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ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA
EM DESASTRES
Você já deve ter lido e ouvido que o Brasil é um país abençoado por Deus
e bonito por natureza, pois não há o registro de desastres deflagrados por eventos
naturais ou antrópicos (Chauí, 2000). No entanto, entre 1991 e 2010, 31.909
eventos adversos ocorreram no país e mais de 96 milhões de pessoas foram
afetadas por eles, das quais 490.000 ficaram feridas e mais de 34.000 morreram
(Freitas et al., 2014). As secas e estiagens foram responsáveis por 57,8% das
ocorrências, as quais afetaram 50 milhões de pessoas. As inundações afetaram
2
39 milhões, principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste (Freitas et al., 2014).
As maiores taxas de mortalidade (44,8%), morbidade (63,5%) e exposição
(67,5%) são decorrentes de fenômenos hidrológicos, ainda que os eventos
geológicos tenham maior probabilidade de causar mortes (Freitas et al., 2014).
Recentemente, você deve se lembrar da ocorrência de quatro eventos
adversos causados por fenômenos naturais que provocaram desastres. Os dois
primeiros ocorreram no Estado de Santa Catarina. Em 2004, no litoral norte do
Estado, tivemos o registro do primeiro furacão no Atlântico Sul, denominado então
de Catarina. Já em novembro de 2008, o Estado de Santa Catarina foi afetado por
inundações e deslizamentos de terra desencadeados por chuvas intensas. Esses
eventos resultaram em mais de 500 mil afetados, 78.656 desalojados e
desabrigados, 5.835 feridos e enfermos e 135 óbitos; além do estado de
calamidade pública em 14 municípios e de situação de emergência em 63
(CEPDEC-SC, 2009).
O terceiro desastre ocorreu na região serrana do Estado do Rio de Janeiro
em 2011 e é considerado um dos maiores já registrados no país. Ele provocou
movimentos gravitacionais de massa, sobretudo deslizamentos, que geraram 900
mortes e 30.000 desabrigados (Massuella, 2014). No mesmo ano, o Paraná
também viveu um dos piores desastres, o "Águas de Março", que gerou danos
materiais, ambientais, econômicos e humanos (Pinheiro; Garcias, 2014).
2.1 Resposta
3
• Assistência: atendimento aos afetados através de recursos materiais e/ou
financeiros, a fim de proporcionar atividades básicas de vida, logística e
promoção da saúde até o restabelecimento das condições normais.
• Restabelecimento: execução de obras temporárias e emergenciais
destinadas à restauração dos serviços básicos. Ou seja, necessitamos
estabilizar a situação gerada pelo desastre, embora temporariamente, para
facilitar a reconstrução das áreas afetadas (SDC/SC, 2017).
2.2 Recuperação
4
Hoje, o direito à assistência é previsto na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e em resoluções da ONU. A resolução n..43/131 “consagra o direito de
livre acesso às vítimas de desastres e a obrigação dos Estados em facilitar a
chegada de assistência humanitária” (Ramos, 2004, p. 16). A n.45/100 possibilita
a criação de corredores de emergência nos quais o Estado deve facilitar o fluxo
de distribuição de ajuda médica e alimentar às vítimas. Em 1988, a ONU também
garantiu a assistência às vítimas de desastres, consagrando o direito de uma
organização não-governamental (ONG) de ter acesso às pessoas afetadas.
No Brasil, podemos mencionar a Lei Federal n. 12.608/2012, que institui a
Política Nacional de Proteção e Defesa Civil e supera a lógica da caridade, até
então predominante em boa parte dos governos que não possuíam um sistema
estruturado de gestão, ao estabelecer “a assistência às populações atingidas por
desastres” (art. 5º, inciso II). Outro documento que contém diretrizes sobre o
processo de assistência humanitária é a Instrução Normativa n. 36/2020. Nela, a
assistência às vítimas visa “manter a integridade física e restaurar as condições
de vida das pessoas afetadas pelo desastre até o retorno da normalidade”.
5
das vítimas e a defesa dos direitos humanos, do direito humanitário e da atenção
psicossocial (Estrada, 2011; Mattei; Troit, 2016; Hours, 2016).
Ao mesmo tempo, coloca a assistência humanitária como sendo a
execução de ações de resposta ao desastre, incluindo o atendimento às vítimas,
sem buscar alterações nos fatores que originam o desastre, como a situação de
risco e de vulnerabilidade socioambiental. Logo, compreendemos a assistência
humanitária como sendo o conjunto de ações desenvolvidas pelo Estado ou por
um grupo social a fim de apoiar uma população na superação de um desastre. Ou
como qualquer ação que facilita ou permite o alívio do sofrimento humano, a
preservação da vida e da alimentação das pessoas, bem como a facilitação das
condições materiais e de segurança propícias ao abrigo temporário e retorno da
população ao cotidiano (Estrada, 2011). Esse processo visa prevenir o
agravamento das condições de vida, até atingir um mínimo de autossuficiência.
Por últimos, entendemos a ajuda humanitária como sendo a
materialização do processo de assistência. Ela é constituída por elementos
materiais e tangíveis por meio dos quais as pessoas podem obter a satisfação das
suas necessidades básicas. Ou, ainda, podemos entendê-la como a assistência
material, logística, moral e legal (Minas Gerais, 2020) que almeja a defesa de
direitos humanos em situações adversas. O Ministério das Relações Exteriores
define a ajuda humanitária como
6
3.2 Exemplos de ações de ajuda humanitária
7
Logo, estava aberto o caminho para a emergência da assistência
humanitária moderna. É vital lembrarmos que esse período de transformação foi
possível não só por causa de uma mudança em termos de moralidade e
tecnologia, mas também devido a uma transformação da sociedade, assinalada
por mercado em expansão, urbanização e modernização (Barnett, 2011).
A seguir, veremos como ocorreu o processo de evolução da assistência
humanitária a partir de três momentos históricos: século XIX, períodos pós-
guerras mundiais e fim da Guerra Fria. Esses momentos ainda podem ser
classificados como humanitarismo imperial (1800-1945), neo-humanitarismo
(1945-1989) e humanitarismo liberal (1989 até os dias atuais) (Barnet, 2011).
8
humanitário. As normas e regras resultantes delas preconizavam a proibição ou
limitação do emprego de armas causadoras de sofrimento humano. No entanto, a
assistência humanitária não foi o ponto central das discussões. Essa atividade
voltaria à tona como fruto das guerras mundiais, como veremos a seguir.
