Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
N’umbuntu em Revista
nas em sua formação, quanto por
ausência de políticas públicas, que nova edição da N’um-
minimizam a importância das rela- buntu em Revista coloca em evi-
ções étnico-raciais, de gênero e se- dência diferentes espaços onde o
xualidade. debate sobre as relações étnico-ra-
Com isso, os artigos aqui colo-
cados pretendem a partir de dife-
N’umbuntu em Revista ciais pode ser promovido, seja no
ensino, na pesquisa, na extensão,
E speramos
Educação das Relações
rentes possibilidades problema- quanto nos movimentos sociais.
que esse número seja Desta forma, são processos que
tizar e desconstruir ideias ainda
cristalizadas em torno dos temas
uma contribuição para dentro e fora contribuem em alimentar o debate
que circulam na vida que, no en-
tanto, ainda parecem distantes do
da academia, impactando na formação dos
profissionais que estarão atuando na educação
Étnico-Raciais em Diferentes acadêmico na perspectiva de atuali-
zar as práticas educativas nos siste-
Contextos Sociais
chão da escola, mesmo com uma mas de ensino.
brasileira e nos países que são parceiros de nossa
legislação que determina estudos e Assim as discussões contribuem
universidade, abrindo caminhos para preparação de
Fundadores/Editores:
Prof. Dr. Ivan Costa Lima | UNILAB/CE
Profa. Dra. Gisela Villacorta Macambira | Faculdade de Ciências Sociais/UNIFESSPA
Coordenação
Prof. Dr. Ivan Costa Lima | UNILAB/CE
Profa. Dra. Gisela Villacorta Macambira | Faculdade de Ciências Sociais/UNIFESSPA
Prof. Dra. Ana Clédina R. Gomes | Faculdade de Educação/UNIFESSPA
Prof. Me. Janaílson Macedo Luíz | Faculdade de Educação do Campo/História/UNIFESSPA
Conselho Editorial
Dra. Ana Clédina Rodrigues Gomes | UNIFESSPA
Dra. Cícera Nunes | URCA
Dra. Gisela Macambira Villacorta | UFPA
Dr. Henrique Cunha Júnior | UFC
Dra. Idelma Santiago | UNIFESSPA
Dr. Ivan Costa Lima | UNILAB-CE
Me. Janaílson Macedo Luíz | UNIFESSPA
Dra. Joselina da Silva | UFRRJ
Dra. Jurema José de Oliveira | UFES
Dra. Maria Aparecida Silva | UFAL
Dra. Piedade Lino Videira | UFAP
Dra. Rebeca de Alcântara e Silva Meijer | UNILAB-CE
Apoio
PROEXT – Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Educacionais – UNIFESSPA
PROPIT – Pró-Reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Inovação Tecnológica/UNIFESSPA
PDTSA – Programa de Pós-graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia
N’BLAC – Núcleo Brasileiro, Latino Americano e Caribenho de Estudos em Relações
Raciais,Gênero e Movimentos Sociais/UFCa-Cariri
NACE- Núcleo de Africanidades Cearenses/UFC
NAFRICAB – Núcleo Africanidades e Brasilidades/UFES
NUDES- Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Diversidade e Educação/UFAL
GRUPO DE PESQUISA ÁFRICA-BRASIL: Produção de Conhecimento, Sociedade Civil,
Desenvolvimento e Cidadania Global/UNILAB-CE
Ivan Costa Lima
Gisela Macambira Villacorta
o r g a ni z a d o r e s
N’umbuntu em Revista
Vol. 2 | n. 5 | Jan./Jun. | 2019 | ISSN: 2358-9825
Fortaleza | 2019
O N’UMBUNTU é núcleo eletivo do curso de pedagogia da FACED/Marabá, criadoem
2011, com o intuito de discutir o pensamento social em torno das relações étnico raciais,
os movimentos sociais e suas interfaces com a educação no Brasil, com parceria do Progra-
ma de Pós-Graduação interdisciplinar em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia
(PDTSA).Atualmente, articula-se com o curso de Pedagogia da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, no Ceará. Seu codinome se referên-
cia no universo de matriz africana conhecido no País como nação Banto, cuja expressão mais
conhecida Ubuntu significa “Eu sou o que sou porque nós somos”. Articula ensino, pesquisa
e extensão em função da legislação educacional, que determina o estudo da história e cul-
tura africana e afro-brasileira, bem como pretende subsidiar educadores/as, estudantes e a
sociedade em geral em torno destas questões.
N’UMBUNTU EM REVISTA
É uma revista semestral, na publicação de estudos e pesquisas em educação e áreas afins,
divulgando a produção acadêmica, projetos de extensão e outras formas de expressão e pro-
dução de conhecimentos sobre educação das relações étnico-raciais e movimentos sociais
com interface com o espaço formal e não formal. Busca-se propiciar a troca de informações
e o debate sobre as principais questões emergentes destas áreas. As opiniões emitidas são de
responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desde
que citada à fonte.
Ficha Catalográfica
Artigos
Disponível em:
https://www.facebook.com/145982285483449/posts/606165839465089/.
Acesso em: junho/2019
APRESENTAÇÃO
11
Artigos
O RACISMO CONTEMPORÂNEO E
SEUS DERIVADOS, DIMENSÕES DO
SABER DOCENTE DE HUMANIZAÇÃO
ABSTRACT
Teaching requires specialized knowledge. Without this previous knowledge,
the professional teacher would be nothing less than someone who only
replicates contents. Teaching requires the ability to establish a level of
approximation with the learner and with the content to the point of creating
the connection that known as learning. Teacher training should be able
to establish the teacher as the subject of the pedagogical relationship that
focuses on facilitating student learning. Aiming at these essentials features,
we are developing the concept of knowing humanization teacher, a type of
skill/competence that facilitates the expected connection in the pedagogical
relationship, regard to humanizing and dehumanizing conflicts of the
subject. We present in this study, a research that was carried out in the city
of Baturité (CE), revealing to us some relevant dimensions of humanization
knowledge, among which, we highlight the problematization of racism,
prejudice, and racial discrimination.
Keywords: Teaching practice. Didactic. Humanization. Racism.
INTRODUÇÃO
Considerações finais
2
O termo africanidades brasileiras, segundo Silva (2005) são às raízes da cultura
brasileira que têm origem africana.
Referências
34
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
RESUMO
Sabe-se que o racismo no Brasil se mantém difuso e intenso, com drásticos
efeitos nas relações e nas condições de vida, sobretudo dos grupos
etnicorraciais afro-brasileiros. Percebe-se, ademais, que quando esse racismo
ocorre na escola acaba se confundindo com o bullying, um fenômeno que
ali sempre existiu, mas que ultimamente tem despertado maior preocupação
no(a)s profissionais da educação e na sociedade, em geral. Diante disso, viemos
apresentar um quadro local de alguns conflitos vivenciados por crianças negras,
aparentemente vítimas do bullying, sendo que suas relações conflituosas se
manifestam geralmente em forma de racismo e de discriminação etnicorracial.
Para a obtenção desse objetivo, foi realizado um estudo bibliográfico e de
campo (investigações teóricas, visitas e entrevistas em uma das escolas de
ensino fundamental de Redenção-CE). No primeiro momento, comenta-se
sobre o quadro geral da realidade da educação do(a)s negro(a)s no Brasil,
especificamente em uma análise do antes e do depois da Lei 10.639/03. Em
seguida, busca-se conceituar o racismo escolar como violência que excede o
bullying, trazendo informações desde a individuação desta ideia até as suas
atuais configurações de ódio e perseguição no ambiente escolar. Para finalizar,
expomos os resultados obtidos no campo, através de observações e entrevistas,
realizadas no 6o ano do ensino fundamental da escola em comento.
Palavras-chaves: Lei 10.639/03; Bullying racist; Racismo; Escola de Ensino
Fundamental; Município de Redenção-CE.
