Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
;ilivas r oirncuhires, a
3. Sistema de ensino, .i\:iliacao chis aprendizagens, isto é, os
escola, sala de aula: processos internos da escolarização, sem
desconsiderar os contextos sociais parti-
onde se produz a qualidade culares e os mais amplos. Isso significa
das aprendizagens? pi-usar a escola "por dentro", analisando
os elementos que a constituem, os pro- No cerne da problemática está, a meu ver, a
questão central da investigação sobre a sala
José Carlos Libâneo cessos de aprendizagem e de ensino e de aula e, conseqúentemente, da construção
Universidade Católica de Goiás seus resultados. [de uma] nova didática, cujo saber implicaria,
aqui, exatamente, uma mediação entre as
A dissociação entre os dois tipos questões postas pela situação de ensino na
de análise induz a percepções viesadas, sala de aula, e na escola, e as questões pos-
tas pela relação entre educação e sociedade.
em que as visões globalizantes (análise Para essa nova didãtica é importante que se
J\a tem sido abordada como es- desvele a particularidade das contradições do
externa) podem tender a não captar as
paço de realização tanto dos objetivos ensino, tal como se desenvolve no dia-a-dia
peculiaridades internas da escola, e as vi- da sala de aula da escola pública que atende
do sistema de ensino quanto dos objeti- às camadas populares, em seus aspectos in-
sões da escola e da sala de aula (análise ternos e em suas relações com a prática social
vos de aprendizagem. Situa-se, assim, na
interna) tendem a desconhecer ou a des- mais ampla (Oliveira, 1993, p. 57).
confluência entre as políticas educacio-
considerar os determinantes sociais e cul-
nais/diretrizes curriculares/formas orga-
turais. Tomados isoladamente, ambos os
nizativas do sistema e as ações pedagó- tipos de análise têm limitado seu poder
gico-didáticas na aula. Enquanto objeto de induzir mudança. As análises críticas
de estudo, ela comporta análises sócio- das políticas educacionais e do sistema
políticas mais globais e, também, quanto de ensino perdem a força analítica se não
à investigação de aspectos curriculares, tiverem como referência a escola e suas
pedagógicos e organizacionais.
Esse modo de compreensão da questão
funções sociais e pedagógicas. Do mes- JÁ \ ' '. #rt
mo modo, os profissionais envolvidos
suscita dois enfoques na investigação: no campo interno da escola podem ter X r,5-
a análise externa e a análise interna. A reduzida a eficácia pedagógica e social
,irr
análise externa pretende captar a escola do seu trabalho, se não tiverem uma vi-
a partir de um olhar mais global, abor- são integrada e crítica dos determinantes
dando aspectos sociais, económicos, cul- sociais e culturais do sistema de ensino.
turais, institucionais, das políticas educa- Os dois enfoques são essenciais na
cionais, das diretrizes curriculares, da le- discussão das políticas escolares; as duas
gislação, das formas de gestão do sistema análises completam-se, mas atuam na ex-
de ensino, portanto, uma análise de fora plicação da realidade de modo diferente.
para dentro. A análise interna aborda os O que discutirei neste texto é a tese de
objetivos, os conteúdos, as metodologias, que, no Brasil, nas últimas décadas, tanto
i i . i < • • • ! < 1.1 .1. > . i p . i i . i h i i ilirial ( K x i v u h v . l, discutir, l;iml>rm, a tese
x
rr
Legislativo e Judiciário) quanto nos nu-n i-, • l. • 11 M • < r. | MI 11 i-ssos educativos, imersos
intelectuais, s i n d i c a i s c associativos, ;is . M i t i - M o s socioculturais e institucio-
.nálises externas têm-se sobreposto àl i i n n MI i arák-r endógeno, de dentro
internas com prejuízo considerável à cjiia h u . i r, por isso mesmo, as políticas
5^'' lidade das situações educativas escolares. • i li M .u K ma is devem ser precedidas de
Disso resulta a desatenção, o desapreço l ml 111- .r. para a escola e para a aprendiza-
aos aspectos pedagógico-didáticos da es- i 11< >s alunos. Sendo assim, a pergunta
cola por parte dos órgãos normativos do M I lis importante deve ser: como promo-
sistema educacional, dos planejadores e i imdanças "por dentro" das escolas
dos gestores que integram os órgãos in- dr modo a garantir qualidade cognitiva
termediários em âmbito federal, estadual • i iprraiiva das aprendizagens, conside-
e municipal e, também, do meio intelec- 1.11 K Io os influxos políticos, económicos,
tual do campo da educação. Como tese i 11 li 11 rã is e institucionais?
inicial, afirmo que, quanto mais se dis- O texto está organizado em cinco
cursa sobre qualidade de ensino, tanto iupicos: 1) os fatores externos e a efeti-
na linguagem do mundo oficial quanto \K .10 das políticas para a escola; 2) das
na linguagem dos educadores dito pro- políticas para a escola às políticas edu-
gressistas e até na linguagem da crítica • ai ionais; 3) posicionamentos correntes
académica, mais se amplia a distância M >l>re qualidade de ensino e sua reper-
entre esses discursos e as questões pe- i iissão na organização escolar; 4) duas
dagógico-didáticas efetivas da escola e propostas consistentes para as escolas;
do espaço da sala de aula, a ponta do "i) é possível uma pauta comum para os
sistema de ensino. É paradoxal que isso
di-tensores da escola?
