Você está na página 1de 17

CRiminologia E PRisão:

empírica no campo prisional // Ana Gabriela Mendes Braga1

Palavras-chave Resumo
Criminologia / Prisão / Pesquisa empírica / O presente artigo é um dos frutos da pesquisa de
Metodologia doutoramento “Reintegração social: discursos e

foram analisados alguns projetos desenvolvidos por


sumário entidades da sociedade civil em estabelecimentos
1 introdução prisionais de São Paulo e da Catalunha (Espanha).
2 metodologia
2.1 Entrevistas
2.2 tas semidirigidas com os envolvidos direta e indireta
2.3
3 Criminologia enquanto um saber
empírico e interdisciplinar: a questão do
método in
4 Pesquisa empírica na prisão loco do trabalho desenvolvido pelas entidades se
5 os muros da prisão e a entrada do lecionadas nos estabelecimentos prisionais. Neste
pesquisador paper
6 Reintegração social: recorte do objeto
7 o campo de pesquisa na prisão. Em uma pesquisa situada em um espaço
8 o pesquisador e o voluntário:
mediadores de dois mundos
9 o impacto da sociedade civil na prisão
10 Catalunha e são Paulo: contrastes e por levar o pesquisador de volta ao objeto da própria
matizes
11 Considerações Finais: a permanência no das para a entrada do pesquisador na prisão são os
cárcere e o jogo da prisão mesmos com que se deparam as entidades e pessoas
12 Referências

que adentram o espaço prisional enfrentando o iso


lamento impostos por seus muros.

1. Doutora e mestre em Criminologia e Direito Penal pela Univer


sidade de São Paulo com estágio doutoral junto ao Departamento
de Antropologia da Universitat de Barcelona como bolsista do Pro

manas e Sociais da UNESP. Coordenadora do Núcleo de Estudos


e Pesquisa em Aprisionamentos e Liberdades (NEPAL) e o projeto

dade das mulheres em situação de prisão.

Revista de Estudos Empíricos em Direito 46


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
CRiminology anD PRison: methods and challenges of empirical
Ana Gabriela Mendes Braga

Keywords abstract
This article is about the outcomes of our doctoral re
search “Social reintegration: discourses and practices

tions in prisons in São Paulo and in Catalonia (Spain).

a researcher faces to enter a prison are the same ones

Revista de Estudos Empíricos em Direito 47


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
1 introdução
O presente artigo é um dos frutos da pesquisa de dou discutido em seguida.
toramento “Reintegração social: discursos e práticas

qual foram analisados alguns projetos desenvolvidos


por entidades da sociedade civil em estabelecimen
tos prisionais de São Paulo e da Catalunha (Espa ceito de reintegração social. O objetivo foi conhecer
algumas das formas com que a sociedade civil tem
de período sanduíche no Departamento de Antropo
logia da Universitat de Barcelona
das na intervenção da sociedade nesse espaço.

pelo
contra 2 metodologia

va pessoal de encontrar grupos para compartilhar as tas semidirigidas com os envolvidos direta e indire

coordenação adjunta do Grupo de Diálogo Universi

in
loco do trabalho desenvolvido pelas entidades sele
A participação no GDUCC possibilitou um contato cionadas nos estabelecimentos prisionais.

2.1 Entrevistas
lecimentos prisionais do Estado de São Paulo. Essa no mínimo oito pessoas rela
3

cionadas a cada projeto: dois membros da sociedade

para que eu pudesse ler as teorias criminológicas à

mento penitenciário e ao menos um funcionário do

um saber acerca da prisão sob uma perspectiva uni trinta e duas entrevistas
de inúmeras conversas informais com presos e fun
cionários do sistema.
A pesquisa foi desenhada a partir da convicção de
que a pesquisa empírica seria o instrumento mais

que uma contribuição original à discussão crimino

importantíssimas para captar discursos e práticas do

e Criminologia da Universidade de São Paulo. pesquisadores e professores que colaboraram com a pesquisa.

