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ISSN: 2595-6825
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar os artigos científicos que discutem a saúde mental
de estudantes de psicologia, buscando caracterizar os principais transtornos mentais em
estudantes de psicologia e identificar fatores de risco e de proteção em relação à saúde mental
em estudantes de psicologia. Este estudo trata-se de uma revisão de literatura do tipo
sistemática. Para a realização da busca dos artigos foram utilizados os descritores “saúde
mental”, “transtornos mentais”, “estudantes” e “psicologia”, no idioma inglês, conforme a
expressão a seguir: ("mental health" OR "mental disorders") AND students AND psychology.
As buscas foram realizadas na base de dados SCIELO, PEPSIC e BVS, LILACS e MEDLINE.
Foi considerado o corte temporal de artigos publicados entre o período de janeiro de 2016 e
outubro de 2021. Após os critérios de inclusão de exclusão, foram selecionados 10 artigos para
compor o presente estudo. Os artigos foram divididos em três temáticas: transtornos mentais
em estudantes de psicologia; o uso abusivo de substâncias psicoativas por estudantes de
psicologia; as vivências acadêmicas/habilidades sociais dos acadêmicos de psicologia. O
presente artigo pode auxiliar na percepção dos aspectos que envolvem a saúde mental de
estudantes de psicologia, na elaboração de estratégias de cuidado voltadas a esse público,
visando promover qualidade de vida e bem-estar psicossocial.
ABSTRACT
The present study aims to analyze scientific articles that discuss the mental health of psychology
students, seeking to characterize the main mental disorders in psychology students and to
identify risk and protection factors in relation to mental health in psychology students. This is
a systematic literature review. To search for articles, the descriptors "mental health", "mental
disorders", "students" and "psychology" were used, in English, according to the following
expression: ("mental health" OR "mental disorders") AND students AND psychology. The
searches were carried out in the SCIELO, PEPSIC and VHL, LILACS and MEDLINE
databases. The temporal cutoff of articles published between the period January 2016 and
October 2021 was considered. After the inclusion exclusion criteria, 10 articles were selected
to compose the present study. The articles were divided into three themes: mental disorders in
psychology students; substance abuse by psychology students; the academic experiences/social
skills of psychology students. This article may help in the perception of the aspects that involve
the mental health of psychology students, in the development of care strategies aimed at this
public, in order to promote quality of life and psychosocial well-being.
1 INTRODUÇÃO
O ingresso no ensino superior pode ser considerado um marco importante da vida adulta.
Para além dos aspectos de formação profissional, em geral, é o início de experiências de maior
independência da família, de contato com pessoas de realidades e culturas mais diversas, de
escolhas mais decisivas e de maior autonomia, pouco antes vivenciados ao longo da vida. Por
essas questões e por outras mais características do mundo acadêmico, o ambiente universitário
pode se tornar um fator de risco para o desenvolvimento de sofrimento psíquico e adoecimento
mental.
De acordo com Neves e Dalgalarrondo (2007), estudos epidemiológicos demonstram
que os transtornos mentais têm maior chance de se desenvolverem na idade adulta,
especialmente no período universitário. Os autores apresentam também que estudos
internacionais têm indicado a alta prevalência de transtornos mentais entre universitários, se
comparados com jovens da mesma idade que não estão na universidade. Esse dado pode ser
justificado, entre outros fatores, pelo distanciamento da família e de outros ciclos sociais
conhecidos nesse momento de intensas transformações (NEVES, DALGALARRONDO,
2007).