aconteça, pois é na ponta do sistema de
ensino que as coisas efetivamente mu-
dam, e se pode constatar o que os alu-
Os fatores externos
nos aprendem, como aprendem e o que c' a efetivação de políticas
fazem com o que aprendem. É nas es- para a escola
colas e nas salas de aula que se verifica,
por exemplo, que 64% dos alunos de 5a Nos últimos dez anos, o meio inte-
série não aprenderam a ler e a escrever, lectual da educação e as entidades e sin-
conforme dados do Saeb, mas é nelas dicatos ligados à atividade profissional de
que podem ocorrer mudanças qualitati- educadores têm se esmerado em explici-
vas no desenvolvimento e na aprendiza- tar os fatores económicos e políticos que
gem dos alunos. afetam as políticas educacionais e as pó-
l i l u . i - . ( U M .i eSCOla. As reformas sociais i i u i i e i i i e di- lomuK.ao, profissionalização
implaniada.s ou rm implantação mantêm e valori/acao do magistério da educação
a precariedade d< > financiamento das po- básica c da educação superior. Com isso,
líticas públicas e ampliam o incentivo ao frequentemente se observa que as políti-
setor privado. Dentre as consequências cas educacionais não estão a serviço das
dessas políticas no campo da educação escolas e dos professores, não decorrem
está a precariedade do atendimento às das necessidades e demandas efetivas
escolas públicas, resultando em proble- da realidade das escolas e dos alunos.
mas crónicos, tais como as deficiências Acresce-se a isso a notória falta de cultu-
da estrutura física, dos equipamentos ra pedagógica por parte dos governantes
existentes, do material didático, da po- r da classe política em geral (ministros,/
lítica salarial e da carreira profissional, senadores, deputados, vereadores, as-
^ das necessidades materiais e culturais sessores políticos etc.), acerca do papel
dos alunos. Essa precariedade acentua-se da educação e da cultura no desenvolvi-
com os problemas associados à formação mento da sociedade e do país. A educa-
de professores, dentre eles a tendência à ção e o ensino continuam prestando-se
mercantilização, principalmente do ensi- muito mais a clientelismos, a trocas de
Ao qualificar este nível de político e admi- no superior, o aligeiramento dos cursos lavores eleitorais, ao jogo de interesses
nistrativo não queremos dizer que essas do que ao efetivo desenvolvimento social
decisões devam ser tomadas pelas instâncias
de formação, a "tecnicização" da ativida-
políticas de forma autónoma, enquanto te- de docente, a precarização do trabalho e cultural. Ao mesmo tempo, predomina
nham a legitimidade para ordenar o sistema
educativo. Significa que há uma série de de professor etc. no meio político-partidário uma cultura
opções de política educativa que afetam o Olhando a questão da formulação educacional elitista, com interesse mí-
plano, que em uma sociedade democrática
devem ser objeto de um debate amplo, em das políticas educacionais no aspecto ins- nimo pela educação pública popular e
que devem participar todos os setores so- titucional, é conhecida a desarticulação com quase total ignorância das questões
ciais, intelectuais e profissionais (Sacristán,
1998, p. 234). dos órgãos do governo responsáveis pela propriamente operacionais do ensino
educação, como as Secretarias de Edu-• como os currículos, as metodologias de
cação Infantil e Fundamental, de Ensino ensino, a efetivação das aprendizagens, a'
Médio, o Inep, o Conselho Nacional de avaliação de processos e resultados. Esta
Educação, na definição e organização característica observada no meio político-
institucional e curricular do sistema de partidário parece ter se mantido intacta
ensino. Essa desarticulação reflete-se, mesmo com ascensão ao poder de um
também, na desarticulação dos dispositi- partido com discurso supostamente afi-
vos legislativos. Um exemplo recente é a nado com os interesses populares.
incapacidade dos órgãos do Ministério da As entidades e sindicatos ligados
Educação e Cultura (MEC) em negociar a ao professorado, por sua vez, também
estruturação de uma política global e per- podem ser vistas como não empenha-
dos n.i.s (|IIC.MDCS pedagógicodidáticas. mundo interno da escola c àquilo que
AITI-.SI.VMU--M- a isso a falta de articulação lhe é específico; (a segundà,\s formas
política entre os profissionais do campo pelas quais os órgãos de gestão tomam -J ^h
da educação, ou seja, pesquisadores, pro- decisões legais ou administrativas, que
fessores universitários, militantes e inte- frequentemente não levam em conta as
grantes de associações e sindicatos, diri- efetivas necessidades postas pelas esco-
gentes de cursos de formação, dirigentes las; terceira, ao não-envolvimento das ,\
de secretarias de educação, especialistas instâncias gestoras dos sistemas de ensi
em políticas educacionais e legislação no em nível local e das próprias escolas
educacional etc. para pensar e intervir (obviamente incluindo os professores)
na melhoria das escolas. na avaliação ou questionamento dessas
Pode-se sugerir que as falas de nossos espe- Cumpre mencionar, ainda, no aspec- decisões.
cialistas, ao expressarem um compreensível
desencanto em relação aos efeitos das teo- to da produção académica, a notória e Disso, todavia, não resulta um en- Do mesmo modo que a educação não pode
rizações nas escolas e salas de aula, indicam ser compreendida como objeto em si, a
a necessidade de se repensar a articulação
/reincidente falta de relação orgânica entre tendimento da ineficácia das políticas pedagogia não pode ser entendida como
teoria-prática no campo do currículo de a universidade e o mundo concreto das educacionais e das diretrizes organiza- método para si, pois, como prática humana,
modo a facilitar o desenvolvimento da ca- a educação necessita da pedagogia como
pacidade prática e da experiência teórica do
escolas e professores, mormente entre cionais e curriculares, pois elas efetiva- teoria que a determina para que possa rea-
professorado (Moreira, 2000, p. 73). a pesquisa académica e os professores mente carregam propósitos, geram ações lizar-se como práxis humana, e a pedagogia
como teoria da práxis educativa jamais pode
que atuam na linha de frente do sistema e fazeres que afetam as escolas, e seus bastar-se a si mesma, por precisar esclarecer
escolar. Essa desconexão torna-se mais profissionais, acabando por dar determi- e conduzir a educação como práxis humana,
colocando-se desta forma no primado da
crucial quando os pesquisadores utilizam nada configuração às práticas formativas prática (Schimied-Kowarzik, 1983).
