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máquinas
de fluxo
Cari Pfleiderer — Hartwig Petermann

Tradução de
ANA LÚCIA SERIO DE ALMEIDA
JOSÉ ABEL ROYO DOS SANTOS
ZULCY DE SOUZA
Escola Federal de Engenharia de l ta j ubá — E FE l

RIO DE JANEIRO
SÃO PAULO

Ot LIVROS TÍCNICOS E CIENTÍFICOS EDITORA

_^**
TRADUÇÃO AUTORIZADA DE
STRÕMUNGSMASCHINEN -4th Edition

Copyright ©by Springer-Verlag, Berlin/Heidelberg 1952,1957,1964,1972.

Diagramação / Artes / LTC

Capa: AG Comunicação Visual

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Pfleiderer, Cari, 1880-1960.


P63 m Máquina de fluxo / Cari Pfleiderer [e] Hartwig
Petermann; tradução de Ana Lúcia Serio de Almeida,
José Abel Royo dos Santos [e] Zulcy de Souza. —
Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1979.

Tradução de: Strõmungs maschinen


Bibliografia

1. Engenharia mecânica 2. Petermann Hartwig


l. Tftulo

CDD-621.8
79-0144 CDU-621

ISBN 85-216-0028-3
(Edição original
ISBN 3-540-05745-5 4. Aufl.
Springer-Verlag Berlin Heidelberg
New York)

Direitos reservados por:


LIVROS TÉCNICOS E CIENTÍFICOS EDITORA S. A.
Avenida Venezuela, 163 - 20220
Rio de Janeiro — RJ
1979
Impresso no Brasil
Prefácio da quarta edição

O Professor Dr. Ing. h. c. Cari Pfleiderer lecionava no final dos anos 40, na
Universidade Técnica de Braunschweig, uma única disciplina tratando todo o con-
junto das máquinas de fluxo, ao contrário do que era usual anteriormente, quando
existia uma disciplina para cada tipo de máquina de fluxo (turbinas a vapor, bombas
rotativas et c.). Em 1952 publicou a primeira edição deste livro como texto para este
tratamento comum de todas as máquinas de fluxo, aparecendo em 1957 a segunda
edição. O Professor Pfleiderer faleceu em 1960 com 80 anos de idade e era seu desejo
que, após sua morte, eu preparasse, quando necessário, novas edições de seu livro "Má-
quinas de Fluxo". Assim, em 1964, publiquei a terceira edição e tive o prazer de veri-
ficar que também esta foi bem aceita pelos especialistas no assunto.
Comparativamente à terceira edição, a quarta teve o Capítulo 7 (Perdas por fuga
de fluido, por atrito no rotor e empuxo axial) sensivelmente alterado, de acordo com re-
sultados de muitos trabalhos de pesquisa realizados recentemente no Instituto Pfleiderer
de Máquinas de Fluxo. Foram acrescentados as Seções 2.55e (Determinação do coefi-
ciente de pressão ótimo para turbinas com admissão parcial); 6.25 (Influência de alte-
rações construtivas na forma da característica do rotor); 9.63 (zona morta do cubo) e
o capítulo 12 (Métodos matemáticos da mecânica dos fluidos para o cálculo de máqui-
nas de fluxo). As outras partes do livro foram atualizadas de acordo com o desenvolvi-
mento técnico ocorrido desde o aparecimento da terceira edição.
Na resolução dos exemplos, nos desenhos das figuras e na leitura das provas fui
admiravelmente auxiliado pelo pessoal do Instituto que dirijo. A todos eles o meu
agradecimento. Devo, entretanto, fazer um agradecimento especial ao Consultor Cien-
tífico e Professor Dr. Ing. M. Pekrun e ao Conselheiro Académico Dr. Ing. R. Rotzoll,
que sempre estiveram disponíveis para discussões sobre problemas que ocorreram, que
muito me estimularam e fizeram inúmeras sugestões de melhoramentos. À editora
Springer agradeço pelo agradável trabalho conjunto e pela compreensão demonstrada
quando de minhas solicitações.
Braunschweig, verão de 1972.
Hartwig Petermann
Resumo das principais unidades e símbolos1

Neste livro será utilizado o Sistema Internacional de Unidades (Sistema SI), com
as seguintes unidades:

Principais unidades básicas:

Comprimento em m (metro),
Massa em kg (quilograma),
Tempo em s (segundo).

Unidades derivadas coerentes:

Força: 1 kg m/s2 = 1 N (Newton),


Trabalho: 1 N m = 1 J (Joule),
Potência: 1 N m/s = 1 J/s = 1 W (Watt),
Pressão: 1 N/m2 = 1 Pa (Pascal),
Densidade: 1 kg/m3
Volume específico: 1 m 3 /kg
Capacidade de trabalho específica de um fluido ou de um gás relacionada à unidade de
massa: 1 N m/kg = 1 J/kg = 1 m2 /s 2 ,
Vazão: 1 m 3 /s.

Aconselha-se ao principiante trabalhar sempre com estas unidades básicas e com


as unidades derivadas através da utilização do fator 1, chamadas unidades coerentes.
Caso sejam dadas unidades não coerentes, aconselha-se convertê-las, antes do início dos
cálculos, às unidades coerentes do Sistema Internacional de Unidades.
Esta conversão é muito fácil no caso das unidades não coerentes resultantes de
fatores de 10 tais como

1 mm = IO'3 m, 1 MW = 10* W,
1 kW= 103 W, ' 1 bar = 105 N/m3.

Nestes casos valem em geral os prefixos:

T (Terá) 1012 vezes m (mili) 10'3 vezes


G (Giga) 10* vezes M (micro) 10"* vezes
M (Mega) 10* vezes n (nano) 10~f vezes
k(kilo) 103 vezes p (pico) 10"12 vezes

A política e o sistema nacional de metrologia vigentes no Brasil são definidos no


Decreto-lei n? 240, de 28-2-1967, publicado no Diário Oficial de 28-2-1967; em
seu Regulamento, constante do Decreto n? 62.292, de 22-2-1968, publicado no
Diário Oficial de 29-2-1968 e no Decreto N? 63.233, de 12-9-1968, publicado
no Diário Oficial de 16-10-1968, que aprova o Quadro Geral das Unidades de Medida.
Unidades não coerentes, formadas com outros fatores de escala, são, por exemplo:

Hora: 1 h = 3600 s
Cavalo-vapor: 1 CV = 735,5 W
Quilocaloria: 1 kcal = 4186,8 J =4190 J
Quilograma-força: 1 kgf = 9,80665 N s 9,81 N
Atmosfera: 1 atm = 1 kgf/cm2 = 98066,5 N/m2
No caso de máquinas de fluxo que se encontrem fixas na superfície da terra (por
exemplo, turbinas hidráulicas), pressões são também medidas em metros de coluna
fluida (por exemplo, coluna d'água). Toma-se usualmente neste caso, ao invés da acele-
ração da gravidade no local de instalação da máquina, a aceleração normal da gravidade
g = 9,80665 m/s2 s 9,81 m/s2. Assim fazendo, ficam por exemplo:

10 m C. A. = 1 atm = 0,980665 bar ou


1 bar = 10,197 m C.A. st 10,2 m C.A.

São usados os seguintes símbolos:

u velocidade tangencial, ou seja, a velocidade com que se move um ponto do


rotor,
c velocidade absoluta da partícula fluida observada, ou seja, velocidade relativa
ao ambiente em repouso,
w sua velocidade relativa (que no caso de infinitas pás extremamente próximas
umas das outras, está na direção das pás),
a ângulo entre u Q c,
0 ângulo entre w e a direção negativa de u,
D = 2r diâmetro do rotor
b largura do canal no corte longitudinal (largura da pá, ver nota 1 ao pé da
pág. 234),
dn diâmetro do cubo do rotor.

São usados os seguintes índices:

0 uma posição no fluxo não perturbado na circunferência do suporte das pás do


lado da sucção, portanto fora do canal das pás do rotor,
1 uma posição no fluxo congruente para as pás na circunferência do suporte das
pás do lado de sucção, entretanto dentro do canal das pás do rotor,
2 uma posição no fluxo congruente para as pás na circunferência do rotor no
r lado da pressão, entretanto ainda dentro do canal das pás do rotor,
3 uma posição no fluxo não perturbado no lado da pressão na circunferência
do rotor, portanto fora do canal das pás do rotor,
4 uma posição na aresta de uma aleta em frente da circunferência do lado da
pressão do suporte das pás do rotor,
5 uma posição na aresta de uma aleta do lado de maior pressão,
5 uma posição na extremidade de sucção da máquina toda (tomada de sucção),
D uma posição na extremidade de pressão da máquina toda (tomada de pressão)
onde normalmente se encontra a válvula principal,
u grandeza relativa ao rotor ou à direção tangencial,
m um componente no plano meridional (longitudinal) ou uma grandeza ao tra-
balho mecânico,
x um estado de entrada não livre de choque,
/ uma grandeza relativa ao trabalho interno ou ao raio interno.

Lista dos trabalhos relacionados à unidade da massa fluida,


por exemplo, em N m/kg = J/kg = mi1 /s1

Y trabalho específico interno (ver pág. 7),


Vpá trabalho específico nas pás (disponível) (ver pág. 19),
^pá°° trabalho específico nas pás para número infinito de pás infinitamente finas
(ver pág. 35), (trabalho teórico)
Ysp trabalho específico da pressão no labirinto (ver pág. 38),
AY trabalho específico por estágio (ver págs. 136 e 399),
Yp trabalho específico que deve ser entregue a uma máquina funcionando sem
perdas para se obter uma elevação determinada de pressão (ou, correspon-
dentemente, que estará disponível devido a uma queda de pressão deter-
minada) (ver pág. 3),
Ygd o mesmo que V • entretanto ocorrendo na máquina uma mudança de estado
adiabática-isentrópica (ver págs. 10/11),
Z perdas,
E capacidade de trabalho específica do fluido (constante de Bernoulli),
AK energia de segurança à cavitação (ver pág. 78),

Outros símbolos também usados são:

c — X/2V7 velocidade resultante quando se converte Y em energia de velocidade,


A superfície,
V vazão volumétrica, por exemplo em m3 /s,
m vazão de massa, por exemplo em kg/s,
/? constante dos gases,
P potência no eixo da máquina (potência no acoplamento),
Pf potência devido ao atrito de labirinto nas paredes externas do rotor,
M conjugado,
F força,
T temperatura absoluta em graus Kelvin, °K,
p pressão fluida ou coeficiente de potência mínima (ver pág. 36),
S- coeficiente característico de sucção (ver seções 3.2 e 3.3), ou coeficiente
característico de som (ver seção 3.4),
fíe número de Reynolds,
Ma número de Mach,
a velocidade do som,
b largura da pá (ver págs. 235, 236),
e diferença de altura,
g aceleração da gravidade local,
k coeficiente de estrangulamento transversal (ver Eq. (3.10)),
p = Mv massa específica do fluido de trabalho, ou raio de curvatura,
z número de pás, do rotor,
zi número de aletas,
Cp calor específico à pressão constante,
cv calor específico a volume constante,
x = Cp/cv expoente de uma adiabática-isentrópica,
h entalpia (conteúdo de calor), por exemplo em kj/kg, ou altura local,
n rotação por unidade de tempo, por exemplo, em r. p. s.,
w = 2nn velocidade angular,
nq rotação específica, velocidade específica (coeficiente característico de forma
do rotor, ver pág. 63),
f = itD/z distribuição das pás no círculo paralelo ou temperatura em graus cen-
tígrados °C,
s espessura das pás, ou entropia, ou largura do labirinto,
a — s/sen 0 espessura, medida no círculo paralelo, ou tensão no material de
trabalho (ver pág. 111) ou coeficiente de cavitação (ver pág. 81) ou coefi-
ciente de rapidez (ver pág. 66),
\|/ coeficiente de potência mínima (ver pág. 37),
\jj = 2Wí/2 coeficiente de pressão (ver págs. 43, 215),
yv coeficiente de velocidade (ver págs. 15,169),
(p coeficiente de vazão (ver págs. 214 e 304), ou coeficiente de choque (ver
pág. 215),
v viscosidade cinemática, por exemplo em m2/s ou coeficiente de potência
(ver pág. 215),
r? rendimento ou coordenada (cap. 12),
e = c0/\/2Y coeficiente de entrada de rotores (ver pág. 121) ou comportamento
estacionário de asas de sustentação (ver pág. 322) ou grau de admissão
(ver pág. 49),

r = Ysp/Y grau de rea^°'


£ coordenada (cap. 12), ou coeficiente [ver Eq. (11,8)],
ôr coeficiente de vórtice relativo (ver Eq. (3.15) J,
fa coeficiente de sustentação em asas de sustentação,
Çw coeficiente de arrasto em asas de sustentação,
0 ângulo de desvio /32 — ^í ou 03 — 00 em pás axiais,
T circulação.
SUMÁRIO

1. Introdução Geral, 1

1.1 Considerações preliminares sobre máquinas de fluxo, 11


1.2 Movimento absoluto e relativo, 6
1.3 O trabalho específico interno Y, 7
1.4 Perdas e rendimento em máquinas de fluxo, 12
1.41 Os vários tipos de perdas, 12
1.42 Os diferentes rendimentos, 14
1.43 Formas especiais do rendimento para fluido gasoso, 16

2. O Mecanismo do Fluxo no Rotor, 19

2.1 O momento das forcas nas pás e o trabalho nas pás relacionado à mas-
saYp.,19
2.2 Formas mais usadas da equação fundamental, 24
2.3 A influência do número finito de pás, 24
2.31 Caso sem atrito, explicado no exemplo da grade de pás reta, 25
2.32 Influência da viscosidade, 26
2.33 A grade de pás radial girante, 30

a) Desprezando-se o atrito, 30
b) Considerando o atrito, 31

2.4 Processos de cálculo para levar em consideração o número finito de


pás, 33
2.41 Aresta de pressão, 34
2.42 Aresta de sucção, 35
2.43 Trabalho nas pás, 35
2.44 O método de Pfleiderer para o cálculo da redução de potência em
bombas, 36
2.5 Efeitos de i só pressão, e de sobrepressão, grau de reação r e coeficien-
te de pressão i//, 38
2.51 A pressão no labirinto p^ — p£, 38
2.52 Cálculo do trabalho específico no labirinto Ysp, 38
2.53 Efeitos da isopressão e da sobrepressao, 40
2.54 Graudereacão r, 42
2.55 Coeficiente de pressão i//, 43

a) Ca'leu Io do coeficiente de pressão \l> para a0 = 90°, 43


b) Particularidades do coeficiente de pressão i// em turbinas e em
bombas, 45
c) O coeficiente de pressão i// para turbinas-bombas, 47
d) O coeficiente de pressão i// para máquinas de vários estágios, 47
e) Determinação do coeficiente de pressão ótimo para turbinas com
admissão parcial, 49
f) O coeficiente de trabalho das pás i//pá, 50

2.6 Explicação elementar da acão das forças entre o fluxo e as pás, 51


2.7 Escolha do ângulo das pás j32, áreas de utilização das várias formas de
pás, 52
2.71 TurbinaSi hidráulicas, 55
2.72 Turbinas a vapor, 55
2.73 Bombas, 56
2.74 Resumo, 56
2.8 Comportamento do fluxo na entrada e formação da aresta de entrada
de grades de pás, 57
2.81 Choques de retardamento e de aceleração, 58
2.82 Perfis das pás, 61
2.83 Entrada de fluxo instável ou irregular na grade de pás, 62
2.9 As várias formas de rotor, 64
2.91 A rotação específica ou coeficiente de forma do rotor, 64
2.92 O rotor axial, 69
2.93 A rotação específica no caso de máquinas de vários estágios, 71
2.94 Rapidez e rendimento, 71

3. Os Perigos da Cavitação e do Funcionamento Ultra-sônico, 75

3.1 Cavitação, 75
3.2 A altura de sucção das bombas hidráulicas, 77
3.3 A altura de sucção das turbinas hidráulicas, 85
3.4 O limite ultra-sônico dos compressores, 91
3.41 Compressibilidade na entrada do rotor e o coeficiente de som, 94
3.42 Entrada do rotor com vorticidade, 96
3.43 Relação entre o coeficiente de som Sq e o número de Mach woa/a, 99
3.44 Observações complementares, 99
3.45 Comparação dos coeficientes, 100
3.5 A realização do ângulo de fluxo |3oa; o coeficiente de entrada e; o coe-
ficiente de saída e2 ,101

4. O Projeto do Rotor, 106

4.1 Resistência e escolha da forma do eixo e do rotor, 106


4.11 Eixo, 106
4.12 Rotor, 108
4.13 Regras para a conversão de solicitações devidas a forças centrífugas no
caso de semelhança geométrica, 111
4.2 O procedimento geral do cálculo das pás, apresentado no caso de
rotores lentos, 111
4.21 A extremidade da pá na aresta de sucção, 112
4.22 A extremidade da pá na aresta de pressão, 114
4.3 Projeto de pás simplesmente curvadas, 116
4.31 Pás circulares, 116
4.32 Pás calculadas ponto a ponto, 121
4.33 Rugosidade da superfície, 123
4.4 Pás radiais duplamente curvadas, rotores de média velocidade, 124
4.41 Transferência das secões das pás a superfícies cónicas, 126
4.42 Cálculo ponto a ponto das linhas de corrente, 128
4.43 Tangentes, 130
4.44 Corte axial e corte de carpinteiro, 131
4.5 Rotores de alta velocidade, caracterizados pela colocação inclinada das
arestas de pressão das pás no corte longitudinal, 132

5. Exemplos de Execução de Rotores, 136

5.1 Bomba centrífuga com pás radiais simplesmente curvadas, 136


5.11 Aresta de sucção, 137
5.12 Aresta de pressão, 138
5.13 Observações complementares, 140

5.2 Compressor radial de um estágio, 141


5.21 Cálculo desprezando a compressibilidade no rotor, 142
5.22 Preparação construtiva, 144
5.23 Consideração da compressibilidade, 145
5.24 Evolução do estado do fluido, 147

5.3 Bomba centrífuga de alta velocidade, 149

5.4 Turbina Francis, 152


5.41 Observações preliminares, 152
5.42 Exemplo de cálculo, 155

a) Escolha da rotação, 155


b) Esboço do rotor, 156
c) Cálculo do'angu Io das pás, 158
d) Sobreângulo para turbinas de alta velocidade, 160
e) Posição das arestas, 162
f) Diâmetro interno de saída, 162

5.5 Rotor Pelton, 162


5.51 Observações preliminares, 162
5.52 Procedimento de cálculo, 168
5.53 Dependência entre a rotação específica e relação do jato da/D, 171

5.6 Turbina a vapor de um estágio, 172


5.61 Observações preliminares, 172
5.62 Exemplo de cálculo, 172
5.63 Observações complementares, 177

5.7 Turbina a gás de um estágio, 178


6. Características de Máquinas de um Estágio, Desprezando-se a
Compressibilidade, 180

6.1 Regras gerais, 180


6.2 Características das bombas rotativas, 182
6.21 Considerando-se número infinito de pás, 182
6.22 Número finito de pás, 183
6.23 Determinação preliminar da característica do rotor, 185
6.24 A superfície característica, 186
6.25 Influência de alterações construtivas na forma da característica do
rotor, 189
6.26 As linhas da potência no eixo, 190
6.27 A determinação do ponto de trabalho, 191
6.28 O "bombeamento" e o limite de bombeamento, 193
6.29 O deslocamento girante e o limite de descolamento, 195
6.3 Características das turbinas, 196
6.31 Mudança de rotação com aletas fixas, 197
6.32 Alteração da posição das aletas, 199
6.33 Determinação da posição das aletas para o fluxo respectivo, 199
6.4 Particularidades dos rotores rápidos, 201
6.41 Bombas rotativas, 201

a) Generalidades, 201
b) Posição das zonas de descolamento, 205
c) O significado prático do espaço morto B, 206

6.42 Turbinas Francis, 208


6.43 Regulação das turbinas Kaplan (ajuste simultâneo das aletas e das
pás), 209
6.5 Leis de semelhança para máquinas de fluxo, 213
6.51 Transposição admitindo-se o rendimento e a massa específica constan-
tes, 213
6.52 Transposição com variação da massa específica, 219
6.53 Transposição dos rendimentos, 220
6.54 Transposição da resistência (ver também a Seç. 4.13), 224
6.55 Formação de séries de tipos, 224

7. Perda no Labirinto, Perda de Atrito no Rotor e Empuxo Axial, 226

7.1 A perda no labirinto, 226


7.11 Cálculo do fluxo no labirinto no caso de rotores com coroa exter-
na, 226
7.12 A influência secundária do fluxo no labirinto em rotores com coroa
externa, 231
7.13 Rotores sem coroa externa, 234
7.14 Determinação simplificada da perda no labirinto em rotores axiais, 236

7.2 O impulso axial e sua compensação, 238


7.21 Cálculo do empuxo axial de um rotor radial lento, 238
7.22 A compensação do empuxo axial, 241
7.3 A perda por atrito nc rotor, 248
7.31 Perda por atrito no rotor quando não há fluxo no recinto interno, 248
7.32 Perda por atrito no rotor quando há fluxo no recinto interno, 251
7.33 Perdas por atrito no rotor e por ventilação em rotores axiais, 251

8. O Sistema Diretor, 253

8.1 A roda diretora com aletas, 253


8.11 Particularidades no caso de bombas, 255
8.2 O espaço diretor sem aletas (anel diretor liso), 260
8.3 A caixa espiral, 264
8.31 Caixa espiral com seção qualquer, 264
8.32 Caixa espiral com seção circular, 267
8.33 Observações complementares, 269
8.4 O sistema diretor na boca de sucção do rotor, 270

9. Particularidades das Máquinas de Fluxo Axiais, 274

9.1 Pontos de vista básicos, 274


9.11 O fluxo secundário no rotor axial, 274
9.12 Formas das pás e grau de reação, 275
9.13 As condições de equilíbrio do fluxo em máquinas axiais, 278
9.2 As diferentes possibilidades de curvatura das pás em máquinas
axiais, 280
9.21 Generalidades, 281
9.22 Vórtice constante (isto é, fluxo sem rotação) no labirinto do lado da
pressão entre o rotor e o sistema diretor, 281
9.23 Pás recurvadas, mas aletas cilíndricas (não recurvadas) em turbinas a
vapor, 283
9.24 Construção das pás tipo corpo sólido, 285
9.25 Reação constante r ( r ) , especialmente r (r) = 0,5, 286

a) Caso da bomba, 286


b) Caso da turbina, 295

9.26 Outras possibilidades de curvaturas das pás, 303


9.3 Dados para a construção das pás axiais, 303
9.31 Coeficiente de pressão e coeficiente de vazão, 303
9.32 Perfis das pás, 305
9.33 O comportamento dos rotores axiais com carga parcial, 309
9.34 Forcas nas pás, empuxo axial e vibrações nas pás, 310
9.35 A escolha dos perfis das pás, 312
9.4 Rodas axiais com pás colocadas muito perto, 313
9.41 O sobreângulo em turbinas, 314
9.42 O sobreângulo nas pás axiais de bombas, 316
9.43 Observações complementares, 318
9.5 Rotores axiais com pás muito separadas, 319
9.51 A asa de sustentação isolada no espaço infinito, 320
9.52 Alterações no comportamento do fluxo em asas de sustentação ao se
passar para grades de pás, 327
9.53 Utilização dos cálculos de asas de sustentação em rotores axiais, 328
9.54 Cavitaçao e ultra-só m, 331
9.55 Consideração da compressibilidade no caso de alimentação a gás, 333
9.56 Cálculo de rendimento, 333
9.6 O sistema diretor das máquinas axiais, 335
9.61 Cálculo das aletas de bombas, 336
9.62 Distância entre o rotor e o sistema diretor, 337
9.63 A zona morta do cubo, 338

a) Fluxo sem atrito e incompressível com vórtice e pressão total pges


constantes e, com isto, também energia específica p constan-
te, 338
b) Pesquisas experimentais e influência da compressibilidade, 342

9.7 Exemplos de cálculo de máquinas axiais, 343


9.71 Cálculo de uma turbina Kaplan, 343

a) Escolha da rotação,343
b) Medidas principais do rotor, 343
c) Cálculo das pás, 344
d) Posição do eixo das pás, 346
e) Observações complementares, 348

9.72 Roteiro de cálculo de uma bomba hélice ou de um ventilador


axial, 348

a) Rotor, 350
b) Sistema diretor, 350
c) Caso do uso de um sistema diretor na entrada, 350
d) Observações adicionais, 351

9.73 Cálculo de uma bomba axial de rotação específica moderada ou do


primeiro estágio de um compressor axial de vários estágios, 351

a) Alimentação a ar, 351


b) Alimentação à água, 352

9.74 Cálculo de um estágio intermediário axial de uma turbina a vapor ou a


gás, 353

a) Sistema diretor, 355


b) Rotor, 355
c) O trabalho específico do estágio, 356
d) Evolução do estado do vapor ou gás, 357
e) 50%dereacão,357
f) Escolha dos ângulos, 358
g) Dados construtivos, 358
h) lsópressão com pequeno efeito de sobrepressão, 360
i) As perdas adicionais nas pás das turbinas a vapor, 361
10. As Máquinas de Fluxo de Vários Estágios, 364

10.1 Indicações gerais sobre o uso de vários estágios, 364


10.2 A máquina de vários estágios, exemplificada no caso da turbina a
vapor, 365
10.21 Os dois tipos de contrucao de vários estágios, 366

a) Utilização por estágios da queda de pressão (estágios de pres-


são), 366
b) Utilização por estágios da velocidade (estágios de velocidade), 366
c) Comparação dos dois tipos, 367

10.22 Tipos de execução de estágios de pressão, 367

a) Estágios de discos, 367


b) Estágios de tambores, 370
c) Indicações de uso geral, 372

10.23 Tipos de execução e propriedades dos estágios de velocidade, 373

a) Um sistema de pás comum para todos os estágios, 373


b) Tantos sistemas de pás quantos forem os estágios (turbinas
Curtis), 373
c) Cálculo de uma turbina a vapor com estágios de velocidade, 374
d) Escolha do número de estágios e rendimento atingível com turbinas
Curtis, 377
e) Estágios de velocidade com pequeno efeito de só brepressão e seu
cálculo, 381
f) Resumo do processo de cálculo de uma turbina Curtis, 382

10.24 Efeito do aquecimento por atrito em estágios de pressão, 384

a) Meio de trabalho tipo gás ou vapor, 384


b) Comparação dos rendimentos de portadores de energia gasosos e
dos condensáveis, 386

1O.25 Turbinas de várias carcaças, rotação e limite de potência, 387

a) Generalidades sobre a utilização de várias carcaças, 387


b) Relação entre rotação, limite de potência e parte de baixa pressão
de vários fluxos, 388
c) Relação entre o limite de potência e a alteração de volume do
vapor, 394

10.26 Escolha do grau de reação, 394

a) Indicações gerais, 394


b) Determinação do grau de reação mínimo permissiva/para turbinas
a vapor de estágios de discos, 395

10.27 Procedimento de cálculo de uma turbina a vapor de vários estágios, 397

a) Generalidades, 397
b) Último estágio, 397
c) Estágio de regulação e segundo estágio, 399
d) Os estágios intermediários, 400

10.28 Turbinas a vapor de alta pressão e alta temperatura, 403

a) Materiais, 403
b) Elasticidade térmica, 403
c) Carcaça ovalada, 404
d) Carcaça dupla, 404
e) Vedação do eixo, 406
f) Umidade do vapor, 406

10.29 Turbinas a vapor com admissão radial, 406

a) Turbina radial simples, 407


b) Turbina radial de giro inverso de Ljungstrom, 408

10.3 Particularidades dos compressores de vários estágios, 409


10.31 Particularidades construtivas dos compressores de vários estágios ra-
diais e axiais, 410
10.32 Processo de cálculo, 412

a) Trabalhos iguais nos estágios, 413


b) trabalhos diferentes nos estágios, 415

11. Características das Máquinas de um Estágio e de Vários Estágios


Levando-se em Consideração à Compressibilidade, 419

11.1 Compressores trabalhando fora do ponto de cálculo, 419


11.11 Determinação da característica do rotor de um compressor de vários
estágios, 419
11.12 A relação entre a característica do rotor e a rotação do compressor, 420
11.13 A influência da construção em vários estágios no limite de desloca-
mento e no início da expansão, 420
11.14 A relação entre a característica do rotor e a temperatura inicial e a
relação entre a característica do rotor e o tipo de gás, 422
11.2 Turbinas a vapor e a gás trabalhando fora do ponto de cálculo, 425
11.21 Representação de resultados de pesquisas por meio de valores unitá-
rios, 425
11.22 Cone do fluxo de vapor segundo Stodola [11,1], 426
11.23 O comportamento de turbinas a vapor sob carga parcial, 428
11.24 Fluxo volumétrico e velocidade do fluxo em um estágio genérico de
uma turbina a vapor de condensação, 430
12. Métodos Matemáticos da Mecânica dos Fluidos para o Cálculo de
Máquinas de Fluxo, 433