No Brasil, de acordo com a V Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos
Estudantes da Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior, realizado pela
Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior [ANDIFES]
em 2018, nas 65 IFES, abrangendo 1.200.300 (um milhão, duzentos mil e trezentos) discentes,
apresenta dados de que 83,5% dos estudantes apresentaram dificuldades emocionais e, destes,
63,5% assinalaram ansiedade e 45,6% desânimo ou desmotivação. Um dado relevante que a
pesquisa apontou foi um número expressivo de universitários que apresentam ideia de morte
(10,8%) e pensamento suicida (8,5%), números que, por si só, já são preocupantes, mais ainda
quando comparados com a mesma pesquisa realizada quatro anos antes, em 2014, onde 6,38%
apresentaram pensamentos sobre ideias de morte e 4,13% apresentaram pensamento suicida.
Isso significa um crescimento de 68,8% e 107%, respectivamente, entre uma pesquisa e outra,
o que justifica a necessidade de se pesquisar e pensar estratégias em promoção da qualidade de
vida e saúde mental para este público (ANDIFES, 2019).
Andrade et al (2016) apresentam dados que apontam que, de acordo com outros estudos
que investigam sofrimento psíquico em estudantes universitários, observa-se que cursos de
graduação que envolvam o contato com o sofrimento psíquico de outras pessoas ou que estudem
acerca da subjetividade humana correlacionam-se com uma certa vulnerabilidade e pode elevar
as probabilidades de desenvolver algum transtorno mental e que o mesmo pode acontecer com
estudantes de psicologia. Os autores apontam ainda dados que evidenciam que os estudantes de
psicologia estão apresentando sofrimento psíquico, o que provoca um risco aumentado para o
desenvolvimento de transtornos mentais nessa população.
Pensando nessas questões, o presente artigo tem como objetivo geral analisar os artigos
científicos que discutem a saúde mental de estudantes de psicologia. Buscando caracterizar os
principais transtornos mentais em estudantes de psicologia; identificar fatores de risco e de
proteção, em relação à saúde mental em estudantes de psicologia; investigar se são realizadas
intervenções para a promoção, prevenção e reabilitação da saúde mental de estudantes de
psicologia. A seguir, será apresentado o método pelo qual este artigo foi desenvolvido, seguido
pelos resultados e discussão dos dados encontrados e as considerações finais.
2 METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão de literatura do tipo sistemática. A revisão
sistemática é um método de pesquisa que busca resumir as evidências científicas disponíveis
sobre um determinado tema, fornecendo informações relevantes de uma amostra total maior do
que qualquer estudo individual (ROEVER, 2017). Para a realização da busca dos artigos que
abordam a saúde mental dos estudantes de psicologia foram utilizados os descritores “saúde
mental”, “transtornos mentais”, “estudantes” e “psicologia”, no idioma inglês, conforme a
expressão a seguir: ("mental health" OR "mental disorders") AND students AND psychology.
As buscas foram realizadas na base de dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO),
no portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC) e na Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), através do portal da Literatura Latino Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e
Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). A busca foi realizada
no mês de novembro de 2021. Foi considerado o corte temporal de artigos publicados entre o
período de janeiro de 2016 e outubro de 2021.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca nas bases de dados com os descritores selecionados resultou em 11.037 artigos,
dos quais dez tratavam sobre a saúde mental de estudantes de psicologia e foram selecionados
após aplicação dos critérios de exclusão. Os dados da tabela demonstram que os anos 2020 e
2021 concentraram metade dos estudos, o que pode significar um crescimento da preocupação
com a temática nos últimos anos. Em relação ao país de origem, seis estudos foram feitos no
Brasil, dois no México, um no Perú e um no Equador. Quanto aos periódicos, observa-se uma
distribuição heterogênea dos estudos, e apenas a revista “Psicologia: Ciência e Profissão”
repetiu uma vez. A quantidade de participantes em cada pesquisa variou bastante, uma vez que
há um artigo que faz uma narrativa autobiográfica, em outro estudo se utilizou 15 sujeitos, outro
participou uma amostra de 310 e até um artigo que contou com um total de 982 estudantes. A
tabela 1 apresenta o título dos artigos selecionados, seus autores, ano de publicação e o objetivo
dos estudos.
