as entidades do Estado


(unidades beneficiárias) realizem as despesas necessárias ao funcionamento dos serviços públicos.

iii. Actos de Natureza Orçamentária

Acto Orçamentário Débito Crédito Sistema


7.2 -  8.2 -  Orçamental – registo da dotação orçamentária na UI
do SOE
Dotação inicial
7.3 -  8.3 -  Ordem – controlo da programação financeira nas UI
do STP de PF e de Despesa
Movimentação da 8.2 -  8.2 -  Orçamental – dotação concedida, na UI do SOE
dotação 7.2 -  8.2 -  Orçamental – dotação recebida, na UGE
8.2 -  8.2 -  Orçamental – controlo da COD cabimentada
Cabimentação 7.2 -  8.2 -  Orçamental – controlo por nota de cabimento
8.3 -  8.3 -  Ordem – controlo da programação financeira, limite a
cabimentar autorizado

iv. Factos de Natureza Orçamentária

A liquidação da despesa corrente, excepto a despesa com aquisição de bens para fornecimento, é
facto modificativo que implicará uma saída de recursos da CUT para pagamento ao fornecedor e

- 26-
respectiva contabilização da despesa. Assim, seu registo envolve contas dos sistemas financeiro, de
ordem e orçamental.

Acto Orçamentário Débito Crédito Sistema


3.X -  2.1 -  Financeiro – contabilização da despesa e respectivo
compromisso com o fornecedor
Liquidação de 8.2 -  8.2 -  Orçamental – controlo da execução da despesa (por
despesa corrente COD e por NC)
7.3 -  7.3 -  Ordem – controlo da disponibilidade financeira já
compromissada

A liquidação da despesa de capital, excepto a transferência de capital, é facto permutativo, mas,


como implicará uma saída de recursos da CUT para pagamento ao fornecedor, haverá uma despesa e
a respectiva variação patrimonial positiva. Assim, seu registo envolve contas além dos sistemas
financeiro, de ordem e orçamental, também patrimonial.

Acto Orçamentário Débito Crédito Sistema


3.X -  2.1 -  Financeiro – contabilização da despesa e
respectivo compromisso com o fornecedor
8.2 -  8.2 -  Orçamental – controlo da execução da despesa
(por COD e por NC)
Liquidação de
despesa de Capital 7.3 -  7.3 -  Ordem – controlo da disponibilidade financeira já
compromissada
1.X -  6.1 -  Patrimonial – pela variação positiva do
património, registo do bem adquirido, por
exemplo.

4.3 Pagamento da Despesa

Embora o pagamento da despesa orçamentária seja um facto de natureza financeira tem reflexos
directos nas contas de controlo orçamental.

Acto Orçamentário Débito Crédito Sistema


2.1 -  1.1-  Financeiro – saída da CUT para o pagamento do
compromisso com o fornecedor
Pagamento da 8.2 -  8.2 -  Orçamental – controlo da execução da despesa (por
despesa orçamental COD e por NC)
8.3 -  7.3 -  Ordem – controlo da disponibilidade financeira
utilizada

4.3.1 Programação Financeira

A programação financeira é feita em três estágios, nomeadamente:

- 27-
 Registo da necessidade recurso financeiro – pela UGE;
 Registo da autorização do limite de cabimentação – pela UI do STP de PF; e
 Libertação da quota financeira – pela UI do STP de Despesa.

Nos dois primeiros estágios são movimentadas exclusivamente contas do sistema de ordem do grupo
7.3 e 8.3.

Genericamente, o grupo 7.3 representa quotas de programação financeira concedidas e o grupo 8.3,
recebidas.

O terceiro estágio da programação financeira, a libertação da quota financeira, além das contas dos
grupos 7.3 e 8.3, movimenta, também, as contas 1.1 (CUT) e uma conta de variação patrimonial:

Unidade CUT Variação patrimonial


UI do STP de Despesa 1.1 – C  5.1 – D  - Quota financeira concedida
UGE 1.1 – D  6.1 – C - Quota financeira recedida

4.3.2 Contabilização das Variações Patrimoniais

Para iniciar o assunto de Mecanismos de Débito e Crédito é necessário comparar a contabilização


dos factos na visão da Contabilidade Pública e da Contabilidade Empresarial.

Factos Contabilidade Equação Patrimonial


R
Contabilidade Empresarial A – P = PL  
Factos Modificativos D
(altera o PL) VA
Contabilidade Pública A – P = PL  
VP
Bens
Contabilidade Empresarial  A  - P = PL
Factos Permutativos Bancos
(aquisição de bens) Bens VA
Contabilidade Pública  A  - P =  PL 
Bancos Despesa
* VA – Variação Activa / VP – Variação Passiva

a) Na contabilização dos factos modificativos os registos são iguais, em ambas contabilidades, ou


seja, ocorre uma modificação na quantidade do Património.

b) Na contabilização dos factos permutativos, os registos são efectuados de forma diferente, ou seja:

- 28-
 Contabilidade Empresarial – as mutações são realizadas no Património sem passar pelo
Resultado do Exercício;

 Contabilidade Pública – as mutações são realizadas no Património em contrapartida com o


Resultado do Exercício.