12.1 Fluxo bidimensional através de grades de pás retas, 433


12.11 Transformação conforme, 434
12.12 Métodos das singularidades, 437
12.2 Cálculo de máquinas radiais, 437

13. Condições Especiais em Tipos Particulares de Máquinas de Fluxo, 439

13.1 A refrigeração intermediária em compressores, 439


13.2 Particularidades das turbinas a vapor e a gás, 442
13.3 Tipos de regulação, 444

Referências Bibliográficas, 445


índice Remissivo, 452
Introdução Geral

1.1 Considerações preliminares sobre máquinas de fluxo


Uma máquina de fluxo tem a finalidade de, como máquina motriz,
transformar um tipo de energia que a natureza nos oferece em tra-
balho mecânico, ou, como máquina operadora, fornecer energia a um
fluido1 para, por exemplo, transportá-lo de um local de baixa pressão
para outro de alta pressão. Quando uma máquina de fluxo trabalha
como motriz, é chamada de turbina e, quando trabalha como opera-
dora, de bomba.
As fontes de energia oferecidas pela natureza são de tipos muito
variados e por isso existem vários tipos de turbinas. A energia hidráu-
lica, ou seja a energia potencial da água, é transformada em trabalho
mecânico pelas turbinas hidráulicas. A energia cinética do vento pode
ser transformada em trabalho mecânico por turbinas de vento, também
chamadas rodas de vento. A energia térmica, ou seja a energia dos
combustíveis e a energia nuclear, pode ser utilizada através de má-
quinas de fluxo quentes, às quais pertencem as turbinas a vapor e as
turbinas a gás.
No caso das bombas o fluido a transportar pode estar no estado
líquido ou gasoso. As bombas para líquidos são usualmente chamadas
de bombas rotativas, enquanto que as para gases são chamadas de
compressores rotativos ou de turbocompressores.
Quando se compara as áreas de aplicação das máquinas de fluxo
com as das máquinas de êmbolo, observa-se uma grande superposição.
Assim, para a compressão de. gases são usados compressores de êm-
bolo e turbocompressores; para a elevação de água servem as bombas
de êmbolo e as bombas rotativas; a turbina a gás faz concorrência
com o motor de combustão interna; o vapor produzido em uma cal-
deira pode ser usado para fornecer trabalho mecânico tanto através
de uma turbina a vapor quanto através de uma máquina a vapor de
êmbolo.
A situação desta concorrência de ambos os tipos de máquinas é
bastante clara. Para grandes vazões volumétricas as vantagens das
máquinas de fluxo são decisivas, enquanto que para pequenas vazões

1 Como fluido entende-se um gás, um vapor, ou um líquido ao qual se pode aplicar


as leis da mecânica dos fluidos.
INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

normalmente as máquinas de êmbolo são preferidas. Ainda mais, o


campo de aplicação das máquinas de fluxo é limitado inferiormente,
em potência, pelo das máquinas de êmbolo. Não existe, entretanto,
nenhuma limitação superior para o campo de aplicação das máquinas
de fluxo, do ponto de vista de sua construção. Quanto maior a vazão
volumétrica desejada, ou seja quanto maior a potência da máquina,
melhor será seu rendimento e, em geral, menores serão também seus
custos de construção por unidade de potência. Na prática, o campo
de aplicação das máquinas de fluxo só é limitado pelos desejos dos
usuários.
Fica, portanto, reservado às máquinas de fluxo a conversão de
grandes potências, campo onde o peso da máquina e o espaço neces-
sário para sua instalação são muito menores para estas do que para
as máquinas de êmbolo. Como a técnica sempre se desenvolve no
sentido da construção de unidades cada vez maiores, a importância
das máquinas de fluxo está sempre em ascensão.
A principal característica de uma máquina de fluxo é o rotor
girante com uma coroa de pás que são permanentemente percorridas
por um fluido, que é o portador de energia. A pressão resultante do
fluxo nas pás exerce um trabalho, que depende principalmente do
efeito inercial da massa fluida devido ao seu desvio pelas pás e tem,
portanto, a mesma origem que a sustentação em uma asa de avião.
Um exemplo que todos conhecem são as rodas de vento (ou moi-
nhos de vento). O vento, ou seja, o fluxo de ar, é desviado pelas pás
Anel diretor (fixo) e exerce, portanto, uma força que põe a roda em movimento. O
Labirinto i exemplo contrário, também conhecido de todos, é representado pela
hélice de um avião ou de um navio, que é movida mecanicamente,
Rotor
e na qual a pressão das pás sobre o fluido resultante fornece a força
necessária para o movimento de avião ou navio.
No caso destas rodas de pás que se movem no espaço livre, o
Fig. 1.1. Esquema das pás e fluxo tem um movimento circular que, de acordo com a lei da impul-
aletas de uma máquina de fluxo: são, tem o valor contrário ao do conjugado transmitido. Este movi-
em cima: corte longitudinal: em- mento circular do fluido não é desejado, pois representa energia per-
baixo: desenvolvimento do corte dida. Neste livro, entretanto, serão tratadas apenas aquelas máquinas
cilíndrico segundo m - x.
Setas cheias, turbina; setas trace- de fluxo nas quais o rotor com as pás fica fechado dentro de uma
jadas, bomba, a rotor; b anel caixa e o fluxo é conduzido à entrada e da saida do rotor através de
diretor tubulações ou canais. Com isto, o movimento circular do fluxo de
saída pode ser limitado por uma grade fixa de aletas, o anel diretor,
que é colocado normalmente do lado da pressão no rotor e que
confere ao fluido uma rotação de sentido contrário, absorvendo em
grande parte o conjugado transmitido pelo rotor.
Na turbina o rotor recebe energia do fluxo tal como na roda de
vento. O fenómeno diferencia-se essencialmente só no fato de que a
citada grade de aletas b guia o fluxo para o rotor a (Fig. 1.1). No
caso das turbinas hidráulicas o portador de energia é a água dispo-
nível em um ponto mais alto relativamente ao da máquina. A energia
oferecida é, portanto, energia potencial. No caso cia turbina a vapor
aparece no lugar da água o vapor d^água normalmente superaquecido
e com alta pressão, e no caso da turbina a gás o gás a temperatura e
pressão elevadas (de maneira que um fluxo de vapor ou de gás age
sobre as pás). Em todas as turbinas utiliza-se uma queda de pressão.
A roda d'água (Fig. 1.2) não é uma máquina de fluxo, pois nela
não ocorre um fluxo contínuo nas pás, mas um enchimento e esva-
Fig. 1.2. Funcionamento da ziamento das conchas de pás, que, assim, somente precisam ser abertas
roda d"água de um lado. A água entra e sai pela mesma aresta da pá. A força que
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 3

age nas pás não é neste caso a da massa do fluxo desviado pelas pás.
mas essencialmente o efeito do peso da água. A aceleração da gravi-
dade local tem, portanto, uma influência direta na força nas pás de
uma roda d'água.
Ao contrário, nas máquinas de fluxo as forças nas pás, como já
foi dito, se devem à ação inercial da massa do fluido, que é totalmente
independente da aceleração da gravidade local. A força da gravidade
somente pode agir de modo indireto nas pás; por exemplo, no caso
das turbinas hidráulicas, o trabalho interno específico y, que será
tratado na Seç. 1.3, é dado pelo produto da aceleração da gravidade
local pela altura de queda [ver a Eq. (1.1)].
As bombas rotativas têm frequentemente a finalidade de trans-
portar um fluido de um local de baixa pressão para outro de alta
pressão, transformando energia em sentido inverso ao das turbinas.
A força exercida pelas pás a (Fig. 1.1) no fluxo transmite trabalho ao
fluido de maneira semelhante às hélices citadas atrás. Através desta
ação, aumentam a pressão e a velocidade do fluido. Visando a utilizar
o aumento de velocidade para também aumentar a pressão, conduz-se o
fluido na saída das pás para canais b que se alargam e desaceleram
o fluido. Assim, também neste caso existem os canais diretores como
no caso das turbinas, colocados no mesmo lugar e com o mesmo
aspecto. Sua ação, entretanto, é contrária à do caso das turbinas, pois
eles são percorridos em sentido contrário pelo fluido (ver a Fig. 1.1).
Para uma melhor visualização as Figs. 1.4 e 1.5 mostram foto-
grafias e as Figs. 1.1, 1.3, 1.5a e 1.5 b mostram desenhos de máquinas
de fluxo. As Figs. 1.1, 1.3 e 1.4 podem ser turbinas hidráulicas ou,
girando em sentido contrário, bombas; e na Fig. 1.5 é uma turbina
a vapor.
Como será visto mais tarde, as diferentes formas das pás se devem
às diferentes finalidades das máquinas. Fig. 1.3. Turbina radial com um rotor semelhante
à Fig. 1.4: em cima: corte longitudinal: embaixo:
É importante observar a forma especial de representação das pás corte segundo /;/ .v, u rotor; b anel diretor;
no corte segundo o eixo de rotação (corte longitudinal) que é dado c tubo de sucção; il mecanismo para ajuste da
nas Figs. 1.1, 1.3 e 1.5a. A projeção de um ponto de uma pá neste posição das aletas: e pino do mecanismo das aletas
plano de corte não é feita ortogonalmente como é usual em desenho
de máquinas, mas circularmente, ou seja, os pontos são rebatidos em
torno do eixo de rotação em um plano paralelo ao plano do corte,
de maneira que somente são mostradas as arestas das pás. Isto sim-
plifica a representação, pois as pás se situam nas cavidades de rotação
das máquinas.
Quando a projeção circular m — x das linhas de corrente no corte
longitudinal, chamadas linhas de fluxo, transcorre essencialmente em
direção radial, diz-se que a máquina tem admissão radial ou rotor
radial. Vê-se na Fig. 1.3 que, neste caso, também as aletas são radiais.
A Fig. 1.3 mostra que, neste caso, as aletas b podem ser giradas pelo
sistema de alavancas d em torno do pino e.
Quando estas linhas de fluxo m — x se situam axialmente no
corte longitudinal, diz-se que a máquina tem admissão axial e rotor
axial (ver Figs. 1.1 e 1.5a). Existem ainda formas intermediárias de
máquinas, nas quais as linhas de fluxo começam radialmente na aresta
de pressão das pás mas, em seguida, mudam para uma direção axial,
sendo as pás, portanto, duplamente curvadas (rotor Francis na Fig. 1.6).
As grades de aletas mostradas nas Figs. 1.1, 1.3 e 1.5 b resultam
de cortes dos anéis diretores pela superfície de rotação (superfície do Fig. 1.4. Partes de uma turbina hidráulica
fluxo) gerada pela linha de corrente m — x. Esta superfície do fluxo semelhante à representada na Fig. 1.3.
é, no caso do rotor radial da Fig. 1.3, aproximadamente um plano a roíor; b anel direíor; c tubo de sucção
4 INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

perpendicular ao eixo; no caso de um rotor axial é um cilindro


circular, através de cujo desenvolvimento se obtém a grade reta de
aletas mostradas nas Figs. 1.1 (embaixo) e 1.5b.
O efeito do rotor axial pode ser apresentado imaginando-se um
movimento retilíneo da grade reta de pás desenhada na direção de
movimento da grade (parte inferior da Fig. 1.1).
Conforme já dissemos, trataremos neste livro principalmente de
turbinas e bombas, compreendendo-se sob a denominação genérica
de bomba ou bomba rotativa tanto máquinas para transporte de água
quanto de gás, ou seja, incluindo os compressores. Da mesma ma-
neira compreende-se sob a denominação genérica de turbina não
somente as turbinas hidráulicas, mas também as turbinas a vapor e
a gás. Quando um "fluido" ou um "líquido" for citado, este poderá
sempre estar em estado de gás, de vapor ou de líquido.
Tais máquinas de fluxo têm evidentemente os mesmos compo-
nentes que são:
1. o rotor, com as pás, que gira com velocidade constante;
2. o anel diretor, com as aletas, que é fixo.
Nas turbinas nem sempre todo o círculo do rotor é alimentado
por fluido, sendo às vezes parcialmente preenchido pelos canais dire-
tores, tal como, por exemplo, nas Figs. 1.5a e 1.5c. Neste caso, diz-se
que a máquina tem admissão parcial, em contraste com a admissão
total da Fig. 1.3. Nas bombas não é usual a admissão parcial.
(Na Fig. 1.5 c o anel diretor é substituído por canais diretores indi-
viduais separados.)

b CL

Figs. 1.5a e 1.5b. Turbina a vapor de um estágio com admissão parcial axial tipo De
Lavai (semelhante à da Fig. 1.5c, mas com canal diretor contínuo)
a) Corte longitudinal: b) Desenvolvimento do corte cilíndrico segundo m-x
a rotor: b anel diretor: c tubo de sucção (escape)
Fig. 1.5c. Rotor e injetores de uma turbina a vapor de um estágio com admissão parcial
axial através de canais diretores separados (Turbina Lavai)

Conforme já foi citado, nas turbinas o anel diretor transforma


energia de pressão em energia de velocidade e, nas bombas, trans-
forma energia de velocidade em energia de pressão; em ambos os
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

casos, entretanto, a transformação ocorre principalmente no compo-


nente tangencial da velocidade absoluta. Para bombas o anel diretor
desacelera o fluxo que deixa o rotor em alta velocidade. Para turbi-
nas, o anel fica especialmente na mesma posição, mas, devido ao
sentido inverso do fluxo está antes do rotor, conduzindo o fluido à
entrada do rotor com a velocidade e na direção desejadas. Bombas
e turbinas são, portanto, semelhantes do ponto de vista construtivo,
sendo somente o sentido da velocidade e, conseqiientemente, o sentido
de rotação do rotor, invertidos. Realmente, se se inverter o sentido do
fluxo em uma bomba rotativa com admissão total, ela trabalha perfei-
tamente como turbina, sendo este tipo de operação às vezes usado.
Baseamos, portanto, o tratamento conjunto de bombas e turbi- Fig. 1.6. Rotor e linha de fluxo axial na boca
nas no fato de que o fluxo de um fluido ideal, ou seja, a distribuição de sucÇão m e linha de fluxo radial na reêiao
das pressões e dos valores absolutos das velocidades, é independente de alta pressão x (rotor Francis)
do sentido de movimento do fluxo. Somente é necessário levar em
consideração o sinal da velocidade quando a viscosidade for impor-
tante, principalmente quando ocorrer acumulação da camada limite
com o aparecimento de espaços mortos. Como nosso estudo parte
sempre do caso do fluxo sem atrito, faremos a apresentação sem enfa-
tizar a direção do fluxo, ou seja sem dizer se a máquina é uma bomba
ou uma turbina. Por isso nào serão usadas as expressões aresta de
entrada e aresta de saída das pás, pois estas trocam de sentido nos
casos de bombas e de turbinas, sendo usadas ern seu lugar as expres-
sões aresta de sucção e aresta de pressão. Por aresta de pressão da pá
entendemos a aresta da pá mais próxima do rotor (ver, por exemplo,
as Figs. 1.1 e 1.3) na qual o fluxo_está carregado com a energia a
transformar, e por aresta de pressão a aresta que gira onde o fluxo
não está carregado com a energia a transformar e que termina no
chamado "tubo de sucção".
As máquinas de fluxo podem ser estudadas e calculadas de
acordo com vários métodos. O primeiro, que também é o mais
antigo, consiste em considerar uma representação na qual a máquina
teria um número infinito de pás (que teriam evidentemente de ser
também infinitamente finas) e tratar o caso real da máquina com pás
separadas por um método de aproximação. O segundo parte de uma
representação totalmente oposta, ou seja, considera uma pá única no
espaço infinito e trata o caso de pás próximas também por um pro-
cesso de aproximação. Este método baseia-se nos resultados obtidos
do estudo das asas de sustentação dos aviões. Como estas se movi-
mentam linearmente, o uso dos resultados no caso dos rotores axiais
é muito limitado, já que estes têm um desenvolvimento que resulta em
uma grande reta. Outros métodos ainda partem dos processos mate-
máticos da mecânica dos fluidos aplicados aos fenómenos de fluxo,
desprezando-se ou não o atrito no fluido.
Neste livro serão usados principalmente os dois primeiros, sendo
os métodos matemáticos da mecânica dos fluidos para o cálculo de
máquinas de fluxo tratados brevemente no Cap. 12. Conforme o
caso, partiremos da representação com infinitas pás ou da represen-
tação da pá única no espaço infinito. Esta última representação
somente conduz a resultados úteis no caso das máquinas axiais, e
por isso será tratada exclusivamente na Seç. 9.5. Não se pode,
entretanto, negar que este tipo de tratamento também influencia as
outras partes do livro. O primeiro método, que parte do "fluxo con-
gruente nas pás", tem a maior importância e forma a base para a
maior parte do livro.
6 INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

1.2 Movimento absoluto e relativo


Observemos o fluxo através de um rotor radial como o da Fig. 1.7.
Se este rotor trabalha como bomba, valem as setas representadas na
figura. O fluxo visto por um observador que se move juntamente
com o rotor é completamente diferente daquele visto por um obser-
vador parado nas vizinhanças da máquina. Chama-se velocidade
absoluta àquela que uma partícula do fluxo tem com relação ao
observador parado, e velocidade relativa àquela vista pelo observador
movendo-se com o rotor.
A posição da velocidade respectiva é representada pelos índices
descritos no Resumo da pág. XI, que foram escolhidos de maneira
que sejam independentes da direção do fluxo, já que a posição deve
permanecer a mesma para bombas e para turbinas. Assim, os índices
são ordenados de maneira crescente com a carga de energia do fluido,
que coincide com o aumento da pressão. Logo, crescem no sentido
das maiores pressões, ficando assim coerentes também nos casos limi-
Fig. 1.7. Representação das velocidades no tes (isopressão). Devido ao número finito de pás e à sua espessura
rotor radial de uma bomba também finita, é necessário ainda distinguir entre um ponto imedia-
tamente antes da aresta da pá no recinto sem pás, e um ponto
imediatamente após a aresta da pá no recinto com pás. Isto será feito
mesmo no caso em que estejamos considerando número infinito de pás.
Esta seqiienciação dos índices significa que, no caso das bombas,
os números aumentam no sentido do fluxo, ocorrendo o contrário
no caso das turbinas. Isto difere do que é usual neste último caso na
literatura. Se a notação usual de índices no caso de turbinas tivesse
de ser aqui mantida, não seria possível tratar conjuntamente ambos
os tipos de máquinas, pois os índices em todas as equações teriam
que ser diferentes nos casos de bombas e de turbinas. A notação que
adotamos, na qual a posição é caracterizada independentemente da
direção do fluxo, e a máquina tanto pode ser bomba como tur-
bina, é ainda mais defensável pelo fato de não existir anteriormente
uma notação única adotada universalmente no caso de turbinas. Ela
tem a grande vantagem de que as equações para turbinas e para bombas
são iguais quando se despreza o atrito. Ainda mais, o efeito do atrito,
quando este for importante, pode ser considerado em um e outro
caso por uma simples troca de sinal.
A utilização de dois índices diferentes para cada aresta da pá é
necessária pois ocorre uma mudança no estado do fluxo na passagem
do rotor ao espaço exterior. Um exame mais detido mostra que os
índices l e 2 se referem a medidas nas pás, enquanto que os índices O
e 3 se referem à forma do fluxo não perturbado imediatamente fora
do rotor.
A velocidade absoluta c resulta da adição vetorial de w e w, ou
seja, o módulo e a direção de w e de u definem os lados de um para-
lelogramo, cuja diagonal representa a velocidade absoluta c e cujos
lados representam a velocidade relativa w e a velocidade tangencial w,
todas elas definidas pelos seus módulos e direções. Desta maneira,
diz-se também que estas três velocidades formam os lados de um
triângulo. A Fig. 1.7 mostra os gráficos destas velocidades nas
arestas das pás.
Partiremos inicialmente da representação que considera o fluxo
tal como ocorreria se houvesse um número infinito de pás infinitamente
finas. Neste caso podemos considerar as linhas de corrente congru-
entes com as pás e o fluxo como sendo unidimensional. A trajetória
das partículas fluidas tem a forma da pá AB (Fig. 1.7). O início da
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 7

pá está, portanto, no caso de entrada "sem choque", na direção da


velocidade relativa de entrada, ou seja no caso das bombas na direção
de w15 formando o ângulo /^ com a direção tangencial; da mesma
maneira, o final da pá fica na direção de w2, formando o ângulo P2
com a direção tangencial. Os ângulos /^ e /?2 podem ser vistos nos
triângulos de velocidade A1B1C1 (Fig. 1.8) e A2B2C2 (Fig. 1.8a).
Quando, para eliminar perdas, se desejar uma entrada sem choque, a
direção da velocidade relativa deve ser igual à direção do primeiro
elemento da pá. Isto, na realidade, somente pode ocorrer exatamente
no caso de número infinito de pás e só é possível aproximadamente
para um determinado volume de fluxo, que deve ser tomado como
referência de cálculo.
As direções da velocidade relativa e da extremidade da pá coin-
cidem também na aresta de saída, pois o fluxo deixa o canal das pás
tangencialmente à sua extremidade. No caso de uma bomba, isto
termina fazendo um ângulo /?2 igual ao da velocidade de saída vv2,
com a direção tangencial.
No caso das turbinas, a entrada fica na extremidade da pá do
lado da pressão B (Fig. 1.7). Fora isto, não se altera, neste caso, mais
nada do que foi dito para bombas. Fig. 1.8. Triângulo de velocidades
na aresta de sucção da pá
A trajetória descrita por uma partícula fluida vista por um obser-
vador parado nas proximidades da máquina, ou seja, seu movimento
absoluto, AB' na Fig. 1.7, começa, para bombas, na direção da veloci-
dade absoluta cl com o ângulo a1 e termina na saída na direção da
velocidade absoluta c2 com o ângulo a 2 . Quando a partícula fluida
alcança o ponto B do rotor, ela está no ponto B' com relação ao
ambiente. Assim, o arco de círculo BB' é a trajetória que o ponto B
do rotor percorre durante o tempo t que a partícula fluida leva para Fig. 1.8a. Triângulo de velocidades na
ir de A até B, de maneira que o ângulo central (p do arco de círculo aresta de pressão da pá
BB' é igual a wí no caso de velocidade angular w constante. No caso
de uma turbina, a mesma trajetória absoluta será percorrida no sen-
tido oposto.
Todas estas observações valem independentemente da forma da
superfície de rotação, na qual as linhas de correntes transcorrem
(superfície do fluxo), ou seja independentemente de ser a admissão
radial ou axial.

1.3 O trabalho específico interno Y


A queda de energia entre a entrada e a saída de uma máquina de
fluxo tem o mesmo significado que a tensão nos terminais de uma
máquina elétrica1. Trataremos esta diferença de energia como dife-
rença da capacidade de trabalho entre as extremidades de pressão e
de sucção por unidade de massa do fluido que passa pela máquina2.
Esta diferença é chamada t rã ha l lio específico interno Y. A unidade
coerente de trabalho (ver pág. IX) é l Nm, igual a l J, e a unidade
de massa é l kg. Assim, o trabalho específico interno é medido em
Nm/kg = J/kg. Da unidade de força l N = l kg m/s2 vem

Nm _ J _ m2
kg kg ~ s2
1 Deve se observar também aqui que as leis da eletrotécnica e da hidrodinâmica
são muito semelhantes.
2 Quando não há na máquina tomadas de sucção e de pressão, a diferença é medida
entre as seções correspondentes nas suas extremidades.
8 INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

O trabalho específico interno Y mostra de quanto muda a capacidade


de trabalho de l kg de fluido ao passar pela máquina de fluxo. Em
bombas a capacidade de trabalho aumenta e em turbinas diminui.
l J/kg é uma unidade muito pequena, sendo comum medir-se o
trabalho específico interno Y na unidade não coerente l kJ/kg. De
acordo com o que foi visto na pág. IX vem

1^=1000^,
kg kg

= 4186,8 «4190 f - -

Na prática, no caso das máquinas de fluxo que se encontram


fixas na terra e que trabalham com fluidos condensáveis, ao invés de
se trabalhar com o trabalho específico interno, é comum utilizar o
conceito da altura de elevação, ou da altura de queda H (medidas,
por exemplo, em m). Neste caso, vem
Y = gH, (1.1)

onde g representa a aceleração da gravidade local (por exemplo,


0 = 9,81 m/s2). Em primeira aproximação, pode-se tomar H como a
diferença de nível da água a montante e a jusante no caso de turbinas
hidráulicas e também de instalações de bombas rotativas, despre-
zando-se ainda as perdas nas tubulações e admitindo-se velocidades
de fluxo iguais a montante e a jusante.
Em cálculos exatos, obviamente, é necessário considerar as perdas
nas tubulações até a entrada e na saída da máquina de fluxo. Estas
perdas não devem ser atribuídas à máquina (da mesma maneira que
não se incluem as perdas nas linhas de transmissão no caso das má-
quinas elétricas), pois estes condutos mudam com a instalação e
normalmente têm fabricante diferente do da máquina. Isto deve ser
observado pois as perdas em uma máquina são uma medida de seu
rendimento. O trabalho específico interno de uma turbina é igual à
soma do trabalho útil fornecido por l kg de líquido no eixo da tur-
bina com o trabalho específico correspondente às perdas na má-
quina. Para bombas, o trabalho específico interno Y é igual ao
trabalho entregue no eixo por l kg de líquido menos o trabalho espe-
cífico correspondente às perdas na máquina.
No caso de turbinas hidráulicas, e também de turbinas a vapor
de condensação, considera-se a canalização do lado de sucção (o tubo
de sucção) como pertencente à máquina (ao contrário do caso das
bombas), pois ela será usada para reduzir a velocidade de saída, e
assim assume parte da conversão de energia. No caso das bombas, o
tubo de sucção é, na maioria das vezes, cilíndrico, pois a passagem
para a velocidade de entrada pode ser feita em um trecho mais curto,
normalmente dentro da máquina.
A energia, ou seja a capacidade de trabalho específica que a
partícula líquida de uma corrente possui, pode ser dada pela cons-
tante de Bernoulli, que, no caso de fluidos incompressíveis, é dada por :

(1.2)
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

onde:
P pressão estática, por exemplo em N/m2,
Q massa específica do líquido, por exemplo em kg/m3,
c velocidade absoluta do fluxo, por exemplo em m/s,
9 aceleração da gravidade no local, por exemplo g = 9,81 m/s2,
h altitude, por exemplo em m.

Representando-se as capacidades específicas de trabalho do fluido nas


tomadas de pressão e de sucção por ED e Es, respectivamente, o tra-
balho específico interno Y será dado por

= ED- (1.3)
Fig. l .9. Esquema de uma máquina de fluxo D
tomada de pressão: 5 tomada de sucção: pD
e, com isto, no caso de fluidos incompressíveis pressão estática na tomada de pressão:
ps pressão estática na tomada de sucção;
+ gê. (1.4) CD velocidade média na tomada de pressão;
cs velocidade média na tomada de sucção
Na Eq. (1.4) todas as grandezas referentes à tomada de pressão são
denotadas pelo índice D e todas as grandezas referentes à tomada de
sucção pelo índice S. Além disto, a diferença de altura hD — hs é deno-
tada por e (ver a Fig. 1.9).
A Eq. (1.4) no caso geral (ou seja, para fluidos compressíveis ou
incompressíveis) se transforma em

Y = (1.5)

onde Yp representa o trabalho específico sem perda (por exemplo em


Nm/kg), que é necessário para transportar o fluido de um recinto
com pressão ps para outro que esteja com a pressão pD. 1
D \ 1
A Eq. (1.5) vale para todas as máquinas de fluxo. No caso de
fluidos gasosos (compressores, turbinas a gás, turbinas a vapor) a 1
grandeza g-e é quase sempre desprezível. No caso de turbinas a
vapor e, frequentemente, também no caso de turbinas a gás, também
Fig. 1.10. Representação do trabalho sem
a grandeza (c2 — c2)/2 pode ser desprezada devido a seu valor ser perdas Y no diagrama /?, v
muito pequeno e, portanto, Y = Yp.
Determinação de Yp. Para a representação do trabalho específico
sem perdas utilizamos o diagrama p, v conhecido da termodinâmica,
usando a pressão p como ordenada e o volume específico v = I/Q
como abscissa (Fig. 1.10). Se a curva AB' representa uma transfor-
mação, sem perda, da pressão pD à pressão ps, então a área AB'CD
é igual ao valor Yp.
Vale portanto:
CPD B'

-L1 v dp = área AB'CD.