ABSTRACT
It is well known that racism in Brazil remains diffuse and intense, with
drastic effects on relations and living conditions, especially concerning Afro-
Brazilian ethno-racial groups. It is also noticed that when this racism occurs
in school, it ends up being confused with bullying, a phenomenon that has
always existed there, but which has recently aroused greater concern of
education professionals and of society in general. Given this, we have come
to present the local picture of some conflicts experienced by black children
victims of bullying, knowing that their conflictual relations are generally
manifested in the form of racism and ethno-racial discrimination. To achieve
this objective, a bibliographic and field study (theoretical investigations,
visits and interviews in one of the elementary schools of the municipality of
Redenção-CE) was carried out. In a first moment, it is commented on the
general educational conditions of black people in Brazil, specifically through
an analysis of before and after Law 10.639/03. Next, we seek to conceptualize
36 school racism as violence that exceeds bullying, bringing information from
the individuation of this idea to its present configurations of hatred and
persecution in the school environment. Finally, we intend to present the
results obtained in the field, through observations and interviews, carried
out in the 6th year of elementary school.
Keywords: Law 10.639/03; Racist Bullying; Racism; Elementary School;
Municipality of Redenção-CE Brazil.
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
Na busca de evidenciar as práticas e as consequências do
racismo em um contexto educacional local, delineamos, de ma-
neira preliminar, um panorama geral da realidade educacional
– consideravelmente desvantajosa – da população negra do Bra-
sil, na perspectiva de compreender a primazia da inserção, como
política pública de primeira necessidade, de ações para a promo-
ção da diversidade étnico-racial nesse contexto educacional. Para
tanto, faz-se necessária uma reflexão sobre as diretrizes para uma
educação antirracista, a partir do enfoque da Lei 10.630/03, que
altera a LDB n. 9394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção Básica), incluindo o ensino da História e da Cultura Afro-Bra-
sileira e Africana nos estabelecimentos de ensino da educação
básica, sejam estes públicos ou privados.
Não restam dúvidas de que essa mudança de perspectivas
antirracistas na Educação corresponde ao resultado histórico das
lutas do Movimento Negro (frentes e grupos compostos pela po-
pulação negra organizada, criados e articulados por ativistas e in-
telectuais negro(a)s para reivindicar os direitos dessa população).
Representando a luta dos povos negros brasileiros contra todas
as formas e expressões de violências racistas e dada a sua indig-
nação ante os efeitos que ainda rescendem dos discursos do mito
da democracia racial1, o Movimento Social Negro conseguiu trazer
o debate sobre a urgência de descolonização das mentes e dos
currículos da educação brasileira, no sentido de, primeiramente,
combater o racismo anti-negro e de, igualmente, contribuir para
a formação da consciência negra como matriz étnico-cultural ma-
joritária do país.
O segundo elemento apresentado no artigo é o da contro-
vérsia a respeito do bullying racial e suas configurações. Nesse
debate, Leão (2010) e Fante (2005) explicam o que é o bullying,
38 como problema escolar, e como se desenvolveram as primeiras
1
Segundo Zubaram e Silva (2012), as representações de discursos sobre o mito
da democracia racial brasileira só serviram para desvalorizar, cada vez mais, o(a)s
negro(a)s – diante de uma sociedade que se considera e que se vê ideologica-
mente como branca e cuja branquitude não é racialmente considerada.
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
Educação para a diversidade das Relações Étnico-
raciais, antes e depois da Lei 10.639/03
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
da sociedade brasileira, Lima (2010, p.28) destaca que, na escola,
o(a)s aluno(a)s
(...) acabam lendo a história de como portugueses, italia-
nos, alemães, japoneses, entre outros, ajudaram decisiva-
mente na construção do país. No entanto, o negro entra
na história contada no livro na condição de explorado, de
escravizado, de subalternizado, causando, com certeza,
a sensação de não pertencimento à humanidade (LIMA,
2010, p.28).
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
escravização, e da incessante luta do(a)s negro(a)s por igualda-
de de oportunidades – também noplano educacional -, percebe-
-se como ainda é sumamente necessário que o Estado promova
políticas públicas: que reconheçam e valorizem a presença e a
participação do(a)s afrodescendentes na formação do que é hoje
a sociedade brasileira – a despeito de todos os racismos, das desi-
gualdades extremas, das violentas e desumanas contradições con-
tra a maioria de sua população.
Depois de tantas lutas, somente no século XXI é que va-
mos, de fato, perceber algumas ações e políticas mais efetivas
de inclusão e de promoção da igualdade étnico-racial; mais em-
penhadas, por parte das autoridades brasileiras, com a dotação
de recursos, com o acesso a bens e serviços, assim como com
a materialização de direitos historicamente negados às popula-
ções negras no país. O Movimento Social Negro, com certeza,
obteve várias conquistas nos últimos vinte anos; e, sem dúvida,
no plano educacional, foi a promulgação da Lei 10.639/03 a
sua maior vitória. Com efeito, em janeiro de 2003, quando o
presidente Lula sancionou a Lei 10.639/03 – que altera a LDB
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), obrigando
a inclusão do ensino dos conteúdos de História e de Cultu-
ra Afro-brasileira e Africana em todos os currículos da Edu-
cação Básica, um grande passo rumo à igualdade étnico-racial
foi dado. Com o aporte das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004) (DCNs), a
luta das comunidades e das lideranças afro-brasileiras, diante
da Lei 10.639/03, alcança, pela primeira vez, um patamar for-
mal de garantia de reconhecimento e de inclusão da ancestrali-
dade africana na formação de crianças e de jovens. Trata-se, por
44 reconhecimento, da valorização e da afirmação de direitos ina-
lienáveis, no que concerne a educação em respeito e em com-
preensão da diversidade, da liberdade e da autodeterminação
de culturas, de indivíduos e de grupos sociais historicamente
marginalizados no Brasil desdesempre.
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
Todavia, após mais de 15 anos de a lei ter sido promul-
gada e posta em prática, as atenções ora se voltam às bases e às
relações de sua aplicação nas/para além das escolas, bem como
aos desdobramentos de suas disposições políticas – as quais ha-
veriam de se traduzir, no trabalho e na dinâmica educacionais,
como prática diuturna de conscientização e de liberdade. Com
ênfase, relativamente à presença e ao pertencimento afro-bra-
sileiro em nossa sociedade, pouco ou nada adiantaria a mera
aplicação formal da lei… se as mudanças ocorressem somente
dentro das previsões da LDB, sem a materialização de ações para
além dos muros da escola. Referimo-nos a ações as quais garan-
tam a efetividade dos preceitos legais – precisamente no inves-
timento da (trans)formação da realidade social de professore(a)
s, aluno(a)s, mães, pais, comunidade escolar e cidadã(o)s. Certo
é que as intenções da lei não hão de se realizar adequadamente
– no âmbito curricular – sem que sejam internadas concomitan-
temente na compreensão da necessidade de se conhecer e de se
vivenciar as práticas, as experiências e as reflexões de negritu-
des no cotidiano de cada vez mais cidadã(o)s brasileira(o)s. As
questões mais palpitantes na consecução desse objetivo talvez se
deem, por isso, no sentido de se avaliar se o(a)s professore(a)s
estão realmente preparados(a)s para vivenciar – conscienciosa e
criticamente – os conteúdos sobre o assunto. Como ressaltam os
autores Aguiar; Aguiar(2010):
As questões relativas à aplicabilidade da lei 10.639/03 já
foram e ainda são discutidas em diversos eventos cien-
tíficos, envolvendo vários especialistas, resultando em
propostas, posicionamentos, materiais de apoio aos pro-
fessores e outras ações. Entretanto, infelizmente, ainda
encontramos profissionais da educação sem o preparo
46 necessário para trabalhar as questões relativas à História
e à Cultura afro-brasileira e africana (AGUIAR; AGUIAR,
2010, p.94).
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
em viabilização dos conteúdos e das reflexões de uma educação
verdadeiramente voltada para o reconhecimento e a valorização
da diversidade e da igualdade étnico-racial no Brasil.