Todos os factos modificativos ou permutativos, na Contabilidade Pública, passam pelo Resultado do


Exercício, sendo esta uma particularidade desta Contabilidade.

4.3.3 Contas de Resultado

As contas de resultados, como já mencionado em itens anteriores, são aquelas representadas pelas:
 Classe 3 – Despesas Orçamentais
 Classe 4 – Receitas Orçamentais
 Classe 5 – Resultado Da Variação Patrimonial Negativa
 Classe 6 – Resultado Da Variação Patrimonial Positiva

Podem ser divididas da seguinte forma:

Variações Passivas Variações Activas


3- Despesas Orçamentais 4- Receitas Orçamentais
5- Resultado da Variação Patrimonial Negativa 6- Resultado da Variação Patrimonial Positiva

Resumindo: As contas que alteram a situação líquida patrimonial são, portanto:

Variações Activas – decorrentes de aumento do Activo ou diminuição de Passivo. É uma


variação positiva da Situação Líquida do Património.
Variações Passivas – decorrentes de diminuição do Activo ou aumento do Passivo. É uma
variação negativa da Situação Líquida do Património.

4.3.4 Mecanismos de Débito e Crédito – do Activo

As contas do Activo são debitadas pelos aumentos dos seus componentes e creditadas pela
diminuição de seus componentes.

v. Aumentos

A equação fundamental do património é definida por A – P = PL. Quando se aumenta os


componentes do Activo, a situação líquida patrimonial, também aumenta, conforme se observa na
equação demonstrada a seguir:

- 29-
Débito VA
 A - P = SLP

Quando se aumenta os componentes do Activo, se verifica, normalmente, uma Variação Activa


(Classes 4 ou 6). As contas do Activo são debitadas pelos aumentos dos seus componentes
patrimoniais, decorrentes de incorporações de bens e direitos e têm, como contrapartida dos débitos,
uma Variação Activa, representada por:

Débitos Créditos
Classe (4) Receita Orçamental, quando se tratar de entrada de recursos
financeiros, como, por exemplo, a arrecadação da receita;
Activo
Classe (6) Resultado Da Variação Patrimonial Positiva, quando se tratar de
incorporação de activos, dependentes ou não da execução orçamental da receita.

Exemplo: entradas de recursos financeiros decorrente de transferências recebidas de outras unidades


(quota recebida)  Debito na CUT (1.1.1.2 – activo circulante disponível em banco) seus
respectivos créditos são lançados em conta da classe 6 (6.1.2.1. – transferências financeiras
recebidas);

Esta é a regra básica de aumento do Activo, porém existem exceções onde as contrapartidas não são
as Classes 4 ou 6, nomeadamente:

 Operações de tesouraria a crédito (recursos de terceiros) - seus respectivos créditos são lançados
em conta da classe 2 (2.1.1.4.5 – passivo circulante, retenções a curto prazo, depósitos); e

 Devolução de pagamento de obrigações dentro do próprio exercício - seu respectivo crédito é


lançado em conta da classe 2 (2.1.3.8.2 – passivo circulante, obrigações a pagar, ordens de
pagamento canceladas para repagamento).

vi. Diminuições

As contas do Activo serão creditadas pelas suas diminuições e têm, como contrapartida dos créditos
uma Variação Passiva representada pela classe (3) Despesa Orçamentária, quando se tratar de
pagamento da despesa, e classe (5) Resultado Da Variação Patrimonial Passiva, quando se tratar de
desincorporação do Activo.

A - P = SLP

- 30-
Há situações que a diminuição dos componentes do Activo ocorre em contrapartida a uma conta de
obrigação da classe (2) Passivo, representando um facto permutativo, ou seja, uma troca de um
activo por obrigação, mas sem afectar a situação patrimonial. Essas situações representam o
pagamento do passivo financeiro e a devolução de depósitos de terceiros:

 Pagamento de despesa liquidada no mesmo exercício – 2.1.3.1.1.00


 Pagamento de despesa por pagar – 2.1.3.6.1.00;
 Devolução de recursos de terceiros – 2.1.1.4.5.XX;

Créditos Débitos
- Classe (2) Passivo, quando se tratar de pagamento de obrigação.
- Classe (3) Despesa Orçamental, quando se tratar de pagamento de despesa, e não for
Activo pagamento do passivo financeiro (despesa liquidada).
- Classe (5) Resultado Da Variação Patrimonial Negativa, quando se tratar de
desincorporação de activos, dependentes ou não da execução orçamental da despesa.

A concessão de adiantamento de fundos (AFU) ao gestor não representa uma diminuição de activo,
pois o recurso financeiro sai da CUT (1.1.1.2.2.00) e fica à disposição do Estado nas mãos de um
funcionário público representado pela conta 1.1.1.2.3.00.