Tabela 1. Informações dos artigos selecionados, contendo título, autor, ano e objetivo.
Título Autor Ano Objetivo Tipo de Estudo
A1 A percepção da saúde mental Aquino, R. C. F. 2020 Relatar a vivência Narrativa
de uma estudante de psicologia: et al. acadêmica e seu impacto na autobiográfica
narrativa autobiográfica saúde mental de uma
estudante universitária.
A2 Autoeficacia académica y A. Gutiérrez- 2018 Explorar as relações entre Estudo descritivo-
ansiedad, como incidente crítico, García & M. autoeficácia acadêmica e correlacional do
em mujeres y hombres Landeros- ansiedade, como incidente tipo quantitativo
universitarios Velázquez crítico.
A3 Depressão, motivos para Cremasco, G. S., 2017 Investigar índices de Método misto
viver e o significado do suicídio & Baptista, M. depressão e motivos para
em graduandos do curso de N. viver em graduandos de
psicologia Psicologia.
A4 O papel da supervisão em Bolsoni-Silva, 2017 Comparar três momentos de Estudo quantitativo
Terapia Comportamental quanto A. T., & um estágio supervisionado longitudinal.
à promoção de habilidades Matsunaka, M. em psicologia clínica
sociais em estagiários de P. S. comportamental quanto a
psicologia indicadores de saúde mental
A5 Detección del nivel de riesgo Zúñiga, M. D. C. 2020 Detectar o nível de risco Estudo quantitativo.
de consumo de sustancias C. et al. devido ao uso de
psicoactivas en estudiantes substâncias psicoativas em
universitarios de Psicología - universitários ingressando
Perú no curso de Psicologia.
A6 Saúde mental em estudantes Abre, M. M. & 2021 Investigar acerca da Estudo quantitativo,
de Psicologia de uma instituição Macedo, J. P. prevalência de Transtornos descritivo
pública: prevalência de Mentais Comuns (TMC) e exploratório.
transtornos e fatores associados fatores associados em
estudantes de Psicologia.
A7 Relaciones familiares y salud Osorio, N. C. & 2021 Determinar a relação entre a Estudo quantitativo
mental en estudiantes de Sanchez, N. A. percepção da dinâmica
psicología Z. familiar e o estado de saúde
mental apresentado por
estudantes de psicologia.
A8 Uso de Álcool e outras Pires, I. T. M. et 2020 Avaliar o padrão de uso de Estudo quantitativo,
Substâncias Psicoativas por al. álcool e outras SPAs em descritivo e
Estudantes Universitários de estudantes universitários. transversal.
Psicologia
A9 Vivências Acadêmicas e Andrade A. S. et 2016 Levantamento das vivências Método misto
Sofrimento Psíquico de al. acadêmicas dos estudantes
Estudantes de Psicologia de Psicologia de uma
universidade pública do
interior paulista
A10 Satisfacción con la vida, Moreta-Herrera, 2018 Conhecer o papel preditivo Estudo descritivo
bienestar psicológico y social R. et al. da Satisfação com a Vida e quantitativo.
como predictores de la salud do Bem-estar Psicológico e
mental en ecuatorianos. Social na saúde mental.
Fonte: Autoria própria
de psicologia; (b) O uso abusivo de substâncias psicoativas por estudantes de psicologia; (c) As
vivências acadêmicas/habilidades sociais dos acadêmicos de psicologia.
Três artigos investigam os transtornos mentais em estudantes de psicologia. Em seu
estudo, Gutiérrez-García e Landeros-Velázquez (2018) investigaram a autoeficácia percebida
pelos estudantes e correlacionou com os níveis de ansiedade. Os resultados apontaram que os
estudantes que percebem melhor sua autoeficácia, ou seja, sua capacidade cognitiva, seus afetos
e comportamentos que interagem sistematicamente a fim de atingir seus objetivos, possuem
níveis de ansiedade mais baixos.
