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;ilivas r oirncuhires, a
3. Sistema de ensino, .i\:iliacao chis aprendizagens, isto é, os
escola, sala de aula: processos internos da escolarização, sem
desconsiderar os contextos sociais parti-
onde se produz a qualidade culares e os mais amplos. Isso significa
das aprendizagens? pi-usar a escola "por dentro", analisando
os elementos que a constituem, os pro- No cerne da problemática está, a meu ver, a
questão central da investigação sobre a sala
José Carlos Libâneo cessos de aprendizagem e de ensino e de aula e, conseqúentemente, da construção
Universidade Católica de Goiás seus resultados. [de uma] nova didática, cujo saber implicaria,
aqui, exatamente, uma mediação entre as
A dissociação entre os dois tipos questões postas pela situação de ensino na
de análise induz a percepções viesadas, sala de aula, e na escola, e as questões pos-
tas pela relação entre educação e sociedade.
em que as visões globalizantes (análise Para essa nova didãtica é importante que se
J\a tem sido abordada como es- desvele a particularidade das contradições do
externa) podem tender a não captar as
paço de realização tanto dos objetivos ensino, tal como se desenvolve no dia-a-dia
peculiaridades internas da escola, e as vi- da sala de aula da escola pública que atende
do sistema de ensino quanto dos objeti- às camadas populares, em seus aspectos in-
sões da escola e da sala de aula (análise ternos e em suas relações com a prática social
vos de aprendizagem. Situa-se, assim, na
interna) tendem a desconhecer ou a des- mais ampla (Oliveira, 1993, p. 57).
confluência entre as políticas educacio-
considerar os determinantes sociais e cul-
nais/diretrizes curriculares/formas orga-
turais. Tomados isoladamente, ambos os
nizativas do sistema e as ações pedagó- tipos de análise têm limitado seu poder
gico-didáticas na aula. Enquanto objeto de induzir mudança. As análises críticas
de estudo, ela comporta análises sócio- das políticas educacionais e do sistema
políticas mais globais e, também, quanto de ensino perdem a força analítica se não
à investigação de aspectos curriculares, tiverem como referência a escola e suas
pedagógicos e organizacionais.
Esse modo de compreensão da questão
funções sociais e pedagógicas. Do mes- JÁ \ ' '. #rt
mo modo, os profissionais envolvidos
suscita dois enfoques na investigação: no campo interno da escola podem ter X r,5-
a análise externa e a análise interna. A reduzida a eficácia pedagógica e social
,irr
análise externa pretende captar a escola do seu trabalho, se não tiverem uma vi-
a partir de um olhar mais global, abor- são integrada e crítica dos determinantes
dando aspectos sociais, económicos, cul- sociais e culturais do sistema de ensino.
turais, institucionais, das políticas educa- Os dois enfoques são essenciais na
cionais, das diretrizes curriculares, da le- discussão das políticas escolares; as duas
gislação, das formas de gestão do sistema análises completam-se, mas atuam na ex-
de ensino, portanto, uma análise de fora plicação da realidade de modo diferente.
para dentro. A análise interna aborda os O que discutirei neste texto é a tese de
objetivos, os conteúdos, as metodologias, que, no Brasil, nas últimas décadas, tanto
i i . i < • • • ! < 1.1 .1. > . i p . i i . i h i i ilirial ( K x i v u h v . l, discutir, l;iml>rm, a tese
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rr
Legislativo e Judiciário) quanto nos nu-n i-, • l. • 11 M • < r. | MI 11 i-ssos educativos, imersos
intelectuais, s i n d i c a i s c associativos, ;is . M i t i - M o s socioculturais e institucio-
.nálises externas têm-se sobreposto àl i i n n MI i arák-r endógeno, de dentro
internas com prejuízo considerável à cjiia h u . i r, por isso mesmo, as políticas
5^'' lidade das situações educativas escolares. • i li M .u K ma is devem ser precedidas de
Disso resulta a desatenção, o desapreço l ml 111- .r. para a escola e para a aprendiza-
aos aspectos pedagógico-didáticos da es- i 11< >s alunos. Sendo assim, a pergunta
cola por parte dos órgãos normativos do M I lis importante deve ser: como promo-
sistema educacional, dos planejadores e i imdanças "por dentro" das escolas
dos gestores que integram os órgãos in- dr modo a garantir qualidade cognitiva
termediários em âmbito federal, estadual • i iprraiiva das aprendizagens, conside-
e municipal e, também, do meio intelec- 1.11 K Io os influxos políticos, económicos,
tual do campo da educação. Como tese i 11 li 11 rã is e institucionais?
inicial, afirmo que, quanto mais se dis- O texto está organizado em cinco
cursa sobre qualidade de ensino, tanto iupicos: 1) os fatores externos e a efeti-
na linguagem do mundo oficial quanto \K .10 das políticas para a escola; 2) das
na linguagem dos educadores dito pro- políticas para a escola às políticas edu-
gressistas e até na linguagem da crítica • ai ionais; 3) posicionamentos correntes
académica, mais se amplia a distância M >l>re qualidade de ensino e sua reper-
entre esses discursos e as questões pe- i iissão na organização escolar; 4) duas
dagógico-didáticas efetivas da escola e propostas consistentes para as escolas;
do espaço da sala de aula, a ponta do "i) é possível uma pauta comum para os
sistema de ensino. É paradoxal que isso
di-tensores da escola?
aconteça, pois é na ponta do sistema de
ensino que as coisas efetivamente mu-
dam, e se pode constatar o que os alu-
Os fatores externos
nos aprendem, como aprendem e o que c' a efetivação de políticas
fazem com o que aprendem. É nas es- para a escola
colas e nas salas de aula que se verifica,
por exemplo, que 64% dos alunos de 5a Nos últimos dez anos, o meio inte-
série não aprenderam a ler e a escrever, lectual da educação e as entidades e sin-
conforme dados do Saeb, mas é nelas dicatos ligados à atividade profissional de
que podem ocorrer mudanças qualitati- educadores têm se esmerado em explici-
vas no desenvolvimento e na aprendiza- tar os fatores económicos e políticos que
gem dos alunos. afetam as políticas educacionais e as pó-
l i l u . i - . ( U M .i eSCOla. As reformas sociais i i u i i e i i i e di- lomuK.ao, profissionalização
implaniada.s ou rm implantação mantêm e valori/acao do magistério da educação
a precariedade d< > financiamento das po- básica c da educação superior. Com isso,
líticas públicas e ampliam o incentivo ao frequentemente se observa que as políti-
setor privado. Dentre as consequências cas educacionais não estão a serviço das
dessas políticas no campo da educação escolas e dos professores, não decorrem
está a precariedade do atendimento às das necessidades e demandas efetivas
escolas públicas, resultando em proble- da realidade das escolas e dos alunos.
mas crónicos, tais como as deficiências Acresce-se a isso a notória falta de cultu-
da estrutura física, dos equipamentos ra pedagógica por parte dos governantes
existentes, do material didático, da po- r da classe política em geral (ministros,/
lítica salarial e da carreira profissional, senadores, deputados, vereadores, as-
^ das necessidades materiais e culturais sessores políticos etc.), acerca do papel
dos alunos. Essa precariedade acentua-se da educação e da cultura no desenvolvi-
com os problemas associados à formação mento da sociedade e do país. A educa-
de professores, dentre eles a tendência à ção e o ensino continuam prestando-se
mercantilização, principalmente do ensi- muito mais a clientelismos, a trocas de
Ao qualificar este nível de político e admi- no superior, o aligeiramento dos cursos lavores eleitorais, ao jogo de interesses
nistrativo não queremos dizer que essas do que ao efetivo desenvolvimento social
decisões devam ser tomadas pelas instâncias
de formação, a "tecnicização" da ativida-
políticas de forma autónoma, enquanto te- de docente, a precarização do trabalho e cultural. Ao mesmo tempo, predomina
nham a legitimidade para ordenar o sistema
educativo. Significa que há uma série de de professor etc. no meio político-partidário uma cultura
opções de política educativa que afetam o Olhando a questão da formulação educacional elitista, com interesse mí-
plano, que em uma sociedade democrática
devem ser objeto de um debate amplo, em das políticas educacionais no aspecto ins- nimo pela educação pública popular e
que devem participar todos os setores so- titucional, é conhecida a desarticulação com quase total ignorância das questões
ciais, intelectuais e profissionais (Sacristán,
1998, p. 234). dos órgãos do governo responsáveis pela propriamente operacionais do ensino
educação, como as Secretarias de Edu-• como os currículos, as metodologias de
cação Infantil e Fundamental, de Ensino ensino, a efetivação das aprendizagens, a'
Médio, o Inep, o Conselho Nacional de avaliação de processos e resultados. Esta
Educação, na definição e organização característica observada no meio político-
institucional e curricular do sistema de partidário parece ter se mantido intacta
ensino. Essa desarticulação reflete-se, mesmo com ascensão ao poder de um
também, na desarticulação dos dispositi- partido com discurso supostamente afi-
vos legislativos. Um exemplo recente é a nado com os interesses populares.
incapacidade dos órgãos do Ministério da As entidades e sindicatos ligados
Educação e Cultura (MEC) em negociar a ao professorado, por sua vez, também
estruturação de uma política global e per- podem ser vistas como não empenha-
dos n.i.s (|IIC.MDCS pedagógicodidáticas. mundo interno da escola c àquilo que
AITI-.SI.VMU--M- a isso a falta de articulação lhe é específico; (a segundà,\s formas
política entre os profissionais do campo pelas quais os órgãos de gestão tomam -J ^h
da educação, ou seja, pesquisadores, pro- decisões legais ou administrativas, que
fessores universitários, militantes e inte- frequentemente não levam em conta as
grantes de associações e sindicatos, diri- efetivas necessidades postas pelas esco-
gentes de cursos de formação, dirigentes las; terceira, ao não-envolvimento das ,\
de secretarias de educação, especialistas instâncias gestoras dos sistemas de ensi
em políticas educacionais e legislação no em nível local e das próprias escolas
educacional etc. para pensar e intervir (obviamente incluindo os professores)
na melhoria das escolas. na avaliação ou questionamento dessas
Pode-se sugerir que as falas de nossos espe- Cumpre mencionar, ainda, no aspec- decisões.
cialistas, ao expressarem um compreensível
desencanto em relação aos efeitos das teo- to da produção académica, a notória e Disso, todavia, não resulta um en- Do mesmo modo que a educação não pode
rizações nas escolas e salas de aula, indicam ser compreendida como objeto em si, a
a necessidade de se repensar a articulação
/reincidente falta de relação orgânica entre tendimento da ineficácia das políticas pedagogia não pode ser entendida como
teoria-prática no campo do currículo de a universidade e o mundo concreto das educacionais e das diretrizes organiza- método para si, pois, como prática humana,
modo a facilitar o desenvolvimento da ca- a educação necessita da pedagogia como
pacidade prática e da experiência teórica do
escolas e professores, mormente entre cionais e curriculares, pois elas efetiva- teoria que a determina para que possa rea-
professorado (Moreira, 2000, p. 73). a pesquisa académica e os professores mente carregam propósitos, geram ações lizar-se como práxis humana, e a pedagogia
como teoria da práxis educativa jamais pode
que atuam na linha de frente do sistema e fazeres que afetam as escolas, e seus bastar-se a si mesma, por precisar esclarecer
escolar. Essa desconexão torna-se mais profissionais, acabando por dar determi- e conduzir a educação como práxis humana,
colocando-se desta forma no primado da
crucial quando os pesquisadores utilizam nada configuração às práticas formativas prática (Schimied-Kowarzik, 1983).