Com a prestação de contas do gestor, a diminuição do activo (crédito na 1.1.1.2.3.00) implica o


débito na conta de despesa (classe 3).

4.3.5 Mecanismos de Débito e Crédito – do Passivo

As contas do Passivo são creditadas pelos aumentos dos seus componentes e debitadas pela
diminuição.

vii. Aumentos

Quando se aumenta os componentes do Passivo, a situação líquida patrimonial diminuem, ou seja,


temos uma Variação Passiva.

A - P = SLP

Quando se aumenta os componentes do Passivo, se verifica, normalmente, uma Variação Passiva


(Classes 3 e 5). As contas do Passivo são creditadas pelos aumentos dos seus componentes
patrimoniais, decorrentes de incorporações de obrigações e têm, como contrapartida dos créditos:

- 31-
Créditos Débitos
Classe (3) Despesas Orçamentais, quando se tratar da liquidação da despesa.
Passivo Classe (5) Resultado Da Variação Patrimonial Negativa, quando se tratar de
incorporação de passivos, dependentes ou não da execução orçamental da despesa.

Esta é a regra básica de aumento do Passivo. Outra situação que se deve considerar é quando ocorre
uma contra partida do Passivo ser uma conta da Classe do Activo. Neste caso, não existe de uma
Variação Passiva, e sim, um facto permutativo, ou seja, somente troca de itens patrimoniais, sem
afectar sua situação:

Créditos Débitos
- Entrada de Recursos na CUT (1 Activo) pelo recebimento de Operação de
Tesouraria à Crédito (2.1.1.4.5.XX)
Passivo
- Entrada de Recursos na CUT (1 Activo) pelo recebimento de Recursos relativos à
cancelamento de OP para repagamento (2.1.3.8.2.00).

viii. Diminuições

As contas do Passivo serão debitadas pelas suas diminuições e têm, como contrapartida dos débitos
a CUT (1.1.1.2.2.00), quando se tratar de pagamento das obrigações financeiras, e Variação Activa,
representada pela classe (6) Resultado Da Variação Patrimonial Positiva, quando se tratar de
desincorporação do Passivo.

Quando diminuímos os componentes do Passivo em contrapartida a uma conta da classe (6)


Resultado Da Variação Patrimonial Positiva, a situação patrimonial sofre uma variação positiva,
também chamada de Variações Activas:

A - P = SLP

Porém quando a diminuição dos componentes do Passivo ocorre em contrapartida a uma conta da
Classe (1) do Activo, representa um facto permutativo, ou seja, uma troca obrigação e de numerário,
mas sem afectar a situação patrimonial.

Débitos Créditos
- Pela Classe (1) Activo, quando se tratar de pagamento de obrigação. Facto
Permutativo.
Passivo - Pela Classe (6) Resultado da Variação Patrimonial Positiva, quando se tratar de
desincorporação de passivo, dependentes ou não da execução orçamental da
despesa.

- 32-
4.4 RECEITA PÚBLICA

Receita pública, em sentido amplo, caracteriza-se como um ingresso de recursos ao património


público, mas especificamente como uma entrada de recursos financeiros que se reflete no aumento
das disponibilidades.16

Constituem receita pública todos os recursos monetários, seja qual for a sua fonte ou natureza,
postos à disposição do Estado, com ressalva daquelas que o Estado seja mero depositário
temporário.

Os valores de terceiros, tais como cauções, depósitos judiciais ou recursais, não representam valores
do Estado e são classificados como ingressos extraorçamentais (receita extraorçamental).

4.4.1 Estágios da Realização da Receita

Estágios da receita são etapas, períodos, operações, classificações para efeitos didáticos, que
guardam relação com definições legais específicas e com a sistemática adotada pela administração
financeira pública.17

A realização da receita compreende cinco estágios segundo o artigo 42 da Lei nº 14/2020, 23 de


Dezembro:

i. Previsão – Consiste no processo de estimativa da receita de quanto se espera arrecadar durante o


exercício económico;
ii. Lançamento – Consiste na verificação da ocorrência do facto gerador da obrigação
Correspondente;
iii. Liquidação – Consiste no cálculo do montante da receita devida e identificação do respectivo
sujeito passivo;
iv. Cobrança – Consiste na acção de cobrar, receber ou tomar posse da receita;
v. Recolha – Consiste na entrega ao Tesouro Público do montante da receita cobrada.

