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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Escola de Engenharia
Departamento de Engenharia Mecânica
Disciplina de Laboratório de Térmica

GUILHERME INÁCIO CAMARÇO


LUIS ANTONIO MARCHETTI LUBIANA
JOÃO PEDRO DE CARVALHO MACIEL

RELATÓRIO - DETERMINAÇÃO DA EMISSIVIDADE DIRECIONAL-TOTAL EM


MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Belo Horizonte
2023
Relatório - Determinação da emissividade direcional-total em módulos fotovoltaicos

Guilherme Inácio Camarço


João Pedro de Carvalho Maciel
Luis Antônio Marchetti Lubiana

Realizado em 25 de Novembro, 2023

RELATÓRIO - DETERMINAÇÃO DA EMISSIVIDADE DIRECIONAL-TOTAL EM


MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Trabalho apresentado à disciplina de Laboratório de


Térmica, do Curso de Bacharelado em Engenharia
Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais.

Turma: PD1
Orientador: Prof. Vitor Furtado Paes
1. INTRODUÇÃO

No cenário das energias renováveis, a energia solar destaca-se como uma das que
mais crescem no mercado, oferecendo a perspectiva de reduzir diretamente a dependência de
combustíveis fósseis nas matrizes energéticas. Contudo, a eficiência e o desempenho dos
sistemas fotovoltaicos são influenciados por diversos fatores, tais como umidade, temperatura
de operação, sombras e sujeira. Diante da necessidade de monitorar e aprimorar o
funcionamento desses módulos, a termografia emerge como uma alternativa viável para a
análise desses sistemas, sobretudo por ser uma técnica não invasiva e de alto desempenho.

As inspeções termográficas em módulos fotovoltaicos comumente são conduzidas na


superfície frontal dos painéis. As propriedades e características de emissão e reflexão dessas
superfícies dependem diretamente da direção de análise no momento da medição. Entretanto,
no meio científico e industrial, algumas simplificações são frequentemente adotadas na
descrição dos sistemas fotovoltaicos, como a consideração de uma superfície cinza ou de
propriedades hemisféricas-totais. Em virtude da natureza especular (direcional) da superfície
dos painéis, essas simplificações podem resultar em erros significativos nas medições
quantitativas, prejudicando a análise e o monitoramento desses sistemas.

Assim, surge a necessidade premente de avaliar as propriedades ópticas dos módulos


fotovoltaicos durante seu funcionamento, com o objetivo de analisar de maneira consistente a
viabilidade de empregar a termografia como uma técnica de inspeção.

1.1. Objetivo(s)

O objetivo desta prática é calcular a emissividade direcional-total da parte frontal de


módulos fotovoltaicos de silício utilizando a termografia.

1.1.1. Objetivo(s) específico(s)

Compreensão do funcionamento de termovisores e medição de propriedades


radiométricas.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Materiais

Os dispositivos e instrumentos de medição empregados na coleta de dados para


calcular a emissividade direcional-total do módulo fotovoltaico SA10-36P estão destacados a
seguir:

 Variador de voltagem monofásico (VARIAC) – Vide Figura 1;


Figura 1- Variador de voltagem VARIAC. Fonte: Itest.
Dispositivo recomendado para ajustar a tensão de saída em testes laboratoriais, sendo
utilizado como referência no cálculo da potência elétrica dissipada em uma resistência
conectada aos seus terminais. Suas especificações técnicas estão detalhadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Variador de voltagem VARIAC. Fonte: Itest.

Item Especificação
Capacidade 5 kVA
Fases 1
Temperatura ambiente -5ºC a 40ºC
Frequência 60 Hz
Corrente de saída 20 A
Dimensões 300x260x230 mm
Peso 16 kg

 Módulo fotovoltaico SinoSola SA10-36P – Vide Figura 2;

Figura 2 - Módulo fotovoltaico SA10-36P. Fonte: SinoSola.


O módulo fotovoltaico empregado no presente experimento é o SinoSola SA10-36P, e
suas especificações técnicas estão apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 - Módulo fotovoltaico SA10-36P. Fonte: SinoSola.

Item Especificação
Máxima potência 10 W
Tolerância de potência 0 a 3%
Tensão de circuito aberto 22,5 v
Corrente de curto-circuito 0,60 A
Eficiência do módulo 11,34%
Temperatura de operação -40 a 85ºC

 Sistema de aquisição de dados NI 9211 (National Instruments) – Vide Figura 3;

Figura 3 - NI 9211. Fonte: National Instruments.