uma linguagem académica distanciada do dos alunos. A questão crucial, mais uma
mundo de representações dos professo- vez, é que faltando massa crítica aos
res e de suas práticas efetivas. profissionais das escolas, aos pedagogos
Os aspectos considerados mostram especialmente, não há forma de resistir
. l bem a complexidade das relações entre a tais políticas nem de dialogar com elas
políticas educacionais e diretrizes oficiais, de modo a devolver aos agentes exter-
as escolas e os professores. Frequente- nos a escola, o que, de fato, se deseja das
mente se ouvem queixas de professores, escolas em relação a seus objetivos e às
de sindicalistas, de pesquisadores em formas de lidar pedagogicamente com as
relação à centralização na definição das práticas formativas. Não se trata, pois, de
políticas públicas oficiais. As queixas, recusar a existência de princípios, diretri-
em parte, são justificáveis, mas o princi- zes, normas organizacionais, pedagógicas
pal problema diz respeito a três coisas: e curriculares nem de admitir sua nature-
a primeira, a uma falta de visibilidade de za política, como não basta ao professor
todas essas instâncias em que são urdidas ter competência para ensinar, descuidan-
as políticas educacionais em relação ao do-se de enxergar mais longe para tomar
> • 'ii .1 H - I I I 1.1 das i n h - i H t n-s que movem <> depois vem as metoclologi.i.s f, 1'iiialmen A tradição radical na formação do pro-
fessor/a apoia somente aqueles enfoques
.si.sk-nu es< "l.n i i . i lomiacào de sujeilos- te, os resultados de aprendizagem dos que pretendem desenvolver ao mesmo
protessoivs e cie sujeitos-alunos. Trata-se alunos. Essa polarização reflete-se na tempo o pensamento reflexivo e a ação
de reconstrução (pedagogia crítica) que,
de definir, com base na teoria pedagógi- separação entre a concepção "política" por definição, implica a problematização
ca, a orientação da formação humana e da escola e as formas "pedagógicas" de tanto da própria tarefa de ensinar, quanto
do contexto em que se realiza (Zeichner &
as diretrizes de organização das situações viabilização do processo de escolariza- Liston, 1990, p. 19).
educativas e, depois disso, estruturaras ção. É o mesmo que falar da separação
formas pelas quais se inter-relacionam as entre um "discurso sobre" e as formas
políticas educacionais, a organização e de operacionalização pedagógica e di-
gestão das escolas e as práticas pedagó- dática, entre a retórica e as práticas. São 4,. i.-,^
gico-didáticas na sala de aula. Esta seria demasiado frequentes manifestações de
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a tarefa primordial de pedagogos e pro- entidades sindicais, por exemplo, que L Ci/\^ »1*A "V-
fissionais do currículo. esbanjam discursos genéricos sobre es-
Todavia, o que se vê é a descone- cola, mas nada sabem dizer ou fazer so-
xão entre o sistema escolar e as escolas bre os aspectos pedagógico-didáticos da
tornando essas duas instâncias impene- sala de aula. Sindicalistas rapidamente se
tráveis, acabando por comprometer um transformam em profissionais do sindica-
projeto de educação de nação, à medida lismo deixando de ser profissionais do
que o sistema escolar (com seus agen- ensino. A consequência dessa postura é
tes) desconsidera o motor da instituição a dissociação entre uma cultura associa-
escolar: os processos de aprendizagem e tiva e sindical e a natureza da atividade
de ensino que levam a mudanças quali- profissional própria do professor do en-
tativas no desenvolvimento e na aprendi- sino infantil e fundamental. Essa cultura
zagem dos alunos. É precisamente sobre tem o propósito claro de emancipação
questões como o que deve ser a escola, do professor (i.e., ajudar na consciên-
suas funções, suas necessidades, que os cia crítica do professor, dotá-lo de uma
campos científico e profissional da edu- postura política, fazê-lo participar das
cação não têm conseguido'obter um con- decisões no âmbito da escola, incentivar
senso mínimo, com larga cota de respon- a democracia nas escolas etc.), mas se Ç^rV"
- &,(V> ^H , ,,/lA J
sabilidade atribuída aos pedagogos. omite em relação às formas de tornar o O a, *-* »«""*„
Não é difícil identificar as consequên- professor um profissional capaz de agir
cias disso. A primeira diz respeito à po- com competência nas tarefas de promo- v, ^^^,
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larização metodológica entre a teoria e ver a aprendizagem dos alunos e sua for-
a prática, pelo predomínio de uma forte mação como sujeito pensante e cidadão. c O ,*.
Xu^u tendência em pensar a escola de cima Com isso, se emancipa o professor, mas ^
para baixo: começa-se pelos currículos, não se investe em ações para instrumen-
tali/a-lo i n i r k v t u a l e metodologicamente deve atender a demandas m u i l < > < < m< K
para emancipar o aluno. tas, a decisões operacionais, qur d i/em
Os professores trabalham enquanto nós
Outra consequência é que os pro- respeito, primordialmente, a formas de
fazemos discursos sobre eles, não falamos
sobre nossas próprias práticas, mas sobre fessores e pesquisadores universitários garantir uma aprendizagem de qualida-
a prática de outros que não podem falar e
que não têm capacidade de fazer discursos
estudam as políticas educativas do Esta- de a todos os alunos. Nesse caso, impor-
(Sacristán, 2000, p. xx). do e até pesquisam as práticas das esco- ta muito saber como os alunos podem
las e dos professores de outros graus de aprender melhor, o que faz um profes-
ensino, dizendo como deve ser o pro- sor, qual o perfil ideal de sua formação,
,*-« o* fessor, mas não analisam e não refletem qual o melhor sistema de organização e
criticamente sobre as próprias práticas e gestão, com base nas necessidades con-
<^ a cultura universitária. cretas da escola e das salas de aula. O
A meu ver, ao longo das últimas pedagogo marxista italiano Mário Mana-
décadas, essas posturas têm tornado di- corda escreve que uma orientação ideal,
fícil o caminho de definição das políticas uma concepção geral de mundo, não as-
para a escola. Obviamente, não se trata segura nada sem a técnica, assim como a
de ignorar as questões políticas nem as técnica pode servir a todos os fins, bons
denúncias contra as concepções eco-
ou maus, de acordo com a ideologia que
nomicistas que vão tomando conta dos
a governa. Não é possível tomar uma
sistemas educacionais no mundo todo.
posição nem fazer opções operacionais
Entretanto, as escolas são organizações
somente com base numa orientação ideo-
profissionais, nas quais os objetivos polí-
lógica genérica. Toda atividade social, se-
ticos viabilizam-se pelo cumprimento de
ja cultural, económica, política ou outra
sua especificidade: ensinar. O trabalho
qualquer, requer competência técnica,
profissional na escola não é a militância
assim como toda técnica necessita uma
política, mas o ensino, a transmissão e a
orientação ideal, de uma concepção de
interiorização de conteúdos, as formas de
mundo (Manacorda, 1986).
relacionamento com os alunos, as formas
de organização pedagógica e didática. É
inconcebível hoje dizer que os problemas Das políticas para a escola
da escola não são técnicos, mas políticos. às políticas educacionais
Eles são políticos, são fortemente políti-
cos, mas também são técnicos, no sentido As políticas educacionais pressu-
de que o trabalho na escola implica com- põem políticas para a escola, e estas
petências teórico-metodológicas, modos devem basear-se em necessidades e
de atuar, de saber fazer, de saber agir em demandas originadas nos contextos
moralmente etc. O trabalho nas escolas concretos de ensino e na aprendizagem
Reitero aqui a distinção entre políticas ecfu- das rsrolas t- das salas dr a u l a . Chamo dr conleúclos por parti 1 dos piolessorrs,
cacionais e políticas educaf/i/as, as primeiras
referindo-se a princípios e estratégias para < de políticas para a escola a definição de com práticas docentes obsoletas, com o
o sistema educacional como um todo, de objetivos sociais e culturais para a esco- não-enfrentamento da diversidade social
caráter integrado e articulado, e as segundas
referentes ao próprio processo educativo, la, as capacidades a formar, as compe- r cultural dos alunos, com a avalanche
voltadas especificamente a formas de co-
municação e interação visando a mudanças
tências cognitivas e habilidades, os for- de novas tecnologias da comunicação e
qualitativas no desenvolvimento e na apren- matos curriculares, as metodologias de informação, como as deficiências de ges-
dizagem de sujeitos.
ensino, as práticas de organização e de tão da escola e do currículo. É notório,
gestão da escola, as condições profis- tífnbêm',"q"ué muitas soluções adotadas
sionais que asseguram os objetivos e os como "progressistas", como o sistema de
melhores resultados de aprendizagem, os ciclos e a integração de alunos portado-
níveis esperados de desempenho esco- res de necessidades especiais em classes
lar dos alunos. É na ponta do sistema de regulares, não têm sido bem-sucedidas.
ensino, nas escolas, que se constrói e se A análise externa das questões escolares
avalia a qualidade da escolarização. Boa é necessária. Ela alerta para uma visão
parte das desigualdades observadas no política e contextualizada das coisas.
meio escolar e na vida após a escola são Entretanto, em todas as modalidades de
produzidas dentro da própria escola. Ou educação, os processos são de caráter
seja, não há políticas educacionais viáveis endógeno: eles acontecem de dentro
sem levar em conta necessidades a serem para fora. O que confere qualidade ou
atendidas a partir das desigualdades de não e ao sistema de ensino são as prá-
aproveitamento escolar encontradas den- ticas escolares, as práticas de ensino. É
tro da própria escola. preciso, pois, considerar que os critérios
Se, enquanto pesquisadores, manti- democráticos de eficácia das políticas e
vermos fidelidade ao mundo empírico, diretrizes educacionais devem incidir so-
temos de admitir que nossos alunos não bre a efetividade das ações pedagógico-
estão aprendendo ou não estão apren- didáticas, isto é, a qualidade interna das
dendo como precisariam aprender; que aprendizagens escolares.
nossos professores, seja por qual motivo,
estão com dificuldades para ensinar; que
Posicionamentos correntes
estão aumentando a cada dia os proble-
mas sociais, culturais, disciplinares dentro sobre qualidade de ensino
da escola. Isso significa que os problemas e sua repercussão na
internos da escola avolumam-se, e isto organização escolar
diz respeito à acentuação de desigual-
dades dentro da escola. É notório que Neste terceiro tópico, tratarei das vi-
temos problemas com a falta de domínio * cissitudes que têm incidido no meio edu-
cacional .sobre os critérios de qualidade ples-.iud.l do I l l d u o , do 1111.1^111.11 ii >, do
de ensinei. A pergunta é: o que temos em cultivo da diferença, do l.ido pn/eroso
mente quando falamos em qualidade de etc. As duas abordagens ligadas à análi-
ensino? A resposta a essa pergunta define se externa da escola pouco contribuem
o traçado das políticas educativas para a para a explicitação de critérios efetivos
escola e, em consequência, das políticas de qualidade de ensino, seja pela falta
educacionais. Mencionarei quatro posi- de vínculo concreto com as escolas e as
cionamentos em relação à qualidade de salas de aula, seja por desconectá-la dos
ensino e apontarei, depois, consequên- elementos culturais sistematizados. Em ^
cias concretas destas posições. outras palavras aproveita-se pouco de-
Além de suas peculiaridades e características A ^n^ij^/f^i jfifiy/j ftirYfWff^ pode
específicas, durante os últimos 20 anos, os las, quando se traTã~de ver a escola por
países da América Latina em seu conjunto ser identificado como o dos discursos dentro, em seus objetivos, conteúdos e
sofreram mudanças dramáticas em suas es-
truturas económicas e sociais e ficaram sub-
marcados por análises externas à escoFaJ formas de organização das situações edu-
metidos a profundos processos de reforma, análises de conjunto, genéricas, a respei- cativas concretas.
baseados em princípios de racionalização do
gasto público e redefinição das modalida- to da escola, muito a gosto de filósofos O sçoriTido tyosicioYidfYiGYito refere-se A desarticulação entre a formação de pro-
des de intervenção do Estado em matérias e sociólogos da educação. Aqui distingo fessores da educação infantil e anos iniciai:
a propostas voltadas para aspectos in- do ensino fundamental e a formação do-
económicas, sociais e educativas (Gentili,
2004, p. 1268). duas abordagens. Uma que identifica a ternos do funcionamento da escola cen- professores para os anos finais do ensine
A educação tal como a conhecemos hoje é posições de denúncia do atrelamento d <s^*— fundamental e para o ensino médio terr
a instituição moderna por excelência. Seu
trando-se especificamente nas questões trazido para a formação dos alunos prejuí-
objetivo consiste em transmitir o conheci- escola a interesses políticos e económi- organizacionais. Há, também aqui, duas zos de descontinuidade, gerando gargalos
mento científico, em formar um ser humano no fluxo da escolarização, representados,
cos, por exemplo, atualmente, ao modelo4 abordagens. Numa, quer assegurar a efi- principalmente, pelos índices de evasão e
supostamente racional e autónomo e em
moldar o cidadão e a cidadã da moderna de- neoliberal, ao mercado etc. Inclui análises cácia da gestão e das formas de organi- repetência observados na transição entre <<
mocracia representativa. [...] Nesse sentido, 5a e a 6a séries do ensino fundamental (MEC,
o questionamento pós-modernista constitui
críticas frequentemente bem elaboradas zação identificando o funcionamento da 2000, p. 17-18).