A forma da curva AB' tem uma grande importância no tamanho


(1.6)

da área.
No caso de fluidos condensáveis (por exemplo, água), deve-se
considerar v = \/Q como constante. Então AB' é vertical (Fig. 1.10a)
e vem

(1.7) Fig. 1.10a. No caso de fluidos incompres-


síveis, A B è vertical
10 INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

Para gases e vapores tomaremos por base para AB' uma trans-
formação adiabática-isentrópica, e para caracterizar esta escolha Yp
será denotado Yad (Fig. l.lOb). Por uma transformação adiabática-
isentrópica entendemos um fenómeno sem perdas e isolado termi-
camente.1
Inicialmente será examinado o cálculo de um caso muito simpli-
ficado onde o fluido se comporta como um gás ideal. Tal hipótese
é válida também em muitos casos reais, quando o ponto de trabalho
do gás considerado estiver muito longe do ponto de liquefação, por
exemplo quando o ar atmosférico for ser comprimido. No caso de
vapor uma tal hipótese não pode ser aceita.
Para um gás ideal e uma transformação adiabática-isentrópica a
curva AB' é dada pela lei
A dia bati ca-isentrópica
p v* = const., (1.8)

onde * = cp/cp-cp e cv são os calores específicos, a pressão constante


c a volume constante, respectivamente. Para gases monoatômicos
pode-se quase sempre tomar x = 1,66 e para gases biatômicos (por
exemplo ar) x = 1,4. Para gases triatômicos em diante os valores
podem ser obtidos de manuais. A Eq. (1.8) dá

Fig. l.lOb. O trabalho sem perdas / const.


é representado por Y^ quando D = I
AB' é uma transformação adiabá- v p
tica isentrópica
onde o valor "const." é sempre determinado pelo estado na entrada
da máquina. No caso de bombas, o estado na entrada fica no lado
de sucção; logo, const. = psv%. Da mesma maneira, como no caso de
turbinas, o lado da entrada é o lado da pressão e então: const. =
= pDv*D. Devido a isto, o cálculo de Yad deve ser feito separadamente
para bombas e para turbinas, No caso de bombas, vem, de acordo
com a Eq. (1.6),

y — dp.
Laà ~ d-9)
\
A solução desta integral dá:

(1.10)

Com a equação geral dos gases ideais pv = RT, onde R é a constante


dos gases em Nm/kg K Q T a temperatura absoluta em graus Kelvin,
resulta

1 Na literatura os fenómenos sem perdas e com isolamento térmico são muitas


vezes denominados somente "adiabáticos". Em uma nomenclatura mais precisa (ver por
exemplo [IV, 28, vol. l, p. 14]) chama-se de adiabática uma transformação termicamente
isolada que pode ter perdas. A denominação de isentrópica significa que o fenómeno
transcorre sob entropia constante.
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 11

Vem
x cn
R = c — c. e, com isto
x - l R
Resulta então

(1.12)

No caso de turbinas estas equações ficam:

("oa)

r» íL1-(-»-)''}
V PD/ J (U2a)
Nestas equações pode-se tomar, quando o fluido de trabalho é o ar:
R = 287 J/kg K e cp = 1005 J/kg X. A mudança de temperatura em
uma transformação adiabática-isentrópica é determinada por

T
x_1 = const.
P *

No caso de uma bomba vem (Fig. l.lla)

' T> -T l ED
°~ S\Ps

p -
PS/ • (LO)

Das Eqs. (1.12) e (1.13) vem, para uma bomba

Y = c Átad = c (t'D — ts). (1-14)

Para uma turbina (Fig. 1.11 b) fica

= tD-t's = TD-T's = TD\l - (&] x l (1.13a)


L \PD/ J

Pode-se obter diagramas T, s (temperatura, entropia) para o ar e


outros gases frequentemente usados na prática (Figs. l.lla e b) e,
com seu uso, o cálculo fica bastante simplificado.
12 INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

Figs. 1.1 Ia e b. a) bomba (compressor); b) turbina. Representação da transformação


no diagrama 7, s (temperatura, entropia). A — B transformação real, A — B' transfor
mação adiabática isentrópica. Para uma explicação de Z e K ver a Seção l .43b

Por outro lado, vapores se comportam de maneira muito dife-


rente dos gases ideais e, portanto, não se pode calcular com as
Eqs. (1.8) a (1.14). O mesmo vale, naturalmente, também para gases
cujo ponto de trabalho esteja próximo do ponto de liquefação. Para
os vapores que ocorrem frequentemente na prática (por exemplo
vapor d'água) pode-se obter diagramas h, s (entalpia, entropia) que
usaremos para o estudo das transformações (Fig. 1.12). Então vem
para bombas
(1.15)

para turbinas
~ h's. (1.15a)

Nas equações anteriores t é a temperatura (em graus centígrados),


h é a entalpia (conteúdo de calor), por exemplo em J/kg ou kJ/kg.
Os índices S Q D nas grandezas sem "linha" caracterizam os estados
reais nas extremidades de sucção e de pressão, t'D e h'D, e t's e h's são
valores de t e de h nos extremos da transformação adiabática-isen-
Fig. 1.12. Representação da transformação trópica, que — como linha de entropia S constante — situa-se verti-
em uma turbina no diagrama h, s (entalpia, calmente ao eixo S (Figs. l.lla e 1.12).
entropia)

1.4 Perdas e rendimento em máquinas de fluxo


1.41 Os vários tipos de perdas
As principais perdas que ocorrem dentro das máquinas são
devidas ao atrito, às variações de seção e de velocidade, que em
geral reduzem a pressão e que são conjuntamente chamadas de
"perdas hidráulicas". São também denominadas "perdas nas pás"
devido ao fato de ocorrerem principalmente nos canais das pás e das
aletas. São denotadas Zh. As perdas nas pás Zh têm a mesma uni-
dade que o trabalho específico interno Y, por exemplo, Nm/kg. As
perdas nas pás representam uma perda de trabalho por unidade de
massa do fluido de trabalho.
No caso de bombas este trabalho de perda deve ser fornecido
pelas pás ao fluido de trabalho, adicionalmente ao trabalho especí-
fico interno Y. O trabalho específico transmitido pelas pás será
denotado Y , . Assim, vem,
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 13

no caso de bomba:
Ypá=Y+Zh.

Ao contrário, no caso de uma turbina o trabalho específico nas pás


Y á é igual ao trabalho específico interno Y oferecido à turbina menos
as perdas nas pás 7h. Assim vem
no caso de turbina:
Y — Y —^h-
*pá — I
7

Conjuntamente para bombas e turbinas, pode-se escrever

ypá = y ± zh, (1.16)


onde aqui e no que segue o sinal ^superior se refere sempre à bomba
e o inferior à turbina. '
Aíém das perdas nas pás Zh existem ainda as perdas por fuga de
fluido que não influem na pressão ou tem uma influência de menor
importância. A estas pertencem primeiramente as perdas no labirinto,
que ocorrem devido à existência de um interstício entre o rotor e a
carcaça, denominado labirinto devido à sua forma usual, que é neces-
sário por razões construtivas e através do qual uma parte do meio
de trabalho flui para o tubo de sucção, evitando o rotor. Além destas,
existe usualmente uma perda de fluido através da gaxeta. Em certos
tipos de construção existe ainda uma perda adicional no labirinto
devido à compensação do empuxo.
Deve-se, também, considerar o atrito nas paredes externas do
rotor, ou seja, a potência de atrito no rotor Pr, que pode ser medida,
por exemplo, em watt.
Além disto existe a troca de fluido entre o recinto atrás do rotor
(recinto de saída) e os canais das pás, que ocorre no caso da desace-
leração do fluxo, pois neste caso a camada limite do recinto de saída
deve fluir contra pressão crescente. Então ocorre o perigo de retorno
da camada limite ao rotor, ou seja, a necessidade dela ser novamente
acelerada. Esta perda por troca acontece, portanto, somente nas
bombas e nunca nas turbinas. Ela tem o mesmo caráter do atrito
no rotor e causa uma perda adicional de potência1 Pfl, que até hoje
não pode ser calculada corretamente e pode, dentro dos limites de
cargas normais, quase sempre ser desprezada.
As perdas tratadas até agora são, em seu conjunto, denominadas
perdas internas. Elas têm a propriedade comum de transmitir calor
ao fluido de trabalho, o que é importante principalmente no caso de
turbinas a vapor e a gás. Somadas à potência útil elas resultam na
potência interna, que deve ser entregue no eixo das bombas ou pode
ser retirada no eixo das turbinas. A potência interna é dada por

PÍ = (Qv± Qvsp) ypá ± (pr + PJ, (LI?)


onde K representa a vazão volumétrica útil e VSp a perda por fuga de
fluido (perda no labirinto), por exemplo, em m3/s. Com a massa
específica Q (por exemplo em kg/m3), vem

1 Esta troca de impulsão consome ainda uma parte da energia da corrente de fluido
que é importante, principalmente em cargas parciais e em carga normal, no caso da
utilização de aletas de saída (ver pág. 202 e 256).
14 INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

QV=m (1.17a)

que dá o fluxo de massa na máquina. Por kg do fluido a transportar


sai da potência P. um trabalho Yt, denominado trabalho específico
interno e que é dado por

I
1 m

\
l —I— T7

com

Zr = ^ e Z =í*- . (1.18a)
r m a m

Para uma máquina termicamente isolada, y. pode ser lido diretamente


dos diagramas T, s ou h, s, o que é de grande significado prático prin-
cipalmente nos casos de turbinas a gás e a vapor e de compressores.
De acordo com as Figs. l.lla e 1.12, vêm
YÍ = cp(tD - ís) - cpAí, (1.19)

Yt = hD- hs. (1.19a)

No caso de meios gasosos (compressores, turbinas a vapor e a gás),


Q e K alteram-se no interior da máquina, o que entretanto não reduz
a utilidade das equações apresentadas, pois o fluxo de massa m = gV
não se altera.
Finalmente, devem ainda ser consideradas as chamadas perdas
externas ou perdas mecânicas, que representam principalmente perdas
em superfícies deslizantes e que são causadas por atritos em mancais
e gaxetas, ou ainda por atrito com o ar nos acoplamentos. No caso
de turbinas ainda aparecem as perdas devido ao gasto de energia
pelo regulador e pelos equipamentos auxiliares acionados diretamente,
tais como bombas de óleo e outros. O calor gerado por estas perdas
claramente não é transmitido ao meio de trabalho (não se conside-
rando que uma parte do calor de atrito nos mancais e nas gaxetas
que é transmitido à carcaça, pode ser entregue ao fluido). Se a
potência de perda correspondente é Pm, então a potência total trans-
mitida pelo acoplamento (chamada potência no eixo ou no acopla-
mento) é

P = Pi±Pm = Q(V± VSp) yp, ± (Pr + Pa + PJ. (1.20)

De acordo com os vários tipos de perdas, distingue-se os seguintes


rendimentos:
1.42 Os diferentes rendimentos
Rendimento das pás (ou rendimento hidráulico), que somente
caracteriza as perdas de pressão
no caso de bombas:

no caso de turbinas:
Y\
Y,
Pa —
Y ÍL- . Z,
»/*- y - y
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 15

Para poder novamente considerar a influência do atrito em bombas


e em turbinas por uma simples mudança de sinal, usaremos a notação
comum para as duas expressões acima
±1
(1.21)

onde novamente o sinal superior se refere a bombas e o inferior a


turbinas.
O rendimento do difusor ou do injetor do rotor r\ caracteriza
as perdas que ocorrem no rotor durante a transformação da energia
de velocidade em energia de pressão (bombas), ou da energia de
pressão em energia de velocidade (turbinas). Para bombas ele é
dado por

energia de pressão ganha no rotor


DL energia cinética utilizada

e, no caso de turbinas 1

_ energia cinética gerada no rotor


DL energia de pressão utilizada

Sob certas condições (ver pág. 39) vale para bombas e turbinas [de
acordo com a Eq. (2.37)]

Nesta Y — YSp é a diferença de energia de pressão entre ambos os


lados do rotor (para o significado de YSp ver a Seção 2.52) e c3u é o
componente de velocidade convertida no rotor.
Rendimento interno, que inclui todas as perdas internas,

r • •
No caso de portadores de energia gasosos em máquinas não refri-
geradas e isoladas termicamente, de acordo com as Eqs. (1.14) a (1.15a)
e ainda com as Eqs. (1.19) e (1.19a), utilizando-se uma transformação
adiabática-isentrópica para comparação, pode-se escrever (ver Figs.
l.lla, l.llb e 1.12)

, no caso de gases
no caso de vapor
com c n = const.

h'D-hs „ * D ~ ts (1.24)
D ~ s 1 *D ~ * S

^D ^5
Dará turbinas w — " ^ (1.25)
hD - hs 1D ~ fS

1 Se (pv denotar o coeficiente de perda de velocidade (ver Seções 5.52, 5.62 e a Fig.
5.49) e se C denotar as perdas que ocorrem no rotor, então vem (por exemplo, com
9V = 0,97) TIDL = <pv = (l-Q = 0,972 = 0,94.
16 INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

As Eqs. (1.24) e (1.25) permitem determinar o rendimento interno,


sem necessidade de medidas de potência, de maneira confiável, quando
o ponto de trabalho e, portanto, a temperatura e a pressão, forem
medidos. Neste caso a perda de calor e também a transmissão de
calor à carcaça, devem ser limitadas.

Rendimento mecânico, que considera as perdas externas

fp\ ( p,
i ±

Rendimento geral ou rendimento no acoplamento

O rendimento geral rj e também o rendimento interno r\ podem


ser determinados diretamente por ensaios. O rendimento das pás rjh,
entretanto, não pode ser assim determinado, e deve ser calculado a
partir de r\u de q. pela eliminação das perdas que não são de
pressão. Introduzindo-se na primeira expressão da Eq. (1.26) os
valores de m da Eq. (1.17a) e de P da Eq. (1.20), vem, após simplifi-
cação e com Pa = O
para bombas
l + V IV
= l - (P, + PJ/P
para turbinas

<-
As Eqs. (1.27) e 1.28) permitem relacionar os valores de rj e de r\ que
são necessários no cálculo do rendimento das pás. Se ainda mais
Pm = O, pode-se usar r\ no lugar de rj e obtém-se uma relação
entre rjk e rç..
Pode-se determinar a perda no labirinto VSp de acordo com o que
será dado na Seção 7.1 e a potência de perda por atrito no rotor de
acordo com a Seção 7.3.
O coeficiente de perda mecânica PJP deve ser estimado de
acordo com valores experimentais. Ele é tanto menor quanto maior
for a potência.
As máquinas de fluxo, quando trabalham no ponto de cálculo
(ver Cap. 6), frequentemente alcançam rendimentos entre 0,80 e 0,90
e mesmo mais. Neste caso, o rendimento mecânico é da ordem de
0,99 e o rendimento das pás entre 0,85 e 0,93. Estes números devem
ser tomados somente como orientativos e em várias seções deste
livro serão dadas estimativas melhores para os valores que cada
rendimento em particular pode alcançar.

1.43 Formas especiais do rendimento para fluido gasoso

a) O rendimento adiabático e isotérmico dos compressores refri-


gerados. Nas máquinas refrigeradas, que são quase somente compres-
sores, o processo sem perdas não é uma transformação adiabática-
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 17

isentrópica tal como vem sendo exclusivamente considerado até agora,


mas também não é uma isotérmica (pois a refrigeração nunca pode
ser completa); é um processo intermediário entre estes dois. Se este
for tomado por base, a qualidade da refrigeração não aparecerá no
rendimento. Por isso é comum escolher processos de comparação
fixos também no caso de máquinas refrigeradas, sendo normal o uso
da isotérmica, ou da adiabática-isentrópica, onde o trabalho usado
para comparação, que é o trabalho normalmente especifico Yad (ver a
Fig. l.lOb), é muito grande devido à economia obtida pelo efeito da
refrigeração e assim o rendimento adiabático rjad parece muito grande.
Tomando-se a isotérmica por base, calcula-se o trabalho especí-
fico interno Y como anteriormente pela Eq. (1.5), fazendo-se, entretanto

Y= Yis = psvs ln^ = RTS


p ls S S Ps Ps

Os outros membros da Eq. (1.5) são, na maioria das vezes, despre-


zíveis, de maneira que se pode tomar Y = Yis. Este trabalho especí-
fico interno isotérmico é muito pequeno, devido à refrigeração não
ser completa. O rendimento isotérmico obtido é tanto menor que o
adiabático quanto maior for a compressão. Evidencia-se então a
existência de um rendimento isotérmico da compressão adiabática-
isentrópica. Pode-se obter outros dados nas Normas para compres-
sores da VDI (III, 16).
b) O rendimento politrópico. No caso de compressores não
refrigerados a curva da transformação não tem a forma de uma
adiabática-isentrópica, pois o fenómeno ocorre com entropia cres-
cente devido ao calor de atrito Z, que é gerado e que, na Fig. l.lla,
é representado pela área abaixo da curva AB. Tomando-se por base
uma politrópica com a equação pvn = psvns pode-se calcular o expo-
ente das temperaturas medidas, pois

T
D =
\Ps
donde

n log (PD/PS)

O aquecimento do gás pelo calor de atrito causa um aumento K


no trabalho de compressão pura (da mesma maneira que a refrige-
ração traz uma economia). Este trabalho adicional K no trabalho
de compressão (área ABB' na Fig. l.lla) é às vezes considerado um
trabalho útil, o que somente é razoável quando se deseja comparar
o rendimento real com o que resultaria caso o fluido tivesse volume
constante. Isto é feito para se julgar a qualidade das pás independen-
temente da compressibilidade e, portanto, também independentemente
do efeito da relação de pressões. Neste caso deve-se usar o trabalho
politrópico Ypol no lugar do trabalho adiabático-isentrópico para
representar o trabalho específico interno na Eq. (1.23). Este trabalho
politrópico é obtido substituindo-se na Eq. (1.5)

onde novamente toma-se Y = Ypol.


18 INTRODUÇÃO GERAL CAP. 1

O rendimento politrópico assim definido é dado, para compres-


sores, por

= Y'y.

ou , devido à Eq. (1.30) e por causa de 1^ = cp(TD - Ts), onde

Finalmente, substituindo-se também o valor da Eq. (1.29), vem

Este valor válido para compressores é maior que o rendimento ba-


seado na adiabática-isentrópica da Eq. 1.23), sendo comparável ao
rendimento atingível no caso de fluido de trabalho incompressível.
No caso de turbinas deve-se tomar o valor inverso da Eq. (1.32), que
fica, portanto, menor que o rjt correspondente.
Deve-se observar ainda que a forma da Eq. (1.32) somente pode
ser usada para gases.
No que se segue não faremos mais nenhum uso do rendimento
politrópico no estudo de compressores e de turbinas a gás. Ele é
frequentemente citado na literatura, para comparar a qualidade de
máquinas não refrigeradas que possuam diferentes trabalhos especí-
ficos internos com os valores atingíveis no caso de fluxo incom-
pressível.
Para máquinas de vários estágios não refrigeradas, o trabalho
adicional de compressão K influencia a distribuição do trabalho total
nos vários estágios, devido ao aquecimento do gás pelo calor de
atrito, tanto no caso de turbina como no de compressor, como será
visto na Seç. 10.24.
O Mecanismo do Fluxo no Rotor1

2.1 O momento das forças nas pás e o trabalho das pás


relacionado à massa Y pá
-.
Consideraremos inicialmente um rotor com pás simplesmente
curvadas (Fig. 2.1) e com arestas paralelas ao eixo. Para usar a equação
da impulsão2 tomaremos as superfícies de controle como superfícies de
rotação em torno do rotor imediatamente antes da aresta de sucção
e imediatamente atrás da aresta de pressão. Na Fig. 2.1 estas são as
superfícies cilíndricas I e II. Tomamos a superfície externa do rotor
como superfície de união, de maneira que a superfície de controle I
corte a parede do rotor. Isto é necessário, pois o conjugado pro-
curado age na superfície de corte. Apesar do número finito de pás,
admitimos que o fluxo através das superfícies de controle I e II seja
unidimensional e estacionário. Para isso, admitimos que o fluxo uni-
forme que se forma a distância suficiente do rotor se prolongue até
as superfícies de controle, tomando isto como uma representação
simplificada da distribuição desigual de velocidades que ocorre real-
mente ao longo das pás.

Fig. 2.1. Representação das superfícies de


controle no rotor

1 Ver Schiele, O.: Zur Energieúbertragung in Strómungsmaschinen. KSB Technische


Berichte, 12 (Maio 1967) 3/9.
2 Explicação da equação da impulsão [III, l, pp. 29/37].
20 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

As forças normais resultantes das forças que agem nas super-


fícies de controle cilíndricas, ou seja as pressões no fluido, não criam
nenhum momento de rotação sendo, portanto, desprezadas. Um tal
momento de rotação aparecerá devido à impulsão do fluido que
passa pelas superfícies de controle e através de efeitos de viscosidade,
ou seja, de forças tangenciais. Referindo-nos à Fig. 2.1 (na qual as
setas estão na realidade na direção do fluxo em uma bomba)
denotamos

c0, c3 as velocidades médias do fluxo ao atravessar as superfícies


de controle dos lados de sucção e de pressão do rotor,
respectivamente,
a0, a 3 os ângulos destas velocidades com a direção tangencial,
rvr2 os raios dos cilindros circulares nos quais se situam as arestas
de sucção e de pressão das pás, respectivamente (nos cálculos
tomaremos r1 = rQ e r2 = r 3 ),
m = qV o fluxo de acionamento (fluxo de massa), por exemplo, em
kg/s.

Com esta notação, ocorrem, independentemente da direção do fluxo


no interior do rotor, as seguintes forças nos círculos das superfícies
de controle:
Na superfície de controle cilíndrica I a força de impulsão wc0
na direção de c0 com o braço de alavanca I0 = r1 cosa0, portanto,
com o momento

M0 = — wc 0 / 0 = — mc0r1 cosa 0

onde o sinal negativo mostra que este momento reduz o momento


transmitido.
Na superfície de controle II a força de impulsão mc3 na direção
oposta de c3 com o braço de alavanca / 3 = r 2 cosa 3 , portanto, com
o momento
M 3 = mc 3 / 3 = wc 3 r 2 cosa3.

Ao longo da superfície total de controle aparecem ainda forças tan-


genciais devido ao movimento turbulento de transição da camada
limite entre o canal do rotor e o espaço externo nas superfícies cilín-
dricas I e II (correspondentes às perdas de transição tratadas na
Seç. 1.41). Tais forças causam um momento Mfl. Nas superfícies late-
rais age o atrito no rotor, que será tratado em separado (ver pág. 248),
portanto, por ora desprezado. Assim, o momento transmitido pelas
pás é
Mpá = M3 + M0 ± Ma
ou
M pá, = m(r
^ z9 c.o cos a.j — r,c
i un cosa nu') + Mnu (2.1)'

onde o sinal positivo em Ma é para o caso de bomba e o sinal nega-


tivo para o caso de turbina.
Como as componentes tangenciais de c3 e de c0 são c 3 cosoc3 = c 3u
e c0 cosa0 = c0u, a Eq. (2.1) também pode ser escrita

^pá = ™(r2C3u ~ r!COt) — Ma> (2.2)


2.1 O MOMENTO DAS FORÇAS NAS PÁS 21

A grandeza dentro dos parênteses representa o aumento do vórtice rcu


no rotor.
Se desprezarmos o termo Mfl, devido ao efeito da viscosidade, vem

MPá = ™(r2c3u ~ ricJ = *A(rctt). (2.3)

Neste caso o conjugado transmitido pelas pás fica igual ao fluxo de


massa vezes a diferença de vórtice.
Para o caso de fluxo livre, a Eq. (2.2) transforma-se na Equação
do vórtice constante, pois, com Mpá = 0 e Ma = 0, vem r2c3u-r1c0u = Q.
A Eq. (2.2) foi deduzida para bombas, de acordo com a Fig. 2.1, mas
tem validade geral.
O momento causado pelo efeito de viscosidade Ma somente tem
sentido quando houver uma transição da impulsão nas superfícies de
controle I e II e é importante principalmente no caso de bombas com
carga parcial. Ele tem um efeito semelhante ao momento do atrito
no rotor, ou seja, não influencia o trabalho específico interno, ou
tem uma influência secundária, neste. Somente em casos especiais
esta transição da impulsão traz uma contribuição sensível ao carre-
gamento de energia do fluxo acionador. De qualquer maneira, como
ela não pode ser calculada, deve ser também desprezada, como
também o atrito no rotor. Deve-se somente levar em consideração
sua existência, que pode ser importante para a compreensão de
alguns fenómenos (ver, por exemplo, a Seç. 6.26). Denotando por co
a velocidade angular do rotor, o trabalho nas pás 7pá resulta em

ou

ou ainda, levando em consideração a Eq. (2.3),

(2.4)

Substituindo as velocidades tangenciais do rotor nos raios r{ e r2,


com M! = r^cú e u2 = r2o>, vem, finalmente,

Esta é a equação fundamental das máquinas de fluxo, que foi deduzida


por L. Euler em 1754. Ela é válida também para o caso em que a
massa específica varie ao longo do rotor, ou seja, no caso de fluxo
gasoso, pois a massa específica Q não aparece na equação. Ainda
mais, ela também é válida para o caso em que as arestas das pás não
são paralelas ao eixo, ou seja, no caso de rotores axiais e semi-axiais.
O importante é observar que os efeitos da viscosidade dentro
das superfícies de controle não invalidam a equação da impulsão e,
com isto, não limitam a validade da Eq. (2.5). Assim, todas as equa-
ções deduzidas nesta seção são válidas, independentemente da ocor-
rência de perdas por atrito, por choque, por variações de seção ou de
direção na passagem do fluxo pelo rotor. Naturalmente, altera-se
nestes casos o rendimento das pás, ou seja, no caso de pás a grandeza
Y, mas não o 7pá, desde que se use as velocidades reais nas equações.
22 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

Como a massa específica Q não aparece nas equações, o trabalho


específico nas pás 7pá e, admitindo-se um rendimento das pás igual1
[ver a Eq. (1.21)], também o trabalho específico interno Y são inde-
pendentes do tipo de fluido. Assim, por exemplo, são iguais para
água, óleo e ar. Da mesma maneira, também o fluxo acionador V é
independente do tipo de fluido. Ao contrário, a diferença de pressão
obtida, o conjugado e, consequentemente, a potência são proporcionais
à massa específica.
O exemplo numérico seguinte esclarece melhor a influência da
massa específica:
Seja uma bomba rotativa com V = 0,1 m3/s, com um trabalho
específico nas pás 7pá = 1 250 Nm/kg e com um rendimento das
pás r\ = 0,80. Com isto o trabalho específico interno é dado por
y = Ypárjh = 1250 x 0,80 = 1000 Nm/kg [ver Eq. (1.21)]. Seja esta
bomba adequada para trabalhar com água ou com ar na mesma
rotação2. Suas tomadas de sucção e de pressão têm o mesmo diâ-
metro, logo, cs = CD, e estão na mesma altura, ou seja, e = 0. De
acordo com a Eq. (1.4), o trabalho específico interno será então

Assim, vêm os resultados:

Fluido água (Q = 1000 kg/m3) Fluido ar (Q = 1,2 kg/m3)

diferença de pressão
PD ~ Ps = QY = 100° ' 100° pD- ps = gY =1,2- 1000
= IO6 N/m2 = 1200 N/m2
= 10 bar « 10,2 atm = 0,012 bar « 0,0122 atm

potência útil [ver Eq. (1.17a) e Eq. (1.16)]

= 1000 -0,1- 1000 = IO5 W = 1,2-0,1 • l 000 = 120 W


= 100 kW = 0,12 kW

O exemplo numérico mostra que no caso de uso da bomba com ar


ou com gás é necessário um enorme trabalho específico interno para
se obter a diferença de pressão nominal. De acordo com a Eq. (2.5)
isto exigiria grandes velocidades tangenciais w2, que são limitadas,
entretanto, a cerca de 300 a 350 m/s devido às solicitações centrífugas.
Desta maneira, para a obtenção de grandes diferenças de pressão,
coloca-se vários rotores em série: organização em vários estágios
(Fig. 2.2). Neste caso os trabalhos específicos internos dos vários
estágios devem ser somados. Para a obtenção de grandes fluxos, ao
invés de grande diferença de pressão, pode-se arranjar vários estágios
em paralelo: é a organização em vários fluxos (Fig. 2.2a). Neste caso
devem ser somados os fluxos volumétricos dos vários rotores.

