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Coleção $ron<

sso de pro- 2
. A avaliação
re esta ques- fivaliação instuucional: induzindo
político-peda-
de requer a ade-
escolas reflexivas
vidos com a pro-
exercer seu direi-
tinos da educação. Este titulo é umaprovoca ~o a outro bem difundido nos meios
escolar, assunto do educacionais: "professores reflexivos". Embora não seja esta nossa
temática, é sempre oportuno apontar que nossas políticas públi-
cas - à direita e à esquerda - têm-se preocupado mais com a figura
do rofessor do que com o conjunto dos~da esco~ais
ain a, não deixa de ser notória, em especial para o cu uralismo
ortodoxo", a ideia de que a mudança da "cultur " ao pro essor
através de maciças doses de formação conti a a levarIa a escola
a modificar-se também. Recentemente (FREITAS, 2005), tam-
bém a título de provocação, alertou para o fato de que redes públi-
cas que seguiram este caminho, queixam-se de não ter havido re-
passe suficiente das melhori s-lla~colldiç.ó_e~abalho Jinclusive
salariais) para a universalização da qualidade de desempenho dos
estudantes - os níveis de reprovação continuam altos e o rendi-
mento real dos aprovados permanece uma incógnita.
Parte desta situação deve-se ~o superdimensionamento do
papel e Elo poder-do. professor, o qual tornando-se "reflexivo"
poderia melhorar suas práticas e com isso ensinar melhor. Ora,
não só existem outros fãtOrês impe irivos para o aumento da
qualidade da escola, como há vida inteligente para além do pro-
fessor ou da professora. A escola é habitada por diferentes profis-
sionais e diferentes protagonistas (funcionários, estudantes, ges-
tores, pais, etc.). Sem o concurso do conjunto da escola, este

5. A ideia de que a cultura determina a marerialidade da vida (deterrninisrno


cultural).
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Coleção !Fronteiras &lucacionais ,jlIJaliação educacional 35

sim, tendo que ser necessariamente reflexivo, limita-se em muito cia. Deriva daí a contestação do discurso de professor refle~ivo
a possibilidade de transformação dos processos escolares. como solução redentora dos problemas da escola e a centralida-
Nossa tese está baseada, portanto, na ideia de que não é de deste na tarefa reflexiva.
a enas o rofessor g~recisa ser reflexivo mas sim o conjull:.... Se a academia, em suas teorias, se encantou demais com a fi-
~ da escola ::- daí o subtítulo desta parte: "produzindo escolas gura do professor, as políticas públicas: quando não se encanta-
reflexivas". E preciso retirar o rofessor de seu "narcisjsmo re- ram igualmente aplicando aque~as teo.nas, por.contraste, q~ase o
flexivo" e reinserí-io no coletivo escolar, -este último com legiri- ~~ - a não ser para medir sua influência enq.uanto fat~r
~idade para.discutir o de~empen~ daquele em uma p~erspec- associado" ao desempenho do esrudante. Este tem SIdo o caso n-
trva construtiva. Por esta VIa, recolocaremos a questão d'!Lavalia- pico das estratégias de avaliação das p-9!íticas públicas. O mes-
ção do ptofessor e dos outros profissionais que atuam na ~ola~ mo vale para os demais atores da escola.
como uma tarefa cole~ - como parte de seu projeto políti-
co-pedagógico. A ampliação dos níveis de avaliação para .além da ~al: d~ au~a
e da aprendizagem dos estu.d~~tes, em especial a a:alIaçao insu-
A luta pela sustentação de projetos político-pedagógicos rucional, trouxe novas possibilidades ao desenvolvI:nent? de ~s-
coletivos, ancorados no compromisso com a produção do colas reflexivas. Assim, pensar e valiª,- 9jn~J.i!:JJC[(;mallme1Ica
"hem...comum", depende do concurso dos.nuíltiplos-.atores o",
repensarosignificado da ar~l: _ãe: dos diferentes at,?r.es_na
-ciais-envolvidos com Ulll...p-roj,e.to_de o ma ão. Para isso, estes
vida e no destino das esco as. mphca recuperar a dimensao col~-
atores devem se encontrar em espaços/tempos que favoreçam a tiva do projeto político-pedagógico e,. ~esponsavelmente, :eflenr
livre expressão de~!!as idei~ropiciando-Ihes condições para sobre suas potencialidades, vulnerabIlIda~c::s e r~percussoe~_em
u~ ~iálogo lural, n~ qual a lingu:r~ crie formas de inteligi- nível de sala de aula, junto aos estudantes+Examinemos mais de
bIlIdade entre eles, alimentando u pacto de qualidade que ne-
perto esta questão.