Sistema responsável por monitorar e registrar as leituras de temperatura da superfície
frontal do módulo fotovoltaico. Suas especificações técnicas podem ser encontradas de forma
resumida na Tabela 3Error: Reference source not found.

Tabela 3 - NI 9211. Fonte: National Instruments.

Item Especificação
Resolução 24 bits
Temperatura de operação 0ºC - 60ºC
Erro de medição de tensão ± 80 mV
Erro de offset ± 20 μV
Erro de ganho 0,1%
Peso 350 g

 Termohigrômetro TESTO 622 – Vide Figura 4;


Figura 4 - Testo 622. Fonte: Testo.

Equipamento empregado para monitorar e medir a temperatura ambiente durante a


condução do experimento. Na Tabela 4 a seguir apresentam-se algumas informações técnicas
relevantes do termohigrômetro:

Tabela 4 - Testo 622. Fonte: Testo.

Item Especificação
Faixa de medição (ºC) -10ºC - 60ºC
Faixa de medição (%) 0% - 100%
Taxa de aquisição 10 segundos
Resolução 0,1ºC; 0,1%
Incerteza de medição ± 0.4ºC; ± 3%

 Câmera termográfica FLIR A315 – Vide Figura 5;

Figura 5 - FLIR A315. Fonte: FLIR.

A câmera termográfica ilustrada acima possui um detector térmico que opera em


comprimentos de onda longos (7,5 a 13 µm), apresentando uma resolução espacial de 320 x
240 pixels. Outras informações técnicas acerca da câmera podem ser consultadas na Tabela
5.

Tabela 5 - FLIR A315. Fonte: FLIR.

Item Especificação
Tipo de detector Microbolômetro
Campo de visão (FOV) 25º x 18,8º
Taxa de aquisição 60 Hz
Operação espectral 7,5 μm a 13 μm
Medição de temperatura -20ºC a 350ºC
Resolução digital 16 bit
Incerteza de medição ± 2ºC ou ± 2%
 Bancada de teste – Vide Figura 6;

Figura 6 - Bancada de testes para a medição da emissividade direcional-total do módulo


fotovoltaicos Sino Sola SA10-36P. Fonte: Roteiro.

Os demais materiais utilizados na prática foram:

 Resistência elétrica;

 Termopar tipo J calibrado.

2.2. Metodologia

A montagem e realização do presente experimento para determinação da emissividade


direcional-total do módulo fotovoltaico Sino Sola SA10-36P envolve diretrizes e
procedimentos cuidadosamente planejados.

Inicialmente, assegurou-se a climatização adequada do ambiente, visando manter


estáveis as condições durante todas as etapas. Em seguida, foi realizada a conferência das
conexões no variador de tensão, certificando-se de que uma das pontas do cabo paralelo
estava conectada à entrada de tensão na rede, enquanto a outra estava ligada à saída do
voltímetro, o qual, por sua vez, foi conectado à resistência.

Posteriormente, ligou-se os terminais do termopar J ao sistema de aquisição de dados


NI 9211, e sua junta de medição foi fixada na superfície do módulo fotovoltaico para
medição da respectiva temperatura. Na bancada de teste, a resistência elétrica foi acomodada,
sendo feita a utilização de pasta térmica na superfície em que há contato com a bandeja.

Logo após, encheu-se o tanque de água até o nível em que que a bandeja fique
submersa, assegurando, assim, a ausência de bolhas de ar entre o módulo e a bandeja, que,
em seguida, foi cuidadosamente posicionada na bancada, juntamente com o módulo
fotovoltaico, procurando minimizar o deslocamento de água.

Procedeu-se, então, à energização de todos os equipamentos na rede elétrica,


ajustando os valores no voltímetro para controle da potência dissipada na resistência e,
consequentemente, da temperatura no módulo fotovoltaico.
Por fim, a câmera termográfica foi montada no suporte de perfil quadrado,
proporcionando uma fixação estável e direcionada à superfície frontal do módulo, e o seu
termovisor foi configurado para emissividade unitária (ε = 1). A montagem final do
experimento é mostrada na Figura 6.

Realizou-se, então, a coleta dos dados de interesse (temperatura aparente do módulo)


variando o ângulo de observação entre a câmera termográfica e a direção normal da
superfície frontal do módulo. Paralelamente, foram registrados, a partir do termohigrômetro,
os valores de temperatura ambiente e umidade relativa para cada ângulo.