1 Em cálculos mais precisos e, de qualquer maneira, no caso de fluidos viscosos,


o rendimento das pás deve ser calculado conforme indicado na Seç. 6.53.
2 Neste exemplo numérico será desprezada a compressibilidade do ar, o que é
razoável devido à pequena variação de pressão.
2.1 O MOMENTO DAS FORÇAS NAS PÁS 23

Fig. 2.2 Esquema da organização em vários estágios Fig. 2.2a. Esquema da organização
de rotores radiais em vários fluxos de rotores radiais

Fig. 2.3. Ilustração da circulação

Inclusão da circulação. O conjugado transmitido pelas pás Mpá deve também


poder ser expresso em função da circulação, pois a pressão nas pás aparece devido
à interação de um fluxo de circulação com outro de vazão [III, 1]. A circulação deve
ser calculada no fluxo absoluto, pois somente ela é, em geral, livre de turbilhonamento,
desde que a corrente não tenha nenhuma rotação. No presente caso, pode ser escrita
tanto incluindo as pás, que estão sempre relacionadas a turbilhonamento, como excluindo-
as (Fig. 2.3). A primeira é chamada circulação externa Fa e a última é chamada circula-
ção interna Fr Se estas grandezas forem determinadas ao longo dos círculos de raios r2
e TJ (Fig. 2.1), vem

£
2n

Com isto a Eq. (2.3) pode ser escrita

(2.6)

A diferença das circulações externa e interna é determinada pelos núcleos de turbi-


lhonamento situados entre ambas as regiões. Tais núcleos podem ser representados
pelas pás, desde que o fluxo (absoluto) esteja livre de turbilhonamento.
De acordo com as leis da mecânica dos fluidos, a circulação é igual à soma das
circulações ao longo das linhas internas à trajetória de integração. Se denotarmos a
circulação das pás individuais, calculada a partir de uma configuração de momentos
do fluxo absoluto, por Fs, vem para z pás a relação

- r, = zr, (2.7)
24 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

A Eq. (2.6) pode também ser escrita

(2.8)

mas ainda, vem

(2.9)

2.2 Formas mais usadas da equação fundamental


Usualmente os rotores de bombas recebem o fluxo diretamente,
ou seja, sem aletas diretoras especiais, e, portanto, livre de vorticidade,
o que dá a0 = 90° e, com isto, c0u = O (Fig. 2.4 e compare com a
Fig. 2.17). Então, de acordo com a equação fundamental [Eq. (2.5)],
o trabalho nas pás é

COS a =
(2.10)

No caso de rotores de turbinas, c0 é a velocidade de saída do rotor.


Aqui ela representa energia não utilizada e, portanto, uma perda, a
perda de saída, que o construtor deseja manter a menor possível.
Um valor finito desta velocidade c0 é necessário para transportar o
fluido de trabalho para fora da máquina. Entretanto, neste sentido
somente age o componente perpendicular à direção tangencial do
rotor, que é c0 sena 0 = c0m, enquanto que o componente tangencial
C 0 cosa 0 = c 0u faz o fluxo circular e não tem nenhuma utilidade.
Deve ser considerado um componente cego, deste ponto de vista, e,
em princípio, deve ser evitado. Assim, no trabalho da máquina no
ponto de cálculo, toma-se como regra a0 = 90°, ficando, então, igual
ao caso das bombas, de maneira que a Eq. (2.10) não se altera.
Levando-se em consideração todas as perdas que ocorrem, um
cálculo preciso, ou seja, uma busca do ótimo do rendimento, dá
quase sempre um ângulo a0 menor que 90°, tanto no caso de bombas
quanto no de turbinas (ver Seç. 2.25). Isto faz então que a velocidade
Fig. 2.4. Triângulo de velocidade para relativa na aresta de sucção se reduza (ver Seç. 9.4). No caso de uma
a aresta de sucção quando oc0 = 90° turbina a vapor de vários estágios, a energia de saída de cada estágio
é utilizada no estágio seguinte, e, portanto, neste caso, ângulos de
saída diferentes de 90° não têm nenhum inconveniente. Na verdade,
eles são quase sempre maiores que 90°, o que torna o segundo
membro da Eq. (2.5) positivo e representa um aumento do trabalho
nas pás 7pá. Em qualquer caso as diferenças são tão pequenas que
não têm nenhuma influência no tratamento geral presente, de ma-
neira que a Eq. (2.10) pode ser considerada a equação fundamental.

2.3 A influência do número finito de pás


Tanto no caso de turbinas como no de bombas deve-se ainda
hoje, com exceção de alguns poucos casos, calcular considerando o
fluxo congruente com as pás, ou seja, um número infinito de pás.
Isto se deve a não existirem ainda processos de cálculo simples de
mesma eficiência partindo de outras hipóteses. Entretanto, enquanto
que no caso de turbinas os resultados destes cálculos aproximados
podem ser utilizados quase sempre sem correções importantes, o
mesmo não ocorre no cálculo de bombas. Uma bomba assim cal-
culada teria um trabalho nas pás 7pá muito pequeno e não alcançaria
2.3 A INFLUÊNCIA DO NÚMERO FINITO DE PÁS 25

o trabalho específico interno Y desejado. Esta grande diferença de-


corre de que as distâncias finitas entre as várias pás causam uma desi-
gualdade do fluxo ao longo de um círculo paralelo e, assim, o fluxo
relativo não acompanha toda a variação de direção prevista pelas
pás. No caso de turbinas ocorre o mesmo, mas o efeito final é usual-
mente desprezível, como ainda será visto.

2.31 Caso sem atrito, explicado no exemplo da grade de pás ré ta


Para obter uma visão básica, consideraremos corte cilíndrico
concêntrico em um rotor axial. Desenvolvendo o cilindro em um
plano, resulta uma grade reta infinita de pás (Fig. 2.5). O movimento
rotativo do rotor é, então, representado por um movimento retilíneo
na direção da grade. Consideramos a grade limitada por planos
paralelos ao plano do desenho e observamos a distribuição das cor-
rentes do fluxo relativo para o caso da entrada sem choque. Esta será
idêntica à imagem do fluxo livre de choque contra as mesmas pás
em repouso, e, portanto, também do rotor axial, já que neste caso
o movimento de rotação aparece somente como um deslocamento na
direção da grade. Inicialmente admitiremos um fluido sem atrito, o
que permitirá obter a imagem da corrente de acordo com as regras
válidas para um fluxo potencial plano (ver Seç. 12.1 e [III, 1]). Isto é
mostrado na Fig. 2.5 para duas pás próximas. Devemos observar que
o limite das pás é uma linha de corrente e que a uma distância sufici-
entemente grande, antes e após a grade, existe o fluxo paralelo não
perturbado com velocidades w0 e vv3, respectivamente. A direção
deste último deve ser calculada a partir das condições de entrada sem
choque e saída tangencial1. Isto significa que nas extremidades de
ambos os lados das pás deve haver a mesma pressão e a mesma velo-
cidade, ou seja, que as linhas de corrente, que formam o quadrilátero
curvo que limita a pá, somente podem ser diferentes na região da pá.
Esta condição só pode ser cumprida para uma direção determinada
de entrada e saída do fluxo, que não coincida com as tangentes nas
extremidades das pás imaginadas infinitamente finas, o que exige
várias tentativas2. Fazemos as seguintes observações na imagem do
fluxo estabelecido:

1. As linhas de corrente dentro do fluxo não são congruentes


com as pás. Os tubos de corrente se alargam no lado côncavo, frente
das pás, e se estreitam no lado convexo do dorso das pás, de maneira
que também as velocidades no canal do lado da frente inicialmente
diminuem e, depois, no lado de trás, aumentam e, aproximadamente
no meio das pás, existe uma sobrepressão do lado da frente e uma
subpressão do lado de trás. A diferença de pressões determina a força
na pá, ou seja, o trabalho na pá. A entrada e a saída tangenciais do
fluxo têm como consequência que a diferença de pressão em ambos
os lados da pá desapareça e que, como foi dito, os tubos de corrente
de ambos os lados sejam aí da mesma largura. Transversalmente às
pás as velocidades não são igualmente distribuídas, como no caso

1 Esta saída tangencial será garantida pelo fato de que o "turbilhonamento de partida"
que em outros casos desaparece, induz o fluxo de circulação necessário, que se situa sobre
o fluxo de passagem.
2 As linhas normais (linhas equipotenciais) se deslocam ao longo das linhas de
corrente de um número de quadriláteros curvos igual ao valor da circulação obtido da
Eq. (2.8). Ver também Albring, W.. Ein Náherungsverfahren etc. . . Maschinenbau-
technik 5 (1956) 207/19.
26 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

de fluxo congruente com as pás, mas são maiores do lado de trás


das pás do que do lado da frente.

Fig. 2.5. Imagem das correntes de um fluido ideal (fluxo potencial) em


uma grade de pás reta e plana

2. Aquelas linhas de corrente próximas das pás são curvadas


pouco antes e pouco depois do canal das pás, para o lado de trás das
pás, claramente devido à subpressão que ai existe e que tem um
efeito de sucção, e também devido à sobrepressão que existe do lado
da frente. O resultado é um desvio das linhas de corrente de um
ângulo j50 —15^ na entrada e de um ângulo de j52 — j53 na saída. Em
comparação com o ângulo do fluxo, o ângulo das pás é diminuído na
entrada e aumentado na saída. Ambas mudanças de ângulo têm
origem na presença da grade que provoca o desvio /?3 — jS0 menor do
que ($2 — j51 dado pelas pás. Isto é visto claramente na linha média
AB que atravessa a grade de pás com uma alteração de direção
menor do que a curvatura das pás.
Assim, o número finito de pás tem a consequência notável de que
os ângulos das pás na entrada e na saída devem ser aumentados no
sentido de uma ampliação do efeito de desvio, portanto, no sentido de
um aumento de potência, cm comparação com o caso ideal de pás colo-
cadas infinitamente próximas.
Se não forem previstos estes sobreângulos, o número finito de
pás causará uma redução do desvio do fluido e, portanto, uma redu-
ção da potência da máquina em comparação com o cálculo, de acordo
com a teoria das linhas de corrente unidimensionais.
Estes resultados foram obtidos admitindo-se um fluxo sem atrito
e valem tanto para turbinas como para bombas, pois a imagem das
correntes é independente de sua direção e também da corrente aciona-
dora. Em seguida veremos até onde isto é válido quando se consi-
dera a viscosidade.
2.32 Influência da viscosidade
Até agora analisamos o efeito do espaçamento das pás, sem levar
em consideração a viscosidade. O efeito da viscosidade, entretanto,
2.3 A INFLUÊNCIA DO NÚMERO FINITO DE PÁS 27

é considerável, principalmente no caso do fluxo retardado das bombas,


de maneira que neste caso não se aplica a imagem do fluxo da Fig. 2.5.
Inicialmente, devido à espessura finita, aparece agora um espaço
morto logo após a extremidade de entrada das pás. Tal ocorre devido
à necessidade da pressão se elevar depois do ponto de estagnação,
juntando a camada limite. Esta contração de entrada, no caso de
bombas, cria, a grosso modo, um efeito semelhante à redução de
seção que já se viu ser necessária devido ao desvio de entrada, sendo
comum admitir que ambos os efeitos se compensam e desprezá-los
no cálculo. Na maioria dos casos, inclusive, um aumento do ângulo
de entrada assim calculado mostra ser vantajoso. No caso de tur-
bina, a contração de entrada não age como um sobreângulo. Entre-
tanto, ela é muito reduzida pela aceleração do fluxo e, apesar disto,
considera-se também neste caso, em regra geral, um sobreângulo. Na
Seç. 2.8 trataremos do comportamento do fluxo na entrada das pás
e a formação da aresta das mesmas de maneira mais completa.
Assim, a consideração do desvio de entrada em turbinas e bombas
não tem grande significado (exceto no caso dos rotores extremamente
rápidos, quando as distâncias entre as pás são muito grandes). Isto é
também devido à razão ainda não citada de que a direção do fluxo
na entrada é rigidamente predeterminada e, portanto, o trabalho nas
pás 7pá, de acordo com a equação fundamental, depende somente da
velocidade do fluxo de saida, de maneira que um ângulo de entrada
errado nas pás só afeta o "choque de entrada" (ver Seç. 2.8). As
condições no canal de saída são muito diferentes. Aí a forma da
extremidade das pás determina a direção do fluxo de saída, e, por-
tanto, o trabalho nas pás Ypá e, com isto, também a potência da
máquina. Como será, então, aí o fluxo influenciado pela viscosidade?
Em todo lugar, onde, na Fig. 2.5, os tubos de corrente se alargam,
a camada limite tem que fluir contra pressão crescente. Como ela
somente pode escoar desta maneira quando é levada pelo fluxo não
perturbado próximo, usualmente o que acaba ocorrendo são acumu-
lações da camada limite ou até mesmo espaços mortos. Tais espaços
mortos devem ser esperados, no caso do fluxo em bomba da Fig. 2.5,
na saída das extremidades posteriores convexas das pás.
Também no fluxo acelerado na turbina os tubos de corrente se
alargam (pois a Fig. 2.5 não se altera quando a direção do fluxo é
trocada) novamente na saída do canal do lado convexo das pás
(lado de trás).
Em ambos os casos ocorre um alargamento da camada limite,
de maneira que sempre deve-se esperar o aparecimento de espaços
mortos na extremidade das pás (da mesma maneira que atrás das
asas de sustentação). No caso do fluxo retardado das bombas rota-
tivas este efeito se amplia e o espaço morto estende-se frequente-
mente por todo o lado de trás das pás, devido à ação conjunta da
contração de entrada.
Esta formação de espaço morto é considerável, mesmo no caso
mais favorável quando os espaços mortos no rotor são reduzidos até
certo ponto pelas forças centrífugas (ver Seç. 9.11). Assim, a espes-
sura da pá na saída age no mesmo sentido que o espaço morto que
aí aparece.
As consequências no trabalho das pás são opostas no caso de
bombas e de turbinas, como mostra o raciocínio seguinte, que se
refere à pá axial da Fig. 2.6. Esta é percorrida pelo fluxo de baixo
para cima. A pá de bomba é mostrada em linha cheia e a de turbina
28 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

em linha tracejada, ou seja, com curvatura oposta. Ambos estes


sistemas de pás se movem na direção da seta.

Fig. 2.6. Os diferentes efeitos do espaço morto no canal das pás do rotor
de uma turbina (7) e de uma bomba (B)

A inclinação de saída e a distribuição das pás foram escolhidas


iguais para ambas as formas de pás, para se poder comparar as con-
dições de saída. Em ambos os casos ocorre o aumento de pressão na
extremidade convexa na saída das pás, conforme foi discutido com
relação à Fig. 2.5, e, com isto, aparece o espaço morto A no caso de
bomba e o espaço morto B no caso de turbina. Pode-se ver que o
espaço morto no caso de pá de turbina é menos extenso que no
caso de bomba.
Na representação considerada na Fig. 2.6 de sistemas de pás de
bomba e de turbina com iguais arestas e mesma direção de saída,
denotamos todas as grandezas relacionadas com um ponto no canal
das pás imediatamente antes da aresta da pá com * e todas as gran-
dezas fora do canal das pás, ou seja, atrás da aresta de saída, com **.
Da mesma maneira que a espessura finita das pás, o espaço morto
contribui para um estreitamento da secção do canal, e, conseqíiente-
mente, para um aumento da velocidade relativa w* imediatamente
antes da saída. Obviamente também seus componentes longitudinal
w* = w* sen /?* = c* e tangencial w* serão maiores que os valores
calculados considerando-se um fluxo sem espaço morto. Sem espaço
morto vale o componente longitudinal menor c**, que, por razões
de continuidade, deve também ocorrer no caso com espaço morto a
uma distância razoável além da grade, pois aí o espaço morto já
desapareceu, da mesma maneira que o estreitamento devido à espes-
sura finita das pás. O componente tangencial w*, ao contrário, não
será alterado quando as causas de seu aumento desaparecerem, de-
vido à equação da impulsão, pois, para isto, de acordo com a Eq. (2.3),
seria necessária a aplicação de um conjugado adicional, que não está
disponível no espaço externo. Assim, w* = w** e, por isso, o ângulo
de saída se reduz de A/? em comparação com o angulo das pás. Esta
alteração de direção significa, no caso de bombas, uma redução do
efeito de desvio e, portanto, um aumento da potência mínima, em
comparação com a que seria necessária no caso de pás finas e fluido
ideal, conforme a Fig. 2.5. Ao contrário, o canal de uma turbina,
mostrado tracejado, tem curvatura oposta, representando a variação
de ângulo A/?, um aumento do efeito de desvio e, conseqíientemente,
uma potência adicional.
Deve-se também considerar o fato de que a formação do espaço
morto no dorso da pá atua como um sobreângulo da pá no fluxo
2.3 A INFLUÊNCIA DO NÚMERO FINITO DE PÁS 29

acelerado na grade (turbina), enquanto que, no caso do fluxo retar-


dado na grade (bomba), seu efeito é de reduzir o valor do ângulo
construtivo. Assim, a experiência mostra que no caso de turbinas
o espaço morto, agindo como uma curvatura adicional disfarçada,
aumenta muito a potência mínima fornecida pelo fluxo potencial1.
Portanto, em regra geral, não é necessário considerar o número
finito de pás na saída das pás no projeto de turbinas. Esta importante
simplificação é permissível tanto no cálculo de turbinas a vapor,
como de turbinas hidráulicas lentas, desde que as pás estejam razoa-
velmente próximas. Medidas feitas atrás de grades retilíneas de pás
de turbinas mostram mesmo que o fluxo tem um desvio maior do
que o que seria de se esperar do ângulo das pás. Portanto, nos tipos
de pás mais comuns em turbinas o efeito da distância finita entre as
pás causa principalmente a formação do espaço morto. Assim, para
pás situadas a pequena distância, como as de turbinas a vapor e de
turbinas hidráulicas de baixa velocidade, considera-se o estreitamento
provocado pela distância finita entre as pás, mas despreza-se para
todos os outros efeitos seu espaçamento. Somente se deve prever um
sobreângulo nas pás de turbinas quando as pás forem muito espa-
çadas ou quando a forma das pás não tiver uma saída de pequena
ação, tal como nas pás com linha básica circular (ver Seçs. 4.31, 5.42
e 9.41). Sobre estas inter-relações, o trabalho de Holzenberger [V, 37]
contém interessantes subsídios.

O mecanismo do fluxo mostrado na Fig. 2.6 parte do princípio do número infi-


nito de pás situadas infinitamente próximas, contanto que se admita que a velocidade
w* deixe o canal das pás tangencialmente às mesmas. Devido a estas limitações, não
aparecem todos os efeitos do espaço morto. Isto. se demonstra, por exemplo, no fato
de que, no caso de p* = 90°, esta representação não permite reconhecer nenhuma
influência do espaço morto na potência mínima da máquina e que, no caso em que
p* > 90° mostra inclusive uma potência adicional, enquanto que, na realidade, para
tais ângulos (que, de qualquer maneira, somente podem ser considerados em bombas
e não em turbinas) observa-se uma potência mínima bem maior do que o que seria
esperado de acordo com o mecanismo do fluxo sem atrito [V, 37]. Deve-se também
considerar o fato de que o espaço morto influencia o fluxo, já dentro do canal, no
sentido de que a variação de direção será reduzida, resultando em que o ângulo de
saída seja sempre — e mesmo no caso de f * > 90° — menor que o ângulo da
pá f}*. Além deste efeito de desvio causado pelo espaço morto, existe ainda outro que
cresce com o ângulo de desvio das pás e que, assim, é tanto maior quanto maior
for p*. Este último efeito representa a única contribuição do espaço morto para a
potência mínima.

Desta maneira, o cálculo de pás de turbinas é basicamente mais


simples que o de pás de bombas. A causa mais importante disto é que
nas bombas trata-se de um fluxo retardado, que tende a um comporta-
mento instável devido às condições da camada limite (Seç. 6.29) e
que, na ocorrência de ultra-som, dá o choque de compressão. Em
conclusão, o projeto de pás de bombas traz maiores dificuldades que
o de pás de turbinas.

1 Ver Rõder, K.. VDI-Z. 85 (1941) coluna esquerda da p. 547; também IV,15] e
IV, 16]; mais ainda Proceedings Inst. Mech. Eng. London l (1924) 469.
30 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

N. Scholz [V, 36] mostrou que também a espessura no trecho


média de pás afiladas tem um efeito semelhante ao descrito atrás
para a espessura no final das pás, ou seja, reduz o trabalho das pás
no fluxo retardado e aumenta o trabalho das pás no fluxo acelerado.

2.33 A grade de pás radial girante

As considerações feitas até o momento valem tanto para a grade


de pás girante (rotor) quanto para a grade fixa de aletas (sistema
diretor). Nesta seção serão tratadas as peculiaridades do fluxo en-
trando e saindo dos canais de pás de rotores radiais, devido ao movi-
mento giratório. As particularidades do comportamento do fluxo em
rotores axiais somente serão tratadas mais tarde no Cap. 9 (ver
também o Cap. 12).
a) Desprezando-se o atrito. Quando o rotor gira com a veloci-
dade angular co, o fluxo relativo deve girar com velocidade oposta à
do rotor, portanto com uma rotação -co. Esta "turbulência relativa
do canal", da qual é possível fazer uma ideia facilmente imaginando-se
ambos os lados do canal fechados (Fig. 2.7), impede o desenvolvi-
mento da imagem de corrente do fluxo relativo usando as mesmas
regras vistas para o fluxo absoluto. Ainda é possível obtê-lo, entre-
tanto, superpondo-se a imagem de corrente do canal parado (fluxo
de vazão) sobre a imagem do canal girante sem transporte de fluido
(fluxo de deslocamento), que é semelhante à citada turbulência rela-
tiva do canal. De acordo com a Fig. 2.7 as velocidades das turbu-
lências relativas do canal na frente da pá estão no sentido contrário ao
da vazão, e as no dorso da pá estão no sentido da vazão, dando nova-
mente pequenas velocidades resultantes na frente, portanto mais altas
pressões, e grandes velocidades resultantes, e portanto pressões mais
baixas no dorso da pá (Fig. 2.8). Desta maneira, a distribuição de
velocidades resultante é semelhante à representada na Fig. 2.5. Vê-sc
que a turbulência relativa do canal, ou seja, a rotação, aumenta a
pressão nas pás, o que também pode ser explicado pela ação conjunta
das forças centrífugas e de Coriolis (ver Seç. 2.6c). As pás de bombas
radiais são usualmente curvadas para trás, ao contrário das pás de
turbinas radiais (ver Seç. 2.71).
A equação de Bernoulli não pode ser mais aplicada a este fluxo
relativo que contém rotação. Em seu lugar, aparece a equação da
energia para o fluxo relativo, que é a seguinte:

= , wou ~ ul = const.
^—í- (2.11)
Q

Esta equação é obtida seguindo-se a pressão estática p ao longo de


um tubo qualquer de corrente do fluxo relativo, quando se soma a
variação de pressão do tubo parado, que segue a equação de Bernoulli,
Fig. 2.7. Fluxo relativo em um rotor à variação de pressão no tubo de corrente girante e cheio de fluido
completamente fechado no caso de fluido mas sem vazão. Ela resulta também da Eq. (2.34), que ainda será
sem atrito (turbulência relativa do canal) vista, ligada à Eq. (2.31).
Ao longo de um mesmo círculo paralelo, ou seja, para mesmo w,
existe um conteúdo de energia constante, seguindo a Equação da Lei
de Dependência de Bernoulli. Se observarmos o comportamento da
pressão em um trecho de um círculo paralelo entre duas pás conse-
cutivas, veremos que p diminui da frente de uma pá para o dorso da
próxima, donde aparece a pressão na pá. Assim, w aumenta e disso
2.3 A INFLUÊNCIA DO NÚMERO FINITO DE PÁS 31

resulta a distribuição de velocidades, como anteriormente, com a


inclusão da turbulência relativa do canal (Fig. 2.8).
b) Considerando-se o atrito. Quando se mede a distribuição de
velocidades relativas que realmente aparece na saída do rotor de uma
bomba radial (ver a Seç. 2.13), pode-se encontrar, ao contrário do
que mostra a Fig. 2.8, ou seja, contrariamente ao que foi dito, velo-
cidades muito mais altas na região da frente das pás na saída do
canal das pás, do que na região do dorso das pás. A razão disto é a
influência do atrito, que será explicada a seguir:
Fig. 2.8. Distribuição das
Inicialmente consideraremos o comportamento do fluxo em uma velocidades no canal das pás
curva1 (Figs. 2.9 e 2.10) e em um canal reto girante (Fig. 2.11). Na curva no caso de fluido sem atrito
aparecem forças centrífugas dentro do fluxo, e no canal girante apa-
recem forças de Coriolis. Em ambos os casos, estas forças causam um
aumento da pressão estática na direção da parede do canal do lado
de pressão. Tanto na curva [IV, 12] quanto no canal girante apa-
recem correntes secundárias, que estão mostradas na Fig. 2.9 para
uma curva, e que são semelhantes, em princípio, no canal girante
[V, 46; V, 74]. Estas correntes secundárias aparecem da maneira
seguinte. A velocidade do fluxo de um fluido real, ou seja, com atrito,
é sempre menor nas paredes (na camada limite) que no meio do canal.
As maiores velocidades do fluxo no meio do canal causam, na curva,
maiores forças centrífugas e, no canal girante, maiores forças de Fig. 2.9. Corrente secundária em uma
Coriolis que as menores velocidades do fluxo nas paredes laterais do curva, a entrada da curva: b corte
através da curva: c lado da pressão:
canal. As forças maiores, após um determinado trecho inicial, levam d linhas da corrente secundária: Wj
o fluido do meio do canal na direção da parede do canal do lado de velocidade do fluxo na entrada
pressão, enquanto que nas paredes laterais o fluido escapa das pare-
des do canal no lado de pressão. Estas correntes secundárias oca-
sionam o aparecimento de maiores velocidades do fluxo nas paredes
do canal no lado de pressão do que na parede interna do canal
(ver Fig. 2.10), enquanto que pouco antes do início da curva existem
maiores velocidades na parede interna do canal. Da mesma maneira,
em um canal girante, a distribuição de velocidades se apresentará no
início como na Fig. 2.8. Com fluidos reais, com atrito, após um deter-
minado trecho inicial, aparece também o fluxo secundário citado,
que modifica a distribuição de velocidades para a forma mostrada
na Fig. 2.12.
A comparação dos fluxos em um canal girante e em uma curva,
naturalmente, só é possível como uma aproximação muito grosseira.
Foi aqui usada para facilitar a compreensão do comportamento em
um canal girante, uma vez que o fluxo em curvas é bem conhecido.
H. P. Lewinsky-Kesslitz [V, 47] mediu o comportamento da velo-
cidade relativa em um canal de pás de uma bomba radial (Fig. 2.13)2.
Na primeira parte do canal das pás (por exemplo, no círculo V com
raio a na Fig. 2.13) existe uma distribuição de velocidades semelhante Fig. 2.10. Perfil de velocidades na saída
à da Fig. 2.8; aí a velocidade relativa aumenta de aproximadamente de uma curva [ver V, 45] a, b lados da
6 m/s na frente das pás. Portanto, a uma distância a do eixo, o fluxo pressão e da sucção da curva, respec-
secundário ainda não influiu na distribuição de velocidades. Devido tivamente: M- velocidade, local
ao aparecimento do fluxo secundário, a velocidade relativa na frente
das pás aumenta a partir de a (por exemplo, no círculo VI com raio b)
e no dorso é aproximadamente igual a esta, de cerca de w = 8 m/s,
enquanto que no meio do canal das pás aparecem velocidades maiores.