um ataque à própria ideia de educação (Silva, sobre políticas educacionais, diretrizes escola com os das empresas. Presume-se
1999, p. 111-112).
curriculares, PCNs, gestão do sistema de que tornando mais eficazes as formas de ^'.Cvw^cuv OL
ensino etc., mas que usualmente per- òJ ¥>*«>
organização, tais como projetos e planos
manecem na retórica. Outra, a chamad; bem detalhados, distribuição de respon- ,'U. -:7Í\CX
l
posição pós-crítica ou pós-moderna, faz sabilidades, papéis bem definidos, traba- JACU$>

uma impetuosa crítica à escola por con- lho em equipe, oferta de condições de
L/
siderar que ela lida com o conhecimen- funcionamento como recursos físicos,
to com base na razão, quando a razão materiais, informática etc., estarão cria-
já estaria fora de moda; que os saberes das as condições para melhorar a apren-
sistematizados têm cumplicidade com as dizagem. Pedagogicamente, eliminam-se
relações de poder; que não contempla as as séries e se introduzem os ciclos de
diferenças sociais e culturais etc. Nessa escolarização, implanta-se a progressão
abordagem, a escola ideal seria aquela automática, e a qualidade de ensino vi-
despojada de saberes iluministas e im- rá em acréscimo. Nessa mesma linha de
p r i o i i / . K . n i d.i.s l ou n. is de o i g a n i A k a o r que, di/-se, não imporia m OS n u h n l> > ,
Destilo, mas numa visão assumida como mas sim os processos, li, por isso, l a i a sr
progressista, a outra abordagem aposta cie um currículo como processo, de uma
pá gestão participativa, na participação avaliação como processo, de um currícu-
das decisões, na eleição de diretores, lo baseado nas experiências cotidianas,
entendendo que isso cria um clima de- nas narrativas mais do que nos saberes
mocrático, que os professores envolvem- sistematizados, na instituição de formas
se mais com a escola e que tudo isso se novas de relações sociais em termos de
projetará na melhoria do ensino. Peda- gestão. Uma segunda modalidade nessa
gogicamente, também essa posição tem ênfase nas mudanças curriculares consis-
simpatia pelo regime de ciclos de esco- te na recusa do currículo tradicional, do
larização. Esse posicionamento inverte currículo por grades de disciplinas, ado-
as prioridades da escola: o que deve ser tando-se um currículo integrado. A escola
fim torna-se meio, e o que é meio torna- alternativa teria, assim, sua qualidade não
se fim, ao entender que democracia na nos conteúdos científicos, não nos sabe-
educação consiste meramente em modi- res sistematizados, mas na articulação, na
ficar as formas das relações interpessoais i vivência dos aspectos socioculturais e das
na escola, permanecendo ao longe das lexperiências cotidianas dos alunos. A es-
questões pedagógico-didáticas da ala de cola seria eminentemente um espaço de
aula. Não é, portanto, um bom critério socialização, um lugar de desenvolver vi-
de qualidade de ensino, à medida que vências e processos culturais, muito mais
não penetra na relação processos/pro- do que a aprendizagem sistemática dos
dutos de aprendizagem no espaço da conteúdos científicos e de competências
sala de aula. cognitivas, uma visão, a meu ver, dema-
No desenvolvimento do currículo, na prática Nu iiu tui'>n/iu'if/>r<úi<iiiu<>ii>Lff/o estão os siadamente sociologizada de escola. Essas
cotidiana na instituição escolar, as diferen-
tes áreas do conhecimento e experiência que buscam a qualidade de ensino em propostas são conhecidas pelo trabalho
deverão entrelaçar-se, complementar-se e mudanças na organização curricular. Nes- com temas geradores, com projetos, às
reforçar-se mutuamente, para contribuir de
modo mais eficaz e significativo com esse sas propostas, na maior parte das vezes vezes associados à organização por ciclos
trabalho de construção e reconstrução do
auto-proclamadas progressistas, a quali- de escolarização e à promoção automáti-
conhecimento e dos conceitos, habilidades,
atitudes, valores, hábitos que uma sociedade dade de ensino seria obtida por meio de ca, mas tendem a lidar com as questões !
estabelece democraticamente ao considerá-
los necessários para uma vida mais digna,
duas modalidades muito próximas, mas pedagógico-didáticas e de aprendizagem
etiva, autónoma, solidária e democrática possíveis de serem diferenciadas. A pri-~ dos alunos apenas perifericamente.
(Santomé, 1998, p. 125).
meira delas diz que a escola tem de dar Finalmente, o quarto posicionamen-
mais ênfase aos processos do que aos pro- to está ligado a formulações teóricas e
dutos, quer dizer, os processos estariam a ações psicopedagógicas, das quais es-
colocados em oposição aos produtos, por- tá muito próxima a proposta dos PCN.
A adoçâo de ciclos, pela flexibilidade que Uma visão psicopedagógica chi escola é, Vi K-s cie dependência to i | > u > < . 1 r n l i r as
permite, possibilita trabalhar melhor com as
diferenças e está plenamente coerente com tipicamente, voltada para as dimensões dimensões do social e cio suhjciivo.
os fundamentos psicopedagógícos, com a internas, tais como a mediação do ensino Os posicionamentos descritos, ao
concepção de conhecimento e da função
da escola que estão explicitados no item e as formas de comunicação, a organiza- constituírem concepções de escola e
Fundamentos dos Parâmetros Curriculares ção das situações educativas, as formas critérios de qualidade de ensino, geram
Nacionais. [...] A organização por ciclos
tende a evitar as frequentes rupturas e a de estruturação do conhecimento e os consequências nas formas de operar dos
excessiva fragmentação do percurso escolar,
processos internos de sua apropriação sistemas de ensino e das escolas com
assegurando a continuidade do processo
educativo, dentro do ciclo e na passagem de pelo aluno, a diferenciação pedagógica, risco de comprometimento dos níveis de
um ciclo ao outro, ao permitir que os pro- qualidade, dentre elas: a estabilização de
fessores realizem adaptações sucessivas da
as trocas cognitivas e sócio-afetivas entre
ação pedagógica às diferentes necessidades professor e alunos, a preocupação com uma ideia distorcida sobre a natureza e a
dos alunos, sem que deixem de orientar sua função das formas de gestão, a desarticu-
prática pelas expectativas de aprendizagem os problemas de aprendizagem. É sabi-
referentes ao período em questão (MEC, do que a abordagem psicopedagógica lação dos objetivos da escola e das formas
1998, p. 43). mais convencionais de organização curri-
também se divide em várias orientações
teóricas. Uma dessas orientações, por cular pela desregulação provocada pela
exemplo, pode exceder na ênfase do introdução dos ciclos de escolarização,
aspecto psicológico desconsiderando os a precipitação da política de integração
elementos contextuais mais amplos do em classes de ensino regular de alunos
trabalho escolar. Em alguns lugares em portadores de necessidades especiais, a
que se aplicam inovações centradas nos flexibilização das práticas de avaliação
ciclos de escolarização, é na psicopeda- da aprendizagem. São modos de opera-
gogia que os sistemas buscam suporte ção do sistema de ensino e das escolas
para princípios como: respeito ao ritmo que podem estar levando ao desmonte
de desenvolvimento natural da criança (a de uma estrutura mínima de organização
palavra "natural" aqui é muito importan- curricular, provocando nos professores a
insegurança e o sentimento do fracasso
te), a acentuação dos processos mais do
por não conseguirem fazer com que es-
que dos resultados, a flexibilização das
sas crianças alcancem níveis desejados de
práticas de avaliação. A despeito disso,
aprendizagem. Isso reforça a baixa auto-
que acredito não ser apropriado, deixo
estima dos professores diante das diver-
claro que considero indispensável a liga-
sas situações para as quais não se sentem
ção entre a pedagogia e a psicologia para
profissionalmente preparados.
a investigação e intervenção profissional
?<*s
no mundo interno da escola, cuja tarefa
tf é dar conta de articular as peculiaridades Distorção da natureza e das funções
do processo de ensino e aprendizagem da organização e gestão da escola
e os fatores sociais, políticos, culturais e Há uma ideia corrente, tanto no
institucionais, compreendendo as rela- âmbito das políticas oficiais, quanto em
N,i <|i".i.u > ! • n, is normas e padrões que regu- scgincnliis de educadores chamados de gestão democrática, práticas participati-
I.IMI.I i iinvivência escolar, a política da igual-
il.ulr iiuidc tom grande poder educativo,
progressistas, de que democratizar a es- vas de gestão, eleições para diretor, ins-
pois é sobretudo nesse âmbito que as trocas cola é democratizar as práticas de gestão. talação de equipamentos informacionais
min' educador e educando, entre escola e
i MI •!( i social, entre grupos de idade favore- O mote surgiu no contexto da crítica ao e outras coisas, se os alunos continuam
cem a formação de hábitos democráticos e período de autoritarismo que vigorou em apresentando baixo rendimento escolar e
responsáveis de vida civil. Destaca-se aqui a
responsabilidade da liderança dos adultos, nosso país. Em virtude disso, ficou va- aprendizagens não consolidadas.
da qual depende, em grande parte, a coesão lendo a ideia de que renovar a escola é
da escola em torno de objetivos comparti-
lhados, condição básica para a prática da democratizar as formas de gestão e, com Os ciclos de escolarização
i da igualdade (MEC, 1998, p. 65). isso, o grande objetivo da escola seria o e a desregulação da vida escolar
As instituições formadoras devem constituir de estabelecer em seu interior relações
direçâo e colegiados próprios, que formulem A ideia que, na prática, tem se reve-
seu projeto pedagógico de formação de pro-
democráticas e participativas, cuja concre- Os Parâmetros Curriculares Nacionais ado-
lado subjacente aos ciclos de escolariza-
fessores, articulem as unidades académicas tização mais visível são as eleições para tam a proposta de estruturação por ciclos,
envolvidas e, a partir do projeto, tomem as ção é a de que a aprendizagem é um pro- pelo reconhecimento de que tal proposta
decisões sobre a organização institucional
cargos executivos na escola. A meu ver, permite compensar a pressão do tempo que
cesso natural, espontâneo, algo que vem
e sobre as questões administrativas (MEC, é uma distorção grave, que tem gerado é inerente à instituição escolar, tornando pos-
2002, p. 79). de dentro da pessoa. Para isso, a escola sível distribuir os conteúdos de forma mais
ainda muita confusão, pois ao afirmar que adequada à natureza do processo de apren-
deve oferecer situações de aprendizagem dizagem. Além disso, favorece uma apresen-
democratizar o ensino é democratizar as
em que os alunos possam desenvolver tação menos parcelada do conhecimento e
práticas de gestão, transformam-se meios possibilita as aproximações sucessivas ne-
em fins, secundarizando o que é essen- suas potencialidades e habilidades no cessárias para que os alunos se apropriem
próprio ritmo, e a/ao professor/a cabe dos complexos saberes que se intenciona
cial da escola: o ensino e a aprendizagem transmitir. Sabe-se que, fora da escola, os
dos alunos. Sabemos que as formas de respeitar esse ritmo. Sendo assim, a or- alunos não têm as mesmas oportunidades
de acesso a certos objetos de conhecimen-
V organização e de gestão referem-se às ganização em séries contraria os tempos to que fazem parte do repertório escolar.
condições e aos meios para a realização e ritmos próprios do desenvolvimento e Sabe-se também que isso influencia o modo
e o processo como atribuirão significados
dos objetivos específicos. Isso não signi- da aprendizagem. Como cada criança tem aos objetos de conhecimento na situação

fica desconsiderar a dimensão pedagó- seu tempo de maturação biológica e men- escolar: alguns alunos poderão estai mais
avançados na reconstrução de significados
gica das formas de gestão, a validade da tal, e como todas elas têm o dom da inte- do que outros (MEC, 1998, p. 42).