9
públicas em virtude das práticas de genocídio (Desgrandchamps, 2011; Tarantola,
2018). A partir disso, acompanhados de outros médicos e alguns jornalistas, eles
fundaram o “Médicos Sem Fronteiras” (MSF), em 1971. Como veremos mais
detalhadamente posteriormente, trata-se de uma ONG que presta assistência
humanitária, especialmente médica, e busca a proteção dos direitos das vítimas.
10
Portanto, podemos compreender que o novo humanitarismo está
comprometido com a assistência voltada não somente para salvar vidas, mas
também para lidar com as causas que deflagram situações de anormalidade,
como os desastres e conflitos, visando ao desenvolvimento sustentável (Barnett,
2011). Essas são as características do novo humanitarismo que é dominante hoje.
TEMA 5 – CRÍTICAS
A história nos mostra que o fim da Guerra Fria gerou otimismo em relação
à construção de um mundo mais pacífico e à capacidade da comunidade
internacional de intervir em desastres e conflitos armados para proteger os direitos
humanos e garantir a assistência humanitária. Entretanto, podemos ver que o
fracasso das intervenções levou a uma atitude mais cética e reticente por parte
dos países. Diante disso, surgiram diversas críticas, como veremos a seguir.
5.3 Posicionamento
5.4 Objetivos
12
REFERÊNCIAS
13
MASSUELLA, L. Os maiores desastres naturais da última década. Revista Veja,
26 dez. 2014. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/mundo/os-maiores-
desastres-naturais-da-ultima-decada/>. Acesso em: 6 maio 2021.
NUUN, N.; QIAN, N. Aiding conflict: the impact of u.s. food aid on civil war.
National Bureau of Economic Research Working Paper 177. 2012.
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ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA
EM DESASTRES
1.1 Definição
3
1.3 Pressupostos
2.1 Evolução
4
por sua vez, enfatizou a necessidade de proteger os civis, já que os óbitos de
pessoas não envolvidas no conflito excederam os soldados pela primeira vez.
Também, não podemos esquecer os próprios conflitos internos, como a Guerra
Civil Espanhola, os quais mostraram que os tratados humanitários devem ser
estendidos aos conflitos não internacionais. Logo, devemos saber que o direito
humanitário foi atualizado a partir das quatro Convenções de Genebra (1949).
Com relação a essas convenções, devemos entender que elas abordam
diferentes temas. A primeira trata exclusivamente da melhoria das condições dos
feridos, no qual os governos devem respeitá-los e protegê-los. A segunda, por
sua vez, visa melhorar as condições dos afetados, enfermos e marinheiros,
sobretudo em guerras marítimas. A terceira versa sobre o tratamento de
prisioneiros de guerra, e a última envolve a proteção de civis em momentos de
guerra.
Além do mais, a intensificação e diversificação dos conflitos obrigou a
comunidade internacional a complementar o direito humanitário, elaborando dois
protocolos adicionais em 1977 a fim de proteger as vítimas de conflitos armados
não internacionais e respeitar às vítimas de conflitos armados internos (Sassòli,
Bouvier; Quintin, 2012). Desde então, em razão das mudanças na natureza do
conflito e no potencial de destruição de armas modernas, foi necessário
modificar e desenvolver o direito humanitário. Assim, temos a realização de
diversas convenções que buscam consolidar esse direito:
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Logo, por meio do direito internacional humanitário,
3.1 Convergências
6
cumprir o direito internacional humanitário, por sua vez, temos órgãos de
controle como, por exemplo, a Comissão Internacional de Inquérito Humanitário
ou os próprios Estados. Além disso, há o Tribunal Penal Internacional (TPI), que
tem como objetivo punir, entre outras coisas, os indivíduos que cometem crimes
de guerra.
Por último, no que diz respeito às regras e normas, possuímos uma série
de resoluções emitidas pela ONU sobre direitos humanos e direito humanitário.
A mais importante delas que devemos saber é a Resolução n. 23, que trata dos
direitos humanos em situações de conflito armado, adotada em Teerã (Irã), em
1968. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho
também adotaram regras sobre direitos humanos, como a Resolução n. 14 sobre
a tortura (1977) e a Resolução II sobre desaparecimentos forçados (1981).
3.2 Divergências
7
3.3 Instrumentos jurídicos
8
5. O dever dos Estados de não rejeitar arbitrariamente a assistência
humanitária, que em situações de paz decorre de sua obrigação de
garantir a satisfação dos direitos humanos (Dyukova, 2019).
9
4.1 Humanidade
4.2 Neutralidade
4.3 Imparcialidade
4.4 Independência
4.5 Universalidade
Critério pelo qual todas as vítimas merecem ser ajudadas pelo fato de
fazerem parte da humanidade, independentemente de suas condições.
4.6 Desafios
10
(Sudão) ocorreu em 2003, muitas organizações desafiaram a neutralidade e
defenderam a proteção da dignidade humana, tarefa de responsabilidade do
governo sudanês (Prunier, 2005). Como as questões de segurança atrapalharam
a assistência, algumas agências defenderam o fortalecimento das missões de
paz da União Africana e da ONU (Totten; Markusen, 2007).
5.1 Recomendações
11
direito internacional no campo (Fidler, 2005). Entretanto, ela teve impacto
limitado e seu trabalho terminou com o início da Segunda Guerra Mundial.
Posteriormente, devemos saber que o processo de assistência
humanitária em casos de desastres encontra-se assentada nas seguintes
resoluções da Assembleia Geral da ONU: 43/131, de 1988; 45/100, de 1990; e
46/182, de 1991. Todas elas se baseiam no pressuposto de que os países
devem responder com rapidez e eficácia às necessidades das vítimas, pois a
sua ausência corresponde uma ameaça à vida e uma violação da dignidade
humana (Assembleia Geral, 1988). Além delas, outros instrumentos podem ser
invocados: Convenção sobre Ajuda Alimentar (1999); Convenção de Tampere –
disponibilização de recursos de telecomunicações para a mitigação e alívio de
desastre (1998); Convenção e Protocolos de Kyoto que enfatizam as estratégias
de redução de desastres (1997); Marco de Ação de Hyogo 2005-2015; Marco de
Ação de Sendai 2015-2030.
Não podemos esquecer também da Lei Internacional de Resposta a
Desastres. Ela foi criada com o objetivo de agrupar todas as regras existentes
em uma categoria e esclarecer vários atores, incluindo, o papel do estado nessa
resposta (Breau; Samuel, 2016). Entretanto, de um ponto de vista operacional e
prático, o Comitê Permanente Interinstitucional (IASC, em inglês), da ONU,
aprovou as Diretrizes para Direitos Humanos e Operações de Desastres, em
2006. Em 2008, foi aprovado o Manual de Campo para Proteção de Desastres.
As diretrizes apontam que as situações que afetam os direitos humanos das
pessoas durante desastres resultam de políticas e planejamento inadequados,
preparação insuficiente ou negligência (Carmalt; Dale, 2012).