uma linguagem académica distanciada do dos alunos. A questão crucial, mais uma
mundo de representações dos professo- vez, é que faltando massa crítica aos
res e de suas práticas efetivas. profissionais das escolas, aos pedagogos
Os aspectos considerados mostram especialmente, não há forma de resistir
. l bem a complexidade das relações entre a tais políticas nem de dialogar com elas
políticas educacionais e diretrizes oficiais, de modo a devolver aos agentes exter-
as escolas e os professores. Frequente- nos a escola, o que, de fato, se deseja das
mente se ouvem queixas de professores, escolas em relação a seus objetivos e às
de sindicalistas, de pesquisadores em formas de lidar pedagogicamente com as
relação à centralização na definição das práticas formativas. Não se trata, pois, de
políticas públicas oficiais. As queixas, recusar a existência de princípios, diretri-
em parte, são justificáveis, mas o princi- zes, normas organizacionais, pedagógicas
pal problema diz respeito a três coisas: e curriculares nem de admitir sua nature-
a primeira, a uma falta de visibilidade de za política, como não basta ao professor
todas essas instâncias em que são urdidas ter competência para ensinar, descuidan-
as políticas educacionais em relação ao do-se de enxergar mais longe para tomar
> • 'ii .1 H - I I I 1.1 das i n h - i H t n-s que movem <> depois vem as metoclologi.i.s f, 1'iiialmen A tradição radical na formação do pro-
fessor/a apoia somente aqueles enfoques
.si.sk-nu es< "l.n i i . i lomiacào de sujeilos- te, os resultados de aprendizagem dos que pretendem desenvolver ao mesmo
protessoivs e cie sujeitos-alunos. Trata-se alunos. Essa polarização reflete-se na tempo o pensamento reflexivo e a ação
de reconstrução (pedagogia crítica) que,
de definir, com base na teoria pedagógi- separação entre a concepção "política" por definição, implica a problematização
ca, a orientação da formação humana e da escola e as formas "pedagógicas" de tanto da própria tarefa de ensinar, quanto
do contexto em que se realiza (Zeichner &
as diretrizes de organização das situações viabilização do processo de escolariza- Liston, 1990, p. 19).
educativas e, depois disso, estruturaras ção. É o mesmo que falar da separação
formas pelas quais se inter-relacionam as entre um "discurso sobre" e as formas
políticas educacionais, a organização e de operacionalização pedagógica e di-
gestão das escolas e as práticas pedagó- dática, entre a retórica e as práticas. São 4,. i.-,^
gico-didáticas na sala de aula. Esta seria demasiado frequentes manifestações de
^^ ^ ^ ^
•*•*•*&"
a tarefa primordial de pedagogos e pro- entidades sindicais, por exemplo, que L Ci/\^ »1*A "V-
fissionais do currículo. esbanjam discursos genéricos sobre es-
Todavia, o que se vê é a descone- cola, mas nada sabem dizer ou fazer so-
xão entre o sistema escolar e as escolas bre os aspectos pedagógico-didáticos da
tornando essas duas instâncias impene- sala de aula. Sindicalistas rapidamente se
tráveis, acabando por comprometer um transformam em profissionais do sindica-
projeto de educação de nação, à medida lismo deixando de ser profissionais do
que o sistema escolar (com seus agen- ensino. A consequência dessa postura é
tes) desconsidera o motor da instituição a dissociação entre uma cultura associa-
escolar: os processos de aprendizagem e tiva e sindical e a natureza da atividade
de ensino que levam a mudanças quali- profissional própria do professor do en-
tativas no desenvolvimento e na aprendi- sino infantil e fundamental. Essa cultura
zagem dos alunos. É precisamente sobre tem o propósito claro de emancipação
questões como o que deve ser a escola, do professor (i.e., ajudar na consciên-
suas funções, suas necessidades, que os cia crítica do professor, dotá-lo de uma
campos científico e profissional da edu- postura política, fazê-lo participar das
cação não têm conseguido'obter um con- decisões no âmbito da escola, incentivar
senso mínimo, com larga cota de respon- a democracia nas escolas etc.), mas se Ç^rV"
- &,(V> ^H , ,,/lA J
sabilidade atribuída aos pedagogos. omite em relação às formas de tornar o O a, *-* »«""*„
Não é difícil identificar as consequên- professor um profissional capaz de agir
cias disso. A primeira diz respeito à po- com competência nas tarefas de promo- v, ^^^,
/"
larização metodológica entre a teoria e ver a aprendizagem dos alunos e sua for-
a prática, pelo predomínio de uma forte mação como sujeito pensante e cidadão. c O ,*.