1 Ver Fischzr. G.: Einflu/ígrõ/ten der Sekundàrstrómung in gekrummten Kanàlen.


Maschinenbautechnik 20 (1971) H. 8, pp. 399/404.
2 Ver Domm, U., fíergt, P.: Die Energieverteilung in drei Radialrádern verschiedener
Breite. Forschungsbericht Nr. 63-01 der AVA, Gõttingen 1963, p. 138/154.
32 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

Na saída do canal das pás (ou seja, a uma distância r 2 do eixo) o


fluxo secundário influi mais ainda; o máximo da velocidade é aí de
cerca de w = 12 m/s na frente das pás, enquanto que no dorso é de
somente cerca de 6 m/s. O meio de trabalho flui com esta distri-
buição irregular de velocidades no sistema diretor, em um fenómeno
que será discutido posteriormente (Seç. 8.2).
A distribuição irregular de velocidades na saída do rotor pode
também ser explicada pelo fato de o fluxo secundário (ver Seç. 2.14)
transportar, por um lado, fluido de altas velocidades relativas, do
espaço no dorso das pás para o espaço na frente das pás e, por outro
lado, pressionar o fluido em baixas velocidades, da camada limite
nas paredes laterais do canal na direção do espaço no dorso das pás.
O próprio fluxo secundário origina-se do fato de que as partículas
fluidas no meio do canal possuem maiores forças na direção tangen-
Fig. 2.11. Canal reto girante com cial que as partículas fluidas da camada limite nas paredes laterais
seção quadrada (ver fV, 46]) do canal. As forças na direção tangencial dependem da aceleração
que as partículas fluidas têm na direção tangencial. Já foram dedu-
zidas e publicadas equações para calcular tais acelerações e as forças
correspondentes agindo na direção tangencial1. H. S. Fowler2 pes-
quisou o fluxo no rotor de um compressor radial com ângulo das
pás j82 = 90°, no qual, diferentemente da Fig. 5.11, o rotor tinha uma
coroa externa. Ele encontrou distribuições de velocidades semelhantes
às da Fig. 2.13. Em seguida, Fowler pesquisou o fluxo em um canal
separado girante, no qual ele variou o ângulo de alargamento. Veri-
ficou que a intensidade de retardamento (ou de aceleração) no canal

Fig. 2.12. Distribuição de velocida-


des na extremidade superior do canal
mostrado na Fig. 2.11.

Figs. 2.13a e b. Cortes longitudinal e transversal de um rotor de uma bomba com as


linhas de mesma velocidade relativa, segundo Lewinsky-Kesslitz f V, 47].
/ pás; // entrada do canal das pás: /// limite externo do disco cio rotor: IV saída dos
canais das pás: K, VI círculos com raios a e b, respectivamente: VII direção do fluxo na
entrada: VIII linhas de mesma velocidade relativa w: co velocidade angular do rotor.

1 Petermann, H.: Der Strõmungsverlauf in und hinter Laufschaufelkanálen von


radialen Kreiselpumpen und Verdichtern. VDI-Z. 103 (1961) 748/52. — Will: Modell-
vorstellungen zur Strõmung in radialen Kreiselpumpenlaufràdern. Internationales
Symposium Pumpen und Verdichter, Leipzig 6./7. III. 1970. Berichtsband VEB Kombi-
nat Pumpen und Verdichter, Halle (Saale) p. 49/51.
2 Fowler, H. S.: The distribution and stability of flow in a rotating channel. Tran-
sactions of the ASME, Journal of Engineering for Power, July 1968, p. 229/236.
2.4 PROCESSOS DE CÁLCULO 33

tem menor influência na distribuição de velocidades do que na esta-


bilidade, ou seja, no comportamento de separação do fluxo, e ainda
que um canal de aceleração tem, naturalmente, uma melhor estabi-
lidade que um canal de retardamento. O perigo de separação na
saída do canal das pás é especialmente grande no lado de sucção das
pás (ver b na Fig. 2.14)1. Isto é compreensível, pois aí a velocidade
relativa é pequena. Fowler variou tanto o fluxo acionador quanto a
velocidade em suas pesquisas. As distribuições de velocidades aqui
tratadas ocorrem devido a forças de Coriolis e à rotação do rotor.
Assim, a diferença de velocidade na saída do canal das pás é tanto
maior quanto mais elevada for a velocidade. Fowler demonstrou,
além disto, que o anel diretor colocado após o rotor tem uma grande
influência no fluxo no rotor.

Fig. 2.14. Corte cilíndrico desenvolvido no círculo VI do rotor da Fig. 2.13, mostrando
o fluxo secundário
a, b lados de pressão e de sucção, respectivamente: c linhas de corrente do fluxo secundário:
a) velocidade angular do rotor.

Em vários trabalhos, desenvolvidos principalmente no Japão2, foi


pesquisado o fluxo em rotores radiais sem coroa externa. Os resul-
tados encontrados desviam-se, em alguns casos, sensivelmente dos
mostrados na Fig. 2.13. Isto seguramente deve ocorrer por causa
da utilização de outros processos de construção do rotor. Deve-se
também observar que, em muitos destes trabalhos, considerou-se fluxo
laminar, enquanto que normalmente as máquinas de fluxo trabalham
na região de fluxos turbulentos.

2.4 Processos de cálculo para levar em consideração


número finito de pás
Na seção anterior foi mostrado que existe uma distribuição irre-
gular de velocidades e de pressão, tanto entre as pás como imediata-
mente antes e depois dos canais das pás. Para fins de clareza e simpli-
cidade tomaremos por base, em nossos cálculos, uma distribuição re-
gular tanto de velocidades como de pressão, ou seja, um fluxo simé-
trico com relação ao eixo. Para as posições externas aos canais (com

1 Ver também Lennemann, E., Howard, J. H. G.. Unsteady flow phenomena in


rotating centrifugal impeller passages. Transactions of the ASME, Journal of Engineering
for Power, January 1970, p. 65/72.
2 Fujie, K.. Study of flow through impellers of centrifugal compressors. Bulletin
of JSME l (1958) N.° l, p. 42/49 und N.° 3, p. 275/282, 4 (1961) N.° 13, p. 94/101.
— Watanabe, /., Ariga, Fujie, K.: A study of the flow patterns in an impeller channel
of a radial turbine. Bulletin of JSME 8 (1965) N.° 30, p. 194/204. — Senoo, Y., Yama-
guchi, M., Nishi, M,: A photographic study of the theedimensional flow in a radial
compressor. Transactions of the ASME, Journal of Engineering for Power, July 1968,
p. 237/244. — Senoo, Y.: Shear flow, vortics and secondary flow. Memoirs of the Faculty
of Engineering Kyushu University Vol. 30 (1971) N.° 3. — Howard, J. H. G., Lennemann,
E.: Measured and predicted secondary flows in a centrifugal impeller. Transactions
of the ASME, Journal of Engineering for Power, January 1971, p. 126/132.
34 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

índices O e 3, ver Seç. 1.2) tomamos os valores correspondentes na


realidade a distâncias suficientemente grandes das pás para que o
fluxo não sinta seu efeito, e que imaginaremos estendidos até o rotor.
Desta maneira, os triângulos de velocidade conterão valores médios
das velocidades. Os índices l e 2 referem-se, como anteriormente, ao
fluxo congruente com as pás e não ao fluxo real, enquanto que os
índices O e 3 referem-se ao fluxo real imediatamente fora do rotor,
devendo ser calculado segundo um fluxo regular e simétrico em rela-
ção ao eixo. De acordo com a Seç. 2.32 devemos, em regra geral,
levar em consideração a redução de potência somente na extremidade
de saída da pá, portanto na aresta de pressão em bombas e, em tur-
binas, se for o caso, na aresta de sucção.

2.41 Aresta de pressão


A redução de potência devido à separação das pás ocorre nas
bombas devido a que o triângulo de velocidade A2B2C2 da Fig. 1.2,
que foi deduzido para o fluxo congruente com as pás, se transforma
no triângulo de velocidades A'2B2C2 (Fig. 2.15). Os vértices A2 e A2
dos triângulos situam-se em uma paralela a w 2 , porque, devido à
continuidade do fluxo, o componente longitudinal c2m deve perma-
necer igual. A redução de potência em bombas aparece devido à
redução do componente tangencial de A2A'2 = c2u — c'2u, ou seja, ao
aparecimento de um sobreângulo /?2 — /?2 no ângulo das pás.

„,
* C3v. C3U,
r te
C2lL *

Fig. 2.15. Diagrama de velocidades de uma bomba na aresta de pressão do rotor no caso
de número finito e infinito de pás.

Devemos ainda considerar o fato de que o fluxo é também estrei-


tado devido ao número finito de pás. Se a separação entre as pás,
ou seja, o comprimento do arco de circunferência entre as pontas de
duas pás sucessivas, for dada por í 2 = nD2/z, e se T2 é a espessura das
pás, medida na direção tangencial (Fig. 2.16), vem

(2.12)

onde s2 é a espessura das paredes das pás. Assim, o componente


longitudinal c2m fora do rotor deve ser reduzido de

(2.13)

Fig. 2.16. Forma das pás na aresta O componente tangencial c'2u não se alteraria se não houvesse o
de pressão estreitamento do fluxo, de maneira que c'2u = c3tt, pois uma alte-
2.4 PROCESSOS DE CÁLCULO 35

ração de cu exigiria um conjugado, que não é possível existir nas


pontas das pás. Assim, o triângulo de velocidades A3B2C2 determina
o fluxo no exterior do rotor. Seu vértice A3 está situado abaixo de
A'2 na mesma vertical deste. A mudança do fluxo de um para outro
destes estados toma — como já foi dito — uma certa distância, que
obviamente não pode ser vista no diagrama de velocidades.

2.42 Aresta de sucção

Tanto para bombas como normalmente também para turbinas :—


— devido à redução de potência que neste caso praticamente não Fig. 2.17. Diagrama de velocidade na aresta
ocorre (ver Seç. 2.3) — somente é necessário considerar a espessura de sucção
das pás, ficando

c =c h • (2.14)

Nesta, de maneira semelhante,

(2.15)

A Fig. 2.17 mostra o diagrama de velocidades na aresta de sucção


para um ângulo de fluxo qualquer oc0. Em muitos casos a0 = 90°,
quando então ficam <x1 = 90°, c0u = clu = O, c0 — c0m e c1 = clm
(Fig. 2.4).

2.43 O trabalho nas pás Fig. 2.18. Medidas das pás na aresta de
sucção
De acordo com a Seç. 2.1 Q a Fig. 2.15, o trabalho real nas pás é

(2.17)

Admitindo-se número infinito de pás, o triângulo de velocidade


é A2B2C2 e o trabalho nas pás seria

(2.18)

Para o caso normal

ficaria, tal como na Eq. (2.10),

= U C = (2.19)

^páoo = ^2u' í2'20)

Em turbinas pode-se, na maioria dos casos, desprezar a separação


das pás, de maneira que, na Fig. 2.15, o ponto A'2 fica em A2. Desta
maneira, em turbinas

'páoo Y ,. (2.20a)
36 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

2.44 O método de Pfleiderer para o cálculo da redução de


potência em bombas

Para bombas não é permissível admitir-se a simplificação feita


atrás, ou seja, a Eq. (2.20a), em nenhum caso. O erro seria normal-
mente de 35% e em muitos casos até maior. Somente na entrada do
canal podemos desprezar o desvio, conforme foi visto na seção ante-
rior (ver Fig. 2.17).
Como podemos, neste caso, calcular a redução de potência
ypáoo — Ypá ou o valor A2A'2 = c2u — c3u? Os processos da matemá-
tica hidrodinâmica que consideram o fluido sem atrito1 são basica-
mente válidos mas, devido a desprezarem a viscosidade, levam quase
sempre a resultados inúteis, de maneira que somente podem ser
utilizados para observações gerais (Figs. 9.29 e 9.40a). Em nenhuma
hipótese formam uma base para cálculos na prática. Em trabalhos
de pesquisa, principalmente os realizados por H. Schlichting, foi consi-
derado o efeito da viscosidade no cálculo das pás2. Tais processos
de cálculo demandam muito tempo e, por isso, não são usualmente
considerados na prática. Em geral, utiliza-se métodos aproximados.
Um dos muitos métodos de aproximação, que é frequentemente usado
na prática e que foi introduzido por C. Pfleiderer, será aqui tratado
(ver [III, 1; l.a edição, 1924, p. 93]). Este método pode ser usado
para qualquer forma de pá e permite um tratamento uniforme. É
deduzido em [III, 1] baseando-se na hipótese de uma distribuição
regular da pressão nas pás e resulta na fórmula
Fig. 2.19. Corte longitudinal do rotor de
uma bomba
+ (2.21)
com

(2.22)

onde

r 2 é o raio na aresta de pressão do rotor,


z é o número de pás,
S é o momento estático do segmento AB da linha de corrente
média entre as arestas de entrada e de saída, em relação ao
eixo de rotação (Fig. 2.19), ou seja:

-r Jri
r dx,

\l/' é um coeficiente empírico, que depende da forma de rotor e


(2.23)

do tipo de sistema diretor.


De acordo com a experiência [III, l, p. 136/141 e V, 37; V, 80],
pode-se tomar para rotores radiais

1 Busemann, A.: ZAMM 5 (1928); Spannhake, W.. Mittlg. d. Inst. f. Strõmungs-


maschinen, Techn. Hochsch. Karlsruhe l (1930). — Betz, A., FlúggeLotz, J.: Ing.-Archiv
9 (1938) 486. — Traupel, W.: Sulzer Techn. Rundschau 1945, Nr. 1. —[IV, 1] bis [IV, 29].
2 Schlichting, H.: Anwendung der Grenzschichttheorie auf Strõmungsprobleme
der Turbomaschinen. Siemens-Zeitschrift 33 (1959) H. 7, p. 429/438. Dort weitere
Literatur. — Ferner [IV, 23; IV, 39; V, 48].
2.4 PROCESSOS DE CÁLCULO 37

com sistema diretor com aletas

(2.24)

com uma caixa espiral como único sistema diretor

*!/' = (0,65 até 0,85) (l + ^M , (2.25)


V ÒU /
com um anel diretor liso como único sistema diretor

\l/' = (0,85 até 1,0)(l + -jfa\ (2.26)


V /
para rotores semi-axiais e axiais

^' = (1,0 até 1,2) (l +1$^, (2.27)


V ÒU/

onde o ângulo das pás f$2 deve ser dado em graus.


Os valores de i//' calculados com as equações atrás devem ser
compreendidos como valores orientativos, válidos somente para nú-
meros de pás normais. No caso de rotores axiais, deve-se acrescentar
que a Eq. (2.27) é válida para pás curvadas de forma circular. Se a
curvatura das pás for feita de outra forma (por exemplo, parabólica)
o valor de i//' se altera. Mais ainda, deve-se observar que os valores
obtidos pelas fórmulas atrás somente valem para números de Reynolds
suficientemente grandes. Para números de Reynolds pequenos, ij/'
cresce muito. Maiores detalhes sobre estas influências podem ser
encontrados, por exemplo, em [III, 1].
As grandes diferenças das Eqs. (2.24), (2r25) e (2.26) mostram que
o sistema diretor influencia muito a forma do fluxo do rotor. Desta
maneira, seria inútil calcular a redução de potência com base num
fluido ideal ou de acordo com pesquisas realizadas com grades de pás
isoladas. Somente é possível obter os valores desejados, considerando
todos os fenómenos, baseando-se na experiência. O processo dado é
ainda melhor, quando se considera que desvios dos valores reais so-
mente influenciam o resultado final de maneira muito atenuada, pois
na Eq. (2.21) somente será alterado o pequeno termo p.
Aplicação a várias formas de rotor.
Em um rotor simples, na Eq. (2.23) fica dx = ar e também

S =

e, de acordo com a Eq. (2.22)

P = 2^, * 2" (2.28)

No caso usual de -*• ^ 0,5, vem

(2-29)
38 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

r
expressão que pode ser usada para todas as pás radiais com —í- < 0,5,
pois dentro dos limites destes comprimentos usuais de pás as mu-
danças de r j/r2 fazem pouca diferença [V, 4].
Para_ um rotor axial (Seç. 9.1) vale rí = r2 = r e também
S = r • AB = ré e, de acordo com a Eq. (2.22),

\l/'r
P = ^e" (2.30)

No caso das pás duplamente curvadas (descritas nas Seçs. 1.6, 4.4
e 4.5), a integral da Eq. (2.23) pode ser calculada de maneira simpli-
ficada tomando-se segmentos pequenos e de mesmo comprimento
Ax em AB (Fig. 2.19) e somando-se os raios correspondentes. Vem
então S = Ax2>. Pode-se também aproximar S = ara, onde a é o
segmento de reta que liga os pontos A e B e ra é o raio no meio
deste segmento1.
Em rotores axiais com pás separadas (hélices) o tratamento pode
ser feito baseando-se nos métodos normais de se calcular asas de
avião (ver Seç. 9.5).

2.5 Efeitos de isopressão e de sobrepressão, grau de


reação r e coeficiente de pressão \l/
2.51 A pressão no labirinto p3-p0
No estudo do funcionamento das máquinas de fluxo (Seç. 1.1)
vimos que entre ambos os lados do rotor, ou seja, entre as posições
com índices 3 e O (Seç. 1.2), existe uma diferença de pressão estática.
Uma diferença de pressão aproximadamente igual a p3 — p0 existe
também no labirinto entre o rotor e a carcaça [ver Seç. 7.11 e
Eqs. (7.7) e (7.8)]. Desta maneira, chama-se pressão no labirinto à
diferença de pressão p3 — p0 e, à capacidade de trabalho específica que
o meio de trabalho possui devido à pressão no labirinto, chama-se
trabalho específico no labirinto YSp. Para fluidos incompressíveis vale

y = P 3 ~ Po . (2.31)
SP Q

2.52 Cálculo do trabalho específico no labirinto YSp


A diferença de energia total entre a aresta de pressão (posição 3)
e a aresta de sucção (posição 0) do rotor é, por um lado, igual à
soma do trabalho específico no labirinto com a diferença de energia
de velocidade; e, por outro lado, também igual a trabalho específico
nas pás 7pá, subtraído das perdas no canal das pás2 Zu em bombas e
somado a elas em turbinas:

(2.32)

1 Ver Bindemann, W.. Vereinfachte Ermittlung dês statischen Moments fúr den
mittleren Stromfaden bei Kroiselràdern. VDI-Z. 105 (1963) 805/807.
2 O índice u (de girante) põe em evidência o fato de que a grandeza correspondente
se refere ao rotor. Nos símbolos de velocidades, entretanto, u continua representando o
componente tangencial.
2.5 EFEITOS DE ISOPRESSÂO E DE SOBREPRESSÂO 39

Novamente vale o sinal superior para bombas e o inferior para tur-


binas. Vem [ver Eq. (2.5)]

Utilizando-se, agora, a equação do co-seno nos triângulos de velo-


cidade nas arestas de sucção e de pressão (Figs. 2.17 e 2.15), vem:
2M 1 c 0 cosa 0 = u\ c20 - w20
2u2c3 cosa 3 = u22
donde
V "3 *"0 ' "2 "*1 +
' rWn
rO
- rK3 /"•> TÍ\pá • (

A Eq. (2.33) representa uma forma especial da equação funda-


mental (2.5). A partir das Eqs. (2.32) e (2.33) pode-se calcular o
trabalho específico no labirinto:

ysp = "'-"? + »* - "Í + Zu. (2.34)

A Eq. (2.34) pode também ser deduzida diretamente da equação de


energia para o fluxo relativo [Eq. (2.11)], onde é importante observar
que as perdas de atrito não estão incluídas na Eq. (2.11).
Para o caso normal a0 = 90°, vem da Fig. 2.4 vv^ — u\ c*, de
maneira que

(2.35)

Esta última expressão pode ser simplificada tomando-se c0 = c3


(o que é válido na maioria dos casos), ficando (Fig. 2.15):
~2 _

donde, após pequena manipulação, resulta

YSp = -*(2u2-c3u) + Zu

ou, considerando-se a Eq. (2.10),

z* (236)
Admitindo-se que o trabalho específico interno Y represente a dife-
rença de energia imediatamente antes e após as pás e que consista
somente de energia de pressão, admitindo-se ainda que os compo-
nentes longitudinais das velocidades cm antes e após o rotor e o anel
diretor sejam iguais, e também que a0 = 90°, resulta que o rendi-
mento do difusor ou do jato do rotor é (ver Seç. 1.42):
±1
40 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

OU (2.38)

Como ainda, de acordo com as Eqs. (1.21) e (2.10), Y = u2c3urjh±1,


pode-se também escrever a Eq. (2.38) na forma

(2.39)

Para maior simplicidade admite-se ainda usualmente r]DL w f/h, resul-


tando
V
I l l1 — 3u
3u . (2.40)
LU,

Esta equação pode também ser obtida diretamente a partir da


Eq. (2.36).
Para um cálculo expedito grosseiro do trabalho especifico no
labirinto pode-se, numa simplificação máxima, desprezar as perdas
nas pás, ou seja, admitir Zu^Zh. Com isto, vem [ver Eq. (1.16)]:

(2.41)

e, finalmente, a Eq. (2.32) numa aproximação grosseira

y- (2.42)

2.53 Efeitos da isopressão e da sobrepressão


As considerações seguintes serão feitas sobre turbinas, porque
nelas são mais gerais e abrangentes do que em bombas. De acordo
com o valor de Ys distingue-se dois tipos principais de turbinas:
a) Turbinas com YSp = Q, nas quais existe a mesma pressão na
entrada e na saida do rotor e, portanto, todo o trabalho especifico Y
no rotor é convertido em energia de velocidade. Estas são chamadas
turbinas de pressão constante. A Fig. 2.20 mostra o comportamento
correspondente da pressão (tracejado) e o da velocidade absoluta c
através do anel diretor e do rotor. O valor de c3 é, neste caso, clara-
mente o maior possível (excluindo-se o caso de p3 < p0).

.PD
Anel diretor

Rotor

Pa-Ps

Fig. 2.20. Comportamento da pressão e da velocidade em uma turbina de pressão constante

Com admissão axial, ou seja, com uí = w 2 , ocorre que w 3 = w0,


considerando-se isopressão na Eq. (2.34), desde que se despreze o
atrito Z no canal do rotor. Desta maneira, deve haver a mesma
2.5 EFEITOS DE ISOPRESSAO E DE SOBREPRESSÂO 41

velocidade relativa em todo o canal do rotor; logo, a seção trans-


versal deve ser constante em todo o canal. As pás correspondentes
devem ser muito curvadas para poderem desviar o fluxo e desenvolver
trabalho. Tais pás são denominadas pás em gancho (/?2 > 90°) e per-
mitem obter mesmas seções na entrada e na saída do canal. Como é
necessário obter também a mesma seção de fluxo em todo o canal,
é necessário engrossar as pás no meio em turbinas a vapor e a gás
(Fig. 2.21), enquanto que em turbinas hidráulicas oferece-se uma super-
fície livre para o fluxo no canal usando-se injeção de ar (Figs. 5.31
e 5.33). Assim, pode-se usar pás de espessura constante em turbinas
hidráulicas, o que reduz o atrito no canal, pois somente existirão
perdas nas paredes molhadas do rotor, pois este estará girando no
ar, tal como uma roda d'água. Esta é uma importante vantagem da
turbina hidráulica de pressão constante em comparação com as tur-
binas a vapor ou a gás também de pressão constante. Fig. 2.21. Pás de pressão constante de uma
As turbinas de pressão constante podem ter admissão parcial, ou turbina a gás ou a vapor A largura do canal a
j , , , , . . e praticamente igual em toda parte
seja, somente uma parte do circulo do rotor e exposta ao jato aciona-
dor e, conseqúentemente, somente esta parte terá canais diretores
(Figs. 1.5a e 1.5c). Isto é necessário nos casos de pequenos fluxos
volumétricos e de grandes trabalhos específicos internos Y porque
devem ser criadas pequenas seções de fluxo que não são suficientes
para ocupar todo o diâmetro do rotor. Assim, a admissão parcial
permite um aumento do diâmetro do rotor, o que, por sua vez, per-
mite a construção de turbinas hidráulicas de um estágio mesmo para
grandes alturas de queda, enquanto que as bombas, que não podem
normalmente ser construídas para pressão constante, devem possuir
vários estágios para grandes alturas de elevação. Entretanto, existem
bombas rotativas de pressão constante para casos especiais [V, 49],
De acordo com a equação fundamental, vem, para o caso a0 = 90°,
[Eq. (2.10)],

u2 = 7pá • (2.43)
2 C3 COSO£3

Da Eq. (2.43) conclui-se:


Quando o trabalho específico nas pás YpÁ é mantido constante,
quanto maior for a velocidade c3, menor será a velocidade tangencial
w2, pois o cosa3 mudará muito pouco de valor. Como c3 assume seu
maior valor possível no caso de pressão constante, u2 será mínimo.
Assim, as turbinas de pressão constante são lentas, ou seja, elas con-
vertem um máximo trabalho específico nas pás Y para uma dada
velocidade tangencial, ou trabalham com a velocidade tangencial mí-
nima girando com a mínima rotação n = u2/nD2 para um trabalho
específico nas pás dado. Pode-se conseguir uma rotação ainda menor,
pois a admissão parcial permite aumentar o diâmetro do rotor D2.
b) Turbinas com YSp > O, nas quais somente será transformada
em energia de velocidade a parte da pressão total reduzida de p3 — p0
(Fig. 2.22) e c3 não assume seu maior valor possível, sendo denomi-
nadas turbinas de sobrepressão ou de reação.
A Eq. (2.43) dará agora valores maiores de u2, do que se conclui
que as turbinas de sobrepressão são mais rápidas que as de pressão
constante. Nas turbinas de sobrepressão não é possível usar normal-
mente admissão parcial, já que os canais do rotor que não estivessem
momentaneamente recebendo o fluido curto-circuitariam os lados de
alta e de baixa pressão do rotor, eliminando ou, no mínimo, enfra-
42 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

quecendo a diferença de pressão. Entretanto, no caso de diferença de


pressão muito pequena, ainda é possível fazer admissão parcial.

Po
Aneldiretor

Fig. 2.22. Comportamento da pressão e da velocidade no anel diretor e no rotor de uma


turbina de sobrepressão

Para admissão axial com ui=u2 e para Zu = O vem agora


w0 > w3, de acordo com a Eq. (2.34). Os canais do rotor devem
então se estreitar, como mostra a Fig. 2.23, não cabendo mais o uso
de pás tipo gancho. Isto resulta também da outra forma do triângulo
de velocidade para a aresta de pressão (Fig. 2.24), pois c3 ^ c2 redu-
zido juntamente com u2 aumentado reduz /?2. Assim, a forma do
canal terá uma curvatura menor, resultando em um Zu também
menor do que nas turbinas de pressão constante. Desta maneira, o
Fig. 2.23. Pá de sobrepressão. As rendimento interno deve ser maior nas turbinas de sobrepressão,
setas mostram a direção das veloci-
dades relativas em uma turbina
conforme as Figs. 1.5 ou 2.21, a não ser que a pressão no labirinto
cause uma perda no labirinto (Seç. 7.1) que elimine o ganho, pois nas
turbinas de pressão constante obviamente não há perda no labirinto.
Além disto, também o atrito no rotor aumentará, pois u2 aumenta e
aparece ainda o empuxo axial (Seç. 7.2) cuja existência ou cuja com-
pensação sempre trazem problemas.

2.54 O grau de reação r


A expressão seguinte é usada para caracterizar a reação (ver
Seçs. 2.51 e 2.52):

trabalho especifico da pressão no labirinto YÂe.


s
grau de reação r = (2.44)
trabalho especifico interno Y
JPressao constante

'^SobrepressQo Seu valor é zero para pressão constante, é maior que zero para sobre-
pressão e pode aumentar até l (podendo, em casos especiais, ultra-
passar 1). De acordo com a Eq. (2.39) e para a0 = 90°, vale
Fig. 2.24. Velocidades na aresta de pressão das
pás de turbinas com mesmo trabalho específico
nas pás: pressão constante:
sobrepressão r^-^f^Y1 (2.44a)

ou, aproximadamente, considerando-se as Eqs. (2.40 e (2.10),

1 _ (2.44b)
2u22

De acordo com a Eq. (9.3), da Seç. 9.12, esta equação, no caso de


admissão radial, assume a forma geral, que vale também para a 0 ^90°:

w
(2.45)
2.5 EFEITOS DE ISOPRESSÂO E DE SOBREPRESSÂO 43

De acordo com o exposto na Seç. 2.53a, o uso de isopressão em


turbinas hidráulicas dá melhores rendimentos do que em turbinas a
vapor ou a gás. Isto ocorre especialmente quando se usa admissão
parcial, pois, enquanto nas turbinas a vapor e a gás os canais do
rotor não impulsionados giram no meio de trabalho, nas turbinas
hidráulicas eles giram no ar. Apesar disto, é mais comum projetar-se
turbinas a vapor de pressão constante devido à sua característica
lenta, já que o trabalho específico interno oferecido a tais turbinas
é muito grande (Seç. 10.2) e existe o perigo de que o número de
estágios e a velocidade tangencial cresçam exageradamente. Nas tur-
binas hidráulicas os trabalhos internos são sensivelmente menores e
a construção tipo pressão constante (na forma de rodas Pelton, de
acordo com a Seç. 5.5) somente é usada quando existem quedas extre-
mamente altas ou vazões muito pequenas que exijam admissão parcial.
Para bombas somente se usa na prática construções tipo sobre-
pressão. Isto se deve a que o aumento de pressão nos canais girantes
é mais conveniente que em canais parados, graças à ação das forças
centrífugas, que exercem um efeito de sucção nos espaços mortos.