Só através do recolhimento, para a CUT, é que se pode dizer que os recursos estarão efectivamente
disponíveis para utilização pelos gestores financeiros, de acordo com a programação que for

16
PISCITELLI e TIMBÓ_____ p.138.
17
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 141

- 33-
estabelecida. Em função da adopção do regime de caixa para o lançamento da receita pública,
somente essa fase ocasiona registos contabilísticos no e-SISTAFE, que estão a seguir descritos:

Registos Contabilísticos
Operação Contabilística
Débito Crédito
11001 - Previsão Inicial da 7.1.1.1.1.00 – Receita a Realizar 8.1.1.1.0.00 – Previsão Inicial da
Receita Classificada Receita

Recolhimento da Receita Classificada – OC – 12001 + 41004

Código e Título da Conta Reg Código e Título da Conta Reg


1.1.1.2.2.00 – Banco CUT D 4.X.X.X.X.XX – Receita C
7.1.1.2.1.00 – Receita Realizada D 7.1.1.1.1.00 – Receita a Realizar C
7.3.2.1.0.00 – Disponibilidades por FR D 8.3.2.0.0.00 – Disponib. Financeiras C

4.4.2 Anulação da Receita

Em função da adopção do regime de caixa utilizado para o registo da receita pública, a restituição da
receita arrecadada indevidamente, quando ocorra no respectivo exercício da sua arrecadação, deve
ser efectuada nesse exercício, mediante anulação do valor na rubrica orçamental respectiva.

Quando a restituição da receita arrecadada indevidamente ocorra em exercícios posteriores, esta


deverá ser realizada em rubrica orçamental de despesa adequada, do exercício em que ela ocorrer.

4.4.3 Mutações Activas - exemplos de registos contabilísticos

As mutações activas podem ser encontradas em registos contabilísticos decorrentes da execução


orçamental da despesa, afectos às seguintes situações:

 Incorporação de activos e
 Desincorporação de passivos.

Registos Contabilísticos:

Mutações Activas - Incorporação de Activos

Aquisição de Bens Móveis – OC 24113


Sistema contabilístico
D C
3.2.1.x.x.xx 2.1.3.1.1.00 – Fornecedores Financeiro
1.3.1.1.2.00 6.1.3.1.1.00 Patrimonial
8.2.1.3.1.00 8.2.1.3.2.00
Orçamentário
8.2.4.1.1.01 8.2.4.1.2.01
8.3.2.0.0.00 7.3.2.1.0.00 Ordem

- 34-
Mutações Activas – Desincorporação de Passivos

Amortização da Dívida – OC 24116


Sistema contabilístico
D C
3.2.4.2.0.xx 2.1.3.4.2.00 – Dívida a pagar Financeiro
2.2.2.1.1.00 6.1.3.3.1.00 Financeiro
8.2.1.3.1.00 8.2.1.3.2.00
Orçamentário
8.2.4.1.1.01 8.2.4.1.2.01

4.5 DESPESA PÚBLICA

Constitui despesa pública todo o dispêndio de recursos monetários, seja qual for a sua proveniência
ou natureza, gastos pelo Estado, com ressalva dos dispêndios extraorçamentais, ou seja, os
pagamentos referentes a obrigações inscritas em Despesa por Pagar e as devoluções de depósitos de
terceiros (cauções, depósitos judiciais e recursais).

Como o Orçamento do Estado é anual, as verbas orçamentais não utilizadas em um exercício não
poderão ser transferidas para o próximo exercício.

4.5.1 Fases da Despesa Pública

A Lei nº 14/2020, 23 de Dezembro, artigo 43, estipula que a realização da despesa compreende
quatro fases, nomeadamente:

i. Fixação - Consiste no processo de registo dos limites da despesa aprovadas pela lei que aprova o
Plano Economico e Social a o Orçamento do Estado.

Registos Contabilísticos
Operação Contabilística
Débito Crédito
11001 – Fixação Inicial da 7.2.1.1.0.00 – Dotação Inicial 8.2.1.1.0.00 Dotação Disponível
Despesa

ii. Cabimento – Consiste no acto administrativo de verificação, registo e cativo do valor do


encargo a assumir pelo Estado de forma parcial ou total. Este acto só pode ser efectuado pelo
gestor público se a Unidade Gestora possuir saldo suficiente nas contas denominadas dotações
disponíveis e quota de limite orçamental a utilizar.

Os registos contabilísticos, quando da emissão de um Cabimento, são os seguintes:

- 35-
Emissão do Cabimento – OC - 23001:

Código e Título da Conta Registo Código e Título da Conta Registo


8.2.1.3.1.00 – Dotação Cabimentada
8.2.1.1.0.00 – Dotação Disponível D- C-
a Liquidar
8.3.1.4.1.00 - Quota de Limite 8.3.1.4.2.00 – Quota de Limite
D- C-
Orçamental a Utilizar Orçamental Utilizada
7.2.4.1.1.00 – Emissão de Nota de 8.2.4.1.1.01 – Cabimentos a
D- C-
Cabimento Liquidar

iii. Liquidação – é onde se verifica a entrega dos bens ou serviços contratados, bem como o
apuramento do valor que efectivamente há a pagar para emissão da competente ordem de
pagamento. “A liquidação da despesa (...) consiste no acto de verificação do direito adquirido
pelo credor ou entidade beneficiária, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do
respectivo crédito...”18