Após a coleta desejada, os dados obtidos foram checados com o objetivo de assegurar
a consistência e integridade das informações. Finalmente, esses dados foram armazenados em
um computador para análises posteriores, cujos resultados quanto à avaliação das
propriedades ópticas dos módulos fotovoltaicos estão detalhados na próxima seção do
presente relatório.

2.3. Revisão da Literatura

As câmeras termográficas medem a temperatura de maneira indireta, com base em


diversos parâmetros medidos durante a inspeção termográfica. Para avaliar o funcionamento
da câmera termográfica é necessário quantificar a energia térmica que incide sobre a câmera
durante o ensaio, que pode ser feito considerando três parcelas de energia, sendo elas:

I. Parcela emitida pela superfície do objeto avaliado, dada por:

τ atm εE ( T ob ) (Eq. 1)

II. Parcela refletida pela superfície do objeto, dada por:

τ atm (1−ε )E ( T ref ) (Eq. 2)

III. Parcela oriunda da atmosfera, dado por:

( 1+ τ atm ) E ( T atm ) (Eq. 3)


Assim, pode-se representar o experimento conforme a imagem abaixo:

Figura 7 - Representação dos componentes radiométricas em uma inspeção termográfica.


Fonte: Roteiro.
Podemos obter a quantidade de energia que incide sobre o sensor da câmera por meio
de um balanço de energia:

E=ε λ, obj τ λ ,atm E λ ,obj + ρ λ, obj τ λ, atm E λ, ref + ε λ, atm E λ, atm

No qual:

 obj →Representa a parcela de energia emitida pelo objeto analisado;


 ref →Representa a parcela de energia refletida pela superfície do objeto analisado;
 atm →Representa a parcela de energia emitida pela atmosfera
 λ →Representa a dependência espectral
 E →Poder emissivo de corpo negro
 ε →Emissividade
 ρ →Refletividade
 τ →Transmissividade

Utilizando a Lei de Stefan-Boltzmann e tratando as propriedades radiométricas como


hemisféricas-totais, é possível obter a equação do modelo matemático de medição de
temperatura do termovisor:

T ap=[ ε obj τ atm T 4obj + ( 1−ε obj ) τ atm T 4ref + ( 1−τ atm ) T 4atm ]
0 ,25
(Eq. 5)

Na qual:

 T ap →Temperatura aparente, ou seja, soma das componentes radiométricas que


chegam no sensor;
 T obj →Temperatura do objeto
 T ref →Temperatura refletida pela superfície do objeto;
 T atm →Temperatura da atmosfera
 τ atm →Transmissividade da atmosfera, determinada utilizando as equações abaixo com
base na umidade relativa (φ % ¿, distância de medição (d) e temperatura.

φ%
exp ( h1+ h2 T atm + h3 T atm +h4 T atm ) (Eq. 6)
2 3
ω=
100

[
τ atm=K atm exp −d
0 ,5
( α 1+ β1 ω0 , 5 )] + ( 1−K atm ) exp [−d 0 , 5 ( α2 + β 2 ω0 , 5) ] (Eq. 7)
Nas quais:

 K atm =¿ 1,9
 α 1=0,066
 α 2=0,0126
 β 1=−0,0023
 β 2=−0,0067
 h1=1,5587
−2
 h2 =6,939 x 10
−4
 h3 =−2,7816 x 10
−7
 h 4=6,8455 x 10
A emissividade total pode ser determinada de maneira experimental, equipando a
amostra analisada com um termopar e ajustando no software controlador da câmera o valor
de emissividade até que as leituras de temperatura da câmera e do termopar se igualem.

Também é possível determinar a emissividade total de maneira analítica,


solucionando a Equação 5 para ε :
4 4 4
T ap−τ atm T ref −(1−τ atm )T atm
ε= 4 4 (Eq. 8)
τ atm (T obj −T ref )

Ao se avaliar a emissividade em diferentes ângulos, determina-se a distribuição


direcional-total da emissividade da superfície.

2.3.1. Estado da arte

As câmeras termográficas apresentam distintas aplicações na indústria, uma vez que


permitem a realização de uma análise térmica à distância. Porém, sua aplicação apresenta
uma limitação, na forma da imprecisão de sua utilização em superfícies não cinzentas. Desse
modo, vale destacar dois trabalhos na área de termografia que utilizam modelos espectrais-
direcionais para a análise de fenômenos físicos visando contornar essa limitação.