Criminologia e prisão / Ana Gabriela Mendes Braga 48


Em algumas entrevistas foi feito o uso de gravador4

diante do constrangimento e perda de espontaneida


de dos interlocutores frente ao aparelho. Certamen
dade de pesquisa e como imperativo ético escutar

atividade da qual participavam e submeter o outro

posição que os presos ocupavam como objetos pre

a pesquisadora atua com uma vontade de saber

inqui-
sitorial

2.2
análise documental dos me
sites

modelo semiestruturado de entrevista5 Os documentos foram obtidos a partir de pesquisas


que permitiu focar nos assuntos que interessavam

que meus interlocutores falassem o que julgavam im públicas ligadas à questão prisional.
portante. Essa técnica possibilitou ainda que outras
2.3
tados e fossem agregadas aos roteiros de entrevista Para além da importância de entrevistar os voluntá
no decorrer da pesquisa. A elaboração dos roteiros

nâmica que se cria nessa interação. Além das entre

. Esse método

possível acompanhar a entrada de todos os quatro


abordagem menos dirigida. Esse tipo de abordagem
te mais) e visitar sete estabelecimentos prisionais. No

série de registros em cadernos de campo durante os


seis anos de ligação com o projeto.

roteiro de entrevista.
quisa. Para o presente artigo,
a questão do método em criminologia e da pesqui

diretor do presídio/ funcionário da instituição prisional. portância da pesquisa empírica nos estudos sobre a

Revista de Estudos Empíricos em Direito 49


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
como “o corpo de conhecimentos que considera o
dades que as entidades da sociedade enfrentam para
ciais. Que inclui em seu âmbito de análise o processo

serão apresentados alguns resultados auferidos pela

nitenciário e à prática da reintegração social. multidisciplinar que une pesquisadores de diferentes


abordagens e tem como principal tema de estudo: i)

3 Criminologia enquanto um saber da sociedade à quebra das leis.


empírico e interdisciplinar: a questão do
método
A criminologia pode ser conceituada a partir de di ção com a dogmática penal e a política criminal. Nes

articulação com a dogmática e política criminal.

está ancorada nas possibilidades epistemológicas da

a criminologia positivista no que tocante à legitima

Para autores importantes no debate da criminologia


Com o declínio da “gesamtestrafrechtswisse
6
durante os anos trinta começa na
Alemanha e na Itália o domínio das correntes

-
nal em relação às disciplinas antropológicas e
uma ciência empírica e interdisciplinar, que se
ocupa do estudo do crime, da pessoa do infra- -
tor, da vítima e do controle social do comporta-
mento delitivo, e que trata de subministrar uma
informação válida, contrastada, sobre a gênese,
dinâmica e variáveis principais do crime – con-
templado este como problema individual e so- mática penal se desenvolve independentemente da
cial, assim como sobre os programas de preven-
os saberes criminológicos e dogmáticos se acentua
positiva no homem delinquente e nos diversos
modelos ou sistemas de resposta ao delito mento em que parte da criminologia passa a ques

denunciando seu caráter seletivo e violento e a in


temáticas que são próprias do saber criminológico.

Criminologia e prisão / Ana Gabriela Mendes Braga 50


radigma da reação social causa uma ruptura com a
ferramentas metodológicas próprias que alcancem

sistema de controle. fenômenos em torno do crime e da reação social.

Um paradigma É justamente a combinação de métodos de outras ci


valores e crenças de uma determinada comunidade
que dá unidade ao saber criminológico. Nesse senti

Ao aprender um paradigma, o cientista adquire mente envolvidos com o sistema de justiça criminal.
-
-

tanto dos problemas quanto das propostas.

A mudança de problemas e de propostas ocorre à me


dida que novas interfaces surgem na construção do sa
ber criminológico. Enquanto a criminologia positivista

criminologia da reação social passou a ser construída cimento criminológico ainda ocorre de forma disper
sa em diversas áreas. Essa dispersão é um dos fatores

A interdisciplinaridade intrínseca ao saber criminoló única de métodos e de abordagens próprias.


gico desloca este para fora do âmbito jurídico. Não há
O fato de que grande parte da produção criminoló

o consagrado ensaio

seria fundamental para o desenvolvimento e propa


gação de uma área de conhecimento.

Ainda com os riscos e perigos de estar em um “não

Revista de Estudos Empíricos em Direito 51


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
possibilita a junção de óticas diversas e complemen
aplicação do direito penal e do funcionamento do

Não fechar a pesquisa dentro de um domínio disci

da produção normativa e das escolhas políticas em


La poussière et le termos de gestão da criminalidade.
nuage
A produção de dados empíricos permite que sejam (re)
de pessoas que buscam des-disciplinar-se.
do uma ferramenta importante para a reprodução e
Para repensarmos os atuais rumos da Política Crimi para a transformação do sistema de justiça criminal.

mos um grande número de estudos empíricos que


nos guie na formulação de novas propostas para a 4 Pesquisa empírica na prisão

da sociedade como um todo está na possibilidade de

assumindo assim uma perspectiva crítica em relação

a construção de um novo saber criminológico que

- em um espaço e tempo presente.