Xu^u tendência em pensar a escola de cima Com isso, se emancipa o professor, mas ^
para baixo: começa-se pelos currículos, não se investe em ações para instrumen-
tali/a-lo i n i r k v t u a l e metodologicamente deve atender a demandas m u i l < > < < m< K
para emancipar o aluno. tas, a decisões operacionais, qur d i/em
Os professores trabalham enquanto nós
Outra consequência é que os pro- respeito, primordialmente, a formas de
fazemos discursos sobre eles, não falamos
sobre nossas próprias práticas, mas sobre fessores e pesquisadores universitários garantir uma aprendizagem de qualida-
a prática de outros que não podem falar e
que não têm capacidade de fazer discursos
estudam as políticas educativas do Esta- de a todos os alunos. Nesse caso, impor-
(Sacristán, 2000, p. xx). do e até pesquisam as práticas das esco- ta muito saber como os alunos podem
las e dos professores de outros graus de aprender melhor, o que faz um profes-
ensino, dizendo como deve ser o pro- sor, qual o perfil ideal de sua formação,
,*-« o* fessor, mas não analisam e não refletem qual o melhor sistema de organização e
criticamente sobre as próprias práticas e gestão, com base nas necessidades con-
<^ a cultura universitária. cretas da escola e das salas de aula. O
A meu ver, ao longo das últimas pedagogo marxista italiano Mário Mana-
décadas, essas posturas têm tornado di- corda escreve que uma orientação ideal,
fícil o caminho de definição das políticas uma concepção geral de mundo, não as-
para a escola. Obviamente, não se trata segura nada sem a técnica, assim como a
de ignorar as questões políticas nem as técnica pode servir a todos os fins, bons
denúncias contra as concepções eco-
ou maus, de acordo com a ideologia que
nomicistas que vão tomando conta dos
a governa. Não é possível tomar uma
sistemas educacionais no mundo todo.
posição nem fazer opções operacionais
Entretanto, as escolas são organizações
somente com base numa orientação ideo-
profissionais, nas quais os objetivos polí-
lógica genérica. Toda atividade social, se-
ticos viabilizam-se pelo cumprimento de
ja cultural, económica, política ou outra
sua especificidade: ensinar. O trabalho
qualquer, requer competência técnica,
profissional na escola não é a militância
assim como toda técnica necessita uma
política, mas o ensino, a transmissão e a
orientação ideal, de uma concepção de
interiorização de conteúdos, as formas de
mundo (Manacorda, 1986).
relacionamento com os alunos, as formas
de organização pedagógica e didática. É
inconcebível hoje dizer que os problemas Das políticas para a escola
da escola não são técnicos, mas políticos. às políticas educacionais
Eles são políticos, são fortemente políti-
cos, mas também são técnicos, no sentido As políticas educacionais pressu-
de que o trabalho na escola implica com- põem políticas para a escola, e estas
petências teórico-metodológicas, modos devem basear-se em necessidades e
de atuar, de saber fazer, de saber agir em demandas originadas nos contextos
moralmente etc. O trabalho nas escolas concretos de ensino e na aprendizagem
Reitero aqui a distinção entre políticas ecfu- das rsrolas t- das salas dr a u l a . Chamo dr conleúclos por parti 1 dos piolessorrs,
cacionais e políticas educaf/i/as, as primeiras
referindo-se a princípios e estratégias para < de políticas para a escola a definição de com práticas docentes obsoletas, com o
o sistema educacional como um todo, de objetivos sociais e culturais para a esco- não-enfrentamento da diversidade social
caráter integrado e articulado, e as segundas
referentes ao próprio processo educativo, la, as capacidades a formar, as compe- r cultural dos alunos, com a avalanche
voltadas especificamente a formas de co-
municação e interação visando a mudanças
tências cognitivas e habilidades, os for- de novas tecnologias da comunicação e
qualitativas no desenvolvimento e na apren- matos curriculares, as metodologias de informação, como as deficiências de ges-
dizagem de sujeitos.
ensino, as práticas de organização e de tão da escola e do currículo. É notório,
gestão da escola, as condições profis- tífnbêm',"q"ué muitas soluções adotadas
sionais que asseguram os objetivos e os como "progressistas", como o sistema de
melhores resultados de aprendizagem, os ciclos e a integração de alunos portado-
níveis esperados de desempenho esco- res de necessidades especiais em classes
lar dos alunos. É na ponta do sistema de regulares, não têm sido bem-sucedidas.
ensino, nas escolas, que se constrói e se A análise externa das questões escolares
avalia a qualidade da escolarização. Boa é necessária. Ela alerta para uma visão
parte das desigualdades observadas no política e contextualizada das coisas.
meio escolar e na vida após a escola são Entretanto, em todas as modalidades de
produzidas dentro da própria escola. Ou educação, os processos são de caráter
seja, não há políticas educacionais viáveis endógeno: eles acontecem de dentro
sem levar em conta necessidades a serem para fora. O que confere qualidade ou
atendidas a partir das desigualdades de não e ao sistema de ensino são as prá-
aproveitamento escolar encontradas den- ticas escolares, as práticas de ensino. É
tro da própria escola. preciso, pois, considerar que os critérios
Se, enquanto pesquisadores, manti- democráticos de eficácia das políticas e
vermos fidelidade ao mundo empírico, diretrizes educacionais devem incidir so-
temos de admitir que nossos alunos não bre a efetividade das ações pedagógico-
estão aprendendo ou não estão apren- didáticas, isto é, a qualidade interna das
dendo como precisariam aprender; que aprendizagens escolares.