2
O termo bullying não corresponde, em português, a uma tradução precisa, daí a
consagração, entre nós, do nome em inglês – para referir-se a uma forma especí-
fica de assédio, que pode ser moral, físico e/ou intelectual. Na verdade, a prática
de bullying corresponde ao emprego de força física, de ameaça e/ou de qualquer
tipo de coerção ou constrangimento, com o intuito de abusar, intimidar ou domi-
nar violentamente alguém, de forma frequente e habitual. Um pré-requisito para
se detectar o bullying é a percepção, pelo intimidador/abusador/assediador ou
por outros, de que há um desequilíbrio de poder ou de força, entre quem pratica 49
e quem sofre o bullying. Esse desequilíbrio seria o que, basicamente, distinguiria
o bullying de outros tipos de conflito e agressão. Conforme veremos, as justifica-
tivas para tal comportamento abusivo e recorrente incluem, às vezes, diferenças
de classe, de raça, de religião, de gênero, de orientação sexual, de aparência, de
comportamento, de linguagem corporal, de personalidade, de reputação, de li-
nhagem, de força, de tamanho e/ou de habilidade (Cf. FANTE, 2005).
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
de veiculação de fofocas, calúnias, injúrias, difamações e/ou a elo-
cução de piadas preconceituosas, absolutamente sem nenhuma
graça, ofensivas e de muito mau-gosto.
No Brasil, os primeiros estudos relevantes a esse respeito
foram realizados e divulgados a partir da década de 1990. Cleo
Fante (2005) foi, desde então, uma das principais pesquisadoras
sobre essa problemática, tendo empreendido estudos específicos
– com o propósito de distinguir o bullying de inconsequentes brin-
cadeiras de crianças e adolescentes. Foi concluída à época uma pesqui-
sa (FANTE, 2005), por intermédio da qual foi aplicado um ques-
tionário de 25 perguntas, a um universo de 84.000 estudantes,
de variados níveis e períodos escolares, incluídos 400 professores
e 1000 pais ou responsáveis. Segundo a autora (2005), esses es-
tudos verificaram que a cada grupo de 07 aluno(a)s, 01 estava
envolvido(a) em situações de bullying, sendo agressor(a), especta-
dor(a) ou vítima. Nesse contexto, a autora define o bullying esco-
lar como uma ação ou um conjunto de ações de natureza agressi-
va e continuada, praticada(o) intencional e repetitivamente, mas
sem apresentar motivos plausíveis… de causas que razoavelmente
motivassem aquela(s) violência(s) como reação a qualquer outra
agressão anterior. Podemos compreender essa ideia nas seguintes
palavras da autora, quando diz que o bullying corresponde a
(...) um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e re-
petitivas, que ocorrem sem motivação evidente, adotado por
um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angús-
tia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis,
gozações que magoam profundamente, acusações injus-
tas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e in-
fernizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão,
além de danos físicos, morais e materiais (FANTE 2005, p.
28,29, grifos nossos).
50
Diga-se que o bullying também pode ser praticado por meio
de violências simbólicas, além de agressões e constrangimentos
físicos. O bullying físico é, contudo, o mais perceptível e, por isso,
mais fácil de ser identificado. Pode ser representado por maus
3
O chamado cyber bullying acontece pelas redes sociais, onde em páginas de gru-
pos podem ser veiculadas caricaturas, vídeos, desenhos e/ou fotografias, assim
como calúnias, injúrias e maledicências de diversos tipos, às vezes por meio de
perfis falsos, quase sempre alusivos a situações vexatórias e/ou de ridicularização
de alguém ou de algum grupo, ou ainda que simplesmente condene, discrimine,
insulte, acuse ou persiga a presença de indivíduos ou de grupos específicos no 51
convívio escolar, notáveis por alguma característica ou posição que o(a)s dife-
rencie dos padrões sociais de prestígio – uma deficiência, qualquer desvio da
heteronormatividade, não reprodução dos modelos burgueses de consumo, be-
leza, corpo dissonante das convenções estéticas – de ideais atléticos, erotizados e
branco-ocidentais -, convicções de ideias ou confissões religiosas dissidentes das
damaioria de matriz judaico-cristã etc.
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
em sentimentos, em representações e em práticas de racismo, de
sexismo, de ódio, de elitismo, de intolerância e/ou dediscrimina-
ção social. É igualmente válido considerar, no sentido do bullying
e de sua configuração, o aspecto da intencionalidade – a se veri-
ficar juntamente com a repetição, já que não é possível uma ação
violenta, vexatória ou intimidatória ser praticada várias vezes,
reiteradamente, com a mesma pessoa ou com o mesmo grupo,
sem que o(s) praticante(s) não tenha(m) a intenção de causar
danos, vexações, dores e/ou prejuízos persistentes à(s)vítima(s).
Há de se observar, por outro lado, que esse tipo de violência
escolar assenta-se, quase sempre, em relações de desequilíbrio
de poder entre os seus protagonistas: agressore(a)s, vítimas e es-
pectadore(a)s – caracterizando-se, no mais das vezes, no abuso
da superioridade física, cultural, econômica, ideológica e/ou de
prestígio social do(a)(s) agressor(a)(es) sobre a(s) sua(s) víti-
ma(s), a qual/as quais tem/têm a sua autoestima quase sempre
reduzida, fulminada e a sua autoconfiança lastimada. Conforme
Leão (2010),
(...) esse desequilíbrio de poder que há entre os protago-
nistas do bullying se dá pelo fato do agressor possuir algu-
mas características tais como, ‘idade superior à da vítima,
estrutura física ou emocional mais equilibrada, ter apoio
dos demais amigos de classe, ser sociável entre os demais
grupos da classe, tamanho superior’; tais atributos fazem
com que a vítima se sinta inferior, não tendo condições
de se defender diante das ofensas, sejam elas verbais ou
físicas (LEÃO, 2010, p.122, ‘grifos daautora’).
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
riorização do(a) outro(a) seja assimilado e aceito pela maioria – e,
principalmente, internalizado por suas vítimas: as quais devem ser
submetidas e potencialmente exploradas. A imposição violenta da
superioridade do(a) agressor(a) sobre a sua vítima – intimidando-a
e cooptando-a – permite que as agressões se tornem rotineiras
e mesmo se estabeleçam como uma cultura de submissão, negação,
subalternidade, coação e violência – por isso, o bullying deixa tantas
e dolorosas marcas. Para Silva (2010), as consequências desse
fenômeno são as mais extensas e variadas, e a sua gravidade de-
penderá muito de cada situação, de cada sujeito – de sua expe-
riência, de suas vivências, de seu apoio e da forma e intensidade
das agressões infligidas. Muitas vezes, as vítimas carregam essas
marcas para a vida adulta – fase na qual podem precisar de acom-
panhamento psicológico para superá-las.
Fato é que o fenômeno do bullying, muitas vezes, ainda
passa como algo despercebido ou ignorado por professore(a)s e
responsáveis, sendo visto como simples briguinhas… que envol-
vem apenas ofensas e xingamentos bobos, que vão passar logo…sem
grandes problemas… ao longo do crescimento/desenvolvimento da
criança. Pouco(a)s são o(a)s que percebem que esses comporta-
mentos não podem ser considerados normais tampouco aceitáveis
no âmbito escolar – haja vista a profundidade, a continuidade e
a extensão de seus danos. É importante ainda que se destaque
que o bullying está presente em toda e qualquer escola, apesar da
peculiaridade de cada um dos casos e ocorrências. O fato é que
o fenômeno acontece em escolas de todos os tipos, independen-
temente de serem públicas ou privadas, de sua localização ser no
campo ou na cidade, na periferia ou nos bairros mais centrais.