Os registos contabilísticos são:

Liquidação de Despesa – OC – 240XX + Apropriação de Obrigação – OC – 430XX:

Código e Título da Conta Registo Código e Título da Conta Registo


3.X.X.X.XX – Despesa D- 2.1.X.X.X.XX – Obrigação C-
8.2.1.3.1.00 – Dotação 8.2.1.3.2.00 – Dotação Cabimentada
D- C-
Cabimentada a Liquidar Liquidada
8.2.4.1.1.01 – Cabimentos a 8.2.4.1.2.01 – Cabimentos
D- C-
Liquidar Liquidados
8.3.2.0.0.00 – Disponibilidades 7.3.2.1.0.00 – Disponibilidades por
D- C-
Financeiras FR
7.3.2.1.0.00 – Disponibilidades 8.3.2.0.0.00 – Disponibilidades
D- C-
por FR Financeiras

iv. Pagamento – é a entrega de uma importância em dinheiro ao titular do documento de despesa.


“O pagamento será feito mediante saque contra o agente financeiro, para crédito em conta
bancária do credor, no banco por ele indicado...”19

Os registos contabilísticos são:

Liquidação de Obrigações –OC – 440XX + Pagamento - OC - 42004:

18
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 190
19
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 192

- 36-
Código e Título da Conta Registo Código e Título da Conta Registo
2.1.X.X.X.XX – Obrigação D- 1.1.1.2.2.00 – Banco CUT C-
8.2.1.3.2.00 – Dotação 8.2.1.3.3.00 – Dotação Cabimentada
D- C-
Cabimentada Liquidada Paga
8.2.4.1.2.01 – Cabimentos
D- 8.2.4.1.3.01 – Cabimentos Pagos C-
Liquidados
8.3.2.0.0.00 – Disponibilidades 7.3.2.1.0.00 – Disponibilidades por
D- C-
Financeiras FR
7.3.3.2.9.00 – Outros Controlos 7.3.3.2.2.00 – Controlo no
D- C-
de Disponibilidade Financeira Pagamento da Despesa

4.5.2 Fundo de Maneio

Pode ser autorizada a realização de despesas sob o regime de adiantamentos em numerário,


denominado fundo de maneio, para atender despesas cujos valores seja de pequena monta e para as
quais se dispense o cumprimento do normal processo de realização de despesas. O Fundo de Maneio
pode ser executado por meio de duas modalidades:

 Fundo de Maneio para Despesas Sigilosas


 Fundo de Maneio para Despesas Gerais

O limite máximo para concessão de fundos sob o regime de fundo de maneio é definido pelo
Ministério da Economia e Finanças e registado no e-SISTAFE pela Direcção Nacional de
Contabilidade Pública, actualmente estipulado em 6.000,00 meticais.20

Os registos contabilísticos referentes a realização de despesa como fundo de maneio assemelham-se


aos de realização de despesa por meio de Adiantamento de Fundos à UGB.

4.5.3 Despesas por Pagar

Restos a pagar (despesa por pagar) são as despesas, pendentes de pagamento na data de
encerramento do exercício financeiro, inscritas contabilisticamente como obrigações a pagar no
exercício seguinte. Consideram-se despesas por Pagar, as despesas cabimentadas, liquidadas e não
pagas até 31 de Dezembro, distinguindo-se as despesas processadas das não processadas.

A Lei nº 9/2002, art. 31, define que “constituem despesas por pagar as despesas liquidadas e não
pagas até 31 de Dezembro”. Assim, em Moçambique, as despesas cabimentadas e não liquidadas
não poderão ser inscritas.

As despesas por pagar devem ser anuladas, caso não sejam pagas decorrido o exercício seguinte.
20
Artigo 49 do Diploma Ministerial n.º 181/2013, de 14 de Outubro - Manual da administração Financeira (MAF)

- 37-
A inscrição em restos a pagar é feita na data do encerramento do exercício financeiro de emissão da
nota de empenho, mediante registos contábeis; nessa mesma data, processa-se também a baixa da
inscrição feita no encerramento do exercício anterior (...) É vedada a reinscrição.21

Quando há despesa por pagar, o lançamento contabilístico da despesa corre à conta do orçamento do
exercício em que foi cabimentada; no exercício do pagamento, o desembolso afetará apenas o fluxo
de recursos financeiros do Tesouro.

4.5.4 Anulação de despesa

Em função da adopção do regime de compromissos para o registo da despesa pública, os valores das
despesas anulados no exercício reverte à respectiva dotação.

Quando a anulação ocorrer após o encerramento do respectivo exercício económico, o valor anulado
deverá ser considerado receita do ano em que a anulação se efectivar.

4.6 Mutações Passivas - Exemplos De Registos Contabilísticos

As mutações passivas podem ser encontradas em registos contabilísticos decorrentes da execução


orçamental da receita, afectos às seguintes situações:
 Incorporação de passivos e
 Desincorporação de activos.