gestão participativa e seus efeitos sobre ligência, mesmo que em diferentes graus,
a aprendizagem de professores e alunos. o/a professor/a precisa respeitar esse rit-
Apenas se salienta que os meios existem mo. A criança não pode ser reprovada, e
para se alcançar fins; são subordinados a avaliação escolar convencional é ina-
aos fins. Ou seja, o objetivo primordial da dequada, porque trata por igual pessoas
escola é promover a aprendizagem dos diferentes. Frequentemente se constata
alunos, e isso se realiza pela atividade dos que a concepção de ciclos surgiu com
professores e pelas condições oferecidas base nas ideias de Vygotsky. Entretanto,
pelas práticas de organização e de gestão. a teoria da aprendizagem de Vygotsky
Dentro dessa lógica, vale afirmar que são e seguidores concebe a aprendizagem
de pouca valia inovações administrativas, como atividade eminentemente socio-
i i i l l u r a l . mi M-|.I, lui uma determinação n tnseguiram mais ou menos e os que não
social e histórico-cultural da formação conseguiram o nível de aproveitamento
humana e, portanto, ela não é um pro- esperado. Surgem daí justificativas: essa
cesso natural, espontâneo; implica u n u criança não tem ambiente em casa, não
ação pedagógica, uma intencionalidade, fez as tarefas, não tem família social, psi-
a linguagem, o ensino. O aluno aprende cológica e culturalmente estruturada, a
na escola quando os outros, inclusive a mãe trabalha fora etc. Então, ela merece
. professora e o próprio contexto institu- ser promovida. Esse afrouxamento do
cional e sociocultural, o ajudam a desen- ensino não será uma forma de exclusão,
volver suas capacidades mentais, com afetando precisamente as crianças mais
base nos conhecimentos, habilidades, pobres para as quais os saberes sistema-
modos de viver, já existentes na ciência tizados devem ser ferramentas culturais
e na cultura historicamente acumulada. indispensáveis?
Isso não é, de forma alguma, espontâ- Verifica-se, portanto, a necessidade Um desses direitos é, sem dúvida, o direito a
uma educação bem-sucedida que seja con-
neo, nem depende somente do ritmo de de que se reconheça que o objetivo da sequência da realização de aprendizagens
aprendizagem de cada aluno. Depende escola é propiciar as melhores condições com qualidade democrática, científica e
pedagógica. Penso mesmo que a defesa e a
de uma estrutura organizacional forte, possíveis de aprendizagem, é fazer um exigência de uma escola básica com qualida-
de científica e pedagógica, direcionada para
da atuação da escola e dos professores bom planejamento com base em um cur- a transmissão e promoção de um mínimo
como adultos que realizam a mediação rículo básico comum, buscar metodolo- cultural comum para todos (sem exceção),
é hoje uma estratégia decisiva na luta pela
cultural; depende de que suscitem nos gias adequadas, inclusive de acolhimen- democratização dessa mesma escola (Afon-
alunos o desejo de aprender, de serem to às diferenças, e colocar as aulas nas so, 1999, p. 86-87).
melhores pessoas, de compreender me- mãos de professores competentes. A meu
lhor as coisas. ver, não há nada de errado no sistema
O sistema de ciclos, quando intro- de séries, começando por onde deve co-
duzido de forma descuidada, dissolve meçar, seguindo-se conteúdos em níveis
os objetivos pedagógicos, empobrece os cada vez mais complexos. Os professores
conteúdos, cria uma estrutura curricular mais experientes sabem muito bem o que
demasiadamente frágil, desmonta as for- um aluno pode aprender conforme sua
mas de avaliação convencional. Quem idade e, com isso, podem programar a
se der ao trabalho de analisar o que sequência de conteúdos e providenciar
acontece nas escolas com a promoção na escola as condições necessárias para
automática entre ciclos irá verificar que que o maior número possível de alunos -.^
ocorre ali uma das mais gritantes formas consiga aprendê-los. Se aprendizagem
de exclusão. Qualquer professor/a sabe consiste de mudanças no funcionamento v
que no final do ano há alunos que con- psíquico por meio do ensino, a criança
seguiram atingir o esperado, há os que desenvolve sua inteligência aprendendo,
is.so n.io r c.sfx miam-o r n ; i l i i r ; i l . IIKI.S inclusiva k-m sido entendida, com mia Por educação especial, modalidade da
educação escolar, entende-se um processo
algo que depende da açào bem-suceclida frequência, por muitos educadores, co- educacional definido por uma proposta pe-
da escola e do professor. mo o conjunto de ações e procedimentos dagógica que assegure recursos e serviços
educacionais especiais, organizados insti-
A concepção dos ciclos de escolari- voltados para a integração de alunos com tucionalmente para apoiar, complementar,
zação inverte as prioridades, ao colocar suplementar e, em alguns casos, substituir
necessidades especiais em escolas regula- os serviços educacionais comuns, de modo
o foco no desenvolvimento espontâneo res. No entanto, não é este o sentido que a garantir a educação escolar e promover o
desenvolvimento das potencialidades dos
das aprendizagens dos alunos, como se tem sido convencionado na terminologia educandos que apresentam necessidades
a aprendizagem fosse um processo na- do campo educacional. Por essa razão, educacionais especiais, em todas as etapas
e modalidades da educação básica (Rés.
tural. Ao contrário do que vem ocorren- a discussão sobre a inclusão de pessoas CNE/CEB n. 2, art. 3a, de 11 de fevereiro
do em algumas experiências do sistema com deficiência na escola deve ser inicia- de 2001).

de ciclos, a repetência deve ser evitada da pela definição de educação inclusiva Consideram-se educandos com necessida-
não pela facilitação do ensino, mas por já que a legislação define com clareza o des educacionais especiais os que, durante
o processo educacional, apresentarem. Io
formas muito concretas de intervenção que é a educação especial. dificuldades acentuadas de aprendizagem
A educação inclusiva, na acepção ou limitações no processo de desenvolvi-
pedagógica com objetivos muito bem mento que dificultem o acompanhamento
definidos, metodologia e procedimen- dos especialistas, é aquela em que todas das atividades curriculares, compreendidas
em dois grupos: a) aquelas não vinculadas
tos dídáticos adequados, organização da as pessoas têm o mesmo direito ao aces- a uma causa orgânica específica; b) aque-
escola e da aula, numa boa programa- so às instituições de ensino, portanto, à las relacionadas a condições, disfunções,
limitações ou deficiências; IIa dificuldades
ção curricular por séries. Somado a is- apropriação da ciência e da cultura, ao de comunicação e sinalização diferenciadas
so, um sistema de avaliação sistemático, desenvolvimento de suas capacidades dos demais alunos, demandando a utilização
de linguagens e códigos aplicáveis; IIIa altas
contínuo, para verificar se os objetivos intelectuais, à formação da cidadania, do habilidades/superdotação, grande facilida-
estão sendo atingidos ao longo do ano senso estético, da formação moral, inde- de de aprendizagem que os leve z dominar
rapidamente conceitos, procedimentos e
e no final do ano letivo. A questão do pendentemente de suas diferenças. Tra- atitudes (Rés. CNE/CEB n. 2, art. 5a, de 11

insucesso escolar, portanto, é menos um ta-se, antes de tudo, do direito universal de fevereiro de 2001).

problema de medidas organizacionais e de todos serem colocados em condições


muito mais de melhorar a prática de en- de compartilhar de uma escolarização
sino dos professores e suas condições que capacite para a vida profissional,
de trabalho. social, cultural, política, implicando uma
alta qualidade cognitiva e operativa das
aprendizagens, considerando diferenças
A integração no ensino regular de origem social, cultural, de etnia, se-
de alunos portadores de necessidades xo, religião, diferenças físicas, psicológi-
especiais
cas. Nesse sentido, a educação inclusiva
A primeira consideração a fazer nes- abrange a educação especial embora não
te tópico refere-se à imprecisão concei- possa ser confundida com ela.
tuai em relação aos termos educação in- A recusa a todas as formas de exclu-
clusiva e educação especial. A educação são, mediante a inclusão escolar, impõe,
. .ID.S si.sicinas cif ensino a res- da cultura, cia ciência, da .nlr, pu-p.n.n A educação inclusiva é uma questão de
ponsabilidade de enfrentar e atendei a< >s os alunos para o trabalho, para a cida- direitos humanos e implica a definição de
políticas públicas, traduzidas nas ações insti-
desafios da igualdade e da diversidade dania, para a vida cultural, para a vida tucionalmente planejadas, implementadas e
em relação a todas as pessoas portadoras avaliadas. A concepção que orienta as princi-
moral etc. Nesse sentido, a educação es- pais opiniões acerca da educação inclusiva é
de necessidades especiais, que têm o di- colar consiste em promover mudanças de que a escola é um dos espaços de ação e
de transformação, que conjuga a ideia de po-
reito de estar inseridos na sociedade, de qualitativas no desenvolvimento e na líticas educacionais e políticas sociais amplas
receber todos os cuidados sociais, médi- aprendizagem. A aprendizagem escolar, que garantam os direitos da população. As-
sim, a implantação de propostas com vistas
cos, psicológicos de que necessitem, de como se sabe, tem suas especificidades, à construção de uma educação inclusiva re-
terem uma vida digna e satisfatória. São requer determinadas condições e exigên- quer mudanças nos processos de gestão, na
formação de professores, nas metodologias
garantias pelas quais essas pessoas po- cias tanto dos alunos como dos profes- educacionais, com ações compartilhadas e
dem ter assegurado o direito de serem sores e da própria escola, sob o risco de práticas colaborativas que respondam às ne-
cessidades de todos os alunos. (Portal Seesp
reconhecidas em suas diferenças, em se comprometer o que a escola se pro- Fonte http://portal.mec.gov.br/seesp/index.
suas limitações e de usufruir de ações põe. Se acreditamos que o objetivo mais php?option=content&task= view&id=106;
acesso em 29/08/2005).
eficazes que lhes possibilitem inserir-se democrático da escola é prover a todos
na sociedade. Não obstante, é preciso re- sólida aprendizagem e os meios cogniti-
conhecer que uma pessoa com deficiên- vos e instrumentais para compreender a
cia que frequenta a escola é um "aluno realidade e atuar nela de modo crítico e
especial", cujo atendimento requer condi- criativo, é preciso saber que condições
ções específicas, preparo de professores, sociais, físicas, cognitivas, afetivas, psi-
atendimento especializado, conforme as cológicas, pedagógicas, são necessárias
limitações físicas, sensoriais ou mentais para isso. Aprender implica uma relação
de que é portadora. Ou seja, a educação com o saber, atingindo o melhor nível
inclusiva inclui o atendimento aos alunos
em situações educativas especiais, entre-
possível de desenvolvimento das capa-
cidades de pensar, raciocinar, resolver
•\ .r-
tanto, não necessariamente nos mesmos problemas, que supõe determinados re-
espaços físicos. quisitos. Os especialistas no campo da
Há, assim, sérias implicações pa- aprendizagem sabem, todavia, que há
ra a gestão das escolas o entendimen- crianças e jovens com comprometimentos
to da educação inclusiva como apenas físicos, neurológicos, mentais, que apre-
a integração de alunos com necessi- sentam reais carências desses requisitos
dades especiais nas escolas regulares. de aprendizagem, que se constituem em
Uma compreensão mais ampliada desse peculiares diferenças individuais. Não
conceito leva a buscar outras formas de que não devam ou não possam aprender
atendimento dos alunos especiais. Com coisas, mas que não conseguem atingir
efeito, as escolas têm uma tarefa muito o mesmo patamar de potencial cognitivo
clara que é a transmissão e a construção requeridos para compartilhar de apren-
isr.so liares ronnins. Kxigir níveis |iK b iv(|uri determlnadoN n - < p n - . M I <•. < >•.