A presença do fenômeno constitui uma realidade inegável
em nossas escolas, independente do turno escolar, das áre-
54 as de localização, do tamanho das escolas ou das cidades,
de serem as séries iniciais ou finais, de ser a escola pública
ou privada. Isso significa que o bullying acontece em 100%
das nossas escolas. Ele é o responsável pelo estabeleci-
mento de um clima de medo e perplexidade em torno das
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
Bullying racial ou racismo? A especificidade da violência
na escola por motivos étnico-raciais e a necessidade de
combatê-la por meio da promoção de uma educação
antirracista
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
A escola é um espaço público de convivência social e, por-
tanto, alvo das mais diversas influências discriminatórias,
inclusive raciais. Para quem agride, uma brincadeira, um
termo pejorativo, um apelido nem sempre é motivo para
uma briga, mas para quem é alvo da brincadeira, da “go-
zação”, pode ser ou se tornar um fato grave, com muitas
complicações (ROSVARI e BOSE, 2010, p. 06, “grifo dos
autores”).
Veja que a autora não deixa de ressaltar que são o(a)s ne-
gro(a)s (“moreninho(a)s”) o(a)s que primeiro recebem trata-
mento diferenciado, algo que certamente lhes causa – ao longo de
toda a vida – diversos sentimentos de exclusão e de inadequação.
Trata-se, na verdade, da evidenciação de uma sistemática exclu-
são racista, a qual se dá desde o início da vida escolar – acarre-
tando-lhes a mitigação de diversas oportunidades educacionais,
profissionais e sociais. É, por certo, em decorrência disso que o(a)
s estudantes negro(a)s, sejam crianças ou adolescentes, detêm as
piores taxas de analfabetismo, de fracasso e de evasão escolar
(BRASIL, 2004, p.98).
(...) o racismo é, na verdade, ingrediente básico das dinâ-
micas e das relações interpessoais entre profissionais da
educação e crianças, e a operação dele no cotidiano escolar
permite uma nítida separação de alunos em sala de aula,
de acordo com o seu pertencimento racial. Tal procedi-
mento pode ser percebido também pelas crianças, todavia
há conivência e/ou negligência dos adultos com relação
a isso. Daí pressupor-se que esses atos se difundem por
todo o sistema de ensino, o que, por sua vez, desemboca
na sociedade como um todo (CAVALLEIRO, 2005, p.82).
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
pode contar com o apoio de ninguém, tendo de assumir sozinha
– como um problema seu (em si, de sua inadequação, de sua inferiori-
dade, de sua inépcia) – todos os efeitos dos tratamentos racistas
sofridos. Como se as causasdo racismo não adviessem do ódio,
da desumanidade, do opróbrio e/ou da ignorância do(a)s que
movem as injustiças, violências e desvirtuamentos de preconcei-
tos e discriminações raciais. Em prol de mudar essa realidade, o
Movimento Negro, desde sempre, promoveu a luta por uma edu-
cação antirracista. A população negra do país, na verdade, nunca
esteve satisfeita com a História de escravidão e desigualdade racial
apresentada pelos livros e propostas didático-curriculares. Essa
insatisfação, em forma de luta e ativismo incessantes, teve como
maior resultado político – conforme já dissemos – a promulgação
da Lei 10.639/03. Compreende-se que essa legislação preceituou,
como principal objetivo, reconhecer e valorizar a diversidade et-
nicorracial e cultural de toda a sociedade brasileira, promovendo,
incluindo e contemplando as matrizes africanas de nosso povo.
De fato, a lei pretende – conforme também já vimos – com-
bater o racismo e melhorar a autoestima da(o)s cidadã(o)s ne-
gro(a)s brasileiro(a)s: conferindo-lhes, por meio da educação, a
consciência histórica necessária à postulação de seus direitos. O
que ora destacamos, sempre como resultado direto da luta e da
resistência do Movimento Negro, é que uma das primeiras ações
efetivadas pelo Ministério da Educação (MEC), foi, nesse sentido,
a reformulação dos livros didáticos: de toda a sua remissão à es-
cravatura do(a)s negro(a)s, ao etnocentrismo branco e europeu e
ao afro-pessimismo – em transição ao reconhecimento e à valori-
zação da diversidade histórico-cultural africana e afro-brasileira.
A partir das mudanças nos currículos escolares e nos livros didá-
ticos, a perspectiva é a de que as crianças negras – a médio e a
60 longo prazo – resgatem a consciência e a compreensão histórica
de sua ancestralidade, assim como a dos valores e importância de
seus marcadores de negritude e afro-brasilidade… reconhecendo
a sua identidade étnica… estimando as suas características físi-
cas (etnicorraciais) e culturais: os seus cabelos, os seus corpos,
4
O município de Redenção, localizado na região do Maciço de Baturité, interior
do Ceará, tem como marco histórico a concessão de cartas de alforria a todo(a)
s (a)os negro(a)s cativo(a)s, em 25 de março de 1883, portanto 05 (cinco) anos
antes da assinatura da Lei Áurea. Oficialmente por este motivo, a cidade foi
escolhida para sediar a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-brasileira – UNILAB -, instituição pública federal de ensino superior. Mais
do que uma universidade federal, trata-se a UNILAB de um projeto de interna-
cionalização e interiorização do ensino público superior de qualidade, mediado
pela parceria solidária entre o Brasil e os demais países membros da CPLP – Co- 61
munidade dos Países de Língua Portuguesa, notadamente dos PALOPs – Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Atualmente, a universidade, ainda em
fase de instalação na pequena cidade do interior cearense, conta com 5.876 estu-
dantes, entre brasileiro(a)s, guineenses, caboverdiano(a)s, são-tomeenses, ango-
lano(a)s, moçambicano(a)s e timorenses (Cf. www.unilab.edu.br/como-surgiu/,
acessado em Out. 2018).
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
era composta por 23 aluno(a)s, com idade entre 09 e 13 anos.
Pode-se perceber que entre o(a)s aluno(a)s havia crianças e pré-
-adolescentes. A presença de características físicas afro-brasilei-
ras entre esse(a)s estudantes era inegável, pelo menos para uma
maioria estimada entre 80 e 85% do total. De 23, pelo menos 18
estudantes apresentavam fenotipicamente alguma descendência
africana ouafro-indígena. Nas duas primeiras visitas, foi realizada
apenas a observação quanto às relações interpessoais, tanto entre
professora e aluno(a)s, quanto deste(a)s entre si. No terceiro e
último dia de visita, o(a)s aluno(a)s responderam as seguintes
perguntas, tendo sido obtidas as seguintes respostas:
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
No decorrer das duas primeiras visitas – as quais foram
apenas de observação -, houve momentos em que a professora
também mostrou um comportamento diferenciado e incompatível
com as suas atribuições, ocasionando verdadeiro constrangimen-
to a uma das alunas. A menina em questão estava irrequieta, não
queria permanecer em seu lugar. E quando a professora foi lhe
chamar a atenção, pediu – mais uma vez – que ficasse sentada na
cadeira. A menina desobedeceu a ordem, foi quando a professora
se irritou, e lhe disse “Só podia mesmo ser filha de borracheiro,
por isso é que é repetente”. Do que, enfim, se constata das visitas
de observação e dos dados colhidos com a aplicação do questio-
nário, torna-se imprescindível que a escola esteja em constante
combate ao bullying, ao racismo e aos preconceitos e violências
de todo o tipo – motivados por quaisquer causas que sejam: que
remetam injuriosa ou vexatoriamente a(s) vítima(s) à sua origem
étnico-racial, à sua identidade de gênero, à sua condição ou classe
sócio-econômica, à sua convicção ou confissão ideológico-religio-
sa, às suas características corporais etc. É dessa forma, porque
as nossas crianças e jovens precisam conhecer, compreender e
principalmente respeitar as diferenças individuais, bem como a
diversidade e a pluralidade do(a)s colegas, de suas comunidades,
de suas culturas e de toda a sociedade.