nossos professores, seja por qual motivo,
estão com dificuldades para ensinar; que
Posicionamentos correntes
estão aumentando a cada dia os proble-
mas sociais, culturais, disciplinares dentro sobre qualidade de ensino
da escola. Isso significa que os problemas e sua repercussão na
internos da escola avolumam-se, e isto organização escolar
diz respeito à acentuação de desigual-
dades dentro da escola. É notório que Neste terceiro tópico, tratarei das vi-
temos problemas com a falta de domínio * cissitudes que têm incidido no meio edu-
cacional .sobre os critérios de qualidade ples-.iud.l do I l l d u o , do 1111.1^111.11 ii >, do
de ensinei. A pergunta é: o que temos em cultivo da diferença, do l.ido pn/eroso
mente quando falamos em qualidade de etc. As duas abordagens ligadas à análi-
ensino? A resposta a essa pergunta define se externa da escola pouco contribuem
o traçado das políticas educativas para a para a explicitação de critérios efetivos
escola e, em consequência, das políticas de qualidade de ensino, seja pela falta
educacionais. Mencionarei quatro posi- de vínculo concreto com as escolas e as
cionamentos em relação à qualidade de salas de aula, seja por desconectá-la dos
ensino e apontarei, depois, consequên- elementos culturais sistematizados. Em ^
cias concretas destas posições. outras palavras aproveita-se pouco de-
Além de suas peculiaridades e características A ^n^ij^/f^i jfifiy/j ftirYfWff^ pode
específicas, durante os últimos 20 anos, os las, quando se traTã~de ver a escola por
países da América Latina em seu conjunto ser identificado como o dos discursos dentro, em seus objetivos, conteúdos e
sofreram mudanças dramáticas em suas es-
truturas económicas e sociais e ficaram sub-
marcados por análises externas à escoFaJ formas de organização das situações edu-
metidos a profundos processos de reforma, análises de conjunto, genéricas, a respei- cativas concretas.
baseados em princípios de racionalização do
gasto público e redefinição das modalida- to da escola, muito a gosto de filósofos O sçoriTido tyosicioYidfYiGYito refere-se A desarticulação entre a formação de pro-
des de intervenção do Estado em matérias e sociólogos da educação. Aqui distingo fessores da educação infantil e anos iniciai:
a propostas voltadas para aspectos in- do ensino fundamental e a formação do-
económicas, sociais e educativas (Gentili,
2004, p. 1268). duas abordagens. Uma que identifica a ternos do funcionamento da escola cen- professores para os anos finais do ensine
A educação tal como a conhecemos hoje é posições de denúncia do atrelamento d <s^*— fundamental e para o ensino médio terr
a instituição moderna por excelência. Seu
trando-se especificamente nas questões trazido para a formação dos alunos prejuí-
objetivo consiste em transmitir o conheci- escola a interesses políticos e económi- organizacionais. Há, também aqui, duas zos de descontinuidade, gerando gargalos
mento científico, em formar um ser humano no fluxo da escolarização, representados,
cos, por exemplo, atualmente, ao modelo4 abordagens. Numa, quer assegurar a efi- principalmente, pelos índices de evasão e
supostamente racional e autónomo e em
moldar o cidadão e a cidadã da moderna de- neoliberal, ao mercado etc. Inclui análises cácia da gestão e das formas de organi- repetência observados na transição entre <<
mocracia representativa. [...] Nesse sentido, 5a e a 6a séries do ensino fundamental (MEC,
o questionamento pós-modernista constitui
críticas frequentemente bem elaboradas zação identificando o funcionamento da 2000, p. 17-18).
um ataque à própria ideia de educação (Silva, sobre políticas educacionais, diretrizes escola com os das empresas. Presume-se
1999, p. 111-112).
curriculares, PCNs, gestão do sistema de que tornando mais eficazes as formas de ^'.Cvw^cuv OL
ensino etc., mas que usualmente per- òJ ¥>*«>
organização, tais como projetos e planos
manecem na retórica. Outra, a chamad; bem detalhados, distribuição de respon- ,'U. -:7Í\CX
l
posição pós-crítica ou pós-moderna, faz sabilidades, papéis bem definidos, traba- JACU$>
uma impetuosa crítica à escola por con- lho em equipe, oferta de condições de
L/
siderar que ela lida com o conhecimen- funcionamento como recursos físicos,
to com base na razão, quando a razão materiais, informática etc., estarão cria-
já estaria fora de moda; que os saberes das as condições para melhorar a apren-
sistematizados têm cumplicidade com as dizagem. Pedagogicamente, eliminam-se
relações de poder; que não contempla as as séries e se introduzem os ciclos de
diferenças sociais e culturais etc. Nessa escolarização, implanta-se a progressão
abordagem, a escola ideal seria aquela automática, e a qualidade de ensino vi-
despojada de saberes iluministas e im- rá em acréscimo. Nessa mesma linha de
p r i o i i / . K . n i d.i.s l ou n. is de o i g a n i A k a o r que, di/-se, não imporia m OS n u h n l> > ,
Destilo, mas numa visão assumida como mas sim os processos, li, por isso, l a i a sr
progressista, a outra abordagem aposta cie um currículo como processo, de uma
pá gestão participativa, na participação avaliação como processo, de um currícu-
das decisões, na eleição de diretores, lo baseado nas experiências cotidianas,
entendendo que isso cria um clima de- nas narrativas mais do que nos saberes
mocrático, que os professores envolvem- sistematizados, na instituição de formas
se mais com a escola e que tudo isso se novas de relações sociais em termos de
projetará na melhoria do ensino. Peda- gestão. Uma segunda modalidade nessa
gogicamente, também essa posição tem ênfase nas mudanças curriculares consis-
simpatia pelo regime de ciclos de esco- te na recusa do currículo tradicional, do
larização. Esse posicionamento inverte currículo por grades de disciplinas, ado-
as prioridades da escola: o que deve ser tando-se um currículo integrado. A escola
fim torna-se meio, e o que é meio torna- alternativa teria, assim, sua qualidade não
se fim, ao entender que democracia na nos conteúdos científicos, não nos sabe-
educação consiste meramente em modi- res sistematizados, mas na articulação, na
ficar as formas das relações interpessoais i vivência dos aspectos socioculturais e das
na escola, permanecendo ao longe das lexperiências cotidianas dos alunos. A es-
questões pedagógico-didáticas da ala de cola seria eminentemente um espaço de
aula. Não é, portanto, um bom critério socialização, um lugar de desenvolver vi-
de qualidade de ensino, à medida que vências e processos culturais, muito mais
não penetra na relação processos/pro- do que a aprendizagem sistemática dos
dutos de aprendizagem no espaço da conteúdos científicos e de competências
sala de aula. cognitivas, uma visão, a meu ver, dema-
No desenvolvimento do currículo, na prática Nu iiu tui'>n/iu'if/>r<úi<iiiu<>ii>Lff/o estão os siadamente sociologizada de escola. Essas
cotidiana na instituição escolar, as diferen-
tes áreas do conhecimento e experiência que buscam a qualidade de ensino em propostas são conhecidas pelo trabalho
deverão entrelaçar-se, complementar-se e mudanças na organização curricular. Nes- com temas geradores, com projetos, às
reforçar-se mutuamente, para contribuir de
modo mais eficaz e significativo com esse sas propostas, na maior parte das vezes vezes associados à organização por ciclos
trabalho de construção e reconstrução do
auto-proclamadas progressistas, a quali- de escolarização e à promoção automáti-
conhecimento e dos conceitos, habilidades,
atitudes, valores, hábitos que uma sociedade dade de ensino seria obtida por meio de ca, mas tendem a lidar com as questões !