de chegada iguais para diferentes pontos .•spivialislas no cauí] >< M Li , i | > i < -i i« li/.ii;rm
de partida é fator de exclusão. Em razão sabem, todavia, qur ha n Í.IIK ;i.s i- jmvns
disso, a melhor política de inclusão para :om comprometimentos físicos, neuro-
as crianças e jovens com necessidades lógicos, mentais que apresentam reais
especiais, nas condições atuais do ensi- carências desses requisitos de aprendi-
no regular, ainda é oferecer-lhes cuida- zagem, os quais constituem peculiares
dos especiais, atendimento especial com diferenças individuais no processo de
educadores qualificados para as várias aprender. Não que não devam ou não
necessidades a atender, com possibilida- possam aprender, mas é diferente o seu
de de atendimento individualizado ou em potencial cognitivo para compartilhar de
turmas pequenas, sob responsabilidade aprendizagens escolares comuns. Exigir
do poder público em instituições espe- níveis de chegada iguais para diferentes
cializadas. É claro que alunos com certas pontos de partida e sob as mesmas condi-
deficiências como a auditiva e a visual ções é fator de exclusão. Em razão disso,
podem frequentar escolas regulares, tal- a melhor política de inclusão para crian-
vez isso seja desejável, mas algumas es- ças e jovens com necessidades especiais,
colas devem ser selecionadas para isso nas condições atuais do ensino regular,
em função da necessidade de número ainda é oferecer-lhes cuidados especiais,
menor de alunos na sala, de formação es- atendimento especial com educadores
pecífica para a professora etc. Seja como qualificados para as várias necessidades
for, não é justo que políticas globais de a atender, com possibilidade de atendi-
atendimento às diferenças resolvam jogar mento individualizado ou em turmas pe-
para as escolas e professores responsabi- quenas, sob responsabilidade do poder
lidades que são da sociedade como um público em instituições especializadas.
todo. Então, não se poderia decretar uma É claro que alunos com certos tipos de
educação inclusiva generalizada em que deficiências como a auditiva e a visu-
não se distinguem tipos de diversidades al, podem frequentar escolas regulares.
ou desigualdades e não se pergunte se a Talvez isso seja desejável, se favorecer
escola e os professores do ensino regular suas aprendizagens, mas algumas esco-
dão conta de fazer isso com a competên- las devem ser selecionadas para isso em
cia necessária. função da necessidade de número menor
Aprender implica uma relação com o de alunos na sala, de formação especí-
saber, atingindo o melhor nível possível fica para o/a professor/a etc. Seja como
de desenvolvimento das capacidades de for, não é justo que políticas globais de
pensar, raciocinar, resolver problemas, o atendimento às diferenças resolvam jogar
|);n.i .is r.sroki.s c professores responsabi- provocando mais r\ I I I - . . M > in.n . di.-.«n
I idades pertencentes à sociedade como ininacão, mais marginalizaçio?
um todo. Não se poderia decretar uma São sobejamente conluvidas as ma-
educação inclusiva generalizada em que zelas do ensino público no Brasil, como
não se distinguem tipos de diversidades os baixos salários de professores, os re-
ou de desigualdades sem perguntar se a cursos físicos e materiais insuficientes e
escola e os professores do ensino regular não raro inexistentes, a precária formação
dão conta de fazer isso com a competên- do professorado para atendimento até
cia necessária. mesmo de alunos do ensino regular, que
Garantir igualdade de condições para o aces- A questão, obviamente, é delicada e se dirá dos "alunos especiais". Há anos
so e permanência nas escolas regulares de
classes comuns aos alunos com necessidades merece o respeito da sociedade o esforço as escolas enfrentam problemas crónicos
educacionais especiais. Essa é a principal me-
de competentes especialistas da educação ligados às dificuldades de aprendizagem
ta do Programa Educação Inclusiva: Direito à
Diversidade, da Secretaria de Educação Espe- especial que reivindicaram e aderiram a dos alunos, à repetência, à presença de
cial/MEC que, em parceria com as Secretarias
essa política aparentemente humanitária estudantes com grandes diferenças de
Estaduais e Municipais de Educação e com o
UNICEF, vem desenvolvendo ações que visam do Ministério da Educação. Mas, em face idade numa mesma classe. Isso sem falar
preparar os sistemas de ensino da rede públi- de problemas de disciplina e de situações
ca para a inclusão educacional (Portal Seesp das tarefas da educação escolar, especial-
Fente http://portal.mec.gov.br/seesp/index. de deslegitimação da autoridade dos pro-
php?option=content&task=view&id=116;
mente em relação a um ensino que pro-
fessores. Há, também, o forte peso das
acesso em 29/08/2005). picia condições de aprendizagem efetiva
mídias que vem mudando o perfil de
e duradoura como instrumentos para en-
aprendizagem dos alunos, trazendo ainda
frentar a vida profissional, social, cultural,
mais desafios aos professores. São indí-
não será temerária essa inserção abrupta
cios mais do que suficientes da precarie-
e incondicional que acaba por piorar as
dade das condições de oferta de ensino
já insuficientes condições de aprendiza-
para alunos do ensino regular, a ponto de
gem para os alunos das escolas regulares
provocar um sentimento de desencanto
e, pior que isso, sem alcançar os efeitos no professorado e nas famílias.
de inserção social e de aprendizagem de- Com tudo isso, a pergunta muito
sejados dos alunos com necessidades es- séria e muito responsável é: com essas
peciais? Não seria oportuno ouvir mais as precárias condições de funcionamento
professoras e os pais para avaliar melhor das escolas públicas, levando à baixa
a pertinência de uma medida pedagógica qualidade de ensino e aprendizagem dos
com tantas implicações sociais, culturais, alunos já matriculados, será justo, de-
psicológicas? As medidas legais sobre a mocrático, tanto para os alunos a serem
integração de alunos com deficiência na incluídos como para os já matriculados
escola regular não estariam levando a e para os professores, forçar medidas de
efeitos contrários aos desejados, isto é, inclusão de portadores de necessidades
vmi.s:' No desejo, rertaiiienk' a u m e n l a m os m m u - n is < . i . n r . i in-i.ns
so, de propiciar a esses alunos oportuni- de atendimento escol.n
dades iguais, dignidade, justiça, não se Os sistemas de ensino t ê m , pois,
está produzindo uma ação contra a dig- pela frente a exigência social de uma
nidade, e a justiça, dificultando as condi- reavaliação das políticas de educação
ções de aprendizagem e de socialização inclusiva. Se há a opção por uma polí-
de ambos os grupos? Não chegaremos, tica educacional de atendimento escolar
com isso, a uma socialização de prejuí- universal, entendendo que todas as crian-
zos e desvantagens, já tão acentuadas ças e jovens necessitam de uma sólida
por fatores que extrapolam o interior aprendizagem e de meios cognitivos e '
das escolas?
instrumentais para compreender a socie-
Há outro lado do problema bem
dade e atuar de modo crítico e criativo
mais perverso. Existem razões para acre-
nela, é preciso entender que, para isso,
ditar que tais políticas públicas para a
são requeridas condições sociais, físicas,
escola inclusiva estariam a serviço de ou-
cognitivas, psicológicas e pedagógicas.
tra política, a económica. Em tempos de
A par disso, cumpre envidar todos os
minimizar o papel do Estado, de reduzir
esforços para efetivar, em instituições e
os custos sociais do Estado, trata-se de
serviços especializados, a educação es-
economizar recursos e de reduzir inves-
pecial, enquanto modalidade da educa-
timentos e, ao mesmo tempo, aumentar
ção inclusiva.
os números de atendimento e, assim, me-
lhorar os índices estatísticos diante dos
países do primeiro mundo e das agências A flexibilização da avaliação
de financiamento, como o Banco Mun- da aprendizagem
dial e o Furtdo Monetário Internacional A estratégia de substituição das sé-
(FMI). Atrás de poderosos e convincentes ries pelos ciclos de escolarização está
argumentos humanitários, psicológicos, ligada diretamente à avaliação da apren-
pedagógicos, de respeito ao ritmo das dizagem, que tem por detrás a questão
crianças e de consideração das diferen- do fracasso escolar. Para os planejadores
ças, estar-se-ia, na verdade, buscando e gestores do sistema de ensino e legis-
redução de despesas, desobrigando o ladores, trata-se de minimizar o impacto
Estado a cumprir políticas sociais. Elimi- do fracasso escolar, especialmente re-
nando o atendimento especializado, que duzindo os índices de repetência e de
não é barato, e com isso introduzindo os abandono. Para isso, é estratégico romper
ciclos de escolarização, economiza-se pa- com a sedação, flexibilizar as práticas de
ra os cofres públicos e, em contrapartida, avaliação e adotar mudanças pedagógicas
que diViii M i p i i r u - ironro a essa estra- si, não garante .1 redução do CUStO indi-
tégia. Para essa estratégia, combina bem vidual c social da reprovação. A melhor
uma concepção de ensino voltada para fornia de evitar a exclusão é assegurar
as necessidades e interesses do aluno, condições físicas, materiais, pedagógicas,
para o respeito às diferenças e aos ritmos psicológicas para uma efetiva aprendiza-
de aprendizagem individuais e para en- gem, assim como professores bem pagos
riquecimento por meio de atividades de e profissionalmente bem formados.
integração social das crianças. O critério de qualidade das apren-
Ao considerar essa concepção de es- dizagens não pode ser, prioritariamente,
cola, é forçoso reconhecer que a flexibili- respeitar o ritmo dos alunos, mas saber
zação da avaliação é coerente ao valorizar que qualidades humanas, sociais, cogni-
mais as características de personalidade tivas são esperadas dos alunos que saem
dos alunos, seu ritmo de desenvolvimen- da escola e o que é preciso fazer para
to, suas possibilidades e limites de apren- conseguir isso para todos. Sendo assim,
der, mesmo porque é uma concepção a tarefa das escolas fica muito clara: as-
pedagógica que favorece uma estratégia segurar as condições para que a apren-
económica. dizagem escolar torne-se mais eficaz,
Entretanto, as coisas podem ser vis- mais sólida, mais consolidada, enquanto Um dos conceitos inseridos na Proposta Polí-
tico-Pedagógica da Escola Cidadã por ciclos
tas de outro ângulo. As crianças e jovens ferramenta para as pessoas lidarem com de formação é o de "progressão". É um
vivem numa sociedade concreta, com a vida. dos elementos centrais da proposta, senão
o elemento central, pois assegura o direito
exigências de inserção social e profis- A promoção automática cristaliza as de todos à continuidade e à conclusão da
sional, implicando o domínio de conhe- diferenças, porque alunos aprovados sem educação básica pelo menos de nove anos.
É preciso entendê-lo enquanto um processo
cimentos, competências do pensar e do níveis desejados de escolarização acabam pelo qual passam todos os sujeitos envolvi-
dos durante todo o tempo de sua formação
agir e também a çxigência de compor- considerados como tendo menos poten- (Loch, 1999, p. 135).
tamentos sociais e éticos. A escola é o cial cognitivo, o que se constitui uma
Voltada para a Transformação, a Avaliação
lugar de apropriação ativa da cultura, da prática excludente para os mais pobres. na MULTIEDUCAÇÃO é muito mais do que
ciência, da arte, o que não se assegura Trata-se, pois, de inserir as práticas de a expressão de determinados conceitos
para os alunos, ela expressa a postura do
sem parâmetros mínimos de organização, avaliação em uma proposta consistente educador comprometido com a constituição
rigor e acompanhamento sistemático. De- de ensino, em que não sejam supervalori- de conhecimentos e valores numa escola
democrática.
mocratizar o ensino é assegurar melhores zadas, mas tenham seu lugar. Ao menos, Entendida assim, é preciso que o coletivo
níveis de aprendizagem a todos os alunos que se estabeleçam níveis de chegada e da escola discuta o que está subjacente aos
conceitos PS (plenamente satisfatório), S (sa-
pela apropriação dos conteúdos e das que se utilizem procedimentos de compa- tisfatório) e EP (em processo) que passam a
habilidades cognitivas fundamentais para ração do trabalho feito com os objetivos conceituar o desempenho dos alunos a partir
de agora (SME, 1996, p. 388).
que possam instrumentalizar-se para en- esperados como um dos meios impor-
frentar o mundo do trabalho, da cultura, tantes para o diagnóstico da qualidade
da política. A extinção da repetência, em da escola e do ensino.