Como esta pesquisa tem o seu foco principal na problemá-
tica do bullying e, especificamente, do racismo no contexto es-
colar local, finalizamos ressaltando a importância da valorização
imprescindível de uma educação antirracista. Nesse sentido, é de
suma importância o papel do(a) professor(a) bem formado(a) e
atualizado(a) dentro da instituição de ensino. É necessário que
o(a)s profissionais da educação promovam atividades que efeti-
vamente valorizem a diversidade racial, social, política, de gênero
64 e cultural – existente na escola: estimulando o (re)conhecimento
do(a)s estudantes, de maneira positiva, a respeito de sua própria
identidade, origem e afro-descendência.
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
rem banalizar, tratar com parcimônia... porque não sabem como
resolver os conflitos que surgem entre o(a)saluno(a)s e deste(a)s
com a instituição (Cf. CAVALLEIRO, 2001). Há ainda casos sobre
os quais esses/essas mesmo(a)s profissionais preferem dizer não se
tratar de racismo, mas de bullying comum. Com isso, percebemos que
o bullying pode ser invocado para camuflar ou mitigar o racismo
manifestado no ambiente escolar. Trata-se de um duplo equívo-
co, porque esse tipo de postura tanto deixa de individuar o que
corresponde à tipificação do que é um crime (injúria e/ou ofensa
racista), quanto diminui o potencial ofensivo do bullying a um mero
contratempo ou chiste corriqueiro no ambiente da escola.
Diante dessa percepção, o objetivo principal deste artigo
foi o de identificar como os conflitos que envolvem as crianças
negras – de uma turma do ensino fundamental de uma escola pú-
blica de Redenção/CE – podem se manifestar não apenas em for-
ma de bullying,mas de efetivo racismo no ambiente escolar. Para
tanto, fez-se necessário contextualizar o tema, com base na impor-
tância da discussão sobre a diversidade das relações etnicorraciais
na escola, conforme a perspectiva de uma educação antirracista
– preconizada pela Lei 10.639/03. Já como subsídio à discussão
sobre o bullying, foi proposta uma pequena incursão sobre a sua
problemática, em seus mais diversos aspectos e consequências de
violências. Compreendemos que existem várias maneiras de se
praticar e de se sofrer o bullying, por diversos motivos. Porém,
não é qualquer agressão, ofensa, acusação ou intimidação – verbal
ou física -, praticada por estudantes, que pode ser considerada
bullying. Para se configurar o bullying, é necessário que se veri-
fique a repetição das ações violentas, coercitivas e/ou constran-
gedoras – com a(s) mesma(s) vítima(s) -, e que haja, ademais,
evidente dolo na inflição dos maus tratos e perseguições, além de
66 não se detectarem os motivos aparentes do assédio. Do que disso
se segue, é evidente que o racismo pode se manifestar também
por meio da prática do bullying, ainda que – não necessariamen-
te – um fenômeno conflua no outro. O racismo, na verdade, não
subsome no bullying, posto que o contrário seja possível.
Referências
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
CAVALLEIRO, Eliane. Educação anti-racista: compromisso in-
dispensável para um mundo melhor. In: CAVALLEIRO, Eliane
(Org.). Racismo e anti-racismo – repensando nossa escola. São Pau-
lo: Summus, 2001.
______. Discriminação racial e pluralismo em escolas públicas da
cidade de São Paulo. In: Educação anti-racista: caminhos abertos
pela Lei Federal n. 10.639/03. Edições MEC/BID/UNESCO. Bra-
sília,2005.
FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas
escolas e educar para a paz. 2. Ed. Campinas. Editora Versos,
p.224, 2005.
FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala: formação da família bra-
sileira sob o regime da economia patriarcal. 49. ed. rev. São Paulo:
Global, 2004.
HOLANDA, Heloisa Buarque de. A mão afro-brasileira: resenha
antiga. Dossiê Negro Brasileiro. Revista do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. N. 25, 1997, p.235-270.
LEÃO, Letícia Gabriela Ramos. O fenômeno bullying no am-
biente escolar. Revista FACEV Vila Velha. Número 4, jan/
jun.2010,p.119-135.
LIMA, Fabiane Andréa da Silva Barcheski. Lei 10.639/03: suas con-
tribuições para uma educação igualitária. Londrina: UEL, 2010.
OLWEUS, Dan. Bullying at school: what we know and what we can
do. Oxford: BlackwellPublishing, 1993.
ROVARIS, Verônica Coloda; BOSI, Antônio de Pádua. Bullying –
Discriminação Racial e Social na Escola. In: O professor, o PDE e os
desafios da escola paranaense. 2010. Governo do Estado do Paraná.
v.1, 2010.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Cartilha: bullying – justiça nas esco-
68 las. Conselho Nacional de Justiça. Brasília, 2010.
ZUBARAN, Maria Angélica; SILVA, P.B. Gonçalves. Interlocuções
sobre estudos afro-brasileiros:Pertencimento étnico-racial. Me-
mórias negras e patrimônio cultural afro-brasileiro. Currículo sem
Fronteiras, v.12, n.1, 2012, p.130-140.
BULLYING OU RACISMO? PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS CRIANÇAS NEGRAS EM UMA TURMA DE ENSINO
FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE
RESUMO
O ensaio apresentado tem como objetivo central promover uma breve reflexão
sobre a ginga como linguagem performática presente na capoeira e nas demais
manifestações culturais africanas e afro-brasileiras, ultrapassando a simples
ideia do gingar como movimentação corporal. Nesse contexto, dialogamos
com os autores Eduardo Oliveira (2007), Sandra Petit (2015) e Zeca Ligiéro
(2011), e, na perspectiva de compreendermos melhor o ato de gingar, que
é presente na capoeira, com a perspectiva de maturarmos a linguagem da
ginga, visto que, em algumas perspectivas, essa não é exemplificada como a
linguagem do corpo, mas simplesmente como uma movimentação corporal
básica, em que é introduzido um conjunto de movimentos que oferece à
capoeira uma aparência de dança/luta. Sendo assim, o artigo ampliará o
olhar do leitor ao apresentar uma relação entrelaçada entre ginga e capoeira,
conduzindo a uma análise sobre a linguagem que a ginga produz sobre a
capoeira, indo além de uma simples relação de movimentação corporal.
Palavras-Chave: Capoeira. Ginga. Linguagem da ginga. Relações entrelaçadas.
ABSTRACT
The main objective of the present essay is to promote a brief reflection
about “ginga” as a performance language present in “capoeira” and other
African and Afro-Brazilian cultural manifestations, surpassing the simple
idea of “gingar”
as a body movement. In this context, we dialogue with
the authors Eduardo Oliveira (2007), Sandra Petit (2015), Zeca Ligiéro
(2011), in order to better understand the act of “gingar”, present in capoeira
like a perspective of maturing the language of the “ginga”, since in some
perspectives this is not exemplified as the language of the body, but simply
as a basic body movement, in which a set of movements is introduced that
offers capoeira a dance / struggle appearance. Thus, the article will broaden
the reader’s gaze by presenting an intertwined relationship between “ginga”
and capoeira, leading to an analysis of the language that “ginga” produces
over capoeira, going beyond a simple relationship of body movement.
Keywords: Capoeira. Ginga. Language of the ginga. Interlacedrelationships.
70
1
O N’Golo oudança da zebra foi considerada durante muitas décadas como mito
fundante da capoeira no Brasil. 71
2
As artes marciais consistem em práticas e tradições codificadas, cuja missão é
submeter ou defender-se através de técnicas em questão.
3
Em muitas sociedades africanas, a vida é dividida em diferentes ciclos – nasci-
mento, passagem para a idade adulta e morte –, sendo que essas transições são
marcadas por rituais que determinam para a comunidade a ida de uma etapa
para a outra.
78 Considerações finais
Através da compreensão evidenciada na linguagem que a
capoeira produz por intermédio da ginga, é possível se observar
a singularidade de se comunicar, expressada através dos capoei-
RESUMEN
El presente artículo es el resultado de las experiencias desarrolladasenelproyecto
de investigación “Pedagogías de las Relaciones Étnico-Raciales: Prácticas
Educativas de Profesoresdel Maciço de Baturité” conlacolaboración de
profesores (as) y gestores (as) de lasinstituciones escolares de losmunicipios
de Acarape, Redenção, Baturité y Capistrano. El trabajotiene por objetivo
identificar y comprenderprácticas educativas de profesores de laregióndel
Maciço de Baturité dirigidas a laeducación de las relaciones étnico-raciales,
así como, reflexionar sobre lasacciones que deben ser tomadas para contribuir
enlaefectivización de esaeducaciónenlas respectivas escuelas de laregión.