estabelece democraticamente ao considerá-
los necessários para uma vida mais digna,
duas modalidades muito próximas, mas pedagógico-didáticas e de aprendizagem
etiva, autónoma, solidária e democrática possíveis de serem diferenciadas. A pri-~ dos alunos apenas perifericamente.
(Santomé, 1998, p. 125).
meira delas diz que a escola tem de dar Finalmente, o quarto posicionamen-
mais ênfase aos processos do que aos pro- to está ligado a formulações teóricas e
dutos, quer dizer, os processos estariam a ações psicopedagógicas, das quais es-
colocados em oposição aos produtos, por- tá muito próxima a proposta dos PCN.
A adoçâo de ciclos, pela flexibilidade que Uma visão psicopedagógica chi escola é, Vi K-s cie dependência to i | > u > < . 1 r n l i r as
permite, possibilita trabalhar melhor com as
diferenças e está plenamente coerente com tipicamente, voltada para as dimensões dimensões do social e cio suhjciivo.
os fundamentos psicopedagógícos, com a internas, tais como a mediação do ensino Os posicionamentos descritos, ao
concepção de conhecimento e da função
da escola que estão explicitados no item e as formas de comunicação, a organiza- constituírem concepções de escola e
Fundamentos dos Parâmetros Curriculares ção das situações educativas, as formas critérios de qualidade de ensino, geram
Nacionais. [...] A organização por ciclos
tende a evitar as frequentes rupturas e a de estruturação do conhecimento e os consequências nas formas de operar dos
excessiva fragmentação do percurso escolar,
processos internos de sua apropriação sistemas de ensino e das escolas com
assegurando a continuidade do processo
educativo, dentro do ciclo e na passagem de pelo aluno, a diferenciação pedagógica, risco de comprometimento dos níveis de
um ciclo ao outro, ao permitir que os pro- qualidade, dentre elas: a estabilização de
fessores realizem adaptações sucessivas da
as trocas cognitivas e sócio-afetivas entre
ação pedagógica às diferentes necessidades professor e alunos, a preocupação com uma ideia distorcida sobre a natureza e a
dos alunos, sem que deixem de orientar sua função das formas de gestão, a desarticu-
prática pelas expectativas de aprendizagem os problemas de aprendizagem. É sabi-
referentes ao período em questão (MEC, do que a abordagem psicopedagógica lação dos objetivos da escola e das formas
1998, p. 43). mais convencionais de organização curri-
também se divide em várias orientações
teóricas. Uma dessas orientações, por cular pela desregulação provocada pela
exemplo, pode exceder na ênfase do introdução dos ciclos de escolarização,
aspecto psicológico desconsiderando os a precipitação da política de integração
elementos contextuais mais amplos do em classes de ensino regular de alunos
trabalho escolar. Em alguns lugares em portadores de necessidades especiais, a
que se aplicam inovações centradas nos flexibilização das práticas de avaliação
ciclos de escolarização, é na psicopeda- da aprendizagem. São modos de opera-
gogia que os sistemas buscam suporte ção do sistema de ensino e das escolas
para princípios como: respeito ao ritmo que podem estar levando ao desmonte
de desenvolvimento natural da criança (a de uma estrutura mínima de organização
palavra "natural" aqui é muito importan- curricular, provocando nos professores a
insegurança e o sentimento do fracasso
te), a acentuação dos processos mais do
por não conseguirem fazer com que es-
que dos resultados, a flexibilização das
sas crianças alcancem níveis desejados de
práticas de avaliação. A despeito disso,
aprendizagem. Isso reforça a baixa auto-
que acredito não ser apropriado, deixo
estima dos professores diante das diver-
claro que considero indispensável a liga-
sas situações para as quais não se sentem
ção entre a pedagogia e a psicologia para
profissionalmente preparados.