gociam à luz das necessidades sociais que pretendem atendeil)(cf. '---
BONDIOLI, 2004). =:;;"
Avaliação institucional na escola
r- Este pacto é favorecido pela existência de umal§:emocracia
institucional forg:} onde as diversas formas de PLonunc!ar o mun- A avaliação instirucio_nal,Qª" e~çolª é um processo que envol-
do não sejam silenciadas ou censuradas. Os espaços/tempos es- ve todos os seus atores, com vistas a negociar patamares ad~qua-
colares podem, da forma como forem concebidos, promover a dos d~a-Plimoramento, a partir dos problema,s concretos vIve.n-
orquestração das forças envolvidas nesse pacto e assim constituí- ciados por ela. Se a av~.~ção ep. larga _escala-o.ee~erna, a avalia-
( rem-se em e~tratégLa§ potentes para que o coletivo das escolas se ção instirucional (int~~na e~c?la e SOb seu contro~e, enquanto
à

encontre e, no encontro e pelo encontro, possam, de fato, viven- a avaliação da aprendizagem e assunto preferenc~alm~n~e do
ciar o aprendizado da reflexão e exercitar a participação_, sem o professor em sua sala de aula. Embora.o pro~ess? seja múltiplo e
que o pacto esmoreça, limitando-se ao papel ou ao discurso. integrado, cada um tem seu protagonrsta principal,
Como se percebe, esta tarefa não pode pertencer apenas aos
professores, ainda que destes não se possa subtrair a importân-
6. Sobre o impacto dos pais na vida escolar dos alunos, ver Malavasi, 2000.
firaliação educacional 37
36 Coleção !Fronteiras educacionais

A avaliação institucional é um processo de apropriação da sobre como deveria ou poderia ser (BONDIOLI,
escola pelos seus atores, não na visão liberal d-a'responsabíliza- 2004: 14).
ção" pelos resultados da escola como contraponro.da desres- Destacar seu caráter negociável não significa deixar de lado
ponsabilização do Estado pela escola, mas no sentido de CJ.ue os outros aspectos da natureza da qualidade. Significa apenas .a
seus atores têm um ro' eto e oJllJ2.[omissosocial, em espe- escolha de um aspecto em que esta definição contrasta mais
cial junto às classes populares e, portanto, necessitam, além abertamente com a noção corrente de qualidade adotada pel~s
deste seu compromisso, do com romisso do Estado em relação políticas públicas neoliberais, cuja conc~pção é 9.~asese~pre e~-
à educação. O apropriar-se dos problemas= a-eswla inclu-rum vada de uma pseudoparticipação que visa a legltlmar a ImposI-
apropriar-se para dema dar dwstado as condições necessárias ção verticalizada de" adrões de ualidac!.e"_t:xternos ao grupo
ao funcionamento dela; Mas inclui, igualmente, o compromis- avaliado (cf QUAGLIATO, 2003).
so dos que fazem a escola com os resultados dos seus alunos. A Outro aspecto a ser mencionado diz respeito ao instrumen-
, '
u I este processo bilateral de responsabilização, chamamos " uali:: to para a condução da qualidade negociada: .
dade negociada"._ - - - -
[O projeto pedagógico] as~uI?e, porta~t?, u~ sig-
. T _ ualidade negociada é um conceito que nos chega através da nificado negociável. Constitui uma espeClede pac-
experiência italiana em um estudo de Anna Bondioli (2004). O to" entre o órgão público e o órgão gestor ~~ rede,
estudo reforça uma certa tradição de se conceber a avaliação edu- [...] que define compromissos e responsabilidades
cacional no Brasil que tem ancoragem em autores como Ludke recíprocas ... (BONDIOLI, 2004: 22).