Palabras clave: Educación. Relaciones Étnico-Raciales. Prácticas Educativas.
82
2
Até meados do ano de 2015.
3
Classificamos as escolas em A, B, C, para garantir o anonimato.
Referências
94
ABSTRACT
Racist actions are perpetuated through social and everyday practices,
which generate situations of inequalities and disadvantages built
historically and culturally. The present study aimed to relate the
experience of intervention an intervention experience in the perspective
of rediscussing and denaturing some concepts, namely: prejudice,
discrimination, identity, ethnicity and racism, with students of the
middle school, from videos and talk about ethnic-racial themes in the
school environment. The study was conducted at the Federal Institute of
Education, Science and Technology of Ceará, located in the municipality
of Jaguaribe, with a target audience of 29 students from the first year of
high school. The meetings made it possible for the students to participate
actively in the study of the problem, taking into account the various
manifestations of racism in the school context.
Keywords: Education for ethnic-racial relations. Racism. Law 10.639/03.
96
EDUARDO CHAVES DANTAS • RAFAEL SOUZA CRUZ • JOSEFA NAYANE DA SILVA MEDEIROS
RAQUEL CAMPOS NEPOMUCENO DE OLIVEIRA
INTRODUÇÃO
EDUARDO CHAVES DANTAS • RAFAEL SOUZA CRUZ • JOSEFA NAYANE DA SILVA MEDEIROS
RAQUEL CAMPOS NEPOMUCENO DE OLIVEIRA
Em outras palavras, raça e identidade racial foram estabe-
lecidas como instrumentos de classificação social básica da
população (QUIJANO, 2005, p. 117).
Metodologia
EDUARDO CHAVES DANTAS • RAFAEL SOUZA CRUZ • JOSEFA NAYANE DA SILVA MEDEIROS
RAQUEL CAMPOS NEPOMUCENO DE OLIVEIRA
tuto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE,
situado no município de Jaguaribe, a 300 Km de distância da
capital. Recentemente foi inserido, no referido campus do IFCE,
além dos cursos superiores e técnicos subsequentes, o ensino mé-
dio integrado. De início, o curso contava apenas com uma turma
de primeiro ano com 29 estudantes, no caso, o público alvo do
trabalho aqui relatado.
A atividade tratou-se de uma intervenção que foi aplicada
por membros do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas
(NEABI)do próprio campus, em parceria com os profissionais da
assistência estudantil, que orientam o “Projeto de Vida” atividade
realizada semanalmente com os estudantes de ensino médio e
desenvolvida apenas com o primeiro ano, como uma forma de
acolhida da instituição, na qual são trabalhados temas diversos.
O primeiro momento da intervenção aconteceu em agos-
to de 2018 e voltou-se para uma apresentação de conceitos e
discussão sobre os mesmos, a saber: preconceito, discriminação,
raça, etnia e racismo, de vídeos e notícias do cotidiano que nos
reportam a práticas racistas.
Desta forma, a primeira parte da intervenção aconteceu
com a exposição e discussão de dois vídeos, quais foram: oTeste
da boneca3 e o Consciência Negra4. O primeiro trata-se de um
experimento psicológico realizado nos anos 40 nos EUA para
testar o grau de marginalização sentido por crianças afro-ame-
ricanas e causado por preconceito, discriminação e segregação
racial. O segundo vídeo abordado é, um pequeno documentário
feito pelo NEABI do Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC,
exibido pela IFSCTV, o qual dá lugar a vozes que não se veem
na grande mídia e enfrentam o preconceito no dia a dia. Esse
vídeo aborda temas como:aceitação, branqueamento, cotas, his-
tória africana. 101
3
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CdoqqmNB9JE, acessado
em 15/08/2019.
4
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IrEu8bM6K1M, acessado
em 15/08/2019.
EDUARDO CHAVES DANTAS • RAFAEL SOUZA CRUZ • JOSEFA NAYANE DA SILVA MEDEIROS
RAQUEL CAMPOS NEPOMUCENO DE OLIVEIRA
Resultados e discussões
EDUARDO CHAVES DANTAS • RAFAEL SOUZA CRUZ • JOSEFA NAYANE DA SILVA MEDEIROS
RAQUEL CAMPOS NEPOMUCENO DE OLIVEIRA
tos e opiniões não fundamentadas no conhecimento, e
sim na sua ausência, estimulam a criação de estereótipos
e representações negativas e dão origem ao um estigma
que imputados ao indivíduo dificulta sua aceitação no co-
tidiano da vida social (CAVALLEIRO, 2000, p 23, apud
COQUEIRO, 2008, p. 24).
106
EDUARDO CHAVES DANTAS • RAFAEL SOUZA CRUZ • JOSEFA NAYANE DA SILVA MEDEIROS
RAQUEL CAMPOS NEPOMUCENO DE OLIVEIRA
Umas das ações mais citadas pelas/os alunas/os que possa
ser desenvolvida nas instituições escolares, tendo em vista esse
combate ao preconceito e à discriminação, foram intervenções
em modelos semelhantes ao que estava sendo aplicado com eles,
como também, ciclos de palestras, desenvolvimentos de eventos
voltados para o tema na escola, dentre outras possibilidades.
É importante lembrarmos que “[...] a Europa também
concentrou sob sua hegemonia todas as formas de controle da
subjetividade, da cultura, e em especial do conhecimento e da
produção do conhecimento” (QUIJANO, 2005, p. 121). Por isso
mesmo, é de extrema urgência trazer para o centro do debate a
importância da horizontalização das relações de poder e a des-
colonização das práticas didático-pedagógicas, bem como buscar
tensionar os mecanismos de construção do racismo epistêmico.
Um dos mitos do eurocentrismo, segundo Quijano (2005),
é que a modernidade e a racionalidade foram imaginadas como
experiências e produtos exclusivamente europeus. Nogueira
(2014, p. 27), na contramão desse pensamento, nos traz o concei-
to do racismo epistêmico como um conjunto de dispositivos que
recusam a validade das justificativas feitas a partir de referenciais
não ocidentais, ou seja, contrapondo a “verdade” absoluta do eu-
rocentrismo e trazendo outras formas de repensar essas questões
a partir de um olhar não ocidental e decolonial.
Esse pensamento ocidentalizado e colonizado fortalece
ainda mais o ideal de branqueamento que perdurou durante
muito tempo no imaginário brasileiro. A tese do branqueamento
visava a “confirmar” a inferioridade de grande parte da popula-
ção nacional – mais especificamente negros, índios e mestiços,
ao passo em que imaginava que essa mesma população poderia
tornar brasileiros todos aqueles brancos “superiores” encarrega-
dos de fazê-la reduzir fenotipicamente, a ponto de desaparecer 107
(SEYFERTH, 1995).
Esse olhar enraizado acerca da mestiçagem faz com que nos
tornemos míopes no tocante às relações raciais e ao racismo – mui-
tas vezes invisíveis aos olhos de quem ainda acredita que existe
EDUARDO CHAVES DANTAS • RAFAEL SOUZA CRUZ • JOSEFA NAYANE DA SILVA MEDEIROS
RAQUEL CAMPOS NEPOMUCENO DE OLIVEIRA
às relações étnico raciais é um resquício de uma ausência dessa
discussão no espaço escolar perpetuada para o ensino médio e
superior. Essa falta de debate acerca do tema vem afirmar o que
temos debatido ao longo do nosso trabalho que é a não imple-
mentação da lei 10.639/03 no currículo da instituição. Essa não
implementação da lei traz muitas consequências para o contexto
escolar, isso somente já é uma forma de negligenciar as/os estu-
dantes quanto às relações raciais, então, as/os alunas/os negras/
os não se identificam e os demais assumem um racismo velado
sob a forma de brincadeira.