Duas propostas consistentes cont/reias (a prática pedagógica propria- Embora, como já foi afirmado, muito fre-
quentemente o "como" e "o que" na
para compreender o mundo mente dita). Não posso dizer, por exem- educação encontrem-se separados, julgo
necessário dizer o que entendo por "orienta-
interno da escola plo, que a teoria da formação cultural e ção pedagógica". Ela se refere a duas coisas
científica despreza a vivência sociocul- simultâneas: uma, a orientação de sentido
para a atividade educativa enquanto pro-
O papel de uma teoria pedagógica tural nas situações educativas, nem que cesso para a formação do ser humano em
a teoria da formação pela experiência desenvolvimento; outra, as diretrizes para
ou de uma teoria curricular é começar a ação educativa para a efetivação daquela
despreza a formação cultural e científica. orientação. Ao propor duas orientações em
por explicitar o que espera da escola,
Entretanto, se trata, efetivamente, de duas oposição não estou afirmando que uma
\u seja, que saberes, que experiências, tende para a teoria e outra para a prática;
orientações pedagógicas distintas. ambas definem um entendimento próprio de
Opa /j>v«J i que práticas esperam que os alunos in-
Essas orientações, segundo penso, compreender o que a educação pode fazer
i teriorizem para fazer uso deles diante de pelo ser humano e o que o ser humano (o
demarcam posições sobre objetivos edu- que educa) pode fazer pela educação, dentro
j demandas e de exigências da vida em de significados que se atribuem às melhores
/ ! sociedade. cacionais desde os primórdios da história formas de humanização do homem.
da educação e guardam bastante seme-
i Com base em estudos das tendências
lhança com uma interpretação original É fato conhecido que o ensino e a educação
pedagógicas, de propostas curriculares, alcançam as finalidades mencionadas se a
feita pelo pedagogo polonês Bogdan atividade própria da criança está competen-
de estilos de funcionamento das esco-
Suchodolski (1984), quando identificou, temente orientada. Quando esta atividade é
las, venho construindo uma hipótese de interpretada abstratamente e, principalmen-
na história da pedagogia, duas tendências te, quando existe uma ruptura do processo
que, em vários momentos da história da de desenvolvimento em relação à educação
fundamentais, a pedagogia da essência e
educação escolar, teóricos da pedagogia e ensino, inevitavelmente surgirá algum tipo
a pedagogia da existência. Embora essa de pedocentrismo ou de contraposição entre
envolvidos com decisões acerca da orga- as necessidades da "natureza" da criança e
polarização não explique tudo, nem em os requisitos da educação (como tem ocorri-
nização das práticas educativas acabam
minha formulação nem na de Suchodol- do muitas vezes na história do pensamento e
por optar por duas orientações pedagógi- ski, é bem viável sugerir as oposições que da prática pedagógicos). Entretanto, a situa-
ção muda substancialmente se a atividade
cas. Uma atribui i prevalência à formação apresenta: a pedagogia da adaptação ao "própria" da criança for entendida, de um
cultural e científica, em que se afirma a meio versus a pedagogia da evolução da lado, como algo que surge e se forma no
processo de educação e ensino e, de outro,
importância do domínio pelos alunos do criança, a pedagogia da transmissão cul- se for vista no contexto da historiada própria
património cultural da humanidade por tural versus a pedagogia dos interesses
infância, determinada pelas tarefas sócio-
econômicas da sociedade e pelas finalidades
\s ao mesmo tempo éticas e opera- e necessidades da criança. A história da e possibilidades de educação e ensino que
'. cionais. Outra atribui prevalência à vivên- educação parece estar sempre oscilando
a elas correspondem. Dadas estas premissas
teóricas, o fato de considerar a natureza e
cia das situações educativas, obviamente entre esses pares, com consequências os aspectos específicos da atividade infantil
com motivação formativa. Menciono o não leva à contraposição entre o desenvol-
para a prática educacional, por mais que vimento e a educação, mas sim à introdu-
s termo prevalência porque nenhuma teo- ção de uma condição fundamental para a
se façam tentativas para uma concepção concretização das finalidades do processo
ria pedagógica ou curricular exime-se superadora em que o ser humano em pedagógico. Neste caso, segundo as pala-
de determinar para si o que deva ser o formação é, ao mesmo tempo, criador do vras de Rubinstein, o processo pedagógico,
enquanto atividade do professor-educador,
objetivo pedagógico (enquanto direção próprio meio e de si mesmo ou, como forma a personalidade em desenvolvimento
de sentido da educação) e as diretrizes escreve Suchodolski, em que uma socie- da criança na medida em que o educador
dirige a atividade da criança ao invés de
para a operação das situações escolares dade possa prover determinadas condi- substituí-la (Davydov, 1998).
çõc-.s, garantia r organi/acuo cia c-xislèn- concebe- ;l escola como i n n . i « l . r . iir.l.m
cia humana de modo que esta "possa cias cie democraii/.K .1» d.i .•.. n-u-tl.uk- <.-
tornar-se base do desenvolvimento e da promotora de inclusão social, cuja íuncào
formação, base da criação da essência nuclear é a atividade de aprendizagem
humana" (1984, p. 117). dos alunos. Por sua vez, a aprendizagem
^
Não é possível, nos limites desta pu- escolar está centrada no conhecimento,
blicação, traçar em detalhe as caracterís- no domínio dos saberes e instrumentos
ticas das duas abordagens de formação culturais disponíveis na sociedade e nos
que, em minha opinião, disputam hege- modos de pensar associados a esses sa-
monia ao longo da história da pedagogia; beres. Ou seja, a escola existe para que

^ apenas serão apontadas algumas linhas


gerais que as identificam. As duas abor-
os alunos aprendam conceitos, teorias;
desenvolvam capacidades e habilidades
dagens são: a formação humana pela cul- de pensamento; formem atitudes e va-
tura e pela ciência e a formação humana lores e se realizem como pessoas e pro-
provida pela experiência nas situações fissionais-cidadãos. Todavia, se ensina a
educativas. alunos concretos, razão pela qual se faz
É necessário esclarecer, em especial aos A abordagem da formação humana necessário ligar os conteúdos à experiên-
críticos e aos menos avisados, que uma
caracterização de posições em dois pólos pela cultura epela ciência destaca o papel cia sociocultural e à atividade psicológica
e de modo demasiado sistemático sempre da cultura acumulada historicamente na interna dos alunos. Qualidade de ensino
é incompleta, já que a realidade humana
é sempre mais rica do que a explicação e a formação do pensamento, seja pela me- é, basicamente, qualidade cognitiva e
descrição que dela faz o espírito humano. operativa das aprendizagens escolares em
As teorias da formação cultural e científica,
ra reprodução de saberes e valores, seja
por exemplo, vão desde as que concebem a pela reorganização crítica dessa cultura. A contextos concretos. É para isso que de-
escola como lugar de memorização de con-
teúdos preestabelecidos até as que propõem
crítica a essa postura destaca o conceito vem ser formuladas as políticas, os proje-
a escola como lugar de desenvolvimento mais restrito de aprendizagem de conteú- tos pedagógicos, os planos de ensino, os
do pensamento teórico-científico por meio
do desenvolvimento das cortipetências do
dos preestabelecidos, tangíveis e estáticos, currículos, os processos de avaliação.
pensar. As teorias da formação por meio de a desconsideração da cultura da escola A abordagem da formação pela
situações vitais e contextuais incluem desde
a proposta de escola de Dewey até a peda- e do mundo sociocultural dos alunos, a experiência provida nas situações edu-
gogia crítica de Paulo Freire, passando pelas submissão de valores, conteúdos e com- cativas (pedagogia de situações expe-
teorias do cotidiano.
portamentos aos interesses ideológicos do rienciais) destaca a formação de atitu-
sistema. Uma pedagogia homogeneizado- des desenvolvidas no ambiente esco-
ra tenderia a produzir práticas excludentes lar e das relações professor/a-aluno/a,
por desconsiderar situações reais dos alu- levando em conta as situações vitais e
nos em relação a particularidades sociais, contextuais das aprendizagens. As ações
culturais, de género e de raça. educativas vão desde o provimento de
Numa perspectiva crítica dessa abor- experiências sociais visando formas de
dagem, a pedagogia histórico-cultural adaptação até as vivências socioculturais
Al.nn,
il.i atividade de aprendizagem, < <•• .ilmn >:. lê Chartier (1868-1933), formulou a peda-
c o cultivo d.i diversidade, considerando .ipu-iuk-in a pensar teoricamente um ob gogia da dignidade da criança, mas também
não apenas a ivlacao professor/a-aluno/ da severidade, dirigida mais à vontade que
II-ID de estudo, formando, com isso, um ao saber, mais à maneira de pensar do que
a, mas também as variáveis do contexto
IrPÍ'articular da situação educativa. Uma
c( Huvito teórico apropriado desse objeto
para utilizá-lo em situações concretas. A
ao pensamento (cf. Chateau, 1978). Para
Alain, a educação deve visar o ser humano
pelo lado mais alto, do espírito, não pelo da
pedagogia das situações educativas po- aprendizagem do pensar tem como base facilidade, do agrado, da frivolidade. Não
se educa pelo interesse, mas pela ambição
de ser criticada por seu caráter exclusi- ( i desenvolvimento do pensamento teóri- de governar-se, "criança não se limita a si
vamente processual, por reducionismos co. O pensamento teórico forma-se pelo
mesma, não conquista disciplina sobre si
mesma senão por essa luta contra o difícil"
sociabilizantes e por posturas demasiado domínio dos procedimentos lógicos do (Chateau, 1978, p. 332).
relativistas e tolerantes diante de valores pensamento que, por seu caráter genera-
Convém esclarecer que as ideias de Vygotsky
resultaram numa gama de interpretações e
e comportamentos que podem compro- lizador, permite sua aplicação em vários de usos práticos, cabendo distinguir princi-
meter a realização de objetivos sociais palmente a abordagem histórico-cultural,
âmbitos da aprendizagem. que investiga a estrutura do funcionamento
necessários e, assim, promover formas A abordagem da formação pela va- cognitivo em suas interações com a cultura,
e a abordagem sociocultural que realça a
de exclusão social. lorização de experiências providas nas aprendizagem humana enquanto, princi-
Na pedagogia católica como na herbartiana A abordagem da formação centrada situações educativas tem origem, enquan- palmente, situada em contextos de culturas,
<• sabido que a educação dirige-se à forma- de relações, de atividades socioculturais (cf.
ção do homem futuro. Herbart (1776-1841)
na cultura e na ciência, quase sempre to teoria sistematizada, no movimento da Daniels, 2003).
formulou a clássica teoria dos múltiplos inte- estigmatizada de forma simplista como Escola Nova, especialmente nas ideias Não se trata de uma ideia vaga de ensino,
resses. Dizia que a educação visa à formação ensino em geral. A reconhecida importância
do homem para as exigências da sociedade
"pedagogia tradicional e conservadora", de John Dewey, para quem o ponto de atribuída por Vygotsky à interação social nos
que lhe serão postas enquanto adultos mas, inclui essa pedagogia, mas agrega, tam- partida da escola devem ser as atividades
processos educativos leva-o a centrar suas
como o educador não sabe que escolhas os preocupações em como o funcionamento
jovens farão no futuro, eles precisam do pre- bém, defensores na teoria histórico-cultu- comuns nas quais a criança está envolvi- interpsicológico pode ser organizado para
paro mais amplo e mais geral possível na fase ral. No âmbito da pedagogia tradicional, da, não as futuras atividades do adulto.
o crescimento do funcionamento intrapsi-
escolar, fornecendo-lhes uma multiplicidade cológico. Mais especificamente, como se
de interesses. Então o educador precisa abrir encontramos a sólida tradição da peda- Para isso, convém prover situações de materializam os processos educativos tanto
um leque de experiências e interesses, por- gogia de Herbart, da pedagogia católica, em situações formais como informais.
que quando os alunos se tornarem adultos, experiência em que o aluno resolva pro-
i".l.IMO aptos a fazerem as melhores esco- da pedagogia do pedagogo francês Alain. blemas suscitados na vida cotidiana com
lhas para suas vidas. A pedagogia católica A pedagogia histórico-cultural, criada por
incorporou essa teoria, aliás, presente no o meio físico e social, ou seja, a escola
conceito de formação geral desenvolvida Vygotsky, acentua o papel da atividade deve ser um prolongamento simplifica-
pelos pedagogos alemães, significando a
formação do espírito cultivado, formação
sócio-histórica e coletiva dos indivíduos do e ordenado das situações sociais. As-
interior e autónoma. na formação das funções mentais supe- sim, cria-se um ambiente que possibilite
riores, expresso pela mediação cultural a emersão das capacidades, tendências
no processo do conhecimento, incluindo e interesses individuais internos. São en-
l/)r <*°
:
aí o papel central do ensino na promoção
do desenvolvimento mental. Segundo
o pedagogo russo Davydov, o objetivo
contradas ideias semelhantes em Freire,
mais recentemente em Arroyo (1999).
