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A cultura escolar é um conceito que destaca a função da escola na transmissão de uma cultura
específica durante o processo de socialização e integração nacional das crianças e jovens. Neste
texto, a autora amplia esse conceito relacionando-o com a forma escolar de educação e com a
cultura organizacional da escola. É enfatizada a importância da compreensão histórica e
sociológica para entender as mudanças necessárias na educação como uma mudança cultural.

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O conceito de "cultura escolar" tem sido amplamente utilizado no campo da História da


Educação e das Ciências da Educação. Existe uma ambiguidade em relação ao significado do
termo: se refere à cultura adquirida na escola ou à cultura específica que só pode ser adquirida
na escola. Uma perspectiva funcionalista vê a cultura escolar como um conjunto de normas e
práticas que são transmitidas pela escola para alcançar diferentes finalidades, como religiosas,
sociopolíticas ou de socialização. A definição popularmente difundida é que a escola tem o papel
de transmitir os princípios de uma "cultura geral" entre gerações, passando de uma cultura
familiar para uma cultura global e social. Nessa visão, a escola é vista apenas como mediadora
entre os poderes instituídos e os alunos, sem capacidade própria para produzir sua própria
cultura fora dos padrões sociais dominantes. Até recentemente, era impensável considerar que
a escola não apenas reproduzia a cultura existente, mas também tinha o potencial de produzi-
la.

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A escola não apenas reproduz uma cultura externa, mas também produz sua própria cultura
específica. O sistema educativo é autorregulado e autônomo na concretização de seus objetivos.
Os decisores políticos e a administração educativa preferem favorecer todas as iniciativas dentro
do sistema educativo. Os sistemas educativos têm uma vida própria e evolução relativamente
autônoma, mantendo traços de sua estrutura antiga. As tentativas de mudança normativa na
instituição escolar têm tido pouco sucesso.

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A cultura escolar é influenciada pelas reformas educacionais, mas raramente essas mudanças
são implementadas nas salas de aula e escolas. A autonomia relativa do sistema educativo e de
cada escola tem um impacto significativo no conceito de cultura escolar. A forma escolar de
educação é uma parte fundamental dessa cultura, com valores, normas e processos próprios.

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A adoção do "ensino simultâneo" e do "ensino mútuo" no século XVIII e XIX trouxe critérios de
racionalidade para o trabalho pedagógico. Esses modos de ensino surgiram devido ao aumento
do número de alunos e à necessidade de inculcar valores sociais nas classes populares. A
organização pedagógica foi dividida em funções especializadas, espaços seriais, horários
detalhados e compartimentação das matérias. O princípio era ensinar a muitos como se fossem
um só, buscando alcançar maior homogeneidade nas divisões dos alunos.
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A organização pedagógica das escolas primárias e liceais evoluiu ao longo do tempo, passando
de uma estrutura simples para uma estrutura complexa e departamentalizada. Essa evolução foi
baseada em princípios de racionalização e eficiência, resultando na adoção de características
burocráticas nas escolas. No ensino liceal, a homogeneidade também se reflete na organização
do tempo, dos espaços, dos alunos e dos professores.

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A forma de organização pedagógica baseada em classes homogeneizadas é uma manifestação


de violência simbólica sobre alunos e professores. Essa estrutura causa exclusão e tensões nas
relações entre os envolvidos. Críticas a essa modalidade surgiram desde sua criação, no século
XIX, e continuam até hoje. O movimento pedagógico da "Educação Nova" buscou alternativas
para essa forma de organização.

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A organização pedagógica tradicional não é adequada para adaptar o ensino às características


individuais dos alunos. Apesar das propostas alternativas, a estrutura escolar formal e legal
permaneceu constante ao longo do tempo. O movimento de contestação às estruturas da escola
oficial continua até os dias atuais, com argumentos baseados em psicologia experimental e
considerações sociológicas. Os pedagogos do movimento da Educação Nova mostraram que a
organização pedagógica tradicional não se adapta às características individuais das crianças e
jovens. Métodos alternativos como Montessori, Decroly e o método dos projetos de John Dewey
foram ensaiados como propostas inovadoras. No entanto, a organização pedagógica formal e
legal generalizada nos sistemas escolares estatais manteve-se constante. O movimento de
contestação às estruturas da escola oficial começou na década de 60, agora reforçado por
considerações sociológicas além da psicologia experimental. Propostas radicais como a
desescolarização da sociedade foram apresentadas por Illich em 1971. Outros argumentam que
o problema está nas características formais vindas do passado que impedem a adaptação da
escola às necessidades atuais.