(2.46)

2.55 Coeficiente de pressão \l/


Pode-se ver da equação fundamental [Eqs. (2.5) e (2.10)] que,
havendo semelhança geométrica, a variação dos diagramas de velo-
cidade resulta (Figs. 2.15, 2.17 e 2.24) em que o trabalho nas pás Ypá
seja aproximadamente igual a u22. Admitindo-se um rendimento das
pás rjh constante [Eq. (1.21)], também Y^ u22 [ver Seç. 6.51, especial-
mente a Eq. (6.23)].
No projeto de máquinas de fluxo a relação Y/u22 é caracterizada
pelo coeficiente de pressão que é uma expressão adimensional para
o trabalho específico interno de uma máquina de fluxo.
Admitindo-se que Y consista somente de energia de pressão, o
coeficiente de pressão \ji representa a relação da diferença de' pressão
&p = PD — ps [ver Eq. (1.4) com CD = cs e e = 0] gerada ou recebida
por uma máquina de fluxo de um estágio, para a pressão de estag-
nação da velocidade tangencial u22 Q/2. Assim, para fluidos incom-
pressíveis, vem \j/ = I&P/QU^.
^J2Y = cy é a velocidade que ocorreria se todo o trabalho in-
terno Y fosse convertido sem perdas em energia de velocidade.
Logo, vem

^= ' (2-46a)

a) Cálculo do coeficiente de pressão i// para a 0 = 90°. No caso


de a0 = 90°, e de acordo com as Eqs. (2.10) e (1.21), vem

Ypá = u2c3u=Yn^, (2.47)

onde mais uma vez o sinal superior se refere a bombas e o inferior


a turbinas. Com isto, a Eq. (2.46) se transforma em

(2-48)
44 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

De acordo com a Eq. (2.44) pode-se fazer

Y~ YsP= Y({ -r) (2-49)


na Eq. (2.37). Das Eqs. (2.37),> (2.46), (2.47) e (2.49), resulta, então:

^ = 4(1 -r) ( J * - ) * 1 . (2.50)


y nDL '

Admitindo-se que a0 = 90° e que cm seja constante na máquina, vale


a Eq. (2.50) com o sinal positivo do expoente l para bombas e com
o sinal negativo para turbinas.
A Eq. (2.50) mostra que, para uma máquina com oc0 = 90° e com
cm constante, o coeficiente de pressão \j/ somente depende do grau
de reação e dos rendimentos rjh e rjDL.
O raciocínio seguinte permite uma melhor compreensão da
Eq. (2.50):
Admitamos que, devido a alterações no sistema diretor de uma
bomba o rendimento rjDL piore muito, mas que a potência mínima
(Seç. 2.44) deva permanecer constante. Desta maneira, Y — YSp di-
minui proporcionalmente a r]DL [ver Eq. (2.37)] enquanto que Ypá e
c 3 u nuo mudam. A redução de Y— YSp ocorre devido a que Y
diminui c YSp permanece constante. Devido ao funcionamento defi-
ciente do sistema diretor, r aumenta [ver Eq. (2.44)], e, em resumo,
o efeito geral da alteração [ver Eqs. (2.44), (2.47) e (2.37)] é:

e, com isto,

(l - r) -^ = const.
VDL
Considerações semelhantes podem ser feitas para turbinas. Assim,
alterando-se o sistema diretor, mantendo-se a0 = 90°, obtém-se, a
partir das Eqs. (2.48) e (2.50), para bombas (sinal superior) e para
turbinas (sinal inferior):

-const. -**- (2.51)

Compare este resultado com o da Seç. 2.24, onde pode-se fazer


c2 = cy Substituindo-se a Eq. (2.51) na Eq. (2.50), reconhece-se que
\l/ é proporcional a qh (e não a rçj).
Em certos casos, principalmente para graus de reação interme-
diários, pode-se fazer r\ = Y\ na Eq. (2.50). Com isto, vem

iA^4(l-r)^±1. (2.52)

O uso desta equação é especialmente vantajoso para bombas, pois


em bombas sem sistema diretor na entrada sempre ocorre a0 = 90°.
Em turbinas, ao contrário, mesmo sem sistema diretor na saída, em
qualquer alteração das condições de trabalho o valor de oc0 fica
rapidamente diferente de 90°, e, com isto, as equações não são mais
válidas. Na seção seguinte a variação de a0 em turbinas será melhor
estudada.
2.5 EFEITOS DE ISOPRESSAO E DE SOBREPRESSÂO 45

b) Particularidades do coeficiente de pressão i// em turbinas e


em bombas. Para turbinas, o trabalho específico interno Y é uma
grandeza entregue à máquina do exterior. Em uma turbina a vapor
operada à velocidade tangencial constante, pode-se alterar à vontade,
por exemplo, a pressão de vapor vivo e, com ela, também Y e ^, de
acordo com a Eq. (2.46). Deve-se observar, que, com isto, o ângulo a0
também se altera1 e que, para a0 ^ 90° as Eqs. (2.37), (2.47), (2.48),
(2.50) e (2.52) não valem. A Fig. 2.25 mostra a variação do rendi-
mento nas pás e do ângulo a0 com o coeficiente de pressão \jj para

Fig. 2.25. Relação entre o rendimento das pás r\ e entre o ângulo de saída a0 e o
coeficiente de pressão \fi em uma turbina a vapor de um estágio

uma turbina a vapor de pressão constante de um estágio. Para


a0 = 90° foram tomados os valores rjh = 0,88 e rjDL = 0,94, dos quais
se obtém \j/ = 4,85 da Eq. (2.50). O melhor rendimento nas pás será
alcançado para \// ^ 4,5, quando a0 ^ 80o2. Devido ao grande tra-
balho específico interno disponível nas turbinas a vapor, procura-se
processar a maior parcela possível deste trabalho específico interno
em um estágio, dentro do limite de velocidade tangencial fixado pelas
solicitações devidas às forças centrífugas. Por isso, escolhe-se usual-
mente no projeto de um estágio de pressão constante de uma turbina
a vapor
r =0 = 4'5 até 7> (2.53)

onde o intervalo de 4,5 até cerca de 5,5 é adotado para construções


de alta qualidade (com o melhor rendimento possível), e o intervalo
restante até 7 é adotado para construções mais baratas (com o maior
trabalho possível no estágio, dentro de um rendimento razoável).
No caso de turbinas hidráulicas de pressão constante, escolhe-se
usualmente
1 Ver com relação a isto: Konstruktion 23 (1971) H. 6, p. 223/231, principalmente
a Fig. 14.
2 A razão para isto é que, devido ao aumento de w 2 , com Y constante, as velocidades
relativas e também as perdas no canal das pás ficarão menores e, na regiãp perto de
a0 = 90°, o componente tangencial da velocidade absoluta de saída aumenta pouco a
perda na saída.
46 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

iAr = 0 = 4'5 até 5 > 5 (2-54)


somente no intervalo dos melhores rendimentos possíveis, pois nestas
o trabalho específico interno é extremamente pequeno em compa-
ração com o das turbinas a vapor e não há possibilidade de se pôr
em perigo uma construção em um estágio devido a velocidades tan-
genciais muito altas.
Para o projeto de turbinas de sobrepressão, escolhe-se, de acordo
com a Eq. (2.50), menores coeficientes de pressão. Em geral, para
turbinas a vapor toma-se
\l/ = (4,5 até 7) (l - r). (2.55)

Para r = 0,5, a Eq. (2.55) dá

<Ar = o,5 = 2,25 até 3,5, (2.56)

onde o intervalo de 2,25 a 2,75 é adotado para construções de alta


qualidade, e o intervalo de 2,75 até 3,5 para construções mais baratas.
Ao contrário do que ocorre nas turbinas, nas bombas o trabalho
específico interno é uma grandeza gerada internamente na máquina,
de maneira que em bombas não é possível variar o coeficiente de
pressão à vontade. É verdade que é possível em bombas aumentar o
trabalho específico interno Y e, assim, também \l/ em comparação
com o trabalho normal com oc0 = 90°, ou seja, em comparação com
o coeficiente de pressão calculado de acordo com as Eqs. (2.50) e
(2.52) utilizando-se vórtice oposto, com a0 > 90°. Entretanto, na prá-
tica, raramente esta possibilidade é utilizada. Em geral, para bombas,
toma-se a0 = 90°, ou seja, as Eqs. (2.50) e (2.52) são válidas. Algumas
vezes escolhe-se a0 < 90°, com o que o coeficiente de pressão também
diminui.
Para bombas radiais, em geral, vale

\l/ = 0,9 até 1,3, (2.57)

onde o grau de reação r fica aproximadamente dentro do intervalo


de 0,6 a 0,75.
Para bombas axiais, no cálculo do coeficiente de pressão, refere-sc
usualmente a velocidade tangencial u2 ao raio externo do rotor rfl,
e denota-se o coeficiente de pressão assim calculado por \l/a. Ele é
aproximadamente

até U) Y, (2.58)

onde r. é o raio interno da aresta de pressão da pá. O coeficiente de


pressão \j/a de bombas axiais é menor que o calculado para bombas
radiais, pois nas bombas axiais o trabalho nas pás Ypá [ver Eq. (2.47)]
é quase sempre constante em todo o raio. Assim, 7pá também deve
ser referido ao raio interno r..1 Neste caso existe um valor limite
superior, pois o ângulo de saída das pás f$2i deve ser menor que 90°
(ver Seç. 6.41a).
c) O coeficiente de pressão \j/ para turbinas-bombas. Para máqui-
nas que podem ser operadas tanto como bombas quanto como

1 Ver Broecker, E.: Heiz,-Luft. Haustechnik 11 (1960) H. 7, p. 179/181.


2.5 EFEITOS DE ISOPRESSÃO E DE SOBREPRESSAO 47

turbinas (as turbinas-bombas), é necessário distinguir-se entre o coefi-


ciente de pressão i//p para sua operação como bombas, e o coeficiente
de pressão \//T para sua operação como turbinas1. A diferença entre
{//P e \I/T resulta do seguinte.
Com rotação constante e medidas iguais, os trabalhos nas pás de
bombas e turbinas serão iguais, admitindo-se número infinito de pás

ypáooP — ^páooT'
J
y

Vem, então [ver Eqs. (2.21) e (1.21)]

onde p representa a potência mínima em operação como bomba.


Além disto, vem [ver Eqs. (2.20a) e (1.21)]

ijáoor ~ *pár = YTrjhT.


Estas equações dão

YP=YTr,hTr,hpY±-p (2.59)

e, com isto

-' (2.59a)

Com rjh = 0,84 • • • 0,92 e p = 0,2 • • • 0,4 calcula-se

(2.60)

Uma turbina-bomba tem, portanto, um coeficiente de pressão muito


menor em operação como bomba que em operação como turbina.
Naturalmente, as Eqs. (2.59a) e (2.60) são válidas para pás fixas,
ou seja, não ajustáveis.
Na prática as turbinas-bombas são usadas principalmente nas
usinas de recalque, onde a diferença entre \j/p e i//T é particularmente
indesejável. Pode-se alcançar valores entre 0,69 e 0,77 para a relação
i//P/il/T mesmo para pás não ajustáveis através de providências espe-
ciais no projeto de tais máquinas3. Adotando-se pás ajustáveis, é
possível obter-se inclusive \j/p = i//T.4
d) O coeficiente de pressão \l/ para máquinas de vários estágios.
(a) Estágios de pressão. Em máquinas de fluxo de vários estágios com
estágios de pressão, o trabalho interno total Y é distribuído em tra-
balhos de estágio A y individuais, ficando cada estágio com uma

1 Os índices P Q T caracterizarão, no que segue, sempre operação como bomba e


operação como turbina, respectivamente.
2 Dziallas, R., Hofmann, A.: Radiale, umkehrbare Pumpenturbinen. Voith Fors-
chung und Konstruktion, H. 12 (Dez. 1964) Aufsatz 1.
3 Ver a este respeito Thufi, W., Hilgendorf, J.. Rohrturbinen ais axiale Pumpen-
turbinen. Voith Forschung und Konstruktion, H. 12 (Dez. 1964) Aufsatz 2 und Meier,
W.. Getrennte hydraulische Maschinen oder reversible Pumpenturbinen fúr Pumps-
peicherwerke? Escher Wyss Mitteilungen 39 (1966) H. 3, p. 31/37.
4 Ver a este respeito 77?w/?, W., Hilgendrof, J.: Rohrturbinen ais axiale Pumpen-
turbinen. Voith Forschung und Konstruktion, H. 12 (Dez. 1964) Aufsatz 2 und
Pumpspeicherwerke? Escher Wyss Mitteilungen 39 (1966) H. 3, p. 31/37.
48 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

diferença de pressão determinada Ap para processar. Para fluidos


incompressíveis Y = ZAY, e para fluidos compressiveis / x Y ^ Z A Y ,
onde n é o coeficiente de trabalho adicional obtido pelo calor devido
ao atrito (ver Seç. 10.24).
Para uma máquina de fluxo de vários estágios deste tipo, utili-
za-se usualmente como característica o coeficiente de pressão médio

(2.61)

Assim, para fluidos incompressíveis vem

e para fluidos compressiveis

2uY
(2.63)

£1*2 é aqui a soma dos quadrados das velocidades tangenciais das


arestas de pressão das pás dos estágios individuais. As Eqs. (2.61)
a (2.63) valem em geral para bombas e turbinas. Quando, por exem-
plo, em uma bomba rotativa de vários estágios para elevação de água,
os vários estágios são construídos da mesma maneira, e conseqiien-
temente têm o mesmo trabalho no estágio A Y, resulta, substituin-
do-se as Eqs. (2.61) e (2.62) na Eq. (2.46):

_ _ 2AY _
r médio ~~ yJV2 — 2 '

Nesta, i indica o número dos estágios de pressão (ver Seç. 10.21a).


Para uma máquina constituída por estágios iguais, é então

•/Wdio = +, (2-64)

onde agora \l/ é o coeficiente de pressão de cada estágio. Para cada


estágio, tomado individualmente, valem todas as equações deduzidas
para máquinas de um estágio, onde somente é necessário substituir
7 por AY.
Os coeficientes dados para máquinas de um estágio e para está-
gios individuais de máquinas de vários estágios nas Eqs. (2.53) a (2.58)
valem também para o coeficiente de pressão médio iAmédio.
Em turbinas a vapor o coeficiente de pressão médio, calculado
pela Eq. (2.61) ou pela Eq. (2.63), é uma medida da qualidade da
máquina. Nestas também se aplicam as observações feitas após as
Eqs. (2.53) e (2.56) sobre i//. O coeficiente de pressão médio substitui,
portanto, na construção de turbinas a vapor, o coeficiente de Parsons
q = *Lu2/H, antigamente usado (ver a Seç. 56, p. 362, da 2.a edição
original em alemão deste livro).
P) Estágios de velocidade. Em máquinas de fluxo de vários
estágios, com estágios de velocidade (por exemplo turbinas a vapor
tipo Curtis) o trabalho interno total Y é utilizado no primeiro rotor
para gerar uma alta velocidade, que, em seguida, é transformada em
trabalho mecânico nos estágios posteriores, usualmente dois (ver
2.5 EFEITOS DE ISOPRESSÂO E DE SOBREPRESSÂO 49

Seç. 10.21b). Uma máquina deste tipo trabalha com pressão aproxi-
madamente constante. Nelas vale [ver Eq. (10.9) e Seç. 10.17]

27 27
(<Amédio); y-2
=
±u2= 7^2
ju2 * M> (2'65)

onde (iAmédio)7 é o coeficiente de pressão médio de uma máquina


com j estágios de velocidade e \ji é o coeficiente de pressão de uma
máquina equivalente com um estágio ou com estágios de pressão.
Por exemplo, em uma turbina a vapor de pressão constante com
estágios de pressão ou com somente um estágio, de acordo com as
Eqs. (2.64) e (2.53), o coeficiente de pressão é i/^ = 4, 5,..., 7. Para
uma turbina a vapor tipo Curtis com pressão constante pura, no
caso de j = 2, vem

(^^=2*2(4,5-7)-9-14 (2.66)

e, para 7 = 3 estágios de velocidade

«WdioW * 3(4,5 • • • ? ) = 13,5 • • • 21. (2.67)

Os altos valores de \j/. mostram muito claramente que uma turbina


Curtis pode processar grandes quedas de entalpia. O rendimento das
turbinas Curtis é tanto menor quanto maior é o número de estágios
de velocidade. Desta maneira, pode-se também usar (íAmédio)7 como
coeficiente de qualidade da mesma maneira que iAmédio e usado nas
turbinas a vapor com estágios de pressão (ver Fig. 10.17).
e) Determinação do coeficiente de pressão ótimo para turbinas
com admissão parcial. No trecho não impulsionado do rotor das tur-
binas ocorrem perdas de ventilação, cujo cálculo será descrito na
Seç. 7.33, Eq. (7.22). A intensidade destas perdas de ventilação influ-
encia o coeficiente de pressão ótimo, que será tratado a seguir.
Nas turbinas Pelton (Seç. 5.5) estas perdas de ventilação são
desprezíveis, pois o meio ambiente no qual as pás não impulsionadas
giram (ar) tem uma densidade cerca de 1000 vezes menor que a do
fluido de trabalho (água). Assim, no caso das turbinas Pelton, a
admissão parcial não influencia a escolha do coeficiente de pressão.
Uma turbina de pressão constante com admissão total tem os
melhores rendimentos nas pás e interno para um coeficiente de pres-
são da ordem de 4,5 (ver Seç. 2.55; Fig. 2.25). Quando se despreza os
fluxos de perda representados na Fig. 5.47a, a passagem para uma
admissão parcial não influencia os rendimentos das pás, pois as perdas
de ventilação que ocorrem nas turbinas com admissão parcial Pr e Zr
somente influenciam o trabalho específico interno Y. e não o trabalho
específico nas pás 7pá (Seç. 1.41). Assim, a Fig. 2.25 é válida tanto para
turbinas com admissão total como para turbinas com admissão parcial.
As perdas de ventilação que ocorrem em turbinas com admissão
parcial são bastante grandes principalmente para pequenos graus de
admissão1 e são proporcionais à terceira potência da velocidade tan-
gencial [Eq. (7.22)]. Deixando-se o coeficiente de pressão ^ ^ 4,5,
uma redução da velocidade tangencial (correspondendo a um aumento
do coeficiente de pressão) causa inicialmente uma pequena redução
do rendimento das pás rjh (Fig. 2.25) mas causa uma grande redução

e = Comprimento do círculo que tem admissão/circunferência do rotor.


50 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

das perdas de ventilação (devido à relação com w 3 ). Por isso o ótimo


do rendimento interno de uma turbina a vapor de pressão constante
desloca-se para valores do coeficiente de pressão tanto maiores quanto
menor for o grau de admissão e.

W 12,5 16 20 25 315 W 50 63

Fig. 2.25a. Rendimento interno calculado r\ de uma turbina a vapor de pressão constante
com y.2 = 17.°, clm/c2m = 0,9 e vários graus de admissão e. São ainda indicados:
linha de rendimento máximo, ou seja, de coeficientes de pressão ótimos para um
determinado grau de admissão e:
comportamento do rendimento para um fluxo de vapor w constante:
— ' — ' — linha de rendimento máximo, ou seja, coeficientes de pressão ótimos para
fluxos de vapor râ constantes dados.

A Fig. 2.25a mostra o comportamento calculado do rendimento


interno 77. de uma turbina a vapor de um estágio para diferentes
graus de admissão s. Com admissão total (s = 1) o ótimo do rendi-
mento interno situa-se em \ji ^ 4,5 (da mesma maneira que o rendi-
mento ótimo das pás na Fig. 2.25). O ponto ótimo desloca-se para
maiores coeficientes de pressão quando o grau de admissão diminui1.
No projeto de uma turbina a vapor o fluxo de massa de vapor w
é comumente dado. Deve-se, portanto, garantir que, quando o coefi-
ciente de pressão for aumentado, também seja aumentado o grau de
admissão e, caso além de w também sejam mantidos constantes a
altura do jato b4 e o ângulo a 3 da velocidade absoluta. Por isso são
também mostrados na Fig. 2.25a os rendimentos internos para fluxos
de vapor constante.
f) O coeficiente de trabalho das pás i^pá. Em trabalhos científicos
é frequentemente conveniente trabalhar com o coeficiente de trabalho
das pás {//pá dado por

1 Ver Petermann, //., Aschenbrenner, A., S tampa, B.. Rechnerische Bestimmung


der optimalen Druckzahl fúr die Regelstute von Dampfturbinen. Konstruktion 17
(1965) 165/170.
2.6 EXPLICAÇÃO ELEMENTAR DA AÇÂO DAS FORÇAS 51

^á = 2rP á/ w 2- (2-68)
Das Eqs. (2.47) e (2.68) vem

\// á = \l/r\^1. (2.69)

Para uma máquina de um estágio com a0 = 90° e cm igual antes e


depois do anel diretor e do rotor, vem, das Eqs. (2.50) e (2.69)

\
(2.70)

Nesta equação deve-se observar que a relação rjh/qDL compensa a


variação do grau de reação causada pela variação do rendimento,
desde que a potência mínima permaneça constante [ver Eq. (2.51)].
Caso n = n , v e m

<Apá « 4(1 - r). (2.71)

A Eq. (2.71) mostra que as perdas, ou seja, o rendimento, não entra


diretamente na determinação de \l/pá. Isto concorda com o fato de
que o trabalho específico nas pás Ypá não depende diretamente
das perdas.

2.6 Explicação elementar da ação das forças entre o


fluxo e as pás
Embora já seja conhecido da mecânica dos fluidos que a força
nas pás decorre da união de um fluxo direto com um de circulação,
procuraremos ainda esclarecer melhor os efeitos destas forças através
de explicações elementares, que bastam para a maioria dos casos.
Ao lado do atrito, que desprezaremos, somente agem forças de
massa. Consideremos, inicialmente, uma grade de pás axial (Fig. 2.20
ou 2.22) do ponto de vista de um ponto que se move com as pás.
Assim, observamos o fluxo relativo, e reconhecemos que as forças
se originam:
a) através da curvatura das pás, ou seja, da alteração da direção
da velocidade relativa, pois as trajetórias curvas geram forças centrí-
fugas que representam os componentes das forças atuantes na direção
de movimento da grade — efeito de desvio;
b) através da mudança do valor da velocidade relativa, quando o
canal das pás se estreita ou se alarga. Isto causa (tanto com pás cur-
vadas como com pás retas) uma contrapressão, tal como nos foguetes.
Este fluxo acelerado somente pode ser imaginado na grade que
se movimenta em linha reta, se houver um efeito de reação ou de
sobrepressão, enquanto que o efeito de desvio tratado inicialmente
também pode ocorrer com velocidade constante, ou seja, com pressão
estática constante. Nas turbinas de pressão constante (no caso de
admissão axial) elas são a única razão do aparecimento de uma força
atuante. Com isto fica claro por que as pás de pressão constante têm
uma curvatura tão acentuada, ou seja, são construídas como pás em
gancho e forçam uma grande variação de direção. A Fig. 2.26 mostra Fig. 2.26. Redução da perda de saída
claramente que na região representada de uma turbina de pressão com o aumento da curvatura das pás
no exemplo de uma turbina de pressão
constante a velocidade de saída cv e conseqiientemente as perdas constante, onde também w^ = w,
de saída, será tanto menor quanto maior for o ângulo de desvio
52 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

|j82 —jSj das pás. Devido à pressão constante toma-se nesta figura
sempre w x = w^.
Na Fig. 2.27 são mostrados os triângulos de velocidade para
uma pá reta situada em um espaço de forma anelar estreitando-se
para baixo, como mostra a figura ao lado. Aqui falta o efeito de
desvio descrito no parágrafo a. Entretanto, devido ao aumento de w2
em comparação com w p ou seja, devido ao efeito da reação, aparece
assim mesmo uma diferença de vórtice r(c2 cosoc2 — c x coso^) e assim,
de acordo com a Eq. (2.4), existe um trabalho nas pás Y Á.

Fig. 2.27. Pá de sobrepressão axial reta

c) Se agora variarmos a distância a que as partículas fluidas


estão do eixo, observando, por exemplo, o rotor radial (Fig. 4.3),
ocorrem usualmente ainda acelerações de Coriolis, pois as partículas
atravessam zonas de diferentes velocidades tangenciais das pás. Nas
pás radiais retas como as da Fig. 2.28 elas formam a única causa
para um momento acionador, já que não existe forças de desvio do
tipo descrito em a e também não existem forças de massa do tipo
Fig. 2.28. Pressão nas pás devido a descrito em b, sendo que as forças de massa que existem atuam
forças de Coriolis através do eixo de rotação e não têm braço de alavanca.

2.7 Escolha do ângulo das pás /J2, áreas de utilização


das várias formas de pás
As considerações das Seçs. 2.5 e 2.6 levaram a formas de pás
muito diferentes e com propriedades também muito distintas, por
exemplo, as pás tipo gancho para pressões constantes e as pás retas
para sobrepressões. A variedade destas formas de pás é determinada
pelo ângulo /?2 da pá, enquanto que o ângulo jS1 pouco se altera.
Procuraremos, agora, detalhar esta influência de j32. Vimos que seu
efeito se mostra principalmente na variedade de valores da velocidade
tangencial u2 e, portanto, também do coeficiente de pressão, neces-
sários para um trabalho específico nas pás Ypá determinado, ou seja,
para um trabalho específico interno Y determinado.
Na Fig. 2.29 tomamos quatro valores de C 2 cosa 2 = c2u, man-
tendo a velocidade tangencial u2 = B2C2 constante. Os quatro valo-
res correspondem aos quatro vértices E, F, G Q H dos triângulos de
velocidade, onde escolhemos EF = F J = u2. É evidente que o ângulo
/?2 varia desde o ângulo obtuso B2C2E, passando pelo valor do
ângulo B2C2F, até o ângulo agudo £2C2J. Em E, F, G e H estão
também desenhadas as formas de pás para máquinas com admissão
axial, mantendo-se constante o ângulo /?x da aresta de sucção.

1 A Fig. 2.26 mostra também que, deixando se /^ '= jS2 com uma maior variação
de ângulo, o componente longitudinal cl sen o^ diminuirá e, portanto, o comprimento
das pás na aresta de sucção (perpendicular ao plano do desenho) aumentará. A diver
gência causada nos limites das pás no corte longitudinal não pode se tornar muito grande.
2.7 ESCOLHA DO ÂNGULO DAS PÁS 53

Fig. 2.29. Diagramas de velocidade do lado de pressão das pás com diferentes ângulos /?2.
Embaixo: comportamento do coeficiente de pressão \fi e do grau de reação r para a0 = 90°.
O valor \l/ = 4qh, usado para r = O, vale aproximadamente para bombas, de acordo
com a Eq. (2.52)

Tomando por base a inexistência de vórtice no recinto de sucção,


e portanto a0 = 90°, resulta, de acordo com a Eq. (2.20), que 7pá é
proporcional a c2u (e, se forem também mantidos o coeficiente de
potência mínima p e o rendimento das pás r\, também Y será propor-
cional a c2u). Assim, na sequência de valores dos segmentos JE, JF
e JG, seu valor deve ser zero. Obtemos, portanto, uma reta OM na
parte inferior da Fig. 2.29 quando traçamos o comportamento de Y
sob os vértices desde J até E. Sob as mesmas condições, isto também
dá o comportamento do coeficiente de pressão \// = 2Y/ul. A pá que
chega no ponto J não atua, pois o triângulo B2C2J é idêntico ao
diagrama de velocidades da aresta de sucção no caso de ul=u2
(admissão axial) e de c0 = c2m. O grau de reação r também varia
linearmente para c3M ^ c2m, de acordo com a Eq. (2.44b), e dá a reta
L K. Como ele decresce da esquerda para a direita, ou seja, à medida
que /?2 aumenta, é compreensível que a velocidade c2, que resulta
do trabalho convertido no rotor, cresça muito. Juntamente com o
aumento de c2 também crescem o atrito e, para fluidos gasosos, o
número de Mach c2/a (a = velocidade do som). Em resumo, vem:

para os vértices E J
c2u = c2 cos a2 = 2u2 "2 < u2 O
P2 = obtuso 90° agudo muito agudo (2.72)
r [de acordo com a Eq. (2,44b)] = O 1/2 > 1/2 l
forma da pá axial = gancho achatando-se reta

O valor absoluto da pressão no labirinto (Seç. 2.51) ou do valor r


será máximo para /?2 = 90°.
54 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

Como as observações feitas não se limitam de maneira nenhuma


à admissão axial, são mostradas na Fig. 2.30 as pás correspondentes
aos pontos £, F e G da Fig. 2.29 em c, b e a para o caso de admissão
radial. Pode-se ver que para £ e F as pás são também curvadas para
o lado positivo, enquanto que para G, apesar de realizarem trabalho
positivo, elas são curvadas para o lado negativo, ou seja, para trás.