Formulações semelhantes geradas de
.-cV

do ensino é promover nos estudantes outros contextos teóricos aparecem em


O < l< ".envolvimento das competências e autores vinculados à teoria curricular crí-
l i i l ' i l i . l . n l f , de aprender por si mesmos, tica (Moreira, 2004; Macedo, 2003; Alves,
i i - l i - .11 n i - i n ler ,i pensar. Por meio
John Dewey (1859-1952) põe como centro 2001 ) c na trona sociocultural, qur com- de prs<|uisa, no srnlido de an.il
de sua filosofia a experiência. "Pensar é o
esforço intencional para descobriras relações preende a aprendizagem como atividade l l r x a o da prática, visando a < < •nsliiii. a< >
específicas entre uma coisa que fazemos e a em contextos socioculturais específicos, i- rc-construção do conhrt-iiitriito c da
consequência que resulta, de modo a haver
continuidade entre ambas" (Dewey, 1979, p. envolvendo participação em atividades ruluira. Elizabeth Macedo (2003), dentro
159). A experiência é, pois, a ação e a prova, de uma pedagogia das situações educa-
e nisso constitui o processo do conhecimen-
socioculturais compartilhadas.
to. A experiência sociocultural nos autores A teoria curricular crítica afirma que tivas, considera o espaço-tempo da sala
dessa corrente teórica procede da valorização
de saberes do cotidiano, da diversidade social
a escola e o currículo giram em torno do dr aula como entrelugar "onde-quando
e cultural, das múltiplas culturas presentes na conhecimento escolar em meio a expe- são reterritorializados seus discursos em
escola, rompendo-se com a separação entre
conhecimento científico e conhecimento riências organizadas entre professores e iiicio a uma gama de outras falas", sem
cotidiano. A escola é "um espaço/tempo de alunos, no interior das quais o conheci- drsconsiderar, entretanto, os saberes que
relações múltiplas entre múltiplos sujeitos
com saberes múltiplos, que aprendem/ensi- mento escolar é construído e reconstruí- conferem à escola certa especificidade e
nam o tempo todo, múltiplos conteúdos de do. O currículo reflete, portanto, escolhas que "transitam entre os campos de co-
múltiplas maneiras (Alves, 2001). Macedo
(2003) considera o espaço-tempo da sala políticas, ou seja, a visão de cidadão e nhecimento, com suas normatividades
de aula como entrelugar "onde-quando são de cidadã que se pretende educar, das próprias e as normatividades segundo
reterritorializados seus discursos em meio a
uma gama de outras falas", do que resulta identidades sociais a formar nos alunos. a.s quais são pedagogizados". A autora,
uma visão cultural da sala de aula articulando
o currículo e as experiências socioculturais
Sendo assim, opções curriculares podem portanto, aceita a legitimidade do ensino
de professores e alunos. Essas duas posições levar à produção de desigualdades quan- dos conteúdos escolares convencionais,
justificam situá-las! numa abordagem crítica
da formação pela experiência provida nas
do leva a práticas de discriminação por mas sem deslegitimar formas culturais
situações educativas. origem social, etnia e género. A iden- não-hegemônicas, ou seja, saberes que
tificação desses problemas dá origem professores e alunos trazem para a sala
aos estudos de currículo tais como os de aula.
que permitem compreender melhor as Ambas as abordagens tendem a fazer •sCA-X
interações na sala de aula, o currículo prevalecer um pólo sobre outro, quando
oculto, as relações de poder na escola, se trata ora da formação cultural ora da
a influência dos fatores socioculturais e formação em contextos de experiência.
comunicacionais e a questão da política A primeira, ao fazer prevalecer proposi- jt
das identidades que resultam nos cur- ções universalizantes, pode vir a omitir-se ,f>*
O currículo é um conjunto de intenções ex- rículos multiculturalmente orientados. em relação a dinâmicas particulares das
pressas em um projeto político-cultural e de
um conjunto de vivências que constituem Tais pesquisas possibilitam definir para situações pedagógicas experienciadas; a
as práticas que desenvolvemos (Moreira, a escola papéis de espaço de crítica cul- segunda, ao submeter o currículo a vivên-
2004).
tural, por meio de patamares cada vez cias socioculturais particulares, pode vir a
mais elevados de saberes que permitam distanciar-se de objetivos mais universais
a crítica da realidade existente; de espa- que devam ser postos à atividade educa-
ço multicultural, que contemple o plura- tiva sistematizada. Seria de todo benéfico
lismo cultural envolvendo as diferenças e edificante a todos entender que, numa
éticas, de género, de nação; de espaço sociedade em que vigoram interesses de
grupn.s p a i i u iilare.s, mas em que lia uma situações educativas são tareias ii A prática escolar consiste na concretização
das condições que asseguram a realização
notória domina; ao, em termos desiguais pendentes, as quais nem sempre andam do trabalho docente. Tais condições não se
de poder, de uns grupos sobre outros, juntas. Filósofos, sociólogos e economis- reduzem ao "estritamente pedagógico", já
que a escola cumpre funções que lhe são
uma pedagogia humanista e emancipa- tas postulam orientações para a escola, dadas pela sociedade concreta que, por
tória precisa estabelecer a direção de por exemplo: "o cidadão que a escola sua vez, apresenta-se como constituída por
classes sociais com interesses antagónicos.
sentido das práticas escolares, o que não precisa preparar é o cidadão crítico", "em A prática escolar, assim, tem atrás de si
permitiria fazer pender as decisões, ar- condicionantes sociopolíticos que configu-
oposição à qualidade total propõe-se a ram diferentes concepções de homem e de
bitrariamente, do universalismo para o qualidade social", "o cidadão de hoje pre- sociedade e, consequentemente, diferentes
pressupostos sobre o papel da escola, apren-
relativismo cultural e vice-versa. cisa ser o cidadão que respeita a diferen- dizagem, relações professor-aluno, técnicas
ça...", "o cidadão esperado é o que sabe pedagógicas etc. Fica claro que o modo
como os professores realizam seu trabalho,
É possível uma pauta consumir conscientemente...". A maioria selecionarn e organizam o conteúdo das
deles, no entanto, não sabe dizer como matérias, ou escolhem técnicas de ensino
comum para os defensores e avaliação tem a ver com pressupostos
da escola? se faz isso na escola, qual é a melhor pe- teórico-metodológicos, explícita ou implici-
tamente (Libâneo, 1992, p. 19).
dagogia, qual é a melhor forma de orga-
Como se pode deduzir, os embates nização da escola, que tipo de professor
é mais adequado a atingir esse objetivo.
na teoria pedagógica têm sido habitados
sistematicamente por aporias, ou seja,
Por sua vez, pedagogos, psicopedagogos, 0^
imaginam saber bem como se organiza e
posicionamentos muito diferentes, mas
se administra uma escola, qual é a me-
igualmente concludentes em relação à
lhor conduta na relação entre professo-
mesma questão: o que se espera que a \tr--
res e alunos, como se organizam situa-
escola faça para produzir o tipo desejá-
ções de ensino e aprendizagem, quais os
vel de cidadãos educados e aptos a viver
melhores métodos etc., mas podem não
em determinada sociedade. As aporias
ser capazes de expandir sua visão para
são muitas: valorização da formação cul-
os elementos sociais, políticos, culturais
tural e científica/valorização da cultura
que intervêm na formação de cidadãos
experiencial, valores universais/valores
numa sociedade em mudança.
relativos, diferença/semelhança, saber
Supõe-se, todavia, que um pedago-
aprender/saber conviver, cultura siste- go competente saiba fazer as duas coisas:
matizada/cultura vivida, necessidades o "quê" e "como". Mas, em geral, quem
sociais/necessidades psicológicas, con- define as políticas para a escola desco-
teúdos/formação do pensamento, dis- nhece a escola. Ainda que eventualmente
curso/narração. sejam pedagogos, como já demonstrei,
O que deve ser a escola e o que fazer parte dos descalabros da escola hoje de-
na escola ou a orientação do sentido da corre desse fosso entre as intenções e os
educação e a diretriz para a atuação nas meios, entre a intenção e os gestos con-
grupos pá ri k nlares, mas em que- ha uma situações educativas ,sa<> l.nvl.i.s inierde A prática escolar consiste na concretização
das condições que asseguram a realização
notória dominação, em termos desiguais pendentes, as quuis nem .sempre andam do trabalho docente. Tais condições não se
de poder, de uns grupos sobre outros, juntas. Filósofos, sociólogos e economis- reduzem ao "estritamente pedagógico", já
que a escola cumpre funções que lhe são
uma pedagogia humanista e emancipa- tas postulam orientações para a escola, dadas pela sociedade concreta que, por
tória precisa estabelecer a direção de por exemplo: "o cidadão que a escola sua vez, apresenta-se como constituída por
classes sociais com interesses antagónicos.
sentido das práticas escolares, o que não precisa preparar é o cidadão crítico", "em A prática escolar, assim, tem atrás de si
permitiria fazer pender as decisões, ar- condicionantes sociopolíticos que configu-
oposição à qualidade total propõe-se a ram diferentes concepções de homem e de
bitrariamente, do universalismo para o qualidade social", "o cidadão de hoje pre- sociedade e, consequentemente, diferentes
pressupostos sobre o papel da escola, apren-
relativismo cultural e vice-versa. cisa ser o cidadão que respeita a diferen- dizagem, relações professor-aluno, técnicas
ça...", "o cidadão esperado é o que sabe pedagógicas etc. Fica claro que o modo
como os professores realizam seu trabalho,
É possível uma pauta consumir conscientemente...". A maioria selecionam e organizam o conteúdo das
matérias, ou escolhem técnicas de ensino
comum para os defensores deles, no entanto, não sabe dizer como e avaliação tem a ver com pressupostos
da escola? se faz isso na escola, qual é a melhor pe- teórico-metodológicos, explícita ou implici-
tamente (Libâneo, 1992, p. 19).
dagogia, qual é a melhor forma de orga-
nização da escola, que tipo de professor
Como se pode deduzir, os embates
é mais adequado a atingir esse objetivo.
na teoria pedagógica têm sido habitados
Por sua vez, pedagogos, psicopedagogos,
sistematicamente por aporias, ou seja,
imaginam saber bem como se organiza e
posicionamentos muito diferentes, mas
se administra uma escola, qual é a me-
igualmente concludentes em relação à
lhor conduta na relação entre professo-
mesma questão: o que se espera que a >rff-
res e alunos, como se organizam situa-
escola faça para produzir o tipo desejá-
ções de ensino e aprendizagem, quais os
vel de cidadãos educados e aptos a viver
melhores métodos etc., mas podem não
em determinada sociedade. As aporias
ser capazes de expandir sua visão para
são muitas: valorização da formação cul-
os elementos sociais, políticos, culturais
tural e científica/valorização da cultura
que intervêm na formação de cidadãos
experiencial, valores universais/valores
numa sociedade em mudança.
relativos, diferença/semelhança, saber Supõe-se, todavia, que um pedago-
aprender/saber conviver, cultura siste- go competente saiba fazer as duas coisas:
matizada/cultura vivida, necessidades o "quê" e "como". Mas, em geral, quem
sociais/necessidades psicológicas, con- define as políticas para a escola desco-
teúdos/formação do pensamento, dis- nhece a escola. Ainda que eventualmente
curso/narração.
sejam pedagogos, como já demonstrei,
O que deve ser a escola e o que fazer parte dos descalabros da escola hoje de-
na escola ou a orientação do sentido da corre desse fosso entre as intenções e os
educação e a diretriz para a atuação nas meios, entre a intenção e os gestos con-
avios. Entretanto, são os pedagogos e para Iodos, c solm- i | i i . i r < l i t < I M / < . pio
os profissionais do currículo que devem p o r para atuar n a s siiu.it. <>< < < l n « .mvas
recompor a dialética do "quê" e do "co- concretas, já que é ra/oawl supor que
mo". Conhecer o mundo da escola por objetivos e formas de organi/açào das
dentro significa saber em que consiste o escolas devem ser pautados pela con-
problema pedagógico-didático na educa- cepção de aprendizagem desejada para
Pedagogos e estudiosos do currículo são, ção escolar. Esse problema refere-se a, no os alunos.
ambos, pedagogos. Não é apenas de uso
meramente técnico a expressão que utilizo mínimo, quatro coisas: a) como se organi- Uma posição universalista identifica
"projeto pedagógico-curricular", onde o za o conhecimento a ser trabalhado com a existência de uma cultura e de valores
pedagógico refere-se a objetivos e meios
formativos para dar uma direção de sentido os alunos; b) como esse conhecimento universais; urna posição relativista consi-
ao processo educativo, ou seja, ao "quê" e pode melhor e mais eficazmente ser apro- dera o pluralismo das culturas e das dife-
ao "como" da educação; trata-se, enquanto
tal, de uma prática de mediação cultural na priado pelos alunos pela mediação (co- renças. Será possível conciliar a posição
configuração de subjetividades, implicando
uma prática intencional de produção e in-
municação) dos professores; c) como os relativista, em que os valores e práticas
ternalização de significados. Já o curricular professores gerem (administram) a sala são produtos socioculturais, portanto de-
indica o referencial concreto da proposta
pedagógica, ou seja, o currículo enquanto
de aula, especialmente as relações profes- correntes do modo de pensar e agir de
projeção, desdobramento, de orientações, sores-alunos e de que forma planejam e grupos sociais particulares, com a exi-
diretrizes do pedagógico, materializados em
conteúdos cognitivos e simbólicos e práticas organizam as situações pedagógicas e de gência "social" de prover a cultura geral,
pedagógico-didáticas (Libâneo, 2004). aprendizagem; d) como é a organização acessível a todos, independentemente de
da escola, enquanto práticas sociocultu- contextos particulares?