No artigo FERREIRA, Rafael A. M. et al. A directional-spectral approach to estimate


temperature of outdoor PV panels. Os autores abordam o uso de câmeras termográficas para
avaliarem a temperatura da superfície de painéis fotovoltaicos instalados ao ar livre. Esta
aplicação apresenta desafios pois normalmente a inspeção é realizada na superfície
fotovoltaica, que apresenta uma superfície espelhada e um comportamento espectral
altamente direcional, além de estarem submetidos a uma fonte de luminosidade descontínua e
variável, o céu. Tais condições tornam inviável a aproximação da superfície dos painéis por
superfícies cinzentas, impossibilitando o uso das câmeras com precisão.

Dessa forma, os autores propõem o uso de uma rotina de pós processamento que é
capaz de corrigir as medições feitas por câmeras infravermelhas comerciais para uma
abordagem não cinzenta.

O modelo proposto inicia-se obtendo a resposta completa dos sensores do termovisor,


com emissividade e transmitância iguais a um. A temperatura obtida pode ser convertida em
sinal elétrico usando a seguinte relação:

Durante inspeções externas, muitas fontes de calor em uma ampla faixa de


comprimento de onda, e de muitas direções, ocorrem simultaneamente. Especificamente em
inspeções de painéis solares, a componente mais representativa da radiação LWIR vem do
céu ou nuvens e pode ser convertida em sinal de saída usando a equação abaixo:
O sinal elétrico devido à emissão atmosférica ao nível do solo é dado pela equação
abaixo:

Se o sinal elétrico completo for conhecido, assim como os componentes de reflexão e


atmosférico, o sinal do objeto pode ser estimado por substituição direta. Em seguida, a
temperatura corrigida é o valor que satisfaz a equação abaixo:

Se a emissividade total direcional de LWIR e a refletividade total direcional de LWIR


forem preferidas, em detrimento das quantidades espectrais, as equações podem ser reescritas
da seguinte forma:

O artigo ainda discute o procedimento comum de câmeras térmicas assume que os


objetos são corpos cinza, onde a refletividade total é dada por 1 - ε. No entanto, ao analisar
painéis fotovoltaicos externos, a suposição de cor cinza é questionada. Para quantidades
direcionais espectrais de infravermelho de ondas longas (LWIR) em equilíbrio térmico, a
relação αλi (θ , ϕ , T )εθiT = 1 pode ser estabelecida. No entanto, isso não é aplicável às
propriedades totais de LWIR. A absortividade total de LWIR pode ser expressa em termos da
intensidade incidente e, usando a Lei de Kirchhoff, é relacionada à emissividade total
direcional. Existem duas maneiras de satisfazer essa relação: (1) se a intensidade incidente de
LWIR for proporcional à radiação de corpo negro; (2) se εθiTλi for independente de λ . A
radiação incidente do céu não segue uma distribuição de corpo negro, e as propriedades
ópticas do vidro variam significativamente com o comprimento de onda. Conclui-se que os
painéis fotovoltaicos não seguem o modelo de corpo cinza.

A metodologia proposta foi aplicada para avaliar a temperatura da superfície do painel


fotovoltaico durante inspeções termográficas ao ar livre, na Usina Solar Tesla, conforme
mostrado na Figura 13. Uma estação meteorológica Lufft WS501-UMB, próxima à Usina
Solar, coleta dados de temperatura ambiente, umidade relativa, pressão barométrica, direção e
velocidade do vento.

Entre 13 de julho e 5 de setembro de 2018, foram realizadas 20 inspeções


termográficas, sempre no mesmo painel solar. Dados instantâneos da estação meteorológica
foram coletados, e a temperatura do céu foi estimada para cada ponto de dados coletados em
ambos os dias de inspeção.
Observou-se que os valores mais altos de temperatura do céu foram observados em
condições nubladas, devido ao maior teor de vapor d'água nas nuvens, que absorve radiação
de curto comprimento de onda (SW) do Sol e emite radiação de onda longa (LWIR), próxima
à faixa nominal de termovisores.

Para condições de céu nublado, o modelo de Bliss (1961) teve a melhor concordância
com o procedimento do termovisor, enquanto em condições de céu limpo, todos os modelos
divergiram, embora Berger et al. (1984) e Berdahl e Fromberg (1982) tenham se saído
ligeiramente melhor.

A temperatura corrigida foi comparada considerando quantidades totais direcionais de


LWIR; quantidades espectrais direcionais; software Flirtools com ε = 0,902; sensor de
contato RTD.