(1984 ), Saul (1988), Dias Sobrinho (2002a), entre outros. Dessa ação, resultam algumas consequências, entre elas, o
Para a autora, definir qualidade implica explicitar os descri- fato de cada escola atribuir-se a liberdade de delinear a sua pró-
tores fundamentais da sua natureza, ou seja: se~áter negociá- pria fisionomia educativa, le~ando em conta seirton,te~to, limi-
vel, participativo, autorreflexivo, contextual/ plural, processual e tes e virtudes; o fato de que tais escolhas tornam-se públicas e so-
transformador. ~ cializadas, ou seja, o direito de criar sua fisionomia está acomp~-
A qualidade: em seu aspecto negociável, é vista da seguinte nhado do dever de "tornar público" o seu projeto; e finalmente, eVI-
forma: dencia-se o caráter "ético" dessa operação na medida em que,
[I A qualidade não é um dado de fato, não é um valor uma vez público, toma o sentido de uma promessa, de uma admis-
absoluto, não é adequação a um padrão ou a normas
são de responsabilidade para realizd-lo (BOND.IOLl, 200~: 25~.
estabelecidas a priori e do alto. Qualidade é transa-
ção, isto é, debate entre indivíduos e grupos que Esta responsabilidade não só é da escola, naqui~o q~e lhe e devi-
têm um interesse em relação à rede educativa, que do mas também é relativa ao que a escola necessita dispor para ga-
têm responsabilidade para com ela, com a qual estão ra~tir a exequibilidade do seu projeto. Daí o sentido de um "pac-
envolvidos de algum modo e que trabalham para ex- to" com múltiplos atores: da escola para com seus estudantes; ~a
plicitar e definir, de modo consensual, valores, obje- escola para consigo mesma; da escola para com os gestores do SiS-
tivos, prioridades, ideias sobre como é a rede [...] e tema escolar; e dos gestores do sistema para com a escola.
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/ Com a avaliação institucional o que se espera, portanto, é que\ como chamava Paulo Freire). É como se uma secretaria de edu-
o coletivo da escola localize seus problemas, suas contradições; e- \ cação ou uma universidade pudesse se instalar como centro irra-
' ~~!e eles e estruturesituaçôes de melhoria ou superação, de- +- diador que estendesse a mudança à prática das escolas. Tal con-
I manClancfo condições do poder público, mas, ao mesmo tempõ cepção supõe que ela (a mudança) já esteja elaborada em algum
_\comprometendo-se com melhorias concretas na escola. t Lugar, fora do local onde ela tem de ocorrer;-bâstanôo, para tal,
- A avaliação institucional permite, pois, ao coletivo das esco- " ~1!ildi;::' os protagonistas locais para a ~oção~' ou "adapta-
las e aos gestores do nível central que se beneficiem complernen- ção local" da mudan.ç~ -
t~lPenle dos dados da avaliação para construírem üm sistema - Entre -os vários aspectos que esta concepção não considera,
de monitoramentódos problemas que se propõem equacionar encontra-se o de que qualquer conhecimento externo a uma
numa linha de tempo e no âmbito de suas competências. Isso rede de ensino depende, para poder ser eficaz, de uma associa-
contribui para que asprioridades possam ser revistas e reposicio- ção com ~onhecimento interno, local, presente no interior
I
nadas a partir das demandas Clã projeto político-pedagógico e das redes. Nrolevar em conta este conhecimento já acumulado
também permite o controle social sobre as decisões que afetam no interior as escolas é dificultar o processo de mud~ (cf
políticas públicas tã'b Importantes-quanto as da educação. GOUVEIA, 1992).
Se defendemos espaços de negociação na construção deste Paulo Freire coloca esta questão da seguinte forma:
pacto de qualidade, há princípios que consideramos inegociáveis A tarefa do educador, então, é a de problematizar
na sua formulação. ~os de ser intransigentes com relação ao di- aos educandos o conteúdo que os mediatiza, e não a
reito das crianças ao aprendiza4d Isso nos desafia a construir pos- de dissertar sobre ele, de dá-Ia, de estendê-Ia, de en-
sibilidades superadoras dos limites encontrados na atual forma tregá-Ia, como se se tratasse de algo já feito, elabora-
de organização da escola e a nos abrirmos ao exame de nossas res- do, acabado, terminado. Neste ato de problernarizar
ponsabilidades individuais na produção de qualidade na escola. os educandos [sic], ele se encontra igualmente pro-
A avaliação institucional carrega, em si, a potência de nos fazer blematizado (FRElRE, 1975: 81).