^fW
rais, pedagógicas e institucionais. A atuação nas situações educativas
A rica produção intelectual prove- por meio do currículo e do ensino põe
niente das mais diversas orientações teó- em confronto o currículo com base na
<V ricas, a par de abrir as possibilidades de formação do pensamento científico e o
melhor compreensão da natureza e das currículo com base na experiência socio-
funções da educação e do ensino, lança, cultural. Se o dilema anterior procede do
também, aos pedagogos, uma série de
dilemas tanto teóricos quanto práticos,
campo ético, aqui nos colocamos dian-
te de posições em relação ao currículo
,
resultando nas mencionadas "aporias", já e às práticas de ensino. Para quem põe
que o pedagogo de profissão é quem car- o foco nas mediações cognitivas como
rega o ónus de decidir em situações con- instrumento para desenvolvimento do
cretas. As possibilidades de avanço em pensamento, o currículo e as práticas es-
relação aos processos e procedimentos colares estariam voltados para a internali-
mais eficazes de aprendizagem escolar zação de elementos cognitivos, de bases
dependeriam de buscar consensos pos- conceituais, para lidar com a realidade,
síveis sobre quais objetivos efetivamente sem descartar a motivação do aluno, sua
se buscam em relação à educação escolar subjetividade e contextos de vida. Para
quem defende um currículo experiencial, m i n a r as acors mrul.n.s conectadas com
o conhecimento escolar estaria na experi- os conteúdos, a adquirir instrumentos
ência .sociocultural, na convivência e nas e procedimentos lógicos pelos quais se
práticas de socialização, isto é, a cultura chega aos conceitos e ao desenvolvimen-
"escolar" estaria subordinada aos saberes to cognitivo, para isso considerando as
de experiência de que são portadores os características pessoais e culturais dos
alunos, dissolvendo-se a disciplinaridade alunos, sua motivação e os contextos
em favor de um conteúdo mais próximo socioculturais da aprendizagem.
às manifestações culturais. Em face des- Possíveis acordos em torno de pro- A escola é parte integrante do todo social.
Com isso, entendo que a escola é uma insti-
se dilema, seria pedagogicamente viável pósitos educativos e meios de ação pe- tuição não autonomizada. É parte integrante
prover os alunos dos conteúdos cientí- dagógica implicam, certamente, a apos- e inseparável dos demais fenómenos que
compõem a totalidade social. Como parte
ficos sem deslegitimar os discursos dos ta na universalidade da cultura escolar integrante do todo social, traz consigo as
de modo que à escola caberia transmitir contradições da própria sociedade. Como
alunos a partir de seus contextos de vida?
instituição social, a escola exerce a função
Haverá efetiva incompatibilidade entre a saberes públicos a todos os que apre- precípua da socialização dos conhecimentos
historicamente produzidos. Essa maneira
aprendizagem dos conteúdos científicos sentam um valor, independentemente de compreender o papel da escola aponta,
associados aos processos de pensamento de circunstâncias e de interesses parti- necessariamente, para a transformação das
estatísticas escolares a fim de propiciar a ele-
e a incorporação no currículo da expe- culares, em função da formação geral e, vação cultural do indivíduo e da sociedade
riência sociocultural e características so- junto a isso, permeando os conteúdos, (Veiga, 1993, p. 81).

ciais e psicológicas dos alunos? caberia ^considerar a diversidade cultu-


Presentemente põe-se, também, a ral, a coexistência das diferenças, a in-
questão da escolha entre dois significados teração entre indivíduos de identidades
da educação inclusiva. Num se destaca o culturais distintas, incorporando noções
reconhecimento da diferença do ritmo de de "prática", de cultura, de comunidade
desenvolvimento de cada criança - inde- de aprendizagem. Essa aposta estaria na
pendentemente de suas condições men- direção do que^Suchodolsld indicou há
tais, físicas, psicomotoras - e a vivência pelo menos cinquenta anos atrás: uma
de experiências socioculturais e afetivas educação humanizadora deveria evitar
em função da pluralidade cultural. Os simultaneamente trairá liberdade em no-
conhecimentos sistematizados estariam me de um desejo de adaptação rígida e
subordinados às necessidades de com- trairá realidade em nome de um desejo
preender melhor ou vivenciar melhor as utópico de desenvolvimento ideal.
experiências de socialização. Em outro Constata-se, assim, que de diferen-
se acentua o provimento, em condições tes pontos de partida poderiam alimen-
iguais para todos, de meios intelectuais tar uma pauta comum de ação. A escola
e organizacionais pelos quais os alunos deve estar, em primeiro lugar, compro-
aprendem a pensar teoricamente, a do- metida com a aprendizagem dos saberes
produzidos hsitoricamente e com o de- cm .sua etapa de M » u l i . i. Jo . .r. | m ,
senvolvimento de competências cogniti- prias maneiras ck- s r n i n , pensar c agir.
vas. É claro que não se quer uma escola Em terceiro lugar, a r.srola r lugar de
meramente transmissora, memorística, desenvolver práticas de cidadania, para
ainda com traços de autoritarismo, de o exercício da democracia social e políti-
acumulação de informações. Mas, sem ca. As escolas hoje não podem eximir-se
dúvida, a escola continua indispensável de discutir e de implantar formas muito
como lugar da sistematização de conhe- concretas de vivência democrática e prá-
cimentos, de desenvolvimento do pen- tica de valores humanos. Tais práticas
samento teórico, de formação moral, precisam assentar-se num imperativo do
de preparação para a cidadania e para aprender a compartilhar, que é aprender
o trabalho. As crianças de hoje vivem, — pela convivência coletiva, pelo diálogo
em sua maioria, em contextos saturados e pela reflexão crítica — a construir signifi-
de informação, de conhecimentos fre- cados e entendimentos a partir do respei-
quentemente fragmentários, distantes e to às diferenças, considerando-se marcos
longínquos no espaço e no tempo. A in- universais de convivência humana.
formação rompeu as barreiras espaciais É sumamente relevante que incor-
e temporais. O déficit de nossos alunos poremos uma linha de pesquisa e de
não é, na maioria dos casos, um déficit atuação profissional que situa a escola
de informações e de dados, mas de or- entre o sistema de ensino e a sala de au-
ganização significativa e relevante das la. As escolas situam-se entre as políticas
informações fragmentárias e enviezadas educacionais/diretrizes curriculares/for-
que recebem em sua vida cotidiana, im- mas organizativas do sistema e as ações
pregnada dos meios de comunicação. pedagógico-didáticas na aula. É espaço
Portanto, uma escola que se proponha a A escola é, também, lugar de cons- de realização tanto dos objetivos do sis-
atender os interesses das classes populares
terá de assumir suas finalidades sociais re- trução e de fortalecimento da subjetivi- tema de ensino quanto dos objetivos de
feridas a um projeto de sociedade onde as aprendizagem. A escola é o coração do
dade. Ao lado da formação de conceitos
relações sociais existentes sejam modificadas.
Isso significa uma reorganização pedagógica e desenvolvimento das competências do sistema de ensino e a sala de aula o co-
que parta das condições concretas de vida
pensar, é preciso uma atenção prioritária ração da escola, obviamente inseridas em
das crianças e sua destinação social, tendo
em vista um projeto de transformação da aos aspectos afetivos e comportamentais contextos socioculturais e institucionais.
sociedade, e aí se insere a função de trans- O|
missão do saber escolar. Em outras palavras,
do desenvolvimento individual. Isso leva A gestão dos sistemas de ensino terá pou-
ao lado de outras mediações, é a aquisição a que o processo educativo favoreça o ca eficácia se não partir de uma premis-
de conhecimentos e habilidades que, assu-
mindo formas pedagógicas, garantirá maior crescimento autónomo dos sujeitos, de sa muito simples: o nuclear da escola é
participação das classes populares na defini- modo que cada pessoa construa-se de a qualidade e eficácia dos processos de
ção de um projeto amplo de transformação
social (Libâneo, 1992, p. 95-96). forma crítica, questionando e interrogan- ensino e aprendizagem na promoção dos
do o valor das influências que recebeu melhores resultados de aprendizagem
os alunos. A rsrola rxi.sk 1 para qur os dodnio; qualkladr dr enitllO '" • ' ' '
limos aprendam conceitos, teorias; de- so, é atualidadr rogniliva C < > | > n a l i \ . i das
senvolvam capacidades e habilidades de aprendizagens csrolarrs. São ra/.ors, a
pensamento; formem atitudes e valores e meu ver, bastante fortes para postular dos
se realizem como profissionais-cidadãos. legisladores, dos planejadores e gestores
Qualidade de ensino é, basicamente, qua- e dos intelectuais uma atenção maior aos
lidade cognitiva e operativa das aprendi- aspectos pedagógico-didáticos da quali-
zagens escolares (saber fazer e saber agir dade de ensino e, especificamente, do
moralmente). É para isso que devem ser trabalho dos professores e especialistas
formuladas as políticas, os projetos pe- em relação às aprendizagens escolares.
dagógicos, os planos de ensino, os cur-
rículos, os processos de avaliação.
A pedagogia dos conteúdos parte da com- Há que se juntar os esforços de todos
preensão crítica das diferentes versões da
pedagogia liberal e outras versões da pe- os que compartilham a crença na escola
dagogia progressista, procedendo à análise como uma das instâncias de democrati-
histórica do contexto social onde se dá o
processo educativo e os condicionantes so- zação da sociedade e de promoção de
ciais que incidem sobre o indivíduo concreto uma escolarização de qualidade para to-
e o tornam um ser social. Considera, assim,
que a invenção da escola na sociedade não dos, centrada na sua função nuclear que
é mera casualidade, mas resultado de ne-
cessidades e exigências sociais, que lhe dão
é a atividade de aprendizagem. É preci-
o caráter inelutável de historicidade, e, por so, para isso, que os sistemas de ensi-
conseguinte, de transitoriedade de cada mo-
dalidade e ação formativa existente (Libâneo,
no coloquem como critério de eficácia
1992, p. 134). das normas, das políticas, das diretrizes,
a qualidade cognitiva e operativa das
aprendizagens, colocando essa exigência
como foco central da gestão escolar e do
projeto pedagógico. A democratização
da sociedade e a inserção dos alunos no
mundo da produção supõem um ensino
fundamental como necessidade impera-
tiva de proporcionar às crianças e jovens
os meios cognitivos e operacionais que
atendam tanto as necessidades pessoais
como as económicas e sociais. Escolas
existem para que os alunos aprendam
solidamente os conceitos, desenvolvam
. seu pensamento, seus processos de ra-
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