Quando se consideram os valores totais direcionais de LIWR para refletividade e


emissividade, a média do desvio para céu nublado e céu limpo foi de 2,11 e 1,81 °C,
respectivamente. Para a análise direcional espectral, os resultados foram melhores, com
valores de desvio absoluto de 0,95 e 0,75 °C, para as mesmas condições mencionadas
anteriormente.

Em um dos ensaios, no dia 13 de julho, a temperatura do céu aumentada pela presença


de nuvens levou a um aumento na temperatura refletida, mas o software comercial não
conseguiu compensar adequadamente. No ensaio do dia 5 de setembro, um dia de céu limpo
com umidade relativa extremamente baixa, esse novo cenário resultou em uma reflexão
corrigida aproximadamente 14% maior do que o software da câmera.

Já no artigo MOREIRA, Matheus de Oliveira; ABRÃO, Alexandre M.; FERREIRA,


Rafael A.M.; PORTO, Matheus P. Temperature monitoring of milling processes using a
directional-spectral thermal radiation heat transfer formulation and thermography. Os autores
desenvolvem um estudo que propõe uma metodologia mais adequada que usa relações de
transferência de calor radiativo direcional-espectral para estimar as temperaturas do processo
de corte durante o fresamento frontal de metais, usando a resposta elétrica completa de
câmeras infravermelhas comerciais como entrada.

O monitoramento da temperatura durante a usinagem de metais é uma estratégia


efetiva para entender e controlar o processo de corte. Para a operação de fresamento de
materiais metálicos, o uso de medidores de temperatura baseados na radiação emitida pelos
corpos no espectro infravermelho apresenta vantagens como menor tempo de resposta e a
possibilidade de monitorar perfis de temperatura. No entanto, os modelos embutidos nos
softwares dos termovisores comerciais apresentam simplificações significativas,
principalmente pela adoção do modelo de superfície difusa e cinza. A literatura científica
demonstra que a emissividade de superfícies metálicas apresenta dependência significativa
em relação à temperatura, ao espectro e à direção. Apesar disso, estudos científicos acerca do
monitoramento de temperatura durante a usinagem de materiais metálicos normalmente
negligenciam tais efeitos.
O estudo propõe o uso de uma metodologia mais adequada que usa relações de
transferência de calor radiativo direcional-espectral para estimar as temperaturas do processo
de corte durante o fresamento frontal de metais, usando a resposta elétrica completa de
câmeras infravermelhas comerciais como entrada.

Neste trabalho, um procedimento para estimar a temperatura de superfícies metálicas


durante o processo de fresamento frontal utilizando termovisores é proposto. Tal
procedimento envolve uma etapa de medição da emissividade da superfície metálica, com o
intuito de captar a sua dependência em relação à temperatura, ao espectro e à direcionalidade.
Para tanto, um aparato experimental é utilizado para medir grandezas que atuam como
variáveis de entrada em uma rotina de pós-processamento, a qual se baseia em uma
modelagem matemática que envolve equações de transferência de calor por radiação
espectral e direcional.

Os autores ainda propõem que a emissividade espectral seja estimada de maneira


experimental, que variaram de 0,12 a 0,20, para temperaturas de 50 °C a 250 °C, e com uma
incerteza relativa que variou de 5% a 36%, para comprimentos de onda de 7,5 μm a 13 μm.

A temperatura foi estimada para doze condições diferentes de fresamento de face,


utilizando os valores de emissividade obtidos anteriormente. A temperatura da peça variou de
100 °C a 188 °C, com uma incerteza expandida relativa combinada de 5% a 17%. O método
direcional-espectral resultou em valores aproximadamente 10,5 °C mais altos do que aqueles
obtidos a partir do modelo difuso-cinza, sugerindo que o modelo difuso-cinza foi menos
conservador. Também é importante destacar que a metodologia direcional-espectral é
fundamentalmente mais consistente para o fresamento de metais do que o modelo difuso-
cinza. A emissividade foi a maior contribuidora para a incerteza dos resultados obtidos.

Por fim, a metodologia proposta se mostrou precisa, ainda que seja uma alternativa de
relativo baixo custo.

2.4. Resultados

2.4.1. Dados experimentais

Por meio das medições realizadas durante o ensaio, foram obtidos os dados
experimentais destacados nas Tabelas abaixo a partir da leitura dos valores registrados pelos
equipamentos e instrumentos já mencionados:

Tabela 6 - Dados experimentais. Fonte: Autoral.