sempenho prático do sistema penal, a missão

funcional e estrutural com outros instrumen-


-
o que acontece e o que se sente na vida no cárcere
Crítica insere o sistema penal – e sua base nor-
mativa, o direito penal – na disciplina de uma ço onde o uso da palavra é regulamentado e os dis
sociedade de classes historicamente determi-
nada e trata de investigar, no discurso penal, as
funções ideológicas de proclamar uma igual- acesso apenas a uma parte da história.
dade e neutralidade desmentidas pela prática.
Como toda teoria crítica, cabe-lhe a tarefa de As coisas mais interessantes que se percebem na

saltam o papel da criminologia em orientar políticas forma de se vestir que denuncia a diferença social e

Criminologia e prisão / Ana Gabriela Mendes Braga 52


sociedade se volte para o debate em questão. Po

superar tais barreiras que o pesquisador começa a


que conformarão o campo. desvelar o funcionamento do seu objeto de estudo.

Em uma pesquisa situada em um espaço tão fecha


5 os muros da prisão e a entrada do
pesquisador
que eles desvelam os mecanismos de poder em fun
cionamento e permitem voltar ao objeto da própria
para os pesquisadores. O fechamento da instituição
em relação ao seu entorno é uma estratégia de de

determinante na constituição da dinâmica prisional.

Se a negociação com o campo é uma questão chave

pre sujeitas às intempéries sociais e às conjunturas


uma perspectiva foucaultiana são formas de poder
quisador no cárcere é sempre precária e provisória.
revelados a alguém estranho a esse espaço.

que inevitavelmente impacta psíquica e emocional


dos em nossa sociedade. O embate puramente racio mente quem atravessa os seus muros.

Uma característica intrínseca à instituição prisional é


seu hermetismo. O fechamento em relação ao entor

como um mecanismo de defesa contra a incursão de


práticas e pessoas que tensionem a instituição.
nam no sentido de proteger a instituição prisional e
o segredo de sua irracionalidade: os administradores A entrada no cárcere de pessoas estranhas à sua
dinâmica é vista como uma ameaça ao controle e
à segurança. O discurso institucional se vale desse
argumento para restringir o acesso dessas pessoas.

Revista de Estudos Empíricos em Direito 53


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
servar algo além da ordem: o monopólio sobre os por estudar as pessoas da sociedade civil que entram

é composta por basicamente dois grupos de atores: os afastou o acesso aos seus espaços mais sombrios.

do pelos dirigentes e pelos demais funcionários. Ainda


que se possa questionar o caráter total da prisão (ain puede obtenerse, pero por si mismo no propor-
ciona una libertad plena al investigador. Éste

tário não encontram seu correspondente nesta clas adentra por vericuetos no deseados por la ins-

elemento perturbador da dinâmica prisional. de entrar na prisão


acompanhando o trabalho das entidades da socieda
de civil
só para legitimar o trabalho perante a administração
A aceitação no meio institucional está vinculada dire
tamente ao posicionamento nessa dinâmica: quanto ram mediadoras da entrada nos estabelecimentos
prisionais. A associação com personagens já familia

nesse campo.

6 Reintegração social: recorte do objeto


-
pesquisa de doutoramento discutir a concepção te
del observador a la institución. La administraci-
ón habrá de conceder previamente un permiso diversas formas que a intervenção da sociedade ci
- vil assume no cárcere. O foco da análise esteve nos
ón de una actividad que no complique los inte-
reses institucionales. En el caso de la prisión,
el permiso lo supeditará a la participación del construção de uma nova política de verdade acerca
estudioso en tareas de reeducación y reinser- do preso e da prisão.
ción social, tal como estas actividades son en-

son grupos, religiosos o civiles, previamente

para conocer de cerca la vida penitenciaria. Un


investigador independiente, no perteneciente a
- partir dos seguintes pressupostos:

objetivo era observar a dinâmica desses grupos na prisão. A esco

pesquisa começou com a eleição do tema. A escolha campo da pesquisa).

Criminologia e prisão / Ana Gabriela Mendes Braga 54


A.

tos se comprometam na medida de sua responsabi


lidade e que diminua o impacto do encarceramento
C. reconhecimento da dignidade e da “normali sob a pessoa presa.

D. participação ativa e voluntária dos encarcera

E.
do impacto da prisão sobre a vida do condenado e
F. de todos que de alguma forma se relacionam com

ética do indivíduo preso. 13


.

um trecho de entrevista com Lourdes11 uma agente no de permitir que um se reconheça na humanidade
de segurança penitenciária
reintegração social:

possibilitando assim uma diminuição quantitativa


do encarceramento.