Fig. 2.30. Formas de pás para máquinas com admissão radial correspondendo aos
vértices E, Fe G da Fig. 2.29. As setas se referem a bombas. Embaixo: formas de canal no
caso de eixo retificado

Portanto, as pás são menos curvadas para o lado positivo quanto


maior for o grau de reação, conforme já foi visto na seção anterior.
Reconhece-se a enorme influência que tem o ângulo /?2 no tra-
balho realizado pela máquina, em sua rapidez e, afinal, em todo seu
comportamento.
Esta importante influência fica ainda mais clara quando se con-
sidera uma situação de operação determinada, ou seja, valores fixos
de Y, n e V. Devido ao n constante, o diâmetro do rotor é obviamente
proporcional à velocidade tangencial, e obtém-se as 3 formas de
rotor mostradas na Fig. 2.30a, indicadas por a, b e c e válidas para
as mesmas potências e mesmas rotações.

A>w°

Fig. 2.30a. Três pás de mesmos Y, V, n (portanto mesma potência) e ângulos /?,,
desenhadas na mesma escala.

Pode-se também mostrar analiticamente a relação entre u2 e /?2,


fazendo-se, de acordo com a Fig. 1.8a, na Eq. (2.20)

c2u = B2C2 - D2C2 = u2- c2m cot (2.73)

Obtém-se uma equação do segundo grau em w 2 , da qual resulta


2.7 ESCOLHA DO ANGULO DAS PÁS 55

c2 \
--) + n
2 tg/y paa) (2.74)

ou, quando se utiliza a forma geral da equação fundamental, ou seja,


quando se admite c0u finito,

(2-75>
Em ambas estas últimas equações pode-se ver a influência de f}2
em u2 citada atrás. Vê-se, também, que diminuindo-se c2m pode-se
diminuir a velocidade tangencial necessária, desde que /?2 < 90°, o
que também pode ser visto da Fig. 2.29, pois quando /?2 < 90° e c2m
diminui, c2u aumenta imediatamente. De qualquer maneira, não se
pode fazer muito uso desta possibilidade.
Nos vários tipos particulares de máquinas de fluxo utiliza-se esta
grande influência do ângulo ($2 para obter uma rotação conveniente
para acoplamento direto com máquinas elétricas a um rendimento
ótimo para qualquer tipo de portador de energia ou de direção da
conversão de energia.

2.71 Turbinas hidráulicas


Nas turbinas hidráulicas para pequenas e médias quedas usual-
mente é difícil obter-se rotações suficientemente altas. Devido a isto, é
sempre preferido nestes casos usar o efeito de sobrepressão, ao invés
do efeito de isopressão, que leva a máquinas mais lentas. Para quedas
muito grandes e para vazões pequenas prefere-se usar o efeito de
isopressão juntamente com admissão parcial, especialmente na forma
de rodas Pelton (Seç. 5.5).
No caso de admissão total (turbina Francis) é preferível usar
graus de reação de 0,5 ou mais, juntamente com ângulos (!2 de 90°
ou menos. Para admissão total, limita-se ainda o projeto das máqui-
nas na região de vértices superiores dos triângulos à esquerda do
ponto F da Fig. 2.29. Para grandes quedas, escolhe-se o ângulo /?2
perto do limite superior, ou seja, de 90°, pois, neste caso, está asse-
gurada uma rotação suficiente e este ângulo garante a construção de
canais curtos e um comportamento favorável para cargas parciais
(ver Seçs. 6.42 e 6.43). Pás tipo gancho (ou seja, /?2 90°) são evitadas
no caso de admissão total, mesmo para grandes quedas. Por outro
lado, para pequenas quedas ($2 é reduzido para valores abaixo de 90°
para se alcançar uma rotação suficiente. O limite inferior de /?2 é
determinado pelo fato de não se desejar pás com curvatura negativa
(Figs. 2.30 e 2.30a, caso a). Para rotores claramente radiais toma-se,
portanto, fi2 sempre igual ou menor que 90° (Fig. 7.15). Para rotores
claramente axiais, tais como os das turbinas Kaplan (Fig. 6.41), que
são próprias para pequenas quedas, usa-se sempre valores pequenos
de /?2. Neste caso, aparecem ângulos ($2 nas pontas das pás que são
já muito próximos de pí9 ou seja, da forma J (Fig. 2.29). ,

2.72 Turbinas a vapor


Nas turbinas a vapor a situação é completamente diferente, pois,
devido à pequena massa específica do vapor e, consequentemente, ao
grande trabalho específico Y, luta-se sempre com velocidades tangen-
56 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

ciais muito altas (pág. 365). Por isso, neste caso são adotados grandes
coeficientes de pressão e graus de reação, usando-se formas de pás
à direita do ponto F na Fig. 2.29, ou seja, j52 ^ 90°. Assim, mesmo
no caso de admissão total usa-se também pressão constante, além
da solução mais natural com sobrepressão. Com esta última não se
ultrapassa r = 0,5 (relacionado ao diâmetro médio das pás) em regra
geral. Para reduzir ainda mais a velocidade, é comum ainda des-
viar-se da saída vertical, ou seja, com a0 = 90°, e deixar-se o vapor
sair com vórtice oposto, portanto com c0u negativo e a0 > 90°
(Fig. 2.25).
As turbinas a gás diferem das turbinas a vapor essencialmente
no fato de processarem trabalhos específicos internos muito menores,
o que fica claramente mostrado numa comparação das relações de
pressão pD/ps. Em uma turbina a gás com uma pressão de entrada
de 6 bar e uma pressão de saída de l bar a relação de pressões é de 6,
enquanto que uma turbina a vapor de condensação trabalhando com
uma pressão na caldeira de 100 bar e com 95% de vácuo, ou seja,
0,05 bar no condensador, processa uma relação de pressões de
100/0,05 =2000 (ver pág. 365). Desta forma, o problema da redução de
velocidade não é tão crítico nas turbinas a gás como nas a vapor e
pode-se usar graus de reação acima de 0,5, ou seja, pás ligeiramente
curvadas (como nas turbinas Kaplan), pois estas dão um rendimento
nas pás melhor do que as pás muito curvadas. Entretanto, nos casos
em que se deve abaixar altas temperaturas de gás, o que ocorre
usualmente no primeiro estágio, é comum usar-se pequenos graus
de reação.

2.73 Bombas
Nas bombas é preciso ter cuidado para reduzir o perigo de
descolamento, o que somente permite retardar a corrente com pe-
quenos alargamentos e, portanto, pequena curvatura do canal. Além
disso, trabalha melhor em canais girantes que em canais em repouso,
pois a camada limite sofre a ação de maiores forças centrífugas que
o fluxo livre e, por isso, será de uma certa forma aspirada. Ambas estas
considerações exigem grandes velocidades tangenciais u2 e, conseqíien-
temente, pequenos ângulos )82. No caso de rotores radiais, isto resulta
em pás com curvatura negativa (ou seja, para trás) como mostrado
em a nas Figs. 2.30 e 2.30a. Estas maiores velocidades causam maior
atrito e, para uma rotação dada, também maiores diâmetros, o que
significa maiores custos de fabricação, além de maior perda no labi-
rinto e maior empuxo axial, estas duas últimas determinadas pelo
alto grau de reação. Todas estas desvantagens são admitidas porque,
apesar de tudo, o rendimento se eleva em algumas unidades por
cento. Uma outra importante razão para a adoção destes pequenos
ângulos j32 é o melhor comportamento na operação (ver Seç. 6.2).
São comuns nas bombas ângulos /?2 entre 15° e 90°, onde os
menores são usados para líquidos e os maiores para gases. Nas
bombas para gases é necessário usar valores grandes de f$2 por que
pequena massa específica dos gases exige grandes trabalhos especí-
ficos nas pás, e, portanto, grandes velocidades tangenciais, mesmo
para pequenas elevações de pressão. Os maiores valores de ]S2 são
necessários para reduzir tais velocidades. Assim, conclui-se que as
pás radiais muito inclinadas são mais resistentes às forças centrífugas
que as pás planas. Isto exige também maiores ângulos j51 para evitar
o perigo de velocidades do fluxo supersônicas (ver Seç. 3.41). Neste
2.8 COMPORTAMENTO DO FLUXO NA ENTRADA 57

caso não é possível ir abaixo de /32 = 50°, enquanto que, para água
muito raramente se vai acima de 40°, escolhendo-se pequenos ân-
gulos principalmente quando se deseja características muito estáveis
(ver Seç. 6.2).
Em ventiladores pode-se encontrar desde ângulos agudos até
ângulos obtusos, ou seja, pás em gancho. Estas últimas, entretanto,
somente quando se despreza o rendimento e se procura diminuir ao
máximo o diâmetro, ou seja, reduzir ao máximo os custos de
fabricação.

2.74 Resumo
Os tipos de pás apresentados têm a seguinte aplicação:
As pás axiais da forma E da Fig. 2.29 (pás em gancho) nas tur-
binas hidráulicas com admissão parcial ou nas turbinas a vapor tanto
com admissão parcial como com admissão total; nas formas entre
E Q F para as turbinas a vapor com admissão total e na forma G nas
bombas axiais e nas turbinas Kaplan. Nestes últimos casos /?2 se
aproxima de /?1? de maneira que a pá fica muito plana (tipo asa de
sustentação), as velocidades muito pequenas e somente são executados
pequenos trabalhos nas pás. As hélices de aviões^e de navios também
têm esta última forma devido à inexistência de sistema diretor com
o consequente alto grau de reação.
As pás radiais da forma a das Figs. 2.30 ou 2.30a (ou seja, com
P2 < 90°) são preferidas para bombas rotativas e para os compres-
sores rotativos; na forma 6, em casos especiais, para compressores
rotativos, para turbinas a vapor radiais (ver Seç. 10.29) e para turbi-
nas Francis, e para estas últimas usam preferencialmente ângulos
/?2 < 90°. As pás radiais com j82 > 90° (forma c) praticamente não
aparecem mais em turbinas e, nas bombas, somente para ventiladores
de pequenas potências.
Em geral vale: /?2 pode ser adotado maior em turbinas que em
bombas, sob mesmas condições (por exemplo, mesmo fluido); o grau
de reação pode, portanto, ser menor e a curvatura das pás maior.
Isto se deve ao fato de os fluxos acelerados resistirem melhor a
grandes curvaturas que fluxos retardados.
Vê-se que existe uma aplicação na prática para cada forma pos-
sível de pá.

2.8 Comportamento do fluxo na entrada e formação da


aresta de entrada de grades de pás1
A Fig. 2.31 mostra o início de uma grade de pás, na qual se
tomou pás muito finas, de maneira que o efeito do estreitamento da
seção devido à espessura das pás possa ser desprezado. Para direção
tangencial do fluxo de entrada, correspondendo à velocidade rela-
tiva vv0 indicada na figura por linha contínua, este entra sem choque
no canal das pás. Para direção não tangencial do fluxo de entrada,
correspondendo às linhas tracejada e traço-ponto da Fig. 2.31, deve-se
esperar perdas adicionais, que são chamadas perdas de choque (ver
também a Fig. 6.1). Um cálculo teórico exato destas perdas de
choque não é possível, pois os efeitos nelas da camada limite são
muito importantes, e estes não podem ser ainda tratados teoricamente

Ver Petermann, H.: Konstruktion 13 (1961) H. 7, p. 278/282.


58 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

Fig. 2.31. Representação esquemática da região da entrada da


grade de pás das Figs. 2.32 até 2.37
w0 velocidade do fluxo de entrada: /?0 ângulo relativo do fluxo de entrada: H', velocidade
relativa no canal das pás: /^ ângulo das pás: at largura do canal das pás: aQ largura do
fluxo entrando no canal das pás da grade.

de maneira quantitativa [IV, 28, Vol. l, Seç. 11]. Para, apesar disto,
ser possível calcular estas perdas de choque Zsí de maneira simples,
utilizamos a relação (ver Seç. 6.1)

Za = <p£- (2.76)

Nesta, vvs é a diferença vetorial das velocidades do fluxo estabilizado


antes do canal das pás e nele, portanto, vvs = w0 — w1 (compare os
diagramas de velocidades a Q c nas Figs. 2.32 a 2.37), e cp é um valor
empírico adimensional que é usualmente fixado entre 0,5 e 0,7. O
valor exato deste coeficiente de perda cp depende principalmente da
existência de um fluxo acelerado ou retardado, o que será explicado
a seguir na Seç. 2.81.
Na Seç. 1.2 já foi explicado que, para uma velocidade tangencial
determinada, somente pode haver uma entrada livre de choque para
um volume de fluxo também determinado. Na prática, entretanto,
comumente se tem (ver Seç. 6.1) um volume de fluxo que se desvia,
às vezes muito, do valor necessário para entrada sem atrito. Nos
triângulos de velocidade (Figs. 2.32 a 2.37) o volume de fluxo é pro-
porcional à altura do triângulo, ou seja, proporcional a c lm na
Fig. 1.8 [ver também a Eq. (6.3), pág. 181].

2.81 Choques de retardamento e de aceleração1

Pode-se ver nas Figs. 2.31, 2.32c, 2.33c e 2.34 que, para um fluxo
entrante com j50 < ^ (onde jS0 é o ângulo do fluxo na entrada e jSt
é o ângulo das pás), fica disponível na entrada da grade uma seção
menor do que a seção do canal das pás para uma corrente de fluido
determinada, ou seja, neste caso a0 < a^ (Fig. 2.31), e então na entrada
do canal das pás ocorre um retardamento da velocidade do fluxo
(w0 > wj. Para um fluxo na entrada com /?0 > /^ (ver as Figs. 2.31,
2.32a, 2.33a e 2.34c), ao contrário, ocorre uma redução de seção na
entrada (a0 > a^ e, com isto, uma correspondente aceleração (w0 < W A ).

1 Ao contrário da notação usada no restante deste livro, nas Seçs. 2.81 e 2.82 e nas
Figs. 2.33: 2.34: e 2.36 a 2.39, serão usados os índices O e l na aresta de pressão de turbinas
(ao invés de 3 e 2). Isto é feito para se ter concordância com a Fig. 2.31.
2.8 COMPORTAMENTO DO FLUXO NA ENTRADA 59

As perdas no fluxo são usualmente maiores, quando há retarda-


mento do que quando há aceleração e, por isso, deve-se ter cuidado
ao se utilizar a Eq. (2.76). Para a determinação do coeficiente de
perda deve-se inicialmente verificar se ocorre uma aceleração ou um
retardamento do fluxo na entrada da grade. As Figs. 2.32, 2.33 e 2.34
mostram as grades de pás de uma bomba, de uma turbina de sobre-
pressão e de uma turbina de pressão constante, respectivamente.
Estas grades são mostradas esquematicamente de maneira que as
arestas de entrada das pás correspondam aproximadamente às da
Fig. 2.31. Dos diagramas de velocidades correspondentes pode-se ver
que um aumento do volume de fluxo, mantendo-se o ângulo de en-
trada do fluxo a0, causa uma aceleração do fluxo na aresta de entrada
das pás na bomba e na turbina de sobrepressão (Figs. 2.32a e 2.33a),
mas causa um seu retardamento nas turbinas de pressão constante
(Fig. 2.34a). Da mesma maneira, um menor volume de fluxo causa
retardamento na bomba e na turbina de sobrepressão (Figs. 2.32c e
2.33c) e uma aceleração na turbina de pressão constante (Fig. 2.34c).
Estas acelerações e retardamentos serão, no que segue, denominados
choque de aceleração e choque de retardamento.

Fig. 2.32. Bomba, / / = const: V / const.

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Fig. 2.33. Turbina de sobrepressão, u = const.: V^ const.

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Fig. 2.34. Turbina de pressão constante, w = const.; V ^ const.

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Fig. 2.35. Bomba, K = const.; w ^ const.
60 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

Fig. 2.36. Turbina de sobrepressão, V = const.; w =£ const.

Fig. 2.37. Turbina de pressão constante, V = const.; u ^ const.

Figs. 2.32 a 2.37. Possíveis comportamentos do fluxo na entrada de grades de pás de


máquinas de fluxo e diagramas de velocidades correspondentes. A influência da espessura
das pás é desprezada. c0 velocidade absoluta do fluxo na entrada: a0 ângulo absoluto
do fluxo na entrada: ws diferença vetorial de w0 e v\\ u velocidade tangencial.

Os diagramas de velocidades para volumes de fluxo constantes,


mas diferentes velocidades tangenciais, são mostrados na Fig. 2.35
para bombas, na Fig. 2.36 para turbinas de sobrepressão e na Fig. 2.36
para turbinas de pressão constante. Pode-se ver que, com relação à
entrada na grade de pás, em bombas e turbinas uma redução da velo-
cidade tangencial, mantendo-se constante o volume de fluxo, corres-
ponde ao efeito de um aumento do volume de fluxo mantendo-se a
velocidade tangencial constante.
O valor do coeficiente de perda cp depende, principalmente, de se
ocorre ou não um descolamento do fluxo das pás. Para um fluxo
retardado é muito mais provável um descolamento do que para um
fluxo acelerado. Por isso, ensaios realizados em muitos tipos de má-
quinas de fluxo mostram que os choques de retardamento reduzem
muito mais o rendimento do que choques de aceleração e que um
pequeno choque de aceleração pode, em certas condições, inclusive
resultar em um melhor rendimento do que uma entrada tangencial do
fluxo (bombas [V, 53, Fig. 44 e Fig. 24 no resumo]; turbinas de
sobrepressão [II, 4, pág. 112/113], turbinas de pressão constante).1 Nas
bombas deve-se ainda observar que, devido ao retardamento no canal
das pás, um choque de aceleração causa uma dupla conversão de velo-
cidades e, com isto, resulta em perdas adicionais.
Assim, devido às possíveis perdas, somente são admitidas varia-
ções muito menores de ângulo no caso de choque de retardamento
do que no caso de choque de aceleração. Se puderem ocorrer desvios
grandes de ângulo na direção do fluxo na entrada de uma grade de
pás, é mais vantajoso prever no projeto um pequeno choque de acele-
ração no ponto de cálculo, de maneira que na operação possam

1 Friedrich, H.: ÍJber den Einflu/? der Anstrõmung auf das Verhalten eines Tur-
binen-Laufrades. BWK 8 (1956) 9/15, vgl. insbesondere p. 14: ferner Nagornaya, N.
K.: Konstruktion 15 (1963) 361.
2.8 COMPORTAMENTO DO FLUXO NA ENTRADA 61

ocorrer choques de aceleração pouco maiores que ele e pouco me-


nores mas, somente em casos extremos, o choque pode-se transformar
em um (pequeno!) choque de retardamento.
Encontra-se frequentemente na literatura as expressões "choque
de barriga" e "choque de costas". Estas expressões são, entretanto,
muito inconvenientes. No fluxo na entrada ocorre realmente uma
aceleração quando o rotor de uma bomba (Fig. 2.32a) ou de uma
turbina de pressão constante (Fig. 2.34c) receber um fluxo com
choque de costas ou quando o rotor de uma turbina de sobrepressão
(Fig. 2.33a) receber um fluxo com choque de barriga. Desta forma,
as expressões choque de barriga e choque de costas não dão uma
indicação clara sobre o valor da perda a esperar. Deve-se, portanto,
evitar estas expressões e usar choque de aceleração e choque de
retardamento.

2.82 Perfis das pás

Os perfis das pás têm uma grande influência no valor da acele-


ração ou do retardamento na entrada de uma grade de pás. Esco-
lhendo-se um perfil grosso e arredondando-se o nariz do perfil com
um grande raio, a aceleração será aumentada, ou, corresponden-
temente, o retardamento será diminuído, na região de entrada.
Desta maneira, serão admissíveis grandes desvios do ângulo do fluxo
de entrada.

Fig. 2.38a. Pá de turbina não perfilada. Fig. 2.39a e b. Pás de turbinas perfiladas.
a) forma da pá: b) valor e direção da velocidade relativa antes, a) forma da pá; b) valor e direção da velocidade
dentro e após a grade de pás. w3 velocidade relativa atrás da grade relativa. Simbologia igual à da Fig. 2.38
de pás: a até g pontos em uma linha média de corrente: para os
outros símbolos, ver as Figs. 2.31 a 2.37

As Figs. 2.38 e 2.39 mostram pás de turbinas com mesma linha


básica com e sem perfilagem. A velocidade relativa do fluxo mos-
trada w0 causa (ver Fig. 2.34a) um choque de retardamento, pois
/? 0 </? r Nas Figs. 2.38b e 2.39b são mostradas as velocidades rela-
tivas antes, dentro e depois da grade (pontos a até g). Estas veloci-
dades são calculadas supondo-se uma distribuição regular das velo-
cidades em toda a seção. Vê-se que o retardamento é muito maior
na pá não perfilada do que na pá perfilada. Além disto, o fenómeno
de aceleração transcorre de maneira completamente diferente na grade.
62 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

A perfilagem garante uma ausência de sensibilidade da máquina a


variações de direção do fluxo na entrada, o que foi comprovado
experimentalmente por K. Gersten1 para a grade representada na
Fig. 2.39.
Em uma grade de turbina, uma parte da aceleração prevista para
o canal das pás será previamente conseguida na região da entrada,
quando se usa perfis de pás com um nariz grosso e arredondado.
Ao contrário, em uma grade de pás de bomba deve ocorrer um retar-
damento, de maneira que é inconveniente prever uma pré-aceleração
Fig. 2.40. Pás de bomba axial perfi-
na entrada. Deve-se, entretanto, observar que a velocidade relativa
ladas (perfil laminar) na entrada e pouco após dela em um rotor de bomba é muito pouco
retardada [III, l, pág. 226]2. Pode-se conseguir este retardamento, fa-
zendo-se um aumento muito moderado da espessura das pás após a
entrada (Figs. 2.40 e 2.41). Perfis com dorso arredondado (Fig. 2.40)
são, em máquinas de fluxo, também chamados de perfis laminares
[III, l, pág. 295], embora a transformação da camada limite laminar
em turbulenta no final, com suas consequentes vantagens, observadas
em casos particulares, não devam ser esperadas nas máquinas de
fluxo. A vantagem do uso de perfis laminares em bombas é princi-
palmente a redução do retardamento na região de entrada das pás
descrita atrás.
Pesquisas mostram que é conveniente, no caso de bombas, tomar-se
valores do ângulo de entrada das pás e aletas /^ (e também a4)
maiores do que os calculados para uma entrada livre de choque3
[ver Eq. (8.2)]. Isto significa que ocorre um menor choque de retar-
damento na entrada, limitado pelo retardamento que ocorre em se-
Fig. 2.41. Pás de compressor radial guida no canal das pás.
perfiladas (Escher-Wyss)
2.83 Entrada de fluxo instável ou irregular na grade de pás
Nas considerações feitas até aqui admitiu-se que a grade é percor-
rida por um fluxo constante e regularmente distribuído por toda a
seção do canal das pás. Em seguida, serão discutidos alguns casos
nos quais isto não ocorre.
Um fluxo de entrada instável pode ocorrer quando houver antes
da entrada da grade de pás outra grade que se mova relativamente
à grade das pás (por exemplo pás com um anel diretor na entrada
ou um sistema diretor após um rotor). Neste caso aparece, por exem-
plo, após a grade de pás de uma bomba, a distribuição de velocidades
relativas w 3 mostrada na Fig. 2.42a. Com esta distribuição ocorre
um fluxo absoluto na entrada das aletas, que estão posicionadas à
pequena distância X após o rotor, sob grandes variações de ângulo
(ver Fig. 2.42b). Estas variações de ângulo serão tanto menores quanto
maior for a distância X entre as duas grades, devido à redução da
distribuição irregular de velocidades na saida da primeira grade
(Fig. 2.43). H. Móhle [V, 53] e A. Aschenbrenner [V, 67] compro-
varam experimentalmente que o comportamento do fluxo e, conse-
qíientemente, o rendimento na segunda grade, ficam melhores quando

1 Gersten, K.: Uber den Einflu/? der Geschwindigkeitsverteilung in der Zustrõ-


mung auf die Sekundàrstròmung in geraden Schaufelgittern. Forschung Ing. Wesen
23 (1957) 95/101.
2 Ver Tognola, S.: Weiterentwicklung von Hochdruck-Speicherpumpen Escher-
Wyss-Mitteilungen 33 (1960) H. 1/2/3, S. 58/66; ferner Tognola, S., Paranipe, P.: Theore-
tische Strõmungsberechnungen und Modellversuche fúr Radialverdichter. Escher-Wyss-
Mitteilungen 33 (1960) H. 1/2/3, p. 131/137.
3 Linsi, U.. Versuche an Turbolader Radialverdichtern. Brown Boveri Mittei-
lungen 52 (1965) H. 3, p. 161/170.
2.8 COMPORTAMENTO DO FLUXO NA ENTRADA 63

se reduz esta distância. Assim, um fluxo instável pode ser mais conve-
niente do que um estável.