Destacamos que proporcionar o contato das/os estudantes
com o tema em questão tem que ser prática corriqueira nas esco-
las, não só em espaços reservados, mas incorporado às disciplinas
e à convivência geral das escolas. Ações como as aqui relatadas
certamente ajudarão a melhorar as relações raciais não somente
na escola, mas também na sociedade, já que essas/es estudantes
perpetuam seus saberes na comunidade em que vivem.
Nesse processo, é essencial pensar a escola como um espa-
ço de produção de subjetividades e de formação de identidades.
Colaborar para a construção de um espaço escolar antirracista
e que valorize as contribuições do povo negro para a história e
cultura brasileira é também um modo de pensar uma escola mais
justa e que se dedica à participação e à garantia dos direitos de
todas/os as/os estudantes.
Corroborando com Silva (2018), ainda persiste, nas institui-
ções de ensino e nos mais diversos espaço da nossa sociedade, o
pensamento ocidentalizado, e este perpetua-se por meio de ações
e atitudes que ocultam e apagam a história e cultura do nosso
povo. Na tentativa de reverter esse quadro, precisamos repensar
estratégias para superação desse racismo, construir práticas alter-
nativas para positivação da história e cultura africana e afro-brasi- 109
leira no ambiente escolar e acadêmico, capazes de problematizar a
naturalização do euro etnocentrismo na seleção e desenvolvimen-
to de temas e conteúdos curriculares, assim como do preconceito
e práticas de discriminação racial no cotidiano escolar.
EDUARDO CHAVES DANTAS • RAFAEL SOUZA CRUZ • JOSEFA NAYANE DA SILVA MEDEIROS
RAQUEL CAMPOS NEPOMUCENO DE OLIVEIRA
O PAPEL DO MOVIMENTO NEGRO
NA CONSOLIDAÇÃO DE UM PROJETO
POLÍTICO-EDUCACIONAL POR MEIO
DAS POLÍTICAS AFIRMATIVAS
ABSTRACT
This article aims to demonstrate the role of the black movement the black
movement in the construction and consolidation of a political-educational
project via affirmative action policies. The text proposes to perform State
of the art about the struggles facing since the slave period to the present
day, because since then starred in a path of struggle and resistance to
ensure rights and citizenship to black people and the general population.
In this context have been created several strategies to ensure access of the
black population in the school benches amid a context of denial of rights
to creation of Brazilian Black Front (FNB) and the Teatro Experimental do
Negro (TEN) was designed to minimize the absence of the State and ensure
the black population and literacy education. Therefore, we can say that the
black movement and has an important role in the consolidation of a positive
agenda for the black population to access formal education along your path of
struggle, concrete actions can be noted, as the enactment of the Federal law
112 of 10.639/03 In which forces the teaching history and culture Afro-Brazilian:
struggling in public and private schools, the implementation of affirmative
action in the State and federal universities in Brazil and finally consider how
the apice this positive agenda the creation of University of International
Integration of Afro-Brazilian Culture (Unilab), a politico-strategic educational
project on strengthening South-South cooperation, in the production and
circulation of knowledge about and between these countries.
Keyword: Black movement – education – affirmative action – Unilab
4
Cf:http://ensinosuperiorindigena.wordpress.com/atores/nao-humanos/diversidade-na-u-
niversidade/
5
Cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10558.htm
6
In: http://prouniportal.mec.gov.br
7
Ministério da Educação sobre o funcionamento da Lei 12.711/12, http://portal.
mec.gov.br/cotas/perguntas-frequentes.html
12
Coordenado pelo prof. Dr. João Feres Jr ligado ao Instituto de Estudos Sociais
e Políticos (IESP) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Considerações finais
13
Trago essas informações a partir da minha experiência profissional de professora.
14
Conceito usado pela Socióloga Patrícia Hill Collins para ser referir a grupos
sociais de diferentes lugares que conseguem compreender teorias e reinventá-las
a partir do seu lugar de origem.
Referências
140
ABSTRACT
The purpose of the text is, in a preliminary attempt, to approach
and dialogue on Mozambican education, especially Literacy and
Adult Education (AEA) in its multiple contexts of human and social
development of the country, from the learning communities as alternative
non-formal spaces of schooling. In the first part, we present the historical
and political aspects of the development of Mozambican education,
based on advances and setbacks indicated in the historiography of the
country, as well as on the official documents that express the policies of
education over the years. In the second part of the text, we emphasized
aspects of illiteracy and issues related to poverty and social exclusion
of under-educated people, as highlighted in the evolution of education
and Mozambican production. And in the latter part of the work, the
highlights given to existing learning communities and functioning as
142 alternatives for the achievement of national productive development, in
a broad sphere, and for the ransom of the [human] person and full
citizenship, in a restricted sphere.
Keywords: Literacy and Adult Education – Mozambican education –
learning communities.
Angola 71,2 %
Cabo Verde 88,5 %
Guiné-Bissau 59,8 %
Moçambique 58,8 %
São Tome e Príncipe 91,7 %
Timor Leste 95,2 %
Brasil 92,6 %
Fonte: IBGE – 2016
5
Castel (2013) de forma muito dura apresenta em seus estudos sobre a questão
da exclusão social e da desigualdade, a constatação de três categorias: 1. Desesta-
bilização dos estáveis, aos que deixam de exercer funções até então consideradas
estáveis e conhecidas. 2. A instalação na precariedade, em que considera de tra-
Considerações finais
7
Sobre a questão de trazermos Guiné-Bissau, Paulo Freire destaca que não foi
convidado para ir a Moçambique desenvolver seus estudos, como feito em alguns
países de África, a exemplo de Angola, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau.
Referências
8
Produto Interno Bruto
163
Carlos Subuhana
Doutor em Serviço Social (PPGSS/ESS/UFRJ); Pós-doutor em Antropologia
(DA/USP); Professor Adjunto (UNILAB). Cidade de Redenção. Estado do Ceará.
E-mail: subuhana@unilab.edu.br
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o sistema educativo de
Moçambique durante a vigência do colonialismo português, este traba-
lho ainda visa compreender os mecanismos utilizados pelos colonizado-
res portugueses no processo da dominação no país. A principal questão
teórica abordada neste trabalho é a educação, que engloba os processos
de ensinar e aprender e ocorre em qualquer sociedade e grupos. A me-
todologia usada durante a pesquisa para a elaboração deste trabalho
foi fundamentada, basicamente, na pesquisa bibliográfica. Conclui-se, a
partir do estudo, que a educação colonial em Moçambique em todas as
suas vertentes, não possibilitou a tomada de consciência e emancipação
do povo moçambicano, e a sua lógica era capacitar os moçambicanos
para servirem a demanda colonial.
Palavras-chave: Moçambique, educação; colonização.
ABSTRACT
This study aims to examine the educational system of Mozambique
during the period of portuguese colonialism, it seeks also to understand
the methods used by the portuguese in the process of domination of
this country. The main theoretical issue addressed in this work is edu-
cation, which encompasses the teaching and learning processes in any
Society and group. The research methodology used in this study is the
bibliographical research. On this basis, we conclude that the colonial ed-
ucation in Mozambique not enabled, in all its aspects, the awareness and
emancipation of the Mozambican people, but it was merely ideological
and used to make them serve the colonial demand.
Keywords: Mozambique, education; colonization.
166
Sistema de ensino
a) Língua portuguesa
b) Aritmética e sistema métrico
c) Geografia e história de Portugal
d) Desenho e trabalhos manuais
e) Educação física e higiene
g) Educação moral e canto coral
Referências
180 BASÍLIO, G. O estado e a escola na construção da identidade política
moçambicana. 2010. 249 p. Tese (Doutorado em educação) – Pon-
tifícia universidade católica de São Paulo. São Paulo, 2010.