Mediçã T m[°C] T amb [°C] d h [m] T ap ,média [°C]


α [graus] φ [%] d [m]
o
1 0 45,542 25,6 45,4 0,0000 0,300000 45,59
2 10 45,416 25,6 45,8 0,0529 0,304628 45,75
3 20 45,269 25,6 45,9 0,1092 0,319253 45,72
4 30 45,278 25,6 45,5 0,1732 0,346410 45,71
5 40 45,237 25,6 45,3 0,2517 0,391622 45,65
6 50 45,212 25,6 45,2 0,3575 0,466717 45,34
7 60 45,102 25,4 47,5 0,5196 0,600000 44,01
8 70 45,199 25,7 47,5 0,8242 0,877141 41,93
Média - 45,282 25,588 46,013 - - -

Em que:

α - Ângulo de observação;

T m- Temperatura do módulo;

T amb -Temperatura ambiente;

T ap ,média – Temperatura aparente média;

φ - Umidade relativa;

d h- Distância horizontal;

d v- Distância vertical;

d - Distância de medição.

É importante destacar que, para este experimento, a temperatura aparente média (


T ap ,média ) foi obtida a partir do processamento das imagens termográficas (capturadas pela
câmera FLIR A315) via software FLIR Research Studio, da fabricante Teledyne FLIR.

A distância de medição (d ) e a horizontal (d h), por sua vez, foram determinadas


usando relações trigonométricas, conforme geometria ilustrada na Figura 8 adiante:

Figura 8 – Representação da geometria para determinação da distância d . Fonte: Autoral.


Dessa maneira, tem-se que:

d=d v ∙ cos (α )

d h=d v ∙ tan(α )

Em que d v =0 , 3 m, de acordo com a medição feita com auxílio de uma trena métrica.

2.4.2. Matriz de dados de emissividade

Em um segundo momento, obteve-se a matriz de dados de temperatura aparente ( T ap)


- soma das componentes radiométricas que chegam no sensor da câmera - para cada ângulo
de observação (α ) por meio do processamento das imagens termográficas via software FLIR
Research Studio, já mencionado.

Em seguida, essas matrizes de temperatura aparente foram transformadas em matrizes


de dados de emissividade, em função dos valores de temperatura da superfície alvo
(superfície frontal do módulo fotovoltaico), por meio da Equação 8 abaixo, detalhada na
seção 2.3.
4 4 4
T ap−τ atm T ref −(1−τ atm )T atm
ε= 4 4 (Eq. 8)
τ atm (T obj −T ref )

Em que a temperatura do objeto (T obj) refere-se à temperatura do módulo (T m).

T obj =T m

Ademais, considerou-se a temperatura refletida pela superfície ( T ref ) e a temperatura


da atmosfera (T atm ) iguais à temperatura ambiente, ou seja:

T amb=T ref =T atm

Por último, para maior praticidade, adotou-se um valor único da transmissividade da


atmosfera por meio do valor médio do parâmetro ω (ω m ≅ 10,884), o qual foi determinado em
função das médias da temperatura atmosférica ( T atm, m=25,558 ° C ) e da umidade relativa (
φ % m=46,013 % ) em relação as medições realizadas no ensaio, de modo que:

φ %m
exp ( h1 +h2 T atm ,m +h 3 T atm ,m +h 4 T atm ,m ) (Eq. 6)
2 3
ω m=
100

[
τ atm=K atm exp −d
0 ,5
( α 1+ β1 ωm 0 ,5 )] + ( 1−K atm ) exp [−d 0 , 5 ( α 2 + β 2 ωm0 , 5 )] (Eq. 7.1)
Neste caso, considerou-se d como a maior distância de medição (d máx ), isto é:

d=d v ∙ cos ( α )
d máx =0 , 3 ∙cos ( 70° )

∴ d=d máx =0,877 m

Sendo assim, obteve-se a matriz de dados da emissividade a partir da matriz de dados


de temperatura ambiente para cada ângulo de observação (α ). Tais matrizes podem ser
consultadas neste link.

É importante ressaltar que a distribuição de temperaturas ao longo da extensão da


superfície do módulo foi assumida como uniforme, e que os cálculos foram realizados em
função das temperaturas absolutas (vide Tabela 7).

Tabela 7 - Dados experimentais. Fonte: Autoral.