Além disso, a Comissão sobre a Proteção de Pessoas em Eventos de
Desastres, da Comissão de Direito Internacional da ONU, propôs dois artigos
sobre a questão humanitária em situações de desastres. O artigo n. 4 limita o
escopo de aplicação do direito de desastres às situações as quais o direito
humanitário não é aplicável; e o artigo n. 6 ressalta que a resposta a desastres
deve ocorrer segundo os princípios humanitários, como veremos no último bloco.
Outra dimensão é o papel desempenhado pela legislação nacional. A lista
de verificação sobre leis e redução de risco de desastres, desenvolvida em
conjunto pela Federação Internacional da Cruz Vermelha (IFRC) e o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), é um exemplo-chave. Ela
visa contribuir para a redução dos riscos por meio do apoio aos governos
12
nacionais na melhoria das leis e regulamentos, junto com o fortalecimento de
sua implementação, de modo a garantir que apoiem efetivamente a RRD (IFRC
e PNUD, 2015). Além delas, há acordos regionais e bilaterais que regulam vários
aspectos da resposta a desastres, como o Acordo da Associação das Nações do
Sudeste Asiático sobre Gestão de Desastres e Resposta a Emergências (2005).
13
REFERÊNCIAS
CARMALT, J., DALE, C. “Human rights and disaster”. In: WISNER, B.,
GAILLARD, J.C., KELMAN, I. (Eds). Handbook of Hazards and Disaster Risk
Reduction, Routledge: London, p. 55-64, 2012.
FIDLER, D. Disaster relief and governance after the Indian Ocean tsunami: what
role for international law? Melbourne Journal of International Law, v. 6, p. 458-
473, 2005.
14
GASTEYGER, G.G. L'influence mutuelle entre les droits de l'homme et le
droit international humanitaire à la lumière du droit à la vie. 683 p. Tese
(Doutorado em Direito). Faculdade de Direito, Universidade de Genebra, 2011.
PRUNIER, G.F. Darfur: the Ambiguous Genocide. C Hurst & Co Publishers Ltd:
Londres, 236 p., 2005.
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AULA 3
ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA
EM DESASTRES
1.1 Estado
2
a maioria deles precisa de autorização do seu governo para se desdobrar e,
assim, não cumpre inteiramente os princípios humanitários estudados antes.
1.3.1 Exemplos
Agora que temos uma compreensão clara do que se trata uma organização
intergovernamental, vamos entendê-la com base na categorização proposta por
Seitenfus (2005). Primeiramente, de acordo com a natureza de seus propósitos:
políticos (por exemplo, a ONU) ou de cooperação técnica, como a Organização
Mundial da Saúde (OMS), Organização internacional do Trabalho (OIT), Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) etc.
3
Em segundo lugar, conforme as suas funções, elas podem ser: (a) da
aproximação de posições, como a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE); (b) da condução à adoção de normas
comuns de comportamentos, como a ONU, na área de Direitos Humanos; (c) da
promoção de ações operacionais quando da urgência de soluções de
emergências, como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO); da colaboração em ciência e tecnologia, como a Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA); e (d) da gestão, como o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) para o campo monetário e desenvolvimento econômico, respectivamente.
Por fim, podemos classificar essas organizações segundo a composição:
regional (Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN, Organização dos
Estados Americanos – OEA, União Europeia – UE, Mercado Comum do Sul –
Mercosul etc.) ou universal (ONU e as organizações Especializadas).
1.4.1 Vantagens
4
fundos pelos governos que fazem doações. O objetivo é melhorar a eficiência e
diminuir a cooperação governo a governo, a fim de evitar desvios de recursos ou
má gerência do dinheiro em determinados países. Entretanto, sabemos que em
Moçambique, durante a década de 1980, isso motivou a criação de sistemas de
ajuda e de serviços paralelos aos sistemas estatais (Mckay, 2012).
1.4.2 Críticas
Como pudemos ver anteriormente com base em um caso, a forma com que
as atividades das ONGs são realizadas pode desencadear várias críticas. Aqui,
iremos destacar apenas três, segundo Montclos (2015). A primeira que devemos
saber é que algumas das ONGs tornaram-se instrumento de privatização dos
serviços básicos em países pobres, cujos governos não conseguem prestá-los.
Segunda, elas podem ter mais recursos do que o governo local, o que lhes confere
influência política. Terceira, são passíveis de se tornarem executoras das políticas
das agências governamentais, que lhes fornecem a maior parte de seus recursos,
mas também delimitam áreas prioritárias, objetivos e critérios. Ou seja, as ONGs
podem perder parte de sua independência e capacidade crítica, como vimos
anteriormente ao falarmos sobre o caso de Biafra (Nigéria), razão pela qual alguns
os chamam de Quangos (organizações quase não governamentais). Esse
mecanismo de terceirização pode aumentar a competição entre as ONGs por
fundos públicos.
1.4.3 Exemplos
5
Além delas, temos a Save the Children. Fundada em 1919, ela defende os
direitos da criança de sobreviver, ser protegida e se desenvolver. Sua missão é
promover a forma como as crianças são tratadas e provocar mudanças imediatas
e duradouras em suas vidas. As principais áreas de trabalho da organização são:
saúde e nutrição (campanhas de vacinação e outras tarefas); educação
(promoção da aprendizagem); proteção à criança (proteção contra abuso sexual,
etc.); administração dos direitos da criança (sistemas de direitos da criança, etc.);
defesa e promoção (influenciar políticas públicas e medidas governamentais); e
pobreza infantil (tirar famílias da pobreza) (Save the Children, 2021).
Por último, temos o Médicos sem Fronteiras (MSF). Trata-se de um
movimento global composto por 24 associações independentes agrupadas em
âmbito nacional e regional. Ele oferece assistência médica humanitária a vítimas
de conflitos, desastres, epidemias e pessoas excluídas de todos os cuidados de
saúde. Seus serviços estão relacionados ao sistema de saúde e incluem a
prestação de cuidados, realização de cirurgias, combate a epidemias, restauração
e gestão de hospitais, desenvolvimento de campanhas de vacinação, gestão de
centros nutricionais, cuidados de saúde mental, ajuda humanitária,
estabelecimento de sistemas de saúde e fornecimento de água potável e ajuda
àqueles que precisam dela (MSF, 2021).