7 o campo de pesquisa
todos os conceitos que ela tem e crie conceitos A referida pesquisa partiu do conceito de reintegra
ção social para analisar em que medida as práticas

-
tar embutir conceitos novos e possibilitar que
ela retorne ao meio social. A única coisa que
tenho pra te falar, a importância de tentativa

civil no Estado de São Paulo.

social em relação ao projeto das chamadas ideolo A pesquisa de campo se desenvolveu em três etapas.
A primeira

redução do impacto do emprisionamento sobre a

11. Os nomes foram trocados de forma a preservar o anonimato


dos entrevistados.
blicada sobre o título Preso pelo estado e vigiado pelo crime: as

Revista de Estudos Empíricos em Direito 55


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
8 o pesquisador e o voluntário:
mediadores de dois mundos
so. Na segunda, desse Ainda que se possam encontrar continuidades entre

tercei-
ra consistiu na pesquisa empírica e posterior análise

mapeamento14
podem ser percebidos mais como continuidade do
pesquisa na internet que como ruptura. A prisão conta com canais que

atuavam no sistema prisional. Esta lista serviu de guia

entidades que comporiam o campo. Alguns dos pro


pesquisadores que ali entram.

Esses dois personagens podem ser vistos como me

15
.

localidade em que foi implementado (São Paulo/ Ca

No campo da Catalunha foram selecionados os se


guintes grupos para serem analisados em profundida
de: -
Enquanto em São Paulo foram
escolhidos: - muito comum nas entrevistas com os participantes

Grupo de Diálo- das com presos participantes do GDUCC acerca do

14. Dois foram os caminhos da pesquisa na internet: a) a ferramen


ta de busca (Google

nal ou não) no campo penitenciário. tenciária Parada Neto.

Criminologia e prisão / Ana Gabriela Mendes Braga 56


gente do mundo da cadeia. Começa a ter outra visão.

monotonia da vida e conversas no cárcere e de algu


que trabalha há quatro anos em
que acompanha a vida no cárcere.

ou educativa que pressuponha a entrada na prisão


panhamento educativo pela entidade
“os voluntários levam ar fresco
na percepção de distância e de estranhamento entre

denomina
observado de uma forma diferente da qual são vistos

A ação da sociedade no cárcere tem um impacto no


ambiente interno e na sociedade. A difusão do uni
verso carcerário na sociedade através dos meios de
9 o impacto da sociedade civil na prisão
-

distúrbios nos aspectos das funções sociais do


emprisionamento na nossa sociedade. Causar
distúrbios nessas funções pode ser considera-
do resistência porque indiretamente afeta al-
gumas características essenciais da estrutura

ta a dinâmica penitenciária. A presença de “pessoas

camento espacial de funcionários e presos e confere

ruptura (momentânea) do isolamento entre prisão e

Nas entrevistas com os presos participantes dos pro


jetos de intervenção da sociedade no cárcere
rece uma percepção comum a quase todos eles: a de do cárcere de ocultar o que se passa no seu interior. Ain

tário cria um espaço de fala e de propagação de verda


des normalmente abafadas pelo dispositivo carcerário.

Revista de Estudos Empíricos em Direito 57


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
no cárcere reforça o sentido benevolente e caritativo

Na sua já clássica obra


porta a ação voluntária.

foram motivadores de tal crescimento: i) cortes orça


e de dar novos usos ao espaço social determinado. mentários que ocasionaram um espaço de atuação

mento comunitário. A combinação desses dois fato


res o declínio dos serviços sociais acompanhado da

cimento do fenômeno do voluntariado.

aos objetivos que podem ser atribuídos à instituição

apontam para o controle e absorção dessas ativida


des por parte do poder público.

ção consiste no enfrentamento (ou não) da “direção po econômica da entidade.

tomada de posição em relação à instituição peniten

compromisso desde um determinado ponto de vista.

necessariamente antecede a ação voluntária é sobre mente tinham uma relação de antagonismo com o sis

namentos: i) uma atitude crítica em relação à prisão

penitenciária não usa todos os meios possíveis para


dinâmica social do cárcere.
o risco de colaborar para a continuidade de um mo
delo institucional fracassado.
) aqueles que colaboram
A primeira atitude corresponderia a uma crítica estru
tural à instituição prisão e a seus objetivos. A segunda

Criminologia e prisão / Ana Gabriela Mendes Braga 58


discurso institucional. A papelada segue mais rápi
manho do sistema penitenciário paulista.
atividade pode ser incorporada à rotina da prisão e
Generalitat de Catalunya tem autono

te e a propagar a ação por diversos centros.