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Aborda a questão da organização pedagógica baseada na divisão dos alunos em classes anuais
e destaca as tentativas de alterar essa estrutura, como as escolas primárias de "área aberta"
tipo P3 e a criação das fases no ensino primário. No entanto, todas essas inovações não foram
bem-sucedidas. O relatório de Louis Legrand sobre a reforma dos "collèges" destaca o tema do
agrupamento dos alunos como uma das questões centrais da renovação pedagógica. A mudança
nas estruturas educacionais é necessária para atingir os objetivos, mas não é suficiente por si
só.

A mudança nas estruturas educacionais é necessária para atingir os objetivos pedagógicos. A


organização pedagógica baseada na divisão dos alunos em classes anuais é um obstáculo à
inovação. Estudos mostram a relação entre o sistema de avaliação formal e a divisão do currículo
em programas anuais. Tentativas de alterar essa organização pedagógica, como as escolas
primárias tipo P3 e as fases no ensino primário, falharam. Outras tentativas setoriais também
não foram bem-sucedidas, como a área-escola, o sistema de progressão contínua e os currículos
flexíveis.

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A gramática da escola tem permanecido estável ao longo das décadas, com poucas mudanças
na forma como as escolas dividem o tempo e espaço, classificam os alunos e agrupam os
conhecimentos em disciplinas. As reformas educacionais falharam porque muitas vezes
ignoraram o caráter construído das instituições escolares e não consideraram a sala de aula
como parte central do processo de ensino. A solução para esse problema requer uma alteração
radical nas estruturas, mas essa mudança deve ser construída pelas próprias escolas,
professores e alunos. É importante fornecer formação aos professores para ajudá-los a
reconhecer o peso das estruturas existentes em suas práticas e sugerir práticas alternativas. Essa
formação também deve dar segurança às pessoas envolvidas no processo de mudança cultural
nas escolas.

A gramática da escola inclui a configuração das salas de aula, divisão do tempo e espaço,
classificação dos alunos e agrupamento dos conhecimentos em disciplinas. As reformas
educacionais falharam por ignorarem o caráter construído das instituições escolares e não
considerarem a sala de aula como parte central do processo de ensino. Mudanças radicais nas
estruturas devem ser construídas pelas próprias escolas, professores e alunos, ao invés de serem
impostas externamente por decisores políticos. Formação é necessária para ajudar os
professores a reconhecer o peso das estruturas existentes em suas práticas e sugerir práticas
alternativas. A mudança cultural nas escolas requer segurança às pessoas envolvidas no
processo.

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A cultura organizacional de uma escola é um campo promissor para a compreensão da


instituição como uma organização e instância de socialização. A definição dessa cultura varia
dependendo dos autores, mas geralmente inclui valores, crenças, ideologias, normas, condutas,
rotinas e símbolos. Existem duas perspectivas principais sobre a relação entre a cultura societal
e a cultura organizacional: uma em que esta última reflete os traços culturais da sociedade e
outra em que ela é construída internamente na organização.

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A regulação operada pela estrutura formal nunca é total, sendo constantemente ultrapassada
por práticas que não respeitam suas prescrições. Os participantes procuram reduzir
gradualmente a importância do quadro formal através dessas práticas. O estudo realizado sobre
os relatórios anuais dos reitores dos liceus em Portugal entre 1935 e 1960 revelou "desvios"
introduzidos no modelo organizacional e administrativo. Esses "desvios" foram resultado da
iniciativa dos próprios reitores, das circunstâncias ou do jogo de forças com grupos de
professores dentro dos liceus. Houve uma quebra na coesão interna da organização,
contrariando a filosofia de administração baseada no "regime de classes". Os relatórios
mostraram outras racionalidades subjacentes à organização do liceu além da influência
centralizadora da administração burocrática autoritária vigente na época. A análise funcional
realizada através desses relatórios permitiu identificar diferentes estilos e modalidades de ação
adotados pelos reitores.

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A análise dos relatórios revelou a diversidade de situações existentes no sistema educacional,


em contradição com a imagem homogênea apresentada oficialmente. Foi identificado um "liceu
invisível", menos homogêneo do que o previsto na legislação, onde as incoerências entre o
modelo legislado e sua execução levam à improvisação de soluções e tomada de decisões
baseadas em critérios diferentes. Esses espaços de improvisação contribuem para a formação
de uma "cultura escolar" distinta da cultura oficial transmitida pelo quadro legal. Fragilidade das
articulações entre os elementos internos (professores, classes) e o sistema educacional como
um todo. Diversidade de situações existentes no sistema educacional, contradizendo a imagem
homogênea apresentada oficialmente. Construção progressiva de uma organização pedagógica
divergente do quadro legal estabelecido. Distância entre a estrutura formal e informal nas áreas
de organização dos horários, constituição das turmas e distribuição dos espaços. Espaços de
improvisação são fundamentais para a formação da cultura escolar distintiva da cultura oficial
transmitida pelo quadro legal.

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