Mediçã T m [K] T amb [K] d h [m] T ap ,média [K]


α [graus] φ [%] d [m]
o
1 0 318,692 298,8 45,4 0,0000 0,300000 318,74
2 10 318,566 298,8 45,8 0,0529 0,304628 318,90
3 20 318,419 298,8 45,9 0,1092 0,319253 318,87
4 30 318,428 298,8 45,5 0,1732 0,346410 318,86
5 40 318,387 298,8 45,3 0,2517 0,391622 318,80
6 50 318,362 298,8 45,2 0,3575 0,466717 318,49
7 60 318,252 298,6 47,5 0,5196 0,600000 317,16
8 70 318,349 298,9 47,5 0,8242 0,877141 315,08
Média - 318,432 298,738 46,013 - - -

2.4.3. Tratamento estatístico

Em seguida, para o tratamento estatístico da matriz de emissividades obtida no item


anterior, destacam-se os seguintes dados referentes ao conjunto de pixels internos à área
selecionada da imagem termográfica no software FLIR Research Studio:

Tabela 8 - Dados experimentais. Fonte: Autoral.

Desvio
Dimensõe Pixels Valor máx. de Valor mín. de Valor médio de
α [graus] padrão da
s [un] emissividade emissividade emissividade
amostra
0° 240 x 320 76800 1,657 0,299 0,969 0,402
10° 240 x 320 76800 1,665 0,312 0,995 0,395
20° 240 x 320 76800 1,686 0,293 0,975 0,404
30° 240 x 320 76800 1,664 0,249 0,939 0,414
40° 240 x 320 76800 1,655 0,195 0,880 0,433
50° 240 x 320 76800 1,610 0,100 0,798 0,447
60° 240 x 320 76800 1,649 0,021 0,384 0,429
70° 240 x 320 76800 1,546 -0,026 0,218 0,341
Plotou-se também os histogramas (centrados no valor médio obtido) das
emissividades provenientes das matrizes de dados para cada ângulo de observação (α ), os
quais estão apresentados a seguir:

Figura 9 – Histograma dos dados de emissividade para α =0 ° . Fonte: Autoral.

Figura 10 – Histograma dos dados de emissividade para α =10 ° . Fonte: Autoral.


Figura 11 – Histograma dos dados de emissividade para α =20 ° . Fonte: Autoral.

Figura 12 – Histograma dos dados de emissividade para α =30 ° . Fonte: Autoral.


Figura 13 – Histograma dos dados de emissividade para α =40° . Fonte: Autoral.

Figura 14 – Histograma dos dados de emissividade para α =50 ° . Fonte: Autoral.


Figura 15 – Histograma dos dados de emissividade para α =60 ° . Fonte: Autoral.

Figura 16 – Histograma dos dados de emissividade para α =70 ° . Fonte: Autoral.


2.4.4. Distribuição direcional-total da emissividade

Por fim, foi plotado o gráfico polar (vide Figura 17), que descreve a distribuição
direcional-total da emissividade da superfície frontal do módulo fotovoltaico SA10-36P para
os diferentes ângulos de observação avaliados no ensaio.

Distribuição direcional-total da emissividade


do módulo fotovoltaico SA10-36P
Emissividade
0
-10 10
-20 1.000 20

-30 30
0.500
-40 40

0.000
-50 50

-60 60

-70 70
-80 80
-90 90

Figura 17 – Distribuição direcional-total da emissividade do módulo fotovoltaico SA10-36P.


Fonte: Autoral.

2.5. Resultados

Fazendo uma análise crítica dos resultados obtidos ao final deste relatório, foi possível
demonstrar de maneira prática a natureza direcional da emissividade, o que, apesar de ser
uma constatação já realizada nos trabalhos científicos recomendados para revisão, nesse caso,
destaca-se todo a metodologia de aquisição de dados, o uso dos equipamentos mencionados e
o pós processamento dos dados.

Além disso, definindo-se uma mesma região de pixels para cada imagem identificada
pela câmera termográfica, foi realizada uma análise estatística dos valores de emissividade
para cada ângulo de inclinação do equipamento e, apesar dos valores médios encontrados
serem condizentes com o esperado, os mínimos e máximos apresentaram discrepâncias
totalmente irreais, já que, fisicamente, é impossível que valores de emissividade sejam
negativos ou maiores do que 1, tendo em vista que, para o primeiro caso, a concepção física
do fenômeno é totalmente ilógica e, quanto ao segundo, sabe-se que o corpo negro é o
limitante teórico superior dessa variável.