Registos Contabilísticos:

a) Mutações Passivas - Incorporação de Passivos – operação de crédito a longo prazo

Receitas de Empréstimos – OC 12010


Sistemas contabilísticos
D C
CUT 4.x.x.x.x.xx Financeiro
7.1.1.2.1.00 7.1.1.1.1.00 Orçamental
7.3.2.1.0.00 8.3.2.0.0.00 Ordem
5.1.3.3.1.00 2.2.2.1.2.00 Patrimonial

b) Mutações Passivas – Desincorporação de Activos – alienação de bens

Receitas de Alienação de Bens – OC 12006


Sistemas contabilísticos
D C
CUT 4.x.x.x.x.xx - SF Financeiro
7.1.1.2.1.00 7.1.1.11.00 Orçamental
7.3.2.1.0.00 8.3.2.0.0.00 Ordem
5.1.3.1.3.01 1.1.3.2.5.00 - SP Patrimonial

21
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 193

- 38-
TÍTULO III – DEMONSTRATIVOS CONTABILÍSTICOS

5 Balanço e Demonstrativos

Os resultados gerais do exercício são demonstrados nos Balanços Orçamentário e Financeiro e na


Demonstração das Variações Patrimoniais e a situação patrimonial, no Balanço Patrimonial.

Balanço em Contabilidade é a apuração de determinado património, em determinado instante,


representada, sinteticamente, num quadro de duas seções: Activo e Passivo (...)22

Como se pode constatar, a denominação de balanço para os resultados da execução orçamentária e


financeira não é a mais adequada, pois trata-se de demonstrativos de fluxos, do mesmo modo que a
Demonstração das Variações Patrimoniais. Já o Balanço Patrimonial é o único dos demonstrativos
obrigatórios que se apresenta como estático, isto é, referente à situação em determinado momento.23

A Lei 14/2020, 23 de Dezembro, em seu artigo 43, define que o Governo elaborará balanço a fim de
evidenciar a execução orçamental e financeira, no fim de cada exercício económico.

O artigo 88, do Decreto 23/2004 (Regulamento do SISTAFE) define que o Balanço é composto
pelos resultados das componentes Orçamental, Financeira e Patrimonial.

As demonstrações contabilísticas que serão abordadas são:

 Balanço Orçamental
 Balanço Financeiro
 Balanço Patrimonial
 Demonstração das Variações Patrimoniais

5.1 Balanço Orçamentário

O Balanço Orçamental demonstra as receitas previstas e as despesas fixadas, comparadas com as


realizadas.

"O Balanço Orçamental demonstra, para cada Gestão, as receitas previstas e as despesas fixadas,
comparadas com as realizadas em que o resultado final do exercício será obtido estabelecendo-se as
diferenças para mais ou para menos, que poderá resultar num défice ou superavit, no caso da receita

22
KOHAMA, Heilio. Contabilidade Pública, Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 10ª ed. 2009, p.256.
23
PISCITELLI e TIMBÓ____ pg. 393.

- 39-
e num superavit, no caso da despesa." - N.º 2 do Artigo 88 do Decreto 23/2004 de 20 de Agosto -
Regulamento do SISTAFE.

Por outras palavras, o Balanço Orçamental é o demonstrativo que tem como objectivo apresentar as
informações da execução orçamental do exercício económico, quer a nível das receitas, quer a nível
das despesas, geralmente agrupadas por categoria económica (corrente e de capital) e com o detalhe
até ao segundo nível (origem fiscal/não fiscal no caso das receitas e grupo agregado da despesa no
caso das despesas), comparando o que foi orçamentado com o que foi executado.

Para se calcular o Resultado Orçamental, compara-se o total da receita realizada com o total da
despesa executada. Desta forma, poderão surgir três situações distintas:

 SUPERÁVITE ORÇAMENTAL
Receita Realizada > Despesa Realizada
 DÉFICE ORÇAMENTAL
Receita Realizada < Despesa Realizada
 EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL (RESULTADO NULO)
Receita Realizada = Despesa Realizada

Apresentação gráfica do Balanço Orçamental:

BALANÇO ORÇAMENTAL
RECEITAS DESPESAS
Tipo Previsão Execução Diferença Tipo Fixação Execução Diferença

Correntes
- Tributarias Correntes
- Contribuições sociais
- Patrimoniais - Despesas com Pessoal
- Exploração de bens do - Bens e serviços
domínio publico - Encargos da dívida
- Venda de bens e serviços - Transferências correntes
- Donativos correntes - Subsídios
- Transferências correntes - Exercícios findos
-Outras Receitas Correntes - Demais despesas correntes
Capital Capital
- Empréstimos - Bens de capital
- Alienações do património - Transferências de capital
do estado - Operações financeiras
- Amortizações de - Demais despesas de capital
empréstimos concedidos
- Donativos de capital
- Transferências de capital
- Outras receitas de capital
SUBTOTAL SUBTOTAL
DÉFICE SUPERÁVIT
TOTAL TOTAL

- 40-
5.2 Balanço Financeiro

O Balanço Financeiro demonstra todas as entradas (ingressos) e saídas (dispêndios) de recursos,


conjugando-se as entradas com o saldo disponível proveniente do exercício anterior e as saídas com
o saldo disponível que vai para o exercício seguinte.