6
política externa estatal, no caso, a dos Estados Unidos. Elas geralmente mantêm
laços com o governo de seu país e seus funcionários costumam se deslocar entre
as instituições do Estado e a ONG. A Care é o maior exemplo dessa corrente e
surgiu após a Segunda Guerra, no contexto do Plano Marshal.
2.1 Divergências
7
TEMA 3 – CRUZ VERMELHA
3.1 IFRC
8
sustentável que anda de mãos dadas com o desenvolvimento (CICV, 2021). Além
disso, é responsável pelo emprego de Unidades de Resposta de Emergência, que
são equipes treinadas para fornecer apoio às Sociedades Nacionais em situações
de desastres, sobretudo na logística, comunicação, água e saneamento, saúde,
campos de socorro e de base (CICV, 2021).
Nesse momento, você pode estar se perguntando qual é a diferença entre
a IFRC e o CICV. Logo, o que diferencia ambas é a esfera em que operam. O
CICV atua em situações de conflito, enquanto a IFRC quando ocorrem desastres.
9
Dessa maneira, vemos que a contribuição da ONU no campo da
assistência humanitária é inegável. Por exemplo, ela foi a arquiteta da codificação
dos direitos humanos e do estabelecimento de mecanismos para sua proteção.
Além do mais, desde o início da década de 1990, verificamos operações de paz,
em contextos de conflito ou pós-conflito, com uma componente militar e civil, como
no caso do Haiti, onde houve a participação do Exército brasileiro, como vimos na
antes, acompanhadas por programas de reconstrução pós-guerra. Porém, a
contribuição mais importante são as funções de coordenação humanitária que
exerce. Em particular, vale destacar as agências da ONU envolvidas no processo
de assistência humanitária. Vamos passar brevemente por cada uma delas.
Primeiro, temos o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (Acnur). Seu objetivo é proteger os refugiados, apátridas, requerentes
de asilo e as pessoas deslocadas internamente. O Acnur organiza assistência aos
refugiados, incluindo saúde, nutrição, saneamento, abrigo, meios de subsistência
etc. A agência também é responsável por soluções duradouras, como o
repatriamento voluntário, a integração local e o reassentamento. Segundo, temos
o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cuja finalidade é de
assegurar os direitos e necessidades das crianças, mas também inclui mulheres
em muitos de seus programas. Os programas do Unicef em emergências focam,
por exemplo, em imunização em massa, saúde infantil, incluindo nutrição, água,
saneamento e promoção da higiene, educação, proteção infantil e saúde materna.
Depois, há o Programa Alimentar Mundial (PAM). Ele visa combater a fome
no mundo e é o principal ator responsável pelo fornecimento de ajuda alimentar
durante crises humanitárias. Além do mais, o PAM nos fornece suporte logístico,
administra o Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas. Isso permite que a
comunidade humanitária em geral viaje de e para áreas de crise e intervenção.
Além disso, merece atenção o Escritório de Coordenação de Assuntos
Humanitários (OCHA), encarregado de coordenar as agências das ONU e outros
doadores, bem como a preparação dos recursos interinstitucionais consolidados.
10
sobreposições entre seus organismos; a permanente escassez de recursos
financeiros e, em particular, a necessidade de solicitar fundos para cada crise
humanitária específica; bem como a falta de exército próprio, o que o obriga a
pedir emprestadas tropas de diversos Estados (Macqueen, 2011).
No caso dos problemas econômicos, por exemplo, podemos ver que eles
não estão relacionados apenas com a falta de dinheiro para atender a todas as
necessidades, mas também com a estrutura de financiamento de suas agências
(WEISS, 2009). De fato, podemos ver que as agências da ONU normalmente têm
que se autofinanciar, cada uma negociando com governos doadores para
financiar projetos e programas específicos. Esse é o resultado do sistema de
financiamento implantado na década de 1990, com base em apelos intersetoriais
consolidados, em outras palavras, a partir de solicitações feitas pela ONU aos
doadores em cada crise, para financiar os programas de suas agências com base
na estimativa das necessidades existentes (Weiss, 2009; Macqueen, 2011).
Uma consequência disso é a discrição e a desigualdade da ajuda, em
outras palavras, as Nações Unidas não podem responder às crises com base nas
necessidades existentes, mas sim que a ajuda é maior ou menor em cada caso
de acordo com os interesses dos doadores (Macqueen, 2011). Outra implicação
tem sido a diferença entre o que alguns órgãos receberam em relação a outros
que solicitaram recursos. Além do mais, podemos ver que a dependência de
contribuições para recursos específicos resulta em uma alta imprevisibilidade dos
fundos disponíveis a cada ano, tornando a programação, o orçamento e a
implementação significativamente mais difíceis dos projetos (Weiss, 2009).
11
sejam melhoradas. Como resultado, foram publicadas a Carta Humanitária e os
Padrões Mínimos para Resposta Humanitária a Desastres.
A filosofia do Projeto Esfera é baseada em duas crenças fundamentais:
primeiro, as pessoas afetadas por desastres ou conflitos devem ter direito à vida
com dignidade e, portanto, direito à assistência; segundo, todas as medidas
possíveis devem ser tomadas para aliviar o sofrimento humano decorrente de um
desastre ou conflito (Manual, 2011). Com o objetivo de apoiar essas duas crenças,
o Projeto Esfera estabelece uma série de padrões mínimos que definem
assistência humanitária de qualidade, entendendo que isso iria melhorar a
resposta, coordenação e trabalho em benefício do alvo populações.
12
de saúde. Por exemplo, a ajuda alimentar às pessoas sem outros meios de acesso
deve ser planejada tendo como referência o fornecimento de 2.100 kcal por
pessoa por dia (Manual, 2011). Isso evita que diversas organizações usem
critérios diferentes quanto ao valor a fornecer, como acontecia anteriormente.
Contudo, isso não significa que devemos cumprir todos os padrões e
indicadores, o que irá depender do contexto e da viabilidade. Por exemplo, se
houver dificuldades de acessar a população afetada, falta de cooperação das
autoridades, atingi-los se torna uma tarefa difícil de cumprir (Manual, 2011). Em
determinadas ocasiões, a necessidade pode estar relacionada mais ao
fornecimento de instalações básicas para a população afetada do que atingir os
padrões para apenas uma parcela (Manual, 2011). No entanto, ressaltamos que
o essencial é a adesão aos padrões para as populações afetadas por desastres.
5.2 Contribuições
13
REFERÊNCIAS
14
WEISS, T. G. Whats Wrong with the United Nations and How to Fix It. 2. ed.
Polity Press: 2012. 292 p.