lembrar o compromisso pessoal com o projeto coletivo" Ajuda a A ideia de que a mudança seja um processo está fortemente
nõSlocall~ neste território e emite importantes sinalizadores presente no conceito de qualidade negociada A mudança é uma
de nossos esforços e nossa presença no projeto da escola. Estes - construção local apoiada e não uma{ransferênCla esITeum órgão
indicadores não nos pertencem unilateralmente. A prestação cenrràlpara a "ponta" do sistem...êJTal construção é guiada por
pública de contas daquilo que fazemos em prol da aprendizagem I, um projeto pedagógico da instituição local- consideradas as po-
das crianças é condição imperativa para o desenvolvimento de líticas globais emanadas de órgãos centrais - que configura uma
um projeto educativo consistente e socialmente eficaz. "rt>st:l de iItdicadores" com os quais se compromete e se respon-
I sabiliza, demandando do poder público as condições necessárias
o processode mudança: extensão ou comunicação? à sua realização. Esta forma de relacionamento exclui tanto as
É comum que se 'pense a6udança como produto de um formas autoritárias de gestão, baseadas na verticalização das de-
centro difusor que a transfere para as escol,J(exte~sionismo, cisões, co~o exclui igualmente o opulismo e o democratismo

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de formas de gestão que transferem inadequadamente (para não sido diferentemente apropriados e, destas formas peculiares de
dizer que abandonam) para a "ponta" as decisões, unilateralizan- apropriação, vários usos têm sido permitidos, cabe ressaltar que
do-as e se omitindo. Exclui, ainda, uma auronomização da esco- ~. contrarregulação não pode ser reduzida à ideia de objeção a
la em relação às políticas públicas do centro. A noção de qualida- qualquer tipo de regulação que o Estado queira fazer. O que se
de negociada, ao admitir que os problemas são fortemente con- coloca como tese é que há possibilidades de regulações alternati-
textualizados e plurais, não quer com isso sugerir, sequer, que vas, contra-hegemônicas, que podem nascer nas escolas e recon-
cada uma das escolas defina autônoma e isoladamente seus ní- figurar as formas de comunicação topo/base.
veis de qualidade ou seu currículo. Isso poderia conduzir à per- Santos, recuperando o pensamento de Ernest Block, nos faz
petuação de desigualdades econômicas sob a forma de desigual- pensar sobre os significados e diferenças entre: não, nada, sim e
dades escolares e vice-versa (cf BOURDIEU, 1975; 2001) ou a ainda não.
constituição de "escolas para pobre e escolas para rico". Será ne- o não é a falta de algo e a expressão da vontade de
cessário se precaver contra o viés culturalista que ajusta a quali- superar essa falta. É por isso que o não se distingue
dade da escola ao nível socioeconômico oeseus estudantes, des- do nada. Dizer não é dizer sim a algo diferente. O
qualificando-os a título de "respeitar sua c~ltura".U1 cultura d01 ainda não é a categoria mais complexa, porque ex-
aluno não pode ser o ponto de chegada, ainda que possa ser 0J prime o que existe apenas como tendência, um mo-
ponto de partida vimento latente no processo de se manifestar. O
Isso posto, a referência para a avaliação institucional está ainda não é o modo como o futuro se inscreve no
presente e o dilata. É uma possibilidade e uma capa-
dada pelo projeto político-pedagógico da escola. Ele reflete
cidade concretas que nem existem no vácuo, nem
compromissos do coletivo.lE..'or projeto político-pedagógico en- estão completamente determinadas. [...J. Objetiva-
tendemos uma proposta"de trabalho da escola elaborada coleti- mente, o ainda não, é, por um lado, capacidade (po-
vamente que orienta (e responsabiliza) a ação dos seus atores, tência) e, por outro, possibilidade (potencialidade)
bem como formaliza demandas ao po r público e cria as condi- (SANTOS,2006: 116).
ções de trabalho adequadas na escol E, portanto, um instru-
A ideia da contrarregulação suscita a possibilidade de uma
mento vivo e dinâmico que pauta compromissos bilaterais, onde
o protagõcismo é da escola. ( 9PP) regu ação com compromissos emancipatóri~ Portanto, é regi-
da elo ainda não. Rejeita o nada como resposta.