"O Balanço Financeiro demonstra, para cada Gestão, a receita e a despesa orçamentais realizadas,
bem como os recebimentos e os pagamentos de natureza não orçamental, conjugados com os saldos
do exercício anterior." - N.º 3 do Artigo 88 do Decreto 23/2004 de 20 de Agosto - Regulamento do
SISTAFE.

Na movimentação, tudo o que entrar em numerário ou depósito bancário será considerado


“ingresso”, quer de origem orçamental, quer de origem não orçamental, sendo acrescido aos valores
já existentes no cofre. Ao contrário, também por força da movimentação, tudo o que for retirado do
cofre será considerado “dispêndio” e pode ser de origem orçamental ou extraorçamental, sendo
deduzido dos valores existentes no cofre. Assim, registrando-se todos esses saldos, tem-se a seguinte
situação: Saldo iniciais (anterior) + entradas (ingressos) – saídas (dispêndios) = saldo existente
(actual).

Demonstração gráfica do Balanço Financeiro:

BALANÇO FINANCEIRO
RECEITAS DESPESAS

Orçamental Orçamental
 Receitas Correntes  Despesas Correntes
 Receitas de Capital  Despesas de Capital

Transferências Activas Transferências Passivas


 Quota Financeira Recebida  Quota Financeira Concedida
 Subsídio de Tesouraria Recebido  Subsídio de Tesouraria Concedido
 Transferência Recebida para Pagto Despesa  Transferência Concedida para Pagto Despesa por
por Pagar Pagar
Extraorçamental
Extraorçamental  Direitos
 Direitos  Obrigações
 Obrigações  Despesa por Pagar
 Despesa por Pagar
Disponibilidade para o Exercício Seguinte
Disponibilidade do Exercício Anterior o Caixa
o Caixa o Banco CUT
o Banco CUT o Aplicação Financeira
o Aplicação Financeira
TOTAL TOTAL

- 41-
5.3 Balanço Patrimonial

O Balanço Patrimonial demonstrará a situação estática dos bens, direitos e obrigações e indicará o
valor dos Fundos Próprios, num determinado momento.

Apresentação gráfica:

BALANÇO PATRIMONIAL
ACTIVO PASSIVO
Financeiro Financeiro
o Disponível (*) o Despesa por pagar
o Créditos em circulação o Retenções de terceiros
o Depósitos de terceiros
Não-Financeiro Não-Financeiro
o Circulante (menos o Activo Financeiro o Circulante (menos o Passivo Financeiro
– estoques etc) – operações de crédito etc)
o Realizável a Longo Prazo o Exigível a Longo Prazo
o Imobilizado o Resultado de Exercícios Futuros
Subtotal – Activo Real Subtotal – Passivo Real
Fundos Próprios
o Saldo Patrimonial se negativo: Passivo o Saldo Patrimonial se positivo: Activo
Real a Descoberto Real Líquido
TOTAL DO ACTIVO TOTAL DO PASSIVO
(*)
O “Disponível” registado no Activo Financeiro deve ser igual à “Disponibilidade para o
Exercício Seguinte” constante do Balanço Financeiro.

O Balanço Patrimonial na Contabilidade Pública apresentará os elementos patrimoniais separando


os financeiros dos não financeiros (patrimoniais), tanto para o activo como para o passivo

Esta forma de apresentação permite o cálculo do Superavit Financeiro que serve de fonte para
abertura de créditos adicionais.

No activo financeiro constarão as contas do sistema financeiro e no activo não-financeiro, as contas


do sistema patrimonial.

No Passivo Financeiro constarão os compromissos exigíveis que não dependem de autorização


orçamentária e no Passivo Não-Financeiro, os que dependem de autorização orçamentária.

Activo Real representa o somatório dos bens e direitos existentes no Estado, ou seja, os valores
contidos no activo financeiro e não-financeiro.

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Passivo Real é o somatório de todas as obrigações do estado, financeiras e não-financeiras, ou seja,
soma do passivo financeiro com o não-financeiro.

O saldo patrimonial é a diferença entre o activo real e o passivo real, que pode representar três
situações:

 ACTIVO REAL LÍQUIDO


Activo Real > Passivo Real
 PASSIVO REAL A DESCOBERTO
Activo Real < Passivo Real
 PATRIMÓNIO LÍQUIDO NULO
Activo Real = Passivo Real

5.4 Demonstração das Variações Patrimoniais

A Demonstração das Variações Patrimoniais tem como objectivo mostrar todas as variações
positivas e negativas ocorridas no patrimônio, num determinado período. Esta demonstração
evidenciará as alterações verificadas no Património, resultantes e independentes da execução
orçamental, e indicará o Resultado Patrimonial do Exercício.