Por sua vez, Cremasco e Baptista (2017) investigaram os índices de depressão e os
motivos para viver dos estudantes de psicologia. Os resultados apontaram um índice de 15%
(10 sujeitos) da amostra se enquadra nas categorias leve e moderada para depressão. Já Abre e
Macedo (2021) investigaram a prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC) em
estudantes de psicologia e, mesmo com uma amostra muito superior ao estudo de Cremasco e
Baptista (2017), obteve resultados muito expressivos, que fogem da média em outros estudos.
Numa amostra total de 261 estudantes, 60,2% (157 sujeitos) apresentaram prevalência de TMC.
Os autores do estudo apontam que entre os estudantes que participaram da pesquisa, as
principais dificuldades emocionais, por ordem de maior prevalência, são: ansiedade,
desânimo/falta de vontade de fazer as coisas, insônias ou alterações no sono, sensação de
desamparo/desespero/desesperança e sentimento de solidão (ABRE & MACEDO, 2021, p.
100).
Dois artigos tratam sobre o uso abusivo de substâncias psicoativas (SPA) em estudantes
de psicologia. O artigo de Zúñiga et al. (2020) teve como objetivo investigar o nível de risco
para consumo de SPA nos estudantes ingressantes no curso de psicologia de uma cidade do
Perú. Como resultado, a amostra de 324 sujeitos apresentou risco moderado para o consumo de
tabaco e para o consumo de bebidas alcoólicas e maconha, mas em menor percentual que para
o tabaco. Já o estudo de Pires et al. (2020) teve como objetivo avaliar o padrão de uso de álcool
e de outras SPA em estudantes de psicologia. Os resultados do estudo apontam que o álcool é
a substância mais consumida pelos estudantes que participaram da pesquisa (81.7%), seguido
pela maconha (46.1%) e tabaco (45.6%). Percebe-se que os resultados diferem entre A5 e A8,
entre os fatores envolvidos nessa diferença deve ser considerado o país em que as pesquisas
foram realizadas (Perú e Brasil) e as diferenças socioculturais que os mesmos apresentam.
Apesar da diferença no nível do risco de consumo, os dois artigos apontam que o álcool e o
tabaco são as SPA mais utilizadas pelos estudantes de psicologia.
É importante salientar que a noção de Saúde Mental está baseada em diversos fatores
na vida das pessoas. Os estudos aqui apresentados demonstram a variedade desses fatores,
revelando que desde as relações familiares, o uso de substâncias psicoativas, as relações
estabelecidas ao longo da vida e até a própria percepção de autoeficácia são demarcadores a
serem considerados no cuidado com saúde psíquica dos estudantes de psicologia.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão de literatura aqui apresentada pretendeu analisar os artigos científicos que
discutem acerca da saúde mental de estudantes de psicologia. Observou-se que as principais
temáticas estudadas foram a prevalência de transtornos mentais comuns, o uso abusivo de
substâncias psicoativas e sobre aspectos que envolvem vivências acadêmicas e habilidades
sociais desses estudantes.
Embora a busca tenha se estendido para países da América Latina, podemos observar
que foram encontrados apenas três artigos que não foram realizados no Brasil. Entre as
limitações da presente pesquisa, temos o fato de que apenas dois artigos realizaram pesquisa
sob o enfoque misto, e, compreendendo a saúde mental como um conceito multifatorial, para a
temática estudada é importante que se avalie os diversos aspectos biopsicossociais desse
público.
O presente artigo pode auxiliar na percepção dos aspectos que envolvem a saúde mental
de estudantes de psicologia, podendo auxiliar na elaboração de estratégias de cuidado voltadas
a esse público, visando promover qualidade de vida e bem-estar psicossocial. Por fim, sugere-
se que novas pesquisas sejam realizadas com o objetivo de investigar outras formas de
manifestação de saúde mental e também dos impactos da pandemia de Covid-19 na saúde
desses estudantes.
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