É importante localizar onde está o protagonismo para dife-
As escolas não devem se opor à avaliação de seu trabalh~
renciar essa estratégia do simples '$Ptrato por desempenho" li-
Ca e-lhes aceitar a prestação pública de contas daquilo que fa-
beral. Neste último, o protagonismo está com o Estado, enquan-
zem em área tão importante para a sociedade, Os pactos de qua-
to que, na qualidade negociada, o protagonismo está com o cole-
lidade que firmam internamente devem produzir resultados que
tivo da escola.
se tornem visíveis externamente e que permitam algum controle
Neste sentido, a qualidade negociada assume contornos de
social. O "ensimesmamento'Lda equipe pedagógica em sua per-
uma contrarregulação, em especial frente à desresponsabilização
cepção partié~lar do que seja qualidade pode obstruir a transfor-
neoliberal do Estado. Em tempos nos quais os vocábulos têm
mação qualitativa da escola no ritmo desejável às necessidades de
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uma determinada geração. Neste sentido, a avaliação institucio- mento importante na compreensão das .difu:uLdades d'ª-.~c.ola -
nal, mesmo reconhecendo a titularidade dos atores das escolas, ao lado das questões infraestrututais de seu funcionamento.
~o desconsidera a i uez'iA.o_2Ihar extern que acrescenta ao A educação não enfrenta somente a desresponsabilização do
process.o de autoconhecimento institucional novos ingredientes Estado, mas também há uma parcela do funcionalismo público
e n.ov.os sab.ores.\ . da educação que se desresponsabiliza igualmente pela educação

I A avaliaça.o eve estar a serviço de uma ~idade


para um outro ~~ai;-
que ap.onte
ratemo, mas, exatamente p.or isso,
' esta avaliação deve cuidar dopresente, Corno defender as crianças
das crianças - a despeito das condi ões_de_trabalh.o. Este círculo
vicioso precisa ser rompido em algum p.ont.oJgest.ores acusam os
professores pela má qualidade da educaçã?, p?õfess.ores acusam
\ das consequências de uma escola que convive harmonicamente os gestores pela falta de condições de trabal~ Ambos acusam os
com resultados pffios do trabalho pedagógic.o que executa? sucessivos g.overn.os pelos descasos. Enquanto isso, gerações in-
Vários são os fatores que imobilizam a escola neste rnornen- teiras de alunos passam pelas escolas. As camadas populares são
t.o e dificultam o pr.ocess.o de avaliação institucional, Um aspec- as principais prejudicadas, pois dependem unicamente da escola
to diz respeito à associação de d.ois dest~fatores: um mais antigo para aprender (SAVIANI, 1982).
e mais compreendido, a "desresp.opsabilizaçã.o" a.o stado, e ou- Em recente trabalho, em andamento, convidamos uma rede
tro mais novo e que necessita de maiores estudos, a "desc.o~u- com mais de 250 escolas para participar de um esforço coletivo
ç-ª!LP_ó~1p..oderna, que começa a ser difundida nas escolas atra- de desenvolvimento de avaliação institucional na perspectiva
vés da formação continuada dada pelas universidades.1 A con- que estamos descrevendo neste texto, ou seja, escolas que pen-
fluência destes dois fatores tende a tornar ~.ola um ~al inútil sam sobre sua prática. Apenas dez escolas se apresentaram. O
do p.ont.o de vista da aprendizagem do al~rem especial, a c.og- caso que mais nos chamou a atenção foi o de uma escola cujo di-
nitiva), substituindo-a pelo simples "estar na escola". Ambas en- retor queria participar, mas quando democraticamente consul-
gendram banalização do papel que a escola tem na preparação tou os professores, estes não quiseram, mesmo ganhando um
da juventude Desresponsabilizada e desconstruída pelo "proje- dos melhores salãrios do Brasil.
tismo'", a escola é vista corno mero local de diversão (no caso das A baixa aceitação ao convite não se deveu a uma política au-
camadas populares, adaptada ao capit eu tur dos seus pr.op.o- toritária. Não houve pressões para que as escolas participassem.
nentes) e de mera passa em d.o re;mp9, sem real qualificaçã.o do Mas igualmente não houve interesse em tornar a escola um local
aluno, Este movimento afeta igualmente o professor. de reflexão. Que fazer? Devemos esperar que o poder público
Um segundo aspect.o, diz respeito ao conceito do que seja o cruze os braços diante desta recusa? Devemos esperar que, nos
íuncionalismo públic.o, construido historicamente. T ernos negli- próximos anos, tais escolas se conscientizern e amadureçam para
-gênoãd.o, ná educação, o estudo da própria constituição do fun- a avaliação institucional? A.o custo de quantas gerações que pas-
cionalisrno público n.o Brasil. A história desta categoria é um ele- sarão p.or estas escolas, enquant.o elas amadurecem?!