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AULA 4
ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA
EM DESASTRES
1.1 Conceituação
2
desenvolvimento de ações de resposta e de recuperação em áreas atingidas por
desastres. Porém, nem todos os eventos adversos e desastres irão exigir
declaração de ambas as situações. Por esse motivo, a Lei n. 12.608/2012
(Brasil, 2012) estabeleceu as competências de cada ente federado nesse
processo, ou seja, eles não poderão declarar situação de anormalidade
conforme critérios próprios. Além disso, detalhou os critérios necessários para a
declaração de SE e ECP com base na classificação de intensidade do desastre:
nível 1 – pequena intensidade; nível 2 – média intensidade; e nível 3 – grande
intensidade (Brasil, 2020).
Os desastres de nível 1 são eventos que geram danos humanos leves
que possibilitam o restabelecimento das condições normais por meio da
utilização de recursos locais ou mesmo da complementação de recursos do
governo estadual ou federal. Os de nível 2 provocam danos e prejuízos maiores
que o nível anterior, mas ainda são administráveis pela gestão local. O retorno à
normalidade também pode ser feito com o auxílio dos governos estadual e
federal. Por último, os desastres de nível 3 apresentam os maiores danos
humanos e materiais, dos quais pelo menos um gera prejuízo econômico –
público ou privado –, afetando, portanto, a capacidade local de desenvolver
ações de resposta (Brasil, 2020). Nesse caso, o restabelecimento à normalidade
requer necessariamente a mobilização e a ação coordenada dos três entes
federados e, em alguns casos, de ajuda internacional, como vimos
anteriormente.
Dessa maneira, a ocorrência dos dois primeiros níveis possibilita ao ente
federado afetado decretar a Situação de Emergência, enquanto os desastres de
grande intensidade permitem a declaração do Estado de Calamidade Pública.
3
mais adequada de o município ter auxílio do estado é notificar a ocorrência por
meio do preenchimento do Formulário de Informação de Desastre (Fide), da
Declaração Municipal ou Estadual de Atuação Emergencial (DMATE/DEATE), de
relatório fotográfico e de outros documentos necessários à caracterização do
desastre.
Em seguida, o estado deve homologar essas duas situações, desde que
sejam atendidos os critérios estabelecidos no tópico anterior, com base em sua
própria legislação, de modo a conferir os efeitos jurídicos no seu território. A
homologação possui a mesma finalidade de reconhecimento federal, todavia,
restritos ao âmbito do estado. Nesse caso, o coordenador estadual de proteção
e defesa civil deve aprovar a SE e a ECP por meio de visitas técnicas e/ou
elaboração de laudos ou pareceres (Brasil, 2017). Se o reconhecimento federal
for exigido e, consequentemente, uma declaração de ECP, esses documentos
serão anexados ao processo de reconhecimento federal e, em seguida,
enviados à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec). Caso o
desastre afete vários municípios ao mesmo tempo, o estado também pode
declarar SE ou ECP.
De acordo com Pará ([S.d.]), de uma forma geral, a homologação
possibilita:
4
terra, embora, no bojo do decreto, deva ser mencionada também a ocorrência
dos alagamentos.
Caso a situação extrapole a capacidade do município e do estado, ambos
os governos deverão, dentro de um prazo de dez dias a partir da ocorrência do
desastre, encaminhar uma solicitação de reconhecimento de SE ou ECP para o
Ministério do Desenvolvimento Regional, com a
1. Requerimento;
2. Decreto de declaração;
3. Fide;
4. DMATE ou DEATE;
5. Parecer do órgão municipal, distrital ou estadual de proteção e defesa
civil;
6. Relatório fotográfico.
6
A DMATE ou DEATE são documentos que nos permitem avaliar a
capacidade do poder público local ou estadual na resposta e gerência do
desastre, por meio das “medidas e ações em curso, capacidade de atuação e
recursos humanos, materiais, institucionais e financeiros empregados para o
restabelecimento da normalidade” (Brasil, 2017). Já o relatório fotográfico deverá
conter fotos (datados, legendados, com boa resolução, preferencialmente
georreferenciada) que, obrigatoriamente, demonstrem a relação direta com os
prejuízos econômicos e, quando possível, com os danos declarados.
Além dos documentos mencionados acima, o governo federal poderá
solicitar outros instrumentos e registros oficiais que permitam comprovar as
informações relatadas, auxiliar na avaliação do reconhecimento e melhor instruir
o processo, de modo a ser célere. Dentre eles, podemos citar os relatórios de
órgãos setoriais do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil que
comprovem os cálculos efetuados para se obter os valores dos prejuízos
descritos no Fide, além de declarações e/ou laudos que atestem ou justifiquem
os danos ocorridos.
O prazo para envio da documentação por meio do S2ID é de 15 dias após
a data do desastre, para o caso de desastres súbitos, e 20 dias após a
decretação de SE ou ECP, para os casos de desastres graduais (Brasil, 2017).
Caso ocorra o envio após o prazo estipulado, cabe ao ente beneficiário justificá-
lo por meio de e-mail ou declaração, o qual deve ser anexado ao processo no
S2ID.
3.1 Material
7
Quadro 1 – Descrição dos itens da ata de registro de preços do governo federal
3.2 Logístico
• assistência hospitalar;
• desinfecção e desinfestação;
8
• transporte de cargas, pessoal, material e gêneros;
• elaboração de alimentos;
• tratamento de água;
• alojamento;
• energia elétrica para pequenas instalações;
• garantir a lei e a ordem e isolar áreas;
• assistência social integrada.
3.3 Financeiro
9
Minha Vida; e redução da alíquota do imposto sobre propriedade rural (Brasil,
2017).
Ainda, é possível liberar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) das pessoas afetadas pelo desastre. Nesse caso, o processo é restrito
às seguintes ocorrências: vendavais ou tempestades; vendavais muito intensos
ou ciclones extratropicais; vendavais extremamente intensos, furacões, tufões ou
ciclones tropicais; tornados e trombas d’água; precipitações de granizo;
inundações; enxurradas; alagamentos; inundações litorâneas provocadas pela
invasão do mar (Brasil, 2004); e, por último, rompimento ou colapso de barragem
que gere movimento de massa, com danos a residências (Brasil, 2015). Cada
pessoa beneficiada poderá obter o valor equivalente ao saldo existente na sua
conta, limitado a R$ 6.220,00 (Brasil, 2012).