Rotor,
Imagem absoluta

b W3m

L\

imagem relativa

Fig. 2.42a. Comportamento do fluxo nas pás e nas aletas de uma bomba axial.
a) distribuição das velocidades relativas à distância X após o rotor. /, // e /// várias
linhas de corrente; w3 velocidade relativa; b) comportamento do fluxo na entrada das
aletas à distância X após o rotor: w velocidade tangencial;
c3 velocidade absoluta do fluxo na entrada

A razão desta melhora do rendimento é seguramente o aumento


do grau de turbulência no fluxo na entrada da grade colocada em
segundo lugar quando se diminui a distância entre as grades. R. Kiock X grande \ pequeno
[V, 81] verificou experimentalmente que as propriedades aerodi-
nâmicas das grades de retardamento e também de asas isoladas fica
cada vez melhor, à medida que o grau de turbulência do fluxo em
sua entrada aumenta.
Estas considerações não podem ser estendidas a pás de turbinas
Fig. 2.43. Mudança da velo-
a vapor de pressão constante, pois nestas uma pequena distância entre cidade do fluxo de entrada
as grades de pás e de aletas resulta em perdas adicionais (ver as expli- em aletas a diferentes
cações das Figs. 4.13 e 4.14, na pág. 119). distâncias X
Uma situação diferente da dos fluxos instáveis é a dos fluxos
estáveis mas distribuídos irregularmente na seção do canal, como
pode ocorrer, por exemplo, nas arestas de entrada das pás de bombas
quando, antes da entrada das pás, o fluxo tiver que passar por uma
curva fechada. Isto acontece nas bombas radiais, nas quais o fluxo
é desviado da direção axial para a radial antes da entrada das pás,
o que pode ocasionar o aparecimento de velocidades de fluxo muito
pequenas na coroa externa do rotor, ou até descolamento do fluxo.
Estes desagradáveis fenómenos podem, entretanto, ser evitados intro-
duzindo-se uma corrente de labirinto na direção tangencial à do fluxo
principal (ver Seç. 7.12).
Na operação de compressores axiais sob carga parcial ocorre
um choque de retardamento na região de entrada das pás (Fig. 2.32c)
e, portanto, abaixo de um certo valor do fluxo, este se descola do
perfil das pás. Estes fenómenos de descolamento serão estudados
detalhadamente mais tarde (Seç. 6.29).
Nas pesquisas do comportamento do fluxo na entrada de grades
deve-se, portanto, ao lado dos problemas de aceleração e de retar-
damento, estudar também as distribuições de velocidades.
64 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

2.9 As várias formas de rotor


2.91 A rotação especifica ou coeficiente de forma do rotor
Uma forma de rotor usada frequentemente na prática é a de
rotor radial. Sua forma básica pode ser vista nas linhas cheias da
Fig. 2.44. A partir desta, pode-se desenvolver as várias formas de
construção, inclusive as de rotores axiais. Estas últimas são particular-
mente apropriadas para grandes forças centrífugas e, por isso, são
muito usadas para turbinas a vapor e a gás. Os rotores axiais per-
mitem também uma organização em vários estágios com um mínimo
de tamanho construtivo e com mínimas perdas adicionais. Trataremos
inicialmente dos rotores radiais e simplificaremos nossa apresen-
tação desprezando a influência do ângulo da pá j52 na forma do rotor
(que já verificamos ser grande na Seç. 2.7), considerando sempre um
ângulo /?2 fixo e também oc0 = 90°.
Com estas simplificações os triângulos de velocidade na aresta
de pressão são sempre semelhantes (Fig. 2.15). Ainda mais, na equação
fundamental, w 2 , ou nD2, será proporcional a yfY

u2 ~ nD2 ~ /F, (2.77)


enquanto que os triângulos de velocidade terão valores do lado de
sucção que dependerão essencialmente do fluxo volumétrico V9 cres-
cendo proporcionalmente a este.
Os dados necessários para a fixação da forma do rotor são M,
V Q Y. Tomemos inicialmente Y ç V constantes e deixemos a rotação
variar. Assim, os tamanhos dos triângulos de velocidade não podem
mudar, pois u2 deve permanecer constante [ver Eq. (2.77)]. Desta
forma, D2 varia de modo inversamente proporcional à rotação, e os
rotores radiais do tipo mostrado na Fig. 2.44 com grandes diâmetros
D2 = (2...3)D S representam um tipo de construção lento. Se, agora,
deixamos a rotação aumentar, a aresta externa da pá move-se para
dentro, por exemplo até o menor diâmetro D2 da Fig. 2.44. A forma das
paredes das pás pode permanecer igual quando a seção do rotor está
Fig. 2.44. Rotor-radial lento (linhas cheias) e desenhada para cm constante, portanto, também constante o produto
um rotor radial de velocidade média desen- Db. Desejando-se manter constante a forma da aresta de sucção da
volvido a partir dele (linhas pá ao mudar o diâmetro de D2 para D2, ou seja, situar a pá entre os
tracejadas e traço-ponto) diâmetros D1 e D2, esta ficaria muito curta em comparação com
sua largura e, com isso, sua superfície, que é determinante para a
transmissão de trabalho, ficaria muito pequena. Por esta razão a
aresta de sucção da pá deve ser sempre movida para dentro, com o
que ela chega a ultrapassar a boca de sucção do rotor. Ao lado da
curvatura determinada pelos ângulos da pá j52 e jS1 aparece então ainda
a curvatura das linhas de corrente, de maneira que a pá fica dupla-
mente curvada.
O rotor tomará então a forma desenhada com traço-ponto e
denotada //, que é chamada de rotor radial de média velocidade. Se
a rotação aumentar ainda mais, a aresta de pressão somente poderá
se aproximar do eixo se for situada inclinada (Fig. 2.45). Aparece,
então, o rotor semi-axial da forma ///, o rotor rápido, no qual o
valor médio do diâmetro externo fica menor devido à colocação
inclinada da aresta de pressão. Se a aresta de pressão for ainda mais
inclinada, obtém-se como caso extremo o rotor axial, ou hélice, da
forma /K na qual a aresta de pressão é praticamente radial.
Estas quatro formas de rotor são também obtidas quando se
mantém constantes a rotação n e o trabalho específico Y e se aumenta
2.9 AS VARIAS FORMAS DE ROTOR 65

o volume de fluxo V. Neste caso a aresta de pressão fica constante,


enquanto que Ds tem que aumentar. Desta maneira aparece o rotor
de média velocidade desenhado com linha tracejada na Fig. 244.
Juntamente com o aumento do diâmetro de sucção Ds até o valor
Dl ocorre também um alargamento do rotor e pode-se reconhecer
que o rotor assim desenvolvido assemelha-se perfeitamente em todos
os pontos ao obtido anteriormente.

Fig. 2.45. Tipos de rotor I a IV

Da mesma maneira, finalmente, seriam obtidos rotores seme-


lhantes também quando se mantém n Q V constantes e se reduz o
valor de Y.
As propriedades dos quatro tipos I a IV de rotor são caracteri-
zadas pelos valores seguintes:

Forma I pequena rotação ou pequena capaci-


(rotor lento) dade de engolimento ou grande tra-
balho específico.
Forma II rotação ou capacidade de engolimento
(rotor de média velocidade) médias ou ainda trabalho específico
médio.
Forma III rotações ou capacidades de engoli-
(rotor semi-axial) mento grandes ou trabalhos especí-
ficos pequenos.
Forma IV rotações ou capacidades de engoli-
(rotor axial ou hélice) mento máximas ou mínimos trabalhos
específicos.

É interessante definir um coeficiente para caracterizar o tipo de


forma de rotor, devido às diferenças entre as várias formas. Para
deduzir um tal coeficiente de forma do rotor, consideraremos dado o
rotor de uma máquina de fluxo de um estágio com um trabalho espe-
cífico interno 7, um volume de fluxo V e uma rotação n determi-
nados. O coeficiente de forma do rotor deve ser independente do
tamanho do rotor, de maneira que rotores com forma geometrica-
mente semelhante tenham o mesmo coeficiente de forma do rotor.
Procuramos então um coeficiente de forma do rotor que represente
uma relação entre as grandezas Y, V e n que seja independente do
tamanho da máquina e fiquem constantes para rotores de forma
geometricamente semelhante.
66 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

Rotores geometricamente semelhantes têm triângulos de veloci-


dade também semelhantes. Como, de acordo com a equação funda-
mental, o fluxo volumétrico V é sempre igual a uma seção de fluxo
multiplicada pela velocidade correspondente do fluxo, resulta para
rotores geometricamente semelhantes

t>~ D\c2 ~ D22u2 ~ nD\. (2.78)

Se substituirmos D2 pelo seu valor aproximado ^Y/n, de acordo


com a Eq. (2.77), vem
y3/2 y3/2
V ~n —^ r- (2.79)
n3 n2
ou
y3/4

ou ainda [ver a Eq. 6.27, pág. 214]


[y
n ^3/4 = constante para rotores geometricamente semelhantes. (2.80)

A expressão n^/V/Y3/4 dá o coeficiente de forma do rotor pro-


curado. Ele é adimensional, ou seja, o valor numérico do coeficiente
é o mesmo independentemente do sistema de unidades usado no cál-
culo. Seu valor é, entretanto, muito pequeno e, por isso, inconveniente
para usar. Assim, Addison [III, 21] propôs multiplicá-lo sempre por
1000. Obtém-se desta maneira o coeficiente de forma do rotor de
Addison ("shape number")

(2.81)

Infelizmente este coeficiente ainda não obteve aceitação geral. No


projeto de ventiladores é, ainda, usual tomar-se o coeficiente de forma
de velocidade de Keller [V, 50]

(2.82)

O valor 2,11 é obtido de Jn^/2 (ver em [III, l, pág. 156, Eq. (12)]).
Na Alemanha, por exemplo, toma-se quase sempre a rotação especí-
fica n como coeficiente de forma do rotor. Este é obtido multipli-
cando-se a Eq. (2.80) por 333:

(2.83)
i

O mesmo valor numérico de nq é obtido1 da equação

(2.84)

1 A relação entre as Eqs. (2.83) e (2.84) é obtida de

JT^- = 333« ^3Í4 com n em U/s, V em m3/s, Y em m 2 /s 2 ,


H em m e g = 9,81 m/s2.
2.9 AS VARIAS FORMAS DE ROTOR 67

onde as várias grandezas devem estar nas unidades não coerentes


seguintes: n em rpm, K em m3/s e H em m. O coeficiente de forma
do rotor nq calculado pelas Eqs. (2.83) ou (2.84) é chamado na prá-
tica de rotação específica, pois corresponde à rotação (em rpm) de
um rotor semelhante em tudo ao rotor sendo considerado, que tem
um fluxo volumétrico de l m3/s para uma queda ou elevação de l m.
Anteriormente foi também usada na Alemanha, para fluido água,
a rotação específica ns, relacionada a uma queda ou elevação de l m
e à potência útil de l CV. Esta é dada por

(2.85)

que corresponde aproximadamente, com p = l 000 kg/m3, a

ns w 3,65nq (2.86)

(2.87)

(com n, F e Y em unidades coerentes).


Neste livro utilizaremos como rotação específica ou como coefi-
ciente de forma do rotor sempre nq, calculado de acordo com as
Eqs. (2.83) ou (2.84).
De acordo com a dedução feita, a rotação específica é indepen-
dente da escala de construção, ou seja, os valores usados em cada
caso de n ou F ou 7 caracterizam somente a forma do rotor sendo
considerado. Em consonância com as considerações atrás, vê-se que
o coeficiente cresce juntamente com n e P, enquanto que ele é inver-
samente proporcional a y. Ele representa simultaneamente a capa-
cidade de aceleração, a capacidade de engolimento e o recíproco da
capacidade de trabalho da máquina.
Para as formas de rotor mostradas nas Figs. 2.44 e 2.45 valem
os seguintes intervalos aproximados de variação dos valores do
coeficiente: -

Forma I ~
O
(rotor radial lento) Rotor lento nq = 10 a 30 '):^
Forma II
(rotor radial de média velocidade) Rotor de média
velocidade nq = 30 a 60
Forma III
(rotor semi-axial) Rotor rápido nq = 50 a 150
Forma IV
(rotor axial, hélice) Rotor extremamente rápido n = 110 a 150
ou mais

Utilizamos estes números tanto para turbinas como para bombas,


embora Y seja muito jnenpr para um rotor de bomba do que para
o mesmo rotor trabalhando como turbina [Eq. (2.59)]. Obviamente,
em ambos os casos os valores de potência devem-se referir à entrada
sem choque e não, como é comum em turbinas hidráulicas, à abertura
máxima da máquina.
68 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

Os valores atrás valem somente para admissão total. No caso


de admissão parcial (ver Seçs. 2.53a e 5.62) seria necessário incluir,
nas equações dadas no lugar do fluxo volumétrico K aquele que
ocorreria se a admissão fosse total, para que a forma do rotor ficasse
perfeitamente caracterizada. Para a caracterização das máquinas de
admissão parcial de um estágio é comum tomar-se como V o fluxo
volumétrico real que existe com a admissão parcial (ver Seçs. 5.52 e
5.53). Neste caso, é possível obter-se rotações específicas muito abaixo
dos valores dados para rotores lentos.
Além disto, devemos observar que, na dedução das rotações espe-
cíficas, admitimos os ângulos /^ e /?2 constantes. Assim, nq somente
representa uma característica da forma do rotor quando estes ângulos
tiverem uma clara relação com nq. Quando este é o caso, por exemplo
em turbinas hidráulicas, faz-se j82 diminuir à medida que nq aumenta,
pois desta maneira a rotação aumenta e /?x fica praticamente cons-
tante. Mais ainda, deve-se também levar em conta a variação das
perdas de atrito com o tamanho da máquina, devido à variação da
rugosidade relativa (ver Seç. 6.53), pois isto afeta a relação entre a
forma efetiva do rotor e nq, da mesma maneira que a variação do
diâmetro do eixo que, para um mesmo rotor, pode ser tanto menor
quanto menor for também a rotação da máquina (Seçs. 4.11 e 4.12).
Pode-se usar uma determinada forma de rotor e seu respectivo
coeficiente para quaisquer condições de operação possíveis, ou seja,
para qualquer par de valores de Y e de V quando se opera com a
rotação n calculada pela Eq. (2.83). Como, entretanto, devido às
condições da máquina acoplada à máquina de fluxo, é comum ser
necessário operar esta dentro de limites muito estreitos de rotação e,
mais ainda, como ficam proibitivas por si mesmas construções exces-
sivamente grandes e canais excessivamente estreitos, fica na realidade
o coeficiente nq limitado dentro de um intervalo determinado para
cada par de valores de F e Y. Também os perigos de cavitação e de
operações a velocidades supersônicas limita a liberdade de escolha
do tipo de máquina (Seçs. 3.1 a 3.4).
A rapidez das máquinas construídas na prática está sempre
aumentando, pois cada vez se constrói máquinas para processar
maiores fluxos, sem que a rotação seja reduzida.
O limite inferior dado para a forma de rotor /, de cerca de
nq = 10, é determinado pelo fato de que a relação de diâmetros D2/DS
não deve ultrapassar 2,5 a 3, pois então os canais das pás seriam
muito longos e muito estreitos, da mesma maneira que a superfície
externa do rotor, e, com isto, as perdas de atrito ficariam muito gran-
des. Esta região de nqs ainda menores somente pode ser atingida por
máquinas com organização em vários estágios, ou com admissão
parcial. Esta última solução é, entretanto, usada somente para tur-
binas, sendo especialmente conveniente para turbinas hidráulicas, pois
o rotor pode girar no ar. O tipo de construção comum neste caso é
o da roda Pelton (ver Seç. 5.5). Ao contrário, nas turbinas a vapor
as pás que não estão recebendo momentaneamente o fluido, deslo-
cam-se no fluido de trabalho e o atrito total age sempre na superfície
externa do rotor. Apesar de todas estas desvantagens, é necessário
utilizar-se a admissão parcial mesmo neste caso, pois no primeiro
estágio das turbinas a vapor de vários estágios, usualmente o volume
de fluido é extremamente pequeno (ver Seç. 10.2).
A mudança de admissão total a admissão parcial leva a uma
redução da rotação devido ao aumento do diâmetro do rotor, que é
possível fazer tão grande quanto se queira.
2.9 AS VÁRIAS FORMAS DE ROTOR 69

Fig. 2.46. Turbinas espirais Francis (EWC). Lado esquerdo: rotor radial de média
velocidade com tendência para lento H = 146,4 m, K, fl = 10,8 m3/s, n = 500 rpm, n =
= 39; lado direito: rotor rápido H = 68 m, K,., = 6,55 m3/s, n = 600 rpm, n = 66

Admissão parcial está sendo cada vez mais usada para pás axiais,
se bem que não para rotores axiais do tipo desenvolvido atrás, ou seja,
rotores com hélices, devido à sua aceleração muito rápida. Seu uso
é mais frequente com pás curtas, como será mostrado a seguir.

2.92 O rotor axial

Como na construção de turbinas a vapor são sempre usados


rotores axiais, tanto para fluxos volumétricos grandes ou pequenos,
quanto para admissão parcial ou total, é necessário estudar as proprie-
dades dos rotores axiais mais detalhadamente. Alterando-se nestes
rotores a relação dos comprimentos das pás, ou seja, da largura radial
das pás b para o raio médio rm, obtém-se os rotores representados
na Fig. 2.47, com seus valores de nq correspondentes. Estes começam
da esquerda para a direita com os rotores já conhecidos tipo hélice,
que são particularmente rápidos mas que, com a relação dada de
DJb = 2,4, que corresponde a b/rm = 1/1,2, somente são úteis para
fluxo de água e para ventiladores, enquanto que para turbinas a
vapor e a gás o valor DJb deve ser de, no mínimo, 3. A série de
rotores termina à direita com três rotores cuja relação de pás b/rm
tem o valor mínimo possível. Os últimos dois têm admissão parcial,
com a relação do arco de círculo com admissão para a circunferência
70 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

do rotor igual ao grau de admissão 8 indicado na figura. Vê-se que


é possível ir muito abaixo dos valores possíveis de nq que se consegue
com rotores radiais, quando se usa rotores axiais, o que compreende
inclusive a região de utilização dos rotores Pelton.

6 7
On/l-66,6

€=0,5 £=0,05
r=o, com admissão parcial
7l-=fy5 K-=2,05

Fig. 2.47. Rotores axiais, ordenados de acordo com sua rapidez. Os rotores 5 a 7 são
iguais, mas têm diferentes arcos de círculo com admissão.
Os dados numéricos valem para a0 = 90°

Vê-se ainda mais que a rotação específica somente caracteriza a


forma do rotor quando é dito simultaneamente se o rotor é radial
ou axial e se a admissão é parcial ou total. Para os rotores de extrema
rapidez aparece sempre a mesma forma, que é a de hélice. Para
turbinas extremamente lentas é sempre usada a forma de rotor axial
com admissão parcial, pois também os rotores Pelton são nada mais
do que rotores axiais (tangenciais) com admissão parcial construídas
gémeas (Fig. 5.33a). Nas bombas é necessário apelar para construções
tipo vários estágios para se conseguir máquinas extremamente lentas.
Os rotores axiais com pequena relação b/rm, ou seja, os de tipo
lento, são prejudicados pela dificuldade de acoplamento ao tubo de
sucção, que, portanto, não pode ser usado. Este inconveniente não
ocorre no caso de máquinas de vários estágios, já que os estágios
intermediários não precisam de tubo de sucção e os rotores axiais
permitem uma passagem entre estágios consecutivos muito eficiente
(Fig. 10.5). Além disso, os rotores axiais são especialmente resistentes
às forças centrífugas, sendo, por isso, quase que exclusivamente usados
para a construção de turbinas a vapor e a gás e são frequentemente
usados para a construção de turbinas a vapor e a gás e são frequen-
^^^j^^j^^^^^^^jj^^^^^
temente usados em compressores (Figs. 2.48a até k).

Fig. 2.48a — e

Fig. 2.48f e g
2.9 AS VARIAS FORMAS DE ROTOR 71

Fig. 2.48H — k. Rotores axiais de diferentes velocidades (Escher-Wyss) a) até e) rotores


de compressores; O até k) rotores de turbinas a vapor. A rotação específica, com admissão
total, é: a) nq = 400: b) nq = 250: c) nq = 164: d) nq = 135: e) nq = 82: f) nq = 90:
g) nq = 64: h) nq = 60: i) nq = 30: k) nq = 22

2.93 A rotação específica no caso de máquinas de vários estágios

Como já foi dito, a rotação específica é um coeficiente que


caracteriza a forma do rotor. Vale, assim, basicamente para máqui-
nas de um estágio. Para máquinas de vários estágios deve-se observar
o seguinte:
Com a ligação em série de i estágios, cada rotor realiza somente
a /-ésima parte do trabalho específico interno da máquina toda.
Com a ligação em paralelo de j rotores cada rotor é percorrido
somente pela y-gésima parte do fluxo volumétrico total da máquina.
Estes dados valem quando se admite que cada rotor individual
é igual aos outros.

2.94 Rapidez e rendimento

As perdas nas máquinas de fluxo são principalmente causadas


pelo atrito nos canais das pás e na superfície do rotor. As outras
perdas, correspondentes à perda no labirinto e o atrito nos mancais
(ou seja, as perdas mecânicas), são em geral menos importantes.
Na Fig. 2.49 está representada a variação das várias perdas em
uma bomba rotativa operando no ponto de melhor rendimento com
um fluxo de 0,1 m3/s e uma rotação n = 25 rps, em função da rotação
específica (ou seja, com vários trabalhos específicos). Vê-se que,
para valores pequenos de nq9 especialmente, as perdas de atrito
aumentam muito.
72

Perdas no labirinto
O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR

Perdas mecânicas
CAP. 2 l
i -3p

0,
^O
Perdas por a nto^ \ nas p(.
t!
\o
no rotot r
^
Perde
^^

L
7S-

^g
£'fc
<b çj
/ •^^ Potência útil da tomba

/
F /
^

15 20 30 W 50 60 70 80 90100
Rotação especifica n~

¥ig. 2A9. Balanço de potência de bombas rotativas radiais e axiais de um fluxo e um


estágio para diferentes rotações especificas, para um fluxo de 0,1 m3/s e uma rotação de
25 rps, operando no ponto de melhor rendimento (de acordo com o Trabalho para Diploma
de Meinig, na Universidade Técnica de Braunschweig, não publicado)

Admitindo-se o número de Reynolds constante na expressão


para o atrito no rotor da Eq. (7.19), vem
Pr = const u\22 p.
Alem disto, para triângulos de velocidades semelhantes u2, é aproxi-
madamente igual a ^/Y, ou seja, se a nova constante for denotada k.
vem
Pr = KY3/2D22p. (2.88)
De acordo com esta última equação, para um trabalho específico
interno Y dado, o atrito no rotor cresce com o quadrado do diâmetro
do rotor, ou proporcionalmente ao valor da superfície do rotor.
Procura-se, portanto, manter o diâmetro do rotor o menor possível,
o que resulta em se tomar a rotação o maior possível. Para condições
de operação dadas, ou seja, Y e V dados, isto resulta no uso da
maior rotação específica possível. Assim, os rotores rápidos têm
perdas no rotor proporcionalmente menores do que os rotores lentos.
Disso resulta que, para os rotores extremamente rápidos, simples-
mente se elimine a parede externa do rotor ala2 (Figs. 2.44 e 2.45).
Com isto o atrito no rotor se limita ao pequeno valor causado pela
superfície do cubo.
Pode-se ver da Fig. 2.49 que as perdas no labirinto são conside-
ravelmente grandes para pequenas rotações especificas. Isto pode ser
explicado da maneira seguinte:
Todos os rotores de bombas rotativas mostrados na Fig. 2.49
têm mesmas medidas na boca de sucção, pois todos são construídos
para a mesma rotação e para o mesmo fluxo. Para rotores com
coroa externa fabricados desta maneira, as dimensões da gaxeta do
labirinto em anel são também iguais (ver Fig. 7.2). Entretanto, os
rotores com menores rotações específicas realizam maiores trabalhos
nas pás e, assim, com um grau de reação considerado constante,
realizam trabalhos de pressão no labirinto correspondentemente maio-
res, o que, de acordo com a Eq. (7.1), resulta numa maior diferença
de pressão Ap. Por isso as perdas no labirinto crescem muito para
pequenas rotações especificas.
Para as bombas rotativas tratadas na Fig. 2.49 as perdas nas
pás representam uma grande parte do total das perdas. Para peque-
2.9 AS VÁRIAS FORMAS DE ROTOR 73

nas rotações específicas as perdas nas pás serão determinadas pelos


canais compridos e finos das pás. Quando a rotação específica
aumenta, as perdas nas pás inicialmente diminuem e, em seguida,
para uma rotação específica de cerca de nq = 30, alcançam seu mínimo
valor. Quando a rotação específica cresce além deste valor, as perdas
nas pás crescem novamente devido ao fato de que, para maiores
rotações específicas, o fluxo não flui tão bem como para pequenas
rotações específicas.
Levando-se em consideração todas as perdas, o melhor rendi-
mento geral ocorre a uma rotação específica de cerca de n = 50
(ver Seç. 2.49). *
Na Seç. 6.53 será explicado que o rendimento melhora propor-
cionalmente ao número de Reynolds nas máquinas de fluxo. Para
mesmos fluido e rotação o número de Reynolds varia com o qua-
drado do comprimento. A Fig. 2.49 mostra que, no intervalo de
valores de nq, entre aproximadamente 20 e 40, as perdas nas pás e,
consequentemente, o rendimento das pás, permanecem quase cons-
tantes. Pode-se, assim, comparar neste intervalo o rendimento das
pás de bombas rotativas com sua rotação específica. Isto é feito na 200
Fig. 2.49a1. Como medida de comprimento característica foi esco-
lhido nesta figura o diâmetro da boca de sucção (ver Seç. 5.1), pois
este somente depende do fluxo e da rotação da bomba. Para uma Fig. 2.49a. Rendimento das pás
bomba rotativa de um fluxo e um estágio com V= 0,1 m3/s e n = 25 rps r\ de uma bomba rotativa de um
(ver Seç. 2.49) vem, aproximadamente, Ds = 180 mm. Os resultados fluxo e um estágio em função do
tamanho da máquina, represen-
de ensaios em bombas rotativas de vários tamanhos representados tado pelo diâmetro Ds da boca
na Fig. 2.49a dão para este valor um rendimento nas pás rjh de cerca de sucção (conforme Rútschi).
de 92%, o que confere com os valores das perdas nas pás dados na Ver também a Fig. 6.50
Fig. 2.49 para nq entre 20 e 40.
Em máquinas de fluxo axiais com admissão total — da mesma
maneira que em bombas semi-axiais com nq ^ 100 (Fig. 2.49) — as
perdas no labirinto e as perdas de atrito no rotor são pequenas.
Nestes casos as perdas dominantes são as perdas nas pás, que crescem
proporcionalmente com a rotação específica nos rotores axiais. Desta
maneira, o rendinientojotal das máquinas axiais decresce quando a
rotação específica aumenta (Fig. 2.50)2.
Na escolha da forma do rotor, ou seja, na fixação da rotação
específica, o projetista deve considerar, além do máximo rendimento
atingível'.
1. a rotação da máquina que será ligada à máquina de fluxo e
as perdas em possíveis engrenagens de transmissão;
2. os perigos de cavitação e de operação ultra-sônica (ver o
Cap. 3) que crescem proporcionalmente a nq,
3. o comportamento a cargas parciais. Quando as aletas não
são ajustáveis, o rendimento cai a cargas parciais tanto mais rápido
quanto maior for nq (Fig. 6.32). Esta queda do rendimento causa
também uma grande solicitação de potência quando a máquina tra-
balha a vazio (Seç. 6.31). Pode-se evitar este inconveniente utili-
zando-se aletas ajustáveis (ver, por exemplo, as turbinas Kaplan,
na Seç. 6.43);
Rútschi, K.: Schweizer Arch. angew. Wiss. Techn. 17 (1951) H. 2, p. 33/46.
1

Eck, B.: Die Bedeutung dimensionsloser Kennzahlen fiir Kreiselmaschinen


2
insbesondere fur Geblãse und Ventilatoren. Konstruktion 12 (1960) H. 6, p. 252/254
e Linle\\. H.. How to Use Specific Speed as an Aid in Centrifugal, Mixed-Flow and
Axial-Pump-Selection. Machine Design 32 (1960) Nr. 22, pp. 117/121: Auszug in Kons-
truktion 13 (1961) H. 6, pp. 246/247.
74 O MECANISMO DO FLUXO NO ROTOR CAP. 2

4. os custos de fabricação. Uma máquina de fluxo será, em geral,


tanto menor (e conseqúentemente sua fabricação será mais barata)
quanto maior for sua rotação. Para a mesma potência, ou seja para
mesmos trabalhos internos e fluxos volumétricos, um aumento da
rotação representa um aumento da rotação especifica. Assim, as má-
quinas de fluxo de maiores rotações especificas são, em geral, mais
económicas que as de menores rotações especificas.

0,8 0,7 0,6 0,5 0,1


-a

Fig. 2.50. Rendimentos rj máximos atingíveis, coeficientes de diâmetro cr (ver Seç, 6.47)
e velocidades tangenciais u para ventiladores de diferentes coeficientes de rapidez <r onde,
de acordo com as Eqs. (2.82) e (2.73), cr = 2,11/333. nq = nq/},51$ (conforme B. Eck}

Abaixo de uma rotação especifica de cerca de 10, o rendimento


das máquinas de fluxo com admissão total piora tanto que, como já
foi mostrado na pág. 52, é necessário adotar-se a construção em vários
estágios ou com admissão parcial. A construção de bombas com
admissão parcial não é comum. Ela é especialmente vantajosa nas
turbinas hidráulicas, pois nestas o rotor trabalha no ar, quando é
construido na forma de rotor Pelton, tratada na Seç. 5.5. Esta,
mesmo trabalhando sob carga parcial ou com sobrecarga, ainda tem
rendimento aceitável. Em turbinas a vapor e a gás, o uso de admissão
parcial tem sempre a desvantagem das pás que não estiverem momen-
taneamente sendo percorridas pelo fluxo, ficarem girando no fluido
de trabalho, o que resulta em efeitos prejudiciais de ventilação e faz
com que as paredes do rotor fiquem sujeitas ao atrito total como
uma máquina com admissão total. Assim, a solução para baixas
velocidades em turbinas a vapor e a gás é o uso de construção com
vários estágios. Entretanto, usa-se em alguns casos admissão parcial
em turbinas a vapor, apesar das perdas de ventilação existentes, devido
à facilidade de controle da potência da máquina através da variação
da parte da circunferência da máquina que recebe o fluxo, e também
devido ao fato de a maior queda por estágio manter as altas tempe-
raturas e pressões longe do rotor e do eixo (ver também a Seç. 10.23).
Como a admissão parcial praticamente não é usada em bombas
e somente é usada com restrições em turbinas a vapor, é necessário
adotar-se a solução do uso de máquinas de êmbolo quando se deseja
grandes trabalhos específicos internos juntamente com pequenas po-
tências.

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