Por fim, objetivando-se identificar maiores frequências de valores de emissividade ao


longo do range de pixels definido na imagem das câmeras, plotou-se histogramas para cada
ângulo de análise do equipamento. Entretanto, os resultados não foram como esperado, já
que, qualitativamente, previa-se uma distribuição normal dos valores ao longo das classes
analisadas, o que pode ser resultado de uma escolha muito grande de pixels para análise,
maximizando a variabilidade dos valores exportados.

3. CONCLUSÃO

É possível concluir que, definitivamente, a emissividade é uma propriedade com alta


tendência direcional, tendo em vista as variações consideráveis indicadas nos valores obtidos.
Entretanto, assim como já abordado nos Resultados, valores de emissividade fisicamente
impossíveis de serem concebidos na realidade foram identificados, o que sugere problemas
ao longo da metodologia de cálculo ou da própria aquisição dos valores. Nesse aspecto,
alguns pontos merecem destaque:

a. Lei de Kirchhoff: De acordo com a Lei de Kirchhoff, a absortividade monocromática


direcional de uma superfície não negra é sempre igual à sua emissividade
monocromática direcional quando a superfície está em equilíbrio térmico com a
radiação que incide sobre ela. Além disso, para corpos cinzas, pode-se assumir
também que ρ = 1-ɛ, aproximação utilizada nas contas, mas que não condiz totalmente
com a realidade, já que, nesse caso, não temos um corpo cinza.

b. T ref =T amb : Considerar a temperatura refletida pelo radiador igual à ambiente também
é uma aproximação que não representa fielmente a realidade, mas, nesse caso, foi uma
alternativa viável para o desenvolvimento dos cálculos, apesar de conferir certo grau
de incerteza aos resultados.

c. T obj = cte.: Assumir a temperatura do objeto, no caso, a placa solar, como constante e
igual àquela identificada pelo termopar também é uma fonte de erro, haja vista que,
devido às condições ambientais, por exemplo, variações de temperatura de um ponto
ao outro é algo plausível, o que foi desconsiderado nesse caso.

Por fim, para projetos futuros, o ideal é realizar o experimento em um local mais
controlado, com a temperatura ambiente mais uniforme, sem muitas variabilidades, e com o
mínimo de fontes térmicas paralelas presentes, como as próprias pessoas envolvidas ou
demais equipamentos utilizados, o que pode impactar, principalmente, na variável T ref, já que
é a grandeza associada à refletividade da placa, conferindo, inevitavelmente, maior incerteza
aos resultados.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BERGMAN, T.L.; LAVINE, A.S.; INCROPERA, F.P.; DEWITT, D.P. Fundamentos de
transferência de calor e massa. 8ª Ed. John Wiley&Sons, Inc. 2017;

[2] FERREIRA, R.A.M.; POTTIE, D.L.F.; DIAS, L.H.C.; BRAZ, J.C.F.; PORTO, M.P. A
directional-spectral approach to estimate temperature of outdoor PV panels. Solar Energy,
v.183, 2019;

[3] MOREIRA, M.O.; ABRÃO, A.M.; FERREIRA, R.A.M.; PORTO, M.P. Temperature
monitoring of milling processes using a directional-spectral thermal radiation heat transfer
formulation and thermography. International Journal of Heat and Mass Transfer, v.171, 2021.
5. ANEXOS OU APÊNDICES

Figura 18: Variador de voltagem. Figura 19: Sistema de aquisição

Figura 20: Bancada de trabalho. Figura 21: Posicionamento da câmera.

Fonte: Autoral.
Figura 22: Imagem termográfica com a indicação da área de seleção retangular para
análise (0°). Fonte: Autoral.

Figura 23: Imagem termográfica com a indicação da área de seleção retangular para análise
(10°). Fonte: Autoral.
Figura 24: Imagem termográfica com a indicação da área de seleção retangular para análise
(20°). Fonte: Autoral.

Figura 25: Imagem termográfica com a indicação da área de seleção retangular para análise
(30°). Fonte: Autoral.
Figura 26: Imagem termográfica com a indicação da área de seleção retangular para análise
(40°). Fonte: Autoral.

Figura 27: Imagem termográfica com a indicação da área de seleção retangular para análise
(50°). Fonte: Autoral.
Figura 28: Imagem termográfica com a indicação da área de seleção retangular para análise
(60°). Fonte: Autoral.

Figura 29: Imagem termográfica com a indicação da área de seleção retangular para análise
(70°). Fonte: Autoral.

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