No Estado de São Paulo, por exemplo, o governo criou o auxílio-moradia
emergencial. Ele tem como objetivo “garantir as condições de moradia às
famílias de baixa renda vitimadas pelas enchentes ou em situação de risco
iminente, e que se encontrem em situação de vulnerabilidade temporária, como
direito relativo à cidadania” (Salles; Kamada, 2016, p. 110). Nesse caso, a partir
do momento em que o município decreta SE ou ECP e o estado homologa, a
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo
(CDHU) poderá fazer transferências de recursos no valor mensal de R$ 300,00
por família beneficiada (Salles; Kamada, 2016). Trata-se de um benefício que
pode ser cumulado com outro que seja pago pelo município, até que cesse a sua
vigência ou até que lhe seja provido novo atendimento habitacional.
Todavia, é importante lembrar que, em algumas circunstâncias, a
decretação de SE ou ECP pode apresentar desvantagens. Por exemplo, a
imagem do município pode ser prejudicada, ocasionando cancelamentos de
viagens turísticas, de eventos esportivos e artísticos, e, até mesmo, medo nas
pessoas, as quais podem pensar que poderão ser afetadas. Ainda, tem-se a
queda na obtenção de receita, uma vez que é possível dar isenção de
obrigações, como o pagamento de imposto pelas pessoas que foram afetadas
(Brasil, 2012).
10
o governo local obtenha recursos federais é necessário formalizar a demanda
por meio do Plano Detalhado de Resposta (PDR), o qual deverá ser
encaminhado diretamente à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Trata-se de um documento que descreve: as necessidades identificadas nos
locais afetados, como os recursos materiais; e a indicação de justificativas,
ações, etapas, quantidades, prazos e valores que o ente beneficiário pretende
executar (Brasil, 2017).
Portanto, veremos a seguir os elementos que devem constar em um PDR.
Total
11
4.2 Solicitação de recursos materiais
12
4.3 Solicitação de recursos financeiros
No entanto, não basta listar as ações que serão formuladas com recursos
federais, também é necessário justificar cada uma delas. Portanto, devemos
comprovar sua necessidade, estabelecer uma relação direta com o desastre,
especificar cálculos e descrever ações ou esclarecer aspectos relevantes. Uma
das maiores necessidades são os kits de ajuda humanitária, geralmente
envolvendo um conteúdo inadequado na solicitação (Brasil, 2017).
13
5.1 Documentação
14
Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (questões técnicas) e, depois,
pela Coordenação-Geral de Prestação de Contas de Convênios (questões
financeiras). Caso seja aprovada, é feita a baixa no Sistema Integrado de
Administração Financeira do Governo Federal. Caso contrário, o ente
beneficiário terá um prazo para a devolução dos recursos que tenham sido
utilizados indevidamente e, em seguida, serão identificados os responsáveis,
que serão alvo das autoridades competentes. Esse processo também cabe às
autoridades que cometerem irregularidades, como documentos ou declarações
falsas (Brasil, 2017).
15
REFERÊNCIAS
16
AULA 5
ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA
EM DESASTRES
2
Assim como o processo de assistência, a logística humanitária deve estar
baseada nos princípios humanitários de humanidade, neutralidade e
imparcialidade. Esses conceitos podem nos auxiliar a executar uma resposta
eficiente e rápida, já que correspondem a 90% da etapa de resposta (Trunick,
2005) e, por isso, são considerados a parte mais onerosa do processo de
assistência, equivalendo a cerca de 80% do seu custo (Van Wassenhove, 2006).
Ainda, nos possibilitam minimizar ações improvisadas ou mau planejamento. Van
Wassenhove (2006) alerta para dificuldades encontradas nesse processo:
3
Irregular, com alto grau de
Relativamente estável e pode ser
incerteza e volatilidade. É
Padrão de demanda previsto a partir de técnicas de
estimada nas primeiras horas do
previsão
desastre
Recursos como abrigo, alimentos,
Fluxo de materiais Produtos comercializados kits de higiene e limpeza, veículos
para evacuação e pessoal
Unilateral (do doador ao
Fluxo financeiro Bilateral e conhecido
beneficiário) e incerto
Tempo para responder ao
Medidas de Baseado em métricas de desastre, % de demanda
desempenho desempenho suprimida, atendimento às
expectativas dos doadores
Equipamentos e Caminhões, veículos comuns e Equipamentos robustos,
veículos empilhadeiras transporte aéreo
Alta rotatividade, com voluntários,
Disponibilidade de mão de obra ambiente desgastante tanto
Recursos humanos
capacitada fisicamente quanto
psicologicamente
4
atendimento aos afetados, duplicar esforços e desperdiçar recursos. Para evitar
isso, devemos identificar instituições e organizações relacionadas ao tema,
estabelecer competências e momentos de atuação, de modo que eles se
conheçam, compartilhem informações, identifiquem e reconheçam seus
respectivos pontos fortes e explorem formas de colaboração e apoio mútuo.
2.1 Coordenação
5
• Nível 2: contém os doares secundários, sobretudo as organizações
humanitárias e as destinadas ao atendimento;
• Nível 3: inclui as organizações humanitárias que recebem fundos e/ou
doações, os quais são encaminhados ao governo do território afetado ou
organizações não-governamentais locais.
• Nível 4: contempla todos os envolvidos no território, como administração
local, organizações e representantes locais. O processo decisório trata do
modo como os recursos materiais e financeiros serão distribuídos e quem
está no comando.
• Nível 5: é o momento no qual acontece a execução do processo de logística
humanitária. Ele envolve a distribuição física de recursos pelos mesmos
atores do nível quatro para as pessoas afetadas de acordo com as
necessidades identificadas.
6
Figura 2 – Processo de coordenação de resposta à desastre
3.1 Definição
3.3 Coordenação
8
• Bucks – fluxo financeiro: corresponde ao processo de doações e captação
de recursos. Para isso, precisamos divulgar a ocorrência do fenômeno e as
imagens decorrentes dele.
• Bodies – pessoas envolvidas na cadeia: consiste no engajamento de
equipes, agentes locais e voluntários com habilidade e qualificação para
atuar em um desastre.
• Brain – conhecimento e habilidades: precisamos conhecimento para criar
soluções. Cada desastre deve ser uma oportunidade para a transferência
de conhecimento e capacitação. É necessário conhecimento especializado
para uma rápida tomada de decisão.
Agora que temos ideia clara do que é a logística humanitária, quais são os
níveis de coordenação e a cadeia de suprimentos, iremos detalhar como ocorre
as atividades logísticas. Elas devem ser planejadas, pois só assim a entrega dos
materiais terá êxito. A logística deve ser um componente fundamental do plano de
resposta a desastres de qualquer governo. Na cadeia de suprimentos em logística
humanitária, aquisição, transporte, armazenamento e distribuição são elos vitais.