A Demonstração das Variações Patrimoniais é um demonstrativo de duas colunas que evidenciará as


Variações Activas e Passivas e ainda, o Resultado Patrimonial do Exercício.

Demonstração gráfica da Demonstração das Variações Patrimoniais:

DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS


VARIAÇÕES ACTIVAS VARIAÇÕES PASSIVAS
Orçamental Orçamental
Receita Orçamental Despesa Orçamental
Receitas Correntes Despesas Correntes
Receitas de Capital Despesas de Capital

Transferências Activas Transferências Passivas


Quota Financeira Recebida Quota Financeira Concedida

Mutações Activas Mutações Passivas


Incorporação de Bens e Direitos Incorporação de Passivos
Desincorporação de Passivos Desincorporação de Bens e Direitos

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Extraorçamental Extraorçamental
Transferências Activas Transferências Passivas
Subsídio de Tesouraria Recebido Subsídio de Tesouraria Concedido
Transferência Recebida para Pagto Despesa Transferência Concedida para Pagto Despesa
por Pagar por Pagar

Acréscimos Patrimoniais Decréscimos Patrimoniais


Incorporação de Bens e Direitos Incorporação de Passivos
Desincorporação de Passivos Desincorporação de Bens e Direitos
RESULTADO PATRIMONIAL - Défice RESULTADO PATRIMONIAL - Superavit
TOTAL VARIAÇÕES ACTIVAS TOTAL VARIAÇÕES PASSIVAS

A diferença entre o saldo patrimonial do exercício e o do exercício anterior, registados nos Balanços
Patrimoniais dos respectivos exercícios, deverá ser igual ao resultado patrimonial apurado nesta
demonstração.

6 Conta Geral do Estado

A Conta Geral do Estado tem por objecto evidenciar a execução orçamental e financeira, bem como
apresentar o resultado do exercício e a avaliação do desempenho dos órgãos e instituições do Estado
e deve ser apresentada anualmente à Assembleia da República pelo Governo.

A Conta Geral do Estado evidenciará os ordenadores e gestores de despesas inscritos em


“Responsabilidades Diversas” em decorrência de irregularidades apuradas nos processos de
prestação de contas ou da não apresentação dos mesmos.

6.1 Princípios e Regras

A Conta Geral do Estado:


 Deve ser elaborada com clareza, exatidão e simplicidade, de modo a possibilitar a sua análise
económica e financeira;
 Deve reflectir a observância do grau de cumprimento dos princípios de regularidade financeira,
legalidade, economicidade, eficiência e eficácia na obtenção e aplicação dos recursos públicos
colocados à disposição dos órgãos e instituições do Estado;
 Deve ser elaborada com base nos princípios e regras de contabilidade geralmente aceites, tendo
em vista reflectir a situação financeira e os resultados da execução orçamental dos órgãos e
instituições do Estado

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6.2 Estrutura

A Conta Geral do Estado é estruturada de modo a apresentar as seguintes informações:

a) Relatório do Governo sobre resultados da gestão orçamental referente ao exercício económico;


b) Financiamento Global do Orçamento do Estado com discriminação da situação das fontes de
financiamento;
c) Balanço, que é composto pelos resultados das componentes Orçamental, Financeira e
Patrimonial, subdividindo-se em: Balanço Orçamental, Balanço Financeiro e Balanço
Patrimonial.
d) Mapas de Execução Orçamental, comparativos entre as previsões orçamentais e a receita
cobrada e a despesa liquidada e ou paga;
e) Demonstração de Resultados, cujo apuramento será obtido pela comparação das Variações
Activas e Passivas resultantes ou independentes da execução orçamental;
f) Anexos às Demonstrações Financeira;
g) Mapas do Activos e Passivos Financeiros existentes no início e no final do exercício financeiro;
h) Mapa Consolidado Anual do Movimento de Fundos por Operações de Tesouraria;
i) Anexos relativos a:
i. Inventário Consolidado do Património do Estado;
ii. Resumo das receitas, despesas e saldos das instituições com autonomia administrativa e
financeira;
iii. Resumo das receitas, despesas e saldos das autarquias;
iv. Resumo das receitas, despesas e saldos das empresas do Estado.

6.3 Prazos

O Governo deve apresentar à Assembleia da República e ao Tribunal Administrativo a Conta Geral


do Estado até 31 de Abril do ano subsequente àquele a que a referida conta respeite.

O Relatório e o Parecer do Tribunal Administrativo sobre a Conta Geral do Estado devem ser
enviados à Assembleia da República até o dia 30 de Novembro do ano seguinte àquele que a Conta
Geral do Estado respeite.

A Assembleia da República aprecia e aprova a Conta Geral do Estado, na sessão seguinte à entrega
do Relatório e Parecer pelo Tribunal Administrativo.

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