a investigação e intervenção profissional
?<*s
no mundo interno da escola, cuja tarefa
tf é dar conta de articular as peculiaridades Distorção da natureza e das funções
do processo de ensino e aprendizagem da organização e gestão da escola
e os fatores sociais, políticos, culturais e Há uma ideia corrente, tanto no
institucionais, compreendendo as rela- âmbito das políticas oficiais, quanto em
N,i <|i".i.u > ! • n, is normas e padrões que regu- scgincnliis de educadores chamados de gestão democrática, práticas participati-
I.IMI.I i iinvivência escolar, a política da igual-
il.ulr iiuidc tom grande poder educativo,
progressistas, de que democratizar a es- vas de gestão, eleições para diretor, ins-
pois é sobretudo nesse âmbito que as trocas cola é democratizar as práticas de gestão. talação de equipamentos informacionais
min' educador e educando, entre escola e
i MI •!( i social, entre grupos de idade favore- O mote surgiu no contexto da crítica ao e outras coisas, se os alunos continuam
cem a formação de hábitos democráticos e período de autoritarismo que vigorou em apresentando baixo rendimento escolar e
responsáveis de vida civil. Destaca-se aqui a
responsabilidade da liderança dos adultos, nosso país. Em virtude disso, ficou va- aprendizagens não consolidadas.
da qual depende, em grande parte, a coesão lendo a ideia de que renovar a escola é
da escola em torno de objetivos comparti-
lhados, condição básica para a prática da democratizar as formas de gestão e, com Os ciclos de escolarização
i da igualdade (MEC, 1998, p. 65). isso, o grande objetivo da escola seria o e a desregulação da vida escolar
As instituições formadoras devem constituir de estabelecer em seu interior relações
direçâo e colegiados próprios, que formulem A ideia que, na prática, tem se reve-
seu projeto pedagógico de formação de pro-
democráticas e participativas, cuja concre- Os Parâmetros Curriculares Nacionais ado-
lado subjacente aos ciclos de escolariza-
fessores, articulem as unidades académicas tização mais visível são as eleições para tam a proposta de estruturação por ciclos,
envolvidas e, a partir do projeto, tomem as ção é a de que a aprendizagem é um pro- pelo reconhecimento de que tal proposta
decisões sobre a organização institucional
cargos executivos na escola. A meu ver, permite compensar a pressão do tempo que
cesso natural, espontâneo, algo que vem
e sobre as questões administrativas (MEC, é uma distorção grave, que tem gerado é inerente à instituição escolar, tornando pos-
2002, p. 79). de dentro da pessoa. Para isso, a escola sível distribuir os conteúdos de forma mais
ainda muita confusão, pois ao afirmar que adequada à natureza do processo de apren-
deve oferecer situações de aprendizagem dizagem. Além disso, favorece uma apresen-
democratizar o ensino é democratizar as
em que os alunos possam desenvolver tação menos parcelada do conhecimento e
práticas de gestão, transformam-se meios possibilita as aproximações sucessivas ne-
em fins, secundarizando o que é essen- suas potencialidades e habilidades no cessárias para que os alunos se apropriem
próprio ritmo, e a/ao professor/a cabe dos complexos saberes que se intenciona
cial da escola: o ensino e a aprendizagem transmitir. Sabe-se que, fora da escola, os
dos alunos. Sabemos que as formas de respeitar esse ritmo. Sendo assim, a or- alunos não têm as mesmas oportunidades
de acesso a certos objetos de conhecimen-
V organização e de gestão referem-se às ganização em séries contraria os tempos to que fazem parte do repertório escolar.
condições e aos meios para a realização e ritmos próprios do desenvolvimento e Sabe-se também que isso influencia o modo
e o processo como atribuirão significados
dos objetivos específicos. Isso não signi- da aprendizagem. Como cada criança tem aos objetos de conhecimento na situação
fica desconsiderar a dimensão pedagó- seu tempo de maturação biológica e men- escolar: alguns alunos poderão estai mais
avançados na reconstrução de significados
gica das formas de gestão, a validade da tal, e como todas elas têm o dom da inte- do que outros (MEC, 1998, p. 42).
gestão participativa e seus efeitos sobre ligência, mesmo que em diferentes graus,
a aprendizagem de professores e alunos. o/a professor/a precisa respeitar esse rit-
Apenas se salienta que os meios existem mo. A criança não pode ser reprovada, e
para se alcançar fins; são subordinados a avaliação escolar convencional é ina-
aos fins. Ou seja, o objetivo primordial da dequada, porque trata por igual pessoas
escola é promover a aprendizagem dos diferentes. Frequentemente se constata
alunos, e isso se realiza pela atividade dos que a concepção de ciclos surgiu com
professores e pelas condições oferecidas base nas ideias de Vygotsky. Entretanto,
pelas práticas de organização e de gestão. a teoria da aprendizagem de Vygotsky
Dentro dessa lógica, vale afirmar que são e seguidores concebe a aprendizagem
de pouca valia inovações administrativas, como atividade eminentemente socio-
i i i l l u r a l . mi M-|.I, lui uma determinação n tnseguiram mais ou menos e os que não
social e histórico-cultural da formação conseguiram o nível de aproveitamento
humana e, portanto, ela não é um pro- esperado. Surgem daí justificativas: essa
cesso natural, espontâneo; implica u n u criança não tem ambiente em casa, não
ação pedagógica, uma intencionalidade, fez as tarefas, não tem família social, psi-
a linguagem, o ensino. O aluno aprende cológica e culturalmente estruturada, a
na escola quando os outros, inclusive a mãe trabalha fora etc. Então, ela merece
. professora e o próprio contexto institu- ser promovida. Esse afrouxamento do
cional e sociocultural, o ajudam a desen- ensino não será uma forma de exclusão,
volver suas capacidades mentais, com afetando precisamente as crianças mais
base nos conhecimentos, habilidades, pobres para as quais os saberes sistema-
modos de viver, já existentes na ciência tizados devem ser ferramentas culturais
e na cultura historicamente acumulada. indispensáveis?