No caso de um desastre, os materiais devem chegar ao lugar certo, na hora certa
(as primeiras 72 horas são importantes) e na quantidade certa. Qualidade e custos
no sentido econômico ou comercial são de importância secundária. A fim de ser
capaz de ajudar rapidamente e lidar com capacidades inadequadas, é necessária
uma logística funcional no processo de ajuda.
4.1 Avaliação
9
diferentes escalas. Os mapas resultantes são acompanhados de planilhas que
contêm o número de desalojados, desabrigados, feridos, mortos e desaparecidos;
áreas de cobertura para as organizações humanitárias, localização de hospitais,
clínicas e farmácias; e as doenças mais comuns da região (Blecken, 2010).
10
crucial, pois evita que itens desnecessários sejam transportados para os centros
de distribuição, ocupando espaços de armazenamento e gerando retrabalho.
11
Figura 3 – Processo de arrecadação, transporte e distribuição de materiais
12
TEMA 5 – PARCERIAS
13
Durante o processo de assistência em um desastre, o setor privado pode
fornecer bens acessíveis (aviões, empilhadeiras, espaço em depósitos,
equipamentos de telecomunicações) e profissionais (programadores,
especialistas em comunicação, pilotos) (Tomasini; Van Wassenhove, 2009). Além
do mais, como forma de apoio do setor privado para as atividades humanitárias,
uma empresa pode fornecer os seguintes elementos: dinheiro, produtos, recursos
humanos, conhecimento e experiência, ou uma combinação destes, cada qual
com prós e contras (Tomasini; Van Wassenhove, 2009).
Podemos ver essa situação com o caso da TNT Express, empresa líder
mundial na entrega expressa, que desenvolveu um modelo de coordenação para
formar parceria com o Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU, considerada
a maior agência humanitária do mundo que luta contra a fome (TNT, 20201). Além
dela, a DHL, empresa do setor de logística e correio expresso, oferece o know-
how logístico e apoio durante as três primeiras semanas para a ONU (acordo de
cooperação) gratuitamente ou a pedido do Unocha. As equipes chegam à área do
desastre após 72 horas, no máximo. As tarefas das equipes da DHL incluem:
treinamento, descarregamento de aviões de carga, montagem de um armazém,
paletização de suprimentos de auxílio, inventário as mercadorias, auxiliando no
carregamento dos veículos da distribuição na área do desastre, apoiando com
questões aduaneiras, bem como armazenamento e recuperação (DHL, 2021).
A dependência do setor privado também pode impedir o sucesso. Por
exemplo, um problema ou atraso na cadeia de abastecimento a montante do setor
privado pode colocar em risco a ajuda humanitária, como aconteceu com durante
o Ebola em 2014. A falta de equipamento de proteção individual prejudicou as
capacidades, pois algumas organizações não conseguiram abrir clínicas que
cumpririam os cuidados de segurança necessários ou ampliaram suas operações
de campo (POMS, 2015). Os fabricantes também foram afetados por essa
interdependência; durante o surto, a demanda por equipamentos de proteção
individual era incerta e as quantidades solicitadas pelos intermediários muitas
vezes não eram claras, o que impedia o sucesso da distribuição (Poms, 2015).
14
REFERÊNCIAS
AKHTAR, P. MARR, N.E. AND GARNEVSKA, E. Chain coordinators and their role
in selected agrifood supply chains: lessons from pakistan, new zealand and United
Kingdom. Food Chain Journal, v. 2, n. 1, p. 104-116, 2012.
15
TNT. Special services. 2021. Disponível em:
<https://www.tnt.com/express/en_mv/site/shipping-services/special-
services.html>. Acesso em: 04 jul. 2021.
ZEJLI, K.; ASMANI, A.; ISSA, S. K. Applying Fuzzy Analytic Hierarchy Process
((FAHP) to Evaluate Factors Locating Emergency Logistics Platforms.
International Journal of Computer Application. v. 57, n. 21, p. 17-23, 2012.
16
AULA 6
ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA
EM DESASTRES
1.1 Materiais
2
Em âmbito internacional, encontramos duas recomendações essenciais
relacionadas aos materiais necessários à ajuda humanitária. A primeira delas foi
proposta pela Federal Emergency Management Agency (Fema), dos EUA, em
2012, a qual elaborou um documento que divide os materiais em quatro níveis:
3
− sabonete: 250 g por pessoa/mês;
− sabão de lavanderia: 200 g por pessoa/mês;
− materiais de higiene íntima feminina: 1 kit por jovem/adulta.
− Adicionais:
− creme dental: 100 g/mês;
− escova de dentes: 1/mês;
− xampu: 250 ml/mês;
− loção infantil: 250 ml/mês;
− aparelho de barbear descartável: 1/mês por jovem/adulto;
− roupa íntima feminina: 1 kit/mês por jovem/adulta;
− escova de cabelo e/ou pente: 1/mês;
− fraldas: de acordo com a necessidade familiar.
− Roupas: devemos fornecer pelo menos dois conjuntos completos de
vestuário de tamanho correto e que sejam apropriados à cultura, estação
do ano e clima do local. Peças íntimas devem ser novas.
− Também devemos disponibilizar um conjunto de cobertores, roupas
de cama, colchões ou revestimentos para dormir e, conforme a
necessidade, rede de proteção ou repelentes.
4
TEMA 2 – CAMPANHAS DE ARRECADAÇÃO E DOAÇÕES
5
sentido, podemos citar dois exemplos emblemáticos que ocorreram no país. O
primeiro deles ocorreu após as inundações em Blumenau (Santa Catarina), em
2008, quando cerca de 897,6 toneladas de roupas que sobraram das doações
tiveram que ser redirecionadas para 27 municípios vizinhos, exigindo 88
caminhões para esse transporte (Brito Júnior; Santos, 2016). No mesmo sentido,
após o desastre ocorrido em 2010, o município de São Luiz do Paraitinga (São
Paulo) recebeu uma quantidade de itens de vestuário muito superior à quantidade
de pessoas afetadas e residentes no município, 34 vezes a mais (Kawasaki et al.,
2012).
Com essas etapas realizadas, não podemos nos esquecer de
a. estabelecer um canal de comunicação com os doadores, até mesmo por causa
da campanhas falsas; b. mobilizar uma equipe para coordenar a montagem e
distribuição dos kits; c. organizar e controlar o acesso ao local de doação; d.
controlar o estoque de materiais; e. cadastrar os afetados e realizar a triagem
socioeconômica a fim de verificar a priorização de atendimento; e f. definir o meio
e local de distribuição (Holguín-Veras et al., 2014). Durante o processo,
recomendamos fazer o registro fotográfico do recebimento e da distribuição das
doações, a fim de dar transparência e minimizar o desvio de materiais (Brasil,
2017). Ao fim, devemos elaborar um documento contendo a prestação de contas
das doações destinadas aos afetados e aqueles inservíveis e fora de validade.