Essas questões estão cada vez mais presentes na medida em
que, nos últimos dez anos ou mais, as forças progressistas têm
7. Proposta curricular que dilui o conteúdo cognitivo da escola e o distribui em g.overnad.o municípios, estados e até o país e a cômoda posição
inúmeros "projetinhos'', supostamente articulados e interdisciplinares .
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de críticos de governos liberais vai sendo substituída pelo prota- acompanhamento do desenvolvimento dos estudantes em ter-
gonismo nestas esferas. mos afetivos, atitudmaIs e cogmnvos. Este é o terreno onde a
Como veremos no capítulo seguinte, aos poucos, mesmo b ~ •continuada pode ser muito importante, com o sent.ido
nas esferas progressjstas, está se configurando a ideia de que as de ajudar a errar práticas adequadas de ensino e de ~prendIz~-
polítlcas ãe vaIorização do magistério (formação continuada e gem - incluídas as e avaliação. Entretanto, por mais que seja
melhoria salarial), embora necessárias, não têm sido suficientes uma responsabilidade e uma criaçâo da professora, esta ação deve
para romper com o conceito de um~erviço público q~e, por ser se integrar ao projeto político-pedagógico da escola, elaborado
público, é visto como sendo de o.i.nguém e não necessitando ter, pelo coletivo escolar - base também da av~st~tHGiG-Ilal.
portanto, melhor qualidade. Isso pode sugerir que um outro as- Espera-se que o coletivo escolar, parceiro, possa ser o local
pecto precise ser considerado, o do compromisso com as cama- para a análise das ldificuldades dos professores C?~ seus al~n?s,
das oooulares - .fltualmente em baixa, por um discurso pós-mo- em busca de reflexÇles que contribuam para a pratlca pedagógica
derno que desacredita, generalizadamente, as metanarrativas de cada profess~Aqui os r~s das avaliações internas
(menos a que ele mesmo propõe, o nihilismo) e a possibilidade e/ou externas podem ganhar significação, validade ou reconhe-
da construção de projetos históricos compromissados com a cimento como um problema da escola, de seu coletivo. Metas_
transformação social. Salário e condições de trabalho não substi- . podem ser traçadas. Demandas, formuladas.~ dados e:Xtefnos
tuem compromisso social. Talvez esta seja a mensagem.
são, pois, associados ao conhecimento interno que os atores da
Seja pela própria incompreensão do papel do serviço públi- escola possuem sobre o seu local de trabal~ Neste. sentido, a
co, seja pelos impactos do pensamento pós-moderno associados avaliação institucional pode ser uma potente mediadora en-
à desresponsabilização promovida pelo Estado liberal em relação tre a avaliação de larga escala das redes de ensino (p. ex. o SAEB)
à escola, o dilema desta, hoje, entre outros, é como ela irá sobre- e a avaliação de sala de aula feita pelo professor, vale dizer uma
viver fora da lógica privatizante liberal. Na medida em que fique mediadora entre os resultados das avaliações das redes de ensino
prisioneira destes discursos, estará mais próxima de criar, ela e a prática do professor em sala de aula. E não seria isso que est~-
mesma, as justificativas de sua própria privatização. Uma forma \ mos perseguindo ao efetuarmos avaliações nacionais de ren~I-
de escaparmos disso é atuar na contrarregulação procurando que
mento dos alunos? Não é a tentativa de fazer com que a prática
as escolas assumam uma condição de apropriação de suas difi-
pedagógica mude no interior das salas de aula? Entretanto, tal
culdades como passo para a conscientização a respeito de suas
mudança não pode, como vimos, ser exportada de Brasília para
reivindicações e de seu papel a ser cumprido.
todos os municípios brasileiros, como bem demonstrou Pau-
lo Freire.
Consequências para a avaliação em sala de aula: o papel I ULavaliação institucional deve, portanto, ser o ponto de en-
central da avaliação institucional
Uma! bO,a avaliação. institucional te~á consequências positi-
vas para li-ruvel da avaliação da aprendizagem em sala de aula,
i contro entre os dados provenientes tanto da avaliação dos alunos
feita pelo professor, como da avaliação dos alunos feita pelo s.is-
1 tema. Ambos falam de um único sujeito: o aluno, a verdadeira
cuja prática é de responsabilidade da professoraj Trata-se do figura central da esco~

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