BOLACHA, N. H. F. A mulher moçambicana na ocupação de cargos de
decisão: um estudo de caso no âmbito das direções provinciais de nampula.
Carlos Subuhana
Doutor em Serviço Social (PPGSS/ESS/UFRJ); Pós-doutor em Antropologia
(DA/USP); Professor do Magistério Superior (UNILAB).
E-mail: subuhana@unilab.edu.br
RESUMO
O presente artigo visa analisar a percepção das mulheres da etnia papel
do seu ritual de passagem, o casamento tradicional (k´mari), tendo como
finalidade averiguar a importância deste, não só como principal rito
de passagem das mulheres na sociedade papel da Guiné-Bissau, mas
também como parte integrante do processo educacional destas mulheres
guineenses. A escolha do tema se deve à necessidade de conhecer de perto
o casamento nesta etnia, a realidade do processo ritual de iniciação das
mulheres através do casamento tradicional, seu significado e contribuição
para sua educação. A principal questão teórica deste trabalho é o casamento
e/ou matrimônio e seus simbolismos. Outros temas, casamento fantasma
e ritos de passagem foram analisados a partir da questão principal. Trata-
se de uma pesquisa de natureza qualitativa. O material aqui analisado foi
coletado através de entrevistas semiestruturadas (com questões abertas
e fechadas) realizadas em Bissau, capital da Guiné-Bissau, em 2016. As
entrevistadas são originárias da região de Biombo e todas são da etnia
papel e casadas no tradicional k´mari. Conclui-se, a partir do estudo, que
o casamento tradicional papel (k´mari) é de extrema importância na vida
das mulheres dessa etnia guineense, pois só depois que a mulher se casa
tradicionalmente é que passa a se sentir mais completa, madura, mais
resolvida, com mais status e útil para a sociedade.
Palavras-chave: Guiné-Bissau; casamento tradicional; etnia papel.
ABSTRACT
This article aims to analyze the perception of women of the papel ethnicity
of their ritual of passage, the traditional marriage (k’mari), with the
purpose of ascertaining its importance, not only as the main rite of passage
of women in the papel society of Guinea- Bissau, but also as an integral
part of the educational process of these Guinean women. The choice of
the theme is due to the need to know closely the marriage in this ethnic
group, the reality of the ritual process of initiation of women through
traditional marriage, its meaning and contribution to their education. The
main theoretical question of this work is marriage and / or matrimony
and its symbolism. Other themes, ghost marriages and rites of passage
were analyzed out of the main issue. This is a qualitative research. The
material analyzed here was collected through semi-structured interviews
(with open and closed questions) held in Bissau, capital of Guiné-Bissau,
in 2016. The interviewees come from the region of Biombo and all are of
184 the papel ethnicity and married in the traditional k´mari. It is concluded
from the study, that traditional marriage k’mari is of extreme importance
in the life of women of this Guinean ethnicity, because only after the
woman marries traditionally she becomes more complete, mature, more
settled, with more status and useful for society.
Keywords: Guinea-Bissau; traditional marriage; papel ethnicity.
Contextualização teórica
Casamentos fantasmas
Ritos de passagem
Metodologia
Os papéis
191
Segundo Américo Gomes (2016, p. 11), os papéis foram os
primeiros habitantes de ilha de Bissau. A hipótese mais aceita, se-
gundo o autor, baseia-se na tradição oral e faz preceder os papéis,
habitantes de Bissau, aos biafadas. Segundo esta tradição, Mecau,
Fanado
Segundo Carlos Humberto ButiamCó (2010), o fanado para
os papéis é uma tradição muito sagrada. Participando nos ritos
de iniciação, o neófito passa a ser ‘adulto’ e toma consciência da
própria identidade e do lugar que lhe compete na comunidade.
Por outro lado, dá-se uma grande relevância aos processos das
cerimônias fúnebres da pessoa que cumpriu com esse ritual, isto
é, a cerimônia fúnebre terá um tratamento adequado e especial.
Casamento (k´mari)
O casamento tradicional (k´mari) é um dos rituais de pas-
sagem de extrema importância entre os papéis, sobretudo para
as mulheres. De acordo com Có (2010), a tradição cultural papel
permite que haja uma relação conjugal entre primos colaterais,
isto é, primos da primeira linha. Dizem para que a geração perma-
neça unida e extensiva, é necessário que os primos se casem para
fortalecer esta geração. Esta prática gradualmente está perdendo
força.
Tradicionalmente, quando uma mulher atingia a fase de
puberdade na sua família, esperava-se que fosse indicado com
quem deveria se casar. De modo geral o casamento dizia respeito
aos pais, em nenhuma circunstância as mulheres tinham liberda-
de de escolha. Elas deveriam manter-se ‘puras’ até ao casamento
para não desonrarem e fraudarem a família. Em alguns casos, os 195
homens também não tinham liberdade de escolher a futura espo-
sa. Apenas solicitavam ao pai e este, junto com os outros membros
da família buscava os meios de encontrar mulher para o filho.
Considerações finais
Referências
Joanice S. Conceição
Prof. Adjunta em Antropologia da Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira; Doutora em Antropologia pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
E-mail: joaniceconceicao@gmail.com
Camila Camargo
Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo; Endereço ele-
trônico: camcv53@hotmail.com
RESUMO
O objetivo deste artigo é propor uma reflexão acerca dos marcadores
heteronormativos, tradicionalmente ensinados nos espaços escolares.
Analisa o cotidiano escolar, as interações de alunos, quanto às
sexualidades e à religião por meio do projeto de pesquisa (PIBIC/CNPq).
A pesquisa foi realizada em duas escolas públicas na cidade de Santo
Antônio de Pádua1, localizada no Norte Fluminense, Estado do Rio de
Janeiro, no ano de 2017. O método empregado foi o qualitativo, apoiado
pelos procedimentos técnicos da observação, entrevista semiestruturada,
assim como a perspectiva teórica decolonial para interpretação dos
dados. Deste modo, algumas provocações teóricas são feitas, com o
intuito de repensar e desconstruir práticas hegemônicas na educação, de
modo a criar sentidos e vivências que direcionem a escola ao respeito
aos diferentes.
ABSTRACT
The objective of this article is to propose a reflection about the
heteronormative markers traditionally taught in school spaces. Analyzes
the daily school life, the interactions of sexuality and religion through
the research project (PIBIC / CNPq). The research was carried out
in two public schools in the city of Santo Antônio de Pádua, located
in the North of Rio de Janeiro, State of Rio de Janeiro, in the year
2017. The method was the qualitative, supported by the technical
procedures of observation, interview semi-structured, as well as the
theoretical decolonial perspective for data interpretation. In this way,
some theoretical provocations are made, with the intention of rethinking
and deconstructing hegemonic practices in education, in order to create
meanings and experiences that direct the school respect for the diferents.
Keywords: Education, Queer. Sexualities. Homophobia.
204
1
Por se tratar de um tema ainda considerado tabu e por ser Santo Antônio de
Pádua uma cidade muito pequena com poucas escolas públicas e privadas, resol-
vemos omitir os nomes das escolas, dos professores e diretores, com intuito de
preservar a identidade dos colaboradores da pesquisa.
6
O termo é utilizado para se referir às pessoas que se identificam com o gênero
biológico, no qual nasceram, isto é, nasceram com sexo biológico masculino ou
feminino e assim se autodeclara.
7
De radical inglês bully associa-se ao correspondente brasileiro “valentão”. Já o
216 termo bullying pode ser conceituado como ação negativa, individual ou coletiva,
que expõe o indivíduo ou grupo a outrem. A ação é de caráter intencional e cons-
tante, cujos objetivos é causar ou tentar provocar danos morais, sofrimento e mal-
-estar a uma pessoa. Especialmente nos programas televisismo, muitos ataques às
religiões e as sexualidades, tidas como desviantes são classificadas como bullying,
quando na verdade são explicitamente casos de racismo religioso, homofobia,
preconceito em que o algoz busca a inferiorização do Outro.
Conclusão
Referências
229