Além das campanhas realizadas pelos órgãos de proteção e defesa civil, é
possível que pessoas ou instituições também as façam. No entanto, o ideal é que
esses grupos façam campanhas de arrecadação de recursos financeiros, pois isso
oportuniza agilizar a aquisição e a distribuição de produtos e garantir que eles
atendam às necessidades dos atingidos. Nesse caso, esses recursos devem ser
direcionados para as contas em nome do Fundo Municipal de Proteção e Defesa
Civil. Ainda, outras instituições podem contactar semelhantes na região atingida e
disponibilizar produtos, conforme as necessidades. Nesse caso, o gestor do
desastre pode manter uma lista de instituições, a qual é normalmente
disponibilizada no Plano de Contingência Municipal, e necessidades para
repassar aos interessados.
6
totalmente afetada, ocasionando uma condição temporária ou permanente de
desabrigo. Por isso, essas pessoas precisam ser inseridas em um local capaz de
fornecer a elas todas as condições necessárias para a manutenção dos requisitos
básicos de sobrevivência. A estrutura mais comum encontrada para isso é o
abrigo. Podemos entendê-lo como sendo o local que proporciona o abrigo de
pessoas que estão impedidas de voltar à sua residência (Sedec-RJ, 2006). Para
que possamos ter sucesso nesse processo, precisamos organizar, articular com
as demais partes e comunicar as atividades desenvolvidas nele, bem como
estruturar uma logística a fim de atender às demandas das pessoas (Sedec-RJ,
2006).
É importante saber que há diferença entre os termos desalojado e
desabrigado. O primeiro faz referência às pessoas que deixaram sua residência e
foram acolhidas em outra; o segundo, as que estão acolhidas em um abrigo
público.
7
3.2 Componentes de um abrigo
(1) Preparação/adequação
Unidades familiares Espaço para permanência das famílias
Instalações elétricas/hidráulicas
Banheiros químicos ou existentes
Infraestrutura
Chuveiro
Lavanderia
Saúde Instalação de um posto de saúde
Refeições prontas
Alimentação/nutrição
Local para a produção de alimentação especial
Água Disposição de bebedouros
(2) Recebimento e acolhida
Cadastramento da família Origem e composição da família
Triagem social Idade, gênero, enfermos e necessidades especiais
Inventário dos bens
Definição da unidade familiar Conforme a composição da família
Encaminhamento para a unidade familiar
Levantamento socioeconômico
Entrega do cartão de alimentação e de benefícios eventuais
(3) Regras de convivência
Horário de entrada e saída
Trajes para transitar
Horário das refeições
Atenção com as crianças
Normas de conduta
Cuidados com o cartão de alimentação
Volume da televisão
Fumar em locais designados
Uso de água para o banho, lavar roupas e higiene
Fonte: Brito Júnior; Santos, 2016.
8
incapaz, estupro, conflitos, violência doméstica, infração às regras de convivência,
entre outros. Por isso, precisamos estabelecer no local um aparato estatal, o qual
será definido de acordo com os problemas nele vivenciados, por exemplo, uma
delegacia ou posto da polícia, conselho tutelar, vigilância sanitária etc.
Como vimos até agora, os desastres não afetam todos os setores de uma
sociedade da mesma forma. As pessoas e grupos mais vulneráveis tendem a ser
os mais pobres, os autônomos e desempregados, os socialmente excluídos,
aqueles pertencentes a grupos étnicos ou religiosos discriminados, refugiados e
pessoas internamente deslocadas, em grande parte as mulheres, as que
dependem física e economicamente de outrem (crianças, idosos, deficientes), as
que têm baixo nível de saúde e formação. Por essa razão, devemos garantir os
direitos e aprimorar os procedimentos de assistência a esses grupos.
A seguir, veremos as condições exibidas por alguns grupos vulneráveis.
9
necessidades e problemas específicos, como os relacionados à alimentação entre
mulheres grávidas e lactantes, saúde e à violência e abuso sexual.
4.2 Crianças
10
No Brasil, temos o Protocolo de Proteção Integral à criança, ao
adolescente, ao idoso e à pessoa com deficiência. Ele tem como objetivo orientar
agentes públicos estaduais, municipais e federais, a sociedade civil, o setor
privado e as agências de cooperação internacional para atuarem em situações de
risco e de desastre no desenvolvimento de ações de gestão de riscos e desastres.
4.3 Idosos
11
• pré-traumático:
− menor nível socioeconômico e de educação;
− exposição anterior a traumas (sobretudo durante a infância);
− adversidades na infância (por exemplo, privação econômica, disfunção
familiar, separação ou morte dos pais);
− características culturais (por exemplo, estratégias de enfrentamento
pessimistas ou de autocensura);
− status de minoria étnica;
− história psiquiátrica familiar;
− sexo feminino e idade mais jovem no momento da exposição ao trauma
(para adultos);
− alguns genótipos podem ser protetores ou promotores do risco de
desenvolver transtorno de estresse pós-traumático após a exposição a
eventos traumáticos;
− problemas emocionais na infância até seis anos de idade (por exemplo,
exposição traumática, problemas de ansiedade);
− transtornos mentais anteriores (por exemplo, transtorno do pânico,
depressão, transtorno de estresse pós-traumático ou transtorno
obsessivo-compulsivo).
• peritraumático:
− grau de gravidade do trauma (quanto maior a magnitude do trauma,
maior a probabilidade de estresse pós-traumático);
− percepção de ameaças à vida;
− lesões;
− violência interpessoal;
− ser perpetrador, presenciar atrocidades ou matar o inimigo;
− dissociação que ocorre durante o trauma e persiste depois.
• pós-traumático:
− exposição subsequente a memórias desagradáveis;
− eventos adversos subsequentes na vida;
− perdas financeiras ou outras perdas relacionadas a traumas;
− avaliações negativas;
− estratégias de enfrentamento inadequadas;
− desenvolvimento de transtorno de estresse pós-traumático.
12
5.1 Papel da psicologia
13
REFERÊNCIAS
HOLGUÍN-VERAS; J. et al. The Tohoku disasters: chief lessons concerning the post
disaster humanitarian logistics response and policy implications. Transportation
Research Part A: Policy and Practice, v. 69, p. 86-104, 2014.
14
LAMONT-GREGORY, E.; HENRY, C. J. K.; RYAN, T. J. Evidence-based
humanitarian relief interventions. The Lancet, v. 346, n. 8.970, p. 312-313, 1995.
15