Isso não é, de forma alguma, espontâ- Verifica-se, portanto, a necessidade Um desses direitos é, sem dúvida, o direito a
uma educação bem-sucedida que seja con-
neo, nem depende somente do ritmo de de que se reconheça que o objetivo da sequência da realização de aprendizagens
aprendizagem de cada aluno. Depende escola é propiciar as melhores condições com qualidade democrática, científica e
pedagógica. Penso mesmo que a defesa e a
de uma estrutura organizacional forte, possíveis de aprendizagem, é fazer um exigência de uma escola básica com qualida-
de científica e pedagógica, direcionada para
da atuação da escola e dos professores bom planejamento com base em um cur- a transmissão e promoção de um mínimo
como adultos que realizam a mediação rículo básico comum, buscar metodolo- cultural comum para todos (sem exceção),
é hoje uma estratégia decisiva na luta pela
cultural; depende de que suscitem nos gias adequadas, inclusive de acolhimen- democratização dessa mesma escola (Afon-
alunos o desejo de aprender, de serem to às diferenças, e colocar as aulas nas so, 1999, p. 86-87).
melhores pessoas, de compreender me- mãos de professores competentes. A meu
lhor as coisas. ver, não há nada de errado no sistema
O sistema de ciclos, quando intro- de séries, começando por onde deve co-
duzido de forma descuidada, dissolve meçar, seguindo-se conteúdos em níveis
os objetivos pedagógicos, empobrece os cada vez mais complexos. Os professores
conteúdos, cria uma estrutura curricular mais experientes sabem muito bem o que
demasiadamente frágil, desmonta as for- um aluno pode aprender conforme sua
mas de avaliação convencional. Quem idade e, com isso, podem programar a
se der ao trabalho de analisar o que sequência de conteúdos e providenciar
acontece nas escolas com a promoção na escola as condições necessárias para
automática entre ciclos irá verificar que que o maior número possível de alunos -.^
ocorre ali uma das mais gritantes formas consiga aprendê-los. Se aprendizagem
de exclusão. Qualquer professor/a sabe consiste de mudanças no funcionamento v
que no final do ano há alunos que con- psíquico por meio do ensino, a criança
seguiram atingir o esperado, há os que desenvolve sua inteligência aprendendo,
is.so n.io r c.sfx miam-o r n ; i l i i r ; i l . IIKI.S inclusiva k-m sido entendida, com mia Por educação especial, modalidade da
educação escolar, entende-se um processo
algo que depende da açào bem-suceclida frequência, por muitos educadores, co- educacional definido por uma proposta pe-
da escola e do professor. mo o conjunto de ações e procedimentos dagógica que assegure recursos e serviços
educacionais especiais, organizados insti-
A concepção dos ciclos de escolari- voltados para a integração de alunos com tucionalmente para apoiar, complementar,
zação inverte as prioridades, ao colocar suplementar e, em alguns casos, substituir
necessidades especiais em escolas regula- os serviços educacionais comuns, de modo
o foco no desenvolvimento espontâneo res. No entanto, não é este o sentido que a garantir a educação escolar e promover o
desenvolvimento das potencialidades dos
das aprendizagens dos alunos, como se tem sido convencionado na terminologia educandos que apresentam necessidades
a aprendizagem fosse um processo na- do campo educacional. Por essa razão, educacionais especiais, em todas as etapas
e modalidades da educação básica (Rés.
tural. Ao contrário do que vem ocorren- a discussão sobre a inclusão de pessoas CNE/CEB n. 2, art. 3a, de 11 de fevereiro
do em algumas experiências do sistema com deficiência na escola deve ser inicia- de 2001).
de ciclos, a repetência deve ser evitada da pela definição de educação inclusiva Consideram-se educandos com necessida-
não pela facilitação do ensino, mas por já que a legislação define com clareza o des educacionais especiais os que, durante
o processo educacional, apresentarem. Io
formas muito concretas de intervenção que é a educação especial. dificuldades acentuadas de aprendizagem
A educação inclusiva, na acepção ou limitações no processo de desenvolvi-
pedagógica com objetivos muito bem mento que dificultem o acompanhamento
definidos, metodologia e procedimen- dos especialistas, é aquela em que todas das atividades curriculares, compreendidas
em dois grupos: a) aquelas não vinculadas
tos dídáticos adequados, organização da as pessoas têm o mesmo direito ao aces- a uma causa orgânica específica; b) aque-
escola e da aula, numa boa programa- so às instituições de ensino, portanto, à las relacionadas a condições, disfunções,
limitações ou deficiências; IIa dificuldades
ção curricular por séries. Somado a is- apropriação da ciência e da cultura, ao de comunicação e sinalização diferenciadas
so, um sistema de avaliação sistemático, desenvolvimento de suas capacidades dos demais alunos, demandando a utilização
de linguagens e códigos aplicáveis; IIIa altas
contínuo, para verificar se os objetivos intelectuais, à formação da cidadania, do habilidades/superdotação, grande facilida-
estão sendo atingidos ao longo do ano senso estético, da formação moral, inde- de de aprendizagem que os leve z dominar
rapidamente conceitos, procedimentos e
e no final do ano letivo. A questão do pendentemente de suas diferenças. Tra- atitudes (Rés. CNE/CEB n. 2, art. 5a, de 11
insucesso escolar, portanto, é menos um ta-se, antes de tudo, do direito universal de fevereiro de 2001).