pequenas do espaço punitivo contribuem para que


e manter cumplicidade com os mecanismos de poder ele seja mais bem esquadrinhado.

do voluntário em ambiente prisional. Um grupo que O Departament de Justícia tem controlado mais de
se queira manter crítico e que objetive afrontar o dis

econômicas para sua manutenção. Sempre se prefe


Prisionais. Grande parte do que acontece no cárce

disputa importante: a própria prisão.

durará muito. A direção é quem tem a última pala


vra em relação a quem entra e a quem não entra no

central estatal. O sistema lança mão de uma série


mento perturbador. de instrumentos para controlar a interação que vem
de fora e os atores da sociedade civil: burocracia no

10 Catalunha e são Paulo: contrastes e


matizes limitam as possibilidades e os objetivos de atuação
A sociedade catalã tem características peculiares que no espaço prisional.

e com
partilhada com os presos (e seus coletivos). O poder

prisão situada na Europa Ocidental.

O sistema prisional catalão conta com boa infraes

ressaltadas no contraste com a realidade brasileira.

privativa de liberdade. Conforme pude constatar na fala de alguns

Revista de Estudos Empíricos em Direito 59


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
Em entrevistas com coordenadores e voluntários dos

//
sibilitem aprender com os erros e acertos de outra

mais como continuidade do que como ruptura. //


jeto no cárcere. O impacto físico e emocional de

// apurar o conhecimento sobre o funcionamento


permeável à atuação de grupos da sociedade civil
com diferentes propostas.

paulista contribuem para que aqui surjam grietas,


espaços com (certa) liberdade de ação que

projeto na prisão depende da capacidade e da habili


quadrinhamento do território carcerário em São Pau

11 Considerações Finais: a permanência no do espaço prisional. Tais riscos estão associados ao


cárcere e o jogo da prisão posicionamento das entidades frente aos limites e aos
papéis impostos pela instituição. Ao tentar preservar

com o risco sempre presente de sair da linha e do jogo.

espaço pouco permeável à entrada da sociedade civil.


passa a ser o de preservar a autonomia do projeto
O início de um projeto no cárcere não é garantia de

A abertura do cárcere para a sociedade está sujeita a cício de um poder que demarca o espaço que deve

comprometer a continuidade da intervenção.


mente em público.

Criminologia e prisão / Ana Gabriela Mendes Braga 60


institucional da prisão pode converter o voluntário

voluntária por parte da instituição.

Ainda que a maioria dos grupos estudados tivessem

cotidiano prisional eram no sentido de diminuição


qualitativa e quantitativa do cárcere.

rupturas causadas pelo sistema de justiça criminal.

criação de espaços mais democráticos no interior dos

do sistema penitenciária e na forma de a sociedade


se relacionar com o cárcere.

De tal sorte que a pesquisa empírica na prisão se

perspectiva passada e futura: “nem sempre fomos

das formas concretas que a prisão assume na atuali

que sustentam essa instituição falida há mais de dois


séculos e repensar o lugar que a prisão ocupa na so

Revista de Estudos Empíricos em Direito 61


Brazilian Journal of Empirical Legal Studies
vol. 1, n. 1, jan 2014, p. 46-62
12 Referências uma crítica do sistema penal e da sociedade puni-
tiva.
La cuestión carcelaria. Histo-
penal. ria, epistemología, Derecho y política penitenciaria

Brasileiro Introducción a la investiga-


ción criminológica. Granada: Comares.
e práticas na prisão - um estudo comparado (Tese Criminologia clínica e
-
ra geração. São Paulo: Revista dos Tribunais.
- Criminologia. São Paulo: Revis
dade na prisão ta dos Tribunais.
Criminologia da libertação. Criminologia. Mi

Publishing.
o homem delinqüente e a sociedade criminógena. A cidade nas fronteiras do
Coimbra: Coimbra. legal e ilegal
La cárcel y sus consecuen-
. São Paulo: cias. La intervención sobre la conducta desadapta-
UNESP/CEM. da. Madrid: Editorial Popular.

-
nêutica. São Paulo: Forense Universitária.
Ditos e Escritos -

-
-
vos de la criminalidad, prevención del delito, siste-
ma de respuesta al crimen

-
gia e História. São Paulo: Companhia das Letras.
.
São Paulo: Perspectiva.
-
do sobre a participação da sociedade civil (Tese de

-
cas. São Paulo: Perspectiva.
. London:
Martin Robertson.

Dias da Silva (Orgs).

Criminologia e prisão / Ana Gabriela Mendes Braga 62

Você também pode gostar